Você está na página 1de 312

ORGANIZAÇÃO

ORGANIZAÇ
Marise Campos de Souza

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO


E ARTÍSTICO NACIONAL

Superintendência Regional do Iphan

São Paulo - SP
2010
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Cultura
Juca Ferreira
Presidente do Iphan
Luiz Fernando de Almeida
Chefe de Gabinete
Fernanda Pereira
Procurador Chefe
Antonio Fernando Alves Leal Néri
Diretora de Patrimônio Imaterial
Marcia Sant’Anna
Diretor de Patrimônio Material e Fiscalização
Dalmo Vieira Filho
Diretora de Planejamento e Administração
Maria Emília Nascimento Santos
Diretora de Articulação e Fomento
Márcia Rollemberg
Superintendente do Iphan em São Paulo
Anna Beatriz Ayroza Galvão
Coordenador Técnico Substituto
Caio Roberto Bourg de Mello
Setor de Arqueologia do Iphan em São Paulo
Marise Campos de Souza
Rossano Lopes Bastos

Endereços
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (sede)
SBN Quadra 2 Edifício Central Brasília
Cep 70040-904 Brasília - DF
Telefone: (61) 2024 6176 Fax: (61) 2024 6198

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em São Paulo


Avenida Angélica n.º 626, Bairro Higienópolis
Cep 01228-000- São Paulo- SP
Telefone: (11) 3826 0744 Fax (11) 3826 2517

A772 Arqueologia preventiva: Gestão e Mediação de Conlitos. Estudos


Comparativos / organização de Marise Campos de Souza. – São
Paulo, SP: Superintendência do Iphan em São Paulo, 2010.
312 p. : 16x23 cm.

ISBN 978-85-7334-141-6

1. Arqueologia, 2. Arqueologia Preventiva, 3. Arqueologia do Risco, 4. Conservação de Bens Culturais,


5. Patrimônio Arqueológico, 6. Patrimônio Cultural. CAMPOS DE SOUZA, Marise, (org.).
CDD: 930
Sumário

LISTA DOS AUTORES....................................................................................01

Apresentação
Antonio Pires da Silva ........................................................................................03

Prefácio
Damir Dijakovic ................................................................................................05

Introdução
Marise Campos de Souza ..................................................................................09

PRIMEIRA PARTE

Arqueologia, Academia e Mediação de Conlitos.


José Luiz de Morais & Daisy de Morais .................................................................17

Arqueologia Preventiva no Patrimônio Arqueológico Brasileiro.


Marise Campos de Souza & Rossano Lopes Bastos ..................................................45

Morro Velho: Uma velha história, um novo presente.


Fabiano Lopes de Paula .....................................................................................65

Arqueología y comunidades aborígenes en Argentina: un trabajo


en común en Humahuaca, Jujuy.
Lidia Clara García ............................................................................................77

SEGUNDA PARTE

Um século e meio de conlitos na arqueologia preventiva em Portugal:


entre o dever e o esquecimento.
Luiz Oosterbeek ................................................................................................95

Clima e Patrimônio Cultural no Saara. Introdução a questão da adaptação


humana às crises climáticas ocorridas no Saara passados dez mil anos.
Climat et Patrimoine Cultural au Sahara. Introduction à la question de l’adaptation
humaine à des crises climatiques survenues au Sahara depuis dix mille ans.
Max Schvoerer et alii ....................................................................................... 113
Arqueologia Preventiva na Hungria. Desenvolvimento autêntico ou modelo estrangeiro sem
adaptação? Arqueoastronomia e Arqueologia Preventiva.
Preventive Archaeology in Hungary-Authentic Development or Foreign Model without
Adaptation? Archaeoastronomy and Preventive Archaeology
Katalin Bozóki-Ernyey & Emilia Pasztor ............................................................... 147
Arqueologia Preventiva na Polônia contemporânea. Um esboço.
Preventive Archaeology in contemporary Poland. An outline.
Arkadiusz Marciniak ....................................................................................... 175
Escavação de emergência no Cáucaso: Desenterrando a Anta de “Kolikho”.
Rescue Excavation in Caucasus: Unearthing “Kolikho” dolmen.
Viktor Trifonov................................................................................................. 189
Arqueologia Preventiva na Bulgária.
Preventive Archaeology in Bulgaria.
Diana Gergova .................................................................................................193
Raphael, a Abundância e a Preguiça. Precocidade e retardo na Arqueologia
Preventiva na Itália.
Raffaello, l’Albondanza e la Pigrizia. Precocità e ritardi dell’Archeologia
Preventiva in Italia.
Roberto Maggi ..................................................................................................209
Pinturas rupestres pré-históricas, nos Alpes Ocidentais.
Um bem exclusivo para proteger e preservar.
Pitture rupestri preistoriche nelle Alpi Occidentali. Un unicum da proteggere
e da conservare.
Dario Seglie, Piero Ricchiardi & Filippo M. Gambari.............................................. 235

TERCEIRA PARTE

Pluralidade de pontos de vista e aprendizagem coletiva – Abordagens sobre temas de


Patrimônio fundamentados nas questões de Qualidade de Vida e nos esforços para
reenquadrar a política cientíica e tecnológica.
Plurality of Viewpoints and Collective Learning – Themes in Heritage Based Approaches
to Life Quality Issues and Efforts to Reframe Science and Technology Policy.
Stephanie Koerner .......................................................................................... 251
Arqueologia dos conlitos: uma abordagem sistêmica.
Archeologia dei conflitti: un approccio sistemico.
Georgios Dimitriadis........................................................................................ 295

EPÍLOGO ................................................................................................... 307


Lista dos autores

Antonio Pires da Silva, Lidia Clara García,


Presidente do Instituto Politécnico de Tomar, CONICET – Universidad de Buenos Aires.
Portugal Facultad de Filosofía y Letras, Instituto de
piressilva@ipt.pt Arqueología. Argentina.
lgarcia@ilo.uba.ar
Damir Dijakovic,
Programe Specialist in Culture Schvoerer Max,
UNESCO Ofice Windhoek, Namibia Université de Bordeaux 3 – CNRS, IRAMAT –
d.dijakovic@unesco.org France
Association « Sciences et Patrimoine culturel
FER-PACT »Bègles, France
Marise Campos de Souza,
schvoerer@u-bordeaux3.fr
Chefe, Setor de Preservação de Arqueologia,
Superintendência do Iphan/São Paulo, Brasil Massué Jean-Pierre,
Doutoranda em Arqueologia IPT/UTAD, Portugal. Association «Sciences et Patrimoine culturel
marise.souza@iphan.gov.br FER-PACT»  Bègles, France.

José Luiz de Morais, Jungner Hogne,


Professor Titular e Diretor do Museu de Université d’Helsinki, Dating Laboratory,
Arqueologia e Etnologia da Universidade de Helsinki, Finlande.
São Paulo, Brasil
jlmorais.52@gmail.com Ney Claude,
Université de Bordeaux 3 – CNRS, IRAMAT –
Daisy de Morais, France.
Mestre em Arqueologia Universidade de São
Paulo, Brasil Guibert Pierre,
Université de Bordeaux 3 – CNRS, IRAMAT –
Rossano Lopes Bastos, France.
Setor de Preservação de Arqueologia,
Superintendência do Iphan/São Paulo, Brasil
Aumassip Ginette,
Association «Les amis du Tassili», Alger, Algérie.
Professor do mestrado de Arqueologia pré-
-histórica e Arte Rupestre do programa
Bouvier Jean-Marc,
Europeu Erasmus Mundus Association «Sciences et Patrimoine culturel
Secretário Geral do XVI Congresso mundial FER-PACT», Bègles, France.
da UISPP 2011 em Florianopolis, Brasil.
rossano.bastos@iphan.gov.br Tauveron Michel,
Association «Les amis du Tassili», Alger, Algérie.
Fabiano Lopes de Paula,
ex-Superintendente do Iphan em Striedter Karl,
Minas Gerais, Brasil Université de Francfort, Institut Fröbenius,
fabiano_lopes2000@yahoo.com.br Allemagne.
2 • IPHAN

El Graoui Mohssine, Piero Ricchiardi,


Centre National du Patrimoine Rupestre de CeSMAP (Centro Studi e Museo d’Arte Preisto-
Marrakech, Maroc. rica), Pinerolo, Italia

Searight Susan, Dario Seglie,


Centre National du Patrimoine Rupestre de CeSMAP, Pinerolo, Italia
Marrakech, Maroc. Politecnico di Torino, Italia
cesmap@cesmap.it
Ollagnier Céline,
Université de Bordeaux 3 – CNRS, IRAMAT – Roberto Maggi,
France Soprintendenza per i Beni Archeologici della
Association «Sciences et Patrimoine culturel Liguria, Genova
FER-PACT», Bègles, France. rmaggi@beniculturali.it

Katalin Bozóki-Ernyey, Luiz Oosterbeek,


National Ofice of Cultural Heritage, Hungary Director do Gabinete de Relações Internacio-
nais do Instituto Politécnico de Tomar
olaszernyey@yahoo.com
Secretary-General UISPP - International Union
of Prehistoric and Protohistoric Sciences
Emilia Pasztor,
loost@ipt.pt
Vice-President of SEAC (Société Européene
pour l’Astronomie dans la Culture), Hungary
Georgios Dimitriadis,
pasztoremilia@tolna.net
DiSA-Antropologia, Università di Genova, Italia
Museu de Antropologia e Etnologia, Universi-
Arkadiusz Marciniak, dade de São Paulo, Brasil
University of Poznań, Poland CAR-ICOMOS
arekmar@amu.edu.pl GTE-UISPP Commission
giorgio.dimitriadis@cheapnet.it
Diana Gergova,
National Institute of Archaeology with Mu- Stephanie Koerner,
seum, Soia, Bulgary University of Manchester, England
dianagergova@yahoo.com stephaniekoerner@hotmail.com

Filippo M. Gambari, Viktor Trifonov,


Soprintendente Archeologico della Liguria, Institute of Material Culture, Russian Academy
Genova, Italia of Sciences in St. Petersburg, Russia
Università degli Studi di Torino, Italia viktor_trifonov@mail.ru
Apresentação
Antonio Pires da Silva
Presidente IPT, Portugal

A formação e a investigação em áreas que interferem com a gestão do territó-


rio são uma necessidade social, a que o Ensino Superior dá resposta, e que,
inevitavelmente, se cruza com interesses distintos, por vezes contraditórios, que é
essencial clariicar e, se possível, conciliar.
A arqueologia é, sem nenhuma dúvida, uma dessas áreas. Nem sempre, no pas-
sado, a dimensão do conlito foi evidente, mas se pensarmos na associação de
grandes projectos expansionistas aos primórdios deste campo de saber na moder-
nidade (como a relação de Napoleão com o alvor da Egitologia), facilmente veri-
icaremos que assim era. Mas a legislação actual sobre minimização de impactes
ambientais, que insere a arqueologia no centro das preocupações sobre a sustenta-
bilidade da nossa espécie, veio  evidenciar esta realidade conlitual.
Formar para intervir neste cenário é uma preocupação central do Instituto Politéc-
nico de Tomar e dos seus cursos de Licenciatura e de Mestrado em Arqueologia.
É também esta preocupação que encontrámos num conjunto de colegas no Brasil,
como o Professor Dr. José Luís de Morais, o Professor Dr. Rossano Lopes Bastos ou
a Arquiteta Marise Campos de Souza, coordenadora do presente volume. O Brasil
tem uma das melhores legislações do mundo sobre o património arqueológico,
porque não se preocupa apenas com a sua preservação, mas articula efectivamente
o seu estudo com os interesses da sociedade, através da educação patrimonial. O
IPT tem pugnado, em Portugal, por alterações legislativas que siga o bom exemplo
brasileiro, ao qual não são alheios os colegas antes mencionados.
Mas, numa sociedade globalizada, que assume o património em primeiro lugar
como uma herança da Humanidade, é essencial relectir à escala global.
O livro que a Arq. Marise Campos de Souza em boa hora estruturou, inscreve-se
neste quadro, e deve ser saudado como um excelente contributo para uma com-
preensão global da questão dos conlitos em arqueologia. O livro cruza  perspecti-
vas sobre a arqueologia preventiva  em diversos países e regiões  (Brasil, Argentina,
4 • IPHAN

Portugal, Inglaterra, França, Itália, Hungria, Bulgária, Polônia)  com abordagens


temáticas e em áreas especíicas da arqueologia (ética, arte rupestre, mineração,
direitos das comunidades aborígenes, ambiente). É, deste ponto de vista, um
excelente contributo para as relações que se vão estreitando entre a Europa, o
Brasil e a América do Sul, e de que também são exemplos dois outros projectos
que unem as nossas equipas (o projecto Porto Seguro, inanciado pelo programa
Cultura da Comissão Europeia, e o sistema HERITY de certiicação de qualidade
do património cultural).
Prefácio
Damir Dijakovic
UNESCO – Programme Specialist in Culture

A s world events unfold, we have witnessed the tragic destruction of cultural


heritage. In the last decade or so, UNESCO has played a leading and high-
proile role internationally in coordinating complex operations to safeguard
heritage damaged or threatened by conlicts or natural disasters, with the assis-
tance of many diferent partners, both public and private. he establishment
of dialogue and international exchange are the pillars of the adopted strategy,
which aims at highlighting the role of cultural heritage in preserving and re-
building peace after civil strife or armed conlict.
he year 2010 will be celebrated as the International Year for the Ra proche-
ment of Cultures. he goal of the International Year consists in making the
rapprochement of cultures the hallmark of all policy-making at local, national,
regional and international levels, involving the greatest number of relevant
stakeholders. UNESCO is designated to play a leading role for the celebration
of the Year within the United Nations system. he speciic form of UNESCO’s
action is, through its eforts to demonstrate the beneicial efects of cultural
diversity, highlighting the importance of borrowings, transfers and exchanges
between cultures. In recent times, the call for a much greater emphasis on the
cultural dimension in all aspects of development has become increasingly vocal,
particularly in situations of post-conlict and post-disaster.
he pressures of the globalisation and in particular the recent economic recession,
brought a signiicant deal of hardship to the concerned countries thus afecting pri-
marily the local communities, as actual bearers of cultural traditions and creativity. 
In this, broader picture, preventive archaeology certainly inds it position of me-
rit. In number of cases, by integrating archaeology into their project, developers
made possible the discovery, excavation and study as well as the protection of yet
undiscovered remains. Such an approach, when mutually agreed upon, is highly
successful when the development of a site may alter or destroy valuable archaeo-
logical deposits.
6 • IPHAN

It is particularly important to observe such an approach in its wider context of sys-


tematic recording of the acquired information particularly when applied through
efective implementation of the international standard setting instruments (con-
vention, recommendations, etc) such as the World Heritage Convention (1972).
he accumulation, study, analysis and publication of results acquired over longer
span of time may signiicantly contribute to our understanding of historical events
that shaped the peoples and societies of a certain territory or aquatory (in case
of underwater archaeological activities). Examples of such an approach in South
Eastern Europe involve the planning of preventive archaeological interventions
in a number of development projects, in particular construction of motorways as
well as maritime port complexes. Particular achievement of such an approach is
the creation of the International Centre for Underwater Archaeology (ICUA) in
Zadar, Croatia and its nomination as the UNESCO Center of Category II. 
It is ascertained by now that the ield of preventive archaeology opens the space for
cooperation and international exchange. As such, it represents an important asset
as well as platform for intercultural dialogue and exchange, as such book suggest.
UNESCO strives to encourage, indeed to catalyze such processes throughout the
world as the part of its multifaceted mandate. In 2010, the International Year for the
Rapprochement of Cultures, this task will be even more important and accentuated.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 7

quantidade signiicativa de diiculdades para


Prefácio os países em questão, afetando principalmen-
te as comunidades locais, reais portadores de
tradições culturais e de criatividade.
Com os eventos mundiais que se desdo-
Neste quadro, mais amplo, a arqueologia
bram, testemunhamos a trágica destruição
preventiva certamente encontra posição de
do patrimônio cultural.
destaque. Em numerosos casos, por meio da
Na última década, a UNESCO tem desem- integração da arqueologia em seu projeto, os
penhado um papel de líder e de destaque empreendedores tornaram possíveis a des-
internacional na coordenação de operações coberta, a escavação, o estudo, bem como a
complexas para a salvaguarda do patrimô- proteção dos bens até então desconhecidos.
nio lesado ou ameaçado por conlitos ou Tal abordagem, quando mutuamente acor-
desastres naturais, com o apoio de diferen- dada, é altamente bem-sucedida, sobretu-
tes parceiros, tanto públicos quanto pri- do quando o desenvolvimento de um local
vados. O estabelecimento de um diálogo pode alterar ou destruir importantes depósi-
e intercâmbio internacional são os pilares
tos arqueológicos.
da estratégia adotada, que visa destacar o
papel da herança cultural na preservação e É particularmente importante observar
restabelecimento da paz no pós-guerra civil essa abordagem em seu mais amplo con-
ou conlito armado.
texto de registro sistemático das infor-
Em 2010 será comemorado o Ano Inter- mações adquiridas, em especial quando
nacional para Aproximação das Culturas. aplicada por meio de uma efetiva imple-
O objetivo consiste em realizar a aproxi- mentação das convenções internacionais
mação das culturas como marca de todas como instrumentos de deinição de pa-
as formulações de políticas em níveis local, drão (convenções, recomendações, etc.),
regional, nacional e internacional, envol- como a Convenção do Patrimônio Mun-
vendo o maior numero de relevantes atores dial (1972). A acumulação, estudo, análise
econômicos e sociais. e publicação dos resultados adquiridos ao
A UNESCO é designada para desempe- longo do tempo pode contribuir signiica-
nhar a tarefa de liderança na celebração do tivamente para a nossa compreensão dos
Ano dentro do sistema das Nações Unidas. eventos históricos que formam os povos e
A forma especíica de ação da UNESCO as sociedades de um determinado território
é – pelos seus esforços – demonstrar os ou “aquatory” (em caso de atividades su-
efeitos benéicos da diversidade cultural baquáticas arqueológicas). Exemplos de tal
destacando a importância dos emprésti- abordagem no sudeste da Europa envolvem
mos, transferências e intercâmbio entre as o planejamento de intervenções e medidas
culturas. de arqueologia preventiva, em uma série de
Nos últimos tempos, o apelo a maior ênfase projetos de desenvolvimento econômico e
na dimensão cultural em todos os aspectos social, no que tange à construção de auto-
do desenvolvimento tende a se tornar cada estradas, bem como complexos portuários
vez mais vocal, especialmente em situações marítimos.
de pós-conlito e pós-desastre.
Nomeadamente a realização de tal aborda-
As pressões da globalização e, em particular, gem é a criação do Centro Internacional
a recente recessão econômica portaram uma de Arqueologia Subaquática (ICUA), em
8 • IPHAN

Zadar, Croácia e sua nomeação como o A UNESCO se esforça de fato para promo-
Centro UNESCO de Categoria II. ver e para catalisar tais processos em todo
o mundo como parte do seu multifacetado
Constata-se que o campo da arqueologia mandato. Em 2010, o Ano Internacional
preventiva abre espaço para a cooperação e para a aproximação das Culturas, essa tare-
o intercâmbio internacional. fa será ainda mais importante e acentuada.
Como tal, representa importante recurso,
bem como plataforma intercultural para o Damir Dijakovic
diálogo e a troca, como sugere este livro. UNESCO – Programme Specialist in Culture
Introdução
Marise Campos de Souza
Chefe do Setor de Arqueologia do Iphan/SP

No ano de 2008 foi publicado no IJHS (International Journal of Heritage Studies)


uma reportagem sobre a situação conlitual entre Patrimônio e Turismo no Cam-
boja depois do início da democratização no país. O artigo conclui com a cons-
tatação de que o pressuposto crescimento e desenvolvimento cultural desejado
produz quase sempre conlitos sociais:

Heritage and tourism risk in Cambodia once again trapping itself in a mono-cultural,
mono-ethnic, nationalism. he re-emerging of international tourism in Cambodia
has also transformed the town of Siem Reap into an enclave of imbalanced wealth
and development, and a micro-economy beyond which lies sustained rural poverty.
Angkorean tourism is thus fuelling the country’s ever increasing concentrations in
wealth and sub-national inequalities. (Winter 2008:14, 6:537)

Exatamente um ano mais tarde a revista Época no Brasil em uma lúcida re-
portagem de Juliana Arini analisa criticamente a multiplicidade de conlitos
emergentes de ocupação da tribo indígena dentro da reserva Capoto-Jarina em
Mato Grosso:

Cerca de 250 líderes indígenas de 14 etnias se encontraram para falar sobre o PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento). A conversa foi paciica, mas a decisão dos
índios foi lançar gritos de guerra e ameaças à obra. (...) O governo vai ser responsável
pelos danos aos operários e indígenas, diz a carta assinada por caciques da etnia
caiapó. (...) Em um país onde 12.4% do território pertence a terras indígenas, esse
tipo de conlito já gerou o embargo de projetos. Provocou também várias ações extre-
mas como invasões a canteiros de obra e sequestro dos operários. (Arini 2009 9:62-66)

No inicio deste ano de 2010 o jornal de cultura política e economia social Le


Monde publica a entrevista da jornalista Cécile Prieur com o ilósofo francês
François Ewald alertando sobre os conlitos sociais e a crise cultural na França e
por extensão em toda a Europa. Esse último estigmatiza o conceito de precaução
como medida operativa na gestão da situação de risco e de conlito:
10 • IPHAN

[...] Ce principe a été réléchi en fonction des responsabilités qu’il pourrait engager. Il
est devenu à la fois un épouvantail et un principe de couverture. En faire trop semble
vous protéger d’une mise en cause éventualle. J’ajoute qu’il y a deux manières diféren-
tes d’envisager le principe de précaution: soit on considère qu’il s’agit d’un processus de
décision inale – en situation d’incertitudes, j’analyse tous le paramètres et j’opte pour
la solution la plus adaptée; soit j’interprète le principe de précaution en décidant qu’
à partir du moment où il y a une incertitude je suspends toute action, j’omets d’agir :
c’est la logique du moratoire. Sous le label «principe de précaution», on trouve toutes
le utilisations. (Prieur 2010:9).
Que conclusão podemos obter? Seguramente que em volta do mundo existe uma
atenção contínua em relação ao destino do Patrimônio Cultural e uma assídua
discussão sobre a sua relação muitas vezes conlitual com as diferentes instâncias
do desenvolvimento e do crescimento do País.
A combinação sem regra, ou melhor, com regras variáveis entre o público e o
privado determina uma situação de insegurança, risco e conlito. Como se pode
obstar o fenômeno em benefício não só do patrimônio material e imaterial mas
também da prosperidade social? Quais medidas de precaução, sem excesso, se
podem adotar e quais exemplos se podem oferecer às diferentes instituições e aos
gestores do Patrimônio Nacional, em cada país?

Estrutura do Livro
Complexo responder às questões postuladas, mas pensei no presente volume
numa plataforma de confronto entre as diversas experiências na gestão do Pa-
trimônio no Brasil bem como na Argentina e em Portugal, Inglaterra, França,
Itália, Hungria, Polônia, Rússia e Bulgária. Esta variada abordagem geográica se
justiica na necessidade de conhecimento do processo de maturação da arqueolo-
gia preventiva no mundo por meio da apresentação de estudos de casos, quando
possível, e afrontam várias formas de conlito.
Em consequência articulei o volume em três partes intimamente ligadas entre si.
A primeira parte se abre com três textos que retratam o estado atual da arque-
ologia preventiva no Brasil com toda sua dinamicidade histórica acompanhados
de um texto de uma acadêmica argentina que focaliza sobre a difícil relação de
salvaguarda do patrimônio material (como no caso da arte rupestre) e imaterial (a
memória social). Ambas as nações emblematicamente representam o esforço sul-
americano em gerir de maneira correta o seu patrimônio comum indicando uma
ecotrajetória na superação de seus conlitos ambientais e econômicos sociais. De
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 11

fato a experiência brasileira em “arqueologia de contrato” pode servir de exemplo


para os europeus: como se atua em sinergia entre o público e o privado, com a
certeza da penalidade e a irmeza na sua aplicação; como se age para interromper a
depredação do seu sensível patrimônio cultural e ambiental (cfr. Bastos, Campos
de Souza 2008); como se pode viver exercendo a proissão de arqueólogo.
A segunda parte diz respeito a um desenvolvimento temático geográico: partindo
de Portugal, nosso alter ego histórico; registrando as possíveis soluções adotáveis
passamos para a França que nestes últimos anos tem apresentado um modelo
exemplar na prevenção de seu patrimônio com a concepção do INRAP (Institute
National de Rechérches Archéologiques Preventives) comportando signiicativa
transformação normativa e cientiica no pensar a crise entre a relação cultura-
economia globalizada, alternativa ao modelo anglo-saxão do English Heritage
(Patrimônio Inglês). Na França o projeto “Pátina do Deserto” é idealizado e reali-
zado com o objetivo de registrar o patrimônio arqueológico no Saara, em especial
para deinir os parâmetros do macroambiente em busca do desenvolvimento de
uma arqueologia preventiva voltada à preservação da arte rupestre nas questões
relativas às variações climáticas e à negligência humana com a gestão inadequada
do turismo nos sítios arqueológicos.
Em seguida se avança para o centro da Europa com a apresentação de duas re-
alidades distintas (na Hungria e na Polônia), mas que tem em comum uma
raiz pós-comunista. A experiência húngara nos apresenta interessante curiosida-
de institucional porque forneceu uma solução a um problema muito similar ao
caso brasileiro: a quantiicação do custo do trabalho arqueológico. Na Polônia se
aprende como é absolutamente necessária a participação das Universidades na su-
pervisão dos trabalhos de arqueologia preventiva, como garantia de procedimen-
tos metodologicamente corretos visando à integridade das etapas protecionistas
que acompanham o patrimônio arqueológico do sítio ao museu. Então, mesmo
as instituições locais se tornam sensíveis a exercer a divulgação do patrimônio
que visa à aculturação da sociedade.
Continuando nossa viagem preventiva no “Oriente Express” da arqueologia con-
vergimos a nossa relexão para o sudeste europeu que de Soia, na Bulgária, nos
transporta até Moscou e a sua Academia de Ciências. Na Bulgária, sobretudo de-
pois de 1989, em função de uma economia de mercado capitalista descontrolada,
o patrimônio UNESCO está efetivamente em risco, por conta de uma escassa
atenção legislativa, criando um inequívoco braço de ferro entre os arqueólogos e a
iniciativa privada. De outra parte os arqueólogos russos adotam medidas preven-
tivas na documentação de seu patrimônio monumental megalítico, desmontando
e remontando, onde absolutamente necessário, fornecendo modelos úteis, por
12 • IPHAN

exemplo, para a salvaguarda dos sítios megalíticos recentemente descobertos no


coração da Amazônia. Finalizamos com a Itália, numa excursão histórico-legisla-
tiva que coloca em evidência e propõe uma discussão e uma relexão entre deli-
cadíssimos mecanismos no tratamento preventivo do patrimônio: o caráter cien-
tiico da norma; a necessidade de garantir critérios de seleção das empresas que
operam na microprevenção (propriedade privada); na demanda urgente por uma
política que vise a longo prazo à gestão do bem cultural público, especialmente
quando se trata de bens únicos e frágeis, como por exemplo a arte rupestre.
A terceira parte é exclusivamente teórica, pretendendo criar uma dimensão so-
ciológica sobre a discussão da prevenção e do risco no patrimônio arqueológico.
A relexão sobre a fair-archaeology nos mostra não somente a absoluta necessidade
de integridade moral para afrontar a questão da prevenção de bens culturais para
um desenvolvimento socioeconômico equitativo e solidário (caso da experiência
argentina), mas in primis apresenta uma reapropriação da arqueologia como
disciplina que pode ensinar algo no presente, porque espreita o passado, em uma
sociedade de risco e insegurança continua. Que instrumentos teóricos podemos
adotar? Podemos efetivamente racionalizar o risco e contemplar uma adequada
ação de prevenção e mediação no operar arqueologicamente o cotidiano? Pode-
mos airmar, tal como a UNESCO, que somente uma análise preventiva do risco
infringido sobre o patrimônio conduz efetivamente para a paciica compreensão
das diferenciações e aproximações culturais de forma respeitosa entre os povos?

Conclusão
Em realidade, procurei harmonizar a posição da academia com a dos órgãos oi-
ciais de proteção do patrimônio cultural, pensando que esta nova modalidade de
debate analítico da realidade arqueológica poderia ser um impulso ao crescimen-
to, em ambas as partes do Atlântico na arqueologia preventiva.
Solicitei a todos os autores quee escrevessem na sua língua de maior luência,
optando não só a oferecer um novo conceito de livro Iphan, mas, sobretudo dan-
do a possibilidade aos especialistas e público interessado nas problemáticas do
patrimônio cultural do Brasil de veriicar o quanto inovativo é o trabalho da Ar-
queologia e com que diiculdade e/ou atraso as instituições estão gerindo o seu
patrimônio cotidianamente no campo da arqueologia peventiva.
Creio que valia a pena praticar este exercício de explorar as diversas modalidades
de preservação, gestão e mediação dos conlitos na arqueologia por maior matu-
ridade cívica.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 13

Bibliograia
Arini, J. 2009. Um belo monte de conlitos. In: Época. 9: 62-66.

Bastos, R., Souza, M. 2008. Normas e Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico,


Iphan, São Paulo.

Prieur, C. 2010. Le príncipe de précaution oblige à exagérer la menace. In: Le


Monde, Janvier 2010, p. 9.

Winter, T. 2008. Post-Conlict Heritage and Tourism in Cambodia: he Burden


of Angkor. In: International Journal of Heritage Studies Vol. 14, N° 6,

November 2008, pp. 524-539.


Foto 1 Foto 2

1. Arqueologia Preventiva na América do Sul

Foto 3 Foto 4
I. Arqueologia, Academia e Mediação de Conlitos
Jean Luiz de Morais & Daisy de Morais

II. Arqueologia Preventiva no Patrimônio Arqueológico Brasileiro


Marise Campos de Souza & Rossano Lopez Bastos

III. Morro Velho: Uma velha história, um novo presente


Fabiano Lopes

IV. Arqueología y comunidades aborígenes en Argentina:


un trabajo en común en Humahuaca, Jujuy
Lidia Clara García

Foto 1. Salto do Piraju – SP/Brasil


Foto 2. Foto aérea. Rodoanel Mário Covas-Trecho Oeste. Prefeitura
Municipal de Carapicuíba, 2002. – SP/Brasil
Foto 3. Morro Velho – MG/Brasil
Foto 4. Com la familia Lamas en 1995. Hamahuaca, Jujuy – Argentina
Arqueologia, Academia
e Mediação de Conlitos I
José Luiz de Morais & Daisy de Morais

O objetivo deste artigo é apresentar algumas considerações sobre a ação media-


dora da Universidade de São Paulo (USP) junto à comunidade de Piraju,
por intermédio do Centro Regional de Arqueologia Ambiental, órgão integrante
da estrutura orgânica do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE). Conside-
rando o formato e os limites desta publicação, a ideia é colocar dois assuntos que
marcaram época, privilegiando os focos centrais e, quando necessário, um ou
outro desdobramento. Ambos os assuntos são bastante interligados e plenos de
relações em dupla mão de direção. De fato, há muito em comum entre eles e, de
certa maneira, todos têm a ver com a arqueologia preventiva, pois a sensibilidade
ambiental de Piraju e sua região é bastante marcante.
Liminarmente é importante entender que a ação acadêmica da Universidade de
São Paulo na bacia do rio Paranapanema, convergindo para a região de Piraju, é
antiga e bastante consolidada: a partir de 1969, uma equipe de arqueólogos do
Museu Paulista da Universidade de São Paulo promoveu uma série de escavações
arqueológicas em sítios do Paranapanema médio-superior; esta iniciativa, além
de ser um dos marcos da arqueologia acadêmica nacional, colocou a cidade e sua
região no elenco das principais estações arqueológicas brasileiras1.
Esta ação se fez efetivamente, a partir de 1972, pela criação de uma base regional
instalada na cidade de Piraju, hoje denominada Centro Regional de Arqueologia
Ambiental. Desse modo, não se trata de um cenário virtual, em que a academia
comparece sazonalmente nos períodos de trabalhos de campo; o centro regional é

1
A missão foi cheiada por Luciana Pallestrini, uma das pioneiras da fase acadêmica da Arqueologia
Brasileira.
18 • IPHAN

presença cotidiana com exposições, atividades educacionais no âmbito da forma-


ção e valorização do patrimônio arqueológico regional, além, claro, de sustentar
as atividades de investigação arqueológica na bacia do rio Paranapanema. Portan-
to, sua presença é a razão dos episódios a serem relatados neste artigo.
Concluindo esta introdução, são anunciados os casos colocados como exemplos
da ação acadêmica como mediadora de conlitos: a construção de hidrelétricas
em confronto com a vocação ambiental da região de Piraju e a requaliicação do
patrimônio histórico-arquitetônico da antiga Estação Ferroviária. Finalizando o
artigo, serão apontadas e comentadas as iniciativas que resultaram na elabora-
ção de instrumentos facilitadores da mediação, muitos dos quais fazem parte do
conjunto de leis ambientais e de proteção ao patrimônio arqueológico, histórico-
arquitetônico, ambiental e paisagístico do Município de Piraju.

Conhecendo Piraju
O Município de Piraju se localiza no quadrante sudoeste do Estado de São Paulo,
trecho médio da bacia do rio Paranapanema, área correspondente à antiga região
da Média Sorocabana. As pesquisas arqueológicas efetuadas pela USP há quase
quarenta anos airmam que as primeiras ocupações humanas na região se veriica-
ram a partir do sétimo milênio antes de Cristo.
Nas primeiras décadas dos anos 1800, índios guaranis que haviam fugido dos
bandeirantes para os lados do Paraguai há dois séculos, começaram a se deslocar
no sentido leste, na procura da mitológica “terra sem mal”. Desse modo, subiram
o rio Paranapanema até chegarem às proximidades de onde está a cidade de Pira-
ju; ali, sob a liderança de padres capuchinhos, permaneceram organizados em um
aldeamento chamado do Pira’yu’ ou Piraju (em guarani, peixe dourado).
Ao mesmo tempo, posseiros vindos do sul de Minas Gerais e da região do médio
Tietê – atraídos pela boa qualidade das terras – começaram a avançar sobre o
sudoeste paulista. Pelo ano de 1871, as famílias Arruda, Faustino e Graciano doa-
ram à Mitra Diocesana de São Paulo uma pequena gleba de terras para a constru-
ção de uma capela. Assim foi criada a Freguesia de São Sebastião do Tijuco-Preto,
nas proximidades do aldeamento do Piraju, dos índios guaranis.
Em 1880 o povoado ganha foros de vila, começando as desavenças entre índios e
posseiros; um mito local diz que tudo foi por causa de uma imagem de São Sebas-
tião de origem italiana, dada aos índios pelos padres capuchinhos. Em 1891, um
decreto estadual determina, a pedido da população, que a Vila e Município de São
Sebastião passem a se chamar Piraju. O aldeamento dos índios decai rapidamente
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 19

e, em 1912, Kurt Nimuendajú, etnólogo a serviço do governo, transfere os poucos


índios restantes para a terra indígena de Araribá, nas proximidades de Bauru.
No primeiro quartel do século 20, Piraju viveu intensamente o ciclo econô-
mico da cafeicultura, o que lhe permitiu, por curto período, uma projeção de
destaque no cenário estadual. O ramal ferroviário de Piraju, ligando a cidade à
linha-tronco da Estrada de Ferro Sorocabana, foi construído por cafeicultores
locais, sendo inaugurado em 1906; e em 1908 são inauguradas as instalações
da Estação Ferroviária, projeto do arquiteto Ramos de Azevedo. A partir de
1899, o Município passara a ser dividido em distritos que, mais tarde, ao se
emanciparem, originaram os municípios de Manduri (1944), Timburi (1948),
Sarutaiá (1959) e Tejupá (1964).
Hoje, o café não tem importância capital para a economia de Piraju. A cidade se
caracteriza pela predominância do setor terciário (comércio e prestação de ser-
viços). O poder público local vem tentando, há mais de vinte anos, implantar
o turismo como opção econômica, baseado na existência de paisagens notáveis
e de um patrimônio cultural (arquitetura eclética e sítios arqueológicos) de
grande valor.
O patrimônio arquitetônico e o urbanismo em Piraju só podem ser entendidos
quando se leva em conta um cenário cultural e economicamente deinido que é
o período cafeeiro. De fato, fotos antigas de Piraju, tomadas anteriormente ao
apogeu do café, mostram uma cidade pobre. Assim, do mesmo modo que trouxe
diversidade arquitetônica à cidade de São Paulo, o café, quando veio para o vale
do Paranapanema, fez o mesmo com várias cidades da região.
No caso de Piraju, os cafezais entraram a partir do inal do século 19, alcançando
ápice na segunda década do século 20. Ao percorrer as ruas centrais da cidade, per-
cebem-se algumas construções do início do século, cujas fachadas contêm elemen-
tos que caracterizam um movimento conhecido por ecletismo. Nascido na França,
na primeira metade do século 19, este movimento tentou demonstrar que vários
estilos poderiam conviver sem conlitos. A partir dessas observações questionam-se
quais seriam as ligações do ecletismo com o desenvolvimento da cidade, com os
imigrantes que aqui chegaram e com os tradicionais fazendeiros de café.
A riqueza proporcionada pelo café mudou a isionomia de Piraju. Logo nos pri-
meiros anos do século 20, inauguram-se o serviço municipal de energia elétrica e
o conjunto ferroviário da Sorocabana, construídos pela iniciativa de cafeicultores
de Piraju e Fartura (o ramal) e do governo estadual (as ediicações).
Os primeiros levantamentos do patrimônio arquitetônico de Piraju foram rea-
lizados com o apoio da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
20 • IPHAN

de São Paulo, entre 1997 e 19982. A maior parte dele sofreu intervenções inade-
quadas, descaracterizando as fachadas ao se substituir um ou outro elemento. O
levantamento e o estudo do patrimônio arquitetônico do ciclo cafeeiro fornece-
ram subsídios para uma estratégia pedagógica apoiada nos princípios da educação
patrimonial. Isso signiica que a história da cidade passou a ser conhecida pela
população a partir da convivência com os signos urbanos, da familiaridade com
os objetos da cultura material e da participação em reconstituições de fatos rele-
vantes da história local.

Um Centro Regional de Arqueologia como espaço


para a mediação de conlitos
Em tempo, seria interessante melhor apresentar o Centro Regional de Arqueo-
logia Ambiental, enquanto braço forte da ação acadêmica da USP em Piraju e
região. Sua trajetória é longa, cheia de conquistas e percalços. Embora com quase
quarenta anos, sua completa institucionalização concluiu-se muito recentemente,
mediante a aprovação do regulamento pelo Conselho Deliberativo do Museu de
Arqueologia e Etnologia (Resolução CD-MAE 01/2010). Estimulando a perma-
nente lembrança de suas origens, o próprio regulamento do centro regional assim
se manifesta no artigo 2º:
As origens e a consolidação do Centro Regional de Arqueologia Ambiental de-
vem-se às ações do Projeto Paranapanema, programa permanente de arqueologia
regional idealizado por Luciana Pallestrini em 1968, no Museu Paulista da Uni-
versidade de São Paulo. § 1º – Mario Neme, diretor do Museu Paulista à época
de sua criação, é o patrono do Centro Regional de Arqueologia Ambiental. § 2º
– Em 1989, o Centro Regional de Arqueologia Ambiental foi transferido do Mu-
seu Paulista à jurisdição do MAE como base de apoio operacional às investigações
arqueológicas do Projeto Paranapanema.
Os artigos 3º e 4º tratam da missão e objetivos do Centro Regional de Arqueo-
logia Ambiental:
Considerando a missão, os objetivos e as estratégias de gestão acadêmica do MAE,
o Centro Regional de Arqueologia Ambiental promoverá atividades de pesquisa,
cultura e extensão em arqueologia e áreas interdisciplinares, colaborando para a
proteção, a valorização e a comunicação do patrimônio arqueológico brasileiro,
com ênfase na bacia do rio Paranapanema. Parágrafo único – O acervo arqueoló-

2
Projeto de pesquisa de Daisy de Morais, sob a orientação da museóloga Maria Cristina Oliveira Bruno.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 21

gico do MAE depositado no Centro Regional de Arqueologia Ambiental pressu-


põe a articulação entre objetos, coleções e fundos de arquivos, entendidos como
referências patrimoniais de relevante interesse social. [artigo 3º]
Considerando a sua vocação regional plenamente inserida em assuntos relaciona-
dos com o patrimônio arqueológico, histórico-cultural, paisagístico e ambiental,
são objetivos do Centro Regional de Arqueologia Ambiental: desenvolver pes-
quisas arqueológicas considerando os desdobramentos interdisciplinares da ar-
queologia e sua vinculação com assuntos do meio ambiente natural e antrópico;
executar os procedimentos curatoriais vinculados às coleções arqueológicas sob a
sua guarda; organizar cursos extracurriculares, colaborando na preleção de disci-
plinas de graduação e pós-graduação de responsabilidade dos docentes do MAE;
promover a extroversão e comunicação do acervo por meio de exposições; fo-
mentar e promover atividades de educação patrimonial para a inclusão social do
conhecimento arqueológico. [artigo 4º]
Também é importante reiterar que o Centro Regional de Arqueologia Ambiental
está historicamente vinculado ao Projeto Paranapanema3, programa regional de
investigações arqueológicas de duração permanente, conforme previsto no § 2º
do artigo 2º. Esta vinculação é explicitada adiante, no artigo 9º:
Os programas e projetos técnico-cientíicos de longa duração serão articulados no
âmbito do Projeto Paranapanema, programa permanente de arqueologia regional
que deu origem e garante a sustentação acadêmica do Centro Regional de Arque-
ologia Ambiental.
A partir de 1993, o Centro Regional de Arqueologia Ambiental e seu programa
cientíico Projeto Paranapanema passaram a investir de forma mais contundente
nas políticas regionais e locais de meio ambiente e patrimônio cultural4. No ano
2000, como será explicado adiante, o Projeto Paranapanema assumiu personali-
dade jurídica própria, constituindo-se em associação não governamental.
Sobre as origens do Centro Regional pode-se airmar que, em 1972, quatro anos
após o início das pesquisas do Projeto Paranapanema, entendimentos havidos
entre o Museu Paulista e a Prefeitura de Piraju permitiram a criação de um centro

3
Idealizado por Luciana Pallestrini em 1969, quando das escavações arqueológicas do sítio Fonseca (situ-
ado no Município de Itapeva – SP), o Projeto Paranapanema, sob a coordenação de José Luiz de Morais
a partir de 1987, assumiu, deinitivamente, forte envolvimento com as questões ambientais da bacia do
rio Paranapanema.
4
Entre 1993 e 1995, José Luiz de Morais, gestor do Centro Regional e coordenador do Projeto Parana-
panema assumiu, e estruturou a Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente do Município de Piraju,
ocasião em que também presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural.
22 • IPHAN

de arqueologia. Mário Neme, então diretor do Museu Paulista, e Joaquim Otoni


da Silveira Camargo, prefeito de Piraju, eram velhos conhecidos da época em que
trabalharam no jornal O Estado de S. Paulo e isto facilitou sobremaneira o fecha-
mento de um acordo de cooperação. Nascia, assim, o Centro Regional de Pesquisas
Arqueológicas de Piraju, extensão do Museu Paulista a funcionar como base de
apoio operacional da arqueologia recém-inaugurada nas bandas do Paranapanema.
Em 1967, a Estrada de Ferro Sorocabana desativara o ramal ferroviário de Piraju
e, em 1972, Quinzinho Camargo solicitou ao Estado que o prédio da Estação,
então abandonado, fosse cedido à Prefeitura para acolher o centro regional5. A
ideia não vingou e, embora houvesse contratempos relacionados com frequentes
mudanças de endereço, a Prefeitura de Piraju sempre garantiu a permanência do
que era informalmente conhecido como o “Museu da USP” naquela cidade. Na
época, foi muito importante o apoio inicial da Faculdade de Filosoia, Ciências e
Letras de Piraju.
Em 1989, com a integração dos acervos arqueológicos e etnográicos da USP no
Museu de Arqueologia e Etnologia6, o controle do centro regional passou para o
novo MAE7. Em 1995, houve conhecimento de que a USP era proprietária de
um imóvel havido por herança vacante na cidade de Piraju. Assim vislumbrou a
possibilidade de pleiteá-lo para acolher o acervo e as atividades do Centro Regio-
nal de Arqueologia Ambiental, pois seria incabível que a municipalidade conti-
nuasse alojando, às suas expensas, as instalações do centro universitário da USP.
Após tramitação que durou pouco mais de cinco anos, a administração superior
da universidade deiniu que o imóvel seria colocado à disposição do MAE, para
que lá se instalasse o seu centro regional de arqueologia.
Inaugurou-se, a partir dessa decisão, nova frente de trabalho. Entre o prazo le-
gal para a desocupação do imóvel (que estava alugado), a disponibilidade dos
recursos necessários para as reformas e a edição de lei municipal prevendo a cola-
boração da municipalidade no processo, foram outros quatro anos. Os recursos

5
Entre 1906 e 1912, a municipalidade participara ativamente da construção e manutenção do ramal
ferroviário da Sorocabana; após a sua desativação, com razões de sobra, o município pleiteou a doação
dos dispositivos ferroviários, logo abandonados. O processo se estendeu por quase 30 anos quando,
inalmente em 1998, a Fazenda Pública do Estado de São Paulo transferiu sua posse para o Município
de Piraju, com a condição de que as instalações fossem utilizadas para ins culturais, como será mais
bem explicado adiante.
6
Resolução 3560, de 11 de agosto de 1989, que dispôs sobre a uniicação dos museus e órgãos ains com
atuação nas áreas de arqueologia e etnologia.
7
Desde 1987, José Luiz de Morais havia assumido, ainda pelo Museu Paulista, a coordenação do Projeto
Paranapanema e, por consequência, das atividades do Centro Regional; a partir da integração ao MAE,
Morais assumiu o posto de gestor do centro regional.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 23

necessários foram concedidos pela USP8; a Prefeitura cedeu a mão de obra para a
execução da reforma9. Em julho de 2004, o centro regional passou a funcionar na
chamada Casa da USP em Piraju.
O que sustenta o Centro Regional de Arqueologia Ambiental como espaço de
mediação de conlitos é o seu porte acadêmico e cientíico, marcado por um acer-
vo arqueológico espetacular, em que se destaca:
a) pela quantidade: são mais de 350 coleções correspondentes a cada
registro arqueológico pesquisado pela equipe do Projeto Paranapanema; o nú-
mero de peças de cada uma varia entre poucas (ocorrências arqueológicas pouco
densas) e milhares de unidades. Nesta última categoria encontra-se a maior parte
das coleções, como as do sítio Piracanjuba – Piraju (25 mil peças), do sítio Brito
– Sarutaiá (20 mil peças), sítio Camargo – Piraju (15 mil peças), sítio Alvim –
Pirapozinho (7 mil peças), sítio Fonseca – Itapeva (5 mil peças), dentre outros;
b) pela qualidade: todas as coleções resultam das pesquisas sistemáticas
da equipe do Projeto Paranapanema; têm, portanto, alguns atributos essenciais:
são georreferenciadas em várias escalas de aproximação (isto inclui a posição es-
tratigráica), a maior parte tem datação e, além disso, foram formadas segundo as
diretrizes teóricas e conceituais dos projetos especíicos que as geraram;
c) pela abrangência regional: o acervo cobre praticamente toda a extensão
da bacia do rio Paranapanema no Estado de São Paulo, com coleções de municí-
pios das sub-bacias superior, média e inferior;
d) pela abrangência temporal: o acervo cobre todos os cenários das ocu-
pações humanas da bacia do Paranapanema e seus respectivos sistemas regionais
de povoamento; portanto, há coleções pré-históricas de 7 mil, 5 mil ou 3 mil anos
(macrossistema de caçadores-coletores indígenas), de 2 mil, mil ou 500 anos (ma-
crossistema de agricultores indígenas), ou históricas (meados dos séculos 19 e 20);
e) pela natureza de materiais arqueológicos: praticamente todos os seg-
mentos de coleções típicas de sítios arqueológicos indígenas do interior estão nas
proporções costumeiras (cerâmicas, líticos lascados, líticos polidos, ossos); ou de
sítios históricos (telhas, tijolos, louças, vidros, metais). Destaca-se o elevado nú-
mero de vasilhas de cerâmica praticamente completas, como as grandes urnas.

8
Com relação à nova frente de trabalho, devem ser registradas a sensibilidade e a vontade política do
ex-diretor do MAE, Murillo Marx, que envidou todos os esforços para que a Casa da USP em Piraju se
tornasse realidade.
9
O projeto de reforma e readaptação do imóvel é da arquiteta Daisy de Morais, da equipe do Projeto
Paranapanema.
24 • IPHAN

Finalizando este tópico, o projeto de gestão acadêmica do Centro Regional de


Arqueologia Ambiental é pautado nos princípios, missão, objetivos e estratégias
deinidos para o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Apenas são con-
sideradas as necessárias adaptações em termos de foco (convergência para a ar-
queologia regional), abrangência (municípios da bacia do rio Paranapanema) e
peril regional (compatibilidade com a vocação ambiental da região, centrada na
valorização do meio físico-biótico e socioeconômico e cultural10). São princípios
da gestão acadêmica do centro regional:
a) integração plena nas políticas institucionais do MAE e da Universida-
de de São Paulo;
b) convergência temática para a arqueologia regional do Paranapanema,
abrangendo as populações indígenas pré-coloniais e os ciclos regionais da socie-
dade nacional;
c) priorização das salvaguardas e extroversão relacionadas com o acervo,
pautadas no ciclo completo do processo curatorial, que inclui a educação para o
patrimônio; gestão pela qualidade total, incluindo a adesão aos padrões de quali-
dade relacionados com os diferentes tópicos da administração acadêmica.

Sobre os conlitos
É de se considerar que – na maior parte das situações – a Arqueologia de Piraju
teve papel bastante signiicativo no encaminhamento (e solução) de várias ques-
tões relacionadas com a proteção e valorização do meio ambiente e do patrimônio
cultural da região. Certamente, muitas das situações não envolveram “conlitos”
propriamente, no sentido estrito da expressão (neste artigo, o uso da expressão
“conlito” não tem, necessariamente, conotação negativa).
Todavia, considerando o peril desta publicação, serão mostradas duas situações
em que a Arqueologia, enquanto área do conhecimento de forte conotação pa-
trimonial (pois ela lida com a memória e a identidade dos povos), teve papel
absolutamente destacado: a construção de hidrelétricas em confronto com a vo-
cação ambiental da região de Piraju e a requaliicação do patrimônio histórico-
arquitetônico da antiga Estação Ferroviária.

10
Daí a agregação do qualiicativo “ambiental” ao nome do centro regional; isto também se justiica pelo
incremento das subdisciplinas “arqueologia ambiental” e “arqueologia da paisagem” no meio acadêmico.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 25

1. Usinas hidrelétricas versus preservação ambiental


O rio Paranapanema, maior orgulho da comunidade pirajuense, é certamente um
marco ambiental expressivo. A qualidade de suas águas ainda permanece muito
boa, embora agressões localizadas existam. As relações entre a comunidade e o rio
são, às vezes, contraditórias. Por pelo menos três ocasiões, ela demonstrou que
sabe o que quer perante projetos altamente impactantes, todos relacionados com
o rio Paranapanema. Foram episódios marcantes, de grande repercussão.
O primeiro deles, relacionado com a tentativa de instalação de uma fábrica de
papel e celulose, aconteceu na década de 1970 em pleno regime de exceção po-
lítica, quando o poder central totalitário era muito eiciente para inibir ou frear
movimentos sociais. O segundo refere-se à tentativa de aprovação do projeto da
alternativa 1 da usina Piraju (ou Piraju montante), que provocaria a desativação
de trecho de canal natural, desviando o Paranapanema da cidade. O terceiro foi,
também, a tentativa de aprovação da Usina Piraju 2 (ou Piraju jusante), cujo
reservatório afogaria o último trecho de canal natural do rio Paranapanema no
Município de Piraju.
O interessante é veriicar que todos esses grandes movimentos decorreram do
enfrentamento de forças externas, ou seja, os projetos propostos por “gente de
fora”. Mas, como nem tudo é perfeito, falta movimento, falta ação, quando o
agente é interno, da própria comunidade. Partindo para uma perspectiva crítica,
a soma das muitas pequenas agressões ao Paranapanema, quotidianamente provo-
cadas individual ou coletivamente, até que são muito expressivas. Basta observar
o salto do Piraju, logo a jusante da ponte-barragem da Usina Paranapanema, após
uma chuva forte, e notar que sacos de lixo e garrafas plásticas proliferam sobre
as ilhotas rochosas. Sem contar com a disposição de esgotos in natura, problema
resolvido muito recentemente pela concessionária estadual à custa da destruição
de alguns sítios arqueológicos11.
A presença de usinas hidrelétricas por todo o rio Paranapanema é um fato conso-
lidado e consumado. Objeto de estudos desde 1886 pela então Comissão Geográ-
ica e Geológica da Província de São Paulo, o inventário do potencial hídrico do
Paranapanema foi formalizado nos anos 1950, quando foram marcados os prin-
cipais pontos para futuros barramentos. Naquela ocasião só havia um aproveita-
mento hidrelétrico, a usina Paranapanema, localizada junto à mancha urbana de
Piraju, construída nos anos 1920. Construídos os grandes barramentos, no início

11
A construção das lagoas de tratamento foi feita à revelia de estudos ambientais, provocando a destruição
de sítio arqueológico registrado antes que fossem adotadas as medidas de resgate arqueológico (à vista
disso, há um processo delagrado pelo Iphan).
26 • IPHAN

dos anos 1990 foi proposto o licenciamento ambiental daquele que seria o mais
impactante na perspectiva patrimonial (fala-se, aqui, de patrimônio ambiental
e paisagístico): a usina Piraju montante que, barrando o rio na altura dos saltos
Simão (ou dos Aranha), a montante da cidade, aduziria as águas para uma casa de
força a jusante da mancha urbana. Isso signiicava “tirar o rio da cidade”, como foi
corretamente interpretado pela comunidade local. O empreendedor apresentou
esta opção (alternativa 1) como a mais adequada.
A rejeição ao projeto da alternativa 1 uniu todos os segmentos da cidade, recru-
descendo o movimento ambiental a favor da preservação do rio Paranapanema.
No complexo conjunto de ações ativadas, coube à equipe do Projeto Paranapa-
nema, no espaço de mediação do Centro Regional de Arqueologia Ambiental,
buscar e propor questões de ordem técnica que contribuíssem para impedir este
projeto altamente impactante. São dessa época os estudos que resultaram na cria-
ção do Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, com composição e
atribuições suicientemente corretas para fazer prevalecer o interesse local, contrá-
rio à implantação daquele projeto. Felizmente prevaleceu o bom senso e o projeto
não foi adiante.
À vista disso, foi apresentada a alternativa 2, que não desviava o rio da cidade, em-
bora a produção de energia elétrica fosse bem menor. Com um Estudo de Impacto
Ambiental / Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) de boa qualidade, o
projeto vingou. A equipe do Projeto Paranapanema, do Centro Regional de Arque-
ologia Ambiental, planejou e executou o resgate arqueológico da área diretamente
afetada pela alternativa 2 da usina Piraju, em nome do Museu de Arqueologia e Et-
nologia da Universidade de São Paulo. Considerando a sensibilidade ambiental em
termos de patrimônio arqueológico regional, o programa foi detalhado e compe-
tente para resgatar farta documentação arqueológica em campo, adicionando dados
importantes ao patrimônio arqueológico do Município de Piraju.
Porém, nesta última década, nova investida foi feita contra a preservação do rio
Paranapanema em suas condições naturais, pela proposição da usina Piraju 2 (ou
Piraju jusante). Um pequeno barramento a ser feito na altura da foz do ribeirão
das Araras afogaria o último trecho de canal natural do rio Paranapanema, inun-
dando cenários de rara beleza, inclusive o chamado salto do Piraju, que, primeiro,
deu nome ao aldeamento guarani, e, depois, à própria cidade. Nova onda preser-
vacionista foi ativada, com uma organização mais abrangente. Naquele momento
já se podia contar com o SISMMAP – Sistema Municipal de Meio Ambiente e
Patrimônio Cultural (diploma jurídico proposto ao Executivo pirajuense pelos
pesquisadores do Projeto Paranapanema). Assim, a Lei Municipal 2547, de 26 de
julho de 2001, previa nos seus artigos iniciais:
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 27

Art. 1º – O Município de Piraju, de acordo com as normas constitucio-


nais vigentes, fará uso de sua autonomia legal em assuntos de meio am-
biente e de patrimônio cultural, no exercício das competências comuns
e suplementares deinidas pelo sistema federativo brasileiro, compatíveis
com o interesse local.
Art. 2º – O Município de Piraju exercerá, no âmbito da sua compe-
tência, o poder de polícia administrativa para condicionar passiva ou
ativamente e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos em
benefício da proteção, conservação, preservação, manejo e recuperação
do meio ambiente e do patrimônio cultural, nos termos da Constituição
Federal.
Art. 3º – As políticas municipais de meio ambiente e patrimônio cultural
encaminhadas pelo Poder Executivo e aprovadas pelo Poder Legislativo,
serão geradas no âmbito do Sistema Municipal de Meio Ambiente e Pa-
trimônio Cultural – SISMMAP, instituído por esta Lei Municipal.
Além de ter cuidado anteriormente de propor esta lei, a equipe do Projeto Para-
napanema, a partir do espaço de mediação do Centro Regional de Arqueologia
Ambiental, elaborou o estudo técnico para o tombamento municipal daquele
último trecho de canal natural do rio Paranapanema. Isso na forma da Lei Muni-
cipal 1855, de 11 de outubro de 1993, que instituiu o processo de tombamento
de bens culturais, ambientais e paisagísticos pelo Município de Piraju.
Para melhor dar conta do assunto, seria interessante transcrever o texto da Reso-
lução 1, de 2 de agosto de 2002, do Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio
Cultural do Município de Piraju. Por meio dela, o órgão colegiado aprovou o
tombamento do rio Paranapanema, patrimônio ambiental do Município de Pira-
ju, trecho situado entre a foz do ribeirão Hungria e a foz do ribeirão das Araras,
segmento de canal natural dotado de elementos de valor cênico, paisagístico e
cultural para a comunidade pirajuense:
O Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, órgão colegiado delibera-
tivo e recursal integrante do Sistema Municipal de Meio Ambiente e Patrimônio
Cultural do Município de Piraju – SISMMAP, no uso das atribuições que lhe são
conferidas pela Lei Municipal 2547, de 26 de julho de 2001, especialmente o
artigo 9º, inciso VII, e o artigo 11, considerando:
a) A autonomia do Município de Piraju em assuntos de meio ambien-
te e de patrimônio cultural, na disciplina e no exercício das compe-
tências comuns e suplementares deinidas na Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil, compatíveis com o interesse local.
28 • IPHAN

b) Os termos do artigo 196 da Constituição do Estado de São Paulo


que inclui o vale do Paranapanema dentre os espaços territoriais espe-
cialmente protegidos, com uso e ocupação em condições que assegu-
rem a preservação do meio ambiente.
c) Que o tombamento é ato legítimo de proteção que representa o
reconhecimento formal, pela comunidade, da importância do último
trecho de canal natural do rio Paranapanema como patrimônio am-
biental, dotado de elementos cênicos de valor paisagístico e cultural.
d) Que a manutenção das condições naturais no trecho tombado
atende às necessidades de manutenção da biodiversidade da ictiofau-
na ao longo do rio, expectativa compatível com o uso sustentável para
ins turísticos de base ambiental, paisagística e cultural.
e) Finalmente, os termos do processo CMAPC-T-002/96, instruído
na esteira da Lei Municipal 1855, de 11 de outubro de 1993, que
dispõe sobre o processo de tombamento de bens culturais, ambientais
e paisagísticos pela municipalidade de Piraju.

RESOLVE:
Artigo 1º – Fica tombado o rio Paranapanema, patrimônio ambiental do Muni-
cípio de Piraju, trecho situado entre a foz do ribeirão Hungria e a foz do ribeirão
das Araras.
Artigo 2º – Ficam especialmente discriminados nesta Resolução, em função do
valor cênico, paisagístico e cultural, os seguintes itens situados no segmento de
canal tombado:
I – O Salto do Piraju, compartimento geográico que acumula prer-
rogativas de paisagem notável, pela sua qualidade cênica, e lugar de
memória, vinculado às origens do aldeamento guarani que dá nome
ao Município;
II – O Parque Natural Municipal do Dourado, unidade de conserva-
ção e proteção integral de posse e domínio públicos, criado pela Lei
Municipal 2634, de 26 de junho de 2002.
III – Os sítios resultantes dos sistemas de povoamento pré-colonial,
considerados expressões máximas do patrimônio arqueológico locali-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 29

zado no Município de Piraju, especialmente protegidos pela Lei Fe-


deral 3924, de 26 de julho de 1961.
Artigo 3º – Todos os projetos e ações de iniciativa pública ou privada, referentes
ao uso ou ao aproveitamento do trecho tombado do rio Paranapanema, deverão
submeter-se obrigatoriamente aos procedimentos de aprovação ou licenciamento
pela municipalidade, no âmbito do SISMMAP, na forma da lei.
Artigo 4º – No prazo de 60 (sessenta) dias, a Câmara Técnica de Meio Ambiente
e Patrimônio Cultural, órgão do SISMMAP, deinirá o perímetro e a normatiza-
ção da faixa territorial de amortecimento de impactos do trecho tombado do rio
Paranapanema.
Artigo 5º – A Prefeitura do Município de Piraju comunicará formalmente esta
Resolução aos seguintes órgãos:
I – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
II – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico,
Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo – CON-
DEPHAAT.
III – Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.
IV – Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA.
Artigo 6º – O processo, a ata da reunião e este ato serão registrados no Cartório
de Registro de Títulos de Documentos da Comarca de Piraju.
Artigo 7º – Esta Resolução entrará em vigor na data da sua divulgação.
Como frisado anteriormente, o movimento pela não construção da usina Piraju
2 (jusante) foi organizado de forma a envolver outros segmentos que agiram de
forma igualmente importante:
a) A criação do Parque Municipal Natural do Dourado pela Lei Municipal
2634/2002 , unidade de conservação integral, cujo principal objetivo é a prote-
ção ambiental aliada às atividades compatíveis com a preservação dos ecossistemas
naturais, com a educação ambiental, o turismo ecológico, as pesquisas cientíicas
e a recreação em contato com a natureza. A eventual construção da usina Piraju 2
(jusante) inundaria a maior parte dessa unidade de conservação integral.
b) A edição da Lei Municipal 2654/2002, iniciativa do próprio legisla-
tivo (de autoria do vereador Augusto Alves Piacenço), que ixa o interregno de
30 • IPHAN

20 anos para a construção de usina hidrelétrica de iniciativa privada no território


do Município de Piraju. A letra da lei, de marcante simplicidade, determinou, de
imediato:
Art. 1o – Fica ixado interregno de vinte anos entre o término de construção de
uma usina hidrelétrica de iniciativa privada no território do Município de Piraju
e o início de construção de outra, com o objetivo de possibilitar correta análise do
impacto da obra no meio ambiente e garantir às gerações futuras meios de decidir
sobre a forma de sua preservação.
Nesse sentido agiu bem o legislador pirajuense ao se valer de medidas acautelado-
ras: possibilitar a correta análise do impacto da obra no meio ambiente e garantir
às gerações futuras meios de decidir sobre a forma de sua preservação. Embora
não explicitamente, a lei se refere à usina Piraju (montante), então recém-insta-
lada, e à usina Piraju 2 (jusante), cujo estudo de impacto ambiental começa a
tramitar na Secretaria de Estado do Meio Ambiente.
O fato é que os efeitos concomitantes das três medidas – o tombamento do rio
Paranapanema, a criação do Parque Natural Municipal do Dourado e a lei Pia-
cenço – acabaram por desestimular o licenciamento ambiental da nova proposta
de usina hidrelétrica que afogaria o último trecho de canal natural do rio Para-
napanema.

2. A Estação da Memória
“Aprovado na 64a reunião, sem restrições” com esta manifestação, o Conselho Téc-
nico do Ministério da Cultura aprovou o projeto de restauro da Estação Ferroviá-
ria de Piraju encaminhado pela Associação Projeto Paranapanema12. O propósito
da iniciativa foi resgatar e colocar à disposição da comunidade de Piraju e região
o conjunto arquitetônico da Estação Ferroviária, patrimônio histórico-cultural de
caráter monumental que testemunha a sua memória cultural (o conjunto havia
sido tombado pela municipalidade, com base em legislação municipal própria, na
esteira do Decreto-Lei 25/1937).
Elaborar um projeto para a aprovação do Ministério da Cultura exigiu, em pri-
meiro lugar, a deinição criteriosa de objetivos, considerando alguns princípios
que privilegiaram aspectos sociais e econômicos da comunidade pirajuense.

12
O assunto relacionado com a aquisição de personalidade jurídica pelo Projeto Paranapanema será
tratado adiante.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 31

Em primeiro lugar, destacou-se que a recuperação e o restauro da antiga Estação


Ferroviária, enquanto produto cultural, poderiam ser agente de mudanças sociais,
porque o conjunto é um monumento do período de maior progresso regional,
em termos de desenvolvimento socioeconômico. Neste caso, a Estação (além de
outras ediicações ecléticas da cidade) representa a memória do ciclo cafeeiro,
quando Piraju e região tiveram grande destaque político e econômico no Estado
de São Paulo.
Em segundo lugar, o investimento cultural poderia colaborar no incremento da
economia regional ao promover atividades que proporcionariam empregos dire-
tos e indiretos. Naquela época, a expectativa era que a revalorização da Estação
Ferroviária de Piraju consolidasse um polo cultural de abrangência regional (com
aproximadamente 300 mil habitantes), com desdobramentos de ordem social e
econômica signiicativos.
À vista disso, foram deinidos os seguintes objetivos: encaminhar estudos e ações
que direcionem as atividades de restauro e uso cultural do conjunto; executar o
restauro do edifício principal da Estação e dos galpões que compõem o conjunto;
projetar e implantar um complexo cultural com seus componentes básicos: ex-
posições de longa e curta duração, oicinas e espaços lúdico-culturais; viabilizar
outros instrumentos de comunicação do patrimônio cultural regional, incluindo
as mídias eletrônicas disponíveis.
Mas há várias histórias que antecedem a ideia da recuperação e requaliicação do
conjunto monumental da Estação Ferroviária de Piraju e elas são contadas na
farta documentação produzida pela equipe de pesquisadores do Projeto Parana-
panema13. Seria interessante recapitular alguns conteúdos.
Em meados dos anos 1960, alegando que sua manutenção era deicitária, o Exe-
cutivo paulista, por meio do Decreto 46.980/6614, suprimiu o ramal ferroviário
de Piraju, após 60 anos de funcionamento; desse modo, o governo do Estado foi
insensível ao apelo da comunidade que15, surpreendida, solicitou a revogação do
ato. Em 1966 circulou o último trem pelo ramal ferroviário, ligando Piraju ao
tronco da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), em Manduri. A desativação total
não foi imediata: a estrutura de armazenamento de sacas de café continuou até o

13
A consolidação plena da documentação produzida comparece na dissertação de mestrado de Daisy de
Morais, apresentada à Universidade de São Paulo em 2002.
14
Decreto estadual 46.980, de 31 de outubro de 1966, dispondo sobre a supressão do ramal ferroviário
de Piraju.
15
O ambiente político do Estado de exceção propiciava atos discricionários por parte do Poder Executivo,
como a desativação de ramais ferroviários.
32 • IPHAN

início dos anos 70; as sacas eram enviadas para a Estação Ferroviária de Bernar-
dino de Campos (linha-tronco da EFS) por rodovia, de onde eram embarcadas.
Esta atividade foi extinta em 1971, à época do encerramento das atividades da
Estrada de Ferro Sorocabana (EFS)16. À vista disso, a Prefeitura assumiu a ma-
nutenção do conjunto, pretendendo dar a ele um destino coerente com a sua
vocação histórico-cultural: lá seria instalado um museu histórico-arqueológico.
De fato, a sugestão inicial para o seu aproveitamento, no início da década de
1970, ligava-se à implantação da sede de um “museu arqueológico”, ideia que não
foi adiante. Naquela época, o Museu Paulista da USP iniciara pesquisas arqueoló-
gicas na região de Piraju, no amparo do Projeto Paranapanema. As boas relações
entre o prefeito Quinzinho Camargo e o então diretor do Museu Paulista, Mário
Neme, fomentaram a criação do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas de
Piraju, assunto tratado anteriormente. O local escolhido para acolher as pesquisas
arqueológicas (laboratórios e reserva técnica) foi o prédio da Estação de Piraju,
recém-desativada. Porém, a ideia foi abortada em função de problemas de ordem
política e administrativa, somados à falta dos recursos necessários às adaptações
arquitetônicas exigidas pelo novo uso17.
Esquecida a ideia da “estação-museu”, o uso do imóvel tornou-se bastante desor-
denado. As ediicações residenciais do conjunto ferroviário continuaram irregu-
larmente ocupadas pelas famílias dos antigos funcionários, além de se registrarem
outras invasões. Parte do terreno foi tomada pelas instalações da antiga Coopera-
tiva de Cafeicultores de Piraju. Os dois armazéns foram ocupados pela Prefeitura
que, primeiramente, os utilizou como depósito de materiais. Anos mais tarde, um
deles passou a abrigar a escola de carpintaria.
O prédio principal, talvez pela sua visibilidade, teve destino mais conturbado:
inicialmente usado pela Prefeitura como depósito, foi temporariamente cedido a
uma empreiteira que trabalhava na região no inal da década de 1970, fato que
provocou uma ação movida pelo Ministério Público Estadual contra a Prefeitura.
Abandonado, o prédio projetado por Ramos de Azevedo foi invadido por famílias
carentes que o ocuparam em meados dos anos 80. Este episódio foi noticiado pela
imprensa local:

16
A FEPASA, empresa estatal resultante do agrupamento do sistema ferroviário paulista, não chegou a
incorporar o patrimônio do ramal de Piraju, que passou a integrar a Fazenda Pública do Estado.
17
A retomada da “reinserção arqueológica” da Estação ocorreu no ano 2000, quando o Projeto Parana-
panema foi constituído como pessoa jurídica para encaminhar projeto de reabilitação da Estação da
Memória para o Ministério da Cultura. A partir daí, a equipe técnica do Projeto Paranapanema come-
çou a investir em ações para a captação de recursos para o restauro do prédio, por meio da legislação de
incentivo à cultura. Este assunto será retomado na conclusão deste artigo.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 33

O prédio do antigo terminal ferroviário de Piraju está abandonado. Há cerca de 3 ou


4 anos vem sendo ocupado por famílias que não têm onde morar. A Estação foi cons-
truída em 1908 [sic] por cafeicultores ligando, através de ramal, Piraju a Manduri
[que fazia parte da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, atual FEPASA]. [...]
Elias Galvão (pintor) e Nice Gonçalves (doméstica) moram há mais de um ano
com seis ilhos em dois cômodos da Estação. Em um cômodo, a cozinha; o outro, o
quarto onde os oito dormem misturados em uma cama de casal, uma de solteiro e
um sofá. [...]
Segundo seu Elias, a água e a energia elétrica vêm de graça. Sobre a possibilidade
do tombamento e da restauração do prédio [que, na verdade, nunca acontece],
diz: ‘Arrumando outro lugar pra gente, não tem problema. A gente desocupa o
prédio’. Mas, conclui: ‘Até agora ninguém mexeu com a gente’.
Vanda Rodrigues da Silva mora há cerca de quatro meses com sua mãe e o padrasto
em outro cômodo do prédio. [...]
Caso a Prefeitura se dispusesse a desocupar o prédio, encontraria, com certeza,
resistência por parte de seus moradores. Teria, antes disso, que acomodá-los em
um novo local. O prédio, no entanto, precisa urgentemente de reparos sob pena de
perdermos, em breve, parte da memória de nossa cidade. [Folha de Piraju, 7 de
fevereiro de 1987]
No inal de 1988, a Prefeitura resolveu implantar a segunda pista da avenida Dr.
Simão que, ladeando o prédio principal da Estação Ferroviária de Piraju, separou-
o do conjunto de armazéns. Esta obra contribuiu ainda mais para a descaracteri-
zação do conjunto ferroviário.
Entre 1989 e 1992, uma ação da Prefeitura Municipal transferiu as famílias ca-
rentes que moravam no prédio para outro local. Porém, a integridade física da
ediicação havia sido ainda mais agredida18.
Retomado o prédio principal, a Prefeitura passou a utilizá-lo como depósito
de materiais inservíveis. No inal de 1992, a Prefeitura determinou uma refor-
ma totalmente carente de projeto19, para lá instalar a Delegacia de Polícia da
Vila Tibiriçá. O novo Conselho do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural,

18
É nessa ocasião que parte da escada de madeira foi usada como combustível de fogão. Para garantir parte
do sustento, as famílias ocupantes vendiam materiais extraídos do edifício, conforme testemunham
moradores do bairro.
19
É por essa época que os soalhos originais do piso térreo e parte do forro são retirados; os porões de
ventilação são aterrados com entulho.
34 • IPHAN

então recentemente instituído20, solicitou a paralisação das obras até que se


elaborasse um projeto adequado à qualidade patrimonial daquele bem cultu-
ral. A ideia era promover o tombamento do conjunto, não sem antes instru-
mentalizar a municipalidade com a legislação apropriada para este ato. Fica
marcada aqui a ação acadêmica do Projeto Paranapanema (a solicitação de
paralisação das obras partiu dela), no espaço de mediação do Centro Regional
de Arqueologia Ambiental.
Mas a antiga estrutura ferroviária de Piraju21 continuava propriedade da Fazen-
da Pública do Estado de São Paulo. Apesar dos esforços implementados desde a
gestão do prefeito Quinzinho Camargo, a transferência da posse do imóvel para
o município sempre se revelou política e administrativamente complicada. Na
gestão do governador Luiz Antônio Fleury Filho, um projeto de lei doando vários
próprios do Estado (inclusive remanescentes de instalações ferroviárias), a algu-
mas municipalidades, foi rejeitado pela Assembleia Legislativa. A intenção dos
deputados paulistas era alienar essas propriedades por meio de venda e a Estação
de Piraju e seus terrenos foram oferecidos ao município mediante essa condição,
absolutamente injusta, já que o Estado havia recebido parte do empreendimento
(o ramal ferroviário) por doação, em 1912.
No governo de Mário Covas, a Lei 10.091, de 19 de novembro de 1998, autori-
zou a Fazenda Pública do Estado de São Paulo a doar o imóvel ao Município de
Piraju, pondo im a um longo processo. A lei assim se expressou:
Art. 1º – Fica a Fazenda do Estado autorizada a alienar, por doação, ao Muni-
cípio de Piraju, imóvel com benfeitorias situado naquela municipalidade, com
área total de 239.256,84 m2, destinado à instalação de complexo cultural, com
inalidades públicas.
Art. 3º – Da escritura deverão constar cláusulas, termos e condições que assegu-
rem a efetiva utilização do imóvel para o im a que se destina e impeçam a sua
transferência, a qualquer título, estipulando-se que, em caso de inadimplemen-
to, será o contrato rescindido, independentemente de indenização por benfeito-
rias realizadas.

20
O Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju será abordado no item inal deste
artigo; a paralisação das obras foi solicitada pelo conselheiro José Luiz de Morais, que assumiria a pasta
municipal de Planejamento e Meio Ambiente na gestão seguinte.
21
Esta estrutura é composta pelas construções (inclusive o prédio principal) inseridas em um terreno de
quase 1,5 alqueire e a faixa de implantação dos trilhos, até a divisa com Manduri.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 35

Assim, a antiga Estação Ferroviária passou a ser propriedade do Município de


Piraju, após 90 anos. E não mais como instalação ferroviária, mas, sim, como
bem de valor cultural tombado pelo Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio
Cultural do Município.
A partir daí, a Prefeitura de Piraju tem feito incursões para recuperar pelo menos
o prédio principal da antiga Estação Ferroviária. Tendo em vista a constante pre-
sença e as ações do Projeto Paranapanema22 na luta pela preservação da Estação
de Piraju, estabeleceu-se uma parceria com a prefeitura, por meio da qual a mu-
nicipalidade procurou dar conta de algumas tarefas e a Organização não Governa-
mental (ONG ), de outras. Tendo dado conta de sua parte, a Associação Projeto
Paranapanema deu por encerrada sua participação no processo, formalizando a
cessão das peças de projeto necessárias23; com algumas alterações no projeto origi-
nal, a Prefeitura vem executando os procedimentos de restauro.

Os instrumentos para a mediação de conlitos


Finalizando este artigo, são colocadas algumas considerações conjuntas agregando
os instrumentos criados para a mediação, pela academia, de situações de conlito
no Município de Piraju. Tais considerações são agrupadas em subtítulos, para
melhor compreensão do texto.

A) Instituição do Projeto Paranapanema como pessoa jurídica


Instituído como pessoa jurídica de direito privado em 1º de janeiro de 2000, o
ProjPar – Projeto Paranapanema tem por missão “criar condições favoráveis para
o estudo, a proteção e a divulgação do patrimônio cultural e ambiental, colabo-
rando para o desenvolvimento social das comunidades regionais, pelo incentivo
à participação coletiva”. Embora condição não requerida, esta missão lhe confere
peril de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), matéria
disciplinada na lei federal 9.790, de 23 de março de 199924.

22
Lideradas por Daisy de Morais, que se valeu do estudo da Estação de Piraju sob a perspectiva da arque-
ologia da arquitetura.
23
A associação aplicou recursos próprios para iniciar o restauro da cobertura, obra caracterizada como
emergencial; por outro lado, as horas-técnicas de sua equipe jamais oneraram os cofres públicos de
Piraju.
24
Dispõe sobre a qualiicação de pessoas jurídicas de direito privado, sem ins lucrativos, como ‘organizações
da sociedade civil de interesse público, institui e disciplina o ‘termo de parceria’, e dá outras providências.
36 • IPHAN

Sua plataforma ilosóica, conceitual e técnico-cientíica deriva do Projeto Para-


napanema, programa acadêmico multi e interdisciplinar nascido na Universidade
de São Paulo no inal dos anos 60. Enquanto organização não governamental, o
ProjPar considera que “o patrimônio cultural e ambiental são bens de uso especial
na forma da lei, comuns ao povo, desdobrando-se nos segmentos arqueológico/
histórico, arquitetônico/urbanístico e ambiental/paisagístico. Entende que o pa-
trimônio cultural e o patrimônio ambiental constituem legado das gerações pas-
sadas às gerações futuras, sendo incabível às gerações presentes o direito de inter-
romper sua trajetória natural, subtraindo a herança aos seus legítimos herdeiros”.
A partir desta plataforma ilosóica e conceitual, no espaço de mediação do Centro
Regional de Arqueologia Ambiental, o ProjPar vem assumindo postura crítica-cons-
trutiva, buscando parcerias efetivas com o poder público de Piraju, enquanto parte
do chamado ‘terceiro setor’25. Na área de patrimônio cultural, o foco mais importante
foi a Estação Ferroviária de Piraju (EFP), tendo sido encaminhadas e efetivadas várias
ações objetivando a recuperação do imóvel e seu uso qualiicado26. Um quadro-resu-
mo, considerando o período essencialmente acadêmico (até 1999) e o período em que
é instituído como pessoa jurídica (2000), é apresentado em seguida.

a) Elaboração de anteprojeto de lei municipal: Lei 1.752/92 [Cria o


1992
Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju].

a) Elaboração de anteprojetos de leis municipais: Lei 1.855/93 [Dispõe


sobre o processo de tombamento de bens culturais, ambientais e
paisagísticos do Município de Piraju]; Lei 1.883/93 [Dispõe sobre
a criação de áreas especiais e locais de interesse turístico em Piraju e
estabelece incentivos às iniciativas e projetos turísticos]; Lei 2.058/96
1993-1996
[Institui a Política Municipal de Urbanismo de Piraju].
b) Elaboração dos estudos técnicos que instruíram o tombamento de
bens patrimoniais: Conjunto arquitetônico-urbanístico da Estação
Ferroviária de Piraju; Praças Ataliba Leonel, Joaquim Antônio de
Arruda e Benedito Silveira Camargo; Bosque das Jabuticabeiras.

25
Juridicamente, enquanto associação civil sem ins lucrativos e com objetivos ligados à preservação do patri-
mônio cultural, o Projeto Paranapanema é parte integrante da comunidade apta a interferir nessa matéria.
26
A efetividade das ações programadas tem oscilado em função de fatores diversos, principalmente a falta
de recursos, somada à carência de planejamento administrativo, somada à não priorização de assuntos
de ordem cultural, fato, aliás, comum no Brasil.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 37

a) Levantamento do patrimônio arquitetônico eclético de Piraju [apoio


FAPESP].
b) Início da pesquisa das fontes orais, cartoriais, legislativas, arquivísticas
1997-1999
e iconográicas, relativas à EFP.
c) Levantamento planialtimétrico da área tombada da EFP.
d) Demolição do anexo de serviços acoplado ao prédio principal.

a) Levantamento métrico-arquitetônico preliminar do edifício principal


da EFP.
b) Elaboração do programa ‘Marco Regional da Memória do Café:
Estação Ferroviária de Piraju’, aprovado no sistema MinC/Iphan para
2000
captação de recursos via legislação de incentivo à cultura.
c) Desaterramento dos porões [aterrados em 1992].
d) Consolidação das fundações do edifício principal.
e) Prospecções pictóricas internas.

a) Organização do seminário regional ‘Políticas Públicas em Meio


Ambiente e Patrimônio Cultural’ [apoio FAPESP].
b) Elaboração de anteprojetos de leis municipais: Lei 2.547/01 [Institui
o Sistema Municipal de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju
– SISMMAP]; Lei 2.567/01 [Regula os dispositivos da Lei Municipal
2.058/96 relativamente às normas de parcelamento do solo urbano no
2001
Município de Piraju].
c) Redescoberta das plantas originais de Ramos de Azevedo [arquivo
da FAU -USP].
d) Análise preliminar comparativa entre o originalmente projetado
por Ramos de Azevedo, o efetivamente construído e as alterações
posteriores.

a) Início das intervenções arqueológicas no sítio arqueológico histórico


2002 Estação Ferroviária de Piraju [Portaria IPHAN 111, de 5 de julho].
b) Ensaios preliminares de arqueometria [apoio Iphan].

a) Reinamento do levantamento planialtimétrico.


b) Reinamento do levantamento métrico-arquitetônico do edifício
principal.
c) Projeto de drenagem do entorno do edifício principal.
2003
d) Ensaios preliminares de fotogrametria [apoio UNESP].
e) Ampliação das prospecções pictóricas internas.
f ) Levantamento de dados relativos à grande reforma de 1937 [arquivo
do Museu da Estrada de Ferro Sorocabana, Sorocaba].
38 • IPHAN

B) Por um programa de uso qualiicado da Estação Ferroviária de Piraju


Seria oportuno apresentar a versão-síntese de um programa de requaliicação de uso
da Estação Ferroviária de Piraju, contendo objetivo, justiicativa, escopo e abrangência.
a) Objetivo: resgatar e devolver à comunidade de Piraju o conjunto histórico-arquite-
tônico da Estação Ferroviária por meio da criação de um centro regional de memória
da sucessão dos cenários de ocupação humana do Paranapanema médio, com ênfase
no grande ciclo cafeeiro.
b) Justiicativa: a escolha do conjunto histórico-arquitetônico da EFP não é aleatória.
Com sua arquitetura quase centenária, a Estação é o símbolo patrimonial da cidade,
já que incorpora o orgulho das tradições do passado e a esperança no futuro. O prédio
é o próprio testemunho da história e a síntese do ser pirajuense. Entendendo que a
preservação da memória deve ser alcançada por meio de recursos dinâmicos, o centro
regional pretendido oferecerá um espaço ímpar de cultura, lazer e pesquisa.
c) Escopo:
1. Criação de um espaço de pesquisa, com bancos de dados eletrônicos, ter-
minais multimídia e pequenos lotes de acervo centrado em temas correlacionados
com a sociedade regional do ciclo da cafeicultura.
2. Criação de um espaço de extroversão, com exposições permanentes sobre
os cenários regionais e locais: Paranapanema pré-histórico (caçadores-coletores e agri-
cultores); Paranapanema colonial (guaranis, jesuítas e bandeirantes); Ciclos pioneiros
(posseiros e tropeiros); Cafeicultura, ferrovia e imigração; Geração de energia; A cida-
de antiga e a cidade de hoje; Opções de desenvolvimento social e econômico.
3. Criação de um espaço de lazer, com o aproveitamento dos armazéns para
atividades lúdicas e pedagógicas; atividades esportivas serão desenvolvidas em circui-
tos estabelecidos no entorno das ediicações.
d) Abrangência: o Centro Regional de Memória proposto para a Estação Ferroviária
de Piraju terá como público-alvo a população de Piraju e das cidades vizinhas. O
Município de Piraju, sede do projeto, é considerado a sua área de inluência direta.
Compondo a área de inluência indireta estão as cidades menores, economicamente
polarizadas por Piraju: Manduri, Timburi, Sarutaiá, Tejupá27, Óleo, Bernardino de
Campos, Fartura e Taguaí. Inseridas na área de inluência expandida do projeto estão
Ourinhos e Avaré, centros maiores que, por sua vez, atraem outras cidades vizinhas.

27
Esses quatro municípios foram distritos de Piraju.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 39

A elaboração do projeto de recuperação e restauro da Estação Ferroviária de Piraju se


deu progressivamente, com a contribuição de vários campos do conhecimento. Nesse
processo, à Arqueologia da Arquitetura cabe o enfoque do conjunto ediicado como
expressão material da cultura, reavivando o processo histórico que inclui todos os
segmentos da comunidade e produzindo conhecimento cientíico acerca daquele que
foi o período de maior progresso econômico de Piraju: o grande ciclo da cafeicultura.

C) O Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural


A situação emblemática criada pelo projeto da alternativa 1 da usina Piraju, que desviava
o rio Paranapanema do centro da cidade, acendeu os ânimos da comunidade pirajuense
na direção da preservação de seus bens de interesse patrimonial (isso ocorreu entre os
anos de 1991 e 1992). O movimento contra a usina reuniu diferentes tendências e um
dos resultados (além de impedir o projeto) foi a recriação de um órgão competente para
cuidar dos assuntos de meio ambiente e de patrimônio cultural28. Assim, nasceu o Con-
selho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju, órgão colegiado consultivo,
deliberativo e recursal, paritário entre representantes do poder público e da sociedade
civil, instituído pela lei municipal 1.752, de 24 de julho de 1992. Com duas comissões
técnicas – meio ambiente e patrimônio cultural – o conselho passou a propor e imple-
mentar as políticas públicas municipais nos setores ambiental e cultural.
Entre as suas primeiras atitudes, pode ser mencionada a paralização da reforma do
prédio principal da Estação Ferroviária (e sua cessão à Delegacia de Polícia do bairro),
em dezembro de 199229.
Em 1º de janeiro de 1993, assumiu a prefeitura José Geraldo Pansanato, rompendo
o ciclo da alternância entre José Ribeiro e Francisco Rodrigues, vigente desde 1972.
Com maciço apoio da comunidade católica, Pansanato tornou-se o primeiro prefeito
sem vínculos com o poder da cafeicultura. O fato de ter minoria na Câmara gerou
forte oposição ao seu projeto de administração, resultando no adiamento ou na des-
coniguração de várias tentativas de mudança. Porém, na nova estrutura administrati-
va da prefeitura foi criada a Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente30, formada

28
A participação do Projeto Paranapanema no movimento se deu pela elaboração dos estudos técnicos e o
anteprojeto de lei para a criação do novo colegiado, sob a liderança de José Luiz de Morais. O prefeito
Francisco Rodrigues, por sugestão do então secretário municipal de Cultura e Meio Ambiente, Benedi-
to Barone Gianetti, acolheu a proposta e a encaminhou à aprovação da Câmara Municipal.
29
O prefeito acolheu a solicitação do Conselho e paralisou a reforma.
30
José Luiz de Morais, coordenador do Projeto Paranapanema, foi nomeado titular da pasta de Plane-
jamento e Meio Ambiente, cargo que lhe conferiu a presidência do Conselho de Meio Ambiente e
Patrimônio Cultural.
40 • IPHAN

por dois órgãos executivos: de planejamento ambiental e de planejamento territorial,


articulados com o Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural.
A Lei 1.855, de 11 de outubro de 1993, reinstituiu (agora corretamente) o tom-
bamento no Município de Piraju31. Com esta lei, o Conselho de Meio Ambiente e
Patrimônio Cultural de Piraju, editou vários atos de tombamento32, dentre os quais o
da Estação Ferroviária de Piraju, identiicado como Ato de Tombamento # 1, de 5 de
janeiro de 1996, que promoveu o tombamento do conjunto histórico-arquitetônico
da antiga Estação Ferroviária de Piraju.
Mudanças na estrutura administrativa da prefeitura, ocorridas na primeira gestão de
Maurício de Oliveira Pinterich, além da necessidade natural de atualização e aperfei-
çoamento dos procedimentos, sugeriam a modiicação do Conselho de Meio Am-
biente e Patrimônio Cultural de Piraju. O novo modelo, proposto pelo Projeto Para-
napanema, no espaço de mediação do Centro Regional de Arqueologia Ambiental,
instituía um “sistema municipal de meio ambiente e patrimônio cultural”. O prefeito
Pinterich acolheu a ideia e encaminhou o projeto de lei à Câmara Municipal, no inal
do primeiro semestre de 2001.

A partir daí, o Município de Piraju passou a contar com o SISMMAP – Sistema de


Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, instituído pela Lei 2.547, de 26 de julho de
200133, com a seguinte estrutura:
a) Órgão deliberativo e recursal: Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio
Cultural do Município de Piraju.
b) Órgão técnico de assessoria: Câmara Técnica de Meio Ambiente e Patri-
mônio Cultural.
c) Órgãos técnicos executivos: órgãos setoriais de meio ambiente e de cultu-
ra existentes no organograma da Prefeitura.
d) Órgãos associados: organizações não governamentais associadas ao
SISMMAP para o desenvolvimento de programas, projetos ou ações em parceria.

31
“Dispõe sobre o processo de tombamento de bens culturais, ambientais e paisagísticos do Município de
Piraju”; esta lei, ainda em vigor, revogou a anterior que apresentava falhas na redação.
32
Os demais bens tombados foram as praças centrais de Piraju (Ataliba Leonel, Joaquim Antônio de
Arruda e Benedito Silveira Camargo), o Bosque das Jabuticabeiras (respectivamente, em 1996 e 1997)
e o trecho de canal natural do rio Paranapanema, em 2002.
33
“Institui o Sistema Municipal de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju – SISMMAP, e dá
outras providências.”
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 41

Sem prejuízo de outras inserções futuras, a Lei 2.547/01 deiniu como altamente
relevantes os seguintes itens patrimoniais do Município de Piraju:
a) O rio Paranapanema, considerado expressão máxima do patrimônio am-
biental e paisagístico do município.
b) A antiga Estação Ferroviária e as construções ecléticas do início do século
XX, consideradas expressões máximas do patrimônio histórico-arquitetônico do mu-
nicípio.
c) Os sítios resultantes dos sistemas de povoamento pré-colonial, considera-
dos expressões máximas do patrimônio arqueológico localizado no município.
d) A manifestação popular conhecida como “moçambique”, considerada
a expressão máxima do folclore pirajuense, no âmbito dos bens imateriais de valor
cultural.

D) A Política Municipal de Urbanismo

A PMU – Política Municipal de Urbanismo34, editada pela Lei Municipal 2.058/96


(proposta ao Executivo pirajuense pela equipe do ProjPar/Centro Regional de Ar-
queologia Ambiental), assim se refere às paisagens notáveis e ao patrimônio cultural e
histórico-arquitetônico de Piraju:

As paisagens notáveis, o patrimônio cultural e histórico-arquitetônico são itens importantes


no âmbito da estética urbana.
Para efeitos da PMU, as paisagens notáveis integram o patrimônio paisagístico e ambiental
urbano. São recantos especiais, onde a ação ediicante do homem se harmoniza plenamente
com elementos naturais, tais como o relevo, a rede hidrográica ou a vegetação, constituindo
cenários de beleza incontestável. O patrimônio cultural e histórico-arquitetônico são os lo-
cais ou as obras humanas que relembrem fatos notáveis ou ediicantes para a comunidade.
O potencial da cidade de Piraju, em termos de patrimônio paisagístico e ambiental e
de patrimônio cultural e histórico-arquitetônico , é altamente relevante, constituindo a
base da vocação turística do Município. Conservá-lo, portanto, é de absoluto interesse da
comunidade.

34
Os estudos técnicos que resultaram na Lei Municipal 2.058, de 2 de dezembro de 1996, que instituiu
a Política Municipal de Urbanismo de Piraju foram elaborados pelo Projeto Paranapanema, sob a co-
ordenação de José Luiz de Morais.
42 • IPHAN

Inseridos no patrimônio cultural da coletividade local se destacam os sítios arqueológicos,


existentes em grande número no território pirajuense. Todos os sítios arqueológicos históricos
e pré-históricos do Município, registrados pela USP, foram cadastrados no Iphan – Insti-
tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, já que o patrimônio arqueológico está
sob disciplina da Lei Federal 3.924/61, sendo considerado um dos bens da União [CF,
art. 20, X].
Sem prejuízo de acréscimos posteriores, de responsabilidade do Conselho do Meio
Ambiente e do Patrimônio Cultural e da SEPLAM35, esta PMU enumera como itens
patrimoniais urbanos os seguintes: praças Ataliba Leonel, Benedito Silveira Camargo
e Joaquim Antonio de Arruda; cascata da barragem da usina Paranapanema; conjun-
to histórico-arquitetônico da Estação Ferroviária; bosque das Jabuticabeiras; Salto do
Piraju.
O conjunto da antiga Estação Ferroviária e as praças Ataliba Leonel, Joaquim Antonio
de Arruda e Benedito Silveira Camargo foram tombados pela municipalidade e esta
Lei reitera os respectivos atos [atos de Tombamento 01 e 02/96].
No âmbito da legislação municipal, a Lei 1855/93 é o instrumento jurídico que dis-
põe sobre o processo de tombamento de bens culturais, ambientais e paisagísticos do
Município de Piraju. Esta PMU também reitera os termos desta lei [Política Munici-
pal de Urbanismo, Lei Municipal 2.058/94].
Concluindo este artigo, é importante frisar que o Centro Regional de Arqueologia
Ambiental, órgão do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, teve, desde o mo-
mento de sua criação, papel destacado na solução de conlitos locais. Há de se reiterar
que, neste momento, a expressão “conlito” não tem conotação negativa. Pelo contrá-
rio, o tratamento das situações colocadas como exemplo acabou por provocar instân-
cias de relexão conjunta, envolvendo vários segmentos da comunidade pirajuense. O
amadurecimento coletivo no trato de situações sensíveis transparece nos resultados.
O aproveitamento do potencial hidrelétrico do rio Paranapanema na região de Piraju,
ao que tudo indica, está suspenso. A experiência (e vitória) nos assuntos relacionados
com o veto ao projeto da alternativa 1 da Usina Piraju montante (aquele que des-
viava o rio da cidade), fez o movimento ambientalista ganhar força e a comunidade
amadurecer. Tanto que, uma nova proposta – Usina Piraju II, que alagaria o último
trecho de canal natural do rio Paranapanema no Município de Piraju, foi correta e

35
SEPLAM era a sigla da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente do Município de Piraju, substi-
tuída posteriormente pelo Departamento de Urbanismo e Meio Ambiente na nova estrutura orgânica
da Prefeitura do Município de Piraju.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 43

legalmente obstruída por vários diplomas jurídicos municipais em vigor. Nesse senti-
do, a equipe do Projeto Paranapanema, no espaço de mediação do Centro Regional
de Arqueologia Ambiental, agiu com a melhor lisura e competência técnica: no caso
da Usina Piraju montante (ainal, vingara o projeto da alternativa 2, que não desviaria
o rio da cidade), a equipe do Projeto Paranapanema deu conta de um programa de
resgate arqueológico exemplar; no caso da Usina Piraju II jusante, a equipe elaborou
os estudos técnicos que resultaram na peça de tombamento do último trecho natural
do rio Paranapanema.
Com todos os percalços possíveis, a Estação Ferroviária de Piraju segue em processo
de restauro. A produção de conhecimento em torno desse bem comum foi muito
expressiva, graças à ação da equipe de pesquisadores do Projeto Paranapanema que,
para tanto, valeu-se do espaço de mediação do Centro Regional de Arqueologia Am-
biental. A redescoberta da autoria do projeto original (Ramos de Azevedo), todos os
estudos de arqueologia da arquitetura e o projeto de restauro cedidos sem custo à
Prefeitura se devem a este esforço. Considerar o conjunto da Estação Ferroviária de
Piraju um sítio arqueológico histórico foi de vital importância, pois fez comparecer o
Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com suas prerrogati-
vas de mediação e gestão patrimonial36. Nesse sentido, ao contar com a cumplicidade
do órgão federal, a equipe do Projeto Paranapanema pode impor os princípios de
acautelamento patrimonial próprio dos sítios arqueológicos.
No limiar do ano 2010, alguma coisa já mudou em termos de legislação ambiental e
de patrimônio cultural no Município de Piraju. Embora a letra da lei tenha sido ligei-
ramente alterada pelo novo Plano Diretor da cidade, o espírito permanece o mesmo,
pois a ideia da preservação do meio ambiente, da memória e da identidade diicilmen-
te será olvidada.

