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Formação Básica V

Ana Carla Coelho Bessa e Germana


Perdigão

Escola de Formão Shalom


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Formação Básica V

SUMÁRIO

Primeira Aula:
Maria na História da Salvação ......................... .................................................... 07

Segunda Aula:
A Imaculada Conceição ...................................................................................... 17

Terceira Aula:
A Anunciação ... .................................................................................................. 25

Quarta Aula:
A Visitação .......................................................................................................... 34

Quinta Aula :
Maternidade Divina ............................................................................................... 41

Sexta Aula:
A Virgindade Perpétua de Nossa Senhora .......................................................... 48

Sétima Aula:
Nossa Senhora e o Mistério de Cristo ................................................................ 54

Oitava Aula:
Relatório de Avaliação ......................................................................................... 62

Nona Aula:
Maria no Sacrifício Redentor ............................................................................. 63

Décima Aula:
A Assunção de Nossa Senhora .......................................................................... 70

Décima Primeira Aula:


Maria e a Santíssima Trindade ........................................................................... 76

Décima Segunda Aula:


Nossa Senhora e a Ação do Espírito Santo ......................................................... 82

Décima Terceira Aula:


A Devoção Mariana ............................................................................................ 87

Décima Quarta Aula:


Maria, Mãe de Todos .......................................................................................... 98

Décima Quinta Aula:


Relatório de Avaliação ....................................................................................... 102

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Formação Básica V

Introdução Geral
“O desconhecimento da verdade sobre Jesus
Cristo, das verdades fundamentais da fé e da ação do
Espírito Santo que atua nos corações e os converte,
fazendo assim possível a santidade, o desenvolvimento
das virtudes e o vigor para tomar, a cada dia, a cruz de
1
Cristo, deve ser um fato freqüente, entre nós, católicos” ,
foram fortes aspectos que nos impulsionaram a nos
comprometermos com o veemente apelo do Santo Padre,
João Paulo II, para uma Nova Evangelização e nos
impeliu a assumir o nosso papel de “agentes e
destinatários da Boa Nova da Salvação e a exercer no
mundo, vinha de Deus uma tarefa evangelizadora
2
indispensável”
Todo processo evangelizador só se concretiza
plenamente através de duas etapas profundamente
importantes, onde uma não prescinde da outra. Como
primeira etapa prioritária e fundamental compreendemos
a “proclamação vigorosa do anúncio de Jesus Cristo
morto e ressuscitado (querigma), raiz de toda a
evangelização, fundamento de toda promoção humana e
3
princípio de toda e autêntica cultura cristã” , anúncio este
capaz de levar os batizados a darem “sua adesão pessoal
a Jesus Cristo pela conversão primeira” e como segunda
etapa imprescindível, a catequese, pois cometeríamos um
erro grave se ficássemos satisfeitos em apenas anunciar
Jesus Cristo, sem oferecer posterior e permanentemente
formação doutrinária e teológica que proporcione
subsídios para ultrapassar os desafios da vida nova em
1
Doc. de Sto. Domingo Cap. I, 39 - 40
2
Ibidem Cap. I,94.
3
Ibidem Cap. I,33

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Cristo. É esta formação que “atualizará incessantemente


a revelação amorosa de Deus manifestada em Jesus
Cristo, levando a fé inicial à sua maturidade e educando o
4
verdadeiro discípulo de Jesus Cristo” . Portanto esta
catequese não pode chegar de “forma superficial,
incompleta quanto aos seus conteúdos, ou puramente
intelectual, sem força para transformar a vida das
pessoas e de seus ambientes” (Doc. de Sto. Domingo,
cap. I n°.42, pág. 53 - Ed. Vozes 1993).
Diante desta necessidade fundamental de
atingirmos o processo de evangelização em sua
plenitude, surgiu o curso de Formação Básica (FB), que
tem a proposta de oferecer uma formação sólida na
Doutrina e pontos fundamentais da teologia católica
adaptadas à realidade dos leigos hoje, que tenham tido
uma primeira experiência com Deus através dos diversos
canais que a Igreja oferece.
Como o objetivo deste curso é de ultrapassarmos o
conteúdo informativo e atingirmos o aspecto formativo,
isto é, que verdadeiramente a informação doutrinária e
teológica recebida penetre no mais profundo do ser de
cada pessoa e transborde em mudança concreta de vida;
vimos a necessidade de levarmos os alunos a orarem
com o conteúdo ministrado em sala de aula. Para isto
cada módulo é composto de um livro texto que contém os
objetivos e conteúdo de cada aula, destinado somente
àqueles que anteriormente receberam o treinamento para
se tornarem ministros de ensino, um caderno de
exercícios de oração, destinado principalmente ao aluno.
Este caderno de exercício de oração traz orientações
para orações diárias sobre os temas apresentados no
livro texto, com o intuito de aprofundar o que o ministro de
ensino informou em sala de aula.

4
Ibidem Cap. I,33

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Com a finalidade de atender à própria pedagogia


do curso, quer dizer, para que o curso seja de caráter
informativo e formativo, além dos exercícios de oração, os
alunos deverão ter um acompanhamento pessoal, se for
necessário, pelo seu ministro de vida carismática, que
visará a um cuidado pastoral com o seu crescimento
espiritual. Portanto, é essencial o esquema de uma aula
de duas horas por semana, somada aos exercícios
diários de oração e partilha dos frutos concretos de sua
vida nova.
O ministro de ensino deverá, pelo menos uma vez,
fazer os exercícios diários de oração, relativo ao módulo
que está ensinando, por dois motivos fundamentais:
primeiro, para que ele possa acrescentar ao conteúdo
experiências pessoais daquele determinado assunto que
está ministrando; segundo, para ficar em unidade com o
que seus alunos estão experimentando pessoalmente e
possa promover e fomentar a oração diária e a partilha
semanal, pois é através da partilha dos frutos trazidos
pela oração diária que o aluno verificará o seu real
crescimento e vivência do tema que está sendo estudado.
Isto deve ser feito durante os quinze minutos primeiros de
aula, uma vez que, sem oração, a teologia e a doutrina
serão mero conhecimento intelectual que não transforma
vidas.
Nossa experiência na formação de leigos nos
Centros de Formação da Comunidade Católica Shalom
nos tem ensinado que, em nenhum momento, este curso
de Formação Básica (FB) deverá substituir a reunião de
grupo de oração, círculos bíblicos, círculos de casais ou
outras atividades características da riqueza de cada
movimento. A formação de leigos deve ser feita a partir
destes encontros nas células-mãe e de forma paralela a

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eles, mediante o curso de formação básica, que abrange


casais, adultos, jovens e adolescentes.
O curso é ministrado através de módulos. Cada
módulo contém material para ser ministrado em catorze
ou quinze aulas por semestre. Cada aula semanal possui
uma carga horária de duas horas
Duas vezes por semestre, será pedido do aluno um
relatório de avaliação do aproveitamento do curso,
através de prova oral para aqueles que tem dificuldades
intelectuais ou físicas (analfabetos ou deficientes físicos),
ou escrita. São realizadas durante o semestre duas
provas: a primeira prova é feita na metade do curso
(oitava aula), a segunda no final do curso (décima quarta
ou décima quinta aula). Também utilizamos a assiduidade
como critério de aprovação ou reprovação, isto é, o aluno
que tem quatro faltas seguidas ou intercaladas é
automaticamente desligado do curso. Tudo isto com o
objetivo de fazer com que o aluno valorize os
ensinamentos recebidos e assim aprofunde pessoalmente
cada assunto através de estudos e pesquisas.
Este curso vem sendo aplicado desde o ano de
1991, em diversas cidades, idades e níveis culturais, que
já fizeram Seminário de Vida no Espírito Santo e
continuam a freqüentar seus grupos de oração no período
do curso. Temos colhido frutos concretos e abundantes:
um maior amor à Igreja, à Palavra de Deus, aos
Sacramentos, à Oração, à Liturgia, a Maria Santíssima,
aos Sacerdotes, e também crescimento espiritual e
profundas conversões. O programa de Formação foi
aplicado também em algumas cidades onde não havia
escolas de formação, no sistema de final de semana,
ministrado em duas etapas, tendo as pessoas se
comprometido a fazerem os exercícios de oração durante
os dois meses que separavam a primeira etapa da
segunda e concluir os exercícios de oração após a

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segunda etapa por mais dois meses. É muito importante


que este programa de Formação Básica atinja um maior
número de pessoas.

Entregamos este curso aos cuidados da Rainha da


Paz.

Shalom!

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Primeira Aula
Maria na História da Salvação

INTRODUÇÃO
Alguns têm afirmado ser supérflua a devoção à Nossa Senhora,
e, para isso, alegam a verdade que Deus, sendo onipotente, poderia
salvar a humanidade sem Maria. De fato, Deus, em Sua onipotência,
poderia nos salvar até sem a Encarnação do Seu Filho, mas foi
justamente usando Sua onipotência que Ele livremente decidiu fazê-lo
desse modo.
Assim é que, por livre decisão divina, Nossa Senhora tem um
lugar bem preciso na História da Salvação de toda a humanidade. No
Seu Amor e Sabedoria, o Pai realmente decidiu colocar Maria dentro
do Mistério de nossa Salvação como:
- a “Segunda Eva” (sentido figurado), porque, pela sua
obediência e fé, trouxe-nos a Vida, que é Jesus Cristo,
enquanto que a primeira trouxe-nos a morte, pela sua
incredulidade e desobediência a Deus;
- a Mãe do Salvador, que se entregou totalmente à Pessoa e
à obra de Seu Filho para servir, “na dependência dele e
com Ele, ao Mistério da nossa Salvação”5;
- a Mãe da Igreja, porque cooperou com a Obra do Salvador
para que nela nascessem os fiéis e Modelo de todo cristão,
pela sua adesão total à vontade do Pai.
Neste curso, vamos encontrar Maria na História da Salvação,
na vida de Cristo e da Igreja e de modo especial em nossa vida.

5
Constituição Dogmática Lumem Gentiun 56.

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ROTEIRO DO CONTEÚDO

1.DEUS ELEGE MEDIADORES HUMANOS (CAT 59-64)

1.1 Abraão, “pai da fé”


1.2 Moisés
1.3 Mulheres escolhidas
2.PROFECIAS SOBRE A VIRGEM MARIA (CAT 489)

2.1 O Proto-Evangelho – Gn 3,14-15


2.2 O sinal da Virgem que deve dar à luz o Emanuel – Is
7,14
2.3 O “tronco de Jessé”, de onde sairá o “rebento” – Is 11
2.4 A mulher que dará à luz em Belém – Mq 5,2-4
2.5 A mulher que “circundará” um varão – Jr 31,22
2.6 A esposa do Cântico dos Cânticos

3. MARIA NA “PLENITUDE DOS TEMPOS” (CAT 488)

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA
MARIA NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO

INTRODUÇÃO (CAT 128-130)


“Os livros do Antigo e do Novo Testamento e a tradição
mostram, de um modo que se vai tornando cada vez mais claro e
colocam, por assim dizer, diante dos nossos olhos a função da Mãe
do Salvador na Economia da Salvação. Os livros do Antigo
Testamento descrevem a História da Salvação, que a passos lentos, a
vinda de Cristo ao mundo. Esses primeiros documentos, tais como
são lidos na Igreja e entendidos à luz da Revelação completa,
iluminam pouco a pouco, sempre com maior clareza, a figura de uma
6
mulher, a da Mãe do Redentor” .
Hoje vamos conhecer Maria assim, profeticamente esboçada
na longa espera da promessa, que termina quando os tempos
atingem sua plenitude e o Filho de Deus assume dela a natureza
humana para nos salvar.

1. DEUS ELEGE MEDIADORES HUMANOS (CAT 59-64)


Para situar Maria no Plano da Salvação que o Senhor nos
revelou, devemos pressupor a continuidade entre ambos os
Testamentos7. Existe uma unidade indissolúvel entre o Antigo e o
Novo Testamento: o primeiro contém o segundo e o este esclarece o
significado do primeiro. Isso porque ambos os Testamentos têm um
único e mesmo autor, que é Deus!
Deus previu de longe a Virgem Maria, e preparou-a, esboçando
alguns traços de sua fisionomia, de modo que, considerando alguns
textos do Antigo Testamento, vemos que nele estava latente o que se
tornou presente no Novo. Por isso, a fim de entender melhor o papel
especial de Maria na História da Salvação executada por Jesus Cristo,
convém descobrir em algumas vocações individuais do Antigo
Testamento o modo de atuar de Deus através de seus "mediadores":

6
Ibidem 55.
7
Cf. Cat 489

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1.1 Abraão, “pai da fé”


Em Abraão, por exemplo, o Senhor deu-nos o modelo de "pai
da fé", porque este, escolhido para começar a compor o "povo
escolhido", deu uma resposta sem limites para que se realizasse o
plano divino, e o fez em meio à obscuridade da fé.
Mas é a vocação de algumas mulheres israelitas que nos ajuda
a captar melhor a de Maria: Mulheres estéreis que concebem por
intervenção de Deus, como sinal de que a obra que os filhos nascidos
delas vão realizar tem como autor o Altíssimo (Ex: Sara e Ana);
Mulheres chamadas a participar mediante a maternidade na formação
da ascendência de Jesus, esta é assinalada no Evangelho de S.
Mateus: Tamar, Raab, Rute e Betsabé.

1.2 Moisés
Afirma São Paulo em I Cor 10,11 que o Antigo Testamento é
figura do Novo. Isso porque muitos dos acontecimentos narrados ali,
são figura do que viria a acontecer posteriormente narrado no Novo
Testamento: tudo quanto aconteceu ao povo hebreu, libertado por
Moisés da escravidão do Egito e conduzido à Terra Prometida, era
figura do que iria acontecer ao povo cristão, libertado por Cristo de
uma escravidão bem mais dura do que a do Egito e conduzido a uma
Terra incomparavelmente mais rica que a Palestina.

1.3 Mulheres escolhidas


Em algumas mulheres escolhidas, cuja história se conta no
Antigo Testamento, podemos encontrar separadamente muitas
qualidades de Maria. Sara (Mãe de Isaac, do qual viria o povo eleito);
Raquel (Gn 30,1ss - Mulher de beleza incomum, deu à luz em Belém,
que significa "casa do Pão", a Benjamin, que significa "o Filho da
Dor"); Rebeca (Gn 24,16 - Donzela predestinada por Deus e
preparada para ser a esposa de Isaac, o Filho de Abraão, este "pai"
do povo eleito); Ester (Ester Cp 4 a 7); Judite (Jt 15,10); Abigail (IReis
25) - soube, pela Sabedoria, aplacar a ira de Davi contra a sua família,
figura de Maria, Mãe de Misericórdia, que intercede pelos pecadores;
A Mãe dos Macabeus (Mc 7 - Mulher forte, junto ao patíbulo,

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enfrentou o martírio dos filhos, unindo ternura materna à Fortaleza de


quem os entregou e se entregou inteiramente a Deus, prefigurando
Maria junto ao Calvário, ao pé da cruz de Seu Filho); Betsabé (Mãe do
Rei Salomão, seu Filho este a fez sentar em um trono resplandecente
à Sua direita, figura de Maria, mãe do Rei dos Reis, e agora sentada à
sua direita, gloriosa, Rainha da terra e do Céu).
Três dessas mulheres se destacam especialmente pela
participação ativa na formação e libertação do povo escolhido: Rute,
Ester e Judite. Cada uma é chamada por Deus a colaborar com Seu
plano de um modo. Rute, por sua maternidade, dá origem à família de
Davi, ascendente de Jesus; Ester liberta o povo de Deus em momento
de grave perigo. A primeira pela intercessão e a segunda pela atitude
sábia, corajosa e confiante em Deus.

2. PROFECIAS SOBRE A VIRGEM MARIA (CAT 489)

Muitas pessoas do Novo Testamento, sobretudo Jesus e Maria,


estão prefiguradas por outras e por profecias narradas no Antigo
Testamento. Vejamos agora algumas profecias nas quais os Antigos
Padres da Igreja vislumbraram referência à Virgem Maria:

2.1 O Proto-evangelho - Gn 3,14-15


A primeira "figura" de Maria foi Eva antes da culpa. A inocência
e a graça adornavam a primeira mulher antes do pecado. Porém, a
Mãe de todos os viventes, na ordem da natureza, escutou o chamado
do "anjo das trevas". Este lhe apareceu como uma serpente, e ela
consentiu no pecado, que se transmitiu para toda a natureza humana.
Mas "o Senhor disse à mulher: - Por que fizeste isso? E ela
respondeu: a Serpente me enganou e eu comi. E o Senhor disse à
Serpente: -...porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua
descendência e a descendência dela..."8. Nessas simples palavras, os
Padres da Igreja e os Exegetas Católicos vêem claramente indicados
Jesus e Maria. Aquele na descendência, e esta, na mulher. Maria, ao
contrário de Eva, escutou o chamado do Anjo bom e consentiu a
obediência radical a Deus, o que possibilitou a Salvação de todo o
gênero humano através de Jesus. Eva ofereceu ao homem o fruto
causador de morte; Maria, ao contrário, deu-lhe o fruto da vida. Eva
foi medianeira da morte, Maria tornou-se medianeira da vida. Maria, a

8
Cf. Gn 3,14-15

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mulher forte, dando à luz o Redentor, esmagou por meio dele a


cabeça da Serpente infernal, remediando o dano incalculável que Eva
causara por meio de Adão. Assim, no momento em que nossos
primeiros pais sofriam as conseqüências da culpa, a qual acumulara
imensos males sobre eles e sobre os descendentes, já surgia a
notícia da reparação a ser feita por Deus que, tomando a carne
humana de uma mulher escolhida mudaria pela sua fé e obediência o
rumo da história. E essa sublime criatura se tornou como um raio de
luz e de esperança em meio às trevas nas quais caíra a humanidade
decaída. Apocalipse 12, 1.9.13-17 viria a confirmar a realidade da
guerra entre "a mulher" e a Serpente infernal.

2.2 O sinal da Virgem que deve dar à luz o Emanuel - Is 7


Depois da profecia feita por Deus e relatada no Capítulo 3 do
Gênesis, alguns profetas, muitos séculos antes que nascesse Maria,
fixaram seu olhar profético na Mãe do Messias e anunciaram sua
glória, avivando no coração dos homens a recordação daquela
primeira promessa. Na realidade, todas as profecias que têm relação
a Cristo se referem indiretamente também a Maria, mas a profecia de
Isaías é a mais clara e solene de todas.
No tempo em que o rei Acaz subiu ao trono de Judá, o reino
achava-se ameaçado pelos reis da Síria e de Israel, que se
preparavam para pôr cerco a Jerusalém. Mas Deus, embora ofendido
pelo próprio Rei Acaz, que punha sua confiança mais nos meios
humanos do que Nele, ordenou ao Profeta Isaías que o procurasse e
dissesse que ele absolutamente não deveria temer "àqueles restos de
tições fumegantes, só devendo temer ser infiel ao Deus verdadeiro",
ou seja, devia ser fiel ao Deus verdadeiro, ao invés de fazer "alianças"
pecaminosas. Mesmo depois de receber o Conselho divino dado
através do Profeta, o rei ficou ainda indeciso, ao que o Profeta Isaías
o aconselhou pedir um sinal a Deus, mas Acaz, dando à sua
incredulidade uma aparência de respeito, respondeu: -"Não, não o
pedirei, nem tentarei ao senhor". Então Isaías (7,14), iluminado do
alto, fixando o olhar e lendo o futuro, exclamou solenemente: - " Ouvi,
pois, casa de Davi! Parece-vos pouco portar-vos mal com os homens
e quereis ainda ofender a Deus com vossa incredulidade. Contudo, o
Senhor mesmo vos dará um sinal. Eis que a Virgem conceberá e dará
luz a um Filho, e o nome deste será Emanuel “Deus conosco".
Eqüivalia a dizer: Os reis da Síria e de Israel decidiram destruir o povo

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de Judá e dispersar a Casa de Davi, mas isto não acontecerá; a


descendência deste grande rei subsistirá até que dela brote a Virgem
(Bibl. Jerusalém - Jovem = Hebr. ALMAH = Virgem) que, tornando-se
miraculosamente Mãe, vos dará um Filho que será o Emanuel, isto é,
Deus conosco. Oito séculos depois, concretizada a profecia, ao narrar
as circunstâncias especiais da geração de Jesus, S. Mateus escreve:
" Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia
dito pelo profeta" (Mt 1,22). E Lucas também confirmaria a profecia
em Lc 1,26-31.

2.3 O "tronco de Jessé", de onde sairá o "rebento" - Is 11


O mesmo Isaías também profetizou: " Um ramo sairá do tronco
de Jessé, um rebento sairá de suas raízes" (Is 11,1). Também essas
Palavras, os Rabinos e os Padres reconheceram ter sido ditas do
Messias e da Sua Mãe: Maria é o ramo (= renovo), e Jesus é o
Rebento, que despontou do seio puríssimo de Maria.

2.4 A mulher que dará à luz em Belém - Mq 5,2-4


Miquéias faz eco à voz de Isaías: Depois de ter designado a
pequena cidade de Belém como o lugar do nascimento do Messias,
prenuncia Sua Mãe, afirmando que o Senhor deixaria os hebreus
habitarem em seu País até o tempo quando Aquela que devia tornar-
se Mãe isto é, Maria, tivesse dado à luz um Filho, que iria apascentar
o rebanho com a força do Senhor, etc. (Mq 5,2-4)

2.5 A mulher que "circundará" um varão - Jr 31,22


O profeta Jeremias anuncia ao povo de Israel que "Deus cria
algo de novo sobre a terra: A Mulher rodeia seu Marido" (Bibl. Ave-
Maria): "Eis que o Senhor criou uma coisa nova sobre a terra: É a
esposa que cerca de cuidados o esposo). S. Jerônimo interpretou
essa passagem no sentido de ser "a Mulher" "uma virgem trazendo
em seu seio um homem". Isso seria "uma coisa nova" porque ela
seria ao mesmo tempo Sua esposa, porque é membro da Igreja, e O
"cercaria" dentro de si, gerando-o em seu ventre.

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2.6 A esposa do Cântico dos Cânticos


No célebre Cântico dos Cânticos, o Espírito Santo, mediante o
autor Sagrado, pintou para nós com vivas cores a imagem da Virgem
Santíssima. A esposa de que aí se fala é a Igreja, mas como a Igreja
consta de almas, e dentre estas se destaca Maria, de modo
extraordinário devemos vê-la em tal esposa. Temos, assim, descrito
nos Cânticos a extraordinária beleza da alma de Maria, que chegou à
maior plenitude de graças dentre todas as criaturas e precedeu-nos
em tudo como membros da Igreja. Somos almas esposas de Jesus,
mas Maria é a maior das almas esposas e o nosso modelo perfeito de
esponsalidade. Por isso, a Igreja faz, na Liturgia Mariana, um
emprego tão largo do Cântico dos Cânticos. (Ver especialmente Ct
4,1-16; Ct 6,4 até 7,6)
Essas foram as principais profecias, as principais figuras e
símbolos por meio dos quais Deus, em um ato de amorosa
condescendência, quis fazer conhecer e amar pelos homens a sua
Mãe Santíssima, mesmo antes de ela tocar a terra com os pés
imaculados. Com efeito, cada uma dessas profecias, figuras e
símbolos, tomados separadamente, nos mostram claramente algum
traço, alguma linha de Maria. Mas, tomados todos juntos, referem-se
tão evidentemente a ela que não se pode negar seu papel singular na
História da Salvação da humanidade. Assim todos os povos, que
ansiavam a salvação, estiveram à espera de Jesus como de Maria,
Mãe universal do Criador e das criaturas.

