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Introdução à arquitetura – organização do

espaço e circulação

Apresentação
Um projeto de arquitetura é uma proposta que engloba a elaboração de diferentes espaços, com
suas próprias características, organizados e conectados para servirem a uma função específica.
Tanto esses espaços como suas formas e seus posicionamentos podem ser pensados por meio das
mais variadas combinações. E são essas combinações que vão definir as circulações e os fluxos da
edificação, bem como seu total funcionamento.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai diferenciar as variadas conformações entre dois
espaços, compreendendo suas relações e organizações. Você também será capaz de comparar
possibilidades e maneiras de organizar os espaços em um projeto, entendendo suas características
e identificando os principais componentes que têm função de circulação em uma edificação.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Diferenciar as relações espaciais entre dois espaços.


• Comparar as formas de organização dos espaços.
• Identificar os principais componentes de um sistema de circulação de uma edificação.
Desafio
A organização e a distribuição dos espaços são elementos fundamentais na concepção de uma boa
arquitetura. A exemplo disso, o Museu Mercedes-Benz, projetado em Stuttgart, na Alemanha
(2006), apresenta uma geometria sofisticada que sintetiza a organização de espaços complexos,
que são os museus.

O museu foi inspirado em um trevo de três folhas e tem seus espaços de exposições distribuídos
em superfícies que sobem do nível do térreo até o nível da cobertura. As trajetórias têm percursos
distintos e se fundem, alternando entre o centro e o perímetro da edificação. A forma curiosa da
edificação, contida dentro de um suave fechamento triangular, é derivada de sua organização
centralizada muito original.

Com base nessas características e nas imagens dos espaços e das plantas, comente os tópicos a
seguir:

Veja também as imagens mais detalhadas:


Clique aqui
Infográfico
As edificações em arquitetura, na maioria das vezes, consistem na junção de dois ou mais espaços,
que são pensados e projetados para atender à função específica de cada obra. Esses espaços
devem ser conectados uns aos outros de maneira a garantir o pleno funcionamento da proposta,
permitindo o aproveitamento dos espaços e possibilitando fluxos e circulações.

Neste Infográfico, veja algumas possibilidades de relações e conexões entre dois ou mais espaços,
compreendendo seus conceitos e suas formas.
Conteúdo do livro
Saber fazer arquitetura depende do conhecimento sobre diferentes temas e o estudo sobre a
organização espacial. Entender as funções dos espaços, saber locá-los adequadamente em uma
planta baixa e estabelecer as relações entre eles garante que aquelas edificações ou aqueles
ambientes sejam funcionais e atendam aos seus usos especificos.

No Capítulo Introdução à arquitetura - organização do espaço e circulação, base teórica desta


Unidade de Aprendizagem, você será capaz de diferenciar as relações espaciais entre dois espaços,
comprando diferentes formas de organização. Ainda, você poderá identificar os componentes de
um sistema de circulação de uma edificação.

Boa leitura.
ARQUITETURA
E URBANISMO
Introdução à
arquitetura –
organização do
espaço e circulação
Vanessa Guerini Scopel

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Diferenciar as relações espaciais entre dois espaços.


> Comparar as formas de organização dos espaços.
> Identificar os principais componentes de um sistema de circulação de
uma edificação.

Introdução
O trabalho dos arquitetos envolve propostas de uma edificação em três di-
mensões, com volumetria, revestimentos, iluminação e vegetação. Além disso,
a atividade de projetar passa por diversas outras etapas para chegar a edifica-
ções funcionais. Um dos grandes conhecimentos que se deve adquirir ao estudar
arquitetura é a organização espacial, porque é com a locação dos espaços e
suas conexões que muitos elementos da futura edificação serão definidos.
Há uma infinidade de conformações e combinações que geram diferentes
plantas baixas e, no final, acabam determinando as características de cada
ambiente.
2 Introdução à arquitetura – organização do espaço e circulação

Neste capítulo, você vai estudar as diferenças das relações espaciais entre
dois ambientes, conhecendo seus diferentes tipos. Vai também conferir as
variadas formas de organização dos espaços e os principais componentes de
um sistema de circulação.

