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Georg Lukács
1938
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Índice Geral
Introdução
4 – As antigas repúblicas
8 – “A tragédia na ética”
a. “Espírito subjetivo”
b. “Espírito objetivo”
c. “Espírito absoluto”
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O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Introdução
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deixados sem solução por ele levaram por seu turno aos sistemas filosóficos de
Schelling e Hegel.
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Hegel e nitidamente hostis à história real. A concepção anti-histórica mais
importante é a de Artur Schopenhauer, começou a ter influência ampla só depois
da Revolução de 1848. A tese básica de Schopenhauer é que ele avalia as
tentativas de Fichte, Schelling e Hegel de ir além das contradições kantianas,
como um erro grave. Segundo Schopenhauer, a filosofia deveria retornar ao
único método verdadeiro – o método de Kant, todo o resto é somente engano,
tagarelice vazia, charlatanismo. Assim, pois, Schopenhauer, por seu lado, liquida
com todo o desenvolvimento dialético da filosofia clássica alemã, divulgando
uma volta a concepção metafísica da realidade. Por outro lado, Schopenhauer
“depura” a Kant de toda oscilação deste no sentido do materialismo;
Schopenhauer reduziu Kant a um denominador comum com Berkeley. (Parecida
é de muitos pontos de vista a tendência de Herbart, apesar de motivos
diferentes).
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diltheyana, etc.). Em contato íntimo com as correntes reacionárias tem espaço
uma renovação da filosofia clássica alemã – sobretudo a de Hegel – e estreita
ligação com isto torna-se a propor o problema de sua história, com a intenção de
menosprezar tanto o esquematismo dos hegelianos de ultima hora quanto à
recusa global do hegelianismo pela ortodoxia neokantista.
Aqui só faremos uma breve menção ao contexto de classes geral e aos meandros
da política de cada modificação na compreensão de Hegel. Um determinado
confronto poderá nos ajudar a iluminar o sentido no qual se modificava a
situação hermenêutica. Quando Haym combatia em seu tempo o objetivismo e a
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dialética da filosofia hegeliana, sua tendência capital era ainda liberal, mesmo
sem dúvida na forma especificamente alemã do nacional-liberalismo. De
qualquer forma, Haym recusou as concepções de Hegel – ignorando
completamente seu caráter dialético – por reacionárias, pensando que a
eliminação da filosofia hegeliana possibilitaria o desenvolvimento de uma
ideologia liberal na Alemanha. Por outro lado, para o conhecido historiador do
período imperialista Friedrich Meinecke, tão intimamente relacionado com o
neokantismo de Baden (Windelband, Rickert), a filosofia hegeliana é um bom
preparativo da política e concepção de Estado de Bismarck. A renovação do
hegelianismo neste período está, pois, intrinsecamente relacionada com o fato de
que aquelas resistências contra a forma bismarquiana da fundação do Reich,
contra o caráter pseudoconstitucional e reacionário da Constituição alemã, que
também se manifestavam como vivas, mesmo com timidez e incoerência da
burguesia alemã. O neo-hegelianismo está fadado então a promover uma
concepção do mundo que possibilite a “reconciliação” plena, concreta e positiva,
da burguesia alemã no Estado Bismarqueano. Não será preciso esclarecer que
nessas circunstâncias tem forçosamente que se situar em primeiro plano
precisamente os motivos ideológicos mais reacionários da filosofia hegeliana.
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em utilizar aparentemente o método hegeliano da história da filosofia para
alcançar uma “síntese” de todas as correntes filosóficas contemporâneas
(incluindo, naturalmente, as fascistas).
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As aulas ditadas por Hegel na época imediatamente anterior a Phämenologie des
Gesteis [Fenomenologia do Espírito], editadas por J. Hoffmeister, Leipzig, 1931,
com o título de Jenenser Realphilosophie [Filosofia da realidade da época de
Iena), vol. I e II. (Citadas: Realphilosophie.)
No entanto. Isso não significa em absoluto que temos todos os documentos que
sejam cientificamente úteis e relevantes para o desenvolvimento das visões do
jovem Hegel. Os primeiros manuscritos importantes de Hegel, finalmente se
perdeu. Este são, por exemplo, os primeiros manuscritos econômicos
relacionados ao período de Franckfurt e, acima de tudo, um grande comentário
sobre as obras de Stuart. No segundo capítulo veremos claramente a medida da
perda que significa o desaparecimento destes manuscritos para o
desenvolvimento das concepções econômicas de Hegel. Rosenkranz, que teve em
mãos este documento, não tinha em troca nenhuma ideia da importância da
economia nas concepções de Hegel. Por isso é impossível fazermos uma ideia do
manuscrito sem outra base que as observações de Rosenkranz. Assim, pois,
ocorre que nos deparamos enviados e reduzidos a observações, mais ou menos
hábeis, a conclusões baseadas em observações isoladas e argumentações
baseadas nas obras posteriores, na hora de tentar entender este ponto de inflexão
no desenvolvimento do pensamento de Hegel.
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instrumento do que a combinação e nitidez. A importância objetiva das
observações publicadas para estudo do desenvolvimento de Hegel é sempre
grande, e às vezes decisivas. Assim, por exemplo, as notas de Berna, contêm
algumas observações sobre a Revolução Francesa. Seria muito importante poder
estabelecer sua sucessão cronológica, como meio de conhecer as fases da atitude
de Hegel diante aquele problema – para ver, por exemplo, a quais
acontecimentos da Revolução Francesa reagia o filósofo em suas tomadas de
posição -. Ainda mais importante seria conhecer a cronologia exata das notas
filosóficas do período de Iena. Como se sabe, em Iena, Hegel começou a ficar ao
lado de Schelling na luta contra Kant e Fichte, para orientar-se contra o próprio
Schelling na Introdução à Phämenologie des Geistes [A Fenomenologia do
Espírito]. Pois bem: essas anotações de Iena contêm observações críticas contra
os discípulos de Schelling e contra o próprio Schelling. Estará claro que um
conhecimento do momento exato que Hegel rompeu com Schelling – sem dúvida
um momento no qual ainda não o fazia publicamente – nos revelaria o
desenvolvimento juvenil de Hegel de um modo muito mais concreto do que hoje
é possível consegui-lo. Assim, pois, utilizar este material, o único que pode se
considerar seguro em cada caso, porque falta à cronologia, é a situação dos
fragmentos em períodos gerais.
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Contudo a história da filosofia hegeliana posiciona, ao mesmo tempo, aquelas
grandes perguntas históricas que se constituíram o fundamento geral da filosofia
clássica alemã e a implantação do método dialético nela até a concepção
hegeliana da dialética. O presente trabalho não tem pretensão de fazer, em todas
as suas dimensões, esta pesquisa extraordinariamente vasta, nem sequer por que
faz ao caso pessoal de Hegel. Vai limitar-se, isto sim, a uma componente desse
processo de desenvolvimento, a saber: a componente histórico-social.
“É muito mais fácil irritar-se contra a velha Filosofia da Natureza como o leigo
irreflexivo à la Karl Vogt que apreciar a importância histórica dessa especulação.
A Filosofia da Natureza contem muito absurdo e muita fantasia, não menos
porém que as teorias contemporâneas afilosóficas que a dos pesquisadores
empíricos da natureza; e contem além disso muito sentido e muita compreensão
como começa a apreciar-se desde a difusão da teoria da evolução (...) Os
filósofos da natureza são em relação à ciência natural conscientemente dialética
do que os utopistas são em relação ao comunismo moderno”.
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reacionária da época imperialista assume em relação à Filosofia da Natureza uma
atitude muito mais positiva que os seus antecessores. Contudo, esta mudança de
comportamento contribui mais para confundir e deformar a verdadeira questão.
Pois os que hoje em dia emitem um juízo positivo sobre a Filosofia da Natureza
tomam dela exatamente o absurdo, o místico, o cientificamente reacionário, e
pretendem desse modo utilizá-la como uma arma contra a concepção científica
da natureza, O estudo da conexão real entre o desenvolvimento da ciência da
natureza na época e o nascimento do método dialético inclui, pois, ao mesmo
tempo uma luta contra as teorias anticientíficas e místicas do fascismo atual e de
seus antecessores.
Contudo, uma investigação deste tipo nunca deve esquecer o estado atrasado da
Alemanha naquela época, tanto do ponto de vista econômico-social quanto no
político. Tendo em conta este atraso é preciso examinar sempre as afirmações
concretas e os posicionamentos das personagens alemãs a respeito da Revolução
Francesa. Não é, pois, lícito aplicar mecanicamente, aos reflexos ideológicos dos
acontecimentos franceses na Alemanha as mesmas categorias políticas que
surgiram em França como consequência da real luta de classes no país, e que
nele se desenvolveram. Recorde-se, por exemplo, que na própria França os
girondinos tomaram parte durante muito tempo das reuniões do Clube dos
Jacobinos, e que somente o radicalismo das reais lutas de classe deu
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posteriormente lugar à própria e clara diferença entre ambos partidos. Seria,
consequentemente mecanicista e errado caracterizar manifestações e posições
alemães com os mesmos rótulos políticos da Revolução Francesa, quando o fato
é que a diferença social que se produz imediatamente em França não chega a ser
real na Alemanha, senão muito mais tarde.
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acrescenta a seguir que o atraso da Alemanhaprovoca neste ponto uma
deformação essencial dos problemas. “Kant”, continua Marx, “separou portanto
essa expressão teórica dos interesses por ela expressos, transformou as
determinações da vontade da burguesia francesa, que estavam materialmente
motivadas, em puras autodeterminações da vontade livre, da vontade em si e
para si, da vontade humana, e converteu esta em puras determinações
conceituais ideológicas e em postulados morais”. Marx expressou nessas linhas,
com argucia incomparável, um dos temas essenciais pelos quais o
desenvolvimento ideológico alemão da época tinha de ser necessariamente
idealista. Com isto, por certo, Marx caracteriza com a mesma argúcia e clareza,
essas inevitáveis deformações de problemas que são produto necessário do
idealismo filosófico.
Do mesmo modo criticaram Marx e Engels a filosofia clássica alemã. Porém sua
tradição foi embotada também neste terreno durante o período da Segunda
Internacional. E também aqui foi Lenin quem recolheu, renovou e continuou a
linha de Marx. Escreve Lenin sobre a crítica a Kant por seus contemporâneos: “1
Plerranov critica o kantismo (e o agnosticismo em geral) mais do ponto de vista
do materialismo vulgar do que do dialético-materialista na medida em que
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recusa in limine seus argumentos, em vez de corrigi-los (como Hegel corrigiu a
Kant) aprofundando, generalizando-os ampliando-os e mostrando a conexão e
os trânsitos de e entre todos e cada um desses conceitos. 2 Os marxistas
criticavam (a princípios do século XX) aos kantistas e os seguidores de Hume
mais a maneira de Feuerbach (e de Büchner) que a de Hegel”. Está claro que
estas importantes observações de Lênin se aplicam plenamente a metodologia do
estudo histórico e crítico da filosofia hegeliana.
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Ideologia Alemã como as ideias econômicas receberam dos materialistas
franceses uma formulação filosófica abstrata que correspondia às necessidades
ideológicas da burguesia francesa que se preparava objetivamente para a
Revolução. E mostra logo como estas ideias tornam a Inglaterra e recebem ali
uma formulação econômica mais concreta, a qual leva necessariamente, no
pensamento dos ideólogos, da burguesia já dominante, a uma completa
vulgarização filosófica (cf. o que escreve Marx sobre Bentham). Por outra parte, a
muito diversificada oposição às consequências sociais e econômicas do violento
desenvolvimento do capitalismo são uns dos principais momentos temáticos
desencadeadores do Romantismo. Com a concepção dialética destes problemas
Hegel se encontra tão longe da vulgaridade de Bentham como a errônea e
reacionária “profundidade” romântica. Antes aspira abarcar com o pensamento a
real estrutura interna, as forças realmente ativas de sua época, e a descobrir a
dialética de seu desenvolvimento.
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geral. (Vale a pena recordar de novo ao leitor que com tudo isto – como já
assinalamos – se toca apenas em um aspecto da origem da dialética hegeliana.)
Depois disso estará claro para o leitor que essa grandiosa concepção hegeliana
da dialética da sociedade humana é uma dialética idealista, com todos os
defeitos, limitações e deformações que o idealismo introduz necessariamente na
concepção da dialética. A tarefa deste estudo é precisamente mostrar
concretamente os aspectos importantes e os débeis do desenvolvimento da
dialética hegeliana em suas diversas etapas. O autor espera que em breve sigam
a esta obra trabalhos que corrijam e complementem a unilateralidade de seu
posicionamento histórico – trabalhos que estudem a influência da ciência da
natureza na origem da dialética hegeliana -. Somente quando contemos com
resultados também neste terreno poderemos encontrar-nos com o contexto claro
e dominado do desenvolvimento de Hegel. E é de se prever que esses trabalhos
concentrarão e corrigirão algo deste meu trabalho que se deduz necessariamente
da unilateralidade de meu posicionamento. Porém o autor tem a esperança de
haver exposto em seus traços fundamentais o desenvolvimento do
pensamento do jovem Hegel na medida em que este é concebível pelo material
que dispomos atualmente.
Cremos que isso não é por acaso. O motivo encontra-se na situação social e em
seu desenvolvimento. Enquanto que nos começos da economia burguesa os
grandes representantes da nova ciência viram nela, por um lado, a ciência básica
da vida social, e por outro, nas categorias econômicas, relações entre seres
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humanos – com uma honrada e espontânea ausência de preconceitos - , mais
tarde penetra nessa ciência a feitizaçao das categorias econômicas, produto
objetivamente necessário e crescente do desenvolvimento do capitalismo, até
determinar cada vez mais profunda e decisivamente a metodologia das ciências
sociais. Esta metodologia opera cada vez mais exclusivamente com tais categorias
feiticizadas, sem penetrar até as relações entre homens (ignorando também as
relações dos homens com a natureza, mediada por aquelas relações inter-
humanas); em paralelo com este processo, e em grande medida em
consequência dele, a metodologia econômica deixa de ser a ciência fundamental
da vida social para converter-se em uma das numerosas disciplinas particulares
radicalmente especializadas. E como também, a filosofia recorre em sua maior
parte este caminho que leva a especialização como disciplina particular, se
compreende que os filósofos na tenham sequer a ideia da fazer fecundar seu
trabalho metodologicamente pelo estudo detalhado das categorias econômicas.
“Hodgkin diz, pois, com outras palavras que os efeitos de uma determinada
forma social do trabalho se atribuem à coisa, os produtos desse trabalho; que a
relação mesma se transmuta fantasticamente tomando a figura coisificada.
Vimos que este fato é uma característica específica do trabalho baseado na
produção de mercadorias, no valor de troca e que esse quiproquó se manifesta
na mercadoria, no dinheiro (coisa que Hodgkin não vê), e ainda mais
potencialmente no capital. Os efeitos que tem as coisas tanto que momentos
objetivos, do processo do trabalho atribui-se-lhe no capital como efeitos que elas
tiveram na personificação, em sua independência diante do trabalho. Porem as
coisas deixariam de ter esses efeitos se deixassem de enfrentar-se com o trabalho
nessa forma alienada. O capitalista enquanto capitalista não mais que a
personificação do capital, ou seja da criação do trabalho, revestida de vontade
própria e personalidade, confrontada com o trabalho. Hodgkin concebe esta
situação como uma ilusão puramente subjetiva por trás da qual se escondem o
engano e o interesse da classe exploradora, e não vê esse modo de representação
se depreende da própria relação, como esta última não é expressão da primeira,
senão o contrário”. [Marx, Teorias sobre a mais-valia]
Com isto nos encontramos no centro da trama das relações recíprocas entre
categorias econômicas e categorias filosóficas: as categorias dialéticas das ciências
sociais aparecem como imagens mentais refletidas daquela dialética que se
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desenvolve objetivamente, independentemente do saber e da vontade dos
homens em sua vida, e cuja objetividade faz da realidade natural uma “segunda
natureza”. A reflexão posterior mostra que precisamente esta dialética da
economia, se concebe corretamente, se expressam as relações inter-humanas
mais originais, mais fundamentais, mas decisivas; e que esteja precisamente no
terreno no qual a dialética pode estudar a vida social segundo seu modo
autêntico e sem errar. Por isso não é por acaso que, do ponto de vista da teoria
da ciência, o nascimento do materialismo dialético coincida com este
descobrimento da dialética da vida econômica. O “genial esboço” de Friedrich
Engels sobre as categorias econômicas publicado nos Anais Franco-Alemães e os
Manuscritos econômico-filosóficos de Marx descrevem claramente estes começos;
E tão pouco é casual que na última dessas obras se ofereça, por um lado, uma
análise da natureza dialética do trabalho dos economistas clássicos e, por outro,
uma análise dos fundamentos econômicos da Fenomenologia do Espírito
hegeliana.
Como é natural, essas relações entre economia e filosofia não existem somente
na filosofia inglesa. Desde Platão e Aristóteles, inclusive Heráclito, não existe
apenas um pensador universal, um filósofo verdadeiro, que estudou estes
problemas e prestou atenção. Porém não é de modo algum necessário, para que
exista esta atenção, que o pensador em questão tenha posto conscientemente e
como problemas especiais da economia essas relações inter-humanas que na
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Idade Média e Moderna chegaram finalmente a ser objeto desta ciência: basta
que essas relações entre homens tenham chegado a ser de um modo ou de outro
um problema para o filósofo.
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O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Acabei de escrever este livro no final do outono de 1938. Pouco depois era
declarada a guerra e impossibilitada assim por muitos anos sua publicação.
Quando em 1947-48 apresentou-se a mim finalmente a possibilidade de imprimi-
lo submeti o texto a uma minuciosa revisão, mas minhas várias ocupações não
permitiam então tomar em consideração senão a mínima parte da literatura sobre
Hegel, surgida desde 1938. Também esta nova edição foi revisada, mas fora de
certas correções de estilo, fiz poucas modificações no texto anterior.
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desenvolvimento juvenil de Hegel indicam assim a razão pela qual, uma vez
surgido o socialismo científico como adversário principal do irracionalismo,
perdem-se — com Nietzsche — os restos dos fundamentos filosóficos que ainda
possuía o irracionalismo na época da juventude de Schelling. Para entender
plenamente o papel de Marx, na história do pensamento alemão – um papel que
nem sempre é direto, porém também às vezes mediato – é imprescindível um
conhecimento real de Hegel, da sua grandeza e de seus limites.
Contudo, além de ser uma tarefa científica importante, é algo que repercute
imediatamente no terreno da política cultural em geral. Numa época em que o
povo alemão está de novo buscando um caminho, quando importantes setores
da intelectualidade alemã encontram-se ainda vacilantes entre o caminho para
frente e o caminho para trás, a compreensão correta das lutas espirituais do
passado é como uma bússola para o futuro. O autor esforçou-se sempre por pôr-
se a serviço das grandes tarefas postas, tanto com seus trabalhos filosóficos,
quanto em seus estudos históricos literários. Pensa o autor que o esclarecimento
da filosofia de Hegel, bem como de suas relações com tendências progressistas e
reacionárias de sua época, possa contribuir para iluminar mais adequadamente
este problema importante e atual.
É uma tomada de posição como a indicada antes – o caminho para trás ou para
adiante – desempenha um papel crucial a atitude perante a Marx; E neste ponto
o importante não é apenas a atitude perante Marx como pensador e político,
como filósofo, economista e historiador, mas também o que significou e significa
Marx para a cultura alemã. Thomas Mann escreveu há uns trinta anos:
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“Disse que as coisas não chegaram a bom termo para a Alemanha, que a
Alemanha, até que Carlos Marx leu Frederico Hölderin. Acrescentei que este
encontro estava preparando-se, mas esqueci de precisar que uma mera e
unilateral noticia seria necessariamente estéril”.
Como é óbvio, este livro é antes de tudo um estudo científico de fatos e conexões
de ordem filosófica e histórico-filosófica. Seu valor depende da medida que haja
conseguido dar clareza maior nesses problemas da alcançada antes dele. Porém
nenhum conhecimento é um ente isolado. A compreensão correta do
desenvolvimento de Hegel coloca todos os problemas que acabamos de esboçar,
e o presente livro propõe-se também esclarecer neste sentido. O próprio autor
não pode qualificar o êxito ou fracasso de seu livro. Porém é seu dever declarar
sem disfarces suas intenções ao leitor.
Notas de rodapé:
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O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Uma história marxista da filosofia terá que estudar aqui em detalhe o caráter
de classe do iluminismo alemão, bem como a influência do iluminismo
francês e inglês nele. Terá de revelar as contradições de classe que
dominaram no seio do Iluminismo alemão. Pois é visível, além disso, para
qualquer conhecedor da história da Alemanha que o Iluminismo deste país
serviu ideologicamente também aos objetivos do absolutismo feudal dos
pequenos estados teutônicos e aos dos revolucionários burgueses que então
se organizavam ideologicamente. Marx desde A ideologia alemã esta
contradição do Iluminismo teutônico. A situação de mais progresso de
França, com a correspondente maior diferenciação classista, a maior clareza
e decisão da luta de classes, converteram-se em França de um modo mais
natural aos principais iluministas em ideólogos preparadores da revolução
burguesa. Como na Alemanha a revolução burguesa não estava na ordem
do dia no terreno da realidade, a influência dos iluministas franceses foi
menos confusa e contraditória que na própria França.
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era muito débil, muito mais do que haveria sido em um país
economicamente mais desenvolvido. E este caráter do Iluminismo alemão se
reflete em todos os terrenos ideológicos. Enquanto a linha principal do
desenvolvimento ideológico tende em França cada vez mais claramente para
um resoluto materialismo de Diderot, Holbach e Helvetius, o Iluminismo
alemão está simplesmente dominado pela ideia da “religião racional”. Ateus
e materialistas são na Alemanha da época meras exceções, e na maior parte
dos casos personalidades isoladas em todos os sentidos, como por exemplo,
B. J. Ch. Edelmann. O radicalismo mais extremado que conseguiu alcançar
os representantes principais do Iluminismo alemão é um panteísmo
spinozista. Contudo, mesmo propugnar esta ideologia, como fizeram Lessing
maduro ou o jovem Goethe, provoca a indignação e o espanto nas fileiras
dos iluministas médios alemães. É extraordinariamente peculiar o fato de
que Lessing não tenha revelado seu espinozismo ao iluminista Moses
Mendelsohn, que tão próxima amizade teve com ele, e que Mendelsohn se
sentira tão profundamente afetado quando da morte de Lessing, se fizeram
públicas suas verdadeiras ideias pela aparição de suas conversas com F. H.
Jacobi.
Porém, com isto não se esgota o âmbito de leituras do jovem Hegel, nem
sequer pelo que fez no período de estudos em Tubinga. De seus estudos e
anotações se depreende claramente que conhecia muito bem aos grandes do
Iluminismo francês, Montesquieu e Voltaire, Diderot, Holbach, Rousseau e
outros. Seus estudos históricos devem ter sido muito amplos, sobretudo em
Berna. Dos seus resumos descobrimos que estudou detalhadamente as obras
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de Grocio, a História índia de Raynald, a História da Grã-Bretanha de
Hume,e a Decadência e Queda do Império Romano, de Gibbon.s A estes se
acrescentem a leitura das obras históricas de Schiller, alguns estudos de
Benjamin Constant e escritos do revolucionário alemão Georg Foster. Dada
a natureza da educação da época, não é demais dizer que Hegel conhecia
bem aos filósofos e historiadores da Antiguidade. Porém, é importante
indicar que sua interpretação dos antigos historiadores e filósofos movia-se
plenamente dentro da linha do Iluminismo anglo-francês. Também o jovem
Hegel – como mostraremos detalhadamente a seguir – viu na antiga Cidade-
estado (polis) não um fenômeno social passado e caduco surgido em
determinadas condições concretas e desaparecida em outras, mas o modelo
eterno, o protótipo inalcançável da modificação atual da sociedade e do
Estado.
Mais tarde teremos que nos ocupar detalhadamente do fato curioso de que o
jovem Hegel haja sido bastante indiferente aos problemas filosóficos no
sentido estreito. Sem dúvida leu aos filósofos antigos, Espinoza e Kant,
porém a única leitura documentalmente comprovada das obras de Espinoza,
por exemplo, é o Tratado teológico-político. E o estudo deste livro pode
haver estado perfeitamente relacionado com seus estudos da crítica da
religião e da história das religiões.
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Neste contexto deve-se citar também a leitura da História da Igreja, de
Moshein, pois todos os modernos editores e expositores do desenvolvimento
do jovem Hegel concedem uma importância extraordinária a esta leitura,
pela qual querem demonstrar os interesses religiosos e teológicos do
pensador em formação. Ocuparmo-nos detalhadamente desse problema
mais à frente. Pelo momento bastará dizer que as obras históricas já citadas
do período do Iluminismo tratam também amplamente da história das
religiões, especialmente a do cristianismo. E enquanto Hegel tomou poucas
citações de Mosheim referentes a fatos históricos, em seus comentários toma
resolutamente posição a favor da crítica radical ao cristianismo que se
encontra nos escritos de Gibbon, Foster, etc. O fato que em todo este
contexto Hegel estudou também a mística alemã (o mestre Eckhart, Tauler,
etc.) não prova as construções de Dilthey, Nohl e consortes. Pois, como
também veremos detalhadamente mais à frente, as seitas são de uma grande
importância para a concepção do cristianismo que faz Hegel à época. Do
mesmo modo que descobriu e criticou no cristianismo primitivo o caráter de
organização em seitas, pode haver-se ocupado já nesta época, por interesses
histórico-polêmicos, do problema das seitas posteriores.
Como é natural, tudo isto não significa que o jovem Hegel possa ser
simplesmente alienado do Iluminismo em todos os terrenos de sua
concepção do mundo. Pois seu ponto de vista idealista lhe separa desde o
início dos franceses e ingleses. Hegel não oscilou seriamente jamais para o
materialismo filosófico, como fizeram, por outro lado, muitos seus
contemporâneos importantes. No seu Materialismo e empiriocriticismo,
Lenin assinalou a presença dessa oscilação em Kant; também nos
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primeiríssimos trabalhos do jovem Schiller, quando este estudava medicina,
se encontram certas tendências ao materialismo; quando estudarmos o
desenvolvimento de Hegel durante o período de Iena poderemos mostrar as
enérgicas oscilações as vezes em Schelling, durante o período da “Filosofia
da Natureza”. Muito mais coerente que os pensadores citados, Hegel foi
toda sua vida um filosofo idealista. Sua aproximação ao materialismo, no
sentido em que registra Lenin em suas observações à lógica de Hegel, se
produzem ao redor do idealismo objetivo, através do alcance enciclopédico
de seu saber e por sua sóbria observação sem preconceitos dos fatos. Porém
seu pensamento filosófico consciente sempre foi idealista.
Porém num ponto decisivo Hegel vai, já em sua primeira juventude, além de
Kant. Este estuda os problemas morais do ponto de vista do indivíduo; o fato
moral fundamental é para ele a consciência moral. E não consegue uma
aparente objetividade idealista senão projetando sobre um sujeito fictício,
aparentemente ultraindividual, mas na realidade individual e mistificado – o
chamado “eu inteligível” – os traços comuns, a legalidade geral da ética que
pretende descobrir. Os problemas sociais crescem diante de Kant
secundariamente, pelo acréscimo posterior dos sujeitos individuais que são
os primariamente estudados.
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históricas de Herder, e nem sequer contamos com documentos para provar
que foi impressionado de modo especial por Herder. Mas as ideias deste
estavam no ar na Alemanha da época, e seria, portanto ocioso trabalho
filosófico buscar passos paralelos entre Herder e o jovem Hegel.
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seja, que não coloque de um modo absoluto o ponto de vista religioso no
centro da interpretação do filósofo. Neste mesmo âmbito de ideias se
encontra também a tese capital da maior monografia moderna sobre o
jovem Hegel, a de Th. L. Haering o qual vê em Hegel um “pedagogo
popular” deformando hermeneuticamente o ponto de partida prático de
Hegel, que já analisamos, no sentido de uma tentativa de doutrinação
religiosa do povo.
O que tem de verdade sobre esse caráter “teológico” dos escritos juvenis de
Hegel? O leitor atento e sem preconceitos encontrará nesses escritos
assombrosamente pouca teologia; e além disso, encontrará no jovem Hegel
um estado de ânimo resolutamente hostil à teologia. Como já sublinhamos,
a questão religiosa desempenha, naturalmente um papel no complexo de
problemas históricos do jovem Hegel e, como sabemos, a religião nunca
deixa de desempenhar tal papel no sistema de Hegel.
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análise da religião cristã feito por Hegel nesta época, temos que dizer: o
jovem Hegel, vê no cristianismo precisamente a religião do “homem
privado”, do burguês, a religião da perda da liberdade humana, a religião do
despotismo milenar e da servidão milenar. Com estas ideias se move Hegel
na linha do Iluminismo em geral.
Porém, há que aditar a seguir que o jovem Hegel, como todos os iluministas
alemães em geral, não chegou, na luta contra a religião cristã, tão longe
quanto os ingleses e franceses. Sua luta contra o cristianismo, não chegou a
ser um ateísmo materialista. Antes ao contrário, o núcleo de seus esforços é
religioso; consiste em descobrir as condições sociais nas quais a religião e o
despotismo e a servidão poderiam ser de novo substituída por uma religião,
da liberdade segundo o modelo da Antiguidade.
Dadas as circunstancias alemães, não há neste fato nada que possa chamar
a atenção. Engels mostrou inclusive que no próprio Feuerbach a luta contra
a religião, o desmascaramento dela, se converte as vezes na exigência de
uma nova religião “pura”. E se deve também a Engels a observação de que
a sobrevalorização do significado histórico da religião, a ideia de que os
grandes pontos de inflexão do desenvolvimento da humanidade estejam
condicionados pelos a acontecimentos religiosos, segue sendo ainda
característica da concepção histórica professada por Feuerbach. Tudo isto se
pode dizer, ainda mais contundentemente, dos iluministas alemães cuja obra
precede à de Hegel. Que se pense, sobretudo, em um pensador honesto e
importante como Lessing, cujas obras iluministas se desenvolveram sempre
no seio de um horizonte religioso. Por outro lado, entretanto, não se pode
esquecer, mesmo no Iluminismo alemão nunca alcançou na luta
antirreligiosa a solução materialista e ateia que se encontra em Diderot,
Holbach e Helvetius, chegou, por outro lado, às vezes (Lessing, Herder) mais
longe que os pensadores franceses na compreensão histórica da origem das
religiões, das raízes sociais da evolução de suas formas.
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Não fará falta para ver mais claramente como todas estas concepções do
jovem Hegel nascem da base posta pela influência da Revolução
Francesa. O entusiasmo inicial de Hegel pela Revolução Francesa é um fato
universalmente conhecido. Sabe-se também que os amigos juvenis de
Hegel, Hölderin e Schelling, plantaram com ele ainda em Tubinga uma
árvore da liberdade em torno da qual dançaram cantando em coro canções
revolucionárias. Segundo a tradição, constituem também na Fundação de
Tubinga no centro de um clube secreto que se dedicava a leitura de escritos
proibidos sobre a Revolução Francesa. Este entusiasmo se enquadra naquele
estado de ânimo geral diante da Revolução Francesa que existiu na maior
parte da intelectualidade alemã da época, fenômeno ao que antes referimos.
Quando estudei, em outro livro, este tema aludi ao fato de muito escritores
destacados da época aquele entusiasmo durou pouco. Os acontecimentos de
1793-94 não estavam ao alcance da compreensão da maior parte dos
alemães contemporâneos. A ditadura plebeia dos jacobinos de Paris
espantou e indignou a maioria deles (a Klopstock, por exemplo, a Schiller,
etc.). Contudo a tese de que por aquela decepção se converteram em
opositores inimigos da Revolução Francesa e abandonaram os princípios de
1789 é uma de muitas fábulas forjadas pela historiografia burguesa. Na
maioria dos casos ocorreu justamente o inverso. Tal é precisamente o caso
do jovem Hegel.
“Não creio que se haja para a época sinal melhor do que este fato de que a
humanidade se represente ante si mesma. Isso é uma prova de que
está se dissipando o limbo que aureolava as cabeças opressoras e os deuses
da terra. Os filósofos ensinam e proclamam essa dignidade da humanidade,
e os povos aprenderão a senti-la, e a não pedir mais direitos humilhados no
pó, mas tomá-los por si, apropriando-os. A religião e a política jogaram a
mesma carta. A religião ensinou que o despotismo quis: o desprezo ao
gênero humano, a incapacidade deste para qualquer coisa boa, para ser
algo por si. Com a difusão da ideia de como deve ser tudo, desaparecerá a
indolência de pessoas sentadas, que estão dispostas a tomar tudo
eternamente como é”.(3)
Esta carta é interessante de vários pontos de vista. Por uma parte mostra até
que ponto a Crítica da razão prática foi o ponto de partida do jovem
Hegel. Muito diferente de suas concepções posteriores, nas quais colocará
precisamente no centro da metodologia das ciências sociais a atenção à
realidade e a recusa do “dever ser” abstrato kantiano, Hegel contrapões
aqui, a maneira de Kant, o dever-ser transformador ao inerte e reacionário
ser. Mas ao mesmo tempo é visível que sem preocupar-se muito com os
fundamentos epistemológicos de sua operação, Hegel está modificando
hermeneuticamente a Kant: o dever-ser tem agora um significado puramente
político-social, enquanto que seu caráter inicial kantiano, de pura
moralidade, constitui apenas seu fundamento geral idealista. A isso se
acrescenta que a contraposição entre o ser e o dever não se coloca aqui na
psique individual, entre o empírico e o inteligível – como é o caso de Kant -,
mas entre tendências progressistas e tendências reacionárias na vida político-
social.
35
especialmente com as grandes lutas de classes que tiveram lugar em França
em torno da religião. Engels destacou acertadamente como característica
essencial da Revolução Francesa – diferente de todas as outras revoluções
burguesas – sua essência irreligiosa. Enquanto que as revoluções anteriores
burguesas, inclusive a inglesa do século XVII, lutaram ainda sob bandeira
religiosa, a Revolução Francesa apela “a ideias jurídicas e políticas... e se
preocupa com a religião na medida em que esta fecha o caminho, sem que
lhe ocorra colocar uma religião nova no lugar da velha; como é sabido, a
única tentativa nesse sentido, a de Robespierre, terminou em fracasso”.(4)
36
ainda tem, sem dúvida, matizes que emanam das concepções rousseaunias
de Robespierre, das ilusões que alimentavam ele e os seus partidários sobre
as perspectivas e as possibilidades de desenvolvimento da Revolução
democrático-burguesa, entretanto, pela sua essência, é primariamente um
ato político e não religioso, mesmo que seja a ação de um político
desesperado numa situação também desesperada do ponto de vista
sociológico objetivo.
37
Já Robespierre considerava as grandes festas populares, a introdução de
costumes republicanos nos principais acontecimentos da vida diária
(nascimento, matrimônio, enterro) como meio importante para conseguir
essa influência religiosa-moral do povo. Em seu discurso à Convenção que
acabamos de citar fala extensamente da importância das solenidades
populares gregas, especialmente da importância que tinha a atividade
autônoma que o povo desenvolvia nelas; termina o discurso abrindo a
perspectiva de que tudo isso possa repetir-se e renovar-se com maiores
dimensões em França: “Um sistema de tais festas seria ao mesmo tempo o
mais suave laço de fraternidade e o mais poderoso instrumento de
regeneração”(9). Como é natural, esses momentos mais exteriores da
“renovação religiosa” desempenham no movimento das seitas posteriores a
Termidor um papel muito maior que no político Robespierre.
Porém, mais importante que esta ligação externa é a interna. No curso deste
capítulo, quando tratarmos da concepção hegeliana da Antiguidade,
falaremos detalhadamente da grande importância que atribuía às festas
populares gregas e a atividade autônoma do povo nelas e na religião grega
em geral; suas ideias estão neste ponto em contato íntimo com o citado
discurso de Robespierre. E pelo que faz a ideia de influenciar de modo geral
nos costumes mediante a nova religião que é preciso criar sobre a base de
uma renovação da Antiguidade, pode se dizer que esta questão se encontra
precisamente no foco dos interesses de Hegel à época.
38
Como a maioria dos idealistas alemães de então, Hegel considera a
renovação moral do povo menos como consequência da revolução que
como premissa sua. Esta concepção havia sido já apresentada por Schiller
nas Cartas sobre a educação estética, cuja impressão sobre o jovem
Hegel já indicamos. Porém, a concepção de Schiller é pessimista.
Precisamente porque considera que a renovação moral do povo é um
pressuposto inevitável da revolução alcançada, desespera a possibilidade
que esta, ainda pensa que uma necessidade histórica e moral da eliminação
do sistema feudal absolutista característico da Alemanha da época. E é
característico que também em Schiller, e muito importante e fato que esta
questão da renovação moral do povo considere impossível toda ação
educativa do Estado
(2) K. Rosenkranz, Hegels Leben, Berlim, 1844, p. 66. Esta obra se citará
doravante por Rosenkranz. (retornar ao texto)
40
(6) Mathiez, Theofilanstrophie, p. 40 e ss. (retornar ao texto)
(7) Oeuvres [Obras] de Robespierre, ed. por Vermorel, Paris, 1867, p. 302
(retornar ao texto)
(13) Hegel, Werke, Berlim, 1840, volume IX, p. 542. (retornar ao texto)
41
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
42
moral de Kant é mais exatamente sempre algo histórico-social. Sua
determinação é no jovem Hegel extraordinariamente apagada e oscilante.
Pois o conteúdo de sua concepção – na medida em que trata do helenismo
não-positivo. Quer dizer, do ideal histórico-moral – é a coincidência de
autonomia moral do sujeito individual, com a coletividade democrática do
povo inteiro. A contradição entre subjetividade do indivíduo e a atividade
social da totalidade social surge, segundo a concepção de decadência
produzida por a religião cristã. A religião cristã se contrapõe então ao sujeito
como algo objetivo, positivo, e a obediência a seus mandamentos são, por
um lado, consequência da perda da liberdade, e por outro, a constante
reprodução da opressão e do despotismo.
Nesta luta contra a renovação da teologia com ajuda da ética kantiana não
se acha só no jovem Hegel, mas que ocorre na mesma linha que seu amigo
de juventude Schelling. Em sua carta do ano de 1795 Schelling escreve a
Hegel, lamentando-se que na Crítica da Razão prática se converteu em
Tubinga, onde ele morava à época, em ponto de apoio de uma revitalização
da teologia reacionária ortodoxa. “Todos" os dogmas possíveis e imagináveis
receberam o selo dos postulados da razão prática, e quando não bastão os
argumentos histórico-teóricos da razão prática tubinguesa desata os nós.
Que prazer contemplar o triunfo destes heróis filosóficos! “Passaram os
tempos da tristeza religiosa, da que está escrita.”(3) Nesta luta o jovem
Schelling se apoiou essencialmente na filosofia de Fichte.
44
fundamentos sociais do conflito, oferecendo uma categórica caracterização
naturalista das reais bases daquele renascimento teológico:
“Não posso me assombrar com o que contas da marcha que segue – si Diis
placet – a filosofia teológico-kantiana em Tubinga. A ortodoxia é
incomovível enquanto professá-la é uma atividade que significa vantagens
materiais e está entrelaçada em todo o Estado. Este interesse é demasiado
grande para que renunciem sem mais nem menos a ele; pelo demais, é um
interesse que opera sem que se tenha completa clareza sobre ele”(5).
45
Moderna; mas não existiu nas antigas cidades-estados democráticas e
republicanas, e a perspectiva de sua superação constitui o núcleo das
esperanças do jovem Hegel em relação ao futuro.
Por isso para o jovem Hegel esse caráter estranho, morto, “dado”, das leis
morais é o principal traço da positividade. Hegel diz que é próprio da
essência de toda moral o fato que o sujeito moral seja ele próprio o
legislador; “a religião cristã, em troca nos proclama a lei moral como algo
que existe fora de nós, como algo dado e tem portanto que tentar conseguir
repetir a essa lei por outros caminhos. Já ao tratar do conceito de religião
positiva põe ao homem a lei moral como algo dado”(6).
46
período de Berna – A Positividade da Religião Cristã, que já citamos e do
qual acrescentaremos mais algumas passagens – Hegel estuda essa
contradição em todos os terrenos da vida moral do homem, e em terrenos
importantes dos problemas sociais. Aquele caráter positivo da religião, no
sentido em que descrevemos, é para Hegel o momento que determina
decisivamente a vida inteira da Idade Média e da Época Contemporânea.
Essa determinação penetra naturalmente também no terreno do
conhecimento, do entendimento e da razão. A perda de liberdade moral
acarreta necessariamente, segundo Hegel, a perda do uso independente da
razão. O objeto da religião positiva, que é alheio, ao sujeito, morto, dado, e ,
contudo, dominante, desgarra a unidade e conclusão da vida em que viveu
o homem antigamente, na era de sua liberdade e converte as questões
decisivas da vida em problemas transcendentes e inacessíveis para a razão.
47
Apreciar-se-á que os escritos espontaneamente teológicos do jovem Hegel
são na verdade um grande ata acusatória contra o cristianismo. Todo
conhecedor da literatura achará nas passagens que citamos várias coisas nas
quais ecoa a luta geral antirreligiosa da época.
48
seu período de Berna, para que o leitor possa compreender corretamente a
concepção geral histórico-filosófica do jovem Hegel.
50
necessidade, essência-aparência (pares contrapostos que nele e em Fichte,
são muito mais sinônimos que no próprio Kant), de um modo que acarreta a
plena resolução da teoria do conhecimento na ética. Tudo o que para a ética
é objeto da prática, e não sujeito, se converte em “simples objeto” (é
“positividade”, segundo a terminologia do jovem Hegel). Este mundo da
morte da objetividade coincide simultaneamente com o mundo
“fenomênico” kantiano, ou mundo do aparecer; somente a prática põe ao
homem em relação com a verdadeira realidade, a essência. A conexão entre
a teoria kantiana do conhecimento professada pelo jovem Schelling e a a-
historicidade de seu ponto de vista se pode avaliar claramente aqui. E ao
mesmo tempo se faz compreensível porquê o jovem Hegel, para o qual a
positividade era antes de tudo um problema histórico, se interessou muito
pouco por este aspecto epistemológico do desenvolvimento do kantismo por
meio de Fichte e Schelling.
51
importantes obras do Iluminismo francês e inglês. Estas citações que se
editaram nestes últimos decênios (primeiro na revista Logos, e depois no
livro de Hoffmeister), não foram, contudo, aproveitadas nos estudos
hegelianos. Em especial, carecemos mesmo de todo estudo sobre a medida
na qual foram aproveitados por Hegel para as partes antropológicas da
Fenomenologia e da Enciclopédia.
52
tem valor para ele. Esta tem mesmo sem duvida um matiz a-histórico que
procede da “religião natural” ou “racional” do Iluminismo; e a concepção do
jovem Hegel está claramente sob a influência principal de Lessing: “A
religião subjetiva se encontra no homem bom, enquanto que a objetiva pode
ter a cor uniforme que quiser; o que faz do cristão para nós é o mesmo que
faz de vós alguns judeus para mim, diz Natan (ato IV, cena 7, de Natan o
Sábio, de Lessing, G. L.), pois a religião é um assunto do coração, o qual
opera amiúde inconscientemente contra os dogmas admitidos pelo seu
entendimento ou sua memória (...).”(14) Porém no jovem Hegel do período
de Tubinga esta construção entre religião subjetiva e religião objetiva se
entrecruza na distinção entre religião pública e religião privada; e há que
observar que a este propósito que a unificação histórico-metodológica de
ambos pares não se produz, até o período de Berna. Mas já no período de
Tubinga a concepção de Hegel põe em estreito contato a religião pública
com a subjetiva, e a privada com a objetiva.
53
frequentemente adormecida para que o povo não se desprenda dele nem
permita que o arrebatem”(16). A religião subjetiva, a religião pública é, pois,
já para o estudante de Tubinga a religião de autolibertação do povo.
continua>>>
Incio da pgina
Notas de rodap:
(3) Plitt, Aus Schelling Leben in Briefen, Leipzig, 1869, vol. I, p 72. Citado a
partir de agora como Plitt.
(7) Ibidem.
(10) Schelling Weke ed. por M. Schröter, Iena, 1926, vol I, p. 106.
(15) Nohl, p. 20 a.
(16) Ibidem, p. 5.
54
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Como é natural, também seus interpretes reacionários tem que ver esse
caráter prático de sua filosofia. Haering põe precisamente este problema no
centro de sua interpretação, ao conceber as tendências “populares
pedagógicas” do jovem Hegel como traços essenciais de seu
desenvolvimento filosófico. E assim dito, a ideia seria admissível. Entretanto,
Haering e outros apologistas reacionários partem na interpretação das
concepções do jovem Hegel dos traços reacionários das tomadas de posição
política dos últimos anos do filósofo, consideram esses traços como a
“essência” sempre presente na filosofia hegeliana e pretendem os numerosos
e inevitáveis pontos confusos do jovem Hegel – especialmente no terreno
das questões religiosas – para por desde o primeiro momento tendências
reacionárias no centro do pensamento de Hegel.
55
reacionárias se movem numa direção diferente, e, em segundo lugar, passa
completamente por cima do significado das grandes crises históricas
(Termidor, a saída de Napoleão) que determinaram o caráter político do
desenvolvimento de Hegel e produziram no filósofo maduro aquele estado
íntimo profundamente resignado que é tão característico das importantes
figuras alemães que esperavam do período napoleônico uma renovação da
Alemanha. (Pense-se no velho Goethe.) Entretanto, logo se descobriu “pré-
formada” na alma do jovem Hegel uma analogia com Bismarck, é muito
fácil expor como assunto superficial todo o republicanismo do jovem
pensador, em inteira relação com a Revolução Francesa, e apaga-lo com a
crescente “maturidade” de Hegel.
56
alemã com a grega; porém, no jovem Hegel a comparação não é
principalmente estática. Além disso, lhe interessa comparar os diferentes
costumes vitais, a livre e formosa vida dos gregos com a vida dos alemães,
estreita, miserável, pequeno-burguesa, somente interrompida pelos meios e
ruidosos excessos da bebida. A diversidade das arquiteturas não é para o
jovem Hegel, senão expressão da diferença entre os conteúdos sociais da
vida dos povos diferentes. (também aqui se manifesta já de um modo de
consideração que se manterá na sua estética posterior, mesmo sem dúvida
em outro nível muito diferente da dialética e da análise histórica concreta.).
Dessas análises da situação alemã segue-se para Hegel que o povo alemão,
que não tem uma fantasia religiosa arraigada em solo próprio e enlaçada
com a própria história, é um povo que “carece plenamente de toda fantasia
política”.(4) E esta carência de vida anímica nacional se expressa em toda a
cultura alemã. O que interessa aqui, sobretudo ao jovem Hegel é de outro
modo outra vez muito característico, não a altura absoluta dos produtos
culturais alemãs – embora tenhamos visto que possui um íntimo
conhecimento deles -, senão a carência de popularidade da cultura alemã,
seu escasso enraizamento no povo ou nação. Esta deficiência constitui sua
principal reprovação à cultura alemã de seu presente: “As amáveis peças de
Hölty, Burger, museus desta especialidade, se perdem provavelmente do
todo para nosso povo, pois, este, para poder aceder a seu desfrute, teria que
estar menos atrasado no resto de sua cultura; do mesmo modo a fantasia
das partes cultas da nação se move num terreno completamente diferente
das classes vulgares, e os escritores e poetas que trabalham para aquelas são
completamente incompreendidos por estas, inclusive em seus traços
57
simplesmente exteriores da cena e dos personagens”. Também neste
contexto se reproduz a contraposição entre a Alemanha e a Antiguidade
sublinhando que precisamente a arte superior da Antiguidade clássica, a arte
de Sófocles e Fídias, foi uma arte popular, que moveu a nação inteira.(5)
Neste terreno, o jovem Hegel luta para que a futura cultura alemã tenha
bases clássicas. O jovem Hegel vê na recepção destas o único progresso
verdadeiro, e por isso combate especialmente as concepções de Klopstock, o
qual apela para a poesia em parte à pré-história do povo teutônico (batalha
de Teotoburgo), em parte às tradições judaico-cristãs (esta última, um eco
atrasado, insosso à moda teutônica, às tradições ideológicas da revolução
inglesa, recebido por mediação da influência de Milton). À exclamação
anticlássica de Klopstock –“ É Acaia a pátria dos teutônicos?” – responde,
sobretudo Hegel com uma detalhada discussão que culmina na tese de que
a renovação artificial das tradições alemães arcaicas é uma empresa tão
inviável como em seu tempo a tentativa do imperado romano Juliano de
ressuscitar a religião antiga. “Aquela antiga fantasia teutônica não encontra
em nossa época nada que se pudesse aderir ou com que pudesse entrelaçar-
se, está tão isolada no círculo de nossas representações, opiniões e crenças e
nos é tão alheia como a ossiânica ou a hindu...”. E, pelo que faz à
renovação da tradição judaico-cristã propõe a seguinte réplica: “E pelo que
faz ao que esse poeta exclama a propósito da mitologia grega, com o mesmo
direito poderia gritar a ele e a seu povo, a propósito da mitologia hebreia: É
por acaso hebreia a pátria dos teutônicos?”(6).
