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NATAL - RN
2019
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NATAL-RN 2019
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Aprovada em __/__/__
______________________________________________________
Dr. Marcílio de Souza Vieira (Orientador)
PPGArC -Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
______________________________________________________
Drª. Marineide Furtado Campos (Examinador Externo)
PROFARTES - Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
______________________________________________________
Drª. Ana Caldas Lewinsohn (Examinador Interno)
PPGArC - Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os artistas do Teatro, especialmente da UFRN, aos que
sobrevivem e resistem ao viver de Arte neste País. À minha família:
Meus pais, Maria da Conceição e Oceone Menezes, que sempre me apoiaram e me
incentivaram nessa jornada que é viver através da Arte;
Ao Meu filho, Miguel Oceone Martins Maia, que é minha força motivadora de todos
os dias, minha maior inspiração;
Ao meu esposo, Claudio Maia, pelo apoio diário;
À minha vó, Francisca, mais conhecida como Dona Cotinha, que no auge de seus
96 anos, está lutando diariamente para viver e sendo minha segunda fonte de
inspiração, minha rainha.
Ao meu Avô, Afonso pegado (in memoriam), que já se foi, mas que muito me
ensinou na minha infância e foi meu amigo, antes de ser avô.
Ao meu irmão, Afonso Martins, pelos diálogos de sempre, por me ouvir e incentivar
neste trabalho, assim como na vida
Minha Gratidão!
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me permitir viver e desenvolver este trabalho, pela energia positiva
emanada através do universo;
Aos artistas da UFRN, ‘’fazedores’’ de Teatro;
Aos meus pais, Maria da Conceição e Oceone Martins Maia, que sempre acreditaram
na minha força de vontade, me ensinaram a buscar e fazer o que me fizesse feliz de
verdade;
À Marineide Furtado, professora da UFRN-DEART, por ter acreditado em mim, me
acolhido. Pelos encontros, diálogos e pela ajuda na construção dessa dissertação,
minha eterna Gratidão!
Ao meu esposo, pelo apoio e força;
Ao meu filho que me ensina a ser melhor a cada dia, minha inspiração;
Minha Vó, cotinha, que é um dos maiores exemplos de superação para minha vida; A
minha tia Mary, que cuidou diversas vezes de mim, quando minha mãe precisou
trabalhar, que me ensinou também a lutar para vencer na vida;
Ao meu irmão Afonso, que sempre me ouve, e é exemplo de paciência e sabedoria
para mim;
A Alline, minha amiga e cunhada, pelo apoio e ajuda na concretização desta
dissertação;
Ao meu Orientador, Marcilio Vieira, pelos nossos encontros, pela parceria, pela
confiança e por não ter desistido de mim, minha Gratidão;
A Rejane Lima, minha sogra, por ser minha ajuda na hora que preciso;
A UFRN, por me possibilitar tantos encontros, tantos aprendizados;
A PROEX, por me receber quando precisei para o desenvolvimento desta pesquisa,
no intuito de compreender a existência de grupos antigos da UFRN; Aos
professores e professoras que passaram pela minha formação, durante o
Mestrado, no PPGArC, pelo compartilhar, pelo incentivo a minha pesquisa; A
todos os professores/coordenadores dos respectivos grupos de Teatro
mencionados nesta pesquisa, por serem base, força e apoio para os alunos que
compõem seus projetos, especialmente, os grupos de teatro da UFRN;
A todos os grupos de Teatro trabalhados e citados nesta pesquisa, por permitirem que
eu os relatasse, por serem história viva para nossa Arte brasileira;
7
LISTA DE IMAGENS
Imagem 4 Cia GABOTUN. Flavia Maia, Anna Celina, Janine e Genildo Mateus 34
Imagem 5 Grupo Cores 37
Imagem 6 As Cores de Frida 37
Imagem 7 As Cores de Frida 38
Imagem 8 “O som que se faz debaixo d’água’’ (2016-2017). 40
Imagem 9 Professor Makarios com um brincante de Boi de Reis. 42
Imagem 10 Arkhétypos Grupo de Teatro/Espetáculo: Santa Cruz do não sei 44
Imagem 11 Arkhétypos Grupo de Teatro/Espetáculo: Santa Cruz do não sei 44
Imagem 12 Apresentação do espetáculo Tombo da Rainha, do coletivo Pele de 47
Fulô.
Imagem 13 Atriz Lurian no Figurino criado durante o processo de Tombo da 48
Rainha.
Imagem 14 Croqui do Figurino criado por João Marcelino 49
Imagem 15 Apresentação do espetáculo Tombo da Rainha, do coletivo Pele de 50
Fulô
Imagem 16 Cruor em manifestação artística na praia de Ponta Negra como 51
referência ao Dia do Índio, em 19 de abril de 2015
Imagem 17 Cruor em Instalação artística Peitos. Escola de Saúde, Santa Cruz, 51
RN.
Imagem 18 Cartaz da Instauração Cênica e Residência Artística no Hospital 54
João Machado, Natal, RN.
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LISTA DE SIGLAS
RESUMO
ABSTRACT
This research maps the theatrical groups of the Federal University of Rio Grande do
Norte (UFRN), central Campus of Natal-RN, from 1993 to the first half of 2018, in an
attempt to understand aesthetics, their organizations and ways of working; besides the
need to reflect their existence in the perspective of resistance. The intention of this
mapping is, in a certain way, to inventory the theatrical groups in activity, as well as
those that no longer exist, to even understand how this group formation contributed to
the theatrical organization in UFRN, especially those created in the interior of the
Department of Arts of this University. In addition to the inventory, it is necessary to
dialogue with members of these groups, reflecting the formations developed within
their creation processes. The theatrical groups mapped were Arkhétypos, Cores,
Eureka, Popular Theater Group (GPT), Pele de Fulô, Cruor Arte Contemporânea and
Cia GABOTUN, among which Cia GABOTUN, Grupo Eureka and Cruor Arte
Contemporânea. From this mapping came the following question: How important is a
student in training participating in a theater group at the university? It should be
stressed that this dissertation is based on descriptive qualitative research, based on
the ideas of Marconi & Lakatos (2003), and has as its bias the content analysis,
considering the approach of Bardin (1977). The investigation is based on the
observation of the analysis and recording of the phenomena involving theater groups,
emphasizing the importance of an external look as a researcher without the
introduction of pre-established contents. It is theoretically based on authors such as
Almeida (2007), Antônio Araújo (2008), Bezerra (2002), Boal (1975), Carreira (2006),
Corradini (2010), Martins (2018), Vieira (2016) among others which deal with the
theme developed.
