Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ORGANIZAÇ
Marise Campos de Souza
São Paulo - SP
2010
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Cultura
Juca Ferreira
Presidente do Iphan
Luiz Fernando de Almeida
Chefe de Gabinete
Fernanda Pereira
Procurador Chefe
Antonio Fernando Alves Leal Néri
Diretora de Patrimônio Imaterial
Marcia Sant’Anna
Diretor de Patrimônio Material e Fiscalização
Dalmo Vieira Filho
Diretora de Planejamento e Administração
Maria Emília Nascimento Santos
Diretora de Articulação e Fomento
Márcia Rollemberg
Superintendente do Iphan em São Paulo
Anna Beatriz Ayroza Galvão
Coordenador Técnico Substituto
Caio Roberto Bourg de Mello
Setor de Arqueologia do Iphan em São Paulo
Marise Campos de Souza
Rossano Lopes Bastos
Endereços
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (sede)
SBN Quadra 2 Edifício Central Brasília
Cep 70040-904 Brasília - DF
Telefone: (61) 2024 6176 Fax: (61) 2024 6198
ISBN 978-85-7334-141-6
Apresentação
Antonio Pires da Silva ........................................................................................03
Prefácio
Damir Dijakovic ................................................................................................05
Introdução
Marise Campos de Souza ..................................................................................09
PRIMEIRA PARTE
SEGUNDA PARTE
TERCEIRA PARTE
Zadar, Croácia e sua nomeação como o A UNESCO se esforça de fato para promo-
Centro UNESCO de Categoria II. ver e para catalisar tais processos em todo
o mundo como parte do seu multifacetado
Constata-se que o campo da arqueologia mandato. Em 2010, o Ano Internacional
preventiva abre espaço para a cooperação e para a aproximação das Culturas, essa tare-
o intercâmbio internacional. fa será ainda mais importante e acentuada.
Como tal, representa importante recurso,
bem como plataforma intercultural para o Damir Dijakovic
diálogo e a troca, como sugere este livro. UNESCO – Programme Specialist in Culture
Introdução
Marise Campos de Souza
Chefe do Setor de Arqueologia do Iphan/SP
Heritage and tourism risk in Cambodia once again trapping itself in a mono-cultural,
mono-ethnic, nationalism. he re-emerging of international tourism in Cambodia
has also transformed the town of Siem Reap into an enclave of imbalanced wealth
and development, and a micro-economy beyond which lies sustained rural poverty.
Angkorean tourism is thus fuelling the country’s ever increasing concentrations in
wealth and sub-national inequalities. (Winter 2008:14, 6:537)
Exatamente um ano mais tarde a revista Época no Brasil em uma lúcida re-
portagem de Juliana Arini analisa criticamente a multiplicidade de conlitos
emergentes de ocupação da tribo indígena dentro da reserva Capoto-Jarina em
Mato Grosso:
Cerca de 250 líderes indígenas de 14 etnias se encontraram para falar sobre o PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento). A conversa foi paciica, mas a decisão dos
índios foi lançar gritos de guerra e ameaças à obra. (...) O governo vai ser responsável
pelos danos aos operários e indígenas, diz a carta assinada por caciques da etnia
caiapó. (...) Em um país onde 12.4% do território pertence a terras indígenas, esse
tipo de conlito já gerou o embargo de projetos. Provocou também várias ações extre-
mas como invasões a canteiros de obra e sequestro dos operários. (Arini 2009 9:62-66)
[...] Ce principe a été réléchi en fonction des responsabilités qu’il pourrait engager. Il
est devenu à la fois un épouvantail et un principe de couverture. En faire trop semble
vous protéger d’une mise en cause éventualle. J’ajoute qu’il y a deux manières diféren-
tes d’envisager le principe de précaution: soit on considère qu’il s’agit d’un processus de
décision inale – en situation d’incertitudes, j’analyse tous le paramètres et j’opte pour
la solution la plus adaptée; soit j’interprète le principe de précaution en décidant qu’
à partir du moment où il y a une incertitude je suspends toute action, j’omets d’agir :
c’est la logique du moratoire. Sous le label «principe de précaution», on trouve toutes
le utilisations. (Prieur 2010:9).
Que conclusão podemos obter? Seguramente que em volta do mundo existe uma
atenção contínua em relação ao destino do Patrimônio Cultural e uma assídua
discussão sobre a sua relação muitas vezes conlitual com as diferentes instâncias
do desenvolvimento e do crescimento do País.
A combinação sem regra, ou melhor, com regras variáveis entre o público e o
privado determina uma situação de insegurança, risco e conlito. Como se pode
obstar o fenômeno em benefício não só do patrimônio material e imaterial mas
também da prosperidade social? Quais medidas de precaução, sem excesso, se
podem adotar e quais exemplos se podem oferecer às diferentes instituições e aos
gestores do Patrimônio Nacional, em cada país?
Estrutura do Livro
Complexo responder às questões postuladas, mas pensei no presente volume
numa plataforma de confronto entre as diversas experiências na gestão do Pa-
trimônio no Brasil bem como na Argentina e em Portugal, Inglaterra, França,
Itália, Hungria, Polônia, Rússia e Bulgária. Esta variada abordagem geográica se
justiica na necessidade de conhecimento do processo de maturação da arqueolo-
gia preventiva no mundo por meio da apresentação de estudos de casos, quando
possível, e afrontam várias formas de conlito.
Em consequência articulei o volume em três partes intimamente ligadas entre si.
A primeira parte se abre com três textos que retratam o estado atual da arque-
ologia preventiva no Brasil com toda sua dinamicidade histórica acompanhados
de um texto de uma acadêmica argentina que focaliza sobre a difícil relação de
salvaguarda do patrimônio material (como no caso da arte rupestre) e imaterial (a
memória social). Ambas as nações emblematicamente representam o esforço sul-
americano em gerir de maneira correta o seu patrimônio comum indicando uma
ecotrajetória na superação de seus conlitos ambientais e econômicos sociais. De
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 11
Conclusão
Em realidade, procurei harmonizar a posição da academia com a dos órgãos oi-
ciais de proteção do patrimônio cultural, pensando que esta nova modalidade de
debate analítico da realidade arqueológica poderia ser um impulso ao crescimen-
to, em ambas as partes do Atlântico na arqueologia preventiva.
Solicitei a todos os autores quee escrevessem na sua língua de maior luência,
optando não só a oferecer um novo conceito de livro Iphan, mas, sobretudo dan-
do a possibilidade aos especialistas e público interessado nas problemáticas do
patrimônio cultural do Brasil de veriicar o quanto inovativo é o trabalho da Ar-
queologia e com que diiculdade e/ou atraso as instituições estão gerindo o seu
patrimônio cotidianamente no campo da arqueologia peventiva.
Creio que valia a pena praticar este exercício de explorar as diversas modalidades
de preservação, gestão e mediação dos conlitos na arqueologia por maior matu-
ridade cívica.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 13
Bibliograia
Arini, J. 2009. Um belo monte de conlitos. In: Época. 9: 62-66.
Foto 3 Foto 4
I. Arqueologia, Academia e Mediação de Conlitos
Jean Luiz de Morais & Daisy de Morais
1
A missão foi cheiada por Luciana Pallestrini, uma das pioneiras da fase acadêmica da Arqueologia
Brasileira.
18 • IPHAN
Conhecendo Piraju
O Município de Piraju se localiza no quadrante sudoeste do Estado de São Paulo,
trecho médio da bacia do rio Paranapanema, área correspondente à antiga região
da Média Sorocabana. As pesquisas arqueológicas efetuadas pela USP há quase
quarenta anos airmam que as primeiras ocupações humanas na região se veriica-
ram a partir do sétimo milênio antes de Cristo.
Nas primeiras décadas dos anos 1800, índios guaranis que haviam fugido dos
bandeirantes para os lados do Paraguai há dois séculos, começaram a se deslocar
no sentido leste, na procura da mitológica “terra sem mal”. Desse modo, subiram
o rio Paranapanema até chegarem às proximidades de onde está a cidade de Pira-
ju; ali, sob a liderança de padres capuchinhos, permaneceram organizados em um
aldeamento chamado do Pira’yu’ ou Piraju (em guarani, peixe dourado).
Ao mesmo tempo, posseiros vindos do sul de Minas Gerais e da região do médio
Tietê – atraídos pela boa qualidade das terras – começaram a avançar sobre o
sudoeste paulista. Pelo ano de 1871, as famílias Arruda, Faustino e Graciano doa-
ram à Mitra Diocesana de São Paulo uma pequena gleba de terras para a constru-
ção de uma capela. Assim foi criada a Freguesia de São Sebastião do Tijuco-Preto,
nas proximidades do aldeamento do Piraju, dos índios guaranis.
Em 1880 o povoado ganha foros de vila, começando as desavenças entre índios e
posseiros; um mito local diz que tudo foi por causa de uma imagem de São Sebas-
tião de origem italiana, dada aos índios pelos padres capuchinhos. Em 1891, um
decreto estadual determina, a pedido da população, que a Vila e Município de São
Sebastião passem a se chamar Piraju. O aldeamento dos índios decai rapidamente
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 19
de São Paulo, entre 1997 e 19982. A maior parte dele sofreu intervenções inade-
quadas, descaracterizando as fachadas ao se substituir um ou outro elemento. O
levantamento e o estudo do patrimônio arquitetônico do ciclo cafeeiro fornece-
ram subsídios para uma estratégia pedagógica apoiada nos princípios da educação
patrimonial. Isso signiica que a história da cidade passou a ser conhecida pela
população a partir da convivência com os signos urbanos, da familiaridade com
os objetos da cultura material e da participação em reconstituições de fatos rele-
vantes da história local.
2
Projeto de pesquisa de Daisy de Morais, sob a orientação da museóloga Maria Cristina Oliveira Bruno.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 21
3
Idealizado por Luciana Pallestrini em 1969, quando das escavações arqueológicas do sítio Fonseca (situ-
ado no Município de Itapeva – SP), o Projeto Paranapanema, sob a coordenação de José Luiz de Morais
a partir de 1987, assumiu, deinitivamente, forte envolvimento com as questões ambientais da bacia do
rio Paranapanema.
4
Entre 1993 e 1995, José Luiz de Morais, gestor do Centro Regional e coordenador do Projeto Parana-
panema assumiu, e estruturou a Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente do Município de Piraju,
ocasião em que também presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural.
22 • IPHAN
5
Entre 1906 e 1912, a municipalidade participara ativamente da construção e manutenção do ramal
ferroviário da Sorocabana; após a sua desativação, com razões de sobra, o município pleiteou a doação
dos dispositivos ferroviários, logo abandonados. O processo se estendeu por quase 30 anos quando,
inalmente em 1998, a Fazenda Pública do Estado de São Paulo transferiu sua posse para o Município
de Piraju, com a condição de que as instalações fossem utilizadas para ins culturais, como será mais
bem explicado adiante.
6
Resolução 3560, de 11 de agosto de 1989, que dispôs sobre a uniicação dos museus e órgãos ains com
atuação nas áreas de arqueologia e etnologia.
7
Desde 1987, José Luiz de Morais havia assumido, ainda pelo Museu Paulista, a coordenação do Projeto
Paranapanema e, por consequência, das atividades do Centro Regional; a partir da integração ao MAE,
Morais assumiu o posto de gestor do centro regional.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 23
necessários foram concedidos pela USP8; a Prefeitura cedeu a mão de obra para a
execução da reforma9. Em julho de 2004, o centro regional passou a funcionar na
chamada Casa da USP em Piraju.
O que sustenta o Centro Regional de Arqueologia Ambiental como espaço de
mediação de conlitos é o seu porte acadêmico e cientíico, marcado por um acer-
vo arqueológico espetacular, em que se destaca:
a) pela quantidade: são mais de 350 coleções correspondentes a cada
registro arqueológico pesquisado pela equipe do Projeto Paranapanema; o nú-
mero de peças de cada uma varia entre poucas (ocorrências arqueológicas pouco
densas) e milhares de unidades. Nesta última categoria encontra-se a maior parte
das coleções, como as do sítio Piracanjuba – Piraju (25 mil peças), do sítio Brito
– Sarutaiá (20 mil peças), sítio Camargo – Piraju (15 mil peças), sítio Alvim –
Pirapozinho (7 mil peças), sítio Fonseca – Itapeva (5 mil peças), dentre outros;
b) pela qualidade: todas as coleções resultam das pesquisas sistemáticas
da equipe do Projeto Paranapanema; têm, portanto, alguns atributos essenciais:
são georreferenciadas em várias escalas de aproximação (isto inclui a posição es-
tratigráica), a maior parte tem datação e, além disso, foram formadas segundo as
diretrizes teóricas e conceituais dos projetos especíicos que as geraram;
c) pela abrangência regional: o acervo cobre praticamente toda a extensão
da bacia do rio Paranapanema no Estado de São Paulo, com coleções de municí-
pios das sub-bacias superior, média e inferior;
d) pela abrangência temporal: o acervo cobre todos os cenários das ocu-
pações humanas da bacia do Paranapanema e seus respectivos sistemas regionais
de povoamento; portanto, há coleções pré-históricas de 7 mil, 5 mil ou 3 mil anos
(macrossistema de caçadores-coletores indígenas), de 2 mil, mil ou 500 anos (ma-
crossistema de agricultores indígenas), ou históricas (meados dos séculos 19 e 20);
e) pela natureza de materiais arqueológicos: praticamente todos os seg-
mentos de coleções típicas de sítios arqueológicos indígenas do interior estão nas
proporções costumeiras (cerâmicas, líticos lascados, líticos polidos, ossos); ou de
sítios históricos (telhas, tijolos, louças, vidros, metais). Destaca-se o elevado nú-
mero de vasilhas de cerâmica praticamente completas, como as grandes urnas.
8
Com relação à nova frente de trabalho, devem ser registradas a sensibilidade e a vontade política do
ex-diretor do MAE, Murillo Marx, que envidou todos os esforços para que a Casa da USP em Piraju se
tornasse realidade.
9
O projeto de reforma e readaptação do imóvel é da arquiteta Daisy de Morais, da equipe do Projeto
Paranapanema.
24 • IPHAN
Sobre os conlitos
É de se considerar que – na maior parte das situações – a Arqueologia de Piraju
teve papel bastante signiicativo no encaminhamento (e solução) de várias ques-
tões relacionadas com a proteção e valorização do meio ambiente e do patrimônio
cultural da região. Certamente, muitas das situações não envolveram “conlitos”
propriamente, no sentido estrito da expressão (neste artigo, o uso da expressão
“conlito” não tem, necessariamente, conotação negativa).
Todavia, considerando o peril desta publicação, serão mostradas duas situações
em que a Arqueologia, enquanto área do conhecimento de forte conotação pa-
trimonial (pois ela lida com a memória e a identidade dos povos), teve papel
absolutamente destacado: a construção de hidrelétricas em confronto com a vo-
cação ambiental da região de Piraju e a requaliicação do patrimônio histórico-
arquitetônico da antiga Estação Ferroviária.
10
Daí a agregação do qualiicativo “ambiental” ao nome do centro regional; isto também se justiica pelo
incremento das subdisciplinas “arqueologia ambiental” e “arqueologia da paisagem” no meio acadêmico.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 25
11
A construção das lagoas de tratamento foi feita à revelia de estudos ambientais, provocando a destruição
de sítio arqueológico registrado antes que fossem adotadas as medidas de resgate arqueológico (à vista
disso, há um processo delagrado pelo Iphan).
26 • IPHAN
dos anos 1990 foi proposto o licenciamento ambiental daquele que seria o mais
impactante na perspectiva patrimonial (fala-se, aqui, de patrimônio ambiental
e paisagístico): a usina Piraju montante que, barrando o rio na altura dos saltos
Simão (ou dos Aranha), a montante da cidade, aduziria as águas para uma casa de
força a jusante da mancha urbana. Isso signiicava “tirar o rio da cidade”, como foi
corretamente interpretado pela comunidade local. O empreendedor apresentou
esta opção (alternativa 1) como a mais adequada.
A rejeição ao projeto da alternativa 1 uniu todos os segmentos da cidade, recru-
descendo o movimento ambiental a favor da preservação do rio Paranapanema.
No complexo conjunto de ações ativadas, coube à equipe do Projeto Paranapa-
nema, no espaço de mediação do Centro Regional de Arqueologia Ambiental,
buscar e propor questões de ordem técnica que contribuíssem para impedir este
projeto altamente impactante. São dessa época os estudos que resultaram na cria-
ção do Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, com composição e
atribuições suicientemente corretas para fazer prevalecer o interesse local, contrá-
rio à implantação daquele projeto. Felizmente prevaleceu o bom senso e o projeto
não foi adiante.
À vista disso, foi apresentada a alternativa 2, que não desviava o rio da cidade, em-
bora a produção de energia elétrica fosse bem menor. Com um Estudo de Impacto
Ambiental / Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) de boa qualidade, o
projeto vingou. A equipe do Projeto Paranapanema, do Centro Regional de Arque-
ologia Ambiental, planejou e executou o resgate arqueológico da área diretamente
afetada pela alternativa 2 da usina Piraju, em nome do Museu de Arqueologia e Et-
nologia da Universidade de São Paulo. Considerando a sensibilidade ambiental em
termos de patrimônio arqueológico regional, o programa foi detalhado e compe-
tente para resgatar farta documentação arqueológica em campo, adicionando dados
importantes ao patrimônio arqueológico do Município de Piraju.
Porém, nesta última década, nova investida foi feita contra a preservação do rio
Paranapanema em suas condições naturais, pela proposição da usina Piraju 2 (ou
Piraju jusante). Um pequeno barramento a ser feito na altura da foz do ribeirão
das Araras afogaria o último trecho de canal natural do rio Paranapanema, inun-
dando cenários de rara beleza, inclusive o chamado salto do Piraju, que, primeiro,
deu nome ao aldeamento guarani, e, depois, à própria cidade. Nova onda preser-
vacionista foi ativada, com uma organização mais abrangente. Naquele momento
já se podia contar com o SISMMAP – Sistema Municipal de Meio Ambiente e
Patrimônio Cultural (diploma jurídico proposto ao Executivo pirajuense pelos
pesquisadores do Projeto Paranapanema). Assim, a Lei Municipal 2547, de 26 de
julho de 2001, previa nos seus artigos iniciais:
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 27
RESOLVE:
Artigo 1º – Fica tombado o rio Paranapanema, patrimônio ambiental do Muni-
cípio de Piraju, trecho situado entre a foz do ribeirão Hungria e a foz do ribeirão
das Araras.
Artigo 2º – Ficam especialmente discriminados nesta Resolução, em função do
valor cênico, paisagístico e cultural, os seguintes itens situados no segmento de
canal tombado:
I – O Salto do Piraju, compartimento geográico que acumula prer-
rogativas de paisagem notável, pela sua qualidade cênica, e lugar de
memória, vinculado às origens do aldeamento guarani que dá nome
ao Município;
II – O Parque Natural Municipal do Dourado, unidade de conserva-
ção e proteção integral de posse e domínio públicos, criado pela Lei
Municipal 2634, de 26 de junho de 2002.
III – Os sítios resultantes dos sistemas de povoamento pré-colonial,
considerados expressões máximas do patrimônio arqueológico locali-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 29
2. A Estação da Memória
“Aprovado na 64a reunião, sem restrições” com esta manifestação, o Conselho Téc-
nico do Ministério da Cultura aprovou o projeto de restauro da Estação Ferroviá-
ria de Piraju encaminhado pela Associação Projeto Paranapanema12. O propósito
da iniciativa foi resgatar e colocar à disposição da comunidade de Piraju e região
o conjunto arquitetônico da Estação Ferroviária, patrimônio histórico-cultural de
caráter monumental que testemunha a sua memória cultural (o conjunto havia
sido tombado pela municipalidade, com base em legislação municipal própria, na
esteira do Decreto-Lei 25/1937).
Elaborar um projeto para a aprovação do Ministério da Cultura exigiu, em pri-
meiro lugar, a deinição criteriosa de objetivos, considerando alguns princípios
que privilegiaram aspectos sociais e econômicos da comunidade pirajuense.
12
O assunto relacionado com a aquisição de personalidade jurídica pelo Projeto Paranapanema será
tratado adiante.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 31
13
A consolidação plena da documentação produzida comparece na dissertação de mestrado de Daisy de
Morais, apresentada à Universidade de São Paulo em 2002.
14
Decreto estadual 46.980, de 31 de outubro de 1966, dispondo sobre a supressão do ramal ferroviário
de Piraju.
15
O ambiente político do Estado de exceção propiciava atos discricionários por parte do Poder Executivo,
como a desativação de ramais ferroviários.
32 • IPHAN
início dos anos 70; as sacas eram enviadas para a Estação Ferroviária de Bernar-
dino de Campos (linha-tronco da EFS) por rodovia, de onde eram embarcadas.
Esta atividade foi extinta em 1971, à época do encerramento das atividades da
Estrada de Ferro Sorocabana (EFS)16. À vista disso, a Prefeitura assumiu a ma-
nutenção do conjunto, pretendendo dar a ele um destino coerente com a sua
vocação histórico-cultural: lá seria instalado um museu histórico-arqueológico.
De fato, a sugestão inicial para o seu aproveitamento, no início da década de
1970, ligava-se à implantação da sede de um “museu arqueológico”, ideia que não
foi adiante. Naquela época, o Museu Paulista da USP iniciara pesquisas arqueoló-
gicas na região de Piraju, no amparo do Projeto Paranapanema. As boas relações
entre o prefeito Quinzinho Camargo e o então diretor do Museu Paulista, Mário
Neme, fomentaram a criação do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas de
Piraju, assunto tratado anteriormente. O local escolhido para acolher as pesquisas
arqueológicas (laboratórios e reserva técnica) foi o prédio da Estação de Piraju,
recém-desativada. Porém, a ideia foi abortada em função de problemas de ordem
política e administrativa, somados à falta dos recursos necessários às adaptações
arquitetônicas exigidas pelo novo uso17.
Esquecida a ideia da “estação-museu”, o uso do imóvel tornou-se bastante desor-
denado. As ediicações residenciais do conjunto ferroviário continuaram irregu-
larmente ocupadas pelas famílias dos antigos funcionários, além de se registrarem
outras invasões. Parte do terreno foi tomada pelas instalações da antiga Coopera-
tiva de Cafeicultores de Piraju. Os dois armazéns foram ocupados pela Prefeitura
que, primeiramente, os utilizou como depósito de materiais. Anos mais tarde, um
deles passou a abrigar a escola de carpintaria.
O prédio principal, talvez pela sua visibilidade, teve destino mais conturbado:
inicialmente usado pela Prefeitura como depósito, foi temporariamente cedido a
uma empreiteira que trabalhava na região no inal da década de 1970, fato que
provocou uma ação movida pelo Ministério Público Estadual contra a Prefeitura.
Abandonado, o prédio projetado por Ramos de Azevedo foi invadido por famílias
carentes que o ocuparam em meados dos anos 80. Este episódio foi noticiado pela
imprensa local:
16
A FEPASA, empresa estatal resultante do agrupamento do sistema ferroviário paulista, não chegou a
incorporar o patrimônio do ramal de Piraju, que passou a integrar a Fazenda Pública do Estado.
17
A retomada da “reinserção arqueológica” da Estação ocorreu no ano 2000, quando o Projeto Parana-
panema foi constituído como pessoa jurídica para encaminhar projeto de reabilitação da Estação da
Memória para o Ministério da Cultura. A partir daí, a equipe técnica do Projeto Paranapanema come-
çou a investir em ações para a captação de recursos para o restauro do prédio, por meio da legislação de
incentivo à cultura. Este assunto será retomado na conclusão deste artigo.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 33
18
É nessa ocasião que parte da escada de madeira foi usada como combustível de fogão. Para garantir parte
do sustento, as famílias ocupantes vendiam materiais extraídos do edifício, conforme testemunham
moradores do bairro.
19
É por essa época que os soalhos originais do piso térreo e parte do forro são retirados; os porões de
ventilação são aterrados com entulho.
34 • IPHAN
20
O Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju será abordado no item inal deste
artigo; a paralisação das obras foi solicitada pelo conselheiro José Luiz de Morais, que assumiria a pasta
municipal de Planejamento e Meio Ambiente na gestão seguinte.
21
Esta estrutura é composta pelas construções (inclusive o prédio principal) inseridas em um terreno de
quase 1,5 alqueire e a faixa de implantação dos trilhos, até a divisa com Manduri.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 35
22
Lideradas por Daisy de Morais, que se valeu do estudo da Estação de Piraju sob a perspectiva da arque-
ologia da arquitetura.
23
A associação aplicou recursos próprios para iniciar o restauro da cobertura, obra caracterizada como
emergencial; por outro lado, as horas-técnicas de sua equipe jamais oneraram os cofres públicos de
Piraju.
24
Dispõe sobre a qualiicação de pessoas jurídicas de direito privado, sem ins lucrativos, como ‘organizações
da sociedade civil de interesse público, institui e disciplina o ‘termo de parceria’, e dá outras providências.
36 • IPHAN
25
Juridicamente, enquanto associação civil sem ins lucrativos e com objetivos ligados à preservação do patri-
mônio cultural, o Projeto Paranapanema é parte integrante da comunidade apta a interferir nessa matéria.
26
A efetividade das ações programadas tem oscilado em função de fatores diversos, principalmente a falta
de recursos, somada à carência de planejamento administrativo, somada à não priorização de assuntos
de ordem cultural, fato, aliás, comum no Brasil.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 37
27
Esses quatro municípios foram distritos de Piraju.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 39
28
A participação do Projeto Paranapanema no movimento se deu pela elaboração dos estudos técnicos e o
anteprojeto de lei para a criação do novo colegiado, sob a liderança de José Luiz de Morais. O prefeito
Francisco Rodrigues, por sugestão do então secretário municipal de Cultura e Meio Ambiente, Benedi-
to Barone Gianetti, acolheu a proposta e a encaminhou à aprovação da Câmara Municipal.
29
O prefeito acolheu a solicitação do Conselho e paralisou a reforma.
30
José Luiz de Morais, coordenador do Projeto Paranapanema, foi nomeado titular da pasta de Plane-
jamento e Meio Ambiente, cargo que lhe conferiu a presidência do Conselho de Meio Ambiente e
Patrimônio Cultural.
40 • IPHAN
31
“Dispõe sobre o processo de tombamento de bens culturais, ambientais e paisagísticos do Município de
Piraju”; esta lei, ainda em vigor, revogou a anterior que apresentava falhas na redação.
32
Os demais bens tombados foram as praças centrais de Piraju (Ataliba Leonel, Joaquim Antônio de
Arruda e Benedito Silveira Camargo), o Bosque das Jabuticabeiras (respectivamente, em 1996 e 1997)
e o trecho de canal natural do rio Paranapanema, em 2002.
33
“Institui o Sistema Municipal de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju – SISMMAP, e dá
outras providências.”
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 41
Sem prejuízo de outras inserções futuras, a Lei 2.547/01 deiniu como altamente
relevantes os seguintes itens patrimoniais do Município de Piraju:
a) O rio Paranapanema, considerado expressão máxima do patrimônio am-
biental e paisagístico do município.
b) A antiga Estação Ferroviária e as construções ecléticas do início do século
XX, consideradas expressões máximas do patrimônio histórico-arquitetônico do mu-
nicípio.
c) Os sítios resultantes dos sistemas de povoamento pré-colonial, considera-
dos expressões máximas do patrimônio arqueológico localizado no município.
d) A manifestação popular conhecida como “moçambique”, considerada
a expressão máxima do folclore pirajuense, no âmbito dos bens imateriais de valor
cultural.
34
Os estudos técnicos que resultaram na Lei Municipal 2.058, de 2 de dezembro de 1996, que instituiu
a Política Municipal de Urbanismo de Piraju foram elaborados pelo Projeto Paranapanema, sob a co-
ordenação de José Luiz de Morais.
42 • IPHAN
35
SEPLAM era a sigla da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente do Município de Piraju, substi-
tuída posteriormente pelo Departamento de Urbanismo e Meio Ambiente na nova estrutura orgânica
da Prefeitura do Município de Piraju.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 43
legalmente obstruída por vários diplomas jurídicos municipais em vigor. Nesse senti-
do, a equipe do Projeto Paranapanema, no espaço de mediação do Centro Regional
de Arqueologia Ambiental, agiu com a melhor lisura e competência técnica: no caso
da Usina Piraju montante (ainal, vingara o projeto da alternativa 2, que não desviaria
o rio da cidade), a equipe do Projeto Paranapanema deu conta de um programa de
resgate arqueológico exemplar; no caso da Usina Piraju II jusante, a equipe elaborou
os estudos técnicos que resultaram na peça de tombamento do último trecho natural
do rio Paranapanema.
Com todos os percalços possíveis, a Estação Ferroviária de Piraju segue em processo
de restauro. A produção de conhecimento em torno desse bem comum foi muito
expressiva, graças à ação da equipe de pesquisadores do Projeto Paranapanema que,
para tanto, valeu-se do espaço de mediação do Centro Regional de Arqueologia Am-
biental. A redescoberta da autoria do projeto original (Ramos de Azevedo), todos os
estudos de arqueologia da arquitetura e o projeto de restauro cedidos sem custo à
Prefeitura se devem a este esforço. Considerar o conjunto da Estação Ferroviária de
Piraju um sítio arqueológico histórico foi de vital importância, pois fez comparecer o
Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com suas prerrogati-
vas de mediação e gestão patrimonial36. Nesse sentido, ao contar com a cumplicidade
do órgão federal, a equipe do Projeto Paranapanema pode impor os princípios de
acautelamento patrimonial próprio dos sítios arqueológicos.
No limiar do ano 2010, alguma coisa já mudou em termos de legislação ambiental e
de patrimônio cultural no Município de Piraju. Embora a letra da lei tenha sido ligei-
ramente alterada pelo novo Plano Diretor da cidade, o espírito permanece o mesmo,
pois a ideia da preservação do meio ambiente, da memória e da identidade diicilmen-
te será olvidada.
36
A investigação arqueológica foi feita mediante a edição de portaria de permissão de pesquisa pelo
IPHAN (Portaria 111, de 5 de julho de 2002, titular Daisy de Morais).
44 • IPHAN
Bibliograia
Morais, D. 1998. Desenho Ambiental: organizando o espaço para revitalizar o
patrimônio (subsídios à musealização da cidade de Piraju). Monograia de
Graduação apresentada à Faculdade de Belas Artes. São Paulo.
Morais, D. 2002. Estação Ferroviária de Piraju: ensaio de arqueologia da
arquitetura de Ramos de Azevedo. Dissertação de Mestrado apresentada à
Universidade de São Paulo. São Paulo.
Morais, D. 2005. Unidades de conservação como instrumento de gestão: a APA
Municipal do Teyque’pe’ – Piraju, SP. Monograia apresentada ao MBAE
Gestão Ambiental – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável. São
Paulo.
Morais, D. 2007. Arqueologia da Arquitetura – Estação Ferroviária de Piraju.
Erechim – RS: Editora Habilis.
Morais, J. L. 1999. Perspectivas geoambientais da Arqueologia do Paranapanema
paulista. Tese de Livre-Docência apresentada à Universidade de São Paulo. São
Paulo.
Morais, J. L. 2000. Tópicos de Arqueologia da Paisagem. Revista do Museu de
Arqueologia e Etnologia, 10:3-30.
Morais, J. L. 2005. A arqueologia preventiva como Arqueologia: o enfoque
acadêmico-institucional da Arqueologia no licenciamento ambiental.
Revista de Arqueologia do Iphan/SC, 2:98-133.
Morais, J. L. 2006. Relexões acerca da arqueologia preventiva, pp. 191-220.
In: Mori, V. H.; Souza, M. C.; Bastos, R. L.; Gallo, H. (org.) Patrimônio:
Atualizando o Debate. São Paulo: Iphan/SP.
Morais, J. L.; Morais, D. 2001. Arqueologia da Paisagem Urbana: a cidade na
perspectiva patrimonial. Revista de Arqueologia Americana, 20:81-110.
Cidade do México.
Morais, J. L.; Mourão, H. A. 2005. Inserções do Direito na esfera do patrimônio
arqueológico e histórico-cultural. In: Werneck, M.; Silva B. C.; Mourão, H.
A. H.; Moraes M. V. F.; Oliveira W. S. (coord.) Direito Ambiental visto por
nós, advogados, 2005. Belo Horizonte: Del Rey.
Morais, J. L.; Mourão, H. A.; Vaz, A. Ch. 2004. O Direito Ambiental e a
Arqueologia de Impacto. In: SILVA, B. C. (org.) Direito Ambiental: enfoques
variados, pp.357-386. São Paulo: Lemos & Cruz Editora.
Arqueologia Preventiva no
Patrimônio Arqueológico
Brasileiro II
Marise Campos de Souza & Rossano Lopes Bastos
Nota: Neste artigo os capítulos 1, 2, 3 e 4 são creditados a Rossano Lopes Bastos e os capítulos 5, 6, 7, 8
e 9 são creditados a Marise Campos de Souza.
46 • IPHAN
Fica cada vez mais evidente que as demandas do conhecimento ambiental e ar-
queológico, apontam principalmente para respostas transdisciplinares. Quando
optamos por este viés, estamos conscientes das limitações de ordem teórico-prá-
tica que enfrentaríamos, por se tratar de assunto embora não muito recente, mas
de certa forma emergente no Brasil.
Em muitos países, a política ambiental exige avaliações prévias das propostas para
obras e serviços em empreendimentos que possam causar impactos sobre o am-
biente. A tarefa de avaliar tais ações contempla, entre outras, a exigência de levar
em consideração os efeitos cumulativos potenciais.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 47
1. Impactos Cumulativos
Bastos (2001) coloca que devemos observar, por meio das análises e avaliações
dos programas de mitigação, compensação e salvamentos arqueológicos, a neces-
sidade de desenvolvimento de abordagens que visem equacionar os problemas
dos impactos cumulativos. Normalmente, os referidos programas apresentam
grandes diiculdades em sua implantação, que podem ser ocasionadas, sobretudo,
pela falta de continuidade dos trabalhos, pela resistência dos empreendedores aos
custos dos projetos, pelas mudanças administrativas e alterações da razão social
das empresas contratantes. Outros fatores também se somam a estes, como a
privatização de algumas empresas envolvidas na execução dos empreendimentos,
ou a diiculdade dos empreendedores e agências ambientais governamentais que
tratam do licenciamento de observar a necessidade de se diagnosticar e prever
com metodologias apropriadas os impactos mais comuns sobre o patrimônio ar-
queológico com a devida antecedência.
A diiculdade se torna ainda maior quando se trata de fazer compreender a neces-
sidade de se diagnosticar e prognosticar os impactos e efeitos cumulativos sobre
os bens arqueológicos.
As avaliações dos efeitos e impactos cumulativos devem ser incorporadas e difun-
didas junto aos arqueólogos que trabalham com a arqueologia preventiva.
Os elementos para diagnosticar e avaliar os impactos cumulativos implicam uma
proposição interdisciplinar mais abrangente das alterações que sofrem os sistemas
arqueológicos. Em geral esta perspectiva deve considerar:
• O maior número de variáveis de perturbação do sítio ou unidade arqueológica;
• Causas inter e intrassítios e em complexos arqueológicos;
• Avaliação integrada da área de captação de recursos das populações pretéritas;
• Processo de interação;
• Escala temporal e seus intervalos;
• Previsão de impactos e efeitos futuros.
É importante o entendimento do que são os impactos cumulativos. Bastos (2001)
refere-se à acumulação de alterações nos sistemas arqueológicos ao longo do tem-
po e no espaço de forma aditiva ou interativa. Estes também podem ser divididos
como estruturais ou funcionais. São estruturais os impactos que se referem basica-
mente as questões espaciais, como a fragmentação. A fragmentação espacial pode
48 • IPHAN
2. Modelos de Análise
Em geral os sistemas são mensurados pela persistência das relações internas. Se-
gundo Holling (1986), o conceito de resiliência: “é deinido como a capacidade
de um sistema de manter a sua estrutura e seu padrão de comportamento diante
de uma perturbação”.
Os modelos de análise desenvolvidos para avaliação de impactos cumulativos têm
os princípios e conceitos derivados da teoria das alterações ambientais, que jul-
gamos ser o ponto de partida para a nossa relexão. Destacamos como principais:
Do ponto de vista legal, existem algumas leis e normas que garantem à população
acesso aos bens arqueológicos. Por exemplo, na Constituição Federal, em seus
artigos 215, 216 eles são considerados bens da União Federal, ou seja, de uso
público e de alcance social. O Iphan, por sua vez, editou algumas portarias, entre
elas, a Portaria Iphan n. 230/02, que garante nos projetos arqueológicos desen-
volvidos um programa de educação patrimonial, que atenda aos vários segmentos
envolvidos com o patrimônio arqueológico.
Hoje, no Brasil, para a realização de projetos de implantação de empreendimen-
tos visando construções de estradas, ferrovias, metrôs, hidrovias, aeroportos, por-
tos, hidroelétricas, linhas de transmissão de energia elétrica, gasodutos, oleodutos,
polidutos, minerodutos, minerações de diversas substâncias, usinas de beneicia-
mento de açúcar e álcool, plantações e lavouras mecanizadas, empreendimen-
tos imobiliários, instalação de indústrias, transposição de rios e para quaisquer
atividades que causam remoção de terra, são necessários a execução de estudos
ambientais e os estudos sobre a possibilidade de afetação dos sítios arqueológicos.
Assim, todos esses empreendimentos – mobilizando uma série de proissionais de
todas as áreas que operam na preparação, na implantação e na operação dos em-
preendimentos – devem obrigatoriamente desenvolver mecanismos educativos
que expliquem aos trabalhadores o que constitui um sítio arqueológico, como
pode ser encontrado e como proceder no caso de qualquer descoberta fortuita.
Segundo Bruhns (2004): a Educação Patrimonial é etapa importantíssima no processo
de salvamento arqueológico, devendo acompanhar os trabalhos de campo objetivando per-
ceber a melhor forma de levar o conhecimento adquirido às comunidades afetadas pelas
pesquisas. A integração comunidade – conhecimento gerado pela pesquisa muitas vezes só
acontece a partir da intervenção da educação no processo.
Ao trabalharmos o acervo arqueológico através da Educação Patrimonial estaremos inte-
ragindo com a memória local e, talvez, interferindo em lugares de memória – referências
espaciais de memórias coletivas, espaços de valorização histórica comum, nos quais a co-
munidade se reconhece, memoriza imagens concretas, apreensões visuais. [...] A Educação
Patrimonial pautada nesta responsabilidade deve ser um instrumento de educação no
processo do ensino formal e não formal, bem como um instrumento de “alfabetização
cultural”, aqui entendida como uma pedagogia que propõe a descolonização da memória
e do imaginário do ser humano pelo diálogo cultural com outros, por meio de processos de
sensibilização, autoleitura, autoconscientização e transformação coletiva [...] descoloniza
a inconsciência política e a memória corporal para intervir na reprodução do passado;
uma pedagogia que cultiva a sensibilidade intercultural e a consciência performativa
necessárias à formação de novas comunidades solidárias e cooperativas, e novas políticas
democráticas de libertação.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 53
Por meio da Educação Patrimonial o cidadão pode vir a compreender sua impor-
tância no processo sociocultural no qual está inserido, almejando uma transfor-
mação positiva no seu relacionamento com o patrimônio cultural.
Ao interagir tanto com o ensino formal (que atualmente depende enormemente
da disponibilidade dos diretores das escolas e de seu cronograma anual) quanto
com o não formal (comunidades do entorno da área da pesquisa, associações de
bairro, etc.), devem-se sempre direcionar os trabalhos às necessidades das mesmas,
relacionando-as ao conhecimento gerado da pesquisa e da informação escrita.
O conceito de extroversão arqueológica tem sido buscado com o objetivo de dar
acesso a todos àqueles que quiserem se apropriar do conhecimento adquirido
pelos arqueólogos e demais especialistas envolvidos com a arqueologia.
Para isso é necessário não só criar uma linguagem acessível à imensa maioria
da população, mas igualmente criar mecanismos de publicização que atinjam as
camadas com menos acesso a essas informações. Uma das formas de atuar na
mitigação dos impactos cumulativos e outros de qualquer natureza, sem dúvida,
passa pela educação e seus desdobramentos.
• Impactos estéticos
Impactos estéticos são os ocasionados por intervenções contemporâneas sobre o
patrimônio, de qualquer natureza. Não se questiona que um monumento sofra
alterações com o tempo para se ajustar ao uso ao qual está servindo em determi-
nado momento. Entretanto a falta de critério ou a necessidade de atendimento a
obrigações normativas podem suprimir ou alterar o seu valor estético.
• Impactos socioeconômicos
Podemos explicar como impactos econômicos aqueles em que o valor econômico
do monumento supera o que a comunidade está disposta a aceitar para mantê-lo.
Por exemplo, quando o seu interesse se divide entre deinir se vale mais um espaço
de memória ou área livre para lazer.
Todos os impactos ocorridos sobre o patrimônio cultural criam situações de risco
e de tensão. Nosso objetivo é encontrar formas de mediar os impactos cumula-
tivos possíveis. Mediar é um processo no qual se procura resolver as situações de
conlito na busca de uma solução em que as decisões sejam negociadas entre as
partes. O problema deve ser discutido por meio de uma nova abordagem em que
é fundamental a habilidade para planejar estratégias, equilibrar o poder e compre-
ender as etapas do processo, com vistas à solução do problema. Deve-se enfatizar
a responsabilidade das partes, possibilitando acordos mais duradouros, que evi-
tem a manutenção do conlito e que sejam exercidos de maneira consensual, de
forma a gerar alternativas criativas e econômicas.
Um exemplo explicativo e eloquente tem início com o descumprimento da legisla-
ção, por parte de uma empresa ligada ao governo, de economia mista. As tratativas
entre os diversos agentes públicos num primeiro momento permitiram o ajuste e
possibilitaram que o empreendimento em sua segunda fase fosse desenvolvido se-
guindo os procedimentos normativos previstos. A empresa – com a observância às
normas e com o conhecimento adquirido no trecho anterior – pode neste segundo
momento diminuir custos operativos e reduzir o tempo de execução da obra.