3. MARIA NA “PLENITUDE DOS TEMPOS” (CAT 488)


Maria pertence, ao mesmo tempo, à Antiga e à Nova Aliança.
Ela encerra o Antigo Testamento e abre o Novo, inaugurando a
plenitude dos tempos. Ela une o povo de Israel ao Salvador esperado,
pois o Antigo Testamento não é, senão, uma longa expectativa do
Salvador. Através dos anseios dos Patriarcas e dos Profetas,
sentimos a presença de Maria delineada, esboçada, cada vez mais
nítida e precisam. Maria assim resume e encarna a longa preparação
de vinte séculos, que precederam a vinda do Messias. O povo de
Israel fora escolhido por Deus para ser o instrumento de Seus planos
em relação aos outros povos. Em Maria, filha do povo de Israel e
verdadeiramente fiel ao pensamento de Deus e ao Seu apelo, o amor

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de Deus vai realizar-se no seu desígnio de Salvação universal. Ela


não é somente a filha de Israel, mas aquela por quem a raça de Israel
se projeta sobre a humanidade inteira, pois ela é tanto filha de Abraão
quanto de Davi e, ao mesmo tempo, Mãe da Divina Graça, mediadora
universal, Mãe do gênero humano..., é Aquela que aceitou não ser
somente judia; consentiu que seu coração se dilatasse até os limites
do mundo... Ao fim da história de Israel, a Virgem Maria é
verdadeiramente o êxito perfeito do que Deus tinha pretendido
realizar.
O plano divino da Salvação, que nos foi revelado plenamente
com a vinda de Cristo, “compreende em si todos os homens, mas
reserva um lugar singular à mulher que foi a Mãe daquele ao qual o
Pai confiou a obra da Salvação” (S. João Damasceno) . Diz João
Paulo II na sua Carta Encíclica “Redemptoris Mater” que “A Mãe do
Redentor tem um lugar bem preciso no plano da Salvação porque, ao
chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de
uma mulher, nascido sob a Lei, a fim de resgatar os que estavam
sujeitos à Lei e para que recebêssemos a adoção de Filhos” (Gl 4,4-
6). Maria é assim a mulher de quem nasceu o Redentor e a nossa
filiação divina. No momento em que o Espírito Santo plasmou no seio
da Virgem Maria, a natureza humana de Cristo, o Verbo Eterno, que
estava junto do Pai entra no tempo, e este se torna “tempo de
Salvação”. Assim Cristo e Maria Santíssima se tornam
indissoluvelmente ligados na história da nossa Salvação.
Assim este curso será para nós não um conjunto de
meditações sobre Maria, mas um itinerário de conversão e
santificação, seguindo as pegadas da Mãe de Deus. Alguém já
comparou Nossa Senhora a uma Carta de Deus para a humanidade,
escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus, não em tábuas de
pedra, mas em tábua de carne, usando as palavras de São Paulo à
Igreja de Corinto (2Cor 3, 2-3). A comparação é muito justa, pois
Maria é Mãe de toda a Igreja e Modelo para todos os Cristãos.
Ninguém como ela acolheu a Palavra de Deus e a pôs em prática tão
fielmente. O que nós vamos fazer neste curso é “ler esta carta de
Deus”, que é Maria, e trilhar um caminho de escuta e de obediência à
Palavra de Deus, por uma docilidade ao Espírito Santo, que vai nos
falar através de sua vida.
“Que havemos de fazer para pôr em prática o que o Espírito
Santo quis dizer-nos através de Maria? Nossa resposta mais válida
não estará na devoção a Maria, mas na imitação de Maria.
Seguiremos pois um itinerário muito simples e prático, uma espécie

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Formação Básica V

de curso de exercícios espirituais guiados por Maria. Exercícios,


porque cada meditação haverá de nos propor algo que devemos fazer
9
e exercer, não só entender”

9
CANTALAMESSA, R. Maria, um espelho para Igreja, p. 9.

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Segunda Aula
A Imaculada Conceição

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO ( CAT


491)
2. A EXPLICAÇÃO DO DOGMA (CAT 492)
3. A PLENITUDE DE GRAÇAS EM MARIA (CAT 493)
3.1) A ALMA EM HARMONIA COM DEUS
3.2) A ISENÇÃO DAS CONCUPISCÊNCIAS
3.3) A GRAÇA SANTIFICANTE EM MARIA
4. A ELEIÇÃO DE MARIA E A NOSSA ELEIÇÃO

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Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
A IMACULADA CONCEIÇÃO

INTRODUÇÃO (CAT 490)


Deus escolhe cada ser humano, em Cristo (cf. Ef 1), com um
plano bem definido para sua vida, um plano que, se aceito pelo
escolhido, o realizará pessoalmente, mas sobretudo colaborará na
Salvação de muitos irmãos. Assim, a Glória de Deus resplandecerá
nas criaturas, seus eleitos, sua obra prima.
A plenitude de graça com a qual o Pai prepara Maria,
capacitando-a, já é graça de Redenção: Ao mesmo tempo em que se
dirige à obra da Redenção, isso provém dos méritos dessa mesma
Redenção, que há de ser realizada por Cristo Jesus. Penetramos
hoje, neste belíssimo mistério da nossa fé.

1. O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO ( CAT 491)


“Para a honra da santa e indivisível Trindade, para a glória e
brilho da Virgem, Mãe de Deus, para a exaltação da Fé Católica e
aumento da religião cristã, pela autoridade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos,
pronunciamos e definimos que a doutrina que ensina que a Bem-
Aventurada Virgem Maria foi, no primeiro momento de sua conceição,
por uma Graça e um privilégio singular de Deus Todo Poderoso, e em
vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano,
preservada e isenta de toda mancha do pecado original, é revelada
por Deus e, por conseguinte, deve ser firme e constantemente
acreditada por todos os fiéis". (Bula "Ineffabilis Deus", Papa Pio IX, 8
de Dezembro de 1854).
O fato de o Dogma só ter sido decretado em 1854 não significa
absolutamente que a verdade tenha começado nesse ano. A verdade
da Imaculada Conceição sempre existiu.

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Formação Básica V

2. A EXPLICAÇÃO DO DOGMA (CAT 492)


Antes de tudo, precisamos ter em mente que o privilégio da
Imaculada Conceição só pode ser teologicamente entendido como
participação de Maria na Graça Redentora de Cristo, da qual foi
antecipadamente cheia, em virtude de sua colaboração na obra de
Jesus Cristo e como dom que lhe foi concedido em favor de toda a
humanidade.
Os privilégios concedidos por Deus não são frutos de algum
esforço natural humano, pois uma graça jamais é concedida
unicamente para enaltecer uma pessoa privada (ainda que essa
pessoa seja Maria), mas sim em favor de todo o povo de Deus. Por
isso, o Senhor, no exercício de sua misericordiosa liberdade e
sabedoria, concedeu a Maria o privilégio da Imaculada Conceição,
segundo a missão salvífica que, no meio do seu povo, ela há de
desempenhar. Toda a glória da Imaculada Conceição não é pois,
senão uma preparação e um prefácio para o papel que Deus lhe
destinou, o mais inédito que uma criatura já teve, ser a Mãe de Deus!
Portanto, para compreendermos a Imaculada Conceição na sua
origem, precisamos volver ao pensamento primário do Criador.
Tomemos Ef 1,3-4: " Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção
espiritual em Cristo, e nos escolheu Nele antes da criação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos".
Sabemos que, pelo Pecado original, o homem se afastou do
plano de Deus, mas que este, no seu amor, preparara a "recriação"
de sua obra-prima decaída.
Vejamos isso em Ef 1,5-7: " No Seu amor, nos predestinou para
sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo
beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a Sua
maravilhosa Graça, que nos foi concedida por Ele no Bem-Amado.
Nesse Filho, pelo Seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos
pecados, segundo as riquezas da Sua Graça".
Maria é aquela em quem tudo isso é ANTECIPADO e
REALIZADO em plenitude, devido aos méritos da obra Redentora que
o Cristo ainda haveria de realizar. Desde o primeiro instante de sua
criação, ela será REDIMIDA do Pecado Original e plena de Graças.
Maria foi, pois, em PERFEIÇÃO e PLENITUDE, desde o seu
nascimento, aquilo que só alcançamos pelas águas Batismais. Como
nós, Maria fazia parte de uma humanidade que nascia devedora de

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20
Formação Básica V

Deus. Mas, para ela, Deus suspendeu milagrosamente o "contágio


hereditário" da falta original, e isso se deu em vista, e por mérito
antecipado daquele que deveria nascer dela. A santidade do Filho é a
causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu
antes mesmo de surgir no horizonte.
Não ser manchada pelo pecado original não constitui, porém,
todo o mistério da Imaculada Conceição. Esse privilégio traz
imediatamente consigo, de modo positivo, uma plenitude de graça e
de caridade, uma invasão do Espírito Santo na alma.

3. A PLENITUDE DE GRAÇAS EM MARIA (CAT 493)


Quando dizemos plenitude de graças, costumamos avaliar essa
plenitude exclusivamente de modo quantitativo, o que constitui um
erro. Ela é uma realidade quantitativa e qualitativa, porque, quanto
maior, mais possibilita a união com Deus e a introdução na Sua vida
íntima.
A plenitude de graças em Maria é própria de uma criatura, e
não é como a de Jesus, que é Deus-Filho. Em Jesus, a plenitude está
completa desde sempre. Em Maria, a plenitude é limitada e, portanto
susceptível de crescimento. Ela recebe o Espírito Santo na Sua
Concepção, na Encarnação, em Pentecostes. E cada vez o Paráclito
faz grandes coisas nela. Sua vida teologal de fé, de esperança e de
Caridade conhecerá uma expansão progressiva e, de fato,
maravilhosa!

3.1 A Alma em Harmonia com Deus

Quanto mais uma alma sobe para Deus; mais intensamente


Deus a atrai, mais dócil à graça, mais rápida é a sua ascensão. Esta é
uma comparação de Sto. Tomás de Aquino. O crescimento contínuo
da graça faz-se em Maria num ritmo prodigioso. É-nos difícil alcançar
o seu progresso espiritual em virtude mesmo de sua rapidez, porque
ele obedece a uma Lei de aceleração comparável à queda dos corpos
no espaço. A santidade de Maria já, desde o início de sua vida,
excedia a de todos os Santos, e o seu crescimento na graça segue
um ritmo vertiginoso, sem nenhum recuo, sem nenhuma recusa, pois
ela sempre aderiu inteiramente às graças recebidas, sendo
completamente dócil à ação do Espírito Santo. Daí um aumento de

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Caridade sempre maior, uma aproximação de Deus cada vez mais


íntima, uma adesão a Deus cada vez mais unitiva.

3.2 A Isenção das Concupiscências


Concupiscência significa todo movimento de desejo mau, toda
aspiração desordenada do apetite sensitivo, que convida a razão a se
rebelar contra o bem. Ela é aquela tendência funesta para o pecado,
aquela tensão egoísta que nos torna remissos para praticar o bem, e
inclinados a praticar o mal, seja antecipando-se à razão, seja
resistindo a ela. É aquela "lei", contrária à lei da nossa mente, que nos
obriga a repetir como S. Paulo: "Não faço o bem que quero, mas faço
o mal que não quero" (Rm 7,19).
Ela é conseqüência do primeiro pecado do homem, este foi
criado para ter seu apetite racional submisso a Deus, e
consequentemente o seu apetite sensitivo submisso ao racional.
Porém, instigado pelo demônio, o primeiro homem escolheu
livremente rebelar sua razão contra Deus, e consequentemente sua
área sensitiva se revoltou contra a razão, instalando a desordem
interior no coração humano. Daí se acendeu o "fogo" da
concupiscência. Esta portanto, não é um pecado, mas fruto deste e
tensão íntima que convida ao pecado. Ela não é destruída pelo
Batismo, mas permanece oferecendo a cada um de nós, a cada
instante, a oportunidade de optar por Deus ou não.
Maria, por privilégio de Sua Conceição Imaculada, foi
preservada de toda concupiscência desde o primeiro instante de Sua
existência, em virtude daquele que dela nasceria, o puríssimo Jesus.
Este foi isento de toda concupiscência por virtude própria, ou seja, por
ser Ele Deus-Filho. Já Maria o foi em previsão dos méritos de Seu
Filho.

Observação Importante:
Isso não significa que Maria era uma espécie de "marionetes",
sem vontade própria. A primeira mulher, Eva, também não conhecera
a chama da concupiscência, e escolhera o mal. Embora as tentações
do Maligno não pudessem penetrar nela, que recebeu da divina
providência uma assistência essencialíssima, Maria foi mais livre do
que nós, porque jamais saiu do âmbito da liberdade humana para a
escravidão do pecado.

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Que Maria foi confrontada com o pecado do mundo que a


cercou não há dúvida. Que Maria se encontrou diante de opções entre
os bens relativos e o Bem Absoluto, disso também não há dúvida.
Porém, livremente optou por ficar firme em Deus, toda orientada para
o Bem Supremo que é Deus mesmo.

3.3 A Graça Santificante em Maria


No primeiro instante de sua existência, Maria foi "Cheia de
Graça", não no sentido absoluto, infinito, ou seja, incapaz de aumento,
como o foi Jesus Cristo mesmo em Sua vida terrena, mas em sentido
relativo à sua capacidade de receber a Graça, naquele momento.
Porém, ela cresceu em Graça até o fim de sua existência terrena,
porque a cada desafio Deus aumentava Sua capacidade para receber
mais Graça, e a cada adesão de sua parte, novamente a "enchia":
Em Sua Imaculada Conceição, Maria foi cheia de Graça
segundo a plenitude requerida para a Sua futura dignidade de Mãe de
Deus. No momento da Encarnação do Verbo, recebeu uma plenitude
mais perfeita que a primeira, que convinha à atual Mãe de Deus; E, ao
final de Sua vida terrena, recebeu uma plenitude que ultrapassou
todas as outras, atingindo o mais alto grau possível a uma criatura.
Maria cresceu incessantemente em graça nos acontecimentos
favoráveis e nos adversos. Reflitamos nisso também nós, que
podemos e devemos fazer bom uso da graça santificante recebida no
Batismo e das graças atuais que a cada dia recebemos para a nossa
santificação, nas mais diversas circunstâncias e acontecimentos.

4. A ELEIÇÃO DE MARIA E A NOSSA ELEIÇÃO


Retomemos Ef 1, 3-7. Assim como em Cristo fomos criados,
em Cristo somos redimidos. E mais, Deus nos elegeu antes da
Criação do mundo para sermos santos e imaculados diante dele, em
virtude da graça que nos é oferecida pela obra Redentora de Seu
Filho Amado. Na eleição divina e na graça reside a explicação de tudo
o que aconteceu com Maria. Para nós, no começo de tudo, está
também a graça e a livre e gratuita eleição de Deus, que se dá a nós
por puro amor. A eleição divina e a graça não são resultados dos
nossos atos, por melhores que sejam. São Paulo mesmo diz isto:

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Formação Básica V

“ É pela graça que sois salvos, por meio da fé, e isso não
depende de vós, é dom de Deus. Isso não vem das obras, para que
ninguém se orgulhe. Pois é Ele quem nos fez; nós fomos criados em
Jesus Cristo para as boas obras que Deus preparou de antemão, a
fim de que nelas nos empenhemos” (Ef 2,8-10).
No Magnificat, Maria reconhece a graça, aceitando a sua
gratuidade e atribuindo somente a Deus tudo de bom que está
acontecendo nela.
A primeira coisa que a criatura deve fazer como resposta à
graça de Deus é reconhecer-se como dependente dele, porque
ninguém pode “remir a si próprio, nem pagar a Deus o seu resgate”
(Sl 49,8). A maior heresia do homem moderno é pensar que pode
dispensar a graça. Para muitos, ela é inteiramente dispensada pela
razão. Mas uma diferença infinita existe entre a ordem da inteligência
e a da graça. Para outros, ela é considerada como ajuda necessária
para a vontade fraca do homem, a fim de que possa praticar a lei e
evitar de pecar. No entanto, é preciso recuperar a nossa dependência
de Deus pela abertura total à graça, que supera infinitamente a
inteligência e a vontade do homem.
A segunda coisa que é necessário fazer consiste em não
receber em vão a graça de Deus (cf. IICor 6,1) por uma vida de
pecado. As graças que pedimos são coisas que Deus dá por
acréscimo a quem o busca em primeiro lugar (cf. Mt 6,33). Não há
como dividir a graça incriada, que é o próprio Deus, das graças
criadas, que nos vêm dele.
“A Contemplação de Maria ajuda-nos hoje a reencontrar a
síntese e a unidade da fé. Ela é o ícone da graça, ainda não partida,
mas inteira. Nela a graça significa tanto a plenitude do favor divino
como a plenitude da santidade pessoal; indica a presença mesma de
Deus na maneira mais forte que se possa conceber, física e espiritual
ao mesmo tempo, e indica o efeito desta presença, aquilo pelo que
Maria é Maria e nenhum outro é semelhante a ela, mesmo possuindo
o mesmo Espírito que a santificou” (Raniero Cantalamessa).

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Terceira Aula
A Anunciação

ROTEIRO DO CONTEÚDO
1. ANÚNCIOS DE VOCAÇÕES NO ANTIGO TESTAMENTO
2. A NARRATIVA DA ANUNCIAÇÃO
2.1 A saudação
2.2 A revelação do Mistério da Encarnação
2.3 O diálogo
2.4 O Consentimento livre e pleno
3. A ANUNCIAÇÃO NA NOSSA VIDA
4. A FÉ DE MARIA

DESENVOLVIMENTO DO TEMA

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A ANUNCIAÇÃO

INTRODUÇÃO
Para termos uma correta devoção a Nossa Senhora,
precisamos compreender que ela aderiu ao plano de Deus, não
porque Deus tivesse lhe tirado a liberdade de decisão, ou porque
fosse repleta de ciência infusa como alguns pretendem afirmar. Maria
aderiu ao plano de Deus NA FÉ. Assim é que ensinam os Padres da
Igreja, que antes de conceber Jesus no seio, Maria concebeu-o
mediante a fé. Por isso, Cristo diz no Evangelho que mais felizes são
os que antes o concebem no coração.
Deus elege para uma missão sem nossa COOPERAÇÃO
CAUSAL, mas não realiza através de nós a missão sem o nosso
CONSENTIMENTO. Na Anunciação, Maria ofereceu a Deus o
voluntário dom da sua submissão. Pela Anunciação, foi pedido o
consentimento da Virgem, como representante de toda a natureza
humana. Assim foi mostrada a relação de amor esponsal entre Deus
e a criatura humana.

1. ANÚNCIOS DE VOCAÇÕES NO ANTIGO TESTAMENTO


Toda obra salvífica tem Deus como autor, mas este a prepara e
realiza pela mediação de alguns escolhidos, não para receber
privilégios privados, particulares, mas para serem canais da ação de
Deus no meio dos homens. Podemos observar os vários "anúncios"
da parte de Deus encontrados no Antigo Testamento, nos quais Ele
chamou "mediadores", que recebiam graças extraordinárias sempre
compatíveis com a missão que deveriam desempenhar para benefício
de um povo (Jacó, Gedeão, Jeremias).

1.1 Jacó

Esse patriarca foi escolhido por Deus, mesmo sendo o filho


mais novo, isso nas Escrituras testemunhou a eleição livre de Deus
que chama a quem quer (cf. Rm 9, 11-13). Deus manifestou essa
eleição ao próprio Jacó, em sua visão (sonho) em Betel, onde Deus

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Formação Básica V

revela que estava agindo na sua vida como um Deus que iria interferir
a seu favor (cf. Gn 28, 10-22).

1.2 Gedeão
Esse grande juiz foi chamado por Deus em um momento de
crise quando os madianitas atacavam e feriam o povo de Israel, que
havia abandonado a pureza da fé. Esse juiz é chamado para salvar
seu povo enfrentando o inimigo e também conduzi-lo à obediência ao
seu Deus (cf. Jz 6,7-16). Devemos notar como este se apresenta
diante de Deus como o mais insignificante e membro da menor tribo
(cf. Jz 6, 15).

1.3 Jeremias
Esse profeta também é chamado em um momento difícil, Seu
ministério consiste em anunciar ao povo o castigo divino devido aos
maus caminhos por ele trilhados. Diante de tão grande chamado, o
profeta reconhece ser “apenas uma criança”, o que manifesta
novamente a escolha livre e misericordiosa de Deus com seus
mediadores humanos (cf. Jr 1, 4-10).
Esses homens manifestam, assim, anúncios de vocações, que
continham algum aspecto do chamado à Maria, mas não todos os
aspectos, porque seu chamado foi especialíssimo, superando todos
os anteriores. Devemos notar como Deus escolhe homens simples
para grandiosas missões. Maria anuncia esse mistério de forma bela
ao dizer: “Minha alma exalta o Senhor e meu espírito se encheu de
júbilo por causa de Deus, meu salvador, porque ele pôs os olhos
sobre a sua humilde serva. Sim, doravante todas as gerações me
proclamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez por mim
grandes coisas: Santo é o seu Nome”.

2. A NARRATIVA DA ANUNCIAÇÃO
Toda a glória da Imaculada Conceição de Maria teve em vista a
missão à qual Deus lhe chamou. Vamos refletir a passagem do
Evangelho que narra o Mistério da Anunciação, que é a revelação
divina do chamado de Deus à própria Virgem Santíssima e também,
de certa forma, a cada um de nós. O relato da Anunciação à Maria

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Formação Básica V

deve ser situado em continuidade com a história do plano salvífico de


Deus.

