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Este texto tem por objetivo fazer uma revisão bibliográfica dos autores que estudam o
cangaço no cinema. É um resultado parcial do projeto de pesquisa de conclusão de curso
intitulado Representações do cangaceiro no cinema: estudo dos cartazes dos filmes de cangaço,
em que pretendo estudar alguns filmes do cangaço, particularmente seus cartazes, na
perspectiva de analisar a construção de imagens e representações que tais peças publicitárias
construíram acerca do cangaceiro e do cangaço. Ao finalizar essa pesquisa, após a apreciação
de várias fontes, almeja-se conseguir respostas para a formação do estereótipo do cangaceiro
do tipo: O que essas imagens transmitem sobre os cangaceiros? Como elas influenciaram na
formação do conceito sobre os cangaceiros? Se as imagens representadas nos cartazes dialogam
com os livros de História? E até onde o cinema pode influenciar na formação de preconceitos
e estereótipos? Por isso a leitura dessas obras que serão apresentadas neste artigo é
indispensável para dar início aos estudos da temática supracitada.
O conjunto de autores que escreveram sobre o cangaço no cinema é muito vasto. Por
isso, farei aqui uma síntese historiográfica, elegendo apenas alguns autores, dentre eles,
citamos: Wills Leal, com O Nordeste no cinema; Maria do Rosário Caetano e sua obra
Cangaço: o Nordestern no cinema Brasileiro; Caroline Lima Santos e sua dissertação de
mestrado, O Cangaceiro, o cineasta e o imaginário: a produção de representações do cangaço
no cinema brasileiro (1950 – 1964); e por fim, Marcelo Dídimo, com o livro O cangaço no
cinema brasileiro1.
Wills Leal é jornalista e escritor paraibano. Pertence a Academia Paraibana de Letras
(APL). É um pesquisador da história do cinema da Paraíba2. Em O Nordeste no cinema, ele
analisa a cultura nordestina no cinema com ensaios escritos no final da década de 19603, para
tanto, ele divide o livro em dois grupos: no primeiro, ele avalia as primeiras produções; o
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segundo grupo é destinado aos filmes de cangaço. Apesar de ter um momento específico para
se tratar de cangaço, no decorrer do livro Leal aborda a temática em outros capítulos de forma
sucinta, de como os cangaceiros apareciam nesses filmes, além de um capítulo especifico sobre
o cinema de Glauber Rocha. No capítulo destinado a analisar o filme Vidas secas, por exemplo,
ele ressalta a importância da presença do cangaço no filme, afirmando que: “a sua presença é
perfeita, em sintonia com a época e o local”4.
No capítulo A lição dialética de Glauber Rocha, o autor faz um estudo dos filmes do
desse diretor baiano, com um destaque ao filme Deus e o diabo na terra do sol (1964), em que
realiza uma análise coerente dessa obra, tendo como um dos protagonistas principais o vaqueiro
Manoel (Geraldo Del Rey), que busca saídas para a sua miserabilidade social, inicialmente na
religiosidade, e depois no cangaço. Ele identifica alguns elementos marcantes no filme, na
caracterização do Nordeste de Glauber: uma região torturada pela seca e a explosão de
violência, de grupos armados, de jagunços e cangaceiros. Com esses elementos, Deus e o diabo
na terra do sol seria um filme atual, polêmico, uma obra marcante, uma obra de arte que fugiu
completamente da tradição comercial do mercado brasileiro, segundo Wills Leal à época. Para
finalizar Leal afirma:
No grupo que se destina exclusivamente ao cangaço, Wills Leal inicia sua escrita a
respeito do ciclo do cangaço, como esse fenômeno permitiu ao cinema brasileiro a produção de
vários filmes com diversos gêneros, e com uma abertura para uma visão sócio-política.
Entretanto, este autor faz uma crítica muito polêmica, afirmando que apesar de terem
conseguido se afirmar como uma linha própria, os filmes representam uma negação a cultura
nordestina: “Desde o CANGACEIRO até as obras mais recentes, o gênero filme-de-cangaço
representa uma só e única coisa: a negação dos autênticos valores culturais nordestinos, valores
políticos, sociais, humanos, folclóricos e geográficos”6. No decorrer do livro, ele vem justificar
a sua afirmação, uma delas seria que a maior parte dos filmes foi rodado no Sul do país, o que
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um monstro que matava até criancinhas, lançando-as para o alto e aparando-as no ar com o seu
punhal. Esse filme impulsionou Abrahão a filmar o seu documentário, por conhecer
pessoalmente Lampião e ver essa disparidade nas representações em filmes.
