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Curso

Economias com agentes heterogêneos, mercados incompletos e risco


idiossincrático.

Duração: aprox. 12 aulas (segundas as 9hs) de uma hora e meia.

Referência básica: Ljungqvist e Sargent (2012) + slides.

Avaliação: projeto de pesquisa (60%) + exercı́cios avulsos (40%).

Página do curso:
sites.google.com/site/eduardozilberman/teaching/pos-macro-ii-2020-2
Econonomia com agentes heterogêneos

Mundo neoclássico: um setor representado por uma firma competitiva

Função de produção: Yt = zt F (Kt , Ht )


retornos constantes de escala
FK > 0, FH > 0, FKK < 0, FHH < 0
Lei de acumulação de capital: Kt+1 = (1 − δ)Kt + It

Objeto de estudo neste curso: mundo neoclássico com agentes


heteorgêneos.

Principais fontes de heterogeneidade: produtividade no mercado de


trabalho de cada agente é aleatória (risco idiosincrático) e riqueza inicial.

Há também as economias com firmas heterogêneas (equilı́brio industrial).


Econonomia com agentes heterogêneos
Por que estudar economias com mercados incompletos e agentes
heterogêneos?

Com mercados completos, economias admitem um agente


representativo, e a dinâmica da distribuição de riqueza, na maioria
dos casos, é pobre e não interage com a dinâmica agregada.

Com mercados incompletos, equilı́brio estacionário requer


distribuição estacionária (ou invariante) no tempo.

Arcabouço macroeconômico básico para estudar desigualdade


sob uma ótica quantitativa, assim como suas interações com a
dinâmica agregada.

Laboratório útil para o estudo de polı́ticas públicas que


envolvem alguma forma de redistribuição.
Econonomia com agentes heterogêneos
Roteiro:
aulas 1 e 2: agregação, agentes heterogêneos com mercados
completos
aulas 3 e 4: ferramentas
aula 5: agentes heterogêneos com mercados incompletos
aulas 6 e 7: aplicações, ótimo restrito
aula 8: incerteza agregada
aula 9: gerações imbricadas e ciclo da vida
aula 10: firmas heterogêneas
aulas 11 e 12: agentes heterogêneos em tempo contı́nuo

Pré-requisitos: Sargent e Ljungqvist, seções 2.2 (cadeias de Markov),


8.1-9 e 12.1-10 (equilı́brio competitivo com mercados completos).
Agregação, Agentes Heterogêneos com Mercados
Completos

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aulas 1 e 2

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 5/419


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Agregação a la Gorman

Objetivo: agregação das curvas individuais de demanda.

Referência: seção 4D do Mas Colell.

Economia estática:

Com M bens de consumo, {c 1 , ..., c M }, cujos preços são dados por


p = {pm }M
m=1 ;

Com N agentes indexados por i = 1, ..., N, cada um dotado com ai


unidades de riqueza, a = {ai }N
i=1 (única fonte de heterogeneidade);

Cada agente possui utilidade ui , estritamente crescente e côncava


em cada um dos M bens;

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Agregação a la Gorman

Demanda agregada para um bem especı́fico c m :


N
X
C m (p, a) = cim (p, ai )
i=1

Portanto, em geral, é preciso saber toda a distribuição de riqueza


a = {ai }N
i=1 para determinar as quantidades agregadas.

Pergunta de primeira ordem em macro: agregação!?

Neste caso, sob que condições podemos escrever a demanda agregada


como função apenas de p e da riqueza agregada:
N
X
C m (p, A), onde A = ai .
i=1

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Agregação a la Gorman

Para que a demanda agregada dependa apenas de p e A, a igualdade


abaixo tem que ser verdade

dc m (p, ai ) dcjm (p, aj )



− i = para todo (i, j) e para todo m.
dai daj
daj =−dai

Em palavras, qualquer realocação de riqueza, que mantém A constante,


não muda a demanda agregada pelos bens.

Esta condição é verdadeira se todos agentes possuem a mesma propensão


marginal a consumir (da riqueza para qualquer nı́vel de riqueza):

cim (p, ai ) = κm m
i (p) + π (p)ai ,

ou seja, curvas de Engel (gastos como fç da riqueza) lineares na riqueza.


PI
Agregação: C m (p, A) = κ̄(p) + π m (p)A, onde κ̄m (p) = i=1 κm
i (p).

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Agregação a la Gorman

Gorman (1961) enunciou seu teorema em termos da utilidade indireta.

Teorema. Se (e somente se) as funções de utilidade indireta dos agentes


podem ser representadas como

vi (p, ai ) = αi (p) + β(p)ai ,

então consumo agregado pode ser expresso como a escolha de um


agente representativo com utilidade indireta
I
X
V (p, A) = ᾱ(p) + β(p)A, onde ᾱ(p) = αi (p).
i=1

∂vi (p,ai )
m
“Prova”: use a identidade de Roy, c m (p, ai ) = − ∂v∂p
i (p,ai )
, para obter a
∂ai
demanda do slide anterior, e vice-versa.
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Agregação a la Gorman: comentários

Para obter agregação a la Gorman, precisamos de uma utilidade


indireta que pode ser separada em dois termos:

Um termo depende da identidade i e preços p, mas não da


riqueza, αi (p);

Outro, comum para todos, que é um função dos preços p,


multiplicado pela riqueza ai , β(p)ai .

Resultado importante. Para além da agregação, nos ensina como


construir preferências para um agente representativo.

Resultado poderoso. Obtido apenas impondo hipóteses (fortes) no


lado da demanda, sem impor restrições na estrutura de mercados.

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Duas classes de u que satisfazem a forma de Gorman

Primeiro, utilidade quasi-homotética.

Utilidade u é homotética quando pode ser representada como

u(c) = g (h(c)),

onde h é uma função homogênea e g uma transformação monotônica.

É possı́vel mostrar que:


1 As funções de demandas relativas dependem apenas dos preços
relativos, não da riqueza.
2 As curvas de Engel são lineares e passam pela origem.

Utilidade quasi-hometética é mais geral: curvas de Engel lineares, mas


a constante não precisa ser zero (não passa pela origem).

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Duas classes de u que satisfazem a forma de Gorman

Exemplos de preferências quasi-homotéticas incluem:



 ln(α + c) α∈R LOG



1
u(c) = 1−σ (α + c)1−σ α ∈ R, σ > 0, σ 6= 1 CRRA




−α exp(−ηc) η > 0, α > 0 CARA

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Duas classes de u que satisfazem a forma de Gorman

Segundo, utilidade quasi-linear (linear em um argumento).

Exemplo: dois bens (c1 , c2 ).

max ui (ci1 ) + βci2 sujeito a p1 ci1 + ci2 = ai


{ci1 ,ci2 }

Condições de primeira ordem:

ui0 (ci1 ) = λi p1 e β = λi ,

onde λi é o multiplicador de Lagrange.

−1
Demanda pelo bem 1 não depende da riqueza: ci1 = ui0 (βp1 );

−1
Demanda pelo bem 2 sai residualmente: ci2 = ai − p1 ui0 (βp1 ).

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Duas classes de u que satisfazem a forma de Gorman

−1
Demanda pelo bem 1 não depende da riqueza: ci1 = ui0 (βp1 );

−1
Demanda pelo bem 2 sai residualmente: ci2 = ai − p1 ui0 (βp1 ).

Ambas as demandas possuem propensões marginais a consumir da


riqueza constantes (zero e um): teorema de Gorman se aplica.

De fato, utilidade indireta:


−1 −1
vi (p1 ; ai ) = ui (ui0 (βp1 )) + β[ai − p1 ui0 (βp1 )]

= αi (p1 ) + βai

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Referência: Chatterjee (1994)
Tempo: discreto e infinito, t = 0, 1, 2, ...
População: finita, i = 1, ..., N, com vida-infinita
Bens: um bem de consumo / um bem de capital
Estrutura informacional: certeza
Tecnologia: “mundo neoclássico”, yt = f (kt ) ≡ F (Kt /Ht , 1)
Dotação:
PN
i tem participação inicial s0i na firma, tal que i=1 s0i = 1
firma representativa possui capital inicial k0 > 0
Preferências: sobre a sequência consumo {cti }∞
t=0

X
β t u(cti ) , β ∈ (0, 1), u 0 > 0, u 00 < 0
t=0

Estrutura de mercado: completos com transações no tempo-0


Conceito de equilı́brio: competitivo

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Revisão: mercados completos com transações no tempo-0 (Ljungqvist e
Sargent, capı́tulos 8 e 12).

Arrow-Debreu security: instrumento financeiro que dá direito a uma


determinada quantidade do bem de consumo em um determinado
perı́odo (não há incerteza).

Transações no tempo-0: os agentes só podem negociar estes


instrumentos em t = 0.

Mercados completos: para todo t, existe um Arrow-Debreu security.

Preço destes instrumentos: pt (normaliza p0 = 1).

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Revisão: mercados completos com transações no tempo-0 (Ljungqvist e


Sargent, capı́tulos 8 e 12).

A alocação de equilı́brio (competitivo) é robusta as seguintes variações


na estrutura de mercado:

os agentes podem negociar com “Arrow-Debreu securities” em


qualquer perı́odo

os agentes podem negociar apenas com instrumentos de um


perı́odo (“Arrow securities”) em todos os perı́odos

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Problema da firma no tempo-0: dado {pt }∞
t=0 e k0 > 0,


X
a0 = max pt {f (kt ) − it }
{kt+1 }∞
t=0
t=0
s.a kt+1 = (1 − δ)kt + it

Problema do consumidor i no tempo-0: dado {pt }∞


t=0 ,


X
max β t u(cti )
{cti }∞
t=0 t=0

X
s.a pt cti ≤ s0i Na0
t=0

Nota: capital pertence a firma que pertence aos agentes. Problema


equivalente a atribuir propriedade do capital aos agentes, os quais o
alugam para a firma.
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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Definição: um equilı́brio competitivo com transações no tempo-0 é uma


∞ ∞
alocação {{cti }N
i=1 , kt+1 }t=0 , um sistema de preços {pt }t=0 , uma
i N
distribuição de riqueza inicial, {s0 }i=1 , e um estoque de capital per capita
inicial k0 > 0, tais que

dado o sistema de preços e a distribuição de riqueza inicial, {cti }∞


t=0
soluciona o problema do consumidor i, para todo i = 1, ..., N.

dado o sistema de preços e o capital per capita inicial, {kt+1 }t=0


soluciona o problema da firma.

a alocação é factı́vel (“market clearing”):


PN i
i=1 ct
+ kt+1 = f (kt ) + (1 − δ)kt , para todo t ≥ 0.
N

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Riqueza do agente i em τ = 0: a0i = s0i Na0 .

Riqueza do agente i em τ = t: ati = sti Nat .

Problema da firma: em τ = t,

X pτ
at = max {f (kτ ) + (1 − δ)kτ − kτ +1 }
τ =t
pt
dado k0 > 0

pt : é o preço do bem a ser consumido em t em termos do bem no


tempo-0.

pt : preço do bem a ser consumido em τ em termos do bem em t.

Objetivo: estudar a evolução da distribuição de riqueza, {ati }Ii=1 , no


mundo neoclássico com mercados completos.
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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Hipótese: utilidade instantânea possui uma das formas funcionais abaixo



 ln(α + c) α∈R LOG



1
+ c)1−σ



 1−σ (α α ∈ R, σ > 0, σ 6= 1 CRRA
u(c) =
− 21 (α − c)2 α>0 QUADRÁTICA








−α exp(−ηc) η > 0, α > 0 CARA

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Considere a utilidade LOG: u(c) = ln(α + c)

Problema do consumidor: em τ = t,

X
max β τ −t u(cτi )
τ =t

X pτ
s.a cτi ≤ ati
τ =t
pt

pτ β τ −t pt
CPO: β τ −t α+c
1
i = pt λi ⇒ cτi = λi pτ
−α
τ

Usando a restrição orçamentária:


∞ ∞ ∞
pτ β τ −t pt
 
X pτ i X 1 X pτ
cτ = i
− α = i
− α = ati
τ =t
pt τ =t
pt λ p τ (1 − β)λ τ =t
pt

" #
1 X pτ
⇒ = (1 − β) ati + α
λi p
τ =t t

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Usando a CPO com τ = t e substituindo 1/λi :

1
cti = −α=
λi

" #
X pτ
= (1 − β) ati +α −α=
τ =t
pt

" #
X pτ
= α (1 − β) − 1 + (1 − β)ati
τ =t
pt

Proposição: para todas utilidades instantâneas acima:

cti = φ(pt ) + θ(pt )ati ,

onde pt = {pt , pt+1 , ...}.

Consumo é uma fç linear da riqueza: preferências quasi-homotéticas.


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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Implicações para a dinâmica agregada:
PN
consumo per capita: ct ≡ N1 i=1 cti
PN PN
riqueza per capita: N1 i=1 ati = N1 i=1 sti Nat = at

cti = φ(pt ) + θ(pt )ati


ct = φ(pt ) + θ(pt )at

Podemos recuperar a dinâmica agreagada através de um agente


representativo? Sim! Como?

Problema do agente representativo: no tempo-0,



X
max β t u(ct )
t=0

X
s.t pt ct ≤ a0
t=0

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
u 0 (ct ) pt
CPO do agente representativo: βu 0 (ct+1 ) = pt+1

Problema da firma representativa: no tempo-0,



X
a0 = max pt {f (kt ) + (1 − δ)kt − kt+1 }
t=0
dado k0 > 0
pt
CPO da firma representativa: f 0 (kt+1 ) + (1 − δ) = pt+1

⇒ equação de Euler: u 0 (ct ) = βu 0 (ct+1 )[f 0 (kt+1 ) + (1 − δ)]

⇒ “market clearing”: ct + kt+1 = f (kt ) + (1 − δ)kt

Conclusão: com preferências quasi-homotéticas e agentes heterogêneos


apenas na dotação inicial, dinâmica agregada do modelo de cresc.
neoclássico pode ser caracterizada através de um agente representativo.

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Implicações para a dinâmica da distribuição de riqueza

Função consumo:

cti = φ(pt ) + θ(pt )ati


ct = φ(pt ) + θ(pt )at

Logo:

cti ct
< ⇐⇒ φ(pt )(ati − at ) > 0
ati at

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Restrição orçamentária em t e t + 1:

X ∞
X
pτ cτi = pt ati ⇐⇒ pt cti + pτ cτi = pt ati
τ =t τ =t+1
i
ci pt+1 at+1
⇐⇒ pt cti + pt+1 at+1
i
= pt ati ⇐⇒ ti + =1
at pt ati
i
cti
 
at+1 pt
⇐⇒ = 1 −
ati pt+1 ati

Agregado:
 
at+1 pt ct
= 1−
at pt+1 at

Logo:
i
at+1 at+1 ci ct
i
> ⇐⇒ ti < ⇐⇒ φ(pt )(ati − at ) > 0
at at at at

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Finalmente,
i
at+1 at+1 s i Nat+1 at+1 si
i
> ⇐⇒ t+1i > ⇐⇒ t+1 >1
at at st Nat at sti
e

φ(pt )(ati − at ) > 0 ⇐⇒ φ(pt )(sti Nat − at ) > 0 ⇐⇒ φ(pt )(sti − 1/N) > 0

Logo:
i
st+1
> 1 ⇐⇒ φ(pt )(sti − 1/N) > 0
sti

Resto da aula: foco em LOG, u(c) = log(α + c).


1
Resultados válidos para CRRA, u(c) = 1−σ (α + c)1−σ

Outros casos: veja Chaterjee (1994).


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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

i
st+1
> 1 ⇐⇒ φ(pt )(sti − 1/N) > 0
sti
i
st+1
= 1 ⇐⇒ φ(pt )(sti − 1/N) = 0
sti

h P∞ i

Caso LOG: u(c) = ln(α + c) ⇒ φ(pt ) = α (1 − β) τ =t pt −1 .

Proposição: se utilidade é LOG ou CRRA e α = 0, então

i
α = 0 ⇒ φ(pt ) = 0 ⇒ st+1 = sti

distribuição de riqueza inicial permanece inalterada

não há mobilidade social

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

u(c) = ln(α + c)

Hipóteses: α < 0 e c + α ≥ 0.

numa solução interior, cti > −α para todo t e i

hipóteses sobre k0 e {s0i }Ii=1 tais que exista solução interior

interpretação: −α é o nı́vel de consumo de subsistência

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
No steady-state: f 0 (k ∗ ) + (1 − δ) = 1/β

Lema: se utilidade é LOG ou CRRA e α < 0, então φ(pt ) > 0 se e


somente se kt < k ∗ .

Prova (caso LOG):


se kt < k ∗ , kt converge monotonicamente para k ∗
pt pt
dado a CPO da firma, f 0 (kt+1 ) + (1 − δ) = pt+1 , então pt+1 > 1/β
decresce monotonicamente para 1/β
pτ +1
logo: para todo τ ≥ t, pτ ≤β
pτ pτ pτ −1 pt+2 pt+1
logo: pt = pτ −1 pτ −2 ... pt+1 pt < β τ −t
usando a definição de φ(pt ) e α < 0
∞ ∞
" # " #
X pτ X
τ −t
φ(pt ) = α (1 − β) − 1 > α (1 − β) β −1 =0
p
τ =t t τ =t

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

i
st+1
> 1 ⇐⇒ φ(pt )(sti − 1/N) > 0
sti

Proposição: se utilidade é LOG ou CRRA e kt < k ∗ , na transição para o


estado estacionário:

α < 0 ⇒ φ(pt ) > 0

ricos acumulam propocionalmente mais que os pobres

distribuição de riqueza fica cada vez mais desigual

não há mobilidade social (modelo de castas)

Obs.: se α > 0 ou kt > kt∗ , a distribuição de renda ficaria mais igual,


mas ainda sim não haveria mobilidade social.
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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
Intuição:
Numa economia que acumula capital (kt < k ∗ ), consumo cresce.
i
α+ct+1
Algebricamente (caso LOG): α+cti
= β[f 0 (kt+1 ) + (1 − δ)] > 1
Renda também cresce nesta economia.
A propensão a poupar do agente depende o quão mais devagar o
seu consumo desejado cresce relativo a renda.
α < 0: consumo dos agentes ricos cresce mais devagar que a renda.

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Caso geral:
i
st+1
> 1 ⇐⇒ φ(pt )(sti − 1/N) > 0
sti

Utilidades:


 ln(α + c) α∈R LOG



1
+ c)1−σ



 1−σ (α α ∈ R, σ > 0, σ 6= 1 CRRA
u(c) =
− 21 (α − c)2 α>0 QUADRÁTICA








−α exp(−ηc) η > 0, α > 0 CARA

Lema (caso geral): φ(pt ) > 0 se e somente se α(kt − k ∗ ) > 0.

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico
No estado estacionário, distribuição de riqueza é indeterminada.
Conjunto de equações no estado estacionário:

f 0 (k ∗ ) = 1/β + (1 − δ)
1
a∗ = [f (k ∗ ) − δk ∗ ]
1−β
X N
si = 1
i=1
c i = (1 − β)s i Na∗ , i = 1, 2, ..., N.

(N + 3) equações e (2N + 2) icógnitas. Se N > 1, multiplicidade de


distribuições de riqueza no estado estacionário.
se N = 1, estado estacionário é único.
se N = 2, contı́nuo de estados estacionários de dimensão 1.
Entretanto: dado uma dist. de riqueza inicial, {s0i }N i=1 , a dist. de riqueza
no caminho de equilı́brio, {sti }N
i=1 para todo t, é única.
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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Robustez 1: agentes possuem diferentes fatores de desconto.

Eq. de Euler no caso LOG (com α = 0): para todo i,


i
ct+1 = β i [f 0 (kt+1 ) + (1 − δ)]cti

Defina: β̄ = max{β 1 , ..., β N }

No steady-state: β̄[f 0 (k ∗ ) + (1 − δ)] = 1


caso contrário: cti → ∞, para i tal que β i [f 0 (k ∗ ) + (1 − δ)] > 1.
note que: cti → 0 para todo i tal que β i < β̄.

No limite, o tipo mais paciente possui toda a riqueza (distribuição


degenera).

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Robustez 2 (Caselli e Ventura, 2000): análise em tempo contı́nuo


(crescimento neoclássico e crescimento endógeno), com três fontes de
heterogeneidades (trabalho-eficiência, riqueza e preferências).

Modelo com agregação (agente representativo) a la Gorman, compatı́vel


com dinâmicas interessantes de desigualdade e mobilidade social.

Crı́tica: preferências (e cohoques de preferências) não são observáveis,


portanto difı́cil confrontar o modelo com os dados.

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Modelo de crescimento neoclássico não-estocástico

Robustez 3: mercados incompletos.

Caso extremo: autarquia (sem transações). Cada agente possui ...

dotação inicial k0i

acesso a uma tecnologia própria

Literatura de crescimento: a riqueza de cada agente convergirá para k ∗

Conclusão 1: no limite, não há desigualdade de riqueza

Conclusão 2 (talvez paradoxal): mercado financeiro menos desenvolvido


pode levar a menos desigualdade de riqueza

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Abordagem de Negishi

Negishi (1960): método para computar o equilı́brio competitivo em


economias com agentes heterogêneos, nas quais o primeiro
teorema do bem-estar vale (e.g., com mercados completos).

Truque é procurar pelos pesos “corretos” na função de


bem-estar social no problema do planejador, que correspondem
ao equilı́brio competitivo na economia descentralizada.

Útil quando o teorema de Gorman não se aplica e, portanto, não


sabemos escrever as preferências do agente representativo.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 40/419


Abordagem de Negishi: Exemplo
Modelo de crescimento neoclássico nos slides anteriores, com N = 2.

Problema do planejador: dado k0



X
max
1 2
β t [µ1 u(ct1 ) + µ2 u(ct2 )]
{ct ,ct ,kt+1 }
t=0

sujeito a
1 1 1 2
c + ct + kt+1 = f (kt ) + (1 − δ)kt
2 t 2

Condições de primeira ordem com respeito a cti e kt+1 :

2µi β t u 0 (cti ) = θt

θt = θt+1 [f 0 (kt+1 ) + (1 − δ)]


onde θt é o multiplicador de Lagrange associado a restrição de recursos.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 41/419
Abordagem de Negishi: Exemplo
Modelo de crescimento neoclássico nos slides anteriores, com N = 2.

Problema do consumidor i no tempo-0: dado {pt }∞


t=0 ,

X
max β t u(cti )
{cti }∞
t=0 t=0

sujeito a

X
pt cti ≤ s0i 2a0
t=0

Condições de primeira ordem com respeito a cti :


β t u 0 (cti ) = λi pt
onde λi é o multiplicador de Lagrange associado a restrição orçamentária.
1
Se u(cti ) = ln cti , então λi = (1 − β)s0i 2a0 .
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 42/419
Abordagem de Negishi: Exemplo

Note que:
u 0 (ct1 ) µ2 λ1
0 2 = =
u (ct ) µ1 λ2

Como u 00 < 0, planejador aloca consumo proporcionalmente ao peso


que dá a cada consumidor.
A razão de pesos é igual ao inverso da razão de multiplicadores de
Lagrange no problema do agente.

No caso LOG e α = 0:
µ2 λ1 s2
= = 01
µ1 λ2 s0
Impondo a normalização, µ1 + µ2 = 1, e especificando µi = s0i ,
recupera-se a solução competitiva.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 43/419


Abordagem de Negishi: Exemplo

Finalmente, note que:


θt pt
= f 0 (kt+1 ) + (1 − δ) =
θt+1 pt+1

Preços de equilı́brio recuperados através da sequência de multiplicadores


de Lagrange (valor sombra de uma unidade extra de consumo).

Exemplo especı́fico: solução fechada para λi s no equilı́brio competitivo.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 44/419


Abordagem de Negishi: Caso Geral

Caso geral: N tipos de agente com distribuição inicial de riqueza


(dotação), {a0i }N
i=1 , com preferências u.

Algoritmo em quatro passos.

Primeiro passo, no problema do planejador P de Negishi, conjecture um


N
vetor de pesos µ = {µ1 , µ2 , ..., µN }, tal que i=1 µi = 1.

Note que o simplex N-dimensional,


( N
)
X
∆N = µ ∈ RN
+ : µi = 1 ,
i=1

traça todo conjunto de alocações ótimo de Pareto.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 45/419


Abordagem de Negishi: Caso Geral

Segundo passo, do problema do planejador de Negishi, compute


∞ ∞
{{cti }N
i=1 }, kt }t=0 e a sequência de multiplicadores de Lagrange {θt }t=0 .

Na prática, para cada t, data (θt , kt ) é preciso solucionar N + 2 equações,

µi β t u 0 (cti ) = θt para i = 1, ..., N

θt
= f 0 (kt+1 ) + (1 − δ)
θt+1
PN i
i=1 ct
+ kt+1 = f (kt ) + (1 − δ)kt ,
N

em N + 2 icógnitas ({cti }N
i=1 , kt+1 , θt+1 ).

Lembre que na economia descentralizada, a demanda por consumo


depende de toda sequência de preços, um objeto de dimensão infinita.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 46/419


Abordagem de Negishi: Caso Geral

Segundo passo, ...

Cuidado. k0 é dado, mas θ0 não. É preciso um chute incial θ0 , e iterar


até o capital convergir.

Razão. Condição de transversalidade (que precisa ser atendida no modelo


de crescimento neoclássico):

lim β t u 0 (cti )kt = 0 ⇒ lim θt kt = 0


t→∞ t→∞

Caso o valor de θ0 não seja o “correto”, capital diverge.

Por fim, é preciso critério de covergência, T e  > 0 tal que |kT − k ∗ | < .

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 47/419


Abordagem de Negishi: Caso Geral
Terceiro passo, explore a equivalência entre os preços pt e os
multiplicadores θt para verificar se as restrições orçamentárias dos
agentes estão satisfeitas no vetor µ conjecturado.

Defina uma função de transferência implı́cita,



X
τi (µ) = θt (µ)cti (µ) − θ0 a0i ,
t=0

que diz se o planejador está alocando demais se τi (µ) > 0, ou de menos


se τi (µ) < 0, para o agente i.

Propriedade útil:
PN ∞
i=1 τi (µ)
X
= pt ct − θ0 a0 = 0,
N t=0

uma vez o valor presente dos recursos de uma economia não pode ser
maior que a riqueza corrente.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 48/419
Abordagem de Negishi: Caso Geral

Quarto passo, iterar em µ, até achar o vetor de pesos µ∗ que zera as


funções de transferêcias de todos os indivı́duos i, τi (µ∗ ) = 0.

µ∗ é o vetor de pesos que gera a alocação eficiente que não necessita de


transferências entre os agentes para ser implementada.

Ou seja, o equil. competitivo no qual as dotações iniciais são suficientes


para que cada indivı́duo arque com a parte da alocação que lhe cabe.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 49/419


Agregação com mercados completos

Constantinides (1982): abordagem de Negishi para provar teoremas de


agregação, quando os mercados são completos.

Considere uma economia em que os teoremas de bem-estar valem (e.g.,


mercados completos).

Equilı́brio pode ser computado via o problema do planejador de Negishi.



X N
X
max βt µi u(cti )
{cti ,kt+1 }
t=0 i=1

sujeito a

ct + kt+1 = f (kt ) + (1 − δ)kt


PN i
c
ct = i=1 t
N

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 50/419


Agregação com mercados completos
Divida o problema em dois estágios. Primeiro estágio, como alocar o
consumo ct entre os agentes em todo perı́odo t:
N
X
U(ct ) = max µi u(cti )
{cti }
i=1

sujeito a
PN i
c
ct = i=1 t
N
Segundo estágio, problema de investimento/consumo (crescimento
neoclássico):
X∞
max β t U(ct )
{cti ,kt+1 }
t=0
sujeito a
ct + kt+1 = f (kt ) + (1 − δ)kt
Dinâmica agregada do modelo descrita por um agente representativo,
com preferências diferentes das preferências individuais, U 6= u.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 51/419
Agregação com mercados completos
Como construir U? Exemplo com N = 2, µ1 = µ, µ2 = 1 − µ. Condições
de primeira ordem:
µu 0 (ct1 ) = (1 − µ)u 0 (2ct − ct1 ).

Numericamente, é possı́vel computar ct1 = g (ct , µ). Logo,


U(ct ) = µu(g (ct , µ)) + (1 − µ)u(2ct − g (ct , µ)).

Sobre os teoremas de agregação:

Lembrando: Gorman impõe restrições na função utilidade u, mas


vale para qualquer estrutura de mercado.

Constantinides vale para quaisquer u estrit. côncavo (inclusive ui


heterogêneos), mas requer validade dos teoremas de bem-estar.
Por exemplo, quando os mercados são completos.
Desvantagem: embora sempre possı́vel um algoritmo para
computar U, maioria dos casos não comporta solução analı́tica.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 52/419
Agregação com mercados completos: exemplo
Exemplo de modelo com solução analı́tica para U, com preferências
individuais que não satisfazem a forma de Gorman.

Preferências que não são quasi-homotéticas sobre consumo e lazer, mas


mercados completos. Exemplo baseado em Maliar e Maliar (2001, 2003).

Demografia. Contı́nuo de agentesR com vida infinita. αi a medida de


agentes i no conjunto I , tal que: I dαi = 1.

Heterogeneidade inicial na distribuição de riqueza. Agentes dotados uma


unidade de tempo, tal que lazer (lti ) + horas (hti ) = 1.

Preferências:

(cti )1−γ − 1 (1 − hti )1−σ − 1
X  
t
E β +φ .
t=0
1−γ 1−σ

Se σ 6= γ, preferências não são quasi-hometéticas.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 53/419
Agregação com mercados completos: exemplo

Incerteza. Agentes sujeitos a choques idionsincráticos de produtividade


(risco), εit , suponha iid com média 1, e definido no conjunto E .

Tecnologia e problema da firma. Produção agregada é dada por


yt = zt f (kt , nt ), com f satisazendo as propriedades usuais.

Firma representativa aluga o capital kt dos domicı́lios, e emprega


horas-eficiência agregadas nt = I εit hti dαi .
R

Mercados. Mercados competitivos para o bem final, que pode ser usado
para investimento e consumo.

E mercados financeiros completos, que asseguram o risco idiosincrático


(hipótese não realista).

i
Arrow securities, at+1 (ε), que paga unidade de consumo em t + 1 se ε
realizou. Caso contrário, paga zero. pt (ε) é o preço destes instrumentos
financeiros.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 54/419


Agregação com mercados completos: exemplo

Problema dos agentes. Dado k0i , a0i ,



(cti )1−γ − 1 (1 − hti )1−σ − 1
X  
max E βt +φ .
{cti ,kt+1
i ,at+1 (ε)}
t=0
1−γ 1−σ

sujeito a
Z
cti + kt+1
i
+ i
pt (ε)at+1 (ε)dε = (1 − δ)kti + wt εit hti + ati (εit )
E

Fontes de heterogeneidade: dotação de riqueza inicial k0i , a0i , e dotação


de unidades de trabalho-eficiência εit (que pode variar no tempo).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 55/419


Agregação com mercados completos: exemplo

Economia com mercados completos: primeiro teorema do bem-estar vale.


Para achar o equilı́brio, pode-se usar a abordagem de Negishi.

Desafio: achar os pesos “corretos”, tal que os agentes possam “comprar”


a alocação eficiente dada as suas dotações iniciais de riqueza.