58
intrigas próprias das cortes principescas. O pai consegue a nomeação do
filho, ou do pretendente da sua filha que traga ao matrimônio maiores bens,
etc. Para se der do que é uma constituição aristocrática há que passar aqui
todo o inverno de um ano que caia na Páscoa da renovação do
Conselho”.(7) Certamente esta carta não necessita de comentário. Porém,
para apreciar o desenvolvimento futuro de Hegel é necessário observar além
disso que suas experiências de Berna arraigaram nele um desprezo
inextinguível pelo regime aristocrático-oligárquico. Esta recusa desse regime
não desapareceu sequer quando já havia revisado radicalmente suas demais
convicções políticas do período de Berna.
59
Do dito se depreende claramente que Hegel conheceu bem a maior parte
desta literatura de apologia à democracia antiga. (Somente pelo que faz a
Maquiavel, parece que o conheceu mais tarde, provavelmente, ao final do
período de Frankfurt.) Entretanto, inclusive prescindindo dessas influências
literárias, é indubitável a conexão essencial da veneração da Antiguidade
com estes motivos revolucionários no jovem Hegel. Pois a filosofia política
da Revolução Francesa, a sistematização de suas ilusões heroicas, repousa
precisamente nesse desenvolvimento ideológico. Os principais jacobinos são
discípulos diretos de Rousseau.
O elemento ilusório que existe nas ações dos jacobinos consiste, pois, como
indica a citada crítica de Marx, na qual os jacobinos não compreenderam os
verdadeiros fundamentos político-sociais de suas medidas revolucionárias e
alimentaram noções basicamente falsas pelo que faz à perspectiva que
aquelas medidas revolucionárias deveriam abrir. Este caráter ilusório não
destrói, portanto a essência democrática, o caráter revolucionário de seus
atos. Antes, pelo contrário, precisamente essa indissolúvel mistura de política
plebeia, realista, democrática e revolucionária, com ilusões fantásticas sobre
as perspectivas do desenvolvimento das forças da sociedade burguesa
desencadeadas pela revolução democrática é precisamente a viva
contradição dialética que caracteriza este período da revolução.
61
Deste ponto de vista é preciso considerar a relação dos precursores
ideológicos da revolução democrática e dos jacobinos com a Antiguidade.
Marx chamou a atenção sobre o fato de que estas concepções ilusórias
passam totalmente por alto o fundamento real da economia antiga, a
escravidão, do mesmo modo que são incapazes de incluir a imagem que
fazem da sociedade burguesa no lugar e papel do proletariado. Porém, esta
falsidade da concepção básica não suprime este sentimento correto – correto
no marco de concretos limites históricos - de que existiu uma determinada
relação entre a propriedade de parcelas relativamente iguais e a democracia
antiga. Marx precisamente formulou com grande precisão esta conexão:
“Esta forma da livre propriedade do campesinato cultivador artesanal,
considerada como forma dominante e normal, constitui por um lado a base
econômica da sociedade nos melhores momentos da Antiguidade clássica, e,
por outro lado, voltamos a encontrar nos povos modernos como uma das
formas que se desprendem da dissolução da propriedade feudal da terra. Tal
é o caso da yeomanry na Inglaterra, da classe camponesa na Suécia, em
França e na Alemanha ocidental (...) A propriedade da terra é tão necessária
para o pleno desenvolvimento deste modo de exploração como a
propriedade da ferramenta é para o livre desenvolvimento da exploração
artesão. E constitui a base do desenvolvimento da independência
pessoal”(13). Estas observações de Marx são de importância extraordinária.
Sobretudo, Marx indica com poucas palavras a relação econômica entre o
florescimento das democracias antigas e a relativa igualdade da propriedade
camponesa. Além disso, a alusão a yeomanry nos é muito significativa. Pois
do mesmo modo que nas guerras da República Francesa e nas napoleônicas
os camponeses libertos pela revolução e novos proprietários de suas terras
constituem o núcleo dos exércitos, assim também na revolução inglesa a
yeomanry constituiu o núcleo das tropas que libertaram o povo do jugo dos
Eduardo.
62
em não haver visto que suas medidas revolucionárias eram objetivamente
medidas que desencadeavam o desenvolvimento capitalista.
63
que mesmo no ano de 1800 Fichte escreveu uma utopia ( O estado
comercial fechado) cujos princípios coincidem em muitos pontos com a
política social e econômica do último período do governo de Robespierre. É
necessário acrescentar, naturalmente, que também neste caso a
sistematização filosófica das referidas ilusões por Fichte se produz por uma
direção que forçosamente tem de exacerbar idealisticamente o elemento
ilusório. ( O desenvolvimento posterior de Fichte, os conflitos íntimos que se
produzem em consequência de sua adesão ao movimento de independência
caem fora do âmbito de nossa investigação. Entretanto, forçosamente
tínhamos de fazer algumas alusões a Fichte, pois também pelo que fez a este
filósofo a historiografia burguesa silencia ou falsifica os problemas e conflitos
internos que aquela situação histórica determinou no pensador).
O jovem Hegel nunca chegou tão longe quanto Fichte, nem sequer no
período de Berna. Por uma de suas cartas a Schelling vimos já antes que ele
era hostil a ala radical e plebeia jacobina. Apesar disso é preciso afirmar que
a ideia rousseauniana e jacobina da igualdade relativa das fortunas constitui
o fundamento econômico de sua filosofia da revolução. Entretanto, esta
filosofia tem uma curiosa característica que devemos registrar, mesmo que
não possamos considerar todo seu alcance senão ao expor detalhadamente
as concepções de Hegel sobre a Antiguidade e o cristianismo. A
característica em questão consiste em que a Antiguidade é para o jovem
Hegel um período quase “aeconômico”. O jovem Hegel parte para a
concepção dogmaticamente admitida da igualdade relativa das fortunas nas
antigas cidades-estados, e analisa somente os fenômenos culturais e
religiosos nos quais se manifestam as peculiaridades daqueles estados. Por
outro lado, suas considerações sobre o cristianismo estão semeadas de
concepções econômicas, por ingênuas que sejam no momento. Pois para o
jovem Hegel o cristianismo é o período do homem privado, que se interessa
por sua propriedade e somente por ela. A agonia da vida pública da
Antiguidade, no período do despotismo antigo e depois no despotismo da
idade cristã é para o jovem Hegel o período da vida econômica tal como ele
a entende. Somente quando suas ilusões jacobinas entram em conflito com
a realidade surge no pensador a necessidade de conseguir concepções
econômicas mais profundamente fundadas. Por isso é muito característico
que o descobrimento do papel da escravidão na Antiguidade se produza
senão relativamente tarde, no período de Iena.
Entretanto tudo isto não significa de modo algum que o jovem Hegel haja
sido cego par o problema social. Ao contrário. O problema da divisão do
trabalho desempenha um grandioso papel em sua concepção de diferença
entre a Antiguidade e o cristianismo. O ilusório de sua filosofia da história se
manifesta também no fato de que o jovem Hegel idealiza a deficiência da
divisão do trabalho na Antiguidade e espera da revolução democrática, o
restabelecimento daquela situação antiga.
64
Em si tomada, a consideração crítica da divisão capitalista do trabalho é sem
dúvida um momento muito progressista da filosofia humanista do período. E
é mérito sobretudo de Schiller o haver assinalado este problema no centro
do interesse dessa filosofia. Sabemos já que o jovem pensador leu com
entusiasmo a obra de Schiller que é decisiva neste terreno, as Cartas sobre a
educação estética. Em um estudo especialmente dedicado à crítica de
Schiller mostrei com detalhes que esta crítica da divisão capitalista do
trabalho não é produto de um anticapitalismo romântico, mas continuação
das melhores tradições do Iluminismo, especialmente da tradição de
Ferguson(15). É difícil precisar em que medida as concepções do jovem
filósofo estão influenciadas pelas de Schiller e em que medida enraízam-se
em Ferguson, ao que Hegel conheceu sem dúvida alguma. A importância
metodológica que encontramos em Schiller e em Hegel diante de Fergunson:
nos dois primeiros aparece muito pálido o fundamento econômico da
divisão capitalista do trabalho, e os dois se preocupam sobretudo por todas
as consequências ideológicas e culturais da referida divisão do trabalho.
Hegel, certamente, com especial matiz de que para ele o ideal humanista do
homem não desgarrado pela divisão do trabalho não se consegue pela via
da arte, senão pela ação política. A grandeza da arte antiga é para Schiller
um problema central: a forma de manifestação de um homem com todas as
faces, de um homem ainda não atomizado. Este mesmo ideal se encarna em
Hegel, no modo de ação política plenamente humano, com todos os rostos
da antiga democracia; a arte da Antiguidade aparece em Hegel
marginalmente, apenas como ilustração de um fato central que lhe interessa.
(1) Rosenweig, Hegel und der Staat, Munique-Berlim, 1920, vol. I, p. 51.
(retornar ao texto)
65
(3) Ibidem, p. 215. (retornar ao texto)
(13) Marx, Das Kapital, vol III, Berlim, 1953, p. 858. (retornar ao texto)
(14) Fichte, Werke, Leipzig, 1908, vol. II, pag. 217. (retornar ao texto)
66
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
67
patrícios romanos, cuja decadência tentou deter em vão as propostas sobre a
legislação agrária à ameaçadora influencia dos Gracos e outros; o exemplo
dos Médici em Florença (...) Valeria a pena investigar o quanto rígido direito
de propriedade deveria sacrificar-se a forma da república duradoura. Talvez
se cometeu uma injustiça com o sistema do sansculotismo em França a
buscar exclusivamente no latrocínio a fonte de maior igualdade de
propriedade, a que aspirava”(1).
“A religião grega e romana foi uma religião apta somente para povos livres,
e com a perda da liberdade tem que se perder também o sentido e a força
da religião, sua adequação ao homem”. Para que servem os canhões para
um exército que não têm munições? Tem que buscar fora outras armas. Para
que servem as redes de pescar se o rio secou?
Como homens livres, eles obedeciam às leis que haviam dado, obedeciam a
homens que eles mesmo haviam posto como superiores, realizavam guerras
que eles mesmos haviam decidido, sacrificavam sua propriedade e suas
paixões, mil vidas por uma causa que era a sua; não estudavam nem
69
professava, porem exerciam as máximas da virtude mediante seus atos, que
podiam considerar completamente seus; tanto na vida pública quanto na
privada e doméstica, cada qual era um homem livre e vivia segundo suas
próprias leis. As ideias de sua pátria, de seu Estado, é o invisível e supremo
pelo qual luta e trabalha, o que o move; tal era o fim que em realidade
achava já composto ou que ele mesmo contribuía para compor e a manter.
Ante essa ideia desaparecia sua individualidade, ele não exigia vida e
sobrevivência, mais do que para aquela, e podia realiza-las; não lhe ocorria
– ou, ao menos, não na generalidade dos casos – pedir sobrevivência ou a
vida eterna para sua própria individualidade, nem mendiga-las; o único que
podia ocorrer-lhe era sentir algo mais intensamente, nos momentos inativos
e de inercia, algum desejo que se refira somente a ele. Catão, não se
refugiou no Fédon de Platão, senão quando ficou demonstrado o que havia
sido para ele até então a ordem suprema das coisas, seu mundo, sua
república, então se refugiou em uma ordem superior.
Seus deuses governavam no reino da natureza sobre todo aquele pelo qual
os homens podem ser felizes ou infelizes. Eram obra sua as grandes paixões;
semelhante aos grandes donos da sabedoria, a eloquência e o conselho,
dádivas suas. Se lhes fosse pedido conselho sobre o êxito feliz ou infeliz de
uma empresa, se impetrasse suas bênçãos e se lhes oferecessem dons de
todas as classes; entretanto o homem podia enfrentar-se a si, enfrentar sua
liberdade, com esse poder, com esses senhores da natureza, quando entrava
em conflito com eles. A vontade do homem era livre, obedecia a suas
próprias leis, porque não conheciam mandamentos divinos, e quando
chamados mandamentos a uma lei moral, estes não estavam dados em lei
escrita, senão que regia invisivelmente (Antígona). Com isso reconheciam a
si mesmo a cada qual o direito a ter vontade, fosse esta boa ou má. Os bons
consideravam um dever o sê-lo, porém honravam ao mesmo tempo a
liberdade dos demais, inclusive a liberdade moral divina, ou feita ou
abstraídas por eles, que impor aos demais.
70
A imagem do Estado como produto de sua própria atividade desapareceu
da alma dos cidadãos; a preocupação e o domínio do todo com um olhar
ficou limitada a alma de um indivíduo ou de alguns poucos: cada qual teve
seu lugar mais ou menos limitado, diverso dos lugares dos demais e
conquistado por outro; o governo da máquina do Estado ficou confiado a
um pequeno número de cidadãos, e estes não serviam senão como
engrenagens particulares, que nos cobram seu valor senão em união com os
demais; e a parte do todo dividida confiada a cada um desses indivíduos era
tão irrelevante em comparação com tudo que o indivíduo não tinha por quê
conhecer essa relação ou tê-la presente. A utilização do Estado era o grande
objetivo posto por estes cidadãos, e o objetivo que estes se impunham
nessas circunstâncias era o lucro, a manutenção da vida e acaso também a
vaidade. Toda a atividade e todos os fins se referiam agora ao indivíduo;
não havia atividade do todo, por uma ideia; cada qual trabalhava ou para si
ou, obrigado, para outro indivíduo. A liberdade de obedecer a leis impostas
por eles mesmos, a liberdade de seguir na paz a autoridade imposta por eles
mesmos, a liberdade de realizar planos em cuja decisão haviam participado
eles mesmos, desapareceram rapidamente; toda a liberdade política
desapareceu; o direito do cidadão se reduziu ao direito à segurança da
propriedade, que agora os encheu todo o seu mundo; o fenômeno que
destruía todo o tecido de seus fins, a atividade da vida inteira, tinha que
aparecer agora ao cidadão como algo espantoso, pois agora já não
sobrevivia esse fenômeno – a morte- nem nada lhe sobrevivia, enquanto que
ao republicano lhe sobrevivia a república, e ele sentia vagamente que a
república, sua alma, era algo eterno”(4).
Esta conexão fica ainda sublinhada pelo fato de que Hegel apresente o final
da igualdade das fortunas como causa decisiva da decadência e morte do
mundo republicano antigo; chamará a atenção, sem dúvida, a todo leitor o
ingênuo e ideologicamente que Hegel constrói a passagem da liberdade até
sua negação. Hegel se deu conta das causas econômicas – que toma de
Rousseau - , porém, pelo momento, as entende muito abstratamente, sem
conseguir partir delas nenhum membro concreto da mediação para os
problemas ideológicos, que são os que lhe interessam em primeiro lugar.
71
O problema ideológico central do jovem Hegel volta a ser neste caso o que
chama de subjetividade, em contraposição a positividade. No terreno da
política, essa contraposição pode expressar-se em termos relativamente
simples e claros; os homens obedecem a leis que criaram deles mesmos, a
autoridade que elegeram, etc., o Estado é constantemente o produto de sua
atividade. E é característico da concepção do jovem Hegel na época que
rechace para esse estado social todo estamento, seja de natureza secular ou
religiosa. Sabemos já que o jovem Hegel descuidou a existência e a
importância da escravidão para o mundo antigo. Sua concepção de
democracia antiga era, mais geralmente, alheia a distinção de classes ou
estamentos. Segundo suas concepções, enquanto que se consolidavam
diferenças econômicas e políticas testamentais havia terminado a verdadeira
liberdade.
72
Esta liberdade ativa do povo manifesta o caráter não-positivo, não-feiticista,
não objetivo da religião antiga. Como é natural, apesar de todo seu
entusiasmo subjetivo-idealista na absolutização da “razão prática”, o jovem
Hegel sabe muito bem que um mundo sem objetividade alguma, sem
objetivação dos sentimentos e dos pensamentos é uma impossibilidade. Por
isso tenta expor com descrições complicadas e complicadas análises em quê
consiste o específico dessa antiga objetividade não-objetiva.
73
obra de Jesus surgiu um seita fechada de frente estreita; “entre os gregos
Jesus teria sido objeto de riso”(8).
Por outro lado, Hegel tem uma ideia não menos clara de que a
personalidade humana plenamente desenvolvida não pode dar-se mais do
que onde e quando a situação social permita uma tal consciência da vida
pública e vida privada, uma tal viva interação entre ambas.
74
O empobrecimento e a estagnação da vida humana é por isso um dos
momentos essenciais da crítica hegeliana à Idade Moderna. O seguinte
paralelo entre a vida antiga e a moderna foi escrito por Hegel para alinhar
em seguida alguns extratos do grande livro de viagens Ansichen vom
Nierderkein, do jacobino de Maguncia George Foster, cuja contraposição da
cultura e arte antiga com os modernos - contraste que também em Foster
arraigava no espírito republicano – influenciou poderosamente o filósofo.
“Só numa república se vive por uma ideia, nas monarquias sempre pelo
individual; e como os homens não podem viver sem uma ideia, se fazem nas
monarquias pela ideia individual, um ideal; ali, pois, uma ideia, como é
devido; aqui um ideal, algo que poucas vezes haviam criado os próprios
homens, a Divindade. Na república, o Grande Espírito dirige todas as suas
forças físicas e morais para sua ideia, e todo seu campo de ação tem
unidade; o piedoso cristianismo que se entrega ao serviço, de seu ideal é
pelo contrário um místico insensato; se seu ideal o completa plenamente,
não pode dividir-se entre este e seu âmbito de ação mundano, todas as suas
forças tendem para aquela parte, entretanto as exigências de contemplar o
ideal satisfarão as exacerbadas exigências da imaginação, e até a própria
sensibilidade imporá seus direitos: exemplos, os inumeráveis monges que
criam flertar com Jesus e ate arrasar-lhe materialmente. A ideia do
republicano é, em troca, de tal natureza que suas mais nobres energias
encontram satisfação no trabalho verdadeiro, enquanto a do insensato
místico só se satisfaz com o engano da imaginação.” A seguir – e também
sob a profunda influência de Foster – Hegel oferece uma contraposição entre
a arte (arquitetura) antiga e cristã, contraposição que termina, naturalmente,
a favor da Antiguidade e a propósito da qual deve observar-se de novo que
a arte não se contempla substantivamente, mas como expressão de diversos
sentimentos vitais das sociedades dos grandes períodos.(11)
Como é sabido, Kant recusou em sua ética toda relação dos mandamentos
de dever com a sensibilidade, toda determinação de seu conteúdo e de sua
forma por exigências da felicidade sensível do homem. Nisto Hegel está de
acordo. Contudo critica a Kant que admita uma dignidade de felicidade nas
76
consequenciais religiosas de sua ética, e que esta categoria desempenhe um
grande papel junto a aparição de Deus nesta segunda Crítica, como
“postulado da razão prática”. Hegel vê nisto sobretudo uma renovação da
positividade da religião. A ética kantista exige segundo ele, a presença de
“um ser alheio, titular do domínio sobre a natureza, como se agora essa ética
deixasse faltar esse domínio e não pudesse prescindir dele. Nesse sentido, fé
significa carência da consciência de que a razão é absoluta, perfeita em si, de
que sua ideia tem de ser criada exclusivamente por si mesma, livre de toda
ingerência estranha, de que isto não pode consumar-se senão mediante a
extirpação, precisamente, desse elemento estranho impertinente [o Deus
kantista, G. L.], e não mediante uma imitação dele. O fim último da razão,
assim condicionado, cai a fé moral na existência de Deus, a qual não pode
ser prática (...)”(13) Hegel critica pois , a ética kantista partindo dos
pressupostos desta, e chega certeiramente a depura-la das provas da
existência de Deus que Kant deslizou nela, a uma recusa da doutrina kantista
da fé, entretanto, na base de um posterior radicalizante ascetismo moral já
não presente na Crítica da razão prática.
78
entre vida e morte, e vê no morrer uma continuação orgânica necessária do
modo em que a vida avança em geral. “Os heróis de todas as nações
morrem do mesmo modo, pois já viveram, e aprenderam em sua vida a
reconhecer o poder da natureza. A impaciência para com esta, para o menor
de seus males, incapacita para suportar seus efeitos maiores. Como poderia
explicar-se de outro modo que estes povos em cuja religião o momento
capital é a preparação para a morte morram em geral de um modo tão
pouco viril, enquanto os homens de outras nações olham face a face o
momento quando se aproxima?” Segue a isto uma descrição de formosa
morte grega, influenciada por poemas filosóficos de Schiller. Hegel opõe
logo a essa formosura a mesquinharia da religião positiva, do cristianismo:
“Por isso vemos os leitos dos enfermos rodeados de padres e amigos que
executam diante da alma agonizante os angustiantes suspiros do rigor”(17).
Em outro lugar o jovem Hegel chega a lançar a brincadeira contra a morte
de Jesus. Diz ironicamente que o mundo inteiro, segundo a religião positiva,
deveria estar cheio de agradecimento à pessoa de Jesus por aquele sacrifício,
“como se não houvessem já sacrificado muitos milhões de homens por fins
menores, entregando-se com o sorriso nos lábios, e não suando sangue, com
alegria, pelo seu rei, por sua pátria, por sua amada: é preciso ver como
haveriam morto nada menos que pela linhagem humana em geral!”(18).
79
(3) Rosenkranz, p. 532. Tradução do texto: “Na monarquia, o povo não foi
uma potência ativa mais que o momento do combate. Como exército
mercenário, não só tinha que enquadrar-se nas filas baixo o fogo do
combate, senão que, imediatamente depois da vitória, tinha que voltar a
perfeita obediência. Nossa experiência nos acostumou a ver uma massa de
homens armados, que, quando recebem ordens, irrompem em uma
regulamentada fúria de açougueiro e a loteria da vida e da morte, o jogo, ao
repetir-se a ordem, voltam à calma. O mesmo se pediu ao povo armado por
si. A palavra de ordem é a liberdade, o inimigo a tirania, o alto mando uma
Constituição, é a obediência a seus representantes. Entretanto há muita
diferença entre a subordinação militar e o fogo de uma insurreição, entre a
obediência às ordens de um general e a chama do entusiasmo que a
liberdade difunde por todas as vezes que um ser vivo. Por esta chama
sagrada que possui temos os nervos por ela, para gozar por ela, se
esforçavam. Estes esforços são os gozos da liberdade, e o que queira é que
renuncie a ela; essas concepções são o agente, essa atividade para a coisa
pública, e quereis que o povo se entregue outra vez a inação e ao tédio?” (n.
do. T) (retornar ao texto)
(8) Nohl, p. 33; cfr. Ibidem, pps. 162 e ss. (retornar ao texto)
80
(18) Nohl, p. 90 (retornar ao texto)
81
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
82
Este caráter abstrato, essa distância em relação às perspectivas do futuro, se
reflexa no posicionamento abstrato, em sua ahistoricidade quando se trata de
averiguar como se originou aquela imagem ideal das antigas repúblicas na
realidade.
83
Entretanto este espírito histórico do posicionamento do problema se manifesta
antes de tudo no fato de que para explicar o domínio do cristianismo Hegel não
busca a explicação diretamente na história da origem desta religião, antes na
história da decadência dos estados antigos. Hegel parte da necessidade social de
uma religião correspondente ao novo estado da decadência da liberdade,
correspondente ao despotismo, e explica a vitória do cristianismo pelo fato de
que o cristianismo satisfez essas necessidades. “Nessa situação, sem fé em nada
sustentável, em nada absoluto, com este costume já de obedecer a uma vontade
alheia, a uma legislação estranha, sem pátria, em um estado que não era já
objeto de nenhuma alegria (...), nessa situação se ofereceu aos homens uma
religião que o bem estava já por si mesma adaptada às necessidades do tempo –
pois havia nascido no povo de análoga corrupção e análogo vácuo e deficiência,
mesmo tendo outras cores —, ou bem possibilitou aos homens que obtiveram
dela aquilo a que podiam aferrar-se com satisfação de suas necessidades”(2).
84
este processo, e Hegel descobre com uma penetração histórica assombrosa para
a época que essas correntes, apesar de sua oposição ao curso básico dos
acontecimentos, não podiam mudá-lo em nada. Por este dado estrutural explica,
por exemplo, que os estoicos romanos tardios se afastaram da vida real. (É
característico que neste período o filósofo não se ocupe dos epicúreos, nem dos
céticos. O estudo do ceticismo grego chega ao período de Iena a um nível alto de
compreensão. Com Epicuro, por outro lado, nunca conseguiu Hegel uma relação
correta.) Depois Hegel mostra como o sentimento de impotência levou a admitir
a existência de objetos imperceptíveis pelos sentidos, à adoração destes e as
correntes trágicas em geral. Depois da qual indica que dessas correntes havia já
uma via direta para o cristianismo. E disse para terminar: “A Igreja já
desenvolvida reuniu em si ambas as coisas: os desejos dos estoicos e os daqueles
de espíritos alquebrados. A Igreja permite ao homem viver em meio ao torvelinho
dos objetos e lhe promete ao mesmo tempo levantar-lhe sobre eles por meio de
fáceis exercícios, gestos, movimentos dos lábios, etc.”(4).
Pelos apontamentos de Tubinga sabemos já que o jovem Hegel viu nesse caráter
privado o momento decisivo do cristianismo. Diferente das antigas religiões, que
sempre se dirigem ao povo inteiro, é característico do cristianismo o fato que se
refira ao indivíduo, à salvação, a redenção e bem-aventurança do indivíduo.
Entretanto, Hegel posiciona mesmo neste ponto outra questão histórica. Aquele
cristianismo recebido da Roma imperial não é idêntico ao cristianismo
originariamente fundado por Jesus, segundo o modo como essa fundação nos foi
transmitida por determinadas partes do Novo Testamento.
85
dos puritanos na revolução inglesa. Terminada esta termina também a época na
qual determinadas doutrinas e narrações do Velho e do Novo Testamento se
utilizam como bandeiras ideológicas por parte dos grupos políticos radicais. A
preparação da revolução democrático-burguesa em França se orienta cada vez
mais resolutamente contra o cristianismo, contra a religião e a Igreja em geral.
Porém isso não significa que a contraposição das doutrinas morais de Jesus com
a imoralidade da prática antissocial da Igreja deixe de desempenhar um papel na
polêmica antieclesiástica do Iluminismo. Inclusive na Revolução Francesa aparece
de vez em quando propagandisticamente a ideia do “bom sans-culotte Jesus”
utilizada contra os sacerdotes contrarrevolucionários e monarquistas. Na atrasada
Alemanha, aonde, como vimos, não pode surgir um materialismo ateu resoluto
nem uma luta radical contra a religião, onde inclusive no campo do Iluminismo a
“religião nacional” ocupou um lugar ideológico central, se utilizam, como é
natural, ideologicamente muitas sentenças e doutrinas de Jesus (Sermão da
Montanha, etc.) como elementos daquela “religião racional”.
86
Cristo leva em si a prova de como Cristo não considerava em sua instrução, a
formação, a perfeição do homem individual, e o pouco que esta instrução pode
ampliar-se a uma sociedade maior”.(6)
Com isto chegamos à segunda interrogação histórica que Hegel põe aqui. A
necessidade em que se encontra o cristianismo de fazer-se positivo no sentido
pejorativo do filósofo alemão consiste em que mandamentos morais que se
dirigiam somente ao indivíduo e não tinham outra finalidade do que a perfeição
deste como individuo se ampliaram no curso do desenvolvimento da sociedade.
Hegel diferencia várias fases desse processo; em primeiro lugar, as doutrinas do
próprio Jesus e suas relações com os discípulos imediatos; em segundo lugar, a
seita cristã surgida depois de sua execução, em cuja seita vão reforçando-se os
traços positivos já presentes em germe no ensino de Jesus, e que, pela unificação
intencional moral das primeiras comunidades cristãs, se produz uma seita
religiosa de pronunciados traços positivos; em terceiro lugar, por último, a
posterior ampliação da doutrina a toda sociedade, a fase do cristianismo como
Igreja dominante na qual aquelas forças estranhas e hostis à vida, as forças da
positividade, conseguem nociva importância histórica que determina o
desenvolvimento inteiro da Idade Média e da Idade Moderna.
87
esboço, e foram depois utilizados e ampliados pela ânsia de domínio e pela
hipocrisia”. E depois acrescenta generalizando: a história da religião cristã “nos
acrescenta um novo exemplo aos muitos do que temos de que as instituições, as
leis de uma sociedade pequena em que cada cidadão tem a liberdade de ser ou
não membro dela, deixam sempre de ser adequadas quando se estendem a uma
grande sociedade, e não podem subsistir com a liberdade civil”(7).
Hegel analisa então com grande detalhe, as modificações sofridas pelas doutrinas
e os mandamentos de Jesus seja na comunidade primitiva, seja como mais tarde
essas modificações continuaram desenvolvendo-se, até chegar a positividade
completa, a hipocrisia e o despotismo da Igreja cristã plena. Este detalhe de
análise se explica pela situação da Alemanha da época; sabemos pelas cartas de
Hegel o modo como a ortodoxia reacionária havia utilizado para seus fins, por
exemplo, a filosofia de Kant. Entretanto, como é natural, tampouco estes estudos
de Hegel fazem de seus escritos juvenis como “teológicos”, pois seu conteúdo
fundamental é antiteológico; porém a história da degeneração das diversas
doutrinas cristãs particulares não tem para nós atualmente interesse.
Limitaremos-nos, pois, à exposição do aspecto principal do desenvolvimento
histórico. E aqui é necessário sublinhar uma vez mais que o jovem Hegel
complementa sempre o motivo da ampliação quantitativa da comunidade cristã
com a penetração de diferenças econômicas e sociais nela, isto é, que também
aqui desempenha o papel principal o problema básico de Hegel, o problema da
desigualdade das riquezas. Com a ampliação da comunidade se perde a íntima
união e fraternidade original de seus membros. Assim termina a comunidade de
bens inicialmente praticada nas primeiras comunidades, porque os membros
procedem agora de camadas sociais material e socialmente diferentes. Aquela
primitiva comunidade de bens “não se exige já como condição de sua admissão
[do novo membro, G. L.] (...) porém se aceitam por outro lado tanto mais
prazerosamente as contribuições voluntárias à caixa da sociedade, meio de
comprar a própria parcela de céu (...); com isto ganhou muito o clero nos tempos
posteriores, recomendando aos leigos que praticasse essa generosidade em
benefício do sacerdócio, enquanto este teimava em dissipar o acumulado, e
assim, para enriquecerem-se eles que se apresentavam como pobres e
necessitados de ajuda, foram convertendo em mendigos a outra metade de
homens”. Do mesmo modo se converte a igualdade primitiva em uma hipocrisia,
em um dogma religioso positivo; “certamente, esta teoria se conservou em todo
seu tenor, porem acrescentando-se prudente e astutamente que essa igualdade é
diante os olhos do céu, pelo que não é preciso levá-la em consideração nesta
vida terrena”.
88
morto, ficando como decisivo problema religioso-moral a igualdade e a
fraternidade dos discípulos. “Porém esta confraternização se foi extinguindo à
medida que no curso da universalização do cristianismo se produziu em suas
fileiras uma desigualdade crescente entre os cristãos, desigualdade que a teoria
recusava sem dúvida, mas que permanecia na prática”(8). O cristianismo se
desenvolveu em todos os terrenos até converter-se numa Igreja positiva e
transforma a inicial moral privada de seu fundador, naquela dogmática hipocrisia
que, segundo as concepções do jovem Hegel, é a religião necessária e adequada
para a sociedade baseada nos interesses privados, para a sociedade do burguês.
89
suor dos pobres, não pode convocar sua religião como vingança porque o que
oprime ouve as mesmas missas que ele, ou inclusive as reza, etc.: entretanto esse
súdito ou servo cristão encontrou em sua religião mecânica tanto consolo, quanto
indenização da perda de seus direitos humanos, que chegou a perder em sua
animalidade o sentido de sua humanidade (...)
Sob os imperadores romanos a religião cristã não foi capaz de por oposição à
decadência daquela virtude, à opressão da liberdade e dos direitos dos romanos,
à tirania e a crueldade dos governantes, à decadência do gênio de todas as artes
e todas as ciências sérias, nem foi capaz de dar nova vida ao valor fundido, aos
ramos secos da virtude nacional e da felicidade nacional, mas que, envenenada e
corroída por essa peste geral e convertida, nessa deformada imagem, em
servidora e instrumento dos déspotas, converteu em sistema a decadência das
artes e ciência, fiz virtude da paciência da covardia com que se contemplava o
pisoteamento daquelas formosas flores de humanidade e liberdade, converteu
em virtude a obediência ao déspota, se converteu ela em advogada e fogosa
cantora dos tremendos crimes do despotismo e de algo ainda pior que os crimes
particulares, a saber, do despotismo que absorvia toda força humana vital e
destruía com seu oculto veneno de longa ação”(10).
Hegel esboçou essa obscura estampa dos efeitos históricos do cristianismo não só
relativo a Roma decadente, mas também para toda a história medieval e
moderna. Em outro lugar, falando da eficácia histórica da religião cristã, disse o
seguinte: “Quanto pouco foi capaz de levantar-se acima da corrupção de todos
os estamentos, da barbaria dos tempos dos grosseiros preconceitos dos povos! Os
inimigos da religião cristã que liam com um coração cheio de sensibilidade
humana a história das criaturas, do descobrimento da América, do atual tráfico
de escravos, e não somente essas brilhantes histórias nas quais a religião cristã
desempenhou um papel destacado, mas toda a grande cadeia de podridão dos
príncipes e da vergonha das nações, e que ao ler sentiam que as sangrava o
coração, para depois ouvir as pretensões dos mestres e servidores da religião pelo
que faz a utilidade geral dela e outras declamações parecidas, tinham
necessariamente de encher-se de ódio amargo à religião cristã (...)”(11).
90
senhores eclesiásticos ou mundanos. Esses efeitos do cristianismo se desprendem
isso sim, segundo ele, de sua mais íntima essência de sua positividade.
91
moral não poderia ser senão coisa simplesmente desejada (o que é objeto do
desejo é que alguém no pode fazer por si mesmo, e espera conseguir sem ação
própria) e não poderia ser já coisa querida. Os primeiros difusores da religião
cristã suscitaram esperança em tal revolução, uma revolução que deveria realizar
um ser divino enquanto que os homens se comportavam com toda passividade; e
quando com o passar do tempo desapareceu completamente aquela esperança,
os cristãos se contentaram em esperar aquela revolução da totalidade para o
Final dos Tempos”(14).
Nesse texto se vê muito claramente que o ódio e desprezo que sente Hegel pela
religião positiva, pelo cristianismo, tem sua fonte mais profunda em seu
entusiasmo pela revolução. Precisamente porque o jovem Hegel representa a
revolução de um modo puramente idealista, como realização da “razão-prática”
que ele reinterpretou com sentimento social, o assunto da vontade tem que
desempenhar papel decisivo em suas ideias. Como vimos, a vontade é para o
jovem Hegel não somente o princípio do prático, senão, ao mesmo tempo,
também o absoluto. Tudo depende dessa vontade. A grandeza das antigas
repúblicas subsistiu enquanto os homens quiseram livremente. Entretanto ao
converter o cristianismo a livre e ativa vontade em passivo e humilde desejo,
pode e teve forçosamente que dominar o despotismo do mundo. Sem dúvida,
Hegel via motivos sociais e históricos dessa transformação da vontade em simples
desejo. Entretanto precisamente porque era um pensador alemão – e na
Alemanha (mesmo no caso de que o próprio Hegel houvesse alimentado menos
preconceitos e ilusões idealistas) não eram visíveis naquela época forças objetivos
que movessem para uma revolução democrática -, sua utópica esperança
revolucionária tinha que concentrar-se em uma vontade idealisticamente posta e
hipertrofiada.
92
deixar de ser algo subjetivo, e reduzir-se plenamente a objeto, e aquela inversão
e perversão das máximas morais permaneceu então fácil e consequentemente
justificada pela teoria (...) Tal é o sistema de toda Igreja”(15).
93
Hegel maduro em relação a realidade histórica. Entretanto o núcleo dialético
desta concepção é sempre o reconhecimento da realidade social tal como esta é:
e isso ainda que esta realidade não seja naturalmente, mais que um estádio, um
momento do desenvolvimento histórico, e têm que transformar-se no curso do
desenvolvimento histórico em não-realidade, em não-ser, em algo superado e
anulado. Por isso para o Hegel posterior as concepções do mundo tem de
apresentar-se como resumos historicamente necessários das épocas no
pensamento. Esta concepção tardia pressupõe uma imagem da história na qual
um desenvolvimento continuo da dialética leva desde os começos do gênero
humano até o presente.
94
metodologicamente unitário, mostrar realmente e por sua própria dialética o
caminho que leva do presente à perspectiva do futuro. Por isso em sua própria
perspectiva de futuro a renovação de liberdade antiga, não deixa de ser um
postulado abstrato, o qual tem como complemento necessário e orgânico aquele
ódio ao cristianismo cujas manifestações acabamos de ver. Este ódio tem sua
fonte na ideia que o jovem Hegel faz da liberdade e de outros conceitos morais
como categorias eternas e supra históricas. Em sua opinião, o cristianismo conclui
precisamente essas eternas verdades da moral, as perverte, coloca o mentiroso
nicho da santidade em torno do halo do eternamente recusável. O jovem Hegel
descarrega todo seu ódio revolucionário contra essa perversão de conceitos
morais.
95
(5) Nohl, p.33. (retornar ao texto)
(15) Nohl, p. 227 e seguintes. Precisamente aqui, neste lugar decisivo de sua luta
central contra o cristianismo, a influência das concepções de George Foster no
jovem Hegel é perceptível inclusive no estilo. (retornar ao texto)
(20) Engels, Socialismo alemão em Verso e Prosa II, MEGA, I, vol. 6. P 57. Cf.
Marx-Engels, Sobre literatura e arte, Berlim 1950, p. 218. (retornar ao texto)
96
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Porém esboços existem sem dúvida. Existem, por um lado, no modo como
concebe o jovem Hegel sublinha o caráter social das forças motrizes do
desenvolvimento histórico (por mais idealisticamente mistificadas que
estejam essas forças), e existem também no fato que este filósofo vê na
história da liberdade humana o núcleo do processo. Precisamente porque a
positividade da religião, mesmo que contenha uma concepção geral da
objetividade, é por sua essência um resultado nascido historicamente e que é
necessário superar historicamente no futuro, um resultado, pois, do
desenvolvimento social, Hegel obtém uma dialética histórica da liberdade,
por mais que muito abstrata, muito idealista, e muito construída. O processo
histórico é no jovem Hegel do período de Berna uma grande construção
triádica: liberdade originária e atividade autônoma da sociedade humana –
perda dessa liberdade sob o domínio da positividade – reconquista da
liberdade perdida. Salta aos olhos o parentesco desta filosofia da história
com as concepções dialético-idealistas de Rousseau.
Tal é o caso do jovem Hegel. O erro mais grave de Haym se baseia em que
abstrai completamente o princípio antropológico em sua inserção no
idealismo ou no materialismo, que esse princípio cobra um significado
completamente novo no contexto idealista. Pois para o idealismo não existe
objetividade dos objetos do mundo externo e a falsa e fictícia pseudo-
objetividde das representações religiosas. Ambas são produtos de um sujeito
idealisticamente mistificado, e deste ponto de vista tem pouca relevância que
o filósofo idealista parta da consciência real do individuo humano ou de
uma consciência mistificada coletiva, ou “geral” ou “sobre-humana”. E se o
filósofo idealista deseja conceder uma determinada objetividade aos objetos
do mundo externo pelo rodeio de algum expediente sistemático, se vê
obrigado a reconhecê-la também às representações religiosas. Inversamente,
como, quando no caso do jovem Hegel pelo que faz a religião positiva, quer
resolver e dissolver os objetos da religião dissolve ao mesmo tempo a inteira
objetividade do mundo e a reduz a alguma “subjetividade criadora”. Este
101
destino caracteriza não somente a filosofia do jovem Hegel, mas o inteiro
final da filosofia clássica alemã; Os esforços de Schelling e Hegel para
rebaixar o solipsismo místico, o idealismo subjetivo de Fichte, terminam –
mesmo em cada um à sua maneira – com a admissão de um sujeito-objeto
idêntico e não menos místico, o qual segrega o mundo da objetividade e
volta em seguida a absorvê-lo.
Vemos, pois, que no jovem Hegel começam a ser ativas uma série de
tendências idealistas que foram determinantes na postura posterior do
sistema hegeliano. Porém este fato não deve ofuscar ou esconder os
princípios pelos quais começam também no jovem Hegel as robustas e
verazes tendências histórico-dialéticas. Por mais errônea que seja hegeliana
daquela confusa interação entre o homem e a divindade não há dúvida que
contem um problema real, que deve ser resolvido real e cientificamente pela
dialética materialista; é um problema diante do qual foram impotentes
Feuerbach e os demais materialistas mecanicistas: o problema da origem
histórica e da eficácia das representações religiosas. E não há dúvida – todo
leitor atento dos textos do jovem Hegel aduzidos até agora poderá
comprová-lo facilmente – de que o jovem Hegel posicionou esse problema e
lutou seriamente contra ela, mesmo que como era natural, não lhe foi
possível chegar a uma solução satisfatória, nem a um posicionamento de
clareza definitiva.
103
de todas as representações religiosas, muito mais resolutamente do que
haviam conseguido antes dele os principais materialistas mecanicistas,
explicando como o desenvolvimento das forças produtivas e pelas
modificações das relações de produção que determina aquele, surgiram em
determinados períodos históricos estas ou aquelas representações religiosas,
e como estas dominaram a vida mental e afetiva dos homens.
104
consequentemente contra a religião. Na dialética, inconsciente da concepção
histórica do jovem Hegel há uma tendência segundo a qual somente as
religiões positivas são religiões estrito, pelo qual nem a religião grega nem a
renovação da mesma que esperava o jovem Hegel são religiões no sentido
próprio. A polêmica contra o caráter desumano da religião positiva do
cristianismo exige por isso em Hegel um acento antirreligioso, mas enérgico
do que o costumeiro. Certo que em Hegel não pode levar até o fim esta
tendência, em consequência de seu idealismo. Por isso mesmo não pode
deixar de ser a positividade um conceito impreciso e ambíguo. Por um lado
é a expressão filosófica da destruição idealista radical de toda objetividade;
por outro lado alentam nesse conceito indícios daquele tipo de coisidade
social que Marx mais tarde designou com a expressão “feiticismo”. A
tendência é sempre no jovem Hegel, como foi dito, um indício obscuro e
confuso; inclusive a posterior versão, mais madura, do problema, a
concepção da coisidade social como “alienação”, é incapaz de abrir
caminho a um posicionamento claro do problema. O motivo disto, como
mostramos se encontra no idealismo. Pois o caráter de feitiço da mercadoria
em sua “fantasmagórica objetividade”; não pode ser objeto de dedução e
exposição por Marx porque o materialismo dialético mostrou já com a maior
clareza a objetividade real das coisas, com o que se impede a confusão e
difusão das fronteiras que existem entre essa real objetividade e a
peseudorealidade feiticista. (Estas reflexões se justificam aqui porque
estamos interessados em indicar a oposição filosófica entre materialismo e
idealismo; porém é evidente que Hegel, especialmente em sua juventude,
não dispunha dos conhecimentos econômicos que permitissem deduzir essas
formas enfeitiçadas partindo da concreta estrutura econômica da sociedade).
105
penetrado de fora na história humana. Ao contrário, precisamente na
dedução desse conceito alcançou o historicismo de Hegel o ponto
culminante de suas possibilidades na época, Hegel expôs apaixonadamente
como produto de um processo social interno – um processo, sem dúvida, de
dissolução e decadência – os aspectos da religião cristã que mais
energicamente apresentam a pretensão de ultra humanidade (Deus
onipotente, Revelação, milagres, etc.). A positividade, a culminação histórica
da inatividade social humana, da aniquilação do homem, surge, segundo a
concepção hegeliana, da auto aniquilação do homem, surge, segundo a
concepção hegeliana, do desenvolvimento necessário da atividade social dos
homens.
Porém também dentro do âmbito das categorias sociais está ainda o jovem
Hegel muito longe de conseguir um método realmente filosófico partindo de
106
seu esboço de uma conexão dialética da reprodução mental dos objetivos
sociais como produtos da atividade humana, de sua dissolução mental em
movimento social. O contraste entre os dois períodos estudados por ele é
muito rígido e metafísico para permitir essa passagem ao método: no mundo
grego, tudo é atividade autônoma e vida pública; no cristianismo, tudo é
passividade e vida privada. O mundo do citoyen antigo opõe-se rigidamente
ao do burguês moderno. E não pode mesmo se falar de consciente
penetração na dialeticidade pela qual a passividade dos homens na era cristã
é também uma forma de atividade social. Ainda menos aparece a
compreensão de como se entrelaçam contraditoriamente em qualquer
sociedade os interesses individuais dos homens e das classes (Hegel fala
sempre de “estamentos”) com os interesses públicos. Nos capítulos restantes
nos ocuparemos detalhadamente dos progressos da concepção dialética do
movimento social que permitiu a Hegel seu conhecimento dos problemas da
economia política; também então teremos que registrar as necessárias
limitações postas a seu conhecimento. Aqui teremos que limitar-nos a indicar
por meio de resumo que seu obscuro esboço da dialética histórico-social não
passou de esboço por causa das limitações idealistas gerais de seu
pensamento e de sua herança metafísica, ainda não superada.
107
filosófica e socialmente. Também segundo a exposição do jovem Hegel são
os homens vítimas do engano do sacerdócio cristão, porém o filosofo pensa,
além disso, com mais concreta profundidade, que somente podem ser
enganados porque a dissolução da sociedade, em que vivem e o
anquilosamento moral devido a essa decomposição exigem precisamente
um engano do tipo operado pelo sacerdócio cristão.
108
em um sentido filosófico geral. No Hegel posterior, o curso da historia perde
progressivamente o curso que possuía na triada rousseauniana: liberdade,
perda dela e sua recuperação. Em seu lugar aparece uma concepção de
mundo mais evolucionista da difusão geral da liberdade no curso da história:
liberdade só para um (despotismo oriental); liberdade para alguns (Mundo
Antigo clássico); liberdade para todos (cristianismo e Idade Moderna).
Contudo, seria falso crer que a concepção juvenil de Hegel desapareceu em
seguida de sua filosofia sem deixar rastro. Antes, pelo contrário, essa
concepção – mesmo sem dúvida de forma muito modificada e desprovida
de sentido histórico – subjaz fundamentalmente no sistema, tal como este se
apresenta na Enciclopédia. O esquema estrutural básico é aqui o seguinte:
lógica (autoatividade do espírito). Filosofia da natureza (alienação do
espirito); filosofia do espírito (caminho do espírito para a plena liberdade,
para o sujeito-objeto idêntico, como resultado final da filosofia do espírito).
109
vezes mais difícil de desmascarar, e nenhum pequeno-burguês débil e
vacilante se declarará disposto a o condenar”(7).
Mas não se deve esquecer que para Hegel mesmo esta concepção segundo a
qual esta religião grega não tem um caráter propriamente religioso foi a
chave e acesso a investigação da especificidade da vida grega, embora os
resultados efetivamente conseguidos pelo filósofo superem amplamente o
seu traço idealista.