Relações espaciais entre dois espaços


Na arquitetura, quando uma edificação é projetada, um dos grandes desafios é
estabelecer uma organização espacial harmoniosa e funcional. Isso porque o
arranjo e a combinação dos espaços de uma edificação podem gerar inúmeros
resultados, e a qualidade da edificação está muito vinculada à forma e às
relações de cada ambiente.
Na realização de um projeto de arquitetura, é fundamental criar maneiras
de reunir as partes de uma edificação, a fim de gerar espaços, padrões e do-
mínios externos. Para juntar dois espaços, é necessário pensar na composição
dos cômodos, como eles ficarão próximos e como implantá-los no terreno
(MOORE; ALLEN; LYNDON, 1974).
De acordo com Corbusier (2006, p. 43), “a boa arquitetura ‘se caminha’ e
‘se percorre’ pelo interior e exterior. É a arquitetura viva”. Para que a arqui-
tetura de fato atinja esse resultado, a forma como os espaços são pensados,
organizados e interligados é um dos pontos mais importantes a ser conside-
rado. A tomada de decisão sobre essa organização vai se traduzir por meio
do conceito, do partido e das estratégias projetuais da proposta. Assim,
evidencia-se ainda mais que uma ideia só será eficiente e considerada boa
se ela conseguir resolver da melhor maneira possível os ambientes, suas
conexões, seus acessos e percursos (TAGLIARI, 2018).
As edificações são compostas por diversos ambientes relacionados entre
si, seja por função, proximidade ou circulação. Além disso, existem alguns
padrões coerentes que podem ser aplicados nos projetos para que se tornem
adequados aos seus objetivos e usos. Confira a seguir quatro modos principais
de relacionar dois espaços (CHING, 2013).

Espaço dentro de outro espaço


Um espaço dentro de outro espaço se refere a um ambiente menor inserido
em um ambiente maior. A continuidade visual entre esses espaços existe,
mas o espaço menor sempre será dependente do espaço maior para ter uma
relação com o espaço externo. A diferença de tamanho entre os dois espaços,
portanto, deve ser nítida.
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Espaços interseccionados
Nos espaços interseccionados, um dos ambientes se sobrepõe, em parte, a
outro, ambos mantendo sua identidade e definição (Figura 1). O resultado
sempre será o surgimento de uma zona que se denomina espaço comparti-
lhado, que pode ser interpretada de diferentes formas: a intersecção pode
pertencer igualmente aos dois espaços, fundir-se com um dos espaços ou
desenvolver sua própria identidade servindo como um espaço de conexão.

Figura 1. Espaços interseccionados.


Fonte: Ching (2013, p. 185, 188).

Espaços adjacentes
Nos espaços adjacentes, dois espaços podem ser contíguos ou estar lado a
lado compartilhando uma porção em comum ou uma área intermediária. É um
dos tipos de organização espacial mais comuns, pois permite que o espaço
seja claramente definido. O grau de continuidade depende da natureza do
plano que conecta e separa os dois espaços ao mesmo tempo. Esse plano
de separação pode limitar o contato entre os dois espaços, ser um plano
livre colocado dentro do espaço, ser definido por colunas (que permitem a
permeabilidade visual) ou ser sugerido apenas por uma mudança de níveis.
Um exemplo de planta baixa que se organiza pelos espaços adjacentes é
a Pinacoteca de São Paulo (Figura 2), que teve seu projeto desenvolvido por
diversos arquitetos, entre eles Paulo Mendes da Rocha. A edificação é um
marco para a cidade, e sua organização é pautada por um espaço central e
espaços adjacentes ao redor dele. Existe a definição desses ambientes, mas
há uma continuidade deles na medida em que a porção central permite a
permeabilidade.
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Figura 2. Planta baixa da Pinacoteca de São Paulo.


Fonte: Kon (2015, documento on-line).

Espaços conectados por um terceiro espaço


Nos espaços conectados por um terceiro espaço, há um terceiro espaço com a
função de conectar os outros dois. A forma e a orientação desse terceiro espaço
podem ser diferentes ou iguais. Esse ambiente intermediário pode assumir
uma forma linear, ser maior e mais dominante ou ser de natureza residual.

