Você está na página 1de 4

26/04/2020

A ACADEMIA DE DEUS
Mateus 4:16
O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte
resplandeceu-lhes a luz. (ARA)

Nada pode ser mais importante do que manter uma vida com propósito em meio às adversidades e ao
caos. Vivemos em um mundo que jaz do maligno e todos procuramos formas de manter-nos longe da
escuridão. Ainda assim, luzes que nos iluminam, como a saúde, o amor, a suficiência, a família podem se apagar
e em meio a dor precisaremos de um raio de luz.

As formas de sofrimento nos são reveladas na cosmovisão bíblica, no entanto a Bíblia também nos
revela uma infinidade de recursos para encontrarmos esse raio de luz enquanto passamos pela dor.

O ser humano busca sentido em tudo, inclusive para a dor e o sofrimento. Todas as culturas oferecem
uma explicação que dá significado aos flagelos e experiências trágicas, através de religiões, filosofia ou pela
falta destas.

Quando o sofrimento é considerado apenas acaso, sem que haja nenhuma explicação, quem sofre
desenvolve uma raiva profunda, chamada de ressentimento por Nietzsche, o que leva a uma grave
instabilidade social. Por isso a sociedade precisa de um “manual” para encontrar sentido na dor e como reagir
frente a ela.

Hebreus 12:11
Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois,
entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. (ARA)

O livro de Hebreus foi escrito para um grupo de cristãos que estavam passando por dificuldades e
provações. Eles tinham motivos para perder a esperança e se preocupar.

A disciplina neste texto, não foi descrita como exortação, mas com sentido do sofrimento que ocorre
quando se faz exercício físico. O autor afirma que a disciplina produz fruto de justiça.

No contexto, o termo grego utilizado é gymnasion, que origina a palavra ginásio e o significado literal
é despido ou treinar nu, porque na Grécia antiga os atletas se despiam da maior parte das suas roupas para
treinar. Historicamente, o ginásio era um local usado para exercício físico e atividades escolares e filosóficas.

Conhecendo o ginásio como um local de aprendizagem, de desenvolvimento físico e intelectual, os


hebreus, para quem essa carta foi destinada, entenderam o sentido total do sofrimento proveniente dos
exercícios, com o objetivo de fortalecer o que está fraco e melhorar o que está forte.

Deus exercita e fortalece a nossa musculatura espiritual por meio do sofrimento, da mesma forma que
sofremos quando treinamos na academia para fortalecer os músculos do nosso corpo.

O termo no pain, no gain (sem dor, sem ganho) usada pelas pessoas que fazem exercício físico também
faz sentido no mundo espiritual. Se não houver esforço, não vai haver crescimento espiritual.

Segundo a Bíblia, há benefícios no sofrimento. Mas porque é tão difícil encarar o sofrimento como algo
positivo? A influência da cultura deste mundo é uma das grandes razões pela qual não aceitamos o sofrimento,
porque na filosofia deste século, o mundo físico é tudo o que existe e o sentido da vida é a satisfação pessoal.
Neste sentido o sofrimento é considerado uma interrupção do nosso bem-estar, não sendo uma parte
importante da vida. Assim, temos que evitá-lo o máximo possível. Então quando a tristeza não pode ser
minimizada as pessoas procuram entorpecentes religiosos e farmacêuticos.

Por não saber lidar com o sofrimento, essa geração é a que utiliza mais drogas antidepressivas na
história! Fomos condicionados a atribuir valor somente à matéria, colocando o sentido da vida na satisfação e
conforto pessoal.

O sofrimento é o vilão que coloca nosso bem-estar em risco. Hoje, vivemos em busca da felicidade e o
sofrimento destrói nossa razão de viver, porque nosso alicerce é construído frágil demais.

Viver com sentido é saber que a vida espera algo de nós. O sentido dessa vida só é encontrado quando
existe algo mais importante que a nossa felicidade. Algo pelo qual poderíamos sacrificar nossa satisfação
pessoal.

Devido ao avanço da ciência e da tecnologia, nossa geração é mais abalada pelo sofrimento do que as
gerações passadas, quando os pais viam seus filhos morrerem na infância dentro de casa, um nível de
sofrimento inimaginável. Nossos bisavós e avós tiveram que enfrentar lutas, perdas e recomeços e não
entenderiam por que desanimamos tão facilmente.

Na história da igreja há registros de grandes dores e sofrimentos, estes davam base para que os
ensinamentos do cristianismo dessem sentido ao sofrimento.

Cipriano relatou que nas diversas pragas, os cristãos não abandonavam os enfermos, enfrentando a
morte com serenidade, ao contrário dos pagãos. Policarpo enfatizou a calma dos cristãos em frente à tortura
por causa da sua fé. Eles eram conduzidos para a morte adorando a Deus, prontos para morrer para a glória
de Deus.

O sofrimento era usado como prova da superioridade da fé, da crença em Cristo, porque eles se
demonstravam mais tranquilos em frente à dor do que os incrédulos.

O objetivo da filosofia para os gregos era ajudar a encarar o sofrimento e a morte. Os escritos da
época da igreja primitiva mostram que os cristãos encaravam a morte de uma forma melhor, por causa da
perspectiva eterna.

Romanos 8:18
Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados
com a glória a ser revelada em nós. (ARA)

2 Coríntios 4:17-18
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que
se veem são temporais, e as que se não veem são eternas. (ARA)

A convicção de viver a eternidade com Deus determinava a forma como lidavam com as aflições e
assim devemos proceder com os sofrimentos que passamos, mantendo nossos olhos no que é eterno e não
nas coisas que são temporais.