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
LISTA DE IMAGENS
LISTA DE SIGLAS
APÊNDICES
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
1 EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS NA INTERAÇÃO ENTRE ABOLSISTA DE
EXTENSÃO E SERVIDORES DA UFRN 17
1.1 UM RELATO DA MINHA EXPERIÊNCIA COMO BOLSISTA DE EXTENSÃO 17
1.2 BREVE HISTÓRICO DO CURSO DE TEATRO DA UFRN 18
1.3 ESTADO DA ARTE 20
1.4 TRAMA METODOLÓGICA 25
2 MAPEAMENTO DOS GRUPOS DE TEATRO DA UNIVERSIDADEFEDERAL DO
RIO GRANDE DO NORTE – UFRN 26
2.1 GABOTUN 30
2.2 GRUPO CORES 36
2.3 GRUPO POPULAR DE TEATRO (GPT) 41
2.4 ARKHÉTYPOS GRUPO DE TEATRO 43
2.5 PELE DE FULÔ 45
2.6 CRUOR ARTE CONTEMPORÂNEA 50
2.7 GRUPO EUREKA 55
3 O LUGAR DE FALA NA FORMAÇÃO DOESTUDANTE/INTEGRANTE DOS
GRUPOS TEATRAIS ENQUANTO PROJETOS DE EXTENSÃO DO
DEPARTAMENTO DE ARTES DA UFRN 59
3.1 DOS RELATOS ÀS EXPRESSÕES RECORRENTES DA PESQUISA 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS 72
REFERÊNCIAS 75
15
INTRODUÇÃO
1 Vale ressaltar que existem no Estado do Rio Grande do Norte outros grupos atuantes que foram
criados dentro da UFRN ou que tiveram sua formação externa a esta instituição de ensino a partir de
artistas-estudantes com destaque no RN, quais sejam: o Grupo Sociedade T, o Clows de
Skakespeare, o Grupo Avante (migrado do Eureka), criado por alunos da UFRN. O Grupo Estandarte
também é gerido por ex-estudantes da UFRN e professores; Atores à Deriva; Facetas, já o grupo
Mutretas e outras Histórias é formados por músicos e um estudante em Artes Cênicas, com os quais
dialoguei de alguma forma no decorrer do ano de 2017.
16
enquanto coletivo, foi quando surgiu um festival para apresentações de trabalhos cênicos no Rio de
18
Janeiro (RJ) e nos inscrevemos (2013) e fomos um dos grupos aprovados para apresentar o processo
de criação da peça “casa de bonecas” do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen; no entanto, não
chegamos a participar do evento por falta de apoio financeiro. Posteriormente, eu precisei sair do
grupo, no entanto o mesmo deu continuidade, entraram novos integrantes e foram se aperfeiçoando
em torno da peça. Ele permaneceu por mais um ano e algumas pessoas tiveram de deixá-lo tornando-
se um grupo inativo. Apesar de pouco tempo de existência do grupo, há registros como diários de
bordos dos integrantes e vídeos do nosso processo de criação na internet e o mais importante foi a
experiência dentro do grupo teatral.
5 Casa de bonecas é uma peça teatral do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen de 1879. Começou a ser
escrita em 1878 e foi concluída em 1879, sendo representada pela primeira vez no “det kongelige
teater”, em Copenhage.
6 A disciplina tinha como ministrante o professor dr. José Sávio de Araújo e como bolsista de Iniciação
à Docência do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênica Joana Lopes que tinha sua pesquisa
voltada ao contexto de teatro de bonecos (fantoches) e no qual utilizamos também no trabalho cênico.
19
7 http://www.graduacao.ufrn.br/teatro
21
utilizadas para designar um teatro de grupo, tendo como destaque o Living Theatre,
Bread and Puppet, nos Estados Unidos, e especialmente, no Brasil, o teatro Oficina e
o de Arena eram conhecidos e citados, no período da ditadura militar.
Logo, na criação coletiva, busca-se a diluição das funções exercidas pelos
artistas, pelos seus papéis. No processo colaborativo, por sua vez, essas funções
passam a ser firmadas dentro dele. No entanto, é preciso destacar que não se
pretende defender um tipo de metodologia de processo criativo ou outro,
desmerecendo a criação coletiva, como aponta Araújo (2002, p.128), quando diz que
“[...] Obras importantes foram criadas dentro desse modelo e é legítimo que cada
artista busque a maneira de trabalhar com a qual mais se identifique’’. O intuito é
mostrar o olhar a partir de uma análise que tem se configurado na cena teatral
contemporânea sobre os novos meios de processos de construção no teatro e como
esses procedimentos podem interferir na coletividade de um grupo, e no resultado da
produção.
Para referendar o exposto, trazemos uma fala de Araújo (2002), quando
externa seu processo colaborativo dentro do Teatro da Vertigem:
precisamente dar certo, uma vez que o mesmo não se relaciona com os ensaios e o
processo como um todo.
A descrição busca a análise das características que são fatores aos quais
estão ligados ao processo de estudo, numa investigação de cunho qualitativo, que é
conceituada por Strauss e Corbin (2007), como
[...] qualquer tipo de pesquisa que produz descobertas não obtidas por
procedimentos estatísticos ou outros meios de quantificação. Pode se referir
à pesquisa sobre a vida das pessoas, experiências vividas, comportamentos,
emoções, sentimentos, assim como funcionamento organizacional,
fenômenos culturais e interações entre as nações [...] e a parte principal da
análise é interpretativa. (STRAUSS e CORBIN, 2007, p.10-11).
Trata-se também de estudos exploratórios que têm por objetivo descrever
completamente determinado fenômeno, através de análises empíricas e teóricas,
fundamentadas por estudiosos no assunto, podendo ser encontradas tanto descrições
quantitativas e/ou qualitativas quanto a acumulação de informações detalhadas, como
as obtidas por intermédio da observação participante (MARCONI; LAKATOS, 2003).
Na dissertação, a análise por meio da pesquisa qualitativa descritiva se dá
pelas informações colhidas em documentos, acervos, imagens (fotográficas e/ou
videográficas) e entrevistas com questionário aberto e semiestruturado, para uma
melhor compreensão do fenômeno estudado.
Ratifico que, para a fundamentação teórica da pesquisa apresentar rigor, a
análise de conteúdo perpassa esse processo, uma vez que na mesma, podemos
destacar o caráter qualitativo, visto que ela se sustenta com base em um
inventário/mapeamento nos bancos de dados da Pró-Reitoria de Extensão da UFRN.
Aqui, foram mapeados 07 Grupos Teatrais ligados ao Departamento de Artes,
como já dito nas páginas introdutórias. Mas, é preciso dizer que, existem no Estado
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do Rio Grande do Norte outros grupos atuantes que foram criados dentro da UFRN e
se destacaram fora dela (UFRN) também.
[...] pode ser definido, quer se atribua explicitamente ou não tal denominação,
como uma comunidade artística reunida, no mais das vezes, em torno a um
ou mais líderes, empenhados num mesmo projeto. Ele pode ser amador,
semiprofissional ou profissional, e pode escolher, conforme seu status (que
pode evoluir), a relação com os outros, a pesquisa artística, o impacto na
sociedade, a qualidade perturbadora da criação, até mesmo a refundação do
teatro. Porém, as relações de confiança, entendimento, cumplicidade,
compartilhamento, que dão fundamento ao grupo enquanto tal tem seu
reverso: o voltar-se para dentro, para o trabalho de pesquisa, devido às
dificuldades a serem superadas e à intensidade do trabalho no decorrer do
processo de ensaios. (PICON-VALLIN, 2008, p. 88).
2.1 GABOTUN
uma de suas apresentações numa escola pública de Natal, os atores Anna Celina,
Genildo Mateus, Guarací, Flávia Maia e Janine (imagens 1 e 2) expuseram a proposta
do grupo para a comunidade escolar, buscando o entendimento dos espectadores
com relação ao teatro fórum.