36
A investigação arqueológica foi feita mediante a edição de portaria de permissão de pesquisa pelo
IPHAN (Portaria 111, de 5 de julho de 2002, titular Daisy de Morais).
44 • IPHAN

Bibliograia
Morais, D. 1998. Desenho Ambiental: organizando o espaço para revitalizar o
patrimônio (subsídios à musealização da cidade de Piraju). Monograia de
Graduação apresentada à Faculdade de Belas Artes. São Paulo.
Morais, D. 2002. Estação Ferroviária de Piraju: ensaio de arqueologia da
arquitetura de Ramos de Azevedo. Dissertação de Mestrado apresentada à
Universidade de São Paulo. São Paulo.
Morais, D. 2005. Unidades de conservação como instrumento de gestão: a APA
Municipal do Teyque’pe’ – Piraju, SP. Monograia apresentada ao MBAE
Gestão Ambiental – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável. São
Paulo.
Morais, D. 2007. Arqueologia da Arquitetura – Estação Ferroviária de Piraju.
Erechim – RS: Editora Habilis.
Morais, J. L. 1999. Perspectivas geoambientais da Arqueologia do Paranapanema
paulista. Tese de Livre-Docência apresentada à Universidade de São Paulo. São
Paulo.
Morais, J. L. 2000. Tópicos de Arqueologia da Paisagem. Revista do Museu de
Arqueologia e Etnologia, 10:3-30.
Morais, J. L. 2005. A arqueologia preventiva como Arqueologia: o enfoque
acadêmico-institucional da Arqueologia no licenciamento ambiental.
Revista de Arqueologia do Iphan/SC, 2:98-133.
Morais, J. L. 2006. Relexões acerca da arqueologia preventiva, pp. 191-220.
In: Mori, V. H.; Souza, M. C.; Bastos, R. L.; Gallo, H. (org.) Patrimônio:
Atualizando o Debate. São Paulo: Iphan/SP.
Morais, J. L.; Morais, D. 2001. Arqueologia da Paisagem Urbana: a cidade na
perspectiva patrimonial. Revista de Arqueologia Americana, 20:81-110.
Cidade do México.
Morais, J. L.; Mourão, H. A. 2005. Inserções do Direito na esfera do patrimônio
arqueológico e histórico-cultural. In: Werneck, M.; Silva B. C.; Mourão, H.
A. H.; Moraes M. V. F.; Oliveira W. S. (coord.) Direito Ambiental visto por
nós, advogados, 2005. Belo Horizonte: Del Rey.
Morais, J. L.; Mourão, H. A.; Vaz, A. Ch. 2004. O Direito Ambiental e a
Arqueologia de Impacto. In: SILVA, B. C. (org.) Direito Ambiental: enfoques
variados, pp.357-386. São Paulo: Lemos & Cruz Editora.
Arqueologia Preventiva no
Patrimônio Arqueológico
Brasileiro II
Marise Campos de Souza & Rossano Lopes Bastos

O presente trabalho prende-se aos esforços de identiicar os problemas mais


comuns que se veriicam em projetos de avaliação de impacto sobre o Patri-
mônio Arqueológico no Sul e Sudeste do Brasil.
A avaliação de impactos ambientais no Brasil é recente enquanto obrigação legal,
e remonta ao ano de 1986, o que contribui para que haja ainda alguma resiliência
por parte das empresas de consultoria ambiental de se colocar em conformidade
com as necessidades de avaliação do Patrimônio Arqueológico na matriz de dados
a ser avaliada nos estudos de impacto ambiental.
Por outro lado a falta de legislação que regulamente a proissão do arqueólogo e a
inexistência de um órgão representativo do mesmo – considerando que no Brasil
para se proissionalizar nesta área é necessário obter no mínimo um curso de pos-
graduação em arqueologia – têm possibilitado que proissionais de outras áreas
ambientais ains se julguem no direito de opinar nas questões arqueológicas de
forma irresponsável trazendo prejuízos ao Patrimônio. Nosso objetivo é apontar
estas anomalias e propor um modelo de avaliação cumulativa que leve em conta
as questões arqueológicas.
Os assuntos que fazem parte deste estudo estão associados a nossa atividade de
agente público, responsável pela avaliação, iscalização e monitoramento dos mais
diversos projetos de Arqueologia no Sul e Sudeste do Brasil, especialmente nos
Estados de Santa Catarina e São Paulo.

Nota: Neste artigo os capítulos 1, 2, 3 e 4 são creditados a Rossano Lopes Bastos e os capítulos 5, 6, 7, 8
e 9 são creditados a Marise Campos de Souza.
46 • IPHAN

Nossa atividade é desenvolvida no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional, Iphan, autarquia federal criada pelas Leis ns. 8.029/90 e 8.113/90, que
cuida do Patrimônio Cultural Brasileiro desde 1937, quando foi criado.

Fica cada vez mais evidente que as demandas do conhecimento ambiental e ar-
queológico, apontam principalmente para respostas transdisciplinares. Quando
optamos por este viés, estamos conscientes das limitações de ordem teórico-prá-
tica que enfrentaríamos, por se tratar de assunto embora não muito recente, mas
de certa forma emergente no Brasil.

A implantação de tecnologia “limpa” – em empreendimentos de grande en-


vergadura – nem sempre obedece a padrões de intervenção compatíveis com
a magnitude dos impactos sobre o Patrimônio Arqueológico. Desta forma,
tornam-se necessárias a elaboração e a execução de projetos de levantamento e
salvamento arqueológico que contemplem de forma satisfatória a salvaguarda
dos bens arqueológicos. As ações de iscalização e vistoria de empreendimentos
por parte do Iphan identiicaram particularmente problemas que ocasionaram
a destruição, mutilação e perdas de informação da memória nacional.

Em alguns países, a política ambiental exige avaliações das propostas de empreen-


dimentos, obras e serviços, que apreciem seus efeitos cumulativos potenciais. No
Brasil essas práticas relativas ao Patrimônio Arqueológico ainda são incipientes,
pois falta aos empreendedores e às agências ambientais governamentais a sensi-
bilidade de – imbuídos dessa nova mentalidade – prever e diagnosticar os impac-
tos mais comuns sobre o Patrimônio Arqueológico, e os impactos cumulativos
e indiretos.

Diante disso, apresentamos algumas propostas baseadas na norma legal, procu-


rando oferecer subsídios à comunidade de proissionais, consultores e pesquisa-
dores no trato da questão relativa ao Patrimônio.

O Patrimônio Arqueológico possui uma base de dados inita e diferentemente


de outros sistemas não comporta restauração. Sua capacidade de suporte de al-
terações é muito limitada, por isso relexões que apontam para a identiicação e
minimização dos impactos cumulativos constituem nossa preocupação.

Em muitos países, a política ambiental exige avaliações prévias das propostas para
obras e serviços em empreendimentos que possam causar impactos sobre o am-
biente. A tarefa de avaliar tais ações contempla, entre outras, a exigência de levar
em consideração os efeitos cumulativos potenciais.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 47

1. Impactos Cumulativos
Bastos (2001) coloca que devemos observar, por meio das análises e avaliações
dos programas de mitigação, compensação e salvamentos arqueológicos, a neces-
sidade de desenvolvimento de abordagens que visem equacionar os problemas
dos impactos cumulativos. Normalmente, os referidos programas apresentam
grandes diiculdades em sua implantação, que podem ser ocasionadas, sobretudo,
pela falta de continuidade dos trabalhos, pela resistência dos empreendedores aos
custos dos projetos, pelas mudanças administrativas e alterações da razão social
das empresas contratantes. Outros fatores também se somam a estes, como a
privatização de algumas empresas envolvidas na execução dos empreendimentos,
ou a diiculdade dos empreendedores e agências ambientais governamentais que
tratam do licenciamento de observar a necessidade de se diagnosticar e prever
com metodologias apropriadas os impactos mais comuns sobre o patrimônio ar-
queológico com a devida antecedência.
A diiculdade se torna ainda maior quando se trata de fazer compreender a neces-
sidade de se diagnosticar e prognosticar os impactos e efeitos cumulativos sobre
os bens arqueológicos.
As avaliações dos efeitos e impactos cumulativos devem ser incorporadas e difun-
didas junto aos arqueólogos que trabalham com a arqueologia preventiva.
Os elementos para diagnosticar e avaliar os impactos cumulativos implicam uma
proposição interdisciplinar mais abrangente das alterações que sofrem os sistemas
arqueológicos. Em geral esta perspectiva deve considerar:
• O maior número de variáveis de perturbação do sítio ou unidade arqueológica;
• Causas inter e intrassítios e em complexos arqueológicos;
• Avaliação integrada da área de captação de recursos das populações pretéritas;
• Processo de interação;
• Escala temporal e seus intervalos;
• Previsão de impactos e efeitos futuros.
É importante o entendimento do que são os impactos cumulativos. Bastos (2001)
refere-se à acumulação de alterações nos sistemas arqueológicos ao longo do tem-
po e no espaço de forma aditiva ou interativa. Estes também podem ser divididos
como estruturais ou funcionais. São estruturais os impactos que se referem basica-
mente as questões espaciais, como a fragmentação. A fragmentação espacial pode
48 • IPHAN

ser exempliicada pela alteração do tamanho, da forma e da integridade dos sítios


arqueológicos. Estes são impactos que podem envolver ações naturais e antrópi-
cas, entre elas a pesquisa arqueológica interventiva. Caracterizam-se por impactos
funcionais aqueles que se referem basicamente a alterações acumuladas em função
do tempo. Podem ser concentrados no tempo ou em intervalos regulares ou não.
As alterações nos sistemas arqueológicos podem ser divididas em:
• Acumulação de alterações nos sistemas arqueológicos que interagem ao lon-
go do tempo e no espaço;
• Acumulação de alterações que se adicionam nos sistemas arqueológicos ao
longo do tempo e do espaço.
As ações de alterações podem ser simples ou complexas, multifatoriais, do mesmo
tipo ou de tipos diferentes. Alguns tipos de atributos utilizados comumente nas
avaliações ambientais podem em certos casos modelar avaliações nos sítios ou
sistemas arqueológicos.
Compreendem-se por atributos: tempo, espaço, alteração em escalas, frequências,
densidades, conigurações de tipos variados.
A alteração dos sistemas arqueológicos sempre terá uma signiicância, seja
maior ou menor, diferentemente da unidade de alteração ambiental. Porém,
alterações nos sistemas arqueológicos originadas por pequenas ações podem se
acumular no tempo e no espaço, resultando em efeitos cumulativos considera-
dos signiicativos que podem interferir decisivamente na análise e interpretação
do registro arqueológico.
A avaliação dos efeitos cumulativos (AEC) sobre os sistemas arqueológicos é o
processo de análise e avaliação das alterações arqueológicas cumulativas.
Assim depreende-se o quanto a prática da avaliação dos efeitos cumulativos sobre
os sistemas arqueológicos é complexa. Exige paciência, acúmulo e espera, caracte-
rísticas nem sempre palatáveis quando estamos tratando de projetos interventivos
que pressupõem um trabalho de resgate. Entretanto, se buscamos uma teoria
arqueológica cientiica consistente, torna-se necessário avaliar os efeitos e as alte-
rações cumulativas a que estão sujeitos o registro arqueológico.
As balizas conceituais para as alterações ambientais cumulativas têm origem na
geograia de sistemas com Bennett e Chorley (1978); Hugget (1980). Outras
contribuições se apresentam através dos conceitos de “estresse” da ecologia Barett
et al. (1976); Rapport et al. (1985).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 49

2. Modelos de Análise
Em geral os sistemas são mensurados pela persistência das relações internas. Se-
gundo Holling (1986), o conceito de resiliência: “é deinido como a capacidade
de um sistema de manter a sua estrutura e seu padrão de comportamento diante
de uma perturbação”.
Os modelos de análise desenvolvidos para avaliação de impactos cumulativos têm
os princípios e conceitos derivados da teoria das alterações ambientais, que jul-
gamos ser o ponto de partida para a nossa relexão. Destacamos como principais:

• Modelos de causalidade de Spalling (1996)


A teoria da alteração ambiental considera a relação causa e efeito entre a perturba-
ção e a reação do sistema. Este modelo causal é fundamental para a compreensão
da estrutura da alteração ambiental cumulativa.
A natureza das relações causa e efeito é complexa tendo em vista a multiplicidade
das causas, dos mecanismos de retroalimentação e das reações variadas do sistema.

• Modelo insumo – processo – produto de Spalling (1996)


Este modelo demonstra a estrutura dos elementos de uma alteração ambiental cumula-
tiva, em que insumo é o agente causal da alteração; processo refere-se ao luxo ou meca-
nismo pelo qual o agente causal se transforma em uma unidade de alteração; e produto
ou reação representa o resultado de uma alteração na estrutura ou função do sistema.
Então, considerando que, em geral, as avaliações de impactos cumulativos sobre
o patrimônio arqueológico devem se caracterizar por limites temporais e espaciais
abrangentes, de modo a incorporar a acumulação das alterações ambientais ao
longo do tempo em escala espacial, têm como desaio a elaboração de metodo-
logias de avaliação de impactos cumulativos que contemplem uma deinição de
uma base de caracterização das fontes de alteração cumulativa dos sistemas arque-
ológicos e a identiicação dos diferentes luxos, processo e suas variações.
Os efeitos cumulativos sobre o patrimônio arqueológico só poderão ser realmente
avaliados usando as fontes de informações disponíveis, as provas empíricas ainda es-
cassas e as análises quantitativas e qualitativas que esbarram na falta de dados. Grande
parte das avaliações arqueológicas contempladas nos estudos e relatórios de impacto
ambiental (EIA, RIMA) apresenta-se incipiente, insatisfatória ou inadequada.
50 • IPHAN

A avaliação dos impactos cumulativos sobre o patrimônio arqueológico exige


acompanhamento, monitoramento, cuidado de longo termo e representação ar-
queológica espacial em diversas escalas.
A falta de conhecimento do próprio universo arqueológico em si diiculta a aná-
lise em escalas temporais e espaciais mais amplas, assim uma análise rigorosa dos
impactos cumulativos exige que se criem bases empíricas.
Outro grande desaio será a condução de uma avaliação dos impactos cumulati-
vos sobre o patrimônio arqueológico que busque instrumentos técnicos, metodo-
lógicos que equacionem de forma a controlar o máximo de alterações cumulativas
sobre a base de dados do registro arqueológico.

3. Quais os problemas mais comuns que ocorrem em projetos de avaliação de


impacto sobre o Patrimônio Arqueológico?
Nossa intenção, ao apontar estas anomalias, é conduzir a elaboração de propostas
e modelos de avaliação que levem em consideração as questões arqueológicas.
A edição da Portaria Iphan 230/02 de 17 de dezembro de 2002, explicita de
forma didática aquilo que está em norma geral para a execução dos programas
preventivos de arqueologia. Ela identiicou e demarcou o tempo dos estudos ar-
queológicos para a obtenção de licenças ambientais em urgência ou não, e para
a implantação de empreendimentos potencialmente causadores de danos a base
inita do patrimônio cultural arqueológico. Ao deinir os parâmetros para o li-
cenciamento, garantiu a inserção da associação dos arqueólogos no mercado de
trabalho junto às empresas de consultoria e assessoria ambientais.
Tal medida vem com certo atraso, em 2002, mas com igual importância, pois os argu-
mentos de falta de balizamento para a realização dos referidos estudos arqueológicos
não encontram mais resposta em embates de qualquer natureza. Seria bom lembrar
que as pesquisas arqueológicas desenvolvidas hoje no Brasil, em sua maioria são de
cunho eminentemente preventivo, ou seja, uma arqueologia voltada para a interface
ambiental visando licenciar ou não empreendimentos de potencial impacto sobre o
ambiente, incluso no meio socioeconômico, o ambiente cultural arqueológico.
Hoje o processo de salvamento arqueológico compreende uma gama de atividades
e operações que no passado na maioria das vezes apresentava sérias diiculdades de
inalização e com uma extroversão pública inteiramente comprometida. Se ainda
hoje temos grande diiculdade de publicização de dados arqueológicos por parte
dos nossospesquisadores, imaginemos esta situação sem o devido balizamento.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 51

No Brasil os arqueólogos recentemente incorporaram outras matrizes do pen-


samento arqueológico há muito desenvolvidas em outros países. Só para citar
algumas recentes abordagens, elencamos os estudos arqueológicos preocupados
com bens culturais históricos ediicados ou não, caminhos, estruturas viárias,
quilombos e mais recentemente bens arqueológicos submersos e embarcações
soçobradas. Na questão arqueológica submersa encontramos diiculdades legais
ainda não ultrapassadas que merecerão oportunamente melhor dedicação, e se-
rão objeto de melhor relexão, uma vez que este não é o espaço privilegiado para
discutir tal assunto.
É importante observar que – para realizar uma política de preservação Arqueo-
lógica – são imprescindíveis ética proissional e uma boa legislação de proteção
ao patrimônio arqueológico, inclusiva e cientiicamente aceitável. Sobretudo são
necessárias uma boa articulação política com os entes federativos em todas as suas
instâncias e uma participação ativa da comunidade em geral.
É conveniente lembrar que as políticas culturais sofrem pressões dos interesses
coorporativos, das políticas internas e externas, o que debilita a ação pública na
área cultural. No entanto o Estado não pode declinar de sua responsabilidade, e
a cultura para não icar fragilizada necessita de uma política de continuidade que
evite por parte dos governos o desmantelamento de instituições e a continuidade
de ações e projetos. Assim, a cultura ica dependendo da estabilidade institucional
do Ministério da Cultura para a continuidade de suas políticas. A cultura como
uma herança coletiva deve ser democratizada e estar acessível à comunidade. O
patrimônio cultural deve ser valorizado, por meio de critérios bem estabelecidos
nos quais estejam contemplados a diversidade e o pluralismo, política esta, simul-
taneamente, preventiva e pró-ativa. (cfr. Campos de Souza 2006: 154).

4. A responsabilidade de uma arqueologia preventiva socialmente includente.


A arqueologia até bem pouco tempo atrás era matéria desconhecida pela po-
pulação brasileira. Entretanto, hoje vem desempenhando um papel de inclusão
social e desenvolvimento da nação, embora seja ainda pouco reconhecido pelas
lideranças políticas, empresariais e formadoras de opinião. Em parte, as causas
que levam a esse desconhecimento estão vinculadas ao próprio passado do fazer
arqueológico, que só recentemente tem assumido um papel de inserção na socie-
dade brasileira.
Diante dos novos fazeres, o Iphan vem atuando de forma educativa na proteção,
preservação e socialização do patrimônio arqueológico nacional.
52 • IPHAN

Do ponto de vista legal, existem algumas leis e normas que garantem à população
acesso aos bens arqueológicos. Por exemplo, na Constituição Federal, em seus
artigos 215, 216 eles são considerados bens da União Federal, ou seja, de uso
público e de alcance social. O Iphan, por sua vez, editou algumas portarias, entre
elas, a Portaria Iphan n. 230/02, que garante nos projetos arqueológicos desen-
volvidos um programa de educação patrimonial, que atenda aos vários segmentos
envolvidos com o patrimônio arqueológico.
Hoje, no Brasil, para a realização de projetos de implantação de empreendimen-
tos visando construções de estradas, ferrovias, metrôs, hidrovias, aeroportos, por-
tos, hidroelétricas, linhas de transmissão de energia elétrica, gasodutos, oleodutos,
polidutos, minerodutos, minerações de diversas substâncias, usinas de beneicia-
mento de açúcar e álcool, plantações e lavouras mecanizadas, empreendimen-
tos imobiliários, instalação de indústrias, transposição de rios e para quaisquer
atividades que causam remoção de terra, são necessários a execução de estudos
ambientais e os estudos sobre a possibilidade de afetação dos sítios arqueológicos.
Assim, todos esses empreendimentos – mobilizando uma série de proissionais de
todas as áreas que operam na preparação, na implantação e na operação dos em-
preendimentos – devem obrigatoriamente desenvolver mecanismos educativos
que expliquem aos trabalhadores o que constitui um sítio arqueológico, como
pode ser encontrado e como proceder no caso de qualquer descoberta fortuita.
Segundo Bruhns (2004): a Educação Patrimonial é etapa importantíssima no processo
de salvamento arqueológico, devendo acompanhar os trabalhos de campo objetivando per-
ceber a melhor forma de levar o conhecimento adquirido às comunidades afetadas pelas
pesquisas. A integração comunidade – conhecimento gerado pela pesquisa muitas vezes só
acontece a partir da intervenção da educação no processo.
Ao trabalharmos o acervo arqueológico através da Educação Patrimonial estaremos inte-
ragindo com a memória local e, talvez, interferindo em lugares de memória – referências
espaciais de memórias coletivas, espaços de valorização histórica comum, nos quais a co-
munidade se reconhece, memoriza imagens concretas, apreensões visuais. [...] A Educação
Patrimonial pautada nesta responsabilidade deve ser um instrumento de educação no
processo do ensino formal e não formal, bem como um instrumento de “alfabetização
cultural”, aqui entendida como uma pedagogia que propõe a descolonização da memória
e do imaginário do ser humano pelo diálogo cultural com outros, por meio de processos de
sensibilização, autoleitura, autoconscientização e transformação coletiva [...] descoloniza
a inconsciência política e a memória corporal para intervir na reprodução do passado;
uma pedagogia que cultiva a sensibilidade intercultural e a consciência performativa
necessárias à formação de novas comunidades solidárias e cooperativas, e novas políticas
democráticas de libertação.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 53

Por meio da Educação Patrimonial o cidadão pode vir a compreender sua impor-
tância no processo sociocultural no qual está inserido, almejando uma transfor-
mação positiva no seu relacionamento com o patrimônio cultural.
Ao interagir tanto com o ensino formal (que atualmente depende enormemente
da disponibilidade dos diretores das escolas e de seu cronograma anual) quanto
com o não formal (comunidades do entorno da área da pesquisa, associações de
bairro, etc.), devem-se sempre direcionar os trabalhos às necessidades das mesmas,
relacionando-as ao conhecimento gerado da pesquisa e da informação escrita.
O conceito de extroversão arqueológica tem sido buscado com o objetivo de dar
acesso a todos àqueles que quiserem se apropriar do conhecimento adquirido
pelos arqueólogos e demais especialistas envolvidos com a arqueologia.
Para isso é necessário não só criar uma linguagem acessível à imensa maioria
da população, mas igualmente criar mecanismos de publicização que atinjam as
camadas com menos acesso a essas informações. Uma das formas de atuar na
mitigação dos impactos cumulativos e outros de qualquer natureza, sem dúvida,
passa pela educação e seus desdobramentos.

5. Arqueologia preventiva e suas interfaces sociais: resolução e mediação de


conlitos no campo da arqueologia preventiva
Memória é a capacidade que temos de armazenar as informações, consolidando-
as internamente em diferentes instâncias. Esses fragmentos de elementos irão
compor a base de nosso conhecimento em função da maneira de como decodi-
icamos cada um deles e de como damos signiicado às nossas experiências coti-
dianas. Cada gesto humano é provavelmente destinado a se tornar patrimônio,
não necessariamente de todos, mas certamente será o suiciente para se tornar a
memória de uma pessoa, de um grupo ou de um lugar: “Cada peça dos móveis
herdados, ou mesmo uma mancha na parede, conta uma história” (Tuan 1980).
Segundo Max Weber todos precisamos nos sentir como pertencentes a um lugar
e ao mesmo tempo perceber que esse lugar nos pertence. Isso deve ser tão forte
a ponto de acreditarmos que temos direito de interagir com esse lugar. A partir
desse pertencimento desenvolvemos a nossa compreensão de cultura. Este é um
processo dinâmico e em continua construção.
É também esse sentimento que possibilita o agrupamento de pessoas heterogêneas,
existentes numa comunidade, fazendo-as partilhar de um mesmo objetivo cultu-
ral, ou seja, preservar a sua herança. A noção de pertencimento aparece também
54 • IPHAN

nas discussões sobre a relação entre ética e sustentabilidade, referindo-se a uma


possibilidade de transformação de comportamentos, atitudes e valores para forma-
ção de pessoas e relações capazes de protagonizar um novo paradigma (Jará 2001).
O conceito de Patrimônio Cultural é, assim, uma construção cultural que re-
solve as contradições integrando-as, e deinindo dessa forma um quadro global
coerente (supera as contradições), lexível (permite num mesmo momento que
segmentos diversos da sociedade privilegiem elementos diversos de um mesmo
corpus patrimonial) e dinâmico (vai-se modiicando por adição e subtração de
elementos, mas, sobretudo, por alteração de signiicados) (Oosterbeek 2000).
A gestão se dá quando nos organizamos para planejar, coordenar, controlar e
formular ações em prol de determinado objeto. Conhecer o passado é reconhecer
que o patrimônio e a memória são as duas faces da mesma moeda. A essência do
homem, ou seja, o agir humano é pensar (Descartes 1641).
Então, fundamental para o conhecimento é o pensamento. Esse exercício cui-
dadoso de pensar nos permite projetar as ações para o futuro que possibilitarão
minimizar os impactos negativos sobre o meio ambiente e o patrimônio arqueo-
lógico. É disso que trata a arqueologia preventiva.
A gestão dos riscos cuida de procurar prever da melhor maneira possível a cadeia
de eventos que poderão se suceder, buscando um equilíbrio aceitável entre a se-
gurança do ambiente e o necessário desenvolvimento para o crescimento susten-
tável e ecocompatível. A proveniência da incerteza nas gestões de risco depende
das interações entre patrimônio, meio ambiente e agentes sociais. São muitos os
fatores de risco: individuais (ex.: escolha errada da modalidade de preservação);
ambientais (ex.: crises climáticas, fenômenos imprevisíveis da natureza); estrutu-
rais (ex.: problemas de preservação física do bem); organizacionais (ex.: conlitos
e disputas entre instituições); tecnológicos (ex.: tipologia dos instrumentos para
monitoramento do patrimônio, tipologias de restauro inadequadas).
Assim a gestão depende da capacidade de se compatibilizar as competências de
cada um às diversas situações que se apresentam, empregando os instrumentos
disponíveis, tais como normas legais, convenções do patrimônio, conhecimentos
interdisciplinares, etc. Outro fator que deve ser observado são as experiências
práticas que – aparentemente em conlito com as tecnologias modernas – podem
conter conhecimento do patrimônio imaterial, como as tradições populares for-
talecidas pelo uso e transmitidas de pai para ilho no tempo.
A gestão do Patrimônio Cultural é a forma integrada como ele poderá permane-
cer relevante para o futuro da nossa sociedade. A gestão integrada é um programa
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 55

transdisciplinar, que implica a identiicação, o inventário, o estudo, a conservação


e a valorização dos testemunhos materiais e imateriais, superando a sua dicoto-
mia. Gerir o Patrimônio é “negociar” a relação entre propriedade (conjuntural) e
memória (essencial), tendo o duplo objetivo de assegurar a conservação (para as
gerações futuras) e a fruição (pelas gerações atuais), assim assegurando a relação
com as gerações passadas (Oosterbeek 2004).

6. Impactos possíveis ao Patrimônio Cultural


Numa tentativa de classiicar os possíveis impactos ao patrimônio, em particular
o arqueológico, os dividimos nas seguintes categorias:
• Impacto psicológico
Deinimos como impacto psicológico aquele que se veriica quando nosso patri-
mônio é deixado abandonado no tempo. Esquecido ele vai perdendo a sua iden-
tidade no lugar (topoilia). Quando por algum motivo – quer de cunho político,
econômico ou mesmo social – a atenção se conduz verso a ele administrando-lhe
um trabalho de revitalização. Então o cidadão que ainda possui laços de perten-
cimento com esse local reaviva a memória oral e recupera topologicamente a sua
dimensão humana (cfr. Musil 1930-42).
Assim, a topoilia seria o sentimento intenso de pertença e/ou frequentação amo-
rosa a um espaço, região, território que está na base do respeito ao equilíbrio de
suas forças naturais, ao qual o ser humano se integraria numa concepção mais
harmônica (o que não quer dizer que seja isenta de conlitos). Esta ilia se expande
da convivência das pessoas, objetos, lugares para a casa e seu entorno. O senti-
mento de pertença faz com que deixe de ser apenas um ocupador do espaço-tempo
para ser, a própria pessoa, parte da natureza ambiente em sua fusão cognitiva e
simbólica (cfr. Bachelard 1961; Ferreira Santos 2006; 2006a).
• Impacto simbólico
O impacto simbólico pode ser explicado como aquele em que o patrimônio possui
uma signiicação para uma comunidade em determinado tempo, que pode ser de
caráter étnico, religioso, político, etc. Esse signiicado se modiica, no decorrer dos
eventos históricos, e a sua percepção enquanto bem identitário agora alterada in-
terfere na sua conservação e preservação. O sentimento antes positivo de um bem
pode passar a negativo, e vice-versa. Esse caso se veriica especialmente em locais
onde há intolerância ou onde o tecido social foi subjugado por determinadas forças
históricas. (destruição dos baixos relevos de Buda no Afganistão em 2001).
56 • IPHAN

• Impactos estéticos
Impactos estéticos são os ocasionados por intervenções contemporâneas sobre o
patrimônio, de qualquer natureza. Não se questiona que um monumento sofra
alterações com o tempo para se ajustar ao uso ao qual está servindo em determi-
nado momento. Entretanto a falta de critério ou a necessidade de atendimento a
obrigações normativas podem suprimir ou alterar o seu valor estético.
• Impactos socioeconômicos
Podemos explicar como impactos econômicos aqueles em que o valor econômico
do monumento supera o que a comunidade está disposta a aceitar para mantê-lo.
Por exemplo, quando o seu interesse se divide entre deinir se vale mais um espaço
de memória ou área livre para lazer.
Todos os impactos ocorridos sobre o patrimônio cultural criam situações de risco
e de tensão. Nosso objetivo é encontrar formas de mediar os impactos cumula-
tivos possíveis. Mediar é um processo no qual se procura resolver as situações de
conlito na busca de uma solução em que as decisões sejam negociadas entre as
partes. O problema deve ser discutido por meio de uma nova abordagem em que
é fundamental a habilidade para planejar estratégias, equilibrar o poder e compre-
ender as etapas do processo, com vistas à solução do problema. Deve-se enfatizar
a responsabilidade das partes, possibilitando acordos mais duradouros, que evi-
tem a manutenção do conlito e que sejam exercidos de maneira consensual, de
forma a gerar alternativas criativas e econômicas.
Um exemplo explicativo e eloquente tem início com o descumprimento da legisla-
ção, por parte de uma empresa ligada ao governo, de economia mista. As tratativas
entre os diversos agentes públicos num primeiro momento permitiram o ajuste e
possibilitaram que o empreendimento em sua segunda fase fosse desenvolvido se-
guindo os procedimentos normativos previstos. A empresa – com a observância às
normas e com o conhecimento adquirido no trecho anterior – pode neste segundo
momento diminuir custos operativos e reduzir o tempo de execução da obra.

7. Caso Emblemático: Trecho Oeste do Rodoanel Metropolitano de São Paulo


O governo do Estado de São Paulo idealizou o projeto do Rodoanel para circundar
toda a Grande São Paulo, interligando as rodovias que chegam à capital: Bandei-
rantes, Anhanguera, Castello Branco, Raposo Tavares, Régis Bittencourt, Anchie-
ta, Imigrantes, Ayrton Senna, Fernão Dias e Dutra, com o objetivo de evitar o
trânsito de veículos de carga, diminuindo assim os congestionamentos da cidade.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 57

O empreendimento foi dividido em quatro trechos (Norte, Sul, Leste e Oeste).


Optou-se por iniciar a construção do trecho Oeste após a comprovação da sua
prioridade e importância, sobretudo pela característica de possibilitar e promover
a interligação viária com o maior número de grandes rodovias.
O licenciamento ambiental do Trecho Oeste do Rodoanel foi individualizado
após aprovação de um RAP – Relatório Ambiental Preliminar, desenvolvido para
todo o empreendimento.

• O Problema
O Iphan tomou conhecimento por meio da mídia da implantação do Rodoanel
Mário Covas, quando este já estava em obras.
Veriicando não possuir nenhuma documentação em seus arquivos sobre esse li-
cenciamento sob o âmbito arqueológico, a Instituição solicitou a empresa res-
ponsável pelo empreendimento providências no sentido de regularizar a questão.

• Indicações e Providências
Assim determinou que se procedessem aos estudos arqueológicos necessários para
dimensionar e reconhecer o impacto ambiental causado ao patrimônio arqueoló-
gico em decorrência da implantação do empreendimento.
O estudo realizado denominou-se “Programa de Dimensionamento e Valoração
Cientíica do Patrimônio Arqueológico do Rodoanel Metropolitano Trecho Oes-
te, Estado de São Paulo”, para o qual foi instaurado o processo administrativo
Iphan n.º 01506000184/01-79, em julho de 2001.
Apesar de o patrimônio arqueológico já haver sofrido impactos negativos devido
às obras de engenharia para implantação do Rodoanel, no trecho oeste, foi soli-
citado pelo Iphan à Desenvolvimento Rodoviário S.A. – Dersa, responsável pela
execução do empreendimento, que contratasse uma empresa de arqueologia para
realizar um estudo com o objetivo de estabelecer – por meio de parâmetros e
métodos cientíicos das disciplinas da Arqueologia e da História – a análise desse
patrimônio. Ao projeto deu-se o nome de Dimensionamento e Valoração Cien-
tiica do Patrimônio Arqueológico e Histórico do Rodoanel, e a justiicativa para
a análise fundamentou-se no conceito básico de que “o comportamento huma-
no ocorre na forma de padrões e sequências, deinidos segundo as características
58 • IPHAN

históricas e sociais dos grupos tratados. Assim a Arqueologia (tanto pré-colonial


quanto àquela realizada em assentamentos historicamente conhecidos) é capaz
de recuperar contextos extintos de ocupação humana, através da identiicação e
caracterização de seus padrões culturais” (Gonzalez, Zanettini 2002).

Para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, utilizaram como ferramentas de


estudo conceituação e procedimentos cientíicos internacionais, critérios Iphan
de mensuração (Ficha CNSA/Iphan), critérios de trilha de consultoria, por meio
de controle homens/hora, registro de atividades, ichas de cadastro, banco de
imagens, vistorias e aferições de cada etapa do Projeto.

Dando prosseguimento, foi desenvolvida a contextualização regional do patrimô-


nio arqueológico histórico com o objetivo de identiicar, avaliar e propor alter-
nativas de tratamento ao Patrimônio Arqueológico e Histórico presente em uma
área especíica: o Trecho Oeste do Rodoanel.

A validade cientíica da análise teve como parâmetro o contexto mais amplo de


ocupações humanas em que a área se insere (contexto local e regional), funda-
mentando a busca do vestígio arqueológico no seu conteúdo sociológico. Assim
sendo, ao atribuir ao vestígio arqueológico um signiicado histórico-social, poder-
-se-ia deinir a ocorrência que se denomina de “patrimônio cultural”. Foram re-
alizadas a identiicação e a classiicação dos vestígios que eram remanescentes da
cultura material local, que segundo a pesquisa, apreciou:

– o fator de exclusividade/recorrência que os vestígios no trecho oeste do Rodoa-


nel apresentam em relação ao patrimônio dos municípios envolvidos;

– o nível de pesquisa e de conhecimento já produzido sobre estes vestígios (ou


vestígios similares) em nível regional.

Com base nesses conceitos, a opção metodológica adotada foi a de elaborar um


“Quadro Regional de Ocupação”, que deiniu cenários amplos de ocorrência da
ocupação humana ao longo do tempo, para os municípios de São Paulo, Osasco,
Carapicuíba, Cotia, Embu, Santana de Parnaíba, Barueri e Taboão da Serra, abar-
cados pelo projeto do Rodoanel em execução.

A análise resultou na identiicação e cadastramento de 41 bens culturais localiza-


dos no trecho correspondente ao traçado do trecho em estudo.

O trabalho de pesquisa realizado comprovou a existência de patrimônio arque-


ológico no local do empreendimento, conirmando o dano ambiental veriicado
em função da falta de estudos arqueológicos prévios para sua implantação.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 59

Assim, comprovado o dano ao patrimônio arqueológico, bem difuso e patrimô-


nio da coletividade, impôs-se a necessidade de ressarcimento. O destempo – ob-
servado entre a execução das obras e o estudo – foi extremamente prejudicial,
visto que se houvesse a observância da legislação seria possível evitar essa perda.
Desta feita, tendo em vista o impacto constatado ao patrimônio arqueológico,
comprovou-se, portanto, relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o
dano causado. Dessa forma, coube à Dersa responder pelo prejuízo causado ao
patrimônio arqueológico a todos os que tiveram seus direitos lesados, buscando-
se, dessa forma, o ressarcimento do patrimônio coletivo.
Foi irmado em fevereiro de 2002 um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC,
entre a Dersa e o Iphan, com o acompanhamento do Ministério Público Federal,
que contemplou a realização de Medidas Mitigadoras e Compensatórias.
Como Medidas Mitigadoras estabeleceu-se a realização de programas de pesqui-
sa/resgate para identiicação de vestígios arqueológicos e históricos, na área do
Trecho Oeste do Rodoanel, considerando: o valor cientíico dos bens culturais
identiicados e o potencial cientíico oferecido pela área; bem como o desenvolvi-
mento de ações educativas e de conhecimento, visando externar o conhecimento
obtido por intermédio das pesquisas e o resgate dos vestígios existentes.
Como Medidas Compensatórias se determinou a realização de Programa de Edu-
cação Patrimonial (exposições itinerantes nas escolas e centros comunitários da
região), a realização de uma publicação e a Instalação do Museu de Arqueologia
Regional em Carapicuíba (área do antigo Sanatório da Aldeia de Carapicuíba) e o
restauro dos Bens Tombados: Sitio Mandu e Sitio do Padre Inácio.
Durante o tempo em que o Trecho Oeste permaneceu em obras a Dersa esteve
também atendendo as cláusulas do Termo de Ajuste de Conduta irmado.
Esse relacionamento mais próximo entre a empresa e o órgão licenciador permitiu
a melhor compreensão dos trâmites arqueológicos. A Dersa mostrou-se parceira
da Instituição e realizou todos os estudos necessários para preservação do patri-
mônio arqueológico necessários à implantação do empreendimento. O Trecho
Oeste do Rodoanel foi inaugurado em 2002.
A empresa para implantação do trecho subsequente, o Sul, inaugurado em março
de 2010, cumpriu com todas as exigências para a preservação e salvaguarda do
patrimônio arqueológico.
Deve ser registrado aqui que as empresas de maneira geral, após terem passado
por esse processo de ajustamento de conduta, começam, a atender a legislação
atinente ao caso e a licenciar o empreendimento com mais cuidados.
60 • IPHAN

Entretanto o mais importante é encontrar soluções preventivas, como, por exem-


plo, maior divulgação dos procedimentos necessários ao licenciamento, utilizan-
do informativos, cartilhas, meio eletrônico ou publicações elaboradas pelos órgãos
públicos a serem distribuídos aos empreendedores ou interessados na questão.
Outro importante fator a ser observado é a necessidade de se estabelecer políticas
públicas para preservação, proteção, iscalização e suporte ao patrimônio cultural.
Uma empresa de economia mista gasta também o dinheiro do mesmo contri-
buinte que foi lesado pela perda do patrimônio impactado para mitigar e com-
pensar o dano a esse patrimônio, conigurando desperdício de dinheiro público.
Questiona-se a própria impotência da Dersa como participante desse processo
modiicador da ambiência urbana, de não ter um processo de planejamento me-
tropolitano continuado, mas estanque, sujeito às mudanças governamentais, em
que se perde o controle da expansão da mancha urbana, e o tempo correto de
implantação de um serviço importante para a coletividade, que não acarrete mui-
ta mudança na feição da cidade, e, por conseguinte no seu patrimônio cultural.
Ao contrário espera-se que este venha a se apresentar como fator catalisador de
políticas ambientais. Ressalva-se que quando uma empresa realiza uma atividade
de risco ambiental ela está sujeita a causar danos, não importando o fato de estar
ou não atuando dentro dos padrões exigidos pela legislação.
Entretanto, um dos instrumentos que podem ajudar a promover um desenvolvi-
mento sustentável é a responsabilidade social desta empresa. A política organiza-
cional da Dersa demonstra, hoje em dia, um compromisso com o desenvolvimen-
to sustentável, por meio da responsabilidade social.

8. Conclusão
A gestão do patrimônio arqueológico brasileiro tem se defrontado com diversos
passivos que necessitam de maior atenção por parte de seus atores para a deinição
de novos parâmetros:
• A questão dos acervos gerados pelas pesquisas em número crescente so-
bretudo, em função da nova modalidade de arqueologia de contrato.
A quem cabe a manutenção desses acervos? O que deve ser guardado? Onde
e como manter, visto os museus não terem mais espaço físico disponível para
a guarda? Como expor um bem sem qualidade expositiva (de maneira geral as
pessoas têm uma concepção de belo, e não querem ver fragmentos de peças; de-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 61

sejam visualizar elementos compreensíveis ao seu entendimento). Pode ser feito o


descarte? Em que momento deve ser realizado? E como se daria este descarte, que
tipo de elementos de um sítio arqueológico se pode airmar que não tem valor?

• Os sítios arqueológicos brasileiros devem ter garantidas a sua conserva-


ção, proteção e salvaguarda.

A quem cabe o ônus da proteção de um sítio arqueológico que se encontra em


propriedade privada? Como garantir o acesso à visitação desse local? Como criar
o sentimento de pertencimento da população que habita no entorno desse bem?
Como buscar instrumentos que possibilitem a sua sustentabilidade?

• Arqueologia e seus segmentos

A nossa legislação é bastante competente no tocante a sitios pré-historicos, porém


como encaminhar a questão referente aos povos indigenas que têm seus utensílios
que usam no dia a dia e que pertenciam a seus antepassados arrolados como acervo
arqueológico (a ética em arqueologia preventiva; ver artigo Trifonov neste livro).

A arqueologia histórica se defronta com percalços no tocante ao seu enquadra-


mento legal. A normatização do patrimônio arqueológico se fundamentou no có-
digo de mineração brasileira, acarretando uma atenção fortemente voltada para o
subsolo que atende adequadamente aos bens anteriores ao período cabralino. Os
bens que se encontram em supericie e são de periodos mais recentes, posteriores a
1500, apresentam questões ainda a serem resolvidas no que se refere a proprieda-
de, atribuição de valor e deinição para se tornar um patrimônio arqueologico his-
tórico. Para o segmento da arqueologia subaquática, todos os bens arqueológicos
submersos que se encontram depositado nos fundões marinhos e luviais devem
ter seus procedimentos deinidos em função da manutenção de sua integridade
uma vez que sua tutela é compartilhada entre dois entes governamentais (ver ar-
tigo Dimitriadis, neste livro).

• Arqueologia versus Turismo

Tecer relexões sobre a importância dos recursos econômicos e sociais derivados


de um turismo ecossustentável e ecocompatível, suas implicações sobre sua con-
servação e preservação. (ver Introdução neste livro).

• Intercâmbio do patrimônio arqueológico e do controle, repressão e re-


patriamento dos objetos oriundos de pesquisas clandestinas ou outras operações
consideradas ilícitas.
62 • IPHAN

Como realizar a extroversão do patrimônio a im de possibilitar o intercâmbio de


acervo para divulgação, pesquisa e estudo? Como estimular a sociedade interes-
sada neste assunto a cooperar e contribuir na reunião do acervo que se encontra
disperso nas mãos de particulares que por desconhecimento ou por herança estão
com a posse desses bens? Como repatriar objetos culturais e arqueológicos quan-
do ainda não possuímos um cadastro nacional desses bens (CNSA) completa-
mente funcional e atualizado com as modernas tecnologias que permitam que as
informações estejam acessíveis aos órgãos responsáveis pela sua tutela? (Campos
de Souza 2006:146)
• Arqueologia acadêmica e contratual – a atuação dos proissionais e inclu-
são dos amadores
O ritmo acelerado da economia e a prioridade de modernização e crescimento
das infraestruturas do País tem promovido o aparecimento de empresas de ar-
queologia por contrato para atender às necessidades da realização de projetos de
avaliação de impactos sobre o patrimônio arqueológico. As pesquisas devem ser
realizadas de forma ágil, porém correta, utilizando metodologias cientiicamente
preconizadas. A nova modalidade entra em choque com as pesquisas acadêmicas?
Existe como compatibilizá-las? As instituições de ensino podem realizar arqueo-
logia de contrato e competir com essas empresas? Qual o papel do proissional
dessa área, na falta de uma ordem dos arqueólogos? Como aproximar os amadores
e amantes da arqueologia transformando-os em guardiões desse patrimônio?
Estes são alguns dos desaios que se apresentam à Gestão e Mediação do Patrimô-
nio Cultural Arqueológico no cenário brasileiro.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 63

Bibliograia

Bachelard, G. 1961. La Poétique de l’espace. Paris : PUF.

Barret, G.S. et al. 1976. Estress ecology. In: Bioecology, 26:192-194.

Bastos, R.L. 2001. Patrimônio Arqueológico: Impactos Cumulativos. In : Anais


da XI Reunião Cientíica da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), Rio
de Janeiro/RJ.

Bennett, R.J.; E Chorley, R.J. 1978. Environmental systems: philosophy, analysis


and control. Princeton, Princeton University Press.

Bruhns, K. 2004. Projeto Teórico-metodológico de Educação Patrimonial. Estudo do


Patrimônio Arqueológico, Arquitetônico e Paisagístico da área de inluência da
LT 500 Kv – Bateias-Ibiúna/ PR-SP. SP: MAE/USP.

Baron, D. 2004. Alfabetização Cultural. A luta por uma nova humanidade. SP:
Alfarrábio. p. 419

Descartes, R. 1993. Méditations Métaphysiques. (tr. Michelle Beyssade), Paris: GF.


[1641. Meditationes de prima philosophia, in qua Dei existentia et animæ im-
mortalitas demonstratur].

Ferreira, Santos M. 2006. Oikós: topoilia, ancestralidade e ecossistema arque-


típico. Anais do XIV Ciclo de Estudos sobre o Imaginário – Congresso Inter-
nacional: As dimensões imaginárias da natureza. Recife: UFPE/Associação
Ylê Setí.

Ferreira, Santos M. (2006a). Arqueoilia: O vestigium na prática arqueológica e


junguiana, In: CALLIA, M. & OLIVEIRA, M.F. (orgs.) Terra Brasilis: pré-
história e arqueologia da psique. São Paulo: Paulus, Moitará, pp. 125-182.

Gonzales, E. , Zanettini, P. 2002. Projeto de Dimensionamento e Valoração


Cientiica do Patrimônio Arqueológico e Histórico do Rodoanel (tra-
balho de Arqueologia Preventiva realizado para as obras do “Rodoanel”
– Iphan)

Jára, Carlos J. 2001. As Dimensões Intangíveis do Desenvolvimento Sustentável. Bra-


sília: Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

Holling, C.S. 1978. Adaptive environmental – assessment and management. New


York: John Wiley & Sons.
64 • IPHAN

Holling, C.S. 1988. Risilence and stability of ecological systems. In: Annal Re-
view of Ecology and of Ecology and Systematic. Vol. 4: 1-23.
Huggett, R. 1980. System Analysis in Geography. Oxford: Clarendon.
Musil, R. 1930-42. he Man Without Qualities [Der Mann ohne Eigenschaften].
Vienna.
Oosterbeek, L. 2000. A past for the future and a past for the present, IN: La Ges-
tione del Patrimonio Culturale - Atti del IV Colloquio Internazionale – Nuove
Tecnologie e Beni Culturali e Ambientali, Roma, DRI.
Oosterbeek, L. 2004. Arqueologia Pré-Histórica: entre a Cultura Material e o
Património Intangível. In: Cadernos do LEPAARQ, Pelotas: Brasil.
Rapport, D.J. et alii. 1985. Ecosystem behavior under stress. In: American Natu-
ralist. Vol. 125, n.5.
Spaling, H. 1996. Avaliação dos efeitos cumulativos – conceitos e princípios.
Seção Brasileira da IAIA – International Association for Impact Assessment.
Vol.1, n.2.
Tuan, Yi-Fu. 1980. Topophilia: A Study of Environmental Perception, Attitudes,
and Values. New York: Prentice-Hall.
Morro Velho: uma velha
história, um novo presente III
Fabiano Lopes

Introdução
Compete conceituar Patrimônio Histórico Cultural como “um bem material, na-
tural ou imóvel que possui signiicado e importância artística, cultural, religiosa,
documental ou estética para a sociedade”. Esses patrimônios foram construídos ou
produzidos pelas sociedades passadas, por isso representam importante fonte de
pesquisa e preservação cultural1. Com referência aos bens histórico-culturais produ-
zidos pelo homem, destaca-se a mina de Morro Velho, em Nova Lima, com possibi-
lidade de ser considerada Patrimônio Histórico Cultural, dentre inúmeros motivos,
porque descreve o passado da cidade que se desenvolveu junto à aluência inglesa e à
mineração. Por exemplo, a Casa Grande – mantida pela AngloGold Ashanti South
America – conta parte dessa história. É impossível, portanto, desvincular a tradi-
ção da cidade dos ingleses e da extração minerária, pois se trata de um conjugado
responsável pelo crescimento do local bem como pela formação de seus viventes do
passado e da atualidade, forjados pelo ciclos de mineração.
Assim diz (Burton 1976: 186) sobre Morro Velho: “A Mina de Morro Velho ini-
ciou um novo capítulo na história provincial, provando que, mesmo em circuns-
tâncias adversas, muita coisa pode ser feita, por homens em que a honestidade e a
energia se combinam com o conhecimento cientíico e prático de sua proissão; e
quero, terminando essa exposição, manifestar a convicção de que quase matamos
a galinha dos ovos de ouro, e que, até que seja mudado o atual procedimento, será
melhor deixar o ouro nas entranhas da terra2.”

1
http://crf.www.suapesquisa.com/o_que_e/patrimonio_historico.htm
2
Esta síntese do marco tecnológico representado pela exploração de Morro Velho pela St. John é bem ex-
plorada por LIBBY, 1984:73, quando, em seu Capítulo III, ele trata da Empresa St. John: racionalidade
capitalista. Ver também LIBBY, 1988:30
66 • IPHAN

O patrimônio, conforme ensina Poulot (2009), chama a atenção das energias


cidadãs em favor de uma cultura de um desenvolvimento local ou nacional em
função do turismo e das práticas mercantis do saber e do lazer. Ele ocupa, atu-
almente, posição privilegiada como registro de legitimidade cultural, como ele-
mento detonador das relexões sobre identidade e das políticas de vínculo social.
Assim o culto da herança, antes de ser concretizado por uma reduzida elite, deve
ser um compromisso coletivo; isso porque, a partir da década de 1960, a cultura
passou a englobar os mais diversos aspectos das práticas sociais, entrelaçando alta
e baixa culturas; surgindo a ideia de culturas múltiplas, propícias a alimentar e
fortalecer a pluralidade das identidades.
A mina de Morro Velho constitui uma paisagem biopolítica porque (Latour3,
apud Bastos & Souza 2008: 53) “natureza e cultura são formas de fazer política,
de reunir coisas em duas coletividades, por razões que vêm da modernidade”).
Daí depreende-se que o homem, na modernidade tecnológica, usou sua inteli-
gência numa visão unilateral, mais voltada para a exploração, não foi, portanto,
biopolítico, só enxergava a terra como um reservatório de recursos minerais. Essa
visão bilateral só surgiu a partir de novas necessidades prementes que a própria
natureza passou a lhe exigir para que sua vida não perdesse a qualidade como vem
ocorrendo, uma vez que antes sua visão era voltada, quase que inteiramente, pelo
fascínio de desbravar e conquistar.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Seminário
Internacional de Reabilitação Urbana, que abordou, dentre outros, a questão da
arqueologia aplicada ao processo de reabilitação, discutiu o assunto por meio de
algumas proposições, com o objetivo de contribuir para a deinição e conceito de
sítios arqueológicos históricos, tendo em vista a gestão e o manejo de áreas prote-
gidas ou não, sob a justiicativa de que os sítios arqueológicos estão situados em
áreas urbanas, podendo tanto ser históricos como pré-históricos. A Lei Federal
nº 3.924/61 é a que trata da proteção dos sítios arqueológicos, tanto da cidade
como no campo. Deinem o bem arqueológico: Capítulo II, item I do Decreto-
Lei nº 25/37 e o art. 2º da Lei Federal 3.924/61 e as Portarias Iphan nº 07/88 e
nº 230/02 tais como: a) sítio arqueológico histórico em áreas urbanas são espaços
geográicos delimitados pela presença de vestígios materiais oriundos do processo
de ocupação do território pós-contato; b) todas as estruturas, ruínas, ediicações
construídas com o objetivo de defesa ou ocupação (buracos, baterias militares,

3
FIORINI, Marcelo. De volta ao futuro. Entrevista: Bruno Latour. Cult – Revista Brasileira de Cultura.
Ano 12, nº 132, São Paulo: Bregantini, 2009.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 67

fortalezas e fortins); c) vestígios de infraestrutura (vias, ruas, caminhos, calçadas,


ruelas, praças, sistema de esgotamento de água e de esgotos, galerias, poços, aque-
dutos, fundações remanescentes, das mais diversas ediicações, dentre outras que
izeram parte do processo de ocupação iniciado nos núcleos urbanos e em outros
lugares); d) lugares e locais onde possam ser identiicados remanescentes de bata-
lhas históricas e quaisquer outras dimensões que envolvam combates; e) estrutu-
ras remanescentes de antigas fazendas, senzalas e engenhos de cana e farinha; f )
antigos cemitérios, quintais, jardins, pátios e heras; g) estruturas remanescentes
de processos industriais e manufatureiros; h) vestígios, estruturas e outros bens
que possam contribuir na compreensão da memória nacional pós-contato (Bastos
& Souza, 2008).

Morro Velho – história e caracterização


A mina de Morro Velho é resultado da exploração de ouro no Estado de Minas
Gerais, no século XIX, nas décadas de 20 e 30. Em 1834, a Saint John del Rey
Mining Company Limited, empresa de origem britânica, assumiu a administra-
ção da mina do Morro Velho, que, considerada na época decadente, tornou-se o
investimento inglês mais lucrativo do século na América Latina.
Essa empresa, após investimentos e insucessos em outros locais, realiza ativida-
des de mineração numa antiga fazenda da propriedade do padre Antônio Frei-
tas. Com os investimentos no local, “a área se tornou um verdadeiro canteiro de
obras, palco da instalação e desenvolvimento do maior projeto industrial capi-
talista inglês para extração de ouro instalado no país” (Andrade4, apud Deotti,
2007: 5). Os trabalhos de mineração lançaram as bases de um processo de franco
progresso e crescimento na cidade. O antigo arraial desmembrou-se do municí-
pio de Sabará e foi elevado à condição de vila, nos termos do Decreto nº 364, de
05/02/1891, no governo Bias Fortes, recebendo o nome de Villa Nova de Lima e,
no dia 29 de março de 1923, o nome de Nova Lima pela Lei nº 843, ica situada
na parte ocidental da Serra do Curral, na região metropolitana da capital mineira,
a 20 Km de Belo Horizonte.
Em 1850, os trabalhos da mina atingiram a produção de 1 tonelada e mantiveram
esse número até 1867. Em 1879, produziu 83% de todo o ouro explorado em mi-

4
Andrade, Antônio Luís de. Das entranhas da terra: disciplinamento, resistência e luta – a breve história
sobre a educação e cultura dos trabalhadores da mineração de ouro em Nova Lima – MG / Século XIX. Uni-
versidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, 2001, Dissertação de Mestrado.
68 • IPHAN

nas de propriedade de ingleses. Esse sucesso se explica porque eles se encontravam


em nível superior à atividade exercida pelos mineradores nativos e não pelo fato
de estarem na ponta da tecnologia da mineração. Trouxeram para o setor várias
modiicações técnicas como a pólvora, a amalgamação por mercúrio, a ventilação
no interior das minas, o transporte do minério por vagonetes e caçambas movi-
das por roda d’água, a redução do minério por pilões movimentados por força
hidráulica e, além disso, contribuíram para desenvolver a economia local, pois,
para sustentar as atividades, eram necessários: madeira para escoramento, carvão,
pólvora, tecido de algodão, óleo e velas para a iluminação, couro, tijolos, lenha,
cal, sabão, alimentos e instrumentos como ferragens, brocas, cravos, cabeças de
pilão, fornecidos pela fundição dirigida por Jean Monlevade, que foi a mais bem-
sucedida fábrica de ferro durante o período.

A temática deste trabalho consiste em abordar a exploração do solo e a necessi-


dade de uma política de preservação do espaço utilizado para que ele não pereça
e seja apenas uma lembrança de um período de desenvolvimento que loresceu e
passou e se justiica pelo fato de a arqueologia abrir espaço para conhecimentos
cientíicos; favorecer, fortalecer e desenvolver as comunidades no sentido de con-
tribuírem para preservação do sítio. De forma mais clara, conscientizar as comu-
nidades sobre o porquê da exploração da mina. É levando saberes ao público em
geral e, ao mesmo tempo, recebendo contribuições desse público que os arqueó-
logos propiciarão o construir de uma ciência menos verticalizada e possibilitadora
de uma verdadeira proteção dos artefatos.

Este artigo tem por objetivo, estudando o caso do sítio arqueológico de Morro
Velho, Nova Lima, Minas Gerais, reletir sobre o fazer cientíico da Arqueologia
e sua ligação com o fazer político; apontar e debater questões norteadoras da
Arqueologia Pública como ética e educação; levantar a contribuição que as ativi-
dades minerárias trouxeram para o município e seus moradores; mostrar por que
a arqueologia consiste, no caso da atividade de mineração, fazer do passado um
motor para a vida presente.

Da mina de Morro Velho, a partir de tudo o que ela constituiu para a comuni-
dade local e entorno, em termos políticos, socioeconômicos, educacionais e cul-
turais e com a certeza de sua inluência que ainda permanece pelo sincretismo de
raças que ali se miscigenaram durante décadas, icou um legado que jamais pode
ser esquecido. Essa é uma perspectiva que aqui se quer abrir. O manancial que
testemunha esse legado é, sem dúvida, a mina de Morro Velho, cujos trabalhos
nela desenvolvidos, em tempos áureos, não deixaram a cidade e a população – da
época nem a atual – imunes a sua existência.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 69

O testemunho dessa existência partirá tanto das leituras dos muitos discursos que
se cruzam nos textos sobre o assunto bem como do que restou como herança mul-
ticultural. Dessa forma a necessidade de relexões sobre vários eventos marcados
notadamente pela inter e transdisciplinaridade, principalmente teorias históricas
que preservam a memória da época e apontam também para a situação atual da
cidade, conjugadas com o corpus teórico da arqueologia:
1. o evento catastróico, como ruptura dos padrões coloniais e do novo paradigma
da industrialização, é o ponto unívoco do testemunho da existência da mina, uma
vez que ela lá se encontra como sinal de tudo o que existe no local na atualidade,
mesmo miscigenado com as diversas marcas do passado e dos tempos atuais, pois o
ouro, conforme Villela, (1998: 45): “atraiu para a cidade imigrantes de várias par-
tes do mundo, com destaque para espanhóis, italianos, franceses, libaneses, chine-
ses, além dos portugueses e ingleses, responsáveis pela colonização da região e pela
exploração das riquezas”. Essa contingência fez de Nova Lima um melting-pot5 de
raças e culturas. É importante mencionar a participação dos negros trazidos pelo
regime escravocrata. Eles constituíram a força na qual se apoiou todo o trabalho de
escavação e de extração do minério e dos grupos indígenas, muitos já escravizados
pelos bandeirantes paulistas; inclusive os procedentes de vilas, recôncavos e sertões
do Brasil; brancos, pardos e negros de cujo trabalho os dirigentes se serviram;
2. o evento histórico registra a necessidade da existência da exploração minerária,
dos tempos áureos dessa atividade, do esgotamento do manancial explorado e do
“esquecimento” desse desbravar que marcou gerações;
3. o evento arqueológico, a ser trabalhado, para recuperar a história de uma expe-
dição e exploração pioneiras que mudaram a sorte de Nova Lima e propiciar um
entendimento mais amplo do que a mina representou e representa para a cidade;
4. os eventos culturais, folclóricos e étnicos que se entremostram desde as histó-
rias fantasiosas de mortes dos garimpeiros para, muitas vezes, “ocultar a verdade”
ou de casos decorrentes da “efervescência típica de aglomerados urbanos de alta
densidade como lenocínio, incestos, cartomancias, jogos, tavolagens, danças su-
persticiosas, curandeirismo, benzeduras” (Minas Gerais, 2000: 15). Em 1940,
1,6% da população era constituída de estrangeiros, a qual, aliada à hegemonia
dos ingleses e negros africanos, contribuiu para que a localidade tivesse traços
culturais bem distintos das cidades históricas mineiras, o que seria considerado
uma distinção dentro do território estadual;

5
Lugar onde pessoas e ideias diferentes existem simultaneamente, misturando-se e produzindo novidades
constantemente.
70 • IPHAN

5. os eventos de lutas e superações do povo nova-limense, resultado dessa fusão hí-


brida de gerações, que diante do trabalho duro e das adversidades e até de atitudes
subservientes, geraram o traço político-revolucionário que emblema o município.
Um exemplo é o sindicato dos mineiros de Nova Lima, fundado na década de 30,
que se tornou, com seu peril combativo e organizativo, exemplo e modelo para ou-
tras organizações sindicais e se aliou a outras forças dentro e fora do País. Em meio
à adversidade e heterogeneidade, Nova Lima, num clima já de pertencimento, abriu
espaço de luta para superar poderosas forças de assujeitamento e homogeneização.
Em resumo, “[...] o mundo de Nova Lima é o fundo da mina e as relações que se
constituem a partir dessa realidade [...] com o ouro da população mineira é retra-
tado de outro modo, como memória dos mortos pelos vivos. É também um traço
cultural, culto dos mortos, das vidas suprimidas pela idolatria de homens” (Le Ven6
apud Magnani 2009: 49) . Nova Lima continha dentro de si um pedaço britânico
do qual os brasileiros não faziam parte. O carnaval, por exemplo, era para os nova-
limenses um momento de descontração e muito dessa época se relete na atualidade,
principalmente o Bloco dos Sujos que ainda existe7 (Grossi apud Magnani 2009).

Razões da preservação – conlitos


Nesta abordagem cabe focar a questão do testemunho. Seligman-Silva (2005: 84)
ensina que “a noção de testemunho primário é aplicado muitas vezes ao sobrevi-
vente”. Diz, ainda, que muitos autores empregam noções procedentes dos estudos
das obras desses relatores aos textos de testemunhas secundárias, partindo, por-
tanto, de uma noção que pertence mais à história oral e não ao uso jurídico do
conceito de testemunha. Trata-se de depoimento de alguém que sobreviveu aos
fatos ou a uma catástrofe e que não consegue por isso dar conta daquilo que pre-
senciou, é o chamado discurso do sobrevivente. No caso da verbalização literaliza-
da e fragmentada, ele airma que a primeira é marcada pela tensão entre oralidade
e escrita, pela incapacidade de traduzir o vivido em imagens e metáforas verbais;
a outra se caracteriza pela psique dividida do traumatizado, representando aquele
que se sente incapaz de traduzir os fatos em cadeia sequencial dos acontecimen-
tos. De toda a sorte, apesar dos muitos encapsulamentos dos relatos, a lembrança
é um momento ou uma tentativa de reunir todos os fragmentos sobre os fatos
de interesse contidos na memória e externá-los dando um contexto a eles, pela
necessidade de justiça e de preservação da história.

6
Le Ven, Michel M. Dazinho: um cristão nas minas. Belo Horizonte: CDI, 1998.
7
Grossi, Yonne de S. Mina de Morro Velho: a extração do homem. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 71

A memória, dentro dessa linha de pensamento, pode servir de documento; repre-


senta um papel de aglutinador entre os grupos sociais ou memória coletiva e os
fatos, o que ica entre o objetivo e o real, já que a história não é contada com o
início de um evento.
Como proceder para que essa história não se perca? Por que todo evento não
passa pela história de forma indelével? É importante recuperar o “esquecido”, a
cultura importada, um verdadeiro substrato difuso na contemporaneidade, ou
seja, a inluência e engenhosidade dos ingleses manifestadas na arte das edii-
cações, nos entremeios de outras construções; o registro da aplicação de novas
tecnologias trazidas de fora, decisivas para o crescimento e o progresso da cidade;
pela singularidade da própria história da mineração em Nova Lima, responsável
pela formação cultural do povo e que nele impregnou uma nova forma de enca-
rar a vida e os desaios, tudo isso alicerçado no passado. Daí a impossibilidade
de separar a vivência da época de seus efeitos até a atualidade. Cumpre trazer à
tona literaturas, intertextualidades, datas, personagens, contextos, locais, cenas,
conlitos, inluências e lembrar que é impossível relatar fatos exatamente como
eles ocorreram; sempre há – no iltro do responsável pelo relato ou da testemu-
nha – um toque de subjetivismo e de transformação dos fatos. Assim acontece na
história e na arqueologia.
É certo que a memória da mineração em Nova Lima deve ser preservada e valori-
zada. Mas como fazê-lo? A quem ela pertence? Que valor esse contexto histórico
tem hoje? Murta e Goodey (1995) explicam que o primeiro passo é conectar as
pessoas com o lugar para auxiliar na recuperação de bens culturais e da memória
como caminho possível para proteção das localidades e para a musealização de
territórios onde eles se fazem presentes.
O monumento existe, há uma latência de conhecimentos de três séculos que
não pode ser perdida e, em consequência, cair no esquecimento. Essa cultura, no
entanto, material, imaterial e tecnológica, ica obliterada à espera de uma ação
de iniciativa privada para alavancar esse depositário histórico de conhecimentos.
Precisa-se reconhecer que patrimônio cultural e social não pertence a um só pro-
prietário ou a um grupo, é de toda região, mesmo se tratando de um bem ainda
não tombado; é coletivo e, consequentemente, de interesse difuso, sendo, portan-
to, necessária uma participação do Estado.
A experiência mostra, também, que só se protege o que se ama e ama-se e valori-
za-se o que se compreende e, só mediante a informação, a percepção e a emoção
na releitura dos acervos, abre-se um caminho para a proteção das localidades
onde o patrimônio histórico se faz presente. E como comprometer as pessoas
72 • IPHAN

com o estoque de conhecimentos? Somente educando-as, comprometendo-as,


pelo conhecimento, respeitando os locais e a cultura que ali transita. É impor-
tante informá-las sobre o ambiente, suas características, fauna, lora, geograia,
geologia, relações ecológicas, fatos relevantes de sua história, de sua cultura, da
formação das sociedades, peculiaridades, de tudo que possa ajudá-las a desvendar
e valorizar o patrimônio.
Esse acervo de conhecimentos deve ser apresentado de forma clara e em nível
apropriado dos informados, num contexto global, pois a história geológica de um
local faz parte da história da evolução da terra, marcada nos fósseis, rochas, mi-
nerais, relevo e paisagens. Este trabalho, além de investir na educação ambiental
e patrimonial, desperta também o interesse da pesquisa cientíica em várias áreas
das Geociências, da História e da Arqueologia.

O papel da arqueologia
As muitas passagens da história de Morro Velho desilam não só pelas mentes
daqueles que, ainda vivos, trabalharam na mina, pelos seus descendentes, pelos
moradores, em geral, de Nova Lima, pelos sinais da época visíveis na cidade, pelas
muitas pesquisas existentes e por tudo aquilo que ajuda a entender a sua impor-
tância. Apresentar essa história às gerações atuais e futuras não é tarefa fácil, mas
imprescindível, porque essa perspectiva abre a possibilidade de pôr em movimen-
to, de forma organizada, um rico ilão que colore e cobre a história da mina com
veios mais variados.
O complexo de Morro Velho, por constituir um sítio arqueológico, possui evidên-
cias materiais que necessitam ser divulgadas pelo seu valor histórico político-social,
educacional e cultural, cuja tutela não pode ser distanciada da nossa realidade, e a
arqueologia cumpre bem esse papel de recuperar espaços geográicos e geopolíticos
a partir do pano de fundo histórico que os circunda, que é a mineração. A impor-
tância do trabalho de recuperação da memória de Nova Lima, sob a orientação de
um programa de pesquisa e de tradução de um passado para os habitantes do local,
para Minas Gerais e para além das fronteiras do Brasil, não deixa dúvidas.
O que de Morro Velho deve ser lembrado/preservado? A paisagem e a memória
ao longo de quase duzentos anos, um sítio de mineração de grande porte que tem
a sua temporalidade registrada em distintas cronologias.
É inerente ao processo industrial, à sujeição a diferentes tecnologias e a va-
riados cenários decorrentes das modiicações da paisagem. A preservação tem
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 73

que combinar esses variados e complexos contextos fazendo-os falar cada um


de seu tempo.
A Arqueologia, na recuperação do passado, se municia da transdisciplinaridade,
busca na memória dos objetos (tangíveis) e memória individual e coletiva dos an-
tigos funcionários, na oralidade, os aspectos intangíveis suicientes para dar corpo
e emoção a esse passado. Uma vez que a cultura deve ser compreendida dialogi-
camente como resultado dos embates interculturais, seria legítimo aproximar essa
relação dialógica da atualidade. Isso porque a postura da Arqueologia, no caso
especíico de Morro Velho, é a abertura para as questões transnacionais, compre-
endida como o espaço da multietnicidade, e que se caracterizou pelas dimensões
de importação de técnicas do saber e capital estrangeiros dentro de uma visão do
trabalho de cunho capitalista.
O cenário, de contrastes e diversidades, é um grande artefato com suas diferentes
ideologias, hierarquias socioculturais, historicidade, à espera de que suas poten-
cialidades sejam trabalhadas mediante interpretações, análises explicativas e esse
alvo depende da carne, espírito e sangue do lugar/objeto pesquisado. No dizer
de Orser (1992), bons arqueólogos são aqueles que conseguem estudar questões
referentes a um sítio se puderem traduzir, além de suas questões históricas e an-
tropológicas, cultura e sociedade dos habitantes que ali nasceram, dormiam, tra-
balhavam e morreriam.
Pode-se dizer, metaforicamente, que o arqueólogo é o vate do passado; é ele quem
profetiza nossa proximidade do umbral da origem. A origem, segundo Seligman-
Silva (2005), é um corte no constante devir e restituição do passado e essa resti-
tuição se dá a partir de leituras e do diálogo intercultural, pois em todo o canto de
Nova Lima há manifestação de um testemunho que denuncia índices, impregna-
dos nas pessoas, da identidade da mineração extrativista, construções, tendências,
nomes e do “inglesismo” que se manifesta nos bairros nobres dos arredores da
cidade.
Além do turismo como fonte de renda, resgatam-se os aspectos da memória, da
identidade e da comunalidade que podem surgir com a ênfase dada à abertura
do sítio para o público em geral. O turismo, conjugado com educação patrimo-
nial, traz para o debate comum as múltiplas dimensões do social, como família,
escola, comunidade, trabalho, país, permitindo, assim, tratar os problemas do
mundo sociocultural de modo localizado e, ao mesmo tempo, globalizado. A
comunidade afetada se identiica com seu passado (memória dos artefatos que se
faz presença concreta e simbólica na vida cotidiana) e o (re)signiica no presente,
possibilitando levar aos outros as possíveis respostas que ela (comunidade) dá e
74 • IPHAN

deu às problematizações sociais. O lugar se torna global e, por isso, contribui para
o engendramento de uma teia complexa de signiicados, de sentidos, de perguntas
e de respostas. Um fulcro de leituras de mundo, que a arqueologia pode ajudar a
forjar e compreender (Morin 2000).

Conclusão
As trajetórias de Nova Lima e Saint John Del Rey Mining Company Limited, ao
longo de muitos anos, seguiram por um mesmo caminho, mesclando suas inlu-
ências, fato que se constata na atualidade. Percebe-se que a acelerada metropoli-
zação de Nova Lima se inscreve e é reletida em relações de poder internacionais
e em nível local. Tal situação, potencializada como forma de capital de caráter
transformador no território nova-limense, desde o século XVIII, no início como
isoladas empreitadas dos primeiros exploradores das minas, hoje é denotada como
uma remodelação do espaço sociopolítico e dos modos de vida e de se conceber
o mundo. Nesse sentido, a hibridação constituída de capital, estrangeirismo, tec-
nologia e diversidade cultural mineira deve ser usada para recompor uma trajetó-
ria instigante e ampla de modo a fundamentar o futuro da história patrimonial
arqueológica de Minas Gerais, Estado que contém sua gênese na mineração. As
questões geológicas que constituem um marco de consolidação cultural têm sua
preservação correspondente aos direitos coletivos por meio do identidário da pre-
servação dos direitos humanos de uma comunidade. Deve-se entender então pa-
trimônio, por meio de uma questão transdisciplinar, como uma preciosidade das
lavras, vestígios mineradores, mas também como empreendimento diversiicado
dentro de uma hierarquia social complexa, desde escravos aos maiores organiza-
dores da política econômica local. O tesouro maior é possibilitar, pelo resgate de
seu histórico na atual política de urbanização, a permanência humana na trans-
formação dos espaços e cultura existentes.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 75

Bibliograia
Bastos, Lopes R. & de Souza, Campos M. (org.) 2008. Normas e Gerenciamento
do Patrimônio Arqueológico. Iphan (2 ed.), São Paulo: Iphan.
Burton, R. 1976. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Ita-
tiaia/EDUSP, p.186.
Deotti, A. 2007. Evolução arquitetônica e ocupação espacial nos séculos XIX e XX, na
Mina de Morro Velho/ Nova Lima MG – Brasil.
Diário Oicial Minas Gerais. 2000. Imprensa Oicial, Belo Horizonte, p. 15.
Magnani, N. R. 2009. Subjetivações em Nova Lima: (trans)formações de uma cida-
de operária em acelerado processo de metropolização. Dissertação apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Mourão, H. A. 2009. Patrimônio cultural como um bem difuso. O direito ambiental
brasileiro e a defesa dos interesses coletivos por organizações não governamentais.
São Paulo: Del Rey.
Orser, Charles E. 1992. Introdução à arqueologia histórica. Belo Horizonte: Oi-
cina de Livros.
Paula, Lopes F. 1997. O espaço da morte nas minerações inglesas: o exemplo de Mor-
ro Velho. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, USP.
Ruchkys, U A. 2009. Geoparques e a Musealização do Território: um Estudo
Sobre o Quadrilátero Ferrífero. Revista do Instituto de Geociências – USP,
Geol. USP, Publ. espec., São Paulo, v. 5:35-46.

Bibliograia Online
Patrimônio Histórico. Disponível em (07/03/2010): http://crf.www.suapesquisa.
com/o_que_e/ patrimônio_histórico.htm.
Arqueología y comunidades
aborígenes en Argentina:
un trabajo en común
en Humahuaca, Jujuy IV
Lidia Clara García

T rabajamos en investigación arqueológica y etnoarqueológica en el Departa-


mento Humahuaca, Provincia de Jujuy, Argentina, desde 1986, a partir de
una beca de Perfeccionamiento CONICET. Ya antes habíamos analizado ma-
teriales en gabinete provenientes de sitios arqueológicos del lugar y publicado
sus resultados (García 1985 a y b, 1986). Paralelamente, desde la misma época
hasta 1990 trabajamos en el Departamento de Cochinoca, Jujuy, con la Misión
Arqueológica Francesa.
Esto nos ha permitido observar una serie de cambios a lo largo de casi veinti-
cinco años de trabajo en el lugar, incluyendo la relación con las Comunidades
Aborígenes. El marco general en el cual esto se desarrolla. La concepción que los
pobladores tienen sobre sí mismos, su pasado y la relación con el Estado Nacional
y los cientíicos.
Básicamente, nuestro trabajo se ha centrado en la microrregión Azul Pampa (As-
chero 1988) que incluye las localidades de Inca Cueva, Alto Sapagua y Horna-
ditas en sus ocupaciones Tardías. Todo esto se resume en un trabajo actual de
conjunto con los pobladores locales, que comentamos en el acápite inal.
78 • IPHAN

El marco normativo: Legislación sobre Patrimonio


Durante el XIV° Congreso Internacional de la UISPP realizado en Liège, Bélgi-
ca, en 2001, nos reirieron que su legislación de protección del patrimonio era
reciente. Esto nos sorprendió, ya que en Argentina existen leyes desde épocas
tempranas. Sin embargo, veremos que esto no siempre garantiza los resultados.
Por eso, para comenzar haremos una breve exégesis de la legislación en su historia,
seguidamente.
En 1912 se presentó ante el Congreso de la Nación el proyecto ley de yacimientos
arqueológicos y paleontológicos, que se convirtió en Ley Nacional N° 9.080 de
Ruinas y Yacimientos Arqueológicos y Paleontológicos, en 1913. La misma de-
fendía el patrimonio en todo el territorio del país y su decreto reglamentario fue
sancionado en 1921. Se ocupaba de los sitios de carácter cientíico, declarándolos
propiedad de la nación. En ella se establecía que el otorgamiento de permisos para
“utilizar o explotar” dichos yacimientos, correspondía al Ministerio de Justicia e
Instrucción Pública de la Nación, con el asesoramiento de la Dirección del Museo
Nacional de Historia Natural y del Museo Etnográico de la Facultad de Filosofía
y Letras (Universidad de Buenos Aires). Esta ley (muy escueta por cierto), en su
artículo 4° establecía que los permisos sólo podían ser concedidos a instituciones
cientíicas del país o del extranjero que demostraran que los llevarían a cabo con
propósitos de estudio y sin ines de especulación comercial (Endere 2000:48).
En 1940, se promulgó la Ley 12.665, de Defensa del Patrimonio Histórico y Ar-
tístico de la Nación, que creaba la Comisión Nacional de Monumentos, Museos
y Lugares Históricos de la Nación. Esta ley no hacía mención alguna a los sitios
arqueológicos ni derogaba la Ley 9.080. Con lo cual, ambas siguieron vigentes.
En 1968, se reformó el Código Civil de la Nación mediante la Ley N° 17.711
que estableció que las ruinas y yacimientos arqueológicos y paleontológicos de
interés cientíico, son bienes de dominio público y que pertenecen a la nación ó
a las provincias. Esto permitió a las provincias dictar sus propias normas de patri-
monio, ignorando la existencia de la Ley 9.080, ya que no existía una delegación
de las provincias al estado nacional en materia de yacimientos arqueológicos, con
lo que se interpretó que el estado federal y los estados particulares conservaban la
titularidad de dominio público de aquéllas ruinas y yacimientos que estuvieran
situados en sus ámbitos territoriales.
En 1973 se dicta la Ley de Ministerios N° 20.524, la cual estableció la compe-
tencia del Ministerio de Cultura y Educación de la Nación respecto de la tutela
del patrimonio cultural de la Nación. En consecuencia, se le otorgó la custo-
dia, conservación y registro de las riquezas artísticas, arqueológicas e históricas
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 79

de la Nación, airmando nuevamente la jurisdicción nacional de los mismos.


Posteriormente, se dejó en claro de manera práctica (no legal) que las provincias
tenían derecho de hacer sus propias normas y que el Estado solo tenía tutela sobre
ellos, entendiendo por ésto la protección jurídica o legal.

En 1994, la reforma de la Constitución Nacional dio un lugar a las comunidades


indígenas, y se estipuló que los acuerdos con otras naciones tenían jerarquía su-
perior a las leyes, con lo cual se ratiicaron la mayoría de las convenciones inter-
nacionales sobre patrimonio.

En general en Argentina, las provincias y los municipios tomaron a su cargo la sanción


de leyes especíicas para el control y manejo del patrimonio en sus territorios. Referi-
das a titularidades, expropiaciones, permisos, denuncias, inventarios, censos, registros,
autorizaciones, conservación, rescate, inanciación, penas por infracciones, etc.

Luego de una larga serie de intentos que pueden ser consultados en Endere
(2000) y Berberián (2009), incluso gestiones infructuosas de legislación na-
cional a través del Colegio de Graduados en Antropología, el CONICET, etc.,
para reformar la Ley 9.080, se sancionó la actual Ley N° 25.743, que deroga
la anterior. La misma, llamada de “Protección del Patrimonio Arqueológico
y Paleontológico”, fue promulgada por el Senado y la Cámara de Diputados
de la Nación Argentina, reunidos en el Congreso Nacional el 25 de junio de
2003 y publicada en el Boletín Oicial el 26 de junio del mismo año. Esta ley
establece en el artículo 1° del decreto reglamentario que la tutela de ambos
patrimonios (arqueológico y paleontológico) es responsabilidad exclusiva de
la nación. La responsabilidad por su tutela está a cargo de las provincias, la
ciudad autónoma de Buenos Aires y la nación, en sus respectivas jurisdic-
ciones. A nivel nacional, esto se efectiviza a través del Instituto Nacional
de Antropología y Pensamiento Latinoamericano (INAPL), dependiente del
Ministerio de Cultura y Educación de la Nación. De este Instituto dependen
todos los permisos para la exportación de bienes arqueológicos. Incluso en
relación a la exportación de carbón para realizar fechados radiocarbónicos en
el exterior, ya que no hay laboratorios con tecnología para AMS en Argentina.
Este Instituto, a través de la única irma de su Directora, es el que autoriza
por decreto cada exportación, para ser presentada ante las autoridades de la
Aduana Nacional. Con respecto a la tutela de todos los bienes arqueológicos y
paleontológicos en toda la nación, parece existir una discusión con respecto a
cuál es la justicia que debe intervenir en caso de robo o daño, si la federal ó las
provinciales. Berberián (2009:53), considera que la jurisdicción para juzgar
los delitos es provincial y lo excepcional es lo contrario.
80 • IPHAN

Sin embargo, esta ley no contempla el derecho participativo de las comunidades


indígenas en relación a su patrimonio cultural. Y mucha de la legislación provin-
cial, la contempla.
Endere (2000) vincula las legislaciones que se dieron históricamente con los pa-
radigmas teóricos vigentes y la situación política del país hasta ese año (previo a
la sanción de la ley actual). Todos estos problemas históricos con la legislación y
gestión sobre patrimonio arqueológico, han sido discutidos recientemente (En-
dere y Rolandi 2007). Las autoras reieren los casos de comercialización de piezas
arqueológicas, ó su recuperación sin criterios cientíicos en todo el país previas
a la sanción de la ley actualmente en vigencia. A su vez, en el último trabajo de
Berberián (2009), quien hiciera su tesis doctoral sobre patrimonio, se discute
básicamente esta última Ley N° 25.743. Así como las legislaciones provinciales y
hasta especiales que trataremos seguidamente en un caso particular. Sin embargo,
como veremos, la provincia de Jujuy tiene legislación adicional que no ha sido
incorporada en esos trabajos y que en general no se conoce.

Legislación básica y adicional de la Provincia de Jujuy al tema, y en 1997


En 1982 se promulgó la Ley N° 3.866 de Patrimonio Cultural. También la Cons-
titución de la Provincia de Jujuy, de 1986, hace referencia al tema y en 1997, se
dicta la Ley N° 4.982 de la Provincia de Jujuy sobre Política Cultural.
La legislación vigente puede ser consultada en la misma Secretaría de Turismo y
Cultura de la Pcia. de Jujuy, de la cual depende la Dirección de Antropología y
Folklore, que es la que otorga los permisos. Donde se nos facilitó documentación
que deteminaba de Inca Cueva y Sapagua (parte de la Microrregión Azul Pampa,
de la cual hablaremos como caso de estudio) en el departamento de Humahuaca,
así como Doncellas en el departamento de Cochinoca, eran declarados de interés
provincial en cuanto a su preservación y protección de acuerdo a la Ley N° 4.259,
de 1986, provincial. Esta ley, que incluso igura en el Boletín Oicial de la Pro-
vincia de Jujuy, N° 48 de abril de 1987, no está en ninguna de las exégesis con
respecto a legislación nacional citadas anteriormente (que incluyen las provincia-
les). También por fuerza de Ley N° 4.126, de 1984, se había creado el “parque
arqueológico de Coctaca”, incluyendo las ruinas arqueológicas y zonas adyacentes
ubicadas en los sitios denominados Antigal, Coctaca, Cerro Negro y Coronco, al
este de esta microrregión. Esta última ley salió publicada en el Boletín Oicial de
la Pcia. de Jujuy N° 85, en 1985. Estas leyes preveían que la entonces Secretaría
de Educación y Cultura (hoy Turismo y Cultura), a través del Departamento de
Antropología y Folklore, coordinaran las acciones tendientes a lograr la preserva-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 81

ción y protección de estos sitios. Y en el caso de Coctaca, declaraban de utilidad


pública y sujeto a expropiación los inmuebles que fueran necesarios para la for-
mación del Parque Arqueológico de Coctaca. Establecieron también que el Poder
Ejecutivo designaría al organismo y autoridad de aplicación, el que tendría a su
cargo el cuidado y la preservación del Parque Arqueológico de Coctaca y dictaría
las disposiciones reglamentarias.
En julio de 2003, la UNESCO declaró en París, Francia, a la quebrada de Hu-
mahuaca como Patrimonio Natural y Cultural de la Humanidad. No se realizó
ningún estudio previo de antropología social, ni se trabajó de ninguna manera
con los habitantes. A partir de ese momento, sucedieron muchos cambios. Po-
bladores locales organizados tradicionalmente colonizando distintos ambientes a
través de sus familias extensas, comenzaron a organizarse en Comunidades Aborí-
genes. Algunos que vivían en otras regiones, regresaron. Y se abocaron a tratar de
delimitar sus territorios y sus riquezas. Lo cual dividió microrregiones y regiones
que anteriormente se complementaban. Particularmente en la microrregión Azul
Pampa, se organizaron cuatro la Comunidades Aborígenes.
Recientemente ( noviembre de 2009) la agencia Télam informó que Jujuy recibirá
apoyo de la UBA para el Patrimonio Arqueológico. Según el informe, la provincia
de Jujuy irmó un acuerdo de cooperación con la Universidad de Buenos Aires
(UBA) y recibirá apoyo técnico vinculado con su patrimonio arqueológico a través
de la Facultad de Filosofía y Letras. La cooperación mutua consistirá en la iden-
tiicación, registro, producción, conservación, divulgación y puesta en valor del
patrimonio Arqueológico de la Quebrada de Humahuaca. Esto incluye los bienes
patrimoniales que sean hallados en rescates. Los mismos permanecerán bajo la
custodia del Instituto Interdisciplinario Tilcara, dependiente de la Facultad de
Filosofía y Letras de la UBA y se conformará una Unidad de Coordinación inte-
grada por el responsable del Departamento de Antropología y Folclore de la Pcia.
de Jujuy junto a la directora del Instituto Interdisciplinario Tilcara.

Las Comunidades Aborígenes


Históricamente, la Constitución Argentina de 1853, les negaba su condición de
Ciudadanos de la Nación. Especíicamente hablaba de que el Congreso Nacional
debía “proveer a la seguridad de las fronteras, conservar el trato pacíico con los
indios y promover la conversión de ellos al catolicismo” (art. 67, inciso 15).
La Reforma de la Constitución Nacional de 1949, fue derogada por la revolución
de 1955 que destituyó al segundo gobierno del Gral. Perón.
82 • IPHAN

En 1985, se sancionó la Ley Nacional 23.302 de política indígena y apoyo a


las comunidades aborígenes. Se creó el Instituto Nacional de Asuntos Indígenas
(INAI), cuyo funcionamiento se organizó luego de la reglamentación de la ley, en
1989. Esta ley reconoció la personería jurídica a muchas agrupaciones.
Pero recién en 1994, la reforma de la Constitución Nacional dio un lugar a las co-
munidades indígenas. En su artículo 75, inciso 17, reconoce la preexistencia étnica y
cultural de los pueblos indígenas. Garantiza una educación bilingüe y sus derechos a
la identidad. Establece los de posesión y propiedad de sus tierras tradicionales, y ga-
rantiza la personería jurídica a sus comunidades así como la participación en la gestión
de todo tema que los afecte, incluyendo los recursos naturales.
Y inalmente a ines del año 2001, se sancionó la Ley Nacional 25.517, tra-
tando de manera especíica los derechos de las comunidades indígenas en
relación con la comunidad académica. Consta de cinco artículos en los que
se establece que los restos mortales de aborígenes deberán ser puestos a dis-
posición de las comunidades de pertenencia que los reclame, mientras que
aquéllos que no lo sean, podrán seguir a disposición de las instituciones que
los albergan. También, que para realizarse todo emprendimiento cientíico
que tenga por objeto a las comunidades aborígenes, incluyendo su patrimo-
nio histórico y cultural, deberá contarse con el expreso consentimiento de las
comunidades interesadas. La misma sin embargo, no ha sido reglamentada
(Endere y Rolandi 2007: 41).
Aplicaciones concretas de la legislación en nuestra área de investigación.
Problemas locales
La quebrada de Sapagua, Departamento de Humahuaca, Provincia de Jujuy, Ar-
gentina, forma parte de la microrregión Azul Pampa mencionada en Introduc-
ción. El yacimiento de Inca Cueva, que integra esta microrregión hacia el oeste,
presenta pictografías de todos los grupos estilísticos deinidos por A. Aschero
(1979) dentro de una secuencia temporal que abarca desde el Arcaico hasta la
época de contacto hispano-indígena. Los trabajos se realizaron en este sentido bá-
sicamente en la cueva 1, pero varias otras cuevas y aleros de esta quebrada, presen-
tan pictografías de los diferentes grupos estilísticos sucesivos. Y la investigación
arqueológica local ha presentado resultados de la mayor profundidad temporal
para todo el Noroeste Argentino, hasta ca. 10.000 años antes del presente.
A su vez, en Los Pintados de Sapagua, hacia el este, se encuentra arte rupestre
grabado vinculado estilísticamente al anterior. Conectando ambos, se encuentra
el llamado camino de carretas, incaico, que probablemente haya sido planteado
sobre trazados anteriores, comunicando las principales localidades entre sí. Tam-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 83

bién es esperable que esta vía haya sido utilizada para el paso de caravanas que
intercambiaban bienes a nivel prehispánico, estando en el recuerdo de los pobla-
dores locales su vigencia hasta épocas actuales. En Alto Sapagua hay vestigios de
ocupación humana desde el Formativo inal hasta la actualidad. Hacia el este aún,
se encuentra la localidad de Hornaditas, con el Pukará y el Pueblo Viejo, llegando
su ocupación hasta épocas incaicas.
Con respecto a la protección, en el caso de Inca Cueva, hubo muchos asesora-
mientos a las autoridades provinciales, incluso de nuestra parte, conjuntamente
con nuestro director, C. Aschero, durante el período de becaria de perfecciona-
miento CONICET. Incluyendo trabajo de campo en un sector de Inca Cueva
cueva 1 (ICc1) donde la Dirección de Monumentos, Museos y Lugares Histó-
ricos de la Nación, había previsto la colocación de una reja. Nosotros habíamos
realizado los sondeos en el talud de ICc1 durante la campaña de 1987. Con pos-
terioridad, la Provincia mejoró un camino para llegar al sitio desde Hornaditas, a
través de la quebrada de Sapagua.
En 1998, un gasoducto atravesó toda la Microrregión Azul Pampa (Coctaca-Ro-
dero-Hornaditas, Sapagua, Alto Sapagua, Inca Cueva), donde teníamos permisos
de trabajo vigentes y un Proyecto Estímulo a la Investigación (PEI CONICET en
curso), sin que se nos consultara, ni se nos diera luego la información recuperada
(García & Ramundo 2002). En cambio, se nos solicitó un informe del daño
producido en el Antigal de Alto Sapagua antes de otorgarnos los permisos para la
campaña que realizábamos ese año, cuando observamos lo sucedido. Las autori-
dades no habían podido hacerse presentes en el lugar para controlar.
A comienzos de 2006, propusimos a las autoridades de la Dirección de An-
tropología y Folklore de la provincia, trabajar en la formación de guías y un
centro interpretativo para proteger los petroglifos de Sapagua. El curso de guías
se llevaría a cabo en las instalaciones del Instituto Interdisciplinario Tilcara.
Se nos informó que se había realizado una protección para un guía que podía
ampliarse para crear un centro interpretativo en proximidades del sitio. Y se nos
solicitó vincularlo con la protección prevista para la quebrada de Inca Cueva.
Finalmente, luego de un asesoramiento por parte del INAPL (Rolandi et al 2006),
la Provincia colocó una reja y pasarelas en ICc1, pero cuando visitamos el sitio
durante nuestra campaña 2007, pudimos observar que esto era todo lo que se ha-
bía realizado. Quedando el sitio llamativamente señalado por una reja perimetral
que modiica el paisaje, y parapetos con baranda, pero abierto. La diferencia entre
este tipo de protección y manejo con lo observado en el Parque Nacional da Serra
da Capivara durante el Global Rock Art Congress 2009, es contrastante.
84 • IPHAN

En el informe a la Provincia luego publicado mencionado en el párrafo preceden-


te, se asesora que la protección sin un manejo que implique guías, cierre del ac-
ceso, cartelería, etc., sería contraproducente. Rolandi et al. estudian los daños en
el arte rupestre de ICc1, sitio donde Carlos Aschero trabajó en detalle las super-
posiciones del arte rupestre de toda esta quebrada que incluye varios otros sitios
con arte rupestre que no tienen protección (Aschero 1979 entre otros). Hacen un
informe de los daños por años, de acuerdo a las afectaciones directas, como los
graitis (obteniendo 20 fechas absolutas a partir de los mismos) y las indirectas
como fogones. El tipo de deterioro más grave antrópico es el primero menciona-
do, en carbón. Y se observa que la depredación se acelera en 1985-2003 (fechas
de los relevamientos por parte del equipo del INAPL marcadas en el documento).
El 52% (N: 43% de los daños para los cuales cuentan con cronología), fue reali-
zado con posterioridad a 1985. En los mismos, predominan abrumadoramente
los graiti. Los autores señalan “ una intensiicación de los deterioros a ines de la
década del 80’ y principios de la del ’90. A su vez, se observa otro pico en 1999
relacionado con la fecha de construcción del camino de servicio del Gasoducto
Norandino que pasa por el punto de inicio de las areniscas de la Formación Pir-
gua que facilitó el acceso al lugar” (Rolandi et al. 2006: 103).
Por otra parte, en la quebrada de Sapagua (“Los Pintados”, petroglifos en el cami-
no que une Hornaditas con Alto Sapagua en dirección a Inca Cueva), se hicieron
protecciones. La Dirección de Antropología y Folklore, con los miembros de la
comunidad aborígen de Hornaditas, pusieron un alambrado parcial al ingresar a
ese camino desde la ruta, y una tranquera. Por encima de la misma, hay un cartel
que señala que allí existen ruinas arqueológicas, bajo protección. Hay también
más adelante en el camino al ingresar un letrero, que señala “Los Pintados de
Sapagua”, que felizmente, indica bastante mal. Pero de todos modos, muchos
remises traen turistas desde la cercana localidad de Humahuaca a ver el sitio.
Los daños están a la orden del día. Hay también una protección de piedra con
alambre para desviar el río, que amenaza con borrar parte de los petroglifos que
están más bajos. Pero no hay cartelería, ni guías, ni tampoco un refugio para que
alguien se instale a cuidar el sitio. Solamente a la entrada, junto a la tranquera,
un cilindro sin techo de piedra, que serviría para que un niño esté parado dentro,
pero sin protección. No hay instalación para realizar un Centro Interpretativo
allí. En relación al arte rupestre, se observa una aceleración del deterioro con
respecto a cuando no había señalización, aunque no hay un estudio detallado al
respecto aún. Una conclusión obvia y conocida es que las protecciones a medias,
son contraproducentes.
En cuanto al Parque Arqueológico de Coctaca, nunca se realizó. Pero de la Comu-
nidad de Negra Muerta, situada en ese lugar, depende ahora Alto Sapagua, lugar
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 85

donde tenemos centradas actualmente nuestras investigaciones sobre las ocupa-


ciones agroalfareras en la región, con énfasis en el Formativo.
Otro problema es la pérdida de información y descontextualización de los ma-
teriales, incluído el arte rupestre. Un ejemplo de ello es el Museo Arqueológico
Municipal de Humahuaca. Donde en una visita que realizamos en 1994, algunas
piezas tenían carteles indicando su proveniencia de sitios bajo estudio como Hor-
naditas y Sapagua. Pero los inventarios no estaban a disposición. En una revisión
de su colección y ordenamiento reciente por parte de los investigadores del Insti-
tuto Interdisciplinario Tilcara, a través de un convenio con la Municipalidad de
Humahuaca, la mayoría de las piezas ya no tenían dichos carteles y los inventarios
no daban cuenta de la proveniencia de la mayoría de sus materiales. Incluso varios
bloques del arte rupestre de distintos sitios de la microrregión habían sido depo-
sitados allí sin datos de proveniencia. Indicándose solamente su orígen como de
Humahuaca, pero de sitio desconocido. Sin referencias de publicación ni datos
de hallazgo.