Seja µRi a medida de “pesos” atributı́dos aos agentes i no conjunto I , tal


que: I µi dαi = 1. Problema do planejador de Negishi:

(cti )1−γ − 1 (1 − hti )1−σ − 1
X Z  
t
max E β µi +φ dαi .
{cti ,hti ,at+1(ε) }
t=0 I 1−γ 1−σ

sujeito a

ct + kt+1 = (1 − δ)kt + zt f (kt , nt ) ,

xti dαi , mas lembre que nt = εit hti dαi .


R R
onde xt = I I

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 56/419


Agregação com mercados completos: exemplo

Condições de primeira ordem com respeito a cit ,


  γ1
µi
µi (cti )−γ = θt ⇒ cti =
θt

Condições de primeira ordem com respeito a hti ,


  σ1
φµi 1
µi φ(1−hti )−σ = θt fn (k, nt )εit = θt wt εit ⇒ (1−hti )εit = (εit )1− σ
θt wt

Consumo proporcional ao peso na função de bem-estar social


Lazer também é proporcional ao peso (efeito riqueza no mundo
competitivo)
Lazer é inversamente proporcional à produtividade individual
(planejador quer que os mais produtivos trabalhem mais)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 57/419


Agregação com mercados completos: exemplo
Integrando:
Z Z   γ1
µi
ct = cti dαi = dαi
I I θt
Z Z Z   σ1
φµi 1
1 − nt = 1 − εit hti dαi = (1 − hti )εit dαi = (εit )1− σ dαi
I I I θt wt

Mais álgebra:
1
(µi ) γ
cti =R 1 ct
I
(µi ) γ dαi
1 − 1
(µi ) σ εi σ
1 − hti = R 1
1− σ1
(1 − nt )
I
(µi ) σ (εi ) dαi

Substituindo na função objetivo do planejador de Negishi,


∞  i 1−γ
(1 − hti )1−σ − 1

−1
Z
X (ct )
E β t µi +φ dαi ,
t=0 I 1 − γ 1 − σ
e após alguma manipulação algébrica, e transformações monotônicas ...
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 58/419
Agregação com mercados completos: exemplo
... chega-se a formulação com agente representativo: dado K0 ,
∞ 1−γ
(1 − nt )1−σ − 1
 
X
t (ct ) −1
max E β + φΦ ,
{cti ,kt+1
i ,at+1(ε) }
t=0
1−γ 1−σ

sujeito a
ct + kt+1 = (1 − δ)kt + zt f (kt , nt ),

onde: hR iσ
1 1
I
(µi ) σ (εit )1− σ dαi
Φ= hR 1
iγ .
I
(µi ) γ dαi
Note que Φ não depende de t porque choques são iid.

Lembre que a função objetivo de cada indivı́duo é dada por:


∞  i 1−γ
(1 − hti )1−σ − 1

X
t (ct ) −1
E β +φ .
t=0
1−γ 1−σ

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 59/419


Agregação com mercados completos: exemplo
Agregação bem diferente de uma agregação a la Gorman. Razões:

1 Agente representativo possui preferências diferentes dos indivı́duos:


(i) depende de nt (horas-eficiência agregada) e não de ht (horas
agregadas); (ii) peso extra Φ no lazer.

2 O parâmetro que desloca preferências, Φ, depende da distribuição


de choques e da distribuição inicial de dotações (riqueza).

Mas distribuições exógenas (problema simples). Exemplo: sem


heterogeneidade de riqueza, µi = 1, e ln ε ∼ N(−vε /2, vε )
Z σ  
i 1− σ1 i 1 − σ vε
Φ= (εt ) dα = exp ,
I σ 2

a variância do choque afeta as preferências por lazer do agente


representativo fictı́cio.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 60/419


Agregação com mercados completos: exemplo
hR 1 1

I
(µi ) σ (εit )1− σ dαi
Φ= hR 1
iγ .
(µ ) γ dαi
I i

Agregação bem diferente de uma agregação a la Gorman. Razões:

3 Se γ = σ, utilidade é quasi-homotética. Sem choques, Φ = 1 e


ht = nt , e obtém-se uma agregação a la Gorman. Mas com risco
idiossincrático, Φ 6= 1, Gorman não se aplica!

Agregação a la Gorman funciona se (mas não somente se)


riqueza é a única fonte de heterogeneidade.

4 Se γ 6= σ, utilidade não é quasi-hometética. Mesmo sem choques,


Φ depende da distribuição inicial de riqueza.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 61/419


Agregação com mercados completos: exemplo

Maliar e Maliar (2001, 2003): resultados análogos para Cobb-Douglas.

Utilidade instantânea Cobb-Douglas do indivı́duo:


1−σ
(cti )µ (1 − hti )1−µ −1
u(cti , 1 − hti ) = , 1 > µ > 0, σ > 0
1−σ

Utilidade instantânea do agente representativo:


1−σ
(ct )µ (1 − nt )1−µ −1
u(ct , 1 − nt ; Λ) = Λ , 1 > µ > 0, σ > 0
1−σ

“Shifter” Λ depende da distribuição de choques e da distribuição inicial


de dotações (riqueza).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 62/419


Agregação de firmas
Sob que circunstâncias podemos considerar uma firma representativa?

Exemplo:
M firmas, indexadas por i = 1, 2, ..., M
mesma tecnologia neoclássica: z i F (k i , ni )
retornos constantes de escala
Fk > 0, Fn > 0, Fkk < 0, Fnn < 0
mercados competitivos

Cada firma toma os preços como dado:


max{z i F (k i , ni ) − wni − (r + δ)k i }
k i ,ni

CPOs: z i Fk (k i , ni ) = r + δ e z i Fn (k i , ni ) = w , o que implica:

Fk (k i , ni ) r +δ
i i
=
Fn (k , n ) w
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 63/419
Agregação de firmas
Como F é homogênea de grau 1, Fk e Fn são homogêneas de grau 0.
fk (k i /ni ) Fk (k i , ni ) r +δ
i i
= i i
=
fn (k /n ) Fn (k , n ) w
Como o LHS é estritamente decrescente em k i /ni ,
ki
 
r +δ k
=g = , para todo i
ni w n
onde k é a média de k i (e n é a média de ni ).

Mas note que, para z i > z j , temos uma contradição:


z i fk (k/n) = r + δ = z j fk (k/n)

Alguma introspecção: firmas i, tal que z i = z̄ = max{z 1 , ..., z M },


“sobrevivem” (possuem lucro não-negativo).
z̄fk (k/n) = r + δ e z̄fn (k/n) = w
Conclusão: firma representativa com tecnologia z̄F (k, n) existe.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 64/419
Exercı́cio 1 a entregar

Considere um modelo de crescimento neoclássico, onde há dois setores de produção: produtores de bens de
consumo ct e de investimento it .

Ambos os setores operam a mesma tecnologia de produção neoclássica f (com retornos constantes de escala), mas
estão sujeitos a choques de produtividade ztc e zti distintos:

c c c i i i
ct = zt f (kt , ht ) e it = zt f (kt , ht ).

Capital agregado kt = ktc + kti , onde ktc é o capital empregado no setor de consumo e kti no de investimento,
acumula de acordo com a lei de movimento

kt+1 = (1 − δ)kt + it .

Já trabalho agregado é dado por nt = ntc + nti , onde ntc é o trabalho empregado setor de consumo e nti no setor de
investimento. Por fim, o domicı́lio representativo tem utilidade instantânea usual u(ct , 1 − nt ) separável no tempo,
com fator de desconto β.

Mercados são competitivos, e tanto capital quanto labor podem migrar livremente entre setorers. Finalmente,
defina ptc como o preço do consumo e pti do investimento.

a) Mostre que que esta economia agrega em um model de crescimento com um setor, ou seja, a estrutura
produtiva pode ser resumida com um tecnologia de produção agregada z̃f (kt , nt ).

b) Qual a interpretação da razão ptc /pti em equilı́brio.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 65/419


Exercı́cio 2 a entregar
Considere um versão do modelo de crescimento neoclássico, habitado por dois tipos de agentes, i = 1, 2, com
massas µi , onde µ1 + µ2 = 1. Dado ai0 , o agente do tipo i soluciona:

h i1−γ
∞ citα (1 − hit )1−α
t
X
max β
{cit ,nit }∞ 1−γ
t=0 t=0

sujeito a

0
cit + ai,t+1 = at [1 + rt (1 − τt )] + wt εi hit + T ,

onde εi é a dotação de unidades de trabalho eficiente do tipo i, τt é um imposto sobre a renda do cpaita e T 0 são
transferências lump-sum.

A firma representativa opera uma tecnologia com retornos constantes de escala, F (Kt , Nt ), onde Nt é trabalho
(em unidades de eficiência) agregado. A restrição orçamentária do governo é satisfeita perı́odo a perı́odo,

0
T = τt Kt rt .

Finalmente, a restrição de recursos agregados é dada por:

Ct + Kt+1 = F (Kt , Nt ) + (1 − δ)Kt

a) Mostre que no estado-estacionário, a distribuição de riqueza é indeterminada.

b) Esta economia admite uma formulação com agente representativo?

(continua no próximo slide)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 66/419


Exercı́cio 2 (continuação) a entregar

Suponha que a economia esteja, inicialmente, em um estado-estacionário em particular com transferências T 0 , e


que o governo aumente as transferências T 1 > T 0 .

c) O estado estacionário com transferências maiores possui mais ou menos estoque de capital? Desenhe a dinâmica
de equilı́brio entre estado-estacionários no espaço de riquezas individuais, (a1 , a2 ). O estado-estacionário é
determinado unicamente? Como você computaria a dinâmica?

Eduardo Zilberman PUC-Rio Heterogeneidade e Mercados Completos 67/419


Consumo-Poupança sob Incerteza e Mercados
Incompletos

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aula 3

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 68/419


Mercados completos (revisão)
Referência: Ljungqvist e Sargent, capı́tulo 8.
1 Tempo: discreto, infinito (t = 0, 1, ...)
2 População: I agentes indexados por i = 1, ...., I
3 um bem homogêneo e perecı́vel
4 Estrutura informacional: incerteza agregada
evento estocástico: st ∈ S em cada perı́odo t ≥ 0
história de eventos até t, s t = [s0 , s1 , ..., st ] ∈ S t
probabilidade incondicional: πt (s t ), com π0 (s0 ) = 1
probabilidade condicional: πt (s t |s τ )
em t, s t é observável
5 Dotação/tecnologia: estocástica, yti (s t ) unidades do bem
6 Preferências: sobre consumo c i = {cti (s t )}∞
t=0
∞ X
X
U(c i ) = β t u[cti (s t )]πt (s t )
t=0 s t

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 69/419


Mercados completos vs. autarquia
Dois casos extremos:
1 Autarquia: cti (s t ) = yti (s t )
2 Eq. competitivo com mercados completos:
restrição orçamentária no tempo-0:
∞ X
X
qt (s t )[cti (s t ) − yti (s t )] = 0
t=0 s t ∈S t
1−σ
c
se u(c) = 1−σ , em equilı́brio, cti (s t ) = αi Yt (s t ) = αi Ct (s t )

Implicação empı́rica: estimar com microdados


∆ log cti = β0 + β1 ∆ log Ct + β2 ∆ log yti + εit

Mercados completos: β1 = 1, β2 = 0 (diversificação perfeita do risco


idiosincrático).
Autarquia: β1 = 0, β2 = 1.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 70/419
Mercados completos vs. autarquia
Mace (1991):

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 71/419


Mercados completos vs. autarquia
Mace (1991):

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 72/419


Mercados completos vs. autarquia

Em geral: as duas hipóteses (autarquia e mercados completos) são


rejeitadas, porém há bastante evidência de seguro parcial.

Por exemplo, Cochrane (1991) e Townsend (1994) mostram que que


consumo reage pouco à certos tipos de choques (e.g., desemprego).

Recentemente: Schulhofer-Wohl (2011) e Mazzocco e Saini (2012).

Heterogeneidade na preferência por risco viesa os resultados;

Indivı́duos mais tolerantes ao risco escolhem profissões com mais


risco de renda;

Evidência de mais seguro que o capturado por testes pregressos.

Conclusão: necessidade de um modelo com diversificação do risco


parcial!
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 73/419
Mercados incompletos
Como modelar diversificação de risco parcial? Mercados incompletos!

1 Incompletude de mercados exógena: restringir espaço de instrum.


financeiros, considerando apenas o que se observa na prática.
Abordagem dos capı́tulo capı́tulos 17 (“self-insurance”) e 18
(“incomplete markets models”) do livro (serão cobertos)

2 Incompletude de mercados endógena: modelar fricções que minam


diversificação de risco perfeita (e.g., enforcement limitado,
informação privada, etc).

Abordagem do capı́tulo 20 (“insurance versus incentives”) do


livro (não será coberto).
Mais profunda, mas que, geralmente, resulta em contratos
complexos não observados na prática, limitando seu escopo
para aplicações quantitativas.

Sargent e Ljungqvist (2012) sugere o seguinte exercı́cio: ler Lucas (1992);


estudar os capı́tulos 17, 18 e 20 do livro; ler Lucas (1992) novamente.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 74/419
Mercados incompletos
Formulação sequencial: com mercados completos, restrição orçamentária
no tempo-0 poder ser substituı́da por
X
cti (s t ) + Qt (st+1 |s t )at+1
i
(st+1 , s t ) = yti (s t ) + ati (s t )
st+1 ∈St+1

mais uma restrição de endividamento.

Mercados incompletos:

cti (s t ) + Qt (s t )at+1
i
(s t ) = yti (s t ) + ati (s t )

mais uma restrição de endividamento.

Ou seja: para toda história s t , existe apenas um ativo sem risco


(“risk-free bond”).

Risk-free bond: paga uma unidade de consumo no perı́odo seguinte,


independente da realização de st+1 .
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 75/419
Mercados incompletos
Restrição orçamentária sequencial com mercados imcompletos:

cti (s t ) + Qt (s t )at+1
i
(s t ) = yti (s t ) + ati (s t )
1
Note que Qt (s t ) ≡ 1+rt (s t ) .

Dependendo das hipóteses de “timing” (omitindo s t e i):


“Capı́tulo 8”: at+1 = (1 + rt )(yt + at − ct )
a = ativos no inı́cio do perı́odo
Capı́tulo 17: at+1 = (1 + rt )(at − ct ) + yt+1
a = ativos no inı́cio do perı́odo mais a realização da renda
Capı́tulo 18: at+1 + ct = (1 + rt )at + yt
a = ativos no final do perı́odo

Idéia: única forma de diversificar o risco idionsincrático é através de um


ativo sem risco (“self-insurance”).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 76/419
Mercados incompletos

Roteiro para as próximas aulas:

1 estudar as propriedades do problema de “self-insurance”


(consumo-poupança sob incerteza)

2 solucionar (numericamente) o problema de “self-insurance”

3 caracterizar o equilı́brio competitivo com agentes heterogêneos e


mercados incompletos (sem e com incerteza agregada)

4 aplicações

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 77/419


Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução
Referência: Sargent and Ljungqvist, seção 17.13

Modelo em dois perı́odos:


max {u(c0 ) + βE0 [u(c1 )]}
c0 ,c1 ,a1
s.a.
c0 + a1 = (1 + r )a0 + y0
c1 = (1 + r )a1 + y1

Equação de Euler:
u 0 [(1 + r )a0 + y0 − a1∗ ] = β(1 + r )E0 {u 0 [(1 + r )a1∗ + y1 ]}
a1∗ é unicamente determinado (riqueza ótima).

Duas economias:
1 Determinı́stica: y1 = ȳ1 . Riqueza ótima: a1n .
2 Estocástica: y1 é uma v.a. com E0 (y1 ) = ȳ1 . Riqueza ótima: a1s .
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 78/419
Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução

EE caso determenı́stico:

u 0 [(1 + r )a0 + y0 − a1n ] = β(1 + r )u 0 [(1 + r )a1n + ȳ1 ]

EE caso estocástico:

u 0 [(1 + r )a0 + y0 − a1s ] = β(1 + r )E0 {u 0 [(1 + r )a1s + y1 ]}


> β(1 + r )u 0 [(1 + r )a1s + ȳ1 ]

Por que? Sob a hipótese que u 000 > 0 (i.e. u 0 é convexo), aplique a
desigualdade de Jensen.

Conclusão: a1s > a1n

Poupança induzida por prudência, motivo precaução, self-insurance.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 79/419


Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução
Do mesmo jeito que aversão ao risco se refere a concavidade da
utilidade (u 00 < 0), prudência refere-se a convexidade da utilidade
marginal (u 000 > 0)

Kimball (1990) extendeu a análise de Arrow-Pratt.

Por exemplo: ı́ndice de prudência absoluto, −u 000 (c)/u 00 (c).

Exemplo de uma classe de funções com u 000 > 0: aversão ao risco


absoluto decrescente (CRRA e CARA, por exemplo).

−u 00 (c) 0 u 000 (c)u 0 (c) + [u 00 (c)]2


α(c) = ⇒ α (c) = − ≤0⇒
u 0 (c) [u 0 (c)]2
[u 00 (c)]2
⇒ −{u 000 (c)u 0 (c) + [u 00 (c)]2 } ≤ 0 ⇒ u 000 (c) ≥ >0
u 0 (c)

Exemplo de uma função com u 000 = 0: quadrática (u(c) = − 12 (c − γ)2 ).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 80/419


Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução

Evolução da literatura:

Artigos seminais: Leland (1958) e Sandmo (1960).

Sibley (1975) e Carrol e Kimball (1996): extendenderam a análise para


mais de dois perı́odos.

terceira derivada positiva da função valor é necessária para


prudência

isto é verdade se T é finito e u 000 > 0

se u 000 > 0 e T é finito, consumo é uma função côncava da riqueza

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 81/419


Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução
Literatura empı́rica: o motivo precaução é importante?

Carrol e Kimball (2007): “... establishing the intensity of the


precautionary saving motive and the magnitude of precautionary wealth
remain lively areas of debate.”

Modelos estruturais:

antes da crise do 2007-9, tendiam estimar um grau de prudência


baixo, embora o motivo precaução forte para indivı́duos próximos da
restrição de crédito;

no pós-crise, autores passaram a apontar uma relevância bem maior


do motivo precaução para explicar os ciclos econômicos (e.g.,
Guerrieri e Lorenzoni, 2016; Challe e Ragot, 2016).

Estimativas diretas: sensı́vel aos procedimentos empı́ricos e problemas


de variáveis omitidas (por exemplo, aversão ao risco).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 82/419
Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução
Estudar o caso quadrático: u(c) = − 21 (c − γ)2

⇒ u 0 (c) = γ − c, u 00 (c) = −1, u 000 (c) = 0.

Horizonte: infinito.

Restrição orçamentária: at+1 + ct = yt + (1 + r )at .

Restrição ao crédito: at+1 ≥ −a.

yt é uma variável aletória.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 83/419


Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução
Problema:

X 1
max − β t (ct − γ)2
t=0
2
sujeito a
at+1 + ct = yt + (1 + r )at
at+1 ≥ −a

Se a restrição de crédito não estiver ativa (at+1 > −a). Eq. Euler:
(γ − ct ) = β(1 + r )Et (γ − ct+1 )

Se a restrição de crédito estiver ativa (at+1 = −a):


ct = yt + (1 + r )at + a

Hipótese: β(1 + r ) = 1. Logo:



Et ct+1 se at+1 > −a
ct =
yt + (1 + r )at + a se at+1 = −a
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 84/419
Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução
Caso 1: a restrição nunca está ativa (“a é o limite natural”).

Et ct+j = ct para todo j.

Consumo é uma passeio aleatório (uma martingale).

Restrição orçamentária: at+1 + ct = yt + (1 + r )at


at+2 +ct+1 −yt+1
Note que: ct = yt + (1 + r )at − at+1 = yt + (1 + r )at − 1+r .

Iterando para frente e usando LIE:


∞  j ∞  j
X 1 X 1
Et ct+j = (1 + r )at + Et yt+j
1+r 1+r
j=0 j=0
 
∞  j
r  X 1
ct = (1 + r )at + Et yt+j 
1+r 1+r
j=0

Consumo é a anuidade da riqueza (hipótese da renda permanente).


Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 85/419
Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução

Ao solucionar o problema determinı́stico (da mesma forma):


 
∞  j
r  X 1
ct = (1 + r )at + yt+j 
1+r 1+r
j=0

Consumo é a anuidade da riqueza (hipótese da renda permanente).

Princı́pio de equivalência à certeza! Apenas a média do processo da


renda importa para determinar o consumo.

Quando a utilidade é quadrática e o limite ao endividamento é


suficientemente alto, não há motivo precaução.

E se o limite de endividamento for baixo (por exemplo, a = 0)?

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 86/419


Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução
Caso 2: a restrição pode está ativa em alguns perı́odos.

Et ct+1 se at+1 > 0
ct =
yt + (1 + r )at se at+1 = 0

Podemos reescrever a EE:

ct = min{yt + (1 + r )at , Et ct+1 } =


= min{yt + (1 + r )at , Et [min{yt+1 + (1 + r )at+1 , Et+1 ct+2 }]}

Neste caso há motivo precaução (mesmo com u 000 = 0). Por que?
Suponha que a variância de yt+1 aumente.
A probabilidade do agente estar restrito ao crédito no futuro
também aumenta.
Como Et [min{yt+1 + at+1 , Et+1 ct+2 }] cai, e portanto Et ct+1 cai.
Poupança aumenta.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 87/419


Consumo-poupança sob incerteza: o motivo precaução

Intuição: Uma sequência de realizações ruins jogam o agente para perto


da restrição ao crédito, o que pode atrapalhar a suavização do consumo.

Portanto, quando a incerteza aumenta, os agentes poupam visando evitar


volatilidade no consumo futuro.

Conclusão: u 000 > 0 é suficiente porém não necessário para o motivo


precaução.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 88/419


Parênteses: hipótese da renda permanente
Resumo. Hipótese da renda permanente: consumo depende apenas da
renda permanente.
Sem restrição ao crédito, com util. quadrática (u 000 = 0) e (1 + r )β = 1:
Dado a rest. orçamentária: at+1 + ct = yt + (1 + r )at
Eq. de Euler: Et ct+j = ct para todo j
Iterando a restrição para frente e usando LIE:
 
∞  j
r  X 1
ct = (1 + r )at + Et yt+j 
1+r 1+r
j=0

Consumo é a anuidade da riqueza (hipótese da renda permanente).

Duas forças:

Utilidade quadrática elimina o motivo precaução (u 000 = 0).

(1 + r )β = 1 elimina o motivo impaciência (taxa subjetiva de


desconto = taxa de juros).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 89/419
Parênteses: hipótese da renda permanente
Mercados incompletos em equilı́brio:
Motivo precaução leva as pessoas a poupar mais.
Motivo impaciência (β(1 + r ) < 1) leva as pessoas a poupar menos.

Pergunta: existe alguma utilidade tal que os motivos precaução e


impaciência se cancelam? Neste caso:
 
∞  j
r  X 1
ct = (1 + r )at + Et yt+j 
1+r 1+r
j=0

Consumo é a anuidade da riqueza (hipótese da renda permanente).

Resposta: sim! Wang (2003) mostrou analiticamente que isto é válido


se a utilidade for CARA
e −θc
u(c) = − , θ>0
θ

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 90/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Referência: Sargent and Ljungqvist, capı́tulo 17.
1 Tempo: discreto, infinito (t = 0, 1, ...)
2 População: apenas um agente
3 um bem homogêneo e perecı́vel
4 Dotação/tecnologia: sequência aleatória {yt }∞
t=0
5 Estrutura informacional: a dotação ...
... pode assumir S valores: ȳ1 < ȳ2 < ... < ȳS P
... é i.i.d.: Prob(yt = ȳs ) = Πs , com Πs ≥ 0 e Πs∈S = 1
6 Preferências: sobre {ct }∞
t=0

X
U(c i ) = E0 β t u(ct ), u 0 > 0 e u 00 < 0
t=0

7 Estrutura de mercado: incompletos (apenas um ativo sem risco)


com restrição ao crédito
8 “Conceito de equilı́brio”: agentes maximizam e (1 + r )β = 1.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 91/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito

Ativos (riqueza) no inı́cio do perı́odo: at ,

inclui a realização corrente da renda yt , logo a0 = y0 ;

dı́vida no inı́cio do perı́odo: bt = −at + yt , logo b0 = 0.

Restrição orçamentária: at+1 = (1 + r )(at − ct ) + yt+1 .

Restrição ao crédito: at+1 − yt+1 ≥ 0 ⇒ ct ≤ at .

Condição de Inada tal que ct ≥ 0.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 92/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Problema do consumidor:
( S
)
X
V (a) = max u(c) + βΠs V [(1 + r )(a − c) + ȳs ]
c
s=1
s.a 0 ≤ c ≤ a

Propriedades herdadas de u: V é diferenciável, com V 0 > 0, V 00 < 0.

Problema de “self-insurance”: quando a realização da renda é ruim, o


agente despoupa para suavizar consumo; quando a realização é boa, o
agente poupa em antecipação a eventos ruins no futuro.

Pergunta: o que acontece com ct quando t → ∞?

Resposta: Prob(limt→∞ ct = ∞) = 1.

Problema determinı́stico: {yt } é sabido em t = 0. Neste caso, consumo


converge ...

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 93/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Problema determinı́stico (com β(1 + r ) = 1):

Ativos mais renda corrente no inı́cio do perı́odo: at , com a0 = y0 .

Dı́vida no inı́cio do perı́odo: bt = −at + yt , com b0 = 0.

Restrição orçamentária:
at+1 = (1 + r )(at − ct ) + yt+1 ⇐⇒ ct + bt = βbt+1 + yt

Iterando para frente:



X ∞
X
bt + β j ct+j = β j yt+j
j=0 j=0

Duas restrições de endividamento:


1 Ad hoc: ct ≤ at ⇐⇒ at+1 ≥ yt+1 ⇐⇒ bt+1 ≤ 0
P∞
2 Natural: bt ≤ j=0 β j yt+j ≡ b̄t
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 94/419
Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Problema determinı́stico (com restrição natural): soluciona-se ignorando
a restrição de endividamento, e depois verifica-se que ele não está ativa.

X ∞
X ∞
X
t t
max β u(ct ) sujeito a β ct = β t yt
t=0 t=0 t=0

P∞
CPO: u 0 (ct ) = u 0 (ct+1 ) ⇒ ct = c̄ ⇒ c̄
1−β = t=0 β j yt

Dı́vida:
 
t−1 t t−1
X c̄ β c̄ X
bt = β −t β j (c̄ − yj ) = β −t  − − β j yj  =
1−β 1−β
j=0 j=0

X c̄
= β j yt+j − < b̄t
1−β
j=0

Restrição de endividamento não está ativa.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 95/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Problema determinı́stico (com restrição ad-hoc):

X
max β t u(ct )
at+1 ,ct
t=0
sujeito a
at+1 = (1 + r )(at − ct ) + yt+1
ct ≤ at

Seja (ct∗ , at∗ ) a decisão ótima. As CPOs são:

u 0 (ct∗ ) = u 0 (ct+1

) se ct∗ < at∗
u 0 (ct∗ ) > u 0 (ct+1

) se ct∗ = at∗

Logo, apenas um pode ser verdade:



ct−1 = ct∗

ct−1 < ct∗ , ct−1
∗ ∗
= at−1 e at∗ = yt

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 96/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito

Apenas um pode ser verdade:



ct−1 = ct∗

ct−1 < ct∗ , ct−1
∗ ∗
= at−1 e at∗ = yt

Comentários:

∗ ∗
Restrição está ativa (ct−1 = at−1 ) apenas quando o agente quer
antecipar consumo. Isto ocorre quando a dotação está crescendo.

A sequência {ct∗ } é monotônica.

Pergunta: limt→∞ ct∗ = ?

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 97/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Apenas um pode ser verdade:

ct−1 = ct∗

ct−1 < ct∗ , ct−1
∗ ∗
= at−1 e at∗ = yt
Iterando a restr. orçamentária, at+1 = (1 + r )(at − ct ) + yt+1 , para frente:

X ∞
X
j
β ct+j = at + β j yt+j
j=0 j=1

Nos perı́odos em a restrição está ativa em t − 1:


X ∞ X∞
β j ct+j = β j yt+j
j=0 j=0

Suponha que t̄ − 1 é o último perı́odo em que a restrição está ativa


(ainda não sabemos se t̄ existe), logo
∞ ∞
X
j r X
c̄ = (1 − β) β yt̄+j = (1 + r )t̄−j yj .
1+r
j=0 j=t̄

O consumo converge para o valor de anuidade da riqueza de calda em t̄.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 98/419
Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito

Para todo t, defina:



r X
xt ≡ (1 + r )t−j yj .
1+r
j=t

Proposição: c̄ ≡ limt→∞ ct∗ = supt xt ≡ xt̄ . (prova no livro)

Considere o seguinte caso com incerteza:



y1 com Π1 = 0.9999999999999999
yt =
y2 com Π2 = 0.0000000000000001

Proposição: Prob(limt→∞ ct = ∞) = 1.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 99/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Problema estocástico (caso i.i.d.):
( S
)
X
V (a) = max u(c) + βΠs V [(1 + r )(a − c) + ȳs ]
c
s=1
s.a 0 ≤ c ≤ a
Propriedades herdadas de u: V é diferenciável, com V 0 > 0, V 00 < 0.

CPO:
S
X
u 0 (c) ≥ β(1 + r )Πs V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳs ]
s=1

Terorema do envelope: V 0 (a) = u 0 (c)


S
X
V 0 (a) ≥ β(1 + r )Πs V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳs ]
s=1

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 100/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito

S
X
V 0 (a) ≥ β(1 + r )Πs V 0 (as0 ),
s=1

onde as0 são os ativos no próximo perı́odo quando o choque é ȳs .

Hipótese: β(1 + r ) = 1,
S
X
0
V (a) ≥ Πs V 0 (as0 ),
s=1

V 0 (a) é uma supermartingale não-negativa.

Teorema (Doob): V 0 (a) tem que convergir com probabilidade 1.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 101/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito

Proposição: dado que V 0 (a) converge com probabilidade 1, então


at → ∞ com probabilidade 1.

“Prova:”

Suponha que V 0 (a) convirja para um número maior que zero.

Como V 00 (a) < 0, a converge para um número finito.

Mas at+1 = (1 + r )(at − ct (at )) + yt+1 . Contradição.

Logo V 0 (a) converge para zero.

Como V 00 (a) < 0, ativos at → ∞.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 102/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito
Proposição: a trajetória de at não é monotônica. “Prova:”
Suponha que na pior realização, os ativos aumentam:
(1 + r )(a − c) + ȳ1 ≥ a

Como V 00 < 0,
S
X
V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳ1 ] ≤ V 0 (a) = Πs V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳs ]
s=1

Como V 00 < 0, para todo s ≥ 1


V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳs ] ≤ V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳ1 ]

Logo, para todo s:


V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳs ] = V 0 [(1 + r )(a − c) + ȳ1 ]

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 103/419


Consumo-poupança sob incerteza: horizonte infitnito

Proposição: ct → ∞ com probabilidade 1.

Usando o teorema do envelope:


S
X
u 0 (c) ≥ Πs u 0 (cs0 ),
s=1

u 0 (c) é uma supermartingale não-negativa.

A gente pode usar um argumento similar ao caso anterior

Notas sobre a literatura:


Schechtman e Escudero (1977) estudaram o caso i.i.d.
Chamberlain and Wilson (2000) mostraram que o resultado é
robusto a processos arbitrários “suficientemente estocásticos”.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 104/419


Comentários
Robustez: como fazer ct convergir para um número positivo?

1 Aumentar o limite de endividamento? Não funciona!

Com o limite natural de endividamento, consumo diverge


(exercı́cio 17.3).

