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Vitor Amaral Lotufo

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Gaudi O peso da carga mais seu próprio peso comprimem o pilar, fazendo com
que este diminua de tamanho, é a maneira que os materiais resistem à forças
....La base de todo raciocínio es la regla de tres, la proporción matemá- de compressão, como conseqüência o chão também é amassado pelo peso do
tica, el silogismo. El hombre debe recurrir a estos medios; primero supone el pilar.
conocimiento de una cosa para encontrar otra que le sirva de base firme. Pri- Essa diminuição de comprimento, entre certos valores, é proporcional
mero avanza un pie y luego el otro. Un problema de muchas incógnitas debe à força total de compressão, à seção da área comprimida e ao tipo de material
resolverse por partes. El hombre se vale de dos cosas conocidas, comparadas de que é feito o pilar. Se as forças forem de tração haverá aumento no compri-
entre sí, para deducir la relación desconocida entre otras dos; es la proporción mento da peça tracionada e também entre certos valores será proporcional à
<<a es a b como c es a d>>.” (Conversaciones con Gaudi - Cesar Martinell área da seção e ao tipo de material.
Brunet - Ed. Punto Fijo, 1969). Os materiais que usamos para construção tem características variadas,
por exemplo a pedra, o vidro e os tijolos são quebradiços, resistentes à com-
O Mecanismo Estrutural pressão, mas frágeis à tração, possuem pequenas fissuras causadas pelo pro-
cesso de endurecimento que praticamente os fazem explodir, quando traciona-
É comum vermos nos livros que tratam de cálculo estrutural, a represen- dos.
tação de vigas, lajes e pilares por linhas sem espessura, sujeitas a momentos Já a fibra de vidro feita com fiapos muito finos do próprio vidro não
e a deformações elásticas e que conduzem à soluções matemáticas bastante apresenta esse inconveniente, a escala pode alterar essa característica.
abstratas para mentalidades mais visuais como a dos arquitetos e designers, Metais como o ferro, o alumínio, são duteis, podem se deformar bastante
quando sabemos que para qualquer material resistir à alguma força é indis- antes da ruptura, a madeira não é dutil mas também não é quebradiça.
pensável que tenha massa e sempre uma parte deve resistir à tração e outra à Cada material tem então várias características e talvez as mais importan-
compressão. tes para a construção sejam suas resistências típicas à compressão e à tração
Através de desenhos mais con- em determinadas condições normais de trabalho e seu módulo de elasticidade
dizentes com os mecanismos que são (E), que é definido como a tensão de compressão ( força dividido pela seção)
acionados para que os elementos estru- multiplicado pelo inverso da porcentagem do aumento de comprimento (com-
turais resistam às forças e utilizando primento inicial dividido pelo aumento), como este último item sempre dará
uma parte da matemática mais visual um número grande o módulo de elasticidade será sempre representado por um
que é a geometria vamos caminhar número grande.
para a resolução dos nossos problemas
estruturais, com mais tranqüilidade. Material Compressão Tração E
O desenho ao lado mostra um Madeira 100 kgf/cm² 100 kgf/cm² 140000kgf/cm²
bloco de um material qualquer, ou seja Concreto 50 a 300 kgf/cm² 15 a 30 kgf/cm² 240000kgf/cm²
um pilar, apoiado no chão carregando Tijolo Comum 50 kgf/cm² ----- 70000kgf/cm²
uma carga. Aço CA-50 5000 kgf/cm² 5000 kgf/cm² 2100000kgf/cm²
Seu peso e qualquer outra carga
que estiver carregando estão sendo A fórmula de Hook relaciona o aumento ou diminuição do comprimento,
entregues ao apoio no chão, que reage com a força que é aplicada.
com uma força igual e contrária. DL = (F. L) / (E . S)
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Por exemplo: pela carga externa colocada no topo do pilar-viga.
Uma carga de 10000kgf Espelhando essa figura e colocando um tirante ligando as partes inferiores
comprime um pilar de madeira para que a força horizontal de um lado equilibre o outro, temos uma viga da
com 250cm de altura e com maneira que estamos acostumados a ver, algo parecido com uma tesoura de
seção de10 x 10 cm. telhado.
A diminuição será de: Na parte de cima os dois pilares-viga se comprimem um se escora no
DL = (F x L) / (E x S) outro enquanto que na parte de baixo o tirante é tracionado, completando uma
DL = (10000kgf x 250 cm) / estrutura autoportante, pois agora não é necessário a ajuda externa do atrito.