Nuestra experiencia y propuesta


Como dijimos anteriormente, comenzamos a trabajar formalmente en el terreno
en Azul Pampa y Sierra del Aguilar (con la Misión Arqueológica Francesa) en
1986, a partir de la obtención de una beca de Perfeccionamiento CONICET.
Particularmente en Azul Pampa, trabajamos en excavaciones en la quebrada de
Inca Cueva (de la cual anteriormente habíamos analizado instrumentos para ha-
cer fuego comparando con otros de Huachichocana y de la colección Doncellas
del Museo Etnográico Juan B. Ambrosetti, de la Facultad de Filosofía y Letras de
la UBA (García 1985).
Paralelamente, hicimos investigación etnoarqueológica en Inca Cueva, Alto Sapa-
gua y Hornaditas (García 1988, 2001). A través de la misma, hemos convivido
con las familias Lamas y Corimayo que nos alojaron en sus casas, nos llevaron
cargas en sus mulas y nos sirvieron de guías. El resultado de todo este trabajo fue
nuestra tesis doctoral (García 1998/9). Parte del trabajo etnoarqueológico fue
mapear los cuatro grupos de sitios que funcionaban (antes de la conformación de
las Comunidades Aborígenes) de manera complementaria entre sí.
En cuanto a los trabajos de investigación cientíicos, desde 1986 se realizan con el
aval de CONICET y UBA en el lugar, y permisos de la Dirección de Antropología
y Folklore de la Pcia. de Jujuy. Que depende de la Secretaría de Turismo y Cultura
de dicha provincia. Estas autoridades, luego de la sanción de la Ley N° 25743
86 • IPHAN

de 2003 también consultan al Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento


Latinoamericano (INALPL) para otorgarlos.
A pesar de ello, actualmente las Comunidades Aborígenes requieren que antes de
pedir permiso a la Provincia, se los consulte a ellos. Para lo cual, hay que hacer
una presentación escrita ante la Asamblea Comunitaria, y esperar su resolución.
Además, en nuestra experiencia concreta, el sitio que estudiamos actualmente,
ha pasado a depender de una nueva Comunidad (teniendo ya permiso de la an-
terior). Y aunque el Presidente Primo Guanuco de la Comunidad Aborígen de
Negra Muerta de la que depende el sitio actualmente otorgó el permiso que era
avalado por los pobladores que viven por encima del mismo hoy, para el año 2010
este Presidente ha cambiado. Por lo cual es necesario comenzar a gestionar los
permisos nuevamente con la Comunidad Aborígen respectiva, antes de solicitarlo
de las autoridades provinciales. Esto implica que no se pueda concretar una cam-
paña llevando estudiantes para colaborar directamente porque las gestiones en el
lugar duran a veces quince días. Y es necesario entonces realizar más de un viaje
de 2.000 Kms. de distancia para poder concretar el avance de las investigaciones.
Para ilustrar esta problemática, comentaremos lo que nos sucedió durante la
campaña 2006. Para realizar la misma, habíamos gestionado los permisos corres-
pondientes a las autoridades provinciales, enviando nuevamente todos nuestros
trabajos realizados en el lugar, que no estaban disponibles. De esta manera, ob-
tuvimos el permiso. El mismo hacía referencia a la ley provincial y a la nacional,
contemplando la protección, el registro y el aprovechamiento cientíico y cultural
del sitio. Considerando que los trabajos y resultados a obtener conformaban un
recurso potencial para el desarrollo sociocultural y económico de los pobladores
locales y esencialmente para gestionar la protección del complejo arqueológico
Inca Cueva en el marco del Plan de Gestión de la Quebrada de Humahuaca,
Paisaje Cultural de la Humanidad.
Sin embargo, al llegar a Alto Sapagua, se nos indicó por parte de los pobladores,
que teníamos que entrevistarnos con el presidente de la Comunidad Aborígen de
Hornaditas, de quien dependían. Que nos dijo que no habían sido consultados.
Y que no podíamos comenzar a trabajar sin su permiso. Por lo tanto, tuvimos que
hacer una carta de intención y esperar dos semanas a que se realizara la asamblea
de dicha Comunidad, ser invitadas profesora y estudiantes a la misma, previa eva-
luación de nuestro petitotio, y que inalmente lo resolviera la asamblea aborígen
en nuestra presencia, irmándonos en ese momento recién, el permiso correspon-
diente, con lo cual pudimos trabajar. Todas estas demoras y problemas fueron sol-
ventados con fondos del proyecto de investigación aprobado por la Universidad
de Buenos Aires y el CONICET.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 87

En dicha Asamblea Comunitaria Aborígen estaban presentes varios miembros de


la familia extensa que reocupa sitios en Inca Cueva, Alto Sapagua y Hornaditas
(Lamas), así como encontrábamos varias veces los apellidos Corimayo y Zapana,
que conocemos por el estudio de los árboles genealógicos de la familia extensa,
estudiados personalmente para los últimos 100 años. Todos ellos nos irmaron
dicha carta de intención, accediendo a que realizáramos los trabajos de investi-
gación previstos. Fue de mucha utilidad que conociéramos a muchos de los pre-
sentes por nuestros trabajos de etnoarqueología y arqueología en el lugar (García,
1988, 1988/9, 1998/9, 2001 entre otros) y que hubiéramos siempre entregado
copia de los mismos a los pobladores locales.
En deinitiva, en nuestra Microrregión se encuentran las Comunidades Aborí-
genes de Hornaditas, Negra Muerta, Azul Pampa y Tres Cruces. De estas dos
últimas depende la quebrada de Inca Cueva. De la de Hornaditas, el Pukará y el
Pueblo Viejo, así como los Petroglifos llamados “Los Pintados de Sapagua”. Y de
la Comunidad Aborígen de Negra Muerta, depende el Antigal de Alto Sapagua
ubicado entre estos últimos e Inca Cueva. Por lo tanto, actualmente, para realizar
cada campaña arqueológica, es necesario tener un permiso escrito de la Comuni-
dad Aborígen respectiva previamente.
A lo largo de todos estos años de trabajo, hemos podido constatar un cambio
signiicativo en todo sentido de parte de la familia de Paulina Lamas con la
cual hemos convivido mayormente. Al comienzo, en 1984 – 1986, había una
desconianza hacia nuestra persona, que salvábamos explicando nuestros intere-
ses. Pero no había ninguna participación en sus creencias originarias. Muchos de
esos signiicados (por ejemplo en relación al arte rupestre actual en las paredes del
interior del caserío disperso de Alto Sapagua), eran atribuídos a “los antiguos”
(García 1999). Las explicaciones sobre el momento de recoger el barro para hacer
cerámica en el año, se referían al clima, siendo que septiembre es el mes más ven-
toso del año además del que sucede al de la Pachamama en el cual se la alimenta
preferencialmente. Y nunca fuimos invitados a challar (hacer una ceremonia de
esta naturaleza conjuntamente con la familia en todos esos años, hasta que ésto
fue sugerido por el Sr. Primo Guanuco, de Negra Muerta, al ser presentados por
parte de Héctor Serafín Lamas. Ceremonia que hemos comenzado a compartir en
los últimos años, en los cuales ellos se auto deinen como indígenas ó aborígenes.
Y Héctor Serafín la preside.
De acuerdo a lo expresado en Legislación y El caso de la Provincia de Jujuy,
siempre nos atuvimos a las leyes provinciales. Solicitando permisos y entregan-
do inventarios e informes así como publicaciones de todos los resultados a sus
autoridades de aplicación. También, por una decisión propia, a los pobladores
88 • IPHAN

locales. Asimismo, entregaron en su momento todos los informes y materiales


recuperados a dichas autoridades, las Directoras de Investigación del CNRS –
MAE – Nanterre, Misión Arqueológica Francesa, con las que trabajamos en la
región entre 1986 y 1990. Aunque más de una vez, hasta momentos recientes, se
han tenido que enviar copias de trabajos e informes a la misma Dirección, tanto
como a colegas que residen y trabajan en esa Provincia.
Desde 1986, respondimos a estas autoridades provinciales, aunque la Ley Nacio-
nal 9.080, nos autorizaba a trabajar en investigación cientíica. Por ser miembro
del CONICET (becaria en 1986, investigadora actualmente) y tener lugar oicial
de trabajo en la Universidad de Buenos Aires, Facultad de Filosofía y Letras, de la
cual depende el Museo Etnográico.
Sin embargo, nuestra experiencia nos dice que todos estos permisos y avales no re-
suelven los problemas. Por el contrario, los acrecientan, ya que en la reunión men-
cionada ante la Asamblea Comunitaria, se nos planteó que esperaban que el permiso
de ellos fuera previo. Por lo tanto, dado que actualmente estamos trabajando con las
ocupaciones formativas en adelante a cielo abierto al este de Inca Cueva, esto es Alto
Sapagua, estamos tratando directamente con la familia nuclear compuesta por Pauli-
na Culcui de Lamas, y sus hijos, entre ellos Héctor Serafín que es el que nos asesora
actualmente con respecto a los aspectos formales de trato con las Comunidades.
En mayo de 2009 se realizó en el Instituto Interdisciplinario Tilcara, dependiente
de la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires el Primer
Encuentro sobre Práctica Arqueológica y Comunidades del Noroeste Argentino.
El mismo se denominó Relexiones acerca del Posicionamiento del Arqueólogo
en el Contexto Global. Durante tres días, convivimos y trabajamos conjuntamen-
te con representantes de varias de las Comunidades Aborígenes de la Puna, Que-
brada de Humahuaca y Valles Calchaquíes. También participó el representante
de la Secretaría de Turismo y Cultura de la Provincia de Jujuy. Y conseguimos
que los organizadores invitaran a dos miembros de la familia nuclear con la que
trabajamos, además de los representantes de varias de las Comunidades del lugar
que ya habían sido invitados.
Dentro de los arqueólogos asistentes, había dos experiencias de interacción coin-
cidentes, la del Dr. H. Yacobaccio en Susques, Puna de Jujuy, y la nuestra. En las
cuales teníamos permisos y requerimientos irmados similares por parte de las
Comunidades Aborígenes. Estando el proyecto de Susques más avanzado, con
apoyo privado para la construcción del museo local que ya está en curso.
Además, varios de los presentes irmamos una declaración de repudio al proyecto
de declaración del Capac Ñam como Patrimonio de la Humanidad por parte de
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 89

la UNESCO, teniendo en cuenta los perjuicios ocasionados a la Comunidad de


Queta en la Puna (que fue la que presentó la petición) por la inconsulta y a la luz
de los antecedentes e impacto negativo de la misma declaración en la Quebrada
de Humahuaca.
Podemos decir a partir de los talleres de trabajo, que las Comunidades reclaman
en general:
- Que se mantengan los bienes arqueológicos en sus lugares ó Comunidades de
orígen, devolviendo los que han sido exraídos anteriormente.
- Ser informados de los resultados de las investigaciones en un lenguaje accesible.
- Tener participación en la gestión de su patrimonio arqueológico.
- Que se respeten las formas culturales locales de interpretar y manipular el patri-
monio arqueológico.
Estos sencillos requerimientos, no siempre son respetados. En el caso del Antigal
de Alto Sapagua, la familia de Héctor Serafín Lamas, cabeza de la misma ante
el fallecimiento de su padre, Juan, desea (y lo planteó en este Encuentro) que
hagamos en conjunto un Museo ó Centro Interpretativo local. Donde puedan
mostrarse los resultados de las investigaciones realizadas en el lugar. Y donde los
turistas puedan también comprar artesanías como tejidos, sombreros, tallas en
madera y piedra manufacturadas por ellos mismos. Y que toda esta actividad les
dé una fuente genuina de ingresos.
Nosotros hemos intentado anteriormene dar curso a esta inquietud, planteando
el caso ante el Secretario de Turismo y Cultura de la Pcia. de Jujuy. Pero hasta el
momento, no hemos tenido una aprobación. Se nos dieron razones económicas,
de mantenimiento y de personal. Por lo tanto, intentaremos a futuro llevar ade-
lante dicho proyecto en conjunto con la familia Lamas y la Comunidad Aborígen
de Negra Muerta.
En este Encuentro, lo que reairmamos es que la revisión del posicionamiento que
se planteaba no era necesaria de nuestra parte como arqueóloga sino que se vio
reairmada nuestra línea de trabajo.
En lo concreto, estamos actualmente analizando materiales arqueológicos recu-
perados en supericie por los pobladores. Publicando resultados de manera con-
junta, como el trabajo de arte rupestre presentado recientemente en el Global
Rock Art (García y Lamas 2009). Y contamos con su participación, protección
y apoyo durante los trabajos de campo. Disponiendo además de un lugar seguro
90 • IPHAN

en su casa para guardar nuestro instrumental de trabajo. En relación al sitio


con arte rupestre, no lo damos a conocer (de común acuerdo) con su ubicación
exacta hasta tanto no se haya realizado su plan de manejo real (que se plantea
en conjunto con el museo ó centro interpretativo local) que lo preserve. Se trata
de un sitio desconocido para la comunidad académica, pero conocido para los
pastores locales que recorren completamente su territorio. Y esto es llamativo
dada la larga data de investigaciones locales, que llegan a principios de siglo.

Conclusiones
Por todo lo referido, aunque algunos autores mencionen que hacen falta más
leyes, nuestra experiencia indica que no es éste el problema. La tarea de in-
vestigación cientíica se ve obstaculizada por la gran cantidad de autoridades,
normativas y requerimientos que entorpecen que un/a arqueólogo/a profe-
sional pueda trabajar. Los conlictos mayores no son con las Comunidades
sino con el abanico de autoridades y leyes que se superponen pero que están
ausentes ante los problemas concretos ó el inanciamiento de investigación,
preservación, cuidado y puesta en valor del patrimonio y la seguridad de
los arqueólogos. Paralelamente, visitantes sin ningún permiso gestionado y
ninguna pregunta de investigación válida que pueda aportar al conocimiento
del pasado, acceden a sitios sin protección y los utilizan y exponen con su
ubicación exacta en Internet, haciendo mención a que se puede acceder a
ellos con solamente una hora de caminata desde la ruta nacional. Muchos
huaqueros han legalizado sus colecciones construyendo museos personales, sin
tener datos contextuales de los hallazgos que exponen. Y cuando todas estas
cuestiones ocurren, el arqueólogo profesional, no tiene a quién recurrir. La
conclusión es obvia. La única manera de investigar y devolver resultados a la
sociedad, es trabajar mancomunadamente con las Comunidades Aborígenes,
incorporando su conocimiento, protección y visión del pasado que queremos
conocer. Trabajando en conjunto para la muestra seria y organizada del Patri-
monio a los visitantes con su guía, incorporando la devolución de resultados
especíicos del arqueólogo profesional.

Agradecimientos
Georgio Dimitriadis, por su invitación a colaborar. CONICET. UBA. UBACYT
F-018 actualmente en curso (2008-10), continuación de proyectos anteriores.
Familia Lamas, Alto Sapagua.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 91

Bibliografía
Aschero, C. A. 1979. Aportes al estudio del arte rupestre de Inca Cueva-1
(Deparatamento de Humahuaca, Jujuy). Actas Jornadas de Arqueología del
Noroeste Argentino. Antiquitas. Nº 2: 419-458. Buenos Aires.
Aschero, C. A. 1988. De punta a punta: producción, mantenimiento y diseño
de puntas de proyectil precerámicas de la puna argentina. Precirculados
de las ponencias cientíicas presentadas a los Simposios del IX Congreso
Nacional de Arqueología Argentina:219-229. Simposio: Las Unidades de
Análisis para el estudio del cambio cultural en Arqueología. Universidad
de Buenos Aires. Facultad de Filosofía y Letras. Instituto de Ciencias
Antropológicas.
Berberián, E. E.2009. La protección del patrimonio cultural argentino arqueológico y
paleontológico. Ley nacional N° 25.743 comentarios al texto. Editorial Brujas.
Córdoba.
Endere, M. L. 2000. Arqueología y Legislación en Argentina. Cómo proteger el
patrimonio arqueológico. Incuapa. Serie Monográica 1. UNC. Olavarría.
Endere, M. L. y Rolandi, D. 2007. Legislación y gestión del patrimonio
arqueológico. Breve reseña de lo acontecido en los últimos 70 años.
Relaciones de la Sociedad Argentina de Antropología XXXII: 33-54.
García, L. C. 1985. A Evidencias arqueológicas de la producción del fuego.
Runa. Archivo para las Ciencias del Hombre. Vol. XV:133-152. Instituto de
Ciencias Antropológicas. U.B.A.
García, L. C. 1985b. Los instrumentos para hacer fuego del sitio Huachichocana
(Depto. de Purmamarca, Pcia. de Jujuy, Rep. Arg.). Paleoetnológica. Vol. IX:
13-17. Buenos Aires, Argentina.
García, L. C. 1986. Le feu dans la préhistoire du Nord-Ouest argentin. Objets et
Mondes. La revue du Musée de l’Homme. Tome 25, Fascicule 1-2:61-64,
Paris, Francia.
García, L. C. 1988. Etnoarqueología: Manufactura de cerámica en Alto Sapagua.
Arqueología Contemporánea Argentina. Actualidad y perspectivas:33-58. H.
Yacobaccio, ed. Editorial Búsqueda. Buenos Aires.
García, L. C. 1988/9. Las ocupaciones cerámicas tempranas en cuevas y aleros en
la Puna de Jujuy, Argentina - Inca Cueva, alero 1. Paleoetnológica 5: 179-190.
92 • IPHAN

Tomo del Simposio “Las Cerámicas más Tempranas de América del Sur”. 46°
C.I.A. Amsterdam, julio de 1988. C.A.E.A., Bs. As.
García, L. C. 1998/9. Arqueología de Asentamientos Formativos en la Puna Oriental
y su borde, Provincia de Jujuy: el cambio hacia una vida crecientemente
sedentaria y productiva en Azul Pampa, Departamento de Humahuaca. Tesis
para optar al título de Dra. De la Universidad de Buenos Aires, Facultad de
Filosofía y Letras, área Ciencias Antropológicas. Ms.
García, L. C. 1999. Lime and blood. he art of the elders. (Ethnoarchaeology at
Azul Pampa, Jujuy Province) World Congress News95 Proceedings (Volume &
CD-rom) CeSMAP - IRAC - IFRAO - UNESCO. Simposio 15-16D - Rock
art, ethnography and christian manifestations. Actas a cargo del Dr. Darío
Seglie, Director del Museo de Arte Prehistórica de Pinerolo, Turín, Italia.
García, L. C. 2001. Women at Work: A Present Archaeological View of Azul
Pampa Herding Culture (North West Argentina). En: Ethnoarchaeology of
Andean South America. Contributions to Archaeological Method and heory.
Editado por Lawrence A. Kuznar. International Monographs in Prehistory,
Ethnoarchaeological Series 4: 202-220. Ann Arbor, Michigan.
García, L. C. & Ramundo, P. S. 2002. “hey are going over our heads! Nos pasan
por encima!” 1999 IRAC Proceedings, Volume 2. P & W. Whitehead and
L. Loendorf, Editors, American Rock Art Research Association:199-208.
Garcia, L. C. y Lamas, H. S. 2009. Presentación al Congreso Internacional de
Arte Rupestre. Un nuevo sitio con arte rupestre en Sapagua, Jujuy, Argentina.
Simposio 22, Rock Art and Museum, coordinado por los Dres. D. Seglie
(CESMAP, Italia, IFRAO, UNESCO), R. Bednarik (IFRAO, AURA,
Australia), y G. Dimitriadis (IFRAO, Grecia). Parque Nacional Serra da
Capivara, 29 de junio al 3 de julio.
Rolandi, D. S., Aschero, C. A., Mercedes Podestá M. y Ré, A. 2006. Inca Cueva
1: Un siglo de aciertos y desaciertos en un sitio de alto valor patrimonial.
Problemáticas de la Arqueología Contemporánea. Publicación del XV
Congreso Nacional de Arqueología Argentina (2004). A. Austral y M.
Tamagnini, Compiladores. T I:99-108. UNRC. Argentina.
Foto 5 Foto 6

2.ª Arqueologia Preventiva na Europa

Foto 7 Foto 8
V. Um século e meio de conlitos na arqueologia preventiva em
Portugal: entre o dever e o esquecimento.
Luiz Oosterbeek

VI. Climat et Patrimoine Culturel au Sahara. Introduction à la ques-


tion de l’adaptation humaine à des crises climatiques survenues
au Sahara depuis dix mille ans.
Max Schoerer, Jean Pierre Massué et alii

VII. Preventive Archaeology in Hungary – Authentic development


or foreign model without adaptation? Archaeoastronomy and
preventive archaeology.
Katalin Bozóki - Ernyey & Emilia Pasztor

VIII. Preventive Archaeology in Contemporary Poland. An outline


Arkadiusz Marciniak

Foto 5. Exposição no Museu de Arte Pré-Histórica de Mação. Um percurso de debate sobre as


alterações climáticas no pós-glaciar e os conlitos nas origens da agricultura. Portugal
Foto 6. Les montagnes du Sahara, par l’art rupestre gravé ou peint (Photo M. Schvoerer) ©.
As montanhas do Saara, arte rupestre gravada ou pintada. África
Foto 7. Highway, excavation at Üllo“ 5 and 9, 400 000 square metres site complex; Roman
Imperial Period. Sarmatian settlement, earthenware production centre and adjacent
cemetery. (Photo M0 Archive, Cegléd) © Edit Tari
Rodovia. Escavação em Ullo 5 e 9, complexo arqueológico de 400 000 metros
quadrados do período Imperial Romano. Assentamento de Sármatas, centro de
produção de cerâmica com cemitério adjacente na Hungria (Foto do Arquivo Cegléd).
© Edit Tari
Foto 8. Marwice 6. Preventive archaeology excavations of Early Medieval tar production complex.
Marwice 6. Escavações da arqueologia preventiva no complexo de produção de
alcatrão. Início da Idade Média. Polônia
Um século e meio de conlitos na
Arqueologia Preventiva em Portugal:

V
entre o dever e o
esquecimento
Luiz Oosterbeek

Etnocentrismo e conlitos de airmação da Nacionalidade

A arqueologia nasceu, no século XIX, do cruzamento da tradição antiquarista


que desde o século XVI organizava colecções de testemunhos das civilizações
antigas, com o olhar eurocêntrico dos estudos etnográicos que desde o século
XVIII organizavam a percepção das potências coloniais sobre “os outros” e, inal-
mente, com o rigor disciplinar da geologia do quaternário com a sua preocupação
de compreender a evolução biológica, e dos seres humanos no quadro dela. Do
antiquarismo a arqueologia herdou os objectos, da etnograia herdou a arruma-
ção no espaço humano e suas dinâmicas, da geologia herdou a arrumação no
tempo assumindo a estratigraia como coluna vertebral.

A arqueologia começa, nesses anos, pela prevenção contra a destruição de teste-


munhos da História da Humanidade, e inscreve-se no centro dos conlitos que,
após as revoluções de 1848 na Europa, anunciam o im do ciclo de crescimento
linear do capitalismo e o início dos seus conlitos internos gerados pela dinâmica
monopolista. No quadro de tais tensões, a arqueologia resgata vestígios materiais
do passado mas, também, legitima uma hierarquia das culturas (mais ou menos
monumentais), retomando o esquema evolucionista de Lewis Morgan e colocan-
do a Europa (e, nela, os Ingleses, os Alemães ou os Franceses) no topo da evolução
materialmente demonstrada.
96 • IPHAN

A arqueologia mistura, nesta fase, aventureiros cultos, como Schliemann (desco-


bridor de Troia), e académicos minuciosos, como os irmãos Mortillet. Mas em
ambos os casos é uma arqueologia de prevenção contra os avanços crescentes da
industrialização, que visa recuperar fragmentos do passado à medida que o pro-
gresso os destrói, colocando-os em vitrinas ordenadas cronologicamente.
Em Portugal, a arqueologia teve uma expressão muito signiicativa, ilustrada não
apenas pela realização em Lisboa da IX Assembleia da Associação Internacional
de Antropologia e Arqueologia1, em 1880, como pela ampla cobertura mediática
que esse congresso mereceu (incluindo uma reportagem de caricaturas de Rafael
Bordalo Pinheiro). Um congresso que marginalizaria, no entanto, o republicano
Estácio da Veiga, investigador algarvio a quem se deve a elaboração da primeira
Carta Arqueológica. Nomes como Émile Cartaillac, Nery Delgado, Paul Chaufat
ou José Leite de Vasconcellos, ilustram no inal do século a diversidade cientíi-
ca da arqueologia portuguesa e o seu interesse de pendor histórico e naturalista,
acompanhando as tendências europeias do seu tempo. Uma arqueologia atravessa-
da por contradições estratégicas, que ecoam as contradições sociopolíticas: a defesa
de uma carta arqueológica regionalista, afogada pela instalação de um Museu Na-
cional de Antiguidade Arqueológicas como espelho da alma nacional. O resgate de
vestígios do passado (da Citânia de Briteiros ao Megalitismo) servirá essencialmente
para justiicar a génese da cultura portuguesa como entidade discreta e unitária.
A arqueologia oitocentista nasceu, apesar das contradições, como um campo in-
terdisciplinar, talvez o primeiro campo de conhecimento pós-disciplinar, a seme-
lhança do que é hoje a ecologia. E essa dimensão marcou decisivamente a sua
evolução ulterior, já que os seus protagonistas se inscreviam mais num ou noutro
dos caminhos que as suas raízes possibilitavam. Daí, também, a sua diiculdade
em ganhar estatuto na Universidade, numa época que ainda era a da airmação
das disciplinas e seus departamentos e unidades fundados em corpus teóricos cla-
ros e metodologias explícitas. A arqueologia da segunda metade do século XIX
surgia aos olhos da Universidade como algo de pouco rigor, altamente especulati-
vo: sem o rigor das ciências, sem a ambição e poder explicativo da História ou da
Antropologia, a arqueologia foi-se encaixando, consoante os países e regiões, em
departamentos diversos, das ciências naturais às humanidades.
Bebendo na tradição do antiquarismo e do nacionalismo, a arqueologia da transição
para o século XX centra-se na noção de cultura. Herder deinira a história como o
“relato do desenvolvimento de um povo, exempliicado na sua linguagem, tradições
e instituições,” e essa perspectiva enformou as abordagens dos primeiros arqueólogos.

1
Antecessora da actual União Internacional das Ciências Pré-Históricas e Proto-Históricas.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 97

O interesse dos arqueólogos foi-se centrando, cada vez mais, nos artefactos, e nas
suas “associações recorrentes” (no que viria a ser a expressão de G. Childe). O
objectivo era a identiicação de etnias, de que é exemplo o monumental trabalho
de Bosh-Gimpera, para a Península Ibérica.
É neste contexto que nasce o difusionismo. A ideia de base era simples: como
o mundo é pequeno, é improvável que uma mesma invenção tenha lugar duas
vezes, separadamente. A difusão e a migração seriam os mecanismo dominantes
da história, nesta concepção.
Paralelamente, Franz Boas opõe-se ao evolucionismo cultural, e defende que cada
cultura é uma entidade única, apoiando, em consequência, o relativismo cultural
e o particularismo histórico.
Neste quadro tem papel essencial a emergência do conceito de cultura, pela pri-
meira vez formulado em 1871 por E.B. Tylor como “um todo complexo que
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e outras capacidades e
hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Ao longo do séc. XIX começam a sistematizar-se os estudos comparativos (dis-
tribuição de moedas, monumentos megalíticos, etc.) e os conjuntos de vestígios
(“Campos de Urnas”, “Cerâmica Campaniforme”, etc.) eram associados a povos.
O autor que realizou a primeira sistematização histórico-cultural foi Óscar
Montelius (1843-1921). Desenvolveu o método tipológico, e orientou a in-
vestigação para a comparação dos artefactos e estruturas em toda a Europa, a
despeito dos seus respectivos contextos. O evolucionismo mantinha-se, mas
não era unilinear. Montelius baseava-se na estratigraia e foi um defensor da
supremacia cultural do Mediterrâneo na Pré-História (sendo, portanto, um di-
fusionista). Desenvolveu a ideia de relação entre centros produtores/inovadores
e periferias consumidoras.
O difusionismo orientalista de Montelius suscitou reservas de diversos arqueólo-
gos, não tanto na teoria (difusionista) como na sua concretização (orientalista).
Mas em geral foi aceite: conirmava as teses religiosas judaico-cristãs, ao colocar
o centro difusor no Próximo Oriente; concordava com a visão de que a Europa
Ocidental era a herdeira do passado glorioso das civilizações pré-clássicas e cláss-
sicas (dando-lhe legitimidade para a colonização africana).
No entanto, Montelius aceitava o evolucionismo, quando aplicado ao Próximo Orien-
te, e rejeitava o racismo. É só com Kossina, com a sua obra A Origem dos Alemães
(1911), que pela primeira vez os vestígios arqueológicos são incorporados no conceito
de cultura. Kossina vai defender o carácter nacional da arqueologia e a supremacia
98 • IPHAN

racial dos alemães, e será assumido pelo movimento nazista como parte da sua matriz
ideológica. Ele defendeu que a partir do Paleolítico superior o registo arqueológico
se podia organizar como um mosaico de culturas, de base étnica2. Coerentemente,
defendeu o progresso como o resultado de invasões dos povos de nível superior.
As suas ideias tiveram pouco eco fora da Alemanha, por razões óbvias. Mas ele
foi essencial para associar a imagem dominante da arqueologia ao campo da His-
tória. Apesar de perdurarem escolas de pensamento e formação arqueológica no
domínio da antropologia (especialmente no Novo Mundo) e das ciências naturais
(particularmente os estudos pré-históricos em França e Itália), é na História que a
arqueologia começa a ser vinculada, em termos de percepção pública.
A consolidação desta restrição da arqueologia deve-se sobretudo a Gordon Chil-
de. Australiano, militante socialista, Childe aceitou o conceito de cultura arque-
ológica de Kossina, combinando-o com o esquema cronológico e difusionista de
Montelius. Em 1925 publicou a primeira versão da sua Aurora da Civilização Eu-
ropeia, deinindo um amplo e complexo mosaico de culturas, baseadas no registro
arqueológico e deinidas a partir de “fósseis directores”.
A ideia de fóssil director, ou seja, de seleccionar um numero reduzido de artefactos
tipo para deinir as culturas, abriria caminho ao funcionalismo. Childe procurava
determinar o papel, a função, dos artefactos nas sociedades que os haviam produ-
zido. Deu particular atenção à cerâmica, argumentando que ela tendia a reletir os
gostos locais e a resistir às inluências externas, contrariamente aos artefactos metá-
licos, por exemplo (que, por isso, eram mais valiosos para a comparação cultural).
Uma arqueologia dominada pelas noções de fóssil director e de cultura viria a
conigurar uma abordagem etnocêntrica, e não raro racista, da arqueologia em
Portugal, especialmente após o golpe militar de 1926, que instauraria uma di-
tadura corporativista que praticamente desmantelou o ensino das Humanidades
e quebrou as articulações interdisciplinares. Neste quadro, a arqueologia portu-
guesa, que fora tão destacada no século XIX, tardaria a incorporar os avanços
metodológicos e inovações teóricas da arqueologia internacional: as primeiras
escavações com quadrícula datam dos anos 50, a arqueologia processualista só
chegaria a Portugal na década de 1970 e o ensino universitário de arqueologia só
se generalizaria após a reinstauração da democracia em 19743.

2
É fácil veriicar como esta ideia perdura até hoje entre muitos arqueólogos,
3
Embora na fase inal do Estado Novo se tenham integrado novos docentes de arqueologia em Lisboa, em
Coimbra e no Porto, essa integração obedece a uma tardia estratégia colonial de “estudos etno-arqueoló-
gicos” no quadro da guerra colonial (ainda que esse processo tenha permitido reatar o ensino universitário
com preocupações de rigor e interdisciplinariedade, que estaria na base da renovação académica após 1974).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 99

A noção de património arqueológico, que se fora forjando a partir da década de


1930 em diversas nações (como o Brasil ou a Espanha), era algo muito difuso
e pouco relevante no Portugal de meados da década de 1970. O País fechara-
se às grandes discussões internacionais que estruturaram a visão de património
plasmada na Carta de Veneza e suas sequelas, como o debate em torno do encer-
ramento da gruta de Lascaux por André Malraux ou a megaoperação de resgate
dos monumentos afectados pela barragem de Assuão, no Egipto. A arqueologia
portuguesa, que na transição para o século XX fora um espaço de acção preventi-
va, havia sido profundamente desestruturada.
Janelas abertas sobre o passado e conlitos de expansão do modelo urbano
Portugal chegou a 1974 com uma matriz ainda essencialmente rural, pontuado
por núcleos de desenvolvimento industrial (como Sines), num território cruzado
por poucas e más estradas, com elevada taxa de analfabetismo e uma guerra co-
lonial que consumia atenções, recursos e vidas. Pese embora um tímido e tardio
surto desenvolvimentista ensaiado por Marcello Caetano (sucessor de Salazar)
que no início da década conduziria à adesão de Portugal à European Fair Trade
Association (EFTA – Associação Europeia de Livre Comércio), abrindo caminho
à associação com a Comunidade Económica Europeia, que se concretizaria já em
democracia. O Portugal dos anos 70 é um País exterior aos grandes debates sobre
o lugar do Património Cultural nas sociedades democráticas.
Os anos que se seguem, até 1986 (ano da adesão à Comunidade Económica Eu-
ropeia), são marcados por um surto desenvolvimentista, que aliás se aprofundará
com a chegada de inanciamentos comunitários. Perdido o mercado colonial,
o País virou-se para dentro, para a Europa e para as suas próprias contradições
sociais. Se antes a escassa arqueologia servira para legitimar a Nação, as elites uni-
versitárias repensavam agora a função social dessa área de conhecimento.
A dinâmica de criação de comissões populares (de moradores, de trabalhadores)
alargou-se à esfera cultural, com a formação de comissões municipais de arte e arque-
ologia, que pela primeira vez assumem um olhar não centralista sobre o que, nessa
época, se começa a chamar “Património”. A segunda metade da década de 1970 e boa
parte do período seguinte são marcadas por pulsões colectivistas, e a noção de patri-
mónio cultural como direito colectivo faz o seu caminho, inluenciando as reformas
legais que vão normalizando a actividade arqueológica. A arqueologia é marcada pela
airmação de diversos projectos de cariz regional (Sines, Braga, Serra da Aboboreira,
Mértola, etc.), que têm em comum a vinculação académica e o enfoque espacial. Em
1988, aliás, reunir-se-ia em Tomar o Congresso de Arqueologia Espacial.
Os conlitos que atravessam a sociedade portuguesa nesses anos estruturam-se em
torno da posse da terra e da relação entre os espaços urbano (que se expande) e
100 • IPHAN

rural (que se marginaliza). A arqueologia acompanhou esses processos, e as suas


estruturas administrativas (sobretudo o Departamento de Arqueologia do então
Instituto Português do Património Cultural, mais tarde Instituto do Património
Arquitectónico e Arqueológico) começam a antever grandes alterações ao nível
dos solos, e seu impacte na arqueologia (lorestações de eucaliptos, novas estradas,
mecanização rural)4.
O paradigma que então dominava a defesa do património era o de Abu Simbel:
a preocupação em compatibilizar desenvolvimento e preservação do património
arqueológico, mobilizando esforços para a consolidação de um roteiro de tes-
temunhos do passado, ou o que alguns chamaram de “janelas abertas sobre o
passado”. A unidade signiicativa, que cem anos antes fora o artefacto móvel, era
agora o sítio, e as diversas instâncias culturais (no Ministério da Cultura, nas Uni-
versidades, nas Associações e em alguns Municípios) articulavam-se numa lógica
de defesa contra o perigo representado pela dinâmica desenvolvimentista da so-
ciedade. Tratava-se de – numa atitude de resignação perante a inevitável alteração
da paisagem e destruição da grande maioria dos vestígios – conservar “janelas”
que permitissem vislumbrar testemunhos descontínuos de contextos culturais
passados. Essa estratégia permitiu, com êxito, intervir em diversos locais com
inanciamentos gerados pelas próprias obras públicas (ainda que o Ministério da
Cultura tivesse uma rubrica de inanciamento para “emergências e salvamentos”)
e criar diversos “museus de sítio” (muitas vezes integrados em edifícios).
É interessante constatar, a esse respeito, que a estratégia de minimização de im-
pactes passou, ao longo de toda a década de 1980 e na primeira metade da se-
guinte, pela assumpção directa pelas estruturas do Estado, da execução das acções
de arqueologia preventiva e de emergência. É importante compreender que essas
estruturas haviam sido construídas poucos anos antes, contra um historial de
negligência durante a ditadura, e com fracos apoios em democracia, por escassos
mas inluentes militantes da causa patrimonial. A génese do processo explica, em
grande medida, a desconiança profunda das jovens estruturas face à sociedade,
e a diiculdade que tiveram em compreender que a sua estratégia, que passava
essencialmente pelo reforço dos recursos humanos estatais contra a dinâmica de-
senvolvimentista, estava voltada ao fracasso por manifesta desigualdade de meios.
Se os organismos do Estado tardaram a perceber que os seus meios eram dema-
siado escassos e ineicazes (a sua iscalização limitou-se largamente ao controle,

4
Recordo-me que quando, em 1982, comecei a trabalhar como colaborador do Departamento de Ar-
queologia do IPPC, uma das minhas primeiras tarefas foi a delimitação, sobre fotocópias de cartas
topográicas na escala 1:25.000, do regolfo da barragem de Alqueva, já então prevista e que se viria a
construir já neste milénio.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 101

muitas vezes tenso, da acção dos arqueólogos ligados ao ensino superior, que eram
dos poucos que não podiam contornar o centralismo do Ministério da Cultura),
também não entenderam que as alterações económicas e territoriais por que o
País passava comportavam profundas modiicações socioculturais.
As tensões entre organismos que deveriam cooperar (Departamento de Arqueo-
logia, Museus de Arqueologia, Ensino Superior de Arqueologia, Associações de
Arqueologia, Gabinetes Municipais de Arqueologia) conduziram a um desgaste
crescente da arqueologia na sociedade, à não compreensão do seu interesse social
e à quase paralisia das suas unidades de intervenção. É signiicativo que o mais
importante projecto de inanciamento da arqueologia no início da década de
1990, o programa “Itinerários Arqueológicos do Alentejo e do Algarve”, tenha
sido estruturado pelos serviços de Turismo e se arrastasse, ainda em 1995, por
manifesta incapacidade da componente arqueológica em compreender o que sig-
niicava investigar no quadro de um tal projecto. Data também de meados dessa
década a decisão de passar de um sistema clássico de Inventário Nacional de Sítios
para um sistema informatizado (o programa Endovélico), que no entanto ainda
hoje é gerido de forma totalmente centralizada5.
Os vinte anos que se seguiram à democratização do País assistiram, assim, á recu-
peração de avanços metodológicos e teóricos ocorridos no exterior, à estruturação
de organismos públicos de tutela da arqueologia6, à expansão da rede de ensi-
no superior, à emergência de organizações não governamentais e aos primeiros
núcleos municipais de arqueologia. Este conjunto de recursos estava claramente
subordinado às estruturas do Ministério da Cultura, as quais também possuíam
os recursos inanceiros mais signiicativos. A gestão centralizada da arqueologia
recorria ocasionalmente aos organismos não ministeriais, quase sempre por con-
vite casuístico, sem recurso a contratualizações claras ou concursos7.
A falência do modelo, no entanto, ocorreria em 1994, com o processo de enco-
brimento das gravuras rupestres de Foz Côa. O caso foi muito divulgado, e não

5
Em 1996 o signatário exercia funções na Comissão Instaladora do Instituto Português de Arqueologia,
e teve a ocasião de escutar, por parte dos proponentes do projecto, e em particular dos engenheiros
informáticos, a informação de que o programa permitiria uma inserção descentralizada de dados, aberta
a todos os arqueólogos, ainda que podendo ser sujeita a validação pelos serviços centrais. Esse foi o
argumento decisivo para dar luz verde a um enorme inanciamento em infraestruturas e formação de
recursos humanos. Dez anos depois, tal ainda não foi implementado, permanecendo um sistema que
embora útil é completamente centralizado e, como tal, incapaz de actualização permanente.
6
O Estado Novo havia criado secções de arqueologia no seio das estruturas de Educação, mas com esses
meios e muito reduzida autonomia.
7
A desconiança das estruturas face à sociedade terá levada a esse fechamento, com recurso eventual a
“discípulos” mas com escassa dimensão interinstitucional.
102 • IPHAN

retomaremos aqui a sua narração8. O que nos importa neste texto é que o “caso
Foz Côa” implicou uma mudança de paradigma na relação da sociedade com o
património arqueológico. Quando o conlito entre o interesse de construir a bar-
ragem e o de preservar as gravuras estalou, muitas soluções de “compatibilização”
foram ensaiadas (desde a visitação subaquática até ao arrancar das rochas gravadas
e sua exposição num museu). O argumento que no entanto se tornou decisivo
foi o de que a compreensão da arte rupestre era indissociável do espaço em que
estava inserida, pois a unidade signiicativa não eram as rochas gravadas, as trans-
cendia, era sim a paisagem do Paleolítico assinalada pelas rochas. Este argumento,
completamente diverso do que justiicara a intervenção em Assuão duas décadas
antes, anunciava uma nova relação da sociedade com o seu entorno patrimonial,
hoje mediada pelo conceito de paisagem. A década de 1990 assistiu, aliás, à supe-
ração da arqueologia espacial em prol da arqueologia da paisagem, e à airmação
do conceito de paisagem no quadro da UNESCO. A questão sobre que importa
relectir é o porquê deste novo paradigma.

Os eixos do conlito e a evolução da legislação


A legislação portuguesa em vigor, que no concernente aos diplomas estruturantes
é maioritariamente posterior a 1995, relecte o debate em torno a três eixos de
conlito dominantes: entre interesses privados e o interesse público (não sendo
considerada a dimensão de interesse colectivo fora deste); entre interesses nacio-
nais e internacionais; entre a valoração dos bens materiais (incluindo os arqueo-
lógicos) e os imateriais.
Um indicador interessante é fornecido pela luidez da ratiicação das convenções
internacionais. O principal eixo de contradição neste domínio é o que se estrutu-
ra em torno dos “interesses nacionais”. O Estado Novo fora radical numa estraté-
gia isolacionista que assumia o património “nacional” como elemento identitário

8
Importa no entanto perceber que, no processo de minimização do impacte de uma barragem, o Minis-
tério da Cultura apenas destacou escassos recursos próprios para identiicar eventuais vestígios arqueoló-
gicos. Identiicado o que viria a ser reconhecido como o maior complexo de arte rupestre Paleolítica de
ar livre na Europa (que mereceu a classiicação como Património Mundial da Humanidade em escassos
três anos), a relação de dependência estabelecida entre o Ministério e a Companhia de Electricidade que
construía a barragem (e pagava ao Ministério os estudos) e a falta de transparência (na esteira da descon-
iança a que aludimos, por sua vez uma postura herdeira da ditadura) conduziram a um ocultamento
grave, e quase ingénuo, dos achados. Uma ampla mobilização académica e popular, despoletada pela
arqueóloga Mila Simões de Abreu e pelos estudantes adolescentes de Vila Nova de Foz Côa, secundada
por diversos organismos internacionais (IFRAO, UISPP, etc.) e da sociedade (incluindo jornais como o
New York Times ou o Le Monde), conduziu o governo eleito em 1995 a cancelar a barragem e a criar um
parque arqueológico no seu lugar.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 103

nuclear; nesse sentido sempre se recusou a ratiicar documentos que assumissem


uma dimensão supranacional dos bens culturais, incluindo a Convenção Cultu-
ral Europeia de 1954, que airmava claramente a existência de um “Património
Europeu” (signiicativamente, viria a ser ratiicada pouco mais de um ano após
a restauração democrática de 1974, num acto igualmente pleno de signiicado
político, anunciador do “rumo Europeu” que Portugal então encetava). Igual des-
tino teve a Convenção do Património Mundial, aprovada em 1972 mas apenas
ratiicada em 1979. Estes dois instrumentos legais são os primeiros a assumir uma
dimensão supranacional para, pelo menos, parte do património cultural, nele se
incluindo o arqueológico9. Esta nova perspectiva viria a orientar diversas políticas
públicas, incluindo a própria criação, em 1980, do primeiro instituto autónomo
para o património (o Instituto Português do Património Cultural, que incluía
um Departamento de Arqueologia). É, no entanto, signiicativo que a “interna-
cionalização do património” continuou a suscitar reservas nacionalistas, o que
permitirá explicar a muito tardia ratiicação (só em 2000!!!) da Convenção para a
Protecção dos Bens Culturais em Caso de Conlito Armado, de 1954.
Veriica-se, no entanto, uma alteração na postura do Estado face às iniciativas inter-
nacionais a partir de inais da década de 1990, o que sem dúvida é um resultado do
“processo Côa”. É neste quadro que se assinalam a ratiicação da Convenção sobre
bens roubados ou ilicitamente expropriados (em 2000, apenas cinco anos após a sua
aprovação internacional) e a Convenção de Protecção do Património Arqueológico
Subaquático (em 2006, também cinco anos após a aprovação). Contrariamente aos
documentos antes mencionados, estas Convenções chocavam directamente com
interesses instalados e contribuíram para consolidar a resistência contra a “caça ao
tesouro” no domínio da arqueologia subaquática, ao mesmo tempo que abriram
espaço para a eventual repatriação de bens arqueológicos de antigas colónias (tema
muito polémico, bastando citar os exemplos do friso do Parthenon). Deve assinalar-
se que o avanço de legislação “internacionalizadora” do património acompanhou,
signiicativamente, o enfraquecimento progressivo dos investimentos do Estado na
gestão do património (em geral, e especiicamente do arqueológico10).

9
Ainda que tal não signiique, uma mudança de paradigma, permanecendo um discurso essencialmente
nacionalista, que incorpora diicilmente a globalização cultural e encara as convenções, como a Conven-
ção de 1970 sobre a importação e exportação ilícita de bens culturais (ratiicada em 1985) essencialmen-
te como instrumentos de reforço da protecção dos “bens nacionais”.
10
Não é tema do presente texto esta questão, mas após um “ímpeto arqueológico” suscitado pelo “processo
Côa”, o Instituto Português de Arqueologia criado em 1997 encetaria uma estratégia progressivamente
isolacionista e corporativista, que concentrou inanciamentos num número reduzido de bens afectos
ao Estado, abandonando, ou quase, o resto do Património, colocado doravante na esfera dos trabalhos
de arqueologia de contrato. Se esta estratégia também contribuiu para aprofundar os investimentos da
administração local e de privados, a prazo isolou a arqueologia do resto do património, o que conduziu
à extinção do referido Instituto num quadro geral de galopante desinvestimento neste domínio.
104 • IPHAN

A este ciclo aberto em 1996 pertencem também duas importantes ratiicações


que interferem de forma clara com os direitos individuais sobre o património ar-
queológico, subordinando-os ao interesse público/colectivo. Trata-se por um lado
da Convenção para a Protecção do Património Arqueológico de 1992 (ratiicada
em 1997) e da Convenção Europeia da Paisagem de 2000 (ratiicada em 2005). A
primeira revelar-se-ia crucial, pois é ela que enquadra a legislação que convoca os
arqueólogos para os espaços de discussão e monitorização sobre o planeamento e
ordenamento territorial (como será o caso dos impactes ambientais), enquanto a
segunda consolida uma nova visão do património como indissociável do contexto
paisagístico que ele sinaliza e com o qual se funde (concepção que já fundamen-
tara a deliberação, em 1996, de criar um parque arqueológico para preservar as
gravuras de Foz Côa no seu enquadramento espacial).
Esta evolução da legislação Portuguesa, ainda que indubitavelmente positiva,
teve na sua génese interesses que a prazo se revelaram contraditórios. Se num
primeiro momento a dinâmica parecia reforçar as medidas de protecção patri-
monial, na verdade ela fazia-o apenas na medida em que recuperava um atraso
de décadas, mas sem uma relexão participada na sociedade sobre o seu signi-
icado. Dito de outro modo, o nacionalismo que prevaleceu durante décadas
viu-se substituído por um “europeísmo” muito mais inluenciado por opções
políticas e geoestratégicas do que por uma relexão amadurecida sobre o signi-
icado do património arqueológico numa sociedade democrática e no quadro
da globalização. O desinvestimento do Estado Português na arqueologia (e no
património cultural material em geral) é, assim, uma “resposta” de uma estru-
tura que permanece essencialmente vinculada ao modelo de “Estado-Nação”
e que se sente desobrigada de investir seriamente em bens que passou a con-
siderar num plano supranacional. Esta deriva, aliás, não é única em Portugal,
e a Convenção de 2005 “Relativa ao Valor do Património Cultural para a So-
ciedade” consolida, em toda a Europa, este perigoso afastamento em relação ás
suas origens (a palavra arqueologia não aparece no texto, excepto numa menção
da Convenção de 1992, assumindo-se como centro do património cultural os
“valores, crenças, saberes e tradições em permanente evolução”, ou seja, o patri-
mónio imaterial, para o qual tão pouco existem estruturas de protecção). É aliás
curioso que esta tenha sido a ratiicação mais rápida de todas as convenções:
apenas três anos!
De uma forma geral, as convenções foram encontrando extensões parciais na legislação
regulamentadora, sempre na lógica de só proteger efectivamente os bens classiicados
e propriedade estatal (e mesmo esses só em alguns casos). Paralelamente, a ratiicação
das convenções não parece ter sido acompanhada pela incorporação, pelas estruturas
centrais do Estado, da natureza necessariamente negocial da gestão patrimonial, o
que permitirá explicar, por exemplo, que entre as dimensões não regulamentadas das
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 105

diversas convenções se inclua a educação patrimonial, que no entanto é claramente


considerada na Convenção do Património Arqueológico (ratiicada há mais de dez
anos, mas sem consequências práticas por parte do Estado, nesta vertente).
Com efeito, dentre os 17 diplomas em vigor mais relevantes na produção legislativa
estruturante do lugar do património arqueológico na sociedade portuguesa após a de-
mocratização de 1974, nove são ratiicações de convenções internacionais e, dos res-
tantes, cinco são ou diplomas gerais sobre o ordenamento territorial ou instrumento
de organização dos serviços do próprio Estado, sendo que apenas três se concentram
em temáticas de conlito: classiicação, salvaguarda e inanciamento desta. A atenção
concedida à regulamentação das convenções é manifestamente parca, sobretudo na
ausência de um esforço de construção de estruturas de partilha de responsabilidades.
Assim, na consideração dos três eixos de conlito referidos, a legislação portuguesa:
• protege no essencial os interesses privados, excepto face ao Estado (daí
que os diferentes conlitos surgidos tenham terminado ou com a prevalência dos
privados ou com a estatização directa ou indirecta);
• incorporou uma dimensão progressivamente mais supranacional a partir
do momento em que começou a reduzir os apoios efectivos ao estudo e preservação
dos bens arqueológicos (num sector que se privatizou num regime próximo do
capitalismo selvagem que chocava indivíduos como Robert Owen, com mão de
obra largamente paga ao dia e com escassíssima produção de conhecimento novo);
• assumiu progressivamente a subvalorização do património material, sem
que no entanto tenha efectivamente reforçado os meios de estudo, resgate e va-
lorização dos bens culturais imateriais11, excepto nos casos que se cruzam com
as artes plásticas e performativas, ou seja, com a criação artística contemporânea
(o que pode ser interpretado como expressão da trajectória de “não inscrição” da
memória que segundo José Gil caracteriza o Portugal contemporâneo).
Não cremos, por isso, que nos últimos quarenta anos se tenha veriicado real
mudança de paradigma na gestão do património arqueológico, na sua valorização
supranacional; o que houve, isso sim, foi a abertura de um fosso crescente entre
um discurso internacional e Europeu gerado pelas dinâmicas económicas e uma
visão da tutela estatal que permanece no essencial nacionalista, até mesmo cor-
porativista, ainda que com meios escassíssimos (que por isso vai direccionando
para um número sempre menor de bens que são propriedade do próprio Estado,
negligenciando todo o resto).

11
Embora o Decreto-Lei 139 de 2009 possa vir a gerar uma nova orientação neste domínio.
106 • IPHAN

Caminhos de futuro
A arqueologia em Portugal sempre se inscreveu em terrenos de conlito, como se
demonstrou, e também na diiculdade de resolver esses conlitos num processo de
conlitualidade e concertação partilhada. O Estado, desde a monarquia, sempre
tendeu (como noutras esferas de intervenção social) a intervir de forma mais tera-
pêutica que preventiva. Essa falta de capacidade prospectiva traduziu-se, até ao pre-
sente, num descompasso entre as relexões académicas e estratégicas internacionais
e a relexão endógena, conduzindo no limite a transposições de orientações norma-
tivas gerais, sem real substanciação na construção de uma massa crítica coesa em
torno de novos paradigmas. Esse descompasso, por sua vez, rompeu há muitos anos
a unidade radical do Património (a criação de um Instituto para os Museus separa-
do em relação aos bens imóveis também foi expressão desse processo, ainda que se
inscrevesse á época numa lógica de desmultiplicação dos organismos públicos) e im-
pediu a relexão crítica institucional sobre a trajectória dos últimos quarenta anos.
Como resultado, a produção legislativa nacional, para além das decorrentes nor-
mativas e convenções internacionais, concentrou-se mais no próprio Estado e na
iscalização dos cidadãos (os proprietários por um lado e os arqueólogos por ou-
tro) do que na identiicação e regulação dos efectivos casos de conlito emergentes
das dinâmicas sociais. Estes, contudo, não deixam de ocorrer, e é previsível que,
mais uma vez, seja a dinâmica internacional a forçar a evolução endógena.
Uma das questões centrais que se colocarão, não apenas a Portugal mas a todos
os estados Europeus (solidários no “esquecimento” a que vão votando a arque-
ologia), é a da necessidade de dedicar fundos nacionais de forma reforçada, em
prol de bens cujo valor será considerado, de forma crescente, supranacional. Este
debate tenderá a separar discursos nacionalistas e essencialmente vinculados à
rentabilização turístico-económica dos bens culturais atribuídos a identidades es-
táticas, de outros, europeístas e internacionalistas, essencialmente vinculados às
dinâmicas de recomposição de identidades (e não à sua reiicação).
Uma segunda dimensão que se pode prever é a da valorização dos direitos patri-
moniais colectivos não estatais (a Convenção sobre Património Imaterial ajudará
neste sentido) e dos direitos difusos. O crescimento desta dimensão acompanhará
a previsível quebra do monolitismo nacionalista, enfraquecendo os actuais órgãos
de tutela central em prol de estruturas regionalizadas (embora seja muito duvi-
doso que na génese destas, já anunciada com a criação das Direcções Regionais
de Cultura, existam recursos materiais e capital humano para ocupar o lugar da
administração central sem ser com o vazio).
Uma terceira e mais decisiva dimensão decorrerá da relexão social sobre os fru-
tos de mais de uma década de legislação “europeizante”. Hoje, os conlitos que
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 107

acompanham a arqueologia preventiva já não se esgotam nas questões de tutela e


salvaguarda dos bens culturais, e passaram a incorporar problemas não previstos
pelo Regulamento de Trabalhos Arqueológicos de 1999 nem pela Lei de Bases do
Património Cultural de 2001.
Para que serve a acumulação de toneladas de artefactos recolhidos em trabalhos de
arqueologia de contrato, que não são estudados e, por isso, são um mero passivo
ambiental? Como defender os direitos colectivos sobre o património arqueológico,
sem estruturas de gestão participada do território e sem meios inanceiros para pros-
seguir com uma estratégia de estatização (ou abandono) dos espaços de conlito?
Como ajustar os requisitos de formação superior (agora que se suscitou a criação de
diversos cursos de Licenciatura em arqueologia) face a um mercado escasso e que já
convive com abundantes casos de sobre-exploração dos proissionais? Como com-
patibilizar pretensões estatais, regionais, municipais e mesmo individuais à tutela
sobre os bens arqueológicos? Como manter uma legislação apoiada sobre a aplica-
ção à arqueologia do princípio do poluidor-pagador numa sociedade que não sente
a premência da salvaguarda dos bens arqueológicos (face a outras necessidades) e na
ausência de qualquer estratégia de educação patrimonial?
As questões poderiam continuar a desdobrar-se, sendo seguro que têm em co-
mum o partirem das dinâmicas da sociedade e dos seus actores (incluindo o Esta-
do, mas não apenas deste, como a legislação actual).
As respostas serão, como sempre, resultado de demorados e difíceis processos de
contradição e negociação, e serão tanto mais adequadas às necessidades actuais
quanto forem capazes de se colocar não apenas no quadro unitário do Estado
mas, também, nas dimensões locais, regionais e supranacionais que são hoje a
essência plural do Património Arqueológico12.

12
Este é o caminho que se vai seguindo, por exemplo, em Mação, com a criação do Instituto Terra e Me-
mória (ITM), junto do Museu de Arte Pré-Histórica daquela vila. Criado por iniciativa da autarquia e
do Instituto Politécnico de Tomar, o ITM tem por vocação envolver cidadãos e empresas no processo
global de gestão integrada dos bens arqueológico no âmbito mais vasto da gestão territorial. Desta
forma, o ITM e todos os seus parceiros reconhecem plena primazia e autonomia à investigação, mas
inscrevem esta no quadro normal das opções estratégicas de ordenamento territorial, na dupla pers-
pectiva da airmação plural de identidades e de construção socialmente participada de conhecimento.
108 • IPHAN

Anexo 1
QUADRO-SÍNTESE DA PRINCIPAL LEGISLAÇÃO PORTUGUESA SOBRE
ARQUEOLOGIA
Conlito / Assunto Medida legislativa Conteúdo
ORDENAMENTO TERRITORIAL.
Deine os tipos de trabalhos D.L. 270/99 de Regulamenta os trabalhos
arqueológicos e as regras de autorização e 15.07 arqueológicos
avaliação dos mesmos.

ORDENAMENTO TERRITORIAL.
Para além de considerações gerais, a
Lei 107/2001 de Lei de Bases do Património
Lei reconhece os direitos dos cidadãos
8.09 Cultural
ao usufruto do património e impõe o
acompanhamento arqueológico de obras.
ORDENAMENTO TERRITORIAL.
Permite a criação de parques arqueológicos D.L. 131/2002 de Deine a criação e gestão de
por parte do Estado, com poderes de 11.05 parques arqueológicos.
intervenção no ordenamento territorial
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.
Deine todas as principais áreas de Deine a orgânica e
intervenção arqueológica (gestão, competências do Instituto
D.L. 96/2007 de
valorização, salvaguarda, minimização de Gestão do Património
29.03
de impactes, registo, inventário, Arquitectónico e
reservas, trabalhos de campo, educação Arqueológico (IGESPAR).
patrimonial, etc.).
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.
Consolida uma espécie de dupla tutela Deine a orgânica e
D.R. 34/2007 de
sobre o património e as actividades competências das Direcções
29.03
arqueológicas, a par da que é assegurada Regionais de Cultura
pelo IGESPAR.
INDIVIDUAL VS. COLECTIVO.
Deine o regime de
Regula o equilíbrio entre os interesses D.L. 309/2009, de
classiicação de bens,
individuais e o poder de intervenção do 23 de Outubro
incluindo arqueológicos.
Estado.
INDIVIDUAL VS. COLECTIVO.
Deine medidas quadro para a salvaguarda
Deine o regime de
de saberes, tradições, etc., como bens D.L. 139/2009 de
salvaguarda do património
colectivos. Não menciona a arqueologia, 15.06
cultural imaterial.
mas os saberes tecnológicos têm uma
óbvia articulação com a arqueologia.
PRIVADO VS. PÚBLICO. Destina-se
Cria o Fundo de
a reunir meios inanceiros para, frente a D.L. 138/2009 de
Salvaguarda do Património
conlitos de interesse privado vs. público, 15.06
Cultural.
permitir a intervenção estatal.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 109

Anexo 2
QUADRO-SÍNTESE DAS RATIFICAÇÕES DE CONVENÇÕES INTERNACIONAIS
Conlito / Assunto Medida legislativa Conteúdo
PRIVADO VS. PÚBLICO.
Protecção do Património Arqueológico,
Ratiica a Convenção
que estabelece que os arqueólogos devem
Europeia para a Protecção
intevir no planejamento do território, Dec. Pres. Rep.
do Património Arqueológico
incluindo a dimensão dos impactes 74/97
(Conselho da Europa) de
ambientais. Reitera a condenação do
1992
comércio ilícito e a importância da
educação patrimonial.
PRIVADO VS. PÚBLICO. Proibição da
importação e Exportação Ilícita de Bens D.G. 26/85 de Ratiica a Convenção da
Culturais, com explícita menção dos 26.06 UNESCO de 14.11.70
bens arqueológicos e pré-históricos
PRIVADO VS. PÚBLICO. Ratiica a Convenção Europeia
Dec. 4/2005 de
Reconhecimento da dimensão da Paisagem (Conselho da
14.02
patrimonial das Paisagens Europa) de 2000
Ratiica a Convenção
NACIONAL VS. INTERNACIONAL.
Dec. 717/75 de Cultural Europeia
Conservação do Património de cada Estado
20.12 (Conselho da Europa) de
como Património comum da Europa
1954
Ratiica a Convenção para
NACIONAL VS. INTERNACIONAL.
Dec. 49/79 de a Protecção do Património
Criação da categoria de Património
6.06 Mundial Cultural e Natural
Mundial da Humanidade
da UNESCO de 23.11.72
Ratiica a Convenção
NACIONAL VS. INTERNACIONAL. para a Protecção dos
Dec. Pres. Rep.
Protecção do Património em caso de Bens Culturais em Caso
13/2000
conlito, pela sua dimensão supranacional. de Conlito Armado da
UNESCO, de 1954
NACIONAL VS. INTERNACIONAL. Ratiica a Convenção do
Acordo para a restituição de bens Dec. Pres. Rep. Unidroit sobre Bens Culturais
roubados ou ilicitamente exportados 22/2000 de 4.04 Roubados ou Ilicitamente
(inclusive em contextos coloniais). Exportados, de 1995

NACIONAL VS. INTERNACIONAL. Ratiica a Convenção sobre


Integração do Património Subaquático Res. A.R. 51/2006 a Protecção do Património
na lógica de protecção do Património de 6.07 Cultural Subaquático da
Cultural Arqueológico. UNESCO (2001)
MATERIAL VS. IMATERIAL. Deine
Ratiica a Convenção
o que a Europa entende por Património
Quadro do Conselho da
Cultural, sem nunca mencionar a palavra
Res. A.R. 47/2008 Europa Relativa ao Valor do
arqueologia (excepto na menção que
de 18.07 Património Cultural para
faz da Convenção Europeia de 1992), e
a Sociedade (Conselho da
privilegiando claramente valores, crenças,
Europa) de 2005
saberes e tradições em permanente evolução.
110 • IPHAN

Bibliograia
Alves, Francisco J. S. 2001. A legislação sobre património cultural subaquático
em Portugal. In: Revista Jurídica, nova série n.º 24-Abril, Lisboa, p. 201-225
Bastos, L. Rossano ; Oostrebeek, L. 2007. Patrimônio cultural arqueológico :
pós-modernidade e desenvolvimento turístico. In: Arqueologia trans-atlân-
tica, Oosterbeek, L. , Bastos, Rossano L. (org.), Erechim : Habilis, p. 9-16
Carneiro, S. 2003. Entre o público e o privado : conlito e ruptura na Arqueologia
portuguesa. In: Arqueologia e história. Lisboa : Associação dos Arqueólogos
Portugueses. – Vol. 55, p. 129-135
Correia, A. de Ferrer. 1996. A venda de objectos de arte. In: Direito do Património
Cultural, INA, Oeiras
Costeira, I. 1998. Dar passado ao futuro: interesse público – interesse privado,
conlito ou conciliação. In: Encontros Cem Anos de Arqueologia “O Archeólogo
Português” / org. Associação de Protecção ao Património Arqueológico de
Vila do Conde... (et al.). - Vila do Conde : Associação de Protecção ao
Património Arqueológico de Vila do Conde, p. 41-46.
Fabião, C.1999. Um século de Arqueologia em Portugal – I. In: Al-madan. –
Almada: Centro de Arqueologia de Almada. Sér. 2, nº 8, p. 104-126
Fabião, C. 2006. A Universidade e as Empresas de Arqueologia: vias para uma re-
lação desejável. In: Era Arqueologia. – Lisboa : Era Arqueologia. Nº 7 (Fev.),
p. 30-40
Felgueiras, O. Lixa. 1989. Algumas relexões para a deinição duma política de defesa
do nosso património arqueológico subaquático, Academia da Marinha, Lisboa.
Guedes, A. Marques. 1996. Património cultural subaquático. In: Direito do
Património Cultural, INA, Oeiras
Gonçalves, M. Eduarda. 2001. O caso de Foz Côa: um laboratório de análise socio-
política, Edições 70, Lisboa, 2001.
Lopes, F., Correia, M. Brito. 2004. Património Arquitectónico e Arqueológico:
Cartas, Recomendações e Convenções Internacionais, Livros Horizonte, Lisboa,
2004
Oosterbeek, L. 1996. De Foz Côa ao conjunto do território português : por
uma nova relação do património com a sociedade. In: Techne. – Tomar :
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 111

Arqueojovem, Associação Juvenil para a Preservação do Património Cultural


e Natural. Nº 2, p. 65-68

Oosterbeek, L. 1999. Património cultural e estudos de impacte ambiental : pro-


teger o quê? In: Arqueologia. – Porto : Grupo de Estudos Arqueológicos do
Porto. Nº 24 (Set), p. 9-13

Oosterbeek, L. 2007. Arqueologia, património e gestão do território: polémicas.


Erechim : Habilis, 199, [1] p.

Oosterbeek, L. 2008. Gestão integrada do território e do património cultural. In:


Area Domeniu. – Tomar: CEIPHAR – Centro Europeu de Investigação da
Pré-História do Alto Ribatejo. Nº 3, p. 11-17

Ramos, J. L. Bonifácio. 2008. O Achamento de Bens Culturais Subaquáticos,


Livraria Petrony, Lisboa

Raposo, L. 1999. Arqueologia e museus em Portugal desde inais do século XIX.


In: Al-madan. – Almada : Centro de Arqueologia de Almada. – ISSN 0871-
066X. - Sér. 2, nº 8 (Out.), p. 169-17

Raposo, L. 2003. Passado, presente e futuro da arqueologia proissional. In: Nos


10 anos da APA / coord. Sérgio Carneiro. – Porto: Associação Proissional
de Arqueólogos, p. 57-66

Real, F. 1998. Património arqueológico e estratégias de desenvolvimento. In:


Encontros Cem Anos de Arqueologia “O Archeólogo Português” / org. Associação
de Protecção ao Património Arqueológico de Vila do Conde... [et al.]. – Vila
do Conde : Associação de Protecção ao Património Arqueológico de Vila do
Conde, p. 183-190

Real, F., Alfaro, L. 2006. Legislação e regulamentos em preparação em 2005. In:


Praxis archaeologica. – Porto: Associação Proissional de Arqueólogos. 1983.
– Vol. 1, p. 9-13

Silva, A. C. 1995. Arqueologia preventiva e de salvamento : a ponta do iceberg.


In: Al-madan. – Almada : Centro de Arqueologia de Almada. Sér. 2, nº 4
(Out.), p. 97-100

Silva, A. C. 1999. Salvamento arqueológico no Guadiana: do inventário patrimonial


à minimização dos impactos. Beja : EDIA – Empresa de Desenvolvimento e
Infraestruturas do Alqueva, 416 p.
112 • IPHAN

Silva, A. C. 2002. Das propostas de Estácio da Veiga (1880) à criação do Instituto


Português de Arqueologia (1996): cem anos de equívocos na gestão do pa-
trimónio arqueológico. In: Arqueologia e história. Lisboa : Associação dos
Arqueólogos Portugueses. – Vol. 54, p. 299-315
Silva, A. C. 2003. Arqueologia de salvamento: “amostragem miníma obrigatória”
ou “direito à livre escolha”?. In: Al-madan. – Almada : Centro de Arqueologia
de Almada. Sér. 2, nº 12 (Dez.), p. 65-69
Silva, A. C. (2004). A salvaguarda do património arqueológico em meio rural.
In: Património. Estudos. – Lisboa : Instituto Português do Património
Arquitectónico. Vol. 6, p. 41-49
Silva, A. C. 2008. Arqueologia empresarial : questões legais a montante dos
“Cadernos de Encargos”. In: Era Arqueologia. Lisboa, Nº 8 (Fev.), p. 14-18
Silva, A. C. 2003. Conlito, mediação e regulação de interesses na “Arqueologia
Preventiva” In: Arqueologia e história. Lisboa : Associação dos Arqueólogos
Portugueses. Vol. 55, p. 123-127
Silva, A. C., Marques, T. 1992. Criação de um serviço nacional de Arqueologia.
In: Al-madan. – Almada: Centro de Arqueologia de Almada. Sér. 2, nº 1
(Dez.), p. 44-45
Climat et Patrimoine Culturel
au Sahara. Introduction à la question
de l’adaptation humaine à des
crises climatiques survenues
au Sahara depuis dix mille ans. VI
Schvoerer Max, Massué Jean-Pierre, Jungner
Hogne, Ney Claude, Guibert Pierre, Aumassip Ginette,
Bouvier Jean-Marc, Tauveron Michel, Striedter Karl, El
Graoui Mohssine, Searight Susan et Ollagnier Céline.

Introduction à la question de l’adaptation humaine à des crises climatiques


survenues au sahara depuis dix mille ans.

Problématique:
Comment, des populations anciennes du Sahara, se sont-elles adaptées aux
conséquences environnementales de crises climatiques, survenues au cours des
dix derniers millénaires ?

Contexte de la recherche
Le réchaufement climatique en cours, dont pratiquement plus personne ne
doute, n’est pas encore l’un des problèmes majeurs de notre temps, mais il pour-
rait le devenir. Car il aura des conséquences susceptibles de menacer l’existence de
chaque individu et globalement, la survie de notre civilisation. Or, parce que la
situation est historiquement inédite, des questions demeurent sans réponses. Celle
de la problématique ci-dessus est primordiale. En efet, tôt ou tard, malgré l’incer-
titude qui règne, les gouvernements seront contraints de prendre, peut-être dans
114 • IPHAN

l’urgence, des mesures eicaces et sans doute contraignantes (Massué 2002). On


s’interroge, lesquelles ? Dans ce contexte, notre recherche propose, à titre préven-
tif, une première démarche qui consiste à explorer le passé holocène du Sahara
(les dix derniers millénaires), ain de rechercher des traces de comportements
humains du passé qui pourraient nous éclairer sur ce qu’il est possible de faire en
pareil cas.

Stratégie de recherche
La stratégie de recherche choisie consiste à « interroger le passé » en essayant de
rapprocher des informations issues des quatre disciplines suivantes .
- L’Archéologie qui démontre l’occupation d’un site et ofre parfois une évolution
stratigraphique.
- Art rupestre. Ce dernier, « cerise sur le gâteau », bien que toujours mal daté et
interprété au Sahara, mais qui « éclaire » néanmoins sur un milieu de vie.
- La Chronologie physique qui situe dans le temps, le matériel des séquences
stratigraphiques.
- La Paléoclimatologie  dont les données, déduites de considérations stratigra-
phiques ou obtenues à partir de simulations donnent un accès à l’environnement.
Cette démarche permettra de revisiter la question souvent débattue du phéno-
mène  migratoire au Sahara et de sa dépendance au climat. On sait en efet depuis
longtemps, qu’il est aujourd’hui comme hier, conditionné par les besoins fondamen-
taux du troupeau de bovins ou d’ovins, lui-même tributaire de la végétation et de
la persistance de points d’eau tout au long de l’année. Ayant compris pourquoi les
hommes devaient se déplacer, nous tenterons de répondre aux questions suivantes:
- Quand le climat devient aride et froid, où vont les hommes avec leurs trou-
peaux et pourquoi ?
- Que font-ils quand la pluie revient et que la température augmente ?

En raison de la complexité du sujet, en particulier, de sa double « immensité »,


géographique (plusieurs millions de km2) et chronologique (dix millénaires), en
regard de la brièveté de cet article de synthèse, nous rapporterons ici seulement
quelques uns des résultats obtenus pour le Sahara central. Des analyses, relatives
à d’autres régions du Sahara,, sont en cours de rédaction.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 115

Résultats:
1 – Apport de l’archéologie et de l’Art rupestre.

• La néolithisation du Sahara
On sait qu’elle commence sensiblement en même temps que débute l’Holocène,
comme la néolithisation du Proche-Orient (Cauvin 1978 ; 1977) où cette culture
fut déinie. Pour les deux régions, sur le plan humain, c’est un phénomène consi-
dérable. Au Sahara, elle est toutefois sensiblement diférente de celle qui a pris
son essor au Proche-Orient. Vraisemblablement, en partie parce que la latitude
et l’environnement sont diférents. En fait, il manque au Sahara, du moins au
« début », l’agriculture (Cremaschi 2004 ; Barich and Hassan 2000 ; Aumassip
1987 ; Roset 1987 ; 1983 ; Lhote 1970). En efet, les populations sahariennes ont
continué de pratiquer la chasse, développé l’élevage, inventé la production d’une
céramique d’usage bien cuite, se sont sédentarisées en partie, mais elles ne culti-
vent pas les céréales, qu’elles cueillent à l’état naturel et consomment néanmoins,
comme l’atteste l’abondance du matériel lithique consacré au broyage. Mais elles
possèdent un art rupestre original, gravé ou peint, d’une très grande richesse.
Cela dit, comme nous l’expliciterons dans le paragraphe consacré à l’apport des
méthodes physiques de datation, le Néolithique saharien est aussi ancien et peut-
être davantage que celui du Proche- Orient (Guibert et al. 1996 ; 1994a ; 1994b).
Les convergences chronologiques sont de plus en plus nombreuses et aux incer-
titudes expérimentales près, la céramique apparaît dans les deux régions entre
9 500 et 9 000 BP1. Nous remarquerons bientôt que cette date marque aussi le
début de l’Holocène et au Sahara, une période durant laquelle l’insolation, la
température et l’humidité ont augmenté comme sur toute la planète, par rapport
à la situation antérieure, la toute in du Pléistocène.

• Concentration de l’attention sur le Sahara central


Nous avons choisi de privilégier ce qui se passe durant l’Holocène au Sahara
central, d’abord parce que c’est une vaste région où l’on trouve des zones monta-
gneuses et parce que l’Archéologie y est riche et féconde. Un handicap découlait
du fait qu’au Sahara, la plupart des habitats humains sont, soit des sites de plein
air, soit des abris - sous - roche, ce qui signiie en général, absence de stratigra-
phie. Mais l’équipe de recherche de l’un d’entre nous (A.G.) a trouvé et scien-

1
BP = Before Present, conventionnellement, avant le Présent , avec Present = 1950 ap. J.C.
116 • IPHAN

tiiquement étudié au Tassili, au Sud de Djanet (Algérie), un site exceptionnel,


Tin Hanakaten (Alt. 1080 m. ; 23°52’ N / 10°22’ E), implanté dans un abri-
sous-roche dont la profondeur en fait pratiquement, l’équivalent d’une grotte
(Aumassip et al. 2007).
Tin Hanakaten ofre une stratigraphie de plusieurs mètres (5 à 7 m.) de puis-
sance, subdivisée en 13 séquences qui correspondent au minimum, à la totalité de
l’Holocène. Culturellement, cette stratigraphie comporte deux ensembles néoli-
thiques essentiels que l’on ne retrouve superposées nulle part ailleurs, que ce soit
au Tassili ou dans la Tadrart Acacus (Aumassip et al. 2007). De surcroît, ses pa-
rois, de même que celles d’abris voisins, sont peintes. Comme on va le voir, c’est
sur cette stratigraphie, que le programme « Patine du désert » a fait porter l’efort,
en ce qui concerne la recherche en Chronologie physique. En même temps que
seront énoncés les résultats des datations, volontairement exprimés en années BP,
les observations archéologiques et en particulier, l’appartenance culturelle, en re-
lation avec les subdivisions de l’Art rupestre, qui seront évoquées.

2 - Apport de la chronologie physique

• Stratégie en ce qui concerne la chronologie physique


Les peintures et les gravures de l’art rupestre saharien ne sont pas encore direc-
tement datables. En revanche ce qui l’est, la céramique avec la hermolumines-
cence (TL) (Schvoerer 1995) et les restes carbonés avec le Radiocarbone (14C)
(Jungner 2007), a fait l’objet d’un substantiel programme de recherche chrono-
logique dont nous ne donnerons ici que les grandes lignes des résultats. Précisons
que la chronologie des cultures néolithiques en Afrique (Algérie, Soudan, Niger)
et en Europe occidentale (France et Italie) (Vartanian et al.2001 ; Guibert et al,
1996), est un programme de recherche du laboratoire de Bordeaux (Université
– CNRS ; M.S., C.N. et P.G.). Les recherches correspondantes ont contribué à
établir que la maîtrise de la céramique apparaît tôt au Sahara, entre 11 000 et
10 000 BP, notamment dans les montagnes de l’Aïr au Niger (Guibert, Q. 1994-
a : RoseT 1983 – b). Elle est bien cuite, en général en atmosphère réductrice et sa
décoration est élaborée et variée.

• Croisement à Tin Hanakaten de deux méthodes de datation


Dans le cadre du programme « Patine du désert », il a été possible d’ainer la
chronologie de l’occupation du site de Tin Hanakaten (Tassili Azjer, Algérie), qui
était basée sur quelques datations 14C obtenues antérieurement. Dans ce but, une
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 117

cinquantaine de nouvelles datations ont été efectuées, en mettant en œuvre deux


méthodes physiques indépendantes sur le matériel de la colonne stratigraphique
du site : hermoluminescence (TL) sur les cristaux de quartz et de feldspath
contenus dans des tessons de céramique Radiocarbone (14C) sur des charbons de
bois ou des restes végétaux.
On rapporte ici les nouvelles datations ainsi que des datations antérieures au
programme « Patine du désert ». Ces dernières sont à manipuler avec précaution,
car pour être comparables aux résultats des datations par TL (ou d’une autre
méthode : dendrochronologie, horium 230), les âges 14C mesurés doivent être
« calibrés ». La calibration est systématique de nos jours, mais on est contraint
à des approximations quand on veut étendre la comparaison avec des datations
14
C anciennes, dans la mesure où la publication des résultats a malheureusement
presque toujours fait l’impasse sur le détail des conditions expérimentales des
mesures. Dans ces conditions :
- les datations TL seront rapportées en années BP (Av. 1950),
- les datations 14C récentes, en années BP et chaque fois que possible, en années
BP après calibration (cal. BP).
- les datations 14C anciennes en années BP, laissant au lecteur, le plaisir de s’y
exercer s’il le désire.

• Incertitudes expérimentales (TL et 14C) et mode de calibration des âges 14C


En TL, sauf dans quelques situations particulières, en général liées à l’hétérogé-
néité ou à l’histoire du milieu d’enfouissement de l’objet à dater, on n’introduit
pas de terme correctif sur un âge TL. On mentionne seulement l’incertitude ex-
périmentale qui l’afecte. En pratique, on observe in situ et analyse au laboratoire,
le milieu d’enfouissement, ain d’interpréter, par exemple un déséquilibre de la
chaîne de désintégration de l’Uranium 238 que l’on décèle pour certains milieux
archéologiques (Guibert et al. 1994a).
Avec le Radiocarbone, en revanche, en raison de la dépendance du taux de for-
mation du 14C dans l’atmosphère, au lux de particules cosmiques issues du Soleil
et de l’Univers, on procède pour un âge Radiocarbone à une correction (Jungner
2007). Cette « calibration » découle de travaux qui ont permis de déterminer les
variations de la teneur en 14C de l’atmosphère depuis 25 000 ans, à partir des
anneaux de croissance du bois (chêne, pin, etc.), ou de formations coraliennes
et de sédiments marins, en diférents points de la Terre. L’ensemble des résultats
correspondants est regroupé dans une base de données, « IntCal04 » (Reimer et
118 • IPHAN

al. 2004). La courbe de calibration et des programmes de calibration peuvent être


consultés en libre accès à l’adresse suivante : www.radiocarbon.org (Jungner 2007).
On mentionne désormais la valeur du rapport des deux isotopes stables (Carbone
12 et Carbone 13), par le symbole d13C (exprimé en ‰). Il indique l’écart à la
teneur correspondante d’un standard international représentant une moyenne
globale (VPDP). La valeur de d13C est utilisée pour déterminer le fractionnement
isotopique qui joue sur la concentration en Radiocarbone de l’atmosphère et des
objets à dater. En suivant la stratigraphie établie par l’un d’entre nous (A.G.), au
cours de la fouille archéologique, on dispose des résultats regroupés ci-après.

Après «Patine Du Désert», Chronologie Physique De La Stratigraphie


Holocène De Tin Hanakaten
(Tassili Azjer, Algerie)
Le sol de l’abri est meuble, cendreux et sablonneux pour ne pas dire pulvéru-
lent. Apparemment, il le fut toujours et au moment de la fouille comme ce fut
vraisemblablement le cas dans le passé, des remaniements sont probablement
intervenus. Ils introduisent sur la position stratigraphique des objets à dater une
incertitude que jusqu’ici, nous n’avons pas su évaluer. Il suit de se souvenir de
cette remarque préliminaire. Pour la présentation des résultats récents : BDX =
Bordeaux et Hela = Helsinki. Pour les résultats anciens : Monaco, Alger et Gif
pour les laboratoires de datation 14C, des villes de même nom.
Séquence S 1 – Le site a été abandonné.
Sable éolien stérile. Les hommes ont déinitivement abandonné le site. Sable,
cendres et poussières.
Séquence S 2  - Fin du Bovidien supérieur : vers 3 000 ± 150 BP – Avait
débuté vers 5 500 ± 200 BP.
C : 2 520 ± 35 BP (calBP : 2 500 – 2 750; Hela 1150 / BDX 511; charbons
14

de bois; d13C : - 23,5).


TL : 2 790 ± 200 BP (BDX 477 - céramique)
14
C : 3 100 ± 240 BP (végétaux)
14
C : 3 585 ± 40 BP (calBP : 3 800 - 4 000; Hela 1189 / BDX 479; végétaux;
d13C : - 15,3).
14
C : 3 875 ± 35 BP (calBP : 4 200 – 4 450; Hela 1178 / BDX 480; végétau x;
d13C : - 15,4).
14
C - 4 705 ± 50 BP (calBP : 5 300 - 5 600; Hela 1179 / BDX 510; végétaux;
d13C : - 16,1).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 119

En résumé, pour la séquence S 2 : au total 6 datations :


Age TL (1 datation) : 2790 ± 200 BP.
Ages 14C BP (5 datations) : début S2 vers 4 705 ± 50 et in S2 vers 2 520 ± 35 BP.
Ages 14C calBP : (4 sur 5 précédentes). Début S2 : 5 300 – 5 600 et in S2 : 2 500-
2 750 calBP.
Séquence S 3 - Bovidien supérieur
TL - 3 080 ± 230 (BDX 491, céramique).
TL - 3 100 ± 220 (BDX 482, céramique).
TL - 3 580 ± 260 BP (BDX 481; céramique: fragment de igurine de bovidé en
terre cuite).
TL - 4 820 ± 320 (BDX 517, céramique).
TL - 5 150 ± 440 (BDX 528, céramique). 
14
C - 3 950 ± 45 BP (calBP : 4 250 – 4 550; Hela 1180 / BDX 548; copro-
lithes; d13C : - 13,8).
14
C - 4 100 ± 70 BP (Monaco 676).
14
C - 5 285 ± 40 BP (calBP : 5 950 – 6 200; Hela 1151 / BDX 485; charbons
de bois; d13C : - 24,3).
En résumé, pour la séquence S3 (au total 8 datations) :
Ages TL (5 datations) : début S 3 : 5150 ± 40 BP et in S 3 : 3080 ± 230BP
Ages 14C (3 datations) BP : début S 3 : 5 285 ± 40 BP.
Ages 14C calBP (2des 3 précédentes) : début S 3 : 5 950- 6 200 calBP.
Séquence S 4  - Bovidien inférieur. Début vers 7  000 ± 200 BP et in vers
5 500 ± 200 BP.
14
C - 5 555 ± 45 BP (Hela 1471)*
14
C - 5 800 ± 120 BP (Gif 5414).
14
C - 6 030 ± 50 BP (Hela 1472).
14
C - 6 135 ± 50 BP (Hela 1469).
14
C - 6 140 ± 45 BP (Hela 1468).
14
C - 6 190 ± 50 BP (Hela 1467).
14
C - 6 290 ± 50 BP (Hela 1473).
14
C - 6 370 ± 80 BP (cal BP : 7 250 – 7 450; Hela 1190 / BDX 493; végétaux;
d C : - 19,8).
13

14
C –-6 450 ± 130 BP (Gif 5467).
14
C – 6 650 ± 90 BP (Monaco 677 – mélange de cendres varvées des niveaux
N5, N6 et N7)
14
C - 6 650 ± 90 BP (Gif 677).
14
C - 6 840 ± 130 BP (Gif 5468).
120 • IPHAN

14
C - 6 900 ± 50 BP (Hela 1153; BDX 535).
14
C - 6 960 ± 55 BP (Hela 1191; BDX 532).
14
C - 7 005 ± 50 BP (calBP : 7 750 – 7950 ; Hela 1152 / BDX 536; charbons
de bois; d13C : - 22,6).
14
C - 7 055 ± 50 BP (Hela 1474).
14
C - 7 110 ± 40 BP (Gif 5419).
14
C - 7 150 ± 50 BP (Hela 1154 / BDX 533).
14
C - 7 220 ± 140 BP (Gif ).
En résumé, pour la séquence S 4 (au total 19 datations) :
Ages TL : Pas de dates.
Ages 14C BP : (19 datations) : début de S 4 vers 7 220 ± 140 BP et in vers 5555
± 45 BP.
Ages 14C calBP : (2 sur les 19 précédentes). Début de S4 : 7 750 - 7 950 calBP.

Séquence S 5 – Niveau éolien, pratiquement inexistant, calé chronologiquement


entre la in de S 6 et le début de S 4, Vers 7 000 ± 200 BP. Cette séquence marque
la in de la période dite des « Têtes Rondes».
Séquence S 6 - Néo Saharo-Soudanais sup. (têtes rondes, suite et in). Début
vers 8 200 ± 200 BP et in vers 7 000 ± 200 BP.
TL - 7 150 ± 480 BP (BDX 549, céramique).
TL - 7 300 ± 320 BP (BDX 531céramique).
TL - 7 330 ± 360 BP (BDX 534, céramique).

14
C - 6 900 ± 50 BP (calBP : 7 650 – 7 800; Hela 1153/ BDX 535; charbons
de bois; d13C : - 22,1).
14
C - 6 960 ± 55 BP (calBP : 7 700 – 7850; Hela 1191 / BDX532; végétaux;
d13C : - 22,3).
14
C - 7 095 ± 55 BP (calBP : 7 850 – 8000; Hela 1155 / BDX 498 : charbons
de bois ; - 25,5).
14
C - 7 150 ± 50 BP (calBP : 7 900 - 8050; Hela 1154 / BDX 633; charbons de
bois; d13C : - 25,8).
14
C - 7 890 ± 50 BP (calBP : 8 550 – 8 850 (Hela 1156 / BDX 499 : charbons
de bois; d13C : - 23,7)
14
C - 8 030 ± 120 BP (Gif 5948), base de la séquence, marquée par la réduction
des chutes de blocs, provoquées par des conditions climatiques froides.
14
C – 8 100 ± 130 BP (Monaco 678).
14
C – 8 370 ± 60 BP (Hela 1475).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 121

En résumé, pour la séquence S 6


Ages TL (3 datations) : Entre 7 150. ± 480 BP et 7330 ± 360 BP
Ages 14C BP (8 datations) : entre 6 900 ± 50 BP et 8 370 ± 60 BP.
Ages 14C calBP (5 des 8 précédentes) : Début : 8 550-8 850 et in : 7 650-7 800
calBP.

Séquence S 7. Niveau éolien. Phase brève, correspondant à une «crise d’aridité»


vers 8 200 ± 200 BP. Le site fut alors abandonné, car ce niveau ne contient aucun
matériel archéologique. Cette phase n’est donc pas directement datable. On la
repère néanmoins par la datation du niveau immédiatement inférieur qui corres-
pond au sommet de S8, vers 8 200 ± 200 BP et celle du niveau immédiatement
supérieur, la base de S 6 qui débute aussi vers 8 200 ± 200 BP).

Séquences S 8 / S 9: « Néol. Saharo-soudanais inférieur ». Entre 9 500 ± 200


et 8 200 ± 200 BP. A ces séquences correspond le début de la période des « Têtes
Rondes  ». Dans cette région, notamment, émerge un faciès régional, au tout
début de l’Holocène, les « Kel Essuf » (génies) (Ferhat et al. 2000); (Le matériel
archéologique permet d’attribuer cette séquence au Néolithique Saharo-souda-
nais inférieur. On est à la base de la colonne stratigraphique de l’abri de Tin-Ha-
nakaten et dans le temps:
14
C - 8520 ± 130 BP, (cal BP : 9 400 - 9 700; Hela 1192 /BDX 500 : végétaux;
d C : - 19,4).
13

14
C - 8 870 ± 65 BP (Hela 1463) – Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 8 875 ± 65 BP (Hela 1477)
14
C - 8 890 ± 95 BP (cal BP : 9 800 – 10 200; Hela 1193 / BDX 503 : végé-
taux; d13C : - 21).
14
C - 8 905 ± 60 BP (Hela 1466)
14
C - 8 980 ± 65 BP (Hela 1465)
14
C - 8 995 ± 65 BP (Hela 1462). - Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 9 100 ± 65 BP (Hela 1464) - Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 9 175 ± 60 BP. (Hela 1478) - Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 9 420 ± 200 BP (Alg 27)
122 • IPHAN

En résumé, pour les séquences S 8 / S9 (au total 10 datations) :


Ages TL (pas de datation).
Ages 14C BP (10 datations) : début : 9 420 ± 200 BP et in 8 520 ± 130 BP.
Ages 14C calBP (2 des 10 précédentes) : milieu de la séquence : 9 800-10 200 et
in 9 400 – 9 700 calBP.

3 - L’apport de la Paléoclimatologie
• Fin du Pléistocène
Au cours des vingt derniers millénaires, selon un schéma général bien établi à
l’échelle planétaire (Petit-Maire 1999), le climat connaît d’abord une oscilla-
tion « froide » entre 20 000 et 16 000 BP, durant laquelle le froid fut maximal
(en moyenne 4,5°C de moins que la température moyenne de la in du XXème
s. ap. J.C., ce qui est relativement important vis-à-vis de l’environnement). Au
Sahara, l’aridité est alors extrême et l’homme le fréquente peu. En paléoclima-
tologie, c’est la in du Pléistocène qui s’achève (un peu conventionnellement)
vers 10 000 BP.

• Début de l’Holocène
Une oscillation « chaude » va lui succéder, qui dure encore de nos jours. Le lent
processus de réchaufement qui a commencé entre 16 000 et 14 000 BP (Petit-
Maire, 1999), s’accentue à partir de 14 000 BP, s’amortit ensuite, puis « accélère »
de manière « Abrupte » vers 9 500 ± 200 BP (Perry 2000). C’est le début de la
période appelée Holocène en Paléoclimatologie, que l’on situe (conventionnel-
lement, donc), vers 10 000 BP. Au Sahara, la chaleur accompagne le retour de
la mousson et avec elle, des pluies (Bernard 1962). Entre 9 000 et 7 000 BP, la
température sera en moyenne supérieure à l’actuelle (in XXème s.) de 2° C.

• Crises climatiques superposées au changement climatique de l’Holocène


Lors de la préparation du programme de recherche «Patine du désert», nous uti-
lisions sans discernement le concept de «changement» climatique sans trop nous
préoccuper de la dépendance du phénomène au temps (celui qui passe), autre-
ment dit à la durée. Mais peu à peu, nous avons pris conscience de la confusion
que cela provoquait et nous avons introduit dans notre rélexion, le concept de
«crise climatique». En efet, de nombreuses observations et des travaux récents
(Bard et al. 2006 ; Perry and Hsue 2000), ont mis en évidence, un peu comme
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 123

sur un électrocardiogramme, des sortes de pulsations rapides du climat, débu-


tant de manière abrupte dans le temps, par un réchaufement, accompagné – au
Sahara en particulier –, d’humidité et se prolongeant lentement pour devenir
in ine, moins chaud – froid - et aride. Ailleurs, des analyses isotopiques réalisées
à partir de carottages dans des sédiments marins, des sédiments lacustres et des
glaces polaires ou continentales, complétées par des datations physiques quand
cela était possible ainsi que des simulations, ont efectivement mis en évidence ce
phénomène qui correspond, selon nous, plutôt à une «crise climatique».

• L’homme n’a conscience que des crises


Ce point de vue est conforté par une remarque de bon sens. Il n’y eût que deux
«changements» climatiques au cours des derniers 20 000 ans (Petit-Maire 1999).
D’un point de vue anthropique, il est évident que la diférence de durée avec celle
d’une vie humaine (pas même un siècle), est considérable. Entre 20 000 et 16 000
BP, quelque 160 générations humaines se sont succédé et entre 9 000 et 7 000
BP, 80 générations environ. Il est clair qu’un être humain ne peut pas savoir que
sa vie s’inscrit dans un changement de climat. En revanche il a la capacité de se
rendre compte des conséquences d’une crise climatique dont nous ixons la durée
à quelques décennies. C’est l’efet cumulé de crises, toujours dans le même sens,
qui donne accès au statut de «changement climatique».

• Le Soleil est-il à l’origine de crises climatiques ?


Toutes les régions du monde (Hassan 2005; Vernet 1995; Aumassip et Tauveron
1993) et toutes les échelles de temps ou évènements sont de nos jours explorés
(Bouvier et Dubourg 1997; Bouvier 1992). S’il est acquis que les «grands» chan-
gements climatiques peuvent être corrélés aux variations des paramètres astro-
nomiques de l’orbite terrestre autour du Soleil et de l’orientation de son axe de
rotation sur elle-même (Milankovitch 1920; Berger et Loutre 2004), l’origine (les
causes) des crises climatiques est moins claire. Des paléoclimatologues ont cepen-
dant remarqué une possible dépendance de ces crises à de légères modiications de
l’énergie rayonnée par le soleil, qui se manifestent notamment, par une variation
du nombre de taches solaires observables. Cette dépendance, constatée pour les
périodes courtes et récentes, a été recherchée pour des périodes préhistoriques par
des simulations dont la validité a été contrôlée par des données physiques (data-
tions, analyses isotopiques).
124 • IPHAN

• Un phénomène révélé par simulation


Nous avons retenu un travail (Perry and Hsue 2000) dont nous avions eu connais-
sance au tout début des années 2 000 en préparant ce qui n’était alors que le pro-
jet «Patine du désert». Grâce à ce travail, notre rélexion a progressé. Sans revenir
ici sur le cheminement des auteurs, nous dirons que la igue 4, empruntée à leur
article, résume le résultat de leur simulation. Elle montre, pour la partie de l’étude
retenue, comment a évolué l’insolation depuis 14 000 BP (leur investigation est
plus large et a été étendue à 90 000 années), comme d’autres auteurs l’ont signalé
(Le Quellec 2009). On remarque la quasi-périodicité des montées abruptes de
l’insolation.
Parce que nous avons ini par écarter l’idée qu’il pouvait s’agir d’un artiice de
calcul (Perry 2009), nous avons, par jeu au début, mais ensuite avec perspicacité,
rapproché :
- les datations physiques réalisées pour la stratigraphie de Tin Hanakaten, par
hermoluminescence (Bordeaux) et Radiocarbone (Helsinki),
- les interprétations relatives à l’occupation ou à l’abandon de ce site du Sahara
central (G.A.).
- les informations de la courbe de la igure 1.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 125

• Surprenante périodicité des « crises » climatiques


- Une première observation concerne la périodicité des augmentations abruptes
de l’insolation qui ramène au Sahara la mousson et l’humidité (Darchen 1981).
Estimée graphiquement, nous avons mesuré T = 1290 ± 60 années, valeur «de
travail», qui encadre celle que proposent les auteurs : 1 300 années et que nous
retiendrons.
- Une seconde observation concerne la chronologie des niveaux éoliens de Tin
Hanakaten, stériles du point de vue anthropique et que l’archéologue permet
d’interprèter sans équivoque comme des phases d’abandon du site en réponse
à une aridité extrême. Cette façon d’analyser les résultats, suggère les correspon-
dances suivantes :
Après une montée abrupte de l’insolation et selon Perry et Hsue, de la tempéra-
ture, une lente diminution de ces deux paramètres s’ensuit, qui se traduit par une
assez longue période de plus en plus froide et aride. Puis, le processus reprend.
Globalement, on perçoit deux massifs correspondant respectivement au «pluvial»
de la première moitié de l’Holocène (entre 9 500 BP et 5 500 BP, soit environ 3
cycles de 1 300 années) et à celui du début de la seconde moitié il est maximum
vers 4 000 BP et décroît presque continûment ensuite. En trait continu, les au-
teurs ont mentionné le niveau marin (Ters 1976). On remarque les «  arides  »
connus des archéologues, vers 6 900 ± 200 BP et entre 4 600 ±100 et 4 300 ±
100 BP. En pointillés, ils proposent une projection dans le proche avenir qu’ils
rectiient dans le texte de leur article, pour tenir compte de l’efet de serre d’ori-
gine anthropique actuel qui modiie le processus naturel.
On repère aussi deux évènements climatiques froids, bien caractérisés dans les
stratigraphies du Paléolithique et de la Paléoclimatologie des régions tempérées
notamment, dits du Dryas ancien (vers 12 100 BP) et du Dryas récent (vers 10
800 BP). On peut noter au passage que l’écart entre ces deux repères est juste-
ment de 1 300 ans. Par la suite, les autres réchaufements rapides, succédant à des
périodes de longue durée de climat aride et froid, apparaissent sur cette courbe
avec la même périodicité. Ils se situent vers 9 500, 8 200, 6 900, 5 600, 4 300,
3000, 1700 et 400 BP.

• Projection de Perry : futur immédiat et avenir


C’est évidemment la préoccupation des pouvoirs publics actuels et de chacun de
nous. Perry, prolongeant le raisonnement élaboré à l’aide de son modèle estime
que théoriquement, le climat aurait dû, entre 2000 et 2100 ap. J.C., se refroidir
faiblement, puis plus rapidement entre 2100 et 2400 pour s’installer entre 2400
126 • IPHAN

et 2900, dans des conditions identiques à celles du petit âge glaciaire (entre 1280
et 1860 ap. J.C.). Vers 2900 ap. J.C., l’insolation devrait s’accroître, ainsi que la
température pour atteindre au cours de la première moitié du IVème millénaire
ap. J.C. (entre 3000 et 3500 ap. J.C.) des valeurs aussi élevées que celles du maxi-
mum de l’Holocène, vers 4 000 BP (in du Néolithique – chalcolithique - et dé-
but de l’Âge du Bronze en Europe durant lequel, le climat fut chaud et humide).
On peut aussi s’attendre alors, à une montée du niveau marin de 3 à 5 m. par
rapport à l’actuel.

4 - Rapprochements
On remarque, aux incertitudes expérimentales près, la proximité chronolo-
gique entre ces diférentes données. On peut penser, au moins provisoirement,
qu’elles sont signiicatives, en regard de la inesse de la fouille et des observa-
tions archéologiques et climatiques, de la  qualité de l’approche chronologique
(croisement de la hermoluminescence et du Radiocarbone), du nombre de
datations physiques réalisées pour la colonne stratigraphique de Tin Hanakaten
(plus de cinquante).
Enin, le résultat de la simulation relative à l’insolation est surprenant et s’il est
conirmé par d’autres travaux, il sera particulièrement intéressant. Car il suggère
un fait que ne dément ni la stratigraphie, ni les datations physiques, ni l’inter-
prétation archéologique : l’alternance, apparemment périodique (T= 1300 ± 50
ans) de montées abruptes (en peu de temps) de l’insolation, synchrones du retour
des pluies, suivies d’une lente évolution vers le froid et une aridité croissante puis
extrême. Lorsqu’un certain seuil de tolérance est atteint ou franchi, l’environ-
nement hydrique et végétal est tellement afecté par l’évolution des conditions
météorologiques que les humains et le troupeau, pour survive, sont contraints
d’abandonner le site, provisoirement du moins (Schvoerer et Axell 2008b).

• Où vont les hommes et leurs troupeaux quand l’aridité devient extrême?