110
A trágica contradição própria do desenvolvimento de Hegel faz-se visível
também neste ponto teórico. Como pensador alemão de finais do século
XVIII e inicio do século XIX, Hegel não podia mais do que eleger entre o
ilusionismo utópico e uma resignada adaptação à miserável realidade alemã
da época. O mundo grego não podia ser para Hegel mais do que a ilusão
jacobina da renovação democrática da humanidade – que foi para ele
efetivamente no período de Berna – ou uma época de florescimento,
definitivamente caduco, da beleza, da cultura orgânica, que devia seguir o
período da prosa seca, uma prosa da qual não há saída para o homem, uma
prosa com a que tem de contentar-se mentalmente, e a correta conceituação
da qual é o negócio supremo da filosofia. Sabemos em que direção moveu-
se o pensamento de Hegel de um dos ramos dessa alternativa para e até a
outra, e nos capítulos vindouros poderemos estudar algumas etapas
importantes deste caminho. Veremos também que a dialética hegeliana não
pode nascer senão graças a que o desenvolvimento de Hegel discorreu nesta
direção. Por isso os jacobinos heroicos que foram os predecessores ou
contemporâneos de Hegel, como Georg Foster ou Hölderin, não passaram
de figuras episódicas do desenvolvimento ideológico da Alemanha.
111
renovação da humanidade sob o socialismo. A exemplaridade da arte grega
é desta perspectiva uma herança tremenda para a humanidade para que no
período de sua libertação, uma vez superada sua “pré-história”, crê com essa
herança numa cultura que supere amplamente todo o passado. Na resolução
do dilema hegeliano entre utopia e resignação se apreciam não somente a
superioridade científica da dialética materialista sobre a idealista, mas
também o fato de que inclusive quando aprendeu muito com He, nos
pontos em que salvou para o futuro pontos essenciais do pensamento de
Hegel, a dialética materialista deu aos descobrimentos dele um significado
completamente novo.
Porém para Hegel não havia saída deste dilema. Seguir com seu caminho de
juventude não haveria significado ao final senão sofrer o destino de um
Forster ou de um Hölderin. As semente e interrupções, as vezes geniais, de
seus escritos juvenis do período de Berna não podiam ter importância para o
pensamento humano mais do que Hegel superou o ilusionismo republicano
de seu primeiro período juvenil. Vimos que todas aquelas interrupções, por
confusa e imatura que fosse à forma, apontavam para a concepção dialética
da história. Porém o jovem Hegel não está ainda capacitado em seu período
bernense para chegar a um domínio realmente dialético da história, nem
mesmo dentro dos limites de uma dialética idealista. O melhor modo de vê-
lo assim consiste em notar que as principais categorias dialéticas de seu
método posterior – imediatidade e mediação, universal e particular em sua
interação dialética, etc. - não existem nem mesmo vagamente neste período.
O que já existe é um esquema do curso da história que não é adialético em
seu núcleo, porem cujo desenvolvimento filosófico esta ainda repleto de
meios conceituais metafísicos. E se o jovem Hegel se afasta muitas vezes de
concepções metafísicas, isso ocorre porque deixa de explicitar algumas
consequências de seus pressupostos deixando-os num confuso claro-escuro.
Porém uma situação assim é uma solução apenas aparente, e um pensador
da categoria de Hegel não poderia sentir-se satisfeito com tais pseudo-
soluções. Observamos também que essa confusão, esse claro-escuro, não
tem primariamente causas sistemáticas, metodológicas. Mais de uma vez
ficou claro, ao contrario, que a obscuridade e confusão da metodologia do
jovem Hegel dependem da confusão e utopia diante de seu presente. A
verdade do princípio de Marx, segundo o qual o correto conhecimento dos
estádios superiores do desenvolvimento histórico dá a chave da
compreensão dos anteriores, o princípio de que há de se conhecer o
presente para expor corretamente a história do passado e com verdade, se
confirma também no caso de Hegel. A crise decisiva de seu pensamento – à
exposição detalhada para qual passaremos no capitulo seguinte- é
precisamente a mudança face ao presente, a realidade capitalista.
112
(1) Engels, Feuerbach, op. cit., p. 48. (retornar ao texto)
(3) Haym, Hegel und seine Zeit [Hegel e seu Tempo], 2ª edição, Leizig,
1927, p. 164. (retornar ao texto)
113
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
114
decisivo. Vimos que estava de acordo com as repressões contra os
robespierristas; mas isto nada mais prova que sua separação por princípio da
ala plebeia radical da Revolução Francesa. Em suas concepções
republicano-revolucionárias não podemos apreciar nenhuma diferença
correspondente a Termidor. Este fato, que é sem dúvida surpreendente à
primeira vista, tanto pelos desenvolvimentos da própria Revolução Francesa
quanto pelos pontos de vista estimados pelo jovem Hegel. A história interna
da França sob o Diretório foi uma constante oscilação dos republicanos
burgueses — que queriam conservar e desenvolver as conquistas da
Revolução Francesa necessárias ao avanço da burguesia —, entre as
pretensões da reação monarquista e os esforços dos partidos plebeus radicais
que tentavam seguir a anterior linha radical da Revolução. Os dirigentes dos
republicanos burgueses tentavam realizar acordos constantemente, algumas
vezes com sua direita outras com sua esquerda. A instável situação das lutas
de classes em França suscitou o desejo de uma ditadura militar pelo lado da
burguesia francesa (9 de novembro de 1799: golpe de estado de Napoleão
Bonaparte).
116
economistas ingleses clássicos, mas também a circunstância de que o estudo
se estenda inclusive, como veremos, à situação econômica concreta da
Inglaterra. Enquanto em Berna levanta sua construção histórico-filosófica
sem basear-se mais do que ao fato histórico-universal da Revolução
Francesa, a partir deste momento o desenvolvimento econômico da
Inglaterra se converte em outro elemento básico de sua concepção histórica,
de sua concepção de sociedade. Seguramente não fará falta detalhar que
também neste caso Hegel continua sendo um filósofo alemão de seu tempo,
cujas concepções fundamentais estão decisivamente determinadas pelo
atraso da Alemanha.
117
Francesa suas esperanças pelo que faz por uma renovação do país, e às
vezes se puseram inclusive na intervenção armada francesa. Basta pensar na
República de Maguncia e em sua relação com as vitórias transitórias das
campanhas de Custine; esse mesmo estado de ânimo existia nos tempos da
Federação Renana. Por outro lado, a conquista francesa complicou mais a
profunda desagregação nacional de Alemanha. A unidade nacional, o
nascimento do Estado nacional unitário, parece afastar-se ainda mais, e sua
realização se faz ainda mais contraditória.
119
sociedade burguesa, como entram em contradição os postulados morais e
humanistas do desenvolvimento da personalidade com a estrutura e a
legalidade da sociedade burguesa, e como apesar de tudo estes postulados
podem se harmonizar com esta, reconciliar-se com esta. Com isto está dito
que mudou radicalmente a atitude de Hegel em relação ao presente. Para
qualificar sua nova atitude utilizamos a categoria de seu sistema que a seguir
será célebre e terá a má fama, a categoria de ”reconciliação”. E não por
acaso, pois esta categoria – contra a qual manteve o próprio Hegel, em
Berna, como se recordará (ver Capítulo I – 5 - O cristianismo: despotismo e
a escravidão do homem), a luta mais violenta, se apresenta neste período
exatamente como um problema central do pensamento. A relação entre
indivíduo e sociedade burguesa se estuda certamente agora na busca de
suas contradições, ou mais precisamente, no curso do estudo concreto
surgem constantemente novas contradições; mas o objetivo do pensamento
de Hegel é agora superar e suprimir essas contradições leva-las a
reconciliação. (Também a palavra Aufheben – superação e preservação -,
tão importante a seguir, se preserva pela primeira vez no período de
Frankfurt, e nele vai sendo uma categoria cada vez mais dominante de seu
pensamento).
Este partir dos problemas da vida individual é algo que não se encontra em
Hegel senão na crise de transição de seu pensamento que se produz em
Frankfurt. Exatamente é característico que Hegel – tanto em sua juventude
como na maturidade – o individuo não o interessa senão como membro da
sociedade. Sua posterior e violenta crítica às concepções morais de Kant e
Fichte, de Scleiermacher e do romantismo, parte em geral do fato que estas
concepções, mesmo por caminhos diversos uns dos outros, dissolvem o
momento social em ações que aparentemente são somente individuais, e
passam por cima também do condicionamento e determinações sociais das
categorias éticas individuais. O apelo ao indivíduo no período de Frankfurt,
o partir das necessidades ou esforços ou aspirações do indivíduo, têm, pois,
somente caráter episódico no desenvolvimento de Hegel. É, contudo um
episódio que deixa marcas e cujas consequências serão perceptíveis por
muito tempo. Teremos, pois, repetidamente ocasião de ver os primeiros
brotos do método da Fenomenologia do Espírito se encontram nos
posicionamentos de Hegel em Frankfurt, no movimento que vai da
consciência individual aos problemas sociais objetivos, nas tentativas de
desenvolver outros determinados estádios de compreensão mental e afetiva
do mundo, ou seja, na tentativa de descobrir nos estádios superiores
resultados de superação e resolução das contradições dos estádios inferiores.
122
uma obscuridade e confusão que assombram. Expressões pouco
esclarecidas, cercadas de nuvens de associações implícitas, desempenham
um papel importantíssimo no Hegel desta fase. A presença cada vez intensa
da vivência da contraditoriedade como base da vida aparece neste período
como uma trágica irresolubilidade das contradições. Não por acaso que
temporariamente categorias como “o destino” se convertem em eixos de
tentativas de dominar mentalmente o mundo, nem que neste período se
apresente pela primeira e única vez em sua filosofia, uma concepção mística
da vida religiosa como culminação do seu filosofar. Começou na vida e no
pensamento de Hegel uma crise cujas causas sociais e históricas esboçamos
em nossas observações introdutórias: a crise de suas concepções
republicano-revolucionárias, que encontrou em Iena solução provisória em
forma de aceitação da presente sociedade burguesa em sua específica forma
napoleônica. O período de Frankfurt é de tentativa em busca de algo novo,
uma lenta, mas ininterrupta destruição do velho, uma insegurança, uma
busca em todas as direções, uma verdadeira crise.
O próprio Hegel sentiu assim esta fase e exprimiu claramente seu caráter de
crise tanto em seus escritos posteriores quanto em suas manifestações da
época. É característico nos escritos seguintes o fato que Hegel, com a
sinceridade sem considerações que lhes são tão próprias, fale do infeliz
estado de hipocondria e autodestruição, de ruptura consigo mesmo. Ao
caracterizar na Enciclopédia as diversas idades do homem Hegel oferece
uma descrição da idade juvenil, do amadurecimento do homem, que
contém muitos traços importantes do período de Frankfurt. Diz que o ideal
tem ainda no jovem um aspecto mais ou menos subjetivo. “Nessa
subjetividade do conteúdo substancial de tal ideal encontra-se não somente
a oposição do mesmo ao mundo existente, como também estímulos para
resolver e superar a oposição mediante a realização do ideal”. A passagem
da vida ideal do jovem até a sociedade civil é um processo doloroso e de
crise: “Ninguém se afasta facilmente (...) desta hipocondria. Quando mais
tarde a sofre o homem, mais perigosos são seus sintomas. [Hegel esteve em
Frankfurt dos vinte e sete anos aos trinta. G.L.] (...) Neste enfermiço estado
de ânimo o homem se nega abandonar sua subjetividade, não consegue
superar a repugnância pela realidade, e se encontra exatamente por isso, em
um estado de incapacidade relativa que se converte facilmente em
incapacidade real. Por isso, se o homem não quiser sucumbir, tem de
considerar ao mundo como autônomo e já feito (...)”(3).
124
Nestas cartas especialmente na última, apreciamos com toda clareza a
mudança de atitude de Hegel diante de sua sociedade contemporânea. E
vemos ao mesmo tempo em que essa mudança leva em si, desde o primeiro
momento uma contradição interna, ou, aliás, que seu núcleo contem todo
um complexo de contradições. Hegel se acha convencido muito lentamente
do caráter e do fundamento objetivo dessas contradições. Daí, por um lado,
o estado de ânimo torturado, hipocondríaco, de crise, durante o período de
Frankfurt, apesar de que sua situação pessoal era muito melhor que em
Berna; e não penso somente em suas circunstâncias externas: seu isolamento
espiritual em Frankfurt muito menor do que em Berna; passou, por exemplo,
os primeiros tempos em contato com seu amigo de juventude Hölderin, e
através dele conheceu a outros representantes nada desprezíveis, da nova
geração poética e filosófica de Alemanha, como, por exemplo, Sinclair.
Por outro lado, o caráter vivido dessas contradições, seus laços com o
destino pessoal de Hegel, seu manter-se durante muito tempo simplesmente
vivencial, não esclarecido conceitual-sistematicamente, explicam o modo, já
citado, em que Hegel se enfrenta com os problemas neste período, a saber,
partindo da vivência individual para chegar à generalização conceitual, mas
de tal modo que no traçado de todo o caminho permanece visível a ocasião
vivencial que desencadeou tudo. No fragmento que citamos da Constituição
da Alemanha vimos um exemplo desse modo de tratar os problemas. Hegel
começa somente a encontrar o caminho que fará dele um filósofo dialético.
Por isso não considera que seja preciso analisar e reduzir seus motivos e
legalidades de caráter objetivo, como fará mais tarde em Iena, mas vê nesse
momento uma parte integrante do próprio problema. E isso é
compreensível, pois o problema se posiciona a Hegel é precisamente de suas
relações pessoais com a sociedade civil, a tentativa de achar seu lugar na
sociedade burguesa.
125
das ilusões heroicas antes da Revolução Francesa e durante ela. Assim surge
para os importantes humanistas burgueses da Alemanha a complicada e
contraditória necessidade de reconhecer como necessária e única possível,
essa sociedade burguesa, afirma-la como realidade progressista, descobrindo
e declarando ao mesmo tempo aberta e criticamente suas contradições e
sem capitular apologeticamente diante da desumanidade que lhe é essencial.
O modo como tenta posicionar e resolver essas contradições a filosofia e a
poesia clássica alemã – no Wilhelm Meister e o Faust de Goethe, no
Wallenstein e nos escritos estéticos de Schiller, na Fenomenologia do espírito
e os posteriores escritos de Hegel, etc. – mostra a grandeza histórico-
universal daquele classicismo e, ao mesmo tempo, os específicos limites que
punham o horizonte burguês em geral, e a “miséria alemã” em particular.
Quando Hegel fala de refugiar-se na natureza para não ser assimilado pelo
ambiente social, está exprimindo aquela contradição de um modo primitivo
e imediato, vivencial. Por um lado quer compreender a sociedade burguesa
contemporânea sua tal como ela é, tal como ela se move, e quer cooperar
com ela; por outra resiste em reconhecer como vivos e vivificadores os
elementos de desumanidade e morte que existem nela. A contradição se
manifesta nas primeiras experiências de Hegel em Frankfurt, é, pois, ao
mesmo empo uma contradição de sua vida pessoal, apaixonada e
arrebatadoramente vivida, e uma contradição objetiva de sua época.
126
(1) Marx- Engels, Die heilige Familie [A sagrada Família], op. cit., p.250 e ss.
(retornar ao texto)
(2) Marx, Zur Judenfrage [Sobre a questão judia –n. do t]. Em Die heilige
Familie [A Sagrada Família], op. cit., p.41, 42, 45. (retornar ao texto)
(3) Enzyklopädie, 396, Apendice , Werke , Berlim, 1845, seção VII, vol. II,
p.98 e ss. (retornar ao texto)
(4) Publicada por Rosenzweig, op. Cit. vol. I, p 102. Rosenzweig publicou
também uma passagem tomada das memórias manuscritas do hegeliano
Gabler que se refere a uma conversa com Hegel, do ano de 1805. Hegel se
expressa do mesmo modo, falando do período de Frankfurt. Ibidem, p.236.
(retornar ao texto)
(6) Beitrage zur Hegelsforschung, ed. por Lason. Segundo Caderno, Berlim,
1910, pp. 7 e 11. (retornar ao texto)
127
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Em primeiro lugar, não se deve esquecer que Hegel abandonou suas visões
republicanas do período de Berna de maneira nenhuma em um dia; pode-se
até dizer que só depois da derrubada de Napoleão, vindo a estabilidade da
Restauração, "reconciliou-se" com a monarquia do tipo alemão. Ele foi a
esse caminho difícil, que é completamente impossível de reconstruir devido à
perda dos manuscritos mais importantes. No geral, no entanto, seus
pensamentos, por razões óbvias, com algum atraso, seguem os
desenvolvimentos políticos na França.
128
Opiniões republicanas, que se formaram em Berna, Hegel, manteve em
Frankfurt. Uma imagem clara de seus sentimentos então dá um poema
"Eleusis", escrito em Berna para Hölderlin em antecipação de um encontro
próximo com ele. Cito apenas algumas linhas para transmitir melhor este
humor ao leitor:
Já a partir dessa observação de Hegel, fica claro que a linha principal de seu
raciocínio não mudou em nada em comparação com o período de Berna.
No entanto, o descobridor deste trabalho, Falkenheim, já tentou usar alguns
129
pontos dos comentários de Hegel para negar sua natureza revolucionária.
Ele procede do fato de que, em observações preliminares, Hegel defende os
"direitos antigos" de Waadt contra a oligarquia de Berna. Segundo
Falkenheim, essa tendência não poderia ser revolucionária; como prova é
dado o método histórico de apresentação. Esta linha de pensamento é
metodologicamente baseada no preconceito professoral alemão de que o
historicismo é a invenção da reação e começa com E. Burke e os filósofos
franceses da era da Restauração, enquanto o período anterior era
supostamente anti-histórico.
130
aristocrático em Berna é revelado tão claramente quanto na carta acima a
Schelling. É importante traçar com que diligência Hegel colecionou os fatos
sobre as relações econômicas em Berna, sobre o sistema tributário, etc. Aqui
nós olhamos para o laboratório de seus pensamentos e descobrimos quanto
esforço sua consciência enciclopédica posterior requeria em todas as áreas.
Os estudos econômicos são importantes documentos de seu
desenvolvimento em outro sentido negativo: isso ainda é uma coleção
puramente empírica de fatos com comentários políticos; a ideia de
generalização econômica desses fatos ainda não aparece em Hegel.
De certo interesse biográfico é para nós que aqui, pela primeira vez, Hegel
começa a se engajar na economia inglesa, mas o faz, ainda sendo totalmente
guiado pela política da Revolução Francesa. Ele polemiza em uma
declaração Cart, que argumenta com a ideia de que um baixo nível de
impostos é supostamente uma medida da felicidade nacional. Cart dá o
exemplo oposto da Inglaterra livre que ele honrou, onde as pessoas, apesar
de pagarem impostos altos, têm autogoverno livre. Hegel concorda com essa
teoria e até dá um exemplo em seu reforço, quando os deveres sobre o chá
se tornaram a razão da luta dos americanos pela libertação. “O dever, é
claro, em si não tem grande significado”, escreve Hegel,”, mas foi
precisamente a luta pelo direito à independência que causou a revolução.
Ele corrige o folheto apenas em relação à avaliação da liberdade britânica e
fala da repressão na Inglaterra depois da Revolução Francesa, o poder maior
do governo comparado ao parlamento, à confusão da lei básica e restrições
às liberdades pessoais e direitos civis. "(...) Esses fatos levaram ao fato de
que o respeito pela nação inglesa de muitos de seus admiradores mais
zelosos diminuiu significativamente"(5), ele conclui.
131
tornaram-se objeto de interpretações reacionárias, tentativas de aproximar
Hegel do misticismo romântico reacionário. A este respeito, o famoso livro
de Dilthey é particularmente indicativo de toda a literatura da época do
imperialismo sobre Hegel. Se os antigos intérpretes ignoram todos os elos
entre a filosofia de Hegel e os problemas sociais, mesmo durante o período
de Berna, então não se pode ficar surpreso com o fato de Dilthey interpretar
os fragmentos de Frankfurt como puro "panteísmo místico".
132
época, as antigas cidades-repúblicas, mesmo durante o seu auge, eram
completamente desprovidas de positividade ou algo similar.
133
categoria do amor por acaso e tinham fundações sociais semelhantes. Mas o
significado social de seus conceitos é muito diferente, o que é explicado pelo
desenvolvimento de quarenta anos da economia e da luta de classes na
Alemanha que se seguiu a Hegel. Por um lado, a categoria do amor é uma
expressão nebulosa e idealista de um ideal humanista, revolucionário-
burguês, de uma pessoa compreensiva e holisticamente desenvolvida, que
está numa relação desenvolvida, multifacetada e verdadeiramente humana
com as pessoas. Por outro lado na nebulosa e exaltação idealista desta
categoria reflete a ilusão da realidade de tais aspirações dentro da sociedade
burguesa. No entanto, nos anos 40 do século XIX, quando o movimento de
libertação do proletariado já existia e o socialismo científico surgiu, essas
ilusões tinham um significado completamente diferente do que na virada dos
séculos XVIII e XIX. E quando os seguidores de Feuerbach, entre os
"verdadeiros socialistas" alemães, tentaram deduzir as ideias socialistas da
ética do amor de Feuerbach, então as limitações e o reacionarismo das
ilusões subjacentes a essa categoria foram revelados.
Mas, no período em que o jovem Hegel lidou com esses problemas, o nítido
contraste dessas ilusões com as tendências progressistas da época ainda não
estava claro. Veremos que, no decorrer do desenvolvimento posterior, a
atitude hegeliana em relação à sociedade burguesa se tornará muito mais
completa e real, mas com todo o misticismo e confusão de posições no
período de Frankfurt, eles foram um marco necessário para compreender a
natureza contraditória da sociedade burguesa. A categoria do amor tem um
caráter de transição em Hegel e, portanto, o significado dessa categoria
mudará no futuro.
134
a afirmação de uma conexão contradizia a afirmação de outra, que eles
mesmos haviam identificado. Portanto, Marx fala justamente de Ricardo: “O
mestre [Ricardo] o novo e significativo – se desenvolve entre o“ estrume ”de
contradições - forçosamente derivado de fenômenos contraditórios. As
mesmas contradições que estão no fundo do testemunho da riqueza do solo
vivo a partir do qual as explica a teoria.”(8).
135
criticamente contrastado com outro passo, em que uma pessoa é
completamente absorvida na vida cotidiana da sociedade capitalista.
136
A avaliação da subjetividade pura e inerente da religião de escapar dos
objetos como algo idêntico à positividade será decisiva para Hegel no
período de Frankfurt. Como veremos, essa avaliação contribui para a
contradição em sua compreensão do cristianismo, em particular a
contradição entre a vida e os ensinamentos de Jesus.
Enquanto isso, ele não tira conclusões de longo alcance disso. Hegel está
interessado principalmente na criação, por um lado, de uma imagem
extremamente crítica de pessoas que se entregam ao poder da subjetividade
na sociedade moderna e, por outro, exaltam o poder salvador e libertador
do amor. "Uma vez que este amor pelos sem alma busca se cercar apenas de
algo material e que materialidade é em si mesmo, não importa (...),
portanto, embora os objetos do amor mudem, mas nunca os perde. Daqui
segue sua tranquilidade com a perda a autoconsolação de que a perda será
reembolsada a ela, porque pode ser reembolsada. A questão dada ao
homem acaba por ser absoluta, mas, claro, se o homem não existisse, então
nada existiria para ele. por que ele teria que existir? É bem claro que uma
pessoa quer viver, porque além dos limites da totalidade de suas estreitas
possibilidades, além de sua consciência reside (...) apenas um nada deserto,
o que, no entanto, uma pessoa, é claro, não é capaz de suportar"(10).
137
poder estranho, cuja misericórdia ele busca com temor e tremor.
Naturalmente, esses termos são essencialmente reinterpretados. Igualdade
em Forster e Hegel no período de Berna foi principalmente igualdade
política. Agora, para Hegel, a igualdade de atitudes em relação à sociedade
burguesa tem um significado muito maior. Mas o conteúdo social da
igualdade (igual força de manifestação) engloba, como veremos, uma nova
característica deste período é a gama de problemas - a sua dependência do
material, a igualdade econômica daqueles que amam. Essa questão ainda é
considerada por Hegel apenas como um obstáculo no caminho da unidade,
na qual o amor remove todas as pessoas desunidas, criando uma verdadeira
unidade de vida entre elas. E o obstáculo deve ser superado.
138
Mas tudo isso não significa que ele tenha abordado com aprovação a
"filosofia da vida" de seu tempo. Você não pode se deixar enganar por
expressões como "amor" e "vida". O primeiro biógrafo de Hegel,
Rosenkrantz, embora muitas vezes tenha dado à dialética hegeliana uma
interpretação muito superficial, aproximando-a do idealismo subjetivo de
Kant, ainda não foi tocado de uma maneira filosófica e foi muito mais claro
do que os neo-hegelianos viram: “, Em essência, o que Hegel chama em
Frankfurt é o mesmo que em Iena é chamado de moralidade(12), a totalidade
concreta do modo de ação de um homem da sociedade burguesa.
139
como uma "unidade" completa e perfeita da qual até mesmo os menores
traços de separação e reflexão desaparecem.
140
cidadão antigo no burguesa moderna, em uma "pessoa privada". Agora,
Hegel é forçado, mais especificamente, a entender os problemas da
propriedade. A princípio, isso acontece - de acordo com o caráter geral do
período de Frankfurt - diretamente, emocionalmente e razoavelmente
primitivo. Sabemos que em seus estudos históricos e políticos, Hegel
também expôs fatos econômicos, mas ainda estava limitado a uma coleção
empírica de fatos a partir dos quais se tiravam conclusões políticas diretas.
Hegel primeiramente considera a influência direta da propriedade sobre a
vida espiritual e moral de uma pessoa na sociedade burguesa, definindo a
propriedade como algo morto e positivo, algo que não pode ser combinado
organicamente com a atividade subjetiva e viva. A relação de trabalho e
propriedade nesse período não está em seu campo de visão. Ele vê na
propriedade apenas um meio de consumo ou, no máximo, um meio de
poder pessoal. mas ainda se limitava à coleção empírica de fatos a partir dos
quais se tiravam conclusões políticas diretas. Hegel primeiramente considera
a influência direta da propriedade sobre a vida espiritual e moral de uma
pessoa na sociedade burguesa, definindo a propriedade como algo morto e
positivo, algo que não pode ser combinado organicamente com a atividade
subjetiva e viva. A relação de trabalho e propriedade nesse período não está
em seu campo de visão.
142
tornando-se aquelas tendências e demandas que o levaram mais tarde a
uma profunda análise da sociedade burguesa. Veremos que a principal ideia
básica no desenvolvimento de Hegel é a seguinte: encontrar a relação
dialética entre a objetividade aparentemente objetiva dos objetos e as
instituições da sociedade burguesa e, além disso, que a objetividade de
todos os objetos perde seu caráter morto e atua como um pré-requisito e
resultado da atividade do sujeito de modo que a filosofia explora a
sociedade e a história como um mundo próprio, como um produto de suas
próprias atividades. Em Frankfurt, por encontrar tal relação, ainda eram
modestos e muito obscuros, tanto em termos de conteúdo quanto em termos
de metodologia. O conhecimento de Hegel da estrutura da sociedade
burguesa moderna ainda era muito vago, empírico e ainda muito longe de
revelar suas leis inerentes. A metodologia de Hegel é até agora em uma
busca pouco clara da relação entre o sujeito e o mundo social dos objetos.
Conjecturas sobre as inter-relações dialéticas surgem constantemente e
desaparecem no nevoeiro místico da religião.
A sociedade burguesa deve ser revivida por esta fórmula filosófica de dentro,
não de fora, transformada em algo que vive daquela máquina morta, a qual
age diretamente. Mas o caminho dos mortos para os vivos é, como vimos,
desde o início, revelando as contradições da sociedade burguesa - no
entanto, com a intenção de mantê-los adormecidos dentro da estrutura da
sociedade burguesa. É desse modo que Hegel procura reconciliar o homem,
os ideais humanistas com a sociedade burguesa, e já podemos, desde o
início, quando esses problemas aparecem pela primeira vez em suas obras,
ver claramente os pontos fortes e fracos da compreensão de Hegel sobre a
sociedade.
143
(Recentemente, Georg Lasson, com uma paixão particular, defendeu essa
interpretação e criticou todos os neo-hegelianos menos reacionários, que
"minimizaram" a religiosidade protestante de Hegel.)
144
depravado quanto os outros, então eles foram capazes de criar uma religião
que atende às necessidades da humanidade que entrou em um período de
declínio. Está claro que agora a ascensão do judaísmo é de interesse
independente para Hegel; ele começa a investigar a unidade e a diferença
entre o judaísmo e o cristianismo. Expandir o alcance de seus interesses
históricos constitui o primeiro passo para a filosofia da história posterior, na
qual a história da antiguidade é precedida por um amplo estudo do Oriente.
145
republicana, era apenas igualdade de insignificância. Somente sob os reis,
juntamente com a desigualdade que deveria ter vindo com eles, os muitos
cidadãos tiveram uma atitude em relação ao estado. Para muitos, é
significativo em relação aos de baixo escalão, e para alguns é pelo menos
uma oportunidade de conquistar esta importância”(19). Esta passagem
também é muito nebulosa. Mas ainda daí decorre que, de acordo com
Hegel, é precisamente da crescente desigualdade da posição política e social
dos cidadãos no reino judaico que uma conexão mais forte com o Estado
surge do que a igualdade abstrata anterior da teocracia primitiva.
146
Aqui vemos como, na primeira tentativa de Hegel de formular problemas
dialéticos, surge imediatamente uma forma de idealismo objetivo
característico da filosofia alemã, um sujeito-objeto idêntico. As construções
de Hegel são até terminologicamente próximas das tentativas de Schelling de
preservar o conceito teórico-cognitivo de Fichte, mas de desenvolvê-lo em
uma dialética objetiva. Não é tão importante até que ponto o pensamento
de Hegel na época foi influenciado pelas obras de Schelling ou movido
independentemente na mesma direção: para aquelas posições que levaram
ao idealismo absoluto no idealismo clássico alemão, a noção de um sujeito-
objeto idêntico era necessária. É apenas sobre como se entende a retirada
do sujeito e objeto em uma unidade superior, porque isso depende O
idealismo absoluto se dissolverá completamente no misticismo religioso
(caminho do desenvolvimento de Schelling), ou a compreensão dialética da
realidade arrancará um território significativo do misticismo idealista pela
divulgação energética das contradições vivas e mantendo-as intactas, a luta
de ambas as tendências preenche todo o trabalho de Hegel. A influência
sobre Schelling leva apenas a um fortalecimento temporário de uma
tendência reacionária. Controvérsia com Schelling e rompimento com ele
significa a vitória de outra tendência, mas tal vitória, que nunca pode ser
final no quadro do idealismo absoluto.
147
ele tira conclusões completamente diferentes. Anteriormente, ele acreditava
que a fé envolve ser, procurou enfatizar a primazia de ser relativo ao pensar
e, ao mesmo tempo, ver com fé um princípio religioso mais elevado, com o
qual uma unidade objetivamente idealista pode ser criada. Agora ele
acredita: "... NESSA, isto é, não precisa acreditar, mas o que eles acreditam,
deveria ser."(21).
Escusado será dizer que eles surgem de uma forma muito obscura, longe do
conceito dialético. Mas, para a história do desenvolvimento do pensamento
hegeliano, é característico que eles surjam em conexão com o problema da
positividade - central para o período de Berna. A conexão entre a
positividade como um problema social e a questão da objetividade,
objetividade na filosofia, a conexão que existia no período de Berna em uma
forma inconsciente e instintiva, se transforma em um problema para Hegel.
E não é de todo acidental que, paralelamente a isto, reaparece o velho
conceito de positividade, mas aqui as contradições começam a ser
realizadas.
148
pensa materialisticamente) corresponde a um reflexo errado de conexões
objetivas. Mas no momento decisivo, ele faz uma volta de 180 graus e entra
em um “must”, devido ao qual se torna completamente incompreensível o
que as construções de pensamento de uma fé positiva devem concordar ou
discordar.
Essas flutuações também são visíveis no fato de que ele conclui com os
argumentos citados acima: “A crença positiva requer fé naquilo que não
existe”(25). Hegel reforça essa formulação pelo fato de que, ao contrastar a fé
positiva e não positivista, aguça o oposto da representação e do ser. "Numa
religião positiva, o existente é apenas uma representação, algo imaginável, -
acredito que existe alguma coisa, ou seja, acredito em representação,
acredito que imagino algo, acredito no que acredito (Kant , divindade), a
filosofia [kantiana] é religião positiva (a santa vontade da divindade, a
negação absoluta do homem; na concepção algo está unido, as
representações da unidade são representação é pensamento, mas concebível
não é a existência)"(26).
149
(4) Aus dem literarischen Nachlass von Karl Marx, Friedrich Engels, ed. por
Mehring, Stuttgart, 1913, vol. III, pp. 410 e ss. (retornar ao texto)
(6) Infelizmente, estes fragmentos não são possíveis de precisar a data com
precisão. O fragmento publicado por Nohl em apêndice com o numero 7
(esboço sobre o espírito do judaísmo) e o publicado com o número 8
(moralidade, amor, religião), até agora não foram datados com segurança. O
número 9 (amor e reigião) é de princípios de 1797, o apêndice 10 (amor)
dos finais de 1797. O fragmento 11 do apêndice (fé e ser) é do ano 1798.
Nohl, p. 403 e ss. (retornar ao texto)
(18) Nohl, p.368. Baste com indicar brevemente aqui estes fragmentos de
Hegel têm um documento precursor em uma breve anotação histórica do
período de Berna publicado em Rosenkranz, p. 515 e ss. Mas as ideias sobre
a essência do Oriente antigo contidas nessa anotação não tiveram
consequências para as cosnstruções histórico-filosóficas de Hegel, razão pela
qual não as estudamos particularmente. (retornar ao texto)
150
(22) Nohl, p. 364. (retornar ao texto)
151
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
152
A incerteza é claramente visível mesmo em alterações no título do folheto.
Inicialmente, chamava-se "O fato de que os magistrados de Wurttemberg devem
ser eleitos pelo povo". Mais tarde, em vez da palavra "povo", surgiu a palavra
"cidadãos". O título definitivo foi: "Sobre as relações internas em Württemberg,
especialmente sobre a constituição dos magistrados".
153
forma: "Se a mudança é inevitável, ela deve ser implementada. Essa verdade
trivial deve ser expressa porque o medo da ação iminente faz com que a
disposição da coragem diminua e as pessoas se enchem de medo". a necessidade
de mudança, mas no momento decisivo manifesta fraqueza, prefira manter tudo
o que lhes pertence. Nisso, eles são como um varredor, que, diante da
necessidade de reduzir suas despesas, em cada caso acha impossível abandonar
seus hábitos anteriores, não quer se restringir a nada e perde tudo no final - tanto
o necessário quanto o necessário. sem o que seria possível fazer "(7).
Aqui está claro o quão importante para o desenvolvimento das visões de Hegel
são aqueles caminhos complexos e intrincados para uma nova compreensão da
positividade, que analisamos na seção anterior. Afirmou-se aí que a compreensão
inicialmente rígida da positividade tornou-se mais flexível, que as abordagens
dialéticas começaram a emergir das antinomias ossificadas e metafísicas da
positividade e da não positividade.
154
espírito desapareceu". Hegel não pergunta mais o que é positivo e o que não é
positivo; chama a atenção para como uma determinada instituição se torna
positiva.
Até que ponto, até o momento em que escrevemos a brochura sobre a situação
em Württemberg, Hegel chegou a uma clara compreensão filosófica do
problema, quão estreitamente ligou a formulação acima citada ao problema geral
da positividade, é difícil dizer com base nos fragmentos restantes. As breves
citações separadas aduzidas por Haym indicam, em todo caso, que tal conexão
estava no folheto. Mas, com exceção de poucas palavras, Haym transmite o texto
hegeliano em sua própria exposição, muito abreviada, de modo que só temos
sugestões para resolver nosso problema. Haym escreve: "Com palavras
adequadas, Hegel caracteriza e condena a burocracia, ‘que perdeu todo o
significado do direito humano natural’, e tentando ir adiante, hesitando entre o
serviço e a consciência, olha constantemente para os ‘fundamentos históricos do
positivo’.”(9). Pode-se ver que a relação entre a positividade e o atraso histórico
da ordem de Württemberg estava no panfleto de Hegel, mas, na medida em que
o vínculo entre o texto era consciente e claramente filosoficamente fixo, é
impossível decidir dos fragmentos remanescentes do texto.
A citação acima de Haym nos mostra outro lado prático e político importante do
panfleto de Hegel: sua crítica à burocracia absolutista de Württemberg. Em outro
fragmento do panfleto, Hegel também se opõe fortemente ao absolutismo do
estado anão, cujo aparato burocrático tem muito mais poder do que as
autoridades da terra. “Então os funcionários tomaram o comitê e, com ele, toda a
população do país”(10).
Essas observações são importantes porque são claramente expressas: Hegel não
era apenas um crítico agudo e opositor dos remanescentes feudais na
constituição de Württemberg, ele simultaneamente lutou contra a mesma luta
amarga contra o absolutismo, que agora está em conflito com o sistema feudal.
Assim, é claro que o objetivo final de Hegel só poderia ser algo radicalmente
diferente, a saber, a transformação democrático-burguesa de Württemberg.
155
à obediência cega e dependente? das impressões do momento”. E sua proposta
concreta de mudança política segue essa observação, em vez de críticas duras às
relações em Württemberg. "Enquanto a velha ordem permanecer obsoleta, até
que as pessoas conheçam seus direitos, desde que não haja espírito comum, até
que o poder dos oficiais seja limitado, eleições populares servem apenas para
levar à completa derrubada de nossa constituição. O mais razoável seria transferir
o direito de voto para as mãos de um corpo independente de maridos
esclarecidos e justos. Mas não consigo imaginar que tipo de eleições poderia ser
usado para criar uma reunião desse tipo, mesmo que fosse cuidadosamente
determinado quem tem o direito de eleger e quem será eleito”.(11)
Graças a sua ampla visão política, Hegel viu claramente o atraso das
constituições existentes dos estados alemães e das constituições propostas como
as mais apropriadas. Mas ele não tinha ideia de como vincular sua crítica à
promoção de objetivos políticos. Essas flutuações e dificuldades foram a base
sobre a qual cresceram várias ilusões reacionárias, que historicamente inevitáveis
e até o fim da vida de Hegel determinaram seu pensamento. Quanto mais
concretamente ele aborda esse ou aquele problema, mais precisa deve ser essa
lacuna, e ilusões, que são projetadas para superá-lo completamente
ideologicamente.
156
interesses, adquiriu independência excessiva, burocracia ainda mais fortalecida e
moderna, o Estado foi constituído, portanto, em uma força supostamente
independente, e esta provisão, que em outros países foi transitória (estágio de
transição), permaneceu na Alemanha até hoje. Essa posição do Estado também
explica em nenhum outro lugar que há um modo de pensar burocrático
respeitável e todas as ilusões sobre o estado que estão em circulação na
Alemanha; isso também explica a aparente independência dos teóricos alemães
dos burgueses - a aparente contradição entre a forma em que esses teóricos
expressam os interesses dos burgueses e os próprios interesses”(12).
157
alemães com o horizonte político mais amplo. Apenas na véspera da revolução
de julho na França e especialmente depois dela, quando um movimento
democrático surge na Alemanha, a verdadeira superação dessa estupidez começa
(Georg Büchner, Heine). Basta apenas recordar a luta do jovem Marx contra os
jovens hegelianos radicais, para ver quão profundamente enraizada esta limitada
ideologia tinha nas relações sociais na Alemanha.
Ele nunca realmente extrai essa universalidade abstrata de condições sociais reais
e especiais, embora Hegel tente revelar a conexão dialética entre a
"peculiaridade" dos interesses privados e de classe e seu resultado social.
Considerando-os a partir de uma posição filosófica idealista, e sua base de classe
- baseada na independência imaginária das condições sociais, como se “de
cima”, ele transforma essas condições em alguma “universalidade” abstrata. A
principal contradição do conceito social e filosófico de Hegel aparece aqui em
comparação com os trabalhos subsequentes ainda muito implicitamente.
Veremos também que tanto o conteúdo político do conceito de Hegel quanto os
elos metodológicos são muito variáveis; no entanto, essa contradição básica é
uma linha de todo o seu pensamento.
158
linhas conclusivas da carta a Hegel de seu amigo de Stuttgart: "... nossa
autoridade despencou. Os administradores de uma grande nação traíram os
direitos sagrados da humanidade ao desprezo e zombaria de nossos inimigos.
Não conheço a vingança que seria proporcional a seu crime. Nestas
circunstâncias, o anúncio do seu ensaio apenas nos prejudicaria” e nas
negociações de paz houve uma pequena negociação sobre certos territórios. Essa
decepção se reflete nas linhas conclusivas da carta a Hegel de seu amigo de
Stuttgart: "... nossa autoridade despencou. Os administradores de uma grande
nação traíram os direitos sagrados da humanidade ao desprezo e zombaria de
nossos inimigos. Não conheço a vingança que seria proporcional a seu crime.
Nestas circunstâncias, o anúncio do seu ensaio apenas nos prejudicaria”(14).
159
como uma possível ameaça. Ele sugere, no entanto, como uma alternativa para
outra solução, mas aqui o manuscrito se interrompe. Depois de forte crítica ao
desejo de independência dos principados individuais da Alemanha, Hegel disse:
"Se esta luta pelo isolamento é o único princípio condutor no Império Alemão, a
Alemanha voará incontrolavelmente para o abismo em direção a sua morte, e
seria necessário, no entanto, uma ocupação estúpida e inútil. A Alemanha não
deveria fazer uma escolha entre o destino que se abateu sobre a Itália e o
caminho que leva a um único estado?(16). Mas não há nada no manuscrito sobre
essas circunstâncias.
A justificativa para esse veredicto agudo é típica de Hegel. Ela mostra, por um
lado, como a afirmação hegeliana dos fatos entra em conflito com suas visões
iniciais e como ele se move (embora, no caminho de construções idealistas muito
arriscadas) "na bobina" de contradições em direção à conquista de novos
conhecimentos profundos.
Essa contradição tem um claro caráter idealista e metafísico, que é ainda mais
notável quando consideramos a justificativa conceitual da abstração da realidade.
Fortemente condenando tais abstrações, Hegel escreve: "Afinal, a propriedade
veio antes da lei, e não se originou de leis, mas o que foi adquirido se
transformou em um direito legal". Mas se examinarmos o pensamento de Hegel
mais de perto, veremos: sua luta contra a natureza do direito privado do Império
Alemão significa que o feudalismo ganhou em lutas públicas da Idade Média com
160
o novo tempo na Alemanha. "... O estado só poderia confirmar o que já foi
rejeitado ... na Alemanha ... cada membro do corpo político tem poder no
estado(18).
É absolutamente claro que foi na vitória dos princípios feudais que Hegel viu a
razão pela qual a Alemanha deixou de ser um único estado. Além disso, mostra
que o direito público baseado no direito privado tende a tornar-se independente,
separado do estado e do todo nacional, como resultado do qual o caos de
direitos conflitantes e reivindicações de direitos necessariamente surgem. É
verdade que Hegel, diferentemente das obras posteriores, vê a lei não como
resultado, mas como o princípio supremo das relações sociais e estatais, mas
dentro da estrutura dessa abordagem idealista que distorce a realidade, dá uma
imagem clara, clara e satírica da situação na Alemanha, onde se tem o direito de
falar em nome de toda a Alemanha sobre guerra e paz na mesma base(19).
Esta avaliação afiada das relações na Alemanha é muito mais clara do que na
brochura de Württemberg, expressa um ponto de vista histórico sobre a
positividade, reconhece o atraso dessas relações, a necessidade de sua reforma.
Por um lado, Hegel descreve vividamente aqueles no passado, as forças efetivas
e progressistas que originalmente criaram a construção do Império Alemão; ele
também presta homenagem aos sentimentos, tradições e afeições que os alemães
têm pelo seu passado, mas, por outro lado, enfatiza muito nitidamente que esse
passado histórico não tem nada a ver com os problemas reais do nosso tempo.
161
As observações de Hegel atestam o desenvolvimento de seu senso de
historicidade, sua compreensão dialética da história, igualmente longe de
glorificar estados sociais primitivos, de querer retornar a eles e do vulgar descaso
das condições sociais primitivas em nome do progresso, de sua avaliação
vulgarmente desdenhosa. "alturas das últimas conquistas" da civilização. Hegel
aqui pinta um quadro colorido da era da liberdade alemã, um estado onde não
leis, mas a moral unia as pessoas em um povo, e os mesmos interesses, não uma
ordem geral, transformavam as pessoas em um estado(21). E Hegel acrescenta o
seguinte raciocínio geral: "Quão pouco é abafado e fraco chamar os filhos
daquele estado de horríveis, infelizes e estúpidos, e considerar-se infinitamente
mais humanos, felizes e inteligentes, tão infantis e estúpidos quanto este estado -
como se fosse a única coisa natural, e levar em conta um estado em que as leis
não dominam como necessário, é um estado de liberdade”(22). Alguns anos
depois, no início do período de Iena, nas teses de sua dissertação, ele deu a essa
ideia uma expressão perseguida, paradoxalmente pontuda. Partindo em parte,
argumentando em parte com o conceito de Hobbes, ele escreveu: "O estado
natural não é injusto, e é por isso que é necessário sair dele"(23).
Outro fragmento, publicado pela primeira vez por Rosenkranz, interpreta essas
questões de maneira mais geral e filosófica. Rosenkrantz até chama esse
fragmento de um resumo geral das reflexões de Hegel sobre a crise mundial(24).
162
Hegel aqui dá um novo personagem ao conceito de positividade. A historização
desse conceito (como vimos no panfleto de Württemberg) é revelada primeiro no
fato de que as instituições que originalmente correspondiam à moral do povo,
com o tempo se afastando de suas vidas, abandonaram o espírito e se
transformaram em instituições positivas. Agora, Hegel acrescenta um novo toque
a essa imagem: em uma vida positiva congelada e antiga, um novo espírito
começa a despertar, e a oposição viva do velho e do novo torna o historicamente
obsoleto em positivo.
Quando Hegel muda em lugares especiais e universais, quando ele, por um lado,
expõe a universalidade feudal-absolutista como pretensão inadequada da
minoria e, por outro, vê a genuína universalidade, correspondente à natureza e à
história, nas exigências específicas da burguesia como classe, é apenas abstrata
filosoficamente formula aqueles pensamentos que, em uma forma politicamente
163
clara e concreta, sem alegações filosóficas, foram difundidos no jornalismo
progressivo no dia antes e durante a Revolução Francesa. E, novamente, para o
desenvolvimento de Hegel como pensador, é característico que a dialética do
universal e do particular emerge pela primeira vez em sua obra não em conexão
com a solução de problemas filosóficos abstratos, mas como uma tentativa de
esclarecer a dialética histórica real da destruição da sociedade feudal pela
burguesia.
Outras construções de Hegel mostram com mais clareza até que ponto a forma
filosófica de questionamento está ligada à sua perspectiva social e histórica. “No
Império Alemão”, ele escreve, “a universalidade possuidora do poder
desapareceu como fonte de todos os direitos, já que essa universalidade existe
agora apenas como pensamento e não como realidade”(28). Aqui, uma descrição
clara do império germânico como uma universalidade, desceu à particularidade,
está politicamente apoiando a controvérsia com os remanescentes absolutistas
feudais dos quais acabamos de falar. Do ponto de vista do desenvolvimento
filosófico de Hegel, devemos lembrar os fragmentos publicados por Zero, onde
ele começou a procurar uma nova compreensão da positividade. Mostramos que
Hegel vê a diferença entre o positivo e o não positivo, pois ambos são unidade,
mas o positivo é apenas uma ideia ou pensamento, enquanto o não-positivo é
ser.
Lembre-se mais uma vez que, nesse sentido, Hegel começou a distinguir entre
certos estágios do ser. Então foi formulado no mais alto grau abstrato e incerto.
No futuro, os problemas adquirem uma forma mais concreta e a determinação
do grau de ser real e inválido acaba por estar ligada à questão histórica do
desaparecimento ou destruição das antigas formações sociais, o nascimento de
um novo estado de sociedade. Estamos nos aproximando do exame da dialética
do desenvolvimento social em Hegel, que Engels descreveu nas seguintes
palavras: “Exatamente da mesma forma, à medida que o desenvolvimento
avança, tudo o que era anteriormente válido se torna inválido, perde sua
necessidade, seu direito de existir, sua razoabilidade. a realidade é tomada por
uma realidade nova e viável ... "(29). É claro que Hegel ainda está muito longe do
estudo historicamente específico que ele alcançará em sua filosofia da história.
Procuramos apenas mostrar que nesses fragmentos ele deu o primeiro passo em
direção à metodologia de sua compreensão da história. E para o nível de seu
pensamento, é característico que esse fragmento termine onde houvesse
conclusões concretas de pré-requisitos políticos e filosoficamente ousados e
progressistas.