Esse sistema teatral criado por Augusto Boal foi inspirado na pedagogia do
oprimido de Paulo Freire, no teatro político de Bertold Brecht e no psicodrama de
Moreno 10 . É uma forma teatral que qualquer pessoa pode desenvolver, pois esse
teatro é uma expressão a todo indivíduo.
Em síntese, o teatro fórum, criado por Boal, buscava através do jogo na cena,
a interação, o desenvolvimento do processo cênico, isto é, com regras dadas pelo
Curinga, apresentavam-se diferentes jogos teatrais para trabalhar o corpo e a voz, na
busca de realizar um bom trabalho cênico, bem como a dança, que é bastante utilizada
para integrar o grupo e tornar as ações dos atores mais expressivas, facilitando a
participação no fórum.
De acordo com Hélio Júnior Rocha de Lima (2011, p. 38), o Teatro do
Oprimido,
10 Jacob Levy Moreno criou em 1921 o “Teatro da Espontaneidade”. Sem falas decoradas ou ensaios,
a ideia de Levy Moreno era promover apresentações teatrais de modo espontâneo e livre. Em seguida,
criou o “Jornal Vivo”, atividade em que ele e um grupo de atores dramatizavam as notícias veiculadas
nos jornais de Viena. O trabalho realizado por Moreno nos hospitais, utilizando o “Teatro da
Espontaneidade”, fez com que ele desenvolvesse o teatro terapêutico, que posteriormente ganhou o
nome de Psicodrama Terapêutico.
33
Uma das peças de grande repercussão do grupo foi “Fome causa X’’ (1993),
fruto de um trabalho coletivo e de encontros de estudos, assim como pesquisas,
coletas de dados, discussões e ensaios em torno da temática da fome (Imagens 3 e
4).
Imagem 3: Cia GABOTUN. Atrizes do GABOTUN Flávia Maia e Janine, no Centro da Cidade
Imagem 4: Cia GABOTUN. Flavia Maia, Anna Celina, Janine e Genildo Mateus
O segundo ato se desenvolve pela discussão que ocorre entre uma das
personagens revoltada com a trama ouvida de seus patrões, não conseguindo
convencer seu pai sua mãe de não votar no político corrupto, termina votando nele,
por pura falta de opção.
O grupo sempre buscou o ideário do teatro do oprimido, então, as temáticas
trabalhadas sempre percorreriam o campo reflexivo e social. GABOTUN, logo
apresenta um espetáculo nascido desses princípios, na forma de teatro fórum e
desenvolvido pelo encenador Augusto Boal.
A peça Fome Causa X conquistou o prêmio Andes-SN12 de arte universitária
brasileira, ficando em 1º lugar na categoria teatro, promovido pela Associação
Nacional dos docentes. Outra característica presente no grupo GABOTUN é a
substituição dos atores pelos espectadores, de acordo com a mudança social
mostrada, característica comum no teatro do oprimido. Esse processo é conduzido
pelo curinga que coordena cada ação. Dessa forma, é revelada a atuação e
participação dos espectadores na cena.
Na peça, os atores discutiam as relações familiares e de empregabilidade com
a personagem Cremilda, líder comunitária e a faxineira da casa (Anna Celina), criando
um espaço dialógico e democrático no qual se constrói a consciência quanto à
multiplicidade de interpretações dessas personagens, evidenciando a necessidade de
12O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) é um
sindicato brasileiro, com sede em Brasília (DF) e seções sindicais nos locais de trabalho, que
representa professores de ensino superior e ensino básico, técnico e tecnológico no país.
35
possibilitar uma reflexão em torno dos fatos mostrados no palco aos espectadores que
assistiam a peça.
O GABOTUN, por falta de um professor coordenador do Departamento de
Artes da UFRN, não resistiu ao tempo e acabou se esfacelando, mas por um tempo
deixou sua mensagem do Teatro Fórum para a universidade, para o estado do RN e
outros estados brasileiros.
Pelo grande fluxo de entrada e saída de estudantes de diferentes Cursos da
UFRN, os alunos dialogavam e compartilhavam seus conhecimentos sobre o que liam
acerca do teatro. Os jogos teatrais eram realizados por todo o grupo, e aos poucos,
os estudantes se apropriavam de técnicas teatrais para estar no palco interagindo com
o público.
Como relata Vasconcelos (2016),
Com isso, compreendemos que, para Boal, a ação humana é uma ação
essencialmente teatral. Segundo ele, todos nós fazemos teatro o tempo
inteiro nas nossas relações cotidianas. Ninguém é exatamente como gostaria
de ser. Todos nós precisamos representar um papel social para sermos
aceitos nos espaços que nos permitem atingir os nossos objetivos, ou para
suprir as nossas necessidades como o trabalho, por exemplo. Assim, neste
jogo de faz de contas, vivemos numa eterna representação teatral, num
constante jogo de atuação, o que implica que temos a consciência de que
sabemos ser espectadores de nós mesmos. (VASCONCELOS, 2016, p 17-
18).
O trabalho dos atores com os jogos teatrais era executado para dar movimento
às cenas, além de fazê-la “funcionar’’, isto é atingir o público com a ação mostrada
através da prática do teatro fórum, que se trata de “um jogo interativo, coordenado por
um curinga, o qual facilita a reação dos atores e espectadores.” (BEZERRA, 2002, p.
21), baseado no Teatro do Oprimido – T.O e consolidado pela solidariedade, pregada
por Augusto Boal.
Para Augusto Boal, a solidariedade é inerente ao Teatro do Oprimido – T.O.;
os jogos e a peça em si devem induzir os atores ao respeito, diálogo e à confiança
mútua. Essas interações sociais produziram uma nova concepção de corpo, arte e
mente. “[...] Todos os problemas sociais são discutidos por indivíduos psicológicos e
todos os temas psicológicos ocorrem num mundo social’’ (BOAL apud LIMA, 2011, p
38). Logo, é necessário ressaltar que para Boal o teatro do oprimido não é puramente
social, pois para ele, não havia separação entre o social e o psicológico, ambos
andavam juntos no processo de criação.
36
13Docente do Departamento de Artes nos cursos de Designer e Artes Visuais. É designer, artista
plástico muralista. Doutor em Ciências da Comunicação (Designer Gráfico Animado) pela Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP.
37
Fonte:https://goo.gl/images/o9VeqR
38
E inclui, entre seus personagens, alguns homens (Imagem 7), que pela
necessidade de uma musicalidade, traz o artista do canto e da música também.
14Considerando as variáveis (de idas e vindas que fazem parte de processos artísticos) participaram
dessa fase: Aline Teixeira, Ananda Krishna, Antonia Delgado, Claudia Maldonado, Edo Sadiistic, Erhi
Araújo, Everson Oliveira, Fabiano Marques, Fernanda Cunha, Fernanda Estevão, Frank Dusdeberg,
Iuri Matias, Josie Pessoa, Kédma Silva, Laura Branco, Leila Bezerra, Matheus Fortunato, Melk
Freitas, Naara Martins, Priscila Araújo, Rose Lotte e Thaís Schimdt, em sua maioria alunos do curso
de Teatro da UFRN. (BRITO, 2019)
39
Na fase inicial do grupo Cores, de acordo com Lina Isabel de Brito (2019), as
criações se norteavam pela vida e obra da artista plástica mexicana Frida Kahlo.