Nous suggérons quelques éléments de réponse, avec la prudence nécessaire,
inhérente à un sujet aussi complexe et sans doute, à cause de cela, assez peu
abordé jusqu’ici (Lhote 1970; 1966). Selon un point de vue souvent avan-
cé (Schvoerer et Axell 2008a; Aumassip 2007; Kröpelin et al. 2006; Vernet
2004), ils rejoignent des «niches écologiques». Logiquement, c’est l’aridité
qui pose le principal problème.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 127

Au Sahara central, par exemple, les zones refuges semblent bien être les cañons
des massifs d’altitude, en gros entre 1200 m et 1800 m (Tassili-n-Azjer, Tadrar
Acacus, Aïr). En période aride, ces zones conservent malgré tout, une humidité
suisante pour permettre de «  tenir  ». De surcroît, au Tassili par exemple, la
géologie favorise le confort des hommes et des animaux en leur ofrant des abris
naturels contre le vent chargé de sable ainsi que de l’ombre, précieuse pour les
personnes âgées, soufrantes ou les femmes en couches. Mais surtout, la porosité
de la roche - du grés -, retient durant des mois, parfois des années, l’eau de la pluie
d’un jour. Goutte à goutte, cette eau suinte et alimente constamment les gueltas
d’altitude, que l’ombre protège de l’évaporation rapide. Et quel support pour lan-
cer des messages au temps, sous forme de gravures et de peintures rupestres (Fig.
3), (Striedter 2007 ; Striedter et al. 2003; Striedter et Tauveron 2001).
Ailleurs qu’au Sahara central, on migre vers la vallée du Nil (Kuper and Krö-
pelin, 2006), où émergera un jour la prestigieuse civilisation pharaonique
(Hachid interview dans Schvoerer et Axell 2008-a). Au Nord du Sahara, vers
les montagnes de l’Atlas où les pasteurs laisseront d’innombrables gravures ou
peintures sur la roche. A l’Ouest, ils se rapprocheront de l’Océan (El Graoui
2005; Searight 2004). Au sud, ils iront vers le Sahel et le bord des lacs (Petit-
Maire 1991).

• Quand la pluie revient


En raison de son impact sur l’environnement végétal, le retour de la pluie et de la
chaleur est a priori moins problématique que la tendance à l’aridité. Mais il n’est
pas sans danger car il favorise la prolifération d’insectes (mouche Tsé-Tsé, mous-
tiques), vecteurs de maladies tropicales mortelles pour les animaux  (trypanoso-
miase) ou les humains (paludisme). Sans doute partiellement protégés par des
immunités individuelles et sélectives, des hommes et leurs troupeaux rejoignent
Tin Hanakaten pour de longues durées, rythmées par l’alternance climatique ob-
servée. D’autres semblent demeurer en altitude ou à proximité, là où les écarts
thermiques sont défavorables à la reproduction des insectes.

5 - Bilan

• Au titre de la recherche
On retiendra de ce travail de recherche, la mise en évidence du rôle possible d’une
luctuation rythmée du rayonnement solaire dans le déclenchement, le sens et
l’intensité des «crises» climatiques. Le phénomène, s’il est conirmé, a une pério-
dicité voisine de 1300 années, … ce qu’il faudra aussi expliquer! Le fait que la
128 • IPHAN

stratigraphie de Tin Hanakaten restitue approximativement cette périodicité est


pour le moins troublant. Il faudra évidemment vériier, évaluer et le cas échéant
étofer la démarche. Si elle est conirmée, on disposera d’un instrument prédictif,
permettant d’aider les pouvoirs publics à prendre des dispositions à titre préventif
ou conservatoire pour les populations et les sources documentaires que sont au
Sahara, les sites archéologiques et l’art rupestre.

• Quand l’aridité menace


Cette étude tend à montrer que lorsque l’aridité devient extrême, les populations
sahariennes anciennes de l’Holocène, abandonnaient des sites où des générations
s’étaient pourtant succédé. Quand la végétation ne suit plus ou est anéantie, le
troupeau est en danger de mort et les hommes doivent migrer vers des zones où
is trouvent quelques moyens de subsistance. Le retour est naturellement possible
quand la situation climatique s’améliore. Cela suppose l’existence de systèmes
de vie et des structures sociales compatibles avec le libre déplacement sur de très
grands espaces, des hommes et des animaux. C’était vraisemblablement le cas
en Afrique, avant que l’occident ne révèle avec la prétention que l’on sait, à des
populations soi-disant attardées, les bienfaits de concepts civilisateurs, tels que…
«frontières».

• Où vont les populations qui migrent ?


Elles se déplacent vers des « niches » écologiques variées qui dépendent de la zone
saharienne concernée (Aumassip et al. 2007 ; Vernet 2004). Au Sahara central
et au Nord du Sahara, on ira plutôt vers les pâturages de montagne. Ailleurs, on
rejoindra les rivages atlantiques (El Graoui 2005), les bords du leuve Niger et ce
que nous appelons aujourd’hui le Sahel (Petit-Maire et Riser 1983), la vallée du
Nil (Kröpelin et al. 2006; Kuper and Ktröpelin 2006) ou les berges des lacs qui
subsistent (Petit-Maire 2002; 1999; 1991; 1988; 1984; 1979).

• Plateaux d’altitude et zones montagneuses


En altitude, la nature de la roche et les formes d’érosion qui la caractérisent, per-
mettent aux groupes de séjourner assez «confortablement» en montagne, où l’on
trouve toute l’année de l’eau et un peu de végétation. A un certain moment, on
adaptera la composition du troupeau à des conditions météorologiques de plus
en plus diiciles : les grands animaux du début de l’Holocène (éléphants, girafes,
crocodiles, hippopotames) seront successivement remplacés par des bovidés, eux-
mêmes par des ovins, des chevaux puis enin des dromadaires (Striedter 2007 ;
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 129

Tauveron 2003). Plus tard encore, comme l’évoque l’art rupestre, on creusera des
puits et on ira jusqu’à des conlits armés pour s’en emparer ou les protéger.

• Quand la pluie et la chaleur reviennent


La recherche archéologique au Sahara montre que l’occupation humaine en mon-
tagne, est relativement pérenne. Sans doute faut-il voir dans ce comportement,
un rélexe de santé publique car le paludisme pour les humains et la trypanoso-
miase pour les animaux sont de terribles menaces. L’altitude, souvent entre 1 200
et 1 800 m. rend diicile ou même impossible, à cause du froid nocturne, la re-
production des vecteurs de ces maladies mortelles. On peut penser que c’est vers
les plateaux du Tassili Azjer, de la Tadrart Acacus ou de l’Aïr relativement proches
(quelques jours ou semaines de marche) et en s’élevant de quelques centaines de
mètres que les néolithiques de Tin Hanakaten sont parvenus à s’adapter aux crises
climatiques survenues au Sahara central.

6 - Perspectives

• Re-création de la patine de grès, porteurs d’œuvres gravées, témoins de dix


millénaires de crises climatiques
Dans un proche avenir, le résultat des recherches entreprises ain de trouver et
mettre au point in situ, une technique de re-création de la patine des grès, sera
publié. C’est le second volet (partie II) du programme «Patine du désert». La mise
au point des matériaux et de la technologie associée, fut jugée urgente, en fonction
de la menace climatique, par la Commission européenne. Car à la connaissance des
experts qu’elle avait requis pour examiner la proposition correspondante, il n’exis-
tait pas en 2004 (le programme «Patine du désert» s’est déroulé de 2004 à 2008),
de procédé suisamment innovant et au point, pour être utilisé en routine, dans un
environnement désertique. Ce résultat entre aussi pleinement dans une politique
prioritaire de l’UNESCO, qui appelle à «sauvegarder les sources documentaires de
l’Humanité» (UNESCO 2006). L’art rupestre fait évidemment partie de ces sources
et comme d’autres composantes du patrimoine culturel, il est particulièrement vul-
nérable aux conséquences météorologiques de la «crise» climatique actuelle.

• Risque climatique : dialogue et coopération Nord-Sud en Méditerranée


Dans un autre ordre d’idée, la rélexion menée et le travail réalisé de manière
concertée entre des équipes des deux côtés de la Méditerranée, s’inscrivent dans la
dynamique des initiatives de l’Union européenne et de la Commission européenne,
130 • IPHAN

ainsi que des pays impliqués dans ce programme, pour renforcer les échanges dans
cet espace stratégique. Les eforts de coordination de notre association, qui a engagé
à travailler ensemble, des équipes de recherche universitaires (Francfort, Le Caire,
Helsinki, Bordeaux, Tunis), d’organismes publics (CNRS en France, CNR en Ita-
lie, Ministère de la Culture au Maroc), des associations (Algérie, France) et des
entreprises (Belgique, France), vont dans ce sens. Il serait judicieux de «transformer
l’essai» par de nouvelles actions inspirées de «Patine du désert». Justement, depuis
2009, un double projet est à l’étude: d’une part, «exporter» les nouveaux savoir-
faire vers d’autres pays sahariens et d’autre part, après avoir opéré dans un désert
«chaud», se tourner vers un désert «froid», … en Asie centrale notamment.

7 - Remerciements
Cet article est l’une des premières « retombées » d’un programme de recherche
international et pluridisciplinaire, qui a impliqué de 2004 à 2008, onze équipes
de huit pays de l’espace euro-méditerranéen. Intitulé « Patine du désert », ce
programme a été sélectionné et inancièrement soutenu par la Commission eu-
ropéenne (DG Recherche : contrat INCO-CT-FP6-2004-509100) ainsi que par
le Conseil Régional d’Aquitaine (France) (Schvoerer, 2009 ; Schvoerer et Axell,
2008-a et -b). Qu’ils en soient remerciés.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 131

Bibliographie
Aumassip G., Tauveron M., Alliche M. Ferhat N. et Striedter K, 2007. Gravures
et Art rupestre sahariens. Contribution au programme de la Commission
européenne « Patine du désert » (INCO-CT-FP6-2004-509100),rapport de
l’année 3/3, 9 p.

Aumassip G., 1987. Le Néolithique en Algérie : état de la question. L’Anthropolo-


gie, Paris, 91 (2), 585-622.

Aumassip G. et Tauveron M., 1993. Le Sahara central à l’Holocène. Arte e am-


biente del Sahara preistorico  : dati e interpretazioni. Società italiana di
Scienze Naturali e del Museo Civico di Storia Naturale di Milano, XXVI, II,
63-80.

Bard É., Rostek F. et Ménot-Combes, G., 2006. Chronologie des variations clima-
tiques rapides pendant la dernière période glaciaire. Climats – Cultures – So-
ciétés aux temps préhistoriques.C.R. Palevol 5, 13-19.

Barich B. and Hassan F.A., 2000. A stratiied sequence from Wadi el-Obeiyd,
Farafra : new data on subsistence and chronology of the Egyptian Western
Desert. Poznàn archaeological Museum, 11 -20.

Berger A., 2006. Les causes astronomiques des grandes variations du climat du Qua-
ternaire. Académie des Sciences, Paris, C. R. Palevol 5, 21-26.

Berger A. et Loutre M.F., 2004. Astronomical theory of climate change. Journal.


Physics. IV, 1-35.

Bernard É-A., 1962. héorie astronomique des pluviaux et interpluviaux du


Quaternaire africain. Mémoires de l’Académie royale des sciences d’Outre-mer,
Bruxelles, tome XII, fasc. 1, 232 p.

Bouvier J.M., 1992. Les contrastes saisonniers préhistoriques. Actes du 117e


Congr. Nat. Soc. Sav., Clermont-Ferrand, Moyenne montagne, 11-21.

Bouvier J. M., et Dubourg C., 1997. Karst et saisonnalités paléolithiques. Qua-


ternaire, 8 (2-3), 233-244.

Cauvin J., 1977. Les fouilles de Mureybet (1971-1974) et leur signiication pour les
origines de la sédentarisation au Proche-Orient. Annual America school Orien-
tal Research, 44, 19 - 48.
132 • IPHAN

Cauvin J., 1978. Les premiers villages de Syrie – Palestine du IXe au VIIe millénaire
avant J.C.. Lyon: Maison de l’Orient méditerranéen

Cremaschi M., 2004. Diecimila anni di cambiamenti climatici e ambientali del


Fezzan libico. Darwin, N°2, giugno, 66 – 79.

Darchen J., 1981. Les moussons. Commentaire d’un article de P. Webster dans la
revue Pour la Science, Paris, octobre, p. 99.

El Graoui M., 2005. Le Patrimoine Rupestre Marocain. Catalogue sous forme


de iches en 4 langues (Arabe Espagnol, Français et Anglais). Edité par le
Centre National du Patrimoine Rupestre National de Marrakech, au titre
de sa participation au programme de la Commission européenne « Patine
du désert » (INCO-CT-FP6-2004-509100), 48 p.

Ferhat N., Striedter K. et Tauveron M., 2000. Les « Kel Essuf » : un nouveau
faciès de l’art rupestre du Sahara central. C.R. Acad. Sci. Paris, Sciences de la
Terre et des Planètes, 333, 577-580.

Gasse F., 2006. Climate and hydrological changes in tropical Africa during the
past million years, . Académie des Sciences, Paris, C. R. Palevol 5, 35-43.

Guibert P., Schvoerer M., Etcheverry M.P., Szepertyski B. and Ney C., 1994-a.
IXth millenium BC ceramics from Niger : detection of a U-series imbalance
and TL dating. Quaternary Geochronology (Geo. Sci. Reviews), Vol. 13, 555-561.

Guibert P., Ney C., Bechtel F., Schvoerer M. and Geus F., 1994-b. TL and 14C da-
ting of Neolithic sepultures from Soudan : inercomparaison of results. Radiation
measurements, Pergamon, Vol. 23, N° 2/3, 393-398

Guibert P., Szepertyski B., Schvoerer M. et Roussot-Larroque J., 1996. Datation


par hermoluminescence d’un niveau néolithique ancien à la Lède du Gurp
(Gironde). Comparaison avec des dates Radiocarbone. Bulletin de la S.P.F.,
tome 93, n°2, 217-224.

Hassan F. A., 2005. Abrupt climate changes and cultural dynamics in the Eastern
Sahara during the Holocene. Compte - rendu de la réunion annuelle des
équipes partenaires du programme de la Commission européenne « Patine
du désert » (INCO-CT-FP6-2004-509100), Marrakech, 16 p..
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 133

Hassan F. ed., 2002 - Droughts, Food and Culture: Ecological Change and Food
Security in Africa’s Later Prehistory. Plenum Publishing Corporation, New
York.

Jungner J., 2007. New Chronological data (14C). European Commission program
« Patine du désert ». Final report (contract INCO-CT-FP6-2004-509100), 3-5.

Kröpelin S., Verschuren D, Lézine A.M., Eggermont H., Cocquyt C., Francus P.,
Cazet J.P., Fagot M., Rumes B., Russel J.M., Darius F., Conley D.J., Shuster M.
von Suchodoletz H. and Engstrom D.R., 2006. Climate – Driven Ecosystem
Succesion in the Sahara : he past 6000 years. Science, vol. 230, 9 may, 765-768.

Kuper R. and Kröpelin S., 2006 - Climate-controlled holocene occupation in the


Sahara: Motor of Africa’s evolution. Science 313 (Aug. 11) :803-807.

Lhote H., 1970. - Le peuplement du Sahara néolithique d’après l’interprétation


des gravures et peintures rupestres. J. Soc. Afric., 4, 40 : 91-102.

Lhote H., 1966. - Recherches sur les voies de migrations et la zone d’expansion
des populations pastorales préhistoriques du Sahara. 1° Cong. Archéol. afric.,
Fort-Lamy (1969) : 269-285.

Massué, 2002. «  Dire le risque  ». Politiques européennes de prévention contre les


risques majeurs. Colloque international du Conseil de l’Europe, Montpel-
lier, 700 p.

Milankovitch M., 1920. héorie mathématique des phénomènes thermiques pro-


duits par la radiation solaire. Gauthier-Villars, Paris.

Perry C.A. and Hsu K.J., 2000. Geophysical, archaeological and historical evi-
dence support a solar-output model for climate change. Proc. Nati. Acad.
Sci., USA, E.D., 6 p.

Perry C. A., 2009. Communication privée.

Petit-Maire N., 1999. Variabilité naturelle des environnements terrestres  : les


deux derniers extrêmes climatiques (18 000 ± 2 000 et 8 000 ± 1 000 BP).
Comptes-rendus de l’Académie des Sciences, Paris, 328, 273-279.

Petit-Maire N., 2002. Sahara. Sous le sable…des lacs. Ed. du CNRS, Paris, 128 p.
134 • IPHAN

Petit-Maire N. (éd.) 1991. Paléoenvironnements du Sahara. Lacs holocènes à Taou-


denni (Mali). Ed. du CNRS, Paris, 237 p.

Petit-Maire N., 1988. he Sahara in the Holocène – Map 1/ 10 000 000 ; Unesco
– CGMW, Paris.

Petit-Maire N., 1984. L’homme, marqueur paléoclimatique. Géochronique,


11, 13-125.

Petit-Maire N. and Riser J. (eds), 1983. Sahara ou Sahel ? Quaternaire récent du


Bassin de Taoudenni (Mali). CNRS, Marseille, 474 p.

Petit-Maire N., 1979. Cadre écologique et peuplement humain : le littoral ouest-


saharien depuis 10 000 ans. L’Anthropologie (Paris), tome 83, n°1, 69-82.

Reimer P.J., Baillie G.L., Bard E., Baliss A., Beck J.W., Bertrand C  ;J  ;H  ;,
Blackwell P.G., Buck C.E., Burr G.S., Cutler K.B., Damon P.E., Edwards
R.L., Fairbanks R.G., Friedrich M., Guilderson T.P., HoggA.G., Hughen
K.A., Kromer B., McCormac G., Manning S., Ramsey C.B., Reimer R.W.,
Remmele S., Southon J.R., Stuiver M., Talamo S., Taylor F.W., van der
Plicht, J., Weyhenmeyer E., 2004. Intcal04 Terrestrial radiocarbon Age Ca-
libration, 0-26 kyr BP. Radiocarbon 46 :3, 1029-1059.

Roset J.P., 1987. Paleoclimatic and Cultural Conditions of Neolithic Development


in the Early Holocene of Northern Niger (Aïr and Ténéré). In « Prehistory of
Arid North Africa. Essays in Honor of Fred Wendorf ». Ed. A. E. Close,
Dallas, 11, 211-234.

Roset J.P., 1983 - a. Nouvelles données sur le problème de la Néolithisation du Sa-


hara méridional : Aïr et Ténéré, au Niger. Cah. ORSTOM, sér. Géol. Vol.
XIII, n° 2, 119-142.

Roset J.P., 1983 - b. Les plus vieilles céramiques du Sahara. Archéologia. Octobre,
n°183, 43-50.

Schvoerer, M., 2009. Desert patina. In « Preserving our heritage, improving our
environment”, Vol. II : Cultural heritage research : FP5 , FP6 and related
projects », 181-183.

Schvoerer, M., 1995. La datation par hermoluminescence. Ed. Larousse Paris, Fr.,
le livre de l’année, 196-198.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 135

Searight S, 2004. he Prehistoric Rock Art of Morocco. A study of its extension, envi-
ronment and meaning. Bar International Series, 1310, 246 p.

Striedter K., 2007. Images de l’Art rupestre de l’Oued Djerat, Tassili Azjer, Al-
gérie. Base de données. Contribution au programme de la Commission eu-
ropéenne « Patine du désert » (INCO-CT-FP6-2004-509100), rapport de
l’année 3/3.

Striedter K.H., Tauveron M., 2001 - Relets de la vie sociale dans les peintures ca-
balines du Sahara central. Colloque GALF, juillet, Marseille.

Striedter K.H., Tauveron M. et Ferhat N., 2003 – Les plus anciennes gravures ru-
pestres ? Afrique : Archéologie et Art, 2, : 31-38.

Tauveron M., 2003 – L’art caballin du Sahara central. Art et symboles du Néoli-
thique à la Protohistoire. Séminaire du Collège de France sous la direction
de J. Guilaine, Paris, : 217-236.

Ters M., 1976. Les lignes de rivage holocène, le long de la côte atlantique fran-
çaise. La Préhistoire française (II) 27-30.

Unesco, 2006. Sauvegarder le patrimoine documentaire de l’Humanité. Pro-


gramme engagé par l’UNESCO en 1992 et intitulé «Mémoire du monde »,
18 p.

Vartanian E., Guibert P., Roque C., Ney C., Schvoerer M., Bechtel F.. Guilaine
J. et Cremonesi G., 2001. Contribution de la thermoluminescence à la
chronologie de la néolithisation en Italie du Sud-Est. Céramiques et terres
brûlées du site de Matera–Trasano. Actes des XXIème rencontres internatio-
nales d’Archéologie et d’Histoire d’Antibes, éd. APDCA, Antibes, Fr., 401-406.

Vernet R., 2004. Le Sahara préhistorique entre Afrique du Nord et Sahel : état
des connaissances et perspectives. In: du Nord au Sud du Sahara, 50 ans
d’Archéologie française (MAE). Ed. Sepia, Paris, 89-100.

Vernet R, 1995 - Climats anciens du Nord de l’Afrique. L’Harmattan, Paris.

Zampetti, D., 2007. La patine des grès en Libye et l’art rupestre saharien. Contri-
bution au programme de la Commission européenne « Patine du désert »
(INCO-CT-FP6-2004-509100), rapport intermédiaire de l’année 3/3.
136 • IPHAN

Bibliograia Online

Le Quellec J. L., 2009. Paléoclimats sahariens. http://rupestres.perso.neuf.fr/


page2/page97/ page97.html.

Schvoerer M. et Axell P., 2008 – a . Adaptation humaine à un changement clima-


tique : une piste au Sahara. Assoc. Sciences et Patrimoine culturel, Bègles, Fr..
Film réalisé avec le concours de la Commission européenne et du Conseil
Régional d’Aquitaine (d : 24 min).

Schvoerer M. et Axell P., 2008 – b . Re-création de la patine de grés sahariens, por-


teurs d’oeuvres préhistoriques gravées. Assoc. Sciences et Patrimoine culturel,
Bègles, Fr. Film réalisé avec le concours de la Commission européenne et du
Conseil Régional d’Aquitaine (d : 14 min).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 137

Clima e patrimônio cultural terpretada no Saara, pelo menos esclarece um


modo de vida.
no Saara. Introdução a – A cronologia física que situa no tempo o
questão da adaptação material das sequências estratigráicas.
– A paleoclimatologia cujos elementos de-
humana às crises climáticas duzidos a partir de considerações estratigrá-
ocorridas no Saara depois icas ou obtidos por simulações dão acesso ao
de dez mil anos. meio ambiente.
Esta abordagem permitirá rever a questão
muito debatida do fenômeno migratório no
Problema
Saara e sua dependência do clima. Há muito
Como as antigas populações do Saara se
que se sabe que, tanto ontem como hoje, esta-
adaptaram as consequências ambientais das
mos condicionados pelas necessidades básicas
crises climáticas, que ocorreram ao longo dos
dos rebanhos de gado ou de ovelhas, e que es-
últimos dez milênios?
tes, por sua vez dependem da vegetação e dos
Contexto da pesquisa pontos de água ao longo ano. Tendo entendi-
Que o aquecimento climático está em curso, do por que as pessoas deveriam se mover, nós
praticamente mais ninguém duvida, embora tentaremos responder às seguintes perguntas:
este não seja ainda um dos principais proble-
mas de nossa época, poderá ser. Porque haverá – Quando o clima se torna árido e frio, para
consequências capazes de ameaçar a existência onde vão os homens com seus rebanhos e por
de cada indivíduo e globalmente a sobrevivên- quê?
cia da nossa civilização. Ou porque a situação – O que eles fazem quando a chuva vem e a
é historicamente inédita e algumas perguntas temperatura sobe?
permaneçam sem resposta. Esta problemática
é crucial. Na verdade, mais cedo ou mais tarde, Devido à complexidade do assunto, e em
apesar de toda incerteza que reina, os governos particular ao binômio “imensidade geográ-
serão impelidos a tomar, talvez em situação ica” (vários milhões de km2) e “cronológi-
de emergência, medidas eicazes e sem dúvida ca” (dez milhões de anos), e tendo em vista
imprescindíveis (Massué 2002). Interrogamo- a concisão deste artigo apresentamos aqui
nos, quais? Neste contexto, nossa pesquisa pro- apenas alguns resultados obtidos para o Saara
põe, a título preventivo, um primeiro passo que Central. As análises relativas a outras partes
consiste em explorar o passado do Holoceno no do Saara, ainda estão sendo redigidas .
Saara (nos últimos dez milênios) a im de pes-
quisar os traços dos comportamentos humanos Resultados
do passado que poderiam nos esclarecer sobre 1 – Contribuição de Arqueologia e Arte
o que é possível de se fazer em caso similar. Rupestre
• A neolitinização do Saara
Estratégia de Investigação Sabemos que a neolitinização do Saara co-
A estratégia de pesquisa escolhida consiste em meça sensivelmente ao mesmo tempo que se
interrogar o passado procurando reunir as infor- inicia o Holoceno, assim como o Neolítico
mações a partir das quatro disciplinas seguintes: do Oriente Médio (Cauvin 1978, 1977),
– A arqueologia que evidencia a ocupação de onde essa cultura foi deinida. Para ambas as
um sítio e, por vezes, oferece uma evolução regiões, em termos humanos, este é um fenô-
estratigráica. meno considerável. No Saara, este ocorre de
– A arte rupestre. Este último, “a cereja do forma signiicativamente diferente do que no
bolo”, ainda que por vezes mal datada e in- Oriente Médio. Presumivelmente, em parte
138 • IPHAN

porque a latitude e o ambiente são diferentes. cuja profundidade é praticamente equiva-


Na verdade, falta ao Saara, pelo menos no lente a uma caverna (Aumassip et al . 2007).
“início”, a agricultura (Cremaschi 2004; Ba- Tin Hanakaten oferece uma estratigraia de
rich e Hassan 2000; Aumassip 1987; Roset vários metros (5 a 7 metros) de profundidade,
1987, 1983; Lhote 1970). Na verdade, as po- divididos em 13 sequências que correspon-
pulações saarianas têm continuado a prática dem no mínimo a totalidade do período do
da caça e desenvolvido a pecuária, inventado Holoceno. Culturalmente, esta estratigraia
a produção de cerâmicas de uso cozidas e se inclui dois conjuntos do Neolítico essenciais
tornaram em parte sedentários; no entanto, que não encontraremos superpostos em ne-
eles não cultivavam cereais, colhiam no es- nhum outro lugar, seja no Tassili ou Tadrart
tado natural e os consumiam, como eviden- Acacus (Aumassip et al. 2007). Além disso,
ciado pela abundância de material lítico de- suas paredes, bem como as dos abrigos vizi-
dicado à moagem. Alem disso possuíam uma nhos, são pintadas. Como veremos, é sobre
arte rupestre original, gravada ou pintada, de esta estratigraia, que o programa “Pátina do
grande riqueza. Deserto” tem concentrado esforços no campo
Enim, como nós explicitaremos no pará- da investigação em cronologia física. Ao mes-
grafo dedicado à contribuição dos métodos mo tempo que iremos deinir os resultados das
físicos de datação, o neolítico saariano é tão datações intencionalmente expressos em anos
remoto que talvez seja mais antigo do que o BP, serão discutidas as observações arqueoló-
Oriente Médio (Guibert et al. 1996, 1994-a, gicas, e em particular a iliação cultural, em
1994-b). As convergências cronológicas são
relação as subdivisões da arte rupestre.
cada vez mais numerosas, e as incertezas ex-
perimentais são tais que a cerâmica aparece
2 – Contribuição da cronologia física
nas duas regiões entre 9 500 e 9 000 BP1.
• Estratégia quanto à cronologia física
Logo perceberemos que esta data marca tam-
As pinturas e gravuras de arte rupestre saaria-
bém o início do Holoceno, e no Saara, um
nas ainda não estão diretamente datadas. Em
período durante o qual a insolação, a tempe-
contrapartida, o que é cerâmica, com a ter-
ratura e a umidade aumentaram, assim como
em todo o planeta, em comparação à situa- moluminescência (TL) (Schvoerer 1995) e o
ção anterior, no inal do Pleistoceno. radiocarbono (C 14) (Jungner 2007), fez do
assunto um substancial programa de inves-
• Concentração da atenção sobre o Saara tigação cronológica, que nós daremos aqui
Central apenas as principais linhas de resultados.
Optamos por focar o que acontece durante o Note que a sequência de culturas neolíticas
Holoceno no Saara Central, primeiro porque na África (Argélia, Sudão, Nigéria) e na Eu-
é uma vasta região onde existem zonas monta- ropa Ocidental (França e Itália) (Vartanian et
nhosas e porque a arqueologia é rica e produ- al. 2001; Guibert et al. 1996) são parte de
tiva. A incapacidade que surgiu do fato de, no um programa de pesquisa do laboratório em
Saara, a maioria dos assentamentos humanos Bordeaux (Universidade – CNRS, MS, SC
ser constituída de sitios ao ar livre ou abrigos e PG). As pesquisas correspondentes ajuda-
sob rochas, signiicando, em geral, a falta de ram a estabelecer que a matriz da cerâmica
estratigraia. Mas um dos pesquisadores des- ocorre cedo no Saara entre 11 000 e 10 000
ta equipe (A.G.) encontrou e cientiicamente BP, especialmente nas montanhas de l´Air no
estudou no Tassili, ao sul de Djanet (Argélia), Níger (Guibert et al., 1994-a: Roset 1983
um sítio arqueológico excepcional, Tin Ha- - b ). Ela é bem cozida, em geral, em uma
nakaten (alt. 1 080 m, 23° 52 ‘ N / 10° 22 atmosfera reduzida e sua decoração é elabo-
‘E), localizado em um abrigo sobre rochas, rada e variada.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 139

• Controle cruzado de dois métodos de da- enterramento, para interpretar por exemplo
tação na Tin Hanakaten um desequilíbrio na cadeia de decaimento
No âmbito do programa “Pátina do Deser- do urânio-238 detectado em alguns locais
to”, foi possível reinar a cronologia da ocu- arqueológicos (Guibert et al. 1994-a).
pação do sítio arqueológico de Tin Hanaka- Entretanto, com radiocarbono face à depen-
ten (Tassili Azjer na Argélia), que foi baseado dência da taxa de formação do C 14 na at-
em algumas datações de Carbono 14 ante- mosfera, no luxo de partículas cósmicas do
riormente obtidos. Para este im, em torno Sol e do Universo, procedemos à correção
de cinquenta novas datações foram feitas na para uma idade de radiocarbono (Jungner
implementação de dois métodos físicos inde- 2007). Esta “calibração” é derivada do traba-
pendentes no material da coluna estratigrái- lho que identiicou variações no teor de C 14
ca do sítio arqueológico: termoluminescên- na atmosfera ao longo dos últimos 25 000
cia (TL) em cristais de quartzo e feldspato anos, baseado em anéis de crescimento de
contido
• em cacos cerâmicos. Radiocarbono madeira (carvalho, pinheiro, etc.), ou forma-
C14) em carvão ou restos vegetais. ções de corais e sedimentos marinhos em di-
Aqui nós relatamos a nova datação e ainda da- ferentes partes da Terra. O conjunto dos re-
tações anteriores ao programa “Pátina do De- sultados correspondentes foi reagrupado em
serto”. Estes últimos devem ser manuseados um banco de dados “IntCal104” (Reimer et
com cuidado, para serem comparados com os al. 2004). A curva de calibração e os progra-
resultados de TL datação (ou outro método de mas de calibração têm livre acesso e podem
dendrocronologia, horium 230, etc.), as ida- ser consultados no seguinte endereço: www.
des em C 14 devem ser calibradas. A calibra- radiocarbon.org (Jungner 2007). Mencio-
ção sistemática nos dias de hoje nos obriga a namos, contudo, o valor da relação de dois
realizar aproximações quando se quer estender isótopos estáveis (carbono 12 e carbono 13),
a comparação com C 14 anteriores, em que a com o símbolo δ¹³C expresso em milésimos
publicação dos resultados, infelizmente, quase (‰) Isso mostra a diferença correspondente
sempre, ignora os detalhes das condições ex- ao conteúdo de uma norma internacional, o
perimentais medidas. Nestas condições, que representa uma média geral (VPDP). O
– As datações TL serão relatadas em anos BP valor δ¹³C é usado para determinar o fracio-
(Av 1950) namento isotópico que atua sobre a concen-
– As datações C 14 recentes, nos anos BP e, tração de radiocarbono na atmosfera e nos
sempre que possível, em anos BP após a cali- objetos a datar. Na sequência da estratigraia
bragem (calBP). (A.G.), durante a escavação arqueológica, dis-
– As datações de C14 antigas em anos BP, puseram-se os resultados agrupados abaixo.
deixando ao leitor o prazer do exercício, se
o desejar. • Depois do programa “Pátina do Deser-
to” cronologia física da Estratigraia do
• Incertezas Experimentais (TL e 14 C) e Holoceno Tin Hanakaten (Tassili Azjer na
método de calibração de idades do C 14 Argélia)
Em TL, exceto em algumas situações es- O solo do abrigo é solto, arenoso e pedre-
pecíicas geralmente relacionadas com a goso, para não se dizer poeirento. Ele estava
heterogeneidade ou a história do local do presente durante as escavações como prova-
enterramento do objeto a ser datado, não velmente era no passado, porém alterações
introduzimos uma correção sobre a datação devem ter ocorrido durante as intervenções.
TL. Mencionamos apenas a incerteza expe- Isso introduz uma incerteza na posição es-
rimental que o afeta. Na prática, observa-se tratigráica dos objetos a datar que até ago-
– in situ e na análise laboratorial – o local do ra não conseguimos avaliar. É suiciente
140 • IPHAN

lembrar desta observação preliminar. Para a TL – 5 150 ± 440 (BDX 528, cerâmica). 
apresentação dos resultados recentes: Borde- 14
C – 3 950 ± 45 BP (calBP: 4 250 – 4 550;
aux =BDX e Hela = Helsinki . Para os resul- Hela 1180 / BDX 548; coprólitos; δ13C:–
tados antigos: Mônaco, Argel, e Gif para os 13,8).
laboratórios de datação C 14, nas cidades de 14
C – 4 100 ± 70 BP (Monaco 676).
mesmo nome. 14
C – 5 285 ± 40 BP (calBP: 5 950 – 6 200;
Hela 1151 / BDX 485; carvão de madeira;
Sequência S 1 δ13C:– 24,3).
O sítio arqueológico foi abandonado.
Areia eólica estéril. Os homens abandonam Em resumo, para a sequência S3 (no total
deinitivamente o sítio arqueológico. Areia, 8 datações):
cinzas e poeiras. Idades TL (5 datações): início S3: 5 150 ± 40
BP e im S 3: 3 080 ± 230BP
Sequência S 2 Idades 14C (3 datações) BP: início S 3: 5 285
Fim da era Bovidian Superior para 3 000 ± ± 40 BP.
150 BP – tinha começado cerca de 5 500 ± Idades 14C calBP (2 dos 3 precedentes): iní-
200 BP. cio S 3: 5 950- 6 200 calBP.
14
C: 2 520 ± 35 BP (calBP : 2 500 – 2 750;
Hela 1150 / BDX 511; carvão de madeira ; Sequência S 4 - Bovidien inférior . Início
δ13C : – 23,5). verso 7 000 ± 200 BP e im verso 5 500 ±
TL : 2 790 ± 200 BP (BDX 477 – cerâmica) 200 BP.
14
C: 3 100 ± 240 BP (vegetal )
14
C: 3 585 ± 40 BP (calBP: 3 800 – 4 000; 14
C – 5 555 ± 45 BP (Hela 1471)*
Hela 1189  / BDX 479; vegetais ; δ13C  : - 14
C – 5 800 ± 120 BP (Gif 5414).
15,3). 14
C – 6 030 ± 50 BP (Hela 1472).
14
C: 3 875 ± 35 BP (calBP: 4 200 – 4 450; 14
C – 6 135 ± 50 BP (Hela 1469).
Hela 1178 / BDX 480; vegetais: δ13C: - 14
C – 6 140 ± 45 BP (Hela 1468).
15,4). 14
C – 6 190 ± 50 BP (Hela 1467).
14
C - 4 705 ± 50 BP (calBP: 5 300 - 5 600; 14
C – 6 290 ± 50 BP (Hela 1473).
Hela 1179 / BDX 510; vegetais ; δ13C: - 14
C – 6 370 ± 80 BP (cal BP: 7 250 – 7 450;
16,1). Hela 1190 / BDX 493; vegetais ; δ13C: –
19,8).
Em resumo para a sequência S 2: no total 14
C – 6 450 ± 130 BP (Gif 5467).
6 datações: 14
C – 6 650 ± 90 BP (Monaco 677 – mistu-
Idade TL (1 datação): 2790 ± 200 BP. ra de cinzas de níveis carvão de madeira N5,
Idade 14C BP  (5 datações): inicio S2 verso N6 et N7)
4 705 ± 50 e im S2 verso 2 520 ± 35 BP. 14
C – 6 650 ± 90 BP (Gif 677).
Idade 14C calBP: (4 sobre 5 precedentes). Iní- 14
C – 6 840 ± 130 BP (Gif 5468).
cio S2: 5 300 – 5 600 e im S2: 2 500 – 2 750 14
C – 6 900 ± 50 BP (Hela 1153; BDX 535).
calBP. 14
C – 6 960 ± 55 BP (Hela 1191; BDX 532).
14
C – 7 005 ± 50 BP (calBP: 7 750 – 7950;
Sequência S 3 – Bovidien supérieur Hela 1152 / BDX 536; carvão de madeira;
TL – 3 080 ± 230 (BDX 491, cerâmica). δ13C:– 22,6).
TL - 3 100 ± 220 (BDX 482, cerâmica). 14
C – 7 055 ± 50 BP (Hela 1474).
TL – 3 580 ± 260 BP (BDX 481; cerâmica: 14
C – 7 110 ± 40 BP (Gif 5419).
fragmento estatueta de bovinos de terracota. 14
C – 7 150 ± 50 BP (Hela 1154 / BDX 533).
TL – 4 820 ± 320 (BDX 517, cerâmica) 14
C – 7 220 ± 140 BP (Gif ).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 141

Em resumo, para a sequência S 4 (no total Em resumo, para a sequência S 6:


19 datações): Idades TL (3 datações): entre 7 150 ± 480
Idades TL: Sem datas. BP e 7 330 ± 360 BP
Idades 14C BP: (19 datações): início do S 4 Idades 14C BP (8 datações): entre 6 900 ± 50
verso 7  220 ± 140 BP e im verso 5555 ± BP e 8 370 ± 60 BP.
45 BP. Idades 14C calBP (5 das 8 precedentes): Iní-
Idades 14C calBP: (2 sobre os 19 preceden- cio: 8 550 – 8 850 e im: 7 650 – 7 800 calBP.
tes). Início de S 4: 7 750 – 7 950 calBP.
Sequência S 7.
Sequência S 5 Nível eólico. Breve fase, que corresponde a
Nível de vento era quase inexistente, crono- uma “crise de aridez” para 8 200 ± 200 BP.
logicamente entre o im do S6 e início do S4, O sítio arqueológico foi então abandonado,
Verso 7 000 ± 200 BP. Esta sequência marca porque este nível não continha qualquer
o im do período chamado «Cabeças Redon- material arqueológico. Esta fase não é dire-
das» tamente datável. Entretanto, nós a referen-
ciamos no nível imediatamente inferior que
Sequência S 6 – Néo Saaro-Sudanesa sup corresponde ao pico do S8, a 8 200 ± 200 BP
(cabeças redondas, meio e im). e ao nível imediatamente superior, a base de
S 6, que também começa por volta de 8 200
Início verso 8 200 ± 200 BP e im verso 7 ± 200 BP).
000 ± 200 BP.
Sequências S 8 / S 9: “Neolitico Saariano-
TL – 7 150 ± 480 BP (BDX 549, cerâmica). sudanês inferior”. Entre 9 500 ± 200 e 8 200
TL – 7 300 ± 320 BP (BDX 531cerâmica). ± 200 BP. A estas sequências corresponde o
TL – 7 330 ± 360 BP (BDX 534, cerâmica). início do período dos “Cabeças Redondas”.
Nesta região, notadamente, emergem carac-
14
C – 6 900 ± 50 BP (calBP: 7 650 – 7 800; terísticas regionais, no início do Holoceno,
Hela 1 153/ BDX 535; carvão de madeira; os “Kel Essuf ” (gênios) (Ferhat et al. 2000).
δ13C:– 22,1). O material arqueológico permite atribuir
14
C – 6 960 ± 55 BP (calBP: 7 700 – 7 850; essa sequência ao Neolítico Saaro-sudanês
Hela 1 191 / BDX532; vegetais ; δ13C  : - inferior.
22,3). É a base da coluna estratigráica do abrigo de
14
C – 7 095 ± 55 BP (calBP: 7 850 – 8 000; Tin-Hanakaten, nos tempos,
Hela 1 155 / BDX 498: carvão de madeira;
– 25,5). 14
C – 8 520 ± 130 BP (cal BP: 9 400 – 9
14
C – 7 150 ± 50 BP (calBP: 7 900 - 8 050; 700; Hela 1192 /BDX 500: vegetais ; δ13C:–
Hela 1154 / BDX 633; carvão de madeira; 19,4).
δ13C:– 25,8). 14
C – 8 870 ± 65 BP (Hela 1463) – Carvão
14
C – 7 890 ± 50 BP (calBP: 8 550 – 8 850 de madeira recolhido num fosso de exuma-
(Hela 1156 / BDX 499: carvão de madeira; ção.
δ13C:– 23,7) 14
C – 8 875 ± 65 BP (Hela 1477)
14
C - 8  030 ± 120 BP (Gif 5948), base da 14
C – 8 890 ± 95 BP (cal BP: 9 800 – 10 200;
seqüência marcada pela redução das quedas Hela 1193 / BDX 503: vegetais ; δ13C:– 21).
de blocos provocadas pelas condições climá- 14
C - 8 905 ± 60 BP (Hela 1466)
ticas frias. 14
C – 8 980 ± 65 BP (Hela 1465)
14
C – 8 100 ± 130 BP (Monaco 678). 14
C – 8 995 ± 65 BP (Hela 1462) – Carvão
14
C – 8 370 ± 60 BP (Hela 1475). de madeira recolhido num fosso de exumação.
142 • IPHAN

14
C – 9 100 ± 65 BP (Hela 1464) – Carvão • Crises Climáticas sobrepostas às mudan-
de madeira recolhido num fosso de exuma- ças climáticas do Holoceno
ção. Na elaboração do programa de pesquisa
14
C - 9 175 ± 60 BP (Hela 1478) – Carvão “Pátina do Deserto”, usamos indiscrimina-
de madeira recolhido num fosso de exuma- damente o conceito de “mudança” climática
ção. sem nos preocuparmos muito com a depen-
14
C – 9 420 ± 200 BP (Alg 27). dência fenômeno do tempo (este que passa),
ou seja, a duração. Mas, gradualmente nos
Em resumo, para as sequências S 8 / S9 (no tornamos conscientes da confusão que isso
total 10 datações): causou e introduzimos nas nossas relexões
Idades TL (sem datação). o conceito de “crise climática”. Na verdade,
Idades 14C BP (10 datações): Início: 9 420 ± numerosas observações e estudos recentes
200 BP et in 8 520 ± 130 BP. (Perry e Hsue 2000, Bard et al. 2006) evi-
Idades 14C calBP (2 dos 10 precedentes): denciaram, como num eletrocardiograma,
meio da sequência 9  800 – 10  200 e im uma espécie de pulsos rápidos climáticos,
9 400 – 9 700 calBP. iniciando de maneira abrupta no tempo, um
aquecimento acompanhado – no deserto do
3 – A contribuição da paleoclimatologia Saara, em particular – de umidade que con-
tinua lentamente por se tornar no im menos
• Final do Pleistoceno quente – frio – árido. Além disso, análises
Ao longo dos últimos milênios, segundo um isotópicas realizadas a partir de amostras de
esquema geral bem estabelecido numa escala núcleo em sedimentos marinhos, sedimentos
planetária (Petit-Maire 1999), o clima conhece lacustres e gelo polar ou continental, com-
depois de uma oscilação “fria” entre 20 000 e plementadas por datações físicas, quando
16 000 BP, durante o qual o frio foi máximo possível, bem como de simulações onde efe-
(em média de 4,5° C inferior à temperatura tivamente é posto em evidência o fenômeno
média do século XX d.C., que é relativamente correspondente, que em nossa opinião é so-
grande face ao ambiente). No Saara, a aridez bretudo uma “crise climática”.
é extrema e o homem o frequenta pouco. Em
paleoclimatologia, o Pleistoceno termina (um • O homem é consciente apenas das crises
pouco convencionalmente) verso ao 10 000 BP. Essa visão é reforçada por uma observação de
bom senso. Houve duas “mudanças” no clima
• O início do Holoceno nos últimos 20 000 anos (Petit-Maire 1999).
Uma oscilação “de calor” vai sucedê-lo, que Do ponto de vista antrópico, é evidente que
perdura até os dias de hoje. O lento processo a diferença da duração com aquela do ser
de aquecimento – que começou entre 16 000 humano (nem mesmo um século), é consi-
e 14 000 BP (Petit-Maire 1999) – se acentua derável. Entre 20 000 e 16 000 BP, cerca de
a partir de 14 000 BP, em seguida declina, 160 gerações humanas sucederam-se umas
depois, “acelera” de maneira “abrupta” para 9 as outras, e entre 9 000 e 7 000 BP, cerca
500 ± 200 BP (Perry 2000). Este é o início de 80 gerações. É claro que um ser humano
do período chamado de Holoceno em pale- não pode saber que sua vida é parte de uma
oclimatologia, que situamos (convencional- mudança climática. No entanto, tem a capa-
mente), verso a 10 000 BP. No Saara, o calor cidade de perceber as consequências de uma
acompanha o retorno das monções e, com crise climática que nós deinimos a duração
ele, as chuvas (Bernard 1962). Entre 9 000 e em algumas décadas. É o efeito cumulativo
7 000 BP, a temperatura será em média 2° C das crises, sempre da mesma forma, que dá
superior à atual (inal do século XX). acesso ao status de “alterações climáticas”.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 143

• O Sol está na origem da crise climática? – As interpretações relacionadas com a ocu-


Todas as regiões do mundo (Hassan 2005; pação ou o abandono do sítio arqueológico
Vernet 1995; Aumassip e Tauveron 1993) do Saara Central (GA).
e todas as escalas de tempo possuem eventos – As Informações da curva na (Fig. 1). (Vide
que são explorados hoje (Bouvier e Dubourg texto original).
1997 Bouvier 1992). Embora se reconheça
que as “grandes” mudanças climáticas pos- • Surpreendente periodicidade das “crises”
sam ser correlacionadas com as variações climáticas
nos parâmetros astronômicos da órbita da – A primeira observação refere-se à frequência
Terra em torno do Sol e da direção de seu de aumentos abruptos de insolação que nos
eixo de rotação sobre si mesmo (Milankovi- remete ao Saara e à umidade das monções
tch 1920, Berger e Loutre 2004), a origem (Darchen 1981). Estimado graicamente,
(as causas) das crises climáticas são menos medimos T = 1 290 ± 60 anos, “valor de
claras. Paleoclimatologistas têm, no entanto, trabalho”, que enquadra o proposto pelos
percebido uma possível dependência dessas autores: 1 300 anos e que vamos adotar.
crises com as ligeiras alterações na energia – Uma segunda observação diz respeito a cro-
irradiada pelo sol, que se manifestam nota- nologia dos níveis eólicos do Tin Hanakaten,
damente pela variação de numerosas man- estéreis do ponto de vista antrópico e que
chas solares observadas. Esta dependência, permite ao arqueólogo interpretar inequi-
notadas em períodos curtos e recentes, foi vocamente o porquê das fases de abandono
do sitio arqueológico em resposta à extrema
pesquisada nos tempos pré-históricos por
aridez. Esta forma de analisar os resultados,
meio de simulações, cuja validade foi con-
sugere as seguintes correspondências:
trolada por meio de dados físicos (datações,
Após uma subida abrupta da insolação, de
análises isótopicas).
acordo com Perry e Hsue, de temperatura,
houve lenta diminuição destes dois parâ-
• Um fenômeno revelado por simulação
metros, que na sequência se traduz em um
Nós selecionamos uma obra (Perry e Hsue
longo período cada vez mais frio e seco. Em
2000), da qual tínhamos conhecimento do
seguida, o processo recomeça. Globalmente,
início dos anos 2000 para preparar um pro-
percebemos duas tempestades maciças, cor-
jeto que viria a ser o programa “Pátina do respondendo, respectivamente, ao “pluvial”
Deserto”. Graças a este trabalho, a nossa re- da primeira metade do Holoceno (entre
lexão tem progredido. Sem nos repetirmos 9 500 e 5 500 BP, ou cerca de 3 ciclos de
no traçado da pesquisa, airmamos que a ig. 1 300 anos) e do início do segundo perío-
1 resume os resultados de sua simulação. Ela do (ele é máximo por volta de 4 000 BP e
apresenta, em função dos estudos realizados, depois diminui quase ininterruptamente).
de como evoluiu a insolação desde 14 000 Em linha contínua, os autores mencionam o
BP (sua investigação é mais ampla e se esten- nível do mar (Ters 1976). Note-se o “ári-
de a 90 mil anos), como outros autores têm do” conhecido pelos arqueólogos, a 6 900 ±
assinalado (Le Quellec 2009). 200 BP e entre 4 600 ± 100 e 4 300 ± 100
Enfatizamos sobre a quase periodicidade das BP. Para a linha pontilhada, propõem uma
subidas abruptas de insolação. projeção para um futuro próximo que eles
No inal descartamos a ideia de que poderia se retiicam no texto do seu artigo, para rele-
tratar de um artifício de cálculo (Perry 2009). tir sobre os efeitos das emissões de origem
A principio havíamos tratado como um experi- antrópica que alterem o processo natural.
mento, para, em seguida, avaliar com atenção: Também identiica dois eventos climáticos
– As datações físicas realizadas na estratigraia de frio, caracterizados nas estratigraias do
de Tin Hanakaten por termoluminescência Paleolítico e da Paleoclimatologia nas regiões
(Bordeaux) e radiocarbono (Helsinki ) notadamente temperadas, em especial, deno-
144 • IPHAN

minadas Dryas antigo (cerca de 12 100 BP) terpretação arqueológica: a alternância apa-
e Dryas recente (verso 10 800 BP). Pode-se rentemente periódica (T = 1 300 ± 50 anos)
notar, de passagem, que a diferença entre das elevações abruptas (em pouco tempo) da
essas duas marcas é precisamente de 1 300 insolação, sincronia do retorno das chuvas,
anos. Posteriormente, outros aquecimentos seguido por uma lenta evolução verso o frio
rápidos se sucedem após longos períodos de e de uma aridez crescente ao extremo. Quan-
duração de climas árido e frio, aparecendo do certo limite de tolerância é atingido ou
nessa curva com a mesma periodicidade. Eles ultrapassado, o meio ambiente hídrico e a
se situam entre 9 500, 8 200, 6 900, 5 600, 4 vegetação são tão afetados pela evolução das
300, 3 000, 1 700 e 400 BP. condições meteorológicas que os seres huma-
nos e animais, para sobreviverem, são força-
• Projeção de Perry futuro imediato e futuro dos a abandonar o local, pelo menos tem-
Esta é, evidentemente a preocupação dos po- porariamente (Schvoerer e Axell 2008-b).
deres públicos atuais e de cada um de nós.
Perry, estendendo o raciocínio elaborado a • Para onde vão os homens e os seus reba-
partir de seu modelo estima que, teoricamen- nhos, quando a aridez é extrema?
te, o clima teria esfriado entre 2000 e 2100 Sugerimos alguns elementos de resposta,
AD, depois mais rapidamente entre 2100 e com a cautela necessária inerente a essa ques-
2400 AD e estabeleceu-se entre 2400 e 2900 tão tão complexa e provavelmente por isso,
AD, em condições idênticas às da Pequena bem pouco abordada até aqui (Lhote 1970,
Era Glacial (entre 1280 e 1860 AD verso 1966). Segundo um ponto de vista atual
2900 d.C., a insolação deveria aumentar as- muitas vezes (Schvoerer e Axell 2008-a; Au-
sim como a temperatura alcançar durante a massip 2007; Kroepelin et al. 2006; Vernet
primeira metade do quarto milênio d.C. (en- 2004), eles se juntam em nichos ecológicos”.
tre 3000 e 3500 A.D.) valores tão elevados Logicamente é a aridez o principal problema.
quanto os do máximo do Holoceno, cerca de No Saara Central, por exemplo, as áreas pa-
4 000 BP (im do Neolítico – Calcolítico – e recem ser o refúgio dos canyons de maciços
o início da Idade do Bronze na Europa du- de altitude, aproximadamente entre 1 200
rante o qual o clima era quente e úmido). Po- m e 1 800 m (Tassili-n-Azjer, Tadrar Acacus,
demos então esperar uma elevação do nível Air).
marinho de 3 m a 5 m em relação ao atual. No período árido, estas zonas apesar de tudo
conservam umidade suiciente para permitir
4 – Aproximações a “sobrevivência”. Além disso, no Tassili, por
Notamos, as incertezas experimentais sobre a exemplo, a geologia favorece o conforto dos
proximidade cronológica entre esses diferentes homens e dos animais fornecendo-lhes um
dados. Podemos presumir, pelo menos tempo- refúgio natural contra o vento carregado de
rariamente, que elas são signiicativas em rela- areia e sombra valiosa para os idosos, doen-
ção à precisão da pesquisa e das observações ar- tes ou mulheres grávidas. Mais importante,
queológicas e climáticas, da qualidade da abor- a porosidade da rocha – o arenito – mantém
dagem cronológica (cruzamento de radiocar- durante meses, às vezes anos, a água da chu-
bono e termoluminescência) e do número de va de um dia. Gota a gota, a água escoa e
datações físicas realizadas para a coluna estrati- alimenta constantemente as bacias hídricas
gráica de Tin Hanakaten (mais de cinquenta). de altitude, que a sombra protege da evapo-
Enim, o resultado da simulação relativa à inso- ração rápida, e também o suporte para dei-
lação é surpreendente e conirmado por outras xar as mensagens no tempo, como gravuras
pesquisas, e será particularmente interessante. e pinturas rupestres (Striedter 2007; Strie-
Ele sugere um fato que não desmente nem a dter et al. 2003; Striedter e Tauveron 2001).
estratigraia nem a datação física e nem a in- Fora do Saara Central, migram verso o
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 145

Vale do Nilo (Kroepelin e Kuper 2006), • Quando a aridez ameaça


de onde um dia sairá a famosa civiliza- Este estudo sugere que, assim que a aridez
ção faraônica (Hachid e Axell entrevista se tornava extrema, as antigas populações
Schvoerer em 2008-a). Ao norte do Saara saarianas do Holoceno abandonavam os sí-
em direção às montanhas Atlas, os pastores tios arqueológicos que as gerações anteriores
deixaram inumeráveis gravuras e pinturas haviam ocupado. Quando a vegetação não
sobre rocha. No Ocidente, eles se aproxi- é suiciente ou é inexistente, o rebanho está
maram do oceano (El Graoui 2005; Se- em perigo e os homens devem migrar para
aright 2004). Para o sul, eles vão para o áreas onde possam encontrar meios de sub-
Sahel e à beira de lagos (Petit-Maire 1991). sistência. O retorno é, naturalmente, possível
quando a situação climática melhora. Isto
• Quando a chuva retorna implica na existência de sistemas de vida e
Por causa de seu impacto sobre o meio em estruturas sociais compatíveis com o li-
ambiente vegetal, o regresso da chuva e vre deslocamento de homens e animais em
do calor é a priori menos problemático do áreas muito grandes. Este foi provavelmen-
que a tendência à aridez. Mas isto não é te o caso da África, antes que o Ocidente
seguro, pois promove a proliferação de in- tivesse a pretensão de apontar os benefícios
setos (mosca tsé-tsé, mosquitos), vetores do conceito de civilização, para os chama-
de doenças tropicais letais para os animais dos povos atrasados, ditos de “fronteiras”.
(tripanossomíase) e humanos (malária).
Sem dúvida, parcialmente protegido pe-
• Onde estão as populações que migram?
las imunidades individuais e seletivas, os
Eles se movem em direção a “nichos” eco-
homens e os seus rebanhos se reúnem em
lógicos que variam em função da zona saa-
Tin Hanakaten por longos períodos, mar-
riana abrangida (Vernet 2004; Aumassip et
cados pela alternância climática observada.
al. 2007). No Saara central e norte do Saara,
Outros parecem permanecer na altitude ou
seguirão sobretudo em direção às pastagens
nas proximidades onde as lutuações térmi-
cas são desfavoráveis à reprodução do inseto. de montanha. Adiante, se juntam na costa
do Atlântico (El Graoui 2005), às margens
5 – Considerações do Rio Níger, que hoje chamamos o Sahel
• A título de pesquisa (Petit-Maire e Riser 1983), no Vale do Nilo
Finalizamos a presente pesquisa, destacando (Kroepelin et al. 2006; Kuper e Kröpelin
o papel que uma potencial lutuação rítmica 2006) ou as margens dos lagos que ainda
dos raios solares provoca sobre a intensidade subsistem (Petit-Maire 2002, 1999, 1991,
das “crises climáticas”. O fenômeno, se con- 1988, 1984, 1979).
irmado, tem periodicidade de cerca de 1 300
anos, ... isto deverá também ser explicado! O • Planaltos e zonas montanhosas
fato de a estratigraia do Tin Hanakaten res- Em altitude, a natureza das rochas e as formas
tituir aproximativamente esta periodicidade de erosão que as caracterizam, permitem aos
é pouco preocupante. Será evidentemente grupos de permanecer de forma relativamen-
necessário veriicar, avaliar e, quando for te “confortável” nas montanhas, onde há água
o caso, ampliar a abordagem adequada. Se durante todo o ano e alguma vegetação. Em
conirmado, disporemos de um instrumento algum ponto, ajustaremos a composição do
de previsão, que permitirá auxiliar os pode- rebanho às condições meteorológicas mais
res públicos na tomada de decisões a título difíceis: os animais de grande porte do início
preventivo ou de proteção para as popula- do Holoceno (elefantes, girafas, crocodilos,
ções e fontes documentais, que são no Saa- hipopótamos etc.) serão sucessivamente subs-
ra os sítios arqueológicos e de arte rupestre. tituídos por bovinos, ovinos, equinos, e i-
146 • IPHAN

nalmente camelos (Striedter 2007; Tauveron elementos do patrimônio cultural, particular-


2003). Mais tarde ainda, como evocado na mente vulnerável aos efeitos dos fenômenos
arte rupestre, cavaremos poços e chegaremos meteorológicos da atual “crise” climática.
até os conlitos armados para protegê-los.
• Risco Climático: o diálogo e a coopera-
• Quando a chuva e o calor retornam ção Norte-Sul no Mediterrâneo
A pesquisa arqueológica no deserto do Saara Por outro lado, a relexão conduzida e o tra-
revela que a ocupação humana nas monta- balho realizado de forma ajustada – entre as
nhas, é relativamente perene. Sem dúvida, equipes de ambos os lados do Mediterrâneo
devemos ver neste comportamento um rele- – fazem parte das dinâmicas de iniciativas
xo da saúde pública, pois a malária nos seres da União Europeia e da Comissão Europeia,
humanos e a tripanossomíase em animais são bem como dos países envolvidos neste pro-
ameaças terríveis. A altitude, principalmente grama, para fortalecer o intercâmbio nesta
em torno de 1 200 m e 1 800 m, torna di- área estratégica. Os esforços de coordenação
fícil ou mesmo impossível a reprodução de da nossa associação, que se comprometeu a
vetores dessas doenças mortais por causa do
trabalhar em conjunto com as equipes de
frio noturno. Podemos dizer que, em direção
pesquisa universitárias (Frankfurt, Cairo,
ao planalto de Tassili Azjer, o Tadrart Aca-
Helsinki, Bordeaux, Tunisia), organismos
cus , relativamente próximos (alguns dias ou
semanas de caminhada) e se elevando algu- públicos (CNRS na França, CNR na Itália,
mas centenas de metros os neolíticos do Tin Ministério da Cultura de Marrocos) e asso-
Hanakaten se adaptaram às crises climáticas ciações (Argélia, França) e empresas (Bélgica,
ocorridas no Saara Central. França), seguem neste sentido. Seria sábio
transformar esta experiência em novas ações
6 – Perspectivas inspiradas no programa “Pátina do Deserto”.
• Recriação da pátina de arenito, portado- Justamente desde 2009, um duplo projeto
ras de obras gravadas, testemunhas de dez está em estudo para: de um lado “exportar” o
milênios de crises climáticas novo conhecimento para outros países do Sa-
Num futuro próximo, o resultado das pes- ara e, de outro lado, depois de pesquisar um
quisas realizadas com o intuito de encontrar deserto “quente” examinar um deserto “frio”
e desenvolver, in situ, uma técnica para re- particularmente na Ásia Central.
criar a pátina de arenito, será publicado. Esta
é a segunda parte do programa “Pátina do 7 – Agradecimentos
Deserto”. O desenvolvimento de materiais e Este artigo é um dos primeiros resultados de
tecnologia associada foi considerado urgente, um programa de pesquisa internacional mul-
em função da ameaça climática pela Comis- tidisciplinar que enolve de 2004 a 2008, 11
são Europeia. Porque o conhecimento espe- equipes de 8 países da área euromediterrânea
cializado do qual ela precisava para examinar intitulado «Pátina do Deserto». Este programa
esta proposta não existia em 2004 (o progra- foi selecionado e inanciado pela Comissão
ma “Pátina do Deserto” ocorreu de 2004 a Européia (DG Investigação: contrato INCO-
2008), o processo é suicientemente inovador CT-FP6-2004-509100) assim como pelo
a ponto de poder ser admitido como de ro- Conselho Regional de Aquitaine (França)
tina em um ambiente de deserto. Este resul- (Schvoerer 2009, Schvoerer et A all 2008-a,b)
tado se insere plenamente em uma política que agradecem.
prioritária da UNESCO, voltada à “salva-
guarda das fontes documentais da Humani- Notas:
dade” (UNESCO 2006). A arte rupestre é 1. BP = Before Present, conventionnellement, avant
obviamente uma dessas fontes e, como outros le Présent , avec Present = 1950 ap. J.C.
Preventive Archaeology in
Hungary-Authentic Development or
Foreign Model without Adaptation?
Archaeoastronomy and
Preventive Archaeology VII
Katalin Bozóki-Ernyey & Emilia Pasztor

After the political system changed in 1989, the importance of the cultural port-
folio was emphasised by the new name, adopted in 1998, of the responsible
government department, the Ministry of National Cultural Heritage.1 he irst
self-contained, central public administrative organ of archaeological science, the
Cultural Heritage Directorate, was established according to the law in 1998. In
2001, the Directorate merged with the National Board for the Protection of His-
toric Monuments and the new institution now functions under the name of Na-
tional Oice of Cultural Heritage (Kulturális Örökségvédelmi Hivatal hereinafter
KÖH). Drawing the actual picture of the situation in archaeology (the extent of
the territory excavated, the diferent variety of investment projects, the meth-
odologies applied, the organization and functioning of the administration, and
connected legislation, etc.) is not an easy task. In this paper, as a member of the
KÖH, my aim is only to outline the background and problems of preventive
archaeology, mainly in development-led excavations.

Note. Preventive Archaeology in Hungary-Authentic Development or Foreign Model without Adaptation’? is


credit to K. Bozóki-Ernyey and Archaeoastronomy and Preventive Archaeology is credit to E Pasztor.
1 his paper is based on Bozóki-Ernyey 2007, see cited in the bibliography.
148 • IPHAN

Public administration and the legal system of archaeology


In 2004, abolishing the Department of Archaeology and Monuments in the Min-
istry of National Cultural Heritage, the self-contained professional-level repre-
sentation of archaeology was also abolished. In 2006 the name of the ministry
changed to Ministry of Education and Culture that forecasted the representation
of culture and also cultural heritage are overshadowed compared to education.
Actually KÖH is the sole central administrative organ specialising in archaeol-
ogy. Its Chairman holds the rights of a Deputy State Secretary. he staf of the
Cultural Heritage Oice consists of approximately 300 persons; among them 27
archaeologists conduct the supervisory archaeological work for the whole coun-
try: consent and statutory work connected to the protection of archaeological
heritage.
he protection of the archaeological heritage is not directly represented by a sin-
gle person in each of the local (county) governments. here is always a member
responsible for cultural issues, but his or her duty is still not the promotion of
archaeology but culture as a whole, including theatres, arts, literature, etc. he
local (county) governments deal with archaeological heritage through the net-
work of museums they support. he protection of archaeological sites is basically
determined by an act (Act LXIV of 2001 on the protection of cultural heritage,
amended by the Act LXXXIX of 2005, hereinafter Act) and a decree (Decree No.
18/2001. [X.18.] NKÖM, on the detailed rules of excavation of archaeological
sites and inancial remuneration for the inders of archaeological sites and inds,
amended by the OKM Decree 21/2007. [III. 26.]). Closely connected to these
are the orders on heritage protection impact studies, and the cultural heritage,
including the archaeological heritage inventory, etc.2 he Valletta Convention,
enacted by Government Order 149/2000. (VIII. 31) had a deinitive impact on
the completion of the present domestic law and is a document regularly referred
to and taken into account in the course of the presently ongoing elaboration of
general concepts.
he operation of museum institutions, their inventory, the activity of cultural
experts and the export licencing processes concerning archaeological inds are
regulated by other legal rules.

2
See their complete citation at the end of the paper.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 149

Crucial problem: the legal deinition of the archaeological site


According to the Act (continuing the concept usage from the previous Act CXL
from 1997) the legal concept of ‘archaeological site’ – which should be avoided
by the investment – is: “a clearly deined geographical area on which the elements
of archaeological heritage can be found in their historical context and which has
been registered by the authority [KÖH].” (Act Article 7, point 20)
Based on the data from systematic ieldwalking regularly conducted in the frame-
work of the Archaeological Institute of the Hungarian Academy of Sciences between
1968 and 1997, collecting information about approximately 10 percent of the
country, we can extrapolate that there are at least 100 000 archaeological sites in
Hungary. From motorway excavations and topographic observations we should
suppose an even greater amount of sites, between 100 000-200 000 based on
upon the fact, that usually in every square km there are 1or 2 sites; and every
fourth is a rather intensive one.3
he establishment of the oicial archaeological registry based on a uniform sys-
tem was required by law in 1997, and the predecessor institution of the KÖH
was designated to execute this task. Development of the theoretical foundation of
the database began in 1999, and information technology development started in
2000. he structure of the SQL-based database was designed to be able to satisfy
both administrative and scientiic needs. he database handles information about
listed buildings and protected cultural goods together in one system. Recording
in the database has been going on since 2001; the main sources of the data were
the holdings of the regional museums and the Hungarian National Museum, plus
the Hungarian Archaeological Topography (in ten volumes); later on mainly the
heritage impact studies. In 2007 the database contained information on more
than 56 000 sites.
In 2008 the Government Order on the National Oice of Cultural Heritage
from 2006 was amended by another order. It ordained that the Oice have to
publish, inter alia, all information regarding all archaeological sites and their con-
tiguous zones that are necessary for their localization, and informative about their
protection, on its electronic web site without any restrictions. his part of the
order entered into force on the 1st of April 2009.

3
Raczky Pál - Bánfy Eszter: Múltunk jövőjéről – Régészeti örökségünk sorsáról. Written: 04. 05. 2009.
Web site of the Archaeological Institute of the Hungarian Academy of Siences: http://www.archeo.mta.
hu/hir/aktualishir/?p=7. And see also Raczky Pál 2007, cited in the bibliography.
150 • IPHAN

In 2009 in connection with this a KÖH campaign started to speed up the data
processing especially in the mapping and digitalization of the sites. In its present
state it contains 63 667 sites, from these 48 thousands, 745 have digital poly-
gons, and 133 have land register data.4 Within the inventoried site types there
is another category for historically and culturally outstandingly important sites;
that is the ‘protected site’ by ministerial order (sites may be designated as specially
protected or highly protected). here are 531 protected areas embracing 2182
sites.5 On the other side the KÖH campaign itself in its present state does not
include on site control.
At the end of 2009 the application of KÖH for European funds was supported and
the oice obtained HUF 200 million (EUR 753 212) for the modernization of the
whole information system, including the inventory, with the deadline of 2011 March.
But a part of this internal work, the oice have not published the ordered infor-
mation on its web page for the public, – as you can see from their communica-
tion- because of the lack of the necessary legal digital cadastral maps for the whole
country! On the other hand all the archaeological profession protested against the
disposal because precise topographical data publicized is a direct threat against
archaeological sites.
From about 2005 there were several attempts from the archaeological community
and KÖH to modify the legal deinition of ‘site’, but these attempts have failed.

Means of preventive archaeology: impact study, development-led excavation,


rescue excavation
• Heritage impact study
According to the law, the irst-tier authorities have to send the investment plans
to KÖH in order to get a consenting opinion. On an archaeological site in the
case of landscaping and certain investment forms (linear projects, buildings that
planned to have at least 500 square metres level-surface or investments that in-
volve more than 10 000 square metres, or certain phases of mining activities,
constructions higher than 15 metres, etc.) the KÖH can require a heritage impact
study for its consenting opinion.

4
he up-to-date information is due to Júlia Kisfaludy and Imre Bere, National Oice of Cultural Heritage.
5
he up-to-date data is due to Dr. Levente Nagy, National Oice of Cultural Heritage.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 151

Fig.1 The histogram shows the continuous growth of archaeological interventions.


Fig.1 O histograma mostra o crescimento contínuo das intervenções arqueológicas.

Fig.2 Histogram: the excavated surfaces in square metres per year conducted by the locally competent
museums. The figures of 2007-2008 indicate the establishment of KÖSZ that became the responsible
institution for large-scale excavations instead of the museums.
Fig.2 Histograma: as superfícies de escavação em metros quadrados por ano, realizado pelos museus
localmente competentes. Os dados de 2007-2008 indicam o estabelecimento de KÖSZ que se tornou a
instituição responsável pelas escavações em larga escala, em vez dos museus.

In the case of the so called ‘large-scale development’ that is an investment greater


than HUF 500 million net (EUR 1 887 371), it is compulsory. It is also compul-
sory in the case of town and country planning process.
152 • IPHAN

In these cases, apart from the collection of already available data, there is ield-
work, a ield walking before issuing a licence. he creation of a heritage impact
study is the real protection for archaeological heritage because in the early stages
of authorizing a project there is a better chance of modifying the investment
plans.
A good early example from 2005, in the application of this philosophy is Kur-
vahalom in Szabolcs-Szatmár-Bereg County, where, because of the intervention
of the archaeological inspector, the National Motorway Corporation modiied the
right of way of the highway, which originally was planned to go through a Cop-
per Age kurgan. hus the kurgan, although in the immediate vicinity of the high-
way, is preserved intact today.6
• Development-led excavation
If the investment concerns an archaeological site recorded in the oicial registry
[registry of KÖH], and if avoiding the site would signiicantly increase the costs
of the development or investment involving earthwork, or the investment cannot
be executed elsewhere, archaeological sites jeopardised by the investment must be
excavated in advance [development-led excavation] (Act Article 22[2])
he regional oice of the KÖH orders an excavation preceding the construction
process. he investor then contracts with the competent organization. he great-
est problem is that a development-led excavation can be required only in the case
of oicially registered sites, and the data of the registry difers greatly from the
actual number of sites, as it was described earl’ier. In the case of development-
led excavation, the funds for the archaeological work have to be secured by the
investor.
During the planning of development and investment activities, the total cost
of development-led excavation, but at least 9 thousands of the total investment
cost must be made available to cover the excavation in the form of a cost appro-
priation. Especially the costs of an archaeological impact study, trial excavation,
documentation, primary ind conservation, as well as the full cost of primary
ind processing and the extraordinary expenses of the placement of inds must be
made available. he institution conducting the excavation shall also be obliged to
account for the actual expenditure. (Act Article 23[1])

6
Information is due to Dr. Marianna Bálint, National Oice of Cultural Heritage.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 153

• Rescue excavation

If archaeological inds emerge in the course of construction work, the expenses of


the excavation, which is called a rescue excavation, must be covered by the com-
petent museum. he law (since 1997) makes such a distinction between develop-
ment-led and rescue excavation. he diference between the two kinds of excava-
tions basically lies in the inancial arrangements and scheduling, but also afects
the execution of the methods applied in the excavation. In the irst case, the party
entitled to carry out the excavation and the investor ix the expected duration and
cost of the excavation in a contract prior to the beginning of construction work.
In the second case, the excavation can be and has to be started after the suspen-
sion of construction work, and 30 days are available, – if the excavation can not
be terminated in 30 days, the authority can declare the site temporary protected.

Unfortunately, this also applies to sites protected by ministerial order, e.g., in his-
toric town centres or on small-property owners’ plots, although the law clearly says:

No activities may be conducted on archaeological sites that have been declared


protected which might result even in partial deterioration of the conditions of the
site. (Act Article 13[1])

If there is no possibility of locating a project elsewhere, the rule can be circum-


vented, again.

According to the rules, the institution entitled to carry out an excavation has to
send its licence-application to the regional oice of the KÖH at least 30 days
before the start of the planned work. he licensing of excavations difers from
the general process in the requirement that the application form has to be sent
to the Excavation Committee as well. he Committee, functioning since 1963,
nowadays acts as the consultant body of the KÖH and holds sessions every two
weeks. Its’ staf, consisting of nine members, is nominated by the Chairman of
the KÖH, on the proposal of the directors of the institutions entitled to send
delegates, and on the opinion of the Archaeological Committee of the Hungarian
Academy of Sciences. he regional oice makes its decisions taking into account
the Committee’s opinion, although it does not have binding force.

In the framework of museums, the excavation can be directed by a person with


higher professional education (MA or PhD degree), who has employee status or
holds a short-term public servant contract. In the legal sense, all archaeological
interventions such as ield survey, equipment-assisted site survey and ind explo-
ration (metal detecting, aerial photography, archaeomagnetometer survey, etc.)
154 • IPHAN

are considered as excavation, therefore the above-mentioned rules have to be ap-


plied in their cases as well.

• he monopoly of development-led excavation

In Hungary only a closed circle of parties is entitled to execute excavations; this


task can only be fulilled by public institutions. Consequently, the excavation
licence is issued to the institution but also names the leader of the excavation.
he institutions doing excavation work are accurately deined in the legislation.

Archaeological excavations may be carried out – under the terms and conditions
speciied in their operating licence issued in compliance with the provisions of
Article 39(3) of Act CXL of 1997 on the Protection of cultural goods, museums,
public library services and public education - by competent museums, museums
with an archaeological collection range, universities in Hungary having a faculty
of archaeology, the Archaeological Institute of the Hungarian Academy of Sci-
ences, and the heritage protection institutions supervised by the education and
culture minister [National Oice of Cultural Heritage, Field Service for Cultural
Heritage]. (Article 2[1] Decree No. 18/2001)

here are altogether more than 50 institutions entitled to conduct archaeologi-


cal excavations. Development-led excavation preceding construction is, however,
limited to the county-level museums (19 in total), to the Historical Museum of
Budapest and from April 2007 to the Field Service for Cultural Heritage (Kulturá-
lis Örökségvédelmi Szakszolgálat hereinafter KÖSZ). In the case of large-scale
investments (investment over HUF 500 million net [EUR 1 887 371]) it is ex-
clusively the Field Service for Cultural Heritage that is responsible for.

Large-scale state investments – new institution following the French model

he Hungarian Parliament in 2004 has approved a transport policy program


lasting until 2015, in accordance with the long-term concept of the European
Union. With this program the government intends to develop and modernise the
highway network, railway trunk lines, ports of public interest, and the central and
regional airports, in addition to the logistical centres on the domestic sections of
the pan-European corridors. In order to promote the regional development aims,
the countrywide, regional and town-level public road system will also be up-
graded, including town outskirts and rural areas. he building of water lines and
the construction of a bicycle path network that started in 1997 will be continued.
During nearly 40 years before 1989 (the irst one was completed in 1964) there
were built about 500 km of highways. Now, between 2000-2009 more than 500
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 155

km of highways was opened for the public. Among the projects the proper solu-
tion for lood prevention, waste-water canalization and treatment, and the exten-
sion of the drinking water network should be mentioned. A preminent program
is the construction of waste deposit units; and gas pipelines, telephone and elec-
tricity cable installations are also under way. In order to demonstrate the extent
of archaeological involvement in these processes, we have to add the continuous
investment of the private sector in both inner and outer areas.

he number of excavations is growing continuously. In 2000 there were 410 ex-


cavation licence applications, in 2009 were 857, so during less than 10 years their
number was doubled7(Fig.1). he proportion of the planned and development-
led excavations is also changed drastically. It is highly conspicuous that nowadays
more than 80 percent of the excavations are connected to investment.

• Tendencies for the uniication of highway excavations – the new phenomenon:


Field Service for Cultural Heritage

Linear large-scale investment projects have concerned all of the 19 Hungarian


counties since the time of the political system change in 1989. All the counties
act autonomously on their own territories, so – apart from special local features
– it has happened that a museum experienced in contracting has agreed on more
favourable terms than another museum. he large areas and the rather short pe-
riods for archaeological research required new methods in the ields of excavation
and documentation. Nevertheless, every institution wanted to ind a solution of
its own. After the irst experiences, the National Motorway Corporation con-
tracted with an archaeological expert whose duty was to supervise the accounts of
all excavations in the light of professional results.

Based on this, the expert elaborated proposals on the conduct of excavations, the
content of documentation to be transmitted to the investor, and the accounting
of excavation costs. Some of these recommendations were built into the contracts.
Oicially in 2004 the county museums established the Association of County Mu-
seum Directorates. Among other things they determined a uniied excavation price
per square meter and suggested to the museums to take this into account when
making contracts.

7
Data from 2009 is due to Zsuzsanna Újlaki-Pongrácz, National Oice of Cultural Heritage. Other
igures are collected by the author on the basis of the database of excavation licence applications.
156 • IPHAN

In 2003 the government issued a law aiming to accelerate highway construction.


Connected to this, the KÖH initiated a coordination process with the participa-
tion of the representatives of the organizations conducting excavation work, dur-
ing the following years. On the agenda were the problems related to the highway
and other projects, for example, the diiculties of urban excavations, the storage
question, etc. As part of this work, the legislative environment was modiied and
a proposal on a uniied contract formula elaborated with the aim of eliminating
legal irregularities and contracting terms disadvantageous for the museums.
In April 2007 independently from this development an absolutely new country-
wide competent and duty-obligated central organization supervised by the educa-
tion and culture minister, the Field Service for Cultural Heritage was established
mainly for large-scale development-led excavations. It became the legal successor
of the Állami Műemlékhelyreállítási és Restaurálási Központ (State Centre for the
Conservation and Restoration of Historic Monuments). he deinition of ‘large-
scale development’ actually, legally is: all investments greater than HUF 500 mil-
lion net (EUR 1 883 031).
he absolute position of the locally competent museums in respect of develop-
ment-led excavations was unexpectedly terminated and changed for another mo-
nopoly. he Field Service for Cultural Heritage contracts with the investor. here
is a uniform contract and a public list of prices was composed.
here is (still) a very vivid debate on the actual and possible role of the Service.
It was established without a real consultation with the professional organizations,
in a very short time. It is criticized mainly because a new institution was created
instead of developing the museum network existing for more than 100 years8 in
a more eicient way, where traditionally main archaeological ieldwork was done.
he Service became a parallel organization with its regional units for the county
museum system. At the end of 2007 its staf number was 103, at the end of 2008
there were 211 persons.9 In 2010 it is supported by 280 deinite term contractual

8
he Hungarian National Museum was founded in 1802, the opening of its own building was in 1848.
he county museums were founded mainly during the second half of the 19th century. Network of the
county museums was created mainly due to regulations in 1949 and 1963.
9
A Kulturális Örökségvédelmi Szakszolgálat 2008. évi költségvetési beszámolójának szöveges indok-
lása. http://www.okm.gov.hu/letolt/minisz/eves_beszamolo_2008/kulturalis_oroksegvedelmi_szak-
szolgalat_2008.pdf A Kulturális Örökségvédelmi Szakszolgálat 2008. évi költségvetési beszámolójá-
nak szöveges indoklása.
http://www.okm.gov.hu/letolt/minisz/eves_beszamolo_2007/kulturalis_oroksegvedelmi_szakszol-
galat.pdf
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 157

positions.10,11 From year to year not only the previously unemployed archaeolo-
gists went to work for this organization, but also professionals from the museums
left for KÖSZ for a better perspective.
Although the Field Service for Cultural Heritage can involve other organisations
such as the locally competent museums, or the Academy or the universities etc. in
the work for a more eicient discharge of its duty, it can be seen that after having
more employee for the third year, in 2009, KÖSZ subcontracted only c. 16% of
the excavations12 (Fig. 213).
When KÖSZ was established the French state archaeological service INRAP (In-
stitut national de recherches archéologiques préventives) played the main role as
a model. Now there are tendencies to follow further the French model and to
introduce an archaeological tax, also.
• he quality of excavation documentation varies
he leader of the archaeological work has to prepare documentation in a prede-
ined way according to the law. his documentation has to be sent to the muse-
ums concerned and to the KÖH and to the Central Archaeological Archives of the
Hungarian National Museum. he latter institution has collected all the archaeo-
logical documentation from Hungary since 1957. he deadline is 30 days for the
short report of the excavation (approximately half a page), and one year for the
complete detailed documentation. he complete documentation has to contain
the excavation diary, drawings, maps and photographs. here is quantity but no
real quality control by the side of the competent organization, the National Of-
ice of Cultural Heritage.
All excavating archaeologists have backlogs of documentation work; some of
them are even behind two or three years. Although a delay in completing the
compulsory documentation delivery can be a reason for not leading an excava-
tion, with the exception of some very problematic cases there is basically no pos-
sibility of using this as a tool for denial of licence to direct an excavation.

10
XX. Oktatási és Kulturális Minisztérium 2010. évi költségvetésének szöveges indokolása. http://www2.
pm.gov.hu/web/home.nsf/(PortalArticles)/6ED5B0D1010962D0C12576350033532C/$File/20.pdf
11
he concrete number of archaeologists from all these igures is not available.
12
Data generated from statistical igures are due to Zsuzsanna Újlaki-Pongrácz, National Oice of Cul-
tural Heritage.
13
Data are owing to Dr. Paula Zsidi director, Aquincum Museum, BTM and Dr. Imre Szatmári, direc-
tor, Békés County Museums’ Directorate, based on the data provided by the competent museums on
their request.
158 • IPHAN

• he number of sites and their dimensions


Data on highway excavations obtained until now show, as it was described earlier,
that 1-2 sites occur in every square kilometre. he dimension of an average site
is 15-20 thousand square metres; sites with dense features can measure 30-50
thousand square metres.14 Every fourth site is rich in features. One exceptionally
large site complex of Üllő 5 and 9, located at one of the M0 highway junctions in
Pest county, measures 400 000 square metres; this complex included a Sarmatian
settlement from the Roman Imperial Period, its earthenware production centre
and adjacent cemetery15.
• he quantity of the archaeological material is suicient for a century
According to the Act:
All archaeological inds on the ground, in the ground, in the beds of watercourses
or hidden or recovered from elsewhere shall represent state property. (Article 8[1])
On behalf of the state the minister of national cultural heritage may waive the
ownership title to archaeological inds in favour of museums with archaeological
collections, not maintained by the state. (Article 8[2])
Practically before 2007 after discovering the objects, they were taken to the local
competent museum (the only exception was the Hungarian National Museum).
Now, with the establishment of KÖSZ, the competent museum has to declare if
it can host the inds of KÖSZ, or not. If it does not accept the material excavated
by KÖSZ, because of the insuicient storage capacity, the Hungarian National
Museum will be responsible for taking care of it, in theory, as in practice it has no
such storage facilities.
Between 1990-2007, as a result of highway excavations the area thus excavated
exceeded 7 million square metres. Archaeological excavations of special impor-
tance have been carried out at some 690-700 sites.16
Of course, the richness of sites varies in terms of inds. In a single tell-type settle-
ment (Polgár-Csőszhalom), 3.5-4 million objects came to light and 1.5 million
remained after discard.17

14
Based on upon the kind oral information from 2007 of Prof. Pál Raczky, director of the Institute of
Archaeological Sciences, University of Eötvös Loránd, Budapest.
15
Tari Edit (ed.): Régészeti kutatások másfél millió négyzetméteren. Autópálya és gyorsforgalmi utak
építését megelőző régészeti feltárások Pest megyében 2001-2006. 2006, Szentendre.
16
See Raczky Pál 2007: 34-35, cited in the bibliography.
17
See footnote 13.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 159

Prior to the storage of the archaeological material, moreover, there is the problem
of conservation, restoration, inventorying and scientiic processing of the objects.
According to pessimistic calculations it will take a hundred years until the scien-
tiic evaluation of the inds that have come to light in the past two decades can
be totally completed.

Summary of general problems

he legal deinition of an archaeological site poses the greatest problem. he state


gives practically no support except inancial remuneration (treasure trove) and
support of protected sites in danger, neither direct nor indirect (tax allowances,
etc.). Financial resources are needed especially to support small-property owners
if their planned building is situated on an archaeological site or if a site emerges
in the course of construction.

With the establishment of KÖSZ a parallel system with the more than 100 year-
old museum network was created, which raised questions of cooperation, quality
insurance of excavations, inventorying, publication, feature of museum network,
and possibility for the introduction of an archaeological tax.

he problem of storage of the large number of archaeological inds, caused also


by the diferences in central and local government property, is still unsolved, al-
though during the years both the museums and recently KÖSZ has built, gained
storage facilities of relatively big dimensions.

Quality control of the documentation is still missing, but uniications of docu-


mentation have taken place. he KÖSZ produced its “Documentation Proce-
dures Protocol”, that is compulsory for their own and their subcontractor’s exca-
vations. he Association of Hungarian Archaeologists, established in 2005, has also
issued the “General Requirements for Producing Documentation” as a suggested
document. Having some signiicance beyond the problems related to prevention
and excavation, the more recent problem is the scientiic elaboration, scientiic
evaluation and publication of the excavated materials.

Archaeoastronomy And Preventive Archaeology

In Hungary in preventive archaeological activity it is not essential yet to involve


archaeoastronomical ieldwork. his discipline still does not enjoy oicial recog-
nition yet. Until now such investigations have been accomplished after inishing
excavations and the measurements have been made on the ground plans, which
160 • IPHAN

is not the best but at least is a solution (Pásztor 2006, Pásztor 2005, Pásztor –P.
Barna –Roslund 2008).

However, there have been hardly any cultures on the earth which have no interest in
the sky. he history of astronomy however proves that ancient astronomy covers not
only pure astronomical events such as the rise or set of a celestial body, or eclipses
etc.; but any kind of celestial phenomena involving also atmospherical ones. hey
are generally believed to be distinct entities of the sky (Pasztor-Roslund 2007).

Archaeoastronomy is the discipline of science that investigates archaeological


monuments or remains of ancient monuments in order to reveal the sky lore of
past cultures. Old monuments or their remains are the subject of archaeological
research, either they are prehistoric or medieval, thus their archaeoastronomical
survey should harmonize with the results of their archaeological study. Archae-
oastronomical research cannot be performed without archaeological background.

As archaeoastronomical measurements cannot or can hardly be carried out after


inishing the ieldwork, especially in the case of such constructions which have
no visible material remains, it is essential to perform the investigations during
the ieldwork. Taking measurements later from the ground plans can have a high
chance of containing errors.

During the preventive archaeological process the most important goal of the ar-
chaeoastronomical activity is to record all the data which are necessary to later
study of the possible sky lore of a community. Although the landscape survey
should be fundamental part of the ieldwork, and it signiies essential condition
to archaeoastronomical conclusions, orientation and declination data may be
useful for other rather than astronomical interpretation as well. Data on skyline
and visible geographical features can provide valuable information on the rela-
tionship of the monuments to the surrounding landscape.

As with the archaeological data, orientation, horizon survey and astronomical


data should be recorded deinitively during the preventive process. Useful guide-
lines for capturing the necessary data can be found in Clive Ruggles’ book titled
Astronomy in Prehistoric Britain and Ireland (1999).

Although archaeoastronomical ield techniques are non-destructive the monu-


ments may be reconstructed or even worse, they are destroyed as it is the case
with development-led excavations where the surroundings can also strongly be
altered. hen the most part of the scientiic data can be lost. he landscape can
also change with time which would make it impossible or diicult to obtain the
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 161

same data. All this prove that archaeoastronomy should be involved into heritage
impact studies of a country.
he lack of archaeoastronomical study risks the scientiic exactitude of the re-
search of the monument investigated. As archaeoastronomical ield work needs
experience, a closer teamwork between archaeo-astronomers and archaeologists is
desirable in order to make meaningful contributions to our understanding of the
past. his collaboration should not only apply to the interpretation of measured
data, but to all the work carried out, from the formulation of a research strategy
and the execution of ieldwork to the inal analysis of the information gathered.
heir approaches and perspectives can be diferent but be fruitfully complemen-
tary to the cases investigated. Archaeologists cannot ignore the importance of the
sky phenomena (Pasztor 2009); astronomers interested in history cannot ignore
the importance of the archaeological background.
162 • IPHAN

Bibliography
Bozóki-Ernyey K., 2007. “Preventive Archaeology in Hungary. One Step Behind.”
In: Katalin Bozóki-Ernyey (ed.): European Preventive Archaeology. Papers of
the EPAC meeting 2004, Vilnius. Budapest, 104-121.
Belényesy, K. , Virágos G. 2008. “Régészet az ezredforduló után: a régészet
helyzete és szerepe a 21. századi fejlett piacgazdaságban és a tudásalapú
társadalomban. Alternatív lehetőségek a régészeti feladatellátásban: egy
európai körűt tapasztalatai.” [Archaeology After the Millennium: he
Position of Archaeology in the Market Economy and Knowledge-based
Society of the 21th Century. Alternative possibilities in archaeology: the
observations of a European round trip] Archaeológiai Értesítő 133, 273-
289. (with English summary)
Jankovich-Bésán, D. – NAGY, M. 2004. Felmérés a régészet helyzetéről 1989-
1999 [Survey on the present state of archaeology 1989-1999], Budapest.
(only in Hungarian)
Magyar Régész Szövetség [Hungarian Association of Archaeologists] 2008.
“Discovering the Archaeologists of Europe. Hungary.” In: Discovering
the Archaeologists of Europe. http://www.discovering-archaeologists.eu/
hungary.html or In: “Archaeology in Contemporary Europe” http://www.
ace-archaeology.eu/ [EC funded Culture Programme for the period 2007-
2012]
Pasztor, E. 2005. “Sunshine in Bell Beaker’s houses: On the Orientation of the
Houses of the Bell Beaker- Csepel Group”. In: M.P. Zedda and J.A. Belmonte
(eds): Lights and Shadows in Cultural Astronomy. Isili: Associazione
Archaeoila Sarda. 116-124.
Pasztor, E. 2006. “Az égi és a földi táj kapcsolata.” [he relation of terrestrial
landscape to skyscape.] In: Füleky, Gy. (ed): A táj változásai a Kárpát-
medencében – Település a tájban. Gödöllő: Környezetkimélő Agrokémiáért
Alapítvány, 88-95. (in Hungarian, in the VI. Landscape Conference book)
Pasztor, E. - Roslund, C. 2007. “An interpretation of the Nebra Disc.” Antiquity
81: 267-78.
Raczky, P. 2007. “Az autópálya–régészet helyzete Magyarországon. Módszerek és
tapasztalatok az 1990 és 2007 közötti munkálatok alapján.” [he State of
Motorway Archaeology in Hungary. Methods and experience based on the
work carried out between 1990-2007] Archaeológiai Értesítő 132, 5-36.
(with English summary)
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 163

Pasztor, E. – P.Barna, J. –Roslund, C. 2008. “he orientation of rondels of the


Neolithic Lengyel culture in Central Europe.” Antiquity Vol. 82. 910-924.
Pasztor, E. 2009. “An archaeologist’s comments on prehistoric European astronomy.”
Complutum, Vol. 20 (2): 79-94.
Visy, ZS. (ed.-in-chief ) 2003. Hungarian Archaeology at the Turn of the
Millennium. Budapest.
Wollák, K. 2007. “Protection of cultural heritage by legislative methods in
Hungary”, In: E. Jerem, Zs. Mester, R. Benczés (eds.), Archaeological and
Cultural Heritage Preservation Within the Light of New Technologies,
Selected papers from the joint Archaeolingua-EPOCH workshop, 27
September – 2 October 2004, Százhalombatta, Hungary, 73-82.

