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A Doutrina da Predestinação e a parábola dos Dois

Caminhos
Sobre as duas portas e os dois caminhos escreveu o apóstolo Paulo: “Pois assim como a
morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Pois
assim como todos morreram em Adão, assim também todos serão vivificados em
Cristo” ( 1Co 15:21 -22). Adão é a porta larga pela qual todos os homens entram ao
nascer. Todos eles ao nascer morrem em Adão. Porém, do mesmo modo que todos os
homens morrem em Adão, assim também todos são vivificados em Cristo!

Duas Portas e Dois Caminhos

Jesus demonstrou haver ‘duas portas’ e ‘dois caminhos’ e que todos os homens que
desejam salvação precisam entrar pela porta estreita, uma vez que trilham um caminho
de perdição ( Mt 7:13 ).

Jesus é a ‘porta estreita’ pelo qual todos os homens necessitam entrar para que possam
deixar de trilhar o caminho de perdição. Cristo é o ‘caminho apertado’ pelo qual
somente os homens que crêem têm acesso a Deus.

Cristo e Adão são dois personagens antagônicos (Adão conduz à morte e Cristo à vida).
Cristo é o último Adão (espírito vivificante), diferente de Adão, que foi criado alma
vivente ( 1Co 15:45 ). Enquanto este foi criado por Deus, aquele foi gerado de Deus.
Por causa da transgressão de Adão todos os homens (que dele são gerados) tornaram-se
escravos do pecado. Todos os homens são concebidos e gerados em pecado ( Sl 51:5 ).

Portanto, Adão é a ‘porta larga’ pelo qual todos os homens ao serem concebidos
(segundo a vontade do varão, segundo a vontade da carne e do sangue) entram ao
nascer. O nascimento natural segundo Adão é a porta larga que dá acesso ao caminho
largo de perdição. Por causa desta realidade Jesus disse a Nicodemos: “Necessário vos é
nascer de novo” ( Jo 3:7 ), ou ainda: ‘entrai pela porta estreita’. Sem Cristo o homem
seguirá rumo a um destino de perdição, porém, tal destino não pode ser tido como um
fado, um destino (fatum), fatalismo ou predestinação.

Em Adão ocorreu o juízo por causa da ofensa (pecado) para condenação. O juízo e a
condenação foram estabelecidos em Adão e alcançaram todos os homens, por isso todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus ( Rm 5:18 ).

Destino e Predestinação

Ao nascer, por ser descendente de Adão, o homem entra por uma porta larga e segue por
um caminho que fatalmente o levará à perdição ( 1Co 15:47 ). Isto significa que o
homem está ‘destinado’ à perdição?

Antes de uma resposta afirmativa ou negativa, precisamos definir qual o significado das
palavras ‘destino’ e ‘predestinação’.
Destino sm. 1. Sucessão de fatos que podem ou não ocorrer, e que constituem a vida do
homem, considerados como resultantes de causas independentes de sua vontade; sorte;
fado. 2. O futuro. 3. Aplicação, emprego. 4. Lugar aonde se dirige alguém ou algo;
direção.

Dos quatro sentidos pertinentes a palavra destino, qual é o utilizado na parábola dos
dois caminhos? A sucessão de fatos e eventos cotidianos determinará a sorte (fado) do
homem sem Deus? Não! A parábola dos ‘dois caminhos’ definem o ‘lugar’ para onde se
dirige alguém após trilhar o caminho largo ou estreito? Sim!

Por causa de algumas crendices geralmente as pessoas aplicam a palavra destino a idéia
proveniente do conceito grego, a ‘moira’, ou do pensamento romano, o ‘fatum’. O fado,
sina, sorte ou destino surge como uma ameaça implacável que determina a inexorável
punição diante da falta cometida.

Segundo a mitologia, o ‘Destino’ nasceu da noite e do Caos. Ele estava acima das
divindades, submetendo-as ao seu poder. Era descrito como cego e inexorável, exercia
domínio sobre o universo.

Da filosofia estóica temos o ‘fatum’ ou ‘destino implacável’ que aparece também acima
de todos os deuses e homens. O ‘fatum’ estabelecia as leis do universo, e ninguém podia
furtar-se a seu alcance.

No evangelho não existe a idéia de um destino (sina, fado) implacável e inevitável como
é o caso da mitologia grega ou da filosofia estóica.

Jesus apontou a existência de dois caminhos e a possibilidade de mudar para o caminho


estreito;

A idéia de ‘destino’ que o evangelho contém aponta para um lugar especifico para onde
o homem se dirige.

A parábola dos dois caminhos demonstra que os caminhos (largo e estreito) possuem
destino, e não o viajante, por isso é factível ao homem que segue o caminho de perdição
entrar pela porta estreita que dá acesso ao caminho que conduz à vida.

Quem está em um caminho que ‘conduz’ a uma determinada cidade tem a opção de
mudar de caminho a qualquer momento, porém, tal pessoa não está predestinada a
seguir para tal cidade, pois pode mudar de caminho. Todo caminho possui um destino,
porém, quem segue pelo caminho não é predestinado.

Se houvesse predestinação para a salvação, ao nascer, alguns homens nasceriam


trilhando o caminho apertado, porém, a bíblia demonstra que todos os homens nascem
no caminho de perdição e são convidados a entrar por Cristo.

De igual modo, não há predestinação para perdição, visto que, todos os homens nascem
no caminho de perdição. É o caminho que conduz à perdição, o que difere do argumento
que diz que o homem (viajante) está predestinado à perdição “Pois larga é a porta, e
espaçoso o caminho que conduz à perdição...” ( Mt 7:13 ).
É possível ao homem mudar o seu ‘destino’, visto que ninguém nasce predestinado à
perdição. Todos ao nascerem entram pela porta larga e trilham um caminho de perdição,
mas ao decidir-se por Cristo, a porta estreita, obterá poder para alcançar a salvação. Esta
verdade é evidente no alerta que Jesus apresenta a Nicodemos “Necessário vos é nascer
de novo” ( Jo 3:3 ).

Existem dois caminhos bem definidos que conduzem a dois lugares distintos: perdição e
salvação. O homem sem Cristo segue o caminho que conduz à perdição. Não é o
homem que tem um destino, antes é o caminho que conduz, ou seja, há um lugar
específico para onde o caminho conduz.

Do mesmo modo, todos que entrarem por Cristo terá um novo rumo, uma nova direção,
que lhes conduz à vida. Cristo é o caminho que conduz à salvação. O homem não é
predestinado à salvação, antes é Cristo, o caminho estreito que conduz à salvação “Mas
estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz para a vida...” ( Mt 7:14 ).

Haveria predestinação para salvação se em qualquer das portas que o homem entrasse
(Adão ou Cristo) alcançasse salvação. Porém, todos os homens nascem em um caminho
que conduz à perdição, e precisam nascer de novo para que possam ver a Deus.

Entrar por Adão e seguir pelo caminho que conduz à perdição não é resultado de
escolhas por parte da humanidade. Os homens gerados segundo Adão trilham o
caminho de perdição por causa da escolha de Adão. É por isso que Jesus disse que
muitos entram pelo caminho de perdição sem fazer qualquer alusão a uma escolha ou
decisão por parte dos homens.

Entrar por Adão não depende da consciência, conhecimento, moral, comportamento


(bem ou mal). Basta nascer! Em contra partida, para entrar pela porta estreita demanda
conhecimento da verdade contida no evangelho tais como: a vontade de Deus, a oferta
de salvação e decisão consciente tal qual a decisão de Adão no Éden "Respondeu-lhe,
pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna"
( Jo 6:68 ).

Só escapará quem atentar para porta estreita "Como escaparemos nós, se não atentarmos
para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos
depois confirmada pelos que a ouviram" ( Hb 2:3 ).

Salvação e Predestinação

Temos duas portas (Adão e Cristo), dois nascimentos (natural e espiritual), dois
caminhos (largo e apertado) que conduzem a dois destinos (morte e vida). Onde a
doutrina da predestinação se encaixa neste quadro?

Adão e Cristo são as duas portas apresentadas na da parábola dos dois caminhos, sendo
que todos os homens obrigatoriamente entram por Adão quando nascem (exceto Cristo,
porque ele foi gerado de Deus), porém, para todos que entram por Adão e estão
caminhando para a perdição é anunciado o caminho de salvação.
O nascimento é o modo pelo qual o homem entra pelas portas (larga e estreita).
Enquanto o nascimento natural faz com que o homem seja conduzido à perdição
(caminho largo), através do novo nascimento o homem percorre o caminho (Jesus) que
conduz a Deus.

Enquanto o homem percorre o caminho que conduz à perdição, não significa que ele
está predestinado à perdição. Do mesmo modo, enquanto o homem percorre o caminho
que conduz à salvação, não significa que ele foi predestinado à salvação. Perdição e
salvação são destinos pertinentes aos caminhos, e não aos homens, pois cabe aos
homens decidirem-se a trilhar o caminho do demonstrado no evangelho de Cristo.

Oferecer salvação a quem está predestinado a perdição é plausível? Caso não houvesse
uma oportunidade para os perdidos através do evangelho de Cristo, o evangelho não
seria de boas novas, antes seria um engodo. Enquanto há uma oportunidade para o
homem deixar o caminho que está trilhando, não há o que se falar em predestinação.

 Como Deus sendo justo e verdadeiro poderia oferecer salvação a quem nunca se
perdeu?
 Como Deus sendo justo e verdadeiro poderia oferecer salvação a quem não foi
predestinado para ser salvo?
 Como é possível Deus providenciar salvação poderosa a todos os homens, se ele
mesmo predestinou àqueles que haveriam de ser salvos e perdidos?

Nenhum homem nasce predestinado à perdição porque não seria plausível ter que lhes
anunciar o evangelho sem haver a possibilidade real de salvação ( 1Tm 2:4 ). Pelo fato
de Jesus ter ordenado: “Entrai pela porta estreita” ( Mt 7:13 ), demonstra que não é
possível rotular a condição da humanidade sem Cristo de predestinada à morte.

Não há predestinação para perdição porque há dois caminhos, porque todos os homens
obrigatoriamente entram por Adão e segue pelo caminho que conduz a perdição. Todos
os cristãos, necessariamente, foram de novo gerados pela semente incorruptível, o que
demonstra que estavam efetivamente perdidos, contrastando com a idéia da
predestinação para salvação.

Os homens sem Cristo entraram por uma ‘porta larga’ ao serem gerado segundo Adão e
seguem um caminho que conduz à perdição, porém, Deus estabeleceu antes dos tempos
eternos salvação poderosa o bastante para todos os homens, uma vez que o Cordeiro de
Deus foi morto antes mesmo da fundação do mundo, o que demonstra que pecador
algum foi destinado à morte.

Salvos e Predestinados

No que consiste a doutrina da predestinação?

Desde os reformadores alguns estudiosos apontam que a predestinação é para salvação.


Porém, sabemos que a perdição se deu em Adão e a salvação está em Cristo “Entrai pela
porta estreita” ( Mt 7:13 ). É provável que este pensamento tenha surgido por causa de
distorções quanto ao entendimento acerca da porta larga e de como ter acesso a ela.
O propósito deste texto não é negar a doutrina da predestinação, e sim, corrigir erros
quanto ao seu entendimento.

Sobre as duas portas e os dois caminhos escreveu o apóstolo Paulo: “Pois assim como a
morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Pois
assim como todos morreram em Adão, assim também todos serão vivificados em
Cristo” ( 1Co 15:21 -22).

Adão é a porta larga pela qual todos os homens entram ao nascer. Todos eles ao nascer
morrem em Adão. Porém, do mesmo modo que todos os homens morrem em Adão,
assim também todos são vivificados em Cristo!

Não há predestinação para salvação, visto que, assim como todos morrem ao entrar pela
porta larga, todos quantos entrarem pela porta estreita serão vivificados. Ora, basta
atender a ordem solene: “Entrai pela porta estreita” que serão vivificados.

Até este ponto falamos de salvação da perdição proveniente da queda de Adão. Agora,
analisemos a predestinação.

Adão era terreno, e todos os seus descendentes terrenos. Todos os seus descendentes
trouxeram a imagem exata de Adão ( 1Co 15:47 -49). Porém, o último Adão (Cristo) é
do céu, e todos quantos foram gerados de Deus são semelhantes a Ele “... e qual o
celestial, tais também os celestiais” ( 1Co 15:48 b).

Do mesmo modo que os homens gerados de Adão trouxeram a imagem do terreno, os


gerados de Deus trarão a imagem do celestial (do último Adão). Ou seja, assim como
Jesus foi feito as primícias dos que dormem ( 1Co 15:20 ), os que entram pela porta
estreita são feitos primícias "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da
verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" ( Tg 1:18 ).

Para entrar pela porta estreita e livrar-se do caminho que conduz à perdição é necessário
nascer de novo. No novo nascimento, quando o homem é regenerado, ocorrem dois
eventos simultaneamente: o homem livra-se da condenação de Adão (salvação) e
adquire também a filiação divina (primícias das criaturas).

Em Adão o homem encontrou a morte, em Cristo a vida, porém, para obter a eterna
redenção em Cristo (salvação), o homem tem que ser gerado pelo Espírito Eterno, o que
concede aos homens (regenerados) a condição de ‘filhos de Deus’ ( Hb 2:10 ).

No Antigo Testamento houve salvação, porém, os salvos do Antigo Testamento não


foram alçados à categoria de filhos de Deus.

Os homens de novo gerados, além de adquirirem salvação que os livra da condenação


em Adão, são filhos de Deus. Cristo é o primogênito entre muitos irmãos ( O Sublime
entre sublimes), para que em tudo tenha a preeminência.

Predestinação significa determinar de antemão, ou seja, preordenar, estabelecendo um


evento futuro. Ora, por causa da condenação em Adão, Deus providenciou em Cristo
um novo e vivo caminho pelo qual os homens têm acesso a Deus ( Hb 10: 20 ). Porém,
além da salvação dos homens em Cristo, o propósito eterno de Deus é a preeminência
de Cristo sobre todas as coisas (primogênito dentre os mortos, e primogênito entre
muitos irmãos).

Para levar a efeito o propósito eterno, Deus estabeleceu antes dos tempos eternos que,
todos quantos entrassem pela porta estreita, que é Cristo, estariam predestinados a serem
filhos do Altíssimo. Deus determinou de antemão que os de novo gerados (que entraram
por Cristo), herdariam com Cristo todas as coisas.

Todos os versículos do Novo Testamento que fazem referência à idéia da predestinação


apontam para a filiação divina:

"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à


imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" ( Rm
8:29 );

"E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade" ( Ef 1:5 );

"Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados,
conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua
vontade" ( Ef 1:11 ).

Qual elemento é comum aos versículos citados acima? Ora, o apóstolo Paulo demonstra
que os cristãos foram predestinados para serem filhos, ou seja, para que Cristo
alcançasse a condição de primogênito precisaria de irmãos. Ao nascer de novo, o
homem é gerado do Espírito. Cristo é o primogênito entre muitos irmãos porque na
eternidade Deus estabeleceu (predestinou) a todos quantos fossem gerados de novo a
serem filhos para Deus.

Quem pode receber herança se não os filhos? Por que os cristãos são co-herdeiros com
Cristo? Quem são os herdeiros de Deus?

Ora, o beneplácito da vontade divina estabeleceu antes dos tempos eternos que Cristo
haveria de ser mui sublime "Eis que o meu servo procederá com prudência; será
exaltado, e elevado, e mui sublime" ( Is 52:13 ), e para levar a efeito ao seu propósito
eterno, Deus constituiu dentre os homens filhos para si (não nascidos da vontade do
varão, da vontade da carne e do sangue).

Verifica-se que, todos os que entram por Cristo alcançam salvação. Porém, além da
salvação, não lhes resta outro ‘destino’, serão filhos por adoção. Resta que a
predestinação é para alcançar a filiação divina, imagem de Cristo, e não para salvação.

Quem aceita a Cristo como salvador, além da salvação da condenação em Adão,


receberá a filiação divina, conforme o que foi pré-estabelecido antes dos tempos
eternos.

O nascimento natural é a porta de entrada que dá acesso ao caminho que conduz à


perdição. O novo nascimento (nascimento espiritual) é a porta de entrada que dá acesso
ao Caminho que conduz à vida. Porém, além da salvação adquirida após entrar pela
porta estreita, o homem de novo gerado alcança a filiação divina, pois para isso os de
novo gerados foram predestinados.

A predestinação não é para salvação, antes é concernente a filiação divina. No Antigo


Testamento, na grande tribulação e no milênio haverá homens salvos pela graça e
misericórdia de Deus, porém, somente os salvos em Cristo, que hoje constituem o seu
corpo, que é a igreja, alcançam a filiação divina.

É possível ser salvo sem ter sido predestinado à filiação divina, como foi o caso dos
justos do Antigo Testamento.

Em última instância, quem não quiser ser um dos filhos de Deus tal qual Cristo é, que
não entre pela porta estreita, que é Cristo; não deve nascer de novo; não deve beber da
água que faz jorrar uma fonte que salta para a eternidade, visto que, todos quantos
aceitarem a verdade do evangelho serão constituídos filhos de Deus, para que Cristo
seja primogênito dentre muitos irmãos.

Para filhos por Adoção é que Deus predestinou todos quantos entrarem por Cristo.

A salvação é fato para todos quantos se refugiam em Deus. Desde o Antigo Testamento
é possível aos homens alcançar salvação ofertada por Deus. Abel, Enoque, Noé,
Abraão, Sara e muitos outros homens que alcançaram o testemunho de que agradaram a
Deus, antes eram pecadores (desagradáveis), pois eram descendentes de Adão. Todos
eles alcançaram o testemunho de que eram justos e agradáveis, porém, não são filhos
por adoção; eles não são um corpo com Cristo; não são pedras espirituais; não fazem
parte da igreja.

Há um grande diferencial entre os justos do Antigo Testamento e os justos do Novo


Testamento. Enquanto estes são recebidos e nomeados filhos de Deus, feitos herança
pela fé em Cristo, aqueles são somente salvos da condenação.

É por isso que o apóstolo João argumenta que os cristãos receberam ‘graça’ sobre
‘graça’, visto que foram salvos da condenação de Adão (graça), e ao mesmo tempo, por
terem sido gerados de novo, receberam também a filiação divina (graça).

A salvação ofertada por Deus livra o homem da condenação proveniente da queda de


Adão, ou seja, o homem deixa de ser conduzido à perdição e passa a ser conduzido a
Deus. A bíblia demonstra que os que são conhecidos por Deus, salvos em Cristo, são os
predestinados a serem filhos e herdeiros de Deus.

Perseverança e Salvação

É por isso que os apóstolos enfatizaram que, após crer na mensagem do evangelho
(entrar pela porta que é Cristo e passar a percorrer o novo e vivo caminho), é preciso a
perseverança: a obra perfeita da fé "Porque necessitais de perseverança, para que,
depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa" ( Hb 10:36 ).
Qual a vontade de Deus que os cristãos fizeram? A resposta é clara: eles creram no
enviado por Deus ( Jo 6:29 ). Somente aqueles que crêem em Cristo, O enviado de
Deus, permanecerão para sempre "E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele
que faz a vontade de Deus permanece para sempre" ( 1Jo 2:17 ).

Os cristãos haviam crido em Cristo, porém, necessitavam de perseverança para alcançar


a promessa. Mas, de que tipo de perseverança os cristãos precisavam? Eles precisavam
perseverar na esperança proposta "Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é
impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso
refúgio em reter a esperança proposta" ( Hb 6:18 ).

Haveria necessidade de perseverança caso a salvação fosse pré-determinada? Não! Mas,


como a salvação é segundo a promessa, após a confissão é necessário estar seguro em
quem prometeu "Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que
prometeu" ( Hb 10:23 ); "E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos,
e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus" ( 1Pe 1:21 ).

Tiago falou acerca da perseverança, pois somente a perseverança termina a obra que
teve inicio através da fé “... sabendo que a prova da vossa fé desenvolve a perseverança.
Ora, a perseverança deve terminar a sua obra, para que sejais maduros e completos...”
( Tg 1:2 -3).

Qual a obra pela qual a fé é aperfeiçoada? ( Tg 2:22 ) Não é a perseverança?