164
(1) Rosenkrantz, p. 91. Também o destino deste folheto é prova da
irresponsabilidade com que se procedeu com a herança de Hegel. Rozenkrantz
diz que só se conservou alguns fragmentos dispersos dele. Haym, por outro lado
(loc. Cit. P. 489) disse haver tido diante dos olhos o folheto inteiro. E,
eficazmente, em sua monografia sobre Hegel aduz algumas citações do folheto
que estão contidas em Rosenkrantz, e além disso uma série de alusões mais ou
menos importantes em que não cita literalmente o texto de Hegel. Desde então
se perdeu todo o manuscrito. (retornar ao texto)
(4) Lasson, p XIV e XV. Sempre que for possível, citaremos para os dois folhetos
a edição de Lasson; porque é a mais acessível ao leitor; Mas procuraremos outras
edições quando o texto interessante não se encontre em Lasson ou esteja
incompleto. (retornar ao texto)
(12) Marx e Engels, Die Deutsche Ideologie [A Ideologia Alemã], Berlim, 1953, p.
198. (retornar ao texto)
(16) Os dois fragmentos do escrito de Hegel que aqui nos ocupam procedem,
segundo toda probabilidade, dos finais de 1798 e princípios de 1799. Rosenweig
(vol. II p. 88 e ss) e Hoffmeister (p. 468) o provaram assim com muita
probabilidade pelo que faz o primeiro fragmento. Eles mostraram que quando
Hegel fala do Congresso de Rastatt o tempo verbal futuro está corrigido com
outra tinta, por “foram”. Isto quer dizer, sem dúvida, que o manuscrito foi escrito
enquanto o Congresso de Rastatt, celebrava suas sessões e que mais tarde,
165
provavelmente ao voltar a considerar o tema em Iena, o texto foi revisado e
corrigido. Sobre o segundo fragmento há discrepâncias entre os estudiosos de
Hegel que tiveram em vista os manuscritos originais. Haering (p. 595 e 785)
coloca o fragmento no período de Iena, ou seja que o considera contemporâneo
da última redação de todo o escrito. Rosenweig (vol. I, p. 92 e ss, e 235) e
Hoffmeister (p. 496 e ss) pensam, por outro lado, que foi escrito em Frankfurt.
Rosenweig e Hoffmeister aduzem argumentos puramente filológicos baseados nas
alterações da escrita de Hegel, enquanto que Haering baseia sua tese em certos
“sinais internos”. Isto já bastaria para que nos ativéssemos a tese de Rosenkrantz
e Hoffmeister. Mas é que, além disso, estes “sinais internos” falam contra
Haering. Pois o método e a estrutura do segundo fragmento mostram traços
muito típicos do período de Frankfurt, partem de problemas individuais e vividos
e sobem do ponto de vista da vivência pata as conexões históricas e
generalizações filosóficas. Esta subjetividade do modo de expor desaparecerá
totalmente depois do período de Frankfurt. O leitor, que já conhece uma parte
das considerações introdutórias deste fragmento por nossa primeira seção,
poderá julgar por si próprio acerca da atmosfera espiritual do fragmento.
Colocaremos, pois, o fragmento da época indicada por Rosenweig e Hoffmeister.
Primeiro porque, como verá o leitor, o fragmento contém ideias análogas às do
folheto sobre Württemberg, mesmo sem dúvida a um nível superior de
generalização filosófica, razão pela qual é preciso admitir que estes fragmentos
sejam posteriores àquele. E em segundo lugar, porque Hegel começou seus
primeiros estudos econômicos sérios em fevereiro de 1799, e nos novos
fragmentos praticamente ainda nada encontramos de argumentos e
conhecimentos econômicos. É, portanto, provável que haja escrito antes do
estudo de Economia de Steuart, é completamente impossível prescindir da
hipótese se é que queremos reconstruir o processo de desenvolvimento do
pensamento hegeliano. (retornar ao texto)
166
(25) Rosenkarntz (p. 88 e ss) o impresso deste fragmento imediatamente depois
da crítica a Kant do ano de 1798. Como Rosenkrantz, foi discípulo pessoal de
Hegel, esta disposição do fragmento pode ser um indício a favor de nossa
hipótese cronológica. (retornar ao texto)
(26) Lasson, p. 140. Por metafísica entende Hegel aqui a filosofia que se
enquadra nos limites do idealismo subjetivo. (retornar ao texto)
167
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
A partir das próprias anotações de Hegel, ficou estabelecido que esse estudo
começou em 10 de agosto de 1798, ou seja, quase imediatamente após o
panfleto de Württemberg, e foi interrompido, se nossa hipótese estivesse
correta, com o trabalho sobre a Constituição alemã. É seguido pela
economia política de Stuart, iniciada em fevereiro de 1799. Então Hegel
retoma novamente seus estudos sobre o cristianismo e escreve seu trabalho
mais extenso do período de Frankfurt - "O espírito do cristianismo e seu
destino".
168
contradições internas do material que trabalha com esse fim, e que a
compreensão dessa contraditoriedade tem por consequência a interrupção
provisória do trabalho em curso.
169
mostra que este é o ponto principal de seu desligamento de Kant. Mas,
obviamente, o destaque deste item específico foi uma consequência dos
interesses especiais de Rosencrantz, e este item provavelmente ocupa um
lugar muito menor no manuscrito original do que se pode pensar seguindo
Rosencrantz.
170
natureza em Kant e contra a supressão do homem pela casuística, decorrente
da absolutização do conceito de dever".(2)
O único trecho do raciocínio de Hegel sobre Kant, que nos chegou em forma
mais ou menos detalhada, aborda a questão da relação entre o Estado e a
Igreja. Hegel formula a opinião de Kant sobre esta questão da seguinte
forma: "Tanto o estado quanto a igreja devem deixar um ao outro sozinhos e
não se tocarem." Hegel, com suas visões religiosas então orientadas, não
poderia concordar com esse entendimento. Primeiro de tudo, ele viu um
forte contraste entre o estado moderno e a igreja. O estado é baseado no
princípio da propriedade e, portanto, suas leis se opõem às leis da igreja.
Isso está enraizado, segundo Hegel, na atitude do estado e da igreja em
relação ao homem. A lei legal diz respeito a "uma pessoa que é considerada
muito incompleta como proprietária, em contraste, em uma igreja, uma
pessoa age como um holístico ... Um cidadão, se ele quer ser leal tanto ao
estado quanto à igreja, a um deles não é sério." Hegel analisa as posições
extremas dos jesuítas e quakers, não concordando Ele também rejeita o
domínio do Estado sobre a igreja como "inumano". Essa dominação geraria
fanatismo, "que, vendo o poder do Estado nos indivíduos, nas relações
humanas, os separa". e leva-o para a utopia de unidade completa de igreja e
estado, e que é para salvar a integridade da pessoa." A Igreja como uma
entidade é uma parte quando uma pessoa na sua integridade é dividido em
uma pessoa especial e uma igreja estatal pessoa especial. “Um cidadão, se
quer ser leal tanto ao estado quanto à igreja, não é sério sobre um deles."
Hegel analisa as posições extremas dos jesuítas e quakers, discordando de
171
suas tentativas de resolver o problema. Eles também rejeitam a dominação
do Estado sobre a igreja como “inumana”. Essa dominação criaria
fanatismo, “que, vendo o poder do estado nos indivíduos, nas relações
humanas, os separa”. Este curso de pensamento leva-o à utopia da unidade
completa da igreja e do estado, que deve salvar a integridade do homem." A
igreja como uma totalidade acaba sendo apenas uma parte quando a pessoa
na sua integridade é dividido em uma pessoa especial e uma igreja estatal
pessoa particular". "A igreja como um todo é apenas uma parte quando a
pessoa em sua integridade é dividida em uma Estado particular e uma Igreja
particular"(4).
Para a ética de Kant e Fichte, dividir uma pessoa é tanto uma expressão
quanto um meio filosófico de combinar sua crítica da moralidade moderna
com a afirmação da sociedade burguesa. Na esfera puramente espiritual, na
esfera do “imperativo categórico”, Kant e, seguindo-o, Fichte criam a
construção ideal da sociedade burguesa, caracterizada pela dominação livre
de conflito e harmoniosa do dever espiritual supraterrestre, que não pertence
ao mundo dos fenômenos. Todos os antagonismos e contradições da
verdadeira sociedade burguesa são reduzidos ao oposto do homem sensível
e moral - o fenômeno homo phenomenon e o homo noumenon. E se as
pessoas vivessem em total conformidade com a lei moral, não haveria
conflitos ou contradições na sociedade.
173
O conceito filosófico de moralidade só é possível porque todos os problemas
morais da sociedade burguesa são transformados nos postulados formais da
"razão prática". O homem da sociedade burguesa aparece aqui como um
"expoente" mais ou menos casual desses postulados. Fichte articula uma
compreensão do problema, talvez até mais agudamente e consistentemente
que Kant. "Eu posso e ouso cuidar de mim mesmo", ele escreve, "apenas na
medida em que eu sou uma ferramenta da lei moral, mas assim são todas as
outras pessoas. Isso ao mesmo tempo ganha uma maneira inconfundível de
saber se o autocuidado é moral, ou ela é simplesmente um instinto
natural."(5).
A luta do jovem Hegel contra a ética de Kant e Fichte é dirigida contra esses
dois pontos. Ela indubitavelmente conteve aqueles manuscritos, fragmentos
minúsculos dos quais são preservados na citação de Rosencrantz. Portanto,
se quisermos se familiarizar com o curso particular da controvérsia, que é
altamente importante para o desenvolvimento de Hegel, para aperfeiçoar a
sua posição, mas em relação à sociedade burguesa, por favor consulte as
páginas escritas mais tarde "Espirito do Cristianismo", onde ele analisa a
ética kantiana(6).
174
apenas uma solução válida, mas mostra uma tendência à desumanidade. A
consequência dessa decisão imaginária é apenas a dos vícios ordinários da
vida: a hipocrisia moral também é acrescentada.
175
significa uma aproximação não apenas da compreensão dialética da relação
de verdade e erro para o problema cognitivo central da dialética hegeliana,
que foi desenvolvida no período de Iena, mas também para o ponto central
da metodologia da moralidade hegeliana posterior.
Para Kant, as normas morais individuais são isoladas umas das outras e
aparecem como uma consequência lógica inevitável de um único "princípio
da razão" extra-histórico e extra-social; para Hegel, são momentos
contraditórios do processo dialético, que se mutuamente removem no jogo
vivo dessas contradições, morrem ou reaparecem de novo de forma
modificada e com um conteúdo modificado no curso do desenvolvimento
social.
176
homem é o único: uma maneira de remover a positividade. Enquanto esta
ação foi considerada como no período de Berna, no abstrato socialmente, a
questão para Hegel era simples: a atividade nas repúblicas antigas não
conhecia positividade, a positividade é apenas a passividade da pessoa
privada da era cristã. Agora, quando se trata das ações de uma pessoa na
sociedade burguesa, um critério diferente é necessário. A ação e a inação, a
atividade e a passividade não são mais opostas metafisicamente e
mutuamente exclusivas umas das outras, o que era característico do período
de Bernense. Portanto, nem toda ação supera a positividade. É isso somente
quando fornece a "unidade" correta. "A moralidade de um ato consiste em
uma escolha, a unidade está em uma escolha, porque o excluído está
separado; porque o [conteúdo] representado, que é combinado no ato com
o ato de atividade representativo, deve ele mesmo ser amoral, mesmo
separado"(10).
Hegel contesta uma necessidade formal e lógica tão direta. Usando uma
terminologia extremamente vaga, ele se opõe à sua própria compreensão,
segundo a qual a unidade pode ser real ou puramente imaginária (apenas
representada, apenas positiva). A escolha em si já é a unidade do sujeito
fazendo a escolha e o objeto de escolha. Mas se um ato que satisfaça esses
critérios formais é verdadeiramente moral depende, segundo Hegel, do
conteúdo do objeto de escolha. Se o ato em si é a unidade do sujeito e
objeto de escolha, então o ato é moral; se o ato é apenas uma unidade
imaginária e positiva deles, então o ato é imoral. E ele é assim,
independentemente de o fato estar de acordo com os critérios formais
kantianos, independentemente do modo de pensar do sujeito no processo
de seleção.
177
Em total oposição a Kant, Hegel vê o critério não em algo formal, não na
consciência individual do homem (consciência, etc., que é característica de
Kant), mas em algo (significativo, ou seja, em conexão significativa com a
vida). O fato de que Hegel fala aqui apenas sobre a vida em geral não deve
esconder essa conexão de nós. "Moralidade", escreve ele, "é
proporcionalidade, unidade com a lei da vida; mas se esta lei não é uma lei
da vida, mas algo alheio a ela, a suposta unificação acaba sendo a cisão
máxima, objetividade."(11). Na ética kantista, por acaso, essa conexão com a
“lei da vida” ocorrerá ou não, portanto a ética de Kant não oferece garantia
nem critério para superar a positividade morta do mundo. O resultado
inevitável da forma do comando kantiano do dever - separação de uma
pessoa em duas partes hostis opostas: espírito e sensibilidade - é, segundo
Hegel, que uma conexão real, a verdadeira unidade de uma pessoa com a
"lei da vida", a "reconciliação" de um indivíduo com a burguesia nunca não
alcançado. O fato de que, segundo Kant, "moralmente", na interpretação de
Hegel, depende de mim, de "uma divisão em mim mesmo". Portanto, na
moralidade e através da moralidade, a positividade não pode ser superada."
(a saber, a lei moral – G.L.), “mas não o mundo objetivo; o homem e o
mundo são separados”.(12)
Hegel, em sua crítica aos ensinamentos morais de Kant, coloca cada vez
mais claramente essa contradição. E já no período de Frankfurt, Hegel não
estava tão preocupado com conflitos específicos de deveres específicos, que
eram principalmente de interesse de Goethe e Schiller, mas antes com a
contradição que necessariamente decorre do conceito de dívida de Kant.
Lembre-se de que Hegel negou a possibilidade de superar a positividade
com a ajuda da ética de Kant. Ele expressa a quintessência filosófica da vida
de uma pessoa positivamente da seguinte maneira: “Verdade, no aspecto de
certa virtude, que é serviço para uma pessoa positiva e nele, ele (uma pessoa
179
positiva. - t.d.) não pode ser chamado de moral ou imoral, e o mister de
executar certos deveres não é diretamente algo o oposto da virtude em
relação a esses deveres; mas, ao mesmo tempo, tal indiferença certa inclui,
se abordada de um ponto de vista diferente, e imoralidade, que se torna
aparente de um ângulo diferente: já que certo ministério positivo tem certa
fronteira e uma pessoa não pode atravessá-lo, ele não moral Essa
imoralidade da positividade, portanto, refere-se ao outro lado das relações
humanas, diferente da obediência positiva - dentro dessa obediência, imoral
não é imoral." E mais: "A virtude é oposta não apenas pela positividade, mas
também pela não-virtude, imoralidade. que se torna aparente de um ângulo
diferente: uma vez que certo ministério positivo tem certa fronteira e uma
pessoa não pode atravessá-lo, ele não é moral fora dessa fronteira. Essa
imoralidade da positividade está, portanto, relacionada ao outro lado das
relações humanas, que é diferente da obediência positiva - dentro dessa
obediência, imoral não é imoral", que se torna aparente de um ângulo
diferente: uma vez que certo ministério positivo tem certa fronteira e uma
pessoa não pode atravessá-lo, ele não é moral fora dessa fronteira. Essa
imoralidade da positividade está, portanto, relacionada ao outro lado das
relações humanas, que é diferente da obediência positiva - dentro dessa
obediência, imoral não é imoral”.(16)
Em uma nota a esse lugar, Hegel censura a ética do tipo de Kant, na medida
em que "não há mudança, nem aquisição de ocorrência e aniquilação". Em
contraste, de acordo com Hegel, uma virtude real, tomada "como uma
modificação dos vivos", pode existir ou não existir, "pode surgir e
desaparecer". Aqui, Hegel se opõe ao moralista especulativo do tipo de Kant,
capaz apenas de lutar com a vida, o mentor do povo, o educador das
pessoas, que "se dirige diretamente a eles mesmos" e para os quais os
problemas do surgimento e desaparecimento da virtude são de importância
decisiva.
Hegel não apenas considera todas aquelas questões que Kant ignora como
os problemas centrais da moralidade, mas também tenta revelar o conteúdo
específico e contraditório que pertence ao homem e à sociedade e surge
dessas colisões muito confusas e diversas. Hegel afirma: "O efeito destrutivo
do vício reside no fato de que o vício implica punição; a punição é uma
consequência ruim necessária de um crime, mas nem todas as
consequências podem ser chamadas de punição, como o fato de o caráter
da pessoa cometer o crime ser inevitável." deteriorando, é impossível afirmar
que ele merecia o que ele ficou ainda pior".(17)
Com base nisso, Hegel prossegue para uma crítica intransigente da negação
de Kant dos conflitos de dever. Ele enfatiza a necessidade de conflitos de
deveres enraizados na riqueza e na versatilidade da própria vida. E aqui é
importante notar que já no período de Frankfurt, Hegel considera este
problema historicamente. À medida que a vida (em uma sociedade burguesa
em desenvolvimento) se torna cada vez mais multilateral e complexa, a
natureza contraditória da vida que subjaz ao conflito de deveres aumenta.
Mais tarde, o raciocínio de Hegel sobre esse problema será dado, mas agora
se deve prestar atenção ao fato de que esses pensamentos pressupõem uma
remoção dialética de toda a esfera da moralidade no amor e na religião. Em
contraste com a contradição da moralidade, o amor e a religião aparecem
como princípios da unidade da vida. Que contradições surgem (consciente
ou inconscientemente) no conceito hegeliano de amor e religião,
revelaremos somente após a apresentação das ideias básicas do "Espírito do
Cristianismo". E assim, Hegel fala da inconsistência dialética de toda
moralidade:
181
não pode transgredir. Se uma pessoa possui essa virtude particular, então,
permanecendo fiel a ela, isto é, virtuosa a esse respeito, fora dos limites
dessa virtude, ele só pode ser cruel em suas ações ... O direito, rejeitado em
qualquer aspecto, não pode sua eficácia é diferente: se ela é mantida para
esse outro relacionamento, o primeiro sofre. À medida que a diversidade das
relações humanas cresce, o número de virtudes aumenta, e, ao mesmo
tempo, o número de colisões inevitáveis e a impossibilidade de resolvê-las.
Se uma pessoa com muitas virtudes deseja estabelecer uma hierarquia entre
seus muitos credores, porque não consegue satisfazer todos eles, então se
declara menos culpado diante de Tom, cujas exigências ele não aceita, do
que antes daqueles que ele satisfaz, chamando suas reivindicações de mais
justas. Portanto, as virtudes podem perder seu caráter de dever absoluto e
podem até se transformar em um vício. Com tal multilateralismo de relações
e uma infinidade de virtudes, apenas uma coisa permanece - o desespero da
virtude e o crime da própria virtude. E somente se nenhuma virtude fingir ser
completa e absoluta em sua forma limitada ... E somente um espírito vivo
age com base na integridade dos dados de respeito, age sem quaisquer
restrições, sem a diversidade de relações que levam à sua divisão, e se
restringindo - então apenas o multilateralismo das relações permanece, e a
multiplicidade de virtudes absolutas que são incompatíveis entre si
desaparece. Aqui não se pode falar do fato de que a base de todas as
virtudes é um e o mesmo princípio que, enquanto permanece, age de várias
maneiras, em várias modificações, como alguma virtude especial ... Em tal
existência absoluta, as Virtudes se destróiem mutuamente amiga Sua
unidade, estabelecida pela regra, é apenas uma aparência, pois é apenas
uma coisa mental; é essa unidade que não remove a diversidade e não a
conduz à unidade, mas a deixa em toda a sua inviolabilidade. de modo que
a diversidade das relações leva à sua divisão e se limita, então resta apenas a
versatilidade das relações, e a multiplicidade de virtudes absolutas que são
incompatíveis entre si desaparece. Aqui não se pode falar do fato de que a
base de todas as virtudes é um e o mesmo princípio que, enquanto
permanece, age de várias maneiras, em várias modificações, como alguma
virtude especial ... Em tal existência absoluta, as Virtudes se destróem
mutuamente amiga Sua unidade, estabelecida pela regra, é apenas uma
aparência, pois é apenas uma coisa mental; é essa unidade que não remove
a diversidade e não a conduz à unidade, mas a deixa em toda a sua
inviolabilidade. de modo que a diversidade das relações leva à sua divisão, e
se limita, então apenas o multilateralismo das relações permanece, e a
multiplicidade de virtudes absolutas que são incompatíveis entre si
desaparece. Em tal existência absoluta, as Virtudes se destróem mutuamente
amiga Sua unidade, estabelecida pela regra, é apenas uma aparência, pois é
apenas uma coisa mental; é essa unidade que não remove a diversidade e
não a conduz à unidade, mas a deixa em toda a sua inviolabilidade. Em
uma existência tão absoluta, as Virtudes se destróem mutuamente. Sua
182
unidade, estabelecida pela regra, é apenas uma aparência, pois é apenas
uma coisa mental; é essa unidade que não remove a diversidade e não a
conduz à unidade, mas a deixa em toda a sua inviolabilidade. Em uma
existência tão absoluta, as Virtudes se destróem mutuamente. Sua unidade,
estabelecida pela regra, é apenas uma aparência, pois é apenas uma coisa
mental; é essa unidade que não remove a diversidade e não a conduz à
unidade, mas a deixa em toda a sua inviolabilidade.
183
torna objeto de avaliações morais. É claro que a ética de Kant está
conectada com a sociedade burguesa da mesma forma que a de Hegel;
ambos são reflexo filosófico do ser social. Mas a ética de Kant baseia-se no
pressuposto de que se pode tomar uma posição que se eleva acima da
sociedade burguesa. Nesse sentido, a ética de Kant defende a posição do
Iluminismo da era pré-revolucionária, que inconsciente e diretamente
identificou a sociedade burguesa que ainda não se tornara válida com o
"reino da razão". Verdade, os iluministas franceses e ingleses, que, em
estreita proximidade, observaram a luta real que se desenrolava da classe
burguesa emergente, apesar de sua policial relativamente abstrata, idealista e
não histórica em relação à sociedade burguesa, chegou a conclusões muito
mais específicas: nesse caso, eles observaram o moderno eles uma
sociedade. Na Alemanha atrasada, este método idealista é apresentado em
uma forma especial - o idealismo de Kant e Fichte. E assim que esse
método, em seu isolamento subjetivo-idealista, afirma se tornar absoluto e
eterno, verifica-se que ele não pode revelar o conteúdo social que realmente
constitui a base social de suas construções a priori. Historicamente, é
inevitável que esse método chegue a isso, mas baseado em seus próprios
pré-requisitos filosóficos, a partir de seu próprio método filosófico, ele só
pode chegar a seus próprios pré-requisitos sociais por engano. A crítica
hegeliana da doutrina kantiana da moralidade indica fortemente
precisamente esse ponto fraco da metodologia de Kant; no período de Iena,
Hegel, pelo exemplo de certos problemas sociais, mostrará especificamente
sua inconsistência.
184
pré-requisitos dogmáticos do ensinamento de Kant são claramente
expressas.) Os componentes e momentos individuais desse processo não
podem ser medidos diretamente pelos requisitos abstratos da mente. Em
geral, elas só podem ser compreendidas e apreciadas em um relacionamento
espaço-tempo específico com outros pontos individuais, cuja totalidade
incorpora certa imagem da história. E cada integridade histórica (esta ou
aquela pessoa num determinado estágio de desenvolvimento) é apenas uma
integridade relativamente completa e, ao mesmo tempo, apenas um
momento na história do desenvolvimento do espírito. Assim, Hegel tem uma
dialética complexa de relativo e absoluto. Hegel nunca foi um relativista
histórico e nunca colocou diferentes períodos históricos em um nível. Sua
superação do absoluto dogmática inerente a Kant baseia-se na ideia de
desenvolvimento histórico, segundo a qual cada momento da cadeia geral
de desenvolvimento é absoluto apenas na medida em que constitui o
momento necessário de desenvolvimento, mas ao mesmo tempo e em
relação a cada momento é relativo. de momentos de desenvolvimento
histórico. É claro que os ensinamentos de Kant também contêm o conceito
de desenvolvimento histórico, a saber, o conceito de progresso sem fim, no
curso do qual a humanidade aborda as exigências da razão. Mas a
compreensão da história de Kant, por um lado, não fornece nenhuma
explicação real para os estágios individuais de seu desenvolvimento; por
outro lado, esse entendimento é direto demais, e se resume a um
antagonismo abstrato de razão e sensibilidade racional e irracional.
185
foram a causa motivadora do progresso objetivo. Por outro lado, a conquista
de um estágio mais elevado do desenvolvimento histórico no conceito
hegeliano é constantemente associado a perdas insubstituíveis para a
humanidade.
186
sua ideia futura de uma unidade contraditória e viva característica da
sociedade burguesa.
187
contradições com as quais se deparam, em antinomias eles vêem apenas o
objetivo, devido às limitações do pensamento humano, e não algo
relacionado à própria realidade. Sua única diferença é que Kant tira
conclusões agnósticas disso, e os românticos, ao contrário, são místico-
irracionalistas. Hegel, em contraste com ambas as direções, procura ver em
contradição alguma coisa objetiva e, além disso, a essência da realidade.
Definições reflexivas e antinomias para eles, que são necessárias para eles,
são para ele apenas um etano da compreensão dialética da realidade. Para
Hegel, ultrapassar os limites das antinomias da razão reflexiva significa a
remoção da contradição e a revelação da contradição inerente a um estágio
mais elevado, desenvolvido e desenvolvido - o estágio da razão especulativa.
De acordo com a caracterização hegeliana, a razão reflexiva - a
absolutização delas em relação aos momentos fundamentados - acaba por
ser um momento necessário do método dialético. Mais tarde, em sua história
da filosofia, Hegel chamaria Kant e Fichte de seus antecessores históricos e
de sua filosofia - o estágio preliminar de sua própria dialética.
188
resultante da própria vida. Assim, para Hegel, a ética kantiana não é algo
inventado, não é apenas uma imagem teoricamente falsa da realidade.
Hegel está cada vez mais se esforçando para entender essa integridade, o
que elimina a natureza contraditória dos conflitos de deveres (em geral, as
contradições da vida de um indivíduo na sociedade burguesa) como algo em
si contraditório e móvel pela contradição. Ele chega (no final do período de
Frankfurt) a uma nova formulação da contradição dialética, mais distinta
que a de todos os seus predecessores, a tal entendimento que só é possível
dentro dos limites da dialética idealista. No entanto, para ser consistente em
sua teoria, Hegel deveria ter ido mais longe em sua compreensão dialética
da sociedade burguesa, ele tinha que pelo menos sugerir em qual direção a
189
remoção de contradições à integridade da sociedade burguesa poderia
ocorrer em um nível mais alto. Mas Como representantes da economia
política clássica inglesa, Hegel considera a sociedade burguesa como a
última e mais desenvolvida forma de desenvolvimento histórico. De acordo
com esse conceito, as principais contradições da sociedade burguesa devem
ser removidas de maneira diferente das contradições dos estágios iniciais de
desenvolvimento, que levaram histórica ou logicamente ou
"fenomenologicamente" a esse "nível superior". Consequentemente, Hegel é
compelido, tendo atingido o ponto mais alto no desenvolvimento de seu
método, a abandonar novamente o novo conceito de dialética, a fim de
alcançar uma unidade consistente ponderando todas as contradições. É
claro que o desenvolvimento desse pensamento em Hegel não é claro, mas é
uma luta acirrada entre duas tendências em seu pensamento. Mas a
especificidade de sua perspectiva social implica necessariamente que Hegel
não foi capaz de superar completamente os ensinamentos anteriores sobre
contradição. (As outras fronteiras da dialética hegeliana, devido ao seu
conceito de sociedade burguesa, serão descritas em detalhes mais adiante).
O oposto entre Kant e Hegel vai muito além dos limites da metodologia da
doutrina da moralidade. Marca um estágio importante no desenvolvimento
do método dialético, embora o conceito de Hegel apareça inicialmente de
forma limitada e abstrata. Além disso, tal oposição significa uma nova etapa
na compreensão da sociedade burguesa. A filosofia e a literatura alemãs,
que eram dignas da ideologia da França pré-revolucionária, embarcam
numa compreensão teórica e artística da realidade pós-revolucionária de
uma sociedade capitalista em desenvolvimento. É claro que essa
compreensão tinha que ser limitada em muitos aspectos e distorcida, uma
vez que era realizada em solo alemão, onde na realidade era e ainda não
poderia ser uma revolução burguesa. Marx e Engels provaram isso de forma
convincente em relação não apenas à filosofia hegeliana, mas também a
poesia de Goethe e especialmente de Schiller. No que diz respeito ao escopo
deste estudo, revelou as orientações sociais comuns da poesia clássica de
Weimar e Hegel. Já mostramos que Hegel, em comparação com seus
grandes contemporâneos, mais decisivamente revelou a natureza
contraditória da sociedade burguesa, mais intensiva e profundamente tratou
de sua "anatomia" - economia política. A seguir, será mostrado que ambos
os aspectos do desenvolvimento das visões de Hegel estão intimamente
relacionados entre si. mais intensamente e em profundidade envolvido em
sua "anatomia" - economia política. A seguir, será mostrado que ambos os
aspectos do desenvolvimento das visões de Hegel estão intimamente
relacionados entre si. mais intensamente e em profundidade envolvido em
sua "anatomia" - economia política. A seguir, será mostrado que ambos os
aspectos do desenvolvimento das visões de Hegel estão intimamente
relacionados entre si.
190
(1) Rosenkranz, p.87 e ss. (retornar ao texto)
(6) Hegel não se refere explicitamente à ética de Kant. Não podemos decidir, sem
deixar dúvidas se ele leu à época os escritos éticos de Fichte, publicados
precisamente nesta data. O material conservado não é suficiente para confirmar
sem reservas a afirmação. Mas como os escritos posteriores éticos e filosóficos de
Hegel, em Iena criticam quase sempre a ética de Fichte junto com a de Kant, e
como no período de Iena considera Hegel a Fichte como coerente continuador
de Kant com todos seus defeitos, podemos considerar e tratar a crítica da moral
kantiana do período de Frankfurt como uma crítica ao mesmo tempo daquela
fichteana. (retornar ao texto)
(13) Kant, Metaphysik der Sitten (Metafísica dos costumes), Leipzig, 1907, ed.
Vorländer, p. 27. (retornar ao texto)
(15) Cf. os estudos sobre a estética de Schiller em meus livros Goethe und seine
Zeit (Goethe e sua época) e Beitrage zur Geschirte der Ästhetik (Contribuições à
história da estética), ambos em Aufbau-Verlag, Berlim. (retornar ao texto)
191
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Não é por acaso que é dessa parte da herança de Hegel que não há mais
vestígios. Entre os estudantes diretos de Hegel, não havia nenhum que
descobrisse pelo menos uma sombra de compreensão dos problemas
econômicos, sem mencionar a importância do desenvolvimento de problemas
econômicos para o surgimento do sistema e da metodologia de Hegel. Mesmo
nos trabalhos publicados de Hegel, nos quais essas conexões entre eles aparecem
explicitamente ("Fenomenologia", "Filosofia do Direito", etc.), eles não
perceberam o significado desses problemas.
192
no campo da economia política, mas também com uma compreensão consciente
do fato de que é nessa área que os problemas mais importantes da dialética
precisam ser estudados. revelar no material, que ainda não foi conscientemente
processado pelos clássicos da economia política burguesa e utópicos, suas leis e
princípios decisivos, e assim revelar a contradição dialética das leis
desenvolvimento.
193
econômicas de Hegel no período de Jena, mas o período de Frankfurt, como
antes, está envolto em trevas.
Rosencrantz não dá aqui, infelizmente, nenhuma data. Isso é ainda mais triste
porque, como o leitor de nossa pesquisa pode facilmente ser convencido, ele
interpreta erroneamente a atitude de Hegel em relação à Inglaterra. Não há um
único comentário de Hegel que comprove que ele era um grande admirador da
constituição inglesa e até mesmo viu um modelo nela. No periodo de Berna, por
razões óbvias, ele não lidou de maneira alguma com os problemas da Inglaterra.
Na tradução e no comentário do folheto de Cart feita nos primeiros anos do
período de Frankfurt, Hegel, ao contrário, criticou duramente a política
reacionária da Inglaterra, que foi uma reação à Revolução Francesa. O interesse
de Hegel pela Inglaterra emergiu, obviamente, no curso de suas reflexões em
Frankfurt sobre a essência e as leis da sociedade burguesa. É por isso que, para a
biografia de Hegel, seria importante e interessante saber a época do início desses
estudos,
194
Não falemos da pobreza e insensatez dessas observações do primeiro biógrafo de
Hegel. Mas, mesmo a partir dessa pequena passagem, fica claro como a
evidência importante do desenvolvimento das visões de Hegel foi perdida. Afinal,
Hegel abordou os problemas da economia política do ponto de vista de sua
crítica da positividade, e poderíamos ter uma compreensão mais clara de sua
atitude inicial em relação à sociedade burguesa se ele conhecesse seus primeiros
escritos polêmicos sobre teoria econômica.
195
apenas em lugares separados e em uma forma filosófica geral. Temos apenas
manuscritos do período de Iena, nos quais os problemas da sociedade burguesa e
a perspectiva econômica desempenham um papel distinto e significativo, direta e
detalhadamente. A extensão em que esses problemas foram abordados na última
obra de Frankfurt de Hegel - no fragmento do sistema (1800) - não é conhecida,
já que este trabalho, como veremos, foi perdido, com a exceção de dois
pequenos fragmentos. Mas nos manuscritos de Iena pode-se ver claramente o
conhecimento das obras não só de Stewart, mas também de Adam Smith. E, no
entanto, devido à extrema abstração filosófica dos argumentos de Hegel sobre
economia política e seu interesse principalmente em problemas gerais, é difícil
apontar a influência das opiniões econômicas de Steuat sobre Hegel.
196
Nesse fragmento, ele fala sobre a atitude religiosa de uma pessoa para com os
vivos e, sobre a remoção da objetividade, a positividade morta em relação às
pessoas e coisas. Hegel discutirá os problemas filosóficos e sociais que surgem
nesta conexão em uma seção diferente. Aqui nós selecionamos um momento.
Hegel escreve: "... é necessário que ele (homem.- G.L.) considerava-se em forte
relacionamento com os objetos e manteria sua objetividade até a completa
destruição. " a solução na teoria do sacrifício é uma teoria muito peculiar e
imbuída de um profundo misticismo. Um homem, argumenta ele, "não seria
capaz de se unir com a vida infinita, se tivesse guardado alguma coisa para si, por
estar ansioso pelo dominio ou fosse dependente. Portanto, a partir de sua
propriedade, a necessidade de que é o seu destino, ele sacrifica apenas alguma
coisa, pois o seu destino é necessário ... Apenas através da falta de sentido desta
destruição”(5).
Essa ideia à primeira vista parece ser extremamente mística e sombria. A vítima
aparece aqui como um resultado religioso da inevitabilidade e positividade "fatal"
do mundo da propriedade privada - a sociedade burguesa. Para nós aqui, é
interessante contrastar a vítima como “destruição sem objetivo”, como
“destruição em prol da destruição” para “destruição expedita”, completamente
incompreensível, porém, deste texto. O fragmento, uma parte da qual é citado
aqui, é colocado na última página, no final do manuscrito hegeliano.
Como aqui Hegel nunca explica o conteúdo que ele coloca em um conceito tão
importante quanto a noção de "destruição finalistica", pode-se supor que essa
categoria foi divulgada em detalhes em um manuscrito anterior, agora abolido.
No entanto, mesmo a partir da citação acima, fica claro que “destruição
finalística” significa uma atitude cotidiana normal de uma pessoa para o mundo
objetivo. O sacrifício é projetado para levar uma pessoa para fora dessa área.
Nós ainda não estamos preocupados com o que Hegel significa, sacrifício. Nossa
análise subseqüente, especialmente da teoria social de Hegel sobre o período de
Iena, mostrará que isso não é de modo algum religioso-místico, que a questão
está intimamente ligada às ilusões de Hegel, que ele estava alimentando na
resolução das contradições da sociedade burguesa. Aqui somos confrontados
com a noção oposta de “destruição finalistica” de objetos. Uma compreensão
exaustiva dessa definição aparentemente extremamente obscura vem do Sistema
de Moral de Jena, escrito dois anos depois. Estamos falando de trabalho. Em "O
Sistema da Moralidade", Hegel define o trabalho de uma maneira ligeiramente
diferente - na terminologia característica dos primeiros anos de Iena e consoante
com Schelling - como "destruição de um objeto", mais precisamente, como a
destruição expediente do objeto. A primeira tríade dialética, de onde vem Hegel,
é uma necessidade - trabalho - prazer. Trabalho é definido da seguinte forma: "...
a destruição de um objeto, ou contemplação, mas como um momento, então
essa destruição é substituída por outra contemplação, ou um objeto; ou - a
identidade pura é fixa, a atividade destrutiva ... o objeto não é destruído como
197
um objeto, mas depende de outro ... Mas essa destruição é trabalho"(6). É verdade
que essa definição não tem a palavra "expediente", mas se você seguir de perto o
raciocínio de Hegel nesse trabalho, poderá ver como ele volta do trabalho para
uma ferramenta, de uma ferramenta para um carro e entender que a palavra está
faltando aqui o pensamento existe, e a palavra foi omitida porque ela própria
estava implicada neste contexto. A conexão entre expediente e trabalho em geral
passa a ser a idéia principal da dialética hegeliana. E na Lógica, ao discutir os
problemas da teleologia, o trabalho desempenha um papel extremamente
importante, como apontado por V.I. Lenin em suas observações a esses
argumentos de Hegel. Acreditamos que o conceito de trabalho como a categoria
mais importante do conceito hegeliano de história no “Sistema de Moralidade”
de Iena já existia na parte perdida do “Fragmento do Sistema” de Frankfurt.
Deve-se acrescentar que foram certas limitações de Stewart, o fato de que seus
pontos de vista eram mais baixos no nível dos pontos de vista de A. Smith,
tornou seu trabalho mais atraente para o jovem Hegel do que as idéias mais
claras e convincentes de A. Smith. Desde que Hegel está lutando com a
positividade morta, ele procura superar, com A. Smith, o legado da economia
política anterior, a fetichização de várias categorias por ele. Esses pontos de vista,
no entanto, tinham raízes profundas na economia dos países economicamente
atrasados. Uma consistente interpretação burguesa da relação entre a economia e
o Estado poderia surgir apenas na própria Inglaterra - com Smith e Ricardo. Se
tomarmos os economistas franceses do período napoleônico, não podemos
deixar de ver, o que Marx apontou constantemente, remanescentes das visões
teóricas anteriores sobre a questão da relação entre a economia e o Estado. Isso é
típico da Alemanha em um grau ainda maior. A partir da história do lento
desenvolvimento da economia política na Alemanha, sabemos que as ilusões
sobre o papel econômico do Estado persistiram depois de Hegel e depois se
transformaram em apologética direta (basta lembrar Lassalle ou Rodbertus. Se
considerarmos também que Hegel estava cheio de ilusões no período Jena) No
que diz respeito à resolução das contradições da sociedade burguesa, sobre a
qual falaremos mais adiante, fica claro que, nessa questão, Hegel era mais
inclinado a Stewart do que a Smith.
198
Mas há outra questão crucial na qual Hegel permanece ao longo de sua vida no
ponto de vista de Stewart e nunca chega a esse ponto na compreensão das leis
do capitalismo, que são inerentes a A. Smith e D. Ricardo. Temos em mente o
problema do trabalho excedente e da mais-valia. Marx, em sua crítica à
economia política de Stuart, ressaltou que Stewart é cativado por velhas idéias
sobre os lucros derivados da alienação, o lucro sobre a alienação. É verdade que
Stewart distingue entre lucros positivos e relativos. Este último é o lucro da
alienação. Do primeiro, Marx diz: "O lucro positivo surge de" um aumento no
trabalho, diligência e habilidade ". Stewart não tenta perceber como surge a partir
deste aumento. Sua adição é sobre o valor de troca(8).
Escusado será dizer que esta limitação não só não é superada, mas é reforçada
pela natureza idealista dos pontos de vista de Hegel, especialmente devido à
interpretação frontal invertida da relação entre lei e estado, por um lado, e a
economia, por outro. Mas as raízes sociais da natureza idealista das visões de
Hegel, como notado, são as mesmas. O atraso econômico da Alemanha tem um
impacto sobre todos os pontos de vista de Hegel, e não apenas na solução de
problemas individuais e não diretamente, isto é, nem sempre implica uma
distorção direta de suas abordagens brilhantes para uma compreensão correta da
sociedade burguesa. Seu impacto em seu pensamento, pelo contrário, é muito
diversificado, complexo e mediado por várias partes.
199
irresistível. seguinte parágrafo). As origens desse conceito já podem ser
encontradas nos primeiros esboços do período de Frankfurt, onde Hegel realizou
uma análise complexa de como as relações de propriedade podem estar ligadas
ao amor.
Mas o fato de que houve um episódio aqui se torna uma questão central; que
havia um problema de amor subjetivo, aqui aparece como destino do
representante da mais alta religiosidade - Jesus. A essência do conceito de
destino no período de Frankfurt é que os resultados da luta com forças hostis e a
rejeição da luta, segundo Hegel, são os mesmos do ponto de vista do destino,
que é expresso na opinião de Hegel, a inevitabilidade do destino(9). E, embora
neste ponto, o raciocínio de Hegel pareça místico, é aqui que sua compreensão
mais realista da sociedade e da história se manifesta em comparação com outros
filósofos alemães desse período: a negação da ilusão muito comum de pensar
que ainda ocorre hoje como se uma pessoa pudesse ficar acima de sua tempo,
sobre a sua sociedade, como se uma abordagem teórica ou prática da sociedade
fosse possível, como se fosse do exterior desta sociedade.
Lembre-se que no período de Berna, Hegel se referiu a este lugar da Bíblia. Mas
nesse período, Hegel vê a expressão da essência do cristianismo na medida em
que é dirigida exclusivamente ao indivíduo, à "pessoa privada". Para Hegel, o
conteúdo econômico não constitui objeto de controvérsia.
Agora estamos falando sobre isso. E com muito mais profundidade. No esboço
do “Espírito do Cristianismo”, as relações econômicas são consideradas apenas
em termos da abdicação da riqueza de Jesus. Propriedade e propriedade não
podem ser um “belo relacionamento”, então Jesus se afasta deles.
200
Bastante diferentes ênfases em local apropriado no texto principal manuscrito.
Nós mostramos que nesta obra de Hegel é muito mais perto de um
entendimento, para a direita em relação à pessoa de Jesus do que no período
Bernese. Afinal, nas obras do período de Berna, ele ainda não foi avaliado tão
drasticamente os ensinamentos de Jesus e enviou críticas venenosas e venenoso
contra o Cristianismo e não contra a igreja. Agora ele novamente lembra a
parábola do jovem rico: "O próximo requisito - sacudir cuidar da vida, desprezam
riquezas -, bem como a observação (Mateus XIX, 23.), Como um homem rico
dificilmente entrará no reino dos céus, não podemos dizer nada. é apenas uma
ladainha, permitido apenas em sermões ou em verso, para uma tal exigência não
contém, do nosso ponto de vista, a verdade. a propriedade e seu destino tornou-
se muito importante para nós, para a reflexão deste tipo seria aceitável para nós?
rejeição deles concebível. No entanto, não podemos aceitar que a riqueza e os
privilégios associados e cuidados trará, inevitavelmente, a uma determinada
pessoa (Bestimmtheiten), limites ... e relações de dependência; dentro desses
limites é, no entanto, um lugar para a virtude e dever, mas eles não permitem
que a integridade da plenitude da vida, porque a vida está associada a objetos,
com as condições que estão fora deles, porque a vida é dada como pertencentes
a ela que ela nunca poderia ser seus membros. A riqueza inevitavelmente revela
seu oposto ao amor, ao todo, já que é um direito e é percebido como uma
diversidade de direitos, com o resultado de que a virtude diretamente
relacionada, integridade e todos os outros possível dentro deste círculo de virtude
deve ser ligado com uma excepção, e cada acto de si virtude é o oposto. Sobre o
sincretismo de servir a dois senhores, e não há nada que pensar, como a
incerteza e não pode ser conectado, mantendo a sua forma"(11).
201
(3) Rosencrantz, p, 86. (retornar ao texto)
(7) Theorien über den Mehrwert (Teorias sobre a mais valia), loc. Cit. vol I. p 32.
(retornar ao texto)
(8) Theorien über den Mehrwert (Teorias sobre a mais valia), loc. Cit. vol I. p 30.
(retornar ao texto)
202
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
203
na sua totalidade, na forma em que foi fundada por Jesus, mas agora tu deves
considerar se ele atende plenamente a natureza e o que precisa ser levado os
discípulos de Jesus no futuro"(1).
As respostas de Hegel são na maior parte muito negativa. Em seu ensaio, ele
procede dos dogmas místicos do cristianismo e quer mostrar que a religião cristã,
proclamando a ressurreição de Jesus, adquire sua objetividade religiosa, supera a
pura subjetividade do amor. Mas desta maneira surge um "indefinido pairar entre
a realidade e o espírito". Ao mesmo tempo, o oposto deveria ter sido preservado,
“o qual, após desenvolvimento adicional, deveria ter se tornado uma
combinação dos vivos e dos mortos, o divino e o real; que apaziguamento é, mas
não deu, transformando este sentimento em infinito”(2). De acordo com Hegel, o
desenvolvimento do cristianismo cria uma verdadeira "conexão" (sabemos o que
é em Frankfurt este termo para Hegel), mas que "está incorporada na sua
consciência (do homem. - GL) e não permite que a religião de se tornar perfeita
pela vida".
Veremos que Hegel nunca poderia tirar todas as conclusões dessa posição. Sua
posição com tempo permanece dupla e oscilante. Mas o pior de tudo é que
podemos dizer que, durante esse período, ele identificou plenamente suas visões
com o cristianismo. Além disso, há um fragmento religioso-filosófico do período
de Iena, que mostra claramente a superação do cristianismo por Hegel, o
surgimento de uma nova e terceira religião. É verdade, também aqui, Hegel, de
maneiras religiosas, permanecendo prisioneiro da religião, vai além do
cristianismo. Ele nunca foi capaz de superar sua dependência de ideias religiosas
204
associadas à essência mais profunda de seu idealismo. Em seu entendimento, o
cristianismo não apenas desempenha o papel de uma verdadeira força social da
sociedade burguesa, mas também adquire, como religião, o papel da
transformação filosófica dessa sociedade.
205
estado hostil, excluindo-se deles ... Da ideia do reino de Deus são excluídos,
entretanto, todas as relações criadas pelo estado são infinitamente inferiores às
relações vivas de uma união divina e podem causar um desprezo; No entanto,
desde que o estado existia e Jesus ou a comunidade não podiam tirá-lo, o
destino de Jesus e da comunidade fiel torna-se a perda da liberdade, a vida
limitada, a passividade para a dominação de um poder estranho, que eles
desprezam, mas que completamente fornece Jesus o que ele precisa dela é a
existência entre o seu povo " opondo-se a um estado hostil, excluindo-se dele ...
Da ideia do reino de Deus, entretanto, todas as relações criadas pelo Estado são
infinitamente inferiores às relações vivas da união divina e podem causar um
desprezo nela; No entanto, desde que o estado existia e Jesus ou a comunidade
não podiam tirá-lo, o destino de Jesus e da comunidade fiel torna-se a perda da
liberdade, a vida limitada, a passividade para a dominação de um poder
estranho, que eles desprezam, mas que completamente fornece Jesus o que ele
precisa dela é a existência entre o seu povo " opondo-se a um estado hostil,
excluindo-se dele ... Da ideia do reino de Deus, entretanto, todas as relações
criadas pelo Estado são infinitamente inferiores às relações vivas da união divina
e podem causar um desprezo nela; No entanto, desde que o estado existia e
Jesus ou a comunidade não poderia tirá-lo, o destino de Jesus e da comunidade
fiel torna-se a perda da liberdade, a vida limitada, a passividade para a
dominação de um poder estranho, que eles desprezam, mas que completamente
fornece Jesus o que ele precisa dela é a existência entre o seu povo "
infinitamente inferior à relação viva da união divina e capaz de causar-lhe um
desprezo; no entanto, desde que o estado existia e Jesus ou a comunidade não
podia removê-lo, o destino de Jesus e da comunidade fiel torna-se a perda da
liberdade, a vida limitada, a passividade para a dominação de um poder
estranho, que eles desprezam, mas que completamente dá a Jesus o que ele
precisa dela é a existência entre o seu povo " infinitamente inferior à relação viva
da união divina e capaz de causar-lhe um desprezo; entretanto, como o estado
existia e Jesus ou a comunidade não podiam removê-lo, o destino de Jesus e da
comunidade fiel torna-se a perda da liberdade, da vida limitada, da passividade
em direção à dominação de um poder alheio, que eles desprezam, mas que
completamente dá a Jesus o que ele precisa dela é a existência entre o seu
povo"(7).