Bibliography Online
Kulturális Örökségvédelmi Hivatal [National Oice of Cultural Heritage]:
www.koh.hu
Kulturális Örökségvédelmi Szakszolgálat [Field Service for Cultural Heritage]:
www.kosz.gov.hu
Magyar Régész Szövetség [Association of Hungarian Archaeologist]: www.
regeszet.org.hu
Múlt-kor történelmi portál [Past-time historical portal] www.mult-kor.hu portal

Legal documents in archive


149/2000. (VIII. 31.) Korm. rendelet a Magyar Köztársaság Kormánya és az Európa
Tanács tagállamai között, 1992. január 16-án kelt, Vallettában aláírt, a régészeti
örökség védelméről szóló Európai Egyezmény kihírdetéséről [Government Order
No. 149/2000. (VIII. 31.) on the enactment of the European Convention, written
on 16 January 1992, signed in Valletta between the Government of the Hungarian
Republic and the member states of the Council of Europe.]
2001. évi LXIV. törvény a kulturális örökség védelméről (2005. évi LXXXIX.
törvénnyel módosított) [Act LXIV of 2001 on the protection of cultural
heritage, amended by the Act LXXXIX of 2005]
18/2001. (X. 18.) NKÖM rendelet a régészeti lelőhelyek feltárásának, illetve
a régészeti lelőhely, lelet megtalalója anyagi elismerésének részletes szabályairól
(21/2007. (III. 26.) OKM rendelettel módosított) [Decree No. 18/2001. (X.
164 • IPHAN

18.) NKÖM on the detailed rules of excavation of archaeological sites and


inancial remuneration for the inders of archaeological sites and inds, amended
by the OKM Decree 21/2007. (III. 26.)]
308/2006. (XII. 23.) Korm. rendelet a Kulturális Örökségvédelmi Hivatalról
(362/2008. (XII. 31.) Korm. rendelettel módosított) [Government Order No.
on the National Oice of Cultural Heritage, amended by Government Order
No. 362/2008. (XII. 31.)].
4/2003. (II. 20.) NKÖM rendelet az örökségvédelmi hatástanulmányról [Decree
No. 4/2003. (II. 20.) NKÖM on the heritage impact study ]
17/2002. (VI.21.) NKÖM rendelet a kulturális örökség hatósági
nyilvántartására vonatkozó szabályokról [Decree No. 17/2002. (VI.21.) NKÖM
on the regulations concerning the oicial registry of cultural heritage ]
191/2001. (X. 18) Korm. rendelet az örökségvédelmi bírságról [Government
Order No. 191/2001. (X. 18) on heritage ines]
17/2001. (X. 18.) NKÖM rendelet a kulturális javak kiviteli engedélyezésének
részletes szabályairól [Decree No. 17/2001. (X. 18.) NKÖM on the detailed
rules of export licencing of cultural goods]
18/2000. (XII. 18.) NKÖM rendelet a kulturális szakértők működésének
engedélyezéséről és a szakértői névjegyzékek vezetéséről [Decree No. 18/2000.
(XII. 18.) NKÖM on the operating permits of cultural experts and keeping a
register of experts]
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 165

Arqueologia Preventiva na Na verdade KOH é o único órgão adminis-


trativo central especializado em arqueologia.
Hungria. Desenvolvimento Seu presidente detém os direitos de um Se-
autêntico ou modelo cretário de Estado. O Instituto do Patrimônio
Cultural é composto por aproximadamente
estrangeiro sem adaptação? 300 pessoas, entre eles 27 arqueólogos para
Arqueostronomia e realizar o trabalho de iscalização arqueológica
em todo o país: a autorização e os trabalhos li-
Arqueologia Preventiva gados à proteção do patrimônio arqueológico.
A proteção do patrimônio arqueológico não
Depois que o sistema político mudou em está diretamente representada por uma única
1989, a importância da pasta da cultura foi pessoa em cada local (município). Há sem-
enfatizada pelo novo nome, adotado, em pre um membro responsável pelas questões
1998, pelo departamento governamental culturais, mas o seu dever não é a da promo-
responsável, o Ministério do Patrimônio ção da arqueologia, mas da cultura como um
Cultural Nacional. A Direção do Patrimônio todo, incluindo teatros, artes, literatura, etc. A
Cultural foi o primeiro órgão público inde- municipalidade local dá apoio ao patrimônio
arqueológico por meio da rede dos museus.
pendente da administração central da ciência
A proteção dos sítios arqueológicos é basica-
arqueológica, estabelecido de acordo com a
mente determinada por um ato (Lei LXIV
lei em 1998.
de 2001, relativa à proteção do patrimônio
Em 2001, fundiu-se com a Direção do Con-
cultural, alterada pela Lei LXXXIX de 2005,
selho Nacional para a Proteção dos Mo-
e modiicações subsequentes) e o Decreto nº
numentos Históricos, e a nova instituição
18/2001. [X.18.] NKÖM (sobre as regras de
passa a funcionar sob o título de Instituto escavação de sítios arqueológicos e a remune-
Nacional do Patrimônio Cultural (Kulturális ração inanceira para os descobridores de sítios
Örökségvédelmi Hivatal – KOH). arqueológicos. Este se encontra alterado pelo
Desenhar uma imagem real da situação em Decreto 21/2007 OKM. [III 26.]).
Arqueologia (a extensão do território escava- Intimamente ligadas a estas são as ordens de
do, a variedade de diferentes projetos de inves- estudos de impacto de proteção do patrimô-
timento, as metodologias aplicadas, a organi- nio, de multas de proteção do patrimônio e
zação, o funcionamento da administração e do patrimônio cultural, incluindo o inventá-
a legislação aplicável, etc.), não é tarefa fácil. rio do patrimônio arqueológico, etc.
Neste trabalho, como membro do KOH, A Convenção Valletta, aprovada pela Porta-
meu objetivo é apenas descrever o cenário ria 149/2000. (VIII. 31), teve um impacto
e os problemas da arqueologia preventiva, deinitivo sobre o cumprimento da presente
principalmente em escavações de referência. lei nacional e é um documento regularmen-
te referido e considerado no decurso da ela-
Administração pública e o sistema jurídico boração dos conceitos atualmente em uso.
da arqueologia O funcionamento das instituições museo-
Em 2004, houve o fechamento do Depar- lógicas, seus acervos, a atividade cultural de
tamento de Arqueologia e Monumentos do especialistas e de autorização de exportação
Ministério do Patrimônio Cultural Nacional nos processos relativos a achados arque-
e também do órgão de representação da pro- ológicos são reguladas por normas legais.
issão de arqueologia.
Em 2006, o ministério alterou a denomina- Problema crucial: a deinição legal de sítio
ção para Ministério da Educação e Cultura, arqueológico
prevendo a representação da cultura e do De acordo com a Lei (continuação da uti-
patrimônio cultural, embora ofuscados em lização do conceito da Lei precedente CXL
relação à educação. do ano de 1997) o conceito legal de “sítio
166 • IPHAN

arqueológico” – que deve ser protegido – é: os sítios arqueológicos e suas zonas adjacen-
“uma área geográica claramente deinida na tes, necessárias para a sua localização, e infor-
qual os elementos de patrimônio arqueológi- mativos sobre a sua proteção, em seu site ele-
co podem ser encontrados em seu contexto trônico, sem quaisquer restrições. Esta parte
histórico e que tenha sido registrado pela au- da lei entrou em vigor a 1º de abril de 2009.
toridade [KOH]. “(Ato: artigo 7º, alínea 20). Em 2009, em relação a esta campanha a
Com base nos dados da prospecção sistemá- KOH começou a acelerar o processamento
tica regularmente realizada no âmbito do de dados, especialmente no mapeamento e
Instituto de Arqueologia da Academia Hún- digitalização dos locais. Hoje em dia existem
gara de Ciências, entre 1968 e 1997, que 63 667 sítios arqueológicos, dos quais 48 mil
coletou informações sobre cerca de 10 por têm 745 poligonais em digital, e 48 133 pos-
cento do país, podemos extrapolar que exis- suem dados cadastrais.
tem pelo menos 100 000 sítios arqueológicos Dentre os tipos de sítios arqueológicos
na Hungria. inventariados há uma categoria para sí-
Das escavações de autoestradas e observa- tios históricos culturalmente íntegros,
ções topográicas devemos supor que ocorra que é a “área protegida” por despacho
quantidade ainda maior de sítios arqueo- ministerial (os sítios podem ser designa-
lógicos, entre 100 000-200 000, com base dos como especialmente protegidos ou
no fato de que, em geral, há muita ocor- altamente protegidos). Existem 531 áreas
rência de sítios arqueológicos, em cada qui- protegidas abrangendo 2 182 sítios ar-
lômetro quadrado há um ou dois destes. queológicos. Por outro lado a campanha
A criação do registro oicial arqueológico do KOH atualmente não inclui o con-
apoiado em um sistema uniformizado era trole dos referidos sítios arqueológicos.
exigido por lei desde 1997, e a instituição No inal de 2009, a solicitação do KOH para
antecessora da KOH foi designada para exe- obtenção de fundos europeus foi apoiada e
cutar esta tarefa. o organismo obteve 200 milhões de HUF
O desenvolvimento da fundamentação teó- (753 212 euros) para a modernização do
rica do banco de dados começou em 1999, sistema de informação geral, incluindo o in-
e o desenvolvimento da tecnologia da infor- ventário, com o prazo para março de 2011.
mação teve início em 2000. A estrutura do Entretanto parte deste trabalho interno, o
banco de dados construído em SQL foi pro- organismo não publicou conforme ordena-
jetada para satisfazer tanto as necessidades do em sua página web para o público – e,
administrativas quanto cientíicas. O banco como se pode apreender pela comunicação
de dados manipula informações sobre edifí- deles, falta o necessário cadastro legal de
cios classiicados e bens culturais protegidos mapas digital para todo o país!
em conjunto num único sistema. Por outro lado, os proissionais de arqueolo-
O registro no banco de dados está em curso gia protestaram contra a difusão das infor-
desde 2001, e as principais fontes de dados mações, pois a publicidade de dados precisos
foram as participações dos museus regionais topográicos seria uma ameaça direta contra
e Museu Nacional da Hungria, além da To- sítios arqueológicos.
pograia Arqueológica da Hungria (dez volu- Desde 2005, houve várias tentativas por par-
mes) e, mais tarde, principalmente os estudos te da comunidade arqueológica e do KOH
de impacto do patrimônio. para modiicar a deinição legal de ‘sítio ar-
Em 2007, o banco de dados continha informa- queológico’, mas todas falharam.
ções sobre mais de 56 000 sítios arqueológicos.
Em 2008, a decisão do Governo sobre o Ins- Signiicados da arqueologia preventiva: estu-
tituto Nacional do Patrimônio Cultural que do de impacto, desenvolvimento de escava-
vigorava desde 2006 foi alterada por outra or- ções de referência, escavações emergenciais
dem. Ele decidiu que o Instituto publicasse, Estudo de impacto do Patrimônio
designadamente, todas as informações sobre De acordo com a lei, as autoridades, em po-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 167

sição de decisão, devem enviar os planos de O escritório regional do KOH determina


investimento para o KOH, a im de obter uma escavação anterior ao processo de cons-
um parecer positivo. Para um sítio arqueo- trução. O investidor, em seguida, contrata
lógico no caso de paisagismo e certas formas uma empresa competente. O maior proble-
de investimentos (projetos lineares, edifícios ma é que escavações de referência só podem
planejados para no mínimo 500 metros qua- ser exigidas no caso dos sítios arqueológicos
drados na planta baixa, investimentos que registrados oicialmente, e os dados do regis-
envolvam mais de 10 000 metros quadrados, tro são muito diferentes do real número de
fases especíicas das atividades de mineração, sítios existentes, como anteriormente des-
construções com mais de 15 metros de altu- crito. No caso de escavação de referência os
ra, etc.), o KOH pode exigir a apresentação fundos para os trabalhos arqueológicos têm
de um estudo de impacto ambiental com pa- de ser garantidos pelo investidor.
recer positivo. Durante o planejamento para a execução de
No caso do desenvolvimento de projetos cha- um projeto de escavação de referência, deve-
mados de “larga escala”, investimentos supe- se prever pelo menos 9/1000 do custo total
riores a 500 milhões de HUF líquidas (EUR do investimento, para cobrir a escavação sob
1 887 371), é obrigatório o estudo de impac- a forma de uma apropriação de custo. Em
to ambiental. É também obrigatório no caso especial os custos de um estudo de impac-
de processo de planejamento urbano e rural. to arqueológico, de escavação de sondagem,
Nestes casos, além do conjunto de dados de documentação, de conservação do acervo
disponíveis, há o trabalho de campo, um localizado, bem como o custo total do inven-
percorrimento, antes da emissão de uma li- tário e as despesas extraordinárias da guarda
cença. A criação de um estudo de impacto é do acervo que deve ser disponibilizado. A
a real proteção do bem arqueológico para o instituição que realizar a escavação deve estar
patrimônio, porque nos estágios iniciais de obrigada a prestar contas das despesas reais.
um projeto de autorização há melhor chan- (Lei: Artigo 23 [1])
ce de modiicar os planos de investimento.
Um bom exemplo do início de 2005 – com Escavação de emergência
a aplicação desta ilosoia – é Kurvahalom Surgindo achados arqueológicos no decurso
em Szabolcs-Szatmár-Bereg County, onde, dos trabalhos de construção, os custos da
por causa da intervenção da inspeção arque- escavação, denominada de emergência, de-
ológica, a Corporação Nacional de Rodovias vem estar cobertos pelo museu competente.
modiicou o lado direito de passagem da ro- A lei (desde 1997) faz essa distinção entre
dovia, originalmente planejado para atraves- escavações de referência e de emergência. A
sar um kurgan da Idade do Cobre. Assim, o diferença entre os dois tipos, basicamente, re-
kurgan, embora nas imediações da rodovia, é side no regime inanceiro e de programação,
hoje preservado. mas também afeta a execução dos métodos
utilizados na escavação. No primeiro caso, o
Desenvolvimento de escavações de referência empreendedor tem direito a realizar o traba-
Se o investimento se refere a um sítio arque- lho e ixar a duração prevista e os custos da
ológico documentado no registro oicial [do escavação de um contrato antes do início da
KOH], ou se preservar o sítio arqueológico construção.
for aumentar signiicativamente os custos No segundo caso, a escavação pode e deve ser
de execução, ou se o empreendimento não iniciada até 30 dias após a suspensão da obra
previr terraplenagem, ou se ele não puder – se não for possível nesse prazo, a entidade
ser executado em outros lugares, esses sítios pode declarar o sítio arqueológico tempora-
arqueológicos em risco pela execução do em- riamente protegido.
preendimento devem ser escavados com an- Infelizmente, isso também se aplica aos sítios
tecedência [desenvolvimento de escavações arqueológicos protegidos por despacho mi-
de referência. (Lei: Artigo 22 [2]) nisterial, por exemplo, em centros históricos
168 • IPHAN

ou em terrenos de pequenos proprietários, vação é emitida, tanto em nome delas como


embora a lei diga claramente: no nome do coordenador da escavação. As
Nenhuma atividade pode ser realizada em sí- instituições que podem realizar trabalhos de
tios arqueológicos que foram declarados pro- escavação estão rigorosamente deinidas na
tegidos e que podem resultar até mesmo em legislação.
deterioração parcial das condições do local. Escavações arqueológicas podem ser realiza-
(Lei: Artigo 13 [1]) das – nos termos e condições especiicadas
Se não houver possibilidade de localização de em sua licença de operação em conformidade
um projeto em outro lugar, a regra pode ser com o disposto no artigo 39 (3) da Lei CXL
contornada, uma vez mais. de 1997, relativa à proteção dos bens cultu-
De acordo com as normas, a instituição rais, museus, bibliotecas públicas e educação
com direito de realizar uma escavação tem pública – por museus competentes, museus
que enviar o pedido de licença para o escri- que possuam coleção arqueológica, as uni-
tório regional do KOH com pelo menos 30 versidades com faculdade de arqueologia, o
dias de antecedência ao início dos trabalhos Instituto de Arqueologia da Academia Hún-
previstos. O licenciamento das escavações gara de Ciências, e as instituições de proteção
difere do processo geral pela exigência de do patrimônio supervisionadas pelo ministro
se enviar o formulário à Comissão de Es- da educação e da cultura [Instituto Nacional
cavação. A Comissão, em funcionamento do Patrimônio Cultural, Serviço Técnico de
desde 1963, atua hoje como órgão consul- Campo para Patrimônio Cultural]. (Decreto
tor do KOH e realiza sessões a cada duas nº 18/2001 Artigo 2º [1])
semanas. Sua equipe – composta por nove Há nada menos que 50 instituições habilita-
membros – é nomeada pelo Presidente do das a realizar escavações arqueológicas.
KOH, segundo a proposta dos dirigentes As escavações de referência estão limitadas
das instituições que têm o direito de en- aos museus locais (19 no total), ao Museu
viar delegados, e no parecer da Comissão Histórico de Budapeste e desde abril de 2007
de Arqueologia da Academia Húngara de ao Serviço Técnico de Campo do Patrimônio
Ciências. O escritório regional toma as suas Cultural (Kulturális Örökségvédelmi seguir
decisões de acordo com o parecer do comi- Szakszolgálat KÖSZ). No caso de investi-
tê, embora ele não tenha força vinculativa. mentos de larga escala (o investimento mais
No âmbito dos museus, a escavação pode HUF 500 000 000 [líquido 1 887 371 eu-
ser dirigida por uma pessoa com formação ros]), é de exclusiva responsabilidade desse.
superior proissional (mestrado ou doutora-
do), que tem o estatuto de funcionário ou Grandes investimentos estatais - nova ins-
titular de um contrato de curto prazo no tituição, seguindo o modelo francês
funcionalismo público. No sentido jurídi- O Parlamento húngaro aprovou em 2004
co, todas as intervenções arqueológicas – um programa de política de transportes que
tais como pesquisa de campo, levantamento se prolongará até 2015, de acordo com o
de sítios arqueológicos com equipamentos conceito de longo prazo da União Europeia.
tecnológicos especíicos (detecção de me- Com este programa o governo pretende de-
tal, fotograias aéreas, levantamento arque- senvolver e modernizar a rede viária, as linhas
omagnetômetro, etc.) – são consideradas de ramal ferroviário, os portos de interesse
escavação; portanto, as regras mencionadas público e os aeroportos centrais e regionais,
também devem ser aplicadas nesses casos. além de centros de logística nas seções inter-
nas dos corredores pan-europeus.
O monopólio da escavação de referência Com o objetivo de promover o desenvolvi-
Na Hungria, apenas um grupo de entida- mento regional em nível nacional, o sistema
des é autorizado a executar escavações, essa viário regional e urbano público também
tarefa só pode ser cumprida por instituições será melhorado, incluindo os arredores da
públicas. Por conseguinte, a licença de esca- cidade e áreas rurais. A construção de li-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 169

nhas de água e de uma rede de ciclovia a Corporação Nacional de Rodovias con-


que começou em 1997 terá continuida- tratou um perito arqueológico cuja missão
de. Durante quase 40 anos antes de 1989 era supervisionar as contas de todas as es-
(a primeira foi concluída em 1964) foram cavações, à luz dos resultados proissionais.
construídos cerca de 500 km de rodovias. Baseado nisso, o especialista elaborou pro-
Agora, entre 2000-2009 mais 500 km fo- postas sobre a realização de escavações, o
ram abertos para o público. Entre os proje- conteúdo da documentação a ser transmi-
tos previstos estão a solução adequada para tida para o investidor e a contabilidade de
a prevenção de enchentes, a canalização de custos de escavação. Algumas destas reco-
águas residuais e de tratamento e a exten- mendações foram incorporadas aos con-
são da rede de água potável. Um programa tratos. Oicialmente em 2004 os museus
de prioridade é a construção de unidades municipais estabeleceram a Associação de
de depósito de resíduos; também estão em Direção de Museus Locais. Entre outras
curso gasodutos, instalações de cabos de coisas, determinou um preço uniicado para
telefone e eletricidade. Para demonstrar a escavação por metro quadrado e sugeriu
a extensão do envolvimento arqueológi- que os museus considerassem isso ao fazer
co nesses processos, temos de acrescentar os contratos.
o investimento contínuo do setor privado Em 2003, o governo emitiu uma lei com o
em ambos os domínios interno e externo. objetivo de acelerar a construção da estrada.
O número de escavações está crescendo Ligado a isso, o KOH iniciou um processo
continuamente. Em 2000, havia 410 pedi- de coordenação com a participação dos re-
dos de licença de escavação; no último ano, presentantes das organizações na condução
em 2009, foram 857. Portanto, em menos de trabalhos de escavação, durante os anos
de 10 anos seu número dobrou. (Veja a Fi- seguintes. Na agenda foram apresentados os
gura 1 no texto original). A proporção das problemas relacionados à autoestradas e ou-
escavações planejadas e o desenvolvimento tros projetos, por exemplo, as diiculdades
também mudou drasticamente. Isso se tor- de escavações urbanas, a questão de arma-
na muito evidente, pois, atualmente, mais zenamento, etc. Como parte deste trabalho,
de 80 por cento das escavações estão ligadas o ambiente legislativo foi modiicado e uma
ao investimento privado. proposta de fórmula de contrato uniicado
elaborado com o objetivo de eliminar as
Tendências para a uniicação das escava- irregularidades jurídicas e as condições dos
ções da estrada - o novo fenômeno: Serviço contratos desvantajosas para os museus.
Técnico de Campo do Patrimônio Cultural Em abril de 2007, independente deste de-
Os projetos de investimento linear de gran- senvolvimento, uma absolutamente nova
de escala envolvia todas as 19 regiões dos organização central, de competência na-
condados da Hungria até o momento da cional, supervisionada pelo Ministério da
mudança do sistema político em 1989. Atu- Educação e Cultura, foi criada principal-
almente todos os municípios agem autono- mente para as grandes escavações de refe-
mamente em seu próprio território, por- rência – Serviço Técnico do Patrimônio
tanto – para além de especiicidades locais Cultural. Este se tornou o sucessor legal do
– acontece que um museu com experiência Műemlékhelyreállítási Állami és Restaurálá-
em arqueologia de contrato pode concordar si Központ (Centro Estatal de Conservação
em condições mais favoráveis do que ou- e Restauração de Monumentos Históricos).
tro museu. As grandes áreas e os períodos A deinição de “desenvolvimento em larga
bastante curtos para a investigação arque- escala”, na verdade, juridicamente, é: todos
ológica necessitam de novos métodos para os investimentos superiores a 500 milhões
escavação e documentação. No entanto, HUF líquidos (1 883 031 euros).
cada instituição quer encontrar uma solu- A primazia dos museus locais competentes
ção própria. Após as primeiras experiências, para escavações de referência foi inesperada-
170 • IPHAN

mente mudada para outro monopólio: o Ser- mentação deve ser enviada para os museus
viço Técnico de Patrimônio Cultural realiza em questão, para o KOH e para o Arquivo
o contrato com o investidor. Há um contra- Central do Museu Nacional de Arqueologia
to padrão e uma lista pública dos preços foi da Hungria. A última instituição recolhe
composta. toda a documentação arqueológica desde
Não há (ainda) um debate muito vivo sobre o 1957. O prazo é de 30 dias para o breve re-
papel real e possível do Serviço. Ele foi criado latório da escavação (cerca de meia lauda), e
sem uma consulta legítima com as organi- um ano para a completa documentação deta-
zações proissionais, e, em um tempo mui- lhada. A documentação completa deve con-
to curto. É criticado principalmente por ser ter o diário de escavação, desenhos, mapas e
uma nova instituição criada, em vez de desen- fotograias. O controle do Instituto Nacional
volver a rede de museus existentes e eicientes do Patrimônio Cultural não é da quantidade,
há mais de 100 anos, onde tradicionalmente mas qualidade real do trabalho.
o principal trabalho de campo arqueológico Todos os arqueólogos que realizam os traba-
foi realizado. lhos de escavação têm cadernos de documen-
O serviço se tornou uma organização paralela tação e alguns deles possuem documentação
com as suas unidades regionais para o sistema antiga de dois ou três anos atrás.
de museus do conselho. No inal de 2007, o Um atraso na entrega da documentação obri-
número do seu efetivo foi de 103, no inal gatória pode ser uma razão para não se reali-
de 2008 existiam 211 pessoas. Em 2010, é zar uma escavação, com a exceção de alguns
apoiado por 280 posições deinitivas com casos muito problemáticos. Basicamente,
contrato permanente. De ano para ano, não não há possibilidade de se utilizar esse pre-
só os arqueólogos anteriormente desempre- texto como motivo para negar a licença de
gados passaram a trabalhar para esta organi- uma escavação.
zação, mas também proissionais dos museus
mudaram para KÖSZ por uma melhor pers- O número de sítios arqueológicos e suas
pectiva de trabalho. dimensões
Embora o Serviço de Campo para o Patrimô- Os dados sobre as escavações de rodovia
nio Cultural possa envolver outras organiza- obtidos até agora mostram – como descrito
ções, tais como os museus locais competen- anteriormente – que a frequência de ocor-
tes, ou a Academia ou as universidades, etc., rência é de 1 ou 2 sítios a cada quilômetro
na realidade para uma melhor e mais eiciente quadrado. A dimensão média é de 15 a 20
distribuição de obrigações de trabalho, pode- mil metros quadrados; sítios com caracte-
se observar que possuindo um maior numero risticas densas podem medir de 30 a 50 mil
de pessoal pelo terceiro ano consecutivo, em metros quadrados. Cada quadrícula de sítios
2009 a KÖSZ subcontratou apenas 16% das é rica em material arqueológico. Um sítio
escavações. (Ver Figura 2 no texto original). excepcionalmente complexo e grande, o de
Quando o KÖSZ foi criado, o serviço arque- Ullo 5 e Ullo 9, localizado em um dos cruza-
ológico francês INRAP (Instituto Nacional mentos da rodovia M0 no Condado de Pest,
de Pesquisas Preventivas Arqueológicas) ser- tem medidas de 400 mil metros quadrados,
viu como principal modelo. Agora, há uma este complexo inclui um assentamento Sar-
tendência para adotar mais o modelo francês matian do Período do Império Romano, o
e também para introduzir um imposto arque- seu centro de produção de cerâmica e o ce-
ológico. mitério adjacente.

A qualidade da documentação de escava- A quantidade de material arqueológico é


ção se altera suiciente para um século
O coordenador do trabalho arqueológico tem De acordo com a Lei:
de preparar a documentação de uma forma Todos os achados arqueológicos de superfície
pré-deinida de acordo com a lei. Esta docu- e subsuperfície, nos leitos dos cursos de água
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 171

ou desaparecidos e recuperados em algum são necessários, especialmente para apoiar


outro lugar, são propriedade do Estado. (Ar- pequenos proprietários, se a sua construção
tigo 8º [1]) prevista se situa em um sítio arqueológico ou
O Ministério do Patrimônio Cultural Nacio- se um sítio arqueológico surge no decurso da
nal pode renunciar ao título de propriedade construção.
aos achados arqueológicos em favor de mu- Com a criação do KÖSZ um sistema paralelo
seus com coleções arqueológicas, não manti- com a rede de museus de mais de 100 anos
dos pelo Estado. (Artigo 8º [2]) foi criado, suscitando questões de coopera-
Praticamente antes de 2007 depois de se ção, seguro de qualidade das escavações, in-
descobrir os objetos, eles eram todos leva- ventariação, publicação, formação da rede de
dos ao museu local competente (a única museus e possibilidade de introdução de um
exceção foi o Museu Nacional da Hun- imposto arqueológico.
gria). Agora, com a criação do KÖSZ, o O problema de guarda de um grande núme-
museu competente precisa declarar se pode ro de achados arqueológicos, causados pelas
ou não acolher os achados de KÖSZ. Se ele divergências da propriedade, se é do gover-
não aceitar o material escavado, devido à no central ou local, ainda está por resolver,
insuiciente capacidade de guarda na reser- apesar de nos últimos anos, ambos – museus
va técnica, o Museu Nacional será respon- e KÖSZ – tenham recebido instalações de
sável por cuidar do acervo, em teoria, pois armazenagem de dimensões relativamente
na prática ele não tem essas instalações de grandes.
armazenamento. Ainda falta o controle de qualidade da do-
Entre 1990-2007, como resultado das esca- cumentação, mas a uniicação da docu-
vações de rodovias, a área trabalhada ultra- mentação foi realizada. O KÖSZ produziu
passou os 7 milhões de metros quadrados. o “Protocolo para Procedimentos de Docu-
Foram conduzidas escavações arqueológicas mentação”, obrigatório para as suas próprias
de relevante importância em cerca de 690 a escavações e de subcontratantes. A Associa-
700 sítios arqueológicos. ção Húngara dos Arqueólogos, criada em
É claro, a riqueza dos sítios varia em termos 2005, também lançou o “Requisitos Gerais
de material arqueológico. para a produção de documentação”, como
Em um único assentamento tipo tell (Polgár- um documento sugerido.
Csőszhalom), 3,5 a 4 milhões de objetos vie- Alem destes problemas relacionados com a
ram à luz e 1,5 milhão permaneceram após prevenção e escavação, a diiculdade mais re-
o descarte. cente é a elaboração cientíica, avaliação cien-
Antes do armazenamento do material arque- tíica e publicação dos materiais escavados.
ológico, há o problema da conservação, res-
tauração, inventário e tratamento cientíico Arqueoastronomia em Arqueologia
dos objetos. Segundo os cálculos pessimistas Preventiva
vai demorar aproximadamente cem anos até Na Hungria, na atividade de arqueologia pre-
que a avaliação cientíica das descobertas que ventiva não é ainda essencial incluir o traba-
vieram à tona nas últimas duas décadas possa lho de campo arqueoastronômico. Esta disci-
ser totalmente concluída. plina, por enquanto, não goza de reconheci-
mento oicial. Até agora, realizavam-se essas
Resumo dos problemas gerais investigações após o término das escavações
A deinição legal de um sítio arqueológico e as medições eram feitas sobre superfície,
constitui o maior problema. O Estado não que pode não ser a melhor solução, mas pelo
dá praticamente nenhum apoio, nem direto menos é uma solução (Pásztor 2006, Pásztor
nem indireto, exceto remuneração econômi- 2005, Pásztor-P. Barna-Roslund 2008).
ca para descobrimento de tesouro e suporte a No entanto, não houve quase nenhuma
sítios arqueológicos protegidos em risco (de- cultura na Terra que não tenha tido inte-
duções iscais, etc.). Os recursos inanceiros resse no céu. A história da astronomia, não
172 • IPHAN

obstante revela que a astronomia antiga na Bretanha Pré-Histórica e Irlanda (1999).


não inclui apenas os eventos astronômicos, Embora as técnicas de campo arqueoastronô-
como o nascer e o pôr de um corpo celeste, micas sejam não destrutivas, os monumen-
ou eclipses, etc., mas qualquer tipo de fenô- tos podem ser reconstruídos, ou pior ainda,
menos celestes que envolva também eventos destruídos, como é o caso de escavações de
atmosféricos. Eles são tidos como entidades referência nas quais o entorno também pode
distintas do céu. (Pasztor-Roslund 2007). ser fortemente alterado. Então, a maior par-
Arqueoastronomia é a disciplina da ciência te dos dados cientíicos pode ser perdida. A
que investiga monumentos arqueológicos paisagem também muda com o tempo, o
ou restos de monumentos antigos, a im de que tornaria impossível ou difícil obter os
revelar o conhecimento sobre o céu de cul- mesmos dados. Tudo isso prova que arque-
turas passadas. Monumentos antigos ou os oastronomia deve ser envolvida em estudos
seus restos mortais são o tema da pesquisa de impacto sobre o patrimônio de um país.
arqueológica, quer sejam pré-históricos ou A falta de estudo arqueoastronômico põe em
medievais; assim, a pesquisa arqueoastronô- risco a exatidão cientíica da pesquisa do mo-
mica pode ser harmonizada com os resul- numento investigado. É desejável que o tra-
tados de seus estudos arqueológicos. A in- balho de campo arqueoastronômico possua
vestigação arqueoastronômica não pode ser um estreito trabalho de equipe entre arque-
realizada sem antecedentes arqueológicos. oastrônomos e arqueólogos a im de obter
Como medidas arqueoastronômicas não po- contribuições signiicativas para a nossa com-
dem ou diicilmente são realizadas após os preensão do passado. Esta colaboração não
trabalhos de campo, especialmente no caso de só se deve aplicar na interpretação dos dados
construções que não possuem restos de mate- medidos, mas em todo o trabalho efetuado,
rial arqueológico visível, é essencial realizar as
desde a formulação de uma estratégia de pes-
investigações durante o trabalho de campo.
quisa e execução do trabalho de campo até a
Tomar medidas depois da conclusão da esca-
análise inal das informações recolhidas. Suas
vação pode conter grande margem de erros.
abordagens e perspectivas podem ser diferen-
Durante o processo de prevenção arqueo-
lógica a meta mais importante da ativida- tes, mas proveitosas e complementares para
de arqueoastronômica é registrar todos os os casos investigados. Aos arqueólogos é veta-
dados necessários para posterior estudo do do ignorar a importância dos fenômenos do
possível conhecimento de uma comunidade céu (Pasztor 2009), assim como astrônomos
sobre o céu. Embora o estudo da paisagem interessados em história não podem ignorar a
deva ser parte fundamental do trabalho de importância do contexto arqueológico.
campo, e signiique condição essencial para
conclusões arqueoastronômicas, orienta- NOTAS
ção e dados de declinação são úteis não só Arqueologia Preventiva na Hungria. De-
para a interpretação astronômica como senvolvimento autêntico ou modelo es-
também para outras interpretações. Da- trangeiro sem adaptação é creditado a K.
dos sobre a linha do horizonte visível e ca- Bozoki-Ernyey Arqueoastronomia e Arqueo-
racterísticas geográicas podem fornecer logia Preventiva é creditado a E. Pasztor.
informações valiosas sobre a relação dos
monumentos com a paisagem circundante. 1. Este artigo baseia-se em Bozóki-Ernyey
Tal como acontece com os dados arqueoló- 2007, citado na bibliograia.
gicos, orientação, pesquisa do horizonte e
dados astronômicos que devem ser registra- 2. Veja sua citação completa no inal do ar-
dos deinitivamente durante o processo de tigo .
prevenção. Encontram-se orientações úteis 3. Raczky Pál - Bánfy Eszter: Múltunk
para capturar os dados necessários no “li- jövőjéről – Régészeti örökségünk sorsáról.
vro de Clive Ruggles” intitulado Astronomia Written: 04. 05. 2009. Web site do Insti-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 173

tuto de Arqueologia da Academia Húngara 13. Os dados pertencem ao diretor do


de Ciências: http://www.archeo.mta.hu/hir/ Aquincum Museum BTM, Dr. Zsidi Paula,
aktualishir/?p=7. E veja também Raczky Pál e ao diretor do Diretório do Békés County
2007, citado na bibliograia. Museums, Dr. Imre Szatmári, que se basea-
ram nos dados fornecidos pelos museus ai-
4. As recentes informações up-to-date são liados por solicitação deles.
creditadas a Júlia Kisfaludy e Bere Imre, Ins-
tituto Nacional do Património Cultural. 14. Fundamentando-se em informações
orais de 2007 do Prof Pál Raczky, diretor do
5. Os dados atualizados devem -se ao Dr. Le- Instituto Arqueológico de Ciências da Uni-
vente Nagy, Instituto Nacional do Patrimó- versidade de Eötvös Loránd, de Budapeste.
nio Cultural.
15 Tari Edit (ed.): Régészeti kutatások másfél
6. A informação é devida ao Dra. Marian- millió négyzetméteren. Autópálya és gyor-
na Bálint, Instituto Nacional do Património sforgalmi utak építését megelőző régészeti
Cultural. feltárások Pest megyében 2001-2006. 2006,
Szentendre.
7. Os dados de 2009 são creditados a Zsu-
zsanna Újlaki-Pongrácz, Serviço Nacional 16. Consulte Raczky Pál 2007: 34-35, cita-
do Património Cultural. Outros números do na bibliograia.
são coletados pela autora com base no ban-
co de dados dos pedidos de licença de es- 17. Ver nota de rodapé13.
cavação.

8. O Museu Nacional da Hungria foi funda-


do em 1802, a abertura de sua sede própria
foi em 1848. As redes de museus municipais
foram estabelecidas sobretudo em função dos
regulamentos em 1949 e 1963.

9 A Kulturális Örökségvédelmi Szakszol-


gálat 2008. évi költségvetési beszámolójának
szöveges indoklása. http://www.okm.gov.hu/
letolt/minisz/eves_beszamolo_2008/kultu-
ralis_oroksegvedelmi_szakszolgalat_2008.
pdf

10 XX. Oktatási és Kulturális Minisztérium


2010. évi költségvetésének szöveges indoko-
lása. http://www2.pm.gov.hu/web/home.
nsf/(PortalArticles)/6ED5B0D1010962D0
C12576350033532C/$File/20.pdf

11. O valor exato de arqueólogos destes grá-


icos não está disponível.

12. As informações são fornecidas a partir


de dados estatísticos creditados a Zsuzsanna
Újlaki-Pongrácz, Instituto Nacional do Pa-
trimónio Cultural.
Preventive archaeology
in contemporary Poland.
An outline VIII
Arkadiusz Marciniak

Introduction

he changes initiated by the 1989 revolution brought about new social, po-
litical, and economic conditions in Central/Eastern Europe that have shaped
the whole discipline of archaeology and continue to do so. hey resulted in
previously unknown challenges and dangers, such as commercialisation, isola-
tion and loss of public interest in archaeology, greater destruction of the ar-
chaeological heritage due to large-scale developments and intensive agricul-
ture (Kobyliński 2001a: 17; see also Lozny 1998). he previously solid system
of state sponsorship and the high status of scientists collapsed (Kobyliński
2002:421; see also Tabaczyński 2001:43). Some of these challenges existed be-
fore 1989 but they have clearly intensiied in the new situation. Some others,
however, have emerged as a result of the dramatic social and political changes
in this period (see more Marciniak 2006).

hese developments are accompanied by an increasing awareness of threats to


the substance of the archaeological heritage and the fast pace of its destruction.
Archaeologists have been becoming more aware of their own responsibility to
protect this heritage, which was not so self-evident in the past. his new atti-
tude was well epitomised in a departure from terms such “archaeological record”
and its replacement by “archaeological heritage”. his is a fundamental shift that
marks a recognition of the cultural and social dimensions of archaeological sites
and objects in addition to their scientiic content (Kobyliński 2001b:77).
176 • IPHAN

he period after 1989 brought also about considerable changes in the organi-
sation of the system for the protection and management of the archaeological
heritage in the context of a free market economy. Unfortunately, despite many
attempts, an efective strategy for dealing with threats to Polish archaeological
heritage is still lacking (see Barford & Kobyliński 1998:461-464).
A context of Polish preventive archaeology
Today’s Poland experiences huge infrastructure projects that demand large scale
preventive excavations in association with pan-European and national invest-
ments, such as pipelines from Russia to Western Europe and the network of high-
ways and expressways. Consequently, Polish archaeology has been confronted
with a huge number of excavations to be conducted in the fast pace in the scale
never experienced before.
Rescue excavations, however, are not new in Polish archaeology. Some large in-
vestments in the past were accompanied by systematically conducted excavations,
in particular Nowa Huta in the present day Cracow in the 1950s, while the oth-
ers, such as the Katowice Steelworks, lacked such works. In most cases, however,
the conducted works were of poor standard and were carried out far too fast.
heir results have hardly been published.
hese projects were conducted in the then well deined organizational system of
Polish archaeology. It was composed of four distinct archaeological institutions,
all of them under the state control, and deined by their professional responsi-
bilities and duties. hese comprised museums, universities, Polish Academy of
Science and Centers for Monument Protection. he latter was the only body
responsible for protection of archaeological monuments and movable objects
and undertaking rescue excavations. Understandably, this led also to an almost
complete lack of competition among potential contractors. Rescue excavations
were undoubtedly granted the lowest status of research undertakings in this
system. his contributed to a distinction between ‘research’ and ‘rescue’ excava-
tions, the latter marked by clearly pejorative undertone in the Polish archaeo-
logical language.
he preventive excavations related to construction of gas pipe from Siberia to
western Europe in the early 1990s was the irst major undertaking in the post-
1989 period. Despite the fact that they were carried out within the legal frame-
work from a far-gone era, wealthy Polish-Russian investors expressed a good
will and agreed to inance all archaeological works. Solutions and regulations
implemented in the gas pipe archaeological project were set to be precedent for
the formulation of a new conservation and protection of archaeological heritage
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 177

doctrine in the country. After some modiications, they were later implemented
during the highway project. he Polish highway program was passed in June
1995 and is aimed at construction of 2300 km of highways along with numerous
expressways. Archaeological preventive excavations are conducted in a strip of 80
to 100 m wide and have uninterruptedly been pursued since 1997.
Large-scale preventive archaeology projects in the last twenty years have signii-
cantly shaped the character of Polish archaeology and created many unforeseen
consequences. One of them is commercialization of archaeological profession.
he emergence of private archaeological irms working on preventive projects has
led to the rapid emergence of a quite new professional group on the market. hey
are characterized by a high eiciency in conducting long excavation campaigns
on a large scale. Taking into account previously dominant in Poland model of
small, almost ‘family’ excavations, this can undoubtedly be regarded as almost
‘revolutionary’. Multiple efects and consequences of these changes remain still
largely unexplored and may continue to shape the character of archaeology in
Poland in the yet unforeseen way in the years to come.
Legal framework of Polish preventive archaeology
Large and logistically complex infrastructural projects, such as construction of
pipelines and highways, have inevitably forced legislative initiatives and institu-
tional transformations in the domain of archaeological heritage. he post-com-
munist Poland entered the new era with the old Act on the Protection of Cultural
Property from 1962. It stated that all mobile and immobile objects, including
archaeological objects, are considered as cultural good, belong to the state and re-
quire the protection by law. However, the Act did not specify a body responsible
for inancing excavation works and contained a pretty unclear statement allocat-
ing this duty to the state.
As indicated above, the gas pipe archaeological project triggered serious discussions
on legal, organizational and methodological standards of ield works and imple-
mentation of these solutions in practice. A legislative framework for the future large
scale rescue project provided the Act for the Space Management and the Building and
Construction Act along with the Law for Highway Constructions in Poland, both of
them passed by the parliament in 1994. he investor was set to be obliged to cover
the costs of rescue excavations, documentation and analyses of the results. he rati-
ied by Poland in 1996 Valetta Convention on the protection of the archaeological
heritage has considerably broadened and strengthened the goals of archaeology to
include, alongside research and valorization, also the integrated management,
protection and promotion of common archaeological heritage.
178 • IPHAN

hese solutions were later introduced into the new Act on protection of mon-
uments and the guardianship of monuments passed in 2003. he Act speci-
ies that all archaeological sites irrespective of their quality and signiicance
are to be protected by law. Preventive and rescue works should be conducted
as any other research projects in terms of applied methods and standards of
documentation and investors are obliged to cover all costs of these works.
Furthermore, it is required that the excavated materials are profesionally ana-
lyzed and preferably published. When proved necessary, the objects need to
undergo a proper conservation.

hese legislative regulations were also accompanied by institutional transfor-


mations. In 1995, Minister for Culture and Arts created the Archaeological
Rescue Research Center, which was set to control the merit of preventive
archaeological works within the highways construction project. In particular,
it was obliged to co-operate with the General Directorate of National Roads
and Motorways in management of the entire project, setting up standards of
excavations, selection of contractors, and control a quality of works. At the
same time, the role of the provincial curators of the archaeological heritage
got diminished as they were only in charge of formal administration proce-
dures. In 2002, the Rescue Center was replaced by the Archaeological Heri-
tage Protection Center. Its original duties were extended to a range of issues
of conservation management including in fact the control of all oices of
archaeological regional conservators. he Centre was also charged of con-
trolling good practice and quality of preventive excavations along with the
publication of its results.

Both Centers played a vital role in Polish archaeology over the last decade.
Being well acquainted with the most pertinent issues of protection and man-
agement of archaeological heritage, they became partners for the investors
and potential contractors of large scale works. At the same time, both Centers
were custodians of some universal principles in this domain.

Last couple of years, however, brought about yet another organizational


change. he Archaeological Heritage Protection Center lost its independence
in 2007 and got incorporated into the National Heritage Board of Poland.
In this new structural framework, archaeological heritage issues are not any
longer dealt with by the autonomous body with its own budget. Its role was
clearly diminished by being enmeshed with administration and management
of other types of heritage in the country.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 179

Some remarks on the practice of Polish preventive archaeology

Soon after it was created, the Archeological Heritage Preservation Center, in


co-operation with the General Directorate of National Roads and Motor-
ways, set up general rules and criteria of selection of contractors. hese were
some sort of compromise between the free market rules and regulations from
one side and requirements of monument protection from the other. he en-
tire network of highways and expressways was divided into small sections to
become later a target of independent tenders. A potential contractor should
fulill certain criteria to qualify to do the job. hese comprised in particular:
(a) a required number of qualiied stuf; (b) experience in conducting research
project in a given region; (c) experience in conducting large scale excavations;
and (d) appropriate storage facilities.

hese were pretty strict rules that could only have been fulilled by large
research institutions, in particular universities and Polish Academy of Sci-
ences, often in co-operation with regional archaeological museums. Small
archaeological irms could only have been incorporated in these projects as
sub-contractors. hese regulations, along with a poor inancing of Polish sci-
ence by the government and the-then non-existing private sector, paved the
way to academic institutions to preventive contracts. For some of them, in
particular Institute of Archaeology and Ethnology of the Polish Academy of
Sciences, they became the only serious means of getting substantial inancial
support for other research project. Conesquently, early stage of the highway
preventive archaeology in Poland was characterised by emergence of numer-
ours consortia in which academic institutes played a vital role. It has to be
stressed that a signiicant role of academic institutes in this period secured
scientiic character of these works and the excavations were explicitly aimed
at broadening the knowledge of the past in the studied regions.

Almost twenty years of preventive archaeology in Poland revealed two largely


contradictory solutions as regards organization of large infrastructure ield
projects. he irst model, which was in place for many years, assumed a lead-
ing role of a central body such as the Archaeological Heritage Protection
Center in controlling and monitoring all its elements. he provincial con-
servators of archaeological monuments were only responsible for issuing the
formal permits and they were in fact excluded from the remaining parts of
the project. he second model advocated a primacy of provincial conservator
oices. All heritage related activities, including preventive archaeology proj-
ects, were to be concentrated in their hands. his model strongly advocated
180 • IPHAN

in some circles, has never been materialized. he conservator oices were and
remain to be poorly inanced, they are understafed and may not have been
able to eiciently handle such huge operations. In both models, however,
some kind of professional control over standards and quality of works was
explicitly postulated.
A current situation of Polish preventive archaeology is considerably difer-
ent. As I said earlier, the Archaeological Heritage Protection Center does
not exist any more and the newely formed Department of Archaeology of
the National Heritage Board of Poland in fact decided to withdraw from the
coordination and control of large-scale preventive works. his left a vacuum
with no independent quality control of conducted works by any external
professional body. Controlling and reviewing responsibilities of these works
are in fact conducted exclusively by the investor-appointed committees made
up of investor-employed administrative staf including archaeologists. his
obviously rules out objectivity and neutrality of opinions as well as critical
reviews of the quality of works.
hese new regulations as regards large-scale infrastructure projects inevitably
contributed to strengthening the commercial sector in Polish archaeology.
his is well manifested in the emergence of a large number of private ar-
chaeological companies along with a new and previously unknown category
of archaeologists, namely professional contract archaeologists known for high
eiciency in conducting long-term excavation campaigns on a large scale.
he quality of their works, however, in many instances is beyond acceptable
standards.
Final remarks
Current legal solutions, a lack of quality control, dominance of private com-
panies, poor ethical standards, time constraints imposed by the investors, and
increasingly lower budgets for archaeological works make it impossible to
keep a high academic standard of large-scale excavations to methodologies
designed for preventive archaeology regimes. Budgetary constrains today as
compared to the situation from the end of the 1990s and early years of this
decade inlict the need for fast excavation process which clearly favors small
private companies and may lead to their absolute domination on the market
of rescue archaeology contracts in the nearest future. Academic archaeology
would have no choice but to accept the fact that a major sector of ield ar-
chaeological activities will soon ind itself beyond their control. his is exactly
this kind of activity that is responsible for the production of a vast body of
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 181

material that then will need to be systematically studied, published and prop-
erly stored in the years to come. he very idea of having a special institution
in charge of setting up standards, controlling and conducting preventive ar-
chaeological projects may well belong to the past. It is not at all clear how the
legislative framework may change in the future. After more than two decades
of a free economy in Poland, there is still a lack of consensus on the solutions
of dealing with the management of large scale archaeological projects and
protection of archaeological heritage.

Bibliography

Barford, Paul M. and Zbigniew, Kobyliński. 1998. Protecting the archaeological


heritage in Poland at the end of the 1990s. In Hensel, Witold, Stanisław
Tabaczyński & Przemysław Urbańczyk (eds.), heory and practice of archaeo-
logical research. Volume III. Dialogue with the data. he archaeology of complex
societies and its context in the ‘90s, 461-482. Institute of Archaeology and
Ethnology Polish Academy of Sciences: Warsaw.
Kobyliński, Zbigniew. 2001a. Quo vadis archaeologia? Introductory remarks. In
Kobyliński, Zbigniew. 2001b. Archaeological sources and archaeological heri-
tage. New vision of the subject matter of archaeology. In Kobyliński, Zbig-
niew (ed.), Quo vadis archaeologia? Whither European archaeology in the 21st
century?, 76-82. Institute of Archaeology and Ethnology Polish Academy of
Sciences: Warsaw.
Kobyliński, Zbigniew. 2002. Archaeology on the ruins of ivory towers. What
sort of theory do we need? In Biehl, Peter, Alexander Gramsch, and Arkadi-
usz Marciniak (eds.), Archaeologies of Europe. History, Methods and heories,
421-424. Waxman: Münster.
Kobyliński, Zbigniew (ed.), Quo vadis archaeologia? Whither European archaeology
in the 21st century?, 17-20. Institute of Archaeology and Ethnology Polish
Academy of Sciences: Warsaw
Lozny, Ludomir. 1998. Public archaeology or archaeology for the public? In Hensel,
Witold, Stanisław Tabaczyński & Przemysław Urbańczyk (eds.), heory and
practice of archaeological research. Volume III. Dialogue with the data. he ar-
chaeology of complex societies and its context in the ‘90s, 431-459. Institute of
Archaeology and Ethnology Polish Academy of Sciences: Warsaw.
182 • IPHAN

Marciniak, Arkadiusz. 2006. Central European archaeology at the crossroads. In


Layton, Robert, Stephen Shennan & Peter Stone (eds.), A Future for Archae-
ology. he Past in the Present, 157-171. UCL Press: London.
Tabaczyński, Stanisław. 2001. Archeologia na progu XXI wieku. In Jacek Lech, (ed.),
Archeologia na progu III tysiąclecia, 39-51. Komitet Nauk Pra- i Protohistoryc-
znych PAN: Warszawa.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 183

Arqueologia Preventiva na Infelizmente, apesar de muitas tentativas,


uma estratégia eicaz para lidar com ame-
Polônia contemporânea. aças ao patrimônio arqueológico polaco
Um esboço. ainda não existe (ver Barford & Kobylinski
1998:461-464).
Introdução Um contexto da arqueologia preventiva
As mudanças iniciadas pela revolução de 1989 polaca
trouxeram novas condições sociais, políticas e A experiência atual de grandes projetos de
econômicas na Europa Central e Oriental que infraestrutura na Polônia demanda uma
moldaram o conjunto da disciplina arqueolo- arqueologia preventiva em larga escala em
gia e continuam a fazê-lo. associação com investimentos pan-europeu
Elas resultaram em desaios e perigos até então e nacional, tais como oleodutos da Rússia
desconhecidos, como comercialização, isola- para a Europa Ocidental e da rede de estra-
mento e perda de interesse público em arque- das e vias rápidas. Por conseguinte, a arque-
ologia. Maior destruição do patrimônio arque- ologia polaca foi confrontada com grande
ológico é devido à evolução em larga escala e
número de escavações a ser efetuadas em
à agricultura intensiva (Kobylinski 2001a: 17;
ritmo acelerado numa escala nunca antes
ver também Lozny 1998).
experimentada.
O sistema já sólido de patrocínio estatal e o ele-
Escavações de resgate, entretanto, não são
vado status social de pesquisadores ruíram (Ko-
novas na arqueologia da Polônia. Alguns
bylinski 2002:421; ver também Tabaczyński
grandes investimentos no passado foram
2001:43).
Alguns desses desaios existiam antes de 1989, acompanhados por escavações realizadas sis-
mas intensiicaram-se claramente com a nova tematicamente, em particular Nowa Huta
situação. Alguns outros, porém, surgiram na Cracóvia na década de 1950, enquanto a
como consequência das dramáticas mudanças outros, como a Usina Katowice, faltou pes-
sociais e políticas nesse período (veja Marciniak quisa. Na maioria dos casos, no entanto, as
2006). obras realizadas foram de baixa qualidade e
Esse desenvolvimento é acompanhado de uma efetuadas muito rapidamente. Seus resulta-
consciência crescente de ameaças à substância dos foram publicados com grande diicul-
do patrimônio arqueológico e do ritmo acele- dade.
rado de destruição. Realizaram-se esses projetos no sistema
Os arqueólogos estão cada vez mais conscientes organizacional bem deinido da arqueolo-
de sua responsabilidade de proteger esse patri- gia da Polônia. Ela era composta por qua-
mônio, o que não era tão evidente no passado. tro instituições arqueológicas, todas sob o
Essa nova mentalidade foi bem resumida controle do Estado, e deinida por suas res-
em uma mudança de terminologia em que ponsabilidades proissionais e funções. Esta
“registro arqueológico” é substituído por responsabilidade compreendia museus, uni-
“patrimônio arqueológico”. Esta é uma mu- versidades, Academia Polonesa de Ciência e
dança fundamental que marca o reconhe- Centros de Proteção de Monumentos. Esta
cimento da dimensão cultural e social dos última foi a única instituição responsável
sítios arqueológicos e objetos, além de seu pela proteção dos monumentos arqueológi-
conteúdo cientíico (Kobylinski 2001b: 77). cos, objetos móveis e autorização das esca-
O período posterior a 1989 também trouxe vações de resgate.
modiicações consideráveis na organização do Compreensivelmente, isso levou também a
sistema de proteção e gestão do patrimônio ar- uma quase total ausência de concorrência entre
queológico no contexto de uma economia de os potenciais contratantes. Escavações de emer-
mercado livre. gência foram concedidas e sem dúvida conside-
184 • IPHAN

radas como pesquisas de segunda linha, nesse O quadro jurídico da arqueologia preventiva
sistema. polaca
Isso contribuiu para a distinção entre “pesqui- Grandes e complexos projetos de infraestrutu-
sa” e “ salvamento”, este último marcado pelo ra logística, como a construção de gasodutos e
tom claramente pejorativo na língua polaca rodovias, inevitavelmente forçaram a iniciativas
arqueológica. legislativas e transformações institucionais no
As escavações preventivas relacionadas com domínio do patrimônio arqueológico. A Polô-
a construção de tubulação de gás da Sibéria nia pós-comunista entrou na nova era com a an-
para a Europa Ocidental na década de 1990 tiga Lei sobre a Proteção dos Bens Culturais de
foi a primeira grande operação no período 1962. Ela airmou que todos os objetos móveis
pós-1989. Apesar do fato de eles terem sido e imóveis, incluindo peças arqueológicas, são
realizados dentro do quadro legal de uma considerados como bem cultural, pertencem ao
época distante, os ricos investidores polo- Estado e exigem a proteção da lei. No entanto,
neses e russos manifestaram boa vontade e a lei não especiica um órgão competente para o
concordaram em inanciar todos os trabalhos inanciamento de obras de escavação nem uma
arqueológicos. Soluções e regulamentações clara atribuição deste direito para o Estado.
aplicadas no projeto arqueológico de tubula- Como indicado acima, o projeto de tubulação
ção de gás foram estabelecidas e precederam de gás provocou sérias discussões arqueológicas
a formulação de um novo conceito de doutri- sobre padrões legais, organizacionais e metodo-
na de conservação e proteção do patrimônio lógicos de trabalhos de campo e implementa-
arqueológico no país. Após algumas modii- ção dessas soluções na prática.
cações, foram posteriormente implementa- Um quadro legislativo para o projeto de resgate
das durante o projeto da autoestrada. Esse em grande escala foi criado em função da Lei de
programa foi aprovado em junho de 1995 e Gestão do Espaço e Construção com a Lei de
visava à construção de 2 300 km de estradas, Construção de Autoestradas, ambas aprovadas
com numerosas vias expressas. Realizaram- pelo Parlamento em 1994.
se as escavações arqueológicas preventivas O investidor foi obrigados a cobrir os custos
numa faixa de 80 a 100 m de largura, exerci- das escavações de resgate, a documentação e
das de forma ininterrupta até 1997. a análise dos resultados. O novo ato de ratii-
Nos últimos vinte anos, grandes projetos têm cação pela Polônia, em 1996, da Convenção
signiicativamente moldado o caráter de ar- de Valetta – relativa à proteção do patrimônio
queologia polonesa gerando consequências arqueológico – ampliou e fortaleceu considera-
imprevistas. Uma delas é a comercialização velmente os objetivos da arqueologia, incluin-
da proissão arqueológos. O surgimento de do a pesquisa e a valorização, com a gestão in-
empresas privadas que trabalham em proje- tegrada, proteção e valorização do patrimônio
tos preventivos levou ao rápido aparecimento arqueológico comum.
de um novo grupo proissional no mercado. Estas soluções foram posteriormente introduzi-
Eles são caracterizados por elevada eiciência das na nova lei sobre a proteção dos monumen-
na realização de campanhas de escavação em tos e da tutela dos monumentos aprovada em
larga escala. Considerando o modelo ante- 2003. A lei especiica que todos os sítios arque-
riormente dominante na Polônia de peque- ológicos, independentemente da sua qualidade
nas escavações quase “familiares”, este pode, e importância, devem ser protegidos por lei.
sem dúvida, ser considerado quase “revolu- Obras preventivas e de emergência devem ser
cionário”. Múltiplos efeitos e consequências conduzidas como quaisquer outros projetos de
dessas mudanças permanecem ainda larga- investigação em termos de métodos utilizados
mente inexploradas, e podem continuar a e padrões de documentação, e os investidores
moldar o caráter de arqueologia na Polônia, são obrigados a cobrir todos os custos dessas
de forma ainda imprevisível nos anos vin- obras. Além disso, é necessário que os materiais
douros. escavados sejam proissionalmente analisados e,
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 185

de preferência, publicados. Quando for neces- com a administração e a gestão de outros tipos
sário, os objetos precisam se submeter a uma de patrimônio no país.
boa conservação.
Estes regulamentos legislativos também foram Algumas observações sobre a prática da ar-
acompanhados por transformações institucio- queologia preventiva polaca
nais. Em 1995, o Ministro da Cultura e das Ar- Logo depois de criado, o Centro de Preservação
tes criou o Rescue Archaeological Research Center do Patrimônio Arqueológico, em cooperação
(RARC: Centro de Pesquisa de Arqueologia com a Direção Geral das Estradas Nacionais e
Preventiva) para controlar o mérito da preven- Autoestradas, estabeleceu regras e critérios ge-
ção em trabalhos arqueológicos no âmbito do rais de seleção dos empreiteiros.
projeto de construção de rodovias. Era uma espécie de compromisso entre as re-
Em particular, ele foi obrigado a cooperar com gras de livre mercado e regulamentação de um
a Direção-Geral de estradas nacionais e auto- lado e os requisitos de proteção do monumento
estradas na gestão de todo o projeto, com a do outro. Toda a rede de rodovias e vias expres-
adoção de critérios de escavações, a seleção dos sas foi dividida em pequenas seções para depois
empreiteiros, e controle de qualidade das obras. se tornarem alvo das propostas independentes.
Ao mesmo tempo, o papel dos curadores pro- A contratante potencial deveria cumprir deter-
vincial do patrimônio arqueológico tem dimi- minados critérios para se qualiicar para o tra-
nuído, uma vez que só foram encarregados dos balho. Estes compreenderam, em especial: (a)
procedimentos administrativos formais. quantidade necessária de material qualiicado,
Em 2002, o RARC foi substituído pelo Centro (b) experiência na realização de projeto de pes-
da Proteção do Patrimônio Arqueológico. Suas quisa em determinada região, (c) experiência
funções originais foram ampliadas para uma na realização de escavações em larga escala, e
série de questões de gestão da conservação, in- (d) instalações adequadas de armazenamento.
cluindo, de fato, do controle de todos os escri- Estas regras eram tão rigorosas que só poderiam
tórios de conservadores arqueológicos regionais. ter sido preenchidas por grandes instituições de
O Centro também foi encarregado de controlar investigação, nomeadamente as universidades
as boas práticas e da qualidade das escavações e a Academia Polaca de Ciências, muitas vezes
preventivas com a publicação de seus resultados. em cooperação com as organizações regionais
Ambos os centros desempenharam papel vital de museus arqueológicos. Pequenas empresas
na arqueologia polonesa durante a última dé- arqueológicas só poderiam ter sido incorpora-
cada. das nesses projetos como subempreiteiras.
Estar bem familiarizado com as questões mais Estes regulamentos, com um parco inancia-
pertinentes de proteção e gestão do patrimô- mento da ciência polaca por parte do governo
nio arqueológico tornou os investidores e po- e inexistentes no setor privado, abriram o cami-
tenciais contratantes de obras de grande porte nho para as instituições acadêmicas aos contra-
parceiros. Ao mesmo tempo, ambos os centros tos de arqueologia preventiva.
foram depositários de alguns princípios univer- Para alguns deles, em particular do Instituto de
sais neste domínio. Arqueologia e Etnologia da Academia de Ciên-
No entanto, nos últimos anos isso acarretou cias da Polônia, que se tornou a única forma sé-
outra mudança organizacional. O Centro de ria de obtenção de apoio inanceiro substancial
Proteção do Patrimônio Arqueológico perdeu para o projeto de pesquisa. Consequentemente,
a sua independência em 2007 e icou incorpo- o começo da arqueologia preventiva no país foi
rado ao Conselho Nacional do Patrimônio da caracterizada pelo surgimento de numerosos
Polônia. Neste novo quadro estrutural, as ques- consórcios em que as instituições acadêmicas
tões do patrimônio arqueológico não deixaram desempenharam um importante papel.
de ser tratadas pelo organismo autônomo com Salienta-se que essa participação das institui-
seu próprio orçamento. Seu papel foi clara- ções acadêmicas nesse período asseguraram o
mente diminuído, em função do envolvimento caráter cientíico dessas obras e as escavações
186 • IPHAN

visavam expressamente ampliar o conhe- velmente, contribuíram para fortalecer o setor


cimento do passado nas regiões estudadas. comercial na arqueologia da Polônia.
Quase vinte anos de arqueologia preventiva na Isto é bem expresso pelo surgimento de gran-
Polônia revelaram duas grandes soluções con- de número de empresas privadas, com uma
traditórias no que diz respeito à organização de nova anteriormente desconhecida categoria
grandes projetos de campo e infraestrutura. proissional, nomeada arqueologia de contra-
O primeiro modelo, que estava em uso há to, conhecida pela alta eiciência na realização
muitos anos, assumiu papel de liderança de de campanhas de escavação de longo prazo em
um corpo central, como Centro de Proteção grande escala. A qualidade das suas obras, no
do Patrimônio Arqueológico no de controle entanto, em muitos casos, está fora dos padrões
e monitoramento de todos os seus elementos. aceitáveis.
Os conservadores regionais de monumentos
arqueológicos icaram apenas responsáveis pela Considerações inais
emissão das autorizações formais e foram, de As soluções normativas atuais, a falta de con-
fato, excluídos do restante do projeto. O segun- trole de qualidade, o domínio de empresas pri-
do modelo preconizava um primado sobra de vadas, a pobreza das normas éticas, as restrições
escritórios dos conservadores provinciais . de tempo impostas pelos investidores e os orça-
Todas as atividades relacionadas com o patri- mentos cada vez menores para trabalhos arque-
mônio, incluindo projetos de arqueologia pre- ológicos tornam impossível manter alto padrão
ventiva, estavam a ser concentrados em suas acadêmico de escavações em larga escala para
mãos. Esse modelo, defendido fortemente em metodologias destinadas aos regimes de arque-
alguns círculos, nunca se concretizou. ologia preventiva.
Os escritórios dos conservadores continua- Restrições orçamentárias de hoje – em compa-
ram a ser mal inanciados, possuíam numero ração com a situação a partir do inal da década
insuiciente de pessoal e não conseguiam lidar de 1990 e primeiros anos desta década – im-
eicientemente com essas enormes operações. põem a necessidade de um processo rápido de
Em ambos os modelos, no entanto, algum escavação que claramente favorece pequenas
tipo de controle proissional sobre os padrões empresas privadas, podendo levar à sua do-
e a qualidade dos trabalhos foi expressamente minação absoluta no mercado de contratos de
postulada. arqueologia de resgate em futuro próximo. A
A situação atual da arqueologia preventiva po- arqueologia acadêmica não teria outra escolha
lonesa é consideravelmente diferente. Como senão aceitar o fato de que um importante setor
eu disse anteriormente, o Centro de Proteção de atividades de campo em breve encontrar-se-
do Patrimônio Arqueológico não existe mais e á fora de seu controle.
o Departamento de Arqueologia do Patrimô- Esse tipo de atividade é responsável pela pro-
nio do Conselho Nacional da Polônia recen- dução de um vasto conjunto de material que
temente formado, de fato, decidiu se retirar depois terá de ser sistematicamente estudado,
da coordenação e controle das grandes obras publicado e devidamente armazenados nos
preventivas. Isso deixou um vácuo no controle anos vindouros. A própria ideia de ter uma
de qualidade de obras realizadas por qualquer instituição especial encarregada de estabelecer
entidade proissional externa. Controlar e ana- normas, controlar e conduzir projetos de pre-
lisar essas obras é de responsabilidade exclusiva venção arqueológica pode muito bem perten-
das comissões nomeadas pelos investidores e cer ao passado.
compostas por pessoal administrativo, incluin- Não é de todo claro como o quadro legislativo
do arqueólogos. Isso, obviamente, exclui a ob- pode mudar no futuro. Depois de mais de vinte
jetividade e a neutralidade de opiniões, bem anos de economia de livre mercado na Polônia,
como revisões críticas da qualidade das obras. ainda falta consenso sobre as soluções para lidar
Estes novos regulamentos em matéria de proje- com a gestão de grandes projetos arqueológicos
tos de infraestrutura de grande escala, inevita- e proteção do patrimônio arqueológico.
Foto 9 Foto 10

2.b Arqueologia Preventiva na Europa

Foto 11 Foto 12
IX. Rescue Excavation in Caucasus: Unearthing “Kolikho” Dolmen
Viktor Trifonov

X. Preventive Archaeology in Bulgaria.


Diana Gergova

XI. Raffaello, L’Abbondanza e La Pigrizia.


Roberto Maggi

XII. Pitture Rupestri Preistoriche Nelle Alpi Occidentalí.


Dario Seglie, Piero Ricchiardi & Filippo M. Gambari

Foto 9. Kolikho dolmen, Tuapse region, Russia. The moment of the discovery. ©Photo Trifonov.
Anta do Kolikho, região de Tuapse, Russia. O momento da descoberta. ©Photo
Trifonov.

Foto 10. Sitio Arqueologico no centro de Soia (Serdica), Bulgária


Foto 11. Genova, Italia. Stazione piazza Brignole della linea ferroviaria metropolitana, muro a
secco dell’inizio del II millennio a.C. (Antica Età del Bronzo). Da: A. Del Lucchese, P.
Melli (a cura di), Archeologia Metropolitana - piazza Brignole e Acquasola, De Ferrari
Editore, Genova, 2010
Gênova, Italia. Praça da estação ferroviária metropolitana de Brignole, muro de
pedra. Início do II milênio a.C. (Idade do Bronze Antigo).
Foto 12. Rocca di Cavour. La fotografia delle pitture preistoriche associabili a popolazioni
neolitiche VBQ, presenti sulla Rocca nel V millennio a. C. mostra anche il chiodo che
alla fine degli anni ‘970 ignoti infissero nella roccia a scopo di climbing.
(Archivio CeSMAP, Pinerolo)
Rocca di Cavour. Foto de pinturas pré-histórica associada as populações neolíticas
doVBQ presente numa rocha, do quinto milênio AC e que apresenta um prego ixo
colocado para escalada no inal dos anos de 1970. (CeSMAP Archive, Pinerolo), Italia
Rescue Excavation in Caucasus:
Unearthing “Kolikho” dolmen IX
Viktor Trifonov

Introduction

T he project aims to study, restore, protect and eventually present a unique


group of prehistoric megalithic tombs to the public in their recreated cul-
tural landscape. he project is innovative in Russian preventive archaeology in
terms of scale, goals, place, and methods.
Our team has introduced to Russia innovative methods for unearthing me-
galiths. hey allow us to discover external hidden structures built in con-
junction with the dolmens (such as court yards, roofed passages, dry walling,
ramparts, ritual places, etc.) and restore them to an appearance close to the
original one. By using these new methods, we have a unique opportuni-
ty to learn more about prehistoric building techniques and burial rituals.
he strategy of the ieldwork was to investigate the Black Sea-coast group of dol-
mens (Tuapse region, Russia) and by means of a systematic survey of the valley, to
consider the site within the wider valley environment. his way we hope to build
up a pattern of the regional distribution of the dolmen cemeteries, quarries and
settlements.

he “Kolikho” dolmen in Caucasus


he Caucasian dolmens represent a unique type of prehistoric architecture, built
using precisely dressed stone blocks. he monuments date between the end of the
4th millennium and the 2nd millennium BC.
he dolmen was found by accident after the seasonal lood in 2008. It was bu-
ried beneath 3 m-thick river deposits and left untouched since the Bronze Age.
he burial chamber was full of partly disarticulated human remains. All of them
were put in the chamber through the hole in the façade slab. Radiocarbon dates
190 • IPHAN

of human remains (72 persons) covers the period (approx.) between 1800 and
1300 BC with no signs of chronological gaps. In other word, the dolmen was in
use for about 500 years! he grave goods complex is small and consists of pottery,
bronze javelin head, bronze spiral earring, bone belt buckle! Few stone lakes and
a sandstone (!) disk with signs on both sides. On one side of the disk are “astral”
symbols, on other side - marks of calibration (?) along the rim of the disk. he last
thing is absolutely unexpected ind! It looks like a sort of the Caucasian version
of the Nebra disk (?).
Recently the rescue operation of the dolmen “Kolikho” was completed success-
fully. Somehow it could be presented as a case of preventing archaeology in the
region because the locals (cherkess) treated the dolmen as cherkess heritage but
inally have been blessed me to take the dolmen out.
A big number of people and federal organizations took part in it. We were not
only aloud to lift large-tonnage slabs from a river bottom, but also to transport
them to a safe location. he dolmen is built of a material that cannot be left in the
open air for a long time. So we decided to transport it to a museum. Fortunately,
the museum that agreed to receive and keep it and even make it an exposition ar-
ticle was one of the country’s best museums: State Historical Museum in Moscow.

Bibliography Online
http://www.dolmens.spb.ru/index.htm
http://www.youtube.com/watch?v=Unc8p-1JJoQ
http://www.russia-ic...news/show/8919/
http://www.youtube.c...h?v=awDcVprkNZI
http://www.youtube.c...feature=channel
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 191

Escavação de emergência enterrada sob três depósitos de espessura


a partir do leito luvial, e intocada desde a
no Cáucaso: Desenterrando Idade do Bronze. A câmara funerária estava
a Anta de “Kolikho” parcialmente preenchida por restos humanos
desarticulados. Todos eles foram colocados na
Introdução câmara por um orifício na fachada principal
O projeto tem como objetivo estudar, da Anta. Datações por radiocarbono dos
recuperar, proteger e, eventualmente, restos humanos (72 pessoas), abrangendo
apresentar o único grupo de túmulos pré- o período (aproximadamente) entre 1800 e
históricos megalíticos para o público em 1300 a.C., sem sinais de falhas cronológicas.
sua paisagem cultural recriada. O projeto de Em outras palavras, a Anta estava em uso
arqueologia preventiva é inédito na Rússia por cerca de 500 anos! O complexo de
em termos de escala, dos objetivos, do local objetos funerários é pequeno e composto
e dos métodos. de cerâmica, pontas de dardos em bronze,
Nossa equipe introduziu no país métodos brincos em espiral de bronze, cinto de ivela
inovadores para desenterrar megálitos. Eles de osso! Poucas lascas de pedra e um disco
nos permitem descobrir estruturas externas em arenito (!) com sinais em ambos os lados.
ocultas construídas em articulação com De um lado do disco são símbolos “astrais”,
as antas (tal como pátios, passagens de do outro lado – marcas de calibração (?) ao
telhado, paredes secas, fortiicações, lugares longo da borda do disco. O último achado
de ritual, etc.) e restaurá-las próximo de sua é absolutamente inesperado! Parece uma
feição original. Ao usar estes novos métodos, espécie de versão caucásica do disco de
temos uma oportunidade única para Nebra (?).
aprender mais sobre técnicas de construção Recentemente, a operação de resgate da anta
pré-histórica e os rituais de sepultamento. de “Kolikho” foi concluída com êxito. De
A estratégia da pesquisa foi investigar o alguma forma ela poderia ser apresentada
grupo de antas situado na costa do Mar como um caso de arqueologia preventiva
Negro (região da Tuapse, Rússia) por meio na região, porque os locais cherkess tratam
de um levantamento sistemático do vale, a a anta como seu patrimônio e se sentiram
im de considerar o sítio arqueológico na abençoados em poder desenterrar a anta.
sua ambiência. Desse modo, esperamos Grande número de pessoas e organizações
construir um padrão de distribuição regional federais participou disso. Nós tínhamos não
dos cemitérios de tipo dólmen, pedreiras e só permissão para levantar lajes de grande
assentamentos. tonelagem do fundo do rio, mas também
para transportá-los a um local seguro. A
A Anta “Kolikho” no Cáucaso Anta é construída de um material que
As antas do Cáucaso representam um único não pode ser deixado ao ar livre por longo
tipo de arquitetura pré-histórica, construídas tempo, então decidimos transportá-lo para
com blocos de pedra precisamente assentados. um museu. Afortunadamente, o museu
Os monumentos estão datados entre o inal que concordou em receber, manter e até
do 4°milênio e do 2° milênio a.C. torná-la um elemento da exposição foi um
A Anta foi encontrada acidentalmente dos melhores do País: o Museu Histórico
após a inundação sazonal em 2008. Ficou Nacional de Moscou.
Preventive Archaeology
in Bulgaria X
Diana Gergova

T he importance of archeology in Bulgaria in the discussion of the cultural


processes of archaeological sites in Southeast Europe, is owned publishes the
status of national cultural value, until they receive a more precise classiication.
he Bulgarian Archaeological Society, established in 1901 set the basis of the
Bulgarian Institute of Archaeology established in 1920. In 1947 the Law for the
Bulgarian Academy of Sciences (BAS) came into efect and respectively the Bul-
garian Institute of Archaeology joined the Academy, merging with the National
Museum of Archaeology. Since 2007 BAS credited the Institute of Archaeology
with Museum with a new statute and changed its name into National Institute of
Archaeology with Museum (NIAM) of BAS.
For the nature of the archaeological heritage as a public state property, all the
principal activities of the Institute are to be “academic service to the Bulgarian
State and society under the conditions of market economy and civil society” since
the irst legislative documents till now.
he program activities of NIAM are connected with the history and cultural de-
velopment of the Bulgarian territories from about 1 400 000 BP till 18th century.
he academic structure of the National Institute of Archaeology with Museum
comprises ive chronological and thematic sections: Section of Prehistory, Section
of hracian Archaeology, Section of Classic Archaeology, Section of Medieval
Archaeology, Section of Numismatics and Epigraphy, Department of Interdisci-
plinary Studies; as well as two branches for investigation of the initial Bulgarian
Capitals – in Shumen and Veliko Turnovo; and the National Museum of Archae-
ology with two departments – Exhibitions and Deposits.
194 • IPHAN

NIAM is the national centre and coordinator of all the ield archaeological inves-
tigations on the Republic of Bulgaria territory. he Institute carries out scholarly
and methodic control over them. It is the organizer by its departments of the
annual reports of the excavations all over the country carried out by its staf, as
well as by the archaeologists from the Bulgarian universities and museums. he
Institute is the main organizer of the Annual National Archaeological Conferences
held every year in diferent part of the country. he Institute publishes the annual
reports of the excavations as preliminary publications in the country under the
title “Archaeological discoveries and excavations”
he National Council for ield archaeological research is chaired by the Director of
the Institute and its members are the heads of the departments, as well as represen-
tatives of the National Institute for preservation of the cultural heritage, the uni-
versities, the museums and the Ministry of culture. he permissions are given after
the opinions and the public discussion of each report in the respective department.
he National Information system “Archaeological map of Bulgaria” is also part
of the activities of the institute. Every year the new information from all over the
country is added to the already existing data base. he data base is shared with
the Ministry of Culture, the national institute for preservation of cultural heri-
tage, as well form other state institutions for the needs of the development of the
infrastructural projects, juridical cases, problems of destruction and illegal traic
of antiquities.
he Research Archives of NIAM keep the archaeological documentation of the
annual regular and rescue archaeological investigations on the territory of Bul-
garia. hey are of unique nature and national signiicance. At the present, they
contain 812 collections that cover the investigated archaeological sites of the last
50 years. he main mission of the Research Archives is to preserve the archaeo-
logical documentation afording the opportunity of research with it to anybody
interested.
he National Archaeological Museum hosts every year the Annual Archaeological
Exhibition “Bulgarian archaeology” in order to present to the society the most
important achievements in the ield of archaeology in a national scope.
It is the Scientiic Council of the Institute that gives opinions about the scientiic
needs of the museums of the country and scientiic development of their specialists.
his system of organization of the research activities allows, the most suitable
conditions for the study of an archaeological site by all scientiic and cultural in-
stitutions in the country and discuss together all the problems of the professional
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 195

level and competence, of the investigations, preservation and management of the


archaeological heritage in a very professional and democratic way. Although the
legislation envisages that the inancial funds for the regular and rescue excava-
tions are annually included in the state budget, after the political and economic
changes in the country in 1989 de facto there were no state funds for regular and
scientiic excavations. Only in the last years some of the important national sites,
as the three Bulgarian medieval capitals – Pliska, Preslav and Veliko Turnovo and
some more 2 or 3 sites, received funds from the Ministry of culture. he money,
given from some of the local councils very rarely can guarantee the fulilment of
the archaeological research aims. he European projects usually concern the con-
servation of the archaeological heritage and much less its investigation. Due to
the lack of real inancial support for archaeological studies in the country, there is
no balance between regular scientiic and rescue excavations, as is recommended
also by the European edict of the Bulgarian Academy of Science in 2009.
hat is why the preventive archaeology became an important and crucial chance
for Bulgarian archaeologists to continue the ield archaeological studies in dif-
icult but well inanced conditions and to participate actively in its preservation
and socialization when necessary. According to the Law, “the money for the res-
cue archaeological excavations until the exhaustive archaeological excavations of
the site are from the investors”. he partnership between archaeologists and the
state institutions in the process of the construction of several highways as well as
railway lines, etc., involves almost all the archaeological staf of the country. All
the staf of the Institute is involved in these infrastructural projects and usually
about 60 % of the sites are investigated by the Institute. here was no necessity
of creation of new investigating units.
he preliminary information from the information system “Archaeological map
of Bulgaria” is followed by ield research to verify the information and localize
unknown archaeological sites, which should be excavated before the beginning of
the construction activities. he agreements between the National Agencies and
Companies and the Institute, the Universities and the Museums, guarantee the
necessary money and reasonable deadlines for the excavations.
he main contractors in the last years are the National Roads Agency, Bulgar-Gaz
Company, Ministry of Transport and Communications, National Electric Compa-
ny, National Company Rail-Road’s Infrastructure”, etc. he main projects are along
the motorways “hrakia”, “Hemus” and “Struma”, “Nis-Soia”, “Danube Bridge”.
Special commissions of specialists in archaeology and preservation, as well as rep-
resentatives of the investors discuss the results and the urgent additional assis-
196 • IPHAN

tance if necessary, for the inalization of the excavations. he scientiic aspects of


the archaeological reports are presented at the annual national meetings.
he kilometers long “stratigraphic proile” of hrakia Motorway gave extremely
important new data about the cultural development of South Bulgarian lands
from prehistoric till modern times (Momchilov 2009). In 2009 only along the
100 km long way between Nova Zagora and Karnobat, 36 sites from diferent
periods have been excavated, 26 of which being investigated by specialists of the
National Institute of Archaeology with Museum.
he rescue excavations give not only the possibilities, serving the society in favor
of its economic developments, to study a series of sites for which otherwise would
be impossible to raise funds and to protect the most important of them. Favor-
able conditions have been created to receive valuable scientiic information, to
reveal new aspects of the cultural development of the Bulgarian lands, to educate
and train students and post- graduate students. he archaeological materials
enrich the collections of the local museums on which territory the excavation
have been provided. hese of extremely high value, according the Law, enter
to the collection of the National Archaeological Institute with Museum. Some
completely new types of sites have been found and new research ields have been
opened due to these excavations.
A nice example came from the excavations in 2009 are the results of the in-
vestigations of the Early Chalkolithic settlement Varhari, near Kardjali, dated to
4600 c. BC. he settlement which covers a huge area of 60 000 м2 has till now
an unknown planning and architecture. Nine complexes of rooms of diferent
functions, each of about 300 m2, surrounding a central square, have been discov-
ered. Each of them has a workshop for tools and ornaments from lint and semi-
precious stones. he production was mainly for export on very long distances.
(Бояджиев 2010)
he problematic hracian pit-holes sanctuaries are almost a completely new re-
search ield. his new category of archaeological sites was already known from
some earlier excavations. It was given its proper interpretation only thanks to the
enormous new archaeological data obtained during the rescue excavations since
the second half of the 90 ies of the last century in South West hrace, along
the hrakia Highway, etc. his allowed the specialists to present the topography,
the chronology and the interpretation of these unknown aspects of the hracian
religious life to national and international archaeological meetings (International
Conference about hracian Sanctuaries in Brasov- Rumania, National Colloquium
“he Pit sanctuaries”, held in 2009, organized by the National Institute of ar-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 197

chaeology with Museum and the New Bulgarian University in Soia, etc.). hese
sanctuaries, dated from the end of the Late Bronze / beginning of the Early Iron
Age till the Roman period (2nd-3rd century), reach their apogee in the periods
of higher cultural and political development of the hracian society in its dif-
ferent areas: on Odrysian kingdom in 5th-4th century BC, on Getic territories in
4th-3rd century BC and to the North of the Danube even later. he discovery of
similar sites recently on the territories of Rumania, Moldova, Ukraine and Russia,
Crimea and Taman peninsula, enlarges the territorial scope and the international
character of the discussion.

Even more important contribution to the problem, indicating an earlier date for
the appearance of this type of sites, was the discovery, again during rescue exca-
vations, of similar pit sanctuary near Liubimec; Dana-Bunar in South Bulgaria,
dated to the Late Neolithic period (Николов с кол. 2008)

he public interests, including the preservation of some sites of national impor-


tance on the territory, of the area under construction are easier to be discussed
and the protection problems to be solved under this type of partnership.

In the period before 1989, when private property was of a relatively small per-
centage, the preservation of the archaeological heritage, discovered during the
realization of diferent construction projects was even easier. Ruins discovered
during the construction of the Koprinka water dam near Kazanlak, capital of
the hracian Odrysae of 4th-3rd century BC was excavated in 1948-1956, but
remained at the bottom of the lake, later solutions were in favor of the discovered
archaeological heritage. Such examples from the 60-ies of 20th century are the Ro-
man villa near Chatalka water dam and Villa Armira near Kardzali. he discovery
of the marvelous architectural complex with mosaics in the area of the future
“Ivaylovgrad “ water dam lead to the construction of the latter in another place.
In both cases the location of the water dams was changed in order to preserve in
situ these remarkable monuments. In both cases the struggle of the archaeologists
was decisive. (Кабакчиева 2009).

Another example is the preservation and exhibition in situ of the Sanctuary of


the hracian horseman in the Daskalovo quarter of the town of Pernik on the
Pernik-Kulata motorway (Любенова 1980).

he preliminary information about the density, the character and the future of
the archaeological and natural heritage along the Burgas-Alexandrupolis gaz pipe
line, for example, was important aspect in the national discussion in 2009 about
the reasonability of its construction.
198 • IPHAN

he preventive archaeology in urban context has had always much more prob-
lems, no matter if it was during the socialistic period when the public property
was predominant, or after the democratization of the country in 1989 when the
restitution gave back the property to its owners. According to the Constitution
almost all territories with archaeological monuments on them remained public
property.
Speciic feature of the Bulgarian urban life is the settlement continuity even from
Prehistoric as well as from hracian and Graeco-Roman periods till modern
times. All main administrative centers in the country, as well as other towns
(Soia, Plovdiv, Stara Zagora, Varna, Razgrad, V. Tarnovo, Montana, Hisarja,
Sozopol, Pomorie, Nessebar, etc.) lay over the remains of important Roman,
Byzantine or Medieval towns.
his situation needs the creation of the best possible conditions for ethical bal-
ance between the private and the public interests in the study, preservation, in-
tegration and functions of the ancient heritage in modern Bulgarian urban life
(Каразлатева 2010). hese unsolved problems date from the period after the
Second World War, when the necessity for reconstruction of the central zones
combined with the political ambitions to change the urban landscape. Many of
the master plans did not envisaged the archaeological potential, neither strate-
gies about the integration of the archaeological structures in the modern urban
structures existed. In some cases similar unsolved problems, even now, appeared
during construction works in Soia, Plovdiv, Stara Zagora, etc. (Каразлатева
2010). Nevertheless it was during this period that thank to the archaeological
excavations and adequate cultural policy the town of Nessebar, for example, was
enlisted on the UNESCO World Heritage List.
After the changes in 1989 the problem became even more complicated. he pri-
vate and business interests, being inancially stronger than the state, were totally
neglecting for a long period the legislative rules. he demolition of the national
system for preservation of the cultural heritage till now is not replaced by a more
eicient one. here were no serious consequences for the destruction of archaeo-
logical heritage during the private infrastructural or building projects. Only for
one or two archaeological reserves in urban milieu ( e.g. Ahtopol) the preliminary
excavations were “conditio sine qua non” for approval of the construction plans.
he lack of strategies and management plans had as a result the appearance of a
complex of problems, as well as of the necessary of professional units all over the
country. he most indicative example is Nessebar – one of the Bulgarian sites on
the UNESCO World Monuments List, which now is considered to be a monu-
ment at risk. For more than 20 years new buildings in Nessebar were constructed
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 199

in full contradiction with the international principles, changing drastically the


aesthetics and the atmosphere of the town- museum.
A good example of the history and of the problems of the urban preventive ar-
chaeology is the Bulgarian capital - Soia - one of the oldest towns in Europe.
he earliest name Serdica is after the name of the local hracian tribe Serdae.
Its modern centre lays over 10 m thick cultural levels – testimony of its role
during the hracian, Roman, Byzantine and Mediaeval periods. Constantin the
Great spent greater part of his life here – close to the Vitosha mountain and
to the warm thermal springs in the centre of Serdica, calling it “My Rome”.
For almost 20 years after the political and economic changes in 1989, the prin-
ciples of the preservation of the archeological heritage in Soia and the public
interests were openly violated both during the construction of the metro lines and
during scandalous private constructions over monumental Roman structures.
An “extra murus” Episcopal residence from the beginning of the 5th to 614-615
AD was discovered in 2000, in the Southern park of Soia, when during private
construction activities the greater part of a monumental St. Trinity basilica was
totally destroyed. he Episcopal residence consisted of the basilica -an extremely
representative construction with columns, capitals, marbles and frescoes (35 m
long and about 17,5 m high), a living complex and other buildings, as well as
of an earlier Christian church from the time of Constantin the Great. More than
3000 archaeological objects were discovered. he archaeological excavations were
inanced by the investor, but the remains were covered by the modern building.
he rest of the geo-physically prospected area of the complex, covering about
4 000 m2 and situated in the park is on a public land remained unexcavated be-
cause of lack of interest of the local authorities. here were no any consequences
for the violation of the law (excavations of M. Daskalov from NIAM).
he discovery of the ancient amphitheater of Serdica during the construction of
the “Arena di Serdica” hotel in the centre of the town is another example of the
weakness of the state institutions, about the non professional approaches and
decisions taken under the inluence of the inancial pressure of the private initia-
tive that overwhelmed the public interest. he existing preliminary information
from the beginning of the 20th century about the location of the monument
-stone inscriptions and a stone “poster”, did not prevent the selling of the public
land to a private company to build a hotel. he discovered monumental part of
the amphitheater, although opened for visitors, remained in the basement of the
hotel. Other parts of this largest, on the Balkans, amphitheater have been already
excavated in the neighbourhood. he amphitheater with impressive dimensions
(60m x 43 m and height of the tribunes 20 m), comparable with the Colloseum
200 • IPHAN

(70 x 50 m), was built in the end of 3rd century during the time of Diocletian
and Constantin the Great and stopped to function in the end of the 4th century
after the edict of heodosius I forbidding the spectacles on its arena. An earlier
Roman theater from the middle of the 2nd century (Caracala reign) was found
under it. It is only recently that a decision was taken to preserve, reconstruct and
utilize for the monumental building for cultural events.
New approaches and more vigorous defense of the archaeological heritage of
Soia by the local authorities since 2009 gives some optimism.
he excavations in the National Reserve “Serdica-Sredec-Soia” started in connec-
tion with the construction of new metro stations and lines in the centre. A project,
called “he heart of the town”, proposes the transformation of the historical city cen-
tre into a unique museum, integrating inferior and exterior structures, ancient and
modern structures. he archaeological heritage of the Centre of the Bulgarian capital
has an exceptional historical value and corresponds to the criteria in the Operational
Guidelines for the Implementation of the World Heritage Convention. hat is why
the idea intending the historical centre of Soia to become part of the World heritage
gives impetus to realize an adequate policy concerning the conservation and presenta-
tion of the rich ancient archaeological heritage in the process of the construction of
the next metro lines and stations. he professional and public reactions to any project
which would damage the preservation of this heritage is very impressive.
he project plans to create a new pedestrian zone on the ancient level of the Ro-
man Serdicae. he idea is to restore the Decumanus, leading from the Eastern Gate
to Western one and to integrate Roman Serdica in the life of modern Soia. he
exhibition of the archaeological heritage between the Eastern and the Western gate
under a glass roof would integrate also some other Roman structures, like the am-
phitheater and more to the East to the tombs around the St. Sophia church.
his project would be direct continuation of the successful synthesis between
the ancient town planning and architectural heritage and the modern from the
70ies of the last century. he monumental Eastern Gate of Serdica, reconstructed
by Justinian in 6th century, with its 25 angled towers and part of its mains 7m
wide street, leading to the Forum was discovered during construction works in
the 50-60ies. hanks to the eforts of the archaeologist -Dr. M. Stancheva- it was
reconstructed and now is part of the underground between the Presidency and
the Council of ministers and the later discovery of part of most probably the
Constantin’s palace alas did not had a similar solution and its remained under the
pavement. Although the preservation of the Western gate of Soia and its integra-
tion on the level of the Central metro station existed, the inalization of the proj-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 201

ect also eliminated these intension and the monumental fragments of the walls,
gates and towers were dismantled and transported to a depot in the outskirts of
the town. Now the realization of such ideas would be a small compensation for
the lost possibilities in the irst decades of the new millennium.
Another important area in process of excavations is to the North of the Forum,
considered to be the pre-Roman hracian center of Serdica. Here, close to the
mineral springs a marble basin, part of the Roman baths, was recently discovered.
A serious problem is the fact that the excavations have been provided synchro-
nously with the construction activities, which follow only very generally the idea
of the necessity to preserve the ancient levels. Changes are to be made in the ap-
proaches and the technical construction methods of the new metro lines and in
the process of the excavations in order to preserve and exhibit the archaeology in
Soia in the best way. Although excavations are included in the rules for handling
some of the national reserves prior permission for construction activities in the
territory, this principle is not applied in intensive excavations of emergency in
place as important as the center of the capital.
Bulgarian legislation still does not propose the best solutions, and mechanisms
for investigation and preservation of its rich archaeological heritage, following the
traditions of competence of the national institutions and the international docu-
ments. he tendency in the Law on Cultural Heritage from 2009 to diminish
the autonomy of the professional institutions and specialists and to strengthen
the role of the administration in the process of decisions making on purely pro-
fessional activities, should be corrected in near future. An important principle
should be priority in the process of the preservation of the cultural heritage to be
given to the specialists in science, education and museums, supported by the civil
society, the local communities and the state.
202 • IPHAN

Bibliography
Бояджиев Я., Такорова Д.,Бояджиев К. 2010. Халколитно селище „Върхари”.-
В:Българска археология 2009. Каталог към изложба, 12-13
Генчев Хр. 2009. София. Мислена в пространството и времето. София
Гергова Д. 2008. Опазване на културното наследство и културата на опазването.
–В: Георгиев Св. 2008. Правен режим на културното наследство в
Република България. Агато,7-12
Георгиев Св. 2008. Правен режим на културното наследство в Република
България. Агато,7-12
Кабакчиева Г. 2009. Великолепието на Армира.София
Каразлатева М. 2009. Цар Фердинанд и Търновското културно наследство .-
Каразлатева М. 2010. Превантивни археологически проучвания в урбанизирана
среда. Въведение в ситуацията на българското урбанистично наследство.
- Сборник “ R. Кatincharov in Memoriam” (in print)
Любенова В.1980. Светилището при Перник. В: Тракийски паметници т. ІІ.
Тракийски светилища, София, Наука и изкуство, 15-43
Николов В. Петрова В. и др. 2008. Археологическо проучване на къснонеолитно
ямно светилище Любимец-Дана бунар 2- В: Археологически открития и
разкопки през 2007, София 57-60
Севтополис, т. І . 1984. Бит и култура, София
Momchilov D.(ed.) 2009. Rescue archaeological Research on the Road bed on
the National Highway hrakia, LOT 5, surrounding Road of the town of
Karnobat. Varna
Sîrbu V. 1995 . Un nouveau type de monuments sacrés chez les Geto-Daces. Acta
Musei Napocensis, 32, I, 313-330.
Tonkova M. 2008. On Human Sacriice in hrace. -In: hracian sanctuaries and
cult places. Brasov.
Vulcheva D.2002. he Pit Sanctuary. - In: A. Bojkova, P. Delev (ed.) Koprivlen,
I, NOUS Publishers LTD, Soia, 103-125.
Bibliography Online
www. Строителство - Градът
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 203

Arqueologia Preventiva acadêmicos para o Estado da Bulgária e da


sociedade, nas condições da economia de
na Bulgária. mercado e da sociedade civil”, desde os pri-
meiros documentos legislativos até hoje.
As atividades do programa do NIAM estão
A grande concentração de patrimônio arqueo- relacionadas com a história e o desenvol-
lógico no território da Bulgária moderna pre- vimento cultural dos territórios da Bulgá-
determina o país como um dos mais ricos em ria desde 1 400 000 BP até o século XVIII.
monumentos arqueológicos na Europa, com a A estrutura acadêmica do Instituto Nacional de
Grécia e a Itália. Arqueologia com Museu é composta por cinco
A importância da arqueologia na Bulgária na secções cronológicas e temáticas: Secção de Pré-
discussão dos processos culturais de sítios ar- História, Secção de Arqueologia Trácia, Secção
queológicos no sudeste Europeu tem na pro- de Arqueologia Clássica, Secção de Arqueologia
priedade pública o status de valor cultural na-
Medieval, Secção de Epigraia e Numismática,
cional, até que recebam uma classiicação mais
Departamento de Estudos Interdisciplinares,
precisa.
bem como duas sedes de investigação nas prin-
A preocupação do Estado em preservar o pa-
cipais cidades da Bulgária - em Shumen e Veliko
trimônio histórico e cultural da nação data de
Turnovo, e o Museu Nacional de Arqueologia,
1878 quando foi criado o Departamento de
com dois departamentos - exposições e acervos.
Antiguidade da Biblioteca Pública de Soia uma
NIAM é o centro nacional e o coordenador
das primeiras instituições da Bulgária recém-
de todo o campo das investigações arqueoló-
libertada e mais tarde passou a denominar-se
Biblioteca e Museu Nacional da Bulgária. O gicas no território da República da Bulgária.
Decreto N 181/1890 de Fernando I, Príncipe O Instituto realiza metódico controle acadê-
Real da Bulgária, promulgou a Lei de Pesquisa mico sobre a escavação. É o organizador dos
de Antiguidades e Suporte de Instituições Aca- relatórios anuais dos trabalhos realizados pelo
dêmicas e Bibliotecas. Ela deiniu que “todas as seu pessoal em todo o país, bem como pelos
matérias desconhecidas e objetos antigos, onde arqueólogos das universidades búlgaras e mu-
quer que possam ser encontrados, pertencem seus. Ele é o principal organizador das confe-
ao Estado”. Fernando I, o czar dos búlgaros, rências nacionais anuais arqueológicas reali-
promulgou o Decreto N 7, de 18 de fevereiro zadas em diferentes partes do país e também
de 1911, uma Lei especial para as Antiguida- divulga relatórios anuais das escavações preli-
des, que especiicou o estatuto, a estrutura e minares como publicações no país sob o título
a gestão do Museu Nacional de Arqueologia. “As descobertas arqueológicas e escavações.”
A Sociedade Búlgara Arqueológica estabeleci- O Conselho Nacional no campo da pesquisa
da em 1901 organizou a base do Instituto de arqueológica é presidido pelo Diretor do Insti-
Arqueologia da Bulgária fundado em 1920. tuto e seus membros são os chefes dos departa-
Em 1947, a Lei da Academia Búlgara de Ci- mentos, bem como representantes do Instituto
ências (BAS), entrou em vigor e o Instituto de Nacional para a Preservação do Patrimônio
Arqueologia da Bulgária e a Academia se fun- Cultural, das universidades, dos museus e do
dem com o Museu Nacional de Arqueologia. Ministério da Cultura. As permissões são da-
Em 2007 a BAS formulou para o Instituto de das após os pareceres e discussão pública de
Arqueologia com Museu um novo estatuto cada relatório no respectivo departamento.
alterando sua denominação para Instituto Na- O Sistema Nacional de Informação “mapa ar-
cional de Arqueologia com Museu (NIAM). queológico da Bulgária” também faz parte das
Em função da natureza pública estatal do atividades do Instituto. Todos os anos, as novas
patrimônio arqueológico todas as princi- informações de todo o país são adicionadas à
pais atividades do Instituto são “serviços base de dados. Esta base de dados é comparti-
204 • IPHAN

lhada com o Ministério da Cultura, o Institu- dado a partir de alguns dos conselhos locais,
to Nacional para a Preservação do Patrimônio muito raramente, pode garantir o cumprimen-
Cultural, bem como com outras instituições do to dos objetivos de investigação. Os projetos
Estado que necessitam desses dados para o de- europeus geralmente favorecem a conservação
senvolvimento dos projetos de infraestrutura, do patrimônio arqueológico em detrimento da
processos jurídicos, problemas de destruição e pesquisa. Devido à falta de apoio inanceiro real
tráico ilegal de antiguidades. para os estudos arqueológicos no país, não há
Os arquivos de investigação do NIAM mantêm equilíbrio entre a pesquisa cientíica e as esca-
a documentação arqueológica anual regular vações de emergência, como está recomendado
das investigações arqueológicas de salvamento também pelo Decreto Europeu da Academia
no território da Bulgária. Eles são de natureza Búlgara de Ciências, de 2009.
única e de importância nacional. No momento A arqueologia preventiva tornou-se uma opor-
contêm 812 coleções que abrangem os sítios ar- tunidade importante e crucial na mudança para
queológicos investigados dos últimos 50 anos. os arqueólogos de continuidade para pesquisa
A principal missão do Arquivo de Pesquisa é de campo em condições adversas para os pes-
preservar a documentação arqueológica para quisadores búlgaros, mas quando necessário
que ofereça a oportunidade de pesquisa para bem inanciados para participar ativamente na
qualquer pessoa interessada. preservação e socialização.
Todos os anos o Museu Nacional de Arque- De acordo com a Lei, “o emolumento para o
ologia acolhe a exposição anual “arqueologia resgate de escavações arqueológicas até as esca-
da Bulgária”, a im de apresentar à sociedade vações arqueológicas exaustivas do sítio arqueo-
as realizações mais importantes no campo em lógico provém de investidores”. A parceria entre
âmbito nacional. os arqueólogos e as instituições do Estado no
É o Conselho Cientíico do Instituto, que dá processo de construção de rodovias, bem como
pareceres sobre as necessidades cientíicas dos de várias linhas ferroviárias, etc., envolve qua-
museus do país sobre o desenvolvimento cien- se toda a equipe arqueológica do país. Todos
tíico de seus especialistas. os funcionários do Instituto estão envolvidos
Este sistema de organização de pesquisa arque- nesses projetos de infraestrutura e, geralmente,
ológica permite a condição mais adequada para cerca de 60% dos sítios são investigados pelo
o estudo de um sítio arqueológico realizado mesmo. Não houve necessidade de criação de
por todas as instituições cientíicas e culturais novas unidades de investigação.
do país, e ainda a discussão conjunta dos pro- Os dados preliminares do sistema “mapa ar-
blemas proissionais relativos à competência queológico da Bulgária” são seguidos por
das investigações, preservação e gestão do pa- uma pesquisa de campo para veriicar as
trimônio arqueológico num democrático e ele- informações e a localização de sítios arque-
vado padrão proissional. Embora a legislação ológicos desconhecidos, que deverão ser
preveja fundos inanceiros para as escavações escavados antes do início das atividades de
regulares e de emergência, estes são anualmen- construção. Os acordos entre as agências na-
te incluídos no orçamento do Estado, após as cionais, as empresas, o Instituto, as universi-
mudanças políticas e econômicas no país em dades e os museus garantem os recursos ne-
1989; de fato, não havia fundos regulares às cessários e prazos razoáveis para as escavações.
escavações cientíicas. Somente nos últimos Os principais contratantes nos últimos anos
anos alguns dos sítios arqueológicos nacionais são a Agencia Nacional de Estradas, a Bulgar-
importantes, como as três capitais medievais da gaz, a Empresa do Ministério dos Transportes
Bulgária - Pliska, Preslav e Veliko Turnovo - e e Comunicações, a Companhia Nacional Elé-
mais 2 ou 3 sítios arqueológicos, receberam re- trica, Companhia Nacional de Infraestrutura
cursos do Ministério da Cultura. O dinheiro, ferroviária, etc. Os principais projetos são ao
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 205

longo das autoestradas”hrakia”,”Hemus” e quadrado central, foram descobertos. Cada