(140000 kgf/cm² x 100 cm²) As cargas vão para os apoios, gerando forças horizontais que vão se con-
DL = 0,18cm ou em torno trapor, compressão na parte de cima e tração na parte de baixo.
de 2mm Vamos chamar de “altura estrutural” a distância entre as forças de com-
O desenho seguinte mostra pressão na parte de cima às de tração na parte de baixo.
o pilar agora inclinado, apoia- Quanto maior a altura estrutural em relação ao vão menores serão as for-
do em dois pontos, o chão e a ças horizontais.
parede.
A parede é lisa, só oferece
reação horizontal, o apoio no
chão reage verticalmente igual
e contrario ao peso e, através de atrito reage à força horizontal, ele precisa do
atrito com o chão para não escorregar.
O pilar agora pode ser chamado de viga pois vence um vão, inclusive
podendo carregar algum outro peso alem de seu próprio, mas como depende
do atrito no chão para
resistir à força hori-
zontal, não é auto-
portante, sem o atrito
perderia sua forma de
viga.
As forças relati-
vas a seu próprio peso
que percorrem o pilar-
viga produzem flexão,
esse efeito será visto
mais à frente, agora Esquematicamente é assim que funciona toda e qualquer viga, podem
nos concentraremos sempre ser divididas em duas partes, sempre uma se contrapondo à outra.
nas forças causadas Os triângulos formados pelas forças são semelhantes aos geométricos da
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estrutura e se conhece- E é o princípio de funcionamento de toda e qualquer estrutura, é um
mos uma das forças, por jogo de tração e compressão atuando sempre em triângulos de forças e para
exemplo o peso, podere- dimensioná-las utilizaremos a ferramenta básica, a regra de três, comparando
mos conhecer as outras. o triângulo geométrico da estrutura com o triângulo formado pelas forças.
Exemplo: Nesta es-
trutura temos duas águas Mudança da forma geométrica após a aplicação das forças
de um telhado, apoiadas
nas vigas cumeeira e em Devemos lembrar que as peças comprimidas da tesoura diminuirão de
vigas na base. As cume- tamanho e as tracionadas aumentarão de tamanho e isso pode alterar os ân-
eiras descarregam metade gulos entre as peças, alterando o vão e a altura estrutural e conseqüentemente
do peso de cada água alterando a intensidade das forças.
do telhado na estrutura Lei de Hooke: Robert Hooke foi quem descobriu a relação entre força e a
(tesoura) e a outra meta- forma com que os materiais resistem à essas forças, aumentando ou diminuin-
de nas vigas da base que do seu comprimento.
descarregam diretamente DL = (F. L) / (E . S)
nos pilares. O triângulo formado pelas duas pernas da tesoura mais o tirante terá sua
No desenho só estão forma modificada, pois as pernas sujeitas a compressão diminuirão de compri-
representadas as forças mento e o tirante devido à tração aumentará de comprimento.
que carregam as vigas Se as cargas devidas ao telhado forem de 1500kgf sobre cada uma das
cumeeiras. vigas no topo da tesoura, sendo seu vão livre de 3m e a altura do triângulo de
As cargas das vigas 1,50m, teremos uma força de 1500kgf tracionando o tirante e de 1500kgf x
cumeeiras vão para as pernas da tesoura, as pernas de um dos lados só tem e2 comprimindo cada perna da tesoura= 2121,32kgf..
apoio horizontal (uma horizontal contra a outra), gerando com as forças ver- Usando peças de madeira no perfil de 6 x 16cm com E= 140000kgf/cm²,
ticais resultantes que percorrem as pernas da tesoura, até a base onde estas se teremos para as peças comprimidas:
decompõe em horizontais e verticais. DL = (L x F)/(S x E)
Como neste exemplo o ângulo das pernas com o tirante é de 45°, as DL = (212,132cm x 2121kgf) / (96 cm² x 140000kgf/cm²)
horizontais vão ter a mesma intensidade das verticais. Se o ângulo for menor, DL = 0,03348cm
a altura estrutural será menor e as forças horizontais maiores, se for maior, a E o tirante:
altura estrutural será maior e as forças horizontais menores. DL = (300 x 1500kgf) / (96 cm² x 140000kgf/cm²)
Neste caso (ângulo de 45°), as horizontais esticam o tirante com força de DL = 0,0335cm
intensidade igual ao peso de cada uma das águas do telhado e comprimem as Se a simetria se mantém a metade do triângulo continuará com ângulo de
pernas com a intensidade igual ao do peso de uma das águas do telhado, multi- 90° (retângulo), mas o Ângulo formado entre perna e tirante não será mais de
plicado pelo seno de 45° que é e2. 45°, pois o cateto e a hipotenusa se modificaram: de 212.132 para 212,09855 e
