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Marcelino de Souza (Coordenador)

Alice Munz Fernandes (Organizadora)


Caeverton de Oliveira Camelo (Organizador)

Anais do V Simpósio da Ciência do Agronegócio

26 e 27 de outubro, 2017
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

CEPAN/UFRGS
Porto Alegre – 2018
Comissão Organizadora do Evento – 2017

Coordenação:
Prof. Marcelino de Souza

Organização:
Alexandre Afonso Meyer Fabiano da Silva Ferreira
Alice Munz Fernandes Heitor Vieira Rios
Profª. Ana Cláudia Machado Padilha Jamir Rauta
Ana Paula A. Lima Ferreira Prof. Jefferson Andronio Ramundo Staduto
Andreia Maria Liberalesso Juliano Garrett Galvão
Ângela Cristina Alberello Marins Profª. Kelly Lissandra Bruch
Caeverton de Oliveira Camelo Profª. Leticia de Oliveira
Cainã Lima Costa Lucas Teixeira Costa
Caroline Brasil Saraiva Maria Antônia Ramos Pires
Caroline Soares da Silva Marco Siegmundo Goldmayer
Prof. Christian Bredemeier Marcos Vinícius Araujo
Claussia Neumann da Cunha Martiele Cortes Borges
Débora Tonon Scheiner Miguel Angel Chinchon Perez
Deise de Oliveira Alves Rodinaldo Severo Goularte
Prof. Edson Talamini Tiago Reginaldo Zagonel
IMPORTANTE
Todo conteúdo, direitos autorais, formato de publicação, eventuais erros e divergências de
conceitos são de plena responsabilidade dos autores. A comissão organizadora deste evento
está apenas reproduzindo de forma integral os arquivos submetidos.
SUMÁRIO

Aplicação de Técnicas de Mineração em Dados de Propriedades Leiteiras do Município de


Derrubadas – RS………………………………………………………………………………….08

Colaboração Científica: uma análise evolutiva de redes sociais no Simpósio da Ciência do


Agronegócio……………………………………………………………………………………...16

Reflexos e Contribuições do Big Data nas Atividades Agrícolas…………………………………24

Alimentos Orgânicos e o uso da digitalização na agricultura……………………………………..32

Previsão da Produtividade de Pastagens a partir de Indicadores de Solo………………………….40

Análise da transmissão de preços entre a taxa de câmbio para o preço internacional do complexo
soja (2000-2017)………………………………………………………………………………….49

Mercado e formação do preço dos herbicidas no Brasil: uma análise econométrica com base em
informações primárias coletadas na Mesorregião Noroeste Rio-Grandense……………………...57

ANÁLISE DE CUSTOS E VALOR AGREGADO EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS DE


BASE ECOLÓGICA – SAFEs…………………………………………………………………...65

SISTEMA INTEGRADO: A AVICULTURA E A SUINOCULTURA NA VISÃO DOS


CONTRATOS……………………………………………………………………………………74

Custos de produção e rentabilidade da soja e do milho: estudo de caso comparativo em propriedade


rural familiar com uso do TDABC………………………………………………………………..81

ASPECTOS ECONÔMICOS DA SILAGEM DE DUAS CULTIVARES DISTINTAS EM


COMPARAÇÃO AO RETORNO ECONÔMICO COM A PRODUÇÃO LEITEIRA…………..89

ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE SUCO DE


LARANJA: 1997-2013……………………………………………………………………….......95

ANÁLISE ECONÔMICA PARA UMA PROPRIEDADE RURAL NO MUNICÍPIO DE


TUCUNDUVA-RS……………………………………………………………………………...103

A geração de empregos formais pela cadeia produtiva da soja no Rio Grande do Sul no período
2002- 2015………………………………………………………………………………………111

A Influência do Ambiente Institucional no Desempenho das Indústrias Ervateiras: Um Enfoque


sob a Economia dos Custos de Transação………………………………………………………119

A Ecoeconomia e os Alternative Food Movements……………………………………………...127


AGRIBUSINESS no Brasil – Sua história e reflexões para a atualidade………………………...133

Gestão do conhecimento no setor agrícola: uma análise bibliométrica…………………………..140

PERFIL SOCIOÊCONOMICO DO SERICICULTOR DO MUNICÍPIO DE DIAMANTE DO


SUL – PR………………………………………………………………………………………..148

ANÁLISE DA EXPANSÃO DA SOJA NO CONTINENTE AFRICANO: UMA PERSPECTIVA


HISTÓRICA…………………………………………………………………………………….156

ANÁLISE DOS AVANÇOS DA PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NO MERCADO


INTERNACIONAL DE SOJA EM GRÃOS……………………………………………………163

A informação ao longo da cadeia de suprimentos no agronegócio: uma abordagem


comunicacional………………………………………………………………………………….170

Bem-estar animal no Brasil: oportunidades para a cadeia das carnes……………………………178

Impactos do aumento de capital na terra na produção e exportação de soja……………………...186

Panorama do setor leiteiro brasileiro nos últimos anos…………………………………………..194

EVIDÊNCIAS DO SETOR LÁCTEO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – BRASIL...200

PRODUÇÃO DE ERVA-MATE NO RIO GRANDE DO SUL E A PRÁTICA DA


SUSTENTABILIDADE: Uma proposta de modelo para avaliação da prática, a partir da Gestão do
Conhecimento e o Processo de Aprendizagem Organizacional………………………………….208

O estado da arte do consumo vegano na produção científica internacional……………………...214

Caracterização e eficiência ambiental da cadeia de suprimentos de uma empresa de reciclagem de


materiais recicláveis em Aparecida do Taboado – MS…………………………………………..221

Avaliação do impacto da adoção de boas práticas agropecuárias no manejo de ordenha sobre a CBT
e CCS do leite……………………………………………………………………………………230

Energia Eólica e o Agronegócio: Relações e Contribuições para o Desenvolvimento


Socioeconômico Sustentável……………………………………………………………………236

Matriz de indicadores de sustentabilidade para produção de bovinos de corte no Rio Grande do


Sul……………………………………………………………………………………………….243

Sustentabilidade como fator de tomada de decisão, no agronegócio…………………………….249

Grasslands Ecosystem Services: a systematic review…………………………………………...257


Índice de Sustentabilidade e Desempenho Organizacional (ISDOR): uma análise a partir de
indicadores socioeconômicos de uma cooperativa agrícola……………………………………..265

Agroindústria familiar rural, diversidade e alimentos: um estudo no município de Constantina-


RS……………………………………………………………………………………………….273

ANÁLISE DA CAPACIDADE DISPONÍVEL DE PRODUÇÃO DE PÃES CASEIROS EM


AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES…………………………………………………………..281

Análise da cooperação nos arranjos cooperativos do agronegócio: o caso dos produtores rurais
associados às cooperativas do norte do RS………………………………………………………289

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS COMO ESTRATÉGIAS DE DIVERSIFICAÇÃO E


FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR……………………………………..297

APOSENTADORIA RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR……………………………..305

O papel das redes sociais para o desenvolvimento local: um estudo na Rede de Cooperativas da
Agricultura Familiar……………………………………………………………………………..313

E-commerce como canal de comercialización de productos orgánicos: estudio de caso del proyecto
“Ecomercado-Perú”……………………………………………………………………………..321

A utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação por agricultores da Feira


Agroecológica de Mossoró – RN………………………………………………………………..327

O PROCESSO DECISÓRIO NA TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA DOS AGRICULTORES


DE UMA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA………………………………………………..335

A importância social da agricultura familiar no território brasileiro……………………………..343

ANÁLISE DOS EFEITOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E


NUTRICIONAL A PARTIR DE INDICADORES DA FAO…………………………………...350

A RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E OS VALES DA UVA


GOETHE………………………………………………………………………………………..358

Uso da Terra e Diversificação Agrícola no Sul do Brasil………………………………………...366

Enoturismo e o desenvolvimento territorial sustentável: o caso do vale dos vinhedos…………..374

POSSIBILIDADES DE ALTERNATIVAS DE DIVERSIFICAÇÃO DOS MEIOS DE


SUSTENTO NO MEIO RURAL: ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE TURISMO NA CANTINA
BORDIGNON…………………………………………………………………………………..382

Malha rodoviária como proxy de desenvolvimento rural………………………………………..390


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Aplicação de Técnicas de Mineração em Dados de Propriedades Leiteiras


do Município de Derrubadas - RS
Luciano Moraes da Luz Brum1, Vinicius do Nascimento Lampert2, Sandro da Silva
Camargo3, Fábio André Eickhoff4
1
Mestrando no Programa de Pós-graduação em Computação Aplicada (PPGCAP), lucianobrum@unipampa.
edu.br
2
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e Docente no Programa de Pós-Graduação em
Computação Aplicada (PPGCAP)
3
Docente no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada (PPGCAP) e no Curso de Engenharia de
Computação da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
4
Engenheiro agrônomo e extensionista agropecuário da Associação Riograndense de Empreendimentos de
Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER/RS

Resumo. Os avanços da tecnologia e dos dispositivos de armazenamento de dados proverão um grande volume
de dados. Os desafios surgem quando é necessário extrair informações destes dados brutos que sejam relevantes
e uteis na tomada de ações e em processos decisórios. Neste presente trabalho é abordado o uso de técnicas de
mineração de dados para a análise de indicadores de dimensões econômica, social, ambiental e produtiva de
propriedades rurais de um município da região noroeste do Rio Grande do Sul. 54 propriedades rurais do
município de Derrubadas foram escolhidas para este estudo de caso por serem consideradas como prioritárias
para intervenção com políticas públicas. O propósito é construir um modelo preditivo que determine o índice de
desenvolvimento das unidades de produção que um produtor de leite se enquadra com base nos valores dos
indicadores e determinar quais destes são os mais relevantes nesta categorização. Os resultados deste trabalho
podem apontar as razões das altas ou baixas médias de produção de leite deste município, direcionando ações e
políticas públicas que auxiliem os produtores de leite.
Palavras-chave: Propriedades, mineração, indicadores.

Application of Data Mining Techniques in Data of Dairy Farms of the city


of Derrubadas - RS
Abstract. Advances in technology and data storage devices have provided a great volume of data. Challenges
arise when it is necessary to extract information from these raw data that is relevant and useful in taking actions
and in decision-making processes. In this work, the use of data mining techniques for the analysis of indicators of
economic, social, environmental and productive dimensions of rural properties of a city in the northwestern region
of Rio Grande do Sul is approached. 54 rural properties in the city of Derrubadas were chosen for this case study
because they are considered as priorities for intervention with public policies. The purpose is to construct a
predictive model that determines the development index of the production units that a milk producer fits based on
the values of the indicators and determine which of these are the most relevant in this categorization. The results
of this work can point out the reasons of the high or low average of milk production of this municipality, directing
actions and public policies that assist the milk producers.
Keywords: Properties, mining, indicators.

1 Introdução

No Brasil, a atividade leiteira é uma atividade econômica de fundamental importância.


Esta atividade possui um grande potencial de crescimento para os próximos anos, onde as taxas
de crescimento anuais podem ficar entre 2,6% e 3,4%, correspondendo a 44,7 bilhões de litros
de leite produzidos até o fim das projeções (BRASIL, 2014). A figura 1 apresenta a produção
média de leite no Brasil entre 2013 e 2015. De acordo com o Atlas Socioeconômico do Rio
Grande do Sul (2017), o estado de Minas de Gerais é o maior produtor com 27% do total e o
Rio Grande do Sul (RS) é o segundo produtor nacional com cerca de 13% da produção ou 4,6
bilhões de litros em média no triênio 2013-2015.
A produção de leite no RS tem uma importância notória. Existem pelo menos 173.706
propriedades rurais que produzem alguma quantidade de leite. A produção destinada à indústria
Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

equivale a R$ 4,2 bilhões por ano, o que representa R$ 8,5 milhões por ano para cada um dos
497 municípios gaúchos. O volume total de leite é de 4,5 milhões de litros de leite. Cada
propriedade no RS gera em média uma renda estimada em R$ 2.210, 48 por mês (EMATER,
2017). A produção de leite é a condição de atividade estratégica para a agricultura familiar, por
colaborar para o desenvolvimento de muitas regiões do RS, pelo importante papel na
composição da renda dos agricultores/as no processo de desenvolvimento econômico e social
do país (EMATER, 2013).
A pecuária de leite, além de sua grande importância econômica, apresenta aspectos
sociais relevantes, em função principalmente de proporcionar condições de vida e trabalho para
uma grande quantidade de famílias no meio rural. Na Região Noroeste há uma preocupação
com relação ao êxodo rural e ao futuro dos agricultores familiares, já que na maioria dos casos
a sucessão familiar está muito ameaçada (SILVA et al., 2016). Esta região é a principal
produtora de leite do estado (Figura 2).
Nesta região observa-se que os agricultores que estão localizados no Corede Celeiro
(Figura 3) estão entre os mais pobres do estado. Em torno de 11% das famílias de baixa renda
ou de extrema pobreza estão no meio rural. O que reforça o entendimento do alto grau de
pobreza deste Corede é a posição que os municípios ocupam no ranking do PIB estadual. Neste
Corede estão os municípios com os piores índices do estado.
Neste sentido, a Emater/RS realizou um diagnóstico de propriedades com agricultura
familiar atendendo a chamada pública SAF/ATER nº 07/2013, Lote 23 da secretaria da
agricultura familiar vinculada ao ministério do desenvolvimento agrário com vistas ao
desenvolvimento sustentável das Unidades de Produção Familiar com atividade leiteira
identificadas como prioritárias. O trabalho contou com uma equipe de extensionistas vinculados
aos 24 escritórios municipais (Figura 4) - correspondendo aos municípios integrantes deste Lote
- bem como técnicos do escritório regional de Ijuí, além do apoio de técnicos do Escritório
Central. Os fatores econômicos não são os únicos que podem garantir a permanência do
produtor na atividade. Apesar da sua importância, segundo Ferraz (2003), na avaliação da
sustentabilidade outras dimensões devem ser consideradas a fim de que por meio de indicadores
possam ser analisados os fatores intrínsecos da atividade em cada uma dessas dimensões e
também de suas inter-relações. A carência de indicadores que auxiliem no planejamento dos
agricultores e entre os técnicos constitui um dos grandes desafios a serem superados pela
pesquisa (MARCO REFERENCIAL EM AGROECOLOGIA, 2006).
Neste sentido, para realização deste estudo foi utilizada a versão beta do método para
análise sistêmica e evolução temporal de indicadores que está em fase de desenvolvimento e
validação pela Embrapa e Emater/RS. O método tem como objetivo permitir identificar os
gargalos e principais aspectos que estão estagnados e não avançam; aumentar a eficiência na
coleta, registro e processamento das informações e melhorar o conhecimento sobre territórios.
Na sua concepção serão criados parâmetros específicos que permitem verificar o
comportamento instantâneo e a dinâmica de variação dos indicadores ao longo do tempo.
Espera-se também que as informações geradas pelo instrumento constituam um subsídio
importante para a ação da assistência técnica e extensão rural (ATER), e para trabalhos de
pesquisa que buscam sistemas de produção mais sustentáveis.

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Figura 1: Produção de leite no Brasil 2013-2015 Figura 2: Produção de leite no RS 2013-2015

Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul,
2017. 2017.
Figura 3 - Mapa do Corede Celeiro Figura 4 - Localização geográfica dos municípios
pertencentes ao Lote 23 da Chamada Pública
SAF/ATER nº 07/2013.

Fonte: Emater (2013). Fonte: Emater (2013).

Este método surgiu com uma demanda da Emater/RS a partir da necessidade de


interpretar as centenas de questionários dos diagnósticos obtidos com a chamada leite. Eram
muitos dados e era complexo a análise comparativa entre propriedades ao longo de três anos.
Na presente pesquisa, foi escolhido o município de Derrubadas-RS para essa análise por
ser um dos pioneiros na coleta de dados usando esta metodologia e por pertencer às regiões
prioritárias quanto à intervenção e estabelecimento de políticas públicas, apresentado um
desafio em elaborar estratégias de inclusão social e produtiva desses agricultores familiares
nestes municípios onde o êxodo rural e população vem diminuindo mais rapidamente nos
últimos anos.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

A partir do Índice de Desenvolvimento das Unidades de Produção Familiar (ID-UPF)


proposto no método, o propósito deste trabalho foi identificar quais os aspectos dentre as
dimensões social, econômica, produtiva e ambiental tiveram maior influência para que algumas
propriedades tivessem melhores ou piores índices. Para isso, serão executadas as etapas do
processo de Descoberta de Conhecimento em Banco de Dados (DCBD) (FAYYAD,
PIATETSKY-SHAPIRO e SMYTH, 1996). Os resultados podem ser importantes para auxiliar
na definição de estratégias de intervenção nas propriedades com atividade leiteira carentes no
município de Derrubadas-RS.
Este trabalho está estruturado em 4 seções, incluindo esta introdução apresentando um
panorama histórico da produção de leite na região. A seção 2 aborda a metodologia adotada no
trabalho. A seção 3 revela os resultados obtidos após a aplicação das técnicas de mineração de
dados e uma breve discussão. A seção 4 apresenta as considerações finais deste trabalho e, logo
após, as referências bibliográficas que embasaram este estudo.

2 Material e Métodos

O município de Derrubadas está localizado na região noroeste do estado do Rio Grande


do Sul, possui população estimada em 3.190 habitantes de acordo com o último censo e uma
área territorial de 361 km² (IBGE, 2010). Derrubadas caracteriza-se por uma agricultura
familiar composta por 676 famílias, das quais 285 produzem leite comercialmente, através de
um rebanho de 3.226 vacas ordenhadas e uma produção de 10 milhões de litros anuais
(EMATER, 2017).
A escala de produção dos produtores é baixa, sendo que 36 produtores produzem até 50
litros/dia, 63 produzem de 51 a 100 litros/dia, 42 entre 101 e 150 litros/dia, 47 entre 151 a 200
litros/dia, 27 entre 201 e 300 litros/dia, 13 entre 301 a 500 litros/dia e apenas 07 acima de 501
litros/dia. A adoção de tecnologias é baixa, sendo que apenas 05 produtores fazem controle
leiteiro, 05 produtores fornecem a ração conforme a produção dos animais e 180 usam
inseminação artificial.
Quanto a infraestrutura, 200 produtores contam com local adequado para ordenha, 67
destas salas possuem fosso ou rampa, 67 possuem estrutura para alimentação individualizada e
separada da ordenha. No que ser refere ao sistema de ordenha, 205 usam o balde ao pé, 20 usam
transferidor de leite, 8 usam ordenhadeira canalizada e apenas 2 ordenham manualmente.
Quanto a armazenagem do leite, 230 usam resfriadores de expansão direta e 05 resfriadores de
tarro. Para limpeza dos equipamentos 135 usam água aquecida.
As principais dificuldades relatas são a falta ou a deficiência de mão-de-obra,
dificuldade de acesso ao crédito, baixa escala de produção, condução da atividade realizada de
forma pouco profissional; processos de gerenciamento e planejamento pouco aplicados; baixa
qualidade do leite; baixa produtividade e rentabilidade; pouco uso de tecnologias e geração de
renda mensal insatisfatória.
Portanto, para atingir o objetivo deste trabalho, foram coletados dados de produtores de
leite, englobando 36 indicadores, sendo na dimensão social: políticas públicas, satisfação,
energia elétrica, estradas, independência de insumos e facilidade do trabalho; na dimensão
econômica: renda familiar per capita, gestão econômica, potencial de produção, estoque de
semoventes, diversidade de atividades, participação do leite na renda e independência
financeira; na dimensão ambiental: manejo do esgoto, manejo do lixo orgânico, manejo do lixo
inorgânico, manejo de embalagens, manejo de dejetos de animais, manejo de resíduos agrícolas,
manejo do solo, conservação do solo, adequação da reserva legal, adequação app e manejo da
pastagem e na dimensão produtiva: disponibilidade hídrica, potencial produtivo, diversificação
de forrageiras, grau de intensificação, melhoramento genético, precocidade de novilhas,
intervalo entre partos, eficiência na reconcepção, sanidade do rebanho, produção diária de leite,

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produção de leite por vaca e controle leiteiro. Esses indicadores foram uma amostra dos
presentes no questionário que foram selecionadas pela Emater a fim de abastecer o método em
desenvolvimento. Essas informações foram armazenadas e processadas por uma planilha em
Excel.
A aquisição dos dados foi feita com o objetivo de extrair características ou reconhecer
padrões sobre estes produtores. Para a extração de padrões, foram utilizados classificadores.
Para a construção dos classificadores, foram executadas as etapas do processo de DCBD através
da IDE (ambiente de desenvolvimento integrado) RStudio e da linguagem R (FAYYAD,
PIATETSKY-SHAPIRO, SMYTH, 1996). O RStudio é uma ferramenta open source que
funciona nos sistemas operacionais Linux, Windows e Mac OS (RStudio, 2017). Ela possui
ferramentas e bibliotecas para plotagem de gráficos, cálculos estatísticos, além de diversos
algoritmos de mineração de dados.
O pré-processamento de dados constitui as etapas iniciais do processo de DCBD.
Apenas foram executadas as etapas 1, 3 e 4. A etapa 2, integração dos dados, não foi executada,
pois tem-se como única fonte de dados uma planilha eletrônica (.xls). O público-alvo da
pesquisa foram 60 produtores de leite do município de Derrubadas no ano de 2014 e 54 nos
anos de 2015 e 2016. Neste trabalho, foram analisados apenas os dados do ano de 2016.
Inicialmente, os indicadores coletados foram normalizados em valores de 0 a 1 através
de um processo de interpolação com valores de referência da região obtidos com especialistas.
O objetivo é padronizar os dados para facilitar a análise e visualização dos dados e, ainda,
permite a aplicação de algoritmos específicos de mineração de dados.
A etapa 1 consistiu da limpeza dos dados. Havia uma coluna que não possuía dados
válidos para a análise, portanto, foi eliminada e a planilha foi salva em uma nova versão.
A etapa 3 consistiu da seleção dos dados para análise. Foi utilizado o indicador “ID.UPF”
como variável dependente e o restante dos indicadores como variáveis independentes. O
indicador “ID.UPF” é dependente, pois este é a média ponderada dos outros indicadores.
A etapa 4 consistiu da transformação dos dados em padrões apropriados para análise.
Para efetuar essa etapa, foi utilizado o RStudio e a linguagem de programação R. O indicador
“ID.UPF” foi transformado em dado categórico dividido em três faixas. Para determinar as
faixas de valores, foi analisado o histograma deste indicador no ano de 2016, conforme mostra
a figura 5. As categorias “ALTO”, “MÉDIO” e “BAIXO” foram atribuídas, respectivamente,
às faixas de valores [0.00, 0.55], [0.55, 0.625] e [0.625, 1.00].

Figura 5: Histograma do indicador ID.UPF.

Fonte: Autores, 2017.

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Etapa 5: mineração de dados. Foram utilizados algoritmos de indução de árvores de


decisão para determinar a influência dos diferentes indicadores no “ID.UPF”. Conforme Han e
Kamber (2006), indução de árvores de decisão é o aprendizado das árvores de decisão sobre
atributos categóricos das tuplas de treinamento. Árvores de decisão são utilizadas na tarefa de
classificação. Na literatura, existem diferentes algoritmos para esta tarefa, como o CART, C4.5,
C5.0, ID3, todos adotando estratégias gulosas. Estas foram utilizadas porque não requerem
conhecimento do domínio, são muito utilizados em análises exploratórias de conhecimento,
funcionam bem com dados multidimensionais, a representação final em forma de árvore de
decisão é intuitiva, treinamento e classificação são rápidos e possuem uma boa acurácia (HAN,
KAMBER, 2006).
A interpretação destes resultados pode dar um norteamento na construção de políticas
públicas de auxílio aos produtores de leite com dificuldades neste município, através da coleta,
processamento e interpretação destes dados, auxiliando assim, em processos decisórios.
A acurácia destas técnicas foram determinadas através do 10-fold cross-validation (CV).
O CV produz uma boa estimativa de erro por utilizar todas as informações como treinamento e
teste e tende, em geral, a ter um viés e variância relativamente baixas (HAN, KAMBER, 2006).
4 Resultados e Discussões
Nesta seção, são apresentados os resultados gerados pelos algoritmos de árvores de
decisão, a precisão de cada modelo e uma discussão dos resultados. As figuras 6 e 7 ilustram as
árvores geradas pelos algoritmos rpart e C5.0, respectivamente.
Na figura 6, em cada nó, temos as categorias do indicador ID.UPF indicadas pela cor.
A cor verde indica a maioria das amostras com ID.UPF alto, cinza indica maioria com ID.UPF
médio e vermelho indica maioria com ID.UPF baixo. Quanto maior a intensidade da cor, maior
é a porcentagem de casos naquela categoria. Na figura 7, temos nos nós folhas, o número de
casos naquele nó e a porcentagem de casos nas categorias de ID.UPF. A cor preta indica o nível
baixo, o cinza indica nível médio e o branco indica nível alto deste indicador.
Por ordem de impacto no ID.UPF, o rpart e o C5.0 retornaram os seguintes indicadores:
 Rpart: Presença de estradas, produção diária de leite e potencial produtivo.
 C5.0: Presença de estradas, gestão econômica, potencial produtivo e produção
de leite por vaca.

Figura 6: Árvore de decisão gerada usando o rpart.

Fonte: Autores, 2017.

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Figura 7: Árvore de decisão gerada usando o C5.0.

Fonte: Autores, 2017.

Ambos algoritmos apontam que a dificuldade de acesso à propriedades define todos os


produtores com a média de indicadores no nível baixo. Portanto, a melhoria na acessibilidade
destas propriedades pode influenciar na melhoria geral de todos os outros indicadores,
proporcionando uma maior produtividade e sucesso de produtores de leite. Por outro lado,
seguindo o C5.0, verifica-se que a presença de estradas e produtores que realizam gestão
econômica determina produtores com a média de indicadores mais altas. No caso do rpart, além
da presença de estradas, produtores com altos níveis no indicador produção diária de leite
também possuem altos níveis nos demais indicadores. A produção diária de leite por si só
depende de inúmeros fatores que fogem do escopo deste trabalho. Portanto, nestes resultados,
destacam-se a importância da gestão econômica, produção diária de leite e a acessibilidade em
propriedades produtoras de leite de Derrubadas. A figura 8 apresenta um gráfico com os
indicadores apontados como relevantes pelos algoritmos, confirmando visualmente os
resultados gerados.

Figura 8: Relação entre Produção diária de leite, condições das estradas, gestão e ID.UPF.

Fonte: Autores, 2017.

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Foram obtidas as seguintes acurácias utilizando o método 10-fold cross-validation:


 Algoritmo rpart: Precisão de 63,33%.
 Algoritmo C50: Precisão: de 65,33%.
O algoritmo C5.0 produz um resultado com uma melhor acurácia em comparação com
o rpart. Portanto, a confiabilidade dos resultados é maior no C5.0.

5 Considerações Finais

Neste trabalho foi analisada a influência dos indicadores no ID.UPF. Pôde-se concluir
que produtores que tem péssimas e razoáveis condições de estradas tendem a ter níveis mais
reduzidos nos outros indicadores. São necessárias políticas públicas que visem auxiliar tais
produtores de leite neste sentido. Também foi apontado que efetuar a gestão econômica e
possuir alta produção diária de leite, além de boas condições de estradas, determina produtores
com altos níveis, em média, em todos indicadores. Como trabalhos futuros, sugere-se:
 Uma análise mais aprofundada utilizando algoritmos genéticos para efetuar novas
descobertas de relacionamentos entre indicadores.
 Obter mais amostras e dados para otimizar as estimativas dos modelos preditivos.
Referências Bibliográficas
ATLAS SOCIOECONÔMICO DO RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão.
Disponível em: <http://www.atlassocioeconomico.rs.gov.br/leite>. Acesso em: 16 de setembro de 2017.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Projeções do Agronegócio: Brasil 2013/2014 a
2023/2024, Projeções de Longo Prazo. 5. ed. Brasília: MAPA/ACS, 2014. 100p.
EMATER, ASCAR-RS, Relatório socioeconômico da cadeia produtiva do leite no RS. POA, RS, 2017. 64p.
EMATER, ASCAR-RS, projeto de assistência técnica e extensão rural para promoção da agricultura familiar
sustentável na cadeia produtiva do leite. Porto Alegre, RS, 2013. 108p.
FAYYAD, U. M.; PIATETSKY-SHAPIRO, G.; SMYTH, P.; UTHURUSAMY, R. Advances in Knowledge
Discovery and Data Mining. 1996. AI Magazine, v. 17 n° 3, 1996.
FERRAZ, J.M.G. Proposta Metodológica para a Escolha de Indicadores de Sustentabilidade. In: MARQUES,
J.F.; SKORUPA, L.A.; FERRAZ, J.M.G. Indicadores de sustentabilidade em agroecossistemas. Jaguariúna, SP:
Embrapa Meio Ambiente: 2003. p.59-72.
HAN, J.; KAMBER, M. Data Mining: Concepts and Techniques. 2° ed. Morgan Kauf. Publishers, p. 5–7, 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=430632>. Acesso em: 21 de maio de 2017.
MARCO REFERENCIAL EM AGROECOLOGIA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Brasília, DF:
Embrapa Informação Tecnológica, 2006. 70p.
RSTUDIO. RStudio (2017). Disponível em: < https://www.rstudio.com/products/RStudio/> Acesso em: 31 de
agosto de 2017.
SILVA, G. M.; LAMPERT, V. N.; WEILLER, O. H. et al. Indicadores de Sustentabilidade na Visão de
Agricultores Familiares como Instrumento para Gestão de Unidades de Produção com Pecuária de Leite.In:
CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMA DE PRODUÇÃO, 11., 2016, Pelotas.
Abordagem sistêmica e sustentabilidade: produção agropecuária, consumo e saúde: anais. Pelotas: SBSP, 2016.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Colaboração Científica: uma análise evolutiva de redes sociais no Simpósio


da Ciência do Agronegócio
Sandro da Silva Camargo1, Rebeca Einhardt Fiss2, Fabiane Nunes Prates Camargo3, Vinícius
do Nascimento Lampert1

1
Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada (PPGCAP) – Universidade Federal do Pampa
(Unipampa) & Embrapa Pecuária Sul, sandro.camargo@unipampa.edu.br
2
Campus Santana do Livramento - Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSUL)
3
Campus Bagé - Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSUL)

Resumo. Uma das características típicas da pesquisa científica na era do Big Data é a colaboração, a qual tem se
tornado um elemento fundamental para o progresso científico em diversas áreas do conhecimento humano.
Mensurar o nível destas colaborações é uma tarefa complexa, cujo custo computacional cresce exponencialmente
em função do escopo que se deseja analisar. O presente artigo visa apresentar uma abordagem para identificar e
analisar a evolução da rede de colaboração entre instituições no escopo da pesquisa na ciência do agronegócio no
país, a partir da análise dos artigos publicados nos anais do II, III e IV Simpósio da Ciência do Agronegócio,
ocorridos nos anos de 2014, 2015 e 2016 respectivamente. A abordagem utilizada envolveu a aplicação de técnicas
de Visualização de Dados e Análise de Redes Sociais. As redes de colaboração geradas permitiram identificar o
comportamento histórico das instituições no contexto do Simpósio, enfatizando a característica
predominantemente endógena do evento e a sua dependência da produção oriunda da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Espera-se que os resultados aqui apresentados possam fornecer elementos para auxiliar a
organização do Simpósio a aprimorar suas ações de planejamento estratégio e divulgação das próximas edições.
Palavras-chave: Redes, E-science, big data, UFRGS.

Scientific Collaboration: an evolutionary analysis of social networks in the


context of agribusiness science
Abstract. One hallmark of scientific research in the Big Data era is collaboration, which has become a key
element in scientific progress in many areas of human knowledge. Measuring the level of these collaborations is
a complex task whose computational cost grows exponentially according to the scope to be analyzed. The present
article aims to present an approach to identify and analyze the evolution of the collaboration network between
institutions within the scope of research in agribusiness science in the country, based on the analysis of articles
published in the proceedings of II, III and IV Symposium on Agribusiness Science, which occurs in 2014, 2015
and 2016 respectively. The approach used involved the application of Data Visualization and Social Network
Analysis techniques. Collaboration networks identifyed has allowed to identify the historical behavior of the
institutions in the context of the Symposium, emphasizing the predominantly endogenous characteristic of the event
and its dependence on the production of Federal University of Rio Grande do Sul. Results presented herein are
expected to provide elements to assist the organization of the Symposium to improve its strategic planning actions
and dissemination of the next editions.
Keywords: Networks, E-science, big data, UFRGS.

Introdução

A colaboração em pesquisa tem se tornado uma atividade fundamental para o progresso


da ciência por melhorar a comunicação entre grupos de pesquisadores, permitindo o
compartilhamento de competências e recursos, e facilitando a produção de novos
conhecimentos científicos (CAMARGO et al., 2017). Mensurar o nível de colaboração entre
membros de uma comunidade é uma tarefa complexa, que pode ser feita de várias maneiras
distintas. Dentre elas, a forma mais evidente de colaboração é a coautoria em publicações, que
tem sido frequentemente utilizada como um parâmetro confiável para a mensuração dos níveis
de colaboração (SU, 2010).

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A fim de avaliar a colaboração na área de agronegócio no país, foi delimitado o contexto


do Simpósio da Ciência do Agronegócio, que é um evento sediado nas dependências da
Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 1 . Este
evento tem como objetivo reunir pesquisadores, estudantes e interessados no assunto, a fim de
promover o intercâmbio, a divulgação e o estímulo à produção de conhecimento e de soluções
que contribuam para o desenvolvimento de novas ideias, iniciativas e a construção de alianças
para a inovação e a sustentabilidade no agronegócio. O Simpósio é um evento anual que está
na sua quinta edição, sendo promovido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios
(CEPAN) da UFRGS.
Na literatura, podem ser encontrados diversos trabalhos de aplicação da abordagem de
Análise de Redes Sociais, ou Social Network Analysis (SNA), para a identificação das redes de
colaboração em pesquisa a partir de dados de publicações científicas. Camargo et al. (2017)
construíram e analisaram a rede de colaboração em Informática Agropecuária no Brasil, a partir
da análise dos 139 trabalhos publicados nos Anais X Congresso Brasileiro de Agroinformática,
ocorrido em 2015. Como resultado, foram identificadas as principais instituições de pesquisa
na área e suas inter-relações. Já Yu e Wang (2016) construíram e analisaram uma rede de
colaboração, a partir de mais de 10.000 publicações anteriores a 2015, com um foco restrito a
dispositivos médicos regenerativos implantáveis. Os autores analisaram o processo de evolução
da rede e o estado corrente da colaboração. Como resultado, foi evidenciada a escassa
colaboração entre instituições, o potencial de fortalecimento da interação entre diferentes
países, e que as instituições nas extremidades da rede poderiam aprimorar sua colaboração e
compartilhar suas descobertas com outras instituições mais centrais. Como outro exemplo
relevante, Wu e Duan (2015) mediram as atividades de colaboração científica em pesquisa
psiquiátrica a nível de autores, instituições e países. Para isso, foram consultados mais de
36.000 artigos. Dentre os resultados, foi sugerido que a colaboração pode oferecer evidências
científicas e sugestões razoáveis para embasarem a criação de políticas para guiarem o
financiamento da pesquisa no futuro, na área do trabalho. Por fim, Cechinel (2013) fez uma
análise da evolução da colaboração científica entre países durante os primeiros sete anos da
Conferência Latino-Americana de Objetos e Tecnologias de Aprendizagem. O autor sugeriu
que os resultados poderiam auxiliar a comunidade a estabelecer políticas focadas na integração
de países que ainda não estavam bem conectados dentro da comunidade.
Estimulado pela análise dos resultados de trabalhos correlatos, o presente estudo visa
identificar e apresentar a rede de colaboração entre as instituições de pesquisa brasileiras na
área de Ciência do Agronegócio, tomando-se por base os artigos publicados nos Anais das
edições anteriores do Simpósio de Ciência do Agronegócio. O estudo se propõe a apresentar, a
partir de evidências de coautorias de artigos, quais instituições exercem papel de destaque na
área. Como impactos esperados, almeja-se que a rede de colaboração aqui identificada permita
que a própria comunidade possa conhecer-se melhor a partir da identificação de seus membros
e colaborações, e que outras instituições interessadas em começar a desenvolver pesquisas nesta
área possam, a partir do conhecimento de quem são os membros chave, buscar parcerias para
ingresso na rede de pesquisa.
O restante do artigo está organizado da seguinte forma: A Seção Material e Métodos
apresenta uma breve descrição quantitativa da base de dados utilizada para este estudo e a
abordagem de Análise de Redes Sociais aplicada. A Seção Resultados e Discussão apresenta
os resultados obtidos a partir da análise dos dados e as redes de colaboração identificadas. A
Seção Conclusões apresenta um resumo das descobertas, as restrições da abordagem utilizada
e as perspectivas de trabalhos futuros.

1 https://www.ufrgs.br/cienagro/

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2 Material e Métodos

O presente trabalho utilizou como base os 180 artigos publicados nos Anais do II, III e
IV Simpósio de Ciência do Agronegócio, que estão disponíveis no site do evento 2 . Neste
conjunto de artigos, foram identificados através de uma abordagem não automática: 57
instituições ou empresas sediadas em 13 estados brasileiros, além de duas instituições da
Argentina. Um artigo com autores de duas ou mais instituições diferentes foi considerado como
produto de uma colaboração, de acordo com a abordagem utilizada em Camargo et al. (2017)
e Newman (2004). Tendo-se um artigo qualquer com n instituições, onde n ≥ 2, para a
abordagem de Redes Sociais foram consideradas como colaboração todas as combinações das
n instituições, agrupadas 2 a 2, totalizando Cn,2 colaborações.
Para a visualização interativa de dados georeferenciados foi utilizada a API(Application
Programming Interface) Google Charts 3 , que é um serviço gratuito oferecido pela Google
(ZHU, 2012).
Para a representação das colaborações na forma de uma rede social, foi utilizada a
ferramenta Gephi 0.9.14, que é uma ferramenta gratuita e de código aberto para criação, análise
e exploração de redes complexas (BASTIAN; HEYMANN; JACOMY, 2009). A aplicabilidade
das Redes Sociais para análise de colaboração em uma rede de pesquisa deve-se ao fato de elas
serem uma metáfora amplamente utilizada para representar as relações entre membros de uma
comunidade. A abordagem de Análise de Redes Sociais é um conjunto de técnicas focada no
estudo de uma estrutura social, considerando primariamente os dados dos relacionamentos e o
contexto social dos membros, em detrimento das propriedades dos próprios membros (OTTE;
ROUSSEAU, 2002).
Seguindo a abordagem de Análise de Redes Sociais, uma rede de colaboração pode ser
representada na forma de um Grafo G(N, A), onde N é o conjunto de nós, que aqui representam
as instituições de ensino ou pesquisa, e A é o conjunto de arestas, tendo-se que cada aresta az é
um subconjunto de N com apenas dois elementos (NEWMAN, 2010). O tamanho do nó é
diretamente proporcional ao número de artigos em que algum filiado da instituição foi coautor.
As arestas do grafo foram definidas por A(nx, ny) onde nx e ny são instituições parceiras em um
artigo publicado. Para cada vez em que um par de instituições parceiras se repete, a espessura
desta aresta é incrementada no grafo.
A Figura 1a apresenta uma análise preliminar da quantidade de colaborações
identificadas nos 180 artigos publicados nas últimas três edições do Simpósio, sendo 69 artigos
publicados no ano de 2014, 52 em 2015 e 59 em 2016. Neste contexto, 117 dos artigos foram
escritos por coautores pertencentes a uma única instituição. Com participação de coautores de
duas, três e quatro instituições, foram identificados 45, 15 e 3 artigos, respectivamente. Assim,
verifica-se que em aproximadamente 65% dos artigos publicados não houve colaboração entre
instituições, mostrando o grande potencial para aumento de interação nas pesquisas na área de
Ciência do Agronegócio, no contexto deste evento.

2 https://www.ufrgs.br/cienagro/anais/
3 https://developers.google.com/chart/interactive/docs/
4 https://gephi.org/

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Figura 1 – Quantidade de instituições por trabalho (a) e Quantidade de trabalhos por instituição
(b)

a) b)
Fonte: Autoria própria.

A partir da análise da filiação de cada um dos coautores dos artigos, foi gerada a Figura
1b, que apresenta a frequência de participação das instituições nos artigos publicados. A figura
mostra que a abordagem estatística considerou, como dados discrepantes, as situações da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL), no ano de 2014, tendo participado de 24, 12, 9 e 6 artigos,
respectivamente. No ano de 2015, somente foi considerada discrepante a quantidade de artigos
da UFRGS. Já no ano de 2016, as situações da UFRGS e UFSM, com 28 e 10 trabalhos são
discrepantes. Tomando-se Q1 como o quartil inferior, Q3 como o quartil superior e d como a
distância interquartílica, dada por d = Q3 − Q1, foram considerados como dados discrepantes
aqueles valores menores que Q1 − 1,5d ou maiores que Q3 + 1,5d. A participação das demais
instituições estaria em um patamar estatisticamente aceitável, estando envolvidas com cinco ou
menos artigos.
Assim, meramente a análise estatística da quantidade de participações, já indicaria
evidências das instituições que mais se sobressaem no contexto da pesquisa na área de Ciência
do Agronegócio. A expressiva participação da UFRGS é potencializada pelo fato do evento ter
uma origem endógena na instituição. Tais evidências mostram que o fortalecimento do evento
deve passar pela criação de parcerias com pesquisadores de outras instituições que desenvolvam
pesquisas na área e que possam participar mais ativamente na organização do simpósio.
Foi também realizada uma análise sobre as cidades dos autores principais dos artigos, a
fim de buscar evidências georeferenciadas sobre a pesquisa na área de Agroinformática. Neste
sentido, a Figura 2 permite identificar uma concentração no desenvolvimento de artigos nas
regiões sul e sudeste do país. Artigos produzidos por autores principais das regiões Norte e
Nordeste foram raros. Corroborando com os resultados apresentados na Figura 2, as cidades
com maior contribuição na produção de artigos para o evento foram: Porto Alegre (63 artigos),
Santa Maria (14), Pelotas (11) e Júlio de Castilhos (8). As demais cidades eram representadas
por autores principais de seis ou menos artigos.

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Figura 2 – Cidades das instituições dos autores principais dos artigos de 2014 (a), 2015 (b) e 2016 (c)

a) b)

c)
Fonte: Autoria própria

3 Resultados e Discussão

A rede social apresentada na Figura 3 mostra que o evento tem a dependência de uma
grande rede de colaboração com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul como elemento
mais central, comprovado pelas principais métricas de centralidade de grafos, tais como
Betweenness e Pagerank.
A Figura 3a, referente ao ano de 2014, mostra que 19 instituições fizeram parte da rede
de colaboração da UFRGS e outras 14 instituições, não. As participações da Embrapa, UFSM
e UFPEL também se destacam das demais. São também identificadas três subredes pequenas,
com duas ou três instituições. Outras cinco instituições não participaram de nenhuma
colaboração. Em relação ao peso das colaborações, foram identificadas as colaborações mais
fortes entre a Embrapa e a Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA), com seis
trabalhos. Também foram identificadas colaborações fortes entre Embrapa, UFRGS e UFPEL,
com cinco trabalhos em colaboração entre os três possíveis pares entre estas instituições, três
colaborações UFSM-Unipampa, e duas colaborações entre Embrapa-Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar). Todas as demais colaborações foram fruto de apenas um trabalho.
Já no ano de 2015, a dominância da rede de colaboração da UFRGS foi menos
representativa, contando com colaborações de outras nove instituições. Outras dezesseis
instituições não participam da rede de colaboração principal. São também identificadas outras

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quatro pequenas redes de colaboração, compostas por duas ou três instituições. Como no ano
anterior, outras cinco instituições não participaram de nenhuma colaboração. Em termos de
colaboração, foram identificadas poucas colaborações com dois trabalhos em parceria, sendo
elas UFRGS-Universidade Federal da Grande Dourados, UFRGS-UFSM, UFRGS-UESC e
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)-Universidade Federal do Mato Grosso
(UFMT). Também pode ser enfatizada a ausência de participação da Embrapa, que foi uma das
instituições mais produtivas no ano anterior, e também com maior número de trabalhos em
colaboração. Todas as demais colaborações foram fruto de apenas um trabalho. Em termos
gerais, o evento deste ano apresentou uma menor quantidade de trabalhos publicados e uma
menor quantidade de colaborações
Figura 3 – Redes de colaboração nos anos de 2014 (a), 2015 (b) e 2016 (c)

a) b)

c)
Fonte: Autoria própria

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No ano de 2016, a rede de colaboração da UFRGS tem uma dominância quase completa
sobre os trabalhos publicados nos anais do evento, totalizando colaborações com outras
dezenove instituições. Apenas quatro instituições não faziam parte da rede de colaboração
principal. Em termos de colaboração, foram três trabalhos em coautoria de UFRGS-UFSM, e
dois trabalhos entre Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro)-Centro
Universitário La Salle, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)-Universidade de
Passo Fundo (UPF), Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)-Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), UFRGS-UFGD, UFRGS-Fepagro,
UFRGS-La Salle.
O tamanho dos nodos na figura é proporcional à quantidade de publicações em que a
instituição esteve envolvida. Nodos maiores indicam que a instituição participou que uma
quantidade maior de publicações em relação aos nodos menores. Já a cor do nodo indica a sua
importância dentro do grafo. Cores mais próximas ao amarelo indicam que o nodo tem maior
métrica de betweenness, ou seja, maior importância dentro do grafo. Cores mais próximas ao
verde indicam que o nodo tem menor métrica de betweenness, ou seja, menor importância
dentro do grafo.
Tais análises mostram um claro potencial de incremento dos trabalhos em parceria com
dentre as instituições que já participaram do evento nas últimas edições. A análise da rede social
de pesquisa também permite evidenciar que a maioria das colaborações tem peso baixo,
tipicamente geradas por um único artigo em parceria.

4 Conclusões

Este trabalho apresentou um panorama da evolução da colaboração científica em


Ciência do Agronegócio a partir da identificação da rede de colaboração científica entre as
instituições que tiveram artigos publicados nos anais do II, III e IV Seminário da Ciência do
Agronegócio, cujos eventos se realizaram em 2014, 2015 e 2016. A abordagem aplicada
permitiu identificar a grande dependência do evento em relação aos trabalhos oriundos da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, podendo ser explorada a possibilidade de envolver
outras instituições na organização do evento, de forma a fortalecer parcerias e tornar este
simpósio uma opção reconhecida para publicação de trabalhos na área de Ciência do
Agronegócio. A divulgação do evento dentre as unidades da Embrapa também se mostra uma
opção importante, dada a relevante contribuição nas publicações desta instituição no evento de
2014, que não veio a se repetir nos anos subsequentes. A importância da Embrapa também já é
plenamente reconhecida na área do Agronegócio em virtude de sua ampla rede de colaboração,
conforme evidenciado por Camargo et al. (2017).
Como restrição da abordagem aplicada, destaca-se que parte do trabalho de
identificação das instituições envolvidas nos artigos foi realizada através de uma atividade não
automatizada.

Referências

BASTIAN, M.; HEYMANN, S.; JACOMY, M. Gephi: an open source software for exploring and manipulating
networks. In: International AAAI Conference on Weblogs and Social Media. Menlo Park, California: The AAAI
Press, 2009. v. 8, p. 361–362.
CAMARGO, S. S. et al. Um Panorama da Colaboração Científica na Pesquisa Agroinformática Brasileira. Anais
do Simpósio Brasileiro de Agroinformática (SBIAgro). Campinas, Brasil: 2017.
CECHINEL, C. Scientific collaboration between countries in laclo from a social network analysis perspective. In:
Oitava Conferência Latino-Americana de Objetos e Tecnologias de Aprendizagem. Valdivia, Chile: [s.n.], 2013.
(LACLO 2013).

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

NEWMAN, M. E. J. Coauthorship networks and patterns of scientific collaboration. Proceedings of the National
academy of Sciences of the United States of America, v. 101, n. suppl 1, p. 5200–5205, 2004.
NEWMAN, M. E. J. Networks: An Introduction. New York, NY, USA: Oxford University Press, 2010.
OTTE, E.; ROUSSEAU, R. Social network analysis: a powerful strategy, also for the information sciences. Journal
of information Science, v. 28, p. 441–453, 2002.
SU, Y. F. Study on the Cooperation Network of Spory Research Papers. Shanghai: Shanghai University of Sport,
2010.
WU, Y.; DUAN, Z. Social network analysis of international scientific collaboration on psychiatry research.
International Journal on Ment Health Syst, v. 9, n. 2, Jan. 2015.
YU, S.-Y.; WANG, H.-M. Scientific collaboration: a social network analysis based on literature of animal-derived
regenerative implantable medical devices. Regen Biomater, v. 3, n. 3, p. 197–203, May 2016.
ZHU, Y. Introducing google chart tools and google maps API in data visualization courses. IEEE Computer
Graphics and Applications, v. 32, n. 6, p. 6–9, Nov. 2012.

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Reflexos e Contribuições do Big Data nas Atividades Agrícolas


Alice Munz Fernandes1, Odilene de Souza Teixeira2, Ana Helena Soares da Silva3, Júlio
Otávio Jardim Barcellos4

1
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(CEPAN/UFRGS), alicemunz@gmail.com
2
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
odilene_rs@hotmail.com
2
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ahsdasilva@gmail.com
41
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(CEPAN/UFRGS) e Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
julio.barcellos@ufrgs.br

Resumo. O uso intensivo de dados tende a maximizar o desenvolvimento dos empreendimentos, sobretudo no
contexto agrícola, onde a segurança e a inocuidade alimentar norteiam o desenvolvimento de políticas públicas e
pauta os avanços em ciência e tecnologia. Com vistas à isso, a pesquisa realizada teve por objetivo analisar os
reflexos e contribuições do Big Data nas atividades agrícolas do setor agropecuário e seus agentes. Para tanto,
empregou-se uma revisão sistemática da literatura a partir das publicações científicas disponíveis na base de
dados Web of Science acerca de tal temática. Os resultados obtidos demonstraram que o interesse dos
pesquisadores sobre o tema aumenta anualmente e que as interfaces de tal fenômeno possuem uma abordagem
sistêmica. Também emergiram distintas manifestações do Big Data, como Internet das Coisas, Plataformas da
Web e protótipos. O mapa mental desenvolvido mediante as transformações que este fenômeno provoca (ou
provocará) no setor agropecuário, demonstrou o surgimento de novos modelos de negócios, suporte a tomada de
decisão, desenvolvimento racional de cadeias produtivas, agricultura e pecuária de precisão, inovação
(tecnológica e organizacional) e, consequentemente, vantagem competitiva.
Palavras-chave: Agronegócio. Informação. Pesquisa e Desenvolvimento. Tecnologia.

Reflections and Contributions of Big Data in Agricultural Activities

Abstract. The intensive use of data tends to maximize the development of enterprises, especially in the
agricultural context, where food security and innocuity guides the development of public policies and guides
advances in science and technology. With this in mind, the research carried out was aimed at analyzing how Big
Data's reflexes and contributions in agriculture and livestock. For this purpose, a systematic review of the
literature was made from the scientific publications available in the Web of Science database on this subject.
The results obtained showed that the interest of the researchers on the subject increases annually and that the
interfaces of such phenomenon have a systemic approach. Also emerged distinct manifestations of Big Data,
such as Internet of Things, Web Platforms and prototypes. The mental map developed through the
transformations that this phenomenon provokes (or will provoke) in agriculture has demonstrated the emergence
of new business models, support decision making, rational development of productive chains, agriculture and
precision livestock, innovation (technological and organizational) and, consequently, competitive advantage.
Keywords: Agribusiness. Information. Research and Development. Technology.

Introdução
O desenvolvimento da internet na década de 70 e sua consequente adoção em escala
mundial nos anos 90, maximizaram a geração de dados empresariais, refletindo na
necessidade de gestão e organização para a obtenção de informações utilizáveis. Nesse
sentido, a disponibilidade de grande quantidade de dados pode fornecer subsídios para o
processo decisório e promover vantagem competitiva (CHEN; CHIANG; STOREY, 2012).
O desenvolvimento acelerado de tecnologias fundamentadas na internet promove o
crescimento exponencial de conjuntos de dados, conhecidos como Big Data (XHAFA;
TANIAR, 2015). Nesse sentido, a convergência entre a computação em rede e em nuvem,

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bem como a internet das coisas (HSU; JIN; CAPELLO, 2010) tende a aumentar a escala de
dados em níveis sem precedentes (GUBBI et al., 2013). Assim, paralelamente, tem-se
numerosos desafios e oportunidades (HSU, 2014), ou seja, o Big Data promove o “Big
Impact” (CHEN; CHIANG; STOREY, 2012).
Desse modo, existem benefícios significativos que podem ser obtidos a partir do Big
Data, em âmbito genérico e/ou isolado, em termos de qualidade e desempenho
(HAUPTMAN, 2016). No que concerne as atividades agrícolas, os resultados advindos do
Big Data geralmente são expressos na forma de maximização da produtividade ou de
identificação e correção de falhas e/ou problemas (SENTHILVADIVU et al., 2016).
O Big Data, enquanto fornecedor de dados em tempo real, pode proporcionar uma
análise preditiva acerca de tempo, qualidade do solo e do ar, custos e demais aspectos
concernentes às culturas agrícolas. Nesse sentido, trata-se de uma ferramenta que proporciona
inúmeros benefícios às atividades agropecuárias (JANSSEN et al., 2017), como por exemplo,
agricultura de precisão (SABARINA; PRIVA, 2015).
De acordo com Janssen et al. (2017), os negócios e modelos agrícolas do Século XXI
estão progredindo constantemente mediante o uso intensivo de tecnologia, sobretudo quanto
ao gerenciamento de dados e sua aplicação no processo de decisão. Contudo, tal fenômeno
promove a sofisticação e maximiza a complexidade das fazendas, obrigando o produtor a
igualmente se tecnificar. Caso contrário, o gestor rural não consegue se inserir no mercado de
forma competitiva e ao mesmo tempo lucrativa (PARAFOROS et al., 2016).
Não obstante, a inserção do conceito de Big Data no setor agropecuário também é
considerado como uma forma de responder à crescente demanda e apelos socioambientais,
pautado no tripé do desenvolvimento sustentável (econômico – social – ambiental) (FAO,
2016). Para tanto, tem-se a incorporação de dados acerca dos inputse outputs da produção de
culturas, elasticidade da demanda e oferta, preços das commodities e das tarifas, entre outros
aspectos (KUNG; ZHANG; CHANG, 2017).
Com vistas a isso, a pesquisa realizada teve como objetivo analisar os reflexos e
contribuições do Big Data nas atividades agrícolas. Para tanto, realizou-se uma revisão
sistemática da literatura na base de dados Web of Science, cujo portfólio de estudos
analisados foi obtido mediante a determinação de filtros e critérios de inclusão/exclusão. A
análise de tais publicações foi sintetizada em forma de mapa mental representando as
principais transformações que este fenômeno provoca (ou provocará) no setor agropecuário
mundial.

Procedimentos Metodológicos
A pesquisa realizada configurou-se como qualitativa em relação a sua abordagem e
exploratória no que concerne à sua finalidade, operacionalizada mediante uma revisão
sistemática da literatura. Tal procedimento visa propor premissas fundamentadas a partir do
conhecimento acumulado em determinado conjunto de estudos ou aglomerado de literatura
(GINSBERG; VENKATRAMAN, 1985; VAN AKEN, 2001).
Adotou-se a estrutura pragmática de revisão sistemática da literatura proposta por
Tranfield, Denyer e Smart (2003), composta por três estágios, quais sejam: planejamento;
execução, e; relatórios e divulgação. Cada um destes é integrado por distintas etapas
sequenciais, cujo somatório minimiza a subjetividade e a inserção de vícios implícitos dos
pesquisadores na investigação.
Para compor o portfólio de estudos analisados, realizou-se uma busca na base de dados
Web of Science, adotando como orientação a Lei de Zipf ou Lei do Mínimo Esforço, que

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refere-se a existência ou frequência de aparecimento de determinadas palavras no texto.


Entretanto, por entender que o título, resumo e/ou palavras-chaves contempla a temática
central das investigações, optou-se por tais filtros.
Assim, como critérios de busca, definiram-se os seguintes termos e boleanos: “big
data” and “agricultural”. O tipo de documento selecionado foi artigo, com inglês como idioma
de publicação e o período de busca correspondeu a todos os anos até a data de 21 de agosto de
2017. Desse modo, o portfólio de estudos analisados foi composto por 29 artigos, cuja
distribuição temporal é apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Distribuição temporal das publicações


16
Publicações

11
6
1
2013 2014 2015 2016 2017
Ano

Fonte: resultados da pesquisa.

Observa-se que apesar de Big Data na agropecuária configurar-se como um tema


relativamente recente nas investigações científicas, sua relevância é verificada através do
número de citações. Assim, o conjunto de artigos que compõem o portfólio analisado possui
um total de 78 citações, expresso por meio de uma curva anual ascendente, conforme
demonstra a Figura 2.

Figura 2 – Distribuição temporal das citações


36
Citações

26
16
6
2014 2015 2016 2017
Ano

Fonte: resultados da pesquisa.

Evidencia-se, portanto, o viés de maximização do interesse dos pesquisadores acerca


de tal temática. Todavia, para verificar a forma como esses a abordam nas investigações
empíricas, definiu-se como questão norteadora da revisão a seguinte interrogativa: qual a
contribuição e os reflexos do Big Data nas atividades agrícolas? Após a leitura minuciosa dos
estudos, os resultados foram sintetizados considerando as contribuições específicas do Big
Data em tal contexto, bem como seus reflexos genéricos positivos (forças e oportunidades)
e/ou negativos (fraquezas e ameaças). Por fim, desenvolveu-se um mapa mental
contemplando as principais transformações que esse fenômeno provoca (ou provocará) no
setor agropecuário a partir da forma como atualmente é conhecido.

Resultados e Discussão
Segundo Hofberger et al. (2014) e Tempelman (2015) o Big Data é empregado para
análise da taxa de rotatividade e seleção de genes NB-LRR, bem como para a predição de
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27

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genomas completos. Para os autores, isto possibilita o detalhamento da evolução do escopo


filogenômico de culturas e a identificação e/ou inferência das variáveis causais. Ainda no
âmbito do desenvolvimento genético, os esforços internacionais para a preservação da
biodiversidade e o desenvolvimento da infraestrutura de bioinformática transformam
sementes e demais materiais genéticos em bancos de dados digitais (ALPSANCAR, 2016).
Nesse sentido, ocorre também o avanço no desenvolvimento de sementes e na criação de
grãos (BLAKE et al., 2016).
Moustakas e Evans (2017) realizaram a análise das conexões de ocorrência da
tuberculose bovina através do Big Data. Assim, apontam que este promove a compreensão da
dinâmica espacial e temporal de doenças que acometem culturas e/ou criações. Pautado nos
pilares do desenvolvimento sustentável, o estudo realizado por Huyghe (2014) propõem a
aproximação entre Instituições de Ensino e Pesquisa e empreendimentos rurais como forma
de melhorar o gerenciamento de dados e consequentemente desenvolver os agroecossistemas
do futuro.
Nesse mesmo sentido, Kung, Zhang e Chang (2017) identificaram que o Big Data
pode ser empregado também para a promoção de políticas para energias renováveis, a partir
da gama de dados e informações existentes, sobretudo em relação à commodities. Para Wu et
al. (2017), trata-se de um mecanismo que permite analisar o viés da variação do estoque de
carbono no solo, refletindo, portanto, no aumento da eficiência agrícola.
A partir de uma abordagem direcionada à ambiência tecnológica, há distintas
propostas de plataformas e/ou serviços online para a melhoria das atividades agrícolas. Zhou,
Chen e Chen (2016) desenvolveram um serviço web geográfico para monitoramento da
umidade do solo, cujos benefícios consistem na minimização dos custos com
acompanhamento da agricultura e aumento da produtividade. Já Woodard (2016a) aponta a
aplicabilidade da plataforma Ag-Analytics, ao passo que Shelestov et al. (2017) destacam o
Google Earth Engine (GEE) como mecanismo que utiliza imagens de satélites para realizar o
mapeamento de culturas agrícolas no mundo.
A partir das tendências da produção agrícola e das projeções de aumento populacional
e de alterações climáticas, percebe-se a maximização na demanda por segurança e inocuidade
alimentar (FAO, 2016). Nesse sentido, o monitoramento remoto e análise operacional da seca
possibilitam a adoção de soluções emergenciais em tempo real (DENG et al., 2013;
CAMERON; VIVIERS; STEENKAMP, 2017). Sob o contexto microeconômico e social, a
facilidade ao acesso à informação mediante a sites, possibilita que toda a população tenha
acesso à realidade do mudo, como por exemplo, a disponibilidade de alimentos na África
Subsaariana (FRELAT et al., 2016).
A utilização do Big Data para unificação dos fluxos de informação quanto a produção,
logística e demais aspectos de uma cadeia produtiva, minimiza custos e aumenta a eficiência
operacional, o que fomenta o desenvolvimento ecológico racional das cadeias produtivas
agroalimentares (SHUO, 2017).Também possibilita a disseminação de práticas sustentáveis
ao longo das cadeias (TOLLNER; DOUGLAS-MANKIN, 2016; UCHIDA et al., 2017).
No que concerne à utilização do Big Data nas processos gerenciais, Sonka (2014)
salienta que este provocará alterações nas bases de concorrência de mercado e que seu
impacto no setor agrícola exigirá o desenvolvimento e implantação de inovação
organizacional e tecnológica. Para Peng et al. (2015), o Big Data fornece subsídios para a
formulação de novas políticas de exportação, haja vista a velocidade das informações e as
mudanças nos padrões de consumo.
De acordo com Ayankoya, Calitz e Greyling (2016), o Big Data pode ser empregado
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para identificar parâmetros e padrões que permitam prever a precificação de commodities em


tempo real. Sendo assim, é considerado como uma fonte de vantagem competitiva. Sob essa
perspectiva, Esenam (2017) enfatiza que a agricultura digital e em especial a Internet das
Coisas, provoca a melhoria do desempenho dos sistemas agroalimentares, bem como a
intensificação da segurança ambiental. Todavia, o subdesenvolvimento pode configurar-se
como um entrave para a utilização de tal ferramenta (KSHETRI,2017).
Entretanto, a inexistência de um local de armazenamento de dados onde os
pesquisadores possam interagir ocasiona problemas (WOODARD, 2016b), como duplicações
maciças e dados imprecisos, equivocados e, portanto, inúteis (SHARMA et al., 2016). Tal
situação justifica-se pela dificuldade na captura da heterogeneidade de dados
interdisciplinares e na criação de confiança entre provedores e usuários (LOKERS et al.,
2016). Em paralelo, a existência de disponibilidade prévia de bases de conhecimento
integrado otimizaria a acessibilidade e usabilidade de conjuntos de dados, impactando na
minimização de dispêndios concernentes à aplicativos (DUTTA et al., 2014). Assim, a partir
de sistemas de extensão de ciência e tecnologia dotados de distintas dimensões, a análise e
integração da informação agrícola tende a fomentar o desenvolvimento do setor (CHEN;
ZHANG; TAO, 2017).
Ademais, a aplicação eficiente do Big Data no setor agropecuário, além do
gerenciamento adequado de tecnologias da informação, requer uma sociedade comprometida
com o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, a criação e evolução de novos modelos
agrícolas são pautadas na noção de recursos coletivos, que devem fundamentar um
desenvolvimento transdisciplinar (JANSSEN et al., 2017). Diante disso, a Figura 3 apresenta
o mapa mental desenvolvido a partir das contribuições e reflexos de tal fenômeno nas
atividades agrícolas, sintetizando as transformações destas conforme o exposto nas
investigações científicas analisadas.

Figura 3 – Mapa mental

Fonte: elaborado pelos autores.

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29

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O Big Data apresenta distintas contribuições para a agropecuária, com diferentes


níveis de intensidade e complexidade. Contudo, apesar de análises empíricas geralmente
isoladas, tal fenômeno apresenta reflexos genéricos à todo o sistema produtivo e ao contexto
socioeconômico no qual está inserido (SONKA, 2014). Com vistas a isso, infere-se que Big
Data ocasionará uma revolução nas atividades agropecuárias considerando o modo
generalizado como atualmente são praticadas. Assim exigirá uma transformação não somente
nos meios de produção, mas sobretudo, a quebra de paradigmas e transformação de modelos
mentais por parte dos gestores, com vistas a se manterem no mercado agropecuário e
alavancarem a competitividade do setor.

Considerações Finais
O Big Data configura-se como um fenômeno eminente que tende a transformar a
sociedade, em todos os seus contextos, sobretudo na forma como os empreendimentos se
organizam e operam. Nesse sentido, a produção e processamento de alimentos é destacada,
haja vista a possível crise alimentar prevista para as próximas décadas. Sob tal enfoque, os
resultados da pesquisa realizada demonstraram a necessidade de mudanças estruturais e
comportamentais para o desenvolvimento das atividades agrícola e pecuária, assim como
enfatizaram os esforços dos investigadores quanto as possíveis contribuições e reflexos do
Big Data em tal ambiência.
Como transformações que este fenômeno provoca ou provavelmente provocará nas
atividades agrícolas, identificou-se o desenvolvimento racional de cadeias produtivas, novos
modelos de negócios, suporte ao processo decisório, agricultura e pecuária de precisão,
inovação tecnológica e organizacional, além de vantagem competitiva. No entanto, aspectos
concernentes a rupturas de modelos vigentes, quebras de paradigmas e mudanças em modelos
mentais e culturais foram observados como imprescindíveis para o fomento destas
transformações.
Contudo, reconhecem-se as limitações da investigação quanto a escolha de uma única
base de dados e a inserção de termos sem variações. Para estudos futuros recomenda-se a
realização de pesquisas empíricas a fim de identificar a percepção dos elos e stakeholders de
distintas cadeias produtivas agroindustriais no que concerne à utilização, vantagens e
desvantagens do Big Data. Também recomenda-se a análise aprofundada dos constructos
emergentes a partir dessa revisão, o que possibilitaria o desenvolvimento de premissas que
posteriormente poderiam ser transformadas em hipóteses e testadas estatisticamente.

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Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


32

Alimentos Orgânicos e o uso da digitalização na agricultura


Aline Castro Jansen¹, Carlos Alberto Oliveira de Oliveira², Antônio Domingos Padula3

1
Doutoranda de Administração - Universidade Federal do Rio Grande do Sul; aline_jansen@yahoo.com.br
2
Doutorando de Administração - Universidade Federal do Rio Grande do Sul; carlos.oliveira.agri@gmail.com
3
Professor no Programa de Pós-Graduação em Administração - Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
antonio.padula@ufrgs.br

Resumo
O Brasil é produtor de uma vasta gama de itens agrícolas, não somente relacionados a commodities, como
também, de conhecimentos, métodos e tecnologias. Dentro dessa conjuntura, a produção e comercialização de
alimentos orgânicos vem apresentando um crescimento representativo dentro do mercado, tanto nacional, quanto
mundial. No cenário atual da agricultura, a digitalização das atividades é apresentada como um novo potencial
de crescimento para os produtores e alguns elementos se destacam: Agricultura de Precisão (AP), “Internet das
Coisas” (IoT), Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e Big Data. Dentro deste contexto, o objetivo
do presente estudo é compreender como a produção orgânica pode interagir com a digitalização na agricultura.
Para atingir esse propósito, foi feita uma pesquisa exploratória com levantamento bibliográfico. Os resultados
demonstram possibilidades de aplicação com foco no sistema de produção, na gestão e na comercialização. Os
produtos orgânicos, geralmente, possuem um diferencial, percebido pelo consumidor e agregam 30% a mais de
valor que os alimentos convencionais. A digitalização pode otimizar a atividade e elevar os ganhos neste nicho
de mercado.

Palavras-chave: Produção orgânica; Tecnologias; Agronegócios.

Organic Food and the use of digitalization on agriculture


Abstract
Brazil is a producer of a wide range of agricultural items, not only related to commodities, but also knowledge,
methods and technologies. In this context, the production and commercialization of organic foods has been
presenting a representative growth in the market, both national and worldwide. In the current scenario of
agriculture, the digitalization of activities is presented as a new growth potential for farmers and some elements
stand out: Precision Agriculture (AP), Internet of Things (IoT), Information and Communication Technologies
(ICT) and Big Data. Considering this context, the objective of this study is to understand how organic
production can interact with digital technologies in agriculture. To achieve this purpose, an exploratory
research was carried out with a bibliographical survey. The results demonstrate application possibilities
focused on the production system, management and marketing. Organic products generally have a differential
perceived by the consumer and add 30% more value than conventional food. Digital technologies can optimize
activity and drive gains in this niche market.

Keywords: Organic production; Technologies; Agribusiness.

1 Introdução

A agricultura é um sistema de produção biológico, condicionado por todas as


complexidades que se poderia esperar da conjunção de pessoas, máquinas, sistemas naturais,
química, biologia, tempo e clima em uma única atividade (JACKSON, 2016). O Brasil, ao
longo de 40 anos, aproximadamente, conseguiu montar uma estrutura produtiva dentro do
ramo do agronegócio, que é considerada altamente eficiente e, além disso, todo o sistema em
si se destaca com relação à competitividade no mercado internacional (BATALHA;
SCARPELLI, 2005). Assim sendo, o país é produtor de uma vasta gama de elementos
agrícolas, não somente relacionados a commodities, bem como de conhecimentos, métodos,
tecnologias e softwares.
A tendência mundial no setor agrícola é o foco na tríade: tecnologias; capacidade de
gestão dos dados relacionados à produção; e sustentabilidade de forma plena em um contexto
de prover de alimentos a população crescente. O conjunto de elementos envolvidos nesta

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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proposta norteadora exigirá ainda mais em capacidades do gestor rural. A ação de administrar
negócios rurais é complexa, pois envolve aspectos legais, mercadológicos, organizacionais e
de produção, condicionados a recursos naturais, a condições meteorológicas, com um ângulo
de vulnerabilidade e, além disso, de modo geral, os produtos são perecíveis.
O avanço biotecnológico na agricultura nas últimas décadas, por um lado, gerou
transformações positivas dentro de toda a cadeia alimentar, mas, por outro lado, ocasionou
problemas quanto à segurança dos alimentos e à sustentabilidade do meio ambiente
(MOURA; NOGUEIRA; GOUVÊA, 2012). Este panorama geral acarretou em consumidores
cada vez mais exigentes, que procuram qualidade nos produtos alimentícios que compram
dentro de um mercado altamente competitivo.
O crescimento da demanda - e também da oferta - de alimentos orgânicos e
agroecológicos, ilustra o aumento da força do consumo de qualidade (WINTER, 2003). Desta
forma, se apresenta para o produtor rural uma oportunidade para a diferenciação e a
agregação de valor aos seus produtos, visto que este mercado de alimentos orgânicos é
diferenciado e formado por clientes que não definem o preço como principal atributo de
escolha, o que é corriqueiro no sistema mercadológico tradicional de commodities.
Para tanto, o consumidor espera informações precisas de origem e modo de produção
do alimento orgânico. Por outro lado, o produtor necessita de um sistema de produção e
gestão que possibilite repassar aos seus clientes informações confiáveis. Neste contexto, o
emprego de tecnologias de geração e análise de informações torna-se mais uma fronteira a ser
conquistada na produção agrícola (STUBBS, 2016). Diante desse cenário, o objetivo do
presente estudo é compreender de que formas a produção orgânica pode interagir com a
digitalização dentro do setor agrícola.
Além desta introdução, o trabalho está organizado em outros cinco tópicos. A segunda
seção aponta os procedimentos metodológicos desta pesquisa. A terceira seção aborda o
estado da arte atual da digitalização da agricultura, após, trata-se do contexto da agricultura
orgânica e a quinta seção aborda exemplos de digitalização na agricultura orgânica. E, por
fim, na seção que encerra este artigo são expostas as considerações finais.

2 Procedimentos Metodológicos

Para atingir o objetivo do estudo, foi estabelecido um método de pesquisa com


natureza exploratória e descritiva e realizado levantamento bibliográfico sobre os temas
digitalização da agricultura e produção orgânica. Richardson (1999) defende que a pesquisa
exploratória se situa nas primeiras fases de investigação, tendo como propósito conhecer as
características do fenômeno estudado para, posteriormente, efetuar a busca por explicações de
causas e consequências deste. Considera-se uma pesquisa desta natureza pertinente com a
condição do fenômeno do crescimento da produção orgânica no Brasil e do fenômeno de
digitalização, que permeia todos os setores pelo mundo.

3 Digitalização da Agricultura

O advento dos microprocessadores e os avanços tecnológicos da eletrônica digital


permitiram a gradativa redução dos custos e aumento de eficiência dos sistemas de produção
e informação em diversas atividades econômicas. No cenário atual, é relevante pontuar os três
segmentos que contribuem para disponibilização de dados agrícolas: Agricultura de Precisão
(AP), “Internet das Coisas” (IoT) e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). O
primeiro item, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), ao
instituir a Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão (CBAP), definiu AP como “um
sistema de gerenciamento agrícola baseada na variação espacial e temporal da unidade

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


34

produtiva e visa ao aumento de retorno econômico, à sustentabilidade e à minimização do


efeito ao ambiente” (BRASIL, 2012, p. 6).
O segundo elemento é um arcabouço tecnológico emergente que fornece um novo
modo de acesso a informações técnicas agrícolas. Desse modo, IoT é a expansão da
comunicação em rede e aplicação da internet, sendo o canal para detectar e controlar objetos
do meio físico, remotamente, por meio de dispositivos sem fio. Isto permite a troca de
informações entre pessoas e objetos, ou entre coisas, em tempo real e com gestão precisa.
No caso das TIC, essencialmente, estas facilitam a criação, gestão, armazenamento,
recuperação e disseminação de dados relevantes, informação e conhecimento (BATCHELOR,
2002). No passado, televisão e rádio foram as principais tecnologias de transmissão eletrônica
utilizadas e a internet surgiu como novo canal nas últimas duas décadas. Atualmente, no
entanto, as TIC incluem aplicativos em computadores e ferramentas de comunicação, tais
como redes sociais, repositórios de informação digital (online ou offline), vídeos e fotografias
digitais, bem como telefones celulares (BALAJI, MEERA e DIXIT, 2007).
O uso das TIC no agronegócio pode englobar diversas áreas, como controles
agronômicos, zootécnicos e administrativos, por meio de softwares variados. Também a
comunicação entre os agentes da cadeia produtiva com o mercado, tanto para a
comercialização de produtos agrícolas, como para a captação das necessidades dos
consumidores e rastreamento de mercadorias, passa, progressivamente, a utilizar o formato
digital.
Somado a estes três elementos, o termo que vem sendo utili ado para abordar a
crescente capacidade de gerar, gerenciar, analisar e sinteti ar dados para criar e destruir
diferentes formas de valor “Big Data” (IDS, 201 ). o entanto, não se trata apenas de um
grande volume de dados, mas refere-se aos conjuntos de dados ue não puderam ser
percebidos, ad uiridos, gerenciados e processados pelas tradicionais ferramentas de
Tecnologia da Informação (TI), softwares e hardwares dentro de um tempo toler vel (CHEN
et al., 2014).
Existem diferentes dinâmicas no uso da tecnologia entre os diversos segmentos e
portes de produtores rurais. Os grandes produtores possuem uma dinâmica de adoção de
tecnologias diferente de pequenos, ou mesmo dos produtores de alimentos orgânicos,
principalmente por possuírem mais recursos e maior acesso ao conhecimento do que os
agricultores de porte menor. Além disso, os trabalhadores do setor agrícola precisam ser
capacitados para utilizarem as técnicas e ferramentas tecnológicas para que eles possam,
efetivamente, conseguir obter retornos sobre o investimento na digitalização (tanto em valores
financeiros, quanto no sentido de facilitar a sua rotina produtiva e de processos).
Dentro dessa perspectiva, é relevante destacar que a introdução tecnológica visa o
aumento da produtividade e a redução do custo de produção. No entanto, no Brasil, a
abordagem da capacidade das TIC no suporte a agricultura ainda é incipiente. De forma mais
ampla, há o entendimento que o setor agrícola ainda está atrás de outros segmentos
econômicos na capacidade de recolher, sintetizar e expressar dados como soluções para
problemas (JACKSON, 2016; SATARIANO; BJERGA, 2016).
No médio e longo prazo, a digitalização da agricultura pode ajudar a fornecer
respostas a uma dúvida cada vez mais urgente, que se refere à questão de como atender a
demanda de alimentos no futuro, sem colocar pressões irreparáveis sobre os recursos naturais.
O uso de informações de clima, solo e outras variáveis serão decisivos para o alcance de
modos de produção sustentáveis. De acordo com os apontamentos de Edwardson e
Santacoloma (2013), o desenvolvimento tecnológico inadequado é um dos principais fatores
de fracasso nas cadeias de suprimentos de produtos orgânicos.
A disseminação da informação por meio eletrônico, cujo volume cresce
exponencialmente, deve-se à conjunção de três fatores principais: a convergência da base

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35

tecnológica, pela adoção da forma digital na geração e manipulação de conteúdos; a evolução


na informática, que propicia processamento mais rápido a custos cada vez menores; e a
evolução dos meios de comunicação, que tem permitido a expansão da Internet.
Na pesquisa feita por Mendes, Oliveira e Santos (2011), foi destacado que o principal
problema encontrado pelas empresas ofertantes de software para agronegócios é o despreparo
organizacional do cliente para receber a tecnologia. Portanto, reforça-se o fato de que o
treinamento e a capacitação dos produtores rurais para a aprendizagem de uso dos recursos
tecnológicos e de técnicas de gestão é percebido como, não somente, necessário, mas,
também, fundamental para a difusão da digitalização dentro da agricultura, um dos pilares
para a modernização deste setor.
Os produtores rurais de áreas menores são os que mais necessitam de auxílio técnico,
científico e tecnológico de governos e de instituições públicas e privadas para o uso dessa
digitalização nos seus negócios. Somados a estes, especificamente, os produtores que atuam
no nicho da agricultura orgânica serão direcionados a avançar no quesito digital para atender
seus consumidores.

4 Agricultura Orgânica

A comercialização de alimentos orgânicos não só representa uma das tendências de


consumo, como já está apresentando, atualmente, um crescimento representativo dentro do
mercado. Os consumidores destes produtos são mais exigentes e estão em busca de alimentos
de melhor qualidade, que possuam certificação, inclusive, e que utilizem métodos de manejo
alternativos aos agrotóxicos, visando a preservação da saúde e do meio ambiente.
A produção de alimentos orgânicos reflete, sobretudo, a oposição ao consumo de
alimentos industrializados (LIN; ZHOU; MA, 2010), quando os danos causados por estes na
saúde humana começaram a ser percebidos. O alimento orgânico, então, é aquele que
emprega, em toda a cadeia, não somente na produção, técnicas mecânicas e biológicas, não
utilizando materiais sintéticos, radiação e organismos geneticamente modificados, estando em
conformidade com as normas específicas para certificação.
No contexto brasileiro, a Lei 10.831 (BRASIL, 2003) define que:

Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se


adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e
socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades
rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização
dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável,
empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em
contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos
geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a
proteção do meio ambiente.

Dessa forma, o agricultor necessita, essencialmente, utilizar instrumentos eficientes


para as suas atividades e, nos dias atuais, entende-se que a digitalização é um dos elementos
mais úteis para a agregação de valor.
O mercado de alimentos orgânicos já é consolidado no cenário internacional e no
Brasil tem aumentado cerca de 30% ao ano. De 2002 a 2007, ocorreu um boom neste setor,
que contou com apoio de políticas públicas e o país passou de 34º no ranking mundial de
volume de produção orgânica para 2º, ficando atrás apenas da Austrália (BLANC, 2009). A
partir desse período, a produção orgânica nacional não parou mais de crescer. Em 2016, o
faturamento desse tipo de cultivo alcançou a marca de R$ 3 bilhões, conforme dados do
Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), sendo que 70% dos

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36

produtos orgânicos brasileiros são exportados para 76 países, tendo, principalmente, como
destino o mercado europeu. Outra constatação mostra a atual relevância desse tipo de cultivo,
a produção orgânica nacional dobrou nos últimos 3 anos e está presente em 22,5% dos
municípios brasileiros.
O contexto de proximidade com o consumidor é uma vantagem que pode ser
explorada para agregar valor ao alimento orgânico, pois, de acordo com Winter (2003) os
empreendimentos rurais orgânicos, quando ligados à alguma identidade territorial e a
características de determinada região, tendem a ter mais sucesso e possuírem maior
diferenciação frente aos consumidores finais.
Além disso, os agricultores, a fim de buscarem maior agregação de valor, necessitam
planejar os seguintes pontos: a forma como produzir, evitando os agrotóxicos, mas, ao mesmo
tempo, atingindo uma produção em escala satisfatória; onde vender os seus produtos,
posicionando-se estrategicamente neste mercado específico, a fim de atingir o público-alvo
desejado; como vender os alimentos, utilizando embalagens adequadas para a preservação dos
mesmos e que contenham as informações que os consumidores procuram; como utilizar as
certificações para agregação de valor, nesse caso, informando e difundindo isso, a fim de que
essa referência orgânica chegue até o consumidor e seja um diferencial competitivo para o
produtor rural. Estes aspectos são relevantes, pois os produtos orgânicos conseguem agregar
em torno de 30% a mais no preço quando comparados com os convencionais, segundo o
Portal Brasil (2017). Assim, utilizando algumas ferramentas dentro do processo de
digitalização da atividade e aliando aos conceitos de uma agricultura mais sustentável, espera-
se que o agricultor orgânico possa agregar um valor maior no seu produto e, portanto,
precificá-lo de forma distinta.

5. Exemplos da digitalização na agricultura orgânica

Alguns exemplos internacionais em direção ao fomento da digitalização na agricultura


pelos setores públicos são encontrados na literatura. Na Índia, a Uttarakhand Organic
Commodity Board (UOCB), que é um conselho de Estado, desde 2003 desempenha um papel
facilitador, por meio de seus funcionários que vão a campo, a fim de motivar os agricultores a
se tornarem produtores orgânicos e a participar de cooperativas (EDWARDSON;
SANTACOLOMA, 2013). Dentre outras atividades, a UOCB fornece treinamento em
tecnologia de cultivo, controle de pragas e doenças, documentação e insumos técnicos aos
agricultores, além disso, organiza a certificação orgânica, que inclui um sistema ICS (Internal
Control System) para facilitar e reduzir o custo desse processo e, sobretudo, negocia a
comercialização do arroz orgânico com um valor mais alto que no mercado, através de uma
grande empresa de arroz que participa de mercados de exportação (EDWARDSON;
SANTACOLOMA, 2013).
Na Tailândia, a Earth Net Foundation (ENF) - organização sem fins lucrativos que
visa promover e apoiar iniciativas relacionadas à produção, processamento, comercialização e
consumo de alimentos orgânicos, produtos naturais e artesanatos ecológicos (GREEN NET,
2017) - começou a fornecer assistência técnica à Bak Rua Farmer Organization (BRFO) - que
promove o cultivo de arroz sem pesticidas desde 1996, com o apoio de ONGs locais (GREEN
NET, 2017) - para desenvolver e instalar um sistema de gerenciamento de qualidade para
todas as etapas de suas operações pós-colheita, desde a coleta e compra de arroz até o
armazenamento, moagem e entrega (EDWARDSON; SANTACOLOMA, 2013).
Portanto, em vista de experiências positivas em outros países, os quais buscaram o
aprimoramento das técnicas agrícolas de pequenos produtores orgânicos através do suporte à
digitalização dos mesmos, percebe-se que a implantação dessa mesma noção no Brasil pode

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trazer resultados positivos para o setor de alimentos orgânicos brasileiro. Na Figura 1,


algumas possibilidades de aplicação da digitalização da agricultura são apresentadas.

Figura 1 - Possibilidades de aplicação da digitalização na agricultura orgânica

Áreas de aplicação
Recursos
Sistema de Produção Gestão Comercialização

Identificação de pragas e
doenças por meio de aplicativos Rastreabilidade de
Agricultura de que envolvem reconhecimento insumos adotados; Dados de certificação
Precisão; IoT; de imagens; análise do solo; custos; retornos dos alimentos
Softwares dados meteorológicos; controle financeiros; orgânicos; canais de

da produtividade estratégias Venda

Publicações técnicas disponíveis Rastreabilidade Divulgação dos


TIC; Internet e para qualificação dos produtores pelo próprio produtos; venda via
mídias sociais e atividades consumidor sites e redes sociais

Big Data;
Armazenamento em Gerar, gerenciar e analisar bases de dados
nuvem
Fonte: Elaborado pelos autores.

6 Considerações Finais

A partir dessa revisão bibliográfica foi proposto o avanço na literatura sobre a difusão
da digitalização na agricultura orgânica e a adoção deste modelo de produção no Brasil,
estudando a interação entre os dois elementos. É relevante destacar, principalmente a partir
dos exemplos estrangeiros citados neste estudo, que os produtores brasileiros de alimentos
orgânicos podem utilizar a digitalização como uma forma de agregar valor.
Os produtos oriundos da agricultura orgânica, geralmente, possuem um diferencial,
percebido pelo consumidor e já conseguem agregar, em média, 30% a mais no valor do
produto. Considerando que este valor superior pode ser somado a melhoria da eficiência no
sistema de produção, na gestão e na comercialização, o resultado pode ser ainda maior, se o
agricultor conseguir utilizar, eficientemente, a digitalização na sua atividade. Por exemplo,
armazenando e utilizando os dados para tomadas de decisão; na divulgação das características
do produto, que atraem clientes mais exigentes e dispostos a pagar um "prêmio" pela
qualidade do alimento; na rastreabilidade dos insumos e na facilidade de rastreamento pelo
consumidor, fortalecendo a confiança; na estratégia de vendas; nas certificações orgânicas; no
aumento da produtividade; na redução do custo de produção, entre outras possibilidades.
Enfim, o tema da digitalização na agricultura possui um leque de informações e, com
o desenvolvimento tecnológico em todas os setores da economia, a cada ano surgem mais
tecnologias e novas adaptações das mesmas para o mercado agrícola, o que demonstra a
relevância de atualização das pesquisas acadêmicas nessa área. Portanto, sugere-se que
estudos futuros tratem, por meio de pesquisas empíricas, da realidade dos produtores

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38

orgânicos brasileiros com relação à adoção de tecnologias e mais especificamente das


ferramentas digitais.

Referências

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WINTER, M. Embeddedness, the new food economy and defensive localism. Journal of rural studies, v. 19, n.
1, p. 23-32, 2003.

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Previsão da Produtividade de Pastagens a partir de Indicadores de Solo


Leandro da Silva Camargo¹, José Pedro Pereira Trindade², Sandro da Silva Camargo²,
Leandro Bochi da Silva Volk²

¹Campus Bagé - Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSUL), leandrocamargo@ifsul.edu.br


²Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada (PPGCAP) – Universidade Federal do Pampa
(Unipampa) & Embrapa Pecuária Sul

Resumo. A interação entre plantas e solo é fundamental para produzir alimentos que fazem parte da cadeia
alimentar de muitos seres vivos. Neste contexto, a qualidade do solo é um fator importante para uma boa
produtividade de pastagens e, de um ponto de vista mais amplo, para compreensão geral dos ecossistemas. Além
disso, uma melhor compreensão da relação solo-planta poderia permitir a predição do nível de produtividade das
pastagens a partir da análise de características do solo, antes mesmo do plantio. Paralelamente, tecnologias Big
Data têm viabilizado a coleta, a partir de sensores, e armazenamento de grandes quantidades de dados em grande
velocidade. Assim, o uso de pequenos sensores para coleta de dados do solo pode embasar o desenvolvimento de
pesquisas de modelagem visando aprimorar as atividades agrícolas. Objetivou-se, neste trabalho, avaliar a
aplicação de algoritmos de aprendizado de máquina, mais especificamente de classificação, para construir modelos
preditivos do nível de produtividade da pastagem de áreas produtivas a partir de características destas áreas e de
outros indicadores, tais como características de vegetação, de características químicas, físicas, biológicas e hídricas
do solo, totalizando 22 indicadores. Dados utilizados, obtidos em um repositório público, referem-se a 36 amostras
coletadas entre os anos de 1973 e 1994, em North Island, Nova Zelândia. Essas áreas produtivas, que foram
submetidas à produção de pastagem e forragem, apresentavam diferentes históricos de manejo, de aplicação de
fertilizantes e de produtividade. Os modelos construídos permitem predizer, com até 92% de precisão, a
produtividade das pastagens.
Palavras-chave: Aprendizado de Máquina, Qualidade do Solo, Modelos Preditivos.

Predicting Pasture Productivity through Soil Indicators


Abstract. The interaction between plants and soil is fundamental to produce food that is part of the food chain of
many living beings. In this context, soil quality is an important factor for good pasture productivity and, from a
broader point of view, for general understanding of ecosystems. Moreover, a better understanding of the soil-plant
relationship could allow the prediction of the pasture productivity level through the analysis of soil characteristics,
even before planting. In parallel, Big Data technologies have made it possible to collect, from sensors, and to
store large amounts of data at high speed. Thus, the use of small sensors to collect soil data can support the
development of modeling research to improve agricultural activities. The objective of this work was to evaluate
the application of machine learning algorithms, more specifically classification, to construct predictive models of
the pasture productivity level of productive areas based on characteristics of these areas and other indicators,
such as characteristics of vegetation, with chemical, physical, biological and water characteristics of the soil,
totaling 22 indicators. Data used from a public repository refer to 36 samples collected between 1973 and 1994
in North Island, New Zealand. These productive areas, which were submitted to pasture and forage production,
presented different management histories, fertilizer application and productivity. Models built allow to predict,
with up to 92% accuracy, the pasture productivity.
Keywords: Machine Learning, Soil Quality, Predictive Models.

1 Introdução

Para auxiliar na otimização do desempenho econômico em sua atividade, agricultores


rotineiramente utilizam uma gama de indicadores biofísicos, tais como o estado nutricional do
solo, o peso vivo dos animais e a cobertura das pastagens. Mackay et. al. (1993) sugeriram que
os agricultores pudessem ampliar esse leque de medições, incluindo os indicadores que estimam
as consequências ambientais dos sistemas agrícolas.
Os bons indicadores biofísicos devem ser simples, baratos, óbvios e sensíveis às tensões
ambientais (SPRINGETT, 1993). Seria também vantajoso se os indicadores de sustentabilidade
da agricultura refletissem o nível de produtividade e o estado dos recursos, como mudanças na

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vegetação devido ao ingresso de ervas daninhas ou estresse ambiental e saúde dos recursos do
solo, pelo fato de impactarem nos efeitos de fertilidade do solo, atividade biológica, condições
físicas, capacidade de retenção de umidade e erosão. Por esta razão, este trabalho enfatiza a
identificação de indicadores que reflitam a produção de forragem, bem como o estado dos
recursos, em um sentido ecológico.
Paralelamente, a capacidade de predizer situações e fenômenos futuros pode ser uma
vantagem competitiva importante em várias atividades humanas. Na área de solos, a criação de
modelos preditivos já tem sido utilizada com sucesso em vários problemas, sendo alguns
exemplos relatados a seguir. Rosa et. al (2013) desenvolveram modelos preditivos da
distribuição do tamanho de partículas do solo. Tais modelos, que utilizaram a abordagem de
regressão linear múltipla, foram construídos com indicadores de terreno: elevação, declividade,
área de captação, índice de convergência e índice de umidade topográfica. O desempenho dos
modelos preditivos atingiu até 70% de precisão, apresentando um desempenho equiparável ao
da abordagem tradicional de mapeamento de solos. Para este caso, foi utilizado um conjunto de
339 amostras de solo de uma pequena bacia hidrográfica de encosta do sul do Brasil. Stum
(2010) utilizou árvores aleatórias para predizer a classe de solo de um divisor de águas de árido
para semiárido no oeste de Utah. Foram utilizados indicadores ambientais obtidos através do
satélite Landsat 7 (ETM+) e modelos de elevação digital (DEM). Para este trabalho, foram
utilizados dados de 561 amostras de descrição de solo. Os modelos conseguiram atingir 55%
de precisão na predição da classe do solo. Jardine e Siikamaki (2014) criaram modelos
preditivos, baseados em árvores de decisão, para estimar a quantidade de carbono no solo de
manguezais. Foram utilizadas mais de 900 amostras, coletadas em 28 países.
Neste contexto, este artigo visa construir modelos preditivos para estimação do nível de
produtividade de pastagens a partir de dados de fatores biofísicos do solo, que podem, em sua
maioria, serem coletados através de sensores de solo. Além dos modelos preditivos, este
trabalho também visa identificar quais fatores biofísicos teriam um maior impacto no nível de
produtividade das pastagens, no escopo do ambiente analisado.
Este trabalho está organizado da seguinte forma: a seção Material e Métodos apresenta
e descreve os detalhes do banco de dados utilizado, além de discutir os métodos e algoritmos
de aprendizado de máquina aplicados. A seção Resultados e Discussão apresenta os modelos
criados, a medição da qualidade da predição, e os indicadores mais relevantes na sua
construção. A seção Conclusões apresenta as considerações finais deste trabalho e comenta as
perspectivas de trabalhos futuros.

2 Material e Métodos

Este trabalho foi dividido em quatro etapas. A primeira etapa envolveu a escolha e
análise da base de dados e preparação do ambiente para execução dos experimentos. A segunda
etapa envolveu a realização do pré-processamento dos dados e de testes preliminares da
abordagem utilizada. A terceira etapa envolveu a aplicação efetiva das abordagens de
aprendizado de máquina e a análise dos resultados. A quarta etapa envolveu a geração final das
regras e dos relatórios descritivos dos resultados. A metodologia para execução deste trabalho
é apresentada na figura 1.
A primeira etapa foi iniciada com uma busca por bases de dados públicas, disponíveis
em repositórios, com medições de indicadores de solos. Foi encontrada a base contendo os
dados coletados por Lambert et al. (1996). O conjunto de dados de produção de pastagem foi
coletado entre 1973 e 1994 e é composto por 36 amostras associadas a 36 diferentes unidades
produtivas, ou piquetes. Essas áreas apresentaram diferentes histórias de manejo, de aplicação
de fertilizante e de produtividade. Neste período os piquetes produziram pastagens e forragens.
O objetivo desta base de dados era o de registrar os efeitos a longo prazo do manejo de

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fertilizantes e variações microtopográficas, tendo como objetivo, prever a produção de


pastagens a partir de uma variedade de fatores biofísicos, considerando os indicadores de
vegetação e solos das áreas de colinas em North Island, na Nova Zelândia.
Cada amostra de cada área produtiva contém a medição de 22 indicadores de vegetação,
químicos, físicos biológicos e hídricos do solo. A tabela 1 apresenta uma síntese dos indicadores
disponibilizadas no banco de dados. Esta base de dados está organizada em 22 indicadores de
entrada, todos numéricos e um atributo alvo: a classe da pastagem (pastureclass). Todas as
amostras foram classificadas em três classes que indicam a produtividade efetiva da área,
representadas como: LO, MED e HI, para baixo, médio e alto respectivamente. A distribuição
de frequência dos indicadores de solo em relação às classes é apresentada na figura 2, na qual
constata-se que os valores registrados para cada atributo deste banco de dados não apresentam
um padrão para classificar a produtividade na perspectiva individual. Esta situação reforça a
importância da utilização de algoritmos de classificação para a construção de modelos de
predição do potencial produtivo.

Figura 1 - Detalhamento da metodologia aplicada neste trabalho

Fonte: Autoria Própria

Figura 2 - Distribuição de frequência dos indicadores em função das classes de produtividade

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Fonte: Autoria Própria

A base de dados foi obtida no UCI Machine Learning Repository, que possui uma
coleção de bancos de dados, teorias de domínio e geradores de dados que são usados para a
análise empírica de algoritmos de aprendizagem de máquina, Lichman (2013). Como uma
indicação do impacto desse repositório, ele já foi citado mais de 1.000 vezes, tornando-se um
dos 100 artigos mais citados da ciência da computação.
Selecionada a base, os dados foram importados para o pacote estatístico R, versão 3.4.1.
Foram também utilizados os pacotes adicionais rPart (Recursive Partitioning and Regression
Trees) versão 4.1-11, rPartPlot versão 2.1.2, RandomForest (Breiman and Cutler's Random
Forests for Classification and Regression) versão 4.6-12 e stats (Statistical Functions) versão
3.4.1. Este último pacote, foi utilizado para a atividade de pré-processamento dos dados. Já os
demais pacotes adicionais foram utilizados a fim de tentar identificar padrões sobre os
indicadores de solo, coletados previamente, que pudessem contribuir para a predição da
produtividade da pastagem, em um momento anterior ao plantio. Priorizou-se a utilização de
algoritmos do tipo caixa-branca, que pudessem identificar os padrões e apresentá-los em um
padrão gráfico compreensível pelos especialistas de solo. Em contraponto, também existem os
modelos caixa-preta, tais como as redes neurais, que apesar de conseguirem identificar os
padrões, não permitem a apresentação dos modelos gerados em uma linguagem compreensível
(CAMARGO, 2010).

Tabela 1 - Detalhamento das varáveis e unidades de medida registradas no banco de dados


Atributo Unidade de Descrição
medida
Fertiliser 11 | 12 | 21 | 22* L(ow) baixa, H(igh) alta aplicação N(on) não
contínua
Slope graus Ângulo de inclinação média da unidade produtiva
Deviation North-West graus Desvio a noroeste
Soil Olsen P mg/kg dry soil Fósforo disponível à vegetação
Soil Mineral N mg/kg dry soil Nitrogênio presente no solo
Soil Total S mg/kg dry soil Enxofre presente no solo
Exchangeable Calmg Ratio % DM Variação na relação Ca:Mg em corretivos da acidez
Light Organic Matter mg/kg dry soil Matéria orgânica parcialmente decomposta
N Fixation kg N/ha/day Fixação de nitrogênio
Earthworm Mass g/m2 Quantidade de minhocas
Earthworm Species Number Número de espécies de minhocas
Soil Water Conductivity mm/hour Condutividade hidráulica insaturada (100 mm prof.)
Soil Organic Matter g/l OOg dry soil Matéria orgânica presente no solo
Soil Air Permeability m/s Permeabilidade ao ar (200mm de profundidade)
Soil Macroporosity % by volume Porosidade do solo calculada (500 mm de prof.)
HF Responsive Grasses % by weight Massa de gramíneas responsivas a alta fertilidade

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Legume Production kg DM/ka Produção de leguminosas


OSPP mg/kg dry soil Sistema de Organização de Processos Produtivos
Time-domain reflectometry Mm Média semanal de água do solo/teor de umidade
Runoff mm/year Escoamento calculado a partir do modelo de
equilíbrio
Root Surface Area mZ/m3 Área de superfície radicular
Leaf – P m2 perfilhos por metro quadrado
Pastureclass HI – MED – LO Produtividade de pastagem (alta, média e baixa)
*11(LN)|12(LL)|21(HN)|22(HH) - L(ow) baixa, H(igh) alta aplicação. N(on) não contínua, LL|HH contínua.
Fonte: Autoria Própria

Após a seleção dos pacotes de software, foi feita uma tentativa preliminar de
identificação de padrões a partir da geração de modelos sobre os dados, visando predizer a
qualidade do solo. Nessa etapa, os resultados preliminares foram apresentados e discutidos com
os especialistas do domínio da Embrapa Pecuária Sul. Considerou-se necessário que o
algoritmo apresentasse duas características relevantes: a facilidade de interpretação dos
resultados e a acurácia nos valores obtidos. Para validar o modelo, as amostras foram divididas
em conjunto de treinamento e conjunto de teste. Assim, os modelos foram construídos a partir
dos dados de treinamento, e sua capacidade preditiva foi avaliada sobre os dados de teste. Dada
a pequena quantidade de amostras, para avaliar a capacidade preditiva dos modelos gerados,
foi utilizado o processo de validação cruzada leave-one-out, que, conforme a literatura, é
reconhecidamente eficiente nestes casos (Camargo, 2010). De acordo com esta técnica, dada a
existência de 36 amostras, foram utilizadas 35 amostras no conjunto de treinamento e uma
amostra no conjunto de teste. Este procedimento foi repetido 36 vezes, sem reamostragem, de
forma que cada amostra foi utilizada uma única vez no conjunto de treinamento e outras 35
vezes no conjunto de teste. A precisão dos modelos criados foi definida como a média da taxa
de erro das 36 repetições do processo de validação cruzada.
Para validar a abordagem aqui proposta, os modelos construídos, com os padrões
identificados, serão apresentados e discutidos com os especialistas do domínio. Além da
representação gráfica dos modelos, identificando os indicadores mais importantes para a
predição da produtividade nestas unidades produtivas, também serão apresentados seus
percentuais de precisão, resultantes do processo de validação cruzada.
Conforme mencionado anteriormente, os algoritmos utilizados nestes experimentos são
baseados em modelos caixa-branca. O método de classificação utilizado nesse trabalho é
baseado no algoritmo Random Forests (RF) ou Random Decision Forests, proposto por
(Breiman, 2001). O algoritmo RF é um classificador formado por uma coleção de árvores de
classificação, cada qual construída a partir de uma reamostra aleatória do conjunto de
treinamento original. A classificação de um vetor de indicadores de entrada é feita por votação,
submetendo-se o vetor às árvores da floresta e registrando-se a classe mais votada. Para a
construção de cada árvore, o algoritmo RF identifica a importância de cada atributo através do
índice Gini, alocando os indicadores mais importantes mais próximas ao nodo raiz da árvore de
decisão.

3 Resultados e Discussão

Devido as características desta base de dados, contendo indicadores numéricos de


entrada e uma única coluna com o objetivo alvo, com valor categórico, foi utilizada a função
randomForest para classificação destes dados. Tal função, permite a construção da árvore de
classificação, onde os dados de entrada terão como alvo as classificações disponíveis no atributo
pastureclass.
O modelo de árvore de decisão gerado, apresentado na figura 3, aponta que o indicador
que define gramíneas de alta resposta à fertilidade (HFRG - high fertility response grasses),

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45

quando apresentar valor de massa igual ou superior 30%, torna-se um fator exclusivo para a
garantia da alta produtividade da pastagem, essa definição tem precisão de 33%. Caso esse
índice não seja alcançado a pastagem apresentará um indicador de baixa produtividade, com
67% de acerto do modelo proposto, salvo, tenha um índice foliar (Leaf.P.numeric) acima de
2.044 perfilhos por metro quadrado, então passa para uma média produtividade com acerto de
22% nesse indicador. Existem outras duas possibilidades para a obtenção de uma produtividade
média, quais sejam, o manejo de fertilizante, com indicador de 8% e, ainda, caso o índice de
condutividade hidráulica insaturada (Kunsat) seja maior que 7,9. Para as demais situações o
indicador de produção de pastagem nessas áreas será considerado baixo.
A matriz de confusão detalhando os resultados obtidos pela árvore de decisão apresenta
uma taxa de erro de aproximadamente 19.44%, para as 36 amostras utilizadas, com apenas sete
predições incorretas sendo quatro deslocados de média para baixa produtividade e três
deslocados média para baixa produtividade, conforme exposto na tabela 2.
Conforme apresentado pela árvore de decisão, os principais indicadores correlatos à
produtividade de pastagem e forragem nas unidades pesquisadas, são o indicador de pastagem
responsiva a alta fertilidade, o índice de área foliar e o manejo da terra com fertilizantes. Para
corroborar com os dados apresentados na árvore de decisão, a figura 4 apresentada a superfície
de decisão relativa à árvore de decisão gerada, mostrando as diferentes classes e as 36 amostras
disponíveis na base de dados. Em síntese, o HFRG superior a 30% de massa é a condição
exclusiva para alta produtividade. Por outro lado, valor de HFRG a 30% associado ao índice
foliar (Leaf) acima de 2.044 perfilhos/m2 são fatores que indicam, com alta probabilidade, a
média produtividade de pastagens. Já o HFRG inferior a 30% e Leaf abaixo de 2.044
perfilhos/m2 são elementos que indicam, com alta probabilidade, a baixa produtividade de
pastagem.

Figura 3 - Resultado da árvore de decisão com algoritmo randomForest

Fonte: Autoria própria

Tabela 2 - Matriz de confusão gerada pelo randomForest


Matriz de Confusão
Produtividade HI MED LOW %Erro
HI 12 0 0 0
MED 0 9 4 33
LOW 0 3 8 25
Fonte: Autoria Própria

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Figura 4 - Superfície de decisão gerada pelo algoritmo Random Forest, considerando os indicadores
gramíneas de alta produtividade (HFRG) e índice foliar (Leaf)

Fonte: Autoria própria.

Partindo do princípio que a superfície de decisão com apenas dois indicadores já permite
a identificação de padrões dos indicadores relacionados com a produtividade, foi realizado um
processo de poda na árvore de decisão, visando a geração de uma árvore mais simplificada e
com maior capacidade de generalização. Foram testados diferentes valores de corte para a poda,
tendo sido identificado 12% como o valor com menor percentual de erro. O resultado do
processo de poda é observado na figura 5.
Aplicando a poda de 12% na árvore de decisão a matriz de confusão resultante apresenta
um erro de apenas 8%, ou precisão de 92%, quanto a predição da qualidade da pastagem.
Havendo apenas uma ocorrência para predição de média produtividade que foi apresentada
como indicador de baixa produtividade. Na tabela 3 é observada a matriz de confusão resultante
desta poda.

Figura 5 – Árvore de decisão com poda de 12%

Fonte: Autoria própria

Os modelos indicam que os indicadores mais relevantes para a análise da produtividade


de pastagens nas colinas de North Island na Nova Zelândia são o índice para definir gramíneas
de alta resposta à fertilidade (HFRG - high fertility response grasses), associados ao índice
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47

foliar (Leaf.p), em função da capacidade de recepção da radiação solar, além do indicador de


fósforo disponíveis para a planta (Olsen P) e, do declive do terreno (Slope) que está diretamente
associado ao índice de condutividade hidráulica insaturada (Kunsat), pois a região analisada é
de colinas, logo, a retenção hídrica e manutenção das propriedades do solo impactam na
produtividade de pastagens. Conforme apresentado graficamente, a análise individual dos
indicadores ambientais não apresenta relação direta com a predição da produtividade de
pastagens, demandando uma associação com uma ou com um conjunto de indicadores.

Tabela 3 - Matriz de confusão gerada pelo randomForest, com poda de 12% na árvore de decisão
Matriz de Confusão
Produtividade HI MED LOW %Erro
HI 12 0 0 0
MED 0 11 1 8
LOW 0 0 12 0
Fonte: Autoria Própria

4 Conclusões

Este artigo apresentou o relato da aplicação de algoritmos de classificação de árvores de


decisão para predição de produtividade de pastagens, a partir de indicadores de solo. O uso do
algoritmo RandomForest, que gera modelos caixa-branca, conduziu a uma facilidade para
discussão dos resultados com os especialistas do domínio e permitiu uma interpretação dos
resultados por pessoas com diferentes níveis de conhecimento técnico. Apesar da pequena
quantidade de amostras, o uso de uma abordagem de validação cruzada consagrada na literatura
para casos similares permitiu uma correta mensuração da capacidade preditiva dos modelos
gerados. Os resultados mostram que é possível a predição da produtividade das pastagens com
até 92% de acerto, a partir dos indicadores do solo.
Neste contexto, fica explícito o potencial de monitoramento dos indicadores de solo para
a otimização da produtividade de pastagens. Tal monitoramento faz-se possível através da
utilização de sensores de solo, cujo custo está em uma tendência decrescente, amparado por
tecnologias Big Data para transmissão, armazenamento e análise de dados.

Referências

BREIMAN, L. Random forests. Machine Learning. p.5-32. 2001.


CAMARGO, S. S. Um modelo neural de aprimoramento progressivo para redução de dimensionalidade. 2010.
107 f. Tese (Doutorado em Ciência da Computação) – Instituto de Informática, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre. 2010.
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Research Letters. v.9. 2014.
LAMBERT, M. G. et al. Biophysical indicators of sustainability of North Island hill pasture systems. Proceedings
of the New Zealand Grassland Association. v.57. p.31-36. 1996.
LICHMAN, M. UCI Machine Learning Repository. http://archive.ics.uci.edu/ml. Irvine, CA: University of
California, School of Information and Computer Science. 2013.
MACKAY, A.D.; WEDDERBURN, E.L.; LAMBERT, M.G. Sustainable management of hill land. Proceedings
of the New Zealand Grassland Association. v.55. p.17 l-176. 1993.

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48

ROSA, A.S.; DALMOLIN, R.S.D.; MIGUEL, P. Building predictive models of soil particle-size distribution. Rev.
Bras. Ciênc. Solo. v.2. 2013
SPRINGETT, J.A. Bio-indicators of sustainability. In: New Zealand Ecological Society Bio-Indicators Workshop,
Flock House, July 1993. p.1-7. 1993.
STUM, A.K. Random Forests Applied as a Soil Spatial Predictive Model in Arid Utah. Utah State University.
2010.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Análise da transmissão de preços entre a taxa de câmbio para o preço


internacional do complexo soja (2000-2017)
Elen Presoto1*; Patricia Batistella1; Lauana R. Lazaretti1; Sibele Vasconcelos de Oliveira1

1
Programa de Pós-graduação em Economia & Desenvolvimento, UFSM 1, *<elenpresotto@yahoo.com.br>.

Resumo. Os produtos derivados do complexo soja tem ampla inserção no mercado internacional, especialmente
pela sua atratividade nutricional e pelas múltiplas empregabilidades. O Brasil, valendo-se da disponibilidade de
fatores de produção e dos avanços tecnológicos das últimas décadas, figura entre os principais ofertantes do
mundo. Destarte, o presente estudo tem por objetivo analisar a transmissão de preços entre os preços
internacionais das commodities do complexo soja em função das variações da taxa de câmbio (euro/dólar). Para
tanto, utilizam-se dados em painel a partir do mecanismo de correção de erros com a finalidade de verificar há
presença de Assimetria de Transmissão de Preço (ATP) no mercado europeu. Os resultados apontam que o
mercado estudado é caracterizado por ATP, isto é, que os preços do mercado são integrados e há transmissão de
preços. Sobretudo, o preço do euro frente ao dólar afeta assimetricamente as variações de preços das
commodities estudadas.
Palavras-chave: assimetria de preços, agronegócio, complexo soja, mercado internacional.

Analysis of price transmission between the exchange rate for the


international price of the soybean complex (2000-2017)
Abstract. The products derived from the soy complex have wide insertion in the international market, especially
for its nutritional attractiveness and the multiple employability. Brazil, taking advantage of the availability of
factors of production and the technological advances of the last decades, is among the main suppliers in the
world. The objective of this study is to analyze the price transmission between the international prices of
soybean commodities as a function of the exchange rate (euro/dollar). For this, panel data are used from the
error correction mechanism in order to verify the presence of Asymmetry Price Transmission (APT) in the
European market. The results indicate that the market studied is characterized by APT, that is, market prices are
integrated and prices are transmitted. Above all, the price of the euro against the dollar asymmetrically affects
the price variations of the commodities studied.
Keywords: Asymmetry of prices, agribusiness, soybean complex, international market.

Introdução

A importância do estudo de integração de mercados e da dinâmica de transmissão de


preços justifica-se pela possibilidade da construção de estratégias de comercialização para os
agentes econômicos envolvidos, bem como por permitir a avaliação da existência do uso do
poder de mercado entre estes agentes. No escopo da presente pesquisa, assume-se que a
variação no preço do euro frente ao dólar pode transmitir e influenciar assimetricamente os
preços da soja em grão e seus derivados no mercado europeu.
Para fins de análise, considera-se a abordagem teórica embasada nos postulados da Lei
do preço Único (LPU)1, que define a transmissão de preços entre mercados como perfeita, ou
seja, no longo prazo os preços entre diferentes mercados, a partir de um processo de
arbitragem, tendem a convergir para um preço único. Na existência de transmissão de
choques entre mercados, estes podem ser simétricos ou assimétricos. A assimetria de preço,
essencialmente, caracteriza-se quando as variações de preços de um mercado são transmitidas

1
As discussões teóricas a partir deste conceito da LPU estão detalhadas na Seção 2.1.

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50

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

a outro mercado com diferentes magnitudes e intensidade quando ocorrem as quedas ou


aumentos nos preços.
Diante das afirmativas supracitadas, a presente pesquisa busca responder: existe
transmissão assimétrica entre as variações de choques de preços na taxa de câmbio
(euro/dólar) para os preços europeus da soja em grão, farelo e óleo de soja? Destarte, este
estudo tem por objetivo mensurar a transmissão dos choques de preços entre as variações da
taxa de câmbio frente as commodities do complexo soja, a partir dos preços fixados nos
principais portos da Europa2, constatando-se se há ou não integração e transmissão
assimétrica de preços entre os mercados. Pela origem e natureza dos dados estatísticos
disponíveis, optou-se pelo uso da modelagem de dados em painel.
O avanço na produção e comercialização de soja está relacionado ao potencial de
processamento e à atratividade nutricional, que fazem com a demanda internacional pela soja
e seus derivados aumente. Com isto, o estudo da transmissão de preços entre mercados se faz
essencial, ao passo que os estudos estabelecidos na literatura usam-se de modelagens
robustas, porém a maior dificuldade encontrada é a falta de distinção entre os tipos de
assimetria e a modelagem destes diferentes tipos de ATP.
Esta pesquisa está dividida em seis seções, além desta introdução. A segunda seção
aborda os princípios teóricos de integração de mercados e ATP. A terceira seção apresenta
uma breve revisão de literatura. A quarta seção define a metodologia que embasa esta
pesquisa. A quinta seção apresenta os resultados e, em seguida, são apresentadas as principais
conclusões do estudo.

2 Integração de mercado e assimetria de transmissão de preços

Vários estudos, no campo da economia internacional, defendem a tese de que há


evidências de integração entre mercados no âmbito do comércio mundial. Marshall (1985)
defendia a visão sistêmica na análise do mercado internacional, interagindo com forças
comerciais e indústrias, com as combinações de produtores e empregadores. Ainda destacava
que na ausência de custos de transporte em mercados regionais, um bem idêntico representará
um único preço (MARSHALL, 1985).
Neste contexto, a visão sistêmica permite a análise do complexo soja. O conceito de
complexo agroindustrial é tido como o processo de divisão setorial do sistema produtivo. Esta
abordagem favorece a análise das cadeias produtivas frente à formulação de políticas públicas
e privadas (BATALHA, 2007). Nesta pesquisa, o complexo da soja é visto como a soma de
distintas cadeias produtivas, a citar, a cadeia produtiva do farelo, óleo e da soja em grão.
O modelo teórico da Lei do Preço Único (LPU) desenvolvido por Mundlak e Larson
(1992) define que o preço interno corresponde ao preço do mercado internacional desde que
se comparado na mesma moeda. Matematicamente, tem-se: que define o preço interno como
resultado do preço internacional multiplicado pela taxa de câmbio.
A LPU pode ser presenciada de três diferentes formas. A forma mais comumente
constatada e testada na literatura, correspondente à versão mais forte, expressa um comércio
contínuo com a possibilidade de arbitragem no curto prazo, que é garantida pela regularidade
de transações. Adicionalmente, tem-se a versão fraca, que não distingue a LPU da arbitragem
espacial. Por fim, destaca-se a versão agregada, que está relacionada com os índices de
preços, e é conhecida também como Paridade de Poder de Compra (PPC) (FACKLER;
GOODWIN, 2001, p.978).
Para Fackler e Goodwin (2001), a LPU consiste em desconsiderar um único preço no
longo prazo, quando o mesmo bem é comercializado em distintas regiões. A garantia deste

2
Rotterdam (soja em grão), Holanda (óleo de soja) e Hamburgo (farelo de soja).

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preço único, é validada pela processo de arbitragem, em que o bem vai sair do local mais
barato para o mais caro. Os autores demonstram a arbitragem espacial forte,
matematicamente: , em que: é o preço na região j, é o preço na região i e
representa o custo de mover o bem do local para a localização j, este custo pode ser
considerado como custo de transporte3. A versão mais fraca da lei é expressa por:
; a arbitragem garante que os preços de um mercado homogêneo em quaisquer dois locais, em
que serão diferentes, no máximo, se houver custo de mover o bem da região com o preço mais
baixo para a região com o preço mais alto, garantido pela regularidade de transações.
Vale destacar que Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) referem-se a ATP como
uma transmissão de bem-estar diferente da que é praticada sob condições de simetria. Com
ATP, um grupo é beneficiado de uma variação nos preços de maneira desigual defronte a
outro grupo.
Os estudos de ATP de Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) apontam para três
diferentes manifestações de assimetria. O movimento dos preços pode ocorrer em função da
magnitude e velocidade, podendo ser ainda positiva ou negativa. Ainda, em relação aos níveis
de mercado, a assimetria pode ser de forma vertical ou espacial, quando os mercados estão
distantes.
Com essa condição Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) constataram que o modelo
de ATP é estruturado na noção de que os aumentos nos preços são mais rapidamente e
completamente repassados pelo atacado aos consumidores (varejo) do que as reduções. Os
agentes entre o consumidor e o produtor usam o poder de mercado para ganhar vantagem em
determinado período de tempo em função das variações dos preços.
Sobre o critério de presença de assimetria negativa ou positiva em mercados, Meyer e
Von Cramon-Taubadel (2004) consideraram que quando o preço de saída (preço das
commodities) reage mais rapidamente aos aumentos nos preços de entrada (taxa de câmbio),
do que para suas respectivas quedas, a assimetria é considerada como positiva. Caso
contrário, a assimetria será negativa, ou seja, figura a situação correspondente quando os
preços das commodities reagem mais rapidamente as quedas da taxa de câmbio. O terceiro
critério, destacado pelos autores supracitados, refere-se à transmissão assimétrica nos preços
entre os mercados que pode ser do tipo vertical (diferentes níveis de mercado) ou espacial
(entre mercados espacialmente separados).

3 Considerações acerca da assimetria de transmissão de preços

Esta seção apresenta alguns estudos sobre ATP, com diferentes propostas
metodológicas aplicadas a assimetria espacial e modelos com o uso do mecanismo de
correção de erros (ECT). Knetter (1994) usou dados em painel para o estudo de assimetria de
transmissão de preços entre as exportações da indústria e a taxa de câmbio, ou seja, o
ajustamento dos preços das exportações pode ser assimétrico em relação as flutuações
cambiais. O estudo testou a presença de assimetria de transmissão de preços usando dados em
painel sobre as exportações da indústria alemã e japonesa em função das depreciações e
valorizações cambiais, o período estudado foi de 1973-87 para as exportações japonesas e
1975-87 para as exportações alemãs. Na maioria das indústrias estudadas, para ambos países,
diagnosticou-se a presença de assimetria de preços.
Balcombe, Bailey e Brooks, (2007) diagnosticaram a presença de transmissão de
preços entre os mercados da soja, trigo e milho, entre os países, dos Estados Unidos,
Argentina e o Brasil. A análise dos dados em frequências mensais, corresponde ao período

3
Mais precisamente, é uma soma de todos os custos relevantes para transações de localidade espacialmente
separadas.

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entre agosto de 1986 a maio de 2001. Os resultados apontaram evidências de threshold para
três dos cinco pares de preços investigados.
Baptista (2015) estimou pelo Modelo de Correção de Erros (MCE), para o período
diário de 4 de setembro de 2002 até 29 de agosto de 2014. O trabalho diagnostiou a presença
de ATP em relação das variações no preço do café arábica no mercado internacional (bolsa de
New York) em função do mercado nacional de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Os
resultados apontaram para a presença de ATP, ou seja, as reduções de preços são repassadas
mais intensamente do que os aumentos, com excessão de Minas Gerais que não se
revelouassimétrica.
Tifaoui e Cramon‐Taubadel (2016) constaram a existência de assimetria de
transmissão de preços no mercado de manteiga na Alemanha. Testaram a hipótese de que os
preços de vendas temporárias (preços promocionais) são capazes de influenciar os resultados
da análise de transmissão vertical de preços, via modelagem TAR. Usando um conjunto de
dados semanais de 2005 a 2010, compararam as estimativas de transmissão vertical de preços
do atacado ao nível de varejo. Os resultados confirmam que os preços de venda temporários
aumentam a velocidade e a assimetria da transmissão vertical dos preços. Esses resultados
agregam uma causa potencial de assimetria, como o poder de mercado.
Sintetizando, os trabalhos apresentados nesta seção constituem diferentes modelagens
e constatações da presença de transmissão de preços assimétrica para distintos mercados. A
seção que segue descreve a metodologia e a fonte de dados empregados na presente pesquisa.

4 Metodologia

No modelo estruturado por Houck (1977), a variável temporal é influenciada pelos


valores de . Parte-se da hipótese de que aumentos e quedas em de momento a momento
da série estudada apresentam impactos diferentes em . Para a presente pesquisa, a variável
representa o preço das commodities (preço internacional) e a variável representa a taxa
de câmbio. Neste sentido, algumas evoluções econométricas são aplicadas Frey e Manera
(2007) e Baptista (2015) em função do uso do mecanismo de correção de erro (ECT4).
Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) e Baptista (2015) salientam que a inclusão do
modelo do ECT permite a capturar a relação de cointegração cumulativa de longo prazo das
séries estudadas. Com isto, a análise de curto e longo prazo pode ser vista no modelo
completo de correção de erros descrito, matematicamente em na equação (1):
+ − +
𝛥𝑃𝐶𝑖,𝑡 = 𝛼0 + ∑𝐾 + 𝐾 − +
𝑘=1 𝛼1 ∆𝑃𝐶𝑖,𝑡−1 + ∑𝑘=1 𝛼2 ∆𝑃𝐶𝑖,𝑡−1 𝛼3 ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1

+ −
+∑𝐾 + −
𝑘=1 𝛼4 ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 + 𝛼5 ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1
(1)


+ ∑𝐾 − + −
𝑘=1 𝛼6 ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 + 𝛼7 𝐸𝐶𝑇𝑡−1 + 𝛼8 𝐸𝐶𝑇𝑡−1 + 𝜀𝑡

em que: k = 1, 2,...K; i = 1, 2... n; t= 1, 2,... T; 𝛼𝑖 são os parâmetros que mensuram a presença


de assimetria no modelo estudado; 𝛥𝑃𝐶𝑖 é o preço pago pela soja em grão5, farelo e óleo se
soja, em que Δ𝑃𝐶𝑖𝑡 = 𝑃𝐶𝑖1 - 𝑃𝐶𝑖0 ; 𝑃𝑇𝐶𝑓 é o preço do euro frente ao dólar. A equação (1)
representa uma generalização da formulação a ser utilizada para a análise dos dados em
painel; a seção que segue apresenta os principais procedimentos a serem seguidos para a
aplicação do método em dados em painel.

É o resíduo das séries de preços estudadas, ou seja, 𝐸𝐶𝑇𝑡 = 𝑃𝑆𝑑,𝑡 − 𝛼0 − 𝛼1 ∆𝑃𝑆𝑓,𝑡


4
5
Em Rotterdam (soja em grão), na Holanda (óleo de soja) e em Hamburgo (farelo de soja) respectivamente.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Através da estimação do modelo (1) Frey e Manera (2007) discutem diferentes tipos
de assimetrias, neste estudo a serem calculadas são descritos no Quadro 1.

Quadro 1 – Tipos de Assimetrias e suas ocorrências


Tipo Finalidade Testa Hipótese
Assimetria de Tempo de Reação Testar o tempo de reação entre H0: Simetria
𝛼1 + = 𝛼2 −
(ATR) 𝑃𝑆𝑑,𝑡 e 𝑃𝑆𝑑,𝑡−1 H1:Assimetria
Assimetria de Impacto Testar o impacto contemporâneo H0:Simetria
𝛼3 + = 𝛼5 −
Contemporâneo (AIC) entre 𝑃𝐶𝑖 𝑒 𝑃𝑇𝐶𝑓 H1:Assimetria
Assimetria do Efeito Defasagem Testar a assimetria de defasagem H0:Simetria
𝛼4𝑖 + = 𝛼6𝑖 −
(AED) acumulada. H1:Assimetria
+ 𝐾−
Assimetria de Impacto Acumulado Testar a assimetria acumulado ao ∑𝐾𝑘=1 = ∑𝑘=1. H0: Simetria
(AIA) longo do tempo. H1:Assimetria
Assimetria de Trajetória de Ajuste Testar a assimetria na velocidade H0: Simetria
𝛼7 + = 𝛼8 −
para o Equilíbrio (ATAE) de convergência. H1:Assimetria
Fonte: elaborado pela autora.

Depois de formalizada a metodologia a ser empregada na análise de assimetria, as


variáveis foram logaritimizadas, para que as variáveis expressem a elasticidade de assimetria
de transmissão de preços. Em seguida, as variáveis foram diferenciadas. Por fim, foram
construídas as variáveis relativas aos aumentos e as quedas nos preços. Com isto, utiliza-se do
modelo descrito pela equação (1) via dados em painel, ou seja, o preço das commodities da
soja implicam três indivíduos, estes que sofrem influências das variações da taxa de câmbio
(euro/dólar).
Isto posto, Greene (2008) salienta que a análise de dados em painel permite a
utilização de modelos via pooled, efeito fixo, efeito aleatório e parâmetros aleatórios. A
modelagem pooled não identifica heterogeneidade entre os indivíduos estudados, ou seja, os
dados são empilhados e estimam-se os parâmetros via MQO. Matematicamente, o modelo
geral de dados em painel é definido por: ,em que: i é o indicador
indivíduos e t de tempo; é um vetor linha dos regressores sem intercepto; capta a
heterogeneidade inclusive o intercepto; é o resíduo. A o efeito individual é definido pelo
termo , no qual contém um termo constante e um conjunto de variáveis individuais
observadas ou não observadas, sendo considerado constante ao logo do tempo t (GREENE,
2008; BALTAGI, 2005).
A determinação da modelagem a ser utilizada é feita a partir de testes. Para decidir
entre o método entre pooled ou Efeito Fixo, utiliza-se o teste Chow. Sabe-se que a
modelagem de Efeito Fixo assume a heterogeneidade preservada por um intercepto para cada
grupo de painel. O teste Chow usa a hipótese nula de pooled e a hipótese alternativa que é de
que as heterogeneidades estão presentes no modelo.
O teste de Breusch-Pagan é utilizado para a escolha ótima entre pooled ou Efeito
Aleatório. A modelagem de Efeito Aleatório especifica que o termo de erro do modelo ui é
um elemento aleatório e específico do grupo. Assim, o teste possui a hipótese nula de que a
variância do termo estocástico (ui) do modelo é igual a zero.
Os testes de Hausman e Mundlak podem ser utilizados para se testar a modelagem
entre Efeito Aleatório ou Efeito Fixo. O teste de Hausman é indicado quando os dados não
possuem heterocedasticidade. Os dois testes tem como hipótese nula a estimação por Efeito
Aleatório, e a hipótese alternativa é de Efeito Fixo assumindo a heterogeneidade individual.
O teste de Wald testa a presença de heterocedasticidade do grupo para a modelagem
de Efeito Fixo. Segundo Greene (2008) a hipótese nula é de homocedasticidade e a hipótese
alternativa da presença de heterocedasticidade. O teste de FIV- Fatores de Inflacionamento da
Variância testa a presença de multicolineariedade, em que valores de FIV>10 pode indicar

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

problema de multicolinearidade.Depois, da realização dos testes propostos pode-se prosseguir


com a modelagem a ser aplicada e discutir os resultados de dados em painel.
Os dados dos preços utilizados nesta pesquisa foram obtidos no site da United Nations
Conferenceon Trade and Development-(UNCTAD, 2017). O período é mensal e referente aos
meses de janeiro de 2000 a janeiro de 2017, totalizando 204 observações por cross-section.
Os preços das commodities estão expressos em dólares por tonelada.

5 Resultados e Discussão

Os resultados desta pesquisa são descritos na tabela 1, que representam o p-valor dos
testes para a equação (1). Como descrito anteriormente, os testes indicam a modelagem via
pooled como mais eficiente para este conjunto de dados.O teste Chow não rejeitou a hipótese
H0 de pooled; o teste de Breusch-Pagan não rejeita a hipótese H0 de modelagem via pooled,
confirmando a modelagem pooled como mais eficiente. O teste de heterocedasticidade
(White) e multicolienariedade (VIF) rejeita a hipótese nula. O teste de VIF demonstrou que as
variáveis de diferença, com somatório, apresentaram valores superior a 10, como já esperado
por estarem correlacionadas com as respectivas diferenças.

Tabela 1 – Estatísticas dos testes e hipóteses para modelos de dados em painel


Testes Hipóteses dos Testes P-valor
H0 : Modelagem pooled
Chow 0,0594*
H1 : Modelagem de EF
H0 : Modelagem pooled
Breusch-Pagan 0,2897*
H1 : Modelagem de EA
H0 :Homocedasticidade
White 0,0000**
H1 :Heterocedasticidade
*ao nível de 5% de significância; **ao nível de 1% de significância.Fonte: elaboração própria.

A partir disto, por se tratar de um modelo pooled com heterocedasticidade, apresenta-


se o modelo estimado pela equação (1) com correção de erros robustos por Arellano. É
possível verificar que todas as variáveis são significativas, com exceção das variáveis de
efeito defasagem e . Cabe salientar que nenhuma defasagem
mostrou-se significativa da variável taxa de câmbio para explicar o comportamento de curto
prazo dos preços das commodities, ilustrado na tabela 2.
A partir da modelagem utilizada é possível concluir que há de transmissão de preços
em todas as variáveis estudadas, sendo que todas demostraram-se significativas, ou seja, com
parâmetros diferentes de zero, com exceção das variáveis Ʃ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 − e Ʃ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 + . que
representam o efeito defasagem (AED).

