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Nome: Luís Eduardo Carneiro das Mercês

Data: 08/04/2022
Docente: Rodrigo Rossoni
Texto: O Ato Fotográfico - Da Verossimilhança ao Índice

A Fotografia como Espelho do Real

O momento em que essa linha de pensamento estava sendo desenvolvida o mundo


estava sacudindo e o uso da fotografia em ascensão, em vários cantos do mundo
estava tendo guerras, inclusive duas importantíssimas para a história da fotografia, a
Guerra da Criméia em 1854 e a Guerra Civil Americana em 1861, que viriam ser uma
das primeiras a terem suas coberturas jornalística. Sendo assim, querendo ou não
essas teorias foram de suma importância para o que estava acontecendo,
principalmente para o entendimento da sociedade sobre o que eles viriam ver, tanto
pelas matérias jornalísticas quanto pelos produtos amadores para uso doméstico ou
profissional.

Enfim, as ideias postas nesse período eram voltadas para a fotografia como um
retrato verídico da realidade (o mimetismo), até então inquestionável. Em sua grande
maioria, os pesquisadores acreditavam que não havia distorção do real do que era
feito pelas máquinas fotográfica, isto porque não havia a intervenção do homem (visto
que somos falhos e nossa visão além que cada um tem suas percepções ‘’únicas’’).
Esse procedimento mecânico se dizia ser o processo ‘’natural’’.

Um dos principais críticos é o Charles Baudelaire, a princípio pode parecer que ele
era contra a fotografia, visto que em uma das primeiras citações do texto ele faz uma
denúncia sobre o quanto a sociedade se deixou levar por essa ‘’imagem trivial no
metal’’, colocando-a como ‘’uma loucura, um fanatismo extraordinário que se
apoderou de todos esses novos adoradores do sol’’. Entretanto, ele apoia o uso da
fotografia, ele apenas não queria que a mesma crescesse tanto ao ponto de substituir
a arte (pintura), desejando que as duas coexistissem. Ademais, assim como o Jean
François Chévrier, eles tinham uma visão sobre o quão o homem deixou de ser o
principal objeto a fazer a fotografia para o quanto ele se tornou apenas um assistente
da mesma, em que nesse século XIX uma grande parcela dos artistas estava indo
contra esse crescimento da indústria técnica da arte, em razão dessa nova
modalidade de impressão fotográfica que estava ‘’substituindo’’ a pintura.
Conjuntamente como esse mesmo viés de Baudelaire e Chévrier, o Hippolyte Taine
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Data: 08/04/2022
Docente: Rodrigo Rossoni
Texto: O Ato Fotográfico - Da Verossimilhança ao Índice

além de apoiar o uso da fotografia, ainda dizia que ela era ‘’um instrumento útil à arte
pictural.

Importante ressaltar que neste mesmo momento, haviam outros pensamentos em


que suas preocupações eram muito mais com a fidelidade da fotografia do que a
técnica ou modo que ela viria ser produzida, em detrimento disso eles estavam muito
mais otimistas que o Baudelaire em relação a esse novo modelo de fotografia. Em que
a mesma estava começando a ter uma função de documento e que ‘’sem duvidas’’
traria mais confiança para a sociedade do que a pintura. Um dos contemporâneos que
comenta sobre isso é o Walter Benjamin, que a priori diz que a verdadeira vítima da
fotografia não foi a pintura de paisagem, mas sim o retrato em miniatura, e que a partir
de tal período a esmagadora maioria dos miniaturistas migraram para o ramo da
fotografia profissional. Neste mesmo momento, se tinha um pensamento mais
libertador sobre o pictorialismo, em que o artista teria uma liberdade para criar o que
ele quisesse, sem se limitar a práxis ou a real. André Bazin e Picasso inclusive
discorrem sobre como os artistas não deveriam ficar mais presos a esse compromisso
de entregar veracidade; a semelhança do real, e partir para o imaginário; visto que
essa responsabilidade agora seria da fotografia.