Este é um exemplo do mecanismo estrutural, que permite a construção de 150 para 149,98cm, o ângulo será então de 44,997°.
de um vão livre, um abrigo, uma ponte...enfim uma estrutura autoportante, e É uma diferença muito pequena para ser levada em conta, mas em estrutu-
que aplicado repetidamente nos permite criar estruturas mais complexas. ras maiores e cargas maiores, as diferenças poderão ser importantes.
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Arcos é interessante notar que
os arcos podem estar
Os arcos são vários triângulos (mecanismo estrutural) superpostos. equilibrados tendo aquela
Para entendermos essa idéia, vamos retirar o tirante da tesoura e apoiá-la ponta típica dos arcos
em outros blocos, ou pilares-viga, inclinados de tal forma que queiram “cair” góticos.
para dentro com a mesma intensidade que os que estão acima querem “cair, No exemplo ao lado
abrir” para fora. mostramos que podemos
O tirante agora deve ser colocado na parte de baixo dos novos blocos. construir a catenária tam-
A inclinação dos blocos de baixo será determinada pela direção da re- bém a partir do elemento
sultante entre a força horizontal provocada pelos blocos de cima e a vertical, inferior, mantendo-se
soma do peso dos dois blocos (o de cima mais o de baixo), pois o bloco de fixo o valor da força hori-
baixo além do próprio peso, suporta também o peso do de cima, como mostra- zontal, diminuindo-se o
do no desenho. valor da força vertical, à
É uma aplicação repetida do mecanismo estrutural do exemplo anterior. medida que colocamos
Esse é o perfil que um arco deve ter para resistir à cargas iguais ao longo mais elementos.
de seu percurso, ou seja quando formado por infinitos blocos assume a forma O valor da força
de uma curva catenária. horizontal é relativo
ao bloco mais alto pois
depois sempre será igual,
pois nestes arcos o obje-
tivo é que as horizontais
sempre se anulem.
Dessa maneira os blocos trabalharão somente à compressão, haverá tração
na interrupção da curva, para isso o tirante.
As forças horizontais são sempre iguais e vão se contrapondo ao longo do
arco.
O arco entrega em cada apoio a metade do peso total do arco, através de
uma força com a direção da inclinação do bloco que chega ao apoio ou seja
a tangente da curva do arco no ponto de apoio e a intensidade da força hori-
zontal será proporcional ao peso descarregado, lembrando que essa tangente
será determinada pelo vão e pela altura estrutural, pois são as determinantes da
proporção da curva catenária.
Não vamos nos importar com o que acontece internamente em cada bloco,
pois iremos depois subdividi-los em inúmeros pedaços, sempre nos importan-
Para que o desenho se aproxime mais de uma curva catenária, devemos do apenas com as forças que cada um entrega para seus vizinhos, ou seja nos
trabalhar com pedaços pequenos, principalmente no centro da curva, porém seus apoios.
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No desenho abaixo, optamos por construir com oito blocos ou pedaços
de mesmo tamanho e peso, somente o oitavo foi subdividido pela metade e
a metade seguinte também pela metade e finalmente mais uma subdivisão
para que a curva ficasse visualmente mais arredondada no topo (sempre com
o peso proporcional ao comprimento, caso contrario não teremos mais uma
catenária).
Começamos então o desenho considerando oito unidades de peso para a
força vertical e a horizontal foi fixada como uma constante. Apenas nos pe-
daços do topo o peso foi considerado proporcional à metade do bloco e assim
sucessivamente.
Estes arcos podem ser chamados de arcos com curvatura natural, pois sua
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curvatura é definida para que sempre a força horizontal seja a mesma ao longo
de todo o seu desenvolvimento respeitando seu carregamento.
Se houverem cargas extras externas, estas deverão ser acrescidas ao peso
de cada bloco. Se essas cargas externas forem iguais em todos os blocos cons-
tituintes do arco, a sua forma ideal não se modificará, porém se não houver
regularidade é possível que uma outra forma de arco seja a resultante natural.
O arco resultante natural é chamado de funicular, pois se pendurarmos
pesos em um cordão (funiculum em latim), este adotará a forma do arco resul-
tante e que consistiu a maneira de Gaudi projetar os arcos da Cripta Guell.
A cada passo, a força horizontal é sempre de mesma intensidade, porém
a força vertical que é nula no centro do arco vai aumentando passo a passo, a
tangente que na verdade é a resultante da horizontal com a vertical consequen-