Tabela 2 – Resultados do modelo pooled corrigido


Variável Parâmetro P-valor VIF
Const. (𝛼0 ) 0,009 0,0000* -
∆𝑃𝐶𝑖,𝑡−1 + (𝛼1 ) 0,011 0,0679*** ns
∆𝑃𝐶𝑖,𝑡−1 − (𝛼2 ) 0,024 0,1037*** ns
∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 + (𝛼3 ) −1,112 0,0000* s
Ʃ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 + (𝛼4 ) -0,001 0,9495 ns
∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 + (𝛼5 ) −1,581 0,0000* s
Ʃ∆𝑃𝑇𝐶𝑓,𝑡−1 − (𝛼6 ) 0,001 0,9702 ns
𝐸𝐶𝑇𝑡−1 + (𝛼7 ) 0,026 0,0000* s
𝐸𝐶𝑇𝑡−1 − (𝛼8 ) 0,082 0,0000* s
Tipo ATP Teste p-valor Diagnóstico
ATR 𝛼1 + = 𝛼2 − 0,0923*** Assimetria

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AIC 𝛼3 + = 𝛼5 − 0,0000* Assimetria
+ −
AED 𝛼4𝑖 = 𝛼6𝑖 0,9967 ns
ATAE 𝛼7 + = 𝛼8 − 0,0000* Assimetria
*1% de significância;**5% de significância;***10% de significância; s(significativo) VIF<10 e ns(não
significativo). Fonte: elaboração própria.

Ao analisar a presença de assimetria de tempo de reação (ATR), é possível identificar


uma assimetria negativa. O parâmetro negativo tem maior magnitude que o positivo. No curto
prazo, uma variação de 1% no preço das commodities tende a influenciar uma queda (0,024%)
do preço da commodity acumulado, mais intensa do que seus aumentos (0,011%).
Com relação à presença de assimetria de impacto contemporâneo (AIC), é possível
detectar a presença de assimetria no mercado estudado. Rejeita-se a hipótese nula de simetria,
em que os impactos contemporâneos positivos e negativos são estatisticamente diferentes
entre si, validando a presença de ATP. Os aumentos da taxa de câmbio (desvalorização da
taxa de câmbio) tendem a ser menos intensos do que as respectivas quedas, caracterizando
assimetria negativa. Exemplificando, um aumento na taxa de câmbio de 1%, espera-se que, no
mesmo mês, as variações positivas das commodities caiam 1,11%; e um aumento de 1% na
taxa de câmbio espera-se uma queda de 1,58% nas variações negativas dos preços das
commodities. Neste sentido, os sinais estão de acordo com a teoria econômica. A partir de um
aumento na taxa de câmbio (valorização cambial), tende a diminuir os preços das
commodities, em virtude do aumento da demanda pelo produto que faz com que os preços
caiam.
A presença de assimetria de efeito defasagem (AED) não se revelou conclusiva, pois
os parâmetros não rejeitaram a hipótese nula de significância dos parâmetros. Ainda, os
parâmetros que mensuram a relação de Assimetria de Trajetória de Ajuste para o Equilíbrio
(ATAE), que testam a assimetria na velocidade de convergência. Foi possível detectar a
presença de assimetria no mercado estudado. Rejeita-se a hipótese nula de simetria, em que a
trajetória de ajuste de equilíbrio positiva e negativa são estatisticamente diferentes entre si,
validando a presença de ATP. O mecanismo de correção de erros para as variações positivas e
negativas é significativo e capta como a trajetória de longo prazo ajusta os desvios
momentâneos de curto prazo. É possível dizer que, a cada mês, o tende a ajustar a
trajetória de longo prazo em 0,026% e o tende a ajustar a trajetória de longo prazo
0,082%.
Com relação ao tipo de ATP, constatadas no presente trabalho, ressalta-se a existência
de assimetria espacial entre os mercados estudados, ou seja, as variações positivas e negativas
da taxa de câmbio influenciam assimetricamente os preços europeus da soja em grão, farelo e
óleo. Além disto, há presença de assimetria de impacto contemporâneo (AIC) do tipo
negativa; assimetria de assimetria de tempo de reação (ATR) negativa, um resultado
inconclusivo para assimetria de efeito defasagem (AED), pois os parâmetros não foram
significativos e se rejeitando a hipótese nula de simetria, não se rejeita a presença de
Assimetria de Trajetória de Ajuste para o Equilíbrio (ATAE).
Os resultados encontrados confirmam os pressupostos da LPU, apontados por Fackler
e Goodwin (2001) para mercados integrados os quais definem a transmissão de preços a partir
do processo de arbitragem. Embora ainda seja muito antecipado de imaginar, mas com base
na literatura para a presença de ATP em mercados, pode-se inferir que a transmissão
assimétrica de preços é essencialmente determinada pelo poder de mercado. Estudos que
corroborem estes argumentos são ainda necessários.

6 Conclusão

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O presente trabalho se propôs analisar o comportamento dos preços das commodities


da soja europeias em função das variações da taxa de câmbio (euro/dólar). Para isso, utilizou-
se da análise de dados em painel via mecanismo de correção de erros (ECT) para detectar
ATP, os tipos de ocorrências dessa transmissão espacial, bem como a velocidade e magnitude
do processo. A base teórica permitiu entender que existe integração entre os mercados em
função da existência de transmissão de preços. Esta última foi identificada como assimétrica.
O modelo econométrico utilizado mostrou-se eficiente para estudar a presença de ATP
nos mercados analisados, em função dos tipos de assimetria a serem manifestados entre os
preços. Os resultados apontam que os mercados estudados são caracterizados por ATP do tipo
espacial (o mercado das commodities em função das variações positivas e negativas da taxa de
câmbio (euro/dólar)), negativa para AIC, ATR e ATAE e não conclusiva para AED.
Para futuras reflexões, sugere-se a realização de novas pesquisas agregando ao modelo
ATP outras variáveis que afetam os preços da soja, como os custos de ajustamentos, por
exemplo. Por fim, pode-se perceber uma carência de estudos aplicando a modelagem de
dados em painel para mensurar a integração e a assimetria de transmissão de preços entre
mercados.

REFERÊNCIAS
BALCOMBE, K.; BAILEY, A.; BROOKS, J. Threshold effects in price transmission: the case of Brazilian
wheat, maize, and soya prices. American Journal of Agricultural Economics, v. 89, n. 2, p. 308-323, 2007.
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BAPTISTA, D. de M. Integração e assimetrias na transmissão de preços de café arábica no Brasil. 2015. 94
p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de
São Paulo, Piracicaba, 2015.
BATALHA, M. O. (Coord.), Gestão agroindustrial. Vol. 1. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
FACKLER, P. L.; GOODWIN, B. K. Spatial price analysis. Handbook of agricultural economics, v. 1, p. 971-
1024, 2001.
FREY, G.; MANERA, M. Econometric models of asymmetric price transmission. Journal of Economic
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GREENE, W. H. Econometric analysis. 6 ed.,New Jersey: Prentice Hall, 2008.
HOUCK, J. P. An Approach to Specifying and Estimating Nonreversible Functions. American Journal of
Agricultural Economics, v. 59, n. 3, p. 570 – 572, 1977.
KNETTER, M. M. Is export price adjustment asymmetric?: evaluating the market share and marketing
bottlenecks hypotheses. Journal of International Money and Finance, v. 13, n. 1, p. 55-70, 1994.
MARSHALL, A. Princípios de economia. São Paulo: Nova Cultura, 2 ed., v.2, 1985.
MEYER, J.; CRAMON‐TAUBADEL, S. Asymmetric price transmission: a survey. Journal of agricultural
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TIFAOUI, S.; CRAMON‐TAUBADEL, S. Temporary Sales Prices and Asymmetric Price Transmission.
Agribusiness, 2016.
UNCTAD, United nations conference on trade and development. Disponível em: <
http://unctad.org/en/Pages/statistics.aspx>. Acesso em 20.03.2017.

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Mercado e formação do preço dos herbicidas no Brasil: uma análise


econométrica com base em informações primárias coletadas na
Mesorregião Noroeste Rio-Grandense
Rodrigo Pozzer Centeno1, Nilson Luiz Costa2, Paloma de Mattos Fagundes3

1
Universidade Federal de Santa Maria – Palmeira das Missões/RS, Brasil, rpozzer@yahoo.com.br
2
Universidade Federal de Santa Maria – Palmeira das Missões/RS, Brasil, nilson.costa@ufsm.br
3
Universidade Federal de Santa Maria – Palmeira das Missões/RS, Brasil, palomattos@hotmail.com

Resumo. Atualmente, a indústria de defensivos agrícolas se constitui como uma importante atividade econômica,
sobretudo porque contribui decisivamente para o aumento da produtividade agropecuária no Brasil e no Mundo.
As primeiras multinacionais do segmento chegaram ao Brasil a partir de 1975. Posteriormente, o segmento foi
impulsionado pela criação do Programa Nacional de Defensivos Agrícolas. O Brasil é um dos principais
consumidores mundiais e o mercado opera com características de concorrência monopolística, pois os produtores
de defensivos podem exercer controle de preços e atuam estrategicamente na definição das estratégias de
comercialização. Nesta perspectiva, a presente pesquisa tem por objetivo analisar o processo de formação dos
preços dos herbicidas na venda de defensivos agrícolas na mesorregião Noroeste Rio-Grandense, a partir de uma
amostra coletada em empresas envolvidas com o segmento citado. A base de dados de preços contempla o período
01/2014 a 04/2017. A pesquisa, de natureza quantitativa, contemplou a estimação de seis equações econométricas
com vistas a identificar os processos de transmissão de preços entre produtos com princípio ativo equivalentes,
mas de marcas concorrentes. O problema científico da presente pesquisa constituiu-se em responder a seguinte
questão norteadora: em que medida as multinacionais consideram o preço da concorrência para estabelecer o preço
de seus principais herbicidas, no mercado brasileiro de defensivos agrícolas? Verificou-se que o preço dos
herbicidas Cletodim, Glifosato e 2,4-D, de diferentes marcas, são explicados pelo produto concorrente, taxa real
de câmbio e preço da soja.
Palavras-chave: Formação de Preço, Defensivos Agrícolas, Econometria.

Market and price formation of herbicides in Brazil: an econometric


analysis based on primary information collected in the state of Rio Grande
do Sul/Brazil
Abstract. Currently, the agro-defense industry is an important economic activity, mainly because it contributes
decisively to the increase of agricultural and livestock productivity in Brazil and in the World. The first
multinationals of the segment arrived in Brazil from 1975. Subsequently, the segment was driven by the creation
of the National Program of Agricultural Defenses. Brazil is one of the main consumers worldwide and the market
operates with monopolistic competition characteristics, since producers of pesticides can exercise price control
and act strategically in the definition of marketing strategies. In this perspective, the present research has the
objective of analyzing the herbicide price formation process in the sale of pesticides in the Noroeste Rio-
Grandense mesoregion, based on a sample collected from companies involved with this segment. The price
database covers the period 01/2014 to 04/2017. The quantitative research contemplated the estimation of six
econometric equations in order to identify the processes of price transmission between products with equivalent
active principle, but of competing brands. The scientific problem of the research was to answer the following
guiding question: to what extent do multinationals consider the price of competition to establish the price of their
main herbicides in the Brazilian market for agricultural pesticides? It has been found that the price of the
herbicides Cletodim, Glyphosate and 2,4-D of different brands are explained by the competing product, real
exchange rate and soybean price.
Key words: Price Formation, Agricultural Defenses, Econometrics.

1. Introdução

A indústria de defensivos agrícolas surgiu após a Primeira Guerra Mundial, mas se


intensificou nos Estados Unidos e Europa após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, o
surgimento desta indústria se deu por volta de 1945 e durante o período da modernização da

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agricultura nacional se expandiu significativamente. Após 1975, as indústrias de defensivos


agrícolas começaram a se instalar no Brasil, oportunidade em que chegaram no país as
principais multinacionais do mercado. Neste período foi criado o Programa Nacional de
Defensivos Agrícolas, cujo objetivo foi realizar avaliações do consumo e o desempenho da
produção nacional de defensivos agrícolas (TERRA; PELAEZ, 2009).
Impulsionados por conta da industrialização da economia brasileira, modernização da
agricultura nacional, políticas públicas de financiamento agrícola e as estratégias das
multinacionais em se instalarem em outros países como o Brasil (TERRA; PELAEZ, 2009), a
indústria brasileira de defensivos agrícolas cresceu rapidamente alcançou faturamento
aproximado de US$ 9,6 bilhões no ano de 2015 (SINDIVEG, 2016).
Este segmento, no Brasil, alcançou magnitude tal que a retração do setor brasileiro de
defensivos no Brasil, verificada em 2014, forçou uma queda, no mercado global, de 9,8%,
totalizando US$ 54,6 bilhões. Portanto, 2014 foi o primeiro ano em que o mercado global caiu
nesta década, pondo fim a um período de crescimento de cinco anos. Dentre os motivos que
levaram o Brasil a contribuir para esta queda, estão a desvalorização do Real, o contrabando no
Brasil (que pode chegar a 20% dos defensivos comercializados) e a dificuldade de obtenção de
linhas de crédito rural (que afeta o fluxo de compra dos mesmos e leva ao aumento dos estoques
da indústria e canais de distribuição) (SINDIVEG, 2016).
Conforme destacam Costa e Santana (2014), este é um segmento que opera elevados
índices de concentração e poder de mercado.
Os defensivos agrícolas são produtos importantes para o agronegócio, pois viabilizam a
proteção e manejo de cultivares, essenciais para o aumento da produtividade agropecuária e
consequente geração de renda, empregos e possibilitam, juntamente com os outros insumos,
elevadas produtividades de soja, milho, trigo, aveia, forrageiras, entre outros grãos de elevada
importância nacional.
Assim sendo, o presente estudo tem por objetivo analisar a formação dos preços dos
herbicidas na venda de defensivos agrícolas na mesorregião do Noroeste Rio-Grandense e quais
são as principais variáveis que o interferem em sua formação. Este mercado é dominado por
grandes multinacionais e se observa operar em concorrência monopolística, posto que poucos
grandes grupos detém o controle da maior parte dos princípios ativos utilizados para o controle
de fungos, pragas, ervas invasoras e outros.
A questão norteadora da presente pesquisa foi: em que medida as multinacionais
consideram o preço da concorrência para estabelecer o preço de seus principais herbicidas, no
mercado brasileiro de defensivos agrícolas?

2. Material e Métodos

Para responder ao problema e atender aos objetivos da pesquisa, realizou-se um estudo


de natureza exploratória com abordagem quantitativa.
Foram especificados seis modelos de regressão logarítmica múltipla (equações 1 a 6) e
estimados pelo Métodos dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO).

𝐿𝑜𝑔𝑃𝑜𝑞𝑢𝑒𝑟𝑡 = 𝛼 + 𝛽1 𝑙𝑜𝑔𝑆𝑒𝑙𝑒𝑐𝑡𝑡 + 𝛽2 𝑙𝑜𝑔𝑃𝑆𝑜𝑗𝑎𝑡 + 𝛽3 𝑙𝑜𝑔𝑇𝑅𝐶𝑡 + 𝐴𝑅(1) + 𝜀 (1)

𝐿𝑜𝑔𝑆𝑒𝑙𝑒𝑐𝑡𝑡 = 𝛼 + 𝛽1 𝑙𝑜𝑔𝑃𝑜𝑞𝑢𝑒𝑟𝑡 + 𝛽2 𝑙𝑜𝑔𝑃𝑆𝑜𝑗𝑎𝑡 + 𝛽3 𝑙𝑜𝑔𝑇𝑅𝐶𝑡 + 𝐴𝑅(1) + 𝜀 (2)

𝐿𝑜𝑔𝐺𝑙𝑖𝑇𝑟𝑜𝑝𝑡 = 𝛼 + 𝛽1 𝑙𝑜𝑔𝐺𝑙𝑖𝐴𝑡𝑎𝑛𝑜𝑟𝑡 + 𝛽2 𝑙𝑜𝑔𝑃𝑆𝑜𝑗𝑎𝑡 + 𝛽3 𝑙𝑜𝑔𝑇𝑅𝐶𝑡 + 𝐴𝑅(1) + 𝜀 (3)

𝐿𝑜𝑔𝐺𝑙𝑖𝐴𝑡𝑎𝑛𝑜𝑟𝑡 = 𝛼 + 𝛽1 𝑙𝑜𝑔𝐺𝑙𝑖𝑇𝑟𝑜𝑝𝑡 + 𝛽2 𝑙𝑜𝑔𝑃𝑆𝑜𝑗𝑎𝑡 + 𝛽3 𝑙𝑜𝑔𝑇𝑅𝐶𝑡 + 𝐴𝑅(1) + 𝜀 (4)

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𝐿𝑜𝑔2,4𝐷𝐴𝑚𝑖𝑛𝑜𝑙𝑡 = 𝛼 + 𝛽1 𝑙𝑜𝑔2,4𝐷𝑁𝑜𝑟𝑡𝑜𝑥𝑡 + 𝛽2 𝑙𝑜𝑔𝑃𝑆𝑜𝑗𝑎𝑡 + 𝛽3 𝑙𝑜𝑔𝑇𝑅𝐶𝑡 + 𝐴𝑅(1) + 𝜀 (5)

𝐿𝑜𝑔2,4𝐷𝑁𝑜𝑟𝑡𝑜𝑥𝑡 = 𝛼 + 𝛽1 𝑙𝑜𝑔2,4𝐷𝐴𝑚𝑖𝑛𝑜𝑙𝑡 + 𝛽2 𝑙𝑜𝑔𝑃𝑆𝑜𝑗𝑎𝑡 + 𝛽3 𝑙𝑜𝑔𝑇𝑅𝐶𝑡 + 𝐴𝑅(1) + 𝜀 (6)

Em que:
𝐿𝑜𝑔𝑃𝑜𝑞𝑢𝑒𝑟𝑡 é o logaritmo do princípio ativo o Clethodim, marca comercial Poquer, em R$ de 03/2017;
𝐿𝑜𝑔𝑆𝑒𝑙𝑒𝑐𝑡𝑡 é o logaritmo do princípio ativo o Clethodim, marca comercial Select, em R$ de 03/2017;
𝐿𝑜𝑔𝐺𝑙𝑖𝑇𝑟𝑜𝑝𝑡 é o logaritmo do preço do Glifosato marca comercial Trop, em R$ de 03/2017;
𝐿𝑜𝑔𝐺𝑙𝑖𝐴𝑡𝑎𝑛𝑜𝑟𝑡 é o logaritmo do preço do Glifosato marca comercial Atanor, em R$ de 03/2017;
𝐿𝑜𝑔2,4𝐷𝐴𝑚𝑖𝑛𝑜𝑙𝑡 é o logaritmo do preço do 2,4-D, marca comercial Aminol, em R$ de 03/2017;
𝐿𝑜𝑔2,4𝐷𝑁𝑜𝑟𝑡𝑜𝑥𝑡 é o logaritmo do preço do 2,4-D marca comercial Nortox, em R$ de 03/2017;
α é o valor do intercepto geral da equação;
𝐿𝑜𝑔𝑃𝑆𝑜𝑗𝑎𝑡 é o logaritmo do preço da soja em Passo Fundo, em R$ de 03/2017;
𝐿𝑜𝑔𝑇𝑅𝐶𝑡 é o logaritmo da Taxa Real de Câmbio;
βj são os parâmetros a serem estimados;
ε é o termo de erro aleatório da equação e o
𝐴𝑅(1) é o termo autorregressivo de primeira ordem, inserido nas equações para corrigir os problemas
relacionados a autocorrelação nos resíduos.

Após estimados os modelos, procedeu-se a análise dos resíduos, principalmente para


identificar e corrigir possíveis surgimentos de casos outliers (através da análise dos resíduos
padronizados da regressão), autocorrelação nos resíduos (através da estatística-d de Durbin
Whatson e Teste Breusch-Godfrey para Correlação Serial), heterocedasticidade (teste de
White) e multicolinearidade (teste de Fator de Variância Inflacionária e coeficiente de
correlação de spearman).
O banco de dados utilizado para estimar as equações foi composto por dado secundários
(Preço da Soja e Taxa Real de Câmbio) e dados primários (preço dos defensivos agrícolas da
classe dos herbicidas, de janeiro de 2014 a abril de 2017).
Os dados primários foram obtidos através da aplicação de questionários em pesquisa de
campo com fornecedores, distribuidores, revendas e cooperativas que revendem estes produtos
para o agricultor. Durante o mês de maio de 2017 foram aplicados 10 questionários para coletar
informações sobre o preço dos defensivos agrícolas, por marca comercial, no período e região
de abrangência da pesquisa.
A amostra foi por conveniência e a região de aplicação dos questionários contemplou
alguns municípios situados na Mesorregião Noroeste Rio-Grandense: Boa Vista das Missões,
Campo Novo, Frederico Westphalen, Palmeira das Missões, Santo Augusto e Tenente Portela.
Os preços foram deflacionados pelo IGP-DI - geral - índice (ago. 1994 = 100). Para
cálculo da taxa real de câmbio, além do IGP-DI foi utilizado o IPC dos EUA.
Como preço da soja, utilizou-se como referência as cotações da Praça de Passo Fundo,
que dá a referência para o preço da Soja da mesorregião noroeste rio-grandense.

3. Resultados e Discussões

Os herbicidas são substâncias químicas utilizadas para controles de plantas daninhas.


Estas plantas precisam ser controladas, em alguns casos na fase inicial da cultura principal e

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em outros casos durante todo o ciclo da cultura, como aquelas áreas destinadas à produção de
sementes, já que elas competem com a cultura principal, por água, luz, CO2 e nutrientes.

3.1 Manejo de Herbicidas para o Controle de Plantas Daninhas de Azevém no RS, utilizados
em Pré-Plantio na Cultura do Trigo.

O trigo é uma Liliopsida anual, pertencente à família Poaceae e ao gênero Triticum. Na


cultura do trigo, são vários os fatores que afetam a produtividade. Um dos principais é a
competição que a lavoura instalada tem com as plantas daninhas, ocasionando estresse na planta
de trigo e consequente redução da produtividade, ou mesmo, perda da qualidade do grão
(AGOSTINETTO et al., 2013). Em função disto, antes mesmo do plantio do trigo, as plantas
daninhas devem ser eliminadas.
No Rio Grande do Sul, uma das espécies daninhas que mais geram perdas para a
triticultura é o Azevém (Lolium multiflorum), sendo de difícil controle por ser hoje uma planta
resistente ao glifosato, um herbicida sistêmico utilizado para dessecar lavouras. São vários os
métodos existentes para controle do Azevém: o controle preventivo, cultural, o físico/mecânico,
o biológico e o controle químico com o uso de herbicidas, sendo o último o método mais
utilizado e de maior eficácia (AGOSTINETTO et al., 2013).
Os herbicidas inibidores da enzima ACCase como Clethodim são eficientes quando
aplicados sobre o Azevém, sendo alternativas de manejo na pré-semeadura do trigo.
Este mercado é dominado, principalmente, por dois produtos, com diferentes nomes
comerciais (Poquer da multinacional Adama Brasil S/A e Select da multinacional Arysta
LifeScience), mas com o mesmo ingrediente ativo e composição: Clethodim 240 g/l.
A formação do preço de ambos os produtos foi estudada com base nas equações 1 e 2,
apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Equações estimadas da formação do preço do Poquer (𝑪𝒍𝒆𝒕𝑷) e Select (𝑪𝒍𝒆𝒕𝑺)


Equação 1 Equação 2
𝑳𝒐𝒈𝑷𝒐𝒒𝒖𝒆𝒓𝒕 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝒍𝒐𝒈𝑺𝒆𝒍𝒆𝒄𝒕𝒕 𝑳𝒐𝒈𝑺𝒆𝒍𝒆𝒄𝒕𝒕 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝒍𝒐𝒈𝑷𝒐𝒒𝒖𝒆𝒓𝒕
+ 𝜷𝟐 𝒍𝒐𝒈𝑷𝑺𝒐𝒋𝒂𝒕 + 𝜷𝟐 𝒍𝒐𝒈𝑷𝑺𝒐𝒋𝒂𝒕
+ 𝜷𝟑 𝒍𝒐𝒈𝑻𝑹𝑪𝒕 + 𝜷𝟑 𝒍𝒐𝒈𝑻𝑹𝑪𝒕
+ 𝑨𝑹(𝟏) + 𝜺 + 𝑨𝑹(𝟏) + 𝜺
R² Ajustado 0,805782 0,920211
Estatística – F 40,41422 110,5647
Prob. Estatística – F 0,000000 0,000000
𝜶 2,805308* 2,984088*
𝜷𝟏 0,368442** 0,115918†
Coeficiente 𝜷𝟐 -0,130706† -0,066805†
𝜷𝟑 0,555111* 0,822106*
𝑨𝑹(𝟏) 0,534713* 0,975092*
Estatística-d 2,003015 1,304380
*Estatisticamente significativo ao nível de 1% de probabilidade de erro;
**Estatisticamente significativo ao nível de 5% de probabilidade;
***Estatisticamente significativo ao nível de 10% de probabilidade;

Não significativo
Fonte: dados da pesquisa

O R-quadrado ajustado da Equação 1 indica que 80% das variações no preço do Poquer
são explicadas pelas variações no preço do Select, da Soja e na Taxa Real de Câmbio. O mesmo
coeficiente de determinação, da Equação 2, indica que 92% das variações no preço do Select
são explicadas pelas variações no preço do Poquer, da Soja e Taxa Real de Câmbio.
O coeficiente 𝜷𝟏 da Equação 1 mostra que o Select exerce influência na formação do
preço do Poquer. Nesta perspectiva, para cada 1% de aumento no preço do Select, espera-se

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uma elevação de 0,36% no preço do Poquer, ceteris paribus. Por outro lado, o coeficiente 𝜷𝟏
da Equação 2 foi estatisticamente não significativo, devido a sua alta probabilidade de erro.
O coeficiente 𝜷𝟐 das Equações 1 e 2 apresentaram alta probabilidade de erro. Em função
disto, o modelo econométrico não permitiu isolar o efeito exercido pelo preço da soja na
formação do preço dos produtos em análise.
Por outro lado, o coeficiente 𝜷𝟑 das Equações 1 e 2 permitiu identificar que para cada
unidade percentual de aumento na Taxa Real de Câmbio, espera-se 0,535% de elevação no
preço do Poquer e 0,975% de aumento no preço do Select, ceteris paribus.
Na equação 1, foram encontrados dois outliers, referentes as datas de janeiro e abril de
2015. Ambos os outliers podem ser justificados pelo reposicionamento de preços nestes
períodos específicos. A empresa detentora do Poquer estava com preço bem inferior ao
concorrente no período e elevou os mesmos para os patamares do mercado.
Na equação 2 foi encontrado um outlier em maio de 2015, onde a empresa detentora do
Select, baixou o preço abruptamente para vencer o concorrente que vinha tentando manter o
preço nivelado, o mês de maio escolhido para a baixa do preço é estratégico, já que para este
produto a maior parte de suas vendas acontecem neste mês que é o que antecede o plantio do
Trigo na região Noroeste Rio-Grandense.
A estatística-d de Durbin Watson e o Teste Breusch-Godfrey para correlação serial
indicaram a existência de autocorrelação. Em função disto, as equações foram reestimadas com
o termo autorregressivo de primeira ordem AR(1).
Os testes de Fator de Variância Inflacionária e de Heterocedasticidade de White
permitiram afastar a ocorrência de multicolinearidade e heterocedasticidade.
De acordo com a análise é possível perceber que ambos produtos sofrem interferência
em maior ou menor grau das variáveis preço do produto concorrente, soja e taxa real de câmbio,
e, se acentua em determinados períodos, de acordo com a maior demanda pelo produto, através
de campanhas especificas realizadas para o seu consumo à campo.

3.2 Manejo de Herbicidas para o Controle de Plantas Daninhas, utilizados como Pós
Emergentes e na Dessecação Pré-Plantio das principais culturas, com o uso do Glifosato.

A presença de plantas daninhas em todas as culturas, causa muitos problemas,


interferindo na qualidade do produto final colhido, reduzindo a sua produtividade e até mesmo
inviabilizando a colheita (CORREIA; REZENDE, 2002). Devido a isso uma das alternativas é
a utilização do herbicida glifosato.
O herbicida glifosato (N-(fosfonometil)glicina), não-seletivo, sistêmico e pós-
emergente, representa 60% do mercado mundial dos herbicidas não seletivos. O glifosato vem
sendo utilizado desde 1971, quando foi constatada a sua eficiência no controle de plantas
daninhas, Ele é utilizado no controle de plantas daninhas anuais e perenes, na dessecação antes
do plantio das culturas no geral, sozinho ou juntos com outros herbicidas, neste caso para
controle de plantas daninhas resistentes ao glifosato ou aumentar a sua eficiência, utilizado
também em pós-emergentes em culturas como Soja resistente ao glifosato (JUNIOR et al.,
2001).
Para investigar a formação de preço para este ingrediente ativo, estimou-se as equações
3 e 4 (Tabela 2).

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Tabela 2 - Equações estimadas da formação do preço do Trop (GliTrop) e Glifosato Atanor (GliAtanor)
Equação 3 Equação 4
𝑳𝒐𝒈𝑮𝒍𝒊𝑻𝒓𝒐𝒑𝒕 = 𝜶 𝑳𝒐𝒈𝑮𝒍𝒊𝑨𝒕𝒂𝒏𝒐𝒓𝒕 = 𝜶
+ 𝜷𝟏 𝒍𝒐𝒈𝑮𝒍𝒊𝑨𝒕𝒂𝒏𝒐𝒓𝒕 + 𝜷𝟏 𝒍𝒐𝒈𝑮𝒍𝒊𝑻𝒓𝒐𝒑𝒕
+ 𝜷𝟐 𝒍𝒐𝒈𝑷𝑺𝒐𝒋𝒂𝒕 + 𝜷𝟐 𝒍𝒐𝒈𝑷𝑺𝒐𝒋𝒂𝒕
+ 𝜷𝟑 𝒍𝒐𝒈𝑻𝑹𝑪𝒕 + 𝜷𝟑 𝒍𝒐𝒈𝑻𝑹𝑪𝒕
+ 𝑨𝑹(𝟏) + 𝜺 + 𝑨𝑹(𝟏) + 𝜺
R² Ajustado 0,938868 0,940161
Estatística – F 146,9022 150,2584
Prob. Estatística – F 0,000000 0,000000
𝜶 0,066293† -0,184346†
𝜷𝟏 0,799146* 1,090189*

Coeficiente 𝜷𝟐 0,066269 0,033195†
𝜷𝟑 0,163222* -0,211779*
𝑨𝑹(𝟏) 0,252126** 0,306236*
Estatística-d 1,609899 1,551970
*Estatisticamente significativo ao nível de 1% de probabilidade de erro;
**Estatisticamente significativo ao nível de 5% de probabilidade;
***Estatisticamente significativo ao nível de 10% de probabilidade;

Não significativo
Fonte: dados da pesquisa

O coeficiente R2-ajustado da Equação 3 indica que 93,8% das variações no preço do


Glifosato Trop são explicadas pelas variações nos preços do Glifosato Atanor, preço da soja e
a Taxa Real de Câmbio. Da mesma forma, o coeficiente R2-ajustado da Equação 3 indica que
94% das variações no preço do Glifosato Atanor são explicadas pelas variações no preço do
Glifosato Trop, preço da soja e Taxa Real de Câmbio.
O coeficiente 𝜷𝟏 da Equação 3 indica que para cada um ponto percentual de aumento no
preço do Glifosato Atanor, espera-se 0,799% de elevação no preço do Glifosato Trop, ceteris
paribus. O coeficiente 𝜷𝟏 da Equação 4 permite afirmar que cada 1% de elevação no preço do
Glifosato Trop, espera-se uma elevação de 1,09% no preço do Glifosato Atanor, ceteris paribus.
O coeficiente 𝜷𝟐 associado ao preço da soja não apresentou significância estatística para
nenhuma das equações. O coeficiente 𝜷𝟑 permite afirmar que a formação do preço do Glifosato
sofre pouca interferência da Taxa de Câmbio. Mesmo em períodos de elevação no dólar, o preço
do produto se manteve estável.
A estatística de Durbin identificou a presença de autocorrelação nos resíduos. Em
função disto, incluiu-se o termo autorregressivo de primeira ordem, AR(1). Este termo corrigiu
o problema, segundo análise dos resultado do Teste Breusch-Godfrey para Correlação Serial.
Os testes de Fator de Variância Inflacionária e de White permitem afastar a presença de
multicolinearidade e de heterocedastidade.
Identificaram-se outliers nas Equações 3 e 4. Os mesmos foram mantidos. Segundo
relatos dos empresários, as compras são feitas em grandes quantidades e são influenciadas pelo
dólar, mas apenas em determinados períodos de tempo. Por ser um produto de elevada procura,
em geral, as empresas mantêm estoques elevados, o que possibilita escolher a melhor data para
a compra do produto. Em alguns casos, as revendas supriam seus clientes com o estoque do ano
anterior e optam por aguardar a tendência de mercado para recompor estoques.
Por ser o glifosato um produto genérico/pós patente, de menor valor agregado, onde boa
parte das empresas possuem estes produtos para venda, ocorre uma guerra de preços, com
pouco diferenciação no produto isolado. Devido a isso as empresas que investem em pesquisa
e desenvolvimento dificilmente vendem produtos genéricos isolados, a venda é realizada em
portfólio, com mais de um produto em uma negociação.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

3.3 Manejo de Herbicidas para o Controle de Plantas Daninhas, utilizados na Dessecação


Pré-Plantio das principais culturas, com o uso de produtos à base de 2,4-D.

O herbicida ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D), é amplamente utilizado no controle


de plantas dicotiledôneas (de folhas largas), por isso geralmente sua aplicação é associada a
outros herbicidas para controle de folhar estreitas, entre eles os glifosatos e os graminicidas,
como o Cletodim 240.
Para avaliar o ambiente em que se formam os preços, estimou-se as Equações 5 e 6. Os
produtos de nome comercial Aminol 2,4-D e 2,4-D Nortox.
Tabela 3 - Equações econométricas representativas da formação do preço do Aminol 2,4-D e 2,4-D Nortox
Equação 5 Equação 6
𝑳𝒐𝒈𝟐, 𝟒𝑫𝑨𝒎𝒊𝒏𝒐𝒍𝒕 𝑳𝒐𝒈𝟐, 𝟒𝑫𝑵𝒐𝒓𝒕𝒐𝒙𝒕
=𝜶 =𝜶
+ 𝜷𝟏 𝒍𝒐𝒈𝟐, 𝟒𝑫𝑵𝒐𝒓𝒕𝒐𝒙𝒕 + 𝜷𝟏 𝒍𝒐𝒈𝟐, 𝟒𝑫𝑨𝒎𝒊𝒏𝒐𝒍𝒕
+ 𝜷𝟐 𝒍𝒐𝒈𝑷𝑺𝒐𝒋𝒂𝒕 + 𝜷𝟐 𝒍𝒐𝒈𝑷𝑺𝒐𝒋𝒂𝒕
+ 𝜷𝟑 𝒍𝒐𝒈𝑻𝑹𝑪𝒕 + 𝜷𝟑 𝒍𝒐𝒈𝑻𝑹𝑪𝒕 + 𝑨𝑹(𝟏)
+ 𝑨𝑹(𝟏) + 𝜺 +𝜺
R² Ajustado 0,963183 0,964136
Estatística – F 249,5357 256,3889
Prob. Estatística – F 0,000000 0,000000
𝜶 † 1,137817**
-0,288306
𝜷𝟏 0,710836* 0,683007*
Coeficiente 𝜷𝟐 0,182622** -0,217709**
𝜷𝟑 0,252094* 0,368806**
𝑨𝑹(𝟏) 0,602152* 0,937728*
Estatística-d 1,848215 1,636963
*Estatisticamente significativo ao nível de 1% de probabilidade de erro;
**Estatisticamente significativo ao nível de 5% de probabilidade;
***Estatisticamente significativo ao nível de 10% de probabilidade;

Não significativo
Fonte: dados da pesquisa

O coeficiente de determinação R-quadrado ajustado das equações 5 e 6 permitem


afirmar que 96% das variações do Aminol 2,4-D e 2,4-D Nortox. São explicados pelas variações
no preço do produto concorrente, da Soja e na Taxa Real de Câmbio.
Na Equação 5, o parâmetro 𝜷𝟏 permite afirmar que para cada 1% de aumento no preço
do 2,4-D Nortox espera-se 0,71% de elevação no preço do Aminol 2,4-D, ceteris paribus. Na
equação 6, o parâmetro 𝜷𝟏 permite afirmar que para cada 1% de aumento no preço do Aminol
2,4-D 0,68% de elevação no preço do 2,4-D Nortox, ceteris paribus. Os coeficientes foram
estatisticamente significativos ao nível de 1% de probabilidade de erro.
Ao analisar os parâmetros 𝜷𝟐 associados ao preço da soja, identificou-se que sinal
positivo na Equação 5 e negativo na Equação 6. Esta situação chama atenção, sobretudo porque
a dinâmica de mercado dos produtos é equivalente. Deste modo, novos estudos devem
aprofundar a análise.
A taxa de câmbio exerce um efeito moderado sobre o preço dos produtos em análise.
No caso, o 2,4D Nortox sofre maior efeito do câmbio (0,36% de variação para cada 1% de
variação no câmbio).
A estatística-d de Durbin Watson e o Teste Breusch-Godfrey para correlação serial
indicaram a existência de autocorrelação. Em função disto, as equações foram reestimadas com
o termo autorregressivo de primeira ordem AR(1).
Os testes de Fator de Variância Inflacionária e de Heterocedasticidade de White
permitiram afastar a ocorrência de multicolinearidade e heterocedasticidade.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Foram encontrados outliers nas equações, mas se tratam de condições reais de mercado,
por isso foram mantidos.
Assim como no caso do glifosato, o 2,4-D é um produto pós patente comercializado por
um alto número de empresas, quando temos empresas que não investem em pesquisa e pessoas,
estas podem diminuir a sua margem, diminuindo o seu preço, o que ocorre ao inverso com
empresas que investem, por isso o fator preço do concorrente se sobressai na análise.
Deste modo, as multinacionais consideram sim o preço da concorrência para estabelecer
o preço de seus principais herbicidas, no mercado brasileiro de defensivos agrícolas.

4. Considerações Finais

A formação do preço dos defensivos agrícolas, principalmente dos herbicidas, possui


peculiaridades que consideram desde a aplicação em pré ou pós emergência, aplicação em
pequenas e altas quantidades de produtos à campo, e a concorrência de genéricos.
Contudo, identificou-se que existe um processo de transmissão de preços entre os
produtos com mesmo princípio ativo, de tal modo que os movimento de elevação ou de baixa,
em um produto causa variações no preço do produto concorrente.
A Taxa Real de Câmbio e o Preço da Soja na praça de Passo Fundo/RS, segundo as
análises verificadas, também interferem na formação do preço dos herbicidas, mas a maior parte
a formação do preço de venda continua sendo explicada pelo processo de concorrência entre
produtos similares. Isto caracteriza uma situação em que, mesmo sendo ofertado por grandes
empresas oligopolistas, existe muita concorrência.
Para a análise da formação de preços de outras classes de produtos utilizadas por
agricultores, como inseticidas e fungicidas, além de outros ingredientes ativos, recomenda-se a
realização de novos estudos econométricos. Somados aos resultados desta pesquisa, os novos
estudos tendem a permitir o aprofundamento das análises.

Referências

AGOSTINETTO, D.; VARGAS, L.; BIANCHI, M. A. Manejo e Controle de Plantas Daninhas. Pelotas/RS:
2013.
COSTA, N L; SANTANA, A. C. de. Estudo da concentração de mercado ao longo da cadeia produtiva da soja
no Brasil. Revista de Estudos Sociais, v. 16, n. 32, p. 111-135, 2014.
CORREIA, N. M.; REZENDE, P. M. Manejo integrado de plantas daninhas na cultura da soja. Lavras/MG:
Editora UFLA, 2002.
JUNIOR, O. P. A. et al. Glifosato: Propriedades, Toxicidade, Usos e Legislação. Quim. Nova, Vol. 25, No. 4,
589-593, 2001.
Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal – SINDIVEG. Disponível em:
<http://sindiveg.org.br/balanco-2015-setor-de-agroquimicos-confirma-queda-de-vendas>. Acesso em 22 out.
2016.
SOUZA, G. R.; OLIVEIRA, S. C.; PINTO, L. B. A influência de prêmio, câmbio e preços no mercado
externo sobre o preço da soja no Brasil. 48° Congresso SOBER, Sociedade Brasileira de Economia,
Administração e Sociologia Rural. Campo Grande/MS: 25 a 28 de Julho de 2010.
TERRA, F. H. B.; PELAEZ, V. A história da indústria de agrotóxicos no Brasil: das primeiras fábricas na
década de 1940 aos anos 2000. CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA E
SOCIOLOGIA RURAL, 47. Anais. Porto Alegre/RS: 2009.

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ANÁLISE DE CUSTOS E VALOR AGREGADO EM SISTEMAS


AGROINDUSTRIAIS DE BASE ECOLÓGICA – SAFEs

Marcelo Badejo
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
E-mail: badejo@gmail.com

Ângela Rozane Leal de Souza


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
E-mail: angela.rsl@gmail.com

Jean Philippe Palma Révillion


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
E-mail: jeanppr@gmail.com

Andréia Vigolo Lourenço


Centro Interdisciplinar em Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento (CISADE)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
E-mail: andreia.vigolo@gmail.com

Resumo. O objetivo do presente artigo é avaliar os custos e os resultados econômicos do


processamento de alimentos ecológicos nos Sistemas Agroindustriais Familiares de Base
Ecológica (SAFEs) – classificação para os arranjos de produção agroindustrial que produzem
seus insumos primários e estendem suas atividades até o cliente final – localizados nas
proximidades da região metropolitana de Porto Alegre (RS). A metodologia escolhida foi
baseada na abordagem de Lima et al. (1995), que permitiu quantificar os resultados
econômicos alcançados nas atividades que ocorrem nos SAFEs. Apenas dois dos nove SAFEs
estudados vendem seus produtos sem certificação de produto orgânico, mas todos estão
adequados aos critérios de formalização sanitária, fiscal e ambiental no âmbito estadual ou
federal. Todos os SAFEs atuam nos mercados de produtos ecológicos de cadeias curtas ou
convencionais, ou ainda, em mercados institucionais da agricultura familiar. Com base nos
dados levantados nesta pesquisa, foi verificado que as agroindústrias ecológicas avaliadas se
mostraram viáveis economicamente e com expectativas de crescimento de seus mercados, em
consonância com as tendências mundiais pela busca de uma alimentação mais saudável.
Palavras-chave: Orgânicos. Viabilidade. Custos.

COST ANALYSIS AND ADDED VALUE IN ECOLOGICALLY BASED


AGRO-INDUSTRIAL SYSTEMS – SAFEs
Abstract. This paper aims to evaluate the costs and the economical outcomes of processing
ecological food in Ecologically Based Agro-Industrial Family Systems (SAFEs) – as agro-
industrial production facilities that produce primary inputs and extend their activities to the
end consumer are categorized – located around the metropolitan area of the city of Porto
Alegre, in the state of Rio Grande do Sul. The methodology adopted was grounded on the
approach by Lima et al. (1995), and enabled us to quantify the economic results obtained
from activities performed in SAFEs. Only two of the nine SAFEs studied sell their products
with no certification of organic product, but all of them meet the formal criteria related to
health, taxes and environmental requirements in both the state and federal spheres. All of the
SAFEs participate in markets of organic products in short or conventional chains, or even in
institutional markets of family farming. Considering the data obtained from this research, the
evaluated ecological agro-industries were shown to be economically viable, with expected

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

growing markets, which are in accordance with the world tendency towards healthier
nutrition.
Keywords: Organic food. Viability. Costs.

Introdução

A demanda por alimentos orgânicos cresce em todo o mundo, mesmo em mercados já


consolidados da Europa e dos Estados Unidos, onde representam aproximadamente 2% do
total de alimentos consumidos (BAKER, 2004, GLIESSMAN, 2009, DALCIN et al. 2014)).
No Brasil, esse mercado cresceu na ordem de 25% em 2015, e há previsões para crescimento
ainda maior, segundo dados da Organic net (2016). Com a busca crescente por produtos
ecológicos, a viabilidade econômica é que determinará a garantia do abastecimento desses
alimentos mais saudáveis. A questão maior neste tema não é o atendimento de um segmento
privilegiado do mercado e com possibilidade muitas vezes de pagar um preço premium. Bem
pelo contrário, é a discussão de um caminho para a melhoria da saúde pública por meio da
produção mais limpa, de uma industrialização e comercialização mais sustentáveis, e que seja
viável do ponto de vista ambiental, financeiro e econômico para poder crescer.
Os cenários do mercado estão em conformidade com a percepção dos entrevistados
desta pesquisa, que sinalizam a existência de um crescente interesse por seus produtos, uma
plena demanda. Conforme dados divulgados em pesquisa realizada pelo International
Federationof Organic Agriculture Movements – IFOAM (2014), o faturamento global com
orgânicos chegou a US$ 64 bilhões em 2013, crescimento de 8% em relação ao ano anterior.
Segundo essa pesquisa, o mercado mundial de orgânicos cresce, anualmente, a taxas de 10%
ao ano. Mundialmente, são 37,5 milhões de hectares cultivados, destacando-se como os
maiores produtores mundiais, em primeiro lugar, a Austrália, em segundo, a Europa e, em
terceiro lugar, a América Latina, todos com excelentes oportunidades para expansão da
produção nos próximos anos (IFOAM, 2014).
No Brasil, é estimado que o consumo de alimentos orgânicos irá gerar em torno de 3,0
bilhões de reais em 2016 (Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável –
ORGANIS, 2017). Pesquisas com o consumidor brasileiro de alimentos orgânicos evidenciam
que uma parcela significativa, de 21% dos entrevistados priorizam a compra de produtos mais
saudáveis e que impactem menos no meio ambiente (IBOPE, 2010) - caso os alimentos
orgânicos fossem oferecidos a preços equivalentes aos convencionais, a opção pelos primeiros
seria imediata e sem restrição, pelo menos nesse segmento da população. Neste contexto,
estão inseridos os SAFEs estudados neste trabalho.
A percepção de valor dos produtos orgânicos é demonstrada pelo crescente interesse
por produtos mais saudáveis (HARPER; MAKATOUNI, 2002; ZANOLI; NASPETTI, 2002,
DALCIN et al., 2014). Os atributos relacionados à segurança dos alimentos orgânicos são
reconhecidos pelos consumidores a partir do estabelecimento de sistemas específicos de
certificação ou pela consolidação de laços de confiança nas relações face to face, no
estabelecimento de cadeias curtas de comercialização, onde ocorrem as interligações sociais
entre produtores e consumidores (DA VEIGA et al., 2016). Assim, o mercado de alimentos
orgânicos tem uma forma de oferta diferenciada das praticadas nos mercados mundiais de
commodities (RAYNOLDS, 2004).
A formalização das agroindústrias, no âmbito sanitário, ambiental e fiscal, representa
um desafio quanto à burocracia para qualquer empresa no Brasil, mas, sobretudo, para quem
atua como os SAFEs. Esses pequenos arranjos produtivos atuam de montante a jusante em
suas cadeias e disputam seu espaço em mercados muito especializados e dominados por
transnacionais (WESZ JÚNIOR, 2009; BIEDRZYCKI et al., 2012; GAZOLLA, 2014;
MOREIRA et al., 2016; GAZOLLA et al.; 2016).

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Por este motivo, o entendimento e a avaliação dos custos de produção das SAFEs
permitirá que sejam feitas projeções para esta atividade. Neste artigo, o termo ecológico
também é utilizado para definir os produtos que não possuem certificação formal de
orgânicos, que estão em fase de transição, mas que são submetidos aos pressupostos de
produção da agricultura orgânica (DE ASSIS, ROMEIRO, 2002).

2 Procedimentos metodológicos

A metodologia de avaliação econômica das experiências analisadas teve como base a


abordagem proposta por Lima et al. (1995). A análise foi realizada em etapas, e foram obtidas
as seguintes informações: (a) estrutura das unidades de produção; (b) atividades produtivas
agropecuárias e agroindustriais, as interligações entre estas e os destinos da produção; (c)
dados referentes às quantidades e preços relacionados às atividades produtivas e os
respectivos custos dos processos de produção (d) as estruturas das unidades de produção
agroindustrial, suas instalações, máquinas, equipamentos, ferramentas, mão de obra, etc.; (e)
dados relativos às atividades produtivas desenvolvidas por tipo de produto processado,
quantidade de matéria prima processada, quantidade de produto processado; (f) quantidades
de insumos/fatores e os custos das operações industriais, traçando-se os respectivos
coeficientes técnicos. Em tais atividades de processamento, também foi considerado o
autoconsumo.
A pesquisa, realizada na Região Metropolitana de Porto Alegre, no eixo Porto Alegre
- Serra Gaúcha, contou com apoio da EMATER/RS para a escolha das microrregiões onde
estavam as principais agroindústrias que deveriam ser contempladas na amostra. Para a
escolha das agroindústrias familiares de base ecológica (SAFEs), foram selecionadas
aquelas que possuíam produtos comercializados na região metropolitana ou que destinavam
parte de suas produções para outras regiões e outros estados, configurando assim
experiências com relevância para serem estudadas. O termo SAFEs, das experiências
investigadas, já dá relação com a forma do estudo, com a ideia de uma análise sistêmica que
foi estudar a função produção das propriedades com a mesma profundidade que os outros
elos, com a observação tanto de seus custos quanto de suas receitas. Também a análise foi
conduzida na busca de elucidar a dinâmica ecológica e econômica de montante a jusante das
SAFEs, tanto em relação aos aspectos das matérias primas como dos alimentos processados,
industrializados e comercializados.
A amostra foi dirigida e intencional, como foco em agroindústrias familiares em
processo de transição agroecológica ou já atuando com selo de orgânicos. Assim, foram
identificados e selecionados os SAFEs na região metropolitana de Porto Alegre, com apoio
dos técnicos da EMATER-RS. Para tanto, foi utilizada a abordagem dos Estudos de Caso
para a análise de cada sistema individualmente. Em uma terceira etapa, após a identificação
e delimitação, foram feitas saídas de campo às agroindústrias, nas quais foram aplicadas
entrevistas fechadas para a posterior avaliação econômica.
O levantamento bibliográfico sobre o tema identificou experiências na região de
estudo delimitada, o que permitiu estruturar o roteiro de entrevista, que foram aplicadas em
10 (dez) agroindústrias, localizadas em 7 (sete) municípios distintos da Região
Metropolitana de Porto Alegre (POA), no eixo POA – Serra Gaúcha. Com o uso do roteiro
de entrevista, foram coletados os dados via pesquisa de campo, identificando-se, nessas
oportunidades, dados das agroindústrias quanto à receita bruta anual estimada, estrutura das
unidades de produção e industrialização, custos quanto à produção da matéria prima,
formalização e comercialização de produtos agrícolas e industrializados.
Para a etapa de análise econômica, ainda foram calculados e analisados os seguintes
indicadores: Valor Agregado (VA), Valor Agregado Bruto (VAB), Valor Agregado Líquido

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(VAL) e a Renda Agroindustrial (RAI). Todos os cálculos foram baseados em dados anuais
de 2014, fornecidos pelos próprios agricultores durante as entrevistas. Os valores de RAI
puderam ser obtidos por duas fórmulas diferentes, tanto pela dedução do Valor agregado
pela Divisão do valor agregado (LIMA et al., 1995) quanto pela dedução do Produto Bruto
pelos custos totais de produção (HOFFMANN et al., 1989).
Os dados referentes a área de cada empreendimento foram agrupados na Tabela 1. A
partir do cálculo da área média de cada propriedade rural, chegou-se a um valor de 19,5
hectares, demonstrando que estes sistemas produtivos são desenvolvidos em pequenas
propriedades. Na Tabela 1, estão somados valores de áreas próprias e áreas arrendadas de
terceiros, como é o caso do SAFE 1, por exemplo, que possui 1,5 hectares de variadas
produções agrícolas, pecuárias e produção de biogás, e arrenda dois pomares de 2 hectares
cada um.
Tabela 1: Área dos empreendimentos agrícolas
Empreendimento Agrícola Área (ha)
SAFE 1 5,5
SAFE 2 12,5
SAFE 3 7
SAFE 4 23,8
SAFE 5 45
SAFE 6 10
SAFE 7 7
SAFE 8 13
SAFE 9 56
Média 19,5
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Os indicadores relacionados à força de trabalho foram medidos em Unidade de


Trabalho Homem – UTH, bem como a distribuição da força de trabalho para cada parte da
produção: lavoura, agroindústria e o comércio. A força de trabalho avaliada considerou
apenas a força de trabalho familiar, ficando a média de todos os empreendimentos em torno
de 3 unidades de trabalho homem1.

3 Resultados e Discussões

A Região Metropolitana de Porto Alegre possui o principal mercado consumidor de


alimentos orgânicos do Rio Grande do Sul, e as regiões mais tradicionais nesse tipo de
produção estão distribuídas, igualmente, pela região metropolitana e na direção da serra
gaúcha, onde intencionalmente foram coletados os dados desta pesquisa. Ao analisar os
valores de Produção Bruta por hectare dos SAFEs (Tabela 2), é possível identificar que os
sistemas produtivos possuem uma relação renda/tamanho da propriedade bastante
diferenciada entre eles. O SAFE 1, por exemplo, apresenta uma renda agroindustrial
significativamente acima da média quando quantificada por hectare. Já o SAFE 5, que possui
um dos maiores valores de RAI, acaba determinando um valor por hectare abaixo da média
dos demais.
Tabela 2 - Valor Agregado Bruto (VAB), Valor Agregado Líquido (VAL) e Renda Agroindustrial (RAI), em
relação à Produção Bruta (PB) dos SAFEs
Empreen- Valor Valor
dimento Produção Agregado Agregado Renda
Agrícola Bruta Bruto VAB Líquido VAL Agroindustrial RAI

1
Contratados e sócios não foram considerados no cálculo da UTH.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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R$ R$ % R$ % R$ %
SAFE 1 916.035,99 782.733,99 85,45% 754.470,24 82,36% 724.188,36 79,06%
SAFE 2 312.394,99 193.619,99 61,98% 86.368,07 59,66% 159.698,19 51,12%
SAFE 3 696.741,19 317.522,24 45,57% 273.028,34 39,19% 259.138,74 37,19%
SAFE 4 450.221,80 305.073,41 67,76% 232.048,01 51,54% 91.701,62 20,37%
SAFE 5 1.749.798,99 1.109.648,99 63,42% 1.070.549,99 61,18% 554.236,55 31,67%
SAFE 6 83.334,99 158.323,19 86,36% 152.618,35 83,25% 145.558,59 79,39%
SAFE 7 276.314,99 224.441,19 81,23% 217.292,69 78,64% 201.404,39 72,89%
SAFE 8 184.214,99 104.869,99 56,93% 94.992,49 51,57% 71.292,49 38,70%
SAFE 9 695.414,99 627.654,99 90,26% 588.119,06 84,57% 322.411,62 46,36%
Média 607.163,66 424.876,44 69,98% 396.609,69 65,32% 281.070,06 46,29%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Ao analisar os valores de Produção Bruta por hectare dos SAFEs, é possível


identificar que os sistemas produtivos possuem uma relação renda/tamanho da propriedade
bastante diferenciada entre eles. O SAFE 1, por exemplo, apresenta uma renda agroindustrial
significativamente acima da média quando quantificada por hectare. Já o SAFE 5, que possui
um dos maiores valores de RAI, acaba determinando um valor por hectare abaixo da média
dos demais. A relação tamanho de propriedade, neste caso em que não há produção de
matéria prima, não é o padrão para os SAFEs estudados. Também foi possível perceber que,
mesmo os SAFEs com maior diversificação produtiva agroindustrial (1 a 6), podem
apresentar uma Renda Agroindustrial bastante variável em função das atividades executadas
ao longo de toda cadeia. No caso, o SAFE 6 apresenta a maior Renda Agroindustrial
percentual, cerca de 80% ou R$ 145.558,59; quando comparado ao SAFE 5, com foco mais
voltado para a industrialização, a Renda Agroindustrial situa-se em torno de 32% com uma
cadeia menos extensa, mas com R$ 554.236,55.
Na Tabela 3, podem ser observados os valores de Custo Total, Custos Fixos e
Variáveis de cada empreendimento. Os custos relacionados à formalização e certificação
estão inclusos na quantificação de Custos Variáveis, representando os maiores valores gastos
sobre o custo total: R$ R$ 244.614,54, com uma média de 70% para todos os SAFEs.

Tabela 3 - Valores de Custo Total, Custos Fixos e Custos Variáveis de cada empreendimento agrícola
Custos
Empreendimento Custo Total Custos Fixos Custos Variáveis
Agrícola R$ Custos Fixos R$ % Variáveis R$ %
SAFE 1 191.847,63 51.613,75 26,90% 140.233,88 73,10%
SAFE 2 152.696,80 12.596,92 8,25% 140.099,88 91,75%
SAFE 3 437.602,45 46.173,90 10,55% 391.428,55 89,45%
SAFE 4 358.520,18 169.931,67 47,40% 188.588,51 52,60%
SAFE 5 1.195.562,44 86.955,64 7,27% 1.108.566,80 92,72%
SAFE 6 37.746,40 10.609,84 28,11% 27.136,56 71,89%
SAFE 7 74.910,60 24.693,50 32,96% 50.217,10 67,04%
SAFE 8 112.922,50 31.712,50 28,08% 81.210,00 71,92%
SAFE 9 373.003,37 298.953,77 80,15% 74.049,60 19,85%
Média 326.090,26 81.471,28 29,96% 244.614,54 70,04%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

É possível apreender que os valores relativos à formalização ficam, em


média, em R$ 71.238,12, com uma porcentagem aproximada de 15% em relação aos Custos
Totais de Produção. Todavia, ao se avaliar isoladamente apenas o valor da certificação,

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

conclui-se que este não chega a 1% do valor total dos custos de produção, em média. Em
apenas dois casos, o valor ultrapassa 1% - no SAFE 6 e no SAFE 7 - cujos valores ficaram em
2% e 1%, respectivamente. É importante ressaltar o Sistema Agroindustrial 5, cujo valor de
formalização encontra-se muito acima da média dos demais empreendimentos: R$
469.036,80, constituindo em torno de 40% do valor dos Custos totais de Produção. Isso se
deve provavelmente ao tamanho do empreendimento (45 ha), bem como à quantidade de
benfeitorias no espaço, que acabam encarecendo o processo de formalização.
De maneira geral, é possível afirmar que os impactos dos custos de
formalização dependem de inúmeros fatores, tais como escala de produção, tipo de produção,
tipo de sistema produtivo adotado, exigências específicas atreladas a este sistema produtivo,
mas também de uma conjuntura regional sociopolítica em que o empreendimento está
inserido. Tal contexto, em sua totalidade, é que permitirá ou não a implementação de
processos consolidados de formalização e certificação orgânica. Além disso, um fator de
grande impacto diz respeito ao acesso aos mercados institucionais com preços melhores. A
demanda por alimento orgânico tem forte relação com essa questão da certificação dos
processos produtivos. Para o caso da região de Porto Alegre, há uma grande variedade de
feiras ecológicas que demandam produtores certificados, havendo, assim, uma maior
demanda para os produtos certificados nestes meios de comercialização.
Em outra análise, pode-se entender que o valor agregado por uma
certificação pode ser, muitas vezes, maior que este valor cobrado. Isso pode não estar sendo
percebido por alguns produtores por ainda manterem todas as suas relações comerciais no
formato face to face em cadeias curtas. Como pode ser percebido na apuração dos resultados,
os SAFEs da região metropolitana de Porto Alegre atuam com margens razoáveis frente aos
seus investimentos. Também se pode perceber que os produtores que são certificados por
auditoria são mais entendedores dos custos dos seus processos, estando mais sistematizados
na área gerencial.

Tabela 4 - Valores dos custos de Formalização e Certificação para cada empreendimento agroindustrial
Auditoria
Empreendimento Formalização Formalização/CT Certificação/CT
Certificação
Agrícola R$ % %
R$
SAFE 1 44.728,69 23,31% 800,00* 0,42%
SAFE 2 17.444,20 11,42% 100,00 0,07%
SAFE 3 13.889,60 3,17% 200,00 0,05%
SAFE 4 51.009,12 14,23% 270,00 0,08%
SAFE 5 469.036,80 39,23% 200,00 0,02%
SAFE 6 6.339,76 16,80% 800,00* 2,12%
SAFE 7 9.168,30 12,24% 800,00* 1,07%
SAFE 8 6.784,00 6,01% 800,00* 0,71%
SAFE 9 22.742,60 6,10% 800,00* 0,21%
Média 71.238,12 14,72% 530,00 0,53%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Quando observada a última coluna da Tabela 4, é possível perceber que, em média, o


custo com certificação representa 0,53% do custo total dos produtos. Esta foi uma constatação
que contrastou com a crença de alguns produtores de que o produto, por ser orgânico, com
certificação, poderia ter um sobre preço na faixa de 20% em grande parte, em função do custo
da certificação.

4 Considerações Finais

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Uma revelação deste estudo foi a capacidade positiva de geração de riquezas dos
SAFEs. Este fato, consequentemente, permite a sustentabilidade financeira dos negócios, mas,
sobretudo, pode sinalizar atração de novos entrantes no setor da alimentação mais saudável. O
desafio para a saúde pública é viabilizar a massificação de práticas produtivas para os
alimentos que sejam mais seguras ao ambiente e ao homem.
A autonomia dos SAFEs está baseada na produção de seus insumos e das próprias
matérias primas comercializadas in natura ou usadas para o processamento agroindustrial.
Esta produção corresponde a, aproximadamente, 80% dos valores da produção bruta dos
SAFEs. As entrevistas evidenciaram que não há oferta de produtos in natura orgânicos para
que eles possam aumentar sua produção industrial.
Também pode ser percebido que a principal forma de agregar valor à produção é a
agroindustrialização: setenta por cento (70%) dos valores da produção bruta obtida provêm da
comercialização de alimentos e produtos industriais. Complementarmente, a pesquisa
evidenciou que, do total dos valores de produção bruta obtidos pelas iniciativas ecológicas, a
metade deste valor é utilizada para cobrir os custos de produção. Desse modo, restam, depois
de descontados os desembolsos, aproximadamente 50% dos valores da produção bruta, que
são revertidos em renda agroindustrial, servindo para remunerar os membros da família e
manter os SAFEs em funcionamento.
Nesta pesquisa, verifica-se que a produção agroecológica apresenta boa remuneração
aos produtores. Isso se deve à dinâmica dos custos de produção, e indicadores de resultado
econômico foram analisados por área (R$/ha) e per capita (R$/UTHs), demonstrando
existência de um comportamento muito similar das variáveis quando especializadas ou
mesmo quando confrontadas com a riqueza gerada por pessoa ocupada.
Os indicadores de desempenho econômico, tanto por área (R$/ha) e per capita
(R$/UTHs), como o valor agregado e a renda agroindustrial, as cadeias de produção foram
positivos. Desempenhos significativamente positivos puderam ser observados nos SAFEs 1 e
5, enquanto os resultados menos expressivos foram encontrados nos SAFEs 3 e 8.
A pesquisa evidencia que, na região estudada, nem sempre as diversificações dos
sistemas produtivos ecológicos geram maiores valores agregados e renda agroindustrial às
famílias. Neste sentido, os dados são randômicos, pois não possuem um comportamento em
uma única direção, sendo que, em algumas experiências, a diversificação associada a algumas
cadeias produtivas aumenta os indicadores de desempenho econômico e, em outras, os reduz.
Neste caso, talvez, sejam necessários outros estudos, em outros contextos socioeconômicos e
sistemas produtivos, para melhor se avaliar o efeito da diversificação sobre os SAFEs.
Para a região de Porto Alegre, os segundos e terceiros melhores indicadores estão
relacionados à produção de banana e mandioca, com pequena atividade de
agroindustrialização, evidenciando que nem sempre a produção diversificada da agroindústria
e a complexidade dos processos garantem as maiores rendas. Uma das possibilidades está no
alto valor de venda destes produtos nos mercados institucionais, aliados a menores custos de
produção e de consumo intermediário.
Os dados contribuem para o entendimento dos valores pagos pelos agricultores para
formalizar suas atividades como agroindústrias perante o Estado, em seus vários níveis
federativos, levando em conta as diferentes dimensões das legislações agroalimentares
(sanitária, jurídica, ambiental, trabalhista, fiscal, certificação orgânica, entre outras). Além
disso, o trabalho possibilitou comparar as diferenças de custos e rendimentos econômicos das
duas situações: formal e uma simulação de informalidade. De maneira geral, os dados
mostram que, do conjunto de custos de produção mensurados, as depreciações e a divisão do
valor agregado são os que possuem maior peso no processo de formalização institucional dos
sistemas ecológicos. Isso se dá devido à maior necessidade de investimentos em infraestrutura
de produção nos SAFEs, por exemplo, prédio da agroindústria, veículos de transporte,

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máquinas e equipamentos agroindustriais e agropecuários. No caso da divisão do valor


agregado, são os desembolsos que os agricultores realizam para pagar taxas, impostos, juros,
salários, serviços, entre outras rubricas para o Estado e terceiros da sociedade, “dividindo”
seus rendimentos com estes agentes econômicos. Já os custos variáveis não mudam muito
entre as duas situações (formal-informal), devido ao fato de os agricultores necessitarem de
quase o mesmo conjunto de insumos e serviços dos mercados.
Neste sentido, alguns dos principais fatores implicados na tomada de decisão dos
agricultores sobre formalizar suas experiências são: (a) a existência de uma escala mínima de
produção e processamento de alimentos; (b) tipo de sistema produtivo adotado; (c) exigências
específicas por cadeia produtiva. Além disso, é fato que os custos dos produtos orgânicos são
específicos por tipo de produto e estabelecimento, mas esta pesquisa evidencia a boa
rentabilidade para os SAFEs e demonstra ser a agroindustrialização de tais produtos um bom
caminho para a agregação de valor.

4 Agradecimentos
Agradecemos ao MCTI/MAPA/MDA/MEC/MAPA e ao CNPQ, pelo financiamento da pesquisa, bem como à
EMATER/RS-ASCAR, pela parceria no estudo.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

SISTEMA INTEGRADO: A AVICULTURA E A SUINOCULTURA NA


VISÃO DOS CONTRATOS
Bibiana Melo Ramborger1, Saionara de Araújo Wagner2, Liris Kindlein3

1
UFRGS, e-mail: bibianamr@gmail.com
2
UFRGS
3
UFRGS

Resumo: O presente trabalho busca de maneira sucinta explanar sobre a integração, através de alguns
conceitos chaves, bem como também descrever a realidade presente no mercado, como forma de se analisar os
prós e contras desta maneira de comercialização e seus liames que compreendem dentro da cadeia dos suínos e
aves. Dentre as condições para realização da integração está a disponibilidade de recursos financeiros para o
investimento inicial, sendo este de interesse da indústria integradora que visa reduzir a imobilização de capital;
acesso à propriedade em qualquer época do ano; ter mão-de-obra permanente na propriedade; disponibilidade de
água com boa qualidade e energia elétrica. Assim, torna-se necessário simular as condições reais desses produtores
na criação de frango de corte ou de suíno via integração, no intuito de identificar quais variáveis mais pesam no
seu orçamento e eventualmente melhor visualizar a viabilidade econômica, além de orientar possíveis produtores
interessados em ingressar na atividade.

Palavras-chave: Suinocultura, Integração, avicultura.

INTEGRATED SYSTEM: POULTRY AND SUINOCULTURE IN THE


VIEW OF CONTRACTS
Abstract: The present work seeks succinctly to explain about the integration, through some key concepts, as well
as to describe the present reality in the market, as a way of analyzing the pros and cons of this way of
commercialization and its links that comprise within the chain of pigs and poultry. Among the conditions for
integration is the availability of financial resources for the initial investment, which is of interest to the integrating
industry, which aims to reduce capital immobilization; access to the property at any time of the year; have a
permanent workforce on the property; availability of water with good quality and electricity. Thus, it is necessary
to simulate the real conditions of these producers in the production of broiler or pig through integration, in order
to identify which variables weigh more in their budget and possibly better to visualize the economic viability,
besides guiding potential producers interested in enter the activity.

Keywords: Pig breeding, Integration, poultry farming..

Introdução

A interconexão entre as escolhas dos produtores envolve a compreensão da dinâmica


em que estão inseridas, bem como a visualização das preeminentes dificuldades estruturais e
ambientais, além dos diversos problemas no ambiente macroeconômico; que traduzem um
cenário particular, emaranhado e de difícil mensuração do impacto no rural. As escolhas dos
produtores, antes de tudo, também são reguladas pelo tempo/espaço, ligadas ao comportamento
da natureza, do homem e da cogitação do mercado, além das especificações subjetivas
intrinsecamente particularizadas no interior de cada propriedade.
O sistema de produção integrada é um mecanismo através do qual uma propriedade
rural, geralmente agricultura familiar, cria os animais (ou outros produtos, como fumo e leite)
destinados ao abate e industrialização em associação com uma agroindústria.
Além disso, de acordo com Lopes (1992), este sistema reduz consideravelmente os
riscos do integrado. Entretanto, seu rendimento é condicionado a sua eficiência no processo
produtivo, cabendo ressaltar que, em geral, o conhecimento desses produtores integrados sobre
a determinação de quais variáveis que, ao longo da vida útil do investimento, mais oneram seus
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

custos é bastante reduzido, principalmente no que se refere ao uso alternativo de matérias-


primas.
O conjunto de agentes que a compõe a pecuária nacional apresenta grande
heterogeneidade, de pecuaristas altamente capitalizados a pequenos produtores empobrecidos,
de frigoríficos com alto padrão tecnológico, capazes de atender a uma exigente demanda
externa, a abatedouros que dificilmente preenchem requisitos mínimos da legislação sanitária.
Contudo, atualmente existe a convicção que a construção de sistemas e redes com inclusão de
pequenos produtores, inovação e marketing pode trazer ao agronegócio a possibilidade de
reduzir o desemprego e a pobreza nos países em desenvolvimento (CAMPOS; FAVA, 2007)
De acordo com Siffert Filho & Faveret Filho (1998), entre as principais cadeias
agroindustriais destacam-se: grãos (milho, soja, arroz e outros); carnes (aves, suínos e bovinos);
frutas (incluindo a subcadeia da citricultura); fumo; produtos lácteos; açúcar; e café. Conforme
esses autores, cada cadeia apresenta suas especificidades, sendo necessário o reconhecimento
dos atributos das transações, para que possam ser examinadas as estruturas de coordenação, que
permitem lidar com sua dimensão fundamental (dimensão temporal, associada à perecibilidade
dos produtos e à sincronicidade da produção).

2.Metodologia

O trabalho que ora se apresenta é constituído por uma revisão bibliográfica, buscando
salientar as atribuições das formações contratuais no sistema integrado, os quais devem apontar
para a melhoria das condições de vida, reduzindo risco s de mercado, buscando a verticalização
da produção, aprimorando os conhecimentos para que se consiga agregar a todos os membros
das propriedades rurais, tornando-se equipes em que todos tenham seus espaços, autonomias e
contribuições.
O processo de revisão da literatura requer a elaboração de uma síntese pautada em
diferentes tópicos, capazes de criar uma ampla compreensão sobre o conhecimento. A revisão
da literatura é um primeiro passo para a construção do conhecimento científico, pois é através
desse processo que novas teorias surgem, bem como são reconhecidas lacunas e oportunidades
para o surgimento de pesquisas num assunto específico. Ingram et al. (2006) lembram que a
revisão da literatura não é uma espécie de sumarização. Ela envolve a organização e a discussão
de um assunto de pesquisa.
O objetivo deste artigo é uma revisão literária do histórico das produções de aves e
suínos conjuminados aos modelos de contrato de integração com empresas como forma de
estabelecer parâmetros para as produções, bem como também demais situações no que diz
respeito a esse assunto. Levando em consideração alguns aspectos que demonstram um risco
menor na venda do mercado, também o aparato que as empresas fornecem para subsidiar as
atividades e busca de inovações tecnológicas e bem-estar animal.

3. Sistema de Integração

A partir do início dos anos 60, surge no sul do país uma avicultura e suinocultura
integrada contratualmente. Trata-se de uma forma de coordenação entre o mercado (onde as
empresas são completamente independentes e livres para realizarem as suas transações com
quem quiserem, sem qualquer compromisso, formal ou não, de repetir a transação com o mesmo
ator) e a integração vertical, que seria a posse, por um mesmo agente econômico, de diversas
fases da produção (SAAB et al., 2009).
A forma contratual permite que empresas diferentes tenham certas garantias, como o
suprimento de matéria prima com as quantidades e especificações previamente determinadas,
de um lado (a indústria), e a venda da sua produção, do outro lado (produtor), mas permaneçam

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como empresas separadas, reduzindo custos gerenciais e possibilitando focar capital e


administração no seu negócio principal. Esta estratégia de integração conduz as empresas a
algumas vantagens como, por exemplo, ganho de qualidade na matéria prima, abastecimento
constante, redução dos custos industriais nas operações de abate, padronização da carcaça, entre
outras (CASTRO, 2005).
Estas empresas integradoras poderiam repassar parte do custo da crise aos produtores
enquanto as hierárquicas (integradas verticalmente) estariam mantendo ocioso um montante
muito alto em capital fixo. Para o avicultor, algumas vantagens seriam uma maior
produtividade, redução dos custos de produção e maior rentabilidade, formação de um plantel
básico de reprodutores de alto valor zootécnico, e principalmente garantia de comercialização
da produção com consequente diminuição de seu risco (CASTRO, 2005).
Dentre as condições para realização da integração está a disponibilidade de recursos
financeiros para o investimento inicial, sendo este de interesse da indústria integradora que visa
reduzir a imobilização de capital; acesso à propriedade em qualquer época do ano; ter mão-de-
obra permanente na propriedade; disponibilidade de água com boa qualidade e energia elétrica.
A adoção dessa moderna tecnologia verticalizada na avicultura e na suinocultura requer
condições especiais para a produção, exigindo altos investimentos em infraestrutura, o que a
torna inacessível aos pequenos produtores, geralmente descapitalizados. Resta-lhes, de acordo
com Mendonça (1997), a alternativa de associarem-se a uma indústria processadora por meio
de um sistema mandatário denominado de integração vertical produtor-indústria.

4. Avicultura

O agropecuarista, criador de frangos, perus, codornas e outros, é responsável pela


construção e equipamento do aviário, mão-de-obra e a gestão dos demais meios de produção,
como eletricidade, água, gás, cama do aviário e o cuidado com as aves. A agroindústria, por
sua vez, faz a entrega dos pintos de um dia, garante assistência técnica e veterinária,
medicamentos, ração e transporte. A função do integrado é criar as aves, sob orientação da
agroindústria e vendê-las exclusivamente à mesma, que as abate, industrializa e vende (DALLA
COSTA, 2000).
A literatura retrata também que o setor de carnes se ressente de maior coordenação do
sistema produtivo, constituído por produtores rurais, frigoríficos e o varejo. Essa falta de
coordenação entre os agentes estimula ganhos de curto prazo, oriundos das oscilações do ciclo
de preços, e que fazem com que o relacionamento entre os produtores rurais e a indústria
frigorífica seja caracterizado por ações oportunistas (MACEDO, 2009).
As alianças mercadológicas vêm sendo criadas para atender segmentos de mercado
diferenciados. Para isto, são necessários mecanismos de coordenação específicos entre os
diversos agentes que compõem o sistema. Esta ação visa gerar um produto com atributos da
qualidade, demandado por agentes que sinalizam para trás e para frente na cadeia. Nestas
relações é necessário cada vez mais uma postura cooperativa entre os agentes. Aumentam-se
as especificidades dos ativos envolvidos, com o intuito de atender o consumidor, cada vez mais
exigente e atento para adquirir produtos com segurança garantida (CARVALHO-ROCHA et
al., 2001).
Tendo em vista, a criação de frangos é realizada preponderantemente, por criadores
integrados aos abatedouros de empresas integradoras ou cooperativas. Estas, geralmente,
produzem seus próprios pintinhos em granjas próprias de matrizes ou terceirizadas, os quais
nascem em incubatórios da própria empresa ou cooperativa. Algumas grandes integrações
possuem granjas de avós, e todas elas fabricam a própria ração. A maioria delas adquire
suplementos minerais e vitamínicos de empresas especializadas, geralmente a partir de
fórmulas especialmente definidas pela integração (MENDES, 2004).

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O sistema de “contratos de integração” entre abatedouros e produtores garante para a


avicultura um maior controle sobre os fatores ligados à biossegurança. Na indústria
processadora, a qualidade com as aves alcança vários meios, como: a compra das avós ou
matrizes, feita por meio de grandes empresas que possuem conhecimento e desenvolvimento
tecnológico na área; com a reprodução em incubatórios; vacinação desde o dia de nascimento
dos pintinhos; com a própria produção, fornecendo assistência técnica, nutrição e
medicamentos às aves criadas pelos produtores, dentre outros fatores (BATALHA, 2006).

5. Suinocultura

A suinocultura brasileira é uma atividade predominantemente de pequenas propriedades


rurais. A produção intensiva de animais em propriedades especializadas vem ganhando espaço
na suinocultura brasileira, levando ao aumento de produtividade por matriz. Existem diferentes
sistemas de produção de suínos no Brasil (BATALHA, 2006).
O sistema mais comumente encontrado é o de ciclo completo onde cobertura, gestação,
maternidade, creche, recria e terminação, são etapas realizadas na mesma propriedade. As
grandes empresas normalmente trabalham em sistemas de integração, a exemplo do que
acontece no sistema avícola. Segundo alguns autores, a integração é responsável por
aproximadamente 40% do rebanho e por 87% do abate inspecionado nacional. Quando a
propriedade opera com ciclo completo, a integradora fornece o plantel reprodutivo e a
alimentação. O processo é um pouco mais complexo quando os criadores dividem-se em
produtores de leitão e terminadores. Em ambos os casos, a agroindústria integradora fornece
assistência técnica e sinaliza, de acordo com o planejamento do frigorífico, a quantidade a ser
produzida (BATALHA, 2006).
A cadeia produtiva de carne suína no Brasil apresenta um dos melhores desempenhos
econômicos no cenário internacional. As bases desse desempenho são as estratégias
empresariais e os avanços tecnológicos e organizacionais incorporados ao longo das duas
últimas décadas. Na produção primária vêm ocorrendo mudanças estruturais com aumento de
escala, especialização e tecnificação, tendências relacionadas à crescente integração com a
estrutura industrial de abate e processamento, e contribuindo assim para o crescimento do
rebanho e aumento da produtividade (MIELE, 2007).
Na Região Sul, a taxa de abate com média de 23 suínos/ terminados/matriz/ano,
alcançando uma média de 110 kg no período de 160 dias. Esses índices de produção e
produtividade são comparados aos obtidos nos EUA, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Holanda
e outros (ABPA, 2005). Assim por ser esta região, principal produtora de suínos, o sistema de
produção agroindustrial encontra-se organizado em torno da integração entre produtores e a
indústria processadora. Entretanto, a presença de pequenas e médias empresas processadoras e
de produtores independentes de suínos, estabelece certa diferenciação, ou seja, não se forma
um sistema agroindustrial caracterizado por uma estrutura mais fortemente integrada, como é
o caso do sistema avícola.
A produção industrial tem crescido enquanto que a de subsistência vem caindo
constantemente. Isso demonstra o uso cada vez maior de tecnologias de produção, maior
profissionalismo no setor e maiores preocupações com a qualidade do produto em toda a cadeia,
o que é condição absolutamente necessária para que se obtenha um produto final com garantia
de qualidade e segurança alimentar. Enquanto o setor industrial cresceu à taxa de 9,4% no
período de 2002 a 2007, o setor de subsistência recuou em 41,4% no mesmo período, sendo
responsável em 2007 por apenas 10% da produção no país (SAAB & CLÁUDIO, 2009).
Quanto ao aspecto tecnológico, a produção é dividida em suinocultura industrial e de
subsistência. Constitui a suinocultura industrial os produtores tecnificados (integrados ou
independentes), ou seja, aqueles que incorporaram na produção os avanços tecnológicos em

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genética, sanidade, nutrição, manejo e etc. A suinocultura de subsistência é formada pelos


produtores que estão à margem destes avanços tecnológicos, produzem para o autoconsumo e
comercializam os excedentes. A integração da produção através de contratos ou programas de
fomento é a forma mais difundida de coordenação da transação entre suinocultores e
agroindústrias de abate e processamento nos principais países produtores de carne suína,
inclusive no Brasil, e sua participação e importância vêm crescendo nas duas últimas décadas
(MIELE, 2007).
O processo de reestruturação produtiva e de gestão que hoje se verifica no setor é
consequência, por um lado, de um ambiente competitivo em condições de globalização e, por
outro da crise dos mercados dos principais países desenvolvidos. As empresas têm reorientado
suas funções corporativas, buscando maior sinergia entre as unidades, ganhos de eficiência
derivados de uma melhor coordenação das cadeias produtivas, além economias de escala e de
escopo. Para tanto, é visível a intensificação da verticalização, especialmente em direção aos
elos produtores de matéria-prima (aves, suínos e, em menor escala, bovinos). O processo de
globalização tem levado os maiores grupos a criarem empresas de caráter internacional, que
assumem a função controlar e articular sua estratégica de expansão nos mercados emergentes
(BATALHA, 2006).

6. Considerações

Como bem destaca Oliveira (2015), o sistema é interessante para a agroindústria, pois
os investimentos em terras, instalações, máquinas e mão-de-obra são transferidos aos
produtores rurais, aumentando a competitividade do produto no mercado.
Para os produtores rurais, o sistema de integração garante o escoamento da sua
produção e assistência técnica, obtenção de melhores insumos de produção, assegura uma
produção ininterrupta, propicia maior facilidade de acesso ao crédito e a incorporação mais
rápida de inovações tecnológicas (SILVA, 2006; FERREIRA, 2007; GOMES; GOMES, 2008).
Partindo-se dos argumentos de Siffert Filho & Faveret filho (1998) de que as grandes
empresas presentes no sistema agroindustrial exercem papel de agentes coordenadores da
cadeia produtiva, pode-se inferir que o desenvolvimento tecnológico na agropecuária está
fortemente condicionado às exigências da indústria processadora, na busca de sustentação de
suas vantagens competitivas. Neste sentido, Farina & Zylbersztajn (1992) afirmam que a
indústria de transformação induz a mudanças tecnológicas na agropecuária e, até mesmo, na
estrutura de distribuição.
Desse modo, o sistema de integração sido fundamental para os setores, uma vez que
proporciona importantes ganhos de eficiência, gerando competitividade ao setor
internacionalmente, além de aumentar a participação no mercado interno de carnes (FARINA,
1995; FERREIRA, 2002; ZILLI, 2003).
Alguns fatores determinantes podem estar mais ligados às questões regionais
relacionadas com arranjos produtivos locais e suas estruturas de mercado, do que com a
eficiência técnica das unidades produtivas, sendo que essas diferenças podem não se expressar
em tal magnitude, ao estudar sistemas em diferentes regiões.
Entretanto, seu rendimento é condicionado a sua eficiência no processo produtivo,
cabendo ressaltar que, em geral, o conhecimento desses produtores integrados sobre a
determinação de quais variáveis que, ao longo da vida útil do investimento, mais oneram seus
custos é bastante reduzido, principalmente no que se refere ao uso alternativo de matérias-
primas.
As principais vantagens da participação do produtor no sistema de integração são a baixa
aplicação de capital de giro próprio na criação e o baixo risco. As principais desvantagens são

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a centralização do poder de tomada de decisão por parte de indústria e a baixa remuneração do


produtor.
Assim, torna-se necessário simular as condições reais desses produtores na criação de
frango de corte ou de suíno via integração, no intuito de identificar quais variáveis mais pesam
no seu orçamento e eventualmente melhor orientá-los sobre a viabilidade econômica, além de
orientar possíveis produtores interessados em ingressar na atividade.

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Custos de produção e rentabilidade da soja e do milho: estudo de caso


comparativo em propriedade rural familiar com uso do TDABC
Evandro Bonetti1, Daniela Garbin2, Rodney Wernke3, Antonio Zanin4
1
Unochapecó
2
IFPR
3
Unochapecó
4
Unochapecó

Resumo. O artigo objetivou de comparar o resultado econômico da produção de milho e soja no âmbito de uma
propriedade agrícola, a partir do uso do TDABC na mensuração dos custos indiretos associados. Foi utilizada
metodologia descritiva, qualitativa e no formato de estudo de caso. Quanto aos resultados, apurou-se que o
produtor teve maior lucro no caso do plantio do milho, pois este superou o cultivo de soja (R$ 2.362,53 contra R$
2.211,96 por hectare). Além disso, a análise conjunta das informações obtidas permitiu concluir que o volume
produzido foi o fator preponderante para que o milho superasse o outro produto, mesmo com custos
proporcionalmente maiores em relação à receita bruta de vendas se comparado com o cultivo de soja.

Palavras-chave: Comparativo de lucratividade. TDABC. Estudo de caso.

Production and profitability costs of soybean and maize: a comparative case


study in family farms using TDABC
Abstract. The objective of this article was to compare the economic result of the production of corn and soybean
in the scope of an agricultural property, from the use of TDABC in the measurement of associated indirect costs.
A descriptive, qualitative and case study format was used. As for the results, it was found that the producer had a
higher profit in the case of planting of corn, as it exceeded soybean cultivation (R $ 2,362.53 against R $ 2,211.96
by hectare). In addition, the combined analysis of the information obtained allowed us to conclude that the volume
produced was the predominant factor for the corn to exceed the other product, even with costs proportionally
higher than the gross sales revenue when compared to the soybean crop.

Keywords: Comparative profitability. TDABC. Case study.

1. Introdução
O setor de agronegócios brasileiro é uma importante fonte geradora de recursos para a
economia do país. Contudo, há uma grande competição neste mercado, o que traz a necessidade
de constantes aprimoramentos da gestão em busca de instrumetos para enfrentar a concorrência
e fidelizar os clientes (JESUS; RÊGO, 2012). Nesse sentido, a evolução da concorrência e da
complexidade do mercado do agronegócio pode ocasionar a necessidade de conhecer
determinadas informações contábeis que auxiliam no processo decisório. Conforme Oliveira
(2010), o produtor rural que tiver conhecimento das informações contábeis acerca do
empreendimento que dirige poderá utilizá-las para controlar os custos de sua produção,
fundamentar melhor suas decisões e adotar estratégias que aumentem a eficiência da
propriedade como um todo.
Apesar do conhecimento dos benefícios que as informações vindas da contabilidade têm
para todos os setores da economia, na agricultura percebe-se certa resistência em realizar esse
tipo de controle. Para Fonseca et al. (2015) este fenômeno ocorre devido ao desinteresse dos
produtores rurais em utilizar as informações contábeis para a gestão das propriedades, visto que
tem servido apenas como uma ferramenta empregada em questões tributárias. Entretanto, no
caso da gestão de custos as contribuições oriundas podem ajudar a otimizar o resultado da
atividade, ou melhorar a mensuração dos resultados operacionais.

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Então, como forma de evidenciar algumas dessas possibilidades, neste artigo se buscou
responder a seguinte questão de pesquisa: qual o resultado econômico da produção de milho e
soja de uma propriedade rural, considerando o uso do Time-driven Activity-based Costing
(TDABC) na avaliação dos custos indiretos de produção? Para tanto, foi estabelecido o objetivo
de comparar o resultado econômico da produção dessas duas culturas no âmbito de uma
propriedade agrícola, a partir do uso do TDABC na mensuração dos custos indiretos associados.
Estudos como esse se justificam, do ponto de vista econômico, devido à relevância do
agronegócio na economia brasileira. Ou seja, em 2016, para um Produto Interno Bruto (PIB)
em valores correntes de R$ 6,266 trilhões, a agropecuária participou com R$ 295,20 bilhões,
equivalentes a 4,71% do PIB brasileiro (SENKOVSKI, 2017). Além disso, as incertezas do
ambiente mercadológico nacional sinalizam que o aprimoramento do processo de gestão nas
propriedades rurais é cada vez mais importante para que tenha um controle adequado dos custos
da produção agrícola e se possa melhorar a rentabilidade da propriedade.

2. Revisão da literatura
Dogan, Arslan e Köksal (2013) asseveram que a contabilidade rural é uma das
especialidades da contabilidade que é responsável pela contabilização das atividades de
empresas rurais, sendo que este tipo de contabilidade utiliza dados vindos dos controles
financeiros, de custos e gerenciais. Nessa direção, Marion (2005) cita que se pode dividir a
contabilidade em “geral” ou “particular”. Mas, sempre que a contabilidade é direcionada ao um
ramo específico ela recebe como complemento a atividade daquele ramo. Portanto, a
contabilidade rural visa o estudo do patrimônio das empresas rurais. Por sua vez, Crepaldi
(1998) defende que a contabilidade rural tem como objetivo controlar o patrimônio das
empresas rurais e a apuração dos resultados das atividades deste tipo de organização,
disponibilizando informações importantes sobre o desempenho para diversos usuários.
Sobre a importância da contabilidade para propriedades rurais, Borilli et al. (2005)
destacam que as práticas contábeis podem gerar informações relevantes para suportar o
processo de tomada de decisões em uma entidade rural. Aduz, ainda, que é necessário um
processo de gestão eficiente para que uma empresa rural possa aproveitar melhor as
informações geradas pela contabilidade.
Contudo, Crepaldi (1998) menciona que a contabilidade rural é pouco utilizada, pois a
maioria dos produtores acredita que esta consiste em uma técnica de execução complexa e que
traz pouco retorno efetivo ao agricultor. Considera que isso pode ser causado por razões como
(i) a adaptação de sistemas estrangeiros e de contabilidade comercial e industrial, inadequados
para retratar as características da agropecuária brasileira; (ii) a falta de profissionais capacitados
na transmissão de tecnologias administrativas aos fazendeiros e (iii) a não inclusão da
contabilidade rural como instrumento de políticas governamentais agrícolas ou fiscais.
Para Dal Magro et al. (2009) uma empresa rural de sucesso não é aquela que possui uma
produtividade elevada motivada pela utilização de melhorias tecnológicas no processo
produtivo, mas também aquela que consegue controlar os custos de produção de forma que
garanta sempre um resultado favorável em suas atividades.

2.1. Time-Driven Activity-Based Costing (TDABC)


Como forma de aprimorar a gestão de custos é pertinente utilizar alguma metodologia
de custeamento das atividades desenvolvidas na propriedade agrícola e o Custeio Baseado em
Atividades e Tempo (TDABC) pode ser uma opção pertinente.
Ratnatungaa, Tseb e Balachandranc (2012) afirmam que o Custeio Baseado em
Atividades (ABC) possui algumas limitações para aplicação em organizações complexas que
necessitem constantes adequações em seus sistemas de custeio para se adequarem às mudanças
impostas pelo mercado ou aos avanços tecnológicos. Assim, as limitações do sistema ABC

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fizeram com que tivesse uma baixa aceitação pelas organizações e que vários projetos que
utilizavam-no fossem descontinuados.
A partir disso, Kaplan e Anderson (2007) desenvolveram o Time-driven Activity-based
Costing (TDABC) objetivando a simplificação do processo de custeio por atividades. Com isso,
criaram um método de custeio que demanda menos investimentos que o ABC e cuja elaboração
é mais simplificada.
Nessa direção, um dos principais diferenciais da utilização do TDABC para custeio é
que esta metodologia dispensa a criação de variáveis distintas para elaboração das estimativas
de custos, pois essa variável em todos os casos é o “tempo consumido” pela execução da
atividade. Isso permite que as características individuais de cada atividade sejam respeitadas e
tratadas individualmente (KAPLAN; ANDERSON, 2004). Nesse rumo, Monroy, Nasiri e
Peláez (2014) citam que o TDABC analisa o custo de uma atividade através do tempo
consumido por ela, resultando em uma equação que determina o custo com base nas
características do próprio objeto.
Para exemplificar a utilização das metodologias de custeio, Kaplan e Anderson (2007)
descrevem o processo de elaboração de um pedido de venda que, nas metodologias tradicionais,
necessita da criação de uma variável direcionadora de custos, que poderia ser o número total
de itens do pedido. Já no TDABC essa variável é o tempo consumido, o que respeita as
características individuais de cada tipo de pedido. Assim, para se elaborar um modelo de custos
através do TDABC é necessário realizar a estimativa de dois parâmetros que permitem
determinar o custo de cada objeto de custeio que são: o custo unitário de um recurso e o tempo
necessário do recurso para realizar uma atividade.
Quanto aos procedimentos visando a elaboração de estimativas de custos utilizando o
TDABC, Everaert e Bruggeman (2007) defendem que o processo de criação seja dividido em
seis etapas: (i) identificar os grupos de recursos e atividades necessários; (ii) determinar o custo
de cada grupo; (iii) estimar a capacidade prática de cada grupo de recursos; (iv) calcular o custo
por unidade de tempo; (v) determinar quantas unidades de tempo são necessárias para cada
atividade e (vi) calcular o custo por transação. Citam, também, que a facilidade na
implementação e atualização do TDABC disponibiliza aos gestores informações a respeito dos
custos e da rentabilidade dos produtos e serviços de uma forma mais simples e com menor custo
que o Custeio Baseado em Atividades (ABC).

3. Metodologia
No que tange à metodologia empregada nesta pesquisa, em relação à tipologia quanto
aos objetivos esta pode ser classificada como descritiva, porque esta modalidade consiste em
descrever as características de determinada população ou fenômeno ou estabelecer relação entre
as variáveis (GIL, 2004). Quanto ao aspecto dos procedimentos adotados, caracteriza-se como
estudo de caso, de vez que se concentra especificamente numa propriedade rural e suas
conclusões limitam-se ao contexto desse objeto de estudo (YIN, 2005). No âmbito da forma de
abordagem do problema pode ser classificada como qualitativa, de vez que é assim que
Richardson (1999) denomina os estudos que visam descrever a complexidade de determinado
problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos vividos
por grupos sociais.
A respeito dos dados coligidos, estes foram obtidos em propriedade rural situada na
região oeste de Santa Catarina e visaram a produção de milho e soja. A escolha destas duas
culturas deveu-se à grande relevância das mesmas para a economia da região estudada e está
de acordo com o posicionamento de Osaki e Batalha (2015) no sentido de se priorizar as culturas
que possuam maior participação e importância no contexto regional. É válido destacar, ainda,
que a propriedade em tela é composta por 197 hectares de área cultivável, sendo dividida em
setores onde o produtor planta as culturas de milho e soja de forma alternada para garantir maior

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eficiência produtiva e diminuir riscos ligados às oscilações de preços e outros que possam
atingir apenas uma das culturas. Em relação às fontes de dados e ao período abrangido, a
pesquisa priorizou os registros mantidos pelo produtor rural acerca das safras que ocorreram no
período de 05/09/2015 a 02/02/2016 (para o milho) e de 15/10/2015 a 03/03/2016 (para a soja).

4. Resultados e discussão
A primeira etapa percorrida para a identificação do custo de produção de cada uma das
culturas analisadas consistiu em identificar os gastos despendidos na manutenção das atividades
da propriedade, que normalmente assumem o caráter de “indiretos” (ou seja, que não são
alocados diretamente no cultivar a ser produzido). Nessa direção, para facilitar a mensuração
desses custos optou-se por trabalhar com um ciclo de produção de 150 dias para a cultura da
soja e de 140 dias para a do milho. Além disso, para os custos com periodicidade mensal foi
multiplicado o valor de um mês pelo número de meses equivalente ao ciclo produtivo de cada
um dos dois itens abrangidos no estudo. No que concerne aos valores dos gastos anuais, estes
foram divididos pelo número de safras esperadas para o período e os valores apurados para uma
safra estão evidenciados na Tabela 1.
Tabela 1 - Custos indiretos das duas culturas por safra (valores em R$)
Tipo Soja Milho
Folha de pagamento 23.606,61 22.032,84
Energia elétrica 350,00 326,67
Depreciação de equipamentos 29.091,25 31.003,75
Manutenção de equipamentos 19.600,00 21.100,00
Seguros diversos 1.758,47 1.758,47
Contribuição sindical rural 361,00 361,00
Total 74.767,33 76.582,73
Fonte: elaborada pelos autores.
Destarte, constata-se que o valor estimado dos custos indiretos é de R$ 74.767,33 para
uma safra de soja e de R$ 76.582,73 para uma produção de milho, com base nos volumes que
a terra agriculturável da propriedade pesquisada suporta. Então, como o TDABC está calcado
no tempo utilizado nas atividades, na segunda etapa foi estimado o tempo de trabalho disponível
do quadro de trabalhadores para medir a capacidade prática da propriedade. A respeito disso,
na Tabela 2 consta o detalhamento dos cálculos efetuados para cada tipo de produto.
Tabela 2 - Capacidade prática da propriedade
Itens Descrição Soja Milho
a) Número de pessoas 3 3
b) Número de dias trabalhados 100 94
c) Horas diárias 8,8 8,8
d=a*b*c) Horas totais 2.640 2.481,60
e) Minutos por hora 60 60
f=d*e Capacidade prática da propriedade 158.400 148.896
Fonte: elaborada pelos autores.
Portanto, estimou-se que será necessária uma capacidade total de trabalho de 158.400
minutos para desenvolvimento das atividades relacionadas com a cultura de soja e de 148.896
minutos para a cultura de milho. Com base nos dados disponíveis foi possível determinar a taxa
de custo unitário por minuto, como apresentado na Tabela 3.
Tabela 3 - Taxa de custo da capacidade
Itens Soja Milho
1) Custo da capacidade fornecida (R$) 74.767,33 76.582,73
2) Capacidade prática da propriedade (minutos) 158.400 148.896

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3=1/2) Taxa de custo da capacidade da propriedade em minutos (R$) 0,472 0,514


Fonte: elaborada pelos autores.
Com isso, dessume-se que a taxa de custo efetiva da utilização dos recursos para a
cultura de soja e de R$ 0,472 por minuto, enquanto que para o milho o gasto por minuto
trabalhado é de R$ 0,514. Com base nesses dois valores monetários foi apurado o valor do custo
indireto atribuído a cada cultura, levando em conta as atividades necessárias durante a safra e
as respectivas estimativas de consumo de horas de trabalho por hectare cultivado, conforme
descrito na Tabela 4.
Tabela 4 – Custo indireto atribuído com base no TDABC
Soja Milho
Tempo Gasto Taxa de Custo Tempo Gasto Taxa de Custo
Atividades (em min.) Capac. R$ Indireto R$ (em min.) Capac. R$ Indireto R$
Colheita 45 0,472 21,24 85 0,514 43,72
Dessecação 16 0,472 7,55 16 0,514 8,23
Limpa 32 0,472 15,10 32 0,514 16,46
Pré-plantio - - - 16 0,514 8,23
Plantio 55 0,472 25,96 55 0,514 28,29
Tratamento 48 0,472 22,66 32 0,514 16,46
Ureia - - - 16 0,514 8,23
Totais 196 0,472 92,52 252 0,514 129,61
Fonte: elaborada pelos autores.
No caso da cultura de soja, estimou-se que esta demandaria cerca de 196 minutos no
total e subdivididos em cinco atividades: colheita (45´), dessecação (16´), limpa (32´), plantio
(55´) e tratamento (48´). Como cada minuto trabalhado custa R$ 0,472, apurou-se um custo
indireto total de R$ 92,52 por hectare cultivado de soja. Quanto ao cultivo do milho, além das
atividades citadas no parágrafo precedente, este requer as etapas de pré-plantio e de dispersão
de ureia. Assim, estimou-se o consumo de 252 minutos, com custo unitário de R$ 0,514, o que
totaliza R$ 129,61 por hectare cultivado de milho.
Na sequência foi calculado o custo total de produção das duas culturas priorizadas. Para
essa finalidade foi necessário obter a estimativa de gastos diretos, ou seja, dos custos que foram
incorridos diretamente no produto (sementes, defensivos, adubos etc.). Nesse rumo, como esses
valores já eram mensurados pelo proprietário em seus controles internos, bastou consolidar os
dados, conforme exemplificado na Tabela 5 para o contexto do cultivo de um hectare de soja.
Tabela 5 – Custos do cultivo de soja
Atividade Custos % Custos % Custo total %
indiretos diretos (diretos + indir.)
Colheita R$ 21,24 1,56% R$ 36,60 2,68% R$ 57,84 4,24%

Dessecação R$ 7,55 0,55% R$ 43,58 3,20% R$ 51,13 3,75%

Limpa R$ 15,10 1,11% R$ 124,86 9,15% R$ 139,96 10,26%

Plantio R$ 25,96 1,90% R$ 555,20 40,71% R$ 581,16 42,61%

Tratamento R$ 22,66 1,66% R$ 511,10 37,47% R$ 533,76 39,14%

Total R$ 92,52 6,78% R$ 1.271,34 93,22% R$ 1.363,86 100,00%


Fonte: elaborada pelos autores.
No caso em tela, os custos diretos representaram 93,22% do custo total estimado,
enquanto que os custos indiretos responderam por 6,78%. Ainda, a fase de maior consumo de
recursos foi a do “plantio”, visto que consumiu 42,61% do custo de produção calculado (1,90%
de custos indiretos e 40,71% e custos diretos).
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Quanto ao cultivo do milho, os dados consolidados de custos diretos e indiretos estão


representados na Tabela 6.
Tabela 6 - Custos do cultivo do milho
Atividade Custos % Custos % Custo total %
indiretos diretos (diretos + ind.)
Colheita R$ 43,72 1,88% R$ 36,60 1,57% R$ 80,32 3,45%
Dessecação R$ 8,23 0,35% R$ 43,58 1,87% R$ 51,81 2,23%
Limpa R$ 16,46 0,71% R$ 185,36 7,97% R$ 201,82 8,67%
Plantio R$ 28,29 1,22% R$ 1.142,20 49,08% R$ 1.170,49 50,30%
Pré-plantio R$ 8,23 0,35% R$ 33,08 1,42% R$ 41,31 1,78%
Tratamento R$ 16,46 0,71% R$ 167,76 7,21% R$ 184,22 7,92%
Ureia R$ 8,23 0,35% R$ 588,88 25,31% R$ 597,11 25,66%
Total R$ 129,61 5,57% R$ 2.197,46 94,43% R$ 2.327,07 100,00%
Fonte: elaborada pelos autores.
À semelhança da análise do produto anterior, no caso do milho a parte mais
representativa do custo total também é a dos custos diretos (94,43%) do custo total de R$
2.327,07 estimados para um hectare desse produto. Destarte, somente 5,57% (R$ 129,61) são
considerados como custo indireto da produção de milho. Ainda, convém salientar que a fase de
plantio é que consome mais custos, pois abrangeu R$ 1.170,49 (ou 50,30% do custo total) por
hectare plantado.

4.1. Análise do resultado


Depois de levantados e alocados todos os custos de produção das duas culturas, passou-
se à apuração do resultado destas. Para isso, inicialmente foram obtidos os dados relacionados
com a quantidade produzida (em sacas) na gleba de terra utilizada como padrão e o valor de
venda respectivo, como consta na Tabela 7.
Tabela 7 – Produção por hectare, preço de venda e receita obtida
Itens Soja Milho
a) Quantidade produzida por hectare (sacas) 61 200
b) Preço de venda por saca (R$) 60,00 24,00
c = a X b) Receita bruta de vendas (R$) 3.660,00 4.800,00
Fonte: elaborada pelos autores.
Em termos de volume, a produtividade da soja (61 sacas por hectare) é bem menor que
a conseguida com o milho (200 sacas por hectare). Contudo, os valores de venda são bastante
díspares: R$ 60,00 por saca de soja e R$ 24,00 por saca de milho. Em virtude disso, a definição
do melhor retorno deve ser realizada por intermédio de uma demonstração de resultado,
conforme exposto na Tabela 8.
Tabela 8 – Demonstrativo do resultado
Itens Soja – R$ Soja - % Milho – R$ Milho - %
Receita operacional bruta das vendas 3.660,00 100,00% 4.800,00 100,00%
(-) Funrural (2,3%) 84,18 2,30% 110,4 2,30%
(=) Receita operacional líquida das vendas 3.575,82 97,70% 4.689,60 97,70%
(-) Custo do produto vendido 1.363,86 37,26% 2.327,07 48,48%
(-) Custos diretos 92,52 2,53% 129,61 2,70%
(-) Custos indiretos 1.271,34 34,74% 2.197,46 45,78%
(=) Lucro operacional bruto 2.211,96 60,44% 2.362,53 49,22%
Fonte: elaborada pelos autores.

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Do ponto de vista econômico, o plantio do milho foi o que alcançou o melhor


desempenho, visto que o lucro operacional bruto chegou a R$ 2.362,53 (contra R$ 2.211,96 da
cultura de soja). Todavia, em termos percentuais da receita obtida, a lucratividade da soja
superou a do milho: 60,44% contra 49,22%. Como o retorno do capital investido se dá em
função do valor monetário do lucro, esta forma de avaliação deve ser priorizada em detrimento
da lucratividade percentual.
Quanto aos fatores que mais impactaram nesse resultado, pela análise vertical se
constata que o custo do produto vendido representou 37,26% no caso da soja (34,74% custos
indiretos e 2,53% custos diretos) e 48,48% no do milho (45,78% custos indiretos e 2,70% custos
diretos). Como o percentual do custo do produto vendido foi maior no milho, o preço de venda
unitário foi menor e, mesmo assim, este teve o maior lucro, o fator mais relevante foi o volume
produzido para venda desse produto (200 sacas ao preço de R$ 24,00), substancialmente maior
que o da cultura de soja (61 sacas ao preço de R$ 60,00).
Convém esclarecer que do resultado bruto apurado, segundo a praxe contábil vigente,
caberia descontar os demais gastos da propriedade que não foram computados (despesas
administrativas, despesas financeiras etc.), bem como efetuar a dedução do custo de
oportunidade do capital aplicado na propriedade. Porém, esses gastos seriam idênticos no caso
das duas culturas, o que manteria a avaliação final sobre qual delas é a mais lucrativa no
contexto desse produtor rural.

5. Considerações finais
O artigo objetivou comparar o resultado econômico-financeiro da produção dessas duas
culturas no âmbito de uma propriedade agrícola, a partir do uso do TDABC na mensuração dos
custos indiretos associados. Então, conforme o relatado nas seções precedentes, os autores
consideram que esse objetivo foi alcançado, de vez foi utilizado tal metodologia de custeio para
alocar os custos indiretos a cada cultura e computado o custo direto (sementes, defensivos,
adubos etc.) que cada cultura consome para determinar o resultado operacional para um hectare
de terra cultivada de soja e de milho.
Quanto aos resultados, apurou-se que o produtor teve maior lucro no caso do plantio do
milho, pois este superou o cultivo de soja (R$ 2.362,53 contra R$ 2.211,96 por hectare). Além
disso, a análise conjunta das informações obtidas das tabelas apresentadas permitiu concluir
que o volume produzido foi o fator preponderante para que o milho superasse o outro produto,
mesmo com custos proporcionalmente maiores em relação à receita bruta de vendas se
comparado com a soja.
Porém, é relevante destacar que a manutenção do cultivo das duas culturas deve ser
cogitada como forma de diluir os riscos da atividade agrícola. Ou seja, além das corriqueiras
oscilações nos preços de venda conforme o período do ano, como os custos operacionais
agrícolas e os investimentos necessários são elevados e a produção pode ser impactada por
fatores relacionados com o clima, doenças, pragas etc., manter o plantio dos dois produtos pode
ser uma alternativa viável de minimizar riscos inerentes a esse tipo de empreendimento.
No que concerne às limitações do estudo, convém salientar dois aspectos. O primeiro é
que, por ser um estudo de caso, as conclusões restringem-se a esse contexto pesquisado, não
permitindo extrapolações para outras propriedades assemelhadas.
O segundo ponto é que não foram computadas as despesas da atividade e nem foi
calculado o custo de oportunidade, tendo em vista que especialmente este último pode ser
representativo em termos percentuais da receita.
Ainda, a título de recomendações para trabalhos futuros sugere-se fazer esse
comparativo com mais culturas ou mesmo com atividades produtivas distintas (agricultura
versus produção de leite e/ou peixes) que podem ser executadas concomitantemente numa
propriedade rural.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ASPECTOS ECONÔMICOS DA SILAGEM DE DUAS CULTIVARES


DISTINTAS EM COMPARAÇÃO AO RETORNO ECONÔMICO COM
A PRODUÇÃO LEITEIRA.

WEIMER1, Maicon; ALVES2, Édina C.; RIGÃO3, Gabrielle; FERREIRA4,Ana Paula Alf
Lima

1. Discente do Curso de Medicina Veterinária da UNICRUZ, Maicon-weimer@hotmail.com


2. Discente do Curso de Agronomia da UNICRUZ, edinnaalves99@gmail.com
3. Discente do Curso de Medicina Veterinária da UNICRUZ, gabriellerigao@hotmail.com
4. Docente do Curso de Medicina Veterinária da UNICRUZ, anapaulaalf@gmail.com

Resumo. O trabalho foi desenvolvido com o intuito de buscar melhorias econômicas na geração de receita em
propriedades rurais junto a um sistema de produção leiteira, no presente estudo foram avaliadas 45 vacas
holandesas de alta produção nos meses de junho, julho e agosto em dois anos diferentes, 2016 e 2017, sendo que
no primeiro ano a dieta das vacas de alta produção tinha como base a pastagem de inverno composta por aveia e
azevem sendo fornecida a vontade, 8 kg de concentrado como 17% de PB e 20 kg de silagem de milho. No segundo
ano de avaliação a dieta manteve como base o fornecimento de pastagem de inverno de aveia e azevem à vontade,
8 kg de concentrado com 17% de PB, e 20 kg de silagem de sorgo. O trabalho avaliou durante os 03 meses a
produção média dessas 45 vacas e usou como padrão o valor de R$1,20 pago pelo litro produzido pelo produtor.
Também foi avaliado o custo de produção dessa silagem desde a semeadura até a ensilagem das duas cultivares.

Palavras-chave: Silagem, Sorgo, Milho, Vacas, Produção.

Economic aspects of the silage of two distinct cultivars in comparison to the


economic return with milk production.
Abstract. The present study evaluated 45 high - yielding Dutch cows in the months of June, July and August in
two different years, in order to obtain economic improvements in the generation of income in rural properties with
a dairy production system. 2016 and 2017. In the first year, high-yield cows diets were based on winter pasture
composed of oats and sugarcane, being supplied at will, 8 kg of concentrate as 17% of PB and 20 kg of corn
silage. In the second year of evaluation, the diet kept as a base the supply of winter pasture of oats and azure at
will, 8 kg of concentrate with 17% of CP, and 20 kg of sorghum silage. The work evaluated during the 03 months
the average production of these 45 cows and used as standard the value of R $ 1,20 paid per liter produced by the
producer. The cost of producing this silage from sowing to silage of the two cultivars was also evaluated.

Keywords: Silage, Sorghum, Corn, Cows, Production.

Introdução

Diversas transformações, dentre outros fatos, têm contribuído para que os produtores de
leite reflitam sobre a necessidade de administrarem bem a atividade leiteira, tornando-se mais
eficientes e, consequentemente, competitivos.
Nessa nova realidade, ter controle adequado e, principalmente possuir um sistema de
custo de produção de leite que gere informações para a tomada de decisões rápidas e objetivas
é essencial para o sucesso da propriedade (LOPES et al., 2004).
A necessidade de analisar-se economicamente a atividade leiteira é importante para o
produtor passar a conhecer e utilizar, de maneira inteligente, os fatores de produção (terra,
trabalho e capital), e a partir daí, concentrar esforços gerenciais e tecnológicos, para obter

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sucesso na atividade e atingir os objetivos de maximização de lucros e minimização de custos


(LOPES, CARVALHO, 2000).
Os avanços tecnológicos cada vez mais presentes no rebanho brasileiro permitiram, nos
últimos anos, aumentar os índices de produtividade do rebanho, resultando e um rebanho
bovino mais eficiente e sustentável.
Entre as principais fontes de volumosos podemos destacar as silagens de sorgo e/ou de
milho, além de terem maior valor nutricional e bons rendimentos por unidade de área, são de
boa aceitabilidade pelos animais e de fácil processo operacional para o seu processamento e
armazenamento (NEUMANN, M., RESTLE, J., BRONDANI, I. L., 2004).
O milho é a cultura mais usada para a confecção de silagem e o sorgo, na maioria das
vezes, fica em segundo plano, como cultura alternativa, em condições que não seriam ideais
para o milho, com algumas vantagens agronômicas como rusticidade e elevado potencial
produtivo (ALMEIDA, 1999; MIRANDA e PEREIRA, 2006).
O uso da cultura de sorgo para silagem, no Brasil, surgiu a partir da introdução de
variedades de porte alto, com alta produtividade de massa verde. Preocupava-se naquele
momento apenas com a redução do custo da tonelada de matéria verde de silagem produzida,
sem considerar a qualidade deste material.
Entretanto, com o passar do tempo, os produtores passaram a exigir um material com
maior produção de nutrientes por unidade de área. Isso explica porque muitas vezes um sorgo
forrageiro pode ser preferido a um granífero, pois, apesar de possuir valor nutritivo geralmente
inferior, apresenta alta produção, o que pode resultar em maior produção de nutrientes por
unidade de área (NUSSIO, MANZANO, 1999).
No Brasil, devido à estacionalidade de produção das pastagens e à intensificação dos
sistemas de produção, o uso de silagem de sorgo vem crescendo a cada ano, onde a cultura se
sobressai, por sua maior resistência ao estresse hídrico.
O Brasil, segundo Zago (1991), é um dos países com maiores potencialidades de
adaptação e crescimento da cultura de sorgo no mundo.
Desta forma, o presente trabalho objetivou-se avaliar a elaboração da ensilagem com
duas culturas diferentes e seu retorno econômico em um sistema de produção leiteira, visando
geração de renda e alternativas sustentáveis para a empresa rural.

Resultados e considerações finais

Foi realizado em uma propriedade do noroeste do estado do Rio Grande do Sul um


experimento com silagens de duas cultivar diferentes, onde o foco foi avaliar a receita bruta
final sobre o custo de produção para todo o processamento do mesmo.
Para o seu desenvolvimento foram utilizados quarentas vacas holandesas HPB, os meses
avaliados dos dois anos de experimento foram de junho a agosto, sendo que a dieta dessas vacas
no primeiro ano 2016 (tratamento A) era à base de pastagem de inverno com consórcio aveia e
azevem pós ordenha da manhã de forma à vontade até ao meio dia, também era fornecido, 8 kg
de concentrado com 17% de PB no cocho e 20 kg de silagem de milho.
No segundo ano de avaliação 2017 (tratamento B) a dieta manteve como base o
fornecimento de pastagem de inverno em consórcio de aveia e azevem, pós ordenha da manhã
permanecendo até o meio dia, também foram ofertados, 8 kg de concentrado com 17% de PB,
e 20 kg de silagem de sorgo.
A fim de avaliar a receita bruta sobre produção das diferentes forrageiras não foi
modificado outras variáveis da produção, para a maior estabilidade foi-se utilizado o valor pago
pelo litro de leite produzi em R$ 1,20 pela produção dos dois anos que esses animais passaram
pela avaliação experimental.

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Tabela 1 – Custos de implantação das duas cultivar.

TRATAMENTO A TRATAMENTO B
MILHO 2016 SORGO 2017

ÁREA CULTIVADA: 10 HECTARES ÁREA CULTIVADA: 10 HECTARES


SEMENTE DE MILHO: R$ 3.000,00 SEMENTE DE SORGO: R$ 1.140,00
ADUBAÇÃO: R$ 4.400, 00 ADUBAÇÃO: R$ 4.400,00
DEFENSIVOS: R$ 400,00 DEFENSIVOS: R$ 400,00
TRATAMENTO DE SEMENTES: R$ 100,00 TRATAMENTO DE SEMENTES: 100,00
CUSTO DE PROCESSAMENTO: R$ 7. 000,00 CUSTO DE PROCESSAMENTO: R$ 7.000,00

Custo total: R$ 14.900,00 Custo total: R$ 13.040,00

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

Figura 1 – Barracão tipo tratador usado pra alimentação das vacas leiteiras.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

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Tabela 2 - Diferença na receita em produção.

TRATAMENTO A TRATAMENTO B
CUSTO TOTAL: R$ 14.900,00 CUSTO TOTAL: R$ 13.040,00
45 VACAS X 29,30 LTS X 92 DIAS: 121.302 LTS 45 VACAS X 28,75 LTS X 92 DIAS: 119.025 LTS
TRAT. A 121.302 – TRAT. B 119.025 = 2.277 LTS CUSTO: A 14.900 – B 13.040 = R$ 1.860,00
2.277 LTS X R$ 1,20 = R$ 2.732,40 R$ 2.732,40 – R$ 1.860,00 = R$ 872,00
Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

Figura 2 – Pastagem de inverto em consórcio aveia e azevem.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

A silagem de milho possui boa produção de massa por unidade de área (NEUMANN,
2003) e alta concentração energética (ROCHA, 2006), é uma fonte de volumoso que pode ser
usado com sucesso para o balanceamento de dietas de vacas leiteiras de alta produção, e quando
combinado com outro tipo de volumoso, proporciona uma dieta com elevado perfil nutricional.
O milho tem sido a forrageira de maior utilização no processo de ensilagem, entretanto,
o sorgo tem se apresentado como boa opção em substituição ao milho, principalmente devido
à maior resistência e menor custo de produção (DIAS, 2001).
Entre os trabalhos que a literatura emprega junto à cultura do sorgo tem-se estudado a
competição entre cultivares, observando-se a oscilação na variação na produção de matéria
seca.
A cultivar do sorgo forrageiro constitui a opção mais viável economicamente para
atender a demanda dos pecuaristas, destacando-se principalmente por ser um alimento de alto
valor nutritivo, que apresenta alta concentração de carboidratos solúveis, essenciais para

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

adequada fermentação lática (NEUMANN, 2002) e apresenta, em média, 85% a 90% do valor
nutritivo das silagens de milho (ZAGO, 1997), apresentando excelente conservação deste
alimento sob a forma de silagem, pelos teores elevados de proteína bruta (WHITE, 1991).
No presente estudo avaliado tivemos uma diferença sobre o custo de produção entre
uma cultivar e outra de R$ 1.860,00, onde o milho se sobre saiu quando comparado a cultivar
do sorgo. Porem já na produção leiteira foi encontrado uma produção superior com a cultivar
do milho em 2.277 litros de leite, quando multiplicado pelo preço base pago a produtor de
R$1,20 o valor encontrado de receita bruta foi de R$ 2.732,40.
Agora quando comparado o valor de R$ 1.860,00 economizados no processamento da
cultivar do sorgo em relação a cultivar do milho e subtrair pelo valor de R$ 2.732,00 de receita
encontrada a mais em produção das vacas com a cultivar do milho chegamos ao valor de R$
872,00.
Com base nos resultados desta pesquisa, foi possível observar que apesar da cultivar do
sorgo ser mais barata no processo de ensilagem quando comparada ao milho, a mesma se
mostrou inferior a cultivar do milho na produção leiteira, podendo ser concluído assim que a
cultivar de eleição para o processo de ensilagem como base na alimentação de vacas leiteiras é
o milho, porém o sorgo se mostra como uma opção alternativa nesse meio de produção.

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ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE


SUCO DE LARANJA: 1997-2013

Patricia Batistella1
Elen Presotto¹
Lauana Rossetto Lazaretti¹
Denise Gomes de Gomes¹

Resumo. O segmento de suco de laranja brasileiro se destaca devido ao seu potencial competitivo e elevado
volume de exportações. Sendo assim, o estudo busca identificar se este produto de origem brasileira possui
vantagem comparativa perante o mercado internacional. Para tanto, diversos índices foram calculados no período
de 1997 a 2013, sendo eles: Índice de Vantagem Comparativa Revelada e Simétrica; Indicador de Contribuição ao
Saldo Comercial e Índice de Comércio Intra-setorial. Os dados foram obtidos junto a FAOSTAT. Os principais
resultados do estudo apontam que o suco apresenta vantagem comparativa, mas a mesma vem diminuindo nos
últimos anos. Os índices de comércio intra-setor encontrados foram baixos para todos os anos do período analisado
e demonstram pouca tendência de aumento, apenas nos dois últimos anos do período. Dessa forma, é possível
caracterizar o comércio entre o Brasil e o resto do mundo para com as exportações do seu suco como sendo
intersetorial ou do tipo Heckscher-Ohlin, ou seja, o país tende a exportar bens que utilizam mais intensivamente
os recursos relativamente mais abundantes.

Palavras-chave: exportações; suco concentrado de laranja; competitividade; vantagem comparativa

ANALYSIS OF THE COMPETITIVENESS OF BRAZILIAN EXPORTS OF ORANGE


JUICE: 1997-2013

Abstract. The Brazilian orange juice segment stands out due to your competitive potential and high volume of
exports.Thus, the study seeks to identify if this product of brazilian origin has comparative advantage vis-à-vis the
international market. To this end, various indices were calculated for the period of 1997 to 2013: index of Revealed
comparative advantage and symmetrical; Indicator of contribution to the Commercial Balance and Intra-industry
Trade Index. The data were obtained from the FAOSTAT. The main results of the study show that the juice
presents comparative advantage, but the same comes decreasing in recent years. Intra-setor trade indices were low
for all years of the analysis period and shows little tendency to increase, just in the last two years of the period. In
this way, it is possible to characterize trade between Brazil and the rest of the world to your juice exports as
Heckscher-type or intersectoral Ohlin, i.e. the country tends to export goods that use more intensively the relatively
more abundant resources.
Keywords: exports; orange juice concentrate; competitiveness; comparative advantage

Introdução

O Brasil atualmente é destaque na produção de alimentos, tornou-se líder nas


exportações de diversos produtos agrícolas, é o maior produtor e exportador mundial de café,
açúcar, etanol e suco de laranja. A citricultura tem grande representatividade no agronegócio
brasileiro e é considerada uma das principais cadeias produtivas do país. Além disso, o setor é
reconhecido pela sua liderança mundial.
Conforme destaca Piatto (2014), o processo de modernização do setor citrícola
brasileiro, teve início nos anos de 1960, em decorrência de uma grande geada no estado da
Flórida (EUA), o qual até então era o maior produtor da fruta. Os altos investimentos aliados a
avanços tecnológicos permitiram que o setor se equiparasse e até mesmo superasse os países
mais desenvolvidos que já atuavam há décadas no ramo.
O segmento de sucos em geral, e o de suco de laranja em específico, chama atenção por
seu potencial. Com as rápidas alterações demográficas que levaram ao aumento e urbanização
da população, o mercado para néctares e refrescos à base de sucos se ampliou, com destaque

1Discente do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento da Universidade Federal de


Santa Maria - PPGE&D/UFSM.

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para o sabor de laranja, com aproximadamente 39% do Market Share dos produtos do gênero
(AIJN, 2014). A União Europeia se constitui como o maior importador de suco concentrado de
laranja, enquanto o Brasil, Bélgica, Países Baixos e Estados Unidos como maiores exportadores
(FAO, 2016).
Contudo, o cenário global é caracterizado pela alta concorrência e em médio e longo
prazo os níveis de competitividade dos países podem ser alterados. Diante de tal fato, o trabalho
buscará responder se os níveis de competitividade do Brasil e sua indústria citrícola são
suficientemente capazes de continuar promovendo a expansão do setor e de sua participação de
mercado em nível internacional?
Com vistas a responder tal questionamento, optou-se por calcular os seguintes
indicadores de comércio internacional: (i) índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR);
(ii) índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (IVCRS); (iii) Indicador de
Contribuição ao Saldo Comercial (ICSC); e (iv) Índice de Comércio Intra-setorial.
O trabalho está divido em cinco seções. A primeira consiste nesta introdução, na
segunda seção, contém o referencial teórico trazendo uma abordagem das principais teorias
sobre vantagens comparativas e competitividade. A terceira seção compreende a metodologia
utilizada para alcançar os objetivos propostos. A quarta seção é composta pelos resultados e
discussão. Por fim, a quinta seção irá conter as principais conclusões.

2 Competitividade

Com o passar dos anos, o processo de globalização e as trocas entre os países se


intensificaram e passaram a expor, paulatinamente, as indústrias domésticas à concorrência
internacional. Manter-se competitivo neste mercado globalizado não é uma tarefa fácil, uma
vez que qualidade do produto e preços diferenciados não são suficientes.
Os assuntos que norteiam o tema vantagem comparativa, desempenho das nações e dos
agentes econômicos perante o mercado internacional foram preconizados pelos autores
clássicos Adam Smith e David Ricardo. Ambos com os estudos relacionados à teoria das
vantagens comparativas e absolutas, os quais deixaram suas contribuições para a análise que
mais tarde passou a ser tratada como competitividade (LOVE e LATIMORE, 2009).
Além da abordagem mais geral, passam a ser incorporados demais níveis neste campo
de estudo, microeconômico e de organização industrial, quando alguns pensadores
contemporâneos, como Hagnauer (1989), Kupfer (1992), Coutinho e Ferraz (1993), Porter
(1990), tentam entender o desempenho competitivo não apenas das empresas, mas incorporam
outros níveis. Neste contexto, tais autores trouxeram importantes considerações sobre o êxito
competitivo dos países, a noção de competitividade, a forma como as organizações podem obter
ganhos nos mercados internacionais, entre outros aspectos.
Diversas foram as transformações que ocorreram no mundo nos últimos anos, sejam
estas tecnológicas, financeiras, nos modelos de produção e organizações das empresas, as quais
acabaram por modificar o ambiente competitivo. Conforme destaca Mattos (2003), a elevada
concorrência nos mercados em níveis nacionais e internacionais tem gerado mudanças
significativas no modo de operar e gerir das empresas, as quais têm buscado estratégias cada
vez mais competitivas para conseguirem obter vantagens frente ao mercado.
Coutinho e Ferraz (1993) destacam que os conceitos econômicos tradicionais sobre
competitividade, já estão ultrapassados. Os custos, preços e condições salariais já não são
fundamentais para um país tornar-se competitivo, como era previsto nos conceitos mais
clássicos.
Para Haguenauer (1989), a competitividade deriva de dois arcabouços, o primeiro da
fatia de mercado internacional que determinado país possui e o outro a partir da própria firma,

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sendo a capacidade de transformar insumos em produtos. Desta forma, observa-se uma divisão
entre o ex-ante e o ex-post da indústria.
Kupfer (1992) define competitividade como sendo atrelada a uma direção extrínseca a
firma ou ao produto. O padrão de concorrência é uma variável determinante e a competitividade
é a variável determinada. Portanto, a competitividade são processos complexos de noções de
concorrência e padrões de concorrência, buscando incorporar a inovação tecnológica no
processo.
As novas discussões sobre competitividade foram tomando novas formas, novas
concepções e abordagens, as quais buscaram explicar e argumentar sobre as limitações dos
conceitos clássicos. Santana (2002) buscou em seus estudos enfatizar o importante processo de
transição dos estudos sobre competitividade, onde revisa vários conceitos. Para o autor alguns
dos principais elementos que determinam o ambiente competitivo são: a estrutura e
concentração de mercado, em função do número de concorrentes, a diferenciação e elasticidade
dos produtos e as condições para entradas de novos concorrentes.
Outro modelo que buscou atribuir características dinâmicas na análise de
competitividade foi o modelo Estrutura, Conduta e Desempenho (ECD), proposto inicialmente
por Mason em 1939 e depois por Bain em 1950 e 1960. Mas, a partir dos anos 80 quando
surgiram as propostas de Porter sobre competitividade industrial, houve a interação com o
modelo da ECD e juntos abordaram os custos de transação, a integração vertical, os modelos
de governança e a diversificação de produtos (SANTANA, 2002).
Portanto, como é possível observar, as leituras sobre as vantagens comparativas e os
níveis de competitividade de países e organizações industriais permite elencar um conjunto de
atributos os quais vão muito além do ambiente interno de uma empresa e agregam elementos
de sociologia econômica, de organização industrial, de políticas públicas, de políticas
macroeconômicas, de padrões de governança e de gestão das cadeias produtivas.

3 Metodologia

Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos pelo presente trabalho, optou-se


por calcular os seguintes indicadores de comércio internacional para as exportações brasileira
de seu suco concentrado de laranja: (i) índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR); (ii)
índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (IVCRS); (iii) Indicador de Contribuição
ao Saldo Comercial (ICSC); e (iv) Índice de Comércio Intra-setorial. Os dados para realização
do trabalho foram coletados junto ao banco de dados da FAOSTAT (Food and Agriculture
Data), os índices apresentados acima serão calculados do período de 1997 a 2013.

3.1 Índice de vantagem comparativa revelada (IVCR)

Um dos indicadores mais utilizados para mensurar a competitividade de setores em


ambiente internacional é o Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR). O IVCR foi
inicialmente formulado por Balassa em 1965 e em seguida modificado por Vollrath 1991
(THOME; FERREIRA, 2014).
O índice denota a relação entre o coeficiente de participação do produto i exportado no
fluxo total das exportações do país em questão em função do fluxo das exportações do mesmo
produto i no mundo em relação a todas as exportações do mundo, no mesmo período,
matematicamente expresso como (CORONEL, 2008).

𝑋𝑖𝑗⁄
𝐼𝑉𝐶𝑅𝑖𝑗 = 𝑋𝑖⁄ (1)
𝑋𝑤𝑗⁄
𝑋𝑤
Onde:

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𝑋𝑖𝑗 = valor das exportações brasileiras de suco concentrado de laranja (em mil/ US$),
𝑋𝑖 = valor total das exportações brasileiras (em mil/ US$);
𝑋𝑤𝑗 = valor das exportações mundiais de suco concentrado de laranja, (em mil/US$);
𝑋𝑤 = valor das exportações mundiais totais (em mil/US$);
i = exportações brasileiras;
w = exportações mundiais;
j = produto (suco concentrado de laranja).
A função do índice de vantagem comparativa revelada é encontrar um indicador que
mensure a estrutura relativa das exportações de forma a evidenciar se o país ou região, possui
vantagem comparativa no determinado segmento ou produto. Assim, se o índice originado por
essa razão matemática resultar em: IVCR > 1, o país apresenta vantagens comparativas
reveladas nas exportações do determinado produto. Caso IVCR < 1, o país apresenta
desvantagens comparativas reveladas nas exportações do produto em análise.

3.2 Índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (IVCRS)

O índice apresentado na seção anterior é apontado muitas vezes por apresentar uma certa
restrição, onde a desvantagem e a vantagem comparativa assumem dimensão assimétrica.
Sendo que a primeira varia no intervalo de 0 e 1 e a segunda entre 1 e infinito. Sabendo de tal
limitação, Laursen (1998) desenvolveu um novo índice, aprimorando o anterior (HIDALGO,
MATA, 2014). O novo índice passa então a assumir a seguinte forma:

(𝑉𝐶𝑅𝑖𝑗 − 1)
𝑉𝐶𝑅𝑆𝑖𝑗 = ⁄(𝑉𝐶𝑅 + 1) (2)
𝑖𝑗

Este índice 𝑉𝐶𝑅𝑆𝑖𝑗 assume valores entre de -1 a 1, dessa maneira se o valor encontrar-se
entre 1 e 0, então a região/país j irá possuir vantagem comparativa revelada no produto i.
Entretanto, caso os valores se situem entre -1 e 0, a região/país apresentará desvantagem
comparativa revelada no produto em análise.