As obras que Tiago faz referência não são boas ações. Interpretar o comparativo
estabelecido nos versos 15 a 17 como sendo as obras exigíveis por Deus é um engodo.
O comparativo “Assim também a fé...” ( Tg 2:17 ), demonstra que a fé sem a
perseverança é semelhante a alguém que, mesmo após saber que o irmão tem fome,
despede-o irmão sem dar-lhe mantimento.

Do mesmo modo, de que adianta professar a verdade do evangelho e não perseverar na


verdade? Ora, a perseverança é a perfeita obra da fé! Sem perseverança a fé é morta.
Sem a perseverança o cristão é incompleto e menino, podendo ser levado por vários
ventos de doutrinas.

http://www.estudobiblico.org/eleicao-e-predestinacao/a-doutrina-da-predestinacao-e-a-
parabola-dos-dois-caminhos

Deus é obrigado a salvar a todos?


Deus julga em equidade, não em soberania. Ele estabeleceu a sua palavra como
parâmetro de justiça e a palavra de Deus é perfeita. Deus julga com equidade porque
como legislador e juiz se submete à sua palavra “Inclinar-me-ei para o teu santo templo,
e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua
palavra acima de todo o teu nome” ( Sl 138:2 ).

Li a seguinte premissa que deriva de uma lógica simplista: 'Por salvar a alguns, Deus
não é obrigado a salvar a todos', e não pude me abster de tecer um comentário.
Tal premissa foi extraída da seguinte argumentação: "Se a salvação é uma questão de
justiça, algo que o homem tem o direito de reivindicar perante Deus, já não é mais graça
- favor imerecido. Deus não deve nada a ninguém. Não devemos ficar admirados de
Deus não salvar a todos, mas de salvar a alguns..." Rev. Antônio Carlos Costa, pastor da
Igreja Presbiteriana da Barra. É ardilosa a lógica desta premissa, pois tem aparência
verdade, mas é contrária a equidade de Deus.

O que a bíblia diz?

Deus nada deve a ninguém ( Jó 41:11 ), porém, esta verdade não valida a argumentação
acima, visto que em Deus os homens existem, bem como tudo é sustentado por Ele e
para Ele ( At 17:28 ; Hb 2:10 ).

Antes mesmo de existir o mundo, Deus se obrigou a conceder vida eterna aos homens,
embora nada devesse às suas criaturas "Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que
não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos" ( Tt 1:2 ).

Diferente dos homens, Deus é fiel e verdadeiro, pois vela sobre a sua palavra para
cumpri-la, ou seja, Deus se obriga a cumprir a sua palavra apesar de sua soberania ( Jr
1:12 ).

Deus anunciou que Abraão teria um filho proveniente de suas entranhas e que a sua
descendência seria incontável como as estrelas do céu e, mesmo a esposa de Abraão
sendo estéril, ele creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça ( Gn 15:6 ).

Deus não devia nada a Abraão, mas quando prometeu graciosamente conceder-lhe um
herdeiro e uma descendência numerosa, Deus se obrigou a cumprir a sua palavra.
Abraão nada deu a Deus que merecesse a promessa, porém, a promessa de Deus jamais
voltaria atrás ( Rm 11:29 ).

Além de se obrigar a cumprir a sua palavra ( Hb 6:18 ), Deus não faz acepção de
pessoas ( Dt 10:17 ).

O apóstolo Pedro quando viu Deus agraciando os gentios com o dom do Espírito
chegou a seguinte conclusão: "Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de
pessoas..." ( At 10:34 ).

Embora ‘Deus não é obrigado a salvar todos’, Ele se obrigou a salvar todos que creem
no nome do seu Filho por dois motivos: a) Ele prometeu vida eterna antes dos tempos
eternos, e; b) E não faz acepção de pessoas.

Ao ver os gentios sendo agraciados por Deus, o apóstolo Pedro conclui que: “... mas que
lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” ( At 10:35 ).

Deus aceitou o gentio Abraão porque creu e isto lhe foi imputado por justiça, do mesmo
modo Deus se obriga a aceitar qualquer pessoa, de qualquer nação, que O teme e faz o
que é justo como o crente Abraão! Nele não há acepção de pessoas, pois Deus não julga
com dois pesos e duas medidas.
Embora Deus não tenha recebido primeiramente nada de ninguém ( Jó 41:11 ), contudo,
por não fazer acepção de pessoas, Ele se obrigou a salvar todos os homens que tiverem
a mesma fé que Abraão ( Gl 3:9 ). Deus não deve nada a ninguém, porém, qualquer
crente como Abraão é bem aventurado, isto porque Deus não é devedor ao homem, mas
à sua palavra.

Para ser dom gratuito, necessariamente a salvação tem que ser incondicional? Quem
estabeleceu que para ser um dom de Deus necessariamente a salvação teria de ser
incondicional? A condição é patente: “Ouvi, e a vossa alma viverá” ( Is 55:3 ); “Olhai
para mim e sereis salvos” ( Is 45:22 ), e nessa condição não há mérito algum. Qual o
mérito em ouvir? Qual o mérito em olhar? Não é este o objetivo da palavra da fé, que os
homens obedeçam a sua palavra? “E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a
este que vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos
vós, esta perfeita saúde” ( At 3:16 ).

O modelo de predestinação que foi proposto na reforma estabelece que Deus escolheu e
predestinou alguns homens a serem salvos, o que demandaria Deus velar do homem
para salvá-lo, porém, a promessa divina é diferente, pois Deus vela, não do homem, mas
da sua palavra para cumprir: “... Eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” ( Jr 1:12
). 

Deus não decretou salvo quem Ele anteviu, e nem por ser Soberano decretou que alguns
homens seriam salvos. Por quê? Porque Deus não faz acepção de pessoas! Para Deus
nenhum dos homens é diferente: os gerados segundo a carne de Adão são rejeitados, e
os gerados de novo, segundo Cristo, são aceitos.

 Por não fazer acepção de pessoas Deus deseja que todos se salvem "Que quer
que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" ( 1Tm
2:4 );
 Por não fazer acepção de pessoas Deus amou o mundo "Porque Deus amou o
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" ( Jo 3:16 );
 Por não fazer acepção de pessoas, Deus a todos encerrou debaixo da
desobediência de Adão para que Ele pudesse usar de misericórdia com todos
através da obediência de Cristo, o último Adão “Mas a Escritura encerrou tudo
debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos
crentes” ( Gl 3:22 ; Rm 11:32 );
 Por não fazer acepção de pessoas, Deus não faz distinção entre os membros do
corpo de Cristo “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há
macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” ( Gl 3:28 ).

A base da salvação não é a eleição e nem a predestinação, antes é a palavra de Deus.


Desde Abel a salvação se dá por intermédio da palavra que concede vida aos homens
( Dt 8:3 ). Assim como Deus, na velha aliança, disse que o homem viverá da palavra da
Sua boca, na nova aliança quem dá vida é o pão vivo que desceu do céu "Como está
escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E
todo aquele que crer nela não será confundido" ( Rm 9:33 ).

Por salvar Abraão porque creu na sua palavra, Deus se obriga a salvar a todos que
tenham a mesma confiança que teve o crente Abraão. Deus é justo, e a salvação é uma
questão de justiça proveniente de um direito "E todo aquele que tiver deixado casas, ou
irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu
nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna" ( Mt 19:29 ).

Qualquer que deixar casa, irmãos, irmãs, pai e mãe tem o direito a vida eterna, e a
aplicabilidade universal da promessa é o que se denomina equidade “Por isso, o
SENHOR esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se
compadecer de vós, porque o SENHOR é um Deus de equidade; bem-aventurados todos
os que nele esperam” ( Is 30:18 ).

Como Deus é Deus de equidade, somente os que nele esperam são bem-aventurados, ou
seja, quem ouve e crê na palavra de Deus “Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo
de Israel: Voltando e descansando sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a
vossa força, mas não quisestes” ( Is 30:15 ). Haveria algum mérito por parte do homem
em voltar e descansar? Estar sossegado e confiante é meritório? Não! Estar sossegado e
descansado é o exercício da confiança na palavra da fé somente.

O erro que a teologia reformada apresenta sobre os temas eleição e predestinação não
leva em conta a equidade de Deus, pois fixa, sem critérios, o tratamento que Deus
dispensa para com as suas criaturas. Equidade é justiça e igualdade! Deus faz justiça a
todos os homens sem distinção alguma.

Deus julga em equidade, não em soberania. Ele estabeleceu a sua palavra como
parâmetro de justiça e a palavra de Deus é perfeita.

Deus julga com equidade porque como legislador e juiz se submete à sua palavra
“Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e
pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome” ( Sl 138:2
).

Não é de se admirar que Deus salva apenas alguns, antes devemos nos admirar pelo fato
de Deus possuir todo poder nos céus e na terra e se resignar a desejar que todos os
homens se salvem e, sem violar a sua palavra, salvar somente aqueles que creem na sua
palavra. Fico admirado de Deus resistir à sua própria vontade, pois não basta Ele querer
que todos se salvem, antes é necessário que venham ao conhecimento da verdade para
que Ele possa dignificar-se em salvá-los ( 1Tm 2:4 ), porque onde está o Espírito de
Deus, ai há liberdade.

Fico admirado também de que Deus tenha providenciado poderosa salvação a todos os
homens "Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os
homens" ( Tt 2:11 ) e, apesar de ser oniponte, roga, por intermédio dos seus
embaixadores, que os homens se reconciliem com Ele "De sorte que somos
embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da
parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus" ( 2Co 5:20 ).

Deus não é obrigado a salvar a todos, mas se obrigou a salvar os crentes pela loucura da
pregação “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua
sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” ( 1Co 1:21 ). É
admirável que Deus se obrigue a salvar a todos que n’Ele crê, sem fazer acepção
alguma.
Apontar a soberania de Deus para justificar a afirmação de que Deus salva alguns em
detrimento de outros, fere a perfeição de Deus pois, apesar de ser soberano:

 Deus não nega a si mesmo ( 2Tm 2:13 );


 Deus não pode mentir ( Tg 1:12 );
 Deus a ninguém oprime ( Jó 37:23);
 A ninguém tenta ( Tg 1:13 );
 Deus não aceita suborno ( 2Cr 19:7 );
 Deus não faz acepção de pessoas ( 2Cr 19:7 );
 Deus não pode deixar de fazer justiça, e ( Lc 18:7 );
 Deus não atende pedidos que contrarie a sua natureza ( Ex 32:32 ).

Apesar de ter vontade de salvar todos os homens e ser poderoso para fazê-lo, por ser
justo e equânime Deus salvará somente os que O amam "E faço misericórdia a milhares
dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos" ( Ex 20:6 ).

Basta aprender o significado de “Misericórdia quero, e não sacrifício” ( Mt 9:13 ), que


se compreenderá a palavra que diz: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (
Ex 33:19 ), pois Deus faz misericórdia aos que tem misericórdia ( Os 6:4 -6).

Por causa da promessa de vida eterna que é anterior aos tempos dos séculos, Deus se
obrigou a salvar todos quantos creem ( Tt 1:2 ), pois terá misericórdia dos
misericordiosos ( Mt 5:7 ).

A Salvação é Condicionada ou Incondicionada?


Como exemplo, caso alguém ofereça um copo com água a alguém com sede, que mérito
há em beber a água? É isto que Jesus oferece: "E no último dia, o grande dia da festa,
Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba" ( Jo
7:37 ). Ora, se alguém tem sede, que venha e beba: oferta de salvação. A salvação é
incondicional, pois se destina a quem quiser beber “Mas aquele que beber da água que
eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água
que salte para a vida eterna” ( Jo 4:14 ). 

No Antigo Testamento a salvação é apresentada de várias formas ao povo. Dentre elas


destacamos:

a) Ordem – “Olhai para mim, e sereis salvos...” ( Is 45:22 );


b) Convite - "Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes
dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho
e leite" ( Is 55:1 );
c) Orientação – "E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao
SENHOR vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e
grande em benignidade, e se arrepende do mal" ( Jl 2:13 ).
O que estes versículos apresentam: uma condição a ser satisfeita pelo homem ou
apontam uma necessidade intrínseca ao homem?

No Antigo Testamento não havia a concepção de ‘promessa’ como é usual em nossos


dias, pois era o bastante afirmar que alguém disse ou proferiu alguma palavra com
referência ao futuro para ser aceito como verdadeiro “…onde nossas versões
portuguesas dizem que alguém prometeu alguma coisa, o hebraico simplesmente afirma
que alguém disse ou proferiu (‘amar, dabhar) alguma palavra com referência ao
futuro…” (Promessa. In: DOUGLAS, J.D. O novo dicionário da Bíblia, t.II, p.1330).

Em nossos dias, por causa da crescente onda de mentiras, a idéia de promessa assume
um significado específico. Não basta alguém declarar algo a respeito do futuro, antes
deve declinar a sua palavra e dar peso a ela através de uma promessa.

Por ‘promessa’, os lexicógrafos modernos definem como ‘ato ou efeito de prometer’ ou


‘compromisso oral ou escrito de realizar um ato ou de contrair uma obrigação’. Tal
palavra tem origem no latim “promissa”, palavra derivada do plural de uma forma
verbal “promissum” cujo significado é ‘lançar, atirar longe, deixar crescer para diante,
oferecer, propor, obrigar-se, etc.

A idéia grega proveniente da palavra ‘epangelia’ também não segue a concepção atual
de promessa. Para os gregos a idéia de promessa vincula-se a palavra grega “epangelia”
(επαγγελια) que também significa ‘anuncio’, ‘mensagem’, e deriva da mesma raiz da
palavra ‘evangelho’.

Percebe-se que na antiguidade ‘anunciar’ ou transmitir uma ‘mensagem’ era o mesmo


que estabelecer algo veraz. Se alguém proferisse alguma palavra com referência ao
futuro, era mais que suficiente para ter a devida credibilidade.

Hoje, para dar à devida credibilidade as palavras que proferimos, é usual prometer ou
até estabelecer um compromisso oral ou escrito de realizar um ato ou de contrair uma
obrigação frente algumas testemunhas ou autoridade constituídas para este fim.

Ora, a palavra, o anúncio, a mensagem ou o que Deus proferiu a respeito do futuro é


superior ao que entendemos hoje por promessa. ‘... será salvo...’ é a palavra que Deus
(aquele que não pode mentir) proferiu a respeito da salvação "Em esperança da vida
eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos" ( Tt
1:2 ). 

A palavra proferida por Deus acerca da salvação é incondicional, pois foi estabelecida
‘antes dos tempos dos séculos’. Deus falou acerca da salvação e o cordeiro foi morto
antes da existência dos homens, e tal palavra tornou-se conhecida no seu devido tempo
por intermédio do evangelho ( Tt 1:3 ). 

Quando Deus prometeu (επαγγελια) salvação, não foi imposta nenhuma condição, uma
vez que os homens ainda não existiam. Porém, o que era necessário para levar a efeito a
palavra que foi anunciada antes dos tempos dos séculos foi providenciado: o cordeiro
foi morto antes da fundação do mundo ( Ap 13:8 ). 
Não há como relacionar a promessa de salvação a algum mérito por parte do homem,
pois o que era preciso para salvá-lo foi realizado por Deus antes de o homem vir à
existência. 

Quando Deus diz: “Olhai para mim, e sereis salvos...” ( Is 45:22 ), a sua palavra
demonstra que o homem está perdido e que necessita de salvação. É por isso que Jesus
disse a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo” ( Jo 3:7 b). 

A necessidade é premente a todos os homens. Todos precisam de salvação porque estão


perdidos, e somente Deus pode satisfazer-lhes a necessidade. 

Deus apontou aos homens a necessidade do novo nascimento, porém, o novo


nascimento não é possível aos homens, da mesma forma que o nascimento natural. 

Como é possível ao homem promover um novo nascimento?  

Ora, o homem só nasce de novo quando nasce da água (palavra) e do Espírito (de Deus).
Não há como o homem ser participante ativo do novo nascimento, pois é preciso um
novo coração e um novo espírito que só Deus tem poder para criar ( Sl 51:10 ).

Por isso, quando lemos: "Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será
condenado" ( Mc 16:16 ), a mensagem deve ser entendida como um convite à salvação
e não como uma condição a ser satisfeita pelo próprio homem. 

“Quem crer...” não deve ser entendido como uma condição restritiva de salvação aos
homens, antes diz de uma oferta salvadora a todos os homens, preservando-lhes o livre
arbítrio. Como oferecer salvação gratuita a todos os homens sem influenciá-los? 

Quando se lê: “Quem crer em mim, como diz as escrituras...” ( Jo 7:38 ), a primeira
idéia que vem a mente é que a fé é algo exigível para a salvação como elemento de
barganha. A salvação não é elemento de barganha, antes, é oferta graciosa.  

O evangelho não estabelece exigências ao homem, pois se assim fosse deixaria de ser
oferta graciosa e para se estabelecer um acordo entre as partes. 

Para melhor compreender a oferta redentora é preciso considerar os elementos que


envolveram a queda da humanidade em Adão. Quando lemos: “De toda a árvore do
jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não
comerá, pois no dia em que comeres, certamente morrerás” ( Gn 2:17 ), perceba que
Deus enfatizou em primeiro lugar a plena liberdade para se comer de todas as árvores
do jardim. 

Em segundo lugar, Deus alerta sobre as conseqüências em decidir-se por lançar mão do
fruto da árvore do bem e do mal. Foi concedida ao homem liberdade plena com:
garantias (acesso a todas as árvores), meios (árvore da vida, árvore do conhecimento do
bem e do mal e toda sorte de árvores frutíferas) e o conhecimento necessário para
exercício desta liberdade (restrição com as conseqüências). 
Satanás ao tentar a mulher enfatizou somente a proibição: “É assim que Deus disse: Não
comereis de toda árvore do jardim?” ( Gn 3:1 ). Onde Deus estabeleceu plena liberdade,
satanás apresentou ao homem somente a proibição. 

Ou seja, quando se diz: “Quem crer em mim... ’ a ênfase do anunciado é salvação a


todos os homens. Todos quantos crerem, sem exceção, será salvos "Porque a promessa
vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos
Deus nosso Senhor chamar" ( At 2:39 ). 

Quando se diz: “Quem crer...” é o mesmo que: “... a promessa vos diz respeito a vós, a
vossos filhos (judeus), e a todos os que estão longe (gentios), a tantos quantos Deus
nosso Senhor chamar", ou seja, Deus não está restringindo a sua graça, antes ele
manifesta a sua graça a tantos quantos forem chamados, pois o seu desejo é que
ninguém se perca, mas que venham ao conhecimento da vida eterna ( 1Tm 2:4 ). 

É por isso que Paulo disse que a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos
os homens ( Tt 2:11 ). A manifesta benignidade de Deus não veio por obras de justiças
realizáveis por parte do homem, mas por intermédio da sua misericórdia ( Tt 3:4 -5). 

A graça de Deus foi concedida aos homens antes dos tempos eternos e manifesto através
do aparecimento de Jesus o salvador, pois ele destruiu a morte trazendo à luz a vida e a
imortalidade pelo evangelho ( 2Tm 1:9 -10). 

A graça foi dada em um tempo imemorial através da oferta do cordeiro, porém, tal fato
tornou-se conhecido dos homens através da manifestação (aparecimento) de Cristo.
Temos dois eventos distintos. 

A graça de Deus é incondicional, ou seja, não depende de obras para ser alcançada. Ela
foi concedida aos homens antes de virem à existência, portanto é incondicional,
graciosa.  

Mas, que se dirá da fé? A salvação não necessita de fé? 

A fé em Cristo não se compara a idéia de fé que existe em outras crenças.  

A fé ou a crença dos homens resulta de um esforço próprio em acreditar em seus ídolos.


Embora os ídolos nada sejam, os seus seguidores nutrem uma crença que teve origem
neles mesmo "Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos
que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só" ( 1Co 8:4 ). 

Os ídolos dependem da devoção (crença) de seus seguidores, uma vez que sem a
‘devida’ devoção deixariam de ser ídolos. Com relação a Deus, quer creia ou não, Deus
sempre será Deus. Ele não depende da fé dos homens para existir ou para realizar os
seus propósitos como é o caso dos ídolos. 

Um exemplo de esforço humano em acreditar em seus deuses visualiza-se nos


seguidores de Baal, quando desafiados por Elias. Eles invocaram a Baal desde a manhã
até o meio-dia fazendo oferendas e retalhando os seus corpos, porém, não desistiram da
crença em Baal ( 1Re 18:28 ). 
Os livros de auto-ajuda apregoam uma fé em si mesmo. Confiança e persistência em
realizar o que se propõe tornam-se a força motriz das realizações humanas, o que
também denominam fé. Da fé procedem os desígnios dos homens e as suas realizações
neste mundo: é a fé natural que o homem adquire proveniente das leis naturais que
regem este mundo. 

