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Como os amapaenses da
OrçaFascio criaram a maior
plataforma de orçamento de
obras do país

A equipe da OrçaFascio, em Macapá. Ao centro, de braços


cruzados, os fundadores Fábio Santos e Antonio Fascio
(camiseta branca).
Luana Dalmolin - 26 DEZ 2017

A OrçaFascio é uma startup amapaense, criada há seis


anos, que se tornou o maior site de orçamentos de obras
de construção civil do país, com 47 mil usuários
cadastrados e um crescimento médio de 135% ao ano.
Em 2017, faturou 700 mil reais com o licenciamento dos
três softwares que oferece. Entre os clientes há empresas
e instituições de porte, como Infraero, Embrapa, Sabesp
e o Exército Brasileiro. A startup já exporta sua
tecnologia para parceiros em Angola, Portugal e Estados
Unidos e, em 2018, quer abrir um escritório no Canadá.
Os dados acima mostram uma trajetória de sucesso, que
é marcada pela persistência de seu fundador, o
amapaense Antonio Fascio, 40, que apesar de ter
frequentado duas faculdades, uma de engenharia e outra
de sistemas de informação, considera-se autodidata. Ele
teve a sacada de usar a sonoridade de seu sobrenome
(que lembra “fácil”) junto à corruptela de “orçamento”,
daí OrçaFascio. Antonio não concluiu nenhuma das
faculdades, e acredita que sua formação se deu mesmo
na labuta, com a mão na massa:

“Fui criado no meio de peão,


fui educado nas obras e não na
Sorbonne”

A intimidade com orçamentos de obras remonta à sua


adolescência, quando aos 15 anos começou a ajudar seu
pai, que era dono de uma construtora. Depois que o pai
morreu, Antonio permaneceu por anos ao lado do irmão
no negócio familiar, até que, em meados de 2003, surgiu
a vontade de ter a sua própria empresa de engenharia e
tecnologia.

O PRIMEIRO BUSINESS DÁ ERRADO, MAS ENSINA

O dinheiro para investir no negócio só viria três anos


depois, em 2006, com a venda de uma casa. Sua aposta
inicial foi uma espécie de ensaio para o que viria a ser a
OrçaFascio — hoje, o software para engenheiros permite
uma pesquisa simplificada e preços atualizados
automaticamente, além de seguir as regras do TCU
(Tribunal de Contas da União). Bem diferente de sua
primeira versão. “O software não era intuitivo, rodava
numa versão desktop que precisava ser constantemente
atualizada pelo usuário, além disso, não se diferenciava
das ferramentas existentes do mercado. Em resumo, o
dinheiro acabou e a empresa não saiu do papel”, conta o
empreendedor.

É desta experiência que Antonio tirou uma de suas


máximas: “Dinheiro atrapalha uma startup”. Ele se
explica, dizendo que é importante que o dono de um
negócio se envolva pessoalmente em todos os processos:
da administração, passando pela criação de conteúdos,
até o relacionamento com os clientes. Quanto ao sonho
de ter a sua empresa, ele ainda teve que esperar alguns
anos até que em 2009, cursando o último ano de sua
segunda graduação de sistemas de informação, sentiu
que estava pronto para retomar os planos.

Foi quando conheceu o programador Fábio Santos, 33,


hoje seu sócio na OrçaFascio. Antonio conta que Fábio
passou um orçamento de 10 mil reais para fazer a
programação do site e mudou de ideia quando ele lhe
apresentou uma nova proposta. Ele conta:

“Cheguei até ele com uma


mochila onde estava o
dinheiro e perguntei se ele
preferia os 10 mil reais ou 50%
do negócio. Ele aceitou a
sociedade e eu pensei,
aliviado, que dessa vez não
iria me ferrar sozinho”

Sem ter que desembolsar os 10 mil reais na feitura do


site, de fevereiro de 2010 a abril de 2011, os dois sócios
gastaram apenas 80 reais por mês com o servidor
do, enquanto trabalharam na construção da plataforma
todos os dias, das nove da noite até meia-noite,
impreterivelmente. Na época, ambos eram funcionários
públicos e tiveram que conciliar o trabalho com a função
de empreendedores para se manter financeiramente.
Ambos são casados e têm família. Antonio é pai de cinco
crianças e Fábio tem dois filhos.
Antonio (ao centro) e funcionários da OrçaFascio no escritório em Macapá.

No dia 11 de abril de 2011, a OrçaFascio lançava sua


primeira plataforma estável sem banda larga
disponível — a tecnologia só chegaria a Macapá em
2014. Finalmente, eles tinham em mãos um sistema
orçamentário fácil de usar e capaz de proporcionar uma
economia de até 20% na cotação das obras, já que a
plataforma possui uma base de dados integrada ao
Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil (SINAPI), que informa com precisão a
quantidade e os custos com material, mão de obra e
equipamentos, além do tempo máximo de duração da
obra.

