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Universidade Federal do Paraná

Metodologia de Pesquisa – Felipe Cardoso de Mello Prando

Ana Julia de Oliveira- Artes Visuais (Bacharelado)

Fichamento do capítulo “Usos da Fotografia, para Susan Sontag” do livro “Para Entender uma
Fotografia” de John Berger.

Em texto intitulado “Usos da Fotografia”, presente no livro “Para Entender uma Fotografia” (2013),
enquanto dialoga com capítulos presentes no livro ‘Sobre Fotografia’ e redigidos por Susan Sontag, o
autor John Berger reflete acerca das abordagens que a fotografia consegue se inserir (como no meio
público e privado) e o poder que a mesma exerce sobre a sociedade.

Inicialmente, Berger discute sobre a criação da câmera fotográfica, e como a fotografia, ligada ao
avanço do capitalismo na Revolução Industrial, passou a ser utilizada com diversas propostas (como
relatos de guerra, reconhecimento militar, pornografia, álbuns de família e outros). Porém, foi com o
fim da Segunda Guerra Mundial que a fotografia realmente ganhou força e poder sobre a sociedade,
tornando-se um meio de retratar a realidade. Segundo Berger, essa abordagem foi substituída pela
propaganda capitalista.

A fotografia na sociedade moderna, aliada à publicidade, ao fotojornalismo e às câmeras portáteis,


se tornou cada vez mais cotidiana e enraizada na dinâmica da sociedade. Citando a primeira revista
publicitária intitulada “Live” (vida, em inglês), Berger afirma que com o desenvolvimento da
propaganda, a fotografia parou de retratar a vida para se tornar, de fato, a própria vida. A fotografia
passou a representar as memórias dos observadores da imagem. Porém, o autor ressalta que as
imagens, diferentemente da própria memória, não estão carregadas de significado e sentimentos,
pois quem produz o significado para a imagem é o próprio espectador.

Berger disserta sobre dois usos da fotografia: o público e o privado. O uso privado da fotografia,
como no retrato de uma mãe e sua filha, é carregado de significado para aqueles que vivenciaram o
momento fotografado, contribuindo para a permanência da memória viva. Já o uso público da
fotografia, contribui para o surgimento de uma memória vazia de contexto, o qual é preenchido de
diversas formas dependendo do observador. A fotografia, nesse meio, pode ser entendida até como
o olhar divino, onde a câmera substitui o olhar de Deus, tendo em vista que ascensão da fotografia é
simultânea ao declínio da religião. E como o olhar divino é carregado de poder e justiça, assim
também se fez a fotografia que se tornou um meio de julgar, em que a retratação do momento se
converteu em redenção, e a falta da memória (o esquecimento) se converteu em condenação. Tal
olhar divino, segundo Berger e definido por Sontag, é o olhar do capitalismo monopolista.

Por fim, Berger propõe um novo uso para a fotografia, longe dos mecanismos publicitários e do
olhar capitalista, onde o meio público e o meio privado não se misturam, até que esses meios
fossem transcendidos. Para esse uso, seria necessário que aqueles que vivenciaram as memórias
retratadas assumissem o passado, para que as fotografias continuem a existir no tempo. A fotografia
precisaria ser carregada não de um contexto qualquer, mas de um contexto que se relacione com o
agora. A fotografia não deve se tornar posse de apenas uma abordagem (como a capitalista), mas
sim se irradiar em diversos meios, sejam eles políticos, econômicos, pessoais, dramáticos,
cotidianos, e até históricos.

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