3.3 Indicador de Contribuição ao Saldo Comercial

Além dos índices já apresentados, outro indicador a ser calculado no presente estudo diz
respeito ao Indicador de Contribuição ao Saldo Comercial. O mesmo também corresponde ao
índice de vantagem comparativa, que diferentemente dos já propostos passa a levar em
consideração as importações. Este indicador foi desenvolvido por Lafay (1990) conforme
especificado na equação abaixo:
100 (𝑋−𝑀)((𝑋𝐼 +𝑀𝐼 ))
𝐼𝐶𝑆𝐶𝑖𝑗 = 𝑋+𝑀 [𝑋𝑖 − 𝑀𝑖 − (𝑋+𝑀)
] (3)
2
Em que;
𝑋𝑖 : exportações do bem i (neste caso i, representa o seu suco concentrado de laranja);
𝑀𝑖 : importações do bem i;
𝑋; 𝑀: exportações e importações, respectivamente, totais do país/região;
𝑋𝑖 − 𝑀𝑖 : representa a balança comercial do bem i;
(𝑋−𝑀)((𝑋𝐼 +𝑀𝐼 ))
(𝑋+𝑀)
: representa a balança comercial teórica do bem i.
Conforme destacado por Feistel, Hidalgo e Casagrande (2014), o ICSC tem por
embasamento a relação entre o saldo comercial observado para cada produto e o saldo
comercial teórico para cada produto. Sendo possível, então, verificar a existência ou não de
vantagens comparativas reveladas por meio da diferença entre o saldo comercial observado e o
teórico. Desta forma, quando o 𝐼𝐶𝑆𝐶𝑖𝑗 apresentar valor maior que zero, o produto i apresentará
vantagem comparativa revelada. Caso o 𝐼𝐶𝑆𝐶𝑖𝑗 seja menor que zero, o produto i possuirá uma
desvantagem comparativa revelada.
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3.3 Indicador de comércio intra-setorial

O último indicador a ser utilizado neste estudo trata-se do Indicador de Comércio Intra-
setorial (CIS), desenvolvido por Grubel e LlOyd em 1975. Segundo Feistel, Hidalgo e
Casagrande (2014), o CIS tem por objetivo identificar qual é o tipo de comércio entre dois
países ou regiões, o qual pode ser intra-setor ou intersetorial.
Hidalgo e Mata (2004) assinalam que o comércio intra-indústria pode ser descrito como
uma troca de produtos que são classificados dentro de um mesmo setor, este tipo de comércio
passou a se intensificar com o aumento da similaridade tecnológica dos países desenvolvidos,
os quais efetuam trocas intrasetoriais de maneira mais intensa. Em contra partida, tem-se o
comércio intersetorial o qual se dá pela troca de produtos advindos de setores diferentes, mas
em um mesmo horizonte temporal definido entre duas economias.
De maneira equivalente, o índice de comércio intra-setor (𝐶𝐼𝑆𝑖 ) ao grau de cada produto
i é apresentado por:

(𝑋 − 𝑀 )
𝐶𝐼𝑆𝑖 = 1 − (𝑋𝑖 + 𝑀𝑖 ) (4)
𝑖 𝑖
Onde 𝑋𝑖 representa as exportações do setor i e 𝑀𝑖 representa as importações do mesmo
setor i para a economia. O índice varia de zero a um, sendo que se o valor for igual a zero, o
comércio será do tipo interindustrial, ou seja, um comércio do tipo Heckscher-Ohlin. Caso
contrário, se for unitário, o comércio será do tipo intra-industrial.

4 Resultados e Discussão
O suco de origem brasileira é uma das bebidas mais consumidas em todo mundo, em
cada cinco copos bebidos de suco de laranja, três deles são provenientes do Brasil. Contudo, ao
mesmo tempo que o Brasil lidera as exportações de suco concentrado, tem-se a inserção de
novos produtos, que competem diretamente com suco brasileiro (NEVES et al. 2010).
Neste item, pretende-se descobrir se o segmento de exportações de sucos de laranja, no
Brasil, é suficientemente competitivo para ampliar ainda mais sua participação neste mercado.
Tabela 1 - Índices de Vantagem Comparativa Revelada e Vantagem Comparativa Revelada
Simétrica, 1997-2013
Produto Suco Concentrado de Laranja
Período IVCR IVCRS
1997 7.89 0.77
1998 8.65 0.79
1999 9.40 0.81
2000 8.48 0.79
2001 7.62 0.77
2002 6.70 0.74
2003 7.20 0.76
2004 6.49 0.73
2005 5.58 0.70
2006 6.13 0.72
2007 5.78 0.71
2008 5.51 0.69
2009 4.98 0.67
2010 3.85 0.59
2011 2.10 0.36
2012 3.92 0.59
2013 4.16 0.61
Média 6.14 0.69
Fonte: elaborado pelos autores, dados da pesquisa (2016).
A Tabela 1, apresenta o IVCR e IVCRS no decorrer de 1997 a 2013, como é possível
verificar apesar do índice apresentar vantagens comparativas as mesmas estão sofrendo

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constantes quedas nos últimos períodos analisados, apresentando os menores índices no ano de
2011.
O Brasil possui destaque mundial por ser o maior produtor de laranja, sendo que 90%
deste total são destinados para a produção do suco concentrado, o qual no decorrer dos 17 anos
analisados apresentou vantagens em ambos os índices. O valor máximo dos índices se deu no
ano de 1999, neste mesmo período o país foi responsável por 37% das exportações mundiais
de suco de laranja.
Mas, a partir de 2000 o índice passou a ter sucessivas quedas, não alcançado mais os
patamares elevados como final da década de 1990, chegando a ter seu menor desempenho no
ano 2011 (2,10 e 0,36). Com é possível verificar em nível internacional o segmento está
perdendo importância relativa, onde as exportações brasileiras estão diminuindo
consideravelmente, enquanto as exportações mundiais crescem. Essa tendência acaba por afetar
diretamente tais indicadores.
Vários são os fatores que afetam diretamente as exportações, no caso do suco de laranja
brasileiro, podem ser destacados : a queda no consumo do produto, elevadas barreiras tarifárias
e não tarifárias, dentre outros fatores que impulsionam negativamente o setor.
Atribuído como principal fator que colabora para perca de competitividade das
exportações brasileiras são as barreiras tarifárias e não tarifárias, pois desde que o Brasil se
tornou o maior produtor de laranja, o mesmo passou a ser alvo de rigorosas barreiras às
exportações da laranja e do próprio suco. Por exemplo, atualmente o Brasil paga US$ 415,00 a
tonelada do produto, para acessar o mercado nos Estados Unidos (ROSA et al. 2013).
Em compensação, são isentos de tarifas os sucos originários do Caribe, norte da África
e México. Enquanto, o suco pronto para beber brasileiro é tarifado em US$ 42/ton, as
importações originárias da América Central, México e Caribe são isentas de tarifas (NEVES et
al. 2010). No caso da Europa, principal mercado do suco brasileiro, as principais exigências
dos importadores europeus são em relação à segurança do consumidor, qualidade, autenticidade
e rastreabilidade do produto. É exigido que as regras do Codex Alimentarius2 sejam respeitadas,
uma coletânea de normas aceitas mundialmente que aborda assuntos da produção de alimentos
e segurança alimentar (NEVES; JANK, 2006).
Com o intuito de complementar a análise das vantagens comparativas reveladas, e
também de incorporar as importações na análise de competitividade, na Tabela 2, são
apresentados os índices de Contribuição ao Saldo Comercial (ICSC) e Indicador de Comércio
intra-setororial. A comparação destes se torna relevante, pois compõe um processo de filtragem
para conhecer melhor os produtos com vantagem comparativa revelada. Dessa forma, se possuir
vantagem comparativa o valor do ICSC será maior que zero.
Tabela 2 – Indicador de Contribuição ao Saldo Comercial e Indicador de Comércio intra-
setorial
ICSC Suco CIS Suco de Laranja
Período Concentrado de
Laranja
1997 0.4683 3.5891E-05
1998 0.6129 1.58436E-06
1999 0.6422 0.000127921
2000 0.4621 0
2001 0.3489 0
2002 0.3566 2.30068E-06
2003 0.3011 0
2004 0.1974 2.02611E-05
2005 0.1606 2.76332E-05

2
O Codex Alimentarius, ou "Código Alimentar", é um conjunto de normas, orientações e códigos de práticas
adoptados pela Comissão do Codex Alimentarius (FAO, 2016).

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2006 0.1831 0.000109279
2007 0.2367 9.07553E-06
2008 0.1443 0
2009 0.1149 0
2010 0.0848 0.000230458
2011 0.0865 0
2012 0.1935 0.000245876
2013 0.1920 2.14956E-06
Fonte: elaborado pelos autores, dados da pesquisa (2016).

Como é possível verificar, o ICSC apresentou resultados semelhantes aos anteriores,


apontando que o suco concentrado da laranja ainda apresenta vantagens comparativas, porém
com sucessivas quedas nos últimos anos.
Por fim, buscou-se identificar se as trocas brasileiras do suco concentrado de laranja é
do tipo intra-industrial ou intersetorial, em índices agregados e também em nível de setor
produtivo.
Os índices de comércio intra-setor encontrados se exibem muito baixos para todos os
anos do período analisado, e demonstram pouca tendência de aumento, apenas nos últimos anos
do período. Dessa forma, é possível caracterizar o comércio entre o Brasil e o resto do mundo
para com as exportações de suco concentrado de laranja como sendo intersetorial ou do tipo
Heckscher-Ohlin, ou seja, o país tende a exportar bens que utilizam mais intensivamente os
recursos relativamente mais abundantes.
Afora isto, os resultados da pesquisa ratificam as contribuições de Neves et. al (2010),
referente à necessidade de desenvolvimento de um modelo confiável e transparente para
precificar a matéria-prima ofertada pelos citricultores deve ser prioridade para o setor, assim
como o desenvolvimento de práticas de manejo, o estímulo ao consumo de laranja e derivados,
a busca pela redução das barreiras protecionistas e o apoio governamental são essenciais para
o avanço da citricultura brasileira.

5 Conclusões

O presente estudo apresentou uma análise dos níveis de competitividade da indústria


citrícola brasileira, como também do setor em nível internacional. Além da mensuração da
vantagem comparativa revelada, a análise trouxe demais índices com o intuito de avaliar a
competitividade do setor.
Nesse sentido, o estudo revelou que o Brasil apresenta vantagens comparativas
reveladas nas exportações de suco de laranja, porém, o índice vem diminuído gradativamente
no decorrer dos últimos anos. Dessa forma, para que o país consiga promover e, até mesmo,
voltar expandir-se vários fatores deverão ser revistos.
Com os resultados obtidos neste estudo, foi possível detectar que a perda da
competitividade brasileira de suco de laranja pode ter sido acarretada principalmente por três
fatores: a troca do suco de laranja concentrado, pela inserção de novos produtos como os
néctares e outras bebidas não alcoólicas principalmente por parte dos Estados Unidos e Europa;
o aumento de barreiras tarifárias e não tarifárias ao produto de origem brasileira; e, o aumento
do índice de pragas e doenças, que contribuem para maior quantidade no uso e aplicação de
defensivos agrícolas.
As barreiras tarifárias e não tarifárias, são vilãs do setor deste o momento que o Brasil
passou a liderar as exportações mundiais de suco de laranja. Essas medidas acabam se refletindo
principalmente no preço final do produto, fazendo com que o suco brasileiro perca
competitividade frente aos demais. A diminuição dessas elevadas tarifas iria favorecer toda a
cadeia produtiva, pois haveria a diminuição do custo final do produto para o consumidor.

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Portanto, no contexto atual, existe clara tendência de perda de vantagem comparativa,


e a pesar do Brasil ainda apresentar vantagens nas exportações de suco concentrado, ele corre
seriamente o risco de perder tal posto. Para que isso não ocorra, faz-se necessário a implantação
de políticas públicas que deem suporte a ações específicas para o setor, com o objetivo de
inverter esta tendência. As políticas públicas devem voltar-se ao objetivo principal de promover
ações que são valorizadas pelos principais mercados consumidores mundiais, entre eles a União
Europeia e os Estados Unidos.

Referências

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ANÁLISE ECONÔMICA PARA UMA PROPRIEDADE RURAL NO


MUNICÍPIO DE TUCUNDUVA-RS

Cléber Alessandro Corso1, Márcio Leandro Kalkmann12, Ivete Linn Ruppenthal ³

1
Faculdade Horizontina (FAHOR) – cc001742@fahor.com.br
2
Faculdade Horizontina (FAHOR) - kalkmannmarciol@fahor.com.br
³
Faculdade Horizontina (FAHOR)- ruppenthalivetel@fahor.com.br

Resumo. As propriedades rurais independentemente de porte, necessitam de estratégias para tomada de decisões.
Diante deste contexto, este estudo mapeia e avalia três fontes de recursos em uma determinada propriedade rural,
com o objetivo de descrever a gestão de negócios em pequenas propriedades rurais, enfatizando a necessidade de
uma avaliação ideal sobre a viabilidade das atividades econômicas, como ferramenta de gestão estratégica trazendo
dados, demonstrativos e resultados alcançados, de forma trazer uma melhor percepção do segmento agrícola para
propriedades rurais e trazendo dados analisados através de modelos matemáticos que possam maximizar os lucros
da propriedade em estudo. Para delinear a pesquisa caracteriza-se como exploratório-descritiva, sendo classificada
em dois aspectos, quanto aos fins, foi de natureza aplicada. Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica,
documental e estudo de caso. A coleta de dados se deu por meio de pesquisa bibliográfica, documental e entrevista,
para posterior análise e discussão dos resultados. Foi necessário obter custos das atividades, assim como produção
total, faturamento e preços praticados no mercado, para assim ter bases de cálculos afim de analisar e descrever os
custos de oportunidades presentes das três atividades da propriedade, para decidir onde ser direcionados os
investimentos da propriedade. Sendo assim, através deste estudo pode-se identificar que nas atuais condições, a
produção leiteira é inviável, trazendo um modelo ótimo de maximização de lucro que seria a produção conjunta
de milho e soja, maximizando assim o lucro.

Palavras-chave: Propriedade Rural. Análise. Viabilidade.

ECONOMIC ANALYSIS FOR A RURAL PROPERTY IN THE


MUNICIPALITY OF TUCUNDUVA-RS
Abstract. Rural properties, regardless of size, need strategies for making decisions. In this context, this study maps
and evaluates three sources of resources in a given rural property, with the purpose of describing business
management in small rural properties, emphasizing the need for an ideal evaluation on the feasibility of economic
activities, as a tool for strategic management bringing data, statements and results achieved, in order to bring a
better perception of the agricultural segment to rural properties and bringing data analyzed through mathematical
models that can maximize the profits of the property under study. To delineate the research is characterized as
exploratory-descriptive, being classified in two aspects, regarding the purposes, was applied nature. As for the
means, the research was bibliographical, documentary and case study. The data collection was done through
bibliographical research, documentary and interview, for later analysis and discussion of the results. It was
necessary to obtain costs of activities, as well as total production, sales and prices practiced in the market, so as to
have bases of calculations in order to analyze and describe the costs of present opportunities of the three activities
of the property, to decide where to be directed the investments of the property . Thus, through this study it can be
identified that in the current conditions, milk production is impracticable, bringing an optimal model of profit
maximization that would be the joint production of corn and soybean, thus maximizing profit.
.
Keywords: Rural property. Analysis. Viability.

Introdução
O atual cenário mundial retrata a necessidade de mudanças e inovações constantes
dentro das mais diversas formas de organizações. A busca pela estabilidade se caracterize em
forma de aperfeiçoamento constante dentro das empresas. Tais considerações se fazem
presentes em uma organização rural, onde são comercializados commodities agrícolas, que
possuem as mesmas ou mais significativas características de sazonalidade nos preços de
mercado. As propriedades rurais estão em constante fomento, haja vista a necessidade de

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continuidade de produção de alimentos no mundo, anunciados através da mídia, órgãos


governamentais e especialistas no assunto.
Ao longo dos anos ocorreram inúmeras discussões acerca de escolhas quanto às
estratégias que proporcionem a geração de riqueza, com redução dos níveis de desigualdade e
melhores condições para a vida de pessoas de regiões rurais. Um caminho considerado moderno
é aquele que enquadra as atividades de gestão dentro de normas científicas, visando resultados
econômicos mais imediatos, mas com vigor de longo prazo, aproximando os produtores dos
consumidores. As escolhas por este caminho deram forma a uma crença baseada nos princípios
da economia agrícola que predominou para políticas regionais de modernização da agricultura.
Analisar um negócio é uma ferramenta importante para gestão pois é uma das coisas
mais úteis que um empresário ou um empreendedor pode fazer e ter para tomada de decisões
tendo como base esta ferramenta. Pode servir tanto como um guia a ser seguido, como também
um instrumento utilizado para obtenção de financiamento de recursos para melhoria constante
da propriedade. O planejamento permite restringir os erros ao papel, ao invés de cometê-los no
mercado. Ele testa a decisão de abrir ou ampliar um negócio, uma vez que a preparação de uma
análise abrangente de negócios exige tempo e esforço, além de conhecimento do mercado no
qual o negócio está inserido.
O presente trabalho se insere na discussão sobre o desenvolvimento rural a partir da
diversidade da agricultura familiar, da mecanização da atividade e da criação de portfolios de
produtos, assim como unidades estratégicas do negócio. Portanto o tema deste estudo tem por
finalidade a análise econômica para uma propriedade agrícola familiar de pequeno porte.
Conforme Pinazza & Araújo (1993, p.112), “nos países em desenvolvimento, os
investimentos em infraestrutura na zona rural justificam-se, independente da ocorrência ou não
de rápida urbanização, por que alavancam o crescimento e desenvolvimento econômico”.
As propriedades rurais familiares, de maneira geral, sentem a necessidade de trabalhar
da melhor forma possível no seu ambiente produtivo, otimizando o ambiente, reduzindo custos
e melhorando a produtividade com os recursos disponíveis na propriedade. Desta forma,
percebe-se que há necessidade de profissionalização da gestão dos processos desta propriedade,
justificando desta forma este estudo.
Santos, et. all. (2002) citam que uma propriedade rural pode se transformar em uma
ótima fonte de renda, se sua gestão tiver a efetividade exigida como em qualquer negócio de
sucesso. A economia, por sua essência, faz com que tenha, a partir da utilização de suas
ferramentas, uma visão técnica do negócio, independentemente de qual seja a finalidade deste.
Essa visão permite um norteamento para que todas as tomadas de decisões estejam alinhadas
com os objetivos dos gestores do negócio.
Uma propriedade rural necessita de gestão eficiente visando gerenciar, prever riscos e
projetar investimentos. Tendo em vista essa necessidade de profissionalização dentro de um
sistema produtivo, este estudo visa responder a seguinte questão: Como otimizar a produção
com os recursos disponíveis e o controle nas atividades executadas através de uma análise
econômica em uma propriedade rural de pequeno porte no município de Tucunduva?
Neste sentido, o presente estudo foi direcionado para alguns pontos específicos, visto
que o assunto é muito abrangente. Desta forma apresentam-se a seguir os objetivos do estudo.
O objetivo geral deste trabalho visa estudar e caracterizar as ferramentas de gestão da
atividade econômica em uma propriedade rural. Os objetivos específicos deste estudo são:
Mapear os fatores de produção e detalhar as atividades econômicas atualmente
desenvolvidos na propriedade em estudo; Realizar o levantamento das despesas e receitas
na propriedade estudada; Identificar os custos de oportunidade entre atividades alternativas;
Avaliar as atividades que maximizam e potencializam os resultados econômicos da propriedade
estudada.

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Este estudo está estruturado em sessões. Na segunda sessão apresenta-se um breve


referencial teórico onde foram abordados assuntos relacionados ao tema para aprofundar o
conhecimento. Na sessão3 apresenta-se a metodologia, a qual descreve os passos necessários
para concretização do estudo.
Já na sessão 4 apresenta-se a análise e discussão dos resultados obtidos com a pesquisa
e por fim, as considerações finais, onde evidencia-se o atingimento dos objetivos propostos no
estudo, responde-se o problema proposto no estudo, responde-se o problema de pesquisa, bem
como sugere-se trabalhos futuros.

2. BREVE DISCUSSÃO ACERCA DO PAPEL DA TECNOLOGIA NA


AGRICULTURA

O objetivo desta seção é apresentar uma breve discussão a respeito da gestão eficiente
que é o pilar fundamental para que qualquer projeto consiga ter um bom desenvolvimento para
algum formato de negócio. Empreendedores de negócios rurais enfrentam várias dificuldades
diante do desafio de gerir um empreendimento ou empresa deste setor.

2.1 Modelo de negócios e gestão empresarial

Nos dias de hoje, as empresas estão em um processo de constante revisão dos seus
modelos de negócios, organização e gestão. A análise de métodos e conceitos eventualmente
desgastados, bem como a reavaliação de procedimentos, são atividades indispensáveis ao modo
operante e produtivo que as atuais práticas demandam, e que precisam ser aplicadas em
diferentes níveis dentro de uma estrutura organizacional, assim esses modelos podem ser
aplicados nas empresas rurais, onde que um modelo de negócio vem agregar valor ao cenário
atual das propriedades (ROSA, 2013).

2.1.1 Breve abordagem sobre economia e maximização dos lucros

O lucro é considerado um resíduo do valor das vendas, depois de remunerados os


diferentes fatores de produção. No equilíbrio não resta ao empresário qualquer remuneração,
salvo aquela que aufere enquanto proprietário de algum fator dentre os combinados na produção
(DANTAS et al., 2002). O empreendedor é identificado apenas como proprietário destes
recursos e remunerado nesta condição.

2.1.2 Estratégias no Contexto de Propriedades Rurais

As propriedades rurais estão inseridas em um ambiente formado pelas demais


propriedades rurais por empresas fornecedoras de insumos e tecnologia por empresas
compradoras da produção, por grupos de pesquisa e demais empresas e entidades que estão
inseridas no meio rural. Sette (1999) adverte que os gestores deste processo devem conduzir o
seu negócio dentro dessa dinâmica de interação, ou seja, conduzir seus negócios de acordo
como o mercado vem reagindo perante as constantes mudanças, levando em consideração que
todas as mudanças possam ocorrer dentro deste ambiente.

2.2 Atividade Rural

Para Padovane (2006), contabilidade é a ciência social que visa ao registro e ao controle
dos atos e fatos econômicos, financeiros e administrativos das entidades, e, contudo, estuda o
patrimônio. Trata-se de um sistema de informação e avaliação destinado a prover seus usuários

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com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade,


com relação à entidade objeto de contabilização. Existem diversos conceitos contábeis para os
inúmeros segmentos desta ciência, tais como: de custos, comercial, industrial, bancária, etc.
Para domínio dos custos de produção e das despesas, é necessário que o produtor se
utilize de controle gerencial. O desenvolvimento tecnológico de informação indica ao produtor

rural possibilidades de sistemas para a adoção de procedimentos administrativos e para a


tomada de decisão, permitindo a melhora dos resultados financeiros e econômicos (VELOSO;
FERNANDES; BARIONI, 2003).

2.3 Agronegócio

Dentro de qualquer país a atividade econômica é dividida em três setores, o primário,


secundário e terciário. No setor primário encontram-se os produtos que são levados para outras
indústrias, a fim de se transformarem em produtos industrializados e utilizam grande quantidade
de trabalho e terra. No setor secundário encontram-se atividades que processam e/ou combinam
produtos primários, nesse setor há grande uso do fator capital. O setor terciário define-se como
o conjunto de atividades que prestam serviços, seja para ele mesmo ou para os outros setores
da economia (BACHA, 2007).
Hoje, a agricultura não pode mais ser separada dos demais setores da economia pelos
quais são responsáveis por todas as atividades que garantem a produção, a transformação, a
distribuição e o consumo de alimentos. Segundo Mendes (2007), essa visão sistêmica dos
agentes que geram a produção chama-se agrobusiness, agronegócio ou complexo
agroindustrial. Esses conjuntos como um todo de atividades possuem, com frequência, uma
natureza de commodity, uma vez que na sua forma primária ou semi-processada guardam
grande semelhança, podendo ser classificados em padrões exatos de especificação. Nesse caso,
as economias de escala são uma importante fonte para a redução de custos e a obtenção de
vantagens competitivas.

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

O presente estudo, quanto à sua natureza, trata-se de uma pesquisa aplicada, com
finalidades imediatas às quais geram produtos ou processos. Sendo assim, utilizou o
conhecimento da pesquisa básica para resolver problemas relacionados a aplicações concretas.
Com relação aos objetivos, utilizou-se a pesquisa exploratório-descritiva, este estudo se
classifica como exploratório descritiva por que visou descrever a propriedade e de qual forma
está estruturada, após coleta de dados foi realizado a análise que serviu como base para a
estruturação da analise econômica, sendo assim explorou os dados de receitas e custos que tem
na propriedade, para assim ter um embasamento para o plano.
Quanto à abordagem, este estudo classificou-se como quanti-qualitativa, pesquisa
qualitativa visou trazer a análise e descrições de gestão em pequenas propriedades rurais,
contemplando o primeiro objetivo, trazendo assim consigo a análise dos fatores de produção e
das atividades econômicas da propriedade que traz o segundo objetivo, já a quantitativa
contemplo o quarto objetivo para o levantamento de dados das receitas e das despesas na
propriedade, a fim de trazer a análise em números, para assim ter uma melhor compreensão.
Quanto aos procedimentos técnicos, fez-se uso dos métodos documental, bibliográfico
e estudo de caso. Ja pesquisa bibliográfica cumpriu o objetivo de descrever sobre gestão em
propriedades rurais, estratégias empresariais, principalmente em pequenas propriedades,
enfatizando uma análise econômica, como ferramenta de gestão estratégica. Enquanto a
pesquisa documental cumpriu o objetivo de caracterizar a gestão de negócios da propriedade

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rural em estudo, onde realizou-se o levantamento de receitas, custos, lucros (sobras), despesas
(investimentos) e endividamento da atividade econômica na propriedade estudada, pelos quais
estes dados foram coletados em notas fiscais e anotações do produtor.
Portando, o estudo de caso cumpriu o objetivo de mapear os fatores de produção e
detalhar as atividades econômicas atualmente desenvolvidos na propriedade, dados os quais são
específicos da mesma, não se aplicando a demais propriedades devido a suas particularidades.
Desta forma, fica caracterizada esta pesquisa: de natureza aplicada, em relação aos
objetivos como pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem quanti-qualitativa, utilizando
procedimentos documental, bibliográfico e estudo de caso.
Para a coleta de dados, foi aplicada uma entrevista estruturada para o proprietário com
o objetivo de levantar informações da gestão da propriedade onde o entrevistador obteve amplo
e ilimitado acesso aos documentos e informações, e o entrevistado foi solicitado a responder as
perguntas em várias ocasiões. Sendo assim foram realizadas as análises das informações
obtidas com intuito de elaborar uma análise econômica do negócio pertinente ao caso estudado,
os valores expressos na análise do estudo foram corrigidos a preços de 2014, aonde se utilizou
o deflator com base no IPCA (índice de preços ao consumidor).
Após a coleta de dados foram utilizadas as seguintes ferramentas para auxílio na análise
dos dados: Microsoft Excel para elaboração de planilhas de custos e receitas assim como
modelação dos gráficos, modelo matemático (solver), utilizado também programação linear
para auxilio da análise e elaboração do quarto objetivo.

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A propriedade rural estudada neste trabalho encontra-se localizada em Vila São Miguel,
no interior do município de Tucunduva-RS. É classificada como uma pequena propriedade,
pois a mesma possui uma área entre um a quatro módulos fiscais. A propriedade rural em
estudo, possui atualmente 25 hectares no total, o que compreende 1,25 módulos fiscais. Desses
25 hectares, 3 são destinados a reserva legal, 17 hectares destinados a cultura do milho e da soja
e 5 hectares destinados exclusivamente a produção leiteira. A propriedade trabalha com 3 fontes
de recursos, ou seja, produção de leite, milho e soja; da produção de milho parte é destinada
para consumo da produção leiteira e parte é vendida no mercado, assim como a soja que, é
totalmente comercializada no mercado.
Figura 1 – Gráfico do faturamento Bruto por Ano/Safra a preços de mercado

Fonte: Elaborado pelos autores

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Conforme a figura 1, em relação a cultura do milho teve uma queda de 2 % na


quantidade produzida, assim como uma queda de 13 % de valor médio praticado no ano

culminando em uma diminuição de 15% no valor total faturado da safra de 13/14 para a 14/15,
já com base na safra 15/16 observou-se um aumento de 30% na produção, isso devido ao
aumento de 1 hectare de área plantada, contudo o valor nominal médio praticado no mercado
teve um aumento de aproximadamente 51% em relação à safra anterior sendo assim teve um
faturamento, 95 % maior que o faturamento obtido na safra anterior, a valores reais tem-se um
aumento de apenas 68,22% em faturamento e o preço praticado no mercado de 25,90% em
relação ao ano de 2014.
Na cultura da soja, observado na propriedade houve um aumento de produção assim,
como o aumento do faturamento bruto, analisando entre safra de 2013/2014 para 2014/2015
teve um aumento de 39% na sua produção total, contando também com um aumento de 61%
no faturamento nominal bruto, tendo em vista os valores reais praticados no mercado esse
aumento de faturamento obteu-se em 27,76%, o preço médio praticado a valores reais teve uma
queda de 25,48% em relação a 2014, na safra de 2015/2016 tampouco houve um aumento de
88% no faturamento e 27% de aumento da produção, isso tudo devido também ao aumento de
3 hectares de área plantada, ou seja, um aumento de 30% na área plantada.
Analisando e comparando os anos baseados na safra de 2013/2014 obtém-se uma grande
diferença entre os valores reais e nominais, como pode-se ver nos faturamentos por safra,
nominalmente a safra de 2015/2016 teve um aumento de 140,33 % em seu faturamento
comparando com dados da safra 2013/2014, mas trazendo a valores reais de mercado esse
aumento deu-se apenas de 42,88 %, assim como a comparação feita com a cultura do milho que
teve nominalmente um aumento de faturamento de 68,22% quando na realidade esse aumento
foi de apenas 1,06% trazendo grande impacto nos números da propriedade. Um caso
interessante observa-se na produção leiteira que o faturamento nominal foi de 25,90 %, mais
quando traz-se a valores reais a propriedade teve uma queda de 36,73% no faturamento, tudo
isso devido a inflação instaurada no período estudado.
Observados os dados relativos com base na produção leiteira considera-se o ano civil,
ou seja, tudo o que foi produzido e faturado no período de 01/01 a 31/12 de cada ano do período
estudado, já das culturas do milho e da soja considera-se o ano agrícola que se refere dos meses
maio a abril, contando junto o faturamento e produção nas áreas plantadas englobando, safra e
safrinha.

4.1 Resolução Modelo Matemático

Conforme já mencionado na metodologia, a seguir analisa-se os modelos matemáticos


ideais para a propriedade em questão de estudo.
A teoria da decisão é um conjunto de conhecimentos e técnicas analíticas relacionadas
a diferentes graus de formalidade, desenvolvida para ajudar o tomador de decisão a processar
escolhas entre um cenário de alternativas, levando em conta as possíveis consequências da
decisão, tendo como objetivo a seleção de alternativas que representem um conjunto preferido
de consequências (OLIVEIRA, et al, 2007).
Para uma análise de resultado de uma propriedade requer-se muito cuidado e rigor nos
dados analisados, pois busca identificar quais são as melhores alternativas que devem ser
focalizadas e redirecionados os investimentos da propriedade, uma análise com falta de dados
ou até mesmo incompletos, pode prejudicar no resultado final da análise e assim, a tomada de
decisão pode ser fracassada.

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Foram montados três relatórios de sensibilidade, onde foram feitos cálculos para
lucratividade produzindo o total de área com milho, outro com soja, e outro com produção em
conjunta, ou seja, metade da área utilizada para milho e metade utilizada para soja, visto que
este seria um dos mais indicados por meio da rotação de culturas, salientando que os custos e

valores praticados estão a valores presentes e os mesmos podem sofrer variações, tanto para
cima ou para baixo nos próximos anos. A partir dos dados obtidos foram encontrados os
seguintes resultados.

Quadro 1 - Modelo de produção de soja

Fonte: Elaborado pelos autores.

Como demonstra com base nos dados obtidos no modelo matemático, a atividade que
maximizaria os lucros a ser desenvolvida pela propriedade seria o caso da cultura da soja, pela
qual traz uma lucratividade de R$ 50.948,48 por safra, produzindo os 22 hectares disponíveis
na propriedade e utilizando dos recursos que a propriedade tem a oferecer, superior a produção
apenas de milho que teria uma lucratividade de R$ 48.653,22, e a atividade leiteira seria
completamente inviável para a propriedade, ou seja, teria que ter uma diminuição de no mínimo
de R$ 2137,98 no custo da produção leiteira para começar a ter lucro.

Quadro 3: Modelo de produção em produção em conjunta

Fonte: Elaborado pelos autores.

Mesmo que o modelo matemático que apresenta como ideal somente produção de soja,
pois maximiza o lucro, sugere-se a produção conjunta, pois como descrito anteriormente

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existem outros fatores que interferem na produção. Assim, a terra depende de manejo especial
para não esgotar sua produtividade, sendo que a rotação de cultura é um dos aspectos ideais
para fortalecer a terra em produção.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma análise econômica para pequenas propriedades serve para serem tomadas decisões,
mas isso exige um embasamento muito grande, quando estão envolvidos altos valores. Caso
contrário corre-se o risco de realizar investimentos de forma equivocada, ou mesmo deixar de
alocar um recurso pelo qual traria um maior retorno para a propriedade. Um planejamento para
pequenas propriedades hoje em dia é de suma importância. Muitas vezes, um planejamento
mais concreto não ocorre com propriedades de pequeno porte, pois os produtores geralmente
possuem uma baixa renda e tem seu sustento vindo da pequena área produtiva que está
disponível na sua propriedade. Esses produtores, via de regra não, tem um bom embasamento
e conhecimento para planejar sua produção ou melhorar seus resultados.
Neste sentido, por meio do modelo matemático pode-se evidenciar as atividades mais
lucrativas com os recursos disponíveis na propriedade, sendo esta considerada uma ferramenta
adequada para gestão e análise econômica, evidenciando através de números concretos a
realidade de uma propriedade, servindo por base para a tomada de decisão.

6 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

BACHA, C.J.C. Entendendo a Economia Brasileira. Campinas: Átomo, 2007.


DANTAS, A. et. al. Empresa, indústria e mercados. In: KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. (Org.). Economia
industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Campus. p. 23-41, 2002.
MENDES, J. T. G.; JUNIOR, J. B. P; Agronegócio: uma abordagem econômica. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2007.
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Sistemas de Informações Gerenciais: Estratégicas Táticas
Operacionais. 12 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007.
PADOVANE, Luiz Clóvis. Introdução à Contabilidade, com abordagem para não contadores. São Paulo: Ed.
Thomson, 2006.
PINAZZA, Luiz Antonio, ARAÙJO, Ney Bittencourt de. Agricultura na virada do século XX: visão de
Agrobusiness-
ROSA, José Antônio; MÁRÓSTICA, Eduardo. Modelos de negócios organização e gestão. 1. ed. São Paulo,
2013.
SANTOS, Gilberto José; MARION, Jose Carlos; SEGATTI, Sonia. Administração de custos na Agropecuária.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
SETTE, R. de S. Administração estratégica na empresa rural. In: 3 Congresso Brasileiro de Administração
Rural: Administração rural & agronegócio no 3 milênio, 1999, Anais, p. 51 – 63.
VELOSO, Rui Fonsêca; FERNANDES, Fernando Borges; BARIONI, Luis Gustavo. A importância do controle
financeiro em um sistema de informações gerenciais numa fazenda familiar. In: IV Congresso brasileiro da
sociedade brasileira de informática aplicada à agropecuária e à agroindústria. Anais, 2003. Acesso em: 28 set.
2016.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

A geração de empregos formais pela cadeia produtiva da soja no Rio


Grandedo Sul no período 2002- 2015
Rhoden, Angélica Cristina1, Costa, Nilson Luiz 2, Santana, Antônio Cordeiro de 3 Carlos
Mattos, André Corrêa de 4

1
Universidade Federal de Santa Maria, angelicacristinarhoden.ufsm@gmail.com
2
Universidade Federal de Santa Maria, nilson.costa@ufsm.br
3
Universidade Federal Rural da Amazônia, acsufra@gmail.com
4
Universidade Federal do Pará, carlosacmattos@hotmail.com

Resumo. O objetivo do presente artigo é caracterizar a Cadeia Produtiva da Soja no Brasil a partir dos códigos
de atividade contidos na Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) e mensurar a geração de
empregos formais no estado do Rio Grande do Sul. A pesquisa se propôs a identificar em que proporção os
empregos formais gerados ao longo da cadeia produtiva da soja contribuem para o desempenho do mercado
formal de trabalho no Rio Grande do Sul e para a economia dos municípios do estado do Rio Grande do Sul. A
definição da cadeia produtiva se deu a partir do método PENSA e a quantificação dos resultados por meio do
programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho (PDET), que permitiu acesso à base de dados on-line da
Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Entre os principais resultados encontrados, destaca-se o
crescimento no número de postos de trabalho no elo central de produção e a grande participação do elo à
montante da produção, responsável por fornecer insumos para a lavoura de soja. O estudo conclui que a cadeia
produtiva em questão é responsável pelo fomento econômico de muitos municípios do interior do estado do RS.
Palavras-chave:Cadeia Produtiva da Soja. Mercado de Trabalho. Renda.

Analysis of the generation of formal employment by the production chain of


soybeans in the state of Rio GrandedoSul: 2002-2015
Abstract. The objective of the present paper is to characterize a Soybean Production Chain in Brazil, according
to the activity codes of the National Classification of Economic Activity (CNAE) and to measure a generation of
formal jobs in any state of Rio Grande do Sul. Proposes to identify the formal jobs generated along the soybean
production chain to contribute to the performance of the formal labor market in Rio Grande do Sul and to an
economy of the municipalities of the state of Rio Grande do Sul. The definition of the productive chain has as its
point Starting the PENSA method and quantifying the results through the Programa de Disseminação de
Estatísticas do Trabalho (PDET) from Brazilian government. Among the main results, we can mention the
growth without number of jobs in the central link of production and a great participation of the link in the
production of the production, responsible for providing inputs for a soybean crop. The study concludes that the
production chain in question is responsible for the economic development of many municipalities in the interior
of the State of Rio Grande do Sul.
Keywords:Production Chain of Soybean. Jobmarket. Income.

1. Introdução

O conceito de agronegócio, derivado da palavra agribusiness, foi proposto por Davis


(1956) e Davis e Goldberg (1957) e contempla, em sua essência, a abordagem sistêmica e
ampla de um ambiente econômico caracterizado por um complexo número de relações
mercadológicas. O Agronegócio tem papel fundamental no desempenho econômico nacional
contribui com o incremento da produção (agrícola, pecuária eagroindustrial) e na geração de
novos postos de trabalho formal.Nesta perspectiva, o objetivo do presente artigo é mensurar a
relevância socioeconômica da Cadeia Produtiva da Soja, principalmente no que diz respeito a
geração de postos formais de trabalho.
O crescimento demográfico aumenta a demanda por produtos agroindustriais e
proteínas, exigindo aumento da produção de soja, em virtude da oleaginosa fazer parte de
inúmeros produtos alimentares, (BRUM, 2005).

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Apesar de altamente tecnificada, a agroindústria processadora de soja demanda por


mão-de-obra, assim como ocorre nas atividades desenvolvidas ao longo da cadeia produtiva.
Neste contexto, a presente pesquisa se propõe a caracterizar a Cadeia Produtiva da Soja, a
partir das codificações da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) e
mensurar o número de empregados desta cadeia, bem como a massa salarial e o número de
estabelecimentos no estado do Rio Grande do Sul.
De modo especial, este estudo foi norteado pela seguinte questão: em que proporção
os empregos formais gerados ao longo da cadeia produtiva da soja, contribuem para o
desempenho do mercado formal de trabalho no Rio Grande do Sul.A análise da massa salarial
e número de estabelecimentos, proporciona uma visão geral da importância social e
econômica que a cadeia da soja tem sobre os municípios gaúchos. A pesquisa contribui para
entender a importância da soja para a socioeconomia do Rio Grande do Sul e está segmentada
em quatro seções, considerando a introdução. A segundaapresenta o referencial teórico-
metodológicoe a quarta, os resultados e discussões. A quinta seção elenca as considerações
finais do estudo.

2. Fundamentação teórico-metodológica

2.1 O conceito e a natureza sistêmica dos Agronegócios e da Cadeia Produtiva da Soja

O agronegócio é caracterizado pelas relações econômicas sistêmicas que ocorrem nas


diversas cadeias produtivas de alimentos e fibras (DAVIS, 1957; GOLDBERG, 1968). Neste
processo, a Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P, D& I) assumiu papel fundamental,
pois foi a partir dos avanços tecnológicos nos distintos elos das cadeias produtivas que se
tornou possível o aumento da produtividade de alimentos, fibras e energia e a ampliação nas
possibilidades de utilização da produção agropecuária (KINGet al, 2010).
A cadeia produtiva brasileira da soja inicia-se com a produção de insumos
abastecendo a lavoura, expandindo-se para as propriedades onde ocorre o cultivo da soja.
Também agrega a agroindústria processadora, que faz a moagem dos grãos destinados ao
consumo humano e animal, e demais indústrias que utilizam os derivados do farelo e óleo de
soja, até a comercialização para o varejo e atacado. Em virtude das inovações tecnológicas e
alterações no perfil dos consumidores, as concepções de cadeia produtiva vêm se
reinventando (COSTA; SANTANA, 2014). Os agentes que compõe a cadeia produtiva da
soja estão descritos abaixo
1) Insumos: organizações que tem por finalidade ofertar sementes, adubos, herbicidas,
implementos agrícolas, dentre outros insumos necessários à produção.
2) Lavoura de soja: propriedades rurais com cultivo de soja.
3) Processamento: organizações agroindustriais que processam, beneficiam ou
transformam os grãos, originando subprodutos e derivados de soja.
4) Varejistas e atacadistas: redes de supermercados e canais de comercialização.
5) Consumidor Final: podem ser locais, regionais, nacionais ou internacionais.

Em essência, a cadeia produtiva (Figura 1) é constituída por uma sequência de


operações que abrange as fases técnicas, da produção de matéria-prima até a distribuição. A
divisão do trabalho e a interdependência dos atores econômicos resultam nas cadeias
produtivas. Os agentes econômicos são atuantes nas diversas formas de cadeias, sendo
variáveis importantes para o seu desempenho, (COOK, CHADDAD, 2000).

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Figura 1 - A Cadeia Produtiva da Soja no Brasil.

Fonte: COSTA, 2012.

2.2 Percurso metodológico: uma proposta de estimação dos empregos gerados pela Cadeia
Produtiva da Soja

De acordo com a taxonomia apresentada por SAMPIERI, COLLADO E LÚCIO


(2013), esta é uma pesquisa de natureza exploratória e descritiva que se caracteriza por seu
caráter não experimental, pois o pesquisador não detém o controle da variável ou de seus
efeitos. Isto proporciona a possibilidade de observar o fenômeno em sua natureza original,
mas existe a possibilidade de se analisar variáveis suscetíveis a efeitos do ambiente.
A pesquisa foi realizada em cinco etapas:
i. A primeira consistiu em descrever a cadeia produtiva da soja levando-se em
consideração todas as atividades econômicas registradas
na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). O método
PENSA, descrito por Neves (2004) foi utilizado para definir as atividades que
integram a cadeia produtiva.

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ii. Na segunda etapa, através de pesquisa bibliográfica, validaram-se os códigos


de atividades econômicas que foram considerados como integrantes da cadeia
produtiva da soja;
iii. Na terceira etapa,a pesquisa acessou o banco de dados do Programa de
Disseminação das Estatísticas do Trabalho (PDET),com acesso à Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS)para a mensuração do emprego, renda e
número de estabelecimentos da cadeia que empregam trabalhadores com
carteira de trabalho assinada;
iv. A quarta etapa contemplou a análise e classificação dos dados e quantificação
dos seguintes indicadores:
a. Número de vínculos ativos: representa o número de trabalhadores formais
contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) com
vínculos ativos no dia 31 de dezembro de cada ano analisado;
b. Número de estabelecimentos: retrata o número de organizações empresariais
e/ou públicas com vínculos ativos no dia 31 de dezembro de cada ano
analisado;
c. Massa salarial: é a soma de todos os salários pagos aos trabalhadores, com
referência no mês de dezembro de cada ano;
d. Renda média: é obtida através quociente do número de vínculos ativos pela
Massa salarial.
v. Na quinta etapa,realizou-se a apresentação dos resultados e discussões e
identificou-se a importância da cadeia produtiva da soja para o mercado formal
de trabalho do Rio Grande do Sul.
Foram analisados os dados de 2002 a 2015 de todos os municípios do Rio Grande do
Sul.

3. Resultados e discussões

A presente seção está dividida em dois subcapítulos. O primeiro apresenta a


caracterização da cadeia produtiva da soja, e o segundo subcapítulo, apresenta a frequência
dos empregos gerados pela cadeia produtiva da soja no estado do Rio Grande do Sul.

3.1 Caracterizações da Cadeia Produtiva da Soja no Brasil

A Cadeia Produtiva da Soja, que juntamente com as demais cadeias produtivas de


alimentos, fibras e bioenergia, compõe o agronegócio, é integradapelas atividades econômicas
relacionadas à produção e fornecimento de insumos para a lavoura de soja, pelas atividades
que ocorrem no interior dos estabelecimentos rurais que produzem soja, pela agroindústria
processadora do grão e demais indústrias que utilizam o farelo e óleo de soja para a produção
de bens finais.
Com base na Classificação Nacional de Atividades Econômica (CNAE 2.0),
estratificou-se as atividades que possuem relação direta com a cadeia produtiva da soja. O
Quadro 1 apresenta as atividades CNAE 2.0 vinculadas à cadeia produtiva e que estão à
montante da produção de soja.

Quadro 1 - Atividades econômicas vinculadas à produção de insumos para a lavoura de soja no Brasil:
2006 a 2015.
CNAE CLASSIFICAÇÃO
08.91-6 Extração de minerais para fabricação de adubos, fertilizantes e outros produtosquímicos
20.12-6 Fabricação de intermediários para fertilizantes

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20.13-4 Fabricação de adubos e fertilizantes


20.51-7 Fabricação de defensivos agrícolas
28.31-3 Fabricação de tratores agrícolas
28.32-1 Fabricação de equipamentos para irrigação agrícola
28.33-0 Fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, exceto
para irrigação
46.11-7 Representantes comerciais e agentes do comércio de matérias-primas agrícolas
46.61-3 Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos
46.83-4 Comércio atacadista de defensivos agrícolas, adubos, fertilizantes
46.92-3 Comércio atacadista de mercadorias em geral, insumos agropecuários
47.32-6 Comércio varejista de lubrificantes
52.11-7 Armazenamento
77.31-4 Aluguel de máquinas e equipamentos agrícolas sem operador
Fonte: Elaboração própria, com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0).

Entre as atividades econômicas estratificadas e caracterizadas como fornecedoras de


insumos par a lavoura de soja e registradas na CNAE, foi possível observar a presença de
diversas indústrias, como as de fertilizantes, defensivos, máquinas, equipamentos e atividades
de serviços, em especial o comércio.No elo central da cadeia produtiva, identificou-se, além
do código relacionado ao cultivo de soja, a produção de sementes, atividades de apoio e pós-
colheita, conforme descrito no Quadro 2.

Quadro 2 - Atividades econômicas vinculadas à lavoura de soja no Brasil: 2006 a 2015.


CNAE CLASSIFICAÇÃO
01.15-6 Cultivo de soja
01.41-5 Produção de sementes certificadas
01.61-0 Atividades de apoio à agricultura
01.63-6 Atividades de pós-colheita
Fonte: Elaboração própria, com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0).

O elo à jusante da produção foi caracterizado pelas atividades relacionadas à produção


de óleos vegetais, margarina e outras gorduras vegetais, e fabricação de biocombustíveis, de
acordo com o conteúdo do Quadro 3.

Quadro 3 - Atividades econômicas vinculadas ao processamento de soja no Brasil: 2006 a 2015.


CNAE CLASSIFICAÇÃO
10.41-4 Fabricação de óleos vegetais em bruto, exceto óleo de milho
10.42-2 Fabricação de óleos vegetais refinados, exceto óleo de milho
10.43-1 Fabricação de margarina e outras gorduras vegetais
19.32-2 Fabricação de biocombustíveis, exceto álcool
Fonte: Elaboração própria, com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0), 2016.

Por considerar que a série histórica analisada neste estudo inicia em 2002 e que até o
ano de 2005 vigorou a CNAE 1.0, sendo substituída pela CNAE 2.0 a partir de 2006, os
códigos de atividade econômica vinculados à cadeia produtiva da soja nos anos anteriores as
2006 correspondem aos códigos da CNAE 1.0, de acordo com a tabela de correspondência
entre a CNAE 1.0 x CNAE 2.0 (BRASIL, 2006).

3.2 O mercado de trabalho formal da Cadeia Produtiva da Soja no Rio Grande do Sul

Com o objetivo de analisar o mercado de trabalho formal no Estado do Rio Grande do


Sul (RS)e mensurar a importância da Cadeia Produtiva da Soja para o mesmo, calculou-se a
frequência de vínculos ativos de todas as classes de atividades econômicas. Os dados foram

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obtidos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), disponível em Brasil (2016).A


análise demonstrou o crescimento no número de empregos formais no RS, que passou de 2,03
milhões para 3,01 milhões no período 2002-2015. Neste intervalo, a participação da Cadeia
Produtiva da Soja passou de 1,53% para 2,20%, conforme pode ser observado na Figura 2.

Figura2 - O Mercado de Trabalho Formal do Rio Grande do Sul: 2006-2015


3,500,000 2,2% 2,2% 2,3% 2,2% 2,2% 2.50%
2,0% 2,0% 2,1%

Part. % cadeia produtiva da soja


3,000,000 1,9%
1,8% 1,8% 2.00%
1,7% 1,7%
Nº Vínculso Ativos

2,500,000 1,5%

2,000,000 1.50%

3,109,179
3,082,991

3,005,549
2,993,031
2,920,589
2,804,162
2,602,320
2,521,311
2,425,844
1,500,000
2,320,747
2,235,473
2,193,332

1.00%
2,079,813
2,027,416

1,000,000
0.50%
500,000

0 0.00%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Total do Estado Part. % Cadeia Produtiva da Soja

Fonte: Elaboração própria com base em Brasil (2016).

Parte do crescimento pode ser explicado pela intensificação e formalização das


atividades no elo à montantedaprodução, que passou de cerca de 19 mil para 39 mil entre os
anos de 2002 e 2015. Também foi possível identificar que os vínculos formais no elo central
da cadeia aumentaram de 8,4 para 16,8 mil e no elo à jusante da produção o crescimento foi
de 180%, de 3,8 para 10,7 mil no período analisado (Figura 3).

Figura3 - Número de vínculos na Cadeia Produtiva da Soja no Rio Grande do Sul: 2006-2015
Elo à Montante Elo Central Elo à Jusante
Thousands

70
11
11
60 10 11 11
9 16
Número de Vínculos

50 8 8 15 16
16 17
8 15
40 4 15
4 4 6 14
30 12 13
4 12 13 13
8 46 43
20 36 40 41 39
30 31
22 24 22 25
10 19 20

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Elaboração própria com base em Brasil(2016).

Em termos relativos, a cadeia alcançou maior importância em:Não-Me-Toque (54%


dos empregos formais), Independência, Jari, Tupacireta, Panambi, Coxilha, Nicolau
Vergueiro e Boa Vista do cadeado, ambos com percentual entre 34% e 30% do total de
vínculos ativos.Juntos, os municípios de Panambi, Não-Me-Toque, Rio Grande, Canoas,

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Passo Fundo, Santa Rosa, Horizontina e Porto Alegre respondem por 51% dos empregos
gerados no segmento que fornece insumos para a lavoura. Não por acaso, se constituem como
Polo nos segmentos de máquinas e equipamentos para a agropecuária e de fertilizantes.
Em termos reais, estes postos de trabalho foram responsáveis por uma massa salarial
de R$ 170,1 milhões na economia gaúcha no ano de 2015 e chegou a injetar R$ 183,4 milhões
no ano de 2013. A partir da Figura 4 é possível verificar que a maior parte da massa salarial
está no elo à montante da produção, mas os elos central e à jusante também são importantes,
na medida em que aumentaram significativamente suas massas salariais e em 2015
responderam por R$ 29,4 e 25,9 milhões na economia do RS.

Figura4 -Massa Salarial (em R$ milhões de 2015) dos Empregados Formais da Cadeia Produtiva da Soja
no Rio Grande do Sul: 2002 - 2015
Elo à Montante Elo Central Elo à Jusante
200
Massa Salarial R$ Milhões

180
26.33 26.01
160 25.91
21.92 24.30 25.94 26.86
140
18.47 29.24
120 16.25 22.97 22.44
15.19 20.85
100 14.78 21.38
18.69
80 9.49 8.91 9.23 12.92 17.32
13.64 14.13 16.21 131.12 129.63
60 8.31 17.80 114.92
9.88 110.40 111.72
89.21 95.79
40 71.33 81.11
59.80 60.06 61.78 53.20
20 48.04

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: Elaboração própria com base em Brasil(2016).

Os dados mostram que em pelo menos 442 municípios gaúchos foram identificadas
carteiras de trabalho assinadas com códigos vinculados à cadeia produtiva da soja. Também,
para 74 municípios, a massa salarial da cadeia produtiva da soja representou pelo menos 10%
do total. Em municípios como Não-Me-Toque, Horizontina e Panambi, a massa salarial da
cadeia produtiva chegou a representar, respectivamente, 63%, 42% e 40% do total.
Em termos médios, os salários mais elevados estão no elo que fornece insumos para a
lavoura, que em 2015 foi de R$ 2.983,87. O elo de processamento da produção possui média
salarial relativamente menor, de R$ 2.411,06, enquanto que a média salarial dos empregados
nas fazendas é de R$ 1.731,21.Em relação ao número de empregadores, foi possível
identificar crescimento de 3.865 para 7.660 no período analisado, com destaque para o elo de
produção que foi responsável por cerca de 70 a 80% dos estabelecimentos da cadeia.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo propôs uma reflexão sobre a caracterização da cadeia produtiva da


soja e a análise de sua contribuição para o mercado de trabalho formal. A principal conclusão
do estudo é a de que a cadeia da soja responde por aproximadamente 2,20% dos postos
formais de trabalho e 2,28% da massa salarial no estado do Rio Grande do Sul.Os dados do
programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho (PDET) associados a experiência do
método Pensa permitiram atender aos objetivos da pesquisa.Os resultados da pesquisa
reforçam o caráter sistêmico das relações econômicas vinculadas à lavoura de soja e mostram

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que associado ao cultivo da principal commodity agropecuária brasileira existe um


considerável contingente de pessoas e empresas que contribuem para a geração de emprego e
renda na grande maioria dos municípios do estado do Rio Grande do Sul.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(PDET). Brasília, 2016. Disponível em: <http://pdet.mte.gov.br/acesso-online-as-bases-de-dados>. Acesso
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BRUM, Argemiro Luís; HECK, Cláudia Regina; LUZ, Lemes Cristiano da; MÜLLER, Patrícia Kettenhuber. A
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2005. Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/2/519.pdf> Acesso em: 20 nov 2016.
COSTA, Nilson Luiz; DE SANTANA, Antônio Cordeiro. Estudo da concentração de mercado ao longo da
cadeia produtiva da soja no Brasil. Revista de Estudos Sociais, v. 16, n. 32, p. 111-135, 2014.
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COSTA, Nilson Luiz; SANTANA, Antônio Cordeiro de. Exports and market power of the soybean processing
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DAVIS, J. H. From Agriculture toAgribusiness. Harvard Business Review,v. 34, p. 107–115, 1956.
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NEVES, Marcos Fava . Caracterizando e Quantificando Cadeias Produtivas: o Método PENSA. In.: NEVES,
Marcos Fava; ZYLBERSZTAJN, Décio; NEVES, Evaristo Marzabal. Agronegócio do Brasil. São Paulo:
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KING, Robert P.; BOEHLJE, Michael,; COOK, Michael L.; SONKA, Steven T. Agribusiness Economics and
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Amer. J. Agr. Econ. 2010. 554–570P.

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A Influência do Ambiente Institucional no Desempenho das Indústrias


Ervateiras: Um Enfoque sob a Economia dos Custos de Transação
Caroline Soares da Silveira1, Glauco Schultz², Leticia Andrea Chechi³
¹Engenheira Florestal, Mestre e Doutoranda em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), carolinesoaresef14@hotmail.com;
²Engenheiro Agrícola, Mestre e Doutor em Agronegócios, Professor Adjunto na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), glauco.schultz@ufrgs.br;
³Engenheira Florestal, Mestre e doutoranda em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), leticia.chechi@ufrgs.br;

Resumo. O mercado de erva-mate vem crescendo e ganhando importância nos países e Estados produtores, e
devido ao aumento da demanda em mercados diferenciados julga-se necessário a realização de pesquisas que
determinam e avaliam os fatores condicionantes de desempenho visando a gerar informações para subsidiar
ações prioritárias de melhoramento para o setor e aumento da sua eficiência. Neste sentido, o principal objetivo
do estudo é analisar a influência das instituições nas indústrias ervateiras e apresentar os principais fatores que
são determinantes do seu desempenho. Como aporte teórico para subsidiar a análise dos dados utilizou-se a
teoria da Economia dos Custos de Transação. Os dados primários foram coletados através de questionários
estruturados, de forma quantitativa, com o uso da escala Likert de 1-7 pontos. Os questionários foram aplicados
via Google Docs e posteriormente de forma presencial com os agentes das indústrias no polo ervateiro do Alto
Taquari/RS. O método de análise dos dados constituiu-se na aplicação da matriz importância - desempenho
proposta por Slack, Chambers e Johnston (2002), na qual fornecem informações sobre o nível de importância e
de desempenho atribuído aos fatores que compõem cada uma destas dimensões. Com os resultados da pesquisa
conclui-se que na dimensão “ambiente institucional”, os fatores referentes aos indicadores macroeconômicos,
legislação ambiental e o processamento agroindustrial, a legislação ambiental e a produção rural, inspeção
sanitária e o processamento agroindustrial e o acesso às condições de crédito para a indústria também necessitam
de ações de melhoramento para aumentar o seu desempenho.

Palavras-chave: Setor Ervateiro; Matriz Importância - Desempenho; Dimensões de Desempenho.

The Influence of the Institutional Environment on the Performance of the


“Ervateiras” Industries: An Approach Under the the Costs Economy of
Transactions
Abstract. The yerba mate Market has been growing and getting featured in the most important countries and
states which produces.The increasing of the demand in different kinds of markets, they request the need of
researches which evaluate and confirms the conditioning facts of the performance aiming to generate
informations to subsidize priority actions of the improvement for it’s increasing sector. In this case, the main
objective of the study is to analyze the influence of the institutions in the industry and to present the main factors
that are determinant of their performance. As the theoretical contribution for the subsidized review of the data
had used the Costs Economy of transactions theory. The primary data were collected through structured
questionnaires in a quantitative way, using the likert scale of 1-7 points. The questionnaires were applied via
Google Docs and after that shown physically through the industry agents in the “ervateiro” pole from Alto
Taquari/RS. The analytical method of the data was consisted in the application of the matrix importance-
performance, in which provide information about the importance level and assigned performance of the factors
that made each one of these dimensions. With the result of research it is concluded that in the “Institutional
Ambient” dimension, the factors which refers to the macroeconomic indicators, environmental legislation and
the agroindustrial process, the environmental legislation and the rural production, sanitary inspection and the
agroindustrial process and the access to the credit condition for the industries still need the actions of
improvement to increase it’s performance.

Keywords: “Ervateiro” Sector; Importance-performance Matrix; Performance Dimensions.

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1. Introdução

O produto erva-mate cada vez mais vem se destacando no Brasil e no Mundo, não
apenas pelo consumo do chimarrão, mas também pela diversidade de produtos que vêm
surgindo, atendendo consumidores de vários locais e chamando a sua atenção pelas
importantes propriedades da matéria-prima. Atualmente, fala-se de erva-mate para a produção
de chás, cervejas, energéticos, chá-mate, farinha, cosméticos, cápsulas de mate expresso,
refrigerantes, gastronomia e nutrição de animais, entre outros.
A indústria ervateira possui tradição e significativa importância econômica, e no RS
possui uma estrutura onde as empresas competem entre si. A produção mundial de erva-mate
está concentrada em três países sul-americanos, Brasil, Argentina e Paraguai. A produção
brasileira está concentrada principalmente nos três Estados do Sul do Brasil, Rio Grande do
Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Paraná (PR), além do estado do Mato Grosso do Sul (MS),
ainda com pouca expressividade.
O setor ervateiro no Brasil é caracterizado por possuir um grande número de pequenas
propriedades rurais, que possuem pequenos ervais e um grande número de pequenas
indústrias ervateiras, imprimindo maior competitividade no mercado interno e melhor
distribuição da riqueza gerada pelo setor (JABOINSKI, 2003).
Em relação ao ambiente institucional, na qual constitui-se como elemento central de
análise deste estudo, este é caracterizado como as “regras do jogo”, pois são referentes às leis,
hábitos, regras e costumes, tanto informais quanto formais que exercem influência sobre o
funcionamento dos mercados.
Neste sentido, as principais questões a serem respondidas no presente estudo são: Qual
a influência do ambiente institucional no desempenho das indústrias ervateiras? Quais os
respectivos fatores relacionados ao ambiente institucional que são determinantes do
desempenho das indústrias ervateiras da região do Alto Taquari no Rio Grande do Sul?
Diante desta questão norteadora, o principal objetivo do estudo é analisar a influência
das instituições nas indústrias ervateiras e apresentar os principais fatores que são
determinantes do seu desempenho.
O aporte teórico para dar suporte a esta análise foi a Nova Economia Institucional
(NEI) e especificamente a Economia dos Custos de Transação (ECT), na qual constitui-se
como a corrente da NEI que estuda a análise das macroinstituições.
A NEI é apoiada no reconhecimento de que a operação e a eficiência de um sistema
econômico são limitadas pelo conjunto de instituições que regulam o jogo econômico. A NEI

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possui duas correntes, a primeira (Ambiente Institucional) privilegia a análise de


macroinstituições e a segunda (Instituições de Governança) centra o seu foco nas
microinstituições (FARINA et al., 1997).
Segundo Farina et al., (1997) o ponto de partida desta corrente é o reconhecimento do
Trade Off entre especialização e custos de transação. Os ganhos advindos de uma crescente
especialização, gerados pelo aprimoramento do desempenho e outras economias derivadas da
divisão do trabalho, são reduzidas ou eliminadas pelos custos de transação, que aumentam
com a especialização, na medida em que mais transações seriam necessárias e maior seria a
dependência entre as partes engajadas no processo de especialização.
A evidência que, não apenas o sistema de produção acarreta em custos, mas a
necessidade de recorrer ao mercado e utilizar-se dos mecanismos de preços também gera
custos, os custos de transação, surgiu a partir dos estudos de Coase e Williamson. A ECT
fundamenta-se em características dos agentes econômicos e das transações que
consequentemente influenciarão na eficiência econômica das organizações
(ZYLBERSZTAJN, 1995).
A principal unidade de análise da ECT é a transação. Os agentes econômicos possuem
pressupostos comportamentais como, racionalidade limitada e oportunismo e as transações
possuem seus atributos, características essenciais, como a especificidade dos ativos,
frequência e incerteza, na qual serão detalhados a seguir.

2. Materiais e Métodos

O presente estudo caracteriza-se como descritivo, com o objetivo de analisar a


influência das instituições nas indústrias ervateiras e apresentar os principais fatores que são
determinantes do seu desempenho.
A pesquisa descritiva, segundo Gil (2002), tem como objetivo primordial a descrição
das características de uma população. As características mais significativas estão na utilização
de técnicas padronizadas de coleta de dados, como os questionários.
A coleta de dados deu-se através da aplicação dos questionários via Google Docs e
pessoalmente. Neste caso, aplicaram-se os questionários na reunião da câmara setorial da
erva-mate em Ilópolis/RS, na 36° Expointer no município de Esteio, na reunião da câmara
setorial em Arvorezinha/RS, nos estandes das ervateiras na 8° FEMATE e posteriormente em
saída a campo, visitando as indústrias da região do estudo.

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A pesquisa foi realizada no pólo ervateiro do Alto Taquari – RS, mais especificamente
nos municípios de Ilópolis, Arvorezinha, Anta Gorda e Putinga, os principais municípios
produtores de erva-mate do Estado.
Para a obtenção dos dados quantitativos, utilizou-se um questionário estruturado, na
qual cada pergunta sobre o ambiente institucional apresentou dois níveis de escala Likert, a
primeira varia de 1-7 pontos, 1 para pouco importante até 7 para muito importante e a
segunda varia também de 1-7 pontos, 1 para pouco grave até 7 para muito grave.
A dimensão ambiente institucional contemplou os seguintes fatores: a legislação
ambiental e a produção rural, legislação ambiental e o processamento agroindustrial, inspeção
sanitária e o processamento agroindustrial, a legislação trabalhista e a produção rural, a
legislação trabalhista e o processamento agroindustrial, o acesso e condições de crédito, os
indicadores macroeconômicos, a existência de ações governamentais voltadas para a indústria
ervateira, a cooperação e ações conjuntas entre os agentes/elos da cadeia produtiva, a atuação
do governo na defesa dos interesses do setor e o desenvolvimento de pesquisa e inovações
tecnológicas (inovação em produto e processo).
A análise dos dados quantitativos do questionário deu-se através da estatística
descritiva e posteriormente utilizou-se o valor da média em relação à importância e ao
desempenho de cada fator para compor a matriz importância – desempenho, proposta
metodológica do estudo, na qual foi proposta por Slack, Chambers e Johnston (2002).
Em uma matriz importância - desempenho mostra-se as prioridades de melhoramento
dadas a cada fator competitivo na qual pode ser avaliada, com base em sua importância e em
seu desempenho. A matriz posiciona cada fator competitivo de acordo com seus escores ou
classificações. A Matriz Importância x Desempenho é dividida em zonas de prioridades de
melhoramento, são elas: zona de excesso, zona adequada, zona de melhoramento e zona de
ação urgente (SLACK, CHAMBERS E JOHNSTON, 2002).
Segundo um estudo realizado por Betto, Ferreira e Talamini (2010), a importância e o
desempenho de cada uma de suas variáveis de acordo com a percepção dos clientes e da
empresa através da aplicação da matriz importância - desempenho observou-se que este
método fornece à empresa estudada subsídios necessários e informações valiosas a respeito
das experiências e expectativas de seus clientes e da própria empresa. Isto contribui para a
tomada de decisão tornando-a mais competitiva no mercado. Ainda, afirma-se que a pesquisa,
neste caso, esclarece a percepção e a satisfação das populações estudadas quanto aos produtos
e serviços oferecidos pela empresa.

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3. Resultados e Discussões

O tópico sobre resultados e discussões está dividido em dois subtópicos. O primeiro


subtópico, intitulado “Análise dos Dados Estatísticos dos Fatores de Desempenho”, apresenta
os valores referentes à média da importância e a média do desempenho que foi obtido para
cada um dos fatores da dimensão ambiente institucional. Estes valores são utilizados para
construir a matriz importância – desempenho. O segundo subtópico, intitulado, “Aplicação da
Matriz Importância - Desempenho” refere-se à apresentação da matriz elaborada e com os
fatores relacionados ao ambiente institucional alocados nas suas respectivas zonas.

3.1. Análise dos Dados Estatísticos dos Fatores de Desempenho

Tabela 1: Relação da Média Referente a Importância e ao Desempenho dos Fatores que Compõem o
Ambiente Institucional
FATORES DE DESEMPENHO SIGLA ESTATÍSTICA DESCRITIVA
Média
Importância Desempenho
Legislação Ambiental e a Produção Rural 1 5,63 3,81
Legislação Ambiental e o Processamento Agroindustrial 2 5,48 3,70
Inspeção Sanitária e o Processamento Agroindustrial 3 6,11 3,96
Legislação Trabalhista e a Produção Rural 4 5,59 4,26
Legislação Trabalhista e o Processamento Agroindustrial 5 5,48 4,11
Acesso e Condições de Crédito 6 4,56 2,96
Indicadores Macroeconômicos 7 5,11 3,59
Ações Governamentais para a Indústria 8 5,52 4,15
Ações Conjuntas entre os Elos da Cadeia Produtiva 9 5,81 4,44
Atuação do Governo na Defesa do Setor 10 5,96 4,52
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica 11 6,04 4,26
Fonte: Elaborado pelos Autores, 2017.

Os fatores (8), (5), (4), (9), (10) e (11), os quais estão alocados na zona adequada,
possuem o valor da média da importância e o valor da média do desempenho proporcional,
sendo assim, não necessitam de ações para o seu melhoramento. Dos valores obtidos das
médias do grau de importância, o fator (11) obteve o maior valor, que foi igual a 6,04, já em
relação ao grau de desempenho, o valor mais baixo da média foi igual a 4,11, o que demonstra
um equilíbrio entre a importância destes valores e o grau de desempenho.
Os itens que estão alocados na zona de melhoramento, como é o caso do (7), (2), (1),
(3) e (6), possuem importância relativamente alta, mas o desempenho mais baixo, não
ultrapassando 4 pontos na escala likert. Os fatores como a legislação ambiental e a produção
rural (1) e a inspeção sanitária e o processamento agroindustrial (3) possuem as médias mais

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altas em relação à importância, chegando a 6,11 no fator (3) com a média de desempenho
igual a 3,96. Os fatores como a legislação ambiental e o processamento agroindustrial (2) e os
indicadores macroeconômicos (7) possuem as médias em relação à importância mais baixas
que os outros dois, porém as médias em relação ao desempenho também foram mais baixas,
por isso, estão alocados mais próximos dentro da matriz.
O fator acesso e condições de crédito (6) está alocado mais distante dos outros fatores
e mais próximo da zona de ação urgente, pois a média em relação ao grau de desempenho foi
extremamente baixa, igual a 2,96 e a média em relação a importância também foi mais baixa,
igual a 4,56, sendo assim, esta atividade ainda não necessita de ações tão urgentes, devido ao
valor atribuído à importância. Porém, esta atividade necessita de maior atenção, considerando
que o valor mais frequente apontado na amostra para o desempenho foi de 1 ponto.

3.2. Aplicação da Matriz Importância – Desempenho


Figura 1: Matriz Importância - Desempenho - Ambiente Institucional

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2017.

Os itens que estão alocados na zona adequada apresentam importância mais alta, mas
um desempenho proporcional, conforme a Figura 1. No ambiente institucional, os itens que
estão nesta zona são: ações governamentais para a indústria (8), legislação trabalhista e o
processamento agroindustrial (5), legislação trabalhista e a produção rural (4), cooperações e
ações conjuntas entre os elos da cadeia produtiva (9), atuação do governo na defesa do setor
(10) e o desenvolvimento de pesquisa e inovações tecnológicas (11).

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Os itens que estão alocados na zona de melhoramento, como os indicadores


macroeconômicos (7), a legislação ambiental e o processamento agroindustrial (2), a
legislação ambiental e a produção rural (1), a inspeção sanitária e o processamento
agroindustrial (3) e o acesso às condições de crédito (6) apresentam alta importância, mas um
desempenho mais baixo, portanto são passíveis de algumas ações de melhoramento, como
pode ser observado na Figura 1.

4. Conclusão

De acordo com os resultados da matriz importância – desempenho, os fatores foram


alocados na zona adequada e na zona de melhoramento. Na zona adequada foram alocados os
fatores referentes a ações governamentais para a indústria, legislação trabalhista e o
processamento agroindustrial, legislação trabalhista e a produção rural, cooperações e ações
conjuntas entre os elos da cadeia produtiva, atuação do governo na defesa do setor e o
desenvolvimento de pesquisas e inovações tecnológicas. Conclui-se que estas atividades estão
sendo realizadas de forma adequada pelos agentes das indústrias ervateiras e não necessitam
de ações visando melhorar o desempenho.
Na zona de melhoramento, foram alocados os fatores referentes aos indicadores
macroeconômicos, legislação ambiental e o processamento agroindustrial, a legislação
ambiental e a produção rural, inspeção sanitária e o processamento agroindustrial e o acesso
às condições de crédito para a indústria. Neste sentido, conclui-se que estas atividades não
estão sendo realizadas de forma adequada e necessitam de atenção para que sejam
estabelecidas ações para o seu melhoramento e conseqüentemente melhorar o desempenho
nas indústrias ervateiras.
Os resultados adquiridos a partir da aplicação desta metodologia nas organizações
ervateiras estudadas devem fornecer subsídios e informações importantes que contribuirão na
tomada de decisão e no estabelecimento de estratégias empresariais a fim de aumentar o
desempenho das atividades dentro das indústrias tornando-as mais eficientes e
consequentemente mais competitivas no mercado que estão inseridas.

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Referências

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2002.

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Economia das Instituições. Tese (Doutorado em Administração) Departamento de Administração da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1995.

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A Ecoeconomia e os Alternative Food Movements


Fernanda C. França de Vasconcellos1, Mirian Fabiane Strate2
1Mestranda em Desenvolvimento Rural – UFRGS, fernandacfv@yahoo.com.br
2 Mestranda em Desenvolvimento Rural – UFRGS, mirianfabiane@gmail.com

Resumo:
Este trabalho tem como objetivo apresentar a importância dos Alternative Food Movements na promoção de
novos paradigmas socioeconômicos e na criação de redes alternativas e cadeias curtas capazes de promover
progresso econômico, justiça social, valorização cultural e proteção da biodiversidade. Para exemplificar, é
estudo o caso da criação da Rota dos Butiazais dentro do movimento Slow Food, originado na Itália, por Carlo
Petrini, na década de 1980. Uma adaptação dos projetos desenvolvidos pelo movimento é necessária para que se
encaixe melhor na realidade brasileira, respeitando tanto aspectos socioculturais, quanto a dimensão geográfica e
a biodiversidade. A Ecoeconomia tem como objetivo estudar o surgimentos desses novos mercados, criados
através desses movimentos sociais, que visam valorizar as iniciativas que protegem produtores e consumidores,
valorizando o saber-fazer local e preservando o ambiente.
Palavras-chaves: Ecocomonia; Alternative Food Movements; Mercados.

The Ecoeconomy and the Alternative Food Movements


Abstract:
This paper aims to present the importance of Alternative Food Movements in the promotion of new
socioeconomic paradigms and in the creation of alternative networks and short chains capable of promoting
economic progress, social justice, cultural valorization and protection of biodiversity. To exemplify, the case of
the creation of the Butiazal Route within the Slow Food, movement originated in Italy by Carlo Petrini in the
1980s, is studied. An adaptation of the projects developed by the movement is necessary so that it fits better in
the Brazilian reality, respecting both sociocultural aspects, as well as geographic dimension and biodiversity.
Ecoeconomy aims to study the emergence of these new markets, created by these social movements, which aim to
value initiatives that protect producers and consumers, valuing local know-how and preserving the environment.
Keywords: Ecoeconomy; Alternative Food Movement; Markets.

Introdução
O ano de 2008 foi marcado pela segunda maior crise financeira do capitalismo, entre
suas consequências podemos citar a desvalorização das commodities, entre elas as
commodities agrícolas (com redução do preço médio em mais de 33%1). Ainda que em dois
anos o nível anterior de preços fosse alcançado novamente, e ultrapassado, a crise gerou
desconforto com os discursos neoliberais que até então prevaleciam no cenário internacional,
exaltando a globalização e o livre mercado.
Somando-se à crise, a preocupação mundial com os impactos ambientais gerados pelo
atual modelo produtivo, principalmente em relação às mudanças climáticas, e com a projeção
de um aumento populacional para 9,7 bilhões, fez com que o atual sistema agroalimentar
passasse a ser mais questionado e criticado, abrindo espaço para o surgimento de ideias
alternativas ao “business as usual” na produção de alimentos. Segundo Marsden e Franklin
(2013, p.640), essa crise não é apenas uma crise na forma de produção, ela é agravada pela
atual forma de consumo, desigual e desregulado:
(...) the current crisis of neoliberalism is not only to do with its limits
associated with existing and future expansionism of resource exploitation –
in fact a new crisis of production. It is also associated with the related crisis
of bothover and under consumption, and a failure to in any way equitably
regulate consumption in a sustainable fashion. In the food sector, not least,
this is increasingly being recognised with the growth in unequal
malnutrition, and over-consumption at record levels. Unequal and

1
Valores disponíveis em <<http://www.indexmundi.com/commodities/>>. Acesso em: 11/03/2017.

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unregulated consumption is beginning to be realised by the harbingers of


neoliberal-led food expansionism, the corporate food retailers. These are
increasingly recognising the vulnerability of their sophisticated supply
chains, as they too run out of space in the race for “cheap” food sources.

A exaustão desse sistema e a percepção de mudanças ocorrendo a níveis locais, fez


com que cientistas desenvolvessem outras teorias relacionadas ao desenvolvimento rural e ao
desenvolvimento sustentável. A primeira alternativa pós-neoliberal é chamada de
Bioeconomia, que consiste em um uso mais eficiente dos recursos biológicos (seres vivos)
disponíveis. Consiste em repensar a exploração e a alocação desses recursos. Ainda que
coloque a sustentabilidade como sua solução central, a bioeconomia negligencia o papel da
sociedade e da natureza como participantes e como afetados pela transformação tecnológica
que propõe, e, consequentemente, as suas consequências são muito parecidas, se não iguais,
ao do modelo neoliberal. A ecoeconomia incorpora essa preocupação com a sustentabilidade,
mas coloca ao lado do fator econômico, os fatores sociais, políticos e culturais, preocupando-
se com a regionalização e a diferenciação de áreas rurais, assim como suas distintas formas de
interações entre produção e consumo. A ecoeconomia surge como uma forma de valorização
do produto local, das cadeias curtas, também como uma alternativa para a criação de redes
entre atores dessa localidade. (MARSDEN, FARIOLI, 2015).

2. O Paradigma da Ecoeconomia (PEE)


O paradigma da ecoeconomia (PEE) envolve o surgimento de redes de negócios e
atividades econômicas possíveis com o uso de recursos ecológicos de formas ainda mais
sustentáveis e eficientes do que aquelas propostas pela bioeconomia. Esses negócios são
centrais no surgimento de comunidades (rurais) sustentáveis, desde firmas de energia
renovável, agroturismo, processamento de alimentos e estabelecimentos de ecogastronomia.
Para Marsden e Farioli (2015), esse novo modelo econômico, centrado no local, necessita de
incentivos de políticas, do estado, da ciência e do mercado tanto quanto a bioeconomia, mas a
participação social é o grande pilar para a sua implementação. O autor ressalta a importância
da ideia de uma “coprodução”, principalmente na produção de alimentos, na combinação da
ação natureza (biosfera) e das práticas sociais, e a partir dessa relação de tentativas e erros,
surgem novas inovações sociais e redes de atores.
Como dito anteriormente, a teoria da ecoeconomia surge de pequenas ações sociais e
locais, através dos movimentos sociais, de cooperativas ou até mesmo de propostas de
estudos. Indo ao encontro do que entendemos por PEE, Friedmann (2016, p. 90) argumenta
“(...) que um sistema alimentar sustentável permitiria às pessoas cultivar o que é bom para o
solo, comer o que é bom cultivar e projetaria instituições políticas e sociais para possibilitar
esses dois primeiros.” A autora defende o que chama de Sitopia (do grego antigo, sitos,
alimento e topos, lugar), isto é, o reconhecimento da centralidade do alimento nas nossas
vidas assim como do seu potencial para transformar o mundo. Movimentos que defendem
essas visões (seja a da ecoeconomia, ou a da sitopia) já existem, como é o caso do Slow Food2
e do Transition Towns3, e colocam o alimento como o conector desse sistema de valores.

2
Fundado em 1986, pelo italiano Carlo Petrini, e tem como princípio básico o direito ao prazer da alimentação,
utilizando produtos artesanais de qualidade especial, produzidos de forma que respeite o meio ambiente e as
pessoas envolvidas na produção, os agricultores. O movimento opõe-se à tendência do fast food, assim como à
“mundialização” da alimentação.
3
Movimento criado pelo inglês Rob Hopkins, em 2006, com o objetivo de transformar as cidades em modelos
sustentáveis, mais resistentes a crises externas, tanto econômicas como ecológicas. Hoje o movimento está
presente em 14 países. Fonte:<< http://transitionbrasil.ning.com/ >> Acesso em:11/03/2017.

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As manifestações de ações locais ocorrem nos mais diversos países e cidades, e um


dos seus principais objetivos é promover a conexão entre os agricultores e os consumidores,
de forma que promova uma relação mais justa, e mais transparentes. Fonte (2016) relata as
experiências dos Grupos de Compras Solidárias na Itália, e coloca a questão política e crítica
como central para esses consumidores, que buscam incentivar os agricultores familiares, mas
também consideram os preços cobrados em supermercados por produtos orgânicos abusivos.
Além do objetivo de consumir o alimento, os grupos preocupam-se com outros cinco fatores
que relacionam à sustentabilidade: a localidade, a sustentabilidade ambiental, a construção da
comunidade, a ação coletiva e a construção de infraestrutura.
O também italiano Slow Food, tem como sua principal bandeira a “ecogastronomia”,
que valoriza a liberdade de escolha dos consumidores, a qualidade de vida e a educação
integrada que relacione o alimento a sua historicidade e ao “saber-fazer” local (MARTINS,
OLIVEIRA, CUERVO, 2016). Segundo as autoras, o movimento compromete-se com a
proteção de alimentos tradicionais, que priorizam a conservação da natureza e a sua interação
com a comunidade. No Brasil o movimento busca e cultiva um envolvimento com antigo
Ministério do Desenvolvimento Agrário, atualmente Secretaria Especial de Agricultura
Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD), e tem seus esforços voltados principalmente
na formação dos profissionais da área da alimentação.
Segundo Garcia-Parpet (2016), esses movimentos também são acompanhados da
valorização dos produtos locais ou de um terroir específico (muitas vezes acompanhados de
Denominações de Origem Controlada - AOC), ou seja, de zonas consideradas aptas e
adequadas para produção de um alimento específico. As indicações geográficas passam a ser
utilizadas com frequência nas negociações internacionais a partir da virada do século (como
forma de promoção de um produto, mas também como barreira à entrada de produtos
semelhantes internacionais). A autora defende que o discurso de Carlo Petrini (Slow Food),
ainda que “regionalista”, tem a ambição de promover as particularidades locais do mundo
inteiro. Em conjunto com as denominações de origem, e ainda que, a priori se oponha a elas,
o movimento garantiu a recomposição e a resistência de alguns produtos frente ao mercado
globalizado, e a noção de ambiente e biodiversidade ajudam a estruturar novas formas de
resistência aos mercados hegemônicos.
Além da institucionalização das denominações de origem controlada em diversos
lugares, outras iniciativas foram incorporadas, ou até mesmo criadas, pelo poder público para
a valorização de alimentos locais e “ecologicamente corretos”. Uma dessas iniciativas foi a
criação do Grupo de Trabalho de Gastronomia Regional, no final do ano 2011, durante o
governo de Tarso Dutra, no estado do Rio Grande do Sul. Inicialmente formado pelas escolas
de gastronomia gaúchas, o grupo tinha como objetivo potencializar o desenvolvimento
regional e rural, assim como valorizar o turismo e a cultura alimentar local. Além da busca e
do mapeamento de produtos da biodiversidade gaúcha, o grupo buscava contribuir para a
valorização e perpetuação das memórias culinárias dos diversos municípios do estado,
incentivando os negócios locais (DUTRA e MARTINS, 2016).
No Brasil, segundo Grisa e Schneider (2015) muitas ações e intervenções estatais, em
um período mais recente, devem-se ao reconhecimento da diversidade da agricultura familiar
e ela como um instrumento de promoção de segurança alimentar e nutricional e de
desenvolvimento rural sustentável. É o caso de políticas públicas como o Programa de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Programa de Aquisição de Alimentos da
Agricultura familiar (PAA), o Seguro da Agricultura Familiar (SEAF), a Política Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), além da Lei nº 11.947/2009, sobre a aquisição
de alimentos da agricultura familiar para o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE).

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Em conjunto com as políticas para a agricultura familiar, desde 2006 crescem as


políticas voltadas para a Promoção da Saúde (PS), em especial aquelas voltadas para a
promoção da Alimentação Adequada e Saudável (AAS). A publicação do novo Guia da
Alimentação para a População Brasileira, em 2014, traz o que Oliveira e Jaime (2016) chama
de interseção entre a promoção do desenvolvimento sustentável e a promoção de uma
alimentação saudável. Rompendo com a até então famosa pirâmide alimentar, segundo as
autoras, o guia traz quatro dimensões distintas que devem ser pensadas pelos consumidores: a
produção, o processamento, o acesso/comercialização e o consumo.

3. As Fortalezas do Slow Food e a Rota dos Butiazais


As fortalezas são projetos do movimento Slow Food que tiveram início em 1999 com a
finalidade de ajudar pequenos produtores a resolverem suas dificuldades em relação à
comercialização do seus produtos, através da conexão desses produtores com mercados
alternativos. O objetivo das fortalezas é a proteção de produtos tradicionais em risco de
extinção, de técnicas de cultivo (pesca, criação animal, produção ou processamento) e
também de paisagens rurais ou ecossistemas.
Para a criação de uma fortaleza, os dois aspectos essenciais são: a sustentabilidade
ambiental (limpo), isto é, as técnicas de produção que são utilizadas pelos produtores devem
preservar os métodos locais de produção e a paisagem que estão inseridos, além de evitar usos
de produtos químicos e a sistemas de monoculturas; e a sustentabilidade socioeconômica
(justo).
Uma fortaleza sempre envolve uma Comunidade do alimento, e não deve ser feita em
favor de um produtor individual ou de produtores que não colaboram entre si. Os produtores
devem ter papel ativo e coordenar as atividades da fortaleza.
“Um dos objetivos das fortalezas é obter um preço adequado e lucrativo para
os produtores, melhorar sua qualidade de vida e a situação socioeconômica
de suas famílias. (...) Criar uma fortaleza significa fazer contato com os
produtores, conhecê-los, entender seus sistemas de produção, o contexto
social, econômico e cultural que estão inseridos, analisar o mercado e
envolver a comunidade em atividades de planejamento e iniciativas
promocionais.” (Milano et al., 2013, p. 10)

Para Brunori (2007), essas iniciativas e estruturas podem ser chamadas de “Fórmula
Slow Food”, a qual possui a capacidade de atribuir capital simbólico a redes de produtos e
agricultores. Além disso, segundo Wilkinson (2006), esse movimento, a partir de
características únicas das diversas localidades e suas práticas, desenvolveu uma versão
original do conceito de “apelação de origem”, a qual visa a renovação das cozinhas regionais.
Nesse sentido, existe a tentiva da inclusão da Rota dos Butiazais enquanto fortaleza do
Slow Food, fato que pode representar um novo incentivo à comercialização dos produtos
desenvolvidos a partir da biodiversidade local. Além disso, possibilita benefícios para os
agricultores/extrativistas envolvidos na produção dos butiazais, com a valorização e a
agregação de valor dos subprodutos gerados, aumentando a geração de renda das populações
que se envolvem na iniciativa. A aproximação de chefs, bares e restaurantes que participam e
compartilham da filosofia do Slow Food com a Rota dos Butiazais a partir da criação da
fortaleza, além de aumentar as possibilidades de comercialização dos butiás fortalece a
organização interna dos agricultores envolvidos com a Rota a partir de ações dos projetos
fortalezas.
A abrangência geográfica da Rota dos Butiazais é um de seus maiores obstáculos no processo de
transformação em fortaleza. A área de ocorrência abrange o Uruguai, a Argentina, passa por grande
parte do território do estado Rio Grande do Sul e também do sul do estado de Santa Catarina.
Uma das características exigidas para a formulação de um território é que esse tenha

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características edafoclimáticas iguais e que com isso produza um alimento de sabor


característico da região da fortaleza. Surge como alternativa, a formulação de uma fortaleza
baseada na defesa de uma paisagem, visto que os butiazais estão em risco de extinção,
principalmente pelo avanço de monoculturas, pela criação de gado e pela especulação
imobiliária nas regiões onde tradicionalmente eles ocorrem.
A rigidez dos preceitos e dos projetos do Slow Food dificultam a implementação de
algumas ações em países como o Brasil, no qual, por conta da extensão territorial,
encontramos uma grande diversidade de perfis de agricultores e de produtos (como o caso do
próprio butiá). A adaptação ou a criação de novas regras de acordo com a nossa realidade
pode apresentar uma maior aproximação de um paradigma da ecoeconomia, com
preocupações que agregam aspectos sociais, ambientais e econômicos.

4. Conclusão
Iniciativas locais, que relacionam sustentabilidade, bem-estar e saúde ganham
destaque não apenas nos movimentos sociais, mas também nas políticas públicas. Ainda que
neste texto traga apenas alguns exemplos de políticas brasileiras, essas mudanças ocorrem em
diversos países. Entretanto ainda é cedo para afirmar que estamos vivenciando uma mudança
de paradigmas, ultrapassando o neoliberalismo e indo em direção a um modelo que promova
a sustentabilidade, mas também esteja centrado nas necessidades e demandas sociais. As
iniciativas e informações aqui citadas nem sempre estão acessíveis a grande população,
ficando muitas vezes restritas a um pequeno grupo com grande capital cultural4.
Através de uma adaptação do projeto de sustentabilidade do Slow Food, podemos
pensar na sua implementação de acordo com a realidade brasileira sem perder a identidade
proposta pela organização, a partir de diretrizes próprias oriundas da cultura local e dos seus
modos de fazer. Para além de um produto ecogastronômico, a Rota dos Butiazais representa a
preservação da paisagem associada à possibilidade de criação de iniciativas de Turismo Rural
nos territórios em que ela se faz presente, além de ampliar a rede de consumo do fruto,
possibilitando sua promoção em bares, em restaurantes e nas mesas dos consumidores
urbanos.

5. Referências
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Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


133

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

AGRIBUSINESS no Brasil – Sua história e reflexões para a atualidade


Juliano Garrett Galvão1, Maicon Lopes Santos2

1
Contador, Mestrando em Agronegócios/UFRGS, Professor no Curso de Ciências Contábeis/UNIRITTER
garrett_contabil@hotmail.coml
2
Licenciado em História, Mestrando em História/PUCRS
maiconlopesdossantos7@gmail.com

Resumo. De acordo com os dados do PIB (Produto Interno Bruto) e do saldo da balança comercial, o
agronegócio é caracterizado como uma das principais atividades econômicas do Brasil e nos últimos anos tem
favorecido o avanço da economia brasileira em nível mundial, colocando o Brasil como um dos maiores
produtores e exportadores do mundo, em especial na produção e exportação de alimentos. Com base nisso, o
objetivo deste artigo é propor uma reflexão sobre a história do Agronegócio no Brasil e analisar como esse
assunto ainda pode ser explorado na atualidade. Para tanto, foram demonstrados neste artigo a evolução histórica
e seu destaque na economia brasileira. A importância de uma análise histórica da evolução do agronegócio
brasileiro pode ser compreendida desde o século XVI, desde as produções e exportações de matérias primas para
a Europa. Desta forma, passando principalmente por uma grande mudança tecnológica e logística no século XX,
o Agronegócio se expande e pode estar presente nos âmbitos políticos, econômicos e de relações entre a
agricultura familiar e comercial de larga escala. Apesar de desafios que o setor ainda possui, existem excelentes
perspectivas, se bem explorado.
Palavras-chave: Agribusiness; Agronegócios; História do Agronegócio; Crescimento Econômico

AGRIBUSINESS in Brazil - Your history and reflections for the present

Abstract. According to GDP (Gross Domestic Product) and trade balance, agribusiness is characterized as one
of the main economic activities of Brazil and in recent years has favored the advancement of the Brazilian
economy worldwide, placing Brazil as one of the world's largest producers and exporters, in particular in the
production and export of food. Based on this, the objective of this article is to propose a reflection on the history
of Agribusiness in Brazil and to analyze how this subject can still be explored at the present time. In order to do
so, we have demonstrated in this article the historical evolution and its prominence in the Brazilian economy.
The importance of a historical analysis of the evolution of Brazilian agribusiness can be understood since the
sixteenth century, from the production and export of raw materials to Europe. In this way, agribusiness is
expanding and can be present in the political, economic and relationships between large-scale family and
commercial agriculture. Despite challenges the industry still has, there are excellent prospects, if well explored.
Keywords: Agribusiness; History of Agribusiness; Economic growth

Introdução

Dentro do âmbito da economia brasileira, estudos sobre o PIB (Produto Interno Bruto)
do Brasil caracterizam o agronegócio como uma das principais atividades econômicas, que
principalmente nos últimos anos do século XXI, tem colocado o Brasil como um dos maiores
produtores e exportadores do mundo, no que se refere à produção e exportação de alimentos,
seja de origem animal ou vegetal, segundo Novaes, et al. (2009).
Segundo o último relatório e balanço entregue pelo MAPA (Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento), sobre a situação das exportações brasileiras do agronegócio até o
mês de maio de 2017, foi atingido em rendimentos econômicos um total de US$ 9,68 bilhões,
superando em 12,8% o valor registrado no mesmo mês do ano anterior. Já as importações
tiveram crescimento de 30%, passando para US$ 1,3 bilhão em maio deste ano. O superávit
comercial do agronegócio brasileiro aumentou de US$ 7,59 bilhões para US$ 8,38 bilhões no
mesmo período, sendo o terceiro maior da série histórica para meses de maio, abaixo apenas
dos valores de 2012 e 2013, segundo o mesmo balanço entregue pelo MAPA (2017).

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

O cenário nos últimos anos apontava o Brasil como sendo o maior produtor agrícola
em 10 anos, Borges (2007). Visto que o agronegócio brasileiro era, e ainda é, considerado
uma atividade próspera e rentável, devido a condições que variam desde um clima
diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce
disponível no planeta, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de
alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados, como nos diz Lourenço
e Lima (2009). Todos esses fatores fazem do país um lugar de vocação natural para a
agropecuária e todos os negócios relacionados à suas cadeias produtivas.
O Brasil situa-se neste momento como sendo o grande celeiro, e principal país em
crescimento, em termos do agronegócio mundial. Mesmo que as previsões de 10 anos atrás
não tenham se concretizado, colocando o país como o principal produtor e exportador do
mundo em gêneros alimentícios de origem vegetal e animal, é importantes destacarmos que
um estudo publicado no ano de 2016 pela FAO, Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) coloca o Brasil como sendo, em 10
anos, o maior produtor e exportador de soja do mundo, bem como também, até o ano de 2025,
o maior produtor mundial de açúcar.
Todo esse cenário brasileiro atual do agronegócio enquadra-se em uma evolução que
remonta ao século XVI. Com isso, faz-se necessário ressaltar seus antecedentes históricos até
o cenário atual. O artigo teve como objetivo geral identificar o cenário atual do agronegócio
brasileiro, por meio de uma pesquisa bibliográfica, e como objetivos específicos mostrar a sua
evolução, os seus problemas, seus desafios e reflexões para o futuro.

2 O futuro do Agronegócio no Brasil

As probabilidades para o futuro do Agronegócio são promissoras, como nos diz


Lourenço (2008), ao se referir principalmente às riquezas territoriais e matérias primas que se
encontram no país. O Brasil detém terras abundantes, planas e baratas, como são os cerrados,
com uma reserva de 80 milhões de hectares, dispõe de produtores rurais experientes e capazes
de transformar essas potencialidades em produtos comercializáveis e detém um estoque de
conhecimentos e tecnologias agropecuárias, transformadoras de recursos em produtos.
Desta forma, mesmo o agronegócio não correspondendo às demandas de resultados e
lucros que eram esperados nos últimos anos, devido à crise financeira que abalou os sistemas
mundiais de produções, e, principalmente no Brasil, seguido de uma crise política e
consequentemente de cortes no setor de investimentos, é cada vez mais promissora a
recuperação do PIB nacional, seguida do agronegócio nacional. Isto se dá cada vez mais pelo
investimento em tecnologias viáveis às produções e pela busca de novos parceiros comerciais,
fora do Brasil.

3 O agronegócio e sua importância na Economia Social

Um dado importante a ressaltar é o que nos diz Lourenço (2008), destacando o aspecto
social, pois a agricultura é o setor econômico que mais ocupa mão de obra, em torno de 17
milhões de pessoas, que somados aos 10 milhões dos demais componentes do agronegócio,
representa 27 milhões de pessoas, no total. É o setor que ocupa mais mão de obra, também,
em relação ao valor de produção: para cada R$ 1 milhão, o número de ocupados, em 1995, era
de 182 para a agropecuária, 25 para a extração mineral e 38 para a construção civil.
Neste caso, mesmo reconhecendo os benefícios da transformação de uma sociedade
agrária para uma industrial-urbana, não se pode esquecer que esta tem capacidade limitada de
absorver mão de obra. Principalmente, em regiões menos desenvolvidas, os setores da

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agricultura, da agroindustrialização e de áreas correlatas serão importantes para o crescimento


da renda e do emprego, como nos mostra Renai (2007).
No contexto da recente crise cambial, o agronegócio tem sido um fator que minimizou
os desequilíbrios das contas externas do Brasil. A agricultura contribuiu decisivamente para
as exportações com saldo comercial setorial positivo da ordem de quase US$ 200 bilhões de
dólares nos anos recentes de crise econômica, em 2015 e 2016, como vemos no gráfico
abaixo, onde nota-se especialmente o crescimento e o desenvolvimento nos últimos anos da
exportação do agronegócio.

Figura 1 - Evolução anual da balança comercial brasileira e do agronegócio - 1997 a 2016 - (em US$
bilhões).

Fonte: MAPA

Ainda em relação à exportação, o agronegócio representa quase metade de toda a


produção que sai do país, gerando assim grande renda e possibilidade de crescimento da
economia. Em comparação ao demais produtos exportados, em que houve uma diminuição
significativa, o que causa maiores perdas econômicas ao país, o agronegocio consegue se
manter estável, estabilizando assim o rendimento interno bruto do Brasil, como conferimos
abaixo:

Tabela 1 – Demonstrativo comparativo das exportações no Brasil nos meses de maio entre 2016 e 2017.
M aio
Expo rtação (US$ milhõ es) Impo rtação (US$ milhõ es) Saldo

2016 2017 D% 2016 2017 D% 2016 2017


Total Brasil 17.569 19.792 12,7 11.136 12.131 8,9 6.433 7.661
Demais Produtos 8.984 10.111 12,5 10.137 10.832 6,9 -1.153 -721
Agronegócio 8.585 9.681 12,8 999 1.299 30,0 7.586 8.382
Participação % 48,9 48,9 - 9,0 10,7 - - -
Fonte: AgroStat Brasil a partir dos dados da SECEX / MDIC

É importante ressaltar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


(MAPA) nos informa o crescimento destas importações e exportações no agronegócio no ano
de 2017. Isso só reforça ainda mais a ideia de que este meio pode reerguer o país, desde que
existam políticas sustentáveis de apoio financeiro e projetos de leis que ajudem a obter
rendimentos. Desta forma, o mesmo investimento retornará mais tarde em forma de um
melhor PIB e melhores rendimentos com encargos e impostos obtidos destas exportações.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Figura 2 – Balança comercial do Agronegócio.

Fonte: MAPA

Mais ainda, o MAPA nos traz dados em relação às exportações do agronegócio por
blocos econômicos e regiões geográficas em maio de 2017: a Ásia permaneceu como o
principal destino dos produtos brasileiros, com a soma de US$ 5,15 bilhões. A expansão de
15,0% em relação a maio de 2016 foi causada pelo incremento nas vendas de soja em grãos
(+US$ 544,13 milhões), açúcar (+US$ 87,76 milhões) e celulose (+US$ 62,49 milhões). Com
isso, a participação asiática nas vendas externas de produtos agropecuários brasileiros
apresentou crescimento, de 52,2% para 53,2%.
Já o segundo principal destino das exportações brasileiras, a União Europeia, teve a
sua participação diminuída de 21,0% para 17,4%, em virtude da queda de 6,6% nas vendas do
agronegócio brasileiro para o bloco econômico (de US$ 1,81 bilhão em 2016 para US$ 1,69
bilhão em 2017). Os produtos que mais influenciaram nessa diminuição foram: farelo de soja
(-US$ 108,25 milhões), soja em grãos (-US$ 61,04 milhões) e carnes (-US$ 32,94 milhões).
Além dos dois principais destinos, destaca-se na Tabela 2: aumento de 202,3% nas vendas
para os demais países da América, que alcançaram o montante de US$ 24,90 milhões; África
(+38,1% e US$ 571,07 milhões); Oriente Médio (+31,6% e US$ 689,33 milhões); e NAFTA
(+25,0% e US$ 700,27 milhões).

Tabela 2 – Exportações agronegócio por blocos econômicos mundiais, maio/2016 e maio/2017.

Fonte: MAPA

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Ainda é importante ressaltar os cinco principais produtos que comandam o topo da


exportação de gêneros alimentícios do Agronegócio brasileiro. O principal setor exportador
do agronegócio brasileiro é o complexo soja. Nesses cinco primeiros meses de 2017, as
exportações do setor atingiram US$ 16,00 bilhões, o que significou um incremento de 18,0%
em relação ao mesmo período de 2016. O segundo setor é representado pelas exportações de
carnes, que foram de US$ 5,99 bilhões entre janeiro e maio de 2017 (+5,4%). O incremento
do valor exportado ocorreu em função do aumento de 12,3% no preço médio de exportação,
enquanto a quantidade exportada declinou 6,1%. Em terceiro, as vendas externas do
complexo sucroalcooleiro foram de US$ 4,52 bilhões entre janeiro e maio de 2017 (+31,7%).
O principal produto exportado do setor é o açúcar, que foi responsável por praticamente 94%
do valor total exportado pelo setor. As exportações de açúcar foram de US$ 4,24 bilhões
(+40,5%), expansão obtida em função do aumento do preço internacional do produto, que foi
de 42,3%. As exportações de álcool, por sua vez, caíram 33,2%, com redução de 48,0% na
quantidade exportada.
O quarto principal setor exportador do agronegócio foi o de produtos florestais. As
vendas externas do setor subiram 5,8% chegando ao montante recorde de US$ 4,41 bilhões. A
celulose é o principal produto exportado do setor, com vendas externas recordes para o
período de US$ 2,39 bilhões (+4,0%). O café foi o quinto principal setor exportador do
agronegócio entre janeiro e maio de 2017, com US$ 2,26 bilhões em exportações (+10,8%).
As exportações de café verde foram de US$ 1,99 bilhão (+10,2%) enquanto as exportações de
café solúvel foram de US$ 239,99 milhões (+13,6%).
Os cinco principais setores exportadores do agronegócio, acima mencionados, foram
responsáveis por 85,4% das exportações brasileiras do agronegócio entre janeiro e maio de
2017. No mesmo período de 2016, os mesmos setores foram responsáveis por 78,7% das
vendas externas do agronegócio. Ou seja, houve uma concentração das exportações do
agronegócio nos cinco principais setores exportadores, com elevação de 6,65 pontos
percentuais entre um ano e outro. Os vinte demais setores exportadores foram responsáveis
por 14,6% das exportações do agronegócio em 2017. Esses vinte setores exportaram US$
7,81 bilhões entre janeiro e maio de 2016, passando a exportar US$ 5,69 bilhões entre janeiro
e maio de 2017 (-27,2%).
As importações brasileiras de produtos do agronegócio cresceram de US$ 5,00 bilhões
entre janeiro e maio de 2016 para US$ 6,14 bilhões entre janeiro e maio de 2017 (+22,8%).
Os nove principais produtos importados foram: álcool etílico (US$ 542,68 milhões;
+378,3%); trigo (US$ 478,42 milhões; +10,3%); papel (US$ 318,17 milhões; +8,7%);
salmões (US$ 229,77 milhões; +49,4%); vestuário e outros produtos têxteis (US$ 199,03
milhões; -8,7%); leite em pó (US$ 175,64 milhões; +33,9%); filés de peixe congelados (US$
168,93 milhões; +22,1%); óleo de palma (US$ 168,12 milhões; +61,1%); borracha natural
(US$ 164,44 milhões; +43,7%); e arroz (US$ 158,97 milhões; +155,6%).

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Tabela 3 – Gêneros de exportação e quadro comparativo de rendimentos da exportação no Brasil do
agronegócio entre 2016 e 2017.

Fonte: MAPA

4 O Agronegócio no Brasil e seus desafios

Como percebemos através dos dados analisados, o Brasil é um grande exportador e


tem um enorme potencial a nível mundial de ser, em breve, o maior produtor de itens
relacionados ao agronegócio do mundo. Porém, existem alguns entraves, como por exemplo,
a infraestrutura precária do país. Uma das pesquisas mais recentes sobre o assunto, elaborada
pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), aponta que, dos 84.832 quilômetros de
estradas brasileiras avaliadas, 37% se encontram em péssimo estado de conservação e outros
32% possuem alguma deficiência.
Em razão desse tipo de problema, regiões com potencial ao agronegócio, como o
Nordeste, ainda não conseguiram deslanchar. O agronegócio é justamente o que mais sofre
com a ineficiência dos canais de transporte, cujas deficiências são responsáveis por prejuízo
correspondente a 16% do PIB, segundo estudo do Centro de Estudos de Logística da
Universidade do Rio de Janeiro.
O Brasil enfrenta ainda grandes problemas relacionados à malha ferroviária do país,
que se encontra em péssimas condições. Como nos diz Borges (2007), é urgente a
modernização do maquinário e a expansão da malha em 30 mil quilômetros de extensão. O
país ainda conta com uma ineficácia em relação ao transporte marítimo, em comparação com
os demais países, perdendo a produtividade portuária, por causa da precariedade tecnológica
disponível nos portos brasileiros. É preciso destacar também que, além dos recursos, a
iniciativa privada ainda tem muito a contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura do
país, incentivando a criação de pólos intermodais de transporte (integração entre os sistemas
rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial e aéreo) para redução de custos e aumento do nível
de serviços.
Desta forma, em termos de infraestrutura, o Brasil corre sérios riscos em relação ao
futuro do agronegócio. Ou seja, é necessário que a iniciativa privada e as esferas
governamentais, estaduais e municipais se unam, pois a solução para melhorar as políticas e
práticas no transportes de produção existe, e pode ser posta em prática, para que no futuro o
país possa se beneficiar mais ainda com o agronegócio, inclusive a nível social, com a criação
de mais empregos, o crescimento de cidades e o desenvolvimento sustentável de culturas
agrárias.

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5 Conclusão e recomendações

Desta forma, é evidente que o Agronegócio no Brasil se encontra em desenvolvimento


principalmente desde as ultimas décadas, e apesar da atual crise econômica mundial,
consegue se manter estável em relação à produção brasileira. Entendermos e compreendermos
o processo de formação do Brasil através do olhar rural e das produções agropecuárias é
essencial para que no presente possamos melhorar as políticas do agronegócio brasileiro. A
exportação, que nos últimos séculos foi o principal meio de entrada de capital no país, está
cada vez mais relacionada com o desenvolvimento de toda uma rede de negócios, tecnologias
e preparo que o agronegócio exige de cada produtor.
Percebe-se que ainda falta muito para o Brasil atingir o topo e tornar-se a maior
potência em agronegócio mundial, pois em especial as políticas econômicas barram e
impedem o desenvolvimento necessário para a área. Apesar disso, espera-se que venham a
haver os incentivos e os meios para que o Brasil, um país com um território continental,
reservas de terras abundantes, potencial de produção, climas diversos e favoráveis, imensa
disponibilidade de água doce, energia renovável e capacidade empresarial, se torne maior do
que os entraves enfrentados.
Esse assunto não se esgota apenas com essa análise, mas serve como base para novas
discussões, interpretações e inovações na área.

Referências

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140

Gestão do conhecimento no setor agrícola: uma análise bibliométrica


Lucas Teixeira Costa1, Alice Munz Fernandes2, Ana Paula Alf Lima Ferreira3, Caroline
Estefanie do Amaral Brasil Saraiva4
1
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(CEPAN/UFRGS), lucasadmrural@gmail.com
2
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(CEPAN/UFRGS), alicemunz@gmail.com
3
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(CEPAN/UFRGS), anapaulaalf@gmail.com
4
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(CEPAN/UFRGS), karol.estefanie@gmail.com

Resumo. Nos últimos anos, a gestão do conhecimento tem se tornado uma alternativa para desenvolver
estratégias competitivas e auxiliar na tomada de decisão nas organizações, independente do setor de atuação a
fim de obtenção de vantagem competitiva. Nesse sentido, a pesquisa realizada teve por objetivo caracterizar as
publicações científicas que abordam a gestão do conhecimento no meio agrícola. Para tanto, empregou-se uma
investigação quantitativa descritiva, operacionalizada mediante análise bibliométrica. A busca foi realizada na
base de dados Scopus, cuja orientação consistiu na Lei de Zipf considerando a ocorrência dos termos
“knowledge management” e “agric*” no título, resumo e/ou palavras-chaves. A partir da inserção de demais
critérios de inclusão/exclusão, o portfólio de estudos analisados totalizou 230 artigos. Os resultados obtidos
demonstraram que na última década, os estudos que compreendem tal temática têm se intensificado. Na área do
conhecimento das publicações, constatou-se que as ciências agrárias e biológicas abrangeram a maioria das
investigações (85%) e no que concerne a origem dos autores, a China foi destacada (33 autores).
Palavras-Chave: Agronegócio. Informação. Tomada de Decisão.

Knowledge management in the agricultural sector: a bibliometric analysis


Abstract. In recent years, knowledge management has become an alternative to develop competitive strategies
and assist in decision making in organizations, regardless of the sector in order to obtain a competitive
advantage. In this sense, the objective of the research was to characterize the scientific publications that
approach the knowledge management in the agricultural environment. For this purpose, a descriptive
quantitative investigation was carried out using bibliometric analysis. The search was performed in the Scopus
database, whose orientation consisted of the Zipf Law considering the occurrence of the terms "knowledge
management" and "agric *" in the title, abstract and / or keywords. From the inclusion of other inclusion /
exclusion criteria, the portfolio of studies analyzed totaled 230 articles. The results obtained demonstrated that
in the last decade, the studies that comprise this theme have intensified. In the area of knowledge of the
publications, it was verified that the agrarian and biological sciences covered the majority of the investigations
(85%) and as far as the origin of the authors was concerned, China was highlighted (33 authors).
Keywords: Agribusiness. Information. Decision Making.

1 Introdução
Apesar das transformações em todos os contextos da sociedade destacarem o papel
fundamental da gestão do conhecimento para o desenvolvimento socioeconômico das
organizações, no setor agrícola sua relevância ainda é precariamente percebida (GROTTO,
2001). De acordo com Dowbor (2001), a intensa gama de dados, informações e
conhecimentos são inúteis se não atingem ao indivíduo interessado e que detém potencial para
aplicá-los.
Indo mais além, Bernardo, Binotto e Farina (2017) apontam que a gestão do
conhecimento pode contribuir para a tomada de decisão. Entretanto, para os autores, no
âmbito das cooperativas agrícolas, por exemplo, as atividades de gestão do conhecimento
concernentes a avaliação, utilização e contribuição ainda apresentam dificuldades. Diante
disso, a necessidade de melhoria da produtividade dos sistemas agroalimentares a fim de
suprir a crescente demanda mundial por alimentos e de atender aos apelos de segurança e
inocuidade alimentar, direciona a atenção para o gerenciamento do conhecimento disponível
(TSCHIEDEL; FERREIRA, 2002).
Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017
141

Todavia, Ling (2016) explica que as atividades primárias ainda não conhecem ou
investem na gestão do conhecimento como mecanismo de eficiência organizacional para a
geração de vantagem competitiva devido à natureza abstrata de tal fenômeno. Ou seja, a
dificuldade de mensuração ou visualização imediata configura-se como um entrave a
implantação de tal modelo.
Com vistas a isso, a pesquisa realizada teve como objetivo caracterizar as publicações
científicas que abordam a gestão do conhecimento no contexto agrícola. Para tanto,
empregou-se uma análise bibliométrica na base de dados Scopus, cujos descritores de busca
possibilitaram obter um portfólio de artigos nos quais foi observado aspectos como ano de
publicação, periódicos, autores, afiliação e país de origem destes. Devido a
multidisciplinariedade dos construtos verificados, considerou-se também a área de
conhecimento na qual foram classificados.
Ademais, além da introdução, este estudo é composto por outras quatro sessões. A
revisão de literatura, onde apresentam-se aspectos conceituais acerca de gestão do
conhecimento e de agropecuária, enfatizando sua relevância e representatividade. O método,
concernente aos procedimentos de coleta e análise dos dados. Conseguinte, os resultados e as
discussões, contrastando-os com os postulados das Leis da Bibliometria. E, por fim, as
considerações finais, que circunscrevem a investigação e apontam as limitações desta e
sugestões para estudos futuros.

2 Revisão da Literatura
2.1 Gestão do Conhecimento
A gestão do conhecimento vem se tornando cada vez mais um grande diferencial para
as organizações, independente do setor, uma vez que configura-se como um fator
determinante para a manutenção e sucesso destas (ZABOT; SILVA, 2002). Para Clari
(2010), identificar e analisar o conhecimento existente, bem como planejar ações para
desenvolvê-lo junto à organização, é relevante para a obtenção dos resultados almejados.
Diante disso, tem-se o modelo proposto por Nonaka e Takeuchi (1997) que objetiva auxiliar
as empresas a transformar o conhecimento de seus colaboradores em conhecimento
organizacional.
O acúmulo do conhecimento tácito no nível individual pode ser ampliando a toda
organização por meio dos quatro modos de conversão, formando um espiral do
conhecimento, ou seja, a interação do conhecimento tácito e explícito constitui uma escala
cada vez maior. O modo de conversão do conhecimento tácito em tácito é denominado
socialização. É o processo de compartilhamento de experiências diretamente de outras
pessoas a partir da observação e ideias, gerando a criação do conhecimento tácito de um
indivíduo à outro (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).
A partir do conhecimento tácito, surge o processo de externalização, que consiste
na criação do conhecimento nas organizações, uma vez que se desenvolvem novos conceitos
explícitos a partir do conhecimento tácito. Este por sua vez, é compartilhado por meio de
linguagem falada ou escrita, metáforas, conceitos e modelos (NONAKA; TAKEUCHI,
1997).
Gaspar (2010) aponta que a conversão do conhecimento tácito em explícito, ganha
importância no momento em que a codificação do conhecimento se torna mais real. Para o
autor, essa conversão ocorre quando o conhecimento tácito é transmitido pelo processo de
comunicação para a organização, ou seja, se torna um conhecimento explícito, sendo
facilmente comunicado e entendido pelas pessoas. A partir da formalização do
conhecimento explícito, este por sua vez, poderá ser combinado com outros
conhecimentos explícitos e ser disseminado para toda a organização. Entretanto, o
conhecimento explícito gerado na organização pode voltar a ser tácito quando
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142

interpretado e compreendido por um indivíduo dentro de seus valores e crenças individuais.


Essa transformação é denominada internalização, ou seja, é a formação de opinião a partir
de um documento ou relatório (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

2.2 Setor Agrícola


A importância da agricultura para o crescimento de um determinado país configura-se
como dotada de relevância na teoria econômica. Os estudiosos clássicos do tema, por
exemplo, já investigavam os distintos papéis a serem desempenhados pela agricultura no
contexto das economias em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (FIGUEIREDO;
BARROS; GUILHOTO, 2005).
O País é reconhecidamente competitivo na sua produção agrícola (COSTA;
GUILHOTO; IMORI, 2013) e o setor tem revelado maior capacidade de superar os efeitos
adversos das crises econômicas internas e internacionais. Além dessas crises, outro ponto que
merece atenção no setor agrícola é a gestão de riscos, diante da vulnerabilidade da atividade
agropecuária frente a riscos catastróficos, sobretudo aqueles oriundos de fenômenos
climáticos adversos (MAPA, 2016).
Figueiredo, Barros e Guilhoto (2005) sintetizam os papéis desempenhado pela
agricultura no processo de desenvolvimento econômico. O primeiro é o fornecimento de
matéria-prima para o desenvolvimento do setor não-agrícola e constituir importante mercado
consumidor para os produtos industrializados. Além disso, tem-se a atração de ganhos
cambiais por meio de suas exportações, a capacidade de geração de emprego e renda na
economia e, sobretudo, o fornecimento de alimentos para a população.
Considerando o fornecimento de alimentos para a população, pela perspectiva da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, 2017), até 2026,
prevê-se que a disponibilidade de calorias atinja as 2.450 kcal por dia, em média nos países
menos desenvolvidos, e exceda as 3000 kcal por dia nos países desenvolvidos. Mesmo assim,
a insegurança alimentar continuará a ser uma preocupação global crucial e a coexistência de
subnutrição suscita novos desafios em muitos países.

3 Método
A pesquisa realizada caracteriza-se como quantitativa em relação abordagem do
problema e descritiva quanto a finalidade. Como procedimento técnico empregou-se análise
bibliométrica que consiste na técnica de mensuração dos fatores de produção científica
(ARAÚJO, 2006). De acordo com Oliveira Lobo (1999), esse tipo de investigação
proporciona identificar as potencialidades de determinados grupos e/ou instituições de ensino,
bem como realizar um diagnóstico da origem das publicações que compõem um conjunto
específico de conhecimento científico.
Para tanto, a bibliometria é fundamentada em três leis básicas, quais sejam: Lei de
Lotka, Lei de Zipf e Lei de Bradford. A primeira, também conhecida como Lei do Quadrado
Inverso, refere-se a produtividade dos autores através da relação tamanho-frequência destes
em um determinado conjunto de manuscritos. A segunda, é conhecida como Lei do Mínimo
Esforço, que concerne acerca da frequência e/ou ocorrência de aparecimento de palavras em
documentos. Por fim, a terceira é a chamada Lei da Dispersão, que postula sobre os
periódicos nos quais os artigos foram publicados (VANTI, 2002).
Diante disso, realizou-se uma busca na base de dados Scopus, haja vista que esta
configura-se como a maior fonte de resumos e citações literárias revisadas por pares
(ELSEVIER, 2017). Como orientação de busca adotou-se a Lei de Zipf considerando a
existência no título, resumo e/ou palavras-chaves do termo “knowledge management” e das
variações concernentes à “agricultural” (agric*). A simultaneidade da ocorrência de tais
termos foi assegurada pela inserção do boleano “and”. O tipo de documento analisado foi

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143

artigo, cujo período de publicação correspondeu a todos os anos até a data de 15 de setembro
de 2017.
A Figura 1 apresenta a representação esquemática do método de pesquisa, apontando
os critérios de inclusão dos manuscritos analisados, bem como a representatividade destes no
âmbito dos documentos acerca da temática abordada. Também ilustra a contribuição das Leis
da bibliometria na análise dos resultados.

Figura 1 – Representação Esquemática da Pesquisa

Fonte: Elaborado pelos autores.

Assim, ao passo que a Lei de Zipf foi empregada para a obtenção dos estudos que
compuseram o portfólio analisado, as Leis de Lotka e de Bradford foram utilizada para pautar
a análise dos resultados. Deste modo, os achados são contrastados com os postulados de tais
leis, a fim de identificar a forma como estas explicam determinadas características das
publicações científicas sobre gestão do conhecimento no contexto agrícola ou agropecuário.
4 Análise e Discussão dos Resultados
De acordo com os critérios de buscas na base de dados Scopus foram encontrados 512
documentos, 230 deles são artigos, os quais compõem o portfólio para análise dos resultados.
Com base nos dados, a primeira publicação ocorreu no ano de 1973, todavia, o tema se
manteve discreto nas investigações empíricas. Somente 17 anos depois da primeira publicação
surgiram novos estudos. A Figura 2 apresenta a distribuição temporal das publicações.

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144

Figura 2 – Distribuição temporal das publicações


25
23
21
19
17
15
13
11
9
7
5
3
1
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
Fonte: Resultados da pesquisa (2017).

A partir de 2005 as publicações se intensificaram, 2008 foi o ano com maior número
de estudos, chegando a 26 artigos (11,30%). Deste modo, observou-se que um número
significativo de trabalhos foi publicado a partir deste ano, mantendo uma média de 19,9
artigos por ano até 2017. Ademais, os últimos dez anos são responsáveis por 86,52% das
publicações que abordam gestão do conhecimento no meio agro negocial, denotando o
interesse crescente por este assunto no campo científico na última década.
As publicações estão distribuídas em 157 periódicos diferentes, demonstrando a
abrangência e diversidade de fontes científicas que possuem em seu escopo tal temática,
todavia, entre eles, 124 (53,91%) possuem apenas um artigo publicado. O periódico
Computers and Electronics in Agriculture se destaca com o maior número de artigos, possui
um total de 14 documentos (6,08%). Tal periódico contempla as áreas de ciências agrárias e
biológicas, com ênfase em horticultura. Apresentam destaque também outros quatro
periódicos, quais sejam: Nongye Gongcheng Xuebao Transactions of the Chinese Society of
Agricultural Engineering (7 artigos); Knowledge Technology (5 artigos); Environmental
Science and Policy e Kasetsart Journal Social Sciences, ambos com 4 artigos.
Desta forma, a Lei de Bradford sugere que os artigos que possuem maior relevância
em determinada área geralmente são encontrados em um número pequeno de periódicos
(HAYASHI et al., 2007), assim permite uma análise do nível de destaque nas áreas do
conhecimento científico (GUEDES; BORSCHIER, 2005). Desta forma, infere-se que dentre
as publicações que abordam a gestão do conhecimento no campo agro negocial na base de
dados consultada, os artigos que apresentam maior relevância encontram-se no periódico com
maior número de publicações, ou seja, no periódico Computers and Electronics in
Agriculture.
Quanto aos autores que abordam a temática em questão, identificaram-se no portfólio,
157 autores. Destes 124 possuem apenas uma publicação tratando o tema, o que representa
53,91% dos artigos. Deste modo, o restante dos resultados trazem 27 autores com dois artigos
cada e outros oito com três trabalhos. Os principais autores são: Bochtis, Feng, Fountas,
Lwoga, Nash, Nikkilã, Pesonen e Wiebensohn.
Deste modo, verifica-se que tais autores representam 10,43% das publicações, este
fato vai ao encontro do sugerido pela Lei de Lotka no que se refere a produtividade dos
autores (VANTI, 2002). De acordo com a Lei, constata-se que um número reduzido de
autores possuem “muitas” publicações (MALTRÁS BARBAS, 2003), desta forma, quanto
maior for o número de publicações na área, cada vez mais são reconhecidos na mesma,
adquirindo maiores condições de aperfeiçoar suas pesquisas tal (MERTON, 1968).
Referente às instituições de afiliação dos autores, identificaram-se 160 instituições.
Contudo, destas 98 (61,25%) possuem apenas um autor afiliado e, por conseguinte, 42
(26,25%) instituições apresentam vínculo com dois autores. A Wageningen University and
Research Centre obteve destaque, apontada como afiliação de 8 autores, seguida de China

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145

Agricultural University e Aarhus Universitet, ambas com 5 autores vinculados. Encontram-se


ainda 6 instituições respondendo como vínculo de 4 autores, e outras 11 constando como
afiliação de 3 autores cada. A Figura 3 mostra a as principais instituições às quais os autores
são afiliados.

Figura 3 – Principais instituições de afiliação

Wageningen University and Research Centre


Aarhus Universitet
China Agricultural University
The James Hutton Institute
Ministry of Agriculture of the People's Republic of…
Universita degli Studi di Roma La Sapienza
Chinese Academy of Agricultural Sciences
Universitat Rostock
Food and Agriculture Organization of the United…
Chiang Mai University
Beijing Forestry University
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Fonte: Resultados da pesquisa (2017).

No que se refere ao país de origem dos autores, de acordo com os resultados, foram
encontrados 73 nacionalidades diferentes. Desatacam-se os chineses, com 33 autores,
seguidos dos americanos com 28, Reino Unido com 22 e Itália com 19 autores. Enfatiza-se
que o Brasil é o 12° país na origem dos autores que desenvolveram estudos acerca da gestão
do conhecimento no contexto agrícola, indicado por 8 indivíduos. Assim sendo, a Figura 4
apresenta os principais países de origem dos autores.
Figura 4 – Principais países de origem dos autores

China
Estados Unidos
Reino Unido
Itália
Alemanha
França
Índia
Holanda
Austrália
Canadá
Tailândia
Brasil
Finlândia
0 5 10 15 20 25 30 35

Fonte: Resultados da pesquisa (2017).

Por fim, a Figura 5 apresenta a área do conhecimento na qual os artigos que abordam
a temática estudada foram publicados. Ressalta-se que a categoria “outras” compreende as
áreas cuja representação individual foi menor que 2%.

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146

Figura 5 – Principais áreas do conhecimento

Ciências Agrárias e Biológicas


Ciências Sociais
Ciência ambiental
Ciência da Computação
Engenharia
Outros
Negócios, Gestão e Contabilidade
Ciências da Terra e Planetárias
Matemática
Economia, Econometria e Finanças
Bioquímica, Genética e Biologia Molecular
Ciências da decisão
Medicina
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Fonte: Resultados da pesquisa (2017).

Observa-se que a maioria (85 artigos) foi publicada contemplando a área das Ciências
Agrárias e Biológicas. Neste contexto, pode-se inferir que tal achado justifica-se pela
relevância da temática enquanto ferramenta para a tomada de decisão no meio agrícola.
Todavia, outras áreas também tiveram representatividade, tais como: ciências sociais (63
artigos); ciência ambiental (59 artigos); ciência da computação (50 artigos), entre as demais
áreas com menor participação.

5 Considerações Finais
De acordo com os resultados obtidos, observa-se que a gestão do conhecimento no
contexto agrícola configura-se como uma temática abordada nas investigações empíricas há
mais de quatro décadas. Porém, nos últimos dez anos as publicações se tornaram mais
frequentes, o que pode ser justificado pela percepção da contribuição de tal processo na
tomada de decisão no meio agro negocial, objetivando o sucesso das organizações.
Constatou-se que 86,52% dos artigos foram publicados na última década, denotando a
relevância e o crescente interesse pelo tema no ambito científico. O ano de 2008 representou
11,30% do portfólio analisado. Concernente aos periódicos relacionados, o Computers and
Electronics in Agriculture se destacou, possuindo 6,08% das publicações. Quanto aos autores,
identificou-se que 8 autores representam 10,43% das publicações, de modo que consistem
naqueles dotados de maior propriedade acerca da temática. No que se refere às instituições de
pesquisa às quais os autores são afiliados, a Wageningen University and Research Centre
obteve destaque apontada como afiliação de 8 autores vinculados.
Constatou-se ainda que o país com maior representatividade em estudos abordando tal
temática foi a China, correspondendo a 33 autores. No que concerne à área do conhecimento à
qual as publicações pertencem, verificou-se que as ciências agrárias e biológicas possuem
mais estudos relacionados ao seu escopo (85 artigos). Todavia, reconhecem-se as limitações
do estudo realizado quanto a utilização de apenas uma base de dados. Como sugestão para
investigações futuras, recomenda-se ampliar a busca em outras bases de dados, a fim de
caracterizar de forma mais abrangente a gestão do conhecimento nas publicações científicas
relacionados ao meio agrícola. Sugere-se ainda o uso de outros termos e boleanos, buscando
encontrar um foco menor de análise que permita construir uma revisão sistemática da
literatura, com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre tal temática, corroborando para

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


147

identificação de novas problemáticas e oportunidade de novas pesquisas

Referências
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Mackenzie. 146f. São Paulo. 2010.
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das práticas e suas influências na eficácia empresarial. Tese de Doutorado ( Programa de Pós-Graduação em
Administração). Universidade de São Paulo. 226f. São Paulo. 2010.
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HAYASHI, M. C. P. I. et al. Um estudo bibliométrico da produção científica sobre a educação jesuítica no Brasil
colonial. Biblios, v. 8, n. 27, p. 1-18, 2007.
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Information (Japan), v. 18, n. 18ª, p. 3087-3093, 2016.
MALTRÁS BARBA, B. indicadores de producción. In: MALTRÁS BARBA, B. Los indicadores
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ZABOT, J. B. M.; SILVA, L. C. M. Gestão do conhecimento: aprendizagem e tecnologia construindo a
inteligência coletiva. São Paulo, SP: Atlas, 2002.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


148

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

PERFIL SOCIOÊCONOMICO DO SERICICULTOR DO MUNICÍPIO


DE DIAMANTE DO SUL - PR
Aline Silva de Lima 1, Marcelino de Souza 2

1
Mestranda em Agronegócios da UFRGS - alynni_lima@hotmail.com
2
Professor do PPG Agronegócios da UFRGS - marcelino.souza@uol.com.br

Resumo. A sericicultura representa atualmente uma importante fonte de renda para agricultores com pequenas
áreas, a atividade contribui com o desenvolvimento socioeconômico nas localidades a qual se insere, diante
disso, cabe ressaltar que atualmente o município de Diamante do Sul – PR é o terceiro maior produtor de casulos
verdes do Paraná com 103 famílias trabalhando na atividade. Portanto, esse trabalho teve como objetivo
identificar o perfil socioeconômico do sericicultor do município de Diamante do Sul no Estado do Paraná. O
presente trabalho foi construído com base em uma pesquisa exploratória e descritiva, em particular, para sua
elaboração, foram utilizados dados coletados por meio de revisão bibliográfica e entrevistas com 42
sericicultores do município estudado, a amostra foi selecionada a partir do cálculo de amostra aleatória simples.
Identificou-se o perfil do sericicultor e descreveu-se de forma sintética o processo produtivo da lagarta de bicho-
da-seda. Concluiu-se que o sericicultor é em suma homens com baixo nível de escolaridade, com uma média
44,1 anos e com pequenas áreas (média de 6,65 hectares), também concluiu-se que a atividade é impulsionadora
da agricultura familiar no município, contudo, destacou-se o baixo envolvimento dos jovens na condução da
atividade.