206
povos primitivos. "Assim, entre os árabes - o filho da tribo da palheta - a
definição de uma única pessoa, um indivíduo, significa que essa pessoa solteira
não é apenas uma parte do todo, que um todo, consequentemente, não é algo
que está fora dele, mas que ele mesmo é o todo que compõe toda a tribo. Isto é
confirmado pelo impacto que essa visão tem sobre os métodos de guerra
adotados por essas pessoas naturais e indivisas: nela, cada pessoa é destruída
com incrível crueldade. Pelo contrário, na Europa moderna, onde uma única
pessoa não carrega a integridade de um estado, mas seus laços com o Estado são
apenas algo mental, alguns iguais para todos os direitos, a guerra não é travada
contra um único representante desse estado, mas contra um todo fora dele. Os
árabes, como toda nação verdadeiramente livre, cada um tem uma parte, mas ao
mesmo tempo um todo. Apenas com relação aos objetos, aos mortos, é verdade
que o todo é algo diferente de partes. Nos vivos, pelo contrário(8).
O fato de que Hegel, apenas na história dos povos primitivos, é capaz de ilustrar
o significado sócio-histórico de seu "reino de Deus", chamado a remover
religiosamente as contradições da positividade da sociedade burguesa, mostra
claramente a inconsistência de seu pensamento nesse período. Muitos críticos da
sociedade burguesa buscaram a salvação dessas contradições em sua fuga para
sociedades "orgânicas" não desenvolvidas. Então os românticos buscavam a
salvação na Idade Média.
Assim, surge uma contradição em Hegel: afinal de contas, o "reino de Deus", que
deveria remover as contradições da sociedade moderna, revela-se um estado
histórico da humanidade que se encontra atrasado e em longo prazo. Hegel é
forçado a escolher entre seu ideal religioso e o conceito de progresso na história.
É característico do período de Frankfurt que aqui Hegel não dá uma resposta tão
decisiva como mais tarde. É verdade que não estamos falando do movimento
regressivo da história para um estado primitivo, que supostamente nega a ideia
de progresso histórico. Tanto o pensamento um quanto o outro, mas
207
especialmente o pensamento da necessidade de uma saída histórica dos estados
primitivos, é frequentemente encontrado em seus esboços. Por um lado, ainda
não há um quadro geral abrangente do desenvolvimento histórico, isto é, Hegel
não alinha esses estados na ordem linear em que eles se seguem no progresso
geral da história; por outro lado, suas reflexões religiosas e filosóficas
frequentemente adquirem uma orientação “supra-histórica”, uma tendência a
reconhecer a “eternidade” do princípio religioso. É verdade que esta tendência é
constantemente superada e criticada. No entanto, para o período de
desenvolvimento de Frankfurt das opiniões de Hegel, é característico que a crítica
e a crítica coexistam pacificamente lado a lado no mesmo manuscrito. Embora
Hegel mostre as contradições tragicamente intratáveis da religiosidade, ele
interpreta o fundador do cristianismo como uma figura trágica, a solução religiosa
para o problema prevalece em todo o período de Frankfurt (que é especialmente
visível no "Fragmento do Sistema"), continua a ser a meta mais alta a que sua
filosofia aspira.
Décadas mais tarde, Marx dirá sobre o capitalismo na Alemanha: "Em todas as
outras áreas, nós, como outros países continentais da Europa Ocidental, sofremos
não apenas com o desenvolvimento da produção capitalista, mas também com a
falta de desenvolvimento. Junto com os desastres da era moderna, somos
oprimidos pelos desastres que existem porque os antigos modos de produção
ultrapassados e as relações sociais e políticas ultrapassadas que os acompanham
continuam a diminuir. Sofremos não apenas dos vivos, mas também dos
mortos."(10).
208
É claro que a afirmação de Marx é ainda mais relevante para os tempos de
Hegel. O estado da sociedade aqui descrito determina não apenas o que Hegel
deveria e poderia ver na sociedade, mas também sua abordagem a esses
problemas, isto é, seu idealismo filosófico.
É claro que essa retirada só pode ocorrer em formas religiosas. Hegel, no período
de Frankfurt, é mais direto e franco do que depois. Ele realmente vê a religião
como o pináculo da filosofia; ele define a remoção da objetividade em geral,
como a união religiosa do homem com Deus. E o fato de que o constante
crescimento do conhecimento da sociedade e da história, a prudência sóbria de
209
Hegel, a sua honestidade teórica entra em flagrante contradição com este
conceito em alguns lugares, não pode mudar nada em sua essência. Aqui está o
principal vício inerradicável do idealismo absoluto. E mesmo em um período
mais maduro - Iena no desenvolvimento de suas concepções filosóficas, quando
Hegel não vê mais o topo de seu sistema filosófico na religião e começa a
considerar o ponto culminante, o propósito do conhecimento humano ser
científico, isto é, dialético, filosofia, Ele dá a este problema uma solução científica
aparentemente mais sóbria. Afinal, a identidade sujeito-objeto do idealismo
absoluto, o retorno do espírito absoluto a si mesmo da alienação completa na
natureza e de uma alienação incompleta na história ao autoconhecimento final é,
em essência, nada mais que o retorno de toda objetividade àquele sujeito
mistificado que supostamente criou ela - a remoção da objetividade em geral.
Mas, apesar do misticismo idealista inerradicável, a interpretação hegeliana da
sociedade e da história como resultado da atividade humana é a base
metodológica de sua compreensão dialética. Ela só pode ser alcançada se for
possível libertar a interpretação da sociedade e da história como “autocriação”
das antigas ilusões educacionais, como se os motivos conscientes da ação
individual formassem as causas reais do processo sócio-histórico e só pudessem
explicar seus resultados quando essa abordagem permitisse revelar fundamentos
diretamente não observáveis, mas reais e objetivos do processo histórico. É
sabido que Hegel nunca poderia dar esse passo, em seu conceito de história o
papel decisivo é desempenhado pelo conceito idealisticamente mistificado do
espírito. Não obstante, é claro - Marx e Engels repetidamente e decisivamente
apontaram isto - que, apesar de toda a sua mistificação, o conceito hegeliano da
história deu um passo decisivo em direção à sua compreensão dialética, ou seja,
o sentido que Hegel não apenas reconheceu que uma pessoa, mas também
enfatiza o fato de que a partir das ações conscientes das pessoas algo maior é
obtido.
É bem sabido que, durante esse período, a luta está se desdobrando diretamente
em torno da dialética do amor, isto é, do estabelecimento de relações dialéticas
entre a objetividade morta das relações e instituições sociais e a vida real do
210
indivíduo. Já mostramos que o amor coincide com Hegel na superação da falsa
objetividade e positividade.
211
Já neste esboço surge uma hierarquia dialética de formas de comportamento
humano. "A persuasão remove a positividade, a objetividade dos mandamentos;
o amor - a limitação da crença, da religião - a limitação do amor"(16). A mesma
ideia foi elaborada em detalhes no manuscrito: "A moralidade remove a
dominação no domínio do consciente, o amor - os limites da esfera da
moralidade. No entanto, o amor ainda é imperfeito em sua natureza. No amor
feliz não há lugar para a objetividade; qualquer reflexo remove o amor, restaura a
objetividade, mas o domínio das restrições também é revivido lá. Religioso é,
portanto, (plenitude - G.L. ) de amor e une reflexão e amor, conectando-os uns
aos outros no pensamento"(17).
212
unidade religiosa da vida, a superação completa e final de qualquer objetividade,
alheia ao sujeito, deve ser alcançada, a remoção da reflexão significa não
remoção dialética no sentido hegeliano (isto é, no sentido de preservação e
ascensão a um nível superior), mas completa aniquilação, e. aquele significado
quem defendeu Schelling. Mas se a reflexão deve ser removida nesse sentido,
então como pode a objetividade livre de objetivos da vida religiosa a que Hegel
se esforça ser realizada?
213
OBJETOS uns aos outros. Maneira concebível é robusto e continuando
desprovido composto fardo espírito do mestre e escravo, atividade e sofrimento,
e singularidade de determinação"(19). No manuscrito principal, Hegel revela mais
detalhadamente a essência da elevação religiosa em detrimento das contradições.
Vamos dar os lugares mais característicos: "Montanha e olho, olhando para ela,
são sujeito e objeto, mas entre o homem e Deus, entre espírito e espírito não há
abismo de objetividade, o espírito se torna diferente para o espírito apenas no ato
do conhecimento"(20).
Sendo bastante consistente, Hegel aqui chama o mais alto estado do espírito, a
mais alta forma de conhecimento em comparação com o conhecimento comum
pela fé. Ele diz isto: "... a fé é o conhecimento do espírito através do espírito, e
somente igual em espírito pode conhecer e compreender um ao outro; na
ausência dessa igualdade, todos podem apenas entender que ele não é o que é
outro"(22). E Hegel enfatiza que não se trata de igualdade em termos de nível de
razão, etc., mas de igualdade na inspiração religiosa do espírito, da fé. Ele
contrasta esse modo de compreensão mútua das pessoas com a "compreensão
tão penetrante das pessoas, tão glorificada por muitos", que é uma ciência muito
profunda e prática para aqueles seres rasgados cuja natureza envolve grande
diversidade, muitas unilateralidades de cores diferentes sem unidade, para
aqueles que sempre aquilo que eles buscam está escapando - o espírito ... "(23).
214
características do lacaio. É verdade que esse desprezo tem outro sotaque aqui, diz
respeito à natureza pomposa da unidade religiosa das pessoas no reino de Deus.
No entanto claro
Onde Hegel persegue seriamente a sua ideia de objetividade sem objeto, ele se
recusa completamente a refletir, destruindo, assim, aquilo que ele tinha tão hábil
e habilmente construído antes. Damos apenas uma das citações mais
características: “O Filho de Deus é ao mesmo tempo o Filho do Homem: o divino
revela-se de certo modo como humano. é infinita e finita, e apenas limitada,
finita em si mesma dá o conceito de homem em oposição ao divino. Não há tal
limitação fora da reflexão, na verdade"(25).
215
O outro lado da antinomia é muito mais simples. Hegel nem sempre mistifica a
objetividade; ele é muito sóbrio e realista para levar a sério a reivindicação
religiosa da objetividade sem objeto, especialmente quando se trata de analisar
laços sociais ou históricos. Mas, neste caso, a objetividade morta do mundo
social, sua positividade, que deve ser removida, permanece imutável, e a religião
se expõe como algo limitado, insuficiente, como algo puramente subjetivo, não
digno de amor. A subjetividade, que se tornou estritamente religiosa, ainda se
opõe ao mundo dos objetos e cai sob o seu poder. E assim a nova interpretação
de Deus, obtida com tanta dificuldade, se resume a interpretar Deus como algo
positivo. Vamos citar um, em que Hegel faz uma autocrítica particularmente
aguda - inconsciente - de seu exaltado conceito religioso místico. "Não importa
quão sublimada seja a ideia de Deus, o princípio judaico de se opor ao
pensamento da realidade, o racional para o sensível sempre permanece;
permanece a ruptura da vida, a conexão morta entre Deus e o mundo; sentido
místico"(26).
Hegel fala aqui não sobre o próprio Jesus, mas sobre João Batista, no qual, de
acordo com seus pontos de vista, um nível mais alto e completo de religiosidade
é apresentado: categorias místicas como o filho de Deus, o reino de Deus, criam
objetividade sem objeto à imagem de João Batista. Mas quando se trata da
tragédia de Jesus, veremos que, quanto mais concreto, mais histórico é o
conceito hegeliano, mais difícil para ele aderir a essa tendência mística, em seu
raciocínio, volta-se cada vez mais para o segundo lado da antinomia, para o
mundo dos objetos.
Então, aqui estamos falando não sobre a contradição dialética viva da própria
realidade, que Hegel, talvez, não entendeu completamente, mas sobre uma
oposição afiada e mutuamente exclusiva, sobre duas soluções antinômicas do
mesmo problema que realmente se excluem mutuamente; Em tal contraste, a
insolubilidade objetiva do problema, a falsidade da formulação hegeliana da
questão e a metodologia da época são claramente refletidas. Este contraste não
foi realizado por Hegel, caso contrário ele não teria combinado, no mesmo
manuscrito, soluções mutuamente exclusivas, mas, obviamente, ele tinha a
sensação de que algo não estava certo com essa questão, e ele recorreu a várias
construções teóricas auxiliares para alcançar a reconciliação harmoniosa de
caminhos de pensamento completamente divergentes.
Acima temos repetidamente encontrado essa categoria. Vimos que Hegel via o
estado e a propriedade como destino, e isso não era apenas um método de
designação ficcional para ele, pois procurava expressar dialeticamente uma forma
específica de necessidade histórica, a especificidade da atitude de uma pessoa em
relação à positividade do mundo externo. À primeira vista, parece que Hegel
procura esclarecer os lugares obscuros de sua filosofia da religião recorrendo à
ajuda de conceitos igualmente obscuros e místicos da filosofia social e da filosofia
da história. E, de fato, essa interpretação hegeliana da noção de destino é muito
216
incerta e contraditória. Mas é aqui, apesar de todas as contradições, que o núcleo
verdadeiramente dialético de seu raciocínio se torna aparente, então vale a pena
considerar com mais detalhes o significado que Hegel colocou na palavra
"destino" durante esse período.
Além disso, Hegel conclui que é a partir desta dura necessidade da "Lei de Sua
Majestade", a quem ele tanto admirava e que glorificava Kant, que a chance na
vida inevitavelmente se segue. "A necessidade da punição é estabelecida, mas a
realização da justiça não é algo necessário, porque a justiça como uma
modificação dos vivos pode desaparecer; outra modificação pode ser feita; assim,
a justiça adquire o caráter de um acidente; isto é, de estar em vida, pode haver
uma contradição ..."(29). É claro que essa abordagem de Hegel está intimamente
ligada à controvérsia contra a ética kantiana e fichteana, que já foi considerada
em detalhes. No futuro, esse contraste será a base da mais importante instalação
de Hegel, que recusa resolutamente deduzir definições separadas e concretas da
lei dos conceitos de lei, que eram característicos de Kant e especialmente Fichte,
enfatizando a natureza sócio-histórica, mais ou menos aleatória, do direito
positivo.
217
Para Hegel, a categoria do destino é uma expressão de necessidade viva ampla,
dialética. "No entanto, o destino tem um alcance maior do que a punição;
ultrapassa até mesmo aquele cuja culpa não está ligada a um crime, portanto o
destino é muito mais rigoroso do que punição. E às vezes parece que sua
gravidade limita a injustiça escandalosa; isso acontece quando o destino pune
severamente a culpa mais sublime, a culpa dos inocentes, já que as leis são
apenas combinações mentais de opostos, esses conceitos estão longe de esgotar a
diversidade da vida ... mas sobre aquelas relações de vida que não são
separadas, sobre aquelas vida Toroni, que são dados em uma conexão ao vivo
fora dos limites da virtude, a punição não tem efeito. O destino da mesma, como
a vida, a integridade e ilimitado ... onde a vida é ofendido com o que seria certo,
com qualquer convicção na legalidade de suas ações, isso foi feito, o destino
aparece lá. Portanto, temos o direito de dizer que não há sofrimento inocente, o
sofrimento é sempre culpa. No entanto, a dignidade de uma alma pura é a mais
elevada, mais conscientemente ela ofende a vida em seu desejo de preservar o
mais alto, e quanto mais negro o crime, mais conscientemente a alma baixa
ofende a vida"(30). Qualquer um que esteja familiarizado com a filosofia posterior
da história ou a estética de Hegel pode perceber os contornos de seu conceito de
necessidade histórica, sua teoria do trágico etc.
218
Essa característica essencial do destino é expressa por Hegel, ao rejeitar
radicalmente a subordinação mecânica de Kant do indivíduo à sociedade, na
qual a sociedade representa constantemente apenas o universal, e o indivíduo
apenas especial e atinge o universal apenas pela submissão incondicional aos
princípios universais (o imperativo categórico). Hegel vê a relação do indivíduo e
da sociedade como uma dialética do universal e do particular. No contexto do
destino, o indivíduo e a sociedade são entendidos como forças opostas; a força
opõe-se à força e, nessa luta, a unidade viva do todo é constantemente
renovada. "A pena, apresentada como destino, é de um caráter completamente
diferente; na imagem do destino, a punição é uma força hostil - algo individual...
Em uma força tão hostil, o universal não é, portanto, separado do especial, assim
como a lei como universal opõe o homem ou suas inclinações como especiais. O
destino é apenas um inimigo, e o homem se opõe a ele como uma força de
combate; a lei, como universal, domina o particular e se submete na pessoa da
pessoa, exigindo dele obediência"(33).
219
imediatamente ele tomou o seu lugar, mas não como cúmplice de uma festa, mas
como um espírito maligno. O criminoso acreditava que ele atacaria a vida de
outra pessoa, mas destruiu apenas a sua própria, já que a vida é inseparável da
vida, pois a vida existe apenas numa única divindade”.(34)
O primeiro ponto é muito óbvio nas citações acima. Hegel está falando de uma
relação abrangente e viva da vida social, na qual suas partes mortas e positivas,
como momentos desse relacionamento vivo, perdem seu caráter morto e positivo
e se tornam momentos de movimento de um todo vivo. Aqui, Hegel embarca em
um caminho que o levará à única compreensão possível da sociedade como um
todo na Filosofia do Direito, ao entendimento que ele formula em seus anos de
maturidade como segue: que esta dividida é uma certeza sólida e persistente que
“não é mortalmente forte, mas constantemente se gera em decadência"(35).
220
desenvolvimento de seus pontos de vista. A abordagem do desenvolvimento do
método dialético é frutífera no conceito de destino de Frankfurt, mas é a
abordagem desenvolvida por Hegel com o objetivo subjetivo de reforçar o
conceito religioso que, em sua essência, contradiz esse objetivo. em que as ideias
principais posteriores de Hegel ainda aparecem de forma extremamente obscura
e assistemática, torna-se óbvio que a observação de Engels sobre a contradição
entre o sistema e o método de Hegel se aplica a todos os estágios do
desenvolvimento de seus pontos de vista. A abordagem do desenvolvimento do
método dialético é frutífera no conceito de destino de Frankfurt, mas é a
abordagem desenvolvida por Hegel com o objetivo subjetivo de reforçar o
conceito religioso que, em sua essência, contradiz esse objetivo.
221
O misticismo está no modo como Hegel interpreta essa paz. E o problema se
resume ao fato de que é possível apaziguar o destino, que é a autodestruição da
vida, com amor. "O fato de o hostil ser sentido como vida cria a possibilidade de
reconciliação com o destino ... Esse sentimento de vida, que se encontrou
novamente, é o amor, e nele o destino encontra sua pacificação ... Assim, o
destino não é algo estranho, como punição, não um real bem definido, como um
ato maligno sentido pela consciência. O destino é autoconsciência, mas como
algo hostil, o todo pode restaurar a amizade em si mesmo, pode retornar à sua
vida pura através do amor, fé em si não se contemplando o próprio será
diferente, e o destino será pacificado."(36)
Não é de surpreender que tal definição de destino (não apenas seu lado
subjetivo, mas também aqueles momentos em que os germes de uma
compreensão posterior da sociedade e da história estejam contidos) logo
desapareça do vocabulário filosófico de Hegel. A dialética social de Hegel
absorveu essas tendências frutíferas, mas o termo “destino” não é mais usado
nela. A ideia de apaziguamento do destino, alcançada através do amor, também
desaparece completamente, portanto, em Iena, Hegel considera os fenômenos
sociais de um ponto de vista consistentemente sócio-histórico, e não individual(37).
222
também mostrou claramente que qualquer recusa em lutar, o fechamento do
assunto sobre si mesmo inevitavelmente deixa por cumprir a falsa objetividade, a
positividade do ambiente social.
223
laços, maior o escopo que deixam desconectados, maior o escopo para o
surgimento de novas desigualdades e futuras explosões " geram uma explosão e
dão origem a uma nova forma universal, novos laços de pessoas; quanto maiores
esses laços, maior o escopo que deixam desconectados, maior o escopo para o
surgimento de novas desigualdades e futuras explosões " geram uma explosão e
dão origem a uma nova forma universal, novos laços de pessoas; quanto maiores
esses laços, maior o escopo que deixam desconectados, maior o escopo para o
surgimento de novas desigualdades e futuras explosões"(38).
Neste contexto, Hegel pinta a tragédia de Jesus. "Desde que Jesus entrou na luta
contra o gênio de seu povo em toda sua essência e rompeu completamente com
o mundo judaico, o fim de seu destino só poderia ser inequívoco - ele teve que
ser destruído pelo gênio hostil do povo. A glorificação do filho do homem nesta
desgraça não é negativa, não reside no fato de que ele quebrou todos os laços
que o ligam ao mundo, a glorificação é positiva, reside no fato de que ele se
recusou a subordinar sua natureza ao mundo contrário a ela, escolheu mantê-la
em luta e desgraça, em vez de curvar-se perante o danificado ou
inconscientemente permitir que essa corrupção de superar a si mesmos e para
desviar. Jesus estava ciente da inevitabilidade da sua morte como um indivíduo,
e procurou convencer seus discípulos"(39).
“O destino de Jesus era sofrer do destino de seu povo - ou fazê-la seu, suportar
sua inevitabilidade, compartilhar seus prazeres e unir seu espírito com seu
espírito, mas ao fazer isso ele teria que sacrificar a beleza, sua conexão com o
divino; alienar o destino de seu povo e manter sua vida subdesenvolvida e
inexplorada. Em ambos os casos, ele não foi dado para cumprir a missão dada a
ele pela natureza: ele podia sentir apenas fragmentos dele, e isso foi profanado,
ou completamente realizado, em sua imagem como uma visão radiante, cuja
essência é a verdade mais elevada, no entanto, ele teve que desistir ou a
oportunidade de sentir, traduzir-se em realidade, agir e realidade. Jesus escolheu
o último, e seu destino era a separação de sua natureza do mundo ... No entanto,
quanto mais profundo ele sentiu essa separação, mais difícil se tornou para ele
carregá-lo com calma, e todas as suas atividades foram uma recusa corajosa
dada por sua natureza ao mundo. Sua luta era pura e sublime, pois ele conhecia
seu destino em sua totalidade e se opunha a ele mesmo ... A luta do puro com o
impuro é um espetáculo exaltado; entretanto, pode facilmente tornar-se
224
aterrorizante, se os ímpios reconhecem o sagrado, e a fusão de ambos,
reivindicando pureza, resiste violentamente ao destino, já tendo sido derrotada
por ele ... O que apenas parcialmente abandonou seu destino e parcialmente está
em união com ele percebendo ou não percebendo essa confusão, produz
destruição terrível em si mesma e na natureza; misturando a natureza com o que
não é a natureza, o golpe entregue ao segundo cairá sobre o primeiro, o trigo
será esmagado junto com o joio e o santo dos santos da natureza será
contaminado”.(40)
225
resultados. A tragédia da conclusão final, ao contrário de Helderlin, por muito
tempo, Hegel não se realizou.
226
existe e onde pode ser encontrado? A necessidade disto existe em toda alma
afinada; de fato, você provavelmente pode encontrá-la ... talvez em alguns
poucos círculos ..."(41)
É graças a isso que Hegel está acima de Goethe e Schiller, tanto na compreensão
da sociedade burguesa quanto no desenvolvimento do método dialético. A
complexidade e o desenvolvimento desigual do método dialético na Alemanha
podem ser demonstrados comparando o desenvolvimento das visões de Goethe
e Hegel. As visões de Goethe estão incomparavelmente mais próximas do
materialismo e mais livres de qualquer ideologia religiosa. No entanto, Hegel
227
chegou a tal estágio no desenvolvimento do método dialético, que Goethe,
apesar de seu sentido dialético, inerente e desenvolvido por sua pesquisa, nunca
alcançou, que ele não conseguia compreender plenamente, mesmo quando teve
a oportunidade de se familiarizar com esse método. Hegel).
228
contraste é revelado por Hegel em vários lugares do manuscrito de Frankfurt.
Então, ele conta a parábola do Novo Testamento de Maria Madalena. Tirando
sarro de seus pequenos acusadores burgueses, Hegel escreve: " Ou seria melhor
que Maria se submetesse às exigências dos judeus e ao seu destino, vivendo
como um autômato, uma vida honesta e comum sem pecado e amor? Sem
pecado, porque o tempo de existência do seu povo pertencia a tais épocas,
quando uma bela alma não pode viver uma vida sem pecado, mas mesmo neste,
como em qualquer outro momento, pode, através do amor, retornar a uma bela
consciência.(43)
229
Hegel, da compreensão da dialética da relação entre indivíduo e sociedade. . Já
no início do período de Iena, esse conceito foi dado de uma forma desenvolvida.
Em um dos primeiros escritos de Iena, em um panfleto sobre a constituição da
Alemanha, Hegel caracteriza Richelieu e Maquiavel, e aqui uma abordagem
verdadeiramente histórica é claramente vista. E, ao mesmo tempo, não é de
modo algum uma questão de uma compreensão humanisticamente embelezada
de momentos individuais do processo histórico, mas de uma das fontes de uma
compreensão dialética correta da história por Hegel. Quando Engels se opõe a
Hegel Feuerbach, acreditando que Hegel, mais profundo e mais corretamente,
avalia o papel do mal no desenvolvimento histórico do que Feuerbach, ele, no
entanto, adota uma gama maior de problemas do que a que esboçamos aqui,
mas não há dúvida de que essa formulação O problema é um dos momentos
mais importantes que compõem o conceito hegeliano de história.
(6) Nohl, p. 308. No curso de sua exposição e de suas reflexões, Hegel volta
repetidamente a esta analogia com os povos primitivos, p. ex, pagina 322, em
que utiliza as narrações de viajantes ingleses publicadas por Forster. (retornar ao
texto)
(9) Lenine, Aus dem philosophischen Nachlass (Cadernos Filosoficos), loc. cit, p.
209. (retornar ao texto)
(10) Kapital, Vorwart zur ernsten Auflage (O capital, prólogo à primeira edição),
Berlim, 1949, vol. I, p. 6 e ss. (retornar ao texto)
230
(15) Nohl, 332. (retornar ao texto)
(18) Recordaremos ao leitor que isto não era para Hegel um problema
completamente novo. Nos começos do período de Frankfurt tentou unificar amor
e reflexão: o que ocorre agora é que este problema se desloca à esfera da
religião. (retornar ao texto)
231
sabemos qual é a sua lei, qual é o conteúdo, que quer” Filosofia do Direito, vol.
II, p. 186. Neste mesmo curso, o conceito de destino se atribui historicamente ao
mundo Antigo. Idem, p. 267. Esta concepção segue sendo a hegeliana desde
então (cf. Estética, edição Gloknet), vol. II, p 101 e ss. Na Ciência da Lógica
Hegel trata do destino no sentido de uma necessidade mecânica. Obras, Berlim,
1841, vol. V, p. 187 e ss. (retornar ao texto)
232
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
233
Embora Hegel continue a aderir à posição filosófica básica do "Espírito do
Cristianismo", aqui ele expressa mais claramente a ideia de que a religião é o fim
do sistema, embora os mesmos problemas apareçam muito mais dialeticamente
do que no "Espírito do Cristianismo".
234
estudo aprofundado dos problemas filosófico-naturais. Em qualquer caso, em
Frankfurt, Hegel estudou os trabalhos de Schelling provavelmente mais de perto
do que em Berna, o que já é perceptível em vários tons terminológicos que
penetram em sua língua sob a influência de Schelling. No entanto, estas obras
não poderiam dar-lhe conhecimentos específicos sobre os problemas da ciência
natural. Em Iena, comprovamos que Hegel se lança muito rápida e
energicamente aos problemas da filosofia da natureza e aprofunda, além disso,
problemas concretos científico-naturais.
Mas não devemos perder de vista o fato de que a subjetivação, ao mesmo tempo,
inclui também a relativização da antiga oposição rígida da realidade individual e
objetiva, incluindo uma interação mais dinâmica, móvel e flexível entre elas.
Hegel descreve essa interação da seguinte maneira: "O conceito de
235
individualidade inclui a oposição à infinita diversidade e conexão com ele. O
homem é uma vida individual, porque é diferente de todos os elementos e da
infinidade da vida individual fora dela; é uma vida individual apenas porque é
uma com todos os elementos, com toda a infinidade de vida fora dela, é apenas
na medida em que a totalidade da vida é dividida: é uma parte, todo o resto é
outra, e é só até onde ele não é uma parte e nada separado dele”(5).
Essa relação pode ser vista, de acordo com Hegel, de duas maneiras diferentes.
Pode-se proceder da "vida indiferenciada" (a vida religiosa do "Espírito do
Cristianismo"). Então cada indivíduo se torna apenas uma "manifestação da
vida", a reflexão reflete todas essas "manifestações", "como em repouso, estáveis,
como pontos sólidos, como indivíduos"(6). Assim, por um lado, um papel
importante e decisivo é atribuído à reflexão: graças a isso, o indivíduo é fixo
como uma individualidade. Por outro lado, a reflexão se manifesta como algo
puramente subjetivo, já que a vida, por si só, é inseparável, e apenas a suposição
introduz e fixa o momento de separação na bebida. No desenvolvimento das
visões do jovem Hegel, este é o período em que a metade se manifesta na forma
mais precisa, a interpretação da reflexão que ainda não dá uma solução final. A
decisão a que Hegel poderia chegar - a objetividade da reflexão - é o resultado
de um estágio posterior no desenvolvimento das visões de Hegel. A
indecidibilidade do oposto é muito mais clara quando Hegel caracteriza os
estágios inferiores da posição. Aqui "o viver é um pré-requisito, a saber, nós
como observadores". Desse ponto, Hegel deduz o oposto do Eu e da natureza.
que "como uma pluralidade ... é uma multidão infinita de organizações,
indivíduos; como uma unidade, um todo único, organizado, desconectado e
conectado". Esta bela e correta definição sofre de “um” defeito idealista, já que é
apenas uma posição, ou seja, uma posição do ponto de vista do indivíduo
contemplativo. Não é a vida em si, mas apenas "a imposição da vida, para a
reflexão trouxe à vida suas noções de correlação e separação, do indivíduo,
existente em si mesmo e do geral, ligadas, portanto, ao limitado num caso, ao
ilimitado - no outro e através da colocação fez a vida na natureza”(7). A natureza
aparece assim como um produto do eu, isto é, o eu que acredita, como reflexão.
236
unidade com o multiforme, que assim se torna vivo". Nesta base, uma pessoa
deve ir além do relacionamento delimitador "eu sou natureza", a fim de entrar em
uma relação viva com a vida real. Se "a natureza não é a própria vida, mas a
vida é fixada pela reflexão, embora da maneira mais digna, então a vida
pensante observando a natureza sente ... essa contradição ... e essa vida
pensante toma a forma de mortal, transitória"(8).
237
vida infinita como o espírito de todo o exterior de si mesmo, pois ele mesmo é
limitado, e ao mesmo tempo acredita fora de si mesmo, limitado e eleva-se aos
vivos, se junta a esse mundo com os laços mais profundos, adora a Deus”(12).
Considerando os manuscritos anteriores de Hegel, já respondemos em detalhes a
questão de quais tendências sociais o levaram ao avanço do conceito de "vida
religiosa". Agora, quando somos confrontados com formulações extremamente
místicas da obra filosófica que completou o período de Frankfurt, é necessário
delinear brevemente os problemas filosóficos que determinaram o caráter
especial dessas formulações. Nesses fragmentos de Hegel, como no Sistema de
idealismo quase transcendental de Schelling, publicado quase simultaneamente,
o ponto de vista da filosofia clássica alemã, que começa a inclinar-se em direção
ao idealismo objetivo e absoluto, é expresso.
Pode-se dizer com toda certeza que a primeira tentativa de Hegel de construir um
sistema de idealismo objetivo não surgiu sob a influência de Schelling, mas
cresceu organicamente a partir da posição sócio histórica de Hegel, das
contradições que surgiram aqui. É claro que, em um grau ainda menor, podemos
falar da influência de Hegel em Schelling. O idealismo objetivo de Schelling
surgiu do desejo de suplementar a dialética do Fichte com a filosofia natural.
Demorou um período de tempo relativamente longo antes que Schelling
percebesse o oposto de seu conceito de dialética a dialética de Fichte (isso,
aparentemente, foi facilitado pela interação pessoal com Hegel). Assim, o
desenvolvimento das visões desses dois proeminentes representantes do
238
idealismo objetivo na filosofia clássica alemã, à primeira vista, é realizado em
paralelo.
239
idealismo objetivo que foi capaz de dar um grande passo adiante no
desenvolvimento da dialética do progresso humano, padrões de natureza e
história, é isso. a forma do idealismo objetivo continha elementos e tendências
que permitiram mais tarde realizar um materialista, transformando-o da cabeça
aos pés. Outras formas de idealismo objetivo são inevitavelmente reacionárias.
240
“filosofia reflexiva” (é bastante característico que essa identificação reapareça na
“filosofia positiva” do falecido Schelling e seja dirigida contra Hegel).
No entanto, no mesmo período, Hegel, mesmo sem perceber, ou, pelo menos,
não tirando todas as conclusões, superou esse ponto de vista. Em várias
formulações, ele já expressa essa compreensão da dialética, que ele desenvolveu
mais tarde, embora muitas vezes ainda seja extremamente vaga e mistificada.
Assim, analisando a incapacidade da filosofia de superar o oposto real e a
necessidade de seu apelo à religião para se filmar, Hegel apresenta uma
formulação clara correspondente às formulações tardias de sua dialética.
"Se a diversidade não está mais aqui como tal, mas ao mesmo tempo está
totalmente relacionada ao espírito vivo, como um corpo vivo, então algo seria
excluído e haveria incompletude e oposição, ou seja, os mortos. Em outras
palavras, a diversidade é suposta em relação apenas como um órgão, a própria
oposição é excluída, enquanto a vida não pode ser considerada apenas como
uma conexão, um relacionamento, mas também deve ser considerada como uma
oposição. e as relações, essa relação pode ser, por sua vez, selado, e permitiu que
a objeção, segundo a qual [ele] tem de contrariar a falta de comunicação, então
eu teria que dizer que a vida é uma relação de comunicação e falta dela ...”(14).
É claro que aqui já temos uma forma desenvolvida de dialética hegeliana, uma
compreensão da contradição na qual Hegel superou todos os seus predecessores,
porque a contradição atua como o princípio mais profundo de todas as coisas e
suas mudanças, enquanto as primeiras formulações da contradição dialética, que
se limitam à simples remoção definições opostas inevitavelmente levam a uma
esfera, geralmente colorida religiosamente, onde as contradições são
completamente e completamente excluídas (isto é inerente, por exemplo, a
Schelling). Em contraste, Hegel age como um princípio vivo e comovente; não
pode ser completamente removido, mas é constantemente reproduzido em níveis
mais altos de desenvolvimento (e, como veremos ao considerar o período de
Iena, a atitude em relação à reflexão também muda radicalmente, que se torna
um momento necessário do movimento dialético geral; mas anteriormente já
afirmamos que tais tendências, embora nunca pensadas até o fim e não
realizadas consistentemente metodologicamente, existiram nos primeiros anos do
período de Frankfurt).
É claro que mesmo uma conduta consistente dessa contradição dialética deve
minar a ideia de vida religiosa como o pináculo da filosofia e levar diretamente à
forma de pensamento “especulativo” que é desenvolvida por Hegel mais tarde.
241
realizações - o conhecimento da verdadeira natureza da realidade e do
pensamento contraditórios. V.I. Lenin enfatizou as formulações correspondentes
de Hegel de "A Ciência da Logica", é claro, mais claro e consistente, e salientou
que aqui o caminho está aberto para o materialista "invertido" da dialética
hegeliana. Ele escreve uma citação da "Ciência da Logica", em que Hegel fala
sobre a relação de identidade e contradição: "Se já estamos falando de hierarquia
e ambas as definições, devemos nos manter separados, essa contradição deve ser
considerada algo mais profundo e mais substancial. "Lenin destaca este lugar e
acrescenta no final do trecho:" O Movimento e "PERSONALIZADO" (isto é NB!
espontâneo (independente), espontâneo, INTERNO-NECESSÁRIO movimento),
"mudança", "movimento e vitalidade", "o princípio de todo movimento próprio",
"impulso" (Trieb) para "movimento" e "atividade" - o oposto de "ser morto" -
quem acreditará que esta é a essência do movimento hegeliano”, abstrato e
abstrusen (pesado, ridículo?) Hegelianismo? Esta essência tinha que ser
descoberta, entendida b, limpo, que fez Marx e Engels “o movimento "e para"
atividade "é o oposto de" ser morto "- quem acreditará que esta é a essência do
hegeliano, abstrato e abstruso (pesado, ridículo?) hegelianismo? Essa essência
tinha que ser descoberta, entendida, hinuberretten, descascada, limpa, como
Marx e Engels fizeram “o movimento "e para" atividade "é o oposto do" ser morto
"- quem acredita que essa é a essência do hegeliano, abstrato e abstruso (pesado,
ridículo?) hegeliano? Essa essência tinha que ser descoberta, entendida,
hinuberretten, descascada, limpa, como Marx e Engels fizeram “(15).
242
supor que aqui também o desenvolvimento do conceito correto de inconsistência
foi influenciado pelas contradições da vida, manifestadas na atividade humana e,
especialmente, no trabalho. Neste livro, já foi feita uma tentativa de provar que,
até o momento da redação de um fragmento do sistema, Hegel estava bem
familiarizado com a economia política de A. Smith e aceitou seu conceito de
trabalho. E se olharmos mais de perto as afirmações de Hegel sobre os problemas
econômicos, relacionando-nos, porém, a um estágio um tanto posterior, mas
relacionado ao trabalho, veremos: sua essência é que as categorias mutuamente
excludentes no pensamento metafísico, por exemplo, o universal e o particular,
aqui não apenas se transformam um no outro, mas, sendo categorias desta
atividade, existem simultânea e inseparavelmente um do outro, unidos em
contradição. Considere, por exemplo, o que Hegel diz no "Sistema de
Moralidade" (Iena, 1802) sobre o instrumento, sua conexão com o homem e o
trabalho. "Por um lado, o instrumento é subjetivo, está à mercê do sujeito de
trabalho e é inteiramente determinado por ele, é produzido e processado com
sua ajuda; por outro lado, é objetivamente voltado para o objeto de trabalho.
Através desse meio termo, o sujeito remove o imediatismo do ato de destruição;
para o trabalho, a destruição da contemplação é também a destruição do sujeito
nela depositada, a negação, a pura quantitatividade; a mão e o espírito tornam-
se embotados nele, isto é, eles mesmos adquirem o caráter de um negativo e sem
forma; e ao mesmo tempo (porque é negativo, a diferença é dual) o trabalho é
simplesmente um único e subjetivo. Na forma de um instrumento, o sujeito cria
um termo médio entre ele e o objeto, e esse termo médio é a racionalidade real
do trabalho ... então singular; a subjetividade do trabalho eleva-se no
instrumento ao universal; todos podem fazer a sua semelhança e também
trabalhar; a este respeito é o pertencimento imutável do trabalho” Na forma de
um instrumento, o sujeito cria um termo médio entre ele e o objeto, e esse termo
médio é a racionalidade real do trabalho ... então singular; a subjetividade do
trabalho eleva-se no instrumento ao universal; todos podem fazer a sua
semelhança e também trabalhar; a este respeito é o pertencimento imutável do
trabalho “Na forma de uma ferramenta, o sujeito cria um termo médio entre si e
o objeto, e esse termo médio é a racionalidade real do trabalho ... Na ferramenta,
o sujeito separa seu estado de indiferença de si mesmo, bem como a objetividade
... ao mesmo tempo, seu trabalho deixa de ser algo então singular; a
subjetividade do trabalho se eleva na ferramenta para o universal; todos podem
fazer a sua semelhança e também trabalhar; a este respeito é o pertencimento
imutável do trabalho”(16).
Não estamos interessados nas críticas das visões econômicas de Hegel, mas
apenas na metodologia de suas construções econômicas. O leitor pode notar que
Hegel está desenvolvendo mais claramente um novo tipo de dialética
precisamente onde ele vê o trabalho como uma atividade. Não se trata apenas da
transição do universal para o particular e vice-versa, etc., mas também de como
Hegel entende a atividade laboral, a atitude ativa de uma pessoa mediada por
243
ferramentas, em relação ao mundo dos objetos, sobre como ele interpreta o
universal e particular. em sua simultaneidade e unidade. É claro que tais
fragmentos posteriores não podem servir como argumento final em favor do fato
de que o desenvolvimento dessas inter-relações forma pelo menos uma das
principais fontes da forma dialética hegeliana específica. Mas desde que a linha
principal de seu desenvolvimento leva a "Fenomenologia".
A resposta que Hegel oferece aqui é muito mais cética do que se poderia esperar
com base no raciocínio filosófico místico da passagem anterior: Hegel refere-se ao
raciocínio anterior, irracional, segundo o qual a vida religiosa é definida como
aquela que anima ou sustenta a vida em objetos. já nos é conhecido das
primeiras obras de Hegel. Nada há de fundamentalmente novo no fato de que
Hegel recorda o destino da vida religiosa, que é forçada a "deixar o objetivo para
o objetivo ou mesmo transformar os vivos em objetos"(17). Essa formulação é mais
aguda do que a dada no "espírito do cristianismo", porque se reconheceu que a
religião não pode remover a objetividade, mas isso se aplica apenas ao judaísmo,
onde, segundo Hegel, as relações vivas são congeladas na objetividade.
Transformação em objetividade pode ser, segundo Hegel, algo temporário e
reversível. No entanto, é necessário que ela coloque-se em uma forte relação com
os objetos e preserve sua objetividade até o ponto da completa destruição"(18).
Aqui, novamente, a definição hegeliana do trabalho como um relacionamento
permanente que não é removível pela religião. Consequentemente, nas formas
modernas de religião, Hegel vê um estado em que a vida religiosa deve chegar a
um acordo com as condições da vida que se tornaram objetivas e
constantemente re-reproduzem a objetividade. Ele leva esse pensamento até ao
reconhecimento da necessária divisão social do trabalho entre os padres
modernos.
244
são felizes, pessoas mais infelizes não podem alcançar este estágio”(19). Vemos
que o vinho intoxicante do misticismo religioso é consideravelmente diluído aqui.
Vemos que aqui Hegel começa a criticar não apenas o lado moral da filosofia de
Kant e Fichte, mas também aponta a crítica em seu sistema, aponta para sua
posição cognitivo-teórica fundamental - a incognoscibilidade da coisa em si,
como a correlação filosófica da subjetividade dos sistemas de Kant e Fichte. Por
outro lado, em sua filosofia, ele vê a mais importante expressão ideológica de seu
período, a saber, a expressão de sua contradição insolúvel, que ele designa aqui,
como mais tarde em Iena, pela palavra “fragmentação”. Assim, Kant e Fichte são
agora para Hegel os representantes ideológicos da crise que ele vê no estado
contraditório da sociedade de seu tempo e cuja superação teórica é a tarefa de
sua filosofia.
245
todo o exterior ... Que lado é coberto pela consciência - um acidente ... Se a
separação é infinita, não importa Eu, se o subjetivo ou o objetivo é fixo”(20).
(2) Sobre essas relações de Hegel em Iena cf. Rosenkrantz, p. 220. (retornar ao
texto)
246
(12) Nohl, p. 347. (retornar ao texto)
247
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
248
com o outro, e o desenvolvimento de Hegel no caminho da dialética foi
assim. a maneira como ele desenvolve um método contrário às suas
intenções de criar um sistema.
249
religião, uma natural, uma vez que existe uma única natureza humana, mas
que pode haver muitas religiões positivas"(3).
O lado progressista das aspirações hegelianas desta época é que ele não
quer condenar filosoficamente e moralmente o passado da humanidade,
mas compreendê-lo em um movimento e complexidade específicos. Tendo
dado uma série de argumentos da filosofia iluminista contra a religião, ele
diz: "este tipo de explicação implica profundo desprezo por uma pessoa.
Uma ideia rudemente ignorante de sua mente ... eles perguntam sobre a
verdade da religião, mas não em conexão com os costumes e caráter dos
povos e eras, mas a resposta tais: religião era simples superstição, engano e
estupidez”(5). Hegel protesta apaixonadamente contra a noção de que "as
crenças de muitos séculos, que milhões de pessoas viveram e morreram
durante todo esse tempo, que consideravam dever e verdade sagrada - tudo
isso ... era um absurdo vazio ou mesmo imoralidade, pelo menos como
opiniões”(6).
250
mal, progressiva e atrasada na cultura européia. Nas observações
introdutórias sobre este manuscrito, Hegel dá uma visão ampla da influência
política, social e cultural do cristianismo. que muitas censuras em relação ao
cristianismo poderiam ser tomadas textualmente a partir das obras do
período de Berna. Como este é o primeiro esboço histórico de Hegel, é
necessário citar este raciocínio textualmente.
"A religião cristã foi reprovada ou elogiada por ser capaz de se adaptar aos
costumes mais diferentes, ao modo muito diferente de vida e estrutura de
vida. Sua depravação se torna a corrupção do estado romano, e chega ao
poder quando este império caminha para seu fim, além disso, é
imperceptível que sua queda seja retardada pela religião cristã, pelo
contrário, graças a este evento, a região deste último está se expandindo, e
ao mesmo tempo aparece como a religião de romanos e gregos, durante o
tempo da escravidão atolada na parte inferior. vícios , e ... como uma
religião o mais ignorante, o mais selvagem, mas também os bárbaros mais
livres Foi a religião e os estados italianos no momento perfeito de sua
liberdade ousada -. Idade Média, e dura e as repúblicas suíços gratuitos, e
moderada - em um grau muito diferente - as monarquias da Europa em um
tempo mais recente, bem como a religião dos servos mais oprimidos e seus
senhores: ambos vão para a mesma igreja. Liderados pela cruz, os espanhóis
na América destruíram gerações inteiras de pessoas, os britânicos,
devastando a Índia, conduziram hinos cristãos de ação de graças. As
melhores flores das belas artes nasceram e cresceram em seu seio, a alta
construção das ciências subiu ao céu e as artes plásticas foram exiladas em
sua honra, e o desenvolvimento da ciência foi equiparado ao ateísmo. E em
qualquer clima a árvore da cruz floresceu, em todos os lugares onde se
enraizou, em todos os lugares produzia frutos. Os povos da alegria da vida
estavam ligados a ela [religião], e a tristeza mais desesperada encontrou nela
alimento para si e uma desculpa” Liderados pela cruz, os espanhóis na
América destruíram gerações inteiras de pessoas, os britânicos, devastando a
Índia, conduziram hinos cristãos de ação de graças. As melhores flores das
belas artes nasceram e cresceram em seu seio, a alta construção das ciências
subiu ao céu e as artes plásticas foram exiladas em sua honra, e o
desenvolvimento da ciência foi equiparado ao ateísmo. E em qualquer clima
a árvore da cruz floresceu, em todos os lugares onde se enraizou, em todos
os lugares produzia frutos. Os povos da alegria da vida estavam ligados a ela
[religião], e a tristeza mais desesperada encontrou nela alimento para si e
uma desculpa “" e o desenvolvimento da ciência foi equiparado à falta de
deus. E em qualquer clima a árvore da cruz floresceu, em todos os lugares
onde se enraizou, em todos os lugares produzia frutos. Os povos da alegria
da vida estavam ligados a ela [religião], e a tristeza mais desesperada
encontrou nela alimento para si e uma desculpa “e o desenvolvimento da
ciência foi equiparado à falta de deus. E em qualquer clima a árvore da cruz
251
floresceu, em todos os lugares onde se enraizou, em todos os lugares
produzia frutos. Os povos da alegria da vida estavam ligados a ela [religião],
e a tristeza mais desesperada encontrou nela alimento para si e uma
desculpa”(8).