2.1 A Saudação

Tome Lc 1,28b a 30
Tal saudação traduz o convite a alegrar-se pela escolha divina
de si mesma e de seu povo, o povo de Deus. É o convite não a uma
alegria passageira, superficial, mas a uma alegria messiânica,
histórica, da realização de uma promessa abrangente no tempo e no
espaço: é a espera de todo um povo, e de muito tempo, para todos os
que virão e de todos os tempos.
João Paulo II, na sua Encíclica sobre Nossa Senhora
(Redemptoris Mater), refere-se a Maria como "Filha de Sião", usando
uma comparação de grande sentido teológico: Os "filhos de Sião" são
aquele resto de Israel, povo humilde e humilhado, mas renovado pelo
Amor de Deus, de Quem depende inteiramente, e por Quem será
elevado, segundo a promessa divina. Segundo documentos do
Magistério da Igreja, o termo "Filha de Sião" realmente é aplicável a
Maria. O Salmo 87 diz que Sião se transformará em "mãe de todas as
nações", e Maria realmente se transformou em "Mãe dos Filhos de
Deus".
A expressão "Cheia de graça", que substitui o nome de Maria,
indica ao mesmo tempo a missão e unção recebida da parte de Deus.
O título anuncia não somente o papel de Maria na história da
Salvação, mas indica que Deus já o fez de tal maneira a dispô-la para
esse papel. Ele é assim o "germe" de sua missão. Preparada com a
plenitude da graça para uma missão específica na Salvação trazida
por Jesus Cristo, ela é a imagem da atuação criadora de Deus, santa
por obra divina, e não por simples esforço humano.
A expressão " O Senhor é contigo " traz a certeza de que é o
Senhor quem realizará a obra por meio de quem é chamado. Deus
está presente para assistir o fiel, ao qual se lhe confia uma obra que
interessa a todo povo escolhido.
Maria, por compreender a grandeza da missão, superior à sua
pequenez, "perturbou-se". Ela realmente, por si mesma, não estaria à
altura do chamado de Deus para si, mas o Senhor a conforta: "Não
temas". Não há o que temer, pois esta não é apenas a história de

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Formação Básica V

Maria, mas a da humanidade, que Deus ama com amor infinito, e


mais que tudo quer resgatar.

2.2 A revelação do Mistério da Encarnação


Tome Lc 1,31-33
O anjo anuncia a Maria o cumprimento, em seu seio, da
promessa Messiânica, de Deus para todos os homens. Maria não é
chamada a ser simplesmente mãe física daquele menino, mas a do
Herdeiro da promessa Davídica, ao qual se dará o nome de Jesus:
sua maternidade não separa do projeto salvífico que Deus deseja
realizar por meio dela. Sem dúvida, Maria não sabia, no momento da
Anunciação, todas as modalidades da Obra Redentora. Mas bastava-
lhe saber que seria Mãe do Messias tão esperado, de quem conhecia
os anúncios proféticos e por quem esperava ansiosamente em suas
orações como os Israelitas fiéis. Mas sua fé deveria ir muito mais
além do que conhecia e compreendia: Maria não sabia de tudo, mas
tudo aceitou, porque a fé e a caridade não precisam saber de tudo
para serem perfeitas.

2.3 O diálogo
Tome Lc 1,34 a 37
No Antigo Testamento, várias mulheres estéreis deram
milagrosamente à luz seus filhos predestinados que tinham um papel
especial na história da Salvação (Gn 18,11;Jz 13, 4ss;1 Sm 1,11;Gn
30,23). Esse prodígio, destinado a mostrar claramente a intervenção
divina, repete-se no nascimento de João Batista (Lc 1,36). Mas eles
foram sinal e figura de uma manifestação divina ainda mais
maravilhosa, o nascimento virginal de Jesus. Isso porque, quanto à
Nossa Senhora, o milagre foi singular, ultrapassando todas as outras
manifestações milagrosas do Antigo Testamento. A maternidade e a
virgindade consagrada são duas vocações distintas, que Deus
conciliou em Maria, não em duas fases, mas simultaneamente e
perpetuamente. Maria, cuja virgindade se tornou eloqüente na
intervenção onipotente de Deus na história do homem, é assim
modelo e intercessora das duas vocações: o matrimônio e a
virgindade consagrada.

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Formação Básica V

Entre todos os meninos prometidos por Deus para o Seu povo,


Jesus representa o ponto mais alto. Ele não foi gerado pela
intervenção de um homem, mas concebido pelo Espírito Santo e
nascido de uma mulher Santa e virgem. É o presente maior dado por
Deus aos homens.
O Espírito Santo, que, pelo Seu poder cobriu-a com "sua
sombra" deixando-a Imaculada como antes, deu início à divina
Maternidade e, ao mesmo tempo, fez seu coração perfeitamente
obediente à comunicação divina, que supera todo pensamento e
capacidade humana.

2.4 O Consentimento livre e pleno


Tome Lc 1,38
(EBED=DOÚLE=SERVA). Uma longa tradição popular traduziu
para o português esta resposta como: "eis aqui a escrava do Senhor".
Mas a palavra escrava não é fiel ao termo da Bíblia hebraica, que
significa "serva". Mesmo porque a resposta de Maria não é a de uma
mulher submetida à força a um amo contra a própria vontade, mas a
resposta de uma jovem israelita, cheia de fé, que aceita com PLENA
LIBERDADE colaborar no desígnio salvador de seu povo, conforme o
projeto de Deus que se lhe comunica como um chamado. É muito
importante entendermos isso para saber que Maria não assume uma
posição de opressão ou inferioridade, e sim de PERTENCER ao
Senhor, e de se colocar debaixo da Sua proteção. Ser EBED de Deus
significa sempre ter um bom Senhor, jamais servidão no sentido
negativo.
..."Faça-se em mim segundo a Tua Palavra"... Se Maria é serva
humilde, então lhe resta apenas abrir-se à ação da Palavra de Deus,
como uma israelita fiel, em nome do povo. Maria reconhece a Deus
como autor de toda a obra salvadora que Ele quer realizar por ela, e
aceita na fé colaborar, ser mediadora na intervenção divina, como
foram no AT Abraão e Moisés e as mulheres chamadas a libertar o
povo.
3. A ANUNCIAÇÃO NA NOSSA VIDA

A proposta da Anunciação não se refere a um chamado de


Deus para uma transformação individual ou para uma santidade
privada. É um chamado particular a participar da obra Salvadora por
seu Filho, é um chamado de caráter universal. Assim, a anunciação

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Formação Básica V

do anjo não se dirige apenas a Maria, mas à humanidade e à Igreja,


por intermédio de Maria. Dizendo "sim" à maternidade, Maria disse
sim à obra de seu Filho. E essa obra de Seu Filho nada mais é do que
a Salvação coletiva de toda a humanidade. Maria, por seu sim
maternal, comprometeu realmente a sorte da humanidade. E por essa
repercussão universal, adquire a dimensão de Igreja. Maria é aquela
que disse "sim" à Encarnação por toda a humanidade. É aquela em
quem toda a humanidade se abriu para a vinda de Seu Salvador.
Essa obra salvadora não se realizará de maneira abstrata. Ela
começa a realizar-se concretamente em Maria, por sua livre aceitação
obediente POR MEIO DA FÉ. Ela oferece sua colaboração como
receptáculo passivo da ação de Deus. É Deus quem será o autor da
obra, mas atuará nela. Deus é o único autor na obra Salvífica, mas
vale-se de instrumentos pessoais que aceitam colaborar livremente,
ainda que essa colaboração consista apenas em deixar Deus realizar
algo em si.
Na concepção de Jesus, Deus quer a livre aceitação de Maria,
para ver-se que cada homem fará sua Salvação por um ato de
aceitação livre e pessoal.
O anjo anuncia UM DECRETO DIVINO e não deixa lugar para
dúvidas sobre a certeza de sua realização. E devemos entender que o
que Ele decide não é apenas a maternidade de Maria, mas todo o
futuro eterno de Seu Filho.
Em outras palavras, o desígnio de Salvação não depende de
Maria, mas Deus pede a sua LIVRE COOPERAÇÃO nele.
Deus não usa os seres humanos como marionetes. Ele não
liberta o homem transformando-o em um objeto passivo, obrigando-o,
pois isto eqüivaleria à sua destruição, e Deus não destrói o homem. A
graça vem de Deus ao homem como um dom, não como uma
imposição, e realiza-se plenamente no homem com a sua livre
colaboração. Conforme o Seu modo de agir, Deus desejou que Maria
fosse livre ao aceitar a graça para ela e para o povo.
Por isso, devemos entender não ser a Revelação simplesmente
um ensinamento, mas a comunicação de projetos salvíficos de Deus
e um convite a participar deles. É uma autocomunicação de Deus que
convida à fé, e esta é a nossa entrega total a Ele como resposta, para
que Ele faça em nós a Sua vontade.

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Formação Básica V

O "FIAT" de Maria constitui, portanto, uma expressão de alegria


e não uma declaração indiferente de submissão. Maria é a alma
ansiosa que tudo espera do Senhor e, por isso, proclama-se Sua
serva.

4. A FÉ DE MARIA
São dignos de admiração a total disponibilidade e
esquecimento de si que percebemos em Maria. Nisto consiste sua
humildade. Maria tem consciência da vontade de Deus e mantém-se
na simplicidade. Deus é toda a sua riqueza e posse. Ela está
totalmente a serviço da Palavra Criadora de Deus.
Digna de nossa admiração é também sua fé. A fé de Maria é
mais preciosa do que sua maternidade, que é fruto da fé. Ela
consentiu em ser Mãe de Jesus, não apenas por uma maternidade
física (nesse caso só seria venerada como uma das mães dos filhos
"que chegam a ser heróis"). Ela aceitou livremente ser a Mãe do Deus
que salva, do Filho do Altíssimo, daquele que será chamado Filho de
Deus. E é claro que, no momento da Anunciação, captou essa missão
segundo a fé, própria de uma jovem israelita, que não conhecia a
doutrina trinitária. Por isso, sua fé teve de crescer em meio à
escuridão, junto com a experiência do crescimento do Filho, e à luz da
Palavra (Maria também foi evangelizada).
Por isso, a Igreja, desde o princípio, afirmou, através dos
Santos Padres, que Maria "Concebeu primeiro em seu coração e
depois em seu ventre" (Sto. Agostinho). Ela representa, por isso, a fé
da Igreja, que se regozija ao acolher em seu seio o Salvador. Deus
lhe pediu que aceitasse ser a, Mãe do Filho de Deus, o Redentor. Ela,
porém, não conhecia em profundidade a essência desse Redentor ou
seja, a divindade de seu Filho no sentido trinitário, e ainda assim se
entregou na fé. Por isso, Maria é a primeira cristã.
Se para nós Maria é apenas mãe biológica de Jesus, nossa
doutrina não difere da de alguns protestantes que não negam a
maternidade de Maria. Ela seria apenas a mãe de um grande herói.
Mas, se compreendemos que sua maternidade é também e
principalmente pela fé e dentro da ordem salvífica, aí podemos vê-la,
sua maternidade, como projeto divino de Salvação em favor da Igreja.
No plano divino, o Filho se encarna PARA ser Redentor, essa
encarnação se realiza no seio de Maria, com seu livre consentimento
e já é desde o início parte da obra de nossa Salvação.

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Formação Básica V

Por seu consentimento, na fé, Maria é a primeira a participar


CONSCIENTE E LIVREMENTE da Salvação messiânica cumprida
em Seu Filho. E seu consentimento é decisivo , no plano do Pai, para
a Salvação de todo o mundo.

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Formação Básica V

Quarta Aula
A Visitação

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. A NARRATIVA DA VISITAÇÃO
2. O MAGNIFICAT
3. O MAGNIFICAT E NÓS

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
A VISITAÇÃO

INTRODUÇÃO
Na Visitação, Isabel, a prima de Maria, exulta de alegria no
Espírito Santo e proclama quão bendita é Maria, e quão bendito é o
fruto do seu ventre. De fato, não existe senão uma bênção expressa
em Maria e no divino fruto que ela carrega. Maria leva em seu ventre
a maior bênção que Deus dará ao mundo.
E Maria, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo que
inspirou Isabel, vai louvar a Deus, que fez nela maravilhas. Mas ela
não vai evocar no Magnificat somente o grande acontecimento que é
a Maternidade divina, mas todas as maravilhas que Deus realizará
através dela, em todas as gerações que virão.

1. A NARRATIVA DA VISITAÇÃO
Tome Lc 1,39-41
A presteza de Maria em visitar Isabel é física, cronológica, pois
realmente o termo hebraico significa "apressadamente". Mas tal
diligência e disponibilidade não nascem de um simples desejo
humano de "ajudar" a prima numa necessidade, nem de dúvida
acerca do que Deus lhe tinha revelado pelo anjo, mas de uma grande
disponibilidade de Espírito, conseqüência da visita de Deus na
Anunciação e da esperança que transborda de sua alma. Maria não
foi contemplar o sinal divino manifestado em Isabel, só que, chegando
lá, ela junto com o Filho no Seu ventre, se tornou sinal para Isabel de
que a Salvação chegara para a humanidade:
"Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas
Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio;
e Isabel ficou cheia do Espírito Santo" (Lc 1,40-41).
A saudação de Maria provoca o sinal preparado por Deus. O
movimento natural da criança no seio de sua mãe converte-se em
sinal de gozo e simpatia suscitado pelo encontro. E a paz que Maria

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35
Formação Básica V

anuncia irrompe sobre Isabel e sobre a vida que se move no seio da


anciã. E Maria, então, contempla o sinal de Deus, a vida que leva em
seu seio é portadora de alegria escatológica e de paz. Maria
evangeliza com a sua presença, e a reação dos evangelizados
evangeliza a própria Maria.
"E exclamou em alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres e
bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem a honra de vir a mim a
mãe de meu Senhor? Pois, assim que a voz de tua saudação chegou
aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.
Bem-Aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas
que da parte do Senhor te foram ditas!".
O encontro com Maria fez Isabel ficar cheia do Espírito Santo e
profetizar. O Espírito de profecia recai sobre ela numa antecipação do
que vai acontecer em Pentecostes algum tempo depois, a vinda do
Espírito Santo sobre os discípulos. Inspirada pelo próprio Deus, Isabel
não pode conter a sua Palavra e profere-a, interpretando o
acontecimento. E proclama que Deus abençoou o seio de Maria
tornando-o prodigiosamente fecundo (Bendita entre as mulheres),
reconhece que Maria é a autêntica Mãe do Messias, e que este é o
Senhor (Mãe de meu Senhor), e profetiza a Bem-Aventurança que
Jesus ainda vai proclamar futuramente (Lc 11,28) sobre aqueles que
ouvem a Palavra de Deus e observam-na (Feliz és tu que
acreditaste).
Sobre Isabel, filha da paz, repousa a paz de Maria. E esta
permanece naquela casa, anunciando com a sua presença a
proximidade do Reino de Deus.
O Evangelho de Deus anunciado por Gabriel a Maria continua
seu curso, e Maria transforma-se agora em mensageira do Evangelho
para sua prima e para aqueles que Isabel representa, o povo de
Deus.

2. O MAGNIFICAT
Tome e leia com os alunos Lc 1,46-56
"Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria
em Deus, meu Salvador". Este versículo encontra paralelo no AT,
Salmo 34(33), 3 que diz: "Glorie-se a minha alma no Senhor, ouçam-
me os humildes, e se alegrem". Maria glorifica ao Senhor porque tem
consciência de que é Ele quem age aqui e agora no âmago de sua

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Formação Básica V

vida. É o reconhecimento de uma verdade acerca de si e de toda a


raça humana. Deus é o sentido da vida humana. A alegria, em Deus,
encontra paralelo também em Hab 3, 18 que diz: "Eu, porém,
regozijar-me-ei no Senhor. Encontrarei minha alegria no Deus de
minha Salvação" e no Cântico de Ana Mãe de Samuel, 1Sam 2,1:
"Exulta o meu coração no Senhor, nele se eleva a minha força; a
minha boca desafia os meus adversários, porque me alegro na Vossa
Salvação".
"Porque olhou para sua pobre serva". O similar dessa frase
está no voto de Ana, em 1Sam 1,11: "Senhor dos exércitos, se vos
dignardes olhar para a aflição de vossa serva, e vos lembrardes de
mim;". O olhar de Deus não é indiferente às nossas necessidades.
Quando Ele nos olha, imediatamente se segue a Sua providência em
nossas vidas. Algumas pessoas, no entanto, queixam-se que Deus
não as olha porque querem "obrigá-lo" a satisfazer suas necessidades
aparentes e acessórias, quando Deus está interessado em ir à raiz
dos nossos problemas e satisfazer nossas necessidades mais
profundas, e, por causa disso, crêem que Deus não as "vê", não vê
suas necessidades, quando este está dando pleno andamento nas
providências mais urgentes (Não aparentes) para que se concretize a
obra da sua salvação em cada um. É preciso ter "olhos" para
perceber o "olhar", ou seja, a ação de Deus em nossas próprias vidas.
Maria tinha esses "olhos". Seu modo de pensar combinava
plenamente com a Palavra de Deus revelada nas Escrituras.
"Por isto, desde agora me proclamarão Bem-Aventurada todas
as gerações, porque realizou em mim maravilhas Aquele que é
poderoso e cujo nome é Santo".
Veja Dt 10,21 (Ele é a tua glória e o teu Deus, que fez por ti
estas grandes e terríveis coisas que vistes com os teus olhos) e 1
Samuel 2,2 (Cântico de Ana, mãe de Samuel): "Ninguém é Santo
como o Senhor. Não existe outro Deus além de vós, nem Rochedo
semelhante ao nosso Deus". Maria continua em meio a um povo que
ainda não havia entendido o tipo de salvação que o Messias esperado
iria realizar, proclamando em alta voz o modo de pensar Divino, Ela
seria Bem-Aventurada! Embora Maria não conhecesse nada do
desenrolar futuro de sua vida, profetizava a sua Bem-Aventurança.
Mais tarde, o próprio Jesus, no sermão da Montanha (Mt 5, 3-12),
explicaria o sentido da Bem-Aventurança, no qual se encaixa
fielmente a vida de Maria. Somente trilhando o caminho das Bem-
Aventuranças, podemos dizer que realmente Deus realizou em nós

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Formação Básica V

maravilhas, e contemplar em nossas vidas o Seu imenso poder e a


Santidade do Seu Nome, que é honrado pelas nossas atitudes e
perfeito seguimento a Ele.

"Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre os que O


temem"
O Salmo 102(103), especialmente no vers.17, canta as
misericórdias divinas, o Deus que desce à miséria do homem, que
une o Seu coração perfeito ao coração fraco e miserável do homem, a
fim de arrancá-lo da morte e levá-lo à verdadeira vida. Maria canta
que nenhum homem que reconheça a Deus como Deus será deixado
à mercê dos próprios pecados. Na verdade, jamais homem algum é
deixado só por Deus. No entanto, aqueles que não o reconhecem
como Deus não permitem que Ele aja em suas vidas e permanecem
como se estivessem sozinhos, porque Deus respeita sua livre
escolha. O temor de Deus manifesta-se ainda mais profundamente no
seguimento à sua vontade, porque todo aquele que reconhece Deus
como Deus, reconhece a si como criatura dependente do Criador e
percebe o seguimento à sua vontade como seu maior bem.

"Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos


soberbos"
Salmo 88(89), 6-11. Maria proclama o poder de Deus sobre o
coração do homem, escravo das próprias paixões, do próprio prazer.
Aqueles que viviam com o coração voltado para os próprios desejos,
Deus os desconcertou, escolhendo uma pobre e desconhecida
menina para ser mãe do "esperado" e continuará desconcertando
para sempre o coração de todos os que forem "escravos de si
mesmos".

"Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes"


ISam 2,6-9. Maria proclama o poder de Deus sobre qualquer
autoridade ou poder humano. Enquanto pensam sustentar o mundo
nas próprias mãos, os pagãos são derrubados em seus projetos e
providências próprias. E nós, quando desviamos nossos olhos e
deixamo-nos levar pela concupiscência do poder, também somos
derrubados de nossos tronos. No entanto, aqueles que não se julgam
cheios de poder confiam na providência divina e agem de acordo com

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Formação Básica V

a Palavra, abrindo assim as portas para que Deus "os exaltem" pelas
magníficas obras que realizarão em si.

"Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos"


Veja o Salmo 33,34. No seu canto, Maria proclama o Senhorio
de Deus sobre todas as riquezas do céu e da terra. Enquanto
pensamos que possuímos alguma coisa neste mundo, bem longe
estamos da verdade. Quanto à qualidade dos bens que distribuirá, se
espirituais ou materiais, Deus o fará conforme a necessidade de cada
um para a Salvação da própria alma. Antes de nos revoltarmos
porque há pobres no mundo, deveríamos lembrar-nos de que, antes
de tudo, a pobreza é resultado do pecado do homem, como raça, e
pode estar sendo resultado até de pecados individuais de cada um,
que fecham seus braços para o acolhimento da providência divina.
"Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da Sua Misericórdia
conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua
posteridade para sempre"
Veja o Salmo 97(98),1-3; veja também a promessa divina em
Gn 17,1-8 e o pedido em Mq 7,20. Maria, figura do que deve ser o
povo de Deus, não funda sua esperança nos bens deste mundo, mas
nas promessas de Deus, que é fiel para sempre. E vê a origem da
promessa de Deus de fidelidade eterna na Sua promessa generosa e
gratuita a Abraão e sua descendência. Maria sabe, pelas promessas
reveladas nas Escrituras, que o Filho que leva em seu seio é da
descendência de Abraão, pois ela mesma o é. Ela é, portanto,
portadora do filho da promessa em seu seio e figura desse novo povo
que acolherá o Salvador. É assim esta frase, uma lembrança do amor
e da promessa de Deus que se concretizam em seu seio.

3. O MAGNIFICAT E NÓS

Desde o século I a Igreja reza com esse cântico na sua Liturgia,


proclamando por um lado a história da Salvação realizada em Israel e
por outro a obra efetuada por Deus através da maternidade de Maria.
Percebe-se, assim, que a comunidade cristã, desde o início, já vê
Maria como modelo e figura da Igreja, reconhecendo que verá
acontecer em si o que ocorreu a Maria, tanto que Sto. Irineu diz:

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"Maria, cheia de alegria, exclama profetizando a Igreja: minha alma


engrandece o Senhor".
Em seu cântico, Maria representa Israel, para quem se
cumpriram as promessas da Salvação. Maria recolhe os anseios de
todo o AT, que se alegra pela Salvação futura. Em seu louvor está
incluída a atitude de todos aqueles que experimentaram a satisfação
pela intervenção de Deus ao mandar o Messias. No louvor de Maria
está condensado o da Igreja.
O Magnificat não pode ser compreendido sem Maria.
Tampouco sem a Igreja, pois ele não expressa apenas os
sentimentos de Maria, mas também os da comunidade cristã que
experimentou a vitória de Deus sobre a morte de Jesus na
Ressurreição. A fé da Igreja manifesta-se nesse cântico, saído da fé
profunda de Maria na salvação prometida por Deus.
Aquilo que desde a Anunciação permanecia oculto na
profundidade da obediência à fé manifesta-se agora claramente como
uma chama vivificante do Espírito. As Palavras usadas por Maria no
umbral da casa de Isabel, que nos fazem vislumbrar sua experiência
pessoal e êxtase de seu coração, constituem uma inspirada profissão
de fé, na qual a resposta à Palavra da Revelação se expressa com a
elevação espiritual e poética de todo o seu ser a Deus.
Mas o Magnificat propõe à Igreja a melhor resposta humana
que se pode dar à proposta de Deus. Ao identificarmo-nos com os
sentimentos de Maria, chegamos à verdade sobre Deus, sobre nós,
sobre os outros, sobre o mundo… Entendemos que a verdade de
Deus, a única verdade, não é teórica, mas histórica, uma verdade que
acontece, que se realiza e realiza-nos.
Maria é a primeira testemunha da maravilhosa verdade sobre
Deus, que se realizará plenamente mediante o que fez e ensinou Seu
Filho, e definitivamente, mediante Sua cruz e Ressurreição.
Maria é a primeira testemunha da verdade sobre o homem,
porque anuncia o amor misericordioso de Deus por ele. O Deus do
Magnificat, o verdadeiro Deus, se derrama totalmente sobre o
homem, especialmente sobre o mais necessitado, tanto física, como
psicologicamente e espiritualmente.
O Magnificat é assim o modelo acabado de oração e de vida de
louvor no Espírito.