• O Problema
O Iphan tomou conhecimento por meio da mídia da implantação do Rodoanel
Mário Covas, quando este já estava em obras.
Veriicando não possuir nenhuma documentação em seus arquivos sobre esse li-
cenciamento sob o âmbito arqueológico, a Instituição solicitou a empresa res-
ponsável pelo empreendimento providências no sentido de regularizar a questão.
• Indicações e Providências
Assim determinou que se procedessem aos estudos arqueológicos necessários para
dimensionar e reconhecer o impacto ambiental causado ao patrimônio arqueoló-
gico em decorrência da implantação do empreendimento.
O estudo realizado denominou-se “Programa de Dimensionamento e Valoração
Cientíica do Patrimônio Arqueológico do Rodoanel Metropolitano Trecho Oes-
te, Estado de São Paulo”, para o qual foi instaurado o processo administrativo
Iphan n.º 01506000184/01-79, em julho de 2001.
Apesar de o patrimônio arqueológico já haver sofrido impactos negativos devido
às obras de engenharia para implantação do Rodoanel, no trecho oeste, foi soli-
citado pelo Iphan à Desenvolvimento Rodoviário S.A. – Dersa, responsável pela
execução do empreendimento, que contratasse uma empresa de arqueologia para
realizar um estudo com o objetivo de estabelecer – por meio de parâmetros e
métodos cientíicos das disciplinas da Arqueologia e da História – a análise desse
patrimônio. Ao projeto deu-se o nome de Dimensionamento e Valoração Cien-
tiica do Patrimônio Arqueológico e Histórico do Rodoanel, e a justiicativa para
a análise fundamentou-se no conceito básico de que “o comportamento huma-
no ocorre na forma de padrões e sequências, deinidos segundo as características
58 • IPHAN
8. Conclusão
A gestão do patrimônio arqueológico brasileiro tem se defrontado com diversos
passivos que necessitam de maior atenção por parte de seus atores para a deinição
de novos parâmetros:
• A questão dos acervos gerados pelas pesquisas em número crescente so-
bretudo, em função da nova modalidade de arqueologia de contrato.
A quem cabe a manutenção desses acervos? O que deve ser guardado? Onde
e como manter, visto os museus não terem mais espaço físico disponível para
a guarda? Como expor um bem sem qualidade expositiva (de maneira geral as
pessoas têm uma concepção de belo, e não querem ver fragmentos de peças; de-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 61
Bibliograia
Baron, D. 2004. Alfabetização Cultural. A luta por uma nova humanidade. SP:
Alfarrábio. p. 419
Holling, C.S. 1988. Risilence and stability of ecological systems. In: Annal Re-
view of Ecology and of Ecology and Systematic. Vol. 4: 1-23.
Huggett, R. 1980. System Analysis in Geography. Oxford: Clarendon.
Musil, R. 1930-42. he Man Without Qualities [Der Mann ohne Eigenschaften].
Vienna.
Oosterbeek, L. 2000. A past for the future and a past for the present, IN: La Ges-
tione del Patrimonio Culturale - Atti del IV Colloquio Internazionale – Nuove
Tecnologie e Beni Culturali e Ambientali, Roma, DRI.
Oosterbeek, L. 2004. Arqueologia Pré-Histórica: entre a Cultura Material e o
Património Intangível. In: Cadernos do LEPAARQ, Pelotas: Brasil.
Rapport, D.J. et alii. 1985. Ecosystem behavior under stress. In: American Natu-
ralist. Vol. 125, n.5.
Spaling, H. 1996. Avaliação dos efeitos cumulativos – conceitos e princípios.
Seção Brasileira da IAIA – International Association for Impact Assessment.
Vol.1, n.2.
Tuan, Yi-Fu. 1980. Topophilia: A Study of Environmental Perception, Attitudes,
and Values. New York: Prentice-Hall.
Morro Velho: uma velha
história, um novo presente III
Fabiano Lopes
Introdução
Compete conceituar Patrimônio Histórico Cultural como “um bem material, na-
tural ou imóvel que possui signiicado e importância artística, cultural, religiosa,
documental ou estética para a sociedade”. Esses patrimônios foram construídos ou
produzidos pelas sociedades passadas, por isso representam importante fonte de
pesquisa e preservação cultural1. Com referência aos bens histórico-culturais produ-
zidos pelo homem, destaca-se a mina de Morro Velho, em Nova Lima, com possibi-
lidade de ser considerada Patrimônio Histórico Cultural, dentre inúmeros motivos,
porque descreve o passado da cidade que se desenvolveu junto à aluência inglesa e à
mineração. Por exemplo, a Casa Grande – mantida pela AngloGold Ashanti South
America – conta parte dessa história. É impossível, portanto, desvincular a tradi-
ção da cidade dos ingleses e da extração minerária, pois se trata de um conjugado
responsável pelo crescimento do local bem como pela formação de seus viventes do
passado e da atualidade, forjados pelo ciclos de mineração.
Assim diz (Burton 1976: 186) sobre Morro Velho: “A Mina de Morro Velho ini-
ciou um novo capítulo na história provincial, provando que, mesmo em circuns-
tâncias adversas, muita coisa pode ser feita, por homens em que a honestidade e a
energia se combinam com o conhecimento cientíico e prático de sua proissão; e
quero, terminando essa exposição, manifestar a convicção de que quase matamos
a galinha dos ovos de ouro, e que, até que seja mudado o atual procedimento, será
melhor deixar o ouro nas entranhas da terra2.”
1
http://crf.www.suapesquisa.com/o_que_e/patrimonio_historico.htm
2
Esta síntese do marco tecnológico representado pela exploração de Morro Velho pela St. John é bem ex-
plorada por LIBBY, 1984:73, quando, em seu Capítulo III, ele trata da Empresa St. John: racionalidade
capitalista. Ver também LIBBY, 1988:30
66 • IPHAN
3
FIORINI, Marcelo. De volta ao futuro. Entrevista: Bruno Latour. Cult – Revista Brasileira de Cultura.
Ano 12, nº 132, São Paulo: Bregantini, 2009.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 67
4
Andrade, Antônio Luís de. Das entranhas da terra: disciplinamento, resistência e luta – a breve história
sobre a educação e cultura dos trabalhadores da mineração de ouro em Nova Lima – MG / Século XIX. Uni-
versidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, 2001, Dissertação de Mestrado.
68 • IPHAN
Este artigo tem por objetivo, estudando o caso do sítio arqueológico de Morro
Velho, Nova Lima, Minas Gerais, reletir sobre o fazer cientíico da Arqueologia
e sua ligação com o fazer político; apontar e debater questões norteadoras da
Arqueologia Pública como ética e educação; levantar a contribuição que as ativi-
dades minerárias trouxeram para o município e seus moradores; mostrar por que
a arqueologia consiste, no caso da atividade de mineração, fazer do passado um
motor para a vida presente.
Da mina de Morro Velho, a partir de tudo o que ela constituiu para a comuni-
dade local e entorno, em termos políticos, socioeconômicos, educacionais e cul-
turais e com a certeza de sua inluência que ainda permanece pelo sincretismo de
raças que ali se miscigenaram durante décadas, icou um legado que jamais pode
ser esquecido. Essa é uma perspectiva que aqui se quer abrir. O manancial que
testemunha esse legado é, sem dúvida, a mina de Morro Velho, cujos trabalhos
nela desenvolvidos, em tempos áureos, não deixaram a cidade e a população – da
época nem a atual – imunes a sua existência.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 69
O testemunho dessa existência partirá tanto das leituras dos muitos discursos que
se cruzam nos textos sobre o assunto bem como do que restou como herança mul-
ticultural. Dessa forma a necessidade de relexões sobre vários eventos marcados
notadamente pela inter e transdisciplinaridade, principalmente teorias históricas
que preservam a memória da época e apontam também para a situação atual da
cidade, conjugadas com o corpus teórico da arqueologia:
1. o evento catastróico, como ruptura dos padrões coloniais e do novo paradigma
da industrialização, é o ponto unívoco do testemunho da existência da mina, uma
vez que ela lá se encontra como sinal de tudo o que existe no local na atualidade,
mesmo miscigenado com as diversas marcas do passado e dos tempos atuais, pois o
ouro, conforme Villela, (1998: 45): “atraiu para a cidade imigrantes de várias par-
tes do mundo, com destaque para espanhóis, italianos, franceses, libaneses, chine-
ses, além dos portugueses e ingleses, responsáveis pela colonização da região e pela
exploração das riquezas”. Essa contingência fez de Nova Lima um melting-pot5 de
raças e culturas. É importante mencionar a participação dos negros trazidos pelo
regime escravocrata. Eles constituíram a força na qual se apoiou todo o trabalho de
escavação e de extração do minério e dos grupos indígenas, muitos já escravizados
pelos bandeirantes paulistas; inclusive os procedentes de vilas, recôncavos e sertões
do Brasil; brancos, pardos e negros de cujo trabalho os dirigentes se serviram;
2. o evento histórico registra a necessidade da existência da exploração minerária,
dos tempos áureos dessa atividade, do esgotamento do manancial explorado e do
“esquecimento” desse desbravar que marcou gerações;
3. o evento arqueológico, a ser trabalhado, para recuperar a história de uma expe-
dição e exploração pioneiras que mudaram a sorte de Nova Lima e propiciar um
entendimento mais amplo do que a mina representou e representa para a cidade;
4. os eventos culturais, folclóricos e étnicos que se entremostram desde as histó-
rias fantasiosas de mortes dos garimpeiros para, muitas vezes, “ocultar a verdade”
ou de casos decorrentes da “efervescência típica de aglomerados urbanos de alta
densidade como lenocínio, incestos, cartomancias, jogos, tavolagens, danças su-
persticiosas, curandeirismo, benzeduras” (Minas Gerais, 2000: 15). Em 1940,
1,6% da população era constituída de estrangeiros, a qual, aliada à hegemonia
dos ingleses e negros africanos, contribuiu para que a localidade tivesse traços
culturais bem distintos das cidades históricas mineiras, o que seria considerado
uma distinção dentro do território estadual;
5
Lugar onde pessoas e ideias diferentes existem simultaneamente, misturando-se e produzindo novidades
constantemente.
70 • IPHAN
6
Le Ven, Michel M. Dazinho: um cristão nas minas. Belo Horizonte: CDI, 1998.
7
Grossi, Yonne de S. Mina de Morro Velho: a extração do homem. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 71
O papel da arqueologia
As muitas passagens da história de Morro Velho desilam não só pelas mentes
daqueles que, ainda vivos, trabalharam na mina, pelos seus descendentes, pelos
moradores, em geral, de Nova Lima, pelos sinais da época visíveis na cidade, pelas
muitas pesquisas existentes e por tudo aquilo que ajuda a entender a sua impor-
tância. Apresentar essa história às gerações atuais e futuras não é tarefa fácil, mas
imprescindível, porque essa perspectiva abre a possibilidade de pôr em movimen-
to, de forma organizada, um rico ilão que colore e cobre a história da mina com
veios mais variados.
O complexo de Morro Velho, por constituir um sítio arqueológico, possui evidên-
cias materiais que necessitam ser divulgadas pelo seu valor histórico político-social,
educacional e cultural, cuja tutela não pode ser distanciada da nossa realidade, e a
arqueologia cumpre bem esse papel de recuperar espaços geográicos e geopolíticos
a partir do pano de fundo histórico que os circunda, que é a mineração. A impor-
tância do trabalho de recuperação da memória de Nova Lima, sob a orientação de
um programa de pesquisa e de tradução de um passado para os habitantes do local,
para Minas Gerais e para além das fronteiras do Brasil, não deixa dúvidas.
O que de Morro Velho deve ser lembrado/preservado? A paisagem e a memória
ao longo de quase duzentos anos, um sítio de mineração de grande porte que tem
a sua temporalidade registrada em distintas cronologias.
É inerente ao processo industrial, à sujeição a diferentes tecnologias e a va-
riados cenários decorrentes das modiicações da paisagem. A preservação tem
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 73
deu às problematizações sociais. O lugar se torna global e, por isso, contribui para
o engendramento de uma teia complexa de signiicados, de sentidos, de perguntas
e de respostas. Um fulcro de leituras de mundo, que a arqueologia pode ajudar a
forjar e compreender (Morin 2000).
Conclusão
As trajetórias de Nova Lima e Saint John Del Rey Mining Company Limited, ao
longo de muitos anos, seguiram por um mesmo caminho, mesclando suas inlu-
ências, fato que se constata na atualidade. Percebe-se que a acelerada metropoli-
zação de Nova Lima se inscreve e é reletida em relações de poder internacionais
e em nível local. Tal situação, potencializada como forma de capital de caráter
transformador no território nova-limense, desde o século XVIII, no início como
isoladas empreitadas dos primeiros exploradores das minas, hoje é denotada como
uma remodelação do espaço sociopolítico e dos modos de vida e de se conceber
o mundo. Nesse sentido, a hibridação constituída de capital, estrangeirismo, tec-
nologia e diversidade cultural mineira deve ser usada para recompor uma trajetó-
ria instigante e ampla de modo a fundamentar o futuro da história patrimonial
arqueológica de Minas Gerais, Estado que contém sua gênese na mineração. As
questões geológicas que constituem um marco de consolidação cultural têm sua
preservação correspondente aos direitos coletivos por meio do identidário da pre-
servação dos direitos humanos de uma comunidade. Deve-se entender então pa-
trimônio, por meio de uma questão transdisciplinar, como uma preciosidade das
lavras, vestígios mineradores, mas também como empreendimento diversiicado
dentro de uma hierarquia social complexa, desde escravos aos maiores organiza-
dores da política econômica local. O tesouro maior é possibilitar, pelo resgate de
seu histórico na atual política de urbanização, a permanência humana na trans-
formação dos espaços e cultura existentes.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 75
Bibliograia
Bastos, Lopes R. & de Souza, Campos M. (org.) 2008. Normas e Gerenciamento
do Patrimônio Arqueológico. Iphan (2 ed.), São Paulo: Iphan.
Burton, R. 1976. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Ita-
tiaia/EDUSP, p.186.
Deotti, A. 2007. Evolução arquitetônica e ocupação espacial nos séculos XIX e XX, na
Mina de Morro Velho/ Nova Lima MG – Brasil.
Diário Oicial Minas Gerais. 2000. Imprensa Oicial, Belo Horizonte, p. 15.
Magnani, N. R. 2009. Subjetivações em Nova Lima: (trans)formações de uma cida-
de operária em acelerado processo de metropolização. Dissertação apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Mourão, H. A. 2009. Patrimônio cultural como um bem difuso. O direito ambiental
brasileiro e a defesa dos interesses coletivos por organizações não governamentais.
São Paulo: Del Rey.
Orser, Charles E. 1992. Introdução à arqueologia histórica. Belo Horizonte: Oi-
cina de Livros.
Paula, Lopes F. 1997. O espaço da morte nas minerações inglesas: o exemplo de Mor-
ro Velho. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, USP.
Ruchkys, U A. 2009. Geoparques e a Musealização do Território: um Estudo
Sobre o Quadrilátero Ferrífero. Revista do Instituto de Geociências – USP,
Geol. USP, Publ. espec., São Paulo, v. 5:35-46.
Bibliograia Online
Patrimônio Histórico. Disponível em (07/03/2010): http://crf.www.suapesquisa.
com/o_que_e/ patrimônio_histórico.htm.
Arqueología y comunidades
aborígenes en Argentina:
un trabajo en común
en Humahuaca, Jujuy IV
Lidia Clara García
Luego de una larga serie de intentos que pueden ser consultados en Endere
(2000) y Berberián (2009), incluso gestiones infructuosas de legislación na-
cional a través del Colegio de Graduados en Antropología, el CONICET, etc.,
para reformar la Ley 9.080, se sancionó la actual Ley N° 25.743, que deroga
la anterior. La misma, llamada de “Protección del Patrimonio Arqueológico
y Paleontológico”, fue promulgada por el Senado y la Cámara de Diputados
de la Nación Argentina, reunidos en el Congreso Nacional el 25 de junio de
2003 y publicada en el Boletín Oicial el 26 de junio del mismo año. Esta ley
establece en el artículo 1° del decreto reglamentario que la tutela de ambos
patrimonios (arqueológico y paleontológico) es responsabilidad exclusiva de
la nación. La responsabilidad por su tutela está a cargo de las provincias, la
ciudad autónoma de Buenos Aires y la nación, en sus respectivas jurisdic-
ciones. A nivel nacional, esto se efectiviza a través del Instituto Nacional
de Antropología y Pensamiento Latinoamericano (INAPL), dependiente del
Ministerio de Cultura y Educación de la Nación. De este Instituto dependen
todos los permisos para la exportación de bienes arqueológicos. Incluso en
relación a la exportación de carbón para realizar fechados radiocarbónicos en
el exterior, ya que no hay laboratorios con tecnología para AMS en Argentina.
Este Instituto, a través de la única irma de su Directora, es el que autoriza
por decreto cada exportación, para ser presentada ante las autoridades de la
Aduana Nacional. Con respecto a la tutela de todos los bienes arqueológicos y
paleontológicos en toda la nación, parece existir una discusión con respecto a
cuál es la justicia que debe intervenir en caso de robo o daño, si la federal ó las
provinciales. Berberián (2009:53), considera que la jurisdicción para juzgar
los delitos es provincial y lo excepcional es lo contrario.
80 • IPHAN
bién es esperable que esta vía haya sido utilizada para el paso de caravanas que
intercambiaban bienes a nivel prehispánico, estando en el recuerdo de los pobla-
dores locales su vigencia hasta épocas actuales. En Alto Sapagua hay vestigios de
ocupación humana desde el Formativo inal hasta la actualidad. Hacia el este aún,
se encuentra la localidad de Hornaditas, con el Pukará y el Pueblo Viejo, llegando
su ocupación hasta épocas incaicas.
Con respecto a la protección, en el caso de Inca Cueva, hubo muchos asesora-
mientos a las autoridades provinciales, incluso de nuestra parte, conjuntamente
con nuestro director, C. Aschero, durante el período de becaria de perfecciona-
miento CONICET. Incluyendo trabajo de campo en un sector de Inca Cueva
cueva 1 (ICc1) donde la Dirección de Monumentos, Museos y Lugares Histó-
ricos de la Nación, había previsto la colocación de una reja. Nosotros habíamos
realizado los sondeos en el talud de ICc1 durante la campaña de 1987. Con pos-
terioridad, la Provincia mejoró un camino para llegar al sitio desde Hornaditas, a
través de la quebrada de Sapagua.
En 1998, un gasoducto atravesó toda la Microrregión Azul Pampa (Coctaca-Ro-
dero-Hornaditas, Sapagua, Alto Sapagua, Inca Cueva), donde teníamos permisos
de trabajo vigentes y un Proyecto Estímulo a la Investigación (PEI CONICET en
curso), sin que se nos consultara, ni se nos diera luego la información recuperada
(García & Ramundo 2002). En cambio, se nos solicitó un informe del daño
producido en el Antigal de Alto Sapagua antes de otorgarnos los permisos para la
campaña que realizábamos ese año, cuando observamos lo sucedido. Las autori-
dades no habían podido hacerse presentes en el lugar para controlar.
A comienzos de 2006, propusimos a las autoridades de la Dirección de An-
tropología y Folklore de la provincia, trabajar en la formación de guías y un
centro interpretativo para proteger los petroglifos de Sapagua. El curso de guías
se llevaría a cabo en las instalaciones del Instituto Interdisciplinario Tilcara.
Se nos informó que se había realizado una protección para un guía que podía
ampliarse para crear un centro interpretativo en proximidades del sitio. Y se nos
solicitó vincularlo con la protección prevista para la quebrada de Inca Cueva.
Finalmente, luego de un asesoramiento por parte del INAPL (Rolandi et al 2006),
la Provincia colocó una reja y pasarelas en ICc1, pero cuando visitamos el sitio
durante nuestra campaña 2007, pudimos observar que esto era todo lo que se ha-
bía realizado. Quedando el sitio llamativamente señalado por una reja perimetral
que modiica el paisaje, y parapetos con baranda, pero abierto. La diferencia entre
este tipo de protección y manejo con lo observado en el Parque Nacional da Serra
da Capivara durante el Global Rock Art Congress 2009, es contrastante.
84 • IPHAN
Conclusiones
Por todo lo referido, aunque algunos autores mencionen que hacen falta más
leyes, nuestra experiencia indica que no es éste el problema. La tarea de in-
vestigación cientíica se ve obstaculizada por la gran cantidad de autoridades,
normativas y requerimientos que entorpecen que un/a arqueólogo/a profe-
sional pueda trabajar. Los conlictos mayores no son con las Comunidades
sino con el abanico de autoridades y leyes que se superponen pero que están
ausentes ante los problemas concretos ó el inanciamiento de investigación,
preservación, cuidado y puesta en valor del patrimonio y la seguridad de
los arqueólogos. Paralelamente, visitantes sin ningún permiso gestionado y
ninguna pregunta de investigación válida que pueda aportar al conocimiento
del pasado, acceden a sitios sin protección y los utilizan y exponen con su
ubicación exacta en Internet, haciendo mención a que se puede acceder a
ellos con solamente una hora de caminata desde la ruta nacional. Muchos
huaqueros han legalizado sus colecciones construyendo museos personales, sin
tener datos contextuales de los hallazgos que exponen. Y cuando todas estas
cuestiones ocurren, el arqueólogo profesional, no tiene a quién recurrir. La
conclusión es obvia. La única manera de investigar y devolver resultados a la
sociedad, es trabajar mancomunadamente con las Comunidades Aborígenes,
incorporando su conocimiento, protección y visión del pasado que queremos
conocer. Trabajando en conjunto para la muestra seria y organizada del Patri-
monio a los visitantes con su guía, incorporando la devolución de resultados
especíicos del arqueólogo profesional.
Agradecimientos
Georgio Dimitriadis, por su invitación a colaborar. CONICET. UBA. UBACYT
F-018 actualmente en curso (2008-10), continuación de proyectos anteriores.
Familia Lamas, Alto Sapagua.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 91
Bibliografía
Aschero, C. A. 1979. Aportes al estudio del arte rupestre de Inca Cueva-1
(Deparatamento de Humahuaca, Jujuy). Actas Jornadas de Arqueología del
Noroeste Argentino. Antiquitas. Nº 2: 419-458. Buenos Aires.
Aschero, C. A. 1988. De punta a punta: producción, mantenimiento y diseño
de puntas de proyectil precerámicas de la puna argentina. Precirculados
de las ponencias cientíicas presentadas a los Simposios del IX Congreso
Nacional de Arqueología Argentina:219-229. Simposio: Las Unidades de
Análisis para el estudio del cambio cultural en Arqueología. Universidad
de Buenos Aires. Facultad de Filosofía y Letras. Instituto de Ciencias
Antropológicas.
Berberián, E. E.2009. La protección del patrimonio cultural argentino arqueológico y
paleontológico. Ley nacional N° 25.743 comentarios al texto. Editorial Brujas.
Córdoba.
Endere, M. L. 2000. Arqueología y Legislación en Argentina. Cómo proteger el
patrimonio arqueológico. Incuapa. Serie Monográica 1. UNC. Olavarría.
Endere, M. L. y Rolandi, D. 2007. Legislación y gestión del patrimonio
arqueológico. Breve reseña de lo acontecido en los últimos 70 años.
Relaciones de la Sociedad Argentina de Antropología XXXII: 33-54.
García, L. C. 1985. A Evidencias arqueológicas de la producción del fuego.
Runa. Archivo para las Ciencias del Hombre. Vol. XV:133-152. Instituto de
Ciencias Antropológicas. U.B.A.
García, L. C. 1985b. Los instrumentos para hacer fuego del sitio Huachichocana
(Depto. de Purmamarca, Pcia. de Jujuy, Rep. Arg.). Paleoetnológica. Vol. IX:
13-17. Buenos Aires, Argentina.
García, L. C. 1986. Le feu dans la préhistoire du Nord-Ouest argentin. Objets et
Mondes. La revue du Musée de l’Homme. Tome 25, Fascicule 1-2:61-64,
Paris, Francia.
García, L. C. 1988. Etnoarqueología: Manufactura de cerámica en Alto Sapagua.
Arqueología Contemporánea Argentina. Actualidad y perspectivas:33-58. H.
Yacobaccio, ed. Editorial Búsqueda. Buenos Aires.
García, L. C. 1988/9. Las ocupaciones cerámicas tempranas en cuevas y aleros en
la Puna de Jujuy, Argentina - Inca Cueva, alero 1. Paleoetnológica 5: 179-190.
92 • IPHAN
Tomo del Simposio “Las Cerámicas más Tempranas de América del Sur”. 46°
C.I.A. Amsterdam, julio de 1988. C.A.E.A., Bs. As.
García, L. C. 1998/9. Arqueología de Asentamientos Formativos en la Puna Oriental
y su borde, Provincia de Jujuy: el cambio hacia una vida crecientemente
sedentaria y productiva en Azul Pampa, Departamento de Humahuaca. Tesis
para optar al título de Dra. De la Universidad de Buenos Aires, Facultad de
Filosofía y Letras, área Ciencias Antropológicas. Ms.
García, L. C. 1999. Lime and blood. he art of the elders. (Ethnoarchaeology at
Azul Pampa, Jujuy Province) World Congress News95 Proceedings (Volume &
CD-rom) CeSMAP - IRAC - IFRAO - UNESCO. Simposio 15-16D - Rock
art, ethnography and christian manifestations. Actas a cargo del Dr. Darío
Seglie, Director del Museo de Arte Prehistórica de Pinerolo, Turín, Italia.
García, L. C. 2001. Women at Work: A Present Archaeological View of Azul
Pampa Herding Culture (North West Argentina). En: Ethnoarchaeology of
Andean South America. Contributions to Archaeological Method and heory.
Editado por Lawrence A. Kuznar. International Monographs in Prehistory,
Ethnoarchaeological Series 4: 202-220. Ann Arbor, Michigan.
García, L. C. & Ramundo, P. S. 2002. “hey are going over our heads! Nos pasan
por encima!” 1999 IRAC Proceedings, Volume 2. P & W. Whitehead and
L. Loendorf, Editors, American Rock Art Research Association:199-208.
Garcia, L. C. y Lamas, H. S. 2009. Presentación al Congreso Internacional de
Arte Rupestre. Un nuevo sitio con arte rupestre en Sapagua, Jujuy, Argentina.
Simposio 22, Rock Art and Museum, coordinado por los Dres. D. Seglie
(CESMAP, Italia, IFRAO, UNESCO), R. Bednarik (IFRAO, AURA,
Australia), y G. Dimitriadis (IFRAO, Grecia). Parque Nacional Serra da
Capivara, 29 de junio al 3 de julio.
Rolandi, D. S., Aschero, C. A., Mercedes Podestá M. y Ré, A. 2006. Inca Cueva
1: Un siglo de aciertos y desaciertos en un sitio de alto valor patrimonial.
Problemáticas de la Arqueología Contemporánea. Publicación del XV
Congreso Nacional de Arqueología Argentina (2004). A. Austral y M.
Tamagnini, Compiladores. T I:99-108. UNRC. Argentina.
Foto 5 Foto 6
Foto 7 Foto 8
V. Um século e meio de conlitos na arqueologia preventiva em
Portugal: entre o dever e o esquecimento.
Luiz Oosterbeek
V
entre o dever e o
esquecimento
Luiz Oosterbeek
1
Antecessora da actual União Internacional das Ciências Pré-Históricas e Proto-Históricas.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 97
O interesse dos arqueólogos foi-se centrando, cada vez mais, nos artefactos, e nas
suas “associações recorrentes” (no que viria a ser a expressão de G. Childe). O
objectivo era a identiicação de etnias, de que é exemplo o monumental trabalho
de Bosh-Gimpera, para a Península Ibérica.
É neste contexto que nasce o difusionismo. A ideia de base era simples: como
o mundo é pequeno, é improvável que uma mesma invenção tenha lugar duas
vezes, separadamente. A difusão e a migração seriam os mecanismo dominantes
da história, nesta concepção.
Paralelamente, Franz Boas opõe-se ao evolucionismo cultural, e defende que cada
cultura é uma entidade única, apoiando, em consequência, o relativismo cultural
e o particularismo histórico.
Neste quadro tem papel essencial a emergência do conceito de cultura, pela pri-
meira vez formulado em 1871 por E.B. Tylor como “um todo complexo que
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e outras capacidades e
hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Ao longo do séc. XIX começam a sistematizar-se os estudos comparativos (dis-
tribuição de moedas, monumentos megalíticos, etc.) e os conjuntos de vestígios
(“Campos de Urnas”, “Cerâmica Campaniforme”, etc.) eram associados a povos.
O autor que realizou a primeira sistematização histórico-cultural foi Óscar
Montelius (1843-1921). Desenvolveu o método tipológico, e orientou a in-
vestigação para a comparação dos artefactos e estruturas em toda a Europa, a
despeito dos seus respectivos contextos. O evolucionismo mantinha-se, mas
não era unilinear. Montelius baseava-se na estratigraia e foi um defensor da
supremacia cultural do Mediterrâneo na Pré-História (sendo, portanto, um di-
fusionista). Desenvolveu a ideia de relação entre centros produtores/inovadores
e periferias consumidoras.
O difusionismo orientalista de Montelius suscitou reservas de diversos arqueólo-
gos, não tanto na teoria (difusionista) como na sua concretização (orientalista).
Mas em geral foi aceite: conirmava as teses religiosas judaico-cristãs, ao colocar
o centro difusor no Próximo Oriente; concordava com a visão de que a Europa
Ocidental era a herdeira do passado glorioso das civilizações pré-clássicas e cláss-
sicas (dando-lhe legitimidade para a colonização africana).
No entanto, Montelius aceitava o evolucionismo, quando aplicado ao Próximo Orien-
te, e rejeitava o racismo. É só com Kossina, com a sua obra A Origem dos Alemães
(1911), que pela primeira vez os vestígios arqueológicos são incorporados no conceito
de cultura. Kossina vai defender o carácter nacional da arqueologia e a supremacia
98 • IPHAN
racial dos alemães, e será assumido pelo movimento nazista como parte da sua matriz
ideológica. Ele defendeu que a partir do Paleolítico superior o registo arqueológico
se podia organizar como um mosaico de culturas, de base étnica2. Coerentemente,
defendeu o progresso como o resultado de invasões dos povos de nível superior.
As suas ideias tiveram pouco eco fora da Alemanha, por razões óbvias. Mas ele
foi essencial para associar a imagem dominante da arqueologia ao campo da His-
tória. Apesar de perdurarem escolas de pensamento e formação arqueológica no
domínio da antropologia (especialmente no Novo Mundo) e das ciências naturais
(particularmente os estudos pré-históricos em França e Itália), é na História que a
arqueologia começa a ser vinculada, em termos de percepção pública.
A consolidação desta restrição da arqueologia deve-se sobretudo a Gordon Chil-
de. Australiano, militante socialista, Childe aceitou o conceito de cultura arque-
ológica de Kossina, combinando-o com o esquema cronológico e difusionista de
Montelius. Em 1925 publicou a primeira versão da sua Aurora da Civilização Eu-
ropeia, deinindo um amplo e complexo mosaico de culturas, baseadas no registro
arqueológico e deinidas a partir de “fósseis directores”.
A ideia de fóssil director, ou seja, de seleccionar um numero reduzido de artefactos
tipo para deinir as culturas, abriria caminho ao funcionalismo. Childe procurava
determinar o papel, a função, dos artefactos nas sociedades que os haviam produ-
zido. Deu particular atenção à cerâmica, argumentando que ela tendia a reletir os
gostos locais e a resistir às inluências externas, contrariamente aos artefactos metá-
licos, por exemplo (que, por isso, eram mais valiosos para a comparação cultural).
Uma arqueologia dominada pelas noções de fóssil director e de cultura viria a
conigurar uma abordagem etnocêntrica, e não raro racista, da arqueologia em
Portugal, especialmente após o golpe militar de 1926, que instauraria uma di-
tadura corporativista que praticamente desmantelou o ensino das Humanidades
e quebrou as articulações interdisciplinares. Neste quadro, a arqueologia portu-
guesa, que fora tão destacada no século XIX, tardaria a incorporar os avanços
metodológicos e inovações teóricas da arqueologia internacional: as primeiras
escavações com quadrícula datam dos anos 50, a arqueologia processualista só
chegaria a Portugal na década de 1970 e o ensino universitário de arqueologia só
se generalizaria após a reinstauração da democracia em 19743.
2
É fácil veriicar como esta ideia perdura até hoje entre muitos arqueólogos,
3
Embora na fase inal do Estado Novo se tenham integrado novos docentes de arqueologia em Lisboa, em
Coimbra e no Porto, essa integração obedece a uma tardia estratégia colonial de “estudos etno-arqueoló-
gicos” no quadro da guerra colonial (ainda que esse processo tenha permitido reatar o ensino universitário
com preocupações de rigor e interdisciplinariedade, que estaria na base da renovação académica após 1974).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 99
4
Recordo-me que quando, em 1982, comecei a trabalhar como colaborador do Departamento de Ar-
queologia do IPPC, uma das minhas primeiras tarefas foi a delimitação, sobre fotocópias de cartas
topográicas na escala 1:25.000, do regolfo da barragem de Alqueva, já então prevista e que se viria a
construir já neste milénio.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 101
muitas vezes tenso, da acção dos arqueólogos ligados ao ensino superior, que eram
dos poucos que não podiam contornar o centralismo do Ministério da Cultura),
também não entenderam que as alterações económicas e territoriais por que o
País passava comportavam profundas modiicações socioculturais.
As tensões entre organismos que deveriam cooperar (Departamento de Arqueo-
logia, Museus de Arqueologia, Ensino Superior de Arqueologia, Associações de
Arqueologia, Gabinetes Municipais de Arqueologia) conduziram a um desgaste
crescente da arqueologia na sociedade, à não compreensão do seu interesse social
e à quase paralisia das suas unidades de intervenção. É signiicativo que o mais
importante projecto de inanciamento da arqueologia no início da década de
1990, o programa “Itinerários Arqueológicos do Alentejo e do Algarve”, tenha
sido estruturado pelos serviços de Turismo e se arrastasse, ainda em 1995, por
manifesta incapacidade da componente arqueológica em compreender o que sig-
niicava investigar no quadro de um tal projecto. Data também de meados dessa
década a decisão de passar de um sistema clássico de Inventário Nacional de Sítios
para um sistema informatizado (o programa Endovélico), que no entanto ainda
hoje é gerido de forma totalmente centralizada5.
Os vinte anos que se seguiram à democratização do País assistiram, assim, á recu-
peração de avanços metodológicos e teóricos ocorridos no exterior, à estruturação
de organismos públicos de tutela da arqueologia6, à expansão da rede de ensi-
no superior, à emergência de organizações não governamentais e aos primeiros
núcleos municipais de arqueologia. Este conjunto de recursos estava claramente
subordinado às estruturas do Ministério da Cultura, as quais também possuíam
os recursos inanceiros mais signiicativos. A gestão centralizada da arqueologia
recorria ocasionalmente aos organismos não ministeriais, quase sempre por con-
vite casuístico, sem recurso a contratualizações claras ou concursos7.
A falência do modelo, no entanto, ocorreria em 1994, com o processo de enco-
brimento das gravuras rupestres de Foz Côa. O caso foi muito divulgado, e não
5
Em 1996 o signatário exercia funções na Comissão Instaladora do Instituto Português de Arqueologia,
e teve a ocasião de escutar, por parte dos proponentes do projecto, e em particular dos engenheiros
informáticos, a informação de que o programa permitiria uma inserção descentralizada de dados, aberta
a todos os arqueólogos, ainda que podendo ser sujeita a validação pelos serviços centrais. Esse foi o
argumento decisivo para dar luz verde a um enorme inanciamento em infraestruturas e formação de
recursos humanos. Dez anos depois, tal ainda não foi implementado, permanecendo um sistema que
embora útil é completamente centralizado e, como tal, incapaz de actualização permanente.
6
O Estado Novo havia criado secções de arqueologia no seio das estruturas de Educação, mas com esses
meios e muito reduzida autonomia.
7
A desconiança das estruturas face à sociedade terá levada a esse fechamento, com recurso eventual a
“discípulos” mas com escassa dimensão interinstitucional.
102 • IPHAN
retomaremos aqui a sua narração8. O que nos importa neste texto é que o “caso
Foz Côa” implicou uma mudança de paradigma na relação da sociedade com o
património arqueológico. Quando o conlito entre o interesse de construir a bar-
ragem e o de preservar as gravuras estalou, muitas soluções de “compatibilização”
foram ensaiadas (desde a visitação subaquática até ao arrancar das rochas gravadas
e sua exposição num museu). O argumento que no entanto se tornou decisivo
foi o de que a compreensão da arte rupestre era indissociável do espaço em que
estava inserida, pois a unidade signiicativa não eram as rochas gravadas, as trans-
cendia, era sim a paisagem do Paleolítico assinalada pelas rochas. Este argumento,
completamente diverso do que justiicara a intervenção em Assuão duas décadas
antes, anunciava uma nova relação da sociedade com o seu entorno patrimonial,
hoje mediada pelo conceito de paisagem. A década de 1990 assistiu, aliás, à supe-
ração da arqueologia espacial em prol da arqueologia da paisagem, e à airmação
do conceito de paisagem no quadro da UNESCO. A questão sobre que importa
relectir é o porquê deste novo paradigma.
8
Importa no entanto perceber que, no processo de minimização do impacte de uma barragem, o Minis-
tério da Cultura apenas destacou escassos recursos próprios para identiicar eventuais vestígios arqueoló-
gicos. Identiicado o que viria a ser reconhecido como o maior complexo de arte rupestre Paleolítica de
ar livre na Europa (que mereceu a classiicação como Património Mundial da Humanidade em escassos
três anos), a relação de dependência estabelecida entre o Ministério e a Companhia de Electricidade que
construía a barragem (e pagava ao Ministério os estudos) e a falta de transparência (na esteira da descon-
iança a que aludimos, por sua vez uma postura herdeira da ditadura) conduziram a um ocultamento
grave, e quase ingénuo, dos achados. Uma ampla mobilização académica e popular, despoletada pela
arqueóloga Mila Simões de Abreu e pelos estudantes adolescentes de Vila Nova de Foz Côa, secundada
por diversos organismos internacionais (IFRAO, UISPP, etc.) e da sociedade (incluindo jornais como o
New York Times ou o Le Monde), conduziu o governo eleito em 1995 a cancelar a barragem e a criar um
parque arqueológico no seu lugar.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 103
9
Ainda que tal não signiique, uma mudança de paradigma, permanecendo um discurso essencialmente
nacionalista, que incorpora diicilmente a globalização cultural e encara as convenções, como a Conven-
ção de 1970 sobre a importação e exportação ilícita de bens culturais (ratiicada em 1985) essencialmen-
te como instrumentos de reforço da protecção dos “bens nacionais”.
10
Não é tema do presente texto esta questão, mas após um “ímpeto arqueológico” suscitado pelo “processo
Côa”, o Instituto Português de Arqueologia criado em 1997 encetaria uma estratégia progressivamente
isolacionista e corporativista, que concentrou inanciamentos num número reduzido de bens afectos
ao Estado, abandonando, ou quase, o resto do Património, colocado doravante na esfera dos trabalhos
de arqueologia de contrato. Se esta estratégia também contribuiu para aprofundar os investimentos da
administração local e de privados, a prazo isolou a arqueologia do resto do património, o que conduziu
à extinção do referido Instituto num quadro geral de galopante desinvestimento neste domínio.
104 • IPHAN
11
Embora o Decreto-Lei 139 de 2009 possa vir a gerar uma nova orientação neste domínio.
106 • IPHAN
Caminhos de futuro
A arqueologia em Portugal sempre se inscreveu em terrenos de conlito, como se
demonstrou, e também na diiculdade de resolver esses conlitos num processo de
conlitualidade e concertação partilhada. O Estado, desde a monarquia, sempre
tendeu (como noutras esferas de intervenção social) a intervir de forma mais tera-
pêutica que preventiva. Essa falta de capacidade prospectiva traduziu-se, até ao pre-
sente, num descompasso entre as relexões académicas e estratégicas internacionais
e a relexão endógena, conduzindo no limite a transposições de orientações norma-
tivas gerais, sem real substanciação na construção de uma massa crítica coesa em
torno de novos paradigmas. Esse descompasso, por sua vez, rompeu há muitos anos
a unidade radical do Património (a criação de um Instituto para os Museus separa-
do em relação aos bens imóveis também foi expressão desse processo, ainda que se
inscrevesse á época numa lógica de desmultiplicação dos organismos públicos) e im-
pediu a relexão crítica institucional sobre a trajectória dos últimos quarenta anos.
Como resultado, a produção legislativa nacional, para além das decorrentes nor-
mativas e convenções internacionais, concentrou-se mais no próprio Estado e na
iscalização dos cidadãos (os proprietários por um lado e os arqueólogos por ou-
tro) do que na identiicação e regulação dos efectivos casos de conlito emergentes
das dinâmicas sociais. Estes, contudo, não deixam de ocorrer, e é previsível que,
mais uma vez, seja a dinâmica internacional a forçar a evolução endógena.
Uma das questões centrais que se colocarão, não apenas a Portugal mas a todos
os estados Europeus (solidários no “esquecimento” a que vão votando a arque-
ologia), é a da necessidade de dedicar fundos nacionais de forma reforçada, em
prol de bens cujo valor será considerado, de forma crescente, supranacional. Este
debate tenderá a separar discursos nacionalistas e essencialmente vinculados à
rentabilização turístico-económica dos bens culturais atribuídos a identidades es-
táticas, de outros, europeístas e internacionalistas, essencialmente vinculados às
dinâmicas de recomposição de identidades (e não à sua reiicação).
Uma segunda dimensão que se pode prever é a da valorização dos direitos patri-
moniais colectivos não estatais (a Convenção sobre Património Imaterial ajudará
neste sentido) e dos direitos difusos. O crescimento desta dimensão acompanhará
a previsível quebra do monolitismo nacionalista, enfraquecendo os actuais órgãos
de tutela central em prol de estruturas regionalizadas (embora seja muito duvi-
doso que na génese destas, já anunciada com a criação das Direcções Regionais
de Cultura, existam recursos materiais e capital humano para ocupar o lugar da
administração central sem ser com o vazio).