Podemos notar que os ambientes não são únicos, mas estabelecem


alguma relação com outro espaço. O tipo e a forma de relação são
definidos pela função e pelo uso dos ambientes, pelo local em que estarão
inseridos e pelo objetivo proposto.
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Formas de organização dos espaços


Para organizar os espaços dentro de uma edificação, o primeiro ponto é saber
que espaços vão compor o projeto, porque esses ambientes variam de acordo
com o tipo de projeto, o cliente e condicionantes externos. As exigências
do programa de necessidades, bem como as dimensões dos ambientes,
proximidades, acessos, visuais e luz, influenciam essa organização espacial.
Além disso, as condições externas do terreno podem limitar determinadas
formas ou facilitar outras composições. A seguir, veremos cinco formas de
organização dos espaços (CHING, 2013).

Organização centralizada
Uma organização centralizada pode ser compreendida como estável. Define-
-se por um espaço central dominante e maior que contém vários espaços
secundários agrupados ao seu redor. Esse espaço central é grande e tem
uma função unificadora. Os espaços secundários podem ter a mesma função,
tamanho e formato, gerando uma configuração regular, ou ser diferentes
nesses aspectos (Figura 3).

San Lorenzo Maggiore


(Basílica de São Lourenço
Maior), Milão, Itália, cerca
Igreja Ideal, Leonardo da Vinci
de 480 d.C.

Figura 3. Organizações centralizadas.


Fonte: Adaptada de Ching (2013).
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Esse tipo de organização é facilmente encontrado em catedrais e basílicas,


pois nessas edificações existe um espaço predominante, em geral, centrali-
zado. Outro exemplo desse tipo de organização é o Taj Mahal (Figura 4). Nessa
edificação, é possível compreender que existe um espaço central não somente
pela planta baixa, mas também pelo destaque dessa porção na fachada.

Figura 4. Fachada do Taj Mahal.


Fonte: Taj Mahal Virtual Tour (2011, documento on-line).

Organização linear
A organização linear pode se referir a vários espaços, diferentes em forma,
tamanho e função, organizados por um espaço linear (Figura 6), ou se referir
a espaços parecidos nesses aspectos. A lateral desses espaços, indepen-
dentemente de terem as mesmas características ou não, é voltada para fora.
Espaços mais importantes podem ser posicionados em qualquer parte da
sua sequência. Esse tipo de organização está relacionado à percepção de
direção e movimento.
Um exemplo desse tipo de organização de ambientes é a Unidade de
Habitação de Marselha, edificação famosa de Le Corbusier. O arquiteto foi
convidado para propor um conjunto habitacional na França para realocar as
pessoas após os atentados da Segunda Guerra Mundial. A edificação tem
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capacidade para 1,6 mil moradores. Sabendo dessa demanda, o arquiteto


organizou a edificação para que as unidades ficassem lado a lado, sendo
interligadas pelo extenso corredor (Figura 5).

Figura 5. Unidade de Habitação de Marselha (planta baixa e corredor).


Fonte: Vriendt (2016, documento on-line).

Organização radial
A organização radial é uma forma combinada entre a organização centralizada
e a radial. Refere-se a um espaço central dominante e outras organizações li-
neares que se configuram em formato radial. Está voltada para a parte externa
(diferente da organização centralizada). O espaço central normalmente tem
uma forma mais regular. Já os braços de caráter linear podem se configurar
de maneira diferente, considerando o contexto e a função.

Organização aglomerada
A organização aglomerada consiste na proximidade física entre os espaços
(Figura 6). Pode ser composta por espaços diferentes em forma, função e
tamanho, mas que tenham uma proximidade. Essa organização é bastante
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flexível, podendo ser alterada com facilidade. É ordenada por um ponto de-
terminado, um acesso, uma circulação ou algum outro elemento importante
que determina o início.

Aglomerados em relação Agrupados ao longo ... ou de um circuito fechado


à entrada de uma circulação...

Padrão centralizado Padrão aglomerado Padrão de elementos


contidos em um espaço

Configuração axiais Configuração axial Configuração simétrica


múltiplas

Figura 6. Organização aglomerada.