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Quinta Aula
Maternidade Divina

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. A MATERNIDADE DIVINA NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO


2. MARIA MÃE DE DEUS, O DOGMA (CAT 495)
3. O SIGNIFICADO TEOLÓGICO DA MATERNIDADE DIVINA
4. MARIA, A MÃE DO SALVADOR
5. MARIA, MÃE E MODELO DA IGREJA (CAT 964-975)
5.1 MARIA, MÃE DA IGREJA (CAT 967-970)
5. 2 MARIA, IMAGEM DA IGREJA (CAT 972)

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA
MATERNIDADE DIVINA

INTRODUÇÃO
Já sabemos que Deus escolheu Maria, por mera benevolência
(por que ELE é bom) e gratuidade (não por merecimento algum da
parte de Maria), para ser A MÃE DO SALVADOR. E com vistas a
esse objetivo, preparou-a muito bem, preservando-a da mancha do
Pecado Original, enchendo-a de graças. Mas Deus jamais tira a
liberdade das criaturas. Ele deu a Maria a liberdade de escolher, e ela,
então, decidiu PESSOALMENTE e LIVREMENTE aderir ao plano do
Criador, e tornar-se MÃE DE DEUS. Maria acolhe em seu seio a
Palavra de Deus e gera Cristo. A Igreja, seguindo o caminho de Maria,
acolhendo em seu seio a Palavra de Deus, gera para a Salvação os
membros de Cristo.

1. A MATERNIDADE DIVINA NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO

Se toda mulher, ao dar à luz uma criança, influencia o curso da


história, então o que dizer de Maria? Ela ocupa um lugar único na
história Sagrada da humanidade, pois que, ao receber o dom do Pai,
contribui para dar ao mundo Aquele que é o princípio, centro e fim da
humanidade. No desenvolvimento do plano de Deus, Maria situa-se
no meio do povo que espera o Messias. Mas este será seu Filho. E
porque aceita essa Maternidade, entra numa nova dimensão de fé e
introduz no mundo Aquele por Quem podemos chegar à filiação
divina.
A aceitação livre de Maria e aquilo que nela se realiza pelo
poder do Espírito Santo dá, pois, à nossa história o seu sentido último
segundo o desígnio de Deus que se cumpre em Jesus e pela Sua
obra. A Maternidade divina, como nenhum dos privilégios concedidos
por Deus a Maria, consiste num mero benefício pessoal, mas culmina
na Salvação dos homens e mulheres de todos os tempos e lugares.
Assim, feito um dos nossos através dessa mulher da nossa
raça, Maria de Nazaré, o Verbo de Deus, morto na Cruz e

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Formação Básica V

Ressuscitado, o eternamente Vivente, faz-nos participar dessa vida no


Espírito que Ele veio dar-nos para que a tenhamos em abundância.

2. MARIA, MÃE DE DEUS, O DOGMA (CAT 495)


Segundo o DOGMA DA MATERNIDADE DIVINA, Maria é mãe
não apenas da carne humana de Jesus, mas de toda a realidade do
Seu Filho, que tem duas naturezas, humana e divina, mas uma só
Pessoa (divina).
Criar é tirar do nada, e isso só Deus pode fazer. As almas
humanas foram criadas do nada por Deus, e infundidas no ventre da
Mãe que concebe seus filhos. Essas Mães, então, geram em si os
filhos, cujas almas foram criadas por Deus e cujos corpos foram
reproduzidos com as células reprodutoras de seus pais. Mas devemos
estar conscientes de que, embora uma Mãe não tenha criado a alma
de seus filhos, elas GERAM dentro de si uma pessoa inteira, de corpo
e alma, cujo corpo foi tirado de si e do pai e cuja alma foi dada por
Deus. Uma mãe GERA, assim, uma pessoa inteira. Cristo foi
GERADO no ventre de Maria, porque Ele sempre existiu, como
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Maria gerou em si, por
aproximadamente nove meses, aquele corpo humano provindo de um
milagre (porque formado sem a participação de um homem), e aquela
Pessoa divina que já estava no corpo desde a sua formação. Assim,
como numa geração comum (a nossa, por exemplo), a Ação geradora
dos pais tem por fim toda a pessoa, alma e corpo, também a atuação
maternal de Maria repercute na Pessoa do Verbo, que por isso
mesmo é realmente Seu Filho. POR ISSO, MARIA É MÃE DE Deus,
porque GEROU em seu corpo o Deus-homem. Maria é Mãe de Deus
porque, da própria carne, comunica ao Verbo uma natureza humana
semelhante à sua.

3. O SIGNIFICADO TEOLÓGICO DA MATERNIDADE DIVINA


Maria recebe, por ocasião da Encarnação, o que equivale a um
caráter um dom de ordem estrutural, e a um novo aprofundamento de
sua plenitude de graça, dom de ordem vital:
a. Pelo dom de ordem estrutural, Maria foi misticamente
incorporada a Cristo, contraindo em relação a Ele a função de Sua
Mãe. Ela assim recebe a Marca do Salvador, a fim de ser configurada

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Formação Básica V

ao Pai, adquirindo o direito de chamar de Seu Filho Aquele que até


então era Filho somente do Pai.
b. O dom de Ordem Vital torna proporcional o ser e a atividade
de Maria à qualidade nova que contrai, a de Mãe de Deus.
Certamente, ela não tem necessidade de receber a graça santificante,
que já possui desde a sua concepção, mas recebe um novo estatuto
e um novo aprofundamento dessa graça:
b.1 Uma conaturalidade nova com Deus. Ela já não adora a
Deus como Pai, mas pode adorar Jesus como Filho. Ela agora tem
uma relação a mais com Deus.
b.2 Um novo aprofundamento, uma nova ação de Deus sobre
Maria não alteram sua natureza, nem a graça da Imaculada
Conceição, mas a transfiguram, dilatando a plenitude de graças que
ela já tinha, na proporção de sua nova grandeza, proporcionando-lhe
possibilidades sem precedentes na ordem da Graça.

4. MARIA, A MÃE DO SALVADOR


Esta é a essência da vocação de Maria, profetizada no AT (Is
7,14;...), anunciada pelo Anjo Gabriel, proclamada por Isabel,
confirmada pelo Evangelho, reafirmada numa das Cartas de S. Paulo
(Gl 4,4), afirmada pela Tradição, definida no Dogma da Maternidade
Divina e ensinada pelo Magistério da Igreja.
A ação maternal de Maria sob o poder do Espírito Santo
termina, de fato, nAquele que é o Salvador dos homens, pois Jesus é
o único Salvador, o único Mediador, o Sacerdote, Profeta e Rei por
excelência, e o é na sua humanidade e divindade, porque, desde o
primeiro instante de sua existência, Maria está congenitamente unida
à natureza divina na Pessoa do Verbo. Ele tinha de preparar uma mãe
digna de si, totalmente empenhada em sua vocação excepcional,
resgatada de modo eminente em consideração aos méritos do Seu
Filho, unida a Ele por um laço estreito e indissolúvel.

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Formação Básica V

5. MARIA, MÃE E MODELO DA IGREJA (CAT 964-975)

5.1 Maria, Mãe da Igreja (cat. 967-970)


Fundamento Bíblico mais adequado a esse título: Jo 19, 25-27
Embora nada novo em sua substância doutrinal, este título de
Maria foi solenemente proclamado por Paulo VI no fim da terceira
sessão do Concílio Vaticano II, nestes termos:
"Para a glória da virgem e para a nossa consolação,
proclamamos Maria Santíssima "Mãe da Igreja", isto é, de todo o povo
de Deus, tanto dos fiéis quanto dos pastores... e queremos que com
este suavíssimo título a Virgem seja de agora em diante ainda mais
honrada e invocada pelo povo cristão". (Alocução de 21.11.64)

E na Encíclica Lumen Gentium, do mesmo Concílio, Paulo VI explica:


"Pois a Virgem Maria, que na Anunciação do anjo recebeu o
Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo e trouxe ao mundo a
Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do
Redentor. Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo
mais sublime e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, e
dotada com a missão sublime e a dignidade de ser mãe do Filho de
Deus, e por isso filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo. Por
este dom de graça, supera de muito todas as outras criaturas,
celestes e terrestres. Mas ao mesmo tempo está unida à raça de
Adão, com todos os homens a serem salvos. Mais ainda: é
verdadeiramente a Mãe dos membros de Cristo... porque cooperou
com a caridade para que na Igreja nascessem os fiéis que são os
membros desta cabeça". E por causa disto é saudada também como
membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e
modelo excelente na fé e na caridade. E a Igreja Católica, instruída
pelo Espírito Santo, honra-a com afeto e piedade filial como mãe
amantíssima". (LG 53).
A motivação da Maternidade de Maria em relação à Igreja é
vista antes de tudo pela cooperação da Virgem na obra do Filho. Ao
conceber Cristo, gerá-lo, nutri-lo, apresentá-lo ao Pai no templo, sofrer
com Ele agonizante na cruz, ela cooperou de modo todo especial na
obra do Salvador, mediante a obediência, a fé, a esperança e a
ardente caridade, para restaurar a vida sobrenatural nas almas. Por
isso, ela é mãe para nós na ordem da Graça. E essa Maternidade na
ordem da graça continua sem cessar, porque o seu consentimento,

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Formação Básica V

dado na fé no momento da Anunciação, além de se repetir por toda


sua vida terrena, está mantido até a perpétua coroação de todos os
eleitos. De fato, elevada ao céu, continua, com a sua múltipla
intercessão, a obter-nos os dons da Salvação eterna até o fim dos
tempos.
Mas é na perspectiva trinitária que se aprende plenamente o
sentido do título de Mãe da Igreja. Quando fez de Maria a Mãe de
Jesus, o Pai, por pura graça, tornou Maria de certo modo, participante
de sua fecundidade em relação ao Filho. Assim, Ele a tornou
participante também de sua relação com aqueles que se tornaram
Filhos no Filho, ou seja, os Batizados, a Igreja. Assim, Maria tem com
a Igreja do Filho relação de maternidade, fundada no Mistério de sua
eleição e de sua relação peculiar com Deus Pai. Assim, podemos
dizer que o título de Mãe da Igreja não é apenas um elogio, mas se
funda na eleição divina de Maria à Maternidade, plasmada
exclusivamente pela graça divina.

5.2 Maria, Imagem da Igreja (Cat. 972)


Falar de Maria significa falar da Igreja, pois uma e outra estão
unidas pela mesma vocação fundamental à Maternidade. Por isso,
quem ama a Igreja, ama o Mistério de Maria, e quem venera fielmente
Maria, acaba penetrando cada vez mais no Mistério da Igreja. A
Igreja, contemplando a santidade de Maria, imita sua maternidade:
- por sua fecundidade;
- por Sua Misericórdia;
- por Seu serviço generoso.
Maria, já glorificada no Céu em corpo e alma, é imagem da
Igreja, que há de atingir a sua perfeição no fim dos tempos. Assim diz
a Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II, Lumen Gentium:
“Na Santíssima Virgem, a Igreja já alcançou essa perfeição que
faz que ela se apresente sem mancha nem ruga (Ef 5,27). Os fiéis,
porém, continuam ainda a esforçar-se por crescer na santidade,
vencendo o pecado; por isso levantam os olhos para Maria que
refulge a toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtudes”
(LG 65).

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Formação Básica V

Além disso, cumprindo fielmente a vontade do Pai, torna-se


também Mãe por meio da Palavra de Deus acolhida com fidelidade,
porque pela pregação e pelo Batismo, gera, para vida nova e imortal,
os filhos concebidos por obra do Espírito Santo e nascidos de Deus:
“Com razão, a Igreja, também na sua atividade apostólica, olha
para aquela que gerou a Cristo, concebido do Espírito Santo e
nascido da Virgem precisamente para que nasça e cresça também no
coração dos fiéis, por meio da Igreja”.

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Formação Básica V

Sexta Aula
A Virgindade Perpétua de Nossa Senhora

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. O DOGMA
2. O QUE DIZ A SAGRADA ESCRITURA (CAT 497-498)
3. O QUE DIZ A TRADIÇÃO (CAT 496)
4. MARIA SEMPRE VIRGEM (CAT 499-501)
5. O MISTÉRIO NO SEU DESÍGNIO SALVÍFICO

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Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
A VIRGINDADE PERPÉTUA DE NOSSA SENHORA

INTRODUÇÃO
Desde as primeiras formulações da fé, a Igreja confessou que
Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no
seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto corporal desse
evento. Os relatos evangélicos explicam a Conceição Virginal como
uma obra divina que ultrapassa toda compreensão e toda
possibilidade humanas. Os primeiros intérpretes da Palavra viram na
Conceição Virginal o sinal de que verdadeiramente o Filho de Deus
veio a uma humanidade como a nossa. E o Dogma realmente faz-nos
compreender que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, visto ser
Mãe do Filho eterno de Deus feito homem sem deixar de ser Deus.
Além disso, faz-nos compreender a Maternidade espiritual de Maria,
que se estende a todos na humanidade, que Jesus veio salvar.

1. O DOGMA
"Se alguém não confessa, de acordo com os santos Padres,
que a Santa e sempre Virgem e Imaculada Maria é própria e
verdadeiramente Mãe de Deus, como queira que própria e
verdadeiramente concebeu sem sêmen, por obra do Espírito Santo, o
mesmo Deus-Verbo que nasceu do Pai antes de todos os séculos, e
que deu à luz sem corrupção, permanecendo sua virgindade
indissolúvel depois do parto, seja condenado". (Sínodo Romano
Lateranense, sob Martinho I (649))

2. O QUE DIZ A SAGRADA ESCRITURA (CAT 497-498)

É de notar a profecia de Is 7,14, traduzida literalmente do


hebraico:
"Eis a jovem donzela (almah) concebe e dará à luz um filho,
que ela chamará Emanuel". Os Evangelhos afirmam que Maria
Virgem concebeu o Filho de Deus sem a intervenção de semente
humana:

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Formação Básica V

Mt 1,18-20; Lc 1,26-38
Em Lc 2,48 José é dito "pai de Jesus". Lucas afirma (Lc 3,22)
que José era o pai adotivo de Jesus. A Divina Providência quis que
Maria fosse verdadeiramente casada com José, homem justo, a fim
de que seu lar tivesse a tutela que o homem pode e deve dar à mãe e
ao filho.

3. O QUE DIZ A TRADIÇÃO (CAT 496)


- S. Inácio de Antioquia atestava: "O Filho de Deus...
verdadeiramente nasceu de uma virgem".
- S. Justino comenta Is 7,14: "A virgem há de conceber, não do
varão... A força de Deus, sobrevindo a ela, recobriu-a e fez que,
embora virgem, se tornasse grávida" (Apologia I).
- S. Irineu refere-se ao sinal prometido em Is 7,14: "Que haveria
de grande ou que sinal se produziria, se uma jovem desse à luz após
ter concebido do varão? É justamente isto o que acontece com todas
as mulheres que dão à luz" (contra as heresias III 21,6).
O Magistério da Igreja, por sua vez, sempre ensinou a
concepção virginal de Maria. Assim o Credo dito "apostólico" professa:
"Jesus Cristo foi concebido do Espírito Santo, nasceu de Maria
Virgem". O Símbolo niceno-constantinopolitano reza: "Encarnou-se de
Maria Virgem por obra do Espírito Santo".

4. MARIA SEMPRE VIRGEM (CAT 499-501)


Em 649, o Concílio regional do Latrão declarou: "Maria, a santa
Mãe de Deus e imaculada Virgem,... concebeu do Espírito Santo sem
semente viril o próprio Deus Verbo; deu-o à luz sem perder a sua
integridade, e também depois do parto conservou inalterada a sua
virgindade".
Em 1555, o Papa Paulo IV, tendo em vista certos erros de sua
época, reafirmou:
"Maria persistiu sempre na integridade da virgindade antes do
parto, no parto e perpetuamente depois do parto".

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Formação Básica V

O aprofundamento da sua fé na maternidade virginal levou a


Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no
parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito, o nascimento de
Cristo "não lhe violou, mas sagrou a integridade virginal" da sua mãe.
A Liturgia da Igreja celebra Maria como a "Aeiparthenos", "sempre-
virgem".
Jo 1,12s: "A todos os que O receberam, deu o poder de se
tornarem filhos de Deus, aos que crêem em seu nome, Ele (o Verbo)
que não nasceu do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas nasceu de Deus".
Lc 2,7: " Maria gerou seu filho primogênito, envolveu-o em
panos e deitou-o no presépio". Esses dizeres insinuam a ausência
das dores e da prostração que costumam acompanhar todo parto. A
Tradição afirma que "Maria deu à luz sem dor", intencionando assim
professar a maternidade virginal de Maria.
OBS: Lucas (2,23) aplica a Jesus o texto de Ex 13,2.12.15,
texto conforme o qual Cristo seria "o filho que abre o seio materno":
esta é uma expressão clássica da Lei de Moisés para designar o
primeiro (ou também... o único) filho. Tais palavras não têm em vista
um fenômeno fisiológico, mas apenas a posição jurídica do filho na
família. Por conseguinte, a passagem de Lc 2,23 não contradiz ao
nascimento virginal de Jesus.

A fé da Igreja se afirma em numerosos testemunhos:


- S. Leão Magno Papa: "O Filho de Deus foi concebido do
Espírito Santo no seio da Virgem Maria, que O deu à luz, conservando
a sua virgindade (salva virginitate), como O concebeu conservando a
sua virgindade".
- S. Gregório Magno Papa: "O corpo do Senhor, após a
ressurreição, entrou onde se achavam os discípulos, passando por
portas fechadas, esse mesmo corpo que, ao nascer, saiu do seio
fechado, manifestando-se aos olhos dos homens. Não é para admirar
que o Senhor, ressuscitado para viver eternamente, tenha
atravessado portas fechadas, visto que, para morrer, Ele veio a nós
através do seio fechado da Virgem".
O parto virginal de Maria é fato singular e transcendental, que
há de ser preservado com respeito e reverência.

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52
Formação Básica V

Distribua entre alguns alunos as seguintes passagens bíblicas,


para que eles leiam, um por vez, em voz alta:

Mc 6,3; Mt 13,55s; Mc 3,31-35; Mt 12,46-50; Lc 8,19-21; Jo


2,12; 7, 2-10; At 1,14; Gl 1,19; ICor 9,5; Lc 2,41-52; Lc 2,43; Jo
19,26s; Mt 27,56; Mc 15,40; Jo 19,25; Gn 13,8;Gn 29,12.15; 31,23;
ICor 23,21-23)
A Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam
outros filhos da Virgem Maria. Com efeito, Tiago e José, "irmãos de
Jesus" (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo que
significativamente é designada como "a outra Maria" (Mt 28,1). Trata-
se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão
conhecida do Antigo Testamento. Jesus é o Filho único de Maria. Mas
a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os homens que
ele veio salvar: "Ela engendrou seu Filho, do qual Deus fez o
primogênito entre uma multidão de irmãos (Rm 8,29), isto é, entre os
fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor
materno.
O aramaico que os judeus falavam no tempo de Jesus e que os
evangelistas supõem era língua pobre de vocábulos. A palavra
aramaica e hebraica ah podia significar não somente os filhos dos
mesmos genitores, mas também os primos e até parentes mais
distantes. Por fim, o termo primogênito não significa que Maria tenha
tido outros filhos após Ele, pois em hebraico bekor, primogênito, podia
designar "o bem-amado".

5. O MISTÉRIO NO SEU DESÍGNIO SALVÍFICO


Falar da Virgindade de Maria significa entrar no mistério
espiritual de sua relação com Deus. Se a Virgem Maria teve uma
relação verdadeiramente privilegiada com Deus, todos os
acontecimentos de sua vida foram marcados pelo extraordinário. A
Virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus na
Encarnação. Assim, no seu Evangelho, Mateus (1,23) cita a Profecia
de Isaías (7,14): “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho”. E
Lucas 1,35 confirma: “O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do
Altíssimo te envolverá com a Sua sombra”. Eis o extrato de um texto
promulgado pela Igreja no Concílio de Trento, que nos convida a
dobrar-nos diante das imensas obras do Criador:

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53
Formação Básica V

“Se a concepção do Salvador está acima de todas as leis da


natureza, seu nascimento não lhe é inferior. Seu nascimento é divino,
o que é absolutamente prodigioso, o que ultrapassa todo pensamento,
toda palavra, é que Ele nasceu de sua Mãe sem acarretar a perda da
virgindade, do mesmo modo que, mais tarde, ele saiu do túmulo sem
quebrar a rocha que o mantinha fechado, da mesma maneira que Ele
entrou na casa com as portas fechadas onde estavam seus
discípulos... Assim é a Encarnação de Deus em Maria, sem
intervenção do homem! Assim é a natividade de Jesus, que preservou
a integridade de Maria, do mesmo modo como, na ressurreição,
Cristo saiu do túmulo pelo único poder do seu Amor. O extraordinário
torna-se possível, o sobrenatural torna-se natural quando Deus
intervém para realizar seu desejo de Salvação”.
Da parte de Nossa Senhora, sua Maternidade Virginal é sinal
de sua fé e da sua doação total à vontade de Deus:
- Pela fé, Maria submeteu-se inteiramente ao poder do
altíssimo e viu acontecer em sua vida o extraordinário, o
impossível.
- Dom total de si, da sua pessoa, a serviço dos desígnios
salvíficos do Altíssimo. Assim João Paulo II escreve em sua
Carta Encíclica Redemptoris Mater, sobre a Virgem Maria
na vida da Igreja:

“O consentimento que ela dá à maternidade é fruto sobretudo


da doação total a Deus na virgindade. Maria aceitou a eleição para ser
Mãe do Filho de Deus, guiada pelo amor esponsal, amor que
consagra totalmente a Deus uma pessoa humana. Em virtude desse
amor, Maria desejava sempre e em tudo doada a Deus, vivendo na
virgindade” (RM 39).
Esta atitude esponsal, de abertura total à pessoa de Cristo, a
toda a sua obra e a toda a sua missão, une em si, de maneira
perfeita, o amor próprio da virgindade e o amor característico da
maternidade, num só amor. Ao mesmo tempo Virgem e Mãe, Maria é
a forma mais perfeita da Igreja ( Cf. Cat. 507.)