Palavras-chave: Sericicultura, bicho-da-seda, sericicultor, Diamante do Sul.

SOCIOECONOMIC PROFILE OF THE SILKWORM BREEDER OF


THE COUNTY OF DIAMANTE DO SUL - PR
Abstract. Sericulture currently represents an important source of income for farmers with small areas,
contributing to socioeconomic development in the localities to which it belongs, and it should be emphasized
that the county of Diamante do Sul - PR is the third largest producer of green cocoons of Paraná with 103
families working in the activity. Therefore, this work had as objective to identify the socioeconomic profile of
silkworm breeder of the county of Diamante do Sul in the State of Paraná. The present work was based on an
exploratory and descriptive research, in particular, for the elaboration of this work were used data collected
through bibliographical review and interviews with 42 silkworm breeder of the studied county, the sample of
silkworm breeder interviewed was selected from the calculation of simple random sample. The profile of the
silkworm breeder was identified and the silkworm caterpillar's productive process was described in a synthetic
way. It was concluded that the silkworm breeder is in short men with a low level of schooling, with a mean of
44.1 years and with small areas (average of 6.65 hectares), it was also concluded that the activity is a driver of
family agriculture in the county, however, it was highlighted the low involvement of young people in the conduct
of the activity.

Keywords: Sericulture, silkworms, silkworm breeder, Diamante do Sul.

1 Introdução

A sericicultura é uma das mais antigas atividades agroindustriais que se tem notícia na
história. Ela se originou na China há aproximadamente 5.000 anos (FERNANDEZ, et al.,
2005). A criação do bicho-da-seda (Bombyx mori) e a cultura da amoreira (Morus) são as duas
principais atividades realizadas pelos sericicultores (OLIVEIRA et al., 2016).
A atividade teve início no Brasil no século XIX, com a fundação da Companhia
Seropédica Fluminense, no Rio de Janeiro. Contudo, sua intensificação acorreu somente a
partir de 1920 com a chegada ao país dos imigrantes japoneses (CONAB, 2016). O Estado de
São Paulo, a partir do início do século XX, foi o Estado que mais se destacou na sericicultura,
assegurando à mesma o titulo de atividade agroindustrial e á destacando no cenário

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


149

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

agropecuário nacional (PORTO, 2014). Contudo, com o passar dos anos, o Estado foi
perdendo sua notoriedade sobre a atividade devido, principalmente, aos desinteresses e crises
no mercado internacional que afetaram diretamente as exportações de seda (OLIVEIRA, et
al., 2016). Desde então, o Estado do Paraná se impulsionou na atividade tornando-se o líder
em produção nacional, sendo responsável por mais de 80% da produção brasileira (CONAB,
2016) e também destacando-se no cenário internacional por obter o título de melhor seda do
mundo (GAZETA DO POVO, 2013).
O Brasil destaca-se por ser o único produtor de fio de seda em escala comercial no
Ocidente (CONAB, 2016) sendo o quarto maior produtor mundial de fios de seda crua,
ficando atrás apenas da China, Índia, e Uzbequistão. Cerca de 90% da produção brasileira de
fios de seda é destinada à exportação em forma de fio de seda crua, com baixo valor agregado
(VALE DA SEDA, 2017).
Nos dias de hoje, a agroindústria responsável por cuidar de todas as etapas da criação
do bicho-da-seda é a Fiação de Seda BRATAC S/A, sendo esta a única empresa atuante do
segmento no Brasil (CONAB, 2013). Ela trabalha no modelo de produção integrada
“indústria-sericicultor” (CONAB, 2013; BUSCH, 2010). Nessa lógica, a indústria fornece
estrutura técnica, assistência técnica, mudas de amoreiras e insumos necessários para
desenvolver a atividade na propriedade (BRATAC, 2017).
Uma importante vantagem ligada à sericicultura é que o produtor pode desenvolver
culturas alternativas paralelamente, uma vez que a área cultivada com amoreiras não precisa
ser extensa, viabilizando a produção paralela de café, milho, pecuária leiteira, entre outras
(BUSCH, 2010). Somando a isso, a sericicultura apresenta um baixo custo de insumos, rápido
retorno do capital investido, pequeno custo de produção em virtude do alimento consumido
pelo bicho-da-seda se restringir apenas a folhas de amoreira, e garantia de venda total da
produção, uma vez que a produção final é comprada diretamente pela BRATAC (ver
OLIVEIRA et al., 2016).
A “Sericicultura é uma atividade que se desenvolve no meio rural por meio do
processo de criação do bicho-da-seda e do plantio de amoreiras, que é fonte de alimentação
das lagartas” (OLIVEIRA et al, 2016 p. 530), como descrito a seguir.
O êxito na criação do bicho-da-seda provém principalmente, da qualidade da amora
utilizada na alimentação da lagarta. Portanto, é importante conhecer a planta para obter uma
cultura do bicho-da-seda bem-sucedida. De acordo com Oliveira et al, (2016), existem
basicamente três tipos de espécies de amoreiras que são utilizadas com fonte de alimento para
o bicho-da-seda, sendo que a mais utilizada no Brasil é a Morus alba L. Tal espécie de
amoreira é utilizada devido a sua adaptação ao clima tropical do país (FONSECA e
FONSECA, 1988). Seu cultivo pode ser feito de duas formas, plantio direto ou convencional.
Para se desenvolver, o amoreiral deve receber adubação orgânica e complementação química,
logo após a poda de inverno. As adubações são importantes, pois as plantas recebem cortes
intensivos durante a safra, levando ao esgotamento dos nutrientes do solo (ZANETTI, 2003).
A amoreira é uma planta perene, que pode viver de 25 a 30 anos, no entanto, a partir
dos 10 anos seu rendimento começa a se reduzir, tornando necessário reformar a cultura por
meio da remoção de todas as plantas e consequente plantio de novas mudas no seu lugar
(ZANETTI, 2003).
Outro ponto importante sobre a cultura da amora é que seu plantio não deve ser
realizado próximo a lavouras que utilizam inseticidas ou em locais onde ocorrem
pulverizações aéreas, pois pode ocorrer a contaminação das folhas e a intoxicação e morte das
lagartas do bicho-da-seda (ZANETTI, 2003).
De acordo (OLIVEIRA et al, 2016) existem oito diferentes espécies de bicho-da-seda,
mas apenas duas são consideradas adequadas à indústria. A Bombycidae e a Saturniidae são
responsáveis pela totalidade de seda natural produzida no mundo, sendo que a primeira se

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


150

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

alimenta de amoreira e a segunda, de carvalho e outras plantas. Contudo, no Brasil a espécie


de bicho-da-seda mais utilizada é o bicho-da-seda Bombix mori L, da família Bombycidae,
pois em período de safra, permite até nove criadas (SEAB, 2010).
Durante seu ciclo de vida o bicho-da-seda passa por 4 fases, sendo essas: (i) ovo, (ii)
larva, (iii) pupa e (iv) mariposa. No período de larva, o bicho-da-seda passa por cinco fases e
por quatro trocas de pele, após a troca de pelo a lagarta assume uma nova idade. Cada idade
passa por dois períodos: o momento em que ela se alimenta e o momento em que ela repousa.
Ao passar de uma idade para outra, ele dorme de 15 a 30 horas e, ao acordar, acontece a
mudança de pele (OLIVEIRA et al, 2016). As duas primeiras idades são chamadas de fase
jovem e as três últimas de fase adulta (ZANETTI, 2003).
A fase jovem se divide em 1ª e 2ª idade. Nessa fase as lagartas são criadas nas
chocadeiras ou incubadeira e esse trabalho fica a cargo da empresa de fiação, que vende as
lagartas no final da fase para os produtores. Atualmente, a BRATAC é a única empresa do
segmento que controla a totalidade desta etapa. Já a fase adulta compreende a 3ª, 4ª e 5ª idade.
Nesta fase, o bicho-da-seda é criado em barracões ou sirgarias pelos produtores, que vendem
os casulos produzidos para a empresa fiadora (ZANETTI, 2003). A Tabela 1 apresenta o
tempo estimado que dura cada fase da vida da lagarta, bem como a duração das mudas, isto é,
a duração em horas que o bicho-da-seda dorme a fim de mudar de idade e trocar de pele.
Tabela 1 - Duração das idades e dos períodos das mudas do bicho-da-seda.
1º 2º 3º 4º 5º
Fases Total
Idade Idade Idade Idade Idade
Dias: 3 2 – 2,5 3 4–5 8 – 10 20 – 24
Horas: 20 – 24 20 - 30 24 - 31 24 - 34 88 - 120
Fonte: Oliveira et al. (2016)
Ao final do período de alimentação, as lagartas param de se alimentar, tornando-se
“transparentes” e amareladas, e erguem a cabeça procurando um suporte para subir, estando
prontas para a fase de encasulamento. A partir desse momento deve-se retirar os bosques dos
suportes do teto e colocá-los sobre as camas de criação para que as lagartas subam no mesmo
(ZANETTI, 2003).
A sirgaria ou barracão de criação da lagarta deve estar localizada preferencialmente no
centro da área cultivada com amora, a fim de facilitar o transporte do alimento das lagartas e
dos resíduos acumulados, os quais são retirados do barracão ao final da quinta idade e que
servirão de adubo para a amoreira. Esta iniciativa reduz mão-de-obra e os custos de produção
dos casulos (ZANETTI, 2003). No interior da sirgaria (Figura 1), são construídas três camas
de criação [2]. Nesse local são colocadas as lagartas para serem alimentadas. Em cima de
cada cama, é feito um estaleiro onde ficam pendurados os bosques [1], para serem baixados
no instante que as lagartas estiverem na fase de amadurecimento e produção dos casulos [1]
(OLIVEIRA et al, 2016).
Figura 1 – Ilustração das camas de criação do bicho-da-seda e bosques

Fonte: Arquivo pessoal (2017)


O depósito para armazenamento dos ramos de amoreira deve estar inserido junto à
sirgaria para que quando houver a necessidade de trato para as lagartas sejam retirados os

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ramos do depósito. Para preservar o alimento fresco e úmido, é necessário que não haja
circulação de vento e presença de luz no interior do depósito (OLIVEIRA et al, 2016),
também deve-se cortar os ramos de amora no campo sempre no inicio de cada dia e no final
da tarde afim de que, os ramos não sejam armazenados quentes.
O bicho-da–seda é uma larva muito sensível e frágil que é facilmente atacada por
doenças contagiosas, frequentemente seus agentes patogênicos alojam-se nas sirgarias,
chocadeiras e equipamentos utilizados na produção, para evitar isto, antes e depois de cada
criação é obrigatório realizar a desinfecção do ambiente com uma solução de formol. Deve-se
pulverizar as paredes, teto, piso e camas de criação, deixando-os expostos pelo produto por ao
menos 15 horas. Nas sirgarias deve-se, também, fazer uma pintura à base de cal virgem no
piso e paredes antes de iniciar a criação para auxiliar na assepsia (ZANETTI, 2003).
Diante do exposto sobre o processo de produção do bicho-da-seda, destaca-se o fato
da atividade estar ligada, geralmente, a pequenas propriedades rurais, sendo, portanto, um
bom negócio para a agricultura familiar. O processo produtivo do bicho-da-seda assume uma
significativa importância no alcance econômico e social de uma região. Geralmente, o ciclo
de produção de um casulo é relativamente curto, com duração média de um mês (Tabela 1),
garantindo renda mensal ao produtor por até 9 meses do ano (DO NASCIMENTO et al.,
2010; 34º EES1). Atualmente o Estado do Paraná possui 165 municípios com produção, 1867
criadores, 1972 barracões, 8600 pessoas envolvidas, 3855 hectares com amoreiras,
produzindo em média 2,4 toneladas de casulos verdes/ano e um valor bruto de produção de
R$ 40.210.500,00 (34º EES). Dessa forma, além do desenvolvimento econômico das
localidades nas quais se encontra inserida, a sericicultura contribui também para geração de
empregos, renda e impostos.
Segundo Cirio (2016) a criação de bicho-da-seda no município de Diamante do Sul -
PR, durante a safra 2015/2016 contemplava um total de 103 famílias, sendo, o terceiro maior
produtor de casulos verdes do Paraná. Nesse contexto, a sericicultura pode ser vista como
uma importante atividade econômica para o município e para Estado do Paraná contribuindo
para a geração de renda para as famílias envolvidas, e consequentemente auxiliando na
diminuição do êxodo rural (CONAB, 2013).
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010) o município
de Diamante do Sul possui cerca de 3500 habitantes, sendo que, cerca de 60% da população
reside no perímetro rural do município. Dados referentes ao censo demográfico mostram que
o PIB do município é constituído principalmente da agropecuária (75%), indústria (7%),
serviços (18%) (IBGE, 2013). As principais atividades agropecuárias exercidas pelos
residentes rurais são: as culturas de soja, milho, hortifruti, a produção de aves, leite e criação
do bicho-da-seda (MUNICÍPIO DE DIAMANTE DO SUL, 2017).
Portanto, diante da presente exposição, o presente trabalho tem como objetivo
apresentar o perfil socioeconômico do produtor de casulos de bicho-da- seda de Diamante do
Sul, PR, utilizando-se de dados coletados por meio de entrevista diretamente com a amostra
selecionada de sericicultores do município em estudo.
Espera-se que este trabalho contribua para a geração e disseminação de informações e
conhecimentos sobre a sericicultura. Além disso, espera-se expor a importância da atividade
para a promoção da agricultura familiar.

2 Procedimentos Metodológicos

1 O Encontro Estadual de Sericicultura é um evento que ocorre anualmente, em 2017 a 34ª edição do encontro foi sediada
pelo município de Rondon – PR. O encontro tem como objetivo reunir os segmentos envolvidos na cadeia produtiva da seda,
para uma maior integração entre governos, empresas, sericicultores e entidades representativas.

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Este trabalho tem como base uma pesquisa de caráter exploratório e descritiva.
Basicamente, uma pesquisa exploratória é elaborada por meio de pesquisas bibliográficas e
entrevistas com pessoas que possuem experiência no assunto estudado. Por sua vez, a
pesquisa descritiva tem como foco descrever características e peculiaridades de uma certa
população ou fenômeno (GIL, 1996). Em particular, os resultados desse trabalho foram
obtidos a partir da aplicação de entrevistas semiestruturada com o objetivo de identificar o
perfil do sericicultor da cidade de Diamante do sul no estado do Paraná. Devido a abordagem
do problema, o presente estudo é classificado como quantitativo. A pesquisa quantitativa
considera que tudo pode ser quantificável, ou seja, traduzir em números opiniões e
informações para classifica-las e analisá-las. Esse tipo de análise de dados exige o uso de
recursos e de técnicas estatísticas (MORESI, 2003).
Como o objeto desse trabalho é identificar o perfil dos sericicultores do município em
questão, optou-se pelo emprego da amostragem aleatória simples. Esta escolha se justifica
pelo fato de que, a composição do universo da amostra mostrou-se numerosa para a
investigação, foi identificado um universo de 103 sericicultores no município conforme Cirio
(2016). A amostra aleatória simples, segundo Santos (2017) é uma ferramenta estatística na
qual todos os elementos de interesse têm a mesma probabilidade de serem selecionados, sua
equação pode ser visualizada logo a baixo:

N .Z 2 . p1  p  103 .1,645 2.0,51  0,5


n n = 42
N  1.e 2  Z 2 . p1  p  103  1.0,10 2  1,645 2.0,51  0,5
onde, N representa os 103 sericicultores do município de Diamante do Sul – PR; Z 2
representa 90% de confiança (1,645); p retrata 50% da verdadeira probabilidade do evento e;
e 2 retrata o erro amostral aceitável de 10%. Dessa forma, a partir do cálculo amostral
disposto na equação, 42 sericicultores foram entrevistados durante o processo de coleta de
dados do presente trabalho. O Gráfico 1 exibe as principais localidades rurais visitadas
durante a fase de coleta de dados.
Gráfico 1 – Localidade onde residem os entrevistados
17% 2% Alto Cascudo
Linha Pinhalzinho
14% Alto Pinhalito
57% Erval Bonito
10% Vila União

Fonte: Dados da pesquisa (2017)


Para análise dos dados quantitativos, foi empregado o uso do Microsoft Excel, foi
utilizado apenas os recursos para designar o percentual dos dados obtidos em forma de tabelas
e gráficos e também foi utilizada fórmula para calcular a média a fim de tratar algumas
questões.

3 Resultados

Nesta seção é apresentado o perfil do sericicultor do município de Diamante do Sul –


PR. De acordo com a pesquisa, na qual foi ouvido 42 sericicultores pôde-se verificar que
entre os responsáveis pelos estabelecimentos, 81% são homens e apenas 19% mulheres. O
nível de escolaridade dos entrevistados é em sua maioria baixo, tal como apresentado no
Gráfico 2. Note que, 69% dos entrevistados possuem o ensino fundamental incompleto e
apenas 17% possuem o ensino médio completo.

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Gráfico 2– Nível de Instrução
17% 2% 2% Sem escolaridade
Fundamental incompleto
10% Fundamental completo
69% Médio completo
Não informado

Fonte: Dados da pesquisa (2017)


A idade média dos sericicultores do município é de 44,1 anos. O presente dado se
aproxima com os achados da pesquisa feita pela Associação Brasileira de Marketing Rural e
Agronegócio (ABMRA, 2016), que apurou em suas entrevistas, que a idade média do
produtor rural brasileiro é de 46,5 anos. A Tabela 2 apresenta detalhadamente as faixas etárias
dos produtores de seda, é possível verificar que a maior parte dos entrevistados possuem
idades entre 35 e 59 anos (76,2%) e também pode-se notar que o envolvimento dos jovens de
20 a 29 anos é pequeno na atividade.
Tabela 2 – Idade
Faixa etária nº de entrevistados %
20 – 24 2 4,8
25 – 29 2 4,8
30 – 34 3 7,1
35 – 39 8 19,0
40 – 44 6 14,3
45 – 49 7 16,7
50 – 54 6 14,3
55 – 59 5 11,9
60 – 64 2 4,8
Mais de 65 1 2,4
Total 42 100,0
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
A presença da sericicultura na realidade dos entrevistados não é recente, o produtor
mais antigo trabalhando na atividade data de 1987 e o mais recente iniciou na atividade em
2016 (Tabela 3).
Tabela 3 – Ano de início das atividades
Ano de início das atividades Nº de entrevistados %
De 1987 á 1990 2 4,8
De 1991 á 1995 2 4,8
De 1996 á 2000 10 23,8
De 2001 á 2005 7 16,7
De 2006 á 2010 6 14,3
De 2011 á 2015 11 26,2
De 2016 á 2017 4 9,5
Total 42 100,0
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Os sericicultores de Diamante do Sul, em sua maioria, possuem pequenas áreas de
terra. Na presente pesquisa verificou-se que os estabelecimentos agropecuários que vendem
casulos no município estão distribuídos em áreas entre 1 e 50 hectares, sendo que registrou-se
uma maior concentração em áreas de 1 ha a menos que 2 ha (23,8%) e áreas de 5 ha a menos
de 10 ha (33,3%). Houve também o registro de 2 estabelecimentos que pertencem a
produtores sem área própria.

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Tabela 4 - Número de estabelecimentos agropecuários que venderam casulos de bicho-da-seda de acordo
com o tamanho da área
Grupos de área total (ha) nº de estabelecimentos %
De 1 a menos de 2 ha 10 23,8
De 2 a menos de 3 ha 3 7,1
De 3 a menos de 4 ha 7 16,7
De 4 a menos de 5 ha 0 0,0
De 5 a menos de 10 ha 14 33,3
De 10 a menos de 20 ha 5 11,9
De 20 a menos de 50 ha 1 2,4
Produtor sem área 2 4,8
Total 42 100,0
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Outra informação importante levantada durante fase de coleta de dados é que no total
107 pessoas estão envolvidas na cultura do bicho-da-seda no município alvo do estudo. É
importante ressaltar que 100% dessas pessoas compreendem de mão de obra familiar, sendo
43% mulheres e 57% homens. Note também que a sericicultura contribui de forma
significativa para a renda de boa parte das famílias entrevistadas, como exibido na Tabela 5.
Tabela 5 – Participação da sericicultura na geração de renda das famílias dos entrevistadas
Participação da sericicultura na renda nº de entrevistados %
De 30% á 40% 3 7,1
De 41% á 50% 3 7,1
De 51 á 60% 4 9,5
De 61% á 70% 2 4,8
De 71% á 80% 5 11,9
De 81% á 90% 1 2,4
De 91% á 99% 2 4,8
100% 22 52,4
Total 42 100,0
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
4 Conclusões

Esse trabalho teve como objetivo identificar o perfil socioêconomico do sericicultor do


Município de Diamante do sul no Estado do Paraná. Em particular notou-se que a
sericicultura é parte integrante da renda da maioria das famílias entrevistadas, para 52% dos
participantes, a sericicultura representa 100% da renda familiar. De forma geral, os
sericicultores da região estudada compõe-se basicamente de pessoas com baixo nível de
instrução, com idade média de 44,1 anos e em sua maioria homens, contudo, destaca-se a
participação da mulher na atividade, onde, dos 42 estabelecimentos visitados, foi registrado
um total de 107 pessoas envolvidas na sericicultura e destas, 46 são mulheres, é importante
também frisar que a mão-de-obra dos estabelecimentos é 100% familiar, dado este que
destaca a importância da agricultura familiar no município.
Outro dado importante levantado no estudo é que no geral a maior parte dos
produtores de seda possuem áreas de terras pouco extensas, em média a quantidade de terra
usada para a cultura do bicho-da-seda, no município, é de 6,65 hectares.
Por fim, vale ressaltar a necessidade da continuidade deste estudo. A partir da análise
dos dados verificou-se a baixa participação dos jovens na atividade, levantando reflexões
quanto á questão da sucessão familiar na atividade sericícola do município.

Referências
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


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setembro 2017.
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CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Proposta de preços mínimos - Safra 2013/14: Produtos de
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CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Indicadores da agropecuária. Observatório Agrícola, ano
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162, 2010.
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Desenvolvimento. n. 35. p. 56-61, 2005.
FONSECA, A. S.; FONSECA, T. C. Cultura da Amoreira e Criação do Bicho-da-Seda. São Paulo: Nobel,
1988.
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<http://www.gazetadopovo.com.br> Acesso em 18 jul. 2016.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3º edição, São Paulo: Atlas, 1996.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2010 –
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cidades – Economia 2013 <
http://cidades.ibge.gov.br> Acesso em 8 setembro 2017.
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<http://www.calculoamostral.vai.la>. Acesso em: 9 março 2017.
SEAB, Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento; DERAL-Departamento de Economia Rural.
“Sericicultura”, 2014. Disponível em: <http://www.agricultura.pr.gov.br > Acesso em 18 Jul. 2016.
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set 2017.
ZANETTI, R. Sericicultura. Texto Acadêmico. Lavras: Editora UFLA, 2003. 50p. Disponível em:
<http://www.den.ufla.br > Acesso em 25 maio 2017.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ANÁLISE DA EXPANSÃO DA SOJA NO CONTINENTE AFRICANO:


UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
Janeque, Ricardina António1; Costa, Nilson Luiz2; Rhoden, Angélica Cristina3; Gabbi, Maiara
Thaís Tolfo4.

1
Discente do programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR) – Mestrado Acadêmico, da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). ricardinajaneque17@gmail.com
2
Docente e Coordenador do PPGAGR/UFSM. nilson.costa@ufsm.br
3
Discente do PPGAGR/UFSM. angelicarhoden.iff@gmail.com
4
Discente do PPGAGR/UFSM. maiaratolfo@gmail.com

ANÁLISE DA EXPANSÃO DA SOJA NO CONTINENTE AFRICANO:


UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
Resumo. A soja, glycine max (l.) Merrill, originária no continente asiático, é um vegetal amplamente cultivado no
mundo, principalmente pela capacidade de produção de proteína e óleo e pelo uso dessas matérias primas nos
segmentos de alimentação humana, animal e na indústria. O presente estudo baseou-se na pesquisa bibliográfica,
com objetivo de estudar a evolução do cultivo da soja no Continente Africano. O primeiro cultivo conhecido de
soja na África foi registrado no Egito em 1858, seguido pela Tunísia em 1873 e Argélia em 1880. Em 1903
registrado na África do Sul. Em meados de 1907 foi introduzida em Maurícia e na Tanzânia. Em 1908 expandiu-
se para a Nigéria, e no Belga Congo, até chegar, em 1909 em Gana. O cultivo mais vigoroso e extensivo foi feito
na África do Sul e uma série de relatórios detalhados foram publicados sobre esta experiência a partir de 1991. O
primeiro alimento de soja comercial conhecido na África foi uma farinha de soja introduzida na África do Sul em
1937 por uma empresa de moagem bem conhecida e usada para fortalecer as dietas dos trabalhadores em uma
série de minas de ouro no Rand. A primeira empresa de alimentos de soja da África foi iniciada em Uganda pelo
Dr. D.W. Harrison. Atualmente, os maiores produtores e as maiores áreas plantadas com soja encontram-se na
África do Sul, Nigéria, Malawi, Zâmbia, Benim e Zimbabué. Esta evolução mostra que o continente está, ao seu
tempo, estruturando a cadeia em alguns países.

Palavras-chave: Soja; Cultivo; Continente Africano.

ANALYSIS OF SOYBEAN EXPANSION IN THE AFRICAN


CONTINENT: A HISTORICAL PERSPECTIVE
Abstract. Soy, glycine max (L.) Merrill, originating in the Asian continent, is a widely cultivated vegetable in the
world, mainly for the capacity to produce protein and oil and for the use of these raw materials in the human,
animal and industry segments. The present study was based on the bibliographical research, aiming to study the
evolution of soybean cultivation in the African Continent. The first known cultivation of soybeans in Africa was
registered in Egypt in 1858, followed by Tunisia in 1873 and Algeria in 1880. In 1903 registered in South Africa.
In mid-1907 was introduced in Mauritius and Tanzania. In 1908 it expanded to Nigeria, and in the Belgian Congo,
until arriving in 1909 in Ghana. The most vigorous and extensive cultivation was done in South Africa and a series
of detailed reports were published on this experiment from 1991 onwards. The first commercial soya food known
in Africa was a soybean meal introduced in South Africa in 1937 by a well-known milling company used to
strengthen workers' diets in a series of gold mines in the Rand. The first soybean food company in Africa was
started in Uganda by Dr. D. W. Harrison. Currently, the largest producers and the largest areas planted with
soybeans are in South Africa, Nigeria, Malawi, Zambia, Benin and Zimbabwe. This evolution shows that the
continent is, in its time, structuring the chain in some countries.

Keywords: Soy; Cultivation; African continent.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Introdução

A soja (Glycine max (L.) Merrill), originária no continente asiático, é um vegetal


amplamente cultivado no mundo, principalmente pela capacidade de produção de proteína e
óleo e pelo uso dessas matérias-primas nos segmentos de alimentação humana, animal e na
indústria. Devido ao seu valor econômico, investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento &
Inovação, crédito e políticas institucionais, a soja vem crescendo sob diferentes condições
ambientais, o que levou a constantes desenvolvimentos tecnológicos (EMBRAPA, 2014;
COSTA et al., 2014). O presente estudo baseou-se na pesquisa bibliográfica, com objetivo de
estudar a evolução do cultivo da soja no Continente Africano.
Observa-se que a soja tem sido o quarto grão mais consumido e produzido globalmente,
atrás de milho, trigo e arroz, além de ser a principal oleaginosa cultivada anualmente no mundo.
(EMBRAPA, 2014). Em decorrência deste desempenho, o segmento está, atualmente,
coordenado por um grupo de empresas transnacionais de abrangência global, que
frequentemente exercem forte influência no mercado internacional (COSTA; SANTANA,
2015).
Na América do Norte, foi citada pela primeira vez nos EUA em 1804, como promissora
planta forrageira e produtora de grãos. Após as primeiras experiências efetuadas em diversos
estados, seu potencial foi reconhecido e seu cultivo recomendado a partir de 1880. Apenas a
partir da década de 1930 ocorreu a grande expansão como cultura produtora de grãos
(CAMARA, 2011).
O primeiro cultivo conhecido de soja na África foi no Egito em 1858, seguido pela
Tunísia em 1873, Argélia em 1880. Outras fontes afirmam que a soja foi introduzida na Argélia
por Trabut, um agrônomo francês em uma estação botânica do governo em 1896. Os
rendimentos de soja como cultura forrageira atingiram 2.610 kg/ha. O próximo registro de
cultivo de soja em África foi em 1903, quando foram cultivados na África do Sul, na Cedara
em Natal e no Transvaal. Nos anos 1907 foi introduzida na Maurícia e na Tanzânia
(SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
A partir de 1908 houve um aumento expressivo do interesse no cultivo de soja na África,
uma vez que a Europa pela primeira vez começou a importar grandes quantidades desta
oleaginosa da Manchúria, em resposta à grave escassez e altos preços do petróleo na Europa.
Em 1908 a soja estava sendo cultivada em pequena escala na Nigéria e no Belga Congo, em
1909 em Gana. Em 1950 a soja foi cultivada pela primeira vez na Etiópia. No início da década
1980, foi introduzida em Moçambique. Em setembro de 1909 um experimento científico
começou, em que sementes de soja foram enviadas de Liverpool para Bathurst, Gâmbia. Foram
multiplicadas e em Janeiro de 1991 a Bathurst Trading Company enviou suas primeiras
colheitas de volta para Liverpool para análise. Verificou-se que as sementes tinham um teor em
óleo de 17,5%. Foram efetuadas extensas investigações em todas as explorações britânicas de
experimentação governamentais na África e, em 1991, verificou-se que, dada a procura e os
preços, as colônias podiam competir muito bem com a soja importada da Manchúria
(SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
O cultivo mais vigoroso e extensivo foi feito na África do Sul e uma série de relatórios
detalhados foram publicados sobre este trabalho a partir de 1991. Durante a Primeira Guerra
Mundial, ensaios de soja adicionais foram feitos no Congo Belga (hoje Zaire). Apesar da forte
procura europeia de soja africana no início dos anos 1900, pouco se sabe da extensão do
comércio real. Sabe-se que a cultura da soja não se estabeleceu na África depois que essa
demanda temporária diminuiu porque as variedades de soja estavam mal adaptadas às
condições locais, o mercado interno não foi desenvolvido e o mercado europeu se tornou
pequeno e errático (SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Alimentos a partir da soja


O primeiro relatório conhecido sobre os alimentos de soja em África data do início da
década de 1930, quando missionários católicos organizaram a produção de leite de soja no Zaire
(então Belga Congo). O primeiro alimento de soja comercial conhecido na África foi uma
farinha de soja introduzida na África do Sul em 1937 por uma empresa de moagem bem
conhecida e usada por uma série de minas de ouro no Rand para fortalecer as dietas dos
trabalhadores das minas (SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
Uma das primeiras maneiras que os alimentos de soja foram introduzidos a muitas
nações africanas estava sob a forma da farinha de soja desengordurada, enviada pelos EUA,
tendo início nos meados de 1960, no âmbito do programa PL 480 (Food for Peace). Estas
remessas continuaram ao longo da década de 1970. De acordo com o Relatório Anual do USDA
Food for Peace 1974, naquele ano representativo, a África recebeu 49.944 toneladas de misturas
de soja, 45% do total foi CSM, 31% CSB (mistura de milho) e 24% WSB (Mistura de trigo).
Os principais países beneficiários foram a região do Sahel (8.981 toneladas), Marrocos (6.350),
Tunísia (5,760), Botswana (5.030), Tanzânia (3.447), Nigéria (3.311) e Mauritânia (2.631).
Além disso, 11.974 toneladas de farinha de soja integral foram exportadas para o Egito em 1974
(SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
Dois grandes problemas foram encontrados na tentativa de introduzir a soja em um nível
doméstico: eles levaram muito tempo e combustível para cozinhar e o sabor não foi bem aceito.
Como os povos da Ásia Oriental vários milhares de anos antes, os pesquisadores procuraram
novas abordagens. A partir de cerca de 1973 houve um rápido aumento do interesse pela soja e
seus derivados na África, paralelo ao novo interesse em todo o mundo. As duas principais
razões para este forte interesse em África foram o súbito aumento dos preços mundiais da soja
e o trabalho do INTSOY, o Programa Internacional de Soja sediado na Universidade de Illinois.
Em 1964 mulheres africanas de vários países visitaram a Iowa State University nos EUA para
estudar o uso de farinha de soja em dietas nativas (Soybean Digest, 1 de novembro de 1964)
(SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
Em 1982 a soja e seus derivados ainda desempenharam um papel muito menor na
África. No entanto, têm grande potencial neste vasto continente onde a produção per capita de
alimentos tem diminuído de forma constante e em uma taxa de aceleração de 1962 para 1982,
onde o consumo total de proteínas e calorias são perigosamente baixos e decrescentes, mas
onde novas variedades de soja desenvolvidas podem ser cultivadas com bons resultados
(SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
Em 1965, Africa Basic Foods (ABF), a primeira empresa de alimentos de soja da África
negra foi iniciada em Uganda pelo Dr. D.W. Harrison, um americano negro e um missionário
médico adventista do sétimo dia. Foi nesse mesmo ano que o interesse renovado na soja foi
reativado devido à presença desta nova empresa (RUBAIHAYO, 1969 apud SHURTLEFF;
AOYAGI, 2007).
Dlamini et al. (2014) ressaltam a possibilidade do uso crescente da soja no continente
africano para gerar farelo como fonte de proteínas para a alimentação de animais. A indústria
de aves é, de longe, a principal consumidora de farelo de soja. Nos países analisados pela
TechnoServe (SOUTHERN, 2011), com base em dados da safra 2009/2010, observou-se que
mais de 75% da demanda por farelo de soja se destinava à alimentação de aves domésticas. As
cadeias produtivas de suínos e de leite responderam por 10,8% e 4,2% da demanda por farelo
de soja, respectivamente.

Importações e exportações da soja na África

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


159

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

A partir de meados da década de 1970, a África começou a importar soja, óleo de soja
e farelo de soja dos EUA. As importações totais de soja, provenientes dos Estados Unidos,
passaram de zero em 1975 para um máximo de 102.000 toneladas em 1977, recuaram para
23.000 toneladas em 1981, passando para 85761 toneladas em 1982. As importações de
petróleo aumentaram constantemente de 11.000 toneladas em 1975 para 62.377 toneladas em
1981, caindo ligeiramente para 59.371 toneladas em 1982. As importações de alimentos
passaram de 21.000 toneladas em 1975 para um pico de 61.000 toneladas em 1978, caindo para
38.743 toneladas em 1982. Essas importações eram relativamente pequenas em comparação
com outros continentes e nações (Soya Bluebook) (SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
As exportações de soja entre 1944 e 1952 subiram para um pico de 4.314 toneladas.
Esses grãos de soja foram cultivados como parte da contribuição de Uganda para as
necessidades de guerra e pós-guerra na Grã-Bretanha. Posteriormente, o mercado entrou em
colapso e a produção caiu para um nível baixo, mas persistiu, no entanto, em grandes áreas do
Uganda. De acordo com os dados do Uganda Department of Agriculture, foram obtidos
rendimentos experimentais de 1,00 Kg/ha em 1955 sem o uso de fertilizantes (SHURTLEFF;
AOYAGI, 2007).

Evolução da área e produção da soja em África


Os ensaios de variedades de soja da INTSOY, iniciados em 1973, levaram ao rápido
desenvolvimento de variedades de soja que renderam bem em condições de cultivo em África,
como testado por cooperadores em vários países africanos. Pela primeira vez na história, com
rendimentos e preços elevados, e crescente interesse doméstico em usos alimentares, fez sentido
econômico para os agricultores africanos para cultivar soja. Em outubro de 1974, onde o
INTSOY organizou uma grande conferência sobre Produção, Proteção e Utilização de Soja,
com a presença de 97 cientistas da África, do Oriente Médio e do Sul da Ásia. Este foi um passo
em frente, os excelentes procedimentos, descrevendo desenvolvimentos de país para país,
foram editados por Whigham (1975). Uma segunda conferência da INTSOY, realizada no Cairo
em 1997 para discutir a produção de soja irrigada em regiões áridas e semiáridas, atraiu 50
participantes, os procedimentos foram editados por Judy e Jackobs (1981) (SHURTLEFF;
AOYAGI, 2007).
Com o apoio da Fundação Rockefeller, um trabalho de pesquisa foi reiniciado com a
cooperação entre o governo do Uganda na Estação de Pesquisa de Kawanda e a Faculdade de
Agricultura da Fazenda Universitária, Kabanyolo. Os principais objetivos foram: melhorar os
genótipos disponíveis para os produtores por meio da seleção do conjunto de variedades e por
hibridização. O outro trabalho centrou-se no exame crítico de todos os aspectos da gestão das
culturas adequadas às condições locais na África Oriental (SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
Conforme é possível observar na Figura 1, entre 2000 e 2014, a área plantada de soja,
no continente, cresceu 110% e alcançou 1,87 milhões de hectares. Benim, Zâmbia e África do
Sul apresentaram as maiores taxas de crescimento no período, mas a maior área está
concentrada na Nigéria, que cultivou cerca de 720 mil hectares. Apesar de estar presente em
vários países, Nigéria, África do Sul, Malawi, Zâmbia e Benim concentram cerca de 84% da
área plantada no continente. Os dados mostram que há um constante avanço na expansão do
cultivo de soja no continente.

Figura 1. Área cultivada da soja, em ha, em alguns países do continente africano em 2014

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


160

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

2.000.000

1.800.000
399.205 300.735
1.600.000 410.344
97.783
95.106
1.400.000 392.229 113.759
79.714 124.858
Área Plantada (ha -1)

84.809 114.369 139.005


1.200.000 74.650 102.167
59.988
317.068 75.839
1.000.000 393.825 502.900
516.500
11.419 472.000
800.000 54.767 418.000
260.700 69.000 70.933
16.588 150.000 60.777
600.000 5.140 75.186
93.787
311.450
400.000
668.300 680.000 719.300
517.000 601.000 599.350
200.000
281.890
-
2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014

Nigéria África do Sul Malawi Zâmbia Benin Outros

Fonte: FAOSTAT (2017).

Figura 2. Produção de soja, em toneladas, de alguns países do continente africano em 2014


Egypt; 39.872 ; 2% Outros; 130.379 ; 5%
Ethiopia; 72.184 ; 3%

Zimbabwe; 74.951 ;
3% South Africa; 948.000
; 40%
Benin; 99.738 ; 4%

Malawi; 120.903 ; 5%

Zambia; 214.179 ; 9%

Nigeria; 679.000 ;
29%

Fonte: FAOSTAT (2017).

Em 2014 (Figura 2), os maiores produtores africanos foram África do Sul (948.000
toneladas), Nigéria (679.000), Zâmbia (214.179), Malawi (120.903), Benin (99.738), Zimbabué
(74.951), Egito (39.872) e Etiópia (72184) (FAOSTAT, 2014). Juntos, estes países são
responsáveis por 95% da produção de soja no continente. Contudo, desde o início dos anos
1960 até 1976, a produção de soja em África aumentou lenta e constantemente, mas em 1977
começou a decolagem, alimentada pelos avanços na produção do Egito e Zimbábue. Em 1981,
a produção total africana havia passado para 265.000 toneladas, sendo os quatro maiores
produtores Egito (136.000 toneladas), Zimbábue (97.000), Nigéria (80.000) e África do Sul
(26.000) (SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


161

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Durante a década de 1960, de acordo com o Anuário de Produção da FAO, a produção


total de soja africana aumentou de cerca de 50.000 toneladas em 1960 para 75.000 toneladas
em 1996, para um crescimento de 50% em dez anos. A maior (80-90%) parte desta produção
foi obtida em Nigéria (SHURTLEFF; AOYAGI, 2007).
O último dado disponibilizado por FAOStat (2017) mostra que a produtividade média
da soja cultivada na África é de aproximadamente 1075 kgha-1 e o crescimento médio desta
produtividade, no período 2000 – 2014 foi de 4%. Contudo, o Desvio Padrão desta
produtividade média é de 656,6 kgha-1 e a produtividade máxima chegou a 3328 kgha-1 no Egipto,
enquanto que a produtividade mínima foi de 427 kgha-1 na Libéria (Tabela 1).

Tabela 1. Produtividade média de soja (kgha-1) em países do continente africano: 2000 - 2014
∆% 2000/
País 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014
2014
Egito 2.720 3.400 2.845 3.120 3.619 3.477 3.328 22%
Etiópia 918 250 1.405 1.850 1.998 2.000 2.047 123%
África do Sul 1.636 1.817 1.817 1.699 1.377 1.520 1.885 15%
Zâmbia 1.707 1.637 1.841 1.943 2.394 2.091 1.883 10%
Quênia 852 851 950 1.258 1.500 1.617 1.417 66%
Zimbábue 2.262 1.427 1.356 1.205 1.326 1.316 1.331 -41%
Camarões 638 613 844 828 1.398 1.323 1.257 97%
Burkina Faso 852 1.099 1.256 887 1.095 1.351 1.141 34%
Benin 836 805 888 900 894 1.019 1.020 22%
Tanzânia 691 840 868 868 960 1.105 1.020 48%
Morrocos 1.200 1.000 1.000 1.000 1.000 1.000 960 -20%
Nigéria 830 940 1.295 822 973 762 944 14%
Côte d'Ivoire 969 750 901 937 929 935 929 -4%
Malawi - 580 976 998 1.043 979 870 -
Gabão 924 893 860 875 857 889 864 -7%
Burundi 727 778 776 777 728 955 822 13%
Mali 1.599 1.717 688 790 791 722 645 -60%
Angola 233 379 445 529 164 440 584 150%
República Democrática do
483 483 483 483 494 501 508 5%
Congo
Uganda 1.208 1.097 1.210 1.359 1.142 145 500 -59%
Madagascar 610 593 595 590 600 587 475 -22%
Ruanda 471 563 789 780 586 675 474 1%
Togo - 423 400 407 429 500 470 -
Libéria 398 401 405 413 427 434 427 7%
Média 1.035 972 1.037 1.055 1.114 1.098 1.075 4%
Desvio Padrão 600,5 656,1 538,8 590,6 715,1 688,5 656,6 9%
Máximo 2.720 3.400 2.845 3.120 3.619 3.477 3.328 22%
Mínimo 233 250 400 407 164 145 427 83%
Fonte: FAOSTAT (2017).

Angola, Etiópia e Camarões foram os países que mais evoluíram, em termos de ganhos
de produtividade, no período. O Egito é o único país que apresenta níveis de produtividade
equivalentes aos principais produtores internacionais: Estados Unidos, Brasil e Argentina.
Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Considerações finais

Em alguns países, do continente a cadeia produtiva da soja está em estágios mais


avançados de desenvolvimento, com destaque para a África do Sul, Nigéria, Zâmbia, Malawi,
Benin e Zimbabwe.
A soja é consumida em quase todos países do continente em forma de farinha, óleo,
ração (principalmente na indústria avícola), entre outros produtos derivados. O rápido aumento
da demanda por alimentos compostos contribuiu consideravelmente para o aumento da
produção de soja no continente africano.
Espera-se que a produção de soja em África aumente de 1,5 milhões para 1,9 milhões
de toneladas em 2020 (ABATE et al. 2012). Este é um resultado importante considerando a
importância da soja como fonte de alimento, ração animal e muitas aplicações industriais, assim
a colheita de soja tem o potencial para se tornar uma colheita importante em África.

Referências Bibliográficas

ABATE, T.et al. Tropical Grain Legumes in Africa and South Asia: Knowledge and Opportunities. 2012.
http://www.icrisat.org/tropicallegumesII/pdfs/TropicalLegumes_2012.
CAMARA G. M. S. 2001. Introdução ao agronegócio soja. Piracicaba: O Autor, 2011 28 p.
COSTA, Nilson Luiz; SANTANA, A. C. . Exports and market power of the soybean processing industry in
Brazil between 1980 and 2010. African Journal of Agricultural Research, v. 10, p. 2590-2600, 2015.
COSTA, Nilson Luiz; SANTANA, A. C. ; BASTOS, Ana Paula Vidal ; BRUM, Argemiro Luís .
Desenvolvimento tecnológico, produtividade do trabalho e expansão da cadeia produtiva da soja na Amazônia
Legal. In: SANTANA, A. C.. (Org.). Mercado, cadeias produtivas e desenvolvimento rural na Amazônia.
1ed.Belém/PA: UFRA, 2014, v. 1, p. 81-112.
DLAMINI, T. S.; TSHABALALA, P.; MUTENGWA, T. Soybeans production in
South Africa. Oilseeds and fats, Crops and Lipids, v. 21, n. 2, article D207, 2014. DOI: 10.1051/ocl/2013047.
EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. O agronegócio da soja nos contextos mundial e
brasileiro. 2014.
FAOSTAT. Area harvested, yield and soy production in Africa. 2017. http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC.
SHURTLEFF, William; AOYAGI, Akiko. History of Soy in Africa Part 1. A Chapter from the Unpublished
Manuscript, History of Soybeans and Soyfoods: 1100 B.C. to the 1980s Copyright 2007 Soyinfo Center,
Lafayette, California.
SINCLAIR, T.R. et al. Soybean production potential in Africa. Glob. Food Secur. 2014, 3, 31–40.
SOUTHERN Africa regional soybean roadmap. Washington, DC: TechnoServe, Feb. 2011. 57 p.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


163

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ANÁLISE DOS AVANÇOS DA PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NO


MERCADO INTERNACIONAL DE SOJA EM GRÃOS
Gabbi, Maiara Thaís Tolfo1, Costa, Nilson Luiz2, Santana, Antônio Cordeiro de3, Janeque;
Ricardina António4.

1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios na Universidade Federal de Santa Maria -
Campus Palmeira das Missões (PPGAGR/UFSM), maiaratolfo@gmail.com
2
Coordenador do PPGAGR/UFSM, nilson.costa@ufsm.br
3
Docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e do Doutorado em Desenvolvimento Sustentável
do Trópico Úmido da Universidade Federal do Pará (UFPA)
4
Mestranda no PPGAGR/UFSM, ricardinajaneque17@gmail.com

Resumo. Nas últimas décadas, a agricultura brasileira passou por importantes transformações e tornou-se destaque
pela capacidade de incorporar novas tecnologias, gerar divisas internacionais e ampliar mercados, tendo na soja a
cultivar de maior destaque e melhor desempenho competitivo. Em função disto, o objetivo desta pesquisa é analisar
o desempenho competitivo da agroindústria exportadora de soja brasileira no período de 2000 a 2016, a fim de
evidenciar a capacidade competitiva do Brasil para ampliar mercados e se manter como líder no comércio
internacional da oleaginosa. A pesquisa pode ser classificada como quantitativa, pois utiliza-se da mensuração de
indicadores para responder ao objetivo proposto. Os principais indicadores calculados foram o Market Share (MS)
e Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH). A base de dados foi obtida no United States Department of Agriculture
e o período analisado compreende os anos 2000 a 2016. Os resultados mostraram que a cadeia produtiva da soja,
no Brasil, avançou no período analisado. Foi possível confirmar a crescente inserção do Brasil no mercado da
oleaginosa. Ao calcular o Market Share dos principais países inseridos no mercado de soja, identificou-se que
Estados Unidos, Brasil e Argentina possuem maior parcela de mercado internacional. Com o cálculo do Índice de
Herfindahl-Hirschman pode se identificar que o mercado de exportações de soja é altamente concentrado, em
favor de dois principais países produtores de soja, Estados Unidos e o Brasil. Por fim, confirmou-se a hipótese de
que a agroindústria exportadora de soja brasileira está superando-se e liderando o mercado de exportação de soja
em grãos.

Palavras-chave: Cadeia produtiva da Soja. Competitividade. Agroindústria. Brasil.

ANALYSIS OF THE ADVANCES OF BRAZILIAN PARTICIPATION IN


THE INTERNATIONAL GRAIN SOYBEAN MARKET
Abstract. In recent decades, Brazilian agriculture underwent major transformations and was highlighted by the
ability to incorporate new technologies, generate international currency and expand markets, with soybeans
cultivating more prominence and better competitive performance. As a result, the objective of this research is to
analyze the competitive performance of the Brazilian soybean exporting industry in the period from 2000 to 2016,
in order to highlight Brazil's competitive capacity to expand markets and maintain its position as a leader in the
international oilseed trade. The research can be classified as quantitative, since it is used the measurement of
indicators to respond to the proposed objective. The main indicators calculated were the Market Share (MS) and
Herfindahl-Hirschman Index (IHH). The database was obtained from the United States Department of Agriculture
and the period analyzed covers the years 2000 to 2016. The results showed that the soybean production chain in
Brazil advanced during the analyzed period. It was possible to confirm Brazil's growing insertion in the oilseed
market. When calculating the Market Share of the main countries included in the soybean market, it was identified
that the United States, Brazil and Argentina have the largest share of the international market. By calculating the
Herfindahl-Hirschman Index, it can be seen that the soybean export market is highly concentrated in favor of two
main soybean producing countries, the United States and Brazil. Finally, the hypothesis was confirmed that the
Brazilian soybean exporting industry is outperforming and leading the soybean export market.

Keywords: Soybeans Production Chain. Competitiveness. Agribusiness. Brazil.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


164

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Introdução

Nas últimas décadas, o agronegócio tem contribuído significativamente para a economia


Brasileira e, nesta perspectiva, a agricultura é um destaque, tendo na soja a commodity agrícola
de maior expressão internacional.
O Brasil foi segundo maior produtor mundial de soja em 2016, representado por 95,631
milhões de toneladas, superado somente pelos EUA com produção de 106,934 milhões de
toneladas. Os Estados que melhor representam esse potencial são em ordem de maior produção
Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná, que no ano de 2016 representaram respectivamente
30,04%, 19,11% e 17,71% das exportações Brasileiras (EMBRAPA, 2016). A cadeia produtiva
da soja possui valor econômico, social e político, podendo ser considerada a principal cadeia
produtiva do agronegócio brasileiro (COSTA, 2012).
Inicialmente cultivada na Ásia Oriental, principalmente na região do rio Yangtzé, a
Glycine max (L.) Merr. foi trazida ao Brasil, dos Estados Unidos, em 1882. Nos Estados Unidos,
as plantações foram fortemente incentivadas pela American Soybean Association.
Posteriormente, com o Plano Marshall para reconstrução da Europa, o país norte-americano
proporcionou a introdução do modelo de arraçoamento animal baseado na mistura soja e milho
(COSTA; SANTANA, 2014).
A partir de 1970, a produção de soja no Brasil entrou em um processo que resultou em
mudanças relevantes: expansão das áreas cultivadas, processo de modernização e
reestruturação ao longo da cadeia e incrementos na produtividade obtidas pela utilização de
tecnologias (SILVA; LIMA; BATISTA, 2011). Tais avanços foram reflexo de condições que
tornaram a soja na oleaginosa mais produzida e consumida mundialmente. As tecnologias
adequadas, a adoção de práticas mais apuradas, uso de sementes geneticamente melhoradas e
adaptadas às condições edafoclimáticas das regiões específicas, bem como o desenvolvimento
de modernos defensivos e equipamentos agrícolas permitiram alavancar a cultura da soja no
Brasil nos últimos anos (BIGNOTTO, 1999; COSTA et al., 2014). As inovações foram
fundamentais para elevar a produção de soja e tornar o Brasil líder no mercado da oleaginosa
(ROESSING; SANCHES; MICHELLON, 2005). Costa et al. (2014) destacam a importância
do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado
(PRODECER), que através da assistência financeira e técnica aos agricultores viabilizou a
migração de muitas famílias que produziam em pequenas áreas do Sul do País.
Diante da evolução da cultura em território brasileiro e do papel assumido pela soja no
agronegócio, o estudo tem como objetivo analisar o desempenho competitivo da agroindústria
exportadora de soja brasileira durante o período de 2000 a 2016.
Para atingir o objetivo proposto, o trabalho foi estruturado em quatro seções, a primeira
seção apresenta a introdução e objetivo do estudo. A segunda seção expõe os materiais e
métodos. A terceira seção contempla os resultados e discussões sobre o potencial competitivo
da agroindústria processadora de soja para ampliar mercados e se manter líder no mercado da
oleaginosa. E, por fim a quarta seção apresenta as considerações finais.

Materiais e métodos

Esta pesquisa se caracteriza como quantitativa, pois se propõe a analisar a


competitividade das exportações brasileiras de soja através da mensuração de indicadores de
concentração de mercado: Market Share (MS); e Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH). Os
indicadores são importantes ferramentas para verificar o desempenho competitivo do país, pois
permitem o analisar a evolução da estrutura do mercado e possibilitam o planejamento de ações
visando melhoria no desempenho (RODRIGUES; SCHUCH; PANTALEÃO, 2003).

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


165

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Indicadores de concentração

Os dados utilizados para estimar as equações (1), (2) e (3) foram obtidos no United
States Department of Agriculture (USDA, 2017a) referente as exportações em dólares de soja
do Brasil e dos países exportadores no mundo em 1000MT para o período de 2000 a 2016.

Market Share (MS)

O Market Share tem como objetivo revelar a participação de mercado da firma i na


indústria j.
n

Γj = ∑ γij (1)
i=1

Em que:
𝛤𝑗 é a capacidade da indústria Γ;
γi é a capacidade de produção da i-ésima da firma da indústria i (i = 1, 2, 3...n) ;
Nesse sentido, a participação de mercado da firma individual Pij é explicada por um
indicador que varia de 0 á 100. Dado que:
( 100 x γ)ij
Pij = (2)
Γj
O índice resulta no percentual de mercado que cada empresa possui.
Para o Brasil, é necessário um domínio de mercado de 20% pela empresa, para que esta
seja considerada relevante, segundo a lei nº 8.884/1994 (COSTA, 2012). Em analogia,
considerar-se-á concentrado o mercado cuja participação percentual das exportações do país
for superior a 20% do total. Por dedução, se o país possui mais de 20% do mercado e a tendência
é de ampliação da participação de mercado, considerar-se-á que este país é competitivo.

Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH)

O Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH) expressa a maximização de lucros das


empresas a partir da soma dos quadrados da fatia de mercado (HASENCLEVER; KUPFER,
2002). Neste caso, será utilizado para mensurar a participação de mercado de cada país, a partir
da equação 3:
n

IHH = ∑ Pij2 (3)


i=1
Os resultados do IHH podem variar de 0 a 10.000. A fim de melhor interpretar o IHH,
a pesquisa adotou três faixas, as mesmas seguidas pelo Horizontal Mergers Guideliner
(UNITED STATES OF AMERICA, 2010):
IHH<1.500: mercado não concentrado.
Entre 1.500 ≤ IHH ≥ 2.500: mercado com nível moderado de concentração
IHH> 2.500: mercado altamente concentrado
Quanto mais elevado o IHH, maior o impacto negativo em possíveis fusões, podendo
acarretar problemas a concorrência.

Desempenho competitivo da Cadeia produtiva da soja brasileira

A cadeia produtiva da soja pode ser conceituada como o agregado das atividades
econômicas vinculadas à produção de soja e derivados, desde a indústria que fornece insumos

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


166

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

para a lavoura, as atividades que ocorrem dentro das fazendas, o beneficiamento do grão,
englobando os mercados atacadista e varejista (COSTA, 2012).
Apesar, dos gargalos existentes, principalmente de natureza logística, o Brasil é o
segundo maior produtor mundial (114 milhões de toneladas), maior exportador mundial (61
milhões de toneladas) e é o quarto maior esmagador (41,3 milhões de toneladas), conforme é
possível observar na Figura 1.

Figura 1 - Produção, exportação, importação e esmagamento doméstico de soja– safra 2016/2017

Produção Exportação Importação Esmagamento Doméstico


Milhões de toneladas métricas

117,21

140
114

120

86,5
91
100

80
58,51

57,8
51,44
61

39,49
60
41,3

36,03
44

27,71
40

11,56
10,67

14,6
13,8

12,9

4,65
3,95

20
2,38
6,6
0,68

0,51

0,24
0,22

0,01

4,2
0,12

3,2
2,3
1,5
7

0,2

0
0
Brasil Estados Argentina Paraguai União China México Japão Outros
Unidos Europeia

Fonte: USDA (2017b).

Atualmente (ano safra 2016/17) a China se constitui como o principal mercado para a
soja mundial, pois produz apenas 12,9 milhões de toneladas e esmaga cerca de 86,5 milhões de
toneladas e importa aproximadamente 91 milhões de toneladas. Depois da China, União
Europeia, México e Japão são os principais importadores (USDA, 2017b).
Juntos, Brasil e Estados Unidos são responsáveis por 82,4% das exportações de soja em
grãos.
Nos últimos anos, o complexo soja tem sido responsável por parcela considerável das
exportações brasileiras, chegando a representar 29,93% das exportações totais (MAPA, 2017).

Market Share (MS)

A fim de verificar o poder de mercado de cada país nas exportações de soja ao longo
das safras nos anos de 2001 a 2016, estimou-se a equação (1) – Market Share. São cinco os
principais países: Brasil, Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Canadá, considerando-se a
parcela de mercado dominado por outros países. O Brasil é o principal exportador, e aumentou
sua participação de 30% para 46,7% entre as safras 2000/01 e 2015/16 (Figura 2).

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


167

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Figura 2 - Market Share das exportações de soja no mundo: 2000 a 2016

Estados Unidos Brasil Argentina Paraguai Canadá Outros


100
Exportações em dólares 1000 mt (%)

90
30,44
80

42,95

46,71
30,00

37,56
70

44,56
33,22
41,99
32,01

33,25
31,10
36,43

39,33

40,13
34,16

42,90
60
50
40
60,75
52,57

30

49,86
48,59

47,42
46,35

46,11

45,48

45,25
43,05

42,47

42,43
41,45

40,34

39,76
36,99
20
10
0
2000/2001

2004/2005

2008/2009
2001/2002

2002/2003

2003/2004

2005/2006

2006/2007

2007/2008

2009/2010

2010/2011

2011/2012

2012/2013

2013/2014

2014/2015

2015/2016
Ano safra
Fonte: Elaboração própria com base USDA (2017a).

Por outro lado, em USDA (2017b) é possível observar que as exportações brasileiras de
farelo de soja tendem a alcançar 14,25 milhões de toneladas métricas, enquanto que da
Argentina tende a chegar a 31 milhões de toneladas métricas (estimativa para a safra 2016/17).
Em relação às exportações de óleo de soja, USDA (2017b) destaca que a tendência é de que a
agroindústria brasileira exporte cerca de 1,34 milhões de toneladas enquanto que a agroindústria
da argentina chegue a 5,5 milhões de toneladas métricas. Esta situação chama atenção,
principalmente porque nos últimos anos o crescimento das exportações brasileiras de soja em
grãos foi exponencial enquanto que o crescimento das exportações de farelo e óleo foram
lineares e com taxas baixas.
Uma das possíveis explicações para esta situação é o forte efeito da Lei Kandir, que
desonerou as exportações de produtos primários e estimulou as exportações de soja em grão. A
desvalorização cambial, em 1999, também foi importante para os ganhos de competitividade
da soja, pois aumentou a liquidez e assegurou preços melhores aos produtores. O Programa de
Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras
(Moderfrota), criado em 2000, contribuiu para o avanço tecnológico nas lavouras e, junto com
a biotecnologia, permitiu ganhos de competitividade (CORONEL; MACHADO;
CARVALHO, 2009).
Por outro lado, é possível verificar em WTO (2017) que as barreiras comerciais
impostas aos produtos de valor agregado dificultam as exportações de farelo e óleo. Exemplo
desta situação é o mercado chinês, que isenta as importações de soja em grãos (SH 120101),
cobra ad-valorem de 9% nas importações de óleo (SH 150710 e SH 150790) e adota 5% de ad-
valorem nas importações de resíduos farelo e sólidos de soja (SH 230400).

Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH)

Com o intuito de mensurar a concentração de mercado das exportações de soja, por


países, estimou-se o índice de Herfindahl-Hirschman (IHH) a partir da equação (3). Os
resultados variam de 0 a 10.000, em que quanto maior o resultado maior a concentração, ou o

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


168

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

monopólio. Quanto menor o resultado, mercado altamente competitivo e de menor


concentração.
Os países que apresentaram maior concentração foram os Estados Unidos e Brasil, em
consequência também por possuírem maior Market Share.
A partir da Figura 3 é possível observar que em todos os anos analisados o IHH foi
superior a 2500, o que denota elevada concentração de mercado. Brasil e Estados Unidos
concentram e respondem pelo maior poder de mercado. Por consequência, são os países mais
competitivos no segmento. No caso do Brasil, identificou-se crescimento do IHH de 900 para
2182 no período 2000/01 – 2015/16, o que permite afirmar que o país vem aumentando sua
competitividade no segmento. No caso dos EUA, observou-se uma queda no IHH, de 2764 em
2000/01 para 2048 em 2015/16.

Figura 3 - Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH) para as exportações de soja no mundo: 2000 a

Estados Unidos Brasil Argentina Paraguai Canadá Outros


5000
Exportações em 1000MT

4500
926

4000
1.844
3500

2.182
900

1.410

1.103

1.986
3000
1.025

1.106
1.763
1.327

967

1.547
1.167

1.610
1.841
2500
3.691

2000
2.764

1500
2.486
2.361

2.249
2.149

2.126

2.068

2.048
1.853

1.804

1.801
1.718

1.627

1.581
1000
1.368
500
0
2008/2009
2000/2001

2001/2002

2002/2003

2003/2004

2004/2005

2005/2006

2006/2007

2007/2008

2009/2010

2010/2011

2011/2012

2012/2013

2013/2014

2014/2015

2015/2016
Ano safra
2016
Fonte: Elaboração própria com base USDA (2017a).

O IHH do Brasil, nos anos iniciais da análise, se encontrava com nível moderado de
concentração de mercado, mas ao longo do período se tornado o país com maior concentração
de mercado. Isto mostra que as políticas públicas e o investimento privado estão resultando em
maior participação no mercado internacional de soja em grãos.

Considerações finais

A pesquisa se propôs a analisar a competitividade das exportações brasileiras de soja


em grãos no período de 2000 a 2016. Entre os principais resultados, é possível destacar a
crescente ascensão na produção e exportação de soja.
O crescimento pode ser explicado por vários fatores, mas a adoção de novas tecnologias,
a ação institucional e a migração de famílias do sul do Brasil ajudam a explicar o crescimento
da oferta. Por outro lado, a demanda asiática, em especial a chinesa, contribui para explicar a
crescente demanda por soja em grãos.
Apesar de ser o maior exportador mundial de soja em grãos, o Brasil não apresenta o
mesmo desempenho nos segmentos de farelo e óleo de soja. Uma possível explicação para este

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


169

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

fato é a Lei Kandir, que estimula sobremaneira as exportações de produtos básicos em


detrimento dos manufaturados. Esta lei, acredita-se, que associada às barreiras comerciais
impostas para o farelo de soja e óleo de soja, ajuda a explicar o sucesso nas exportações de
grãos.
Tais fatores tornaram a cadeia produtiva da soja um importante vetor de crescimento do
agronegócio brasileiro e garante a liderança do país no comércio internacional da oleaginosa.

Referências
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1999. 147 p. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São
Paulo, Piracicaba, SP, 1999.
CORONEL, D. A; MACHADO, J. A. D.; CARVALHO, F.M.A. Análise da competitividade das exportações do
complexo soja brasileiro de 1995 a 2006: uma abordagem de Market Share. Revista Economia contemporânea,
Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, 2009.
COSTA, N. L. Concentração de mercado e fluxo de exportações da cadeia produtiva da soja no Brasil. 2012.
153 f. Tese (Doutorado em Ciências Agrárias/Agroecossistemas da Amazônia) - Universidade Federal Rural da
Amazônia / EMBRAPA Amazônia Oriental, Belém, PA, 2012.
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produtividade do trabalho e expansão da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal. In: SANTANA, A. C..
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COSTA, Nilson Luiz; SANTANA, Antônio Cordeiro. Estudo da concentração de mercado ao longo da cadeia
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EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Soja. Paraná, 2016. Disponível em:
<https://ww w.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos>. Acesso em: 17 out. 2016.
HASENCLEVER, L.; KUPFER, D. (Org.). Economia industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio
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Acesso em: 4 de abril de 2017.
RODRIGUES, Luis Henrique; SCHUCH, Cristiano; PANTALEÃO, Luis Henrique. Uma abordagem para
construção de sistemas de indicadores alinhando a teoria das restrições e o Balanced Scorecard. In: Encontro
da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação Em Administração, 27, 2003, Atibaia. Anais. Atibaia:
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568. 2017b. Disponível em < http://usda.mannlib.cornell.edu/usda/current/wasde/wasde-08-10-2017.pdf>
Acesso em: 30 de agosto de 2017.
WTO. World Trade Organization. Tariff Download Facility. 2017. Disponível em <http://tariffdata.wto.org/>
Acesso em: 30 de agosto de 2017.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


170

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

A informação ao longo da cadeia de suprimentos no agronegócio: uma


abordagem comunicacional
Carolina Souza da Silva1, Raquel Bernardon Toigo Giehl2

1
Relações Públicas Coordenadora da Assessoria de Comunicação da Faculdade Palotina de Santa Maria
(FAPAS), email carolinasouzads@yahoo.com.br.
2
Assessora administrativa de Prospecção e Negociação de Projetos na Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS), email raquel.bernardon@pucrs.br.

Resumo. Este artigo oferece um retrato interdisciplinar das interações entre Supply Chain Management com foco
na informação ao longo da cadeia e da Comunicação Organizacional juntamente com a Comunicação Rural, no
intuito de identificar as potencialidades desta aproximação entre teorias. Com este trabalho, pretende-se apontar
quais são as contribuições das teorias advindas da Comunicação no que diz respeito ao fortalecimento da base
teórica acerca dos fluxos de informação e dos relacionamentos ao longo da cadeia de suprimentos no agronegócio.
Trata-se de um trabalho qualitativo, cujos objetivos o enquadram como exploratório-descritivo, buscando a
correlação entre os temas. Portanto, este estudo busca elucidar o funcionamento dos relacionamentos e os fluxos
de informação de uma determinada organização – ou, no caso da cadeia, determinadas organizações – com seus
públicos internos e externos, seguindo a perspectiva sistêmica das teorias que o fundamentam. Futuros estudos
nesta temática poderão aprofundar as perspectivas suscitadas neste trabalho, usando-o como base.
Palavras-chave: Supply Chain Management, Comunicação Organizacional, Comunicação Rural, Fluxos de
Informação, Agronegócio.

Information throughout the supply chain in agribusiness: a


communicational approach
Abstract. This paper provides an interdisciplinary portrayal of the interactions between the Supply Chain
Management theory focused on the information and the Organizational Communication theory, along with the
Rural Communication theory, to identify the potential of the approach of these theories. With this paper, it was
supposed to set the contributions of the Communication theories about information flows and relationships along
the supply chain management in agribusiness. This is a qualitative study, with exploratory-descriptive purpose, to
pursue the correlation between theories. Therefore, this study aims to elucidate the functioning of relationships
and information flows in a certain organization - or in the case of the chain, certain organizations - with its
internal and external audiences, following the systemic perspective of the theories which it is based. Future studies
on this topic can deepen perspectives raised in this paper, using it as a base.
Keywords: Supply Chain Management, Organizational Communication, Rural Communication, Information
flows, Agribusiness.

Introdução

O pressuposto de que a Comunicação – enquanto campo teórico – e a Supply Chain


Management (SCM), com foco na informação, podem se entrelaçar caracteriza a temática
central deste trabalho. Esta trama se faz necessária na medida em que se nota a possibilidade (e
necessidade) de corporificar o papel da comunicação e da troca de informação nos seus mais
variados fluxos dentro do agronegócio.
Do ponto de vista comunicacional, para empreender bons laços é necessário conhecer o
público para o qual se está dirigindo, suas necessidades e hábitos de se comunicar. Isso posto,
no agronegócio urge a construção de uma comunicacional que entenda e atenda as
peculiaridades dos ambientes e públicos rurais da atualidade.
Neste processo, deve-se destacar a realidade da “Era da Informação”, na qual diversas
esferas da vida cotidiana estão envolvidas em mudanças pautadas pela própria transformação
dos processos informacionais, seja qual for o setor da economia (PORTER, 1999). Assim,
refletir sobre a influência da informação no agronegócio é necessário; uma vez que,

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


171

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

independente do ramo de atuação, todas as empresas necessitam empreender investimentos em


tecnologia de informação e, principalmente, na gestão desta informação.
Aos poucos, instituições e empresas começam a entender que a rigidez de fronteiras
estabelecida pela dicotomia entre rural e urbano é superada pela interdependência das
realidades sociais. A apropriação de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)
contribui significativamente para isso, tornando a classificação dos processos comunicacionais
em rural ou urbano cada vez mais difíceis (KEGLER, 2011; SCHENEIDER, 2009).
Por isso, deve-se pensar e trabalhar uma comunicação organizacional-rural, ou seja,
uma comunicação (com o) rural, e não mais para o rural. Isto é, conhecimento teórico que
sustente novas práticas organizacionais no cenário rural, utilizando a comunicação enquanto
ferramenta estratégica para a construção de um relacionamento, suplantando a mera
disseminação de informações. Desta forma, pode-se afirmar que a questão de pesquisa que
norteia este trabalho é: de que forma a Comunicação pode contribuir para a solidificação da
base teórica sobre os relacionamentos e sobre o fluxo de informação no agronegócio?
Para o cumprimento deste objetivo e resposta à pergunta proposta, deve-se buscar na
literatura abordagens sobre a informação na cadeia de suprimentos, além de bases teóricas da
Comunicação que possibilitem a transposição ao contexto do agronegócio. Com isso, a intenção
é aproximar as teorias para conferir robustez ao tema – ainda que de forma preliminar,
possibilitando a aplicação tanto na academia quanto na realidade prática de empresas,
instituições e protagonistas do agronegócio. A relevância do assunto está no caráter inovador,
em sua proposta de pensar o cenário rural, os atores deste cenário e as empresas, enquanto
estruturas de uma comunicação. Ou seja, aprimorar aspectos comunicacionais entre empresa e
públicos dentro do agronegócio, agregando à teoria da SCM. Isso representa a construção de
um novo nicho de estudos e trabalhos para a área de Comunicação, associando seu caráter
estratégico ao agronegócio, e vice-versa.
As teorias abordadas neste artigo têm, basicamente, os mesmos princípios; mas,
curiosamente, nunca foram entrelaçadas. A congruência entre elas fica cada vez mais clara na
medida em que as leituras avançam. Assim, este trabalho possui uma abordagem qualitativa,
porque há uma relação dinâmica entre o mundo objetivo e a subjetividade do autor (LAKATOS;
MARCONI, 2010). Neste tipo de abordagem, a interpretação dos fenômenos e a atribuição de
significados são o foco do trabalho (SILVA; MENEZES, 2001). No que tange à classificação
de acordo com os objetivos da pesquisa, este trabalho caracteriza-se como exploratório-
descritivo. Ou seja, é exploratório porque busca “proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito”, e garantir “o aprimoramento de ideias ou a
descoberta de intuições” (GIL, 2003, p. 41). E é descritivo, uma vez que apresenta como
objetivo “o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2003, p. 42).
As correlações são feitas a partir do estudo das teorias abordadas. Registra-se que o
trabalho pode assumir um caráter expositivo, mas este fato não desvaloriza a importância do
estudo. Isto porque se trata de uma primeira aproximação entre os conceitos, da qual muitos
outros estudos poderão surgir, aprofundando e aprimorando cada vez mais as relações entre as
teorias. Aqui, ficam os primeiros esclarecimentos, respeitando os limites de espaço e tempo.
Na sequência do texto, primeiramente aborda-se a SCM e a questão da informação. Depois
disso, passa-se à abordagem do aporte teórico da Comunicação, a partir de suas áreas da
Comunicação Organizacional e da Comunicação Rural.

2 Supply Chain Management e a Informação

Reconhece-se as diversas especificações conceituais sobre a SCM e suas diferenciações


em relação a outras vertentes teóricas. Entretanto, ressalta-se que cabe aqui apenas tangenciar

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


172

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

a definição básica e a abordagem da informação ao longo da cadeia, a fim de realizar o


cruzamento com o aporte teórico da Comunicação Organizacional. Ainda, trata-se de uma
simplificação para construção de uma teoria adaptável, posto que cada caso apresenta uma
forma de diferenciação, estratégia e demais peculiaridades (MIELE; WAQUIL; SCHULTZ,
2011) que seriam impossíveis detalhar aqui, dadas as limitações deste estudo.
A agricultura passou por diversas transformações ao longo do tempo, e assim tornou-se
parte integrante de um sistema de produção mais amplo, que compreende outros setores
industriais e infraestrutura (GUANZIROLI; BUAINAIN; SOUSA FILHO, 2007). O
agronegócio, portanto, é a modernização da agricultura, resultante de um processo histórico do
desenvolvimento do Capitalismo (MIELE; WAQUIL; SCHULTZ, 2011).
Concomitantemente, as fronteiras entre as empresas vêm sendo suplantadas por cadeias,
que assumem as denominações de conglomerados, redes e alianças estratégicas. Isto também é
reflexo de uma maior flexibilização interna das organizações, com menos formatações e níveis
hierárquicos (GUANZIROLI; BUAINAIN; SOUSA FILHO, 2007). Na medida em que se
flexibilizam e passam a empreender as alianças, admite-se que as empresas estão adotando uma
perspectiva sistêmica, na qual inputs e outputs são considerados. A partir disso, as empresas se
relacionam com outros agentes dentro da perspectiva social na qual estão inseridas (KUNSCH,
2003). Isto envolve o intercâmbio de diversos fatores entre os agentes, incluindo a informação,
em ligações dinâmicas, caracterizadas por padrões de interação das partes (PEDROZO;
ESTIVALETE; BEGNIS, 2004).
A compreensão do funcionamento dos sistemas é necessária, pois a SCM, em sua noção
básica, se aproxima desta abordagem; e tem encontrado êxito tanto no âmbito acadêmico quanto
no governamental e no empresarial no que diz respeito à compreensão do funcionamento das
cadeias (MIELE; WAQUIL; SCHULTZ, 2011; GUANZIROLI; BUAINAIN; SOUSA FILHO,
2007). Sua base está no pressuposto de que a informação e o planejamento têm a capacidade de
refinar a eficiência ao longo do canal de distribuição, isto é, do caminho pelo qual passam os
produtos da agropecuária até o consumidor final (GUANZIROLI; BUAINAIN; SOUSA
FILHO, 2007).
Assim, tem-se que a coordenação de uma cadeia produtiva é todo processo de
transmissão de informação, estímulos e controles que ocorrem para orientar o movimento dos
agentes. Uma organização, ou uma aliança de organizações que coordena as demais, articula as
relações entre os agentes de uma cadeia, para assegurar um fluxo de produtos, serviços,
informação, tecnologia, pedidos e pagamentos requeridos para conectar cada segmento da
cadeia (GUANZIROLI; BUAINAIN; SOUSA FILHO, 2007). Portanto, o relacionamento entre
fornecedores e compradores se configura como um elemento importantíssimo no estudo das
estruturas de mercados agroindustriais (GUANZIROLI; BUAINAIN; SOUSA FILHO, 2007).
Esta é uma colocação muito importante dentro da perspectiva deste trabalho. Mais uma vez,
fica explícito o ponto de tangência entre esta teoria com as próximas a serem apresentadas. Isto
porque são as Relações Públicas, dentro do campo da Comunicação Organizacional, que
estudam os relacionamentos, as influências, os diálogos e as interações entre públicos; terreno
fértil, portanto, para enriquecer este entremeio na SCM.

3 Os Aportes Teóricos da Comunicação

Nesta pesquisa, optou-se por utilizar como pilares: a Comunicação Organizacional –


vastamente difundida dentro, especialmente, das Relações Públicas e rica em possibilidades de
hibridização com outras teorias; e a Comunicação Rural – com raízes na Comunicação como
um todo, fornecendo base para desdobramentos dos estudos. A partir destas teorias,
esquadrinha-se o entrelaçamento entre elas e a SCM.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


173

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

As transformações advindas das novas formas de obtenção, processamento e


transmissão das informações (PORTER, 1999) – potencializadas pelos avanços tecnológicos –
modificam hábitos e necessidades; e suscitam que, cada vez mais, a produtividade e a
competitividade dos agentes dependem fundamentalmente de sua capacidade de gerenciar
informações de forma eficiente. Também envolvem questões estratégicas na construção de
relacionamentos entre as empresas e seus públicos. Assim, chega-se à essência da Comunicação
Organizacional, que estuda os processos comunicacionais que permeiam o funcionamento de
organizações, tangenciando seus relacionamentos internos e externos. A construção de seu
arcabouço teórico se debruça em diversas áreas, e sua base está na Teoria das Organizações.
Não há um consenso sobre a definição de organização, nem sobre sua diferenciação em
relação a uma empresa. Neste trabalho, portanto, os termos serão empregados como sinônimos.
Para a maioria dos autores da Comunicação Organizacional concorda que as organizações
“compreendem o conjunto de pessoas (recursos humanos) que exercem suas funções numa
determinada empresa (estrutura física), realizando tarefas específicas mediante o emprego de
conhecimentos e técnicas” (BALDISSERA, 2001). Cada organização, como se sabe, possui
objetivos próprios, de acordo com sua estrutura interna; todas, porém, fazem parte de uma
perspectiva sistêmica (KUNSCH, 2003), constituindo uma trama de interferências.
Kunsch (2003) aborda as organizações sob a ótica da “Teoria dos Sistemas”,
considerando uma perspectiva holística de que toda organização faz parte de um sistema muito
mais amplo: a sociedade. Por isso, deve-se incluir os aspectos sociais, econômicos, políticos,
tecnológicos, ecológicos e culturais de cada organização (KUNSCH, 2003). Dentro desta
proposta, ao considerar a complexidade do funcionamento das organizações, considera-se,
também, a complexidade dos processos comunicacionais envolvidos.
A própria interdependência das organizações entre si e com o ambiente suscita a
existência da comunicação como um quesito de sobrevivência, uma condição sine qua non,
assumindo grande importância nas organizações e nos segmentos que lidam com a incerteza
em suas atividades – como a agricultura, inclusive. É a partir do processo comunicacional que
a organização poderá estruturar ligações entre o interno e o externo, bem como analisar o
ambiente e a concorrência para aperfeiçoar os processos organizacionais. Aqui, vale ressaltar
que “toda comunicação que, de alguma forma e em algum grau, disser respeito à organização
é considerada Comunicação Organizacional” (BALDISSERA, 2009, p. 119).
Desta forma, pode-se agregar a isso o pensamento de que a comunicação organizacional
diz respeito a “um processo relacional entre indivíduos, departamentos, unidades e
organizações” (KUNSCH, 2003, p. 71); ou seja, diz respeito a relacionamentos nos mais
variados níveis de intensidade e direção. O fato é que, invariavelmente, comunicação implica
fluxos de informações, que podem marcar a identidade de uma empresa, devido às diferentes
culturas organizacionais. Além disso, cada relacionamento empresa-público moldará o fluxo
de comunicação de acordo com sua necessidade – e características.
Ao encontro desta perspectiva, Bueno (2009, p. 03) diz que Comunicação
Organizacional é o “conjunto integrado de ações, estratégias, planos, políticas e produtos
planejados e desenvolvidos por uma organização para estabelecer a relação permanente e
sistemática com todos os seus públicos de interesse”. Isto é, “analisa o sistema, o funcionamento
e o processo de comunicação entre a organização e seus diversos públicos” (KUNSCH, 2003,
p. 149). Compreende a todos os fenômenos comunicacionais intrínsecos aos pertencentes ou
ligados às organizações das mais variadas formas, englobando a comunicação institucional, a
comunicação mercadológica, interna e administrativa.
Os públicos são o objeto das redes de relacionamento corporativos de qualquer
organização (FRANÇA, 2009), determinando, a partir de suas necessidades, o que a
organização deve comunicar e de que forma deve fazê-lo. Além disso, hoje em dia, de forma

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crescente, a construção de uma política adequada de relacionamento tornou-se postulado


urgente para o êxito, independentemente do nível ou do porte da organização ou instituição em
questão (FRANÇA, 2006). A partir de um mapeamento, é possível traçar estratégias e pensar
na utilização de instrumentos específicos para o tratamento com cada público. Ainda, tão
importante quanto conhecer os públicos é saber “como capturá-los” (CHARAUDEAU, 2007)
a partir da construção de seu discurso; isto é, da transmissão de informações, que tem por base
os objetivos comunicacionais. De nada adianta a organização traçar objetivos e pensar
estratégias para suas consecuções se eles não estiverem conciliados e equilibrados com os
interesses dos públicos que lhe são fundamentais. Em outras palavras, os objetivos de
comunicação devem estar inseridos em uma filosofia de comunicação integrada, planejada
estrategicamente, com técnicas de relacionamento e meios específicos para cada público
(KUNSCH, 2003).
Enquanto isso, a Comunicação Rural permanece desconhecida pela maioria dos
comunicadores do país (BRAGA; CARVALHO, 1999), e, pior, nos raros momentos em que
aparece, trata-se apenas de disseminação de informações. Pois se existe desconhecimento
acerca do tema, pode-se concluir que também há um desconhecimento sobre as necessidades
comunicacionais do homem do campo. Isso vai contra os princípios da Comunicação
Organizacional: atentar para novos nichos, considerando a segmentação (BUENO, 2009).
Assim, se defende que também é possível – e urgente – que se comece a pensar em uma
comunicação adaptada ao cenário rural e às empresas do ramo da agricultura.
Concomitantemente, há a dicotomia entre urbano e rural, que, ainda que de forma suave,
mas em ritmo acelerado, vem exigindo transposição, a partir das transformações culturais,
socioeconômicas e dos avanços tecnológicos. Esta aceleração nas trocas entre rural e urbano
deve abrir novas possibilidades (SCHNEIDER, 2009), e o diálogo com quem vive no (e do)
campo tem de ser considerado.
Sabe-se que a demanda por informação é inerente à atividade agrícola, e está tanto na
raiz do conceito quanto perpassa seus entremeios. Segundo Bordenave (1983, p. 07), dizem
respeito à Comunicação Rural todos os “fluxos de informação, de diálogo e de influência entre
os componentes do setor rural e entre eles e os demais setores”. Assim, seria a comunicação
rural a responsável por garantir a informação correta através do meio correto para promover a
aproximação entre os agentes rurais e os demais setores afetados por eles.
Para Bordenave (1983), os protagonistas da comunicação rural são: a população rural,
o Estado e as empresas relacionadas ao setor. Mas, ao incluir as empresas como protagonistas
da comunicação rural, o autor se refere à necessidade das mesmas em basear “suas decisões nas
informações sobre requisitos de insumos e equipamentos e sobre a disponibilidade de produtos
para alimentar a agroindústria” (BORDENAVE, 1983, p. 08). Porém, não as considera como
efetivas empreendedoras de uma comunicação voltada ao produtor, como fontes de informação,
tampouco como meios de aproximação para um relacionamento forte entre cliente e empresa.
Então, reconhecer o rural é possibilitar que se qualifique a comunicação organizacional
de uma empresa voltada para estes públicos, aperfeiçoando as estratégias e instrumentos, para
que seja competitiva e contribua para o desenvolvimento rural. Ora, se a informação é essencial
e que o processo de comunicação é inerente a todo homem, o cenário rural também partilha
desta realidade. Admite-se que há códigos e meios próprios no ambiente rural que nem sempre
são compartilhados pelos indivíduos urbanos, mas também se deve ressaltar que, para a
comunicação organizacional, a escolha de instrumentos, mensagens e estratégias ideais a cada
público de acordo com suas necessidades não se configura como novidade, mas como pilar.
Isso fica evidente quando Bueno (2009, p. 63) diz que cada público, rural ou urbano, “exibe
características peculiares em função de seu background, de sua trajetória e de sua forma de
contemplar o mundo”.

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Acontece que hoje em dia, a comunicação rural está muito ligada à comunicação de
conhecimentos, sob um espectro muito estreito, apenas no sentido de transmissão de tecnologia
(BORGATO, 2001), sem considerar fluxos de informação que originam diálogos. É por isso
que se defende a construção de uma nova Comunicação Rural, ou ainda, uma Comunicação
Organizacional-Rural, que compreenda as transformações dos agentes e dos cenários, as
peculiaridades e, principalmente, compreenda o aspecto estratégico das relações no âmbito do
agronegócio.
Há um verdadeiro arsenal de meios de comunicação à disposição para promover uma
aproximação entre os agentes rurais. Dentro desta perspectiva, estão inclusos “todos os canais
tradicionalmente usados pelos habitantes do campo – feiras, exposições, líderes naturais, [...]”
(BORDENAVE, 1983, p. 57) e somados a estes, estão os meios modernos de comunicação,
ligados às novas tecnologias. O contexto rural está mudando notoriamente, e a comunicação,
por sua vez, acompanha esta mudança. É de sua competência atuar como “ponte de diálogo”
(BORDENAVE, 1983), contribuindo para a construção de um cenário onde o caráter da
comunicação se torne mais participativo ao invés de meramente difusor de informações.
Isso confere à comunicação algumas novas funções para o exercício de atividades
ligadas ao setor rural. As principais são: promover o diálogo e facilitar o diagnóstico da
realidade do homem do campo (BORDENAVE, 1983), desconstruindo mitos e possibilitando
o planejamento baseado em dados. Neste processo, os agricultores são peças-chave: são eles
que realmente sabem das questões da agricultura, e é essencial que sejam ouvidos. Eles podem
“indicar o tempo e os locais apropriados para a chegada dos insumos necessários”
(BORDENAVE, 1983, p. 98). E aqui, a informação está inclusa no conceito de insumo, uma
vez que, sem ela, o produtor não possui subsídios para a tomada de decisão, tanto no processo
de produção quanto no processo de comercialização dos produtos. É uma sequência básica:
ouvir para saber o que, onde, quando e como informar.
Além disso, com a atual configuração da sociedade em rede, todos estão conectados a
todos instantânea e incessantemente, e a população rural começa a potencializar o seu discurso
a partir da inclusão digital. Braga & Carvalho (1999) previam a necessidade de uma
Comunicação Rural decodificadora dos novos valores trazidos pelas transformações que
começavam a acontecer na sociedade. Estas transformações reconfiguraram a sociedade, e, da
mesma forma, a progressiva velocidade da informação cria novas “leis”, que exigem uma
especialização para cada parte do processo. Concluindo, associado à velocidade da informação
está o também progressivo acesso a ela, que resulta na obrigação dos comunicadores tanto de
inserir o cenário rural no meio urbano quanto de representar, identificar e atender as
necessidades comunicacionais do público rural junto às empresas.

Considerações Finais

As teorias de SCM e as teorias da Comunicação podem parecer incompatíveis em um


primeiro momento. Talvez porque a Comunicação pareça uma teoria muito abstrata quando
contraposta à SCM. O fato é que ambas podem se complementar em prol de um mesmo
objetivo: elucidar o funcionamento dos relacionamentos e os fluxos de informação de uma
determinada organização – ou, no caso da cadeia, determinadas organizações – com seus
públicos internos e externos, seguindo uma perspectiva sistêmica.
Ao propor a imbricação destas teorias, as congruências e desdobramentos eram não mais
que algumas possibilidades. Entretanto, no decorrer das leituras que foram feitas para
desenvolver este trabalho, foi possível constatar que as oportunidades são ainda maiores. Aqui,
foram feitas breves e básicas considerações sobre cada teoria, sob o espectro da informação

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enquanto propulsora da aproximação. Isso porque trata-se de um estudo preliminar, com o qual
se pretendeu verificar a fertilidade proveniente de uma nova abordagem.
A SCM foi abordada objetivamente, de forma sucinta, apenas para ilustrar e refrescar o
conceito ao leitor. Admite-se a vastidão de literatura sobre o assunto, bem como suas diferentes
abordagens. Porém, pelas limitações óbvias deste trabalho, optou-se por uma conceituação
breve, a fim de demonstrar a similaridade com as outras teorias que seriam apresentadas. É
possível afirmar que as semelhanças vão do mesmo sustentáculo na teoria sistêmica, passando
pela importância dos relacionamentos e enfocando os fluxos de informação, logo, considerando
a comunicação. A articulação entre Comunicação Organizacional e Comunicação Rural foi
necessária porque, simultaneamente, envolve empresas e públicos (objetos da Comunicação
Organizacional), que fazem parte do cenário rural (o que os caracteriza como escopo da
Comunicação Rural).
Assim, entende-se que, na agricultura, a informação permeia todo o funcionamento da
cadeia produtiva e de comercialização, e que dela depende as decisões dos agricultores. Na
união entre a comunicação organizacional e a comunicação rural, devem ser consideradas
questões culturais e ambientais associadas às questões econômicas, produtivas e tecnológicas,
que correspondam à realidade do homem do campo de acordo com a sua atividade. Há, sim,
mudanças ocorrendo no cenário rural, e considerá-las implica visualizar efeitos práticos como
melhorias de renda e de qualidade de vida e, o que é ainda mais gradual, mudanças de
pensamento e de ação capazes de assimilar a hibridização entre o campo e a cidade.
Enfim, com a realização deste trabalho, acredita-se ter contribuído para o
desenvolvimento de um novo olhar e de uma nova possibilidade, tanto de pesquisa quanto de
atuação, para aqueles que estudam a gestão das relações entre as organizações e seus mais
variados públicos, especialmente dentro das cadeias produtivas. Ficam registradas aqui as
correlações iniciais sobre o assunto. Também ficam assinalados, implicitamente, os desafios,
mas, sobretudo, estão apontadas as direções dos futuros estudos na área, e, quiçá, até mesmo
de um novo campo teórico.

Referências

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Comunicação. Campo Grande: 2001. Disponível em: < http://www.rp-bahia.com.br/biblioteca/> Acessado em
09 de agosto de 2017.
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BRAGA, Geraldo Magela; CARVALHO, Geraldo Bueno de. O Futuro da Comunicação Rural. Viçosa, 1999.
Disponível em <http://www.economia.esalq.usp.br/intranet/uploadfiles/227.pdf>, acessado em 25 de outubro de
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Bem-estar animal no Brasil: oportunidades para a cadeia das carnes


Denise Saueressig¹

¹Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul


(UFRGS)

Resumo. Um dos maiores produtores e exportadores de carnes do mundo, o Brasil não pode abrir mão de
ampliar as discussões e iniciativas sobre o bem-estar animal. O tema é cada vez mais frequente nos ambientes
acadêmico, produtivo, público e empresarial. O caminho é inevitável e representa uma exigência de uma
sociedade cada vez mais crítica sobre a ética adotada nos processos produtivos. Pesquisas indicam que há
benefícios econômicos em sistemas que priorizam o bem-estar animal, assim como existe espaço para conquistar
o consumidor interessado em um produto diferenciado. Mas não são poucos os desafios nesta trajetória.
Capacitação e adequação de profissionais e empresas são imprescindíveis. O consumidor também precisa
receber informação de qualidade para que tenha as ferramentas necessárias para escolher o alimento que levará
para casa. São transformações significativas que poderão resultar no incremento de competitividade da cadeia da
carne brasileira.
Palavras-chave: pecuária, bem-estar, consumo, ética.

Animal welfare in Brazil: opportunities for the meat chain


Abstract. One of the biggest meat producers and exporters in the world, Brazil cannot open hand to broaden
discussions and initiatives on animal welfare. The theme is increasingly common in academic environments,
productive, and entrepreneurial audience. The path is inevitable and represents a requirement for a society
increasingly critical about the ethics adopted in production processes. Research indicates that there are
economic benefits in systems that prioritize the welfare of animals, just as there is space to conquer the
consumer interested in a differentiated product. But there are many challenges in this trajectory. Training and
fitness professionals and businesses are indispensable. Consumers also need to receive quality information that
has the tools they need to choose the food they take home. Are significant changes that may result in the increase
of competitiveness of brazilian beef chain.
Keywords: livestock, welfare, consumption, ethics.

Introdução

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carnes do mundo, e os


números desta cadeia continuarão crescendo nos próximos anos. Projeções do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento indicam que a produção total de carnes, considerando
aves, suínos e bovinos, passará de 26,3 milhões de toneladas no período 2015/2016 para 34,1
milhões de toneladas em 2025/2026, numa variação de 29,8% (BRASIL, 2016).
Estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) seguem
na mesma direção. A expansão nas carnes deverá ser motivada por fatores como a melhoria
genética dos animais, aprimoramento de questões sanitárias e nutricionais dos rebanhos e
demanda crescente pela proteína animal nos mercados interno e externo (OCDE-FAO, 2015).
O consumo per capita no Brasil também sinaliza condições de incremento. Ainda que
existam nichos importantes de vegetarianos e veganos, as proteínas animais deverão ter
participação cada vez mais elevada na dieta das famílias. A tendência é de que o consumo por
pessoa ao ano seja de 83 quilos de carnes (aves, suínos e bovinos) em 2024, um crescimento
de 5,8 quilos em relação a 2015 (OCDE-FAO, 2015).
Além da demanda doméstica, o Brasil tem clientes fiéis no exterior. As vendas
externas de carnes de frango e suína apresentam taxa de crescimento anual de 3,6% até 2026.
Já a carne bovina tem taxa anual de 3,1% de incremento para o mesmo período. No total, as

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exportações de carnes deverão passar de 7 milhões de toneladas em 2015/2016 para 9,9


milhões de toneladas em 2025/2026 (BRASIL, 2016).
Segundo análise do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o
Brasil aparece como o maior exportador de carne bovina em 2026, seguido de perto pela
Índia. O País também é o quarto classificado em vendas de carne suína e o primeiro em
exportações de frango (USDA, 2017).
A Associação Brasileira de Proteína Animal informa que o Brasil exporta carnes de
aves e de suínos para mais de 160 países (ABPA, 2017). Já os consumidores da carne bovina
estão presentes em 133 países, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carne (ABIEC, 2017).
A contextualização e as projeções para os produtos de origem animal revelam a
continuidade do incremento da demanda nos mercados interno e externo. Consequentemente,
a atividade pecuária mantém sua importância crescente no cenário do agronegócio brasileiro.
O mercado pede métodos cada vez mais intensivos de produção e que sejam capazes de
atender com rapidez e eficiência o consumo. São processos que iniciam nas propriedades
rurais e seguem até as gôndolas dos supermercados. Nesse caminho, revela-se a importância
da atenção às diferentes etapas da cadeia e que vão além dos critérios de produtividade.

Bem-estar animal: preocupação mundial

Ao analisar os desafios e recomendações para o segmento da carne bovina no Brasil,


Oliveira (2014) relaciona como aspectos críticos a saudabilidade, a sustentabilidade
ambiental, o bem-estar animal (BEA), a gestão do ciclo de vida, além de requisitos de
qualidade e conveniência. O autor cita que fatores como condições ruins de transporte e
inadequações nas etapas do abate comprometem o bem-estar dos animais de produção, tema
que vem recebendo cada vez mais a atenção de consumidores ao redor do mundo.
O mesmo argumento é válido para as criações de frangos e suínos. Um dos desafios
para as granjas de suínos, por exemplo, é a concessão de maior espaço para o animal crescer
(SILVEIRA, 2014). Para o autor, as condições de transporte dos animais também representam
um item crítico e que, mesmo nos países desenvolvidos, carecem de melhorias.
Nas últimas décadas, o questionamento do modelo intensivo da atividade pecuária
motivado por comprovações de maus-tratos e condições inadequadas de manutenção dos
rebanhos motivou pressões sociais que levaram à criação de legislações específicas para a
questão (IMPROTA, 2007). Ao mesmo tempo, as preocupações éticas sobre a qualidade de
vida dos animais tornam-se cada vez mais objeto de políticas públicas e estudos científicos
(FRASER et. al, 1997).
Para a World Animal Protection, o tratamento adequado dos animais de produção é o
maior problema para o bem-estar dos animais no mundo. Segundo a organização,
“anualmente, mais de 70 bilhões de animais são criados para a produção de alimentos, sendo
que dois terços deles vivem em condições que lhes impossibilitam se mover livremente ou
viver de maneira natural” (WAP, 2017).
Estudos mais aprofundados sobre BEA iniciaram na década de 1960 por meio do
Comitê Brambell, formado por pesquisadores e profissionais ligados à agropecuária no Reino
Unido. A atuação do grupo surgiu como resposta à pressão da comunidade depois que a
jornalista inglesa Ruth Harrison publicou o livro “Animal Machines”, em 1964 (LUDTKE et
al., 2012). Na obra, a autora denunciou maus tratos sofridos por animais em sistemas de
confinamento que passaram a ser frequentes após a Segunda Guerra Mundial devido à
necessidade de intensificar a produção de alimentos.

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Em 2005, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) publicou as primeiras


normas internacionais sobre o BEA, e hoje a lista segue em atualização (OIE, 2017). Isso
significa que todos os países membros da organização, incluindo o Brasil, devem seguir as
regras estabelecidas. Parte da definição de BEA da OIE refere-se às cinco liberdades a que
devem ter direito os animais que estão sob o controle do ser humano. As mesmas estão
descritas no Quadro 1.
Quadro 1 – As cinco liberdades dos animais
1. Livre de fome, sede e desnutrição;
2. Livre de medos e angústias;
3. Livre de desconfortos físicos e térmicos;
4. Livre de dor, lesões e doenças;
5. Livre para expressar seu comportamento.
Fonte: Adaptado de OIE (2017).

O conceito de bem-estar animal, no entanto, está longe de rigidez e envolve várias


correntes de pensamento (IMPROTA, 2007). Entre os autores que abordam o assunto, Fraser
et. al (1997) considera que as pessoas utilizam diferentes critérios para aquilo que julgam ser
uma boa vida para os animais.
A observação de especialistas também indica que o tema precisa de uma abordagem
interdisciplinar, envolvendo de maneira conjunta pesquisas de diferentes áreas, como
biologia, fisiologia, medicina veterinária, etologia e psicologia (CARENZI e VERGA, 2009).
Uma das definições mais utilizadas pelos estudiosos do tema é a de Broom (1986), que afirma
que o bem-estar de um indivíduo é o seu estado durante as suas tentativas de lidar com o
ambiente. Dessa forma, o bem-estar satisfatório é alcançado quando o indivíduo necessita de
pouco esforço e recursos para se adaptar ao local onde vive.

Legislação e iniciativas políticas no Brasil

No Brasil, a primeira legislação sobre o BEA é o Decreto Lei número 24.645 de 10 de


julho de 1934 (LUDTKE et al., 2012). O documento refere-se a qualquer forma de maus-
tratos a todas as espécies de animais, sejam eles domésticos ou selvagens, de produção ou de
estimação (BRASIL, 2017).
Mais recentemente, o Ministério da Agricultura instituiu a Comissão Técnica
Permanente de Bem-Estar Animal (CTBEA) por meio da Portaria nº 185, de 2008, com
atualização pela Portaria nº 436 de 22 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017). As atribuições
da CTBEA incluem: i) a proposição de boas práticas de manejo; ii) o alinhamento da
legislação brasileira com os avanços científicos e os critérios estabelecidos pelos acordos
internacionais dos quais o Brasil é signatário; e iii) a preparação e o estímulo do setor
agropecuário brasileiro para o atendimento às novas exigências da sociedade e consumidores
dos mercados importadores.
Especificamente para os animais de produção, as diretrizes adotadas no Brasil seguem
as orientações da OIE. Algumas dessas recomendações são listadas no Quadro 2.

Quadro 2 – Recomendações da OIE para que animais não sofram nos períodos pré-abate e abate
Os animais devem ser transportados apenas se estiverem em boas condições físicas;
Animais machucados ou sem condições de moverem-se devem ser abatidos de forma
humanitária imediatamente;
Os animais não devem ser forçados a andar além da sua capacidade natural,
procurando-se evitar quedas e escorregões;
Não é permitido o uso de objetos que possam causar dor ou injúrias aos animais;

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Animais conscientes não podem ser arrastados ou forçados a moverem-se caso não
estejam em boas condições físicas;
No transporte, os veículos deverão estar em bom estado de conservação e com
adequação da densidade;
A contenção dos animais não deve provocar pressão e barulhos excessivos;
O ambiente da área de descanso deve ser iluminado e apresentar piso bem drenado,
respeitando o comportamento natural dos animais;
No momento da espera no frigorífico, deve-se supri-los com suas necessidades básicas
como fornecimento de água, espaço, condições favoráveis de conforto térmico;
O abate deverá ser realizado de forma humanitária, com equipamentos adequados para
cada espécie;
Equipamento de emergência deve estar disponível, em caso de falha do primeiro
método de insensibilização.
Fonte: Adaptado de LUDTKE et al. (2012).

Capacitação e adequação profissional

Na sua página na internet, o Ministério da Agricultura disponibiliza um total de 29


cartilhas, folders e manuais informativos sobre normativas de BEA nas diferentes etapas da
produção (BRASIL, 2017). Ao mesmo tempo, cursos e eventos vêm sendo realizados no País
com o intuito de capacitar fiscais federais agropecuários, inspetores municipais e estaduais,
responsáveis técnicos de propriedades, estudantes, professores e profissionais que atuam em
frigoríficos (BRASIL, 2016).
Grandin (2013) argumenta que um bom manejo dos animais de produção precisa levar
em consideração tanto as instalações como o treinamento dos funcionários envolvidos no
trabalho. Estruturas adequadas fazem com que o manejo do animal seja executado de forma
mais simples e menos estressante. No entanto, é preciso que as pessoas saibam utilizar
corretamente as mesmas.
Broom e Molento (2004) concluem que aqueles que trabalham com animais enfrentam
três desafios oriundos de preocupações com o BEA. Para os autores, é preciso reconhecer que
a evolução social alterou as relações entre o ser humano e os animais, frequentemente em
detrimentos dos últimos, e que é necessário, por isso, rever essa situação. Os profissionais
também devem se informar sobre as explicações que a ciência vem propondo para
determinadas respostas dos animais a problemas enfrentados pelos mesmos.
Por último, os autores consideram que é necessário “refinar as formas de medição do
grau de bem-estar dos animais, para que estas avaliações possam ser utilizadas no sentido de
se aprimorar as relações entre seres humanos e animais até que se atinja um nível considerado
apropriado por uma sociedade informada e justa” (BROOM e MOLENTO, 2004).
Lemme (2016) sustenta que o BEA envolve diversos aspectos éticos e sociais, além
das questões científicas e técnicas. “Respeito à vida e ao sofrimento se combinam com
manejo e produtividade. Ciências naturais se encontram com ciências sociais. Finanças e
marketing interagem com Zootecnia e Veterinária”. Para o autor, a eliminação de práticas
inadequadas e a adoção de princípios de bem-estar poderá representar a oportunidade para um
salto qualitativo de longo prazo e que poderá consolidar a liderança brasileira no setor das
carnes nas próximas décadas.

Desafios e possibilidades para a cadeia produtiva

Ainda que existam iniciativas oficiais e envolvimento por parte do Governo Federal na
área de bem-estar animal, há indicativos de que o Brasil caminha lentamente sobre a questão
em comparação com outros países (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2017).

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Segundo Abramovay (2017), “desde 2015, um grupo de investidores com uma carteira
de US$ 1,2 trilhão vem alertando as grandes empresas responsáveis pela oferta global de
carnes que o bem-estar animal está deixando de interessar exclusivamente aos budistas, aos
veganos, aos historiadores e aos filósofos”. Dessa forma, o BEA se torna um componente
central do risco dos investimentos feitos neste setor. Para o autor, o Brasil poderia beneficiar-
se de tal mudança estratégica desde que seus dirigentes governamentais e empresariais
atentem para o fato de que as demandas do Século XXI serão cada vez mais pautadas por
temas de natureza ética.
Pesquisas e experiências realizadas nos últimos anos vêm demonstrando a crescente
atenção de consumidores ao tema e os benefícios que empresas do setor podem agregar aos
negócios com a adoção de práticas que visem o bem-estar dos animais de produção. O
primeiro dos argumentos aos empresários diz respeito ao fato de que animais que vivem sob
condições de vida adequadas e confortáveis tornam-se mais produtivos (CERTIFIED
HUMANE BRASIL, 2017).
Ao mesmo tempo, grandes empresas com atuação mundial vêm legitimando políticas
de compras de carnes e outros alimentos derivados de animais apenas de produtores que
seguem boas práticas. Um dos exemplos é do Grupo GPA, detentor de marcas como Pão de
Açúcar, Extra e Qualitá. A empresa pretende conquistar, junto ao setor avícola brasileiro, a
viabilização até 2025, da comercialização de 100% de ovos das suas marcas exclusivas
provenientes da criação de galinhas fora de gaiolas (GPA, 2017).
Relatório global realizado pela organização Business Benchmark on Farm Animal
Welfare (BBFAW) desde 2012 indica que vem aumentando o número de empresas que se
dedicam a políticas de BEA. Em 2016, o estudo envolveu 99 companhias no mundo todo e,
entre os resultados, 73% das empresas publicaram políticas de bem-estar animal em 2016,
contra 46% em 2012. Também 65% das companhias divulgaram metas para o BEA em 2016,
contra 26% em 2012 (BBFAW, 2017).
No Brasil, algumas granjas produtoras de aves e suínos vêm procurando se adaptar às
tendências que indicam um consumo mais consciente. No caso dos suínos, a maior parte da
produção ainda é realizada com gaiolas de gestação, em sistemas que são criticados por
organizações internacionais (ABCS, 2014).
A Associação Brasileira de Criadores de Suínos vem monitorando bons exemplos
empregados em propriedades brasileiras. Um deles é o da Granja Miunça, no Distrito Federal
(ABCS, 2014). No local, um estudo comparativo foi realizado pela World Animal Protection
para analisar o desempenho de produtividade em duas condições: em um deles os leitões
nascem e são alimentados em baias coletivas, o sistema recomendado pelas boas práticas de
bem-estar animal. Na outra condição, em sistema convencional, a matriz dá à luz e amamenta
os leitões em gaiolas individuais, onde há pouquíssima possibilidade de movimento dos
animais (CERTIFIED HUMANE BRASIL, 2017).
As conclusões da pesquisa indicam que o sistema de baias coletivas ampliou o número
de leitões nascidos vivos em 3,5% e o peso no desmame em 14%. A Tabela 1 apresenta mais
resultados.

Tabela 1 – Comparativo de desempenho entre dois sistemas de criação de suínos em granja brasileira
Baias coletivas Gaiolas individuais
Leitões nascidos vivos 14,24 13,76
Peso desmamado (kg) 5,76 5,02
Receita bruta por matriz (R$) 3.363 2.885
Custo por matriz (R$) 271 378
Fonte: Adaptado de Certified Humane Brasil e WAP (2017).

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Neto et al. (2015) descrevem perdas econômicas decorrentes de lesões de transporte e


manejo pré-abate em bovinos. Em estudo realizado com 1.021 animais com destino a um
frigorífico na região norte de Mato Grosso, 433 (42,4%) apresentaram carcaças com lesões. O
prejuízo financeiro foi estimado em R$ 200 mil ao ano para a indústria em questão (NETO et
al., 2015).
Além da abordagem econômica, pesquisadores indicam que condições inadequadas
nos tratos com os animais terão reflexos negativos sobre o produto final que chegará à mesa
do consumidor. Campo (2016) relata que animais bem manejados têm um temperamento mais
tranquilo, uma menor resposta de estresse frente a qualquer manejo na fazenda e nos
momentos prévios ao abate, o que terá como consequência uma melhor qualidade da carne.
Pesquisas que envolvem consumidores têm procurado analisar o comportamento dos
mesmos diante de produtos que possam conter selos de certificação de boas práticas. Em
estudo realizado em Fortaleza/CE, com 216 pessoas de diferentes classes sociais e
escolaridade, foi constatado que a maioria dos entrevistados não tem conhecimento suficiente
sobre as questões relacionadas ao bem-estar dos animais. Porém, os mesmos acreditam que
uma criação diferenciada pode resultar em melhorias no produto final e estão dispostos a
pagar mais por alimentos de qualidade superior (QUEIROZ et al., 2014).
Um estudo coordenado pela World Animal Protection segue em direção semelhante.
Realizada em 2016, a pesquisa Consumo às cegas: percepção do consumidor sobre o bem-
estar animal ouviu 2.200 pessoas no Brasil. Segundo o trabalho, 66% dos entrevistados
desconhecem a forma como a criação de animais é conduzida. Apesar disso, mais da metade
da amostra declarou ter preocupação com o método de abate (WAP, 2016). Também 91% dos
consultados dizem que animais criados em sistemas de bem-estar produzem uma carne de
melhor qualidade. Entre aqueles que revelam a intenção de adquirir alimentos com
certificação de BEA, mais de 70% o fariam caso o preço fosse o mesmo dos produtos não
certificados. No entanto, de acordo com o estudo, apenas metade dos entrevistados diz ler os
rótulos dos produtos nos supermercados.
Uma das conclusões da pesquisa revela que o conhecimento sobre o tema do BEA
entre os consumidores ainda é insuficiente. Também preocupa o desinteresse pelas
informações expostas nas embalagens. O estudo recomenda que mudanças nesse
comportamento podem ser disseminadas com um maior volume de informações e mensagens
claras a respeito do tema (WAP, 2016). Surge assim, a oportunidade para que empresas que
atendem os requisitos de bem-estar possam apresentar seu trabalho e conquistar maior fatia de
mercado.

Considerações finais

Trabalhar com sistemas que respeitem e busquem o bem-estar dos animais de


produção está entre as grandes proposições da cadeia das carnes. Empresas com atuação no
mundo todo estão exigindo de seus fornecedores processos mais éticos. Ao mesmo tempo, o
consumidor final deverá estar cada vez mais atento aos alimentos que leva para a sua mesa,
ainda que esteja identificada a necessidade de geração e transmissão de informação de melhor
qualidade a este público.
Nas primeiras posições no ranking dos produtores e exportadores de carnes bovina,
suína e de frango, o Brasil não pode dar as costas para a questão. O tema vem sendo foco de
legislações, pesquisas e projetos específicos, mas é preciso considerar a importância de
aprofundar os debates e iniciativas na área. A tendência é irreversível, considerando que o
consumo de proteína animal mantém tendência de crescimento nos próximos anos.

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Se por um lado, o tema representa um grande desafio para a adequação de


propriedades rurais, profissionais e empresas que atuam no setor, por outro, é vital enxergar
que o Brasil tem a possibilidade de conquistar mais um diferencial no competitivo mercado
internacional de alimentos.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Impactos do aumento de capital na terra na produção e exportação de soja


Guilherme Asai1, Alexandre de Souza Corrêa2, Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues3

1, 3
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio, guilherme.asai@gvmail.br
2
Universidade Federal da Grande Dourados, Professor do Curso de Ciências Econômicas

Resumo.
O presente trabalho tem como objetivo investigar e quantificar os ganhos de produção e exportação da soja frente
ao emprego de capital na terra para as macrorregiões brasileiras. Para isso, simulou-se um cenário de aumento de
capital empregado no aumento da área plantada de soja que gerou resultados de aumento do valor da produção e
das exportações para as regiões Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul. Esse aumento do valor da produção
contribuiu com a diminuição dos preços para as mesmas regiões. Embora o aumento do valor de produção não
tenha sido proporcional, evidenciou que o emprego de capital contribui com a performance do setor.
Palavras-chave: preço de terras; soja; equilíbrio geral computável; mercado de terras.

Impacts of capital increase on land in soy production and export


Abstract.
The present work has the objective of investigate and quantify soy production and export gains against the use of
capital in the land for the Brazilian macro regions. For this, a capital increase scenario was simulated to growth
the planted area with soybeans, which resulted in increased production and exports to the Northeast, Midwest,
Southeast and South regions. The growth of the production has contributed to lower prices for the same regions.
Although the increase in production value was not proportional, it showed that the use of capital contributes to
the performance of the sector.
Keywords: price of land; Soy; computable general equilibrium; land market..

Introdução
A crescente produção brasileira de grãos, principalmente oleaginosas como a soja, faz
o país figurar entre um dos principais players mundiais dessa commodity. De acordo com o
Departamento do Agronegócio (DEAGRO, 2017) da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp), ao se ferir a produção, o Brasil, tem a segunda maior produção mundial de
soja com cerca de 104 milhões de toneladas para a safra 2016/2017, atrás dos Estados Unidos
da América. Com relação a exportação da soja em grão, o Brasil, é o principal país exportador
com cerca de 59 milhões de toneladas exportadas para a safra 2016/2017.
Para que seja atingida esse nível de produção e exportação da soja a área plantada total
sofreu um incremento médio anual de 5,78% durante as últimas sete safras. A Figura 1 ilustra
o aumento da área planta de soja desde a safra 2010/2011 até a safra 2016/2017.

Figura 1 – Evolução da área planta de soja para as safras de 2010/2011 até 2016/2017
40
Mil hectares

35

30

25

20

15

10

0
2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015 2015/2016 2016/2017

Fonte: elaboração própria.


Dados: Companhia Nacional de Abastecimento, 2017.

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A produção de soja também teve importante papel na ocupação territorial do país nas
décadas de 1980 e 1990 como demonstra o estudo de Barbosa e Assumpção (2001) que ilustra
o caminho da regionalização da produção da soja com inicio na Região Sul do país e se
alastrando para as regiões Sudeste e Centro-oeste. Tal fato histórico indica a concentração da
produção atual nas Regiões Sul e Centro-oeste conforme ilustrado no Figura 2.

Figura 2 – Evolução da produção de soja nas regiões brasileiras para as safras de 2000/2001 até 2016/17
60.000

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul

Fonte: elaboração própria.


Dados: Companhia Nacional de Abastecimento, 2017.

A partir da safra 2010/2011 a produção na Região Nordeste começa a ter uma leve alta.
Isto ocorre por causa da nova fronteira agrícola na região conhecida como Mapitoba, que
segundo Freitas (2011) se destaca na produção de soja por causa do clima estável, um regime
pluviométrico equilibrado e uma topografia plana que possibilitam retornos aos produtores
pioneiros dessa região.
Paralelamente ao aumento na produção, na exportação e na área plantada da soja ouve
um aumento no preço de terras. Estudos como os de Ferro e Castro (2013), Gurgel e Asai (2014)
e Asai e Piffer (2016) indicam que houve valorização das terras nas últimas décadas, tanto em
áreas de cultivo tradicional de soja, como a Região Oeste do Paraná, quanto em áreas de
fronteira agrícola como o MAPITOBA – área compreendida entre os estados do Maranhão,
Piauí, Tocantins e Bahia.
Assim, o valor da terra passa a ser importante para o cultivo da soja uma vez que nela
se torna possível o plantio e o ganho de competitividade do produto nacional frente o mercado
interno e externo. Autores como Sayad (1977), Reydon e Plata (2000), Dias, Vieira e Amaral
(2001), Rahal (2003) e Reydon et al. (2014) apontam a valorização da terra como parte do
processo ligado as atividades agropecuárias, ou seja, o preço das terras é influenciado pela
atividade ligada a ela, ou seja, o próprio plantio e criação agropecuário.
Ainda entre os fatores advindos da própria atividade agrícola que afetam o preço da
terra, são citados por Oliveira e Costa (1977) os preços recebidos na agropecuária e os preços
pagos pelos insumos, além do índice tecnológico empregado nas lavouras. Rangel (2000)
também cita as inovações agronômicas como fator que influencia o valor da terra.
Dentro do contexto de aumento de produção de grãos aliado com valorização da terra
objetivo deste trabalho é investigar e quantificar os ganhos de produção e exportação da soja
frente ao emprego de capital, via valorização da terra, no período de 2002 a 2016 nas
macrorregiões brasileiras.

Metodologia

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O trabalho está calçado numa pesquisa descritiva de natureza quantitativa, focado na


análise de dados secundários, mediante modelagem de equilíbrio geral computável (EGC) da
qual buscam-se elementos para atingir o objetivo proposto.
De acordo com Najberg, Rigolon e Vieira (1995) o modelo de EGC consegue aliar
aspectos dos modelos macroeconômicos e dos modelos de insumo-produto, possibilitando
captar todas as relações existentes no sistema econômico.
O modelo de EGC adotado como instrumental analítico foi o Projeto de Análise de
Equilíbrio Geral da Economia Brasileira (PAEG 1 ) que segundo Gurgel, Pereira e Teixeira
(2011) é um conjunto analítico de equilíbrio geral estático, multirregional e multissetorial que
trata a economia brasileira em suas macrorregiões.
A estrutura do PAEG é baseada no GTAPinGAMS (RUTHERFORD e PALTSEV,
2000; RUTHERFORD, 2005) adotando um problema de complementariedade não-linear, em
linguagem de programação General Algebraic Modeling System (GAMS) desenvolvida por
Brooke et al. (1998).
Para retratar a economia brasileira nas macrorregiões (Centro Oeste, Norte, Nordeste,
Sul e Sudeste) a base de dados presente no Global Trade Analysis Project (GTAP) foi
desagregada, mantendo os demais dados do restante do mundo e de fluxos comerciais
preservados na base de dados do GTAP.
A Figura 1 ilustra os fluxos presentes no modelo GTAPinGAMS.

Figura 1 – Fluxos presente no GTAPinGAMS

Fonte: Rutherford e Paltsev, 2000.


1
Uma limitação do trabalho é o modelo PAEG representar dados da economia de 2011 segundo a última Matriz
Insumo Produto disponível, sendo que a variação utilizada abrange um período recente, de 2002 a 2016.

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Como forma de representar os fluxos econômicos, o PAEG é dividido em um total de


13 regiões e 19 setores em sua versão recente é compatibilizada com o GTAPinGAMS sétima
versão que fazem referência a economia mundial para o ano de 2011. As regiões e setores
considerados no PAEG estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1. Regiões e setores presentes no PAEG


Regiões Setores
1. Brasil-região Norte (NOR) 1. Arroz (pdr)
2. Brasil-região Nordeste (NDE) 2. Milho e outros cereais em grão (gro)
3. Brasil-região Centro-oeste 3. Soja e outras oleaginosas (osd)
4. (COE)
5. Brasil-região Sudeste (SDE) 4. Cana-de-açúcar, beterraba açuc., ind. açúcar (c_b)
6. Brasil-região Sul (SUL) 5. Carnes e animais vivos (oap)
7. Resto do Mercosul (MER) 6. Leite e derivados (rmk)
8. Estados Unidos (USA) 7. Outros produtos agropecuários – trigo, fibras, frutas,
vegetais etc. (agr)
9. Resto do Nafta (NAF) 8. Produtos alimentares – Outros produtos alimentares,
bebidas e tabaco. (foo)
10. Resto da América (ROA) 9. Indústria têxtil (tex)
11. União Européia 15 (EUR) 10. Vestuário e calçados (wap)
12. China (CHN) 11. Madeira e mobiliário (lum)
13. Resto do Mundo (ROW) 12. Papel, celulose e ind. gráfica (ppp)
13. Químicos, ind. borracha e plásticos (crp)
14. Manufaturados: minerais não metálicos,
metalmecânica,mineração, indústrias diversas (man)
15. SIUP e com. (siu)
16. Construção (cns)
17. Comércio (trd)
18. Transporte (otp)
19. Serviços e administração pública (ser)
Fonte: Teixeira, Pereira e Gurgel., 2013.

Por se tratar de um modelo multirregional e multissetorial, o presente trabalho irá focar


no setor de soja e outras oleaginosas (osd), com um cenário de aumento de capital empregado
na cultura, distinguindo as diferentes regiões do Brasil.
Através do cenário criado simula-se um de acréscimo de capital necessário a ser
investido para viabilizar a cultura da soja, ou seja, um valor para aquisição de novas áreas de
plantio. O cenário criado se justifica quando a terra é considerada um fator de produção ou
insumo produtivo, como capital e trabalho. Essa abordagem é tida por Rahal (2003), Pindyck e
Rubinfeld (2009), Gasques, Bastos e Bacchi (2011), Belik (2014) e Hoffmann e Ney (2016),
cuja terra se coloca como fator determinante para a produção agropecuária brasileira.
Para se determinar um valor balizador no aumento de capital investido tem-se a
valorização média da terra para cada região extraídos da publicação Agrianual referente aos
anos de 2002 a 2016. O cálculo da valorização média da terra é obtido pela variação do preço
da terra por uma taxa anual composta, Compound Anual Growth Rate (CAGR), calculado pela
Equação 1.
4
&'()*+,-, /01,2 1
CAGR = −1 (1)
&'()*+,-, 01030,2

Logo, o choque de produtividade indicado irá incidir diretamente na composição da


produtividade, surgindo efeitos para todo o sistema econômico brasileiro.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Resultados
O aumento no preço das terras agrícolas tem sido alvo de estudos nos últimos anos.
Autores como Reydon et al. (2014), Gurgel e Asai (2014) e Bacha, Stege e Harbs (2016)
apontam a valorização crescente nos preços das terras.
Por meio dessa valorização, esse trabalho simulou um cenário que apresenta o aumento
de capital investido na formação da área planta de soja para as regiões brasileiras. Para isso,
considerou-se a valorização média da terra nas macrorregiões brasileiras calculado pelo CAGR
no período de 2002 a 2016.
A Tabela 2 demonstra os valores adotados como cenário do modelo de ECG.

Tabela 2. Valorização média dos preços de terras nas regiões do Brasil (em %)
Região CAGR
Centro-oeste 14,16
Norte 15,20
Nordeste 12,63
Sul 13,54
Sudeste 13,07
Fonte: elaboração própria.
Dados: Agrianual, 2002 – 2016.

Com o PAEG estruturado para representar o cenário de aumento de capital para a


produção de soja (osd), obteve-se os seguintes resultados de exportação e preço de commodites
apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Variação percentual pós cenário de valorização das terras


Mudança preço
Região Valor da produção Exportação
commodities
Norte -0,223 -0,252 0,013
Nordeste 0,221 0,328 -0,1
Centro-oeste 0,245 0,312 -0,119
Sudeste 0,195 0,273 -0,108
Sul 0,011 0,01 -0,058
Fonte: elaboração própria.

Nota-se um aumento da produção de soja com exceção a região Norte. Esse aumento de
produção é comprovado pelo aumento no valor da produção em conjunto com a diminuição dos
preços, uma vez que o valor é calculado com a multiplicação da quantidade produzida e do
preço comercializado.
O aumento de produção da soja nas regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e Nordeste já era
esperado, uma vez que a houve aumento de produtividade, nas áreas plantadas e nas melhoras
tecnológicas.
A região Centro-oeste teve o melhor ganho percentual no valor da produção, o que
representa uma consolidação desta área como grande produtora de soja. Tal fato também pode
ser comprovado pela Figura 2, cuja linha de produção do Centro-oeste destoa das demais. Já a
região Nordeste, em especial, apresentou um ganho percentual de 0,221 no valor da produção
justamente por ser uma região de fronteira agrícola que vem crescendo pós década de 2000 e o
crescimento eleva consigo os preços as terras, mas também trás benefícios de infraestrutura
para a região sendo responsável por polos de crescimento e atração.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Observou-se ainda uma queda no preço da soja, oriunda do aumento da produção


seguindo a tendência da lei da oferta e demanda. O contraponto é a região Norte, onde diminuiu
a produção e aumentou-se os preços.
A questão exportação também foi explorada no modelo. As regiões Nordeste, Centro-
oeste, Sudeste e Sul apresentaram ganhos nas exportações que se alinham aos ganhos de
produção. Destaque para a região de fronteira – Nordeste – e para uma região consolidada –
Centro-oeste – que tiveram aumento nas exportações de soja superiores a 0,3%.
Ao se comparar a valorização do preço das terras com os ganhos no valor da produção
e na exportação da soja evidencia-se uma disparidade nos valores encontrados, ou seja, as altas
produções não advêm somente do capital empregado para o aumento da área plantada, mas
outras características contribuem no aumento da produção de soja. Segundo Jank, Nassar e
Tachinardi (2005) como o aumento no consumo de soja, tanto doméstico quanto mundial, os
investimentos em pesquisa, o aumento do crédito rural e o emprego de tecnologia possibilitou
o aumento na oferta de soja.
Por sua vez, Lazzarotto e Hirakuri (2010) apontam outros fatores de destaque que
contribuem para o crescimento na produção de soja: alta quantidade de proteínas de qualidade;
alto teor de óleo, cerca de 20%, que pode ser usado para alimentação e produção de
biocombustíveis; por ser uma commoditie tem padronização e uniformização; apresenta alta
liquidez e demanda; e a existência de tecnologias de produção que permitiram ampliar a área e
produtividade dessa cultura.
Outros autores indicam que a crescente produção e exportação de soja pode ser
justificado pela vantagem comparativa adquirida pelo Brasil ao longo dos anos. Figueiredo e
Santos (2005) estudaram a vantagem comparativa do país em relação aos Estados Unidos da
América e a Argentina constatando que o Brasil tem possui vantagem comparativa na produção
e exportação do grão em si, mas não de óleo e farelo. Neste estudo, Figueiredo e Santos (2005)
concluem que a vantagem comparativa na produção e exportação da soja brasileira foi obtida a
partir de 1998.
Essa vantagem comparativa que o Brasil possui sobre os Estados Unidos e Argentina é
tratada por Sampaio, Sampaio e Bertrand (2012) por um custo de produção inferior e que uma
melhora nessa vantagem é possível através da expansão da produção e melhora na
infraestrutura.
Assim, o capital empregado no aumento da área plantada não justifica, por si só, o
aumento proporcional do seu valor bruto da produção de soja e da exportação, contudo contribui
para uma melhora de performance da commodity soja na economia do Brasil.

Considerações finais
O presente trabalho teve como objetivo investigar e quantificar os ganhos de produção
e exportação da soja frente ao emprego de capital nas macrorregiões brasileiras. Dessa forma o
trabalho simulou um cenário de acréscimo de capital, via investimento em novas áreas, para o
plantio de soja.
Como resultado, o aumento de capital favoreceu o aumento da produção, do seu valor,
das exportações e contribuiu com a queda nos preços dessa commodity para as regiões Nordeste,
Centro-oeste, Sul e Sudeste. Entretanto, os ganhos obtidos não são proporcionais ao capital
empregado o que denota uma disparidade e indica que outros fatores devem ser considerados
para o aumento da produção e exportação da soja.
Isto posto, o aumento de capital deve vir aliado a outros fatores para que ocorra um
incremento maior de produção conforme observado ao longo dos anos. Associar um conjunto
de fatores para obter melhores produções torna-se característica do setor, como comentado nos
trabalhos de Rahal (2003), Jank, Nassar e Tachinardi (2005), Lazzarotto e Hirakuri (2010)
Reydon et al. (2014) e Hoffmann e Ney (2016).

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Portanto, o aumento de capital para obtenção de novas áreas de plantio de soja contribui
com uma parcela da performance do setor na economia brasileira.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Panorama do setor leiteiro brasileiro nos últimos anos


Filipe Mello Dorneles1, Arthur Fernandes Bettencourt2, Marielen Aline Costa da Silva3,
Tatielle Belem Langbecker

1
PPGA, Universidade Federal do Pampa, fidorneles@gmail.com
2
Universidade Federal do Pampa
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4
Univerisdade Federal de Santa Maria

Resumo. A produção de leite no Brasil é significativa nos âmbitos econômico e social, sendo o país um dos
principais produtores da proteína animal do mundo. Considerando sua representatividade para o cenário do
agronegócio brasileiro, objetivou-se analisar os indicadores referentes ao setor leiteiro brasileiro nos anos de 2010
a 2016. Para tanto, procedeu-se a metodologia descritiva com abordagem quantitativa, coletando e analisando os
dados disponibilizados pelas instituições de pesquisa: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da Companhia
Nacional de Abastecimento e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, onde considerou-se os
dados de 2010 a 2016. Desse modo, observa-se que a produção de leite brasileira aumentou nos últimos anos,
atingindo a região sul a margem de 35% de aumento no ano de 2015. Ainda, o preço bruto pago ao produtor teve
um aumento de 89% do ano de 2010 para o de 2016. E, além disso, o consumo per capita também teve um aumento
de 3,45%, o que permite concluir que a cadeia produtiva do leite está se mantendo como um dos importantes elos
do agronegócio brasileiro.
Palavras-chave: Agronegócio, Pecuária Leiteira, Mercado.

Overview of the Brazilian dairy sector in recent years


Abstract. The production of milk in Brazil is important for the economic and social sector, being the country of
the main producers of animal protein in the world. It presents its representativeness for the Brazilian agribusiness
scenario, aiming to analyze the indicators referring to the Brazilian dairy sector in the years 2010 to 2016. For
that, a descriptive methodology is applied with a quantitative approach, collecting and analyzing the data provided
by institutions of Research: Brazilian Institute of Geography and Statistics, the National Supply Company and the
Center for Advanced Studies in Applied Economics, where data are considered from 2010 to 2016. Thus, it is
observed that Brazilian milk production has increased in recent years from the year 2015 onwards, from one year
to the other, from one year, and from a 89% increase from 2010 to 2016 and per capita consumption also increased
by 3.45%, which allows the conclusion that a productive chain of milk is being maintained as one of the important
links of the Brazilian agribusiness.
Keywords: Agribusiness, Dairy Cattle, Market.

Introdução

A produção de leite no Brasil teve seus primeiros indícios registrados pela Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura em 1961, quando o país produziu 5,2 milhões
de toneladas (FAO, 2016). Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística iniciou suas
publicações acerca da produção do setor em 1974 (IBGE, 2016; VILELA, 2017). Vilela (2017)
ainda destaca no panorama histórico da produção um crescimento de 1961 a 1973, onde se
registrou um aumento de 50% na produção. Neste contexto, considerando toda a linha de tempo
da produção, de 1961 a 2015, obteve-se um acréscimo de 30 milhões de toneladas. Além disso,
Fischer et al. (2011) destaca que o Brasil passou de um dos maiores importadores mundiais de
lácteos a exportador, isto em apenas sete anos por conta do aumento significativo da produção.
No contexto do aumento da produção de leite, recebendo notoriedade para a economia e
para o setor de agronegócio, surge também em disparada o consumo do produto animal pela
população do Brasil, pois o leite é tido como alimento de destaque pelas propriedades
nutricionais que possui. Assim, a exploração da atividade leiteira oferece oportunidades para
vários sistemas econômicos como agricultura familiar, empresas rurais, cooperativas de
produção entre outros (MARQUES, 2004; BRUM et al., 2016; LIMA, 2017).