Uma terceira e mais decisiva dimensão decorrerá da relexão social sobre os fru-
tos de mais de uma década de legislação “europeizante”. Hoje, os conlitos que
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 107
12
Este é o caminho que se vai seguindo, por exemplo, em Mação, com a criação do Instituto Terra e Me-
mória (ITM), junto do Museu de Arte Pré-Histórica daquela vila. Criado por iniciativa da autarquia e
do Instituto Politécnico de Tomar, o ITM tem por vocação envolver cidadãos e empresas no processo
global de gestão integrada dos bens arqueológico no âmbito mais vasto da gestão territorial. Desta
forma, o ITM e todos os seus parceiros reconhecem plena primazia e autonomia à investigação, mas
inscrevem esta no quadro normal das opções estratégicas de ordenamento territorial, na dupla pers-
pectiva da airmação plural de identidades e de construção socialmente participada de conhecimento.
108 • IPHAN
Anexo 1
QUADRO-SÍNTESE DA PRINCIPAL LEGISLAÇÃO PORTUGUESA SOBRE
ARQUEOLOGIA
Conlito / Assunto Medida legislativa Conteúdo
ORDENAMENTO TERRITORIAL.
Deine os tipos de trabalhos D.L. 270/99 de Regulamenta os trabalhos
arqueológicos e as regras de autorização e 15.07 arqueológicos
avaliação dos mesmos.
ORDENAMENTO TERRITORIAL.
Para além de considerações gerais, a
Lei 107/2001 de Lei de Bases do Património
Lei reconhece os direitos dos cidadãos
8.09 Cultural
ao usufruto do património e impõe o
acompanhamento arqueológico de obras.
ORDENAMENTO TERRITORIAL.
Permite a criação de parques arqueológicos D.L. 131/2002 de Deine a criação e gestão de
por parte do Estado, com poderes de 11.05 parques arqueológicos.
intervenção no ordenamento territorial
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.
Deine todas as principais áreas de Deine a orgânica e
intervenção arqueológica (gestão, competências do Instituto
D.L. 96/2007 de
valorização, salvaguarda, minimização de Gestão do Património
29.03
de impactes, registo, inventário, Arquitectónico e
reservas, trabalhos de campo, educação Arqueológico (IGESPAR).
patrimonial, etc.).
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.
Consolida uma espécie de dupla tutela Deine a orgânica e
D.R. 34/2007 de
sobre o património e as actividades competências das Direcções
29.03
arqueológicas, a par da que é assegurada Regionais de Cultura
pelo IGESPAR.
INDIVIDUAL VS. COLECTIVO.
Deine o regime de
Regula o equilíbrio entre os interesses D.L. 309/2009, de
classiicação de bens,
individuais e o poder de intervenção do 23 de Outubro
incluindo arqueológicos.
Estado.
INDIVIDUAL VS. COLECTIVO.
Deine medidas quadro para a salvaguarda
Deine o regime de
de saberes, tradições, etc., como bens D.L. 139/2009 de
salvaguarda do património
colectivos. Não menciona a arqueologia, 15.06
cultural imaterial.
mas os saberes tecnológicos têm uma
óbvia articulação com a arqueologia.
PRIVADO VS. PÚBLICO. Destina-se
Cria o Fundo de
a reunir meios inanceiros para, frente a D.L. 138/2009 de
Salvaguarda do Património
conlitos de interesse privado vs. público, 15.06
Cultural.
permitir a intervenção estatal.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 109
Anexo 2
QUADRO-SÍNTESE DAS RATIFICAÇÕES DE CONVENÇÕES INTERNACIONAIS
Conlito / Assunto Medida legislativa Conteúdo
PRIVADO VS. PÚBLICO.
Protecção do Património Arqueológico,
Ratiica a Convenção
que estabelece que os arqueólogos devem
Europeia para a Protecção
intevir no planejamento do território, Dec. Pres. Rep.
do Património Arqueológico
incluindo a dimensão dos impactes 74/97
(Conselho da Europa) de
ambientais. Reitera a condenação do
1992
comércio ilícito e a importância da
educação patrimonial.
PRIVADO VS. PÚBLICO. Proibição da
importação e Exportação Ilícita de Bens D.G. 26/85 de Ratiica a Convenção da
Culturais, com explícita menção dos 26.06 UNESCO de 14.11.70
bens arqueológicos e pré-históricos
PRIVADO VS. PÚBLICO. Ratiica a Convenção Europeia
Dec. 4/2005 de
Reconhecimento da dimensão da Paisagem (Conselho da
14.02
patrimonial das Paisagens Europa) de 2000
Ratiica a Convenção
NACIONAL VS. INTERNACIONAL.
Dec. 717/75 de Cultural Europeia
Conservação do Património de cada Estado
20.12 (Conselho da Europa) de
como Património comum da Europa
1954
Ratiica a Convenção para
NACIONAL VS. INTERNACIONAL.
Dec. 49/79 de a Protecção do Património
Criação da categoria de Património
6.06 Mundial Cultural e Natural
Mundial da Humanidade
da UNESCO de 23.11.72
Ratiica a Convenção
NACIONAL VS. INTERNACIONAL. para a Protecção dos
Dec. Pres. Rep.
Protecção do Património em caso de Bens Culturais em Caso
13/2000
conlito, pela sua dimensão supranacional. de Conlito Armado da
UNESCO, de 1954
NACIONAL VS. INTERNACIONAL. Ratiica a Convenção do
Acordo para a restituição de bens Dec. Pres. Rep. Unidroit sobre Bens Culturais
roubados ou ilicitamente exportados 22/2000 de 4.04 Roubados ou Ilicitamente
(inclusive em contextos coloniais). Exportados, de 1995
Bibliograia
Alves, Francisco J. S. 2001. A legislação sobre património cultural subaquático
em Portugal. In: Revista Jurídica, nova série n.º 24-Abril, Lisboa, p. 201-225
Bastos, L. Rossano ; Oostrebeek, L. 2007. Patrimônio cultural arqueológico :
pós-modernidade e desenvolvimento turístico. In: Arqueologia trans-atlân-
tica, Oosterbeek, L. , Bastos, Rossano L. (org.), Erechim : Habilis, p. 9-16
Carneiro, S. 2003. Entre o público e o privado : conlito e ruptura na Arqueologia
portuguesa. In: Arqueologia e história. Lisboa : Associação dos Arqueólogos
Portugueses. – Vol. 55, p. 129-135
Correia, A. de Ferrer. 1996. A venda de objectos de arte. In: Direito do Património
Cultural, INA, Oeiras
Costeira, I. 1998. Dar passado ao futuro: interesse público – interesse privado,
conlito ou conciliação. In: Encontros Cem Anos de Arqueologia “O Archeólogo
Português” / org. Associação de Protecção ao Património Arqueológico de
Vila do Conde... (et al.). - Vila do Conde : Associação de Protecção ao
Património Arqueológico de Vila do Conde, p. 41-46.
Fabião, C.1999. Um século de Arqueologia em Portugal – I. In: Al-madan. –
Almada: Centro de Arqueologia de Almada. Sér. 2, nº 8, p. 104-126
Fabião, C. 2006. A Universidade e as Empresas de Arqueologia: vias para uma re-
lação desejável. In: Era Arqueologia. – Lisboa : Era Arqueologia. Nº 7 (Fev.),
p. 30-40
Felgueiras, O. Lixa. 1989. Algumas relexões para a deinição duma política de defesa
do nosso património arqueológico subaquático, Academia da Marinha, Lisboa.
Guedes, A. Marques. 1996. Património cultural subaquático. In: Direito do
Património Cultural, INA, Oeiras
Gonçalves, M. Eduarda. 2001. O caso de Foz Côa: um laboratório de análise socio-
política, Edições 70, Lisboa, 2001.
Lopes, F., Correia, M. Brito. 2004. Património Arquitectónico e Arqueológico:
Cartas, Recomendações e Convenções Internacionais, Livros Horizonte, Lisboa,
2004
Oosterbeek, L. 1996. De Foz Côa ao conjunto do território português : por
uma nova relação do património com a sociedade. In: Techne. – Tomar :
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 111
Problématique:
Comment, des populations anciennes du Sahara, se sont-elles adaptées aux
conséquences environnementales de crises climatiques, survenues au cours des
dix derniers millénaires ?
Contexte de la recherche
Le réchaufement climatique en cours, dont pratiquement plus personne ne
doute, n’est pas encore l’un des problèmes majeurs de notre temps, mais il pour-
rait le devenir. Car il aura des conséquences susceptibles de menacer l’existence de
chaque individu et globalement, la survie de notre civilisation. Or, parce que la
situation est historiquement inédite, des questions demeurent sans réponses. Celle
de la problématique ci-dessus est primordiale. En efet, tôt ou tard, malgré l’incer-
titude qui règne, les gouvernements seront contraints de prendre, peut-être dans
114 • IPHAN
Stratégie de recherche
La stratégie de recherche choisie consiste à « interroger le passé » en essayant de
rapprocher des informations issues des quatre disciplines suivantes .
- L’Archéologie qui démontre l’occupation d’un site et ofre parfois une évolution
stratigraphique.
- Art rupestre. Ce dernier, « cerise sur le gâteau », bien que toujours mal daté et
interprété au Sahara, mais qui « éclaire » néanmoins sur un milieu de vie.
- La Chronologie physique qui situe dans le temps, le matériel des séquences
stratigraphiques.
- La Paléoclimatologie dont les données, déduites de considérations stratigra-
phiques ou obtenues à partir de simulations donnent un accès à l’environnement.
Cette démarche permettra de revisiter la question souvent débattue du phéno-
mène migratoire au Sahara et de sa dépendance au climat. On sait en efet depuis
longtemps, qu’il est aujourd’hui comme hier, conditionné par les besoins fondamen-
taux du troupeau de bovins ou d’ovins, lui-même tributaire de la végétation et de
la persistance de points d’eau tout au long de l’année. Ayant compris pourquoi les
hommes devaient se déplacer, nous tenterons de répondre aux questions suivantes:
- Quand le climat devient aride et froid, où vont les hommes avec leurs trou-
peaux et pourquoi ?
- Que font-ils quand la pluie revient et que la température augmente ?
Résultats:
1 – Apport de l’archéologie et de l’Art rupestre.
• La néolithisation du Sahara
On sait qu’elle commence sensiblement en même temps que débute l’Holocène,
comme la néolithisation du Proche-Orient (Cauvin 1978 ; 1977) où cette culture
fut déinie. Pour les deux régions, sur le plan humain, c’est un phénomène consi-
dérable. Au Sahara, elle est toutefois sensiblement diférente de celle qui a pris
son essor au Proche-Orient. Vraisemblablement, en partie parce que la latitude
et l’environnement sont diférents. En fait, il manque au Sahara, du moins au
« début », l’agriculture (Cremaschi 2004 ; Barich and Hassan 2000 ; Aumassip
1987 ; Roset 1987 ; 1983 ; Lhote 1970). En efet, les populations sahariennes ont
continué de pratiquer la chasse, développé l’élevage, inventé la production d’une
céramique d’usage bien cuite, se sont sédentarisées en partie, mais elles ne culti-
vent pas les céréales, qu’elles cueillent à l’état naturel et consomment néanmoins,
comme l’atteste l’abondance du matériel lithique consacré au broyage. Mais elles
possèdent un art rupestre original, gravé ou peint, d’une très grande richesse.
Cela dit, comme nous l’expliciterons dans le paragraphe consacré à l’apport des
méthodes physiques de datation, le Néolithique saharien est aussi ancien et peut-
être davantage que celui du Proche- Orient (Guibert et al. 1996 ; 1994a ; 1994b).
Les convergences chronologiques sont de plus en plus nombreuses et aux incer-
titudes expérimentales près, la céramique apparaît dans les deux régions entre
9 500 et 9 000 BP1. Nous remarquerons bientôt que cette date marque aussi le
début de l’Holocène et au Sahara, une période durant laquelle l’insolation, la
température et l’humidité ont augmenté comme sur toute la planète, par rapport
à la situation antérieure, la toute in du Pléistocène.
1
BP = Before Present, conventionnellement, avant le Présent , avec Present = 1950 ap. J.C.
116 • IPHAN
14
C –-6 450 ± 130 BP (Gif 5467).
14
C – 6 650 ± 90 BP (Monaco 677 – mélange de cendres varvées des niveaux
N5, N6 et N7)
14
C - 6 650 ± 90 BP (Gif 677).
14
C - 6 840 ± 130 BP (Gif 5468).
120 • IPHAN
14
C - 6 900 ± 50 BP (Hela 1153; BDX 535).
14
C - 6 960 ± 55 BP (Hela 1191; BDX 532).
14
C - 7 005 ± 50 BP (calBP : 7 750 – 7950 ; Hela 1152 / BDX 536; charbons
de bois; d13C : - 22,6).
14
C - 7 055 ± 50 BP (Hela 1474).
14
C - 7 110 ± 40 BP (Gif 5419).
14
C - 7 150 ± 50 BP (Hela 1154 / BDX 533).
14
C - 7 220 ± 140 BP (Gif ).
En résumé, pour la séquence S 4 (au total 19 datations) :
Ages TL : Pas de dates.
Ages 14C BP : (19 datations) : début de S 4 vers 7 220 ± 140 BP et in vers 5555
± 45 BP.
Ages 14C calBP : (2 sur les 19 précédentes). Début de S4 : 7 750 - 7 950 calBP.
14
C - 6 900 ± 50 BP (calBP : 7 650 – 7 800; Hela 1153/ BDX 535; charbons
de bois; d13C : - 22,1).
14
C - 6 960 ± 55 BP (calBP : 7 700 – 7850; Hela 1191 / BDX532; végétaux;
d13C : - 22,3).
14
C - 7 095 ± 55 BP (calBP : 7 850 – 8000; Hela 1155 / BDX 498 : charbons
de bois ; - 25,5).
14
C - 7 150 ± 50 BP (calBP : 7 900 - 8050; Hela 1154 / BDX 633; charbons de
bois; d13C : - 25,8).
14
C - 7 890 ± 50 BP (calBP : 8 550 – 8 850 (Hela 1156 / BDX 499 : charbons
de bois; d13C : - 23,7)
14
C - 8 030 ± 120 BP (Gif 5948), base de la séquence, marquée par la réduction
des chutes de blocs, provoquées par des conditions climatiques froides.
14
C – 8 100 ± 130 BP (Monaco 678).
14
C – 8 370 ± 60 BP (Hela 1475).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 121
14
C - 8 870 ± 65 BP (Hela 1463) – Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 8 875 ± 65 BP (Hela 1477)
14
C - 8 890 ± 95 BP (cal BP : 9 800 – 10 200; Hela 1193 / BDX 503 : végé-
taux; d13C : - 21).
14
C - 8 905 ± 60 BP (Hela 1466)
14
C - 8 980 ± 65 BP (Hela 1465)
14
C - 8 995 ± 65 BP (Hela 1462). - Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 9 100 ± 65 BP (Hela 1464) - Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 9 175 ± 60 BP. (Hela 1478) - Charbons de bois recueillis dans une fosse
d’inhumation.
14
C - 9 420 ± 200 BP (Alg 27)
122 • IPHAN
3 - L’apport de la Paléoclimatologie
• Fin du Pléistocène
Au cours des vingt derniers millénaires, selon un schéma général bien établi à
l’échelle planétaire (Petit-Maire 1999), le climat connaît d’abord une oscilla-
tion « froide » entre 20 000 et 16 000 BP, durant laquelle le froid fut maximal
(en moyenne 4,5°C de moins que la température moyenne de la in du XXème
s. ap. J.C., ce qui est relativement important vis-à-vis de l’environnement). Au
Sahara, l’aridité est alors extrême et l’homme le fréquente peu. En paléoclima-
tologie, c’est la in du Pléistocène qui s’achève (un peu conventionnellement)
vers 10 000 BP.
• Début de l’Holocène
Une oscillation « chaude » va lui succéder, qui dure encore de nos jours. Le lent
processus de réchaufement qui a commencé entre 16 000 et 14 000 BP (Petit-
Maire, 1999), s’accentue à partir de 14 000 BP, s’amortit ensuite, puis « accélère »
de manière « Abrupte » vers 9 500 ± 200 BP (Perry 2000). C’est le début de la
période appelée Holocène en Paléoclimatologie, que l’on situe (conventionnel-
lement, donc), vers 10 000 BP. Au Sahara, la chaleur accompagne le retour de
la mousson et avec elle, des pluies (Bernard 1962). Entre 9 000 et 7 000 BP, la
température sera en moyenne supérieure à l’actuelle (in XXème s.) de 2° C.
et 2900, dans des conditions identiques à celles du petit âge glaciaire (entre 1280
et 1860 ap. J.C.). Vers 2900 ap. J.C., l’insolation devrait s’accroître, ainsi que la
température pour atteindre au cours de la première moitié du IVème millénaire
ap. J.C. (entre 3000 et 3500 ap. J.C.) des valeurs aussi élevées que celles du maxi-
mum de l’Holocène, vers 4 000 BP (in du Néolithique – chalcolithique - et dé-
but de l’Âge du Bronze en Europe durant lequel, le climat fut chaud et humide).
On peut aussi s’attendre alors, à une montée du niveau marin de 3 à 5 m. par
rapport à l’actuel.
4 - Rapprochements
On remarque, aux incertitudes expérimentales près, la proximité chronolo-
gique entre ces diférentes données. On peut penser, au moins provisoirement,
qu’elles sont signiicatives, en regard de la inesse de la fouille et des observa-
tions archéologiques et climatiques, de la qualité de l’approche chronologique
(croisement de la hermoluminescence et du Radiocarbone), du nombre de
datations physiques réalisées pour la colonne stratigraphique de Tin Hanakaten
(plus de cinquante).
Enin, le résultat de la simulation relative à l’insolation est surprenant et s’il est
conirmé par d’autres travaux, il sera particulièrement intéressant. Car il suggère
un fait que ne dément ni la stratigraphie, ni les datations physiques, ni l’inter-
prétation archéologique : l’alternance, apparemment périodique (T= 1300 ± 50
ans) de montées abruptes (en peu de temps) de l’insolation, synchrones du retour
des pluies, suivies d’une lente évolution vers le froid et une aridité croissante puis
extrême. Lorsqu’un certain seuil de tolérance est atteint ou franchi, l’environ-
nement hydrique et végétal est tellement afecté par l’évolution des conditions
météorologiques que les humains et le troupeau, pour survive, sont contraints
d’abandonner le site, provisoirement du moins (Schvoerer et Axell 2008b).
Au Sahara central, par exemple, les zones refuges semblent bien être les cañons
des massifs d’altitude, en gros entre 1200 m et 1800 m (Tassili-n-Azjer, Tadrar
Acacus, Aïr). En période aride, ces zones conservent malgré tout, une humidité
suisante pour permettre de « tenir ». De surcroît, au Tassili par exemple, la
géologie favorise le confort des hommes et des animaux en leur ofrant des abris
naturels contre le vent chargé de sable ainsi que de l’ombre, précieuse pour les
personnes âgées, soufrantes ou les femmes en couches. Mais surtout, la porosité
de la roche - du grés -, retient durant des mois, parfois des années, l’eau de la pluie
d’un jour. Goutte à goutte, cette eau suinte et alimente constamment les gueltas
d’altitude, que l’ombre protège de l’évaporation rapide. Et quel support pour lan-
cer des messages au temps, sous forme de gravures et de peintures rupestres (Fig.
3), (Striedter 2007 ; Striedter et al. 2003; Striedter et Tauveron 2001).
Ailleurs qu’au Sahara central, on migre vers la vallée du Nil (Kuper and Krö-
pelin, 2006), où émergera un jour la prestigieuse civilisation pharaonique
(Hachid interview dans Schvoerer et Axell 2008-a). Au Nord du Sahara, vers
les montagnes de l’Atlas où les pasteurs laisseront d’innombrables gravures ou
peintures sur la roche. A l’Ouest, ils se rapprocheront de l’Océan (El Graoui
2005; Searight 2004). Au sud, ils iront vers le Sahel et le bord des lacs (Petit-
Maire 1991).
5 - Bilan
• Au titre de la recherche
On retiendra de ce travail de recherche, la mise en évidence du rôle possible d’une
luctuation rythmée du rayonnement solaire dans le déclenchement, le sens et
l’intensité des «crises» climatiques. Le phénomène, s’il est conirmé, a une pério-
dicité voisine de 1300 années, … ce qu’il faudra aussi expliquer! Le fait que la
128 • IPHAN
Tauveron 2003). Plus tard encore, comme l’évoque l’art rupestre, on creusera des
puits et on ira jusqu’à des conlits armés pour s’en emparer ou les protéger.
6 - Perspectives
ainsi que des pays impliqués dans ce programme, pour renforcer les échanges dans
cet espace stratégique. Les eforts de coordination de notre association, qui a engagé
à travailler ensemble, des équipes de recherche universitaires (Francfort, Le Caire,
Helsinki, Bordeaux, Tunis), d’organismes publics (CNRS en France, CNR en Ita-
lie, Ministère de la Culture au Maroc), des associations (Algérie, France) et des
entreprises (Belgique, France), vont dans ce sens. Il serait judicieux de «transformer
l’essai» par de nouvelles actions inspirées de «Patine du désert». Justement, depuis
2009, un double projet est à l’étude: d’une part, «exporter» les nouveaux savoir-
faire vers d’autres pays sahariens et d’autre part, après avoir opéré dans un désert
«chaud», se tourner vers un désert «froid», … en Asie centrale notamment.
7 - Remerciements
Cet article est l’une des premières « retombées » d’un programme de recherche
international et pluridisciplinaire, qui a impliqué de 2004 à 2008, onze équipes
de huit pays de l’espace euro-méditerranéen. Intitulé « Patine du désert », ce
programme a été sélectionné et inancièrement soutenu par la Commission eu-
ropéenne (DG Recherche : contrat INCO-CT-FP6-2004-509100) ainsi que par
le Conseil Régional d’Aquitaine (France) (Schvoerer, 2009 ; Schvoerer et Axell,
2008-a et -b). Qu’ils en soient remerciés.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 131
Bibliographie
Aumassip G., Tauveron M., Alliche M. Ferhat N. et Striedter K, 2007. Gravures
et Art rupestre sahariens. Contribution au programme de la Commission
européenne « Patine du désert » (INCO-CT-FP6-2004-509100),rapport de
l’année 3/3, 9 p.
Bard É., Rostek F. et Ménot-Combes, G., 2006. Chronologie des variations clima-
tiques rapides pendant la dernière période glaciaire. Climats – Cultures – So-
ciétés aux temps préhistoriques.C.R. Palevol 5, 13-19.
Barich B. and Hassan F.A., 2000. A stratiied sequence from Wadi el-Obeiyd,
Farafra : new data on subsistence and chronology of the Egyptian Western
Desert. Poznàn archaeological Museum, 11 -20.
Berger A., 2006. Les causes astronomiques des grandes variations du climat du Qua-
ternaire. Académie des Sciences, Paris, C. R. Palevol 5, 21-26.
Cauvin J., 1977. Les fouilles de Mureybet (1971-1974) et leur signiication pour les
origines de la sédentarisation au Proche-Orient. Annual America school Orien-
tal Research, 44, 19 - 48.
132 • IPHAN
Cauvin J., 1978. Les premiers villages de Syrie – Palestine du IXe au VIIe millénaire
avant J.C.. Lyon: Maison de l’Orient méditerranéen
Darchen J., 1981. Les moussons. Commentaire d’un article de P. Webster dans la
revue Pour la Science, Paris, octobre, p. 99.
Ferhat N., Striedter K. et Tauveron M., 2000. Les « Kel Essuf » : un nouveau
faciès de l’art rupestre du Sahara central. C.R. Acad. Sci. Paris, Sciences de la
Terre et des Planètes, 333, 577-580.
Gasse F., 2006. Climate and hydrological changes in tropical Africa during the
past million years, . Académie des Sciences, Paris, C. R. Palevol 5, 35-43.
Guibert P., Schvoerer M., Etcheverry M.P., Szepertyski B. and Ney C., 1994-a.
IXth millenium BC ceramics from Niger : detection of a U-series imbalance
and TL dating. Quaternary Geochronology (Geo. Sci. Reviews), Vol. 13, 555-561.
Guibert P., Ney C., Bechtel F., Schvoerer M. and Geus F., 1994-b. TL and 14C da-
ting of Neolithic sepultures from Soudan : inercomparaison of results. Radiation
measurements, Pergamon, Vol. 23, N° 2/3, 393-398
Hassan F. A., 2005. Abrupt climate changes and cultural dynamics in the Eastern
Sahara during the Holocene. Compte - rendu de la réunion annuelle des
équipes partenaires du programme de la Commission européenne « Patine
du désert » (INCO-CT-FP6-2004-509100), Marrakech, 16 p..
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 133
Hassan F. ed., 2002 - Droughts, Food and Culture: Ecological Change and Food
Security in Africa’s Later Prehistory. Plenum Publishing Corporation, New
York.
Jungner J., 2007. New Chronological data (14C). European Commission program
« Patine du désert ». Final report (contract INCO-CT-FP6-2004-509100), 3-5.
Kröpelin S., Verschuren D, Lézine A.M., Eggermont H., Cocquyt C., Francus P.,
Cazet J.P., Fagot M., Rumes B., Russel J.M., Darius F., Conley D.J., Shuster M.
von Suchodoletz H. and Engstrom D.R., 2006. Climate – Driven Ecosystem
Succesion in the Sahara : he past 6000 years. Science, vol. 230, 9 may, 765-768.
Lhote H., 1966. - Recherches sur les voies de migrations et la zone d’expansion
des populations pastorales préhistoriques du Sahara. 1° Cong. Archéol. afric.,
Fort-Lamy (1969) : 269-285.
Perry C.A. and Hsu K.J., 2000. Geophysical, archaeological and historical evi-
dence support a solar-output model for climate change. Proc. Nati. Acad.
Sci., USA, E.D., 6 p.
Petit-Maire N., 2002. Sahara. Sous le sable…des lacs. Ed. du CNRS, Paris, 128 p.
134 • IPHAN
Petit-Maire N., 1988. he Sahara in the Holocène – Map 1/ 10 000 000 ; Unesco
– CGMW, Paris.
Reimer P.J., Baillie G.L., Bard E., Baliss A., Beck J.W., Bertrand C ;J ;H ;,
Blackwell P.G., Buck C.E., Burr G.S., Cutler K.B., Damon P.E., Edwards
R.L., Fairbanks R.G., Friedrich M., Guilderson T.P., HoggA.G., Hughen
K.A., Kromer B., McCormac G., Manning S., Ramsey C.B., Reimer R.W.,
Remmele S., Southon J.R., Stuiver M., Talamo S., Taylor F.W., van der
Plicht, J., Weyhenmeyer E., 2004. Intcal04 Terrestrial radiocarbon Age Ca-
libration, 0-26 kyr BP. Radiocarbon 46 :3, 1029-1059.
Roset J.P., 1983 - b. Les plus vieilles céramiques du Sahara. Archéologia. Octobre,
n°183, 43-50.
Schvoerer, M., 2009. Desert patina. In « Preserving our heritage, improving our
environment”, Vol. II : Cultural heritage research : FP5 , FP6 and related
projects », 181-183.
Schvoerer, M., 1995. La datation par hermoluminescence. Ed. Larousse Paris, Fr.,
le livre de l’année, 196-198.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 135
Searight S, 2004. he Prehistoric Rock Art of Morocco. A study of its extension, envi-
ronment and meaning. Bar International Series, 1310, 246 p.
Striedter K., 2007. Images de l’Art rupestre de l’Oued Djerat, Tassili Azjer, Al-
gérie. Base de données. Contribution au programme de la Commission eu-
ropéenne « Patine du désert » (INCO-CT-FP6-2004-509100), rapport de
l’année 3/3.
Striedter K.H., Tauveron M., 2001 - Relets de la vie sociale dans les peintures ca-
balines du Sahara central. Colloque GALF, juillet, Marseille.
Striedter K.H., Tauveron M. et Ferhat N., 2003 – Les plus anciennes gravures ru-
pestres ? Afrique : Archéologie et Art, 2, : 31-38.
Tauveron M., 2003 – L’art caballin du Sahara central. Art et symboles du Néoli-
thique à la Protohistoire. Séminaire du Collège de France sous la direction
de J. Guilaine, Paris, : 217-236.
Ters M., 1976. Les lignes de rivage holocène, le long de la côte atlantique fran-
çaise. La Préhistoire française (II) 27-30.
Vartanian E., Guibert P., Roque C., Ney C., Schvoerer M., Bechtel F.. Guilaine
J. et Cremonesi G., 2001. Contribution de la thermoluminescence à la
chronologie de la néolithisation en Italie du Sud-Est. Céramiques et terres
brûlées du site de Matera–Trasano. Actes des XXIème rencontres internatio-
nales d’Archéologie et d’Histoire d’Antibes, éd. APDCA, Antibes, Fr., 401-406.
Vernet R., 2004. Le Sahara préhistorique entre Afrique du Nord et Sahel : état
des connaissances et perspectives. In: du Nord au Sud du Sahara, 50 ans
d’Archéologie française (MAE). Ed. Sepia, Paris, 89-100.
Zampetti, D., 2007. La patine des grès en Libye et l’art rupestre saharien. Contri-
bution au programme de la Commission européenne « Patine du désert »
(INCO-CT-FP6-2004-509100), rapport intermédiaire de l’année 3/3.
136 • IPHAN
Bibliograia Online
• Controle cruzado de dois métodos de da- enterramento, para interpretar por exemplo
tação na Tin Hanakaten um desequilíbrio na cadeia de decaimento
No âmbito do programa “Pátina do Deser- do urânio-238 detectado em alguns locais
to”, foi possível reinar a cronologia da ocu- arqueológicos (Guibert et al. 1994-a).
pação do sítio arqueológico de Tin Hanaka- Entretanto, com radiocarbono face à depen-
ten (Tassili Azjer na Argélia), que foi baseado dência da taxa de formação do C 14 na at-
em algumas datações de Carbono 14 ante- mosfera, no luxo de partículas cósmicas do
riormente obtidos. Para este im, em torno Sol e do Universo, procedemos à correção
de cinquenta novas datações foram feitas na para uma idade de radiocarbono (Jungner
implementação de dois métodos físicos inde- 2007). Esta “calibração” é derivada do traba-
pendentes no material da coluna estratigrái- lho que identiicou variações no teor de C 14
ca do sítio arqueológico: termoluminescên- na atmosfera ao longo dos últimos 25 000
cia (TL) em cristais de quartzo e feldspato anos, baseado em anéis de crescimento de
contido
• em cacos cerâmicos. Radiocarbono madeira (carvalho, pinheiro, etc.), ou forma-
C14) em carvão ou restos vegetais. ções de corais e sedimentos marinhos em di-
Aqui nós relatamos a nova datação e ainda da- ferentes partes da Terra. O conjunto dos re-
tações anteriores ao programa “Pátina do De- sultados correspondentes foi reagrupado em
serto”. Estes últimos devem ser manuseados um banco de dados “IntCal104” (Reimer et
com cuidado, para serem comparados com os al. 2004). A curva de calibração e os progra-
resultados de TL datação (ou outro método de mas de calibração têm livre acesso e podem
dendrocronologia, horium 230, etc.), as ida- ser consultados no seguinte endereço: www.
des em C 14 devem ser calibradas. A calibra- radiocarbon.org (Jungner 2007). Mencio-
ção sistemática nos dias de hoje nos obriga a namos, contudo, o valor da relação de dois
realizar aproximações quando se quer estender isótopos estáveis (carbono 12 e carbono 13),
a comparação com C 14 anteriores, em que a com o símbolo δ¹³C expresso em milésimos
publicação dos resultados, infelizmente, quase (‰) Isso mostra a diferença correspondente
sempre, ignora os detalhes das condições ex- ao conteúdo de uma norma internacional, o
perimentais medidas. Nestas condições, que representa uma média geral (VPDP). O
– As datações TL serão relatadas em anos BP valor δ¹³C é usado para determinar o fracio-
(Av 1950) namento isotópico que atua sobre a concen-
– As datações C 14 recentes, nos anos BP e, tração de radiocarbono na atmosfera e nos
sempre que possível, em anos BP após a cali- objetos a datar. Na sequência da estratigraia
bragem (calBP). (A.G.), durante a escavação arqueológica, dis-
– As datações de C14 antigas em anos BP, puseram-se os resultados agrupados abaixo.
deixando ao leitor o prazer do exercício, se
o desejar. • Depois do programa “Pátina do Deser-
to” cronologia física da Estratigraia do
• Incertezas Experimentais (TL e 14 C) e Holoceno Tin Hanakaten (Tassili Azjer na
método de calibração de idades do C 14 Argélia)
Em TL, exceto em algumas situações es- O solo do abrigo é solto, arenoso e pedre-
pecíicas geralmente relacionadas com a goso, para não se dizer poeirento. Ele estava
heterogeneidade ou a história do local do presente durante as escavações como prova-
enterramento do objeto a ser datado, não velmente era no passado, porém alterações
introduzimos uma correção sobre a datação devem ter ocorrido durante as intervenções.
TL. Mencionamos apenas a incerteza expe- Isso introduz uma incerteza na posição es-
rimental que o afeta. Na prática, observa-se tratigráica dos objetos a datar que até ago-
– in situ e na análise laboratorial – o local do ra não conseguimos avaliar. É suiciente
140 • IPHAN
lembrar desta observação preliminar. Para a TL – 5 150 ± 440 (BDX 528, cerâmica).
apresentação dos resultados recentes: Borde- 14
C – 3 950 ± 45 BP (calBP: 4 250 – 4 550;
aux =BDX e Hela = Helsinki . Para os resul- Hela 1180 / BDX 548; coprólitos; δ13C:–
tados antigos: Mônaco, Argel, e Gif para os 13,8).
laboratórios de datação C 14, nas cidades de 14
C – 4 100 ± 70 BP (Monaco 676).
mesmo nome. 14
C – 5 285 ± 40 BP (calBP: 5 950 – 6 200;
Hela 1151 / BDX 485; carvão de madeira;
Sequência S 1 δ13C:– 24,3).
O sítio arqueológico foi abandonado.
Areia eólica estéril. Os homens abandonam Em resumo, para a sequência S3 (no total
deinitivamente o sítio arqueológico. Areia, 8 datações):
cinzas e poeiras. Idades TL (5 datações): início S3: 5 150 ± 40
BP e im S 3: 3 080 ± 230BP
Sequência S 2 Idades 14C (3 datações) BP: início S 3: 5 285
Fim da era Bovidian Superior para 3 000 ± ± 40 BP.
150 BP – tinha começado cerca de 5 500 ± Idades 14C calBP (2 dos 3 precedentes): iní-
200 BP. cio S 3: 5 950- 6 200 calBP.
14
C: 2 520 ± 35 BP (calBP : 2 500 – 2 750;
Hela 1150 / BDX 511; carvão de madeira ; Sequência S 4 - Bovidien inférior . Início
δ13C : – 23,5). verso 7 000 ± 200 BP e im verso 5 500 ±
TL : 2 790 ± 200 BP (BDX 477 – cerâmica) 200 BP.
14
C: 3 100 ± 240 BP (vegetal )
14
C: 3 585 ± 40 BP (calBP: 3 800 – 4 000; 14
C – 5 555 ± 45 BP (Hela 1471)*
Hela 1189 / BDX 479; vegetais ; δ13C : - 14
C – 5 800 ± 120 BP (Gif 5414).
15,3). 14
C – 6 030 ± 50 BP (Hela 1472).
14
C: 3 875 ± 35 BP (calBP: 4 200 – 4 450; 14
C – 6 135 ± 50 BP (Hela 1469).
Hela 1178 / BDX 480; vegetais: δ13C: - 14
C – 6 140 ± 45 BP (Hela 1468).
15,4). 14
C – 6 190 ± 50 BP (Hela 1467).
14
C - 4 705 ± 50 BP (calBP: 5 300 - 5 600; 14
C – 6 290 ± 50 BP (Hela 1473).
Hela 1179 / BDX 510; vegetais ; δ13C: - 14
C – 6 370 ± 80 BP (cal BP: 7 250 – 7 450;
16,1). Hela 1190 / BDX 493; vegetais ; δ13C: –
19,8).
Em resumo para a sequência S 2: no total 14
C – 6 450 ± 130 BP (Gif 5467).
6 datações: 14
C – 6 650 ± 90 BP (Monaco 677 – mistu-
Idade TL (1 datação): 2790 ± 200 BP. ra de cinzas de níveis carvão de madeira N5,
Idade 14C BP (5 datações): inicio S2 verso N6 et N7)
4 705 ± 50 e im S2 verso 2 520 ± 35 BP. 14
C – 6 650 ± 90 BP (Gif 677).
Idade 14C calBP: (4 sobre 5 precedentes). Iní- 14
C – 6 840 ± 130 BP (Gif 5468).
cio S2: 5 300 – 5 600 e im S2: 2 500 – 2 750 14
C – 6 900 ± 50 BP (Hela 1153; BDX 535).
calBP. 14
C – 6 960 ± 55 BP (Hela 1191; BDX 532).
14
C – 7 005 ± 50 BP (calBP: 7 750 – 7950;
Sequência S 3 – Bovidien supérieur Hela 1152 / BDX 536; carvão de madeira;
TL – 3 080 ± 230 (BDX 491, cerâmica). δ13C:– 22,6).
TL - 3 100 ± 220 (BDX 482, cerâmica). 14
C – 7 055 ± 50 BP (Hela 1474).
TL – 3 580 ± 260 BP (BDX 481; cerâmica: 14
C – 7 110 ± 40 BP (Gif 5419).
fragmento estatueta de bovinos de terracota. 14
C – 7 150 ± 50 BP (Hela 1154 / BDX 533).
TL – 4 820 ± 320 (BDX 517, cerâmica) 14
C – 7 220 ± 140 BP (Gif ).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 141
14
C – 9 100 ± 65 BP (Hela 1464) – Carvão • Crises Climáticas sobrepostas às mudan-
de madeira recolhido num fosso de exuma- ças climáticas do Holoceno
ção. Na elaboração do programa de pesquisa
14
C - 9 175 ± 60 BP (Hela 1478) – Carvão “Pátina do Deserto”, usamos indiscrimina-
de madeira recolhido num fosso de exuma- damente o conceito de “mudança” climática
ção. sem nos preocuparmos muito com a depen-
14
C – 9 420 ± 200 BP (Alg 27). dência fenômeno do tempo (este que passa),
ou seja, a duração. Mas, gradualmente nos
Em resumo, para as sequências S 8 / S9 (no tornamos conscientes da confusão que isso
total 10 datações): causou e introduzimos nas nossas relexões
Idades TL (sem datação). o conceito de “crise climática”. Na verdade,
Idades 14C BP (10 datações): Início: 9 420 ± numerosas observações e estudos recentes
200 BP et in 8 520 ± 130 BP. (Perry e Hsue 2000, Bard et al. 2006) evi-
Idades 14C calBP (2 dos 10 precedentes): denciaram, como num eletrocardiograma,
meio da sequência 9 800 – 10 200 e im uma espécie de pulsos rápidos climáticos,
9 400 – 9 700 calBP. iniciando de maneira abrupta no tempo, um
aquecimento acompanhado – no deserto do
3 – A contribuição da paleoclimatologia Saara, em particular – de umidade que con-
tinua lentamente por se tornar no im menos
• Final do Pleistoceno quente – frio – árido. Além disso, análises
Ao longo dos últimos milênios, segundo um isotópicas realizadas a partir de amostras de
esquema geral bem estabelecido numa escala núcleo em sedimentos marinhos, sedimentos
planetária (Petit-Maire 1999), o clima conhece lacustres e gelo polar ou continental, com-
depois de uma oscilação “fria” entre 20 000 e plementadas por datações físicas, quando
16 000 BP, durante o qual o frio foi máximo possível, bem como de simulações onde efe-
(em média de 4,5° C inferior à temperatura tivamente é posto em evidência o fenômeno
média do século XX d.C., que é relativamente correspondente, que em nossa opinião é so-
grande face ao ambiente). No Saara, a aridez bretudo uma “crise climática”.
é extrema e o homem o frequenta pouco. Em
paleoclimatologia, o Pleistoceno termina (um • O homem é consciente apenas das crises
pouco convencionalmente) verso ao 10 000 BP. Essa visão é reforçada por uma observação de
bom senso. Houve duas “mudanças” no clima
• O início do Holoceno nos últimos 20 000 anos (Petit-Maire 1999).
Uma oscilação “de calor” vai sucedê-lo, que Do ponto de vista antrópico, é evidente que
perdura até os dias de hoje. O lento processo a diferença da duração com aquela do ser
de aquecimento – que começou entre 16 000 humano (nem mesmo um século), é consi-
e 14 000 BP (Petit-Maire 1999) – se acentua derável. Entre 20 000 e 16 000 BP, cerca de
a partir de 14 000 BP, em seguida declina, 160 gerações humanas sucederam-se umas
depois, “acelera” de maneira “abrupta” para 9 as outras, e entre 9 000 e 7 000 BP, cerca
500 ± 200 BP (Perry 2000). Este é o início de 80 gerações. É claro que um ser humano
do período chamado de Holoceno em pale- não pode saber que sua vida é parte de uma
oclimatologia, que situamos (convencional- mudança climática. No entanto, tem a capa-
mente), verso a 10 000 BP. No Saara, o calor cidade de perceber as consequências de uma
acompanha o retorno das monções e, com crise climática que nós deinimos a duração
ele, as chuvas (Bernard 1962). Entre 9 000 e em algumas décadas. É o efeito cumulativo
7 000 BP, a temperatura será em média 2° C das crises, sempre da mesma forma, que dá
superior à atual (inal do século XX). acesso ao status de “alterações climáticas”.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 143
minadas Dryas antigo (cerca de 12 100 BP) terpretação arqueológica: a alternância apa-
e Dryas recente (verso 10 800 BP). Pode-se rentemente periódica (T = 1 300 ± 50 anos)
notar, de passagem, que a diferença entre das elevações abruptas (em pouco tempo) da
essas duas marcas é precisamente de 1 300 insolação, sincronia do retorno das chuvas,
anos. Posteriormente, outros aquecimentos seguido por uma lenta evolução verso o frio
rápidos se sucedem após longos períodos de e de uma aridez crescente ao extremo. Quan-
duração de climas árido e frio, aparecendo do certo limite de tolerância é atingido ou
nessa curva com a mesma periodicidade. Eles ultrapassado, o meio ambiente hídrico e a
se situam entre 9 500, 8 200, 6 900, 5 600, 4 vegetação são tão afetados pela evolução das
300, 3 000, 1 700 e 400 BP. condições meteorológicas que os seres huma-
nos e animais, para sobreviverem, são força-
• Projeção de Perry futuro imediato e futuro dos a abandonar o local, pelo menos tem-
Esta é, evidentemente a preocupação dos po- porariamente (Schvoerer e Axell 2008-b).
deres públicos atuais e de cada um de nós.