2 Impor β(1 + r ) < 1? Pode funcionar.

Se os juros r caem, por exemplo, o agente acumularia menos.


Em equilı́brio (quando há oferta de ativos), isto ocorre
endogenamente.

3 Oferta de trabalho endógena: u(c, l)? Pode funcionar.

Renda: yt = (1 − l)εt w , onde εt é a produtividade.


Intuição: se o agente acumular muito, desutilidade de trabalho
poderia implicar h = 1.
Zhu (2020) discute sob que condições isto ocorre.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 105/419
Método cientı́fico e intuição

Intuição econômica é importante! O método cientı́fico também!

Derivou três resultados usando o ferramental básico em macro:

1 Prudência u 000 > 0 implica em motivo precaução (nao


intuitivo)
2 Restrição ao crédito implica em motivo precaução (intuitivo)
3 Com um ε de incerteza, ct → ∞ com prob. 1 (não intuitivo)

Seção 17.7 do livro tenta passar alguma intuição em relação ao


ponto três.

Método vs. intuição: por exemplo, Chamberlain e Wilson (2000).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 106/419


Método cientı́fico e intuição

Chamberlain e Wilson (2000):

“Unfortunately, the line of argument used in the proof does not provide a
very convincing economic explanation. Clearly the strict concavity of the
utility function must play a role. ... But to simply attribute the result to
risk aversion on the grounds that uncertain future returns will cause
risk-averse consumers to save more, given any initial asset level, is not a
completely satisfactory explanation either. In fact, it is a bit misleading.
... that argument only explains why expected accumulated assets would
tend to be larger in the limit. It does not really explain why consumption
should grow without bound.”

Paper rejeitado no JET em 1984. Publicado 16 anos depois no RED.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 107/419


Exercı́cio 3 a ser entregue
Considere o problema de consumo-poupança de um agente com vida infinita, e utilidade quadrática,

1 2
u(ct ) = b1 ct − b2 ct ,
2

que pode poupar ou tomar empresatado através de tı́tulo sem risco que rende juros de r = 1/β − 1. A renda do
agente, {yt }∞
t=0 , é estocástica, que começa sua vida sem riqueza alguma.

Por hora, suponha que não há restrição de endividamento.

a) Defina o princı́pio de equivalência à certeza e mostre que se aplica para este consumidor.

Suponha que os choques de renda siga um processo AR(1), yt = ρyt−1 + εt .

b) Derive explicitamente uma fórmula para como a mudança do consumo entre os perı́odos t e t + 1,
∆ct+1 = ct+1 − ct , depende do valor do choque εt .

Suponha agora que o consumidor não pode se endividar.

c) Existe um limite superior para a riqueza e o consumo deste agente? Justifique sua resposta.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Consumo-Poupança sob Incerteza 108/419


Métodos Numéricos para Solucionar o Problema
de Consumo-Poupança sob Incerteza (com
Mercados Incompletos)

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aula 4

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 109/419


Problema de decisão de consumo-poupança sob incerteza
st são unidades de trabalho-eficiência.

st possui a propriedade de Markov:

Prob(st+1 |st , st−1 , ..., st−k ) = Prob(st+1 |st )

Problema a ser resolvido numericamente: dado (w , r ) e (a0 , s0 ),



X
max∞ E0 β t u(ct )
{at+1 }t=0
t=0
sujeito a
ct + at+1 = (1 + r )at + wst
ct ≥ 0
at+1 ≥ −b

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 110/419


Problema de decisão de consumo-poupança sob incerteza
Recursivamente:
v (a, s) = max
0
{u[(1 + r )a + ws − a0 ] + βE [v (a0 , s 0 )|s]}
a ≥−b

Como solucionar este problema?

Não funciona: aproximação local. Ex.: aprox. quad-linear.

Modelo de crescimento estocástico: aproxima em torno do s.s.


Problema acima: em que ponto (a, s) aproximar?
Incerteza individual é maior que incerteza agregada.
Elimina prudência (u 000 > 0) do problema.

Funciona: aproximação global.

Aproximar discretizando o estado de espaços.


Aproximar via projeções (não será coberto).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 111/419
Discretização + iteração da função valor
Referência: Ljugqvist e Sargent (2012), seções 4.1-3.

“Curse of dimensionality”. Discretizar o espaço de estados:


a ∈ A ≡ [ā1 < ā2 < ... < ān ], com ā1 = −b
s ∈ S ≡ [s̄1 < s̄2 < ... < s̄m ], com matriz de transição P

Substituir

v (a, s) = max
0
{u[(1 + r )a + ws − a0 ] + βE [v (a0 , s 0 )|s]}
a ≥−b

por

 
 m
X 
v (āi , s̄h ) = max
0
u[(1 + r )āi + w s̄h − a0 ] + β Phj v (a0 , s̄j )
a ∈A  
j=1

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 112/419


Discretização + iteração da função valor
 
 m
X 
v (āi , s̄h ) = max
0
u[(1 + r )āi + w s̄h − a0 ] + β Phj v (a0 , s̄j )
a ∈A  
j=1

Numericamente:
1 Defina m vetores n × 1: vj (i) = v (āi , s̄j ), i = 1, ..., n, j = 1, ..., m
2 Defina m matrizes n × n: Rj (i, h) = u[(1 + r )āi + w s̄j − āh ],
i = 1, ..., n, h = 1, ..., n, j = 1, ..., m
3 Defina 1 como um vetor n × 1 unitário.
4 Defina o operador T ([v1 , v2 , ..., vm ]) = [tv1 , tv2 , ..., tvm ]:
tv1 = max{R1 + β[P11 1v10 + P12 1v20 + ... + P1m 1vm0 ]}
tv2 = max{R2 + β[P21 1v10 + P22 1v20 + ... + P2m 1vm0 ]}
...
tvm = max{Rm + β[Pm1 1v10 + Pm2 1v20 + ... + Pmm 1vm0 ]}
onde “max” retorna um vetor n × 1 onde o i-ésimo elemento é o
máximo da i-ésima linha.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 113/419
Discretização + iteração da função valor
Numericamente:
1 Defina m vetores n × 1: vj (i) = v (āi , s̄j ), i = 1, ..., N, j = 1, ..., M
2 Defina m matrizes n × n: Rj (i, h) = u[(1 + r )āi + w s̄j − āh ],
i = 1, ..., N, h = 1, ..., N, j = 1, ..., M
3 Defina 1 como um vetor n × 1 unitário.
4 Defina o operador T ([v1 , v2 , ..., vm ]) = [tv1 , tv2 , ..., tvm ]:
tv1 = max{R1 + β[P11 1v10 + P12 1v20 + ... + P1m 1vm0 ]}
tv2 = max{R2 + β[P21 1v10 + P22 1v20 + ... + P2m 1vm0 ]}
...
tvm = max{Rm + β[Pm1 1v10 + Pm2 1v20 + ... + Pmm 1vm0 ]}
onde “max” retorna um vetor n × 1 onde i-ésimo elemento é o
máximo da i-ésima linha.
5 Equação de Bellman representada por: [v1 , ..., vm ] = T ([v1 , ..., vm ]).
Dado [v1 , ..., vm ]0 incial qualquer, basta iterar
[v1 , ..., vm ]t+1 = T ([v1 , ..., vm ]t ) até convergência.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 114/419
Discretização + iteração da função valor

Truque:

tv1 = max{R1 + β[P11 1v10 + P12 1v20 + ... + P1m 1vm0 ]}


tv2 = max{R2 + β[P21 1v10 + P22 1v20 + ... + P2m 1vm0 ]}
...
tvm = max{Rm + β[Pm1 1v10 + Pm2 1v20 + ... + Pmm 1vm0 ]}

pode ser reescrito como

v10 
     
tv1  R1
v20 
 
 tv2  
R2   
  = max   + β(P ⊗ 1)  
 ...    ...   ... 
vm0
 
tvm Rm
 

onde ⊗ é o produto de Kronecker.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 115/419


Discretização + iteração da função valor
Produto de Kronecker

Dado A m × n e B p × q
 
a11 B ... a1n B
A ⊗ B =  ... ... ... 
am1 B ... amn B

Note que A ⊗ B é mp × nq.

Sobre o MATLAB:
é computacionalmente rápido com operações matriciais
mas evite o uso de objetos tridimensionais, como v (i, j, h).
é computacionalmente lento com “loops”
com muitos loops, recomendava-se o FORTRAN ou C
Linguagens em ascedência: Python e Julia (quantecon.org).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 116/419
Howard Improvement Step
Numericamente,
1 Defina m vetores n × 1: vj (i) = v (āi , s̄j ).
2 Defina m matrizes n × n: Rj (i, h) = u[(1 + r )āi + w s̄j − āh ].
3 Defina 1 como um vetor n × 1 unitário.
4 Defina o operador T ([v1 , v2 , ..., vm ]) = [tv1 , tv2 , ..., tvm ]:
     0 
tv1  R1 v1 
 v20 
 
 tv2    R2 
  = max   + β(P ⊗ 1)  
 ...    ...   ... 
vm0
 
tvm Rm
 

5 Eq. de Bellman: [v1 , ..., vm ] = T ([v1 , ..., vm ]). Dado [v1 , ..., vm ]0 ,
itera-se [v1 , ..., vm ]t+1 = T ([v1 , ..., vm ]t ) até convergência.

Passo mais custoso computacionalmente é o max acima. Proposta é pular


algumas vezes esta operação, mas manter a interação da função valor.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 117/419


Iterando a função polı́tica ...

v (a, s) = max
0
{u[(1 + r )a + ws − a0 ] + βE [v (a0 , s 0 )|s]}
a ≥−b

Equação de Euler:
X
u 0 [(1 + r )a + ws − a0 ] ≥ (1 + r )β π(s 0 |s)u 0 [(1 + r )a0 + ws 0 − a00 ],
s0

se a0 > −b, eq. de Euler com igualdade.

Objetivo: encontrar uma função polı́tica invariante a0 (a, s) que satisfaça


a eq. de Euler.

Estratégia: conjecturar a00 , solucionar para a0 . Iterar até convergência


(a00 = a0 ).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 118/419


Iterando a função polı́tica ...

Passo 1: discretizar o espaço de estados


a ∈ A ≡ [ā1 < ā2 < ... < ān ], com ā1 = −b
s ∈ S ≡ [s̄1 < s̄2 < ... < s̄m ], com matriz de transição P

Passo 2: cojecturar um vetor n × m inicial para a00 : a000 (āh , s̄i ). Por
exemplo: a000 (āh , s̄i ) = āh .

Passo 3: verificar se a restrição ao crédito está ativa para cada (āh , s̄i )
m
X
0
u [(1 + r )āh + w s̄i − ā1 ] > (1 + r )β Pij [(1 + r )ā1 + w s̄j − a000 (ā1 , s̄j )],
j=1

Se sim: a00 (āh , si ) = ā1 .

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 119/419


Iterando a função polı́tica ...

Passo 4: se a restrição não estiver ativa, a00 (āh , s̄i ) = a∗ , onde a∗


soluciona:
m
X
0 ∗
u [(1 + r )āh + w s̄i − a ] = (1 + r )β Pij [(1 + r )a∗ + w s̄j − a000 (a∗ , s̄j )],
j=1

Mais sobre o passo 4 adiante ...

Passo 5: checa convergência

max {|a00 (āh , s̄i ) − a000 (āh , s̄i )|} < ε


h,i

Se sim: pare. Se não: atualize a conjectura a100 (āh , s̄i ) = a00 (āh , s̄i ) para
todo h, i e volte ao passo 3.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 120/419


Iterando a função polı́tica ...

Passo 4: se a restrição não estiver ativa, a00 (āh , s̄i ) = a∗ , onde a∗


soluciona:
m
X
u 0 [(1 + r )āh + w s̄i − a∗ ] = (1 + r )β Pij u 0 [(1 + r )a∗ + w s̄j − a000 (a∗ , s̄j )],
j=1

mas a∗ não necessariamente pertence a A. Como avaliar a000 (a∗ , s̄j )?

Solução 1: defina a∗ = arg mini∈{1,...,n} |δ(āi )|, onde

δ(āi ) ≡ u 0 [(1 + r )āh + w s̄i − āi ] −


Xm
− (1 + r )β Pij u 0 [(1 + r )āi + w s̄j − a000 (āi , s̄j )]
j=1

Problema desta solução: imprecisa.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 121/419


Iterando a função polı́tica ...

m
X
u 0 [(1 + r )āh + w s̄i − a∗ ] = (1 + r )β Pij u 0 [(1 + r )a∗ + w s̄j − a000 (a∗ , s̄j )],
j=1

Como avaliar a000 (a∗ , s̄j )?

Solução 2: interpole (linearmente). Ache o par de pontos adjacentes,


āk < a∗ < āk+1 , tal que
 00
a0 (āk+1 , s̄j ) − a000 (āk , s̄j )

a000 (a∗ , s̄j ) ≈ a000 (āk , s̄j ) + (a∗ − āk )
āk+1 − āk

Solução 3: use um método não-linear de interpolação. Veja o capı́tulo 6


de Judd (1998).

Problema destas soluções: computacionalmente custoso calcular a∗


(“nonlinear equation solver” - comando fsolve.m no MATLAB).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 122/419
Pontos na grade endógenos

Endogenous gridpoints method, desenvolvido por Carrol (2006).

Método preciso e menos custoso computacionalmente.

Truque: iterar na função polı́tica consumo ...

Ao longo do processo, os pontos na grade mudam.

Adaptado para problemas com mais de uma variável de controle (por


exemplo, horas de trabalho) por Barillas e Fernandez-Villaverde (2007).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 123/419


Pontos na grade endógenos

Passo 1: discretizar o espaço de estados


a0 ∈ A ≡ [ā10 < ā20 < ... < ān0 ], com ā10 = −b
s ∈ S ≡ [s̄1 < s̄2 < ... < s̄m ], com matriz de transição P
Note que a grade é em a0 .

Passo 2: conjecturar um vetor n × m inicial para c 0 : c00 (āh0 , s̄i ). Por


exemplo: c00 (āh0 , s̄i ) = (1 + r )āh0 + w s̄i .

Passo 3: defina B(āh0 , s̄i ), tal que


m
X
B(āh0 , s̄i ) = (1 + r )β Pij u 0 [c00 (āh0 , s̄j )],
j=1

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 124/419


Pontos na grade endógenos

Passo 4: use a EE para solucionar uc (c̃(āh0 , s¯i )) = B(āh0 , s̄i )

Passo 5: use a restrição orçamentária para calcular āh (āh0 , s̄i ).

c̃(āh0 , s̄i ) + āh0 = (1 + r )āh (āh0 , s̄i ) + s̄i w

Ou seja, āh é o valor dos ativos hoje que levará o consumidor a ter āh0
amanhã, se a renda for s̄i w . Os pontos na grade são endógenos!

Note que:
consumo hoje: c0 (āh , s̄i ) = c̃(āh0 , s̄i )
ā1 é o valor dos ativos hoje que induz a restrição ao crédito ficar
ativa amanhã

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 125/419


Pontos na grade endógenos

Passo 6: como iterar em c?

Para āh0 > ā1 : interpola c0 (·, s̄i ) nos pontos adjacentes e obtém c10 (āh0 , s̄i ).

Para āh0 < ā1 : use a rest. orç. c10 (āh0 , s̄i ) = (1 + r )āh0 + w s̄i − ā10

Passo 7: checa convergência

max {|c00 (āh0 , s̄i ) − c10 (āh0 , s̄i )|} < ε


h,i

Se sim: pare. Se não: volte ao passo 3 com c10 (āh0 , s̄i ).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 126/419


Acurácia da solução numérica: den Haan-Marcet (1994)
Referência: Aruoba, Fernandez-Villaverde e Rubio-Ramirez (2006).

Método 1: teste de den Haan e Marcet (1994)

Hipótese: restrição ao crédito nunca está ativa.

A equação de Euler:

u 0 (ct ) = (1 + r )βEt [u 0 (ct+1 )]

o que implica:
εt+1 = u 0 (ct ) − (1 + r )βu 0 (ct+1 )
Portanto:
Et [εt+1 ⊗ h(zt )] = 0
onde h(zt ) é um vetor (r × 1) de funções de zt , que pode incluir qualquer
variável no conjunto informacional do agente em t, por exemplo
{sj , cj , aj }tj=0 .
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 127/419
Acurácia da solução numérica: den Haan-Marcet (1994)
Simule o modelo por T perı́odos.
PT
t=1 ε̂t+1 ⊗ h(ẑt )
BT =
T
onde ε̂t+1 e ẑt são simulados.

Teorema: T 1/2 BT →d N(0, V ).

Corolário: TBT0 V̂T−1 BT →d χ2r , onde V̂T é estimador consistente de V .

Problema: pode-se sempre achar T tal que se rejeite a hipótese nula.

Entretanto: fixado T , o teste é útil para comparar diferentes métodos


numéricos de solução.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 128/419


Acurácia da solução numérica: análise de erros da EE
Método 2: análise de erros da equação de Euler

Quando a restrição não está ativa, a equação de Euler aproximada é

u 0 (ct ) ≈ (1 + r )βEt [u 0 (ct+1 )]

Defina εt :
u 0 (ct (1 − εt )) = (1 + r )βEt [u 0 (ct+1 )]
Interpretação:
se εt = 0.01, o erro equivale a U$ 1 para cada U$100 consumido.
se εt = 0.0001 (padrão aceitável ou menos), o erro equivale a U$ 1
para cada U$10000 consumido.

Pode-se simular o modelo, e reportar o máximo ou média do valor


absoluto desses erros.

Alternativamente: pode-se escolher uma nova grade para os ativos, e


calcular os erros da equação de Euler nessa nova grade.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 129/419
Aproximando um processo AR(1)
Como aproximar um processo AR(1) através uma cadeia de Markov com
um número finito de estados?

Processo AR(1):
st = ρst−1 + εt
εt i.i.d. com distribuição G , média zero e variância σ 2

Prob{εt ≤ ε̄} = G (ε̄) = F (ε̄/σ)

Seja s̃ ∈ [s̄1 < s̄2 < ... < s̄m ] o processo aproximado.

Dois métodos dominantes:

Método 1: Tauchen (1986).

Método 2: Rowenhorst (1995), funciona melhor quando ρ → 1 e é


possı́vel derivar momentos analiticamente.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 130/419


Aproximando um processo AR(1): Tauchen (1986)

Método 1. Tauchen (1986), que sugere:

para algum c (ex.: c = 3): s̄m = c(σ 2 /(1 − ρ2 ))1/2

múltiplo c do d.p. de s

se G é simétrico (ex.: normal): s̄1 = −s̄m

grade “equi-espaçada”: s̄j − s̄j−1 = d, j = 2, ..., m

Pij = Pr{s̃t = s̄j |s̃t−1 = s̄i }

= Pr{s̄j − d/2 < ρs̄i + εt < s̄j + d/2}

= Pr{s̄j − d/2 − ρs̄i < εt < s̄j + d/2 − ρs̄i }

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 131/419


Aproximando um processo AR(1): Tauchen (1986)

Pij = Pr{s̄j − d/2 − ρs̄i < εt < s̄j + d/2 − ρs̄i }

Se 1 < j < m − 1:
   
s̄j + d/2 − ρs̄i s̄j − d/2 − ρs̄i
Pij = F −F
σ σ

Se j = 1:  
s̄j + d/2 − ρs̄i
Pi1 = F
σ
Se j = m:  
s̄j − d/2 − ρs̄i
Pim = 1 − F
σ

Nota: se d → 0 (e portanto, m → ∞), a aproximação s̃ converge para o


processo verdadeiro s.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 132/419


Aproximando um processo AR(1): Tauchen (1986)
Acurácia da aproximação: processo real s vs. processo aproximado s̃.

st = ρst−1 + εt
s̃t = ρ̃s̃t−1 + ε̃t

Calcular ρ̃ = cov (s̃t ,s̃t−1 ) 2 2


var(s̃t ) e σ̃ = (1 − ρ̃ )var(s̃t )

Computar (ρ̃, σ̃ 2 ) e comparar com (ρ, σ 2 ):

explorando as propriedades da dist. invariante: π ∗ = Pπ ∗

ou via simulação de uma longa série {s̃t }

veja Ljungqvist e Sargent (2012), seção 2.2.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 133/419


Aproximando um processo AR(1): Tauchen (1986)

Acurácia da aproximação: processo real s vs. processo aproximado s̃.

st = ρst−1 + εt
s̃t = ρ̃s̃t−1 + ε̃t

m ρ ρ̃ σ σ̃
9 0.10 0.100 0.101 0.103
9 0.80 0.798 0.167 0.176
9 0.90 0.898 0.229 0.253
5 0.90 0.932 0.229 0.291

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 134/419


Aproximando um processo AR(n): Tauchen (1986)

Tauchen (1986) mostra como esta estratégia também pode ser aplicada a
processos com ordem maior que um.

Por exemplo, AR(2):

st = ρ1 st−1 + ρ2 st−2 + εt

Neste caso, pode-se escrever o processo na forma multivariada abaixo:


      
st ρ1 ρ2 st−1 εt
= +
st−1 1 0 st−2 0
| {z } | {z } | {z } | {z }
Zt Λ Zt−1 t

Tauchen (1986) mostra também como aproximar o caso multivariado:

Zt = ΛZt−1 + t

com var(t ) = Σ, onde Σ é diagonal.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 135/419
Aproximando um processo AR(1): Tauchen vs Rowenhorst
Tauchen vs. Rowenhorst: Galindev e Lhkagvasureny (2010)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 136/419


Aproximando um processo AR(1): Rowenhorst (1995)

Método 2: Rowenhorst (1995).

Método mais acurado quando o processo estocástico é bastante


persistente (ρ alto), ver slide anterior.

Processo AR(1):
st = ρst−1 + εt
εt i.i.d. com distribuição G , média zero e variância σ 2

Discretize o processo com uma grade equi-espaçada:

{s̄1 , s̄2 , ...s̄N }, com − s̄1 = s̄N = ϕ

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 137/419


Aproximando um processo AR(1): Rowenhorst (1995)

Idéia: construir cadeia de Markov recursiva com três parâmetros (p, q, ϕ).

Passo 1: Para N = 2, defina:


 
p 1−p
Θ2 =
1−q q

Passo 2: Para N ≥ 3, defina recursivamente a matriz N × N:


   
ΘN−1 0 0 ΘN−1
ΘN = p 0 + (1 − p) 0 +
0 0 0 0
00 00
   
0 0
+ (1 − q) +q
ΘN−1 0 0 ΘN−1

Passo 3: em cada iteração acima, divida todas as linhas, excetos a


primeira e a última, por 2.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 138/419


Aproximando um processo AR(1): Rowenhorst (1995)

Por que o passo 3? Exemplo N = 3:

   
p 1−p 0 0 p 1−p
Θ3 = p 1−q q 0  + (1 − p)  0 1−q q +
0 0 0 0 0 0
   
0 0 0 0 0 0
+ (1 − q)  p 1−p 0 +q 0 p 1−p 
1−q q 0 0 1−q q

Note que a segunda linha soma dois.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 139/419


Aproximando um processo AR(1): Rowenhorst (1995)
Teorema (Kopecky e Suen, 2010): a cadeia de Markov ΘN coverge para
1−p
uma distribuição binomial invariante com parâmetros N e x = 2−(p+q)
 
N −1
f (i; N, x) = x i−1 (1 − x)N−1
i −1

Logo: pode-se computar os seguintes momentos analiticamente.


(q−p)ϕ
E (st ) = 1−(p+q) .
h i
4x(1−x)
var (st ) = ϕ2 1 − 4x(1 − x) + N−1

corr (st , st+1 ) = p + q − 1.


É possı́vel computar também assimetria (skewness) e curtose (kurtosis).

Se E (st ) = 0, var (st ) = σ 2 e corr (st , st+1 ) = ρ, então:


p = q = 1+ρ
2

ϕ=σ N −1
Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 140/419
Exercı́cio 4 a ser entregue

Considere a versão do problema de consumo-poupança com lazer l (e oferta de trabalho). Na forma recursiva:

n o
0 0
V (a, s) = max u(c, l) + βE [V (a , s )|s]
{c,a0 ,l}

sujeito a

0
c + a = (1 + r )a + ws(1 − l)
0
a ≥ −b

A notação é a mesma do inı́cio desta aula.

Explique como você generalizaria o algoritmo apresentado em aula, que itera a função polı́tica, para solucionar
numericamente as regras de decisões a0 (a, s) e l(a, s),

Eduardo Zilberman PUC-Rio Métodos Numéricos 141/419


Equilı́brio Competitivo com Mercados
Incompletos

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aula 5

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 142/419


Equilı́brio competitivo com mercados incompletos
Objetivo: estudar uma classe de modelos na qual o conceito de equilı́brio
envolve distribuições de riqueza e renda endógenas.

Perguntas:
riscos indiosincráticos explicam a distribuição de riqueza observada?
qual a fração de poupança explicada pelo motivo precaução?
quais são as implicações redistributivas de polı́ticas? como a
desigualdade e o bem-estar são afetados por estas polı́ticas?
Três blocos:
1 o problema de consumo-poupança com mercados incompletos
2 a tecnologia de produção neoclássica
3 condições de “market clearing” nos mercados de ativos,
trabalho e bens
a taxa de juros r é endógena tal que β(1 + r ) < 1

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 143/419


Revisão
Problema do consumidor: dado (w , r ) e (a0 , s0 ),

X
max∞ E0 β t u(ct ) s.a
{at+1 }t=0
t=0
ct + at+1 = (1 + r )at + wst
at+1 ≥ −b
Recursivamente:
( )
X
0 0 0 0
v (a, s) = max
0
u[(1 + r )a + ws − a ] + β P(s, s )v (a , s )
a ≥−b
s0

Com ativos discretizados: a ∈ A ≡ [ā1 < ā2 < ... < ān ], com ā1 = −b
 
 m
X 
0 0
v (āh , s̄i ) = max u[(1 + r )āh + w s̄ i − a ] + β P(i, j)v (a , s̄ j )
a0 ∈A  
j=1

Aula passada: aproximamos numericamente a fç pol. ótima a0 = g (a, s).

Aula de hoje: Ljungqvist e Sargent, seções 18.1-10.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 144/419
Distribuição de riqueza e trabalho-eficiência
Probabilidade incondicional de (at , st ): λt (a, s) = Prob(at = a, st = s)

Cadeia de Markov P e a função polı́tica ótima a0 = g (a, s) induzem uma


lei de movimento para a distribuição λt . Como?

Pr(at+1 = a0 , st+1 = s 0 ) =
XX
= Pr(at+1 = a0 |at = a, st = s)Pr(st = s 0 |st = s)Pr(at = a, st = s)
a∈A s∈S

ou
XX
λt+1 (a0 , s 0 ) = I{a0 = g (a, s)}P(s, s 0 )λt (a, s)
a∈A s∈S

onde I é uma função indicadora.

Definição: uma distribuição λ invariante no tempo (i.e., com λt = λt+1 )


que soluciona a equação acima é chamada de distribuição estacionária.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 145/419


Distribuição de riqueza e trabalho-eficiência

XX
λt+1 (a0 , s 0 ) = I{a0 = g (a, s)}P(s, s 0 )λt (a, s)
a∈A s∈S

Como calcular numericamente λ invariante no tempo?


1 Para todo a ∈ A e s ∈ S, conjecture uma distribuição inicial
λ0 (a, s). Itere a equação acima até convergência.
2 Defina x(i−1)m+h = (āi , s̄h ). g e P induzem uma cadeia de Markov
em x. Calcule a distribuição invariante associada.
3 Monte carlo: simule um número grande I de indivı́duos
1 inicialize cada indivı́duo com um par (a0 , s0 ), induzindo uma
distribuição {a0 , s0 }Ii=1
2 use P para simular s1 e g para calcular a1 para cada indvı́duo
3 cheque se as distribuições {a0 , s0 }Ii=1 e {a1 , s1 }Ii=1 “estão
próximas”
se sim, pare. se não, volte ao passo 2.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 146/419


Distribuição de riqueza e trabalho-eficiência
Duas interpretações para a distribuição estacionária λ:
1 Um agente: λ(a, s) é a fração de tempo que um agente de vida
infinita passa no estado (a, s)
2 Contı́nuo 1 de agentes: λ(a, s) é a fração de agentes no estado
(a, s) em um determinado perı́odo

Comentários:
Segunda interpretação permite estudar a dist. de renda e riqueza.
Com uma distribuição estacionária:
A fração de indivı́duos em cada estado (a, s) é constante.
Entrentato, há mobilidade social.
Introduzir o conceito de equilı́brio competitivo estacionário:
requer a existência de uma distribuição estacionária
análogo ao estado estacionário em um modelo com agente
representativo (não a definição de eq. competitivo mais ampla,
que vale para caracterizar dinâmica fora do estado estac.)
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 147/419
Equlı́brio competitivo. Exemplo 1: economia de trocas.
Referência: Huggett (1993).

Hipótese: há um mercado centralizado de crédito, no qual os agentes


podem emprestar ou se endividar a uma taxa de juros livre de risco r .

Definição: Dado b, um equilı́brio competitivo estacionário é uma taxa


de juros r , uma função polı́tica g (a, s), e uma distribuição estacionária
λ(a, s) tais que:
dado r , g (a, s) soluciona o problema do agente
λ(a, s) é induzida por P e g (a, s)
o mercado de crédito “clears”
XX
λ(a, s)g (a, s) = 0
a∈A s∈S

Interpretação: wst = yt (renda exógena e não salário).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 148/419


Equlı́brio competitivo. Exemplo 1: economia de trocas.
Como computar o equilı́brio?

1 conjecture uma taxa de juros inicial r0

2 dado r0 , solucione o problema do agente e obtenha g0 (a, s)

3 encontre a distribuição estacionária associada λ0 (a, s)

4 calcule: XX
λ0 (a, s)g0 (a, s) = e0
a∈A s∈S

e0 > 0 (excesso de demanda por ativos), conjecture r1 < r0 , e


volte ao passo 2
e0 < 0 (excesso de oferta de ativos), conjecture r1 > r0 , e volte
ao passo 2
e0 ≈ 0 pare

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 149/419


Equlı́brio competitivo. Exemplo 2: economia com capital.

Referência: Aiyagari (1994).

Hipótese: há uma firma competitiva neoclássica e um mercado


centralizado de capital (aitvo sem risco).

Capital do agente evolui: kt+1 = (1 − δ)kt + xt .

Rest. orçamentária do agente: ct + xt = r˜kt + wst

Juntando: ct + kt+1 = (1 + r˜ − δ ) kt +wst


|{z} | {z } |{z}
at+1 r at

Nota: agentes podem ser idênticos ex-ante (mesmas preferências, mesmo


processo estocástico para s, mesmo k0 e s0 ), mas diferentes ex-post.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 150/419


Equlı́brio competitivo. Exemplo 2: economia com capital.
Capital agregado: XX
K= λ(a, s)g (a, s)
a∈A s∈S

Unidades-eficiência de trabalho agregada:


X
N= sP ∗ (s),
s∈S


onde P é a distribuição invariante associada com a cadeia de Markov P.