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

A partir do prisma apresentado, o objetivo principal deste trabalho foi analisar os


indicadores referentes ao setor leiteiro brasileiro nos anos de 2010 a 2016, analisando os dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da Companhia Nacional de Abastecimento e
do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada.
Setor leiteiro brasileiro

O crescimento na produção de leite no Brasil possui uma taxa de crescimento constante


desde a década de 1980, quando a produção marcava 11,2 bilhões de litros passando para 14,1
bilhões no ano de 1989, obtendo um crescimento de 2,9 bilhões. Na década subsequente, a
produção atingiu um aumento de 4,5 bilhões de leite produzidos, alcançando esta margem em
1990 (GOMES, 2001).
Em virtude do crescimento da produção de leite no país, a bovinocultura de leite ao longo
dos anos mostrou-se capaz de se expandir. Neste cenário, a produção dispõe de diversas
características, tendo na cadeia produtores que possuem produção diária com um alcance menor
de dez litros, e outros, que usufruem de tecnologias que os demais não têm alcance, uma
produção superior a 60 litros diariamente (ZOCCAL et al., 2007).
Na conjuntura de usabilidade de tecnologia, os produtores têm investido na mesma para
desfrutar de economias de escala distinguindo seu produto, atingindo rentabilidade lucrativa
representativa, além de obter maior qualidade (CARVALHO; OLIVEIRA, 2006). Além disso,
o processo produtivo do leite tem estado ligado a diversos fatores que incluem tecnologias
associadas a manejo, instalações, equipamentos de ordenha e refrigeração e do nível de
profissionalização e de conhecimento das pessoas envolvidas no processo produtivo.
No contexto brasileiro, Gomes e Ferreira Filho (2007) apontam que o complexo
agroindustrial do leite possui suma importância, estando presente em todo o país, sendo setor
que gera renda e que possui quantidade expressiva de empregos. Souza (2014) destaca que o
Brasil, no ano de 2010, atingiu o índice de 5,3% no total da produção mundial de leite, ocupando
a quinta posição como maior produtor do mundo, além do mais, o país tem possuído papel
fundamental nos últimos anos na divisão internacional do trabalho na cadeia produtiva deste
setor.

Metodologia

Metodologicamente, esta pesquisa assenta num estudo descritivo usando banco de dados de
três instituições de pesquisa: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da Companhia
Nacional de Abastecimento e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. O
procedimento de coletas deu-se através dos portais virtuais das instituições, buscando por
indicadores e dados estatísticos referentes a produção de leite e do consumo do produto de
origem animal. Considerou-se na análise os dados dos anos de 2010 a 2016, incluindo
excepcional em uma das análises o ano de 2017.
A amostragem foi de natureza quantitativa, sendo a análise dos dados realizada
primeiramente através das leituras feitas no IBGE, CONAB e CEPEA, e posteriormente, outros
dados analisados no programa Microsoft Excel 2017.

Panorama 2010-2016 da indústria do leite no Brasil

A cadeia produtiva que mais se transformou no setor agropecuário nos últimos anos foi a
do leite. Gomes (2001) destaca que grandes mudanças no início da década de 1990 ocorreram
na cadeia produtiva do leite, transformações estas intervindas pelo governo, ocorrendo da
produção ao consumo. Por outro lado, Marques (2004) aponta que a produção de leite recebe

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destaque no mercado por suas propriedades nutricionais e pelo seu grande papel econômico e
social nas propriedades produtoras.
A partir do contexto da importância da cadeia produtiva de leite e seus derivados, tanto para
o setor agropecuário e do agronegócio como para a economia como um todo, na Figura 1
apresenta-se a escala de evolução da produção desta matéria-prima no Brasil.

Figura 1 – Evolução da produção de leite, segundo as Grandes Regiões – 1985 a 2015

Fonte: Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia, 2015.

Observa-se que ocorreu um grande salto na produção de leite nas regiões Sul e Sudeste do
país, reação do setor que ocorreu a partir de 1996 na região Sudeste e um crescimento
significativo a partir do ano de 2004 na região Sul. O IBGE (2015) destaca que a região Sul
ocupa desde 2014 a primeira posição na produção de leite no Brasil, sendo responsável, em
2015, por uma margem de produção de 35,2% frente as outras regiões no cenário nacional.
A partir da conjuntura da produção no período apresentado, revela-se a importância que o
setor do leite e seu crescimento possui para o agronegócio brasileiro, pois quanto mais a
produção de leite aumenta, maior é o crescimento do setor do agronegócio e da sua participação
no PIB brasileiro, superando setores importantes como o da siderúrgica. Para mais, a cadeia
produtiva do leite apresenta outras vantagens, sendo a responsável pela redução do êxodo rural
(EMBRAPA, 2003; FISCHER et al., 2011).
Com a expansiva taxa de crescimento na produção de leite, também ocorreu aumento no
valor médio bruto pago ao produtor na aquisição do leite, sendo possível observar na Figura 2
um crescimento de 89,9% no preço médio pago de 2010 a 2016, passando de R$0,705467 para
R$1,340192. Quanto ao valor médio líquido pago referente aos anos de 2010 a 2016, a taxa de
crescimento foi de 85,3%. Os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada,
CEPEA, ainda mostra que no ano de 2016 a diferença entre o valor bruto e do valor líquido
pago foi de 8,7%, passando de R$1,340192 e R$1,232842.

Figura 1 – Média de valor bruto e líquido pago ao produtor de 2010 a 2016

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1,6

1,4

1,2

0,8

0,6

0,4

0,2

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017*

Preço Bruto Preço Líquido

Fonte: Elaborado pelos Autores baseado em CEPEA, 2017.


*Valores da média de preço de 2017 foram dos meses de janeiro a agosto.

As oscilações de preços ao longo do tempo são resultantes de lacunas no mercado, além


da influência de tecnologias incorporadas ao processo produtivo e que se manifesta nas
características produtivas (VILELA et al., 2017). Os autores ainda destacam a perspectiva da
pecuária de leite, onde deduza-se que algumas tecnologias tem a capacidade de atuar
pontualmente na produtividade de determinado fator, elevando a mesma ação e
consequentemente resultando na variação de preço pago ao produtor.
Outro dado relevante acerca do setor de leite é referente ao consumo do produto. O leite
é um alimento consumido quase que diariamente pela população, sendo frequentemente
consumido no café da manhã, além de ingredientes de muitos pratos culinários (BRASIL,
2014).

Figura 3 – Consumo per capita de 2011 a 2016 - Brasil


L/Hab.
176

174

172

170

168

166

164
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: Elaborado pelos Autores embasado em CONAB, 2015.

Neste contexto, nota-se que houve um aumento de 3,45% no consumo de leite por habitante
brasileiro, saindo da margem de 168,1 litros em 2011 para 173,9 no ano de 2016. Ainda quanto
ao consumo, observa-se no cenário da produção-consumo, que as regiões que se destacam pelo
aumento da produção de leite também registraram maior aumento no consumo de produtos

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lácteos, este fato se associa a intensificação da urbanização e ao aumento de renda da população


(CARVALHO, 2008).

Considerações Finais

As transformações ocorridas na cadeia produtiva do leite incentivadas ocasionaram na


expansão da produção da matéria-prima, revelando uma margem de aumento nos últimos anos,
tendo crescimentos significativos desde a década de 1990. A partir deste cenário, revela-se que
pela alta produção o setor tem suma importância para a economia brasileira, além de seu papel
social, onde a cadeia produtiva também alimenta a produção familiar.
Quanto ao preço pago ao produtor, tanto bruto quanto líquido, observou-se que os aumentos
nos anos analisados foram significativos, saindo da margem de R$0,70 para um pouco mais de
R$1, o que vem a incentivar a continuidade dos produtores na cadeia produtiva. Para mais, o
consumo per capita de leite também tem tido um aumento nos últimos anos, tendo um aumento
acima de 3%, seguindo a linha de crescimento da produção e preço pago ao produtor.

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200

EVIDÊNCIAS DO SETOR LÁCTEO DO ESTADO DO RIO GRANDE


DO SUL - BRASIL
Tiago Reginaldo Zagonel¹, Felipe Dalzotto Artuzo², Fabiano da Silva Ferreira³, Leonardo Xavier
da Silva4
1 Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: tiagozagonel@hotmail.com
2 Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: felipeartuzo1@hotmail.com
3 Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: fabiano.ferreira@ufca.edu.br
4 Doutor em Economia –UFRGS. E-mail: leonardo.xavier@ufrgs.br

RESUMO: O Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo e ainda tem alto potencial para melhorar a
sua eficiência produtiva. Diante disso, o artigo tem por objetivo analisar a produção láctea do Rio Grande do Sul,
apontando possíveis ações para maximizar a eficiência produtiva. Trata-se de um estudo exploratório, por meio
de dados secundários obtidos junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e à Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural. Observa-se que o crescimento anual baixo da produção está relacionado,
entre outros fatores, à ineficiência produtiva do setor. Mas, apesar disso, apontam-se uma tendência de aumento
da produção nos próximos anos. Dados demonstram um aumento na eficiência produtiva, principalmente em
relação ao aumento da produção de leite por animal. Com vistas a propor melhorias ao setor, dentre outras
possibilidades, seria a incorporação de um modelo de integração entre produtores rurais e agroindústrias
processadoras.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Cadeia Produtiva, Leite, Agribusiness.

EVIDENCE OF THE DAIRY SECTOR OF THE STATE OF RIO


GRANDE DO SUL - BRAZIL

ABSTRACT: Brazil is one of the largest dairy producers in the world and still has high potential to improve its
productive efficiency. The objective of this paper is to analyze the dairy production of Rio Grande do Sul,
pointing out possible actions to maximize the productive efficiency. This is an exploratory study, through
secondary data obtained from the Ministry of Agriculture, Livestock and Supply and the Technical Assistance
and Rural Extension Company. It is observed that the low annual growth of production is related, among other
factors, to the productive inefficiency of the sector. But in spite of this, there is a tendency to increase production
in the coming years. Data show an increase in the productive efficiency, mainly in relation to the increase of
milk production per animal. In order to propose improvements to the sector, among other possibilities, it would
be the incorporation of a model of integration between rural producers and agroindustries.

Keywords: Development, Production Chain, Milk, Agribusiness.

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INTRODUÇÃO

Aproximadamente 150 milhões de propriedades em todo o mundo estão envolvidos na


produção de leite (HEMME et al., 2010). Na maioria dos países em desenvolvimento, a
atividade leiteira é realizada por pequenos agricultores, sendo que a produção contribui para a
subsistência do agregado familiar e para a segurança alimentar e nutricional (MUEHLHOFF
et al., 2013). Além disso, fornece retornos relativamente rápidos para os produtores de
pequena escala, tornando-se uma importante fonte de renda.
Nos últimos anos, os países em desenvolvimento têm aumentado sua participação na
produção leiteira global (PAURA e ARHIPOVA, 2016). Esse crescimento é o resultado do
aumento da produtividade e do número de animais. Nesses países, em alguns casos, a
produtividade é limitada por recursos alimentares de má qualidade, doenças, acesso limitado
aos mercados e serviços (por exemplo, saúde, crédito e formação) e baixo potencial genético
dos animais para a produção (HEMME et al., 2010; KUMAR et al., 2017; MAYBERRY et
al., 2017). Ao contrário dos países desenvolvidos, a maioria dos países em desenvolvimento
possui clima quente e/ou úmido, o qual é desfavorável para a produção leiteira (HEMME et
al., 2010; MUEHLHOFF et al., 2013).
Nas últimas três décadas, a produção mundial de leite aumentou em mais de 50% - de
500 milhões de toneladas em 1983 para 769 milhões de toneladas em 2014 (FAOSTAT,
2017). A Índia é o maior produtor do mundo, com 18% da produção mundial, seguida pelos
Estados Unidos da América, China, Paquistão e Brasil (FAOSTAT, 2017). Desde os anos
1970, a maior parte da expansão na produção de leite tem sido no sul da Ásia, que é o
principal motor do crescimento da produção de leite no mundo em desenvolvimento
(MUEHLHOFF et al., 2013). A produção na África está crescendo mais lentamente do que
em outras regiões em desenvolvimento, devido a pobreza e - em alguns países - as condições
climáticas adversas (ELOFSSON et al., 2016). Os países com maiores excedentes de leite são
a Nova Zelândia, os Estados Unidos da América, Alemanha, França, Austrália e Irlanda. Em
contrapartida, os países com os déficits mais elevados são a China, Itália, Russa, México,
Argélia e Indonésia (HEMME et al., 2010; MUEHLHOFF et al., 2013).
A demanda por leite e produtos lácteos nos países em desenvolvimento está crescendo
com o aumento da renda, crescimento populacional, a urbanização e as mudanças nas dietas
(ZINGONE et al., 2017). Essa tendência é pronunciada no leste e sudeste da Ásia,
particularmente em países altamente populosos como a China, Indonésia e Vietnã (YUAN et
al., 2017). A crescente demanda por leite e produtos lácteos oferece uma boa oportunidade
para os produtores (e outros intervenientes na cadeia de laticínios) em alto potencial, e para
aqueles em áreas periurbana, a fim de melhorar seus meios de subsistência.
O Brasil, um dos maiores produtores de leite do mundo, ainda tem alto potencial para
melhorar a sua eficiência produtiva. Nesse sentido, o artigo tem por objetivo analisar a
produção láctea do Rio Grande do Sul, um dos estados mais produtivos do Brasil, apontando
possíveis ações para maximizar a eficiência produtiva.

METODOLOGIA

O estudo teve como foco a produção leiteira do estado do Rio Grande do Sul – Brasil.
Trata-se de um estudo exploratório, por meio de dados secundários, a fim de analisar as
evidências do setor lácteo. Os dados foram obtidos no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento – MAPA e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER/RS.
As variáveis analisadas foram: a) produtividade, b) volume estimado de leite, c) rebanho, d)
média da produção de leite por animal, e) número de propriedades rurais que produzem leite,

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f) área média por propriedade, g) produção diária de leite, h) capacidade industrial instalada,
i) produtores de leite comercializado para as indústrias ou processam em agroindústrias
próprias legalizadas, j) empresas que captam leite, k) média de empresas captadoras por
município.
As variáveis foram comparadas entre o período de maio de 2015 a junho de 2017, com
o intuito de analisar as variações observadas. A partir das variações, foram apontadas as
possíveis ações de melhorias para o setor lácteo do Rio Grande do Sul.

RESULTADO E DISCUSSÃO

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de leite, porém, com um crescimento


anual baixo da produção 4% ao ano. Esse fato, dentre vários outros fatores, está relacionado à
ineficiência produtiva do setor, com média da produtividade somente de 4,4litros/vaca/dia,
sendo a média dos EUA de 27,7 litros/vaca/dia (Figura 1). Apesar disso, segundo o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2017), há uma tendência de aumento da
produção nos próximos anos, entre 2,1 a 3,0% a cada ano, podendo-se crescer de 34,5 bilhões
de litros em 2017 para 48 bilhões em 2027. De acordo com o órgão, esse aumento estará
baseado em melhorias na gestão das fazendas, no potencial genético dos animais, nos
sistemas produtivos e, de maneira geral, pela adoção e difusão de tecnologias para pequenos,
médios e grandes produtores.

FIGURA 1 – Evolução da produtividade de leite por país no triênio 2011-2014 e a produtividade


obtida por país no início do referido período.

Fonte: MAPA (2015)

A indústria de laticínios também tem passado por transformações, o que influenciou


na competitividade do setor. Isso tende a ser maximizado pelo aumento do consumo nos
próximos anos, podendo alcançar um incremento de 3,3% anual. Em compensação, o
crescimento da oferta nos últimos anos foi de 4%, com tendência de aumento nos próximos
anos, afetando o preço pago por litro do leite. A Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OECD), estima que os preços domésticos de leite e derivados
devam elevar-se obtendo um aumento entre 6% a 8% nos próximos anos (MAPA, 2017).
Em termos nacionais, o Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de leite do
Brasil, produzindo mais de 11,30 milhões de litros de leite por dia. No entanto, a capacidade
industrial instalada é de 18,71 milhões de litros de leite/dia. Essa produção está distribuída
entre 65.202 produtores, que comercializam para a indústria ou processam em agroindústria
legalizada. No Estado, há 2.032 empresas que captam leite, o que gera uma média de 4,4
empresas por município. A produção atual gera um valor econômico ao estado de R$ 4,22
bilhões de reais por ano, o que significa uma média de R$ 8,5 milhões por ano para cada um
dos 497 municípios (Tabela 1) (EMATER, 2017).
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TABELA 1 - Comparativo entre indicadores técnico-econômicos da atividade leiteira no


Rio Grande do Sul, entre 2015 e 2017.
Ano
OBSERVAÇÃO Var.%
2015 2017
Volume estimado de leite produzido no Estado (bilhões de
4,59 4,47 -2,61
litros por ano)
Rebanho (número de animais) 1.427.427 1.309.259 -8,28
Média da produção de leite por vaca (litros/dias) 10,5 11,2 6,67
Propriedades rurais que produzem leite 198.467 173.706 -12,48
Área média de hectares por propriedade (ha) 19 19,1 0,53
Produção diária de leite no Estado (milhões de l/leite/dia) 11,53 11,3 -1,99
Capacidade industrial instalada (milhões de litros de leite/dia) 18,49 18,71 1,19
Produtores de leite que vendem para as indústrias ou
84.199 65.202 -22,56
processam em agroindústrias próprias legalizadas
Empresas que captam leite no Estado (número de empresas) 2.102 2.032 -3,33
Média de empresas captadoras por município 4,5 4,4 -2,22
Valor econômico ao Estado (Bilhões de R$) 3,78 4,22 11,64
Média por ano para cada um dos 497 municípios (milhões de
7,60 8,50 11,84
R$)
Fonte: (IGL-EMATER, 2015; EMATER, 2017).

Os dados demonstram um aumento na eficiência produtiva, principalmente em relação


ao aumento da produção de leite por animal. Mesmo assim, quando comparado com os EUA,
a produtividade leiteira do RS é considerada baixa. Em compensação, quando comparada com
a média nacional, a produtividade no RS é considerada alta.
Algumas das variações negativas que são apresentadas podem ser explicadas pelo
êxodo rural aliado ao envelhecimento da população, ao fenômeno de concentração de
produtores de leite, à mão de obra escassa, às questões ligadas ao custo e preço do leite, entre
outros fatores socioeconômicos. Ressalta-se que o comparativo é baseado entre dois anos, o
que pode apresentar oscilações em algumas variáveis, como, por exemplo, a produção. Em
compensação, torna-se relevante a informação da redução de propriedades rurais com
atividade leiteira, mesmo tendo a concentração de produtores na atividade como tendência
mundial. Tal fato requer estudos específicos para entender melhor os fatores responsáveis pela
mudança de atividade.
Nesse sentido, uma atenção maior deve ser despendida ao setor lácteo do Rio Grande
do Sul, visto o seu potencial no setor, o qual pode ser exemplificado pela produção diária de
11,30 milhões de litros de leite. Mesmo assim, representa uma ociosidade de 39,6% das suas
plantas industriais, tendo em vista que possui uma capacidade instalada de 18,71 milhões de
litros de leite por dia, conforme os dados apresentados pela Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural – EMATER/RS.

Possíveis ações de melhorias para o setor lácteo do Rio Grande do Sul

No Brasil, há programas governamentais voltados a melhorar os baixos índices


alcançados pelos produtores, como o programa Leite Saudável do MAPA, que destinam 5%
do PIS/PASEP e da COFINS a projetos que auxiliem os produtores rurais de leite (fornecendo
assistência técnica com foco em gestão da propriedade, capacitação dos produtores, boas
práticas agropecuárias, programas de melhoramento genético e de educação sanitária na
pecuária). Além disso, o programa Balde Cheio e o Educampo da EMBRAPA, buscam

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contribuir na difusão de tecnologias para pequenas propriedades. Os valores aportados em 16


convênios somam mais de 28 milhões e mais de 6 mil produtores beneficiados. Já em projetos
o número aumenta para 187 e são mais de 65 milhões aportados pelo governo que beneficiam
mais de 41 mil produtores (MAPA, 2016).
O fomento a esses programas são realizados por meio de repasse de recursos Federais
para órgãos públicos estaduais, municipais ou entidades sem fins lucrativos como SENAR,
EMATER, SEBRAE. Essa articulação se torna positiva para o setor em que 80% do leite
nacional são produzidos por cerca de 20% dos produtores envolvidos na atividade leiteira.
Assim, tais programas têm foco nos cinco principais estados produtores de lácteos do Brasil:
1º Minas Gerais com 27,6%; 2º Rio Grande do Sul com 12,5%; 3º Paraná com 12,3%; 4º
Goiás com 11,0%; 5º Santa Catarina com 8,4%, que juntos representam mais de 70% da
produção nacional (MAPA, 2016, IBGE, 2017).
Devido às características comuns na produção de leite os três Estados do Sul, Santa
Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul criaram a Aliança Láctea Sul Brasileira, que tem por
objetivo fortalecer e consolidar a cadeia produtiva do leite, sendo formada pelos Secretários
da Agricultura dos três Estados, representantes dos órgãos de defesa sanitária, pesquisa
agropecuária, extensão rural, além do setor privado e entidades ligadas à agricultura. A
expectativa é de que em 10 anos, a produção de leite nos três Estados chegue a 19,5 milhões
de toneladas por ano, 77% a mais do que é produzido atualmente. Os Estados da região Sul
são responsáveis por 33% da produção brasileira de leite com 11 milhões de toneladas por
ano. A região formada pelo oeste de Santa Catarina, noroeste do Rio Grande do Sul e
Sudoeste do Paraná é onde a produtividade do leite mais cresce atualmente no Brasil, por
conta do clima favorável, mão de obra qualificada e presença de pastagem o ano todo (SEAB,
2017).
A movimentação na corrida por eficiência no setor lácteo brasileiro se materializa em
programas e projetos evidenciados neste estudo. Os esforços financeiros governamentais são
expressivos em projetos e programas para viabilizar a movimentação de uma diversidade de
agentes em diversas frentes como: assistência técnica e gerencial; melhoramento genético;
política agrícola; sanidade animal; qualidade do leite; marco regulatório; ampliação de
mercados entre outras. Para Neves (2016), entidades como a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária-EMBRAPA e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER
auxiliam a produção com qualidade e outros órgãos conferem a certificação de processo e
produtos.
Ao chegar nessa dimensão, percebe-se o impacto positivo no setor lácteo. O aumento
da produtividade é percebível ao longo dos anos, mas, mesmo assim, fica abaixo na
produtividade média dos EUA. Dessa forma, questiona-se se o crescimento do setor foi
significativo em relação aos esforços alocados nele. Nessa linha, o monitoramento do setor e
um possível sombreamento de agentes atuantes pode não ser eficientes, assim como uma
assistência técnica desarticulada.
A assistência técnica possibilitou melhorias na gestão da atividade e na qualidade do
leite (SALGADO, 2013). Porém, embora o país possua empresas de reconhecido domínio da
tecnologia, a assistência técnica prestada ao produtor rural não acontece de forma plena e
eficiente, reduzindo possíveis ganhos de produtividade e de qualidade do produto.
Há uma percepção de que o trabalho fornecido de maneira gratuita pelo agente público
encontra resistências e poderia ser desenvolvido em parcerias público/privadas com foco no
mercado consumidor final. A ineficiência de um setor é gerada pela ineficiência dos seus
agentes com graus distintos de comprometimento, que precisam ser constantemente ajustados.
Se comparado aos dados internacionais, a ausência de eficiência dos produtores de leite no
Brasil pode ser o reflexo da ausência de fomento efetivo ao setor lácteo.

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Contudo, os investimentos em assistência técnica e extensão rural (ATER) têm gerado


resultados positivos conforme os dados apresentados do Rio Grande do Sul. Além disso,
pode-se levar em consideração também a participação da assistência técnica disponibilizada
pelas indústrias aos produtores com maior escala de produção que não estão na linha de
prioridades da ATER pública, mas que podem em determinado momento ter evoluído de
pequena a grandes escalas com auxilio público.
Com vistas a propor melhorias ao setor lácteo diante do exposto, fica evidente a
necessidade de eficiência crescente em todos os elos de forma integrada. Dentre outras
possibilidades, seria a incorporação de um modelo de integração entre produtores rurais e
agroindústrias processadoras, para haver um alinhamento que gere maior profissionalização e
eficiência produtiva, assim como uma maior confiança pela adoção de contratos que são
atualmente amparados pela lei da integração nº 13.288, de 16 de maio de 2016 (BRASIL,
2016).
As mudanças que ocorreram nas cadeias produtivas integradas como fumo, suínos e
aves, são um bom exemplo da profissionalização que se fez necessária após a análise da
indústria que necessitava de produtos com determinado padrão frente aos mercados
consumidores. Esse modelo foi motivado pela demanda de mercado com o aumento
populacional, países tendo que importar ou exportar seus produtos e necessitando atender
padrões internacionais de qualidade, sanidade, rastreabilidade, entre outros (ZAGONEL,
2016).
Nos mercados emergentes, de produtos alimentares, as empresas de processamento
buscam maneiras eficientes de produzir matérias-primas de alta qualidade. Uma abordagem
amplamente adotada é a agricultura por contrato. O comportamento e o desempenho dos
agricultores dependem de habilidades e estruturas de incentivo, que podem ser influenciadas
por meio de contratos (SAENGER, 2013).
Avalizando a importância do alinhamento de interesses numa cadeia produtiva em
sistemas de integração com contratos, Tang, Sodhi e Formentini (2016) estudaram as
vantagens dos contratos com preço garantidos parcialmente (PGP) com produtores de Trigo
na Itália. Os contratos forneceram incentivos suficientes para que os agricultores
aumentassem sua produção. Portanto, é pertinente estabelecer um contrato que possa criar
valor compartilhado quando o agricultor enfrenta preços de mercado incertos e rendimento
incerto, e a empresa enfrenta preços de mercado incertos e demanda incerta.
Além disso, um sistema de integração com contratos podem proporcionar vantagens
para todos os atores envolvidos na cadeia. Nesse sentido, o Rio Grande do Sul tem potencial
para ampliar o volume de produção, mas são necessárias ações que maximizem a sua
potencialidade. A base está no produtor, que precisa profissionalizar-se.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo ressalta os aspectos comparativos que envolvem as evidências do setor lácteo


no Rio Grande do Sul. É possível perceber que o estado tem apresentado evolução positiva
nos indicadores produtivos, mas possui potencial para maximizá-los. Ressalta-se que a média
de produtividade da produção leiteira do estado aumentou nos últimos anos, mesmo assim,
está abaixo da média dos EUA. Nesse sentido, algumas ações são necessárias para maximizar
o sistema produtivo.
A primeira delas é a profissionalização do produtor rural. O agente transformador para
a maximização dos indicadores é o produtor rural, que necessita de auxilio em diferentes
frentes em sua propriedade para agregar valor à matéria-prima, tendo como base uma gestão
eficiente das propriedades rurais. A segunda é a necessidade de melhorias e atualização dos

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programas públicos relacionados à cadeia do leite e, por fim, um sistema de integração,


baseado na adoção de contratos, que possibilite um alinhamento de interesses entre produtores
e empresas. Dessa forma, outras ações podem ser adotadas a fim de maximizar a eficiência da
cadeia produtiva do leite, aqui são citadas algumas que podem ser aplicadas e estudadas de
forma específica.

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Technology, v. 84, p. 409-418, 2017.
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Região Celeiro. 105 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento) – Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul-UNIJUÍ, Ijuí, 2016.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


208

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

PRODUÇÃO DE ERVA-MATE NO RIO GRANDE DO SUL E A


PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE: Uma proposta de modelo para
avaliação da prática, a partir da Gestão do Conhecimento e o Processo de
Aprendizagem Organizacional1.

FERREIRA², Ana Paula Alf Lima, MACEDO³, Gabriela Ferreira

1 – Projeto Pesquisa PIBIC Unicruz edital 2016.


2 – Coordenadora projeto Pibic e docente da UNICRUZ – alima@unicruz.edu.br
3 – Bolsista projeto Pibic e discente da UNICRUZ – gaby92rs@hotmail.com

Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo, identificar e analisar junto a cadeia produtiva da erva-mate, a
prática da sustentabilidade e avaliar como se dá essa relação entre a duas, à luz da gestão do conhecimento que
compreende a produção e o processo de aprendizado (o que se herdou e o que se pretende deixar). O estudo foi
desenvolvido em duas etapas: na primeira fase do estudo aplicou-se a técnica Delphi on-line em três rodadas, já a
segunda fase foi composta por um levantamento documental e aplicação de um questionário desenvolvido a partir
da primeira etapa da pesquisa, para compor o grupo dos especialistas teóricos buscou-se, pesquisadores, que
investigaram algumas das variáveis, foco de estudo, junto as cooperativas de Erva Mate de Ilópolis, identificou-se
20 produtores e 10 especialistas. Os dados coletados, através da observação direta, foram analisados pela técnica
de Analise de conteúdo, buscando-se elencar os mesmos junto os construtos alvo da pesquisa. Conclui-se que o
modelo de avaliação da prática da sustentabilidade, junto aos produtores de Erva Mate da região de Ilopolis/RS, é
um modelo peculiar que apresenta características, pertinentes a própria cultivar, o que torna o modelo exclusivo
para realidade deles e impede sua replicação em outros cenário.
Palavras- Chave: Gestão do Conhecimento, Metodologia Delphi, Produção Erva-Mate, Sustentabilidade.

MANAGEMENT OF EARTH MILLS IN RIO GRANDE DO SUL AND THE


PRACTICE OF SUSTAINABILITY: A proposal for a model to evaluate the practice,
based on Knowledge Management and the Organizational Learning Process.
Abstract: The objective of this research was to identify and analyze along the productive chain of mate-grass the
practice of sustainability and to evaluate how this relation between the two occurs in the light of the knowledge
management that comprises the production and the process of Learning (what was inherited and what is intended
to be left). The study was developed in two stages: in the first phase of the study the Delphi technique was applied
in three rounds, the second phase was composed by a documentary survey and application of a questionnaire
developed from the first stage of the research, To compose the group of theoretical specialists, researchers were
investigated, who investigated some of the variables, focus of study, together with the cooperatives of Erva Mate
of Ilópolis, identified 20 producers and 10 specialists. The data collected, through direct observation, were
analyzed by the technique of content analysis, seeking to list them together with the target constructs of the
research. It is concluded that the model of evaluation of the practice of sustainability, together with the producers
of Mate herb of the region of Ilopolis / RS, is a peculiar model that presents characteristics, pertinent to the own
cultivar, which makes the model unique to their reality and prevents Their replication in other scenarios.

Keywords: Knowledge Management, Delphi Methodology, Herb-Mate Production, Sustainability.

INTRODUÇÃO

A produção de erva-mate, é um atividade com essência florestal, milenar a qual tem sua
origem ligada a cultura indígena, sendo historicamente utilizada na alimentação humana,
principalmente junto as regiões Sul e Centro-Oeste brasileiro tanto na alimentação, quanto na
bebida (chimarrão e tererê), a mesma tem pouco aproveitamento industrial, bem como não
representa altos índices de exportação, um vez que , 80% destina-se ao mercado doméstico,
sendo 96% na forma de chimarrão e 4% como chá e refrigerantes (IBGE, 2014).
Historicamente, a erva-mate tem sido um dos principais produtos agrícolas da região
Sul do Brasil e, atualmente, é o principal produto não madeireiro do agronegócio florestal desta

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região. Devido ao seu grande potencial econômico, social e ecológico, a cultura ervateira
representa uma das melhores opções de emprego e de renda, especialmente para os pequenos e
médios produtores rurais.
Com relação a área de produção, tem-se que o cultivo, no Brasil, corresponde
aproximadamente, 700 mil ha, localizados em mais de 480 municípios, distribuídos em cerca
de 180 mil propriedades e proporciona 700.000 postos de trabalho. O desenvolvimento de
técnicas silviculturas e da disponibilização de tecnologias aumentaram a demanda junto ao setor
ervateiro, incluindo as pequenas e médias propriedade rurais.
Com relação a representatividade industrial da erva-mate, destina-se em algumas
regiões, para a produção de produtos tais como: corante natural, conservante alimentar,
medicamentos diversos, produtos de higiene, cosméticos e produtos de despoluição.
A cultivar erva-mate, possui propriedades ativas e baixo valor calórico, bem como tem
a cafeína em sua composição, a qual proporciona efeitos fisiológicos e psicológicos e
organolépticos agradáveis, além de ser um elo de integração sociocultural onde é consumida
(SOUZA et. all, 2003).
Com relação a produtividade da cultivar erva-mate, a mesma possui representação
mundial, sendo os maiores produtor: O Brasil que produz cerca de 860 mil toneladas de erva-
mate verde; A Argentina (690 mil toneladas) e o Paraguai (85 mil toneladas) conforme dados
da EMBRAPA floresta (2015). Tem-se também que quase 80% da produção brasileira de erva-
mate destinam-se ao mercado interno, sendo que 96% são consumidas como chimarrão e 4%
na forma de chás e outros usos, porém por ser uma planta cuja composição química possui
compostos de interesse e propriedades benéficas ao organismo, pode-se ainda ser utilizadas, em
algum ramo ainda não explorado a fim de ampliar o mercado para a erva-mate e também a
aumentar o valor agregado do produto.
Os processos produtivo da erva-mate, compreende diversas etapas pelos quais a erva-
mate perpassa até chegar ao consumidor, ou seja, conforme Miele, Waquil e Schultz (2011) a
cadeia produtiva da erva-mate, é composta por vários segmentos e transações, que estabelecem
um ciclo produtivo e comercial, que tem seu início junto Indústria de insumos e equipamentos,
Agropecuária, Agroindústria, Distribuição até o Consumidor final.
O Estado do Rio Grande do Sul, mesmo sendo o estado brasileiro com maior
representatividade em termos de consumo e oferta da erva-mate, detendo cerca de 62% da
produção nacional e plantando 43,6% da área total desta cultura no país, nas últimas três
décadas, perdeu participação relativa (IBGE, 2014). Entretanto, Paraná, Santa Catarina e Mato
Grosso do Sul, também destacam-se pelos altos índices de produtividade e vem ganhando
espaço no mercado da Erva Mate.
Sendo que, a partir de 2011 o mercado de erva-mate, passou a sofrer com as influências
das mudanças observadas junto ao cenário socioeconômico brasileiro, uma vez que as
constantes transformações na economia mundial estimulada pelo processo de integração de
mercados comerciais e financeiros assim como pela difusão de um novo paradigma tecnológico,
vêm modificando as estruturas produtivas tanto em países desenvolvidos quanto em países
cujas bases industriais ainda se encontram em processo de desenvolvimento.
Com relação, ao desenvolvimento regional, das regiões produtoras de erva-mate,
observa-se que a economia ervateira destaca-se, por sua história, enquanto ramo comercial e
produtiva, mas principalmente por sua herança cultural (pelo hábito do chimarrão).
O conhecimento extremo, da cadeia produtiva e do agronegócio da erva-, também
constitui um elemento vital para processo de desenvolvimento regional, principalmente pelas
demandas tecnológicas e da produção deste produto que tem grande potencial de mercado
mundial, garantindo uma atividade econômica sustentável ao produtor rural, à indústria e ao
consumidor; a oferta de um produto com grande apelo cultural e com reconhecidas propriedades
medicinais (FERRARI,2004).

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Evidencia-se que a exploração da erva-mate é uma atividade de grande importância,


devido, principalmente, às características(1) Econômica: estima-se que a produção mundial de
erva-mate se aproxima das 800 mil toneladas anuais; (2) Social: no Brasil a erva-mate é
produzida em torno de 180 mil propriedades, a maioria de pequenos produtores (1 a 15
hectares), congregando ainda cerca de 600 empresas e mais de 700.000 empregos e (3)
Ambiental: grande parte da produção de erva-mate se origina de ervais nativos onde não se
aplicam produtos químicos (SILVA E CASSOL, 2010).
Logo a presente pesquisa buscou elucidar junto ao processo de produção da erva mate,
a prática da sustentabilidade, buscando-se assim construir um modelo de avaliação da prática
de sustentabilidade, a partir da gestão de conhecimento considerando, as variáveis
aprendizagens organizacionais e o processo sucessório como uma consequência da efetividade
destas práticas, tomando-se por base a metodologia Delphi on line.
Com relação a ferramenta Delphi, tem-se que ela é uma ferramenta de pesquisa que
busca um consenso de opiniões de um grupo de especialistas a respeito de um problema
complexo (SILVA et al., 2009), possibilitando informação qualificada (GIOVINAZZO;
FISCHMANN, 2012).
Ressalta-se, que apesar de existirem modelos multivariados que buscam avaliar a
prática e o retorna de ações de sustentabilidade, não foram encontrados modelos devidamente
testados e empiricamente validados que incluíssem a Gestão de Conhecimento, aprendizagem
organização e o Processo Sucessório.
Deste modo, o presente estudo procurou contribuir para a geração de novos
conhecimentos na área de sustentabilidade, focando-se no nível de impacto de tal prática. Pois
o mesmo busca, criar um modelo teórico preditivo mais abrangente de investigação, a partir do
seguinte problema de pesquisa: Em que medida a prática da Sustentabilidade e da Gestão do
Conhecimento influenciada pela aprendizagem organizacional pode vir a ter impacto no
processo sucessório (propriedade/organização/Associação)?

MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido em duas etapas: Na primeira fase do estudo aplicou-se a


técnica Delphi on-line em três rodadas, já a segunda fase foi composta por um levantamento
documental e aplicação de um questionário desenvolvido a partir da primeira etapa da pesquisa
(GIOVINAZZO e FISCHMANN, 2002).
A técnica Delphi, além de produzir um consenso de opiniões de um grupo de
especialistas a respeito de um problema complexo (SILVA et al., 2009), quando on-line
apresenta como vantagem a amplitude que atinge. Como os questionários são enviados via on-
line, não possuem limitações geográficas para a seleção de experts, permitindo a participação
de grupos maiores de pessoas.
Devido ao fato de não existir reunião física, também reduz a influência de fatores
psicológicos, como por exemplo, os efeitos da capacidade de persuasão, da relutância em
abandonar posições assumidas, e a dominância de grupos majoritários em relação a opiniões
minoritárias (GIOVINAZZO e FISCHMANN, 2002).
Na segunda fase, o método de coleta foi composto de um questionário com itens
fechados a ser encaminhado aos especialistas, este foi estruturado em três partes: dados de
identificação, auto avaliação de Impacto dos fatores, construção do modelo. Sendo que desde a
fase da aprovação, buscou-se identificar os especialistas.
Para compor o grupo dos especialistas teóricos buscou-se, pesquisadores, que
investigaram algumas das variáveis, foco de estudo, junto a cooperativa de Erva Mate de

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Ilópolis. Sendo que dos foi identificado 20 produtores e 10 especialistas, dos quais passaram
pelos seguintes propostas, descritas no quadro 01.
Os dados coletados, através da observação direta, foram analisados pela técnica de
Analise de conteúdo, buscando-se elencar os mesmos junto os construtos alvo da pesquisa,
porém reforça-se que o projeto de pesquisa seguiu todos os preceitos éticos estabelecidos pela
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a ética em pesquisa com
seres humanos e das demais normas complementares do Conselho Nacional de Saúde.

Quadro 01: Resumo das etapas da pesquisa


Fases da Pesquisa Produtores/Técnicos Pesquisadores/Especialista
Convite para participar da pesquisa 20 - E-mails 10 - E-mails
Resposta do Convite 06 aceites 04 aceites
Envio do projeto para conhecimento da 06 envio 04 envio
pesquisa
Confirmação da participação 04 aceites 03 aceites
1ª Rodada da análise do modelo – 50 Retorno de 03 aceites – retiraram da Retorno de 02 aceites – retiraram da
questões total – tiradas dos modelos sugestão inicial 15 – Questões e sugestão inicial 10 – Questões e
iniciais dos fatores e as mais usadas por ajustaram palavras para a realidade local Acrescentaram 06 novas questões
pesquisadores da área
Ajustes 1 Foram feitas, as alterações apontadas pelos Técnicos e especialistas – buscando
unificar as demandas, sendo que o modelo final, a partir dos apontamentos,
ficou com 40 questões
2º Rodada - Reenvio do modelo, com os 03 retorno primeira Rodada 02 retorno primeira Rodada
ajustes feitos
Ajustes 2 02 Retornos – Com solicitação de ajustes 02 retornos – com positivo, para
(simplificação), em algumas palavras, aplicação, aceitaram as alterações
das questões que foram acrescentadas
pelos especialistas
2º.1 Rodada – Envio da versão final que 02 retorno da segunda Rodada
será aplicada, aos demais cooperados da
cooperativa
Entrevista final – Presencial na reunião 20 – Cooperados convidados, teve-se a presença e participação na pesquisa de
da cooperativa 18.
Fontes: Elaborado pelas Autoras, 2017.

Com base nos dados coletados junto aos 18 produtores, buscou-se ponderar as respostas
dos mesmos junto com os elementos chaves da pesquisa, sempre tentado evidenciar a relação
de causa e efeito a fim de construir o modelo de avaliação da prática da sustentabilidade.

RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas entrevista, ficou evidente, embora não fosse o foco de investigação da
pesquisa, que há uma certa frustação com relação aos incentivos e preços pagos ao produto erva
mate, o que muitas fezes acaba norteando a decisão de alguns produtores por não buscar novas
tecnologias ou até mesmo, por buscarem novas alternativas de geração de renda e deixar
atividade da produção de erva-mate.
Outro fator evidenciado, é a carência de novas pesquisas que busquem melhorar as
práticas existentes ou desenvolvam novas tecnologias, a qual segundo os entrevistados ainda é
limitada ou de alto custo, o que desestimula a busca ou restringe o acesso.
Com relação ao objetivo desta pesquisa, de analisar e identificar junto a produção de
erva-mate, a prática da sustentabilidade e como ela é tratada frente a gestão do conhecimento e
processo de aprendizado organizacional, buscou-se mensurar as respostas dos entrevistados
junto a figura 01, que evidencia os principais achados da pesquisa, frente as variáveis em
análise, e que servirão de base para a construção do modelo, frente a realidade investigada.

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Figura 01: Modelo de Avaliação da Prática de Sustentabilidade

Variação do modelo de
NONAKA, I.;
TAKEUCHI, H - 2009

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

Assim, conclui-se que o modelo de avaliação da prática da sustentabilidade, junto aos


produtores de Erva Mate da região de Ilópolis/RS, é um modelo peculiar o qual apresenta
características, pertinentes a própria cultivar, o que torna o modelo exclusivo para realidade
deles e impede sua replicação em outros cenário, um fator que pondera essa assertiva e a forma
como os produtores encaram a pratica da sustentabilidade, o que é tratado em alguns modelos
como regra e obrigação eles entendem como inerente a atividade que eles já realizam.
Nota-se que o modelo de avaliação da sustentabilidade, segue a analogia do seu tripé
(Economia, social e ambiental), porém esse, é o resultado do somatório em especial do
conhecimento e informações que eles tem, uma vez que o processo de apreender é restrito ao
interesse de cada produtor, o que limita algumas ações ou a inserção de novas tecnologias,
apontada como um gargalo para a produção.
Quanto a gestão do conhecimento, nota-se que há interesse de que esse vem a ser mais
formal e de fácil acesso, porém muito do que se sabe e pratica-se é oriundo do conhecimento
empírico que é passado de geração para geração, o que também está comprometido uma vez
como não há renda para manutenção de todos junto as famílias produtoras, os mais jovens
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acabam indo buscar novas oportunidades, muitas destas sem relação com a produção de erva-
mate. O processo de aprendizagem, tem-se dado pela própria prática ou capacitações oriundas
da IBRAMATE, porém ainda é incipiente e necessita de mais entendimento.
Desta forma entende-se, que esse modelo deve passar por constante avaliação a fim
realizar adequação conforme as atualizações ligadas à área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

FERRARI, E. Estudo dos potenciais da cadeia produtiva da erva mate como fator de desenvolvimento regional
sustentável do médio alto Uruguai do Rio Grande do Sul. Dissertação Mestrado; UNISC - Santa Cruz do Sul :
2004.
GIOVINAZZO, R. A.; FISCHMANN, A. A. Delphi eletrônico: Uma experiência de utilização da metodologia
de pesquisa e seu potencial de abrangência regional. In: COSTA, B. K; NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação
de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. RIO DE JANEIRO:
Campus, 1997.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estados @. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=rs&tema=lavourapermanente2012.Acesso em: 01 out. 2014.
MIELE, M.; WAQUIL, P. D. Estrutura e dinâmica dos contratos na produção de erva-mate.: um estudo de casos
múltiplos. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 817-847, out./dez. 2011.
SILVA, A. M.; FOSSATI, L. C.; KREUZ, C. L. Possibilidades de revalorização dos tradicionais processos de
produção e de transformação de erva-mate no planalto norte catarinense. Congresso Sul-americano da erva-
mate, 3.2009.
SOUZA, A. M.; FOSSATI, L. C.; KREUZ, C. L. Possibilidades de revalorização dos tradicionais processos de
produção e de transformação de erva-mate no planalto norte catarinense. Congresso Sul-americano da erva-
mate,2003. VALE, G. M. V.; CASTRO, J. M. Clusters, arranjos produtivos locais, distritos industriais. Análise
Econômica, Porto Alegre, ano 28, n. 53, p. 81-97, 2010.
WAQUIL, P. D; OLIVEIRA, S. V. Dinâmica de produção e comercialização da erva-mate no Rio Grande do Sul,
Brasil. Ciência Rural, v.45, n.4, abr, 2015.

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O estado da arte do consumo vegano na produção científica internacional


Anelise Daniela Schinaider1, Leonardo Xavier da Silva2

1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aneliseschinaider@gmail.com
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, leonardo.xavier@ufrgs.br

Resumo. O consumo vegano atrai cada vez mais adeptos e instiga o meio acadêmico em busca de compreender a
produção científica a seu respeito. Embora seja um campo incipiente de pesquisa, o veganismo traz uma
preocupação relacionada à saúde, ao meio ambiente, aos direitos dos animais e a um estilo de vida. Neste sentido,
tem como objetivo reunir informações que relatam sobre o consumo vegano na produção científica. Para isso, foi
aplicado o método PRISMA, a fim de realizar uma revisão bibliométrica com os seguintes indicadores: evolução
temporal; principais áreas de conhecimento e periódicos; principais países; e palavras-chave mais citadas nos
artigos. A base internacional de dados escolhida foi a Elsevier's Scopus, considerando as palavras de busca vegan
AND consumption, resultando em 54 artigos. Percebe-se que o consumo vegano cresce exponencialmente a partir
de 2015, sendo um dos países que mais pesquisam sobre o assunto é os Estados Unidos, com 22 artigos. Diante
do exposto, nota-se que o consumo vegano tem importância no meio acadêmico, abrangendo questões de saúde,
do meio ambiente, de estilo de vida e do direito dos animais. Aderir à dieta vegana seria uma das possibilidades e
estratégias para diminuir o aquecimento global e assim, propor um meio ambiente menos degradado. Como
pesquisa futura, é interessante caracterizar o perfil do consumidor vegano, uma vez que ele já está inserido neste
nicho de mercado.
Palavras-chave: Consumo vegano, Dieta alimentar, Indicadores Bibliométricos, Veganismo.

The state of the art of vegan consumption in international scientific


production
Abstract. Vegan consumption attracts more and more adepts and instigates the academic environment in search
of understanding the scientific production about them. Although it is an incipient field of research, veganism is a
concern related to health, the environment, animal rights and a lifestyle. In this sense, it aims to gather information
about vegan consumption in scientific production. Therefore, the PRISMA method was applied in order to perform
a bibliometric review with the following indicators: temporal evolution; Main areas of knowledge and periodicals;
Major countries; and keywords most cited in the articles. The international database used was Elsevier's Scopus,
considering the search words vegan AND consumption, resulting in 54 articles. Therefore that vegan consumption
grows exponentially from 2015, being one of the countries that more research on the subject is the United States,
with 22 articles. In view of the above, it is noted that vegan consumption is important in the academic world,
encompassing issues of health, environment, lifestyle and animal rights. Concludes adhering to the vegan diet
would be one of the possibilities and strategies to decrease global warming and thus, propose a less degraded
environment. As the future research, it is interesting to characterize the profile of the vegan consumer, since he is
already inserted in this niche market.
Keywords: Bibliometric indicators, Dietary diet, Vegan consumption, Veganism.

1 Introdução
Várias pesquisas da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) e
discussões da COP21 apresentam uma preocupação com o meio ambiente e seu estado atual, e,
portanto, subentende-se que a dieta alimentar do ser humano é dos fatores que também contribui
para o aquecimento global e para o “famoso” efeito estufa. Segundo estudos, aproximadamente
18% das emissões de dióxido de carbono são provindos da produção pecuária, 70% de terras
agrícolas do mundo são utilizadas para essa produção e 30% dos gases tóxicos são provindos
da dieta alimentar de uma família normal média alemã (STEINFELD et al., 2006; CONRAD,
2012; FROEHLICH, 2016). Ainda, conforme Kedouk (2013), o Brasil é o quinto maior emissor
de dióxido de carbono (CO2) no mundo e quase 52% dos gases estufa são decorrentes do
desmatamento.
Para contrapor essas causalidades, a dieta alimentar vegetariana e vegana vêm sendo
aceita por muitos adeptos que defendem várias questões e que incorporam um novo estilo de
vida. Saba (2001) revela que 60% dos consumidores europeus estão preocupados com as
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

questões ambientais em relação ao que consomem e Barcellos (2007) corrobora que dietas
alternativas tais como o veganismo são cada vez mais crescentes no Reino Unido, Alemanha e
Holanda. Nesse sentido, o movimento vegano ganha destaque no consumo de alimentos sem
interferir no ecossistema, acreditando numa filosofia de vida, na ética, no direito dos animais,
na preservação do meio ambiente, na saúde, entre outras questões.
Os veganos (ou vegans), como são chamados, têm como propósito não consumir
produtos de origem animal, tais como, carne, ovos, leites, gelatinas, mel, couro, seda, lã, ou
produtos que são testados em animais (TRIGUEIRO, 2013; TAFFAREL, 2012). Ou seja, são
pessoas que possuem uma dieta alimentar e estilo de vida diferente dos consumidores
convencionais e vegetarianos. O veganismo se torna uma expressão de uma projeção reflexiva
onde os indivíduos tentam dar um rumo à sociedade, objetivando as condições de vida, ética,
social e ambiental que norteiam a relação entre a sociedade e a natureza (TRIGUEIRO, 2013).
Sendo assim, tem-se como objetivo reunir informações que relatam sobre o consumo
vegano na produção científica, através da aplicação do método PRISMA, a fim de mensurar
alguns indicadores bibliométricos, tais como: evolução temporal; principais áreas de
conhecimento e periódicos; principais países; e palavras-chave mais citadas. Além desta
introdução, este artigo contempla mais três seções. Na segunda seção são descritos os
procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa. Posteriormente, são apresentados, por
meio de figuras os resultados obtidos; e na última seção são descritas algumas considerações
desta pesquisa.

2 Procedimentos Metodológicos
A pesquisa caracteriza-se por uma apresentação de indicadores bibliométricos de artigos que
foram selecionados pelo método PRISMA, o qual propõe um passo a passo das etapas a serem
seguidas. A pesquisa foi realizada pela base de dados internacional de produção científica Elsevier's
Scopus, sendo uma base multidisciplinar que abrange as áreas de ciência, tecnologia, medicina,
ciências sociais, artes e humanidades (ELSEVIER, 2016). Em seguida, foram inseridas as palavras
de busca Vegan AND Consumption, com objetivo de encontrá-las no título, no resumo e nas
palavras-chave no tipo de documento “artigos”. Nessa etapa, foram encontrados 152 artigos.
Posteriormente, introduziu-se a metodologia do protocolo PRISMA, conforme a Figura 1.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Figura 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para revisão sistemática sobre o Consumo Vegano

Fonte: adaptada de Liberatti (2009).

A Figura 1 apresenta o fluxograma do PRISMA onde ocorreu as quatro fases para aplicação
do método. Na fase da Identificação, foram encontrados 152 artigos, excluindo 2 artigos que foram
publicados em livros. Na fase da Seleção, foram excluídos 70 artigos, após realizada a leitura do
resumo, uma vez que não atendia o propósito da pesquisa. Na fase da Elegibilidade foram excluídos
26 artigos, sendo 15 artigos incompletos ou que não se encontravam disponíveis na web e 11 artigos
em outros idiomas (português, francês, polonês, alemão). Dessa forma, na fase de Inclusão foram
selecionados para a revisão bibliométrica 54 artigos, atendendo o objetivo da pesquisa.

3 Resultados e Discussão
Inicialmente, na Figura 2, foi realizada uma análise temporal desses 54 artigos, objetivando
apresentar a evolução temporal, conforme figura abaixo. Percebe-se que há uma discussão sobre o
tema em 2001, porém é perceptível a evolução a partir de 2009, onde houve um crescimento na
produção científica e se ascendendo significativamente em 2015 e 2016, com publicações de 7 e 12
artigos em cada ano. Nota-se que debater sobre o consumo vegano é algo ainda desconhecido para
a maioria das pessoas. Porém, o movimento ganhou força a partir de 2015 e, atualmente, vem
evoluindo exponencialmente no mercado de consumo, resultando na inovação e criação de produtos,
restaurantes diferenciados para este público ou, até mesmo, um espaço social para atender esse novo
nicho de mercado. Conforme a SVB (2016), no Brasil, existe aproximadamente cerca de 240
restaurantes vegetarianos e veganos. Esse crescimento tem relação com as tendências mundiais,
como no Reino Unido, onde houve um crescimento de 360% no número de veganos no país nos
últimos dez anos (2005-2015), e nos Estados Unidos, esse o número de veganos dobrou nos últimos
6 anos.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Figura 2 – Evolução temporal dos artigos de 1986 a 2016

Fonte: Elaborada pelos autores (2016).

As Figuras 3 e 4 representam as principais áreas e um ranking de 10 principais periódicos


que publicam sobre o consumo vegano, conforme abaixo. Nota-se que os estudos sobre o consumo
vegano são produzidos em diversas áreas do conhecimento, permitindo tratar de um tema
interdisciplinar que busca construir o conhecimento em áreas da medicina, enfermagem,
administração, economia, agronomia, biologia, química, farmacologia, psicologia, etc. Dos 54
artigos, 40% deles são publicados na área da saúde, 20% nas áreas sociais e humanas e 14% nas
ciências agrárias e biológicas, o que permite verificar que o consumo vegano tem forte influência
nas questões relacionadas com a saúde, indivíduo, direito dos animais, meio ambiente. Janssen et al.
(2016) revelam que os fatores “Saúde, Direito dos animais, Meio ambiente e Indivíduo” são as
principais motivações que levam o indivíduo a aderir o veganismo, tornando-se um tema de pesquisa
interdisciplinar.

Figura 3 – Principais áreas de pesquisa relacionadas ao consumo vegano de 1986 a 2016

Fonte: Elaborada pelos autores (2016).

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Figura 4 – Ranking dos principais periódicos de 1986 a 2016

Fonte: Elaborada pelos autores (2016).

Considerando as principais áreas de pesquisa, o periódico Appetite possui 9 artigos


publicados que estão relacionados ao consumo vegano. Este periódico tem um fator de impacto de
3,125 e é específico nas pesquisas que tratam das influências culturais, sociais, psicológicos,
sensoriais e fisiológicas em relação à seleção e ingestão de alimentos e bebidas. Os demais
periódicos British Journal of Nutrition, Public Health Nutrition e Society and Animals possuem 3
artigos publicados que vão ao encontro das áreas de pesquisa apresentadas na Figura 4 (áreas da
saúde e das ciências agrárias e ambientais).
O consumo vegano possui uma tendência evolutiva na disseminação da produção científica
em diversas áreas de pesquisa, promovendo esse conhecimento nos países desenvolvidos. Dessa
forma, outro indicador bibliométrico previsto no objetivo da pesquisa é mensurar um ranking dos 10
principais países que mais publicam sobre o tema da pesquisa, conforme Figura 5.

Figura 5 – Principais países que pesquisam sobre o consumo vegano de 1986 a 2016

Fonte: Elaborada pelos autores (2016).

Verifica-se que os Estados Unidos são pioneiros em pesquisas sobre o consumo vegano,
possuindo 22 artigos publicados na base internacional Elsevier's Scopus, em seguida vem Reino
Unido com 12 artigos e Austrália, Alemanha, Itália e Holanda com 4 artigos cada país. Considera-
se que esses países já têm uma dieta alimentar vegana e estilo de vida, pois conforme Dyett et al.
(2013), em um estudo realizado com 100 veganos dos Estados Unidos, revelam que a dieta vegana
vem sendo adotada por questões de saúde, uma vez que coincide com exercícios regulares; pouca

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ingestão de álcool e tabagismo; consumo de legumes, nozes e grãos, proporcionando baixo teor de
gordura corporal. Nota-se que são países desenvolvidos que estão na frente colocando em prática
uma dieta alimentar e defendendo um novo estilo de vida que traz pontos positivos para a saúde,
meio ambiente e para o ser humano em si.
O último indicador bibliométrico dessa pesquisa tem por objetivo gerar uma nuvem de
palavras das principais palavras-chave descritas nos 54 artigos, conforme a Figura 6.
Figura 6 – Principais palavras-chave citadas nos artigos de 1986 a 2016

Fonte: Elaborada pelos autores (2016).

Nesta nuvem de palavras, foram mensuradas 373 palavras-chave dos 54 artigos avaliados
nesta pesquisa. Após feita essa observação, verifica-se que as palavras Diet, Vegan, Animal,
Vegetarian, Food e Meat tiveram maior presença na Figura 6, demonstrando que são palavras que
vão ao encontro do consumo vegano e com as principais causas que estão associadas ao veganismo.
Além disso, as palavras Health, Lifestyle, Sustainable, Ethics, Comsumption e Agricutural são
palavras-chave que retratam os aspectos positivos no ato de se tornar um consumidor vegano. Judge
e Wilson (2015) relatam uma variedade de resultados positivos e negativos em relação aos
consumidores com a dieta à base de plantas vinculados à saúde, ao meio ambiente, à moralidade na
sociedade e à ética nos indivíduos.

4 Considerações Finais
Este artigo buscou realizar uma revisão bibliométrica com alguns indicadores na produção
científica relacionada ao consumo vegano. Diante do exposto, nota-se que o consumo vegano tem
importância no meio acadêmico, abrangendo questões de saúde, do meio ambiente, de estilo de vida
e do direito dos animais. Aderir à dieta vegana seria uma das possibilidades e estratégias para
diminuir o aquecimento global e assim, propor um meio ambiente menos degradado.
Logo, mudar os hábitos ou rotinas pode levar um certo tempo, porém as dietas alimentares
individuais evoluem frequentemente dentro de um tempo de vida, inclusive quando se inclui
encontros com a família, com os amigos, com o pessoal do trabalho, etc., que possam influenciar na
mudança da dieta alimentar e no estilo de vida. Questões vinculadas à sustentabilidade e direito dos
animais também vêm sendo um dos fatores preocupantes para a sociedade em si, uma vez que é
preciso pensar no que será deixado como legado para as gerações futuras. Por fim, como pesquisas
futuras, recomenda-se caracterizar o perfil do consumidor vegano, uma vez que existem pesquisas
que apresentam que ele está inserido no mercado e que há variáveis que possam traçar esse perfil
claramente.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


220

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

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Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


221

Caracterização e eficiência ambiental da cadeia de suprimentos de uma


empresa de reciclagem de materiais recicláveis em Aparecida do Taboado -
MS
Fernanda Moreira Mazini1, Geraldino Carneiro de Araújo2, Thiago José Florindo2
1
Graduanda em Administração - UFMS- CPAR. 2Professor, UFMS - CPAR

Resumo
A partir das mudanças sociais e produtivas advindas da revolução industrial, nas quais se destacam os problemas
ambientais, alta concentração populacional, urbanização acelerada e o consumo excessivo de recursos de fontes
primárias, foram se desenvolvendo alternativas para sanar alguns desses problemas, como é o caso de políticas
com prioridades de redução de resíduos de fontes geradoras de energia, redução da disposição final do solo, o
máximo reaproveitamento dos resíduos, coleta seletiva, e da reciclagem. A partir desse cenário o objetivo deste
estudo foi dividido em duas etapas, primeiramente identificar os processos inerentes na cadeia de suprimentos de
uma empresa de reciclagem e posteriormente mensurar as emissões de gases de efeito estufa decorrente de sua
cadeia de suprimentos. Dessa forma, primeiramente foi caracterizado os processos da cadeia de suprimentos de
uma empresa de reciclagem de resíduos sólidos instalada em Aparecida do Taboado – MS por meio de um estudo
de caso. Em um segundo momento, foi utilizado o conceito de avaliação do ciclo de vida para quantificar e
mensurar as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da cadeia de suprimentos. Os resultados encontrados
indicam que a reciclagem dos resíduos sólidos para a venda como matéria prima secundária possibilitam uma
diminuição expressiva do volume de poluentes gerados por essa ação, quando comparado com a ação de extração
natural e utilização de matérias-primas primárias. Assim, a atividade de reaproveitamento para a obtenção de
matéria prima vem ganhando destaque mundial por gerar benefícios ambientais e econômicos.

Palavras-chave: reutilização; logística reversa; reaproveitamento; ecoeficiência.

Characterization and environmental efficiency of the supply chain of a


company of recyclable materials in Aparecida Taboado - MS
Abstract
From the social and productive changes resulting from the industrial revolution, in which environmental problems,
high concentration of population, accelerated urbanization and excessive consumption of resources from primary
sources stand out, alternatives have been developed to remedy some of these problems, as is the case of policies
with priorities for the reduction of waste from energy sources, reduction of final disposal of the soil, maximum
reuse of waste, selective collection, and recycling. From this scenario the objective of this study was divided into
two stages, first to identify the inherent processes in the supply chain of a recycling company and subsequently to
measure the emissions of greenhouse gases from its supply chain. In this way, it was first characterized the
processes of the supply chain of a solid waste recycling company installed in Aparecida do Taboado - MS by
means of a case study. Second, the concept of life cycle assessment was used to quantify and measure greenhouse
gas emissions from the supply chain. The results indicate that the recycling of solid waste for sale as secondary
raw material enables a significant reduction of the volume of pollutants generated by this action, when compared
to the action of natural extraction and use of primary raw materials. Thus, the reuse activity to obtain raw material
has gained worldwide prominence for generating environmental and economic benefits.

Keywords: reuse; reverse logistic; ecoefficiency

INTRODUÇÃO

Após a revolução industrial a economia e o meio ambiente sofreram grandes


transformações no contexto ambiental, ocasionando significativos impactos negativos na
natureza, representando um dos maiores problemas atuais para a população. A industrialização
trouxe graves problemas ambientais, alta concentração populacional, urbanização acelerada e
o consumo exagerado de recursos naturais (DIAS, 2011).
De acordo com Jacobi e Besen (2011), desde a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 (RIO-92), introduziram-se novas prioridades a
222

gestão de resíduos sólidos, representando uma mudança para governos, sociedade, e a indústria.
A partir dessas mudanças, foram incluídas como prioridades a redução de resíduos de fontes
geradoras de energia, redução da disposição final no solo, o máximo reaproveitamento dos
resíduos, coleta seletiva, e da reciclagem, incluindo a participação da sociedade com os
catadores, assim como o processo orgânico e o reaproveitamento da energia (MARCHI, 2011).
Entretanto, com o crescimento da população, intensa urbanização e ampliação do consumo, tem
ocasionado o crescimento da geração de resíduos.
Com o objetivo de reduzir os impactos ambientais negativos inerentes ao descarte de
resíduos, a Agenda 21 considera a prática dos 3R´s (reduzir, reutilizar, reciclar) como essencial
para mitigar os impactos resultantes ao meio ambiente nos aterros sanitários (MARCHI, 2011).
A reutilização consiste em ações que permitam a utilização dos resíduos para outras finalidades,
otimizando o uso energético deste material. Já a reciclagem pode ser descrita como um conjunto
de técnicas que permite aproveitar os resíduos e inseri-los novamente no ciclo de produção que
saíram.
Com a implantação da Lei 12.305 de 23 de dezembro de 2010, instituindo a proibição a
partir do ano de 2014 da disposição em aterro sanitário de qualquer tipo de resíduo que possa
ser reutilizável ou reciclado, surge a necessidade de técnicas e pesquisas que possibilitem o
aproveitamento energético desses resíduos (PECORA et al., 2012). Com esse avanço, viu-se
assim a necessidade de reaproveitar esses resíduos, contando com empresas e cooperativas que
trabalham realizando a separação de materiais e resíduos sólidos, ou seja, são empresas
intermediarias que realizam esse processo para as indústrias especializadas em efetuar o
processamento de reciclagem, revertendo em novos produtos tornando-os aptos para o
consumo.
De acordo com Souza, Paula e Pinto (2012), as cooperativas exercem um papel
fundamental com a vida útil de produtos e embalagens, utilizando a coleta seletiva e reciclagem,
assim como a separação e o fornecimento de matéria-prima secundária para o setor industrial.
No entanto, os brasileiros dispõem aproximadamente 76 milhões de toneladas de lixo por mês,
das quais 30% poderiam ser reaproveitados, no entanto, apenas 3% deste volume são destinados
a reciclagem (SOUZA et al., 2005).
Dessa forma o estudo propõe responder as seguintes questões: Quais são os processos
da cadeia de suprimento de uma empresa de materiais recicláveis e quais as emissões de gases
de efeito estufa inerente dessa atividade? Como objeto de estudo, têm-se uma empresa que atua
no ramo da reciclagem na cidade de Aparecida do Taboado/MS, que atualmente trabalha com
a coleta, desmonta e a separação de resíduos sólidos de indústrias e lixo urbano.

REFERENCIAL TEÓRICO

Reciclagem

A reciclagem é o aproveitamento de materiais que visa à transformação dos mesmos,


sendo uma atividade que tem como objetivo reduzir os resíduos sólidos, como forma de
reaproveitamento servindo de matéria-prima para a origem de produtos novos ou a reutilização
para outras finalidades (MARCHI, 2011). As empresas que atuam nesse setor prestam um papel
fundamental para a minimização de resíduos, utilizando a logística reversa que constitui uma
ferramenta importante para o processo da cadeia de suprimento dessas empresas e cooperativas
(SOUZA et al., 2005). Mano, Pacheco e Bonelli (2010) enfatizam que a reciclagem é decorrente
de várias atividades, com coleta, separação e processamento, esses mesmos materiais servem
como matéria-prima na manufatura de outros bens.
223

Segundo Souza e Fonseca (2009), reciclagem é o reaproveitamento de materiais


utilizados como forma de matéria prima para outros produtos. A partir do final da década de
1980, ficou constatado e veiculado em mídia que fontes e materiais não renováveis estavam se
esgotando, e que diante do aspecto econômico a reciclagem é um caminho que contribui para a
utilização racional dos recursos naturais e a reposição daqueles que possuem a alternativa de
ser reaproveitados.
Assim, a reciclagem de materiais consiste em uma maneira para proveito de resíduos,
transformando em novos produtos, propiciando a redução de consumo de energia e a retenção
dos custos com a produção (MACEDO, 2000). Forlin e Faria (2002) menciona que a reciclagem
de materiais rejeitados pós-consumo ou retornáveis se sobressai à enorme proximidade contato
com elementos culturais, políticos e sócios- econômicos dos cidadãos e aos programas de coleta
de materiais recicláveis entre empresas recicladoras e a sociedade.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nessa seção são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados para o


desenvolvimento do trabalho, discriminando os pontos indispensáveis para alcançar os
objetivos propostos. O objetivo deste estudo pode ser dividido em duas etapas: primeiramente
identificar os processos inerentes na cadeia de suprimentos de uma empresa de reciclagem e
posteriormente mensurar as emissões de gases de efeito estufa decorrente de sua cadeia de
suprimentos.
O objeto de estudo consiste em uma empresa de reciclagem de resíduos sólidos instalada
no município de Aparecida do Taboado, Mato Grosso do Sul. Desta forma, a pesquisa consiste
em estudo de caso, envolvendo o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de
maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento (SILVA; MENEZES, 2005).
Para realização da segunda etapa, foi utilizado o conceito de avaliação do ciclo de vida
para mensurar as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da cadeia de suprimentos. A
avaliação do ciclo de vida consiste em uma abordagem amplamente utilizada para quantificar
e comparar os impactos ambientais em diferentes processos, permitindo identificar situações
que possibilitam minimizar os impactos negativos e maximizar os impactos positivos
(FLORINDO et al., 2015).
Em relação à abrangência do estudo, foi considerada toda a cadeia de suprimentos da
empresa de reciclagem, ou seja, desde a coleta dos resíduos, processamento (prensa) até a
entrega. A referida cadeia de suprimentos tem baixa dependência de insumos externos, sendo
as emissões de gases de efeito estufa oriundas principalmente da queima de combustíveis
fósseis (diesel) e uso de energia elétrica.
Para mensurar as emissões oriundas da queima de combustíveis fósseis e energia elétrica
foram utilizados fatores de emissões da queima de óleo diesel em transporte rodoviário
(BRASIL, 2014) e energia elétrica (PACHECO; YAMANAKA, 2006). Posteriormente foram
identificados na literatura dados de emissão de fontes primárias para comparação com os
resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A empresa pesquisada está situada no município de Aparecida do Taboado – MS,


iniciando suas atividades no dia 12 de janeiro de 2005, contando com um quadro de 18
funcionários. A empresa atua no segmento de reciclagem de resíduos sólidos, atuando desde a
coleta dos resíduos nas indústrias até a disposição dos resíduos para serem cooprocessados por
indústrias (Figura 1).
224

Em relação à área de atuação, a empresa atua nos municípios Campo Grande, Paranaíba,
Chapadão do Sul, assim como algumas cidades da região noroeste do estado de São Paulo. Seus
principais fornecedores de resíduos são as indústrias locais, comércio, catadores e a população
local. Possui em seu processo de produção, maquinários, como a prensa, caçambas e caminhões
que fazem a logística de coleta e entrega aos clientes.

Figura 1 – Cadeia de suprimento empresa de reciclagem

Entrega
Resíduo Beneficiamento e
Coleta Triagem Venda ao Cliente
sólidos acondicionamento
cliente

Fonte: Dados de Pesquisa.

Para a armazenagem dos resíduos a empresa tem como estratégica fornecer caçambas
que ficam instaladas nas indústrias para o correto descarte. Além das indústrias parceiras, a
empresa conta com a coleta dos resíduos comerciais e com a venda dos materiais coletados por
catadores. Essas caçambas são coletadas conforme a quantidade que é depositada e a
necessidade de produção da empresa de reciclagem, onde a coleta é realizada por caminhões da
própria empresa.
No processo produtivo, todos os materiais que chegam na empresa passa pela triagem,
sendo feita a separação de acordo com os tipos de resíduos, prensagem, pesagem e estocagem.
Após esse processo, os resíduos são comercializados conforme sua classificação para as
empresas que transformam esses resíduos em matérias-primas para outras empresas de
fabricação.
O volume médio mensal de resíduos coletados é de 310 toneladas (Tabela 1), tendo
como principal produto resíduos derivados de ferro com 48 % do volume, seguido de resíduos
de papelão com 39% (Figura 2). Uma explicação para menor representatividade do alumínio
se deve ao fato de que os resíduos são coletados e vendidos somente pelos catadores da cidade,
diferentemente dos outros resíduos, quais são coletados diretamente nas indústrias.

Figura 2 – Distribuição média dos resíduos coletados mensalmente pela empresa.


Fonte: Dados da pesquisa.

3%

Ferro
Plástico
39% 48%
Papelão
Alumínio

10%

Fonte: Dados de Pesquisa.


225

Os principais insumos utilizados no seu processo de produção relacionados a emissões


de gases de efeito estufa são combustíveis fósseis (diesel) e energia elétrica. O diesel é utilizado
nos veículos de transporte, emitindo dióxido de carbono (CO2) a partir da sua queima. Já a
energia elétrica é utilizada nas máquinas de processo interno (prensas) e iluminação.

Tabela 1 – Volume médio de processamento, consumo de combustível fóssil e energia elétrica.


Resíduos Toneladas Combustível fóssil (diesel) Energia elétrica
processados processadas Consumo total (Lts) Consumo total (Kwh)
Ferro 150 580,50 672
Plástico 30 116,10 134,4
Papelão 120 464,40 537,6
Alumínio 10 28,70 44,8
Total 310 1189,70 1388,8
Fonte: Dados da pesquisa.

Nos veículos de transporte, o controle é realizado somente pelo peso transportado, não
havendo separação da carga. Desta forma, o consumo mensal de diesel da empresa (1189,70
litros) foi distribuído pelo total de toneladas processadas mensalmente (310 toneladas),
resultando na média de 3,87 litros por tonelada transportada. A partir disso, foram alocados o
consumo de diesel por resíduo processado de acordo com o volume (Tabela 1). O mesmo
processo foi realizado para a energia elétrica, distribuindo o total de 1388,8 Kwh pelo volume
mensal processado e posteriormente alocando para cada tipo de resíduo.
A determinação das emissões de CO2 oriundas da queima de diesel e consumo de
energia elétrica foram realizadas a partir da utilização de fatores de emissão para o Brasil.
Fatores de emissão são coeficientes resultantes da divisão do total de emissões resultantes de
um determinado setor pelo volume do produto consumido (BRASIL, 2014). O fator de
conversão para o diesel é de 2,48 kg de CO2 x litro (BRASIL, 2014), ou seja, em média, a cada
litro de óleo diesel consumido no Brasil, resulta na emissão de 2,48 quilos de CO2 (Tabela 2).

Tabela 2 - Consumo, fator de emissão, CO2 por tonelada e total de CO2 resultante a partir do consumo de
óleo diesel.
Combustível fóssil (diesel)
Resíduos Toneladas
processados processadas Consumo por Fator de emissão CO2 por
tonelada (lts) (Kg CO2 x lt) tonelada (Kg) Total CO2 (Kg)
Ferro 150 3,87 2,48 9,60 1439,64
Plástico 30 3,87 2,48 9,60 287,92
Papelão 120 3,87 2,48 9,60 1151,71
Alumínio 10 3,87 2,48 9,60 95,97
Total 310 2975,25
Fonte: Dados da pesquisa e Brasil (2014).

Para calcular a quantidade de CO2 resultante por tonelada de resíduo transportado foi
multiplicado o consumo médio de diesel por tonelada (3,87 litros) pelo fator de emissão CO2 a
partir da queima do óleo diesel (2,48 kg), resultando em 9,6 quilos de CO2. Para determinação
do total de emissão de CO2 por tipo de resíduo, foi multiplicado o volume processado mensal
pelas emissões de CO2 por tonelada. Assim, o total de emissões de CO2 oriundas da queima de
óleo diesel foi de 2975,25 quilos.
Para mensurar as emissões do consumo de energia elétrica, foi realizado o mesmo
processo descrito anteriormente. Primeiramente foi dividido o consumo médio de energia
elétrica em Kwh (1388,8) pelo volume médio de resíduos processado (310 toneladas),
226

resultando em 4,48 Kwh por tonelada processada (Tabela 3). Para identificar o potencial de
emissão de CO2 a partir do consumo de energia elétrica foi utilizado o fator de conversão de
0,0322 kg de CO2 por Kwh consumido (PACHECO; YAMANAKA, 2006).

Tabela 3 - Consumo, fator de emissão, CO2 por tonelada e total de CO2 resultante a partir do consumo de
energia elétrica.
Energia elétrica
Resíduos Toneladas Consumo por Fator de
processados processadas CO2 eq por
tonelada (Kwh) emissão (Kg Total CO2 eq
tonelada
CO2 x Kwh)
Ferro 150 4,48 0,0322 0,1442 21,6384
Plástico 30 4,48 0,0322 0,1442 4,3277
Papelão 120 4,48 0,0322 0,1442 17,3107
Alumínio 10 4,48 0,0322 0,1442 1,4426
Total 310 44,7194
Fonte: Dados da pesquisa.

Multiplicando o consumo médio de kwh por tonelada pelo fator de emissão, obteve-se
o valor de 0,14442 kg de CO2 por tonelada de resíduo processada, totalizando 44,72 quilos de
CO2 para as 310 toneladas de resíduos processados mensalmente. Comparando com as emissões
a partir da queima do diesel, a energia elétrica representa apenas 1,5% de suas emissões.
Considerando a soma das emissões de queima de óleo diesel e consumo de energia elétrica, as
emissões totais de CO2 foram de 9,7442 kg por tonelada e de 3019,97 para o volume de 310
toneladas processados mensalmente.
A princípio, uma emissão mensal de gases de efeito estufa acima de 3 toneladas
mensalmente pode ser considerado um dado preocupante, no entanto, é necessário comparar as
emissões do processo de reciclagem com o processo de extração das matérias-primas. Com este
objetivo, foi levantado dados na literatura científica e em relatórios de indústrias de emissões
do processo de extração de beneficiamento de ferro, plástico, papelão e alumínio (Tabela 4).

Tabela 4 – Comparação das emissões de CO2 de matérias primas reutilizadas com fontes primárias.
Resíduos Quantidade Aproveitamento de resíduos Utilização de fontes primárias
processados (toneladas) CO2 x ton Total CO2 eq x ton Total
Ferro 150 9,74 1461,29 1700 255000
Plástico 30 9,74 292,26 2100 63000
Papelão 120 9,74 1169,02 426 51120
Alumínio 10 9,74 97,42 2661 26610
Total de resíduos
processados 310 - 3019,97 - 395730
Fonte: ABAL (2017), Albano, Kirst e Diz (2011), Green CO2 (2011) e Brasken (2012).

Quando comparado os valores de emissões de CO2 dos resíduos industriais processados


com a extração de matérias primas, nota-se uma grande diferença nos resultados. Enquanto que
o processo de aproveitamento de resíduos resultou em um valor de 9,74 kg de CO2 por tonelada,
os valores para extração e produção de matérias primas foram muito superiores, variando de
426 quilos de CO2 para o papelão a 2661 kg de CO2 para o alumínio. No caso do papelão, o
valor é reduzido quando comparado as outras matérias primas devido a captação de carbono
realizada pelas árvores no processo agrícola, esta descontada no produto final. Já no caso do
alumínio, ocorre principalmente por causa da alta necessidade de energia elétrica no processo
de produção (ABAL, 2017).
227

Considerando que ao invés da reutilização de matérias-primas por meio da reciclagem


de materiais, fossem utilizadas somente fontes primárias para fornecimento para as indústrias,
as emissões equivalentes para as 310 toneladas ultrapassariam 395 toneladas de CO2. Desta
forma, as emissões do processo de reciclagem de resíduos e reutilização consistem em menos
de 1% das emissões comparado com fontes primárias, possibilitando uma redução de mais de
99% das emissões.
A partir dos resultados acima expostos, é possível afirmar que o reaproveitamento de
resíduos pelas indústrias pode reduzir significativamente as emissões vinculadas a insumos para
produção, possibilitando um esverdeamento da cadeia de suprimentos. De acordo com Marchi
(2011), as empresas têm buscado empresas especializadas em logística reversa para fornecer
serviços de coleta de materiais, desmontagem, reaproveitamento e destinação final de resíduos
inservíveis. Marchi (2011) ainda aponta um exemplo da empresa Coca-Cola, que em 2010
lançou uma garrafa PET com a utilização 30% de compostos de garrafas PET reaproveitadas,
reduzindo em 25% as emissões de CO2.
Em um estudo realizado por Sousa et al. (2005) analisando as atividades realizadas por
uma empresa de reciclagem no município de São Luiz – MA, observaram que o processo de
coleta e triagem de resíduos pode ajudar a solucionar o problema de resíduos sólidos da cidade
frente a Lei 12.305 de 2 agosto de 2010 além de poupar recursos naturais, diminuindo a poluição
e economizando água.
De acordo com Vale e Gentil (2008), os resíduos consistem em todos os materiais
descartados em um processo produtivo, podendo torna-se um risco para o meio-ambiente e
consequentemente para a sociedade. No entanto, Silva et al. (2011) enfatizam que iniciativas
de reciclagem e reaproveitamento de resíduos podem fazer com que este deixe de representar
um risco para geração de lucro, além de preservação de recursos naturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa permeou a problematização do alto consumo de fontes não renováveis de


energia e também a utilização de combustível fóssil, na medida de que é melhor a utilização de
matérias primais recicladas, ao invés de matérias primas primárias, ou seja, aquelas advindas
da extração natural.
Com o estudo de caso foi possível identificar que a partir da reciclagem dos resíduos
sólidos houve uma diminuição muito significativa do volume de poluentes gerados por essa
ação quando comparado com a ação de extração natural, ou então da utilização de matérias-
primas de fontes primárias. Ainda assim, em termos numéricos, a atividade de reaproveitamento
considerando a soma das emissões de queima de óleo diesel e consumo de energia elétrica foi
emitido apenas 3019,97 kg de CO2 para o volume de 310 toneladas processados mensalmente,
enquanto a atividade primária de extração e produção obteve uma variação de 395730 kg de
CO2, ocasionando um grande impacto ambiental.
Vale ressaltar também que a atividade de reaproveitamento de resíduos sólidos vem
ganhando cada vez mais importância no cenário mundial, como é o caso citado anteriormente
da Coca-Cola, em que a empresa utilizou parte da matéria prima da produção de sua garrafa
PET o material reciclado, assim reduzindo 25% as emissões de CO2. A atividade de
reaproveitamento dos resíduos sólidos pode tanto gerar impactos que garantem a preservação
ambiental por meio da menor utilização da extração primária ambiental, bem como incremento
financeiro para as empresas que utilizam matérias-primas recicladas ou reaproveitadas, além de
geração de renda para a sociedade.
228

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230

Avaliação do impacto da adoção de boas práticas agropecuárias no manejo


de ordenha sobre a CBT e CCS do leite
Morgana Zortea¹, Éverton Mrás da Paz², Andrea Troller Pinto³

¹ Graduanda em zootecnia, UFRGS email: morgana.zortea@gmail.com


² Laticínio Dielat, Taquara, Rio Grande do Sul
³ Departamento de medicina veterinária preventiva, UFRGS

O presente estudo teve como objetivo identificar o impacto da adoção de boas práticas agropecuárias (BPA’s) no
manejo de ordenha sobre as contagens de células somáticas e bacteriana total (CCS e CBT) e quantificar a
participação das BPA’s mesmos visto que, são fatores determinantes para um produto de qualidade. Os dados
foram obtidos em 11 propriedades localizadas na região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Foram realizadas 6 visitas com respectivas coletas de leite em intervalos quinzenais, onde a cada visita, os dados
de utilização das BPA’s foram quantificados através de um checkllist e o leite foi avaliado quanto a CCS e CBT.
Com base na realização do primeiro checklist, foram feitas orientações de BPA’s para os produtores no manejo
de ordenha visando a diminuição da CBT e CCS para posteriormente realização de uma comparação entre as
visitas conforme a adesão dos produtores as boas práticas agropecuárias. Após analise da média, chegou-se a
uma diminuição de 79,3 % no índice de CBT e 6,4% na CCS entre a primeira e a última vista resultados esses
obtidos pela adoção de boas práticas como, descarte dos três primeiros jatos antes da ordenha, realização do teste
da caneca de fundo preto, utilização de pós-dipping e descarte do leite considerado mastítico. A realização de
BPA’s no momento da ordenha influencia positivamente em um produto de melhor qualidade. A CBT é fator
que mais responde as BPA’s por ser dependente da higiene do sistema e ser possível de modificar a cada
ordenha.

Palavras-chave: Boas Práticas Agropecuárias, checklist, qualidade do leite e higiene.

Evaluation of the impact of the adoption of good agricultural practices in


the management of milking on CBT and CCS of milk

This research aimed to identify the impact of good agricultural practices (GAPs) at milk production on somatic
cell counts and total bacterial (SCC and TBC) and identify the participation of GAPs to define milk quality.
Data were obtained from 11 farms located in the metropolitan area of Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Six
visits with respective milk collections were carried out at intervals of 15 days. At each visit, data on the use of
GAP were quantified through a checklist and the milk was evaluated for CSCC and TBC. Based on the
accomplishment of the first checklist, GAPs guidelines were formulated for the producers to reduce SCC and
TBC for subsequent comparison of the visits according to the adhesion of the producers to the good agricultural
practices. After analysis of the average, we observed a decrease of 79.3% in the TBC index and 6.4% in the
SCC from the first to the last visit, by adopting good practices such as discarding the first three jets before
milking, post-dipping and discart of mast milk. The achievement of BPAs at milking time can improve milk
quality. TBC is a factor that most responds to BPAs because it is dependent on the hygiene of the system and it is
possible to modify each milking.

Keywords: Good Agricultural Practice, checklist, Milk quality and hygiene.

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231

Introdução

A região sul do Brasil ocupa a primeira posição do ranking de produção de leite das
grandes regiões desde 2014, quando ultrapassou, pela primeira vez, a região Sudeste e foi
responsável, em 2015, por 35,2% da produção (IBGE, 2015). Do total de 441 mil
estabelecimentos rurais no Rio Grande do Sul, 134 mil são produtores de leite, sendo que
70% são caracterizados como produtores familiares que comercializam menos de 100 litros
do produto por dia (IBGE 2006).
O leite e seus derivados merecem destaque por constituírem um grupo de alimentos de
grande valor nutricional, uma vez que são fontes consideráveis de proteínas de alto valor
biológico, além de conterem vitaminas e minerais. O consumo habitual desses alimentos é
recomendado, principalmente, para que se atinja a adequação diária de ingestão de cálcio, um
nutriente que, dentre outras funções, é fundamental para a formação e a manutenção da
estrutura óssea do organismo (MUNIZ et al., 2013). Além disso, o leite é fonte muitas vezes
única de renda de produtores familiares que dependem do leite para sobrevivência.
A qualidade do leite é mensurada pela quantidade de seus componentes (proteína,
gordura, sólidos, entre outros) e pela contagem de células somáticas e de bactérias. Segundo a
Instrução Normativa n° 62 (BRASIL, 2011), para 2016, os níveis de contagem bacteriana
total (CBT) deveriam chegar em 100.000 unidade formadoras de colônia/ mL e a contagem de
células somáticas (CCS) em 400.000 células somáticas/mL.
A CCS está diretamente ligada com inflamação na glândula mamária como é o caso da
mastite, doença hoje, que mais acomete os rebanhos leiteiros e preocupa os produtores e a
indústria. Caracterizada por um processo inflamatório da glândula mamária, a mastite, trata-se
de uma doença complexa de caráter multifatorial, envolvendo diversos patógenos, o ambiente
e fatores inerentes ao animal (BRESSAN, 2000).
A CBT é um índice de importância na qualidade do leite isso porque, sua presença em
níveis elevados causa prejuízos na qualidade da matéria prima já que sua alta contagem causa
deterioração do leite e produção de ácido lático pelas bactérias que deterioram a lactose. A
CBT é afetada diretamente pela higiene dos processos de produção do leite e sua condição de
armazenamento sendo facilmente alterada pelos manejos adequados.
VILELA et al. (2001) identificam diversas limitações ao desenvolvimento da cadeia
produtiva do setor leiteiro, entre as quais a baixa efetividade dos serviços de assistência
técnica. Segundo BAIRROS & FONTOURA (2009), é necessário um estudo de cada
propriedade através da análise de seus índices produtivos e zootécnicos e demais dados
relacionados à produção de leite, a fim de caracterizá-los e permitir a tomada de decisões mais
cabíveis à situação, mantendo a competitividade do produtor.
Os principais entraves na qualidade sanitária do leite estão relacionados a falhas
envolvendo principalmente o manejo de ordenha e ausência de práticas gerenciais voltadas
para a adoção de boas práticas agropecuárias (ALMEIDA et al., 2016).
De maneira geral, a baixa qualidade do leite pode ser atribuída a deficiências no
manejo, à higiene na ordenha, à sanidade da glândula mamária, à manutenção e desinfecção
inadequada dos equipamentos e à refrigeração ineficiente, ou, até mesmo, inexistente
(NERO et al., 2005). Por isso, cuidados higiênicos para evitar a contaminação do leite devem
ter início na ordenha e seguir até o seu beneficiamento (SANTANA et al., 2001). Isso pode
ser obtido por meio das boas práticas agropecuárias (BPA) (EMBRAPA, 2005).
As BPAs, na pecuária leiteira, constituem um conjunto de atividades desenvolvidas
dentro da fazenda com objetivo de garantir a saúde, o bem estar e a segurança dos animais, do
homem e do ambiente. Essas práticas estão associadas ao processamento de derivados lácteos

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


232

seguros e de qualidade, à sustentabilidade ambiental e à possibilidade de agregação de valor,


além de ser uma exigência dos consumidores e da legislação (EMBRAPA,2 0 0 5 ) .
Essas práticas são consideradas simples e de baixo custo de aquisição pois se baseiam
na higienização diária. Segundo PAIXÃO et al., 2014 a inclusão das Boas Práticas
Agropecuárias para a melhoria da qualidade do leite, quando praticadas em seu nível máximo,
mostrou-se com rápido retorno do capital investido e ótima taxa interna de retorno.

Objetivo
O objetivo deste trabalho foi identificar o impacto da adoção de boas práticas
agropecuárias no manejo de ordenha a partir da contagem bacteriana total e (CBT) e da
contagem de célula somática (CCS), para obtenção de um produto inócuo e seguro em
propriedades participantes do Programa Ordenha Melhor da Secretaria da Agricultura,
Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul.

Metodologia

Através do Programa Ordenha Melhor da Secretaria da Agricultura, foram


selecionadas 11 propriedades participantes localizadas na região metropolitana de Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, destas 7 estão localizadas no município de Viamão e 4 em
Taquara.
Foram realizadas seis visitas quinzenais em cada uma das propriedades. A cada visita
foi aplicado um checklist de Boas Práticas Agropecuárias, identificando quais delas eram
realizadas. Em todas as visitas foram coletadas amostras de leite e enviadas para laboratório
credenciado a Rede Brasileira de Qualidade do Leite, para avaliação da contagem de células e
bacteriana por citometria de fluxo. O leite foi coletado diretamente do tanque de resfriamento.
O período de realização das coletas foi de 20 de setembro de 2016 a 15 de novembro de 2016.
A coleta foi realizada após homogeneização do leite, com uma concha previamente
lavada e flambada, e o leite alocado em frascos de polietileno estéril contendo bronopol
(CCS) e azidiol (CBT), transportados sob refrigeração em caixas isotérmicas com gelo
reciclável. No caso de armazenagem do leite em tanques de imersão, alíquotas iguais de leite
foram retiradas de todos os tarros e estas homogeneizadas em canecas de inox previamente
lavadas e flambadas.
Os check lists serviram como base para a definição de procedimentos de boas práticas
de ordenha e, a cada visita monitorava-se a execução destes procedimentos ou não.

Resultado e Discussão

No que se refere a BPA’s (Tabela1), observou-se que na primeira visita realizada, 72,7
% das propriedades realizavam a higienização das mãos antes da ordenha, 18,1% não lavavam
os tetos, 9% secavam os tetos, desprezavam os primeiros jatos e realizavam pós- dipping,
nenhuma realizava pré- diiping e teste de caneca, 36,3% realizavam CMT e 72,2%
descartavam o leite caracterizado mastitico.

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Tabela 1. Número de propriedades que utilizam as BPA’s ao longo das visitas. (HM: Higienização das
mãos; LT: Lavagem dos tetos; ST: Secagem dos tetos; DJ: espreza os primeiros jatos; PRE.D: Pré-
dipping; POS.D: Pós-dipping; TC: Teste da caneca; CMT: California test mastite; DM: Descarte de leite
mastítico).
N Visita 1 Visita 2 Visita 3 Visita 4 Visita 5 Visita 6
HM 11 8 8 8 8 8 8
LT 11 9 9 9 9 9 9
ST 11 3 2 1 1 1 1
DJ 11 1 3 9 9 9 8
PRE.D 11 0 1 1 2 1 2
POS.D 11 1 1 2 5 5 5
TC 11 0 0 0 7 5 6 ∕11
CMT 11 3 4 11 10 10 10
DM 11 8 8 9 8 8 6

Já na sexta visita algumas práticas se mantiveram em constante funcionamento com a


realização de 72,7 % das propriedades realizando a higienização das mãos antes da ordenha,
18,2% a não lavagem dos tetos e 9,2 % a secagem dos tetos. Porém, algumas práticas
começaram a ser mais utilizadas com 72,7% das propriedades descartando os primeiros jatos,
18,2 % a utilizar o pré- dipping, 45,5 % o pós-dipping, 54,5 % a realização do teste de caneca
e 90,9 % CMT. Em relação ao descarte de leite mastitico, houve um decréscimo na
porcentagem de propriedades realizando, decaindo para 54,5%
A média de CBT e CCS das 11 propriedades ao longo das visitas está apresentada no
gráfico 1 onde, através destas pode-se observar uma diminuição significativa de 79,3 % no
índice de CBT comparando a primeira visita com a última, mudança essa acometida pela
adesão dos produtores as BPA’s como o descarte dos três primeiros jatos antes da ordenha,
realização do teste da caneca de fundo preto, utilização de pós-dipping e descarte do leite
considerado mastítico.
Em relação a CCS, houve uma diminuição de 6,4 % diferença essa menor pois não são
todas BPA’s que contribuem para melhorias nesse quesito. A alta contagem de CCS é um
indicativo de mastite onde, o teste da caneca, o CMT e o pós-dipping são práticas que
conseguem detectar e amenizar a ocorrência desta no rebanho, porém, é essencial que após a
confirmação do caso, o leite seja ser descartado.
Resultados esses que VALLIN et al. (2009) também verificaram, com uma redução
média de 87,90% na CBT, nas propriedades com ordenha manual, e de 86,99%, nas
propriedades com ordenha mecânica, após a implantação das BPAs, e, em relação a CCS, a
redução média foi de 33,94 e 51,85 %, respectivamente.
Na sexta visita, a CBT se mostra com a maior diminuição caracterizada pela visita
com maior adesão as BPA’s. Em relação ao aumento do mesmo na visita 4, se explica pelo
fato de que a CBT conforme MOLINERI (2012) et al., as principais fontes de contaminação
bacteriana do leite são superfícies dos equipamentos de ordenha e tanque, superfície externa
dos tetos e úbere e patógenos causadores de mastite no interior do úbere sendo essas
extremamente variáveis de uma visita para outra.

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Gráfico1. Distribuição da CBT(x1000 mL-1) e CCS (x1000 mL-1) ao longo das seis coletas.

ZUCALI et al. (2011) observaram que operações de rotina na ordenha, como


realização de pré-dipping e pós-dipping afetaram fortemente as contagens bacterianas do leite,
de forma que as propriedades que realizavam estas operações apresentaram menor
contaminação dos tetos e menores contagens de bactérias psicrotróficas, termodúricas,
coliformes e células somáticas do que as propriedades que não realizavam estas operações.
ELMOSLEMANY et al. (2010) também observaram que as rotinas antes da ordenha são
importantes na redução da contagem bacteriana do leite, especialmente o pré-dipping e a
secagem dos tetos.
O índice de práticas não realizadas se mostra ainda muito significativo, porém, a
adoção de algumas delas já foi suficiente para se verificar melhores resultados de CBT e CCS
na média das visitas. As práticas de descarte dos três primeiros jatos antes da ordenha,
realização do teste da caneca de fundo preto, utilização de pós-dipping e descarte do leite
considerado mastítico foram as que impactaram em melhores resultados.
A prática de descarte dos três primeiros jatos antes da ordenha deve ser realizada para
reduzir a contaminação bacteriana considerando que o leite residual que fica alocado no canal
do teto, através da abertura do esfíncter sofre contato direto com sujidades quando a vaca se
deita após ordenha. Justamente para evitar essa contaminação via esfíncter, outra prática que
se mostrou eficiente foi a utilização de pós-dipping responsável por fechar esse esfíncter e
impedir a entrada de agentes indesejáveis. A utilização da caneca de fundo preto se mostrou
também funcional pois consegue fazer uma detecção rápida da presença de mastite, doença
que aumenta a CCS e reduz a qualidade do leite. E por fim a prática de descarte do leite
mastítico é de extrema importância para que não ocorra contaminação do tanque por inteiro.

Conclusão

A realização de boas práticas agropecuárias no momento da ordenha influencia


positivamente em um produto de melhor qualidade reduzindo CCS e CBT. A CBT é fator que
mais responde as BPA’s e por estar diretamente ligado a higiene do sistema sofre variações
em seu índice entre ordenhas.

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235

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Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


236

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Energia Eólica e o Agronegócio:


Relações e Contribuições para o Desenvolvimento Socioeconômico
Sustentável
Ana Luísa Lagemann Mergel1

1
graduanda em Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
ana.mergel@ufrgs.br

Resumo. A energia eólica tem se destacado entre as alternativas renováveis na geração de energia elétrica, e o
seu desenvolvimento faz parte de um esforço global para combater as mudanças climáticas. Enquanto isso, o
agronegócio é grande responsável pelo crescimento econômico e pelo acúmulo de riquezas de diversos países
subdesenvolvidos/em desenvolvimento. Com o objetivo de conectar brevemente os campos do Agronegócio, da
Energia Eólica e do Desenvolvimento Socioeconômico, é proposta uma discussão sobre as relações e
contribuições entre eles, promovendo um estudo bibliométrico conciso a respeito da inserção de complexos
eólicos em zonas rurais. A rápida análise sobre a cidade de Osório visa permitir uma melhor perspectiva sobre
como a energia eólica é inserida no meio rural.
Palavras-chave: Energia eólica, Agronegócio, Desenvolvimento socioeconômico, Zonas rurais.

Wind Energy and Agribusiness:


Relations and Contributions for Sustainable Socioeconomic Development
Abstract. Wind energy has stood out among the renewable alternatives in electric power generation, and its
development is part of a global effort to combat climate change. Meanwhile, agribusiness is largely responsible
for economic growth and the accumulation of wealth in a number of underdeveloped / developing countries.
With the objective of briefly connecting the fields of Agribusiness, Wind Energy and Socioeconomic
Development, a discussion on the relations and contributions between them is proposed, promoting a concise
bibliometric study on the insertion of wind farms in rural areas. A quick review of the Osório city claims to
allow a better perspective on how wind energy is inserted in the rural environment.
Keywords: Wind energy, Agribusiness, Development, Rural areas.

Introdução

Como Tolmasquim (2012, p. 249) coloca, “Um dos fundamentos da sustentabilidade


econômica de um país é a sua capacidade de prover logística e energia para o
desenvolvimento de sua produção, com segurança e em condições competitivas e
ambientalmente sustentáveis”. Castro et al. (2016, p. 2) reiteram tal pensamento: “A energia
elétrica é um bem essencial a todos os setores socioeconômicos, sendo seu fornecimento
ininterrupto, com qualidade e preços módicos, imprescindível para o desenvolvimento
nacional”.
Sem energia - ou sem a garantia de seu fornecimento, a produção vê-se
impossibilitada de ser aumentada, não só pelos efeitos diretos na cadeia produtiva que a
estagnação na geração de energia causa, mas também por aqueles que afetam o lado da
demanda, ao impossibilitar o maior consumo de energia. Este último fator pode ocorrer, por
exemplo, tanto por causa da elevação do preço da energia elétrica, quanto devido ao
racionamento dela.
Ainda que a relação entre desenvolvimento e energia seja sentida de forma natural e
instintiva, “[...] a discussão aprofundada dos impactos socioeconômicos dessas tecnologias
ainda é escassa.” (SIMAS; PACCA, 2013, p. 101) e o habitual é encontrar textos que
discorrem sobre a relação de causalidade pura entre oferta de energia e desempenho do
produto interno bruto (PIB) (MORALEZ; FAVARETO, 2014).

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


237

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Objetivo e Hipótese

O objetivo principal deste artigo é identificar a relação do agronegócio com a geração


de energia eólica no Brasil. Especificamente, busca-se mapear as publicações científicas
relacionadas ao tema e verificar a mudança do uso da terra no sentido de que ela tem deixado
de servir à atividade agrícola, para destinar-se à geração de energia eólica. O período a ser
analisado abrange o início dos anos 2000 até a atualidade, ou seja, parte de 2000 até os dados
mais recentes, com algumas estatísticas oscilando entre os anos de 2016 e 2017. De acordo
com a ABEEólica (2016), a virada do milênio foi um marco na consolidação da energia
eólica, no Brasil, como possível alternativa na geração de energia especificamente devido à
crise energética de 2001.
Objetiva-se verificar se o arrendamento de terra (produtiva) para instalação de
aerogeradores prejudica o agronegócio ou contribui com as atividades das zonas rurais. Sendo
assim, cabe a pergunta sobre se os agricultores haveriam de abandonar a agricultura para que
complexos eólicos sejam implantados, arrendando parte da propriedade e garantindo renda
alternativa relativa aos contratos, ou se no Brasil ainda não se permite que a relação entre
energia eólica e agronegócio dê-se de forma tão estreita. O objetivo específico seria analisar
de que forma a literatura compreende a inserção da energia eólica na matriz elétrica brasileira
e no território nacional. Verificar, então, se a atividade agropecuária em determinadas regiões
do Brasil teve alguma queda significativa após a instalação de parques eólicos no seu
território, assim como a evolução da renda desta mesma região, entre outros indicadores
socioeconômicos.
A hipótese do trabalho é de que a revisão bibliográfica irá propor que a realocação de
terras da agropecuária para a construção de moinhos eólicos na verdade permite a elevação da
produtividade no campo, o aumento da renda (total e per capita) e da atividade econômica da
região e a melhora dos indicadores de desenvolvimento socioeconômico, tratando-se ainda de
uma fonte sustentável de produção energética.

Metodologia

Este trabalho faz uso de duas formas de pesquisa: revisão bibliográfica e pesquisa
empírica. A revisão bibliográfica foi escolhida como um dos métodos de pesquisa para que
fosse possível chegar a argumentos sólidos sobre a energia eólica apresentar-se como fator
decisivo, porém não exclusivo, no desenvolvimento socioeconômico de um país. Foram
considerados relevantes, artigos publicados em anais de congressos (nacionais e
internacionais) e em revistas especializadas em Economia e/ou Energia - também estudos
específicos sobre a matriz energética brasileira e seus impactos econômicos realizados pela
comunidade científica brasileira, assim como livros de autores especializados em
Desenvolvimento Socioeconômico, Desenvolvimento Sustentável, Meio Ambiente e Energia.
Páginas da internet que reúnem essas publicações como Scopus, Google Scholar, Scielo
plataforma Capes e Lume (UFRGS) foram utilizados para a busca de conteúdo, além de obras
disponíveis na biblioteca da faculdade.

Agronegócio, Energia Eólica e Desenvolvimento

Agronegócio e Energia Elétrica

A Energia, sem entrar no mérito da classificação “antes -”, “dentro -” e “depois da


porteira”, faz parte da cadeia do Agronegócio. As atividades vinculadas ao agribusiness tanto

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contribuem para a geração de energia quanto consomem - em 2015, o setor agropecuário foi
responsável por 5,1% do consumo de energia elétrica, enquanto contribuiu com 1,42% da
geração de eletricidade no mesmo ano (EPE, 2016). Um raciocínio bem simples seria
considerar que o ciclo produtivo do setor necessita de energia para a transformação da
matéria-prima ou para o funcionamento de determinadas máquinas.
Como pode ser visto no gráfico abaixo, a participação da energia elétrica no consumo
energético - assim como o consumo absoluto - tem uma trajetória ascendente, sugerindo que
este fator estará cada vez mais presente na constituição do valor dos produtos do setor
agropecuário.

Gráfico 1: Estrutura do Consumo de Energia no Setor Agropecuário

Fonte: EPE, 2016.

Estas alterações na estrutura do consumo energético podem ser, em grande medida,


geradas pelo aumento da tecnologia no campo e pela mecanização e industrialização de
inúmeros processos produtivos intrassetoriais.

Relevância da Energia Eólica

Mostrando-se, então, a energia tão importante no processo produtivo, volta-se ao


ponto inicial: de que ela é indispensável ao funcionamento da economia de um país. A
diversificação da matriz elétrica é a maneira mais eficiente de se chegar à segurança no
abastecimento de energia elétrica e à independência energética (RAIZER, 2011; SIMAS;
PACCA, 2013), uma vez que as fontes podem complementar-se, como é o caso, no Brasil, da
energia provida por hidrelétricas e da energia eólica (DANTAS; LEITE, 2009). Castro et al.
(2009) justificam tal externalidade positiva afirmando que “[...] a complementaridade [da
energia eólica] com o parque hídrico [se dá porque] o regime de ventos é mais intenso
justamente no período seco.” Ou seja, nos momentos de crise hídrica, o fluxo dos ventos pode
substituir as usinas hidrelétricas e PCHs (Pequena Central Hidrelétrica) na geração de energia.
Um caso de sucesso da inserção da energia eólica na matriz elétrica é a Alemanha. O
dossier sobre energia do Ministério de Economia e Energia alemão (BMWi, 2017) aponta que
até 2030, o país deve chegar aos 15.000 MW instalados apenas em complexos eólicos off-

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shore1 (em torno de três vezes a potência atualmente instalada, de 4 mil MW); em parques
terrestres devem ser acrescentados mais aproximadamente 44 GW. Para méritos de
comparação, note-se que no Brasil, em 2017 verificou-se uma capacidade de produção de
energia eólica de 11,67 GW, em torno de 8,34% do potencial eólico brasileiro próximo a 140
GW, com as ressalvas de que nem toda ela está conectada à rede de distribuição
(ABEEÓLICA, 2017). De acordo com Castro et al. (2009), a capacidade mundial de geração
de energia eólica evoluiu de 17.400 MW em 2000 para 120.000 MW em 2008, o que
representa um crescimento de quase 690% em oito anos. Tal movimento, contínuo desde
2000, também aconteceu no Brasil, sendo ainda mais surpreendente nos anos mais recentes,
com a participação da energia eólica na matriz elétrica passando de menos de 3% em 2014
para 7,6% em 2017, com a capacidade, em termos absolutos, mais que duplicando nesse
intervalo de três anos (ABEEÓLICA, 2017).
Os autores referem-se repetidamente à energia eólica como um meio de os países
periféricos promoverem o catch up e alcançarem os níveis de produção, qualidade de vida,
crescimento econômico e influência que os países mais ricos - ou desenvolvidos - detêm.
Eles ressaltam, porém, que “[...] o desenvolvimento dos países pobres (baseado no uso
intensivo de tecnologias altamente poluentes, ou seja, sob o mesmo paradigma no qual foi
baseado o desenvolvimento dos países ricos), não apenas representa um risco às próprias
populações e à biodiversidade local e nacional, como um risco a todas as demais regiões do
planeta.” (PODOBNIK, 20062 apud RAIZER, 2011, p. 123). Também salientam o papel do
Estado para lograr essa convergência entre periferia e centro da forma descrita previamente,
defendendo estratégias de governo desenvolvidas para a difusão da energia eólica, ao afirmar
que “As políticas de governança visam à ampliação e à equalização do investimento nesse
setor [da energia eólica], garantindo transferência de tecnologias para os países pobres,
sobretudo para os em desenvolvimento.” (RAIZER, 2011, p. 106), permitindo que o caminho
a ser percorrido pelos países em desenvolvimento não seja o mesmo que foi trilhado pelos
países desenvolvidos.

Energia Eólica no Meio Rural

A terra que antes era destinada à prática agrícola e à pecuária, agora é cortada por
gigantes moinhos eólicos. No Brasil, os únicos limites para a construção de parques eólicos
são os ambientais - evitando áreas habitadas por aves migratórias ou ameaçadas de extinção -
e os de potencial de geração elétrica.
Foi na Alemanha onde surgiu a preocupação com a função da terra na zona rural,
quando esta passa a servir não mais para atividades agrícolas, mas para a instalação de
complexos eólicos. Num país com disponibilidade de terras agricultáveis reduzidas, presume-
se que este fator possa realmente vir a ser uma externalidade negativa da fonte eólica. No
Brasil, estudos sobre o caso não são difundidos, uma vez que existe terra ociosa em
abundância, raramente reparando-se que a zona com maior potencial eólico é justamente a
região costeira do Brasil e parte do interior nordestino: áreas agricultáveis e produtivas ou
abrangidas por reservas ambientais.
Além de as áreas rurais apresentarem potencial eólico superior aos das zonas urbanas,
as vantagens da instalação dos complexos eólicos nestes locais, em sua maioria com baixo
desenvolvimento econômico e altos níveis de desemprego, consistem na geração de empregos
– temporários (durante a construção do parque) e permanentes (nas atividades de Operação e
Manutenção – O&M); renda extra através do arrendamento de terras ocupadas pelos

1
Em alto mar.
2
PODOBNIK, Bruce. Global Energy Shifts: fostering sustainability in a turbulent age. Philadelphia:
Temple University Press, 2006.

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aerogeradores, que pode ser investida em outras atividades produtivas, uma vez que a
propriedade não fica inutilizada; aumento do consumo de bens e serviços; e ainda possíveis
compensações exigidas pelo poder público para a construção do complexo. Isto representa
maior infraestrutura, renda, qualidade de vida e, no médio prazo, desenvolvimento para a
região (RAIZER, 2011; SIMAS; PACCA, 2013).
Em média, os contratos para fornecimento de energia eólica vigoram por 20 anos.
Depois que estes vencem, não necessariamente um parque eólico torna-se obsoleto. Além de
os contratos serem passíveis de renovação, no caso de surgirem novas tecnologias, os
aerogeradores antigos podem ser substituídos por novos (SIMAS; PACCA, 2013) - caso em
que ocorre o processo de repowering3. Isto significa que o potencial eólico da região poderá
ser sempre e permanentemente aproveitado, e os benefícios da instalação do complexo eólico
serão duradouros, favorecendo a comunidade local.
Além disso, há a possibilidade de os produtores rurais instalarem seus próprios
geradores eólicos para a autossuficiência em energia. O investimento ainda é alto logo no
início do projeto - aproximadamente 75% do investimento total nos parques eólicos
correspondem ao custo apenas com equipamentos (SIMAS; PACCA, 2013), porém o custo-
benefício tende a ser baixo, visto que a área pode ser duplamente aproveitada: para a geração
eólica e para a agropecuária; a energia que não é consumida na produção é inserida na rede e
torna-se crédito de energia, e ainda há, como foi anteriormente comentado, a possibilidade de
investir a renda proveniente do arrendamento da terra para a instalação de aerogeradores na
própria produção agrícola, dando impulso na produtividade. Na Alemanha, por exemplo, no
início dos anos 2000 - antes da difusão dos complexos eólicos -, os proprietários de terras,
através de políticas públicas que visavam diminuir os riscos e que garantiam uma tarifa
mínima pela energia gerada, possuíam em torno de 75% da capacidade eólica instalada no
país, o que na época já correspondia a 6500 MW (MOSHER; CORCADDEN, 2012). Estes
mesmos proprietários e agricultores que passaram, num segundo momento, a arrendar parte
da terra para os grandes investidores em tecnologias de energia renovável.

Osório

Através de uma breve pesquisa empírica sobre a cidade de Osório, no estado do Rio
Grande do Sul, pretende-se corroborar a teoria dos autores abordados neste estudo. O
município foi escolhido por ter sido a cidade pioneira no Brasil e na América Latina quanto à
instalação de aerogeradores eólicos para a produção de energia em grande quantidade. O
parque eólico foi inaugurado em 2006, com 150 MW de capacidade de geração eólica. Alguns
indicadores disponíveis na página do IBGE4 serão abordados e rapidamente analisados nesta
pesquisa para validar a ideia de que os impactos no meio rural são positivos.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município passou de 0,671 em 2000
para 0,751 em 2010. Nota-se inclusive, que as duas cidades mais próximas a Osório -
Maquiné e Santo Antônio da Patrulha - também tiveram seus índices elevados (de 0,579 para
0,682 e de 0,620 para 0,717 respectivamente). Poderia depreender-se deste movimento do
índice que não apenas a cidade de Osório, mas também a região próxima ao parque
experimentou impactos positivos com a instalação dos moinhos eólicos, mas para efeitos de
comparação, cabe destacar que o IDH do Estado do Rio Grande do Sul também aumentou de
0,664 para 0,746, ou seja, em proporções similares. Outros pontos precisam ser verificados
para que a hipótese deste artigo seja verificada.
Segundo as estatísticas disponibilizadas, a produção agrícola nas lavouras temporárias
- e mais próximas ao parque - teve a produtividade elevada, apesar de a área plantada ter sido
3
Repotenciação.
4
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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reduzida. A pecuária - atividade que circunda os aerogeradores - sofreu redução do rebanho


de bovinos, passando de mais 25 mil cabeças de gado logo após a construção do parque para
21.700 em 2015. Apesar disso, o PIB teve um aumento perceptível já na época da construção
do parque - 74% - ao passar de R$ 520.961, em 2003, antes do projeto do parque eólico ser
iniciado, para R$ 906.473 em 2007, após a conclusão do projeto, tendência que persiste até os
anos mais recentes. Esta foi uma das maiores elevações do PIB, dando-se em apenas quatro
anos (por exemplo, de 2007 a 2011, o PIB elevou-se em 45,17%, quase 30 pontos percentuais
abaixo; e de 2007 a 2014, 28,38%). O valor atual medido do produto interno bruto do
município - último valor disponível é de 2014 - é de R$ 1.163.688 (IBGE, 2016).
Estes resultados permitem concluir que inserção de fazendas eólicas no meio rural
trazem vantagens para os produtores agrícolas e para a comunidade local. A região vivencia o
aumento da renda, direta e indiretamente, e da qualidade de vida, além de estar diretamente
conectada com uma mentalidade que valoriza a tecnologia e seus avanços.

Considerações Finais

Uma vez que existem fatores que geram desconfiança da população quanto ao uso de
fontes renováveis com mais intensidade na matriz energética, cabe ao Estado, a
responsabilidade pela conscientização desta população, tanto quanto às causas, como quanto
às soluções dos efeitos climáticos: combustíveis fósseis e energias renováveis,
respectivamente (MALLON, 20065 apud RAIZER, 2011). Quanto mais esta população estaria
disposta a pagar pela produção apenas de energias provenientes de fontes renováveis? O
planejamento melhor estruturado com uma “linha mestra melhor definida”, termo usado por
Castro et al. (2016, p.11), prezando pela maior constância nos planos energéticos, .
“A adoção de energias renováveis em projetos de desenvolvimento pode cumprir os
objetivos dos países sem passar pela intensidade de consumo de combustíveis fósseis com que
foi marcado o crescimento de países desenvolvidos.” (ZERRIFFI; WILSON, 2010 6 apud
SIMAS; PACCA, 2013). A comparação com a Alemanha dedica-se a fundamentar, na prática,
a necessidade de uma estratégia de governo que tenha as ER (energias renováveis) como
prioridade, tendo em vista o desenvolvimento sustentável, sem perseguir o paradigma
proposto pelos países desenvolvidos. Isto posto, o Brasil pode aprender com as ideias alemãs
que levaram o país europeu à posição de liderança no ramo da energia eólica, seja por meio da
conscientização da necessidade de se obter independência e segurança energéticas; da
importação de tecnologias eficientes na busca por geração de energia limpa; da contratação de
pessoal capacitado para produzir estes equipamentos em território nacional; ou na melhor das
hipóteses, por meio da capacitação da população brasileira para que o país seja capaz de
produzir complexos eólicos desde o projeto até a sua construção e a sua operação. Por
conseguinte, os efeitos multiplicadores gerariam ainda mais renda – de forma mais distribuída
– e desenvolvimento socioeconômico.
Pode-se notar determinado consenso entre os autores utilizados como referência neste
artigo quanto aos benefícios da introdução da energia eólica na matriz elétrica brasileira,
principalmente no que se refere ao uso da terra. Existe ainda um receio quanto aos impactos
negativos (ambientais, visuais e sonoros principalmente) que não incluem mudança na função
da terra. São poucos estudos divulgados sobre o assunto, e os existentes são, em sua maioria,
estrangeiros. Com base na revisão da literatura e na verificação dos dados respectivos ao
município de Osório, constata-se que a implantação de complexos eólicos em áreas rurais,

5
MALLON, K. Renewable Energy Policy and Politics: A Handbook for Decision-Making. Mallon, K. (Ed.),
Earthscan Publications Ltd (Publs.), 2006.
6
ZERRIFFI, H.; WILSON, E. Leapfrogging over development? Promoting rural renewables for climate change
mitigation. Energy Policy, v.38, n.4, p.1689-700, abr. 2010.

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apesar de ocupar uma parte do território, permite o aumento da produtividade agrícola, além
de elevar a renda do município e da região próxima, permitindo que indicadores do
desenvolvimento estejam em constante avanço.

Referências

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conceituais, usos e abusos. In: FAVARETO, Arilson; MORALEZ, Rafael. (Orgs.) Energia, Desenvolvimento e
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Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia,
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SIMAS, Moana; PACCA, Sergio. Energia Eólica, Geração de Empregos e Desenvolvimento Sustentável.
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TOLMASQUIM, Mauricio Tiomno. Perspectivas e Planejamento do Setor Energético no Brasil. Estudos
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Acesso em: 23 maio 2017.

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243

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Matriz de indicadores de sustentabilidade para produção de bovinos de


corte no Rio Grande do Sul
Vinicius do Nascimento Lampert1, Cláudio Sonáglio Albano2, Leonardo Rocha da Silva3,
Ana Helena Soares da Silva4

1
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinicius.lampert@embrapa.br
2
Professor do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
3
Mestrando no PPG em Zootecnia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
4
Mestranda no PPG em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Resumo. A construção de métricas para avaliar o desempenho das cadeias produtivas é fundamental para a
melhoria da competitividade da pecuária de corte. A análise de sustentabilidade com indicadores confiáveis
pode, ainda, auxiliar no direcionamento de políticas públicas eficientes. Este trabalho objetivou construir uma
matriz com indicadores em potencial para monitorar e avaliar os aspectos de sustentabilidade envolvidos na
produção de bovinos de corte no Rio Grande do Sul. Para o desenvolvimento dessas métricas de análise da
sustentabilidade foi utilizada uma metodologia participativa e multidisciplinar baseada em três etapas: pesquisa
bibliográfica e sistematização dos dados (1); coleta e validação dos indicadores com especialistas (2) e
priorização a partir da identificação de importância relativa (3). Um painel com especialistas foi realizado para
validação e outro painel para priorização com o auxílio de um questionário utilizando a escala de Likert (1 a 5).
Foram descritos 70 indicadores para quatro dimensões, sendo oito para a dimensão ambiental, 16 para a
econômica, 25 para a produtiva e 21 para a social. Com o levantamento foi possível identificar a importância
relativa para as diferentes dimensões de sustentabilidade, sendo 4,44 para econômica, 4,33 para a social, 4,31
para a produtiva e 4,17 para a ambiental. Devido ao alto grau de subjetividade de alguns deles, a próxima etapa
da pesquisa busca classificar os indicadores em níveis de dificuldade de obtenção de dados, precisão da
informação obtida, se a coleta é manual ou precisa de algum instrumento, e se requer algum conhecimento ou
especialização técnica para obtenção dos dados.
Palavras-chave: Competitividade, Desempenho, Métrica.

Matrix of sustainability indicators for beef cattle production in Rio Grande


do Sul
Abstract. The construction of metrics to evaluate the performance of the productive chains is fundamental for
an improvement of the competitiveness of the cattle ranching. A sustainability analysis with reliable indicators
can also help in the direction of efficient public policies. This work aimed to build a matrix with potential
indicators to monitor and evaluate the development of applications involved in the production of beef cattle in
Rio Grande do Sul. For the development of sustainability analysis metrics for a participatory and
multidisciplinary methodology in three stages: bibliographic research and data systematization (1); (2) and
prioritization from the identification of relative importance (3). A panel of experts was held for validation and
another panel for prioritization with the help of a questionnaire using the Likert scale (1 to 5). 70 indicators
were described for four dimensions, eight for the environmental dimension, 16 for the economic one, 25 for one
production and 21 for the social dimension. With the survey it was possible to identify a difference related to
different dimensions of sustainability, being 4.44 for economic, 4.33 for social, 4.31 for the production 4.17 for
environmental. Due to the high degree of subjectivity of some of them, a step closer to the research seeks to
classify the indicators in difficulty levels of obtaining data, accuracy of the information obtained, consult an
instruction manual or need some instrument. technical expertise to obtain the data.
Keywords:Competitiveness, Performance, Metrics.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Introdução

A produção agropecuária enfrenta uma situação adversa, em que a necessária melhoria


na produtividade e produção de alimentos contrasta-se com a preservação dos recursos
naturais e manutenção do ambiente produtivo (DILL et al., 2013; CARVALHO et al., 2015).
Após o surgimento do conceito de sustentabilidade, em meados da década de 80, o termo
ganhou dimensões econômicas, sociais e ambientais. Nos últimos anos o tema vem
protagonizando discussões relacionadas ao desenvolvimento rural, principalmente, pela sua
grande importância na definição de políticas públicas.
O desenvolvimento rural envolve aspectos de diversos setores, com modificações
tecnológicas, sociais, distributivas e econômicas, tornando sua análise complexa (MELO;
PARRÉ, 2007). Por sua vez, análises incorretas da realidade produtiva acarretam em políticas
públicas equivocadas. A construção de métricas que permitam avaliar, de forma confiável, as
modificações nas características dos sistemas de produção podem auxiliar no direcionamento
de políticas públicas eficientes e mais próximas da necessidade e realidade dos ambientes
produtivos, considerando suas particularidades de território e temporal.
Apesar da grande discussão em torno da sustentabilidade, a construção e operação de
seus conceitos ainda são deficientes (DEPONTI et al., 2002). Agrava-se a isto as diferentes
dimensões de sustentabilidade, que devem ser avaliadas de forma sistêmica, no contexto do
ambiente produtivo, e de forma isolada, dentro de cada dimensão (SILVA et al., 2016). A
construção de indicadores padronizados, em todas as suas dimensões, dentro do sistema
produtivo pode auxiliar na elaboração de políticas assertivas e num efetivo desenvolvimento
rural.
Os indicadores podem ser considerados instrumentos que possibilitam mensurar e
monitorar as modificações que incorrem nos sistemas produtivos e avaliar a sustentabilidade
de diferentes sistemas (DEPONTI et al., 2002). Os indicadores mais comumente utilizados na
produção de bovinos de corte abrangem, geralmente, apenas os aspectos econômicos e
produtivos, como margem bruta por hectare, ganho de peso por hectare e taxa de desmame.
Entretanto, mesmo nestes indicadores que eventualmente são analisados, existe uma
assimetria de informações muito grande que dificulta a sua padronização e análise entre
sistemas. Assim a análise, interpretação e compreensão dos indicadores pelos envolvidos,
fatores fundamentais para correta avaliação dos sistemas, é comprometida, podendo gerar
distorções.
Desta forma, o presente trabalho buscou construir uma matriz propositiva com
candidatos a indicadores que futuramente, após a conclusão de outras etapas desse trabalho,
poderão servir para monitorar e avaliar os aspectos de sustentabilidade envolvidos nos
sistemas de produção de bovinos de corte.

Material e Métodos

Para a construção da matriz preliminar de indicadores de sustentabilidade foram


utilizadas três etapas: pesquisa bibliográfica e sistematização dos dados (1); coleta e validação
dos indicadores com especialistas (2); priorização a partir da identificação de importância
relativa (3). Na etapa (1) foram classificados os indicadores coletados na literatura, utilizando
como critérios a redundância e freqüência com que são citados. Depois de organizados, foi
elaborada uma listagem preliminar de indicadores divididos em quatro dimensões: social,
econômica, produtiva e ambiental.
As etapas (2) e (3) foram realizadas em dois painéis de especialistas com empresas de
consultoria, professores universitários, pesquisadores, técnicos de campo e produtores,

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

realizados nas dependências da Embrapa Pecuária Sul, no município de Bagé, Rio Grande do
Sul (RS), totalizando a participação de 20 pessoas.
Em um primeiro momento foi aberto espaço para os especialistas apresentarem sua
percepção sobre a importância do uso de indicadores, bem como sua aplicação atual e
perspectivas futuras de uso nos sistemas de produção de bovinos de corte.
Após esta etapa, foi realizado um brainstorming de indicadores por escrito, em que os
especialistas listaram, individualmente, de cinco a 20 sugestões de indicadores. Após o painel,
os indicadores sugeridos foram organizados numa planilha e somados à listagem preliminar.
Essa listagem, chamada de candidatos a indicadores, foi aplicada num outro painel para um
conjunto diferente de especialistas, na forma de questionário, utilizando a escala de Likert. A
escala de Likert apresenta uma série de cinco proposições, em que o entrevistado deve
selecionar uma opção referente à importância do indicador, podendo ser: muito importante,
importante, neutro, pouco importante ou muito pouco importante. Após, foi calculada a média
das respostas considerando uma cotação nas respostas que varia utilizando uma pontuação de
1 a 5.

Resultados

Foram descritos 70 indicadores, sendo oito para a dimensão ambiental, 16 para a


econômica, 25 para a produtiva e 21 para a social. Pelo grande número de indicadores
gerados, serão apresentados cinco indicadores de cada dimensão considerados, neste trabalho,
de maior relevância e que não apresentem redundância elevada entre si (Tabela 1).

Tabela 1. Nível de importância por indicador de cada dimensão, conforme escala de Likert (1 - 5), e ranking
geral de importância dos indicadores.
Nível de importância por
Dimensão Indicador
dimensão
Lucro da propriedade (R$/ha) 4,64

Rentabilidade da atividade (%) 4,50


Preço médio de compra e venda
Econômico 4,43
(R$/kg vivo)
Custo de produção (R$/kg vivo
4,36
produzido)
Grau de endividamento (%) 4,29

Capacitação de recursos humanos 4,43

Condições de saúde da família 4,43

Social Existência de planejamento geral 4,36

Satisfação do produtor 4,29

Presença de fossa séptica 4,14

Eficiência de manejo da pastagem 4,43

Produtivo Taxa de Desmame (%) 4,43

Ganho médio diário (GMD) 4,29

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Sanidade do rebanho 4,29


Produção animal (kg de peso vivo por
4,14
hectare)
Uso consciente da água 4,29

Presença de solo descoberto 4,21

Ambiental Preservação das margens dos rios 4,21

Conservação do solo 4,07

Intensidade de erosão 4,07

Chama atenção que a dimensão econômica foi considerada separadamente da


dimensão produtiva e elas não podem ser encaradas como redundantes, devido ao fato de que
numa propriedade rural existe uma clara distinção entre eficiência técnica e eficiência
econômica.
Na pesquisa não foi feito a distinção entre lucro operacional efetivo, lucro operacional
total e lucro líquido, mas em outros casos específicos de uso esses indicadores devem ser
tratados separadamente. Percebe-se a preocupação com alguns fatores: solo, água, lucro,
eficiência de manejo da pastagem, recursos humanos e planejamento e a citação de fatores
relativamente novos, tais como: preservação das margens dos rios; capacitação de recursos
humanos e condições de saúde da família. Certamente estes fatores estão impactados pelas
atuais exigências tecnológicas, sociais e ambientais, já citadas neste trabalho.
Com o levantamento foi possível identificar a importância relativa dada para as
diferentes dimensões de sustentabilidade (Figura 1). Essa informação de importância relativa,
mesmo não fornecendo informações sobre as condições reais do setor produtivo, indica o grau
de relevância que o setor sinaliza que se devem priorizar as intervenções. Não existem
dimensões mais importantes, mas possivelmente existem dimensões prioritárias para um
determinado território num determinado período de tempo. Por exemplo, em propriedades
rurais em que as métricas econômicas já estão bem estabelecidas, com respostas eficientes aos
objetivos que se propõem, a importância relativa entre os níveis poderá mudar.

Figura 1. Importância relativa entre as dimensões econômica, social, produtiva e ambiental na produção de
bovinos de corte no Rio Grande do Sul num determinado período de tempo (2016)

Econômica 4,44

Social 4,33

Produtiva 4,31

Ambiental 4,17

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247

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

É importante ressaltar que os candidatos a indicadores obtidos no presente trabalho


não necessariamente podem ser utilizados para todos os sistemas de produção encontrados na
pecuária de corte. A seleção de indicadores deve depender do propósito da análise, ou seja,
para quê e para quem se quer medir. Não há um indicador único que possa ser replicado de
forma indiscriminada.
Se faz necessário a sequência desta pesquisa para identificar tipos de indicadores para
diferentes sistemas de produção e perfis de produtores rurais. Aliado a esse fato, alguns
indicadores criados nesta proposta são objetivos e de fácil mensuração, entretanto outros são
subjetivos e devem também ser avaliados quanto à dificuldade e viabilidade de sua obtenção.
O processo de construção e utilização de indicadores é contexto dependente, dinâmico
no tempo e espaço, requerendo aperfeiçoamento e ajustes constantes. Mesmo após serem
implementados, sistemas de avaliação, controle e identificação de gargalos a partir do uso de
indicadores devem ser sempre postos em diálogo com os objetivos e metas que se deseja
alcançar numa ótica de desenvolvimento territorial.

Conclusões

O desenvolvimento de métricas para análise de sustentabilidade, nas suas diferentes


dimensões, passa pela multidisciplinaridade na construção coletiva de uma matriz eficiente de
indicadores. Foi percebido de forma evidente que a principal força e riqueza do trabalho
esteve mais atrelada ao processo de construção da matriz do que propriamente nos
indicadores obtidos.
Assim sendo, deve-se criar a cultura participativa por meio de painel de especialistas,
entrevistas, questionários, entre outros métodos integrados de construção. Estas iniciativas são
de fundamental importância no aperfeiçoamento das metodologias e adequação dos
procedimentos mais eficientes de coleta, interpretação e intervenção nos sistemas produtivos,
pois são inclusivas e consideram a ótica não apenas de um grupo, mas de vários outros
agentes que interagem na cadeia produtiva de bovinos de corte.
Considerando a dificuldade de se obter alguns dados e o alto grau de subjetividade de
alguns deles, a próxima etapa da pesquisa busca classificar os indicadores apresentados em
níveis de dificuldade de coleta de dados, precisão da informação obtida, tipo de coleta, se é
subjetiva ou com uso de algum instrumento auxiliar, e se requer algum conhecimento ou
especialização técnica para obtenção do dado. Essas informações devem ser confrontadas com
a importância do indicador e seu impacto no sistema de produção, a fim de dar suporte como
critério para seleção dos indicadores propriamente ditos.

Agradecimentos

Agradecemos aos bolsistas financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e às
instituições, Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai (IDEAU),
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS)e à Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), que participaram de pesquisas
dos projetos de pesquisa vinculados com a Embrapa Pecuária Sul. Também agradecemos aos
consultores, professores universitários, pesquisadores, técnicos de campo e produtores que
colaboraram ativamente nesta etapa da pesquisa.

