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“ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL”

“O SERMÃO DO MONTE”
“A ENTRADA NO REINO DE DEUS”
A PORTA, O CAMINHO, O TRANSEUNTE E O DESTINO

Mateus 7.13, 14

“Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o


caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que
entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o
caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam
com ela”.

Exortação para entrar no reino

A última divisão principal do sermão começa neste ponto.


Primeiro, Jesus diz algo sobre O Princípio do Caminho: A Porta
Estreita e o Caminho Apertado versus A Porta Larga e o Caminho
Espaçoso – Os transeuntes.
Jesus descreveu, até aqui, os cidadãos do reino:
 Sua bem-aventurança e sua relação com o mundo (5.1-16);
 A justiça que o Rei lhes concede e exige deles (5.17—7.12);
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 Daí ser natural que agora, nessa divisão final do sermão, ele
insista com todos os que foram alcançados por sua
mensagem, seja no tempo em que foi pronunciada ou
depois, a entrar no reino (7.13 – 27);
 Se porventura já entraram, então que entrem de forma mais
plena do que antes, ou, para mudar um pouco a figura,
assegurem-se de que prossigam firmes no caminho ao qual
os levou a porta que os admitiu;
 Na devida ordem, o Senhor descreve os inícios da vereda do
cristão, insistindo com seus ouvintes para que o escolham
em vez de escolherem a espaçosa avenida dos descrentes
(vv. 13 e 14);
 Adverte com ternura com respeito ao progresso de seus
seguidores neste “caminho” (vv. 15 – 20);
 E termina contrastando os dois destinos finais (vv. 21 – 27).

A porta estreita.

A ilustração dos dois caminhos desfrutava de ampla


circulação nos escritos judaicos e cristãos. O caminho é
“apertado”, estreito como uma passagem estreita por entre
montanhas ou rochas altas, um lugar bem apertado como em
Romanos 8.35. “O caminho que conduz à vida envolve apuros e
tribulações.”
Nessa parábola fala-se:
a. De um alto muro em torno de uma cidade, que possui um
portão principal largo e alto e uma porta lateral estreita e
pequena.
 Pelo portão principal passam, numa estrada larga que
serve ao tráfego geral, as multidões.
 Pela modesta portinha lateral passam, em caminho
estreito, somente alguns, os poucos.
b. Essa é a figura. Vamos à interpretação:

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 Ao lado do pequeno grupo de discípulos estava a
grande maioria do povo.
– O grupo de discípulos, entretanto, em breve saberá
da via caluniosa da morte de seu Mestre na cruz,
saberá da entrega de tudo o que era próprio de sua
existência e seu ser.
– Era uma questão difícil, um sacrifício radical que se
exigia do Senhor: agir e pensar totalmente diferente
do que a grande massa age e pensa.
– Lembramos todas as palavras e os exemplos dos
cap. 5–7, como o Senhor proclamou por meio delas
a inversão de todos os valores.
– As exigências de Jesus contrariavam tudo o que
havia até então.
 A massa do povo israelita exigia um Messias que lhe
desse pão, um Messias externo.
– Diretamente oposto ao caminho da massa, do eu,
da autoafirmação, da estrada larga, está o caminho
divino dos poucos, a via de Jesus, da estrada
estreita.
– Mas essa via do sermão do Monte, que direciona
radicalmente nossa vida para o trilho estreito do
caminho apertado, é o único caminho que conduz à
vida.
– Por estar em jogo a vida eterna, é tolice olhar em
volta à procura da estrada larga.
– Estando em questão a vida, nenhum sacrifício é
grande demais para ser feito para a conquista do
alvo.
c. Com as parábolas das portas estreita e larga, das estradas
apertada e espaçosa, Jesus descreveu a grande separação
que sua vinda causou entre as pessoas.
 O caminho estreito é ele próprio, Jesus, ele que é “o
caminho, a verdade e a vida” (Jo. 14.6).
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 O caminho largo, este é Satanás!
– Este é o caminho de todos os que andam o caminho
do eu, a rota do pecado, que é o afastamento de
Deus.
d. Jesus convoca todos aqueles que peregrinam pelo
caminho estreito, seguindo a ele, a passar longe da
estrada larga.
 Jesus faz uma distinção, porque mesmo no pequeno
grupo que anda pelo caminho estreito, nem todos
realmente pertencem ao pequeno grupo.
e. É este fato doloroso que Jesus explica com a ilustração de
um rebanho de ovelhas. Nem todos que se parecem
como ovelhas, são ovelhas.

Deve-se notar que Jesus, por inferência, já descreveu a


entrada em seu reino como algo que é, ao mesmo tempo,
convidativo e difícil, ou seja, segue envolto por circunstâncias
favoráveis e desfavoráveis.
 Favoráveis:
– Porque os que entram são descritos como sendo
benditos;
– São os possuidores do reino no qual entraram, são
consolados, herdam a terra, serão plenamente saciados,
etc.;
 Desfavoráveis, no sentido em que serão perseguidos,
insultados, caluniados, e que serão sobrecarregados com
pesadas obrigações;
 Devem praticar uma justiça que exceda aquela justiça
praticada pelos escribas e fariseus;
 Devem amar até mesmo os seus inimigos e orar pelos seus
perseguidores;
 Não devem ser hipercríticos, mas, antes, devem usar de bom
critério para julgar e discriminar, etc.