Tudo que ouvira falar na boca do povo e nas estrepitosas manchetes dos
jornais não correspondiam absolutamente à imagem que virá naquele
dia. Por trás do facínora cruel e demoníaco se escondia a postura de um
príncipe tropical, com gestos nobres e calculados, roupas refinadas e
idealizadas, obedecendo a um maravilhoso ritual de disciplina e
organização. (...) estas ideias martelavam a cabeça de Abrahão. De
impressão passou a obsessão, aquele desejo de revelar uma verdade. A
noção estava diante de um enigma, um pesadelo, um mito ... era
necessário alguém romper esse obstáculo, transpor a lenda, rasgar a
mentira, ferir as aparências e alcançar a sua essência10.
contexto cultural brasileiro do período analisado. O que podemos constatar em sua dissertação
é o enfoque dado ao filme como fonte histórica, já que nele pode-se identificar discursos e
representações de fatos históricos.
Tendo em vista que o século XX foi marcado por imagens e por grandes
atividades culturais, a fotografia, o cinema e a televisão seduziam, e se
houve sujeitos que disputaram e usaram muito bem o poder da sedução
da imagem, de acordo com Élise Jasmim, foram os cangaceiros,
principalmente o bando de Lampião. (...) os cangaceiros, heróis ou
bandidos – a depender da perspectiva e do discurso – tornaram-se os
principais personagens do sertão nordestino13.
Considerações finais
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1
LEAL, Wills. O Nordeste no cinema. João Pessoa: FUNAPE/Editora Universitária, 1982; CAETANO, Maria do
Rosário. Cangaço: o Nordestern no cinema brasileiro. Brasília: Avathar Soluções Gráficas, 2005; SANTOS,
Caroline Lima. O cangaceiro, o cineasta e o imaginário: a produção de representações do cangaço no cinema
brasileiro (1950 – 1964). Santo Antônio de Jesus, BA, 2010, 160 f. Dissertação (Mestrado em História Regional e
Local), Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus V); DÍDIMO, Marcelo. O cangaço no cinema
brasileiro. São Paulo: Annablume, 2010.
2
Fonte: www.osebocultural.com/galerias.html. Acesso: 19/09/2016.
3
Porém, em função de diversos problemas de ordem técnica e política, o livro só viria a ser publicado em 1982.
4
LEAL, Wills. O Nordeste no cinema, op. cit., p. 23.
5
Idem, p. 46.
6
Idem, p. 89.
7
Fonte: www.cenacine.com.br/?p=1606. Acesso: 19/09/2016.
8
UMBERTO, José. Benjamin Abrahão, o mascate que filmou Lampião. In: CAETANO, Maria do Rosário.
Cangaço: o nordestern no cinema brasileiro. Brasília: Avathar Soluções Gráficas, 2005. p. 17-31 (p. 18).
9
LAMPIÃO, A FERA DO NORDESTE. Direção: Guilherme Gáudio. Gênero: Drama/Longa-metragem/Silencioso.
Ano: 1930. Local: Salvador/BA. Produção: José Nelli. Formato: 35 mm. Segundo Marcelo Dídimo, não existe
cópia deste filme (material desaparecido). Cf. DÍDIMO, Marcelo, O cangaceiro no cinema brasileiro, op. cit., p.
41.
10
UMBERTO, José. Benjamin Abrahão, o mascate que filmou Lampião, op. cit., p. 19.
11
CAETANO, Maria do Rosário. O cangaço nos documentários da Blimp Filmes. In: CAETANO, Maria do
Rosário. Cangaço: o nordestern no cinema brasileiro. Brasília: Avathar Soluções Gráficas, 2005. p. 55-60.
8
12
Fonte: http://lattes.cnpq.br/3431208335951135. Informações do currículo Lattes. Acesso: 19/09/2016.
13
SANTOS, Caroline Lima. O cangaceiro, o cineasta e o imaginário, op. cit., p. 11.
14
Fonte: www.cinemaeaudiovisual.ufc.br/?page_id=341. Acesso em: 19/09/2016.
15
DÍDIMO, Marcelo. O cangaço no cinema brasileiro, op. cit.
16
Idem, p. 61.