Numa segunda fase de investigação teatral do projeto, questões do feminino, de
uma política estética, do que era ritual, universal e particular, do depoimento do
elenco, bifurcando-se às obras e vida de Frida Kahlo, instauraram mudanças de
paradigmas cênicos.
Ainda pelo Projeto Cores, foi criada a encenação “Simulacro”, baseada nos
mitos e na vaidade contemporânea, dentro de uma proposta de criação em diálogo
permanente entre intérprete e a encenadora Lina Izabel Sena Brito, com o egresso da
graduação em Teatro e ator Clébio Rocha.
Em 2016, deu-se início ao desenvolvimento da peça “O som que se faz
debaixo d’água”, estreada em 2017, que de acordo com Brito (2019), teve vários
inícios, como
Fontes nascentes em 2013, 2014, 2015 e 2016. A cada ano citado um elenco
diferente começava o processo e por múltiplas razões precisava abandoná-
lo: mudança de cidade, problemas pessoais, ausência de bolsa/auxílio
financeiro, mudança de área de trabalho. Com exceção das atrizes Naara
Martins (desde 2013) e Antonia Delgado (desde 2015) e da iluminadora
Priscila Araújo (também entrou em 2013): águas perenes. Por ausência de
imersão dos participantes que entravam e saiam (por vários motivos e aqui
não faço julgamento moral) não construíamos um elo no trabalho. (BRITO,
2019, p. 45).
15Encenação é um conjunto de elementos organizados por meio de criações poéticas e que formam
ações cênicas que estabelecem, através de convenções, alguma espécie de comunicação entre
atores/personagens e plateia. (Marcos Bulhões, 2012 – Direção I –CAC-ECA-USP).
40
[...] dramaturgia como o sistema que tem como matriz de criação “o feminino”,
depoimentos das atores/criadores, músicos/criadores, iluminadora/criadora,
através de uma memória corporal que, incitada por práticas corporais e
poéticas, resgate essas lembranças sensorialmente, condicionando a entrega
de si, a recepção do outro e a troca de experiências à sagrada
experimentação cênica, fazendo do corpo um lugar desterritorializado e
contaminado pelo coletivo na construção de uma dramaturgia que buscava o
caráter ritualístico em Teatro. (BRITO, 2019, p. 40).
16Professor do Departamento de Artes da UFRN com mestrado em Artes Cênicas pela UFBA. Atua
com práticas criativas e ação cultural atuando com os temas encenação, dramaturgia, estudos
culturais, poéticas colaborativas e do cotidiano.
42
17 É ator, diretor e pesquisador formado e pós-graduado pela Unicamp. Docente do Curso de Teatro e
do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN. Coordena o Projeto de Pesquisa Teatro,
Ritual e Liminaridade, atua como membro do Grupo de Pesquisa CIRANDAR, do NACE e do IMÃ, e
é diretor do Arkhétypos Grupo de Teatro.
18 É comum em seus processos de criação que o Grupo Arkhétypos escolha um elemento da natureza
como fonte criativa: terra, água, fogo e ar. Chama-se a poética dos elementos, inspirados por Gaston
Bachelard (2013) que escreve sobre a imaginação da matéria.
44
Aboiá, Revoada, Fogo de Monturo, Éter, Amareelos (com dois “e’’ mesmo) e
Gosto de Flor 19 (trabalho mais recente, de 2017), que foram gerados a partir de
práticas de laboratório e pesquisas acerca das energias elementares anteriormente
referidas. O espetáculo Santa Cruz do não sei, por exemplo, foi estreado no dia 10 de
junho de 2011 (Imagem 11), no Teatro Laboratório Jesiel Figueiredo do DEARTUFRN
e, a partir daí, outras apresentações foram acontecendo dentro e fora da universidade.
Imagem 11 - Arkhétypos Grupo de Teatro/Espetáculo: Santa Cruz do não sei
O Grupo sempre buscou dialogar o trabalho com o público, de modo que uma
das ferramentas de fácil acesso entre esse dialogar foi um questionário, elaborado
pela atriz Paula Laís e o Professor Dr. Robson Haderchpek, perguntas como: ‘’como
19 Quatro homens falando de amor, quatro corpos que dançam suas memórias, suas dores, seus
desejos e suas emoções. Entre eles uma flor, que é sentida, cheirada, saboreada, compartilhada e
dilacerada num jogo de sedução e desejo… Bocas, corpos e saudades que deixam no ar um gosto de
flor.
45
é para você, participar de um espetáculo que tem uma relação tão próxima com o
público?’’, ‘’O que mais o tocou no espetáculo?’’ além disso, por ser um projeto de
extensão, o grupo mantinha os processos criativos e devolviam à comunidade escolar
e extraescolar, os resultados dessas pesquisas.
A releitura e análise dos questionários feitos pela equipe do Arkhétypos
contribui nos laboratórios de criação, pois os atores e atrizes, ao absorverem e
ouvirem as questões do público, puderam modificar determinada cena do espetáculo,
no intuito de, com esse compartilhar de sugestões e ideias, tornar o espetáculo cada
vez mais rico dentro desse processo de construção. Sempre testando, estudando,
investigando, o que pode ser introduzido ou retirado, como ressaltado por Medeiros
apud Haderchpek, (2017):
em 2012), com o Edital Cena Aberta Nordeste - 2012; Bodas de Sertão, em parceria
com a Companhia de Dança do Teatro Alberto Maranhão
(CDTAM); Tombo da Rainha recebeu o III Prêmio Nacional de Expressões Culturais
Afro-Brasileiras e Casa do Louvor, juntamente com a Bagana Cia de Teatro (Mossoró-
RN).
A Montagem do espetáculo "Tombo da Rainha" teve o patrocínio da
PETROBRÁS, sendo realizado pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo
dos Santos Neves (CADON), em parceria com a Fundação Cultural Palmares, do
Ministério da Cultura e do Governo Federal.
O grupo carrega uma estética muito poética no que diz respeito à dramaturgia
e ao figurino, conforme pode ser observada na imagem abaixo, do espetáculo Tombo
da Rainha (Imagem 13).
[...] era basicamente, uma legging preta até o joelho, uma saia longa marrom
de um tecido grosso, parecido com jeans, um tecido bege envolto aos seios
em forma de X, uma touca de pintar cabelo com furos onde eu puxava um
pouco os meus cabelos. (SILVA, 2017, p. 31)
E foi assim que João Marcelino foi dando forma a sua criação com adereços
e máscaras de gesso criadas por ele, mas segundo Silva (2017, p. 33) “as máscaras
do espetáculo eram mais leves, com cor e adereços de flores e tules”. (Imagem 15).
Imagem 17 - Cruor em Instalação artística Peitos. Escola de Saúde, Santa Cruz, RN.
22Chamadas ainda de artes performativas são todas as formas de arte que se desenvolvem num palco
ou local de representação para um público. (Nara Salles, 2004).
52
23 É uma proposta metodológica que incide na busca de novas formas de intervenção e investigação
no campo da pesquisa nas Ciências Humanas. (THIOLLENT, Michel.1985).
24 É o nome dado à teoria proposta por Artaud. Surgiu na década de 20, como uma maneira de fazer
uma crítica à cultura do espetáculo e à própria forma que a sociedade ocidental enxergava o mundo.