Perry, estendendo o raciocínio elaborado a • Para onde vão os homens e os seus reba-
partir de seu modelo estima que, teoricamen- nhos, quando a aridez é extrema?
te, o clima teria esfriado entre 2000 e 2100 Sugerimos alguns elementos de resposta,
AD, depois mais rapidamente entre 2100 e com a cautela necessária inerente a essa ques-
2400 AD e estabeleceu-se entre 2400 e 2900 tão tão complexa e provavelmente por isso,
AD, em condições idênticas às da Pequena bem pouco abordada até aqui (Lhote 1970,
Era Glacial (entre 1280 e 1860 AD verso 1966). Segundo um ponto de vista atual
2900 d.C., a insolação deveria aumentar as- muitas vezes (Schvoerer e Axell 2008-a; Au-
sim como a temperatura alcançar durante a massip 2007; Kroepelin et al. 2006; Vernet
primeira metade do quarto milênio d.C. (en- 2004), eles se juntam em nichos ecológicos”.
tre 3000 e 3500 A.D.) valores tão elevados Logicamente é a aridez o principal problema.
quanto os do máximo do Holoceno, cerca de No Saara Central, por exemplo, as áreas pa-
4 000 BP (im do Neolítico – Calcolítico – e recem ser o refúgio dos canyons de maciços
o início da Idade do Bronze na Europa du- de altitude, aproximadamente entre 1 200
rante o qual o clima era quente e úmido). Po- m e 1 800 m (Tassili-n-Azjer, Tadrar Acacus,
demos então esperar uma elevação do nível Air).
marinho de 3 m a 5 m em relação ao atual. No período árido, estas zonas apesar de tudo
conservam umidade suiciente para permitir
4 – Aproximações a “sobrevivência”. Além disso, no Tassili, por
Notamos, as incertezas experimentais sobre a exemplo, a geologia favorece o conforto dos
proximidade cronológica entre esses diferentes homens e dos animais fornecendo-lhes um
dados. Podemos presumir, pelo menos tempo- refúgio natural contra o vento carregado de
rariamente, que elas são signiicativas em rela- areia e sombra valiosa para os idosos, doen-
ção à precisão da pesquisa e das observações ar- tes ou mulheres grávidas. Mais importante,
queológicas e climáticas, da qualidade da abor- a porosidade da rocha – o arenito – mantém
dagem cronológica (cruzamento de radiocar- durante meses, às vezes anos, a água da chu-
bono e termoluminescência) e do número de va de um dia. Gota a gota, a água escoa e
datações físicas realizadas para a coluna estrati- alimenta constantemente as bacias hídricas
gráica de Tin Hanakaten (mais de cinquenta). de altitude, que a sombra protege da evapo-
Enim, o resultado da simulação relativa à inso- ração rápida, e também o suporte para dei-
lação é surpreendente e conirmado por outras xar as mensagens no tempo, como gravuras
pesquisas, e será particularmente interessante. e pinturas rupestres (Striedter 2007; Strie-
Ele sugere um fato que não desmente nem a dter et al. 2003; Striedter e Tauveron 2001).
estratigraia nem a datação física e nem a in- Fora do Saara Central, migram verso o
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 145
After the political system changed in 1989, the importance of the cultural port-
folio was emphasised by the new name, adopted in 1998, of the responsible
government department, the Ministry of National Cultural Heritage.1 he irst
self-contained, central public administrative organ of archaeological science, the
Cultural Heritage Directorate, was established according to the law in 1998. In
2001, the Directorate merged with the National Board for the Protection of His-
toric Monuments and the new institution now functions under the name of Na-
tional Oice of Cultural Heritage (Kulturális Örökségvédelmi Hivatal hereinafter
KÖH). Drawing the actual picture of the situation in archaeology (the extent of
the territory excavated, the diferent variety of investment projects, the meth-
odologies applied, the organization and functioning of the administration, and
connected legislation, etc.) is not an easy task. In this paper, as a member of the
KÖH, my aim is only to outline the background and problems of preventive
archaeology, mainly in development-led excavations.
2
See their complete citation at the end of the paper.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 149
3
Raczky Pál - Bánfy Eszter: Múltunk jövőjéről – Régészeti örökségünk sorsáról. Written: 04. 05. 2009.
Web site of the Archaeological Institute of the Hungarian Academy of Siences: http://www.archeo.mta.
hu/hir/aktualishir/?p=7. And see also Raczky Pál 2007, cited in the bibliography.
150 • IPHAN
In 2009 in connection with this a KÖH campaign started to speed up the data
processing especially in the mapping and digitalization of the sites. In its present
state it contains 63 667 sites, from these 48 thousands, 745 have digital poly-
gons, and 133 have land register data.4 Within the inventoried site types there
is another category for historically and culturally outstandingly important sites;
that is the ‘protected site’ by ministerial order (sites may be designated as specially
protected or highly protected). here are 531 protected areas embracing 2182
sites.5 On the other side the KÖH campaign itself in its present state does not
include on site control.
At the end of 2009 the application of KÖH for European funds was supported and
the oice obtained HUF 200 million (EUR 753 212) for the modernization of the
whole information system, including the inventory, with the deadline of 2011 March.
But a part of this internal work, the oice have not published the ordered infor-
mation on its web page for the public, – as you can see from their communica-
tion- because of the lack of the necessary legal digital cadastral maps for the whole
country! On the other hand all the archaeological profession protested against the
disposal because precise topographical data publicized is a direct threat against
archaeological sites.
From about 2005 there were several attempts from the archaeological community
and KÖH to modify the legal deinition of ‘site’, but these attempts have failed.
4
he up-to-date information is due to Júlia Kisfaludy and Imre Bere, National Oice of Cultural Heritage.
5
he up-to-date data is due to Dr. Levente Nagy, National Oice of Cultural Heritage.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 151
Fig.2 Histogram: the excavated surfaces in square metres per year conducted by the locally competent
museums. The figures of 2007-2008 indicate the establishment of KÖSZ that became the responsible
institution for large-scale excavations instead of the museums.
Fig.2 Histograma: as superfícies de escavação em metros quadrados por ano, realizado pelos museus
localmente competentes. Os dados de 2007-2008 indicam o estabelecimento de KÖSZ que se tornou a
instituição responsável pelas escavações em larga escala, em vez dos museus.
In these cases, apart from the collection of already available data, there is ield-
work, a ield walking before issuing a licence. he creation of a heritage impact
study is the real protection for archaeological heritage because in the early stages
of authorizing a project there is a better chance of modifying the investment
plans.
A good early example from 2005, in the application of this philosophy is Kur-
vahalom in Szabolcs-Szatmár-Bereg County, where, because of the intervention
of the archaeological inspector, the National Motorway Corporation modiied the
right of way of the highway, which originally was planned to go through a Cop-
per Age kurgan. hus the kurgan, although in the immediate vicinity of the high-
way, is preserved intact today.6
• Development-led excavation
If the investment concerns an archaeological site recorded in the oicial registry
[registry of KÖH], and if avoiding the site would signiicantly increase the costs
of the development or investment involving earthwork, or the investment cannot
be executed elsewhere, archaeological sites jeopardised by the investment must be
excavated in advance [development-led excavation] (Act Article 22[2])
he regional oice of the KÖH orders an excavation preceding the construction
process. he investor then contracts with the competent organization. he great-
est problem is that a development-led excavation can be required only in the case
of oicially registered sites, and the data of the registry difers greatly from the
actual number of sites, as it was described earl’ier. In the case of development-
led excavation, the funds for the archaeological work have to be secured by the
investor.
During the planning of development and investment activities, the total cost
of development-led excavation, but at least 9 thousands of the total investment
cost must be made available to cover the excavation in the form of a cost appro-
priation. Especially the costs of an archaeological impact study, trial excavation,
documentation, primary ind conservation, as well as the full cost of primary
ind processing and the extraordinary expenses of the placement of inds must be
made available. he institution conducting the excavation shall also be obliged to
account for the actual expenditure. (Act Article 23[1])
6
Information is due to Dr. Marianna Bálint, National Oice of Cultural Heritage.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 153
• Rescue excavation
Unfortunately, this also applies to sites protected by ministerial order, e.g., in his-
toric town centres or on small-property owners’ plots, although the law clearly says:
According to the rules, the institution entitled to carry out an excavation has to
send its licence-application to the regional oice of the KÖH at least 30 days
before the start of the planned work. he licensing of excavations difers from
the general process in the requirement that the application form has to be sent
to the Excavation Committee as well. he Committee, functioning since 1963,
nowadays acts as the consultant body of the KÖH and holds sessions every two
weeks. Its’ staf, consisting of nine members, is nominated by the Chairman of
the KÖH, on the proposal of the directors of the institutions entitled to send
delegates, and on the opinion of the Archaeological Committee of the Hungarian
Academy of Sciences. he regional oice makes its decisions taking into account
the Committee’s opinion, although it does not have binding force.
Archaeological excavations may be carried out – under the terms and conditions
speciied in their operating licence issued in compliance with the provisions of
Article 39(3) of Act CXL of 1997 on the Protection of cultural goods, museums,
public library services and public education - by competent museums, museums
with an archaeological collection range, universities in Hungary having a faculty
of archaeology, the Archaeological Institute of the Hungarian Academy of Sci-
ences, and the heritage protection institutions supervised by the education and
culture minister [National Oice of Cultural Heritage, Field Service for Cultural
Heritage]. (Article 2[1] Decree No. 18/2001)
km of highways was opened for the public. Among the projects the proper solu-
tion for lood prevention, waste-water canalization and treatment, and the exten-
sion of the drinking water network should be mentioned. A preminent program
is the construction of waste deposit units; and gas pipelines, telephone and elec-
tricity cable installations are also under way. In order to demonstrate the extent
of archaeological involvement in these processes, we have to add the continuous
investment of the private sector in both inner and outer areas.
Based on this, the expert elaborated proposals on the conduct of excavations, the
content of documentation to be transmitted to the investor, and the accounting
of excavation costs. Some of these recommendations were built into the contracts.
Oicially in 2004 the county museums established the Association of County Mu-
seum Directorates. Among other things they determined a uniied excavation price
per square meter and suggested to the museums to take this into account when
making contracts.
7
Data from 2009 is due to Zsuzsanna Újlaki-Pongrácz, National Oice of Cultural Heritage. Other
igures are collected by the author on the basis of the database of excavation licence applications.
156 • IPHAN
8
he Hungarian National Museum was founded in 1802, the opening of its own building was in 1848.
he county museums were founded mainly during the second half of the 19th century. Network of the
county museums was created mainly due to regulations in 1949 and 1963.
9
A Kulturális Örökségvédelmi Szakszolgálat 2008. évi költségvetési beszámolójának szöveges indok-
lása. http://www.okm.gov.hu/letolt/minisz/eves_beszamolo_2008/kulturalis_oroksegvedelmi_szak-
szolgalat_2008.pdf A Kulturális Örökségvédelmi Szakszolgálat 2008. évi költségvetési beszámolójá-
nak szöveges indoklása.
http://www.okm.gov.hu/letolt/minisz/eves_beszamolo_2007/kulturalis_oroksegvedelmi_szakszol-
galat.pdf
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 157
positions.10,11 From year to year not only the previously unemployed archaeolo-
gists went to work for this organization, but also professionals from the museums
left for KÖSZ for a better perspective.
Although the Field Service for Cultural Heritage can involve other organisations
such as the locally competent museums, or the Academy or the universities etc. in
the work for a more eicient discharge of its duty, it can be seen that after having
more employee for the third year, in 2009, KÖSZ subcontracted only c. 16% of
the excavations12 (Fig. 213).
When KÖSZ was established the French state archaeological service INRAP (In-
stitut national de recherches archéologiques préventives) played the main role as
a model. Now there are tendencies to follow further the French model and to
introduce an archaeological tax, also.
• he quality of excavation documentation varies
he leader of the archaeological work has to prepare documentation in a prede-
ined way according to the law. his documentation has to be sent to the muse-
ums concerned and to the KÖH and to the Central Archaeological Archives of the
Hungarian National Museum. he latter institution has collected all the archaeo-
logical documentation from Hungary since 1957. he deadline is 30 days for the
short report of the excavation (approximately half a page), and one year for the
complete detailed documentation. he complete documentation has to contain
the excavation diary, drawings, maps and photographs. here is quantity but no
real quality control by the side of the competent organization, the National Of-
ice of Cultural Heritage.
All excavating archaeologists have backlogs of documentation work; some of
them are even behind two or three years. Although a delay in completing the
compulsory documentation delivery can be a reason for not leading an excava-
tion, with the exception of some very problematic cases there is basically no pos-
sibility of using this as a tool for denial of licence to direct an excavation.
10
XX. Oktatási és Kulturális Minisztérium 2010. évi költségvetésének szöveges indokolása. http://www2.
pm.gov.hu/web/home.nsf/(PortalArticles)/6ED5B0D1010962D0C12576350033532C/$File/20.pdf
11
he concrete number of archaeologists from all these igures is not available.
12
Data generated from statistical igures are due to Zsuzsanna Újlaki-Pongrácz, National Oice of Cul-
tural Heritage.
13
Data are owing to Dr. Paula Zsidi director, Aquincum Museum, BTM and Dr. Imre Szatmári, direc-
tor, Békés County Museums’ Directorate, based on the data provided by the competent museums on
their request.
158 • IPHAN
14
Based on upon the kind oral information from 2007 of Prof. Pál Raczky, director of the Institute of
Archaeological Sciences, University of Eötvös Loránd, Budapest.
15
Tari Edit (ed.): Régészeti kutatások másfél millió négyzetméteren. Autópálya és gyorsforgalmi utak
építését megelőző régészeti feltárások Pest megyében 2001-2006. 2006, Szentendre.
16
See Raczky Pál 2007: 34-35, cited in the bibliography.
17
See footnote 13.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 159
Prior to the storage of the archaeological material, moreover, there is the problem
of conservation, restoration, inventorying and scientiic processing of the objects.
According to pessimistic calculations it will take a hundred years until the scien-
tiic evaluation of the inds that have come to light in the past two decades can
be totally completed.
With the establishment of KÖSZ a parallel system with the more than 100 year-
old museum network was created, which raised questions of cooperation, quality
insurance of excavations, inventorying, publication, feature of museum network,
and possibility for the introduction of an archaeological tax.
is not the best but at least is a solution (Pásztor 2006, Pásztor 2005, Pásztor –P.
Barna –Roslund 2008).
However, there have been hardly any cultures on the earth which have no interest in
the sky. he history of astronomy however proves that ancient astronomy covers not
only pure astronomical events such as the rise or set of a celestial body, or eclipses
etc.; but any kind of celestial phenomena involving also atmospherical ones. hey
are generally believed to be distinct entities of the sky (Pasztor-Roslund 2007).
During the preventive archaeological process the most important goal of the ar-
chaeoastronomical activity is to record all the data which are necessary to later
study of the possible sky lore of a community. Although the landscape survey
should be fundamental part of the ieldwork, and it signiies essential condition
to archaeoastronomical conclusions, orientation and declination data may be
useful for other rather than astronomical interpretation as well. Data on skyline
and visible geographical features can provide valuable information on the rela-
tionship of the monuments to the surrounding landscape.
same data. All this prove that archaeoastronomy should be involved into heritage
impact studies of a country.
he lack of archaeoastronomical study risks the scientiic exactitude of the re-
search of the monument investigated. As archaeoastronomical ield work needs
experience, a closer teamwork between archaeo-astronomers and archaeologists is
desirable in order to make meaningful contributions to our understanding of the
past. his collaboration should not only apply to the interpretation of measured
data, but to all the work carried out, from the formulation of a research strategy
and the execution of ieldwork to the inal analysis of the information gathered.
heir approaches and perspectives can be diferent but be fruitfully complemen-
tary to the cases investigated. Archaeologists cannot ignore the importance of the
sky phenomena (Pasztor 2009); astronomers interested in history cannot ignore
the importance of the archaeological background.
162 • IPHAN
Bibliography
Bozóki-Ernyey K., 2007. “Preventive Archaeology in Hungary. One Step Behind.”
In: Katalin Bozóki-Ernyey (ed.): European Preventive Archaeology. Papers of
the EPAC meeting 2004, Vilnius. Budapest, 104-121.
Belényesy, K. , Virágos G. 2008. “Régészet az ezredforduló után: a régészet
helyzete és szerepe a 21. századi fejlett piacgazdaságban és a tudásalapú
társadalomban. Alternatív lehetőségek a régészeti feladatellátásban: egy
európai körűt tapasztalatai.” [Archaeology After the Millennium: he
Position of Archaeology in the Market Economy and Knowledge-based
Society of the 21th Century. Alternative possibilities in archaeology: the
observations of a European round trip] Archaeológiai Értesítő 133, 273-
289. (with English summary)
Jankovich-Bésán, D. – NAGY, M. 2004. Felmérés a régészet helyzetéről 1989-
1999 [Survey on the present state of archaeology 1989-1999], Budapest.
(only in Hungarian)
Magyar Régész Szövetség [Hungarian Association of Archaeologists] 2008.
“Discovering the Archaeologists of Europe. Hungary.” In: Discovering
the Archaeologists of Europe. http://www.discovering-archaeologists.eu/
hungary.html or In: “Archaeology in Contemporary Europe” http://www.
ace-archaeology.eu/ [EC funded Culture Programme for the period 2007-
2012]
Pasztor, E. 2005. “Sunshine in Bell Beaker’s houses: On the Orientation of the
Houses of the Bell Beaker- Csepel Group”. In: M.P. Zedda and J.A. Belmonte
(eds): Lights and Shadows in Cultural Astronomy. Isili: Associazione
Archaeoila Sarda. 116-124.
Pasztor, E. 2006. “Az égi és a földi táj kapcsolata.” [he relation of terrestrial
landscape to skyscape.] In: Füleky, Gy. (ed): A táj változásai a Kárpát-
medencében – Település a tájban. Gödöllő: Környezetkimélő Agrokémiáért
Alapítvány, 88-95. (in Hungarian, in the VI. Landscape Conference book)
Pasztor, E. - Roslund, C. 2007. “An interpretation of the Nebra Disc.” Antiquity
81: 267-78.
Raczky, P. 2007. “Az autópálya–régészet helyzete Magyarországon. Módszerek és
tapasztalatok az 1990 és 2007 közötti munkálatok alapján.” [he State of
Motorway Archaeology in Hungary. Methods and experience based on the
work carried out between 1990-2007] Archaeológiai Értesítő 132, 5-36.
(with English summary)
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 163
Bibliography Online
Kulturális Örökségvédelmi Hivatal [National Oice of Cultural Heritage]:
www.koh.hu
Kulturális Örökségvédelmi Szakszolgálat [Field Service for Cultural Heritage]:
www.kosz.gov.hu
Magyar Régész Szövetség [Association of Hungarian Archaeologist]: www.
regeszet.org.hu
Múlt-kor történelmi portál [Past-time historical portal] www.mult-kor.hu portal
arqueológico” – que deve ser protegido – é: os sítios arqueológicos e suas zonas adjacen-
“uma área geográica claramente deinida na tes, necessárias para a sua localização, e infor-
qual os elementos de patrimônio arqueológi- mativos sobre a sua proteção, em seu site ele-
co podem ser encontrados em seu contexto trônico, sem quaisquer restrições. Esta parte
histórico e que tenha sido registrado pela au- da lei entrou em vigor a 1º de abril de 2009.
toridade [KOH]. “(Ato: artigo 7º, alínea 20). Em 2009, em relação a esta campanha a
Com base nos dados da prospecção sistemá- KOH começou a acelerar o processamento
tica regularmente realizada no âmbito do de dados, especialmente no mapeamento e
Instituto de Arqueologia da Academia Hún- digitalização dos locais. Hoje em dia existem
gara de Ciências, entre 1968 e 1997, que 63 667 sítios arqueológicos, dos quais 48 mil
coletou informações sobre cerca de 10 por têm 745 poligonais em digital, e 48 133 pos-
cento do país, podemos extrapolar que exis- suem dados cadastrais.
tem pelo menos 100 000 sítios arqueológicos Dentre os tipos de sítios arqueológicos
na Hungria. inventariados há uma categoria para sí-
Das escavações de autoestradas e observa- tios históricos culturalmente íntegros,
ções topográicas devemos supor que ocorra que é a “área protegida” por despacho
quantidade ainda maior de sítios arqueo- ministerial (os sítios podem ser designa-
lógicos, entre 100 000-200 000, com base dos como especialmente protegidos ou
no fato de que, em geral, há muita ocor- altamente protegidos). Existem 531 áreas
rência de sítios arqueológicos, em cada qui- protegidas abrangendo 2 182 sítios ar-
lômetro quadrado há um ou dois destes. queológicos. Por outro lado a campanha
A criação do registro oicial arqueológico do KOH atualmente não inclui o con-
apoiado em um sistema uniformizado era trole dos referidos sítios arqueológicos.
exigido por lei desde 1997, e a instituição No inal de 2009, a solicitação do KOH para
antecessora da KOH foi designada para exe- obtenção de fundos europeus foi apoiada e
cutar esta tarefa. o organismo obteve 200 milhões de HUF
O desenvolvimento da fundamentação teó- (753 212 euros) para a modernização do
rica do banco de dados começou em 1999, sistema de informação geral, incluindo o in-
e o desenvolvimento da tecnologia da infor- ventário, com o prazo para março de 2011.
mação teve início em 2000. A estrutura do Entretanto parte deste trabalho interno, o
banco de dados construído em SQL foi pro- organismo não publicou conforme ordena-
jetada para satisfazer tanto as necessidades do em sua página web para o público – e,
administrativas quanto cientíicas. O banco como se pode apreender pela comunicação
de dados manipula informações sobre edifí- deles, falta o necessário cadastro legal de
cios classiicados e bens culturais protegidos mapas digital para todo o país!
em conjunto num único sistema. Por outro lado, os proissionais de arqueolo-
O registro no banco de dados está em curso gia protestaram contra a difusão das infor-
desde 2001, e as principais fontes de dados mações, pois a publicidade de dados precisos
foram as participações dos museus regionais topográicos seria uma ameaça direta contra
e Museu Nacional da Hungria, além da To- sítios arqueológicos.
pograia Arqueológica da Hungria (dez volu- Desde 2005, houve várias tentativas por par-
mes) e, mais tarde, principalmente os estudos te da comunidade arqueológica e do KOH
de impacto do patrimônio. para modiicar a deinição legal de ‘sítio ar-
Em 2007, o banco de dados continha informa- queológico’, mas todas falharam.
ções sobre mais de 56 000 sítios arqueológicos.
Em 2008, a decisão do Governo sobre o Ins- Signiicados da arqueologia preventiva: estu-
tituto Nacional do Patrimônio Cultural que do de impacto, desenvolvimento de escava-
vigorava desde 2006 foi alterada por outra or- ções de referência, escavações emergenciais
dem. Ele decidiu que o Instituto publicasse, Estudo de impacto do Patrimônio
designadamente, todas as informações sobre De acordo com a lei, as autoridades, em po-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 167
mente mudada para outro monopólio: o Ser- mentação deve ser enviada para os museus
viço Técnico de Patrimônio Cultural realiza em questão, para o KOH e para o Arquivo
o contrato com o investidor. Há um contra- Central do Museu Nacional de Arqueologia
to padrão e uma lista pública dos preços foi da Hungria. A última instituição recolhe
composta. toda a documentação arqueológica desde
Não há (ainda) um debate muito vivo sobre o 1957. O prazo é de 30 dias para o breve re-
papel real e possível do Serviço. Ele foi criado latório da escavação (cerca de meia lauda), e
sem uma consulta legítima com as organi- um ano para a completa documentação deta-
zações proissionais, e, em um tempo mui- lhada. A documentação completa deve con-
to curto. É criticado principalmente por ser ter o diário de escavação, desenhos, mapas e
uma nova instituição criada, em vez de desen- fotograias. O controle do Instituto Nacional
volver a rede de museus existentes e eicientes do Patrimônio Cultural não é da quantidade,
há mais de 100 anos, onde tradicionalmente mas qualidade real do trabalho.
o principal trabalho de campo arqueológico Todos os arqueólogos que realizam os traba-
foi realizado. lhos de escavação têm cadernos de documen-
O serviço se tornou uma organização paralela tação e alguns deles possuem documentação
com as suas unidades regionais para o sistema antiga de dois ou três anos atrás.
de museus do conselho. No inal de 2007, o Um atraso na entrega da documentação obri-
número do seu efetivo foi de 103, no inal gatória pode ser uma razão para não se reali-
de 2008 existiam 211 pessoas. Em 2010, é zar uma escavação, com a exceção de alguns
apoiado por 280 posições deinitivas com casos muito problemáticos. Basicamente,
contrato permanente. De ano para ano, não não há possibilidade de se utilizar esse pre-
só os arqueólogos anteriormente desempre- texto como motivo para negar a licença de
gados passaram a trabalhar para esta organi- uma escavação.
zação, mas também proissionais dos museus
mudaram para KÖSZ por uma melhor pers- O número de sítios arqueológicos e suas
pectiva de trabalho. dimensões
Embora o Serviço de Campo para o Patrimô- Os dados sobre as escavações de rodovia
nio Cultural possa envolver outras organiza- obtidos até agora mostram – como descrito
ções, tais como os museus locais competen- anteriormente – que a frequência de ocor-
tes, ou a Academia ou as universidades, etc., rência é de 1 ou 2 sítios a cada quilômetro
na realidade para uma melhor e mais eiciente quadrado. A dimensão média é de 15 a 20
distribuição de obrigações de trabalho, pode- mil metros quadrados; sítios com caracte-
se observar que possuindo um maior numero risticas densas podem medir de 30 a 50 mil
de pessoal pelo terceiro ano consecutivo, em metros quadrados. Cada quadrícula de sítios
2009 a KÖSZ subcontratou apenas 16% das é rica em material arqueológico. Um sítio
escavações. (Ver Figura 2 no texto original). excepcionalmente complexo e grande, o de
Quando o KÖSZ foi criado, o serviço arque- Ullo 5 e Ullo 9, localizado em um dos cruza-
ológico francês INRAP (Instituto Nacional mentos da rodovia M0 no Condado de Pest,
de Pesquisas Preventivas Arqueológicas) ser- tem medidas de 400 mil metros quadrados,
viu como principal modelo. Agora, há uma este complexo inclui um assentamento Sar-
tendência para adotar mais o modelo francês matian do Período do Império Romano, o
e também para introduzir um imposto arque- seu centro de produção de cerâmica e o ce-
ológico. mitério adjacente.
Introduction
he changes initiated by the 1989 revolution brought about new social, po-
litical, and economic conditions in Central/Eastern Europe that have shaped
the whole discipline of archaeology and continue to do so. hey resulted in
previously unknown challenges and dangers, such as commercialisation, isola-
tion and loss of public interest in archaeology, greater destruction of the ar-
chaeological heritage due to large-scale developments and intensive agricul-
ture (Kobyliński 2001a: 17; see also Lozny 1998). he previously solid system
of state sponsorship and the high status of scientists collapsed (Kobyliński
2002:421; see also Tabaczyński 2001:43). Some of these challenges existed be-
fore 1989 but they have clearly intensiied in the new situation. Some others,
however, have emerged as a result of the dramatic social and political changes
in this period (see more Marciniak 2006).
he period after 1989 brought also about considerable changes in the organi-
sation of the system for the protection and management of the archaeological
heritage in the context of a free market economy. Unfortunately, despite many
attempts, an efective strategy for dealing with threats to Polish archaeological
heritage is still lacking (see Barford & Kobyliński 1998:461-464).
A context of Polish preventive archaeology
Today’s Poland experiences huge infrastructure projects that demand large scale
preventive excavations in association with pan-European and national invest-
ments, such as pipelines from Russia to Western Europe and the network of high-
ways and expressways. Consequently, Polish archaeology has been confronted
with a huge number of excavations to be conducted in the fast pace in the scale
never experienced before.
Rescue excavations, however, are not new in Polish archaeology. Some large in-
vestments in the past were accompanied by systematically conducted excavations,
in particular Nowa Huta in the present day Cracow in the 1950s, while the oth-
ers, such as the Katowice Steelworks, lacked such works. In most cases, however,
the conducted works were of poor standard and were carried out far too fast.
heir results have hardly been published.
hese projects were conducted in the then well deined organizational system of
Polish archaeology. It was composed of four distinct archaeological institutions,
all of them under the state control, and deined by their professional responsi-
bilities and duties. hese comprised museums, universities, Polish Academy of
Science and Centers for Monument Protection. he latter was the only body
responsible for protection of archaeological monuments and movable objects
and undertaking rescue excavations. Understandably, this led also to an almost
complete lack of competition among potential contractors. Rescue excavations
were undoubtedly granted the lowest status of research undertakings in this
system. his contributed to a distinction between ‘research’ and ‘rescue’ excava-
tions, the latter marked by clearly pejorative undertone in the Polish archaeo-
logical language.
he preventive excavations related to construction of gas pipe from Siberia to
western Europe in the early 1990s was the irst major undertaking in the post-
1989 period. Despite the fact that they were carried out within the legal frame-
work from a far-gone era, wealthy Polish-Russian investors expressed a good
will and agreed to inance all archaeological works. Solutions and regulations
implemented in the gas pipe archaeological project were set to be precedent for
the formulation of a new conservation and protection of archaeological heritage
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 177
doctrine in the country. After some modiications, they were later implemented
during the highway project. he Polish highway program was passed in June
1995 and is aimed at construction of 2300 km of highways along with numerous
expressways. Archaeological preventive excavations are conducted in a strip of 80
to 100 m wide and have uninterruptedly been pursued since 1997.
Large-scale preventive archaeology projects in the last twenty years have signii-
cantly shaped the character of Polish archaeology and created many unforeseen
consequences. One of them is commercialization of archaeological profession.
he emergence of private archaeological irms working on preventive projects has
led to the rapid emergence of a quite new professional group on the market. hey
are characterized by a high eiciency in conducting long excavation campaigns
on a large scale. Taking into account previously dominant in Poland model of
small, almost ‘family’ excavations, this can undoubtedly be regarded as almost
‘revolutionary’. Multiple efects and consequences of these changes remain still
largely unexplored and may continue to shape the character of archaeology in
Poland in the yet unforeseen way in the years to come.
Legal framework of Polish preventive archaeology
Large and logistically complex infrastructural projects, such as construction of
pipelines and highways, have inevitably forced legislative initiatives and institu-
tional transformations in the domain of archaeological heritage. he post-com-
munist Poland entered the new era with the old Act on the Protection of Cultural
Property from 1962. It stated that all mobile and immobile objects, including
archaeological objects, are considered as cultural good, belong to the state and re-
quire the protection by law. However, the Act did not specify a body responsible
for inancing excavation works and contained a pretty unclear statement allocat-
ing this duty to the state.
As indicated above, the gas pipe archaeological project triggered serious discussions
on legal, organizational and methodological standards of ield works and imple-
mentation of these solutions in practice. A legislative framework for the future large
scale rescue project provided the Act for the Space Management and the Building and
Construction Act along with the Law for Highway Constructions in Poland, both of
them passed by the parliament in 1994. he investor was set to be obliged to cover
the costs of rescue excavations, documentation and analyses of the results. he rati-
ied by Poland in 1996 Valetta Convention on the protection of the archaeological
heritage has considerably broadened and strengthened the goals of archaeology to
include, alongside research and valorization, also the integrated management,
protection and promotion of common archaeological heritage.
178 • IPHAN
hese solutions were later introduced into the new Act on protection of mon-
uments and the guardianship of monuments passed in 2003. he Act speci-
ies that all archaeological sites irrespective of their quality and signiicance
are to be protected by law. Preventive and rescue works should be conducted
as any other research projects in terms of applied methods and standards of
documentation and investors are obliged to cover all costs of these works.
Furthermore, it is required that the excavated materials are profesionally ana-
lyzed and preferably published. When proved necessary, the objects need to
undergo a proper conservation.
Both Centers played a vital role in Polish archaeology over the last decade.
Being well acquainted with the most pertinent issues of protection and man-
agement of archaeological heritage, they became partners for the investors
and potential contractors of large scale works. At the same time, both Centers
were custodians of some universal principles in this domain.
hese were pretty strict rules that could only have been fulilled by large
research institutions, in particular universities and Polish Academy of Sci-
ences, often in co-operation with regional archaeological museums. Small
archaeological irms could only have been incorporated in these projects as
sub-contractors. hese regulations, along with a poor inancing of Polish sci-
ence by the government and the-then non-existing private sector, paved the
way to academic institutions to preventive contracts. For some of them, in
particular Institute of Archaeology and Ethnology of the Polish Academy of
Sciences, they became the only serious means of getting substantial inancial
support for other research project. Conesquently, early stage of the highway
preventive archaeology in Poland was characterised by emergence of numer-
ours consortia in which academic institutes played a vital role. It has to be
stressed that a signiicant role of academic institutes in this period secured
scientiic character of these works and the excavations were explicitly aimed
at broadening the knowledge of the past in the studied regions.
in some circles, has never been materialized. he conservator oices were and
remain to be poorly inanced, they are understafed and may not have been
able to eiciently handle such huge operations. In both models, however,
some kind of professional control over standards and quality of works was
explicitly postulated.
A current situation of Polish preventive archaeology is considerably difer-
ent. As I said earlier, the Archaeological Heritage Protection Center does
not exist any more and the newely formed Department of Archaeology of
the National Heritage Board of Poland in fact decided to withdraw from the
coordination and control of large-scale preventive works. his left a vacuum
with no independent quality control of conducted works by any external
professional body. Controlling and reviewing responsibilities of these works
are in fact conducted exclusively by the investor-appointed committees made
up of investor-employed administrative staf including archaeologists. his
obviously rules out objectivity and neutrality of opinions as well as critical
reviews of the quality of works.
hese new regulations as regards large-scale infrastructure projects inevitably
contributed to strengthening the commercial sector in Polish archaeology.
his is well manifested in the emergence of a large number of private ar-
chaeological companies along with a new and previously unknown category
of archaeologists, namely professional contract archaeologists known for high
eiciency in conducting long-term excavation campaigns on a large scale.
he quality of their works, however, in many instances is beyond acceptable
standards.
Final remarks
Current legal solutions, a lack of quality control, dominance of private com-
panies, poor ethical standards, time constraints imposed by the investors, and
increasingly lower budgets for archaeological works make it impossible to
keep a high academic standard of large-scale excavations to methodologies
designed for preventive archaeology regimes. Budgetary constrains today as
compared to the situation from the end of the 1990s and early years of this
decade inlict the need for fast excavation process which clearly favors small
private companies and may lead to their absolute domination on the market
of rescue archaeology contracts in the nearest future. Academic archaeology
would have no choice but to accept the fact that a major sector of ield ar-
chaeological activities will soon ind itself beyond their control. his is exactly
this kind of activity that is responsible for the production of a vast body of
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 181
material that then will need to be systematically studied, published and prop-
erly stored in the years to come. he very idea of having a special institution
in charge of setting up standards, controlling and conducting preventive ar-
chaeological projects may well belong to the past. It is not at all clear how the
legislative framework may change in the future. After more than two decades
of a free economy in Poland, there is still a lack of consensus on the solutions
of dealing with the management of large scale archaeological projects and
protection of archaeological heritage.
Bibliography
radas como pesquisas de segunda linha, nesse O quadro jurídico da arqueologia preventiva
sistema. polaca
Isso contribuiu para a distinção entre “pesqui- Grandes e complexos projetos de infraestrutu-
sa” e “ salvamento”, este último marcado pelo ra logística, como a construção de gasodutos e
tom claramente pejorativo na língua polaca rodovias, inevitavelmente forçaram a iniciativas
arqueológica. legislativas e transformações institucionais no
As escavações preventivas relacionadas com domínio do patrimônio arqueológico. A Polô-
a construção de tubulação de gás da Sibéria nia pós-comunista entrou na nova era com a an-
para a Europa Ocidental na década de 1990 tiga Lei sobre a Proteção dos Bens Culturais de
foi a primeira grande operação no período 1962. Ela airmou que todos os objetos móveis
pós-1989. Apesar do fato de eles terem sido e imóveis, incluindo peças arqueológicas, são
realizados dentro do quadro legal de uma considerados como bem cultural, pertencem ao
época distante, os ricos investidores polo- Estado e exigem a proteção da lei. No entanto,
neses e russos manifestaram boa vontade e a lei não especiica um órgão competente para o
concordaram em inanciar todos os trabalhos inanciamento de obras de escavação nem uma
arqueológicos. Soluções e regulamentações clara atribuição deste direito para o Estado.
aplicadas no projeto arqueológico de tubula- Como indicado acima, o projeto de tubulação
ção de gás foram estabelecidas e precederam de gás provocou sérias discussões arqueológicas
a formulação de um novo conceito de doutri- sobre padrões legais, organizacionais e metodo-
na de conservação e proteção do patrimônio lógicos de trabalhos de campo e implementa-
arqueológico no país. Após algumas modii- ção dessas soluções na prática.
cações, foram posteriormente implementa- Um quadro legislativo para o projeto de resgate
das durante o projeto da autoestrada. Esse em grande escala foi criado em função da Lei de
programa foi aprovado em junho de 1995 e Gestão do Espaço e Construção com a Lei de
visava à construção de 2 300 km de estradas, Construção de Autoestradas, ambas aprovadas
com numerosas vias expressas. Realizaram- pelo Parlamento em 1994.
se as escavações arqueológicas preventivas O investidor foi obrigados a cobrir os custos
numa faixa de 80 a 100 m de largura, exerci- das escavações de resgate, a documentação e
das de forma ininterrupta até 1997. a análise dos resultados. O novo ato de ratii-
Nos últimos vinte anos, grandes projetos têm cação pela Polônia, em 1996, da Convenção
signiicativamente moldado o caráter de ar- de Valetta – relativa à proteção do patrimônio
queologia polonesa gerando consequências arqueológico – ampliou e fortaleceu considera-
imprevistas. Uma delas é a comercialização velmente os objetivos da arqueologia, incluin-
da proissão arqueológos. O surgimento de do a pesquisa e a valorização, com a gestão in-
empresas privadas que trabalham em proje- tegrada, proteção e valorização do patrimônio
tos preventivos levou ao rápido aparecimento arqueológico comum.
de um novo grupo proissional no mercado. Estas soluções foram posteriormente introduzi-
Eles são caracterizados por elevada eiciência das na nova lei sobre a proteção dos monumen-
na realização de campanhas de escavação em tos e da tutela dos monumentos aprovada em
larga escala. Considerando o modelo ante- 2003. A lei especiica que todos os sítios arque-
riormente dominante na Polônia de peque- ológicos, independentemente da sua qualidade
nas escavações quase “familiares”, este pode, e importância, devem ser protegidos por lei.
sem dúvida, ser considerado quase “revolu- Obras preventivas e de emergência devem ser
cionário”. Múltiplos efeitos e consequências conduzidas como quaisquer outros projetos de
dessas mudanças permanecem ainda larga- investigação em termos de métodos utilizados
mente inexploradas, e podem continuar a e padrões de documentação, e os investidores
moldar o caráter de arqueologia na Polônia, são obrigados a cobrir todos os custos dessas
de forma ainda imprevisível nos anos vin- obras. Além disso, é necessário que os materiais
douros. escavados sejam proissionalmente analisados e,
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 185
de preferência, publicados. Quando for neces- com a administração e a gestão de outros tipos
sário, os objetos precisam se submeter a uma de patrimônio no país.
boa conservação.
Estes regulamentos legislativos também foram Algumas observações sobre a prática da ar-
acompanhados por transformações institucio- queologia preventiva polaca
nais. Em 1995, o Ministro da Cultura e das Ar- Logo depois de criado, o Centro de Preservação
tes criou o Rescue Archaeological Research Center do Patrimônio Arqueológico, em cooperação
(RARC: Centro de Pesquisa de Arqueologia com a Direção Geral das Estradas Nacionais e
Preventiva) para controlar o mérito da preven- Autoestradas, estabeleceu regras e critérios ge-
ção em trabalhos arqueológicos no âmbito do rais de seleção dos empreiteiros.
projeto de construção de rodovias. Era uma espécie de compromisso entre as re-
Em particular, ele foi obrigado a cooperar com gras de livre mercado e regulamentação de um
a Direção-Geral de estradas nacionais e auto- lado e os requisitos de proteção do monumento
estradas na gestão de todo o projeto, com a do outro. Toda a rede de rodovias e vias expres-
adoção de critérios de escavações, a seleção dos sas foi dividida em pequenas seções para depois
empreiteiros, e controle de qualidade das obras. se tornarem alvo das propostas independentes.
Ao mesmo tempo, o papel dos curadores pro- A contratante potencial deveria cumprir deter-
vincial do patrimônio arqueológico tem dimi- minados critérios para se qualiicar para o tra-
nuído, uma vez que só foram encarregados dos balho. Estes compreenderam, em especial: (a)
procedimentos administrativos formais. quantidade necessária de material qualiicado,
Em 2002, o RARC foi substituído pelo Centro (b) experiência na realização de projeto de pes-
da Proteção do Patrimônio Arqueológico. Suas quisa em determinada região, (c) experiência
funções originais foram ampliadas para uma na realização de escavações em larga escala, e
série de questões de gestão da conservação, in- (d) instalações adequadas de armazenamento.
cluindo, de fato, do controle de todos os escri- Estas regras eram tão rigorosas que só poderiam
tórios de conservadores arqueológicos regionais. ter sido preenchidas por grandes instituições de
O Centro também foi encarregado de controlar investigação, nomeadamente as universidades
as boas práticas e da qualidade das escavações e a Academia Polaca de Ciências, muitas vezes
preventivas com a publicação de seus resultados. em cooperação com as organizações regionais
Ambos os centros desempenharam papel vital de museus arqueológicos. Pequenas empresas
na arqueologia polonesa durante a última dé- arqueológicas só poderiam ter sido incorpora-
cada. das nesses projetos como subempreiteiras.
