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Gaudi O peso da carga mais seu próprio peso comprimem o pilar, fazendo com
que este diminua de tamanho, é a maneira que os materiais resistem à forças
....La base de todo raciocínio es la regla de tres, la proporción matemá- de compressão, como conseqüência o chão também é amassado pelo peso do
tica, el silogismo. El hombre debe recurrir a estos medios; primero supone el pilar.
conocimiento de una cosa para encontrar otra que le sirva de base firme. Pri- Essa diminuição de comprimento, entre certos valores, é proporcional
mero avanza un pie y luego el otro. Un problema de muchas incógnitas debe à força total de compressão, à seção da área comprimida e ao tipo de material
resolverse por partes. El hombre se vale de dos cosas conocidas, comparadas de que é feito o pilar. Se as forças forem de tração haverá aumento no compri-
entre sí, para deducir la relación desconocida entre otras dos; es la proporción mento da peça tracionada e também entre certos valores será proporcional à
<<a es a b como c es a d>>.” (Conversaciones con Gaudi - Cesar Martinell área da seção e ao tipo de material.
Brunet - Ed. Punto Fijo, 1969). Os materiais que usamos para construção tem características variadas,
por exemplo a pedra, o vidro e os tijolos são quebradiços, resistentes à com-
O Mecanismo Estrutural pressão, mas frágeis à tração, possuem pequenas fissuras causadas pelo pro-
cesso de endurecimento que praticamente os fazem explodir, quando traciona-
É comum vermos nos livros que tratam de cálculo estrutural, a represen- dos.
tação de vigas, lajes e pilares por linhas sem espessura, sujeitas a momentos Já a fibra de vidro feita com fiapos muito finos do próprio vidro não
e a deformações elásticas e que conduzem à soluções matemáticas bastante apresenta esse inconveniente, a escala pode alterar essa característica.
abstratas para mentalidades mais visuais como a dos arquitetos e designers, Metais como o ferro, o alumínio, são duteis, podem se deformar bastante
quando sabemos que para qualquer material resistir à alguma força é indis- antes da ruptura, a madeira não é dutil mas também não é quebradiça.
pensável que tenha massa e sempre uma parte deve resistir à tração e outra à Cada material tem então várias características e talvez as mais importan-
compressão. tes para a construção sejam suas resistências típicas à compressão e à tração
Através de desenhos mais con- em determinadas condições normais de trabalho e seu módulo de elasticidade
dizentes com os mecanismos que são (E), que é definido como a tensão de compressão ( força dividido pela seção)
acionados para que os elementos estru- multiplicado pelo inverso da porcentagem do aumento de comprimento (com-
turais resistam às forças e utilizando primento inicial dividido pelo aumento), como este último item sempre dará
uma parte da matemática mais visual um número grande o módulo de elasticidade será sempre representado por um
que é a geometria vamos caminhar número grande.
para a resolução dos nossos problemas
estruturais, com mais tranqüilidade. Material Compressão Tração E
O desenho ao lado mostra um Madeira 100 kgf/cm² 100 kgf/cm² 140000kgf/cm²
bloco de um material qualquer, ou seja Concreto 50 a 300 kgf/cm² 15 a 30 kgf/cm² 240000kgf/cm²
um pilar, apoiado no chão carregando Tijolo Comum 50 kgf/cm² ----- 70000kgf/cm²
uma carga. Aço CA-50 5000 kgf/cm² 5000 kgf/cm² 2100000kgf/cm²
Seu peso e qualquer outra carga
que estiver carregando estão sendo A fórmula de Hook relaciona o aumento ou diminuição do comprimento,
entregues ao apoio no chão, que reage com a força que é aplicada.
com uma força igual e contrária. DL = (F. L) / (E . S)
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Por exemplo: pela carga externa colocada no topo do pilar-viga.
Uma carga de 10000kgf Espelhando essa figura e colocando um tirante ligando as partes inferiores
comprime um pilar de madeira para que a força horizontal de um lado equilibre o outro, temos uma viga da
com 250cm de altura e com maneira que estamos acostumados a ver, algo parecido com uma tesoura de
seção de10 x 10 cm. telhado.
A diminuição será de: Na parte de cima os dois pilares-viga se comprimem um se escora no
DL = (F x L) / (E x S) outro enquanto que na parte de baixo o tirante é tracionado, completando uma
DL = (10000kgf x 250 cm) / estrutura autoportante, pois agora não é necessário a ajuda externa do atrito.