252
exagerada e mal interpretados de concepção de Hegel da história, com base
em uma determinada interpretação da génese da consciência histórica de
acordo com a qual a verdadeira abordagem histórica surgiu na literatura
reação dirigida contra a Revolução francesa (E. Burke), e leva contornando
Hegel, Ranke e historiografia apologética.
253
mais elevado a essa natureza, em que tal natureza encontraria satisfação, e
com a qual somente ela poderia se dar bem. "Hegel continua:" É claro que a
religião agora se tornou positiva, mas só se tornou assim, mas inicialmente
não foi ... "
Esse oposto dos românticos nos permite esclarecer outro importante aspecto
novo na posição metodológica de Hegel. Ele se recusa a discutir se certos
dogmas ou instituições do cristianismo são positivos ou negativos. Exige que
a positividade seja sempre explorada como algo inteiro: "... o conteúdo de
tal visão ... sempre se relacionará com o todo"(11). Hegel deixa apenas alguns
pequenos comentários muito gerais sobre essa questão. Mas ainda é
necessário considerá-los. Em primeiro lugar, porque aqui pela primeira vez
essa abordagem holística se manifesta claramente, o que é então expresso
na metodologia filosófica e histórica da "Fenomenologia", - "O verdadeiro é
o todo". Em segundo lugar, porque a moderna filosofia reacionária
hegeliana atribui a si mesma o mérito de desenvolver uma abordagem
holística, considerando o todo. Ela transforma o todo em um conceito
metafísico, excluindo qualquer consideração histórica real, qualquer
desenvolvimento, criando sucessivas sucessões no curso da história e, ao
mesmo tempo, compreendendo a integridade, contrastando de forma nítida
e completa com a causalidade (lembre-se O. Spann).
254
positividade. Ele diz: “Então, por exemplo, o dispositivo pode parecer algo
completamente positivo ... se é positivo em seu aspecto interno, em relação
à vida, depende se as pessoas realmente se organizam nele como um
indivíduo, Ele preencheu completamente a forma deste sistema, ele penetrou
nele com sua vitalidade ... Se o gênio de uma nação é geralmente em um
nível mais baixo e mais fraco, e a fraqueza da moralidade é mais palpável na
barbárie e cultura formal, se esta nação permitisse qualquer outra para
derrotá-la, ela perdeu sua independência, portanto, ela preferiu a
infelicidade e a vergonha de perder a independência para a luta e a morte ...
então a verdade absoluta está encerrada no dispositivo e na escravidão, e
essa atitude é a única forma possível de moralidade e, portanto, a forma de
necessário, justo e moral"(12). Assim, a consciência de amargura da
insignificância das relações sociais e nacionais da Alemanha leva Hegel a
considerar os remanescentes feudais de seu tempo como um estado
correspondente à "natureza miserável" e, portanto, não positiva. Se na
Alemanha houvesse um movimento real contra esse estado insignificante,
então, de acordo com o entendimento de Hegel, as mesmas relações teriam
de ser avaliadas como positivas.
É verdade que isso, como todo passo em direção à dialética de Hegel, pode
ser visto de dois lados. O lado idealista e regressivo desta abordagem à
dialética histórica do verdadeiro e do falso está no reconhecimento
incondicional da religião cristã, na mitigação de polêmicas históricas com
ela. A observação pela qual Hegel precede a passagem que acabamos de
citar parece, talvez, à primeira vista e inocentemente. Ele diz: “A questão da
positividade da religião não diz respeito ao conteúdo do credo e aos
mandamentos da religião, mas a forma pela qual a religião afirma a verdade
de seus ensinamentos e requer o cumprimento de seus mandamentos”(14).
Esta afirmação contém um verdadeiro núcleo histórico, uma vez que Hegel
se concentra na diferença de se certo ensinamento é introduzido na
255
consciência e educação de uma pessoa livremente e voluntariamente, ou
para preservar o poder, a violência etc. Mas se você relacionar esta
afirmação com a citada Anteriormente, a disposição de que a atitude
religiosa para com Deus é algo eterno, que o bem e a nobreza de uma
pessoa vem de Deus, não é difícil ver nele um desejo idealista-reacionário de
excluir a "essência da religião" do processo histórico formação e
desaparecimento e sujeito à crítica histórica apenas certos modos históricos
de manifestação da religião pela sua natureza positiva.
Assim, é possível afirmar uma posição que soa muito paradoxal, mas
expressa a viva contradição de Hegel: quanto mais se afasta dos ideais
revolucionários de sua juventude, mais e mais decisivamente "se reconcilia"
com o domínio da sociedade burguesa, menos pensa vai além, cada vez
mais conscientemente se manifesta como dialético. A interpretação dialética
do progresso humano, que ele apresentou pela primeira vez em uma base
não abrangente. em termos históricos e filosóficos, uma forma significativa
na "Fenomenologia do espírito" só era possível nessas condições históricas
específicas com base em tais contradições. Analisando o período de
Frankfurt, mostramos as sementes da controvérsia em seu pensamento. No
período de Iena, eles se tornam mais pronunciados e expandidos. Além
disso, vamos discuti-los em mais detalhes.
257
Sem dúvida, a base desse entendimento surgiu durante o período de crise
da vida e do pensamento de Hegel - em Frankfurt. Do ponto de vista
literário, o legado de Hegel do período de Frankfurt é tanto uma pilha de
fragmentos e esboços quanto seu legado de Berna. No entanto, se a
reconstrução dos esboços de Berna permitir que você crie uma tela ampla e
uniforme, então o resultado do período de Frankfurt é um caos de
tendências fortemente conflitantes. No entanto (e essa era a tarefa deste
capítulo) foi precisamente do caos das contradições não resolvidas que a
dialética hegeliana se originou: a gênese desse método de desenvolvimento
teórico da realidade é o resultado do período de Frankfurt.
258
você encontrará algum significado nisso. Desejando e esperando para vê-lo,
no entanto, muito antes disso"(16).
"... não deixe você se tornar melhor que o Tempo, - O próprio tempo será
exaltado pelo seu esforço ousado."
Tubinga:
355-9 Esboços
Berna:
359-60 Esboço
48 – 60 —— —
70- 71 — —
60 – 69 — —
259
361-62 Esboço
362-366 —
213 - 239 —
366-7 Esboço
Frankfurt:
378-82 O Amor
382-85 Fé e Ser
260
(1) Nohl, p. 139. (retornar ao texto)
261
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
262
Schelling". “Esta diferença não se refletiu”, escreveu Hegel, “nem
diretamente na forma externa de ambos os sistemas, em que apareceram
perante o público, nem, entre outras coisas, nas respostas de Schelling às
repreensões idealistas de Eschenmeier contra a filosofia natural”(2).
263
intocada e, sem qualquer crítica, existe ao lado do novo método dialético
emergente.
264
com o objetivo de eliminar todos os "desentendimentos" e restaurar a
harmonia anterior.
265
De acordo com isso, Fichte reforça o “lado ativo” da filosofia clássica alemã,
da qual Marx fala em sua primeira tese sobre Feuerbach, é claro, com base
na transição para o idealismo puro.
A atividade moral de Kant é a única esfera na qual ele, por assim dizer,
rompe o mundo dos fenômenos e torna-se participante de um mundo
verdadeiramente existente, o mundo da essência. Portanto, podemos dizer
que a construção da ética de Kant leva a conclusões metodológicas que
afetam a teoria do conhecimento de Fichte. Assim, a imposição do mundo
através do Eu é chamada em Fichte "posição da ação" (Tathandlung).
267
Consequentemente, a possibilidade de conhecer a autocriada (postulada por
meio do eu) é para Fichte algo evidente: é o autoconhecimento do eu
criativo (setzenden).
268
Vamos abordar as contradições internas dessa posição de Schelling quando
começamos a analisar os opostos entre ele e Hegel. Aqui apenas
observamos que, desta forma, para Descascar, a objetividade da natureza é
derivada e garantida. Os opostos dialéticos de Schelling não são
contradições na cognição humana, não apenas contradições entre as
habilidades cognitivas humanas e a realidade externa, como em Kant, mas
contradições da própria realidade objetiva. Consequentemente, Schelling,
como Fichte, planeja remover as contradições do conhecimento humano,
reconhece essa remoção e, assim, chega exatamente ao oposto da filosofia
de Kant. Notamos, contudo, que, uma vez que Schelling tem essas
contradições de maneira objetiva, ele - em sua remoção da contradição - vai
além da estrutura do conceito fichteano, desta maneira,
269
artigo sobre Schelling no Anuário franco-alemão. Marx chama Feuerbach de
“invertido Schelling” nesta carta e, caracterizando Schelling, escreve o
seguinte: “O pensamento jovem e sincero de Schelling - devemos admitir
todas as coisas boas também em nosso oponente - para as quais ele não
possuía habilidades exceto imaginação sem energia, mas vaidade nenhum
estimulante, exceto ópio, nenhum órgão, exceto pela receptividade feminina
facilmente excitável, esse sincero pensamento juvenil de Schelling, que ele
ainda tinha um fantástico sonho juvenil, tornou-se para você a verdade, a
realidade, um assunto sério e corajoso. Schelling é, portanto, sua caricatura
antecipada ..."(7). Naquela época, sobre a qual estamos falando, o
"pensamento sincero" do jovem Schelling estava em primeiro plano. Não é
preciso dizer que os núcleos de suas visões reacionárias posteriores já
existiam, mas foram muito obscurecidos - mesmo que por pouco tempo -
pelo entusiasmo de criar e fundar uma nova filosofia da natureza, criando
uma compreensão unificada e dialética de todos os fenômenos naturais.
Com essa atitude, Schelling frequentemente encontra insights quase
materialistas, rejeita apaixonadamente o espiritualismo artístico, que era
geralmente próximo a ele. Como não temos a possibilidade de uma
consideração mais detalhada aqui, nos referimos apenas a um exemplo. Em
1799, em seu confronto com o espiritismo de Novalis Schelling, como
Friedrich Schlegel colocou, sobreviveu a um novo episódio do antigo
entusiasmo pela irreligião e, nesse sentido, escreveu a composição
"Epikuraisches Glaubensbekenntnis von Heinz Widerporst" (Credo epicurista
de Heinz Wiederporst). Deste poema nós damos apenas algumas das linhas
mais características:
270
alguns motivos místicos, que remontam à filosofia natural de Boehme, são
claramente visíveis no poema.
Das poucas observações que apresentamos, deve ficar claro para o leitor que
havia diferenças profundas entre a filosofia de Fichte e Schelling desde o
início. É verdade que essas diferenças eram inconscientes e ocultas para
ambos e, acima de tudo, sua luta conjunta contra os kantianos, que
procuravam consolidar em filosofia a posição que o próprio Kant havia
alcançado.
Em seu ensaio "A Diferença ...", Hegel zomba desses kantianos. Por
exemplo, isso significa uma comparação muito característico diz Reinhold:
"Como a França proclamou repetidamente: La revolução est finie, - também
Reinhold tem repetidamente proclamou o "fim" da revolução filosófica.
Agora ele interpreta a última conclusão terminado."(9) Se compararmos essa
afirmação de Hegel com a carta de Fichte citada acima a respeito da
declaração de Kant, então temos uma imagem de tendências em uma luta
filosófica na qual podemos facilmente ignorar e desconsiderar as diferenças
existentes no contexto de uma posição crítica geral.
271
Ilusões começam a se dissipar com a publicação do primeiro trabalho
sistemático de Schelling. Após a publicação de seu Sistema de Idealismo
Transcendental, começa uma longa discussão em correspondência, que
termina com um intervalo completo. É verdade que, em seu trabalho
subsequente, “Uma exposição do meu sistema de filosofia” (1801), Schelling
fala de “filosofia natural” e “filosofia transcendental” como dois lados de seu
sistema e considera a ciência em uma carta de 19 de novembro de 1800
como algo completo. e filosofia natural - apenas como uma aplicação para
ele, estando "próximo". Ele escreve: "Eu destaco completamente, antes de
mais nada, a ciência. Ela existe completamente independentemente, nada
deve ser mudado nela, nada deve ser feito com ela, ela está completa. Ela
segue sua própria natureza. No entanto, a ciência ... não é filosofia em si. Só
se desdobra logicamente, não tem nada a ver com a realidade"(11). Schelling
ainda está longe de pensar em uma pausa. Ele vê "Ciência" como o
fundamento inabalável de sua própria filosofia também.
Mais tarde, quando a lacuna já era inevitável, Fichte expressou essa ideia de
maneira muito mais enérgica e clara. Em sua carta de 31 de maio de 1801,
ele escreve que tudo o que é conhecido está contido apenas na consciência
e que somente "aqui, nesta insignificante esfera de consciência, descobrimos
certo mundo sensual - a natureza"(13).
272
tivéssemos a oportunidade de analisar em detalhes toda a correspondência.
No entanto, aqui estamos interessados em um ponto - o papel de Hegel.
273
mesmo tempo, Hegel não critica a filosofia de Schelling, e tal crítica nem é
planejada.
O material que temos não nos dá nenhum motivo para dar uma resposta
documentada a essa pergunta. Não temos conhecimento de quaisquer
declarações negativas ou pelo menos simplesmente críticas de Hegel sobre
Schelling no período que precedeu a partida de Schelling em 1803 (este ano
ele estava partindo para Würzburg). Só entre 1803 e 1806 Hegel começou a
criticar severamente, dirigido principalmente contra os estudantes e
partidários de Schelling, bem como contra o próprio Schelling. Em A
Fenomenologia do Espírito, essa crítica adquire uma formulação
fundamental e sistemática: o primeiro discurso público de Hegel contra a
filosofia de Schelling torna-se decisivo e final.
Isso significa que Hegel nos primeiros anos passados em Iena foi um
completo apoiador de Schelling? Isso significa que sua colaboração com
Schelling durante esse período foi apenas "diplomacia" ou "tática"? A
primeira dessas opiniões é difundida na literatura histórica e filosófica. A
segunda opinião é apresentada, por exemplo, por Stirling, que está tentando
encontrar em Hegel, durante esse período de sua vida, certo "truque", certo
"cálculo" em sua reaproximação com Schelling(14). Que a primeira opinião é
incorreta, o leitor deve saber de nossa conta da vida de Hegel no período de
Frankfurt. Lá pudemos ver que, mesmo antes de chegar a Iena, Hegel já
havia chegado à formulação do idealismo objetivo, que, na questão central -
na doutrina das contradições - estava em um nível mais elevado do que o
idealismo objetivo de Schelling.
274
ironicamente criticou essa interpretação e escreveu que tais "pesquisadores"
como Schmidt atribuem aos grandes poetas e pensadores do passado aquela
falta de psicologia de assíduos professores associados em relação ao todo-
poderoso professor comum, com a ajuda da qual eles mesmos organizaram
suas carreiras universitárias. No entanto, pessoas como Lessing ou Hegel
diferem de professores como Schmidt ou Stirling, não apenas
intelectualmente, mas também em suas qualidades puramente humanas.
275
vai ainda mais longe: ele considera a “grande façanha” de Dilthey a
publicação dessas notas por Hegel e atribui-as inteiramente à época inicial
do período de Iena(16).
Este lugar é muito bem explicado pelo outro pensamento de Hegel. "Ao
estudar uma determinada ciência, você não deve se deixar distrair por
princípios. Eles são gerais e pouco significantes. Parece-me que somente
alguém que possui o especial entende seu significado. Frequentemente,
esses princípios se revelam ruins. Eles representam a consciência das coisas e
muitas vezes melhor consciência.
Não querendo entender e provar passo a passo, eles deixam o livro de lado,
como se estivessem entre o sono e a vigília, renunciam a sua própria
276
consciência, isto é, a partir de sua própria individualidade, repleta de
problemas"(17).
Se você ler esses comentários cuidadosamente, fica claro que Hegel aqui
caracteriza seu próprio método de trabalho no período de transição. Ele já
havia se formado, embora ainda não totalmente esclarecido, mas em suas
características essenciais já tinha uma ideia clara do problema central, e ele
agora, sem medo de possíveis erros, verifica a exatidão dessas visões em um
sistema holístico de características da realidade. Hegel adere firmemente ao
princípio de tomar por sólido e correto apenas os fundamentos gerais que
são confirmados nesta interação com o conhecimento do especial. “Uma
coisa muitas vezes é melhor que a consciência”, nesta declaração é a chave
para todo o modo como Hegel filosofa. Ele realmente leva o pensamento de
Schelling a sério sobre o mundo como um processo único que abrange a
natureza e a história. Ele leva esse pensamento mais a sério do que o
próprio Schelling, que o formula todo ano e algum novo sistema, e alguma
outra forma abstrata. Hegel, no entanto, procura compreender este processo
com a cobertura de todas as suas características, toma cada princípio geral
apenas com uma reserva, condicionalmente, enquanto ele ainda não tem à
sua disposição um método que garanta um conhecimento abrangente dessas
características, ou seja, ele verifica o princípio em fatos, em recursos e
rejeita-o assim que se descobre que ele é abstrato e incapaz de explicar esses
recursos.
277
constantemente falam e procurar o que eles trabalham , como se fosse algo
conhecido e, portanto, verdadeiro, e a busca sua ocupação habitual, cuja
confirmação não pude encontrar, cheguei à conclusão de que, na realidade,
não há nada além do que pareço entender”(18). Esta observação está no final
dos cadernos de Hegel. Aqui ele escreve em um tom que mostra claramente
que ele esclareceu completamente a abstração, o formalismo e a fraqueza
interna da filosofia de Schelling. Hegel na forma de autocrítica interna, por
assim dizer, fornece uma imagem clara de como ele caiu sob a influência da
completude construtiva do desempenho autoconfiante e impressionante de
Schelling. Quando continuamos a analisar as diferenças reais entre Schelling
e Hegel, o leitor, tendo se familiarizado com as questões específicas que
surgem aqui, entenderá melhor o comportamento de Hegel do que agora,
quando contrastamos apenas a “face intelectual” de ambos os filósofos.
278
Já dissemos que o "pensamento jovem e sincero" de Schelling consistia em
sua tentativa de considerar a natureza e a história como um único processo
dialético. Neste assunto, ele é um com as mais profundas aspirações do
jovem Hegel. E se os conceitos do jovem Hegel, especialmente no campo da
filosofia da história, da lógica dialética são muito mais profundos do que o
do jovem Schelling, o pensamento de Hegel ainda não amadureceu o
suficiente para criar um sistema unificado e abrangente de conhecimento
humano agregado. Schelling fez isso precisamente no período em análise e
de uma forma extremamente brilhante e brilhante. Dos comentários de
Hegel acima fica claro que ele considerou necessário primeiro verificar, com
base em seu próprio trabalho, a exatidão dos conceitos schellingianos antes
de prosseguir com suas críticas. Das confissões do próprio Hegel,
descobrimos que ele fez isso até certo ponto como um experimento.
Somente com essa consideração da atitude de Hegel em relação a Schelling
nos primeiros anos em Iena, poderemos avaliar corretamente sua
abordagem à terminologia de Schelling usada por ele em algumas de suas
obras, especialmente na terminologia do Sistema de Moralidade. Isso
significa que devemos reconhecer a influência de Schelling em Hegel, mas
não considerar o último como apoiador de Schelling, muito menos um
hipócrita ou carreirista que, por "razões táticas", silencia sobre diferenças de
opinião que já são claramente reconhecidas por ele. especialmente a
terminologia no "sistema de moralidade". Isso significa que devemos
reconhecer a influência de Schelling em Hegel, mas não considerar o último
como apoiador de Schelling, muito menos um hipócrita ou carreirista que,
por "razões táticas", silencia sobre diferenças de opinião que já são
claramente reconhecidas por ele. especialmente a terminologia no "sistema
de moralidade". Isso significa que devemos reconhecer a influência de
Schelling em Hegel, mas não considerar o último como apoiador de
Schelling, muito menos um hipócrita ou carreirista que, por "razões táticas",
silencia sobre diferenças de opinião que já são claramente reconhecidas por
ele.
(3) Ficthes Briefwrchsel (Cartas de Fichte), Berlim, 1925, vol. YY, p.168.
(retornar ao texto)
(5) Schelling, Werk (obras), Stuttgart e Augsburg, 1858. Erste abteil (Primeira
secção), volume III, p. 369. (retornar ao texto)
281
(6) Mais sobre Schelling em meu livro Die Zersorung der Vernunft ( A
Destruição da Razão), cap.2, Aufbau Verlag, Berlim 1954. (retornar ao texto)
(8) Pitt, loc. cit., vol I, p. 283 e ss., p. 286. (retornar ao texto)
(11) Ficthes Briefe, loc. cit. vol II, p. 295. (retornar ao texto)
(12) Fichte Briefe, loc cit, vol II, p 292 e ss. (retornar ao texto)
(17) Rozenkranz, p. 198, 537; Dilthey, vol IV, p 195; Hering, p 603.
(retornar ao texto)
282
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
284
Consequentemente, a análise hegeliana do idealismo subjetivo procede
desse ponto de vista histórico e, ao mesmo tempo, sistemático. Hegel aborda
a questão da necessidade de filosofia em seu mundo moderno. Após
conhecermos o fragmento do sistema de Frankfurt e os julgamentos
expressos ali sobre a modernidade, não nos surpreendemos que Hegel veja
a base dessa necessidade de filosofia na fragmentação, na contradição.
Deduz disso uma característica importante e essencial para ele, característica
das fraquezas do pensamento não dialético, a saber, que essa fragmentação
se reflete na separação de categorias racionais do mundo que se move no
todo vivo, do absoluto. Ele diz: “Se examinarmos mais detalhadamente a
forma que a filosofia tem, então veremos que a filosofia, por um lado, surge
da identidade viva do espírito, recriando uma harmonia rasgada e dando-lhe
uma aparência independente, por outro lado, a filosofia surge de uma forma
especial de dualidade, que dá origem ao sistema. A bifurcação é uma fonte
de necessidade e filosofia e, como um produto de uma época, é um dado
lado não-livre da forma. Nesse processo de formação, o que constitui o
fenômeno do absoluto é isolado do absoluto e atua como algo
independente"(2).
285
Diderot, e Hegel imediatamente usa esse trabalho para revelar com
plasticidade incomum a forma específica da dialética do Iluminismo. As
imagens criadas por Diderot ocupam um lugar decisivo no capítulo mais
importante de A Fenomenologia do Espírito.
Certamente, mesmo antes de Hegel, foram feitas tentativas para criar uma
história científica da filosofia. Esse requisito pode ser encontrado em Kant e
depois dele com todos os filósofos significativos. No entanto, com os
antecessores de Hegel, esse requisito permanece ao nível das declarações do
programa. Hegel foi o primeiro a realmente abordar seriamente a questão da
história da filosofia e, por um lado, esforçou-se por criar uma história
abrangente da filosofia e, por outro, tentou revelar, como base
metodológica, o desenvolvimento independente da dialética interna do
pensamento, o progresso humano.
287
Até que ponto Hegel realizou seu programa no período Iena, só podemos
dizer quando temos o texto das palestras de Hegel sobre a história da
filosofia, lidas em 1806.
288
Essa hostilidade filosófica em relação ao materialismo, no entanto, não altera
o fato de que a filosofia científica do Iluminismo teve uma influência
indelével no desenvolvimento de Hegel. E Hegel se considera no período de
Iena exclusivamente como o herdeiro do Iluminismo. Não há nada original,
pois seu ponto de partida está na filosofia do Iluminismo. Este foi o
desenvolvimento de quase todos os seus contemporâneos. O importante é
que, ao formar seu sistema, esses fios não se rompem, como a maioria de
seus contemporâneos, talvez com a única exceção que era Goethe.
Hegel, é claro, considera o idealismo objetivo como a forma mais alta e final
da filosofia. Ele deduz o direito dessa filosofia de existir a partir da luta
contra o idealismo subjetivo de Kant e Fichte. Mas ele considera como seus
predecessores imediatos não apenas esses últimos, mas também a
Iluminação. Em uma demarcação crítica com o legado do passado, as
situações geralmente surgem quando, segundo Hegel, o ponto de vista dos
iluminadores ou do Iluminismo como um todo está no mesmo nível de
verdadeiro ou problemático que o de Kant e Fichte. Em alguns lugares, as
vantagens do Iluminismo em relação a Kant e Fichte são ainda enfatizadas.
Voltaremos a esses contrastes ao discutir problemas individuais nos quais
eles são especificamente abordados. Veremos também aqui.
289
Devemos ressaltar que a rejeição de Hegel ao materialismo filosófico não o
impediu de fornecer um lugar significativo na história da filosofia a
representantes importantes como Holbach e Helvetius. Em "Diferenças. ..",
Hegel polemiza contra as visões simples e puramente negativas do kantista
Reinhold, que vê apenas no materialismo "distúrbios mentais não
característicos dos alemães". Aqui ele não encontra nenhuma necessidade
filosófica de superar a divisão na forma de espírito e matéria contrastantes.
"Se a educação ocidental, da qual este sistema surgiu, expulsa o último de
um ou outro país, surge a questão de saber se essa expulsão do materialismo
(da Alemanha) é uma consequência da unilateralidade dessa própria
educação? E se o valor científico desse sistema era insignificante, mesmo
assim, não se pode negar que, por exemplo, no Systeme de la nature o
pensador fala, que ao mesmo tempo se desviou e se encontrou novamente
na ciência. Só podemos nos surpreender com o fato de que, apesar de toda
a sua teimosia com o engano geral de seu tempo, teimosia com a destruição
sem sentido da natureza, com a mentira sem fim, personificando a verdade e
o direito, apesar de sua disposição para tudo que é falso que permeava tudo
em seu tempo como um todo, ele reteve o poder de levar o absoluto que
escapou das desventuras da vida para a qualidade da verdade e construí-lo
na forma de uma ciência com uma necessidade verdadeiramente filosófica e
verdadeira especulação, uma ciência cuja forma também se manifesta na
comunidade local. objetivo incipit, enquanto que a educação alemão, pelo
contrário, recuando um ninho sem pura especulação - na forma de
subjetiva(7).
290
E uma vez que certa limitação em seus julgamentos sobre a revolução
francesa é claramente evidente, também são seus julgamentos sobre
Holbach e Helvetius.
291
objeto das críticas de Hegel. Nessas obras, o próprio espírito da
compreensão de Hegel da história da filosofia é mais maduro e mais rico do
que observamos no jovem Hegel no calor dessa polêmica acalorada.
Não é difícil ver a necessidade histórica de acordo com a qual esse problema
foi colocado. Com o discurso de Kant, o agnosticismo do idealismo subjetivo
recebeu sua mais alta formulação mental. Ao mesmo tempo, constatou-se o
materialismo dos séculos XVII-XVIII. incapaz de não apenas resolver, mas
simplesmente de formular os problemas da dialética, que foram
apresentados pelo desenvolvimento das ciências naturais e pelo
desenvolvimento social. O avanço do pensamento metafísico para o
pensamento dialético em condições de progresso social e científico só foi
possível no caminho do idealismo. A dialética da realidade objetiva, a julgar
pelas posições idealistas, só é possível com base em um sujeito-objeto
idêntico. Somente quando admitimos algo que vai além da consciência
individual de uma pessoa, mas ainda é semelhante ao sujeito e à consciência
(Subjektartiges, Bewusstseinartiges), somente quando o idealismo vê no
movimento dialético dos objetos certo caminho de desenvolvimento, que
neste sujeito chega à autoconsciência; portanto, quando o movimento do
292
mundo objetivo atinge a unidade objetiva e subjetiva, real e consciente com
a consciência, somente então a dialética idealista objetiva é possível. O
sujeito-objeto idêntico é o pensamento metodológico central do idealismo
objetivo, assim como o reflexo da realidade objetiva, independente de nós
na consciência humana, é o cerne da teoria do conhecimento do
materialismo filosófico. Quando o movimento do mundo objetivo alcança a
unidade objetiva e subjetiva, real e consciente com a consciência, somente
então a dialética idealista objetiva é possível. O sujeito-objeto idêntico é o
pensamento metodológico central do idealismo objetivo, assim como o
reflexo da realidade objetiva, independente de nós na consciência humana,
é o cerne da teoria do conhecimento do materialismo filosófico.
Lenin aqui revela os dois lados da questão com a precisão usual para ele.
Com grande nitidez e nitidez, ele mostra que essa formulação idealista da
pergunta contém inevitavelmente certo elemento religioso-sacerdotal.
Abaixo, veremos que razões sociais profundas eram impossíveis para Hegel
se libertar da religião. Escusado será dizer que o sujeito-objeto idêntico que
surgiu sobre essa base fortaleceu e aprofundou ainda mais essas tendências
religiosas.
293
quando destaca a correspondência do Eu com a consciência. E quando,
com base nessa posição, ele critica as ilusões e inconsistências de Schelling,
ele está, até certo ponto, certo (é claro, se você olhar o assunto da mesma
posição metodológica, então Kant está certo em relação a ele). Com uma
implementação verdadeiramente consistente de seu conceito, Fichte deve vir
a Berkeley. Dando a si mesmo o caráter de um sujeito-objeto idêntico, ele
cai na inconsistência, se você olhar para ele mesmo de um ponto de vista
imanentemente idealista. Para o desenvolvimento da dialética idealista na
Alemanha, essa falta de coração foi repleta de certas consequências e
frutífera.
Como já sabemos, ele procede do fato de que eu em Fichte deveria ter sido
o objeto-objeto idêntico; no entanto, devido à inconsistência de Fichte, ele
não cumpre esse papel. “Certamente, identidade absoluta é o princípio da
especulação, mas permanece, como mostra a forma de sua imagem I = I,
apenas uma regra cuja realização sem fim é postulada, mas não construída
em um sistema”(12).
294
Essa limitação do conceito de Fichte é mais evidente na relação do eu com a
natureza. E, nesse contexto, Hegel enfatiza que Fichte permanece no mesmo
nível que o materialismo metafísico: "A posição dogmática de certo objeto
absoluto no idealismo se transforma em (...) auto-restrição, absolutamente
oposta à atividade livre"(14). Por causa dessa atitude negativa em relação à
natureza, esta aparece no sistema de Fichte como algo morto, como algo
incapaz de possuir seu próprio movimento dialético. Hegel traça essa
limitação em várias partes da filosofia de Fichte. Ele mostra que a unidade
de sujeito e objeto, eu e a natureza é excessivamente especulativa ou se
divide em uma certa divisão imóvel.
Desse modo, Hegel mostra que Fichte ainda está muito longe de superar o
dualismo da filosofia cantonesa. Aqui, Hegel lança uma repreensão contra
Fichte, armado com o qual lutou contra o idealismo subjetivo a vida toda,
uma repreensão de que Fichte não foi capaz de se elevar acima da posição
abstrata. “A impossibilidade de eu me reconstruir em algo um com o meu
fenômeno, devido à oposição da subjetividade e da produção inconsciente,
é expressa de tal maneira que a síntese mais alta que caracteriza o sistema é
apenas Compromisso. Posição: eu igual eu me coloco na posição: devo
igual a Eu. O resultado do sistema retorna ao seu início”(16).
295
natureza aqui ainda aparecem como uma superação do idealismo subjetivo.
Hegel, como Schelling, também procede da posição de Spinoza: "Em todos
os casos, a mesma ordem foi encontrada, em outras palavras, a mesma
conexão de causas, ou seja, que as mesmas coisas se sucedem"(18).
Certamente, essa posição em Schelling e Hegel assume um significado mais
modificado do que no próprio Spinoza. Em Spinoza, é uma expressão de
suas tendências materialistas. Schelling e Hegel querem fazer dele parte
integrante do idealismo objetivo. Portanto, o que constituiu sua força nessa
posição do ponto de vista materialista, do ponto de vista idealista, se torna
sua fraqueza. Schelling ainda tem um paralelismo entre o externo e o
interno, o objetivo e o subjetivo. Apenas alguns anos depois, Hegel estava
tentando superar radicalmente esse remanescente do dualismo. Em sua
"Diferença. ..", ele aceita o ponto de vista de Schelling em relação a duas
paralelas, complementares, mas que acabam formando uma unidade de
ciências. A unidade deve se manifestar no fato de que essas duas ciências se
cruzam. Isso, no entanto, apenas proclamado, mas em nenhum lugar
metodologicamente revelado. De acordo com os pontos de vista do falecido
Hegel - e os núcleos e as versões iniciais desses pontos de vista existiam ao
mesmo tempo - essa transição mútua seria uma garantia real de que ambas
as ciências, complementando-se e representando a unidade, podem coexistir
sem prevalecer uma sobre a outra. Assim que um deles começa a prevalecer,
a unidade é liquidada em uma base materialista ou subjetiva-idealista. O
conceito schellingiano de idealismo objetivo também se manifesta no fato de
que Hegel, em sua filosofia, adota os termos mais importantes de Schelling
do ponto de vista da metodologia, como "produção inconsciente", "intuição
intelectual", e os aceita sem reservas críticas.
Assim, aqui Hegel, em uma das questões mais importantes da filosofia, já vai
muito além da posição de Schelling. Uma característica da cooperação entre
Schelling e Hegel em Iena é que, de vez em quando, existem diferenças
entre eles em vários assuntos, mas eles não são fixados por um nem pelo
outro e não são considerados diferenças. Externamente, aqui reina a
harmonia completa, que "de repente" se desfaz em pó assim que essa ou
296
aquela divergência assume uma orientação consciente e cristaliza em um
determinado sistema.
Não obstante, devemos nos voltar para um ponto das diferenças agora
claramente manifestas entre as posições filosóficas de Hegel e Schelling.
Terminologicamente, Hegel aceita - por vários anos - a designação de
Schelling das contradições e sua superação. Ele fala repetidamente do
“ponto de indiferença”, da “intuição intelectual”, etc. No entanto, junto com
isso, também encontramos, e de maneira nenhuma indiretamente, a
continuação e o desenvolvimento do conceito de contradição a partir do
fragmento de Frankfurt do sistema. E, ao mesmo tempo, não observações
individuais, mas com tanta frequência e em tantos lugares que é fácil para
nós ver: em todas as experiências com vários aspectos da filosofia de
Schelling, Hegel nunca abandonou seu próprio ponto de vista em questões
cruciais. Então, Hegel na "Lógica de Iena" diz claramente que os opostos não
são superados no absoluto e não desaparecem; ele escreve sobre o que
representa a essência do conceito de Schelling de superar contradições. "O
oposto é geralmente qualitativo e, como nada existe fora do absoluto, é
absoluto, e precisamente porque é absoluto, decola-se, e o absoluto,
297
descansando em sua retirada, também é absolutamente um movimento de
ser ou a remoção do oposto absoluto. "O ser absoluto de uma contradição
ou, se você preferir, o ser de uma contradição na própria essência absoluta"
e precisamente porque é absoluto, ele se remove em si mesmo, e o absoluto,
repousando em sua retirada, também é absolutamente um movimento do
ser ou a remoção do oposto absoluto. O ser absoluto de uma contradição
ou, se você preferir, o ser de uma contradição na própria essência absoluta”
e precisamente porque é absoluto, ele se remove em si mesmo, e o absoluto,
repousando em sua retirada, também é absolutamente um movimento do
ser ou a remoção do oposto absoluto. O ser absoluto de uma contradição
ou, se você preferir, o ser de uma contradição na própria essência
absoluta"(22). constitui a essência do absoluto para Hegel. Ele enfatiza esse
entendimento em outro lugar: "O infinito, de acordo com seu conceito, é
uma simples remoção do oposto, mas não é retirado. É vazio, oposto ao
oposto"(23).
298
entendimento da retirada é formulado na "Fenomenologia do Espírito".
Hegel volta novamente ao problema da identidade e da não-identidade. E
ele diz que, não importa o quanto podemos manter, qualquer termo que
podemos considerar como certo e errado, somos obrigados a ser o certo e o
errado(26).
299
Apesar de todas as limitações decorrentes da natureza: idealismo,
permanece uma tendência animada na dialética hegeliana, segundo a qual a
remoção de momentos particulares ao mesmo tempo pressupõe sua
preservação. Assim, a construção de objetos e conexões individuais em
meios absolutos para Hegel não é a extinção de propriedades específicas,
mas sua preservação até as características empíricas dos objetos e suas
conexões. Hegel fala sobre isso em seu primeiro discurso polêmico contra
Fichte - em estreita conexão com a citação acima sobre a remoção de
contradições. "A filosofia, despedaçada, não pode considerar despedaçadas,
sem colocá-las no absoluto (...) essa correlação com o absoluto não é uma
retirada de ambos. .. mas eles devem permanecer dilacerados e não perder
esse caráter, pois são colocados em absoluto ou absoluto, colocamos neles”.
No entanto, essa dupla face da crítica de Marx já mostra que antes de Hegel
uma arena completamente diferente foi aberta para um estudo
verdadeiramente objetivo do que antes de Schelling. Marx e Engels se
referem constantemente ao conhecimento enciclopédico de Hegel, em
oposição à ignorância formalista e arrogante e arrogante dos jovens
hegelianos. Esse conhecimento não é apenas uma característica individual
de Hegel, mas, como já vimos, eles estavam intimamente ligados ao seu
conceito específico de método dialético.
301
Aqui temos uma diferença metodológica filosófica e sistemática entre Hegel
e Schelling na compreensão da história da filosofia. O desprezo de princípio
de Schelling pelas categorias "sensíveis", que, ele acredita, nada tem a ver
com o absoluto e não está relacionado a ele, é a base de sua atitude de
desprezo em relação à filosofia do Iluminismo. Em contraste, a busca de
transições e mediações leva Hegel ao que ele vê no Iluminismo como o
predecessor histórico e sistemático de sua própria dialética. Pela mesma
razão, o formalismo na construção filosófica empurra Schelling cada vez
mais para o caminho do não-histórico e até do anti-historicismo. Hegel, pelo
contrário, juntamente com o aprimoramento das transições metodológicas
de sua filosofia, mostra uma compreensão cada vez mais profunda dos
problemas da história.
302
todas as coisas na realidade objetiva e no pensamento. "No entanto, a
reflexão como uma mente está relacionada ao absoluto, e é razão apenas
graças a e através desse relacionamento. A reflexão se destrói e todo o ser e
é limitada na medida em que se refere ao absoluto. Ao mesmo tempo,
porém, é por causa de sua atitude em relação à o absoluto existe limitado”.
Portanto, a tarefa da filosofia é identificar essas relações objetivamente
existentes que subjazem à natureza contraditória da reflexão. Graças a essa
consciência filosófica do processo dialético (Gang) das definições de
reflexão, a percepção de que os limites associados à manifestação direta de
categorias de reflexão apenas parecem vagos, Hegel tem uma “reflexão
filosófica”, que é a força motriz mais importante para seu sistema, o
fundamento metodológico da forma específica de sua dialética, sua
compreensão da história como um momento de desenvolvimento da
dialética. "Na medida em que a reflexão se faz seu próprio objeto, sua lei
mais elevada, que lhe é dada pela mente e através da qual ela se torna a
mente, é sua destruição. Como todo o resto, existe apenas no absoluto, mas
como reflexo se opõe. Portanto, para existir, deve se dar a lei da
autodestruição, lei imanente pela qual se constrói independentemente como
absoluta, a lei da contradição, o que significa que sua posição é dada e
permanece. Com isso, ela definiu os frutos de sua atividade como
absolutamente opostos ao absoluto. Ela predeterminou sua lei eterna para
permanecer a razão e não se tornar razão e aderir firmemente a esse modo
de ação, que é insensato em oposição ao absoluto, mas, sendo limitado,
ainda é oposto ao absoluto”(30).
303
estavam intimamente relacionados à oposição do idealismo subjetivo e
objetivo, mas cujo significado não foi compreendido por Fichte ou Schelling,
vamos ver como esses opostos se manifestam em outra esfera de problemas
filosóficos, a saber no campo da "razão prática" - moralidade, filosofia do
estado e direito.
304
Quando Fichte censura Schelling que sua "autoconstrução" das categorias da
natureza é uma ilusão, um auto-engano, quando Fichte considera a natureza
uma "pequena esfera de consciência", Fichte justamente faz as acusações de
Schelling não apenas do ponto de vista do idealismo subjetivo, mas também
com o ponto de vista de todo idealismo em geral: a natureza é a esfera da
consciência para qualquer idealismo, e é teoricamente cognitivamente
completamente indiferente se essa esfera é grande ou pequena. No entanto,
se considerarmos a natureza de maneira diferente; o filósofo deve provar sua
existência fora da consciência. Se tal prova não for apresentada - e Schelling
e Hegel estão muito longe de sequer pensar em um conceito assim -, as
críticas de Fichte até certo ponto permanecem válidas. Essa censura do
idealista subjetivo Fichte Hegel não é capaz de rejeitar, ele só pode
contorná-lo. De fato, mesmo a forma mais desenvolvida da dialética
hegeliana, que ele expôs em A Fenomenologia do Espírito ou na
Enciclopédia, não resiste a essa crítica.
Tínhamos que citar esse lado negativo da polêmica hegeliana contra Fichte,
uma vez que está intimamente relacionado às limitações finitas de sua
dialética. O fato de Schelling e Hegel contornarem essas reprovações
305
relativamente corretas de Fichte, de um ponto de vista histórico, também era
necessário e frutífero para o desenvolvimento da dialética, pois naquele
tempo (embora em menor grau) que Fichte contornava as reprovações
relativamente justificadas de Kant. Sem essa auto-ilusão filosófica,
intimamente associada a uma série de auto-ilusões sociais, heróicas e
mesquinhas, a dialética hegeliana não teria surgido. Vimos como Feuerbach
critica corretamente esse auto-engano idealista de Hegel. Mas também
sabemos que essas críticas não ajudaram Feuerbach a refazer
materialistamente a dialética de Hegel. Apenas Marx foi capaz de fazer isso,
e filosoficamente, baseado em críticas abrangentes a Hegel e Feuerbach. E
não há necessidade de explicar em detalhes que a superação filosófica do
idealismo objetivo e do materialismo metafísico se tornou possível para Marx
apenas porque ele podia criticar e realmente criticou toda a filosofia
burguesa do ponto de vista da visão de mundo do proletariado. Esses fatos
mostram a impotência das críticas fichteanas a Schelling e até a Hegel, pois
mesmo a situação econômica e a correlação das forças de classe na
Alemanha no início do século XIX. se eles se desenvolvessem de tal maneira
que levassem ao surgimento de algum tipo de filosofia materialista no nível
de Feuerbach, então as críticas ao idealismo hegeliano por esse materialismo
- mesmo que fossem corretas e justificadas do ponto de vista do
desenvolvimento imanente da filosofia, seriam estéreis e impotentes como
fator de desenvolvimento.
306
(8) Ibid., p. 24. (retornar ao texto)
(10) Lenine, V. I., Obras Completas, Tomo 29, p. 322. (retornar ao texto)
(25) Cfr. Lenine., V. I., Obras Completas, Tomo 29, p. 176. (retornar ao
texto)
(26) Cfr. Hegel, Composições, Moscou 1959. T. IV. p. 24. (retornar ao texto)
307
308
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Antes de tudo, essa crítica está sendo realizada em estreita ligação com as
visões gerais de Kant, Fichte e Jacobi. Hegel considera as limitações de sua
filosofia moral como uma consequência direta da falsidade e unilateralidade
de sua visão de mundo. Ao considerar os problemas morais pelo idealismo
subjetivo, Hegel vê até certo ponto um exemplo de seu fracasso em resolver
as questões mais importantes da vida pública.
309
o reino vazio se opõe a certo reino desprovido de unidade de empírica e
diversidade aleatória”(2).
310
se torna realidade no Eu - em progresso infinito. Para o Ser, as coisas podem
simplesmente não se tornar o que deveriam ser, pois, se isso acontecer, não
= eu e, portanto, deixo de existir. Eu seria realmente uma identidade
absoluta sem uma segunda base; Eu retiraria o que ele próprio criou (gesetzt
hat), e ele próprio deixaria de ser eu. Portanto, no sistema desse
conhecimento sobre deixar a estrutura do dualismo, tu podes pensar tão
pouco quanto Jacobi"(5). Jacobi constantemente se opunha a qualquer
filosofia monística - não apenas contra o real monismo de Spinoza, mas
também contra o alegado monismo de Kant e Fichte. Hegel, portanto,
polemiza, por assim dizer, em duas frentes: por um lado, expõe o monismo
imaginário de Kant e Fichte, considerando o dualismo, por outro - mostra
que Jacobi, que imagina se erguer com seu conceito de fé imediata sobre
Kant e Fichte, em essência, está no mesmo ponto de vista em que esses dois
estão.
Talvez, até certo ponto, se possa aplicar - para caracterizar essa oposição
entre Fichte e Hegel - a afirmação de Engels sobre a dialética do
311
desenvolvimento do mundo orgânico: "... todo progresso. .. é ao mesmo
tempo uma regressão, pois consolida o desenvolvimento unilateral...”(9)
312
A oposição entre Fichte e Hegel reflete a grande oposição histórica mundial
da época.
Por outro lado, nem a revolução industrial inglesa nem a revolução francesa
eliminaram remanescentes do feudalismo com tal radicalismo e não se
deram conta da própria sociedade burguesa em formas democráticas que os
representantes verdadeiramente democráticos dos movimentos
revolucionários buscavam e esperavam. Consequentemente, a revolução
democrático-burguesa desse ponto de vista também não foi concluída na
Europa Ocidental. O idealismo subjetivo de Fichte confere a esse lado da
situação histórica mundial uma expressão filosófica subjetivamente
exagerada. O oposto observado acima também é exacerbado pelo fato de a
luta filosófica ter ocorrido na Alemanha, onde, como já sabemos, ainda não
se falava sobre a implementação da revolução democrático-burguesa. Ela
era apenas uma perspectiva distante.
313
O objetivismo da filosofia hegeliana se tornou possível porque ele percebeu
a sociedade burguesa como resultado da Revolução Francesa como
realidade, que em seu pensamento ele procurava entender essa sociedade
como era e a realidade, analisar suas verdadeiras leis em seu relacionamento
e explicá-las filosoficamente. O motivo pelo qual o ex-apoiador da revolução
francesa em seu desenvolvimento consistente chegou a esse resultado é
explicado pelo fato de Hegel nunca ter simpatizado com a ala democrática
radical dos jacobinos, de modo que, a partir do partidário da revolução
francesa, ele poderia se tornar um partidário de Napoleão.
A oposição entre Fichte e Hegel encontra sua expressão clara, onde Hegel
critica as opiniões de Fichte sobre o "direito de rebelião", "o direito à
revolução". Em seus "Fundamentos do Direito Natural" (1796), Fichte está
do ponto de vista dos democratas revolucionários radicais. Ele diz: "No
entanto, e isso deve ser mantido em mente com firmeza - o povo nunca é
um rebelde, e a expressão rebelião usada em relação a ele é o maior
absurdo de todos os tempos, porque as pessoas são verdadeira e
legitimamente as mais altas. poder, sobre o qual não existe outro e que é
responsável apenas pela fonte de qualquer outro poder - a Deus. Em uma
assembleia popular, o poder executivo perde seu poder na realidade e pelo
direito. A rebelião só pode ocorrer contra um poder superior. Mas o que na
terra pode ser maior que o povo? Ele só pode se rebelar contra si mesmo, o
que é ridículo. Somente Deus está acima do povo. Portanto, é preciso dizer:
o povo se rebela contra seus senhores. Mas, neste caso, é preciso admitir que
o senhor seja um deus, o que parece ser extremamente difícil de provar”(11).
314
A realização dessa plena soberania do povo de Fichte é a seguinte: em um
período pacífico, o poder executivo tem em suas mãos a plenitude do poder.
Mas com ela existe uma autoridade especial, a chamada éfora. Eles não têm
poder real, no entanto, se o poder executivo violar a constituição, eles
podem impor uma proibição, suspender sua atividade, convocar uma
assembleia pública que tome uma decisão final sobre o desacordo(12).
315
de Fichte é uma reflexão simples e, é claro, idealisticamente exagerada desse
mal-entendido,
É muito interessante e revelador para Hegel que ele conclua sua polêmica
com Fichte com alusões ao golpe de estado realizado por Bonaparte, do 18º
Brumaire. Com isso, ele procura não apenas mostrar a impotência do
éforado de Fichte (afinal, todos os governos franceses da época possuíam
órgãos de supervisão semelhantes, embora, é claro, não tão abstratamente
criados de maneira astuta abstrata), mas também mostrar que as mudanças
na constituição realmente ocorreram de acordo com suas ideias.. Hegel não
menciona o nome de Napoleão aqui. Mas desde que o golpe de estado
realizado por Napoleão ocorreu em 1799, e o artigo de Hegel foi escrito no
inverno de 1802-1803, não resta dúvida de que ele quer dizer 18 brumários.