Firma representativa: F (K , N) = AK α N 1−α . CPO:

∂F (K , N)
w=
∂N
∂F (K , N)
r +δ =
∂K

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 151/419


Equlı́brio competitivo. Exemplo 2: economia com capital.
Definição: Dado b, um equilı́brio competitivo estacionário são preços
(r , w ), uma função polı́tica g (a, s), polı́ticas N e K para a firma e uma
distribuição estacionária λ(a, s), tais que:

dado (r , w ), g (a, s) soluciona o problema do agente

dado (r , w ), N e K satisfazem as CPOs da firma

λ(a, s) é induzida por P e g (a, s)


XX
λ(a0 , s 0 ) = I{a0 = g (a, s)}P(s, s 0 )λ(a, s)
a∈A s∈S

os mercados “clear”
XX
K= λ(a, s)g (a, s)
a∈A s∈S
X
N= sP ∗ (s)
s∈S

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 152/419


Equlı́brio competitivo. Exemplo 2: economia com capital.
Como computar o equilı́brio?

1 conjecture K0 inicial

2 como N é fixo, calcule r0 e w0 das CPO da firma.

3 dado w0 e r0 , solucione o problema do agente e obtenha g0 (a, s)

4 encontre a distribuição estacionária associada λ0 (a, s)

5 calcule: XX
λ0 (a, s)g0 (a, s) = K0e
a∈A s∈S

6 atualize K1 = ξK0 + (1 − ξ)K0e , para algum ξ ∈ (0, 1)

7 itere até convergir, |Kn − Kn−1 | < ε

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 153/419


Equlı́brio competitivo

Da CPO da firma, demanda por capital: FK (K , N) = fK (K /N) = r + δ

K (r ) = NfK−1 (r + δ)

se r = −δ, então K (r ) → ∞

se r → ∞, então K (r ) → 0

se r = 1/β − 1 (s.s. com mercados completos), então K (r ) = K MC

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 154/419


Equlı́brio competitivo
Graficamente:

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 155/419


Equlı́brio competitivo
Da CPO da firma, demanda por capital: FK (K , N) = fK (K /N) = r + δ

K (r ) = NfK−1 (r + δ)

se r = −δ, então K (r ) → ∞
se r → ∞, então K (r ) → 0
se r = 1/β − 1 (s.s. com mercados completos), então K (r ) = K MC

Do problema do consumidor: oferta de capital


XX
A(r ) = λ(a, s)g (a, s)
a∈A s∈S

se r = 1/β − 1, então A(r ) → ∞ (última aula)


se r = −1, então A(r ) = −b̄
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 156/419
Equlı́brio competitivo
Graficamente:

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 157/419


Equlı́brio competitivo: existência e unicidade
Sob determinadas hipóteses, equilı́brio existe.

A(r ) não é necessariamente crescente, portanto o equilı́brio não é


necessariamente único. Intuição: suponha que r ↑,
efeito renda (poupa menos) vs. substituição (poupa mais);
difı́cil avaliar o efeito na distribuição de ativos.
Pergunta aberta: condições suficientes e necessárias p/ unicidade?
Recentemente, resposta parcial para b̄ = 0 e pequenas
restrições na função de produção.
Condição suficiente: elasticidade intertemporal de subsitituição
maior que (ou igual a) um.
Em tempo discreto, Light (2018) com utilidade CRRA.
Em tempo contı́nuo, Achdou et al (2020) com utilidade
genérica.
Entretanto, pouco útil quando se implementa o modelo
quantitativamente: CRRA + aversão realativa ao risco > 1.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 158/419
Equlı́brio competitivo: estática comparativa

Estática comparativa (se A0 (r ) > 0 no ponto de equilı́brio):

lim. de endiv. aumenta: A(r ) desloca para cima, r ↑ e K ↓.

aversão ao risco aumenta: A(r ) desloca para baixo, r ↓ e K ↑.

variância de s aumenta: A(r ) desloca para baixo, r ↓ e K ↑.

persistência de s aumenta: A(r ) desloca para baixo, r ↓ e K ↑.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 159/419


Equlı́brio competitivo
Motivação em Huggett (1993): “risk-free rate puzzle”

economia com mercados completos gera taxa de juros sem risco de


equilı́brio alta em relação aos dados

mercados incompletos: poupa-se mais, logo juros caem

r Huggett < r Ayiagari < r MC = 1/β − 1

Motivação em Ayiagari (1994): qual é o tamanho do motivo precaução


[(K Ayiagari − K MC )/Y ]?

CRRA (γ = 1), choques i.i.d. com var. baixa: ≈ 0%

CRRA (γ = 5), choques autoc (0.9) com var. alta: ≈ 14%

parametrização aceitável: ≈ 5%

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 160/419


Este modelo explica desigualdade de renda e riqueza?
Dados recentes (SCF, 2013), tabulados por Kuhn e Rios-Rull (2015):

Gini Média Top 1%


Mediana
EUA
Wealth 0.85 6.81 36%
Earnings 0.67 1.96 18%

Fatos:

Riqueza é distribuı́da de forma mais desigual que a renda do


trabalho (que é mais desigual que o consumo, não reportado).

Ambas distribuições são assimétricas (média > mediana), mas a de


riqueza é bem mais.

Note que, até então, a teoria é sobre desisgualdade ex-post (“sorte”),


mas que pode ser facilmente combinada com desigualdade ex-ante.

Ainda assim, modelo explica qualitativamente estes fatos! E


quantitativamente?
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 161/419
Calibragem
Como calibrar o modelo para os EUA? Parametrização razoável:
Produção: K α N 1−α , com α = 1/3. Depreciação: δ = 6%
c 1−γ −1
Preferências: CRRA, 1−γ , com γ ∈ {1, 2, 3, 4, 5}
Taxa de desconto: β → K /Y ∈ [3, 4]. Requer calibragem interna.
Truque: com mercados completos,
α−1 1−α 1 1
αK
| {zH } −δ = β − 1 ⇒ β = 1 + α Y − δ ∈ [0.951, 0.977]
Y K
αK

Escolha β um pouquinho menor.


Cadeia de Markov P: discretize um processo AR(1) para a renda do
trabalho: ln yt = ρ ln yt−1 + εt , εt ∼ N(0, σε2 )
Estimativa usando a PSID: ρ = 0.95 e σε = 0.2.
Dá para incorporar processos mais sofisticados (componente
transitório, componente individual fixo, etc).
Limite de endividamento: b → fração de pessoas com riqueza
negativa (aprox. 5% − 10% nos EUA)
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 162/419
Parênteses sobre calibração. Debate recente: HIP vs. RIP
Como modelar o processo estocástico para renda do indivı́duo i.

yti = g (t, observáveis) + αi + β i t + zti + εit


| {z } | {z } | {z }
componente comum heterog. determ. comp. estocástico

onde zti = ρzt−1


i
+ ηti

Até a década de 80: estimativas eram de 0.5 < ρ < 0.7 e σβ >> 0.
Heterogeneous Income Profile (HIP).

McCurdy (1982): não rejeitou (nos dados) a hipótese nula de que


σβ ≈ 0; impôs σβ = 0 e estimou ρ ≈ 1. Restricted Income Profile (RIP).

Guneven (2009): mostrou que o teste de McCurdy possui baixa potência.

Debate importante: modelagem do processo estoc. para renda afeta


substancialmente resultados quantitativos desta classe de modelos.

Referências: Guvenen (2009, RED); Guvenen (2012, resenha).


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 163/419
Este modelo explica desigualdade de renda e riqueza?

Gini Bottom 40% Top 5% Top 1%


EUA
Wealth (≈ 1990) 0.78 1.7 54.0 29.6
Wealth (2010) 0.85 0.7 60.1 34.1
Ayiagari (1994)
Wealth 0.38 14.9 13.1 3.2

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 164/419


Este modelo explica desigualdade de renda e riqueza?

Gini Bottom 40% Top 5% Top 1%


EUA
Wealth (≈ 1990) 0.78 1.7 54.0 29.6
Wealth (2010) 0.85 0.7 60.1 34.1
Ayiagari (1994)
Wealth 0.38 14.9 13.1 3.2

Como ajustar a desigualdade na parte de baixo?

Introduzir programas sociais (seguro-desemprego, programas de


transferência de renda, ...). O motivo precaução diminui, e os mais
pobres acumulariam menos.

Exemplos: Hubbard, Skinner e Zeldes (1995), Berriel e Zilberman (2011),


etc.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 165/419


Este modelo explica desigualdade de renda e riqueza?

Gini Bottom 40% Top 5% Top 1%


EUA
Wealth (≈ 1990) 0.78 1.7 54.0 29.6
Wealth (2010) 0.85 0.7 60.1 34.1
Ayiagari (1994)
Wealth 0.38 14.9 13.1 3.2
Quadrini (2000)
Wealth 0.74 45.8 24.9

Como ajustar a desigualdade na parte de cima?

(1) Explorar o papel de emprendedores (maior retorno ao investir), mais


incentivos para acumular (Quadrini, 2000).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 166/419


Este modelo explica desigualdade de renda e riqueza?

Gini Bottom 40% Top 5% Top 1%


EUA
Wealth (≈ 1990) 0.78 1.7 54.0 29.6
Wealth (2010) 0.85 0.7 60.1 34.1
Ayiagari (1994)
Wealth 0.38 14.9 13.1 3.2
Quadrini (2000)
Wealth 0.74 45.8 24.9
Krusell e Smith (1998)
Wealth 0.82 55.0 24.0

Como ajustar a desigualdade na parte de cima?

(2) Heterogeneidade na taxa de desconto (e.x β ∈ {βL , βH }). No estado


H, agentes acumulam mais (Krusell e Smith, 1998).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 167/419


Este modelo explica desigualdade de renda e riqueza?

Gini Bottom 40% Top 5% Top 1%


EUA
Wealth 0.78 1.7 54.0 29.6
Ayiagari (1994)
Wealth 0.38 14.9 13.1 3.2
Quadrini (2000)
Wealth 0.74 45.8 24.9
Krusell e Smith (1998)
Wealth 0.82 55.0 24.0

Como ajustar a desigualdade na parte de cima?

(3) Com retorno da poupança heterogêneo e estocástico, modelo


consegue gerar calda larga (Pareto tail) na distribuição de riqueza.

Ponto analı́tico feito por Benhabib, Bisin e Zhu (2016).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 168/419


Este modelo explica desigualdade de renda e riqueza

Gini Bottom 40% Top 5% Top 1%


EUA
Wealth (≈ 1990) 0.78 1.7 54.0 29.6
Wealth (2010) 0.85 0.7 60.1 34.1
Earnings (≈ 1990) 0.63 3.2 31.2 14.8
Earnings (2010) 0.65 3.5 36.3 18.0

Castañeda, Dı́az-Giménez e Rios-Rull (2003): engenharia reversa. Que


tipo de processo para renda é necessário para explicar as distribuições de
riqueza e renda perfeitamente?

Conclusão: choques que gerem pouca mobilidade social; além de uma


realização muito alta para a renda (s m 1060x maior que a mediana) que
ocorre com uma probabilidade muito baixa, e dura cinco anos em média.

Nota: Castañeda et al (2003) propõe uma especificação engenhosa para


a cadeia de Markov de forma a capturar elementos de ciclo da vida
(aposentadoria, herança, etc) relevantes para decisão de poupança.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 169/419
Adendo matemático

Hipótese até agora: a ∈ A ≡ [ā1 < ā2 < ... < ān ], com ā1 = −b

E se a ∈ A ≡ [−b, a]? λ(a, ε) =?

Traduzindo a teoria:
Espaço de estados: E ≡ A × S.
Seja E ≡ A × S um subconjunto arbitrário de E ≡ A × S.
B(E ) é um conjunto “apropriado” dos subconjuntos de E .
exemplo: E ⊂ E , mas E ∈ B(E )
termo técnico: B é uma sigma-algebra de Borel
(E , B) é um espaço mensurável com medida λ
para E ∈ B(E ), λ(E) = a medida (“fração”) de agentes em E

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 170/419


Adendo matemático

Defina a probabilidade que um indivı́duo no estado (a, s) transite para o


conjunto A × S ⊂ A × S como
X
Q((a, s), A × S) = I{g (a, s) ∈ A}P(s, s 0 )
s 0 ∈S

A distribuição de probabilidade (ou medida) λt evolui da seguinte forma:


para todo A × S ∈ B(A × S),
Z
λt+1 (A × S) = Q((a, s), A × S)dλt (a, s)
A×S

Distribuição estacionária λ é uma distribuição invariante, tal que


Z
λ(A × S) = Q((a, s), A × S)dλ(a, s)
A×S

para todo A × S ∈ B(A × S).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 171/419


Equlı́brio competitivo. Exemplo 2: economia com capital.
Definição: Dado b, um equilı́brio competitivo estacionário são preços
(r , w ), uma função polı́tica g (a, s), polı́ticas N e K para a firma e uma
distribuição estacionária λ(a, s), tais que:

dado (r , w ), g (a, s) soluciona o problema do agente

dado (r , w ), N e K satisfazem as CPOs da firma

para todo A × S ∈ B(A × S), λ(A × S) satisfaz


Z
λ(A × S) = Q((a, s), A × S)dλ(a, s)
A×S

os mercados “clear”
Z
K= g (a, s)dλ(a, s)
A×S
X
N= sP ∗ (s)
s∈S

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 172/419


Modelando a restrição ao crédito
Até agora: restrição ad-hoc
a0 > −b
Derivando o limite natural da dı́vida da restrição orçamentária:
ct+1 + at+2 = (1 + r )at+1 + st+1 w
iterando e impondo ct ≥ 0 (derivado da condição de Inada)
∞  j
1 X 1
at+1 = [ct+j+1 − st+j+1 w ] ≥
1+r 1+r
j=0
∞  j
1 X 1
≥ − st+j w
1+r 1+r
j=0
s 1w
≥ −
r
O agente precisa ser capaz de pagar sua dı́vida com probabilidade 1. Esta
restrição nunca estará ativa.

Ayiagari (1994): a0 ≥ − min{b, s̄1 w /r }


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 173/419
Modelando a restrição ao crédito

Hipótese implı́cita até agora: contratos são perfeitamente enforced, e


não há calote mesmo que seja do auto-interesse dos agentes.

Uma forma de endogeneizar a incompletude de mercados: permitir que


os o agentes possam calotar. Referência: Zhang (1997).

Hipótese nova: se um agente calota, ele é punido pelos demais


participantes do mercado de ativos, e vive em autarquia para sempre.

Valor da autarquia:
X
v aut (s) = u(sw ) + β v aut (s 0 )P(s, s 0 )
s 0 ∈S

Obs.: aprendemos a solucionar numericamente este tipo de problema na


última aula.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 174/419


Modelando a restrição ao crédito

Endogeneizando a restrição ao crédito:

a0 ≥ −b ∗ (s)

onde

b ∗ (s) = max b : v (−b, s 0 ) ≥ v aut (s 0 ), ∀s 0 : P(s, s 0 ) > 0




Interpretação: dado s, o limite de endividamento é a maior quantia de


dı́vida que o agente com o choque s pode contrair, tal que será sempre
ótimo repagar no perı́odo seguinte, ao invés de viver em autarquia.

Como sabemos que b ∗ (s) existe e é positivo?

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 175/419


Modelando a restrição ao crédito
Fixe s.

Observações: (1) v aut (s) é independente de b; (2) v (−b, s) é decrescente


em b; (3) v (0, s) > v aut (s)

Hipótese: v (−b nat , s) = v (−w s 1 /r , s) < v aut (s)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 176/419


Modelando a restrição ao crédito

Método de solução (problema do agente): dado r e w ,

1 Solucione numericamente v aut (s)


X
v aut (s) = u(sw ) + β v aut (s 0 )P(s, s 0 )
s 0 ∈S

2 Conjecture b ∗ (s) e solucione o problema do agente

3 Compute v (−b, s) para todo s e b

4 Verifique se b ∗ (s) satisfaz:

b ∗ (s) = max{b : v (−b, s 0 ) ≥ v aut (s 0 ), ∀s 0 : P(s, s 0 ) > 0}

5 Itere até convergência.

Comentário: nessa economia, default não ocorre em equilı́brio.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 177/419


Exercı́cio 5 a ser entregue
Tempo é discreto e indexado por t ∈ {0, 1, ...∞}. A economia é populada por um contı́nuo de medida um de
famı́lias com vida infinita, indexada por i ∈ [0, 1]. As preferências da famı́lia i são dadas por:

∞ i 1−γ
i i t (ct )
X
U(c0 , c1 , ...) = E0 β ,
t=0 1 −γ

onde β ∈ (0, 1) é o fator de desconto, ct ≥ 0 é o consumo no perı́odo t, e γ > 0 é a aversão ao risco relativa (ou
inverso da elasticidade intertemporal de substituição). Cada famı́lia i no perı́odo t recebe um choque estocástico
na dotação do bem de consumo, εit ∈ {εl , εh }, com εh > εl , que segue uma cadeia de Markov onde
πhh = Pr{εit = εh |εit−1 = εh }, πll = Pr{εit = εl |εit−1 = εl }, πhl = 1 − πhh e πlh = 1 − πll .

Não tem produção nesta economia. Famı́lias negociam um ativo sem risco a que com retorno bruto Rt = 1 + rt ,
sujeito a um limite de endividamento −b̄.

(a) Defina o equilı́brio recursivo competitivo para economia.

Para os itens (b) e (c), suponha b̄ = 0.

(b) Por que este caso é especial? Determine a taxa de juros livre de risco Rt como uma função dos parâmetros do
modelo, e prove que é menor que 1/β.

(c) Mostre como a taxa de juros livre de risco muda com εh /εl , com o parâmetro de persistência πhh e a aversão
ao risco γ. Dê uma intuição para essas estáticas comparativas.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 178/419


Exercı́cio 6 a ser entregue
Considere uma economia estacionária populada por um contı́nuo de medida um de agentes, ex-ante iguais, com
vida infinita. Os agentes têm preferências sobre consumo e lazer dadas por:

∞ h i
t ψ
X
E0 β u(cit ) + e it v (1 − hit ) .
t=0

Agentes experenciam choques de preferências por lazer ψit , que seguem um processo estocástico
ψit = ρψi,t−1 + ηit , com ηit ∼ N(0, ση ). Agentes poupam mas não podem tomar emprestado. Produção
ocorre de acordo com a tecnologia agregada:

α 1−α
Ct + Kt+1 − (1 − δ)Kt = AKt Ht ,

onde Ct , Kt e Ht são, respectivamente, consumo agregado, capital agregado, e horas agregadas no perı́odo t.
Mercados de trabalho e ativos são competitivos, e se equilibram, todo perı́odo, com preços wt e rt ,
respectivamente.

O governo taxa a renda do capital com uma alı́quota linear fixa τ . A receita dos impostos é retornada aos agentes
via transferências lump-sum b. Os agentes podem evadir os impostos, decidindo todo perı́odo t a fração da renda
do capital φit que será declararada para autoridade fiscal, e que, portanto, será tributada. Defina xit como o total
de impostos não declarados no perı́odo t.

O governo, sabendo que os agentes podem ter sonegado impostos no perı́od t − 1, monitora-os (audita-os) no
perı́do t com probabilidade π. Se monitorado em t, verifica-se perfeitamente se houve sonegação ou não em t − 1,
e aplica-se uma multa de z(xi,t−1 ), sendo que z(0) = 0 e z 0 (xi,t−1 ) > 1. Os agentes descobrem se sua
declaração foi auditada no inı́cio do perı́odo (antes das decisões de consumo).

(segue)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 179/419


Exercı́cio 6 a ser entregue (continuação)

(a) Escreva o problema do agente na forma recursiva, deixando explı́cito as variáveis de estado individuais e
agregadas.

(b) Escreva a condição de primeira ordem que caracteriza a escolha ótima de evasão fiscal.

(c) Defina o equilı́brio competitivo recursivo nesta economia.

Suponha que para verificar a declaração de renda de um agente com probabilidade π, o governo tem um custo
adminstrativo de m(π), com m(0) = 0, m0 (π) > 0, m00 (π) > 0.

(d) Escreva o problema do governador benevolente que escolhe uma fração π ∈ [0, 1] dos agentes para monitorar,
de forma a maximizar o bem-estar social nesta economia (veja os slides no inı́cio da aula seguinte).

Quais são os trade-offs que este governo têm que lidar ao decidir π?

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo 180/419


Equilı́brio Competitivo com Mercados
Incompletos: Aplicações

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aulas 6 e 7

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 181/419


Aplicação: public insurance ótimo

Discussão:

Visões de mundo que se opõe a redistribuição: meritocracia, ética


protestante, direito de propriedade, Darwinismo social, ...

Visões de mundo que favorecem a redistribuição: caridade,


Marxista, formação de capital humano, conflitos sociais, ...

Visão durante o curso: redistribuir é positivo pois permite ao governo


comprar, em nome dos agentes, um seguro que estes agentes
“comprariam” antes de nascer (sob o “véu da ignorância”).

Problema de Ramsey: governo maximiza a utilidade ex-ante (esperada)


dos agentes, sujeita a alocação ser competitiva.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 182/419


Aplicação: public insurance ótimo
Pergunta: qual é o nı́vel ótimo de proteção social (public insurance)?

Ayiagari (1994): taxa todo mundo (em 100%) e redistribui lump-sum.

Floden e Lindé (2001): oferta de trabalho endógena + taxação


distorciva.
Ou seja: trade-off entre eficiência e proteção social
Ajustes no setup original (no artigo, há mais ajustes):
Utilidade instantânea: u(c, l), onde l = 1 − h é lazer.
Polı́tica ótima de oferta de trabalho: h(a, s)
Motivo precaução: choque ruim ⇒ agente intensifica a oferta
de trabalho
Restrição orçamentária: c + a0 = (1 + r )a + (1 − τ )hsw + T
R
Mercado de trabalho “clear”: H = A×S sh(a, s)dλ(a, s)
Restrição orçamentária do governo: T = τ wH

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 183/419


Aplicação: public insurance ótimo
Bem-estar social (no equilı́brio estacionário):
Z
W (τ ) = u(c(a, s; τ ), 1 − h(a, s; τ ))dλ(a, s; τ )
A×S

Duas interpretações:
Todos os agentes têm o mesmo peso.
Utilidade ex-ante (sob ignorância) de todos os agentes.
Problema de Ramsey:
τ ∗ ∈ argmaxτ ∈[0,1] W (τ )
Ganhos de bem-estar (no eq. estac.): ∆ é variação % no consumo tal que
Z
u(c(a, s; τ )(1 + ∆), 1 − h(a, s; τ ))dλ(a, s; τ ) =
A×S
Z
= u(c(a, s; τ ∗ ), 1 − h(a, s; τ ∗ ))dλ(a, s; τ ∗ ) = W (τ ∗ )
A×S

Obs.: ignoramos a dinâmica de transição (dinâmica fora do eq. estac.).


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 184/419
Aplicação: public insurance ótimo

Floden e Lindé (2001):

τ τ∗ T /Y T ∗ /Y ∆
EUA 0.36 0.46 8% 15% 1.8%
Suécia 0.57 0.26 21% 2% 8.5%

Por quê? Renda do trabalho flutua muito pouco na Suécia.

Conclusão: mais (menos) public insurance na Suécia (nos EUA) do que o


ótimo.

Dos Reis, Zilberman e Botelho (2016): quanto maior o seguro provido


pelo setor público, onde o salário é menos volátil, maior a necessidade de
funcionários públicos, o que reduz a necessidade de seguro na economia.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 185/419


Aplicação: public insurance ótimo

Curiosidade: performance do modelo (EUA vs Suécia)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 186/419


Aplicação: public insurance ótimo

Curiosidade: performance do modelo (EUA vs Suécia)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 187/419


Aplicação: public insurance ótimo
Pergunta: qual é a quantidade ótima de dı́vida do governo?

Ayiagari e McGrattan (1998): introduz dı́vida no modelo.

Ajustes no setup original (no artigo, há mais ajustes):

Rest. do governo: T + (1 + r )B = B 0 + τ wH

no equilı́brio estacionário, B 0 = B ⇒ rB = τ wH − T

Rest. orçamentária: c + a0 + b 0 = (1 + r )(a + b) + (1 − τ )w εh + T

Agreg. em eq.: C = r (A + B) + wH − τ wH + T = wH + rA

Rest. ao crédito a0 + b 0 ≥ −b

Agreg. em eq.: A0 ≥ −b − B

Conclusão: do ponto de vista agregado, B > 0 é equivalente a relaxar


restrição ao crédito do agente.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 188/419
Aplicação: public insurance ótimo
Graficamente:

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 189/419


Aplicação: public insurance ótimo
Fontes de tensão:

Do lado negativo:

Dı́vida pública requer taxação distorciva

Do lado positivo:

Dı́vida aumenta a liquidez (novo ativo para suavizar consumo)

Economia mais próxima de mercados completos

Ou seja: B ↑⇒ r ↑, K ↓

Dı́vida ótima ≈ 2/3 do PIB (próximo do valor para os EUA na época).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 190/419


Aplicação: public insurance ótimo
Pergunta: qual é a combinação ótima de dı́vida e transferências?

Floden (2001): basicamente,


{B ∗ , T ∗ } ∈ argmax{B,T } W (B, T )

τ τ∗ T /Y T ∗ /Y B/Y B ∗ /Y ∆
EUA 0.38 0.53 8% 23% 67% -100% 3.4%

Intuição:

T ↑ melhora a diversificação de risco e reduz desigualdade, mas ao


custo da eficiência

B ↑ melhora a diversificação de risco e talvez a eficiência, mas


aumenta a desigualdade
Como B ↑⇒ r ↑ (melhora a diversificação do risco).
Beneficia proporcionalmente mais os ricos (a alto).
Mas o custo é uniforme nos agentes (K ↓, w ↓, τ ↑, T ↓)
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 191/419
Decomposição do bem-estar

Mais especificamente, Floden (2001) mostrou que ∆ pode ser


decomposto em três componentes.

1 ωlev : representa os ganhos no nı́vel agregado de consumo

2 ωunc : representa os ganhos com uma redução na incerteza

3 ωine : representa os ganhos com uma redução na desigualdade

Proposição: 1 + ∆ = (1 + ωlev )(1 + ωunc )(1 + ωine )

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 192/419


Aplicação: public insurance ótimo

Floden (2001):

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 193/419


Aplicação: public insurance ótimo
Floden (2001):

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 194/419


Aplicação: public insurance ótimo
Berriel e Zilberman (2011): introduz um programa de transferência de
renda para os pobres

Ajustes:

Pequena economia aberta: r fixo

Trabalho indivisı́vel: ht ∈ {0, 1}

Mercado de ativos segmentado: “moeda” e ativo sem risco

c +b 0 +m0 = (1+r )b+(1−π)m+wsh+T I{y ≤ ȳ }−ξI{b > 0}

y = rb + wsh

Governo possui um orçamento B ≈ 0.69%Y para redistribuir

Polı́ticas alternativas: focalizar vs. distribuir lump-sum

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 195/419


Aplicação: public insurance ótimo

Berriel e Zilberman (2011):

benchmark no program no program


coverage 16.8% 100% 0%
% households employed 79.5% 79.4% 79.4%
% households connected 53.7% 56.2% 57.2%
Gini coefficient 0.56 0.56 0.56
Gini coefficient for wealth 0.75 0.73 0.72
% households in extreme poverty 2.3% 5.5% 5.6%
% households in poverty 11.0% 14.7% 14.7%
Welfare ∆ss 0.3% 1.6%
Welfare ∆td 3.2% 5.2%
Political support Γ 77.3% 100%

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 196/419


Aplicação: public insurance ótimo
Berriel e Zilberman (2011):

Restrição orçamentária do governo:


Z
T I{y (a,s;T ,ȳ )≤ȳ } dλ(a, s; T , ȳ ) = B
A×S

Qual é o programa (T , ȳ ) que maximiza bem-estar e suporte polı́tico?

welfare trans. dyn. (square) and political supp. (lozenge)


4.0% 80%
78%
3.5%
76%
3.0% 74%

2.5% 72%
70%
2.0% 68%
1.5% 66%
64%
1.0%
62%
0.5% 60%
5% 15% 25% 35% 45% 55% 65%
coverage of the program

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 197/419


Dinâmica de transição

Considere o seguinte problema hipotético (fora do eq. estacionário):

 
 X 
vt (a, s) = max u(ct ) + β vt+1 (at+1 , st+1 )P(st+1 , s)
ct ,at+1  
st+1 ∈S

ct + at+1 = (1 + rt )a + wt (1 − τt )s + Tt
at+1 ≥ −b

Nota: funções valor e polı́ticas dependem de wt e rt que variam no


tempo.

Experimento: economia está inicialmente num equilı́brio estacionário


τ0 = τ ∗ . Inesperadamente τt = τ ∗∗ , t ≥ 1.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 198/419


Dinâmica de transição
Definição: Dado λ∗ e {τt }∞ ∞ ∞
t=0 , eq. comp. rec. é {vt }t=0 , {ct , at+1 }t=0 ,
∞ ∞ ∞ ∞
{Ht , Kt }t=0 , {rt , wt }t=0 , {Tt }t=0 e {λt }t=0 , tal que para todo t,
1 Dado {rt , wt }∞ ∞ ∞
t=0 e {τt , Tt }t=0 , {ct , at+1 }t=0 soluciona o problema

do agente e {vt }t=0 é a sequência de funções valor associadas.
2 Dado {rt , wt }∞ ∞
t=0 , {Ht , Kt }t=0 soluciona o problema da firma
R
3 Mercado de trabalho “clears”: Ht = A×S sdλt (a, s) = H
R
4 Mercado de ativos “clears”: Kt+1 = A×S at+1 (a, s)dλt (a, s)
5 Restr. orç. do gov. está balanceada: Tt = τt wt H
6 Para todo A × S ∈ B(A × S),
Z
λt+1 (A × S) = Qt ((a, s), A × S)dλt (a, s)
A×S
onde
X
Qt ((a, s), A × S) = I{at+1 (a, s) ∈ A}P(s, s 0 )
st+1 ∈S
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 199/419
Dinâmica de transição
Computacionalmente:

Passo 1: Fixe T alto (T = 200, por exemplo), e compute os equilı́brios


estacionários {v ∗ , c ∗ , a∗ , K ∗ }, associado com τ = τ ∗ , e
{v ∗∗ , c ∗∗ , a∗∗ , K ∗∗ }, associado com τ = τ ∗∗

∗ ∗∗
Passo 2: Conjecture {K̂ }T
t=0 , com K̂0 = K e K̂T = K . Note que:

ŵt = FH (K̂t , H) , rˆt = FK (K̂t , H) − δ e T̂t = τt ŵt H

−1 T −1
Passo 3: como vT = v ∗∗ , podemos solucionar {v̂t }T
t=1 e {ât+1 }t=1 por
indução para trás.


Passo 4: podemos construir {Q̂t }Tt=1 e, dado que λ0 = λ , recuperar
T
{λ̂t }t=1 e calcular, usando Monte Carlo,
Z
Ât+1 = ât+1 (a, s)d λ̂t (a, s)
A×S

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 200/419


Dinâmica de transição
Passo 5: cheque convergência

max |Ât − K̂t | < ε


1≤t≤T

Passo 6: se não convergiu, atualize K̂tnew = 0.5(K̂told + Ât ), e volte ao


passo 2.

Aplicação (polı́tica fiscal): Heathcote (2004).


aplica estas técnicas para estudar o efeito de mudanças temporárias
nas alı́quotas de impostos;
redução temporária na alı́quota do imposto de renda impacta
consumo mais do que mercados completos;
intuição: com a redução, agentes restritos ao crédito podem
aumentar o consumo;
efeito é amplificado dependendo da distribuição de riqueza.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 201/419
Dinâmica de transição: evolução da desigualdade

Kaymak e Poschke (2016): o que explica o aumento da desigualdade de


riqueza nos EUA de 1960 a 2010?

Impostos/transferências vs. tecnologia.

Motivação:

Share de riqueza dos top 1% foi de 27.6% em 1970 para 41.8% em


2012 (Saez e Zucman, 2014, dados administrativos).

