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Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais

Tema: Estruturas de mercado


Concorrência imperfeita (aula teórica)
1. Monopólio

A concorrência imperfeita verifica-se num sector de atividade onde existem


vendedores/produtores individuais que detenham alguma parcela de controlo sobre a
produção deste sector. Atualmente é muito difícil uma empresa ter poder absoluto sobre
o preço de mercado.
Uma empresa com poder de mercado, pode vender a um preço ligeiramente acima ou
abaixo do preço médio, um determinado bem existente no mercado, mas não poderá
triplicar o preço ou praticar um preço muito abaixo do mesmo. No primeiro caso,
dificilmente encontraria compradores e, no segundo, correria risco de vir fechar as
portas. Portanto, o poder de mercado pode não ser absoluto. Ele é, na maioria dos casos,
discricionário; varia de sector para sector.
Um caso extremo de concorrência imperfeita é o monopólio. Um monopolista, apesar
de poder determinar as quantidades que irá produzir e o preço a cobrar, não poderá faze-
lo em simultâneo. Se decidir o preço os consumidores decidirão as quantidades que vão
adquirir, se decidir as quantidades, o preço caberá aos consumidores.

Principais características do monopólio


 Existência de um vendedor e muitos compradores
 Não existem substitutos próximos para o bem transacionado
 Grande poder para manter os preços relativamente altos
 Existência de barreira a entrada de outras empresas

Curva de demanda
Uma vez que a empresa é única a atuar no sector, a sua curva de demanda coincide com a curva
de demanda do sector. Ela é negativamente inclinada.
Importa salientar que o monopólio não tem a curva de oferta, devido ao facto de pode vender
diferentes níveis de produção ao mesmo preço, ou, igualmente, poder fixar preços diferentes
para o mesmo nível de produção. Portanto, não existe uma relação biunívoca entre quantidade
e preço. A demanda de mercado é uma restrição para o monopólio.

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Razões para a existência de monopólio
Atualmente são raros os verdadeiros monopólios. Eles surgem porque existem barreiras legais
e economias de escala. As barreiras criam monopólios artificiais e as economias de escala
produzem monopólios naturais. As barreiras legais são impostas pelos governos como forma
de estimular a pesquisa e a inovação que acarretam grandes custos para seus
autores/produtores, para permitir que usufruam, durante algum tempo, do seu esforço (imagine
o esforço e o investimento realizados para a descoberta da vacina contra a covid-19). O
aproveitamento de economias de escala associadas à grande dimensão das empresas, permitem
produzir a custos baixos e, por consequência, vender a preços baixos o que outros concorrentes
não são capazes de fazer. A existência de custos de produção elevados e a existência de
empresas com know-how acumulado e capacidade suficiente inviabilizam a entrada em
determinados sectores de outras empresas no sector (por exemplo, fornecimento de água e
eletricidade).
Maximização de lucro
O objectivo de qualquer empresa é a geração de lucro; de preferência, maximiza-la. O
monopolista escolhe o nível de produção de modo a maximizar o seu lucro, condicionado à
tecnologia existente e aos preços de insumos. No curto prazo, escolhe a quantidade para a qual
a diferença entre a recita total e o custo total é máxima.

= − ; = − = 0; =

> , vai produzir mais para aumentar o lucro.


< , vai produzir menos para aumentar o lucro.
Se
Se

Fig. 1 (fonte: Pindyck &Rubinfeld – Microeconomia.)

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monopolista. Se o produtor se depara com uma demanda inversa linear = − , a
O preço será uma função da demanda (demanda inversa) ou receita média do

= = − , isto é, =
− 2 . De facto,
sua receita margina possui o dobro da inclinação

= = − = −
= −2
A receita marginal pode ser expressa em função da elasticidade preço da demanda:
= ; = + = + = 1+

1
= = 1+ != 1−
ǀ#$ ǀ

=
Como

Podemos escrever:

= 1 − ǀ&
%

, ou ainda,

(=
)
)−
ǀ*+ ǀ

Este último resultado mostra, claramente, que independentemente da estrutura de custo, o

for perfeitamente elástica, i.é., *+ = ∞, teremos ( =


monopolista nunca produzirá no ramo inelástico da sua demanda. Por exemplo, se a demanda
, que a curva de oferta de uma
empresa em concorrência perfeita, que não é, portanto, o caso em estudo.