"Como você sabe, recentemente”(13).
E essa oposição entre Fichte e Hegel decorre do fato de que Fichte, segundo
Hegel, vê em todas as instituições sociais e jurídicas uma restrição da
liberdade humana, enquanto Hegel tem um ponto de vista diferente. "A
comunidade mais alta é a mais alta liberdade, tanto em termos de poder
quanto em sua implementação"(14). A controvérsia de Hegel repousa sobre a
oposição recém-analisada no entendimento da sociedade burguesa que
surgiu como resultado da Revolução Francesa, sem dúvida. Esse oposto leva
Hegel ao fato de que na ética e na filosofia de Fichte - em todos os lugares
ele vê a escravidão e a supressão da natureza e do homem.
316
Isso é muito mais do que apenas ironia sobre os feios estratos filosóficos e
construcionistas e a filosofia de Fichteana. As observações irônicas de Hegel
são baseadas em dois pontos filosóficos fundamentais.
Hegel se opôs a isso de maneira clara e aguda: "Mas que contradição surge
do fato de que não haverá mais depósitos? Isso contradiz outras certezas
necessárias, assim como o fato de que um depósito é possível será
conectado a outras certezas necessárias e, assim, Tornar-se-á necessário, no
entanto, não diferentes objetivos e fundamentos materiais, mas a forma
direta do conceito deve estabelecer a correção da primeira ou da segunda
premissas."(19). Essa crítica hegeliana é dirigida, antes de tudo, contra a
posição segundo a qual um determinado conteúdo social pode ser deduzido
dos mandamentos morais formais. Várias instituições sociais formam uma
integridade concreta interconectada e mutável. Sua necessidade deve ser
deduzida e justificada apenas com base no lugar que ocupam nessa
integridade específica. Como Kant não apresenta esse problema (afinal, ele
procura derivar um conteúdo social retirado diretamente de certas leis
morais formais), parece que essa dedução kantiana não é melhor do que
tentar obter esse conteúdo fraudulentamente. Hegel luta contra a dura
oposição kantiano-fichteana da moral externa e interna, contra a oposição
da legalidade e da moral(20).
318
essencialmente adere à mesma posição e, portanto, compartilha suas
limitações subjetivo-idealistas com elas. Se você abordar a questão
puramente externamente, Jacobi será na verdade diametralmente contrário
a Kant e Fichte. Estes últimos defendem a grandeza da lei moral universal
abstrata e reconhecem a iniciativa de um indivíduo, uma pessoa
verdadeiramente viva, apenas na medida em que suas aspirações
correspondam à lei moral. Jacobi, pelo contrário, apela para a singularidade
de uma pessoa real. Ele dá vários exemplos da história, poesia e sagas,
provando que atos que, de acordo com a ética formal e de acordo com
ideias morais geralmente aceitas, possam parecer um crime, são na realidade
uma expressão de alta moralidade humana. Portanto, ele exige diretamente
o direito a esse "crime", porque "a lei é criada para o homem, e não o
homem - para a lei"(21).
Hegel não argumenta que as críticas de Kant e Fichte contidas aqui também
contenham os pontos corretos. Afinal, ele mesmo durante o período de
Frankfurt argumentou contra a ética kantiana, acreditando que ela sujeitava
uma pessoa à violência, tiranizou-a. No entanto, ele ressalta que Jacobi,
embora, por outro lado, como Kant e Fichte, contrasta uma pessoa com uma
coisa pronta, confrontando-a ainda com a sociedade, pessoa completamente
alienígena. Segundo Hegel, uma pessoa viva é uma pessoa em uma
sociedade concreta específica, e sua integridade e vitalidade humanas
podem ser expressas em sua conexão com essa sociedade. Isolado da
sociedade, acaba sendo tão esquemático e abstrato quanto uma pessoa do
mandamento moral abstrato kantiano-fichtiano.
319
Hegel tem o direito de dizer, resumindo: “A beleza moral não pode ser
privada de nenhum dos lados: nem de sua vitalidade, como individualidade,
que consiste no fato de não estar sujeita a um conceito morto, nem na forma
de um conceito e lei: universalidade e objetividade”(23).
320
individualismo ilimitado e vazio já desempenhou um papel decisivo nesta
escola. Seu ideólogo-chefe Friedrich Schlegel durante sua juventude
republicana ridicularizou Jacobi pelo fato de ele não ter o conceito de
humanidade, mas o conceito de "Friedrich-Heinrich-Jacobinismo". No
entanto, apenas alguns anos depois, em 1799.
321
moral" só pode levar à "idolatria interna".(25) É extremamente característico
que Hegel considere a vida de uma pessoa sob o domínio desse tipo de
individualismo um inferno, e ao mesmo tempo se refere - o que também é
muito característico - à Ifigênia de Goethe, no qual o submundo, no entanto,
é retratado como o destino de Orestes, mas com plena consciência de sua
natureza destrutiva e problemática, com plena compreensão mental e
poética de que o humanismo progressivo pode e deve procurar e encontrar
uma saída para esse inferno, que é um fato da vida moderna. Goethe
também se tornou um grande escudo de seu tempo, apenas realizando
plenamente essa vocação do humanismo. "Então, vemos nos heróis Allville e
Voldemar (heróis dos romances de Jacobi. -G. L.) são esses tormentos da
eterna auto-contemplação não em nenhuma ação, mas no terrível tédio e
impotência do ser vazio, e essa fornicação consigo mesma é retratada como
a causa da catástrofe de histórias extraordinárias. Mas, ao mesmo tempo, no
final, esse princípio não é removido, e a virtude não destrutiva da totalidade
dos personagens está relacionada ao quão grande e pequeno é este mundo
subterrâneo”(26). É muito característico da atitude de Hegel em relação à
escola romântica que, em seu trabalho "Glauben und Wissen", a seção
dedicada a Jacobi termine com uma crítica ao "Reden über die Religion" de
Schleiermacher - uma das principais obras do período de romance de Iena.
Hegel censura Schleiermacher pela mesma subjetividade vazia de Jacobi: "E
mesmo essa contemplação do universo se transformou em subjetividade,
além disso. .. virtuosismo, ou desejo, ou talvez apenas uma busca por
desejo. .. A expressão deve ser pura um caso interno, um flash imediato de
inspiração individual, mas não uma expressão verdadeira, uma obra de
arte”. Hegel, portanto, lança a mesma repreensão em Schleiermacher e
contra Jacobi. "Schleiermacher quer perpetuar a arte sem obras de arte"(27),
traga a "filosofia da vida" para o nível de "arte da vida" como a incorporação
"prática" da "filosofia da vida". No entanto, ele permanece no nível do
imediatismo individualista de Jacobi.
Mas, para demonstrar mais uma vez a proximidade dessas visões com o
kantianismo, nos referimos a uma pequena observação dos cadernos das
anotações de Hegel feitas por ele em Iena. "Dizia-se com admiração por
Kant que ele ensina a filosofar, mas não a filosofia, como se alguém pudesse
se juntar sem fazer mesas, cadeiras, portas ou armários"(28).
(9) Marx, K. e Engels, F., Obras, 2a. edição, T. 20, p. 621. (retornar ao
texto)
323
(11) Fichte, J. G. Obras. Tomo II, p. 186. (retornar ao texto)
(12) Ibid., p. 174. Esta construção artificial não é de todo uma invenção de
Fichte. Os Eforas há muito fazem parte integrante da lei natural
revolucionária. Eles podem ser encontrados até em Calvino e mais tarde –
sobre toda a chamada literatura monárquica. Veja a este respeito:
Woltzendorf K. Staatsrecht e Naturrecht in der Lehre vom Widerstandsrecht
des Volkes, 1916, p. 123. A disputa sobre o direito à revolta do povo não é
apenas uma disputa entre estudiosos. A redação deste problema em
episódios da luta pela constituição francesa durante a revolução
desempenhou um papel muito importante. Robespierre e os Jacobinos eram
defensores inflexíveis do direito do povo à revolução, e Condorcet, como
ideólogo dos girondinos, era, ao contrário, um defensor de instituições
criadas que poderiam legitimamente resolver disputas constitucionais. A
polêmica entre Robespierre e Condorcet encontrou uma ressonância teórica
muito forte na Alemanha. Hegel, em seu trabalho sobre a constituição
alemã, também fala sobre o assunto. (retornar ao texto)
324
existam leis morais, na realidade essas são “leis individuais” existente para
cada caso individual. Como Hegel foi recentemente associado ao
irracionalismo e à “filosofia da vida” ( por exemplo, R. Kroner), esse
“paralelo” entre Hegel, Simmel e Jacobi é muito instrutivo. Veja: Simmel, G.
– Kant 6 Aufl. Munchen, Leipzig, 1927, p. 145. (retornar ao texto)
(24) Kroner, R. Von Kant bis Hegel. Tubinga, 1921, p. 271. (retornar ao
texto)
(27) Rosenkranz, K. op. cit., p, 552. Essa admiração por Kant tornou-se
moda novamente, especialmente na forma de Simmel da combinação do
kantismo e da “filosofia da vida”. (retornar ao texto)
325
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
326
No entanto, não existe outro objetivo senão uma explicação puramente
histórica de leis e instituições. Iria além de sua definição e verdade se
estabelecesse o objetivo de justificar uma lei para o presente que possuía a
verdade apenas no passado (...). E nesse contexto, contrasta polemicamente
a "história de uma vida passada (...) com certo conceito de morte no
passado. O presente”(2). Essa historicidade imaginária dos românticos é,
segundo Hegel, uma falsificação.
Nas discussões finais de seu trabalho sobre direito natural, Hegel, de uma
maneira clara, embora não clara do ponto de vista da forma polêmica, se
opõe às visões acima e, nesse sentido, fala de saltos qualitativos na história.
Teremos que citar esse local em grande detalhe, embora seja longo, pois
parece-nos que aqui o contraste entre Hegel e o romantismo é bastante
claro. Ao mesmo tempo, devemos observar que, se Hegel fala de
individualidade aqui, é sempre uma questão de individualidade do povo. "E,
embora a natureza continue seu movimento uniforme dentro de certa
imagem, não mecanicamente uniforme, mas uniformemente acelerada, ela
desfruta de todas as novas imagens criadas por ela, que deram um salto
nela, e permanece nela por algum tempo. Assim como uma bomba na
culminação de uma explosão dá um salto e congela por um momento ou
327
quando um metal chega a certa temperatura, não derrete como cera, mas de
repente entra em estado líquido e permanece nele (pois um fenômeno é
uma transição para algo completamente oposto, portanto, é infinito, e desta
maneira o oposto do infinito ou do seu não-ser é um salto, e o ser atual da
imagem em seu poder revivido é o primeiro para si, antes de perceber sua
atitude em relação ao estranhado), também está se desenvolvendo Uma
individualidade distinta contém tanto a alegria de um salto assim, e
permanecer desfrutando de sua nova forma até o momento em que
gradualmente começa a se abrir para o negativo e em sua morte revela a
mesma repentina e fragilidade” e então congela por um momento ou
quando um metal trazido a certa temperatura não derrete como cera, mas de
repente entra em um estado líquido e permanece nele (pois um fenômeno é
uma transição para algo completamente oposto, portanto é infinito, e essa
saída do oposto do infinito ou da sua inexistência, há um salto, e o ser atual
da imagem em seu poder revivido é o primeiro para si mesmo, antes de
perceber sua atitude em relação ao estrangeiro), e a individualidade em
desenvolvimento contém em si a alegria desse salto. e assim, permanecer no
desfrute de sua nova forma até o momento em que gradualmente começa a
se abrir para o negativo e em sua morte revela a mesma repentina e
fragilidade “e então congela por um momento ou quando um metal trazido
a certa temperatura não derrete como cera, mas de repente entra em um
estado líquido e permanece nele (pois um fenômeno é uma transição para
algo completamente oposto, portanto é infinito, e essa saída do oposto do
infinito ou da sua inexistência, há um salto, e o ser atual da imagem em seu
poder revivido é o primeiro para si mesmo, antes de perceber sua atitude em
relação ao estranhado), e a individualidade em desenvolvimento contém em
si a alegria desse salto. e assim, permanecer no desfrute de sua nova forma
até o momento em que gradualmente começa a se abrir para o negativo e
em sua morte revela a mesma repentina e fragilidade”, mas de repente entra
em um estado líquido e permanece nele (pois um fenômeno é uma transição
para algo absolutamente oposto, portanto, é infinito, e essa saída do oposto
do infinito ou de seu não-ser é um salto, e o ser atual da imagem em seu
poder regenerado é o primeiro para o próprio antes de perceber sua atitude
em relação ao estranhado), a individualidade em desenvolvimento também
contém a alegria de um salto e a permanência em desfrutar de sua nova
forma até o momento em que gradualmente começa a se abrir ser negativo e
em sua morte revela a mesma repentina e fragilidade”, mas de repente entra
em um estado líquido e permanece nele (pois um fenômeno é uma transição
para algo absolutamente oposto, portanto, é infinito, e essa saída do oposto
do infinito ou de seu não-ser é um salto, e o ser atual da imagem em seu
poder regenerado é o primeiro para o próprio antes de perceber sua atitude
em relação ao alienígena), a individualidade em desenvolvimento também
contém a alegria de um salto e a permanência em desfrutar de sua nova
328
forma até o momento em que gradualmente começa a se abrir ser negativo e
em sua morte revela a mesma repentina e fragilidade“(3).
329
unidade nacional e estatal desta cidade. Maquiavel procura e espera o
mesmo Teseu para a Itália. O jovem Hegel, que também não tinha ideias
claras sobre as perspectivas para o desenvolvimento da Alemanha, também
se juntou a essa linha de pensamento(4).
Com essa última suposição, devemos argumentar com mais detalhes, pois é
uma das pedras angulares do projeto que transforma Hegel em um
antecessor de Ranke e Bismarck. No curso dessa crítica, será revelado qual
era realmente a atitude do jovem Hegel em relação aos dois grandes estados
alemães de sua época — à Áustria e à Prússia. Ele é extremamente negativo
em relação à Prússia. Ele considera a Prússia uma força estranha,
ameaçando de fora a unificação da Alemanha. "Assim como o Império
Romano foi destruído pelos bárbaros do norte, o princípio da destruição do
Império Romano-Alemão também veio do norte. Dinamarca, Suécia,
Inglaterra e depois deles a Prússia são aquelas potências estrangeiras que,
sendo propriedades imperiais o ameaçam”(6). O jovem Hegel não se deixa
enganar pelas lendas sobre Frederico II da Prússia, as guerras travadas pela
Prússia, ele não vê nenhuma manifestação dos interesses nacionais da
Alemanha, mas apenas "os interesses privados das potências em guerra"; ele
os vê como guerras de gabinete do antigo regime. Na expansão das
fronteiras da Prússia durante o século XVIII. Hegel não vê nenhuma
vantagem para a Alemanha. Obviamente, a Prússia expandiu o escopo de
seu domínio e fortaleceu seu poder, mas tudo isso foi contra os interesses da
Alemanha. E em outros lugares ele fala com grande desprezo por uma
burocracia que reina suprema no estado prussiano(7). Em seu ensaio sobre a
constituição, ele fala um pouco mais amistosamente sobre a Áustria do que
sobre a Prússia. Em particular, Hegel pode ver alguma simpatia pelas
tentativas empreendidas por José II para introduzir reformas. No entanto,
considerando a Alemanha como um todo, Hegel coloca a Áustria e a Prússia
no mesmo nível(8). A partir disso, não é difícil ver o que a hipótese
"espirituosa" de Rosenzweig representa de um ponto de vista histórico.
330
forte defensor da União da República da Reno e permaneceu assim até a
queda de Napoleão. Vimos também que Hegel, em 1803, em sua polêmica
contra o Eforato fichteano, falou com aprovação do golpe de estado
realizado por Napoleão. Não nos enganaríamos se disséssemos que essa
linha pode ser vista em suas primeiras manifestações já nos argumentos de
1801. No entanto, não podemos dizer isso com absoluta certeza, porque nos
fragmentos relacionados à filosofia da religião e da história (eles foram
publicados por Rosencrantz e mas com toda a probabilidade continham esta
preocupação(9).
332
principalmente retratado pela escola de Maineke. Hegel retrata Maquiavel
como o ideólogo desesperado da Itália, tendo perdido sua unidade e
exigindo sua restauração, como um revolucionário nacional que,
independentemente dos meios utilizados por ele, sempre procurou alcançar
esse grande objetivo. Nesse sentido, Hegel, em poucas palavras, lida
criticamente com o trabalho de Frederico II da Prússia, dirigido contra
Maquiavel, e o chama de "exercício escolar", cujo vazio já foi revelado pelos
atos hipócritas do próprio Frederico(14).
A rejeição da democracia por Hegel não é nova para nós. Além disso, a
própria ideia de que a democracia era uma forma adequada de governo
para estados antigos da cidade e que não se encaixa nos grandes estados
modernos não é nova para Hegel, nem por si só. Essa é a ideia geral do
Iluminismo francês. A determinação do pensamento de Hegel nesse assunto
é importante para nós, pois reflete a filosofia da história que já havia surgido
em Frankfurt e mais desenvolvida em Iena, segundo a qual a antiguidade
era um estádio completamente passado do desenvolvimento da humanidade
e, portanto, deixou de ser um modelo para nós em organizações do estado e
da sociedade. No entanto, consideraremos essa questão com mais detalhes
abaixo.
Quanto à imagem de Teseu, não devemos nos deixar enganar por causa do
extremamente geral e, em alguns lugares, simplesmente obscurecer o
raciocínio de Hegel. Obviamente, para Hegel, o "indivíduo histórico do
mundo" sempre cumpre apenas os ditames do espírito do mundo. No
entanto, como veremos em breve, Hegel sempre fala sobre o domínio do
princípio da necessidade histórica, e Teseu é sempre apenas uma
ferramenta, um instrumento da história mundial para a implementação das
mudanças que são especificamente necessárias no momento. O oposto, que
Hegel estabelece aqui entre Teseu e as massas de pessoas, é o oposto do
"indivíduo histórico mundial", que percebeu a necessidade de uma mudança
geral após a Revolução Francesa, para o povo inerte e atrasado da
Alemanha, ainda adormecido em sua insignificância feudal e pequeno-
burguesa e também defendendo sua própria insignificância, como uma
"peculiaridade e originalidade das pessoas", de qualquer abalo. Quando
Hegel fala da "ingratidão" que atingiu pessoas tão grandes como Richelieu,
isso é expresso, talvez um pouco mais sombrio e não inteiramente
verdadeiro; o significado do que foi dito pode, no entanto, ser expresso com
muita clareza: Richelieu odiava mortalmente a nobreza feudal da França,
cujo poder independente ele destruiu. Hegel corrige claramente esse fato,
correlacionando-o com o estado das coisas na Alemanha. Eu observei isso
corretamente, mas a forma de sua apresentação pode ser enganosa, porque
a nobreza francesa não tinha motivos para agradecer a Richelieu e, portanto,
seu ódio por Richelieu não poderia ter o caráter de alguma ingratidão.
335
Todos se reúnem sob sua bandeira; ele é o deus deles. Então Teseu fundou
o estado ateniense; assim, na Revolução Francesa [o estado] terrível poder
foi recebido, um todo em geral. Essa força não despotismo, mas tirania, pura
e terrível dominação. Mas é necessário e justo, desde que constitua e
preserve o estado como esse indivíduo real. Esse estado é um espírito
absoluto simples que se conhece e para o qual nada tem poder, exceto ele
mesmo — o conceito de bom e ruim, vergonhoso e vil, de mentira e engano,
não tem força"(20).
Em suas discussões sobre esse assunto diretamente, Hegel diz que essa
tirania é necessária para acostumar o povo à "obediência" em relação às
novas instituições estatais. No entanto, não se deve apegar-se ao termo
"obediência". Obviamente, o raciocínio de Hegel também contém tendências
antidemocráticas. No entanto, a direção principal desse raciocínio procede
de um entendimento historicamente correto do fato de que não apenas as
instituições obsoletas (feudalismo) devem ser derrotadas, mas também o
poder tirânico é necessário para impedir completamente todas as tentativas
de restaurá-las. Hegel considera ainda a tirania como um período necessário
de transição entre dois sistemas sociais e políticos. "A tirania é derrubada
pelos povos, pois é repugnante, vil, etc., mas, na realidade, apenas porque é
redundante. A memória do tirano é desprezada; ele aparece na memória do
povo precisamente como um espírito que conhece a si próprio, que, como
um deus, age apenas em si mesmo e por si mesmo e já está pronto para
enfrentar apenas a ingratidão do seu povo. Se ele fosse sábio, ele próprio
teria abolido sua tirania, uma vez que é supérflua. Mas, como ele não faz
isso, sua divindade é apenas a divindade do animal, uma necessidade cega
que merece ser odiada precisamente como má. Robespierre fez exatamente
isso neste caso. Sua força o deixou, porque a necessidade o deixou e,
portanto, ele foi derrubado à força. A necessidade é cumprida, mas cada
parte da necessidade é geralmente distribuída entre os indivíduos. Um é o
promotor e o advogado de defesa, o outro é o juiz, o terceiro é o carrasco;
mas todos são necessários”. A memória do tirano é desprezada; ele aparece
na memória do povo precisamente como um espírito que conhece a si
próprio, que, como um deus, age apenas em si mesmo e por si mesmo e já
está pronto para enfrentar apenas a ingratidão do seu povo. Se ele fosse
sábio, ele próprio teria abolido sua tirania, uma vez que é supérflua. Mas,
como ele não faz isso, sua divindade é apenas a divindade do animal, uma
necessidade cega que merece ser odiada precisamente como má. Um é o
promotor e o advogado de defesa, o outro é o juiz, o terceiro é o carrasco;
mas todos são necessários“(21).
337
Para a nobreza, ele a rejeita. Em outro lugar onde ele apenas compara toda
a população com o monarca, ele escreve: "Outro indivíduo é significativo
apenas como uma pessoa distante e educada, como o que ele próprio
fez"(25).
Como pensador com uma compreensão tão ampla e livre da história, Hegel
estava quase sozinho na época — e não apenas na Alemanha. Seu método
de análise de processos e conexões básicas, livres de moralização, simpatias
e antipatias, lembra Balzac, que também interpretou a história francesa da
época da eliminação do feudalismo até a Revolução de fevereiro como um
processo único e cheio de crises. Isso é claramente afirmado por Balzac em
um de seus fantásticos diálogos espirituosos, onde o espírito de Catherine de
Médici se opõe ao jovem advogado Robespierre, e o ponto principal do
diálogo é que seus participantes lutam pelo mesmo objetivo, a unidade da
nação francesa. No entanto, Catherine falhará onde Robespierre aguarda
sorte. Mas esta nação deve falhar precisamente por causa do que alcançou.
E o aluno de Hegel, poeta Heinrich Heine, é claro, concorda(26).
338
No centro do novo entendimento da história de Hegel não está apenas o
conhecimento das características específicas do novo tempo, que em
Frankfurt ele entende não apenas como características da decomposição.
Agora, o conceito de Hegel baseia-se, pelo contrário, em entender toda a
história como um processo integral e, consequentemente, a queda das
antigas repúblicas da cidade aparece não apenas como uma necessidade —
ficou claro para ele já em Berna — mas fica claro que essa queda deu
origem a uma certa ordem superior princípio social.
339
resultado da atividade humana, que seu surgimento e desaparecimento,
crescimento e estagnação estão em contínua interação com a atividade
humana; esses lados "positivos" já não parecem mais dados a Hegel ao
homem, "destino" objetivo pré-existente, inexorável e objetivo.
340
Essa tristeza sobre a era passada da antiguidade é o leitmotiv da poesia do
amigo da juventude de Hegel, Holderlin, a mesma tristeza dá uma beleza
inesgotável aos grandes poemas filosóficos de Schiller. Mas Schiller não é
mais um prisioneiro dessa tristeza, ela não o impede; no campo da estética,
ele passa a entender as características específicas e características do mundo
moderno e reflete isso em sua poesia, é claro, em uma ampla base cultural e
filosófica. Hegel também segue o mesmo caminho, apenas de forma muito
mais decisiva e fundamental.
341
que cochilam nela sejam reveladas. E o desejo simultâneo pela perda dessa
beleza, que se baseava no imediatismo naturalmente predominante da vida
antiga, reflete cada vez mais a crença dialética de Hegel de que a
humanidade pagou um preço muito caro por esse progresso.
Como para a sociedade burguesa moderna de Hegel era o estádio mais alto
do desenvolvimento humano, e como ele não via e não via além de seu
nível superior, o conhecimento dialético de Hegel seria inevitavelmente
acompanhado de um desejo irrevogavelmente passado. A grandeza de
Hegel como pensador é que ele preserva os dois lados da contradição aqui,
sem se importar nem um pouco com o fato de ele próprio cair em
contradição. (Essas contradições estão parcialmente ligadas a certas ilusões
do período napoleônico em relação à antiguidade.) Portanto, quando os
primeiros críticos liberais de Hegel, como Haym, o repreendem pelo pedido
de desculpas da antiguidade, por não reconhecer a sociedade burguesa
moderna, na verdade o acusam de que ele não se tornou o Bentham
alemão.
342
espírito mais profundo. na moralidade; todo mundo tem razão, diretamente
um com o universal. Não há protesto aqui, todo mundo se conhece
diretamente como universal, depois renuncia a sua própria peculiaridade,
sem perceber como tal, como esse eu, como entidade. portanto, esse é
totalmente retornado. em si mesmo, conhece a si mesmo, como tal, como
essência, procura obstinadamente, separado da existência do universal, ser
absoluto, controlar diretamente seu absoluto. Ele, como um [indivíduo]
separado, deixa o universal; ele tem total independência em si mesmo,
renuncia a sua realidade, significativo apenas para si mesmo em seu
conhecimento"(30).
343
dialética e, por outro lado, a questão de como a compreensão insuficiente
das contradições do capitalismo levou Hegel à falsa inconsistência e qual é a
relação entre o entendimento hegeliano da economia política e as limitações
de sua dialética idealista.
continua>>>
Incio da pgina
Notas de rodap:
(7) Ibid., p. 31, 91, 93. Como se sabe, a atitude de Hegel em relação à
Prússia é mantida nele até a queda de Napoleão. Isso é evidente em suas
cartas dos períodos de Bamberg e Nuremberg. Em ligação com a mudança
que levou Hegel à reconciliação com a Restauração após a queda de
Napoleão, a mudança que ocorreu não sem crise e levou a um estado de
decepção no futuro também modifica a atitude de Hegel em relação à
Prússia. No entanto, o estudo de seu desenvolvimento nesse sentido está
além do escopo deste trabalho. (retornar ao texto)
344
(14) Loc. cit. p. 154. (retornar ao texto)
345
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
346
observações dos clássicos do marxismo-leninismo relacionadas a esse
assunto não foram usadas.
Kant, que em certa medida pensa de maneira mais ampla e flexível que
Fichte, em sua aplicação de princípios abstratos não vai além da sociedade e
da história. Kant estava familiarizado com os escritos de Smith e, graças a
eles, tinha certa ideia da sociedade burguesa moderna. No entanto, quando
ele aplica esse conhecimento no campo da filosofia social, ele chega apenas
a contrastes completamente abstratos. Vemos isso em seu interessante
347
trabalho "A ideia da história do mundo no plano civil mundial", no qual ele
filosoficamente explora os princípios do progresso no desenvolvimento
social. Aqui ele chega à conclusão de que a natureza forneceu ao homem o
antagonismo da "sociabilidade hostil", que age de tal maneira que, vencendo
e passando por várias paixões, a humanidade luta pelo progresso. "O
homem quer concordar, mas a natureza sabe melhor o que é bom para sua
espécie; e ela quer contenda"(2). A influência dos pensadores ingleses em
Kant é claramente traçada aqui; mas isso apenas levou a uma afirmação
mais abstrata dos problemas sem enriquecer seu conteúdo filosófico. Toda a
sua conclusão nada mais é do que o "mau infinito" do progresso sem fim.
348
Essa aspiração diz respeito aos princípios definidores e finais da
sistematização filosófica. Kant, por um lado, deu um passo significativo na
compreensão do "lado ativo" da filosofia; por outro, foi por essa razão que
ele dividiu a filosofia em duas partes, dividindo-a em teórica e prática, muito
fracamente ligadas.
Foi Hegel quem fez essa mudança durante esse período. O ponto de partida
foi o desenvolvimento econômico, social e filosófico do conceito de trabalho
de A. Smith. A seguir, mostramos com mais detalhes que Hegel não teve
sucesso e, de acordo com suas suposições filosóficas iniciais, esse turno não
pôde ser realizado sequencialmente e até o fim. Aqui observamos que ele
começou a resolver esse problema com plena consciência de seu significado
para todo o sistema.
349
conceito, ele pretende enfrentar os problemas mais complexos e amplos da
sociedade, a divisão social do trabalho etc., e que ele, na totalidade de
atividades desses seres humanos vê sua especificidade.
350
que comecemos com uma apresentação desse conceito e só então
procedamos à sua crítica.
Nas palestras de 1805/06, ambos os lados dessa questão são expressos com
muito mais clareza: tanto o substantivo (a relação de uma pessoa com o
sujeito do trabalho no processo de trabalho) quanto o formal (dialética das
formas de inferência como a dialética da própria realidade), Hegel diz aqui:
"Definição de um objeto. Um objeto é, portanto, um conteúdo, a diferença,
a saber, o conteúdo (uno) da conclusão, unidade e universalidade e seu
meio (termo médio), mas: a) [o sujeito é] um sujeito real e imediato; seu
meio (termo médio) é coisa, universalidade morta, não-ser e b) sua extremo
(pressupostos) são uma característica, certeza e individualidade. Por ser
diferente, sua atividade é a atividade do Eu; não possui uma; esse extremo
(termo) fica fora dela. Como materialidade, é passividade, a mensagem
dessa atividade, mas como algo fluido tem em si, mas como estranhado. Seu
outro extremo (termo) é o oposto (característica) de seu ser e atividade. Ele é
passivo; é para outro, afeta (isto) diferente, geralmente há (ácido) algo que
se decompõe. Este é o seu ser, mas ao mesmo tempo uma imagem ativa
(Gestalt) em relação a ele, uma mensagem de outro. Atitude invertida: por
um lado, a atividade é apenas algo comunicado, mas (por outro) é uma
mensagem que percebe puramente (o começo); por outro, é ativa em
relação ao outro. mensagem de outro. Atitude invertida: por um lado, a
atividade é apenas algo comunicado, mas (por outro) é uma mensagem que
percebe puramente (o começo); por outro, é ativa em relação ao outro.
351
O movimento dialético que Hegel procura mostrar aqui é duplo: o objeto do
trabalho, que de fato se torna um objeto real para o homem apenas no
processo de trabalho e através do trabalho, preserva, por um lado, o caráter
que ele possuía. Um dos pontos mais importantes da dialética no conceito
hegeliano de trabalho é que é aqui que o princípio ativo (no idealismo
alemão - pensamento, conceito) deve aprender a levar em conta a realidade
do que é. Leis naturais imutáveis operam no trabalho, e somente com base
em seu conhecimento e reconhecimento, o trabalho pode ocorrer e ser
proveitoso. Por outro lado, através do trabalho, o objeto se torna; para os
outros. Segundo a terminologia hegeliana, a forma de sua objetividade é
destruída e, graças ao trabalho, adquire uma nova. Essa mudança de forma
é o resultado do trabalho em materiais estranhos a ele e de ter suas próprias
leis. Ao mesmo tempo, essa mudança de forma só pode ocorrer quando
corresponder às leis imanentes do próprio sujeito.
352
torna um objeto como uma pluralidade reforçada, como uma ordem. A
ansiedade se torna ordem precisamente porque se torna um objeto"(8).
353
mestre em um episódio sem esperança no desenvolvimento do espírito,
enquanto os momentos frutíferos do desenvolvimento da humanidade estão
associados à consciência de um escravo. "... A verdade da consciência
independente é a consciência servil ... Graças ao trabalho, ela vem a si
mesma. No momento correspondente à luxúria na mente do senhor,
servindo à consciência, parecia-lhe que ele tinha, no entanto, o lado de um
relacionamento insignificante com a coisa, pois uma coisa preserva (behalt)
nisto a sua independência a luxúria conservou para si (hat sich vorbehalten)
a pura negação do objeto e, como resultado, um sentimento de eu sem
paralelo. Mas, portanto, essa satisfação em si é apenas um desaparecimento,
pois ele não tem o lado objetivo ou a existência sustentável. Por outro lado,
o trabalho de parto é inibição da luxúria, desaparecimento tardio
(aufgehalte-nes), ou seja, se forma. Uma atitude negativa em relação a um
objeto se torna sua forma e algo permanente, porque é para a pessoa que
trabalha que o objeto tem independência. Esse termo médio negativo ou
ação formativa é ao mesmo tempo uma singularidade ou um puro-ser-por-si
da consciência, que agora no trabalho direcionado para o exterior entra no
elemento de constância; a consciência ativa, portanto, vem para a
contemplação do ser independente como si mesmo”(11).
354
Hegel exclusivamente a partir da dialética fenomenológica da consciência
escrava.
356
economistas românticos, como algo que pode ser melhorado ou eliminado
pela conquista de um capitalismo "ausente". Pelo contrário, Hegel vê
claramente nas palestras de 1805/06. Hegel também fala de um movimento
em direção à universalidade, resultante da divisão do trabalho, da
introdução de ferramentas e máquinas. Ele primeiro mostra o processo
dialético: como na sociedade a ingenuidade de um indivíduo leva a um
aumento no nível geral, a um maior grau de desenvolvimento da
universalidade do trabalho: "Comparado à mestria universal, o indivíduo se
considera especial, separado do universal e mais qualificado do que outros,
inventa ferramentas mais adequadas; no entanto, o que é verdadeiramente
universal em sua habilidade é encontrar o Erfindung do universal; e outros o
estudam, removem sua peculiaridade e tornam-se universais Tatus". Assim,
em um instrumento, a atividade de uma pessoa se torna algo universal e
formal, no entanto, "sua atividade permanece". Uma mudança qualitativa
ocorre apenas com o advento das máquinas. Agora Hegel descreve o efeito
da máquina no trabalho humano: "Na máquina, uma pessoa remove sua
atividade formal e dá-lhe completamente a oportunidade de trabalhar por
conta própria. No entanto, esse engano em relação à natureza, contra o qual
se opõe, se volta contra si mesmo. Quanto mais ganha subjugando a
natureza a si mesmo, mais insignificante ele se torna: forçando a natureza a
trabalhar através de várias máquinas, ele não elimina a necessidade de seu
próprio trabalho, mas apenas como se adiasse seu trabalho, o alienasse da
natureza mais sobre ele como uma vida selvagem ao vivo, e evita a vida
negativa, e trabalho, que continua a sua quota, é uma máquina, ele reduz o
trabalho apenas para o todo, mas não para o indivíduo, pelo contrário,
aumenta-lo, como”(14).
357
Isso fica especialmente claro quando Hegel deduz a inevitabilidade do
empobrecimento das massas trabalhadoras da divisão social do trabalho sob
o capitalismo. Hegel expôs a base econômica desse processo na parte final
da citação que já citamos. Nas palestras de 1805/06 ele mostra o processo
de trabalho mais claramente. "Mas devido à abstração do trabalho [ele] ao
mesmo tempo [se torna] mais mecânico, sem graça, sem espírito. Espiritual,
essa vida autoconsciente realizada se torna vazia. O poder do eu repousa na
amplitude da cobertura, e o último está perdido. Pode passar alguns tipos de
trabalho para a máquina". “Quanto mais formal seu próprio trabalho se
torna, seu trabalho estúpido o limita a um ponto, e o trabalho é ainda mais
perfeito, pois ele é unilateral (...) Igualmente imutável é a luta para
simplificar o trabalho, inventar novas máquinas, etc. - a habilidade de um
[indivíduo] separado é a possibilidade de preservar sua existência. Este
último está inteiramente sujeito ao jogo do acaso como um todo.
Consequentemente, muitas pessoas são sentenciadas ao trabalho
absolutamente estúpido, insalubre e desprotegida - trabalha em fábricas,
fábricas, minas, o que limita a habilidade e as indústrias que mantinham
uma grande classe de pessoas de repente secam devido à moda ou
barateamento, graças a invenções de outras pessoas. etc., para que toda
essa multidão caia na pobreza, não podendo evitá-la”(15). Em outro lugar,
Hegel brevemente, quase como um epigrama, formula claramente sua
observação: "Fábricas, fábricas baseiam sua existência precisamente na
pobreza de uma classe”(16).
358
Essa mistura de compreensão profunda e verdadeira da natureza
contraditória do desenvolvimento capitalista e a ilusão ingênua da
possibilidade de oposição estatal e pública a partir de agora caracterizarão
todo o desenvolvimento de Hegel. Em A Filosofia do Direito, Hegel formula
as disposições que já citamos em um nível de abstração ainda mais alto. E
aqui suas ilusões mantêm o mesmo caráter, só agora, com base nos fatos da
emigração e da colonização, ele procura encontrar uma maneira possível de
preservar o desenvolvimento saudável da sociedade capitalista. Aqui ele
escreve: “Com a riqueza excessiva, a sociedade civil não é rica o suficiente,
ou seja, não possui riqueza suficiente para lidar com o excesso de pobreza e
o surgimento de uma multidão”(18).
359
Essa vida auto-móvel em Hegel aparece como uma nova forma de
positividade, alienação (Entäußerung). O trabalho não apenas torna uma
pessoa uma pessoa, não é apenas a causa do surgimento de uma sociedade
com sua diversidade ilimitada e um sistema único, mas também transforma
o mundo do homem que se tornou "externo" para ele, em um mundo
"alienado". É aqui que, quando temos a oportunidade de considerar o
conceito hegeliano de alienação no material original, nas relações
econômicas, a natureza dupla da alienação (Entäußerung) é especialmente
visível. Enquanto o antigo conceito de positividade enfatizava unilateral e
rigidamente o lado morto e alienígena dessas relações, na convicção de
Alienação (Entäußerung) Hegel se expressa que o mundo da economia, que
domina o homem, no poder do qual um indivíduo é abandonado, em
essência é ao mesmo tempo um produto da própria pessoa. Nesta dupla
face reside o pensamento profundo e fecundo da alienação (Entäußerung).
Graças a essa dualidade, o conceito hegeliano poderia se tornar a base e o
foco da forma mais alta de dialética no desenvolvimento do pensamento
burguês.
361
condições econômicas, toma o comércio e o comerciante como figuras
centrais do desenvolvimento capitalista. Mesmo onde Hegel fala muito
corretamente sobre a concentração de capital, onde entende sua
necessidade absoluta de um sistema capitalista, ainda lhe parece ser uma
concentração de capital comercial. "A riqueza, como qualquer massa, torna-
se poder. O acúmulo de riqueza ocorre em parte por acaso, em parte de
maneira universal, por distribuição. [Riqueza] é um ponto de atração que
reúne em torno de si tudo o que cai em seu campo de ação”(22). Este lugar é
dado por quase todos. Contudo, dos outros julgamentos de Hegel,
especialmente daqueles examinados abaixo, de suas declarações sobre a
estrutura de classes sociais da sociedade, segue-se claramente que, quando
ele fala sobre concentração e grande capital, Hegel constantemente significa
negociar capital. Assim, por exemplo, no "Sistema de Moralidade", ele
chama o estado comercial de "o momento mais alto da universalidade"(23) na
vida econômica. Esses julgamentos dificilmente surpreenderão ninguém se
lembrarmos que, na Alemanha, na época, o maior ramo da indústria, a
indústria de tecelagem, era organizado principalmente de acordo com o
sistema de hipotecas.
362
examinaremos com mais detalhes abaixo, não impedem Hegel de seguir
seriamente todos os dialetos da dialética objetiva e subjetiva, universal e
especial. Com isso, ele confere às categorias econômicas uma mobilidade
dialética, que entre os clássicos da ciência econômica estava presente apenas
objetivamente ou, usando a terminologia de Hegel, apenas "em si", mas não
"para nós". Somente no engenhoso artigo dos jovens Engels nos “Anuários
Alemão-Francês” a construção dialética e a conexão dialética das categorias
econômicas reaparecem - após 40 anos; é claro, agora economicamente e
filosoficamente em um nível de entendimento completamente diferente.
Hegel, por exemplo, analisa a troca e diz o seguinte: “Um conceito como
auto-móvel, destruindo-se pelo seu oposto, aceitando outro, oposto ao invés
do anterior, e além disso, determina que o anterior seja ideal, e o que chega
agora é real ... aqueles ideais que, de acordo com sua natureza, são os
primeiros e ideais na prática antes do uso, a mistura entre si é dupla ou até
uma simples repetição de si mesmos. Para um objeto universal, excesso e,
em seguida, também especial no consumo são pelo lado material do objeto,
mas as duas formas são, inevitavelmente, a sua repetição, no entanto, o
conceito é a própria essência da transformação ... e sua absoluta -. a
identidade do contrário ...”
(1) Marx, K, Engels, F. Obras 2ª ed. Tomo 42, p. 159. (retornar ao texto)
364
(10) Hegel, Composições, Tomo IV, p. 103. (retornar ao texto)
365
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Antes de prosseguir com uma análise mais detalhada das visões econômicas
de Hegel, devemos considerar um problema de significado especial que
desempenhou não apenas um papel decisivo na filosofia clássica alemã, mas
também relacionado àqueles momentos em que, como Lenin mostrou,
Hegel se tornou o precursor materialismo histórico. Observamos também
que, ao considerar esta questão para a história da filosofia, é especialmente
importante que a formulação nova e proveitosa da questão de Hegel não
tenha surgido acidentalmente de seus estudos sobre os problemas da
economia moderna.
366
Na filosofia dos tempos modernos, o problema do propósito permaneceu
completamente inexplicável. O idealismo filosófico, que era desconhecido da
natureza humana da definição de objetivos, projetou o objetivo na natureza
e procurou o "portador" do estabelecimento de metas - e o encontrou em
Deus. Foi Deus quem criou o mundo, e era aconselhável, direto ou indireto,
cuidar de que os objetivos estabelecidos por ele fossem realizados tanto na
natureza como na sociedade. Engels zombou justificadamente de tais
afirmações da pergunta: "O pensamento generalista mais alto, para o qual
surgiram as ciências naturais do período em questão (até o século XVIII - G.
L.), esta é a ideia da conveniência das ordens estabelecidas na natureza, a
teleologia vulgar de Wolf, segundo a qual os gatos foram criados para
devorar ratos, os ratos a serem devorados por gatos e toda a natureza para
provar a sabedoria do criador. Deve ser reconhecido como o maior mérito
da filosofia da época, que, apesar das limitações do conhecimento moderno
em ciências naturais, não se confundiu que, de Spinoza aos grandes
materialistas franceses, tentou persistentemente explicar o mundo por si
mesmo, fornecendo uma justificativa detalhada para essa ciência natural do
futuro"(3).
367
causa como uma ação e vice-versa; além disso, o que precede por natureza,
torna subsequente (...)"(5).
371
esse objetivo interno é uma definição ideológica. E o mesmo é a essência de
Lamarck. "(11).
A partir deste resumo, deve ficar claro para o leitor que as ideias antigas e
bem estabelecidas sobre o oposto de causalidade e teleologia entraram em
movimento já no estágio pré-hegeliano de desenvolvimento do idealismo
clássico alemão. Agora, quando começamos a considerar a formulação
especificamente hegeliana da questão, não devemos perder de vista a
atmosfera geral do desenvolvimento do pensamento dialético e levá-la em
consideração. A nova formulação de teleologia de Hegel surge em relação
com o problema do trabalho. E é precisamente aí que Hegel começa a falar
sobre o uso de ferramentas pelo homem. Declaremos os pensamentos
hegelianos em sua forma mais madura a partir das palestras de 1805/06.
372
arados. Não faça reverência diante dele (essa) é uma sensibilidade miserável
que se apega a uma única“(13).
373
É bastante óbvio que Hegel, filosoficamente, foi muito à frente em
comparação com seus antecessores. Ele deu o primeiro passo em direção a
um entendimento filosófico do real relacionamento e interação entre homem
e natureza. Kant e Fichte têm o dualismo abstrato nesta questão:
consideravam a natureza um campo passivo de atividade ou simplesmente
algo limitante da atividade humana. Por esse motivo, a própria atividade -
como Hegel falou uma vez de Fichte - se transforma nas "alturas puras e
nojentas" da moralidade abstrata. Nada poderia sair disso senão o "mau
infinito", o progresso sem fim.
Hegel, é claro, não argumenta contra o fato de que, para essa consciência
direta, o objetivo realmente está acima dos meios. Do ponto de vista da
espontaneidade, cada pessoa naturalmente quer satisfazer suas necessidades
e, portanto, cada tipo de trabalho, cada ferramenta parece, para a
consciência direta do homem, apenas um meio de atingir seu objetivo.
Hegel, no entanto, revela uma dialética objetiva específica do processo de
trabalho, que necessariamente vai além do ponto de vista da consciência
direta. E é exatamente isso que vai além que significa progresso. Já citamos
a afirmação de Hegel em outra conexão: "A atração sempre tem que
começar tudo de novo", e pudemos ver em sua filosofia da história que a
principal estrada do desenvolvimento humano (Hegel tem a história da
emergência do espírito) passa pelo trabalho de um "escravo", enquanto que
a dialética hegeliana do trabalho também mostra qual é a necessidade de
um princípio social mais geral e mais geral ser incorporado no trabalho e nas
ferramentas do trabalho.
375
pessoa, mas também para o desenvolvimento de toda a humanidade. Como
esse processo se reproduz continuamente, isso não é um tipo de tédio,
progresso sem fim, mas a auto-reprodução contínua da sociedade humana,
embora desigual, mas em uma escala cada vez maior. Portanto, Hegel pode
justificadamente dizer que um instrumento, meios é superior ao objetivo
para o qual eles são usados, maior que luxúria do que atração, visando
satisfazer necessidades.
376
Lenin faz as seguintes observações marginais sobre esses argumentos de
Hegel: "O começo do materialismo histórico de Hegel". "Hegel e
materialismo histórico." E diretamente a esse lugar que citamos, ele
acrescenta a seguinte observação: "O MATERIALISMO HISTÓRICO COMO
UMA DAS APLICAÇÕES E DESENVOLVIMENTO DE IDEIAS GÊNIAIS -
GRÃOS NO IDEALISMO ALEMÃO, DISPONÍVEIS EM HEGEL"(17).
Dialética materialista
Hegel
378
"primazia da razão prática" de Kant-Fichte, seu oposto. Hegel escreve que
essa falha também pode ser explicada de tal maneira que a ideia prática
carece de um momento de uma ideia teórica."(20) (...) A epistemologia
conhece a si mesma apenas como percepção, como uma identidade
indefinida de um conceito consigo mesma; preencher, isto é, certa
objetividade em si e por si mesma, é algo dado a uma ideia teórica, e o
dinheiro é reconhecido como verdadeiro existente, independentemente de
crenças subjetivas, a realidade. Pelo contrário, para uma ideia prática, essa
realidade, que ao mesmo tempo o confronta como um limite intransponível,
tem o valor de algo em si insignificante, que deve receber sua verdadeira
definição e valor único através dos objetivos do bem. A vontade, portanto,
se opõe à consecução de seu objetivo pelo fato de que a vontade se separa
do conhecimento e que a realidade externa não preserva para ele a forma
do verdadeiro existente], portanto, a ideia do bem pode encontrar seu
complemento apenas na ideia da verdade"(21).
379
relação entre Hegel e Marx aqui considerada. Ele disse: “Tudo isso está no
capítulo“ A ideia do conhecimento ”(capítulo II) - na passagem para a “ideia
absoluta” (capítulo III) - isto é, Hegel, sem dúvida, enxerga a prática como
um elo na análise do processo epistemológico e como uma passagem para a
verdade objetiva "absoluta", segundo Hegel). Marx, portanto, se une
diretamente a Hegel, introduzindo o critério da prática na teoria do
conhecimento: ver teses sobre Feuerbach”(24).
380
Falando sobre a questão de como o mundo se reflete no espelho da
ciência(25).