COMO MONETIZAR UMA BOA IDEIA?

Apesar de acreditarem ter em mãos um bom negócio,


Antonio e Fábio, não sabiam como monetizá-lo, pois
ainda não tinham ainda encontrado um modelo de
negócio sustentável. À época, a plataforma tinha 15 mil
usuários, que usavam gratuitamente o sistema, e crescia
em um ritmo de 25 usuários por dia. A
participação deles na Campus Party Recife, em 2014,
seria um divisor de águas para a startup. Antonio conta
que foi um amigo quem tomou a iniciativa de inscrever a
OrçaFascio no evento:

“Sou preto, pobre e moro


longe. Você acha mesmo que a
Campus Party vai dar bola pra
mim?”
Foi com esta reação que Antonio recebeu a notícia, mas,
para sua surpresa, a OrçaFascio não somente foi
selecionada para participar do evento, como seu negócio
se consagrou como destaque daquela edição. “Para falar
a verdade, foi ali que descobri que tinha uma startup,
um modelo que poderia ser escalável. Tínhamos que
preparar um pitch e eu precisei que pesquisar no
YouTube para saber o que era isso”, conta.

Ao final de três semanas transformadoras, os dois


sócios voltariam para Macapá com um plano de
negócios e uma versão paga da plataforma. Em 2015, as
assinaturas anuais (que hoje vão de 899 reais a 1500
reais) começaram a ser comercializadas. Ainda é
possível usar o software gratuitamente, mas algumas
funcionalidades são restritas a assinantes, como a
geração de relatórios. No primeiro mês com a versão
paga rodando, o faturamento da startup pulou de dois
para oito mil reais.

Outra virada importante para a OrçaFascio foi a


participação no programa de aceleração da Startup
Farm, entre abril e maio de 2016, em São Paulo. Como
resultado da experiência, novas mudanças no modelo de
negócio foram feitas, o que resultou em um crescimento
de 400% em relação ao ano anterior. O plano gratuito
passou a valer apenas para orçamentos de até 100 mil
reais e a permitir cinco consultas de composição (como
se chamam serviços que compõem uma obra, tais como
limpeza do terreno, alojamento, escavação etc.) por dia,
restrita à tabela SINAPI. No total, a plataforma possui
13 tabelas com 57 mil composições disponíveis.

O CANADÁ E O MUNDO, SEM ESQUECER O AMAPÁ

Atualmente, a OrçaFascio tem três tipos de programas:


o carro-chefe é a plataforma para planejar o orçamento
da obra (“Módulo Orçamento”), o segundo é um
programa que faz o controle dos materiais no canteiro
de obras (“Módulo Compras”) e um terceiro funciona
para analisar o andamento da construção (“Módulo
Medição de Obra”).

Antonio diz que em breve quer lançar o “Diário de


Obra”, reformular o Módulo de Medição e também
lançar uma espécie de OrçaFascio turbinado, que faz
parte dos planos de internacionalização. O Canadá foi o
país escolhido para isso, por se tratar, na visão dos
sócios, de um celeiro de tecnologia e uma porta aberta
para os Estados Unidos. Os planos incluem uma
temporada de sete a oito meses no Canadá e a previsão
de abertura do escritório é outubro de 2018. Eles
esperam faturar meio milhão de dólares já no primeiro
ano.

A equipe da OrçaFascio hoje tem 12 pessoas (ainda que


no site apareçam apenas sete): são cinco no
Desenvolvimento, três em Vendas, duas no Marketing e
Suporte, Fábio como CTO e Antonio, como CEO. Além
da internacionalização, há o plano de mudar a operação
da startup para São Paulo, mantendo apenas o
Desenvolvimento em Macapá, mas os sócios são
cuidadosos com este passo.

“Hoje, contamos com um programa de pré-aceleração


do Sebrae do qual fazem parte 30 startups e o
StartupDay Amapá, também criado por eles. Não
queremos perder este momento. A solução, por
enquanto, é passar 15 dias em São Paulo, a cada dois ou
três meses”, diz Antonio. Ele e Fábio prestam mentoria a
outras startups e também fundaram uma associação de
empresas de base tecnológica em Macapá. É assim que,
mesmo que cresçam e saiam dali, pretendem seguir
influenciando e estimulando a formação de um
ecossistema de startups no Amapá.

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Logo

• Projeto: OrçaFascio
• O que faz: Software para engenharia e
cotação de obras de construção civil

• Sócio(s): Antônio Fascio e Fábio Santos


• Funcionários: 12 (incluindo os sócios)
• Sede: Macapá

• Início das atividades: 2011


• Investimento inicial: R$ 80 reais
• Faturamento: R$ 700.000

• Contato: fascio@orcafascio.com (96)


98122-1504 e (11) 3090-1302

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