Fonte: Adaptada de Ching (2013).
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Organização em malha
Já a organização em malha caracteriza-se por ambientes relacionados entre
si por meio de um padrão. É criada uma malha com duas séries de retas para-
lelas (normalmente perpendiculares). Como nesse tipo de organização há um
padrão em suas intersecções, ficam evidentes a regularidade e a continuidade.
Uma edificação que pode ser um exemplo desse tipo de organização é
o Museu de Arte Kimbell (Figura 7), de autoria de Louis Kam, nos Estados
Unidos. Por meio da planta, é possível perceber que a edificação é dividida
em três partes, sendo uma central e duas laterais. A malha e a regularidade
da organização podem ser facilmente identificadas pela posição dos pilares.

Figura 7. Organização em malha do Museu de Arte Kimbell.


Fonte: Fracalossi (2013, documento on-line).
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Uma malha tridimensional consiste em módulos espaciais repetitivos.


Esses módulos podem ser subtraídos, adicionados ou sobrepostos
sem afetar a identidade da malha como uma estrutura de organização dos
espaços. As manipulações na forma podem ser utilizadas para adaptar uma
malha ao seu terreno, definir uma entrada ou um espaço externo ou permitir o
crescimento e a expansão da malha. Portanto, não é uma organização rígida, já
que dentro dessa malha inicial é possível variar formato, tamanho e posições
(CHING, 2013).

A organização espacial dos ambientes de um projeto está relacionada aos


tipos de ambiente, suas quantidades e importância dentro de um programa
de necessidades. Cada forma de organização apresenta suas características,
sendo o profissional arquiteto o responsável por propor a melhor organização
para cada caso.

Composição do sistema de circulação


da edificação
O projeto das edificações depende do tipo de ambiente, sua capacidade e sua
organização final para que se tornem adequados à edificação em questão.
Existem os mais variados tipos de espaços, o que influencia o resultado das
plantas baixas. As pessoas devem conseguir, de forma adequada e segura,
acessar as edificações a partir do passeio público ou de algum estacionamento.
Nesse sentido os espaços de circulação são pensados no projeto de acordo
com essa função (BUXTON, 2017).
Os espaços de circulação é que são os responsáveis pelo fluxo e pelo
acesso aos ambientes da construção e podem ser compreendidos como
corredores, pontes, passarelas, escadas, rampas, etc. (TAGLIARI, 2018). Embora
as edificações não saiam do lugar, as pessoas precisam se deslocar entre
elas. A circulação é o movimento pelos espaços da edificação, que ocorre por
meio de linhas perceptivas conectando suas partes. Dependendo da função
da edificação, são definidos o projeto de acesso, entrada, configuração do
percurso, relação entre o percurso e os espaços, bem como sua forma (BUX-
TON, 2017; CHING, 2013).
O acesso é uma área anterior à porta de entrada, que direciona o usuário
para entrar na edificação. Tem infinitas conformações, podendo ser frontal,
oblíquo ou espiral. A entrada determina o ponto em que o usuário está em
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outro espaço. Essa determinação pode ser sutil, como uma mudança de nível,
uma porção entre duas colunas ou um pórtico, ou mais evidente, como uma
abertura num muro ou numa parede. O mais importante é que haja essa
definição e que ela fique clara para os usuários (CHING, 2013).
A configuração do percurso está relacionada ao desenho da circulação,
ao ponto de partida e ao destino a que se pretende chegar dentro das edifi-
cações. A configuração da circulação vai determinar o padrão organizacional
dos espaços. O desenho de uma circulação pode ser linear, radial, espiral,
em grelha, em rede ou composto, quando há combinação de mais de um tipo
de desenho (CHING, 2013).
Como a circulação é a maneira de acessar os ambientes de uma edificação,
ela está relacionada a esses espaços e pode se conectar a eles de diferentes
maneiras. Confira algumas delas a seguir (CHING, 2013).

„ Circulação ao lado dos espaços: a integridade de cada ambiente é


preservada, e a circulação se caracteriza por ser mais flexível (Figura 8).
Há ainda a possibilidade de utilizar espaços intermediários para ligar
a circulação aos demais ambientes.