53
Um dos trabalhos realizados pelo Cruor, que não foge à sua metodologia e
que muito agrega por compartilhar de uma experiência ampla e única com pessoas
com e sem deficiências, ocorreu através da instauração cênica ‘’Lou(cure-se)”. Esse
trabalho foi realizado com os residentes do hospital João Machado, localizado em
Natal-RN, e teve como objetivo acolher as pessoas conhecidas como “Loucas’’ e que
se encontram à margem da sociedade.
Compartilhando do pensamento de Natã Ferreira do Grupo Cruor ou Cruor
Arte Contemporânea, ele ressalta em entrevista que:
Acredito que todas as atividades que fiz durante a minha graduação, fora a
sala de aula, me proporcionaram muito mais conhecimento e vivências
artísticas/humanas/afetivas do que em classe. A importância dos grupos de
teatro e demais atividades extraclasse são justamente a troca que se tem com
outras pessoas, que partilham de interesses comuns como a arte e a criação
conjunta. Através disso a criação se torna prioridade e acabamos gerando
uma rotina de trabalho. As coisas começam a perder o caráter de “trabalhinho
de classe” e ganharem um aspecto mais “maduro” (Natã Ferreira, Grupo
Cruor).
explorar a atividade artística entre pessoas com e sem deficiência, permitindo que
todas as pessoas se expressem e propaguem esta dança criativa. Desde sua criação
em 1979, a companhia Joint Forces e seu diretor Alito Alessi, fundador deste método,
cultivam e propagam esta dança pelo mundo.
Assim, os internos do HJM passaram a participar da instauração cênica
(LOU)CURE-SE!!! (Imagem 18), apresentada ao público nos meses de julho e agosto
de 2016, que conforme Pires (2016), se propôs:
Imagem 18: Cartaz da Instauração Cênica e Residência Artística no Hospital João Machado,
Natal, RN
épico. Na peça eles decidiram permear um campo bastante relevante como o racismo
no Brasil e usaram uma dramaturgia que transmitisse ao espectador uma releitura
sobre essa temática e seus questionamentos, ainda presentes na sociedade atual.
o cartaz produzido pelo grupo, divulgando a seleção de atores e atrizes para comorem
o elenco da peça intitulada Família Composta (Imagens 21-22).
Fonte: Eureka! contribuições das experiências com o teatro de grupo durante a formação na
licenciatura em teatro (SILVA, 2016)
Com a fala de Hélio Júnior, dá para perceber que além de uma participação
ativa em um grupo de referência, ele tem a oportunidade de estudar e se aprofundar
na pesquisa sobre Augusto Boal, na qual ocorre um aprofundar-se numa linguagem
que conduz a reflexões politicas como ocorre no teatro fórum proposto pelo próprio
Boal.
Referindo-se à sua participação em um Grupo de Teatro da UFRN, Anna
Celina (Cia GABOTUN), assim se expressa:
Percebe-se na fala de Wilamy que ele não teve apenas acesso à pesquisa
como ator, mas às montagens dos processos criativos, à organização de eventos e
produção cultural, daí a importância de aprender a veicular a arte e não somente cria-
la dentro da UFRN, mas fora dela, atingindo outros públicos.
Denilson David, na sua fala, reforça que:
O grupo que faço parte, o arkhétypos, abriu meus olhos para uma nova forma
de se fazer teatro e de repensar meu corpo. Principalmente sobre as questões
de respeitar as diferenças entre várias pessoas diferentes. Foi muito
importante para a minha formação. (Allan Phillype, Grupo Arkhétypos).
Percebe-se que Natã, no seu depoimento, mostra ter unido o útil (bolsa
remunerada) o agradável (compor, criar) teatralmente falando. Vê-se que existia uma
questão de resistência e política no corpo do grupo, contudo, era preciso lidar com os
conflitos para se manter na bolsa, que, para ele, era o meio de se manter no curso de
graduação em teatro. Observa-se uma colocação muito forte com relação à
necessidade de sustento financeiro por parte do depoente.
Denilson David, do Grupo Eureka, por sua vez, assim se expressa:
26 Harvey, 2014.
65
no espaço, aquele que se coloca a margem pra defender uma causa, pra falar
sobre algo, pra discorrer sobre os fatos, e o cruor tem esse caráter.
Ele quer evidenciar algo, quer apresentar e discutir. E a cada vez que eu
entrava em cena no grupo cruor, que foi a partir da performance urbana
“homens libertos’’, era pra quebrar os padrões estabelecidos na sociedade.
Esse pensamento eu dou continuidade na minha pesquisa de mestrado. Um
corpo político, que se coloca em cena pra atingir algo, por um motivo. Essa é
a maior contribuição que o grupo me deixou, artisticamente e humanamente.
(João Vítor, Grupo Cruor).
Constata-se que o grupo Cruor tem uma estética política, conforme João Vitor,
quebrando padrões de corpos estabelecidos socialmente, no sentido de se soltar
como artista, se deixando ver como homem livre no espaço cênico. E, considerando
a nossa análise, com relação à teoria e à prática acadêmica, Franco Wilamy, do Grupo
Arkhétypos, reforça que:
Na verdade, Hélio Júnior não responde a pergunta posta, no entanto, ele nos
apresenta as transformações que podem ocorrer ao longo dos anos nos grupos de
teatro academicamente falando, uma vez que estar na universidade é uma ação
temporária e, à medida que as pessoas, estudantes, docentes vão passando, as
montagens, os projetos e as abordagens se modificam também por novas ideias para
a construção de espetáculos diferentes. A essência do GABOTUN ficou, porém, ele
vai se transformando a cada nova formação de grupos teatrais.
Na contribuição de Anna Celina, da Cia GABOTUN, reforça-se que participar
do grupo, para ela, foi um despertar para a formação teatral, mesmo que a mesma
não tivesse seguido a profissão, contudo houve a possibilidade dela ter um olhar mais
abrangente sobre a arte, visto que isso fez toda a diferença em sua vida profissional.
Natã Ferreira, do Grupo Cruor, por sua vez, diz que “pertencimento é um termo
muito pesado para ser colocado dessa forma. Mas pode-se dizer que participar de
tarefas/trabalhos/criação em conjunto, para mim, é sempre atualizar o significado de
família”. Entende-se que Natã não só se percebe como um ator no grupo, mas faz
referência ao coletivo de teatro como uma família.
Franco Wilamy, do Grupo Arkhétypos, expõe que pertencer a um grupo:
Ele tem uma visão de fazer teatro como um coletivo, e vê nisso um benefício
ao seu crescimento profissional, num olhar o trabalho do outro com uma nova
perspectiva, sendo sensível à construção do conhecimento como prática.
Na fala de João Vitor, do Grupo Cruor, temos que, fazer teatro:
saber respeitar as diferenças, saber lidar com elas, é olhar para o outro de
modo afetuoso, é acolher o outro. Sobretudo quando o “outro’’ é novo. A gente
precisa ter essa consciência de chegar em um espaço que eu não conheço,
uma linguagem que eu não domino, uma experiência que eu não tenho. O
grupo precisa se colocar enquanto grupo pra que venham a acolher aquele
novo, e isso significa muito no cruor. (João Vitor, Grupo Cruor).
grupo”; “a multidisciplinaridade”; sendo isso reforçado por Mariz (2008), quando diz
que “[...] Tudo que se realiza do ponto de vista do saber e da criação envolvendo
também o corpo e o mundo no qual se vive’’.