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248

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Referências
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integrados de produção agropecuária. In: MARTINS, A. P.; KUNRATH, T. R.; ANGHINONI, I. et al. Boletim
Técnico: Integração Soja-Bovinos de Corte no Sul do Brasil. Porto Alegre, 2015. 102 p. (2ª edição).
DEPONTI, C. M.; ECKERT, C.; AZAMBUJA, J. L. B. Estratégia para construção de indicadores para avaliação
da sustentabilidade e monitoramento de sistemas. Agroecol. eDesenvol. Rur. Sustent.,v. 3, n. 4, 2002.
DILL, M. D.; SOUZA, A. R. L.; GIANEZINIM.; OLIVEIRA, T. E. Intensificação com Equilíbrio: Desafios da
Produção Sustentável de Alimentos. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.6, n.2, p.247-260, 2013.
MELO, C. O.; PARRÉ, J. L. Índice de Desenvolvimento Rural dos Municípios Paranaenses: Determinantes e
Hierarquização. RER, v.45, n.02, p.329-365, 2007.
SILVA, G. M.; LAMPERT, V. N.; WEILLER, O. H. et al. Indicadores de Sustentabilidade na Visão de
Agricultores Familiares como Instrumento para Gestão de Unidades de Produção com Pecuária de Leite.In:
CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMA DE PRODUÇÃO, 11., 2016, Pelotas.
Abordagem sistêmica e sustentabilidade: produção agropecuária, consumo e saúde: anais. Pelotas: SBSP, 2016.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Sustentabilidade como fator de tomada de decisão, no agronegócio


Eng.ª Agrícola Maria Antônia Domingues Ramos Pires¹

1
Mestranda em Agronegócios na UFRGS, mariaantoniadomingues@hotmail.com.

Resumo. Este trabalho trata-se de um levantamento de caráter exploratório, que objetivou estabelecer qual a
significância de relacionar a sustentabilidade (ambiental, econômica e social) como elemento para tomada de
decisão qual a evolução da temática ao longo do tempo, quais países se destacam na pesquisa do assunto. Esta
revisão utilizou somente artigos revisados por pares e constantes na base de dados Scopus. Apoiado nas métricas
obtidas, conclui-se que o tema tem evoluído constantemente desde o final da década de 90 e ganhou impulso
especial a partir de meados dos anos 2000, refletindo a preocupação crescente com a preservação da vida, no que
se refere a produção de alimentos e sustentabilidade ambiental. Pelos resultados obtidos a tendência mundial não
é uma realidade no Brasil, apenas um trabalho foi realizado em instituição de pesquisas brasileira, num total de
255 artigos envolvidos neste levantamento.

Palavras-chave. processos produtivos, agricultura, gases de efeito estufa.

Sustainability as a decision-making factor in agribusiness

Abstract. His work is an exploratory survey, which aimed to establish the significance of relating sustainability
(environmental, economic and social) as an element for decision making, the evolution of the theme over time,
which countries stand out in the research of the subject. This review used only peer-reviewed articles and listed
in the database of Scopus. Based on the metrics obtained it, is concluded that the theme has been constantly
evolving since the late 1990s and gained special momentum starting in the mid-2000s, reflecting the growing
concern for the preservation of life, refers to food production and environmental sustainability. For the results
obtained, the world trend is not a reality in Brazil, only one study was carried out in a Brazilian research
institution, in a total of 255 articles involved in this survey.

Keywords. production processes, agriculture, greenhouse gases.

Introdução

Atualmente o agronegócio brasileiro tem grande destaque tanto para economia


brasileira como para o comércio mundial de alimentos e produtos oriundos da produção
agropecuária, tais como: Carnes, algodão, grãos e muitos outros produtos. Toda esta
importância econômica não retira do agronegócio a imagem de uma produção predatória onde
somente o capital é realmente importante e para o qual todos os outros aspectos são menores
em importância, para serem considerados como fator relevante na tomada de decisão, por parte
dos gestores públicos e em empresas ligadas ao agronegócio no mundo. Neste trabalho a autora
busca realizar um levantamento sobre as pesquisas cientificas que relacionam tomada de
decisão do setor de agronegócios tendo o fator sustentabilidade como determinante, o interesse
acadêmico pelo assunto aponta ou sinaliza a relevância do tema, para o agronegócio mundial e
consequentemente para o brasileiro.
A sustentabilidade é assunto de pesquisas de diversos cientistas nas mais diferentes
áreas do conhecimento, não sendo assunto restrito aos estudiosos de ecologia e meio ambiente
especificamente. Agricultura sustentável significa muitas coisas para diferentes pessoas na
agricultura (LOWRANCE; HENDRIX; ODUM, 1986), pelo menos três diferentes definições
de sustentabilidade estão disponíveis: A sustentabilidade como eficiência alimentar, como
administração e como meio ambiente. Lowrance (1986), sugere a análise da agricultura como
um sistema hierárquico, sendo esta a forma apropriada de incorporar diferentes conceitos de

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


250

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

sustentabilidade. Sustentabilidade agronômica que se refere a capacidade do solo para manter


a produtividade durante um longo período de tempo. A sustentabilidade microeconômica que
está relacionada com a capacidade da empresa (propriedade rural) como unidade econômica
básica, para manter-se no negócio. A sustentabilidade ecológica referindo-se à manutenção de
sistemas de apoio à vida (água, ar e solo), fornecidos por segmentos não agrícolas e não
industriais de uma determinada região. A sustentabilidade macroeconômica que é controlada
por fatores como políticas fiscais e taxas de juros, que por sua vez determinam a viabilidade
dos sistemas agrícolas nacionais.
WOLF; ALLEN (1995) em seu trabalho sobre a agricultura alternativa como modelo
produtivo a ser adotado, é questionada a mensuração de dados e as decisões tomadas a partir
deles. Ressaltam a importância das considerações de escala aplicadas ao gerenciamento de
recursos agrícolas. Uma meta comumente citada pelos que trabalham para uma agricultura
alternativa é a sustentabilidade, no entanto, até aquele momento (1995) não era possível
escalonar com base sólida seus resultados, e a crítica constante a agricultura convencional e
quais as alternativas que propunham. Na ausência explicita de escala, a sustentabilidade é
inviável como medida de desempenho do sistema produtivo.
Daquele momento até a atualidade muitos sistemas ou ferramentas surgiram, foram
testadas e implementadas, entre elas a Análise de Ciclo de Vida (ACV) ou Life Cycle
Assessment (LCA), no Brasil está ferramenta vem sendo estudada e aplicada para avaliar
processos produtivos e seu real impacto ao meio ambiente, desta forma fornecendo dados
consistentes para tomada de decisão por parte de gestores de empresas ligadas ao agronegócio
(RUVIARO et al., 2012) em sua revisão bibliográfica realizou um trabalho de grande
relevância, tratando do uso desta ferramenta pelo agronegócio brasileiro incluindo neste estudo
aspectos referentes a questões como a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros no
mercado internacional. No artigo baseado em sua tese de doutorado (RUVIARO et al., 2015)
demonstrou que o impacto da produção de carne de gado produzido no Rio Grande do Sul é
significativamente inferior se comparada a carne produzida na Europa.
O processo de tomada de decisão de modo geral também é bastante estudado, segundo
SIMON (1965) um dos maiores pesquisadores do assunto, o ser humano possui racionalidade
limitada, o que impossibilita a análise de todas as possibilidades disponíveis para decidir por
uma ou outra opção. Conhecida a racionalidade limitada do ser humano, o que de forma alguma
o torna irracional, os tomadores de decisões, mesmo com suas limitações cognitivas baseiam
suas decisões segundo objetivos predeterminados, utilizando variáveis conhecidas e adequadas.
Alguns fatores podem explicar o comportamento de tomadores de decisões e sinalizam o fato
do mesmo não possuir caráter racional pleno, sejam eles: i) a racionalidade requer o domínio
completo das variáveis e antecipação das respostas correspondentes a cada escolha; ii) as
consequências das escolhas são resultados futuros, a imaginação neste caso, contempla a
ausência de percepção daquilo que ainda não foi vivido e iii) a racionalidade leva a uma escolha
entre todas as possibilidades existentes, no entanto por sua racionalidade limitada, o ser humano
é incapaz de perceber a totalidade de alternativas possíveis. Com base nestas informações pode-
se dizer que quanto maior for o volume de informações confiáveis disponível para um gestor,
maior será sua segurança para tomar uma decisão e menor o risco de escolhas equivocadas.
Neste contexto a sustentabilidade ambiental, econômica e social torna-se um destes fatores que
podem servir de base para escolhas quanto ao método produtivo, localização geográfica,
tamanho do investimento em uma nova planta ou unidade produtiva.

Metodologia da pesquisa

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Este trabalho possui caráter exploratório, trata-se de uma pesquisa com a intenção de
estabelecer o “estado da arte” ou “estado do conhecimento” referente relação entre tomada de
decisão e sustentabilidade, quando nos referimos ao agronegócio. Para obtenção dos dados
foram realizadas buscas na base de dados Scopus, para a busca foram utilizadas as palavras
chaves “decision making”, sustenability, agri* e method*.
Para este trabalho foram selecionados artigos de acesso livre na base de dados Scopus, no
período compreendido entre 1995 e 2016, também foram desconsiderados documentos de áreas
alheias ao estudo como: Enfermagem, história, química e outras, resultando a busca em 215
documentos para análise. Os resultados obtidos no levantamento serão analisados na próxima
seção deste resumo.

Resultados e discussão

Figura 1 – Publicações por ano

Fonte: Base de dados Scopus

A figura 1 mostra o resultado da busca ao longo do tempo, conforme os parâmetros


anteriormente descritos. Percebe-se que apesar das publicações alternarem anos com maior
quantidade e em outros com menor quantidade de publicações, fica clara a tendência crescente
de interesse pela temática que relaciona tomada de decisão e sustentabilidade, especialmente a
partir de meados dos anos 2000. No ano de 2003 um trabalho sob o título de “Avaliação
ambiental da agricultura em escala regional no Pampas da Argentina “(VIGLIZZO et al., 2003)
apresentou uma pesquisa onde em que apresenta um olhar mais holístico na avaliação de
sustentabilidade, nele são tratados os assuntos como uso da terra, impactos da utilização de
combustíveis fósseis, contaminações por pesticidas, emissão de gases de efeito estufa, entre
outros; até então as pesquisas relacionadas neste trabalho tinham um olhar direcionado ou sob
uma ótica mais restritiva, direcionados principalmente ao uso e eficiência do solo, ou poluição
de águas. Conforme a figura 1 o crescente número de trabalhos relacionados a temática coincide
com o período de implementação do Protocolo de Quioto (“Protocolo de Quioto”, 2017),
negociado em 1997 na cidade de mesmo nome no Japão, e que entrou em vigor em fevereiro
de 2005, a partir do qual os 55 países signatários, que juntos produziam 55% das emissões de
gases de efeito estufa; neste documento os países-membros comprometeram-se em reduzir a
emissão destes gases em pelo menos 5,2% em relação aos níveis de 1990. Também neste
período surgiu a ISO 14000 (RUVIARO et al., 2012), uma normatização internacional onde a

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sustentabilidade ambiental tem uma importância substancial e com ela surge a análise de ciclo
de vida como ferramenta para dimensionar os impactos ambientais relacionados aos processos
produtivos de modo geral.

Figura 2 – Relação dos 15 países que mais pesquisam o tema

Fonte: Base de dados Scopus

A figura 2 apresenta a relação dos 15 países que mais publicaram trabalhos relacionando
sustentabilidade, tomada de decisão e produção agrícola. Nele verificamos que os Estados
Unidos, apesar de sua posição controversa, onde o poder do capital muitas vezes sobrepõe a
preservação ambiental, é o país que mais pesquisa sobre o assunto, nele o Brasil aparece em
décima quinta posição indicando a necessidade de maiores estudos, sobretudo pela importância
da produção agropecuária do Brasil no cenário internacional.

Figura 3 – Distribuição das publicações por áreas de conhecimento

Fonte: Base de dados Scopus

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Conforme a Figura 3 as publicações ocorreram em diversas áreas do conhecimento, os


215 documentos envolvidos foram publicados em oito diferentes as áreas do conhecimento
sendo as maiores ocorrências na área de environmental Science (ciências ambientais) e
agricultural and biological Science (ciências biológicas e agricultura). Entre os trabalhos
relacionados o mais antigo publicado em 1995, realizado nos Estados Unidos, refere-se as
ciências ambientais (WOLF; ALLEN, 1995) e foi publicado no Journal Ecological Economics.
A Universidade e Centro de Pesquisa de Wageningen, na Holanda foi a instituição que mais
publicou sobre o tema (17 documentos) e as áreas onde foram publicados segue a tendência
geral sendo as principais também Ciências ambientais e ciências biológicas e agricultura.
Entre os documentos relacionados neste estudo o mais citado foi o artigo intitulado de
“Knowledge systems for sustainable development” (CASH et al., 2003), foi citado 1064 vezes
até 2016, foi publicado no periódico Procedimentos da Academia Nacional de Ciências dos
Estados Unidos da América, relacionado a área de conhecimento multidisciplinar e seu cite
score em 2016 foi de 8,56; sendo o SJR do periódico de 6,231 (índice de prestígio) no mesmo
período de tempo. Neste trabalho seus autores afirmam que: “O desafio de satisfazer as
necessidades de desenvolvimento humano, ao mesmo tempo que protege os sistemas de apoio
à vida da Terra, confronta cientistas, tecnólogos, decisores políticos e comunidades dos níveis
local a mundial. Muitos acreditam que a ciência e a tecnologia (C&T) devem desempenhar um
papel mais central no desenvolvimento sustentável. Este estudo sugere que os esforços para
mobilizar C &T para sustentabilidade são mais propensos a serem eficazes quando gerenciam
limites entre conhecimento e ação de forma a aumentar simultaneamente a importância,
credibilidade e legitimidade das informações que produzem. Sistemas eficazes aplicam uma
variedade de mecanismos institucionais que facilitam a comunicação, a tradução e a mediação
através dos limites”. Em síntese fala que o conhecimento acadêmico é fundamental, deve ser
aplicável e gerar resultados positivos para a sociedade, caso contrário perde sua razão de ser.
Na pesquisa realizada foram encontrados cinco artigos publicados por pesquisadores
brasileiros, sendo o primeiro intitulado “Análise de robustez para o desenvolvimento
sustentável da comunidade” (NAMEN; BORNSTEIN; ROSENHEAD, 2009), nele são
apresentadas algumas alternativas para a melhoria das condições de vida das comunidades
pobres com base na autogestão e na sustentabilidade na produção de alimentos.
Outras publicações relacionadas ao Brasil são de (GOMES JR. et al., 2011), (NESHEIM
et al., 2014), (LAUTALA et al., 2015), (KENNEDY et al., 2016); dentre os documentos
relacionados com o Brasil o mais citado, na base de dados Scopus, foi o trabalho desenvolvido
na Holanda em que um dos países avaliados foi o Brasil, com participação de pesquisadores
brasileiros, o artigo de “Causal chains, policy trade offs and sustainability: Analysing land (mis)
use in seven countries in the South” (NESHEIM et al., 2014), sua temática está relacionada a
políticas de uso da terra e sustentabilidade.
Entre os trabalhos onde o Brasil esteve de alguma forma envolvido somente um foi
totalmente realizado em instituição de pesquisa brasileira, neste caso a Universidade Federal
Fluminense em 2011 (GOMES JR. et al., 2011), em seu abstract consta a seguinte redação:
“Este artigo discute alternativas ao uso e manejo da terra na plantação de tomates em São
José de Ubá, uma cidade no estado do Rio de Janeiro, Brasil, para promover a agricultura
sustentável na região, enfatizando os aspectos econômicos, ambientais e culturais da
problema. A perspectiva cultural aumenta a complexidade da questão, exigindo o uso de uma
metodologia capaz de lidar com toda a subjetividade envolvida no processo de tomada de
decisão. O estudo pretende contribuir para a realização do desenvolvimento sustentável na
região, começando com um processo de tomada de decisão baseado nos pontos de vista do
agricultor, respeitando o aspecto cultural do problema...”. Este resumo do artigo exemplifica
a relação entre tomada de decisão relacionada a sustentabilidade, tanto ambiental, como social
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e econômica, que o presente levantamento bibliométrico buscou explorar, sua pertinência e


relevância. As áreas de conhecimento das publicações relacionadas ao Brasil seguem o padrão
de todo o levantamento, abrangendo 5 áreas distintas do conhecimento, onde as mais relevantes
são a Ciência ambiental e a Ciência biológica e agricultura.
Figura 5 – Impacto dos periódicos onde mais foram publicados artigos sobre o assunto

Fonte: Base de dados Scopus


A figura 5 mostra o impacto dos 5 principais periódicos onde foram realizadas as
publicações, relacionadas neste estudo bibliométrico, nela vemos que o Journal Biological
Conservation, mantem-se desde 1999, em posição claramente destacada.
Os artigos mais antigos, selecionados para este trabalho tratam da qualidade de solo,
sua melhoria e manutenção de características. Alguns são publicações relacionadas a
desenvolvimento de métodos ou ferramentas de avaliação, como por exemplo o artigo que
tratou da integração dos aspectos biofísicos e socioeconômicos da conservação de solo na
China, sendo este uma parte de um estudo maior (STOCKING; LU, 2000), assim como o artigo
que trata do TIM - modelo de identificação de ameaça (SMITH; MCDONALD; THWAITES,
2000) utilizado para avaliar a sustentabilidade do manejo de terras agrícolas nos Estados unidos,
ou ainda um trabalho que trata da avaliação da contribuição dos indicadores de sustentabilidade
para o desenvolvimento sustentável, uma abordagem inovadora (observado o período em que
foi realizado) que utilizou a teoria dos conjuntos difusos, tratando-se de um modelo matemático
(CORNELISSEN et al., 2001).
Com o passar do tempo os estudos foram mudando seu foco para a aplicação de
ferramentas já desenvolvidas para mensurar estes impactos e assim subsidiarem decisões, tanto
relacionadas a políticas públicas como na gestão de empresas. o trabalho mais recente, aqui
relacionado foi Usando o Processo de Rede Analítica e Abordagem de Aproximação Baseada
em Dominância para requalificação sustentável de prédios agrícolas tradicionais no sul da Itália
(OTTOMANO PALMISANO et al., 2016), também no mesmo ano o trabalho intitulado
Cultivating Ecological Knowledge for Corporate Sustainability: Barilla's Innovative Approach
to Sustainable (POGUTZ; WINN, 2016), ou o artigo Assessing sustainability at farm-level:
Lessons learned from a comparison of tools in practice (Avaliando a sustentabilidade no nível
da fazenda: lições aprendidas com uma comparação das ferramentas na prática) (DE OLDE et
al., 2016); além de inúmeros trabalhos utilizando a metodologia Avaliação de ciclo de vida
(ACV) como o artigo publicado no International Journal of Life Cycle Assessment em 2015

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sob o título ”Ethanol from Indian agro-industrial lignocellulosic biomass - a life cycle
evaluation of energy, greenhouse gases, land and water” (MANDADE; BAKSHI; YADAV,
2015).
A abordagem que relaciona sustentabilidade e tomada de decisão, aplicada ao
agronegócio é um assunto de interesse da academia, especialmente pelo grande desafio da
atualidade, de produzir cada vez mais e com menores impactos ao meio ambiente e a vida.

4 Conclusão

Conforme o objetivo inicial deste trabalho de pesquisa de verificar “estado da arte” ou


“do conhecimento”, seguindo os parâmetros adotados na pesquisa, verifica-se uma robustez
quanto a publicações em periódicos conceituados no âmbito internacional, neste levantamento
o Brasil praticamente não tem significância na produção de conhecimento, encontra-se em
estágio inicial de desenvolvimento, posto o reduzido número de publicações, apenas um
trabalho proveniente de instituição de pesquisa do Brasil (GOMES JR. et al., 2011),
principalmente se levarmos em consideração que o Brasil é um país de base econômica agrícola.
Talvez isso reflita, em parte, a caótica situação das políticas públicas de modo geral no Brasil,
a falta de incentivos na produção de conhecimento e na aparente ausência de políticas de
planejamento estratégico do futuro de nossa produção.

Referências bibliográficas:
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Sciences of the United States of America, v. 100, n. 14, p. 8086–8091, 2003.
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CORNELISSEN, A. M. G. et al. Assessment of the contribution of sustainability indicators to sustainable
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


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257

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Grasslands Ecosystem Services: a systematic review


Marcelo Benevenga Sarmento1; Édson Talamini2

1-Eng. Agr. Dr. Urcamp, São Gabriel.


2-Economista. Professor Associado, Ufrgs/CEPAN.

Resumo: Pastagens naturais compreendem ao redor de 40% da superfície global. Grande parte desta área é
utilizada por diferentes sistemas de produção pecuária cujos produtos comerciais são carne, lã, forragens, couro e
grãos. Nos últimos anos as pesquisas sobre pastagens naturais têm focado outros tipos de bens e serviços
chamados de serviços ecossistêmicos. Estes serviços são produzidos por sistemas pecuários bem manejados e
conservados e regulam processos ambientais como ciclo hidrológico, proteção contra erosão, ciclagem de
nutrientes, polinização e muitos outros. Esta pesquisa objetivo coletar informações sobre os serviços
ecossistêmicos das pastagens naturais globais. Para isto utilizou-se a metodologia Prisma. As buscas foram
realizadas nas bases de dados Scopus, Scholar Google e Web of Science, e grupos de pesquisadores como o
Research Gate. Foram selecionados 26 artigos. A busca resultou em sete grupos de serviços de provisão, 10 de
regulação, 2 de suporte e 11 culturais. Dados preliminares mostram um grande número de trabalhos sobre
sequestro de carbono, ciclagem de nutrientes, ciclo hidrológico, redução da pegada de carbono e recursos
genéticos. Por outro lado, poucos estudos tem focado os serviços culturais. Este estudo pode embasar futuros
trabalhos de pesquisa envolvendo serviços ecossistêmicos das pastagens naturais com foco no Bioma Pampa e
os sistemas produtivos existentes.
Palavras-chave: serviços ecossistêmicos, pastagens naturais, rangeland, campos naturais.

Abstract:
Grasslands ecosystem occupy around 40% of the word´s surface. A great part of this area is used by different
livestock-production systems whose commercial products are meat, wool, forages, leather and grains. In the last
years researches are focusing other kind of goods and services called Ecosystem Services. These services are
produced by conserved and well managed systems and regulate all environmental process such as hydrologic
cycle, protection against erosion, nutrients cycling, pollination and many others. This research aimed at
collecting information about grasslands ecosystem services all around the world. It was followed the Prisma
protocol. The searches where performed in databases Scholar Google, Web of Science, Scopus and research
groups such as Research Gate. It was selected 26 articles. The search resulted in 7 groups of provision services,
10 in regulation services, 2 supporting services and 11 cultural. Preliminary data suggests a great number of
work groups involved in carbon storage, nutrient cycling, water cycle, reduction of carbon footprint and genetic
resources. On the other hand, there are few studies focusing cultural services. This work can support future
researches about grasslands cultural services in the world and mainly focusing Pampa Biome.
Keywords: ecosystem services, grasslands, rangeland, native pastures.

Introduction
Grasslands occupy 40% of the world’s land surface (excluding Antarctica and
Greenland) and support diverse groups, from traditional extensive nomadic to intense
livestock-production systems. Population pressures mean that many of these grasslands are in
a degraded state, particularly in less-productive areas of developing countries, affecting not
only productivity but also vital environmental services such as hydrology, biodiversity, and
carbon cycles; livestock condition is often poor and household incomes are at below poverty
levels (KEMP et al., 2013).
For millennia grass dominated ecosystems has been one of the foundations of human
activities and civilizations by supporting production from grazing livestock. This is still the
situation, particularly for developing countries where 68% of grasslands are located. These
biomes also provide numerous foods, goods and services, and are central to the livelihoods
and economies of many including over a billion low-income people (BOVAL & DIXON,
2012).
Apart from saleable livestock products, grasslands can also provide a variety of social
and economic goods, and cultural services which constitute important components of the

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agricultural economy. These products such as meat, fiber, grains, bioenergy and goods
provided by ecosystems are called Ecosystem Services.
The Millennium Ecosystem Assessment (2005) defines Ecosystem Services as “the
benefits people get from ecosystems” in provisioning, regulating, supporting and cultural
services. Provisioning services are the products directly obtained from ecosystems (e.g., food,
fiber, timber), regulating services are the benefits obtained from the regulation of ecosystem
processes (e.g., climate regulation, water regulation, pest and disease regulation), supporting
services are indirect services, as they are necessary for the production of provisioning,
regulating or cultural services (e.g., soil formation, nutrient cycling, photosynthesis), and
cultural services are nonmaterial benefits people obtain from ecosystems (e.g., aesthetic
values, recreation and ecotourism, cultural diversity).
The current challenge is to optimize management practices that result in “win-win”
outcomes for grasslands, the environment, and households (KEMP et al., 2013).
Management of grassland ecosystems must balance many competing demands
including food production, livelihoods and ecosystem services. Production of meat and milk
to meet increasing global demand will require increased herd productivity within constraints
for sustainability of grassland ecosystems and continuing provision of livelihoods and
services (BOVAL & DIXON, 2012).
Hence, considering the great relevance of ecosystem services for society and the
scarcity of researches focusing grasslands ecosystem services the world, this paper provides a
systematic review of studies that assess grasslands ecosystem services. Thus, the objectives
of this systematic review are to analyze the Ecosystem Services provided by different kind of
grasslands ecosystems all over the world.

Material and Methods

Sistematic Review
The paper follows the Prisma Protocol for systematic review (MOHER et al., 2009).
The purpose of using this method is to reduce the subjectivity in drawing conclusions
(ZAMAGNI et al. 2012); in fact, a systematic review may be defined as a structured
evaluation of the literature with the goal of answering a specific research or application
question with a synthesis of the best available evidence, generally published to share these
results with a wide audience for consideration and implementation (ZUMSTEG et al. 2012).

Literature search strategy


In order to ensure scientific quality and minimize the risk of bias, the study design and
analysis of this review follows the PRISMA Statement protocol (MOHER et al., 2009).
Figure 1 summarizes the steps involved in this systematic review.
Figure 1. Literature search and selection of articles in the review.

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The literature search (Figure 1; Table 1) was performed from april to may 2017 with
the use of Web of Knowledge (ISI), Scopus and Google Scholar. Other papers that also fit the
inclusion criteria defined below were also selected, such as the ones provided by researchers,
colleagues, Research gate and work groups.
Table 1. Expressions used in the search and results obtained from database.
Keywords Google Scopus Web of
- Scholar Science
“Grasslands ecosystem services” AND/OR 69 22 1
“Rangeland ecosystem services” AND/OR 322 7 4
“Multifunctionality of grasslands” AND/OR 21 1 0
Grasslands multifunctionality” AND/OR 4 2 0

To assess papers were used the keywords: “Grasslands Ecosystems Services”,


”Rangeland ecosystem services”, “Multifunctionality of grasslands” and “Grasslands
multifunctionality”.
In addition, related and relevant original articles and/or reviews found in other
reference lists or obtained with researchers, also were included and reviewed. All articles
included in this review meet the following five inclusion criteria: i) about grasslands
ecosystem services or rangeland ecosystem services; ii) papers that presents and discuss the
benefits ecosystems services can provide in natural, artificial or restored grasslands; iii) the
methods of evaluation and assessment the environmental services; iv) published between
2010 and 2017; v) focused on ecosystems services benefits from grasslands in a farm
management context; viii) articles and/or reviews from other similar grasslands, tropical or
temperate, steppes, savanna or rangelands ecosystems also could be included.
During the search we aimed at selecting papers that were peer-reviewed publications
available through indexed bibliographic databases. For this reason, our literature search did
not include books, grey literature, reports, simple abstracts, extended abstracts and oral
presentations.
Determination of articles that meet the inclusion criteria was made based on
information available in titles and abstracts of the articles. In total, 26 original articles and
reviews that fulfilled the inclusion criteria were identified and included in this systematic
review.

Synthesis and presentation of results


Results were summarized and classified according to kind of environmental service
cited. Tables 2, 3 and 4 show environmental services and references selected. In each table,
types of ecosystem services were joined corresponding to the same category, for example,
ecosystem services such as carbon storage, soil carbon content, total carbon, were included in
the same line in the Table 3. Water cycling, hydrologic cycle, water purification and
protection of aquifers, were joined and put in another line in Table 3.
It was selected 26 articles. The search resulted in 7 groups of provision services, 10 in
regulation services, 2 supporting services and 11 cultural (Tables 2, 3, 4). Discussion of
results is performed considering benefits and sort of Ecosystem Services provided that was
mentioned in the selected papers.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Results and discussion

Tables 2, 3 and 4 summarize the main ecosystem services provided by grasslands


around the world. A high number of papers focus on soil carbon, carbon storage or soil
carbon stocks. Probably this could be due to climate changes issues involved in agriculture
activities as well as environmental conservation. Other topics such as regulation and provision
of water; protection of aquifers; water purification; hydrologic cycle or related to soil fertility
and nutrient cycling have also been investigated and cited. Issues such as bioenergy
production, net primary productivity, symbiotic regulators microbes and certified meat had
only one paper found.
Considering all sort of Temperate or Tropical Grasslands are the main ecosystems
used to livestock production, provision of meat, wool, milk and leather, seems to be the
leading topics concern environmental services for the stakeholders. However, for the
scientists, soil carbon, nutrient cycling and water quality are the major focus when planning
an investigation. This might explained the differences found among the number of papers
covering one issue in comparison to others.

Table 2. Provision services from grasslands in the world.


Ecosystem services Selected references
Provision Services
Provision of food, wool, leather, meat and water O’mara (2012); Barral e Maceira (2012); Sanderson
et al. (2013); Peyraud et Peeters (2016); Rolando et
al. (2017)

Genetic Resources, Biodiversity, conservation of Barral e Maceira (2012); Sanderson et al. (2013);
wild birds Zeme et al. (2015); Fraser et al. (2015); Fontana et
al., (2015); Rolando et al. (2017); Wang et al. (2017);
Hungate et al. (2017)

Provision of fibers, energy, shelter, wood Barral e Maceira (2012); Asbjornsen et al. (2012);
Rolando et al. (2017)

Forages for wild and domestic animals Nabinger (2011); Boval e Dixon (2012); O’mara
(2012); Lobato et al. (2014); Zeme et al. (2015)

Nutritious, savory and free hormones meat, Certified Nabinger (2011); Devicenzi et al. (2012) ; Lobato et
meat al. (2014); Freitas et al. (2014)

Provision of chemical molecules and medicinal Asbjornsen et al. (2012); Zeme et al. (2015)
products
Bioenergy production Sanderson et al. (2013)

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Table 3. Regulation services from grasslands in the world.


Regulation Selected references
Regulation and provision of water; protection of Barral e Maceira (2012); Sanderson et al. (2013); Zeme
aquifers; water purification; hydrologic cycles et al. (2015); Sharps et al. (2017); Wang et al. (2017);
Rolando et al. (2017);
Biological control of diseases, pets and weeds Asbjornsen et al. (2012); Sanderson et al. (2013);
Rolando et al. (2017); Zeme et al. (2015)
Mitigation of greenhouse gases; reduction of O’mara (2012); Lobato et al. (2014); Ruviaro et al.
carbon footprint (2015); Ruviaro et al. (2015); Modernell et al. (2016)
Control of disturbs and absorption of impacts Barral and Maceira (2012); Lemaire et al. (2015)

Prevention of hydric and aeolic erosion Sanderson et al. (2013); Zeme et al. (2015)

Pollination of native and cultivated species Asbjornsen et al. (2012); Zeme et al. (2015); Rolando et
al. (2017)
Microclimatic regulation Asbjornsen et al. (2012); O’mara (2012); Rolando et al.
(2017)
Soil protection; soil aggregation; Barral e Maceira (2012); Panettieri et al. (2017); Scott et
al. (2017)
Habitat conservation; nestling and food for birds Fontana et al. (2016)

Maintenance of agriculture production; indirect Sanderson et al. (2013); Zeme et al. (2015)
benefits to agriculture

This study found few cultural services (Table 4) such as landscape formation and
multifunctional activities, improvement of income and quality of life, social, cultural and
religious aspects for locals, opportunity for tourism, ecotourism and fisheries, social and
economic relevance; employment, income and sociocultural aspects; local for photography
and bird watching; local for scientific investigation; aesthetical benefits; local identity for
owners; food security; biodiversity conservation.
Cultural Services are usually difficult to evaluate and have a great influence of
researcher´s interpretation compared to other ecosystem services that are feasible to assess
and understand.
Table 4. Ecosystem Services obtained from grasslands in the world.

Ecosystem Services Selected references


Supporting
Net primary productivity Wang et al. (2017)
Soil fertility, nutrient cycling Asbjornsen et al. (2012); Sanderson et al. (2013);
Rolando et al. (2017); Sharps et al. (2017); Wang et al.
Cultural (2017)
Landscape formation and multifunctional activities Boval e Dixon (2012); Werling et al. (2014); Zeme et al.
(2015);
Improvement of income and quality of life Sanderson et al. (2013); Peyraud et Peeters (2016)
Social, cultural and religious aspects for locals Kemp et al. (2013);
Opportunity for tourism, ecotourism and fisheries Asbjornsen et al. (2012)
Social and economic relevance Asbjornsen et al. (2012)
Employment, income and sociocultural aspects Sanderson et al. (2013); Peyraud et Peeters (2016)
Local for scientific investigation, Local for Zeme et al. (2015)
photography and bird watching
Aesthetical benefits Zeme et al. (2015)
Local identity for owners Asbjornsen et al. (2012); Pastur et al., (2015); Peyraud et
Peeters (2016)
Food security Pastur et al., (2015)
Biodiversity conservation O’mara (2012); Lobato et al. (2014); Peyraud et Peeters
(2016)

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Conclusions

This study is under preliminary phase, were we are selecting which papers will be
used. In this paper we are presenting preliminary data from 26 articles that are being studied.
The next phase will only include original articles to synthesize the benefits grasslands
ecosystem services can provide and the effects different kind of managements can have upon
grasslands ecosystem.
Preliminary data suggests a great number of work groups involved in carbon storage,
nutrient cycling, water cycle, reduction of carbon footprint and genetic resources. On the
other hand, there are few studies focusing cultural services.
This work can support future researches about grasslands cultural services in the
world and mainly focusing Pampa Biome.

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265

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Índice de Sustentabilidade e Desempenho Organizacional (ISDOR): uma


análise a partir de indicadores socioeconômicos de uma cooperativa
agrícola
Ana Paula Dalmagro Delai¹, Luciana Ferreira da Silva²

¹Mestra em Agronegócios UFGD- Universidade Federal da Grande Dourados, anapauladelai@hotmail.com


²Doutora em Economia Aplicada. UEMS- Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul.

Resumo. Com este trabalho de pesquisa buscou-se avaliar o desempenho organizacional de gestão da
Cooperativa Agroindustrial Amambai – COOPERSA, sob os aspectos econômicos e sociais da sustentabilidade.
A metodologia adotada é de caráter exploratório e descritivo e, a partir de entrevistas com gestores e cooperados
foi possível coletar dados que foram tratados e transformados nos diversos indicadores necessários para a
construção do modelo de Índice de Sustentabilidade e Desempenho Organizacional (ISDOR). O ISDOR, na sua
composição, teve como referência a Literatura sobre indicadores e desempenho organizacional. Trata-se de um
índice composto por 75 indicadores, divididos em 15 subíndices, que representam as dimensões econômica e
social da sustentabilidade, respectivamente o IDE (Índice de Desempenho Econômico) e ISUS (Índice de
Sustentabilidade Social). A aplicação do modelo na Cooperativa Agroindustrial Amambai - COOPERSA
demonstra que na dimensão social, a cooperativa possui um alinhamento entre as estratégias e práticas, e os
resultados são percebidos e valorizados pelos cooperados, apontando um nível de sustentabilidade 0.80,
considerado ótimo. Na dimensão econômica a cooperativa apresenta um resultado de 0.64, o que aponta que as
estratégias e as práticas econômicas precisam ser alinhadas para que os resultados obtidos e percebidos pelos
cooperados sejam melhorados. Portanto, o ISDOR apresentou o resultado de 0.72 para a cooperativa analisada, o
que indica de acordo com a metodologia adotada, boa sustentabilidade no que tange o seu desempenho
organizacional.

Palavras-chave: Indicadores de sustentabilidade; Gestão Organizacional; Cooperativismo.

Sustainability index and Organizational Performance (ISDOR): na analysis


from socieconomic indicators of na agricultural cooperative
Abstract. This research aimed to evaluate the organizational performance of the Agroindustrial Cooperative
Amambai-COOPERSA under the economic and social aspects of sustainability. The methodology used was
exploratory and descriptive, and from interviews with managers and cooperative members it was possible to
collect data that were processed and transformed into the various indicators necessary for the construction of
the Sustainability Index and Organizational Performance (ISDOR) model. The ISDOR, in its composition, had
as a reference the Literature on indicators and organizational performance. It is an index composed by 75
indicators, divided into 15 sub-index, representing the economic and social dimensions of sustainability,
respectively the SDI (Economic Performance Index) and ISUS (Social Sustainability Index). The application of
the model in the Cooperativa Agroindustrial Amambai-COOPERSA shows that in the social dimension, the
cooperative has an alignment between the strategies and practices, and the results are perceived and valued by
the cooperative, indicating a level of sustainability of 0.80, considered great. In the economic dimension, the
cooperative presents a result of 0.64, which indicates that strategies and economic practices need to be aligned
so that the results obtained and perceived by the cooperative are improved. Therefore, the ISDOR presented the
result of 0.72 for the analyzed cooperative, which indicates, according to the adopted methodology, good
sustainability in terms of its organizational performance.

Keywords: Sustainability indicators; Organizational management; Cooperative.

Introdução

Entre as organizações, com e sem fins lucrativos, a busca por estratégias que
proporcionem sustentabilidade se dá por meio de uma gestão eficiente (ROBINSON, 2012;
GRUBA et al., 2013; XIE, 2016). Essa é uma necessidade presente nas organizações
cooperativas brasileiras (BERTUOL et al., 2012), que buscam avaliar se suas atividades são

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sustentáveis (REZENDE et al., 2010) e se promovem melhorias na vida de seus associados


(JUNQUEIRA & ABRAMOVAY, 2004).
Nesse aspecto, é interessante investigar a forma de organização de uma cooperativa
agrícola, que se propõe junto aos produtores cooperados, promover progresso, por meio de
acesso a financiamentos e compra de insumos (CAMPOS et al., 2012). Porém, com estrutura
de gestão diferente das demais organizações, como as de capital aberto, as cooperativas
encontram nas mudanças de mercado, o maior desafio de se manterem competitivas
(ZYLBERSZTAJN, 1994; ROSALEM et al., 2010).
O ISDOR é composto por um conjunto de indicadores que, selecionados com base na
literatura, apontam o grau de sustentabilidade nos aspectos econômicos e sociais da gestão da
cooperativa, proporcionando a seus gestores, informações necessárias, e em tempo hábil, para
tomadas de decisões em busca de melhorias.
A escolha pelas dimensões econômica e social nesta pesquisa se dá, em razão da
disponibilidade de dados comparada ao tempo de realização da mesma, o que sugere em
pesquisas futuras a inclusão da dimensão ambiental.
Destaca-se, portanto, a importância desta pesquisa em avaliar se as organizações
cooperativas atuam visando desempenho social na mesma proporção que seu desempenho
econômico. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho de pesquisa foi avaliar o desempenho
organizacional de gestão da Cooperativa Agroindustrial Amambai – COOPERSA, sob os
aspectos econômicos e sociais da sustentabilidade.

2 Indicadores de Desempenho e Sustentabilidade

A fim de contribuir para a sustentabilidade, as organizações visam incorporar em seu


planejamento, estratégias que contemplem as dimensões socioculturais e ambientais, além dos
planos estratégicos econômicos (CORAL, 2002). Ou seja, formular e aplicar estratégias que
contribuam para suprir as demandas sociais, e promover mais capacidade para atingir os
objetivos organizacionais e potencializar o desempenho da empresa (LIMA, 2013).
Segundo Lima (2013), o desempenho é uma ferramenta de gestão que precisa ser
avaliada com periodicidade. É preciso implantar ações de melhorias em diferentes setores da
empresa, qualificar os níveis de eficiência e eficácia, integralizando as habilidades das
pessoas e investindo nas diferentes dimensões da sustentabilidade (SOUZA et al., 2006). E,
para que os resultados sejam satisfatórios, a gestão precisa estar alinhada com os objetivos, e
as estratégias devem ser promovidas corretamente (LIMA, 2013), sendo necessária a adoção
de uma metodologia que contemple todo o processo estratégico.
Os indicadores são ferramentas que servem como metodologia para avaliar e medir as
ações e resultados das instituições. Uma das tarefas dos indicadores é verificar se um sistema
se direciona para a sustentabilidade ou para a insustentabilidade (DEPONTI, 2001), além de
gerar dados que indiquem mudanças ou direção para obter um desenvolvimento sustentável
(VERONA, 2008).
É importante que os indicadores sejam práticos e claros, e que forneçam informações
concretas sobre o sistema analisado. Devem permitir o envolvimento dos atores da pesquisa, e
a integração com outros indicadores (DEPONTI, 2002; VERONA, 2008), sem que haja
complexidade e agrupamento em exceção, no mesmo índice, para não resultar em um modelo
“não confiável” de sustentabilidade (VERONA, 2008).
Neste contexto, a literatura apresenta os sistemas de indicadores existentes (Silva,
2007) e sua relevância de acordo com o objeto de estudo. Nesta pesquisa são utilizadas as
literaturas necessárias para avaliar e analisar as dimensões social e econômica, com base nos
dados obtidos junto a cooperativa COOPERSA.

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3 Metodologia

A Cooperativa Agroindustrial Amambai (COOPERSA), está localizada no município


de Amambai, na região sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, a 382 km da capital
Campo Grande, próximo à fronteira com o Paraguai. Sua atividade envolve produtores
agrícolas e pecuaristas.
Entre os cooperados, 43 são produtores agrícolas. Para a estimativa da amostra,
consideraram-se como universo os 31 agricultores que são residentes e com propriedades no
município de Amambai, os quais colaboraram com a pesquisa e, portanto, foram
entrevistados, o que representa praticamente 69% do universo de interesse da pesquisa.
A coleta de dados foi realizada por meio de três roteiros semiestruturados para as
entrevistas com gestores e técnicos da empresa e seus cooperados, a fim de obter informações
pertinentes ás assembleias, estratégias e práticas de gestão, bem como condições econômicas
e sociais dos cooperados.
As entrevistas foram realizadas de forma individual, transcritas e gravadas no período
de dezembro de 2015 a junho de 2016. O instrumento utilizado visou coletar dados
quantitativos e qualitativos que pudessem fornecer elementos necessários para a construção
e/ou elaboração dos indicadores de sustentabilidade de desempenho organizacional, a fim de
buscar respostas aos objetivos estabelecidos nesta pesquisa.
Portanto, definem-se os subíndices que compõem o Índice de Sustentabilidade e
Desempenho Organizacional - ISDOR que melhor referenciam o desempenho da cooperativa,
agrupados sob as dimensões denominadas: Econômica – identificação das condições
econômicas da cooperativa e de seus cooperados e o alinhamento das estratégias com a
prática; e Social – caracterizando as percepções dos cooperados frente às ações da cooperativa
bem como os seus resultados frente às suas estratégias. A Figura 1 abaixo demonstra a
configuração do ISDOR.
Figura 1 – Fluxograma de composição do Índice de Sustentabilidade e Desempenho Organizacional
(ISDOR)

Fonte: Autor (2016).


Em relação à tipologia, que se refere à ênfase metodológica dos dados, o ISDOR se
utiliza de dados quantitativos, pois esse Índice é consequência da agregação de indicadores e
parâmetros de valor numérico.
A metodologia utilizada foi composta por três etapas e teve como base os estudos de
Almeida (2006) para a construção dos roteiros de entrevistas. Além de Maçaneiro (2012),
Kuhl (2012), Padilha (2009), Scandelari (2011) e Lima (2013), que subsidiaram a escolha dos
indicadores, os quais constam na lista de indicadores genéricos sugerida pelo Perform (2002),
por melhor servir como estrutura para que se possam observar os reflexos das estratégias e
ações da gestão da cooperativa, no desempenho e na sustentabilidade da organização.
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A primeira etapa consistiu, na definição dos indicadores e a divisão dos subíndices nas
dimensões econômica e social da sustentabilidade. A segunda etapa buscou parametrizar os
indicadores cujos valores pudessem variar entre zero e um, de forma que os valores mais
próximos a um apontassem maior sustentabilidade (SILVA, 2007), a saber:
(vo - pv)
Índice =
(mv - pv)

Onde:
vo = média do valor observado para o indicador
pv = pior valor
mv = melhor valor
Fonte: Silva (2007, p. 125).

Na terceira etapa, foi atribuído a cada um dos subíndices que compõe a dimensão
econômica e a social (Figura 1) um peso, de acordo com o grau de representatividade na
composição do índice ISDOR. Atribui-se peso um para os subíndices IRE, IMB, IPT, ICR e
IPRO da dimensão econômica que compõe o IDE, além de peso dois para o IEG e peso três
para o IPG. Na dimensão social representada pelo índice ISUS, os subíndices IAS, IAT,
ICAP, IED, ISAT, IDD tiveram peso um, para o IES peso dois e para o IPS peso três. Tais
pesos foram atribuídos por considerar as práticas sociais e de gestão mais relevantes para a
obtenção do índice de sustentabilidade da cooperativa, e chancelados pela consulta aos
especialistas com a técnica Delphi. Portanto, a partir da composição dos dois índices parciais
(IDE, ISUS), o ISDOR será composto da seguinte forma:
ISDOR = IDE + ISUS
2
Em que:
ISDOR = Índice de Sustentabilidade e Desempenho Organizacional
IDE = Índice de Desempenho econômico
ISUS = Índice de Sustentabilidade Social

4 Resultados e Discussão

No cálculo da média dos subíndices, obtém-se o Índice de Desempenho Econômico –


IDE, utilizado para a construção do ISDOR, com pontuação de 0,64 e com nível bom de
sustentabilidade, conforme classificação. Os resultados dos subíndices da dimensão
econômica seguem descritos na Tabela 1, a seguir.
Tabela 1 – Índice de Desempenho Econômico – IDE
Subíndices Pontuação Classificação
IPT 0,44 Ótimo
IRE 0,63 Bom
IMB 0,56 Regular
ICR 0,64 Regular
IPRO 0,51 Ruim
IEG 0,92 Ótimo
EPG 0,78 Bom
IDE = IPT+IRE+IMB+ICR+IPRO+IEG+IPG 0,64 Bom
7
Fonte: Autor (2016).

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Em sua pesquisa, Barbosa (2014) analisou os indicadores de sustentabilidade de uma


cooperativa de produtores de leite nas dimensões sociais e econômicas da sustentabilidade e
verificou que na dimensão econômica o resultado da cooperativa foi de 0,42 de
sustentabilidade, considerada regular, resultado menor do que o obtido nesta pesquisa.
Diante do exposto, é possível observar que há pontos a serem melhorados no aspecto
econômico da COOPERSA, pois quando analisados os maquinários e benfeitorias IMB, o
subíndice foi regular, semelhante ao de acesso ao crédito ICR, e o subíndice produtividade
IPRO, é classificado como ruim. Embora a média dos subíndices retratem que a cooperativa
possui bom nível de sustentabilidade na dimensão econômica, os principais fatores que
impulsionam o crescimento (KVITSCHAL et al., 2015), tanto dos cooperados como da
cooperativa, apresentaram resultados: regular e ruim.
O acesso ao crédito é uma forma do produtor investir na propriedade e garantir sua
produção com menores custos em decorrência da disponibilidade de maquinários e
benfeitorias, que podem chegar a 10% do custo total (KVITSCHAL et al., 2015). E os
resultados de produtividade estão ligados a diversos fatores, entre eles as datas ideais de
plantio e colheitas, atividades que dependem exclusivamente da disponibilidade de
maquinários.
Na dimensão social, os índices constatados enquadram-se na classificação entre
regular a ótimo, sendo a condição ótima para a maioria dos indicadores, como pode ser
observado na Tabela 2, a seguir:
Tabela 2 – Índice de Sustentabilidade Social – ISUS
Subíndices Pontuação Classificação
ICAP 0,71 Bom
IAT 0,85 Ótimo
IED 0,47 Regular
IDD 0,80 Ótimo
ISAT 0,88 Ótimo
IAS 0,87 Ótimo
IES 0,88 Bom
IPS 0,92 Ótimo
ISUS= ICAP+IAT+IED+IDD+ASAT+IAS+IES+IPS 0,80 Ótimo
8
Fonte: Autor (2016).

Na classificação dos subíndices sociais, apenas o subíndice educação obteve resultado


regular, em função de que a maior parte dos produtores possuírem o ensino fundamental e
médio. É importante ressaltar que, embora o nível de escolaridade da maioria dos
entrevistados não seja de ensino superior completo, todos os produtores demonstram interesse
em obter mais conhecimento, principalmente aplicáveis à produção.
Barbosa (2014) aponta em sua pesquisa que a dimensão social obteve índice de 0,56,
maior que na dimensão econômica, corroborando com este estudo, porém com classificação
de sustentabilidade regular.
O desempenho social de uma cooperativa e de seus cooperados pode estar relacionado
diretamente com comportamento de cooperados e gestores. Por ter uma característica de
dualidade, as cooperativas enquanto organizações sociais atuam promovendo bem-estar aos
seus cooperados e à sociedade (FAJARDO, 2016), e enquanto uma entidade envolvida com a
produção agropecuária, precisa fortalecer o coletivo para continuar competitiva.
Portanto, os resultados positivos obtidos pela COOPERSA traduzem o comportamento
dos seus cooperados em atuarem junto à cooperativa e de seus gestores que buscam nas
assembleias a igualdade e na assistência técnica a qualidade no campo.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Porém, é importante destacar que o papel dos cooperados, enquanto gestores de suas
propriedades, e dos gestores da cooperativa, são estratégicos para a modernização das
atividades agrícolas, enquadrando-as na realidade denominada “Padrão Agrário Moderno”,
integrando a agricultura ao complexo industrial (FAJARDO, 2016). Promovendo melhores
resultados nos indicadores econômicos e, consequentemente, desenvolvendo conhecimento,
qualidade na produção, acesso às tecnologias e promovendo maior envolvimento dos
cooperados no processo de crescimento da cooperativa.
Portanto, é possível afirmar que a forma de gestão adotada, direciona as propriedades
e a cooperativa no caminho da sustentabilidade, tanto na dimensão econômica como social
(STRAND, 2009; SAES, 2010; SANTOS, 2012; MAGALHÃES, 2014; XIE, 2016). E, que a
inclusão social e o desempenho econômico precisam ser analisados juntos para a elaboração
de estratégias de melhorias.
Com base nos resultados constatados em cada dimensão, e a construção dos Índices
IDE e ISUS, define-se o ISDOR, conforme apresentado na Tabela 3, a seguir:
Tabela 3 – Índice de Sustentabilidade e Desempenho Organizacional da COOPERSA em 2017
Dimensão Índice de Classificação
Sustentabilidade
Econômica (IDE) 0,64 Bom
Social (ISUS) 0,80 Ótimo
ISDOR 0,72 Bom
Fonte: Autor (2016).

O ISDOR representa o desempenho da COOPERSA, por meio dos indicadores que


compõe os índices sociais e econômicos. Com um resultado de 0,72, considerado um nível
bom de sustentabilidade, conclui-se que até o momento os esforços empreendidos nas
estratégias e nas práticas de gestão econômica e social da cooperativa, têm resultado em um
bom desempenho. Entretanto, evidencia-se a necessidade de melhorias, principalmente na
dimensão econômica.
Com o objetivo de facilitar a compreensão dos resultados obtidos para cada índice,
tanto econômico como social, bem como de estratégias de gestão, de práticas de gestão, de
estratégias sociais e das práticas sociais, foi utilizado o termômetro da sustentabilidade
proposto por Silva (2007), que representa uma escala de valores entre zero e um, sendo
aqueles mais próximos de um são os que indicam maior sustentabilidade (Figura 2).
Figura 2 – Termômetro de indicação de sustentabilidade

Fonte: Silva (2007, p. 194).


Nesta pesquisa, adotou-se o critério de classificação da sustentabilidade medido com a
utilização do termômetro (Figura 2) e descrito na metodologia.
O valor referente ao índice econômico é menor que ao índice social e deve-se aos
fatores como acesso e destino dos créditos financeiros, além de fatores como produtividade.
Ambos estão diretamente relacionados para que as melhorias da dimensão econômica sejam

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

atingidas e precisam de maior atenção. Na dimensão social, os indicadores que obtiveram


menores resultados são os referentes ao grau de escolaridade dos cooperados, capacitação
ofertada pela cooperativa e estratégias sociais. Embora com um índice social ótimo, tais
indicadores ainda podem ser melhorados.
Neste contexto, Moreira (2008) analisou o capital social como recurso para a
sustentabilidade de cooperativas agroindustriais por meio de um estudo de caso, e apontou
que a existência de capital social não resolve todos os problemas, porém contribui para o êxito
produtivo e social das cooperativas, corroborando com este estudo, e que pode gerar
desenvolvimento econômico para a região.
O ISDOR pode contribuir para gerar melhores resultados à COOPERSA, por meio da
adoção de estratégias e práticas de gestão voltadas aos aspectos com menor desempenho e
envolvimento de colaboradores e cooperados no processo efetivo das estratégias firmadas
pela gestão. Tal metodologia, pode servir para demais organizações que visem avaliar sua
atuação e buscar dados que forneçam informações necessárias para tomada de decisões
futuras que promovam sustentabilidade à gestão. Propõe, Também, pesquisas futuras que
envolvam a dimensão ambiental, a fim de atender os três pilares da sustentabilidade.

Referências
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Agroindústria familiar rural, diversidade e alimentos: um estudo no


município de Constantina-RS
Caroline Conteratto¹, Tanice Andreatta², Rosani Marisa Spanevello².

¹ Discente do Curso de Ciências Econômicas/UFSM, Campus Palmeira das Missões-RS.


email:carolineconteratto@hotmail.com
² Docentes no Programa de Pós Graduação em Agronegócios – PPGAGR – UFSM – Campus Palmeira das
Missões-RS – Núcleo de Pesquisa, Extensão e Ensino em Agronegócios.

Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

Resumo. O presente artigo teve como principal finalidade analisar a configuração das agroindústrias familiares
rurais do município de Constantina-RS, bem como a visão dos agricultores sobre os fatores desencadeadores de
potencialidades e dificuldades no desempenho da atividade. A pesquisa de campo ocorreu nos meses de janeiro e
fevereiro de 2017 e considerou a população de agroindústrias familiares rurais no município, no caso, 11
agroindústrias. Os dados foram obtidos a partir de um roteiro de pesquisa, que continha questões abertas e
fechadas, as últimas organizadas a partir da escala de Likert. Os resultados indicam que estes agricultores tem
baixa escolaridade e ainda possuem idade acima dos 40 anos. Os principais produtos beneficiados são a carne
suína e derivados, leite e derivados e cana-de-açúcar e derivados. A agroindustrialização, no entanto, é vista como
uma atividade secundária nestas propriedades rurais, implantada devido à disponibilidade de mão de obra, geração
e diversificação das fontes de renda. Entre as potencialidades da atividade majoritariamente um percentual
importante dos entrevistados destacam o aumento da produção, o acesso ao crédito e o aumento da renda familiar.
Entre os principais fatores limitantes os entrevistados apontam a dificuldade de sucessão familiar, a dificuldade de
gerar novidades na agroindústria, o atendimento à legislação sanitária e ambiental. É importante salientar que
apesar das dificuldades os agricultores não tem entraves de realizar a comercialização dos produtos
agroindustrializados, uma vez que, esse tipo de produto, associado à tradição e aos mercados locais, tem sido cada
vez mais valorizados, dada a relação com a segurança alimentar.
Palavras-chave: Agroindústria familiar. Agricultura. Alimentos.

Rural family agro-industry, diversity and food: a study in the municipality


of Constantina-RS
Abstract. The main purpose of this article was to analyze the configuration of the rural family agroindustries of
the municipality of Constantina-RS, as well as the farmers' view on the factors that trigger potentialities and
difficulties in the performance of the activity. Field research occurred in the months of January and February
2017 and considered the rural family agroindustry population in the municipality, in this case, 11 agroindustries.
The data were obtained from a research script, which contained open and closed questions, the latter organized
from the Likert scale. The results indicate that these farmers have low schooling and are still over 40 years of age.
The main products benefited are pork and dairy products, milk and milk products and sugarcane and derivatives.
Agro-industrialization, however, is seen as a secondary activity in these rural properties, implanted due to the
availability of labor, generation and diversification of income sources. Among the potentialities of the activity, a
large percentage of respondents highlight increased production, access to credit and increased family income.
Among the main limiting factors, the interviewees point out the difficulty of family succession, the difficulty of
generating novelties in the agroindustry, compliance with sanitary and environmental legislation. It is important
to point out that despite the difficulties, farmers do not have obstacles to the commercialization of agroindustrial
products, since this type of product, associated with tradition and local markets, has been increasingly valued,
given the relationship with security to feed.
Keywords: Family Agribusiness. Agriculture. Foods.

Introdução
A produção de alimentos agroindustrializados atualmente tornou-se uma importante
área de análise, essencialmente quanto a sua oferta, bem como a discussão voltada aos agentes
responsáveis pelas agroindústrias familiares rurais. De um modo geral a perspectiva da
transformação do produto, junto ou advindo dos mercados locais, ganha força sobretudo quando

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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o consumidor passa a se preocupar cada vez mais com a origem e a qualidade dos alimentos.
Os debates em torno da segurança alimentar, a nível internacional, ganham força nos últimos
dez anos, sobretudo pela sua associação com a temática do combate à fome e pertinente a
questão da garantia alimentos para todos.
De acordo com Gazolla e Schneider (2007) a oferta de alimentos todavia, estabelece
uma conexão com múltiplas condições, sejam elas a produção artesanal, a produção sem adição
de agrotóxicos e conservantes, consideração dos hábitos e preferências dos indivíduos. Por
conseguinte a segurança alimentar está estreitamente relacionada com agricultura familiar, a
mesma condiciona a multifuncionalidade dentro das pequenas unidades rurais, e é capaz de
desenvolver a pluriatividade respeitando os princípios éticos e sustentáveis.
Destarte Schneider (2004) menciona que os estudos voltados para a área do agronegócio
visam examinar os meios de gestão, mercados, inovação e demais variáveis, sendo assim esta
vertente além das provocações do capitalismo industrial, investigam as condições dos
agricultores responsáveis pela produção dos alimentos. O autor cita ainda que este segmento
durante a década de 1980 sofreu impasses pelo ideal de integração aos complexos
agroindustriais, que levaria a perda da autonomia dos pequenos produtores familiares.
Nesta perspectiva as agroindústrias familiares rurais de Constantina-RS carregam
consigo, em larga medida, a influência da tradição, nas formas de como manejam a produção,
derivada dos ensinamentos de seus antepassados colonos europeus. Como o município, em sua
maioria, comporta pequenas propriedades rurais estes se tornam terrenos propícios para a
diversificação de atividades estabelecendo, desta forma, alternativas para a manutenção e a
sobrevivência das famílias no meio rural. Assim, no presente estudo objetivou-se analisar a
configuração das agroindústrias rurais de Constantina-RS. Também buscou-se identificar a
visão dos agricultores sobre algumas questões que podem ser percebidas por eles como
positivos e que podem ser potencialidades para a manutenção e expansão da
agroindustrialização, bem como fatores que dificultam, e/ou se transformam em entraves para
o desenvolvimento da atividade.
O artigo portanto, está estruturado a partir da introdução das considerações finais por
três seções, a primeira trata de uma revisão bibliográfica acerca da agricultura e agroindústria
familiar, a segunda considera os procedimentos metodológicos e a terceira os resultados e
discussões.
Revisão Bibliográfica
Atualmente existe uma enorme variedade de estudos sobre as diversas cadeias
agroalimentares. Independente da perspectiva adotada nota-se que há uma preocupação com a
questão da segurança alimentar, ressalta-se que está temática é um dos eixos condutores quando
se trata dos estudos em agricultura e agroindústrias familiares. A este respeito Silveira e
Sulzbacher (2010) apontam que as agroindústrias familiares rurais caracterizam-se como um
espaço onde são beneficiados produtos de origem vegetal e animal, cujo sua transformação
utiliza da mão de obra familiar.
Para Mior (2005) a agroindústria familiar teve seu desenvolvimento quando o contexto
social teve uma percepção de valorização destes empreendimentos, na qual os consumidores
voltaram a atenção aos benefícios que os produtos artesanais comportam como a origem,
confiança e a sanidade. O pano de fundo da valorização destes mercados alternativos de
alimentos agroindustrializados está no modelo das grandes redes de distribuição alimentar que
implantaram o modelo de fast food, cujo significado de comida rápida, adaptou-se com o estilo
de vida moderna onde o tempo tornou-se mais escasso. Deste modo a agroindústria familiar se
reproduziu pelo fato de que os agricultores trabalham de maneira justa onde faz-se importante
a produção artesanal mais natural possível.
Alguns aspectos tornam-se importantes para a viabilização de uma agroindústria de
alimentos sejam eles agroindustrializados ou comercializados in natura como a confiança e a

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

agregação de valor, que por sua vez são transparecidos no sabor, na aparência, na adição
mínima de conservantes e em muitos casos pela forma orgânica de produção.
De fato a região sul do Brasil destaca-se pela diversificação nas atividades econômicas
dentro das propriedades. Esta tradição na região sul do país deve-se a colonização europeia que
trouxe levas principalmente de italianos e alemães, que produziam alimentos para o consumo
das famílias e posteriormente depararam-se com a necessidade de trocar alguns produtos
beneficiados nas propriedades por produtos das casas de comércio, estes ainda geravam
excedentes econômicos para auxiliar no custeio da propriedade (ARAÚJO, 2007).
Como destaca Wilkinson (2008) a agroindústria familiar ampara-se em fatores como a
produção artesanal oriunda dos moldes contemporâneos de produção, que conservaram-se com
o passar do tempo. Estas tradições familiares que antes eram utilizadas para o autoconsumo
posteriormente tornaram-se meios de comercialização, como ainda destaca Wilkinson (2002)
os estabelecimentos de produção agroalimentar desenvolvem-se pela conexão que se estabelece
entre os produtores e consumidores.
De acordo com Schneider (2007):

Como pequenos proprietários, donos de seus meios de produção, os autores


sustentam que a reprodução dos agricultores familiares depende de sua capacidade de
fazer escolhas e desenvolver habilidades em face aos desafios que lhe são colocados
pelo ambiente social e econômico em que vivem. Neste ambiente, são compelidos a
inovar constantemente (através do treadmill tecnológico e da interação territorial) e a
se tornarem pluriativos (SCHNEIDER, 2007, p. 19).

Para Maluf (2004) a agroindústria familiar apresenta-se como uma alternativa para
custear as oscilações e imprevistos na propriedade, possibilita autonomia e a redução dos riscos.
Ainda aborda Schneider (2007) que o empreendedorismo dos agricultores familiares gera uma
produção diversificada e a maior integração social no mercado, deste modo reduzindo a
vulnerabilidade e auxiliando no desenvolvimento rural.
Procedimentos de Pesquisa
Este estudo foi realizado no município de Constantina-RS situado na região norte do
Rio Grande do Sul. O município estudado abrange uma área de 203 Km² e composto por uma
população em que apesar de ser majoritariamente urbana ainda possui uma população rural bem
acima da média brasileira e do estado, conforme o IBGE (2017) o Censo Demográfico de 2010
demonstrou que cerca de 34% das dos habitantes residem na área rural e 66% residentes no
perímetro urbano.
O método utilizado para a análise neste artigo foi uma pesquisa de campo que
considerou 11 estabelecimentos de produção agroindustrial na área rural do município de
Constantina-RS. As entrevistas ocorreram no período que compreende os meses de janeiro e
fevereiro de 2017 através de visitas realizadas agroindústrias familiares rurais.
A pesquisa construiu-se através da elaboração de um roteiro de pesquisa estruturado a
partir de questões abertas e fechadas. As questões fechadas em sua grande maioria foram
formuladas através da escala de Likert, escala de um a cinco, demonstrando os níveis de
concordância dos entrevistados, onde um (1) discordo totalmente até (5) concordo totalmente.
As questões abertas foram realizadas com intuito de captar o comportamento de questões
chaves sobre o funcionamento das agroindústrias e também para validar as questões de natureza
mais quantitativa.
Resultados e Discussão
Considerando que o estudo compreende uma análise de um mercado diferenciado,
torna-se importante destacar que os estabelecimentos abordados situam-se na área rural que as
11 agroindústrias referem-se a 100% das agroindústrias rurais transformadoras e beneficiadoras

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

de derivados de cana de açúcar, derivados de leite e embutidos de carne suína do município de


Constantina-RS.
Desta forma a apresentação dos resultados sistemicamente aponta algumas
considerações importantes para este setor como a caracterização dos produtores rurais, a
configuração das propriedades e das agroindústrias familiares rurais, a comercialização dos
produtos agroindustrializados e por último uma breve análise sobre as potencialidades e os
limitantes desta atividade
4.1 O perfil dos produtores e das agroindústrias rurais do município de Constantina-RS
Quando se busca analisar o funcionamento de um empreendimento, independentemente
de sua natureza, é importante considerar que o perfil das pessoas que o regem tem um papel
importante no planejamento e nas decisões tomadas. Em se tratando de empreendimentos
rurais, sobretudo os de natureza familiar essas características aumentam mais ainda. Assim,
além dos indicadores técnico-produtivos, os indicadores socioeconômicos, culturais e
comportamentais também contribuem para moldar as decisões, e consequentemente as
atividades exercidas na propriedade (EDWARDS-JONES E MCGREGOR, 2006).
No que concerne aos entrevistados, em sua totalidade são sócios-proprietários das
agroindústrias, que em larga medida, herdaram a tradição de transformação e beneficiamento
de alimentos de seus antepassados. Neste sentido nota-se a presença do conhecimento adquirido
na prática; a maioria os membros não possuem cursos de especialização, e apresentam um nível
de escolaridade baixo conforme a tabela 1.

Tabela 1: Nível de escolaridade dos agentes ocupados com as atividades nas agroindústrias

Escolaridade N° de pessoas Percentual (%)


Sem Educação Formal 0 0%
Ensino Fundamental Incompleto 28 60,87%
Ensino Fundamental Completo 8 17,39%
Ensino Médio Incompleto 2 4,35%
Ensino Médio Completo 7 15,22%
Ensino Superior Incompleto 1 2,17%
Ensino Superior Completo 0 0,00%
Pós-graduação 0 0,00%
Fonte: Dados da pesquisa.
Como aponta a tabela 1, mais da metade das pessoas ocupadas as atividades da
agroindústria rural possuem ensino fundamental incompleto. De acordo com a visão dos
entrevistados, quando estavam na idade de estudar os pais davam preferência de não deixar os
filhos estudarem para terem mais disponibilidade de mão de obra na propriedade. Ainda como
mostra a tabela 1 nota-se que 4,35% iniciaram o ensino médio e desistiram logo em seguida, já
17,39% dos produtores possuem ensino fundamental completo e 15,22% cursaram o ensino
médio completo e apenas um membro tentou cursar o ensino superior.
Convém destacar que o número total de integrantes das agroindústrias familiares rurais
de Constantina-RS totalizam 46 membros sendo 19 mulheres e 27 homens, nota-se de acordo
com a tabela 2, que destes 46 membros 32 indivíduos possuem mais de 40 anos, ou seja
aproximadamente 70% dos integrantes e que também justifica no nível de escolaridade desse
conjunto de pessoas.

Tabela 2- Faixa etária dos componentes da agroindústrias familiares rurais de Constantina-RS

Faixa etária N° de pessoas Percentual (%)

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


De 0 a 20 anos. 1 2,17%
De 21 a 30 anos. 1 2,17%
De 31 a 40 anos. 7 15,22%
De 41 a 50 anos. 15 32,61%
De 51 a 60 anos. 17 36,96%
De 61 a 70 anos. 5 10,87%
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com Prezotto (2002a) a agroindústria familiar rural de alimentos além de
proporcionar o desenvolvimento rural descentraliza as culturas, recupera os fatores de produção
e em muitos casos ainda ocasiona a preservação ambiental. Neste contexto, ainda as
agroindústrias estabelecem um modo de inserção social que por meio da confiança e do estilo
artesanal convencem os consumidores a terem uma nova ótica sobre os alimentos que adquirem
voltados à questões de saúde e de sustentabilidade.
Neste estudo destacaram-se três tipos de produção, na qual cinco agroindústrias são de
embutidos de carne suína, três agroindústrias de derivados de leite e três agroindústrias de
derivados de cana de açúcar.
Em linhas gerais pode-se afirmar que três estabelecimentos operam informalmente,
enquanto as demais são formais, torna-se importante ressaltar que nove agroindústrias fazem
parte da Cooperativa dos Grupos de Agroindústrias dos Agricultores Familiares de Constantina
e Região Ltda (Cooperac), que utilizam do Selo de Inspeção Municipal para atuarem junto ao
mercado. Apenas uma agroindústria produz de forma orgânica e as demais optaram por
produzirem de forma convencional. Conforme os entrevistados a forma convencional de
produção exige menos mão de obra e menos investimento financeiro.

Tabela 3- Produção e estimativa de lucro nas agroindústrias familiares rurais de Constantina –RS

Agroindústria Lucro líquido Quantidade média de produção mensal


aproximado mensal/R$
A1 3.000,00 2500 kg de embutidos de carne suína.
A2 1.200,00 500 kg de embutidos de carne suína.
A3 4.300,00 4800 kg de embutidos de carne suína.
A4 1.600,00 200 kg de embutidos de carne suína.
A5 5.000,00 4500 kg de embutidos de carne suína.
A6 12.000,00 4500 kg de queijo, 4000 litros de leite integral e
2500 litros de iogurte.
A7 3.500,00 1500 kg de queijo e ricota.
A8 2.500,00 1000 kg de queijo.
A9 8.000,00 3000 litros de cachaça e 200 kg de açúcar
mascavo.
A10 4.800,00 2000 litros de cachaça e 50 kg de açúcar mascavo.
A11 3.500,00 2000 litros de cachaça.
Fonte: Dados da pesquisa.

4.2 Potencialidades e dificuldades enfrentadas nas agroindústrias familiares no município


de Constantina – RS
A agroindústria familiar rural é uma das principais provedoras de alimentos para a
população. De acordo com Schneider (2003, p. 114) a reprodução destes agentes está
relacionada com o ambiente em que se inserem de modo que as famílias levam em consideração
vários fatores para o progresso como moradia, bem estar econômico e social, além disto

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

destaca-se principalmente a possibilidade de alcançar determinados objetivos materiais dentro


de suas propriedades.
Nos estabelecimentos estudados observou-se que a comercialização em sua maioria
acontece nas feiras livres do município, nos domicílios e nos supermercados locais de acordo
com a tabela 4.

Tabela 4- Local de comercialização das agroindústrias de Constantina- RS

Estabelecimentos de Comercialização N° de agroindústrias


Feiras livres do município 11
Feiras estaduais 1
Sindicato Rural 9
Venda em domicílios 11
Supermercados 11
Venda na agroindústria 3
Outros locais 5
Fonte: Dados da pesquisa.
Neste sentido algumas comercializam no sindicato rural que disponibilizou um espaço
para que a cooperativa tivesse o espaço de comercialização na cidade. Algumas agroindústrias
vendem no próprio espaço de produção devido à proximidade centro urbano.
Dentre as possibilidades econômicas e sociais que buscam os produtores das
agroindústrias rurais de Constantina-RS, destacam-se algumas potencialidades e elas são de
essenciais manter o negócio rentável.
Na visão dos entrevistados isto ocorre principalmente pela oferta de mão de obra
familiar que é um fator determinante para que seja ocupado o espaço, também o capital
disponível para que haja produtividade alavancando desta forma os ganhos nesta atividade e
diluindo algumas despesas fixas, como estrutura, licenciamento, energia entre outros custos da
propriedade.
Entre elas destacam-se o aumento da produtividade em mais de 80% dos
estabelecimentos. Outro aspecto muito relevante é demanda por esse tipo de produtos, no que
concerne à comercialização, existe, no âmbito do município, uma facilidade de comercialização
e acesso junto aos consumidores, devido à relação de confiança e à proximidade. Além disso,
estes cada vez mais cientes da importância de adquirir e consumir produtos de origem.
Assim, a produção das agroindústrias não supre a demanda total de produtos, de fato os
entrevistados reconhecem que existe uma margem de comercialização não explorada em razão
da falta de produção.
Como na maioria das atividades na agricultura, as agroindústrias rurais de Constantina-
RS, possuem alguns quesitos que impactam o desempenho do segmento. Entre eles as principais
dificuldades está a manutenção da força de trabalho na propriedade, principalmente devido a
intenção dos filhos de não permanecerem na propriedade.
Nota-se, no entanto, que mesmo este segmento utilizando da mão de obra intensiva,
existe a expectativa de expansão dos empreendimentos por parte de vários agricultores que
acreditam e incentivam a sucessão familiar.
Um fator importante para qualquer atividade é a prospecção futura quanto a viabilidade
e aumento dos lucros. Nos últimos cinco anos o aumento da renda das famílias e o aumento da
valorização da atividade. Por outro lado para os produtores entrevistados eles tem uma incerteza
em termos de novos investimentos, devido a dificuldades da sucessão familiar, visto que os
mais jovens tem preferência em migrarem para outros segmentos.
Considerações Finais

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

É consenso entre os pesquisadores internacionais e nacionais que as agroindústrias


familiares rurais desempenham um papel importante quanto a oferta de alimentos para a
população, na ocupação e geração de renda das famílias que atuam neste segmento, na
diversificação das atividades e redução de riscos climáticos e de mercado.
Partindo do pressuposto da aceitação e da relevância das agroindústrias familiares como
segmento que tem papel ativo no desenvolvimento rural buscou-se neste artigo Assim, no
presente estudo objetivou-se analisar a configuração das agroindústrias rurais de Constantina-
RS. Também buscou-se identificar a visão dos agricultores sobre algumas questões que podem
ser percebidas por eles como positivos e que podem ser potencialidades para a manutenção e
expansão da agroindustrialização, bem como fatores que dificultam, e/ou se transformam em
entraves para o desenvolvimento da atividade.
Em linhas gerais percebem-se características importantes, e que de certa maneira
condicionam as decisões dos envolvidos na agroindustrialização o número significativo de
pessoas com mais de 40 anos, com níveis de escolaridade baixos. Estas características tem
estreita relação, e em larga medida explicada na literatura sobre o assunto, com o
envelhecimento da população brasileira, sobretudo a rural; a migração do rural para o urbano,
especialmente os mais jovens; além das condições objetivas da época em que essa população
estava em idade escolar, ou seja, o objetivo principal era a disponibilidade mão de obra nas
propriedades em detrimento da formação educacional.
Em termos de atividades, a agroindustrialização é apontada como uma atividade
complementar, mas que é reforçada pelos entrevistados que tem uma função estratégica em
decorrência da disponibilidade de mão de obra, diversificação e agregação de renda e ainda,
redução de riscos climáticos e mercadológicos. Esta condição, também contribui para explicar
porque algumas agroindústrias ainda atuam na informalidade. Neste sentido, os resultados da
pesquisa contribuem para endossar com conjunto de outras pesquisas já existentes que
demonstram a importância das agroindústrias rurais na agregação de valor aos produtos,
geração de renda, inserção nos mercados e qualidade de vida no campo, entre outros.
Esta análise no entanto destaca a importância da pluriatividade na agricultura familiar,
também ressalta as limitações que assolam as famílias nas pequenas propriedades, pois
possuem uma elevada carga de responsabilidade na oferta de alimentos de qualidade, tornando-
se cada vez mais indispensáveis atributos como valorização e subsídios através de políticas
públicas e de fortalecimento na manutenção das agroindústrias familiares rurais.
Entre as potencialidades da atividade majoritariamente um percentual importante dos
entrevistados destacam o aumento da produção, o acesso ao crédito e o aumento da renda
familiar. Estes apontamentos estão estreitamente relacionados uma vez que a agroindústria,
considerando as do município de Constantina-RS, objeto do estudo, dão uma dinâmica
diferenciada às propriedades rurais.
Entre principais fatores limitantes os entrevistados apontam a dificuldade de sucessão
familiar, a dificuldade de gerar novidades na agroindústria, o atendimento à legislação sanitária
e ambiental, fatores também identificados em outros estudos envolvendo a agroindústrias
rurais. No entanto, é importante salientar que apesar das dificuldades os agricultores não tem
entraves de realizar a comercialização dos produtos agroindustrializados, uma vez que, esse
tipo de produto, associado à tradição e aos mercados locais, tem sido cada vez mais valorizados,
dada a relação com a segurança alimentar.
Finalmente ressalta-se que os debates das agroindústrias familiares inserem-se em
temáticas mais gerais sobre a inserção nos mercados da agricultura familiar, um campo de
relevante importância para a manutenção da segurança alimentar que tem como premissa a
responsabilidade de fornecer alimentos para a população de maneira saudável, justa e
sustentável.
Referências

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ANÁLISE DA CAPACIDADE DISPONÍVEL DE PRODUÇÃO DE PÃES


CASEIROS EM AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES
Clarize Fogliato Trombini¹, Anderson Luis Walker Amorin², Augusto José Pinto Souto³

¹²³ Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-Campus Santiago,


Clarizetrombini@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho versa sobre a análise da capacidade disponível de produção de pães caseiros em
agroindústrias familiares. Para isso, foi realizado um diagnóstico da empresa, e constatado que a principal
necessidade era neste tópico. Com isso, o objetivo deste trabalho é identificar a capacidade disponível de produção.
Para atingir o objetivo foi realizado o mapeamento dos processos produtivos de pão caseiro de cada agroindústria
e realizada uma entrevista com as proprietárias, E por fim foi mensurada a capacidade disponível de produção de
pão caseiro de cada agroindústria. Desta forma, pode-se constatar que em alguns processos produtivos apresentam
perdas, estas classificadas como perda por ociosidade, e ociosidade por descanso obrigatório. A pesquisa
demonstrou que se a capacidade disponível algumas das agroindústrias aumentariam sua produção em até 40%.
Assim como outras, apresentam uma boa utilização, apresentados perdas apenas pela ociosidade por descanso
obrigatório. Por fim, pode se afirmar que por meio deste levantamento, as agroindústrias podem mensurar de
maneira ótima a sua produção, e melhorar a sua produtividade. .

Palavras-chave: Cooperativas familiares. Agroindústrias. Capacidade disponível. Mapeamento de processo.

ANALYSIS OF THE AVAILABLE PRODUCTION CAPACITY OF THE BAKERY


AGRO-INDUSTRIES ASSOCIATED WITH THE MIXED COOPERATIVE OF
FAMILY PRODUCERS OF SAN FRANCISCO DE ASSIS-COOPER JEITO
CASEIRO

Abstract:The present work is about an analysis of the available capacity of production of homemade cases in
family agribusiness.Thereby, was performed a company diagnosis, that demonstrate a gap in the production area.
The problematic in this paper has as objective identify the available production capacity. To achieve this, firstly
was performed a process mapping in the production process of in homemade bread from each agribusiness.
Interviewed the owners and measured the available production capacity. It was identified loses in the production
process, classified in idleness losses, and mandatory ret losses. In some of the agribusiness the losses for idleness
reach 40%, and in other there are only mandatory losses. Lastly, it can be affirmed that trough this measure is
possible to identify points to improve the agribusiness productivity.

Key words: Family Cooperative; Agribusiness; Available Capacity; Process Mapping.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo objetivou-se analisar a capacidade disponível de produção das


agroindústrias de panificados associadas à Cooperativa Mista de Produtores Familiares de São
Francisco de Assis. Através de uma análise mais ampla, busca-se mapear os processos
produtivos de pão caseiro de cada agroindústria de panificado, estudar a capacidade produtiva
das agroindústrias de panificados e, por fim, levantar possíveis alternativas para aumentar a
produtividade.
Em meio às constantes mudanças na economia, a crise política no país e a aceleração da
inovação fazem com que as empresas, sejam elas de pequeno ou médio porte, adotem
diferenciais para manter-se competitivas nos mercados em que estão inseridas. (SILVA e
DACORSO, 2013)
Um diferencial é a construção de agroindústrias familiares no meio rural, em que tais
estabelecimentos de pequeno porte trazem a oportunidade dos agricultores familiares se
inserirem no mercado competitivo, representando uma alternativa de renda e emprego para os

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

agricultores, pensando no produtor como um todo e não alguém ligado apenas com a produção
agrícola. (MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2004)
A agroindústria familiar rural é uma infraestrutura localizada no meio rural, com função
de processamento de produtos agropecuários originários de propriedades, as quais possuem
mão de obra familiar. A produção deve apresentar uma simultaneidade entre a capacidade de
produção da matéria-prima e do processamento. (SULZBACHER, 2009).
As constantes mudanças trazem riscos às empresas, mas também abrem oportunidades
e vantagens que é o cooperativismo entre as empresas, ou seja, ao invés de competir de forma
individual, cada empresa reforça suas competências próprias, unindo-se a outras empresas que
possuem competências complementares. Assim, a cooperação traz às empresas envolvidas mais
agregação de valor à cadeia produtiva e às próprias empresas, aumentando seu poder
competitivo diante do mercado. (FENSTERSEIFER, 2000)
Um diferencial para a empresa tornar-se competitiva é a área de produção, a qual
transforma recursos em produtos ou serviços, atendendo às necessidades de um nicho do
mercado. Para atender essas necessidades no tempo adequado, a empresa deve ter bem definida
a sua capacidade de produção. (MARTINS; LAUGENI, 2015). Staudt, Coelho e Gonçalves
(2011) caracterizam capacidade disponível como “a quantidade máxima que um processo pode
produzir durante a jornada de trabalho disponível. Também não considera as perdas”. Soares
(2014 apud TAKAKI e SOUZA, 2003) define que a capacidade disponível é medida pela
divisão da carga horária (CH) pelo tempo de produção do produto (TP).
Definindo bem a capacidade produtiva, a organização saberá se consegue suprir a
demanda do mercado e, também, se pode expandi-lo para outros tipos de clientes. Essas
medidas trazem como benefícios mais lucratividade, solidez e competitividade para a empresa.
(KOTLER; ARMSTRONG, 2003).

2. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste trabalho, para alcançar os objetivos elencados, foram realizadas pesquisas


bibliográficas, pesquisa documental, pesquisa de campo, assim como uma entrevista
semiestruturada gravada e fotografada, observação, utilização de formulários e, logo após, foi
realizada a pesquisa participante, quando foram repassadas as informações obtidas para os
proprietários das agroindústrias.
Para calcular a capacidade disponível de produção e a produção diária, semanal e
mensal, foram utilizados como base os relatos da entrevista, em que cada proprietária relata
quantas horas são trabalhadas durante o dia em cada estabelecimento. Também foram utilizados
5 dias semanais trabalhados dentro da agroindústria, pois um dos dias da semana os agricultores
participam da feira semanal na sede da Cooperativa, e o domingo foi considerado como dia de
descanso. Também para base de cálculo foi levado em consideração 22 dias trabalhados
mensalmente.
Os dados da quantidade diária, semanal e mensal levaram em consideração se fosse
produzido apenas aquele tipo de produto durante o dia, semana e mês. Também não foi
considerado o retrabalho, as perdas, falta de energia, estragos de máquinas e outros eventos
atípicos. O mapeamento do processo produtivo da produção de pão caseiro não está contido no
trabalho devido ao tamanho dos mesmos, mas pode ser disponibilizado mediante solicitação.

2.1 AGROINDÚSTRIA 1

A entrevista semiestruturada foi aplicada no recinto de cada agroindústria de forma


gravada com o auxílio de um gravador. A entrevista com a proprietária da Agroindústria 1 está
foi omitida por questões de espaço, porém está disponível se solicitado.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

2.1.1 Capacidade Disponível de Produção mensal e fluxograma vertical de produção de pão


caseiro da Agroindústria 1

2.1.1.1 Pão da Agroindústria 1

Para calcular a capacidade disponível e a produção diária, semanal e mensal, foi levado
em consideração que cada kg de pão é constituído de 20 unidades de pãezinhos e o tempo para
produzir uma receita, de acordo com a observação e construção do fluxograma de produção
deste produto, é de 4 horas.
A cada receita de pão de é produzido 39 kg, ou seja, 780 unidades de pãezinhos. Não
sendo consideradas as perdas, os retrabalhos, os estragos das máquinas e os eventos atípicos, a
capacidade disponível utilizada, as perdas por ociosidade, as perdas por descanso obrigatório,
a produção estimada mensal está disposta, conforme a tabela 1.

Tabela 1 – Capacidade disponível de produção de pão da Agroindústria 1


Capac. Capac. em Capac. em Capac. em Capac. em
Capacidade Disponível % Horas Receitas Kg Unidades
Perdas por Descanso
Obrigatório 20% 44 22 858 17160
Perda por Ociosidade 40% 88 44 1716 34320
Capacidade utilizada 40% 88 44 1716 34320
TOTAL 100% 220 110 4290 85800
Fonte: Elaborado pelos autores

Após ser calculada a capacidade disponível do pão da Agroindústria 1, pode-se observar


que as perdas por ociosidade somam até 60% da capacidade disponível de produção. Tais
dados, apresentados na tabela 1, representam que 40% são ociosidade causada pela espera de 2
horas na atividade 34, período de descanso das massas, ocasionando uma perda de 34.320
unidades por mês. Além disso, sabe-se que, devido às paradas obrigatórias para descanso,
ocorre uma ociosidade de 20%, a qual corresponde a uma perda de 17.160 unidades.
A atividade de descanso da massa, tarefa que gera a ociosidade, não necessita da mão
de obra para ser realizada. Assim, enquanto ocorre essa espera, as pessoas que trabalham na
produção podem realizar outras atividades dentro do processo de fabricação deste produto.
Portanto, assim aumentaria a capacidade utilizada, já que a perda por ociosidade equivale à
capacidade utilizada pela agroindústria.
O descanso obrigatório poderia ser realizado através de um revezamento entre as duas pessoas
que realizam o processo produtivo. A pessoa que ficasse na agroindústria iria desempenhar as
atividades que poderiam ser realizadas por apenas uma pessoa, assim a produtividade diária
aumentaria. O mapeamento do processo produtivo da produção de pão passo a passo foi
realizado através da construção do fluxograma vertical. Nele contém os tempos cronometrados
aproximadamente, disposto em minutos e em horas, de cada processo na produção do pão
caseiro e, também, as distâncias dos transportes no processo produtivo medidos em metros. O
fluxograma foi omitido por questões de espaço, porém está disponível se solicitado.
Conforme as observações realizadas, a atividade de untagem das formas poderia ser
realizada simultaneamente com a atividade de mistura dos ingredientes. Assim, ocorreria um
aproveitamento melhor do tempo, já que as pessoas que desenvolvem as tarefas não se
envolvem diretamente na atividade de mistura dos ingredientes.
Outro ponto a ser destacado é em relação à atividade 34, período de descanso das
massas, tarefa mais longa durante o processo produtivo. Esse tempo em que a massa se encontra

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

no período de descanso, pode ser realizada a atividade de preparação de outra receita. Pois, o
tempo das atividades anteriores ao descanso da massa é menor do que o tempo desta atividade.
Assim, extinguiria essa ociosidade do processo de produção e, consequentemente, utilizaria de
uma melhor forma a capacidade disponível da empresa.
Também, se for realizada a atividade 1 a 33, enquanto a massa anterior descansa não
seria necessário ter a atividade 37, na qual é esperado o pré-aquecimento do forno, assim
diminuiria a ociosidade no processo de produção do pão.

2.2 AGROINDÚSTRIA 2

A entrevista semiestruturada realizada com a proprietária da Agroindústria 2 está contida no


Apêndice B. Nela contém os questionamentos necessários para obter os dados para realização
do presente trabalho. A entrevista com a proprietária da Agroindústria 1 está foi omitida por
questões de espaço, porém está disponível se solicitado.

2.2.1 Capacidade Disponível de Produção mensal e o fluxograma vertical de produção de pão


caseiro da Agroindústria 2

2.2.1.1 Pão Caseiro da Agroindústria 2

Cada receita de pão caseiro leva 4 horas para ser finalizada. Através dessa informação
e das horas trabalhadas durante o dia, foi possível calcular a capacidade disponível de produção
deste produto. Com cada receita de pão caseiro pode-se produzir 30 quilos de pão, e cada
unidade de produto pesa 550 gramas. A produção mensal está disposta conforme a Tabela 2.

Tabela 2 – Capacidade disponível de produção de Pão Caseiro da Agroindústria 2


Capac. Capac. em Capac. em Capac. em Capac. em
Capacidade Disponível
% Horas Receitas Kg unid.(550 g)
Perdas por Descanso
20% 44 20,31 609,23 1333
Obrigatório
Perda por Ociosidade 44% 96,8 44,68 1340,31 2933
Capacidade utilizada 36% 79,2 36,55 1096,62 2400
TOTAL 100% 220 101,54 3046,15 6667
Fonte: Elaborado pelos autores

Após ser calculada a capacidade disponível de produção de pão caseiro, pode-se


observar que as perdas por ociosidade somam 64% da capacidade de produção. Esses números
apresentados na tabela 6, demonstram que 44% são ociosidade originada pela espera de 2 horas
e 10 minutos na atividade de descanso das massas dos pães, acarretando numa perda de 2.933
unidades por mês. Além disso, sabe-se que, devido às paradas obrigatórias, ocorre uma
ociosidade de 20%, a qual representa uma perda de 1.333 unidades de pães por mês.
A perda por descanso obrigatório, em que as pessoas realizam o período de descanso
simultaneamente, faz com que, nesse período, a produção fique parada. Poderia ser realizado
um revezamento para tirar o período de descanso, com isso a pessoa que ficasse na agroindústria
iria realizando algumas atividades do processo produtivo que não requerem que seja feita em
dupla. Realizando o descanso obrigatório deste modo, a agroindústria ganharia com mais
receitas produzidas durante o dia e utilizaria mais a capacidade disponível da produção deste
produto.
No mapeamento do processo produtivo do pão caseiro contém cada atividade que é
necessária para realizar este produto, a classificação e o número de atividades realizadas no

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processo produtivo, o tempo de realização de cada tarefa disposto em segundos, minutos e horas
e também as distâncias dos transportes dentro do processo produtivo, medidas em metros.
Seguindo o método de observação e análise do fluxograma vertical, notou-se que, na
atividade de mistura dos ingredientes na amassadeira, não é necessário que as pessoas
trabalhem no processo diretamente. Com isso, elas poderiam adianter alguma atividade do
processo produtivo, diminuindo o tempo de processo para relizar uma receita. Uma das
atividades que os produtores poderiam antecipar é a untagem das formas, com isso diminuiria
o tempo de processo de produção do pão caseiro.
Na atividade 26, período de descanso das massas, ocorre uma espera, na qual as pessoas
que trabalham no processo produtivo desenvolvem outras atividades dentro da agroindústria
que não correspondem ao processo de fabricação de pão caseiro, assim ocorre uma ociosidade
na atividade.
Para acabar com essa ociosidade, enquanto ocorreria o período de crescimento das
massas, é possivel amassar outra receita de pão, de tal modo que, quando os pães estiverem
prontos para ir ao forno, a segunda receita iria para o armário de descanso, consequentemente
na segunda receita produzida, a atividade 29, pré-aquecimento do forno, seria extinta, pois o
forno continuaria aquecido. Com essas melhorias acabaria com esse tempo de ociosidade e a
capacidade disponível de produção seria utilizada de melhor forma.

2.3 AGROINDÚSTRIA 3

A entrevista com a proprietária da Agroindústria 3 encontra-se disposta conforme, o


Apêndice C. Nele contém os questionamentos necessários para alcançar alguns dados para a
realização deste trabalho. A entrevista com a proprietária da Agroindústria 3 está foi omitida
por questões de espaço, porém está disponível se solicitado.

2.3.1 Capacidade Disponível de Produção mensal e fluxograma vertical de produção de pão


caseiro da Agroindústria 3

2..3.1.1 Pão Caseiro da Agroindústria 3

Para realizar uma receita completa de pão caseiro, leva-se 4 horas. Cada receita
completa rende 12 pães, cada um pesando 600 gramas, ou seja, 7 quilos e 200 gramas.
Considerando que será produzido apenas o pão caseiro durante o dia, semana e mês e não
levando em conta os retrabalhos, estrago de máquinas e outros acontecimentos inesperados, a
produção de pão caseiro pode ser verificada conforme a tabela 3.

Tabela 3 – Capacidade disponível de produção de Pão Caseiro da Agroindústria 3


Capac. Capac. em Capac. em Capac. em Capac. em
Capacidade Disponível
% Horas Receitas Kg Unidades
Perdas por Descanso
20% 44 22 158 264
Obrigatório
Perda por Ociosidade 40% 88 44 317 528
Capacidade utilizada 40% 88 44 317 528
TOTAL 100% 220 110 792 1320
Fonte: Elaborado pelos autores

Avaliando a capacidade disponível de produção do pão caseiro, foi possível constatar


que as perdas por ociosidade somam até 60% da capacidade de produção. Esses dados,
dispostos na tabela 10, representam que 40% da ociosidade é ocasionada pela espera de 2 horas

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

na atividade de crescimento das massas, ocasionado uma perda de 528 unidades por mês. Essa
quantidade é equivalente à capacidade utilizada de produção. Outra ociosidade detectada é com
relação às perdas por descanso obrigatório, ocorrendo uma ociosidade de 20%, ocasionando
uma perda de 528 unidades de pães por mês.
As perdas com relação ao descanso obrigatório ocorrem devido às quatro pessoas que
trabalham no processo de produção desta agroindústria fazerem o seu período de descanso ao
mesmo tempo. Assim, a produção da agroindústria fica parada durante aquelas horas, gerando
perdas na utilização da capacidade disponível. A solução para eliminar essas perdas poderia ser
que, enquanto uma dupla sai apara o período de descanso, a outra dupla continua desenvolvendo
as atividades do processo de produção de pão caseiro. Assim, elimina-se essa ociosidade e
aumenta a produtividade diária.
O mapeamento do processo produtivo do pão caseiro foi construído mediante a
entrevista, observação e o preenchimento do formulário do fluxograma. No fluxograma vertical
contém as distâncias dos transportes do processo produtivo medidas em metros, todas as
atividades numeradas e classificadas e também o tempo de cada atividade cronometrada em
segundos, minutos e horas. O mapeamento do processo de produção foi omitido por questões
de espaço, porém está disponível se solicitado.
Utilizando os métodos para realizar a pesquisa contatou-se que esta agrondústria possui
grande número de mão de obra para realizar seu processo produtivo. Portanto, na atividade 29,
período de crescimento dos pães, em que as pessoas realizam outras atividades dentro da
agroindústria.
Para diminuir a ociosidade no processo produtivo, enquanto as massas da primeira
receita ficam em descanso, as pessoas envolvidas realizariam a preparação de outra massa, já
que o periodo de descanso é maior do que o tempo de preparação da massa Consequentemente,
quando os pães estariam indo para o forno, a outra receita estaria indo para o armário para
descanso.Com isso, a ociosidade diminuiria e extinguiria a atividade 32, pré-aquecimento do
forno, pois o forno já estária aquecido, assim o processo produtivo é relizado em menos tempo.

2.4 COMPARATIVO DAS CAPACIDADES DISPONÍVEIS DE PRODUÇÃO DAS


AGROINDÚSTRIAS

Mesmo produzindo o produto semelhantes cada agroindústria possui uma capacidade


disponível utilizada, uma perda por descanso obrigatório, bem como, uma capacidade utilizada
diferente, conforme pode ser observado na tabela 4.

Tabela 4- Comparação dos resultados das agroindústrias em termos de capacidade


Agroindústria 1 Agroindústria 2 Agroindústria 3
Capac. Capac. Capac. Capac. Capac. Capac.
Horas % Horas % Horas %
Capacidade Disponível 220 100% 220 100% 220 100%
Perdas por Descanso
44 20%
Obrigatório 44 20% 44 20%
Perda por Ociosidade 88 40% 96,8 44% 88 40%
Capacidade Utilizada 88 40% 79,2 36% 88 40%
Fonte: Elaborado pelos autores

Na tabela acima pode ser observado que cada agroindústria possui percentuais
diferentes em sua capacidade utilizada, isto ocorre devido aos gargalos nas atividades do
processo produtivo de cada agroindústria. Tais, percentuais ressaltam que a três agroindústrias
pesquisadas possuem grandes perdas por ociosidades, seja ela no processo produtivo como
também nas perdas por descanso obrigatório.
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Pode-se também observar que todas elas possuem uma perda de 20% na sua capacidade
produtiva que corresponde a forma que é realizada o descanso obrigatório em cada
estabelecimento.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho foi realizado a partir de uma estrutura teórica para fundamentar os
assuntos abordados, de acordo com os objetivos da pesquisa, a fim de analisar a capacidade
produtiva disponível das agroindústrias de panificados.
Foi possível compreender quais são os três produtos que possuem maior demanda dentro
das agroindústrias. E, a partir disso, realizar o mapeamento do processo produtivo da produção
de pão caseiro e identificar a capacidade disponível de cada agroindústria de panificado e por
fim, sugerir melhoria na produtividade destas agroindústrias.
Pode ser observado através deste trabalho que as agroindústrias possui uma grande
capacidade disponível de produção, apenas é necessários realizar alguns ajustes tanto no
processo produtivo para eliminar os gargalhos detectados nas atividades, bem como eliminar a
ociosidade do descanso obrigatório.
Com isso, o objetivo geral deste trabalho, o de analisar a capacidade disponível de
produção das agroindústrias de panificados associadas à Cooperativa Mista de Produtores
Familiares de São Francisco de Assis, foi atingido com êxito. A pesquisa resultou no
conhecimento sobre os processos produtivos dos três produtos que possuem maior demanda
dentro de cada agroindústria.
Ademais, teve-se a oportunidade de detectar os pontos fortes e fracos de cada
agroindústria, bem como as dificuldades enfrentadas por elas nos seus processos produtivos.
Desta forma, por meio das sugestões de melhorias no processo produtivo de cada agroindústria,
espera-se que as sugestões sejam implantadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Agroindústrialização da Produção de Agroindústrias Familiares 2003/2006. Brasília, 2004. Disponível em:
<http://www.mda.gov.br/sitemda/secretaria/saf-agro/sobre-o-programa >. Acesso em: 03.06.2017

FENSTERSEIFER, J. E. Internacionalização e Cooperação: dois imperativos para a empresa do terceiro


milênio. READ, ed. 15, n. 03, v. 06, outubro de 2000. Disponível
em:<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/19342/000293924.pdf?sequence=1 >. Acesso em 08.06.
2017

KOTLER, P., ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

MARTINS, P. G; LAUGENI, F. P. Administração da Produção. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

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empresa.p.251-268.In: Revista de administração e Inovação-RAI. São Paulo, v. 10, n.3, jul. / set. 2013.

SOARES, R. O. Análise da capacidade produtiva de uma empresa do segmento metalúrgico. Monografia de


conclusão de curso em Administração de empresas, da Universidade do Extremo Sul Catarinense-UNESC.
Criciuma: UNESC, 2014. Disponível em:
<http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/2951/1/RAISSA%20DE%20OLIVEIRA%20SOARES.pdf >. Acesso
em: 11.12.2016

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STAUDT, F. H.; COELHO, A. S.; GONÇALVES, M. B. Determinação da capacidade real necessária de um
processo produtivo utilizando a cadeia de Markov. p.634-644. v. 21. n. 4. São Paulo: Epub, 2011. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
65132011000400008&lng=pt&nrm=iso&tlng=en >. Acesso em: 11.12.2016

SULZBACHER, A. W. Agroindústria Familiar Rural: Caminhos para estimar impactos sociais. In: XIX
Encontro Nacional da Geografia Agrária, p. 1-25, São Paulo, 2009.Disponível em:
<http://www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/Anais%20XIXENGA/artigos/Sulzbacher_AW.p
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Análise da cooperação nos arranjos cooperativos do agronegócio: o caso


dos produtores rurais associados às cooperativas do norte do RS
Amanda Regina Leite1, Ana Claudia Machado Padilha2, Erlaine Binotto3

1
Universidade de Passo Fundo, amanda-rl@hotmail.com
2
Universidade de Passo Fundo, anapadilha@upf.br
3
Universidade Federal da Grande Dourados, e-binotto@oul.com.br

Resumo: A atual competitividade do agronegócio nacional tem forçado pequenos produtores a reverem suas
estratégias de atuação no meio rural. Frente a isso, surgem como alternativa de sobrevivência e desenvolvimento,
as organizações cooperativas. Nesse contexto, o objetivo do estudo é compreender os elementos presentes nos
arranjos cooperativos organizacionais do agronegócio que facilitam e dificultam a cooperação dos sócios. Em
termos metodológicos, a pesquisa realizada foi exploratória, com abordagem qualitativa e quantitativa, sendo os
participantes da pesquisa os produtores rurais associados às cooperativas do norte do RS. Como resultados
significativos, pode-se observar que as cooperativas têm um papel central na organização de produtores rurais
que possuem objetivos comuns, uma vez que este tipo de organização contribui na oferta de informações,
comercialização da produção, assistência técnica e, especialmente, a possibilidade de troca de conhecimento. No
que se refere à cooperação, um elemento que emerge é a confiança das relações entre cooperados e cooperativa,
bem como a fidelidade, infidelidade, entre outros aspectos. Portanto, nota-se que o modelo cooperativo tem seus
benefícios, mas, também, algumas distorções em termos de privilégios para produtores com maior escala de
produção.
Palavras-chave Arranjos cooperativos. Confiança. Cooperativas.

Analysis of the company of cooperative agribusiness arrangements: The


case of the rural producers associated to the cooperatives of the north of the
RS
Abstract The current competitiveness of national agribusiness has forced small producers to reconsider their
acting strategies in the rural area. Because of this, as an a survival alternative, there are the co-operative
societies. In this context, the goal of this study is to comprehend the present elements. In methodological terms,
the realized survey was exploratory, having a qualitative and quantitative view, once the survey participants
were the rural producers associated to the cooperative societies located in the north of Rio Grande do Sul. As
significant results, it is possible that one observes that the cooperative societies have a highlighted role in the
rural products organization which have common goals, once this kind of organization contributes to the
information offer, production commercialization, technical assistance and, mainly, the possibility of a
knowledge exchange. Related to the cooperation, an elements which is emerged is the trust of the relations
between cooperators and a cooperative, as well as the fidelity, infidelity, among other aspects. As a result, one
realizes that the cooperative model has its benefits, but, also, some distortions in terms of privileges related to
producers in a scale production.
Keywords: Cooperative arrangements. Trust. Cooperative societies.

Projeto Financiado pelo CNPq Edital Universal 2014.

Introdução

A intensa competição de mercado tem levado diversos setores da economia brasileira


a repensar, analisar e planejar melhor seus negócios, pois na medida em que novos negócios
surgem e se proliferam, outros acabam perdem sua competitividade e tornam-se superados
pela concorrência no mercado.
Não distante disso, a competitividade no agronegócio brasileiro tem exposto pequenos
produtores do rurais a competirem igualitariamente com grandes produtores. Isto ocorre em
razão de que, produtores com maior potencial de produção e grandes quantidades de produtos,

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

conseguem barganhar preço e contratos mais atrativos do que os produtores com baixa escala
de produção, os quais se tornam alijados do mercado, especialmente o de commodities.
Nesse sentido, outras formas de competição para produtores rurais emergem e ganham
força ao longo do tempo. A construção desses arranjos podem ser explicados pela cooperação,
a qual promove informações e a possibilidade de troca de conhecimento entre produtores de
diferentes portes e atividades produtivas que, juntos, somam forças em prol de objetivos
comuns. Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), os arranjos cooperativos de modo geral
são as alianças interorganizacionais entre parceiros que buscam realizar um projeto em
comum, em uma relação com certo grau de interdependência que gere benefícios para ambos
os parceiros. Para Campos et al. (2003, p.25), “cooperar é atuar junto, de forma coordenada,
no trabalho ou nas relações sociais para atingir metas comuns. As pessoas cooperam pelo
prazer de repartir atividades ou para obter benefícios mútuos”.
No âmbito do agronegócio, as organizações cooperativas, em seus diferentes ramos,
surgem como alternativa de resposta às questões complexas de mercado. Para Irion (1997, p.
45) a cooperativa tem duas faces, uma social e uma econômica. Na face econômica, a
cooperativa se orienta pelo princípio de que a cada um cabe um retorno, segundo sua
participação nos negócios cooperativos. Por outro lado, a face social se expressa pela
afirmativa: “a cada um segundo suas necessidades de assistência social”. A cooperativa, por
estar presente em um cenário competitivo e globalizado, tem buscado adequar-se e antecipar-
se às tendências do mercado, respeitando os princípios que a constituiu (HOFF, BINOTTO e
PADILHA, 2009).
No Brasil, as cooperativas desempenham papel fundamental na estruturação do setor
agrícola no Brasil, contribuindo para fixação do homem no campo e para a melhoria da
distribuição de renda no setor agrícola, com importância social e econômica. Nesse contexto,
Estivalete (2007) menciona que novas formas interorganizacionais que estão se espalhando no
segmento do agronegócio, trazem a necessidade de ampliar a compreensão de como a
evolução dos relacionamentos. Para a autora, estas formas de cooperação buscam reduzir
riscos, incertezas e possíveis perdas, e ao mesmo tempo são compartilhados conhecimentos e
ganhos, empresas com competências complementares se unem para ofertar produtos ou
serviços em uma relação que oferece tanto comportamentos de confiança, quanto de
oportunismo.
Realizadas estas ponderações, o objetivo do estudo é compreender os elementos
presentes nos arranjos cooperativos organizacionais do agronegócio que facilitam e dificultam
a cooperação dos sócios.

Revisão da Literatura

A competitividade no mercado tem levado produtores rurais a reconsiderarem a visão


da sua unidade produtiva restrita a um comportamento individualista para uma atuação em
grupo com características colaborativas. Castells (1999) evidencia que a organização
tradicional, ao operar de forma individualizada, enfrenta dificuldades de enfrentar novos
desafios. Dal-Soto e Monticelli (2017) reforçam a ideia de que a cooperação visa melhorar a
eficácia das organizações através de agentes com objetivos comuns, revelando-se em uma
alternativa para sustentar o padrão das empresas em um cenário de extrema competição.
A cooperação em arranjos organizacionais se constitui como forma de desenvolver
atividades unindo esforços em prol de um objetivo comum. Eles envolvem outras formas
interorganizacionais, como por exemplo, redes, joint ventures e alianças estratégicas, as quais
podem ser diferenciadas pelo grau de interdependência dos parceiros (LORANGE e ROOS,
1996).

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A opção por um tipo de aliança estratégica pode ser feita não apenas pelo que tem
sentido imediato, mas também pela consideração da necessidade de se estabelecer uma
relação de respeito e confiança. O sucesso das alianças estratégicas depende do ajuste
estratégico entre os produtos, mercados e objetivos dos parceiros (KUMAR, 1996). A
cooperação refere-se à motivação e ao comportamento das organizações específicas em
questão (OLIVER, 1990), ou a sua vontade de agir voluntariamente no interesse de objetivos
comuns ou complementares. Nas relações de cooperação, todas as partes podem ganhar,
enquanto em relações competitivas, os objetivos relevantes de diferentes partes, não podem
ser satisfeitos simultaneamente (WILLIAMS, 2005).
De acordo com Amanto Neto (2000), é através de parcerias estratégicas que se é
possível solucionar muitos problemas que as organizações enfrentam quando atuam de forma
individual. Khamiss, Kamel e Salichs (2007), mencionam os objetivos da cooperação,
destacando os seguintes: cooperação para alcançar propósitos individuais ou comuns,
distribuição de tarefas, divisão do trabalho, forma de evitar conflitos, receber o máximo de
recompensa, integração de sistema, manter a funcionalidade do sistema, aquisição e
compartilhamento de conhecimento e informação, tomada de decisão coletiva, formação de
inteligência coletiva.
Outro aspecto relaciona-se à fidelidade e confiança no processo de cooperação no
contexto dos arranjos cooperativos. Para Móglia et al. (2004), a fidelidade dos cooperados é
um comportamento baseado em engajamento, deveres e incumbências, sendo um elemento
essencial para uma cooperativa se desenvolver e obter êxito.
De outro lado, Giarola et al. (2012), menciona que a infidelidade prejudica não só a
cooperativa, mas também, outros cooperados que são fieis à este tipo de organização. Para
Ferreira (2014), a confiança é a principal relação que se deve existir dentro de uma
cooperativa, é o fruto dos valores, de autoajuda, de cooperação e de solidariedade que são a
essência do cooperativismo.

Método

Para alcançar o objetivo, foi realizada uma pesquisa exploratória e descritiva.


A população utilizada no estudo foi composta pelos produtores rurais associados às
cooperativas da região norte do RS, sendo que os participantes somaram 50 entrevistados
(Tabela 1), os quais foram escolhidos baseando-se nos seguintes critérios: (a) serem
produtores rurais, (b) serem associados a alguma cooperativa e, (c) estarem interagindo
ativamente com a cooperativa. Estes, por sua vez, responderam a um questionário composto
por 40 perguntas abertas e fechadas, aplicado no período de abril a junho de 2017.
Tabela 1- Participantes da pesquisa
Cooperativa/município Nº de pesquisados
Cotriel (Espumoso) 20
Sicredi (Passo Fundo) 5
Cresol (Passo Fundo) 4
Cotrisal (Sarandi) 4
Cotrisoja (Tapejara) 4
Coagrisol (Soledade) 4
Coonalter (Passo Fundo) 3
Coasa (Água Santa) 1
Copercampos (Lagoa Vermelha) 1
Santa Clara (Tapejara) 1
Coopac (Constantina) 1
Piá (Marau) 1
Agro Pastoril (Cruz Alta) 1
TOTAL 50
Fonte: Dados da pesquisa (2017).

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O questionário foi integrado pelas seguintes categorias: caracterização dos produtores,


cooperação, ganhos decorrentes do processo de cooperação, e percepção de confiança e
fidelidade. Foi elaborado com perguntas abertas e fechadas, sendo algumas com grau de
intensidade: muito alto, alto, regular, baixo, muito baixo e não confia, grau de importância
altamente importante, muito importante, mais ou menos importante, pouco importante,
nenhuma importância. Ao todo foram 50 questionários, sendo que dos respondentes 20% são
mulheres e 80% homens. Identificou-se também que quanto ao tempo de atuação na atividade
rural, a média é de 23 anos, sendo que deste total o tempo mínimo é de 3 anos e o máximo de
62 anos.
Quanto à análise dos dados, a técnica utilizada foi a análise de conteúdo das questões
qualitativas (BARDIN, 2007) e, no caso das questões quantitativas, a técnica escolhida foi a
estatística descritiva (MORAIS, 2007).

Resultados

a) Caracterização dos pesquisados


Em relação ao tempo em que os produtores estão associados na cooperativa 25 (51%)
de 16 a 20 anos, 10 (20%) de 11 a 15 anos, 9 (18%) de 6 a 10 anos, e 5 (10%) de 1 a 5 anos.
Em relação ao faturamento bruto anual dos entrevistados, 33% possuem faturamento
acima de R$250 mil, 24% possuem faturamento entre R$50 mil e R$100 mil, 14% possuem
faturamento entre R$100 mil e R$ 150 mil, 14% possuem faturamento até R$50 mil, 8%
possuem faturamento entre R$ 200 mil e R$ 250 mil, 4% possuem faturamento entre R$150
mil e R$200 mil e 3% possuem faturamento de R$20 mil e 30 mil.
A produção de grãos destaca-se com maior participação na renda dos entrevistados,
sendo que 36 entrevistados (45%) produzem soja, 13 (16%) se dedicam à produção leiteira,
nove (11%) trigo, nove (11%) milho, e oito (10%) se dedicam a atividades agropecuárias
como a avícola, gado de corte e agroindústria. Os demais, seis pesquisados (7%), se dedicam
à horticultura.

b) A cooperação em arranjos organizacionais cooperativos


Analisando a categoria cooperação, os fatores que determinam a entrega do produto
ou depósito na cooperativa estão relacionados ao fato de serem associados, sendo indicados
por 22 respondentes, pela remuneração da produção ou preço do produto recebido
identificado por 11 associados e outros 11 referiram que a preferência pela entrega da
produção é, geralmente motivada pelo critério “proximidade geográfica”. Os demais nove
entrevistados destacaram a “segurança e confiança” para oito entrevistados o fator decisivo
para a escolha do canal de comercialização é a “qualidade do serviço” ofertado.
Ao analisar as razões pelas quais os produtores associam-se na cooperativa, os
resultados revelaram que 16 (33%) informaram que se associam pelos benefícios oferecidos,
tais como: opção para comercializar a produção, acesso aos insumos, acesso ao banco,
facilidade na negociação, assistência técnica e armazenagem da produção. Outro dado
importante é que 11 (22%) estão associados pelo fato da tradição, ou seja, o associativismo
parece ser uma cultura familiar que passa de “pai para filho”, promovendo assim, a
continuidade do processo de cooperação. Nove (19%) chegaram até a cooperativa por
iniciativa própria ou indicação. Cinco (10%) foram convidados pela própria cooperativa,
outros cinco (10%) estão associados por fatores como: Confiança, qualidade, retornos dos
resultados, amizade e através da compra de cotas. Dois (4%) destacaram a proximidade como
fator de escolha e outros dois (10%) dos entrevistados não responderam a esse
questionamento.

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Outra categoria analisada na pesquisa foi a assistência técnica, que é considerada


pelos produtores como um dos principais benefícios oferecidos pela cooperativa. Nesse
aspecto os dados revelaram que 39 dos entrevistados recebem este tipo de serviço da
cooperativa, outros 10 informaram que não recebem e um não responderam.

c) Percepção de confiança e fidelidade dos associados às cooperativas


Um elemento interessante de investigação nas relações de cooperação entre
cooperativas e associados é a confiança. Com relação a isso, Ferreira (2014), menciona que a
confiança é a principal relação que se deve existir dentro de uma cooperativa, é o fruto dos
valores, de autoajuda, de cooperação e de solidariedade que são a essência do cooperativismo.
Nas entrevistas realizadas com os produtores associados, foi indagado o grau de
confiança que eles possuem com relação aos dirigentes das organizações cooperativas em que
são associados, demais membros da gestão e a organização cooperativa como um todo. Nesse
sentido, pode-se identificar que a metade dos respondentes, 25 associados, informaram que
possuem um grau “regular” com relação à confiança nos dirigentes e demais membros da
gestão e, em contrapartida, 19 possuem grau de confiança “alto” enquanto apenas oito
mencionaram ter grau de confiança “muito alto” um entrevistado disse ter “baixo” grau de
confiança em sua cooperativa e um informou que “não confia” nos dirigentes e membros de
sua cooperativa. Diante disso, pode-se notar que a confiança é uma fator preponderante para
que se estabeleça a cooperação, é com base nos dados apresentados que podemos perceber
que o papel dos líderes e dirigentes precisa ser avaliado e trabalhado
Adicionalmente, a fidelidade também integrou a investigação dos arranjos
cooperativos. Para Móglia et al. (2004), a fidelidade é entendida como um comportamento
baseado em engajamento, deveres e incumbências, sendo um elemento essencial para uma
cooperativa se desenvolver e obter êxito. Nesse sentido foram avaliadas as variáveis de
influência sobre a fidelidade dos cooperados conforme apresentados na Tabela 2.

Tabela 2- Variáveis de influência sobre a fidelidade dos cooperados


Não
VARIÁVEL 1 2 3 4 5
respondeu
Preço 33 9 4 - 2 2
Atendimento 27 18 3 2 -
Condições de pagamento 21 20 5 3 1
Cota capital 9 16 17 2 6
Confiança 19 25 5 - 1
Produtos e Serviços 16 25 6 1 2
Qualidade 30 13 3 1 2 1
Prazo 23 21 5 - 1
Utilidade/ Satisfação 13 24 11 1 1
Assistência Técnica 22 19 6 2 1
Cultura 8 18 15 4 4 1
Imagem Institucional 16 20 7 4 3

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Nessa perspectiva os dados revelaram que de acordo com as variáveis de influência


sobre a fidelidade dos cooperados as variáveis preço e qualidade receberam maior grau de
importância, acima de 30. Outras variáveis também destacadas são atendimento, assistência
técnica e condições de pagamento, percebidas como altamente ou muito importante, embora
não se deva ignorar a importância dada a confiança, produtos e serviços e imagem
institucional. As menos apontadas como relevantes são cultura, cota capital,
utilidade/satisfação.

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d) Ganhos decorrentes do processo de cooperação


Ao se considerar que as cooperativas de produção são organizações que viabilizam as
atividades de seus associados, a pesquisa também contemplou os mecanismos de promoção
do conhecimento. Nesse âmbito, os pesquisados indicaram a participação em cursos,
reuniões, palestras técnicas, dias de campo, demonstração e degustação de produtos,
encontros, os quais constituem um espaço para a aquisição, troca e socialização de
conhecimentos. Dentre as atividades organizadas pela cooperativa, 62% informaram que
participam, enquanto 38%, declararam não participar deste tipo de atividade.
O conhecimento é uma variável importante para a performance dos negócios
agropecuários dos associados pesquisados, a informação também não foge à regra. Nesse
sentido, pode-se perceber que através do processo de cooperação, os produtores rurais tem
acesso a informações e atividades desenvolvidas pelas cooperativas, tendo ainda a
oportunidade de transmitem suas próprias práticas de produção e manejos aos outros
produtores.
Outros fatores relacionados dizem respeito à administração, inovação e adoção de
novas tecnologias. Em relação à gestão e organização da propriedade, 28 afirmam que
possuem registros de controle como anotações manuais, cadernetas ou planilhas, 21 não têm
nenhum método de controle físico ou manual, e um entrevistado não respondeu. Quanto à
inovação, 29 possuem computador para auxiliar na administração, 19 não possuem
computador e dois não responderam, sendo que 45 disseram ter acesso à internet e cinco não
têm acesso a este meio. Em se tratando de novas tecnologias, 37 relataram que adotaram
alguma tecnologia recente, mencionado as máquinas, internet, plano de gestão, de novas
técnicas de produção, agricultura de precisão e cursos.

Considerações finais

O estudo teve como objetivo compreender os elementos presentes nos arranjos


cooperativos organizacionais do agronegócio que facilitam e dificultam a cooperação dos
sócios. A pesquisa realizada, de natureza exploratória, permitiu conhecer as percepções que
os associados têm em relação a sua cooperativa e suas relações com os demais cooperados.
As constatações desta pesquisa possuem importantes resultados, o principal deles
consiste na identificação dos fatores que justificam a decisão de atuar de forma coletiva,
fatores tais como, os produtores se mostram capazes de se unir em prol do mesmo objetivo
para assim conseguir resultados e benefícios mais vantajosos para si.
Parece haver uma semelhança quando analisados os benefícios de cooperar com os
que contribuem para a cooperação. Nessa linha, os respondentes indicaram como mecanismos
que contribuem para a cooperação os relacionados à venda da produção, a gestão qualificada,
a assistência técnica, o preço de venda da produção e dos insumos adquiridos, tudo isso
somado à questões intangíveis que se revelam nas relações sociais e na transparência.
Percebe-se que ainda existe espaço para a evolução do sistema cooperativista, especialmente
quando se observam os diferenciais que o sistema oferece aos cooperados, os quais podem ser
explicados pelo preço elevado dos insumos ofertados pela cooperativa, bem como a falta de
competitividade da cooperativa quando comparado à remuneração da produção de seus
associados em comparação a outras empresas privadas no mercado. Isso parece ser um
gargalo em termos de desenvolvimento e sustentação de vantagens competitivas por parte
deste tipo de organização, merecendo uma avaliação minuciosa da administração e estratégias
de mercado.

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Em algumas regiões do Brasil e do RS, não se pode deixar de considerar o papel social
e agente de desenvolvimento das cooperativas. De acordo com Gianezini et al. (2009), estas
organizações, de um lado, em determinados momentos desprovidas de aparato institucional,
ou mesmo de um envolvimento efetivo de seus associados, pode não contribuir concretamente
para o desenvolvimento local e, de outro lado, sem o envolvimento das associações e
cooperativas locais em processos de desenvolvimento propostos por outras instituições,
também dificultam a realização de um desenvolvimento concreto.
Um aspecto importante que integra, por natureza, a cooperação, assenta-se nos
princípios de confiança nos relacionamentos. Os resultados empíricos evidenciaram a
existência de um certo espaço para a ampliação deste tipo de relacionamento, uma vez que o
sucesso ou fracasso da cooperação implica no grau de confiança entre os stakeholders. Porém,
pode-se destacar como “distorção” do sistema cooperativista oportunismo, o qual respalda-se
no atendimento das demandas individuais em detrimento do coletivo. Nesse aspecto, um
longo caminho ainda é preciso percorrer no análise destas relações em cooperativas
brasileiras.
No que se refere à fidelidade dos associados às cooperativas, os entrevistados veem-na
como uma oportunidade de ampliação e fortalecimento das relações comerciais. De acordo
com Padilha e Silva (2010), o posicionamento estratégico da gestão das cooperativas no
desenvolvimento de programas ou projetos que fortaleçam e estreitem os laços cooperativos
na direção da fidelização do quadro social, pode ser um elemento promotor da cooperação,
solidariedade e desenvolvimento deste tipo de organização e seus associados.
Pode-se inferir que o sistema cooperativista ainda é uma alternativa interessante para o
desenvolvimento do agronegócio nacional, especialmente quando observados pequenos
produtores da agricultura familiar.
Em se tratando das limitações do estudo, pode-se citar a falta de tempo dos produtores
para participarem da pesquisa tendo em vista que muitos foram abordados em feiras onde a
entrevista era interrompida diversas vezes, o que fez com que a coleta de dados se estendesse
por mais tempo que o planejado. Outra limitação se refere ao fato de que os dados analisados
limitaram-se apenas à percepção dos associados, não sendo entrevistados os gestores e demais
envolvidos nas funções estratégicas, táticas e operacionais nas cooperativas. Por se tratar de
uma pesquisa exploratória, a generalização dos resultados não pode ser realizada.
Por fim, as sugestões para a realização de estudos futuros podem incluir as limitação
mencionadas, bem como a ampliação da amostra de associados e investigação em outros
ramos do cooperativismo nacional.

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ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS COMO ESTRATÉGIAS DE


DIVERSIFICAÇÃO E FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA
FAMILIAR
Mirian Fabiane Strate1, Fernanda C. França de Vasconcellos2, Marcelo Antônio Conterato3

1Mestranda em Desenvolvimento Rural – UFRGS, mirianfabiane@gmail.com


2 Mestranda em Desenvolvimento Rural – UFRGS,fernandacfv@yahoo.com.br
3Doutor em Desenvolvimento Rural – UFRGS, marcelo.conterato@ufrgs.br

Resumo. A fragilidade no acesso aos mercados monopolizados, por parte dos agricultores, impulsiona a
procura por novos processos e práticas que emergem paralelamente aos grandes impérios alimentares. Neste
contexto emergem novos mercados, que coexistem com os circuitos comerciais já existentes, como as feiras,
mercados integrados ao turismo, agroindústrias familiares e os institucionais, criando novos circuitos mercantis.
O objetivo deste trabalho foi analisar como os arranjos produtivos locais, podem fomentar a diversificação da
agricultura familiar, relocalizando a produção de alimentos, através das cadeias curtas, estimulando a
heterogeneidade e promovendo o desenvolvimento local. A pesquisa foi realizada a partir do APL Agroindústria,
estrutura de governança que impulsiona a instalação de agroindústrias no Vale do Taquari, RS; a metodologia
utilizada foi a análise documental e entrevista aos gestores do APL Agroindústria e à proprietários de
agroindústrias integrantes do APL. Políticas públicas de fomento para a implementação e fortalecimento dos
APLs, constituem-se estratégias que podem fortalecer a agricultura familiar, promovendo a construção e o
acesso a novos mercados, a criação e o desenvolvimento de novos produtos , promovendo a fixação das famílias
no campo, diversificando as atividades produtivas, gerando renda, promovendo novos arranjos sociais e
estruturas de governança horizontalizadas.

Palavras-chave: Agricultura familiar- cadeias curtas – agroindústrias – mercados- arranjos produtivos

LOCAL PRODUCTIVE ARRANGEMENTS AS A STRATEGY FOR


DIVERSIFICATION AND STRENGTHENING FAMILY FARMING
Abstract.. The fragility of farmers' access to monopolized markets drives the search for new processes and
practices that emerge parallel to the great food empires. In this context, new markets emerge, coexisting with the
existing commercial circuits, such as fairs, integrated markets for tourism, family agroindustries and institutional
ones, creating new market circuits. The objective of this work was to analyze how local productive arrangements
can foster the diversification of family agriculture, relocating food production through short chains, stimulating
heterogeneity and promoting local development. The research was carried out from APL Agroindústria,
governance structure that drives the installation of agroindustries in Vale do Taquari, RS; the methodology used
was the documentary analysis and interview to APL Agroindústria's managers and the APL's agroindustry owners.
Public policies to promote the implementation and strengthening of APLs constitute strategies that can strengthen
family agriculture, promoting the construction and access to new markets, creating and developing new products,
promoting the establishment of families in the countryside, diversifying productive activities, generating income,
promoting new social arrangements and horizontal structures of governance.
Keywords: Family farming - short chains - agroindustries - markets - productive arrangements

Introdução
A fragilidade no acesso aos mercados monopolizados, por parte dos agricultores,
impulsiona a procura por novas dinâmicas de desenvolvimento. Neste contexto emergem novos
mercados, que coexistem com os circuitos comerciais já existentes, como as feiras, mercados
integrados ao turismo, agroindústrias familiares e os institucionais, criando novos circuitos
mercantis. Qual o papel dos mercados na construção da autonomia, na manutenção da
heterogeneidade e na reprodução social dos agricultores familiares?
Em um mundo em que cresce a quantidade de alimentos produzidos e processados
industrialmente, também aumenta a preocupação com sua origem e a forma como são
elaborados. Críticos têm destaco que “rótulos” vêm sendo empregados por produtores de
alimentos, varejistas e outros intervenientes na cadeia alimentar, as quais buscam promover a
diferenciação do produto, no entanto nem sempre representam características de qualidade em
seu direito (ILBERY et al., 2005; MARSDEN; MURDOCH, 2006). Estas preocupações com

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a procedência dos alimentos e a confiança nos mesmos têm concentrando grande parte das
atenções dos estudos rurais atuais. Diversas contribuições reflexivas são encontradas na
literatura internacional, as quais tem realizado o esforço de explorar as relações entre os
sistemas alternativos e convencionas, focando nas trajetórias do desenvolvimento e nos
resultados das iniciativas de localização (FONTE, 2008; TREAGER, 2011). Nesse contexto,
o tema da relocalização espacial ou do lugar de procedência, assim como da identidade de quem
produz, são duas das mais importantes características do processo de vem sendo chamado de
quality turn. O termo “quality turn” é uma expressão do papel cada vez mais ativo dos
consumidores na política de construção de qualidade, se apresenta como elemento propulsor de
iniciativas contrárias as propostas homogeneizantes presente nos mercados (GOODMAN,
DUPUIS, GOODMAN, 2012). Segundo Goodman (2003), os debates em torno dos circuitos
curtos de produção e abastecimento também representam uma resposta crítica aos grandes
circuitos produtivos e as próprias crises e escândalos alimentares. Um dos aspectos centrais e
decisivos na organização das cadeias curtas de suprimento refere-se à redefinição e mesmo a
construção das relações com os mercados. Não há cadeia curta sem que ocorra o encurtamento
ou estreitamento das distancias e dos contatos entre produtores e consumidores. Logo, a análise
de como se dá este processo de construção de mercados passa a ser essencial para a afirmação
e fortalecimento das cadeias curtas.
Este artigo aborda a diversificação da agricultura familiar frente à inserção em novos
mercados , a partir dos Arranjos produtivos locais, estruturas de governança que impulsionaram
a instalação de agroindústrias no Vale do Taquari. A pesquisa foi desenvolvida a partir de
análise documental e entrevista aos gestores do APL Agroindústria Vale do Taquari e a
proprietários de agroindústrias integrantes do APL.

2 Agricultura familiar do Vale do Taquari - RS


De acordo com o BDR (2011), o Vale do Taquari encontra-se na região central do estado
do Rio Grande do Sul, distante média 150 km de Porto Alegre, tem 4.821,1km² de área(1,71%
da área do estado) e conta com 327.822 habitantes(3,07% do estado – Censo demográfico
2010). A região situa-se as margens do rio Taquari e afluentes compreendido entre Arvorezinha
e Taquari, alcançando ao oeste, até os municípios de Progresso e Sério e, ao leste, até Poço das
Antas e Paverama. O Vale do Rio Taquari está localizado na centro‐leste do Rio Grande do Sul,
possuindo três distintas características fisionômicas: o Planalto Meridional (nesta região
conhecido como Campos de Cima da Serra), a encosta do Planalto (relevos bastante
acidentados) e a Depressão Central (extensos terraços aluviais).
Figura 1- Mapa do Vale do Taquari

Fonte: FEE, 2008.