temente aumenta conforme se aproxima dos apoios.


O arco que trabalha à tração, trabalha igual ao de compressão, porém com
inversão de sinal nas forças, as forças horizontais se dirigem para o interior do
arco e as verticais ficam dependuradas no arco.

Na parte superior, travando o arco de tração, podemos colocar uma barra


horizontal para compensar as forças de compressão horizontais. Podemos tam-
Abóboda em pedra maciça - Residência Gardel - arq. Cecília Lenzi bém ao invés da barra de compressão, colocarmos outro arco invertido com as
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mesmas cargas, eles se compensarão. de baixo provocando horizontal para dentro em sen-
Quando o carregamento de um arco tiver uma regularidade linear (cargas tidos opostos, apesar da horizontal do bloco que está
iguais à distâncias horizontais iguais), sua forma ideal será o de uma parábola. abaixo a reduzir, resta um excedente de força horizon-
Este constitue o carregamento mais usual. tal dirigida para fora, inclusive nos outros encontros
Estes arcos, na realidade são instáveis em termos de equilíbrio, qualquer de blocos.
eventual força pode desequilibrá-los. É preciso que esses arcos possam resis- Arcos isolados como este trabalham à flexão,
tir também à forças de tração que eventualmente possam surgir, provocando sendo necessário criar elementos resistentes à flexão.
flexão. Isso será visto adiante. A maior parte das vezes construímos arcos como
portais em paredes, dessa maneira as paredes acabam
Arcos com curvatura não natural fornecendo a escora para esses excedentes de forças
Os arcos de circunferência normalmente não consistem em curva funicular horizontais.
de um carregamento, pois este teria de ser muito atípico. O desenho ao lado mostra que o arco para resistir a essas forças exceden-
Isso quer dizer que as forças horizontais não se compensam, existindo ao tes terá de se comportar como viga resistindo à essas forças, apoiado na base e
longo da curva forças horizontais excedentes, maiores ou menores. no topo.
Vamos ver como as forças caminham em um arco de semi circunferência Como o desenho desse arco é uma semi circunferência e se o arco for
tendo de resistir somente ao seu próprio peso. dividido em infinitas partes, a força horizontal na base será nula.
Exatamente como no exemplo do pilar inclinado, o bloco de cima descar-
rega seu peso no bloco de baixo provocando horizontal dirigida para fora e o Cúpulas