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Fig. 2
Exemplo:

de produção é constante e igual a 4. A demanda inversa pelo mesmo é dada por = 10 − .


Um monopolista produz certo bem, de acordo com uma tecnologia para a qual o custo marginal

seu preço é igual a 4 e a quantidade 3?


Se o monopolista aplica a regra de mark-up como regra de preço, será correcto afirmar que o

1 1
= = = + 1! = 01 + 1= 01 − 1=
#$ ǀ#$ ǀ

= 4; = = 10 − ; = 10 − 2 ; 4 = 10 − 2 ; =3

7 7 1
= 7; ǀ#$ ǀ = − −1 = ; = 31 − 4 = 7
3 3 7
3
A afirmação é correcta.
O poder do monopólio

a) Índice de Lerner (em homenagem ao economista Abba Lerner)


Mede o poder do monopolista
− 1 1
5= =1− = 1 − 01 − 1=
ǀ#$ ǀ ǀ#$ ǀ

6 varia entre 0 e 1.

quando 5 = 0, o mercado é competitivo (#$ → ∞ .


Quando 5 = 1, o mercado é monopólio.

=
b) Determinação de preço para uma empresa com poder de monopólio:
Tendo em conta que o óptimo no monopólio é e sabendo que
1
= 01 − 1
ǀ#8 ǀ
%
1
%9 !
O mark-up do monopólio é o preço acima do que o monopólio irá cobrar.
ǀ#8 ǀ

elasticidade é igual ou maior que 1 :ǀ#$ ǀ ≥ 1<. Quanto menos elástica a demanda,
Como vemos, o monopolista só trabalha no ramo da curva da demanda na qual a sua

maior o poder do monopólio.

Fontes do poder do monopólio

 Elasticidade da demanda
 Número de empresas no mercado
 Capacidade de formar carteis ou conluio

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 Políticas restritivas de comércio exterior
 Interação entre empresas

Ineficiência do monopólio

Como o monopólio cobra um preço acima do custo marginal : > <, gera uma produção
menor que a da concorrência perfeita 8 = , deixando os consumidores em piores

=+
condições, por isso é ineficiente devido a perda criada. O ónus gerado pelo monopólio é a área
da figura 3.

Fig. 3
Exemplo:

= +
?@
Um monopolista tem uma função de custo médio dada por > A
e a demanda inversa
= 40 − . Encontre o valor do ónus gerado pelo monopolista.
50
= > = + ! = + 50 → = =2

= = 40 − = 40 − → = = 40 − 2

= → 2 = 40 − 2 ; 4 = 40; CDE = 10; CDE = > = = 30;

FCDE = 2 = 2 × 10 = 20
Produção em concorrência perfeita:
= → 2 = 40 − ; HIJ$>KL = 13.3; HIJH$>KL = 40 − 13.3 = 26.7

Ónus gerado:

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− HIJ$>KL − 30 − 20 13.3 − 10
= = 16.5
CDE CDE
2 2
Para resolver:
As funções de custo médio e receita marginal de um monopolista são dadas respetivamente
= + 10 + = 70 − 8 . Encontre o ónus do monopolista.
?@
por > A
e

Descriminação de preço no monopólio


Uma empresa pode adoptar uma estratégia para fixar o preço do seu produto, com base nas
características do mercado, tendo em vista maximizar o seu lucro. Uma empresa em
concorrência perfeita, fixa o preço do seu produto com base no preço vigente no mercado; por
outro lado, uma empresa com certo poder de mercado como monopólio, pode fixar e cobrar
um preço único a todos consumidores por um produto de acordo com o volume da sua
produção. Também pode conseguir cobrar diferentes preços a diferentes consumidores pelo
mesmo produto utilizando uma estratégia conhecida por descriminação de preço. Se ele
consegue descriminar preços, o lucro económico é maior que quando pratica um único preço.
A descriminação pode ser devido à:
 Localização geográfica
 Natureza de produto
 Tipo de consumidor
Exemplo:
Uma empresa com poder de mercado tem a curva de custo total igual a = 10 + 2.