Com o uso recorrente da fotografia para a fotojornalismo, era requisitado mais


qualidade das câmeras fotografias, portanto, houve uma onda de pesquisas para
melhorar o desempenho das maquinas, com o objetivo de estar o mais próximo
possível da realidade, do mimetismo. Eis então que tivemos uma invenção que nos
possibilitaria entrar na imensidão que uma fotografia podia proporcionar, a do
Estereoscópio, graças aos desenhos do Charles Wheaststone. Descrevendo essa
imensidão de maneira até mesmo poética, o Wendell Holmes nos fala do quão real a
fotografia era em comparação com a pintura, em suas palavras ‘’ O espirito avança no
próprio interior da profundidade da imagem. Os galhos nus de uma árvore no primeiro
plano sobressaem em nossa direção como se quisessem arrancar-nos os olhos [...]’’.

Há alguns comentários do André Bazin e do Roland Barthes, contudo, não irei me


aprofundar para o texto não ficar mais longo do que já está. Em que eles basicamente
questionavam sobre esse mimetismo que a fotografia se dizia fazer. Barthes se
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Data: 08/04/2022
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questionava qual era o conteúdo da mensagem, e que propriamente era o real,


sobretudo, essa imagem não trazia cem por cento de realidade, havia falhas. E que
por detrás da imagem sempre havia um objetivo, que era a passagem de uma
mensagem. Objetivo esse que hoje em dia é extremamente usado, tanto na fotografia
jornalística quanto na artística, tanto para informar quanto para sensibilizar.
Finalizando esse tópico, está mensagem teria grande apoio da semiótica, que será
bastante discutida nas próximas teorias.

A fotografia como transformação do real

Com o passar do tempo era inevitável que chegasse este momento, o de


questionamento. O século XX talvez tenha sido o período em que tivemos as maiores
resistências e atitudes revolucionarias em todo o globo. Diversas revoltas e greves no
Brasil, a Revolução Russa, a Marcha sobre Roma na Itália. Não seria diferente no
âmbito da fotografia.

Lady Elizabeth Eastlake, ela basicamente nos diz que por mais perto que a
fotografia esteja da realidade, ainda lhe falta muitas coisas, ela não consegue captar
tudo que há no ambiente. Sendo justamente esse o contraponto que os pensadores
dessa da época vão ter. Até que ponto a fotografia nos traz a realidade? Se tratando
tanto tecnicamente quanto na ética humana, tendo em vista que as máquinas e o
operador da dela podem falhar, sem contar que pode haver uma manipulação por
parte dele. Por parte da técnica, ela cita sobre a questão das sombras e luzes, o preto
e o branco, - que em síntese, é pouca coisa para atender ao que corresponde toda a
realidade. Se tratando da manipulação, creio que qualquer pessoa hoje em dia que
tenha estudado o mínimo tenha noção de que nós humanos somos ‘’canalhas’’, e
fazemos isso facilmente em prol de nossos objetivos. Peguemos como exemplo
eventos históricos em que nos fazem crer numa suposta verdade, principalmente no
campo político.

Citarei duas pessoas que são todos conhecem, Hitler e Stalin que usaram muito
dessa manipulação:
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Data: 08/04/2022
Docente: Rodrigo Rossoni
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Nesta primeira foto acima tirada em 1930, Stalin ordenou que esse homem a sua
esquerda fosse retirado do retrato, isto porque ele era um comissário com quem Stalin
se desentendeu.

Já na fotografia abaixo tirada em 1937, temos Hitler acompanhado de Joseph


Goebbels, responsável pela propaganda nazista da época. Que na manipulação foi
removido por ter tido um desentendimento com Hitler.

Espero que tenha ficado claro os exemplos, sendo assim voltarei ao texto. Outro
teórico que apontou críticas quanto a verossimilhança das fotografias foi o Rudolf
Arnheim. Ele foca mais na técnica, fala sobre: questões de ângulo da câmera, a
distância, o enquadramento, as cores e os efeitos que tudo isto ira causar na
fotografia, que para ele fugia da ideia do mimetismo de se espelhar na realidade. Onde
Nome: Luís Eduardo Carneiro das Mercês
Data: 08/04/2022
Docente: Rodrigo Rossoni
Texto: O Ato Fotográfico - Da Verossimilhança ao Índice

ele a coloca na verdade como uma, ‘’Cópia Mecânica da Natureza’’. Sua real
preocupação era com a qualidade mecânica e não como era o processo para a
realização da fotografia.