Share de riqueza dos top 10% foi de 67% em 1983 para 75% em
2013 (Survey of Consumer Finance).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 202/419


Dinâmica de transição: evolução da desigualdade

Mudanças instituicionais e tecnológicas podem explicar esse fenômeno.

Artigo foca em três delas:

Impostos sobre os mais ricos diminuiram (especialmente sobre


corporações e propriedades).

Piketty e Saez (2007): imposto efetivo médio caiu de 45% em


1960 para 33% em 2004 para o 1% mais ricos.

Expansão transf governamentais (especialmente a idosos, Social


Security e Medicare). De 4.1% (1960) para 11.9% (2010) do PIB.

Aumento da desigualdade salarial (por conta de mudanças


teconlógicas favorecendo trabalhadores qualificados).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 203/419


Dinâmica de transição: evolução da desigualdade
Estratégia similar a Castañeda, Dı́az-Giménez e Rios-Rull (2003). Cadeia
de Markov captura elementos de ciclo da vida (aposentadoria, herança,
etc) relevantes para acumulação, incidência de impostos e transferências.
 
(1 − µR )ΠWW µR I
,
µD ΠRW (1 − µD )I
onde µR e µD são probabilidades de aposentadoria e morte.

Cadeia de Markov incorpora desigualdade ex-ante fL e fH , ex-post {Aij },


chances de virar milionário (z5 e z6 ), e transmissão intergeracional {Fij }.
Os motivos para poupar (precaucional, suavizar consumo na
aposentadoria, altruı́smo com descendentes) presentes no modelo.
Além disso, sistemas de imposto e seguro social (importante para emular
a desigualdade) cuidadosamente modelados (ver artigo).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 204/419
Dinâmica de transição: evolução da desigualdade
Kaymak e Poschke (2016). Exercı́cio:

Calibra a economia para um estado estacionário em 1960 nos EUA.


Nova trajetória (disciplinada pelos dados) de impostos, transf e
dispersão da produtividade é anunciada (“perfect foresight”).
Soluciona a transição (frequência anual), considerando o estado
estacionário final uma economia com tecnologia e polı́ticas de 2010.
Evolução share de riqueza top 1%:

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 205/419


Dinâmica de transição: evolução da desigualdade
Kaymak e Poschke (2016). Decomposição:

Resposta “provocativa”: para o aumento da desigualdade de riqueza,

mudanças tecnológicas (ao invés de mudanças de polı́ticas) que


geraram dispersão salarial foram os principais fatores; e

transferências (que melhora o bem-estar dos mais pobres) foram


mais importantes que impostos no topo da distribuição.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 206/419
Aplicação: taxação ótima
Pergunta: qual é a alı́quota de imposto ótima sobre o capital no estado
estacionário?

Mercados completos (Chamley, 1986): τk∗ = 0.

Mercados incompletos (Aiyagari, 1995): teórico, τk∗ > 0.

Mercados incompletos (Domeij e Heathcote, 2004): quantitativo.


τk∗ ≈ 39.7%, valor para os EUA usado na calibração;
inclui a dinâmica de transição;
mudança em τk gera muita redistribuição ao longo da
transição;
apenas uma minoria aprovaria reduções em τk .

Por que τk∗ > 0? Intuição errada: há capital demais em relação a
economia com mercados completos.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 207/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)

O que a gente aprendeu? No modelo neoclássico com mercados


incompletos (β(1 + r ) < 1) há sobre-acumulação de capital em
relação a mercados completos (β(1 + r ) = 1).

Portanto, sob a ótica do planejador irrestrito, a alocação


estacionária é Pareto ineficiente. Há sobre-acumulação de capital.

Para obter eficiência, basta completar os mercados. Mas “completar


os mercados” (i.e., corrigir a fricção) não é uma polı́tica factı́vel.

Conceito de eficiência relevante é sob a ótica do planjeador restrito,


ou seja, respeitando as fricções da economia descentralizada.

Perguntas. (i) A economia descentralizada é eficiente restrita? (ii)


Se não, qual é a alocação ótima restrita?

Ou seja, comparando apenas alocações que podem ser geradas


com a mesma estrutura de mercados (i.e., sem que o
planejador possa corrigir diretamente as fricções impostas).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 208/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)

Referência: Dávila, Hong, Krusell e Rı́os-Rull (2012).

Economia descentralizada é eficiente restrita? Não! Há externalidades


pecuniárias (via preços) não internalizadas pelos agentes.

Em aula: explorar a natureza dessas externalidades em um modelo de


dois perı́odos. No artigo: tratamento para horizonte infinito.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 209/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)

Dois perı́odos t = 1, 2; distribuição λ de riqueza inicial ω; dois choques:


s1 com prob. π1 e s2 com prob. π2 = (1 − π1 ). Equilı́brio:

Problema dos agentes:


a(ω) ∈ arg max u(ω − a) + β[π1 u(ra + ws1 ) + π2 u(ra + ws2 )]
a∈[0,ω]

Problema da firma:
r = FK (K , H) e w = FH (K , H)

Market clearing:
Z
K= a(ω)dλ(ω) e H = πs1 + (1 − π)s2
ω

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 210/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)
Utilidade de equilı́brio do agente ω:
2
X
u(ω − a(ω)) + βπi u(FK (K , H)a(ω) + FH (K , H)si )
i=1

Derive me relação a K ,
2
X
∆(ω) = βπi u 0 (FK (K , H)a(ω)+FH (K , H)si )(FKK (K , H)a(ω)+FHK (K , H)si )
i=1

Parênteses. Note que: para x > 0,

ret. const. : F (xK , xH) = xF (K , H)


deriv. x : KFK (xK , xH) + HFH (xK , xH) = F (K , H)
deriv. K : xKFKK (xK , xH) + FK (xK , xH) + xHFHK (xK , xH) = FK (K , H)
x →1: KFKK (K , H) + HFHK (K , H) = 0

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 211/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)
Logo,
2  
X a(ω) si
∆(ω) = βπi u 0 (FK (K , H)a(ω)+FH (K , H)si ) − FKK (K , H)K
K H
i=1

Defina:
u 0 (FK (K , H)a(ω) + FH (K , H)s1 )
χ(ω) = >1
u 0 (FK (K , H)a(ω) + FH (K , H)s2 )

Lembre que s2 = (H − π1 s1 )/π2 , logo ∆(ω) =


   
a(ω) s1 a(ω)
= βu 0 (FK (K , H)a(ω)+FH (K , H)s2 ) π1 (χ(ω) − 1) − + − 1 FKK (K , H)K
K H K

Como u 0 > 0 e FKK < 0, o ganho de bem-estar ∆(ω) do agente ω ao


aumentar maginalmente o capital é positivo se e somente se
 
a(ω) s1 a(ω)
π1 (χ(ω) − 1) − + −1<0
K H K
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 212/419
Ótimo restrito (constrained efficiency)

Caso 1: não há heterogeneidade inicial de riqueza, logo a(ω) = K , e


 
a(ω) s1 a(ω)  s1 
π1 (χ(ω) − 1) − + − 1 = π1 (χ(ω) − 1) 1 − > 0.
K H K H

Há sobre-acumulação de capital. Intuição: planejador forçaria os


agentes a poupar menos, de forma a aumentar r e reduzir w , e portanto,
mitigar flutuações da renda (custoso sob mercados incompletos).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 213/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)

Caso 2: não há risco indiosincrático, logo s1 = s2 , e


 
a(ω) s1 a(ω) a(ω)
π1 (χ(ω) − 1) − + −1= − 1 < 0 ⇐⇒ a(ω) < K ,
K H K K

Inutição: um aumento de K , reduz r e aumenta w , redistribuindo renda


dos “ricos” (a(ω) > K ) para o “pobres” (a(ω) < K ). Na medida em que
os pobres pesem mais na utilidade social, há sub-acumulação de capital.

Com utilidade esperada (ex-ante sob o véu da ignorância), os pobres por


terem utilidade marginal maior, pesam mais no bem-estar social.

Neste exemplo, não há risco idiosincrático. Mas há parametrizações em


que a renda dos mais pobres advém mais do capital (em relação ao
trabalho). Neste caso, haveria sobre-acumulação de capital.

Estas forças extendem ao modelo com horizonte infinito. Portanto, se há


sub- ou sobre-acumulação de capital, é uma pergunta quantitativa.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 214/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)

Escrevendo o problema do planejador restrito:


Z " X2
#
max u(ω − a) + β πi u(FK (K , H)a + FH (K , H)si ) dλ(ω),
K ,a(ω)∈[0,ω] ω i=1
R
sujeito a K = ω
a(ω)dλ(ω) e H = π1 s1 + π2 s2 .

Note que o planejador respeita a estrutura de mercados incompletos.

“Externalidade pecuniária”: decisões têm um pequeno efeito no


preço, que não é internalizado pelos agentes.

Planejador afeta preços, possuindo um “instrumento” extra para


redistribuir renda entre estados da natureza.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 215/419


Ótimo restrito (constrained efficiency)
Solucionando o problema do planejador:
2
X Z
u 0 (ω−a(ω)) = β πi u 0 (FK (K , L)a(ω)+FH (K , L)si )dλ(ω)+ ∆(ω)dλ(ω),
i=1 ω

onde
Z
∆≡ ∆(ω)dλ(ω) = βFKK (K , H)K ×
ω
Z 2  
X a(ω) si
× πi u 0 (FK (K , H)a(ω) + FH (K , H)si ) − dλ(ω)
ω i=1 K H

Uma expressão análoga emerge qdo o horizonte é infinito, e o processo


estocásico para si segue uma cadeia de Markov com mais estados.

Termo extra ∆ em relação a equação de Euler que vigoraria na economia


descentralizada.

Se ∆ é positivo (negativo), planejador força os agentes a pouparem mais


(menos) em relação ao que escolheriam na economia descentralizada.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 216/419
Ótimo restrito (constrained efficiency)
Termo extra: Z
∆≡ ∆(ω)dλ(ω) = βFKK (K , H)K ×
ω
Z 2  
X a(ω) si
× πi u 0 (FK (K , H)a(ω) + FH (K , H)si ) − dλ(ω)
ω i=1 K H

Resumindo/Interpretando: como o peso (i.e., u 0 ) no pobre é alto,


se a renda do pobre é intensiva em trabalho, o planejador gostaria
de acumular mais (economia descentralizada sub-acumula), de
forma a aumentar os salários e reduzir o retorno sobre o capital;
se a renda do pobre é intensiva em capital, o planejador gostaria de
acumular menos (economia descentralizada sobre-acumula), de
forma a reduzir os salários e aumentar o retorno sobre o capital.
Além do efeito benéfı́co de acumular menos (economia descentralizada
sobre-acumula) para aumentar juros e reduzir salário de forma a fazer a
renda flutuar menos.
Parametrização razoável (EUA): ótimo restrito implica numa quantidade
de capital 3.5 vezes maior do que na economia descentralizada.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 217/419
Aplicação: oferta de trabalho

Ayiagari (1994): Qual é o tamanho da poupança precaução?

Pijoan-mas (2006): Qual é o tamanho das “horas trabalhadas”


precaução? Agentes podem trabalhar mais para suavizar consumo.

Tı́tulo: Precautionary savings or working longer hours?

X = Horas Y /Horas Horas-efic K Y C


XMI −XMC
XMC 18% -11.5% -4.7% 22.8% 4.4% -0.6%

Resposta: ambos!

∆ (MI → MC, incluindo dinâmica de transição) = 16%

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 218/419


Aplicação: oferta de trabalho
Alonso-Ortiz e Rogerson (2011):

“Our paper is perhaps most similar to Floden and Linde (2001), who also
assess the impact of changes in tax and transfer programs in a model
with idiosyncratic shocks and incomplete markets. Our model differs
from theirs in that we do not allow for permanent heterogeneity and we
assume that labor is indivisible.”

Ou seja:

h ∈ {0, 1} ao invés de h ∈ [0, 1]

utilidade: u(c, h) = log c − θh

trabalho-eficiência s segue um processo AR(1)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 219/419


Aplicação: oferta de trabalho

Alonso-Ortiz e Rogerson (2011):

“The effect of tax increases on aggregate hours is less linear in the model
with heterogeneous agents.” Por que?

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 220/419


Aplicação: oferta de trabalho

Alonso-Ortiz e Rogerson (2011):

Motivo precaução: sobre-oferta de trabalhador de baixa qualidade,


sub-oferta de trabalhador de alta qualidade.

Quanto τ ↑, maior proteção social, menor o motivo precaução.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 221/419
Continhas de padaria

Utilidade instantânea:
h1+1/γ
u(c) − B
1 + 1/γ

γ: elasticidade de substituição intertemporal do lazer.


u 0 (c)w

No ótimo: Bh1/γ = u 0 (c)w ⇒ h(w ) = B

“Fixando” c:
∂h w

∂w h
γ: elasticidade de oferta de trabalho individual (elasticidade de Frisch)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 222/419


Aplicação: oferta de trabalho

Mercados completos: literatura de ciclos econômicos reais,

horas totais variam muito com os ciclos econômicos, mas salários


variam pouco

conciliar os fatos: elasticidade da oferta de trabalho tem que ser


muito alta (bem maior que as estimativas micro)

1+1/γ
h
u(c, h) = u(c) − B 1+1/γ

estimativas micro para homens: γ ∈ (0, 0.45)

elasticidades utilizadas: γ ∈ {1, 2, 4, ∞}

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 223/419


Aplicação: oferta de trabalho

Chang e Kim (2006): qual é a elast. agregada da oferta de trabalho?

marido (m) e esposa (f ):


1+1/γ 1+1/γ
hm h
u(c, hm , hf ) = 2 ln(0.5c) − Bm − Bf f
1 + 1/γ 1 + 1/γ

trabalho indivisı́vel: hm , hf ∈ {0, 1} (γ não importa)

restrições: c + a0 = (1 + r )a + w (sm hm + sf hf ), com a0 ≥ −b

duas cadeias de Markov (uma para m e outra para f )

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 224/419


Aplicação: oferta de trabalho
Chang e Kim (2006): defina salário de reserva, w̄i (a, sf , sm ), i = m, f , tal
que
hi (a, sf , sm ) = I{w ≥ w̄i (a, sf , sm )}.

Defina:
Z
Hi (w ) = I{w ≥ w̄i (a, sf , sm )}dλ(a, sf , sm )
A×Sf ×Sm

O inverso de Hi (w ):

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 225/419


Aplicação: oferta de trabalho

Elasticidade agregada: inverso da elasticidade das curvas acima, avaliada


no eq. estacionário.

Comentários:

Elasticidade agregada independe da elasticidade micro γ.

Mercados completos + trabalho indivisı́vel: elast. agreg = ∞

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 226/419


Aplicação: oferta de trabalho
Chang, Kim, Kwon e Rogerson (2019): margem extensiva e intensiva.
utilidade:
h1+1/γ
u(c, h) = ln(c) − B
1 + 1/γ

restrições: c + a0 = (1 + r )a + (1 − τ )ws max{h − h̄, 0} + T, com


a0 ≥ −b e h ∈ [0, 1]

escolha ótima h(a, s) ∈ {0} ∪ (h̄, 1]

na produção: agrega-se s · max{h − h̄, 0} ao invés de sh

h̄ pode ser interpretado como um custo de deslocamento

calibra-se h̄ tal que agentes trabalhem ≈ 1/3 do tempo

Modelo reproduz aspectos associados ao mercado nos EUA.

Exemplo, desvio padrão de horas anuais de trabalho, condicional a estar


trabalhando. CPS: 0.42; PSID: 0.45; Modelo: 0.34.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 227/419
Aplicação: oferta de trabalho

Chang, Kim, Kwon e Rogerson (2019): margem extensiva e intensiva.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 228/419


Aplicação: oferta de trabalho
Chang, Kim, Kwon e Rogerson (2019): margem extensiva e intensiva.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 229/419


Aplicação: crise de 2008/09
Guerrieri e Lorenzoni (2016)

Ajustes:

Produção “backyard”: y = sh (não tem capital, mas há desutilidade


de trabalho)

Restrições: qb 0 + c + τ̃ = b + y e b 0 ≥ −b

τ̃ = τ se s > 0
τ̃ = τ − v se s = 0

Restrição orçamentária do governo: B + v Prob(s = 0) = qB 0 + τ

Calibração: b → DÍVIDA/Y = 18% (dos domicı́lios)

Experimento: b 0 → DÍVIDA/Y = 8% (dos domicı́lios)

Dinâmica do ajuste: b t = max{b 0 , b − ∆ṫ} (caso contrário, agentes


seriam forçados a calotar).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 230/419
Aplicação: crise de 2008/09
Dinâmica dos juros: “overshoot”. Por quê? Com a redução na liquidez,
parte dos agentes ficam longe do seu nı́vel ótimo de poupança precaução.
Excesso de demanda por tı́tulos durante o processo de desalavancagem.
Efeito no produto. Fontes de tensão: agente pode se desalavancar
consumindo menos ou trabalhando mais.
Parametrização: primeiro efeito domina, motivo precaução gera recessão.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 231/419


Aplicação: crise de 2008/09

Restrição orçamentária do governo: B + v Prob(s = 0) = qB 0 + τ

Polı́tica fiscal: aumenta B 0 , visando aumentar r .

Para equilibrar, o que o governo deve fazer τ ↓ ou v ↑.

Qual é melhor? v ↑ (diminui o motivo precaução daqueles com choque


s = 0, que tem maior probabilidade de se desalavancar).

Conclusão: importância das transferências focalizadas durante a crise.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 232/419


Aplicação: crise de 2008/09

Oh e Reis (2011): estuda transferências focalizadas durante 2008/9.

3/4 do crescimento do dispêndio público, durante 2008/9,


corresponde a transferências

3/4 do crescimento das transferências, durante 2008/9, corresponde


a transferências sociais

Propõe modelo:

com mercados incompletos e proteção social

com rigidez nominal na fixação de preços

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 233/419


Aplicação: crise de 2008/09

Setup em Oh e Reis (2011)

Utilidade: ln(c) − B(1 − h)n, n ∈ {0, 1}, h choque (“saúde”)

Rest. orça: c + a0 = (1 + r )a + swn − τ + d + T (s, h)

Rest. cred.: a0 ≥ 0

Transferência focalizada: T (s, h)

Processo estocástico para (s, h).

Rigidez nominal no lado da firma, que gera dividendos d.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 234/419


Aplicação: crise de 2008/09
Transferências focalizadas aumentam emprego e produto. Dois canais:

Neoclássico: aumenta o emprego do mais produtivos (efeito renda)

Keynesiano: maior propensão marginal a consumir dos que recebem


transferências, demanda agregada expande. Dada a rigidez de
preços, firmas produzem mais.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 235/419


Aplicação: crise de 2008/09
Efeito das transferências e gastos durante a crise:

Literatura relacionada: Hall (2009), Woodford (2011)


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 236/419
Aplicação: custos de bem-estar da inflação
Erosa e Ventura (2002): custos de transações.

Ajustes:

cont. de bens i ∈ [0, 1]; agregador c = inf i c(i) (compl. perfeitos)

tecn. de transação: na compra de c unidades do bem i com crédito,


é preciso γ(c, i) unidades de “serviços” financeiros que custam q
limi→1 γ(c, i) = ∞; γi > 0; γc ≥ 0; γ(λc, i) ≤ λγ(c, i)

problema do consumidor:
v (a, m, s) = 0 max
0
{u(c) + βE [v (a0 , m0 , s 0 )|s]}
a ,m ,c,z
s. a
c(1 − z) ≤ m
Z z
c +q γ(c, i)di + a0 + m0 (1 + π) = (1 + r )a + ws + m
0
a0 ≥ 0; m0 ≥ 0

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 237/419


Aplicação: custos de bem-estar da inflação
Inflação: imposto regressivo sobre o consumo, dado que os ricos mantém
proporcionalmente menos moeda.

Dois grupos, L e H, com processos diferentes para s sendo que s̄1H > s̄m
L
.

Bem-estar: π = 0% → π = 5%, 10% (variação % do consumo na


economia com inflação que mantem o agente indiferente).

L H
5% 1.48% -1.04%
10% 2.77% -1.11%

Abordagem de Imrohoroglu (1992): única forma de self-insurance é


através de moeda.
m
c + m0 = + ws
1+π
m0 ≥ 0
Qual é o custo de inflação (ex.: aumentar π de 0% para 10%)?
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 238/419
Aplicação: inflação e acumulação de capital
Algan e Ragot (2010): money-in-the-utility.
v (m, a, s) = max u(c, l, m) + βE [v (m0 , a0 , s 0 )|s]
{c,l,m0 ,a0 }
s. a
m M
c + m0 + a0 = (1 + r )a + + lsw + π
1+π 1+π
m0 ≥ 0; a0 ≥ 0; l ∈ [0, 1]
No artigo, o problema é um pouco diferente.

Polı́tica monetária: M 0 P 0 = (1 + π)MP.


Note que M é a oferta de moeda em termos reais.
Já impusemos que, em equilı́brio, π = tx. cresc. da moeda.
M
Incremento na qtdade de encaixes reais, π 1+π , distribuı́do
lump-sum para todos os agentes.

Objetivo: estudar o efeito de polı́tica monetária (i.e., inflação π) nas


variáveis reais.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 239/419
Aplicação: inflação e acumulação de capital
Algan e Ragot (2010): relação hump-shaped da inflação e capital (fato
estilizado) no estado estacionário.

Nota: com mercados completos, moeda não tem efeito real no estado
estacionário (Sidrauski, 1967).

Inutição: dois efeitos.


1 Efeito positivo: π ↑⇒ m ↓, a ↑, aumentando o capital.
Com mercados incompletos, no estado estacionário, π afeta o
motivo precaução implicando que o capital pode aumentar.
M
2 Efeito negativo: π ↑⇒ π 1+π ↑, reduzindo o motivo precaução e,
portanto, reduzindo o capital.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Aplicações 240/419
Equilı́brio Competitivo com Mercados
Incompletos: Incerteza Agregada

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aula 8

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 241/419


λ como variável de estado
Até então:
Não há incerteza agregada (apenas idiosincrática).
Variáveis de estado individuais: (a, s)
Variável de estado agregada: λ (distribuição)
para calcular preços, o agente precisa saber K e H

r = FK (K , H) − δ e w = FH (K , H)

mas para calcularmos K e H, precisamos saber λ


Z
K= g (a, s)dλ(a, s)
A×S

Entretanto: no equilı́brio estacionário, λ é invariante


Os agentes não precisam acompanhar λ ao longo do tempo
Por isso: λ foi “omitida” dos ı́ndices

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 242/419


Incerteza agregada
Maneira “correta” de escrever o problema do agente em Aiyagari (1994):
( )
X
0 0 0
v (a, s; λ) = max u(c) + β v (a , s ; λ)P(s, s )
s 0 ∈S
s.a
c + a0 = (1 + r (λ))a + w (λ)s
a0 ≥ −b

E se adicionarmos um choque agregado nessa economia. Por exemplo:

Yt = zt F (Kt , Ht )

assim poderı́amos estudar as propriedades cı́clicas do modelo.

Problema: como zt flutua no tempo, logo λt também flutuará.


Perdeu-se a propriedade estacionária da distribuição.
Agentes precisam acompanhar λt para prever preços.
Mas λt é um objeto de dimensão infinita.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 243/419
Incerteza agregada
Supõe-se um process conjunto para (z, s):
P(z 0 , s 0 |z, s) = Pr(zt+1 = z 0 , st+1 = s 0 |zt = z, st = s)

Reescrevendo o problema do consumidor:


( )
X
0 0 0 0 0 0
v (a, s; z, λ) = max u(c) + β v (a , s ; z , λ )P(z , s |z, s)
s 0 ∈S
s.a
c + a0 = (1 + r (z, K ))a + w (z, K )s
a0 ≥ −b
Z
K= adλ(a, s)
A×S
λ0 = G (z, λ, z 0 ),
onde G é a lei de movimento para λ resultante de equilı́brio.

Complicação: para computar preços, os agentes precisam saber λ e,


portanto, G de equilı́brio (que é um objeto monstruoso). Impossı́vel!
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 244/419
Incerteza agregada
Definição de equilı́brio é similar: Ressalvas:

Probabilidade que um indivı́duo no estado (a, s) transite para o conjunto


A × S ⊂ A × S:
X
Qz,z 0 ((a, s), A × S) = I{g (a, s; z, λ) ∈ A}Ps (s 0 |z, s, z 0 ),
s 0 ∈S

onde Ps é a probabilidade de transição condicional para s, e pode ser


derivada de P.

A lei de movimento λ0 = G (z, λ, z 0 ) é gerada da seguinte forma: para


todo A × S ⊂ B(A × S) e z, z 0 ∈ Z
Z
λ0 (A × S) = Qz,z 0 ((a, s), A × S)dλ(a, s)
A×S

e tem que ser consistente com a lei de movimento percebida pelos


agentes (expectativas racionais).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 245/419
Incerteza agregada

Referência: Ljungqvist e Sargent, seção 18.14

Aproximação teórica vs. aproximação numérica.

Aproximação numérica: mantém o conceito de equilı́brio, e


aproxima a solução numericamente.

Aproximação teórica: propõe um conceito de equilı́brio diferente, no


qual a solução é próxima da solução do equilı́brio original.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 246/419


Incerteza agregada

Krussel e Smith (1998): propõe um método para aproximar equilı́brio.

Caracterizar a distribuição λ com um número finito de momentos


para a riqueza: m = {m1 , m2 , ..., mI }

Exemplo: m1 é a média do capital, m2 é var. da riqueza, ...

Potencialmente: infinitos momentos.

Substitui: λ0 = G (z, λ, z 0 ) por

m0 = GM (z, m, z 0 )

Interpretação: informação parcial sobre λ ou racionalidade limitada.

Operacionalizar: especificar I e uma forma funcional para GM


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 247/419
Incerteza agregada

Krusell e Smith (1998):


I = 1, m1 = K e GM (z, m, z 0 ) = bz0 + bz1 ln K , z ∈ Z

( )
X
0 0 0 0 0 0
v (a, s; z, K ) = max u(c) + β v (a , s ; z , K )P(z , s |z, s)
s 0 ∈S
s.a
c + a0 = (1 + r (z, K ))a + w (z, K )s
a0 ≥ −b
ln K 0 = bz0 + bz1 ln K

Com expectativas racionais: temos que verificar a consitência de G (lei


de movimento percebida = lei de movimento verdadeira).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 248/419


Incerteza agregada

ln K 0 = GM (z, m, z 0 ) = bz0 + bz1 ln K , para todo z ∈ Z

Método de solução: iterar na lei de movimento


1 Conjecture valores para {bz0 , bz1 }
2 Simule a economia T perı́odos. Calcule {Kt }T
t=1 .
3 Descarte T 0 perı́odos iniciais, e estime a regressão para todo z ∈ Z

ln Kt+1 = βz0 + βz1 ln Kt

4 Se (βz0 , βz1 ) 6= (bz0 , bz1 ), volte ao passo 1.


esse passo garante que a lei de movimento (aproximada)
percebida é consistente com a verdadeira, mas esse não é o
equilı́brio com expectativas racionais.
5 Compute o R 2 das regressões em 3. Adicione outro momento,
digamos m2 = E (a2 ), e repita o processo. Se |Rold
2 2
− Rnew | < ,
pare. Caso contrário, adicione outro momento.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 249/419
Incerteza agregada
Comentários:

O processo termina quando novos momentos não melhoram a


capacidade de previsão da regressão.

Ou seja: quando momentos adicionais não adicionam informações


relevantes para prever preços.

Quando R 2 ≈ 1, momentos usados são quase que suficientes para


prever preços perfeitamente.
Equilı́brio (com expectativas racionais) está bem aproximado.

Se ao adicionar vários momentos, e o R 2 ainda não estiver


satisfatório, pode-se alterar GM .

Krussel e Smith (1998): z ∈ {zb , zg }


ln K 0 = 0.095 + 0.962 ln K , para z = zg , R 2 = 0.999998
ln K 0 = 0.085 + 0.965 ln K , para z = zb , R 2 = 0.999998
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Incerteza agregada

Krussel e Smith (1998): z ∈ {zb , zg }

ln K 0 = 0.095 + 0.962 ln K , para z = zg , R 2 = 0.999998


ln K 0 = 0.085 + 0.965 ln K , para z = zb , R 2 = 0.999998

Resultado diz algo mais forte: near-aggregation result!

Acompanhar a evolução do capital agregado é quase que suficiente para


prever preços. Os outros momentos quase nada importam.

As variáveis agregadas da economia com mercados incompletos


evoluem quase como se os mercados fossem completos.

Do ponto vista agregado: mercados incompletos faz quase nenhuma


diferença.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 251/419
Near-aggregation result

Intuição: com mercados completos e preferências quasi-homotéticas,


Chaterjee (1994) mostrou que:

ct = φ(pt ) + θ(pt )at

Ct = φ(pt ) + θ(pt )Kt

Efeito da distribuição de riqueza é nulo nas variáveis agregadas.

Com mercados incompletos e CRRA, o consumo como função da riqueza


é côncavo, mas quase-linear quando a riqueza é alta.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 252/419


Near-aggregation result
Motivo precaução: função consumo concava, mas quase linear quando a
riqueza é alta (propensão marginal a consumir do pobre é maior).

Por que quase linear? Com horizonte infinito, os mais ricos acumulam
riqueza suficiente para isolar o motivo precaução com “self-insurance”.

Com mercados completos, preferências quasi-homotéticas implicam na


linearidade da função consumo (Chaterjee, 1994).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 253/419
Near-aggregation result
Intuição: com mercados completos e preferências quasi-homotéticas,
Chaterjee (1994) mostrou que:

ct = φ(pt ) + θ(pt )at

Ct = φ(pt ) + θ(pt )Kt

Efeito da distribuição de riqueza é nulo nas variáveis agregadas.

Com mercados incompletos e CRRA, o consumo como função da riqueza


é côncavo, mas quase linear quando a riqueza é alta. Implicações:

Pobres (“curvatura”) possuem uma parcela pequena da riqueza.

Ricos ( “lineares”) possuem uma parcela grande da riqueza.

Para determinar o estoque agregado, os ricos importam mais.

Efeitos de distribuição é próximo de zero.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 254/419
Near-aggregation result

Comentário: este resultado não é geral. Depende da especificação e da


parametrização do modelo.

Levine e Zame (2002): numa economia de trocas, com choques


idiossincráticos estacionários, utilidade marginal convexa, e mercados
incompletos, quando β → 1, incompletude do mercado não importa
(consumo, bem-estar e preço como se os mercados fossem completos).

Constantinides e Duffie (1996): engenharia reversa. Numa economia de


trocas, com choques idiossincráticos e mercados incompletos, existe
algum processo estocástico para renda que sustente autarquia (ausência
de transações) em equilı́brio? Existe e choques são permanentes.

Conclusão: natureza do processo estocástico para renda importa.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 255/419


Agregação
1+1/γ
Economia com agente representativo: ln Ct − B H1+1/γ
t

Produção Cobb-Douglas: zt Ktα Ht1−α

No ótimo (com mercados completos):


1/γ
Ht α −α Yt
MRSt = B −1 = wt = (1 − α)zt Kt Ht = (1 − α)
H
Ct t

Nos dados:
Yt
ln Wedget = constant + ln MRSt − ln
Ht
diferente de zero. Por que? corr(H, Y /H) ≈ 0. Resultado robusto a
várias especificações da utilidades.

Debate importante! Explicações na literatura: rigidez de salários,


impostos que variam, fricções de busca, choques exógenos de lazer, ....