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Essas coisas são “desfavoráveis” no sentido em que se
chocam com as tendências naturais dos homens.
 Portanto, é evidente que nosso Senhor não usa o método
utilizado por certos pregadores avivalistas (ou evangelistas)
que falam como se a “obtenção da salvação” fosse uma das
coisas mais fáceis do mundo.
 Jesus, ao contrário, descreve a entrada no reino como algo
que, por um lado, é muito desejável, mas que, por outro
lado, não é de modo algum fácil.
 A porta de entrada é estreita. Ela tem de ser “encontrada”. E
o caminho ao qual ela está ligada é “apertado”.

A observação de J.M. Gibson é exata: “O apelo de Cristo é


apresentado de tal forma que não aparenta nenhum atrativo
para o mundo insensato e egoísta, senão para aqueles cujo
coração tem sido atraído e cuja consciência tem sido tocada pela
sua apresentação das bem-aventuranças pelas quais podem
esperar e da justiça que deles se espera.”

Não é assim que os evangelistas realmente grandes —


lembrem-se de Whitefield, Spurgeon e seus dignos sucessores da
atualidade — enfatizavam e estão enfatizando essa mesma
verdade? Não era esta também a lição que Josué estava tentando
ensinar aos israelitas? (Js. 24.14 – 28; ver especialmente os vv. 14
– 16; 19). Cf. At 14.22.
A passagem fala de:
a. Duas portas e dois caminhos:
 Pela descrição fica evidente que estes — porta e
caminho — devem ser combinados entre si: porta
estreita e caminho apertado; porta larga e caminho
espaçoso.
– O que vem antes, o caminho ou a porta?

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– Uma pessoa entra pela porta a fim de ser admitida
ao caminho, ou segue o caminho a fim de alcançar a
porta e passar por ela?
– Se é certo que Jesus, ao mencionar a porta, estava
pensando no que sucede quando uma pessoa
morre ou na segunda vinda, então é óbvio que o
caminho precede a porta.
– Com base nas Escrituras, falamos da entrada na
Jerusalém de ouro pelos seus portões de pérolas
(cf. Ap. 21.21; 22.14).
– A esse respeito pode-se também referir a Lc. 13.23
– 30, onde a entrada pela “porta” estreita conduz
ao “reino de Deus” em sua fase final ou
escatológica.
– Entretanto, por outro lado Mt. 7.13 e 14, em cada
caso, menciona primeiro a porta e em seguida o
caminho. Portanto, a seguinte pergunta procede:
“O que vem antes, o caminho ou a porta?”
 Entre os comentaristas que têm se digladiado com
essa pergunta — alguns não o têm feito por
aparentemente desconsiderarem-na — as seguintes
posições têm sido tomadas:
– “Possivelmente o preceito de Cristo fosse
simplesmente: ‘Entrem pela porta estreita’, e que
todo o resto seja uma glosa.” Objeção. A evidência
dos manuscritos disponíveis não apoia uma
amputação tão radical.
– “Cada um dos dois caminhos conduz a uma porta e
a atravessa.” Segundo esse ponto de vista, o
caminho vem antes.
 Caminho pode significar modo de ser, etc., ou dar a
idéia de estrada, de rota.
 Prefiro "caminho'' como modo de ser com base no fato
de que faz a transição mental da esfera física para a
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moral e espiritual de forma mais natural, visto que se
fala de “modo de vida", "caminho de abnegação e
sacrifício, da obediência, da santificação”, etc.
 Porta e caminho significam substancialmente a mesma
coisa, ou seja, a obediência exigida por Cristo.
– Vista como uma unidade, essa obediência pode ser
chamada de porta; e, considerada em sua
multiplicidade, um caminho.
– Essa idéia enfatiza a relação muito estreita entre
“porta” e “caminho”.
 “A porta vem antes. A seguir vem o caminho...”.
– Jesus está pensando na escolha que se há de fazer
agora mesmo, e nos exorta a escolher, visto que
somente por meio de uma escolha consciente
alguém pode chegar ao caminho certo.”
– Para que possa entrar pela porta estreita, a pessoa
precisa desfazer-se de muitas coisas.
 O desejo ardente de possuir bens terrenos;
 O espírito que não consegue perdoar;
 O egoísmo;
 A justiça própria.
 A porta estreita é, pois, a porta da abnegação e da
obediência.

A porta larga

“A porta larga” permite entrar com a bolsa e toda a


bagagem. A velha natureza pecaminosa — tudo o que ela contém
e todos os seus acessórios — pode passar facilmente por ela:
 É a porta da autoindulgência. Essa porta é tão ampla que
uma multidão enorme e clamorosa pode entrar toda de uma
vez, e ainda restará muito espaço para outros.
 A “porta”, pois, aponta para a escolha que uma pessoa faz
nesta presente vida, seja boa ou má essa escolha.
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 O “caminho” ao qual a porta estreita dá acesso é
"apertado”, ou, como diríamos hoje, “Restrita demais”.
 A vereda pela qual o crente está viajando se assemelha a um
desfiladeiro difícil por entre dois penhascos.