A, enfrenta a curva de demanda O = 170 − 5 O e no mercado B P = 240 − 10 P . Calcule


Suponha que a empresa vende os seus produtos em dois mercados regionais A e B: no mercado

o nível de produção e o preço que maximizam o lucro quando não descrimina preços e quando
descrimina, nas duas regiões. Calcule o lucro em cada caso.
Quando não descrimina preços:

O = P = ; Q = O + P

Q = 170 − 5 + 240 − 10 = 410 − 15 ; Q = 410 − 15


410 − 410 − 410 − 410 − 2
= ; = = ! = ; =
15 15 15 15
=
410 − 2
= 10; 410 − 2 = 150; 2 = 260; = 130
15
410 − 410 − 130
= = ≅ 18.67;
15 15

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Vandas nas regiões A e B:

O 170 − 5 × 1.67 = 76.65; P = 130 − 76.65 = 53.35


410 − 410 − 130
= − = ! − 10 + 2 = × 130 − 10 × 130 − 2
15 15
≅ 1.124,67
Quando descrimina preços:
FO = ; FP =

= 10

O = 34 − 0.2 O; O = O O; = 34 − 0.4 O = 10; O = 60

O = 34 − 0.2 × 60 = 34 − 12 = 22

P = 24 − 0.1 P; P = P P; = 24 − 0.2 P = 10; P = 70

P = 24 − 0.1 × 70 = 24 − 7 = 17

O = O O = 22 × 60 = 1320; P = P P = 17 × 70 = 1190
= 10 O + P + 2 = 10 × 130 + 2 = 1302
= O O + P P − 10 Q + 2 = 1320 + 1190 − 1302 = 1208
A diferença de preços é resultado da elasticidade demanda em cada região: os preços são mais
altos na região A porque a procura é mais rígida que na região B.
Exemplo:
Uma indústria monopolista tem o seu mercado interno protegido da concorrência das
importações. A sua curva de demanda doméstica pelo seu produto é T = 12 − %@U. A empresa
A

exporta para o mercado internacional, a um preço > = 9, independentemente do volume


= 5 + %@, em = T + > . Calcule a quantidade
A
exportado >. O seu custo marginal é
que exporta.
=

+
= + = 12 − ! +9 >; =5 + =5 + +
T T >
T T > >
10 T
20 T >
20
+
= − = 12 − ! +9 − V5 + + W
T T >
10 T > T >
20
X 70 − X 1
=4− − = 0; = ; = 12 − −5− − =0
> T > > T
X > 10 10 T
3 X T 5 T
10 10
70 −
= 40 − >; = 40 − >; = 25
>
T
3 >

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Para resolver:
Considere um monopolista com a função de custo de produção dada por
=5+2
As curvas de demanda na região A e B são respetivamente:

O = 12 − O; P =8− P

Calcule as quantidades e preços para cada região, com e sem descriminação de preços. Calcule
as elasticidades preço demanda para cada região.

Leitura recomendada:
Goolsbee, A.; Levitt, S.; Syverson, C., Microeconomia. 2ª edição. São Paulo. Atlas. 2018.
Krugman, P.; Wells, R., Microeconomia: uma abordagem moderna. 3ª edição. R.J. Elsevier.
2015.
Microeconomia. Compendio. Disponível em: www. iscap.pt/~a saraiva.
Pindyck, R.; Rubinfeld, D., Microeconomia. 8ª edição. São Paulo. Pearson Education. 2013.
Varian, H. Microeconomia: uma abordagem moderna. 9ª edição. Rio de Janeiro. Elsevier.
2015.

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