Assim, é possível dizer que o corpo no teatro é ato que comunica, cria. O corpo
é instrumento do fazer artístico em construção. O corpo é potência em ação. E,
coadunando com Marcílio Vieira (2016, p. 62) “[...] o corpo não se reduz ao espaço,
mas seu movimento é meio de percepção do espaço, do tempo e da ação’’. Isso
remete ao corpo ser visto como um elemento carregado de história, que ao estar em
laboratório (trabalho prático, ensaio), começa-se a entrar nesses níveis de energia,
das memórias afetivas resguardadas e postas para fora, com ações físicas. Logo, o
corpo ultrapassa os níveis de suas próprias limitações.
Através de práticas diárias, é possível perceber a evolução do corpo a que se
constrói, sempre há um início para a prática teatral e é pertinente conhecer antes de
tudo o corpo. Perceber é adentrar no íntimo mais profundo desse corpo-alma, que se
configura na arte de criar, de evoluir, transcender.
Merleau-Ponty apud Mariz (2008) dirá que a arte não é feita com discurso
interior ou imagens, mas com linguagem. Assim, o teatro também é uma arte da
linguagem. Uma linguagem que demanda sinceridade, busca e o ato de fazer, não fica
apenas no terreno das memórias, ou das ideias. Quando o corpo se conecta com
nosso interior, é possível vê-lo se transformando e isso é linguagem artística em ação.
Schechner apud Mariz (2008) reforça que:
Estes elementos, para o filósofo citado, são fundamentais para que o sujeito
se torne capaz de experienciar. Notamos que isso não é simples e que o sujeito é o
principal responsável por buscar criar condições de possibilidade para que algo lhe
aconteça.
participa de inúmeras atividades, mas é aquele que admite sua receptividade diante
da experiência que vivencia.
Creio que as experiências vivenciadas pelos alunos nos projetos de extensão
já comentados produziram neles novos olhares para o fazer teatral, principalmente
quando vivenciaram e puderam dialogar com esses fazeres na sua experiência
continuada dentro da universidade e fora dela.
Os grupos de teatro se “encontram’’ nesse espaço contemporâneo para as
diferentes formas de criar, de treinar o ator, tendo e buscando a necessidade de se
reinventarem na atualização de suas práticas criativas, bem como em compartilharem
saberes coletivos, desenvolvendo meios “colaborativos’’ no fazer teatral.
Cabe salientar que todo esse processo de evolução em torno dos grupos leva-
os a novos saberes e estratégias de crescimento, como a busca de profissionalização
e, consequentemente, a novos modos de trabalho como o processo colaborativo.
O movimento dos grupos teatrais no Brasil, tem sido cada vez mais necessário
e fundamental na cena contemporânea e isso ocorre pelo fato de uma grande
quantidade de grupos de teatro estarem desenvolvendo e disseminando suas práticas
coletivas teatrais por diversas regiões brasileiras, se mantendo resistentes em suas
atividades criativas no âmbito cultural, como também vem ocorrendo na UFRN.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
http://www1.udesc.br/arquivos/portal_antigo/Seminario18/18SIC/PDF/045_Andre_Ca
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1, 2010, Unicamp/São Paulo.
______. Fazer teatro é pensar o teatro.In: Revista Conceição Conception. Campinas
(SP), 2012.
______. Formação do ator e teatro de grupo: periferia e busca de identidade. In:
MALUF, Sheila Diab; AQUINO, Ricardo Bigi (Org.). Dramaturgia em cena. Maceió;
Salvador: Eufal; Edufba, 2006. p. 49-59.
CARREIRA, André Luiz Antunes Netto; OLIVEIRA, Valéria Maria de. Teatro de
Grupo: modelo de organização e geração de poéticas. Texto publicado na Revista
Teatro Transcende – 2005. P 1-6.
CONSEPE. Resolução nº 077, de 27 de junho de 2017. Natal: UFRN, 2017.
CORRADINI, Sandra. Dramaturgia Na Dança Uma Perspectiva Coevolutiva Entre
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Bahia, BA, 2010.
______. Processo Colaborativo e Sujeito Autoral em Dança. In:
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EQUIPE NAC. Grupo Popular de Teatro da UFRN. Disponível em:
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FERNANDES, Silvia. Teatro de grupo. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
______. Sobre Grupos e Companhias Teatrais. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2014.
______. Grupos teatrais- anos 70. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2000.
______. Memória e invenção: Gerald Thomas em cena. São Paulo: Perspectiva,
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FERREIRA, G. M. Teatro de grupo: revelando e construindo a si mesmo. 63 folhas.
Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade do Estado de Santa
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FISCHER, Stela Regina. Processo colaborativo: experiências de companhias
teatrais brasileiras nos anos 90. Campinas, SP: [s.n.], 2003. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/284803. Acesso em: 10 jul. de
2018.
GERMAY, R. Do teatro universitário à associação internacional do teatro na
universidade. Moringa, João Pessoa, v.1, n.1, p.65-77, jan. 2010. Universidade
Federal da Paraíba.
78
APÊNDICE
82
O. Carla, como surgiu o Grupo Pele de Fulô? E esse surgimento se deu no âmbito da
UFRN?
O. O grupo ainda está ativo? (está vinculado a algum projeto de extensão)? Caso não
esteja ativo, pretende voltar?
C. O grupo continua ativo e agora o foco é o Sob o Sol, o processo prático do meu
doutorado que estou cursando na UNIRIO, Universidade onde me graduei. A primeira
etapa deste processo se dará no Rio de Janeiro, mas a ideia é reunir o coletivo que
vem se formando por aqui, com os integrantes do Pele de Fulô, mais adiante. A minha
migração para outra cidade aparentemente paralisou um pouco a movimentação dos
demais integrantes do Pele; mas, em breve estarei de volta. Não estamos vinculados
hoje a nenhum projeto de extensão.
83
O. Você atua no grupo como atriz também? Aliás, cada integrante tem uma função
específica?
C. Não arrisquei estar na cena nos processos do Pele, mesmo porque desempenho
várias funções. Ainda estamos tentando nos estruturar e descobrir o papel de cada
integrante. Os dois últimos anos foram bem difíceis para o Grupo. Passamos/estamos
vivendo uma crise interna, reflexo do que acontece no cenário do País, sem dúvida.
Mas iremos nos reestruturar. Tenho certeza disso!
C. Apesar de carregarmos o nome "Grupo", acho que o Pele de Fulô ainda não se
tornou um. Estamos em processo de nos tornarmos um Grupo, porque para que isso
84
aconteça é necessária uma estruturação elaborada, divisão de tarefas, etc. Onde cada
um segure o "leme do navio” com autonomia e em nome de um "mesmo" objetivo. A
nossa estruturação está sendo construída, mas acredito muito nas pessoas que fazem
o Pele hoje. Demos passos largos em direção a esse entendimento. Ainda somos "o
coletivo", que se reuniu para a montagem do Tombo da Rainha, mas que sente muita
vontade de continuar junto. Querer já é um passo enorme, não é mesmo?
R. O Projeto Arkhétypos teve início em março de 2010, quando o Prof. Dr. Robson
Carlos Haderchpek, do Curso de Teatro da UFRN, começou a pesquisar a
Comunidade da Vila de Ponta Negra - Natal/RN, local onde morava. O intuito inicial
da proposta consistia em investigar as histórias da população local e a partir delas
iniciar um processo de construção cênica utilizando como tema as “histórias de
pescador”.