A fé para salvação não é o lançar-se no improvável, antes é certeza quanto às coisas que
se esperam. A fé diz da confiança na esperança proposta, e não naquilo que não foi
proposto “ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que se não vêem” ( Hb 11:1 ). 

Deus havia determinado ao povo de Israel que não levassem a arca da aliança para a
guerra, porém, quando guerrearam contra os filisteus desobedeceram a Deus e
confiaram que a arca da aliança haveria de livrá-los do inimigo "E voltando o povo ao
arraial, disseram os anciãos de Israel: Por que nos feriu o SENHOR hoje diante dos
filisteus? Tragamos de Siló a arca da aliança do SENHOR, e venha no meio de nós, para
que nos livre da mão de nossos inimigos" ( 1Sm 4:3 ). 

Ora, a confiança deles era grande, pois estavam motivados a irem à batalha e cantaram
em alta voz de tal forma que a terra chegou a estremecer. A confiança deles de nada
aproveitou, pois ignoraram (desprezaram) a palavra de Deus e seguiram os seus
corações enganosos "E sucedeu que, vindo a arca da aliança do SENHOR ao arraial,
todo o Israel gritou com grande júbilo, até que a terra estremeceu" ( 1Sm 4:5 ). 

A fé que tiveram não os salvou, pois Deus não tinha compromisso com os rebelados.
Lançaram-se onde não havia promessa. O ato de lançarem-se confiados seriam
vencedores indica que tinham fé, porém, a fé deles não tinha como base o firme
fundamento, que é a palavra de Deus.

A definição que o escritor aos hebreus apresenta sobre a fé, demonstra que só em Deus
é possível ter certeza quanto ao que se espera. A fé em Deus constitui-se em prova das
coisas que não se vêem, pois é o mesmo que lançar mão da esperança proposta ( Hb
6:18 ). 

Ora, quando Jesus disse: “Quem crê em mim, conforme diz as escrituras...”, temos uma
oferta de salvação a todos os homens que ao ouvirem a palavra da verdade lancem mão
(crer) da esperança proposta.  

Há muitos tipos de fé e crenças. Muitos crêem em Cristo como um ser elevado, outros
como sendo um anjo de Deus, outros um espírito iluminado, outros que ele não veio em
carne, outros que não ressurgiu etc. De nada lhes aproveitará tal fé para a salvação, pois
devem crer segundo a palavra de Deus (segundo a esperança proposta). 

Em nossos dias há um pseudo-evangelho que anuncia que Deus prometeu aos que
crêem bens materiais, relacionamentos amorosos, sucesso profissional, vida conjugal,
destaque na sociedade, etc., porém, Cristo não fez promessas específicas e pontuais
acerca do dia-a-dia dos seus seguidores, pois a sua promessa é a de vida eterna "E esta é
a promessa que ele nos fez: a vida eterna" ( 1Jo 2:25 ). 
Como prova de fé muitos lideres solicitam contribuições, doações, votos, provas,
desafios e muitos se lançam no improvável, porém, de nada lhes adiantará tamanha fé,
pois não é segundo a esperança proposta.  

Com relação à vida dos servos de Cristo tem-se a promessa de que Ele estará com eles
todos os dias; que tudo concorrerá para o bem deles; que em tudo teriam toda a
suficiência; que teriam aflição neste mundo, mas que tivessem bom ânimo. Todas as
promessas de Cristo diferem completamente do que se anuncia em nossos dias.  

A fé para salvação não é um sentimento, um patuá ou um talismã que o homem se


apodera para manter-se unido a Deus. A fé para a salvação não é fé na fé, ou seja, não é
a fé que moverá as montanhas ou propiciará salvação (a fé é naquele que remove
montanhas), antes a fé para salvação é descansar em Deus que prometeu (esperança
proposta) e tem poder para mover montanhas (fazer o impossível aos homens). Confiar
nele equivale a descansar, a estar quieto. 

Somente descansa e fica quieto aquele que constata que Deus é verdadeiro ( Sl 46:10 ).
A fé por si só não faz o impossível, antes é Deus quem faz o impossível, segundo a sua
palavra (esperança proposta) "E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso
impossível, mas a Deus tudo é possível" ( Mt 19:26 ).

Ora, confiar em Deus é o mesmo que: obedecer, cumprir os seus mandamentos,


descansar, aquietar, assentar, arrepender-se, etc.

A fé está em Cristo “...sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a
salvação, pela fé que há em Cristo” ( 2Tm 3:15 ). A fé que há em Cristo é que promove
a salvação, e não a fé proveniente da concepção humana.

A fé para salvação é rendição frente à impossibilidade do homem promover a própria


salvação. É descansar, entregar-se por ver que a salvação não depende e nem é
promovida através de obras humanas.

Não foi o esforço de Naamã ao descer e mergulhar no rio que o livrou da lepra. Ele foi
limpo da lepra segundo a palavra do profeta Eliseu.

Alguém acometido da mesma doença que Naamã poderá ir hoje ao rio Jordão crendo
que se mergulhasse sete vezes ficaria limpo, porém, tal confiança no mergulho no rio,
ou no número de vezes a mergulhar, ou no local como propício para uma manifestação
de Deus, etc, de nada aproveitará, pois as ações e nem a pretensa confiança promovem a
cura.

Naamã só foi curado porque desceu ao rio segundo a palavra de Deus. Houve a
multiplicação de peixes porque os discípulos lançaram a rede segundo a palavra de
Jesus. Pedro andou sobre as águas porque se lançou as águas segundo a palavra de
Jesus.

De igual modo, o homem só é salvo quando se lança sobre a palavra de Deus, anunciada
por intermédio do evangelho (esperança proposta). A salvação é incondicional do
mesmo modo que foi incondicional a cura de Naamã.
A salvação é incondicional por não depender de ações humanas. Deus anunciou
salvação providenciando o cordeiro que foi morto antes da existência dos homens. Ou
seja, quando falamos de mérito, não há mérito algum em acreditar na promessa de
salvação.

Alguém pode argumentar que Naamã cooperou com Deus, porém, não há cooperação
quando só uma das partes é beneficiada. Que benefício teve Deus com a cura de
Naamã?

Quando falamos de salvação podem ocorrer dois erros bem distintos:

A)   Considerar que a salvação é o resultado da cooperação entre Deus e os homens.


Que é preciso esforço por parte do homem, ou que depende da crença do homem
(condicional). Alega que a salvação é por fé, mas negam-lhe a eficácia, ao acreditar que
depende do esforço;

B)   Por outro lado, ao dizer que a salvação é incondicional, muitos a compreendem
segundo a visão calvinista e arminianista. Consideram que a salvação é o resultado de
uma escolha de Deus (segundo a sua soberania ou segundo a sua presciência) de alguns
homens para a salvação. Em última análise, segundo os calvinistas e os arminianistas,
certos homens nunca estiveram realmente perdidos e outros nunca tiveram oportunidade
de salvação.

As promessas de Deus não são condicionais, pois todas elas cumprem-se em Cristo
"Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para
glória de Deus por nós" ( 2Co 1:20 ). 

A salvação não é condicional porque não depende do homem ser fiel a Cristo, como
dizem aqueles que consideram que a salvação depende da fé ou de esforços do homem.
Exigir que o homem fosse fiel a Deus é impossível aparte do evangelho (da esperança
proposta).

A bíblia demonstra que só é possível ser fiel quando se está em Cristo, diferente da idéia
que propõe que o homem seja fiel a Cristo "PAULO, apóstolo de Jesus Cristo, pela
vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus:" ( Ef 1:1 ).

A fé para salvação é ‘aguardar na esperança proposta’, ou seja, que ação, obra ou


cooperação exerce quem espera que uma promessa seja cumprida? Que ação, obra ou
cooperação fará quem espera naquele que é fiel ( Hb 10:23 ), que não pode mentir ( Tt
1:2 ), e é todo poder ( Jd 1:4 )?

Antes de ter a esperança de vida eterna não há como ser fiel. Somente após receber a
esperança proposta no evangelho o homem torna-se uma nova criatura, fiel em Cristo.

A esperança da vida eterna (fé) vem pelo ouvir acerca da esperança proposta. Ou seja, a
fé que há em Cristo é dom de Deus concedido graciosamente a todos os homens.

Só é possível ouvir (ter vida) através da palavra de Deus. É por isso que o evangelho é
denominado de palavra da vida ( 1Jo 1:1 ; Fl 2:16 ) e palavra da fé ( 1Tm 4:6 ), pois
promove a vida e a fé.
Para aqueles que aguardam a esperança proposta (crêem) só resta batalhar pela fé
(evangelho) que um dia foi dado aos santos ( Fl 1:27 ; Jd 1:3 ).

Como exemplo, caso alguém ofereça um copo com água a alguém com sede, que mérito
há em beber a água? É isto que Jesus oferece: "E no último dia, o grande dia da festa,
Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba" ( Jo
7:37 ). Ora, se alguém tem sede, que venha e beba: oferta de salvação.

A salvação é incondicional, pois se destina a quem quiser beber “Mas aquele que beber
da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma
fonte de água que salte para a vida eterna” ( Jo 4:14 ).

Ora, como a salvação é para quem quiser, também é inválida a concepção de que alguns
homens nunca estiveram perdidos (porque nasceu predestinado à salvação), e que outros
jamais serão salvos.

Ora, a salvação está em Deus através da esperança proposta em Cristo a todos quantos
forem chamados através da mensagem do evangelho. Muitos são chamados através do
evangelho, porém poucos bebem da água oferecida, que lhes daria a condição de
escolhido ( Mt 22:14 ).

De igual modo são muitos que entram pela porta larga (nascem de Adão), mais poucos
que entram pela porta estreita (nascem de novo). Nem todos entraram pela porta estreita
porque Jesus é o único homem gerado de Deus, ou seja, que não nasceu de Adão, que
não entrou pela porta larga.

Em primeiro lugar o homem deve descansar na esperança proposta, na oferta de água


que faz saltar uma fonte para a vida eterna. Em segundo lugar ocorre a regeneração, o
nascer de novo, quando o homem entra pela porta estreita. Em terceiro lugar, a
confiança na esperança produz a sua obra, a perseverança: obra perfeita da fé ( Tg 1:4 ).

É um erro considerar que a primeira obra de alguém regenerado é crer. Primeiro, porque
qualquer que entrou no repouso de Deus descansou de suas obras como Deus das suas
( Hb 4:10 ); Segundo, o cristão está assentado nas regiões celestiais com Cristo em
Deus. Não há obras a realizar para quem está assentado ( Ef 1:3 e Ef 2:6 ); Terceiro, se
não foi exigido obras quando éramos pecadores, agora que já fomos reconciliados, resta
somente a sua vinda. ‘Perseverar’ é a obra perfeita que a fé realiza.

Através da perseverança o homem em Cristo torna-se maduro e completo, não tendo


falta de coisa alguma ( Tg 1:3 -4), aguardando a bem-aventurança proposta a quem
beber da água ofertada.

A eleição e a predestinação segundo o eterno propósito


de Deus
Neste artigo procuramos demonstrar de modo sucinto a todos os cristãos o propósito
eterno de Deus, a eleição e a predestinação. Recomendo a leitura deste artigo após a
leitura do artigo 'Geração Eleita', visto que a exposição deste artigo é mais complexa e
demanda uma leitura muito mais detalhada.
 
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que
dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:28 -29)
  
O Propósito Eterno
Muito se fala de eleição e predestinação, porém, quase nada se fala acerca do propósito
eterno de Deus. Como compreender a eleição e a predestinação sem entender qual é o
propósito de Deus ao eleger e predestinar?
O apóstolo Pedro destaca que os cristãos são geração eleita, ou seja, Deus elegeu uma
geração específica para estabelecer o seu propósito eterno. A salvação dos homens
possui conexão com o propósito de Deus, porém, a salvação não é o propósito eterno de
Deus, visto que há um tempo predeterminado para se encerrar a oferta de salvação.
Qual é o propósito eterno de Deus? Por que a geração de Adão não estava à altura do
propósito eterno de Deus? O que perdurará na eternidade que se fez necessário criar
uma nova geração?
O apóstolo Paulo demonstra que o evangelho é um chamado aos homens para um
propósito que vai muito além da salvação. No verso 28 do capítulo 8 de Romanos é
possível verificar que há um chamado da parte de Deus segundo um propósito
específico e eterno “E sabemos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” ( Rm 8:28 ).
E qual é o propósito de Deus? O propósito eterno de Deus é o de conceder a Cristo a
preeminência em todas as coisas ( Cl 1:18 ), e para isso se fez necessário convergir
todas as coisas em Cristo, concedendo-lhe a primogenitura ( Ef 1:10 ). Ao conceder
primogenitura ao seu Filho Unigênito, Cristo alcança a preeminência em tudo ( Cl
1:18 ). 
Para Cristo alcançar a posição preeminente (propósito) fez-se necessário Deus gerar
irmãos semelhantes a Ele. Segundo a bíblia, Jesus, ao ressuscitar, conduziu à glória de
Deus, muitos filhos ( Hb 2:10 ), e neste evento Cristo galgou a posição de primogênito
dentre os mortos, tornando-se primogênito entre muitos irmãos ( Rm 8:29 ).
Todos os homens que Deus chamou através do evangelho e, que creram, estão
predestinados a serem conforme a imagem do seu Filho, deste modo, Cristo possuía
preeminência entre muitos irmãos semelhantes a Ele, o primogênito de Deus.
Para que Cristo tivesse a preeminência em tudo, na plenitude dos tempos Deus O fez
cabeça do corpo, ou seja, da sua igreja. Ser a cabeça da igreja é a posição mais
preeminente, pois Cristo preside a assembléia onde todos são semelhantes a Ele ( Cl
1:18 ; Hb 12:23 ). Entre os filhos de Deus, Cristo assumiu uma posição elevada e mui
sublime ( Sl 89:27 ; Is 52:13 ).
Cristo é o primeiro de uma geração que é limpa de mãos e pura de coração. Todos que
são gerados de novo segundo a semente incorruptível são tal qual Cristo é: são
semelhantes a Ele ( Sl 24:6 ; 1Jo 4:17 ; 1Co 15:48 e 49).
E como Deus operou isto? Através do seu divino poder, ressuscitando o seu Filho
unigênito dentre os mortos ( Ef 1: 19-20), tornando-O o primogênito dentre os mortos.
Deste modo, todos quantos creem na mensagem do evangelho tornam-se participantes
de Cristo, pois são plantados juntamente com Cristo na semelhança da sua morte, para
ressurgirem novas criaturas à semelhança do primogênito dentre os mortos "Porque, se
fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na
da sua ressurreição" ( Rm 6:5 ).
Quando Cristo veio ao mundo, veio como o unigênito de Deus. Somente Ele era Filho
de Deus, ou seja, o único gerado de Deus, porém, entre os homens assumiu a condição
de servo. Sendo Deus, não usurpou ser igual a Deus, antes assumiu a condição de servo
( Fl 2:6 -7 ), deste modo era impossível Cristo ter a preeminência entre os homens ( Hb
2:17 ).
Para se tornar preeminente (propósito) como primogênito entre muitos irmãos, o
unigênito Filho (único gerado) de Deus entregou-se à morte, porém, ressurgiu pelo
poder de Deus, tornando-se o primogênito (primeiro ressurreto) dentre os mortos.
Através da entrega do seu corpo, Cristo abriu um novo e vivo caminho, e através dele,
na condição de último Adão, surgiu uma nova geração de semelhantes e participantes da
natureza de Deus ( 2Pe 1:4 ).
Todos quantos creem em Cristo morrem com ele e ressurgem novas criaturas segundo a
imagem (semelhante) d’Aquele que os criou.
Quando Cristo ressurgiu dentre os mortos, deixou a posição que é descrita como sendo
um pouco menor que a dos anjos (homem), e assumiu uma nova condição: a de
semelhante ao Altíssimo ( Sl 17:15 ).
Através d’Ele, o novo e vivo caminho, muitos homens são conduzidos à glória de Deus
na condição de filhos, pois recebem de Deus poder, o mesmo poder que ressuscitou a
Cristo dentre os mortos ( Jo 1:12 ; Ef 1:19 -20), tornando-se descendentes de uma nova
geração de seres semelhantes ao Sublime ( Is 57:15 compare com Is 52:13 ).
Deste modo, da mesma forma que muitos pasmaram ao ver o servo do Senhor quando
desfigurado, muitos ficarão pasmos ao ver Cristo na posição que alcançou através da
sua Igreja, tornando-se elevado e mui sublime, ou seja, primogênito entre muitos irmão
semelhantes a Ele ( Is 52:13 -15). Só é possível ser preeminente quando se está entre
semelhantes, da mesma forma que só é possível ser primogênito quando se tem outros
irmãos.

Nota: Quando a bíblia diz que os salvos na plenitude dos tempos serão ‘semelhantes’ a
Deus, isto não quer dizer que seremos ‘iguais’ a Deus, ou seja, que seremos eternos,
prescientes, onipresentes e onipotentes. Ser ‘semelhante’ ao Altíssimo diz de uma nova
categoria de seres que assumirão a mais alta posição na hierarquia celestial. É uma
posição superior a todas as categorias de anjos, posição esta que foi cobiçada por
satanás “Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo" ( Is
14:14 ), mas que foi do agrado de Deus concedê-la aos descendentes do seu Filho ( Gn
1:26 ). A posição de semelhantes ao Altíssimo confere aos cristãos a possibilidade de
julgarem todas as categorias de anjos, pois seremos como que as ‘primícias’ (melhor)
de suas criaturas "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para
que fôssemos como primícias das suas criaturas" ( Tg 1:18 ); "Amados, agora somos
filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que,
quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos"
( 1Jo 3:2 ; 1Co 6:3 ). Quando Cristo ressurgiu dentre os mortos se satisfez ao adquirir
a semelhança "Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da
tua semelhança quando acordar" ( Sl 17:15 ), posição esta que compartilhará com
todos que ressurgem com Ele “Eis que o meu servo procederá com prudência; será
exaltado, e elevado, e mui sublime” ( Is 52:13 ). Por fim, Cristo entregará todas as
coisas que o Pai lhe sujeitou “... para que Deus seja tudo em todos” ( 1Co 15:24 -28 ).
Ser semelhante a Deus não é o mesmo que possuir a essência ou os atributos de Deus.
Não seremos ‘deificados’, pois os atributos de Deus são incomunicáveis às suas
criaturas.

 
Sombra dos bens futuros
Sabemos que o Antigo Testamento constitui-se sombra das coisas futuras e que a
realidade encontra-se em Cristo, portanto, analisaremos a sombra para entender a
realidade. Analisaremos algumas personagens que viveram sob a velha aliança e, que
prefiguram no livro do Gênesis a pessoa e obra de Cristo, para entendermos qual a
relação entre primogenitura e propósito eterno.
 

 Isaque, o unigênito de Abraão.

Deus exigiu de Abraão o sacrifício do seu único filho, mas ao providenciar o cordeiro
para o holocausto que o patriarca ia oferecer, Deus demonstrou a todos os homens que
já havia providenciado o cordeiro em resgate de todos os homens que existiam na região
da sombra da morte: Cristo, o unigênito de Deus, o cordeiro que foi morto antes mesmo
da fundação do mundo.
Em Isaque não há o que se discutir quanto à preeminência e primogenitura, visto que ele
era unigênito. Como sombra, Isaque aponta para Cristo como a providência divina
(salvação) que livra o homem da morte certa (condenação). Através de Isaque os
cristãos aprendem que Cristo é o único sacrifício pelo pecado da humanidade e, não há
na história de Isaque qualquer referência a eleição.
Isaque é figura que ilustra a providência de Deus para salvação do mundo perdido.
Somente através do seu único Filho, Deus proveu salvação a todos que estavam
condenados à morte em decorrência da desobediência de Adão, pois assim exigia a
justiça de Deus.
 

 A primogenitura de Esaú e Jacó.