Da mesma maneira funcionam as cúpulas, calculamos um arco que gira


em torno de uma circunferência.
Este arco agora será composto por dois setores opostos da cúpula, não
tendo uma seção constante, pois no topo os dois setores se tocam em apenas
um ponto e sua seção é crescente até atingir a meia calota.
Dividimos cada setor em partes e conseqüentemente cada parte do setor
terá um peso diferente, o superior triangular, os subseqüentes trapezoidais e
com áreas crescentes e pesos crescentes somente se a cúpula exceder a meia
esfera os setores terão área reduzida.
Cúpulas com curvatura natural trabalham somente à compressão, mas
quando a curvatura não for natural como por exemplo a esférica, as forças
horizontais não serão constantes existindo em cada paralelo forças horizontais
excedentes.
Se quisermos construir cúpulas com curvaturas não naturais, deveremos
prever elementos estruturais que absorvam essas forças horizontais tais como
cintas ou anéis de tração.
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Cúpula Hemisférica

A curvatura de um arco ou de uma cúpula com a forma de uma meia esfe-


ra apresentará desequíibrios entre as forças horizontais em cada paralelo.
Este desenho mostra um corte vertical de uma cúpula hemisférica dividi-
da em dezesseis setores e cada setor dividido em quatro partes, por paralelos
A,B,C e D. Formando quatro trapézios com áreas diferentes e portanto com
pesos diferentes. A primeira é um trapézio onde um dos lados é nulo, portanto
é um triângulo.
A área de cada trapézio é a média da soma dos dois lados paralelos mul-
tiplicado pela altura. Cada lado dos trapézios é a circunferência do respectivo
paralelo, dividido pelo número de setores, no caso 16 e a altura de cada parte é

a circunferência da esfera dividido por 16 também.


Considerado o raio R unitário, temos que
R° = cos 90° ou 0,
R¹ = cos 67,5° ou 0,3827,
R² = cos 45° ou 0,707,
R³ = cos 22,5° ou 0,92388 e
R = cos 0° ou 1.
E, o comprimento
O = 0,
A = (0,3827 x p / 8) ou 0,15029,
B = 0,2777, C = 0,34833,
D = 0,3927 que é também a altura de cada trapézio.
Área da parte A = ((0 + 0,15029) / 2) x (0,3927) = 0,0295
parte B = 0,084
parte C = 0,1229
parte D = 0,1455, todas expressas em R²
Vamos adotar essas áreas como um fator de peso e vamos calcular as
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forças que agem na esfera adotando-se as áreas A força horizontal descarregada pela parte “C” na parte “D” é um pouco
como forças peso. maior que a proveniente da “D”, resultando um excedente dirigido para fora.
A força horizontal que a parte “A” descar- A parte “D” descarrega no apoio uma força inclinada que decomposta tem
rega na parte “B”, se compensa pela horizontal uma componente horizontal para fora e uma vertical igual a soma de todas as
contraria proveniente da parte”B”. partes do setor.
A força horizontal descarregada pela parte Como o excedente de forças se dirige para fora as forças são de tração nos
“B” na parte “C” é um pouco maior que a prove- anéis. Se forem dirigidas para dentro, as forças serão de compressão.
niente da “C”, resultando um excedente dirigido O desenho da vista superior da cúpula mostra os excedentes das forças
para fora. horizontais decompostos em forças que tracionam as cintas ou anéis entre as
partes em que foram divididos os setores.
As forças horizontais na base, também tem componentes que tracionam o
anel da base da cúpula.
A precisão do resultado melhora em quanto mais setores e partes dividir-
mos a cúpula.
Essas operações também podem ser calculadas com a ferramenta estrutu-
ral, em operações sucessivas.