Figura 8. Circulação que passa ao lado dos espaços.


Fonte: Ching (2013, p. 278).

„ Circulação pelos espaços: a circulação cruza os ambientes, passando


por dentro deles, formando áreas de repouso e de movimento (Figura 9).
Um exemplo famoso deste tipo de circulação é o Museu Guggenheim, em
Nova York. Nesse clássico da arquitetura, a circulação é o ponto prin-
cipal, sendo ela a responsável pela forma da edificação. As pessoas
passam pelos espaços, não havendo uma separação.
12 Introdução à arquitetura – organização do espaço e circulação

Figura 9. Museu Guggenheim, em Nova York.


Fonte: Perez (2016, documento on-line).

„ Circulação que termina em um espaço: a localização do espaço deter-


mina a circulação.

Os espaços podem ser tanto fechados quanto abertos em um ou em ambos


os lados. Também podem ter um mesmo nível ou desníveis, como é o caso
das escadas e rampas. No caso das rampas, Buxton (2017) destaca que elas se
referem a um caminho de pedestres inclinado. Essas rampas precisam estar
adequadas às normas de cada país. No Brasil, são pautadas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e a NBR 9050 é um ótimo exemplo como
referência para o projeto desse tipo de circulação.
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Como a circulação deve visar ao bem-estar das pessoas, no caso das esca-
das, por exemplo, a inclinação deve permitir nossos movimentos, respeitando
a capacidade do nosso corpo. Essa inclinação é definida pela dimensão dos
espelhos e pisos dos degraus. Além disso, ao planejar uma escada, deve-se
pensar na largura desta, para que seja possível acessá-la com móveis e demais
equipamentos se necessário. Geralmente, a largura também determina se o
espaço é público ou privado, mais ou menos convidativo. A determinação dos
patamares permite uma alteração de direção, além de possibilitar o descanso.
Em relação à forma, as escadas podem ser em L, U, retas, circulares ou caracol,
a depender do tipo de projeto e das necessidades (CHING, 2013).
Por exemplo, para calcular uma escada da maneira correta, indica-se a
utilização da NBR 9050, que trata da acessibilidade a edificações, mobiliário,
espaços e equipamentos urbanos. A acessibilidade é um conceito relacionado
aos espaços de circulação, tendo em vista que, como vimos, são esses espaços
os responsáveis por levar as pessoas até a parte interna da edificação ou até
determinados espaços. Conforme a NBR 9050 (ABNT, 2021), um desnível deve
ser tratado como escada se tiver uma sequência de três ou mais degraus. Para
que essa escada esteja adequada, as dimensões dos pisos e espelhos devem
ser constantes em toda a escada ou degraus isolados, devendo atender às
seguintes condições:

„ 0,63 m ≤ p + 2e ≤ 0,65 m;
„ Pisos (p): 0,28 m ≤ p ≤ 0,32 m;
„ Espelhos (e): 0,16 m ≤ e ≤ 0,18 m.

Ao realizar o projeto de uma escada, é fundamental que ela esteja de


acordo com essa indicação para que seja segura e acessível a todos.
Neste capítulo, vimos as diferentes formas de organização dos espaços, a
relação entre eles e os inúmeros tipos e funções dos elementos de circulação.
Assim, é possível reafirmar ainda mais a importância de, primeiramente, com-
preender os usos e as necessidades de cada ambiente, para, posteriormente,
determinar as melhores relações entre eles, entre os espaços internos e a
parte externa da edificação. As características dos espaços servem como
referência para a elaboração das plantas baixas, na medida em que cada uma
delas apresenta suas especificidades. Uma das maneiras de compreender
as formas e as relações entre os espaços é analisar projetos existentes de
maneira profunda, tentando entender o funcionamento das edificações e o
que o tipo de organização espacial determina quanto ao uso dos espaços.
A organização dos ambientes e os sistemas de circulação são pontos-chave
14 Introdução à arquitetura – organização do espaço e circulação

nos projetos de arquitetura, capazes de influenciar como os ambientes são


percebidos e utilizados. Por isso, é fundamental entender o que cada tipo
representa para que eles sejam aplicados nos projetos de maneira adequada
e consciente.