A região tem sua base econômica e social alicerçada na pequena produção rural com de
23.773 estabelecimentos da agricultura familiar, representando 93,9% do total de
estabelecimentos, o que representa 26% do total de sua população (cerca de 85.731 pessoas)
que vivem no meio rural da região (IBGE, 2010), bem superior a média do Estado que

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corresponde a 14,9%, ocupando 89,1% da área agrícola, produzindo 85,1% do valor de
produção e ocupando 92% das pessoas vinculadas a agricultura.
No Vale do Taquari, o complexo agroalimentar destaca-se pela produção de proteína
animal, com destaque para a produção de leite, frangos e suínos, cenário onde às cooperativas
agroindustriais tem se destacado pelo sistema de integração, constituindo mercados sólidos para
os agricultores. Abramovay(1999) considera que uma das formas que os pequenos agricultores
familiares se incluírem nas cadeias produtivas é através das cooperativas, que facilitam o acesso
ao crédito e promovem a integração com os mercados, tanto para compra de insumos, como
também para a venda da produção. Desta forma, as cooperativas agroindustriais caracterizam-
se pela associação de produtores, geralmente com base cultural comum, que se reúne sob um
arcabouço organizacional e institucional próprio, voltado especialmente para ganhos de escala
e poder perante os clientes.
Os padrões de negociação em que os agricultores familiares se inscrevem frente aos
recursos produtivos existentes, podem resultar em fortalecimento do leque de opções e
estratégias, sendo este o efeito da diversificação. Entretanto, conforme forem às situações de
cada agricultor, em relação a disponibilidade e qualidade dos recursos e do ambiente
institucional e mercantil que o cerca, os limitantes podem ser maiores e frear a diversificação.
A busca por autonomia, como interpreta Ploeg (2006; 1990), significa minimizar o controle do
processo produtivo e, de um modo geral, da reprodução social pela unidade familiar que
aproveita os espaços de manobra contido nos mercados e tecnologias, moldando o processo
produtivo de acordo com suas necessidades.
O fato dos agricultores mobilizarem uma ampla gama de recursos fora dos mercados
reflete em “espaços de manobra” e estratégias criadas para manter uma autonomia
relativa da unidade de produção (PLOEG, 2003).
A fragilidade no acesso aos mercados monopolizados, por parte dos agricultores, cada
vez mais descapitalizados, impulsiona a procura por novas dinâmicas de desenvolvimento,
neste contexto que emergem novos mercados, que coexistem com os circuitos comerciais já
existentes, como as feiras, mercados integrados a roteiros turísticos locais, agroindústrias
familiares e os institucionais. Não se trata apenas de acessar canais já existentes, mas de criar
e controlar novos circuitos de comercialização cujo funcionamento rompe com a subordinação
às redes agroalimentares transnacionais, caracterizadas como Impérios alimentares. Neste
contexto, os mercados, são percebidos além da simples transformação de valores de uso em
valores de troca, são construções sociais que refletem interações entre os atores.
Mercados conectam pessoas direta e indiretamente, através de fluxos de produtos e
sistemas que organizam estes fluxos por meio de transações comerciais. Conforme Ploeg
(2016), os mercados (sejam eles espaços físicos ou sistemas de trocas), envolvem relações
sociais, que podem ser visíveis ou anônimas. Essas relações modelam os fluxos de bens e
serviços através do tempo e do espaço, podendo subordinar os agricultores ao sistema
capitalista, mas também podem significar a construção de sua autonomia dentro do sistema.
Segundo Wilkinson (2008), essas iniciativas operam com base nos mercados locais de
proximidade e de relacionamentos continuados, em que aspectos como o prévio conhecimento
entre os atores, a confiança e as transações frequentes geram lealdades. Em função disso, essas
atividades funcionam com relações sociais institucionalizadas localmente, que são reproduzidas
por agricultores e consumidores dos produtos, fazendo que muitas experiências de
agroindustrialização não almejem o seu enquadramento nos sistemas institucionais formais
(Carvalheiro; Waquil, 2009; Agne, 2010).
Nestas novas relações de consumo e qualidade estão associados à valorização de
elementos relacionados ao local de sua produção, às variedades ofertadas, à forma de produção
e apresentação dos produtos, observa-se a preferência pelo típico, o artesanal ou o produto de
pequena escala produtiva, o que gerando novas estratégias e experiências, neste contexto a
agroindustrialização tem se destacado.

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3 Práticas de agroindustrialização como estratégia de desenvolvimento


A agroindústria familiar rural é uma forma de organização onde a família transforma a
matéria-prima oriunda da pequena propriedade em saborosos alimentos, visando a geração de
renda. A atividade agroindustrial não se constitui uma novidade para os agricultores familiares,
faz parte da sua própria história e da sua cultura, essa atividade emerge como uma prática
alicerçada no seu conhecimento histórico, melhorando as suas maneiras de fazer e de produzir,
ajustando e culminando com a agroindustrialização. Para Woortmann e Woortmann(1997), é a
lógica do saber fazer camponês, que por sua vez, pode revelar um modelo integrado de
apreensão do mundo e das coisas. As ações dos camponeses se orientam a partir do saber fazer
e na possibilidade de sua continuidade.
A capacidade de resistência contida na agricultura familiar possibilita aos agricultores
criar espaços de manobra e reproduzir suas unidades produtivas mesmo sob a pressão do projeto
dominante da modernização. Assim, estruturas de apoio e incentivo ao resgate de
conhecimentos e práticas, como a agroindustrialização, podem gerar projetos de
desenvolvimento locais. Por tanto a heterogeneidade é uma característica estrutural deste
processo, a qual está associada à construção do conhecimento local e por tanto, para a
produção e reprodução dessa heterogeneidade. (LONG, 2001)
Como definiu Mior (2005), a agroindústria familiar rural é uma forma de
organização em que a família rural produz, processa e\ou transforma parte de sua produção
agrícola e\ou pecuária, visando sobretudo à produção de valor de troca que se realiza na
comercialização, ou seja o agricultor deixa de ser um mero produtor de mercadorias .Os
produtos são comercializados diretamente ao consumidor em cadeias curtas, feiras, eventos
comerciais, roteiros turísticos com visitação à propriedades, merenda escolar e mercados locais.
O Vale do Taquari caracteriza-se pelas práticas de agroindustrialização enraizadas no
contexto de sua ocupação histórica e diversidade cultural, motivada no passado, pela produção
para o auto consumo. O resgate destas práticas configura no presente, uma alternativa ao
sistema hegemônico, constituindo novos circuitos de comercialização, que aproximam
agricultores e consumidores. Os mercados de cadeias agroalimentares curtas são significativos,
pois “possuem a capacidade de ressocializar ou reespacializar o alimento, permitindo ao
consumidor fazer julgamento de valor.” (MARSDEN et al., 2000). Isso significa que o produto
chega ao consumidor com um grau significativo de informações e carregado de valor sobre seu
processo de produção. A qualidade passa a ser fator chave nesse processo e cresce a necessidade
de se (re) construir a relação de confiança ente produtores e consumidores fazendo crescer a
valorização dos alimentos produzidos localmente e a produção orgânica, agroecológica e
artesanal das cadeias curtas, o que permite uma reconexão entre produtores e consumidores.
Na parte alta do Vale do Taquari, colonizada por imigrantes italianos e alemães, as
agroindústrias sempre fizeram parte da dinâmica social, constituindo uma alternativa de renda
para famílias de agricultores, desta forma, tem uma grande importância econômica. Neste
cenário, políticas públicas de apoio e incentivo, como os Arranjos produtivos locais podem
potencializar o associativismo e a formação de novas redes sociotécnicas.

4 Arranjos produtivos locais e o fortalecimento das agroindústrias familiares


O desenvolvimento local, voltou a ganhar relevância nos últimos anos, em especial a
promoção de Arranjos Produtivos Locais (APLs), estes referem-se à uma forma de aglomeração
produtiva de empresas produtoras de bens e serviços afins, que são favorecidas por políticas e
ações dos poderes públicos e privados, instituições de pesquisa e centros de tecnologia, e
destacam-se por sua capacidade de geração de empregos. As redes de inteligência coletiva
agregam um conjunto de instituições, aumentando a sua capacidade técnica, promovendo a

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cooperação, realizando projetos e ações que criem externalidades positivas para os
agricultores e para a comunidade.(DIEESE, 2014)
O Estado do Rio Grande do Sul foi pioneiro em criar políticas para Arranjos Produtivos
Locais (APLs), quando, no início dos anos 2000, apoiou os sistemas locais de produção (SLPs).
Desde então, continua apoiando os APLs, mas foi somente em 2011, ao ser aprovada a Lei n.º
13.839, que instituiu a Política Estadual de Fomento à Economia da Cooperação, que foi criado
o Programa Estadual de Fortalecimento das Cadeias e Arranjos Produtivos Locais e que
começou a tomar a forma em que está estruturado atualmente.
O Projeto de Fortalecimento dos APLs iniciou, a partir de 2011, com cinco APLs
pilotos. Em 2012, foi dado um importante passo no âmbito do projeto, com a publicação do
primeiro Edital para seleção de propostas para enquadramento e apoio aos APLs. O Edital,
divulgado em março/2012, resultou no enquadramento de mais sete APL. No segundo edital,
lançado em março de 2013, o certame recebeu a inscrição de 21 APLs, dos quais foram
escolhidos mais oito, concluindo a meta geral de 20 APL no Projeto.
O APL Vale do Taquari está enquadrado no Programa Estadual de Fortalecimento das
Cadeias e APLs, desde agosto de 2013, possui 53 agroindústrias cadastradas (2017). Para
fortalecer o trabalho destacam-se as ações: contratação de equipe técnica, sendo um gestor
executivo e um auxiliar administrativo; realização de reuniões mensais com a Governança do
APL; realização de visitas de mobilização e acompanhamento das agroindústrias e instituições;
eventos técnicos de interesse do APL; articulação e apoio à participação das agroindústrias em
feiras, como expositoras; criação de site do APL.
A agricultura familiar contribui de maneira decisiva na produção de alimentos,
respondendo por ampla maioria desta atividade, no país, no estado, e no APL Agroindústria
Familiar Vale do Taquari. No caso do território do APL Agroindústria Familiar Vale do
Taquari nota-se uma importância ainda maior dos empreendimentos familiares já que esses
representam 93,9% dos estabelecimentos, 89,1% da área de agrícola, 85,1% do valor da
produção e 92,0% do total de ocupados na agricultura.
Gráfico 1. Distribuição (%) dos empreendimentos agrícolas não familiares e familiares segundo
tipo selecionado Rio Grande do Sul e Território do APL Agroindústria Familiar Vale do Taquari, 2006

De acordo com os dados do Censo de 2010 (IBGE), 62,1% da população no território


do APL vivem em áreas urbanas, enquanto no Estado esse percentual é igual a 85,1%. No
território do APL a agropecuária representa 26% do Produto Interno Bruto.
Entre os produtos agroindustrializados estão açúcar mascavo, melado, rapadura,
aguardente, carne e embutidos, banha e torresmo, conservas, doces e geléias, sucos, vinho,
nozes, massas congeladas, bolachas, pães, cucas, aipim descascado e congelado, queijos e erva-
mate., conforme gráfico 3.
Gráfico 2, distribuição das agroindústrias por tipo de produção.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

10

6 6
5 5 5
3 3 3
2 2 2
1 1

Fonte: Do autor, adaptado a partir de APL Agroindústria Vale do Taquari (2017)

Os municípios com o maior número de agroindústrias participantes são Encantado,


com 14 instituições, Ilópolis com 9 e Arvorezinha com 8 instituições. Podemos perceber que
muitos munícipios tem um participação não tão expressiva, com 2 ou 3 agroindústrias em
atividade no APL, o que nos leva a crer que esta política de fomento e governança pode ser
expandida, conforme gráfico 4.
Gráfico 3 . Distribuição das agroindústrias por município.
14

8 9

3 3 2 2 2 2 3

Roca Encanta Doutor Arvorezi Anta Dois Nova


Ilópolis Muçum Relvado Putinga
Sales do Ricardo nha Gorda Lajeados Bréscia
Município 3 14 3 8 9 2 2 2 2 3

Fonte: Do autor, adaptado a partir de APL Agroindústria Vale do Taquari (2017)

Diante do cenário observado podemos perceber a importância do papel de agência do


APL Agroindústria no Vale do Taquari, bem como dos próprios agricultores que estão
redescobrindo práticas de produção de alimentos historicamente construídos, como um espaço
de manobra e resistência frente a subordinação aos mercados hegemônicos. A estrutura de
governança proporciona estímulos a novos circuitos de produção e comercialização,
diversificando a agricultura familiar na região e gerando renda. A agroindustrialização está
deixando de ser vista como uma atividade complementar às cadeias agroindustriais, passando
a ser a principal fonte de renda de 65% das famílias envolvidas, constituindo assim alternativa
produtiva e econômica ao squeeze da unidade , às baixas rendas agrícolas, a migração dos filhos
para cidades maiores.
Vale destacar o poder de agência da unidade da UERGS(Universidade estadual do Rio
Grande do Sul), com sede em Encantado, neste contexto, que através do curso de Tecnólogo
em produção de alimentos e bacharel em Administração rural, vem estimulando projetos de
diversificação e agregação de valor, abrigando a estrutura de governança do arranjo em sua
sede. Várias agroindústrias deste APL nasceram dentro da universidade que tem se destacado
como uma incubadora de projetos, reconfigurando a rede sociotécnica do Vale,
disponibilizando o acesso a conhecimentos e práticas para filhos de agricultores que optam em
continuar na propriedade. Long (2001) “a agência (...) está encarnada nas relações sociais, e
só pode ser efetiva através delas.” O APL exerce um poder de agência formando uma rede
sociotécnica que possibilita o compartilhamento de experiência e conhecimentos, estimulando
a produção e acesso a novos mercados.
Grande parte das agroindústrias do APL, já existia antes da política pública que instituiu
o arranjo, porém destaca-se a capacidade de fomentar o associativismo e a governança, que
possibilitou cursos de formação como os de: BPF- Boas práticas de fabricação e gestão da
propriedade, além de inúmeras visitas técnicas a diversas regiões do pais e uma viagem à Itália.
Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017
303

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Destaca-se a grande participação feminina entre as agroindústrias participantes, não apenas no
processo de produção, mas também na gestão e governança.
“No começo não foi fácil, fomos aprendendo meio na marra até chegar onde
estamos hoje, com venda garantida para a merenda escolar e comercialização
de 400 quilos de açúcar mascavo por semana. A intenção para o futuro é tornar
o espaço o mais turístico possível. A agroindústria nos deu qualidade de vida e
renda”.( Michely Brandão , Agroindústria Brandão – Muçum – RS)
No momento está sendo discutido entre o grupo gestor do APL, o desenvolvimento de
Selo de identificação dos produtos das Agroindústrias do APL, que tem como objetivo, dar
maior visibilidade aos alimentos que são produzidos na região e suas particularidades, além de
incentivar o turismo agroindustrial através da comercialização direta dos produtos através de
um centro de comercialização. Observa-se a necessidade de dar continuidade ao trabalho de
fortalecimento da governança do APL, bem como buscar a ampliação com a adesão de mais
agroindústrias, através da inclusão de mais 8 municípios, considerando que alguns municípios
possuem mercados para comercialização e pouca oferta de produto, além da proximidade com
as cidades maiores do Vale, que podem ampliar o mercado consumidor.
A construção e o acesso a novos mercados, a criação e o desenvolvimento de novos
produtos e/ou processos produtivos, a formação e a consolidação de novas organizações locais,
superam a mera produção de mercadorias desenvolvendo a autonomia dos agricultores
familiares, possibilitando a sua reprodução social. A agroindústria familiar é uma estratégia de
reprodução social e de desenvolvimento rural importante da agricultura familiar, pois esta é
responsável pela fixação das famílias no campo, pela diversificação de atividades produtivas ,
pela geração de renda nas famílias, promovendo novos arranjos sociais e estruturas de
governança horizontalizadas.

5 Considerações finais
Cada vez mais integrados aos mercados, agricultores familiares estão subordinadas ao
sistema capitalista e com crescente perda de autonomia sobre a unidade produtiva. A fragilidade
no acesso aos mercados monopolizados, por parte dos agricultores familiares, impulsiona a
procura por novas dinâmicas de desenvolvimento. Neste contexto emergem novos mercados,
que coexistem com os circuitos comerciais já existentes, como as feiras, mercados integrados
ao turismo, agroindústrias familiares e os institucionais, criando novos circuitos mercantis e
novas formas de organização social e institucional.
A criação de sistemas produtivos locais é geralmente associada a trajetórias históricas
relacionadas com a construção de identidades e vínculos territoriais (regionais e locais). Estes
sistemas são mais propensos a se desenvolver em ambientes que favorecem a interação, a
cooperação e o desenvolvimento de confiabilidade e confiança entre os atores. Políticas
públicas de implementação e fortalecimento dos APLs, são estratégias que podem fortalecer
a agricultura familiar, gerar empregos, produzir e redistribuir renda, aproximar agricultores e
consumidores, promovendo o desenvolvimento local.

6 Referências
ABRAMOVAY, R Agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Reforma Agrária – Revista da Associação
Brasileira de Reforma Agrária, vols. 28 nºs 1,2 3 e 29, nº1, Jan/dez 1998 e jan/ago 1999.

AGNE, Chaiane Leal. Agroindústrias rurais familiares e a rede de relações sociais nos mercados de
proximidade na Região do Corede Jacuí, Centro/RS. Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.

APL AGROINDÙSTRIA VALE DO TAQUARI;


http://www.aplvaledotaquari.com.br/agroindustrias/agroindustrias-participantes, acessado em 25. 06.2017

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305

APOSENTADORIA RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR


Caroline Estéfanie do A. B. Saraiva1

1
Doutoranda em Agronegócios (UFRGS), mestre em Administração (UNIR), karol.estefanie@gmail.com

Resumo. A pesquisa tem por objetivo analisar os estudos referentes à abordagem da aposentadoria rural
inseridas no contexto da agricultura familiar. Para tanto, uma pesquisa bibliométrica foi conduzida com base nas
dissertações e teses presentes na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (IBICT). Assim, foram
identificados vinte e um estudos que tratam da aposentadoria rural e a agricultura familiar. Os resultados obtidos
demonstraram a emergência de distintos construtos, enfatizando a relevância da aposentadoria para a agricultura
familiar, sendo considerada como principal composição e/ou incremento de renda para as famílias. O ano com
maior número de trabalhos foi 2008, com quatro e a universidade com maior produção foi a Universidade do Rio
Grande do Sul, com cinco trabalhos, sendo que, ao todo, 33% das pesquisas foram realizadas no Estado e 48%
foram desenvolvidas no Sul do país. A Previdência Social constitui-se principal política pública, mais vantajosa
que o PRONAF e as aposentadorias pagas aos segurados especiais tiveram um incremento positivo, para as
mulheres, 26%, superior ao dos homens, com 21%, Todavia, em termos de distribuição, os dados apontaram um
desfavorecimento do grupo feminino em detrimento do masculino. Constatou-se também que a aposentadoria é
vista como forma de manutenção do homem no campo onde reduz desigualdades e aumento da capacidade de
consumo das famílias. É Financiadora da produção, onde movimenta o comércio sendo fonte dinamizadora da
economia local e fator de sustentabilidade das comunidades.
Palavras-chave: Previdência Social, Agricultura Familiar, Desenvolvimento.

RURAL RETIREMENT IN FAMILY AGRICULTURE


Abstract. The aim of the research is to analyze the studies related to the rural retirement approach inserted in
the context of family agriculture. For that, a bibliometric research was conducted based on dissertations and
theses present in the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations (IBICT). Thus, twenty-one studies
were identified that deal with rural retirement and family farming. The results obtained demonstrated the
emergence of different constructs, emphasizing the importance of retirement for family agriculture, being
considered as the main composition and / or increase of income for the families. The year with the highest
number of papers was 2008, with four, and the university with the largest production was the University of Rio
Grande do Sul, with five papers, and in all, 33% of the research was carried out in the State and 48% were
developed in the south of the country. Social Security is the main public policy, which is more advantageous than
PRONAF and the pensions paid to special insured persons increased by 26%, higher than men by 21%.
However, in terms of distribution, the data showed a disadvantage of the female group to the detriment of the
masculine. It was also observed that retirement is seen as a form of maintenance of the man in the field where it
reduces inequalities and increase the capacity of consumption of the families. It is a Financing Company of the
production, where it moves the commerce being source energizer of the local economy and factor of
sustainability of the communities.
Keywords: Social Security, Family Agriculture, Development.

1 Introdução

Agricultura familiar é uma forma de produção, em que predomina a interação entre


gestão e trabalho. Nela, o processo produtivo é dirigido pelos agricultores familiares que
enfatizam a diversificação de seus produtos e se utilizam do trabalho dos membros de sua
família, algumas vezes complementado pelo trabalho do assalariado (ALVARENGA, 2005).
Nesse sentido, as aposentadorias rurais vêm tendo forte impacto nas mais diversas
regiões rurais do país, propiciando-se uma renda mínima contribuindo para modificar as
estratégias das famílias (SILVA, 2011). Sendo que os programas de previdência tem a
finalidade de combater a pobreza, ao evitar que idosos permaneçam sem rendimento em
momento do seu ciclo de vida em que, por questões físicas e convenção social, eles já não
mais devem ser expostos ao fardo do trabalho (SCHWARZER, 2000).
Ante ao exposto, a pesquisa tem por objetivo analisar os estudos referentes à
abordagem da aposentadoria rural inseridas no contexto da agricultura familiar. Desse modo,

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306

realizou-se uma análise bibliométrica, cujo portfólio foi composto por dissertações e teses
presentes na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (IBICT), a partir de
determinados critérios e filtros para seleção.

2 Referencial Teórico
2.1 Agricultura familiar

Destaca-se, para a economia e sociedade brasileira, a importância do desenvolvimento


da atividade rural e a agricultura familiar faz parte desse acontecimento. Agricultura familiar
é uma forma de produção, em que predomina a interação entre gestão e trabalho. Nela, o
processo produtivo é dirigido pelos agricultores familiares que enfatizam a diversificação de
seus produtos e se utilizam do trabalho dos membros de sua família, algumas vezes
complementado pelo trabalho do assalariado (ALVARENGA, 2005).
O tema agricultura familiar, sua modernização e desenvolvimento são base para
diversos trabalhos, Alves et al. (2005), Alves (2003), Tonneau et al. (2005). Ao longo dos
últimos 40 anos, a agricultura brasileira tem fortalecido sua natureza dual: de um lado, quase
1 milhão de produtores que absorvem rapidamente novas tecnologias para melhorar sua
competitividade e, de outro, 4 milhões de propriedades à margem da modernização, cuja
viabilidade representa um desafio econômico, político e social considerável para o país
(ALVES et al., 2005).
As vantagens da agricultura familiar na produção agropecuária brasileira são
inúmeras, dadas a sua diversificação e capacidade de subsistência, características importantes
como estratégia de desenvolvimento rural, como fonte de emprego, fixação do homem na
terra, produção de produtos alimentares e geração de renda.

2.2 Aposentadoria Rural

Com a Constituição de 1988, houve alteração conceitual profunda para o programa


previdenciário rural no Brasil. Extinguiu-se o tratamento administrativo e institucional
separado dado ao setor rural na previdência social, com a inclusão dos trabalhadores rurais e
dos segurados em regime de produção familiar, chamados de “segurados especiais”, no plano
de benefícios normal do Regime Geral de Previdência Social. A partir disso, o valor do
benefício para aposentadorias e pensões passou a ser de um salário mínimo, as mulheres
passaram a ter acesso à aposentadoria, a idade ficou fixada em 60 anos para homem e 55 para
mulher (SCHWARZER, 2000).
Para o autor, quando se fala de impactos socioeconômicos de programas de
previdência, cabe lembrar que um sistema previdenciário possui duas funções principais: a)
repor os rendimentos do segurado no período de inatividade; e b) combater a pobreza, ao
evitar que idosos permaneçam sem rendimento em momento do seu ciclo de vida em que, por
questões físicas e convenção social, eles já não mais devem ser expostos ao fardo do trabalho.
Sendo assim, as aposentadorias rurais vêm tendo forte impacto nas mais diversas
regiões rurais do país, propiciando-se uma renda mínima contribuindo para modificar as
estratégias das famílias (SILVA, 2011).

3 Metodologia

A pesquisa bibliométrica é caracterizada como um estudo em evolução, sendo


ferramenta primária na analise comportamental de pesquisadores em relação as suas decisões
no desenvolvimento do conhecimento (VANTI, 2002). É caracterizada como um conjunto de

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307

leis e princípios empíricos que contribuem para estabelecer os fundamentos teóricos da


ciência (PRITCHARD, 1969).
Para tanto, adotou-se como orientação de busca, a Lei de Zipt que está voltada para
análise da ocorrência de palavras em um texto científico (FIGUEIREDO et al. 2015). Deste
modo, como filtro de busca consideraram-se as dissertações e teses, presentes na Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (IBICT), cujos títulos, resumos e/ou palavras-chave
continham as palavras ”agricultura familiar” e “aposentadoria”.
Como período de busca considerou-se as teses, desse banco de dados, de todos os anos
até a data de 31 de agosto de 2017. Após esse processo foram extraídas as pesquisas e
consolidadas em uma lista. No total obtiveram-se vinte e um trabalhos, com dezessete
dissertações de mestrado e quatro teses de doutorado que atendiam aos critérios de busca.
Na análise dos resultados foi avaliada a frequência, em relação à distribuição temporal,
da elaboração dos trabalhos, as instituições dos pesquisadores, os Programas de Pós-
graduação no qual estavam vinculados, bem como a frequência das palavras presentes nos
títulos. Por fim, a análise dos dados, onde se realizou um recorte dos principais resultados
encontrados, agrupando-as considerando suas características em comum e a construção das
figuras.

4 Resultados e discussão

Com base nos procedimentos metodológicos, foram identificados vinte e um trabalhos,


com dezessete dissertações e quatro teses. Conforme a Figura 1, as pesquisas têm inicio a
partir do ano 2000. O ano com maior número de foi 2008 com quatro trabalhos, ao passo que
os anos 2002, 2006, 2010, 2012 e 2013 tiveram dois. Ao todo, chega-se ao somatório de onze
instituições de vinculação. A figura 2 mostra as universidades e seu respectivo número de
trabalhos. Das vinte e uma dissertações e teses analisadas, cinco foram realizadas pela
Universidade do Rio Grande do Sul e três pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. A
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade de São Paulo, Universidade
Federal de Viçosa, Universidade Federal de Pelotas tiveram dois trabalhos e as demais apenas
um.

Figura 1 – Distribuição temporal Figura 2 – Universidades x Produção


4 UFRGS
UNIOESTE
3 UFRN
USP
UFV
2 UFPEL
UNIFENAS
1 UEPB
UNESP
UFPA
0 UFAM
2000

2003
2001
2002

2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015

0 1 2 3 4 5
Fonte: Dados da Pesquisa. Fonte: Dados da Pesquisa.

Com base nisso, 33% das pesquisas foram realizadas no Estado do Rio Grande do Sul
(UFRGS e UFPEL) e 48% foram desenvolvidas no Sul do país (acrescentando os trabalhos
realizados na UNIOESTE).
A fim de identificar as principais temáticas abordadas, foi realizado um levantamento
das principais palavras que constituem o título (FIGURA 3). As palavras que mais aparece no
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308

título é “Agricultura Familiar” seguido por “rural”, “estudo”, “município” e “Previdência


Social”.

Figura 3 - Frequência das principais palavras no título

Fonte: Dados da Pesquisa.

Porém, apenas com a nuvem de palavras não é possível fazer uma análise profunda
dessas temáticas. Dessa forma, tendo a necessidade desta análise, se fez necessário averiguar
as teses e dissertações como um todo.
Os diversos trabalhos demonstraram que a aposentadoria é considerada como
composição de renda para as famílias (AMORIM, 2007; ALVES FILHO, 2008; FIALHO,
2002; MENEZES, 2002; RIBEIRO, 2001; SILVA, 2006; SIMÕES, 2008). Desse modo,
distintas variáveis e construtos emergiram da relação entre agricultura familiar e a
aposentadoria rural. A Figura 4 apresenta, por meio de um mapa mental, a teia de
relacionamento entre tais elementos.

Figura 4 - Mapa mental

Fonte: Elaborado pela autora.

As aposentadorias e pensões têm colaborado de maneira significativa para a


diversificação dos rendimentos rurais (LUI, 2013), onde há um novo leque de fontes de

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309

rendas como as aposentadorias e outras rendas não agrícolas que consolidam a pluriatividade
como estratégia entre os membros da família (SILVA, 2011).
A garantia de uma renda de aposentadoria influencia na tendência de redução da mão-
de-obra, por conta do envelhecimento. E também se considera que este crescimento relativo
de uma população envelhecida tem influenciado o estancamento do êxodo rural da última
década pela baixa propensão a migrar, dada pela garantia de renda dos benefícios
previdenciários e pelo arraigamento cultural destes com a vida no campo (SILVA, 2011).
Nos estudos de Silva (2006) a aposentadoria era a principal renda incrementada, na
qual os aposentados representavam uma parcela significativa da população. Para Caldas
(2008) os resultados indicam que as aposentadorias e pensões são essencialmente importantes
na perspectiva da redução das desigualdades e para Menezes (2002) é fator de
sustentabilidade das comunidades locais, como o caso do Projeto de Assentamento
Agroextrativista Praialta e Piranheira, município de Nova Ipixuna no Pará.
Souza (2014) analisou o acesso à previdência social rural sob a perspectiva de gênero.
Os resultados mostraram que, as aposentadorias pagas aos segurados especiais tiveram um
incremento positivo, para as mulheres, 26%, superior ao dos homens, com 21%. Todavia, em
termos de distribuição, os dados apontaram um desfavorecimento do grupo feminino em
detrimento do masculino. Das mulheres, em média 74% estavam aposentadas, para os
homens, a média de aposentados foi superior, com 84% no período.
Sá (2010) afirma que a aposentadoria e os benefícios concedidos às mulheres
melhoram as condições de acesso ao alimento e a certeza do recebimento é percebida como
um alívio. E esse benefício, que é concedido às mulheres, representa substancial reforço no
orçamento familiar.
Os resultados da pesquisa de Bezerra (2006) revelam que o acesso ao benefício da
aposentadoria rural contribui para a valorização e inserção social e cultural dos idosos,
deixando de serem vistos como indivíduos incapazes, resultando, desta forma, em uma nova
configuração entre força de trabalho e atividades desenvolvidas nas unidades de produção
familiar. Biolchi (2002) afirma que esse recebimento tem contribuído para a inserção social
dos aposentados, principalmente em atividades desenvolvidas nas suas comunidades.
Para Souza (2012) a previdência rural, dadas às adversidades para o desenvolvimento
da agricultura familiar, da ineficácia operacional das políticas públicas e das poucas
oportunidades de geração de renda existente nas economias locais, é a principal responsável
pela redução da pobreza e, consequentemente, pelas melhorias das condições de vida das
famílias de e com idosos no meio rural da microrregião Serra de São Miguel-RN.
Já para Biolchi (2002) a Previdência Social constitui-se em uma das principais
políticas públicas para a agricultura familiar gaúcha, em termos de abrangência e valores
concedidos, contribuindo para melhorias nas condições econômicas e sociais das famílias
beneficiárias.
Neste mesmo tema de políticas públicas, Copetti (2008) mostrou que as
aposentadorias e pensões são vistas como mais vantajosas que o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), pois os recursos advindos das mesmas
não se tratam de uma dívida adquirida (como é o caso do PRONAF), e ainda quando os
agricultores contraem empréstimos pessoais consignados, mesmo tendo que pagar juros mais
altos, o fato de receberem todos os meses a aposentadoria faz com que eles vejam tais
financiamentos como bem menos arriscados e burocráticos para serem realizados do que
contratar um crédito do PRONAF.
Ribeiro (2009) relata ter grande quantidade e importância a aposentadoria rural para
pecuaristas da região da Campanha do Rio Grande do Sul. Sendo que, das famílias
exclusivamente agrícolas, 79% recebem aposentadoria. Isso contribui para a manutenção, de
certa forma contribui para uma situação de estabilidade que possibilita que as famílias não

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310

sejam obrigadas a buscar outras atividades externas. Por um lado é garantia de maior
segurança da família e, ao mesmo tempo, uma menor vontade de correr riscos e realizar
investimentos na produção.
O autor ainda aponta que a principal política pública a que os pecuaristas têm acesso
atualmente é a aposentadoria rural que se constitui como amortecedor, em relação às crises,
quer na manutenção da renda da família, quer para custeio e investimento na atividade
produtiva.
Almeida (2012) afirma que políticas não relacionadas à atividade agrícola como o
Bolsa-família e as aposentadorias rurais (que estão relacionadas á inatividade) tem
apresentado fundamental importância para manutenção da vida no campo. Pode-se perceber o
uso dos benefícios previdenciários como estratégia para permanência no meio rural e no
exercício da atividade agrícola onde 75% das famílias que percebem tais rendas as utilizam no
financiamento das atividades produtivas. Isso porque, conceitualmente, a aposentadoria é
concedida pela velhice, que acarreta na redução da capacidade laborativa e no
comprometimento das condições de vida dos trabalhadores. Então, contrariando o pressuposto
da “inatividade” intrínseco à aposentadoria, estes agricultores a utilizam para financiar sua
atividade laboral.
Porém alguns estudos abordam algumas dificuldades de acesso à aposentadoria.
Garcia (2013) analisou que, diante dos obstáculos para comprovar a atividade rural por meio
de documentos, alguns trabalhadores do campo dificilmente conseguem sua aposentadoria por
idade na esfera administrativa. Destaca-se, dessa forma, o papel do Poder Judiciário na
concretização do direito à previdência dos trabalhadores rurais.
Christ (2010) trata da perda da aposentadoria por parte dos boias-frias e Santos (2015)
fala sobre da dificuldade legal de aposentadoria para trabalhadores que atuam exclusivamente
na mineração ou garimpo principalmente por prevalecer a informalidade nesse ramo de
atividade. Enquanto que, na agricultura há sindicatos e associações que auxiliam e direcionam
seus membros.

5 Considerações Finais

A investigação realizada objetivou analisar os estudos referentes à abordagem da


aposentadoria rural inseridas no contexto da agricultura familiar. Os resultados obtidos
demonstraram que a aposentadoria é considerada como principal composição e/ou
incremento de renda para as famílias (AMORIM, 2007; ALVES FILHO, 2008; FIALHO,
2002; MENEZES, 2002; RIBEIRO, 2001; SILVA, 2006; SIMÕES, 2008).
O ano com maior número de trabalhos foi 2008, com quatro e a universidade com
maior produção foi a Universidade do Rio Grande do Sul, com cinco trabalhos, sendo que, ao
todo, 33% das pesquisas foram realizadas no Estado do Rio Grande do Sul e 48% foram
desenvolvidas no Sul do país.
Os resultados mostraram que a Previdência Social constitui-se em uma das principais
políticas públicas para a agricultura familiar, vista como mais vantajosa que o PRONAF e as
aposentadorias pagas aos segurados especiais tiveram um incremento positivo, para as
mulheres, 26%, superior ao dos homens, com 21%, Todavia, os dados apontaram um
desfavorecimento do grupo feminino em detrimento do masculino.
A aposentadoria é vista também como forma de manutenção do homem no campo
onde reduz desigualdades e aumento da capacidade de consumo das famílias. É Financiadora
da produção, onde movimenta o comércio sendo fonte dinamizadora da economia local e fator
de sustentabilidade das comunidades.
Contudo, reconhecem-se as limitações do estudo quanto à utilização de somente uma
base de dados. Para pesquisas futuras, recomenda-se a análise em outras bases de dados e em
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311

artigos científicos tanto nacionais quanto internacionais, bem como a aplicação de estudos
empíricos a fim de verificar, a percepção dos produtores.

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O papel das redes sociais para o desenvolvimento local: um estudo na


Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar
Bibiana Melo Ramborger¹

¹UFRGS, e-mail: bibianamr@gmail.com

RESUMO: Ao longo dos anos ocorreram significativas transformações no meio rural brasileiro. Tendo em
vista que o ser humano escolhe, em seu próprio espaço e de ser ou fazer o que ele deseja, é uma forma sensata de
analisar assim seu desenvolvimento, uma vez que cada um tem sua trajetória, com suas crenças, as quais devem
ser respeitadas e, culturas adaptadas ao meio ambiente em que vivem. O trabalho que ora apresentamos é
constituído por pesquisa bibliográfica e de campo com o intuito de melhor conhecer e analisar a formação e o
trabalho desenvolvido através da Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar no que tange a questão da
sustentabilidade articulada por seus associados, principalmente sobre as agroindústrias familiares presentes neste
cenário. Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados o método qualitativo, com técnicas de entrevista
semiestruturada e observação assistemática para a coleta de informações e análise de conteúdo para o processo
analítico. Incorporando esta análise para a compreensão do associativismo rural, pode-se inferir que na
organização de uma associação, mesmo que os produtores familiares objetivamente vislumbrem a produção
econômica, subjetivamente eles podem alcançar a reprodução social do grupo e, consequentemente da
dinamização da unidade familiar que cada sujeito pertence.

Palavras - chaves: Redes, Nova Sociologia Econômica, Agricultura Familiar.

The role of social networks for local development: a study in the Network of
Family Agriculture Cooperatives
Abstract: Over the years there have been significant changes in the Brazilian countryside. Given that human
beings choose, in their own space and be or do what he wants, it is a sensible way to thus analyze their
development, since each has its history, its beliefs, which must be respected and crops adapted to the environment
in which they live. The work presented here consists of bibliographic and field research in order to better
understand and analyze training and work through the Cooperative Family Agriculture Network regarding the
issue of sustainability articulated by its members, particularly on family farms present in this scenario. For the
development of the research were used qualitative method with semi-structured interview techniques and
systematic observation to collect information and content analysis to the analytical process. Incorporating this
analysis to the understanding of rural associations, one can infer that the organization of an association, even if
the family farmers objectively envisage economic output, subjectively they can achieve social reproduction of the
group and consequently the promotion of family unit each subject belongs.

Keywords: Networks, New Economic Sociology, Family Agriculture.

INTRODUÇÃO
A agricultura familiar possui um papel importante para geração de renda, desenvolve
papéis sociais, além de gerar a disponibilidade de alimentos. No entanto, esse segmento possui
muitos desafios, que se trabalhados de forma conjunta, através de redes de cooperação, podem
minimizar alguns gargalos existentes na produção e comercialização de seus produtos.
A Nova Sociologia Econômica (NSE) estuda os fenômenos econômicos à luz de uma
abordagem sociológica, na busca de demonstrar que o mercado e os demais fenômenos
econômicos são construções sociais (SERVA; ANDION, 2006). E, que os indivíduos acessam
pessoas que acessam ainda outras e, de acordo com essa ação de cooperação, o indivíduo pode
obter seu emprego num movimento semelhante ao analisado por Granovetter (1973).
Na sequência, Barnes (1987) trata a noção de rede social como um conjunto de relações
interpessoais que aproximam indivíduos a outros. A identificação de alternativas de
sobrevivência com base nas potencialidades locais pode ser considerada uma política
econômica local, em que os atores locais são personagens centrais da definição, execução e

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controle do desenvolvimento. Em uma forma mais avançada, os atores locais se organizam na


formação de redes que servem de instrumento para o conhecimento, a aprendizagem da
dinâmica do sistema produtivo e institucional. São os atores locais os responsáveis pelas
iniciativas de desencadeamento de ações estratégicas integradoras do desenvolvimento local
(VÁZQUEZ BARQUERO, 2000).
Com este intuito, o presente trabalho objetiva-se contextualizar, diante das adversidades
presentes no setor, o papel dos atores sociais presentes na contribuição da gestão da Rede
Missioneira da Agricultura Familiar - REMAF bem como das cooperativas no sentido de
melhoria do setor e da inserção da produção nos diversos canis de comercialização.
2. NOVA SOCIOLOGIA ECONÔMICA (REDES)
Para podermos adentrar na contextualização teórica é preciso primeiro relembrar que
grandes nomes da literatura que construíram as bases da sociologia Max Weber, Émile
Durkheim, Karl Marx e Georg Simmel, procuravam compreender de que maneira as estruturas
sociais e as instituições influenciavam os mercados. Entre os anos 1920 a 1960 Economia e
Sociologia se fragmentam com o surgimento do pensamento econômico neoclássico, nos quais
era um limitante nas análises econômicas ao estudo do comportamento individual racional,
enquanto a sociologia se reduzia aos estudos dos demais tipos de comportamento e de suas
consequências.
Aponta-se então que a Nova Sociologia Econômica (NSE) ressurge na década de 1980
com os trabalhos de Granovetter a partir dos anos 70, explorando o conceito fundador da
Sociologia Econômica (SE): Embeddedness (enraizamento, imersão ou imbricamento) e a
análise da influência das redes sociais sobre as dinâmicas econômicas, como também,
desenvolve a metodologia de estudo da SE. A NSE contesta a economia neoclássica, mas não
apresenta novas propostas, limita-se ao debate visando a contribuição da sociologia à teoria
econômica.
O atributo colonial consolida as relações de proximidade e a formação do território, por
outro, fortalece os produtos nos mercados distantes e nas relações com os consumidores. Ou
seja, para entender a NSE destaca-se que eles desenvolveram a proposição de que os arranjos
sociais são passíveis de modificação pela ação coletiva. Entendiam que a ordem econômica e
social era criada e mantida por ajustamentos institucionais voluntários que emergiam apesar de,
e/ou contra, a "ordem espontânea do mercado".
Granovetter (1985) argumenta que as ações dos atores sociais são condicionadas pelo
seu pertencimento a redes de relações interpessoais. O mercado, portanto, não consiste num
livre jogo de forças abstratas, a oferta e a procura, entre atores atomizados e anônimos, mas
num conjunto de ações estreitamente imbricadas em redes concretas de relações sociais.
E para tanto em seus primórdios da existência das redes de nosso campo de estudo, é
preciso também fazer uma análise no que diz respeito das cooperativas que são os elos
principais que geraram as redes para formação e ampliação de mercado e que transformaram
com as inovações na abertura de novas dinâmicas.

3. CULTURA DE COOPERATIVAS
Adentramos então na conceituação das cooperativas, pois são elas os primeiros elos das
redes que mais tarde passam a formar a cadeia e fazerem parte da construção social que
dinamiza as produções e agrega tanto questões logísticas quanto de melhoria e implantação de
novos mecanismos. Tendo em vista que as mesmas assumem, devido aos seus princípios
doutrinários, a dupla função de associação, enquanto reunião de pessoas, e de empresa,
enquanto reunião de capital. Por outro lado, os cooperados também assumem o duplo papel de
dono e, ao mesmo tempo, de usuário do empreendimento. Diante dessas características
peculiares das cooperativas, na maioria delas ocorre o processo de autogestão, pois são geridas
pelos próprios donos/usuários.
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Um dos instrumentos a serem utilizados para fazer frente aos problemas de


infraestrutura, e mesmo para a organização da comercialização em si, é o ‘associativismo’. Seja
através de grupos informais, associações ou cooperativas, o associativismo tem-se mostrado
eficiente quando se trata de reunir esforços e recursos para alcançar objetivos comuns. No
entanto, o baixo nível de conscientização associativista dificulta o surgimento de tais
organizações, as quais poderiam exercer importante papel na viabilização da infraestrutura de
comercialização. (ORSOLIN, 2006)
Nas últimas décadas têm revelado a existência de uma série de novas iniciativas que
mostram o potencial das organizações de agricultores construindo experiências e alternativas
de inserção na produção e no mercado, através de associações, cooperativas, redes etc. De outro,
há evidências que muitos deles apresentam um baixo grau organizativo, limitando a sua
capacidade de inserção e de participação nos projetos e políticas públicas. (ROCHA, 2007)
Assim, independente dos mercados aos quais destinam a sua produção ou dos canais de
comercialização que utilizam pelo menos o segmento de agricultores familiares deve poder
contar com ferramentas adequadas à sua cultura organizacional, limitações em termos de
educação formal e condições gerais do meio no qual estão inseridos. Essas ferramentas não são
apenas úteis, mas cada vez mais indispensáveis para a competitividade sustentada dos seus
empreendimentos. (BATALHA, 2012)
Advoga Schulze (1987) que o associado, como gestor do empreendimento comum, deve
harmonizar a sua participação política, na definição de objetivos e metas, com a sua
participação econômica, isto é, no capital e operações, e ambas com a capacidade gerencial da
empresa em efetivar suas relações com o mercado. Dessa forma, a cooperativa, como amplo
espaço em que interage grande número de associados, resulta em evidente espaço de disputa de
poder. Nele, diferentes forças atuantes precisam ser coordenadas e disciplinadas no sentido de
orientá-las para o cumprimento do objetivo da cooperativa de prestar serviços aos associados.
De acordo com Bordenave (1983), a participação incita a organização e está promove e
conduz à participação, de modo que a medida que a participação é promovida pode ocorrer uma
transformação das pessoas. Isso quer dizer que pessoas que antes eram passivas e resignadas,
depois de um processo participativo, muitas vezes podem se tornar ativas e críticas.
Para Bourdieu (2001) as estratégias adotadas pelos sujeitos sociais não devem ser
reduzidas à dimensão econômica, tendo em vista que mesmo que objetivamente as ações sejam
orientadas para a obtenção do lucro, por meio do êxito na atividade econômica, subjetivamente,
estes sujeitos sociais podem contemplar dimensões que ultrapassam a materialidade econômica.
Incorporando esta análise para a compreensão do associativismo rural, pode-se inferir
que na organização de uma associação, mesmo que os produtores familiares objetivamente
vislumbrem a produção econômica, subjetivamente eles podem alcançar a reprodução social do
grupo e, consequentemente da dinamização da unidade familiar que cada sujeito pertence. Isto
remete à necessidade de se pensar formas de aproximar os grupos sociais em questão e, por
conseguinte, reencontrar os projetos político-ideológicos destes sujeitos sociais que conduzem
o processo produtivo no meio rural, tendo como principal trunfo a força do trabalho familiar.
Quando se trata de associativismo rural de pequenos produtores, a cooperação mútua
desponta como base de sustentação, o que levou Benecke (1992) a afirmar que “cooperação
cooperativa se dá quando um grupo de indivíduos independentes toma a seu cargo,
conjuntamente, uma empresa com a intenção de utilizar dos serviços econômicos por ela
proporcionados”, e informar que, efetivamente, dentro dessa realidade associativista, dois
elementos se destacam: há a empresa cooperativa e os indivíduos, e estes são ao mesmo tempo
donos e usuários da empresa cooperativa, denominados de associados, sócios ou membros
cooperadores.
Convencionou-se que associativismo e agricultura familiar fariam uma boa combinação
para o desenvolvimento das comunidades rurais mais pobres, investindo em projetos de

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assentamento rural no formato associativista (GORGEN e STÉDILE, 1991, p. 200). Para


Barbieri (1997, p. 150), o desenvolvimento é resultado de um processo sistêmico de
crescimento econômico, gerando aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e da renda per
capita, que dentro do ciclo, após o processamento, retorna à sociedade geradora, com
investimentos de melhoria em todos os ângulos que ela precise, tais como: emprego, renda,
moradia, educação, transporte, saúde, segurança, avanços tecnológicos para melhorar as
condições de produção, entre outros.
As agroindústrias familiares, conforme nos coloca Trentin e Wesz Junior (2005) são
caracterizadas por propriedades de pequenos agricultores e pela verticalização da produção.
Isto é, são os próprios proprietários dos empreendimentos que produzem e industrializam a
matéria-prima. A forma associativa otimiza o espaço e o número de pessoas envolvidas, ou
seja, envolve e garante a reprodução de mais atores sociais, pois observa-se que há mais
possibilidades de inserção nos mercados como na criação de uma esfera mútua onde a
organização faz vigorar a consistência de um sucesso através da criação do capital social.

4. MÉTODOS
A metodologia do presente artigo caracteriza-se como método qualitativo, com técnicas
de entrevista semiestruturada e observação assistemática para a coleta de informações.
Realizou-se também o método de análise de conteúdo para o processo analítico. Para Minayo
(1994), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Foi realizada uma pesquisa, in loco (Figura 1), junto aos associados da Rede de
Cooperativas, Associações e Agroindústrias do Território Missões – Rede Missioneira da
Agricultura Familiar (REMAF), onde entrevistou os membros da diretoria e, tiveram como
complemento a análise de dados secundários, como materiais de divulgação da Rede para
melhor compreender as modificações e inovações presentes.
Figura 1: Mapa dos municípios que fazem parte da REDE.

Para a construção do trabalho utilizou-se o método dialético-crítico, arguindo questões


pertinentes sobre a historicidade, a totalidade e a contradição, visto que existem diferentes

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níveis de apreensão e de intervenção que explicitam as interações entre as situações particulares


e as mais amplas (BAPTISTA, 2002).

5. RESULTADOS ENCONTRADOS
A Rede de Cooperativas, Associações e Agroindústrias do Território Missões – Rede
Missioneira da Agricultura Familiar (REMAF) constitui-se como fruto de uma construção
social do Território Missões. Ela tem por finalidade congregar, orientar, assistir, instruir
e estimular a cooperação entre os empreendimentos associados no que diz respeito à
organização, prospecção de novos mercados e clientes, eficiência na aquisição de
produtos, mercadorias e serviços.
Para explicar essa perspectiva de formação Granovetter (2007) faz a conexão do
conceito das redes pessoais e as organizações, colocando a importância dessas ligações no fato
de atuarem como um canal importante de informações, em que a posição do indivíduo e a
qualidade dessas redes são elementos essenciais. Essa reflexão sobre imersão social é que dá a
esse autor a sustentação para a análise das instituições em termos de construção social. As
instituições são condicionadas pelo conteúdo e pela estrutura das relações sociais nas quais a
ação econômica está imersa, isto é, pela configuração das redes sociais.
Com base na pesquisa realizada com alguns membros, constatou-se que os territórios
Noroeste e Missões possuem um total de 41 famílias certificadas como produtoras de alimentos
orgânicos, sendo observado que os trabalhos voltados para a agroecologia tiveram início ao
final da década de 90 através da Organização Não Governamental ASTRF (Associação de
Sindicatos dos Trabalhadores Fronteiriços), com sede em Porto Xavier. Da Organização Não
Governamental AREDE com sede em Santa Rosa e, reforçado pelo trabalho da ASCAR
EMATER no governo do Estado de 1999/02, com cursos sobre agroecologia, palestras de
conscientização ecológica, orientações técnicas em adubação verde e produção de caldas,
extratos, homeopatia animal e intercâmbios nas experiências existentes. Com a normatização
da produção orgânica através da Lei nº 10.831/13, do Decreto nº 6.223/07 e do Decreto
Presidencial nº 7.794 que cria o PNAPO restou garantida a segurança para a certificação
participativa através da REDE ECOVIDA.
Podemos entender então que as s redes são uma característica fundamental da sociedade
moderna, em função das circunstâncias econômicas, nas quais a competição passa a ser uma
questão de posicionamento de uma cooperativa dentro da rede, ao invés de um ataque ao
ambiente. De acordo com Jarillo (1998), rede é entendida como um arranjo que pode ser
manejado intencionalmente com o objetivo de obter vantagem competitiva.
No que se refere à produção de frutas, polpa de frutas, sucos integrais, hortigranjeiros e
cana de açúcar, na cana de açúcar são produzidos melado, e açúcar mascavo. A produção mais
de 100 toneladas ano de alimentos orgânicos, sendo conforme informações dadas pela entidade
REMAF, é alicerçada nas utilizações de recursos sustentáveis. Há uma visível perspectiva de
que ocorra um aumento desses números uma vez que mais de 15 famílias estão no processo de
organização para obterem a certificação de conformidade Orgânica nos municípios de Cerro
Largo, Salvador das Missões e Rolador. E 400 famílias na Chamada pública da agroecologia.
O mercado predominante, conforme indicações, são as comercializações realizadas
através das feiras permanentes, nos pontos fixos da agricultura familiar, no Programa Nacional
de Alimentação Escolar, no Programa de Aquisição de Alimentos e na compra de grupos de
consumidores da região Missioneira e de parte do Estado. Salientando que a Universidade
Federal Fronteira Sul que há pouco tempo instalou-se no município de Cerro Largo, sendo
concretizada através da concessionária do Restaurante Universitário que efetua compras dos
produtos orgânicos que ainda não estão certificados, para alimentação de seus alunos e
colaboradores. Para tanto, diversas as famílias do município de Cerro Largo estão aguardando
a auditoria dos grupos da Rede ECOVIDA.

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Partindo do pressuposto de que a dimensão de comercialização é uma situação que pode


ser construída a partir de um conjunto de atividades ou ações que possam apontar as
transformações necessárias para atender as expectativas dos consumidores em relação ao
produto comercializado, o que certamente compreende também as dimensões tecnológica e
institucional. Segundo WILKINSON (2006), as experiências alternativas e de construção de
mercados devem considerar a dinâmica local e de território, objetivando além de agregar renda,
reter parte desta no âmbito da economia local.
Quanto à questão de utilização de materiais sustentáveis para produção, foi esclarecido
que cada propriedade desenvolve seu sistema de produção organizando a utilização dos
recursos ali disponíveis, principalmente com a reciclagem de nutrientes através do uso de
compostagens, adubos orgânicos, cobertura do solo, preservação das sementes, irrigação
através de cisternas ou pequenos açudes, uso de caldas e extratos naturais sem agredir o meio
ambiente, agroflorestal entre outras técnicas preservacionistas.
As famílias que têm papel fundamental em relação a sustentabilidade da região estão
inseridas no município de Dezesseis de Novembro e são associadas a COOPADEN filiada a
REMAF, os novos grupos que estão em processo de organização são das filiadas COOPAF
Vida Nova e COOPACEL.

6. CONSIDERAÇÕES
Pode-se dizer que na Universidade precisamos aprender para daí transmitirmos o que
estudamos visando melhorar o cotidiano das pessoas, por isso este artigo visa divulgar e debater
as atribuições e as atividades da gestão da REMAF, bem como suas contribuições no
desenvolvimento rural frente ao mercado agrícola, e servir para reflexão das alterações
necessárias para que cada vez mais os movimentos sociais se tornem consistentes e agreguem
melhorias através dos programas de incentivo para a agricultura e pecuária familiar.
O meio rural sempre estava sendo definido pela agricultura, talvez por essa, na maior
parte dos casos, oferecer oportunidades de emprego e geração de renda. Assim, há profundas
confusões entre o espaço agrícola e o espaço rural. No entanto, não é aconselhável defini-las
por seu caráter agrícola, é preciso ver toda sua natureza territorial e não somente a setorial.
Portanto, justifica-se a necessidade de observar as economias regionais para formular uma
melhor definição espacial e multissetorial, onde a agricultura é um mero integrante do rural.
Para que ocorram as mudanças qualitativas e tornar-se desenvolvimento local, é
necessário que esteja presente como parâmetros fundamentais os princípios como democracia,
solidariedade e justiça social em praticamente todos os domínios da sociedade. A essência da
atual fase de globalização é que introduz conjuntos de normas e parâmetros generalizados que
governam todas e quaisquer práticas locais e específicas.
O uso de redes, como possibilidade de análise, permite obter um melhor entendimento
do processo de formação de uma rede, do seu desenvolvimento e dos resultados esperados, a
partir dessa nova configuração entre os atores, considerando a posição dos mesmos, a
arquitetura da rede ou pela natureza do conteúdo trocado nas relações estabelecidas.
Menegetti (2009) explica que a construção de um novo paradigma implica,
necessariamente, na mudança da ótica da pesquisa, do ensino em ciências agrárias; no
ajustamento das políticas macroeconômicas, agrícolas e agrárias; em apoio efetivo da sociedade
(governo e sociedade civil) a um projeto de conversão da agricultura; na defesa, restauração e
fortalecimento da agricultura familiar; na ênfase aos processos locais e regionais de
desenvolvimento, sem se isolar do contexto macro, com uma efetiva participação da população
na discussão, proposição, execução e gestão social dos processos locais de desenvolvimento; e
implica também, na formação de uma consciência social crítica.
No contexto atual, a sobrevivência sustentável da agricultura familiar com imóveis de
pequeno e médio porte, depende da capacidade de intensificar a geração/agregação de valor. A

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

maior parte das estratégias de agregação de valor passa, necessariamente, pela criação e gestão
de formas associativas que congreguem um conjunto de agricultores familiares. Estas
instituições associativas podem ter formas e objetivos diferentes.
Incorporando esta análise para a compreensão do associativismo rural, pode-se inferir
que na organização de uma associação, mesmo que os produtores familiares objetivamente
vislumbrem a produção econômica, subjetivamente eles podem alcançar a reprodução social do
grupo e, consequentemente da dinamização da unidade familiar que cada sujeito pertence. Isto
remete à necessidade de se pensar em formas de como proporcionar a aproximação dos grupos
sociais em questão e, por conseguinte, reencontrar os projetos político-ideológicos destes
sujeitos sociais que conduzem o processo produtivo no meio rural, tendo como principal trunfo
a força do trabalho familiar.

7. REFERÊNCIAS

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320

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Agroalimentar na América Latina. Vila Maria-São Paulo, SESC, Seminário de Cultura e Alimentação, 0utubro
de 2006.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

E-commerce como canal de comercialización de productos orgánicos:


estudio de caso del proyecto “Ecomercado-Perú”
Manuel Hyleer Alania Campos1, Leonardo Xavier da Silva2

1
Universidad Federal de Rio Grande del Sur, hmanuel132@gmail.com
2
Universidad Federal de Rio Grande del Sur, leonardo.xavier@ufrgs.br

Resumen. A nivel mundial el mercado y la agricultura de productos orgánicos tuvo un crecimiento, para el 2015
el mundo tuvo un giro económico de US$ 81.6 billones, con respecto a la producción, fue utilizado 50.9 millones
de hectáreas cultivadas y participaron en esta actividad 2.4 millones de productores a nivel mundial. En el Perú
para la misma fecha cultivo 607872.39 hectáreas a nivel nacional, participaron 97857 productores y tuvo un giro
económico de US$ 16.6 millones. En este contexto, el siguiente trabajo tiene como objetivo describir y analizar,
sí el e-commerce, es un canal de comercialización dentro del mercado de productos orgánicos, e identificando en
el tipo de canal que podría encuadrarse. El trabajo realizo un estudio de caso sobre el proyecto “Ecomercado -
Perú”, el cual es una plataforma web que relacionada productores y consumidores orgánicos a nivel nacional y es
administrada por la Red de Agricultura Ecológica de Perú (RAE). La metodología utilizada en esta investigación
fue descriptiva, preocupa en observar, registrar, analizar, clasificar e interpretar los hechos que suceden en el
funcionamiento del proyecto. Los resultados de este trabajo muestran que el e-commerce es un canal de
comercialización para los productos orgánicos en el mercado peruano, y la relación generada entre el productores
con el consumidor final, nos lleva a la conformación de los circuitos cortos de comercialización de venta directa,
lo que conlleva a una autonomía y libertad para organizar la producción, el procesamiento, la distribución, la
negociación y sobre todo ampliar las relaciones socio-ambientales.
Palabras-clave: E-commerce. Canal de comercialización. Productos orgánicos. Perú.

E-commerce as a marketing channel for organic products: case study of the


project "Ecomercado-Perú"
Abstract. Globally the market and agriculture of organic products grew. By 2015 the world had an economic
turnaround of US $ 81.6 billion, compared to production, was used 50.9 million hectares cultivated and 2.4 million
producers worldwide participated in this activity. In Peru for the same date cultivation 60787239 hectares at
national level, 97857 producers participated and had an economic turn of US $ 16.6 million. In this context, the
objective of this work is to describe and analyze, if e-commerce, is a channel of commercialization within the
market of organic products, and identifying in the type of channel that could fit. The work carried out a case study
on the "Ecomercado - Perú" project, which is a web platform that links organic producers and consumers
nationwide and is managed by the Peruvian Organic Agriculture Network (RAE). The methodology used in this
research was descriptive, concerned with observing, recording, analyzing, classifying and interpreting the events
that occur in the operation of the project. The results of this work show that e-commerce is a marketing channel
for organic products in the Peruvian market, and the relationship generated between the producers and the final
consumer, leads to the formation of short sales marketing circuits direct, which leads to an autonomy and freedom
to organize production, processing, distribution, negotiation and above all extend socio-environmental relations.
Keywords: E-commerce. Marketing channel. Organic products. Peru.

1 Introducción

Actualmente el sistema agro-alimentar de productos orgánicos tiene un innegable


crecimiento a nivel mundial como también en el Perú, según los datos del International
Federation of Organic Agriculture – IFOAM (2017), el giro económico realizado por el
mercado de productos orgánicos fue de US$ 81.6 billones para el 2015, teniendo un crecimiento
de 21% en relación al año anterior. Con respecto a la tierra utilizada fueron 50.9 millones de
hectáreas cultivadas, destacándose a nivel mundial: Oceanía, Europa y Latino América,
haciendo que participen 2.4 millones de productores a nivel mundial.
En este contexto de desarrollo e innovación, la agricultura orgánica se presenta como
un sistema de manejo de producción ecológica que promueve y enriquece la biodiversidad,

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ciclos biológicos y la actividad biológica del suelo basado en el uso mínimo de insumos
provenientes de fuera de la propiedad y en prácticas de manejo que restauran, conserven y
enriquecen el ambiente ecológico, ofreciendo un producto más seguro para el consumidor
(OTA, 2002).
De esta manera la agricultura orgánica visa atender la demanda de los consumidores por
la utilización de procesos más limpios de producción, evita la contaminación y degradadores
ambientales y también incorpora a las poblaciones rurales en el proceso de desenvolvimiento,
representado el cambio de una agricultura de insumos para una agricultura de manejo, visando
ser ambientalmente correcto, socialmente justa y económicamente viable (ARAUJO, 2007). Y
complementado esta idea Khatounian (2001), señala que la agricultura orgánica es un opción
viable a la agricultura familiar y al movimiento ambientalista.
Así, al mismo tiempo en que se preocupa en atender una demanda alimentar, ocurre una
tendencia en incorporar a ese padrón de producción otros conceptos, entre ellos el respeto al
medio ambiente y de las consecuencias de la utilización de productos agroquímicos en la salud
humana (KHATOUNIAN, 2001).
En el mercado de los productos orgánicos, el proceso de comercialización se constituye
como uno de los principales obstáculos para el desenvolvimiento de la agricultura orgánica. La
creación y mantenimiento de los canales de comercialización dependen de la diversificación,
padronización de productos y regularidades en la oferta de la producción (DAROLT, 2001),
según Souza y Alcântara (2003) otro de los obstáculos para el desenvolvimiento del mercado
orgánico es el dimensionamiento, sea en la esfera local, regional, nacional e internacional. Y
de acuerdo con Barbosa (2007) esto es un factor limitante que no permite la consolidación y
expansión de este segmento, por lo que cabe a los gobernantes promover políticas específicas
para la organocultura.
Son varias las formas de comercialización de los productos orgánicos, lo que hace, al
productor adoptara más de un canal de comercialización para diversificar el origen de sus
ingresos (ARAUJO, 2007). Pero antes de llegar a ser comercializado el producto orgánicos
debe estar caracterizado con respecto a su procedencia, definido en los padrones de certificación
y registrado, ya que es fundamental para ganar la autenticidad y calidad (ARNALDI; PEROSA,
200_).
Para Penteado (2000), la comercialización de productos orgánicos presenta tres canales
bien definidos: Venta directa al consumidor (cestas en domicilio, restaurantes, tiendas locales,
ferias verdes, y en el propio local de producción), Al por menor (supermercados, quitandas,
varejones), Al por mayor (hipermercados, distribuidoras y mayoristas).
En este contexto se pretende hacer un estudio de caso del proyecto “Ecomercado-Perú”
de la Red de Agricultura Ecológica - RAE, el cual es una plataforma web (e-commerce) que
funciona como un canal de comercialización de productos orgánicos, que tiene como finalidad
relacionar productores y consumidores para acortar la cadena productiva de los productos
orgánicos en el Perú.
Por fin, el presente trabajo tiene como objetivo describir y analizar en que canales de
comercialización se encuadra el e-commerce, según el estudio de caso propuesto aquí. Para
alcanzar este objetivo, fue realizado un breve revisión histórica de la creación del proyecto,
quienes son los actores envueltos en ella, como ser realizara el proceso del funcionamiento y
por ultimo identificar en que canales de comercialización se encuadra.

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Material y metodología

El Ecomercado-Perú, es un proyecto de la Red de Agricultura Ecológica del Perú (RAE-


PERU), y sus actores que participan en esta red, que en esta caso vienen a ser: los productores,
con consumidores y la plataforma. La RAE es una asociación civil sin fines de lucro que se
constituyó en 1989 y que se encuentra conformada por un conjunto de organizaciones, tanto
organizaciones no gubernamentales como personas naturales. Desde su fundación, la RAE-
PERU viene promoviendo sociedades con cultura agroecológica en diversas regiones del Perú,
destacando su compromiso con el fortalecimiento, desarrollo y consolidación de los actores
centrales que surgieron en el proceso: los productores y consumidores ecológicos (Ecomercado,
2017).
Entre las acciones que vienen realizando se encuentran una serie de eventos,
exposiciones, ferias, talleres, todo sobre la agricultura ecológica; además de los proyectos que
realiza, tales como "apoyo al desarrollo de la agricultura orgánica y fortalecimiento
institucional de la certificación orgánica", "fortalecimiento de las capacidades comerciales de
productoras y productores ecológicos peruanos" y la plataforma virtual Ecomercado Perú, entre
otras (Ecomercado, 2017).
Una estrategia innovadora es el proyecto Ecomercado - Perú, el cual es una plataforma
virtual que consiste en la oferta y venta de productos alimenticios ecológicos y que hace que se
relacionen los productores con los consumidores vía internet
"http://www.ecomercadoperu.com".
Este proyecto nace en el 2012 como iniciativa de la RAE y cuenta con la participación
de 08 instituciones asociadas de la RAE y 20 asociaciones de productores ecológicos en 12
regiones. Su misión de informar, promover y facilitar el intercambio comercial entre ofertantes
y demandantes de productos ecológicos a nivel local, regional, nacional e internacional; lo ha
llevado a que en estos 4 años de proyecto, consiga ofrecer productos ecológicos de garantía así
como la inclusión desde la agricultura familiar hasta la agro exportación (Ecomercado, 2017).
Lo que se refiere a la metodología utilizada en esta investigación, se puede clasificar
como descriptiva, pues según Gil (1999) describir características de determinadas poblaciones,
o fenómenos contribuye al establecimiento de relación entre las variables. Apoyando la
afirmación anterior, Andrade (2002) destaca que la pesquisa descriptiva se preocupa en
observar los hechos, registrarlos, analizarlos, clasificarlos e interpretarlos, sin la interferencia
del investigador. En términos de los procedimientos adoptados, la investigación se caracteriza
como un estudio de caso, pues se concentra en una única experiencia y sus conclusiones se
limitan al contexto de ese objetivo de estudio (YIN, 2005).
Descripción y discusiones

El proyecto cuenta con tres actores principales (productores, consumidores y la


plataforma), en el caso de los productores son quienes ofertan sus productos tanto en forma
natural como procesados y están distribuidos en todo el territorio nacional, los consumidores
son los demandantes que pueden ser consumidores finales o intermediarios y tambien están
ubicados en todo el territorio nacional como internacional, y la plataforma web (que en este
caso son los administradores). El comercio que se genera en este tipo de sistemas se le conoce
como mercado electrónico o e-commerce, el cual un ambiente virtual de relacionamiento
directo entre productores y consumidores donde se puede realizar transacciones comerciales,
pasando a ser considerados como canales de comercialización (Ver figura 1).

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Figura 1 – Organograma del funcionamiento del Ecomercado

Fuente: Ecomercado (2017).


Si bien la literatura académica sobre este tema muy amplia y el concepto puede ser muy
generalizador como lo que señala la Comisión de Comunicaciones Europeas (1997), “El
comercio electrónico consiste en en realizar electrónicamente transacciones comerciales; es
cualquier actividad en la que las empresas y consumidores interactúan y hacen negocios entre
sí o con las administraciones por medio electrónicos”, incluyendo actividades muy diversas
como lo afirma Martinez (1998, p. 31), “tales como el comercio de vienes y servicios;
suministro en línea de contenido digitales; las subastas comerciales; los diseños y proyectos
conjuntos; la prestación de servicios en línea; la contratación publica, la comercialización
directa al consumidor; y los servicios postventa”.
En este trabajo, el termino comercio electrónico, es utilizado para la definición del uso
de la plataforma web, para el relacionamiento de dos o más actores. Por tanto el e-commerce
se torna en un medio por el cual productores y consumidores orgánicos pueden establecer
relaciones directas face to face de forma virtual, facilitando el acortamiento de la cadena
productiva llevando a una venta directa de los productos entre esos dos actores.
Este proceso de comercialización genera de una manera un aumento de la renta para los
productores, y con la misma relación para los consumidores se benefician en la adquisición de
productos con mejor calidad, frescos, locales y estacionales. Además de esos beneficios
comerciales se genera una articulación entre productores y consumidores donde se transmiten
y combinan valores y culturas que llevan una visión compartida de las relaciones socio-
ambientales.
Para la comercialización en la plataforma, los administradores encargado realizan tres
procesos importantes:
1. Las ventas: que vienen a ser el paso más importante, ya que gestionan los
ingresos y egresos de los costos por los productos, buscan las mejores empresas
de entrega (Courier) que garanticen seguridad, calidad, rapidez y bajo precio
para recojo de los productos desde provincia a Lima y el envío de Lima a
cualquier lugar pedido.

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2. El almacenamiento: si bien la plataforma es un ambiente virtual, los productos


son físicos y para los cuales se necesita de local que este ubicado
estratégicamente, que en este caso esta en la Capital de Perú (Lima). Las ventas
realizadas son almacenadas y controladas en ambientes adecuados y fiscalizados
por la entidad encargada (Servicio Nacional de Sanidad y Calidad
Agroalimentaria). Desde este lugar los productos disponibles son distribuidos
hasta el consumidor.
3. La distribución: esta es la ultima parte del proceso, en el cual se garantiza la
entrega de los productos directo al consumidor sin importan su ubicación, el
persona encargado de este proceso es importante, ya que cumple más un papel
que es el cobrar la venta, porque en algunas veces los consumidores desconfían
y quieren pagar contra entrega (la plataforma también acepta pagos por
transacciones bancarios, tarjetas de créditos y boletos bancarios).
Esta forma de comercialización también garantiza la actualización del volumen
disponible que los productores poseen, ya que en la producción de los productos orgánicos
tienen un estación definida.
Consideraciones finales

Entonces el e-commerce, puede ser considerado como un canal de comercialización


directo, donde los transacciones ocurren entre el productor y el consumidor final, de forma
similar a las ferias o grupo de consumo responsable, solo que en ambientes diferentes. Las
relaciones que se generan, contribuyen con el acortamiento de las cadenas productivas y llevan
consigo además de los beneficios económicos, la transmisión de valores, culturas y visión
compartida de las relaciones socio-ambientales.
La experiencia presenta aquí, además de mostrar su potencial como un canal de
comercialización, es un sistema que genera mucha datos automáticamente que puede ser
aprovechar para hacer análisis posteriores, por ejemplo sobre el comportamiento del mercado
o del consumidor en determinados periodos.
Agradecimientos

Agradezco a la Red de Agricultura Ecológica del Perú por permitirme realizar esta
investigación en el proyecto Ecomercado.
Referencias

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ARNALDI, Cibele; PEROSA, José. Comercialização de produtos orgânicos em botucatu. São Paulo, 200_.
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DAROLT, M. R. Vantagens e Desvantagens dos Principias Canais de Comercialização de Produtos
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visitada en 15/08/2017).

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ECOMERCADO - PERU. Nosotros. Articulo disponíble en:<http://www.ecomercadoperu.com>, (pagina visitada
en 15/08/2017).
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

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PENTEADO, S.R. Introdução à Agricultura Orgânica – Normas e Técnicas de Cultivo. Campinas, São Paulo,
2000.
SOUZA, A; ALCÂNTARA, R. Produtos Orgânicos: um exploratório sobre as possibilidades do Brasil no
mercado internacional, 2003. Articulo disponible en: <http://www.planetaorganico.com.br/trabAnaPaula.htm.>
(pagina visitada en 15/08/2017).
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e método. Porto Alegre: Bookman, 2005.


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

A utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação por


agricultores da Feira Agroecológica de Mossoró – RN.
Jhose Iale Camelo da Cunha1, Ariane Fernandes da Conceição2, Sergio Schneider³, Alair
Ferreira de Freitas4

1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, jhose.iale@ufersa.edu.br
2
Universidade Federal de Viçosa
³Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4
Universidade Federal de Viçosa

Resumo. A inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vem se tornando uma constante no
cotidiano de grande parte da população. Segundo Relatório de Desenvolvimento Mundial, realizado pelo Banco
Mundial em 2016, mais de 40% da população mundial tem acesso à internet. Tal crescimento também pode ser
observado por meio do Comitê Gestor de Internet (2016). No meio rural, em 2011, 15% dos domicílios
acessavam a internet e, em 2015, esse número cresceu atingindo 34% da população domiciliada no meio rural
(CGI.br, 2016). Frente a isso, o presente trabalho busca compreender a utilização das TIC por agricultores de
uma feira de produtos orgânicos localizada no município de Mossoró – RN. Para realização da pesquisa, foram
realizadas entrevistas junto a 11 produtores que participam da feira, em agosto de 2017. Observou-se que com
relação a utilização e o acesso as TIC, 54,5% possuem computador na propriedade e 81,8% tem acesso a
internet. 60% dos entrevistados acessam a internet sem precisar de auxílio. O celular é o meio pelo qual mais se
acessa a internet, sendo utilizado tanto para a realização de pesquisas bem como o contato com familiares e
amigos. Entretanto, a internet ainda é pouco utilizada em relações comerciais como contato com clientes, bem
como organização da produção. Desta forma, observa-se a necessidade de uma maior capacitação e incentivo
com relação ao leque de possibilidades que a internet proporciona, pois ela ainda é pouco utilizada para a
realização de atividades como a articulação com parceiros e qualificação profissional e pessoal.

Palavras-chave: TIC, Internet, Feira Orgânica.

The use of Information and Communication Technologies by farmers of the


Fair of Organic Producers of the city of Mossoró - RN.
Abstract.
The insertion of Information and Communication Technologies (ICT) has become a non-daily constant of a
large part of the population. According to the World Development Report, produced by the World Bank in 2016,
more than 40% of the world's population has access to the internet. Such growth can also be observed through
the Internet Steering Committee (2016). In rural areas, in 2011, 15% of the households accessed by Internet and
in 2015, this number grew 34% of the population living without rural areas (CGI.br, 2016). In front of this, this
work seeks the use of ICT by farmers of a fair of organic products located in the municipality of Mossoró-RN. To
carry out the research, interviews were conducted with 11 producers participating in the fair in August 2017. It
was observed that the relation and access as ICT, 54.5% have a computer on the property and 81.8% access an
internet. 60% of respondents access the internet without needing help. The cell phone is the means by which one
accesses an Internet, being used for both a research accomplishment as well as the contact with family and
friends. Contact customers as well as production organization. In this way, it is observed the need for a greater
capacity and incentive with respect to the range of possibilities that is an application, as it is still a difficulty for
an accomplishment of activities such as an articulation with partners and professional and personal
qualification.

Keywords: ICT. Internet. Organic Fair.

Introdução

A apropriação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos


agricultores vem se tornando realidade e contribuindo para diversas mudanças nos modos de
vida rural, como novas formas de trabalhar e produzir, através de maquinários, nova sementes

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e possibilidades, como também novas formas de acesso a mercados, principalmente através da


aproximação entre produtor e consumidor com o advento de novas formas de se conectar e
interagir com o mundo. Segundo Sonaglio (2011, p. 33) “a inclusão destas novas TIC faz com
que o agricultor familiar fique mais atento às mudanças mundiais, antes de difícil acesso. Ou
seja, sempre que o poder da computação cresce, o tamanho e o preço dos equipamentos
diminuem e a capacidade aumenta”.
As TIC tem se mostrado presente no meio rural e, conforme ressaltam Assad e
Pancetti (2009), elas estão inseridas de forma incisiva, inclusive enquanto fator no aumento
da competitividade no campo, bem como na abertura de possibilidades de acesso a novos
mercados. Cabe ressaltar que a oportunidade de expansão dos negócios agrícolas nesse novo
contexto exige práticas gerenciais eficientes do agricultor, seja ele pequeno ou grande, bem
como dos demais integrantes da cadeia produtiva. Sendo assim, as TIC tende a contribuir, de
certa maneira, na profissionalização do estabelecimento rural como viabilizadora dos
negócios, influenciando as operações das organizações e os resultados econômico-financeiros
(MENDES; BUAINAIN; FASIABEN, 2013).
Um dos maiores desafios da utilização das TIC no meio rural do Brasil está em gerar
novos processos que consigam conectar conhecimento e realidade no meio rural. Segundo
Miranda (2012, p. 33),

a informação é um fator fundamental para fins de desenvolvimento. Portanto, no


universo rural, os celulares podem tornar-se uma grande ferramenta, na medida em
que ampliam a velocidade e a facilidade na introdução de novos conhecimentos,
particularmente daqueles oriundos das instituições (públicas e privadas), destinados
a potencializar o desenvolvimento rural sustentável.

Quanto ao acesso à internet, segundo dados do Comitê Gestor de Internet (2016), há


aproximadamente 34,1 milhões de domicílios com acesso à internet no Brasil. De acordo com
o Comitê, em 2008 observava-se que dos domicílios que apresentavam acesso à internet, 38%
estavam na área urbana quanto 15% encontravam-se no meio rural. No ano de 2015, esse
número apresentou um avanço, apontando que 63% dos domicílios encontram-se no meio
urbano e 34% apresentam-se no meio rural (CGI, 2016).
No que tange a proporção de usuários de internet por dispositivo, segundo ainda o
Comitê Gestor da Internet (2016), observa-se que 56% dos acessos à internet no meio rural
acontece por meio do telefone celular enquanto 29% acessam apenas pelo computador e 15%
acessam pelo computador e pelo celular. Sendo assim, é possível observar que no contexto
rural, o aparelho celular vem sendo bastante utilizado para acesso à rede, principalmente pelo
fato de alguns companhias de telefone móvel melhorarem seu fornecimento de sinal e este ser
de mais fácil e barato acesso.
Comparando os dados de acesso à computador e à internet de acordo com as regiões,
é possível observar algumas peculiaridades. Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006,
na região Sul do país observou-se um índice de 9,59% dos estabelecimentos agropecuários
com a presença de computador, enquanto na região Nordeste 1,16% estabelecimentos
agropecuários o possuíam. Já com relação ao acesso à internet a região Sudeste é a que se
destaca apresentando 3,95% dos estabelecimentos agropecuários, enquanto na região
Nordeste, apenas 0,49% dos estabelecimentos estão conectados à rede. Como o Censo
Agropecuário ocorreu apenas em 2006, esses números atualmente são maiores pois a
popularização do computador e do celular, principalmente com os incentivos governamentais
a partir da redução do IPI, tenha possibilitado a aquisição destes por parte de um maior leque
de pessoas, sejam rurais ou urbanas.
Conforme estudo de Ribeiro et al (2013) sobre as desigualdades digitais nas
metrópoles brasileiras, fica evidente que o acesso à internet para grupos menos favorecidos

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329

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ainda é, em grande medida, inviabilizado por não existir computadores em seus domicílios.
Sorj e Guedes (2005) apontam que universalizar o conhecimento básico sobre o uso de
computadores e acesso à internet é fundamental para limitar o impacto negativo que eles
podem trazer para os setores mais pobres.
Frente a isso, o presente artigo busca compreender a utilização das TIC por parte dos
agricultores de uma feira de produtores orgânicos localizada na cidades de Mossoró – RN.
Pretende-se, assim, responder ao questionamento sobre como as TIC influenciam nos modos
de vida dos agricultores, analisando como e por onde se dá o acesso a internet bem como
quais as mudanças (sociais, econômicas e cognitivas) provenientes da inserção das TIC no
contexto desses produtores.
A utilização das TIC modifica o cotidiano dos agricultores familiares a partir do
momento que a internet proporciona uma ampliação no que diz respeito ao acesso à
comunicação e à obtenção de informações, permitindo um aumento do acesso das populações
a diversos conteúdos, tais como informação sobre novos produtos, novas culturas e técnicas
de produção, proporcionando aos agricultores melhorias nas suas práticas e um aumento na
eficiência da produção. Sendo assim, é necessário se compreender a utilização das TIC por
parte dos agricultores principalmente para entender como esses vem percebendo essa
novidade, bem como utilizando-as em seu dia-a-dia.

2 Metodologia

A presente pesquisa foi realizada na cidade Mossoró-RN, situada na Região Oeste do


Estado, junto a produtores da Feira Agroecológica de Mossoró – FAM. Para a realização do
presente estudo, foram utilizadas algumas técnicas de coleta de dados. Foram realizadas
entrevistas com 11 produtores presente a Feira Agroecológica de Mossoró-RN, através da
construção de um questionário semiestruturado.
Os questionários contemplaram os acessos à internet, grau de conhecimento, formas
de utilização e alcance, diversos contatos realizados através da internet, utilização para
aumentar o grau de informação pessoal e questões econômicas. A técnica utilizada para a
coleta desses dados foi a transposição desse questionário para um formulário online,
desenvolvido através da ferramenta Google Formulário, e as entrevistas ocorreram em agosto
de 2017. A seleção dos informantes ocorreu de acordo com a disponibilidade dos mesmos,
uma vez que a sua aplicação ocorreu no momento de realização da feira. As perguntas
seguiram uma linha de raciocínio a qual buscou-se conhecer o perfil do agricultores,
compreender como conheceram a Rede e analisar como se dá a utilização da internet por parte
desses agricultores.

3 Resultados e Discussões

A FAM, Feira Agroecológica de Mossoró-RN, foi criada em 2007 e atualmente conta


com 23 agricultores de diversas localidades como Assentamento Mulunguzinho, Comunidade
Serra Mossoró, Assentamento Favela, Assentamento Jurema, Assentamento Paulo Freire,
Assentamento Santa Elza, Assentamento Maísa, Assentamento Apodi, Assentamento Recanto
da Esperança, Assentamento Carmo e Assentamento Boa Fé.
A feira surgiu a partir da percepção da necessidade por parte dos agricultores de base
agroecológica de um espaço físico para que pudessem expor e comercializar seus produtos.
Sendo assim, ela é realiza todos os sábados, a qual os produtores começam a preparar a
estrutura e expor seus produtos ainda na madrugada. Dentre os produtos ofertados observa-se
produtos in natura, principalmente frutas e verduras.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Quanto ao percentual de agricultores da FAM, observou-se que dentre os


entrevistados, 72,7 % eram mulheres e 27,3% homens, conforme Figura 1.
Figura 1 – Percentual de agricultores da FAM por gênero

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

O papel da mulher se torna cada vez mais importante no meio rural, bem como em
espaços que antes tinha o predomínio masculino. Estudos como os realizados por Conceição
(2016) e Schwartz (2012) demostram que a apropriação das TIC por parte das mulheres
apresenta-se cada vez maior, principalmente por essas estarem mais abertas à novidades e
acesso a novos conhecimentos. Durante a coleta de dados algumas das informantes
destacaram que seus esposos não sabiam utilizar o aparelho celular, porém, gostavam de pedir
para que elas o ajudassem com pesquisas diversas na internet, bem como para fazer uso do
celular em chamadas de vídeo, ou mesmo entrar em contato com os demais amigos da região.
No que diz respeito a faixa etária, 54,5% dos entrevistados possui de 31 a 40 anos,
9,1% possui entre 41 a 50 anos e 36,4% possui de 51 a 60 anos de idade, conforme se observa
na Figura 2.
Figura 2 – Faixa etária dos agricultores da FAM

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

É importante destacar que entre os entrevistados não há produtores com idade inferior
aos trinta anos, nem superior a 60 anos. Isso pode demostrar o pouco envolvimento dos
jovens nesse contexto, bem como a não presença de idosos. O esvaziamento do meio rural e a
falta de interesse dos jovens e permanecer para dar continuidade às atividades configuram
problemas sociais pelos quais o meio rural vem passando. Entretanto a possibilidade de
acesso à internet e a todo o conteúdo que ela fornece pode ser um fator que venha a contribuir
para que o jovem não só volte ao meio rural como também fixe nele como local de moradia e
trabalho.
No que se refere a escolaridade, observou-se que 45,5% relataram possuir ensino
fundamental incompleto, 18,2%, o ensino médio incompleto e 36,4% o ensino médio
completo. Não houve menção com relação ao ensino superior, conforme pode ser observado
na Figura 3.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Figura 3 – Escolaridade dos agricultores da FAM

Fonte: Elaborado pelos Autores (2017).

Esse baixo nível de escolaridade apresenta-se como uma barreira que dificulta o
acesso as TIC, uma vez que tendem a intimidar o usuário ao acesso, pois, conforme Miranda
(2002), o acesso a informação é fundamental e quanto menor o nível de escolaridade maior a
dificuldade de utilização.
Ao perguntar sobre a existência de computador, tablet ou notebook nas propriedades
dos entrevistados, 54,5% dos entrevistados destacaram ter computador em suas propriedades,
enquanto 45,5% que não possuem essas tecnologias. Apesar do número de propriedades com
tais equipamentos ser mais de 50%, é pertinente destacar que o computador é utilizado para
pesquisa, no objetivo de sanar alguma dúvida, procurar alguma receita, ou passo a passo para
alguns artesanatos, como foi relatado durante a aplicação do formulário. Cabe ressaltar que
utiliza-se o computador apenas para buscar modelos de artesanato e encontrar determinadas
receitas, bem como entrar em contato com familiares e parentes por meio de redes sociais
dentre outros aplicativos. Quando questionado sobre a utilização do computador para facilitar
o gerenciamento da propriedade por meio de planilhas no Excel, por exemplo, foi apontado
que o mesmo não era utilizado para esse fim.
No que diz respeito ao acesso a internet na propriedade, 81,8% destacaram ter acesso e
9,1% a ausência de internet e a mesma quantidade aponta ter acesso as vezes, conforme
Figura 4.

Figura 4 – Quanto ao acesso a internet na propriedade

Fonte: Elaborado pelos Autores (2017).

É pertinente destacar que o número de acesso a internet é considerável, uma vez que
quase todos os entrevistados estão conectados a rede. Cabe expor que, segundo um dos
entrevistados que tem acesso as vezes, isso ocorre pelo fato de ele ter acesso pelo celular e
nem sempre há uma cobertura constante na região. Dos entrevistados que destacaram não ter
acesso, foi mencionado que sempre que ele precisa sanar alguma dúvida ou fazer pesquisa,
recorre a filha que mora ao lado, pois na residência dela há computador conectado a internet.
Ainda com relação ao acesso a internet foi questionado, quanto ao local por onde
ocorre esse acesso, se o mesmo ocorre apenas pelo celular, apenas pelo computador ou pelo
dois, e foi relatado que 45,5% tem acesso apenas pelo celular, e a mesma quantidade
demostrou ter acesso tanto pelo celular como pelo computador, não aparecendo a opção

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

“apenas pelo computador”. Além disso, 9,1% afirmaram não ter acesso a internet, conforme
Figura 5.

Figura 5 – Quanto ao local por onde ocorre o acesso a internet

Fonte: Elaborado pelos Autores (2017).

Tal resultado demostra o crescente aumento do acesso a internet pelo celular no meio
rural, indo ao encontro dos dados apresentador pelo Comitê Gestor de Internet (2016) que
apontam para um aumento do acesso a internet no meio rural principalmente por meio de
celular. A pesquisa realizada a nível nacional demostra que 15% da população rural tem
acesso a internet apenas pelo computador, 56% apenas pelo celular e 29% acessa a internet
tanto pelo computador como pelo aparelho celular. (CGI, 2016)
Quanto a frequência da utilização observou-se que não é tão elevada. Segundo os
entrevistados, 36,4% apontaram que usam sempre, várias vezes ao dia, a mesma quantidade
de entrevistados destacaram usa as vezes, em alguma precisão, 18,2 % afirmou usar poucas
vezes na semana e 9,1% nunca usa. Esses dados podem ter uma relação direta com a faixa
etária dos entrevistados, uma vez que os mesmo não são nativos digitais1, pois tal geração não
se conforma em ser apenas expectadora dos acontecimentos, ela sente a necessidade de criar,
personalizar, criar opinião, analisar dentre outros aspectos.

Os nativos digitais estão acostumados a buscar pelas informações que lhes


interessam e a interagir com quem disponibilizou tais informações, a conferir mais
de uma fonte, a investigar mais profundamente sobre um assunto que os interessem.
Além disso, também constroem informações e as transmitem (PARNAIBA; GOBBI,
2010, p.7).

Os entrevistados procuram acessar quando necessário, não tendo a necessidade de


ficar conectado “o tempo todo" como é comum entre os jovens.
Quanto a utilização fora perguntado quais das atividades listadas eram realizadas por
meio da internet e 9 dos 11 entrevistados destacaram que utilizam a internet para fazer
pesquisas, sanar dúvidas; 10 nos 11, usam para falar com os familiares e amigos; 1 dos 11
utiliza para organização da produção, nenhum destacou o uso para qualificação pessoal e
profissional, 7 dos 11 destacaram que utiliza para relações comerciais como o contato com os
clientes. Nenhum dos produtores utiliza a internet como forma de articulação política e 6 dos
11 utiliza para acessar as redes sociais, conforme Figura 6.

1É composta por jovens nascidos em meio às tecnologias digitais, por volta de meados dos anos 80 até o ano de
1996. Também é conhecida como a Geração Net, sendo sucedida pela geração Z que é formado por jovens
nascidos entre o fim de 1990 e começo dos anos 2000.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Figura 6 - Quanto a finalidade da utilização da internet

Fonte: Elaborado pelos Autores (2017).

Desta forma pode-se observar que a internet vem se tornando um importante


dispositivo de construção social, uma vez que, segundo os entrevistados, ela vem sendo
muito utilizada para manter o contato tanto entre os familiares e amigos como também com os
clientes. Conceição (2016) em um estudo sobre a temática destaca que a internet no meio
rural possibilita a ampliação de capacidades cognitivas, expandindo as possibilidades de
acesso à educação; econômicas, a partir de um maior controle da gestão e acesso a novos
mercados; e sociais, uma vez que permite uma comunicação instantânea com os que estão
fora propriedade. Ainda segundo as entrevistas com os produtores da Feira Agroecológica de
Mossoró-RN, pode-se observar que há pouca utilização por parte desses produtores no sentido
de busca por qualificação profissional. Ou seja, os entrevistados não utilizam da internet para
a realização de cursos que possibilitem uma qualificação profissional e pessoal e ainda é
pouco a utilização para fins de gerenciamento da propriedade. Porém, já se observa nesse
meio, um significativo uso para fins comerciais, a saber o contato com clientes e com os
próprios integrantes da FAM. Entretando, apesar de ainda ser pouco observada, foi destacado
por parte dos entrevistados a utilização de TIC na contribuição da organização dos pedidos,
contato com os clientes para entrega de produtores, divulgação do trabalho e da produção,
dentre outras questões de ordem econômica e social.
Quando questionados sobre a utilização da internet para fins de articulação polícia,
todos responderam que não, tais produtores demostraram uma certa repulsa sobre assunto,
alguns chegaram a destacar: “nem de política eu gosto”. Tais atitudes apontam para a falta de
organização e envolvimento com a política por parte dos agricultores que compõe a FAM.
Porém, a internet é utilizada para outros fins, como a articulação entre os produtores da rede o
que é vista por eles como algo positivo, uma vez que permite ter acesso mais rápido a
determinadas informações e conhecimentos.
Dentre as mudanças que ocorreram no meio rural com a chegada da internet, a partir
da visão dos entrevistados, foi que ela possibilitou, em certa medida, aproximar pessoas e
encurtar distâncias. Segundo entrevista de um dos informantes, foi afirmado que as TIC
“facilitou muito, hoje não preciso viajar 18 quilômetros pra resolver uma coisa aqui na
cidade, é possível fazer isso em um minuto usando o celular”.
Ao analisar como ocorre a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação,
principalmente o celular e a internet, observou que essas podem se constituir como uma forma
de potencializar as atividades no meio rural através da realização de novas atividades, novas
formas de contato e possibilidades de alavancagem econômica por parte dos agricultores.

4 Considerações Finais

Assim sendo, observa-se que a proliferação das TIC, a citar o celular e a internet, tem
sido importante no sentido em que possibilita economia de tempo, dinheiro, dentre outros

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


334

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

aspectos, uma vez que, segundo alguns informantes, ajuda a resolver problemas como
dificuldade de deslocamento, traz rapidez na comunicação, permite acesso a conhecimentos
em diferentes partes do mundo, entre diversas outras atividades que podem ser realizadas.
Através da pesquisa, observou-se que com relação a utilização e o acesso as TIC,
54,5% possuem computador na propriedade, desses que possuem computador, 81,8% tem
acesso a internet. Ainda, segundo dados coletados, 60% dos entrevistados acessam a internet
sem precisar de auxílio. O celular é o meio pelo qual mais se acessa a internet, sendo utilizado
tanto para a realização de pesquisas bem como no contato com familiares e amigos.
Entretanto, a internet ainda é pouco utilizada em relações comerciais como contato
com clientes, bem como organização da produção. Desta forma, observa-se a necessidade de
uma maior capacitação e incentivo com relação ao leque de possibilidades que a internet
proporciona, pois ela ainda é pouco utilizada para a realização de atividades como a
articulação com parceiros e qualificação profissional e pessoal.
Observou-se que as TIC apresentam-se como uma nova possibilidade para a
construção de novos mercados para a agricultura familiar, uma vez que ela permite tanto aos
agricultores familiares ampliar os contatos bem como aumentar os canais de comercialização
dos produtos. Entretanto, a falta de infraestrutura ainda constitui-se como uma barreira à essa
utilização, principalmente pela não disponibilidade de sinal ou, quando tem, má qualidade do
sinal de celular. Assim, ainda que de forma pouco presente, as TIC tendem a contribuir para o
desenvolvimento rural e uma melhoria na qualidade de vida dos agricultores familiares.

Referências

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Zahar, 2003.
COMITÊ GESTOR DE INTERNET. Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no
Brasil, 2016. Disponível em: <http://www.cetic.br>. Acesso em: 02 abr. 2017.
CONCEIÇÃO, A. F. Internet pra quê?: a construção de capacidades e as TIC no processo de desenvolvimento
rural. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Ciências Econômicas. Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Rural. Tese de Doutorado. Porto Alegre, 2016. 206 f.
MENDES, C. I. C. ; BUAINAIN, A. M. ; FASIABEN, M. C. R. . Acesso ao computador e à internet na
agricultura brasileira: uma análise a partir do Censo Agropecuário. In: 51o Congresso da SOBER - Sociedade
Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2013, Belém. Anais, 2013
MIRANDA, J. C. de, O processo de comunicação rural e sustentabilidade: uma caracterização em Palmas
– TO (Brasil) e Rio Cuarto – COR (Argentina). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Programa de
Pós-Graduação em Ciência, Inovação e Tecnologia Agropecuária. Tese de Doutorado. Seropédica, RJ, 2012.
RIBEIRO et al. Desigualdades digitais: Acesso e uso da internet, posição socioeconómica e segmentação
espacial nas metrópoles brasileiras. Análise Social, v. 207, XLVIII, p. 288-320, 2013.
SCHWARTZ, C. Relações de gênero e apropriação de tecnologias de informação e comunicação na
agricultura familiar de Santa Maria – RS. Santa Maria, 2012. Tese de doutorado - Programa de Pós-
Graduação em Extensão Rural – Universidade Federal de Santa Maria, 2012.
SONAGLIO, A.E. Tecnologia e agricultura familiar: como um computador com acesso à internet pode
transformar o cotidiano rural. Brasília, 2011. Monografia de Graduação – Curso de Jornalismo – Faculdade
de Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
SORJ, B; GUEDES, L. E. Exclusão digital: problemas conceituais, evidências empíricas e políticas públicas.
Novos Estudos - CEBRAP , n.72, jul. 2005.
PARNAIBA, Cristiane dos Santos; GOBBI, Maria Cristina. Os Jovens e as Tecnologias da Informação e da
Comunicação: Aprendizado na Prática. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. v.
3, n. 4, jul/ago 2010.

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335

O PROCESSO DECISÓRIO NA TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA DOS


AGRICULTORES DE UMA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA

Joice Zagna Valent 1

1
Doutoranda em Agronegócio na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS,
jzvalent@gmail.com

Resumo. O processo decisório refere-se à análise e escolha de alternativas, levando em conta os aspectos políticos
e comportamentais da decisão. O presente trabalho descreve o processo decisório de uma Cooperativa
Agropecuária na mudança do sistema produtivo: da agricultura convencional para a produção agroecológica de
alimentos. Neste sentido, o estudo foi realizado com 39 agricultores membros da referida Cooperativa localizada
no Rio Grande do Sul. Os objetivos da pesquisa foram: descrever o processo decisório empreendido durante a
transição agroecológica e verificar se este processo fundamenta-se em teorias do planejamento. A metodologia
empregada foi pesquisa exploratória e descritiva com coleta de dados primários por meio de um formulário de
entrevista semiestruturado. Os principais motivos da mudança foram para preservar a saúde e obter segurança
alimentar e benefícios econômicos. Considera-se que cada agricultor tem um conceito diferente de planejamento,
porém isso não significa que a transição agroecológica não seja promissora.
Palavras-chave: Tomada de decisão; Agroecologia; Agricultura; Cooperativismo.

DECISION MAKING IN AGROECOLOGICAL TRANSITION OF


FARMERS OF A AGRICULTURAL COOPERATIVE

Abstract. The decision making process refers to the analysis and choice of alternatives, taking into account the
principles politics and behavior of the decision. This paper describes the decision making process of an
Agricultural Cooperative to change the productive system: from conventional agriculture to agroecological food
production. In this sense, the study was carried out with 39 farmers members of the Cooperative located in Rio
Grande do Sul. The objectives of the research were: to describe the decision making process during an
agroecological transition and to verify this process based on planning theories. A methodology used for
exploratory and descriptive research with primary data collection through a semistructured interview form. The
main reasons for the shift were to preserve health and obtain food security and economic benefits. Each farmer is
considered to have a different concept of planning, but this does not mean that the agroecological transition is not
promising.
Keywords: Decision making; Agroecology; Agriculture; Cooperativism.

Introdução

A dinâmica do setor agroindustrial está se transformando gradativamente, por isso a


demanda por alimentos agroecológicos requer mudanças em sistemas produtivos e focadas em
práticas sustentáveis. A ênfase destas novas tendências agrega os conceitos de preservação
ambiental, saúde e qualidade de vida, alinhados ao aumento de renda. Desta forma, geram
impactos na vida dos agricultores, criando novas necessidades para as práticas de produção de
alimentos.
Neste contexto, a opção pela linha cooperativista se impõe, porque o trabalho realizado
sob esta concepção possibilita agregar mais pessoas em torno de um propósito comum (PINHO,
1967). Assim, as pessoas motivadas para a cooperação tornam-se mais flexíveis e menos
resistentes às mudanças, contribuindo de modo efetivo para o desenvolvimento do trabalho
conjunto. As cooperativas têm o desafio de fazer escolhas para satisfazer as exigências dos
consumidores. Esse movimento é o resultado da busca de uma rápida adequação à crescente
336

diversificação da demanda, o que exige um processo de inovação contínua para customizar


equipamentos, embalagens, insumos e sistema produtivo (CHRISTENSEN; RAMA; VON
TUNZELMANN, 1996; GALIZZI; VENTURINI, 1996).
Esta forma de organização cooperativa possibilita, sobretudo, a participação ativa dos
cooperados no processo decisório. Em vista disto, a demanda existente por alimentos mais
saudáveis pode receber respostas rápidas e seguras. Agindo deste modo, as decisões adequadas
ao meio podem representar uma estratégia de produção agropecuária (BIALOSKORSKI
NETO, 2000).
Em função do exposto acima, uma Cooperativa Agropecuária localizada na região dos
Vales, estado do Rio Grande do Sul, optou pela transição agroecológica. Esta organização,
fundada em nove de dezembro de 2010, reunia, na época, um grupo de 29 agricultores
familiares. A produção de alimentos ecológicos estava entre os objetivos específicos descritos
no Estatuto e, no ano de 2012, deu-se início à transição agroecológica. Neste cenário, a opção
mais adequada aos interesses dos cooperados e consumidores foi mudança do sistema
convencional de produção de alimentos para a transição agroecológica. Assim, o objetivo deste
estudo foi descrever o processo decisório empreendido durante a transição agroecológica.

Processo Decisório

O processo decisório tem sido objeto de estudo de vários autores, resultando em


abordagens diferenciadas, que vão desde as teorias clássicas da administração até áreas
específicas da psicologia. Por isso, contempla aspectos políticos da decisão, aspectos
comportamentais dos envolvidos no processo e, até mesmo, fatores como a intuição
(OLIVEIRA, 2007).
A escolha da melhor opção possível é a tomada de decisão. Para Dalcin e Machado
(2015) esta decisão é difícil por causa do aumento da complexidade gerencial, ritmo das
atividades e processos de mudanças. Callado e Moraes Filho (2011) relatam que, em âmbito
empresarial, essa escolha se dá entre alternativas que, em determinado momento,
compatibilizam com os interesses de uma organização. Tanto a identificação como a análise
destas alternativas de decisão desempenham importante papel no processo decisório. Porque
servem de referência coletora de dados relevantes sobre custos, despesas, mercado e
tecnologias. Em função disto, é necessário ampliar o conhecimento sobre o processo decisório.
Desta forma, evidencia-se a necessidade e a importância que a tomada de decisão possui na
adaptação das organizações a seus ambientes.
Assim, as decisões são classificadas em programadas e não programadas. Com base na
opção, surgem os processos de tomada de decisão. Os processos programados regulam a
operação diária dos sistemas de produção e distribuição. As decisões não programadas são
necessárias para estruturar e reestruturar todo o sistema, fixar metas, objetivos e controlar a
execução (SIMON, 1972).
Para Megginson, Mosley e Pietri (1986), a decisão programada poderá ser, além de
rotineira, repetitiva. Ela permite que se estabeleça uma estrutura de decisão conhecida, para ser
seguida. Enquanto as decisões não programadas ocorrem com menos frequência e, por causa
das variáveis diferentes apresentadas por elas, solicitam respostas adequadas a cada evento.
Para os dois tipos de decisão, tem-se a contribuição de Simon (1972). Para ele o processo
decisório – planejamento – possui três etapas.
A etapa da inteligência: analisa o ambiente, procurando identificar demandas e
necessidades, ou seja, as situações que exigem decisão – é o início da coleta de informações.
Nesta fase identifica-se, define-se e categoriza-se o problema. A etapa da concepção cria,
simula, desenvolve e analisa possíveis cursos de ação, evoluindo para a estruturação que
337

designa critérios para a escolha. Por último, a etapa da escolha: seleciona uma determinada
linha de ação entre as disponíveis – é a escolha propriamente dita. Cada etapa do processo
decisório constitui um sistema complexo. Formam-se, assim, vários subsistemas operando
simultânea e integradamente, para constituir um processo onde existe feedback. Este é um
mecanismo para ajustar e/ou corrigir eventuais erros do sistema, retroalimentando-o.

Processo de Tomada de Decisão dos Agricultores

Para tomar uma decisão os agricultores precisam conhecer o ambiente onde estão
inseridos, as relações existentes entre as atividades que acontecem dentro das propriedades
rurais com aquelas que ocorrem quando os produtos são destinados ao consumo e preservar os
recursos naturais da propriedade. Conforme Flores, Ries e Antunes (2006) além do lucro, o
empresário rural deve visar também que a sua propriedade cumpra o papel social e ecológico
da terra.
Para Araújo (2005), em uma propriedade rural, as funções administrativas devem ser
consideradas e analisadas como um sistema. Contudo, o setor agrícola apresenta algumas
características peculiares, devido à sua natureza imprevisível, que dificultam a tomada de
decisão. A melhor maneira de descrever o comportamento na tomada de decisão, de acordo
com March e Shapira (1987) e Priem, Love e Shaffer (2002) é entender a realidade do decisor.
Ou seja, o meio em que a pessoa vive constitui a base para ela e suas escolhas.
Para Ondersteijn, Giesen e Huirne (2006), a percepção de oportunidades e ameaças é
relevante para a tomada de decisão. Pereira et al (2012) dizem que a tomada de decisão dos
agricultores pode ser influenciada por política, pressões econômicas e incentivos. Já Lima et al
(2005) afirmam que a decisão do agricultor é baseada na opinião da família e fatores
bioclimáticos, ligados à produção e ao meio socioeconômico. Neste sentido, as decisões
dependem dos objetivos do agente e das possibilidades de realização.
É notável que as propriedades rurais estão inseridas em um ambiente de diversidade, onde
os inter-relacionamentos e interdependências são cada vez mais complexos. Logo, impõe-se
aos atores da cadeia produtiva a mesma necessidade de um olhar sistêmico, ou seja, conhecer
bem o ambiente e as variáveis necessárias para a minimização de riscos inerentes ao negócio
(DUTRA, 2008). O produtor rural precisa conhecer a dinâmica de toda a cadeia para tomar suas
decisões. Neste meio, mantêm-se relações de troca, solidariedade e conflito, assim
desenvolvem-se estratégias (LIMA et al, 2005).
Neste contexto, é importante conhecer quais são os objetivos do empreendimento rural
para estabelecer estratégias (GASSON, 1973). É necessário planejar antes de agir. Araújo
(2005) diz, ainda, que atuando desta forma, tanto os problemas corriqueiros, como os de grandes
repercussões serão resolvidos.
Para Nelson (1997), os produtores agrícolas usam várias abordagens na tomada de
decisão. Esta nem sempre segue a lógica da racionalidade econômica, que busca a maximização
dos fatores de produção. Outros elementos influenciam o processo de tomada de decisão destes
agricultores. Aspectos sociais, ambientais, éticos, culturais e ideológicos estão acima do
econômico para muitos deles, podendo influenciar, sobremodo, sua escolhas (GOMES;
REICHERT, 2011).
Neste cenário, somente a maximização do lucro não é suficiente para explicar como
nem porque um agricultor decide. Contudo, os produtores agrícolas precisam entender a
dinâmica de funcionamento do sistema onde estão inseridos.

Transição Agroecológica
338

A transição agroecológica é a passagem de uma agricultura baseada no uso de


agroquímicos e energia externa para uma agricultura focada em agroecossistemas sustentáveis
(ALTIERI, 2012). É um processo social que passa de um modo de produção para outro distinto.
Não é apenas um processo natural e físico, com monitoramento ao longo do tempo e do espaço.
Inclui processos sociais com externalidades e complexas redes de relações e interações de atores
sociais com o meio ambiente (COSTABEBER, 1998).
A construção do conhecimento agroecológico refere-se a níveis de conversão dos
agroecossistemas e respectivas fases (GLIESSMAN, 2009). Para apoiar o movimento de
transição para uma agricultura sustentável é necessário uma base científica. Esta base é a
Agroecologia, definida como: ciência ou a disciplina científica que apresenta uma série de
princípios, conceitos e metodologias para estudar agroecossistemas, com o propósito de
permitir a implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de
sustentabilidade, com dependência mínima de agroquímicos e energia externa (ALTIERI,
2012).
Do ponto de vista agrícola, a agroecologia se fundamenta em um conjunto de
conhecimentos e técnicas que se desenvolvem a partir de agricultores e de seus processos de
experimentação. Por isso enfatiza a importância de comunidades locais inovarem nos processos
produtivos, por meio de experimentos transmitidos de agricultor para agricultor (ALTIERI,
2012). Então, parte do sucesso da transição depende da capacidade do agricultor. Este novo
contexto exige mudanças nas práticas de campo e na gestão da propriedade. Novos princípios
são integrados à rotina da propriedade rural, criando uma sinergia de interações e relações que
determinam o sucesso da conversão (GLIESSMAN, 2009).
Em função destes processos integrados: conhecimento tácito – experiências e
habilidades de cada um, da sinergia entre as pessoas e do desenvolvimento de sistemas
produtivos mais sustentáveis é que muitos agricultores familiares se organizam em
cooperativas. Os objetivos são: facilitar a comercialização, promover o desenvolvimento e
inserção social dos cooperados, inovação no processo produtivo e apoiar o processo de transição
agroecológica e as certificações.

Metodologia

A presente pesquisa foi classificada como exploratória e descritiva. Rodrigues (2007, p.


28) define a pesquisa exploratória como a “destinada a esclarecer do que se trata, a reconhecer
a natureza do fenômeno, a situá-lo no tempo e no espaço, [...]. É uma operação de
reconhecimento, uma sondagem destinada à aproximação em face do desconhecido”. Já, a
pesquisa descritiva, para Cervo e Bervian (1983, p. 55), “observa, registra, analisa e
correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”.
O público-alvo do presente trabalho é constituído pelos 39 agricultores que compõem a
Cooperativa Agropecuária em questão. Assim, o estudo foi censitário, pois foram entrevistados
todos os membros desta Cooperativa, localizada no município de Boqueirão do Leão, região
dos Vales, do Rio Grande do Sul. A maioria dos 39 agricultores é residente do município de
Boqueirão do Leão, alguns residem em municípios vizinhos.
A coleta de dados foi primária. O instrumento utilizado para coleta de dados foi um
formulário de entrevista semiestruturado. O formulário é destinado à coleta de dados resultantes
de interrogações (CERVO; BERVIAN, 1983). O preenchimento foi feito pelo próprio
investigador, por meio de interrogatório para recolher dados para a pesquisa com respostas de
múltipla escolha. As variáveis observadas são referentes aos fatores que influenciaram os
cooperados no processo decisório empreendido durante a transição agroecológica.
339

A análise de tratamento dos dados foi quantitativa, explorando dados de natureza


objetiva. Esta investigação apoia-se predominantemente em dados estatísticos. É o caminho
matemático que examina um objeto (RODRIGUES, 2007).
Após a coleta dos dados, deu-se início a tabulação no programa Microsoft Excel 2007
para fins de análise estatística descritiva. Para uma análise mais profunda, os dados foram
exportados para o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 17.0.

Resultados e Discussões

Os cooperados com formação na área agrícola ou ambiental demonstraram maior


preocupação com a saúde e a natureza. Estas pessoas entendem que o conhecimento científico
sustenta a mudança de um estilo agrícola convencional para o desenvolvimento rural
sustentável (ALTIERI, 2012).
Essa afirmação fica evidente quando perguntados sobre os motivos que levaram os
agricultores a mudar o sistema produtivo. Levando em consideração respostas de múltipla
escolha, a resposta “preservar a saúde” foi a mais citada. A Tabela 1 demonstra este resultado.
Entretanto, é possível perceber que a resposta “benefícios econômicos” também foi lembrada,
assumindo o terceiro lugar. Isso demonstra que, além de preservar a saúde, há preocupação em
aumentar a renda familiar.
Tabela 1 – Motivos para a transição agroecológica, segundo o número de respostas

Frequência Frequência
Motivo
absoluta Relativa (%)
Preservar a saúde 28 71,79
Segurança alimentar 23 58,97
Benefícios econômicos 15 38,46
Preservar a natureza 14 35,9
Qualidade de vida 13 33,33
Outros 8 20,51
Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Oito cooperados responderam que mudaram o sistema produtivo por “outros motivos”
que não estavam entre as opções de respostas. As razões citadas foram: que estavam cansados
de trabalhar com produtos agroquímicos, reforçaram o desejo de não plantar mais tabaco,
afirmaram que a produção agroecológica possibilita a diversificação, já fazia parte de outra
associação agroecológica e pela sustentabilidade ambiental.
Na pergunta referente aos fatores que auxiliaram na decisão de mudança de sistema
produtivo, o motivo citado pela maioria foi a opinião familiar. Doze cooperados disseram que
decidiram pela mudança de sistema produtivo somente após ouvir a opinião de todos os
membros da família. Estes agricultores, no momento de decidir, orientam-se por objetivos
pessoais, por influência de comportamentos e necessidades da família (GASSON, 1973). Lima
et al (2005) afirmam que a decisão é baseada na opinião da família ligada à produção e ao meio
socioeconômico. Sendo assim, a tomada de decisão é pautada na manutenção do grupo familiar
na propriedade (RAMBO; MACHADO, 2009).
A pergunta sobre quais foram as fontes de informações usadas na transição
agroecológica, a EMATER ocupa o primeiro lugar. Também existe a troca de informações entre
os vizinhos, como maneira de compartilhar conhecimento e informações de maneira rápida.
340

Dalcin e Machado dissertam que a busca por informações relevantes faz parte da tomada de
decisão e está presente no dia a dia.
As informações adquiridas por meio de livros, jornais, revistas, rádio e televisão não
expressaram número significativo se comparado às informações obtidas por meio da EMATER
e vizinhos. Deve haver um incentivo maior para obtenção de informações nestes meios
impressos e de comunicação, pois é uma forma de adquirir conhecimento e relacionar a teoria
com as práticas desenvolvidas diariamente nas propriedades rurais, pois com base na
informação disponível, é escolhida apenas uma entre um conjunto de alternativas (CYERT;
MARCH, 1992). Contudo, fontes internas e externas de informação devem ser levadas em
consideração para que haja maior conhecimento acerca da escolha a ser feita (PAIVA;
CARVALHO JR; FENSTERSEIFER, 2004).
A decisão de mudar o sistema produtivo foi de comum acordo entre a diretoria da
Cooperativa e os demais membros. Desde a formalização, esta transição agroecológica era um
dos objetivos da Cooperativa. Diante deste cenário, o planejamento surge como um instrumento
de auxílio à administração. Ele permite nortear as ações dentro de um plano previamente
determinado de metas e estratégias, diminuindo, com isso, a possibilidade de tomada de decisão
equivocada, num mercado competitivo (BARBOSA; BRONDANI, 2005).
Quando perguntados se houve planejamento para mudar o sistema produtivo, dois
membros da COOPERLAF afirmaram que não. Os demais, 37 cooperados, disseram que houve
planejamento para a transição agroecológica e destes, 25 justificaram por que planejaram:
a) Oito cooperados relatam que o maior planejamento foi organizar a produção (procura
de insumos, fertilizantes, herbicidas, inseticidas, analisar as condições do solo...);
b) Sete afirmaram que desde o início da Cooperativa a intenção era mudar;
c) Dois agricultores disseram que discutiram em reuniões para decidir;
d) Dois cooperados planejaram para melhorar a qualidade de vida;
e) Planejou porque procurou técnico especializado para se informar;
f) Para não perder o rumo e ficar sem orientação;
g) Para ter visão de futuro;
h) Passou seis meses pesquisando sobre produção orgânica e viu que pode ser mais
vantajoso que a fumicultura;
i) Para ter organização;
j) Resolveu tentar e mudar.
Perceberam-se diferentes visões para planejamento. Kotler (1980) afirma que o
“planejamento estratégico é uma metodologia gerencial que permite estabelecer a direção a ser
seguida pela organização, visando maior grau de interação com o ambiente”.
Neste sentido, uma cooperativa possibilita a participação ativa dos membros e o
planejamento estratégico é feito por todos (BIALOSKORSKI NETO, 2000).

Considerações Finais

A tomada de decisão no âmbito de uma cooperativa agropecuária envolve pessoas com


percepções e cultura diferentes, porém a escolha da alternativa deve ser satisfatória a todos. O
que determina o bom desempenho organizacional, neste caso, é o comprometimento de todos
os membros com o processo de gerenciamento da mudança.
Neste contexto, considerou-se que a tomada de decisão para mudar o sistema produtivo
foi programada. Porque cada cooperado explicou seu planejamento para regular a operação
diária da propriedade e, também, conforme os objetivos que tinham com a mudança. Porém,
decisões não programadas podem ocorrer durante a transição por causa das diferentes variáveis
envolvidas na produção agropecuária da Cooperativa.
341

Mesmo sem avaliar alternativas, no processo decisório, a escolha pela transição


agroecológica já havia sido feita. Assim, com base nas respostas obtidas na pesquisa deste
trabalho, o fluxo decisório empreendido na mudança do sistema produtivo da Cooperativa foi
o seguinte:

Diferentemente de Simon (1970) que, ao dissertar sobre as fases do processo decisório,


cita a coleta de informações (fase da inteligência) como a primeira etapa a ser seguida, a
Cooperativa iniciou o processo pela escolha da alternativa. Em seguida, a Cooperativa
implantou a escolha e, por fim, coletou informações. A etapa que desenvolve e analisa possíveis
cursos de ação – concepção – não foi cumprida pela Cooperativa. Entretanto, estes fatos não
diminuem o trabalho empreendido e os bons resultados que podem ser alcançados.

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343

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

A importância social da agricultura familiar no território brasileiro


Luiz Paulo Pizolotto dos Santos 11, Flávia de Siqueira Ilgenfritz 22

1
Universidade Federal de Santa Maria campus Palmeira das Missões – RS, luiz.mtg@hotmail.com
2
Universidade Federal de Santa Maria campus Palmeira das Missões – RS, flavia.ilgenfritz@gnail.com

Resumo. Neste artigo, foi discutida a importância social da agricultura familiar no território brasileiro. O
objetivo foi identificar a relevância da agricultura familiar no âmbito social e para isso considerou-se a teoria
social e a sociologia rural como objetos para compreender-se a significância social dos agricultores familiares
para o país. Além disso, foi apresentada a influência das políticas públicas para a agricultura familiar,
especificadamente o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, criado no ano
de 1996 com a intenção de fortalecer a produtividade e facilitar o acesso ao crédito para os agricultores
familiares. Inicialmente o método utilizado foi uma pesquisa bibliográfica para compreensão do assunto e
posteriormente, através do uso de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi possível
realizar as análises de produção da agricultura familiar, caracterizada conforme a Lei 11.326 de 2006 e a
agricultura não familiar, e desta forma identificou-se a importância da agricultura familiar para o país.
Palavras-chave: Análise. Importância social. Agricultura familiar.

The social importance of family farming in Brazilian territory


Abstract. In this article, the social importance of family farming in the Brazilian territory was discussed. The
objective was to identify the relevance of family agriculture in the social sphere and for this we considered social
theory and rural sociology as objects to understand the social significance of farmers familiar to the country. In
addition, the influence of public policies on family agriculture was presented, specifically the National Program
for Strengthening Family Agriculture - PRONAF, created in 1996 with the intention of strengthening
productivity and facilitating access to credit for family farmers. Initially the method used was a bibliographical
research to understand the subject and later, through the use of data from the Brazilian Institute of Geography
and Statistics (IBGE), it was possible to carry out the analyzes of family agriculture production, characterized
according to Law 11.326 of 2006 and non-family agriculture, and in this way the importance of family farming
for the country was identified.
Keywords: Analysis. Social importance. Family farming.

Introdução

As discussões referentes à agricultura familiar estão cada vez mais inseridas no meio
acadêmico. A partir de uma pesquisa bibliográfica, realizou-se um estudo sobre a importância
social da agricultura familiar no território brasileiro através da Teoria Social, interligando-o
com a Sociologia Rural, além da explanação sobre a importância das políticas públicas e dos
incentivos do governo à agricultura familiar.
O objetivo geral do estudo foi compreender a importância social da agricultura
familiar no território brasileiro. Desta maneira, a justificativa para a realização deste estudo é
a busca pela compreensão de que o trabalho exercido por agricultores familiares é
socialmente significativo e colabora para que ocorra o desenvolvimento rural no país.
O presente estudo foi dividido em seis capítulos. O primeiro apresenta a introdução.
Na sequência, discute-se a agricultura familiar na Teoria Social e na Sociologia Rural. O
terceiro capítulo refere-se ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF). No quarto capítulo foi exposta a metodologia, e posteriormente, analisa-se a
agricultura familiar no território brasileiro. Por fim, no sexto capítulo, as considerações finais
do estudo e na sequência as referências.

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

2 Agricultura Familiar na Teoria Social e na Sociologia Rural

As discussões sobre agricultura familiar não estão restritas apenas no meio acadêmico,
mas também no âmbito social, político e econômico do país. De acordo com Schneider
(2003), se for realizado um comparativo do Brasil com outros países desenvolvidos, em
relação aos estudos sobre o tema da agricultura familiar, o assunto surgiu por volta da década
de 1990 no contexto histórico da nação brasileira em um período marcado tanto pelo impacto
social, quanto político de significância no meio rural. Para facilitar a compreensão do impacto
social e político, precisam-se entender os desafios que eram enfrentados pelo sindicalismo
rural na época em que iniciaram as discussões da agricultura familiar.
Problemas como falta de crédito agrícola, reduções dos preços nos produtos agrícolas
que eram exportados, além de impactos da abertura comercial, foram cruciais para que a
agricultura familiar fosse vista como um segmento capaz de oferecer apoio para diferentes
categorias sociais. (SCHNEIDER, 2003). Com o passar do tempo, a agricultura familiar foi
conquistando seu espaço social e político dentro do país, principalmente a partir de 1996
quando foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf.
O Brasil é conhecido mundialmente como um dos principais produtores e
exportadores de alimentos, porém na maioria das vezes são vistas apenas as grandes
indústrias, devido o uso da inovação e de tecnologias que são utilizadas no meio rural, o que
de certa forma acaba diminuindo a significância dos pequenos produtores.
Martins (2001) critica fortemente a modernização que foi imposta no campo em
dimensão mundial nos anos 70, para buscar o desenvolvimento econômico, pois com as
tecnologias acarretou-se um contradesenvolvimento social que resultou em diversas formas de
miséria que antes eram desconhecidas. Em análise geral pode-se entender que as tecnologias
foram direcionadas para aqueles que detinham o capital para adquiri-las e os menos
favorecidos praticamente perderam seu espaço.
No Brasil, em relação à inovação na agricultura, Martins (2001) explica que muito
pesquisadores e cientistas sociais que estudavam a fronteira econômica nas proximidades da
região amazônica, entre as décadas de 1980 e 1990, presenciaram e definiram como uma
afronta à sociologia rural, a inclusão da modernização técnica e econômica do Brasil.
Assim, percebe-se que a discussão de incluir a tecnologia na agricultura nas décadas
de 1980 e 1990 não foi vista inicialmente como um problema, mas pelo contrário, como uma
possível ameaça às riquezas naturais da região amazônica, onde cientistas realizavam seus
estudos. Em razão deste fato, a inovação agrícola passou a ser visualizada de outra forma e
não apenas como instrumento para maximizar a produção por exemplo.
Ao analisar a sociologia rural com o intuito de interligá-la com a agricultura familiar,
Schneider (2003, p. 108) explica que: “Apesar da multiplicidade de enfoques, há consenso
entre os autores ligados a essa área da sociologia de que a agricultura familiar encerra uma
diversidade de situações e possui múltiplas estratégias de reprodução social”.
Uma das formas de reprodução social da agricultura familiar apresentada por
Schneider (2003) está relacionada à pluriatividade que além de tratar-se de uma forma de
reprodução social também pode ser considerada como uma estratégia econômica das famílias
rurais. Ao analisar o termo, entende-se que a pluriatividade pode ser caracterizada como um
fenômeno social e econômico onde as famílias habitantes do meio rural, buscam a realização
de diferentes atividades, mas mantendo a moradia no campo e a ligação com o meio rural.
Para Schneider (2003), a família pode ser compreendida como um grupo social que
divide o mesmo espaço, podendo ter ligação de sangue ou não e, na família tem-se o objetivo
da inserção produtiva e moral de seus integrantes através de estratégias que buscam a garantia
de reprodução social.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Para Matte; Spanevello e Azevedo (2009) há um problema aos agricultores familiares,


pois existem dificuldades de executar esta reprodução social, pelo fato que os filhos acabam
deixando a propriedade por falta de perspectivas e seguem outros rumos, o que resulta na falta
de sucessores para seguir o trabalho na propriedade rural e esse fato preocupa os pais, pois
além da dificuldade da reprodução social, o fato deixa a dúvida de quem dará continuidade ao
estabelecimento da família.
Posteriormente, será analisado neste artigo, o apoio do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar que possui a linha de crédito denominada Pronaf
Jovem, que de certa forma, caracteriza um incentivo à permanência de jovens agricultores e
agricultoras no campo e colabora com a reprodução social propriamente dita.
De modo geral, para Deponti (2007), a agricultura familiar pode estar sustentada em
diversas teorias e ser compreendidas de maneiras distintas em relação ao seu futuro na
sociedade atual, tanto que há os que acreditam que esta categoria social possa desaparecer e
os que analisam que ela pode manter-se e se reproduzir com o passar do tempo, passando de
geração para geração. Com isso, percebe-se claramente que a agricultura familiar é de suma
importância tanto para o âmbito social, político e econômico do país.

3 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) criado em


1996, foi um dos fatos que marcaram o contexto da agricultura no país, pois o surgimento do
programa representou o reconhecimento do Estado ao segmento da agricultura familiar que
até aquele período era caracterizado como pequenos produtores ou então produtores
familiares onde acreditava-se que a produção seria apenas de subsistência (SCHNEIDER;
MATTEI E CAZELLA,2004).
De acordo com Schneider; Mattei e Cazella (2004) antes da criação do Pronaf, a
primeira metade da década de noventa foi marcada pela movimentação de sindicalistas rurais
que integravam a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e o
Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais da Central Única de Trabalhadores
(DNTR/CUT) sendo que os trabalhadores reivindicavam a reestruturação da agricultura
familiar que havia sido afetada em razão da abertura comercial da economia, com a criação do
Mercosul em março de 1991 e tais reivindicações ficaram conhecidas como “Grito da Terra
Brasil”.
Com as diversas reivindicações apresentadas pelos agricultores familiares, no ano de
1994 foi criado pelo governo do presidente Itamar Franco, o Programa de Valorização da
Pequena Produção Rural (PROVAP) que em outras palavras seria propriamente o início da
criação futura do Pronaf (Schneider; Mattei e Cazella, 2004).
Após a mudança de governo, quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a
presidência, o PROVAP passou por reformulações e pelo Decreto Presidencial nº 1.946 de
28/07/1996 foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –
Pronaf que de acordo com Schneider; Mattei e Cazella (2004) somente a partir de 1997
passou a ser operado de maneira integrada em todo o país.
De acordo com a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento
Agrário (2016), através do Pronaf, os agricultores familiares tem a possibilidade de realizar
financiamentos individuais ou coletivos, fazendo uso das menores taxas de juros dos
financiamentos rurais, o que facilita o acesso ao crédito para os agricultores que pretendem
realizar investimentos e, além disso, as taxas de inadimplência são as menores se comparadas
com outros sistemas de crédito disponibilizados no Brasil.
Para Caume (2009), através das políticas públicas e incentivos do Estado brasileiro ao
segmento da produção agrícola, uma nova identidade social foi consagrada, causando a

Porto Alegre - RS, 26 e 27 de outubro de 2017


346

6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

disputa da representação dos agricultores familiares entre a Federação dos Trabalhadores na


Agricultura Familiar – FETRAF e a CONTAG que no caso representa os “trabalhadores
rurais”.
Resumidamente, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar é
um programa que incentiva os agricultores rurais à buscarem o desenvolvimento rural,
promovendo o alcance do fortalecimento da capacidade de produção através da concessão de
financiamentos voltados especialmente aos agricultores.
Conforme Schneider; Mattei e Cazella (2004) o programa possui alguns objetivos
específicos que complementam os seus ideias. Dentre os objetivos pode-se destacar: o ajuste
das políticas públicas para os agricultores familiares conforme a sua realidade, a viabilização
da infraestrutura para melhor desempenho produtivo, elevação do nível profissional tendo
acesso ao uso de tecnologias além do estímulo para acesso dos agricultores familiares aos
mercados de insumos e produtos.
Conforme informações da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do
Desenvolvimento Agrário (2016) são disponibilizadas diversas linhas de crédito pelo Pronaf,
dentre elas: Pronaf Custeio, Pronaf Mais Alimentos – Investimento, Pronaf Agroindústria,
Pronaf Agroecologia, Pronaf Eco, Pronaf Floresta, Pronaf Semiárido, Pronaf Mulher, Pronaf
Jovem, Pronaf Custeio e Comercialização de Agroindústrias Familiares, Pronaf Cota-Parte,
Microcrédito Rural.
Da mesma forma que em países desenvolvidos a agricultura recebia apoio
governamental, no Brasil, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
surgiu como algo inovador, voltado diretamente para atender as necessidades de agricultores
familiares em relação ao fortalecimento da própria capacidade produtiva além de melhorar a
qualidade de vida do agricultor e seus familiares e promover o desenvolvimento rural através
das diferentes linhas de crédito disponibilizadas pelo programa.
Em relação às diversas linhas de crédito oferecimentos pelo Pronaf:
A consolidação de uma linha de financiamento específica para o agricultor familiar
fazia com que um número maior de produtores rurais tivesse acesso ao crédito,
garantindo melhores condições para permanecer no campo, inibindo o êxodo rural,
já que os empregos oferecidos nas cidades eram precários. (FERNANDES, 2013, p.
28).
Em 24 de julho de 2006 a Lei nº 11. 326 foi decretada pelo Congresso Nacional,
estabelecendo algumas diretrizes referentes à Política Nacional da Agricultura Familiar e
Empreendimentos Familiares Rurais. No artigo 3º da Lei nº 11. 326 está especificada a
caracterização de agricultor familiar e empreendedor familiar rural como aquele que pratica
atividades no meio rural, porém há algumas especificidades que devem ser observadas.
(BRASIL, 2006).
De acordo com Banco Central do Brasil (2015), para ter acesso ao Pronaf, os
agricultores beneficiários devem cumprir alguns requesitos e comprovarem o enquadramento
através da “Declaração de Aptidão ao Pronaf” (DAP) que deve estar ativa em algum dos
grupos conforme apresentados no Quadro 1

Quadro 1 – Grupos que os beneficiários devem enquadrar-se


GRUPO A GRUPO B GRUPO A/C
Agricultores familiares assentados Beneficiários que Agricultores familiares
pelo Programa Nacional de Reforma possuam renda bruta assentados pelo PNRA ou
Agrária (PNRA) ou beneficiários do familiar nos últimos 12 beneficiários do PNCF que:
Programa Nacional de Crédito meses de produção a) tenham contratado a
Fundiário (PNCF) que não normal, que antecedem a primeira operação no Grupo
contrataram operação de investimento solicitação da DAP, não "A"; b) não tenham
sob a égide do Programa de Crédito superior a R$20.000,00 contratado financiamento de

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Especial para a Reforma Agrária (vinte mil reais) e que custeio, exceto no próprio
(Procera) ou que ainda não não contratem trabalho Grupo "A/C".
contrataram o limite de operações ou assalariado permanente.
de valor de crédito de investimento
para estruturação no âmbito do Pronaf.
Fonte: BRASIL, 2006. (Adaptado pelos autores, 2016).

De modo geral, através da caracterização dos produtores que podem enquadrar-se no


Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, percebe-se a importância
social das famílias agrícolas, pois através destes incentivos, é notável a contribuição para o
desenvolvimento rural brasileiro.