Estar bem familiarizado com as questões mais Estes regulamentos, com um parco inancia-
pertinentes de proteção e gestão do patrimô- mento da ciência polaca por parte do governo
nio arqueológico tornou os investidores e po- e inexistentes no setor privado, abriram o cami-
tenciais contratantes de obras de grande porte nho para as instituições acadêmicas aos contra-
parceiros. Ao mesmo tempo, ambos os centros tos de arqueologia preventiva.
foram depositários de alguns princípios univer- Para alguns deles, em particular do Instituto de
sais neste domínio. Arqueologia e Etnologia da Academia de Ciên-
No entanto, nos últimos anos isso acarretou cias da Polônia, que se tornou a única forma sé-
outra mudança organizacional. O Centro de ria de obtenção de apoio inanceiro substancial
Proteção do Patrimônio Arqueológico perdeu para o projeto de pesquisa. Consequentemente,
a sua independência em 2007 e icou incorpo- o começo da arqueologia preventiva no país foi
rado ao Conselho Nacional do Patrimônio da caracterizada pelo surgimento de numerosos
Polônia. Neste novo quadro estrutural, as ques- consórcios em que as instituições acadêmicas
tões do patrimônio arqueológico não deixaram desempenharam um importante papel.
de ser tratadas pelo organismo autônomo com Salienta-se que essa participação das institui-
seu próprio orçamento. Seu papel foi clara- ções acadêmicas nesse período asseguraram o
mente diminuído, em função do envolvimento caráter cientíico dessas obras e as escavações
186 • IPHAN
Foto 11 Foto 12
IX. Rescue Excavation in Caucasus: Unearthing “Kolikho” Dolmen
Viktor Trifonov
Foto 9. Kolikho dolmen, Tuapse region, Russia. The moment of the discovery. ©Photo Trifonov.
Anta do Kolikho, região de Tuapse, Russia. O momento da descoberta. ©Photo
Trifonov.
Introduction
of human remains (72 persons) covers the period (approx.) between 1800 and
1300 BC with no signs of chronological gaps. In other word, the dolmen was in
use for about 500 years! he grave goods complex is small and consists of pottery,
bronze javelin head, bronze spiral earring, bone belt buckle! Few stone lakes and
a sandstone (!) disk with signs on both sides. On one side of the disk are “astral”
symbols, on other side - marks of calibration (?) along the rim of the disk. he last
thing is absolutely unexpected ind! It looks like a sort of the Caucasian version
of the Nebra disk (?).
Recently the rescue operation of the dolmen “Kolikho” was completed success-
fully. Somehow it could be presented as a case of preventing archaeology in the
region because the locals (cherkess) treated the dolmen as cherkess heritage but
inally have been blessed me to take the dolmen out.
A big number of people and federal organizations took part in it. We were not
only aloud to lift large-tonnage slabs from a river bottom, but also to transport
them to a safe location. he dolmen is built of a material that cannot be left in the
open air for a long time. So we decided to transport it to a museum. Fortunately,
the museum that agreed to receive and keep it and even make it an exposition ar-
ticle was one of the country’s best museums: State Historical Museum in Moscow.
Bibliography Online
http://www.dolmens.spb.ru/index.htm
http://www.youtube.com/watch?v=Unc8p-1JJoQ
http://www.russia-ic...news/show/8919/
http://www.youtube.c...h?v=awDcVprkNZI
http://www.youtube.c...feature=channel
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 191
NIAM is the national centre and coordinator of all the ield archaeological inves-
tigations on the Republic of Bulgaria territory. he Institute carries out scholarly
and methodic control over them. It is the organizer by its departments of the
annual reports of the excavations all over the country carried out by its staf, as
well as by the archaeologists from the Bulgarian universities and museums. he
Institute is the main organizer of the Annual National Archaeological Conferences
held every year in diferent part of the country. he Institute publishes the annual
reports of the excavations as preliminary publications in the country under the
title “Archaeological discoveries and excavations”
he National Council for ield archaeological research is chaired by the Director of
the Institute and its members are the heads of the departments, as well as represen-
tatives of the National Institute for preservation of the cultural heritage, the uni-
versities, the museums and the Ministry of culture. he permissions are given after
the opinions and the public discussion of each report in the respective department.
he National Information system “Archaeological map of Bulgaria” is also part
of the activities of the institute. Every year the new information from all over the
country is added to the already existing data base. he data base is shared with
the Ministry of Culture, the national institute for preservation of cultural heri-
tage, as well form other state institutions for the needs of the development of the
infrastructural projects, juridical cases, problems of destruction and illegal traic
of antiquities.
he Research Archives of NIAM keep the archaeological documentation of the
annual regular and rescue archaeological investigations on the territory of Bul-
garia. hey are of unique nature and national signiicance. At the present, they
contain 812 collections that cover the investigated archaeological sites of the last
50 years. he main mission of the Research Archives is to preserve the archaeo-
logical documentation afording the opportunity of research with it to anybody
interested.
he National Archaeological Museum hosts every year the Annual Archaeological
Exhibition “Bulgarian archaeology” in order to present to the society the most
important achievements in the ield of archaeology in a national scope.
It is the Scientiic Council of the Institute that gives opinions about the scientiic
needs of the museums of the country and scientiic development of their specialists.
his system of organization of the research activities allows, the most suitable
conditions for the study of an archaeological site by all scientiic and cultural in-
stitutions in the country and discuss together all the problems of the professional
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 195
chaeology with Museum and the New Bulgarian University in Soia, etc.). hese
sanctuaries, dated from the end of the Late Bronze / beginning of the Early Iron
Age till the Roman period (2nd-3rd century), reach their apogee in the periods
of higher cultural and political development of the hracian society in its dif-
ferent areas: on Odrysian kingdom in 5th-4th century BC, on Getic territories in
4th-3rd century BC and to the North of the Danube even later. he discovery of
similar sites recently on the territories of Rumania, Moldova, Ukraine and Russia,
Crimea and Taman peninsula, enlarges the territorial scope and the international
character of the discussion.
Even more important contribution to the problem, indicating an earlier date for
the appearance of this type of sites, was the discovery, again during rescue exca-
vations, of similar pit sanctuary near Liubimec; Dana-Bunar in South Bulgaria,
dated to the Late Neolithic period (Николов с кол. 2008)
In the period before 1989, when private property was of a relatively small per-
centage, the preservation of the archaeological heritage, discovered during the
realization of diferent construction projects was even easier. Ruins discovered
during the construction of the Koprinka water dam near Kazanlak, capital of
the hracian Odrysae of 4th-3rd century BC was excavated in 1948-1956, but
remained at the bottom of the lake, later solutions were in favor of the discovered
archaeological heritage. Such examples from the 60-ies of 20th century are the Ro-
man villa near Chatalka water dam and Villa Armira near Kardzali. he discovery
of the marvelous architectural complex with mosaics in the area of the future
“Ivaylovgrad “ water dam lead to the construction of the latter in another place.
In both cases the location of the water dams was changed in order to preserve in
situ these remarkable monuments. In both cases the struggle of the archaeologists
was decisive. (Кабакчиева 2009).
he preliminary information about the density, the character and the future of
the archaeological and natural heritage along the Burgas-Alexandrupolis gaz pipe
line, for example, was important aspect in the national discussion in 2009 about
the reasonability of its construction.
198 • IPHAN
he preventive archaeology in urban context has had always much more prob-
lems, no matter if it was during the socialistic period when the public property
was predominant, or after the democratization of the country in 1989 when the
restitution gave back the property to its owners. According to the Constitution
almost all territories with archaeological monuments on them remained public
property.
Speciic feature of the Bulgarian urban life is the settlement continuity even from
Prehistoric as well as from hracian and Graeco-Roman periods till modern
times. All main administrative centers in the country, as well as other towns
(Soia, Plovdiv, Stara Zagora, Varna, Razgrad, V. Tarnovo, Montana, Hisarja,
Sozopol, Pomorie, Nessebar, etc.) lay over the remains of important Roman,
Byzantine or Medieval towns.
his situation needs the creation of the best possible conditions for ethical bal-
ance between the private and the public interests in the study, preservation, in-
tegration and functions of the ancient heritage in modern Bulgarian urban life
(Каразлатева 2010). hese unsolved problems date from the period after the
Second World War, when the necessity for reconstruction of the central zones
combined with the political ambitions to change the urban landscape. Many of
the master plans did not envisaged the archaeological potential, neither strate-
gies about the integration of the archaeological structures in the modern urban
structures existed. In some cases similar unsolved problems, even now, appeared
during construction works in Soia, Plovdiv, Stara Zagora, etc. (Каразлатева
2010). Nevertheless it was during this period that thank to the archaeological
excavations and adequate cultural policy the town of Nessebar, for example, was
enlisted on the UNESCO World Heritage List.
After the changes in 1989 the problem became even more complicated. he pri-
vate and business interests, being inancially stronger than the state, were totally
neglecting for a long period the legislative rules. he demolition of the national
system for preservation of the cultural heritage till now is not replaced by a more
eicient one. here were no serious consequences for the destruction of archaeo-
logical heritage during the private infrastructural or building projects. Only for
one or two archaeological reserves in urban milieu ( e.g. Ahtopol) the preliminary
excavations were “conditio sine qua non” for approval of the construction plans.
he lack of strategies and management plans had as a result the appearance of a
complex of problems, as well as of the necessary of professional units all over the
country. he most indicative example is Nessebar – one of the Bulgarian sites on
the UNESCO World Monuments List, which now is considered to be a monu-
ment at risk. For more than 20 years new buildings in Nessebar were constructed
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 199
(70 x 50 m), was built in the end of 3rd century during the time of Diocletian
and Constantin the Great and stopped to function in the end of the 4th century
after the edict of heodosius I forbidding the spectacles on its arena. An earlier
Roman theater from the middle of the 2nd century (Caracala reign) was found
under it. It is only recently that a decision was taken to preserve, reconstruct and
utilize for the monumental building for cultural events.
New approaches and more vigorous defense of the archaeological heritage of
Soia by the local authorities since 2009 gives some optimism.
he excavations in the National Reserve “Serdica-Sredec-Soia” started in connec-
tion with the construction of new metro stations and lines in the centre. A project,
called “he heart of the town”, proposes the transformation of the historical city cen-
tre into a unique museum, integrating inferior and exterior structures, ancient and
modern structures. he archaeological heritage of the Centre of the Bulgarian capital
has an exceptional historical value and corresponds to the criteria in the Operational
Guidelines for the Implementation of the World Heritage Convention. hat is why
the idea intending the historical centre of Soia to become part of the World heritage
gives impetus to realize an adequate policy concerning the conservation and presenta-
tion of the rich ancient archaeological heritage in the process of the construction of
the next metro lines and stations. he professional and public reactions to any project
which would damage the preservation of this heritage is very impressive.
he project plans to create a new pedestrian zone on the ancient level of the Ro-
man Serdicae. he idea is to restore the Decumanus, leading from the Eastern Gate
to Western one and to integrate Roman Serdica in the life of modern Soia. he
exhibition of the archaeological heritage between the Eastern and the Western gate
under a glass roof would integrate also some other Roman structures, like the am-
phitheater and more to the East to the tombs around the St. Sophia church.
his project would be direct continuation of the successful synthesis between
the ancient town planning and architectural heritage and the modern from the
70ies of the last century. he monumental Eastern Gate of Serdica, reconstructed
by Justinian in 6th century, with its 25 angled towers and part of its mains 7m
wide street, leading to the Forum was discovered during construction works in
the 50-60ies. hanks to the eforts of the archaeologist -Dr. M. Stancheva- it was
reconstructed and now is part of the underground between the Presidency and
the Council of ministers and the later discovery of part of most probably the
Constantin’s palace alas did not had a similar solution and its remained under the
pavement. Although the preservation of the Western gate of Soia and its integra-
tion on the level of the Central metro station existed, the inalization of the proj-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 201
ect also eliminated these intension and the monumental fragments of the walls,
gates and towers were dismantled and transported to a depot in the outskirts of
the town. Now the realization of such ideas would be a small compensation for
the lost possibilities in the irst decades of the new millennium.
Another important area in process of excavations is to the North of the Forum,
considered to be the pre-Roman hracian center of Serdica. Here, close to the
mineral springs a marble basin, part of the Roman baths, was recently discovered.
A serious problem is the fact that the excavations have been provided synchro-
nously with the construction activities, which follow only very generally the idea
of the necessity to preserve the ancient levels. Changes are to be made in the ap-
proaches and the technical construction methods of the new metro lines and in
the process of the excavations in order to preserve and exhibit the archaeology in
Soia in the best way. Although excavations are included in the rules for handling
some of the national reserves prior permission for construction activities in the
territory, this principle is not applied in intensive excavations of emergency in
place as important as the center of the capital.
Bulgarian legislation still does not propose the best solutions, and mechanisms
for investigation and preservation of its rich archaeological heritage, following the
traditions of competence of the national institutions and the international docu-
ments. he tendency in the Law on Cultural Heritage from 2009 to diminish
the autonomy of the professional institutions and specialists and to strengthen
the role of the administration in the process of decisions making on purely pro-
fessional activities, should be corrected in near future. An important principle
should be priority in the process of the preservation of the cultural heritage to be
given to the specialists in science, education and museums, supported by the civil
society, the local communities and the state.
202 • IPHAN
Bibliography
Бояджиев Я., Такорова Д.,Бояджиев К. 2010. Халколитно селище „Върхари”.-
В:Българска археология 2009. Каталог към изложба, 12-13
Генчев Хр. 2009. София. Мислена в пространството и времето. София
Гергова Д. 2008. Опазване на културното наследство и културата на опазването.
–В: Георгиев Св. 2008. Правен режим на културното наследство в
Република България. Агато,7-12
Георгиев Св. 2008. Правен режим на културното наследство в Република
България. Агато,7-12
Кабакчиева Г. 2009. Великолепието на Армира.София
Каразлатева М. 2009. Цар Фердинанд и Търновското културно наследство .-
Каразлатева М. 2010. Превантивни археологически проучвания в урбанизирана
среда. Въведение в ситуацията на българското урбанистично наследство.
- Сборник “ R. Кatincharov in Memoriam” (in print)
Любенова В.1980. Светилището при Перник. В: Тракийски паметници т. ІІ.
Тракийски светилища, София, Наука и изкуство, 15-43
Николов В. Петрова В. и др. 2008. Археологическо проучване на къснонеолитно
ямно светилище Любимец-Дана бунар 2- В: Археологически открития и
разкопки през 2007, София 57-60
Севтополис, т. І . 1984. Бит и култура, София
Momchilov D.(ed.) 2009. Rescue archaeological Research on the Road bed on
the National Highway hrakia, LOT 5, surrounding Road of the town of
Karnobat. Varna
Sîrbu V. 1995 . Un nouveau type de monuments sacrés chez les Geto-Daces. Acta
Musei Napocensis, 32, I, 313-330.
Tonkova M. 2008. On Human Sacriice in hrace. -In: hracian sanctuaries and
cult places. Brasov.
Vulcheva D.2002. he Pit Sanctuary. - In: A. Bojkova, P. Delev (ed.) Koprivlen,
I, NOUS Publishers LTD, Soia, 103-125.
Bibliography Online
www. Строителство - Градът
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 203
lhada com o Ministério da Cultura, o Institu- dado a partir de alguns dos conselhos locais,
to Nacional para a Preservação do Patrimônio muito raramente, pode garantir o cumprimen-
Cultural, bem como com outras instituições do to dos objetivos de investigação. Os projetos
Estado que necessitam desses dados para o de- europeus geralmente favorecem a conservação
senvolvimento dos projetos de infraestrutura, do patrimônio arqueológico em detrimento da
processos jurídicos, problemas de destruição e pesquisa. Devido à falta de apoio inanceiro real
tráico ilegal de antiguidades. para os estudos arqueológicos no país, não há
Os arquivos de investigação do NIAM mantêm equilíbrio entre a pesquisa cientíica e as esca-
a documentação arqueológica anual regular vações de emergência, como está recomendado
das investigações arqueológicas de salvamento também pelo Decreto Europeu da Academia
no território da Bulgária. Eles são de natureza Búlgara de Ciências, de 2009.
única e de importância nacional. No momento A arqueologia preventiva tornou-se uma opor-
contêm 812 coleções que abrangem os sítios ar- tunidade importante e crucial na mudança para
queológicos investigados dos últimos 50 anos. os arqueólogos de continuidade para pesquisa
A principal missão do Arquivo de Pesquisa é de campo em condições adversas para os pes-
preservar a documentação arqueológica para quisadores búlgaros, mas quando necessário
que ofereça a oportunidade de pesquisa para bem inanciados para participar ativamente na
qualquer pessoa interessada. preservação e socialização.
Todos os anos o Museu Nacional de Arque- De acordo com a Lei, “o emolumento para o
ologia acolhe a exposição anual “arqueologia resgate de escavações arqueológicas até as esca-
da Bulgária”, a im de apresentar à sociedade vações arqueológicas exaustivas do sítio arqueo-
as realizações mais importantes no campo em lógico provém de investidores”. A parceria entre
âmbito nacional. os arqueólogos e as instituições do Estado no
É o Conselho Cientíico do Instituto, que dá processo de construção de rodovias, bem como
pareceres sobre as necessidades cientíicas dos de várias linhas ferroviárias, etc., envolve qua-
museus do país sobre o desenvolvimento cien- se toda a equipe arqueológica do país. Todos
tíico de seus especialistas. os funcionários do Instituto estão envolvidos
Este sistema de organização de pesquisa arque- nesses projetos de infraestrutura e, geralmente,
ológica permite a condição mais adequada para cerca de 60% dos sítios são investigados pelo
o estudo de um sítio arqueológico realizado mesmo. Não houve necessidade de criação de
por todas as instituições cientíicas e culturais novas unidades de investigação.
do país, e ainda a discussão conjunta dos pro- Os dados preliminares do sistema “mapa ar-
blemas proissionais relativos à competência queológico da Bulgária” são seguidos por
das investigações, preservação e gestão do pa- uma pesquisa de campo para veriicar as
trimônio arqueológico num democrático e ele- informações e a localização de sítios arque-
vado padrão proissional. Embora a legislação ológicos desconhecidos, que deverão ser
preveja fundos inanceiros para as escavações escavados antes do início das atividades de
regulares e de emergência, estes são anualmen- construção. Os acordos entre as agências na-
te incluídos no orçamento do Estado, após as cionais, as empresas, o Instituto, as universi-
mudanças políticas e econômicas no país em dades e os museus garantem os recursos ne-
1989; de fato, não havia fundos regulares às cessários e prazos razoáveis para as escavações.
escavações cientíicas. Somente nos últimos Os principais contratantes nos últimos anos
anos alguns dos sítios arqueológicos nacionais são a Agencia Nacional de Estradas, a Bulgar-
importantes, como as três capitais medievais da gaz, a Empresa do Ministério dos Transportes
Bulgária - Pliska, Preslav e Veliko Turnovo - e e Comunicações, a Companhia Nacional Elé-
mais 2 ou 3 sítios arqueológicos, receberam re- trica, Companhia Nacional de Infraestrutura
cursos do Ministério da Cultura. O dinheiro, ferroviária, etc. Os principais projetos são ao
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 205
do centro histórico em um único museu, com minou essas intenções e os fragmentos mo-
a integração das estruturas inferior e exterior, numentais das paredes, portas e torres foram
antigas e modernas. O patrimônio arqueo- desmontados e transportados para um depó-
lógico do Centro da capital tem excepcional sito na periferia da cidade. Agora a realização
valor histórico e corresponde aos critérios destas ideias seria uma pequena compensa-
deinidos nas Diretrizes Operacionais para a ção para as possibilidades perdidas nas pri-
implementação da Convenção do Patrimônio meiras décadas do novo milênio.
Mundial. Por isso a ideia do centro histórico Outra área importante no processo de escava-
de Soia faz parte do Patrimônio Mundial. ções é em direção ao Norte do Fórum, consi-
Isso impulsionou a realização de uma política derada como o centro pré-romano de hracian
adequada em matéria de conservação e valo- Serdica. Aqui, perto das nascentes de águas
rização do patrimônio arqueológico no pro- minerais uma bacia de mármore - parte dos
cesso de construção das linhas de metrô e das banhos romanos - foi descoberta recentemente.
estações. A reação do público e dos proissio- Um problema sério é o fato de que as escava-
nais a qualquer projeto que prejudicasse a pre- ções foram executadas em sincronia com as ati-
servação deste patrimônio é impressionante. vidades de construção, que seguem, de forma
O projeto prevê a criação de uma nova zona muito geral, a ideia da necessidade de preservar
pedonal sobre o nível da cidade romana Ser- os níveis antigos. Mudanças devem ser feitas
dicae. A ideia é restaurar o Decumanus, par- nas abordagens e nos métodos de construção
tindo do Portão Leste para o Ocidente e uma técnicos das novas linhas e estações de metrô
integração da Soia romana na vida da Soia no processo das escavações, a im de se preser-
moderna. A exposição do patrimônio arque- var e expor a arqueologia em Soia, da melhor
ológico entre o Leste e o Portão Ocidental foi maneira.
executada com um telhado de vidro, integran- Embora, as escavações estejam incluídas nas
do também algumas outras estruturas roma- regras de manejo de algumas das reservas na-
nas, como o aniteatro e mais para o Oriente cionais antes da permissão para atividades de
os túmulos em torno da igreja de Santa Soia. construção no território, este princípio não é
Este projeto será uma continuação direta da aplicado em escavações intensivas de emergên-
síntese bem-sucedida entre o urbanismo e o cia em local tão importante como é o centro
patrimônio arquitetônico antigo e moderno da capital.
da década de 70 do século passado. O monu- A legislação búlgara ainda não propôs melhores
mental Portão do Leste de Serdica, recons- soluções e mecanismos de investigação e de pre-
truído por Justiniano no 6º século, com suas servação do seu rico patrimônio arqueológico,
vinte e cinco torres em ângulo e parte de sua seguindo as tradições de competência das insti-
rede de 7 m de largura de rua, em direção tuições nacionais e documentos internacionais.
ao fórum foi descoberto durante trabalhos A tendência na lei sobre o patrimônio cultural
de construção nos anos 50 e década de 60. a partir de 2009, para diminuir a autonomia
Graças aos esforços do arqueólogo Dra. M. das instituições proissionais e de especialistas, é
Stancheva foi reconstruído e agora faz parte a de reforçar o papel da administração no pro-
do metrô entre a Presidência e o Conselho de cesso de tomada de decisões sobre as atividades
Ministros. A descoberta posterior da, prova- puramente proissionais, que deve ser corrigido
velmente, maior parte do palácio de Cons- num próximo futuro. Um importante princí-
tantino, infelizmente, não teve uma solução pio deve ser a prioridade no processo de pre-
similar e permaneceu sob o pavimento. Em- servação do patrimônio cultural a ser dada aos
bora exista a preservação do portão ocidental especialistas em ciência, educação e museus,
de Soia e sua integração ao nível da estação apoiada pela sociedade civil, comunidades lo-
de metrô central, a conclusão do projeto eli- cais e Estado.
Raffaello, L’Abbondanza
e la Pigrizia.
Precocità e ritardi dell’Archeologia
Preventiva in Italia XI
Roberto Maggi
quanti le avessero inferto i Barbari (Guzzo 2001). Doveva essere della stessa idea
il Papa Leone X, che nel 1519 gli conferì l’incarico di pianiicare la protezione
delle antichità. Il programma di Rafaello precorse di alcuni secoli i criteri della
tutela; egli, infatti, progettò la redazione di quella che oggi chiameremmo una
carta archeologica di Roma antica, strumento necessario per poter controllare con
adeguate regole lo sviluppo della città rinascimentale. Purtroppo Rafaello morì
l’anno successivo, appena trentasettenne, seguito dopo un altro anno da Leone X.
Il brillante progetto rimase pertanto allo stato di bozza e non se ne parlò più ino
alla metà del XVII° secolo, quando il grande interesse per le antichità suscitato dai
ritrovamenti di Ercolano propose in primo piano l’esigenza di evitare dispersioni
presso i collezionisti e, con il formarsi dell’Archeologia quale disciplina storica, di
evitare la distruzione dei reperti e la loro asportazione dal contesto.
Nel 1755 un bando del re di Napoli Carlo VII , premesso “che le Province, onde
questo Regno di Napoli è composto, hanno in ogni tempo somministrato in
grandissima copia de’ rari monumenti d’antichità, di statue, di tavole, di meda-
glie, di vasi, e d’istrumenti o per sacriicj, o per sepolcri, o per altri usi della vita,
riscontrava che niuna cura e diligenza è stata per l’addietro usata in raccogliere e
custodire e che tutto ciò che di più pregevole è stato dissotterrato, s’è dal Regno
estratto (esportato)”, vietava l’esportazione e la vendita delle antichità (in palese
conlitto di interesse essendo egli stesso massimo collezionista), e inliggeva pene
detentive sia agli “Ignobili” (cinque anni), sia ai “Nobili” (tre anni) (Settis 2003).
A Roma Papa Pio VII, forse impressionato dalle spoliazioni napoleoniche di ope-
re d’arte, con un chirografo (documento uiciale scritto di suo pugno) del 1802
proibì la rimozione ed il commercio delle antichità. Il 7 aprile 1820 il Cardinale
Camerlengo e il Cardinale Bartolomeo Pacca, amministratore della Chiesa, svi-
luppava il chirografo di Pio VII in un Editto (legge), che istituiva Commissioni
Centrali e Provinciali (antesignane delle attuali Soprintendenze) con il compito
di redigere elenchi delle “Antichità sacre e profane ……e delle Belle Arti”. Esse
avevano “un’assoluta giurisdizione, e vigilanza e presidenza” su tutti i monumenti
e gli oggetti d’arte degli Stati del Papa, tanto quelli di proprietà pubblica che
quelli di proprietà privata (non esclusi da questi ultimi quelli appartenenti ai car-
dinali). I ritrovamenti casuali dovevano venire notiicati alla Commissione com-
petente per territorio, la quale ne avrebbe valutato l’importanza, documentato il
contesto di rinvenimento e deciso il modo di conservazione in funzione dell’im-
portanza attribuita al ritrovamento (Guzzo 2004). Il cardinale Pacca, da buon
politico, si premura di estrapolare la norma dall’urgenza napoleonica, evocando
una lunga tradizione di tutela, che risalirebbe addirittura agli antichi imperatori,
e richiamando in particolare una delibera del senato romano risalente al 1162,
che per proteggere la Colonna Traiana “onde sia salvo l’onore pubblico della città
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 211
di Roma” non va per il sottile e cammina la pena di morte e la conisca dei beni
agli eventuali danneggiatori.
Nel 1822 il re di Napoli Ferdinando IV vietava la demolizione degli “ediici di
nobile architettura e istituiva la Commissione di Antichità e Belle Arti, incaricata
di vigilare. Nel 1839 stabiliva che tutti i monumenti …… siano ben conservati
…… non si alteri e non si deturpi l’antico ……non si eseguano restaurazioni
senza permesso (della Commissione) …. Ogni contravvenzione anche se relativa
a proprietà private ….. sarà considerata come violazione dei monumenti pubblici
… e punita…” di conseguenza. Disposizioni analoghe vennero adottate nel Lom-
bardo-Veneto (1827), dove già nel 1773 il Consiglio dei Dieci della Repubblica di
Venezia aveva ordinato la redazione di un catalogo delle opere da proteggere. Un
simile esatto inventario è ordinato nel 1819 per il Ducato di Parma da Maria Luisa
di Borbone. Più tardi, norme per la tutela delle antichità vennero adottate anche
dal Granducato di Toscana (1854) e dal Ducato di Modena (1857) (Guzzo 1993).
Benché diversi per ordinamento, dimensione, dinastie, alleanze, quasi tutti gli sta-
ti pre-unitari ritenevano dunque, concordemente, che fosse di pubblica utilità e
interesse dello stato riconoscere e proteggere il patrimonio storico, archeologico
ed artistico, col conseguente dovere del legislatore di emanare norme appropriate,
anche a scapito della proprietà privata, inclusa quella dei nobili e dei cardinali.
Mancano all’appello la Repubblica di Genova, di antica tradizione mercantile,
che non a caso, con Braudel (1979, 1996), più che uno stato era un’impresa ca-
pitalistica, la cui indipendenza cessò peraltro nel 1815, quando il Congresso di
Vienna ne decretò l’annessione al Piemonte, e manca soprattutto quest’ultimo1,
che invece era uno stato politicamente forte, moderno e ben organizzato, tanto
che fu capace, nel 1861, di uniicare l’Italia. Sul modello piemontese, l’Italia unita
liberale non produsse norme sulla tutela e sull’interesse pubblico delle antichità
e delle opere d’arte, forse per ritrosia verso azioni limitative della proprietà pri-
vata. Si limitò a lasciare in vigore, dove esistevano, le Commissioni istituite dai
precedenti stati assolutisti, che ben presto dovettero mostrare i loro limiti a fronte
della spinta che la riuniicazione diede alla nascente industrializzazione, alla co-
struzione di infrastrutture pubbliche (ferrovie, porti) ed alle iniziative private, esse
infatti avevano giurisdizione sui “monumenti” ma non sulle cose mobili, i loro
1
Con questo termine viene comunemente indicato lo stato pre-unitario denominato uicialmente Regno
di Sardegna, che comprendeva le attuali regioni Sardegna, Piemonte, Valle d’Aosta, Liguria (dal 1815),
Provenza e Savoia (cedute alla Francia nel 1859 in cambio dell’aiuto militare fornito da Napoleone III
per sottrarre la Lombardia all’Austria). La Savoia è la regione d’origine della omonima dinastia che dopo
aver acquisito nel settecento il Piemonte/Regno di Sardegna ha promosso la riuniicazione dell’Italia
(1861), dove ha regnato ino al referendum che nel 1946 ha sancito il passaggio alla forma repubblicana.
212 • IPHAN
A fronte di tanta “prudenza” sul piano della tutela, l’eicienza di matrice pie-
montese ebbe modo di dispiegarsi attraverso l’adozione di strumenti moderni ed
eicaci per il supporto alla pratica archeologica. Nell’ambito del Ministero per
la Pubblica Istruzione fu istituita la Direzione Generale per i Musei e gli Scavi
di Antichità, che prescriveva l’applicazione di accurate tecniche di scavo, incluso
il metodo stratigraico, e sosteneva la centralità dello scavo per la ricostruzione
storica. Il manifesto di programma del 1874 del Ministro per la Pubblica Istru-
zione Bonghi recita testualmente: “... nessuna induzione può essere espressa con
sicurezza, se lo scavo degli oggetti non e’ eseguito con metodo, e non lascia in un
documento autorevole la notizia del procedimento con cui e’ fatto, della qualità
degli oggetti che si son trovati riuniti insieme, e del modo preciso del loro collo-
camento...”. L’anno successivo, il 1875, la Direzione generale per gli scavi di anti-
chità fondò il periodico “Notizie degli Scavi”, atto a raccogliere i rapporti annuali
di tutti gli scavi archeologici condotti nel paese. Sul piano giuridico e legislativo
l’attività fu quasi nulla, riducendosi ad una sola circolare, la n. 1060 dell’11 mar-
zo 1865, che raccomandava ai prefetti di trasmettere agli appaltatori le “Istruzioni
per gli scavi di Antichità, tese ad evitare il pericolo che l’avarizia e l’ignoranza dei
conduttori di lavori non riesca a detrimento del patrimonio scientiico” (Guzzo
1993). Insomma, più che norme si produssero consigli e auspici, peraltro ottimi e
condivisibili anche oggi. Nei fatti concreti, tuttavia, se da un lato, con un approc-
cio decisamente moderno, si riconosce al patrimonio culturale anche un valore
“scientiico”, dall’altra parte, l’azione di tutela ridotta a “istruzione” farebbe oggi
sorridere, e forse faceva sorridere anche allora.
2
Il termine adottato è volutamente generico, per consentire ampia discrezionalità applicativa alle So-
printendenze.
214 • IPHAN
e settori della polizia, favorivano una sorta di tolleranza che riduceva la capacità
repressiva delle soprintendenze.
Fra le cause interne va ricordato che nonostante le suggestioni futuriste e la pro-
paganda fascista, l’Italia degli anni ’30 era in realtà un paese rurale, poco indu-
strializzato, dove le trasformazioni del territorio erano scarse e lente. Questo spie-
ga uno dei limiti della legge del 1939, che prevede due soli modi di ritrovamento:
• quelli prodotti da ricerche pianiicate condotte dal Ministero e da terzi su con-
cessione
• quelli fortuiti.
La legge prescrive l’obbligo di informare il soprintendente in caso di ritrovamenti
fortuiti. Nel caso che il ritrovamento avvenga nel corso di costruzioni edili, il so-
printendente ha il potere di sospendere i lavori e di annullare il progetto, ma non
ha a disposizione di risorse per compensare il mancato guadagno dell’impren-
ditore. E’ previsto soltanto il compenso per il “mancato raccolto” e per l’aitto
del terreno (a tarife uiciali), nel caso in cui il soprintendente si sostituisca al
proprietario o all’imprenditore per veriicare l’interesse dei ritrovamenti. E’ ovvio
che quanto più gli interessi economici in gioco sono elevati, tanto più, in un pa-
ese culturalmente predisposto a tollerare i “furbi”, lo stimolo a non informare il
soprintendente dei ritrovamenti fortuiti può prevalere sugli obblighi civici.
Così durante il boom economico degli anni 1960-70, il rapido ammodernamen-
to di infrastrutture pubbliche ed il grande sviluppo edilizio residenziale in città
e nelle zone turistiche ha comportato gravi danni al paesaggio e al patrimonio
archeologico.
Le proteste di larga parte della società italiana hanno indotto l’amministrazione
statale a cercare sia pur tardivi rimedi, attraverso il rinforzo delle potenzialità
operative dell’amministrazione stessa. Nel 1975 venne costituito il Ministero per
i beni e le attività culturali, non senza un acceso dibattito; molti (col senno di
poi probabilmente a ragione) ritenevano che le rigidità di un ministero fossero
inadatte alla gestione di un patrimonio culturale vasto quanto complesso ed ete-
rogeneo; avrebbero preferito la forma più snella di un’agenzia, sul modello dell’
English Heritage. In assenza di un adeguamento della normativa, la costituzione
di una nuova struttura, che incamerò dal Ministero della pubblica istruzione la ex
Direzione generale per le antichità e belle arti, si risolse soprattutto in un incre-
mento degli organici. Con le assunzioni del 1980 il numero di archeologi, storici
dell’arte e architetti fu più che raddoppiato rispetto alle due/tre unità che prima
costituivano la forza media di una soprintendenza. Tuttavia ragioni politiche e
216 • IPHAN
conservati in posto e tuttora fruibili dagli utenti, incidendo soltanto per lo 0,3%
sul costo dell’intera opera (Caporusso 1991).
Un passo avanti data 1990, quando il parlamento italiano recepì la direttiva eu-
ropea 85/337/EEC del 27 giugno 1985, e promulgò la legge 241, “nuove norme
in materia di procedimento amministrativo e di diritto di accesso ai documenti
amministrativi”, la quale prevede che in caso di grandi opere pubbliche, ma anche
private che interferiscano con interessi pubblici, il rilascio dei permessi necessari,
fra cui quello riguardante la valutazione di impatto ambientale (legge 349, 8
luglio 1986, che istituisce il Ministero per l’ambiente), avvenga nell’ambito di
una “Conferenza dei servizi” che discute e approva il progetto, alla quale possono
partecipare tutti i soggetti portatori di un interesse pubblico connesso alla opera
progettata. Ecco allora che, laddove in possesso della necessaria informazione, la
Soprintendenza per i beni archeologici può partecipare alla conferenza dei servizi
dedicata ad un’opera da realizzarsi in una zona archeologicamente ignota, dove
non esistono siti dichiarati di interesse, e può chiedere che nel costo dell’opera
vengano previste indagini archeologiche preventive. Il potere contrattuale non è
elevato, perché in caso di disaccordo il parere negativo del Soprintendente ha for-
za solo se l’opera incide su beni dichiarati e, anche laddove il parere negativo può
venire espresso, esso non costituisce veto, limitandosi a produrre l’innalzamento
del livello di decisione, che secondo dimensioni e casistica competerà alla giunta
regionale od al consiglio dei ministri.
Prassi e normativa attuale
Una importante innovazione della legislazione in materia di cultura è intervenuta
nel 2004, con l’adozione del “Codice dei beni culturali e del paesaggio” (Dlgs.
22.01.2004, n.42) che include il paesaggio (compreso quello archeologico) fra
i beni costituenti il patrimonio culturale. In materia di archeologia il Codice
recepisce sostanzialmente la legge del 1939; la tutela archeologica continua ad
essere competenza di Stato, che ha giurisdizione esclusiva in tema di conduzione
di scavi, di dichiarazione dell’interesse, di proprietà dei beni rinvenuti, che per-
mangono inalienabili. Gli enti pubblici territoriali (Regioni, Province, Comuni)
ed i privati, sono chiamati, a vario titolo, a collaborare alla valorizzazione ed alla
gestione del patrimonio. Per quanto ci riguarda, nell’articolo 28 misure cautelari e
preventive, compare per la prima volta nelle norme di legge il richiamo all’arche-
ologia preventiva. Recita infatti il comma 4 di tale articolo che “In caso di opere
pubbliche ricadenti in aree di interesse archeologico, anche se l’interesse non è
stato formalmente dichiarato, il soprintendente può chiedere l’esecuzione di sag-
gi archeologici preventivi....a spese del committente”. L’archeologia preventiva è
inalmente introdotta, anche se solo per le opere pubbliche.
218 • IPHAN
- carotaggi;
- saggi di scavo.
b) la seconda fase si attua in funzione dei risultati ottenuti, è parte della proget-
tazione deinitiva dell’opera e consiste, ove necessario, nella esecuzione di scavi
archeologici in estensione.
Sulla base dei risultati che vengono ottenuti, il soprintendente dichiara che:
oppure:
oppure ancora:
3) la tutela di quanto rinvenuto non può esprimersi altro che con la conservazione
in situ. In questo caso il soprintendente dichiara l’importante interesse dell’area, e
l’opera prevista verrà realizzata altrove o verrà realizzata in modo compatibile con
l’interesse archeologico, mediante rimodulazione del progetto.
Tutte le attività sul terreno previste dall’art. 96 sono dirette dalla soprintendenza
territorialmente competente, mentre le spese sono a carico del committente.
Si tratta a prima vista di una norma eicace, che ribaltando la ilosoia di produ-
zione normativa invalsa nei decenni è questa volta fondata su motivazioni tecni-
co-scientiiche. Dispiace un pò, ed è negativamente signiicativo, che sia irmata
dal ministro per le infrastrutture e non dal ministro per i beni culturali. Pour
essendo pubblicata nel 2006, la norma non è ancora pienamente attiva, perché
molte soprintendenze attendono la pubblicazione dell’elenco dei soggetti abilitati
ad operare previsto dal comma 2 dell’art.95, per tema che imponendo quanto
previsto in assenza di uno degli strumenti attuativi, potrebbero incorrere in con-
testazioni giuridiche di abuso di potere o altro.
3
Beninteso con l’esclusione dell’autonomia riconosciuta alla Sicilia ed alle province di Trento e Bolzano.
222 • IPHAN
Bibliograia
Aa.Vv. 2002. he ancient Ships of Pisa. A European Laboratory for Research and
Preservation/Le navi antichedi Pisa. Un laboratorio europeo di ricerca e di va-
lorizzazione, Bruxelles
Arobba, D., Del Lucchese Angiolo, Melli. P., Caramiello, R. c.d.s., Evidenze di
scalvatura in rami di frassino del Neolitico medio a Genova. In: Bernabò
Brea, M., Maggi, R., Manfredini, A. (a cura di) Il pieno sviluppo del Neolitico
in Italia, Atti del Convegno di Finale 8 -10 giugno 2009
Bottini, A. 2004. Il caso della Toscana, , in Archeologia: rischio o valore aggiunto? Gior-
nata di studi, Roma 2001, Bollettino di Archeologia, 53-54, MCMXCVIII: 13-18.
Camilli A., De Laurenzi A., Setari E., Remotti E. (a cura di). 2006. ALKEDO.
Navi e commerci della Pisa romana, Catalogo della mostra, Cantiere delle
Navi Antiche di Pisa e Centro di Restauro del Legno Bagnato, Pisa.
De Marinis Giuliano & Malnati Luigi 2004, Interventi archeologici a carico di ter-
zi, , in Archeologia: rischio o valore aggiunto? Giornata di studi, Roma 2001,
Bollettino di Archeologia, 53-54, MCMXCVIII: 93-94.
Gatto, L. 1999. Storia di Roma nel Medioevo, Roma, Newton & Compton.
Guzzo, P. G. 2004. Tra tutela e ricerca, In: Pelagatti P. & Spadea G., (a cura di).
“Dalle Arene Candide a Lipari. Scritti in onore di Luigi Bernabò Brea”,
Atti del Convegno di Genova 3-5 febbraio 2001, Bollettino d’arte, volume
speciale, pp. 59-60.
Settis, S. 2003. “Il bello dei Borboni”, In: Sole 24 ore 19/1/2003.
224 • IPHAN
de antiguidades sagradas e profanas ... e de Belas- concordando que era do interesse público e
Artes. Eles tinham “un’assoluta giurisdizione, e do Estado reconhecer e proteger o patrimônio
vigilanza e presidenza” (competência, supervisão histórico, arqueológico e artístico, com o con-
e iscalização) a todos os monumentos e objetos sequente dever do legislador de promulgar nor-
de arte dos Estados do Papa, tanto os de pro- mas adequadas, mesmo à custa da propriedade
priedade de bens públicos quanto os privados privada, incluindo a dos nobres e cardeais.