Chang e Kim (2007): wedge pode ser gerado com mercados incompletos
e trabalho indivisı́vel.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 256/419
Agregação
Chang e Kim (2007): agregação importa.

Mecanicamente: trab. indiv. implica em cond. de otimalidade com


desigualdade; mercados incomp. afeta agregação destas condições.
Conclusão: wedge pode não ser fruto de falhas no mercado de trabalho
(ex.: rigidez ou busca), nem de um choque exógeno (ex.: lazer).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 257/419
Agregação

Chang e Kim (2007): erro no algoritmo. Correção de Takahashi (2014).

Mensagem teórica continua válida: Wedge pode ser gerado


endogenamente com mercados incompletos e trabalho indivisı́vel.

Porém: relevância empı́rica do modelo diminui.

Chang e Kim (2014):

Data Original Corrigido


σwedge /σY 0.92 0.76 0.32
corr (H, Y /H) 0.08 0.23 0.70

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 258/419


Aplicação: custos de bem-estar das flutuações cı́clicas
Lucas (1987, 2003).

Agente representativo que recebe a seguinte sequência de consumo:


2
ct = Ae µt e −(1/2)σ εt ,

onde log(εt ) ∼ N(0, σ 2 ) iid, o que implica:


2
σ 2 /2
E [εnt ] = e n , logo E [ct ] = Ae µt .

Preferências CRRA: ct1−γ /1 − γ.

Ganhos de bem-estar em eliminar os ciclos é:


(∞ ) ∞
X [(1 + ∆)ct ]1−γ X (E [ct ])1−γ
t
E β = βt
t=0
1−γ t=0
1−γ

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 259/419


Parênteses: álgebra
− 1 σ2
Plugando ct = Ae µt e 2 εt e E [ct ] = Ae µt :

µt −(1/2)σ 2
 
∞ ∞
X
t [(1 + ∆)Ae e εt ]1−γ  X µt 1−γ
t (Ae )
E β = β

t=0 1 − γ 
t=0 1 −γ

Colocando para fora da esperança a parte não-estocástica que depende do tempo:


∞ µt 1−γ ∞ µt 1−γ
−(1/2)σ 2 1−γ t (Ae ) t (Ae )
X X
E {[(1 + ∆)e εt ] } β = β
t=0 1−γ t=0 1−γ

Cancelando termos:
−(1/2)σ 2 1−γ
E {[(1 + ∆)e εt ] }=1
Colocando para fora da esperança a parte não-estocástica:

1−γ −(1/2)σ 2 (1−γ) 1−γ


(1 + ∆) e E {εt }=1

1−γ (1/2)σ 2 (1−γ)2


Como log εt ∼ N(0, σ 2 ), E {εt }=e , logo:

1−γ {−(1/2)σ 2 (1−γ)+σ 2 (1−γ)2 }


(1 + ∆) e =1

Elevando tudo a 1 e simplificando:


1−γ

−(1/2)γσ 2
(1 + ∆)e =1
Tirando log:
1 2
log(1 + ∆) − γσ = 0
2
Como log(1 + ∆) ≈ ∆ para ∆ pequeno (expansão de Taylor de 1a ordem em torno de ∆ = 0): ∆ ≈ 12 γσ 2 .
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 260/419
Aplicação: custos de bem-estar das flutuações cı́clicas
Lucas (1987): ∆ ≈ 12 γσ 2 .

Se γ = 1 e σ = 0.032 (usando dados para os EUA, 1947-2001)

∆ ≈ 0.0005

Com mercados incompletos: ciclos podem afetar pobres e ricos de


maneira diferente.

Krusell, Mukoyama, Sahin e Smith (2009): ∆ ≈ 0.01.


Soluciona uma economia com choques agregados zt ∈ Z
Elimina os choques agregados: zt = E (z)
Se z e s são correlacionados, são necessários alguns ajustes no
processo estocástico de s.
Soluciona a economia sem choques agregados.
Calcula o ∆ para diferentes grupos.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 261/419
Aplicação: custos de bem-estar das flutuações cı́clicas
Krusell, Mukoyama, Sahin e Smith (2009): ∆ ≈ 0.01.

Ao eliminar os ciclos, o Gini riqueza sobe de 0.81 para 0.9. Por que?

Redução da incerteza, e portanto, do motivo precaução, o que


beneficia os desempregados e impacientes.

Redução da poupança agregada, aumentando a taxa de juros, o que


beneficia os empregados e pacientes.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 262/419


Fronteira

Near-aggregation result + complexidade computacional: modelos com


agentes heterogêneos pouco usados para estudar ciclos econômicos reais.

Entretanto: Grande Recessão mudou esse quadro.

Origem nos mercados de crédito e housing expôs agentes de maneira


diferente dependo da composição do seu balanço de ativos.

Implicações agregadas para redução dos gastos agregados dependem


da distribuição da propensão marginal a consumir.

Colapso do sistema financeiro reduziu a demanda por trabalho, mas


com implicações distintas de acordo com ocupação, escolaridade, ...

Nova geração de modelos em que a distribuição é relevante para


dinâmica agregada, atribuindo maior papel à demanda agregada.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 263/419


Duas aplicações recentes

Duas aplicações recentes:

Krueger, Mitman e Perri (2017). Externalidade via demanda


agregada.

Kaplan e Violante (2018). Choques de demanda agregada num


acarbouço com agentes heterogêneos novo Keynesiano (HANK).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 264/419


Aplicação: Crise de 2008/9
Krueger, Mitman e Perri (2017): distribuição de riqueza é um fator
importante na dinâmica macroeconômica em uma recessão severa?

Extensão de Krusell e Smith (1998), com (entre outras coisas):

Externalidade de demanda agregada: Y = z ∗ F (K , H), com


z∗ = C ωz e z ∈ {zg , zb }.

Quatro fontes de heterogeneidade: β (ex-ante), a, s e ε ∈ {0, 1}.

Φ é a distribuição limite conjunta de β, a, s, ε.

Probabilidade de morte 1 − θ ∈ (0, 1).

Inicia a vida com s = s1 e a = 0.


Garante que a distribuição de riqueza seja limitada no
equilı́brio-estacionário.

Seguro desemprego: b(s, Φ, z) = ρw (Φ, z)s; τ (z, Φ) tal que o


orçamento do governo esteja balanceado.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 265/419
Aplicação: Crise de 2008/9
Várias especificações:

Definição de recessão severa. Calibrou as cadeias de Markov (associada a


z e ε), tal que:
zb é associado a uma recessão com desemprego acima de 9% por ao
menos um trimestre, e acima de 7% em todos os trimestres.
Desde 1948.I até 2014.III, duas recessões severas: 1980.II-1986.II;
2009.I-2013.III.
Frequêcia de recessões severas é 16.48%.
Duração esperada é de 22 trimestres.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 266/419
Aplicação: Crise de 2008/9
Distribuição de riqueza no modelo:

Experimento: uma economia recebe um sequência de choques zg por um


longo tempo (equilı́brio-estacionário); quando então, uma recessão severa
(zb ) atinge a economia por n trimestres.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 267/419
Aplicação: Crise de 2008/9

Resultado: Desigualdade amplifica a resposta do consumo (n = 1).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 268/419


Aplicação: Crise de 2008/9

Intuição:

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 269/419


Aplicação: Crise de 2008/9
Resultado: Seguro desemprego atenua a resposta do consumo (n = 1).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 270/419


Aplicação: Crise de 2008/9

Resultado: Desigualdade amplifica a resposta do consumo (n = 22).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 271/419


Aplicação: Crise de 2008/9
Resultado: Desigualdade + externalidade amplifica ainda mais a resposta
do consumo (n = 22).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 272/419


Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Referência: Kaplan e Violante (2018).

Em modelos com mercados completos e consumidor representativo,


este reage muito a mudanças nas taxas de juros correntes e futuras;
mas pouco a mudanças transitórias na renda

Intuição: consumidor se comporta de forma similar à hipótese


da renda permanente.

Mecanismo de transmissão da polı́tica monetária em modelos novo


Keynesiano: subst. intertemporal forte, sensitividade a renda fraca.

Não corroborado pela evidência empı́rica: consumo é menos


(mais) sensı́vel à taxa de juros (choques temporários de renda).

Agentes heterogêneos podem reconciliar: restrição ao crédito


implica propensão marginal a consumir maior, e consumo menos
sensı́veis a taxa de juros.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 273/419
Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Exemplo: Kaplan, Moll e Violante (2018).

Problema do agente com dois ativos: lı́quidos bt ≥ −b e ilı́quidos at ≥ 0.

Restrições em tempo contı́nuo:


ḃt = (1 − τt )wt zt ht + rtb (bt )bt + Tt − dt − χ(dt , at ) − ct
ȧt = rta at + dt ,
onde χ2
d
χ(dt , at ) = χ0 |d| + χ1 a
a
com χ0 > 0, χ1 > 0 e χ2 > 1.

Bloco novo Keynesiano (produtor-agregador competitivo de bem final,


produtores de bens intermediários – competição monopolı́stica e custo
ajustamento preços quadrático, regra de Taylor, etc). E market clearing.

Ressalva (hipóteses extras): não há equivalência Ricardiana (polı́tica


fiscal passa a importar); distribuição de lucros também passa a importar.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 274/419
Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Resultado: replica o fato (documentado em Kaplan e Violante, 2014) que
1/3 dos agentes nos EUA são “hand-to-mouth”; desses, 2/3 são “wealthy
hand-to-mouth” (possuem ativos ilı́quidos) e 1/3 “poor hand-to-mouth”.

Melhora o ajuste do modelo à evidência empı́rica quanto a sensisibilidade


do consumo à taxa de juros e choques transitórios de renda.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 275/419
Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Exercı́cio: comparar RANK e HANK (ambas econ no estado estac),
quando atingidas por um mesmo choque não-antecipado por um perı́odo.
Para m ∈ {RA, HA}, mudança acumulada do consumo em t
J Z t
X ∂Ctm
dCtm = dΘm
jτ dτ,
0 ∂Θ jτ
j=1

onde Θm inclui a sequência de choques (η), de preços (w , r b , r a , q)m (q é


o preço da ação da firma) e de transferências lump-sum T m .
Decomposição:
J Z t
X ∂CtHA
dCtHA − dCtRA = (dΘHA RA
jτ − dΘjτ )dτ +
j=1 0 ∂Θ jτ
| {z }
discrepância eq. geral
J Z t 
∂CtHA ∂CtRA
X 
+ − dΘRA
jτ dτ ,
j=1 0
∂Θjτ ∂Θjτ
| {z }
discrepância eq. parcial
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 276/419
Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Choque de demanda (β ↑): equivalência forte entre RANK e HANK.

Resposta agregagada e mecanismos similares, invariante a polı́tica fiscal.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 277/419
Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Choque produtividade (TFP ↓): equivalência fraca entre RANK e HANK.

Resposta de C similar (pouco dependente da pol fiscal), mas mecanismos


discrepantes. Intuição: tx de juros (RANK) vs. renda disponı́vel (HANK).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 278/419
Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Choque monetário (aperto): não-equivalência entre RANK e HANK.

Tudo discrepante, e mais dependente da polı́tica fiscal.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 279/419
Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Choque gasto fiscal (estı́mulo): não-equivalência gritante entre RANK e
HANK. Nota: dı́vida ajusta.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 280/419


Heterogeous Agents New Keynesian (HANK) Models
Lembre: Oh e Reis (2011), tranferências (financiadas com déficit) foram
a principal fonte de estı́mulo fiscal durante a Grande Recessão.

Choque de transferência (estı́mulo): não-equivalência gritante entre


RANK e HANK. De fato, Equivalência Ricardiana no RANK.

Nota: tranferências futuras ajustam.

Resultado ressalta a importância da rigidez de preços.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 281/419
Fronteira: Mercados Incompletos + novo Keynesiano
Auclert (2019, AER): “Monetary Policy and the Redistribution
Channel”;
Gornemann, Kuester e Nakajima (2016, R&R ECTA): “Doves for
the Rich, Hawks for the Poor? Distributional Consequences of
Monetary Policy”;
Guerrieri e Lorenzoni (2016, QJE): “Credit Crises, Precautionary
Savings, and the Liquidity Trap”;
Kaplan, Moll e Violante (2018, AER): “Monetary Policy According
to HANK”;
Kekre (2019, R&R REStud): “Unemployment Insurance in
Macroeconomic Stabilization”;
McKay, Nakamura e Steinsson (2016, AER): “The Power of
Forward Guidance Revisited”;
McKay e Reis (2016, ECTA): “The Role of Automatic Stabilizers in
the US Business Cylce”;
muito mais ...
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 282/419
Exercı́cio 7 a ser entregue
Considere uma economia populada por um contı́nuo de medida um de agentes, ex-ante iguais, com vida infinita.
Os agentes têm preferências sobre consumo:

t
X
E0 β u(cit ).
t=0

Agentes experenciam choques (não-seguráveis) na sua produtividade de trabalho, εit ∈ {ε1 , ..., εN }. Este
processo é governado por uma cadeia de Markov πε (ε0 , ε) = Pr(εi,t+1 = ε0 |εit = ε).

Produção ocorre através de uma tecnologia agregada Yt = zt Ktα Ht1−α , onde Kt e Ht são, respectivamente,
capital agregado e unidades de trabalho-eficiciênca agregado no perı́odo t. Capital deprecia a uma taxa δ. E a
produtividade total dos fatores, zt ∈ {zb , zg }, segue uma cadeia de Markov πz (z 0 , z) = Pr(zt+1 = z 0 |zt = z).

Agentes podem ter dois ativos: capital ait e tı́tulo sem risco bit . Seja qt o preço do tı́tulo sem risco em t: a
compra de b unidades do tı́tulo sem risco ao preço qt no perı́odo t, garante b unidades do bem final no perı́odo
seguinte t + 1. Suponha que há limites para se endividar nos dois ativos, (−ā, −b̄).

Finalmente, mercados de trabalho e ativos são competitivos, e se equilibram, todo perı́odo, com preços wt e rt ,
respectivamente.

(a) Escreva o problema do agente na forma recursiva, deixando explı́cito as variáveis de estado individuais e
agregadas.

(b) Defina o equilı́brio competitivo recursivo nesta economia.

(c) Proponha um algoritmo numérico que solucione esta economia para alocação e preços de equilı́brio.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 283/419


Exercı́cio 8 a ser entregue
Considere uma economia populada por um contı́nuo de medida um de agentes, ex-ante iguais, com vida infinita.
Os agentes têm preferências sobre consumo e lazer:


t
X
E0 β u(cit , 1 − hit ).
t=0

Agentes experenciam choques (não-seguráveis) na sua produtividade de trabalho, εit ∈ {ε1 , ..., εN }. Este
processo é governado por uma cadeia de Markov π(ε0 , ε) = Pr(εi,t+1 = ε0 |εit = ε). Agentes podem poupar e
tomar emprestado atravaés de um único ativo ait , que não é negociado contigente ao estado da natureza. Suponha
que estes agentes podem tomar emprestado até o limite natural de endividamento.

O agente i oferta hit horas de trabalho no mercado, onde cada hora possui eficiência igual a εit . mercados de
trabalho e ativos são competitivos, e se equilibram, todo perı́odo, com preços wt (por unidade de eficiência) e rt ,
respectivamente.

Produção ocorre através de uma tecnologia agregada Yt = AKtα Ht1−α , onde Kt e Ht são, respectivamente,
capital agregado e unidades de trabalho-eficiciênca agregado no perı́odo t.

O governo nesta economia taxa a renda do trabalho, com uma alı́quota linear τt ∈ {τl , τh }, com τl < τh ,
escolhida de acordo com o humor do presidente. Em particular, um processo estocástico
φ(τ, τ 0 ) = Pr(τt+1 = τ 0 |τt = τ ). A receita com impostos, bt , é redistribuı́da lump-sum para todos os agentes.

(segue)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 284/419


Exercı́cio 8 a ser entregue (continuação)

(a) Qual o limite natural do endividamento nesta economia?

(b) Escreva o problema do agente na forma recursiva, deixando explı́cito as variáveis de estado individuais e
agregadas.

(c) Defina o equilı́brio competitivo recursivo nesta economia.

(d) Proponha um algoritmo numérico que solucione esta economia para alocação e preços de equilı́brio.

Suponha que você queira computar os custos de bem-estar de se viver em uma economia com um governo moody,
em comparação com um governo estável (i.e., τt = τ̄ , para todo t).

(e) Explique como você calcularia, na prática, a perda de bem-estar.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 285/419


Seguimento do curso: duas opções

1 Seguir com agentes heterogêneos, mercados incompletos exógenos

Aula 9 - equilı́brio competitivo com mercados incompletos,


gerações imbricadas e ciclo da vida

Aula 10 - empreendedorismo, firmas heterogêneas e equilı́brio


industrial

Aulas 11 e 12 - agentes heterogêneos em tempo contı́nuo

2 Migrar para contratos recursivos, mercados incompletos endógenos

Aulas 9 a 11 - diversificação de risco vs. incentivos: sem


comprometimento, assimetria informacional (renda não
observável), e combinando ambos

Aula 12 - diversificação de risco vs. incentivos: assimetria


informacional (renda e poupança não observáveis)
Eduardo Zilberman PUC-Rio Equilı́brio Competitivo: Incerteza Agregada 286/419
Equilı́brio Competitivo com Mercados
Incompletos: Gerações Imbricadas / Ciclo da
Vida

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aula 9

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 287/419


Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida

Objetivo: introduzir a dimensão de ciclo da vida em modelos com


mercados incompletos, visando estudar desigualdade ao longo do ciclo.

Medida de desigualdade da variável x (renda, riqueza, consumo, ...) ao


longo do ciclo da vida: varj (ln xij ), onde j = 25, 26, ..., 60 é a idade.

Para fechar o modelo: gerações imbricadas (no equilı́brio estacionário,


necessidade de uma estrutura demográfica constante).

Exemplo: Storesletten, Telmer and Yaron (2001, 2004). Fatos básicos a


serem explicados:
Desigualdade salarial cresce aprox. linear ao longo do ciclo da vida.
Desigualdade de consumo cresce aprox. a 1/2 da taxa de
crescimento da desigualdade salarial.
Desigualdade de horas trabalhadas é aprox. constante ao longo do
ciclo da vida.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 288/419


Desigualdades ao longo do ciclo
Graficamente:

Fonte: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)


Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 289/419
Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)

Referência: Storesletten, Telmer and Yaron (2001). Estrutura de


mercados completos

Demografia:
J + 1 gerações imbricadas de indivı́duos
Cada geração (coorte) nasce com medida 1.
Indivı́duos indexados por i e nascem com idade j = 0.
Probabilidade de sobreviver até a idade j é ϕj , ϕ < 1.
Indivı́duos morrem com certeza quando j = J.

Preferências (utilidade instantânea):

c 1−γ h1+σ
u(c, h) = −A
1−γ 1+σ

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 290/419


Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)
Dotação: produtividade κj εij

Primeiro componente, κj , é determinı́stico: depende da idade j.

Segundo componente, εij , é estocástico: depende da da idade j e do


indivı́duo i (idiossincrático).

Horas-eficiência (oferta de trabalho): κj εij hij

Tecnologia linear: Y = zN, onde N são as unidades agregadas de


horas-eficiência,
XJ Z
N= ϕj κj εij hij dij ,
j=0

e ij indica intergração de todos os indivı́duos com idade j.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 291/419
Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)

Em t, caracterizar a alocação de equilı́brio via o problema do planejador


central, que põe pesos positivos λij apenas nos indivı́duos vivos.

cij1−γ
t J
" #
hij1+σ
X X Z
j−(t−τ ) j
max β ϕ λij −A dij
{cij ,hij } 1−γ 1+σ
τ =t−J j=t−τ

Note que j = t − τ , restrição de recursos agregado:


t
X Z
0= ϕt−τ (zκt−τ εi(t−τ ) hi(t−τ ) − ci(t−τ ) )dit−τ
τ =t−J

Associe um multiplicador de Lagrange θt a esta restrição.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 292/419


Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)

CPO em relação ao consumo e lembrando que j = t − τ :


−γ
ϕt−τ λij ci(t−τ ) =ϕ
t−τ
θt ou ϕj λij cij−γ = ϕj θt

Logo: a razão da utilidade marginal de consumir entre dois agentes (i, j)


e (i 0 , j 0 ) é constante no tempo e igual a razão dos pesos atribuı́dos pelo
planejador central (mercados completos).

Tirando log:
1
ln λij − γ ln cij = log θt ⇒ ln cij = [ln λij − log θt ]
γ

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 293/419


Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)
Conclusão:
1
var (ln cij ) = var (ln λij )
γ2
1
varj (ln cij ) = 2 varj (ln λij )
γ
Três resultados:
Desigualdade de consumo dentro (within) de uma geração com
idade j é positivo se os pesos do planejador diferem entre agentes
de uma mesma geração.
Desigualdade de consumo entre (across) gerações é positivo se os
pesos do planejador diferem entre gerações.
Se distribuição de λij independe de j, desigualdade do consumo não
pode crescer ao longo do ciclo da vida com mercados completos e
preferências separáveis (contradiz os dados).
Ao fazer o mapa entre alocações eficientes e alocações
competitivas, pesos atribuı́dos pelo planejador estão associados
a uma distribuição inicial de riqueza (que independe de j!).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 294/419
Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)

CPO em relação ao trabalho:

λij Ahijσ = θt zκj εij

Tirando log, rearranjando e lembrando que j = t − τ ...


1 zθt 1 1 1
ln hij = ln − ln λij + ln εij + ln κj
σ A σ σ σ

Mercados competitivos: distribuição de λij independe de j, portanto


varj (ln λij ) = var (ln λi ) constante ao longo do ciclo da vida.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 295/419


Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)
Conclusão: variância entre agentes i condicional na idade j,
1 1
varj (ln hij ) = var (ln λi ) + 2 varj (ln εij ).
σ2 σ

Observação empı́rica: desigualdade salarial cresce aprox. de forma linear


ao longo do cı́clo da vida.

Racionalizando: ln εij possui um componente permanente


ln εij = ln εi,j−1 + νij ⇒ var (ln εij ) = jvar (νij ), logo
1 j
varj (ln hij ) = 2
var (ln λi ) + 2 var (νij )
σ σ

Comentários:
Desigualdade de horas trabalhada cresce linearmente (contradiz os
dados), a não ser que σ → ∞.
Mas se a elasticidade de Frisch é zero (σ → ∞), então
varj (ln hijτ ) → 0 (contradiz os dados).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 296/419
Merc. Completos: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)
Conclusão: mercados completos (full-insurance) não explica os fatos.

Fonte: Storesletten, Telmer and Yaron (2001)


Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 297/419
Merc. Completos: Parênteses
Badel e Huggett (2014): uma estrutura de choques – produtividade (w )
preferências (z) e pesos de Pareto (γ) – mais complexa. Usam método
dos momentos para estimar as propriedades destes choques.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 298/419


Exemplo extremo: Autarquia
Autarquia: não há seguro, inclusive self-insurance. Logo:

cij = κj εij hij

CPO:
cij−γ κj εij = Ahijσ

Combinando ambas e rearranjando:


1
  σ+γ
1 1+σ
cij = (κj εij ) σ+γ
A

Tirando log e passando a variância:


 2
1+σ
varj (ln cij ) = varj (ln εij )
σ+γ
Conclusão: se γ > 1, desigualdade do consumo cresce a uma taxa menor
que a desigualdade salarial (consistente com os dados).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 299/419
Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)
Pergunta: uma economia com uma estrutura de mercados entre
autarquia e completos pode ser consistente com a evolução das
desigualdades ao longo do ciclo da vida?

Referência: Storesletten, Telmer and Yaron (2004).

Demografia: mesma que antes.

Notação: probabilidade condicional de sobreviver até a idade j + 1, dado


que sobreviveu até j, ϕj = ϕj /ϕj−1 .

Util. instantânea: u(c), u 0 > 0, u 00 < 0.


Note que, como a oferta de trabalho é exógena, a variância do log
das horas trabalhadas é zero.
Foco do paper: dado a desigualdade salarial ao longo do ciclo,
explicar a desigualdade de consumo ao longo do ciclo.

Tecnologia: F (K , N) neoclássica.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 300/419
Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)

Dotação: produtividade (i.e., renda) individual

ln yij = κj + θi + ηij + εij


ηij = ρηij−1 + ωij

κj : componente determinı́stico associado a idade


θi : habilidade inata do indivı́duo; dist. inicial πθ (θ)
ηij : componente persistente; AR(1) discretizado com πη (η 0 , η)
εij : choques iid, dist. de acordo πε (ε) (componente transitório)

Duas fases ao longo do ciclo da vida: trabalho e aposentadoria.

Aposentadoria compulsória quando j ≥ J ret , deixa de receber renda yij .

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 301/419


Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)

Aposentadoria compulsória quando j ≥ J ret , deixa de receber renda yij .

Renda durante a aposentadoria: P(ȳiret ), com P 0 > 0, P 00 < 0; onde


ret
JX −1
1
ȳiret = yij
J ret
j=0

onde ȳiret é a média anual da renda ao longo da vida.

Aposentadorias são financiadas pelo governo com uma alı́quota de


imposto τ sobre a renda do trabalho (sistema pay-as-you-go).

Heranças acidentais são distribuı́das lump-sum, φ, para todos os agentes.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 302/419


Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)
Problema do domicı́lio. De j = 0, ..., J ret − 1:

Vj (θ, ηj , εj , aj , ȳj ) = max {u(cj ) + βϕj+1 Ej [Vj+1 (θ, ηj+1 , εj+1 , aj+1 , ȳj+1 )]}
cj ,aj+1
sujeito a
cj + aj+1 = (1 + r )aj + (1 − τ )w exp{θ + κj + ηj + εj } + φ
aj+1 ≥ −ā
w exp{θ + κj + ηj + εj }
ȳj+1 = ȳj +
J ret

De j = J ret , ...., J:

Vj (·, ·, ·, aj , ȳ ret ) = max u(cj ) + βϕj+1 Ej Vj+1 (·, ·, ·, aj+1 , ȳ ret )


  
cj ,aj+1
sujeito a
cj + aj+1 = (1 + r )aj + P(ȳ ret ) + φ
aj+1 ≥ −ā

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 303/419


Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)
Seja s = (θ, ηj , εj , aj , ȳ ) o vetor de estados.

Lembre que, se aposentado, (θ, ηj , εj ) não importa.

Um equilı́brio competitivo estacionário consiste de: (1) regras de decisões


{cj (s), aj+1 (s)}; (2) funções valores {Vj (s)}; (3) preços {w , r }; (4)
quantidade agregadas {K , N}; (5) alı́quota de imposto τ e transferências
lump-sum φ; (6) distribuições estacionárias {µj }; tais que

(a) Dado os preços, as regras de decisão solucionam o problema do


domicı́lio, que satisfaz as funções valores associadas;

(b) Firmas optimizam (preços de fatores = produto marginal);


PJ ret −1
ϕj
R
(c) Merc de trabalho “clears”: N = j=0 exp{θ + κj + ηj + εj }dµj
PJ
ϕj
R
(d) Mercado de capital “clears”: K = j=0 aj+1 (s)dµj

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 304/419


Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)

Nota: pela lei de Walras, o mercado de bens também “clears”

PJ
ϕj P(ȳ ret )dµj
R
(e) Restr. orç. do gov. satisfeita: τ wN = j=J ret

(f) Herança acidental distribuı́da lump-sum:


XJ Z J
X
j
ϕ (1 − ϕj+1 ) aj+1 (s)dµj = φ ϕj
j=0 j=0

(g) A distribuição µj é estacionária.

Por exemplo, para j < J ret , µj+1 = S Qj (s, S)dµj , onde


R

X X
Qj (s, S) = I{θ∈Θ} I{aj+1 (s)∈A} πη (η 0 , η) πε (ε0 )I w exp{θ+κj+1 +η 0 +ε0 }
{ȳj + J ret
∈Ȳ}
η 0 ∈N ε0 ∈E

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 305/419


Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)
Método de solução:

1 Conjecture r 0 e φ0 . Dado que N 0 é exógeno, obtém-se do problema


da firma w 0 e K 0 .

2 Conjecture τ 0 , e solucione o problema do consumidor para trás. Ou


seja, comece do último perı́odo, quando o problema é estático.

3 Simule a economia, respeitando a estrutura demográfica.

4 Obtenha riqueza agregada e herança involuntária, compare com K 0


e φ0 . Verifique se a distribuição de ȳ ret é tal que satisfaça restrição
orçamentária do governo.

5 Itere até convergir.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 306/419


Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)

Exercı́cio: “imputar” exogenamente a desigualdade de salário ao longo do


ciclo (lembre que trabalho é exógeno), e checar o que ocorre com a
desigualdade de consumo ao longo do ciclo.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 307/419


Merc. Incompletos: Storesletten, Telmer and Yaron (2004)

Intuição: dois ingredientes

Riqueza financeira alta. Quanto maior a riqueza financeira, menor o


impacto no consumo de choques salariais.

Exercı́cio: variar β tal que K /Y = 3.5 e K /Y = 1.5.

Previdência social. Redistribui não somente entre gerações, mas


como P é côncavo, também proporciona algum seguro adicional,
implicando em um crescimento menor da desigualdade do consumo.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 308/419


Risco Agregado: Kubler e Krueger (2004)

Kubler e Krueger (2004): introduz risco agregado, zF (K , N), mas


elimina todo o risco idiosincrático (θ, η, ε) do problema.

Estado da economia: (z, a0 , a1 , ..., aJ ).

Pode-se usar a abordagem do Krusell-Smith, ou seja substituir os estados


(a0 , a1 , ..., aJ ) - J+1-dimensional - pelo capital agregado K , e aproximar
a lei de movimento com

ln K 0 = b0z + b1z ln K

Problema: propensão marginal a poupar do velho muito menor que a do


jovem. Near-aggregation result falha (R 2 ≈ 0.66).

Possı́veis soluções: (1) estender a lei de movimento, incorporando outros


momentos; ou (2) aproximar a distribuição com uma fórmula funcional
paramétrica (um polinômio cúbico, por exemplo).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 309/419
Desigualdade de riqueza ao longo do ciclo da vida

Até então, as contribuições de Storesletten, Telmer e Yaron (2001, 2004).

Paper seminal (estabeleceu a metodologia): Huggett (1996), cujo


objetivo era estudar a desigualdade de riqueza ao longo do ciclo da vida.

Estrutura do modelo muito parecida com (mas não idêntica a)


Storesletten, Telmer and Yaron (2004).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 310/419


Desigualdade de riqueza ao longo do ciclo da vida
Resultado (Huggett, 1996):

Problema: não replica desigualdade de riqueza no topo da distribuição.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 311/419
Desigualdade de riqueza ao longo do ciclo da vida

Resultado (Huggett, 1996):

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 312/419


Desigualdade de riqueza ao longo do ciclo da vida

Solução: De Nardi (2004). Até então, toda herança é acidental (agentes


não-altruı́stas). De Nardi propõe duas extensões:
Permitir que agentes altruı́stas derivem utilidade ao deixar heranças
não acidentais (bequest motive).
Permitir que a produtividade seja transmitida de pai para filho via
uma cadeia de Markov persistente (human-capital link).

Agente sobrevive com certeza até j = 60 anos, quando, a partir daı́, se


defronta com uma probabilidade ϕj de sobreviver.