(140000 kgf/cm² x 100 cm²) As cargas vão para os apoios, gerando forças horizontais que vão se con-
DL = 0,18cm ou em torno trapor, compressão na parte de cima e tração na parte de baixo.
de 2mm Vamos chamar de “altura estrutural” a distância entre as forças de com-
O desenho seguinte mostra pressão na parte de cima às de tração na parte de baixo.
o pilar agora inclinado, apoia- Quanto maior a altura estrutural em relação ao vão menores serão as for-
do em dois pontos, o chão e a ças horizontais.
parede.
A parede é lisa, só oferece
reação horizontal, o apoio no
chão reage verticalmente igual
e contrario ao peso e, através de atrito reage à força horizontal, ele precisa do
atrito com o chão para não escorregar.
O pilar agora pode ser chamado de viga pois vence um vão, inclusive
podendo carregar algum outro peso alem de seu próprio, mas como depende
do atrito no chão para
resistir à força hori-
zontal, não é auto-
portante, sem o atrito
perderia sua forma de
viga.
As forças relati-
vas a seu próprio peso
que percorrem o pilar-
viga produzem flexão,
esse efeito será visto
mais à frente, agora Esquematicamente é assim que funciona toda e qualquer viga, podem
nos concentraremos sempre ser divididas em duas partes, sempre uma se contrapondo à outra.
nas forças causadas Os triângulos formados pelas forças são semelhantes aos geométricos da
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estrutura e se conhece- E é o princípio de funcionamento de toda e qualquer estrutura, é um
mos uma das forças, por jogo de tração e compressão atuando sempre em triângulos de forças e para
exemplo o peso, podere- dimensioná-las utilizaremos a ferramenta básica, a regra de três, comparando
mos conhecer as outras. o triângulo geométrico da estrutura com o triângulo formado pelas forças.
Exemplo: Nesta es-
trutura temos duas águas Mudança da forma geométrica após a aplicação das forças
de um telhado, apoiadas
nas vigas cumeeira e em Devemos lembrar que as peças comprimidas da tesoura diminuirão de
vigas na base. As cume- tamanho e as tracionadas aumentarão de tamanho e isso pode alterar os ân-
eiras descarregam metade gulos entre as peças, alterando o vão e a altura estrutural e conseqüentemente
do peso de cada água alterando a intensidade das forças.
do telhado na estrutura Lei de Hooke: Robert Hooke foi quem descobriu a relação entre força e a
(tesoura) e a outra meta- forma com que os materiais resistem à essas forças, aumentando ou diminuin-
de nas vigas da base que do seu comprimento.
descarregam diretamente DL = (F. L) / (E . S)
nos pilares. O triângulo formado pelas duas pernas da tesoura mais o tirante terá sua
No desenho só estão forma modificada, pois as pernas sujeitas a compressão diminuirão de compri-
representadas as forças mento e o tirante devido à tração aumentará de comprimento.
que carregam as vigas Se as cargas devidas ao telhado forem de 1500kgf sobre cada uma das
cumeeiras. vigas no topo da tesoura, sendo seu vão livre de 3m e a altura do triângulo de
As cargas das vigas 1,50m, teremos uma força de 1500kgf tracionando o tirante e de 1500kgf x
cumeeiras vão para as pernas da tesoura, as pernas de um dos lados só tem e2 comprimindo cada perna da tesoura= 2121,32kgf..
apoio horizontal (uma horizontal contra a outra), gerando com as forças ver- Usando peças de madeira no perfil de 6 x 16cm com E= 140000kgf/cm²,
ticais resultantes que percorrem as pernas da tesoura, até a base onde estas se teremos para as peças comprimidas:
decompõe em horizontais e verticais. DL = (L x F)/(S x E)
Como neste exemplo o ângulo das pernas com o tirante é de 45°, as DL = (212,132cm x 2121kgf) / (96 cm² x 140000kgf/cm²)
horizontais vão ter a mesma intensidade das verticais. Se o ângulo for menor, DL = 0,03348cm
a altura estrutural será menor e as forças horizontais maiores, se for maior, a E o tirante:
altura estrutural será maior e as forças horizontais menores. DL = (300 x 1500kgf) / (96 cm² x 140000kgf/cm²)
Neste caso (ângulo de 45°), as horizontais esticam o tirante com força de DL = 0,0335cm
intensidade igual ao peso de cada uma das águas do telhado e comprimem as Se a simetria se mantém a metade do triângulo continuará com ângulo de
pernas com a intensidade igual ao do peso de uma das águas do telhado, multi- 90° (retângulo), mas o Ângulo formado entre perna e tirante não será mais de
plicado pelo seno de 45° que é e2. 45°, pois o cateto e a hipotenusa se modificaram: de 212.132 para 212,09855 e
Este é um exemplo do mecanismo estrutural, que permite a construção de 150 para 149,98cm, o ângulo será então de 44,997°.
de um vão livre, um abrigo, uma ponte...enfim uma estrutura autoportante, e É uma diferença muito pequena para ser levada em conta, mas em estrutu-
que aplicado repetidamente nos permite criar estruturas mais complexas. ras maiores e cargas maiores, as diferenças poderão ser importantes.