“Struma”, “Nis-”Soia”,”Ponte do Danúbio”. uma delas tem uma oicina de instrumentos
As comissões especiais - compostas por especia- e adornos de pedras e pedras semipreciosas. A
listas em arqueologia e preservação, bem como produção foi principalmente para exportação
representantes dos investidores - discutem os em distâncias muito longas. (Бояджиев 2010)
resultados e a necessidade de inanciamento A questão dos santuários de trácios de pit (mar-
adicional para a conclusão das escavações. Os cas de pilares) é completamente nova no campo
aspectos cientíicos dos relatórios arqueológicos de pesquisa. Esta nova categoria de sítios arque-
são apresentados nas reuniões anuais nacionais. ológicos era conhecida de algumas escavações
O peril estratigráico da Rodovia de hrakia anteriores. Foi dada a sua correta interpretação
forneceu importantes novos dados sobre o somente graças a uma enorme quantidade de
desenvolvimento cultural do sul de terras búl- novos dados arqueológicos obtidos durante as
garas da pré-história até os tempos modernos. escavações de resgate desde a segunda metade
(Momchilov 2009). Em 2009, apenas ao longo da década de 90 do século passado no sudo-
do caminho de 100 km entre Nova Zagora e este da Trácia, ao longo da Rodovia hrakia.
Karnobat, 36 sítios de diferentes períodos fo- Isso permitiu aos especialistas apresentarem a
ram escavados, 26 dos quais sendo investigados topograia, a cronologia e a interpretação desses
por especialistas do Instituto Nacional de Ar- aspectos desconhecidos da vida religiosa hra-
queologia com Museu. cian em encontros arqueológicos nacionais e
As escavações de salvamento nos dão não só as internacionais (Conferência Internacional so-
possibilidades, servindo a sociedade em favor bre santuários hracian em Brasov, na Romê-
da sua evolução econômica, a im de estudar nia; Colóquio Nacional “Os santuários Pit”,
uma série de sítios arqueológicos para os quais realizado em 2009, organizado pelo Instituto
seria impossível arrecadar fundos de outra ma- Nacional de Arqueologia com Museu e pela
neira e proteger os mais importantes deles. As Universidade Nova da Bulgária em Sóia, etc.)
condições favoráveis foram criadas para receber Esses santuários, datados da idade do Bronze
informações cientíicas valiosas, revelar novos Final / início da Idade do Ferro Antigo até o
aspectos do desenvolvimento cultural das ter- período romano (2º e 3º séc.) atingiram o seu
ras búlgaras, educar e treinar os alunos e estu- apogeu, nos períodos de maior desenvolvimen-
dantes de pós-graduação. Os materiais arque- to cultural e político da sociedade hracian, em
ológicos enriquecem as coleções dos museus suas diferentes áreas: sobre o reino odrisiano
locais em que a escavação do território tenha nos 5º e 4º séculos a.C.; nos territórios Getic
ocorrido. Esses materiais extremamente valio- nos 4º-3 º séculos a.C.; do norte do Danúbio
sos, de acordo com a lei, fazem parte da cole- - até mais tarde. A descoberta de sítios seme-
ção do Instituto Nacional de Arqueologia com lhantes recentemente - nos territórios da Ro-
Museu. Alguns tipos completamente novos de mênia, Moldávia, Ucrânia e Rússia, Crimeia e
sítios foram descobertos e iniciaram-se novas Península de Taman - alarga o âmbito territorial
áreas de investigação devido a estas escavações. e amplia o caráter internacional da discussão.
Um bom exemplo das escavações em 2009 são A contribuição mais importante para o pro-
os resultados das investigações do assentamento blema indica uma data anterior ao apare-
arqueológico Varhari, perto de Kardjali, data- cimento desse tipo de sítios arqueológicos
do de 4600 a.C. (Calcolítico Inicial). O assen- cuja descoberta se deu mais uma vez durante
tamento que abrange uma grande área de 60 as escavações de emergência, de um santuá-
000 m² tem até o momento uma desconheci- rio pit similar, próximo a Liubimec, Dana-
da planimetria e arquitetura. Nove complexos bunar no sul da Bulgária, datado do perío-
de câmaras de diferentes funções, cada uma do Neolítico Final. (Николов с кол. 2008)
delas com cerca de 300 m², em torno de um O interesse público, incluindo a preservação
206 • IPHAN

de alguns sítios arqueológicos de importân- gara é a continuidade do mesmo assentamento


cia nacional sobre o território, em áreas em pré-histórico, bem como da Trácia do período
construção, é mais fácil de ser discutido e greco-romano até os tempos modernos. Todos
a resolução dos problemas de proteção ica os centros administrativos do país, bem como
mais simples no âmbito desse tipo de parceria. de outras cidades (Sóia, Plovdiv, Stara Zagora,
No período anterior a 1989, quando havia bai- Varna, Razgrad, V. Turnovo, Montana, Hisarja,
xo percentual de propriedade privada, a preser- Sozopol, Pomorie, Nessebar, etc.), estão esta-
vação do patrimônio arqueológico, descoberto belecidos sobre as ruínas de cidades romanas,
durante a realização dos projetos de construção, bizantinas ou medievais.
foi ainda mais fácil. Essa situação deve ter as melhores condições
Na construção da barragem Koprinka, escava- possíveis para o equilíbrio ético entre o pri-
da entre 1948 e 1956 foram descobertos rema- vado e o interesse público no estudo, preser-
nescentes de Kazanlak, capital do Odrysae trá- vação, integração e nas funções da herança
cio dos 4º e 3º séculos a.C. que permaneceram antiga na vida urbana da Bulgária moderna.
no fundo do lago, posteriormente se optou pela (Каразлатева 2010) Esses problemas não re-
preservação do patrimônio arqueológico desco- solvidos datam do período posterior à Segunda
berto. Outros exemplos a partir dos anos 60 do Guerra Mundial, quando a necessidade para a
século XX são a “villa” romana perto da barra- reconstrução da zona central combina com as
gem de Chatalka e Armira Villa nos arredores ambições políticas para mudança da paisagem
de Kardzali. A descoberta do maravilhoso com- urbana. Muitos dos planos diretores não pre-
plexo arquitetônico com mosaicos na área do viam o potencial arqueológico, nem sobre as es-
futuro “Ivaylovgrad “ se deu ao se desviar a água tratégias de integração das estruturas arqueoló-
para a construção da barragem em outro lugar. gicas em modernas estruturas urbanas existen-
Em ambos os casos, a localização das barragens tes. Em alguns casos problemas similares, não
foi alterada para preservar in situ estes monu- resolvidos até hoje, apareceram durante obras
mentos notáveis. Em ambos os casos, a luta dos de construção em Sóia, Plovdiv, Stara Zagora,
arqueólogos foi decisiva. (Кабакчиева 2009) etc.(Каразлатева 2010)
Outro exemplo é a preservação e exposição No entanto, foi nesse período que - graças às
in situ do Santuário do Cavaleiro Trácio, no escavações arqueológicas e à política cultural
quarteirão de Daskalovo da cidade de Pernik, adequada - a cidade de Nessebar, por exemplo,
na Rodovia Pernik- Kulata. (Любенова 1980) foi inscrita na lista de Patrimônio Mundial da
As informações preliminares sobre a densidade, UNESCO.
o caráter e o futuro do patrimônio arqueológi- Após as mudanças, em 1989, o problema se
co e natural ao longo da linha do gasoduto Bur- tornou ainda mais complicado. Os interesses
gas - Alexandrupolis, por exemplo, foram um privados e empresariais, sendo inanceiramen-
importante aspecto na discussão nacional em te mais fortes do que o Estado, izeram com
2009 sobre a razoabilidade de sua construção. que as normas legislativas fossem totalmente
A arqueologia preventiva no contexto urbano negligenciadas por um longo período. O ani-
sempre tem tido problemas, não importa se quilamento do sistema nacional para a preser-
durante o período socialista, quando a pro- vação do patrimônio cultural até agora não foi
priedade pública foi preponderante, ou após a substituído por um mais eiciente. Não houve
democratização do país em 1989, ao se devol- consequências graves para a destruição do pa-
verem os bens a seus proprietários. De acordo trimônio arqueológico em projetos privados de
com a Constituição de quase todos os territó- infraestrutura ou de construção. Apenas para
rios que continham monumentos arqueológi- uma ou duas reservas arqueológicas em meio
cos a propriedade permaneceu pública. urbano (eg. Ahtopol) as escavações prelimina-
A característica especíica da vida urbana búl- res foram conditio sine qua non para aprovação
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 207

dos planos de construção. A falta de estratégias descobertos. O investidor inanciou as esca-


e planos de gestão, bem como as necessidades vações , mas os vestígios remanescentes foram
de proissionais em arqueologia em todo o país, cobertos pelo edifício moderno. O restante da
teve como resultado o surgimento de um ema- área do complexo prospectada geoisicamente,
ranhado de problemas. O exemplo mais indica- que abrange cerca de 4 000 m2 e está situada
tivo é Nessebar - um dos sítios arqueológicos da no parque, por exemplo, em um terreno pú-
Bulgária na lista da UNESCO como patrimô- blico, permaneceu por escavar, devido à falta
nio mundial, que agora é considerado um mo- de interesse das autoridades locais. Não houve
numento em risco. Por mais de 20 anos novas consequências pela violação da lei. (Escavações
construções em Nessebar foram executadas em de M. Daskalov do NIAM)
contradição com os princípios internacionais, A descoberta do antigo aniteatro de Serdica,
mudando drasticamente a estética e a atmosfera durante a construção da “Arena di Serdica”,
da cidade-museu. hotel no centro da cidade, é outro exemplo
Um bom exemplo da história e dos problemas da fragilidade das instituições estatais sobre as
da arqueologia urbana preventiva é a capital abordagens não proissionais e as decisões to-
búlgara, Soia - uma das mais antigas cidades madas sob a inluência da pressão inanceira
da Europa. O primeiro nome Serdica é o da da iniciativa privada que oprimiu o interesse
tribo local trácia Serdae. Seu moderno centro público. As informações preliminares existen-
repousa sobre níveis culturais mais de 10 m de tes desde o início do século XX sobre a loca-
espessura - testemunha do seu papel durante os lização do monumento - inscrições em pedra
períodos trácio, romano, bizantino e medieval. e uma “stone poster”, não impediu a venda de
Constantino, o Grande passou a maior parte da terrenos públicos a uma empresa privada para
vida aqui - perto da montanha de Vitosha e das a construção de um hotel. A parte monumen-
nascentes termais quentes no centro de Serdica, tal do aniteatro descoberta, embora aberta à
chamando-o “minha” Roma. visitação, manteve-se na cave do hotel. Ou-
Durante quase 20 anos depois das mudanças tras partes deste grande aniteatro, nos Bálcãs,
políticas e econômicas em 1989, os princípios já foram escavadas no bairro. O aniteatro de
da preservação do patrimônio arqueológico em dimensões impressionantes (60 m x 43 m e al-
Soia e os interesses públicos foram violados tura das tribunas de 20 m), comparável com o
abertamente, tanto na construção das linhas de Coliseu (70 m x 50 m), foi construído no inal
metrô quanto durante o escândalo das constru- do 3º século, durante o período de Diocleciano
ções privadas sobre as estruturas de monumen- e Constantino, o Grande, e encerrou sua fun-
tais romanas. ção no inal do 4º século depois do Decreto de
Um “extra murus” residência episcopal desde Teodósio I, que proíbe os espetáculos nesta are-
o início do 5º século até os 614-615 AD foi na. Um teatro romano antes de meados do 2º
descoberto em 2000, no parque do sul de So- século (reinado de Caracala) foi encontrado sob
ia, durante as atividades de construção privada, ele. Só muito recentemente a decisão de pre-
onde grande parte da basílica monumental de servar, reconstruir e utilizá-lo como prédio mo-
Santa Trindade foi totalmente destruída. A re- numental para eventos culturais foi tomada .
sidência episcopal consistiu na basílica - uma Novas abordagens e defesa mais enérgica do
construção extremamente representativa, com patrimônio arqueológico de Soia pelas autori-
colunas, capitéis, mármores e afrescos (35 me- dades locais desde 2009 dão algum otimismo.
tros de comprimento e cerca de 17,5 metros As escavações na Reserva Nacional “Serdica -
de altura), um complexo habitacional e outros Sredec-Soia” se iniciaram em conexão com a
edifícios, bem como uma igreja paleocristã do construção das estações do novo metrô e das
início da tempo de Constantino, o Grande. novas linhas no centro. Um projeto, chamado
Mais de 3.000 objetos arqueológicos foram “O coração da cidade”, propõe a transformação
208 • IPHAN

do centro histórico em um único museu, com minou essas intenções e os fragmentos mo-
a integração das estruturas inferior e exterior, numentais das paredes, portas e torres foram
antigas e modernas. O patrimônio arqueo- desmontados e transportados para um depó-
lógico do Centro da capital tem excepcional sito na periferia da cidade. Agora a realização
valor histórico e corresponde aos critérios destas ideias seria uma pequena compensa-
deinidos nas Diretrizes Operacionais para a ção para as possibilidades perdidas nas pri-
implementação da Convenção do Patrimônio meiras décadas do novo milênio.
Mundial. Por isso a ideia do centro histórico Outra área importante no processo de escava-
de Soia faz parte do Patrimônio Mundial. ções é em direção ao Norte do Fórum, consi-
Isso impulsionou a realização de uma política derada como o centro pré-romano de hracian
adequada em matéria de conservação e valo- Serdica. Aqui, perto das nascentes de águas
rização do patrimônio arqueológico no pro- minerais uma bacia de mármore - parte dos
cesso de construção das linhas de metrô e das banhos romanos - foi descoberta recentemente.
estações. A reação do público e dos proissio- Um problema sério é o fato de que as escava-
nais a qualquer projeto que prejudicasse a pre- ções foram executadas em sincronia com as ati-
servação deste patrimônio é impressionante. vidades de construção, que seguem, de forma
O projeto prevê a criação de uma nova zona muito geral, a ideia da necessidade de preservar
pedonal sobre o nível da cidade romana Ser- os níveis antigos. Mudanças devem ser feitas
dicae. A ideia é restaurar o Decumanus, par- nas abordagens e nos métodos de construção
tindo do Portão Leste para o Ocidente e uma técnicos das novas linhas e estações de metrô
integração da Soia romana na vida da Soia no processo das escavações, a im de se preser-
moderna. A exposição do patrimônio arque- var e expor a arqueologia em Soia, da melhor
ológico entre o Leste e o Portão Ocidental foi maneira.
executada com um telhado de vidro, integran- Embora, as escavações estejam incluídas nas
do também algumas outras estruturas roma- regras de manejo de algumas das reservas na-
nas, como o aniteatro e mais para o Oriente cionais antes da permissão para atividades de
os túmulos em torno da igreja de Santa Soia. construção no território, este princípio não é
Este projeto será uma continuação direta da aplicado em escavações intensivas de emergên-
síntese bem-sucedida entre o urbanismo e o cia em local tão importante como é o centro
patrimônio arquitetônico antigo e moderno da capital.
da década de 70 do século passado. O monu- A legislação búlgara ainda não propôs melhores
mental Portão do Leste de Serdica, recons- soluções e mecanismos de investigação e de pre-
truído por Justiniano no 6º século, com suas servação do seu rico patrimônio arqueológico,
vinte e cinco torres em ângulo e parte de sua seguindo as tradições de competência das insti-
rede de 7 m de largura de rua, em direção tuições nacionais e documentos internacionais.
ao fórum foi descoberto durante trabalhos A tendência na lei sobre o patrimônio cultural
de construção nos anos 50 e década de 60. a partir de 2009, para diminuir a autonomia
Graças aos esforços do arqueólogo Dra. M. das instituições proissionais e de especialistas, é
Stancheva foi reconstruído e agora faz parte a de reforçar o papel da administração no pro-
do metrô entre a Presidência e o Conselho de cesso de tomada de decisões sobre as atividades
Ministros. A descoberta posterior da, prova- puramente proissionais, que deve ser corrigido
velmente, maior parte do palácio de Cons- num próximo futuro. Um importante princí-
tantino, infelizmente, não teve uma solução pio deve ser a prioridade no processo de pre-
similar e permaneceu sob o pavimento. Em- servação do patrimônio cultural a ser dada aos
bora exista a preservação do portão ocidental especialistas em ciência, educação e museus,
de Soia e sua integração ao nível da estação apoiada pela sociedade civil, comunidades lo-
de metrô central, a conclusão do projeto eli- cais e Estado.
Raffaello, L’Abbondanza
e la Pigrizia.
Precocità e ritardi dell’Archeologia
Preventiva in Italia XI
Roberto Maggi

Una bella storia

C ome noto, il declino politico ed economico di Roma susseguente alla caduta


dell’Impero si rispecchiò nella sua demograia, che precipitò dal milione e
mezzo circa di abitanti del II°- III° secolo d.C., e relativi 50.000 o più ediici (Car-
copino 1939), a meno di centomila della città medievale (Gatto 1999). A corol-
lario del fenomeno l’attività urbanistica della decadenza diventò precipalmente
di manutenzione, peraltro insuiciente per i costi proibitivi. Ciò signiica che, al
netto delle spoliazioni e delle distruzioni occorse nei vari saccheggi, i (molti) su-
perstiti monumenti, ediici pubblici, palazzi, templi e impianti della caput mundi
solo marginalmente vennero utilizzati per l’approvvigionamento di materiale da
riciclare per nuove costruzioni. Le illustrazioni dei viaggiatori documentano lo
stato di abbandono delle antiche vestigia, corrose dal tempo, invase dalla vege-
tazione, ma ancora in gran parte solide e leggibili (Cambi & Terrenato 1998).
Il rientro dei Papi dall’esilio di Avignone alla ine del trecento fu la premessa
del rinascimento romano, che iniziò uicialmente col Giubileo del 1423, voluto
da papa Martino V. Egli coinvolse architetti quali Brunelleschi e Leon Battista
Alberti, autori di una serie di interventi nei quali si cimentarono tutti i maggiori
artisti e architetti italiani, da Bernardo Rossellino a Masaccio, Beato Angelico,
Piero della Francesca, Botticelli, Perugino, Ghirlandaio e altri ino a Michelange-
lo. L’attività divenne ben presto forse in troppo entusiastica se, dopo meno di un
secolo, Rafaello, chiamato a Roma per afrescare il Palazzo Apostolico, afermava
che il Rinascimento stava procurando ai monumenti di Roma antica più danni di
210 • IPHAN

quanti le avessero inferto i Barbari (Guzzo 2001). Doveva essere della stessa idea
il Papa Leone X, che nel 1519 gli conferì l’incarico di pianiicare la protezione
delle antichità. Il programma di Rafaello precorse di alcuni secoli i criteri della
tutela; egli, infatti, progettò la redazione di quella che oggi chiameremmo una
carta archeologica di Roma antica, strumento necessario per poter controllare con
adeguate regole lo sviluppo della città rinascimentale. Purtroppo Rafaello morì
l’anno successivo, appena trentasettenne, seguito dopo un altro anno da Leone X.
Il brillante progetto rimase pertanto allo stato di bozza e non se ne parlò più ino
alla metà del XVII° secolo, quando il grande interesse per le antichità suscitato dai
ritrovamenti di Ercolano propose in primo piano l’esigenza di evitare dispersioni
presso i collezionisti e, con il formarsi dell’Archeologia quale disciplina storica, di
evitare la distruzione dei reperti e la loro asportazione dal contesto.
Nel 1755 un bando del re di Napoli Carlo VII , premesso “che le Province, onde
questo Regno di Napoli è composto, hanno in ogni tempo somministrato in
grandissima copia de’ rari monumenti d’antichità, di statue, di tavole, di meda-
glie, di vasi, e d’istrumenti o per sacriicj, o per sepolcri, o per altri usi della vita,
riscontrava che niuna cura e diligenza è stata per l’addietro usata in raccogliere e
custodire e che tutto ciò che di più pregevole è stato dissotterrato, s’è dal Regno
estratto (esportato)”, vietava l’esportazione e la vendita delle antichità (in palese
conlitto di interesse essendo egli stesso massimo collezionista), e inliggeva pene
detentive sia agli “Ignobili” (cinque anni), sia ai “Nobili” (tre anni) (Settis 2003).
A Roma Papa Pio VII, forse impressionato dalle spoliazioni napoleoniche di ope-
re d’arte, con un chirografo (documento uiciale scritto di suo pugno) del 1802
proibì la rimozione ed il commercio delle antichità. Il 7 aprile 1820 il Cardinale
Camerlengo e il Cardinale Bartolomeo Pacca, amministratore della Chiesa, svi-
luppava il chirografo di Pio VII in un Editto (legge), che istituiva Commissioni
Centrali e Provinciali (antesignane delle attuali Soprintendenze) con il compito
di redigere elenchi delle “Antichità sacre e profane ……e delle Belle Arti”. Esse
avevano “un’assoluta giurisdizione, e vigilanza e presidenza” su tutti i monumenti
e gli oggetti d’arte degli Stati del Papa, tanto quelli di proprietà pubblica che
quelli di proprietà privata (non esclusi da questi ultimi quelli appartenenti ai car-
dinali). I ritrovamenti casuali dovevano venire notiicati alla Commissione com-
petente per territorio, la quale ne avrebbe valutato l’importanza, documentato il
contesto di rinvenimento e deciso il modo di conservazione in funzione dell’im-
portanza attribuita al ritrovamento (Guzzo 2004). Il cardinale Pacca, da buon
politico, si premura di estrapolare la norma dall’urgenza napoleonica, evocando
una lunga tradizione di tutela, che risalirebbe addirittura agli antichi imperatori,
e richiamando in particolare una delibera del senato romano risalente al 1162,
che per proteggere la Colonna Traiana “onde sia salvo l’onore pubblico della città
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 211

di Roma” non va per il sottile e cammina la pena di morte e la conisca dei beni
agli eventuali danneggiatori.
Nel 1822 il re di Napoli Ferdinando IV vietava la demolizione degli “ediici di
nobile architettura e istituiva la Commissione di Antichità e Belle Arti, incaricata
di vigilare. Nel 1839 stabiliva che tutti i monumenti …… siano ben conservati
…… non si alteri e non si deturpi l’antico ……non si eseguano restaurazioni
senza permesso (della Commissione) …. Ogni contravvenzione anche se relativa
a proprietà private ….. sarà considerata come violazione dei monumenti pubblici
… e punita…” di conseguenza. Disposizioni analoghe vennero adottate nel Lom-
bardo-Veneto (1827), dove già nel 1773 il Consiglio dei Dieci della Repubblica di
Venezia aveva ordinato la redazione di un catalogo delle opere da proteggere. Un
simile esatto inventario è ordinato nel 1819 per il Ducato di Parma da Maria Luisa
di Borbone. Più tardi, norme per la tutela delle antichità vennero adottate anche
dal Granducato di Toscana (1854) e dal Ducato di Modena (1857) (Guzzo 1993).
Benché diversi per ordinamento, dimensione, dinastie, alleanze, quasi tutti gli sta-
ti pre-unitari ritenevano dunque, concordemente, che fosse di pubblica utilità e
interesse dello stato riconoscere e proteggere il patrimonio storico, archeologico
ed artistico, col conseguente dovere del legislatore di emanare norme appropriate,
anche a scapito della proprietà privata, inclusa quella dei nobili e dei cardinali.
Mancano all’appello la Repubblica di Genova, di antica tradizione mercantile,
che non a caso, con Braudel (1979, 1996), più che uno stato era un’impresa ca-
pitalistica, la cui indipendenza cessò peraltro nel 1815, quando il Congresso di
Vienna ne decretò l’annessione al Piemonte, e manca soprattutto quest’ultimo1,
che invece era uno stato politicamente forte, moderno e ben organizzato, tanto
che fu capace, nel 1861, di uniicare l’Italia. Sul modello piemontese, l’Italia unita
liberale non produsse norme sulla tutela e sull’interesse pubblico delle antichità
e delle opere d’arte, forse per ritrosia verso azioni limitative della proprietà pri-
vata. Si limitò a lasciare in vigore, dove esistevano, le Commissioni istituite dai
precedenti stati assolutisti, che ben presto dovettero mostrare i loro limiti a fronte
della spinta che la riuniicazione diede alla nascente industrializzazione, alla co-
struzione di infrastrutture pubbliche (ferrovie, porti) ed alle iniziative private, esse
infatti avevano giurisdizione sui “monumenti” ma non sulle cose mobili, i loro

1
Con questo termine viene comunemente indicato lo stato pre-unitario denominato uicialmente Regno
di Sardegna, che comprendeva le attuali regioni Sardegna, Piemonte, Valle d’Aosta, Liguria (dal 1815),
Provenza e Savoia (cedute alla Francia nel 1859 in cambio dell’aiuto militare fornito da Napoleone III
per sottrarre la Lombardia all’Austria). La Savoia è la regione d’origine della omonima dinastia che dopo
aver acquisito nel settecento il Piemonte/Regno di Sardegna ha promosso la riuniicazione dell’Italia
(1861), dove ha regnato ino al referendum che nel 1946 ha sancito il passaggio alla forma repubblicana.
212 • IPHAN

componenti non erano funzionari pubblici, bensì stimati personaggi nominati a


titolo onoriico e gratuito. Inoltre l’eicacia delle Commissioni diminuiva quanto
più le norme di riferimento diventavano di fatto inapplicabili nel nuovo contesto
giuridico-amministrativo.

A fronte di tanta “prudenza” sul piano della tutela, l’eicienza di matrice pie-
montese ebbe modo di dispiegarsi attraverso l’adozione di strumenti moderni ed
eicaci per il supporto alla pratica archeologica. Nell’ambito del Ministero per
la Pubblica Istruzione fu istituita la Direzione Generale per i Musei e gli Scavi
di Antichità, che prescriveva l’applicazione di accurate tecniche di scavo, incluso
il metodo stratigraico, e sosteneva la centralità dello scavo per la ricostruzione
storica. Il manifesto di programma del 1874 del Ministro per la Pubblica Istru-
zione Bonghi recita testualmente: “... nessuna induzione può essere espressa con
sicurezza, se lo scavo degli oggetti non e’ eseguito con metodo, e non lascia in un
documento autorevole la notizia del procedimento con cui e’ fatto, della qualità
degli oggetti che si son trovati riuniti insieme, e del modo preciso del loro collo-
camento...”. L’anno successivo, il 1875, la Direzione generale per gli scavi di anti-
chità fondò il periodico “Notizie degli Scavi”, atto a raccogliere i rapporti annuali
di tutti gli scavi archeologici condotti nel paese. Sul piano giuridico e legislativo
l’attività fu quasi nulla, riducendosi ad una sola circolare, la n. 1060 dell’11 mar-
zo 1865, che raccomandava ai prefetti di trasmettere agli appaltatori le “Istruzioni
per gli scavi di Antichità, tese ad evitare il pericolo che l’avarizia e l’ignoranza dei
conduttori di lavori non riesca a detrimento del patrimonio scientiico” (Guzzo
1993). Insomma, più che norme si produssero consigli e auspici, peraltro ottimi e
condivisibili anche oggi. Nei fatti concreti, tuttavia, se da un lato, con un approc-
cio decisamente moderno, si riconosce al patrimonio culturale anche un valore
“scientiico”, dall’altra parte, l’azione di tutela ridotta a “istruzione” farebbe oggi
sorridere, e forse faceva sorridere anche allora.

L’annessione di Roma al territorio nazionale e la corrente di esportazione di og-


getti storico-artistici che ne seguì, suscitò intenso dibattito, che tuttavia non ebbe
esiti legislativi, né con i governi di destra, né di sinistra. Si deve attendere il nuovo
secolo e la stagione delle riforme promossa dai governi di Giovanni Giolitti, e
precisamente il 1902, quando la legge n. 185 sostituisce le Commissioni di antica
memoria con Soprintendenze per le antichità e le belle arti, che sono uici del
Ministero della Pubblica Istruzione, dirette da un funzionario statale. Segue, dopo
pochi anni , nel 1909, una legge innovativa, n. 364, la quale stabilisce che le cose
da chiunque ritrovate, mobili e immobili, di interesse archeologico, paletnologico
e paleontologico appartengono allo Stato, anche se rinvenute in terreni privati. La
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 213

prevalenza dell’interesse pubblico su quello privato in materia di “cose”2 (mobili e


immobili) di interesse culturale è deinitivamente sancita dalla legge n. 1089 del
1.6.1939 Tutela delle cose di interesse artistico e storico. Essa ribadisce la proprietà
statale dei ritrovamenti, tanto che la loro distrazione o danneggiamento costituisce
furto ai danni dello Stato, perciò reato penale, e limita la disponibilità privata di
tutto ciò che il Soprintendente dichiara di interesse archeologico, artistico, storico
o monumentale. Nessun oggetto può essere commerciato e tanto meno esportato
senza autorizzazione e nessuna modiica può venire apportata agli immobili senza
che il progetto sia approvato dal Soprintendente. In caso di vendita lo Stato ha il
diritto di prelazione. I beni di enti pubblici sono alienabili solo con l’autorizzazio-
ne del Soprintendente, con l’esclusione dei beni di interesse archeologico che non
sono in alcun modo alienabili e fanno parte del Demanio pubblico indisponibi-
le. In ogni regione viene istituita una Soprintendenza Archeologica, una Artistica
ed una ai Monumenti. I soprintendenti archeologi hanno il potere di sospendere
qualsiasi lavoro rinvenisse più o meno casualmente dei reperti, avvalendosi, se ne-
cessario, della polizia militare (i Carabinieri). L’esecuzione di scavi archeologici è
riservata al Ministero, il quale, sentito il parere della Soprintendenza competente
per territorio, può, caso per caso, concederne l’esecuzione anche a terzi. Anche in
questo caso le cose rinvenute appartengono allo stato. Il soprintendente ha il po-
tere di occupare i terreni privati in cui si intendono efettuare ricerche. I concetti
delle norme pre-unitarie sono dunque sviluppati al massimo: si stabilisce inequivo-
cabilmente che in Italia l’archeologia è afare di Stato. Nell’ambito del Ministero
della pubblica istruzione venne costituita una Direzione Generale per le antichità
e belle arti, dotata di larga autonomia, con funzione di direzione e coordinamento
di tutte le attività centrale e di quelle periferiche delle soprintendenze.
Indipendentemente dalla sua matrice fascista, la legge 1089 è stata da molte parti
considerata un’ottima legge; essa non venne abolita dopo la guerra e anzi costitu-
isce tuttora l’ossatura del “Codice dei beni culturali e del paesaggio” promulgato
il 22 gennaio 2004 (Dlgs. 42). D’altra parte la Costituzione della Repubblica,
redatta nel 1946 con l’importante contributo di intellettuali di area socialista e
comunista, recita all’articolo 9: “La Repubblica tutela il paesaggio ed il patrimo-
nio artistico e storico della Nazione”. Caso forse unico al mondo, questo articolo
fa parte dei “principi fondamentali” su cui poggia lo Stato. Dunque, il criterio
della pubblica utilità del patrimonio storico, archeologico ed artistico è entrato a
pieno titolo nell’ordinamento del nuovo stato democratico, superando indenne i
traumi di una guerra perduta e devastante, di una guerra civile, della caduta della

2
Il termine adottato è volutamente generico, per consentire ampia discrezionalità applicativa alle So-
printendenze.
214 • IPHAN

monarchia. Successivamente, sia pure con maggiori diicoltà, ha anche superato


il boom economico e le speculazioni edilizie degli anni 1960.
Sembra evidente che il sentimento che riconosce nel patrimonio storico, archeo-
logico ed artistico la priorità dell’interesse pubblico è radicato e largamente con-
diviso nella società italiana. Né si può pensare che esso derivi dalla propaganda
nazionalistica del ventennio fascista, ormai lontana e che d’altronde appoggiava
la sua retorica sul mito di Roma imperiale, ma aveva poca assonanza con l’Italia
dei venti dialetti, dei mille comuni e delle città-stato rinascimentali. Si tratta di
qualcosa di più profondo. Secondo Salvatore Settis (2002) esiste una difusa e
spontanea attitudine a considerare pubblico il bene culturale, discendente dalla
struttura stessa del patrimonio culturale italiano e dalla storia della sua forma-
zione. Esso, come sappiamo, è grandissimo e difuso. Le città italiane, in dal
Medioevo fecero dei loro monumenti un motivo di orgoglio e di identità civica;
il Rinascimento ed il Risorgimento rivalutarono i resti antichi ed i loro ruderi. I
musei, soprattutto quelli archeologici, spesso non brillano per la modernità delle
tecniche di comunicazione, e sono anche poco accessibili, ma sono capillarmente
legati al territorio, raccolgono la sua memoria materiale globale, presentano la
produzione alta ma anche quella bassa, legata alla vita quotidiana delle persone
normali. Se si prescinde dagli errori edilizi e industriali degli anni ’60 e 70 del
novecento, il cittadino italiano vive nella contiguità e continuità con monumenti,
palazzi, centri storici, oggetti, opere d’arte, e con il contesto storico e territoriale
della loro origine e del loro divenire. Più o meno inconsciamente identiica il loro
contesto come proprio contesto ed è perciò spontaneamente portato a considerare
tutto l’insieme imprescindibile dalla collettività di cui fa parte; l’eventuale valore
venale dei “beni” è del tutto secondario. Si può aggiungere che la consapevolezza
della scarsa eicienza nella gestione di questo grande patrimonio culturale viene
accettata con fatalistica ironia quale inevitabile corollario della più generalizzata
(e talora più grave) ineicienza del settore pubblico. Così, in parziale contrad-
dizione con quanto prima esposto, non ci si stupisce se il patrimonio culturale
non viene gestito e protetto come auspicato e come le norme prescrivono. Ad
una analisi oggettiva, le ragioni della incompiuta eicacia della legge vanno al di
là della tradizionale scarsa eicienza della amministrazione pubblica, e sono sia
esterne che interne alla legge essa. Fra quelle esterne la più nota è il fenomeno
dei “tombaroli”, cioè gli scavi condotti di frodo per alimentare il mercato nero
di oggetti archeologici, in gran parte destinato all’estero, che negli anni ’50 e ’60
costituivano una non trascurabile fonte di redito presso alcuni villaggi di zone
depresse del sud e del centro. Considerazioni qualunquiste quali: “il patrimonio
culturale è così vasto che non è pensabile riuscire a proteggerlo, gestirlo e valoriz-
zarlo in modo adeguato” non del tutto estranee ad alcune magistrature periferiche
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 215

e settori della polizia, favorivano una sorta di tolleranza che riduceva la capacità
repressiva delle soprintendenze.
Fra le cause interne va ricordato che nonostante le suggestioni futuriste e la pro-
paganda fascista, l’Italia degli anni ’30 era in realtà un paese rurale, poco indu-
strializzato, dove le trasformazioni del territorio erano scarse e lente. Questo spie-
ga uno dei limiti della legge del 1939, che prevede due soli modi di ritrovamento:
• quelli prodotti da ricerche pianiicate condotte dal Ministero e da terzi su con-
cessione
• quelli fortuiti.
La legge prescrive l’obbligo di informare il soprintendente in caso di ritrovamenti
fortuiti. Nel caso che il ritrovamento avvenga nel corso di costruzioni edili, il so-
printendente ha il potere di sospendere i lavori e di annullare il progetto, ma non
ha a disposizione di risorse per compensare il mancato guadagno dell’impren-
ditore. E’ previsto soltanto il compenso per il “mancato raccolto” e per l’aitto
del terreno (a tarife uiciali), nel caso in cui il soprintendente si sostituisca al
proprietario o all’imprenditore per veriicare l’interesse dei ritrovamenti. E’ ovvio
che quanto più gli interessi economici in gioco sono elevati, tanto più, in un pa-
ese culturalmente predisposto a tollerare i “furbi”, lo stimolo a non informare il
soprintendente dei ritrovamenti fortuiti può prevalere sugli obblighi civici.
Così durante il boom economico degli anni 1960-70, il rapido ammodernamen-
to di infrastrutture pubbliche ed il grande sviluppo edilizio residenziale in città
e nelle zone turistiche ha comportato gravi danni al paesaggio e al patrimonio
archeologico.
Le proteste di larga parte della società italiana hanno indotto l’amministrazione
statale a cercare sia pur tardivi rimedi, attraverso il rinforzo delle potenzialità
operative dell’amministrazione stessa. Nel 1975 venne costituito il Ministero per
i beni e le attività culturali, non senza un acceso dibattito; molti (col senno di
poi probabilmente a ragione) ritenevano che le rigidità di un ministero fossero
inadatte alla gestione di un patrimonio culturale vasto quanto complesso ed ete-
rogeneo; avrebbero preferito la forma più snella di un’agenzia, sul modello dell’
English Heritage. In assenza di un adeguamento della normativa, la costituzione
di una nuova struttura, che incamerò dal Ministero della pubblica istruzione la ex
Direzione generale per le antichità e belle arti, si risolse soprattutto in un incre-
mento degli organici. Con le assunzioni del 1980 il numero di archeologi, storici
dell’arte e architetti fu più che raddoppiato rispetto alle due/tre unità che prima
costituivano la forza media di una soprintendenza. Tuttavia ragioni politiche e
216 • IPHAN

sindacali aumentarono molto di più il personale amministrativo centrale del Mi-


nistero e soprattutto i custodi, destinati a sorvegliare i musei e le aree archeologi-
che. Poiché i requisiti richiesti a questi ultimi erano il possesso del porto d’armi
e della licenza di scuola elementare, si produsse il paradosso per cui il Ministero
per i beni culturali divenne, fra tutti i Ministeri, quello con il più basso grado di
istruzione medio del proprio personale.
Se un miglioramento della capacità operativa sul terreno ci fu, essa dipese so-
prattutto dall’entusiasmo dei neo-assunti archeologi, architetti e storici dell’ar-
te, che dovettero peraltro scontrarsi con una struttura ministeriale sempre più
rigida (e costosa) e soprattutto con il mancato aggiornamento della normativa.
Nel settore dell’archeologia, ad esempio, si riuscì ad avere maggiore contezza dei
“ritrovamenti fortuiti”, ma era chiaro a molti che si era perduta l’occasione per
introdurre il principio dell’archeologia preventiva, ormai presente da tempo pres-
so molti stati industrializzati, dove le trasformazioni del territorio, per la rapidità
con cui avvengono non ammettono fermi e cambiamenti radicali di progetto in
corso d’opera, pena una lievitazione dei costi che va a danno della collettività. La
contraddizione tra creazione del nuovo Ministero e non creazione di una nuova
normativa per regolarne al meglio l’azione, oltre che a motivi di opportunità
politica, è legata alla circostanza che, a diferenza di quanto avveniva nell’800
(esempio massimo il manifesto Bonghi del 1874), la normativa per i beni cultura-
li non è stata più formulata in funzione di istanze scientiiche, bensì per issare in
norme prassi ormai consolidate. Nel campo dell’archeologia la spinta innovativa
si tradusse in tentativi isolati e spesso estemporanei di introdurre comunque, in
qualche modo, forme di archeologia preventiva, facendo presente, ove possibile,
all’imprenditore, che un eventuale fermo dei lavori avrebbe comportato per lui
molte maggiori spese e impedimenti che non il modesto investimento iniziale
per una ricognizione preventiva del “rischio” archeologico insito nell’opera che si
andava a costruire.
L’origine dell’archeologia preventiva in Italia
La prima timida comparsa del concetto di prevenzione si trova nella circolare
3763/6 promossa il 24 giugno 1982 dal primo ministro Bettino Craxi. Essa ri-
chiamava l’attenzione dei responsabili delle grandi opere pubbliche sulla necessità
di ottenere l’approvazione del Ministero per i beni e le attività culturali prima di
deinire i progetti. Ben presto si disputò se la circolare andasse o no applicata solo
ai casi in cui le opere avrebbero interferito con siti già noti e formalmente dichia-
rati di interesse culturale (“vincolati”). Ciononostante, alcune Soprintendenze
riuscirono ad impostare validi interventi, primo fra tutti quello sulla linea 3 della
metropolitana di Milano, che produsse importanti ritrovamenti, alcuni dei quali
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 217

conservati in posto e tuttora fruibili dagli utenti, incidendo soltanto per lo 0,3%
sul costo dell’intera opera (Caporusso 1991).
Un passo avanti data 1990, quando il parlamento italiano recepì la direttiva eu-
ropea 85/337/EEC del 27 giugno 1985, e promulgò la legge 241, “nuove norme
in materia di procedimento amministrativo e di diritto di accesso ai documenti
amministrativi”, la quale prevede che in caso di grandi opere pubbliche, ma anche
private che interferiscano con interessi pubblici, il rilascio dei permessi necessari,
fra cui quello riguardante la valutazione di impatto ambientale (legge 349, 8
luglio 1986, che istituisce il Ministero per l’ambiente), avvenga nell’ambito di
una “Conferenza dei servizi” che discute e approva il progetto, alla quale possono
partecipare tutti i soggetti portatori di un interesse pubblico connesso alla opera
progettata. Ecco allora che, laddove in possesso della necessaria informazione, la
Soprintendenza per i beni archeologici può partecipare alla conferenza dei servizi
dedicata ad un’opera da realizzarsi in una zona archeologicamente ignota, dove
non esistono siti dichiarati di interesse, e può chiedere che nel costo dell’opera
vengano previste indagini archeologiche preventive. Il potere contrattuale non è
elevato, perché in caso di disaccordo il parere negativo del Soprintendente ha for-
za solo se l’opera incide su beni dichiarati e, anche laddove il parere negativo può
venire espresso, esso non costituisce veto, limitandosi a produrre l’innalzamento
del livello di decisione, che secondo dimensioni e casistica competerà alla giunta
regionale od al consiglio dei ministri.
Prassi e normativa attuale
Una importante innovazione della legislazione in materia di cultura è intervenuta
nel 2004, con l’adozione del “Codice dei beni culturali e del paesaggio” (Dlgs.
22.01.2004, n.42) che include il paesaggio (compreso quello archeologico) fra
i beni costituenti il patrimonio culturale. In materia di archeologia il Codice
recepisce sostanzialmente la legge del 1939; la tutela archeologica continua ad
essere competenza di Stato, che ha giurisdizione esclusiva in tema di conduzione
di scavi, di dichiarazione dell’interesse, di proprietà dei beni rinvenuti, che per-
mangono inalienabili. Gli enti pubblici territoriali (Regioni, Province, Comuni)
ed i privati, sono chiamati, a vario titolo, a collaborare alla valorizzazione ed alla
gestione del patrimonio. Per quanto ci riguarda, nell’articolo 28 misure cautelari e
preventive, compare per la prima volta nelle norme di legge il richiamo all’arche-
ologia preventiva. Recita infatti il comma 4 di tale articolo che “In caso di opere
pubbliche ricadenti in aree di interesse archeologico, anche se l’interesse non è
stato formalmente dichiarato, il soprintendente può chiedere l’esecuzione di sag-
gi archeologici preventivi....a spese del committente”. L’archeologia preventiva è
inalmente introdotta, anche se solo per le opere pubbliche.
218 • IPHAN

Successivamente, il Codice degli appalti pubblici (Dlgs. n. 163 del 12 aprile


2006, artt 95 e 96) deinisce le modalità operative di attuazione. Sono previsti tre
principali stadi operativi.

Il primo si chiama “veriica preventiva dell’interesse archeologico in sede di pro-


getto preliminare” (art 95) e si attua appunto durante la redazione del progetto
preliminare. La norma prescrive la raccolta di documentazione analitica, l’ese-
cuzione di indagini geologiche e geomorfologiche, di ricognizioni di archivio e
bibliograiche, l’osservazione dei terreni e, ove opportuno, la fotointerpretazione.
Il tutto al ine di produrre elementi utili alla valutazione del potenziale interesse
archeologico della zona sede della prevista opera pubblica. Sono abilitati a rac-
cogliere la documentazione i dipartimenti archeologici universitari o individui
in possesso di laurea e specializzazione o dottorato di ricerca in archeologia. E’
competenza del Ministero per i beni e le attività culturali stilare e gestire l’elenco
dei soggetti abilitati a svolgere l’attività archeologica preventiva.

La documentazione raccolta viene trasmessa al soprintendente archeologo com-


petente per territorio, il quale può richiedere motivate integrazioni della docu-
mentazione, e, sulla base anche dei dati in possesso della Soprintendenza, valuta
l’interesse archeologico dell’area in questione. Se la dichiara non di interesse il
procedimento di veriica è considerato estinto, fatta salva la possibilità da parte
della Soprintendenza di intervenire comunque in caso di rinvenimenti fortuiti
non previsti dalla veriica. Se invece il Soprintendente ravvisa l’esistenza di un
motivato interesse archeologico, attiva la “procedura di veriica preventiva dell’in-
teresse archeologico” (art. 96), che si articola in due fasi:

a) la prima fase è ancora parte del progetto preliminare e consiste in:

- carotaggi;

- indagini geoisiche e geochimiche;

- saggi di scavo.

b) la seconda fase si attua in funzione dei risultati ottenuti, è parte della proget-
tazione deinitiva dell’opera e consiste, ove necessario, nella esecuzione di scavi
archeologici in estensione.

Sulla base dei risultati che vengono ottenuti, il soprintendente dichiara che:

1) lo scavo stratigraico ha asportato quanto di interesse archeologico, esaurendo


così l’esigenza di tutela isica in situ;
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 219

oppure:

2) quanto rinvenuto e dettagliatamente documentato può venire reinterrato, op-


pure smontato e convenientemente rimontato/musealizzato in altra più oppor-
tuna sede;

oppure ancora:

3) la tutela di quanto rinvenuto non può esprimersi altro che con la conservazione
in situ. In questo caso il soprintendente dichiara l’importante interesse dell’area, e
l’opera prevista verrà realizzata altrove o verrà realizzata in modo compatibile con
l’interesse archeologico, mediante rimodulazione del progetto.

Tutte le attività sul terreno previste dall’art. 96 sono dirette dalla soprintendenza
territorialmente competente, mentre le spese sono a carico del committente.

Opportunamente, la tutela archeologica preventiva non si esaurisce con lo scavo.


Il comma 7 dell’art.96 prevede infatti che, sempre a carico del committente e sot-
to la direzione dei competenti uici del Ministero, i risultati dello scavo vengano
adeguatamente divulgati, individuando caso per caso le forme più confacenti,
che vanno dalla redazione di pubblicazioni, a comunicazioni informatizzate, a
mostre, a forme di musealizzazione.

Si tratta a prima vista di una norma eicace, che ribaltando la ilosoia di produ-
zione normativa invalsa nei decenni è questa volta fondata su motivazioni tecni-
co-scientiiche. Dispiace un pò, ed è negativamente signiicativo, che sia irmata
dal ministro per le infrastrutture e non dal ministro per i beni culturali. Pour
essendo pubblicata nel 2006, la norma non è ancora pienamente attiva, perché
molte soprintendenze attendono la pubblicazione dell’elenco dei soggetti abilitati
ad operare previsto dal comma 2 dell’art.95, per tema che imponendo quanto
previsto in assenza di uno degli strumenti attuativi, potrebbero incorrere in con-
testazioni giuridiche di abuso di potere o altro.

Il Ministero per i beni e le attività culturali, responsabile dell’organizzazione


dell’elenco, da par suo, non è stato particolarmente veloce. Il “Regolamento con-
cernente la disciplina dei criteri per la tutela e il funzionamento dell’elenco pre-
visto dall’articolo 95, comma 2, del decreto legislativo 12 aprile 2006, n. 163”,
è stato formalizzato con Decreto ministeriale n. 60 soltanto il 20 marzo 2009,
pubblicato sulla Gazzetta Uiciale n. 136 del 15 giugno 2009 e pertanto entrato
in vigore il 30 giugno 2009. Al momento della stesura delle presenti note (febbra-
io 2010), l’elenco ancora non esiste.
220 • IPHAN

Quando la normativa diventerà pienamente attiva, essa opererà solo nell’ambito


dei lavori pubblici. Quelli privati rimangono trattati, in virtù della loro dimen-
sione e complessità, ai sensi della legge 241/1990 (conferenza dei servizi) o del
“ritrovamento fortuito” di lontana memoria (1939). Si spera che il Ministero per
i beni e le attività culturali vorrà e potrà colmare questa lacuna.
Nel contesto di quanto descritto, in particolare per la mancanza di una normativa
organica, l’attività di archeologia preventiva si è svolta in Italia in modo disomo-
geneo. Non mancano ritrovamenti eccezionali, quali i sedici relitti, in parte interi,
di navi romane rinvenuti nel 1998 a San Rossore, presso Pisa (Aa. Vv. 2002;
Bottini 2004; Camilli et al 2006), villaggi, necropoli e paesaggi sepolti da cin-
que successive eruzioni del Vesuvio fra il Neolitico e l’Età del Bronzo (De Caro
2004), altri relitti di navi romane, rinvenuti in piazza del Municipio a Napoli, in
occasione degli scavi per una stazione della metropolitana. E ancora, rimanendo
in tema di stazioni di metropolitane, i rinvenimenti pluristratiicati presso la sta-
zione Brignole a Genova (Del Lucchese & Melli 2010), dove la rainatezza me-
todologica dell’indagine si è spinta ino al riconoscimento, primo in Italia, di resti
vegetali di Frassino di età neolitica attestanti la pratica della scalvatura (Arobba et
al. cds), consistente in una particolare gestione di latifoglie inalizzata al prelievo
di foraggio fogliare destinato all’alimentazione complementare dei bovini. Una
pratica ancora attestata sull’appennino ligure-emiliano ino a trent’anni fa. Brevi
rassegne di altri importanti siti salvati, valorizzati e oferti alla pubblica fruizione
si trovano in Guermandi 2001 e nel Bollettino di Archeologia 2004.
L’intervento di maggiore respiro si è svolto nei cantieri delle linee ferroviarie per
i Treni ad Alta Velocità (TAV). In questo caso la mancanza di una organica nor-
mativa di riferimento è stata in parte bilanciata dal fatto che l’esecutore dell’opera
pubblica è unico, che si è pertanto comportato in modo sostanzialmente omo-
geneo nei rapporti con la direzione generale alla antichità del Ministero e con le
varie soprintendenze coinvolte (una o più per ogni regione). L’archeologia pre-
ventiva TAV, a ianco di risultati eclatanti, ha prodotto una sorta di monitoraggio
lineare della potenzialità archeologica sulla direttiva Torino – Milano -Bologna-
Firenze-Roma-Napoli. Nel tratto Roma-Napoli sono stati individuati, scavati e
documentati 125 siti, molti dei quali sono in corso di pubblicazione e di divulga-
zione, che in qualche caso raggiunge la musealizzazione, e che solo in pochi casi
hanno costretto a cambiamenti del percorso inizialmente previsto. Il tutto per un
costo pari al 2% dell’importo dell’intera opera. Un costo indubbiamente alto,
bilanciato da una “produzione” culturale quantitativamente e qualitativamente
elevata, e dalla occasione di lavoro e di esperienza oferta a molti giovani laureati
in Conservazione dei beni culturali. In Emilia, i 142 km della linea hanno pro-
dotto 80 siti, dislocati cronologicamente fra l’ultimo pleniglaciale (24 ka BP) e
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 221

l’età moderna. Il successo culturale dell’intervento in questa regione è correlato al


fatto che, trovandosi ad operare prevalentemente in pianura, la TAV ha accettato,
nei casi di rinvenimenti rilevanti, di estendere l’indagine al di fuori del corridoio
del tracciato ferroviario, per indagare il sito in tutta la sua estensione (Bernabó
Brea & Valloni 2008). Nei 70 km fra Torino e Novara solo 4 dei 119 ritrovamenti
hanno richiesto un ampio scavo in estensione, con una spesa di circa 500.000
Euro caduno (Gambari et al. 2001)
Una delle innovazioni positive della nuova norma che sta per andare a regime è
quella di stabilire gli standard qualitativi di chi è abilitato ad operare. Gli attori
dell’archeologia preventiva saranno infatti, presumibilmente, le università nei casi
delle opere maggiori, mentre in quelle minori potranno operare singoli archeo-
logi a livello individuale, purché muniti di laurea e specializzazione universitaria
biennale o dottorato di ricerca. Ciò cambia la attuale situazione, che accetta ta-
lora interventi di bassa qualità, svolti al minor costo, mentre l’ Università risulta
spesso ridotta a svolgere ruoli marginali. Così, nel quadro tutto sommato positivo
degli interventi TAV sopra citati, nella tratta Roma-Napoli solo due siti sono stati
indagati da dipartimenti universitari (Carandini 2004); mentre sul percorso di un
oleodotto in Basilicata, svolto da una ditta privata che aveva vinto il bando al mi-
nor prezzo, è accaduto che un’area sia stata classiicata “a basso rischio”, ignoran-
do che due tesi di laurea descrivevano l’esistenza di alcuni siti (Sommella 2001).
Auspici
La soluzione del nodo normativo, alla quale mancano solo alcuni dettagli, prov-
vederà un modello operativo standardizzato in caso di opere pubbliche, che si
auspica venga quanto prima esteso, con i dovuti aggiustamenti, alle opere private.
Un altro tema che è imprescindibile afrontare è l’apprestamento di un sistema
informativo nazionale dell’archeologia preventiva. L’adozione di una normativa
uniicata, il fatto che la direzione lavori sia esclusivamente aidata alle Soprinten-
denze, istituti dipendenti del Ministero per i beni e le attività culturali3, ricondu-
ce la questione ad una semplice decisione amministrativa, più che tecnica.

3
Beninteso con l’esclusione dell’autonomia riconosciuta alla Sicilia ed alle province di Trento e Bolzano.
222 • IPHAN

Bibliograia
Aa.Vv. 2002. he ancient Ships of Pisa. A European Laboratory for Research and
Preservation/Le navi antichedi Pisa. Un laboratorio europeo di ricerca e di va-
lorizzazione, Bruxelles

Arobba, D., Del Lucchese Angiolo, Melli. P., Caramiello, R. c.d.s., Evidenze di
scalvatura in rami di frassino del Neolitico medio a Genova. In: Bernabò
Brea, M., Maggi, R., Manfredini, A. (a cura di) Il pieno sviluppo del Neolitico
in Italia, Atti del Convegno di Finale 8 -10 giugno 2009

Bernabò Brea, M. e Valloni, R. (a cura di). 2008. Archeologia da alta velocità


in Emilia, Quaderni di Archeologia dell’Emilia romagna, 22, All’Insegna del
Giglio, Firenze 2008, pp.272

Bollettino di Archeologia, 53-54, MCMXCVIII (2004). Ministero per i Beni e le


Attività Culturali, Archeologia: rischio o valore aggiunto? Giornata di studi,
Roma 2001

Bottini, A. 2004. Il caso della Toscana, , in Archeologia: rischio o valore aggiunto? Gior-
nata di studi, Roma 2001, Bollettino di Archeologia, 53-54, MCMXCVIII: 13-18.

Braudel, F. 1979. Civilisation Matérielle, Economie et Capitalisme, XVe-XVIIIe Ar-


mand Colin, Paris.

Braudel, F., 1996, Autour de la Méditerranée, de Fallois, Paris.

Cambi, F. & Terranato, N. 1998, Introduzione all’archeologia dei paesaggi, Caroc-


ci, Roma.

Camilli A., De Laurenzi A., Setari E., Remotti E. (a cura di). 2006. ALKEDO.
Navi e commerci della Pisa romana, Catalogo della mostra, Cantiere delle
Navi Antiche di Pisa e Centro di Restauro del Legno Bagnato, Pisa.

Caporusso, D. (ed.) 1991. Scavi MM3, Milano.

Carandini, A. 2004. Tavola Rotonda. In: “Archeologia: rischio o valore aggiunto?”


Giornata di studi, Roma 2001, Bollettino di Archeologia, 53-54, MCMX-
CVIII: 72-73.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 223

Carcopino, J. 1939. La vie quotidienne a rome a l’apogée de l’Empire, Hacette,


Paris.

De Caro, S. 2004. L’esperienza campana, in Archeologia: rischio o valore ag-


giunto? Giornata di studi, Roma 2001, Bollettino di Archeologia, 53-54,
MCMXCVIII: 3-6.

Del Lucchese, A. & Melli P. (a cura di). 2010. Archeologia metropolitana, De


Ferrari, Genova, pp. 48

De Marinis Giuliano & Malnati Luigi 2004, Interventi archeologici a carico di ter-
zi, , in Archeologia: rischio o valore aggiunto? Giornata di studi, Roma 2001,
Bollettino di Archeologia, 53-54, MCMXCVIII: 93-94.

Gambari, F. Maria, Spagnolo Garzoli G., Barello, F. & Ambrosini, C. 2004.


La valutazione del rischio archeologico nella progettazione preliminare della
linea ferroviaria A.V. Torino-Milano, In: Archeologia: rischio o valore ag-
giunto? Giornata di studi, Roma 2001, Bollettino di Archeologia, 53-54,
MCMXCVIII: 110-116.

Gatto, L. 1999. Storia di Roma nel Medioevo, Roma, Newton & Compton.

Guermandi, M. P. (a cura di). s.d. Rischio Archaeologico, All’Insegna del Giglio,


Firenze

Guzzo, P. G. 1993. Antico e Archeologia, Nuova Alfa Editoriale, Bologna.

Guzzo, P. G. 2001. Impatto archeologico-territoriale in Italia: norme e compor-


tamenti, In: Guermandi M. P. (a cura di). Rischio Archaeologico, All’Insegna
del Giglio, Firenze: 107-112.

Guzzo, P. G. 2004. Tra tutela e ricerca, In: Pelagatti P. & Spadea G., (a cura di).
“Dalle Arene Candide a Lipari. Scritti in onore di Luigi Bernabò Brea”,
Atti del Convegno di Genova 3-5 febbraio 2001, Bollettino d’arte, volume
speciale, pp. 59-60.

Settis, S. 2002. Italia S.p.A., Einaudi, Torino.

Settis, S. 2003. “Il bello dei Borboni”, In: Sole 24 ore 19/1/2003.
224 • IPHAN

Sommella, P. 2001, comment to Innocenzo Titone, Petrolio in Basilicata: un’oc-


casione “archeologica”?, In: Guermandi, M. P. (a cura di), Rischio Archaeolo-
gico, All’Insegna del Giglio, Firenze: 71-76.

Tocco, G. 2004.Tavola Rotonda. In: Archeologia: rischio o valore aggiunto? Gior-


nata di studi, Roma 2001, Bollettino di Archeologia, 53-54, MCMXCVIII:
74-77.

Trucchi, D. 2004. La valutazione di impatto archeologico nella realizzazione di


opere pubbliche e private volte a modiicare il territorio. In: “Archeologia:
rischio o valore aggiunto?” Giornata di studi, Roma 2001, Bollettino di Ar-
cheologia, 53-54, MCMXCVIII: 19-24.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 225

Raphael, a abundância O Papa Leone X devia ter a mesma ideia dele,


porque em 1519 o incumbiu de planejar a
e a preguiça proteção de antiguidades. O programa de Ra-
Precocidade e Retardo fael antecipou em alguns séculos os critérios de
proteção que, de fato, previu a criação do que
na arqueologia preventiva hoje chamaríamos de um mapa arqueológico
na Itália da antiga Roma, um instrumento necessário
para controlar o desenvolvimento de normas
Uma bela história adequadas a cidade renascentista. Infelizmente
Como se sabe, o declínio político e econômico Raphael faleceu no ano seguinte, com apenas
de Roma e o subsequente colapso do Império trinta e sete anos, e um ano mais tarde faleceu
se reletiram na sua demograia , que caiu de o Papa Leone X. O projeto era brilhante e per-
meio milhão de habitantes e 50 mil edifícios, maneceu como proposta, até meados do século
nos II e III séculos d.C. ( Carcopino 1939) para XVII, quando o grande interesse por antiguida-
menos de cem mil na cidade medieval (Gatto des estimulado pela descoberta de Herculano o
1999). O corolário do fenômeno da atividade trouxe à tona a im de evitar a dispersão das an-
urbana em decadência foi principalmente o de tiguidades por causa dos colecionadores, para
manutenção, insuiciente por seus custos proi- impedir a destruição de relíquias e sua retirada
bitivos. Isso signiica que, eliminando o saque do contexto ao mesmo tempo que consolidava
e as várias destruições ocorridas, os (muitos) a Arqueologia como uma disciplina histórica.
monumentos sobreviventes, edifícios públicos, Em 1755, o rei Carlos VII de Nápoles faz uma
palácios, templos e instalações no caput mundi advertência : “le Province, onde questo Regno
eram apenas utilizados para o fornecimento de di Napoli è composto, hanno in ogni tempo
material a ser reciclado em novos desenvolvi- somministrato in grandissima copia de’ rari
mentos. As ilustrações de viajantes documenta- monumenti d’antichità, di statue, di tavole, di
ram o estado de abandono de antigas ruínas, medaglie, di vasi, e d’istrumenti o per sacriicj, o
corroídas pelo tempo, invadidas pela vegetação, per sepolcri, o per altri usi della vita, riscontrava
mas ainda muito sólidas e legíveis (Cambi & che niuna cura e diligenza è stata per l’addietro
Terrenato 1998). O retorno dos papas de seu usata in raccogliere e custodire e che tutto ciò
exílio em Avignon, no inal do século XIV, foi che di più pregevole è stato dissotterrato, s’è dal
a primeira premissa do Renascimento roma- Regno estratto” (extraído ), que proibe a expor-
no, que começou oicialmente com o Jubileu tação e a venda de antiguidades (em evidente
de 1423, convocado pelo Papa Martino V. Ele conlito de interesses, uma vez que ele mesmo
envolveu arquitetos como Brunelleschi e Leon era um grande colecionador), e aplicou penas
Battista Alberti, primeiros autores de uma sé- de prisão para Ignobili (cinco anos) e Nobili
rie de intervenções que se consolidou com os (três anos) (Settis 2003).
grandes artistas e arquitetos italianos, como Em Roma, o Papa Pio VII, talvez impressio-
Bernardo Rossellino em Masaccio, Beato Angé- nado com a pilhagem napoleônica de obras de
lico, Piero della Francesca, Botticelli, Perugino, arte, com um quirógrafo (documento escrito
Ghirlandaio e outros até Michelangelo. A ativi- de próprio punho) em 1802 proibiu a remoção
dade logo, se transformou talvez demasiado en- e a comercialização de antiguidades. Em 7 de
tusiástica quando, menos de um século depois, abril de 1820, o Cardeal Camerlengo e o Car-
Rafael foi chamado a Roma para trabalhar nos deal Bartolomeo Pacca (administrador da Igre-
afrescos do Palácio Apostólico, airmando que ja) desenvolveram o quirógrafo de Pio VII em
o Renascimento estava produzindo aos monu- um Édito (Lei), que estabeleceu as Comissões
mentos da Roma antiga mais danos do que os Centrais e Provinciais (precursores dos Superin-
haviam inligido os Bárbaros (Guzzo , 2001). tendentes atuais) com a tarefa de elaborar lista
226 • IPHAN

de antiguidades sagradas e profanas ... e de Belas- concordando que era do interesse público e
Artes. Eles tinham “un’assoluta giurisdizione, e do Estado reconhecer e proteger o patrimônio
vigilanza e presidenza” (competência, supervisão histórico, arqueológico e artístico, com o con-
e iscalização) a todos os monumentos e objetos sequente dever do legislador de promulgar nor-
de arte dos Estados do Papa, tanto os de pro- mas adequadas, mesmo à custa da propriedade
priedade de bens públicos quanto os privados privada, incluindo a dos nobres e cardeais.
(não excluídos por essas mesmas pelo menos Falta a adesão da República de Gênova, de an-
aqueles pertencentes aos Cardeais). Os achados tiga tradição mercantil que, não por acaso, era
aleatórios deviam ser notiicados à Comissão res- mais que um estado, mas uma empresa capi-
ponsável para a área, que teria avaliado a impor- talista (Braudel 1979, 1996), e cuja indepen-
tância, documentado o contexto da descoberta dência, entretanto, cessou em 1815, quando
e decidido o modo de conservação, levando em o Congresso de Viena decretou a anexação ao
conta a importância atribuída à descoberta (Gu- Piemonte. Carece o apoio, sobretudo deste úl-
zzo 2004). O Cardeal Pacca, um bom político, timo , que outrora foi um Estado politicamen-
é cuidadoso ao extrapolar a norma da urgência te forte, moderno e bem organizado, tanto que
napoleônica, evocando longa tradição de tutela, uniicou a Itália, em 1861.
que remonta aos antigos imperadores, e recor- Sobre o modelo piemontese, a Itália unida e
dando, em particular, uma deliberação do Se- liberal não produziu normas de proteção de
nado Romano de 1162, que protege a Coluna interesse público, de antiguidades e de obras
de Trajano onde “sia salvo l’onore pubblico della de arte; talvez por relutância às ações limitativas
città di Roma” (onde estava salva a honra pública da propriedade privada. Ele se limitou a deixar
da cidade de Roma) não ir para o sutil e impor vigorar onde havia as Comissões instituídas do
a pena de morte e conisco de bens por danos. precedente Estado absolutista, que logo teve
Em 1822 o rei Fernando IV, de Nápoles, proíbe de mostrar os limites à frente do impulso que
a demolição de edifícios da arquitetura nobre e a uniicação deu a nascente industrialização,
cria a Comissão de Antiguidades e Belas-Artes, construção de infraestruturas públicas (ferro-
responsável pela vigilância. Em 1839, estabe- vias, portos) e iniciativa privada, que na verda-
leceu “que todos os monumentos devem estar de tinham jurisdição sobre os “monumentos”,
bem conservados ... e não alterar e não desigu- mas não sobre o bem móvel, seus componen-
rar o antigo ... não realizar reformas sem auto- tes não eram os funcionários públicos, mas as
rização (da Comissão). ... Qualquer infração personalidades respeitadas e nomeadas a título
– mesmo que em propriedade privada – será honoriico e gratuito. Além disso, a eicácia das
considerada como violação dos monumen- Comissões diminuía quanto mais as normas de
tos públicos e punidos em conformidade...” referência se tornavam realmente inaplicáveis
Disposições semelhantes foram adotadas em no novo contexto jurídico e administrativo.
Lombardia e Veneto (1827), onde já em 1773 A frente de tanta “prudência” de proteção, a
o Conselho dos Dez da República Veneziana eiciência da matriz piemontesa foi capaz de
ordenou a elaboração de um catálogo de obras desdobrar, por meio da adoção de instrumen-
a ser protegidas . Um inventário exato é orde- tos modernos e eicazes de apoio à prática ar-
nado em 1819 para o Ducado de Parma da queológica.
Maria Luisa de Borbone. Posteriormente, as No âmbito do Ministério da Educação Pública
normas para a tutela de antiguidades também foi criada a Direção-Geral dos Museus e escava-
foram adotadas pelo Grão-Ducado da Toscana ções arqueológicas de antiguidades, que exigia
(1854) e pelo Ducado de Modena (1857) (Gu- a aplicação de acuradas técnicas de escavação,
zzo 1993). Apesar de diferentes por tipo, tama- incluindo o método estratigráico, e apoiava a
nho, dinastias, alianças, quase todos os Estados centralidade da escavação para a reconstrução
da Itália pré-uniicada pensavam desta forma, histórica.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 227

O manifesto do programa de 1874 do Ministro por superintendências de antiguidades e artes


da Educação Pública Bonghi diz textualmente: plásticas, que são os escritórios do Ministério
“... nessuna induzione può essere espressa con da Educação Pública, cheiada por um funcio-
sicurezza, se lo scavo degli oggetti non e’ esegui- nário do Estado.
to con metodo, e non lascia in un documento Alguns anos mais tarde, em 1909, uma lei ino-
autorevole la notizia del procedimento con cui vadora, n º 364, estabelecendo que qualquer
e’ fatto, della qualità degli oggetti che si son tro- pessoa que encontre objetos, móveis e imóveis
vati riuniti insieme, e del modo preciso del loro de interesse arqueológico, paleontológico e
collocamento...” (nenhuma inferência pode ser palaoetinológico deve entregá-los ao Estado,
expressa com certeza, se a escavação de objetos mesmo em terrenos privados. A prevalência
não for feita metodicamente, e não deixa regis- do público sobre o setor privado de “bens” (2)
trada em um documento oicial as informações (móveis e imóveis) de interesse cultural está de-
do procedimento da escavação, da qualidade initivamente consagrada na Lei nº1089, de 1º
dos objetos que se encontram agrupados, e do de junho de 1939:
modo preciso desse posicionamento). No ano
seguinte, 1875, a Direção-Geral de escavações Proteção dos bens de interesse artístico
arqueológicas e de antiguidades fundou a revis- e histórico.
ta Notizie degli Scavi, apta a recolher os relató- Essa lei reairma a propriedade estatal das
rios anuais de todas as pesquisas no país. descobertas tanto que a subtração ou o dano
Sob o plano jurídico e legislativo a atividade constituem furto contra o Estado, porque o
foi quase nula, reduzindo a uma única circular ato penal restringe a disponibilidade privada de
de número 1060 de 11 de março de 1865, que tudo que o superintendente declara de interesse
recomendava aos prefeitos transmitir aos em- arqueológico, artístico, histórico ou monumen-
preiteiros as “Instruções para a escavação de tal. Nenhum objeto pode ser negociado, muito
Antiguidades , com intenção de evitar o peri- menos exportado sem autorização e nenhuma
go da ganância e a ignorância dos trabalhado- alteração pode ser feita no imóvel, sem que o
res em detrimento do patrimônio cientíico” projeto seja aprovado pelo Superintendente.
(Guzzo 1993). Em caso de venda o Estado tem a preferência
Em suma, mais que normas, se produziram de compra. Os bens dos entes públicos são
diretrizes e recomendações, compartilhadas alienáveis somente com a autorização do Supe-
ainda hoje. Na realidade, se por um lado com rintendente, com exceção daqueles de interesse
uma abordagem decididamente moderna se arqueológico que não podem ser de nenhuma
reconhece ao patrimônio também um valor forma alienados e pertencem ao domínio pú-
cientiico por outro lado a ação de proteção blico.
icou reduzida a “instruções” que hoje fariam Em cada região, se estabeleceu uma Superinten-
sorrir como provavelmente se veriicou naquela dência Arqueológica, uma Artística e uma de
época. Monumentos. Os superintendentes arqueólogos
A uniicação de Roma ao território nacional e têm o poder de suspender quaisquer obras no
a corrente exportação de objetos históricos e caso de descoberta fortuita, com, se necessário,
artísticos que se seguiu suscitaram um intenso ajuda dos policiais militares (carabinieri).
debate que, todavia, não teve resultados legisla- A execução de escavações arqueológicas é re-
tivos, nem com os governos de direita nem com servada ao Ministério, que, depois de ouvido e
os de esquerda. com o parecer do Superintendente responsável
Devem-se aguardar o novo século e o período pela área, poderá, em cada caso, permitir a reali-
de reformas promovidas pelos governos de Gio- zação desta também por terceiros. Novamente,
vanni Giolitti, em particular em 1902, quando os objetos encontrados pertencem ao Estado.
a Lei nº 185 substitui as Comissões passadas O superintendente tem o poder de fazer uso
228 • IPHAN

das propriedades privadas quando for realizar pontânea atitude de considerar público o bem
pesquisa. Os conceitos de regras da pré-uni- cultural, descendente da própria estrutura da
icação são então desenvolvidos ao máximo: herança cultural italiana e da história de sua
estabelecem inequivocamente que na Itália a formação. Isto, como se sabe, é muito grande e
arqueologia é tarefa do Estado. No âmbito do largamente difundido. As cidades italianas, des-
Ministério da Educação Pública foi criada uma de a Idade Média, izeram de seus monumen-
Direção-Geral de Antiguidades e Belas-Artes, tos motivo de orgulho e de identidade cívica, o
dotada de ampla autonomia, com a função de Renascimento e o Ressurgimento revalidaram
direção e coordenação de todas as atividades seus restos e ruínas antigas.
centrais e periféricas das Superintendências. Os museus, nomeadamente o arqueológico,
Independentemente de sua matriz fascista a Lei frequentemente não brilham pela modernida-
n.º 1.089 foi considerada ótima por muitos, de das técnicas de comunicação, sendo pouco
não sendo abolida após a guerra e certamente acessíveis; mas são capilarmente ligados ao
ainda é a espinha dorsal do Código de Bem Cul- território, congregam sua memória material
tural e Paisagem , promulgado em 22 de janeiro global, expõe produção de qualidade, mas tam-
de 2004 (Decreto Lei n.º 42). bém a ordinária, ligadas à vida cotidiana das
Por outro lado, a Constituição da República, pessoas normais.
criada em 1946, com importante contribuição Prescindindo-se dos erros de ediicação imo-
dos intelectuais das áreas socialistas e comunis- biliária nas décadas de 60 e 70 do século XX,
tas dispõe em seu artigo 9º: “A República tutela o cidadão italiano vive em proximidade e em
a paisagem e o patrimônio artístico e histórico continuidade com monumentos, palácios, cen-
da Nação”. Caso talvez único no mundo, este tros históricos, objetos, obras de arte e com o
artigo faz parte dos “princípios fundamentais” contexto histórico e territorial de suas origens
que sustentam o conceito de Estado. e de seu destino.
Portanto, o critério da utilidade pública do De forma inconsciente identiica o contexto de-
patrimônio histórico, arqueológico e artístico les com o seu próprio e por isso é naturalmente
entrou plenamente no ordenamento do novo levado a considerar o conjunto essencialmente
Estado democrático, e superou sem danos os imprescindível a comunidade a que pertence; o
traumas de uma guerra perdida e devastadora, eventual valor venal dos bens é completamente
de uma guerra civil a da queda da monarquia. secundário.
Sucessivamente, embora com maior diiculda- Você pode acrescentar essa sabedoria a uma
de, também superou o boom econômico e a es- insuiciente capacidade de gestão deste grande
peculação imobiliária dos anos 1960. patrimônio cultural aceito com ironia fatalista,
É evidente que o sentimento reconhecendo o quase como um corolário inevitável (e às vezes
patrimônio histórico, arqueológico e artístico mais grave) da mais generalizada ineiciência do
como prioridade de interesse público é enraiza- setor público.
do e amplamente compartilhado na sociedade Assim, em contradição parcial com o expos-
italiana. to pela primeira vez, não nos surpreende se o
Não se pode pensar que isso é consequência da patrimônio cultural não for gerido e protegido
propaganda nacionalista do vinteno fascista, como almejado e como as normas preceituam.
ora distante e que por outro lado na sua retórica Para uma análise objetiva, os motivos para a ei-
se apoiava no mito de Roma imperial, mas que cácia da lei vão além da tradicional ineiciência
teve pouca ressonância com a Itália dos vinte da administração pública, os problemas concei-
dialetos, dos mil municípios e de C idade-Esta- tuais dela são tanto internos quanto externos.
do do Renascimento. Das causas externas, a mais frequente é o fe-
Trata-se de algo mais profundo. De acordo com nômeno dos “assaltantes” de túmulos, a esca-
Salvatore Settis (2002), existe uma difusa e es- vação conduzida de maneira fraudulenta pode
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 229

alimentar o mercado negro com objetos arque- edifícios residenciais em cidades e em áreas tu-
ológicos, sobretudo para o estrangeiro, que nos rísticas, resultou em sérios danos à paisagem e
anos 50 e 60 constituíram importante fonte de ao patrimônio arqueológico.
renda em proximidade de algumas aldeias em Os protestos de grande parte da sociedade ita-
zonas deprimidas do sul e centro. liana induziram a administração estatal a buscar
Algumas considerações: a “herança cul- soluções, embora tardiamente, pelo reforço da
tural é tão grande que é impensável con- capacidade operacional da própria administra-
seguir protegê-la, gerir-la e valorizá-la de ção. Em 1975, foi criado o Ministério de Bens
maneira adequada “não é totalmente es- e Atividades Culturais , não sem um debate
tranho que algumas magistraturas perifé- considerável; muitos (em retrospecto, prova-
ricas e setores da polícia favorecessem uma velmente acertaram) acreditavam que a rigidez
espécie de tolerância reduzindo a capa- de um ministério fosse inadequada à gestão de
cidade repressiva das Superintendências. um patrimônio cultural vasto, complexo e he-
Entre as causas internas deve-se recordar que terogêneo; teriam dado preferência a uma for-
– não obstante as sugestões futuristas e pro- ma mais simples de agência, sob o modelo de
paganda fascista – a Itália dos anos 30 era “English Heritage”.
realmente um país rural, pouco industriali- A falta de adequação das normas para o estabe-
zado, sendo escassas e lentas as mudanças do lecimento de uma nova estrutura levou a fusão
território. Isso explica um dos limites da lei do Ministério da Educação Pública com a ex
de 1939, que prevê somente duas formas de Direção-Geral de Antiguidades e Belas-Artes,
descobertas: tendo como resultado principalmente o au-
– Aquela produzidas a partir da pesquisa reali- mento de efetivo.
zada e conduzida pelo Ministério e de terceiros A contratação ocorrida no ano de 1980 fez com
com permissão de pesquisa. que o número de arqueólogos, historiadores de
– Aquelas fortuitas. arte e arquitetos mais que duplicasse em com-
A lei prevê a obrigação de informar o Supe- paração com 2-3 unidades que eram a força
rintendente, no caso de descobertas fortuitas. média da Superintendência.
Havendo o achado no decurso da construção Todavia, por razões políticas e sindicais aumen-
do prédio, o Superintendente tem o poder tou muito o efetivo do pessoal administrativo
de suspender as obras e de cancelar o projeto, da área central do Ministério e, sobretudo, os
mas não a disponibilidade de recursos econô- guardas de segurança, destinados a monitorar
micos para compensar a perda econômica do os museus e sítios arqueológicos. Uma vez que
empresário. as exigências dos últimos era a permissão para
É previsto somente a indenização pela perda da o porte de armas de fogo e diploma de ensi-
“safra” pelo aluguel da terra (tarifa oicial esta- no fundamental, se cria o paradoxo de que o
belecida). No caso em que o S uperintendente Ministério do Patrimônio Cultural tornou-se,
substitui o proprietário ou o empresário a im entre todos, aquele com o menor nível médio
de quantiicar o valor da descoberta. de educação do seu pessoal.
É óbvio que quanto maior for o interesse eco- Se havia uma melhoria na capacidade operacio-
nômico em jogo maior será em um país cultu- nal no terreno, isso dependia sobretudo do en-
ralmente predisposto a tolerar os “espertos”, o tusiasmo dos recém-contratados arqueólogos,
estímulo para não informar o Superintendente arquitetos e historiadores de arte, que deviam se
das descobertas fortuitas, o que prevalecerá so- confrontar com uma estrutura ministerial mais
bre as obrigações cívicas. rígida (e cara) e, especialmente, com a falta de
Assim, durante o boom econômico dos anos atualização das normativas.
1960-70, a rápida modernização da infraestru- No campo da arqueologia, por exemplo, se
tura pública e do desenvolvimento de grandes conseguia maior controle das descobertas for-
230 • IPHAN

tuitas, mas era claro para muitos que se per- Outro avanço data de 1990, quando o Parla-
deu a oportunidade de introduzir o princípio mento aprovou a diretiva europeia 85/337/
da arqueologia preventiva, presente há algum CEE, de 27 de junho de 1985 e promulgou a
tempo em muitos países industrializados, onde Lei nº 241 que dispunham sobre “novas nor-
as transformações do território, pela velocida- mas em matéria de procedimento administrati-
de com que ocorrem, não permitia embargar vo e direito de acesso aos documentos adminis-
a obra nem operar mudanças radicais no pro- trativos”, estas preveem que no caso de grandes
jeto durante a construção, sob a pena de um obras públicas, mesmo de interesse privado,
aumento do custo que ia contra toda a comu- que interiram no interesse público, a conces-
nidade. A contradição entre a criação do novo são da emissão das licenças necessárias, incluin-
Ministério e o não estabelecimento de novas do o que diz respeito à avaliação de impacto
normas para aperfeiçoar a gestão, além de ra- ambiental (Lei n.º 349 de 8 de julho de 1986,
zões de oportunismo político, deveu-se ao fato que cria o Ministério do Meio Ambiente),
de que, ao contrário do que ocorreu em 1800 está no âmbito de uma “Conferência de Ser-
(onde melhor exemplo é o Manifesto Bonghi viços”, que discute e aprova o projeto, na qual
1874) , a legislação do patrimônio cultural não podem participar todos os indivíduos com um
era mais formulada com base em necessidades interesse público nas transações. Certo é que,
cientíicas, mas sim de estabelecer em normas a onde se possuem as informações necessárias,
práxis consolidada. a Superintendência de Patrimônio Cultural
No campo da arqueologia o desenvolvimento poderá participar da Conferência de Serviços
inovativo se traduz em esforços isolados e, mui- dedicados às obras a ser realizadas numa área
tas vezes extemporâneos de introduzir formas arqueologicamente desconhecida, em que não
de arqueologia preventiva, explicando ao em- há locais declarados de interesse, e pode solici-
presário que um eventual embargo na sua obra tar que o custo do trabalho seja acompanhado
lhe traria custos adicionais e impedimentos res- de arqueologia preventiva. O poder contratual
saltando a vantagem da execução da análise de não é elevado, pois em caso de discordância o
risco antes do início dos trabalhos. parecer negativo do Superintendente não cons-
titui veto, limitando-se a produzir aumento do
A origem da arqueologia preventiva na Itália nível de decisão, que segundo o tamanho e o
A primeira tímida aparição do conceito de pre- caso vai competir à Câmara dos Vereadores ou
venção é encontrada na Circular 3763/6 pro- ao Conselho de Ministros.
movida em 24 de junho de 1982 pelo primeiro-
ministro Bettino Craxi. Esta chamou a atenção Práxis normativa atual
de executivos de grandes obras públicas sobre Uma importante inovação da lei de cultura foi
a necessidade de obter a aprovação do Minis- tomada em 2004 com a adoção do Código do
tério de Bens e Atividades Culturais, antes de Patrimônio Cultural e Paisagístico (Decreto-Lei
deinir os projetos. Cedo se debateu sobre sua nº 42 de 22.1.2004,) que introduz a paisagem
aplicação ou não em obras a ser realizadas em (incluído o arqueológico) entre os bens que
sítios já conhecidos e formalmente declarados constituem o patrimônio cultural.
de interesse cultural (“vinculados”). No entan- No campo da arqueologia o Código respeita
to, alguns Superintendentes impuseram várias substancialmente a l ei de 1939, mas a prote-
intervenções, em primeiro lugar sobre a linha 3 ção arqueológica continua sendo responsabili-
do metrô de Milão, que produziu importantes dade do Estado, com a competência exclusiva
descobertas, alguns dos quais foram mantidos no que diz respeito à realização de escavações,
no lugar e continuam acessíveis a seus usuários, de declaração de interesses, da propriedade dos
representando apenas 0,3% de aumento sobre bens encontrados, que se manteve inalienável.
o custo da obra completa. (Caporusso 1991). Os governos locais (regiões, províncias, muni-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 231

cípios) e os privados são chamados de várias juízo da Superintendência de intervir em caso


maneiras a colaborar para o desenvolvimento e de achados fortuitos ou não previstos, ou ainda
gestão do patrimônio. No artigo 28, pela pri- quando o Superintendente identiicar a exis-
meira vez medidas cautelares e preventivas re- tência de um fundamentado interesse arqueo-
ferentes à arqueologia preventiva comparecem lógico, se “ativa o procedimento de veriicação
na legislação. preventiva” (artigo 96), que é articulado em
Dispõe a cláusula nº 4 do mesmo artigo que – duas fases:
“no caso de obras públicas que se inserem em a) A primeira fase é ainda parte do projeto pre-
áreas de interesse arqueológico , mesmo que o liminar e consiste em:
interesse não esteja formalmente declarado – o – Ponto de sondagens
Superintendente pode solicitar a execução de – Pesquisa geofísica e geoquímica
um diagnóstico arqueológico à custa do empre- – Prospecção
endedor”. A arqueologia preventiva é inalmen- b) a segunda fase é implementada de acordo
te inserida ainda que apenas em obras públicas. com os resultados obtidos, é parte do projeto
Posteriormente, o Código dos Contratos Pú- inal e consiste, sempre que necessário, na exe-
blicos (Decreto Legislativo n º 163 de 12 de cução de escavações arqueológicas na extensão.
abril de 2006, os artigos 95 e 96), deine os Com base nos resultados obtidos, o S uperin-
procedimentos de execução. Existem três fases tendente airma que:
principais de operação. 1) a escavação estratigráica remove tudo que
O primeiro estágio é chamado de diagnóstico é de interesse arqueológico, de forma a es-
preventivo de interesse arqueológico, realizado gotar-se a exigência de proteção física in situ;
na fase de anteprojeto (artigo 95) e desenvolvi- ou:
do durante a redação do anteprojeto. 2) quanto do material descoberto é detalha-
A norma exige a coleta de documentação analí- damente documentado e pode ser desmontado
tica, a execução de levantamentos geológicos e e convenientemente remontado ou mantido
geomorfológicos, pesquisa arquivística e biblio- em museus ou outro lugar mais apropriado;
gráica, observação do terreno, e onde necessá- ou:
rio a foto interpretação. Tudo a im de produzir 3) quando a proteção do achado arqueológico
elementos úteis para avaliar o potencial de inte- só pode se dar com a conservação in situ. Neste
resse arqueológico da área onde serão implanta- caso, o superintendente declara a importância e
dos os trabalhos públicos. o interesse da área, e os trabalhos previstos serão
Os departamentos de arqueologia das univer- realizados em outros lugares ou implementados
sidades ou os indivíduos com especialização e/ em consonância com o interesse arqueológico,
ou doutorado em arqueologia estão autorizados através do projeto de remodelação.
a coletar as documentações. É competência do Todas as atividades de campo no art. 96 estão
Ministério de Bens e Atividades Culturais or- sob a supervisão da S uperintendência do terri-
ganizar e gerir a lista das entidades habilitadas tório competente, enquanto os custos são su-
a conduzir os trabalhos de arqueologia preven- portados pelo empreendedor.
tiva. Apropriadamente, a proteção arqueológica pre-
As informações coletadas são transmitidas ao ventiva não se esgota com a escavação. O § 7º
S uperintendente arqueólogo responsável pela do art. 96 determina que os resultados da esca-
área, que pode exigir com base nos dados dis- vação devam ser adequadamente divulgados da
poníveis na S uperintendência a necessidade de forma mais adequada caso a caso, que vai desde
complementação para avaliar a área arqueoló- a preparação de publicações, comunicação in-
gica em questão. Se for veriicado que se trata formatizada, exposições, musealização , seja en-
de uma área de interesse nulo o processo de cargo do empreendedor e sob a supervisão dos
veriicação é considerado rescindido, sem pre- serviços competentes do Ministério.
232 • IPHAN

Esta, é a primeira vista uma norma eicaz que manos, encontrados na praça do município de
altera a ilosoia de regramento porque é fun- Nápoles, durante escavações para uma estação
damentada em razões de ordem cientíica e téc- de metrô. E ainda, permanecendo no domínio
nica. Desagrada um pouco, e é negativamente das estações metropolitanas estão as descober-
signiicativo, porque é irmado pelo Ministro tas multiestratigráicas na estação de Brignole
das Infraestruturas e não pelo Ministro do Pa- em Gênova, (Del Lucchese & Melli 2010),
trimônio Cultural. Apesar de ter sido editada onde a soisticação metodológica da pesquisa
em 2006, a norma ainda não está plenamente portou ao reconhecimento, pela primeira vez
ativa, porque muitos Superintendentes aguar- na Itália, dos restos de plantas de bambu da
dam a publicação da lista das entidades habili- idade neolítica atestando a prática de scalvatu-
tadas a atuar como prevê a clausula 2 do artigo ra (Arobba et al. cds), que consiste em uma
95, com receio de isto possa representar abuso operação especial visando à recolha das folhas
legal de poder. caídas destinada à alimentação do gado. Uma
O Ministério do Bem e das Atividades Cultu- prática documentada até 30 anos atrás nas
rais é responsável pela organização da lista e, montanhas dos Apeninos Ligúre- Emiliano.
por sua vez, não foi particularmente veloz. Breves comentários de outros importantes
“A regulamentação relativa à disciplina dos cri- sítios salvos, valorizados e abertos ao público
térios para a proteção e funcionamento da lista estão enumerados no Bollettino di Archeologia,
prevista no artigo 95, parágrafo 2, do Decreto 2004, e Guermandi, 2001.
Legislativo 12 de abril de 2006, n.º 163” , foi A interveniência mais abrangente teve lu-
formalizada pela portaria n º 60 de 20 de março gar na construção de linhas ferroviárias para
de 2009, publicada no Diário Oicial n º 136 trens de alta velocidade (TAV). Neste caso, a
de 15 de junho de 2009, tendo entrado em vi- falta de um padrão de referência orgânica foi
gor em 30 de junho de 2009. No momento de parcialmente compensada pelo fato de que o
escrever este artigo (fevereiro de 2010), a lista executor da obra pública é um só, que assim
ainda não existe. agiu de forma bastante equilibrada nas suas
Quando a lei se tornar plenamente ativa, ela relações com a Direção-Geral de Antiguidades
irá funcionar apenas em obras públicas. As do Ministério e com os vários Superintenden-
de propriedade particular permanecem tra- tes envolvidos(um ou mais para cada região).
tadas, por força da sua dimensão e comple- A arqueologia preventiva do TAV, com resul-
xidade, nos termos da Lei 241/1990 (Con- tados surpreendentes, produziu uma espécie
ferência de Serviços ) ou na antiga Lei de de monitoramento linear do potencial arque-
“descoberta fortuita” (1939). Espera-se que ológico sobre a linha Turim – Milão – Bolo-
o Ministério do Bem e das Atividades Cul- nha – Florença – Roma – Nápoles. Em Roma
turais queira e possa preencher esta lacuna. – Nápoles foram identiicados, escavados e
No contexto do que é descrito, em especial a documentados 125 sítios arqueológico, mui-
falta de normativa orgânica, as atividades de ar- tos dos quais estão tendo seus estudos publi-
queologia preventiva são conduzida na Itália de cados e divulgados, que em alguns casos chega
forma irregular. a musealização , e que somente em poucos
Na ausência de descobertas excepcionais, tais casos têm forçado as alterações da rota inicial-
como os destroços de dezesseis navios romanos mente prevista. Tudo a um aporte de 2% do
encontrados em 1998, em San Rossore, próxi- custo da obra completa. Sem dúvida, um cus-
mo de Pisa (Aa Vv 2002; Bottini 2004; Ca- to alto, equilibrado por uma “produção” cul-
milli et al. 2006), as aldeias, cemitérios e pai- tural quantitativa e qualitativamente elevada,
sagem do sepulto das cinco erupções sucessivas e da oportunidade de trabalho e experiência
do Vesúvio a partir do Neolítico à Idade do oferecidas aos muitos jovens licenciados em
Bronze (De Caro 2004), outros naufrágios ro- Conservação de Bens Culturais. Na região de
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 233

Emília, a linha de 142 km produziu 80 sítios a existência de alguns sítios arqueológicos na


arqueológicos, distribuídos por ordem crono- área (Sommella 2001).
lógica do Pleniglacial (24 000 BP) até a idade Conclusão: Auspícios
moderna. O sucesso da intervenção cultural A solução para o nó da regulamentação, em
nesta região está relacionado ao fato de que que estão faltando apenas alguns detalhes, irá
eles operam, principalmente, nas planícies, proporcionar um modelo padronizado de fun-
e de que o TAV tenha aceitado, no caso de cionamento, que no caso das obras públicas
descobertas signiicativas, estender a investiga- esperamos ser em breve estendido, com adap-
ção para além do corredor da linha ferroviária, tações, aos empreendedores privados.
para estudar o local em toda a sua extensão Outra questão imprescindível é a adoção de
(Bernabó Berna & Valloni 2008). No km 70 um sistema nacional de informações para a ar-
entre Turim e Novara apenas quatro de 119 queologia preventiva. O uso de uma legislação
descobertas obtiveram grande escavação em uniicada, e o fato de que o trabalho de gestão
extensão, com um custo de cerca de 500 000 é conferido exclusivamente a Superintenden-
€ cada um (Gambaro et al. 2001) tes, subordinados ao Ministério do Bem e das
Uma das inovações positivas da nova norma Atividades Culturais (3), reconduz a questão
é estar a estabelecer padrões de qualidade a uma simples decisão administrativa, e não
para aqueles habilitados a realizar as obras. mais técnica.
Os atores em arqueologia preventiva são de
fato, presumivelmente, as Universidades, nos NOTAS
casos de grandes obras, enquanto em menor 1) Este termo vem habitualmente indicando o
escala podem ser arqueólogos que vão atuar status pré-unitário chamado oicialmente Rei-
em nível individual, e que possuam diploma no da Sardenha, que incluía as atuais regiões
universitário especializado de mestrado ou da Sardenha, Piemonte, Valle d’Aosta, Ligu-
doutorado. Isso muda a situação atual, que, ria (desde 1815), Provence e Savoia (cedida à
por vezes, aceita trabalhos de baixa qualida- França em 1859 em troca de ajuda militar dada
de, realizado com o menor custo, enquanto a por Napoleão III para liberar a Lombardia da
Universidade “é muitas vezes reduzida a pa- Áustria). A Savoia é a região de origem da di-
péis marginais . nastia homônima que no século XVIII, após a
Assim, a soma das intervenções da TAV é po- aquisição do Piemonte/Sardenha, promoveu a
sitiva; enquanto na linha Roma – Nápoles do uniicação da Itália (1861), onde reinou até ao
TAV apenas dois locais foram investigados referendo que em 1946 estabeleceu a transição
pelos Departamentos universitários das uni- para uma forma de governo republicano.
versidades (Carandini 2004), no percurso de 2) O termo adotado é propositadamente gené-
um oleoduto em Basilicata, desenvolvido por rico, para permitir ampla discricionariedade às
uma empresa privada que vencera pregão rea- Superintendências.
lizado pelo menor custo, aconteceu que uma 3) Corretamente compreendido com exclusão
área foi classiicada como “baixo risco”, igno- da autonomia concedida a Sicília e às provín-
rando que duas teses de graduação descrevem cias de Trento e Bolzano.
Pitture rupestri preistoriche
nelle Alpi Occidentali.
Un unicum da proteggere e da conservare XII
Dario Seglie, Piero Ricchiardi & Filippo M. Gambari

Gli studi di Preistoria ed Arte Rupestre nelle Alpi Occidentali.

I l CeSMAP di Pinerolo, Centro Studi e Museo d’Arte Preistorica, è stato fon-


dato nel 1964 per proseguire gli studi archeologici nel territorio delle Alpi Oc-
cidentali e nel Pinerolese che erano iniziati in dal secolo precedente ad opera di
studiosi dell’Accademia Reale delle Scienze di Torino.
Le direttive generali e di studio del CeSMAP furono impresse dall’insigne arche-
ologo Piero Barocelli, Direttore del Museo Preistorico Nazionale “L. Pigorini” di
Roma, da Carlo Carducci, Soprintendente Archeologico del Piemonte e da Diego
De Castro, decano dell’Università di Torino, Demografo, Antropologo e Diretto-
re dell’Istituto Statistico Nazionale di Roma.
L’esigenza di aprirsi ad una dimensione di studio continentale e mondiale si era
subito manifestata a Pinerolo, per meglio contestualizzare e capire un fenomeno
caratteristico ed arcaico dell’arco alpino: l’Arte Rupestre, oggetto speciico e set-
tore di specializzazione e di ricerca archeologica del CeSMAP. Da allora ad oggi,
la competenza ed il campo d’azione del Centro pinerolese sono stati in continua
espansione, sia sul territorio delle Alpi Occidentali sia nel mondo. Nel 1988 a
Darwin in Australia ha partecipato alla fondazione della Federazione Internazio-
nale delle Organizzazioni di Arte Rupestre (IFRAO), che è ora il più alto ed au-
torevole forum mondiale per l’ arte rupestre e l’Archeologia Cognitiva, di cui
CeSMAP è il rappresentante Italiano.
236 • IPHAN

Nel 1995 il CeSMAP ha organizzato, sotto l’alto patronato della Presidenza della
Repubblica Italiana e con gli auspici della Federazione, il primo Congresso Mon-
diale di Arte Rupestre IFRAO in Europa, a Torino, al Castello Reale del Valenti-
no. Il CeSMAP, a riconoscimento del suo grande impegno internazionale, è stato
insignito dall’ UE del Premio “Europa della Cultura” e designato quale Uicio di
Rappresentanza IFRAO-UNESCO, presso la Direzione Generale di Parigi.
Il Museo Archeologico e di Arte Preistorica, aperto regolarmente alla pubblica
fruizione -primo in Pinerolo- in dagli anni 1960, possiede la più vasta collezione
internazionale di Arte Rupestre, oggi visibile solo in piccola parte in attesa della
sua deinitiva sistemazione nel barocco Palazzo Vittone, secondo il progetto di
restauro, riuso e riallestimento – già alla fase esecutiva- che la Civica Amministra-
zione intende realizzare compiutamente entro il 2011.
Le principali campagne archeologiche attuate negli ultimi trenta anni, d’intesa
con la Soprintendenza Archeologica del Piemonte, hanno consentito di inqua-
drare le linee della dinamica del popolamento del Pinerolese in dalla Preistoria,
sebbene un immenso lavoro di scavo resti ancora da compiere in questo territorio
che è caratterizzato da forte potenzialità e alta densità archeologica, cosa che era
già stata prevista dagli studiosi dell’ Ottocento e Novecento, anche in considera-
zione della notevole presenza di arte rupestre dell’area in questione.
L’evoluzione dei metodi di lavoro archeologico del CeSMAP, sul campo ed in
laboratorio.
Tornando agli inizi, nel 1964, ‘65 e ‘66, per assecondare la vocazione internazionale
di studio, si erano attuate tre missioni archeologiche in Val Meraviglie e Val Fonta-
nalba, al Monte Bego, nelle Alpi Marittime Francesi, in accordo con la Soprinten-
denza di Aix-en-Provence ed in connessione con le ricerche condotte in precedenza
da Carlo Conti e da Giuseppe Isetti dell’Istituto Internazionale di Studi Liguri.
Nel 1967 la Missione del CeSMAP aveva lavorato in Svezia, in collaborazione
con Åke Fredsjö, Soprintendente alle Antichità del Bohuslän. In queste Missioni
si erano attuati rilievi e documentazioni, anche con calchi tridimensionali, spe-
rimentando nuove procedure e metodi di lavoro sul campo che avevano avviato
quella che diventerà la collezione internazionale di Arte Rupestre più rappresen-
tativa a livello globale.
In quegli anni iniziali di grande slancio per le ricerche, il Presidente del CeSMAP
Cesare Giulio Borgna aveva saputo suscitare entusiasmo e spirito di scoperta nell’
équipe degli studiosi pinerolesi. Doti umane che gli erano peculiari e che deriva-
vano anche dalla sua esperienza di Comandante Partigiano durante la Resistenza
ai nazi-fascisti nella seconda guerra mondiale in Val Camonica, sito delle Alpi che
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 237

sarebbe poi diventato la prima area di arte rupestre ad essere inserita nella World
Heritage List dell’UNESCO nel 1979.
Una Missione archeologica internazionale esemplare per i risultati maturati
a lunga scadenza.
In quegli anni ‘60 la Galizia -regione montuosa del Nord-Ovest della Spagna-
cominciava ad assumere notorietà internazionale per l’archeologia e per l’Arte
Rupestre, sia per la vastità dell’area interessata, sia per la lunghezza dell’arco tem-
porale coperto dai petroglii, sia per la ricchezza iconograica, tematica ed anche
estetica dei segni incisi nel granito galiego.
Pertanto a Pinerolo decidemmo di avviare una Missione di ricerca sull’Arte Rupe-
stre in quell’estremo lembo di Europa che si afaccia sull’Oceano Atlantico.
Un libro che avevamo consultato, e che aveva dato il massimo impulso all’avvio
del progetto, era stato il Corpus Petroglyphorum Gallaeciae, pubblicato a Santiago de
Compostela nel 1935 da Ramón Sobrino Buhigas, opera che ancora oggi, a distanza
di anni, conserva intatto il suo valore di documentazione rigorosa e metodologi-
camente corretta; un caso veramente emblematico e raro di maestria archeologica
nel campo dell’arte Rupestre. Un altro testo che ci aveva stimolato era stato Arte
Rupestre nelle Regioni occidentali della Penisola Iberica , libro che era stato aidato per
la correzione delle bozze ad uno dei sottoscritti (d.s.) dall’ autore Emmanuel Anati.
Furono presi contatti con gli studiosi dell’Università di Santiago de Compostela
e del Museo di Pontevedra: Borgna realizzò il primo sopralluogo in Galizia nel
1969, diresse la Missione del 1970 e ne compì una terza nel 1971.
La Missione 1970 del CeSMAP di Pinerolo fu sostenuta dall’aiuto della Presidenza
delle Industrie RIV-SKF che misero anche a disposizione un mini-bus FIAT 850
per il viaggio e per il trasporto delle attrezzature archeologiche da campo. Essa fu
la più importante delle tre Missioni realizzate per la grande mole di lavoro svolto,
risultato conseguito grazie alla alta competenza dell’équipe che era composta da set-
te italiani (Cesare Giulio Borgna, Giovanni Bessone, Rafaele Fontanini, Edoardo
Gilardi, Tere Grindatto, Piero Ricchiardi, Dario Seglie) con la collaborazione di tre
spagnoli (Fermin Bouza-Brey Trillo, Direttore del Seminario de Estudos Galegos,
José Filgueira Valverde, Direttore del Museo Provinciale di Pontevedra, Manuel
Carlos Garcia Martinez dell’Università di Santiago de Compostela).
Quale punto focale principale fu scelto il villaggio di Campo Lameiro, in provin-
cia di Pontevedra, situato al centro di un territorio ricchissimo di arte rupestre,
con base logistica installata nella locanda gestita dalla famiglia di Rafael Lago
Novas, sindaco del piccolo comune montano.
238 • IPHAN

L’incontro con D. Fermin in Santiago fu memorabile: subito si sprigionò una


sincera amicizia -che perdurò nel tempo- tra noi e l’anziano poeta ed arche-
ologo, vero punto di riferimento dei galieghi che inneggiavano alla libertà,
rivendicando l’identità della loro antichissima regione, in un periodo non
facile ancora caratterizzato dal centralismo franchista.