Para tanto, foi formado um Grupo de Teatro que estivesse disposto a lançar-se a
campo e iniciar uma atividade de extensão na Vila de Ponta Negra. A priori, a atividade
do Grupo seria conhecer um pouco da história da comunidade, participar das reuniões
do Conselho Comunitário da Vila e dos ensaios dos Grupos de Manifestação Popular,
acompanhando a realidade local e pesquisando o universo simbólico dos moradores.
A partir das atividades desenvolvidas na Vila e dos trabalhos realizados em sala de
ensaio, o Grupo começou a estruturar um espetáculo teatral que falava do imaginário
coletivo da população local: Santa Cruz do Não Sei. O Projeto também contou com o
apoio de outros docentes do Departamento de Artes, que atuavam como facilitadores
do processo, ora participando dos ensaios, ora orientando as pesquisas do Grupo e
contribuindo artisticamente com o mesmo.
O Grupo foi oficializado como Projeto de Extensão da UFRN e decidimos batizá-lo
com o nome de Arkhétypos. A palavra é de origem grega e significa modelo primitivo,
idéias inatas, conteúdo do inconsciente coletivo que foi empregado pela primeira vez
por Carl Gustav Yung.
85
R. Quando foi criado em 2010 o Grupo era composto por alunos do Curso de Teatro,
do Curso de Dança, do Curso de Artes Visuais, de Educação e de Música. Em 2012
o Grupo iniciou um novo processo de criação e então recebeu pessoas da comunidade
e artistas locais para integrar o elenco do Aboiá, o mesmo aconteceu em 2013 com o
processo do Revoada e com o Fogo de Monturo. Hoje o Grupo Arkhétypos é um dos
Grupos Permantes de Arte e Cultura da UFRN e possui em sua composição alunos
da Graduação e do Mestrado, ex-alunos e pessoas da comunidade.
Já passaram pelo Arkhétypos mais de 50 pessoas, dentre elas podemos citar: Aldemar
Pereira, Marília Farias, Klécio Mukammo, Mayra Montenegro, Paul Mailliw de Moraes
Pontes, Paulinha Medeiros, Tatiane Tenório, Rodrigo Severo, Silvia Sol, Leila Bezerra,
Antonio Vicente Neto, Wallace José de Oliveira Freitas, Hilca Honorato, Paula Vanina
Cencig, Alex Cordeiro, Luana Menezes, Ananda Krishna, George Holanda, Izabela
Câmara, João Pedro Araújo, Luana Menezes, Lucília Guedes, Tauany Thabata,
Thainá Medeiros, Clareana Graebner, Caio Padilha, Adriel Bezzera, Alice Heusi, Allan
Phyllipe, Cecília Moreno, Cléo Araújo, Elizabeth Araújo, Francismar Silva, Franco
Fonseca, Igor Barboà, Leka Bezsi, Lisa Jordana,
Maria Flor, Nadja Rossana, Pierre Keyth, Rocio del Carmen Tisnado Vargas,
Sebastião Silva,Thulho Siqueira, Vanessa Souza, Diego Marcel, Patrick Cezino,
Lucifranklin Vitorino, Luciana Lyra, Alice Jácome, , Analice França, Bebel Dantas,
Camila Guerra, Camila Olie, Elze Maria Barroso, Fernanda Cunha, Liliane Bezerra,
Lúcia Freire, Pablo Costa, Pedro Fasanaro, Thuyza Fagundes, Hianna Camila, Érika
Yuka, Jucie Borges, Lívia Oliveira, Pablo Vieira, Deborah Custódio, José Ricardo
Roberto da Silva, Thaís de Oliveira Shimidt, Valéria Chaves Medeiros, Luã Fernandes,
Thazio Menezes e Hikel Brauwn.
86
O. O grupo ainda está ativo? (está ligado a projeto de extensão)? Caso não esteja
ativo, voltará?
R. Sim, o grupo está ativo, é um Grupo Permanente de Arte e Cultura da UFRN ligado
à Extensão.
R. Não trabalhamos com uma linguagem específica, desde a sua fundação o grupo
abarca pesquisas híbridas dentro do universo das Artes, misturando canto, música,
dança, teatro, vida e fazer artístico. Desde a sua criação em 2010 o Arkhétypos Grupo
de Teatro da UFRN vem trabalhando numa perspectiva laboratorial e tem construído
seus espetáculos a partir de um mergulho no universo simbólico de cada ator, sempre
associando a prática artística com a busca pelo autoconhecimento. É comum em seus
processos de criação que o Grupo escolha um elemento da natureza como mote
criativo: terra, água, fogo e ar. Chamamos este trabalho de poética dos elementos,
inspirados por Gaston Bachelard (2013) que escreve sobre a imaginação da matéria,
passando pela tetralogia dos elementos:
Com base neste princípio, a busca dos atores do Grupo Arkhétypos segue no sentido
de encontrar metáforas que possam reconectar o homem com os eternos universais,
religando-os à essência da imaginação material e à materialidade fluídica da alma.
Dentro de um processo de criação de natureza ritualística o ator torna-se um canal de
manifestação das paixões, criando fissuras no tempo e no espaço e permitindo que o
inconsciente coletivo se revele através dos personagens/arquétipos que se
materializam no “jogo ritual”.
Em seu livro Os arquétipos e o inconsciente coletivo (2014) Carl Gustav Jung nos fala
sobre os arquétipos, conteúdo do inconsciente coletivo que se revela através de
sonhos, símbolos e mitos: “O arquétipo representa essencialmente um conteúdo
inconsciente, o qual se modifica através da sua conscientização e percepção,
assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se
manifesta.” (JUNG, 2014, p. 14).
Quando adentramos num processo de criação, elegemos um elemento da natureza
como guia (terra, água, fogo ou ar) e deixamos que o nosso insconciente nos revele
os arquétipos provenientes daquela temática. Os personagens arquetípicos são
típicos deste tipo de processo em que o ator entra num “jogo ritual” e passa a criar
uma dramatrugia corporal a partir de si, a partir da sua mitologia pessoal. Segundo os
pesquisadores David Feinstein e Stanley Krippner:
Os mitos, no sentido que damos ao termo, não são lendas ou falsidades, mas
modelos através dos quais os seres humanos organizam e codificam suas
percepções, sentimentos, pensamentos e atitudes. Sua mitologia pessoal
origina-se dos fundamentos do seu ser, sendo também o reflexo da mitologia
produzida pela cultura na qual você vive. Todos criamos mitos baseados em
fontes que se encontram dentro e fora de nós e nós vivemos segundo esses
mitos. (1992, p.16).
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O. Você atua no grupo como ator também? Aliás, cada integrante tem uma função
específica?
R. Em junho de 2010 o Grupo estreou o seu primeiro espetáculo, Santa Cruz do Não
Sei, que ficou em cartaz por dois anos se apresentando em Natal/RN, em João
Pessoa/PB e Porto Alegre/RS. Em maio de 2013 o Grupo estreou o seu segundo
espetáculo Aboiá, prêmio Myriam Muniz de Teatro (2012), com temporadas em
Natal/RN, João Pessoa/RN e Viena/Áustria. O terceiro espetáculo do Grupo, Revoada
(2014), fez temporadas em Natal/RN, Goiânia/GO e Viena/Áustria. Em junho de 2015
o Grupo estreou o seu quarto trabalho, Fogo de Monturo, dirigido pela Profª. Drª.