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54
Formação Básica V

Sétima Aula
Nossa Senhora e o Mistério de Cristo

ROTEIRO DO CONTEÚDO
1. MARIA E JOSÉ, UNIDOS NA FÉ
2. FÉ NA HUMILHAÇÃO E NA GLÓRIA
3. FÉ NO ANÚNCIO DA DOR
4. FÉ EM MEIO A TODA INSEGURANÇA HUMANA
5. FÉ NO MISTÉRIO DO DEUS ALTÍSSIMO
6. FÉ NA INTERCESSÃO
7. A FÉ COROADA NA GLÓRIA

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55
Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
NOSSA SENHORA E O MISTÉRIO DE CRISTO

INTRODUÇÃO
"Feliz de ti que acreditaste que teriam cumprimento as coisas
que te foram ditas da parte do "Senhor" (Lc 1,45). As proféticas
palavras de Isabel não se aplicam apenas ao momento particular da
Anunciação, porque aquele foi apenas o ponto de partida no qual se
inicia todo o Seu "itinerário para Deus". Na saudação de Isabel,
revela-se a verdade sobre a caminhada de Maria, que chegou a entrar
realmente no Mistério de Cristo porque acreditou.
Diz o Santo Padre João Paulo II: "Acreditar quer dizer
abandonar-se à própria verdade da Palavra de Deus vivo, sabendo e
reconhecendo humildemente quão insondáveis são os seus desígnios
e imperscrutáveis as suas vias" (Rm 11,33). Maria, que pela eterna
vontade do Altíssimo veio encontrar-se, por assim dizer, no próprio
centro daquelas "imperscrutáveis vias" e daqueles "insondáveis
desígnios" de Deus, conforma-se a eles na obscuridade da fé,
aceitando plenamente e com o coração aberto tudo aquilo que é
disposição dos desígnios divinos” (RM).
O Mistério do desígnio divino deve ser por nós respeitado.
Somos criaturas, e não criadores e mantenedores de nossas vidas.
Será ao longo do caminho da obediência da fé que Maria, “esperando
contra toda esperança” (Rm 4,18), encontrou para si e para os que se
dão à mesma obediência da fé, a realização de todas as promessas
divinas.

1. MARIA E JOSÉ, UNIDOS NA FÉ

Tomar Mt 1,18-25, especialmente Mt 1,21: “Ela dará à luz um


filho a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo
de seus pecados".
Com o anúncio do anjo, Maria tomara consciência da missão
que Deus lhe confiou. O Todo-Poderoso a convida a aceitar livre e

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56
Formação Básica V

fielmente a vocação de ser Mãe do Salvador de todos os homens.


Aqui começa, não uma história escondida de santificação pessoal,
mas uma nova etapa da relação entre Deus e os homens. De seu sim
total depende a Salvação da humanidade. Isso a coloca no Centro da
História, porque lhe é pedida a colaboração para transformar a
realidade do mundo. Fiel a si mesmo, Deus não quer realizá-la
sozinho, mas com a livre cooperação de Maria. Mediante seu
consentimento, ilumina-se o mundo, de vez que, em seu seio, o
Salvador principia a viver.
Mas outro alguém entra nessa história da Salvação da
humanidade: José. Toda a sua grandeza se enraíza no serviço
desinteressado em prol do mistério de Cristo e de Maria. O Evangelho
descreve com poucos traços a vida de José, mas estes são
suficientes para definir a sua santidade: a pronta obediência ao
mensageiro divino, o respeito profundo pelo mistério operado por
Deus em sua esposa, o cuidado vigilante e abnegado da vida que lhe
foi confiada, manifestado nos acontecimentos que cercam o
nascimento de Jesus, na fuga ao Egito, por ocasião da perda da
criança no Templo; a santificação do trabalho e da vida diária.
A norma de vida de S. José é o cumprimento da vontade do
Pai; nisso encontra sua felicidade e sua realização pessoal e ali se
radica também a fonte do diálogo com sua esposa Maria. Um diálogo
que, longe de ser desencarnado, frio e impessoal, constitui a
expressão e o alimento de um amor humano cheio de calor,
compreensão e confiança.

2. FÉ NA HUMILHAÇÃO E NA GLÓRIA

Lc 2,1-20 e Mt 2,1-12. Especialmente Mt 2,11. "Entrando na


casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante
dele o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como
presentes: ouro, incenso e mirra.
Entre Jesus e Maria existe a plenitude da relação de amor entre
uma mãe e seu filho. Maria viveu uma intimidade que iria lhe levar à
identificação com aquele que ia germinando silenciosamente dentro
dela. Por ter levado em seu seio o Salvador, Maria experimentou com
ele uma relação única, que jamais se repetirá. Como sabemos, é

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57
Formação Básica V

íntima a relação entre a gestante e a criatura de seu seio. A criatura


respira através da mãe e daquilo que é da mãe. Alimenta-se da mãe e
pela mãe, através do cordão umbilical. Essa realidade de uma
maternidade profundamente experimentada é elevada ainda mais
porque o filho esperado é o próprio Messias. Maria sente, vive, como
ninguém, a intimidade com Cristo. Maria vive, então, momentos de
profunda plenitude humana diante do mistério de uma vida surgida de
suas entranhas e, ao mesmo tempo, momentos de indescritível união
com Deus, a quem adora na fragilidade do menino.
Outro aspecto do mistério contido nesse versículo: Maria dá à
luz na pobreza de uma Manjedoura, depois da inútil procura de
hospedaria. Eis aqui outro sinal das dimensões mais profundas:
Cristo, sendo de condição divina, despojou-se de si mesmo e nasceu
na simplicidade. Os pastores, homens simples e pobres, foram os
primeiros a acolher a chegada de Jesus. Mas a Salvação é para todos
os homens. O relato da adoração dos Magos acentua essa
universalidade. O Salvador de todos os povos é reconhecido e
adorado por homens pagãos. E Maria é testemunha da fé dos
pastores e dos magos ( Lc 2,19 e Mt 2,11).

3. FÉ NO ANÚNCIO DA DOR

Tomar Lc 2,35: "E uma espada traspassará a tua alma, a fim de


serem revelados os pensamentos de muitos corações".
Quando apresentavam Jesus no Templo, duas pessoas justas
e piedosas, inspiradas pelo Espírito Santo (Simeão e Ana),
reconhecem na Criança o Redentor esperado. O velho Simeão,
repleto de gozo, louva Deus e proclama a universalidade da Salvação.
Isso porque seus olhos estão contemplando a Luz para iluminar o
mundo (Jo 1,9). Depois se dirige a Maria e revela-lhe que através da
dor, participará, com Seu Filho, do Mistério da Redenção. A obra de
Seu Filho não se realizará sem sofrimento e sacrifício. E ela, por
desígnio divino, está associada a essa obra.
A fé de Maria, determinada pelo caminho de Seu Filho, é
chamada a implicar-se num destino de sofrimento. Crer é tomar a
própria cruz e seguí-lo (Lc 14,27), Ele mesmo dirá mais tarde. A fé
implica dor, porque requer doação total de nós mesmos, a esquecer
os planos passados para que todas as coisas sejam novas com a

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58
Formação Básica V

novidade de Cristo Jesus. É caminhar no escuro para o


desconhecido, seguro no único absoluto que é Deus.
Maria, representante do povo de Deus, recebe o anúncio
profético do sua própria dilaceração interior, por causa do Seu Filho,
cuja vida atuará como uma espada, para revelar o que está oculto nos
corações. Ele cumprirá Sua missão na incompreensão e na dor, e,
nesse anúncio, Maria é implicada, porque deverá viver obediência da
fé no sofrimento, ao lado do Salvador que sofre.

4. FÉ EM MEIO A TODA INSEGURANÇA HUMANA

Mt 2, 12-23. Ver especialmente Mt 2,14: "José levantou-se


durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito ".
Logo a profecia do templo começa a se tornar realidade. Maria
e José são obrigados a fugir e a exilar-se num país estrangeiro para
proteger a vida de Seu Filho, em vista da violência de um rei temeroso
de perder seu poder. Ao sofrimento da fuga soma-se a dor solidária
com as mães dos inocentes mortos no massacre.
Depois de ficar no Egito até a morte de Herodes (cf. Mt 2,15), a
Sagrada Família retorna a Nazaré, e inicia-se o longo período da vida
oculta de Jesus. Durante esses anos, “Maria está em contato com a
verdade de Seu Filho somente na fé e mediante a fé!” (RM 17). É feliz
porque acreditou e acredita dia-a-dia, lembrada de tudo o que lhe
havia sido dito sobre o Filho, na Anunciação e nos acontecimentos
posteriores.
“Este é o início do Evangelho, isto é, da Boa-Nova. Não é difícil,
porém, perceber naquele início um particular aperto no coração,
unindo a uma espécie de noite da fé - para usar as palavras de S.
João da Cruz - como que um véu através do qual é forçoso
aproximar-se do invisível e viver na intimidade com o mistério. Foi
desse modo, efetivamente, que Maria, durante muitos anos,
permaneceu na intimidade com o mistério do seu Filho e avançou no
seu itinerário da fé, à medida em que Jesus crescia em sabedoria e
em Graça, diante de Deus e diante dos homens (Lc 2,52)” (RM 17).

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59
Formação Básica V

5. FÉ NO MISTÉRIO DO DEUS ALTÍSSIMO


Tome Lc 2,41-51. Veja especialmente Lc 2,49: "Respondeu-
lhes ele: 'Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me
das coisas de meu Pai?".
A resposta de Jesus a seus pais, por ocasião do episódio de
Jerusalém, revela sua identidade pessoal mais profunda. Nessa
passagem, já se notam as distintas dimensões da relação entre Cristo
e Maria, que na vida pública se tornarão mais notórias. Maria gera
Cristo, cuida dele e educa-o. Mas esse vínculo de maternidade física,
sem ser negado, é elevado a um ainda mais profundo: o vínculo da fé.
Cristo gera Maria no Evangelho, cuida dela e educa-a na fé.
Cristo é Filho de Maria, mas Maria é discípula de Cristo. Este se faz
homem em Maria e através dela, mas Maria se torna filha de Deus em
Cristo e através dele, por quem e para quem existe. O vínculo
materno-filial não desaparece, mas aprofunda-se e transforma-se
num vínculo de maior intimidade e força: a perfeita realização da
vontade do pai. O parentesco segundo a carne é assumido e elevado
pelo vínculo da fé de Maria na Pessoa e na missão de Seu Filho.
A acentuação desse vínculo é o sentido profundo de algumas
passagens evangélicas que causam a impressão de uma rejeição de
Jesus à pessoa de Maria: "Quem é minha mãe e quem são meus
irmãos?" (Mc 3,33-35). E numa outra oportunidade: "Antes bem-
aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a guardam" (Lc
11,27-28).
Aquilo que nessas passagens aparece, à primeira vista, como
rejeição é, na realidade, colocação de Maria em sua posição,
sustentadora de sua grandeza e dignidade. Maria é Bem-Aventurada
por sua condição de mãe física de Cristo, mas o é mais ainda por
acolhê-lo com fé e segui-Lo com entrega total. Pois escutar a Palavra
e cumpri-la consiste em crer em Cristo e segui-Lo, pois Ele é a
Palavra, o Verbo Encarnado. Em Maria não há resistência à Palavra,
nem superficialidade, mas a Palavra é guardada em seu coração e
germina, produzindo abundantes frutos (cf. Lc 2,51/Lc 2,19)

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Formação Básica V

6. FÉ NA INTERCESSÃO
Tome Jo 2,4-5: "Respondeu-lhe Jesus: 'Mulher, isso nos
compete a nós? Minha hora ainda não chegou'. Disse, então, sua mãe
aos serventes: 'Fazei o que ele vos disser ".
A mãe de Jesus encontra-se com ele e seus discípulos numa
festa de Bodas. Atenta ao desenrolar da festa, Maria vê que a
situação se transforma num problema porque falta vinho. Então
informa seu Filho dessa carência. Não o impõe. A maneira de ajuda e
a intervenção ficam a critério do Filho. Um fato que pode parecer
banal, mas de uma teologia riquíssima. Recolhido provavelmente
duma fonte dos milagres de Jesus, essa narração revela a situação
desesperadora do ser humano, carente da Bem-Aventurança que o
vinho simbolizava para o povo de Israel (ver Is 25,6-9).
Maria preocupa-se com a situação do homem, afastado de
Deus e separado do próximo, e dirige-se ao Filho numa respeitosa e
confiante súplica de intervenção divina em favor dos homens. A fé de
Maria contrasta com a desconfiada pergunta de André a Jesus, antes
da multiplicação dos pães: "Que é isto para tanta gente? (Jo 6,9). Mas
a resposta de Jesus é misteriosa. Ela indica que a realidade não é tão
simples como costumamos supor. Jesus explicita agora a
transformação que se processa no relacionamento entre Ele e Sua
mãe: Maria é posta à prova na sua fé, como representante de nós
criaturas.
Em uma outra ocasião, Jesus perguntara: "Quem é minha mãe
e quem são os meus irmãos?" (cf. Mc 3,33;Mt 12,48). Maria vive
perfeitamente também essa dimensão da maternidade em relação a
Jesus, porque tanto o concebe na fé, como acolhe a Sua Palavra,
pondo-a em prática. “Concebe Jesus sem dá-lo à luz, quem se
comporta diante da Palavra de Deus como observador apressado,
que olha para o seu rosto no espelho e depois vai embora,
esquecendo logo como era (cf. Tg 1,23-24). Em suma, quem tem a fé,
mas não tem as obras. Por outro lado, dá à luz Cristo sem tê-lo
concebido, quem faz muitas obras, boas até, mas que não saem do
coração, do amor para com Deus e da reta intenção, mas saem do
hábito, da hipocrisia, da procura da própria glória e do próprio
interesse ou simplesmente da satisfação que vem do agir. Em suma,

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Formação Básica V

quem tem as obras, mas não a fé” (Raniero Cantalamessa, Maria, um


espelho para a Igreja, Ed. Santuário, p.64).
Em Caná, Jesus se interroga, na presença de Maria, se ainda
não chegou a hora de sua glorificação. Nesse momento é então
insinuado a Maria que haverá outras maiores manifestações, e agora
talvez se dará a primeira. E Maria respondeu de forma surpreendente
ao mistério que se apresenta diante dela: "Fazei o que Ele vos
disser!". A mãe de Jesus confia nele, crê nele, tudo espera nele; não
só para si, mas também para os outros. Agora sua função consistirá
em dirigir-se aos homens e pedir-lhes que "ponham em prática as
palavras de Jesus. Maria assume sua função evangelizadora e
missionária. Ela não somente crê em Jesus, escuta e põe em prática
sua Palavra, mas suplica aos homens que façam o mesmo. Em
continuidade com a atitude de seu Filho, vincula-se a ele pela fé e
procura que também os outros façam o mesmo. Não é que Maria
esteja exercendo influência sobre Jesus, mas antes sobre os outros
em favor de Jesus. A reação de Maria foi da cristã de fé perfeita e
promotora da fé, predispondo os outros à docilidade.

7. A FÉ COROADA NA GLÓRIA
Tome Ap 12,5: "Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que
deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho
foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono. A mulher fugiu então
para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um retiro para aí ser
sustentada por mil duzentos e sessenta dias".
Maria esteve grávida e deu à luz "um filho, varão, aquele que
deve reger todas as nações com cetro de ferro". Essa expressão se
refere sem dúvida nenhuma a Cristo, e pode ser também aplicada aos
que participam da Sua vida, e de modo especial guardam a fidelidade
até o fim. A luta entre a Mulher e a serpente, que pretende devorar o
Seu Filho, alude a Jesus e a Maria, e nela, também à Igreja. A mulher
então foge para o deserto, lugar que Deus preparou para sua
proteção e refúgio. Ali se alimenta - alusão à Eucaristia - durante
1.260 dias, tempo simbólico que significa uma longa perseguição,
mas, ao mesmo tempo, limitada pela vontade divina.
Maria continua sua missão. Está na Igreja. Maria deu o corpo a
Jesus. E agora seu corpo se dá a nós pela Eucaristia. Há, portanto,
uma estreita relação entre Maria e a Eucaristia. Devemos receber a

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Formação Básica V

Eucaristia meditando que se podemos receber hoje o Corpo de Cristo,


foi Maria quem nos deu esse Corpo. A fé de Maria foi coroada com a
realidade maravilhosa que vive hoje. Mas sua fé deve ser lembrada e
imitada, mesmo porque ela intercede para que permaneçamos com a
mesma fé até o fim. Maria na Igreja. A Igreja e Maria. A Mulher do
Apocalipse é a mesma do Calvário e do paraíso. Ela que respeitou o
Mistério está agora imersa no Mistério que acolheu: participa das
tribulações dos seus filhos, mas ao mesmo tempo é para eles sinal de
vitória, esperança nossa!

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Formação Básica V

Oitava Aula
Relatório de Avaliação

Caro(a) Aluno(a)
Esta avaliação tem como objetivo colher o seu testemunho
sobre os frutos que você tem percebido em sua vida e oração a partir
das aulas que você tem participado, e dos exercícios de oração que
você tem praticado neste semestre. Não se trata de uma avaliação
intelectual, mas de uma avaliação de sua caminhada com Deus
nestas últimas semanas. Por esta razão, cada questão deve ser
respondida em oração e escuta do Senhor. Trata-se, pois, de um
momento muito importante, no qual o Espírito Santo pode realizar
maravilhas em seu coração, como no coração daqueles que vierem a
conhecer sua partilha. Que Nossa Senhora, Rainha da Paz, seja sua
mestra e companheira nesta tarefa!

1. “Ele nos escolheu nele antes da fundação do mundo para sermos


santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor” (Ef 1,4). Tome
Lc 1,26-38 e ore sobre a eleição de Maria e a sua própria eleição,
sobre o sim de Maria e o seu próprio sim a Deus. Partilhe aqui
sobre isto.
2. Tome agora Lc 1,46-55 e ainda em oração comente o que diz
sobre você e a humanidade o Magnificat.
3. Comente o que tocou mais fortemente seu coração quando
estudou e orou sobre os mistérios da Maternidade divina e
Maternidade Virginal de Nossa Senhora.
4. Procure rever na sua memória algumas situações que você
conheceu pelas Escrituras, em que a fé demonstrada por Maria
tem edificado especialmente sua vida neste momento. (Se
desejar, pode consultar Mt 1,18-25; Lc 2,35; Mt 2,11; Mt 2,12-23;
Lc 2,41; Jo 2,4-5).

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Formação Básica V

Nona Aula
Maria no Sacrifício Redentor

ROTEIRO DO CONTEÚDO
1. POR SEU LIVRE CONSENTIMENTO
2. A TÍTULO DE SUA PERFEITA SANTIDADE
2.1 A plenitude da fé
2.2 A plenitude da esperança
2.3 A plenitude da Caridade
3. A TÍTULO DE MÃE CO-REDENTORA
4. A MEDIAÇÃO INTERCESSORA DE MARIA
4.1 A continuidade da Igreja terrena com a celeste
4.2 A comunhão de bens espirituais

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Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
MARIA NO SACRIFÍCIO REDENTOR

INTRODUÇÃO
Tome Gl 4,4. Deus Filho quis nascer na carne, de Maria, para a
Salvação do mundo. Assim, não há como ignorar sua participação na
obra Redentora. Podemos dizer que Maria participou ativamente da
obra de Redenção, realizada por Cristo, como participa ativamente na
aplicação das graças que recebemos hoje, que são todas fruto da
Obra da Redenção. Maria foi, historicamente, uma ativa colaboradora
na obra de Seu Filho e continua colaborando ativamente pela
intercessão e pelo exemplo. A presença de Maria AO PÉ DA CRUZ
não é a de um espectador ou personagem extra. Ela ali se colocou:

1. POR SEU LIVRE CONSENTIMENTO


Tome Jo 19,25
A colaboração de Maria é livre. Desde o "faça-se", Maria já
testemunha sua liberdade interior. Seu "sim" à Anunciação significou,
tanto a aceitação da Maternidade que se lhe propunha, como o seu
compromisso no mistério da Redenção, onde sua participação foi real
e efetiva. Este sim foi apenas o primeiro de muitos outros que daria
até o "sim" que pronunciou sem palavras com a atitude de estar de pé
na Cruz, ao lado de Seu Filho Jesus. E tudo isso fez conscientemente
e sem estipular condições.
Junto à cruz de Jesus, Maria não era uma mulher passiva, que
se deixava levar pela violência dos algozes de Seu Filho. Ali, Ela
consentiu, com amor, na imolação de Jesus. Nada a separou de Seu
Filho, sofreu a paixão dele, associou-se espontaneamente, como
mãe, a Seu sacrifício e deu sua aprovação à radicalidade do amor de
Jesus pelos homens, que foi até o extremo.

2. A TÍTULO DE SUA PERFEITA SANTIDADE

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Formação Básica V

Seria demasiado redutivo entender a dor de Maria junto à Cruz,


simplesmente do ponto de vista emotivo, e não de seguimento de
uma missão. É preciso ver que esse mistério se integra nos desígnios
do Pai. Ela expressou sua fé na missão de seu Filho mediante seu
seguimento até a Cruz, para assumir a seus pés e no meio do
sofrimento, uma missão eclesial.

2.1 A plenitude da fé
Ao pé da Cruz, Maria exerceu a plenitude humana da fé. Ao vê-
lo aparentemente derrotado, embora outros vacilassem fugindo
aterrorizados, conservou-se firme, crendo sempre que Ele era Deus.
Maria ficou firme na sua jamais abalada fé na divindade de Cristo. A
fé de Maria, embora seja muito comparada à de Abraão, ainda vai
mais longe e é mais poderosa, pois Deus lhe pediu que consumasse
o holocausto de Seu Filho. Um anjo deteve a Mão de Abraão quando
já estava erguida para imolar o seu Filho, mas Nossa Senhora teve
que beber todo o cálice da dor. Seu sacrifício tem um valor tão
grande, a ponto de receber o título de Co-Redentora, ao pé da Cruz.

2.2 A plenitude da esperança


Ao pé da Cruz, Maria exerceu a plenitude humana da
esperança. Enquanto o Rei morria irremediavelmente numa cruz
erguida pelo povo, seus súditos perdiam a esperança e fugiam
amedrontados pela dúvida. No entanto, Nossa Senhora não duvida
um só instante. Para além das aparências, ela divisa o triunfo. Muito
antes dos dois discípulos de Emaús, ela compreendeu que era
necessário o Cristo sofrer tais coisas para assim entrar na Sua Glória
(Lc 24,26). Que para dar fruto, o grão de Trigo devia enterrar-se e
morrer. A Ressurreição gloriosa, a Ascensão aos céus e a Vinda do
Espírito Santo são os frutos da Cruz.