Hubert Damisch e Pierre Bourdieu apesar de terem perspectivas diferentes, ambos


insistem no fato de que a câmera escura não é neutra e inocente, mas que a
concepção de espaço que ela implica é convencional e guiada pelos princípios da
perspectiva renascentista. Ou seja, não há o ‘’surgiu do nada’’, todo processo da
fotografia desde a câmera escura foi ‘’pensado’’, sempre houve um propósito, não foi
por acaso.

Este aqui foi um das problemáticas que achei mais interessante, a de Alain Bergala.
Em que ele coloca em voga a questão da encenação nas fotos, onde ele critica esse
controle sobre como a foto irá sair para levar as pessoas a entenderem uma ideia
previamente pensada, que normalmente tem o objetivo de criar um sentimentalismo
coletivo para quem as vê. Em alguns casos bem utilizadas em outros nem tanto. Para
ele é um erro do fotografo deixar que sejam levantadas suspeitas quanto a veracidade
do acontecimento.

Por fim, Alan Sekulla. Ele basicamente começa a introduzir no campo da semiótica,
ao menos é o eu me levei a crer após a leitura que eu fiz. Sekulla ele fala sobre a
questão de cultura e mensagem. Onde o entendimento da foto varia de acordo com
cada cultura e a mensagem que cada pessoa irá interpretar. A aqui uma comunicação
entre a imagem e seu espectador, o que uma foto pode significar para mim, não é
necessariamente a mesma coisa que vai significar para você, - sendo que podemos
nem mesmo entender o que a fotografia representa. É onde ele coloca a fotografia
como um dispositivo codificado culturalmente.

A fotografia como traço de um real

Não vou mentir que foi um pouco complicado está parte, muito por eu estar cansado
e o assunto ser realmente problemático. Porém, foi muito menos difícil graças a
matéria de semiótica que estou tendo. E nesse tópico é onde ela está quase que 100%
presente. Vamos lá, espero conseguir discorrer sobre.
Nome: Luís Eduardo Carneiro das Mercês
Data: 08/04/2022
Docente: Rodrigo Rossoni
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Antes de eu partir para os questionamentos dos pensadores vou conceituar


algumas coisas que são mencionadas frequentemente por eles. Primeiro o conceito
de signo, se referindo ao criado por Charles Sanders Pierce. Onde em síntese, signo
seria algo que representa uma outra coisa, ok? Por exemplo, se você (interpretante)
ver uma bola (objeto) provavelmente você irá associa-la a futebol (signo), isto viria a
ser a trindade do signo. Para Pierce existem três tipo de signos:

O Ícone seria a primeira impressão que você tem do objeto; seu formato; suas
cores; que viria a ser o Quali-signo, onde ele é baseado apenas na sua pura qualidade.
É sua percepção.

O Índice é o material em si; a sua existência; todo existente é um índice. Ele tem
uma relação de semelhança com o objeto, ele é indicial. Classificado como ‘’Sin-
signo'’.

Por fim, o símbolo que fala por sim mesmo. São as marcas, já parte de uma
legitimação social. É algo que se dá contemplação. A Cruz por exemplo, é um símbolo
usado pela igreja para simbolizar o credo, o culto, santidade. E é o Legi-signo.

Bem, em resumo ele nos diz que a fotografia a princípio viria a ser índice, em
seguida passaria a ser ícone e por fim símbolo. Aqui o foco voltaria ao referente,
entretanto, sem que aquela ideia do mimetismo que se tinha no primeiro tópico, seria
algo mais consciente por assim dizer. Ele nos diz muito sobre o referente ‘’inteferir’’
na fotografia, como eu coloquei entre aspas, esse interferir não é de maneira negativa,
é mais por ele não conseguir fugir do estar presente no material (foto), entende?
Querendo ou não, ele vai passar seus sentimentos para a obra. Como é dito no texto,
o único momento em que ele não interfere é na hora do ‘’click’’, essa parte fica com a
máquina, tirando isso, não há fuga para o referente.

Sem dúvidas o Barthes contribuiu e muito parece esse pensamento, apesar dos
seus tropeços. É ele que nos faz questão de lembrar do quanto o referente está ligado
ao ato fotográfico.
Nome: Luís Eduardo Carneiro das Mercês
Data: 08/04/2022
Docente: Rodrigo Rossoni
Texto: O Ato Fotográfico - Da Verossimilhança ao Índice

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