Luciana Lyra (UERJ) com temporadas em Recife/PE e Natal/RN. Em fevereiro de 2017
o Grupo estreou Amareelos, solo da atriz e bailarina mexicana Rocio del Carmen
Tisnado Vargas e direção de Nadja Rossana. E em maio de 2017 o estreou Éter com
duas temporadas em Natal/RN. Em junho do mesmo ano estreou o espetáculo Gosto
de Flor, produção mais recente do Grupo com direção da Profª Lara Rodrigues
Machado (UFBA). Depois da estréia o Gosto de Flor se apresentou no Festival O
Mundo Inteiro é um Palco - Ano V, promovido pelo Grupo Clowns de
Shakespeare, e foi convidado para se apresentar no Centro Coreográfico do Rio de
Janeiro, Projeto “Aproximações Coreográficas” em novembro de 2017, foi convidado
90
teatral na cidade. A maioria dos grupos não tem sede própria e isso faz com que a
situação fique ainda pior, pois temos poucos espaços na cidade que acolhem projetos
de residência artística e/ou de criação.
A maioria dos Grupos não possui recursos próprios, e não há uma política cultural
inclusiva na cidade que apoiem os grupos em formação e/ou coletivos sem sede. Os
grupos que têm sede também encontram dificuldade para custear a manutenção do
espaço. Enfim, penso que seja urgente investir em cultura na cidade de Natal e no
Estado.
92
F. Somos: Allyerly, Rubinho, Clau, Patrícia, Eduardo, Arthur, Taize e eu, Firmino.
Todos alunos.
O. O grupo está ativo? (está ligado a algum projeto de extensão)? Caso não esteja
ativo, voltará?
F. O grupo está ativo, no sentido que nos reunimos semanalmente para atividades do
grupo, mas não somos ligados atualmente a nenhum projeto de extensão nem temos
planos de nós ligarmos no momento.
F. Nossa linguagem é o teatro mesmo. É o nosso foco. Mas não temos nenhuma
preferência estética definida ainda.
O. Você atua no grupo como ator também? Aliás, cada integrante tem uma função
específica?
93
F. Sim. Atuo como ator e coordenador de comunicação. Todos no grupo, além das
funções artísticas, assumem funções administrativas. È um costume antigo nosso
inspirado em vários grupos que funcionam assim: Galpão, Clowns de Shakespeare...
F. Eu, particularmente, fui ensinado a ver. No meu ponto de vista leigo, no grupo as
relações são mais firmes, os compromissos são maiores. Um grupo exige dedicação
total e quase que exclusiva. Também, geralmente, há uma hierarquia administrativa.
Já no coletivo é bem o contrário. As coisas são mais horizontais, fluidas.
Sem incentivo público, menos pessoas vão ao teatro e menos peças e grupos
natalenses surgem.
O. Marcos, como e quando surgiu o Grupo Atores à Deriva? E esse surgimento se deu
no âmbito da UFRN?
M. Nós já éramos amigos, já havíamos feito alguns trabalhos juntos, mas estávamos
em grupos distintos. A partir da montagem do espetáculo A Mar Aberto, de autoria de
Henrique Fontes, é que decidimos formar o grupo. Isso se deu pelas afinidades
pessoais e artísticas de todos os envolvidos no projeto.
M. Hoje somos eu, Doc Câmara, Paulo Lima e Alex Cordeiro. Eu e Alex somos
formados pela UFRN, mas já trabalhávamos com teatro antes da universidade. Paulo
Lima chegou a cursar teatro, mas não se formou. Devido às contingências do espaço,
o contexto econômico e à possível entrega do espaço, decidimos nos desligar da
Aboca.
O. O grupo ainda está ativo? Está vinculado a algum projeto de extensão? Caso não
esteja ativo, voltará?
M. Tivemos uma pausa de um ano e meio, entre 2015 e 2016, mas retornamos no ano
passado com a circulação do espetáculo infantil Flúvio e o Mar. Iniciamos a montagem
de um novo trabalho chamado Burocratas não dançam, com estreia prevista para
julho. Não temos vínculo com nenhum projeto de extensão e não temos nenhum
financiamento seja de ordem pública ou privada. Somos um grupo independente.
artes plásticas e a dança, inclusive nesse novo trabalho temos bastante contato com
a dança.
O. Você atua no grupo como ator também? aliás, cada integrante tem uma função
específica?
M. Nosso repertório: A Mar Aberto, Corte sem Casca, Flúvio e o Mar, Recomendações
a todos, O Cobrador. Temos também algumas esquetes e trabalhos temáticos.
Atualmente temos apenas um espetáculo ativo: Flúvio e o Mar.
Temos planos pra retomar os outros.
M. Tivemos dois projetos de circulação financiados pelo edital Mirian Muniz mas este,
foi extinto após o golpe de 2016. Nunca fomos beneficiados por nenhuma lei de
incentivo ou edital estadual/municipal.
M. Sim, grupo geralmente tem um diretor que é responsável pela estética e decisões
dentro do grupo. Nos coletivos, geralmente, as decisões são tomadas por todos os
integrantes em comum acordo, esse é um formato mais complexo de praticar, mas
pode ser mais justo também.
M. Temos muitos artistas competentes, muita produção acontecendo, mas que pela
falta de estrutura e incentivo não consegue escoar a produção como poderia. Os
gestores públicos ignoram completamente a questão cultural, não compreendem suas
demandas e não conseguem entender que a cultura é peça fundamental na
construção de cidadania, formação de um público consciente. Eles têm uma visão
alegórica da coisa, superficial. Ser artista em Natal é um ato de resistência ou teimosia
mesmo. Natal inviabiliza nossa existência. Meu trabalho é mais conhecido fora do RN
do que aqui.
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2. Ainda foi perguntado sobre como esse grupo contribuiu/contribui para sua
formação?
O grupo que faço parte, o arkhetypos, abriu meus olhos para uma nova forma de se
fazer teatro e de repensar meu corpo. Principalmente sobre as questões de respeitar
as diferenças entre várias pessoas diferentes. (Allan Phillype, Grupo Arkhetypos)
Significa oportunidade. Significa ter esperança de que você pode vencer na vida
fazendo teatro (Allan Phillype, Grupo Arkhetypos).
Participar do grupo foi um despertar, mesmo que eu não tivesse seguido na profissão,
a possibilidade de olhar fora da bolha faz toda a diferença em nossa vida profissional
(Anna Celina, Cia GABOTUN).
O grupo é importante por vários motivos, como já comentei nas questões anteriores.
Bom, vários grupos surgiram na universidade, como teatro oficina no Curso de Direito,
vários grupos tiveram suas manifestações dentro da universidade, ou foram formados
nela, enfim. Isso é importante. O grupo na universidade tem caráter experimental,
estudando teatro, praticando-o. Agora quando o grupo torna-se profissional ele acaba
seguindo um caminho fora da universidade, mas, claro, o grupo tem a possibilidade
de crescer dentro da mesma através dos laboratórios, dos experimentos, onde
estudantes pesquisam, leem, praticam e quando isso funciona esses grupos tendem
a continuar fora da universidade (Hélio Junior, Cia GABOTUN).