Referências
ABNT. NBR 9050:2020 Versão Corrigida:2021: acessibilidade a edificações, mobiliário,
espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2021.
BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2017.
CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
CORBUSIER, L. Mensagem aos estudantes de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FRACALOSSI, I. Clássicos da arquitetura: Museu de Arte Kimbell / Louis Kahn. ArchDaily,
2013. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-117677/classicos-da-arquite-
tura-museu-de-arte-kimbell-slash-louis-kahn. Acesso em: 15 nov. 2022.
KON, N. Pinacoteca do Estado de São Paulo / Paulo Mendes da Rocha + Eduardo Co-
lonelli + Weliton Ricoy Torres. ArchDaily, 2015. Disponível em: https://www.archdaily.
com.br/br/787997/pinacoteca-do-estado-de-sao-paulo-paulo-mendes-da-rocha.
Acesso em: 15 nov. 2022.
MOORE, C.; ALLEN, G.; LYNDON, D. The place of houses. New York: Holt, Rinehart and
Winston, 1974.
PEREZ, A. Clássicos da arquitetura: Museu Guggenheim / Frank Lloyd Wright. ArchDaily,
2016. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/798207/classicos-da-arquitetura-
-museu-guggenheim-frank-lloyd-wright?ad_medium=gallery. Acesso em: 15 nov. 2022.
TAGLIARI, A. Modelos conceituais de percurso e circulação no projeto de arquitetura.
Revista 5%, 2018. Disponível em: http://revista5.arquitetonica.com/index.php/perio-
dico-1/ciencias-sociais-aplicadas/modelos-conceituais-de-percurso-e-circulacao-no-
-projeto-de-arquitetura. Acesso em: 24 out. 2022.
TAJ MAHAL VIRTUAL TOUR. AD Classics: Taj Mahal / Shah Jahan. ArchDaily, 2011. Dis-
ponível em: https://www.archdaily.com/100528/ad-classics-taj-mahal-shah-jahan.
Acesso em: 15 nov. 2022.
VRIENDT, S. Clássicos da arquitetura: Unite d’ Habitation / Le Corbusier. ArchDaily, 2016.
Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/783522/classicos-da-arquitetura-
-unidade-de-habitacao-le-corbusier. Acesso em: 15 nov. 2022.

Leitura recomendada
CHING, F. D. K.; BINGGELI, C. Arquitetura de interiores ilustrada. 4. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2019.
Introdução à arquitetura – organização do espaço e circulação 15

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Dica do professor
Considerando os espaços em arquitetura, é possível organizá-los com base em diferentes
requisitos, como, por exemplo, por características formais, por relações espaciais e também de
acordo com o contexto de cada categoria.

Nesta Dica do Professor, veja alguns exemplos que demonstram os diversos tipos de organização
dos ambientes, além de diferentes maneiras de propor a circulação entre os espaços.

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Exercícios

1) Considerando as relações espaciais em arquitetura, dois espaços podem estar relacionados


de diversos modos, como, por exemplo: um espaço dentro de outro espaço, espaços
interseccionados, espaços adjacentes e espaços conectados por um terceiro espaço.

Quando temos essa relação por meio do que denominamos espaços adjacentes, é correto
afirmar que:

A) os espaços adjacentes são facilmente identificados somente pela variação na demarcação do


piso.

B) o plano de separação nunca limitará o contato físico e visual entre os dois espaços adjacentes.

C) o plano de separação pode ser um plano livre, colocado dentro de um único volume de
espaço.

D) as colunatas não servem como plano de separação entre os espaços adjacentes.

E) os espaços não podem ser caracterizados como adjacentes somente pela diferença de nível
entre eles.

2) Na arquitetura, existem, pelo menos, cinco tipos de organização espacial de ambientes que
são predominantes.

Assinale a alternativa que apresenta o tipo de organização e as suas respectivas


características:

A) A organização linear consiste em formas e espaços cujas relações entre si são reguladas por
um padrão ou campo reticulado tridimensional. A malha dessa organização se transforma em
um conjunto de módulos de espaços repetitivos.