Com base nesses textos podemos entender o propósito do sofrimento. Nossos valores precisam ser
eternos, sair do campo material para o espiritual. Precisamos buscar recompensas eternas e não as efêmeras.
O apóstolo João apresenta Jesus usando um dos principais temas da filosofia: o Verbo (João 1:1). No
princípio de todas as coisas já havia o logos, já existia a Palavra e esta se fez carne e habitou entre nós, e
pudemos ver a Sua glória (João 1:14).

2
João apresenta Jesus como o sentido da vida que sustenta o universo, porém Ele não era algo abstrato,
mas era uma pessoa. Jesus Cristo pode ser conhecido por qualquer ser humano e, com Ele, podemos ter
relacionamento pessoal.

A consolação ampla para o sofrimento e perdas é mais uma grande diferença entre a filosofia grega e
o cristianismo. Para o cristão lágrimas e clamores não são sinal de fraqueza, mas são expressões naturais e
benéficas.

Paulo ensinou os cristãos a superarem o sofrimento pela fé, inclusive a dor da morte de alguém amado.

1 Tessalonicenses 4:13-14
Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos
entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e
ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. (ARA)

“Os que dormem” é usado como uma figura de linguagem para a morte.

Podemos nos entristecer quando perdemos alguém, mas não precisamos nos desesperar, porque
cremos que até a morte tem solução.

O sofrimento cumpre o objetivo de fortalecer e treinar o homem. Jesus sofreu na Terra como parte do
plano de Deus, tanto o sofrimento da crucificação como o jejum de 40 dias no deserto. Moisés, Jacó, José e
Davi também passaram por anos de sofrimento antes de se tornarem grandes homens da Bíblia, porque
precisavam ser preparados para o propósito que deveriam cumprir.

Nós fazemos planos, mas a última palavra vem do Deus eterno (Provérbios 16:1). Deus tem um plano
maior para nós, então mesmo a calamidade que não fazia parte do plano original de Deus é inserida em um
plano sábio e perfeito.

Temos uma fonte de segurança incomparável sabendo que todas as coisas colaboram para o bem
daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28). Tanto o bem quanto o mal contribuem para o nosso bem, porque
amamos a Deus.

Deus usa o sofrimento para eliminar as nossas fraquezas e para nos fortalecer. Qual seria o
posicionamento da igreja se a perseguição por causa de Jesus começasse hoje?

2 Coríntios 12:10
Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias,
por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. (ARA)

Temos que nos preparar com todo sofrimento que Deus nos permite passar. Temos que
compreender o processo, assim como os apóstolos, indo até o fim sem renunciar a nossa fé.

Somos transformados pelo sofrimento, nos tornando pessoas melhores. Não podemos pensar que
por seguirmos Jesus tudo será maravilhoso; pelo contrário, vamos viver guerras e sofrer, mas sabemos que
Ele está ao nosso lado e propósitos do céu estão se cumprindo.

Ao sofrermos nos tornamos mais parecidos com Jesus, porque somos humilhados, nos afastando do
orgulho e percebemos o quão frágil somos e a ilusão de que possuímos controle sobre nossas vidas é
destruída. Passamos a compreender que sempre fomos dependentes de Deus.

3
O sofrimento traz à tona o que há de pior em nós e nos conduz a um auto exame. Vemos a nossa
falta de fé, orgulho, prepotência, altivez, rebelião, insensibilidade e tantas outras falhas de caráter. Somos
libertos da negação do que verdadeiramente somos e reavaliamos o que realmente importa.

Nós permitimos que muitas coisas se tornem mais importantes do que deveriam. A intensidade do
nosso sofrimento está ligada ao valor excessivo que damos às coisas como status, dinheiro, reputação,
realizações, entre outras coisas que hoje são consideradas importantes, mas possuem nenhum valor eterno.

Precisamos usar os revezes para investirmos mais da nossa esperança em Deus e mais do nosso
tempo com nossa família e com os próximos, porque o que importa no final é o quanto amamos. Não
levaremos nada material, mas somente a nossa capacidade de amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos.

O sofrimento muda o relacionamento do homem com Deus. Na prosperidade escutamos um


sussurro de Deus, mas quando sofremos O escutamos gritando. Temos a oportunidade de desenvolvermos
intimidade com Deus.

Quando tudo vai bem, não sabemos se amamos à Deus ou às coisas que Ele nos proporciona. E
quando há necessidade o Senhor coloca em xeque o nosso relacionamento com Ele.

Se nos agarramos a Deus nos nossos momentos de dor, de medo e de ansiedade nós alcançaremos
amor, alegria e paz como nunca experimentamos.

Aprendemos a servir o próximo quando passamos por sofrimento, porque nos identificamos com a
dor do outro depois que passamos pela mesma adversidade. Aprendemos a ser misericordiosos e como
exerceremos nossa função no Reino.

2 Coríntios 1:3-4
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda
consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que
estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por
Deus. (ARA)

Porque somos consolados por Deus, podemos consolar os outros. No sofrimento compreendemos a
graça de Deus. E aqueles a quem consolamos poderão consolar outros.

Jesus se despojou da Sua glória, sofreu tudo que um ser humano pode sofrer para nos ensinar que no
mundo nós teríamos aflições, mas que deveríamos ter bom ânimo, porque Ele venceu (João 16:33)!.

Ele se identifica com a nossa dor e tem compaixão de nós e nos ajuda a vencer. Naquilo que pela fé
enfrentamos e vencemos somos transformados em quem Deus quer que sejamos.

Muitas pessoas recorrem ao espiritual para entender e para suportar o sofrimento. E quando
encontram Deus, se encontram também. Pela fé deixamos de ser o problema para nos tornarmos solução!

Deus Abençoe
Ap. Rina

Você também pode gostar