(não excluídos por essas mesmas pelo menos Falta a adesão da República de Gênova, de an-
aqueles pertencentes aos Cardeais). Os achados tiga tradição mercantil que, não por acaso, era
aleatórios deviam ser notiicados à Comissão res- mais que um estado, mas uma empresa capi-
ponsável para a área, que teria avaliado a impor- talista (Braudel 1979, 1996), e cuja indepen-
tância, documentado o contexto da descoberta dência, entretanto, cessou em 1815, quando
e decidido o modo de conservação, levando em o Congresso de Viena decretou a anexação ao
conta a importância atribuída à descoberta (Gu- Piemonte. Carece o apoio, sobretudo deste úl-
zzo 2004). O Cardeal Pacca, um bom político, timo , que outrora foi um Estado politicamen-
é cuidadoso ao extrapolar a norma da urgência te forte, moderno e bem organizado, tanto que
napoleônica, evocando longa tradição de tutela, uniicou a Itália, em 1861.
que remonta aos antigos imperadores, e recor- Sobre o modelo piemontese, a Itália unida e
dando, em particular, uma deliberação do Se- liberal não produziu normas de proteção de
nado Romano de 1162, que protege a Coluna interesse público, de antiguidades e de obras
de Trajano onde “sia salvo l’onore pubblico della de arte; talvez por relutância às ações limitativas
città di Roma” (onde estava salva a honra pública da propriedade privada. Ele se limitou a deixar
da cidade de Roma) não ir para o sutil e impor vigorar onde havia as Comissões instituídas do
a pena de morte e conisco de bens por danos. precedente Estado absolutista, que logo teve
Em 1822 o rei Fernando IV, de Nápoles, proíbe de mostrar os limites à frente do impulso que
a demolição de edifícios da arquitetura nobre e a uniicação deu a nascente industrialização,
cria a Comissão de Antiguidades e Belas-Artes, construção de infraestruturas públicas (ferro-
responsável pela vigilância. Em 1839, estabe- vias, portos) e iniciativa privada, que na verda-
leceu “que todos os monumentos devem estar de tinham jurisdição sobre os “monumentos”,
bem conservados ... e não alterar e não desigu- mas não sobre o bem móvel, seus componen-
rar o antigo ... não realizar reformas sem auto- tes não eram os funcionários públicos, mas as
rização (da Comissão). ... Qualquer infração personalidades respeitadas e nomeadas a título
– mesmo que em propriedade privada – será honoriico e gratuito. Além disso, a eicácia das
considerada como violação dos monumen- Comissões diminuía quanto mais as normas de
tos públicos e punidos em conformidade...” referência se tornavam realmente inaplicáveis
Disposições semelhantes foram adotadas em no novo contexto jurídico e administrativo.
Lombardia e Veneto (1827), onde já em 1773 A frente de tanta “prudência” de proteção, a
o Conselho dos Dez da República Veneziana eiciência da matriz piemontesa foi capaz de
ordenou a elaboração de um catálogo de obras desdobrar, por meio da adoção de instrumen-
a ser protegidas . Um inventário exato é orde- tos modernos e eicazes de apoio à prática ar-
nado em 1819 para o Ducado de Parma da queológica.
Maria Luisa de Borbone. Posteriormente, as No âmbito do Ministério da Educação Pública
normas para a tutela de antiguidades também foi criada a Direção-Geral dos Museus e escava-
foram adotadas pelo Grão-Ducado da Toscana ções arqueológicas de antiguidades, que exigia
(1854) e pelo Ducado de Modena (1857) (Gu- a aplicação de acuradas técnicas de escavação,
zzo 1993). Apesar de diferentes por tipo, tama- incluindo o método estratigráico, e apoiava a
nho, dinastias, alianças, quase todos os Estados centralidade da escavação para a reconstrução
da Itália pré-uniicada pensavam desta forma, histórica.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 227
das propriedades privadas quando for realizar pontânea atitude de considerar público o bem
pesquisa. Os conceitos de regras da pré-uni- cultural, descendente da própria estrutura da
icação são então desenvolvidos ao máximo: herança cultural italiana e da história de sua
estabelecem inequivocamente que na Itália a formação. Isto, como se sabe, é muito grande e
arqueologia é tarefa do Estado. No âmbito do largamente difundido. As cidades italianas, des-
Ministério da Educação Pública foi criada uma de a Idade Média, izeram de seus monumen-
Direção-Geral de Antiguidades e Belas-Artes, tos motivo de orgulho e de identidade cívica, o
dotada de ampla autonomia, com a função de Renascimento e o Ressurgimento revalidaram
direção e coordenação de todas as atividades seus restos e ruínas antigas.
centrais e periféricas das Superintendências. Os museus, nomeadamente o arqueológico,
Independentemente de sua matriz fascista a Lei frequentemente não brilham pela modernida-
n.º 1.089 foi considerada ótima por muitos, de das técnicas de comunicação, sendo pouco
não sendo abolida após a guerra e certamente acessíveis; mas são capilarmente ligados ao
ainda é a espinha dorsal do Código de Bem Cul- território, congregam sua memória material
tural e Paisagem , promulgado em 22 de janeiro global, expõe produção de qualidade, mas tam-
de 2004 (Decreto Lei n.º 42). bém a ordinária, ligadas à vida cotidiana das
Por outro lado, a Constituição da República, pessoas normais.
criada em 1946, com importante contribuição Prescindindo-se dos erros de ediicação imo-
dos intelectuais das áreas socialistas e comunis- biliária nas décadas de 60 e 70 do século XX,
tas dispõe em seu artigo 9º: “A República tutela o cidadão italiano vive em proximidade e em
a paisagem e o patrimônio artístico e histórico continuidade com monumentos, palácios, cen-
da Nação”. Caso talvez único no mundo, este tros históricos, objetos, obras de arte e com o
artigo faz parte dos “princípios fundamentais” contexto histórico e territorial de suas origens
que sustentam o conceito de Estado. e de seu destino.
Portanto, o critério da utilidade pública do De forma inconsciente identiica o contexto de-
patrimônio histórico, arqueológico e artístico les com o seu próprio e por isso é naturalmente
entrou plenamente no ordenamento do novo levado a considerar o conjunto essencialmente
Estado democrático, e superou sem danos os imprescindível a comunidade a que pertence; o
traumas de uma guerra perdida e devastadora, eventual valor venal dos bens é completamente
de uma guerra civil a da queda da monarquia. secundário.
Sucessivamente, embora com maior diiculda- Você pode acrescentar essa sabedoria a uma
de, também superou o boom econômico e a es- insuiciente capacidade de gestão deste grande
peculação imobiliária dos anos 1960. patrimônio cultural aceito com ironia fatalista,
É evidente que o sentimento reconhecendo o quase como um corolário inevitável (e às vezes
patrimônio histórico, arqueológico e artístico mais grave) da mais generalizada ineiciência do
como prioridade de interesse público é enraiza- setor público.
do e amplamente compartilhado na sociedade Assim, em contradição parcial com o expos-
italiana. to pela primeira vez, não nos surpreende se o
Não se pode pensar que isso é consequência da patrimônio cultural não for gerido e protegido
propaganda nacionalista do vinteno fascista, como almejado e como as normas preceituam.
ora distante e que por outro lado na sua retórica Para uma análise objetiva, os motivos para a ei-
se apoiava no mito de Roma imperial, mas que cácia da lei vão além da tradicional ineiciência
teve pouca ressonância com a Itália dos vinte da administração pública, os problemas concei-
dialetos, dos mil municípios e de C idade-Esta- tuais dela são tanto internos quanto externos.
do do Renascimento. Das causas externas, a mais frequente é o fe-
Trata-se de algo mais profundo. De acordo com nômeno dos “assaltantes” de túmulos, a esca-
Salvatore Settis (2002), existe uma difusa e es- vação conduzida de maneira fraudulenta pode
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 229
alimentar o mercado negro com objetos arque- edifícios residenciais em cidades e em áreas tu-
ológicos, sobretudo para o estrangeiro, que nos rísticas, resultou em sérios danos à paisagem e
anos 50 e 60 constituíram importante fonte de ao patrimônio arqueológico.
renda em proximidade de algumas aldeias em Os protestos de grande parte da sociedade ita-
zonas deprimidas do sul e centro. liana induziram a administração estatal a buscar
Algumas considerações: a “herança cul- soluções, embora tardiamente, pelo reforço da
tural é tão grande que é impensável con- capacidade operacional da própria administra-
seguir protegê-la, gerir-la e valorizá-la de ção. Em 1975, foi criado o Ministério de Bens
maneira adequada “não é totalmente es- e Atividades Culturais , não sem um debate
tranho que algumas magistraturas perifé- considerável; muitos (em retrospecto, prova-
ricas e setores da polícia favorecessem uma velmente acertaram) acreditavam que a rigidez
espécie de tolerância reduzindo a capa- de um ministério fosse inadequada à gestão de
cidade repressiva das Superintendências. um patrimônio cultural vasto, complexo e he-
Entre as causas internas deve-se recordar que terogêneo; teriam dado preferência a uma for-
– não obstante as sugestões futuristas e pro- ma mais simples de agência, sob o modelo de
paganda fascista – a Itália dos anos 30 era “English Heritage”.
realmente um país rural, pouco industriali- A falta de adequação das normas para o estabe-
zado, sendo escassas e lentas as mudanças do lecimento de uma nova estrutura levou a fusão
território. Isso explica um dos limites da lei do Ministério da Educação Pública com a ex
de 1939, que prevê somente duas formas de Direção-Geral de Antiguidades e Belas-Artes,
descobertas: tendo como resultado principalmente o au-
– Aquela produzidas a partir da pesquisa reali- mento de efetivo.
zada e conduzida pelo Ministério e de terceiros A contratação ocorrida no ano de 1980 fez com
com permissão de pesquisa. que o número de arqueólogos, historiadores de
– Aquelas fortuitas. arte e arquitetos mais que duplicasse em com-
A lei prevê a obrigação de informar o Supe- paração com 2-3 unidades que eram a força
rintendente, no caso de descobertas fortuitas. média da Superintendência.
Havendo o achado no decurso da construção Todavia, por razões políticas e sindicais aumen-
do prédio, o Superintendente tem o poder tou muito o efetivo do pessoal administrativo
de suspender as obras e de cancelar o projeto, da área central do Ministério e, sobretudo, os
mas não a disponibilidade de recursos econô- guardas de segurança, destinados a monitorar
micos para compensar a perda econômica do os museus e sítios arqueológicos. Uma vez que
empresário. as exigências dos últimos era a permissão para
É previsto somente a indenização pela perda da o porte de armas de fogo e diploma de ensi-
“safra” pelo aluguel da terra (tarifa oicial esta- no fundamental, se cria o paradoxo de que o
belecida). No caso em que o S uperintendente Ministério do Patrimônio Cultural tornou-se,
substitui o proprietário ou o empresário a im entre todos, aquele com o menor nível médio
de quantiicar o valor da descoberta. de educação do seu pessoal.
É óbvio que quanto maior for o interesse eco- Se havia uma melhoria na capacidade operacio-
nômico em jogo maior será em um país cultu- nal no terreno, isso dependia sobretudo do en-
ralmente predisposto a tolerar os “espertos”, o tusiasmo dos recém-contratados arqueólogos,
estímulo para não informar o Superintendente arquitetos e historiadores de arte, que deviam se
das descobertas fortuitas, o que prevalecerá so- confrontar com uma estrutura ministerial mais
bre as obrigações cívicas. rígida (e cara) e, especialmente, com a falta de
Assim, durante o boom econômico dos anos atualização das normativas.
1960-70, a rápida modernização da infraestru- No campo da arqueologia, por exemplo, se
tura pública e do desenvolvimento de grandes conseguia maior controle das descobertas for-
230 • IPHAN
tuitas, mas era claro para muitos que se per- Outro avanço data de 1990, quando o Parla-
deu a oportunidade de introduzir o princípio mento aprovou a diretiva europeia 85/337/
da arqueologia preventiva, presente há algum CEE, de 27 de junho de 1985 e promulgou a
tempo em muitos países industrializados, onde Lei nº 241 que dispunham sobre “novas nor-
as transformações do território, pela velocida- mas em matéria de procedimento administrati-
de com que ocorrem, não permitia embargar vo e direito de acesso aos documentos adminis-
a obra nem operar mudanças radicais no pro- trativos”, estas preveem que no caso de grandes
jeto durante a construção, sob a pena de um obras públicas, mesmo de interesse privado,
aumento do custo que ia contra toda a comu- que interiram no interesse público, a conces-
nidade. A contradição entre a criação do novo são da emissão das licenças necessárias, incluin-
Ministério e o não estabelecimento de novas do o que diz respeito à avaliação de impacto
normas para aperfeiçoar a gestão, além de ra- ambiental (Lei n.º 349 de 8 de julho de 1986,
zões de oportunismo político, deveu-se ao fato que cria o Ministério do Meio Ambiente),
de que, ao contrário do que ocorreu em 1800 está no âmbito de uma “Conferência de Ser-
(onde melhor exemplo é o Manifesto Bonghi viços”, que discute e aprova o projeto, na qual
1874) , a legislação do patrimônio cultural não podem participar todos os indivíduos com um
era mais formulada com base em necessidades interesse público nas transações. Certo é que,
cientíicas, mas sim de estabelecer em normas a onde se possuem as informações necessárias,
práxis consolidada. a Superintendência de Patrimônio Cultural
No campo da arqueologia o desenvolvimento poderá participar da Conferência de Serviços
inovativo se traduz em esforços isolados e, mui- dedicados às obras a ser realizadas numa área
tas vezes extemporâneos de introduzir formas arqueologicamente desconhecida, em que não
de arqueologia preventiva, explicando ao em- há locais declarados de interesse, e pode solici-
presário que um eventual embargo na sua obra tar que o custo do trabalho seja acompanhado
lhe traria custos adicionais e impedimentos res- de arqueologia preventiva. O poder contratual
saltando a vantagem da execução da análise de não é elevado, pois em caso de discordância o
risco antes do início dos trabalhos. parecer negativo do Superintendente não cons-
titui veto, limitando-se a produzir aumento do
A origem da arqueologia preventiva na Itália nível de decisão, que segundo o tamanho e o
A primeira tímida aparição do conceito de pre- caso vai competir à Câmara dos Vereadores ou
venção é encontrada na Circular 3763/6 pro- ao Conselho de Ministros.
movida em 24 de junho de 1982 pelo primeiro-
ministro Bettino Craxi. Esta chamou a atenção Práxis normativa atual
de executivos de grandes obras públicas sobre Uma importante inovação da lei de cultura foi
a necessidade de obter a aprovação do Minis- tomada em 2004 com a adoção do Código do
tério de Bens e Atividades Culturais, antes de Patrimônio Cultural e Paisagístico (Decreto-Lei
deinir os projetos. Cedo se debateu sobre sua nº 42 de 22.1.2004,) que introduz a paisagem
aplicação ou não em obras a ser realizadas em (incluído o arqueológico) entre os bens que
sítios já conhecidos e formalmente declarados constituem o patrimônio cultural.
de interesse cultural (“vinculados”). No entan- No campo da arqueologia o Código respeita
to, alguns Superintendentes impuseram várias substancialmente a l ei de 1939, mas a prote-
intervenções, em primeiro lugar sobre a linha 3 ção arqueológica continua sendo responsabili-
do metrô de Milão, que produziu importantes dade do Estado, com a competência exclusiva
descobertas, alguns dos quais foram mantidos no que diz respeito à realização de escavações,
no lugar e continuam acessíveis a seus usuários, de declaração de interesses, da propriedade dos
representando apenas 0,3% de aumento sobre bens encontrados, que se manteve inalienável.
o custo da obra completa. (Caporusso 1991). Os governos locais (regiões, províncias, muni-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 231
Esta, é a primeira vista uma norma eicaz que manos, encontrados na praça do município de
altera a ilosoia de regramento porque é fun- Nápoles, durante escavações para uma estação
damentada em razões de ordem cientíica e téc- de metrô. E ainda, permanecendo no domínio
nica. Desagrada um pouco, e é negativamente das estações metropolitanas estão as descober-
signiicativo, porque é irmado pelo Ministro tas multiestratigráicas na estação de Brignole
das Infraestruturas e não pelo Ministro do Pa- em Gênova, (Del Lucchese & Melli 2010),
trimônio Cultural. Apesar de ter sido editada onde a soisticação metodológica da pesquisa
em 2006, a norma ainda não está plenamente portou ao reconhecimento, pela primeira vez
ativa, porque muitos Superintendentes aguar- na Itália, dos restos de plantas de bambu da
dam a publicação da lista das entidades habili- idade neolítica atestando a prática de scalvatu-
tadas a atuar como prevê a clausula 2 do artigo ra (Arobba et al. cds), que consiste em uma
95, com receio de isto possa representar abuso operação especial visando à recolha das folhas
legal de poder. caídas destinada à alimentação do gado. Uma
O Ministério do Bem e das Atividades Cultu- prática documentada até 30 anos atrás nas
rais é responsável pela organização da lista e, montanhas dos Apeninos Ligúre- Emiliano.
por sua vez, não foi particularmente veloz. Breves comentários de outros importantes
“A regulamentação relativa à disciplina dos cri- sítios salvos, valorizados e abertos ao público
térios para a proteção e funcionamento da lista estão enumerados no Bollettino di Archeologia,
prevista no artigo 95, parágrafo 2, do Decreto 2004, e Guermandi, 2001.
Legislativo 12 de abril de 2006, n.º 163” , foi A interveniência mais abrangente teve lu-
formalizada pela portaria n º 60 de 20 de março gar na construção de linhas ferroviárias para
de 2009, publicada no Diário Oicial n º 136 trens de alta velocidade (TAV). Neste caso, a
de 15 de junho de 2009, tendo entrado em vi- falta de um padrão de referência orgânica foi
gor em 30 de junho de 2009. No momento de parcialmente compensada pelo fato de que o
escrever este artigo (fevereiro de 2010), a lista executor da obra pública é um só, que assim
ainda não existe. agiu de forma bastante equilibrada nas suas
Quando a lei se tornar plenamente ativa, ela relações com a Direção-Geral de Antiguidades
irá funcionar apenas em obras públicas. As do Ministério e com os vários Superintenden-
de propriedade particular permanecem tra- tes envolvidos(um ou mais para cada região).
tadas, por força da sua dimensão e comple- A arqueologia preventiva do TAV, com resul-
xidade, nos termos da Lei 241/1990 (Con- tados surpreendentes, produziu uma espécie
ferência de Serviços ) ou na antiga Lei de de monitoramento linear do potencial arque-
“descoberta fortuita” (1939). Espera-se que ológico sobre a linha Turim – Milão – Bolo-
o Ministério do Bem e das Atividades Cul- nha – Florença – Roma – Nápoles. Em Roma
turais queira e possa preencher esta lacuna. – Nápoles foram identiicados, escavados e
No contexto do que é descrito, em especial a documentados 125 sítios arqueológico, mui-
falta de normativa orgânica, as atividades de ar- tos dos quais estão tendo seus estudos publi-
queologia preventiva são conduzida na Itália de cados e divulgados, que em alguns casos chega
forma irregular. a musealização , e que somente em poucos
Na ausência de descobertas excepcionais, tais casos têm forçado as alterações da rota inicial-
como os destroços de dezesseis navios romanos mente prevista. Tudo a um aporte de 2% do
encontrados em 1998, em San Rossore, próxi- custo da obra completa. Sem dúvida, um cus-
mo de Pisa (Aa Vv 2002; Bottini 2004; Ca- to alto, equilibrado por uma “produção” cul-
milli et al. 2006), as aldeias, cemitérios e pai- tural quantitativa e qualitativamente elevada,
sagem do sepulto das cinco erupções sucessivas e da oportunidade de trabalho e experiência
do Vesúvio a partir do Neolítico à Idade do oferecidas aos muitos jovens licenciados em
Bronze (De Caro 2004), outros naufrágios ro- Conservação de Bens Culturais. Na região de
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 233
Nel 1995 il CeSMAP ha organizzato, sotto l’alto patronato della Presidenza della
Repubblica Italiana e con gli auspici della Federazione, il primo Congresso Mon-
diale di Arte Rupestre IFRAO in Europa, a Torino, al Castello Reale del Valenti-
no. Il CeSMAP, a riconoscimento del suo grande impegno internazionale, è stato
insignito dall’ UE del Premio “Europa della Cultura” e designato quale Uicio di
Rappresentanza IFRAO-UNESCO, presso la Direzione Generale di Parigi.
Il Museo Archeologico e di Arte Preistorica, aperto regolarmente alla pubblica
fruizione -primo in Pinerolo- in dagli anni 1960, possiede la più vasta collezione
internazionale di Arte Rupestre, oggi visibile solo in piccola parte in attesa della
sua deinitiva sistemazione nel barocco Palazzo Vittone, secondo il progetto di
restauro, riuso e riallestimento – già alla fase esecutiva- che la Civica Amministra-
zione intende realizzare compiutamente entro il 2011.
Le principali campagne archeologiche attuate negli ultimi trenta anni, d’intesa
con la Soprintendenza Archeologica del Piemonte, hanno consentito di inqua-
drare le linee della dinamica del popolamento del Pinerolese in dalla Preistoria,
sebbene un immenso lavoro di scavo resti ancora da compiere in questo territorio
che è caratterizzato da forte potenzialità e alta densità archeologica, cosa che era
già stata prevista dagli studiosi dell’ Ottocento e Novecento, anche in considera-
zione della notevole presenza di arte rupestre dell’area in questione.
L’evoluzione dei metodi di lavoro archeologico del CeSMAP, sul campo ed in
laboratorio.
Tornando agli inizi, nel 1964, ‘65 e ‘66, per assecondare la vocazione internazionale
di studio, si erano attuate tre missioni archeologiche in Val Meraviglie e Val Fonta-
nalba, al Monte Bego, nelle Alpi Marittime Francesi, in accordo con la Soprinten-
denza di Aix-en-Provence ed in connessione con le ricerche condotte in precedenza
da Carlo Conti e da Giuseppe Isetti dell’Istituto Internazionale di Studi Liguri.
Nel 1967 la Missione del CeSMAP aveva lavorato in Svezia, in collaborazione
con Åke Fredsjö, Soprintendente alle Antichità del Bohuslän. In queste Missioni
si erano attuati rilievi e documentazioni, anche con calchi tridimensionali, spe-
rimentando nuove procedure e metodi di lavoro sul campo che avevano avviato
quella che diventerà la collezione internazionale di Arte Rupestre più rappresen-
tativa a livello globale.
In quegli anni iniziali di grande slancio per le ricerche, il Presidente del CeSMAP
Cesare Giulio Borgna aveva saputo suscitare entusiasmo e spirito di scoperta nell’
équipe degli studiosi pinerolesi. Doti umane che gli erano peculiari e che deriva-
vano anche dalla sua esperienza di Comandante Partigiano durante la Resistenza
ai nazi-fascisti nella seconda guerra mondiale in Val Camonica, sito delle Alpi che
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 237
sarebbe poi diventato la prima area di arte rupestre ad essere inserita nella World
Heritage List dell’UNESCO nel 1979.
Una Missione archeologica internazionale esemplare per i risultati maturati
a lunga scadenza.
In quegli anni ‘60 la Galizia -regione montuosa del Nord-Ovest della Spagna-
cominciava ad assumere notorietà internazionale per l’archeologia e per l’Arte
Rupestre, sia per la vastità dell’area interessata, sia per la lunghezza dell’arco tem-
porale coperto dai petroglii, sia per la ricchezza iconograica, tematica ed anche
estetica dei segni incisi nel granito galiego.
Pertanto a Pinerolo decidemmo di avviare una Missione di ricerca sull’Arte Rupe-
stre in quell’estremo lembo di Europa che si afaccia sull’Oceano Atlantico.
Un libro che avevamo consultato, e che aveva dato il massimo impulso all’avvio
del progetto, era stato il Corpus Petroglyphorum Gallaeciae, pubblicato a Santiago de
Compostela nel 1935 da Ramón Sobrino Buhigas, opera che ancora oggi, a distanza
di anni, conserva intatto il suo valore di documentazione rigorosa e metodologi-
camente corretta; un caso veramente emblematico e raro di maestria archeologica
nel campo dell’arte Rupestre. Un altro testo che ci aveva stimolato era stato Arte
Rupestre nelle Regioni occidentali della Penisola Iberica , libro che era stato aidato per
la correzione delle bozze ad uno dei sottoscritti (d.s.) dall’ autore Emmanuel Anati.
Furono presi contatti con gli studiosi dell’Università di Santiago de Compostela
e del Museo di Pontevedra: Borgna realizzò il primo sopralluogo in Galizia nel
1969, diresse la Missione del 1970 e ne compì una terza nel 1971.
La Missione 1970 del CeSMAP di Pinerolo fu sostenuta dall’aiuto della Presidenza
delle Industrie RIV-SKF che misero anche a disposizione un mini-bus FIAT 850
per il viaggio e per il trasporto delle attrezzature archeologiche da campo. Essa fu
la più importante delle tre Missioni realizzate per la grande mole di lavoro svolto,
risultato conseguito grazie alla alta competenza dell’équipe che era composta da set-
te italiani (Cesare Giulio Borgna, Giovanni Bessone, Rafaele Fontanini, Edoardo
Gilardi, Tere Grindatto, Piero Ricchiardi, Dario Seglie) con la collaborazione di tre
spagnoli (Fermin Bouza-Brey Trillo, Direttore del Seminario de Estudos Galegos,
José Filgueira Valverde, Direttore del Museo Provinciale di Pontevedra, Manuel
Carlos Garcia Martinez dell’Università di Santiago de Compostela).
Quale punto focale principale fu scelto il villaggio di Campo Lameiro, in provin-
cia di Pontevedra, situato al centro di un territorio ricchissimo di arte rupestre,
con base logistica installata nella locanda gestita dalla famiglia di Rafael Lago
Novas, sindaco del piccolo comune montano.
238 • IPHAN
realizzate le repliche positive in gesso dalle matrici negative dei petroglii della
Galizia, che risultano ora essere l’unica collezione tridimensionale esistente, vero
vanto del Museo d’Arte Preistorica di Pinerolo.
Il Piemonte è delimitato ad Ovest dalla catena alpina, la quale è sorta per spinte
orogenetiche sollevandosi nel periodo Terziario dal bacino del Mediterraneo e
costituita da depositi calcarei e la fascia mediana é formata perlopiù da rocce
cristalline, eruttive e metamoriche Le rocce istoriate sono sparse variamente sul
territorio, ma perlopiù sono collocate lungo antichi sentieri ed in posizioni domi-
nanti rispetto alle aree circostanti; spesso sono più frequenti in taluni luoghi che
possono aver assunto la caratteristica di veri e propri santuari delle popolazioni
preistoriche ivi stanziate.
Gli studiosi danno –per antica consuetudine- il nome di Arte Rupestre a tutte le
espressioni graiche che compaiono su una supericie rocciosa di supporto, qual-
siasi sia la tecnica impiegata per produrle: se per addizione di materiale (pigmenti
e leganti) si parla di pittogrammi o pitture rupestri, se per sottrazione di parti del
supporto si parla di petroglii o incisioni rupestri.
Con l’avvento del clima post-glaciale avviene la prima grande trasformazione
socio-economica delle comunità umane: l’invenzione dell’agricoltura e dell’al-
levamento generano la cosiddetta “rivoluzione neolitica”. Questi cambiamenti
hanno un riscontro anche nelle nuove espressioni dell’Arte Rupestre che si fa più
schematica, geometrica, astratta e simbolica; l’ uomo nuovo seleziona siti e ripari
sotto roccia dominanti e colloca i complessi segnici in località strategiche, come
una sorta di possesso rituale, simbolico e religioso del territorio.
240 • IPHAN
trolli, corruzione tra il personale di custodia dei siti, il tutto esaltato dal basso li-
bello di reddito delle popolazioni locali che trasformano i beni culturali in merce
ed in risorsa economica.
Ovviamente il processo virtuoso da applicare ai siti più minacciati è basato su
piani di sviluppo locale eco-compatibili che, puntando sui saperi e sulle tradizio-
ni, sappiano intraprendere nuove vie di utilizzo corretto dei beni culturali e nello
speciico dell’Arte Rupestre, attraverso la valorizzazione dei siti e la creazione di
infrastrutture per un turismo culturale intelligentemente proposto, canalizzando
lussi via via più vistosi e redditizzi. Anche le infrastrutture ed i piani urbanistici
dovranno essere adeguati ad esaltare le tipicità locali, conservando il patrimonio
culturale, ambiental e paesaggistico.
La peggior iattura per un Paese è quella di non aver coscienza del valore della tradizio-
ne, sia naturale che culturale, che caratterizza e traforma un territorio in un unicum.
Secondo questa lettura, la conservazione è una scienza con un approccio estremamen-
te aperto, progressista e dinamico, ingradiente necessario per le politiche di sviluppo e
di miglior qualità della vita per la popolazione di un determinato territorio.
Anche nelle Alpi le politiche di conservazione dei beni culturali si intrecciano con
le politiche di gestione del territorio. L’asprezza dell’ambiente alpino, la ripidez-
za dei pendii e, più recentemente, il grande spopolamento antropico delle alte
valli, stanno generando fenomeni di alterazione ambientale spesso macroscopici.
Il regime delle acque non è più oggi eicacemente controllato, col risultato che
aumentano i territori instabili con il rischio di smottamenti e frane.
I grandi lavori infrastrutturali, ponti, gallerie, linee ferroviarie, elettrodotti, cen-
trali idroelettriche e bacini artiiciali con dighe, spesso sono cause di scoperta
dell’Arte Rupestre che può trovarsi a rischio se non si provvede preventivamente.
Per far decollare e favorire le azioni di conservazione, occorre un immediato lavo-
ro di ricognizione territoriale che segnali, cartograi e documenti i siti esistenti di
arte rupestre. Questo archivio del territorio diventa la base indispensabile per dare
certezza ai parametri che verranno utilizzati dai progettisti dei piani integrati.
La conoscenza si conigura ancora una volta come la “chiave di volta” nella strut-
turazione dell’ediicio della prassi conservativa. Ovviamente non si pretende che
l’architetto urbanista sia anche un esperto di arte preistorica, ma si chiede che il
team di progetto abbia tutte le indispensabili igure professionali per la corretta
gestione del territorio. Quindi il progetto da piano tecnico si va trasformando in
meta-progetto e raggiunge un livello via via sempre più politico, ino al momento
in cui viene adottato uicialmente, promulgato e immesso nella prassi esecutiva.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 243
to, talvez com mariscos, como a da pousada nalidade e economia do custo operacional.
“Tacita de Oro”, onde com a universidade, Obviamente, a documentação fotográica e
ele cantou músicas populares, contou piadas, a catalogação implementavam o trabalho de
as mesmas narradas em toda a Europa desde campo.
a Idade Média, que falam de amor perdido e Ao retornar para a Itália, nos laboratórios
de livros em empréstimo dos alunos. do CeSMAP , em Pinerolo, réplicas positi-
Em Pontevedra, no Museu de D. José, tam- vas foram feitas a partir de matrizes negati-
bém realizamos palestras públicas, com uma vas de gesso dos petróglifos da Galiza, que
pequena exposição dos resultados que a equi- estão agora na única coleção tridimensional
pe recolhera para o CeSMAP em Campo existente, orgulho real do Museu de Arte Pré-
Lameiro. histórica de Pinerolo, e em particular, de Jú-
Os trabalhos arqueológicos no terreno eram lio César Borgna, que após a missão de 1971
de vários tipos e implementados de acordo foi remontada em um único molde tridimen-
com os métodos mais avançados da época: sional compreendendo toda a superfície da
a veriicação do estado de conservação geo- rocha e da famosa gravura denominada Laxe
mineralógico e lítico da superfície da rocha, dos Cebros.
que por vezes, cheia de detritos e plantas No laboratório do CeSMAP os moldes origi-
minerais, poderiam alterar a percepção dos nais feitos em polietileno foram copiados em
petróglifos. papel vegetal com canetas de tinta e também
A segunda fase focou no estudo das áreas reduzidos para a escala 1:8 com o uso da has-
com a inalidade de pesquisar o tratamento te do pantógrafo para o desenho.
bicolor (amarelo e preto para o contraste óp- A partir destes documentos, rigorosos e pre-
tico máximo, fundamentado na tentativa do cisos, puderam-se obter cópias e prosseguir
CeSMAP alterando a forma preto e branco com o procedimento de cópias heliográicas.
como foi utilizado pelo CCSP em Valcamo- No inal do longo e exigente trabalho, os
nica) e na detecção posterior dos cortes em desenhos foram preparados para o estudo e
grandes folhas de polietileno transparente, exposição no museu.
com indeléveis marcadores coloridos. Al- Desde o ano de 1972, em Pinerolo, se deu a
ternativamente, utilizou-se o sistema sueco abertura do Museu de Arte Pré-histórica. As
de “colorir” diretamente as partes dos pe- atividades foram, durante muitos anos, rea-
tróglifos gravados, procedimento menos lizadas pelo departamento cultural do novo
preciso e mais arbitrário, mas de execução Museu Municipal (arqueologia e antropolo-
muito mais rápida. Os moldes foram feitos gia) da cidade de Pinerolo.
com um método tridimensional desenvol-
vido por Borgna e testado e aperfeiçoado O ambiente geográico dos Alpes do Pie-
pelo CeSMAP. O método conhecido como monte e a Arte Rupestre pré-histórica
“folha de plástico” permitiu a obtenção iel A região de Piemonte é delimitada a oeste
de matrizes negativas nas superfícies rocho- pela cadeia alpina a qual é constituída de uma
sas gravadas, colocadas em recipientes me- formação orogenética que suspendeu o man-
tálicos para transporte para o laboratório. to terrestre do período Terciário do Mediter-
Desde 1972, após uma extensa análise, o râneo. Esta região é formada por depósitos
CeSMAP substituiu o método de três moldes de cálcio, enquanto a faixa média é formada
dimensionais por outro método ainda mais por rochas cristalinas, ígneas e metamóricas.
avançado: o «SRB System”, que utiliza resinas As diversas rochas gravadas estão espalhadas
termoplásticas e pode proporcionar resulta- na área, e na sua maioria localizadas ao lon-
dos extraordinários para a qualidade e ampli- go de caminhos antigos, dominando as áreas
tude da matriz obtida, bem como pela racio- circundantes. Elas muitas vezes são mais fre-
246 • IPHAN
quente em lugares que podem ter a caracte- rum Vibii Caburrum, que reorganizou a
rística de reais santuários das populações pré- população do antigo oppidum Celto-Ligúre.
históricas ali alocadas. O estado de conservação é bom, ainda que
Estudiosos dão o nome de arte rupestre a uma cobertura de percolação mineral opalina
todas as expressões gráicas exibidas em um tenda a obliterar as iguras. Há também o au-
suporte de superfície rochosa, independente- mento do uso de aerossóis ácidos na atmosfe-
mente da técnica utilizada para produzi-la: se ra nas últimas décadas que podem ocasionar
há a adição de material (pigmentos e agluti- danos ao local.
nantes) refere-se a pictogramas ou pinturas Em 2009, um ato de vandalismo foi pratica-
rupestres, se há a remoção de partes do su- do, tendo sido manchada a única pintura do
porte refere-se a petróglifos ou gravuras ru- Neolítico nos Alpes, com tinta branca. Uma
pestres. intervenção de especialistas em restauração
Com o advento do clima pós-glacial ocorre a do Serviço de Arqueologia do Piemonte con-
primeira grande transformação socioeconô- seguiu, com um trabalho longo e paciente,
mica das comunidades humanas: a invenção reparar os danos e restaurar as pinturas pré-
da agricultura e da domesticação de animais históricas no estado anterior de legibilidade.
denominada “revolução neolítica”. Essas mu- Obviamente, as datações absolutas no futu-
danças se reletiram em novas expressões de ro podem via a dar alterações (por exemplo,
arte rupestre, mais esquemática, geométrica, com o AMS).
abstrata e simbólica; o “novo homem” selecio-
na sítios e abrigos sob rocha dominantes na O Sítio Ponte Raut no vale Germanasca
paisagem e coloca os complexos de sinais em O Rio Germanasca atravessa o vale homô-
locais estratégicos, como uma espécie de ritual nimo desaguando no Vale do Chisone na
simbólico e religioso de posse do território. localidade de Perosa, na Argentina. Na área
da comunidade de Perrero em Ponte Raut, se
O Sítio de Rocca di Cavour localiza o abrigo Roccio d’la Fantino (deno-
A Rocca di Cavour é um Inselberg em cujas minação em patuá occitano), um excepcional
encostas rochosas se encontra arte rupestre conjunto pictórico rupestre, descoberto em
que coincide exatamente com a possessão 1920 pelo Prof . Silvio Pons, do Instituto Ita-
do território cavourese pelas comunidades liano de Pré-História e pesquisado pelo CeS-
portadoras de uma cultura denominada: MAP desde o inal de 1960, sendo o único
vaso de boca quadrada (VBQ). A Rocca exemplo de pinturas rupestres pré-históricas
di Cavour apresenta pinturas rupestres de na Itália alpina, até a descoberta, em 1979,
motivos esquemáticos antropomóricos do das pinturas neolíticas de Rocca di Cavour.
tipo “hiperantrópico” com características Este imponente complexo rupestre se locali-
femininas e de iguras antropomóricas me- za no interior do abrigo onde existem algu-
nores com cabeça com chifre ou com testa mas pinturas rupestres que representam um
triangular. A composição inclui ainda seios círculo com quatro raios perpendiculares no
a “chevron” e faixas subparalelas com peque- seu interior e um retângulo tipologicamen-
nos entalhes ou pontilhados. Estes foram te atribuível à fase geométrica esquemática
realizados por membros de uma população encontrada principalmente nos horizontes
do inal VBQ (mid-V millennium a.C .) e culturais da civilização megalítica, desde o
pode ser considerado como responsável pela Neolítico até a Idade do Cobre. Uma igu-
colonização da área e que se manteve implan- ra complexa “idoliforme” está à direita da
tado até fechar a época histórica, quando o composição monumental, com uma marca
território entra na história com a fundação, especial de uma mão em negativo. Todo o
em 49 a.C., de uma colônia romana, a Fó- complexo é feito de ocre amarelo.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 247
Georgios Dimitriadis
XIII. Plurality of Viewpoints and Collective Learning – Themes in
Heritage Based Approaches to Life Quality Issues and Efforts to
Reframe Science and Technology Policy.
Stephanie Koerner
Introduction
U ntil quite recently few archaeologists are likely to have expected ‘interface’
or ‘boundary areas’ of research - not only in the interdisciplinary senses of
physical chemistry, thermodynamics, biochemistry, molecular biology, and hu-
man ecology (Pribram 1997), but also in the senses of areas of specialization
developing on interstices between university departments for physical, life and
social sciences and the humanities, and wider public afairs and policy processes
- to give rise to momentous change in orientations towards science, society, and
modernity. his chapter takes its departure from discussions initiated by a ses-
sion organized for the 2009 meeting of the heoretical Archaeology Group (TAG;
December 2009, Durham, England) by Mariana Diniz (University of Lisbon,
Portugal) and Miguel Aguilar (University of the Andes, Colombia), entitled ‘Fair
Archaeology – Building Bridges Instead of Deepening Gaps.’1 he chapter vari-
1
he expression Fair Archaeology was borrowed for the purposes of the TAG session by Diniz and Aguilar
252 • IPHAN
ously illustrates a suggestion about bridges that might be especially important for
addressing the pressing equity of life quality issues at stake with Diniz and Aguilar’s
conception of ‘fair archaeology.’ I will suggest that especially valuable bridged might
be forged by exploring some of the very direct ways in which projects, which stress
the importance of diverse publics’ participation to the success of cultural heritage
based solutions to complex social and ecological problems, relate to arguments
that policy makers need alternatives to ‘technologies of hybris’ (Jasanof 2003) in
order to balance the immense but unpredictable potential of science and technol-
ogy with our acknowledgment that not everything that can be done should be
done (Nowotny 2000, 2008).
To this aim, the chapter is organised into several parts. Part 2 underscores several
factors that are likely to have impeded developing such a suggestion. At the heart of
our considerations of this suggestion is an exploration of connections between heri-
tage based approaches to pressing life quality issues, and eforts to reframe the roles
of ‘public issues’ in science and technology (or techno-science) policy processes. 2
from the international Fair Trade Organization. hey intended the expression to serve as a metaphor, in a
proposal of forming bridges between ‘First and hird World’ communities grounded in alternatives to the
unequal forms of exchange, which have been perpetuated by institutions grounded in neoclassical economic
theories about the reducibility of value to universalisable market prices. Perhaps much of the signiicance of
this metaphor lies in contributions that it can make to appreciating what can be found (rather than lost)
through translation. One of the advantages of Fair Trade based institutions has been their bringing light
to the ways in which (as Alf Hornborg 1998: 127 might put it) many highly unequal forms of exchange
are grounded paying for intact resources amounts equivalent to only the remains of these after they have
been turned into commodities for sale on the market – rather than amounts that would give a fair share of
the value of commodities to those contributing the intact resources. A further advantage of developments
surrounding these institutions may be the light that attention to ‘should do’ questions may be able to throw
on the tenacity of presuppositions about the ways in which elites’ private vices of self-indulgence and luxury
facilitate the common good’, which are rooted in Bernard Mandelville’s book, he Fable of the Bees: Private
Vices, Public Beneits [1714] and Adam Smith’s he Wealth of Nations [1776] (cf. Carrier and Miller 2000:
30-1). James G. Carrier and Daniel Miller note that much current discussion of how micro and macro scales
relate to one another continues to be complicated by failures to recognize clashes between models, which
envisage relationships between the microscopic and the macroscopic in term of diferences between small
and large (or particulars versus a general category), and the extent to which many powerful political and
economic competitors continue to envisage such relationships (explicitly or implicitly) in terms of (clearly
‘should do’) issues of vices and virtues. Carrier and Miller (ibid) note that: ‘in he heory of Moral Senti-
ments, Smith (1976 [1759]: 18) chastised the rich for distinctly uncivil behaviour, ‘natural selishness and
rapacity’ and concern only for their convenience. But one of Smith’s (1776 [1759]: 185) main arguments
is that the result of elites’ behaviour is, ‘without their intending it,’ to ‘advance the interest of society.’ Fur-
thermore, Carrier and Miller (2000: 35-39) note that one of the paradoxical consequences of the tenacity of
such images has been that, while the activities of many everyday people is informed by their concerns to act
unselishly (to sustain private virtues’), much public institutional vice goes unchecked.