Exemplo

Cúpula hemisférica feita em tijolos comuns 1/2 vez, com 5m de raio,


peso próprio da alvenaria 280 kgf/m² e carga acidental de 50kgf/m², total de
330kgf/m².
Dividiremos a cúpula da mesma forma que a anterior em 16 setores e em
4 partes cada setor. Poderemos então utilizar as proporções de peso de cada
parte do setor:
Peso da parte A: 0,0295 x 5m² x 330 kgf/m² = 243,375 kgf
Peso da parte B: 0,084 x 5 m² x 330 kgf/m² = 693 kgf
Peso da parte C: 0,1229 x 5 m² x 330 kgf/m² = 1013,925 kgf
Peso da parte D: 0,1455 x 5 m² x 330 kgf/m² = 1200,375 kgf/m²
A parte A esta apoiada horizontalmente na outra parte A do setor oposto
e no topo da parte B, com um ângulo de 11,25°
com a horizontal, provocando uma força horizon-
tal de
243,375 kgf / tg 11,25° = 1223,53 kgf
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direcionada para fora. adjacentes que formam ângulo entre si de 157,5° valerão: 98,23 kgf / 0,39 =
A parte B está apoiada na parte C, descarregando seu peso de 693 kgf 251,87 kgf de tração, multiplicado por 1,4 coeficiente de segurança = 353 kgf,
mais o de A de 243,375 kgf, totalizando 936,375 kgf com o ângulo de 11,25° será necessário reforçar com uma barra de aço que suporte essa força ou 353
mais 22,5° ou 33,75°, provocando uma força horizontal de 936,375 kgf / tg kgf/ (50 kgf/mm² x 0,85 coef. seg.) = 8,2 mm².
A força excedente horizontal entre as partes C e D provoca tração e tem
33,75° = 1401,38 kgf.
a intensidade de 676,44 kgf . Decomposta em duas, nas direções dos setores
Uma força igual com sentido contrário agirá na outra extremidade empur-
adjacentes que formam ângulo entre si de 157,5° valerão: 676,44 kgf / 0,39
rando a força horizontal proveniente da parte A para dentro, resultando uma = 1735 kgf de tração, multiplicado por 1,4 coeficiente de segurança = 2429
força excedente de 1401,38 kgf - 1223,53kgf = 177,85 kgf, kgf, será necessário reforçar com uma barra de aço que suporte essa força ou
esta força dirigida para dentro portanto comprimindo o anel desse paralelo. 2429 kgf/ (50 kgf/mm² x 0,85 coef. seg.) = 57,2 mm² (uma barra de 10 mm de
A parte C, está apoiada na parte D, descarregando seu peso de 1013,925 diâmetro ou duas de 6,2 mm).
kgf mais o de A e B, de 936,375 kgf, totalizando 1950,3 kgf com o ângulo de A força horizontal na base de D é de 626,71 kgf, decomposta em duas
33,75° mais 22,5° ou 56,25°, provocando uma força horizontal de 1950,3 kgf / 626,71 / 0,39 = 1607 kgf x 1,4 = 2250 kgf / (50 kgf/ mm² x 0,85) = 53 mm²
tg 56,25° = 1303,15 kgf.
Uma força igual com sentido contrário agirá na outra extremidade empur-
rando a força horizontal proveniente da parte B para dentro, resultando uma
força excedente de 1303,15kgf - 1401,38 kgf = - 98,23 kgf,
esta força dirigida para fora, portanto tracionando o anel desse paralelo.
A parte D, está apoiada na fundação, descarregando seu peso de 1200,375
kgf mais o de A, B e C, de 1950,3 kgf, totalizando 3150,675 kgf com o ângulo
de 56,25° mais 22,5° ou 78,75°, provocando uma força horizontal de 3150,675
kgf / tg 78,75° = 626,71 kgf.
Uma força igual com sentido contrário agirá na outra extremidade empur-
rando a força horizontal proveniente da parte C para dentro, resultando uma
força excedente de 626,71 kgf - 1303,15 kgf = - 676,44 kgf,
esta força dirigida para fora, portanto tracionando o anel desse paralelo.
A força horizontal na base da parte D provocará tração no anel final.
A força excedente horizontal entre as partes A e B provoca compressão e
tem a intensidade de 177,85 kgf . Decomposta em duas, nas direções dos seto-
res adjacentes que formam um ângulo entre si de 157,5° valerão:
F compressão = \F excedente / (2 x cos78,75°) ou 177,85 / 0,39 = 456 kgf
Os tijolos aguentam 50 kgf/cm² à compressão, portanto são necessários 10
cm² de seção de tijolo no anel.
A força excedente horizontal entre as partes B e C provoca tração e tem
a intensidade de 98,23 kgf . Decomposta em duas, nas direções dos setores
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A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T
r nºsets nºpart âng H âng V Raios H Circ. H Segm H Segm V parte área pte peso pt p acum âng pte âng graus Força H exced exced*1,4 âng horiz Força anel
5 32 16 0,196349541 1,570796327 0 0 0 0,981747704 A 0,094016812 31,02554782 31,02554782 0,09817477 5,625 315,0076733 90,17195611 126,2407386 1,472621556 643,9727691
5 32 16 0,196349541 1,374446786 0,97545161 6,12894322 0,191529476 0,981747704 B 0,278437421 91,88434904 122,9098969 0,294524311 16,875 405,1796294 103,9247929 145,4947101 1,472621556 742,1901395
5 32 16 0,196349541 1,178097245 1,913417162 12,0223546 0,375698581 0,981747704 C 0,452157837 149,2120863 272,1219831 0,490873852 28,125 509,1044224 37,79475208 52,91265291 1,472621556 269,9153063
5 32 16 0,196349541 0,981747704 2,777851165 17,45375363 0,545429801 0,981747704 D 0,535474455 176,7065701 448,8285532 0,687223393 39,375 546,8991745 -33,53576587 -46,95007221 1,472621556 -239,499296
5 32 16 0,196349541 0,981747704 2,777851165 17,45375363 0,545429801 0,981747704 E 0,535474455 176,7065701 625,5351233 0,883572934 50,625 513,3634086 -84,55628977 -118,3788057 1,472621556 -603,8678811
5 32 16 0,196349541 0,981747704 2,777851165 17,45375363 0,545429801 0,981747704 F 0,535474455 176,7065701 802,2416934 1,079922475 61,875 428,8071188 -131,8464097 -184,5849736 1,472621556 -941,5953829
5 32 16 0,196349541 0,981747704 2,777851165 17,45375363 0,545429801 0,981747704 G 0,535474455 176,7065701 978,9482634 1,276272016 73,125 296,9607091 -191,8406818 -268,5769545 1,472621556 -1370,050961
5 32 16 0,196349541 0,981747704 2,777851165 17,45375363 0,545429801 0,981747704 H 0,267737227 88,35328504 1067,301548 1,472621556 84,375 105,1200273 -105,1200273 -147,1680382 1,472621556 -750,726035