A passagem bíblica de Esaú e Jacó ilustra o que vem a ser ‘eleição’, ou seja, os gêmeos
constituem uma alegoria que possibilita compreender como Deus elege os homens para
um propósito. Deste modo, Esaú e Jacó torna compreensível a eleição segundo o
propósito eterno de Deus, que é fazer o seu Filho unigênito preeminente, constituindo
para isto muitos irmãos.
Diferente do que alguns pensam, a eleição de Deus em Esaú e Jacó não era para
salvação, antes foi uma escolha entre os dois filhos gêmeos de Isaque para conceder a
um deles a bênção da primogenitura. Através da eleição estabeleceu-se quem receberia
a benção de ter o Descendente fazendo parte da sua linhagem, Aquele que se tornou o
protagonista do propósito eterno.
Em Esaú e Jacó temos uma disputa pela benção que decorre do direito de
primogenitura. Como há somente uma bênção e dois concorrentes, há que se ter a
eleição. Porém é importante lembrar aqui que os eventos do antigo testamento são
figuras, e esta disputa, a disputa entre Esaú e Jacó serve apenas para ilustrar qual é o
parâmetro de Deus para a eleição.
Observe que não estamos abordando questões relativas à salvação, antes a do propósito
de Deus segundo a eleição. Embora a eleição em Esaú e Jacó possa ilustrar a eleição em
Cristo, é necessário divisar bem que, os eventos são distintos e os propósitos são
distintos. O propósito da eleição entre Esaú e Jacó visava à linhagem do Messias, e a
eleição no Novo Testamento visa o propósito eterno.
Sem propósito não há eleição, ou seja, a eleição ocorre segundo um propósito
específico. Como já vimos, o propósito maior, ou seja, o propósito eterno é a
preeminência de Cristo em tudo, porém, desde que Deus colocou em curso o propósito
eterno, vários outros propósitos menores se fizeram necessários.
Por exemplo: para fazer com que todas as coisas convergissem para Cristo, fez-se
necessário introduzi-lo no mundo. Para introduzir o Messias no mundo se fez necessário
constituir uma linhagem humana e preservá-la e, para preservá-la, várias escolhas se
fizeram necessárias em função do propósito de preservar a linhagem que, em última
instância, remete ao propósito eterno.
No capítulo 9 da carta aos Romanos o apóstolo Paulo evidência que, embora Abraão e
seus descendentes segundo a carne tenham sido chamados para trazer o Cristo ao
mundo, eles foram chamados segundo um propósito terreno ( Rm 9:4 -5).
A tristeza do apóstolo Paulo evidencia que os descendentes de Abraão segundo a carne
não são contados como filhos de Deus, mesmo que a eles pertence a lei, os profetas, o
culto, as promessas, etc., antes os filhos de Deus são aqueles gerados segundo a
promessa do evangelho que primeiramente foi anunciado a Abraão, porém o chamado
deles serviu somente para trazer Cristo ao mundo ( Rm 9:1- 8 ; Gl 3:8 ).
Deste modo, temos que Deus chamou a nação de Israel para trazer o seu Filho unigênito
ao mundo, visto que foram eleitos para este propósito. Porém, com relação ao corpo de
Cristo, Deus elegeu a igreja para participar de um ministério mais excelente, confirmada
em melhores promessas ( Hb 8:6 ).
Enquanto a vocação de Israel era terrena, pois o Messias viria em carne, a vocação da
igreja é celestial, firmado em promessa superior, que estabelece o Cristo como
preeminente em todas as coisas.
Nem todos os descendentes de Abraão eram israelitas ( Rm 9:6 e 7), ou seja, muitos não
eram salvos da condenação estabelecida em Adão, porém, como a vocação para trazer
Cristo ao mundo era terrena, todos os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, salvos ou
não, foram participantes deste propósito. E como a vocação para ser semelhante a
Cristo é celestial, somente participam desta vocação os salvos da condenação de Adão
por intermédio do evangelho de Cristo ( Hb 3:1 ).
Ambos, Israel e Esaú são figuras utilizadas pelo apóstolo Paulo para ilustrar o parâmetro
que Deus utilizou para rejeitar Israel e eleger a igreja para o seu propósito eterno.
Por que Deus escolheu Jacó, e rejeitou Esaú?
O apóstolo Paulo no capítulo 9 da carta aos Romanos esclarece que os filhos da carne de
Abraão foram rejeitados por Deus e, aponta que somente os filhos da promessa são
contados como filhos de Deus ( Rm 9:8 ), visto que a promessa do Descendente
cumpre-se através da descendência de Isaque ( Rm 9:7 ).
Quem lê as escrituras deve compreender que a promessa: “Em Isaque será chamada a
tua descendência” ( Rm 9:6 ), deve ser interpretada conforme o apóstolo Paulo expôs
aos Gálatas: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E
às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência,
que é Cristo” ( Gl 3:16 ).
Cristo é a descendência prometida a Abraão, e através de Isaque Deus traria o Cristo à
existência. Ou seja, Deus estava dizendo a Abraão que a sua semente segundo a carne
foi vocacionada para trazer o Descendente prometido. Nesta vocação não há salvação,
antes para serem salvos, todos os descendentes da carne de Abraão precisariam ter a
mesma fé que o crente Abraão.
Quais são os filhos da promessa que são filhos de Abraão, ou seja, filhos de Deus? A
descendência segundo a carne de Abraão? Não! O apóstolo Paulo diz da descendência
do Descendente, ou seja, a nova geração, estes são contados como filhos de Deus ( Rm
9:8 ). Somente a geração do Descendente é contada como filhos da promessa!
Neste ponto o apóstolo passa aos exemplos. Sara foi agraciada com uma promessa: “Por
este tempo virei, e Sara terá um filho” ( Rm 9:9 ). Por que esta promessa? Porque ela
aponta o cuidado de Deus em trazer o Descendente através da linhagem de Abraão e
Isaque.
Mas, não só foi Sara que recebeu uma promessa. Rebeca também recebeu uma
promessa, porém, de modo diferente. Enquanto Sara foi informada que teria um filho no
seu devido tempo, Rebeca, que também era estéril, após conceber milagrosamente, foi
informada que havia duas nações em seu ventre e, que o maior serviria o menor ( Gn
25:23 ).
Deus disse a Rebeca que o maior serviria o menor e a profecia se confirmou, visto o que
Deus disse por intermédio do profeta Malaquias: “Amei Jacó e odiei a Esaú” ( Ml 1:2 -
3).
Mas por que Deus antecipou a Rebeca que o maior serviria o menor? Qual o propósito
d’Ele? Sabemos que Deus propôs trazer o Cristo segundo a descendência da carne de
Abraão e Isaque, ou seja, a descendência da carne de Abraão foi chamada e, mesmo
diante do impossível (Sara e Rebeca eram estéreis), Deus demonstrou que tudo concorre
para o bem daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
O apóstolo Paulo buscou evidenciar que, mesmo os descendentes da carne de Abraão
tendo sido chamados para o propósito de trazer o Messias ao mundo, Deus optou pela
linhagem de Jacó. E como Deus fez isso? Chamou-o antes mesmo de nascer. Antes
mesmo de ter praticado qualquer ação (bem ou mal), para ficar nítido que é Ele que
chama para o seu propósito.      
Observe: “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que
o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por
aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor” ( Rm 9:11-12).
Foi predito que o maior serviria o menor para que o propósito de Deus permanecesse
firme, ou seja, o mais importante é o propósito estabelecido: a vinda do Messias. Mas,
como o propósito é firme por causa daquele que chama, Deus chamou Jacó antes que
ele viesse à existência, e fez com que tudo cocorresse para o bem daquele que estava
sendo utilizado para o propósito.
O verso 11 de Romanos 9 ilustra na forma de uma aposto explicativo, que tudo concorre
para o bem daqueles que são chamados segundo o propósito de Deus, não importando
se o chamado repousa sobre um dos descendentes de Abraão (Jacó) ou um gentio
(Ciro), pois o propósito divino era fazer Cristo preeminente, pois para isto Ele foi eleito
antes dos tempos que se mede em séculos.
O chamado de Jacó antes mesmo de nascer demonstra a presciência de Deus em função
do propósito estabelecido em Cristo, eleito antes da fundação do mundo, pois somente
Ele era capaz de trazer a existência uma nova geração a altura do propósito eterno. 
Como o propósito é firme, Cristo veio em carne através da linhagem de Abraão,
conforme havia sido prometido a Abraão e Isaque, e Jacó foi agraciado com este direito
antes mesmo de nascer.
Jacó foi chamado em função do propósito estabelecido em Cristo. A eleição de Cristo
deu-se em função do propósito de Deus, e como o propósito é imutável, Deus chamou
Jacó quando antecipou os eventos futuros à Rebeca.
Enquanto os cristãos pertencem a uma nova geração que foi eleita para o propósito da
preeminência de Cristo (vocação celestial), Jacó foi eleito para participar indiretamente
do propósito eterno como integrante da linhagem humana de Cristo (vocação terrena).
O verso 11 demonstra que o propósito é daquele que chama segundo o que propusera
em Cristo. Tudo correu bem para Jacó, pois foi chamado segundo um propósito. Tudo
concorre para o bem dos cristãos, pois fazem parte do propósito eterno. O propósito de
Deus é imutável (por aquele que chama) segundo Cristo, ou seja, chamou a Jacó para
trazer o Cristo da descendência de Abraão, pois como o propósito é firme a promessa ao
patriarca cumpriu-se. 
Como Jacó foi chamado? Deus disse a Rebeca que o maior serviria o menor, e ela, após
crer na palavra, passou a incentivar o menor, mesmo sob o risco de ser amaldiçoada
( Gn 27:13 ).
Como a igreja foi chamada? À semelhança de Jacó, a Igreja foi chamada quando Deus
anunciou o evangelho a Abraão, dizendo: "Ora, tendo a Escritura previsto que Deus
havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo:
Todas as nações serão benditas em ti" ( Gl 3:8 ).
Da mesma forma que houve uma escolha entre Esaú e Jacó, houve uma escolha entre a
descendência de Adão e a descendência de Cristo, para que o propósito de Deus
permanecesse firme, pois é Deus que chama, Deus escolheu a nova geração em Cristo e
rejeitou a geração de Adão, isto quando o Cordeiro de Deus foi morto, ou seja, antes da
fundação do mundo. 
Se o cordeiro foi morto, certo é que a geração de Adão foi rejeitada, não podia fazer
parte do propósito eterno de Deus, sendo necessária uma nova geração, pois o propósito
é firme por Aquele que chama "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não
segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada
em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos" ( 2Tm 1:9 ).
Analise o que o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo: que não deveria se envergonhar do
evangelho que é poder de Deus para salvação ( 2Tm 1:8 ; Rm 1:16 ), pois é através do
poder contido no evangelho que Deus nos salvou (Que nos salvou).
Continuando a análise, temos no verso uma conjunção aditiva (e), que liga a primeira
oração (que nos salvou) a segunda (chamou com...), demonstrando que o evento da
primeira oração antecede a da segunda oração, por isso coordenada através da
conjunção aditiva ‘e’.
A salvação deu-se por intermédio do evangelho, que é poder de Deus ( Jo 1:12 ), mas os
que são salvos através do evangelho são transportados para um novo reino e estão
assentados nas regiões celestiais em Cristo, deste modo são participantes de uma
vocação celestial, pois Deus chamou todos os gerados de novo através da semente
incorruptível (evangelho) a serem participantes do propósito eterno: a preeminência de
Cristo em todas as coisas.
Em momento algum o apóstolo diz que Deus escolheu os que seriam salvos, antes que
salvou através do poder contido no evangelho e, que os que ele salvou são os chamados
segundo o propósito eterno, pois a vocação da igreja é celestial, algo próprio a geração
eleita.
No que consistia a primogenitura? A primogenitura diz de um direito próprio ao
primogênito, que é proeminente entre os seus irmãos pelo simples fato de ter sido
gerado primeiro. Ser gerado primeiro é o que dá preeminência entre os demais irmãos, e
dois irmãos não podem ocupar a mesma posição. 
Entre Esaú e Jacó vê-se a disputa pelo direito da primogenitura, o que não era, de modo
algum, uma disputa por salvação. Entre Esaú e Jacó se evidencia uma disputa pela
primogenitura, pois o direito de primogenitura só podia pertencer a uma pessoa, mas
com relação à salvação não há disputa, pois é dada a todos os homens ( Jl 2:32 ; Is
59:1 ). 
A questão do direito à benção da primogenitura já estava estabelecida antes dos dois
irmãos gêmeos virem à existência. Antes de nascerem, ou de terem feito bem ou mal, já
estava certo que, quem nascesse primeiro tinha direito à benção da primogenitura, e isto
era irrevogável. Nascer primeiro era o critério preestabelecido para conceder a benção
da primogenitura, ou seja, o critério da eleição.
Na disputa não estava em voga somente o espólio de Isaque, antes estava se decidindo
questões vinculadas aos bens futuros ( Hb 11:20 ). Ambos, Esaú e Jacó, foram
abençoados e deram origem, segundo a carne, a duas numerosas nações ( Gn 25:23 ),
porém, Jacó alcançou uma bênção sem igual e maior, visto que Esaú desprezou a
primogenitura ( Gn 27:36 ).
No que consistem os bens futuros, visto que o escritor aos hebreus faz alusão a tais bens
no capítulo 11, verso 20 da sua epístola? Os bens futuros referem-se à promessa feita a
Abraão, de que nele seriam benditas todas as famílias da terra.
Após analisar as pessoas de Esaú, Jacó e Rebeca, temos:

 Diante de expectativa de morte, Esaú desprezou a primogenitura, que lhe


conferia a bênção de Isaque e a maior parte na herança, por um prato de comida.
Se ele cresse que pertencia, como primogênito, da linhagem de Cristo, não
temeria a morte quando esteve com fome, pois teria plena certeza, igual a
Abraão, que Deus poderia ressuscitá-lo dentre os mortos para cumprir a
promessa ao seu pai. Esaú tinha em vista o que podia ver, alcançar com os olhos,
e desprezou a primogenitura que tinha a ver com os bens futuro, de pertencer à
linhagem do Descendente (Cristo).
 Jacó, mesmo diante dos riscos de ser morto pelo irmão e de ser amaldiçoado por
seu pai, teve em vista os bens futuros e, ao alcançar a primogenitura herdou a
benção de pertencer a linhagem que veio o Cristo ( Hb 11:20 ; Gn 28:4 e 14);
 Rebeca, diante da promessa ‘o maior servirá o menor’ ( Gn 25:23 ), convocou
Jacó a se passar por seu irmão e não se escusou de executar o seu plano mesmo
diante de uma possível maldição ( Gn 27:13 ).

Observe que Jacó não estava em busca de bens materiais, visto que, diante da ameaça
do seu irmão, fugiu, deixando para o seu irmão o que lhe era de direito ( Gn 28:20 ). Ele
tinha a mesma visão que o pai Abraão que, mesmo peregrinando sobre a terra
prometida, tinha em mente uma cidade cujo artífice e arquiteto é Deus.
Por Jacó estar ligado ao pé de Esaú no momento do nascimento, a questão da
primogenitura não ficou resolvida entre eles, o que ocasionou a disputa. Se Esaú tivesse
nascido primeiro, sem estar ligado a Jacó, não existiria a possibilidade de Esaú vender o
direito de primogenitura.
Mas, como o direito de primogenitura não estava resolvido, pois não houve interrupção
durante o parto, Jacó deu ouvido à palavra da sua mãe e, buscou comprar o direito que
ele e seu irmão concorriam. O simples fato de a parteira ter colocado um sinal em Esaú
que lhe conferia a primogenitura, não eliminou o fato de ambos terem nascido sem
interrupção no parto e a possibilidade de transmissão do direito.
Ao orientar Jacó, Rebeca agiu segundo a palavra: ‘O maior servirá o menor’, e quando
Jacó foi chamado por ela, reascendeu-lhe o desejo de alcançar a promessa, a qual Esaú
desprezou ao vendê-la por um prato de lentilha ( Gn 25:34 ).
Neste quesito, mesmo buscando com lagrimas reaver o direito perdido, já não se achava
lugar, visto que tal benção concedida ao menor era irrevogável ( Gn 27:38 ; Hb 12:17 ).
De modo semelhante, quando o casal no Éden pecou, a geração dos filhos dos homens
já não achou lugar para fazer parte do propósito eterno de Deus, porém, como o
propósito é firme por causa daquele que chama, Deus apresenta uma nova semente em
inimizade com a semente da mulher, que daria origem a uma nova geração: a geração
eleita ( Gn 3:15 ).
Como a semente de Adão não estava à altura de gerar filhos segundo o propósito de
Deus, que disse “Façamos o homem conforme a nossa imagem, conforme a nossa
semelhança” ( Gn 1:26 ), Deus elegeu, segundo a sua presciência,  a semente do Verbo
eterno, que foi morto antes da fundação do mundo.
O velho homem gerado segundo a semente de Adão de modo alguns herdará a bênção
de ser semelhante a Deus, portanto, para que o propósito permaneça firme, eis que tudo
Deus faz novo. Através da ressurreição com Cristo, Deus cria o novo homem em
verdadeira justiça e santidade, a nova criatura que faz parte da geração eleita.
Considerando que Jacó foi abençoado segundo o que dispõe a primogenitura, isto não
significava que ele tinha herdado também o direito à salvação. Ele poderia ter o direito
de primogenitura e não ter alcançado a salvação. De modo semelhante, Moisés ganhou
o direito à salvação, porém, foi impedido de entrar na terra prometida.
Quando Jesus cita: "Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora,
Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos" ( Mt 22:32 ), claro está que Jacó foi salvo.
Porém, estamos demonstrando que ele foi eleito para alcançar uma benção, e não a
salvação.
Esaú, por sua vez, perdeu a bênção decorrente da primogenitura, mas poderia alcançar a
salvação, bastando para isto crer naquele que está com as mãos estendidas "E ninguém
seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de
primogenitura" ( Hb 12:16 ), ou seja, ele não vendeu o seu direito a salvação, antes o
direito de primogenitura.
 