2
he expression ‘techno-science’ was introduced into science studies, which have drawn attention to
the very important roles of technology (and especially instrumental employments of technology) in
relationships between contents of scientiic knowledge and their social contexts (Latour and Woolgar
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 253
1982). Discussions of contracts between Mode 1 and Mode 2 knowledge production have drawn atten-
tion to the importance to the latter of scientiic technology research being carried out in contexts of its
instrumental use (Gibbons et al 1994; Nowotny et al 2001), and motivated much research on policy im-
plications of the highly uncertain and contested ‘post-normal science’ knowledge associated with many
of the contemporary world’s health, safety and environmental decisions (Ravetz and Funtowicz 1992).
254 • IPHAN
(by necessity) never happens, the unexpected always occurs (Nowotny 2008);
and that plurality of points of view is crucial for the sorts of collective learning
(Jasanof) needed to realise diverse aspirations for the future. he implications
of such intuitions for alternatives to vexed deterministic options of utopic or
dystopic visions human agency, history and a ‘common world’ has long been
recognised. Recent versions come from authors with very diverse backgrounds:
Our everyday experience teaches that adaptability and plasticity of behaviour, two
basic features of non-linear dynamic systems capable of performing transitions in far
from equilibrium conditions, rank among the most conspicuous characteristics of
human societies…. A basic question that can be raised is whether… past experience
is suicient for predicting the future, or is a high degree of unpredictability of the
future the essence of the human adventure, be it at the level of individual learning or
at the collective levels of history making? (Nicolis and Prigogine 1989: 238).
Archaeology is an environmental quality issue… [and] a life quality issue….
‘World Heritage Sites should not only be exemplary situations for the pursuit of
research but also be closely identiied with the creation and maintenance of dif-
ferent kinds of knowledge (Darvill 2007: 449, 436).
he future and the people of tomorrow are still primarily conceived in utopian and
dystopian images whereby utopianism makes use of the genre of scientiic-techno-
logical visions and their unconditional enthusiasm while dystopianism prefers the
literary or artistic narrative form and posits that things are headed for catastrophe. But
both the scientiic-technological visions and their complement, the dystopian images
of the future, attempt to suppress the ambivalence of modernity. his ambivalence
teaches us that the people of tomorrow will no longer be the people we know today.
Nor will they be cyborgs and androids, the hybrid igures of science iction, which
fascinate us because we do not know the ways in which they resemble and difer from
people like us. To understand them, we must put ourselves in their place and estimate
the possible efects of our actions on them. In this way, we make another of the many
attempts in history that have been made to ind a foundation for our own behaviour -
a foundation that asks what the nature of our positive, meaning-creating dependence
on others is and what we owe them in the light of this bond. Ultimately, this is the
only way we can be self-determining and know who we, the people of today, are. If we
want to conceive the future outside of the categories of utopia and dystopia, we have
to start out from the people of today (Nowotny 2008: 165).
Yet, until quite recently few archaeologists and anthropologists are likely to have
embraced the suggestion that such insights might provide points of departure
for reframing theory and methodology in ways that bear directly upon ‘needs
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 255
scribed ‘culture as loosely tied bundles’ (Rosaldo 1989: 94), the latter argue that
(1) culture is best seen not as complexes of concrete behaviour patterns… but as
a set of control mechanisms – plans, recipes, rules, instructions (what computer
programmers call ‘programmEs’) for governing behaviour and (2) man is pre-
cisely the animal most desperately dependent upon such extra-genetic, outside-
the skin control mechanisms, such cultural programmes. In such views, without
‘cultural programmes’ human beings would be ‘unworkable monstrosities with
very few useful instincts, fewer recognisable sentiments, and no intellect: mental
basket cases’ (Geertz 1973: 49). All this raises the questions:
Must one agree that without cultural plans humans become grotesque creatures,
disoriented beyond any capacity for desire, or feeling, or thought? Do our options
really come down to the vexed choice between supporting cultural order or yield-
ing to the chaos of brute idiocy? (Rosaldo 1989: 98).
Importantly, researchers involved in applied ields have long been unlikely to
agree that we are restricted to these options, and many would say that preoc-
cupation with debating them result in focusing on the least rather than the most
tractable issues (cf. Wescoat 2007). But attention to these responses goes against
the grain of assumptions that the deepest changes in methodology and theory
arise out of areas of ‘pure research.’ hese are not perpetuated on their own. hey
are enmeshed in further assumptions that radical change in methodology and
theory can be recognized by its bearing on questions of whether the humanities
and social sciences can or should aspire to what they envisage as requirements of
physical sciences, and whether science and modernity should be interpreted as
a triumph or a tragedy. hus, throughout much of what David Clarke (1973)
might have called archaeology’s ‘critical self-conscious’ era, vexed options of ‘sci-
entism’ versus ‘anti-scientism’ and utopic and dystopic interpretations of science
and modernity have shaped much polemical theoretical debate (cf. Trigger 1984;
Johnson 1999). In the 1990s Robert Preucel summarized key theoretical ques-
tions as including the following:
Do archaeologists discover an objective past? Or do they create alternative pasts?
Is archaeology properly considered a human science or a natural science? In the
course of dealing with these and related issues, archaeology has turned once again to
philosophy for guidance. Just as positivism was adopted by processual archaeology
in the 1960s, post-positivism is currently being embraced by the movement now
known as post-processual archaeology. he post-processual movement is signiied
by an attack on the scientism of processual archaeology [Hodder 1982; Shanks and
Tilley 1987] and the exploration of alternative interpretive frameworks [Hodder
1986; Leone et al. 1987] (Preucel 1991:17)
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 257
And these visions of what counts as theory change have been further enmeshed in
orientations towards relations between universities and society, which have been
rooted in portrayals of science:
as surrounded by a kind of semi-permeable membrane: the results of science lowed
outward and inluenced ambient society, but there was no traic in the reverse di-
rection. Science is, on this account, a world unto itself, largely insulated from the
society in which it was embedded (Daston 2006: 529).
Inluentially opposed paradigms have recurrently diverged around such dichoto-
mies as those of science and society, pure versus applied research, reason versus
tradition, and so on. For instance, while foundationalists who stress separating
the contents of research from social contexts might be said to ‘do boundary work’,
cultural relativists ‘watch boundaries’ (Gieryn 1994: 193). But what, as Lorraine
Daston, says bears stressing is the extent to which:
he opposition between nature and culture shadows that between the real and
the constructed, nature stands as the eternal, the inexorable, the universal; cul-
ture for the variable, the malleable, and the particular. Like the return of the
represses, the supra- and sub-lunary spheres of Aristotelian cosmology crop up
in a new guise, crystalline nature encircling mutable culture. Both sides of the
debate accept the oppositions of the real versus the constructed, the natural ver-
sus the constructed. Hence arguments are about which of these two categories
notions like ‘race’ or ‘quark’ belong – are they real or are they constructed? Dis-
coveries or inventions? – Not about the categories themselves (Daston 2000: 3).
In these lights, appreciating considerable alternatives to vexed options of ‘sup-
porting cultural order or yielding to the chaos of brute idiocy’ (Rosaldo (1989:
98) goes against the grain numerous presuppositions these options share. Ex-
amples that have played major roles in perpetuating dualist characterizations of
‘pure’ versus ‘applied research’ include presuppositions:
• ‘in reality’ the world is reducible to the ‘simplicity’ of immutable entities
and operations (Funtowicz and Ravetz 1992),
• the ultimate task of science is that of ‘quest of certainty’ through the reduc-
tion of contingent experience to altogether context independent ‘foundational laws’
(Dewey 1927, 1938; Toulmin 1990),
• supposedly likewise universalisable (context independent) obstacles to such
‘quest of certainty’ such as obstacles said to be posed by technologically limited in-
struments, social interests, cultural constructions, and so on.
258 • IPHAN
here is much diversity amongst alternatives to these options, and their visions
of theory change. However it is possible to identify several insights that these
alternatives have often shared with many recent eforts to design heritage based
approaches to pressing social and ecological problems, as to reframe the roles of
‘should do’ questions in techno-science policy processes, including:
• that complexity and emergent novelty are normal states for reality, and cru-
cial for understanding how we ind the world intelligible (Polanyi 1965; Kaufman
1993; Rheinberger 1997; Ingold 2000);
• that there are no such things as context independent problems, or, ex-
pressed in John Dewey’s (1938: 66–7) terms: ‘we never experience or form judg-
ments about objects and events in isolation, but only in connection with a contex-
tualised whole’. he latter is called a “situation”;
• that dichotomies such as those of nature-culture, the real versus the histori-
cally contingent, expert knowledge versus public issues, prioritize the least (rather
than the most) tractable problems, and impede appreciating the importance of plu-
rality of points views for collective learning and sustaining diverse human life ways.
Such insights have considerable predecessors, and have often been associated with
important insights of the contributions that not only publicly engaged work, but
especially that involved publics can and have made to profound methodology
and theory change. For John Dewey and many other contributors to the long
history of critiques of detached experts universalizing generalizations about ‘the
public good’ (Cicero [106-43 BC] 1942; Vico [1744] 1948) are crucial obstacles
to appreciating these insights relevance are assume that ‘the public’ is a time-
less category and that ‘public issues’ are simple or simpliied versions of complex
problems. To the contrary, it is the most complex problems the problems that
hitherto predominant institutions and paradigms do not or are unable to address
that spark the emergence of publics and eforts to reframe what is meant by the
‘common good’. Public issues, in this view are major methodological, theoreti-
cal and expert competence issues (cf. Carman 2002; Skeates 2000; Darvill 2007;
Wescoat 1991, 1992, 2007; Diniz and Aguilar 2009; Jasanof 2003; Nowotny
2000, 2008).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 259
A. Ubiquity
Perhaps the theme that marks the most immediate intersections of recent heritage
based approaches to life quality issues, and arguments for reframing techno-sci-
ence policy processes is that of the ubiquity of situations where hitherto predomi-
nant institutions and paradigms cannot or do not address the complexity of the
problems at stake. Authors with diverse disciplinary backgrounds have noted that
many major institutions are unable or unwilling to address problems that cannot
be reduced to one side of such dichotomies as those of nature versus culture, risk
and quality control versus ethics, and so on (cf. Latour 1993; Pálssen 1993; Leach
et al. 2005). For instance, with regards to ecological and techno-science hazard,
in many parts of the world policy authorities continue to assume that
selected technological solutions stable enough to solve the problems posed to them.
By contrast, social systems—and societies—constitute themselves from their members’
knowledge of each other. hey are not subject to any process of closing and must re-
main in continuous openness. We know what the world’s top scientiic laboratories
are working on today, and yet at best this allows us to derive scientiic-technological
visions that it within a system that has been made to be consistent within itself. hese
visions can say next to nothing about forms of social organization, mutual relations
among people, and emotional energies that the people of tomorrow will invest in ideas
for or against each other or in things and institutions whose continuity they believe in.
his lack of social knowledge makes these technological visions blind, even if they are
able to gauge a limited number of ‘impacts’—of foreseeable efects whose correspond-
ing consideration ought to be self-evidently a component of the process of generating
technology. For as John Maynard Keynes remarked, the unavoidable never happens,
while the unexpected always occurs (Nowotny 2008: 167).
Concerns with the ubiquity of situations where hitherto predominant institu-
tions and paradigms cannot or do not address the complexity of the problems at
stake are likewise prevalent amongst those working in contexts where controver-
sies over heritage are enmeshed in some of today’s most diicult social and ecologi-
cal problems (cf. Ucko 1994). In the chapter which he wrote for the book A Future
of Archaeology (Layton et al. 2006), Henry Cleere (2006: 65) notes that the cases,
which have been the most diicult for the World Heritage Convention to classify (as
well as the most complicated in terms ‘management by and for whom’) have been
those involving ‘a continuing landscape… in which the evolutionary process is still
in progress.’ Numerous contested cases are enmeshed in deepening inequalities with
regards to exposure to ecological hazard, unsustainable development, and politi-
cal conlict including conlicts resulting in grave human rights violations (Meskell
and Pels 2005; Silverman and Fairchild Ruggles 2007; Koerner and Russell 2010).
Many eforts to develop heritage based solutions to social and ecological problems
are being made in regions with long histories of ‘direct and powerful connections
between domestic and international conlicts and the state of tourism, cultural heri-
tage preservation and human rights violations’ (Silver 2007: 79).
Relating to Cleere’s observations, another theme is the ubiquity of circumstances
under which hitherto predominant institutions and theoretical paradigms cannot or
do not address the complexity of the problems facing local communities. Authors
with diverse disciplinary backgrounds have noted that many major institutions are
unable or unwilling to address problems that cannot be reduced to one side of such
dichotomies as those of nature versus culture, risk and quality control versus ethics,
and so on (cf. Latour 1993). For instance, with regards to ecological and techno-
science hazard, many policy authorities continue to ignore that: physical risks vary
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 263
in relation to social contexts; risk magnitudes are embedded in social relations and
ecological processes; and that a primary risk, even for the most technically intense
activities, is that of social dependency upon institutions that are alien, obscure,
and inaccessible to the people most threatened by the risks in question (Beck
1992; Lash et al. 1996; Irwin and Wynne 1996; Jasanof 2003; Wynne 2006;
Felt and Wynne 2008). In cultural heritage conservation, William S. Logan (2007)
notes that policy oicials are rarely prepared to address connections between cul-
tural and human rights issues. In many countries, ‘cultural heritage practitioners…
too frequently view their work as purely technical’ (Logan 2008: 34) and human
rights workers tend to try to avoid discussion of human rights ‘lest the lurking is-
sue of cultural relativism appear, implicitly or explicitly, to undermine the delicate
and fragile universality concept that has been painstakingly woven over the last ive
decades’ (Stamatopoulou 2004, quoted by Logan 2008: 34; see also Cowan et al.
2001).
Another theme that has become the focus of both many heritage based approaches
to pressing life quality issues, and eforts to reframe techno-science policy processes
is that of ‘representation’. One consequence of ‘two cultures’ debate has been ten-
dencies to eclipse the political connotations of ‘representation’. For Jasonof, re-
framing representations of public issues in policy process:
would give combined attention to substance and process and stress deliberation as well
as analysis. Reversing centuries of contrary development, these approaches would seek
to integrate ‘can do’ orientations with the ‘should do’ questions of political and ethical
analysis. hey would engage the human subject as an active imaginative agent, as well
as a source of knowledge, insights and memory (Jasanof 2003: 244)
B. Representation
‘Representation’ is also a key theme amongst those concerned with connections be-
tween anthropological and archaeological research agendas; and the question of by
and for whom research is pursued. Few works bring such connections into sharper
relief that Sian Jones’ chapter entitled ‘‘hey made it a living thing didn’t they?: the
growth of things and the fossilisation of heritage”, in A Future for Archaeologyet al.
2006). Jones’ (2006: 110, 115) main case study is the medieval Hilton of Cadboll
cross-slab (now in the Museum of Scotland) and the recent discovery and excava-
tion of its base together with ‘thousands of carved fragments’. She focuses particular
attention on the ‘contested meanings and identities’ surrounding the monument,
such as community members’ sense of the stone’s ‘belonging’:
264 • IPHAN
he monument is seen not merely as a living thing, but crucially as a living member of
the community. Not only is a direct analogy drawn between the cross-slab and an ‘an-
cient member of the village’, but it is also attributed the kind of social knowledge that is
essential to establishing a person’s membership within the community (Jones 2006: 116)
Jones is also interested in comparing situations where controversies over the meanings
and values associated with monuments and artifacts are enmeshed in complex life
quality issues. For Jones, situations as diferent as Hilton of Cadboll and the conlicts
over the heritage of First Nations communities of Canada, New Zealand, and Aus-
tralia studied by Miriam Clavir (2002) share numerous analogous features. hey also
throw light on problems with policy agencies ‘presuppositions and practices, which
lead to communities’ disenfranchisement (Jones 2006: 111). Many problems arise out
of presuppositions such as that: the ‘preservation of cultural heritage for posterity is a
moral imperative and beneicial to both present and past generations; the authentic-
ity of heritage is primarily associated with the fabric of artifacts and monument, even
though intangible dimensions are increasingly acknowledged’; ‘the original mean-
ings and uses of artifacts are of primary importance in determining the signiicance
of cultural heritage and appropriate modes of conservation, despite long-standing
arguments that later developments also contribute to their authenticity’ (ibid). For
Jones, especially diicult challenges are posed by clashes between ‘rhetoric about our
responsibilities to a faceless abstract public’ who are assumed to ‘derive meaning and
value from cultural heritage’; and the roles that the above listed presuppositions play
in heritage becoming ‘frozen at a particular time, abstracted from ongoing social and
cultural processes, and of necessity only subject to expert assessment and stewardship’
(ibidem). In order to address the problem, she says, a shift in orientations is needed:
away from the current emphasis on material fossilization of heritage as ‘product’, towards
a focus on heritage as ‘process’ whether dealing with the historic remains of disenfran-
chised indigenous and post-colonial cultures or those of nation-states. If heritage conser-
vation is redirected towards ‘process’, towards the dynamic and transient (re)making of
meaning in tradition, then this will go some way towards addressing the contradiction
inherent in… the artiicial dichotomy between the conservation of material fabric using
specialized scientiic techniques and the conservation of meanings and values, as if the
latter were simply applied to the surface form of objects (Jones 2006: 121).
tion. he roots of this presupposition date back to Plato (427-347 BC) (1999)
and Aristotle’s (384-322 BC) (1984) positions on the requirements of a science.
Aristotle (1994) created a scheme for comparing these based on the question: If
something can be said to be subject to change, what is the essence of that some-
thing? (1) unchanging aspects; (2) changing aspects; or (3) both, that is, interaction
of changing and unchanging aspects? For foundationalists (like Plato), the answer
must be (1), and the others have to be reducible to it. Scientiic objects must exhibit
regularities that are universal and demonstrable by chain of both necessary and suf-
icient causes. For probabalists (like Aristotle), things that are ‘always or for the
most part’ can satisfy requirements of science if they can be described as examples
of essential states or substances (Aristotle, Metaphysics 1994, 1027a, 20-27; Daston
2000).
In antiquity, this scheme was underwritten by authoritative beliefs about constitu-
tive connections between the nature of the world and conditions of possibility for
the intelligibility of its unchanging aspects. In authoritative ancient, medieval and
Renaissance cosmology, above and beyond the diverse temporalities experienced by
human beings, the universe was governed by the timeless categories of substances
and circular motion of the ‘celestial realms’. In such beliefs, there were constitutive
(ontological) connections between these realms and human capacities for Reason
and Revelation; and a ‘science’ of ‘sublunary realms’ (of things subject to change)
was not possible (Collingwood [1949] 1956; Blumenberg 1983; Funkenstein
1986). A recurrent theme in so called ‘standard accounts’ of science and modernity
is the rejection of Aristotelian cosmology. It would seem, in these lights that mod-
ern conceptions of the tasks of science would difer to Aristotle’s. But closer exami-
nation indicates that his conception of science (and its vision of the reducibility of
the world to supposedly timeless categories and principles) continues to play central
roles in many contemporary contexts. Examples include contexts where relation-
ships between the production and dissemination of scientiic knowledge are envis-
aged as one-way processes. Another example is that many inluential paradigms
for physical and life sciences continue to envisage divisions between ‘foundational
laws’ and ‘phenomenological generalisations’ in terms of the idea that, while the
latter might describe things in relevant ways, only the former can claim to unify the
diversity of phenomena that is, to go ‘beyond appearances’ (Prigogine and Stengers
1984; Prigogine 1997). Writing on the consequences of such views, Isabelle Stengers
(1997: 22-23) notes that when she began studying physics, she accepted the main-
stream belief that observations on irreversible processes (mixtures that do not un-
mix, radical diferences between before and after, where it is impossible to overlook
the non-equivalence of cause and efect) should be treated ‘merely phenomenologi-
cal’ consequences of our not being ‘perfect observers’ and inadequate instruments.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 267
Working with Prigogine, she began to wonder whether the history of paradigms for
the tasks of science that deny time (and irreversible change and emergent novelty)
has also been the ‘history of social and cultural tensions’ (Stengers 1997: 42-43).
It is worthwhile to explore this possibility for several reasons. One is to illuminate
contradictions between so called:
• ‘standard accounts’ of science and modernity; problematic assumptions about
what supposedly divides ‘modern’ from ‘pre-modern world views’ (as well as sup-
posed incommensurate ‘world views’),
• paradigms for the tasks of science that deny time and ‘dynamic systems capa-
ble of performing transitions in far from equilibrium state’ (Nicholas and Prigogine
1989: 238).
In many ‘standard accounts,’ what distinguishes so called ‘modern’ from ‘pre-
modern worldviews’ is the formers’ awareness of the contingency of all human
claims to truth, as well as the very constitution of the world. After all, one of
the aims of the founding igures of early modern experimental science and nat-
ural philosophy was to extend properties, which Plato and Aristotle attributed
to sublunary realms to the ends of the universe (Galileo [1564-1642] 1968; see
also Collingwood [1949] 1956; Koyré 1965, 1968; Blumenberg 1983; Funken-
stein 1986; Bono 1995). Such an image of modernity’s diference would seem
to corroborate notions that ‘pre-modern worldviews’ are shaped (if not deter-
mined) by fears of contingency, ‘mythical thought’ and conceptions of ‘cyclical
time’ that deny historical time and indeterminacy (for examples and critiques,
see Eliade 1963; Lévi-Strauss 1973; Fabian 1983; Asad 1986). But this seem-
ing corroboration needs to be examined more closely. Here we do so in relation
to the paradigms bases on presuppositions about the reducibility of the world
to simplicity; and dualist characterizations of the real versus the historically
contingent (and ‘foundational laws versus ‘mere appearances’). hese actually
clash with ‘standard accounts’ of science and modernity in remarkable ways.
To express this in the terms we have been using, these paradigms clash with
‘standard accounts’ of the importance to ‘modern world views’ of awareness of
the contingency human claims to truth and the very constitution of the world.
hey do not lend themselves to appreciating that a high degree of unpredict-
ability may be a conspicuous property of the universe (Nicolas and Prigogine
1989). To the contrary, they hinge upon images of the world that share many
features with Plato and Aristotle’s realm of celestial spheres. Or to relate the
problem most directly to this chapter’s aims, they hinge upon beliefs about the
world that ‘standard accounts’ conventionally attribute to ‘pre-moderns,’ ‘oth-
ers’, ‘folk psychology’ and supposedly ‘irrational publics’.
268 • IPHAN
would have demand. All that mattered, by this stage, was for supporters of Religious
Truth to believe, devoutly in belief itself. For them, as for Tertullian long ago, the dif-
iculty of squaring a doctrine with experience was just one more reason for accepting
this doctrine that much more strongly (Toulmin 1990: 54)
the world in which they ind themselves and to adapt it to their needs, physical
and spiritual, continuously transform their worlds and themselves. For Joseph
Leo Koerner:
Human mutability has allowed humanism itself to take many forms, and which
can be achieved by updating some terms. In the place of the old motto ‘man as
the measure of the world’, focus attention on the humanist insight – fresh enough
to controversy now – that ‘truth is made rather than found’ [Rorty 1989: 3]. In
the place of the obsolete heroism of Homo faber, think of the humanist proposi-
tion, foundational to the humanities and social sciences of our own time, that
there is no escaping culture – that what we know of nature is what culture will
have already asked (J.L. Koerner 2004: 221).
In such a view, our options are not restricted to “the vexed choice between sup-
porting cultural order or yielding to the chaos of brute idiocy” (Rosaldo 1989:
98). Instead, the dynamics of ‘contingency and solidarity’ (J.L. Koerner 2004)
makes it possible for us to address the challenge evidenced by the numerous prob-
lems of ‘globalisation’ and ‘risk society’ that we have mentioned, namely:
A common world is not something we can come to recognize, as though it had
always been here A common world, if there is going to be one, is something we
have to build, tooth and nail together (Latour 2004: 455).
A third, and related theme that runs through Toulmin’s work is that plurality of
viewpoints is crucial for the forms of collective learning that are needed in order
to ‘humanize modernity’ (ibid: 175-202). In such a view, archaeological and an-
thropological research on the diversity of past and present day cultures is of crucial
importance for the ‘needs of a world in which simplicity is a memory of a bygone
age’ (Funtowicz and Ravetz 1997):
he terms in which we make sense of the past, and the ways in which our view of
the past afects our… historical foresight or horizons of expectations. hose ho-
rizons mark the limits to the ield of action in which we see it possible to change
human afairs and to decide which of our most cherished practical goals can be
realized in fact (Toulmin 1990:1)
272 • IPHAN
Bibliography
Beck, U. (2001). ‘Living your own life in a runaway world’, in W. Hutton and A.
Giddens (eds.), On the Edge. London: Vintage, 164–74.
Benhabib, S. ed. (1996). Democracy and Diference: Contesting the Boundaries of the
Political. Princeton: Princeton University Press.
Bohman, J. (2003). ‘Relexive public deliberation: democracy and the limits of plu-
ralism’. Philosophy and Social Criticism, 29/1: 85–105
he Word of God and the Languages of Man. Interpreting Nature in Early Modern
Science and MedicineCarrier, J. G. and Miller, D. (1999). From private vir-
tue to public vice, in H. Moore (ed.), Anthropological heory Today. Cam-
bridge: Cambridge University Press, 24-47.
Friedman, M. (2000). he Parting of the Ways: Carnap, Cassirer and Heidegger. Peru,
Illinois: Open Court.
Funkenstein, A.1986. heology and the Scientiic Imagination. From the Middle
Ages to the Seventeenth Century. Princeton: Princeton University Press.
Galison, P. (2007). Einstein’s Clocks and Poincaré’s Maps: Empires of Time. Lon-
don: Sceptre.
Habermas, J. (2003). Truth and Justiication. Ed. and trans. B. Fulner. Cambridge:
Polity Press.
Hall, M. (2005) ‘Situational ethics and engaged practice: the case of archaeology
in africa’, in L. Meskell, L. and P. Pels (eds.), Embedding Ethics. Oxford:
Berg, 169-194.
Latour, B. and Weibel eds. (2002). Iconoclash: Beyond the Image Wars in Science,
Religion and Art. London: MIT Press.
Latour, B. and Weibel, P. eds. (2005). Making hings Public: Atmospheres of
Democracy. Cambridge: MIT Press.
Latour, B. and Woolgar, S. (1982) he cycle of credibility, in B. Barnes and D. Edge
(eds.), Science in Context. Readings in the Sociology of Science. Milton Keynes:
he Open University Press, 35-43.
Leach, M., Scoones, and Wynne, B. (2005). Science and Citizens. London: Zed
Books.
Lévi-Strauss. C. (1973). Tristes Tropiques. Trans. J, Wrightman and D. Wrightman.
New York: Penquin Books.
Lloyd, G.E.R. (2009). Disciplines in the Making. Cross cultural perspectives on elites,
learning and innovation. Oxford: Oxford University Press.
Logan, W. (2007). ‘Closing Pandora’s box: human rights conundrums in cultural
heritage protection’, in H. Silverman and D. Fairchild Ruggels (eds.),
Cultural Heritage and Human Rights. London: Springer, 159–71.
Meskell, L. and Pels, P. eds. (2005). Embedding Ethics. Oxford: Berg.
Moore, H. ed. (1999). Anthropological heory Today. Cambridge: Cambridge
University Press.
Most, G. W. (2005). Doubting homas. Cambridge, MA: Harvard University
Press.
Nicholis, G. and Prigogine, I. (1989). Exploring Complexity: An Introduction.
New York: W. H. Freeman and Company.
Nowotny, H. (2000). ‘Transgressive competence: the narrative of expertise’.
European Journal of Social heory, 3/1: 5–21.
Nowotny, H. (2008). Insatiable Curiosity: Innovation in a Fragile Future.
Cambridge, MA: MIT Press.
Nowotny, H., Scott, P., and Gibbons, M. (2001). Rethinking Science: Knowledge
and the Public in an Age of Uncertainty. Cambridge: Polity Press.
Beyond Boundaries. Understanding, translation and anthropological discourseEthics,
the Politics, Religion and the SoulPolanyi, M. (1965). Duke University
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 277
Prigogene, I. and Stengers, I. (1984). Order Out of Chaos. New York: Bantam.
Prigogene, I. (1997). he End of Certainty: Time, Chaos and the New Laws of
Nature. London: Free Press.
Schatzki, T., Knorr-Cetina, K., and Von Savigny, E. eds. (2001). he Practice Turn
in Contemporary heory. London: Routledge.
Shapin, S. and Schafer, S. (1985). Leviathan and the Vacuum Pump: Hobbes, Boyle
and the Experimental Life. Princeton: Princeton University Press.
278 • IPHAN
sociais e ecológicos de temas comuns e percep- collective levels of history making? (Nicolis and
ções de muitos sobre o patrimônio contempo- Prigogine 1989: 238).
râneo e as abordagens baseadas em questões de Archaeology is an environmental quality is-
qualidade de vida e de argumentos para a res- sue… [and] a life quality issue…. ‘World
signiicação dos papéis e das questões públicas Heritage Sites should not only be exemplary
nos processos políticos em geral. Além disso, a situations for the pursuit of research but also be
Parte 4 destaca as contribuições para os recentes closely identiied with the creation and mainte-
desenvolvimentos na física e ciências da vida, e nance of diferent kinds of knowledge (Darvill
entre os esforços no sentido de repensar a arte e 2007: 449, 436).
a história da ciência de serem capazes de apre- he future and the people of tomorrow are still
ciar a maneira de como estes se relacionam com primarily conceived in utopian and dystopian
os argumentos da necessidade de “tecnologias images whereby utopianism makes use of the
da humildade” em processos políticos (Jasano- genre of scientiic-technological visions and
f 2003; Nowotny 2008). O capítulo termina their unconditional enthusiasm while dysto-
com algumas sugestões sobre a importância da pianism prefers the literary or artistic narrative
pesquisa arqueológica e antropológica sobre a form and posits that things are headed for ca-
diversidade de culturas do passado e da atua- tastrophe. But both the scientiic-technological
lidade em humanizar a modernidade de uma visions and their complement, the dystopian
forma que endereça a necessidade a “um mun- images of the future, attempt to suppress the
do em que a simplicidade é uma lembrança de ambivalence of modernity. his ambivalence
época passada” (Funtowicz e Ravetz 1997). teaches us that the people of tomorrow will
no longer be the people we know today. Nor
Contextualização das “Falsas Dicotomias” will they be cyborgs and androids, the hybrid
versus ‘’Investigação Aplicada” igures of science iction, which fascinate us be-
Diariamente intuímos implicitamente (e mui- cause we do not know the ways in which they
tas vezes reconhecemos explicitamente) que resemble and difer from people like us. To un-
não sabemos tudo (Rosaldo 1989), enquanto derstand them, we must put ourselves in their
alguns dizem que o inevitável (por necessida- place and estimate the possible efects of our
de) nunca acontece, mas o imprevisto sempre actions on them. In this way, we make another
acontece (Nowotny 2008), e que a pluralidade of the many attempts in history that have been
de pontos de vista é crucial para a aprendiza- made to ind a foundation for our own beha-
gem do tipo coletivo (Jasanof) necessária para viour - a foundation that asks what the nature
realizar as diferentes aspirações para o futuro. of our positive, meaning-creating dependence
Os efeitos de tais percepções - relativas a esco- on others is and what we owe them in the light
lhas utópicas inquietantes ou visões distópicas of this bond. Ultimately, this is the only way we
do organismo humano, da história e de um can be self-determining and know who we, the
“mundo comum” - têm sido reconhecidos há people of today, are. If we want to conceive the
muito tempo. As versões mais recentes vêm future outside of the categories of utopia and
de autores com formações muito diversas: dystopia, we have to start out from the people
Our everyday experience teaches that adapta- of today (Nowotny 2008: 165).
bility and plasticity of behaviour, two basic fea- No entanto, até muito recentemente, poucos
tures of non-linear dynamic systems capable of arqueólogos e antropólogos estavam sensíveis a
performing transitions in far from equilibrium acolher as ideias propostas de que a ressignii-
conditions, rank among the most conspicuous cação da teoria e metodologia poderia fornecer
characteristics of human societies…. A basic pontos de partida para “um mundo em que a
question that can be raised is whether… past simplicidade é uma lembrança de época passa-
experience is suicient for predicting the futu- da “ (Funtowicz e Ravetz 1997).
re, or is a high degree of unpredictability of the Da mesma forma a outra corrente tinha a ex-
future the essence of the human adventure, be pectativa de grandes contribuições da ressignii-
it at the level of individual learning or at the cação vindas de áreas de especialização, que vão
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 281
opções, e muitos diriam que a preocupação tward and inluenced ambient society, but
em debatê-las focaliza inalmente mais do que there was no traic in the reverse direction.
as questões abordadas (cf. Wescoat 2007). No Science is, on this account, a world unto itself,
entanto a atenção a essas respostas vai à contra- largely insulated from the society in which it
mão das suposições de que as mais profundas was embedded (Daston 2006: 529).
mudanças na metodologia e teoria decorrem de Importantes paradigmas opostos têm recor-
áreas de “pesquisa pura”. Estas não são perpe- rentemente divergido em torno de dicotomias
tuadas por conta própria. Elas ainda estão pre- como ciência e sociedade, pesquisa pura versus
sas a suposições de que a mudança radical na pesquisa aplicada, razão versus tradição, e assim
metodologia e na teoria possa ser reconhecida por diante. Agora, enquanto fundamentalistas
por sua inluência sobre as questões nas quais separam o conteúdo da pesquisa a partir de
duas ciências humanas e sociais podem ou de- contextos sociais a que chamamos trabalho de
vem aspirar ao que se prevê como requisitos de fronteira, pesquisadores relativistas culturais
ciências físicas, e se a ciência e a modernidade observam as fronteiras “(Gieryn 1994: 193).
devem ser interpretadas como um triunfo ou Mas o que – como Lorraine Daston, paciente-
uma tragédia. mente, salienta – é que à medida que:
Assim, durante a maior parte das opções de que he opposition between nature and culture
David Clarke (1973) poderia ter chamado de shadows that between the real and the cons-
período de crítica autoconsciente da “arqueo- tructed, nature stands as the eternal, the ine-
logia” opções perturbadoras de “cientiicismo” xorable, the universal; culture for the variable,
versus “ anticientiicismo”e interpretações utó- the malleable, and the particular. Like the re-
picas versus distópicas da ciência e da moder- turn of the represses, the supra- and sub-lunary
nidade moldaram o bastante polêmico debate spheres of Aristotelian cosmology crop up in a
teórico. (cf. Trigger 1984; Johnson 1999). Na new guise, crystalline nature encircling muta-
década de 1990, Robert Preucel resume essas ble culture. Both sides of the debate accept the
importantes questões teóricas, como expostos a oppositions of the real versus the constructed,
seguir: the natural versus the constructed. Hence argu-
Do archaeologists discover an objective past? ments are about which of these two categories
Or do they create alternative pasts? Is archa- notions like ‘race’ or ‘quark’ belong – are they
eology properly considered a human science real or are they constructed? Discoveries or in-
or a natural science? In the course of dealing ventions? – Not about the categories themsel-
with these and related issues, archaeology has ves (Daston 2000: 3).
turned once again to philosophy for guidance. Sob este ponto de vista, se valorizam as alterna-
Just as positivism was adopted by processual tivas consideradas como opções de apoio à or-
archaeology in the 1960s, post-positivism is dem cultural ou se cede ao caos de uma idiotice
currently being embraced by the movement brutal (Rosaldo 1989: 98) . Esses pressupostos
now known as post-processual archaeology. são contrários às numerosas opções tecidas so-
he post-processual movement is signiied by bre estas ações. Exemplos que desempenharam
an attack on the scientism of processual archae- papéis importantes na perpetuação dualista ca-
ology [Hodder 1982; Shanks and Tilley 1987] racterizados pela pesquisa “pura” versus a “apli-
and the exploration of alternative interpretive cada” incluem os pressupostos:
frameworks [Hodder 1986; Leone et al. 1987] • que “em realidade” o mundo é redutível a
(Preucel 1991:17) “simplicidade” das entidades imutáveis e as
E essas visões daquilo que conta como mudan- operações (Funtowicz e Ravetz, 1992),
ça de teoria têm sido enredadas nas mais diver- • que a maior tarefa da ciência é o da “busca da
sas orientações nas relações entre as universida- segurança” por meio da redução do contingen-
des e a sociedade, enraizadas em representações te de experiência num contexto completamen-
da ciência: te independente “leis fundamentais” (Dewey
as surrounded by a kind of semi-permeable 1927, 1938; Toulmin 1990 )
membrane: the results of science lowed ou- • que os supostos obstáculos são igualmente
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 283
mente separados um do outro. Há uma varie- vestir em ideias a favor ou contra si ou em coi-
dade de maneiras para caracterizar as incertezas, sas e instituições, que continuam a acreditar.
incluindo: Esta falta de conhecimento social cega essas
• Risco: situação em que, presumivelmente, visões tecnológicas, mesmo que elas possam
um sabe as causas, consequências, as proba- avaliar um número limitado de “impactos” de
bilidades de possíveis eventos danosos e suas efeitos previsíveis, cuja correspondente consi-
magnitudes associadas (tipos e níveis de dano). deração deve ser evidentemente um compo-
• Incerteza: em que se sabem os tipos e as es- nente do processo de geração de tecnologia.
calas de possíveis danos, mas não suas causas Pois, como John Maynard Keynes observou, o
ou as probabilidades das consequências. Sob inevitável nunca acontece, enquanto o inespe-
condições de incerteza, o termo “avaliação dos rado acontece sempre (Nowotny 2008: 167).
riscos” é, na verdade, não aplicável. Technological systems require a degree of com-
• Indeterminação: uma situação em que se trata patibility in their standards and components
de processos que não são possíveis resultados that the social systems cannot have because
previsíveis. they must remain open. We expect that tech-
• Ignorância: a situação em que não se sabem nological systems must be foreseeable reliable
as causas, consequências ou até mesmo como and secure. Only then are the selected tech-
fazer as perguntas certas. nological solutions stable enough to solve the
• Ambiguidade: situação em que uma série problems posed to them. By contrast, social
de divergentes mas igualmente razoáveis pres- systems—and societies—constitute themselves
supostos (acerca de deinições dos objetos de from their members’ knowledge of each other.
pesquisa, das questões, de abordagens variáveis) hey are not subject to any process of closing
opõe-se um único esquema de resultados (Felt and must remain in continuous openness. We
e Wynne 2008). know what the world’s top scientiic labora-
Nestas luzes, as incertezas são realmente muito tories are working on today, and yet at best
poucos redutíveis à categoria de “risco”. Nowo- this allows us to derive scientiic-technological
tny explica que: visions that it within a system that has been
Os sistemas tecnológicos requerem certo grau made to be consistent within itself. hese vi-
de compatibilidade em seus padrões e compo- sions can say next to nothing about forms of
nentes que os sistemas sociais não podem ter, social organization, mutual relations among
porque eles devem permanecer abertos. Espe- people, and emotional energies that the people
ramos que sistemas tecnológicos sejam previsí- of tomorrow will invest in ideas for or against
veis, coniáveis e seguros. Só então as soluções each other or in things and institutions whose
escolhidas serão tecnologicamente estáveis o continuity they believe in. his lack of social
suiciente para resolver os problemas colocados knowledge makes these technological visions
para elas. Em contrapartida, os sistemas sociais blind, even if they are able to gauge a limited
e as sociedades se constituem a partir do co- number of ‘impacts’—of foreseeable efects
nhecimento dos seus membros. Eles não estão whose corresponding consideration ought to
sujeitos a qualquer processo de fechamento e be self-evidently a component of the process
devem permanecer numa abertura contínua. of generating technology. For as John May-
Sabemos que o mundo dos laboratórios cientí- nard Keynes remarked, the unavoidable never
icos está trabalhando hoje, e ainda melhor, no happens, while the unexpected always occurs
que nos permite derivar visões cientíico-tecno- (Nowotny 2008: 167).
lógico se encaixam dentro de um sistema que Preocupações com a onipresença de situações
tem sido feito para ser coerente em si mesmo. em que até agora instituições predominantes
Desse ponto de vista não se pode dizer quase e paradigmas não sabem ou não podem lidar
nada sobre as formas de organização social, das com a complexidade dos problemas em causa
relações mútuas entre as pessoas, e das energias são igualmente prevalentes entre aqueles que
emocionais que as pessoas do amanhã irão in- trabalham em contextos nos quais as contro-
286 • IPHAN
vérsias sobre patrimônio estão enredadas num tão (Beck 1992; Lash et al. 1996; Irwin e Wyn-
dos mais difíceis problemas sociais e ecológicos ne 1996; Jasanof 2003; Wynne 2006 ; Felt e
do mundo de hoje (cf. Ucko 1994). No capí- Wynne 2008). Na conservação do patrimônio
tulo que escreveu do livro um futuro para a cultural, William S. Logan (2007) observa que
Arqueologia (Layton et al. 2006), Henry Cleere os funcionários de gestão raramente estão pre-
(2006: 65) observa que os casos que tenham parados para tratar das conexões entre as ques-
sido os mais difíceis para a Convenção do Patri- tões culturais e de direitos humanos. Em muitos
mônio Mundial para classiicar (assim como o países, “os proissionais do patrimônio cultural
mais complicado em termos de gestão do “por ... demasiado frequentemente veem seu trabalho
e para quem”) foram as que envolveram “uma como puramente técnico” (Logan 2008: 34) e
paisagem contínua ... em que o processo evo- os empregados e aqueles que trabalham pelos
lutivo ainda está em andamento”. Numerosos direitos humanos tendem a tentar evitar a dis-
casos são enredados no aprofundamento das cussão dos direitos humanos “sobre a questão
desigualdades no que diz respeito à exposição do relativismo cultural que aparece, implícita ou
a riscos ecológicos, desenvolvimento insusten- explicitamente, para minar o conceito de univer-
tável, e conlitos políticos, inclusive os resul- salidade delicada e frágil que foi cuidadosamente
tantes de graves violações dos direitos humanos tecido ao longo das últimas cinco décadas” (Sta-
(Meskell e Pels. 2005; Silverman e Fairchild matopoulou 2004, citado por Logan 2008: 34;
Ruggles 2007; Koerner e Russell 2010). Mui- ver também Cowan et al. 2001).
tos esforços para desenvolver o patrimônio ba- Outro tema que se tornou o foco de muitas
seados em soluções para os problemas sociais abordagens sobre patrimônio baseadas em
e ecológicos estão sendo feitos em regiões com questões de qualidade de vida e dos esforços
longa história de direta e poderosa conexão en- para reformular os processos da política da tec-
tre conlitos internos e internacionais, o esta- nociência é o da “representação”. Uma conse-
do do turismo, da preservação do patrimônio quência do debate de “duas culturas” tem sido
cultural e as violações dos direitos humanos”. uma tendência para ofuscar conotações políti-
(Silver 2007: 79). cas de “representação”. Para Jasonof, reformu-
Relativo às observações de Cleere, outro tema é lar as representações das questões públicas no
a onipresença das circunstâncias sob as quais até processo político:
então instituições predominantes e paradigmas would give combined attention to substance and
teóricos não podem ou não são capazes de resol- process and stress deliberation as well as analysis.
ver a complexidade dos problemas enfrentados Reversing centuries of contrary development,
pelas comunidades locais. Autores com diversas these approaches would seek to integrate ‘can
origens disciplinares têm notado que muitas do’ orientations with the ‘should do’ questions
das grandes instituições são incapazes ou não of political and ethical analysis. hey would en-
querem resolver os problemas que não podem gage the human subject as an active imaginative
ser reduzidos para um dos lados das dicotomias agent, as well as a source of knowledge, insights
como os de natureza versus cultura, risco e con- and memory (Jasanof 2003: 244)
trole de qualidade versus ética, e assim por dian-
te (cf. Latour 1993). Por exemplo, com relação B. Representação
ao perigo ecológico e cientíico-tecnológico, as “Representação” é também um tema-chave en-
autoridades políticas continuam a ignorar em tre aqueles preocupados com as ligações entre
muitos casos que: riscos físicos variam em rela- as agendas de pesquisa antropológica e arqueo-
ção aos contextos sociais; magnitudes de risco lógica, bem como com a questão do por que e
estão incorporadas às relações sociais e proces- para quem a pesquisa é realizada. Poucos traba-
sos ecológicos, e que o principal risco, mesmo lhos dão mais destaque a essas ligações do que o
para as atividades tecnicamente mais intensas, capítulo de Sian Jones, intitulado ‘’Eles izeram
é o da dependência social sobre as instituições uma coisa viva, não é?: o crescimento das coisas
que são estranhas, obscuras, e inacessíveis para e da fossilização do patrimônio”, no livro Um
as pessoas mais ameaçadas pelos riscos em ques- futuro para a Arqueologia (Layton et al. 2006).