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Arcos é interessante notar que
os arcos podem estar
Os arcos são vários triângulos (mecanismo estrutural) superpostos. equilibrados tendo aquela
Para entendermos essa idéia, vamos retirar o tirante da tesoura e apoiá-la ponta típica dos arcos
em outros blocos, ou pilares-viga, inclinados de tal forma que queiram “cair” góticos.
para dentro com a mesma intensidade que os que estão acima querem “cair, No exemplo ao lado
abrir” para fora. mostramos que podemos
O tirante agora deve ser colocado na parte de baixo dos novos blocos. construir a catenária tam-
A inclinação dos blocos de baixo será determinada pela direção da re- bém a partir do elemento
sultante entre a força horizontal provocada pelos blocos de cima e a vertical, inferior, mantendo-se
soma do peso dos dois blocos (o de cima mais o de baixo), pois o bloco de fixo o valor da força hori-
baixo além do próprio peso, suporta também o peso do de cima, como mostra- zontal, diminuindo-se o
do no desenho. valor da força vertical, à
É uma aplicação repetida do mecanismo estrutural do exemplo anterior. medida que colocamos
Esse é o perfil que um arco deve ter para resistir à cargas iguais ao longo mais elementos.
de seu percurso, ou seja quando formado por infinitos blocos assume a forma O valor da força
de uma curva catenária. horizontal é relativo
ao bloco mais alto pois
depois sempre será igual,
pois nestes arcos o obje-
tivo é que as horizontais
sempre se anulem.
Dessa maneira os blocos trabalharão somente à compressão, haverá tração
na interrupção da curva, para isso o tirante.
As forças horizontais são sempre iguais e vão se contrapondo ao longo do
arco.
O arco entrega em cada apoio a metade do peso total do arco, através de
uma força com a direção da inclinação do bloco que chega ao apoio ou seja
a tangente da curva do arco no ponto de apoio e a intensidade da força hori-
zontal será proporcional ao peso descarregado, lembrando que essa tangente
será determinada pelo vão e pela altura estrutural, pois são as determinantes da
proporção da curva catenária.
Não vamos nos importar com o que acontece internamente em cada bloco,
pois iremos depois subdividi-los em inúmeros pedaços, sempre nos importan-
Para que o desenho se aproxime mais de uma curva catenária, devemos do apenas com as forças que cada um entrega para seus vizinhos, ou seja nos
trabalhar com pedaços pequenos, principalmente no centro da curva, porém seus apoios.
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No desenho abaixo, optamos por construir com oito blocos ou pedaços
de mesmo tamanho e peso, somente o oitavo foi subdividido pela metade e
a metade seguinte também pela metade e finalmente mais uma subdivisão
para que a curva ficasse visualmente mais arredondada no topo (sempre com
o peso proporcional ao comprimento, caso contrario não teremos mais uma
catenária).
Começamos então o desenho considerando oito unidades de peso para a
força vertical e a horizontal foi fixada como uma constante. Apenas nos pe-
daços do topo o peso foi considerado proporcional à metade do bloco e assim
sucessivamente.
Estes arcos podem ser chamados de arcos com curvatura natural, pois sua
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curvatura é definida para que sempre a força horizontal seja a mesma ao longo
de todo o seu desenvolvimento respeitando seu carregamento.
Se houverem cargas extras externas, estas deverão ser acrescidas ao peso
de cada bloco. Se essas cargas externas forem iguais em todos os blocos cons-
tituintes do arco, a sua forma ideal não se modificará, porém se não houver
regularidade é possível que uma outra forma de arco seja a resultante natural.
O arco resultante natural é chamado de funicular, pois se pendurarmos
pesos em um cordão (funiculum em latim), este adotará a forma do arco resul-
tante e que consistiu a maneira de Gaudi projetar os arcos da Cripta Guell.
A cada passo, a força horizontal é sempre de mesma intensidade, porém
a força vertical que é nula no centro do arco vai aumentando passo a passo, a
tangente que na verdade é a resultante da horizontal com a vertical consequen-
Exemplo