2.3 A plenitude da Caridade


Ao pé da Cruz, Maria exerceu a plenitude humana da sua
Caridade para com o próximo. Amou tanto o mundo, que, para que
este fosse salvo, ofereceu seu Filho à morte pela nossa Salvação. Por
que aceitou aquela tortura? Movida por um imenso amor a nós, ela

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67
Formação Básica V

mesma ofereceu o Seu Filho à Justiça divina, para nos receber como
Filhos. Aqui a causa da imensa dor de Maria: Nós. Por nós, Jesus
morre e por nós sofre Maria. A dor de Maria é conseqüência das
inúmeras culpas de todos os Filhos de Adão, que causaram nossa
expulsão do paraíso. Em Maria, de maneira única, revela-se o
mistério salvífico do sofrimento. A Virgem, sendo a toda formosa, a
sempre Imaculada, não sofreu somente por si mesma: sofreu por nós,
porquanto é a Mãe de todos.
Quando o nosso horizonte nos parecer estreito, nublado,
fechado; quando nos parecer que Cristo fracassa em nossa própria
vida ou no ambiente que nos rodeia, será a hora de recorrermos a
Maria e de deixarmo-nos invadir por sua fé inabalável, pela sua
esperança sem limites, pelo seu amor inflamado. Talvez a dor não
diminua, mas dela nascerão - com a graça de Deus - uma fé nova e
mais firme, uma esperança mais segura e um amor mais
substancioso.

3. A TÍTULO DE MÃE CO-REDENTORA

Devemos agora meditar sobre o papel co-redentor da Mãe de


Deus junto à Cruz. Lá, ela parece que não faz nada; no entanto,
encontra-se de um modo ativíssimo. Ao pé da cruz, Maria não apenas
sofreu COM Jesus, mas também COMO Jesus. Como Cristo, que
levou sobre si os nossos sofrimentos, Maria também sofreu na sua
Maternidade imensa que nos regenera em Deus. Foi sobre o Calvário
que o sofrimento de Maria, ao lado de Jesus, alcançou uma altura
dificilmente imaginável do ponto de vista humano, mas
sobrenaturalmente fecundo para os fins da Salvação universal.

Tome Jo 19,26-27
Jesus não se limitou a um ato de piedade para com ela,
quando deu ao discípulo amado a incumbência de "levá-la para casa".
Na realidade, nesse momento de grande sofrimento, Jesus deu a
Maria a missão de olhar pela Igreja nascente. E ela aceitou, ao pé da
cruz, a missão que o Pai lhe encomendava, por meio de Jesus, na
obra Redentora.
Não é de se estranhar que a Virgem seja chamada Co-
redentora. Não se deve temer o uso de palavra tão expressiva e justa.
A rigor, embora de modo muito mais modesto, todos somos

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68
Formação Básica V

chamados, pelo Batismo, a sermos co-redentores, mas à Virgem


Maria, aplica-se soberanamente esse título. Explicando melhor:
Pelo Batismo, cada cristão é feito membro do Corpo de Cristo
(Veja I Cor 12,27). E Deus, na sua eternidade, estabeleceu a medida
dos méritos que deveriam acumular-se na Igreja no decorrer dos
séculos, tanto na Sua Cabeça, que é Cristo, como nos seus
membros, que somos nós. Entre esses últimos méritos, que unidos ao
sacrifício de Jesus beneficia todos os homens, contam-se os dos
Santos e, especialmente, os da Virgem Maria. Essa capacidade
sobrenatural e humana que Deus, nosso Pai, põe nas mãos dos seus
Filhos, a de PARTICIPAR da Redenção operada por Cristo, é bem
descrita por S. Paulo quando este diz que completa na sua carne o
que falta aos sofrimentos de Cristo pelo Seu Corpo, que é a Igreja
(Col 1,24).
Desse modo, o sofrimento de Maria junto à Cruz, que foi vivido
de forma CONSENTIDA e SANTA, arrebatou definitivamente para ela
o título de Co-Redentora da humanidade.

4. A MEDIAÇÃO INTERCESSORA DE MARIA


A mediação maternal de Maria supõe vários princípios
teológicos, dos quais adiantamos dois por sua especial importância:

4.1 A continuidade da Igreja terrena com a celeste


Por essa verdade teológica cremos que toda a Igreja, tanto a
que vai caminhando quanto a que já chegou ao seu término, está
unida ao redor de Sua Cabeça Única que é Cristo, e num único
propósito de Salvação. Por isso mesmo, entende-se que nossa
vocação eclesial não termina com a morte, mas é uma e única para
sempre. Assim, compreendemos que a vocação de Maria não
terminou.
4.2 A comunhão de bens espirituais
Todos nós, que fazemos parte da Igreja, caminhamos juntos
para a Pátria definitiva, com uma mediação de apoio mútuo que é
uma verdadeira mediação salvífica (e cada um, de acordo com a sua
vocação e missão específicas, corresponde uma graça à medida com
que corresponde esta graça). Esse mútuo apoio e mediação, de “uma

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69
Formação Básica V

alma que se eleva” fazem elevar o mundo inteiro, em nada diminuindo


o Senhorio e a mediação únicas de Cristo que a Ele estão
subordinados. Poderíamos dizer que o Salvador exerce Sua
mediação e senhorio por meio daqueles a quem livremente desejou
associar Sua obra, em favor de seus irmãos.
Por essa razão apesar de nos revelarem que Jesus Cristo é o
único mediador (I Tm 2, 5), porque sozinho deu Sua vida em resgate
de muitos, as Escrituras também chamam Moisés de "mediador da
Lei"(Gl 3,19), oferece-nos o Antigo Testamento muitos exemplos de
homens e mulheres chamados pelo Senhor para serem mediadores,
através de uma missão particular, a Salvação que vem apenas DELE.
Por isso, dizemos que não existe graça que seja somente em
benefício próprio: somos todos beneficiados com as graças que
recebemos de Jesus, e os contemplados com ela são muitos, tantos,
que às vezes nem podemos imaginar. Essas mediações humanas,
longe de obscurecer a unicidade da fonte de salvação, nos fazem cair
na realidade de quanto o Senhor levou a sério sua criatura, pois a
associou livre e amorosamente à Sua obra.
A mediação intercessora do cristão, longe de negar a mediação
única de Jesus, coloca-a em evidência: é ao Senhor que se dirige a
súplica do cristão pelo seu próximo. E porque, ao contrário do que
Caim argumentava (Gn 4,9), somos sim, co-responsáveis pela
Salvação de nossos irmãos. Por isso, no mesmo texto onde o Espírito
Santo nos revela por intermédio de S. Paulo a mediação única de
Jesus, acrescenta o quanto é agradável a Deus e como está
conforme o Seu plano a mediação intercessora do cristão pela
libertação completa de seu irmão com ele redimido (cf. 1 Tm 2,1-4),
mediação que o próprio Espírito de Deus a coloca ao lado e a
subordina à de Cristo.
É nessa linha que se desenvolve a intercessão materna de
Maria, que não empata o brilho da mediação única e insubstituível de
Cristo. Tudo o que Maria é e tem veio-lhe e vem da superabundância
dos méritos de Cristo; apoia-se em Sua mediação, e a Ele conduz.
Porém, dentre todas as criaturas humanas, a mediação de Maria é
especialíssima, pelo fato de ela ser a Mãe de Deus feito homem.
Nesse sentido, Sua participação na obra Salvífica é muito especial e
destaca-se da dos demais fiéis, não tanto pela dignidade própria, mas
também pelo Amor e Serviço especiais.
O fundamento da relação materna de Maria com Jesus não se
limita a Ele, mas também aos Seus membros, a Igreja, nós. Depois
de Assunta ao céu, a Virgem vive constantemente de frente a Seu

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70
Formação Básica V

Filho, e toda a Sua existência glorificada perante Deus constitui um


ato de louvor, de gratidão e de intercessão. O que ela é deve a Cristo,
e o que ela faz, faz por Cristo, através de Cristo, em favor do resto do
corpo de Cristo, em favor de nós, os membros do corpo que ainda
peregrinamos. Por isso, a Igreja toma-a como intercessora, e
contempla-a como a imagem da meta que esperamos alcançar.
Não há dúvida de que, desde os primeiros séculos da Igreja,
Maria é invocada como intercessora: basta recordar a oração "Sob teu
amparo..., do séc. III ou IV, ou os mais antigos ícones (imagens), que
costumam apresentar Maria com as mãos postas, em posição de
oração, indicando sua missão materna de "advogada nossa". Por
esse motivo, devemos conservar, pela tradição da Igreja, a devoção a
Maria como nossa Mãe e intercessora Maternal. Nesse sentido está a
sua Mediação.

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Formação Básica V

Décima Aula
Assunção de Nossa Senhora

ROTEIRO DO CONTEÚDO
1. FUNDAMENTO BÍBLICO DA ASSUNÇÃO
2. DEFINIÇÃO DOGMÁTICA
3. FATOS DECORRENTES DA GLORIFICAÇÃO DE MARIA
4. A INTERCESSÃO DE MARIA
5. SENTIDO TEOLÓGICO

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Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

INTRODUÇÃO
Nos quatro primeiros séculos da Igreja, esta verdade era
professada só implicitamente, até que, no Séc. IV, foi instituída a festa
da Assunção de Nossa Senhora, para celebrar o Mistério. E pelo fim
do Séc. V, a Assunção de Maria se encontrava já afirmada
explicitamente em vários documentos, até que em 1950 foi definida
solenemente.

1. FUNDAMENTO BÍBLICO DA ASSUNÇÃO


O Dogma da Assunção de Nossa Senhora não está embasado
em fundamentos escriturísticos diretos. Porém, as Escrituras contém
afirmações que sublinham as relações particulares de Maria com o
Filho, na concepção e na geração.
- nos mistérios da infância: Lc 1,1-21.26-56; Mt 1,1-25; Lc 2,22-
52
- durante a vida pública: Jo 2,1-11; Mt 12,46-50
- sobre o calvário: Jo 19,25-27
O Proto-Evangelho (Gn 3,15), entendido à luz da Revelação
posterior e particularmente da doutrina da Nova Eva, deve ser visto
como profecia que se interpreta à luz do Novo Testamento.
Apocalipse 12, 1: " Um grande sinal apareceu no céu: uma
mulher revestida de sol, trazendo a lua debaixo dos pés, e uma coroa
de doze estrelas na cabeça..."
Santo Epifânio interpretou a " imagem da mulher" do
Apocalipse como a Igreja e como Maria. Compara-se Maria com a
Igreja, triunfando do dragão, fugindo para o deserto," o lugar
preparado!.(cf. Jo 14,2 - "Vou preparar-vos um lugar"); Maria
representa a criatura humana no termo do seu destino. " E como o
Ícone escatológico da Igreja ".

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73
Formação Básica V

2. DEFINIÇÃO DOGMÁTICA
"Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma dignamente
revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria,
terminando o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma
à glória celestial". (Constituição apostólica "Munificentissimus Deus"
(M.D DE Pio XII - primeiro de Novembro de 1950).
Entende-se por Assunção a glorificação corporal antecipada da
Santíssima Virgem, em razão dos méritos do seu Filho Jesus Cristo.
Assim, enquanto dizemos que Jesus ascendeu aos céus, sobre Maria
é certo que esta foi assunta ao Céu, de corpo e alma, porque Jesus
subiu aos céus por virtude própria, enquanto Maria foi assunta aos
céus pelas virtudes e méritos de Jesus. Ela foi assim, levada, não
tendo subido por si.
Diz-se glorificação antecipada porque a glorificação corporal
das criaturas é prevista apenas para o fim dos tempos, enquanto que
com Maria ela aconteceu antecipadamente.
Obs: Se Maria morreu ou não morreu, o fato não é artigo de fé
e constitui divergência desde os primeiros séculos da Igreja. De
qualquer modo, se Deus envolveu de mistério o fim de sua santíssima
Mãe, não cabe a nós nos perdermos em tais discussões.

3. FATOS DECORRENTES DA GLORIFICAÇÃO DE MARIA

3.1 Ela reencontra Seu Filho, após a separação de sua morte


de cruz e entra em união definitiva com Ele.
3.2 Maria não necessita mais da fé para conhecer Jesus. Ela
agora dispensa os obscuros e limitados símbolos terrestres e
encontra-se face-a-face com a divindade.
3.3 Sua Maternidade Espiritual recebe seu último acabamento.
Desde a Anunciação, Maria recebera uma graça materna para com os
homens, da qual recebeu os fundamentos na Encarnação. Enquanto
Cristo, ao se Encarnar, se tornava radicalmente cabeça dos homens,
Maria tornou-se sua mãe, fundamento de sua maternidade em
relação a nós.
Na Cruz, Cristo tornou-se formalmente chefe da Igreja, e Maria
formalmente Mãe desta, tanto que Cristo escolheu esta hora para
proclamar sua missão materna (Jo 19,25-27).

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Formação Básica V

Em Pentecostes, o Regime da Graça entrou em vigor, e Maria


assumiu efetivamente sua maternidade, intercedendo pelos homens,
que havia amado com amor universal, em Seu Filho.
Agora, no Céu de corpo e alma, Maria mantém para conosco
uma co-naturalidade física e uma capacidade afetiva das quais os
outros santos estão atualmente privados. Assim, tem um
conhecimento materno ardente e preciso, mais íntimo do que o dos
demais bem-aventurados. O conhecimento que Nossa Senhora tem
de nós é perfeito porque procede da visão divina. Ser mãe não é
apenas conhecer, é também agir.

4. A INTERCESSÃO DE MARIA
A ação de Maria em favor de seus filhos consiste numa
intercessão viva e eficaz:
- Viva porque procede do Amor. Ela não nos conhece como
um sábio que registra friamente os fenômenos que vê, mas
com desejos pela nossa Salvação, que coincidem com os
de Deus e com seu imenso amor por nós.
- Eficaz, não porque Deus necessitasse dela,
independentemente de Sua vontade, já que Deus
realmente não necessita de ninguém, mas porque Deus
quis fazer da redenção uma obra na qual a Salvação seja,
em cada uma de suas etapas, tanto no plano terrestre
como no celeste, um trabalho simultaneamente humano e
divino. Senão vejamos:
- Deus se fez homem para salvar os homens.
- Associou uma criatura, uma mulher, à sua missão Salvífica
(Maria).
- Colocou a Igreja nas mãos de homens e compraz-se em
lhes deixar fazer obras "maiores" que as suas.(Jo 14,12\ Jo
4,38)
- E faz cada homem colaborar livremente para sua própria
salvação ou perdição.(Eclo 15,11-22)
Assim, o papel concedido às intercessões de Nossa Senhora e
dos santos manifesta um desígnio divino.

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75
Formação Básica V

Maria tem comunhão total com Deus, e, portanto, não podemos


dissociar:
a. As intenções de Deus das de Maria;
b. A ação de Deus da de Maria;
O poder de Deus inspira e penetra sua oração, dando aos seus
desejos o poder de atingir seu objetivo.
Desde a origem Maria precedeu a Igreja em todas as etapas
de sua vida. Agora na Virgem assunta ao céu, a Igreja, em marcha
para a glorificação, realiza já a perfeição do seu mistério.

5. SENTIDO TEOLÓGICO
A Assunção não pode ser considerada como um fato isolado,
mas no contexto da obra redentora de Jesus e no contexto da missão
que Jesus encomendou a Maria na Cruz, em favor da Igreja.
5.1 Com relação a Jesus, a Assunção de Maria não tem luz
própria, mas é o reflexo que Cristo ressuscitado faz incidir sobre Ela.
É participação na glória de Cristo, devido à Redenção. Sua
maternidade não é simplesmente biológica, mas participação
consciente e aceita na obra de seu Filho. Jesus a ama com amor
divino e, por isso, a mantém inseparável a Ele. Assim, por desígnio
divino, Maria está associada à vitória de Cristo sobre o pecado e
consequentemente sobre a morte. Maria é vitoriosa sobre o pecado e
a morte não por si mesma como Cristo, mas porque está unida a
Cristo vitorioso.
5.2 A virgindade de Maria também é motivo de sua Assunção
por ter sido Ela vocacionada a doar sua carne unicamente a Deus.
A Assunção de Maria é sinal de que a Graça não transforma
somente o espírito, mas todo o ser humano. A graça da glorificação
do corpo humano foi antecipada em Maria, enquanto nós haveremos
de esperar a ressurreição final.
O final terreno de Maria também traz para nós o fruto de tirar de
nós a idéia da morte apenas como pena pelo pecado, mas nos fazer
vê-la como a mais completa renúncia e entrega de si mesma nas
mãos do Pai.
5.3 Com relação à Igreja devemos estar conscientes de que
toda obra Salvífica de Cristo e a participação de Maria na mesma tem

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76
Formação Básica V

como propósito a Igreja. Maria recebeu no começo da Igreja e de


maneira consumada o que os outros fiéis receberão no final. Em
Maria aparece de manifesto que a entrega de Cristo ao Pai e a
aceitação dessa entrega por parte do Pai resplandecem como uma
graça de Cristo à Igreja, da qual Maria é modelo.

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Formação Básica V

Décima Primeira Aula


Maria e a Santíssima Trindade

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. MARIA: DESCOBRIR O PAI


2. MARIA: VIVER EM CRISTO
3. MARIA: CAMINHAR NO ESPÍRITO SANTO

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Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
MARIA E A SANTÍSSIMA TRINDADE

INTRODUÇÃO
A referência trinitária é extremamente urgente para a Mariologia
e o culto mariano, a fim de que encontrem o seu justo lugar e a
verdadeira finalidade. Se Maria é Aquela a Quem, pela primeira vez,
foi revelado, embora somente em termos alusivos(O Anjo lhe revelou
na Anunciação), o mistério trinitário do Altíssimo que, por mediação
do Espírito Santo, daria origem a Cristo (Lc 1,28-35), ela pode ser
para todo cristão um lugar de encontro com as três pessoas divinas e
de revelação da Sua obra Salvífica.
Na companhia de Maria, a vida cristã é um itinerário para a
Santíssima Trindade: a vida dos santos é um excelente testemunho
disso. (Ver, por ex.: Sta. Teresinha, Elizabete da Trindade, etc).
1. MARIA: DESCOBRIR O PAI

Na revelação contida no Novo Testamento, a figura de Deus-


Pai conserva evidentemente o caráter de princípio absoluto e fim
último de toda criatura. O Plano de Salvação da criatura humana vem
dEle e é para Ele que tende toda a obra de Cristo no Espírito.
1 Cor 8,6
1 Cor 15, 28
Ef 1, 3-14
Col 1, 19-20
Maria está, portanto, inserida nessa trajetória de amor que
parte do Pai e a Ele torna, englobando a Igreja, Corpo Místico de
Cristo. Dentro desse entendimento, podemos descrever o
relacionamento de Maria com o Pai em quatro pontos:
1.1 Maria não é um ser absoluto ou autônomo, mas uma
criatura em tudo dependente do Seu Criador e deve a Sua presença
no Mistério Cristão a uma escolha livre e gratuita de Deus. Assim,
todo episódio de sua vida foi provocado pelo Pai das Misericórdias, a

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79
Formação Básica V

quem, em sua grande bondade aprouve fazê-la refletir em si Suas


Maravilhas. Até mesmo a maternidade de Maria, seja relativamente a
Cristo (Mãe de Cristo), seja relativamente aos homens (Mãe da
Igreja), deve ser encarada como uma participação e uma derivação
da paternidade transcendente de Deus, descrita em Ef 3,15.
1.2 Na história da Salvação, Maria cumpre uma função de
serviço responsável na vontade salvífica de Deus. Por isso, suas
prerrogativas não são privilégios particulares, mas têm uma dimensão
social de Salvação para todos os homens. A Virgem Maria não é
chamada por si mesma, mas em função do gênero humano. Ela é
investida por Deus de um Ministério para a Salvação dos homens,
como bem pudemos ver quando estudamos o significado profundo da
expressão: "O Senhor está contigo" (Lc 1,28)
1.3 Vimos anteriormente que Maria é a representante fiel do
"Resto de Israel", "povo escolhido", por isso encarnou tão bem o título
de "Filha de Sião". Assim, podemos dizer que Maria ocupa o primeiro
lugar entre os que confiadamente esperam e recebem de Deus a
Salvação. E, por isso, é a primeira criatura que descobre as
verdadeiras qualidades de Deus: santo, poderoso, auxílio dos pobres,
Pai, benevolente, misericordioso, fiel, justo, etc.
1.4 Se observarmos o texto de Gl 4,4, veremos que este
menciona Maria e revela-nos a missão primeira de Cristo: "oferecer
aos homens a adoção filial do Pai”. Viver como “Filho de Maria” deve
ser para nós a conseqüência e a premissa de uma vida de "Filho de
Deus". A imitação do exemplo de Maria deve-nos arrancar de todo
temor servil a Deus (servir-lhe por medo de castigo) e inspira-nos um
amor terno e filial ao Pai, a ponto de vivermos a verdadeira liberdade
de Filhos de Deus à qual fomos chamados. Maria nos leva a olhar a
Deus como o Pai que é!

2. MARIA: VIVER EM CRISTO

Cristo é o centro do plano Salvífico do Pai, é o único Salvador,


o mestre, revelador e mediador, o arquétipo moral e o caminho dos
cristãos. Mas Ele quis incorporar a sua pessoa e associar a sua obra
todos os seus discípulos, e especialmente e excepcionalmente, SUA
MÃE. Assim, desde a sua infância, formou com ela uma unidade
indissolúvel. Antes de gerá-lo em seu ventre, ela o gera na fé,
tornando-se sua discípula, e, ao longo de seu convívio, Jesus é para
Maria o seu único formador; em seus gestos e palavras, ela descobre

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80
Formação Básica V

a vontade do Pai, o projeto do Reino. Ela foi a primeira testemunha de


Jesus e é a mais preparada para nos descobrir sua identidade. Antes
de tudo, seu relacionamento com Jesus foi uma vivência religiosa e o
acolhimento da revelação do Pai. Por isso, acolhia com ardor essa
revelação e seguia constantemente Jesus, ainda que, às vezes, não o
fizesse materialmente, e sim, espiritualmente. Foi uma seguidora
ativa, que transbordou em todas as suas atitudes. Assim, em
profunda sintonia com o Filho, Maria é aquela que convida os outros a
ouvirem a Palavra de seu Filho e a cumprirem-na. Sua vida sempre
esteve oculta em Cristo e assim permanece até hoje. Por tudo isso,
podemos dizer que Maria é entre todas as criaturas, a mais
capacitada a nos levar a viver EM CRISTO.

Como Maria nos leva a viver "em Cristo"?