B) A organização centralizada consiste em uma composição estável e concentrada, que tem


espaços secundários agrupados ao redor de um espaço central grande e dominante. O padrão
de circulação e o movimento dentro dessa organização podem ter forma radial, espiral ou
compor um circuito.

C) A organização radial se baseia na proximidade física para relacionar seus espaços entre si.
Consiste em espaços celulares repetitivos e com forma flexível, podendo crescer ou mudar
rapidamente.
D) A organização em malha consiste, essencialmente, em uma série de espaços repetitivos. Esses
espaços podem estar diretamente relacionados entre si ou conectados por meio de um
espaço linear separado e distinto.

E) A organização aglomerada consiste em um espaço central dominante em que uma série de


organizações lineares se estendem ao redor. Por meio de seus braços lineares, consegue se
estender e se conectar a características ou elementos específicos do espaço.

3) Uma edificação arquitetônica é composta por diversos elementos, sendo que cada um deles tem
uma função específica. Os elementos de circulação, o acesso e a entrada podem ser identificados
neste exemplo de projeto de uma galeria de arte na Irlanda. Analisando a imagem e a planta baixa
de um dos pavimentos, assinale a alternativa que caracteriza corretamente essa edificação.

A) Acesso frontal e oblíquo e entrada projetada.

B) Acesso frontal e entrada recuada.

C) Acesso espiral e entrada frontal.

D) Acesso frontal e oblíquo e entrada recuada.

E) Acesso oblíquo e entrada projetada.

4) Os sistemas de circulação são compostos por alguns elementos, como a configuração do percurso,
o desenho (forma) da circulação e a relação entre os percursos e os espaços. Considerando esses
elementos e analisando a planta a seguir, assinale a alternativa correta.
A) O projeto tem uma circulação em grelha e se relaciona com os ambientes que estão ao seu
lado.

B) O projeto tem uma circulação configurada em rede e ela é finalizada nos ambientes.

C) O projeto tem uma circulação radial e a circulação está posicionada ao lado dos ambientes.

D) O projeto tem uma circulação linear e se relaciona com os ambientes que estão ao seu lado.

E) O projeto tem uma circulação linear e continua adentrando os ambientes da edificação.

5) Um sistema de circulação é composto tanto por ambientes na horizontal, como por espaços
verticais que permitem o acesso em outros pavimentos.

Considerando os ambientes de circulação, assinale a alternativa correta.

A) O espaço de circulação configura-se sempre com um dos lados fechados por um elemento
vertical para estar de acordo com as normas de segurança.

B) O "pé direto" é uma propriedade irrelevante quando se trata das circulações nos espaços e
suas conformações.

C) As circulações dentro de uma edificação sempre vão aparecer de forma direcionada e jamais
serão aleatórias.
D) As escadas permitem a circulação vertical entre os diferentes níveis de uma edificação ou
espaços externos.

E) A largura da escada não tem relação com a função do espaço e, sim, com a ergonomia e o
conforto.
Na prática
A organização dos espaços de uma edificação, a forma da circulação e suas relações entre os
ambientes estão diretamente ligadas com a percepção e o entendimento das arquiteturas. A
tomada de decisão sobre esses elementos influencia diretamente o funcionamento da edificação.

Neste Na Prática, veja como é possível organizar uma edificação definindo um espaço central de
circulação radial e distribuindo o restante dos ambientes através dele.
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Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

A organização espacial em projetos arquitetônicos


Todo projeto de arquitetura é pensado por meio de uma organização de ambientes, juntamente
com a definição do tipo e do local de circulação. Neste artigo, veja a análise de configuração
espacial do Edifício Barão do Rio Branco.

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Circulações e percursos
Na arquitetura, a forma e o tipo de circulação de uma edificação possibilitam ou não a localização
dos usuários e o funcionamento dos fluxos. Leia mais sobre esse assunto neste artigo.

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Possibilidade de organização espacial


A organização espacial de um projeto de arquitetura deve estar diretamente relacionada ao
conceito, ao partido e aos objetivos específicos do projeto. Veja mais sobre o assunto neste vídeo.

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