Cristo, a realidade
A salvação é ofertada por Deus aos homens durante o período de tempo que se chama
hoje, mas este tempo está por terminar "Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias,
durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano
do pecado" ( Hb 3:13 ).
O período de tempo que se chama hoje se refere ao tempo dos homens, diferente do que
se chama eternidade. Durante este período de tempo chamado hoje é ofertado salvação a
todos os homens. Por isso é chamado de tempo sobre modo oportuno e aceitável, ou o
ano aceitável ( 2Co 6:2 ; Hb 4:16 ; Is 49:8 e Is 61:2 ).
Este é o mesmo período de tempo na qual o Senhor Jesus foi introduzido como
unigênito de Deus ( Sl 2:7 ), na condição de salvador do mundo que se havia perdido.
Neste período de tempo que se chama hoje a salvação de Deus é ampla e irrestrita e se
estende a todos os homens que nele confiarem "Eis que a mão do SENHOR não está
encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir"
( Is 59:1 ).
Ele mesmo oferece salvação a quem quiser, ou seja, a salvação não é uma escolha
unilateral da parte de Deus, antes é concedido a quem aceitá-la "E disse-me mais: Está
cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede,
de graça lhe darei da fonte da água da vida" ( Ap 21:6 ).
Deus também há de continuar salvando no período da grande tribulação e no milênio,
porém, nenhum dos salvos destes períodos: a) grande tribulação; b) milênio, ou; c) os
salvos no advento da lei, são participantes do corpo de Cristo.
Em todos os tempos Deus salvou os homens, conforme o testemunho das escrituras, isto
desde Abel até João Batista, porém, somente através da igreja a multiforme sabedoria de
Deus foi revelada, pois através dos que ressurgem com Ele é que Cristo passou a ser o
primogênito entre muitos irmãos.
Somente os salvos segundo o evangelho da graça alcançaram também a bênção de
serem semelhantes a Deus, pois deste modo Cristo tornou-se o primogênito entre muitos
irmãos. Somente através da igreja, que é o corpo de Cristo, congregaram-se muitos
irmãos semelhantes a Ele. É através da igreja, especificamente do corpo de Cristo, que o
propósito eterno de Deus concretizou-se.
A primogenitura de Cristo é o modo como Deus estabeleceu a preeminência de Cristo
sobre todos os seus irmãos (corpo, igreja), sendo este o cerne do propósito eterno de
Deus: convergir em Cristo todas às coisas.
Enquanto a salvação é por graça, a eleição decorre do propósito eterno de Deus.
Podemos verificar esta diferença entre graça e eleição quando observamos algumas
etapas.
Quando Deus propôs fazer conhecido o seu poder e com que o seu nome fosse
anunciado sobre toda a terra, escolheu um dos reis do Egito: um Faraó ( Rm 9:17 ).
Fazer o seu poder conhecido e que o seu nome fosse divulgado em toda a terra não era o
propósito eterno, mas era uma proposta de Deus, que levaria, em última instância, ao
propósito estabelecido em Cristo.
A escolha de Faraó não foi oferta de salvação, antes diz do propósito de fazer conhecido
o seu poder e que o seu nome fosse anunciado. Ora, se o Faraó cresse em Moisés e
deixasse o povo ir, o propósito de Deus seria alcançado, do mesmo modo que o foi
quando Faraó negou-se a liberar o povo de Israel. O propósito é firme por aquele que
chama, e não em decorrência de quem é chamado.
Do mesmo modo Deus escolheu o rei Ciro antes mesmo de nascer para abater as nações,
libertar o seu povo, reconstruir Jerusalém e fundar o templo ( Is 44:28 ). Escolher Ciro
não era o propósito de Deus, antes Ciro foi escolhido para uma missão, o que remete a
um propósito maior: preservar segura a linhagem do Messias, ou seja, abatendo as
nações, reconstruindo Jerusalém e o templo, etc..
Ciro e Faraó foram eleitos, porém, não foram salvos. A salvação não decorre da eleição,
pois a eleição tem a ver com propósito, e a salvação com misericórdia.
Gideão foi escolhido para livrar o povo de Israel das mãos dos midianitas, porém, não
foi salvo, demonstra que a eleição é para uma missão segundo o propósito de Deus e
não significa garantia de salvação ( Jz 8:27 ).
Do mesmo modo, por causa dos pais, Israel foi eleito para trazer o Cristo ( Rm 9:5 ),
porém, isto não significa que eram salvos. Para serem salvos precisavam olhar para
Deus ( Is 45:22 ), e não confiar que seriam salvos por causa da missão que
desempenhavam.
Saul foi escolhido para reinar sobre Israel, livrando-os das mãos dos filisteus, porém,
não foi salvo ( 1Sm 9:16 ). Salomão foi ungido rei sobre Israel, porém, não podemos
afirmar que morreu salvo. Ou seja, a escolha de Deus tem em vista o propósito maior,
diferente da oferta de salvação, que é resgate da condição decorrente da transgressão de
Adão.
Do mesmo modo que Ciro foi chamado antes de vir à existência para abater as nações,
Deus também chamou Jeremias e o separou para ser o profeta das nações ( Jr 1:5 ). A
missão que desempenharam estava vinculada ao propósito de Deus, porém, a salvação
de Jeremias e a condenação de Ciro não foram determinadas antes de nascerem.
Jeremias não foi escolhido para ser salvo, antes para ser profeta das nações.
Quanto à eleição, Esaú já não podia pleitear pelo direito transmitido ao irmão, pois
somente um podia ser o primogênito. Esaú não alcançou lugar de rever o direito
decorrente da primogenitura, porém, a salvação lhe era plenamente factível, desde que
cresse naquele que salva.
A disputa entre Esaú e Jacó forma uma figura para se compreender o evento da
primogenitura de Cristo e de como os cristãos tem o direito de herdar com Ele. Deus
elegeu o Seu unigênito para ser preeminente e, como Cristo é o primeiro ressurreto
dentre os mortos, todos quantos já ressuscitaram com Cristo são contados como seus
irmãos ( Cl 3:1 ).
Cristo é o herdeiro, e a sua igreja coerdeira ( Rm 8:17 ). Cristo é o Filho primogênito e,
os que ressuscitaram com Ele, são os muitos irmãos entre os quais Ele é preeminente
como primogênito.
Como Deus chama as coisas que não são como se fossem, certo é que o propósito de
Deus de fazer do unigênito o primogênito é firme porque assim Ele determinou. Do
mesmo modo que à Rebeca foi feito uma promessa de que ‘o maior serviria o menor’ e,
Jacó foi abençoado por Isaque, assim também, Deus chama por intermédio do
evangelho todos os homens, não por causa de obras, mas porque propôs fazer do seu
unigênito o primogênito entre muitos irmãos.
Segundo a promessa ‘o maior servirá o menor’, Rebeca convocou Jacó para tomar posse
da promessa, o que tornou firme e irrevogável o propósito estabelecido na
primogenitura, isto por causa daquele que fez a promessa, ou seja, a mesma promessa
que Deus fez a Abraão.      
Do mesmo modo que Esaú foi posto em ciúmes ao ver o seu irmão herdar a bênção
segundo a primogenitura, Israel foi posto em ciúmes, pois não pode herdar com a igreja.
Diferente da promessa feita a Israel, a promessa feita à igreja é superior, pois enquanto à
Igreja foi concedida a semelhança do Altíssimo, pois são participantes de uma vocação
celestial, a Israel reserva-se somente a terra prometida segundo a vocação terrena ( 1Pe
1:11 ; Hb 3:1 ).
É por causa da vocação celestial que o apóstolo Paulo bendiz a Deus, ao escrever aos
cristãos em Êfeso, agradecendo pelas bênçãos que os cristãos receberam. Observe que,
além da salvação da condenação, que era uma condição comum no passado a todos os
cristãos, todos que creem no enviado de Deus, além da salvação, são agraciados também
com bênçãos. E que bênçãos são estas?
Uma delas é a eleição. Por isso o apóstolo Paulo diz: “Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares
celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para
que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” ( Ef 1:3 -4).
Ora, a salvação concedeu aos cristãos a condição de estarem assentados nas regiões
celestiais ( Ef 2:6 ), ou seja, já é muita graça que os cristãos tenham entrado no descanso
(salvação) proposto por Deus "Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso, tal
como disse: Assim jurei na minha ira Que não entrarão no meu repouso; embora as suas
obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo" ( Hb 4:3 ), mas o apóstolo
demonstra que não é somente isto que os cristãos receberam ao serem salvos.
Crer na promessa do evangelho é para salvação “Em quem também vós estais, depois
que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também
crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” ( Ef 1:13 ), ou seja, alcança-se
lugar de descanso quando se crê, porém, Deus agraciou os salvos na plenitude dos
tempos com a bênção proveniente da eleição.
Que bênção é esta? Deus elegeu a Cristo antes dos tempos eternos para ser preeminente
em todas as coisas. Mas, para Cristo ter a preeminência, necessário se fez que Cristo
torna-se primogênito entre muitos irmãos. Resta que, no momento que os homens na
plenitude dos tempos creem em Cristo, morrem com Ele e ressurgem uma nova criatura.
Por serem gerados de novo em Cristo, fazem parte da nova geração eleita, escolhida
para ser semelhante a Cristo, pois Ele é primogênito entre muitos irmãos semelhantes a
Ele.
Por terem sido gerados de novo, segundo a geração dos filhos de Deus, que é pela
palavra da verdade, segue-se que os cristãos também foram agraciados com a bênção de
serem santos e irrepreensíveis diante d’Ele (nos elegeu nele=geração eleita), ou seja,
eleitos de Deus, filhos do Altíssimo.
Além de ser santos e irrepreensíveis (eleitos) Deus também concedeu aos descendentes
de Cristo um destino específico: a filiação divina (predestinação). Deus predestinou,
antes dos tempos imemoriais, que todos aqueles que seriam gerados de novo pela fé em
Cristo seriam filhos por adoção.
Deus poderia ter dado apenas a salvação aos que crêem, tornando-os semelhantes aos
anjos, como muitos entendem, mas foi do seu agrado que os que cressem não fossem
apenas anjos, antes adquirissem uma condição superior: a semelhança do Altíssimo. Ou
seja, quem crê em Cristo alcança o que satanás intentou alcançar ( Is 14:14 ), Gênesis
( Gn 1:26 ).
A predestinação não é para a salvação, antes para condição de filho, ou seja, para
alcançar a semelhança de Cristo. Todos que creem na mensagem do evangelho e são
gerados de novo, fazem parte da geração escolhida e com um destino específico
(predestinado): ser um dos filhos de Deus, semelhante a Ele.
É neste ponto que fica evidente o quanto João Calvino fez uma leitura equivocada das
escrituras, pois ele afirmava categoricamente que: “Na salvação dos santos não temos
que buscar uma causa maior fora da munificência divina, e nenhuma causa maior na
destruição dos réprobos além de sua justa severidade” João Calvino.
A causa maior da escolha divina ter apontado para os pertencentes à nova geração, é a
preeminência de Cristo em todas as coisas. Foi por causa do beneplácito que propôs, de
tornar congregar todas as coisas na plenitude dos tempos em Cristo, tanto as coisas que
estão nos céus quanto as que estão na terra, que Deus escolheu os descendentes de
Cristo, para serem santos e irrepreensíveis.
Predestinar é determina de antemão. É estabelecer antes que se venha à existência.
Quando o apóstolo diz que Deus predestinou os cristãos, não diz da salvação, mas do
propósito “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o
conselho da sua vontade” ( Ef 1:11 ). Ou seja, para firmar o Seu propósito, Deus deixou
estabelecido de antemão que todos os gerados de novo pela fé no evangelho não
possuiriam outro destino: seriam filhos por adoção ( Ef 1:5 ; Rm 8:15 ).
Ou seja, Deus, ao trabalhar a eleição e a predestinação, não teve em vista indivíduos,
mas sim a geração dos filhos de Deus. Todos os gerados de novo (em Cristo) fazem
parte da geração eleita e predestinada, portanto, todos os cristãos são eleitos de Deus
para serem santos e irrepreensíveis e destinados a serem filhos por adoção, pois tornou-
se parte do propósito eterno: preeminência de Cristo em todas as coisas.
Após trilhar o novo e vivo caminho, o crente é agraciado com a salvação, e
concomitantemente não terá outro destino: será semelhante a Cristo, pois assim o
propósito eterno se efetiva: a preeminência de Cristo.
Mais uma vez errou João Calvino ao dizer que: "O Senhor, em sua eleição totalmente
imerecida, é livre e isento da necessidade de conceder igualmente a todos a mesma
graça. Ao contrário, ele ignora a quem quer, e escolhe a quem lhe apraz” João Calvino.
Ele incorreu no erro de confundir graça com eleição. Enquanto a graça é favor
imerecido demonstrado individualmente em todos os tempos a todos os homens
salvando-os da condenação em Adão, a eleição é bênção especifica para uma geração
especifica.
Bênção é para filhos, ou seja, a geração de Cristo é a geração eleita aquinhoada com a
bênção de serem santos e irrepreensíveis diante de Deus. Enquanto a geração deste
mundo é corrompida e perversa, a geração eleita resplandece como astros no mundo ( Fl
2:15 ).
É falsa a premissa de que "O Senhor, em sua eleição totalmente imerecida, é livre e
isento da necessidade de conceder igualmente a todos a mesma graça” João Calvino,
pois a bíblia demonstra que a graça de Deus se revelou salvadora a todos os homens
"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" ( Tt
2:11 ), pois Deus não tem prazer na morte do ímpio.
Deus não rejeitou Esaú porque ele era filho da ira. Seria um contra senso, pois a rejeição
dos filhos da ira se deu em Adão. Deus rejeitou Esaú porque ele desprezou um direito
concernente ao seu propósito e, como o amor de Deus demonstra-se em conceder ao
homem o que lhe é de direito, ele deu o que era de direito a Jacó (amou), e rejeitou a
Esaú, não lhe concedendo o que não lhe pertencia.
Com relação à perdição, assim como todos os homens, Esaú já veio ao mundo sob a
condenação de Adão (rejeitado, excluído, alienado), portanto, na condição de filho da
ira. Para mudar este quadro bastaria Esaú crer no Senhor, que isto lhe seria imputado
por justiça, como Deus fez ao pai Abraão. Mas, com relação à primogenitura, Deus o
rejeitou, pois havia que dar ao menor o direito que este conquistara. 
Quando citam equivocadamente a passagem que o apóstolo Paulo cita: “Pois diz a
Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu
tiver misericórdia" ( Rm 9:15 ), para tentar justificar a teoria descabida da eleição e
reprovação incondicional, esquecem que nesta passagem Deus está repreendendo
Moisés por causa de sua loucura.
Se o leitor não observar o contexto onde o apóstolo Paulo faz a citação de Exodo 33,
verso 19, será levado pelo erro. O apóstolo Paulo diz no verso 14 que não há injustiça
da parte de Deus ( Rm 9:14 ). Em seguida cita a base da justiça divina: “Compadecer-
me-ei de quem compadecer, e terei misericórdia de quem tiver misericórdia” ( Rm
8:15 ). Num primeiro momento, o texto sugere que Deus age unilateralmente e, sem um
critério que a mente humana possa compreender.
Porém, se o leitor observar que Deus falou deste modo porque Moisés se interpôs em
favor do povo, pedindo algo que contraria a justiça de Deus “Agora, pois, perdoa o seu
pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Então disse o SENHOR
a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro” ( Ex 32:32 -33), e
que Deus respondeu demonstrando como se dá a sua justiça, claro está que Deus não
age unilateralmente em se falando de salvação: somente os que pecarem contra Deus
serão riscados do livro.
Quando Moisés estava no monte, foi avisado através dos dez mandamentos como se dá
a justiça de Deus: “... Eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a
iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus
mandamentos” ( Ex 20:5 -6). Deus demonstra que não age unilateralmente.
Moisés sabia que o povo havia pecado ( Ex 32:31 ), e propôs uma troca descabida, sem
se importar com o que já havia sido anunciado ( Ex 20:5 -6 compare com Ex 32:32 ).
Deus demonstra que punirá somente os que pecarem e que o anjo do Senhor irá diante
de Moisés, para que ele conduzisse o povo ao lugar determinado ( Ex 32:34 ).
É neste contexto que Moisés pede para ver a face do Senhor, sendo concedido que visse
a bondade do Senhor ao permitir que visse a suas costas ( Ex 33:19 e 23). Vê-se nos
versos que se seguem Moisés fazendo vários pedidos e Deus os concede. Por último,
Moisés pede para ver a glória de Deus, momento em que Deus responde que deixará
Moisés ver a sua bondade passar, porém, alerta que, mesmo concedendo que visse a sua
bondade, com relação a sua misericórdia, teria misericórdia de quem Ele tivesse
misericórdia, e que se compadeceria de quem compadecesse, ou seja, Deus o corrige,
alertando que, apesar de conceder que visse a sua glória, só quem pecasse é que seria
riscado do livro ( Os 6:1 -6).
Não há nada neste texto que dê apoio a ideia da eleição ou reprovação incondicional,
pois Deus não diz que riscará o nome daquele a quem ele quiser rejeitar, antes somente
os que pecarem contra Ele são rejeitados. Ou seja, Moisés fez um pedido descabido:
perdoa o povo, ou risca o meu nome ( Ex 32:32 ). Ele pede mal, pois intercede
estabelecendo uma condição que jamais Deus atenderia, pois teria que contrariar um dos
seus atributos, cometendo uma injustiça: condenando o justo e absolvendo o ímpio ( Ex
23:7 ). Para atender Moisés, Deus teria que cometer injustiça, deixando de ser justo e
imutável.
Há um enigma nesta passagem. Do mesmo modo que o profeta Jeremias disse: “Maldito
o homem que confia no homem”, significando que qualquer homem que confia em si
mesmo é maldito ( Jr 17:5 ), quando Deus disse: “Terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia”, o leitor deve lembrar-se da ordem: “Misericórdia quero, e não
sacrifício...” ( Os 6:6 ).
O que é misericórdia? Jesus mandou os fariseus irem e aprenderem o significado de
misericórdia quero ( Mt 9:13 ). A misericórdia que Deus exige do homem é o amor ( Os
6:4 e 6), ou seja, Deus terá misericórdia de quem O ama de todo coração, de toda alma e
de todo o entendimento ( Dt 6:5 ). A misericórdia de Deus não é unilateral como
apregoou João Calvino.   
O versículo: “Compadecer-me-ei de quem compadecer, e terei misericórdia de quem
tiver misericórdia” ( Rm 8:15 ), não diz que Deus ignora quem quer e que escolhe quem
quer para ser salvo por mero capricho e de um modo que não podemos compreender.
Tal posicionamento é absurdo, pois Davi profetiza dizendo que um coração contrito
Deus não desprezará. Deus tem misericórdia do pobre e abatido de espírito, daqueles
que o amam de todo o coração, ou seja, que o amam segundo a sua palavra, tornando-se
um circuncidado d’Ele ( Dt 30:6 ).
Ou seja, de Moisés Deus tinha misericórdia e se compadecia dele porque ele ouvia a
palavra do Senhor de todo o seu coração, e como resultado, tinha a misericórdia do
Senhor “Ouvi e a vossa alma viverá” ( Is 55:3 ). Mas, com relação ao povo rebelde,
Deus não teria misericórdia, pois ele tem misericórdia daqueles que o amam.
Deste modo é demonstrado que não é o sacrifício que torna o homem aceito por Deus
( Sl 51:16 ), antes ser escolhido segundo a sua vontade.
Quando o apóstolo Paulo diz que a misericórdia de Deus não é de quem corre ou de
quem quer, antes de Deus que a exerce, temos uma aplicação prática do verso anterior:
terei misericórdia de quem tiver misericórdia ( Rm 9:15 ). Devemos observar que o
texto não aborda as questões relativo à salvação, antes da escolha da Igreja e rejeição de
Israel. A vontade de Deus em nada fica a cargo do homem, pois é Ele quem operar o seu
querer (vontade) e faz todas as coisas segundo a sua vontade ( Fl 2:13 ).
Deus quer que os homens amem a sua palavra (misericórdia quero - 1Sm 13:13 ), o que
nos faz lembrar da lição que se depreende de Saul, que correu e queria a benevolência
de Deus através de sacrifícios ( 1Sm 13:12 ), e deixou de confiar naquele que é
misericordioso e aceita os corações contritos. Israel tornou-se exemplo de um povo que
sacrificava em lugar de ter misericórdia, pois o amor deles cedo passava, assim como o
orvalho da manhã ( Os 6:1 -6). Quem corria e queria alcançar a benção de Deus? Não
era Israel? Porém, foram rejeitados porque tropeçaram na pedra de tropeço e, deste
modo não foram eleitos no Descendente para o propósito eterno ( Rm 9:3 ; Rm 9:33 ).
Como o povo de Israel não aprendeu o que é ter misericórdia, rejeitou a misericórdia de
Deus que foi manifesta aos homens ( Rm 16:26 ). Isto porque é a escolha de Deus que
não depende da vontade ou do esforço do homem (quem quer ou quem corre), mas da
sua misericórdia. E como a misericórdia de Deus opera? A misericórdia de Deus não é
fatalista ou determinista, antes ele mesmo diz: "E faço misericórdia a milhares dos que
me amam e aos que guardam os meus mandamentos" ( Ex 20:6 ).
A misericórdia de Deus não é fatalista e determinista, visto que restou de Israel um
remanescente segundo a eleição da graça, e o apóstolo Paulo demonstrou que fazia parte
deste remanescente ( Rm 11:1 e 5), participantes juntamente com os gentios do
propósito estabelecido em Cristo. Responder ao chamado de Deus é o que torna os
homens eleitos como instrumento do seu projeto. Faraó e Ciro são exemplos de homens
que foram chamados e tornaram-se instrumentos do propósito estabelecido,    
Os parentes do apóstolo Paulo não podiam questionar a vontade de Deus, que escolheu
a igreja e rejeitou Israel para o seu propósito ( Rm 9:19 ; Rm 9:7 ). O que eles deveriam
recordar: o que diz as escrituras a Faraó: “Para isto mesmo te levantei; para em ti
mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” ( Rm 9:17
). Através de Israel Deus mostrou o seu poder, anunciou o seu nome até os confins da
terra e trouxe o Cristo, pois para isto foram escolhidos.
Quando o apóstolo Paulo demonstra que o homem nada é diante do poder de Deus
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao
que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para
da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” ( Rm 9:20 -21), tais
argumento tem em vista o propósito de Deus, e não a salvação.
Do mesmo modo que Deus escolheu Faraó para dar a conhecer o seu poder e suportou a
loucura do rei com muita paciência (dez pragas) até mostrar a sua ira, todos os homens
gerados segundo Adão (vasos da ira) também foram suportados com muita paciência,
mesmo tendo todos sidos preparados para a perdição ( Rm 9:22 ).
Deus suportou os vasos da ira para dar a conhecer, não somente a sua ira e poder,  mas
também para dar a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos para a misericórdia.
Que riquezas são estas? Muitos filhos semelhantes a Ele, e o seu primogênito
preeminente em todas as coisas. E quem faz parte destas riquezas? Judeus e gentios, ou
seja, a todos quantos o Senhor nosso Deus chamar por meio do evangelho ( Rm 9:23 ).
Após demonstrar toda a grandeza da salvação em Cristo, o apóstolo Paulo demonstra
que tudo é o cumprimento cabal das profecias: “Como também diz em Oséias:
Chamarei meu povo ao que não era meu povo; E amada à que não era amada. E
sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; Aí serão chamados
filhos do Deus vivo” ( Rm 9:25 -26).
Isaías também profetizou acerca de Israel: “Ainda que o número dos filhos de Israel seja
como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque ele completará a obra e
abreviá-la-á em justiça; porque o Senhor fará breve a obra sobre a terra” ( Rm 9:27 -28).
Ou seja, o remanescente salvo diz dos judeus salvos por meio do evangelho e que
pertencem à descendência de Cristo "Assim, pois, também agora neste tempo ficou um
remanescente, segundo a eleição da graça" ( Rm 11:5 ).
O que Israel buscava e queria não alcançou ( Rm 11:7 compare com Rm 9:16 ), mas os
remanescentes ( Rm 11:5 ) alcançaram e os outros foram endurecidos. Porque ele diz
que os ‘eleitos’ alcançaram? Porque as escrituras previram que os remanescentes
alcançariam ( Rm 9:28 ), assim como foi previsto à Rebeca que o maior serviria o
menor ( Rm 9:12 ).
Os remanescentes judeus são chamados de eleitos porque fazem parte da geração eleita,
segundo o propósito de Deus. Embora o apóstolo Paulo apresente alguns remanescentes
que foram salvos, contudo, a ideia do texto não aponta para indivíduos, e sim para a
nação. A nação tropeçou somente para incitar a emulação, visto que pela queda deles
veio a salvação para os gentios.
O apóstolo Paulo prediz que haverá um tempo em que a glória de Israel será
estabelecida (plenitude dos judeus), pois a queda deles é a riqueza do mundo e dos
gentios ( Rm 11:12 ), pois Deus estabeleceu um propósito terreno para eles: Cristo além
de ser o sublime entre muitos irmãos, reinará assentado no trono de Davi, pois Deus
prometeu a ele as nações por herança ( Sl 2:7 -10).
Quem Deus elegeu? Deus elegeu a Cristo e a nova geração que dele procede. Todos os
cristãos são vasos de misericórdia (salvação) para demonstrar as riquezas de sua glória
(propósito eterno)  ( Rm 9:23 ). Deus preparou os vasos de misericórdia quando trouxe
à existência a geração eleita: por intermédio da morte e ressurreição do seu Filho
primogênito. O Oleiro utilizou a mesma massa que compunha os vasos da ira, e após
quebra-los, fez da massa dos vasos da ira, vasos de honra.
Deus demonstrou misericórdia (vasos de misericórdia=salvou) para levar a efeito o seu
propósito (riquezas da glória=vasos de honra).