Em quanto mais setores e partes dividirmos mais preciso vai se tornando


Como as operações são repetitivas e sequenciais, podemos construir o resultado.
tabela com EXCELL . Para aplicar este esquema em geodésicas, devemos fazer coincidir apro-
A- Raio da cúpula (r), em metros. ximadamente os paralelos com os da geodésica e dividir a soma das forças de
B- Número de setores em que dividimos a esfera. todas as partes de mesma posição e dividi-las pelo número de barras de mesma
C- Número de partes em que cada setor foi dividido, consideramos aqui posição.
uma metade de setor.
D- Ângulo horizontal que define cada setor em radianos, fórmula
=2*PI()/B.
E- Ângulos verticais em radianos, fórmula =PI()/C.
F- Raios horizontais de cada paralelo, fórmula =A*cos(E).
G- Comprimento de cada circunferência de cada paralelo fórmula
=2*PI()*F.
H- Comprimento de cada segmento horizontal de cada parte, fórmula
=G/B.
I- Comprimento do segmento vertical das partes, fórmula =2*PI()*A/B.
J- Designativo de cada parte.
K- Área de cada parte em m², fórmula =((H¹+H²)/2)*I,.
L- Peso de cada parte, considerando 330 kgf/m², fórmula =K*330.
M- Peso acumulado das partes a partir da superior, com a fórmula
=SOMA(L²+M¹).
N- Ângulo que cada parte faz com a seguinte inferior em radianos, fór-
mula =(PI()/C)+N.
O- Ângulo N medido em graus com a fórmula =(180*N)/PI().
P- Força horizontal sob cada parte em kgf, fórmula =M/TAN(N).
Q- Força excedente sob cada parte em kgf, fórmula =P²-P¹.
R- Forças multiplicadas pelo coeficiente de segurança 1,4.
S- Ângulo entre setores, fórmula =(PI()-D)/2.
T- Força que comprime (em positivo) ou que traciona (em negativo)
cada anel entre partes em kgf, fórmula =R/(2*COS(S)).

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