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 287
Para Jones (2006: 110, 115), o principal estudo conservação, apesar dos argumentos de longa
de caso é o medieval Hilton Cadboll de crosslab data de que a evolução futura também contri-
(agora no Museu da Escócia) e a recente desco- bui para a sua autenticidade” (ibid). Para Jones,
berta na escavação de sua base, juntamente com os desaios notadamente difíceis são colocados
milhares de fragmentos. Ela concentra uma em confronto entre “a retórica sobre nossas
atenção especial sobre a «contextualização dos responsabilidades para com um público anô-
signiicados e identidades” ao redor do monu- nimo abstrato” que presumem que “o signii-
mento, bem como ao senso de “pertencimento” cado acrescente valor ao patrimônio cultural”;
da pedra para membros da comunidade. e os papéis dos pressupostos acima referidos
T [o] monumento não é visto apenas como uma atuam no patrimônio tornando-o “congelado
coisa viva, mas fundamentalmente como um num determinado momento abstrato a partir
membro vivo da comunidade. Não só é uma de processos sociais e culturais, e da necessidade
analogia direta estabelecida entre a cruz-laje apenas sujeita a um conhecimento especializa-
e um antigo membro da aldeia, mas também é do e de mordomia” (ibidem).
atribuído o tipo de conhecimento social que é A im de solucionar o problema, diz ela, uma
essencial ao estabelecimento de iliação de uma mudança de orientação é necessária:
pessoa dentro da comunidade (Jones 2006: 116) away from the current emphasis on material
[T]he monument is seen not merely as a living fossilisation of heritage as ‘product’, towards a
thing, but crucially as a living member of the focus on heritage as ‘process’ whether dealing
community. Not only is a direct analogy drawn with the historic remains of disenfranchised in-
between the cross-slab and an ‘ancient mem- digenous and post-colonial cultures or those of
ber of the village’, but it is also attributed the nation-states. If heritage conservation is redirec-
kind of social knowledge that is essential to ted towards ‘process’, towards the dynamic and
establishing a person’s membership within the transient (re)making of meaning in tradition,
community (Jones 2006: 116) then this will go some way towards addressing
Jones também está interessada em comparar si- the contradiction inherent in… the artiicial
tuações em que as controvérsias sobre os signi- dichotomy between the conservation of mate-
icados e valores associados a monumentos e ar- rial fabric using specialised scientiic techniques
tefatos são enredadas em complexos problemas and the conservation of meanings and values,
de qualidade de vida. Para ela, situações tão di- as if the latter were simply applied to the surface
ferentes como a do Hilton de Cadboll e os con- form of objects (Jones 2006: 121).
litos sobre o patrimônio das comunidades das
Primeiras Nações do Canadá, Nova Zelândia e C. Questões relevantes das manifestações do
Austrália estudados por Miriam Clavir (2002) público
compartilham várias características análogas. As observações de Jones a respeito de confron-
Eles também lançam luz sobre os problemas tos entre “retórica sobre as nossas responsabili-
das agências com os pressupostos de política e dades para um público anônimo e abstrato” e
práticas que levam ao empobrecimento das co- que muitas vezes torna o patrimônio “congela-
munidades (Jones 2006: 111). Muitos proble- do num determinado momento, é retida a par-
mas decorrem de pressupostos como o de que a tir de processos sociais e culturais” comparado
“preservação do patrimônio cultural para a pos- a uma série de interessantes descobertas da ci-
teridade é um imperativo moral e benéico para ência e da tecnologia de estudos de especialistas
ambas as gerações presentes e passadas; a auten- em entendimentos de “malentendidos públi-
ticidade do patrimônio está principalmente as- cos”. “Representação” é um tema fundamental
sociada com a fabricação de artefatos e monu- em estudos que indicam que: os fatores cultu-
mentos, apesar de as dimensões intangíveis se- rais desempenham um papel crucial na elabora-
rem cada vez mais reconhecidas”; “o signiicado ção de “questões públicas” e de “especialização”;
original e o uso dos artefatos são de primordial a maior parte do “problema” da compreensão
importância na determinação do signiicado pública da ciência vivenciada por agências espe-
do patrimônio cultural e formas adequadas de cializadas reside na forma em que os papéis de
288 • IPHAN
“questões públicas” são emoldurados por últi- públicas”) desempenha nas hipóteses sobre
mo; e estudos de caso ilustram os problemas lo- o mundo, a ciência e a modernidade, foram
cais, tanto com modelos de universalização de perpetuadas pela inluencia da oposição de
“comunidades tradicionais” versus um “centro “duas culturas” além do escopo deste capítu-
anônimo”, para desaiar a própria ideia de um lo. Tentarei resumir várias diiculdades chaves
“centro universal” (cfr. , Irwin e Wynne, 1996). principais. Uma delas pode ser identiicada
Estes estudos trazem outro tema comum em por focar a atenção sobre a tenacidade do pres-
destaque, a saber, a necessidade de alternativas suposto de que a tarefa suprema da ciência é
para abordagens, baseadas em suposições de estabelecer conceitos universalmente válidos,
que o “público” é uma categoria atemporal e categorias e proposições, cuja força explicati-
que “questões públicas” são versões simples ou va é independente de qualquer contexto de
simpliicadas de problemas complexos. Nota- aplicação. As raízes destes pressupostos estão
damente úteis alternativas podem estar sujeitas datadas dos tempos de Platão (427-347 a.C.)
à percepção de que, na verdade, o mais com- (1999) e Aristóteles (384-322 a.C.) (1984) e
plexo dos problemas era aquele que até então sobre as posições a respeito dos requisitos de
predominava nas instituições e que paradigmas uma ciência. Aristóteles (1994) criou um sis-
não são impossíveis de se resolver, o que está tema para compará-los com base na pergunta:
evidente na manifestação dos públicos e dos Se algo pode ser dito deve ser sujeito a mudan-
esforços para reformular o que se entende por ças, qual é a essência desta coisa? (1) aspectos
“bem comum”. imutáveis, (2) aspectos mutáveis, ou (3) ambos,
isto é, a interação de aspectos mutáveis e imu-
Indeterminação, Repensar “Crises sobre-re- táveis? Para os fundamentalistas (como Platão),
presentação, e Alternativas de “Tecnologias a resposta deve ser (1), e os outros têm de ser
de arrogância” reduzíveis a ele. Os objetos cientíicos precisam
Os cruzamentos foram explorados nas seções apresentar regularidades universais e comprova-
anteriores no concernente às circunstâncias con- das por ambas na cadeia das causas necessárias
textuais, temas e insights do patrimônio compar- e suicientes. Para os probabilistas (como Aris-
tilhados por muitas soluções baseadas em anteci- tóteles), as coisas que são “sempre ou a maior
par os problemas ecológicos e sociais, e os esfor- parte” podem satisfazer as exigências da ciência,
ços para reformular a política nos processos de se eles são descritos como exemplos de estados
ciência e de tecnologia que surgiram em paralelo essenciais ou substanciais (Aristóteles, Metafísi-
com considerável evolução , que incidem sobre ca 1994, 1027a, 20-27; Daston 2000) .
desaios em face desses esforços. Nesta seção, va- Na antiguidade, esse esquema foi subscrito por
mos explorar dois empreendimentos desse tipo: crenças das autoridades sobre as conexões entre
• Aumento das condições de possibilidade para a natureza constitutiva do mundo e as condi-
iluminar as contradições entre as chamadas ções de possibilidade para a inteligibilidade de
“contas padronizadas” da ciência e da moder- seus aspectos imutáveis. Na autoridade antiga,
nidade e pressupostos sobre a ciência partilha- medieval e na renascente cosmologia, acima e
da por versões inluenciadas pela oposição de além das diferentes temporalidades experimen-
“duas culturas “(Snow [1959] 1962, ver tam- tadas pelos seres humanos, o universo era re-
bém M. Friedman 2000), gido por categorias de substâncias intemporais
• Os resultados notáveis dos esforços para re- em movimentos circulares dos “reinos celes-
pensar “crises sobre representação”. tiais”. Em tais crenças, havia constitutiva (onto-
lógica) conexão entre esses reinos e capacidades
A. Equidade e Indeterminação humanas para Razão e Revelação; e uma “ciên-
Uma discussão detalhada dos papéis que as al- cia” do “reino sublunar” (de coisas sujeitas a al-
tas problemáticas assumem sobre as chamadas terações) não foi possível (Collingwood [1949]
“modernas” e “pré-modernas” cosmoteorias 1956; Blumenberg 1983; Funkenstein 1986).
(“conhecimentos especializados” e “questões Um tema recorrente nas chamadas contas pa-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 289
no sugerido pelo livro de Toulmin, Cosmopo- • reduzir as questões do “deveria fazer” para rei-
lis. he Hidden Agenda of Modernity (1990). vindicações do “pode fazer” (Nowotny 2008),
Em vários temas em que o trabalho permite se • prever a partir de uma “tábua rasa” o necessá-
relacionar diretamente com essa possibilidade. rio para a “busca de segurança” (Dewey 1927,
Uma delas é a importância de novas abordagens 1938; Toulmin, 1990),
construtivas para as “crises de representação” a • eclipsar a importância da pluralidade dos
im de explorar as circunstâncias em que foi pontos de vista e de aprendizagem coletiva (Ja-
possível para alguns supostamente resolverem sanof 2003) para algo como um bem comum
a questão em torno do que Toulmin chama de (Latour, 2004).
“mito da tábua rasa”, ou seja, as alegações sobre Outra hipótese é que a história desses supostos
o contexto da necessidade de demolir tudo o assentamentos também pode ser a história de
que aconteceu antes, em busca de segurança transições importantes na interpretação supos-
independente e de coerência formal (ibid: 89- tamente de fontes independentes do contexto
138, 183). Depois de enfrentar os horrores de da objetividade e da história da caricatura al-
1914-1918 os desaios podem ter levado mui- tamente problemática dos “outros” e supos-
tos a airmar que “quase podemos deixar de su- tamente “públicos anônimos” (Blumenberg
por que qualquer coisa pode ser assumida” (Slo- 1983 ; Koerner JL 1998; Daston e Galison
derdijk 2005), e que respostas muito importan- 2007 Koerner, S. 2009).
tes estão centradas em tentativas de “limpar a Felizmente, há também consideráveis hipóteses
lousa” e “colocar uma nova missão de certeza”. construtivas, considerando que sempre houve
Estas respostas estão articuladas sobre as contas alternativas a “assentamentos” – talvez lembran-
da ciência e da modernidade que eclipsaram do a proposta Jasanof (2003) de “tecnologias
essas contradições, tais como aquelas que tenta- da humildade” em reformular relações entre
mos resumir acima. Elas também são ofuscadas orientações do “pode fazer” e “deveria fazer” em
na medida em que algumas das dimensões mais processos políticos de tecnologia e ciência, e nos
importantes da modernidade estão enraizadas argumentos de que o acréscimo da participação
nas abordagens humanistas relexivas para do público é crucial para o sucesso do patrimô-
perguntas como: o que devemos fazer; quem nio em abordagens baseadas nos problemas so-
iremos beneiciar; quem poderia ser atingido? ciais e ecológicos. Na verdade outro tema-chave
Uma análise detalhada da evolução explorada na obra de Toulmin (1990) é que a cultura mo-
na seção anterior deste capítulo diz respeito a derna e, sobretudo, os seus elementos relexivos
desaios e esforços para trazer ao patrimônio são tão (se não mais profundamente) enraiza-
abordagens baseados em questões de qualidade dos tanto na história do humanismo como na
de vida, com os esforços para reformular a polí- chamada Revolução Cientíica (Toulmin 1990:
tica da tecnociência, que está além de processos 5-44). Até muito recentemente, o humanismo
de nossos propósitos atuais. Mas, seguindo o foi atacado de ambos os lados nos debates das
exemplo Toulmin (1990), várias hipóteses rela- “duas culturas”, com base em pressupostos er-
tivas a estas questões podem ser arriscadas. Uma rados. Especialmente aqueles que defendiam
delas é de que ideias que vão contra a natureza o caos do lado de opções polêmicas das dico-
das pressuposições sobre o mundo, a ciência e tomias de “ordem e caos” (Rosaldo 1989), e
a modernidade, que tenham sido partilhados as interpretações da ciência e da modernidade,
por inluência da oposição de “duas culturas”, como uma tragédia (Daston 2006) que desvir-
levantam questões sobre as circunstâncias em tuou a longa história dos esforços humanistas
que a natureza deste altamente contraditório para desenvolver alternativas ao que Jasanof
pressuposto foi eclipsada. Talvez no século 17 (2003) pode se referir como “tecnologias de
ou nos conlitos do século 20, até aqueles com arrogância”. Alegaram para o anti-humanismo
poder de desenvolver crenças devotas em pro- “a convicção da miséria” do estado moderno, se
blemas com as crenças dos “outros” se tornem não da condição humana, em geral (JL Koerner
capazes de supostamente resolver as “crises de 2004: 221). Contrariamente a estas deturpa-
representação” de maneira a : ções, os humanistas salientaram a importância
292 • IPHAN
da contingência de todas as coisas que perdu- come to recognize, as though it had always
ram em estados longe do equilíbrio para a sua been here … A common world, if there is
inteligibilidade humana, bem como a solidarie- going to be one, is something we have to build,
dade social. Um exemplo disto foi o argumento tooth and nail together (Latour 2004: 455).
de Giambattista Vico ([1744] 1948) de que Um terceiro tema relacionado e que percor-
a natureza dos seres humanos não é como há re o trabalho de Toulmin é que a pluralidade
muito se supunha, estático e inalterado ou até de pontos de vista é crucial para as formas de
mesmo inalterado, ... que os esforços dos seres aprendizagem coletiva necessárias a im de “hu-
humanos próprios para compreender o mundo manizar a modernidade” (ibid: 175-202). Em
em que se encontram e adaptá-lo às suas ne- tal ponto de vista da pesquisa arqueológica e
cessidades físicas e espirituais, continuamente antropológica sobre a diversidade de culturas
transformam seu mundo e a si mesmos. Para do passado e do presente é de importância cru-
Koerner Leo Joseph: cial para as “necessidades de um mundo em
mutabilidade Humanos humanismo permi- que a simplicidade é uma lembrança de época
tiu-se a assumir muitas formas, e que pode ser passada” (Funtowicz e Ravetz, 1997):
conseguido através da actualização de alguns he terms in which we make sense of the past,
termos. No lugar do velho lema “o homem and the ways in which our view of the past
como a medida do mundo”, chamar a aten- afects our… historical foresight or horizons of
ção para a visão humanista – fresco o bastante expectations. hose horizons mark the limits to
para controvérsia agora – que a verdade é fei- the ield of action in which we see it possible to
ta e não foi encontrado ‘[Rorty 1989: 3]. No change human afairs, and to decide which of
lugar do heroísmo obsoleto do Homo faber, our most cherished practical goals can be reali-
pensar a proposição humanista, fundamental zed in fact (Toulmin 1990:1)
para as humanidades e ciências sociais do nosso
tempo, que não existe uma cultura de escapar
Agradecimentos
– que o que sabemos da natureza é que a cul-
Agradeço aos organizadores do “Fair Archeo-
tura já terá solicitado (Koerner JL 2004: 221).
logy – Building Bridges Instead of Deeapning
Human mutability has allowed humanism itself
to take many forms, and which can be achieved Gaps” sessão no encontro de 2009 do TAG,
by updating some terms. In the place of the old Mariana Diniz e Miguel Aguilar, a Georgios
motto ‘man as the measure of the world’, focus Dimitriadis pelo convite para este trabalho, e
attention on the humanist insight – fresh enou- especial agradecimento a Tim Darvill, Shiela
gh to controversy now – that ‘truth is made ra- Jasonof e Helga Nowotny pela conversa que
ther than found’ [Rorty 1989: 3]. In the place tornou possível este estudo . Este artigo é dedi-
of the obsolete heroism of Homo faber, think of cado à memória de Stephen Toulmin.
the humanist proposition, foundational to the
humanities and social sciences of our own time, Notas
that there is no escaping culture – that what we 1. O termo Fair Archaeology, apropriado da
know of nature is what culture will have already Organização Internacional de Comércio Jus-
asked (J.L. Koerner 2004: 221). to foi utilizado por Aguilar e Diniz na sessão
Desse ponto de vista, nossas opções não se li- do TAG (Grupo de Arqueologia Teórica).
mitam à “escolha polêmica entre o apoio à or- Eles entendiam que a expressão servia como
dem cultural ou ceder ao caos de uma idiotice metáfora para formar pontes entre as comu-
brutal” (Rosaldo 1989: 98). Em vez disso, a nidades do “Primeiro e do Terceiro Mundo”
dinâmica de contingência e solidariedade “(JL baseando-se em alternativas para as formas
Koerner 2004) torna nos possível para respon- desiguais de troca, que foram perpetuadas
der ao desaio evidenciado por numerosos pro- pelas instituições fundamentadas em teorias
blemas de “globalização” e “sociedade de risco” econômicas neoclássicas sobre a redutibilida-
que temos mencionado, a saber: de do valor aos preços de mercado universali-
A common world is not something we can záveis. Talvez muito do signiicado desta me-
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 293
táfora resida no aporte que se pode fazer para des. Carrier e Miller (ibid.) notam que: “Na
apreciar algo ao que pode ser encontrado (ao Teoria dos Sentimentos Morais, Smith (1976
invés de perdido) através da compreensão. [1759]: 18) castigou os ricos pelo compor-
Uma das vantagens do Comércio Justo ba- tamento incivil distintamente, o egoísmo
seia-se em instituições que tem contribuído natural” e ganância e preocupação somente
indicando alternativas nas quais (como Alf para sua conveniência. Página: 2
Hornborg 1998: 12 airma) muitas formas Mas um dos principais argumentos de Smi-
extremamente desiguais de câmbio são uti- th (1776 [1759]: 185) é que o resultado
lizadas para pagar por recursos de quantias do comportamento das elites é, o de sem
equivalentes - somente o que resta disto se querer, promover o interesse da sociedade.
transforma em commodities para venda ao “Além disso, Carrier e Miller (2000: 35 - 39
mercado – em vez disso somas que seriam notam que uma das consequências parado-
uma troca justa para o valor das commodities xais da tenacidade dessas imagens foi que,
contribuiriam para manter os recursos intac- enquanto as atividades cotidianas das pesso-
tos. Outra vantagem do desenvolvimento as são formadas por suas preocupações de-
em torno destas instituições pode ser a ex- sinteressadas (para sustentar as virtudes pri-
plicação sobre as questões do que se “deve- vadas), muitos vícios públicos institucionais
ria fazer” pode inluenciar nos pressupostos icam sem controle.
sobre de que forma os vícios privados das 2. A expressão “tecnociência” foi introduzida
elites facilitam a autoindulgência e a luxuria em estudos cientíicos, que têm chamado a
dos bens, que estão enraizados no livro de atenção para o importante papel da tecno-
Bernard Mandelville, A Fábula das Abelhas: logia (e especialmente os empregos dos ins-
Private Vices, Public Beneits [1714] e de trumentos tecnológicos) nas relações entre
Adam Smith, A Riqueza das Nações [1776] os conteúdos dos conhecimentos cientíicos
(cf. Carrier e Miller 2000: 30-1). e seus contextos sociais (Latour e Woolgar,
Já James G. Carrier e Daniel Miller notam 1982). As discussões sobre os contratos en-
que muita discussão atual sobre como micro tre Modo 1 e Modo 2 de produção de co-
e macro escalas se relacionam entre si conti- nhecimento têm chamado a atenção para o
nua a ser complicada por deiciências de re- valor da última tecnologia de pesquisa cien-
conhecer os confrontos entre os modelos que tíica realizada fora de seu contexto de uso
prevêem as relações sobre o microscópico e o instrumental (Gibbons et al 1994; Nowotny
macroscópico; em termos de diferenças entre et al 2001), estimulando muita investiga-
as pequenas e grandes (categoria particular ção de implicações políticas num altamente
versus geral) e, na medida em que muitos incerto e controvertido “conhecimento da
concorrentes poderosos políticos e econô- ciência pós-normal” bastante associado às
micos continuam a considerar tais relações decisões de saúde, segurança e meio ambien-
(explícita ou implicitamente) em termos de te do mundo contemporâneo (Funtowicz e
(“deve fazer”) nas questões de vícios e virtu- Ravetz, 1992).
Archeologia dei Conlitti:
un approccio sistemico XIV
Georgios Dimitriadis
Introduzione
La presa di coscienza da parte della comunita internazionale dell’interdipendenza po-
litico, sociale e culturale della nostra época in scala globale ma con immediati efetti
locali avviene negli anni ottanta quando i sociologi Robert Robertson, Keith Ham-
pton e Barry Wellman coniarono il termine glocale1.
Per Robertson (1992) l’aspetto più interessante della nostra modernità glo-
balizzata è il modo in cui si è formata la coscienza globale delle persone. Egli
divide la globalizzazione in una serie di “fasi” e asserisce che siamo entrati
nella quinta fase, quella che lui chiama dell’Incertezza Globale, risultato degli
innovativi modelli tecnologici che impongono una rivvalutazione delle stru-
ture sociali e culturali in tutti i paesi del mondo.
Ovviamente, da questa prospettiva, anche la cultura e il patrimonio materiale ed im-
materiale di ogni nazione acquistano una dimensione insolita, misurata e rideinita
in base alle nuove esigenze sociali di tipo glocale. Vecchi quesiti riappaiono e nuove
problematiche causano pretesti di discussione e nella peggior dei casi, tensione e con-
litto sociale.
Infatti, il sociologo Zygmund Bauman (1966, 1975, 2005) sviluppa una “ilosoia”
di glocalizzazione basata sull’analisi dell’individuo, la persona umana, il patrimonio
locale materiale e immateriale della persona e del suo gruppo di appartenenza, mentre
1
Il termine glocale fu in uso per prima volta negli anni ´80 dagli operatori di marketing strategico
nipponici. Deriva dalla parola giapponese dochakuka che signiica esattamente localizzazione globale.
296 • IPHAN
state, of which is used to be said that “it’s was part of the problem”, is now discovered
as a possible solution. (…) his observation is relevant at the much smaller scale of
archaeology, where a considerable number of private units have been serenely crip-
ped, or even forced to fold since the onset of the economic crisis, putting in jeopardy
archaeological operations, as well as documentation and publications.
2
“Occorre saper che il conlitto (πόλεμος) è comune, che il contrasto è giustizia, e che tutte le cose acca-
dono secondo contrasto e necessità”, Eraclito, fr.80.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 299
[…] il conlitto sociale è un interazione tra attori (individui, gruppi, organizzazioni ecc.),
in cui almeno un attore percepisce un’incompatibilità con uno o più attori nella dimensio-
ne del pensiero e delle percezioni, nella dimensione emozionale e/o nella dimensione della
volontà in una maniera tale che la realizzazione (dei propri pensieri, emozioni, volontà)
venga ostacolata da un altro attore3.
Quali sono dunque, gli componenti essenziali per la formazione di un conlitto?
Come hanno dimostrato Mitchell (1981) e Galtung (1982, 1996) possiamo sellezio-
nare tre componenti:
• La contraddizione di base, creata dall’incompatibilità tra gli scopi degli attori o
dall’incompatibilità tra la necessità di soddisfazione dei bisogni (autorealizzazione) e
strutture sociali che lo impediscono (dimensione strutturale).
• Il comportamento, ovvero l’insieme delle azioni osservabili con cui gli attori in-
tendono condurre il conlitto per conseguire i propri obiettivi e/o impedire alla parte
avversa di conseguire i suoi.
• Gli atteggiamenti, delle parti in conlitto, ovvero l’insieme delle percezioni, emozio-
ni e disposizioni degli attori, originati dal conlitto o preesistenti da esso, che determina-
no il comportamento e l’interpretazione della situazione (dimensione soggettiva).
In questi termini le cause che possono provocare il conlitto sono descritte, secondo la
natura delle issues (cfr. Deutsch 1973) e dalla loro scarsità (cfr. Mitchell 1981), come
indicato nella seguente tipologia:
• Controllo su determinate risorse. Le risorse possono essere beni materiali o di
status; divisibili (denaro) o non divisibili (bene culturale); invariabile (territorio) o
variabile (quota reditto di una classe sociale).
• Valori o sistemi di valore. Le risorse in campo politico, ideologico, culturale e
religioso (cfr. white man’s burden4).
• Credenze. Quali assunzioni si usano per interpretare la realtà del conlitto.
• La natura delle relazioni tra le parti. Persone o gruppi hanno diferenti aspettative
e aspirazioni riguardanti la propria relazione.
3
Tale deinizione ci permette di distinguere una assimetria nei ruoli degli attori e nel loro intenzione di
perseguire la realizzazione di un obiettivo preciso come la trasformazione sociale del conlitto, che sovente
si manifesta come un conlitto latente (Arielli, Scotto 1998).
4
Si intendeva il compito di civilizzare il resto del mondo che gravava sulla spalle dell’uomo bianco.
300 • IPHAN
• La sopravvivenza di uno degli attori, sia in senso isico, sia, per attori collettivi, in
termini di organizzazione sociale.
• Conlitti irrealistici. Il conlitto persiste su questioni apparentemente minori,
mentre può esistere una contraddizione alla base, di qui il conlitto è soltanto un
efetto: il capro espiatorio.
Il fatto, veramente importante in questa nomenclatura, è l’interpretazione diferente
delle issues. Ciò vuol dire: “[…] chi riesce a imporre la propria deinizione del proble-
ma, acquista un vantaggio decisivo, perché porta la controparte a giocare sul proprio
terreno” (Fischer 1964).
Ovviamente, il discorso di imposizione della propria visione del conlitto è indiretta-
mente anche un problema di comunicazione del conlitto stesso (cfr. Gofman 1975)
che mi propongo ad accenare in seguito.
B. Classiicazione dei Conlitti
Considerando che un conlitto in atto è risultato delle relazioni di incomprensione
tra agenti e tra le loro azioni intenzionali contrastanti, cioè che si possano annullare
a vicenda o l’azione di uno può creare indirettamente svantaggi per l’altro o come la
maggiore dei casi contro l’altro, si considera la seguente nomenclatura delle azioni di
conlitto:
• Tipo I (divergenza): sono conlitti non co-operativi causa la divergenza tra le
obiettivi. La impossibilità di cooperare può causare anche un possibile sviluppo del
conlitto e una conseguente “escalation” di esso. Exemplo: perimetral da cidade de
Santos, São Paulo, Brasil (2009).
• Tipo II (concorenza): sono conlitti cui particolarità sta nella persecuzione e nello
sfruttamento dello stesso obiettivo in termini di risorsa limitata.
Exemplo: destino do acervo da Fundaçao Cultural do Banco Santos (2004)
• Tipo III (ostacolamento): in questo caso l’agente A dirige la sua azione per
ostacolare l’azione dell’agente B oppure si procede nell’ostacolarsi reciprocamen-
te. Exemplo: embargo do sitio “Casa Bandeirista do Itaim Bibi”, São Paulo-SP,
Brasil (2008).
• Tipo IV (aggressione): l’intenzione è diretta contro l’altro agente e non
più alla sua azione, con lo scopo di modiicate il suo stato o delle caratteristi-
che dell’agente colpito. Exemplo: o caso da arqueologia subaquática no Brasil
que por meio da Lei 10.166/2000: § 1 deine como autoridades competentes
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 301
5
Secondo Gumperz (1982) il conlitto comunicazionale fra americani e nativi nasce dalla visione dife-
rente che i due gruppi abbiano degli argomenti di reciproco interesse.
302 • IPHAN
Bibliograia
Fischer R., 1964. Fractionating Conlict, In: Fischer R., (curator), International Con-
lict and the Behaviour Sciences, New York: Basic Books.
Weber, M. 1922. Wirtschaft und Gesellschaft
Lewin, K. 1948. Resolving Social Conlicts, New York: Harper & Row.
Glasl, F. 1980. Konliktmanagement. Ein handbunch für Führungskräfte, Beraterinnen
und Berater, Bern-Stuttgart: Paul Haupt-Freies Geistesleben.
Arielli, E. , Scotto, G. 1998. I conlitti, Milano: Bruno Mondatori.
Mead, M. 1937. (ed.) Conlict and Cooperation among Primitive Peoples. New York-
London: McGraw-Hill.
Mitchell, C. 1981. he Structure of International Conlict. MacMillan: London.
Robertson, R. 1992. Globalization: Social heory and Global Culture, Sage Publica-
tions Ltd.
Trigger, B. 1984. Alternative archaeologies: nationalist, colonialist, imperialist. In:
Man, 19:355-70.
1989. A History of Archaeological hought. Cambridge: Cambridge Uni-
versity Press.
Clack, T., M. Brittain (eds.) 2007. Archaeology and the Media. Walnut Creek, CA:
Left Coast Press.
Gamson, William A. 1992. Talking Politics, Cambridge University Press, Cambridge.
Gumperz, J.John. 1982. Discourse Strategies, Cambridge University Press. Cambridge.
Dahrendorf, R. 1959. Class and Class Conlict in Industrial Society. Stanford: Stanford
University Press.
Galtung, J. 1982. he Way is the Goal. Ganhdi Today. Ahmedabad.
Gofman, E. 1975. Frame Analysis. New York: Harper&Row.
Posner, R. 1992. “Was ist Kultur? Zur semiotischen Explikation anthropologischer
Grundbergrife”. In: Landsch, M., Karnowski, H., Bystrina, I. (eds.) Kultur-
Evolution. Frankfurt a M. : Peter Lanf. pp. 1-65.
Lotman, J. M., Uspenskij, B. A. (cur.) 1975. Tipologia della Cultura, Milano:Bompiani.
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 303
of the free market economy. he current eco- equilíbrio social. Se adotarmos a deinição de
nomic crisis invites a rethinking of this concep- Posner (1992: 1-65), que considera a cultura
tion. he state, of which is used to be said that não apenas como um depósito da memória
“it’s was part of the problem”, is now discovered histórica, mas sim como um mecanismo que
as a possible solution. (…) his observation is cria a ordem social, então é fácil se aproximar
relevant at the much smaller scale of archaeo- da tese de Lotman-Uspensky (1975) que ca-
logy, where a considerable number of private racteriza os conlitos e, por extensão, as re-
units have been serenely cripped, or even forced lações entre as culturas como uma situação
to fold since the onset of the economic crisis, altamente simbólica, de tipo expressivo, no
putting in jeopardy archaeological operations, que é relativo aos bens culturais tangíveis e
as well as documentation and publications.” intangíveis.
Na verdade, a memória da história coletiva não
Arqueologia na Sociedade em Crise é absolutamente unidirecional ou propriedade
Recentemente a arqueologia buscou a tarefa de intelectual de um único ator social, mas se refe-
proporcionar formas alternativas de entendi- re a uma memória histórica e narrativa arque-
mento político e econômico pós-industrial, por ológica multitemporal. A vida social de uma
meio da revitalização da memória social. relíquia arqueológica é diacrônica e incorpora
Segundo os arqueólogos Shanks e Wirmor uma narrativa de múltiplas faces.
(2009) “archaeology has an extended histo- Muitas vezes a memória converge para o esque-
riographical scope, a much broader scope cimento e, consequentemente, a recuperação
than history (cf. Foucault’s use of the terms é a preservação de uma memória fragmentada
archaeology (1972, 1973), encompassing the que procura dilemas e crises, como nos casos
mundane and the material, with archaeology de conlito.
as the tangible mediation of past and present, Qual memória é importante?
of people and their cultural fabric, of the tacit, Que faces preservar?
indeed the inefable. Archaeology ofers rich Quem e quais são as instituições guardiãs da
resources for building alternatives in a risk memória material?
society, reframing matters of common and
pressing human concern. Indeed because, in O que é “conlito”?
the era of future orientation and short term As primeiras sugestões teóricas, nas quais com-
thinking, nothing is guaranteed memory, parece o termo conlito, são em Heráclito,
archaeology’s work on the material remains of quando ele o descreve como o princípio fun-
the past provides a route to the vital insertion damental da realidade e do motor da história.
of pasts into the present”. Muito mais tarde, na idade moderna, é Nico-
Assim é necessário compreender que o conlito lau Maquiavel e sucessivamente homas Ho-
social é resultado de diferentes objetivos (issues) bbes que vão tratar antropologicamente o ter-
que os multicomponentes da sociedade (clas- mo como a concorrência no quadro geral das
se social, grupos, instituições, etc.) perseguem relações humanas. Em particular, no Leviathan
(cfr. Dahrendorf 1959) ou da transformação (Hobbes, 1651) se descreve uma eliminação das
dos quadros interpretativos da realidade social contraposições porque se submete a um único
contemporânea (ver Gamson 1992). poder. Ou seja, o estado de conlito está intima-
A possibilidade e a modalidade da transforma- mente relacionado à liberdade individual.
ção de conlitos são bem descritas pelo modelo A reviravolta nos estudos advém com G.W.F.
de nove estágios de Glasl (1997) que em par- Hegel que coloca o conlito em um princípio
ticular encontra aplicação nos processos con- metafísico.
lituais (transformação e terminação) entre as Ele entrevê o princípio da dialética entre as par-
instituições (cfr Galtung, 1982). tes (a relação oposta: polaridade) o consumo do
Ao mesmo tempo, devemos denunciar que conlito.
os conlitos emergem da incompreensão cul- Em nível político esta polarização inaliza no
tural do “conlito” ou da percepção de não sistema patrão-servo, a primeira formulação
Arqueologia Preventiva: Gestão e Mediação de Conflitos • 305
contra o outro, se considera a seguinte nomen- crise de acordo com o binômio ordenadas-
clatura para as ações de conlito: desordenadas.
• Tipo I (divergência) São conlitos não coope- Estudos etnológicos sobre a relação entre uma
rativos porque há a discrepância entre os objeti- cultura e a ideia de que essa tem do conlito
vos. A incapacidade de cooperar também pode indicam que há culturas que enfatizam a com-
causar um possível desenvolvimento de conli- petição como o “Manus” e outras que optam
to e uma escalada dele. Exemplo: perimetral da pela atitude de cooperação e consenso como os
cidade de Santos, São Paulo, Brasil (2009). “Maori” (cf. Mead, 1937).
• Tipo II (concorrência): Nestes conlitos a par-
ticularidade está na busca de um mesmo obje- Conclusão
tivo e na exploração deste mesmo objetivo em Neste trabalho, tentei expor um quadro teó-
termos de recursos limitados. Exemplo: desti- rico do conlito, em que o conlito cultural e
no do acervo da Fundação Cultural do Banco particularmente o arqueológico podem ser li-
Santos (2004) mitados. Em uma sociedade multiconectada e
• Tipo III (barreiras): Neste caso, o agente globalizada, a falta de regras, especialmente na
orienta a sua ação para bloquear a ação do ad- gestão dos bens culturais, é uma triste realidade.
versário, ou seja, se procede a uma obstaculi- Além disso, quando a arqueologia, uma dis-
zação recíproca. Exemplo: embargo do sitio ciplina que descobre e organiza a documenta-
“Casa Bandeirista do Itaim Bibi”, São Paulo-SP, ção e preservação de tais bens, está em crise, a
Brasil (2008). mediação para a correta gestão do patrimônio
• Tipo IV (agressão): a intenção é dirigida con- material e imaterial sofre de clareza e de visão.
tra o outro agente e não contra a sua ação, a Especiicamente, como de fato indiquei, uma
im de mudar o seu status ou as características situação conlitual pode ser real ou latente; de
do agente atingido. Exemplo: o caso da arque- valor ou cultural; especialmente social, na busca
ologia subaquática no Brasil que por meio da de uma identidade moderna com consequên-
Lei 10.166/2000: § 1 deine como autorida- cias irreversíveis para o patrimônio cultural.
des competentes o Ministério da Marinha e o
Ministério da Cultura que têm procedimentos NOTAS
incompatíveis entre si. 1. O termo glocal foi usado pela primeira vez na
década de 80 pelo marketing estratégico japo-
C. Comunicação do conlito nês. Derivado da palavra nipônica dochakuka,
No encontro entre os atores sociais (ex.: reuni- signiica exatamente localização global.
ões de trabalho) com diferentes e diversos hábi- 2. “Precisamos saber que o conlito (πόλεμος)
tos de comunicação é frequente a manifestação é comum, que o contraste é justiça e que todas
de situações conlituais do tipo comunicacional as coisas acontecem segundo contraste e ne-
porque este encontro é muitas vezes voluntaria- cessidade.” Heráclito, fr.80.
mente do tipo verbal. 3. Tal deinição nos permite distinguir entre
Por outro lado, cada cultura tem sua própria uma assimetria nos papéis dos atores e sua in-
“lógica” que frequentemente não circula entre tenção de perseguir a realização de um obje-
os atores sociais que usam diferentes códigos tivo preciso como a transformação social do
simbólicos. Lotman (1975) identiicou dois conlito, que muitas vezes se manifesta como
blocos de culturas predominantes: aqueles com um conlito latente (Arielli, Scotto 1998).
base na expressão com particular ênfase sobre a 4. Entendia-se que a tarefa de civilizar o resto
forma de manifestação do seu patrimônio cul- do mundo repousa sobre os ombros do ho-
tural e aqueles com base no conteúdo sem um mem branco.
meio de comunicação como suporte. 5. Segundo Gumperz (1982) o conlito co-
Na verdade, as culturas da expressão tendem municacional entre os americanos e os nati-
a ver o conlito sobre a base bipolar: correto- vos nasceu da visão de que os dois grupos têm
errado, entre as culturas de conteúdo se vê a diferentes argumentos de interesse recíproco.
Epílogo
As duas imagens das capas deste livro exprimem a minha intenção em explicar o
sentido da arqueologia preventiva.
A capa principal representa o convite a educar. Gesto simples e espontâneo de
observação em busca de se compreender o que se vê, de reter a informação não só
com a memória visual, mas por meio da linguagem escrita.
A imagem que fecha o livro é bastante simbólica e eloquente: um navio encalhado
na areia e abandonado ao tempo na costa da Argólida, na Grécia.
Este caso emblemático nos aponta que os desastres são imprevisíveis. O homem
não controla a natureza nem seus próprios inventos. Nosso papel é minimizar este
grau de imprevisibilidade com a prevenção.
Agir arqueologicamente signiica recolher os fragmentos passados e por meio de-
les observar, documentar, analisar, compreender e resgatar a memória coletiva
encontrando respostas para as questões que devemos gerir e mediar no cotidiano.
“Educar preventivamente é educar pela memória”: como me ensinou meu pai,
a quem dedico este trabalho.
Notas
1. A imagem da capa principal refere-se ao Museu de Micenas, em Argolida na Grécia.
© Georgios Dimitriadis.
2. A foto posterior foi registrada em Astros, na região de Argólida, na Grécia em 2009.
© Georgios Dimitriadis.
3. Quero expressar meus agradecimentos a Bosy de Oliveira Campos pela sua cuidadosa
tradução do texto em língua francesa e em particular a Georgios Dimitriadis que con-
tribuiu para o apefeiçoamento desta obra com sua parceria nas traduções dos textos em
língua inglesa e italiana.