Presciência e eleição
Após a queda da humanidade, a redenção passou a ser condicionada ao Descendente da
mulher ( Gn 3:15 ), e o dia chamado ‘hoje’ é o dia oportuno de salvação. Se a salvação e
a perdição fossem incondicionais, o ‘hoje’ não seria o momento de salvação, ou o ‘dia’,
ou o ‘ano’ sobre modo oportuno, antes a oportunidade e o dia de salvação estaria na
eternidade, antes que houvesse mundo, pois lá seria estabelecido os perdidos e os salvos
( Is 61:2 ; Hb 3:7 ; ).

"Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a


obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas" (
1Pe 1:2 )

No afã de justificar a doutrina bíblica da eleição e predestinação, alguns estudiosos


redefiniram o significado do termo ‘presciência’ para ‘pré-ordenação’. Isto seria mesmo
necessário? Para justificar um posicionamento doutrinário se faz necessário redefinir
termos básicos como graça, perdição, presciência, etc.?

A seguinte passagem bíblica: “... pelo determinado conselho e presciência de Deus..."


( At 2:33 ), é um dos exemplos de redefinição de termos, sendo que o termo presciência,
neste caso, passou a se utilizado como ‘pré-ordenar’, para demonstrar que algumas
pessoas em particular foram escolhidas para serem salvas, e outras não.
O que é presciência? Presciência é o mesmo que ‘pré-ordenar’? O ‘determinado
conselho’ é o mesmo que ‘presciência’?

Conselho

“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus,
prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 )

O apóstolo Pedro demonstrou aos seus ouvintes que Jesus foi entregue aos homens pelo
conselho de Deus. Que conselho é este? O conselho é o entendimento e sabedoria de
Deus em ação, o que determina a perfeita maneira de Deus realizar seus intentos
(vontade + conselho = perfeita vontade).

A perfeição da vontade de Deus surge da sua sabedoria, conhecimento e inteligência


( Pv 3:19 -20), fruto do determinado conselho.

Cristo não foi conquistado, antes se entregou segundo o conselho da vontade de Deus
"... daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" ( Ef 1:11 ; Jo
10:17 ).

O conselho de Deus é o que determina e aprova (beneplácito) o que Ele realizará. O


conselho de Deus é imutável assim como a sua vontade, ou seja, a perfeita vontade
deriva do conselho "Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as
coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a
minha vontade" ( Is 46:10 ; Hb 6:17 ).

Através da sua vontade (Palavra de seu poder) Deus criou o mundo ( Ap 4:11 ) e, antes
de criar o homem Deus expressou a sua vontade: “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança” ( Gn 1:26 ). Deus assim o fez porque era da sua vontade
que Cristo tivesse a preeminência em tudo ( Cl 1:18 ).

E assim Deus desvendou o mistério da sua vontade, que é convergir em Cristo todas às
coisas, pois este é o beneplácito proposto em si mesmo ( Ef 1:9 ).

Para levar a efeito a sua vontade, de que Cristo tivesse a preeminência em tudo, Deus
criou o homem. Sabendo que a geração segundo a semente de Adão transgrediria
(presciência) e todos se tornariam imundos, ficando aquém do propósito de Deus, e
sendo a vontade de Deus imutável "O conselho do SENHOR permanece para sempre;
os intentos do seu coração de geração em geração" ( Sl 33:11 ), Ele anunciou as boas
novas do evangelho aos homens perdidos e, trouxe a existência uma nova geração de
seres espirituais segundo o seu conselho e propósito de fazer Cristo preeminente em
tudo.

Tiago escreveu dizendo que Deus gerou de novo os cristãos pela palavra da verdade,
para que fossem como o melhor (primícias) das suas criaturas: homens espirituais
semelhantes a Ele "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para
que fôssemos como primícias das suas criaturas" ( Tg 1:18 ); “O primeiro homem, da
terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também
os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a
imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” ( 1Co 15:47 -49).

O apóstolo Paulo relatou que Deus revelou o mistério acerca da sua vontade, de tornar a
congregar em Cristo todas as coisas, ou seja, tornar Cristo preeminente em tudo.
Através das suas novas criaturas, que são primícias, semelhantes a Ele, Jesus é o
primogênito de toda a criação: preeminente entre muitos irmãos! ( Cl 1:15 )

Para resgatar a humanidade que jazia em trevas sob a maldição do pecado de Adão,
Cristo ofertou o seu corpo segundo a vontade de Deus ( Hb 10:10 ), e para fazer a
vontade de Deus ( Hb 10:9 ). Para torná-lo preeminente, o primogênito de toda a
criação, Deus ressuscitou a Cristo dentre os mortos através do seu poder, momento em
que Ele se tornou o primogênito dentre os mortos.

Antes de ser morto e ser sepultado, Cristo era semelhante em tudo aos homens, no
entanto, após ressurgir dentre os mortos, Cristo alcançou a posição de semelhança ao
Altíssimo ( Sl 17:15 ), sendo a expressa imagem de Deus ( Hb 1:3 ), e todos que são
sepultados a semelhança da sua morte ressurgem uma nova criatura e, todos trazem a
imagem do homem celestial, sendo semelhantes ao Altíssimo "E vos vestistes do novo,
que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" ( Cl 3:10 ).

O propósito eterno de Deus é único e foi estabelecido na pessoa de Cristo: a


preeminência de Cristo em todas as coisas! "Segundo o eterno propósito que fez em
Cristo Jesus nosso Senhor" ( Ef 3:11 ).

Diferente dos homens, Deus é perfeito, pois ele não depende de raciocínio, de intuição,
de análise para chegar a uma conclusão. Deus simplesmente age segundo a sua boa
vontade. Ele é todo poder, sabedoria, conhecimento, onipresente, onisciente, etc., o que
não demanda da parte dele raciocinar, inquirir, concluir, etc. Ele faz todas as coisas
segundo o conselho (beneplácito) da sua vontade.

É do ‘conselho’ que emana a vontade perfeita de Deus e, o conselho de Deus, bem


como sua perfeita vontade é expressa na sua palavra: "Porquanto se rebelaram contra as
palavras de Deus, e desprezaram o conselho do Altíssimo" ( Sl 107:11 ).

Quando se lê: “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de
Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 ), o
'determinado conselho' demonstra a previsibilidade exarada nas escrituras da
crucificação e morte de Cristo por mãos de malfeitores, ou seja, a palavra expressa.

Os atos de Deus decorrem única e exclusivamente da sua vontade, sendo que o seu
conselho é expresso na perfeição da execução do seu propósito. Tudo o que Deus faz é
segundo o seu conselho; é segundo o que lhe apraz; é segundo a sua palavra, que é
Cristo, o Verbo encarnado ( At 4:28 ; At 20:27 ; Hb 6:17 ).

Assim temos:

 A vontade de Deus;
 O conselho de Deus, e;
 A palavra expressa.
 

Obs.: beneplácito s. m.- 1. Consentimento; 2. Aprovação; 3. Aprazimento, e 4. Licença.

O Propósito Eterno

O propósito eterno de Deus é algo que Ele, na eternidade, propôs realizar em si mesmo
“Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” ( Ef 3:11 ). Tal
propósito visa a sua própria glória e graça ( Ef 1:6 e 12).

Diferente da salvação, que se refere ao tempo chamado ‘hoje’ e, que, portanto, há um


tempo predeterminado para se encerrar, o propósito de Deus é eterno, visto que foi
proposto em si mesmo, propósito que perdurará pela eternidade.

Na eternidade Deus propôs convergir em Cristo todas as coisas “De tornar a congregar
em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão
nos céus como as que estão na terra” ( Ef 1:10 ), fazendo o Verbo encarnado herdar um
nome que é acima de todos os nomes e que perdurará para sempre "Acima de todo o
principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só
neste século, mas também no vindouro" ( Ef 1:21 ; Fl 2:9 ; Sl 138:2 ; Hb 1:4 ).

Deus é conhecido pelo seu poder e grandeza, sendo nomeado o grande, poderoso e
terrível Senhor dos exércitos "Pois o SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o
Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de
pessoas, nem aceita recompensas" ( Dt 10:17 ); "Porque o SENHOR é Deus grande, e
Rei grande sobre todos os deuses" ( Sl 95:3 ; Sl 138:2 ), porém, foi do seu agrado elevar
a sua palavra acima de todo o seu nome. Para sua palavra assumir tal posição, ela foi
encarnada na condição de unigênito do Pai ( Jo 1:1 e 12).

O propósito que Deus estabeleceu realizar em si mesmo (para louvor e glória de sua
graça), ao revelar aos homens, na plenitude dos tempos, o Verbo encarnado "Porque a
graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" ( Tt 2:11 ), é
fazer com que a sua palavra encarnada tenha a preeminência em tudo, portanto, Ele foi
constituído como a cabeça de um corpo "E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o
princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência"
( Cl 1:18 ).

O corpo de Cristo, que é a igreja, é formado por muitos filhos de Deus semelhantes
Aquele que os criou "E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento,
segundo a imagem daquele que o criou" ( Cl 3:10 ), sendo que, na hierarquia celestial,
os membros do corpo de Cristo assumiram a mais alta posição, superior a dos anjos, o
que os tornam primícias das criaturas de Deus "Segundo a sua vontade, ele nos gerou
pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" ( 1Co
6:2 e 3; Tg 1:18 ).

Justamente por ser as ‘primícias’ das criaturas de Deus é que a igreja, geração dos filhos
de Deus, serve ao propósito que foi estabelecido em Cristo, pois como cabeça daqueles
que são gerados de novo, Ele é preeminente entre muitos irmãos, posição superior a
todas as criaturas de Deus "E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o
primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em
seu sangue nos lavou dos nossos pecados" ( Ap 1:5 ).

É através de Cristo que o propósito de Deus se concretiza "Segundo o eterno propósito


que fez em Cristo Jesus nosso Senhor" ( Ef 3:11 ), sendo que através d’Ele, uma nova
geração de homens espirituais inscritos nos céus estabelece uma assembleia universal de
primogênitos "À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos
céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados" ( Hb 12:23 ).

E não somente isto, Deus propôs fazer também o seu Filho o mais elevado dos reis da
terra, concedendo a Ele o trono de Davi e todas as nações por herança "Também o farei
meu primogênito mais elevado do que os reis da terra" ( Sl 89:27 ; Sl 2:8 ; Is 52:13 -15).

Enquanto Cristo é a cabeça da igreja, temos o propósito celestial e, Ele como o mais
elevado rei da terra, temos o propósito terreno estabelecido através dos filhos de Israel.

É com base no que Deus propôs em Cristo, o Verbo de Deus encarnado, que a sua
palavra é alçada acima de todos os nomes pelo qual Deus é nomeado "Inclinar-me-ei
para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade;
pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome" ( Sl 138:2 ).

Além de conhecido pelo seu poder, magnificência e soberania, foi do agrado de Deus
torna-se conhecido pela sua palavra, que é fiel, verdadeira, imutável, etc., o que O levou
a elevar a sua palavra acima de todo o seu nome, para que as suas criaturas o sirvam
com temor e alegria "Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor" ( Sl 2:11
). ‘Temor’ é o mesmo que a palavra de Deus e, ‘tremor’ é obediência, confiança na sua
palavra "Ouvi a palavra do SENHOR, os que tremeis da sua palavra" ( Is 66:5 ; Sl 34:11
; Sl 86:11 ).

A eleição e a predestinação tem em vista este propósito que Deus estabeleceu em Cristo,
sendo que a salvação decorre somente do seu amor e da sua misericórdia.

Em todos os tempos (dispensações) Deus salva os homens que se perderam em


decorrência da ofensa de Adão pela sua graça, porém, somente os salvos na plenitude
dos tempos, pela graça contida no evangelho, constituem a igreja, o corpo de Cristo, a
geração eleita, predestinada para serem conforme a de Cristo.

Somente os salvos na plenitude dos tempos, por intermédio da graça revelada no


evangelho, são chamados para fazerem parte do propósito que Deus estabeleceu em
Cristo. Deus salva por intermédio do poder contido na sua palavra (evangelho) e chama
os que passaram a compor o corpo de Cristo para fazer parte do propósito estabelecido
em si mesmo "... antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus,
que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas
segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos
tempos dos séculos" ( 2Tm 1:9 ; Rm 1:16 ).

Presciência
Soberanamente Deus levou a efeito o seu propósito que estabelecera antes dos tempos
imemoriais em Cristo, de fazê-lo preeminente. A vontade de fazer Cristo preeminente é
soberana e, não há quem possa se insurgir contra esta vontade e sair vitorioso.

Para levar a efeito o seu propósito eterno, Deus não poupou o seu único Filho e nem os
judeus, que eram os ramos naturais ( Rm 8:32 e Rm 11:21 ), e entregou o seu Filho para
ser crucificado e morto pela mão de homens injustos. Porém, tudo foi feito sob o
conselho da sua vontade e presciência “A este que vos foi entregue pelo determinado
conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de
injustos” ( At 2:23 ).

Por que pela presciência? Ora, desde a eternidade, ao estabelecer de antemão que faria
Cristo o mais sublime entre sublimes, Deus sabia que a geração de Adão tornar-se-ia
imunda, pois todos juntamente em um único evento se desviariam do propósito e da
comunhão com Deus através da desobediência de Adão ( Sl 53:3 ; Sl 58:3 ).

Uma prova cabal da presciência de Deus está no fato de, apesar de Cristo ser morto na
plenitude dos tempos segundo o conselho de Deus, Cristo foi morto deste a fundação do
mundo, ou seja, a presciência estava em ação "E adoraram-na todos os que habitam
sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo" ( Ap 13:8 ).

Deus sabia de antemão (presciência) que haveria de entregar o seu único Filho, pois
somente o sangue imaculado e incontaminado de Cristo resgataria os homens do
domínio do pecado. Pela presciência de Deus, o sangue do cordeiro já era conhecido,
ainda na fundação do mundo, porém, tal sacrifício só tornou-se conhecido dos homens
na plenitude dos tempos “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro
imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda
antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós”
( 1Pe 1:19 -20 ; Hb 9:26 ).

Deus salva os homens pela oferta do corpo de Cristo e, concomitantemente todos que
são salvos através do evangelho, que é poder de Deus para salvação dos que creem,
também são chamados com uma santa vocação segundo o eterno propósito que fizera
em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos "Que nos salvou, e chamou com uma
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e
graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos" ( 2Tm 1:9 ).

Como o proposto por Deus em Cristo era fazê-lo preeminente em tudo, Deus salva os
homens da condenação de Adão através do poder do evangelho e confere aos de novo
gerados a condição de semelhantes a Ele, para que Cristo seja o primogênito entre
muitos irmãos ( Rm 8:29 ; Cl 3:10 ).

Ao estabelecer o seu propósito eterno de convergir em Cristo todas às coisas, Deus


estabeleceu também a vida eterna por intermédio da sua palavra "Em esperança da vida
eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos" ( Tt
1:2 ).

A promessa de vida eterna é antes dos tempos dos séculos, pois a vontade de Deus
desde a eternidade é imutável, sendo conhecido o sangue do Cordeiro antes mesmo da
fundação do mundo. Como o cordeiro foi morto antes da fundação do mundo, a
esperança de vida eterna é uma promessa efetivada antes dos tempos que se mensuram
em séculos.

Cristo é o eleito de Deus para o seu propósito ( Pv 8:23 ). Prescientemente o sangue de


Cristo foi conhecido antes dos tempos dos séculos. O beneplácito que Deus propusera
em si mesmo era um mistério para as suas criaturas ( Ef 1:9 ; 1Pe 1:12 Ef 3:11 ). O
beneplácito proposto por Deus tinha em vista a si mesmo, e não as suas criaturas, ou
seja, a preeminência de Cristo em todas as coisas.

Deus não estabeleceu o seu propósito nas suas criaturas, antes estabeleceu o seu
propósito em si mesmo, a fim de serem louvor da sua glória. É por isso que o proposto é
eterno, pois se centra no Criador e não nas criaturas que não são eternas. Que honra
maior pode haver em que as criaturas sejam convidadas a participarem de um propósito
concernente a pessoa do Criador?

Quando Deus (Elohim) fez o seguinte acordo na eternidade: “Eu lhe serei por Pai, e tu
me será por Filho” ( 2Sm 7:14 ), fez em si mesmo o seu propósito (Ef 1:9 ), e introduziu
uma das pessoas da divindade no mundo e estabeleceu por decreto a condição acordada
na eternidade: Tu és meu Filho “Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és
meu Filho, eu hoje te gerei” ( Sl 2:7 ), neste instante surgiu um grande mistério que até
os anjos queriam compreender (atentar) "Aos quais foi revelado que, não para si
mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas
por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as
quais coisas os anjos desejam bem atentar" ( 1Pe 1:12 ).

O que eles queriam atentar (compreender), somente pela igreja, a multiforme sabedoria
de Deus tornou-se conhecida ( Ef 3:9 -10). Somente agora, através da igreja, toda a
criação compreende o eterno propósito que Deus fez em Cristo Jesus ( Ef 3:11 ), após
Cristo tornar-se a cabeça da Igreja.

Há uma ardente expectativa da criação, pois todos aguardam a revelação dos filhos de
Deus. A criação aguarda aqueles que são as criaturas que assumem a condição de
primícias do Espírito Eterno ( Rm 8:23 ; Tg 1:18 ).