Altrettanto indimenticabili furono le serate passate nella sua residenza a parlare di


arte rupestre e di ilosoia o a passeggiare per Santiago ino a tarda notte, esplorando
tutte le cantine, attorno alla celebre Cattedrale, che ofrivano la degustazione di una
copa de clarete, de blanco o de tinto, magari con i mariscos, come alla locanda “Tacita
de Oro” dove, con gli universitari, si cantavano canzoni goliardiche –difuse ed uguali
in tutta Europa in dal Medioevo- che parlavano di amori perduti e di libri impegnati
dagli studenti al Monte di Pietà.

A Pontevedra, al Museo di D. José, tenemmo anche conferenze pubbliche con


una piccola mostra dei risultati che l’équipe del CeSMAP andava raccoglien-
do a Campo Lameiro. I lavori archeologici sul terreno erano di vari tipi, at-
tuati secondo le più avanzate metodologie dell’epoca: la veriica dello stato di
conservazione geo-mineralogico e litotecnico della supericie rocciosa, a volte
ingombrata da detriti minerali e vegetali che potevano alterare la percezione
dei petroglii; quindi si procedeva al trattamento oggettivo bicolore delle aree
da studiare (giallo e nero, per ottenere il massimo contrasto ottico, secondo
la sperimentazione del CeSMAP di Pinerolo che aveva modiicato il metodo
-bianco e nero- usato dal CCSP in Valcamonica) ed al successivo rilevamento
delle incisioni su grandi fogli di polietilene trasparente, mediante pennarelli
colorati indelebili. In alternativa venne anche usato il sistema “svedese” di
coloritura diretta delle sole parti incise dei petroglii, procedura meno precisa
e più arbitraria, ma di esecuzione molto più rapida. I calchi tridimensionale
erano efettuati con un metodo ideato da Borgna e sperimentato e messo a
punto dal CeSMAP: il metodo detto della “lastra plastica” che consentiva di
ottenere fedelissime matrici negative delle superici rupestri incise, collocabili
in contenitori metallici per il trasporto in laboratorio.

Dal 1972, a seguito di una ampia sperimentazione, il CeSMAP sostituirà il meto-


do per i calchi tridimensionali con un altro metodo più avanzato: l’ “SRB System”
che si avvale di resine termoplastiche, in grado di dare risultati straordinari per
la qualità ed ampiezza delle matrici ottenibili e per la razionalità ed economicità
operativa di impiego.
Ovviamente, la documentazione fotograica e la schedatura completavano i lavori
sul campo. Al rientro in Italia, nei laboratori del CeSMAP a Pinerolo, furono
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 239

realizzate le repliche positive in gesso dalle matrici negative dei petroglii della
Galizia, che risultano ora essere l’unica collezione tridimensionale esistente, vero
vanto del Museo d’Arte Preistorica di Pinerolo.

In particolare, Cesare Giulio Borgna, dopo la Missione del 1971, ricompose in


un unico calco tridimensionale tutta la supericie della celebre roccia incisa detta
Laxe dos Cebros. Nel laboratorio del CeSMAP i rilevamenti originali dei petro-
glii fatti sui fogli di polietilene venivano copiati su carta da lucidi con penne ad
inchiostro di china ed anche ridotti in scala 1:8 con l’uso del pantografo ad aste
articolate per disegno. Da questi documenti, estremamente rigorosi e precisi, si
potevano ricavare copie a disegno col procedimento eliograico di copisteria. Alla
ine del lungo ed impegnativo lavoro, i disegni erano pronti per lo studio e per
il museo. Dal 1972, anno dell’apertura a Pinerolo del Museo di Arte Preistorica,
gli sforzi furono –per molti anni- assorbiti dal servizio culturale di questo nuovo
Museo Municipale (di Archeologia ed Antropologia) della Città di Pinerolo.

Il contesto geograico ambientale delle Alpi del Piemonte e l’arte rupestre


preistorica

Il Piemonte è delimitato ad Ovest dalla catena alpina, la quale è sorta per spinte
orogenetiche sollevandosi nel periodo Terziario dal bacino del Mediterraneo e
costituita da depositi calcarei e la fascia mediana é formata perlopiù da rocce
cristalline, eruttive e metamoriche Le rocce istoriate sono sparse variamente sul
territorio, ma perlopiù sono collocate lungo antichi sentieri ed in posizioni domi-
nanti rispetto alle aree circostanti; spesso sono più frequenti in taluni luoghi che
possono aver assunto la caratteristica di veri e propri santuari delle popolazioni
preistoriche ivi stanziate.

Gli studiosi danno –per antica consuetudine- il nome di Arte Rupestre a tutte le
espressioni graiche che compaiono su una supericie rocciosa di supporto, qual-
siasi sia la tecnica impiegata per produrle: se per addizione di materiale (pigmenti
e leganti) si parla di pittogrammi o pitture rupestri, se per sottrazione di parti del
supporto si parla di petroglii o incisioni rupestri.
Con l’avvento del clima post-glaciale avviene la prima grande trasformazione
socio-economica delle comunità umane: l’invenzione dell’agricoltura e dell’al-
levamento generano la cosiddetta “rivoluzione neolitica”. Questi cambiamenti
hanno un riscontro anche nelle nuove espressioni dell’Arte Rupestre che si fa più
schematica, geometrica, astratta e simbolica; l’ uomo nuovo seleziona siti e ripari
sotto roccia dominanti e colloca i complessi segnici in località strategiche, come
una sorta di possesso rituale, simbolico e religioso del territorio.
240 • IPHAN

Il sito La Rocca di Cavour


A Rocca di Cavour ‘e un inselberg della pianura pinerolese su cui pendici rocciose
appare l’Arte Preistorica che coincide con la presa di possesso del territorio cavou-
rese da parte di comunità risalenti al Neolitico Medio, portatori di una cultura
detta del Vaso a Bocca Quadrata (VBQ). La Rocca di Cavour presenta motivi
antropomori schematici di cui uno del tipo “iperantropico” probabilmente fem-
minile e antropomori più piccoli dei quali uno con testa a corna e l’altro con
testa triangolare. La composizione presenta inoltre dei segni a “chevron” e ile sub
– parallele di piccole tacche o puntazioni. Queste furono eseguite da esponenti
di una popolazione del tardo VBQ che può essere considerata la responsabile del
completamento della colonizzazione del territorio, verso la metà del V millennio
a.C. rimaste stanziate ino a ridosso dell’epoca storica, quando il territorio entra
nella storia con la fondazione, nel 49 a.C., di una colonia romana, Forum Vibii
Caburrum, che riorganizzò la popolazione del precedente oppidum celto-ligure.

Lo stato di conservazione è buono, anche se una copertura di percolazione minerale


opalina tende ad obliterare le igure. Inoltre, l’incremento di uso di aerosol acidi nell’at-
mosfera degli ultimi decenni possono costituire una causa di danneggiamento del sito.

Nel 2009, un atto vandalico ha imbrattato le pitture neolitiche (uniche nelle


Alpi) con della vernice biancastra. Un intervento di esperti in restauro della
Soprintendenza Archeologica del Piemonte ha potuto, con un lungo e paziente
lavoro, rimuovere i danni e riportare le pitture preistoriche allo stato di leggibilità
precedente. Ovviamente, le possibili future datazioni assolute (ad esempio AMS)
sono pregiudicate.

Il sito Val Germanasca, Ponte Raut


Il torrente Germanasca percorre la valle omonima conluendo nella Valle del
Chisone all’altezza di Perosa Argentina. Nel territorio del Comune di Perrero,
in località Ponte Raut, si trova il riparo detto Roccio d’la Fantino (la Roccia della
Fata, nel patois occitano locale), con l’eccezionale complesso pittorico rupestre,
scoperto negli anni ‘920 dal Prof. Silvio Pons dell’Istituto Italiano di Preistoria e
studiato dal CeSMAP in dagli anni ‘960 costituiendo l’esclusivo esempio di di-
pinti rupestri alpini preistorici in Italia ino alla scoperta –nel 1979- delle pitture
neolitiche della Rocca di Cavour.
Questo imponente complesso rupestre, di eccezionale caratura a livello europeo, è
al’interno del riparo sotto roccia, si trovano alcune pitture rupestri rappresentanti un
segno a ruota con quattro raggi perpendicolari interni ed un rettangolo completa-
mente campito ascrivibile tipologicamente alla fase dell’arte preistorica detta schema-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 241

tico-geometrica, riscontrabile prevalentemente negli orizzonti culturali delle civiltà


megalitiche e quindi dal Neolitico all’Età del Rame. Una igura complessa di tipo
“idoliforme” spicca sulla destra della composizione monumentale insieme ad una
straordinaria impronta di mano. Tutto il complesso è realizzato con ocra giallastra.
Il sito La Balma di Mondon
Nel Comune di Villar Pellice, in un vasto riparo sotto roccia detto Balma di Mon-
don, negli anni ‘990 sono state scoperte nuove pitture rupestri. La composizione
si presenta suddivisa in tre griglie a bande parallele verticali, contornate da due
piccole igure di antropomori concatenati. Tra le due composizioni maggiori a
griglia si trovano due igure rovesciate a doppia V ed una di tipo alberiforme. Il
complesso pittorico è afetto da copertura di vari depositi di percolamento che
obliterano parzialmente i dipinti.
Il complesso monumentale di pitture rupestri è riferibile all’orizzonte culturale
dal Neolitico all’Età del Rame.
Conclusione. Le azioni conservative.
Il Prof. Antonio Beltran, decano dell’Università di Saragozza, scomparso nel
2006, aveva accuratamente visitato i siti sovra descritti e giudicandoli di capita-
le importanza per comprendere il portato delle culture che le avevano prodotte
tra il V ed il IV millennio a.C. e di forte connesione con la “provincia mediter-
ranea dell’arte preistorica neolitica” comprendente la Francia meridionale e la
Spagna orientale.
Tutte le pitture rupestri preistoriche delle Alpi Occidentali sono afette da degrado
progressivo imputabile all’incremento dell’inquinamento atmosferico, ed in parti-
colare dalle piogge acidi da uso di aerosol, in aumento negli ultimi decenni, fatto
dimostrato dal confronto con i dati e rilevamenti precendenti. Ne discende quindi
l’esigenza di conservazione e l’urgenza di protezione e loro valorizzazione.
Ovviamente, lo stato di protezione e di conservazione varia da Stato a Stato e
da zona a zona. Questi problemi sono evidenti in Europa, ma anche negli altri
continenti si registrano carenze ed arretratezze, sia normative sia di buone prassi.
Oltre al vandalismo, normalmente più o meno inconsapevole, di aggressione
ai siti rupestri, il fenomeno più preoccupante è la deliberata azione delittuosa
nell’asportare parti di arte rupestre, saccheggiando e distruggendo i siti, allo scopo
di ricavare frammenti da vendere al mercato nero.
La richiesta parte generalmente dal mondo occidentale e trova risposte - specie
nei paesi in via di sviluppo – a causa di legislazioni permissive, omissione di con-
242 • IPHAN

trolli, corruzione tra il personale di custodia dei siti, il tutto esaltato dal basso li-
bello di reddito delle popolazioni locali che trasformano i beni culturali in merce
ed in risorsa economica.
Ovviamente il processo virtuoso da applicare ai siti più minacciati è basato su
piani di sviluppo locale eco-compatibili che, puntando sui saperi e sulle tradizio-
ni, sappiano intraprendere nuove vie di utilizzo corretto dei beni culturali e nello
speciico dell’Arte Rupestre, attraverso la valorizzazione dei siti e la creazione di
infrastrutture per un turismo culturale intelligentemente proposto, canalizzando
lussi via via più vistosi e redditizzi. Anche le infrastrutture ed i piani urbanistici
dovranno essere adeguati ad esaltare le tipicità locali, conservando il patrimonio
culturale, ambiental e paesaggistico.
La peggior iattura per un Paese è quella di non aver coscienza del valore della tradizio-
ne, sia naturale che culturale, che caratterizza e traforma un territorio in un unicum.
Secondo questa lettura, la conservazione è una scienza con un approccio estremamen-
te aperto, progressista e dinamico, ingradiente necessario per le politiche di sviluppo e
di miglior qualità della vita per la popolazione di un determinato territorio.
Anche nelle Alpi le politiche di conservazione dei beni culturali si intrecciano con
le politiche di gestione del territorio. L’asprezza dell’ambiente alpino, la ripidez-
za dei pendii e, più recentemente, il grande spopolamento antropico delle alte
valli, stanno generando fenomeni di alterazione ambientale spesso macroscopici.
Il regime delle acque non è più oggi eicacemente controllato, col risultato che
aumentano i territori instabili con il rischio di smottamenti e frane.
I grandi lavori infrastrutturali, ponti, gallerie, linee ferroviarie, elettrodotti, cen-
trali idroelettriche e bacini artiiciali con dighe, spesso sono cause di scoperta
dell’Arte Rupestre che può trovarsi a rischio se non si provvede preventivamente.
Per far decollare e favorire le azioni di conservazione, occorre un immediato lavo-
ro di ricognizione territoriale che segnali, cartograi e documenti i siti esistenti di
arte rupestre. Questo archivio del territorio diventa la base indispensabile per dare
certezza ai parametri che verranno utilizzati dai progettisti dei piani integrati.
La conoscenza si conigura ancora una volta come la “chiave di volta” nella strut-
turazione dell’ediicio della prassi conservativa. Ovviamente non si pretende che
l’architetto urbanista sia anche un esperto di arte preistorica, ma si chiede che il
team di progetto abbia tutte le indispensabili igure professionali per la corretta
gestione del territorio. Quindi il progetto da piano tecnico si va trasformando in
meta-progetto e raggiunge un livello via via sempre più politico, ino al momento
in cui viene adottato uicialmente, promulgato e immesso nella prassi esecutiva.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 243

Pinturas rupestres meiro Congresso Mundial de Arte Rupestre


IFRAO na Europa, em Turim, no Castelo
pré-históricas, nos Alpes Real de Valentino. O CeSMAP internacio-
Ocidentais. nal, em reconhecimento ao seu empenho, foi
premiado pela Comunidade Europeia com o
Exclusivo para proteger e preservar Prêmio “Europa”de Cultura e designado pela
UNESCO como Escritório de Representa-
Estudos da Pré-História e Arte Rupestre ção IFRAO na Direção-Geral da UNESCO
nos Alpes Ocidentais. em Paris.
O CeSMAP – Centro de Estudos e Museu de O Museu Arqueológico e de Arte Pré-His-
Arte Pré-histórica, em Pinerolo, foi fundado tórica de Pinerolo, gratuitamente aberto ao
em 1964 para dar continuidade aos estudos público desde 1960, tem a maior coleção de
arqueológicos no território dos Alpes Oci- Arte Rupestre internacional, embora esteja
dentais e no território de Pinerolo, onde des- exposto apenas pequena parte da coleção en-
de o século anterior haviam sido estudados quanto se aguarda a sua disposição inal no
pela Academia Real das Ciências de Turim . Palazzo Vittone, de acordo com o projeto de
As orientações gerais e de estudo do CeSMAP restauração, reutilização e remodelação, já em
foram delineadas pelo famoso arqueólogo fase de execução, que a Administração Cívica
Piero Barocelli, Diretor do Museu Nacional pretende inalizar totalmente até 2011.
da Pré-História “L. Pigorini” de Roma; por As principais campanhas arqueológicas re-
Carlo Carducci, Superintendente arqueoló- alizadas nos últimos trinta anos, em acordo
com a Superintendência de Piemonte, têm
gico de Piemonte; e de Diego Castro, Reitor
consentido enquadrar as diretrizes da dinâ-
da Universidade de Turim, demógrafo, an-
mica de povoamento da região pinerolesa a
tropólogo e Diretor do Instituto Nacional de
partir da pré-história, apesar de uma imensa
Estatística, em Roma.
quantidade de escavação continuar a ser rea-
A exigência de se criar uma dimensão de es-
lizada nesta área, caracterizada pela alta den-
tudo continental e mundial foi logo mani-
sidade e alto potencial arqueológico , questão
festada em Pinerolo, de maneira a melhor já prevista pelos estudiosos do século XX em
contextualização e compreensão do fenôme- função da presença considerável de arte ru-
no característico e arcaico, nos Alpes: a arte pestre na área.
rupestre, um objeto especiico do setor de
especialização e de investigação arqueológica O desenvolvimento de métodos de traba-
de CeSMAP. lho arqueológico de campo e de laborató-
Desde então, a competência e o âmbito de rio do CeSMAP
ação do Centro de Pinerolo têm estado em Retornando ao início, nos anos de 1964,
continua expansão, tanto no interior dos Al- ‘65 e ‘66, para acompanhar a vocação in-
pes Ocidentaisquanto no mundo. Em 1988, ternacional do estudo, foram aplicadas três
em Darwin, Austrália o Centro participou da missões arqueológicas no Vale Maravilha
fundação da Federação Internacional de Or- e Vale Fontanalba, em Monte Bego, nos
ganizações de Arte Rupestre (IFRAO), que Alpes-Marítimos franceses, de acordo com a
agora é o maior e mais prestigiado fórum glo- Superintendência de Aix -en-Provence e em
bal para a arte rupestre e a arqueologia cog- vinculação com as pesquisas anteriormente
nitiva, do qual o CeSMAP é o representante realizadas por Carlo Conti e Giuseppe Iset-
italiano. ti do Instituto Internacional de Estudos da
Em 1995 o CeSMAP, sob o patrocínio da Ligúria (IISL).
Presidência da República Italiana e sob os Em 1967, a Missão da CeSMAP tinha tra-
auspícios da Federação, organizou o pri- balhado na Suécia, em colaboração com Åke
244 • IPHAN

Fredsjö, Superintendente de Antiguidades de rica, um livro que revisou Dario Seglie, de


Bohuslän. autoria de Emmanuel Anati.
Nestas missões foram realizadas pesquisas Os contatos foram feitos com os pesquisa-
e documentação, incluindo moldes tridi- dores da Universidade de Santiago de Com-
mensionais, experimentando novos proce- postela e do Museu de Pontevedra: Borgna
dimentos e métodos de trabalho de campo esteve pela primeira vez na Galiza em 1969,
que viriam a ser a coleção internacional de cheiou a missão em 1970 e fez uma terceira
arte rupestre mais globalmente representa- visita em 1971.
tiva. A Missão de 1970 do CeSMAP em Pinerolo
Naqueles primeiros anos de grande im- foi apoiada pela presidência das Indústrias
pulso para a investigação, o presidente do RIV-SKF que colocou à disposição até mes-
CeSMAP, Júlio César Borgna, inspirou en- mo um miniônibus FIAT 850 para as viagens
tusiasmo e espírito de descoberta na equipe e material de campo arqueológico. Esta foi a
de especialistas em Pinerolo. Qualidades mais importante das três missões realizadas
humanas que eram originais e que também em função da grande quantidade de traba-
surgiram a partir de sua experiência como lho, resultado obtido graças à alta competên-
líder partidário durante a resistência ao na- cia da equipe, que consistiu de sete italianos
zifascismo no período da II Guerra Mun- (Borgna Júlio César, João Bessone, Rafaele
dial, em Valcamonica, sítio arqueológico Fontanini, Edoardo Gilardi, Tere Grindatto,
dos Alpes que se tornaria a primeira área de Piero Ricchiardi e Dario Segle) com a cola-
arte rupestre a ser incluída na Lista de Pa- boração de três espanhóis (Fermin Bouza
trimônio Mundial da UNESCO em 1979. Brey-Trillo, diretor do Seminário de Estudos
Galegos; José Filgueira Valverde, Diretor do
Breve relato de uma missão arqueológica Museu Provincial de Pontevedra; Carlos Ma-
internacional exemplar para os resultados nuel Garcia Martinez, da Universidade de
maturados a longo prazo. Santiago de Compostela).
Nos anos 60 a região montanhosa da Galícia, O principal ponto focal foi a escolha da ci-
a noroeste da Espanha, começou a assumir dade de Campo Lameiro, na província de
uma reputação internacional para a arqueo- Pontevedra, no centro de uma área rica em
logia na arte rupestre, seja pela vastidão da arte rupestre, com base logística instalada na
área em causa, seja pela faixa de tempo com- pousada gerida pela família de Rafael Lago
preendida pelos petróglifos, seja pela riqueza Novas, o prefeito da pequena cidade mon-
iconográica, temática e também pela estética tanhesa.
dos sinais gravados em granito galeno. O encontro com D. Fermin em Santiago
Por isso, em Pinerolo decidimos iniciar uma foi memorável e imediatamente surgiu uma
missão de investigação de arte rupestre na amizade sincera, entre a equipe e o velho
costa extrema da Europa, em frente ao Oce- poeta e arqueólogo que perdurou no tempo,
ano Atlântico. uma verdadeira referência dos galegos, pois
Um livro que havíamos consultado deu im- elogiava a liberdade, airmando a identida-
pulso máximo ao início do projeto - o Cor- de da sua antiga região, num período difícil
pus Petroglyphorum Gallaeciae, publicado em caracterizado pelo centralismo de Franco.
Santiago de Compostela em 1935, por Ra- Igualmente inesquecíveis foram as noites
mon Sobrino Buhigas, que ainda hoje, tantos passadas em sua residência a falar sobre arte
anos depois, preserva o seu valor de documen- rupestre e ilosoia, ou a passear em Santiago
tação rigorosa e metodologicamente sólida. até tarde da noite, explorando as vinícolas em
Outro texto estimulante foi o de Arte Rupes- torno da famosa catedral, que oferecia degus-
tre nas regiões ocidentais da Península Ibé- tação de um copo de vinho branco ou tin-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 245

to, talvez com mariscos, como a da pousada nalidade e economia do custo operacional.
“Tacita de Oro”, onde com a universidade, Obviamente, a documentação fotográica e
ele cantou músicas populares, contou piadas, a catalogação implementavam o trabalho de
as mesmas narradas em toda a Europa desde campo.
a Idade Média, que falam de amor perdido e Ao retornar para a Itália, nos laboratórios
de livros em empréstimo dos alunos. do CeSMAP , em Pinerolo, réplicas positi-
Em Pontevedra, no Museu de D. José, tam- vas foram feitas a partir de matrizes negati-
bém realizamos palestras públicas, com uma vas de gesso dos petróglifos da Galiza, que
pequena exposição dos resultados que a equi- estão agora na única coleção tridimensional
pe recolhera para o CeSMAP em Campo existente, orgulho real do Museu de Arte Pré-
Lameiro. histórica de Pinerolo, e em particular, de Jú-
Os trabalhos arqueológicos no terreno eram lio César Borgna, que após a missão de 1971
de vários tipos e implementados de acordo foi remontada em um único molde tridimen-
com os métodos mais avançados da época: sional compreendendo toda a superfície da
a veriicação do estado de conservação geo- rocha e da famosa gravura denominada Laxe
mineralógico e lítico da superfície da rocha, dos Cebros.
que por vezes, cheia de detritos e plantas No laboratório do CeSMAP os moldes origi-
minerais, poderiam alterar a percepção dos nais feitos em polietileno foram copiados em
petróglifos. papel vegetal com canetas de tinta e também
A segunda fase focou no estudo das áreas reduzidos para a escala 1:8 com o uso da has-
com a inalidade de pesquisar o tratamento te do pantógrafo para o desenho.
bicolor (amarelo e preto para o contraste óp- A partir destes documentos, rigorosos e pre-
tico máximo, fundamentado na tentativa do cisos, puderam-se obter cópias e prosseguir
CeSMAP alterando a forma preto e branco com o procedimento de cópias heliográicas.
como foi utilizado pelo CCSP em Valcamo- No inal do longo e exigente trabalho, os
nica) e na detecção posterior dos cortes em desenhos foram preparados para o estudo e
grandes folhas de polietileno transparente, exposição no museu.
com indeléveis marcadores coloridos. Al- Desde o ano de 1972, em Pinerolo, se deu a
ternativamente, utilizou-se o sistema sueco abertura do Museu de Arte Pré-histórica. As
de “colorir” diretamente as partes dos pe- atividades foram, durante muitos anos, rea-
tróglifos gravados, procedimento menos lizadas pelo departamento cultural do novo
preciso e mais arbitrário, mas de execução Museu Municipal (arqueologia e antropolo-
muito mais rápida. Os moldes foram feitos gia) da cidade de Pinerolo.
com um método tridimensional desenvol-
vido por Borgna e testado e aperfeiçoado O ambiente geográico dos Alpes do Pie-
pelo CeSMAP. O método conhecido como monte e a Arte Rupestre pré-histórica
“folha de plástico” permitiu a obtenção iel A região de Piemonte é delimitada a oeste
de matrizes negativas nas superfícies rocho- pela cadeia alpina a qual é constituída de uma
sas gravadas, colocadas em recipientes me- formação orogenética que suspendeu o man-
tálicos para transporte para o laboratório. to terrestre do período Terciário do Mediter-
Desde 1972, após uma extensa análise, o râneo. Esta região é formada por depósitos
CeSMAP substituiu o método de três moldes de cálcio, enquanto a faixa média é formada
dimensionais por outro método ainda mais por rochas cristalinas, ígneas e metamóricas.
avançado: o «SRB System”, que utiliza resinas As diversas rochas gravadas estão espalhadas
termoplásticas e pode proporcionar resulta- na área, e na sua maioria localizadas ao lon-
dos extraordinários para a qualidade e ampli- go de caminhos antigos, dominando as áreas
tude da matriz obtida, bem como pela racio- circundantes. Elas muitas vezes são mais fre-
246 • IPHAN

quente em lugares que podem ter a caracte- rum Vibii Caburrum, que reorganizou a
rística de reais santuários das populações pré- população do antigo oppidum Celto-Ligúre.
históricas ali alocadas. O estado de conservação é bom, ainda que
Estudiosos dão o nome de arte rupestre a uma cobertura de percolação mineral opalina
todas as expressões gráicas exibidas em um tenda a obliterar as iguras. Há também o au-
suporte de superfície rochosa, independente- mento do uso de aerossóis ácidos na atmosfe-
mente da técnica utilizada para produzi-la: se ra nas últimas décadas que podem ocasionar
há a adição de material (pigmentos e agluti- danos ao local.
nantes) refere-se a pictogramas ou pinturas Em 2009, um ato de vandalismo foi pratica-
rupestres, se há a remoção de partes do su- do, tendo sido manchada a única pintura do
porte refere-se a petróglifos ou gravuras ru- Neolítico nos Alpes, com tinta branca. Uma
pestres. intervenção de especialistas em restauração
Com o advento do clima pós-glacial ocorre a do Serviço de Arqueologia do Piemonte con-
primeira grande transformação socioeconô- seguiu, com um trabalho longo e paciente,
mica das comunidades humanas: a invenção reparar os danos e restaurar as pinturas pré-
da agricultura e da domesticação de animais históricas no estado anterior de legibilidade.
denominada “revolução neolítica”. Essas mu- Obviamente, as datações absolutas no futu-
danças se reletiram em novas expressões de ro podem via a dar alterações (por exemplo,
arte rupestre, mais esquemática, geométrica, com o AMS).
abstrata e simbólica; o “novo homem” selecio-
na sítios e abrigos sob rocha dominantes na O Sítio Ponte Raut no vale Germanasca
paisagem e coloca os complexos de sinais em O Rio Germanasca atravessa o vale homô-
locais estratégicos, como uma espécie de ritual nimo desaguando no Vale do Chisone na
simbólico e religioso de posse do território. localidade de Perosa, na Argentina. Na área
da comunidade de Perrero em Ponte Raut, se
O Sítio de Rocca di Cavour localiza o abrigo Roccio d’la Fantino (deno-
A Rocca di Cavour é um Inselberg em cujas minação em patuá occitano), um excepcional
encostas rochosas se encontra arte rupestre conjunto pictórico rupestre, descoberto em
que coincide exatamente com a possessão 1920 pelo Prof . Silvio Pons, do Instituto Ita-
do território cavourese pelas comunidades liano de Pré-História e pesquisado pelo CeS-
portadoras de uma cultura denominada: MAP desde o inal de 1960, sendo o único
vaso de boca quadrada (VBQ). A Rocca exemplo de pinturas rupestres pré-históricas
di Cavour apresenta pinturas rupestres de na Itália alpina, até a descoberta, em 1979,
motivos esquemáticos antropomóricos do das pinturas neolíticas de Rocca di Cavour.
tipo “hiperantrópico” com características Este imponente complexo rupestre se locali-
femininas e de iguras antropomóricas me- za no interior do abrigo onde existem algu-
nores com cabeça com chifre ou com testa mas pinturas rupestres que representam um
triangular. A composição inclui ainda seios círculo com quatro raios perpendiculares no
a “chevron” e faixas subparalelas com peque- seu interior e um retângulo tipologicamen-
nos entalhes ou pontilhados. Estes foram te atribuível à fase geométrica esquemática
realizados por membros de uma população encontrada principalmente nos horizontes
do inal VBQ (mid-V millennium a.C .) e culturais da civilização megalítica, desde o
pode ser considerado como responsável pela Neolítico até a Idade do Cobre. Uma igu-
colonização da área e que se manteve implan- ra complexa “idoliforme” está à direita da
tado até fechar a época histórica, quando o composição monumental, com uma marca
território entra na história com a fundação, especial de uma mão em negativo. Todo o
em 49 a.C., de uma colônia romana, a Fó- complexo é feito de ocre amarelo.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 247

O sítio da Balma Mondon arte rupestre, há um fenômeno mais alar-


No município de Villar Pellice, em um gran- mante, que é o ato criminoso intencional de
de abrigo rochoso denominado Balma de saque de peças de arte rupestre com a des-
Mondon, em 1990, foram descobertas novas truição dos sítios e com o objetivo de obter
pinturas rupestres. fragmentos para a venda no mercado negro.
A composição é dividida em três grades com A demanda normalmente parte do mundo
faixas verticais em paralelo, contornada por ocidental e, encontra respostas, em especial
duas pequenas iguras antropomóricas enca- nos países em desenvolvimento, por causa de
deadas. Entre as duas grades há uma com- legislações às vezes permissivas, falta de isca-
posição de duas iguras invertidas tipo duplo lização, na corrupção dos guardiões dos bens,
V e um alberiforme. O complexo pictórico é tudo isso acrescido a baixa renda das popu-
naturalmente desgastado pela cobertura dos lações locais que necessitam transformar os
vários depósitos de percolação, que cobrem recursos culturais em econômicos.
parcialmente a pintura. Este complexo mo- Evidentemente o processo correto para ser apli-
numental de pinturas rupestres é atribuível cado a sítios mais ameaçados é baseado em pla-
no horizonte cultural do Neolítico até a Ida- nos de desenvolvimento local ecocompativeis,
de do Cobre. com foco no conhecimento e tradições, capazes
de realizar novas formas de utilização adequa-
Conclusão: Ações de conservação. da do patrimônio cultural, em especial na arte
O Prof. Antonio Beltran, reitor da Uni- rupestre, por meio da valorização do bem e
versidade de Zaragoza, falecido em 2006, criação de infraestrutura para um turismo cul-
visitou os sítios de Pinerolo e, analisando tural, inteligentemente proposto, canalizando
acuradamente este patrimônio, estimou a os objetivos para o aumentar a autossustentabi-
fundamental importância das pinturas para a lidade. Mesmo infraestrutura e planejamento
compreensão da produção cultural relativa as urbano devem ser adaptados para melhorar as
populações neolíticas europeias dos quinto e particularidades locais, preservando o patrimô-
quarto milênios a.C., que apresentavam forte nio cultural, ambiental e paisagístico.
ligação com a província mediterrânea da arte A pior calamidade para um país é não ter
rupestre neolítica do sul da França e l este de consciência do valor da tradição, tanto de
Espanha. suas características naturais quanto culturais
Todas as pinturas rupestres pré-históricas dos para transformá-lo e para evidenciá-lo como
Alpes Ocidentais são afetadas pela degradação bem de valor excepcional.
progressiva devido ao aumento da poluição do Nesta abordagem a conservação é uma ciên-
ar e, em especial, da chuva ácida proveniente cia aberta, muito dinâmica e progressiva, in-
do uso dos aerossóis, em crescente aumento grediente necessário para o desenvolvimento
nas últimas décadas, como demonstrado pela de políticas e melhor qualidade de vida para a
comparação com dados de pesquisas prece- população de determinado território.
dentes. Disto resulta a urgente necessidade de Mesmo as políticas alpinas do patrimônio
proteção, de conservação e valorização. cultural estão entrelaçadas com as políticas
Obviamente, a proteção e a preservação va- de ordenamento do território. A aspereza do
riam de Estado para Estado e de região para ambiente alpino, as encostas íngremes e, mais
região. Estes problemas são evidentes, na Eu- recentemente, o grande esvaziamento popula-
ropa, mas também em outros continentes há cional dos vales, estão a criar desgaste ambiental
lacunas e atrasos, tanto de regulamentação muitas vezes macroscópico. O regime de águas
quanto de melhores práticas. hoje já não é efetivamente controlado, resul-
Além do vandalismo, geralmente, mais ou tando em territórios instáveis que aumentam o
menos inconsciente de agressão a sítios de risco de deslizamentos de terra.
248 • IPHAN

A realização de grandes obras de infraestru- O conhecimento é pedra fundamental na


tura, pontes, túneis, vias férreas, linhas de estruturação de práticas de conservação do
energia, hidrelétricas e barragens de açudes, bem. Obviamente, não se pretende que o
muitas vezes envolve também a descoberta arquiteto e urbanista seja também um espe-
de arte rupestre que podem icar em risco se cialista em arte pré-histórica, mas a equipe
não houver ações preventivas. do projeto deve contemplar todos os prois-
Para decolar e incentivar os esforços de con- sionais necessários para a correta gestão do
servação deve haver um imediato trabalho de território.
reconhecimento, mapeamento e documenta- Desta forma o projeto técnico está a mudar
ção de sítios de arte rupestre. Este arquivo do em metaprojetos e adquire gradualmente um
território se torna a base indispensável para nível mais político até o momento em que é
assegurar os parâmetros que serão utilizados oicialmente aprovado, promulgado e posto
pelos designers de planos integrados. em prática executiva.
Stephanie Koerner

3. Arqueologia Preventiva : cenários teóricos

Georgios Dimitriadis
XIII. Plurality of Viewpoints and Collective Learning – Themes in
Heritage Based Approaches to Life Quality Issues and Efforts to
Reframe Science and Technology Policy.
Stephanie Koerner

XIV. Archeologia dei Conlitti: un approccio sistemico.


Georgios Dimitriadis

13. Pluralidade de pontos de vista e aprendizagem coletiva – Abordagens sobre temas de


Patrimônio fundamentados nas questões de Qualidade de Vida e nos esforços para
reenquadrar a política cientíica e tecnológica.
14. Arqueologia dos conlitos: uma abordagem sistêmica.
Plurality of Viewpoints and
Collective Learning – Themes in
Heritage Based Approaches to Life
Quality Issues and Efforts
to Reframe Science and
Technology Policy XIII
Stephanie Koerner

Introduction

U ntil quite recently few archaeologists are likely to have expected ‘interface’
or ‘boundary areas’ of research - not only in the interdisciplinary senses of
physical chemistry, thermodynamics, biochemistry, molecular biology, and hu-
man ecology (Pribram 1997), but also in the senses of areas of specialization
developing on interstices between university departments for physical, life and
social sciences and the humanities, and wider public afairs and policy processes
- to give rise to momentous change in orientations towards science, society, and
modernity. his chapter takes its departure from discussions initiated by a ses-
sion organized for the 2009 meeting of the heoretical Archaeology Group (TAG;
December 2009, Durham, England) by Mariana Diniz (University of Lisbon,
Portugal) and Miguel Aguilar (University of the Andes, Colombia), entitled ‘Fair
Archaeology – Building Bridges Instead of Deepening Gaps.’1 he chapter vari-

1
he expression Fair Archaeology was borrowed for the purposes of the TAG session by Diniz and Aguilar
252 • IPHAN

ously illustrates a suggestion about bridges that might be especially important for
addressing the pressing equity of life quality issues at stake with Diniz and Aguilar’s
conception of ‘fair archaeology.’ I will suggest that especially valuable bridged might
be forged by exploring some of the very direct ways in which projects, which stress
the importance of diverse publics’ participation to the success of cultural heritage
based solutions to complex social and ecological problems, relate to arguments
that policy makers need alternatives to ‘technologies of hybris’ (Jasanof 2003) in
order to balance the immense but unpredictable potential of science and technol-
ogy with our acknowledgment that not everything that can be done should be
done (Nowotny 2000, 2008).
To this aim, the chapter is organised into several parts. Part 2 underscores several
factors that are likely to have impeded developing such a suggestion. At the heart of
our considerations of this suggestion is an exploration of connections between heri-
tage based approaches to pressing life quality issues, and eforts to reframe the roles
of ‘public issues’ in science and technology (or techno-science) policy processes. 2

from the international Fair Trade Organization. hey intended the expression to serve as a metaphor, in a
proposal of forming bridges between ‘First and hird World’ communities grounded in alternatives to the
unequal forms of exchange, which have been perpetuated by institutions grounded in neoclassical economic
theories about the reducibility of value to universalisable market prices. Perhaps much of the signiicance of
this metaphor lies in contributions that it can make to appreciating what can be found (rather than lost)
through translation. One of the advantages of Fair Trade based institutions has been their bringing light
to the ways in which (as Alf Hornborg 1998: 127 might put it) many highly unequal forms of exchange
are grounded paying for intact resources amounts equivalent to only the remains of these after they have
been turned into commodities for sale on the market – rather than amounts that would give a fair share of
the value of commodities to those contributing the intact resources. A further advantage of developments
surrounding these institutions may be the light that attention to ‘should do’ questions may be able to throw
on the tenacity of presuppositions about the ways in which elites’ private vices of self-indulgence and luxury
facilitate the common good’, which are rooted in Bernard Mandelville’s book, he Fable of the Bees: Private
Vices, Public Beneits [1714] and Adam Smith’s he Wealth of Nations [1776] (cf. Carrier and Miller 2000:
30-1). James G. Carrier and Daniel Miller note that much current discussion of how micro and macro scales
relate to one another continues to be complicated by failures to recognize clashes between models, which
envisage relationships between the microscopic and the macroscopic in term of diferences between small
and large (or particulars versus a general category), and the extent to which many powerful political and
economic competitors continue to envisage such relationships (explicitly or implicitly) in terms of (clearly
‘should do’) issues of vices and virtues. Carrier and Miller (ibid) note that: ‘in he heory of Moral Senti-
ments, Smith (1976 [1759]: 18) chastised the rich for distinctly uncivil behaviour, ‘natural selishness and
rapacity’ and concern only for their convenience. But one of Smith’s (1776 [1759]: 185) main arguments
is that the result of elites’ behaviour is, ‘without their intending it,’ to ‘advance the interest of society.’ Fur-
thermore, Carrier and Miller (2000: 35-39) note that one of the paradoxical consequences of the tenacity of
such images has been that, while the activities of many everyday people is informed by their concerns to act
unselishly (to sustain private virtues’), much public institutional vice goes unchecked.
2
he expression ‘techno-science’ was introduced into science studies, which have drawn attention to
the very important roles of technology (and especially instrumental employments of technology) in
relationships between contents of scientiic knowledge and their social contexts (Latour and Woolgar
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 253

Emphasis falls on connections with regards to contextual circumstances and shared


themes and insights. For Dinis, Aguilar and many other anthropologists and ar-
chaeologists, the question of by and for whom heritage is researched and conserved
is at once an ecological, life quality and expert competence issue (cf. Darvill 2007,
2010). At the same time, Sheila Jasanof, Helga Nowotny and many others, with
backgrounds in law and physical and life sciences who are striving to reframe the
roles of ‘public issues’ in techno-science policy processes, are arguing that alternative
‘technologies of humility’ might help to prevent the sorts of ‘can do’ orientations
(which have motivated all too many claims to be able to predict and control contin-
gency) from eclipsing the importance to ‘should do’ questions of diverse points of
view and collective learning. Part 3 explores commonalities with regards to contex-
tual circumstances; themes; and insights. Emphasis falls upon insights and themes
that go against the grain of presuppositions about the world, science and modernity,
which have been shared by the most inluentially, opposed paradigms for meth-
odology and theory in the social sciences and humanities, in general – or what C.
J. Snow ([1959] 1962) called ‘two cultures.’ My aims with this chapter are not at
all restricted to critique or academic interests. Emphasis falls throughout on the
importance for fresh approaches to locally situated but ubiquitous social and eco-
logical problems of common themes and insights of many of today’s heritage based
approaches to life quality issues, and of arguments for reframing the roles of public
issues in policy processes, in general. Further, Part 4, draws attention to contribu-
tions that recent developments in physical and life sciences, and amongst eforts to
rethink art and science’s histories might be able to appreciating how these relate to
arguments for the need of ‘technologies of humility’ in policy processes (Jasanof
2003; Nowotny 2008). he chapter concludes with some suggestions about the im-
portance of archaeological and anthropological research on the diversity of past and
present day cultures of humanising modernity in ways that address needs of a world
in which simplicity is a memory of a bygone age’ (Funtowicz and Ravetz 1997).

Contextualising Vexed Dichotomies of ‘Pure’ versus ‘Applied Research’


In every day life we implicitly intuit (and often explicitly acknowledge) that we do
not know everything (Rosaldo 1989); that, while what some say is unavoidable

1982). Discussions of contracts between Mode 1 and Mode 2 knowledge production have drawn atten-
tion to the importance to the latter of scientiic technology research being carried out in contexts of its
instrumental use (Gibbons et al 1994; Nowotny et al 2001), and motivated much research on policy im-
plications of the highly uncertain and contested ‘post-normal science’ knowledge associated with many
of the contemporary world’s health, safety and environmental decisions (Ravetz and Funtowicz 1992).
254 • IPHAN

(by necessity) never happens, the unexpected always occurs (Nowotny 2008);
and that plurality of points of view is crucial for the sorts of collective learning
(Jasanof) needed to realise diverse aspirations for the future. he implications
of such intuitions for alternatives to vexed deterministic options of utopic or
dystopic visions human agency, history and a ‘common world’ has long been
recognised. Recent versions come from authors with very diverse backgrounds:
Our everyday experience teaches that adaptability and plasticity of behaviour, two
basic features of non-linear dynamic systems capable of performing transitions in far
from equilibrium conditions, rank among the most conspicuous characteristics of
human societies…. A basic question that can be raised is whether… past experience
is suicient for predicting the future, or is a high degree of unpredictability of the
future the essence of the human adventure, be it at the level of individual learning or
at the collective levels of history making? (Nicolis and Prigogine 1989: 238).
Archaeology is an environmental quality issue… [and] a life quality issue….
‘World Heritage Sites should not only be exemplary situations for the pursuit of
research but also be closely identiied with the creation and maintenance of dif-
ferent kinds of knowledge (Darvill 2007: 449, 436).
he future and the people of tomorrow are still primarily conceived in utopian and
dystopian images whereby utopianism makes use of the genre of scientiic-techno-
logical visions and their unconditional enthusiasm while dystopianism prefers the
literary or artistic narrative form and posits that things are headed for catastrophe. But
both the scientiic-technological visions and their complement, the dystopian images
of the future, attempt to suppress the ambivalence of modernity. his ambivalence
teaches us that the people of tomorrow will no longer be the people we know today.
Nor will they be cyborgs and androids, the hybrid igures of science iction, which
fascinate us because we do not know the ways in which they resemble and difer from
people like us. To understand them, we must put ourselves in their place and estimate
the possible efects of our actions on them. In this way, we make another of the many
attempts in history that have been made to ind a foundation for our own behaviour -
a foundation that asks what the nature of our positive, meaning-creating dependence
on others is and what we owe them in the light of this bond. Ultimately, this is the
only way we can be self-determining and know who we, the people of today, are. If we
want to conceive the future outside of the categories of utopia and dystopia, we have
to start out from the people of today (Nowotny 2008: 165).
Yet, until quite recently few archaeologists and anthropologists are likely to have
embraced the suggestion that such insights might provide points of departure
for reframing theory and methodology in ways that bear directly upon ‘needs
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 255

of a world in which simplicity is a memory of a bygone age’ (Funtowicz and


Ravetz 1997). Likewise few are likely to have expected major contributions to
such reframing to come from areas of specialisation, which go against the grain
of dualist characterisations of ‘pure’ versus ‘applied research.’ And perhaps least
expected would have been that projects, which stress the importance of diverse
upstream public involvement to the success of cultural heritage based approaches
to ‘jointly social and ecological problems’ (Wescoat 2007), could relate directly to
arguments for fresh means to balance ‘can do’ orientations with ‘should do’ ques-
tions in science and technology policy processes (Jasanof 2003; Nowotny 2008).
I will try to summarize some of the factors, which are likely to have been im-
peding positive responses to such suggestions. It cannot be stressed enough that
neither our exploration of these factors’ nor our considerations, for instance, of
intersections between recent heritage based approaches to life quality issues and ef-
forts to reframe techno-science policy processes, assumes that these can be explained
in terms of context independent (universalising) models. Instead, throughout em-
phasis falls on themes of ubiquity and exploring possible analogies between context
contingent instantiations.
For some decades now, such dichotomies as those of nature versus culture, moderns
versus pre-moderns, reason versus tradition, pure versus applied research, and so
on, have been the foci of many university based debates over the relative merits of
the most inluentially opposed paradigms for the social sciences and humanities (S.
Koerner 2004). here has also been considerable expansion of interest in the rel-
evance of questions of by and for whom research is pursued from areas of ‘applied’
or public’ specialization into the core of university based research and teaching.
Unfortunately, the very direct bearing of these developments upon challenges posed
by changes that are taking place in the dynamics of universities, policy processes
and public afairs often gets overshadowed by polemical debates, which give us the
impression we are restricted to vexed options of ‘foundationalist’ or cultural ‘relativ-
ist’ paradigms for methodology and theory, and utopic or dystopic interpretations
of science and modernity either as a triumph or as a tragedy. For Renato Rosaldo
(1989) such impressions are largely due to presuppositions shared by the most in-
luentially opposed positions. He mentions as an example the opposition between
strongly environmental deterministic paradigms and approaches stress that culture
requires study from a number of perspectives, and that these are not reducible to a
context independent universally valid model. For Rosaldo (1989: 92-4), consider-
able problems are posed not only by the former, but also by tendencies amongst the
latter to envisage culture and society as ‘mechanisms of control.’ An example, for
Rosaldo, is the clash in Cliford Geertz’ (1973) early work between an emphasis on
‘thick description’ and its theses on culture and necessity. While the former de-
256 • IPHAN

scribed ‘culture as loosely tied bundles’ (Rosaldo 1989: 94), the latter argue that
(1) culture is best seen not as complexes of concrete behaviour patterns… but as
a set of control mechanisms – plans, recipes, rules, instructions (what computer
programmers call ‘programmEs’) for governing behaviour and (2) man is pre-
cisely the animal most desperately dependent upon such extra-genetic, outside-
the skin control mechanisms, such cultural programmes. In such views, without
‘cultural programmes’ human beings would be ‘unworkable monstrosities with
very few useful instincts, fewer recognisable sentiments, and no intellect: mental
basket cases’ (Geertz 1973: 49). All this raises the questions:
Must one agree that without cultural plans humans become grotesque creatures,
disoriented beyond any capacity for desire, or feeling, or thought? Do our options
really come down to the vexed choice between supporting cultural order or yield-
ing to the chaos of brute idiocy? (Rosaldo 1989: 98).
Importantly, researchers involved in applied ields have long been unlikely to
agree that we are restricted to these options, and many would say that preoc-
cupation with debating them result in focusing on the least rather than the most
tractable issues (cf. Wescoat 2007). But attention to these responses goes against
the grain of assumptions that the deepest changes in methodology and theory
arise out of areas of ‘pure research.’ hese are not perpetuated on their own. hey
are enmeshed in further assumptions that radical change in methodology and
theory can be recognized by its bearing on questions of whether the humanities
and social sciences can or should aspire to what they envisage as requirements of
physical sciences, and whether science and modernity should be interpreted as
a triumph or a tragedy. hus, throughout much of what David Clarke (1973)
might have called archaeology’s ‘critical self-conscious’ era, vexed options of ‘sci-
entism’ versus ‘anti-scientism’ and utopic and dystopic interpretations of science
and modernity have shaped much polemical theoretical debate (cf. Trigger 1984;
Johnson 1999). In the 1990s Robert Preucel summarized key theoretical ques-
tions as including the following:
Do archaeologists discover an objective past? Or do they create alternative pasts?
Is archaeology properly considered a human science or a natural science? In the
course of dealing with these and related issues, archaeology has turned once again to
philosophy for guidance. Just as positivism was adopted by processual archaeology
in the 1960s, post-positivism is currently being embraced by the movement now
known as post-processual archaeology. he post-processual movement is signiied
by an attack on the scientism of processual archaeology [Hodder 1982; Shanks and
Tilley 1987] and the exploration of alternative interpretive frameworks [Hodder
1986; Leone et al. 1987] (Preucel 1991:17)
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 257

And these visions of what counts as theory change have been further enmeshed in
orientations towards relations between universities and society, which have been
rooted in portrayals of science:
as surrounded by a kind of semi-permeable membrane: the results of science lowed
outward and inluenced ambient society, but there was no traic in the reverse di-
rection. Science is, on this account, a world unto itself, largely insulated from the
society in which it was embedded (Daston 2006: 529).
Inluentially opposed paradigms have recurrently diverged around such dichoto-
mies as those of science and society, pure versus applied research, reason versus
tradition, and so on. For instance, while foundationalists who stress separating
the contents of research from social contexts might be said to ‘do boundary work’,
cultural relativists ‘watch boundaries’ (Gieryn 1994: 193). But what, as Lorraine
Daston, says bears stressing is the extent to which:
he opposition between nature and culture shadows that between the real and
the constructed, nature stands as the eternal, the inexorable, the universal; cul-
ture for the variable, the malleable, and the particular. Like the return of the
represses, the supra- and sub-lunary spheres of Aristotelian cosmology crop up
in a new guise, crystalline nature encircling mutable culture. Both sides of the
debate accept the oppositions of the real versus the constructed, the natural ver-
sus the constructed. Hence arguments are about which of these two categories
notions like ‘race’ or ‘quark’ belong – are they real or are they constructed? Dis-
coveries or inventions? – Not about the categories themselves (Daston 2000: 3).
In these lights, appreciating considerable alternatives to vexed options of ‘sup-
porting cultural order or yielding to the chaos of brute idiocy’ (Rosaldo (1989:
98) goes against the grain numerous presuppositions these options share. Ex-
amples that have played major roles in perpetuating dualist characterizations of
‘pure’ versus ‘applied research’ include presuppositions:
• ‘in reality’ the world is reducible to the ‘simplicity’ of immutable entities
and operations (Funtowicz and Ravetz 1992),
• the ultimate task of science is that of ‘quest of certainty’ through the reduc-
tion of contingent experience to altogether context independent ‘foundational laws’
(Dewey 1927, 1938; Toulmin 1990),
• supposedly likewise universalisable (context independent) obstacles to such
‘quest of certainty’ such as obstacles said to be posed by technologically limited in-
struments, social interests, cultural constructions, and so on.
258 • IPHAN

here is much diversity amongst alternatives to these options, and their visions
of theory change. However it is possible to identify several insights that these
alternatives have often shared with many recent eforts to design heritage based
approaches to pressing social and ecological problems, as to reframe the roles of
‘should do’ questions in techno-science policy processes, including:
• that complexity and emergent novelty are normal states for reality, and cru-
cial for understanding how we ind the world intelligible (Polanyi 1965; Kaufman
1993; Rheinberger 1997; Ingold 2000);
• that there are no such things as context independent problems, or, ex-
pressed in John Dewey’s (1938: 66–7) terms: ‘we never experience or form judg-
ments about objects and events in isolation, but only in connection with a contex-
tualised whole’. he latter is called a “situation”;
• that dichotomies such as those of nature-culture, the real versus the histori-
cally contingent, expert knowledge versus public issues, prioritize the least (rather
than the most) tractable problems, and impede appreciating the importance of plu-
rality of points views for collective learning and sustaining diverse human life ways.
Such insights have considerable predecessors, and have often been associated with
important insights of the contributions that not only publicly engaged work, but
especially that involved publics can and have made to profound methodology
and theory change. For John Dewey and many other contributors to the long
history of critiques of detached experts universalizing generalizations about ‘the
public good’ (Cicero [106-43 BC] 1942; Vico [1744] 1948) are crucial obstacles
to appreciating these insights relevance are assume that ‘the public’ is a time-
less category and that ‘public issues’ are simple or simpliied versions of complex
problems. To the contrary, it is the most complex problems the problems that
hitherto predominant institutions and paradigms do not or are unable to address
that spark the emergence of publics and eforts to reframe what is meant by the
‘common good’. Public issues, in this view are major methodological, theoreti-
cal and expert competence issues (cf. Carman 2002; Skeates 2000; Darvill 2007;
Wescoat 1991, 1992, 2007; Diniz and Aguilar 2009; Jasanof 2003; Nowotny
2000, 2008).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 259

Common Circumstances, hemes and Insights of Arguments for Attention


to ‘Should Do’ Questions in the Humanities, Social Sciences and Science and
Technology Policy Processes
Today interest in such views is becoming increasingly widespread. In recent years
the roles of physical and life sciences, social sciences and the humanities in the dy-
namics of universities and public afairs have been undergoing changes that may be
as those, which divided disciplines dealing with nature from those dealing with soci-
ety and culture in early modern times (Toulmin 1990). Relexivity about problems
with policy processes that are governed by instrumental rationality alone, is spread-
ing in physical and life sciences, and diverse sectors shaping the ‘public participation
turn’ (Jasanof 2003). Amongst those acting as expert advisors in techno-science
policy processes there is increased awareness that, while predominant paradigms for
physical and life sciences (as well as many social sciences) can produce knowledge
about what technologies can do, they do not automatically provide means to ad-
dress ‘should do’ questions. For Bent Flyvbjerg (2001:61), considerable light can be
thrown on areas where physical and life sciences are weak and the humanities and
social sciences are strong by the long history of ‘value rationality’ based approaches
to the questions: ‘Where are we going? Is this desirable? What should we do?’ Re-
lection on the values implied by these questions has traditionally been restricted
to either religion or the humanities and social sciences (Cassirer 1960; Lash 1999;
Flyvbjerg 2001). he humanities and social sciences are experiencing an increase
in demand for the sorts of knowledge and orientations they ofer, and in awareness
of diiculties their most inluentially opposed options for methodology and theory
pose for addressing
here are of course many diferences between the concerns motivating arguments
that ‘technologies of humility’ might help to address the locally situated but ex-
tremely ubiquitous consequences of many powerful techno-science policy agencies’
tendencies to marginalise ‘should do’ questions, and those motivating current ef-
forts to design heritage based solutions to pressing social and ecological problems.
However it may be possible to discern commonalities with regards to contextual
circumstances, themes and motivating insights.
Contextual commonalities indubitably play crucial roles. Much attention to ‘should
do’ questions (and related issues of ‘by and for whom’) has been motivated but con-
cerns that relationships between knowledge and power (cf. Foucault [1970] 1991,
1980; Rouse 2002) and the roles of expertise policy processes should be reframed
in ways that bear upon ‘needs of a world in which simplicity is a memory of a
bygone age’ (Funtowicz and Ravetz 1997). Many arguments for heritage based
approaches to life quality issues; and for alternatives to ‘technologies of hubris’
260 • IPHAN

in policy processes (Jasanof 2003) are attempting to respond to contexts being


shaped by:

• uncertainties about sustainable development under conditions of ‘globali-


sation’ and ‘risk society’ (Beck 1992, 2001; Lash et al. 1996; Sandercock 2003;
Jasonof 2005; Nowotny 2000, 2008);

• the growth of global computer technology based ‘knowledge economies’


at the expense of institutions responsible for the relative autonomy of nation states
and university based research and teaching (Galison and Hevly 1992; Galison 1996,
2007; Strathern 2000; Habermas 2003);

• unresolved postcolonial conditions that are ‘increasing disparities of wealth,


health and well being both within and across communities articulated with race,
class, ethnic, gender and religious diference’ (Moore 1999: 11; cf. Laclau 1990;
Castells 1996; Ranciere 1999; J. Friedman 2001; Prazniak 2001);

• ubiquitous associations of conlict, violence and warfare with poverty, dis-


crimination and cultural politics (Benhabib 1996; Fardon 1995; Hall 2005);

• the roles of ‘communities of identity and imagination,’ in shaping multi-


cultural citizenship, and trans-national and trans-locational social movements
(Moore 1999; Werbner 2008).

A. Ubiquity

Perhaps the theme that marks the most immediate intersections of recent heritage
based approaches to life quality issues, and arguments for reframing techno-sci-
ence policy processes is that of the ubiquity of situations where hitherto predomi-
nant institutions and paradigms cannot or do not address the complexity of the
problems at stake. Authors with diverse disciplinary backgrounds have noted that
many major institutions are unable or unwilling to address problems that cannot
be reduced to one side of such dichotomies as those of nature versus culture, risk
and quality control versus ethics, and so on (cf. Latour 1993; Pálssen 1993; Leach
et al. 2005). For instance, with regards to ecological and techno-science hazard,
in many parts of the world policy authorities continue to assume that

• innovation occurs in a linear progression from ‘pure research’ and resolv-


ing disagreements amongst experts to application outside of the ‘laboratory’

• ‘establishing the facts’ involves no prior normative commitments


Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 261

• innovation-oriented R (Research) & D (Development) can be considered


wholly independently from normative social ends and understandings of risk
(Felt and Wynne 2008).
hese assumptions are often associated with further presuppositions ‘can do’ and
‘should do’ questions (and risk issues and ethical concerns) can be separated from
one another entirely. here are a variety of ways to characterize uncertainties,
including as:
• Risk: a situation where one presumably knows the causes, consequences,
probabilities of possible harmful events and their associated magnitudes (kinds and
levels of damage).
• Uncertainty: where one knows the types and scales of possible harms, but
not their causes or consequence probabilities. Under conditions of uncertainty, the
term ‘risk assessment’ is actually not applicable.
• Indeterminacy: a situation where one is dealing with processes that are not
conceivable as predictable.
• Ignorance: a situation where one does not know causes, consequences or
even if one is asking the right questions.
• Ambiguity: a situation where a variety of divergent – but equally reason-
able framing assumptions (about deinitions of objects of research, questions,
approaches, variables) precludes the imposition of any single scheme of outcomes
(Felt and Wynne 2008).
In these lights, very few uncertainties can actually be classiied as ‘risk’. Much of
concern with ‘should do’ questions has been motivated by awareness that physi-
cal risks vary in relation to social contexts; risk magnitudes are embedded in
social relations and ecological processes; and that a primary risk, even for the
most technically intense activities, is that of social dependency upon institutions
that are alien, obscure, and inaccessible to the people most threatened by the
risks in question (Beck 1992; Lash et al. 1996; Irwin and Wynne 1996; Jasanof
1990, 2003; Rajan 2003; Felt and Wynne 2008). Attention to ‘should do’ might
help with reframing the ways in which policy issues are deined, decisions about
evidence, and factors that have often been excluded from considerations (Jasanof
2003; Nowotny 2008; Felt and Wynne 2008). For Nowotny:
Technological systems require a degree of compatibility in their standards and compo-
nents that the social systems cannot have because they must remain open. We expect
that technological systems must be foreseeable reliable and secure. Only then are the
262 • IPHAN

selected technological solutions stable enough to solve the problems posed to them.
By contrast, social systems—and societies—constitute themselves from their members’
knowledge of each other. hey are not subject to any process of closing and must re-
main in continuous openness. We know what the world’s top scientiic laboratories
are working on today, and yet at best this allows us to derive scientiic-technological
visions that it within a system that has been made to be consistent within itself. hese
visions can say next to nothing about forms of social organization, mutual relations
among people, and emotional energies that the people of tomorrow will invest in ideas
for or against each other or in things and institutions whose continuity they believe in.
his lack of social knowledge makes these technological visions blind, even if they are
able to gauge a limited number of ‘impacts’—of foreseeable efects whose correspond-
ing consideration ought to be self-evidently a component of the process of generating
technology. For as John Maynard Keynes remarked, the unavoidable never happens,
while the unexpected always occurs (Nowotny 2008: 167).
Concerns with the ubiquity of situations where hitherto predominant institu-
tions and paradigms cannot or do not address the complexity of the problems at
stake are likewise prevalent amongst those working in contexts where controver-
sies over heritage are enmeshed in some of today’s most diicult social and ecologi-
cal problems (cf. Ucko 1994). In the chapter which he wrote for the book A Future
of Archaeology (Layton et al. 2006), Henry Cleere (2006: 65) notes that the cases,
which have been the most diicult for the World Heritage Convention to classify (as
well as the most complicated in terms ‘management by and for whom’) have been
those involving ‘a continuing landscape… in which the evolutionary process is still
in progress.’ Numerous contested cases are enmeshed in deepening inequalities with
regards to exposure to ecological hazard, unsustainable development, and politi-
cal conlict including conlicts resulting in grave human rights violations (Meskell
and Pels 2005; Silverman and Fairchild Ruggles 2007; Koerner and Russell 2010).
Many eforts to develop heritage based solutions to social and ecological problems
are being made in regions with long histories of ‘direct and powerful connections
between domestic and international conlicts and the state of tourism, cultural heri-
tage preservation and human rights violations’ (Silver 2007: 79).
Relating to Cleere’s observations, another theme is the ubiquity of circumstances
under which hitherto predominant institutions and theoretical paradigms cannot or
do not address the complexity of the problems facing local communities. Authors
with diverse disciplinary backgrounds have noted that many major institutions are
unable or unwilling to address problems that cannot be reduced to one side of such
dichotomies as those of nature versus culture, risk and quality control versus ethics,
and so on (cf. Latour 1993). For instance, with regards to ecological and techno-
science hazard, many policy authorities continue to ignore that: physical risks vary
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 263

in relation to social contexts; risk magnitudes are embedded in social relations and
ecological processes; and that a primary risk, even for the most technically intense
activities, is that of social dependency upon institutions that are alien, obscure,
and inaccessible to the people most threatened by the risks in question (Beck
1992; Lash et al. 1996; Irwin and Wynne 1996; Jasanof 2003; Wynne 2006;
Felt and Wynne 2008). In cultural heritage conservation, William S. Logan (2007)
notes that policy oicials are rarely prepared to address connections between cul-
tural and human rights issues. In many countries, ‘cultural heritage practitioners…
too frequently view their work as purely technical’ (Logan 2008: 34) and human
rights workers tend to try to avoid discussion of human rights ‘lest the lurking is-
sue of cultural relativism appear, implicitly or explicitly, to undermine the delicate
and fragile universality concept that has been painstakingly woven over the last ive
decades’ (Stamatopoulou 2004, quoted by Logan 2008: 34; see also Cowan et al.
2001).

Another theme that has become the focus of both many heritage based approaches
to pressing life quality issues, and eforts to reframe techno-science policy processes
is that of ‘representation’. One consequence of ‘two cultures’ debate has been ten-
dencies to eclipse the political connotations of ‘representation’. For Jasonof, re-
framing representations of public issues in policy process:

would give combined attention to substance and process and stress deliberation as well
as analysis. Reversing centuries of contrary development, these approaches would seek
to integrate ‘can do’ orientations with the ‘should do’ questions of political and ethical
analysis. hey would engage the human subject as an active imaginative agent, as well
as a source of knowledge, insights and memory (Jasanof 2003: 244)

B. Representation

‘Representation’ is also a key theme amongst those concerned with connections be-
tween anthropological and archaeological research agendas; and the question of by
and for whom research is pursued. Few works bring such connections into sharper
relief that Sian Jones’ chapter entitled ‘‘hey made it a living thing didn’t they?: the
growth of things and the fossilisation of heritage”, in A Future for Archaeologyet al.
2006). Jones’ (2006: 110, 115) main case study is the medieval Hilton of Cadboll
cross-slab (now in the Museum of Scotland) and the recent discovery and excava-
tion of its base together with ‘thousands of carved fragments’. She focuses particular
attention on the ‘contested meanings and identities’ surrounding the monument,
such as community members’ sense of the stone’s ‘belonging’:
264 • IPHAN

he monument is seen not merely as a living thing, but crucially as a living member of
the community. Not only is a direct analogy drawn between the cross-slab and an ‘an-
cient member of the village’, but it is also attributed the kind of social knowledge that is
essential to establishing a person’s membership within the community (Jones 2006: 116)
Jones is also interested in comparing situations where controversies over the meanings
and values associated with monuments and artifacts are enmeshed in complex life
quality issues. For Jones, situations as diferent as Hilton of Cadboll and the conlicts
over the heritage of First Nations communities of Canada, New Zealand, and Aus-
tralia studied by Miriam Clavir (2002) share numerous analogous features. hey also
throw light on problems with policy agencies ‘presuppositions and practices, which
lead to communities’ disenfranchisement (Jones 2006: 111). Many problems arise out
of presuppositions such as that: the ‘preservation of cultural heritage for posterity is a
moral imperative and beneicial to both present and past generations; the authentic-
ity of heritage is primarily associated with the fabric of artifacts and monument, even
though intangible dimensions are increasingly acknowledged’; ‘the original mean-
ings and uses of artifacts are of primary importance in determining the signiicance
of cultural heritage and appropriate modes of conservation, despite long-standing
arguments that later developments also contribute to their authenticity’ (ibid). For
Jones, especially diicult challenges are posed by clashes between ‘rhetoric about our
responsibilities to a faceless abstract public’ who are assumed to ‘derive meaning and
value from cultural heritage’; and the roles that the above listed presuppositions play
in heritage becoming ‘frozen at a particular time, abstracted from ongoing social and
cultural processes, and of necessity only subject to expert assessment and stewardship’
(ibidem). In order to address the problem, she says, a shift in orientations is needed:
away from the current emphasis on material fossilization of heritage as ‘product’, towards
a focus on heritage as ‘process’ whether dealing with the historic remains of disenfran-
chised indigenous and post-colonial cultures or those of nation-states. If heritage conser-
vation is redirected towards ‘process’, towards the dynamic and transient (re)making of
meaning in tradition, then this will go some way towards addressing the contradiction
inherent in… the artiicial dichotomy between the conservation of material fabric using
specialized scientiic techniques and the conservation of meanings and values, as if the
latter were simply applied to the surface form of objects (Jones 2006: 121).

C. Issues Spark the Emergence of Publics


Jones’ observations concerning clashes between ‘rhetoric about our responsibilities
to a faceless abstract public’ and that heritage often becomes ‘frozen at a particular
time, abstracted from ongoing social and cultural processes’ compares interestingly
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 265

with a number of the indings of comparative science and technology studies of


experts’ misunderstanding publics’ understandings. ‘Representation’ is a key
theme in studies that indicate that: cultural factors play crucial roles in framing
‘expertise’ and ‘public issues’; much of the ‘problem’ of public uptake of science
experienced by expert agencies lies in the ways in which the roles of ‘public issues’
are framed by the latter; and local case studies both illustrate problems with uni-
versalizing models of ‘traditional communities’ versus an anonymous ‘centre’, and
challenge the very idea of a universal ‘centre’ (e.g., Irwin and Wynne 1996).
hese studies bring another shared theme into relief namely that of the need of
alternatives to approaches, which have been grounded in assumptions that ‘the
public’ is a timeless category and that ‘public issues’ are simple or simpliied versions
of complex problems. Especially useful alternatives may hinge on the insight that,
actually, it is the most complex problems those which hitherto predominant institu-
tions and paradigms do not or are unable to address that spark the emergence of
publics and eforts to reframe what is meant by the ‘common good’.

Indeterminacy, Rethinking ‘Crises over Representation, and Alternatives to


‘Technologies of Hubris’
In this section we explore two such developments:
• increased conditions of possibility for illuminating contradictions between so-
called ‘standard accounts’ of science and modernity and presuppositions about sci-
ence shared by inluentially opposed versions of ‘two cultures’ (Snow [1959] 1962;
see also M. Friedman 2000);
• remarkable results of eforts to rethink ‘crises over representation’.

A. Indeterminacy and Equity


A detailed discussion of the roles that highly problematic assumptions about so
called ‘modern’ and ‘pre-modern world views’ (and ‘expert knowledge’ and ‘public
issues’) play in the assumptions about the world, science and modernity that have
been perpetuated by inluentially opposed ‘two cultures’ lies beyond the scope of
this chapter. But I can try to summarize several key diiculties. One diiculty can
be identiied by focusing attention on the tenacity of the presupposition that the
ultimate task of science is to establish universally valid concepts, categories and
propositions, whose explanatory force is independent of any context of applica-
266 • IPHAN

tion. he roots of this presupposition date back to Plato (427-347 BC) (1999)
and Aristotle’s (384-322 BC) (1984) positions on the requirements of a science.
Aristotle (1994) created a scheme for comparing these based on the question: If
something can be said to be subject to change, what is the essence of that some-
thing? (1) unchanging aspects; (2) changing aspects; or (3) both, that is, interaction
of changing and unchanging aspects? For foundationalists (like Plato), the answer
must be (1), and the others have to be reducible to it. Scientiic objects must exhibit
regularities that are universal and demonstrable by chain of both necessary and suf-
icient causes. For probabalists (like Aristotle), things that are ‘always or for the
most part’ can satisfy requirements of science if they can be described as examples
of essential states or substances (Aristotle, Metaphysics 1994, 1027a, 20-27; Daston
2000).
In antiquity, this scheme was underwritten by authoritative beliefs about constitu-
tive connections between the nature of the world and conditions of possibility for
the intelligibility of its unchanging aspects. In authoritative ancient, medieval and
Renaissance cosmology, above and beyond the diverse temporalities experienced by
human beings, the universe was governed by the timeless categories of substances
and circular motion of the ‘celestial realms’. In such beliefs, there were constitutive
(ontological) connections between these realms and human capacities for Reason
and Revelation; and a ‘science’ of ‘sublunary realms’ (of things subject to change)
was not possible (Collingwood [1949] 1956; Blumenberg 1983; Funkenstein
1986). A recurrent theme in so called ‘standard accounts’ of science and modernity
is the rejection of Aristotelian cosmology. It would seem, in these lights that mod-
ern conceptions of the tasks of science would difer to Aristotle’s. But closer exami-
nation indicates that his conception of science (and its vision of the reducibility of
the world to supposedly timeless categories and principles) continues to play central
roles in many contemporary contexts. Examples include contexts where relation-
ships between the production and dissemination of scientiic knowledge are envis-
aged as one-way processes. Another example is that many inluential paradigms
for physical and life sciences continue to envisage divisions between ‘foundational
laws’ and ‘phenomenological generalisations’ in terms of the idea that, while the
latter might describe things in relevant ways, only the former can claim to unify the
diversity of phenomena that is, to go ‘beyond appearances’ (Prigogine and Stengers
1984; Prigogine 1997). Writing on the consequences of such views, Isabelle Stengers
(1997: 22-23) notes that when she began studying physics, she accepted the main-
stream belief that observations on irreversible processes (mixtures that do not un-
mix, radical diferences between before and after, where it is impossible to overlook
the non-equivalence of cause and efect) should be treated ‘merely phenomenologi-
cal’ consequences of our not being ‘perfect observers’ and inadequate instruments.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 267

Working with Prigogine, she began to wonder whether the history of paradigms for
the tasks of science that deny time (and irreversible change and emergent novelty)
has also been the ‘history of social and cultural tensions’ (Stengers 1997: 42-43).
It is worthwhile to explore this possibility for several reasons. One is to illuminate
contradictions between so called:
• ‘standard accounts’ of science and modernity; problematic assumptions about
what supposedly divides ‘modern’ from ‘pre-modern world views’ (as well as sup-
posed incommensurate ‘world views’),
• paradigms for the tasks of science that deny time and ‘dynamic systems capa-
ble of performing transitions in far from equilibrium state’ (Nicholas and Prigogine
1989: 238).
In many ‘standard accounts,’ what distinguishes so called ‘modern’ from ‘pre-
modern worldviews’ is the formers’ awareness of the contingency of all human
claims to truth, as well as the very constitution of the world. After all, one of
the aims of the founding igures of early modern experimental science and nat-
ural philosophy was to extend properties, which Plato and Aristotle attributed
to sublunary realms to the ends of the universe (Galileo [1564-1642] 1968; see
also Collingwood [1949] 1956; Koyré 1965, 1968; Blumenberg 1983; Funken-
stein 1986; Bono 1995). Such an image of modernity’s diference would seem
to corroborate notions that ‘pre-modern worldviews’ are shaped (if not deter-
mined) by fears of contingency, ‘mythical thought’ and conceptions of ‘cyclical
time’ that deny historical time and indeterminacy (for examples and critiques,
see Eliade 1963; Lévi-Strauss 1973; Fabian 1983; Asad 1986). But this seem-
ing corroboration needs to be examined more closely. Here we do so in relation
to the paradigms bases on presuppositions about the reducibility of the world
to simplicity; and dualist characterizations of the real versus the historically
contingent (and ‘foundational laws versus ‘mere appearances’). hese actually
clash with ‘standard accounts’ of science and modernity in remarkable ways.
To express this in the terms we have been using, these paradigms clash with
‘standard accounts’ of the importance to ‘modern world views’ of awareness of
the contingency human claims to truth and the very constitution of the world.
hey do not lend themselves to appreciating that a high degree of unpredict-
ability may be a conspicuous property of the universe (Nicolas and Prigogine
1989). To the contrary, they hinge upon images of the world that share many
features with Plato and Aristotle’s realm of celestial spheres. Or to relate the
problem most directly to this chapter’s aims, they hinge upon beliefs about the
world that ‘standard accounts’ conventionally attribute to ‘pre-moderns,’ ‘oth-
ers’, ‘folk psychology’ and supposedly ‘irrational publics’.
268 • IPHAN

B. Contextualising Supposed Settlements of ‘Crises over Representation’


Iconoclash. Beyond the Image Wars in Science, Religion and ArtMaking hings Pub-
lic (Latour and Weibel 2002; 2005; cf. Shapin and Schafer 1985; Latour 1986,
1993, 2004; Most 1995; Jones and Galison 1998; Daston 2000; Kemp 2009; Lloyd
2009). Research on such circumstances is rooted in a wide variety of cross-disciplin-
ary projects. However it is possible to discern several crucial shifts in orientations,
including, shifts:
• from assumptions that the meanings of such categories as ‘art’, ‘science’,
‘objectivity’, ‘subjectivity’, ‘publics’, and so on, are somehow ‘given’ towards inqui-
ries into the variety of context-dependent forms they have taken,
• from emphasis on intellectual history the history of ideas towards inquiries
into social contexts of change in practices, institutions, objects of controversy, pub-
lic concerns and so on,
• from assumptions that consensus on ‘collective representations’ (or ‘social
equilibrium’) is somehow determined by nature or by culture, towards inquiries
into how agreements are achieved, how ‘crises over representation’ are settled, and
how it is possible for highly contradictory ideas to nevertheless endure.
Today these developments are to contributing to further change in foci, with sig-
niicant implications for replacing the long history of preoccupations with highly
generalised notions of ‘crises over representation’ with inquiries into the concrete
circumstances under which it has been possible for some to supposedly settle around
what Toulmin (1990) calls ‘the myth of the clean slate’. Worries about such circum-
stances motivate Bruno Latour’s questions:
What has happened that has made images (and by images we mean any sign, work
of art, inscription, object, picture that acts as a mediation) the focus of so much
passion? [Under what circumstances has] destroying them, erasing them, defacing
them…been taken as the ultimate touchstone to prove the validity of ones faith,
of one’s science, of one’s acumen, of one’s artistic creativity? To the point where be-
ing an iconoclast seems the highest virtue, the highest piety, in intellectual circles?
(Latour 2002: 14)
Writing on an example of such circumstances, which was associated with the wors-
ening conditions in the hirty Years War (1618–1648), Toulmin notes that:
he longer the bloodshed continued, the more paradoxical the state of Europe be-
came. … For many of those involved, it ceased to be crucial what their theological
beliefs were, or where they were rooted in experience, as 16th-century theologians
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 269

would have demand. All that mattered, by this stage, was for supporters of Religious
Truth to believe, devoutly in belief itself. For them, as for Tertullian long ago, the dif-
iculty of squaring a doctrine with experience was just one more reason for accepting
this doctrine that much more strongly (Toulmin 1990: 54)

Plurality of Points of View and Collective Learning in an Irreducibly Com-


plex World
Very little of my approach in this chapter to illustrating a suggestion about bridges,
which might be useful for addressing issues posed by Diniz and Aguilar’s conception
of ‘fair archaeology’ would surprise the late Stephen Toulmin. In this chapter, I have
variously tried to show that some useful bridges might be grounded in connections
between a number of recent cultural heritage based solutions to complex social
and ecological problems; and eforts to reframe the roles of should do questions
and public participation in science and technology policy processes. hroughout
I have followed leads suggested by Toulmin’s book, Cosmopolis. he Hidden Agenda
of Modernity (1990). Several themes in that work relate especially directly to this
possibility.
One is the importance for fresh constructive approaches to ‘crises over representa-
tion’ of exploring the circumstances under which it has been possible for some to
supposedly settle these around what Toulmin calls the ‘myth of the clean slate’ – that
is, claims about the necessity of demolishing everything that went before in quest
of altogether context independent certainty and formal coherence (ibid: 89-138,
183). After the horrors of 1914-1918 and facing challenges that may have led
many to say that ‘we can almost no longer assume that anything can be assumed’
(Sloderdijk 2005)very inluential responses centred on trying to ‘clean the slate’ and
carry through a new ‘quest of certainty’. hese responses hinged upon accounts of
science and modernity that eclipsed such contradictions as those we attempted to
summarise above. hey also eclipsed the extent to which some of modernity’s most
valuable dimensions are rooted in the relexive humanist approaches to questions
as: what should we do, who will beneit, who might be injured? A detailed analysis
of how developments explored in the previous section of the chapter relate to chal-
lenges facing eforts to bring heritage based approaches to life quality issues together
with eforts to reframe techno-science policy processes lies beyond our current pur-
poses. But, following Toulmin’s (1990) lead, several hypotheses relating to these
can be ventured. One is that insights that go against the grain of presuppositions
about the world, science and modernity, which have been shared by inluentially
opposed ‘two cultures,’ raises questions about the circumstances under which the
270 • IPHAN

highly contradictory nature of these presuppositions has been eclipsed. Perhaps in


the 17th century, in the midst of 20th century conlicts, and now it is not until those
in power developed devout beliefs in problems with the beliefs of ‘others’ that they
become able to supposedly settle ‘crises over representation’ in ways that:
• reduce ‘should do ‘ questions to ‘can do’ claims (Nowotny 2008);
• envisage starting from a ‘clean slate’ as necessary for ‘quest of certainty’
(Dewey 1927, 1938; Toulmin 1990);
• eclipse the importance of plural viewpoints and collective learning (Ja-
sanof 2003) to anything like a common good (Latour 2004).
Another hypothesis is that the history of such supposed settlements may also be the
history of major transitions in authoritative interpretations of supposedly context-
independent sources of objectivity; and the history of highly problematic carica-
tures of ‘others’ and supposedly ‘faceless publics’ (Blumenberg 1983; J.L. Koerner
1998; Daston and Galison 2007; S. Koerner 2009).
Fortunately there are also considerable constructive hypotheses, including that
there have always been alternatives to such alleged ‘settlements’ – perhaps re-
sembling Jasanof’s (2003) proposal of ‘technologies of humility’ in refram-
ing relationships between ‘can do’ orientations and ‘should do’ questions in
science and technology policy processes, and arguments that widening public
participation is crucial for the success of heritage based approaches to press-
ing social and ecological problems. Indeed another key theme in Toulmin’s
(1990) work is that modern culture and, especially, its relexive elements are as
much (if not more deeply) is rooted as much in humanism’s histories as it is in
the so-called Scientiic Revolution (Toulmin 1990: 5-44). Until quite recently,
humanism has been attacked from both sides of ‘two culture’ debates – on the
basis of mistaken assumptions. Especially those who espoused the chaos side of
vexed options of ‘order and chaos’ dichotomies (Rosaldo 1989) and interpreta-
tions of science and modernity as a tragedy (Daston 2006) misrepresented the
long history of humanist eforts to develop alternatives to what Jasanof (2003)
might refer to as ‘technologies of hubris.’ hey argued for anti-humanism – “a
conviction of the wretchedness” of the modern condition, if not of the human
condition, in general (J.L. Koerner 2004: 221). Contrary to these misrepre-
sentations, humanists stressed the importance of the contingency of all things
that endure in states far from equilibrium for their human intelligibility as well
as social solidarity. An example of this was Giambattista Vico’s ([1744] 1948)
argument the nature of human beings is not as had long been supposed, static
and unaltered or even unaltered; that human beings’ own eforts to understand
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 271

the world in which they ind themselves and to adapt it to their needs, physical
and spiritual, continuously transform their worlds and themselves. For Joseph
Leo Koerner:
Human mutability has allowed humanism itself to take many forms, and which
can be achieved by updating some terms. In the place of the old motto ‘man as
the measure of the world’, focus attention on the humanist insight – fresh enough
to controversy now – that ‘truth is made rather than found’ [Rorty 1989: 3]. In
the place of the obsolete heroism of Homo faber, think of the humanist proposi-
tion, foundational to the humanities and social sciences of our own time, that
there is no escaping culture – that what we know of nature is what culture will
have already asked (J.L. Koerner 2004: 221).
In such a view, our options are not restricted to “the vexed choice between sup-
porting cultural order or yielding to the chaos of brute idiocy” (Rosaldo 1989:
98). Instead, the dynamics of ‘contingency and solidarity’ (J.L. Koerner 2004)
makes it possible for us to address the challenge evidenced by the numerous prob-
lems of ‘globalisation’ and ‘risk society’ that we have mentioned, namely:
A common world is not something we can come to recognize, as though it had
always been here A common world, if there is going to be one, is something we
have to build, tooth and nail together (Latour 2004: 455).
A third, and related theme that runs through Toulmin’s work is that plurality of
viewpoints is crucial for the forms of collective learning that are needed in order
to ‘humanize modernity’ (ibid: 175-202). In such a view, archaeological and an-
thropological research on the diversity of past and present day cultures is of crucial
importance for the ‘needs of a world in which simplicity is a memory of a bygone
age’ (Funtowicz and Ravetz 1997):
he terms in which we make sense of the past, and the ways in which our view of
the past afects our… historical foresight or horizons of expectations. hose ho-
rizons mark the limits to the ield of action in which we see it possible to change
human afairs and to decide which of our most cherished practical goals can be
realized in fact (Toulmin 1990:1)
272 • IPHAN

Bibliography

Aristotle (384-322 BC) (1984). he Complete Works of Aristotle. Princeton: Princ-


eton University Press.

Asad, T. (1986). ‘he concept of cultural translation in British social anthropol-


ogy, in J. Cliford and G. E. Marcus (eds.), Writing Culture. Berkeley: Uni-
versity of California Press, 141-164.

Beck, U. (1992). Risk Society: Towards a New Modernity. London: Sage


Publications.

Beck, U. (2001). ‘Living your own life in a runaway world’, in W. Hutton and A.
Giddens (eds.), On the Edge. London: Vintage, 164–74.

Benhabib, S. ed. (1996). Democracy and Diference: Contesting the Boundaries of the
Political. Princeton: Princeton University Press.

Blumenberg, H. (1983). he Legitimacy of the Modern Age. Trans. R. M. Wallace.


Cambridge, MA: MIT Press.

Bohman, J. (2003). ‘Relexive public deliberation: democracy and the limits of plu-
ralism’. Philosophy and Social Criticism, 29/1: 85–105

he Word of God and the Languages of Man. Interpreting Nature in Early Modern
Science and MedicineCarrier, J. G. and Miller, D. (1999). From private vir-
tue to public vice, in H. Moore (ed.), Anthropological heory Today. Cam-
bridge: Cambridge University Press, 24-47.

Carman, J. (2002). Archaeology and Heritage: An Introduction. London: Leicester


University Press.

Cassirer, E. (1960). he Logic of the Humanities. Trans. C. Smith Howe. London:


Yale University Press.

Castells, M. (1996). he Rise of Network Society. Oxford: Blackwell.

Cicero, M. T. [106-43 BC] (1942). De Oratore. Trans E. W. Sutton and H. Rack-


ham. London: Loeb Classical Library.

Clarke, D. (1973). ‘Archaeology: the loss of innocence’. Antiquity, 47: 6–18.

Clavir, M. (2002). Preserving what is Valued: Museums, Conservation and First


Nations. Vancouver: UCC Press.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 273

Cleere, H. (2006). ‘he World Heritage Convention. Management for and


by whom?’, in R. Layton, S. Shennan and P. Stone (eds.), A Future for
Archaeology. London: Routledge, 65–74.
Collingwood, R. G. [1949] (1956). he Idea of History. New York: Oxford Uni-
versity Press.
Cowan, J. K., Dembour, M. B., and Wilson, R. A. eds. (2001). Culture and Rights.
Anthropological Perspectives. Cambridge: Cambridge University Press.
Daston, L. (2006). ‘he history of science as European self portraiture’. European
Review, 14: 523–36.
Daston, L. ed. (2000). Biographies of Scientiic Objects. Chicago: University Chi-
cago Press.
Daston, L. and Galison, P. (2007). Objectivity. London: Zone Books.
Darvill, T. (2007). ‘Research frameworks for World Heritage Sites and the concep-
tualization of archaeological knowledge’. World Archaeology, 39: 436–57.
Unquiet Pasts – Risk Society, Lived Cultural Heritage, Re- designing Relexivity.Dew-
ey, J. (1927). he Public and Its Problems. New York: Holt.
Dewey, J. (1938). Experience and Education. New York: Macmillan.
Myth and RealityFabian, J. (1983). Time and the Other: How Anthropology Creates
its Object. New York: Columbia University Press.
Fardon, R. (1995). Counterworks: Managing the Diversity of Knowledge. London:
Routledge.
Felt, U. and Wynne, B. eds. (2008). Taking European Knowledge Society Seriously.
Brussels: European Commission of the Directorate-General for Research,
Economy and Society.
Flyvbjerg, B. (2001). Making Social Science Matter: Why Social heory Fails and How It
Can Succeed Again. Trans. S. Sampson. Cambridge: Cambridge University Press.
Friedman, J. (2001). ‘Indigenous struggles and the discreet charm of the bourgeosie,
in R. Prazniak and A. Dirlik (eds.), Politics and Place in an Age of Globalization.
Lanham, MD: Rowman and Littleield Publishers, 53-70.
Foucault, M. [1970] (1991). he Order of hings: An Archaeology of the Human
Sciences. London: Routledge.
274 • IPHAN

Foucault, M. 1980 Power/Knowledge: Selected Interviews and Other Writings 1972-


1977. New York: Pantheon Books.

Friedman, M. (2000). he Parting of the Ways: Carnap, Cassirer and Heidegger. Peru,
Illinois: Open Court.

Funkenstein, A.1986. heology and the Scientiic Imagination. From the Middle
Ages to the Seventeenth Century. Princeton: Princeton University Press.

Funtowicz, S. O. and Ravetz, J. R. (1992) ‘ hree types of risk assessment and


the emergence of post normal science,’ in S. Krimski and D.Golding (eds.),
Social heories of Risk. New York: Preager, 251-273.

FuturesGalileo, G. (1564-1642) (1968). Opere, 20 volumes. Florence: Barbera.

Galison, P. and Hevly, B. (1992). Big Science: he Growth of Large-Scale Research.


Stanford: Stanford University Press.

Galison, P. L. (1996). ‘Computer simulations and the trading zone’, in P. Galison


and D. J. Stump (eds.), he Disunity of Science: Boundaries, Contexts, and
Power. Stanford: Stanford University Press, 119–157.

Galison, P. (2007). Einstein’s Clocks and Poincaré’s Maps: Empires of Time. Lon-
don: Sceptre.

Gibbons, M., Limoges, C. Nowotny, H. Schwartz, S., Scott, P. and Trow, M.


(1994). he New Knowledge Production he Dynamics of Scinece and Research
in Contemporary Society. London: Sage.

Habermas, J. (2003). Truth and Justiication. Ed. and trans. B. Fulner. Cambridge:
Polity Press.

Hall, M. (2005) ‘Situational ethics and engaged practice: the case of archaeology
in africa’, in L. Meskell, L. and P. Pels (eds.), Embedding Ethics. Oxford:
Berg, 169-194.

EmpireSymbolic and Structural ArchaeologyHodder, I. (1986). Reading the Past.


Cambridge: Cambridge University Press.

Ecological EconomicsIngold, T. (2000). he Perception of the Environment. Essays in


Livelihood, Dwelling and Skill. London: Routledge.

Irwin, A. and Wynne, B. eds. (1996). Misunderstanding Science: he Public Reconstruc-


tion of Science and Technology. Cambridge: Cambridge University Press, 19–45.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 275

Johnson, M. (1999) Archaeological heory. An introduction. Oxford: Blackwell Pub-


lishers.
Jasanof, S. (1990). he Fifth Branch: Science Advisors as Policy Makers. Cambridge:
Harvard University Press.
Jasanof, S. (2003). ‘Technologies of humility: citizen participation in governing
science’. Minerva, 41: 223–44.
Jones, C. and Galison, P. eds. (2000). Picturing Science and Producing Art. London:
Routledge.
Jones, S. (2006). ‘“hey Made It a Living hing Didn’t hey…”: the growth of
things and the fossilisation of heritage’, in R. Layton, S. Shennan and P.
Stone (eds.), A Future for Archaeology. London: Routledge, 107–26.
Kaufman, S. (1993). he Origins of Order: Self-Organisation and Selection in Evolu-
tion. Oxford: Oxford University Press.
Visualisation: he Nature Book of Art and SciencePicturing Science and Producing
ArtKoerner, J. L. (2004). Unmasking the World. Common Knowledge, 10:
220 -251.
Koerner, S. (2004). ‘Agency against the grain of privatised ethics and globalis
indiference’, in A. Gardner (ed.), Agency Uncovered: Archaeological Per-
spectives on Social Agency, Power and Being Human. London: UCL Press,
211-238.
Koerner, S. (2009). Iconoclash, plurality of public grounds of truth, and appre-
ciating that no one has or will be premodern’, in V.O. Jorge (ed.), Politics of
Vision: Archaeology in Post-Modern Contexts. Newcastle: Cambridge Academic
Publishers, 3-75.
Koerner, S. and Russell, I. eds. (forthcoming 2010), Unquiet Pasts – Risk Society,
Lived Cultural Heritage, Re- designing Relexivity. Aldershot: Ashgate.
Newtonian StudiesFrom the Closed World to the Ininite UniverseLaclau, E. (1990).
New Relections on the Revolution of Our Time. London: Verso.
Lash, S. (1999). Another Modernity: A Diferent Rationality. Oxford: Blackwell.
Risk, Environment and Modernity: Towards a New EcologyKnowledge and Society
We Have Never Been ModernLatour, B. (2004). ‘Whose cosmos, which
cosmopolis?’ Common Knowledge, 10/3: 450–62.
276 • IPHAN

Latour, B. and Weibel eds. (2002). Iconoclash: Beyond the Image Wars in Science,
Religion and Art. London: MIT Press.
Latour, B. and Weibel, P. eds. (2005). Making hings Public: Atmospheres of
Democracy. Cambridge: MIT Press.
Latour, B. and Woolgar, S. (1982) he cycle of credibility, in B. Barnes and D. Edge
(eds.), Science in Context. Readings in the Sociology of Science. Milton Keynes:
he Open University Press, 35-43.
Leach, M., Scoones, and Wynne, B. (2005). Science and Citizens. London: Zed
Books.
Lévi-Strauss. C. (1973). Tristes Tropiques. Trans. J, Wrightman and D. Wrightman.
New York: Penquin Books.
Lloyd, G.E.R. (2009). Disciplines in the Making. Cross cultural perspectives on elites,
learning and innovation. Oxford: Oxford University Press.
Logan, W. (2007). ‘Closing Pandora’s box: human rights conundrums in cultural
heritage protection’, in H. Silverman and D. Fairchild Ruggels (eds.),
Cultural Heritage and Human Rights. London: Springer, 159–71.
Meskell, L. and Pels, P. eds. (2005). Embedding Ethics. Oxford: Berg.
Moore, H. ed. (1999). Anthropological heory Today. Cambridge: Cambridge
University Press.
Most, G. W. (2005). Doubting homas. Cambridge, MA: Harvard University
Press.
Nicholis, G. and Prigogine, I. (1989). Exploring Complexity: An Introduction.
New York: W. H. Freeman and Company.
Nowotny, H. (2000). ‘Transgressive competence: the narrative of expertise’.
European Journal of Social heory, 3/1: 5–21.
Nowotny, H. (2008). Insatiable Curiosity: Innovation in a Fragile Future.
Cambridge, MA: MIT Press.
Nowotny, H., Scott, P., and Gibbons, M. (2001). Rethinking Science: Knowledge
and the Public in an Age of Uncertainty. Cambridge: Polity Press.
Beyond Boundaries. Understanding, translation and anthropological discourseEthics,
the Politics, Religion and the SoulPolanyi, M. (1965). Duke University
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 277

Lectures, 1964. Microilm. University of California, Berkeley. Copy from


University Library Photographic Services.

Politics and Place in an Age of GlobalizationPreucel, R.W. ed. (1991). Processual


and Post-Processual Archaeologies: Alternative Ways of Knowing the Past.
Carbondale: Center for Archaeological Investigations of the Southern
Illinois University.

Prigogene, I. and Stengers, I. (1984). Order Out of Chaos. New York: Bantam.

Prigogene, I. (1997). he End of Certainty: Time, Chaos and the New Laws of
Nature. London: Free Press.

Pribram, K. H. (1997). ‘Interfacing complexity at the boundary between the


natural and social sciences’, in E. L. K. Khalil and K. E. Boulding (eds.),
Evolution, Order and Complexity. Cambridge: Cambridge University Press,
40–60.

Rajan, K. S. (2003). ‘Genomic capitalism: public cultures and market logics of


corporate biotechnology’. Science as Culture, 12/1: 87–117.

Ranciere, J. (1999). Disagreement: Politics and Philosophy. Minneapolis, MN.:


University of Minnesota Press.

Rheinberger, H.-J. (1997). Toward a History of Epistemic hings: Synthesizing


Proteins in the Test Tube. Stanford, CA: Stanford University Press.

Rosaldo, R. (1989). Culture and Truth. he Remaking of Social Analysis . London:


Routledge.

Rouse, J. (2002). How Scientiic Practices Matter: Reclaiming Philosophical


Naturalism. Chicago: University of Chicago Press.

Sandercock, L. (2003). Cosmopolis 2: Mongrel Cities of the 21st Century. London:


Continuum Books.

Schatzki, T., Knorr-Cetina, K., and Von Savigny, E. eds. (2001). he Practice Turn
in Contemporary heory. London: Routledge.

Shanks, M. and Tilley, C. (1987). Re-constructing Archaeology. heory and Practice.


Cambridge: Cambridge University Press.