4 Metodologia

A metodologia que foi utilizada para desenvolvimento do estudo e que facilitou a


compreensão da importância social da agricultura familiar no território brasileiro foi uma
pesquisa bibliográfica, baseada em livros e artigos acadêmicos, com objetivo de compreender
a importância social dos agricultores familiares.
De acordo com Gil (2009) as pesquisas bibliográficas estão baseadas em material
elaborado por conhecedores dos assuntos pesquisados e são geralmente encontrados em livros
e artigos científicos. Para Martins e Lintz (2007) uma pesquisa bibliográfica tem o objetivo de
explicar e até discutir um assunto, um tema ou um problema, onde se tem por base referências
teóricas publicadas por outros pesquisados em livros, revistas e periódicos.
A partir da revisão bibliográfica, percebeu a importância da utilização de dados
secundários para a compreensão da agricultura familiar no país. Desta forma utilizaram-se
dados qualitativos/quantitativos obtidos a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (2006). De acordo com Gil (2009), nas pesquisas de abordagem
qualitativa, verifica-se uma interligação entre observação, reflexão e interpretação, desta
forma conforme a análise vai progredindo acaba tornando-se um estudo mais complexo,
portanto para a realização de uma análise qualitativa correta, deve-se observar alguns passos
básicos como redução dos dados, categorização, interpretação e também a apresentação da
redação dos resultados. Já em relação aos dados quantitativos, para Gatti (2012), a análise que
é realizada por este meio tem importância pelo fato que quando os dados são bem elaborados
e interpretados, melhoram a compreensão do estudo.

5 Análise da agricultura familiar no território brasileiro

Na sequência são apresentadas informações voltadas especificamente ao território


brasileiro de acordo com informações do Censo Agropecuário de 2006. Conforme
informações do IBGE (2006), as informações na Tabela 1, referem-se à utilização das terras
nos estabelecimentos, considerando o tipo de utilização, comparando os estabelecimentos não
familiares e os que são caracterizados como agricultura familiar perante a lei 11.326 de 24 de
julho de 2006.

Tabela 1 – Utilização de terras nos estabelecimento – Lavouras


Agricultura F. Não familiar TOTAL
Total de estabelecimentos 4.367.092 807.587 5.175.489
Área total (ha) 80.250.453 249.690.940 329.941.393
Lavouras - Permanentes (Estabelecimentos) 1.233.614 246.629 1.480.243
Lavouras - Permanentes (Área – ha) 4.290.241 7.321.986 11.612.227
Lavouras - Temporárias (Estabelecimentos) 2.719.571 407.694 3.127.255
Lavouras - Temporárias (Área – ha) 12.012.792 32.006.933 44.019.726

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Área plantada com forrageiras para corte (Estab.) 2.851.616 461.706 3.313.322
Área plantada com forrageiras para corte (Área – ha) 1.339.027 2.776.530 4.114.557
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. (Adaptado pelos autores, 2016).

Ao analisar as informações, percebe-se que apesar do número total de


estabelecimentos familiares ser maior que o de estabelecimentos não familiares, em relação à
área total utilizada para lavouras visualiza-se o contrário onde aproximadamente 75% do total
pertence à agricultura não familiar, o que se pode concluir que a maioria das terras do país
utilizadas para lavouras, encontram-se nas mãos de agricultores não familiares.
Na sequência, é apresentado na Tabela 2, o número de estabelecimentos e área (ha) da
agricultura familiar e não familiar, conforme as regiões do Brasil.

Tabela 2 – Estabelecimentos e área da agricultura familiar e não familiar no Brasil


Regiões Familiar (Estab.) Familiar (Área-ha) Não familiar (Est.) Não familiar (Área-ha)
Norte 413 101 16 647 328 62 674 38 139 968
Nordeste 2 187 295 28 332 599 266 711 47 261 842
Sudeste 699 978 12 789 019 22 071 41 447 150
Sul 849 997 13 066 591 156 184 28 459 566
Centro-Oeste 217 531 9 414 915 99 947 94 382 413
Brasil 4 367 902 80 250 453 807 587 249 690 940
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. (Adaptado pelos autores, 2016).

Ao analisar os dados, percebe-se que a maior quantidade de estabelecimentos


familiares, tanto aqueles considerados como agricultura familiar quanto a agricultura não
familiar encontram-se na região nordeste sendo que a agricultura familiar nordestina
representa 44% do total de estabelecimento da agricultura familiar do país e a agricultura não
familiar nordestina, representa 33% do total nacional.
Em relação à área da agricultura familiar, a maior quantidade está na região nordeste e
a agricultura não familiar tem sua maior área na região centro-oeste, totalizando 94.382.413
ha, que significa quase 38% do total nacional da área não familiar.

6 Considerações finais

Com o desenvolvimento deste estudo, através das análises realizadas a partir dos
dados do Censo Agropecuário de 2006, aplicado pelo IBGE (2006), confirmou-se a
importância social da agricultura familiar e a influência das políticas públicas voltadas para a
agricultura, principalmente a partir das considerações feitas em relação ao Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).
Com a análise das informações, em relação à utilização de terras e nos
estabelecimentos e área da agricultura familiar e não familiar no Brasil, percebeu-se que há
diferenças significativas se forem comparadas as produtividades de alguns segmentos.
De acordo com a produtividade vegetal (Arroz em casca, feijão-preto, feijão de cor,
feijão fradinho, caupi de corda, mandioca, milho em grão, soja, trigo, café arábica em grão
(verde) e café canephora em grão (verde)), se considerarmos que em todos os segmentos o
número de estabelecimentos familiares é maior que os estabelecimentos não familiares, pode-
se ver a importância da agricultura familiar na sociedade, além de que, dos dez produtos, em
cinco deles a agricultura familiar tem a maior do valor da produção, ficando atrás da
agricultura não familiar na produção de arroz em casca, milho em grão, soja, trigo e café
arábica em grão (verde).
Ao analisar de modo geral, a agricultura familiar pode não ser tão representativa no
âmbito social, porém através das considerações levantadas no estudo, pode-se considerar que
através dela, muitos tiram o seu próprio sustento, tendo a produtividade familiar como meio

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de trabalho. Ao considerarmos o contrário, se a agricultura familiar deixasse de existir ou os


agricultores não tivessem acesso aos financiamentos, o principal impacto social seria visto
através do desemprego. Isso se confirma se for considerada a baixa escolaridade de muitos
agricultores ou até mesmo a falta de sucessores para seguir o trabalho na agricultura, o que
muitas vezes prejudica o andamento da agricultura familiar, pois nos tempos atuais, muitos
filhos estão preferindo a cidade, deixando de seguir o trabalho na agricultura.
Apesar das discussões, a agricultura familiar conquista seu próprio espaço através da
produtividade e comprova a sua importância social no âmbito nacional. De modo geral,
conclui-se que a agricultura familiar também colabora com o desenvolvimento rural que é
visto atualmente.
Ao finalizar o estudo, percebe-se a importância da realização frequente do Censo
Agropecuário, pois as conclusões obtidas neste trabalho são referentes ao ano de 2006, o que
dificulta saber atualmente a real importância social, mas acredita-se a agricultura familiar
mantém sua importância social e relevante participação no desenvolvimento rural brasileiro.

Referências

BRASIL. Lei n. 11.326 de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional
da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 25 jul.
2006. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11326.htm> Acesso em
03.12.2016.
DEPONTI, C. M. Teoria social e o lugar da agricultura familiar na sociedade contemporânea: estudo analítico-
comparativo das contribuições brasileiras ao debate. Sociedade Brasileira de Economia, Administração e
Sociologia Rural. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007. Disponível em
<http://www.sober.org.br/palestra/6/30.pdf> Acesso em 06/12/2016.
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resultados. Porto Alegre, 2013, 58 p. Disponível em
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/79225/000900902.pdf?sequence=1> Acesso em
07/12/2016.
GATTI, B. A. Abordagens quantitativas e a pesquisa educacional. Sem.IME – Fundação Carlos Chagas - USP-
Maio de 2012).
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisas. Editora Atlas. 4ª edição. 2009.
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em 04/12/2016.
MARTINS, J. S. O futuro da Sociologia Rural e sua contribuição para a qualidade de vida rural. Estudos
Avançados. 15 (43), 2001, p. 31-36.
MARTINS. G. A.; LINTZ. A. Guia para elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso. 2.
ed. São Paulo : Atlas, 2007.
MATTE, A.; SPANEVELLO, R. M.; AZEVEDO, L. F. A reprodução social na agricultura familiar: a saída dos
filhos e o encaminhamento do patrimônio entre agricultores sem sucessores. Sociedade Brasileira de
Economia, Administração e Sociologia Rural. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009. Disponível em
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SCHNEIDER, S. Teoria Social, Agricultura Familiar e Pluriatividade. Revista Brasileira de Ciências Sociais.
Vol. 18, nº 51. Fevereiro, 2003, p. 99-121.
SCHNEIDER, S.; SILVA, M. K; MARQUES, P. E. M. (Org.). Políticas Públicas e Participação Social no
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<http://www.mda.gov.br> Acesso em 05/12/2016.
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22-44, jan/abr, 2009. Disponível em < https://online.unisc.br/seer/index.php/redes/article/view/846/1452>
Acesso em 06/12/2016.

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e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

ANÁLISE DOS EFEITOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE


SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A PARTIR DE
INDICADORES DA FAO
Mariza de Almeida¹, Jéssica N. Dantas², Jéssica Pellenz³, Amanda Guareschi4
1
Mestranda em Economia e Desenvolvimento- PPG&D/UFSM. mariza.de.almeida@homail.com
2
Mestranda em Economia e Desenvolvimento- PPG&D/UFSM. jessica_natany15@hotmail.com
3
Mestranda em Economia e Desenvolvimento- PPG&D/UFSM. jessipellenz@gmail.com
4
Doutorando em Desenvolvimento Rural PGDR/UFRGS. amandaguareschi@yahoo.com.br

Resumo. As discussões sobre a Segurança Alimentar tornaram-se importantes para o desenvolvimento das nações
como também para assegurar às populações o direto a uma alimentação saudável, e consequentemente, uma melhor
qualidade de vida. No Brasil, devido aos grandes problemas referentes à miséria, começou-se a elaborar políticas
públicas que tem como objetivo superar a fome, a pobreza e assegurar os direitos humanos. O presente artigo
buscou analisar a situação atual da segurança alimentar no Brasil, por meio das políticas públicas e dos planos do
governo criados para combater a fome e a desnutrição no país. Para tanto, realizou-se uma pesquisa descritiva,
com dados secundários obtidos na Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), em que se
analisaram cinco indicadores que influenciam na segurança alimentar brasileira. Os principais resultados da
pesquisa indicaram que nos últimos anos ocorreu uma alta nos preços dos alimentos, deixando a população em
vulnerabilidade com difícil acesso aos alimentos. A variabilidade do fornecimento dos alimentos teve uma queda,
mostrando que o Brasil está fornecendo mais alimentos à população, um dos fatores dessa diminuição pode ser o
aumento da produção de alimentos. Com a implementação de políticas públicas, planos e a transferência de renda
para as famílias em vulnerabilidade, os índices de subalimentação e subnutrição apresentaram queda,
demonstrando que a quantidade que um indivíduo consome de calorias insuficientes para manter energia para vida
ativa e saudável diminuiu, assim como, a incapacidade de adquirir alimentos suficientes para o dia por indivíduo.

Palavras-chaves: Segurança Alimentar. Políticas Públicas. Fome.

ANALYSIS OF THE EFFECTS OF PUBLIC FOOD AND


NUTRITIONAL SECURITY POLICIES BASED ON FAO INDICATORS
Abstratc: The discussions on Food Security have become important for the development of nations as well as to
ensure to the populations the right to a healthy diet, and as a result, a better life quality. In Brazil, due to the
problems related to misery, public policies began to be developed aiming to overcome hunger, poverty and ensure
human rights. This article sought to analyze the current food security situation in Brazil, by means of the policies
and government plans created to fight hunger and malnutrition in the country. For that, a descriptive research was
made with secondary data obtained from Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), in
which five indicators that influence Brazilian food security were analyzed. The main research results indicate that
in the last years there has been a rise in food prices, leaving the population vulnerable with difficult access to food.
The variability of food supply dropped, showing that Brazil is supplying more food to the population, one of the
factors of this decrease may be the increase in food production. With the implementation of public policies, plans,
and the transfer of income to vulnerable families, malnutrition rates declined, demonstrating that the amount of
insufficient calories consumed by an individual to maintain energy for an active and healthy life decreased, as well
as the inability to acquire enough food for the day per individual.

Keywords: Food Security. Public Policies. Hunger.

1 Introdução

O bem mais estimado em todo o mundo é a vida humana, e o direito de tê-la deve ser
garantido em todas as suas formas, isto é claro, dentro dos padrões de cada país. Portanto, cada
indivíduo precisa ter acesso a uma alimentação de boa qualidade, não apenas para sua
sobrevivência, mas principalmente para possibilitar uma vida saudável e digna.
A Organização das Nações Unidas (ONU), devido à crise de produção que o mundo
vivenciou após a Segunda Guerra, deu início às discussões no intuito de minimizar a fome no
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mundo, dando importância ao tema de Segurança Alimentar e Nutricional, uma vez que,
articulava que todos os indivíduos têm o direto a alimentação, e que esta tem que ser de boa
qualidade.
No que diz respeito à qualidade, cabe aos órgãos responsáveis vistoriar a produção dos
alimentos. Na literatura internacional, essa temática aparece discutida através da expressão
Food Safety, que traz o contexto da discussão da segurança do próprio alimento. Diante disso,
o presente artigo buscou analisar a situação atual de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)
no Brasil, por meio das políticas públicas e dos planos do governo criados para combater a
fome e a desnutrição no país, assegurando a qualidade dos alimentos na produção.
Os procedimentos metodológicos adotados no presente artigo explicitam uma pesquisa
descritiva, que contou com dados secundários, obtidos na Food and Agriculture Organization
of the United Nations (FAO). Esses apresentam um panorama de alguns indicadores que
influenciam na segurança alimentar no Brasil e contemplam informações sobre: a prevalência
de subalimentação; o número de pessoas subnutridas (milhões); o valor médio da produção de
alimentos (I$ constante por pessoa), que é uma média feita de 3 em 3 anos entre o período de
1989 a 2015. Além disso, tem-se a variabilidade do fornecimento de alimentos per capita
(kcal/pessoa/dia) e o índice nacional de preços dos alimentos no período de 1990 a 2015.
A segurança alimentar e nutricional merece destaque, pois é influenciadora no
desenvolvimento dos países, e é importante para entender os efeitos e desafios das variáveis
que a constituem. Além da introdução, este artigo constitui-se com algumas considerações
sobre segurança alimentar na perspectiva internacional e brasileira, assim como, as políticas e
programas de incentivo oferecidos pelo Governo Federal. Tem-se ainda, uma análise da
situação atual do Brasil, com base em dados da FAO, e por fim, as considerações finais.

2 Segurança Alimentar, planos nacionais e políticas públicas de segurança alimentar e


combate à fome

O conceito de segurança alimentar surgiu na Europa a partir da II Grande Guerra


Mundial, de acordo com Belik (2003) quando os países se encontravam sem condições de
produzir o seu próprio alimento. Portanto, a origem desse conceito está ligada a segurança e a
capacidade dos países de produzir seu próprio alimento, ou seja, a população tem direito ao
acesso a alimentos em quantidade, qualidade e regularidade.
Inicialmente, o principal foco era o alimento, ou seja, aumentar a produção de alimento,
uma vez que, a preocupação mundial estava associada com a crise alimentar, desejando
combater a situação da fome e desnutrição dos países. No decorrer de 1974, durante a primeira
Conferência Mundial da alimentação (CMA), a FAO estabelece discussões sobre a escassez de
alimentos, tinha como prioridade: intensificar a produção e a produtividade dos alimentos,
aumentar a utilização de insumos, ampliar o consumo e a distribuição dos alimentos, debater a
criação de um sistema de segurança alimentar mundial viável, investigar a produção dos
alimentos, melhorar a alimentação, avaliar a potencial produção da terra e, entre outros
(MANIGLIA, 2009; FAO, 2000).
A Conferência Internacional de Nutrição, FAO e Organização Mundial da Saúde
(OMS), em 1992, cria um conceito de segurança alimentar, estimulando o uso de água
adequada, saneamento básico, saúde pública, alimentos de boa qualidade (MANIGLIA, 2009).
Além disso, para Takagi (2006) um dos principais objetivos da FAO era erradicar a fome no
mundo. Assim, em 1996, durante a Cúpula Mundial da Alimentação em Roma, reunindo 185
países, discutiu-se sobre a soberania alimentar e o compromisso global de eliminar a fome e a
subnutrição, alcançando uma segurança alimentar para todas as populações desses países.
Preocupada com a produção de alimentos, a FAO determina que os países produzam
alimentos adequados, ou seja, exige que os alimentos sejam de qualidade, possibilitando a

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segurança alimentar das populações. Está é vinculada à agricultura, priorizando a agricultura


familiar, o comércio na região e a integração ativa com a agroindústria alimentar (MANIGLIA,
2009).
O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) no Brasil é o cumprimento da
legislação de que todos os seres humanos tem o direito ao acesso regular e permanente a
alimentos de qualidade, proporcionando uma vida saudável, quantidade suficiente para a
nutrição, água potável, saneamento básico, educação, que respeitam a diversidade cultural,
social, econômica e o ambiente sustentável, exigindo a organização dos municípios, dos estados
e da nação brasileira (KEPPLE, 2014; SANTOS, 2012).
No Brasil, em 2003, as discussões sobre a SAN contribuíram com a criação do Programa
Fome Zero, que foi substituído pelo programa Bolsa Família, Lei nº 10.836/2004, unindo os
programas sociais do país, e reinstalou o Conselho Nacional de Segurança Alimentar
(CONSEA), sob o decreto Nº 4.582/2003, que foi regulamentado no ano de 2007. Criou-se
também o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA)
(TAKAGI, 2006; SANTOS, 2012; MANIGLIA, 2009; KEPPLE, 2014).
O Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) em 2006, institui a
Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional e aprova a Lei 11.346 de 15 de setembro
de 2006. Estas leis têm como objetivo de assegurar o Direto Humano à Alimentação Adequada,
destacando a participação de diversos setores, gerando a transparência e a exigibilidade do
direito (AMARAL; BASSO, 2016).
Em 2010, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) proporciona dois
acontecimentos importantes: o primeiro foi a Emenda Constitucional, ou seja, a alimentação
tornou-se um direito social e o segundo foi à regulamentação do Decreto no 7.272, que
institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (KEPPLE, 2014).
Com o intuito de haver uma segurança alimentar maior, o combate à pobreza, superação
da fome e, juntamente, um desenvolvimento econômico e social, o governo criou programas
sociais, iniciando pelo programa Fome Zero do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em
que priorizou a erradicação da fome e, que posteriormente, tornou-se o programa Bolsa Família
(TOMAZINI; LEITE, 2016; KEPPLE, 2014).
Devido à necessidade de políticas de proteção, de disponibilidade e de produção de
alimentos, desenvolveram 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, fazendo com que
programas de distribuição de renda e de fomento as atividades produtivas rurais fossem criadas
(KEPPLE, 2014). Para a agricultura, tem-se uma atenção específica, mais precisamente, para
os pequenos produtores, assim pode-se dizer de acordo com MDA (2017) que os principais
programas sociais e econômicos que os beneficiam, são: Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf); Programa de Agroindústria; Programa de Turismo Rural;
Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar; Programa de Aquisição de
Alimentos; Programa Garantia-Safra; Programa Mais Gestão; Programa Nacional de Produção
e Uso de Biodiesel; Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural; Programa Nacional de
Alimentação Escolar; e, Programa mais Alimentos.
O primeiro e principal programa de incentivo aos agricultores, foi o Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), criado com o propósito de auxiliar os
agricultores por meio de crédito agrícola e, de demonstrar a ligação com o sistema
agroalimentar, com o mercado de trabalho e com os aspectos intrafamiliares dos agricultores
(SCHNEIDER, 2003).
Os programas e ações de segurança alimentar e nutricional no Brasil, geraram gastos
federais em 2013, cerca de R$ 78 bilhões no total (KEPPLE, 2014). Além disso, de acordo com
Grisa e Porto (2015), entre esses programas de incentivo a agricultura familiar, ganha destaque
os Programa Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), esses programas são vinculados ao Pronaf, e foram os primeiros a tratar de compras

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públicas de alimentos exclusivos da agricultura familiar. Esses programas impactam também


em alguns indicadores de segurança alimentar, estes, serão apresentados com maiores detalhes
no próximo tópico.

3 Situação atual da Segurança Alimentar no Brasil

O Brasil, atualmente, conta com uma população com mais de 207 milhões de habitantes,
sendo que para assegurar alimentação, saúde, educação, entre outros fatores importantes para o
desenvolvimento humano, precisou no decorrer dos últimos anos implementar políticas
públicas (IBGE, 2017). Por meio de dados secundários obtidos na FAO, serão apresentados
neste tópico alguns indicadores que influenciam na situação atual da segurança alimentar do
Brasil.
Observa-se que o índice nacional de preços dos alimentos é uma medida da variação
mensal nos preços de uma cesta de produtos alimentares. Conforme mostra a Figura 1, durante
os anos de 2003 a 2006 teve uma queda, passando de 2,4 para 2,2. Porém, do ano de 2007 em
diante, o índice aumentou constantemente. Desta forma, pode-se perceber uma variação mensal
dos preços dos produtos alimentícios, que causam impactos (perturbações) nas refeições dos
indivíduos.
Figura 1 – Índice nacional de preços dos alimentos

Fonte: Elaborada pelo autor, com base na FAO (2017).

No momento de adquirir um alimento, a população leva em consideração o preço,


fazendo a substituição dos alimentos com preço mais alto (BELIK; CUNHA, 2015). Devido a
este alto nos preços, muitas famílias tem sua sobrevivência ameaçada. De acordo com Silva e
Tavares (2008), uma melhor distribuição de renda, por meio de programas de geração de
emprego, juntamente, com a distribuição de alimentos para os indivíduos pobres, faz com que
as famílias se protejam e tenham acesso a alimentos de qualidade.
Na Figura 2, demonstra-se a variabilidade do fornecimento de alimentos per capita
(kcal/pessoa/dia), esse valor tem como base a quantidade de produção, quantidade de
importação e a variação de estoque, menos, a quantidade de exportação, fabricação de alimentos
e entre outros. Identifica-se que durante os anos de 1990 até 2002, o fornecimento estava entre
10 e 30 kcal/pessoa/dia. Após 2002, houve um aumento drástico, até 59 kcal/pessoa/dia, porém,
de 2005 em diante, a variabilidade do fornecimento de alimentos diminui.

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Figura 2 – Variabilidade do fornecimento de alimentos per capita (kcal/pessoa/dia)

Fonte: Elaborada pelo autor, com base na FAO (2017).

No intuito de promover um melhor abastecimento alimentar das regiões, minimizar os


problemas com o fornecimento adequado, e a qualidade dos alimentos, o governo brasileiro
criou as Centrais de Abastecimento (CA) e as compras governamentais de alimentos (CG),
estas por sua vez têm por objetivo organizar e modernizar a estrutura de produção e fornecer
alimentos. (BELIK e CUNHA, 2015).
O valor médio da produção de alimentos em dólares por pessoa pode ser visualizado na
Figura 3, que mostra o tamanho econômico relativo do setor de produção de alimentos no país.
Assim, pode-se dizer, que no decorrer dos 20 anos a produção de alimentos no Brasil vem,
constantemente crescendo, deslocando de um valor de $363 por pessoa em 1989-1991 para
$675 em 2011-2013.
Figura 3 – Valor médio da produção de alimentos ($ constante por pessoa)

Fonte: Elaborada pelo autor, com base na FAO (2017).

A produção de alimentos apresentou um aumento significativo nos últimos anos, esse


fato, de acordo com Triches (2015) se deve a melhor organização do governo referente a
programas para a agricultura familiar, melhoras na logística de distribuição, além do incentivo
a criação de associações e cooperativas.
Constata-se na Figura 4, que a prevalência de subalimentação no Brasil teve uma queda
nos últimos anos, este indicador demonstra a quantidade que um indivíduo consome de calorias
insuficientes para manter energia para vida ativa e saudável. Desta forma, nota-se que 14,8%
da população em 1989-1991 e em 2003-2005 6,1%, consomem calorias insuficientes para uma
vida saudável. Essa variável impacta, diretamente, nos níveis de fome, neste caso, obteve-se
um impacto positivo, pois ocorreu uma diminuição no consumo de alimentos com calorias
insuficientes.

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e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS


Figura 4 – Prevalência de subalimentação (%)

Fonte: Elaborada pelo autor, com base na FAO (2017).

Quando se trata do assunto de consumo de alimentos com calorias insuficientes para


manter energia para vida saudável de privação a alimentação, de acordo com Grisa e Porto
(2015), o governo brasileiro criou alguns programas, inicialmente, o fome zero, e no decorrer
dos últimos anos, o PAA, o PNAE, entre outros. Esses buscam adquirir alimentos de
agricultores e de suas organizações, e distribuir para escolas e grupos de pessoas em
vulnerabilidade.
O número de pessoas subnutridas no Brasil é apresentado na Figura 5, por meio desta,
pode-se identificar que este número vem diminuindo. Assim, a subnutrição, que caracteriza a
incapacidade de adquirir alimentos suficientes para o dia durante o período de um ano, esteve
presente em 22,6 milhões de pessoas no Brasil em 1989-1991, já em 2002-2004 a subnutrição
atingia 11,1 milhões de pessoas.
Figura 5 – Número de pessoas subnutridas (milhões)

Fonte: Elaborada pelo autor, com base na FAO (2017).

Para Triches (2015), a nova formação do Estado, por meio de políticas públicas, como
a de Segurança Alimentar e Nutricional, pretendia melhorar as condições nutricionais da
população, trazer alimentos de qualidade, proporcionar melhores hábitos alimentares, além de
gerar inclusão dos pequenos produtores.
A segurança alimentar no Brasil, quando analisada por meio desses indicadores, obteve
melhoras consideráveis. Nota-se a diminuição na subalimentação e subnutrição, mas tem-se o
aumento dos preços dos alimentos, porém existem políticas para a sua estabilização no futuro.

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Assim, percebe-se que o PLANSAN, juntamente, com as políticas públicas está melhorando a
segurança alimentar no Brasil e alcançando o direito humano à alimentação adequada.

4 Considerações Finais

A segurança alimentar é de suma importância para a sociedade, já que, esta garante o


direito da população a uma alimentação adequada e não apenas para sua sobrevivência. Com a
implementação SAN, percebesse a melhoria na situação da fome e da miséria no país. Desta
forma, o presente artigo teve como objetivo identificar as políticas públicas e atual situação do
Brasil, referente a SAN.
Da análise dos indicadores, por meio dos dados obtidos na FAO, observa-se que houve
uma redução na fome no Brasil e, que implementação das políticas públicas impactaram
positivamente para melhorar a segurança alimentar, e assim fornecer uma quantidade de
alimentos necessária para a sobrevivência, sempre mantendo a qualidade.
O governo brasileiro vem no decorrer das últimas duas décadas, trabalhando para
proporcionar uma qualidade de vida melhor para os indivíduos em vulnerabilidade. Além disso,
busca diminuir a desigualdade social e desenvolver economicamente e socialmente o país,
sendo que um das formas adotadas foi à busca pela SAN.
A partir dos indicadores, nota-se uma elevação nos preços, porém, o governo vem se
empenhando para haver uma distribuição de renda melhor. Ademais, as programas voltados à
agricultura, possibilitaram um aumento na produção de alimentos e uma diminuição na
variabilidade de fornecimento de alimentos insuficientes para uma vida saudável. Entre estes
programas, ganha destaque o Pronaf, que oferece crédito aos agricultores, ajudando estes a
aumentar a produção e melhorar sua qualidade de vida e de suas respectivas famílias.
Além disso, pode-se perceber que a subnutrição e a subalimentação diminuíram nos
últimos anos, mas o Brasil ainda assim, não atingiu a sua meta de combate à fome. Os
programas PAA e PNAE, foram de grande importância, pois eles fornecem alimentos para
crianças e famílias em vulnerabilidade, energia para uma vida ativa e saudável, além de
diminuir o desperdício de alimentos. Há espaço para explorar mais sobre o assunto,
principalmente, quando se trata do assunto de que o Brasil é dos maiores produtores de
alimentos, porém, apresenta índices de subnutrição e subalimentação ainda altos.

Referências

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A RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E OS VALES


DA UVA GOETHE
Guilherme Spiazzi dos Santos1, Adriana Carvalho Pinto Vieira2, Júlio Cesar Zilli3
1
Mestrando em Desenvolvimento Socioeconômico - bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – CAPES, UNESC, gsdsantos@hotmail.com
2
Professora Doutora do programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico, coordenadora de
grupo de pesquisa PIDI, UNESC, Professora colaboradora INCT/PPED/UFRJ.
3
Professor, Mestre em Desenvolvimento Socioeconômico, coordenador de grupo de pesquisa GENINT, UNESC

Resumo. Assim como o desenvolvimento de uma determinada região está ligado à influência de sua própria
história, a escolha apropriada de bens que serão produzidos e a busca por mercados, o processo de
desenvolvimento de uma Indicação Geográfica (IG) também está, sendo que é possível perceber um
considerável entrosamento entre uma IG e a promoção cultural e socioeconômica da região delimitada.
Atualmente o Brasil conta com 62 IGs registradas, sendo que os Vales da Uva Goethe é a única no Estado de
Santa Catarina. Diante deste contexto, este estudo tem como objetivo identificar o cenário do desenvolvimento
regional da IG dos Vales da Uva Goethe. A interpretação dos dados coletados aponta para uma evolução positiva
na questão econômica da região, porém tal evolução não é observada de forma tão explícita nas questões de
aspecto social, indicando que para que se tenha uma condição equilibrada de desenvolvimento da região é
preciso trabalhar questões humanas e sociais.
Palavras-chave: Indicação Geográfica; Desenvolvimento; Vales da Uva Goethe.

THE RELATIONSHIP BETWEEN REGIONAL DEVELOPMENT AND


THE GOETHE GRAPE VALLEYS
Abstract. Just as the development of a given region is linked to the influence of its own history, the proper
choice of goods that will be produced and the search for markets, so is the development of a Geographical
Indication (GI). It is possible to perceive that there is a considerable link between a GI and the cultural and
socioeconomic promotion of its region. Currently Brazil has 62 registered GIs, whereas the Goethe Grape
Valleys is the only one in the State of Santa Catarina. This study aims to identify the scenario of the regional
development of the Goethe Grape Valleys GI. The interpretation of the collected data points to a positive
evolution regarding the economical development of the area, but this evolution is not observed so explicitly on
the social aspect, indicating that in order to have a balanced regional development condition it is necessary to
take action regarding human and social aspects.
Keywords: Geographical Indication; Development; Goethe Grape Valleys.

Introdução

A gama de acontecimentos históricos envolvendo o processo de formação do sistema


econômico mundial trouxe mudanças na estrutura social a partir da utilização do termo
desenvolvimento ou subdesenvolvimento para designar uma localização (FURTADO, 1980).
Sendo que, as condições que levam ao desenvolvimento de uma determinada região estão
ligadas à influência de sua própria história (SCHUMPETER, 1982; KRUGMAN, 1991), a
escolha apropriada de bens para produção e a busca por mercados (WILLIAMSON, 1988).
O conceito de desenvolvimento de uma sociedade é algo que deve estar vinculado a
sua estrutura social (FURTADO, 1980), portanto, apesar do aumento da condição de vida
fazer referência ao desenvolvimento regional, a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per
capita por si só não denota uma melhora na distribuição da renda (CLEMENTE, 1994).
Esta influência da própria história, a escolha de bens que serão produzidos e a busca
por mercados também são características de regiões produtoras de bens com registro de
Indicação Geográfica (IG), conceito que surgiu a partir da percepção de qualidades
específicas e intrínsecas de determinados produtos provenientes de regiões delimitadas, por
consumidores e produtores (ADDOR; GRAZIOLI, 2002).

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O registro IG configura um ativo de propriedade intelectual que proporciona direitos


atrelados a tratados e convenções internacionais (O’BRIEN, 1998), portanto, além da garantia
de proteção legal, o registro de IG proporciona uma alternativa para que pequenos produtores
de regiões menos desenvolvidas possam ingressar no mercado com um produto diferenciado,
lhes permitindo concorrer com grandes organizações (BRUCH; VIEIRA; BARBOSA, 2014).
Pode-se perceber um considerável entrosamento entre uma IG e a promoção cultural e
socioeconômica da região delimitada a partir do ingresso de atores locais no mercado pós-
registro de IG, pois esta gera impactos no desenvolvimento da região (MAIORKI;
DALLABRIDA, 2015). Diante deste contexto, este estudo tem como objetivo identificar o
cenário do desenvolvimento regional da IG dos Vales da Uva Goethe.

Revisão Teórica

Desenvolvimento

No tempo atual, o termo desenvolvimento pode ser considerado com relação ao nível
de satisfação das necessidades humanas (FURTADO, 1980), pode fazer alusão à acumulação,
dando um sentido de interpretação econômico (FURTADO, 1980; WILLIAMSON, 1988) ou
ainda, um aumento das liberdades reais da população numa determinada região (SEN, 2000).
Para Schumpeter (1982) o desenvolvimento econômico é apenas uma parte de análise
de uma relação muito mais complexa que sofre influência de um todo precedente que também
considera influencias históricas e sociais. Esta análise do fator econômico por meio da renda
per capita, não considera a distribuição de renda e diferenças sociais (FURTADO, 1980),
questões de educação, acesso à saúde ou participação pública (SEN, 2000).
O índice de desenvolvimento humano (IDH) vem como contraponto à renda per
capita, uma vez que ele analisa a sociedade a partir de dados socioeconômicos, abrangendo as
dimensões renda, educação e longevidade (ATLASBRASIL, 2013). O IDH, na visão do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2017) muda o foco do
crescimento econômico para o humano ao considerar a expectativa de crescimento sob a ótica
do ser humano, oportunidades culturais e sociais, questões políticas e capacidades.
Além do IDH para o estudo do desenvolvimento de uma região, outro indicador que
está em consonância com a necessidade de ir além da questão de análise econômica é o índice
de desenvolvimento municipal sustentável (IDSM), uma vez que este se compromete a
analisar o desenvolvimento territorial a partir das dimensões sociocultural, ambiental,
econômica e político-institucional (FECAM, 2016).
Portanto, paralelamente ao desenvolvimento econômico, há o desenvolvimento local,
este calcado no aproveitamento dos recursos naturais e sociais existentes e consequentemente
um desenvolvimento não concentrado de emprego no território (LLORENS, 2001).

Indicação Geográfica e os Vales da Uva Goethe

O registro de Indicação Geográfica (IG) configura um ativo de propriedade intelectual


que proporciona direitos atrelados a tratados e convenções internacionais de IG firmados pela
Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Mundial da Propriedade
Intelectual (OMPI) (O’BRIEN, 1998).
Este ativo é de indiscutível importância, uma vez que destaca atributos únicos, faz
referência a origem histórica e aspectos particulares da cultura e tradição da região que
compõe determinado bem ou serviço (CERDAN et al, 2014).
A relação entre a região e o bem ou serviço ofertado está diretamente ligada à palavra
“geográfica”, pois remete a sua origem e os atributos peculiares, estes administrados por

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atores locais, o que faz da IG uma propriedade coletiva da população da região devidamente
delimitada (DALLABRIDA, 2014). Portando, a proteção gerada pelo registro de IG acaba
tendo relação no desenvolvimento local uma vez que a população terá um instrumento que
garanta potenciais investimentos (SILVA; BRITO; DANTAS, 2016).
No Brasil, a IG pode ser dividida em Indicação de Procedência (IP) e Denominação de
Origem (DO) (INPI, 2015), onde atualmente o Brasil conta com 62 IGs registradas, sendo que
os Vales da Uva Goethe são a única IG no Estado de Santa Catarina (INPI, 2017).
O registro de Indicação de Procedência dos Vales da Uva Goethe foi concedido em
2012 para a produção de vinho licoroso, vinho branco demi-sec, seco ou suave, vinho
espumante brut ou demi-sec obtidos pelo método “Champenoise” e pelo método “Charmat”
(VIEIRA, BRUCH & WATANABE, 2012).
A região dos Vales da Uva Goethe, composta pelos municípios de i) Cocal do Sul; ii)
Içara; iii) Morro da Fumaça; iv) Nova Veneza; v) Orleans; vi) Pedras Grandes; vii) Treze de
Maio; viii) Urussanga (VALES DA UVA GOETHE, 2013) leva este nome devido ao cultivo
da uva Goethe, originária dos Estados Unidos (PINNEY, 1989) e introduzida na região de
Urussanga ainda na primeira década do século XX (VELLOSO, 2008).
Na busca pelo fortalecimento da cultura local, há a união entre os vitivinicultores de
uva Goethe e pessoas da região de Urussanga ligadas ao comércio e turismo, contando com o
suporte do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
(VELLOSO, 2008), então formando a Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe
da Região de Urussanga – ProGoethe em 2005 e, a partir dela, foi feita a busca pelo registro
de Indicação Geográfica dos Vales da Uva Goethe (MAPA, 2014).
De acordo com Vieira e Pellin (2014), após a concessão do registro em 2012 a região
registrou um crescimento em torno de 20% na venda de vinhos Goethe em 30% dos
espumantes. Tal dado corrobora com a afirmação de Maiorki e Dallabrida (2015) de que a IG
no Brasil está num processo de estruturação e expansão e que ela é uma estratégia para região
que traz exclusividade de uso do signo para aqueles que detêm o direito e também inclusiva,
pois outros setores da economia são beneficiados indiretamente.
A proteção assegurada por lei e a questão da diferenciação por sua vez acabam se
relacionando com o desenvolvimento da respectiva região de IG, pois a partir registro a
população passa a ter um ativo que garante possíveis investimentos (SILVA; BRITO;
DANTAS, 2016).

Metodologia

O presente trabalho é considerado como uma pesquisa descritiva de método dedutivo,


um estudo exploratório, de estratégia bibliográfica, com a técnica de análise de dados e
abordagem qualitativa (GIL, 2009).

Resultados

A população da região dos Vales da Uva Goethe para 2016, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017), é de 157.132 habitantes,
representando 2,27% da população do Estado de Santa Catarina.
O total da área territorial da região é de 1.802,85 km2 e a densidade demográfica
registrada foi de 87,16 hab./km2, valor acima das concentrações encontradas no Brasil (24,40)
e Santa Catarina (72,18).
Referente ao PIB per capita, há uma diferença de 155,69% entre o menor valor
auferido, R$ 17.361,28 (Treze de Maio) e o maior R$ R$44.390,93 (Nova Veneza). Ainda

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observa-se que cinco (Içara, Orleans, Urussanga, Morro da Fumaça e Cocal do Sul)
apresentam um PIB per capita entre R$ 30.000,00 e R$ 40.000,00 (IBGE, 2017).
A análise do PIB per capita na região nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014 traz
resultados expressivos que acompanham a curva de tendência. (Tabela 01)

Tabela 1 Variação do PIB per capita por região 2010-2014


Produto Interno Bruto per capita (R$)
Região
2010 variação 2011 variação 2012 variação 2013 variação 2014

BRASIL 20.371,64 11,67% 22.748,72 9,13% 24.825,15 6,83% 26.521,15 7,46% 28.500,24

SUL
22.646,87 11,54% 25.260,72 9,20% 27.585,88 10,82% 30.569,99 6,93% 32.687,15
(PR -SC-RS)
Santa Catarina 24.597,41 12,03% 27.555,30 9,04% 30.046,38 7,61% 32.334,04 11,51% 36.055,90

Vales da Uva
21.653,11 11,65% 24.175,42 6,00% 25.625,52 18,70% 30.417,81 23,44% 37.546,82
Goethe
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados de Contas regionais Brasil e IBGE - Cidades

A partir dos dados apresentados é possível perceber que entre os anos de 2012 – 2013
e 2013 – 2014 a variação do PIB per capita nos Vales da Uva Goethe (18,70% - 23,44%) foi
expressivamente superior às variações nacionais (6,83% - 7,46%), regionais (10,82% -
6,93%) e estaduais (7,61% - 11,51%). No ano 2014 o PIB per capita dos Vales da Uva
Goethe superaram as médias nacional, estadual e da região sul, chegando à R$ 37.546,82.
Dados referentes ao trabalho e renda provenientes de 2015 do IBGE apontam para um
cenário que compreende um total de 6.521 empresas atuantes, empregando um total de 49.737
pessoas assalariadas, com média salarial de 2,3 salários mínimos (IBGE, 2017).
Nos vales da Uva Goethe, em 2015, a proporção de pessoas ocupadas em relação à
população total era de 37,45%, com um total de R$ 1.323.269.000,00 referentes a salários e
outras remunerações na região.
As variações nas estatísticas do cadastro central de empresas entre 2010 – 2015
(Tabela 02) apresentam momentos de retração (2010-2011, 2012-2013, 2013-2014) e
aumento (2011-2012, 2014-2015) do número de empresas atuantes na região dos Vales da
Uva Goethe, bem como do número de unidades locais.

Tabela 2 Variação do trabalho e rendimento nos Vales da Uva Goethe 2010 - 2015
Categoria 2010 variação 2011 variação 2012 variação 2013 variação 2014 variação 2015
Número de
5.933 -1,55% 5.841 11,01% 6.484 -0,82% 6.431 -0,64% 6.390 2,05% 6.521
empresas atuantes
Número de unidades
6.028 -1,48% 5.939 11,20% 6.604 -0,95% 6.541 -0,50% 6.508 2,01% 6.639
locais
Pessoal ocupado
45.353 6,10% 48.119 3,56% 49.831 6,77% 53.205 -3,33% 51.433 -3,30% 49.737
assalariado
Pessoal ocupado
52.415 6,30% 55.716 4,07% 57.984 5,72% 61.299 -2,59% 59.713 -2,43% 58.264
total
Salário médio
mensal (salário 2,25 4,44% 2,35 -4,26% 2,25 -0,89% 2,23 2,58% 2,29 0,55% 2,30
Mínimo)
Salários e outras
remunerações 705,883 17,78% 831,368 15,32% 958,771 14,58% 1.098,581 10,43% 1.213,214 9,07% 1.323,269
(MIL R$)
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE – Cidades

O número de pessoal ocupado segue em crescimento de 2010 a 2013, porém retrai de


2013 a 2015, fechando com 5.849 pessoas empregadas a mais do que no início do período.
Referente ao salário médio mensal, o mesmo tem um pequeno acréscimo no decorrer
do período analisado, atingindo o seu maior valor em 2015, com um salário médio mensal
correspondendo a 2,30 salários mínimos.
A única categoria que apresenta crescimento constante é a “Salários e outras
remunerações”, que atingiu a marca do bilhão de reais em 2013 e seguiu apresentando
aumentos decrescentes anuais até atingir o valor de R$ 1.323.269.000,00 em 2015.
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

Referente ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que considera


os níveis de Longevidade, Educação e Renda, os Vales da Uva Goethe apresentam índices
considerados “altos”, uma vez que todas as cidades apresentam média entre 0,700 e 0,799,
conforme pode ser verificado na Tabela 03.
O único critério tido como “muito alto” para todos os municípios foi o de longevidade.

Tabela 3 IDHM dos municípios dos Vales da Uva Goethe - 2010


Ranking Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
Municípios
Nacional Estadual IDHM Longevidade Educação Renda
128° 30° Cocal do Sul 0,780 0,859 0,740 0,747
210° 47° Urussanga 0,772 0,876 0,695 0,756
249° 55° Nova Veneza 0,768 0,869 0,703 0,741
453° 84° Orleans 0,755 0,873 0,657 0,749
743° 125° Içara 0,741 0,861 0,645 0,732
823° 132° Morro da Fumaça 0,738 0,825 0,665 0,732
1052° 160° Treze de Maio 0,729 0,881 0,602 0,729
1081° 163° Pedras Grandes 0,728 0,870 0,621 0,715
_ _ Agregação 0.752 0,862 0,667 0,739
_ _ Santa Catarina 0,774 0,860 0,6997 0,773
_ _ Brasil 0,727 0,816 0,637 0,739
Faixas de desenvolvimento humano

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do ATLASBRASIL (2016)

Ainda, as oito cidades apresentam índice “alto” para renda. Seis municipalidades
tiveram sua educação classificada com nível “médio”, sendo que Cocal do Sul e Nova Veneza
obtiveram a classificação “alto”.
Considerando os quatro eixos – Sociocultural, Econômico, Ambiental e Político-
Insitucional, a Federação Catarinense de Municípios (FECAM) apresenta o Índice de
Desenvolvimento Sustentável (IDMS) que abrange as faixas i) baixo; ii) médio baixo; iii)
médio; iv) médio alto; vii) alto. Enquanto no ano de 2016 o Estado de Santa Catarina
apresentou um IDMS de nível “médio baixo”, seis municípios (Içara, Cocal do Sul, Morro da
Fumaça, Nova Veneza, Orleans e Urussanga) obtiveram o nível “médio”. Tabela 04.

Tabela 4 IDMS dos municípios dos Vales da Uva Goethe - 2016


Morro da Fumaça

Pedras Grandes
Santa Catarina

Treze de Maio
Nova Veneza
Cocal do Sul

Urussanga

Dimensões
Orleans
Içara

Sociocultural 0,721 0,757 0,794 0,750 0,791 0,760 0,714 0,704 0,726
Educação 0,759 0,856 0,807 0,814 0,831 0,783 0,777 0,736 0,804
Saúde 0,707 0,696 0,786 0,742 0,711 0,729 0,651 0,715 0,599
Cultura 0,470 0,325 0,618 0,295 0,743 0,574 0,407 0,264 0,612
Habitação 0,854 0,958 0,935 0,940 0,937 0,955 0,953 0,961 0,934
Econômica 0,559 0,658 0,580 0,591 0,608 0,603 0,543 0,517 0,595
Ambiental 0,480 0,754 0,503 0,487 0,696 0,695 0,432 0,329 0,758
Político Institucional 0,669 0,692 0,661 0,679 0,648 0,633 0,664 0,688 0,661
Finanças Públicas 0,703 0,669 0,673 0,624 0,616 0,652 0,795 0,728 0,647
Gestão Pública 0,764 0,878 0,787 0,853 0,743 0,733 0,568 0,740 0,841
Participação Social 0,529 0,538 0,520 0,579 0,594 0,506 0,586 0,581 0,499
IDMS 0,608 0,715 0,634 0,627 0,686 0,673 0,588 0,559 0,685
Faixas de desenvolvimento municipal sustentável
Baixo Médio Baixo Médio Médio Alto Alto

0,000 a 0,499 0,500 a 0,624 0,625 a 0,749 0,750 a 0,874 0,875 a 1,000
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da FECAM (2017)

A dimensão sociocultural dos Vales da Uva Goethe varia entre os níveis “médio” e
“médio alto”. Enquanto a dimensão econômica é predominantemente de nível “médio baixo”
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

e a político-institucional de nível “médio”, a dimensão ambiental varia de “baixo” a “médio


alto” nos oito municípios.
O nível “alto” só é encontrado na subdimensão habitação das oito cidades, e gestão
pública do município de Cocal do Sul. Em média, os Vales da Uva Goethe mostram um
desempenho semelhante ao Estado na maior parte das dimensões analisadas.
Ao se considerar a série temporal do IDMS dos municípios e do Estado de Santa
Catarina (Tabela 05) é possível encontrar incrementos positivos em todas as cidades e no
Estado entre 2012 – 2014. Porém, na passagem para 2016 Orleans, Pedras Grandes e Treze de
Maio registraram retração. Assim como o Estado de Santa Catarina.

Tabela 5 Variação do IDMS dos municípios dos Vales da Uva Goethe -2012, 2014, 2016
IDMS
Municípios
2012 2014 2016
Cocal do Sul 0,676 0,708 0,715
Içara 0,587 0,622 0,634
Morro da Fumaça 0,563 0,661 0,627
Nova Veneza 0,607 0,661 0,686
Orleans 0,675 0,704 0,673
Pedras Grandes 0,603 0,619 0,588
Treze de Maio 0,523 0,570 0,559
Urussanga 0,619 0,643 0,685
Santa Catarina 0,582 0,610 0,608
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da FECAM (2017)

Mesmo considerando o aumento do IDMS de 2012 a 2016, apenas os municípios de


Içara, Morro da Fumaça, Nova Veneza e Urussanga mudaram de faixa, saindo do nível
“médio baixo” para integrar o nível “médio”.

Considerações Finais

O objetivo do presente artigo foi identificar o cenário do desenvolvimento regional da


IG dos Vales da Uva Goethe. A interpretação dos dados coletados aponta para uma evolução
positiva na questão econômica da região, porém tal evolução não é observada de forma tão
explícita nas questões de aspecto social dos Vales da Uva Goethe.
Os pontos mais críticos encontrados na análise dizem respeito ao IDMS, pois alguns
municípios apresentam níveis baixos nas subdimensões cultural e de participação pública e na
dimensão ambiental, deixando claro que a região precisa melhorar as condições de cultura,
meio-ambiente e de participação social.
A partir da análise dos dados coletados é possível constatar que a região dos Vales da
Uva Goethe como um todo precisa trabalhar questões humanas e sociais para atingir uma
condição equilibrada de desenvolvimento regional.

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Uso da Terra e Diversificação Agrícola no Sul do Brasil


Igor Martello Olsson1, Melissa Watanabe2, Silvio Parodi Oliveira Camilo³, Miguelangelo
Gianezini4

1
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico - UNESC - igor.olsson@hotmail.com
2
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico - UNESC - melissawatanabe@unesc.net
3
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico - UNESC - parodi@unesc.net
4
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico - UNESC - miguelangelo@unesc.net

Resumo. O uso e mudança do uso da terra e suas mudanças têm sua base no entendimento da destinação dada a
cobertura vegetal e nos impactos resultantes. A cobertura vegetal pode ser composta por vegetação natural ou
plantada e tem impacto direto na tomada de decisão deste uso e nos resultados obtidos. Quando considerado o
potencial econômico das atividades aplicadas, a mudança do uso da terra sofre impacto direto das características
socioeconômicas e culturais regionais e, portanto, tem no seu estudo possibilidades para identificação do processo
de tomada de decisão para destinação das áreas. Para identificação do processo descrito, foram analisados o uso e
as mudanças de uso da terra das áreas destinadas ao cultivo agrícola permanente e temporário nos municípios da
região sul do Brasil. A abordagem metodológica é quantitativa com objetivos descritivos e emprega o Índice de
Diversificação Agrícola (IDA) para a análise de séries históricas no período de 1990 a 2015. Os resultados apontam
uma distribuição espacial das áreas agrícolas a qual permite observar o processo de especialização em área de
expansão nas culturas de arroz, milho, soja e fumo e impacta diretamente na diversificação agrícola de regiões
como o oeste do Rio Grande do Sul e do Paraná. Essa especialização está ligada às características biofísicas
regionais e ao incremento tecnológico, que determinam às tomadas de decisão para a atividade agrícola.
Palavras-chave: Agricultura, Área Agrícola, Tomada de Decisão, Impacto Socioeconômico.

Land Use and Agriculture Diversification in South of Brazil


Abstract. The land use and land use change are based on the understanding of destination given to vegetation
cover and the resulting impacts. The vegetation cover can be composed of natural or planted vegetation and has,
in the decision making for land destination, direct impact on the results obtained. When considering the economic
potential of the applied activities, land use change is directly impacted by regional socioeconomic and cultural
characteristics and, therefore, has in its study possibilities to identify the decision-making process for the
destination of the areas. In order to identify the described process, the use and land use change of permanent and
temporal planted areas were analyzed in the municipalities in the south of Brazil. The methodological approach
is quantitative with objective descriptive considerations and employs the Agricultural Diversification Index (ADI)
for the analysis of historical series from 1990 to 2015.The spatial distribution of agricultural area observation
demonstrates that the specialization process in the increasing production area of rice, corn, soybean and tobacco
directly impacts the diversification in the western regions of Rio Grande do Sul and Paraná. This specialization is
linked to the regional biophysics characteristics and the technological increment, which determine the decision-
making process for the agricultural activity.
Keywords: Agriculture; Agriculture Land; Decision Making; Socioeconomic Impact.

Introdução

A exploração humana da cobertura vegetal da terra impacta diretamente nas


características das áreas e, por consequência, no meio socioeconômico regional. O uso da terra,
portanto, está associado à geografia humana daqueles que dependem das decisões tomadas em
relação às áreas geográficas. Logo, compreender de que forma e por quais razões essas
mudanças ocorrem têm se mostrado importante (VERBURG et al., 2006; WATANABE, 2009).
A mudança do uso da terra pode ter fatores variados, sejam derivados de decisões
humanas ou ambientais e, possivelmente, de suas interações. Nesse contexto, identificar fatores
condicionantes dentre as variáveis relacionadas à mudança e seus riscos e vantagens (LAMBIN;
GEIST; LEPERS, 2003; LAMBIN et al., 2001) é um meio para compreender seus
determinantes. Por exemplo, questões biofísicas impactam diretamente nas atividades
agrícolas, portanto, influenciam na tomada de decisão no uso da terra, A produção agrícola é

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dependente das condições climáticas e ambientais para o desenvolvimento dos cultivares e tem
definido no clima suas capacidades produtivas regionais (SALA et al., 2000; PATZ et al., 2005;
ROUNSEVELL et al., 2005; BRADFORD et al., 2006).
Ramankutty et al. (2002) afirmam que, associadas às questões climáticas, as
características do solo e disponibilidade hídrica impactam diretamente na atividade agrícola,
visto que a qualidade do solo pode definir a viabilidade da produção, bem como a
disponibilidade de água para irrigação.
Destaca-se a importância da pesquisa, tecnologia e inovação para a diminuição dos
impactos negativos e a gestão eficiente dos recursos (LÖSCHEL, 2002). Logo, para Freeman
(1989), a inovação é base para a contínua expansão da atividade agrícola, associando-se
tecnologia como forma de mitigação das externalidades negativas e aumento da produção
agrícola.
A partir dessas considerações, o presente estudo busca identificar o processo de
organização espacial das lavouras temporárias e permanentes, com a utilização do Índice de
Diversificação Agrícola (IDA), no período de 1990 a 2015. O processo de determinação do
IDA permite identificar a realocação de áreas para cultivares, bem como sua relevância espacial
para os municípios e suas adequações às características socioeconômica e biofísicas.

Metodologia

Segundo Vergara (2014), a metodologia é analítica quantitativa e qualitativa e conta


com considerações descritivas. Para o desenvolvimento do trabalho e composição das séries
históricas, foram utilizados dados secundários da base de dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Conforme Quadro 1, as séries históricas, que compreendem o
período de 1990 a 2015, serão compostas pelos valores de área utilizada nas lavouras
temporárias e áreas destinadas a colheita nas lavouras permanentes presentes nos municípios
dos estados da região sul do Brasil.

Quadro 1 – Lavouras Temporárias e Permanentes


Lavoura
Abacate Algodão arbóreo Azeitona Banana
Borracha Cacau Café Caqui
Castanha-de-caju Chá-da-índia Coco-da-baía Erva-mate
Permanente

Figo Goiaba Guaraná Laranja


Limão Maçã Mamão Manga
Maracujá Marmelo Noz Palmito
Pêra Pêssego Pimenta-do-reino Agave
Tangerina Tungue Urucum Uva
Abacaxi Algodão herbáceo Alho Amendoim
Arroz Aveia Batata-doce Batata-inglesa
Cana-de-açúcar Cebola Centeio Cevada
Temporária

Ervilha Fava Feijão Fumo


Girassol Juta Linho Malva
Mamona Mandioca Melancia Melão
Milho Rami Soja Sorgo
Tomate Trigo Triticale
Fonte: Elaboração Própria / IBGE

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O Índice de Diversificação Agrícola (IDA) é calculado para cada município (i), sendo
um índice que tem como base a razão entre a fração relativa de determinada cultura e a média
das frações de todas as culturas (LEFF; RAMANKUTTY; FOLEY, 2004). Conforme equação
1:
n
Fi,k
IDA = ∑ [min ( Mi , 1.0)] (1)
k=1

Onde:
i = município analisado;
n = número de produtos agrícolas produzidos no município;
Fi, k = fração relativa para cada produto agrícolas produzidos no município (k); e
Mi = fração média agrícolas produzidos no município. E conforme equação 2:

Ni
1
Mi = ∑ Fi, k (2)
Ni
k=1

Tal que, Ni = número de lavouras diferentes no município. E, por fim, a somatória das
frações relativas para cada produto agrícolas produzidos no município:

Ni

∑ Fi, k (3)
k=1

Após o cálculo, a forma definida para visualização dos resultados é a construção de


cartogramas que foram desenvolvidos utilizando o Tableau Software. É importante ressaltar
que o software em questão usa a base cartográfica estabelecida em 2010 e, portanto, foram
desconsiderados Pescaria-Brava e Balneário Rincão, ambos municípios do estado de Santa
Catarina.

Apresentação e Análise dos Resultados

O Índice de Diversificação Agrícola (IDA) demonstra, quando aplicado à um período


temporal, os resultados das tomadas de decisão dos agricultores. Conforme Figura 1, é possível
observar a heterogeneidade dos níveis de diversificação regional em 1990 com regiões
apresentando grande amplitude no indicador. Em regiões como o oeste do Rio Grande do Sul e
do Paraná, em 2015, o processo de especialização é visível com maior homogeneidade dos
níveis menores de diversificação.
Nas áreas litorâneas e metropolitanas, por sua vez, a diversificação tende a aumentar,
uma vez que as áreas produtivas são menores e englobam uma variedade maior de produções
diferenciadas. Cabe apontar que diferentemente dos outros estados, o oeste de Santa Catarina
apresentou aumento do nível médio de diversificação agrícola no período.

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Figura 1 – Mapeamento do Índice de Diversificação Agrícola em 1990 e 2015

Fonte: Elaboração Própria / IBGE

O processo de definição da estrutura produtiva regional e, conforme disposto na Figura


2, permite a visualização da mudança na alocação de área para produção de produtos diferentes.
Observa-se que em 1990 a alocação de área para produção de milho se concentrava na região
central do estado do Paraná e, em menor escala, no oeste de Santa Catarina e Centro-sul do Rio
Grande do Sul. Em 2015, por sua vez, é possível observar a diminuição da presença da produção
de milho no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e região central do estado do Paraná.
A modificação de alocação da área para produção de milho encontrou nas regiões oeste
e, em menor expressividade, norte do Paraná local para a implementação da produção agrícola
mencionada. A redistribuição da área de produção de milho para o meio oeste conta com as
condições biofísicas regionais e aproveita de momento positivo para commodities dentro do
período analisado. Para You et al. (2010) o uso da terra é influenciado pelo preço das produções,
pela migração de pessoas, por políticas governamentais e pelo crescimento da indústria.

Figura 2 – Mapeamento da área de produção de milho em 1990 e 2015

Fonte: Elaboração Própria / IBGE

As áreas destinadas ao cultivo de cana-de-açúcar (Figura 3), assim como para o milho
(Figura 2), sofreram mudanças no período analisado. Apresentando áreas utilizadas para o
cultivo distribuídas por todo o norte do estado do Paraná, em 1990, era visível o foco de
produção tendendo para a região nordeste do estado. Quando observado o ano de 2015,
visualiza-se expansão da área de produção por toda a região norte, predominantemente nas
cidades que já demonstravam pequenas áreas destinadas para esse cultivo em 1990.

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Figura 3 – Mapeamento da Área de Produção de Cana-de-Açúcar em 1990 e 2015

Fonte: Elaboração Própria / IBGE

O mapeamento da área produtiva de arroz releva, conforme Figura 4, o aumento da área


destinada à produção quando comparados os anos final e inicial. A cidade de Uruguaiana, no
extremo sudoeste do Rio Grande do Sul, contabilizou aumento de 47,7 mil hectares (8,33% da
área da cidade) em 1990 para 84,5 mil hectares (14,82% da área da cidade) em 2015. Na cidade
de Forquilhinha, no sul de Santa Catarina, a área destinada passou de 3,6 mil hectares (19,66%
da área da cidade) em 1990 para 9,8 mil hectares (53,69% da área da cidade) em 2015.
Embora a área destinada seja amplamente inferior do que em Uruguaiana,
proporcionalmente, quando levado em consideração o tamanho dos municípios analisados, a
tomada de decisão para uma cidade pequena tende a ser diferente daquela direcionada a uma
cidade com grande área disponível.

Figura 4 – Mapeamento da Área de Produção de Arroz em 1990 e 2015

Fonte: Elaboração Própria / IBGE

O caso de Uruguaiana, no sudoeste do Rio grande do Sul, reforça o entendimento de


que a especialização regional para determinada produção diminui a diversificação. Com IDA
de 1,7 em 1990 e 1,12 em 2015, a cidade demonstra queda no Índice de Diversificação para o
período. Corroborando com o entendimento da especialização regional, a área destinada para
plantio de arroz aumentou, aproximadamente, 77% no período. Logo, o crescimento dos
mercados tende a impulsionar a expansão das áreas agrícolas de modo que pressione áreas
florestais ou substitua outras atividades agrícolas (LEPERS et al., 2005; RAMANKUTTY et
al., 2007).

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É importante ressaltar que esse anseio pela expansão das áreas pode comprometer áreas
agricultáveis e desgastar sua capacidade produtiva. Para a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO, 2017), o manejo adequado da terra está relacionado com o
planejamento das atividades e ações de modo a manter a qualidade das áreas produtivas e
proteger os recursos, tais quais, recursos hídricos e o solo.
O mercado como estimulador para a expansão das áreas, conforme apontado
anteriormente, pode também ser responsável pela manutenção produtiva das áreas. Segundo
Halloran e Archer (2008), a exigência de certificações poderia impactar significantemente
naqueles que trabalham de modo insustentável nas suas áreas produtivas.
Seguindo estímulo de mercado, a distribuição da produção de soja se destoa das demais
produções analisadas, além de manter sua presença regional no período analisado, aumentou
sua área de produção, principalmente, na região centro-sul do Rio Grande do Sul e central do
Paraná.

Figura 5 – Mapeamento da Área de Produção de Soja em 1990 e 2015

Fonte: Elaboração Própria / IBGE

Essa expansão da área produtiva pode ser caracterizada pela limitação tecnológica ou
pela ineficiência econômica do aumento de incremento tecnológico nas áreas produtivas
iniciais. O retorno para investimento aplicado na atividade agrícola está diretamente
relacionado com a produtividade das áreas e, portanto, com o nível tecnológico aplicado à
produção. Segundo Boserup (2008), a expansão pode ser derivada da inabilidade ou
impossibilidade de aplicação de manejo e insumos com maior nível tecnológico.

Resultados

Como resultante do objetivo deste estudo, no sentido de identificar o processo de


organização espacial das lavouras temporárias e permanentes, com base no IDA, vê-se que a
expansão da produção de soja é indicador da força do mercado internacional de commodities
sobre as tomadas de decisão dos agricultores. Buscando atender à demanda, além da
implementação do incremento tecnológico nas áreas já utilizadas, foi constatada expansão
produtiva para regiões que oferecem características biofísicas favoráveis à produção do grão.
As áreas destinadas ao plantio de arroz reforçam a dependência das variáveis biofísicas
para a decisão do produtor. Assim, como no oeste do Rio Grande do Sul e no sul de Santa
Catarina, alguns locais distribuídos pelo estado do Paraná, embora não sejam claramente
visíveis em virtude de sua baixa expressividade territorial, as plantações de arroz tendem a ser
alocadas em regiões com grande disponibilidade hídrica.

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Quanto à força de mercado, já evidenciada pela expansão da produção de soja, é possível


observar a retomada da produção de milho na região oeste, essa por sua vez, está diretamente
ligada com o crescimento recente da atividade agroindustrial da produção de frango e suínos
na mesma região.
O índice, por fim, deixa claro que o processo de diversificação tende a ser maior em
regiões produtivamente menos eficientes e menor, ou seja, tendendo à maior especialização,
em áreas com maior nível de fertilidade e capacidade de aplicação de manejo e insumos com
alto nível tecnológico. Além disso, regiões próximas a aglomerações urbanas tendem a ser mais
diversificadas como aquela próxima à Porto Alegre no Rio Grande do Sul e Curitiba no Paraná.

Agradecimentos

Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições Comunitárias de Ensino Superior -


CAPES
Grupo de Pesquisa Estratégia, Competitividade e Desenvolvimento – GEComD - UNESC

Referências

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Enoturismo e o desenvolvimento territorial sustentável: o caso do vale dos


vinhedos
Filipe Mello Dorneles1, Marielen Alines Costa da Silva2

1
PPGA, Universidade Federal do Pampa, fidorneles@gmail.com
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo. O enoturismo assim como o turismo rural, apresenta papeis fundamentais no desenvolvimento social e
econômico e na proteção do território. Neste sentido, o presente artigo possui como objetivo abordar o enoturismo
e sua relação com o desenvolvimento territorial sustentável. Este ensaio teórico, caracteriza-se como uma pesquisa
qualitativa e descritiva através da pesquisa bibliográfica. A partir da presente pesquisa bibliográfica pode-se
perceber que o enoturismo possui características e peculiaridades capazes de o “definir” como estratégia potencial
de desenvolvimento territorial sustentável.
Palavras-chave: Desenvolvimento Territorial, Enoturismo, Sustentabilidade.

Wine tourism and sustainable territorial development the case of the valley
of the vineyards
Abstract. Wine tourism as well as rural tourism have fundamental roles in social and economic development and
in the protection of the territory. In this sense the present article aims to address wine tourism and its relationship
with sustainable territorial development. This theoretical essay is characterized as a qualitative and descriptive
research through bibliographic research. From the present bibliographical research one can see that the wine
tourism has characteristics and peculiarities able to "define" it as a potential strategy of sustainable territorial
development.
Keywords: Territorial Development, Wine Tourism, Sustainability.

Introdução

O desenvolvimento econômico, segundo Bresser-Pereira (2006), pode ser


compreendido como um fenômeno histórico que passa a ocorrer nos países que realizam sua
revolução capitalista, e se caracteriza pelo aumento sustentado da produtividade ou da renda
por habitante, acompanhado por sistemático processo de acumulação de capital e incorporação
de progresso técnico. Ou seja, é um fenômeno relacionado com o surgimento das duas
instituições fundamentais do sistema capitalista: o estado e os mercados. No entanto, entre as
décadas de 1950 e 1980 o debate acerca do desenvolvimento associado a ideia de crescimento
econômico, viu a expansão de seu arcabouço teórico e sua crise acontecerem em um curto
espaço de tempo, quando diversos projetos de desenvolvimento, que se colocavam como
promessas para a sociedade, se depararam com realidades socioeconômicas que não os
legitimava enquanto alternativas válidas para o conjunto da sociedade, como salientam Aguiar
et al. (2009).
Paralelamente as discussões em torno do tema desenvolvimento, emerge no cenário
internacional questões relacionadas ao meio ambiente, e sua relação com os modelos de
crescimento/desenvolvimento e com os padrões de produção e de consumo a eles associados.
Neste contexto, desponta o conceito de desenvolvimento sustentável, que ganha força em 1980,
mais especificamente na Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(1987). A noção de desenvolvimento sustentável se consolida como forma de combater a
miséria, preservar o ambiente e gerar bem-estar social, pelas agências de financiamento,
organizações não governamentais e os próprios governos (AGUIAR et al., 2009).
Dessa forma, com o avanço dos debates sobre desenvolvimento e sustentabilidade novas
lentes angulares passam a permear essas discussões, como a abordagem territorial. Segundo
Flores e Medeiros (2009), com a expansão da globalização o território passou a ser valorizado,
sendo percebido como um sistema aberto e dinâmico, que sofre e recebe influências e pode ser
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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

abordado em esferas indo do micro ao macro, dando espaço à noção de desenvolvimento local,
onde a identidade e as características de cada território passam a ser um ativo capaz de estimular
seu próprio desenvolvimento, como afirma Azevedo (2003). Todavia, as autoras ressaltam que,
embora os conceitos de território e sustentabilidade sejam temas amplamente debatidos nos
últimos vinte anos, sua integração não é algo evidente, sendo difícil encontrar definições e
conceituações amplamente aceitáveis.
De acordo com a LEADER - experiência de desenvolvimento local em meio rural que
surgiu na Europa em 1992 – a abordagem territorial prevê o desenvolvimento a partir das
realidades, forças e fraquezas específicas de uma determinada zona com certa homogeneidade
e caracterizada pela sua coesão interna, entidade partilhada e presença de recursos endógenos
(FERREIRA, 2009). Assim, o território é definido como “uma representação coletiva, baseada
na integração das dimensões geográficas, econômicas, sociais, culturais, políticas, etc.”
(AIELD, 2001). Corroborando com esta ideia, Favareto (2007) argumenta que a questão
territorial deve ser abordada em suas diferentes dimensões: política (em se tratando de espaço-
poder), cultural (território vivido, como apropriação) econômica (dimensão espacial das
trocas), e natural (comportamento natural do homem e ambiente físico).
Anjos (2014) salienta que a abordagem territorial do desenvolvimento envolve a
necessária transição do enfoque setorial para o enfoque espacial, sendo necessário buscar a
conciliação de distintos atores e interesses, de modo que o desenvolvimento territorial não pode
ser visto como a reiteração de iniciativas ligadas a criação ou fortalecimento de cadeias
produtivas, mas sim, de cadeias de valor, como no caso de indicações geográficas, que não
envolvem apenas a valorização de um produto, mas de uma “cesta” de produtos e serviços que
articulam em torno de si uma série de atores e segmentos como o turismo, serviço, hotelaria,
entre outros.
Entre as atividades que vêm sendo implantadas e/ou estimuladas como estratégias de
desenvolvimento territorial, Vieira e Pellin (2014) destacam a vitivinicultura. Os arranjos
produtivos locais (APLs) vitivinícolas além de responsáveis pelas características produtivas dos
chamados territórios do vinho, estão também atrelados aos aspectos culturais e institucionais
do ambiente local.
A partir desta perspectiva, de olhares voltados aos territórios e seu desenvolvimento, e
frente a expansão dos APL’s vitivinícolas do Novo Mundo, territórios como o Vale dos
Vinhedos passam a despertar, cada vez mais, o interesse de empreendedores e pesquisadores.
Neste sentido, buscando compreender parte da complexidade do processo de desenvolvimento
territorial do Vale dos Vinhedos - região de maior produção de vinhos do Brasil, localizado na
Serra do Rio Grande do Sul, o presente artigo se propôs a retratar a situação do território nos
anos de 2000 e 2010 e as possíveis contribuições e impactos do enoturismo para este cenário.

Metodologia

O presente trabalho caracteriza-se pela metodologia descritiva, de corte quali-


quantitativo. A análise qualitativa foi baseada em dados advindos da pesquisa bibliográfica,
enquanto a análise quantitativa utilizou dados e indicadores das dimensões social, econômica,
ambiental e demográfica. Para cada dimensão foram selecionadas entre 3 e 5 variáveis
representativas, as quais foram obtidas através do Atlas de Desenvolvimento Humano
Municipal do Brasil. Segundo Waquill et al. (2005) são consideradas múltiplas dimensões,
cada uma composta por um amplo conjunto de variáveis, com o intuito de captar a
complexidade e a diversidade dos processos de desenvolvimento territorial. Assim, a
justificativa para a escolha das variáveis em cada dimensão é a busca da caracterização e
distinção dos territórios com grande riqueza de informações, sem no entanto sobrepô-las em
excesso.

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Enoturismo, desenvolvimento territorial sustentável e o Vale dos Vinhedos

A prática enoturística é caracterizada pela visitação a vinhedos, cantinas, festivais e


exposições do vinho, sendo este – o gosto pelo vinho ou pela região produtora – o elemento
central, motivador. Já para os empreendimentos vinícolas o mesmo caracteriza-se como uma
estratégia de consolidação das relações consumidor/produtor (HALL e MANCIONIS, 1998).
Para Flores (2011) o enoturismo apresenta-se como uma forte tendência, uma vez que aliar o
vinho e turismo se torna uma opção interessante por duas frentes: se o vinho é um atrativo para
o turismo, por outro lado, o turismo tem papel importante ao contribuir com a divulgação e
venda dos produtos, além de auxiliar as vinícolas a estabelecer vínculos com os clientes.
Localizado no Estado do Rio Grande do Sul, o território do Vale do Vinhedos é
considerado a principal atração enoturística do país. De acordo com dados da Associação dos
Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (APROVALE), o Vale está inserido no
encontro dos municípios de Bento Gonçalves (60%), Garibaldi (33%) e Monte Belo do Sul
(7%), e representa o legado histórico, cultural e gastronômico deixado pelos imigrantes
italianos que chegaram à região em 1875, em perfeita harmonia com as modernas tecnologias
para produção de uva e vinhos finos e infraestrutura turística de alta qualidade, sendo
caracterizado pelo compartilhamento de pequenas propriedades rurais com vinícolas de
diferentes portes, desde vinícolas familiares, boutiques, de garagem com empreendimentos
internacionais.
Quanto ao enoturismo o território destaca 6 grandes áreas: 1) Cultura e tradição: herança
europeia; 2) Paisagem: explora a beleza natural e característica da atividade produtiva local; 3)
Vinhos: a denominação de origem garante a alta qualidade e identidade dos vinhos do Vale dos
Vinhedos; 4) Gastronomia: explora do tradicional da cultura italiana ao moderno; 5)
Hospedagem: o território conta hospedagens familiares até Spas e vasta rede hoteleira; 6)
Eventos: durante as 4 estações do ano são realizados eventos que vinculam a produção de
vinhos aos demais recursos endógenos do território. Dentro das diversas modalidades o Vale
dos Vinhedos conta com uma estrutura enoturística de mais de 70 empreendimentos
(APROVALE, 2017).
Segundo dados das secretarias municipais de turismo, Bento Gonçalves é conhecida
turisticamente como a Capital da Uva e Vinho, sendo responsável pela produção de até 85%
dos vinhos nacionais, sediando a Avaliação Nacional de Vinhos e o Concurso Internacional de
Vinhos do Brasil, bem como a Fenavinho – Festa Nacional do Vinho (a mais antiga festa
comunitária do município). Já Garibaldi é conhecida como a Capital do Espumante, possuindo
um roteiro composto por mais de 20 vinícolas, enquanto Monte Belo do Sul é reconhecida por
sua identidade cultural e herança italiana, expressas em suas 12 vinícolas, a maioria familiar e
de pequeno porte.
De acordo com Valduga (2007), os primeiros indícios de enoturismo no Vale dos
Vinhedos surgiram nas décadas de 1970 e 1980, com o início da produção de vinhos finos e
sua venda direta, atraindo os consumidores locais e de arredores. Nesta década, algumas festas
ligadas ao vinho – Fenachamp, Fenavinho - também contribuíram para atração dos turistas. No
entanto, foi na década de 1990, a partir da evolução tecnológica do setor vitivinícola,
fortalecimento das vinícolas familiares e criação da APROVALE, que o enoturismo se
consolidou no território. Já na década de 2000, o Planejamento Estratégico do Vale dos
Vinhedos, desenvolvido pela APROVALE, deu início a uma série de estratégias para o
desenvolvimento e melhoria da infraestrutura enoturística na região.
Assim, por meio da análise das dimensões acima citadas, pode-se constatar que, de
modo geral, as variáveis estudas nos três municípios do território do Vale dos Vinhedos, nos
anos de 2000 e 2010, mantiveram-se próximas aos melhores valores observados na região do

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COREDE Serra Gaúcha. No que tange a dimensão social no ano de 2000, as variáveis
mortalidade infantil, IDHM longevidade e IDHM educação foram as que se encontraram mais
próximas dos melhores valores do COREDE da região, enquanto a taxa de jovens entre 18 e 20
anos com ensino médio completo e a porcentagem de vulneráveis à pobreza estiveram mais
distantes dos melhores valores. O mesmo se repetiu no ano de 2010, como mostra a tabela 1.

Tabela 1 – Indicadores sociais dos municípios pertencentes ao Vale dos Vinhedos, RS, nos
anos de 2000 e 2010.
Mortalidade IDHM IDHM % de 18 a 20 % de vulneráveis
infantil (%) Longevidade Educação anos com à pobreza
Municípios médio
completo
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
Bento Gonçalves 13,9 12,1 0,833 0,842 0,569 0,695 39,17 49,36 14,09 5,26
Garibaldi 15,1 11 0,82 0,856 0,579 0,688 44,56 50,16 13,31 4,06
Monte Belo do
13,3 11,3 0,84 0,852 0,432 0,663 32,46 65,13 23,64 7,39
Sul
Fonte: Autores (2017).

Quanto a dimensão econômica o território do Vale dos Vinhedos também apresentou


dados semelhantes aos demais municípios do COREDE Serra (tabela 2). No entanto, é
importante ressaltar o comportamento das variáveis econômicas no município de Monte Belo
do Sul, em ambos os anos (2000 e 2010). Os indicadores IDHM renda e renda per capita do
município ficaram próximos aos piores resultados entre os municípios observados. Alguns
fatores que “supostamente” podem explicar esta diferença são as características relacionadas
aos tipos de atividades econômicas desenvolvidas no município. Enquanto Monte Belo possui
uma economia tipicamente agrícola, com aproximadamente 50% do PIB municipal da década
de 2000 originário de atividades agropecuárias (EMBRAPA, 2008), outros municípios do
COREDE Serra Gaúcha, como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi possuem como fonte
principal de seus PIBs municipais a arrecadação advinda das indústrias de metal-mecânica,
processamento de alimentos e moveleiras. Neste sentido, Garibaldi foi município que
apresentou a melhor evolução de seus indicadores no período de 10 anos, o que se deve ao setor
metal-mecânica, responsável pela maior receita líquida e faturamento no final da década de
2000, como indica o balanço econômico realizado pelo governo municipal.

Tabela 2 – Indicadores econômicos dos municípios pertencentes ao Vale dos Vinhedos, RS,
nos anos de 2000 e 2010.
Índice de Gini IDHM Renda Renda Per capita (R$)
Municípios
2000 2010 2000 2010 2000 2010
Bento Gonçalves 0,47 0,44 0,762 0,805 981,21 1196,56
Garibaldi 0,48 0,51 0,76 0,825 907,45 1355,37
Monte Belo do Sul 0,39 0,33 0,685 0,752 569,45 861,81
Fonte: Autores (2017).

Da mesma forma, no que refere-se a questão ambiental, o território estudado apresentou


no anos de 2000 e 2010 resultados muito próximos aos melhores municípios do COREDE,
sendo que mais uma vez o município de Monte Belo do Sul apresentou resultados mais distantes
dos melhores (Tabela 3). O mesmo pode ser percebido na dimensão demográfica, cujo Monte
Belo do Sul também demonstrou indicadores com valores distantes dos melhores observados
no COREDE, sendo que mesmo apresenta uma dinâmica de baixa densidade populacional,
desequilíbrio nas relações entre população masculina e feminina, bem como na população rural
e urbana, como mostra a Tabela 4.

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Tabela 3 - Indicadores ambientais dos municípios pertencentes ao Vale dos Vinhedos, RS, nos
anos de 2000 e 2010.
% domicílios % domicílios com % domicílios % domicílios com água e
com água banheiro e água coleta de lixo esgotamento sanitário
Municípios
encanada encanada inadequados
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
Bento Gonçalves 98,56 97,34 97,18 99,27 98,62 99,88 0,24 0,19
Garibaldi 97,44 91,51 97,53 99,88 96,59 99,32 0,17 --
Monte Belo do
98,47
Sul 96,00 94,92 99,42 86,67 96,43 2,39 0,27
Fonte: Autores (2017).

Tabela 4 - Indicadores demográficos dos municípios pertencentes ao Vale dos Vinhedos, RS,
nos anos de 2000 e 2010
Taxa de Urbanização Taxa de Razão PM/F**
Municípios Envelhecimento Razão PR/U***
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
Bento
0,89434449 0,923479185 6,38 8,42 0,974489576 0,963611736 0,118137375 0,08286144
Gonçalves
Garibaldi 0,867611489 0,886669491 7,12 9,26 0,991420185 0,984031549 0,152589624 0,127815957
Monte
Belo do 0,215625 0,288389513 12,22 16,55 1,023893183 1,01509434 0,274900398 0,405263158
Sul
Fonte: Autores (2017).

Em suma, o cenário observado no território, por meio dos indicadores e variáveis


observados, assim como a observação empírica do Vale dos Vinhedos, permite aferir sobre as
condições favoráveis de desenvolvimento territorial sustentável na qual o mesmo encontrou-
se na década de 2000. Embora, não se possa atribuir o sucesso dos indicadores ao enoturismo,
ou apenas ao enoturismo - uma vez que outros municípios da região que não possuem
atividades de enoturismo apresentam dados semelhantes ou melhores aos dos municípios do
Vale - é importante destacar o papel que este tem na consolidação e crescimento do setor
vitivinícola, que é grande responsável pela geração de emprego, renda e arrecadação dentro
do Vale dos Vinhedos.
O turismo do vinho é uma atividade que vem caminhando lado a lado com a melhoria
da produção de vinhos de qualidade. Além de promover a comercialização e a cultura do
vinho, esta modalidade é capaz de promover diversos benefícios socioeconômicos, em
especial quando em áreas rurais, ou seja, em especial quando ocorre associado ao processo de
produção de uvas. Atividades não agrícolas no meio rural, como o turismo, são um processo
de mudança com repercussões nas esferas social, econômica e cultural, que de um modo ou
outro afetam a vida das pessoas e transformam a sua condição (SCHNEIDER, 2006). Para
Barbieri (2010), além de proporcionar benefícios aos empreendedores, o agroturismo preserva
os serviços intangíveis que a terra fornece a sociedade, juntamente com a produção de
alimentos, tais como amenidades ambientais, oportunidades de lazer, gestão da paisagem, da
biodiversidade e da cultura.
De modo geral, as práticas enoturísticas têm sido apontadas como elementos
significativos no desenvolvimento socioeconômico e renascimento das regiões rurais. Entre as
principais razões está sua contribuição econômica e social para as comunidades rurais. Além
disso, há outras razões, como o fornecimento de receitas adicionais para a exploração agrícola,
promoção e proteção dos valores ambientais e culturais, bem como a fonte de emprego para os
membros das famílias e das comunidades locais. No entanto, Valduga et al. (2012) e Flores
(2011) salientam que a atividade turística pode incorrer em aspectos negativos importantes

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como impactos ambientais, alterações da paisagem rural, especulação imobiliária, questões


relacionadas com a biossegurança dos vinhedos, o que requer cautela em sua aplicação,
sobretudo ao observar os princípios do desenvolvimento territorial sustentável.
Por fim, é importante destacar que identificar a contribuição e impactos de atividades
econômicas e culturais, especificas como o enoturismo, é ainda um desafio. A dificuldade de
obter-se indicadores singulares a esta modalidade, uma vez que os mesmos encontram-se
atrelados a dados conjuntos dos setores vitivinícola e/ou turístico, acabam impedindo a
constatação quantitativa das eventuais contribuições do enoturismo para o desenvolvimento
territorial sustentável. Um exemplo de tal desafio são os dados do Observatório de Turismo do
Estado do Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria de Turismo Esporte e Lazer do Estado do
Rio Grande do Sul (SETEL), que ao apresentar a contribuição do turismo para a arrecadação
de imposto para o município de Bento Gonçalves - onde está localizado 66% do território
enoturístico do Vale dos Vinhedos, o faz apenas sobre um tipo de imposto (ISSQN), analisando
as atividades características do turismo (ACTs)1, o que não permite diferencia a contribuição
econômica de cada modalidade de turística, como o enoturismo ou turismo rural.

Considerações Finais

Através da reflexão realizada no presente artigo foi possível iniciar uma discussão
quanto ao desenvolvimento territorial sustentável e como o enoturismo pode contribuir ou não
para o fomento desse processo. Ao descrever o surgimento do debate acerca da sustentabilidade
e da abordagem territorial do desenvolvimento evidencia-se que, embora tal discussão venha
ocorrendo com maior intensidade na última década, este é um tema de grande complexidade
que, além de envolver diferentes dimensões (ambiental, social, econômica, institucional e
cultural), envolve também as especificidades de cada território. Dessa forma, ao posicionar-se
sobre o processo de desenvolvimento territorial sustentável de determinado território é
necessário ter cuidado para que as conclusões e ideias não sejam generalizadas para realidades
e práticas distintas.
Em relação ao enoturismo, este também se evidencia como uma atividade complexa,
que alia a produção vitícola, característica de regiões agrícolas, o setor vinícola e sua rede de
atores, bem como o cluster do turismo, sendo importante reconhecer as singularidades dessa
prática. Assim, no decorrer da presente pesquisa pode-se perceber que, em determinados
territórios, o enoturismo possui características e peculiaridades capazes de o “definir” como
estratégia potencial de desenvolvimento territorial sustentável.
No caso do Vale dos Vinhedos, os resultados observados demonstram que embora
tenha-se acompanhado um processo de expansão da vitivinicultura da região - com a
consolidação do território como referência de enoturismo, a conquista das indicações
geográficas, a exportação e premiação mundial de seus produtos, entre outros, as dimensões
que garantem um desenvolvimento sustentável, com ênfase nos fatores endógenos do
território, não diferiram significativamente dos indicadores dos demais municípios da região da
Serra Gaúcha. Tais aspectos podem ser explicados por conflitos que se consolidam em torno
das atividades produtivas locais (vitivinicultura, metalmecânica, transformação), como a
exclusão da população local a partir do processo de especialização produtiva, bem como por
fatores ligados a própria dinâmica territorial e relações político-institucionais. Todavia, deve-
se evidenciar o papel do enoturismo como oportunidade de fortalecimento do setor vitivinícola
através da consolidação de marcas e do território, dinamizando, em certa medida, a economia
local, bem como contribuindo para a reterritorialização e resgate da identidade de atores locais.

1ACTs consiste em uma lista de atividades características do turismo que segue as Recomendações
Internacionais de Estatística de Turismo (RIET).

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Outro fator a ser ressaltado na análise do desenvolvimento sustentável do território é a


limitação da metodologia utilizada. Em geral, a construção de ferramentas que mensurem o
processo de desenvolvimento está diretamente vinculada aos debates e emergência de
diferentes abordagens sobre o tema. No entanto, muitas vezes, metodologias quantitativas,
como o uso de indicadores, não conseguem expressar a realidade, mas apenas expressam
informações que simplificam a complexidade dos fatos e do território. Tal situação pode ser
percebida no decorrer deste estudo. A utilização de uma base para valores máximos e mínimos
de municípios com características demográficas e econômicas tão distintas do território do Vale
dos Vinhedos, por vezes, intensificou a limitação da metodologia em descrever a realidade dos
municípios analisados.
Embora, seja possível verificar o importante papel do enoturismo dentro do território,
vale ressaltar que nem sempre este é capaz de promover o desenvolvimento territorial
sustentável. Em muito territórios a prática está vinculada ao capital externo, limitando sua
cooperação ao crescimento econômico, e até mesmo excluindo a população local da efetiva
participação nas tomadas de decisões sobre o território e na criação de políticas públicas para o
setor e para a comunidade em questão.

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

POSSIBILIDADES DE ALTERNATIVAS DE DIVERSIFICAÇÃO DOS


MEIOS DE SUSTENTO NO MEIO RURAL: ANÁLISE DAS
ATIVIDADES DE TURISMO NA CANTINA BORDIGNON
Daiane Thaise de Oliveira Faoro1, Ana Claudia Machada Padilha2, Marcelino de Souza3.

1
Mestre em Administração – Universidade de Passo Fundo (PPGAdm/UPF),
E-mail: dfaoro22@hotmail.com
2
Programa de Pós-Graduação em Administração - Universidade de Passo Fundo (PPGAdm/UPF),
E-mail: anapadilha@upf.br
3
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) e Agronegócios (PPGAgro/CEPAN) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
E-mail: marcelino.souza@uol.com.br

Resumo. A agricultura familiar é um segmento importante no cenário rural brasileiro, pois responde pela
produção de, aproximadamente, 40% da riqueza gerada no meio rural. A diversificação das atividades para a
agricultura familiar contribui, gerando emprego para os membros da família, bem como incentivando a
cooperação entre os produtores de uma localidade, proporcionando benefícios econômicos, sociais e ambientais
para a região. Neste sentido, o artigo tem como objetivo analisar a estratégia de diversificação dos meios de vida
da propriedade Cantina Bordignon, integrante da Rota das Salamarias de Marau-RS. O estudo possui abordagem
qualitativa, com caráter descritivo e exploratório, bem como um estudo de caso único. Percebeu-se que a família
objeto deste estudo vem diversificando suas atividades ao longo do tempo e, através do acesso e combinações
dos capitais disponíveis especificados por Ellis (2000), também passaram a explorar o turismo no meio rural. A
nova atividade se mostrou uma alternativa viável de diversificação, que contribuiu para adquirir novos
conhecimentos, atrair visitantes e aumentar a renda da família. Assim, constatou-se que o turismo no meio rural
é uma nova fonte de renda e de oportunidade.
Palavras-chave: Agronegócio. Estratégia de Diversificação de Sustento Rural. Turismo no Meio Rural,
Desenvolvimento Rural.

POSSIBILITIES OF ALTERNATIVES OF DIVERSIFICATION OF THE


MEANS OF SUPPORT IN THE RURAL ENVIRONMENT: ANALYSIS
OF TOURISM ACTIVITIES IN BORDIGNON CANTINA

Abstract. Family farming is an important segment in the Brazilian rural scenario, as it accounts for the
production of approximately 40% of the wealth generated in the rural environment. The diversification of
activities for family agriculture contributes, generating jobs for family members, as well as encouraging
cooperation between producers in a locality, providing economic, social and environmental benefits to the
region. In this sense, the article aims to analyze the livelihood diversification strategy of the Cantina Bordignon
estate, part of the Marau-RS Salaried Route. The study has a qualitative, descriptive and exploratory approach,
as well as a single case study. It was noticed that the family object of this study has diversified its activities over
time and, through the access and combinations of available capitals specified by Ellis (2000), also began to
explore tourism in rural areas. The new activity proved to be a viable diversification alternative, which
contributed to acquiring new knowledge, attracting visitors and increasing family income. Thus, it was found
that tourism in rural areas is a new source of income and opportunity
Keywords: Agrobusiness. Rural livelihood diversification strategy. Tourism in the countryside. Rural
Developmente.

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1 Introdução

A agricultura tem um papel importante no processo de crescimento e desenvolvimento


econômico de um país, seja por sua importância no emprego de recursos ou pela geração de
renda que proporciona. Segundo Feix, Leusin Júnior (2015), o Rio Grande do Sul é o terceiro
estado brasileiro com maior número de pessoas ocupadas com a agricultura familiar, estas
pessoas/ famílias precisam de estratégias para diversificar suas fontes de renda.
Para Ellis (2000), a diversificação de atividades é uma estratégia para diminuir a
vulnerabilidade das famílias rurais, a partir do acesso a plataforma de sustento que é composta
por cinco ativos (capital natural, capital físico, capital humano, capital financeiro e capital
social). Para o autor, este conjunto de capitais sustentam as estratégias diversificadas da
família rural construindo portfolios de oportunidades.
Assim, diversificar as fontes de sustento tornou-se mais fácil, uma vez que,
aproximadamente, nas últimas três décadas a concepção do “rural” vêm sendo construída a
partir de um caráter alargado, não se limitando apenas à produção agropecuária, mas,
sobretudo, a uma diversidade de estratégias (TOIGO; CONTERATO, 2015).
Adicionalmente, Elesbão (2014) afirma que é preciso analisar o espaço rural
observando sua diversidade, já que novas funções vêm sendo consolidadas e incorporadas nas
estratégias das famílias rurais. Wanderley (2009) confirma o aumento da diversidade de
ocupação, serviços, atividades produtivas, bem como novas funções para o meio rural, a citar
fonte de lazer, de esporte, de turismo, de residência e de apreciação de paisagem.
Nesse sentido, destaca-se o turismo no meio rural como sendo uma das alternativas
que contribui para a ampliação da pauta de estratégias de sustento das famílias rurais
(PADILHA, 2009). Além disso, Souza, Klein e Rodrigues (2010) afirmam que o turismo rural
vem crescendo de maneira significativa nas regiões brasileiras, destacando-se como uma
atividade não agrícola com potencial para promover o desenvolvimento local e a economia da
família rural.
Um exemplo de atividade não agrícola aconteceu no ano de 2008, quando pequenos
produtores da região do município de Marau-RS, com o apoio da Emater e do poder público
se articularam para desenvolver a atividade turística no município, na ocasião foi criada a
Associação Rota das Salamarias, através da qual os produtores buscaram se desenvolver
mediante parcerias e contribuições mútuas, assim, foram criadas oportunidades que
fomentaram a economia local com base no turismo no meio rural.
Justifica-se a realização do estudo, uma vez que a referida Rota está em
desenvolvimento e possui um efeito na economia da região, bem como pelo fato de seus
integrantes terem aumentado seus rendimentos através da diversificação, especialmente, a
partir do turismo no meio rural.
Ante o exposto, o estudo tem como objetivo analisar a estratégia de diversificação dos
meios de vida da Cantina Bordignon, propriedade que integra a Rota das Salamarias de
Marau-RS.

2 Revisão da Literatura

A diversificação dos meios de vida é definida por Ellis (2000, p.15) como “processo
pelo qual o grupo doméstico rural constrói uma crescente diversificação do portfolio de
atividades e ativos para sobreviver ou melhorar seu padrão de vida.”. Para o autor, a
diversificação dos meios de vida contribui para o aumento e estabilidade do nível de renda,
segurança do sustento, redução do impacto da sazonalidade, redução do grau de risco das
fontes individuais.

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A diversificação das estratégias pode ocorrer de diversas formas e razões e a partir de


combinações distintas de capitais (NIEHOF, 2004). Os capitais são especificados por Ellis
(2000), como: a) capital natural (são os recursos naturais a qual é utilizada para a
sobrevivência dos indivíduos), b) capital físico (são os bens gerados e utilizados nos
processos de produção, como máquinas, melhoramentos para a terra, ferramentas), c) capital
humano (está relacionado com os níveis de educação e condições de saúde dos indivíduos), d)
capital financeiro (concerne ao crédito ou outros tipos de fluxos monetários destinados para a
produção ou consumo de bens) e e) capital social (são às redes de relacionamentos e
participação em associações que contribuem para a expansão dos meios de vida). O autor
menciona ainda que, o acesso à plataforma de sustento (capitais disponíveis) é mediado por
dois conjuntos de fatores, especificados como: endógenos e exógenos.
De acordo com o Framework proposto por Ellis (2000), os fatores endógenos podem
ser modificados dependendo o contexto, assim caso aconteça mudanças na plataforma de
sustento, as estratégias também poderão mudar. Por sua vez, os fatores exógenos podem
modificar o acesso aos capitais disponíveis, isso ocorre com fatores que não podem ser
controlados — tendências como: população, migração, mudanças tecnológicas preços
relativos e políticas macroeconômicas, bem como os choques externos como: secas, pestes,
doenças, guerras civis e enchentes— e causam consequência na viabilidade do sustento.
Para Van Der Ploeg (2008), a diversificação é uma luta constante pelo fortalecimento
da base dos recursos disponíveis e gera, para os agricultores, mecanismos para lutar pela
sobrevivência. Assim, nota-se que as famílias rurais buscam alternativas de geração de
sustento através da estratégia de diversificação rural.
O turismo no meio rural é considerado uma alternativa para famílias que querem
diversificar, Leef (2001) afirma que a atividade turística no meio rural inventa e reinventa o
espaço, transformando o ambiente, gerando impactos culturais, naturais e sociais, os quais
ocorrem em um ambiente configurado por comportamentos, valores e saberes, bem como
potenciais produtivos.
Adicionalmente, Talavera (2002) complementa que o turismo no espaço rural está
baseado na combinação da natureza, contato humano e cultura, com a pretensão de beneficiar
tanto ao visitante como o residente. Assim, percebe-se que o turismo no meio rural é uma
alternativa para as famílias rurais que querem complementar seus rendimentos e alcançar
novos patamares de segurança e de qualidade de vida, bem como contribui para gerar
empregos e, sobretudo, desenvolver economicamente a região.

3 Procedimentos Metodológicos

Neste estudo foi adotada uma abordagem qualitativa, de caráter descritivo e


exploratório (GODOY, 1995; GIL, 1999), uma vez que o objetivo foi apresentar o resultado
de uma propriedade rural que integra um roteiro turístico, caracteriza-se também como um
estudo de caso único (YIN, 2015). Justifica-se a utilização do método de estudo de um caso
por se tratar de uma propriedade que desenvolve atividades primárias (soja, trigo, aveia) e
secundárias (turismo no meio rural).
Os dados foram coletados no período de agosto de 2016, através de entrevista in loco
com o proprietário do empreendimento rural, sendo utilizado um roteiro estruturado,
elaborado por Padilha (2009) a partir da teoria de Ellis (2000). As categorias que integraram o
instrumento de coleta de dados foram à caracterização da propriedade rural, bem como a
estratégia de diversificação rural. Foi solicitado ao entrevistado a autorização para gravar a
entrevista, bem como usar as informações obtidas.
A técnica utilizada para interpretar os dados foi à análise de conteúdo. Para Bardin
(1997, p. 42), a análise de conteúdo compreende “um conjunto de técnicas de análise das

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comunicações, visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do


conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas
mensagens”.

4 Análise dos Resultados

4.1 Caracterização da Propriedade Rural

A Cantina Bordignon está localizada na comunidade de Nossa Senhora do Carmo, no


interior do município de Marau-RS, próximo a RS 324. É uma propriedade que possui uma
área total de 40 ha., sendo que 30 ha. são destinados para o cultivo de pastagens, trigo, aveia,
milho, soja e gado leiteiro. E no restante da área total estão distribuídos os potreiros, galpões
para ordenhar, a mata e o espaço onde a família rural possui suas casas.
A família é composta pelo casal e pelo filho, os quais administram em conjunto as
atividades desenvolvidas na propriedade. As principais atividades da família rural consistem
no cultivo da soja e na produção de leite, sendo que a atividade agrícola é desenvolvida pela
família desde o ano de 1972.
Os principais fatores para a implantação da atividade turística foram a possibilidade de
conhecer novas pessoas e de adquirir conhecimentos. A renda da família somente seria
prejudicada se desenvolvessem apenas uma atividade rural, declarando o entrevistado que “Se
nós plantássemos só soja e ocorresse um imprevisto, acabaríamos perdendo dinheiro e talvez
colocando em risco a segurança da nossa família”.
Assim, como os demais membros da Rota das Salamarias, a família Bordignon
recebeu um convite para integrar o roteiro. Com isso, a família tornou-se empreendedora
entre 2008 e 2009, oferecendo como atrativos para os turistas a cantina, parreiral, vinhos,
sucos, geleias, vinagres, verduras, conservas, frutas in natura, além da plantação de grãos e
produção de leite. O ingresso na rota possibilitou a comercialização do excedente de
produção, afirmando o entrevistado que “valeu a pena para vender algumas coisas, pois
muitas vezes tínhamos que dar para os animais”.
O entrevistado mencionou que o projeto para implantação da atividade turística na
propriedade foi o mesmo desenvolvido para a Rota das Salamarias, e afirma que tiveram o
apoio da Emater e do Poder Público.
O entrevistado citou que o atendimento aos turistas foi uma das principais dificuldades
vivenciadas pela família quando da implantação da nova atividade, pois afirma que “fomos
criados com pouco estudo e tínhamos medo das pessoas, então a principal dificuldade foi o
atendimento”.
Quanto à ocupação da mão de obra, a família Bordignon desempenha todas as
atividades da propriedade com mão-de-obra exclusivamente familiar. O entrevistado
mencionou que o auxílio de terceiros seria bem vindo, entretanto, é difícil de encontrar mão-
de-obra na região em virtude do êxodo rural, afirmando que “existe pouca mão-de-obra no
interior, sendo que o meu filho apenas permaneceu na propriedade por que temos uma área
razoável para trabalhar”. Dessa maneira, o filho do casal desempenha todas as atividades
agrícolas, a citar, planta, colhe, passa veneno, entre outras. O entrevistado ainda menciona
que “eu trabalho por que eu quero e não porque eu preciso e, agora com as máquinas
modernas tu quase não faz força”.
No que se refere à atividade do turismo no meio rural, observou-se durante a
entrevista que a família teve pouco treinamento para atuar na atividade. Ainda assim, a falta
de treinamento não foi um empecilho para o desenvolvimento das atividades turísticas, pois
possuíam experiência com as práticas rurais, que é o principal atrativo para os turistas.

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Com as informações fornecidas pelo entrevistado, percebeu-se que a família possuí


renda das atividades agropecuárias (leite, soja, milho e trigo) e atividades secundárias
(turismo no meio rural e venda de vinhos, vinagres e geleias), conforme Tabela 1.

Tabela 1: Composição da Renda mensal na Cantina Bordignon


Agropecuárias R$ %
Atividades da Pecuária (leite) 3.500 32
Agrícola (soja, milho, trigo) 7.500 68
TOTAL 11.000 100
Turismo R$ %
Venda de Produtos (vinhos, vinagres e geleias) 3.500 92
Alimentação (frutas in natura) 300 8
TOTAL 3.800 100
Atividades diversificadas R$ %
Agropecuárias 11.000 74
Turismo 3.800 26
TOTAL 14.800 100
Fonte: Dados do Estudo (2017).

Percebe-se que as rendas das atividades agropecuárias diversificadas nesta


propriedade correspondem a 74% do montante total, o que indica a relevância da atividade
para o orçamento familiar. As atividades relacionadas ao turismo correspondem a 26%,
consistindo em uma alternativa para aumentar renda da família.
Os três integrantes da família administram a renda familiar, bem como tomam
decisões referentes à fixação de preços, e demais atividades da propriedade. Durante a
entrevista percebeu-se que a família recebe a assistência técnica das empresas que lhes
fornecem insumos agrícolas, tais como adubos, fungicidas, secantes, entre outros. Já no que
se refere à atividade turística, recebem assistência da Emater.
A ferramenta de divulgação do turismo rural que esta família utiliza consiste em sites,
jornais, folders, relacionamento com universidades e especialmente o Festival do Salame,
ocasião em que conseguem alcançar um elevado número de turistas.
Segundo o entrevistado, o grau de importância da atividade do turismo no meio rural
para os rendimentos da família é considerado “médio”. Observou-se que na composição da
renda familiar, a atividade agrícola é mais desenvolvida do que a atividade turística.
Além de complementar a renda, a família percebeu que a atividade turística também
contribuiu para a ampliação do conhecimento, desenvolvimento dos relacionamentos
intrapessoais e, sobretudo, o resgate da tradição familiar. Na oportunidade, o entrevistado
mencionou que possui o interesse de se aperfeiçoar nas atividades visando o melhor
atendimento dos turistas.
O entrevistado mencionou que a maior dificuldade da atividade de turismo no meio
rural consiste nas estradas que dão acesso à propriedade, visto que apresentam baixas
condições de trafegabilidade. Além disso, a família percebeu que o movimento de turistas
reduz em períodos chuvosos, uma vez que as estradas de terra se tornam escorregadias e
perigosas.
Outro fator mencionado pelo entrevistado diz respeito à dificuldade em contratar mão
de obra, sendo que quando a encontra, não se sente seguro em confiar plenamente nos novos
funcionários, receando que não desempenhe suas atividades com o mesmo cuidado que a
família.

4.2 Acesso aos Capitais

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O capital natural é entendido por Ellis (2000) como a terra, a água e os recursos
biológicos que são utilizados para a criação dos meios de subsistência. O capital natural pode
ser identificado como um recurso ambiental ou, ainda, como “meio ambiente”. A família
Bordignon possui um capital natural correspondente a 40 hectares, os quais são compostos
por lavoura, mata nativa, açudes e sangas. A propriedade também conta com aproveitamento
de água da chuva.
Conforme Ellis (2000), outro capital necessário para a diversificação das atividades é
o capital físico, ou seja, aquele desenvolvido por meio de processos produtivos econômicos.
Assim, para o autor, tal capital compreende as benfeitorias, as máquinas, as ferramentas e a
infraestrutura — como estradas, linhas de abastecimento de energia e suprimento de água. O
capital físico da Família Bordignon é variado, visto que a família possui dois tratores, dois
caminhões, uma ceifa, um pulverizador, uma plantadeira, um guincho, uma sala de ordenha
com resfriador, uma mangueira para as vacas, um galpão para as lenhas, uma estufa de
hortaliças, bem como dois imóveis residenciais.
No que diz respeito à infraestrutura, o entrevistado afirma que:

As estradas são irregulares, deveriam estar melhores [...] A qualidade de energia é


boa o trabalho deles é bom, caso tenha que haver algum corte, dois dias antes já
estamos recebendo mensagens para avisar e assim conseguimos nos programar.
Agua é de poço artesiano. Estamos enfrentando dificuldades de comunicação, pois o
sinal de internet é precário e isso poderia melhorar.

O capital humano está relacionado com o trabalho que a família rural tem a sua
disposição, sendo influenciado por fatores como educação, habilidade e saúde (ELLIS, 2000).
Para o autor, o investimento em educação e treinamento é apto a incrementar o capital
humano, o qual também pode ser potencializado pelo desenvolvimento de habilidades
oriundas da experiência profissional. O capital humano da família Bordignon é composto
por seus três membros, os quais trabalham nas atividades da propriedade. Nenhum integrante
da família possui ensino superior e acreditam que a capacitação para atuar nos negócios surge
da experiência. Segundo o entrevistado, as habilidades necessárias para desenvolvimento dos
negócios da família são aprendidas na prática, não dependendo apenas dos estudos.
Para Ellis (2000), o capital financeiro diz respeito ao montante em dinheiro ao qual a
família rural tem acesso. Ainda para o autor, tais recursos podem se referir as economias da
família, bem como ao acesso ao crédito na forma de empréstimos. No caso da família
Bordignon, o capital financeiro foi obtido através do trabalho rural na propriedade.
Constatou-se que a família não tem noção do quanto foi investido para dar início ao negócio
turístico, tampouco das origens deste recurso, sendo que o entrevistado referiu apenas que não
dependeram de financiamento. Por fim, ressalta-se que as atividades agropecuárias são a
principal fonte de rendimento da família e que, por este motivo, os principais investimentos
realizados nesta área.
O capital social diz respeito às relações do indivíduo — ou da unidade familiar — na
comunidade em que está inserido compõe o chamado capital social (ELLIS, 2000). Já para
Moser (1998), o capital social é caracterizado pelos vínculos de reciprocidade criados pela
unidade familiar com a comunidade, o qual decorre da confiança oriunda das relações sociais.
Durante a entrevista com o entrevistado da família Bordignon, constatou-se que essa também
possui vínculos com a Rota das Salamarias, Sindicato Rural, Sicredi e com a igreja local. O
entrevistado destaca que além da cooperação para os negócios, tais laços também são
responsáveis pelo lazer da família. Por fim, verificou-se que a família não identificou pontos
negativos acerca deste capital.
Sendo assim, constata-se a partir da análise realizada que o livre acesso aos cinco
capitais identificados por Frank Ellis foi um fator determinante para que a diversificação das

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atividades fosse uma opção viável para a família objeto deste estudo. O Quadro 1 sistematiza
todos os capitais disponíveis.

Quadro1- Acesso e uso dos capitais na propriedade Cantina Bordignon.


Natural Físico Humano Financeiro Social
-Igreja;
-Máquinas agrícolas; -Vizinhos;
-Terra cultivável; -Infraestrutura para a - Renda da -Sindicato Rural;
-Mata nativa; produção leiteira; agricultura; -Cerealistas;
-Mão de obra
-Recursos -Infraestrutura para os -Renda da -Sicredi;
familiar.
Hídricos (açudes maquinários; produção de leite; -Rota das
e sangas). -Estufa de hortaliças; -Aposentadoria. Salamarias;
-Casa da família. -Cooperativas.

Fonte: Dados do estudo (2017).

Percebe-se no Quadro 1 que os capitais disponíveis para família Bordignon são


variados, o que possibilitou esta família a desenvolver novas atividades, no caso o turismo no
meio rural. É possível perceber também que, quanto mais a família tem acesso aos capitais
mencionado por Ellis (2000), maior será a capacidade de sustento da unidade familiar
analisada, ressaltando-se assim a importância da capacidade de gerenciamento dos
relacionamentos que facilitam este acesso e sua transformação em estratégias de sustento em
“resultados” propriamente ditos.

Considerações finais

As dificuldades enfrentadas pelos produtores com pequenas propriedades rurais


existem há muitas décadas no país. A diversificação pode ser considerada como uma condição
indispensável à sobrevivência no meio rural, na medida em que promove o mercado de
trabalho mantendo a população, cria riqueza por meio de novas oportunidades de negócio e
gera dinâmicas em torno de agentes de desenvolvimento local.
Diversificar as atividades agrícolas com pelo menos uma atividade não agrícola é uma
estratégia que as famílias rurais podem usar para garantir sua sobrevivência, visto que, o
agronegócio vem sendo desafiado —choques externos, fatores climáticos, pragas e
tendências— e as famílias precisam rever as suas estratégias frente a um mercado globalizado
e exposto às incertezas de toda a natureza (PADILHA, 2009).
Para a família conseguir diversificar seus produtos/serviços, primeiramente precisa ter
acesso aos capitais especificados por Ellis (2000), a combinação deles gera novas alternativas.
Cita-se o turismo no meio rural como uma alternativa viável de diversificação, que contribui
para aumentar a renda das famílias que escolhem esse empreendimento.
Nota-se que o turismo no meio rural está se expandindo, por inúmeros motivos citados
no decorrer do estudo visto que, a vida no meio rural é mais simples e o sossego encontrado
no campo é reconhecido como uma forma de ter qualidade de vida. Também pelo fato das
famílias rurais estarem desempenhando as atividades convencionais com outros serviços.
Percebeu-se que os proprietários da Cantina Bordignon, além de ter o livre acesso aos
capitais, implementaram o turismo no meio rural por diversos motivos, tais como o interesse
de receber turistas, adquirir novos conhecimentos e, se possível, obter uma renda extra. Isso
por que suas atividades eram suficientes para mantê-los na propriedade.
Como limitação do estudo, pode-se citar à dificuldade do entrevistado em responder
com fidedignidade o roteiro estruturado. Isso por que o entrevistado não se sentiu a vontade
de compartilhar detalhes acerca dos aspectos financeiros da propriedade. Constatou-se
também que em algumas perguntas se limitou a responder “sim” ou “não”. Embora a

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6 e 7 de Outubro, 2016 – Porto Alegre, RS

pesquisadora tenha tentado elucidar tais questões, sua atuação era limitada, pois não poderia
induzir as respostas do entrevistado.
Como possibilidade de estudos futuros, sugere-se um estudo mais aprofundado sobre
o processo de implementação de estratégias de diversificação de todos os integrantes da Rota
das Salamarias.

Agradecimentos

À CAPES pelo apoio financeiro que suportou o desenvolvimento desta pesquisa.

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Malha rodoviária como proxy de desenvolvimento rural


Guilherme Asai1, Jefferson Andronio Ramundo Staduto2

1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Toledo, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Regional e Agronegócio, guilherme.asai@gvmail.br
21
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Toledo, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Regional e Agronegócio

Resumo.
O presente trabalho tem como objetivo analisar o desenvolvimento rural dos estados brasileiros através do sistema
logístico, em especial, as rodovias. Para isso, propõe-se uma adaptação do Índice de Theil e do Coeficiente de
Associação Geográfica que reflita a desigualdade na composição da malha rodoviária, importante para o
escoamento da produção agroindustrial. Como resultado das análises, há presença de desigualdade na malha
rodoviária do país que ocasiona desníveis de desenvolvimento rural, uma vez que a variante da malha rodoviária
é o principal modal de transporte de cargas que possibilita o escoamento da produção e o crescimento econômico
da área rural, gerando o desenvolvimento.
Palavras-chave: desenvolvimento rural; logística; malha rodoviária; Índice de Theil.

Road network as a proxy for rural development


Abstract.
The present has the objective to analyze the rural development of the Brazilian states through the logistic system,
especially the highways. For that, is proposed an adaptation of the Theil Index and the Coefficient of Geographical
Association that reflects the inequality in the composition of the road network, important for the flow of
agroindustrial production. As a result of the analyzes, there is a presence of inequality in the country's road
network that causes rural development gaps, since the road network variant is the main mode of cargo transport
that allows the production flow and the economic growth of the rural area, generating development.
Keywords: rural development; logistics; road mesh; Theil Index.

Introdução
A consolidação do Brasil como um dos principais produtores e exportadores de grãos
nos anos 2014 e 2015 tem contribuído para uma balança comercial positiva e para geração
divisas. A geração de divisas é comprovada com variações positivas no PIB do Agronegócio,
medido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, 2016),
representando uma média de 20,57% do PIB total do país desde o início da década de 2010. A
produção e exportação de commodities, principalmente do complexo soja, consolida o Brasil
como o segundo maior produtor e o principal exportador mundial de soja. De acordo com dados
do Departamento do Agronegócio (DEAGRO, 2016) da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (FIESP), foram produzidos mais de 100 milhões de toneladas de soja na safra
2015/2016 e destes, 57 milhões de toneladas foram exportadas.
Com a apresentação de números positivos na agricultura e um cenário de crescimento
econômico favorável, é natural pensar que estes tragam benefícios ao campo, principalmente
voltado ao desenvolvimento rural do país.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo abordar o desenvolvimento rural de uma
perspectiva que leve em consideração setor logístico brasileiro. Para isto, o trabalho irá propor
uma adaptação de medidas de desigualdades (Índice de Theil e coeficiente de associação
geográfica), além de se estimar a densidade da malha rodoviária para que possa refletir o
desenvolvimento rural de uma região baseado na extensão malha rodoviária presente nos
estados.

Desenvolvimento rural e o setor logístico

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O desenvolvimento rural tem sido tema de estudo de diversos autores como Abramovay
(2000), Veiga (2001), Navarro (2001) e Kageyama (2004). Para estes autores, o
desenvolvimento rural é multidisciplinar e está ligado ao desenvolvimento regional.
Complementando essa ideia, Abramovay (2000) afirma que o processo de
desenvolvimento rural não se limita ao crescimento econômico agrícola, mas também a
ampliação e diversidade o conjunto de atividades e mercados potenciais presentes no meio
rural, onde o principal trunfo para que isto ocorra é, segundo Veiga (2001), a diversidade das
formas de produção agropecuária.
Dentro do contexto de desenvolvimento rural e a criação de infraestrutura, encontra-se
a questão logística. Segundo Ferrão (2000), o sistema logístico deve assegurar políticas de
desenvolvimento regional e ser capaz de articular relações entre o rural e urbano que
possibilitem o desenvolvimento de ambos.
O aumento da produtividade, a diminuição de danos ao meio ambiente e a manutenção
do desenvolvimento do agronegócio são diretrizes para a construção de uma infraestrutura
logística que possibilite o escoamento da produção, principalmente com a consolidação de áreas
de produção e a expansão de regiões de fronteiras como o Matopiba, área compreendida entre
os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (VIEIRA FILHO, 2016).
Tendo a logística como setor de escoamento da produção agropecuária, Barat (2009)
indica que a logística remete a necessidade de escoamento de mercadorias destinadas à
exportação, ao abastecimento interno e à segurança alimentar. Já para Caixeta Filho (2006), a
logística no agronegócio é necessária para que ocorra a movimentação de insumos e produtos
para os lugares certos com o menor custo.

Referencial analítico
O Índice de Theil é uma medida de desigualdade baseada na teoria da informação que
utilizada a redundância na sua decomposição e utilizada inicialmente para medir as
desigualdades de renda dentro de um grupo (HOFFMANN, 1998).
O Índice de Theil, em sua forma básica conhecida na literatura como Índice de Theil T,
é dado pela Equação 1.
# % %
T= ln (1)
$ & &
Em que:
µ = renda da enésima pessoa da população.
π ̅= renda média da população.
N = tamanho da população
Para se provocar a redundância do índice, tem-se que:
H = 1 − exp (−L) (2)
O Índice de Theil é bastante difundido no campo da análise regional, sendo que diversos
autores como Barros et al. (2001), Ferreira et al. (2006), Orlowski e Arend (2005), Arend e
Orlowski (2012), Monteiro Neto (2014) e Resende e Magalhães (2013) utilizaram o Índice de
Theil em estudos voltados as influências de renda no desenvolvimento regional.
Dentro da característica que o Índice de Theil apresenta para o desenvolvimento
regional, este trabalho se baseia na adaptação deste índice para a análise do desenvolvimento
rural do Brasil. Assim, o Índice de Theil não refletira a desigualdade de renda como comumente
é utilizado, mas a desigualdade da malha rodoviária presente entre as regiões.
A adaptação do Índice de Theil para a malha rodoviária será composta pela variável de
malha rodoviária (em quilômetros). Assim, o µ é calculado como na Equação 3.
µ = MR 7 (3)
A média, 𝜋, é calculada seguindo a Equação 4.
MR :
µ= N (4)

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Em que:
𝑀𝑅? = tamanho da malha rodoviária da região ou estado 𝑖.
𝑀𝑅A = tamanho da malha rodoviária do estado ou país 𝑦.
Assim, o Índice de Theil adaptado a refletir o desenvolvimento rural pela malha
rodoviária, 𝑇DE , é dado pela Equação 5.
FGH FG
TFG = FGI ln FGI H (5)
$ $
Nesse cálculo alguns pressupostos devem ser assumidos: (a) a malha rodoviária irá
transportar a produção agrícola da região; (b) a malha rodoviária inclui estradas de transporte
de cargas, não contabilizando o transporte urbano; (c) quanto maior o 𝑇DE e o 𝐻 , mais
desenvolvida é a região em relação a malha rodoviária.
Paralelamente, irá se calcular o Coeficiente de Associação Geográfica (CAG) que,
segundo Piacenti e Lima (2012), tem o objetivo de investigar se a distribuição espacial de um
setor é semelhante a outro setor distinto. O CAG, assim como o Índice de Theil, também é
utilizado para análises de desenvolvimento regional como os estudos feitos por Piacenti et al.
(2002), Lima e Alves (2008) e Staduto et al. (2008).
As variáveis utilizadas para se calcular o CAG serão a malha rodoviária estadual e o
valor bruto da produção agropecuária (VBP) por estado para investigar a afinidade entre estas
duas variáveis e inferir a dependência da logística rodoviária para o desenvolvimento rural de
uma região. A Equação 6 indica a forma de cálculo da CAG.
P QR SP QT
𝐶𝐴𝐺?O = P
U
(6)
Em que
𝑗 W? = participação do setor 𝑖 na região 𝑗 sobre a região de referência.
𝑗 WO = participação do setor 𝑘 na mesma região 𝑗 sobre a região de referência.
Como alternativa de análises ao 𝑇DE e ao CAG, irá se calcular também a densidade de
malha rodoviária presente nos estados. Esse cálculo poderá ser feito com base na área total do
estado ou na área plantada, em que esta última reflita o nível de desenvolvimento rural. O
cálculo da malha rodoviária é dado pela Equação 6.
fghWijãlm n onpqn rlmls?ár?n
𝐷𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑎 𝑚𝑎𝑙ℎ𝑎 𝑟𝑜𝑑𝑜𝑣𝑖á𝑟𝑖𝑎 = (7)
ÁrWn
Portanto, os cálculos descritos acima servirão de base para se inferir o grau de
desenvolvimento rural dos diferentes estados e regiões do Brasil, de forma comparativa,
utilizando como proxy a malha rodoviária nacional, além de demonstrar a importância da malha
rodoviária para cada unidade federativa do país.

Utilização da malha rodoviária como proxy de desenvolvimento rural


Estudos de diversos autores como Plá e Salib (2003), Jank et al. (2005), Capdeville
(2010), Correa e Ramos (2010), Andrade (2011), Gonçalves et al. (2013), Castro (2014) e
Almeida et al. (2016) indicam dependência e a importância histórica do modal rodoviário no
transporte de produtos, principalmente os de origem agropecuários.
De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2015), o Brasil possui
cerca de 1.720.607 quilômetros de rodovias, sendo que deste total apenas 12,4% (213.299
quilômetros) são pavimentadas. Das rodovias pavimentadas, 66.712 quilômetros são rodovias
federais, 119.691 quilômetros são rodovias estaduais e 26.826 quilômetros são rodovias
municipais.
A malha rodoviária compreendida neste estudo se caracteriza pelos 1.720.607
quilômetros de rodovias, sendo asfaltada ou não. A Tabela 1 ilustra a distribuição das rodovias
nas regiões do país.

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Tabela 1. Extensão da malha rodoviária por região do Brasil


Extensão das rodovias
Densidade da (km)
Região Área (km²)
malha (km/km²)
Total Pavimentadas
Norte 3.853.843,71 0,04 147.792 21.527
Nordeste 1.554.291,31 0,29 445.559 59.310
Sudeste 924.614,19 0,58 533.606 64.284
Sul 576.783,83 0,67 388.186 37.988
Centro-oeste 1.606.234,01 0,13 205.464 30.120
Brasil 8.515.767,05 - 1.720.607 213.229
Fonte: CNT, 2015.

Tamanha importância e abrangência da malha rodoviária permite inferir a necessidade


das infraestruturas logísticas, rodovias, para o desenvolvimento rural sendo capaz de escoar a
produção e gerar renda para a região produtora.
Seguindo o princípio de desenvolvimento rural pautado em quanto maior a quantidade
de rodovias, maior a infraestrutura logística, melhor o escoamento da produção e melhor renda
para a região, tem-se que a Região Sudeste é a que apresenta maior malha rodoviária, enquanto
a Região Norte a de menor malha rodoviária.
Entretanto, uma análise baseada somente na quantidade de quilômetros de rodovias
pode ser conter um viés impactado pelo tamanho da região. Deste modo, para expurgar este
tipo de viés, pode-se verificar a densidade da malha rodoviária que demonstra a Região Sul
como aquela de maior presença de rodovias em seu território, com 0,67 quilômetros de rodovias
por cada quilômetro quadrado de área.
Estimando-se o Índice de Theil modificado para as regiões, o resultado é uma
desigualdade na distribuição da malha rodoviária ao longo do Brasil. A Tabela 2 apresenta o
𝐓𝐌𝐑 calculado para as regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-oeste.

Tabela 2. Índice de Theil, 𝐓𝐌𝐑 , por região do Brasil


Região Índice de Theil H
Norte 0,3630 0,4376
Nordeste 0,3345 0,2843
Sudeste 0,6802 0,4935
Sul 0,1359 0,1271
Centro-oeste 0,3079 0,3606
Fonte: Elaboração própria.
Dados: CNT, 2015.

O 𝑇DE calculado reflete a quantidade de rodovias na região Sul, conforme demonstrado


na Tabela 1. Neste sentido, essa região apresenta uma desigualdade e desequilíbrio presente na
malha rodoviária ao se comprar com outras regiões do país. Alguns fatos contribuem para o
destaque da malha rodoviária ser maior no Sudeste, tais como o maior número de habitantes,
presença de grandes centros urbanos e metrópoles, concentração industrial, rota de escoamento
de produtos, interligação entre a porção sul e norte brasileira e principal centro econômico-
financeiro do país.
A Tabela 3 denota os cálculos do CAG e a densidade da malha rodoviária presente por
estado.

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Tabela 3. Coeficiente de associação geográfica e densidade da malha rodoviária por estado
Malha Área Densidade (km
VBP
Estados rodoviária plantada rodovias / ha CAG
R$ 000)
(km) (km²) plantado)
Rondônia 27.432 6.143 7.206.011 4,4654 0,0010
Acre 9.261 1.190 1.645.579 7,7824 0,0011
Amazonas 14.397 1.153 1.200.888 12,4827 0,0030
Roraima 8.325 614 443.216 13,5635 0,0020
Pará 42.853 15.971 13.226.153 2,6832 0,0004
Amapá 7.234 391 125.324 18,5151 0,0020
Tocantins 38.290 12.141 6.796.521 3,1536 0,0045
Maranhão 58.134 18.130 6.894.911 3,2065 0,0102
Piauí 62.090 15.863 3.660.176 3,9140 0,0145
Ceará 53.922 15.496 3.086.597 3,4798 0,0127
Rio Grande do Norte 28.066 2.974 987.244 9,4374 0,0072
Paraíba 35.311 3.470 1.282.248 10,1771 0,0090
Pernambuco 44.930 8.449 5.481.827 5,3175 0,0077
Alagoas 14.965 6.389 2.845.172 2,3423 0,0016
Sergipe 5.668 3.864 1.599.962 1,4669 0,0001
Bahia 142.474 49.856 23.858.700 2,8577 0,0182
Minas Gerais 280.143 57.978 53.045.062 4,8319 0,0298
Espírito Santo 31.881 7.131 8.540.871 4,4705 0,0010
Rio de Janeiro 25.520 1.526 2.935.265 16,7226 0,0046
São Paulo 196.062 87.357 71.827.323 2,2444 0,0129
Paraná 123.290 105.921 66.801.943 1,1640 0,0292
Santa Catarina 108.047 15.672 28.844.389 6,8942 0,0033
Rio Grande do Sul 156.849 88.801 58.728.337 1,7663 0,0116
Mato Grosso do Sul 42.044 47.234 28.749.837 0,8901 0,0158
Mato Grosso 65.213 141.128 70.589.951 0,4621 0,0498
Goiás 96.571 61.989 41.465.188 1,5579 0,0123
Distrito Federal 1.637 1.596 1.825.398 1,0253 0,0013
Fonte: Elaboração própria.
Dados: IBGE, 2015; CNT, 2015.
Nota: Intervalo de variação, onde o valor próximo a zero indica que a distribuição espacial do setor i na região j
é semelhante a distribuição do setor k na região j (PIACENTI e LIMA, 2012).

Dado a importância da malha rodoviária para o transporte de cargas de origem


agropecuário uma maior extensão das rodovias tende a favorecer o escoamento da produção.
Entretanto, ao observar a densidade calculada a partir da área plantada, estado que apresenta
maior significância é Santa Catarina, com 6,89 quilômetros de estradas por quilometro
quadrado de área plantada, onde sua produção agrícola é de alto valor agregado como frutas
(maça e banana) e principalmente de culturas da família Liliáceas (cebola e alho) representam
alto VBP frente a área plantada.
Estados como o Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul tem seu igual destaque com
o VBP puxado pelo cultivo de grãos, mas o Mato Grosso apresenta pouca infraestrutura
logística no quesito extensão da malha rodoviária com 0,4621 quilômetros de estradas por
quilometro quadrado de área plantada. Os estados de São Paulo e Minas Gerais apresentam 2,2
e 4,8 quilômetros de estradas por quilometro quadrado de área plantada, respectivamente, o que

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facilitaria o escoamento da produção de produtos da agroindústria canavieira e café, nessa


ordem.
Ao se analisar os valores obtidos do CAG, em que se buscou comparar a relação entre
a malha rodoviária e o VBP, possibilitando inferências quanto a influência do setor logístico
rodoviário no desenvolvimento rural (dada a premissa de quanto maior VBP, maior o
desenvolvimento rural da região), tem-se afinidade entre essas variáveis. Isso significa que a
extensão da malha rodoviária e o VBP tem distribuição espacial semelhante.
Segundo Lima et al (2006) o CAG tem o seguinte comportamento: (i) se 0,35 < CAG
representa uma associação significativa; de 0,69 < CAG < 0,34, a associação é considerada
média; e de 1,04 < CAG < 0,68 indica uma associação fraco. Neste sentido, os estados
apresentam associações significativas entre as variáveis de VBP e a extensão da malha
rodoviária. Tal associação é um indicativo da predominância do transporte de cargas,
principalmente as agropecuárias, conforme citados pelos trabalhos de Caixeta Filho (2006) e
Barat (2009).
Conduto um parâmetro para sugerir que o desenvolvimento rural está atrelado a
presença da malha rodoviária nos estados, está na densidade. Atentando-se para as regiões Sul,
Sudestes e Centro-oeste, onde se concentra a maior produção agropecuária e agrícola do país,
existe entre desde 0,4 (Mato Grosso) a 16 (Rio de Janeiro) quilômetros de rodovias para cada
hectare de terra plantado. Essa grande variação se deve ao tamanho do territorial do estado
frente a sua produção agropecuária e agrícola.
No caso do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul os valores mais baixos de densidade,
representados pela Tabela 3, podem ocasionar perdas no escoamento da produção conforme
observado por Kussano e Batalha (2012). Isto também ocorre na região Sul, Paraná e Rio
Grande do Sul, com baixa quantidade de estradas por área plantada. Tais perdas comprometem
a eficiência do transporte dos produtos agrícolas, conforme descrito por Capdeville (2010), e
com isso a obtenção de renda para a população rural, prejudicando seu desenvolvimento.
Dessa forma, há indicativos de que a malha rodoviária é importante para o
desenvolvimento rural brasileiro, sendo importante para o escoamento de produtos de origem
agropecuária e agrícola dentro do país, contribuindo para minimizar perdas pós-colheitas (no
transporte), gerando eficiência, emprego e divisas para a população rural.

Considerações finais
O presente trabalho teve como objetivo abordar o desenvolvimento rural sob uma ótica
do setor logístico brasileiro, principalmente no que se relaciona a malha de transporte
rodoviário do país. Desta forma, o trabalho relacionou a extensão da malha rodoviária com os
valores brutos da produção estaduais e a área plantada para inferir uma relação entre elas.
Como resultado, observou-se que os indicativos de Caixeta Filho (2006), Barat (2009),
Capdeville (2010) e Kussano e Batalha (2012) sobre o setor logístico do Brasil é importante
para o escoamento da produção, como principal modal de transporte de cargas, e que a
ineficiência do setor pode ocasionar perdas para o agronegócio nacional.
Ao relacionar as variáveis de produção (VBP e área planta) com a extensão da malha
rodoviária pode-se inferir uma dependência significativa entre elas, como demonstrada pelo
CAG. Entretanto, a densidade da malha trás uma inferência negativa, pois a baixa densidade de
estradas em regiões produtoras como os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná
e Rio Grande do Sul, podem ocasionar perdas no transporte devido a baixa ineficiência do setor.
Relacionado estes fatos ao desenvolvimento rural, pode-se inferir que o escoamento da
produção é dependente do setor logístico, através disso, o desenvolvimento rural passa pela
variante da malha rodoviária como principal modal de transporte de cargas. Este escoamento
da produção possibilita um crescimento econômico da área rural, devido a geração de renda,
divisas e emprego que contribuem para o desenvolvimento rural brasileiro.

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