  

Eleitos segundo a precedência

"Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a


obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam
multiplicadas" ( 1Pe 1:2 )

A presciência de Deus destaca-se nas mais variadas situações, podendo ser notada em
vários eventos das escrituras:

 Deus chamou o rei Ciro pelo nome muito antes dele nascer, porém, tal chamado
e revelação não concedeu salvação ao rei Ciro ( Is 44:28 );
 Os sonhos de José demonstram a presciência de Deus ( Gn 37:5 );
 Moisés anunciou que o povo de Israel afastar-se-ia de Deus ( Dt 32:5 );
 Jesus previu que o apóstolo Pedro o negaria antes que o galo cantasse por três
vezes ( Mt 26:34 ).

Porém, com relação à vida e morte do Messias, a presciência de Deus é muito mais
evidente:

 Cristo foi conhecido antes da fundação do mundo ( Jo 17:24 );


 A semente de Cristo foi prevista em oposição a semente da serpente ( Gn 3:15 );
 A linhagem de Cristo foi prevista ( Gn 12:3 );
 O nascimento virginal foi previsto ( Is 7:14 );
 A traição dos mestres da lei ( Sl 49 )
 A crucificação foi prevista ( Sl 22:16 );
 A morte e ressurreição foram previstas ( At 2:31 );
 A glória futura de Cristo foi prevista ( Is 52:13 ; 1Pe 1:12 ), etc.

Tudo que Deus anunciou de antemão tem relação com o propósito eterno que fora
proposto em si mesmo ( Ef 3:11 ). Segundo o conselho da sua vontade Deus elegeu a
Cristo para o seu propósito e, segundo a sua presciência Cristo foi morto desde a
fundação do mundo, pois ao ressurgir traria à existência a nova geração eleita para ser
conforme a imagem daquele que os criou: assim tornou-se firme o seu propósito (Cl
3:10 ).

Suprimir a ideia da presciência de Deus tomando-a como vontade-prévia para explicar a


eleição e a predestinação não é o que a bíblia apresenta. Deus conhece todas as coisas, e
o futuro está incluso neste conhecimento, porém, isto não significa que Ele pré-ordenou
os eventos futuros.

Apresentar a presciência como pré-ordenação é um equivoco, pois vincula a presciência


à salvação, sendo que a presciência tem em vista o propósito estabelecido em Cristo ( Ef
1:9 ; Cl 1:18 ).

Eleição

Deus Pai presciente elegeu os cristãos santificando-os. Como? Os eventos seguem a


seguinte ordem: Deus santificou (separou para si) os cristãos purificando as suas almas
através da obediência à verdade do evangelho (nação santa, povo adquirido 1Pe 2:9 -
10), pois só através da obediência ao evangelho há a aspersão do sangue  ‘conhecido’
por Deus antes da fundação do mundo ( 1Pe 1:2 ; 19 e 22).

Ao ser santificado pela aspersão do sangue (morte com Cristo), os cristãos ressurgem
uma nova criatura (regenerados), não de uma semente terrena e corruptível, mas da
semente espiritual e incorruptível, que é a palavra de Deus. Cristo é a pedra viva, eleita
e preciosa, pois foi conhecido e escolhido antes da fundação do mundo segundo o
eterno propósito ( Ef 3:11 ) e, através d’Ele os cristãos também tornaram-se pedras
vivas.

Deus elegeu a Cristo para ser preeminente em todas as coisas e, todos aqueles que são
gerados de novo foram eleitos n’Ele antes da fundação do mundo. Deus escolheu,
segundo o seu propósito, os descendentes do Descendente prometido a Abraão. A
geração de Cristo é a geração eleita segundo o beneplácito que Deus propusera em
Cristo ( Ef 1:9 ): a preeminência de Cristo em tudo!

Quando os cristãos foram eleitos? Antes da fundação do mundo. Como foram eleitos?
Antes da fundação do mundo Deus escolheu o seu Filho unigênito e os seus
descendentes espirituais. É por isso que o apóstolo Paulo deixa claro que os cristãos
foram eleitos n’Ele, pois as promessas foram feitas à descendência do Descendente de
Abraão, que é Cristo ( Gl 3:16 ).

Somente pela fé em Cristo os homens são salvos e, concomitantemente recebem a


adoção de filhos de Deus em vista do propósito eterno ( Gl 3:26 ), diferente da ideia de
que é pela eleição e predestinação que os homens são salvos.

Quando se crê em Cristo o homem é batizado em Cristo, isto é, na sua morte, e só então,
se reveste de Cristo, isto é, ressurge semelhante a ele ( Gl 3:27 ; Rm 6:3 ). Ao ser gerado
do Descendente de Abraão, além da salvação da condenação de Adão, o homem torna-
se semelhante à expressa imagem do Deus vivo (filho de Deus) e herdeiro da mesma
promessa ( Gl 3:29 ). Por causa da sua descendência, Cristo é alçado à posição de
primogênito entre muitos irmãos semelhantes a Ele "Isto é, que o Cristo devia padecer,
e sendo o primeiro da ressurreição dentre os mortos, devia anunciar a luz a este povo
e aos gentios" ( At 26:23 ; 1Jo 3:2 ; 1Jo 4:17 ).

Os filhos da ofensa

Todas as vezes que o apóstolo Paulo faz referência à antiga condição dos cristãos
quando sob o pecado, ele sempre o faz nos seguintes termos: filhos da ira, filhos da
desobediência, trevas, filhos das trevas, mortos em delitos e pecados, ignorantes,
entenebrecidos no entendimento, etc., porém, em nenhuma referência a antiga condição
dos cristãos é utilizado o termo ‘eleitos’ e ‘predestinados’.

Não há na bíblia a seguinte afirmação: “Noutro tempo éreis eleitos...”, antes só


encontramos as seguintes expressões: “Noutro tempo éreis trevas, filhos da ira, vasos
para desonra, plantas que o Pai não plantou, filhos da desobediência, etc.”. Diante de
tantos adjetivos acerca da antiga condição daqueles se tornaram eleitos, como explicar o
motivo pelo qual o apóstolo Paulo se esqueceu de mencionar a antiga condição das
novas criaturas como eleitos?

Somente os cristãos são nomeados de eleitos de Deus. Somente os cristãos, por serem
membros do corpo de Cristo, são eleitos, condição adquirida antes da fundação do
mundo por causa do Descendente, não por obras de justiça que houvessem feito, antes
pelo simples fato de serem gerados d’Ele: geração eleita.

O apóstolo Paulo é específico ao demonstrar que Deus elegeu os cristãos e não os


incrédulos ao utilizar o pronome na 1º pessoa do plural: nos (cristãos) elegeu! ( Ef
1:4 ). 
O apóstolo Pedro também demonstra que os eleitos são os cristãos: “Pedro, apóstolo de
Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão...” ( 1Pe 1:1 ) Almeida RA, e
no verso 9, do  capítulo 2 da mesma epístola, ele explica que os cristãos são eleitos por
fazerem parte de uma geração eleita ( 1Pe 2:9 ). 

Esta é uma condição própria aos que foram assentados em Cristo nas regiões celestiais.
Diz somente daqueles que já entraram no descanso proposto ( Hb 4:3 ).

Onisciência

A presciência é um ramo da onisciência, que por sua vez é um dos atributos de Deus,
assim como o é a onipotência e a onipresença. Enquanto a presciência é parte, a
onisciência é o todo, ou seja, é impossível separar a presciência da onisciência como se
ela fosse, por si só, um atributo específico.

Por oniciência entende-se que Deus conhece todos os eventos no passado, no presente e
no futuro (espaço-tempo), e na eternidade. Nada escapa aos ‘olhos’ de Deus. Por isso
ele chama à existência as coisas que não são como se já fossem "(Como está escrito: Por
pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual
vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem" ( Rm 4:17 ).

Deus, de antemão nomeou Abraão como Pai de muitas nações: temos aqui a grandeza
da presciência demonstrada aos homens, visto que Abraão nem mesmo podia ter filhos.

Como Deus conhece todos os eventos: no passado, no presente e no futuro, é certo que
ele sabe de antemão quem são os salvos e quem são os perdidos, porém, isto não quer
dizer que Ele, unilateralmente, preordenou quem seriam os salvos e quem seriam os
perdidos. Esta visão fatalista e determinista não é conforme a verdade bíblica, pois Deus
não interfere no livre-arbítrio dos homens para fazê-los crer ou não. Embora Deus saiba
de antemão todas as coisas, o prévio conhecimento de Deus não determina e nem
vincula a condição futura do homem: se perdido, ou se salvo.

A bíblia demonstra que a perdição do homem foi determinada pela ofensa de Adão e
não pela presciência de Deus. De igual modo, a bíblia demonstra que a salvação decorre
da misericórdia de Deus, bastando ao homem aceitar a oferta de redenção.

Constitui-se mérito aceitar a salvação?

O fato de aceitar a oferta não seria mérito por parte do homem? Não! A ordem é clara:
“Entrai pela porta estreita!” ou, “Necessário vos é nascer de novo”. O fato de o homem
sedento beber da água da vida que Cristo dá não lhe confere mérito. O fato de o homem
deixar que o Senhor o lave de toda imundície através do lavar regenerador não lhe
confere mérito algum.

Quando Deus diz: “Olhai para mim e sereis salvos...” ( Is 45:22 ), o fato de o homem
olhar, não lhe confere mérito, antes o olhar demonstra que o homem confiou na palavra
que lhe foi anunciada. Qualquer que não olhar para aquele que oferta salvação,
demonstra simplesmente que não creu na palavra de Deus.

Neste quesito, o apóstolo Pedro é exemplo fundamental. Quando convencido da


necessidade de Jesus lavar-lhe os pés, logo se apresentou e: “Disse-lhe Simão Pedro:
Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” ( Jo 13:9 ). Caso o
apóstolo Pedro não consentisse que Cristo lavasse os seus pés, por não se sentir
merecedor, não seria lavado.

Esta passagem bíblica demonstra que, quem rejeita a oferta de salvação por se achar
indigno (auto reprovação), e quem acredita que é digno de aceitá-la em vista de algum
mérito estão em pé de igualdade: não tem parte com Cristo.

Apresentar-se diante de Deus para ser lavado de suas imundícies demonstra que o
homem confia que Deus é poderoso para limpá-lo, o que não demanda esforço da parte
do homem, demanda somente a vontade de Deus que propôs lavá-lo. A ação é de Deus,
visto que Jesus trouxe a vasilha, a água,a toalha e as mãos.

Por se considerarem ‘extremamente’ perdidos, muitos se sentem indignos de até mesmo


aceitarem o que Deus propõe, porém, se o homem não aceitar a oferta de salvação que
Deus lhe oferece, lavar-lhe da imundície da carne, não terá parte com Deus “Se eu te
não lavar, não tens parte comigo” ( Jo 13:18 ).

A perdição do homem deu-se em Adão, sendo todos igualmente encerrados debaixo do


mesmo pecado: sem exceção alguma. Com relação à salvação, não é o prévio
conhecimento de Deus (presciência) que determina quem será salvo ou não, antes a
salvação está condicionada à resposta que o homem morto em delitos e pecado dá a
seguinte convocação: “Olhai para mim e sereis salvos...” ( Is 45:22 ), pois somente deste
modo viverá ( Jo 11:25 ; Dt 8:3 ).

A palavra que diz “... que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca
do SENHOR viverá o homem" ( Dt 8:3 ), demonstra que o homem precisa da palavra do
Senhor para viver, visto que está morto. Que para obter vida não depende do pão
cotidiano, mas da palavra que produz vida em abundância.

Embora Deus saiba de antemão todas as coisas, vê-se que, com relação ao passado,
Deus pedirá conta aos homens do que passou, o que demonstra que cada pessoa é livre e
tem sobre si a oportunidade de mudar a sua condição e destino "O que é, já foi; e o que
há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou" ( Ec 3:15 ).

O Pregador demonstra que todos os eventos que o homem considera como sendo
presentes e futuros, para Deus é passado, e que Ele pede conta de toda a existência do
homem. Ora, se Deus pré-ordena os salvos pela presciência, rejeitando o restante da
humanidade, não há porque Ele pedir conta do que passou aos homens, visto que pediria
conta dos seus próprios atos.

Mas, considerar que Deus está presente e vê todos os homens e as suas ações
(onipresença e onisciência), e que a presença de Deus não tolhe e nem exerce influencia
na liberdade do homem, temos a soberania de Deus e a liberdade do homem em perfeito
equilíbrio, sendo que no exercício da sua liberdade o homem pecou e, Deus
providenciou salvação em Cristo por ser misericordioso.

A presciência de Deus não determinou a queda, porém, devido à liberdade que o homem
recebeu, ela foi prevista, visto que Deus providenciou o Cordeiro que foi morto na
fundação do mundo. Embora a queda foi prevista, ela não foi preordenada, antes
ocorreu em decorrência da desobediência de Adão, fruto do exercício da sua liberdade.
A doutrina da reprovação incondicional é antibíblica, pois a bíblia demonstra que está
condenado quem não crer ( Jo 3:18 ), ou seja, a condenação e a salvação são
condicionadas ao crer.

A presciência de Deus não é determinista porque ele mesmo diz que o dia de hoje é um
dia sobre modo oportuno e aceitável "(Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E
socorri-te no dia da salvação; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da
salvação)" ( 2Co 6:2 ). Se o Senhor apresenta o ‘agora’ como tempo aceitável, certo é
que a sua presciência não é determinista (que Deus previamente traçou os eventos
futuros ao homem), pois se assim fosse, o tempo de salvação seria na eternidade, e não
‘hoje’. A oração do salmista seria sem sentido: "Eu, porém, faço a minha oração a ti,
SENHOR, num tempo aceitável; ó Deus, ouve-me segundo a grandeza da tua
misericórdia, segundo a verdade da tua salvação" ( Sl 69:13 ).

Deus não determinou quem eram os perdidos na eternidade, antes a bíblia demonstra
que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus por causa de uma única
transgressão que se deu no tempo dos homens ( Rm 3:23 ). Não foi Deus quem
determinou, por ser presciente, quem haveria de se perder, antes todos se extraviaram e
juntamente se fizeram imundos em Adão, que fez uso da liberdade para fazer o que era
inconveniente ( Rm 3:12 ). Ou seja, estar perdido é uma condição decorrente da decisão
que Adão fez de desobedecer, o que tornou todos os homens filhos da ira e da
desobediência. Tal condição não foi estabelecida pela presciência e nem pela soberania
divina.

O determinado conselho expresso, previu que Deus havia de justificar os crentes pela fé
"Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios,
anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em
ti" ( Gl 3:8 ), o que difere da ideia arminianista de que, Deus previu quem teria fé e,
portanto, os elegeu para serem salvos. O evangelho anunciado a Abraão era previsto no
seu conselho, de que Deus justificaria os que cressem pela fé que havia de se
manifestar, o que não condiz com a ideia de que Deus escolheu pela presciência quem
haveria de justificar ( Gl 3:23 ; ).    

Não há base bíblica para a reprovação incondicional, pois a condenação decorre de um


só que pecou, ou seja, ela é condicionada a ofensa de um só homem. De uma única
ofensa de Adão veio o juízo sobre todos os homens para condenação e a pena foi a
alienação de Deus: morte ( Rm 5:18 ).

Como a perdição é condicionada a ofensa de Adão, a salvação não pode ser


incondicional, antes é condicionada a obediência de um homem: Jesus Cristo, o último
Adão ( Rm 5:19 ).
Após a queda da humanidade, a redenção passou a ser condicionada ao Descendente da
mulher ( Gn 3:15 ), e o dia chamado ‘hoje’ é o dia oportuno de salvação. Se a salvação e
a perdição fossem incondicionais, o ‘hoje’ não seria o momento de salvação, ou o ‘dia’,
ou o ‘ano’ sobre modo oportuno, antes a oportunidade e o dia de salvação estaria na
eternidade, antes que houvesse mundo, pois lá seria estabelecido os perdidos e os salvos
( Is 61:2 ; Hb 3:7 ; ).

O convite de salvação é especifico: "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os
termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro" ( Is 45:22 ). Basta olhar para Deus
que o homem será salvo, ou seja, a salvação não é unilateral.

Existe uma teoria que afirma que o homem é tão depravado que, para olhar para Deus é
necessário uma graça preveniente, o que remonta a teologia de Santo Agostinho
(maniqueísta e neoplatonista), pois entende que, se o homem voluntariamente atender o
chamado ‘Olhai para mim...’ e olhar para aquele que o chama, a salvação já não é por
fé, mas por obras. Grande engano, pois a atitude deles é semelhante a do apóstolo Pedro
“Nunca me lavarás os pés” ( Jo 13:8 )!

Quando Deus diz: “Olhai para mim e sereis salvos”, ele está conscientizando os seus
ouvintes de que estão perdidos, ou seja, mortos (separados) em delitos e pecados. Estão
em uma condição semelhante a dos filhos de Israel que pecaram e foram mordidos por
serpentes ardentes. Todos que estavam picados estavam condenados à morte e, bastava
somente um olhar na direção da serpente de metal para serem curados, ou seja,
necessitam crer na palavra que diz: “Olhai para mim...”.

‘Olhar’ refere-se ao resultado da confiança que os ouvintes exerceriam na palavra


anunciada por Moisés, que diz: “... e será que viverá todo o que, tendo sido picado,
olhar para ela” ( Nm 21:8 ) . Como a fé vem pelo ouvir, ao ouvir a palavra da fé (firme
fundamento), os picados mortalmente pelas serpentes eram sarados. Quando Deus diz:
“Olhai para mim e sereis salvos”, o olhar demonstra que a salvação é por fé somente,
pois para o homem olhar para quem diz ‘Olhai para mim’, significa que o homem
conscientizou-se da sua real condição (pecado), e creu naquele que prometeu (viverá).

Neste sentido é que Cristo foi levantado da terra, para que todo aquele que olhe (crê)
para ele seja salvo ( Jo 3:14 -15). E para quem Cristo foi erguido? Para alguns
indivíduos selecionados previamente? Não! Ele foi erguido para que todos os termos da
terra pudessem vê-lo “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna” ( Jo 3:14 -15), pois todos os homens estavam mortos por causa
do veneno da serpente no Éden.

Um calvinista dirá que o homem está morto e, que, portanto, não poderá atender o
chamado, sem antes ser regenerado, ou que a graça de Deus para os eleitos é
diferenciada, sendo irresistível. Porém Jesus disse “Eu sou a ressurreição e a vida; quem
crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" ( Jo 11:25 ), ou seja, o homem morto em
delitos e pecados é dotado da capacidade de crer ou não em Cristo e, dependendo da
resposta que der ao convite de salvação, viverá ou permanecerá morto.

Jesus demonstrou que é Ele que concede vida aos mortos, ou seja, é Ele que desfaz a
barreira de inimizade entre Deus e os homens, reconciliando o homem com Deus.
Quando Ele diz: “Quem crê em mim...”, a mensagem dele tem por alvo os que
necessitam de vida. Quando ele diz: “ainda que esteja morto”, aponta a real condição do
homem sem Deus: separado, alienado da vida que há em Deus. Por fim, a vida, a
ressurreição dentre os mortos, é o que Ele oferece. Todos os mortos que olham para
Cristo obtém vida!

Jesus, o pão vivo que desceu dos céus, somente repetiu o anunciado por Deus ao povo
de Israel através de Moises: "E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o
maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o
homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o
homem" ( Dt 8:3 ). A mensagem do evangelho serve para dar a entender aos homens
separados de Deus (mortos) que Cristo concede vida, visto que eles estão
entenebrecidos no entendimento.

Estão separados de Deus pela dureza de coração ao rejeitarem o dom de Deus, mas, se
aquiescerem à luz do evangelho, são salvos "Entenebrecidos no entendimento,
separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração"
( Ef 4:18 ). O povo de Israel sofreu quarenta anos no deserto porque Deus queria livrá-
los da ignorância.

É necessário crer na ressurreição e na vida para que o homem morto possa obter vida. A
inversão ‘regeneração para depois crer’ perpetrada pelos calvinistas nega a eficácia da
palavra de Cristo, pois para beber da água que concede vida é necessário ter sede. Deus
não sacia primeiramente a sede para depois servir a água que concede vida ao homem
( Jo 4:14 ).

Todos os homens sem Deus têm sede, porém, muitos saciam sua sede em fontes rotas.
Porque uns saciam a sua sede em Cristo e outros não? Porque muitos estão saciados em
seus próprios conceitos, religiosidade, moralidade, legalidade, ritualismo, etc.