Poder-se-ia denominá-lo de Broadway (famosa avenida de


vida noturna de Nova York, cujo significado é caminho largo).
Os letreiros ao longo dessa espaçosa avenida dizem: “Bem-
vindos, cada um de vocês e todos os seus amigos, com muita,
muita alegria. Viajem como queiram, e tão rápido como
desejarem. Aqui não existem restrições.” Entretanto, “O caminho
dos ímpios perecerá".
O contraste é feito claramente entre “o caminho de vida" e
“o caminho de morte”. O primeiro caminho foi constituído de
acordo com as especificações do Supremo Arquiteto e Construtor
(Hb 11.10). As diretrizes para a construção são encontradas em
sua lei.
O outro “caminho” foi construído pelo maligno. Seus
seguidores viajam nele.

b. Dois tipos de transeuntes:

Aqueles que escolhem a porta larga e o caminho espaçoso


são chamados “muitos”; aqueles que entram pela porta estreita e
viajam no caminho apertado são chamados “poucos”.
As enormes multidões que atravessam a porta larga e
caminham pela avenida ampla onde cabem todos são dignos de
comiseração. Pois, esta “liberdade” e “felicidade” da maioria é de
natureza muito superficial. Uma vez que o ímpio não conhece a
paz interior, como poderia ele ser realmente feliz?
Entrar pela porta estreita e caminhar pelo caminho apertado
implica abnegação, dificuldade e luta, dores e asperezas, assim
acontece especialmente em decorrência da natureza pecaminosa
que não foi completamente vencida.
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Os que encontraram a porta estreita e agora caminham pelo
caminho apertado são livres e felizes. “Grande paz têm os que
amam a tua lei” (Sl. 119.165; cf. Is. 26.3; 43.2).
Para “o novo homem” (a natureza regenerada) há alegria
indizível e cheia de glória (l Pd. 1.8; cf. Rm. 7.22; Fp. 2.17; 3.1; 4.4;
etc.).
 Os “poucos” que entraram pela porta estreita são
“afligidos, porém não esmagados; perplexos, porém
não desesperados” (II Co. 4.8, 9);
 “Entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas
enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo
todas as coisas” (II Co. 6.10).
 E além dos tesouros que já possuem desde agora,
eles sabem que riquezas maiores esperam por eles,
“Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação” (II Co. 4.17; cf. Rm. 8.18).
c. Dois destinos.
 Os que entraram pela porta larga e agora trilham o
caminho espaçoso estão indo rumo à destruição, ou
seja, estão destinados não à aniquilação, e, sim, à
perdição eterna (Dn. 12.2; Mt. 3.12; 18.8; 25.41, 46;
Mc. 9.43; Lc. 3.17; II Ts. 1.9; Jd. 6.7; Ap. 14.9 – 11; 19.3;
20.10).
 Ao contrário, “O caminho da cruz leva ao lar celestial”.
– É o caminho da auto-renúncia que “conduz à vida”
em seu sentido pleno e escatológico:
 Comunhão com Deus em Cristo, primeiro no céu,
subseqüentemente, no novo céu e nova terra;
– Todas as bênçãos resultantes dessa comunhão:
 Uma dupla razão é apresentada para justificar a
exortação “Entrem pela porta estreita”.
 Uma “dupla” razão, em vez de duas razões
distintas, porquanto esse pensamento unificador
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é básico para todo o argumento dos vv. 13 e 14:
os homens devem escolher a porta e o caminho
que conduzem à vida, ou seja, a porta estreita e
o caminho apertado, não a porta e o caminho
que terminam em destruição, ou seja, não a
porta larga e o caminho espaçoso.
 Conservando isso em mente, notar os dois
pensamentos subordinados:
 É natural preferir o que é amplo e espaçoso,
de fácil acesso, em lugar do que é estreito e
apertado;
 Também é natural seguir a multidão em vez
de seguir uns poucos. Cuidado!

CONCLUSÃO

A exortação é um ardente apelo, um convite muito terno


que emana do mais amoroso de todos os corações.
Substancialmente é aquela mesma que se encontra em 4.17:
“Convertem-se, porque o reino do céu está próximo.” Será
repetida nas palavras de 11.28 – 30, de Jo. 7.37 e de II Co. 5.20,
para mencionar apenas umas poucas passagens.
Ela foi prevista ou prenunciada em Is. 1.18; 55.1, 6, 7; Ez.
33.11; Os. 11.8; etc., e levada ao clímax em Ap. 22.17 b. E o coração
amoroso do qual ela emana se revela em Mt. 23.37, na cruz, e,
realmente, ao longo de toda a peregrinação terrena de Cristo, e
mesmo antes (II Co. 8.9; cf. Jo. 1.14). E esse coração ainda está
pulsando!

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