Maria apresenta-se como elemento do Mistério de Cristo, sua
missão no mundo consiste em ser "A Mãe do Redentor", a Sua mais
generosa cooperadora e mais humilde serva, e por este mesmo
Cristo, constituída na ordem da graça como "Nossa Mãe". Sua
missão, portanto, coloca-a numa estreita e indispensável relação com
Cristo e sua obra, a ponto de não podermos, de forma alguma, fazer
dela um ser "autônomo" ou "paralelo" a Cristo. Disto decorre que:
a) a Maternidade de Maria não foi uma mera função biológica,
mas primeiramente uma adesão de fé que a fez a primeira cristã, a
primeira discípula e conferiu-lhe o "ministério glorioso" de "dar" ao
mundo o Cristo.
b) a cooperação singular da Virgem Maria na obra da redenção,
(porque não foi pedida igual a nenhuma outra pessoa) não a coloca,
entretanto, no mesmo plano do Único Mediador, pois ela é uma
criatura resgatada pelo seu Filho.
c) sua maternidade espiritual sobre nós emana da
superabundância dos méritos de Cristo, funda-se na mediação de
Cristo e dela depende inteiramente, haurindo daí toda a sua eficácia.
Portanto, Maria de nenhum modo, impede a união imediata dos fiéis a
Cristo, antes a favorece cada vez mais.
Trata-se por conseguinte de compreendermos Maria na sua
missão íntima e constante com Cristo na obra da Salvação, mas
respeitando a transcendência do próprio Cristo, que é Deus feito

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81
Formação Básica V

homem. Na Virgem Maria, portanto, tudo se relaciona com Cristo, e


tudo depende dele.

2. O culto a Maria deve estar organicamente inserido no centro


do culto único, cristão em Cristo, sua origem e eficácia, e é em Cristo
que encontra a sua expressão plena, e é por Cristo que, no Espírito,
conduz ao Pai. Isto deve ser vivido principalmente na Liturgia, nas
festas Marianas, quando Maria nos deve servir de modelo da atitude
espiritual com a qual devemos celebrar e viver os Divinos Mistérios,
de modo que:
a) o verdadeiro culto a Maria não deverá ser separado do culto
aos Mistérios de Cristo, fundamental na vida do cristão. A devoção a
Maria não constitui uma "segunda via espiritual", mas uma maneira
nova de viver EM DEUS, porque o reinado de Maria não é contrário ao
reinado de Cristo, mas está inteiramente ordenado a ele. Tanto que, a
Consagração a Maria, por exemplo, constitui uma perfeita renovação
dos votos e das promessas do Santo Batismo.
b) Maria torna-se para o cristão um convite vivo a optar por
Cristo, a integrar-se no seu "sim" e a renovar a aliança de amor
obediente a ele.

3. MARIA: CAMINHAR NO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é apresentado no Novo Testamento como a


Pessoa divina que habita no cristão para renovar seu coração e torná-
lo capaz de agir como filho de Deus na liberdade e no amor
Rom 5,5
Rom 8,12
1 Cor 12,13
Vejamos a relação de Maria, a primeira cristã e nosso modelo
com o Espírito Santo, em seus dois pontos principais:
1. A leitura dos episódios marianos do Novo Testamento leva-
nos a ver na Anunciação o Pentecostes antecipado de Maria, pois:
a. Encontramos as mesmas expressões em Lc 1,35: "O
Espírito Santo descerá sobre ti e a força do Altíssimo te envolverá
com a sua sombra" e em Atos 1,8: "Mas descerá sobre vós o Espírito

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82
Formação Básica V

Santo e vos dará força, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém,


em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo".
b. Além disso, Anunciação e Pentecostes são seguidos de uma
irradiação missionária e de comunicações carismáticas: A Visitação
(Lc 1,39-45) e todas as manifestações carismáticas que se
sucederam na vida dos Apóstolos após Pentecostes.
c. Além disto, vemos realizar-se nela obras claramente vindas
do poder do Espírito Santo como a concepção virginal de Cristo e o
seu estado glorioso quando elevada ao céu, pelos méritos de Jesus,
mas pelo poder do Espírito Santo.
Maria não é, ao contrário do que alguns pensam, uma
"concorrente" do Espírito Santo ou sua "substituta". Ela, que no
cenáculo orou com os Apóstolos à espera do mesmo Espírito (cf. At
1,14), foi, durante toda a sua vida, até sua gloriosa Assunção, objeto
das operações do Espírito Santo e caminho para sua compreensão.
2. A ação de Maria, para o bem da Igreja, não substitui a ação
do Espírito Santo nem rivaliza com ela, mas a implora-a e a prepara-
a:
a. Pela oração de intercessão, possível pela Comunhão dos
Santos e em harmonia com o plano de Deus que é contemplado por
ela. Moisés na visão beatífica. A intercessão de Maria não pode ser
entendida senão no contexto mais vasto da intercessão do Espírito
Santo. Assim, Maria não substitui o Espírito Santo, mas seus títulos
são uma participação na obra que o próprio Espírito realiza na Igreja.
b. Pela influência direta do seu exemplo, principalmente na
docilidade às inspirações do Espírito Santo. O culto a Maria é uma
passagem, uma porta para o conhecimento do Espírito, quanto à
docilidade a seus apelos, uma via para se chegar à profundidade do
Mistério trinitário, uma modalidade de vida no Espírito, essencial e
fundamental a todo cristão. Maria é, ao mesmo tempo, a criatura
penetrada pelo Espírito Santo e por Ele feita Mãe virginal de Jesus,
primeira cristã, Mãe e modelo dos fiéis e da Igreja espiritual, chamada
a realizar o reinado de Deus neste mundo.

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83
Formação Básica V

Décima Segunda Aula


Nossa Senhora e a Ação do Espírito Santo

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. MARIA E O ESPÍRITO SANTO


2. O ESPÍRITO QUE DÁ A VIDA
3. MARIA NO CENÁCULO
4. MARIA APÓS O PENTECOSTES

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84
Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
NOSSA SENHORA E A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

INTRODUÇÃO

A Graça Santificante é uma qualidade sobrenatural, infundida


por Deus na essência da alma humana do homem justificado pelo
Batismo. Ela modifica a alma humana dando-lhe uma perfeição nova.
Por ela, nós passamos a participar da Vida de Deus e podemos viver
uma vida semelhante à Sua. Nossa Senhora foi ornada da Graça
Santificante desde o primeiro instante de sua existência.

1. MARIA E O ESPÍRITO SANTO


São Lucas, no início do seu Evangelho, apresenta-nos Maria
como aquela sobre a qual desceu o Espírito Santo. Em Lucas 1,35 o
Espírito Santo é prometido a Maria como a “força do Altíssimo” que
virá sobre ela. Da mesma forma, foi prometido aos Apóstolos o
Espírito Santo como “força que desceria sobre eles do alto” (cf. Lc
24,49 e At 1,8).
Recebido o Espírito Santo, Maria põe-se a proclamar, numa
linguagem inspirada, as grandes obras de Deus (cf. Lc 1,46ss). Todos
aqueles aos quais Maria é enviada, depois após a descida do Espírito
Santo, são também tocados e movidos por Ele (cf. Lc 1,41; 2, 27 ).
Pelo poder do Espírito, Jesus está em Maria e age através dela. Do
mesmo modo, os Apóstolos, depois de receberem o Espírito Santo,
em Pentecostes, põem-se a proclamar as grandes obras de Deus (cf.
At 2,11).
Maria foi iluminada e doutrinada pelo Espírito Santo. Fez a
experiência dele, provou-o, sentiu-o. Ela nos pode ajudar com seu
exemplo e com sua docilidade ao Espírito Santo, não só no exercício
dos Carismas, mas na nossa santificação. O exercício dos Carismas
está sujeito a perigos pelo mau uso que podemos fazer deles. Nesse

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85
Formação Básica V

ponto, Maria vem nos ensinar a exercê-los com simplicidade e


movidos pela Caridade, sem exigir recompensa, gratidão nem glória.
Maria foi a primeira carismática da Igreja e a maior, porque nela o
Espírito Santo suscitou a vida do Messias. Tantos têm uma Palavra
de Ciência ou Sabedoria. Maria trouxe ao mundo a Palavra inteira
feita carne, e permaneceu tão humilde. Esta humildade deve ter o
portador de um Carisma. Maria exerceu o Carisma de dar vida a
Cristo e acompanhá-lo fielmente até a Cruz. Maria desaparece no
interior da Igreja, como sal que se derrete na água.
Pela sua docilidade ao Espírito, Maria deu ao mundo o Messias
com simplicidade e gratuidade. Privou-se até de seus direitos
maternos para os dar a Jesus. Desde o início, ela ressalta unicamente
o que Deus fez e não ela: “Grandes coisas fez por mim o Onipotente”.
Sto. Agostinho afirma que “para Maria é mais importante ter sido
discípula de Cristo do que Mãe de Cristo e que “o parentesco materno
de nada teria servido para Maria se ela não tivesse trazido a Cristo
mais no coração do que na carne.
Exercido o seu carisma de dar vida a Cristo e acompanhá-lo
fielmente até a Cruz, Maria desaparece no interior da Igreja, como sal
que se derrete na água.

2. O ESPÍRITO QUE DÁ A VIDA

Tomar Jo 19, 30
A exegese moderna vê o Pentecostes já iniciado no Calvário,
no momento mesmo da morte de Cristo, que é o início da sua
glorificação. A água que sai do lado traspassado de Jesus é vista, por
João, como o cumprimento da promessa sobre os rios de água viva
que iriam jorrar do seu seio, e como sinal do Espírito que iriam
receber os que nele acreditassem (cf. Jo 7,39).
Tomar Jo 19,25. Maria estava junto à Cruz para receber esse
sopro e as primícias do Espírito. Também ao pé da Cruz ela foi a
primeira “Batizada no Espírito” como representante de toda a Igreja.
O Espírito que Jesus dá aos discípulos na Cruz e na noite de
Páscoa é a própria vida de Jesus, Espírito da verdade, que faz
conhecer Jesus (Jo 16,13), que assegura a sua permanência em nós
e a nossa nele (IJo 4,13), Espírito que irá morar no coração dos
discípulos (Jo 14,17). Este é o Espírito do qual Maria recebeu as
primícias, estando perto da Cruz de Cristo.

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86
Formação Básica V

Maria já possuía o Espírito Santo, mas sua grande obediência


ao pé da Cruz dilatou ainda mais seu coração, para recebê-lo em
medida mais abundante. Novas e sucessivas efusões do Espírito
Santo na vida de uma pessoa correspondem, ao mesmo tempo como
causa e efeito, as dilatações da alma, na fé, na esperança e na
Caridade, que a tornam mais apta para acolher e possuir a Deus.
Assim ,Maria não era só carismática e santa, mas apaixonada por
Deus, amiga de Deus. O Espírito Santo afina nossos pensamentos
com o de Deus, a nossa vontade com a de Deus, porque Ele é o
princípio da nossa comunhão com Deus. Ele tira o medo de Deus e
cria a intimidade com Deus.
Maria, no Pentecostes joanino (realizado ao pé da Cruz), nos
ensina a grande arte de amar a Deus com amor esponsal. O amor
esponsal é um amor de escolha. “Não se escolhe o próprio pai, mas
se escolhe o esposo ou a esposa. Amar a Deus com amor esponsal
significa escolher a Deus conscientemente e sempre de novo como
nosso Deus, renunciando a tudo, se necessário também a nós
mesmos para possuí-lo” (Raniero Cantalamessa).

3. MARIA NO CENÁCULO
Tomar At 1,14. Embora sua presença seja lembrada com
outras mulheres, Maria está ali como a Mãe de Jesus. O Espírito
Santo, que está para vir, é o Espírito do Seu Filho. Entre ela e o
Espírito Santo há uma ligação profunda, que vem desde a
Encarnação. Maria está ali como alguém que já recebeu o Batismo no
Espírito, e apresenta os discípulos do seu Filho para recebê-lo.
Que nos diz Maria, com sua presença no cenáculo, no
momento de Pentecostes?
Primeiro, antes de empreendermos qualquer coisa,
necessitamos receber o Espírito. Segundo, para a vinda do Espírito
Santo, precisamos preparar-nos sobretudo com a oração. “Entre
oração e dom do Espírito há a mesma circularidade que há entre
Graça e Liberdade. Nós precisamos receber o Espírito para poder
rezar e precisamos rezar para poder receber o Espírito Santo. No
começo, há o dom de Graça, mas depois é preciso rezar para que
esse dom se mantenha e aumente” (Raniero Cantalamessa) .

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87
Formação Básica V

Terceiro, que esta oração deve ser concorde e perseverante.


Não pode receber o Espírito Santo, que é o laço da unidade da
Santíssima Trindade, quem se coloca fora da unidade. Se um
membro do corpo pretendesse viver não mais unido ao resto do
corpo, este ficaria sem vida. Assim também acontece no plano
espiritual. Isso explica a importância da unidade, da concórdia, da
reconciliação, entre aqueles que se preparam para receber o Espírito
Santo. Diz Sto. Agostinho: “se quiserdes, pois, receber o Espírito
Santo, procurai conservar a Caridade, amai a verdade, desejai a
unidade”. Quanto à perseverança na oração, significa não parar de
esperar, mesmo quando as circunstâncias se apresentam contrárias,
e tudo entregar à vontade divina, como Maria em Caná.

4. MARIA APÓS O PENTECOSTES


Após o Pentecostes, Maria desaparece no mais profundo
silêncio. Maria inaugura na Igreja a alma escondida ou orante. Maria é
o modelo da Igreja orante. “O ícone de Maria na Ascensão de Jesus
para o Céu, Maria está de pé com os braços abertos em atitude
orante, isolada do restante da cena pela figura de dois anjos com
vestes brancas, que formam como que um muro ao seu redor. Ela
está no centro, como o mastro principal, que mantém o equilíbrio e dá
estabilidade ao barco. Ao redor dela os apóstolos todos erguendo um
pé ou uma mão, em movimento, representam a Igreja ativa, que vai
para a missão, que fala e age. Maria está imóvel debaixo de Jesus, no
ponto exato de onde Ele subiu, quase como para manter viva a sua
memória e a sua espera (Raniero Cantalamessa ).

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88
Formação Básica V

Décima Terceira Aula


A Devoção Mariana

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. ELEMENTOS DO CULTO MARIANO


1.1 VENERAÇÃO OU HOMENAGEM
1.2 GRATIDÃO E AMOR
1.3 INVOCAÇÃO
1.4 VASSALAGEM
1.5 IMITAÇÃO
2. A PRESENÇA DE MARIA EM OUTRAS RELIGIÕES
2.1 A PRESENÇA DE MARIA NAS IGREJAS DA REFORMA
(PROTESTANTES, CALVINISTAS E LUTERANOS)
2.2 A PRESENÇA DE MARIA NA IGREJA ORTODOXA
2.3 MARIA ENTRE OS MUÇULMANOS
3. A VENERAÇÃO A NOSSA SENHORA E O ECUMENISMO

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89
Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
A DEVOÇÃO MARIANA

INTRODUÇÃO

"Todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lc 1,48).


sob a inspiração do espírito santo, Maria profetizou as honras que lhe
seriam tributadas. o anjo já lhe havia esclarecido sobre esta honra
imputada pelo próprio deus ao saudá-la, através de seu mensageiro
celeste com as palavras: "ave, cheia de graça". mais adiante, o
mesmo espírito inspirou Isabel a honrá-la: "donde me vem a honra de
vir a mim a mãe do meu senhor?" e as confirmações continuaram:
"bem-aventurado o seio que te trouxe " (Lc 1,27)
Desde que Jesus foi concebido em seu seio, Maria começou a
ser realmente proclamada Bem-Aventurada. E as expressões de culto
vão desde palavras, até orações, festas e atos de imitação de suas
virtudes. Todas as épocas estão assim cheias de louvores à Mãe do
Salvador, que se seguirão pela eternidade com o coro dos eleitos no
Céu. O culto Mariano não é um culto de ADORAÇÃO, pois este só
prestamos a Deus. Porém, não é também como o culto de DULIA,
prestado aos Santos, pois difere deste em grau, devido a seu papel
na história da Salvação, e o seu lugar de Mãe de Deus. Trata-se de
um culto de hiperdulia.

1. ELEMENTOS DO CULTO MARIANO


Devemos a Maria nossa veneração, nossa gratidão, nosso
amor, nossa invocação, vassalagem e imitação.

1.1 Veneração ou Homenagem


Deve-se principalmente ao fato de ser Maria a Mãe de Deus e
nossa Mãe. Diz a oração da Ave-Maria: "Bendita és tu entre as
mulheres, bendito é o fruto do teu ventre".

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90
Formação Básica V

Em Lc 1,42, Isabel saudou Maria inspirada pelo Espírito Santo,


e até João moveu-se no seio materno devido à presença do Hóspede
divino em Maria. Peçamos ao Espírito Santo que nos inspire a
verdadeira devoção a Maria.

Como venerar Maria?


1. Mediante orações
2. Tendo, nos lábios, palavras de honra e respeito à Maria
3. Participando ativamente das festas litúrgicas em honra de
Maria
4. Dedicando um lugar especial aos seus ícones no oratório
5. Peregrinando a Santuários e a lugares marianos de oração.
A honra e a veneração devotada a Maria recai sobre Deus, que
a criou e fez sua Mãe. Assim, a veneração a Maria não favorece uma
suposta diminuição do culto devido a Jesus, mas, ao contrário, faz
crescer, pois a Mãe e o Filho estão unidos por vínculos estreitíssimos,
e o desejo mais ardente de um Filho perfeito é ver honrada a sua
Mãe. Algumas vezes, o esfriamento do amor a Jesus pode ter como
causa o afastamento de sua Mãe.

1.2 Gratidão e Amor


" Sede gratos", diz São Paulo aos Tessalonicenses. (Cf. I Ts
5,18)
Devemos ser gratos a Maria porque, com o cumprimento
perfeito, livre e total de sua Missão de Mãe do Nosso Salvador, ela
contribuiu para a nossa Redenção. Por isso a chamamos Co-
Redentora da humanidade.
Maria confirmou integralmente o seu "sim", dado a Deus
também por amor a nós. E o fez executando com fidelidade desde as
tarefas mais simples, como educar Jesus na sua humanidade, até as
coisas mais duras e dolorosas, ao ponto de estar ao lado de Jesus
enquanto Ele morria na Cruz. E permaneceu ao lado dos seus
Apóstolos, como afirma At 1,14ss.

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91
Formação Básica V

Devemos ser gratos a Maria por ela ter assumido seu lugar e a
vontade de Deus na sua vida, o que nos favoreceu inteiramente.
Precisamos compreender com isso o quanto vale a nossa adesão ao
plano de Deus para as nossas vidas. Não temos o papel de Maria na
história da Salvação, mas temos o nosso: útil e necessário para a
Salvação dos nossos irmãos e para a nossa própria Salvação.
"Ele nos amou primeiro". Todo amor concreto vem da gratidão
a Deus, que nos amou primeiro e assim plantou a semente do amor
em nosso coração. Por isso, gratidão e amor se completam, já que o
amor é a conseqüência natural da gratidão para aqueles que sabem
ter em de si mesmos somente os seus pecados.
Podemos demonstrar nossa gratidão e amor à Nossa Senhora,
interiormente, com a nossa inteligência (pelos pensamentos e pela
adesão às verdades de fé a seu respeito), e exteriormente, com
palavras e obras.

1.3 Invocação
Maria não é somente Mãe de Deus e nossa Mãe e Co-
Redentora da humanidade. Ela é também distribuidora de todas as
Graças que recebemos. Devemos, pois, recorrer a ela invocando-a
com ilimitada segurança.
Certamente Maria sabe nossas necessidades, porque, estando
no céu de corpo e alma, tem identidade com nossa humanidade, e,
porque imersa na Bem-Aventurança celeste, vê claramente o estado
de nossa alma e nossas reais necessidades, através da ótica de
Deus, a quem contempla sem cessar.
Certamente Maria pode nos socorrer com suas intercessões,
como a Palavra mesmo mostra nas Bodas de Caná. Hoje, pelo
mistério da Comunhão dos Santos, ela continua seu ministério de
intercessão por nós. Devemos invocar a intercessão de Maria nas
nossas necessidades materiais e espirituais e para a hora da nossa
morte.

1.4 Vassalagem
"Ó Virgem santa, sou todo teu! Teu para sempre, para a vida e
para a morte, no tempo e na eternidade!" (Papa Pio XII).

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92
Formação Básica V

A Palavra de Deus, o Magistério da Igreja e a liturgia católica


proclamaram-na unanimemente Rainha. Por essa razão, os membros
da Igreja deverão tornar-se seus servos, oferecendo a ela o que
somos, o que temos e o que fazemos.
Um modo excelente de declarar-se de fato servo de Maria é a
consagração a Ela. Como consagrar-se a Maria:
No dia 31 de outubro de 1942, por ocasião do 25° aniversário
das célebres aparições de Nossa Senhora em Fátima, o Sumo
pontífice Pio XII consagrou solenemente a Igreja e todo o gênero
humano ao Coração Imaculado de Maria, como Leão XIII, ao nascer
do nosso século, o havia consagrado ao Sagrado Coração de Jesus.
A consagração significa fazer da própria vida uma homenagem
belíssima e permanente a Maria, a fim de que nossos pensamentos,
nossos afetos, nossas ações estejam sempre em intimidade com ela.
Um ato afetivo e efetivo, porque coerente com o nosso afeto, devem
ser nossas atitudes. Essa consagração deve reunir em uma síntese
admirável, a todos os atos de culto à Virgem Santíssima, desde que,
aqueles que se consagram, renovem com freqüência e vivam-na
intensamente. Se esta consagração for entendida e fielmente vivida,
trará grandes e abundantes frutos para nossas vidas, agora e para
sempre.

1.5 Imitação
Maria não deve ser para nós apenas a Mãe admirável ou
aquela para quem os filhos de Deus correm a fim de alcançar Graças,
mas sobretudo deve ser aquela a quem todos os homens e mulheres
devem e podem imitar. São Gregório Magno disse com muita razão
que "A verdadeira devoção consiste em imitar aqueles a quem
veneramos". E isso não é impossível a nenhuma criatura nem
desagradável a Jesus, pois Ele mesmo nos ensinou onde estava o
exemplo mariano da Bem-Aventurança: Ouvir a Palavra de Deus e
observá-la.
Ela é o modelo mais perfeito para todos e em tudo. É modelo
no cumprimento dos deveres para com Deus: Piedade filial. É modelo
no cumprimento dos deveres para consigo mesma: Pureza do corpo e
da alma. É modelo no cumprimento dos deveres para com o próximo:
Misericórdia que consola, socorre e perdoa.