Através da entrega do corpo de Cristo, Deus anuncia para a humanidade presa ao


pecado (vivo para o pecado) que há um novo e vivo caminho para os homens que
quiserem unir-se a Deus (viver unido a Deus). Qual é o caminho? O caminho é Cristo, e
todos que entram por Cristo se conformam com Ele na morte, ou seja, morre para o
pecado.

Os calvinistas e arminianistas apontam a impossibilidade de o homem se salvar como


sendo ‘depravação total’, ou seja, consideram a impossibilidade de se salvar como
sendo ‘inabilidade’ para aceitar a salvação ofertada por Deus.

A impossibilidade de salvação diz somente que o homem não possui os meios para
promover a sua própria salvação, ou seja, a mensagem de Deus tem por objetivo
alcançar o intelecto do homem de modo que venha a aceitar a salvação providenciada
por Deus “Mas, o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e
dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta” ( Mt 13:23 ), desfazendo a
ignorância que os mantém separados de Deus "Entenebrecidos no entendimento,
separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração"
( Ef 4:18 ).
O único modo de o homem ver-se livre do pecado é morrendo para ele. Somente a
morte livra o homem do pecado. Se o homem descer à sepultura como servo do pecado,
segue para o juízo final, onde suas obras serão julgadas. Mas, se antes de descer a
sepultura, morrer com Cristo, o homem é livre do pecado e passa a ser servo da justiça,
sendo que as suas obras serão julgadas no Tribunal de Cristo. 

O convite do evangelho resume-se na premissa: morram com Cristo para que possais
compartilhar da vida que há em Deus. Todos os famintos e sedentos devem comer da
carne e beber do sangue de Cristo. Há uma só carne e um só sangue pelo qual os
homens são salvos, ou seja, não há graça comum e graça superior. Não há graça
resistível ou irresistível, antes há somente uma graça, a Graça de Deus “Isto é, a justiça
de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há
diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”
( Rm 3:22 -24).

Conclusão

Os atos de Deus decorrem única e exclusivamente da sua vontade, porém, quando o seu
propósito é expresso, o homem é inteirado do seu conselho. Tudo o que Deus faz é
segundo o seu conselho, ou seja, segundo a sua palavra, que é Cristo, o Verbo
encarnado ( At 4:28 ; At 20:27 ; Hb 6:17 ).

Da onisciência, que é um dos atributos de Deus, decorre a presciência, que não é um ato
e nem uma qualidade de Deus. A palavra presciência, quando se refere a
acontecimentos futuros, também não diz de um atributo de Deus, pois o atributo é a
onisciência.

Os atributos referem-se à natureza de Deus e eles não influenciam e nem interferem nas
decisões de suas criaturas.

Deus é onipresente e a sua onipresença não influencia as decisões de suas criaturas. A


presença de Deus é soberana e onipotente, mas não influenciou a decisão de Adão
quando comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deus está presente
em todos os momentos e lugares, mas a sua presença não impediu Caim de matar Abel.
A onipresença de Deus é imanente, ou seja, existe sempre n’Ele e é inseparável d’Ele.

Concomitantemente a onisciência e a onipotência de Deus são imanentes. Apesar de,


através da sua onipotência, Deus ter dado origem a todas as coisas, Deus não interfere
nas decisões de suas criaturas por ser onipotente ( Jó 37:23 ). Apesar de presenciar todos
os eventos materiais e espirituais pela sua onipresença, tal atributo divino não interfere
nas decisões de suas criaturas.

Assim também, a presciência de Deus é imanente, posto que é um dos aspectos da sua
onisciência. A presciência de Deus jamais preordena eventos que aos olhos dos homens
são tidos por futuros, visto que, para Deus nada há de futurístico.
A presciência não pode ser considerada como ato divino, e nem implica em pré-
ordenação. Os atos de Deus decorrem somente da sua vontade, e não dos seus atributos
"Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados,
conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua
vontade" ( Ef 1:11 ).

O calvinismo adota a presciência como pré-ordenação para conceder à eleição e a


predestinação ‘status’ de ato divino, como se ambas, a eleição e a predestinação
tivessem em vista as criaturas de Deus, porém, a eleição e a predestinação tem em vista
o propósito eterno que Deus determinou em Cristo ( Ef 1:9 ). A presciência refere-se
somente ao conhecimento que Deus detém do curso integral de todos os acontecimentos
que são futuros do ponto de vista das suas criaturas.

Ao adotar a presciência como ato divino, alguns calvinistas estipulam que ela 'quase'
tem o significado de 'pré-ordenação', mas quando evoluem a abordagem, equiparam a
presciência a preordenação calcados na concepção que formularam entorno do termo
‘conhecer’.

Como no Antigo Testamento o termo ‘presciência’ não existe, porém, tem-se o termo
‘conhecer’ e, todas as vezes que o termo ‘conhecer’ refere-se às ações dos homens,
apontam o ‘conhecer’ como sendo previsão divina e, se o termo ‘conhecer’ refere-se às
pessoas, amalgamam ao termo ‘conhecer’ a ideia de um favor ou de uma afeição divina
para com o indivíduo, de onde surge a ideia de que presciência é preordenar.

Tal construção é feita pelo fato de o termo 'presciência' não existir no Antigo
Testamento e, confundem a presciência com a ideia que deriva do termo 'conhecer',
como se o termo 'conhecer' implicasse afeição para com a pessoa em vista.

Observe os seguintes versos:

 "Antes que te formasses no ventre te conheci" ( Jr l:5 ) – neste verso o termo


‘conhecer’ indica presciência, mas não indica preordenar para salvação, visto
que  Jeremias foi comissionado para profetizar acerca das nações ( Jr 1:10 );
 "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido" ( Am 3:2 ) – neste
verso o termo ‘conhecer’ não refere-se à presciência, antes indica que Deus
escolheu o povo de Israel como propriedade, o que tornou o povo de Israel
separado das demais nações ( Dt 7:6 );
 "Porque o Senhor conhece o caminho dos justos" ( Sl 1:6 ) – neste verso o termo
‘conhecer’ indica comunhão, união íntima, estar ligado a, pois o Senhor é o
caminho dos justos ( Jo 14:6 ).

Como se verifica, o termo 'conhecer' nos versos acima assumem vários significados
distinto em função do contexto no qual está inserido, porém, não significa que aquele
que Deus anteviu preordenou, ou seja, que antever é um ato de afeição.

A palavra 'conhecer' é utilizada varias vezes no Novo Testamento, porém, o sentido da


palavra, além de ‘saber acerca de’, ‘ter ciência de’, etc., é comunhão íntima ou estar
intimamente ligado a "E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci" ( Mt 7:23 ).
Concluir que neste verso 'conhecer' significa que Jesus nunca soube da existência deles
ou, que não os elegeu, escolheu e nem preordenou para a salvação não é o que a bíblia
apresenta, visto que, tal termo significa exclusivamente que tais pessoas nunca tornaram
se um com Ele e o Pai ( Jo 17:21 ).

Quando Jesus disse: "Eu sou o bom pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas
sou conhecido" ( Jo 10:l4 ), ou "Mas, se alguém ama a Deus, este é conhecido dele"
( 1Co 8:3 ), ou "O Senhor conhece os que são seus" ( 2Tm 2:19 ), o termo expressa
comunhão íntima, ou seja, refere-se ao grande mistério expresso pelo apostolo Paulo:
“Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará
o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é
este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” ( Ef 5:30 -32).

O 'conhecimento' que os versos acima expressam refere-se a tornar-se uma só carne, um


só corpo com Cristo, ou seja, o 'conhecimento' de Cristo limita-se aos salvos, porém,
isto não significa eleição por afeição ou preordenação.

Podemos dizer que Deus conhece (onisciência ou presciência) a todos os homens, mas
nem todos são ‘conhecidos’ (comunhão intima) d'Ele ( Gl 4:9 ), pois Ele só tem
comunhão íntima, ou conhece, aqueles que O amam ( 1Co 8:9 ), ou seja, que guardam
os seus mandamentos.

A presciência de Deus refere-se tanto às pessoas quanto às suas ações, portanto a


concepção calvinista de que a 'presciência de pessoas' significa pré-conhecer com
propósito benigno não é o que a bíblia apresenta. Tal engano induz o interprete a
considerar que Romanos 8, verso 29, indica que o primeiro ato da benevolência de Deus
para com os pecadores é 'pré-conhecê-los'.

A interpretação do verso: "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para


serem conformes à imagem de seu Filho" ( Rm 8:29), é a seguinte: tudo concorre para o
bem daqueles que amam a Deus, ou seja, tudo concorre para o bem daqueles que tem
misericórdia ( Os 6:6), porém, o apóstolo Paulo é mais específico: daqueles que amam a
Deus, ou seja, os que amam a Deus também são chamados segundo o seu propósito
( Rm 8:28 ).

Como ser chamado de Deus, ou como amar a Deus? Deus responde: "E faço
misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos" ( Dt
5:10 ), e Jesus complementa: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é
o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me
manifestarei a ele" ( Jo 14:21 ).

Em resumo, tudo concorre para o bem daqueles que ‘tem e guarda os mandamentos de
Jesus’. Estes amam a Deus e são amados do Pai. Estes são os chamados segundo o
propósito de Deus!

Os que Deus anteriormente conheceu referem-se aos que foram regenerados, pois
somente na regeneração o homem torna-se um com o Pai e com o seu Filho (conhecer).
Quando regenerado, o novo homem faz parte da nova geração, a geração eleita,
predestina a ser filho, ou seja, o verso 29 reafirma o que foi dito no verso 28.
‘Ser regenerado’, ‘conhecer’, ‘tornar-se um com Cristo’ são formas diferentes de fazer
referência a um mesmo evento e condição, daí temos que os que conheceram a Deus
tem um destino predefinido: serem conforme a imagem de Cristo.

Os que amam a Deus são os que se tornaram um só corpo com o Pai e o Filho e, estes,
por sua vez, foram chamados segundo o propósito que Deus estabeleceu em si mesmo,
visto que foram destinados a serem recebidos como filhos por adoção.

Por que foram predestinados a serem conforme a imagem de Cristo? Tendo em vista o
propósito estabelecido em Cristo ( Ef 3:11 ), que é Cristo preeminente, ou seja, o
preeminente como primogênito entre muitos irmãos ( Rm 8:29 ).

O termo ‘dantes’ no verso 29 não pode ser tomado como ‘presciência’, antes significa
‘anteriormente’. O verso contém a mesma ideia exarada no seguinte versículo: "Mas
agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra
vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?" ( Gl 4:9 ).
Seria a seguinte leitura: “Sabemos que todas as coisas concorrem para o em daqueles
que amam (conheceram) a Deus (...) Pois os que dantes (anteriormente) conheceu...”
(parafraseando o apóstolo Paulo).

Estes versos não dizem que Deus olhou unilateralmente para alguns pecadores
específicos com favor gracioso para salvá-los da condenação de Adão, antes demonstra
que os misericordiosos (que o amam) tornaram-se um com Ele e o seu Filho, e que,
portanto, serão semelhantes a Seu Filho glorioso.

Os versos demonstram que Deus torna-se um (conhece) com aqueles que o amam
(guardam os seus mandamentos), e que estas pessoas que o conheceram, ou antes, foram
conhecidas d’Ele, também foram predestinadas em decorrência do que propusera em si
mesmo, a serem filhos por adoção ( Ef 1:9 ).

Ora, todos que conhecem a Cristo, ou seja, que se tornaram um só corpo com Ele, foram
gerados de novo e, portanto, são uma nova geração, a geração eleita. São destinados a
serem filhos porque foram gerados de novo através do lavar regenerador do evangelho.

Devemos ter em mente que Deus escolheu um povo, o povo de Israel, não para serem
salvos, antes para preservar a linhagem do Messias, porém, Deus não os rejeitou como
nação por causa da sua promessa aos pais: Abraão, Isaque e Jacó ( Rm 11:28 -29).

Agora, através da igreja, ou seja, daqueles que ‘conheceram’ a Deus, os salvos são a
descendência de Cristo, geração eleita por causa do Descendente. Individualmente todos
os que são conhecidos de Deus são salvos por causa da promessa do evangelho que foi
primeiramente anunciado a Abraão ( Gl 3:8 ), tornando-se os bem-aventurados filhos de
Abraão.

Os cristãos são os "eleitos” ( 1Pe 1:2 ), porém, a eleição não é baseada na presciência de
Deus e nem a salvação é fruto de um olhar diferenciado de Deus para algumas pessoas
previamente escolhidas para obedecerem o evangelho (fé), para só então, serem
agraciados com a aspersão do sangue de Cristo. Se a eleição fosse para a salvação, a
salvação não seria pela fé em Cristo. Os calvinistas acreditam que os eleitos são
justificados (salvos) por Deus e que tal escolha deve ser complementada pela fé no
sangue de Cristo.

Para compreender a primeira epístola de Pedro, capítulo 1, verso dois, temos que ter em
mente que o propósito de Deus é um beneplácito proposto em si mesmo e os cristãos
foram chamados para fazerem parte deste propósito grandioso ( Ef 1:9 ). Devemos ter
em mente que ‘os estrangeiros da dispersão’ são designados eleitos em decorrência do
que Deus propôs em si mesmo (preeminência de Cristo), e não que o propósito d'Ele
tenha em vista somente os cristãos (salvação).

A eleição é baseada na pessoa de Cristo ( Ef 1:4 ; Ef 3:11 ), e não na presciência. A


eleição é para o propósito estabelecido em Cristo e não nos homens. Como o tempo da
eleição se deu antes da fundação do mundo, o evento antecipado segundo a presciência
de Deus Pai foi a santificação do Espírito para a obediência e aspersão do sangue de
Cristo.

Observe a seguinte tradução bíblica interlinear do Novo Testamento: “Pedro apóstolo de


Jesus Cristo a (os) eleitos forasteiros de (a) dispersão de (o) Ponto, de (a) Galácia, de (a)
Capadócia, de (a) Ásia e de (a) Bitínia, segundo (a) presciência de Deus Pai em
santificação de (o) Espírito para obediência e aspersão...” 1Pe 1:1- 2 Novo Testamento
Interlinear Grego-Português SBB (grifo nosso).

Agora, observe a seguinte tradução bíblica e compare: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo,
aos estrangeiros da dispersão, no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na Ásia e na Bitínia,
eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência
e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” 1Pe 1:1 -2 –
Bíblia Sagrada, Antigo e Novo Testamento, Edição Contemporânea, Ed. Vida.

O apóstolo Pedro escreveu aos eleitos de Deus, forasteiros da dispersão, o que é


completamente diferente de dizer que ele escreveu aos estrangeiros da dispersão, eleitos
segundo a presciência de Deus. Os cristãos são eleitos em Cristo, e a presciência está
relacionada com o sangue de Cristo, visto que o Cordeiro de Deus foi morto antes da
fundação do mundo para obediência e aspersão do sangue de Jesus.

A presciência não está no fato de que Deus previu ou preordenou quem seriam, nestes
últimos tempos, os homens agraciados com o sangue de Cristo para serem salvos, antes
a presciência está no fato de que o sangue de Cristo foi conhecido ainda antes da
fundação do mundo para obediência e aspersão “Mas com o precioso sangue de Cristo,
como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo
foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos
tempos por amor de vós” ( 1Pe 1:19 -20).

Novamente reitero: a presciência é um aspecto da onisciência de Deus, portanto a


eleição não decorre da onisciência. A presciência é imanente, assim como a onipresença
também. Deus é onisciente porque é onipresente. Como Ele pode estar em todos os
lugares e tempos simultaneamente, segue-se que daí advém a sua onisciência. Mesmo
Deus sendo onipresente, nada emana d’Ele que possa alterar as decisões de suas
criaturas, e o mesmo podemos dizer da sua presciência: ela nada preordena.
A eleição é segundo o beneplácito que Deus propôs em Cristo, pois Ele escolheu a
Cristo e a sua geração: a geração eleita. Para levar a efeito o que propusera em Cristo, o
Cordeiro de Deus, prescientemente foi morto desde a fundação do mundo, para que na
plenitude dos tempos fosse possível a santificação do Espírito, que se dá através da
aspersão do sangue de Cristo após a obediência ao evangelho ( 1Pe 1:11 ).

A presciência de Deus aparece nas escrituras intimamente associada à pessoa e


sacrifício de Cristo ( At 2:23 ;  1Pe 1:2 ), e a eleição e a predestinação ao propósito que
Deus propôs em si mesmo, ou seja, na pessoa de Cristo ( Ef 1:9 ; Ef 3:11 ).

Qual a ordem cronológica dos eventos expresso no verso 30, de Romanos 8?

“E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também
justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” ( Rm 8:30 ).

Como já analisamos anteriormente, todos que se tornaram um com Cristo (conheceu)


possuem um único destino: ser conforme a imagem de seu Filho “Porque os que dantes
conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim
de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ).

Geralmente o apóstolo Paulo apresenta inicialmente a condição atual dos cristãos para
depois demonstrar qual era a antiga condição deles ( Ef 1:13 e Ef 2:1 ). No verso em
comento não é diferente: “Aos que predestinou” refere-se à condição atual dos cristãos,
pois agora são filhos de Deus, coerdeiros com Cristo, predestinados a serem conforme a
imagem do seu Filho ( Rm 8:29 ; 1Jo 3:1 ).

No verso 30 o apóstolo Paulo retroage os eventos no tempo: aos que predestinou, a estes
também chamou, ou seja, o evento anterior a predestinação é o chamamento, conforme
se lê: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras,
mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos
tempos dos séculos” ( 2Tm 1:9 ).

O chamado é uma santa vocação segundo o propósito que Deus estabeleceu antes dos
tempos dos séculos em Cristo, mas que é concedido aos cristãos por estarem em Cristo
(por conhecê-Lo).

Retroagindo os eventos no tempo, o apóstolo Paulo descreve: “... e aos que chamou a
estes também justificou...”, ou seja, a justificação é o que antecede o chamado de Deus
para o seu propósito.

A justificação resulta do ato criativo de Deus, que declara justos aqueles que ressurgem
com Cristo. Quando Deus cria o novo homem, gerado de novo pelo Seu poder
(evangelho), Ele faz os homens justos e os declara justos.

E no que consiste a glorificação? A glorificação refere-se ao evento anterior à


justificação. Leia: "Porque aquele que está morto está justificado do pecado" ( Rm 6:7 ),
ou seja, se o homem morreu com Cristo, livre está do pecado, ou seja, é declarado justo
por ter conformado com Cristo na sua morte.
Ora, os que Deus declarou justo (justificou porque morreram para o pecado), a estes ele
glorificou, ou seja, ressurgiram com Cristo. A glorificação que o apóstolo Paulo faz
alusão neste verso refere-se à ressurreição com Cristo em uma nova criatura, e não a
glorificação futura, que é revestir o que é mortal da imortalidade.

A glorificação do verso 30 de Romanos 8 é a mesma que o apóstolo fez referência no


verso 17: “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e coerdeiros
de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos
glorificados” ( Rm 8:16- 17 ; Cl 3:1 ).

Quando os cristãos ressurgiram com Cristo ( Cl 3:1 ), são glorificados de fato "E eu dei-
lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um" ( Jo 17:22 ),
pois ‘conheceram’ a Deus, ou antes foram ‘conhecidos’ d’Ele, nova condição que
encaixa-se no chamado segundo o propósito em Cristo, destinando-os a serem filhos por
adoção. ‘Glorificar’ é o mesmo que se tornar ‘um com Cristo e o Pai’, ou seja, é o
mesmo que ‘conhecer’.

“E aos que predestinou (4º) a estes também chamou (3º); e aos que chamou (3º) a estes
também justificou (2º); e aos que justificou (2º) a estes também glorificou (1º)” ( Rm
8:30 ).

Assim, temos que todos que se conformam com Cristo na sua morte, Deus os fez
ressurgir com Cristo (glorificou), mas antes de ressurgirem, foi-lhes necessário morrer
com Cristo, momento em que ocorreu a justificação.

Ora, os ressurretos e glorificados são uma nova geração em Cristo e, por isso são
chamados com uma santa vocação (chamou), para serem conforme a imagem d’Aquele
que os criou, são filhos por Adoção.

A geração eleita não possui outro destino que não seja ser filho, pois foi para isso que
Deus os chamou: para que Cristo seja preeminente entre os seus muitos irmãos.

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