Shapin, S. and Schafer, S. (1985). Leviathan and the Vacuum Pump: Hobbes, Boyle
and the Experimental Life. Princeton: Princeton University Press.
278 • IPHAN

Silverman, H. and Fairchild Ruggels, D. eds. (2007). Cultural Heritage and


Human Rights. London: Springer.
Skeates, R. (2000). Debating the Archaeological Heritage. London: Duckworth.
Sloderdijk, P. (2005). ‘Forward to the theory of spheres’, in M. Ohanian and J.
C. Royoux (eds.), Cosmographs. New York: Lukas and Sternberg, 223–41.
Smith, A. [1759] (1976) he heory of Moral Sentiments. Eds. D.D. Raphael and
A.L. Macie. Oxford: Oxford University Press.
Snow, C. P. [1959] (1962). he Two Cultures and the Scientiic Revolution. Cambridge:
Cambridge University Press.
Stamatopoulou, E. (2004). ‘Why cultural rights now’. Edited transcript of remarks
made at he Case for Cultural Rights Workshop, New York City, 23 September
2004. <http:/www.ccei.org/printerfriendlymedia.php/php/prmID/5006>,
accessed 13 December 2005.
Power and InventionAudit Cultures: Anthropological Studies in Accountability,
Ethics and the Academy.Toulmin, S. (1990). Cosmopolis: he Hidden Agenda of
Modernity. Chicago: University of Chicago Press.
Trigger, B. (1984). ‘Alternative archaeologies: nationalist, colonialist, imperialist’.
Man, 19: 355–70.
Ucko, P. (1994). ‘Museums and sites: cultures of the past within education –
Zimbabwe, some ten years later’, in P. G. Stone and B. L. Molyneaux (eds.),
he Presented Past: Heritage, Museums and Education. London: Routledge,
237–82.
Vico, G. [1744] (1948). he New Science of the Common Nature of the Nations of
Giambattista Vico. Unabridged third edition, trans. T. G. Bergin and M. H. Fisch.
London: Cornell University Press
Werbner, P. ed. (2008). Anthropology and the New Cosmopolitanism. Oxford: Berg.
Progress in Human GeographyAnnals of the Association of GeographersCultural
Heritage and Human RightsCommunity Genetics
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 279

sitam de alternativas tecnologias “de arrogância”


Pluralidade de pontos de vis- (Jasanof 2003), a im de equilibrar o imenso
ta e aprendizagem coletiva - mais imprevisível potencial da ciência e tecnologia
, com o nosso entendimento de que nem tudo o
Abordagens sobre temas de que se pode fazer deva ser feito. (Nowotny 2000,
Patrimônio fundamentados 2008)
Para este im, o texto está organizado em vá-
nas questões de Qualidade rias partes. A Parte 2 destaca os vários fatores
de Vida e nos esforços para que podem ter impedido o desenvolvimento
como uma proposta. No centro de nossas con-
reenquadrar a Política Cientí- siderações está a sugestão para a exploração das
ica e Tecnológica. ligações entre o patrimônio e as abordagens ba-
seadas em questões de qualidade de vida que
reenquadrem os esforços para reformular o
Introdução papel das questões públicas em ciência e tecno-
Até muito recentemente alguns arqueólogos logia (ou tecnociência) em processos políticos.
tinham a expectativa de realizar a “interface” A ênfase recai sobre as conexões relacionadas
ou “pesquisas de fronteira” não apenas nos às circunstâncias contextuais, temas comuns e
sentidos interdisciplinares da físico-química, previsões. Para Diniz e Aguilar e muitos outros
termodinâmica, bioquímica, biologia molecu- antropólogos e arqueólogos, saber por que e
lar e ecologia humana (Pribram 1997), mas para quem o patrimônio é pesquisado e conser-
também no sentido do desenvolvimento entre vado é ao mesmo tempo questão de qualidade
as áreas de especialização nos pontos de inter- de vida ecológica como também de competên-
secção entre os departamentos da universidade cia especializada (cf. Darvill 2007, 2010). Do
para as ciências sociais e ciências humanas, dos mesmo modo, Sheila Jasanof, Helga Nowotny
assuntos públicos de maneira geral e dos pro- e muitos outros, com formação em direito e
cessos de gestão política, dando início a impor- ciências da vida, estão se esforçando para re-
tantes mudanças nas orientações para a ciência, formular o papel das “questões públicas” nos
sociedade e modernidade. processos políticos da tecnociência e discutem
Este capítulo tem como ponto de partida as alternativas de “ tecnologias de humildade” ou
discussões iniciadas numa sessão organizada seja, ajudar a prevenir o destino com orienta-
em 2009 para a reunião do Grupo de Ar- ções do “poder fazer” (que têm motivado mui-
queologia Teórica (TAG; dezembro de 2009, tas reclamações de todos que devem prever e
Durham, Inglaterra), por Mariana Diniz (Uni- controlar as contingências) e de eclipsar a im-
versidade de Lisboa, Portugal) e Miguel Agui- portância do que se “deveria fazer” sobre as per-
lar (Universidade dos Andes, Colômbia), in- guntas de diversos pontos de vista de aprendiza-
titulada de “Arqueologia Honesta - Construir gem coletiva. A Parte 3 explora as semelhanças
pontes em vez de aprofundar as lacunas”. Este no que diz respeito às circunstâncias contextu-
trabalho ilustra uma indicação sobre as ligações ais, temas e previsões. A ênfase recai sobre ideias
especialmente importantes para encaminhar e temas que vão à contramão dos pressupostos
as prementes questões de qualidade de vida sobre o mundo, a ciência e a modernidade, que
baseando-se no conceito de arqueologia justa tenham sido partilhadas pelos mais inluentes e
de Diniz e Aguilar. contraditórios paradigmas sobre a metodologia
“Vou sugerir que uma ponte especialmente válida e a teoria nas ciências sociais e humanas, em
possa ser forjada explorando de maneira muito geral - ou como C. J . Snow ([1959] 1962) de-
direta os projetos, que salientam a importância nominou: “duas culturas”. Meu objetivo com
da participação dos diversos setores públicos pela este capítulo não está de todo restrito à críti-
valorização do patrimônio cultural com soluções ca ou aos interesses acadêmicos. A ênfase recai
baseadas em complexos problemas sociais e ecoló- sobre a importância de novas abordagens para
gicos, relativos a assuntos em que os políticos neces- situações pontuais, onipresentes nos problemas
280 • IPHAN

sociais e ecológicos de temas comuns e percep- collective levels of history making? (Nicolis and
ções de muitos sobre o patrimônio contempo- Prigogine 1989: 238).
râneo e as abordagens baseadas em questões de Archaeology is an environmental quality is-
qualidade de vida e de argumentos para a res- sue… [and] a life quality issue…. ‘World
signiicação dos papéis e das questões públicas Heritage Sites should not only be exemplary
nos processos políticos em geral. Além disso, a situations for the pursuit of research but also be
Parte 4 destaca as contribuições para os recentes closely identiied with the creation and mainte-
desenvolvimentos na física e ciências da vida, e nance of diferent kinds of knowledge (Darvill
entre os esforços no sentido de repensar a arte e 2007: 449, 436).
a história da ciência de serem capazes de apre- he future and the people of tomorrow are still
ciar a maneira de como estes se relacionam com primarily conceived in utopian and dystopian
os argumentos da necessidade de “tecnologias images whereby utopianism makes use of the
da humildade” em processos políticos (Jasano- genre of scientiic-technological visions and
f 2003; Nowotny 2008). O capítulo termina their unconditional enthusiasm while dysto-
com algumas sugestões sobre a importância da pianism prefers the literary or artistic narrative
pesquisa arqueológica e antropológica sobre a form and posits that things are headed for ca-
diversidade de culturas do passado e da atua- tastrophe. But both the scientiic-technological
lidade em humanizar a modernidade de uma visions and their complement, the dystopian
forma que endereça a necessidade a “um mun- images of the future, attempt to suppress the
do em que a simplicidade é uma lembrança de ambivalence of modernity. his ambivalence
época passada” (Funtowicz e Ravetz 1997). teaches us that the people of tomorrow will
no longer be the people we know today. Nor
Contextualização das “Falsas Dicotomias” will they be cyborgs and androids, the hybrid
versus ‘’Investigação Aplicada” igures of science iction, which fascinate us be-
Diariamente intuímos implicitamente (e mui- cause we do not know the ways in which they
tas vezes reconhecemos explicitamente) que resemble and difer from people like us. To un-
não sabemos tudo (Rosaldo 1989), enquanto derstand them, we must put ourselves in their
alguns dizem que o inevitável (por necessida- place and estimate the possible efects of our
de) nunca acontece, mas o imprevisto sempre actions on them. In this way, we make another
acontece (Nowotny 2008), e que a pluralidade of the many attempts in history that have been
de pontos de vista é crucial para a aprendiza- made to ind a foundation for our own beha-
gem do tipo coletivo (Jasanof) necessária para viour - a foundation that asks what the nature
realizar as diferentes aspirações para o futuro. of our positive, meaning-creating dependence
Os efeitos de tais percepções - relativas a esco- on others is and what we owe them in the light
lhas utópicas inquietantes ou visões distópicas of this bond. Ultimately, this is the only way we
do organismo humano, da história e de um can be self-determining and know who we, the
“mundo comum” - têm sido reconhecidos há people of today, are. If we want to conceive the
muito tempo. As versões mais recentes vêm future outside of the categories of utopia and
de autores com formações muito diversas: dystopia, we have to start out from the people
Our everyday experience teaches that adapta- of today (Nowotny 2008: 165).
bility and plasticity of behaviour, two basic fea- No entanto, até muito recentemente, poucos
tures of non-linear dynamic systems capable of arqueólogos e antropólogos estavam sensíveis a
performing transitions in far from equilibrium acolher as ideias propostas de que a ressignii-
conditions, rank among the most conspicuous cação da teoria e metodologia poderia fornecer
characteristics of human societies…. A basic pontos de partida para “um mundo em que a
question that can be raised is whether… past simplicidade é uma lembrança de época passa-
experience is suicient for predicting the futu- da “ (Funtowicz e Ravetz 1997).
re, or is a high degree of unpredictability of the Da mesma forma a outra corrente tinha a ex-
future the essence of the human adventure, be pectativa de grandes contribuições da ressignii-
it at the level of individual learning or at the cação vindas de áreas de especialização, que vão
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 281

à contramão das caracterizações dualistas do ou distópica de interpretações da ciência e da


“puro” versus “investigação aplicada”. E, talvez, modernidade, quer como um triunfo, ou como
seria pelo menos esperado que projetos na con- uma tragédia. Para Renato Rosaldo (1989), es-
tramão enfatizassem a importância da partici- sas impressões são em grande parte devido aos
pação pública voltada ao sucesso do patrimônio pressupostos compartilhados por posições mais
cultural, e apoiados nas abordagens conjunta de inluentes de oposição. Ele cita como exemplo
problemas sociais e ecológicos (Wescoat 2007) a oposição entre o forte paradigma do deter-
poderiam se relacionar diretamente com os ar- minismo ambiental e as abordagens marcantes
gumentos atuais para o equilíbrio do “poder que a cultura exige de um estudo de uma série
fazer” com orientações do “dever fazer” sobre de perspectivas, e que estes não são redutíveis a
as questões da ciência e tecnologia de processos um contexto independente de modelo univer-
políticos (Jasanof 2003; Nowotny 2008). salmente válido.
Vou procurar resumir alguns dos fatores sus- Para Rosaldo (1989: 92-4), os problemas con-
ceptíveis de ter impedindo respostas positivas siderados são colocados, não apenas como
a essas sugestões. precedentes, mas também pelas últimas ten-
Neste momento, não pode ser suicientemente dências de considerar a cultura e a sociedade
sublinhado nem a nossa exploração desses fa- como “mecanismos de controle”. Um exem-
tores, nem as nossas considerações sobre a in- plo, por Rosaldo, é o choque de Cliford Ge-
tersecção entre o patrimônio recente com abor- ertz (1973) presente no seu precoce trabalho
dagem nas questões de qualidade de vida, nem entre uma ênfase na “descrição densa” e suas
dos esforços para reformular os processos polí- teses sobre cultura e necessidade. Enquanto
ticos de tecnociência, que pressupõe que estes no primeiro descreveu a cultura “como feixes
possam ser explicados em termos de modelos frouxamente amarrados” (Rosaldo 1989: 94),
de contexto independentes (universalização). no último (1) argumenta que cultura é mais
Em vez disso, toda a ênfase recai sobre temas bem compreendida não como complexos de
da ubiquidade que exploraram as possíveis ana- padrões de comportamento concreto ... mas
logias entre o contexto e as instanciações con- como um conjunto de mecanismos de controle
tingentes. – planos, receitas, regras, instruções (o que os
Por algumas décadas, essas dicotomias da natu- programadores chamam de “programas”) para
reza versus cultura, moderno versus pré-moder- regular o comportamento (2) do homem que é
no, razão versus tradição, pesquisa pura versus precisamente o animal mais desesperadamente
pesquisa aplicada, e assim por diante, foram dependente de tais fatores extragenéticos, de
os focos dos muitos debates nas universidades mecanismos de controle extracorporal, como
baseadas sobre os méritos relativos dos mais os programas culturais. Em tais pontos de vis-
inluentes paradigmas opostos para as ciências ta, sem os “programas culturais” o ser humano
sociais e humanas (S. Koerner 2004). seria “uma rude monstruosidade com muito
Houve também uma expansão considerável do poucos instintos úteis, menos sentimentos re-
interesse na relevância das questões do por que conhecíveis e nenhum intelecto: uma “cesta de
e para quem a pesquisa é exercida a partir de casos mentais” (Geertz 1973: 49). Tudo isso
áreas de “especialização pública” ou “aplicada” suscita a questão:
aos núcleos de pesquisa e ensino acadêmico. Must one agree that without cultural plans hu-
Infelizmente, a relação muito direta desses mans become grotesque creatures, disoriented
desenvolvimentos sobre os desaios colocados beyond any capacity for desire, or feeling, or
pelas mudanças que estão ocorrendo na dinâ- thought? Do our options really come down to
mica das universidades, nos processos políticos the vexed choice between supporting cultural
e assuntos públicos, muitas vezes é ofuscada por order or yielding to the chaos of brute idiocy?
debates polêmicos, o que nos dá a impressão (Rosaldo 1989: 98).
de que se restringem às opções desagradáveis de O importante é que os pesquisadores envolvi-
“paradigmas fundamentalistas” ou “relativismo dos em campos aplicativos têm por muito tem-
cultural” para a metodologia e teoria utópica po discordado de que estamos restritos a essas
282 • IPHAN

opções, e muitos diriam que a preocupação tward and inluenced ambient society, but
em debatê-las focaliza inalmente mais do que there was no traic in the reverse direction.
as questões abordadas (cf. Wescoat 2007). No Science is, on this account, a world unto itself,
entanto a atenção a essas respostas vai à contra- largely insulated from the society in which it
mão das suposições de que as mais profundas was embedded (Daston 2006: 529).
mudanças na metodologia e teoria decorrem de Importantes paradigmas opostos têm recor-
áreas de “pesquisa pura”. Estas não são perpe- rentemente divergido em torno de dicotomias
tuadas por conta própria. Elas ainda estão pre- como ciência e sociedade, pesquisa pura versus
sas a suposições de que a mudança radical na pesquisa aplicada, razão versus tradição, e assim
metodologia e na teoria possa ser reconhecida por diante. Agora, enquanto fundamentalistas
por sua inluência sobre as questões nas quais separam o conteúdo da pesquisa a partir de
duas ciências humanas e sociais podem ou de- contextos sociais a que chamamos trabalho de
vem aspirar ao que se prevê como requisitos de fronteira, pesquisadores relativistas culturais
ciências físicas, e se a ciência e a modernidade observam as fronteiras “(Gieryn 1994: 193).
devem ser interpretadas como um triunfo ou Mas o que – como Lorraine Daston, paciente-
uma tragédia. mente, salienta – é que à medida que:
Assim, durante a maior parte das opções de que he opposition between nature and culture
David Clarke (1973) poderia ter chamado de shadows that between the real and the cons-
período de crítica autoconsciente da “arqueo- tructed, nature stands as the eternal, the ine-
logia” opções perturbadoras de “cientiicismo” xorable, the universal; culture for the variable,
versus “ anticientiicismo”e interpretações utó- the malleable, and the particular. Like the re-
picas versus distópicas da ciência e da moder- turn of the represses, the supra- and sub-lunary
nidade moldaram o bastante polêmico debate spheres of Aristotelian cosmology crop up in a
teórico. (cf. Trigger 1984; Johnson 1999). Na new guise, crystalline nature encircling muta-
década de 1990, Robert Preucel resume essas ble culture. Both sides of the debate accept the
importantes questões teóricas, como expostos a oppositions of the real versus the constructed,
seguir: the natural versus the constructed. Hence argu-
Do archaeologists discover an objective past? ments are about which of these two categories
Or do they create alternative pasts? Is archa- notions like ‘race’ or ‘quark’ belong – are they
eology properly considered a human science real or are they constructed? Discoveries or in-
or a natural science? In the course of dealing ventions? – Not about the categories themsel-
with these and related issues, archaeology has ves (Daston 2000: 3).
turned once again to philosophy for guidance. Sob este ponto de vista, se valorizam as alterna-
Just as positivism was adopted by processual tivas consideradas como opções de apoio à or-
archaeology in the 1960s, post-positivism is dem cultural ou se cede ao caos de uma idiotice
currently being embraced by the movement brutal (Rosaldo 1989: 98) . Esses pressupostos
now known as post-processual archaeology. são contrários às numerosas opções tecidas so-
he post-processual movement is signiied by bre estas ações. Exemplos que desempenharam
an attack on the scientism of processual archae- papéis importantes na perpetuação dualista ca-
ology [Hodder 1982; Shanks and Tilley 1987] racterizados pela pesquisa “pura” versus a “apli-
and the exploration of alternative interpretive cada” incluem os pressupostos:
frameworks [Hodder 1986; Leone et al. 1987] • que “em realidade” o mundo é redutível a
(Preucel 1991:17) “simplicidade” das entidades imutáveis e as
E essas visões daquilo que conta como mudan- operações (Funtowicz e Ravetz, 1992),
ça de teoria têm sido enredadas nas mais diver- • que a maior tarefa da ciência é o da “busca da
sas orientações nas relações entre as universida- segurança” por meio da redução do contingen-
des e a sociedade, enraizadas em representações te de experiência num contexto completamen-
da ciência: te independente “leis fundamentais” (Dewey
as surrounded by a kind of semi-permeable 1927, 1938; Toulmin 1990 )
membrane: the results of science lowed ou- • que os supostos obstáculos são igualmente
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 283

universalizáveis (contexto independente) na pois as questões predominantes em instituições


busca de certeza, assim como os obstáculos e paradigmas não podem ou não conseguem
devem ser restritos por instrumentos tecnologi- clarear os esforços emergentes para reformular
camente limitados, os interesses sociais, as cons- o que se entende por “bem comum”.
truções culturais, e assim por diante. Há muita As questões públicas, sob este ponto de vista,
diversidade entre as alternativas a essas opções, são sobretudo metodológicas, teóricas e de pe-
e suas visões de teoria de mudança. No entanto, ritos (cf. Carman 2002; Skeates 2000; Darvill
é possível identiicar vários insights sobre essas 2007; Wescoat 1991, 1992, 2007; Diniz e
alternativas, que muitas das vezes tem dividi- Aguilar 2009; Jasanof 2003; Nowotny 2000,
do com os mais recentes esforços de design do 2008).
patrimônio baseados em abordagens de proble-
mas sociais e ecológicos, como a reformulação Circunstâncias comuns, Temas e Perspecti-
do papel de “deveria fazer” com perguntas em vas de argumentos em atenção às “questões
processos de tecnociência política, incluindo: do deve r fazer” em Ciências Sociais e Hu-
• que a complexidade e a emergente novidade manas e Ciência Tecnologia do Processo de
são estados normais para a realidade, cruciais Gestão
para a compreensão de como encontramos Hoje o interesse em tais pontos de vista está se
o mundo inteligível (Polanyi 1965; Kauf- tornando cada vez mais difundido. Nos últi-
man 1993; Rheinberger 1997; Ingold 2000), mos anos o papel das ciências físicas e ciências
• que, em tese, não existem fatos com pro- biológicas, sociais e humanas – na dinâmica
blemas independentes do contexto, ou como das universidades e dos assuntos públicos – tem
expresso por John Dewey (1938: 66-7): nós sido sujeito a alterações que podem ser dividi-
nunca experimentamos ou formulamos ju- das segundo as disciplinas que lidam com a na-
ízos sobre objetos e eventos isolados, mas tureza daquelas que se ocupam com a sociedade
apenas em conexão com um contexto global e cultura (Toulmin 1990). Relexividade sobre
. “Este último é chamado de uma situação”, problemas com os processos políticos, regidos
• as dicotomias como as de natureza versus somente pela racionalidade instrumental, está
cultura, realidade versus evento casual, conhe- espalhada em setores da física e ciências da vida,
cimento especializado versus questões públicas, e por sua vez diversos setores moldam a “parti-
priorizando (especialmente) problemas tratá- cipação pública” (Jasanof 2003). Entre aqueles
veis, impedem a apreciação da importância da que agem como consultores especializados em
pluralidade de pontos de vista para o aprendi- política de processos de tecnociência há um
zado coletivo e sustentação de diversas formas aumento da consciência de que, enquanto os
da vida humana. paradigmas predominantes para a física e as ci-
Tais insights têm antecessores consideráveis, e ências da vida (assim como muitas das ciências
sempre estiveram associados a importantes in- sociais) podem produzir conhecimento sobre o
sights de contribuições não só de trabalho pú- que as tecnologias fazem, eles não fornecem au-
blico engajado, mas especialmente envolvendo tomaticamente os elementos para se questionar
o público que pode e tem realizado profundas sobre como se “deve fazer”. Para Flyvbjerg Bent
mudanças metodológicas e teóricas. Para John (2001: 61), considerável esclarecimento pode
Dewey e muitos outros teóricos no longo histó- ser dado em áreas nas quais a física e as ciências
rico de críticas, especialistas independentes uni- da vida são fracas e as ciências humanas e sociais
versalizam generalizações sobre o “bem públi- são fortes, em função da longa história de “ra-
co” (Cícero [106-43 a.C.] 1942; Vico [1744] cionalidade” nas abordagens baseadas nas per-
1948), e são obstáculos cruciais para apreciar guntas: “Para onde vamos? É isto desejável? O
a relevância desses insights e assumir o “públi- que devemos fazer?”. Relexão sobre os valores
co” como uma categoria atemporal, e que essas implícitos por estas questões tem sido tradicio-
“questões públicas” são simples ou simpliica- nalmente reservada para a religião ou as huma-
das versões de problemas complexos. Ao con- nidades e ciências sociais (Cassirer 1960; 1999
trário, este é o mais complexo dos problemas, Lash; Flyvbjerg 2001). As ciências humanas e
284 • IPHAN

sociais estão experimentando um aumento articuladas segundo conceitos de etnia , classe,


na demanda para os tipos de conhecimentos sexo, raça e credos religiosos (Moore 1999: 11;
e orientações que oferecem, com consciência cf. Laclau 1990; Castells 1996; Ranciere 1999 ;
das diiculdades que suas opções opostas colo- Friedman J. 2001; Prazniak 2001),
cam para a metodologia e a teoria para enfren- • onipresentes associações de conlito, violência
tar essa demanda. e guerra contra a pobreza, a discriminação cul-
Há naturalmente muitas diferenças entre as pre- tural e política (Benhabib 1996; Fardon 1995,
ocupações motivando os argumentos de que “as Hall 2005),
tecnologias de humildade” podem contribuir • os papéis de “comunidades de identidade e
para resolver as situações localizadas, extrema- pensamento”, na formação da cidadania mul-
mente ubíquas de poderosas agências políticas de ticultural e transnacional e translocalização dos
tendências tecnocientíica para marginalizar as movimentos sociais (Moore 1999; Werbner
questões do “deveria fazer”, e os que motivaram os 2008).
esforços correntes para projetar soluções baseadas
em patrimônio para urgentes problemas sociais e A. Onipresença
ecológicos. No entanto, pode ser possível discer- Talvez o tema que marque as mais imediatas
nir semelhanças no que diz respeito às circuns- intersecções do patrimônio recentes sejam as
tâncias contextuais, temas e insights motivadores. abordagens baseadas em questões de qualidade
Contextualmente as comunidades desempe- de vida, e nos argumentos para a reformulação
nham sem dúvida papel fundamental. Muita dos processos da política tecnocientíica seja
atenção tem sido motivada às questões do que se a onipresença de situações em que até agora
“deveria fazer” (e outras relacionadas com “por e instituições predominantes e paradigmas não
para quem fazer”), mas referem-se às relações en- podem ou não resolvem a complexidade dos
tre conhecimento e poder (cf. Foucault [1970] problemas em jogo. Autores com diversas ori-
1991, 1980; Rouse 2002), e os papéis compe- gens disciplinares têm notado que muitas das
tentes em processos políticos devem ser reformu- grandes instituições são incapazes ou não que-
lados de forma a recair sobre as necessidades de rem encaminhar os problemas que não podem
um mundo em que a simplicidade é uma lem- ser reduzidos a este tipo de dicotomias como
brança de época passada “(Funtowicz e Ravetz, as de natureza versus cultura, risco e controle de
1997). Muitas abordagens sobre patrimônio qualidade versus ética, e assim por diante (cf.
baseadas em questões de qualidade de vida e em Latour 1993 ; Pálssen 1993; Leach et al. 2005).
alternativas para “tecnologias da arrogância” em Por exemplo, com relação ao perigo ecológico
processos políticos procuram responder a este e tecnológico-cientíico, em muitas partes do
contexto, formulando: mundo as autoridades políticas assumem que:
• incertezas sobre o desenvolvimento sustentá- • inovação ocorre em uma progressão linear de
vel em condições de “globalização” e “sociedade “pesquisa pura” e para resolver as divergências
de risco” (Beck 1992, 1996, 2001; Lash et al.; entre os peritos na aplicação fora do “laborató-
Sandercock 2003; Jasonof 2005; Nowotny rio”.
2000, 2008), • “institui os fatos” sem envolver nenhuma
• sobre o crescimento da tecnologia da infor- prioridade normativa com compromissos an-
mática mundial baseada em “economias do teriores.
conhecimento, em detrimento das institui- • inovação orientada para a pesquisa e desenvol-
ções responsáveis pela relativa autonomia dos vimento pode ser considerada como totalmen-
estados-nação e de ensino baseado em pesquisa te independente para ins sociais normativos e
universitária (Galison e Hevly 1992; Galison entendimentos de risco (Felt and Wynne 2008).
1996, 2007; Strathern 2000; Habermas 2003) Esses pressupostos são frequentemente asso-
• condições pós-coloniais não resolvidas que ciados com conjeturas de questões do “poder
são o aumento das disparidades entre riqueza e fazer” e “dever fazer” ( questões de risco e as
saúde e bem-estar, ambos entre comunidades preocupações éticas) e podem ser completa-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 285

mente separados um do outro. Há uma varie- vestir em ideias a favor ou contra si ou em coi-
dade de maneiras para caracterizar as incertezas, sas e instituições, que continuam a acreditar.
incluindo: Esta falta de conhecimento social cega essas
• Risco: situação em que, presumivelmente, visões tecnológicas, mesmo que elas possam
um sabe as causas, consequências, as proba- avaliar um número limitado de “impactos” de
bilidades de possíveis eventos danosos e suas efeitos previsíveis, cuja correspondente consi-
magnitudes associadas (tipos e níveis de dano). deração deve ser evidentemente um compo-
• Incerteza: em que se sabem os tipos e as es- nente do processo de geração de tecnologia.
calas de possíveis danos, mas não suas causas Pois, como John Maynard Keynes observou, o
ou as probabilidades das consequências. Sob inevitável nunca acontece, enquanto o inespe-
condições de incerteza, o termo “avaliação dos rado acontece sempre (Nowotny 2008: 167).
riscos” é, na verdade, não aplicável. Technological systems require a degree of com-
• Indeterminação: uma situação em que se trata patibility in their standards and components
de processos que não são possíveis resultados that the social systems cannot have because
previsíveis. they must remain open. We expect that tech-
• Ignorância: a situação em que não se sabem nological systems must be foreseeable reliable
as causas, consequências ou até mesmo como and secure. Only then are the selected tech-
fazer as perguntas certas. nological solutions stable enough to solve the
• Ambiguidade: situação em que uma série problems posed to them. By contrast, social
de divergentes mas igualmente razoáveis pres- systems—and societies—constitute themselves
supostos (acerca de deinições dos objetos de from their members’ knowledge of each other.
pesquisa, das questões, de abordagens variáveis) hey are not subject to any process of closing
opõe-se um único esquema de resultados (Felt and must remain in continuous openness. We
e Wynne 2008). know what the world’s top scientiic labora-
Nestas luzes, as incertezas são realmente muito tories are working on today, and yet at best
poucos redutíveis à categoria de “risco”. Nowo- this allows us to derive scientiic-technological
tny explica que: visions that it within a system that has been
Os sistemas tecnológicos requerem certo grau made to be consistent within itself. hese vi-
de compatibilidade em seus padrões e compo- sions can say next to nothing about forms of
nentes que os sistemas sociais não podem ter, social organization, mutual relations among
porque eles devem permanecer abertos. Espe- people, and emotional energies that the people
ramos que sistemas tecnológicos sejam previsí- of tomorrow will invest in ideas for or against
veis, coniáveis e seguros. Só então as soluções each other or in things and institutions whose
escolhidas serão tecnologicamente estáveis o continuity they believe in. his lack of social
suiciente para resolver os problemas colocados knowledge makes these technological visions
para elas. Em contrapartida, os sistemas sociais blind, even if they are able to gauge a limited
e as sociedades se constituem a partir do co- number of ‘impacts’—of foreseeable efects
nhecimento dos seus membros. Eles não estão whose corresponding consideration ought to
sujeitos a qualquer processo de fechamento e be self-evidently a component of the process
devem permanecer numa abertura contínua. of generating technology. For as John May-
Sabemos que o mundo dos laboratórios cientí- nard Keynes remarked, the unavoidable never
icos está trabalhando hoje, e ainda melhor, no happens, while the unexpected always occurs
que nos permite derivar visões cientíico-tecno- (Nowotny 2008: 167).
lógico se encaixam dentro de um sistema que Preocupações com a onipresença de situações
tem sido feito para ser coerente em si mesmo. em que até agora instituições predominantes
Desse ponto de vista não se pode dizer quase e paradigmas não sabem ou não podem lidar
nada sobre as formas de organização social, das com a complexidade dos problemas em causa
relações mútuas entre as pessoas, e das energias são igualmente prevalentes entre aqueles que
emocionais que as pessoas do amanhã irão in- trabalham em contextos nos quais as contro-
286 • IPHAN

vérsias sobre patrimônio estão enredadas num tão (Beck 1992; Lash et al. 1996; Irwin e Wyn-
dos mais difíceis problemas sociais e ecológicos ne 1996; Jasanof 2003; Wynne 2006 ; Felt e
do mundo de hoje (cf. Ucko 1994). No capí- Wynne 2008). Na conservação do patrimônio
tulo que escreveu do livro um futuro para a cultural, William S. Logan (2007) observa que
Arqueologia (Layton et al. 2006), Henry Cleere os funcionários de gestão raramente estão pre-
(2006: 65) observa que os casos que tenham parados para tratar das conexões entre as ques-
sido os mais difíceis para a Convenção do Patri- tões culturais e de direitos humanos. Em muitos
mônio Mundial para classiicar (assim como o países, “os proissionais do patrimônio cultural
mais complicado em termos de gestão do “por ... demasiado frequentemente veem seu trabalho
e para quem”) foram as que envolveram “uma como puramente técnico” (Logan 2008: 34) e
paisagem contínua ... em que o processo evo- os empregados e aqueles que trabalham pelos
lutivo ainda está em andamento”. Numerosos direitos humanos tendem a tentar evitar a dis-
casos são enredados no aprofundamento das cussão dos direitos humanos “sobre a questão
desigualdades no que diz respeito à exposição do relativismo cultural que aparece, implícita ou
a riscos ecológicos, desenvolvimento insusten- explicitamente, para minar o conceito de univer-
tável, e conlitos políticos, inclusive os resul- salidade delicada e frágil que foi cuidadosamente
tantes de graves violações dos direitos humanos tecido ao longo das últimas cinco décadas” (Sta-
(Meskell e Pels. 2005; Silverman e Fairchild matopoulou 2004, citado por Logan 2008: 34;
Ruggles 2007; Koerner e Russell 2010). Mui- ver também Cowan et al. 2001).
tos esforços para desenvolver o patrimônio ba- Outro tema que se tornou o foco de muitas
seados em soluções para os problemas sociais abordagens sobre patrimônio baseadas em
e ecológicos estão sendo feitos em regiões com questões de qualidade de vida e dos esforços
longa história de direta e poderosa conexão en- para reformular os processos da política da tec-
tre conlitos internos e internacionais, o esta- nociência é o da “representação”. Uma conse-
do do turismo, da preservação do patrimônio quência do debate de “duas culturas” tem sido
cultural e as violações dos direitos humanos”. uma tendência para ofuscar conotações políti-
(Silver 2007: 79). cas de “representação”. Para Jasonof, reformu-
Relativo às observações de Cleere, outro tema é lar as representações das questões públicas no
a onipresença das circunstâncias sob as quais até processo político:
então instituições predominantes e paradigmas would give combined attention to substance and
teóricos não podem ou não são capazes de resol- process and stress deliberation as well as analysis.
ver a complexidade dos problemas enfrentados Reversing centuries of contrary development,
pelas comunidades locais. Autores com diversas these approaches would seek to integrate ‘can
origens disciplinares têm notado que muitas do’ orientations with the ‘should do’ questions
das grandes instituições são incapazes ou não of political and ethical analysis. hey would en-
querem resolver os problemas que não podem gage the human subject as an active imaginative
ser reduzidos para um dos lados das dicotomias agent, as well as a source of knowledge, insights
como os de natureza versus cultura, risco e con- and memory (Jasanof 2003: 244)
trole de qualidade versus ética, e assim por dian-
te (cf. Latour 1993). Por exemplo, com relação B. Representação
ao perigo ecológico e cientíico-tecnológico, as “Representação” é também um tema-chave en-
autoridades políticas continuam a ignorar em tre aqueles preocupados com as ligações entre
muitos casos que: riscos físicos variam em rela- as agendas de pesquisa antropológica e arqueo-
ção aos contextos sociais; magnitudes de risco lógica, bem como com a questão do por que e
estão incorporadas às relações sociais e proces- para quem a pesquisa é realizada. Poucos traba-
sos ecológicos, e que o principal risco, mesmo lhos dão mais destaque a essas ligações do que o
para as atividades tecnicamente mais intensas, capítulo de Sian Jones, intitulado ‘’Eles izeram
é o da dependência social sobre as instituições uma coisa viva, não é?: o crescimento das coisas
que são estranhas, obscuras, e inacessíveis para e da fossilização do patrimônio”, no livro Um
as pessoas mais ameaçadas pelos riscos em ques- futuro para a Arqueologia (Layton et al. 2006).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 287

Para Jones (2006: 110, 115), o principal estudo conservação, apesar dos argumentos de longa
de caso é o medieval Hilton Cadboll de crosslab data de que a evolução futura também contri-
(agora no Museu da Escócia) e a recente desco- bui para a sua autenticidade” (ibid). Para Jones,
berta na escavação de sua base, juntamente com os desaios notadamente difíceis são colocados
milhares de fragmentos. Ela concentra uma em confronto entre “a retórica sobre nossas
atenção especial sobre a «contextualização dos responsabilidades para com um público anô-
signiicados e identidades” ao redor do monu- nimo abstrato” que presumem que “o signii-
mento, bem como ao senso de “pertencimento” cado acrescente valor ao patrimônio cultural”;
da pedra para membros da comunidade. e os papéis dos pressupostos acima referidos
T [o] monumento não é visto apenas como uma atuam no patrimônio tornando-o “congelado
coisa viva, mas fundamentalmente como um num determinado momento abstrato a partir
membro vivo da comunidade. Não só é uma de processos sociais e culturais, e da necessidade
analogia direta estabelecida entre a cruz-laje apenas sujeita a um conhecimento especializa-
e um antigo membro da aldeia, mas também é do e de mordomia” (ibidem).
atribuído o tipo de conhecimento social que é A im de solucionar o problema, diz ela, uma
essencial ao estabelecimento de iliação de uma mudança de orientação é necessária:
pessoa dentro da comunidade (Jones 2006: 116) away from the current emphasis on material
[T]he monument is seen not merely as a living fossilisation of heritage as ‘product’, towards a
thing, but crucially as a living member of the focus on heritage as ‘process’ whether dealing
community. Not only is a direct analogy drawn with the historic remains of disenfranchised in-
between the cross-slab and an ‘ancient mem- digenous and post-colonial cultures or those of
ber of the village’, but it is also attributed the nation-states. If heritage conservation is redirec-
kind of social knowledge that is essential to ted towards ‘process’, towards the dynamic and
establishing a person’s membership within the transient (re)making of meaning in tradition,
community (Jones 2006: 116) then this will go some way towards addressing
Jones também está interessada em comparar si- the contradiction inherent in… the artiicial
tuações em que as controvérsias sobre os signi- dichotomy between the conservation of mate-
icados e valores associados a monumentos e ar- rial fabric using specialised scientiic techniques
tefatos são enredadas em complexos problemas and the conservation of meanings and values,
de qualidade de vida. Para ela, situações tão di- as if the latter were simply applied to the surface
ferentes como a do Hilton de Cadboll e os con- form of objects (Jones 2006: 121).
litos sobre o patrimônio das comunidades das
Primeiras Nações do Canadá, Nova Zelândia e C. Questões relevantes das manifestações do
Austrália estudados por Miriam Clavir (2002) público
compartilham várias características análogas. As observações de Jones a respeito de confron-
Eles também lançam luz sobre os problemas tos entre “retórica sobre as nossas responsabili-
das agências com os pressupostos de política e dades para um público anônimo e abstrato” e
práticas que levam ao empobrecimento das co- que muitas vezes torna o patrimônio “congela-
munidades (Jones 2006: 111). Muitos proble- do num determinado momento, é retida a par-
mas decorrem de pressupostos como o de que a tir de processos sociais e culturais” comparado
“preservação do patrimônio cultural para a pos- a uma série de interessantes descobertas da ci-
teridade é um imperativo moral e benéico para ência e da tecnologia de estudos de especialistas
ambas as gerações presentes e passadas; a auten- em entendimentos de “malentendidos públi-
ticidade do patrimônio está principalmente as- cos”. “Representação” é um tema fundamental
sociada com a fabricação de artefatos e monu- em estudos que indicam que: os fatores cultu-
mentos, apesar de as dimensões intangíveis se- rais desempenham um papel crucial na elabora-
rem cada vez mais reconhecidas”; “o signiicado ção de “questões públicas” e de “especialização”;
original e o uso dos artefatos são de primordial a maior parte do “problema” da compreensão
importância na determinação do signiicado pública da ciência vivenciada por agências espe-
do patrimônio cultural e formas adequadas de cializadas reside na forma em que os papéis de
288 • IPHAN

“questões públicas” são emoldurados por últi- públicas”) desempenha nas hipóteses sobre
mo; e estudos de caso ilustram os problemas lo- o mundo, a ciência e a modernidade, foram
cais, tanto com modelos de universalização de perpetuadas pela inluencia da oposição de
“comunidades tradicionais” versus um “centro “duas culturas” além do escopo deste capítu-
anônimo”, para desaiar a própria ideia de um lo. Tentarei resumir várias diiculdades chaves
“centro universal” (cfr. , Irwin e Wynne, 1996). principais. Uma delas pode ser identiicada
Estes estudos trazem outro tema comum em por focar a atenção sobre a tenacidade do pres-
destaque, a saber, a necessidade de alternativas suposto de que a tarefa suprema da ciência é
para abordagens, baseadas em suposições de estabelecer conceitos universalmente válidos,
que o “público” é uma categoria atemporal e categorias e proposições, cuja força explicati-
que “questões públicas” são versões simples ou va é independente de qualquer contexto de
simpliicadas de problemas complexos. Nota- aplicação. As raízes destes pressupostos estão
damente úteis alternativas podem estar sujeitas datadas dos tempos de Platão (427-347 a.C.)
à percepção de que, na verdade, o mais com- (1999) e Aristóteles (384-322 a.C.) (1984) e
plexo dos problemas era aquele que até então sobre as posições a respeito dos requisitos de
predominava nas instituições e que paradigmas uma ciência. Aristóteles (1994) criou um sis-
não são impossíveis de se resolver, o que está tema para compará-los com base na pergunta:
evidente na manifestação dos públicos e dos Se algo pode ser dito deve ser sujeito a mudan-
esforços para reformular o que se entende por ças, qual é a essência desta coisa? (1) aspectos
“bem comum”. imutáveis, (2) aspectos mutáveis, ou (3) ambos,
isto é, a interação de aspectos mutáveis e imu-
Indeterminação, Repensar “Crises sobre-re- táveis? Para os fundamentalistas (como Platão),
presentação, e Alternativas de “Tecnologias a resposta deve ser (1), e os outros têm de ser
de arrogância” reduzíveis a ele. Os objetos cientíicos precisam
Os cruzamentos foram explorados nas seções apresentar regularidades universais e comprova-
anteriores no concernente às circunstâncias con- das por ambas na cadeia das causas necessárias
textuais, temas e insights do patrimônio compar- e suicientes. Para os probabilistas (como Aris-
tilhados por muitas soluções baseadas em anteci- tóteles), as coisas que são “sempre ou a maior
par os problemas ecológicos e sociais, e os esfor- parte” podem satisfazer as exigências da ciência,
ços para reformular a política nos processos de se eles são descritos como exemplos de estados
ciência e de tecnologia que surgiram em paralelo essenciais ou substanciais (Aristóteles, Metafísi-
com considerável evolução , que incidem sobre ca 1994, 1027a, 20-27; Daston 2000) .
desaios em face desses esforços. Nesta seção, va- Na antiguidade, esse esquema foi subscrito por
mos explorar dois empreendimentos desse tipo: crenças das autoridades sobre as conexões entre
• Aumento das condições de possibilidade para a natureza constitutiva do mundo e as condi-
iluminar as contradições entre as chamadas ções de possibilidade para a inteligibilidade de
“contas padronizadas” da ciência e da moder- seus aspectos imutáveis. Na autoridade antiga,
nidade e pressupostos sobre a ciência partilha- medieval e na renascente cosmologia, acima e
da por versões inluenciadas pela oposição de além das diferentes temporalidades experimen-
“duas culturas “(Snow [1959] 1962, ver tam- tadas pelos seres humanos, o universo era re-
bém M. Friedman 2000), gido por categorias de substâncias intemporais
• Os resultados notáveis dos esforços para re- em movimentos circulares dos “reinos celes-
pensar “crises sobre representação”. tiais”. Em tais crenças, havia constitutiva (onto-
lógica) conexão entre esses reinos e capacidades
A. Equidade e Indeterminação humanas para Razão e Revelação; e uma “ciên-
Uma discussão detalhada dos papéis que as al- cia” do “reino sublunar” (de coisas sujeitas a al-
tas problemáticas assumem sobre as chamadas terações) não foi possível (Collingwood [1949]
“modernas” e “pré-modernas” cosmoteorias 1956; Blumenberg 1983; Funkenstein 1986).
(“conhecimentos especializados” e “questões Um tema recorrente nas chamadas contas pa-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 289

dronizadas da ciência e da modernidade é a executar as transições na medida do estado de


rejeição da cosmologia aristotélica. Aigura-se, equilíbrio” (Nicholas Prigogine e 1989: 238).
nessas luzes que as concepções modernas das Em muitas contas padronizadas, o que distin-
tarefas da ciência seriam diferentes para Aris- gue a chamada “moderna” de “pré-moderna”
tóteles. Mas um exame mais detalhado indica visões de mundo é a consciência dos forma-
que sua concepção da ciência (e sua visão de dores da contingência humana de todas as
redutibilidade do mundo para as categorias su- reivindicações à verdade, assim como a própria
postamente atemporais e princípios) continua constituição do mundo. Ainal, um dos objeti-
a desempenhar um papel central em muitos vos dos valores fundadores da moderna ciência
contextos contemporâneos. Exemplos incluem experimental e da ilosoia natural era estender
contextos em que as relações entre a produção propriedades, que Platão e Aristóteles atribuí-
e a difusão de conhecimentos cientíicos estão ram aos reinos sublunares até os conins do uni-
previstas como os processos de sentido único. verso (Galileu [1564-1642] 1968, ver também
Outro exemplo é que muitos paradigmas in- Collingwood [1949] 1956; Koyré 1965, 1968,
luentes para as ciências da vida física continu- 1983 Blumenberg; Funkenstein 1986, Bono,
am a considerar as divisões entre as “leis funda- 1995). Essa imagem da diferença da moderni-
mentais” e as “generalizações fenomenológicas dade parece corroborar as noções de que “vi-
em termos da ideia de que, enquanto o último sões de mundo pré-moderno” são moldadas (se
pode descrever as coisas de forma relevante, não determinadas) pelo temor de contingência,
apenas o primeiro almeja pretender uniicar do pensamento “mítico” e das concepções de
a diversidade dos fenômenos, isto é, ir “além “tempo cíclico” que negam o tempo histórico e
das aparências” (Prigogine e Stengers, 1984; a indeterminação (para exemplos e críticas, ver
Prigogine, 1997). Escrevendo sobre as conse- Eliade 1963, Lévi-Strauss 1973; Fabian 1983;
quências de tais observações, Isabelle Stengers Asad 1986). Mas essa aparente conirmação
(1997: 22-23) observa que, quando começou necessita ser examinada mais de perto. Aqui
a estudar física, ela aceitou a crença dominante fazemos em relação às bases de paradigmas em
de que as observações sobre os processos irre- pressupostos sobre a redutibilidade do mundo
versíveis (misturas que não se devem misturar, verso a simplicidade e caracterizações dualistas
diferenças radicais entre o antes e o depois , em do real versus o historicamente contingente (e
que é impossível ignorar a não equivalência de “leis fundamentais” versus “meras aparências”).
causa e efeito) devem ser tratadas como “mera- Isto realmente entra em choque com as con-
mente fenomenológicas” consequências de não tas padronizadas da ciência e da modernidade
sermos “observadores perfeitos” e instrumentos de forma notável. Para expressar isso em ter-
inadequados. Trabalhando com Prigogine, ela mos que temos utilizado, esses paradigmas se
começou a se perguntar se a história de paradig- confrontam com contas padronizadas sobre a
mas para as tarefas da ciência de negar o tempo importância das “visões do mundo moderno”
(e irreversível mudança e novidade emergente) da consciência e da contingência humana das
também tem sido a “história de tensões sociais reivindicações à verdade e à própria constitui-
e culturais” (Stengers 1997: 42-43). Vale a pena ção do mundo. Eles não se prestam a apreciar
explorar essa possibilidade por várias razões. que um elevado grau de imprevisibilidade pode
Uma delas é para iluminar as contradições en- ser uma propriedade do universo (Nicolas e
tre as chamadas: Prigogine, 1989). Ao contrário, eles articulam
• contas padronizadas da ciência e da moderni- as imagens do mundo que compartilham com
dade; pressupostos da problemática sobre o que muitas características de Platão e Aristóteles
supostamente divide “modernas” de “ pré-mo- no reino das esferas celestiais. Para relacionar o
dernas” visões do mundo (assim como as hipo- problema mais diretamente aos objetivos des-
teticamente incomensuradas “cosmoteorias “), te capítulo, eles dependem das crenças sobre o
• paradigmas para as tarefas da ciência que ne- mundo que contas padronizadas “convencio-
gar o tempo e “sistemas dinâmicos capazes de nalmente atribuem a “pré-modernos”, a “ou-
290 • IPHAN

tros”, “psicologia do folclore” e supostamente rasa”. Preocupações com tais circunstâncias


“públicos irracionais”. motivaram Bruno Latour a perguntar:
What has happened that has made images
C. Contextualização dos supostos Assenta- (and by images we mean any sign, work of
mentos de “Crises sobre Representação” art, inscription, object, picture that acts as a
É improvável que seja coincidência que muitos mediation) the focus of so much passion? [Un-
dos recentes esforços para repensar a arte e as his- der what circumstances has] destroying them,
tórias da ciência centram-se em questões sobre erasing them, defacing them…been taken as
as circunstâncias históricas nas quais tais proble- the ultimate touchstone to prove the validity
mas têm sido eclipsados. Este desenvolvimento é of ones faith, of one’s science, of one’s acumen,
talvez o mais inluente representado pelo expo- of one’s artistic creativity? To the point where
sições e de volumes editados intitulados Icono- being an iconoclast seems the highest virtue,
clash. Beyond the Image Wars in Science, Religion the highest piety, in intellectual circles? (Latour
and Art and Making hings Public (Latour and 2002: 14)
Weibel 2002; 2005; cf. Shapin and Schafer, Escrevendo em um exemplo tais circunstâncias,
1985; Latour 1986, 1993, 2004; Most 1995; o que foi associado com o agravamento das
Jones and Galison 1998; Daston 2000; Kemp condições na Guerra dos Trinta Anos (1618-
2009; Lloyd 2009 ). A investigação sobre tais 1648), Toulmin observa que:
circunstâncias está enraizada numa ampla varie- he longer the bloodshed continued, the more
dade de projetos interdisciplinares. No entanto, paradoxical the state of Europe became. …
é possível perceber várias alterações cruciais nas For many of those involved, it ceased to be
orientações, inclusive, mudanças: crucial what their theological beliefs were, or
• a partir de pressupostos que os signiicados where they were rooted in experience, as 16th-
de categorias como “arte”, “ciência”, “objeti- century theologians would have demand. All
vidade”, “subjetividade”, “públicos”, e assim that mattered, by this stage, was for supporters
por diante, são de alguma forma “dadas” para of Religious Truth to believe, devoutly in belief
investigações sobre a variedade de formas de- itself. For them, as for Tertullian long ago, the
pendentes do contexto que tenham tomado, diiculty of squaring a doctrine with experien-
• de ênfase na história intelectual – de história ce was just one more reason for accepting this
das ideias – para investigações em contextos so- doctrine that much more strongly (Toulmin
ciais de mudança nas práticas, nas instituições, 1990: 54)
nas controvérsias, nas preocupações do público
e assim por diante, Pluralidade de pontos de vista e deaprendi-
• a partir de pressupostos que o consenso so- zagem coletiva num mundo irredutivelmen-
bre “representações coletivas” (ou “equilíbrio te complexo
social”) é algo determinado pela natureza ou Muito pouco da minha abordagem neste capí-
pela cultura, para investigações sobre como os tulo ilustra uma sugestão sobre as pontes, que
acordos são alcançados, como se resolvem “cri- podem ser úteis para abordar as questões co-
ses sobre representação”, e como é possível que locadas por Diniz e Aguilar na concepção da
muito dessas ideias contraditórias, no entanto, “arqueologia justa” e seria uma surpresa para
possam durar. o pensamento recente de Stephen Toulmin.
Hoje, estes desenvolvimentos estão a contribuir Neste capítulo, tenho diversas vezes tentado
para a mudança ainda in foci, com implicações mostrar que algumas pontes utilizáveis podem
signiicativas para a substituição da longa histó- ser baseadas em conexões entre um número de
ria das preocupações com as noções altamente soluções recentes de patrimônio cultural fun-
generalizadas de “crises sobre representação” damentadas em complexos problemas sociais e
com as investigações sobre as circunstâncias ecológicos; e os esforços para reformular o pa-
concretas em que foi possível para alguns su- pel das questões do dever fazer e da participação
postamente estabilizarem-se em torno do que pública nos processos da política de ciência e
Toulmin (1990) chama de “o mito da tábua tecnologia. O tempo todo tenho me baseado
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 291

no sugerido pelo livro de Toulmin, Cosmopo- • reduzir as questões do “deveria fazer” para rei-
lis. he Hidden Agenda of Modernity (1990). vindicações do “pode fazer” (Nowotny 2008),
Em vários temas em que o trabalho permite se • prever a partir de uma “tábua rasa” o necessá-
relacionar diretamente com essa possibilidade. rio para a “busca de segurança” (Dewey 1927,
Uma delas é a importância de novas abordagens 1938; Toulmin, 1990),
construtivas para as “crises de representação” a • eclipsar a importância da pluralidade dos
im de explorar as circunstâncias em que foi pontos de vista e de aprendizagem coletiva (Ja-
possível para alguns supostamente resolverem sanof 2003) para algo como um bem comum
a questão em torno do que Toulmin chama de (Latour, 2004).
“mito da tábua rasa”, ou seja, as alegações sobre Outra hipótese é que a história desses supostos
o contexto da necessidade de demolir tudo o assentamentos também pode ser a história de
que aconteceu antes, em busca de segurança transições importantes na interpretação supos-
independente e de coerência formal (ibid: 89- tamente de fontes independentes do contexto
138, 183). Depois de enfrentar os horrores de da objetividade e da história da caricatura al-
1914-1918 os desaios podem ter levado mui- tamente problemática dos “outros” e supos-
tos a airmar que “quase podemos deixar de su- tamente “públicos anônimos” (Blumenberg
por que qualquer coisa pode ser assumida” (Slo- 1983 ; Koerner JL 1998; Daston e Galison
derdijk 2005), e que respostas muito importan- 2007 Koerner, S. 2009).
tes estão centradas em tentativas de “limpar a Felizmente, há também consideráveis hipóteses
lousa” e “colocar uma nova missão de certeza”. construtivas, considerando que sempre houve
Estas respostas estão articuladas sobre as contas alternativas a “assentamentos” – talvez lembran-
da ciência e da modernidade que eclipsaram do a proposta Jasanof (2003) de “tecnologias
essas contradições, tais como aquelas que tenta- da humildade” em reformular relações entre
mos resumir acima. Elas também são ofuscadas orientações do “pode fazer” e “deveria fazer” em
na medida em que algumas das dimensões mais processos políticos de tecnologia e ciência, e nos
importantes da modernidade estão enraizadas argumentos de que o acréscimo da participação
nas abordagens humanistas relexivas para do público é crucial para o sucesso do patrimô-
perguntas como: o que devemos fazer; quem nio em abordagens baseadas nos problemas so-
iremos beneiciar; quem poderia ser atingido? ciais e ecológicos. Na verdade outro tema-chave
Uma análise detalhada da evolução explorada na obra de Toulmin (1990) é que a cultura mo-
na seção anterior deste capítulo diz respeito a derna e, sobretudo, os seus elementos relexivos
desaios e esforços para trazer ao patrimônio são tão (se não mais profundamente) enraiza-
abordagens baseados em questões de qualidade dos tanto na história do humanismo como na
de vida, com os esforços para reformular a polí- chamada Revolução Cientíica (Toulmin 1990:
tica da tecnociência, que está além de processos 5-44). Até muito recentemente, o humanismo
de nossos propósitos atuais. Mas, seguindo o foi atacado de ambos os lados nos debates das
exemplo Toulmin (1990), várias hipóteses rela- “duas culturas”, com base em pressupostos er-
tivas a estas questões podem ser arriscadas. Uma rados. Especialmente aqueles que defendiam
delas é de que ideias que vão contra a natureza o caos do lado de opções polêmicas das dico-
das pressuposições sobre o mundo, a ciência e tomias de “ordem e caos” (Rosaldo 1989), e
a modernidade, que tenham sido partilhados as interpretações da ciência e da modernidade,
por inluência da oposição de “duas culturas”, como uma tragédia (Daston 2006) que desvir-
levantam questões sobre as circunstâncias em tuou a longa história dos esforços humanistas
que a natureza deste altamente contraditório para desenvolver alternativas ao que Jasanof
pressuposto foi eclipsada. Talvez no século 17 (2003) pode se referir como “tecnologias de
ou nos conlitos do século 20, até aqueles com arrogância”. Alegaram para o anti-humanismo
poder de desenvolver crenças devotas em pro- “a convicção da miséria” do estado moderno, se
blemas com as crenças dos “outros” se tornem não da condição humana, em geral (JL Koerner
capazes de supostamente resolver as “crises de 2004: 221). Contrariamente a estas deturpa-
representação” de maneira a : ções, os humanistas salientaram a importância
292 • IPHAN

da contingência de todas as coisas que perdu- come to recognize, as though it had always
ram em estados longe do equilíbrio para a sua been here … A common world, if there is
inteligibilidade humana, bem como a solidarie- going to be one, is something we have to build,
dade social. Um exemplo disto foi o argumento tooth and nail together (Latour 2004: 455).
de Giambattista Vico ([1744] 1948) de que Um terceiro tema relacionado e que percor-
a natureza dos seres humanos não é como há re o trabalho de Toulmin é que a pluralidade
muito se supunha, estático e inalterado ou até de pontos de vista é crucial para as formas de
mesmo inalterado, ... que os esforços dos seres aprendizagem coletiva necessárias a im de “hu-
humanos próprios para compreender o mundo manizar a modernidade” (ibid: 175-202). Em
em que se encontram e adaptá-lo às suas ne- tal ponto de vista da pesquisa arqueológica e
cessidades físicas e espirituais, continuamente antropológica sobre a diversidade de culturas
transformam seu mundo e a si mesmos. Para do passado e do presente é de importância cru-
Koerner Leo Joseph: cial para as “necessidades de um mundo em
mutabilidade Humanos humanismo permi- que a simplicidade é uma lembrança de época
tiu-se a assumir muitas formas, e que pode ser passada” (Funtowicz e Ravetz, 1997):
conseguido através da actualização de alguns he terms in which we make sense of the past,
termos. No lugar do velho lema “o homem and the ways in which our view of the past
como a medida do mundo”, chamar a aten- afects our… historical foresight or horizons of
ção para a visão humanista – fresco o bastante expectations. hose horizons mark the limits to
para controvérsia agora – que a verdade é fei- the ield of action in which we see it possible to
ta e não foi encontrado ‘[Rorty 1989: 3]. No change human afairs, and to decide which of
lugar do heroísmo obsoleto do Homo faber, our most cherished practical goals can be reali-
pensar a proposição humanista, fundamental zed in fact (Toulmin 1990:1)
para as humanidades e ciências sociais do nosso
tempo, que não existe uma cultura de escapar
Agradecimentos
– que o que sabemos da natureza é que a cul-
Agradeço aos organizadores do “Fair Archeo-
tura já terá solicitado (Koerner JL 2004: 221).
logy – Building Bridges Instead of Deeapning
Human mutability has allowed humanism itself
to take many forms, and which can be achieved Gaps” sessão no encontro de 2009 do TAG,
by updating some terms. In the place of the old Mariana Diniz e Miguel Aguilar, a Georgios
motto ‘man as the measure of the world’, focus Dimitriadis pelo convite para este trabalho, e
attention on the humanist insight – fresh enou- especial agradecimento a Tim Darvill, Shiela
gh to controversy now – that ‘truth is made ra- Jasonof e Helga Nowotny pela conversa que
ther than found’ [Rorty 1989: 3]. In the place tornou possível este estudo . Este artigo é dedi-
of the obsolete heroism of Homo faber, think of cado à memória de Stephen Toulmin.
the humanist proposition, foundational to the
humanities and social sciences of our own time, Notas
that there is no escaping culture – that what we 1. O termo Fair Archaeology, apropriado da
know of nature is what culture will have already Organização Internacional de Comércio Jus-
asked (J.L. Koerner 2004: 221). to foi utilizado por Aguilar e Diniz na sessão
Desse ponto de vista, nossas opções não se li- do TAG (Grupo de Arqueologia Teórica).
mitam à “escolha polêmica entre o apoio à or- Eles entendiam que a expressão servia como
dem cultural ou ceder ao caos de uma idiotice metáfora para formar pontes entre as comu-
brutal” (Rosaldo 1989: 98). Em vez disso, a nidades do “Primeiro e do Terceiro Mundo”
dinâmica de contingência e solidariedade “(JL baseando-se em alternativas para as formas
Koerner 2004) torna nos possível para respon- desiguais de troca, que foram perpetuadas
der ao desaio evidenciado por numerosos pro- pelas instituições fundamentadas em teorias
blemas de “globalização” e “sociedade de risco” econômicas neoclássicas sobre a redutibilida-
que temos mencionado, a saber: de do valor aos preços de mercado universali-
A common world is not something we can záveis. Talvez muito do signiicado desta me-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 293

táfora resida no aporte que se pode fazer para des. Carrier e Miller (ibid.) notam que: “Na
apreciar algo ao que pode ser encontrado (ao Teoria dos Sentimentos Morais, Smith (1976
invés de perdido) através da compreensão. [1759]: 18) castigou os ricos pelo compor-
Uma das vantagens do Comércio Justo ba- tamento incivil distintamente, o egoísmo
seia-se em instituições que tem contribuído natural” e ganância e preocupação somente
indicando alternativas nas quais (como Alf para sua conveniência. Página: 2
Hornborg 1998: 12 airma) muitas formas Mas um dos principais argumentos de Smi-
extremamente desiguais de câmbio são uti- th (1776 [1759]: 185) é que o resultado
lizadas para pagar por recursos de quantias do comportamento das elites é, o de sem
equivalentes - somente o que resta disto se querer, promover o interesse da sociedade.
transforma em commodities para venda ao “Além disso, Carrier e Miller (2000: 35 - 39
mercado – em vez disso somas que seriam notam que uma das consequências parado-
uma troca justa para o valor das commodities xais da tenacidade dessas imagens foi que,
contribuiriam para manter os recursos intac- enquanto as atividades cotidianas das pesso-
tos. Outra vantagem do desenvolvimento as são formadas por suas preocupações de-
em torno destas instituições pode ser a ex- sinteressadas (para sustentar as virtudes pri-
plicação sobre as questões do que se “deve- vadas), muitos vícios públicos institucionais
ria fazer” pode inluenciar nos pressupostos icam sem controle.
sobre de que forma os vícios privados das 2. A expressão “tecnociência” foi introduzida
elites facilitam a autoindulgência e a luxuria em estudos cientíicos, que têm chamado a
dos bens, que estão enraizados no livro de atenção para o importante papel da tecno-
Bernard Mandelville, A Fábula das Abelhas: logia (e especialmente os empregos dos ins-
Private Vices, Public Beneits [1714] e de trumentos tecnológicos) nas relações entre
Adam Smith, A Riqueza das Nações [1776] os conteúdos dos conhecimentos cientíicos
(cf. Carrier e Miller 2000: 30-1). e seus contextos sociais (Latour e Woolgar,
Já James G. Carrier e Daniel Miller notam 1982). As discussões sobre os contratos en-
que muita discussão atual sobre como micro tre Modo 1 e Modo 2 de produção de co-
e macro escalas se relacionam entre si conti- nhecimento têm chamado a atenção para o
nua a ser complicada por deiciências de re- valor da última tecnologia de pesquisa cien-
conhecer os confrontos entre os modelos que tíica realizada fora de seu contexto de uso
prevêem as relações sobre o microscópico e o instrumental (Gibbons et al 1994; Nowotny
macroscópico; em termos de diferenças entre et al 2001), estimulando muita investiga-
as pequenas e grandes (categoria particular ção de implicações políticas num altamente
versus geral) e, na medida em que muitos incerto e controvertido “conhecimento da
concorrentes poderosos políticos e econô- ciência pós-normal” bastante associado às
micos continuam a considerar tais relações decisões de saúde, segurança e meio ambien-
(explícita ou implicitamente) em termos de te do mundo contemporâneo (Funtowicz e
(“deve fazer”) nas questões de vícios e virtu- Ravetz, 1992).
Archeologia dei Conlitti:
un approccio sistemico XIV
Georgios Dimitriadis

Introduzione
La presa di coscienza da parte della comunita internazionale dell’interdipendenza po-
litico, sociale e culturale della nostra época in scala globale ma con immediati efetti
locali avviene negli anni ottanta quando i sociologi Robert Robertson, Keith Ham-
pton e Barry Wellman coniarono il termine glocale1.
Per Robertson (1992) l’aspetto più interessante della nostra modernità glo-
balizzata è il modo in cui si è formata la coscienza globale delle persone. Egli
divide la globalizzazione in una serie di “fasi” e asserisce che siamo entrati
nella quinta fase, quella che lui chiama dell’Incertezza Globale, risultato degli
innovativi modelli tecnologici che impongono una rivvalutazione delle stru-
ture sociali e culturali in tutti i paesi del mondo.
Ovviamente, da questa prospettiva, anche la cultura e il patrimonio materiale ed im-
materiale di ogni nazione acquistano una dimensione insolita, misurata e rideinita
in base alle nuove esigenze sociali di tipo glocale. Vecchi quesiti riappaiono e nuove
problematiche causano pretesti di discussione e nella peggior dei casi, tensione e con-
litto sociale.
Infatti, il sociologo Zygmund Bauman (1966, 1975, 2005) sviluppa una “ilosoia”
di glocalizzazione basata sull’analisi dell’individuo, la persona umana, il patrimonio
locale materiale e immateriale della persona e del suo gruppo di appartenenza, mentre

1
Il termine glocale fu in uso per prima volta negli anni ´80 dagli operatori di marketing strategico
nipponici. Deriva dalla parola giapponese dochakuka che signiica esattamente localizzazione globale.
296 • IPHAN

il resto delle teorie della glocalizzazione sembrerebbero privilegiare i sistemi complessi


ignorando spesso le implicazioni dei sottosistemi.
Del resto Bauman nel sistematizzare la sua teoria sociolologica della post-modernitá
non ignora la dialettica che deriva dall’incontro-scontro dei vari gruppi sociali all’in-
terno di una logica sistema-sottosistema ma non perde mai di vista il micro- nella sua
relazione con il macro-. Egli ha coniato i termini di societá liquida e solida nel tenta-
tivo di spiegare come le societá attuali trasformano, meglio ancora impoveriscono gli
attori sociali, compreso quelli culturali, da produttori a consumatori. Addiritura Bau-
man usa i termini “paura” ed “insicurezza” e di conseguenza di “crisi” come il risulto
dello smaltelamento delle sicurezze sociali-culturali.
Nel caso speciico dell’archeologia e dell’antropologia, la registrazione e la documen-
tazione dei codesti frames di analisi sociologica si classiicano come conliti simbo-
lici (cfr. Chamberlin 2006:16.1, 39-51) o come rivendicazioni nazionalistiche (cfr.
Trigger 1984:19, 355-70, 1989; Bernhardsson 2005). Nei miglior dei casi come
l’archeologia di comunità quando tenta di prevenire e comprendere l’impatto che
l’esplorazione o l’indagine archeologica “inlige” sulle piccole comunità locali dovute
al binomio occupazionale di domanda-oferta, ai rapporti politico-economici con le
autorità locali, al rispristino o la modiicazione della conoscenza della realtà storica
locale (Leone 2005; Clack and Brittain 2007).
Sovvente, tale crisi si manifesta come il sintomo della frizione e della competizione
fra l’archeologia impresariale di stampo liberale e l’archeologia pubblica. In efetti,
proprio la gestione dei beni culturali necessita degli investimenti inanziari cospicui,
mettono in discussione le regole etiche della gestione e della mediazione in prospettiva
sostentabile del patrimonio archeologico e del bene culturale in genere.
A proposito scrive Jean-Paul Demoule nella sua prolusione alla tavola rotonda, intito-
lata “Archaeology and the global crisis-multiple impacts, possible solutions”, nell’am-
bito dell’incontro annule degli archeologi europei a Riva del Garda in settembre 2009:
Since its creation, the EAA (European Association of Archaeologists) has served as a
forum for debates on diferent conceptions of the organization of archaeological he-
ritage management in Europe. (…) Two main conceptions can be distinguished. In
one, it is the nation state, as representative community of citizens that takes charge of
the protection of the archaeological heritage, either through a state archaeological ser-
vice or through dedicated public bodies. In the other conception, the archaeological
heritage is considered as a merchandise or a service, where commercial archaeological
units are at the service of their clients, the developers, with only the postulate of a
“code of ethics” to ensure quality control in the overall framework of the free market
economy. he current economic crisis invites a rethinking of this conception. he
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 297

state, of which is used to be said that “it’s was part of the problem”, is now discovered
as a possible solution. (…) his observation is relevant at the much smaller scale of
archaeology, where a considerable number of private units have been serenely crip-
ped, or even forced to fold since the onset of the economic crisis, putting in jeopardy
archaeological operations, as well as documentation and publications.

Archeologia nella società in crisi


L’ultimi tempi dall’archeologia si chiede il compito di ofrire vie alternative per la
comprensione del mondo politico-economico post-industriale attraverso la ri-vitaliz-
zazione della memoria sociale.
Infatti, secondo gli archeologi Shanks e Wirmor (2009):
archaeology has an extended historiographical scope, a much broader scope than hi-
story (cf. Foucault’s use of the terms archaeology (1972, 1973)), encompassing the
mundane and the material, with archaeology as the tangible mediation of past and
present, of people and their cultural fabric, of the tacit, indeed the inefable. Ar-
chaeology ofers rich resources for building alternatives in a risk society, reframing
matters of common and pressing human concern. Indeed because, in the era of future
orientation and short term thinking, nothing is guaranteed memory, archaeology’s
work on the material remains of the past provides a route to the vital insertion of
pasts into the present.
Per ottenere tutto ciò, è necessario comprendere che il conlitto sociale è risultato
dei diversi obiettivi (issues) che le multi-componenti della società (classi sociali,
gruppi, istituzioni, etc.) perseguono (cfr. Dahrendorf 1959) o della trasformazione
dei frames, ovvero degli schemi interprettativi della realtà sociale contemporanea
(cfr. Gamson 1992). Ora, la possibilità e modalità della trasformazione del conlitto
è ben descritto dal modello di nove stadi Friedrich Glasl (1997) e in particolare
trova applicazione nei processi conlittuali (di trasformazione e terminazione) fra
istituzioni (cfr. Galtung 1982).
Nello stesso tempo è doveroso denunciare che le sistuazioni conlittuali emergono
dall’incomprensione culturale del “conlitto” ovvero dalla percezione del non-equili-
brio sociale. Se si adotta la deinizione di Posner (1992, 1-65) che considera la cultu-
ra non semplicemente come deposito della memoria storica ma piuttosto come un
meccanismo che crea ordine sociale allora è facile approsimarsi alla tesi di Lotman-
Uspenskij (1975) che qualiica i conlitti e per estensione le relazioni tra culture come
una situazione altamente simbolica, di tipo espressivo, per ciò che conserne i beni
culturali materiali ed immateriali.
298 • IPHAN

Efettivamente, la memoria storica colletiva non è assolutamente unidirezionale o


proprietà intelletuale di una solo attore sociale ma piuttosto si parla di una memoria
storica e narrativa archeologica multi-temporale. La vita sociale di un reperto archae-
ologico è diacronico ed incorpora una narrativa di multi-facies.
Sovente la memoria è prossima all’oblio e di conseguenza il recupero e la preserva-
zione di una memoria fragmentata procura dilemmi e crisi come nel peggior dei casi
conlitti .
Quale memoria è importante? Quale facies da preservare? Chi e quali istituzioni sono
il custode della memoria materiale?
Cos’è il “conlitto”?
I primi accenni teorici, dove si riscontra il termine conlitto appare in Eraclito2, quan-
do egli lo descrive come il principio fondamentale della realtà e motore della storia.
Molto più tardi, nell’età moderna è Nicolò Machiavelli e successivamente homas
Hobbes a trattare antropologicamente il termine come competizione nel quadro ge-
nerale delle relazioni umane. In particolare nel Leviathan (Hobbes 1651) si descrive
una situazione di eliminazione delle contrapposizioni perché sottomesse ad un unico
potere. Cioè, lo stato di conlitto è in stretta relazione con la libertà individuale.
La svolta negli studi avviene con G.W.H. Hegel che solleva il conlitto in un principio
metaisico. Egli, intravede nel principio dialettico fra le parti (relazioni opposte: pola-
rità) il consumo del conlitto. Al livello politico tale polarizzazione sfocia nel sistema
padrone-servo: prima formulazione di una teoria sociale del conlitto (Bühl 1976).
Poi, Karl Marx si ispira al conlitto come lotta di classe, in una prospettiva non di
superamento della conlittualità, come in ora descritta, ma dell’azione rivoluzionaria
(trasformazione attiva).
Inine, Max Weber (1922) deinisce il conlitto come “lotta” (Kampf), base dell’agire
sociale e Kurt Lewin (1948) esplora i principi psicologici che accompagnano i conlit-
ti, e parla di situazioni conlittuali in sistemi di tensione.
A. Deinizione e varie modalità di conlitto.
A secondo l’osservatorio scelto, ognuno può trovare una deinizione diversa del con-
cetto di conlitto. Quella più adatta al nostro discorso è quella di Friedrich Glasl (1997)
che struttura il conlitto dentro la descrizione dei bisogni dell’essere umano:

2
“Occorre saper che il conlitto (πόλεμος) è comune, che il contrasto è giustizia, e che tutte le cose acca-
dono secondo contrasto e necessità”, Eraclito, fr.80.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 299

[…] il conlitto sociale è un interazione tra attori (individui, gruppi, organizzazioni ecc.),
in cui almeno un attore percepisce un’incompatibilità con uno o più attori nella dimensio-
ne del pensiero e delle percezioni, nella dimensione emozionale e/o nella dimensione della
volontà in una maniera tale che la realizzazione (dei propri pensieri, emozioni, volontà)
venga ostacolata da un altro attore3.
Quali sono dunque, gli componenti essenziali per la formazione di un conlitto?
Come hanno dimostrato Mitchell (1981) e Galtung (1982, 1996) possiamo sellezio-
nare tre componenti:
• La contraddizione di base, creata dall’incompatibilità tra gli scopi degli attori o
dall’incompatibilità tra la necessità di soddisfazione dei bisogni (autorealizzazione) e
strutture sociali che lo impediscono (dimensione strutturale).
• Il comportamento, ovvero l’insieme delle azioni osservabili con cui gli attori in-
tendono condurre il conlitto per conseguire i propri obiettivi e/o impedire alla parte
avversa di conseguire i suoi.
• Gli atteggiamenti, delle parti in conlitto, ovvero l’insieme delle percezioni, emozio-
ni e disposizioni degli attori, originati dal conlitto o preesistenti da esso, che determina-
no il comportamento e l’interpretazione della situazione (dimensione soggettiva).
In questi termini le cause che possono provocare il conlitto sono descritte, secondo la
natura delle issues (cfr. Deutsch 1973) e dalla loro scarsità (cfr. Mitchell 1981), come
indicato nella seguente tipologia:
• Controllo su determinate risorse. Le risorse possono essere beni materiali o di
status; divisibili (denaro) o non divisibili (bene culturale); invariabile (territorio) o
variabile (quota reditto di una classe sociale).
• Valori o sistemi di valore. Le risorse in campo politico, ideologico, culturale e
religioso (cfr. white man’s burden4).
• Credenze. Quali assunzioni si usano per interpretare la realtà del conlitto.
• La natura delle relazioni tra le parti. Persone o gruppi hanno diferenti aspettative
e aspirazioni riguardanti la propria relazione.

3
Tale deinizione ci permette di distinguere una assimetria nei ruoli degli attori e nel loro intenzione di
perseguire la realizzazione di un obiettivo preciso come la trasformazione sociale del conlitto, che sovente
si manifesta come un conlitto latente (Arielli, Scotto 1998).
4
Si intendeva il compito di civilizzare il resto del mondo che gravava sulla spalle dell’uomo bianco.
300 • IPHAN

• La sopravvivenza di uno degli attori, sia in senso isico, sia, per attori collettivi, in
termini di organizzazione sociale.
• Conlitti irrealistici. Il conlitto persiste su questioni apparentemente minori,
mentre può esistere una contraddizione alla base, di qui il conlitto è soltanto un
efetto: il capro espiatorio.
Il fatto, veramente importante in questa nomenclatura, è l’interpretazione diferente
delle issues. Ciò vuol dire: “[…] chi riesce a imporre la propria deinizione del proble-
ma, acquista un vantaggio decisivo, perché porta la controparte a giocare sul proprio
terreno” (Fischer 1964).
Ovviamente, il discorso di imposizione della propria visione del conlitto è indiretta-
mente anche un problema di comunicazione del conlitto stesso (cfr. Gofman 1975)
che mi propongo ad accenare in seguito.
B. Classiicazione dei Conlitti
Considerando che un conlitto in atto è risultato delle relazioni di incomprensione
tra agenti e tra le loro azioni intenzionali contrastanti, cioè che si possano annullare
a vicenda o l’azione di uno può creare indirettamente svantaggi per l’altro o come la
maggiore dei casi contro l’altro, si considera la seguente nomenclatura delle azioni di
conlitto:
• Tipo I (divergenza): sono conlitti non co-operativi causa la divergenza tra le
obiettivi. La impossibilità di cooperare può causare anche un possibile sviluppo del
conlitto e una conseguente “escalation” di esso. Exemplo: perimetral da cidade de
Santos, São Paulo, Brasil (2009).
• Tipo II (concorenza): sono conlitti cui particolarità sta nella persecuzione e nello
sfruttamento dello stesso obiettivo in termini di risorsa limitata.
Exemplo: destino do acervo da Fundaçao Cultural do Banco Santos (2004)
• Tipo III (ostacolamento): in questo caso l’agente A dirige la sua azione per
ostacolare l’azione dell’agente B oppure si procede nell’ostacolarsi reciprocamen-
te. Exemplo: embargo do sitio “Casa Bandeirista do Itaim Bibi”, São Paulo-SP,
Brasil (2008).
• Tipo IV (aggressione): l’intenzione è diretta contro l’altro agente e non
più alla sua azione, con lo scopo di modiicate il suo stato o delle caratteristi-
che dell’agente colpito. Exemplo: o caso da arqueologia subaquática no Brasil
que por meio da Lei 10.166/2000: § 1 deine como autoridades competentes
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 301

o Ministério da Marinha e a Ministério da Cultura que têm procedimentos


incompatíveis entre si.
C. Comunicazione del conlitto
Nell’incontro fra attori sociali (esempio: riunioni di lavoro) con diferenti e diversi
abitudini comunicative è frequente la manifestazione delle situazioni conlittuali di
tipo comunicazionale anchè perchè tale incontro è spesso volentieri di tipo verbale.
Dall’altro canto ogni cultura ha una sua “logica” che sovvente non circula fra gli attori
socialiperchè fa uso di codici simbolici diferenti5. Lotman (1975) ha individuato due
blocchi predominanti di culture: quelle basata sull’espressione con particolare accento
alla forma di manifestazione del loro patrimonio culturale e quelle basate sul contenuto
senza interessarsi particolarmente per i veicolo comunicativo.
Infatti, le culture dell’espressione tendono a vedere il conlitto sulla base bipolare: cor-
retto-erroneo, mentre, le culture del contenuto vedono la crisi secondo il binomio:
ordinato-non ordinato. Studi etnologici sul rapporto tra una cultura e l’idea che essa
ha del conlitto indicano che ci sono culture che esaltano la competizione come i
Manus ed altre che optano per la cooperazione e l’atteggiamento consensuale come i
Maori (cfr. Mead 1937).
Conclusione
Nel presente lavoro ho tentato di esporre un quadro teorico del conlitto dove il con-
litto culturale e nello speciico il conlitto archeologico può essere circoscritto. In una
società multi-connessa e globalizzata la mancanza di regole sopratutto nella gestione
dei beni culturali è di fatto una triste realtà. In aggiunta quando l’archeologia, discipli-
na che scopre e organizza la documentazione e conservazione di tali beni, è in crisi, la
mediazione per una corretta gestione del patrimonio materiale ed immateriale sofre
di lucidità e lungimiranza.
Nello speciico ho indicato come sovvente una situazione conlittuale può essere reale
o latente; di valori o culturale; sopratutto sociale in cerca di una identità moderna con
conseguenze irreversibili per il patrimonio culturale.

5
Secondo Gumperz (1982) il conlitto comunicazionale fra americani e nativi nasce dalla visione dife-
rente che i due gruppi abbiano degli argomenti di reciproco interesse.
302 • IPHAN

Bibliograia
Fischer R., 1964. Fractionating Conlict, In: Fischer R., (curator), International Con-
lict and the Behaviour Sciences, New York: Basic Books.
Weber, M. 1922. Wirtschaft und Gesellschaft
Lewin, K. 1948. Resolving Social Conlicts, New York: Harper & Row.
Glasl, F. 1980. Konliktmanagement. Ein handbunch für Führungskräfte, Beraterinnen
und Berater, Bern-Stuttgart: Paul Haupt-Freies Geistesleben.
Arielli, E. , Scotto, G. 1998. I conlitti, Milano: Bruno Mondatori.
Mead, M. 1937. (ed.) Conlict and Cooperation among Primitive Peoples. New York-
London: McGraw-Hill.
Mitchell, C. 1981. he Structure of International Conlict. MacMillan: London.
Robertson, R. 1992. Globalization: Social heory and Global Culture, Sage Publica-
tions Ltd.
Trigger, B. 1984. Alternative archaeologies: nationalist, colonialist, imperialist. In:
Man, 19:355-70.
1989. A History of Archaeological hought. Cambridge: Cambridge Uni-
versity Press.
Clack, T., M. Brittain (eds.) 2007. Archaeology and the Media. Walnut Creek, CA:
Left Coast Press.
Gamson, William A. 1992. Talking Politics, Cambridge University Press, Cambridge.
Gumperz, J.John. 1982. Discourse Strategies, Cambridge University Press. Cambridge.
Dahrendorf, R. 1959. Class and Class Conlict in Industrial Society. Stanford: Stanford
University Press.
Galtung, J. 1982. he Way is the Goal. Ganhdi Today. Ahmedabad.
Gofman, E. 1975. Frame Analysis. New York: Harper&Row.
Posner, R. 1992. “Was ist Kultur? Zur semiotischen Explikation anthropologischer
Grundbergrife”. In: Landsch, M., Karnowski, H., Bystrina, I. (eds.) Kultur-
Evolution. Frankfurt a M. : Peter Lanf. pp. 1-65.
Lotman, J. M., Uspenskij, B. A. (cur.) 1975. Tipologia della Cultura, Milano:Bompiani.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 303

Arqueologia dos conlitos: midores.


Claramente Bauman usa os termos “medo e in-
uma abordagem sistêmica segurança” e, portanto, “crise” como resultado
do desmantelamento da segurança sociocultural.
No caso especíico da arqueologia e da antro-
Introdução pologia, dos registros e da documentação esses
A tomada de consciência da comunidade in- enfoques de análise sociológica são classiicados
ternacional da interdependência político, so- como conlitos simbólicos ou como reivindica-
cial e cultural da nossa época em escala global, ções nacionalistas. No melhor dos casos, como
mas com imediatos efeitos locais, vem com os a arqueologia de comunidade quando tenta
anos oitenta quando os sociólogos Robertson, prevenir e compreender o impacto que a explo-
Keith Hampton e Barry Wellman cunharam ração ou indagação arqueológica “inlige” sobre
o termo glocal. Para Robertson (1992) o as- a pequena unidade social devido ao binômio
pecto mais interessante de nossa modernidade ocupacional de demanda-oferta ou das relações
globalizada é a maneira em que se é formada políticas e econômicas com a autoridade local
a consciência global das pessoas. Ele divide a e restaurando ou modiicando o conhecimento
globalização em uma série de fases e airma desta realidade histórica. (Leone 2005 Clack e
que entramos na quinta fase, aquela que ele Brittain 2007).
chama de incerteza global, resultado dos mo- Esta crise se manifesta como um sintoma de
delos tecnológicos inovativos que impõem atrito da concorrência entre a arqueologia de
uma avaliação das estruturas sociais e culturais contrato de caráter liberal e da arqueologia pú-
em todos os países do mundo. blica.
De fato, precisamente a gestão dos bens cul-
Obviamente, desta perspectiva ainda que a
turais necessita de investimentos inanceiros
cultura e o patrimônio material e imaterial de
substanciais, que porão em discussão as normas
cada nação adquiram uma dimensão insólita,
éticas para a gestão e mediação sob a perspec-
medida e redeinida com base nas novas exi-
tiva sustentável do patrimônio arqueológico e
gências sociais de tipo glocal. Antigas questões
cultural em geral.
reaparecem e novos problemas causam pre- A propósito escreve Jean Paul Demoule em seu
textos para a discussão e, no pior dos casos, discurso de abertura da mesa-redonda intitula-
tensão social e conlito. da “Arqueologia e os impactos globais de crises
De fato o sociólogo Zygmund Bauman (1966, múltiplas, possíveis soluções” na reunião anual
1975, 2005) desenvolve uma ilosoia de glo- dos arqueólogos europeus em Riva del Garda,
balização, baseada na análise do indivíduo, de em setembro de 2009:
seu grupo de pertencimento, enquanto o resto “Since its creation, the EAA (European Asso-
das teorias de glocalização parecem privilegiar ciation of Archaeologists) has served as a forum
os sistemas complexos frequentemente igno- for debates on diferent conceptions of the or-
rando a implicação dos subsistemas. ganization of archaeological heritage manage-
Por im Bauman, ao sistematizar a sua teoria ment in Europe. (…) Two main conceptions
sociológica da pós- modernidade, não desco- can be distinguished. In one, it is the nation
nhece a dialética que deriva do encontro-de- state, as representative community of citizens
sencontro dos vários grupos sociais dentro de that takes charge of the protection of the archa-
uma lógica de sistema-subsistema, sem nunca eological heritage, either through a state archae-
perder de vista o micro na sua relação com o ological service or through dedicated public bo-
macro. dies. In the other conception, the archaeologi-
Ele cunhou o termo de sociedade líquida cal heritage is considered as a merchandise or a
e sólida numa tentativa de explicar como service, where commercial archaeological units
a sociedade atual se transforma, melhor are at the service of their clients, the developers,
ainda,como decaem os atores sociais inclu- with only the postulate of a “code of ethics” to
sive os culturais dos produtores aos consu- ensure quality control in the overall framework
304 • IPHAN

of the free market economy. he current eco- equilíbrio social. Se adotarmos a deinição de
nomic crisis invites a rethinking of this concep- Posner (1992: 1-65), que considera a cultura
tion. he state, of which is used to be said that não apenas como um depósito da memória
“it’s was part of the problem”, is now discovered histórica, mas sim como um mecanismo que
as a possible solution. (…) his observation is cria a ordem social, então é fácil se aproximar
relevant at the much smaller scale of archaeo- da tese de Lotman-Uspensky (1975) que ca-
logy, where a considerable number of private racteriza os conlitos e, por extensão, as re-
units have been serenely cripped, or even forced lações entre as culturas como uma situação
to fold since the onset of the economic crisis, altamente simbólica, de tipo expressivo, no
putting in jeopardy archaeological operations, que é relativo aos bens culturais tangíveis e
as well as documentation and publications.” intangíveis.
Na verdade, a memória da história coletiva não
Arqueologia na Sociedade em Crise é absolutamente unidirecional ou propriedade
Recentemente a arqueologia buscou a tarefa de intelectual de um único ator social, mas se refe-
proporcionar formas alternativas de entendi- re a uma memória histórica e narrativa arque-
mento político e econômico pós-industrial, por ológica multitemporal. A vida social de uma
meio da revitalização da memória social. relíquia arqueológica é diacrônica e incorpora
Segundo os arqueólogos Shanks e Wirmor uma narrativa de múltiplas faces.
(2009) “archaeology has an extended histo- Muitas vezes a memória converge para o esque-
riographical scope, a much broader scope cimento e, consequentemente, a recuperação
than history (cf. Foucault’s use of the terms é a preservação de uma memória fragmentada
archaeology (1972, 1973), encompassing the que procura dilemas e crises, como nos casos
mundane and the material, with archaeology de conlito.
as the tangible mediation of past and present, Qual memória é importante?
of people and their cultural fabric, of the tacit, Que faces preservar?
indeed the inefable. Archaeology ofers rich Quem e quais são as instituições guardiãs da
resources for building alternatives in a risk memória material?
society, reframing matters of common and
pressing human concern. Indeed because, in O que é “conlito”?
the era of future orientation and short term As primeiras sugestões teóricas, nas quais com-
thinking, nothing is guaranteed memory, parece o termo conlito, são em Heráclito,
archaeology’s work on the material remains of quando ele o descreve como o princípio fun-
the past provides a route to the vital insertion damental da realidade e do motor da história.
of pasts into the present”. Muito mais tarde, na idade moderna, é Nico-
Assim é necessário compreender que o conlito lau Maquiavel e sucessivamente homas Ho-
social é resultado de diferentes objetivos (issues) bbes que vão tratar antropologicamente o ter-
que os multicomponentes da sociedade (clas- mo como a concorrência no quadro geral das
se social, grupos, instituições, etc.) perseguem relações humanas. Em particular, no Leviathan
(cfr. Dahrendorf 1959) ou da transformação (Hobbes, 1651) se descreve uma eliminação das
dos quadros interpretativos da realidade social contraposições porque se submete a um único
contemporânea (ver Gamson 1992). poder. Ou seja, o estado de conlito está intima-
A possibilidade e a modalidade da transforma- mente relacionado à liberdade individual.
ção de conlitos são bem descritas pelo modelo A reviravolta nos estudos advém com G.W.F.
de nove estágios de Glasl (1997) que em par- Hegel que coloca o conlito em um princípio
ticular encontra aplicação nos processos con- metafísico.
lituais (transformação e terminação) entre as Ele entrevê o princípio da dialética entre as par-
instituições (cfr Galtung, 1982). tes (a relação oposta: polaridade) o consumo do
Ao mesmo tempo, devemos denunciar que conlito.
os conlitos emergem da incompreensão cul- Em nível político esta polarização inaliza no
tural do “conlito” ou da percepção de não sistema patrão-servo, a primeira formulação
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 305

de uma teoria social do conlito (Bühl 1976). comportamento e a interpretação da situação


Em seguida, Karl Marx se inspira no conlito (dimensão subjetiva).
como luta de classes, numa perspectiva de não • Nestes termos, as causas que podem provocar
superação da conlitualidade, como até agora o conlito são descritas, em função da natureza
descrito, mas na ação revolucionária (transfor- das issues (cfr Deutsch 1973) e da escassez (ver
mação ativa). Mitchell, 1981), como indicado nas seguintes
Finalmente, Weber (1922) deine o conlito tipologias:
como “luta” (Kampf), a base do agir social e • O controle sobre determinados recursos.
Kurt Lewin (1948) explora os princípios psi- • Os recursos podem ser bens materiais ou de
cológicos que acompanham os conlitos, e dis- status, divisível (dinheiro) ou não divisível (cul-
corre sobre situações conlituais em sistemas de tural), invariável (território) ou variável (parcela
tensão. de renda de uma classe social).
• Os valores ou os sistemas de valores.
A. Deinição e várias modalidades de con- • Os recursos nas esferas política, ideológica,
lito. cultural e religiosa (cfr. white man’s burden).
Em função do referencial escolhido, cada um • As crenças que se usam.
pode encontrar uma diferente deinição do • Os conceitos que se aplicam para interpretar a
conceito de conlito. A que mais se adapta realidade do conlito. (quais pressupostos para
ao nosso discurso é aquela de Friedrich Glasl usar e interpretar a realidade do conlito).
(1997), que estrutura o conlito entre a descri- • Quanto a natureza das relações entre as partes.
ção das necessidades do ser humano: Pessoas ou grupos têm diferentes expectativas e
[...] O conlito social é uma interação entre aspirações quanto ao seu relacionamento.
os atores (indivíduos, grupos, organizações, • A sobrevivência de um dos atores, seja no
etc.), em que pelo menos um ator percebe sentido físico, seja para os atores coletivos, em
uma incompatibilidade com um ou mais termos de organização social.
atores na dimensão do pensamento e da • Os conlitos irrealistas.
percepção, na dimensão emocional e/ou na • O conlito persiste em questões aparente-
dimensão da vontade de uma forma que a mente de menor importância, embora possa
realização (de seus próprios pensamentos, haver uma contradição na base, portanto, o
emoções, vontade) venha obstaculizada por conlito é apenas um efeito: o bode expiatório.
outro ator. O fato realmente importante nessa nomencla-
Quais são, então, os componentes essenciais tura é a interpretação diferente dos issues. Isso
para a formação de um conlito? Como de- signiica que:
monstrado por Mitchell (1981) e Galtung [...] Quem é capaz de impor a sua deinição
(1982, 1996) podemos selecionar três compo- do problema tem uma vantagem decisiva, pois
nentes: leva o adversário a jogar no seu próprio terreno
• A contradição básica criada pela incompatibi- (Fischer, 1964).
lidade entre os objetivos dos atores ou a incom- Obviamente, o discurso de imposição da sua
patibilidade entre a precisão de satisfação das ne- própria visão do conlito é indiretamente tam-
cessidades (autorrealização) e as estruturas sociais bém um problema de comunicação do conlito
que a impedem (dimensão estrutural). (cf. Gofman, 1975), que me proponho a falar
• O comportamento, ou seja, o conjunto de a seguir.
ações observáveis que os jogadores pretendem
conduzir o conlito para atingir os seus próprios B. Classiicação de Conlitos
objetivos e/ou impedir o adversário de alcançar Considerando que um conlito em curso é o
o seu. resultado da incompreensão das relações entre
• As atitudes das partes em conlito, ou seja, agentes e entre as suas ações intencionais con-
o conjunto das percepções, emoções e dispo- trastantes, em que um tenta anular o outro ou
sições dos atores, que são decorrentes do con- a ação de um pode criar desvantagens para si
lito, ou pré-existentes a ele e que determina o ou indiretamente, como na maioria dos casos
306 • IPHAN

contra o outro, se considera a seguinte nomen- crise de acordo com o binômio ordenadas-
clatura para as ações de conlito: desordenadas.
• Tipo I (divergência) São conlitos não coope- Estudos etnológicos sobre a relação entre uma
rativos porque há a discrepância entre os objeti- cultura e a ideia de que essa tem do conlito
vos. A incapacidade de cooperar também pode indicam que há culturas que enfatizam a com-
causar um possível desenvolvimento de conli- petição como o “Manus” e outras que optam
to e uma escalada dele. Exemplo: perimetral da pela atitude de cooperação e consenso como os
cidade de Santos, São Paulo, Brasil (2009). “Maori” (cf. Mead, 1937).
• Tipo II (concorrência): Nestes conlitos a par-
ticularidade está na busca de um mesmo obje- Conclusão
tivo e na exploração deste mesmo objetivo em Neste trabalho, tentei expor um quadro teó-
termos de recursos limitados. Exemplo: desti- rico do conlito, em que o conlito cultural e
no do acervo da Fundação Cultural do Banco particularmente o arqueológico podem ser li-
Santos (2004) mitados. Em uma sociedade multiconectada e
• Tipo III (barreiras): Neste caso, o agente globalizada, a falta de regras, especialmente na
orienta a sua ação para bloquear a ação do ad- gestão dos bens culturais, é uma triste realidade.
versário, ou seja, se procede a uma obstaculi- Além disso, quando a arqueologia, uma dis-
zação recíproca. Exemplo: embargo do sitio ciplina que descobre e organiza a documenta-
“Casa Bandeirista do Itaim Bibi”, São Paulo-SP, ção e preservação de tais bens, está em crise, a
Brasil (2008). mediação para a correta gestão do patrimônio
• Tipo IV (agressão): a intenção é dirigida con- material e imaterial sofre de clareza e de visão.
tra o outro agente e não contra a sua ação, a Especiicamente, como de fato indiquei, uma
im de mudar o seu status ou as características situação conlitual pode ser real ou latente; de
do agente atingido. Exemplo: o caso da arque- valor ou cultural; especialmente social, na busca
ologia subaquática no Brasil que por meio da de uma identidade moderna com consequên-
Lei 10.166/2000: § 1 deine como autorida- cias irreversíveis para o patrimônio cultural.
des competentes o Ministério da Marinha e o
Ministério da Cultura que têm procedimentos NOTAS
incompatíveis entre si. 1. O termo glocal foi usado pela primeira vez na
década de 80 pelo marketing estratégico japo-
C. Comunicação do conlito nês. Derivado da palavra nipônica dochakuka,
No encontro entre os atores sociais (ex.: reuni- signiica exatamente localização global.
ões de trabalho) com diferentes e diversos hábi- 2. “Precisamos saber que o conlito (πόλεμος)
tos de comunicação é frequente a manifestação é comum, que o contraste é justiça e que todas
de situações conlituais do tipo comunicacional as coisas acontecem segundo contraste e ne-
porque este encontro é muitas vezes voluntaria- cessidade.” Heráclito, fr.80.
mente do tipo verbal. 3. Tal deinição nos permite distinguir entre
Por outro lado, cada cultura tem sua própria uma assimetria nos papéis dos atores e sua in-
“lógica” que frequentemente não circula entre tenção de perseguir a realização de um obje-
os atores sociais que usam diferentes códigos tivo preciso como a transformação social do
simbólicos. Lotman (1975) identiicou dois conlito, que muitas vezes se manifesta como
blocos de culturas predominantes: aqueles com um conlito latente (Arielli, Scotto 1998).
base na expressão com particular ênfase sobre a 4. Entendia-se que a tarefa de civilizar o resto
forma de manifestação do seu patrimônio cul- do mundo repousa sobre os ombros do ho-
tural e aqueles com base no conteúdo sem um mem branco.
meio de comunicação como suporte. 5. Segundo Gumperz (1982) o conlito co-
Na verdade, as culturas da expressão tendem municacional entre os americanos e os nati-
a ver o conlito sobre a base bipolar: correto- vos nasceu da visão de que os dois grupos têm
errado, entre as culturas de conteúdo se vê a diferentes argumentos de interesse recíproco.
Epílogo

As duas imagens das capas deste livro exprimem a minha intenção em explicar o
sentido da arqueologia preventiva.
A capa principal representa o convite a educar. Gesto simples e espontâneo de
observação em busca de se compreender o que se vê, de reter a informação não só
com a memória visual, mas por meio da linguagem escrita.
A imagem que fecha o livro é bastante simbólica e eloquente: um navio encalhado
na areia e abandonado ao tempo na costa da Argólida, na Grécia.
Este caso emblemático nos aponta que os desastres são imprevisíveis. O homem
não controla a natureza nem seus próprios inventos. Nosso papel é minimizar este
grau de imprevisibilidade com a prevenção.
Agir arqueologicamente signiica recolher os fragmentos passados e por meio de-
les observar, documentar, analisar, compreender e resgatar a memória coletiva
encontrando respostas para as questões que devemos gerir e mediar no cotidiano.
“Educar preventivamente é educar pela memória”: como me ensinou meu pai,
a quem dedico este trabalho.

Notas
1. A imagem da capa principal refere-se ao Museu de Micenas, em Argolida na Grécia.
© Georgios Dimitriadis.
2. A foto posterior foi registrada em Astros, na região de Argólida, na Grécia em 2009.
© Georgios Dimitriadis.
3. Quero expressar meus agradecimentos a Bosy de Oliveira Campos pela sua cuidadosa
tradução do texto em língua francesa e em particular a Georgios Dimitriadis que con-
tribuiu para o apefeiçoamento desta obra com sua parceria nas traduções dos textos em
língua inglesa e italiana.

Você também pode gostar