Neste caso, as preferências (utilidade instantânea) são

u(c) + (1 − ϕj )φ(b(a0 ))

onde b(a0 ) = a0 − τ · max(0, a0 − aex ), e φ(·) é utilidade instantânea


derivada ao deixar herança positiva.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 313/419


Desigualdade de riqueza ao longo do ciclo da vida
Resultado (De Nardi, 2004):

Problema: reconcilia parcialmente a desigualdade de riqueza no topo da


distribuição gerada pelo modelo com os dados.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 314/419
Aplicação: Public Insurance
Preliminar: Gouveia e Strauss (1994) propõe a seguinte fórmula funcional
h − 1 i
T (y ) = a0 y − y −a1 + a2 a1

para estimar o imposto de renda efetivo nos EUA. Note que:


a1 = 0 ⇒ T (y ) = a0 y (imposto linear);
a1 = −1 ⇒ T (y ) = −a0 a2 (imposto lump-sum).

Alı́quota de imposto média e marginal:


T (y ) h
−1
i
t(y ) = = a0 1 − (1 + a2 y a1 ) a1
y
h i
0 − 1 −1
T (y ) = a0 1 − (1 + a2 y a1 ) a1

y → ∞ ⇒ t(y ), T 0 (y ) → a0
a1 > 0 ⇒ t 0 (y ) > 0 (sistema de imposto progressivo)
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 315/419
Aplicação: Public Insurance

Conessa e Krueger (2006): Incorpora a fórmula funcional do slide


anterior (tax schedule) em um modelo com mercados incompletos e
considerações de ciclo da vida.

Pergunta. Qual é o nı́vel de (a0 , a1 , a2 ) que maximiza uma função de


bem-estar social utilitarista?

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 316/419


Aplicação: Public Insurance

Conessa e Krueger (2006):

“The optimal US income tax is well approximated by a flat tax rate


of 17.2% and a fixed deduction of about $9, 400.”

“The steady state welfare gains from a fundamental tax reform


towards this tax system are equivalent to 1.7% higher consumption
in each state of the world.”

“An explicit computation of the transition path [...] indicates that a


majority of the population currently alive (roughly 62%) would
experience welfare gains, suggesting that such fundamental income
tax reform is not only desirable, but may also be politically feasible.”

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 317/419


Aplicação: Taxação Ótima com Comprometimento

Conessa, Kitao e Krueger (2008): escolhe (a0 , a1 , a2 ) simultanemente


com uma alı́quota τk que incide sobre a renda do capital, de forma a
maximizar uma função de bem-estar social utilitarista.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 318/419


Aplicação: Taxação Ótima com Comprometimento

Conessa, Kitao e Krueger (2008):

“The optimal capital income tax rate is significantly positive at 36


percent. The optimal progressive labor income tax is, roughly, a flat
tax of 23 percent with a deduction of $7, 200.”

“The high optimal capital income tax is mainly driven by the life
cycle structure of the model [...].

“[...] the optimal progressivity of the labor income tax is attributable


to the insurance and redistribution role of the tax system.”

Como conciliar com Domeij e Heathcote (2004)? Não há “life cycle
structure”, mas τk∗ = 0.37.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 319/419


Resumo: taxação ótima vs. ótimo restrito
Resumo:

Em relação a mercado completos: sobre-acumulação de capital


(Ayagari, 1994).

Em relação ao ótimo restrito: sub-acumulação de capital (Dávila,


Hong, Krusell e Rı́os-Rull, 2012).

Relembrando o problema de Ramsey: dado {gt }, qual é τk∗ no


estado estacionário?

Mercados completos (Chamley, 1986): τk∗ = 0; τl∗ e B ∗ ajustam


para equilibrar a restrição orçamentária do governo.

Mercados incompletos: é ótimo alguma redistribuição de renda do


rico (que possui muito capital e trabalha pouco) ao pobre (que
possui pouco capital e trabalha muito). Pode ser ótimo τk∗ ↑, τl∗ ↓.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 320/419
Resumo: taxação ótima vs. ótimo restrito
Resumo (continuação):

Chamley (1986), com mercados completos, τk∗ = 0 (ressalvas de


Straub e Werning, 2020).

Domeij e Heathcote (2004), com mercados incompletos sem ciclo


da vida, τk∗ = 0.37.

Conessa, Kitao e Krueger (2008), com mercados incompletos e ciclo


da vida, τk∗ = 0.36. Ciclo da vida é importante para gerar τk∗ alto.

Como concilar os artigos? Conjectura:

Em Conessa, Kitao e Krueger (2008), imposto de renda T (y )


mais progressivo que em Domeij e Heathcote (2004).
Logo, em Domeij e Heathcote (2004), τk∗ ↑, τl∗ ↓ absorve parte
da progressividade negligenciada no imposto sobre a renda.
Outra diferença: Conessa, Kitao e Krueger (2008) não
consideram dinâmica de transição.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 321/419
Lembre. Debate recente: HIP vs RIP.
Como modelar o processo estocástico para renda do indivı́duo i.

yti = g (t, observáveis) + αi + β i t + zti + εit


| {z } | {z } | {z }
componente comum heterog. determ. comp. estocástico

onde zti = ρzt−1


i
+ ηti

Até a década de 80: estimativas eram de 0.5 < ρ < 0.7 e σβ >> 0.
Heterogeneous Income Profile (HIP).

McCurdy (1982): não rejeitou (nos dados) a hipótese nula de que


σβ ≈ 0; impôs σβ = 0 e estimou ρ ≈ 1. Restricted Income Profile (RIP).

Guneven (2009): mostrou que o teste de McCurdy possui baixa potência.

Debate importante: modelagem do processo estoc. para renda afeta


substancialmente resultados quantitativos desta classe de modelos.

Referências: Guvenen (2009, RED); Guvenen (2012, resenha).


Eduardo Zilberman PUC-Rio Gerações Imbricadas / Ciclo da Vida 322/419
Equilı́brio Competitivo com Firmas Heterogêneas

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aula 10

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 323/419


Agregação de firmas
Sob que circunstâncias podemos considerar uma firma representativa?

Exemplo:
M firmas, indexadas por i = 1, 2, ..., M
mesma tecnologia neoclássica: z i F (k i , ni )
retornos constantes de escala
Fk > 0, Fn > 0, Fkk < 0, Fnn < 0
mercados competitivos

Cada firma toma os preços como dado:


max{z i F (k i , ni ) − wni − (r + δ)k i }
k i ,ni

CPOs: z i Fk (k i , ni ) = r + δ e z i Fn (k i , ni ) = w , o que implica:

Fk (k i , ni ) r +δ
i i
=
Fn (k , n ) w
Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 324/419
Agregação de firmas
Como F é homogênea de grau 1, Fk e Fn são homogêneas de grau 0.
fk (k i /ni ) Fk (k i , ni ) r +δ
i i
= i i
=
fn (k /n ) Fn (k , n ) w
Como o LHS é estritamente decrescente em k i /ni ,
ki
 
r +δ k
=g = , para todo i
ni w n
onde k é a média de k i (e n é a média de ni ).

Mas note que, para z i > z j , temos uma contradição:


z i fk (k/n) = r + δ = z j fk (k/n)

Alguma introspecção: firmas i, tal que z i = z̄ = max{z 1 , ..., z M },


“sobrevivem” (possuem lucro não-negativo).
z̄fk (k/n) = r + δ e z̄fn (k/n) = w
Conclusão: firma representativa com tecnologia z̄F (k, n) existe.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 325/419
Duas classes de modelos

1 Mercados Incompletos com Empreendedorismo (a la Lucas)

2 Equilı́brio Industrial Competitivo (a la Hopenhayn)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 326/419


Modelo preliminar: Lucas (1978)

Modelo de Lucas (1978): modelo de um perı́odo

População (medida um) neutra ao risco, dotada de:

uma unidade (inelástica) de trabalho

K unidades de capital

habilidade gerencial (managerial ability), θ ∼ G (θ)

Cada agente possui acesso a uma tecnologia de produção θF (k, n),


com retornos decrescentes de escala.

Fn > 0, Fk > 0, Fnn < 0, Fkk < 0

O agente decide se quer ser trabalhador e ganhar w , ou ser um


empreendedor e lucrar π(θ, r , w )

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 327/419


Modelo preliminar: Lucas (1978)

Modelo de Lucas (1978): modelo de um perı́odo

Função lucro: dado r e w ,

π(θ, r , w ) = max{θF (k, n) − wn − r (k − K )}


n,k

Note que as CPOs, θFk (k, n) = r e θFn (k, n) = w , induzem


demandas por capital, k d (θ, r , w ), e por trabalho, nd (θ, r , w ).

Pode-se mostrar que k d (θ, r , w ), nd (θ, r , w ) e π(θ, r , w ) são


crescentes em θ.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 328/419


Modelo preliminar: Lucas (1978)
Equilı́brio competivo: (w , r , θ) tal que:

1 Escolha ocupacional ótima. Defina θ tal que:


w = π(θ, r , w ).
Como π(θ, r , w ) é crescente em θ, tal θ existe e é único:
se θ < θ, agente escolhe trabalhar
se θ > θ, agente escolhe empreender

2 oferta de trabalho = demanda por trabalho


Z ∞
G (θ) = nd (θ, r , w )dG (θ)
θ

3 oferta de capital = demanda por capital


Z ∞
K= k d (θ, r , w )dG (θ)
θ

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 329/419


Modelo preliminar: Lucas (1978)
Comentários:

Sob determinadas hipóteses sobre G , equilı́brio existe e é único.

O empreendedores são os agentes com habilidade gerencial maior.

A distribuição do tamanho das firmas e dos lucros são endógenas.


O tamanho, medido por n ou k, é crescente em θ.

Modelo possui previsões para a distribuição de renda (lucros) e


distribuição do tamanho das firmas.
Em particular, as distribuições são truncadas a esquerda.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 330/419


Mercados Incompletos com Empreendedorismo

Introduzindo Lucas (1978) em uma economia com mercados incompletos.

Extensões:

Agentes são dotados com:

trabalho-eficiência z, que segue uma cadeia de Markov πz .


habilidade gerencial θ, que segue uma cadeia de Markov πθ .

Além de um setor “corporativo” neoclássico, F (K , H),


empreendedores podem produzuir em sua própria firma:
f (k, n, θ) = θk η1 nη2 , com η1 + η2 < 1.

Lucro da firma θ: π(θ, ·).

No inı́cio de cada perı́odo, agentes decidem se querem ser


empreendedor ou trabalhador.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 331/419
Mercados Incompletos com Empreendedorismo

Problema do trabalhador:

V w (a, z, θ) = max
0
{u(c) + βE [max{V w (a0 , z 0 , θ0 ), V e (a0 , z 0 , θ0 )}]}
a ,c
s.a
c + a0 = wz + (1 + r )a
a0 ≥ 0

Problema do empreendedor:

V e (a, z, θ) = max
0
{u(c) + βE [max{V w (a0 , z 0 , θ0 ), V e (a0 , z 0 , θ0 )}]}
a ,c
s.a
c + a0 = π(a, z, θ)
a0 ≥ 0

Note que escolha ocupacional é feita no inı́cio do perı́odo.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 332/419
Mercados Incompletos com Empreendedorismo
Pergunta: como modelar π(a, z, θ)? Várias maneiras ...
Por exemplo (introduzindo fricção financeira no lada da firma):
π(a, z, θ) = max {θk η1 nη2 − (˜
r + δ)(k − a) − w max{n − z, 0}}
k,n
s.a
k ≤ (1 + d)a

r se k ≤a
r˜ =
r +φ se k >a

Formulação captura:
Empreendedores trabalham (apenas) na própria firma.
Firmas são reestritas ao crédito, sendo que d = (k − a)/a é a razão
de alavancagem pela qual a firma pode se endividar.
Spread φ, ao se endividar.
Exemplo: d → ∞ e φ = 0, não há fricção no lado da firma.
Definição de equilı́brio usual. Note que haverá uma distribuição
estacionária endógena de firmas na economia.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 333/419
Mercados Incompletos com Empreendedorismo

Literatura. Paper seminal: Quadrini (2000).

Ajuda a explicar a desigualdade no topo da distribuição.

Intuição:

Dado acesso a uma tecnologia de poupança/investimento (firma própria),


empreendedores com habilidade gerencial alta podem acumular a uma
taxa mais rápida que trabalhadores (que poupam a uma taxa r ).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 334/419


Mercados Incompletos com Empreendedorismo

Literatura. Cagetti e De Nardi (2006). Extende o modelo incorporando


elementos de ciclo da vida (herança e aposentadoria, por exemplo).

Resultado: modelo replica várias dimensões da economia americana.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 335/419


Mercados Incompletos com Empreendedorismo

Literatura. Cagetti e De Nardi (2006).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 336/419


Mercados Incompletos com Empreendedorismo

Literatura. Cagetti e De Nardi (2006).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 337/419


Mercados Incompletos com Empreendedorismo
Literatura. Kitao (2008).
Empreendedorismo e taxação do capital (associado a poupança).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 338/419


Mercados Incompletos com Empreendedorismo

Literatura. Guvenen et al (2019).

“Use It or Lose It: Efficiency Gains from Wealth Taxation.”

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 339/419


Duas classes de modelos

1 Mercados Incompletos com Empreendedorismo (a la Lucas)

2 Equilı́brio Industrial Competitivo (a la Hopenhayn)

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 340/419


Motivação
Ayiagari (1994): mercados incompletos

Tecnologia de produção representativa: zF (K , H) (retornos


constantes de escala)

Introduziu heterogeneidade no lado dos consumidores

Risco idiosincrático
Mercados incompletos

Hopenhayn (1992): “mercados completos”

“Fixar a curva demanda” (consumidor representativo)

Introduzir heterogeneidade do lado das firmas

Truque: retornos decrescentes de escala. Por que?

Com retornos constantes de escala, uma firma representativa


existe.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 341/419
Hopenhayn (1992): equilı́brio industrial
Modelo com uma indústria e várias plantas (firmas):
Indústria:
produz um bem homogêneo
competitiva (toma os preços como dado)
pequena no sentido que não afeta o salário (w é dado)
função de demanda exógena pelo bem produzido na indústria
Hopenhayn (1992) não modelou o lado do consumidor
Trivial incorporá-lo (exemplo: Hopenhayn e Rogerson (1993))
livre entrada de plantas na indústria
Plantas:
retornos decrescentes de escala
sujeitas a choques de produtividade
único fator de produção: trabalho
pagam um custo fixo para operar
plantas podem sair da indústria
plantas podem entrar, desde que paguem um custo fixo de
entrada
Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 342/419
Hopenhayn (1992): equilı́brio industrial

Demanda agregada: D(p), como D 0 < 0

Tecn. da planta (firma): y = zf (n), com f 0 > 0, f 00 < 0 e f (0) = 0

Produtividade segue cadeia de Markov: Γ(z 0 , z) = Pr(z 0 = zt+1 |z = zt )

Problema da firma incumbente: dado o preço p, o salário w e o custo


fixo φ,
π(z) = max{pzf (n) − wn − φ}
n

Note que:
Lucros são crescentes em z
CPO implica que: w = pzf 0 (n)
Como f 00 < 0, plantas mais produtivas empregam mais
Distribuição de z induz uma distribuição do tamanho n das firmas.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 343/419


Hopenhayn (1992): equilı́brio industrial

Decisão de saı́da: no começo do perı́odo, antes da realização do choque


z, a planta decide se sai ou não da indústria
( )
1 X
0 0
v (z; p) = π(z; p) + max v (z ; p)Γ(z , z), 0
1+r 0 z

Isto gera uma função polı́tica: χ(z; p) = {0, 1}

Problema da firma entrante: paga um custo φe por um perı́odo para


entrar na indústria e sorteia z de uma distribuição discreta G
1 X
v e (p) = −φe + v (z; p)G (z)
1+r z

Firma entra se v e (p) ≥ 0. Em equilı́brio, livre entrada de firmas faz


v e (p) = 0. Defina m como a medida de firmas entrantes.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 344/419


Hopenhayn (1992): equilı́brio industrial
Definição: um equilı́brio recursivo estacionário para essa indústria
consiste de: regras de decisões n e χ, funções valores {v , v e }, preço p,
uma medida invariante de firmas incubentes λ, e uma medida invariante
de firmas entrantes m, tal que

Dado p, n(z; p) soluciona o problema estático da firma

Dado p, χ(z; p) soluciona a decisão de saı́da da firma incumbente, e


v (z; p) é a função valor associada.

Livre entrada de firmas implica que, ao preço de equilı́brio,


1 X
φe = v (z; p)G (z)
1+r z

Mercado de bem “clears”:


X
D(p) = zf (n(z; p))λ(z; p)
z

continua ...
Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 345/419
Hopenhayn (1992): equilı́brio industrial

seja Z um elemento de uma famı́lia apropriada de subconjuntos de


Z X
λ(Z) = Γ(Z, z)[1 − χ(z)]λ(z) + mG (Z)
z∈Z

Note que:
X
λ(z 0 ) = Γ(z 0 , z)[1 − χ(z)]λ(z) + mG (z 0 )
z∈Z

Em forma matricial, supondo I nı́veis de produtividade

λI ×1 = PI ×I λI ×1 + mGI ×1

Onde P é a matriz de transição incluindo a possibilidade de saı́da. Logo,

λ = m[(I − P)−1 G ]

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 346/419


Hopenhayn (1992): equilı́brio industrial
Método de solução:

(1) Conjecture p0 e solucione o problema estático da firma para obter


n(z, p0 ), tal que

π(z; p0 ) = p0 zf (n(z; p0 )) − wn(z; p0 ) − φ

(2) Dado a função lucro π(z; p0 ), solucione numericamente


( )
1 X
0 0
v (z; p0 ) = π(z; p0 ) + max v (z ; p0 )Γ(z , z), 0
1+r 0 z

para obter χ(z; p0 ) e v (z, p0 )

(3) Verifique se p0 satisfaz a condição de livre entrada


1 X
v e (p0 ) = −φe + v (z; p0 )G (z) = 0
1+r z

Se não, conjecture um novo p1 e volte ao passo 1.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 347/419
Hopenhayn (1992): equilı́brio industrial

Método de solução (cont.):

Falta calcular m e λ. Para isso, explore

λ = m[(I − P)−1 G ]

(4) Conjecture m0 e compute λ0

(5) Verifique se o mercado de bens “clears”:


X
D(p) = zf (n(z; p))λ(z; p)
z

Se não, atualize m1 e volte ao passo (4).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 348/419


Aplicações

Este modelo é útil para estudar:

Distribuição do tamanho das firmas.

Job turnover e plant turnover.

Efeitos de polı́ticas: subsı́dios e impostos.

Difusão de tecnologia.

O papel das fricções financeiras na dinâmica das firmas.

Alocação ineficiente de fatores de produção.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 349/419


Aplicação: Hopenhayn e Rogerson (1993)

Objetivo: estudar o impacto de restrições a demissão (fire) na


produtividade média da indústria.

Custo de demitir (fire):

τ (n − n0 ) n0 < n

se
g (n0 , n) =
0 se n0 ≥ n

Note que n vira uma variável de estado.

Problema da firma (emprego e saı́da):


  
0 0 0 1 X
0 0 0 0

v (z, n; p) = max pzf (n ) − wn − φ − g (n , n) + max v (z , n ; p)Γ(z , z), −g (0, n ) 
n0 1+r
z0
 

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 350/419


Aplicação: Hopenhayn e Rogerson (1993)

Resultados: custo de demissão

reduz a realocação de trabalhadores (job turnover) das firmas pouco


produtivas para as mais produtivas

impede que firmas ineficientes saiam do mercado (alto custo de


demissão)

Conclusão: esta polı́tica reduz a produtividade média da indústria.

Quantitativamente, esse efeito é alto.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 351/419


Aplicação: Factor Misallocation

Evidência empı́rica recente: não apenas o nı́vel de fatores, mas também


como estes são distribuı́dos entre firmas, são fundamentais para explicar
a diferença de TFP agregada e renda entre paı́ses.

Hsieh e Klenow (2009): “ ... when capital and labor are hypothetically
reallocated to equalize marginal products to the extent observed in the
United States, we calculate manufacturing TFP gains of 30%-50% in
China and 40%-60% in India.”

Referência: Restuccia e Rogerson (2008)

Objetivo: estudar as implicações da distribuição de fatores em um


modelo com firmas heterogêneas.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 352/419


Summary

Neoclassical growth model: commonly used to understand cross-country


differences in per capita income.

Thesis: not only the level of factor accumulation that matters, but also
how these factors are allocated across heterogeneous production units.

Approach: calibrate a version of neoclassical growth model that


incorporate heterogeneous production units a la Hopenhayn (1992).

Need for idiosyncratic distortions.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 353/419


Model

Household: infinite-lived representative household, endowed with one unit


of labor every period, and K0 units of initial capital, maximizes

X
β t u(Ct )
t=0

subject to

X ∞
X
pt (Ct + Kt+1 − (1 − δ)Kt ) = pt (rt Kt + wt Nt + Πt − Tt )
t=0 t=0

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 354/419


Model (cont.)

Incumbents: a finite number of firms indexed by TFP s, maximizing

π(s, τ ) = (1 − τ )sk α nγ − wn − rk − cf

where α, γ ∈ (0, 1) and 0 < α + γ < 1

Establishment-level TFP s is assumed constant.

After production takes place, each establishment faces a constant


probability of death equal to λ.

1+R 1
Value of the incumbent: W (s, τ ) = π(s, τ ) R+λ , where R = β − 1.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 355/419


Model (cont.)

With NO idiosyncratic distortions: capital to labor ratio (k/n) are the


same across plants.

Policy distortions: τ ∈ {τ− , 0, τ+ }, unknown at time of entry and remain


fixed onwards.

Probability the establishment s faces policy τ : P(s, τ )

Assumption: government budget balance is achieved every period


through taxation or redistribution T to the representative consumer.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 356/419


Model (cont.)

Entrants: after paying a fixed cost of entry ce , s ∈ {s1 , ..., sns } is drawn
from a pdf h(s), i.i.d. across entrants.

Value of the entrant:


X
We = max {x̄(s, τ )W (s, τ )h(s)P(s, τ ) − ce }
x̄∈{0,1}
(s,τ )

Law of motion: µ0 (s, τ ) = (1 − λ)µ(s, τ ) + x̄(s, τ )h(s)P(s, τ )E

x̄(s,τ )
Invariant distribution: µ(s, τ ) = λ h(s)P(s, τ )E

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 357/419


Equilibrium

(i) Consumption optimization;

(ii) Plant optimization;

(iii) Free entry: We = 0;

(iv) Market clearing;

(v) Government budget balance;

(vi) µ is an invariant distribution.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 358/419


Calibration

Growth model: standard procedures.

α + γ = 0.85

Benchmark economy: U.S. without distortions.

1
  1−γ−α
ni si
FOCs: nj = sj

h(s) is chosen to match the number of employment per firm distribution

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 359/419


Exercises

Idea: choose taxes and subsidies such that there is no effect on aggregate
capital accumulation (isolate the distribution effect).

Two exercises:

(1) τ is uncorrelated with s.

(2) τ is positively (negatively) with s.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 360/419


Results

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 361/419


Results (cont.)

Low TFP firms receive a subsidy; high TFP firms are taxed.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 362/419


Comments

The variable Ys /Y represents the output share of plants that are


receiving a subsidy, the variable S/Y is the total subsidies paid out to
plants receiving subsidies as a fraction of output, and the variable τs is
the size of the subsidy required to generate a steady-state capital stock
equal to that in the distortion free economy.

Nota: literatura sobre misallocation cresceu muito nos últimos anos.

Em relação a firmas, olhar o que Francisco Buera, Joseph Kaboski,


Benjamin Moll, Yongseok Shin, Daniel Xu, etc, estão fazendo.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Firmas Heterogêneas 363/419


Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo

Eduardo Zilberman
PUC-Rio

Macroeconomia II - 2020.2 - Aulas 11 e 12

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 364/419


Referências

Achdou, Han, Lasry, Lions e Moll (2020): Heterogeneous Agent Models


in Continuous Time. Veja apêndice e apêndice numérico também!

Ahn, Kaplan, Moll, Winberry e Wolf (2018): When Inequality Matters for
Macro and Macro Matters for Inequality.

Lecture notes: https://benjaminmoll.com/lectures/.

Códigos:
https://benjaminmoll.com/codes/,
https://github.com/gregkaplan/phact/,
https://sehyoun.com/EXAMPLE_PHACT_KS.html,
https://sehyoun.com/EXAMPLE_one_asset_HANK_web.html.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 365/419


Ideia
Em tempo contı́nuo, solucionar modelos com agentes heterogêneos
equivale a solucionar um sistema com duas equações diferenciais.

1 Hamilton-Jacobi-Bellman (HJB): equação que governa as escolhas


individuais.

2 Kolmogorov Forward (KF): equação que governa a evolução da


distribuição.

Nota: ferramental é bastante geral (veja os exemplos na página do Moll).

Nesta aula: versão em tempo contı́nuo de ...

1 Huggett (1993) baseada em Achdou et al (2020), mas tudo


generalizável para Aiyagari (1994);

2 Krusell e Smith (1998) baseada em Ahn et al (2018).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 366/419


Fator de desconto em tempo contı́nuo
Fator de desconto usual em modelos de tempo discreto:
 t
t 1
β =
1+ρ

onde β ∈ (0, 1) e, portanto, ρ > 0.

Compondo uniformemente a taxa de desconto n vezes dentro de uma


mesma unidade de tempo:
 t  t  nt
1 1 1
× ... × =
1 + ρn 1 + ρn 1 + ρn
| {z }
n vezes

Exemplo: se o perı́odo é anual, e a taxa é composta todo trimestre,


faz-se n = 4; se a taxa é composta todo mês, faz-se n = 12.

Ambas as fórmulas expressam o valor presente de uma unidade no


perı́odo t, sob diferentes hipóteses de desconto.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 367/419
Fator de desconto em tempo contı́nuo

Fazendo n → ∞, obtém-se o fator de desconto em tempo contı́nuo:


 nt
1
lim ρ = e −ρt
n→∞ 1 +
n

Prova: defina s = n/ρ, logo


 sρt  s ρt
 ρ nt 1 1
lim 1 + = lim 1 + = lim 1+
n→∞ n s→∞ s s→∞ s
s
Portanto, basta mostar que lims→∞ 1 + 1s = e.

Defina w = 1/s e note que, aplicando L’Hopital, obtém-se:


 s
ln (1 + w ) 1 1
lim = 1 ⇒ lim 1 + = lim (1 + w ) w = e
w →0 w s→∞ s w →0

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 368/419


Agentes Heterogêneos: Problema do Consumidor
Problema do consumidor em tempo discreto: dado {r } e (a0 , y0 ),

X
max

E0 e −ρt u(ct ) s.a
{ct }t=0
t=0
ct + at+1 = (1 + rt )at + yt
at+1 ≥ a

Restrição orçamentária em tempo contı́nuo:


at+∆ − at
∆ct + at+∆ = (1 + ∆rt )at + ∆yt ⇐⇒ = rt at + yt − ct

dat
∆ → 0, logo = rt at + yt − ct
dt
Problema do consumidor em tempo contı́nuo: dado {r } e (a0 , y0 ),
Z ∞
max E0 e −ρt u(ct )dt s.a
{ct }t≥0 0
dat
= (yt + rt at − ct )
dt
at ≥ a
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 369/419
Agentes Heterogêneos: processos de Poisson
Parênteses: processo de Poison,

λk
P(k eventos em um intervalo) = e −λ ,
k!

Hipótese (generalizável): yt segue um processo de Poisson com dois


estados, [y1 < y2 ], com intensidades λ1 e λ2 .

Comentários:

λi é a intensidade com que se pula do estado i para o estado j.

A probabilidade de se permanecer no estado i é

P(k = 0 eventos em um intervalo) = e −λi

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 370/419


Agentes Heterogêneos: da eq de Bellman a eq HJB
“Eq de Bellman” (tempo discreto), para i = 1, 2, ignorando as restrições:
vi (at , t) = max u(ct ) + e −ρ [e −λi vi (at+1 , t + 1) + (1 − e −λi )vj (at+1 , t)
 
ct

Para ∆ pequeno, e −ρ∆ ≈ 1 − ρ∆ e e −λi ∆ ≈ 1 − λi ∆,



vi (at , t) = max ∆u(ct ) + (1 − ρ∆)[(1 − λi ∆)vi (at+∆ , t + ∆) + λi ∆vj (at+∆ , t + ∆)] ⇐⇒
ct

 
⇐⇒ ρ∆vi (at , t) = max ∆u(ct ) + (1 − ρ∆) (vi (at+∆ , t + ∆) − vi (at , t + ∆) + vi (at , t + ∆) − vi (at , t))+
ct

+λi ∆(vj (at+∆ , t + ∆) − vi (at+∆ , t + ∆)) ⇐⇒

( "
vi (at+∆ , t + ∆) − vi (at , t + ∆) at+∆ − at
⇐⇒ ρvi (at , t) = max u(ct ) + (1 − ρ∆) +
ct at+∆ − at ∆
vi (at , t + ∆) − vi (at , t)
 

+ + λi vj (at+∆ , t + ∆) − vi (at+∆ , t + ∆)

∆ → 0, logo equação de Hamilton-Jacobi-Bellman (tempo contı́nuo):


 
∂vi (at , t) dat ∂vi (at , t)
ρvi (at , t) = max u(ct ) + + + λi (vj (at , t) − vi (at , t))
ct ∂a dt ∂t

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 371/419


Agentes Heterogêneos: Hamilton-Jacobi-Bellman

Restrição orçamentária em tempo contı́nuo:


dat
= rt at + yt − ct
dt

Problema do consumidor recursivo em tempo contı́nuo:



∂vi (a, t)
ρvi (a, t) = max u(c) + (r (t)a + yi − c)+
c ∂a

∂vi (a, t)
+ + λi (vj (a, t) − vi (a, t))
∂t

 
∂vi (a,t) ∂vi (a,t)
CPO em c: u 0 (ci (a, t)) = ∂a ⇐⇒ ci (a, t) = u 0−1 ∂a .

Logo, da RO: si (a, t) = r (t)a + yi − ci (a, t).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 372/419


Agentes Heterogêneos: Hamilton-Jacobi-Bellman
Hamilton-Jacobi-Bellman Equation:

∂vi (a, t)
ρvi (a, t) = max u(c) + (r (t)a + yi − c)+
c ∂a

∂vi (a, t)
+ + λi (vj (a, t) − vi (a, t))
∂t
Cadê a restrição ao crédito a ≥ a? Em tempo contı́nuo, por construção,
ela nunca está ativa no interior do espaço de estados.

Note que a CPO, u 0 (ci (a, t)) = ∂vi∂a(a,t)


, vale para todo a ≥ a. Como
garantir que a restrição ao crédito não seja violada?
si (a, t) = yi + r (t)a − ci (a, t) ≥ 0 ⇐⇒ yi + r a ≥ ci (a, t)
Restrição ao crédito aparece apenas na condição de contorno:
∂vi (a, t)
u 0 (yi + r (t)a) ≤ u 0 (ci (a, t)) = .
∂a
Vantagem computacional em relação ao caso discreto: CPOs são
“estáticas” (hoje e amanhã são a mesma coisa) e com “igualdade”.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 373/419
Agentes Heterogêneos: Kolmogorov Forward Equation

Distribuição de riqueza no estado yi :

Gi (a, t) = Pr(at ≤ a, yt = yi )

No estado yi , em um horizonte ∆, a riqueza evolui de acordo com:

at+∆ = at + ∆si (at )

Risco idiossincrático: pular de yi para yj com probabilidade ∆λi , logo

Pr (at+∆ ≤ a, yt+∆ = yi ) = (1 − ∆λi )Pr(at ≤ a − ∆si (a), yt = yi )+


+∆λj Pr(at ≤ a − ∆si (a), yt = yj )

[se tem riqueza < a − ∆si (a) em t, tem riqueza < a em t + ∆].