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Formação Básica V

2. A PRESENÇA DE MARIA EM OUTRAS RELIGIÕES


A presença de Maria é um testemunho constante na Igreja,
desde o seu princípio. Maria está presente em muitas famílias, que
rezam juntas o terço e ensinam seus filhos a devoção à Nossa
Senhora. Maria está presente nas Paróquias e nas Igrejas
particulares, onde não faltam imagens suas e o exercício da sua
devoção. Maria faz parte da identidade da Igreja, apesar da galopante
secularização do mundo (esquecimento das coisas sacras). Diante de
devoção tão forte, muitos cristãos não católicos, e até alguns católicos
temem um fervor que faça Maria ocupar o lugar de Jesus na nossa fé.
O Concílio Vaticano responde a esse receio com uma advertência
séria e ao mesmo tempo tranquilizadora para nós:
"Exorta encarecidamente os teólogos e todos os pregadores da
divina Palavra a que se abstenham com cuidado, tanto de todo falso
exagero como também de uma excessiva limitação de espírito...
evitando com zelo tudo aquilo que, seja de palavra, seja de obra,
possa induzir a erro os irmãos separados, ou quaisquer outros, em
relação à verdadeira doutrina da Igreja. Recordem, portanto, os fiéis
que a verdadeira devoção não consiste num afeto estéril, nem
transitório, nem em vã credulidade, mas procede da fé verdadeira,
pela qual somos conduzidos a conhecer a excelência da Mãe de Deus
e estimulados a um amor filial por nossa Mãe, imitando suas virtudes".
Os cristãos encontram-se divididos em diferentes comunidades
eclesiais. E entre elas existem muitas diferenças de doutrina a
respeito do mistério e do ministério da Igreja que, às vezes, recai
também sobre a devoção à Nossa Senhora. Vejamos como algumas
dessas comunidades eclesiais vêem a pessoa de Nossa Senhora:

2.1 A Presença de Maria nas Igrejas da Reforma (Protestantes,


Calvinistas e Luteranos:)
Embora não tenha sido o lugar de Maria no culto e na fé
católica que determinou os debates da Reforma do Séc. XVI (É
importante saber que diversos textos e orações de Lutero, de Zwinglio
e de teólogos anglicanos atestam uma consideração muito elevada
por Maria), bem depressa a veneração à Virgem Maria, as orações a
ela dirigidas, a valorização de sua participação ativa na Redenção, a
fé não escriturística sobre a sua concepção e assunção corporal
passaram a fazer parte do rol de pontos de controvérsia entre

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Formação Básica V

"reformados" e católicos. E hoje, pode-se até afirmar que de certo


modo a polêmica fundamental entre as Igrejas da Reforma e a Igreja
Católica está centrada em Maria. Os principais pontos de controvérsia
na doutrina sobre Nossa Senhora têm sido a sua Imaculada
Concepção, a sua Maternidade virginal, a sua Assunção, a sua
Mediação na obra da Salvação e no derramamento de Graças atuais
e a veneração à sua pessoa.
O caráter apaixonado das controvérsias sobre Maria tem
tornado o diálogo difícil; isto é verdade sobretudo a respeito dos
protestantes fundamentalistas ou evangélicos conservadores. Porém,
na Igreja anglicana, onde, desde a reforma, os católicos e evangélicos
estão em unidade eclesial do tipo sacramental e litúrgico, não só se
encontram nomes de festas e titulares de Igrejas de caráter mariano,
como as correntes teológicas sempre tiveram um lugar para a
devoção mariana e para a fé tradicional a seu respeito. E hoje,
podemos ver teólogos de tendência evangélica entregar-se a uma
reflexão aprofundada sobre o lugar de Maria no Novo Testamento,
fazendo realçar o vínculo inseparável entre a Mariologia e a
Cristologia.
Estabeleceu-se, também, um diálogo desse tipo entre Católicos
e Protestantes, inclusive Luteranos, a respeito da doutrina e da oração
Mariana, o que vai possibilitar entre os cristãos um clima mais pacífico
e franco a respeito de Nossa Mãe:
- Do lado Católico, pode-se verificar um regresso aos
fundamentos escriturísticos, graças a uma séria teologia Bíblica e a
uma recentralização da expressão mariana na Pessoa e na Obra de
Cristo: "Na fase atual da sua caminhada, a Igreja procura, pois,
reencontrar a união de todos os que professam a própria fé em Cristo,
para manifestar a obediência ao seu Senhor que orou por essa
unidade, antes do seu iminente Sacrifício. Ela vai avançando na sua
'peregrinação' ... e anunciando a paixão e a morte do Senhor até que
Ele venha" (Lumen Gentium, n.8).
- Correlativamente, um número crescente de protestantes
examinam, de forma mais aprofundada, os dados escriturísticos
relativos a Maria e descobrem, a partir de Jesus Cristo, a via duma
verdadeira compreensão espiritual do Mistério de Maria.

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Formação Básica V

2.2 A Presença de Maria na Igreja Ortodoxa


Se este diálogo que vimos acima se pôde estabelecer no
Ocidente, importa reconhecer que se deve, em grande parte, à
entrada dos Ortodoxos no diálogo ecumênico desde 1920. Para os
Ortodoxos, a doutrina Mariana legada pela Tradição da Igreja é da
essência mesma da fé; um cristianismo privado da Virgem Maria seria
um cristianismo mutilado e diferente do da ortodoxia. Essa exigência
defendida no diálogo, e o contato com a oração litúrgica ortodoxa,
onde incessantemente se afirma o lugar da Mãe de Deus na
celebração de todos os Mistérios de Cristo, podem fazer descobrir
qual o justo lugar de Maria em relação ao Seu Filho e ao Espírito
Santo, em todos os domínios da fé, da oração, da vida comum da
Igreja.
O amor e o louvor a Maria, Mãe de Deus (theotokos),
constituem um profundo laço de união entre a Igreja Ortodoxa e a
Igreja Católica. Nossos irmãos da Igreja Ortodoxa percorreram, em
sua história de fidelidade ao Senhor, uma autêntica "peregrinação de
fé"; nesse itinerário, "olharam sempre com confiança ilimitada para a
Mãe do Senhor, celebram-na com elogios e invocaram-na com
orações incessantes. Nos momentos difíceis da existência cristã,
cheia de provações, eles se refugiaram sob sua proteção, conscientes
de ter nela uma poderosa ajuda" (Estas São Palavras do Santo Papa
João Paulo II, na sua Encíclica Redemtoris Mater).
A veneração a Maria ocupa, nas Igrejas ortodoxas, um amplo
espaço de sua piedade. Para elas, Maria é a theotokos, a sempre
virgem, a que exerce uma função mediadora em nome do gênero
humano, diante de Seu Filho. Os teólogos Ortodoxos do nosso século
opõem-se aos dogmas marianos assim como se opõem à
infalibilidade do Papa, mas as doutrinas da Imaculada Conceição e da
Assunção encontram seus primeiros defensores justamente no
Oriente: Os Ortodoxos entendem que Maria foi, durante a sua vida,
TODA SANTA, isto é, de uma santidade perfeita; e que, depois de sua
morte, FOI ELEVADA GLORIOSAMENTE AO CÉU.

Para nossos irmãos ortodoxos Maria é:


- O modelo da nova criação, a inauguração do mundo
divinizado (penetrado pela graça)

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Formação Básica V

- A mais amada de todos os santos, pois foi a Mãe dolorosa de


Cristo. A Virgem é venerada, acima de tudo, pela dor imensa que
padeceu ao ver seu Filho pregado e morto na cruz, por isso ocupa
posto de honra na Comunhão dos Santos, pode compreender e aliviar
a dor de todos, aquela que ora com a Igreja e pela Igreja, como no
cenáculo, quando estava, à espera do Espírito Santo (É exatamente
assim que a iconografia e a própria Liturgia, expressão e raiz da fé, a
representam).
O Ano Litúrgico Bizantino começa e acaba em nome de Maria,
com dias de festas Marianas que comemoram as tradições populares.
E entre as doze festas solenes maiores do ano litúrgico Ortodoxo,
quatro delas correspondem a Maria: Natividade, apresentação,
anunciação e morte. Sobre isso, o Santo Papa comenta em sua
Encíclica: "Não é surpresa o fato de Maria ocupar um lugar
privilegiado no culto das antigas Igrejas Orientais, com uma
abundância incomparável de festas e hinos".
As imagens de Maria têm um lugar de honra em Igrejas e casas
dos Ortodoxos. Entre eles, Maria é representada como trono de Deus,
que carrega o Senhor e entrega-o aos homens (theotokos), como
caminho que leva a Cristo, mostrando-o; como suplicante, em atitude
de intercessão e sinal da presença divina no caminho dos fiéis até o
dia do Senhor, como protetora que estende o seu manto sobre os
povos, como a Virgem misericordiosa de ternura.
Significado dos ícones dentro da espiritualidade ortodoxa: Eles
tornam presente a realidade que representa, não numa presença só
simbólica, mas cheia de eficácia. Através dos ícones de Maria, ela se
aproxima de nós, exercendo sua proteção sobre os fiéis de Deus. O
Santo Papa diz: "Nesses ícones, a Virgem resplandece como a
imagem da divina beleza, morada da sabedoria eterna, figura da
suplicante, protótipo da contemplação, ícone da glória" (RM, 33)

2.3 Maria Entre os Muçulmanos


Maria ocupa certo lugar como mãe virginal de Jesus, o
Messias, mesmo que para os muçulmanos Jesus seja considerado
apenas como um profeta entre os maiores, inferior, no entanto àquele
que é reconhecido como o profeta Maomé. Apesar de ser a divindade
de Cristo absolutamente "impensável", o Corão (livro de sua fé)

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Formação Básica V

conservou e integrou certos elementos da tradição cristã relativa a


Jesus, e, em primeiríssimo lugar, à Sua concepção virginal no seio de
Maria.
Eis como o Corão apresenta a Anunciação de Jesus no seu
Cap. 3, ns. 42 a 47: "E recorda-te de quando os anjos disseram: 'O
Maria! Deus te escolheu e purificou. Escolhi-te entre todas as
mulheres do mundo ... ó Maria! Deus te anuncia um Verbo, emanado
dele, cujo nome é o Messias, Jesus, Filho de Maria; será ilustre nesta
vida e na outra.." (Ns. 42 e 45).
Em princípio, a ortodoxia corânica exclui todo culto
propriamente dito a qualquer criatura - inclusive o próprio Maomé. No
entanto, o Corão reconhece uma certa função de intercessores aos
"profetas" em favor de suas comunidades no Dia do Julgamento Final.
A atração exercida pela figura de Maria sobre os muçulmanos é, em
muitos lugares, uma realidade inegável. Em Éfeso, por exemplo,
quase metade dos peregrinos da "Casa da Virgem Maria" são
muçulmanos. A Mãe virginal de Jesus, "escolhida entre todas as
mulheres do universo", é uma realidade importante para o Islão.

3. A VENERAÇÃO A NOSSA SENHORA E O ECUMENISMO


Se Maria já pôde ser um sinal da discórdia existente entre os
cristãos, o diálogo a Seu respeito pode hoje permitir a reaproximação
entre os cristãos separados, desde que tenhamos uma fé firme na
Mãe de todos nós e a certeza de que nós que abraçamos a plenitude
da Revelação cristã muito temos, na Caridade, de oferecer também a
nossos irmãos separados a descoberta dessa plenitude também para
si. Cumpre orar e discernir com firmeza e variedade os meios nos
quais particularmente podemos colaborar com nossa parte nesta
missão.
Palavras do Papa João Paulo II na Encíclica Redemptoris Mater
sobre o assunto:
"...é um bom presságio que estas Igrejas e comunidades
eclesiais estejam concordes em pontos fundamentais da fé cristã,
também pelo que diz respeito à Virgem Maria. Elas, de fato,
reconhecem-na como Mãe do Senhor e acham que isso faz parte da
nossa fé em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ademais,
volvem para ela o olhar, aceitando ser aquela que , aos pés da Cruz,
acolhe o discípulo amado como seu filho, o qual, por sua vez, a
recebe como Mãe. Por que, então, não olhar todos conjuntamente

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98
Formação Básica V

para a nossa Mãe comum, que intercede pela unidade da família de


Deus e que a todos 'precede', à frente do longo cortejo das
testemunhas da fé no único Senhor, o filho de Deus, concebido no
seio virginal por obra do Espírito Santo?".

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Décima Quarta Aula


Maria, Mãe de Todos Nós

ROTEIRO DO CONTEÚDO
1. MARIA NOS CONCEBEU E NOS DEU À LUZ
2. “MULHER, EIS AÍ O TEU FILHO”
3. “EIS A TUA MÃE”

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Formação Básica V

DESENVOLVIMENTO DO TEMA:
MARIA, MÃE DE TODOS NÓS

INTRODUÇÃO
Vamos finalizar este curso contemplando Maria como mãe dos
cristãos, como nossa Mãe. Mãe de Deus é um título definido
solenemente com a verdade central da nossa fé, que Jesus é Deus e
homem (Credo). Já o título de Mãe dos cristãos, ou nossa Mãe, indica
uma maternidade espiritual.
O nosso objetivo, neste dia, será perceber o dom de Cristo que
esse título contém, de modo que sirva não só para honrarmos Maria
com mais um título, mas para nos edificar na fé e crescer na imitação
de Cristo.

1. MARIA NOS CONCEBEU E NOS DEU À LUZ


Assim como a maternidade física, também a maternidade
espiritual se realiza em dois momentos: conceber e dar à luz. Maria,
espiritualmente, concebeu-nos e deu-nos à luz.
Concebeu-nos desde a Anunciação, quando aceitou acolher em
seu ventre o Messias prometido das Escrituras, que viria para ser “o
primogênito entre uma multidão de irmãos” (Rm 8,29).
Durante todo o mistério da vida de Jesus, aprendeu a não
recuar do seu “sim”, escolhendo dia-a-dia todos aqueles a quem o
Filho servia. Este foi o tempo do concebimento do coração.
Mas junto à Cruz foi o momento do parto, de nos dar à luz. Na
Cruz, todos nascemos de Maria (cf. Jo 19,26-27).
Referindo-se a Maria, diz a Constituição Dogmática do Concílio
Vaticano II, Lumen Gentium, no seu n. 61: “Ela concebeu, gerou a
Cristo, apresentou-o ao Pai no Templo, compadeceu com seu Filho
que morria na Cruz. Assim, de modo inteiramente singular, pela
obediência, fé, esperança e ardente Caridade, ela cooperou na obra

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101
Formação Básica V

do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por


tal motivo, ela se tornou para nós Mãe na ordem da Graça”.
O Papa Paulo VI desenvolveu a idéia da maternidade de Maria
a respeito dos cristãos atribuindo a ela o título de Mãe da Igreja:
“Para a glória, pois, da Virgem e para a nossa consolação, nós
proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja, isto é, de todo o povo
de Deus, seja dos fiéis como dos Pastores, que a invocam como Mãe
amorosíssima; e queremos que, com esse suavíssimo título, de agora
em diante, a Virgem seja ainda mais honrada e invocada por todo o
povo cristão” ( Discurso de encerramento do terceiro período do
Concílio. AAS 56, 1964, p. 1016).

2. “MULHER, EIS AÍ O TEU FILHO”


Jesus entrega Maria ao discípulo amado, e o discípulo amado a
Maria. “Jesus não apenas proclamou a nova maternidade de Maria,
mas a instituiu. Esta pois, não vem de Maria, mas da Palavra de
Deus, não se baseia no mérito, mas na Graça” (Raniero
Cantalamessa).
Diz o Papa João Paulo II na Sua Carta Encíclica Redemptoris
Mater:
“Se por meio da fé Maria se converteu na Mãe do Filho que lhe
foi dado pelo Pai com o poder do Espírito Santo, mantendo íntegra
sua virgindade, na mesma fé ela acolheu a outra dimensão da
maternidade, revelada por Jesus durante sua missão messiânica”
(RM 20).
Dessa forma concebemos a Maternidade de Maria,
maternidade em relação a nós, como um ministério instituído por
Cristo e desejado pelo Pai. Essa missão de Maria foi acolhida por ela
em seu “fiat” que se estendeu da anunciação à cruz. No momento
derradeiro em que se coloca aos pés da cruz, Maria escuta de seu
Filho o mandato de assumir daquela hora o seu ministério: “Eis aí o
teu Filho” (Jo 19, 26) - que o evangelista apresenta como o modelo do
discípulo.
Tal ministério é instituído em benefício dos cristãos, ou seja,
Jesus deseja que cresçam sendo “guarnecidos” pelos braços da Mãe.
Isso possui um sentido todo especial quando lemos o trecho do
Evangelho de João da mãe aos pés da cruz que nos remete para o
texto de Jo 2, 4, quando Jesus utiliza palavras semelhantes: “Que

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102
Formação Básica V

queres de mim Mulher, a minha hora ainda não chegou?” – porém,


em seguida, realiza o que lhe pede a mãe que percebe a angústia que
se inicia. O evangelista constrói esses dois relatos de forma paralela,
e podemos perceber que a mulher que toma o discípulo para guardá-
lo e amá-lo como filho é a mesma que atenta as suas aflições e
necessidades, intercede por ele.
O Ministério mariano que aqui meditamos ilumina-se com estes
textos bíblicos: Maria pede que a água seja transformada em vinho, e
a isto o Filho não pode negar. A sua Hora chega na cruz e então ele
opera o milagre para todos os que crêem e Maria é instituída como
Mãe. Já ao não lhe diz: “Mulher, minha hora não chegou…”, mas sim
“Eis aí o teu Filho”, e bem podemos acrescentar: zela por ele…

3. “EIS A TUA MÃE”


Ao indicar o discípulo ao lado de Maria, o evangelista João não
o apresenta pelo nome, mas tão somente com o termo: “o discípulo
que ele amava”… Neste sentido ele pretende indicar à comunidade
dos fiéis que permanecem como seguidores de Cristo até o momento
derradeiro, aqueles que abraçam a cruz até o final.
Não devemos querer ver neste texto uma manifestação de
cuidados afetivos de Jesus tão somente, sua intenção ultrapassa essa
mera leitura, pois na realidade Jesus deseja manifestar uma aliança
entre Maria e os cristãos, uma relação de amor, como dissemos, a
instituição de uma maternidade espiritual.
Os cristãos, nesse sentido, são convidados por Jesus a
tomarem esta mãe, isto é, a ter uma atitude diante dela. O texto do
Evangelho indica que “a recebeu em sua casa” - este texto manifesta
que ele a recebe em sua intimidade, a casa indica a própria vida.
Dessa forma, somos convidados a “receber em casa” Maria, isto é,
recebê-la em nossas vidas em seu ministério de Mãe. Somos
convidados a adotar, diante de Maria, uma postura de filial submissão.
A missão de Maria não constitui uma simples ligação afetiva,
ainda que a englobe, mas a ultrapassa enquanto instituição querida
por Deus. Ser Mãe dos Cristãos é para Maria uma dimensão do seu
“sim” incondicional. Recebermos Maria como Mãe é resposta de
nosso “sim” diante da cruz de Cristo.

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Décima Quinta Aula


Relatório de Avaliação

Caro(a) Aluno(a)
Esta avaliação tem como objetivo colher o seu testemunho sobre os
frutos que você tem percebido em sua vida e oração a partir das aulas que
você tem participado, e dos exercícios de oração que você tem participado
neste semestre. Não se trata de uma avaliação intelectual, mas de uma
avaliação de sua caminhada com Deus nestas últimas sete semanas. Por
esta razão, cada questão deve ser respondida em oração e escuta do
Senhor. Trata-se, pois, de um momento muito importante, no qual o Espírito
Santo pode realizar maravilhas em seu coração, como no coração daqueles
que vierem a conhecer sua partilha. Que Nossa Senhora, Rainha da Paz,
seja sua mestra e companheira nesta tarefa!
1. Nossa Senhora acompanhou seu filho até a Cruz, dando livre
consentimento ao seu Sacrifício, e vivendo, em meio à dor, a
plenitude da fé, da esperança e da caridade que jamais outra
criatura humana viveu. Assim, é que ela se torna co-redentora e
medianeira de todas as graças que recebemos do sacrifício de
Seu Filho Jesus. Partilhe aqui como você tem recorrido à
intercessão de Maria em sua vida, e quais os frutos colhidos.
2. Partilhe aqui como você corresponde o relacionamento de Maria,
durante sua vida terrena, com o Pai, com o Filho e com o Espírito
Santo, e como você percebe que pode imitá-la neste
relacionamento.
3. Em Pentecostes, Maria está presente como a Mãe de Jesus, do
qual nos vem o Espírito Santo. Após Pentecostes, diz-se que
Maria inaugura na Igreja a alma orante, que intercede por
aqueles que vão em missão. Sabemos que como batizados
somos todos missionários. Faça aqui, por escrito e em oração,
seus propósitos de, confiando na intercessão de Nossa Senhora,
evangelizar com mais coragem e determinação.
4. Pare um instante e viva um breve momento de oração escutando
o Senhor sobre o que mudou na maneira de você viver sua
devoção à Nossa Senhora como fruto deste semestre de aulas e
orações. Partilhe aqui

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INDICAÇÃO DE LIVROS PARA FBV

“CARTA ENCÍCLICA REDEMPTORIS MATER”


Papa João Paulo II

“MARIA, UM ESPELHO PARA A IGREJA”


Raniero Catalamessa

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Formação Básica V

BIBLIOGRAFIA
AQUINO, TOMÁS DE. Summa Teológica, Questões 27 a 49
BERMEJO, JESUS. Maria na vida de João XXIII, São Paulo, Ave Maria, 1988

CANTALAMESSA, Raniero. A vida sob o senhorio de Cristo, São Paulo,


Loyola, 1993

CANTALAMESSA, Raniero. Maria, um espelho para a Igreja, São Paulo,


Santuário, 1992

Catecismo Da Igreja Católica,

Compêndio Do Vaticano II. Rio de Janeiro, Vozes, 1991

GAMBERTO, LUIGI, Maria nel pensiero dei padri della Chiesa, Milão,
Paoline, 1991

GIORDANI, IGINO. Maria, modelo perfeito de vida interior, São Paulo,


Cidade Nova, 1988

GONZÁLES, CARLOS IGNÁCIO. Maria, evangelizada e evangelizadora, São


Paulo, Loyola, 1988

JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Redemptoris Mater. São Paulo, Paulinas,
1987

LAURENTIN, RENÉ. Breve Tratado de Teologia Mariana, Rio de Janeiro,


Vozes,

LIGÓRIO, AFONSO DE. Glórias de Maria, São Paulo, Santuário, 1989

PAULO VI. Exortação Apostólica Marialis Cultus. Rio de Janeiro, Vozes,


1974

PIERINI, FRANCO. Catecismo do Concílio Vaticano II, Rio Grande do Sul,


Paulinas, 1968

PAREDES, JOSÉ CRISTO REY GARCIA. A Verdadeira História de Maria,


São Paulo, Ave Maria, 1988

PAREDES, JOSÉ CRISTO REY GARCIA. Maria, a mulher do Reino de Deus,


São Paulo, Ave Maria, 1984

ROSCHINI, G. Instruções Marianas, São Paulo, Paulinas, 1960

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