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 374/419


Agentes Heterogêneos: Kolmogorov Forward Equation
Reescrevendo:
Gi (a, t + ∆) = (1 − ∆λi )Gi (a − ∆si (a), t) + ∆λj Gj (a − ∆si (a), t)

Deduzindo Gi (a, t) dos dois lados, e rearranjando:


Gi (a, t + ∆) − Gi (a, t)
=

Gi (a − ∆si (a)) − Gi (a, t)
= − λi Gi (a − ∆si (a), t) + λj Gj (a − ∆si (a), t)

∆ → 0, logo
∂Gi (a, t) ∂Gi (a, t)
= −si (a) − λi Gi (a, t) + λj Gj (a, t)
∂t ∂a

∂Gi (a,t)
Defina gi (a, t) = ∂a , e diferencie:
∂gi (a, t) ∂[si (a)gi (a, t)]
=− − λi gi (a, t) + λj gj (a, t)
∂t ∂a
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 375/419
Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio
Dado gi (a, 0), equilı́brio (incluindo dinâmica de transição) caracterizado por duas PDEs (HJB e KF) e mkt clearing.

Hamilton-Jacobi-Bellman Equation (runs backwards and looks forward):

∂vi (a, t) ∂vi (a, t)


 
ρvi (a, t) = max u(c) + (yi + r (t)a − c) + λi (vj (a) − vi (a)) +
c ∂a ∂t

Kolmogorov Forward Equation (runs forward and looks backward):

∂gi (a, t) ∂[si (a, t)gi (a, t)]


=− − λi gi (a, t) + λj gj (a, t)
∂t ∂a

Market Clearing:
Z ∞
0= a[g1 (a, t) + g2 (a, t)]da
a

Lembre que:
Z ∞
∂vi (a, t)
 
0−1
si (a, t) = yi + r (t)a − ci (a, t), ci (a, t) = u , [g1 (a, t) + g2 (a, t)]da = 1
∂a a

Condição de contorno:
0 ∂vi (a, t)
u (yi + r (t)a) ≤ .
∂a

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 376/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
Equilı́brio estacionário caracterizado por duas ODEs (HJB e KF), e
market clearing.

Hamilton-Jacobi-Bellman Equation:
ρvi (a) = max [u(c) + vi0 (a)(yi + ra − c) + λi (vj (a) − vi (a))]
c

Kolmogorov Forward Equation:


d[si (a)gi (a)]
0=− − λi gi (a) + λj gj (a),
da

Market Clearing:
Z ∞
0= a[g1 (a) + g2 (a)]da
a

ci (a) = u 0−1 (vi0 (a)),


R∞
Lembre que: si (a) = yi + ra − ci (a), a [g1 (a) + g2 (a)]da = 1.

Condição de contorno: u 0 (yi + r a) ≤ vi0 (a).

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 377/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
Resultados teóricos no equilı́brio estacionário explorando a HJB (e r < ρ).

Hipótese: o coeficiente de aversão absoluta ao risco, −u 00 (c)/u 0 (c), é


finito no limite de endividamento a,
u 00 (y1 + r a)
< ∞.
u 0 (y1 + r a)
Para função utilidade u usual, condição suficiente (mas não necessária):
a > −y1 /r (restrição mais apertada que limite natural de endividamento).

Alguns resultados analı́ticos:



1 s1 (a) = 0; s1 (a) < 0 se a > a; s1 (a) ≈ −ν a − a perto de a = a;
s
(ρ − r )u 0 (c 1 ) + λ1 (u 0 (c 1 ) − u 0 (c 2 ))
onde ν = 2
−u 00 (c 1 )

2 lima→a s10 (a) = −∞ (implica convergêcia para a = a após uma


sequência choques ruins, y1 , em tempo finito).
3 Muitos outros no paper ...
Provas envolvem basicamente envelope no HJB, CPOs e exp. de Taylor.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 378/419
Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário

Ilustrando os resultados analı́ticos explorando a HJB (e r < ρ):

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 379/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
Resultados teóricos no equilı́brio estacionário explorando a KF (e r < ρ).

Para i = 1, 2, solução analı́tica para a distribuição estacionária:


 Z a  
si (a)gi (a) λ1 λ2
gi (a) = exp − + dx
si (a) a s1 (x) s2 (x)

Implicação: para i = 1, “Dirac mass at a”.

Lembre que s1 (a) = 0, lima→a s10 (a) = −∞ e s2 (a) > 0 (este última
resultado ilustrado graficamente).

Pode-se mostrar que lima→a g1 (a) = ∞ e g2 (a) > 0, tal que:

s1 (a)g1 (a) + s2 (a)g2 (a) = 0

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 380/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
“Prova”:
Equação KF no estado estacionário:

d[si (a)gi (a)]


− λi gi (a) + λj gj (a) = 0
da

Somando em i:

d[s1 (a)g1 (a) + s2 (a)g2 (a)]


= 0 ⇒ s1 (a)g1 (a) + s2 (a)g2 (a) = constante
da

Como a distribuição estacionária é limitada:

s1 (a)g1 (a) + s2 (a)g2 (a) = 0

Substituindo de volta na KF:

gi0 (a) si0 (a)


!
d[si (a)gi (a)] si (a) λi λj
− λi gi (a) + λj gi (a) = 0 ⇐⇒ =− + +
da sj (a) g (a) si (a) si (a) sj (a)

Integrando entre a e a para achar a solução (e tirando exponencial depois):

Z a ! !
si (a)gi (a) λ1 λ2
gi (a) = exp − + dx
si (a) a s1 (x) s2 (x)

Nota. Tem constante de integração e condição de contorno (ver paper), mas a equação acima está correta.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 381/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
Resultados teóricos no equilı́brio estacionário explorando a KF (e r < ρ).

Para i = 1, 2, solução analı́tica para a distribuição estacionária:


 Z a  
si (a)gi (a) λ1 λ2
gi (a) = exp − + dx
si (a) a s1 (x) s2 (x)

Implicação: para i = 1, “Dirac mass at a”.

Lembre que s1 (a) = 0, lima→a s10 (a) = −∞ e s2 (a) > 0 (este última
resultado ilustrado graficamente).

Pode-se mostrar que lima→a g1 (a) = ∞ e g2 (a) > 0, tal que:

s1 (a)g1 (a) + s2 (a)g2 (a) = 0

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 382/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário

Ilustrando os resultados analı́ticos explorando a KF e HJB (e r < ρ):

Em tempo contı́nuo, exceto pela massa de Dirac em a quando i = 1,


distribuições condicionais em i são suaves.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 383/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
Ljungqvist e Sargent (2012), Figura 18.7.2: distribuição estacionária do
modelo de Huggett em tempo discreto.

Distribuição não é suave. Em tempo discreto, a massa de Dirac em a se


propaga de forma discreta para o resto do espaço de estados. Em tempo
contı́nuo, os agentes saem da restrição ao crédito de maneira suave.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 384/419
Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
Oferta de ativos:
Z ∞
S(r ) = a[g1 (a; r ) + g2 (a; r )]da
a

Lema: S(r ) é contı́nuo [já que si (a; r ) e gi (a; r ) são contı́nuos em r ].


Existência de eq estacionário: limr ↑ρ S(r ) = ∞ e limr ↓−∞ S(r ) = a.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 385/419


Huggett em Tempo Contı́nuo: Equilı́brio Estacionário
Pergunta importante: sob que condições o equilı́brio é único? Desafio
(efeitos renda vs. subst): achar condições tais que S 0 (r ) > 0.
Exemplo numérico: r aumenta de rL para rH > rL .

Poupança aumenta para qualquer nı́vel de riqueza e, portanto,


distribuições estacionárias “deslocam” para direita. Logo, S(rH ) > S(rL ).
Condições suficientes para unicidade: a = 0 e
u 0 (c)
IES(c) = − ≥ 1, para todo c ≥ 0.
u 00 (c)c
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 386/419
Solução Numérica: Tempo Discreto vs. Tempo Contı́nuo
c 1−γ −1
Hipótese (CRRA): u(c) = 1−γ . CPOs:
t contı́nuo: c −γ = vj0 (a), j = 1, 2.
P2
t discreto: c −γ ≥ β k=1 πjk vk0 (a0 ), a0 = yj + (1 + r )a − c, j = 1, 2.

Vantagens de modelar tempo contı́nuo para obter solução numérica:

1 Restrição de crédito só aparece na condição de contorno.

Não precisa lidar com a restrição ao crédito (CPO com “=”).

2 CPOs são “estáticas”, “amanhã = hoje”.


− 1
Dado conjectura para v , rápido obter cj (a) = vj0 (a) γ .


Não há necessidade de computar somatórios (ou intregrais).


Em tempo discreto, cj (a) é definido implicitamente pela CPO.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 387/419


Solução Numérica: Tempo Discreto vs. Tempo Contı́nuo
c 1−γ −1
Hipótese (CRRA): u(c) = 1−γ . CPOs:
t contı́nuo: c −γ = vj0 (a), j = 1, 2.
P2
t discreto: c −γ ≥ β k=1 πjk vk0 (a0 ), a0 = yj + (1 + r )a − c, j = 1, 2.

Vantagens de modelar tempo contı́nuo para obter solução numérica:

3 HJB e KF discretizados resultam em um sistema de equações, sendo


as matrizes subjacentes esparsas (tempo contı́nuo implica em
matrizes bloco-tridiagonais).

Solucionar o sistema implica inverter matrizes esparsas.


Rotinas numéricas disponı́veis lidando com esse tipo de matriz
eficientemente (por exemplo, comando sparse no MATLAB).

4 Link (veja abaixo) entre HJB e KF. Uma vez que uma equação é
solucionada, a outra sai de graça.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 388/419
Solução Numérica do Equilı́brio Estacionário
Objetivo: encontrar funções v1 , v2 , g1 , g2 e um escalar r que satisfaz:
HJB:
ρv1 (a) = max [u(c) + v10 (a)(y1 + ra − c) + λ1 (v2 (a) − v1 (a))]
c
ρv2 (a) = max [u(c) + v20 (a)(y2 + ra − c) + λ2 (v1 (a) − v2 (a))]
c

KF e consistência:
d[s1 (a)g1 (a)]
0=− − λ1 g1 (a) + λ2 g2 (a)
da
d[s2 (a)g2 (a)]
0=− − λ2 g2 (a) + λ1 g1 (a)
da
Z ∞
1= [g1 (a) + g2 (a)]da
a

Market clearing:
Z ∞
0= a[g1 (a) + g2 (a)]da ≡ S(r )
a

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 389/419


Solução Numérica do Equilı́brio Estacionário: Algoritmo

Algoritmo: conjecture r 0 , para l = 0, 1, 2, ...

1 Dado r l , solucione a HJB estacionária usando o método de


diferenças finitas. Calcule sil (a), i = 1, 2.

2 Dado sil (a), i = 1, 2, solucione a KF estacionária para gil (a) usando


o método de diferenças finitas.

R∞
3 Dado gil (a), i = 1, 2, compute S(r l ) = a a[g1l (a) + g2l (a)]da. Se
S(r l ) > 0, reduza a taxa de juros r l+1 < r l , e vice-versa.

Itere até que r l ≈ r l+1 e S(r l+1 ) ≈ 0.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 390/419
Método de Diferenças Finitas (MDF): Primer
Objetivo: aproximar (v1 , v2 , g1 , g2 ) em I pontos discretos, {a1 , a2 , ..., aI },
equi-espaçado, ai − ai−1 = ∆a, para todo i = 2, ..., I .
0
Atenção a notação (mudou)! vi,j = vj (ai ), vi,j = vj0 (ai ) e gi,j = gj (ai ).
0 vi+1,j −vi,j 0
Forward difference approximation: vi,j ≈ ∆a ≡ vi,j,F
0 vi,j −vi−1,j 0
Backward difference approximation: vi,j ≈ ∆a ≡ vi,j,B

Dado a CPO, ci,j = u 0−1 (vi,j


0
).

Produto final do método: sistema de 4I + 1 equações, com matrizes


esparsas, em 4I + 1 icógnitas:
   
v1,1 g1,1
 ..   ..  ρv = u(v) + A(v; r )v
 .   . 
   
 vI ,1   gI ,1 
v=  v1,2  , g =  g1,2  ⇒
   0 = A(v; r )T g
   
 ..   .. 
 .   .  0 = S(g; r )
vI ,2 gI ,2
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 391/419
Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF
Objetivo: aproximar (v1 , v2 ) em I pontos discretos, {a1 , a2 , ..., aI },
equi-espaçado, ai − ai−1 = ∆a, para todo i = 2, ..., I .

0
Atenção a notação (mudou)! vi,j = vj (ai ) e vi,j = vj0 (ai ).

0 vi+1,j −vi,j 0
Forward difference approximation: vi,j ≈ ∆a ≡ vi,j,F

0 vi,j −vi−1,j 0
Backward difference approximation: vi,j ≈ ∆a ≡ vi,j,B

Duas complicações:

0 0
1 Quando usar vi,j,B ou vi,j,F ? Importa para propriedades da solução!

2 Equações HJB são não-lineares (não basta inverter uma matriz).


Necessidade de um método iterativo: explı́cito vs. implı́cito.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 392/419


Solução Numérica: Parênteses sobre Teoria

Barles e Souganidis (1991): sob três condições (próximo slide), a solução


via o método de diferenças finitas converge localmente e uniformemente
para a única solução “viscosa” da equação HJB.

“Viscosidade”: permite convex kinks e restrições na variável de estado a.

Para simplificar o argumento (que é generalizável), suponha que y1 = y2 ,


tal que vi,1 = vi,2 = vi e v1 (a) = v2 (a) = v (a).

Em geral, uma HJB unidimensional pode ser escrita da forma:


0 = F (a, v (a), v 0 (a), v 00 (a))

A versão numérica correspondente em diferenças finitas:


0 = S(∆a, ai , vi ; vi−1 , vi+1 ) = S̃(∆a, ai , vi ; vi − vi−1 , vi+1 − vi )

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 393/419


Solução Numérica: Parênteses sobre Teoria

Barles e Souganidis (1991): sob três condições, a solução via o método


de diferenças finitas converge localmente e uniformemente para a única
solução “viscosa” da equação HJB.

Condição 1 (monotonicidade): S é não-crescente em vi−1 e vi+1 .

Condição 2 (consitência): quando ∆a → 0 e ai → a,

S̃(∆a, ai , vi ; vi − vi−1 , vi+1 − vi ) → F (a, v (a), v 0 (a), v 00 (a)).

Condição 3 (estabilidade): para todo ∆a > 0, S (ou S̃) possui uma


solução vi , i = 1, ..., I , uniformemente limitada (independente de ∆a).

Na prática, as condições 2 e 3 são satisfeitas facilmente, e o desenho do


método de diferenças finitas deve visar atender a condição 1.
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 394/419
Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF

Método explı́cito

0 0 u(yj +rai )
Dado r , conjecture vi,j , i = 1, ..., I , j = 1, 2, e.g. vi,j = ρ , compute

εni,j = u(u 0−1 [(vi,j


n 0 n 0
) ])+(vi,j ) (yj +rai −u 0−1 [(vi,j
n 0 n
) ])+λj (vi,−j n
−vi,j n
)−ρvi,j ,

e atualize
n+1 n
vi,j = vi,j + ∆εni,j ,
onde ∆ é um parâmetro não muito grande para garantir convergência.
n+1 n
Itere até convergência: vi,j ≈ vi,j .

Proposição: se ∆ for pequeno o suficiente, e usando os truques nos slides


seguintes, este algoritmo satisfaz as três condições acima.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 395/419


Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF

0
Método explı́cito. Qual medida de vi,j usar na iteração acima?

0 0
Truque (upwind scheme): usar vi,j,B (vi,j,F ) quando si,j,B (si,j,F ) for
negativo (positivo), onde

si,j,B = yj + rai − u 0−1 (vi,j,B


0
) e si,j,F = yj + rai − u 0−1 (vi,j,F
0
).
0 0
Como v é côncavo em a, vi,j,F < vi,j,B e, portanto, si,j,F < si,j,B .

Logo,
0 0 0 0
vi,j = vi,j,F 1{si,j,F >0} + vi,j,B 1{si,j,B <0} + v̄i,j 1{si,j,F ≤0≤si,j,B } ,
0
onde v̄i,j = u 0 (yj + rai ), ou seja, si,j = 0.

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Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF

0
Método explı́cito. Qual medida de vi,j usar na iteração acima?

Para garantir condição de contorno dada restrição de crédito, impõe-se:


0
v1,j,B = u 0 (yj + ra1 ), j = 1, 2

Na prática, é útil impor restrição a ≤ amax para garantir a estabilidade do


algoritmo. Neste caso, condição de contorno adicional:

vI0,j,F = u 0 (yj + raI ), j = 1, 2

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 397/419


Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF

Método implı́cito

0 0 u(yj +rai )
Dado r , conjecture vi,j , i = 1, ..., I , j = 1, 2, e.g. vi,j = ρ , defina

n+1 n
vi,j − vi,j
= u(u 0−1 [(vi,j
n 0 n+1 0
) ])+(vi,j ) (yj +rai −u 0−1 [(vi,j
n 0 n+1
) ])+λj (vi,−j n+1
−vi,j n+1
)−ρvi,j ,

onde ∆ pode ser de qualquer valor.

n+1
Note a linearidade em vi,j . Ideia é solucionar “invertendo” matrizes.

Proposição: usando os truques nos slides seguintes, este algoritmo


satisfaz as três condições acima.

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Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF

n 0
Método implı́cito. Qual medida de (vi,j ) usar na iteração acima?

n
Truque (upwind scheme): usar (vi,j,B )0 [(vi,j,F
n
)0 ] quando si,j,B
n n
[si,j,F ] for
negativo (positivo), onde
n
si,j,B = yj + rai − u 0−1 [(vi,j,B
n
)0 ] e si,j,F
n
= yj + rai − u 0−1 [(vi,j,F
n
)0 ]
n
Como v é côncavo em a, (vi,j,F )0 < (vi,j,B
n
)0 e, portanto, si,j,F
n n
< si,j,B .

Novamente:
n 0
(vi,j n
) = (vi,j,F )0 1{si,j,F
n
n 0
>0} + (vi,j,B ) 1{si,j,B
n
0
<0} + v̄i,j 1{si,j,F
n n
≤0≤si,j,B },

0
onde v̄i,j = u 0 (yj + rai ), ou seja, si,j = 0.

E condições de contorno (omitidas).


Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 399/419
Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF

Método implı́cito. Escrevendo na forma matricial.

n+1 n
n+1 0 n+1 0 vi,j −vi,j n+1
Usando as definições de (vi,j,B ) e (vi,j,F ): ∆ + ρvi,j =
n+1 n+1 n+1 n+1
vi+1,j − vi,j vi,j − vi−1,j
= u(u 0−1 [(vi,j
n 0
) ])+ n
(si,j,F )+ + n
(si,j,B )− +λj (vi,−j
n+1 n+1
−vi,j ),
∆a ∆a
n
onde (si,j,B )+ = max(0, si,j,B
n n
) e (si,j,B )− = min(0, si,j,B
n
).

Coletando termos e empilhando em forma matricial:


  
1 n+1 n 1 1
(v −v )+ρvn+1 = un +An vn+1 ⇐⇒ + ρ I − An vn+1 = un + vn .
∆ ∆ ∆

Itere esse sistema até que vn ≈ vn+1 .

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Solução Numérica (Passo 1): HJB Estacionária - MDF
Método implı́cito. Sistema em forma matricial:
  
1 1
n
+ ρ I − A vn+1 = un + vn ⇒ Bn vn+1 = bn
∆ ∆
| {z }
| {z } n
≡Bn ≡b

n n+1
Itere esse sistema até que v ≈ v

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 401/419


Método de Diferenças Finitas (MDF): Lembrando

Objetivo: aproximar (v1 , v2 , g1 , g2 ) em I pontos discretos, {a1 , a2 , ..., aI },


equi-espaçado, ai − ai−1 = ∆a, para todo i = 2, ..., I .

Produto final do método: sistema de 4I + 1 equações, com matrizes


esparsas, em 4I + 1 icógnitas:
   
v1,1 g1,1
 ..   ..  ρv = u(v) + A(v; r )v
 .   . 
   
 vI ,1   gI ,1 
v=  v1,2  , g =  g1,2  ⇒
   0 = A(v; r )T g
   
 ..   .. 
 .   .  0 = S(g; r )
vI ,2 gI ,2

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Solução Numérica (Passo 2): KF Estacionária - MDF
Objetivo: aproximar (g1 , g2 ) nos I pontos discretos, {a1 , a2 , ..., aI },
equi-espaçado, ai − ai−1 = ∆a, para todo i = 2, ..., I .

Notação: gi,j = gj (ai ) para j = 1, 2 e i = 1, ..., I .

Ideia é discretizar a KF:


I
X I
X
0 = −[si,j gi,j ]0 − λj gi,j + λ−j gi,−j e 1= gi,1 ∆a + gi,2 ∆a
i=1 i=1

Novamente (“upwind scheme”),

(si,j,F )+ gi,j − (si−1,j,F )+ gi−1,j (si+1,j,B )− gi+1,j − (si,j,B )− gi,j


− − −λj gi,j +λ−j gi,−j = 0,
∆a ∆a
onde si,j,F e si,j,B saem da última iteração da solução numérica da HJB.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 403/419


Solução Numérica (Passo 2): KF Estacionária - MDF
Coletando termos e empilhando na forma matricial,
AT g = 0,
onde A sai da última iteração da solução numérica da HJB pelo método
implı́cito. KF saiu de graça. Dois coelhos com uma cajadada só!

Para achar a distrib. estacionária, solucione AT g = 0, ou seja, encontre


o autovetor (normalizado para somar um) associado ao autovalor zero.

Novamente: como AT é esparsa e bloco-tridiagonal, existem rotinas


numéricas muito eficientes para inverter esse tipo de matriz.

Mas AT é singular e, portanto, não inversı́vel.

“Truque sujo”: pegue uma linha de AT e substitua por zeros exceto na


diagonal; na linha correspondente do vetor de zeros 0 coloque um
número qualquer (estes passos garantem inversibilidade).

g é a solução normalizada (para somar um) do sistema modificado.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 404/419
Generalizações ...
É possı́vel generalizar (ou extender) o ferramental até então para:

Múltiplos ativos (sem e com risco): torna a distribuição de riqueza


mais realı́stica (distribuição estacionária possui caldas mais largas).

Computar a dinâmica de transição.

Economias com produção como em Aiygari (1994).

Modelos com firmas heterogêneas como em Hopenhayn (1992).

Processos de difusão mais gerais (com contı́nuo de choques).

Tratar choques agregados.

...
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 405/419
Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo
Versão em tempo contı́nuo de Krusell and Smith (1998).

Notação: zt (minúsculo) é o choque idiosincrático; Zt (maiúsculo) é o


choque agregado.

Problema dos agentes:


Z ∞
max E e −ρt u(ct )dt sujeito a
{ct }t≥0 0
da
= wt zt + rt at − ct
dt
zt ∈ {zl , zh }, com intensidades de Poisson λl , λh
at ≥ a

Função de produção agregada:

Yt = e Zt Ktα Nt1−α

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Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo
O logaritmo da produtividade agregada Zt segue um processo de
Ornstein-Uhlenbeck:

dZt = −ηZt dt + σdWt ,

onde dWt é uma inovação de uma standard Brownian motion.

η é taxa de reversão a média e σ captura a magnitude das


inovações.


dWt ≈ lim∆t→0 εt ∆t, onde εt ∼ N(0, 1).

Esse processo é o análogo do processo AR(1) em tempo discreto.

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 407/419


Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo
Equilı́brio já em versão recursiva:
∂vt (a, z) 1
 
0
ρvt (a, z) = max u(c) + st (a, z) + λz (vt (a, z ) − vt (a, z)) + [Et [dvt (a, z)]]
c ∂a dt

dgt (a, z) ∂[st (a, z)gt (a, z)] 0


=− − λz gt (a, z) + λz 0 gt (a, z )
dt ∂a

dZt = −ηZt dt + σdWt

Z α −α Z α−1 1−α
wt = (1 − α)e t Kt N̄ e rt = αe t Kt N̄ −δ

Z Z
Kt = agt (a, z)dadz e N̄ = zgt (a, z)dadz

Comentários:
Lembre: st (a, z) = wt z + rt a − c (optimal saving policy function).
Nota: o subescrito t captura os estados agregados (gt (a, z), Zt ),
mas notação recursiva em relação aos estados individuais (a, z).
Mudança esperada por conta de choques agregados na HJB:
 
1 vt+s − vt
[Et [dvt (a, z)] = lim Et
dt s↓0 s
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 408/419
Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo
Método de solução. Passos:

1 Computar a aproximação não-linear (global) do estado estacionário


sem choques agregados, i.e. Zt = 0, usando diferenças finitas.

Mantém os choques idiossincráticos, e preserva


não-linearidades no nı́vel micro: heterogeneidade importa!

Equivalência à certeza não vale.

2 Computar uma expansão de primeira ordem de Taylor em torno do


estado estacionário computado no passo 1.

Elimina não-linearidades no nı́vel macro; equivalência à


certeza.
Incerteza agregada importa na medida em que afeta a
distribuição do risco idiossincrático.

3 Solucionar o sistema de equações diferenciais que sai do passo 2.


Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 409/419
Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo

Passo 1. Computar a aproximação não-linear do estado estacionário sem


choques agregados, i.e. Zt = 0, usando diferenças finitas.

Versão estacionária do equilı́brio:


 
∂v (a, z) 0
ρv (a, z) = max u(c) + s(a, z) + λz (v (a, z ) − v (a, s))
c ∂a
∂[s(a, z)g (a, z)]
0=− − λz g (a, z) + λz 0 g (a, z 0 )
∂a

w = (1 − α)K α N̄ −α e r = αK α−1 N̄ 1−α − δ


Z Z
K= ag (a, z)dadz e N̄ = zg (a, z)dadz

Já aprendemos a solucionar algo parecido!

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 410/419


Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo

Passo 1. Computar a aproximação não-linear do estado estacionário sem


choques agregados, i.e. Zt = 0, usando diferenças finitas.

Versão aproximada em diferenças finitas do equilı́brio:

ρvi,j = u(u 0−1 (vi,j


0 0
)) + vi,j (wzj + rai − u 0−1 (vi,j
0
)) + λj (vi,−j − vi,j )

0 = −[(wzj + rai − u 0−1 (vi,j


0
))gi,j ]0 − λj gi,j + λ−j g (i, −j)

w = (1 − α)K α N̄ −α e r = αK α−1 N̄ 1−α − δ

X X
K= ai gi,j e N̄ = zj gi,j
j,i j,i

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Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo

Passo 1. Computar a aproximação não-linear do estado estacionário sem


choques agregados, i.e. Zt = 0, usando diferenças finitas.

Seguindo so passos dos slides anteriores, e empilhando em matrizes:

(HJB) ρv = u(v) + A(v; p)v

(KF) 0 = A(v; p)T g

(MC + CPOs) p = F(g),

onde p é o vetor de preços, (r , w )T .

Sistema de 2N + 2 equações em 2N + 2 icógnitas.

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Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo
Passo 2. Computar uma expansão de primeira ordem de Taylor em torno
do estado escaionário computado no passo 1.

Empilhando em matrizes (adicionando choques):


1
(HJB) ρvt = u(vt ) + A(vt ; pt )vt + Et dvt
dt
dgt
(KF) = A(vt ; pt )T gt
dt

(MC + CPOs) pt = F(gt ; Zt )

(P) dZt = −ηZt dt + σdWt ,

Agora, sistema de 2N + 3 equações em 2N + 3 variáveis.

Variável adicional: Zt , que gera flutuações em pt , que por sua vez, afeta
vt , induzindo mudanças em gt
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 413/419
Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo

Passo 2. Computar uma expansão de primeira ordem de Taylor em torno


do estado escaionário computado no passo 1.

Como Et [dWt ] = 0, pode-se reescrever o sistema acima na forma


matricial:
   
dvt u(vt ) + A(vt ; pt )vt − ρvt
 dgt  
= A(vt ; pt )T gt 
 dt
Et 
 0   F(gt ; Zt ) − pt 
dZt −ηZt

Note que descartamos informação sobre dWt , mas como linearizaremos


esse sistema, é sem perda de generalidade (equivalência a certeza).

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Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo

Passo 2. Computar uma expansão de primeira ordem de Taylor em torno


do estado escaionário computado no passo 1.

Insight! Versão aproximada dos modelos com agentes heterogêneos gera


um sistema de muitas equações, mas que têm a mesma estrutura dos
modelos com agente representativo (com poucas equações). Exemplo:

vt são “jump variables”, assim como o Ct num modelo RBC.

gt são estados endógenos, assim como o Kt num modelo RBC.

Zt é uma variável de estado exógena nos dois casos.

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Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo

Passo 2. Computar uma expansão de primeira ordem de Taylor em torno


do estado estacionário computado no passo 1.

Como a dimensão do sistema é grande, não é possı́vel linearizar


analiticamente. Necessidade de métodos numéricos.

Expansão de Taylor no sistema acima, com variáveis expressas como


desvios do estado estacionário:
    
dv̂t Bvv 0 Bvp 0 v̂t
 d ĝt   Bgv Bgg Bgp 0    ĝt  dt
 
 0 = 0
Et   
Bpg −I BpZ   p̂t 
dZt 0 0 0 −η Zt

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 416/419


Krusell e Smith (1998) em tempo contı́nuo
    
dv̂t Bvv 0 Bvp 0 v̂t
 d ĝt   Bgv Bgg Bgp 0   ĝt 
 0 = 0
Et      dt
Bpg −I BpZ   p̂t 
dZt 0 0 0 −η Zt

Passo 3. Solucionar o sistema de equação diferenciais que sai do passo 2.


Blanchard e Kahn neles (só que em tempo contı́nuo)!

Desafio: dimensionalidade. O fato das matrizes serem esparsas (por


conta da continuidade) permite que essas operações (diferenciação,
inversão, ...) sejam feitas de forma computacionalmente eficiente.

Krussell e Smith (1998): uma variável individual de estado endógena, a.

Com mais de uma variável de estado, custo computacional enorme (tanto


em tempo discreto quanto em tempo contı́nuo). Truque: “model
reduction” (veja Ahn et al, 2018).
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 417/419
Discussão
Avanço hercúleo no ferramental numérico que permite estudar
flutuações em um contexto de agentes heterogêneos.
Apesar da facilidade computacional (e.g., dynare), será que agente
representativo é arcabouço natural para estudar dinâmica agregada?
Exemplo em Ahn et al (2017):
Evidência empı́rica: consumo agregado reage a mudanças
previsı́veis da renda agregada, ao mesmo tempo que é
substancialmente menos volátil que a renda realizada.
Agente representativo não é consistente com essa evidência.
Mas modelo com dois ativos e agentes heterogêneos
parametrizado para replicar a distribuição de renda, riqueza e
propensões marginais a cosumir é consistente.
Outro exemplo (Kaplan, Moll e Violante, 2018): HANK vs RANK
Mecanismo de transmissão de choques de polı́tica monetária
difere substancialmente em ambos os modelos.
Velocidade computacional abre uma nova frente: estimação!
Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 418/419
Discussão

“[...] the representative-agent short cut may both miss a large part of the
story (the distributional implications) and get the small remaining part
wrong (the implications for aggregates).”

Agenda de pesquisa enorme pela frente!

Eduardo Zilberman PUC-Rio Agentes Heterogêneos em Tempo Contı́nuo 419/419

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