O termo "astúcia" tem uma longa história com Hegel, o que nos leva aos
anos que passou em Iena. Lembremos, pelo menos, que Hegel, ao analisar
um conceito metodologicamente importante como "instrumento", já usava
essa expressão para expressar em um conceito filosófico a atitude de uma
pessoa que trabalha com a natureza. Agora, Hegel aplica o mesmo conceito
de "astúcia" ao estado e ao governo, ao indivíduo e, especialmente, à
totalidade das relações econômicas das pessoas. No próximo capítulo,
veremos como este parágrafo revela as limitações do conceito hegeliano de
economia, suas ilusões idealistas sobre o estado, ilusões que - como veremos
em breve - estão intimamente ligadas às ilusões napoleônicas gerais
382
são desenvolvidas e generalizadas por representantes proeminentes do
Iluminismo francês (é claro, como Marx já demonstrou, em uma direção
idealista e ilusória). A economia política de Adam Smith estabelece as bases
de todas essas teorias e mostra sobriamente os fatos reais e suas conexões
reais, demonstrando assim que o conceito hegeliano de história atua como
herdeiro de toda essa linha de desenvolvimento.
O quão perto Hegel está de nós mostra, por exemplo, a seguinte passagem
das palestras de 1805/06: "A realidade, é claro, parece muito longe do ideal,
pois o observador adere ao imediato - necessário. O estado deve poder
sofrer deboches, uma queda (...), deboche, depravação de "indivíduos"
singulares, o estado é uma astúcia". Em outros lugares, falando de maneira
mais geral sobre o mesmo assunto, ele escreve: "O truque do governo é
permitir que outras pessoas ajam em seu próprio benefício - certo, a mente
do comerciante sabe que a principal coisa neste mundo é o benefício -
transformar esse benefício [em seu próprio país] e fazê-lo, para que ela volte
aqui"(28).
Aqui, junto com a teoria geral de Hegel da relação entre o estado burguês e
a sociedade, também é digno de nota que ele compara essa atividade com
as atividades do comerciante na própria sociedade e tenta comparar e
equiparar o "truque" do governo à compreensão econômica geral do truque.
Essa direção do pensamento de Hegel é ainda mais claramente expressa em
outra observação à margem do mesmo trabalho: “Não é a artificialidade da
violência legislativa etc., a pessoa que é a mais alta.
383
de um tirano na história, na questão da necessidade de sua aparência e do
desaparecimento igualmente necessário.
384
fato de ele mistificar o processo histórico como um todo, deixando-o
portador consciente, "espírito". Contudo, dentro desses limites do
pensamento hegeliano, Hegel considera sóbria e dialeticamente a conexão
entre a personalidade histórica mundial e o curso da própria história; por
outro lado, quão energicamente ele subordina o papel de uma
personalidade marcante na história à realização dessa tarefa objetiva que é
apresentada à sociedade pelas condições objetivas de seu próprio
desenvolvimento. Da mesma forma, é claramente visto que Hegel reconhece
claramente o papel do acaso na escolha daquelas pessoas capazes de
resolver importantes problemas políticos e artísticos históricos do mundo.
385
a verdade, estender suas visões filosóficas geralmente corretas sobre a
relação entre necessidade e oportunidade em todo o curso da história. Hegel
possuía conhecimento universal suficiente e um olhar sóbrio e imparcial o
suficiente para ver os opostos de classe na sociedade em casos individuais
(podemos lembrar seu raciocínio sobre o surgimento de (fábricas e pobreza).
No entanto, sua concepção geral de sociedade e história é adaptada para
que ele não conseguia ver o papel determinante dos opostos de classe, sem
mencionar o fato de que ele, é claro, não era capaz de tirar conclusões
metodológicas das leis de movimento desses opostos.
386
lado, polemiza com a utopia kantiana sobre a paz eterna. Por outro lado, ele
está longe de abordar apenas a descrição de partes em guerra individuais.
Ele entende claramente a relatividade da guerra ofensiva e defensiva em um
sentido pragmático. Cada lado afirma que está apenas se defendendo e que
o outro lado o atacou. Portanto, nesse nível, o problema não pode ser
resolvido de forma alguma. Em um ensaio sobre a constituição, Hegel
escreve: "Cada lado se refere ao seu direito e acusa o outro de violá-lo (...).
A sociedade é dividida em partidários disso e partidários do outro, cada
partido insiste que o direito está do seu lado; e ambas as partes estão certas,
pois os próprios direitos estão se enfrentando"(34).
Hegel faz uma conclusão lógica de que as guerras entre estados são
diretamente uma luta pelo domínio e, ao mesmo tempo, Deus, o espírito do
mundo, está à frente de exércitos mais poderosos. Esse realismo sóbrio de
Hegel, no entendimento de fatos históricos, está sendo usado atualmente
pelos ideólogos do imperialismo para transformar Hegel em um advogado
sem princípios de uma "política de poder" como Treychke (Mineke, Heller,
etc.). Esses senhores não percebem, no entanto, duas "pequenas coisas". Em
primeiro lugar, que Hegel, apesar de ainda não conhecer o fator da luta de
classes, o poder de um estado não aparece repentinamente, como o trovão
de um céu claro, não é obra das mãos de algum "gênio". Basta recordar a
comparação da França e da Alemanha já mencionada por nós para ver
claramente: para Hegel, a superioridade política-estatal diretamente
emergente era apenas algo mediado; também apontamos como Hegel se
esforçou para revelar essas mediações, aquelas condições sociais objetivas
que estão ocultas por trás desse imediatismo. E quando ele, após a derrota
esmagadora da Prússia na batalha de Jena-Auerstadt (1806), simpatizou
com Napoleão em oposição à Prússia, isso não significava que ele era
admirado pelas forças superiores do imperador francês, mas apenas
significava sua simpatia pela herança social da revolução francesa e desprezo
pela Prússia feudal e podre.
Este exemplo nos leva ao segundo ponto de vista, que devemos enfatizar,
direcionando-o contra a distorção da história de Mineke, Heller e outros.
Esses senhores esqueceram completamente o fato de Hegel ser um ideólogo
de certo período revolucionário - o período de constituição revolucionária
das grandes nações modernas. Hegel corretamente retratou esse processo
como progressivo. Na dialética histórica desse processo, repetidamente
representada sob a forma de grandes guerras, Hegel também viu aquele
estado natural em que o espírito chega ao estágio mais alto de seu
desenvolvimento a partir da dialética direta da correlação de forças. Hegel
viu esse passo mais alto no avanço de um ou outro grande número de
pessoas em direção à constituição na sociedade burguesa moderna. Se
pode, portanto, dizer que a limitação de sua compreensão da história está
no fato de que, por um lado, o horizonte filosófico e histórico de Hegel foi
387
fechado por essa perspectiva, por outro, ele, como veremos abaixo, não
poderia superar as contradições reais da formação da unidade nacional da
Alemanha, e seu sistema de pensamento reflete (segundo Lenin) apenas um
dos extremos das contradições então não resolvidas nesta questão central da
revolução democrática na Alemanha.
Tudo isso, tanto do ponto de vista histórico quanto filosófico, nada tem a ver
com Bismarck, e mais ainda com a "política de poder" do imperialismo
alemão. Mineke, Heller e outros recorrem à mesma falsificação da história
que os vários oportunistas social-imperialistas durante a Primeira Guerra
Mundial. Usando as declarações de Marx e Engels sobre a progressividade
real da luta de libertação nacional dos alemães no início do século XIX. eles
os aplicaram anti-historicamente às condições da primeira guerra imperialista
mundial, a fim de protegê-la como supostamente "justa", "nacional" e apoiá-
la. É claro que Hegel tem ambiguidades, lugares escuros e contradições, e
com uma técnica bem desenvolvida e sofisticada, ela pode ser usada como
desculpa para distorcer a história; Marx e Engels não deram nenhuma razão
para tais distorções. Quanto aos falsificadores da própria história, a própria
maneira pela qual eles invertem os pontos de vista de Marx e Engels mostra
que, para esses falsificadores, eles não precisam de desculpa e precisam
apenas de sua própria intenção de defender o imperialismo.
388
do desenvolvimento da natureza e da história. Nesta tentativa, Schelling, em
um ponto, aborda o entendimento dialético, especulando que algo mais está
acontecendo no processo histórico e mais do que aquilo que as pessoas na
história pretendiam fazer. Schelling fala da "alegada relação de liberdade
com alguma necessidade oculta (...) em virtude da qual, por meio de sua
livre atividade e ao mesmo tempo contra sua própria vontade, elas se
tornam a causa daquilo que não queriam de todo ou por causa do qual,
pelo contrário(35). No entanto, essas verdadeiras conjecturas não poderiam se
transformar em Schelling em um entendimento real. A necessidade de que
Schelling fala aqui se opõe fortemente a eles como liberdade "inconsciente",
como algo consciente. Por outro lado, essa rigidez vai tão longe quanto
Schelling, partindo do pressuposto de que o "inconsciente" é o princípio da
objetividade histórica, conclui: "Portanto, é completamente impossível
produzir algo objetivo conscientemente ...”(36). Por essa justaposição de
liberdade e necessidade, consciente e inconsciente, todas as possibilidades
de qualquer dialética particular da prática são removidas; manobrando entre
os princípios abstratos do consciente e do inconsciente, só se pode chegar a
uma dialética mística e aparente.
389
Pelo contrário, encontramos a conexão real entre a filosofia da história de
Hegel e a de Schelling exatamente onde as limitações do pensamento
hegeliano se manifestam. Schelling vê na arte a unidade da liberdade e da
necessidade, a unidade da criatividade consciente e inconsciente e, por
analogia, constrói, usando a intuição intelectual, a unidade do processo de
desenvolvimento da natureza e da sociedade. A fraqueza de sua construção
está associada ao seu caráter abstrato e místico e, sobretudo, ao fato de que
esse conceito de unidade dialética não pode capturar e concretizar os
momentos compostos do processo histórico. Mas é precisamente na solução
dessa questão que reside a maior força da filosofia hegeliana da história. No
entanto, o ponto culminante do desenvolvimento histórico de Hegel se perde
no crepúsculo místico, e este é um momento essencial de sua filosofia,
390
dialético. Nessa transformação teológica do princípio teleológico, há um
parentesco significativo na compreensão da história entre Hegel e Schelling,
que permaneceu após o intervalo.
(1) Marx, K., Engels, F. Obras 2ª ed. Tomo 23, p. 189. (retornar ao texto)
(4) Hobbes, T., Obras escolhidas em 2 vols., Moscou 1964, Tomo 1, p. 160.
(retornar ao texto)
(5) Spinoza, B., Obras escolhidas, Moscou 1957, Tomo 1, p. 397. (retornar
ao texto)
(11) Marx, K., Engels, F. Obras 2ª ed. Tomo 20, p. 523,524. (retornar ao
texto)
391
(15) Marx, K., Engels, F. Obras 2ª ed. Tomo 3, p. 43. (retornar ao texto)
(26) Marx, K., Engels, F. Obras 2ª ed. Tomo 20, p.116. (retornar ao texto)
(32) Marx, K., Engels, F. Obras 2ª ed. Tomo 39, p.175-176. (retornar ao
texto)
392
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Pelas razões acima expostas, as críticas de Hegel que Marx deu em sua
Introdução à crítica da economia política se referem a toda a metodologia
hegeliana da filosofia social. Marx escreve: "(...) considerar a sociedade
como o único sujeito significa considerá-la incorretamente,
(1)
especulativamente" . Com Hegel, o povo e o Estado constituem uma
entidade unitária com a qual o "sistema de necessidades" econômico,
subjacente a eles, está correlacionado. Já vimos que as contradições
fundamentais que determinam o curso da história do mundo são as
contradições para Hegel entre os povos, mas não dentro dos próprios povos.
Também testemunhamos que Hegel, com a maior inteligência e perspicácia,
observa e descrevem mudanças na estrutura social dos povos individuais, ele
leva isso em consideração quando se trata de contradições históricas
mundiais que surgem entre os povos. No entanto, nessas mudanças e em
sua dialética interna, ele nunca viu a força motriz do desenvolvimento
dialético da história do mundo.
Não devemos perder de vista dois pontos de vista: primeiro, até certo ponto,
é justificável falar de uma única imagem de uma nação ou de um único
396
desenvolvimento nacional. Somente os rudes vulgarizadores do marxismo
ignoram esse momento e tentam dissolver os traços nacionais em certa
doutrina de sucessivas "formações". Quando o marxismo revela as causas
sociais das diferenças no desenvolvimento da, digamos, França e Inglaterra,
quando ele acredita que, com base nessas diferenças, as classes e suas lutas
inevitavelmente assumem diferentes formas, o marxismo revela uma
especificidade nacional mais profunda do que pensadores e historiadores
burgueses (incluindo Hegel), que não vêem essas verdadeiras forças motrizes
dos caminhos nacionais de desenvolvimento e interpretam a unidade
nacional mais ou menos metafisicamente.
397
Hegel se manifestam mais onde os problemas do estado não são abordados
ou podem ser deixados de lado, como, por exemplo, na segunda parte da
"Fenomenologia do Espírito" e, especialmente, na "Estética" .
Nos dois casos, é impossível não ver a intensa luta interna de Hegel, a luta
de várias tendências opostas em seu pensamento. Sempre encontramos
especulações de Hegel sobre as conexões corretas das coisas, ele
constantemente se esforça para reconhecer as relações orgânicas e corretas
entre elas. Teríamos o direito de afirmar que a retirada dialética de
propriedades em Hegel está se tornando cada vez mais "econômica". O
ponto culminante de sua construção idealista é, como veremos em breve,
sua primeira tentativa de criar um sistema em Iena.
399
de Hegel. E essa evolução continua após a Filosofia do Direito. A esse
respeito, é muito característico do pensamento de Hegel com sua destemida
busca pela verdade e por seu constante avanço, que em seu último escrito,
redigido depois da Revolução de Julho e que tem por tema o bill inglês de
reforma (1831), o filósofo chegue à afirmação da tripartição da sociedade
em estamentos da nobreza, os burgueses e os camponeses já não
correspondam à situação da maioria dos Estados(2). É verdade que, a partir
dessa afirmação de fatos econômicos, Hegel, novamente em sua maneira
característica, não faz generalizações e conclusões do ponto de vista de seu
conceito geral. Pelo contrário, ele acredita que, apesar de tudo, essa
estrutura, com as medidas efetivas tomadas pelo governo, pode se mostrar
justa. No entanto, o próprio fato de Hegel seguir de perto um conceito tão
contrário ao seu e descrever seus resultados, por mais que contradigam suas
próprias opiniões, mostra quão profundas e contrárias eram essas tendências
de Hegel. Este exemplo, no entanto, também mostra que eles não poderiam
se tornar dominantes nele.
Nos escritos de Hegel do período Iena, pode-se traçar com muita precisão
como seu entendimento da divisão de classes da sociedade burguesa se
tornou mais realista e econômico. A primeira apresentação de seus pontos
de vista sobre a sociedade - o "Sistema de moralidade" - é o culminar de
suas construções idealistas. Não é de forma alguma acidental que esse
método de pesquisa de sujeitos coincida com o ponto mais alto da
experimentação hegeliana com a terminologia de Schelling. O fortalecimento
de Hegel da tendência realista em um entendimento concreto dos processos
sociais é paralelo à rejeição da maneira de Schelling de formar conceitos.
É claro que, ao mesmo tempo, Hegel tem um novo problema, uma nova
inconsistência em sua concepção de prática. A diferenciação social de
402
moralidade de Montesquieu era um fato sócio histórico para ele, que ele
simplesmente descreveu e analisou. Em contraste, Hegel tem o seguinte
dilema filosófico: por um lado, para ele, a totalidade específica de definições
sócio históricas (na esfera objetiva da atividade moral, bem como em sua
certeza subjetiva) é precisamente a maneira pela qual a subjetividade
abstrata da moralidade kantiana-fichtiana pode ser superada. Hegel
contrasta a pretensiosa elevação da obrigação abstrata, o imperativo vazio
categórico de Kant e Fichte com precisamente essa especificidade sócio
histórica, essa unidade sócio histórica de princípios subjetivos e objetivos de
moralidade. Por outro lado, Hegel não pode insistir na simples diferenciação
da moralidade em classes. E aqui é precisamente o caminho que ele
escolheu que o leva a um emaranhado intransponível de contradições.
Afinal, é sabido que, se a filosofia social está focada na ideia de que a mais
alta virtude, o mais alto nível que a consciência pode alcançar, pois cada
pessoa pode ser apenas a virtude de sua própria classe, então isso equivale a
reconhecer que os opostos da classe são a base da sociedade, que Hegel
não pôde encontrar pelas razões já discutidas.
403
desenvolvimento, chega à conclusão de que são necessárias as três classes
da sociedade moderna sobre as quais ele falou no trabalho anterior. Essas
considerações históricas são, em alguns aspectos, adjacentes à sua filosofia
da história da juventude, mas é aqui que se pode ver claramente como suas
visões mudaram drasticamente ao longo dos anos.
404
desenvolvimento como absolutamente inevitável. Esse desenvolvimento
deve ser reconhecido em sua totalidade, se não conduzir à autocracia.
405
Somente nessa base podemos entender geralmente o que Hegel quer dizer
com "estado nobre" e "estado geral". Ele observa dessa maneira aquele novo
estrato militar, que havia avançado na França após a revolução e
consolidado sob Napoleão como uma nova nobreza. Rosenzweig e outros
intérpretes modernos de Hegel distorcem os fatos, alegando que estamos
falando sobre a antiga nobreza. Dominância em uma sociedade moderna da
individualidade, a própria formação de personalidade nessa sociedade
através da alienação (Entäußerung) não pode ser baseada em nenhuma
nobreza hereditária. Verdade, em suas palestras em 1805/06. Hegel fala de
uma monarquia hereditária, considera a personalidade e a família do
monarca como algo "natural", mas apenas abre uma exceção para o
monarca"(7). Observamos que essa visão de Hegel em todos os seus escritos
do período Iena corresponde à convicção de que coragem, determinação e,
finalmente, sacrificar-se ao povo não são apenas a mais alta de todas as
virtudes, mas também a única virtude na qual praticamente não somente
teoricamente a característica é removida e, na maioria das pessoas, é a
universalidade da vida das pessoas realizada.
407
O espírito, conhecendo toda a realidade e essência como ele mesmo, se
contempla, é um objeto para si; em outras palavras, ele é para si um
organismo vivo. Ele forma sua consciência. Somente agora ele é o
verdadeiro espírito em si mesmo. Em cada aula, ele tem seu próprio trabalho
específico, conhecimento de seu ser existente, fazendo na esfera desse ser e
um conceito especial, conhecimento de essência. Ambos os pontos devem
aparecer parcialmente divididos, parcialmente unidos"(10).
Aqui vemos com total clareza um dos motivos essenciais que determinaram
inevitavelmente o lugar da religião, o cristianismo no sistema hegeliano.
Também é fácil perceber que esse motivo não é de todo religioso. A
conquista do espírito para o ser, sua ascensão acima da divisão da sociedade
em propriedades e a nítida separação de atitudes morais na sociedade
podem, segundo Hegel, ser removidas, sendo preservadas se for possível
encontrar esse conceito de completa igualdade, reconhecendo que o espírito
realmente volta a si mesmo. Como a desigualdade de propriedade na
sociedade capitalista é inabalável para Hegel, além disso, é a base
econômica para o desenvolvimento daquela unidade individual em que
Hegel vê um princípio mais alto de nosso tempo em comparação à
antiguidade, uma vez que Hegel não tinha ideia de nenhum estado de
genuína igualdade de pessoas, porque, por causa de seus sentimentos
antidemocráticos, não compartilhava as ilusões dos democratas radicais da
Revolução Francesa sobre a igualdade que teria surgido como resultado da
implementação da revolução democrático-burguesa, mas de todo o
conjunto, sua plenitude e, finalmente, como considerava a burguesia
portadora do desenvolvimento econômico moderno, sempre evitava ver a
classe na burguesia, vem no seu ser e da consciência de certa conclusão de
toda a humanidade - na medida em que pode ser dito sobre a base de tudo
isso, que a igualdade necessária em seu sistema poderia ser, por Hegel,
somente a igualdade religiosa das pessoas diante de Deus, porque, por
causa de seus sentimentos antidemocráticos, ele não compartilhou as ilusões
dos democratas radicais da Revolução Francesa em relação à igualdade que
teria resultado da implementação da revolução democrático-burguesa em
sua totalidade e, finalmente, já que considerava a burguesia portadora da
economia moderna sempre evitou poder ver a classe na burguesia, ver em
seu ser e consciência certa conclusão do desenvolvimento de toda a
humanidade, tanto quanto se pode dizer, que a igualdade necessária em seu
sistema poderia ser, por Hegel, somente a igualdade religiosa das pessoas
diante de Deus.
411
negócios e depois - através de um cientista - seguir em frente, para o pico
real de seu sistema - para um soldado. O caminho fenomenológico
estabelecido aqui por Hegel é o caminho do especial para o geral. E Hegel
diz isso claramente: "... as propriedades inferiores, ou propriedades, tendo
seu próprio sujeito e sua própria consciência em um especial"(15) (...) e está
tentando, com base nessa posição, caracterizar os camponeses e os
habitantes da cidade. Ele descreve a transição da seguinte forma: "O estado
público trabalha para o estado. O espírito subiu para um sujeito universal
[na] classe dos empresários. Mas o trabalho em si é muito fragmentado,
abstrato, é trabalho de máquina. Embora seja direto para o universal, é
apenas por um lado limitado e ao mesmo tempo fixo, no qual nada pode ser
mudado ... Ele eleva certo universal ao conhecimento do universal ... O
espírito se eleva acima do caráter; ele faz algo universal. Um homem de
trabalho genuíno é em parte um cientista”(16).
Não importa quão artificial essa transição possa parecer, o progresso ainda é
claramente visível em comparação com as construções do Sistema de
Moralidade. E se levarmos em conta os pré-requisitos mentais de Hegel,
enfrentaremos um desdobramento realmente gradual do universal do
especial, e o papel decisivo é desempenhado aqui pelo conceito hegeliano
de trabalho abstrato, o conceito de autotransformação inconsciente de todo
e qualquer trabalho individual, toda e qualquer atividade econômica do
capitalismo em algo social em geral; como resultado, temos um
conhecimento real da estrutura da sociedade burguesa moderna.
Vemos, portanto, que, apesar dos maiores esforços empreendidos por Hegel
para justificar economicamente o sistema imobiliário, uma parte substancial
dessa justificativa acaba sendo uma aparência simples. Hegel não pode fazer
uma derivação dialética, e as razões para isso devem ser buscadas não
apenas nos elementos de seu conceito social que repetidamente apontamos,
mas também em um dos pontos importantes de suas visões econômicas, que
devemos formular aqui brevemente.
412
A questão é que o princípio da lei, o princípio do "reconhecimento",
desempenha um papel decisivo na construção da economia política para o
próprio Hegel. Em sua concepção, certas categorias adquirem a verdadeira
dignidade das categorias apenas por causa desse “reconhecimento”, graças
a esse elemento jurídico. Em outros casos, surgem gradações que, por sua
natureza econômica, não têm significado, mas às quais Hegel atribui um
papel decisivo apenas porque esse "reconhecimento" é expresso nelas de
maneira especialmente flexível. Assim, por exemplo, uma característica
distintiva importante é traçada entre propriedade e propriedade: "Existe uma
contradição na propriedade, a saber: uma coisa é universal como uma coisa
e, no entanto, a propriedade deve ser única. Essa contradição é removida
pela consciência, quando uma coisa em si depende como seu próprio
oposto. E como algo reconhecido, é uma propriedade separada e universal
ao mesmo tempo, devido ao fato de que nessa propriedade separada todos
são os proprietários (...). Minha propriedade reteve uma forma de
consciência; é definitivamente minha propriedade; no entanto, como
propriedade, está correlacionada não apenas comigo, mas também é
universal”(18).
Aqui, Hegel deve aplicar uma maneira de pensar muito casuística, quase
escolástica, para que a divisão jurídica da vida econômica, a formulação
legal de categorias econômicas sejam descritas não apenas como algo mais
elevado apenas na hierarquia de conceitos em comparação com as
categorias de economia política, mas também para criar algo novo delas.
conteúdo. Hegel segue exatamente o mesmo caminho quando tenta ver
uma forma mais alta de troca no contrato. Nesse caso, sua linha de
pensamento é: "Esse conhecimento é expresso no contrato. O contrato é o
mesmo que troca, mas a troca é perfeita: a) eu não dou nada, não alieno
nada, não estou fazendo nada além da minha palavra, fala - que eu gostaria
de fazer uma alienação de mim mesmo, o outro faz a mesma coisa. Esta é a
minha alienação também é a vontade dele, ele está satisfeito por eu lhe dar
isso. É também sua alienação, é uma vontade comum; meu afastamento é
mediado por seu "afastamento". Eu só quero fazer uma alienação de mim
mesma, porque, por sua vez, ele quer fazer o mesmo, e porque sua negação
se torna minha afirmação. Isso não é uma troca de coisas, mas uma troca de
declarações, mas é significativa, assim como a própria coisa. Para cada um,
a vontade do outro, como tal, é significativa. A vontade voltou ao seu
conceito"(19).
414
Essas observações de Hegel são notáveis em todos os aspectos, pois
mostram como tendências opostas colidem em seu pensamento. Se
abordarmos formalmente, essas observações indicam um nível
extremamente alto de objetividade, e Hegel deduz a definição de lei do
movimento do próprio sujeito, mas não do pensamento. Para Hegel, o
pensamento é apenas uma reprodução mental do movimento das definições
reais de um objeto objetivo. No entanto, do ponto de vista do conteúdo, no
mesmo raciocínio de Hegel, uma tendência aparece, levando em uma
direção completamente oposta. Em primeiro lugar, a análise de Hegel de
"Entäußerung" é muito significativa e repleta de consequências importantes,
porque nesta análise pela primeira vez na história da filosofia, ele tenta
compreender mentalmente o que Marx chama mais tarde de fetichismo de
mercadorias, e, com a ajuda disso, alcançar uma compreensão correta da
sociedade na medida em que ela perceba as formas de sujeito fetichizadas
da sociedade como um movimento de relações públicas das pessoas.
Segundo, porque Hegel adivinha: as várias formas de fetichização da
subjetividade social não estão no mesmo nível, mas formam os níveis mais
alto e mais baixo da hierarquia em relação uma à outra, dependendo do
maior ou menor grau de fetichização.
Pudemos observar essa tendência em Hegel, onde ele traça formas cada vez
mais altas da hierarquia de “alienação” (Entäußerung) no trabalho, no
produto do trabalho, nas trocas e trocas e, finalmente, no dinheiro. E já lá
nos deparamos com uma tendência idealista de colocar relacionamentos
reais em nossas cabeças. Hegel vê com razão que o comércio e,
especialmente, o "dinheiro são formas mais altas de" alienação "do que,
digamos, a produção simples. Até esse ponto em seu raciocínio, ele
acompanha Marx. No entanto, enquanto Marx está na forma mais simples
de fetichismo (no produto) vê a chave para a divulgação e solução de
formas complexas e ainda mais fetichizadas da sociedade, Hegel segue na
direção oposta (ao analisar as críticas de Marx à "Fenomenologia do
Espírito", mostraremos em detalhes que as fontes econômicas desse falso
método hegeliano residem na compreensão unilateral do trabalho, a
atividade econômica do próprio homem). Para Hegel, a "alienação"
(Entäußerung) do espírito e a rejeição dessa "alienação" (Entäußerung) são
uma maneira necessária para criar realidade através do espírito e, como
resultado, criar uma reprodução mental desse processo através do
pensamento. Portanto, as formas mais elevadas de fetichização de Hegel
acabam sendo mais elevadas, não no sentido de que estão se afastando do
sujeito real, de mostrar formas cada vez mais vazias e vazias de fetichização
(Marx sobre dinheiro). Muito pelo contrário: é precisamente graças a esse
vazio que elas são para Hegel formas realmente mais elevadas de
“alienação” (Entäußerung), ou seja, formas puras de pensamento, formas de
retorno ao espírito,
415
Com base nesse conceito, fica claro que para Hegel era simplesmente uma
necessidade metodológica colocar a lei acima da economia. Enquanto o
materialismo histórico vê no "nível superior" a fetichização da lei forma
apenas uma natureza derivada e secundária dessa forma, para Hegel, a
transformação de categorias econômicas em legais significa um nível
superior, uma forma superior e mais espiritualmente alienada
(Entäußerung). Segundo Hegel, o ser reconhecido de direito é de fato
derivado de um conceito, enquanto em um sujeito puramente econômico o
conceito se manifesta apenas no estágio de seu ser inconsciente em si, no
estágio de sua proximidade com a natureza. Essa visão de Hegel está em
constante interação com o conceito já citado por nós sobre a unidade do
povo e do estado. Ambas as tendências se reforçam e, em sua interação,
vemos a razão pela qual as tendências opostas mencionadas por nós no
pensamento de Hegel não podem levar a uma compreensão bem-sucedida
da fetichização da subjetividade social sob o capitalismo. Embora em alguns
lugares Hegel se aproxime o suficiente do entendimento correto das
conexões individuais (lembremos-nos de sua indicação perspicaz de que o
dinheiro é ao mesmo tempo uma coisa real e um eu, portanto, a proporção
de pessoas entre si).
417
Se lemos o texto referente à “remoção” da monarquia hereditária, nas
palestras de 1805/06. à luz dessa crítica, veremos como Marx estava certo,
expondo a falsa profundidade do "positivismo acrítico" de Hegel. Hegel diz
sobre o monarca: "O universal livre é o ponto da individualidade; estando
livre do conhecimento de todos, a individualidade não é constituída por
todos como um extremo <termo> como um governo; é, portanto, imediato,
natural: um monarca hereditário. Ele firmemente une diretamente o todo. ...
muitos indivíduos, a massa de pessoas ... age como uma multidão,
movimento, fluidez, o último - como imediato, natural. Somente aqui é
natural, isto é, a natureza oculta aqui”(24).
418
da França pós-revolucionária. A ditadura militar, chamada a preservar e
proteger o conteúdo burguês do patrimônio social da Revolução Francesa,
tanto contra tentativas de restauração feudal-absolutista quanto contra o
desenvolvimento democrático da revolução.
419
segundo Hegel, deveriam ser estabelecidas entre o estado e o governo, por
um lado,
420
universal a partir da dialética interna é especial. Tivemos a oportunidade de
observar essa tendência no que se refere ao trabalho, à divisão do trabalho,
às ferramentas etc. É manifestado sistematicamente onde as visões sócio
filosóficas de Hegel se desenvolvem relativamente independentemente dos
problemas do estado ou de onde ele vem desse conhecimento. tira
conclusões filosóficas gerais, não as correlacionando diretamente com o
estado. Assim, por exemplo, na Logica de Iena, há uma apresentação muito
interessante e espirituosa da visão sobre o desenvolvimento do gênero a
partir da dialética do indivíduo, enquanto Hegel se baseia no fato de o
indivíduo ser formado(27).
421
dessa sociedade. Segundo Hegel, a sociedade burguesa existe para servir o
estado (espírito) a sacrificá-lo, e, com base nisso, o Estado garante e protege
o funcionamento desimpedido da sociedade burguesa. De acordo com esse
conceito, as características da sociedade burguesa e da vida econômica estão
subordinadas à universalidade do estado. Essas características representam
em parte a base escura e vaga da vida, sobre a qual a imagem luminosa do
espírito se eleva, em parte os momentos em que o próprio espírito é
dialeticamente quebrado na medida em que supera o empirismo e volta
para si; como ele se torna externo, e essa "alienação" (Entäußerung) se
remove novamente dentro de si momentos parcialmente desintegrados nos
quais o próprio espírito é dialeticamente desintegrado na medida em que
supera o empirismo e retorna a si mesmo; como ele se torna externo, e essa
"alienação" (Entäußerung) decola novamente em si mesmo.
423
Marx nunca uniu Kant e Hegel sem uma razão substancial. Portanto, as
críticas citadas são aplicáveis a Hegel apenas na medida em que possamos
detectar a influência das mesmas relações sociais em Hegel. Marx, mais uma
vez, capta essas características em suas críticas profundas à filosofia
hegeliana do direito. Ele enfatiza especialmente o caráter especificamente
alemão do atraso, que encontra sua expressão no entendimento hegeliano
do papel da burocracia na sociedade e no Estado. Filosoficamente, é muito
importante que Marx fale aqui de "universalidade imaginária", que, de
acordo com o conceito de Hegel, seja expressa na burocracia em seu sentido
hegeliano e forneça uma avaliação geral de Hegel, segundo a qual o estado
e o governo não são representantes da sociedade burguesa, mas uma
representação contra a burguesia sociedade(29).
424
especial e universal de Hegel. "Democracia é a verdade da monarquia,
monarquia não é a verdade da democracia. A monarquia é necessariamente
democracia como inconsistência em relação a si mesma, o momento
monárquico não existe como inconsistência na democracia. A monarquia
não pode ser entendida a partir dela, e a democracia pode ser entendida a
partir de Na democracia, nenhum de seus momentos assume outro
significado além do que lhe pertence: cada momento é um momento real
das demos como um todo. Na monarquia, no entanto, uma parte determina
o caráter do todo. Todo o sistema estadual é forçado a se adaptar a um
ponto fixo. Democracia é um sistema político como conceito de clã. A
monarquia, por outro lado, é apenas um tipo de sistema de estados e, além
disso, uma visão ruim. Democracia é conteúdo e forma. A monarquia como
se fosse apenas uma forma, mas na realidade falsifica o conteúdo.
425
foi forçado, por um lado, a envolver esses momentos específicos com a falsa
glória de certa pseudo-comunidade, por outro, a dar aos universos assim
obtidos uma existência independente, a retirá-los da dialética do
desenvolvimento da sociedade e da história, a privá-los do movimento nesse
isolamento deles e a falhar. sob esses universos e subordinado a eles todos
os fenômenos específicos da sociedade e da história, tudo especial.
426
gênio artístico ou filosófico. No entanto, com tal declaração, pouco pode ser
alcançado em filosofia, e o aparato pensador da dialética schellingiana não
nos dá (com exceção da esfera da estética) qualquer evidência de como o
acidente do especial é removido, como o general pode ser alcançado a partir
do especial. E não importa como pareça a Schelling que ele superou o
caráter do intellectus archetypus, proclamado apenas como um requisito, a
verdadeira dialética, a superação real dos limites do pensamento metafísico
aparece e ele apenas como um dever. Ele proclama o intellectus archetypus
como uma capacidade humana real de conhecer o mundo, mas, é claro,
uma habilidade dotada apenas de gênio artístico ou filosófico. No entanto,
com tal declaração, pouco pode ser alcançado em filosofia, e o aparato
pensador da dialética schellingiana não nos dá (com exceção da esfera da
estética) qualquer evidência de como o acidente do especial é removido,
como o general pode ser alcançado a partir do especial. E não importa como
pareça a Schelling que ele superou o caráter de intellectus archetypus,
proclamado apenas como um requisito, a verdadeira dialética, a superação
real dos limites do pensamento metafísico aparece e ele apenas como um
dever. Ele proclama o intellectus archetypus como uma capacidade humana
real de conhecer o mundo, mas, é claro, a habilidade, que é dotada apenas
de um gênio artístico ou filosófico. No entanto, com tal declaração, pouco
pode ser alcançado em filosofia, e o aparato pensador da dialética
schellingiana não nos dá (com exceção da esfera da estética) nenhuma
evidência de como o acidente do especial é removido, como o general pode
ser alcançado a partir do especial. E não importa como pareça a Schelling
que ele superou o caráter do intellectus archetypus, proclamado apenas
como um requisito, a verdadeira dialética, a superação real dos limites do
pensamento metafísico aparece e ele apenas como um dever. No entanto,
com tal declaração, pouco pode ser alcançado em filosofia, e o aparato
pensador da dialética schellingiana não nos dá (com exceção da esfera da
estética) qualquer evidência de como o acidente do especial é removido,
como o general pode ser alcançado a partir do especial. E não importa como
pareça a Schelling que ele superou o caráter de intellectus archetypus,
proclamado apenas como um requisito, a verdadeira dialética, a superação
real dos limites do pensamento metafísico aparece e ele apenas como um
dever. No entanto, com tal declaração, pouco pode ser alcançado em
filosofia, e o aparato pensador da dialética schellingiana não nos dá (com
exceção da esfera da estética) qualquer evidência de como o acidente do
especial é removido, como o general pode ser alcançado a partir do especial.
E não importa como pareça a Schelling que ele superou o caráter do
intellectus archetypus, proclamado apenas como um requisito, a verdadeira
dialética, a superação real dos limites do pensamento metafísico aparece e
ele apenas como um dever.
427
Hegel, mesmo quando ainda estava experimentando a terminologia de
Schelling, não apenas muito raramente e economicamente usou a expressão
"intuição intelectual", mas também construiu seu raciocínio de tal maneira
que, na verdade, ele se recusou a usar esse novo "órgão" da filosofia. Já
vimos quão grandes foram os esforços de Hegel para superar a fronteira
entre o especial e o universal, e quão verdadeiramente filosóficas foram suas
aspirações de compreender a vida real e fazer generalizações baseadas nela.
Hegel viu claramente que o momento do acaso, que se opõe ao universal,
não pode ser eliminado por decreto; não pode, como Schelling, ser
eliminado por várias construções baseadas em analogias.
428
isso inevitavelmente levou ao fortalecimento das tendências idealistas em seu
pensamento. .
429
relação ao especial. Com uma sequência lógica inexorável, Marx mostra
todas as limitações e distorções da realidade nessa variedade de idealismo.
No entanto, Marx aqui distingue nitidamente entre Hegel e Hegelianos, que
tiraram apenas isso de sua dialética. Ele mostra a diferença fundamental
entre a dialética de Hegel e a dialética de seus seguidores: "(...) Hegel,
muitas vezes, dentro de uma exposição especulativa, dá uma exposição real
que captura o próprio sujeito. Esse desenvolvimento real dentro de um
desenvolvimento especulativo de conceitos encoraja o leitor a aceitar o
desenvolvimento especulativo como real”(32).
Essa perversão idealista repetida de Hegel foi realizada não apenas por seus
alunos imediatos. Mais tarde, o neo-hegelianismo o reproduz de uma forma
ainda mais explícita. Para extrair a verdadeira dialética de Hegel de todo
esse lixo, a fim de torná-la frutífera para o nosso tempo, foi necessário
mostrar a inconsistência interna de suas principais tendências no campo em
que o surgimento e o caráter social dessa dialética são mais claramente
revelados - no campo da economia política.
(1) Marx, K., Engels, F., Obras 2ª ed, Tomo 46, parte I, p. 30. (retornar ao
texto)
430
(9) Marx, K., Engels, F., Obras, Tomo II, p. 137. (retornar ao texto)
(20) Marx, K., Engels, F., Obras,Tomo 42, p. 227. (retornar ao texto)
(22) Marx, K., Engels, F., Obras, 2ª ed.Tomo 42, p. 157. (retornar ao texto)
(28) Marx, K., Engels, F., Obras, 2ª ed.Tomo 3, p. 183. (retornar ao texto)
(31) Loc cit, p 251-252. Marx aqui critica Hegel do ponto de vista de um
democrata revolucionário consistente, e não do socialista, o que torna suas
observações interessantes à luz de nossos problemas. (retornar ao texto)
431
(32) Ibid, Tomo 2, p 66.
432
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Não importa quais problemas concretos nosso raciocínio anterior possa ter
procedido, eles constantemente nos levam ao oposto da dialética idealista e
materialista. Mas foi justamente por isso que foi revelado que essa oposição
se revela apenas em seu resultado final, na oposição teórico-cognitiva do
idealismo e do materialismo de forma pura. Esse resultado coroou o grande
processo histórico - o processo de organização da classe revolucionária - o
proletariado - na classe "por si" (Marx) durante a crise revolucionária geral na
Europa. Mas, ao mesmo tempo, em alguns estados que teve um papel
importante (Alemanha, Itália etc.), a implementação da revolução
democrático-burguesa se torna um objetivo central. A luta do jovem Marx
com os ensinamentos de Hegel,
433
contraditoriamente, a partir dos movimentos de libertação dos estratos
oprimidos que participam da luta de classes. Consequentemente, a
característica específica das contradições, característica desta última.
434
Aqui não analisaremos os ensinamentos de Ricardo sobre valor, dos quais,
durante o período de colapso de sua escola, os primeiros ideólogos do
proletariado puderam tirar conclusões socialistas diretamente. Apenas
apontamos a atitude contraditória de Ricardo em relação ao papel da
burguesia no progresso das forças produtivas materiais, que Marx deu uma
caracterização profunda e precisa: "Ele quer produção para produção, e ele
está certo. Objetar isso, como fizeram os oponentes sentimentais de Ricardo,
indicando que a produção como tal não é um fim em si mesmo, significa
esquecer que a produção por causa da produção não passa de um
desenvolvimento das forças produtivas da humanidade, isto é, o
desenvolvimento da riqueza da natureza humana como um fim em si
mesmo, desenvolvimento das habilidades do gênero "humano", embora seja
inicialmente realizado à custa da maioria dos indivíduos humanos e mesmo
de classes humanas inteiras, acabará destruindo esse antagonismo e
coincidindo com o desenvolvimento de cada indivíduo; que, portanto, um
maior desenvolvimento da individualidade é comprado apenas à custa de
um processo histórico e durante o qual os indivíduos são sacrificados (...). A
franqueza de Ricardo era, portanto, não apenas cientificamente honesta,
mas também cientificamente obrigatória para sua posição. Mas, portanto, é
completamente indiferente a Ricardo se o desenvolvimento das forças
produtivas atinge a propriedade da terra ou os trabalhadores até a morte
(...). Se o ponto de vista de Ricardo é geralmente consistente com os
interesses da burguesia industrial, é apenas porque seus interesses coincidem
- e somente na medida em que o que eles combinam com os interesses da
produção ou com o interesse em desenvolver a produtividade do trabalho
humano. Onde a burguesia contradiz esse desenvolvimento, Ricardo se opõe
sem piedade à burguesia, como em outros casos - contra o proletariado e a
aristocracia”(1).
435
monumentais nas quais as últimas forças desse desenvolvimento são
reunidas para expressar artística ou mentalmente sua trágica inconsistência.
Contudo, nesse erro idealista de Hegel, nessa reversão dos laços sócio
históricos reais, há uma verdade humanista profunda, uma crítica profunda,
embora contraditória, da sociedade capitalista. Se Hegel não é capaz de
entender que todo o processo de desenvolvimento da humanidade com
todas as suas vítimas apenas levou à imposição final da humanidade aos
interesses de Nüssingen, Tyfer e Keller, se ele vê nessa dominação uma
profunda humilhação de toda a humanidade e apresenta uma utopia
heroica para indicar uma saída de tal caminho para completar o
desenvolvimento da humanidade, aí reside um profundo protesto contra o
capitalismo, um protesto que objetiva e inconscientemente contra sua
vontade direciona nosso olhar para além do horizonte do capitalismo.
436
contra o papel político e cultural de liderança da burguesia na sociedade
burguesa. Sua grandeza como pensador, a fecundidade de seus
pensamentos, a direção de sua filosofia para o futuro baseiam-se
precisamente em sua inconsistência, na natureza contraditória de sua
posição, no fato de que, como Ricardo, busca a verdade "no estrume das
contradições" e a encontra parcialmente. Ao considerar a crítica hegeliana da
cultura capitalista, nunca devemos esquecer que o ponto de partida e o
centro de sua filosofia da história formam a inevitabilidade e progressividade
do desenvolvimento capitalista.
437
A grandeza de Ricardo como economista repousa precisamente no fato de
que ele ignorou essa contradição com uma sequência de ferro. Ele declarou
todos os fatos em que essa contradição se refletia, mas sustentava
firmemente que o desenvolvimento progressivo das forças produtivas
materiais deveria passar por todas essas contradições. E eles realmente
fazem o seu caminho, neste Ricardo estava certo, mas a progressividade é
realizada no socialismo, e não no capitalismo, e esse é o erro histórico de
Ricardo. Ao mesmo tempo, é evidente que Ricardo, se não tivesse se
apegado tão firmemente ao seu erro, nunca teria alcançado a força de seu
pensamento que indica o caminho para o futuro, que ele nunca imaginou.
Hegel chamou de "a tragédia na ética" uma seção em seu trabalho sobre
direito natural, e a seção é bastante sombria. Este último une diretamente os
julgamentos de Hegel que já examinamos em relação à necessidade do
surgimento da sociedade capitalista e sua progressividade histórica em
comparação com a antiguidade. Nos poucos comentários desta seção, Hegel
tenta resumir a contradição que já delineamos na cultura do capitalismo, e o
faz de tal maneira que esta questão é apresentada como o eterno oposto no
desenvolvimento da humanidade, privando em certa medida a contradição
de sua historicidade, embora seja claramente distinguida a solução desse
problema na antiguidade e nos tempos modernos.
438
especificamente moderno é declarado eterno. A “bifurcação” do homem em
uma burguesia e em um cidadão acaba sendo um eterno conflito de espírito
consigo mesmo, posicionado e posto em tragédia. Para realizar a
perpetuação desse conflito, Hegel mistificou a vida da burguesia, definindo-a
como "natural", "subterrânea". O lado civil do homem, pelo contrário, triunfa
sobre esse "subterrâneo", mas, no entanto, parece estar conectado a ele por
um "raio de luz". A "natureza bifurcada" do espírito é uma posição eterna e a
remoção da contradição constitui uma "tragédia na ética". "Não é nada além
de como representação de uma tragédia na esfera da ética, uma tragédia
que o absoluto brinca consigo mesmo, sempre gera a si próprio e a
objetividade, transmitindo-se dessa imagem ao sofrimento e à morte e
depois ascende do pó à esfera da beleza. O próprio Divino tem uma
natureza dupla em sua imagem e objetividade, e sua vida é a unidade
absoluta dessas naturezas"(4).
Segundo Hegel, deve haver uma solução, apesar da tragédia, e talvez graças
à tragédia. Para sempre não apenas uma contradição, mas também sua
superação. O culminar necessário do idealismo objetivo na identidade
sujeito-objeto é, por um lado, a forma mental mistificada da superação das
contradições (também reais, mas possíveis de serem removidas); por outro
lado, a construção filosófica, que é impossível sem um clímax nessa
identidade sujeito-objeto, nos obriga a tomar essa decisão: no espírito, todas
as contradições devem ser resolvidas, embora saibamos que a remoção de
Hegel é mais voltada para o próprio processo de "superação" do que o
estado de retirada.
439
Em seu ensaio sobre direito natural, Hegel complementa a exposição da
tragédia com uma solução cômica para o problema. E aqui, a antiguidade e
a modernidade dão soluções diferentes, a antiguidade e, neste caso, brilha
com incríveis tons de beleza, embora tenha irrevogavelmente afundado no
passado, a tarefa urgente de nosso tempo é identificar crenças prosaicas e
resolver conflitos contemporâneos na comédia. Essa "comédia ética" se
expressa na mesquinharia e no ridículo da vida cotidiana da burguesia
diante do cenário majestoso dos atos reais do espírito do mundo, em
contraste com a seriedade subjetiva, a importância subjetiva desses conflitos
na própria vida. "Do outro lado, há outra comédia - suas vicissitudes são
desprovidas de destino e luta verdadeira, porque a própria natureza moral é
cativada pelo destino. A trama aqui é baseada não em opostos humorísticos,
mas em opostos sérios para uma determinada aspiração moral, embora
engraçados para o espectador; encontre uma saída na afetação dos
personagens e no absoluto, que constantemente acaba sendo enganado e
rejeitado"(6).
440
político da mesma maneira. como a aristocracia feudal a possuía durante a
Idade Média"(7).
É claro que Hegel não poderia ter uma compreensão clara dessa
circunstância: afinal, todas as declarações de Engels estão intimamente
ligadas à força cada vez maior do proletariado; Hegel ainda não sabia nada
sobre a luta de classes entre a burguesia e o proletariado e as consequências
dessa luta em relação ao poder e à cultura do Estado. E, no entanto, se
conectarmos a afirmação hegeliana sobre a "insignificância política" da
burguesia com sua própria afirmação sobre a força econômica cada vez
maior e a progressividade de seus próprios alicerces, pode-se adivinhar e
antecipar: Hegel, por assim dizer, alerta para muito do que acontecerá
posteriormente o desenvolvimento da história, em particular sobre o papel
especificamente contraditório desempenhado pela burguesia no
desenvolvimento da sociedade capitalista.
441
Em uma análise histórica da doutrina econômica de Adam Smith, Marx dá
uma ampla visão da extensa controvérsia que se desenvolveu em toda a
literatura econômica europeia em torno do conceito de trabalho produtivo e
improdutivo de Smith, uma polêmica na qual os ideólogos econômicos do
Diretório e Consulado (Garnier) e do império (Ferrier) tiveram um papel de
liderança. Como a burguesia em seu período revolucionário, o próprio
Smith considerava todos os tipos de atividades não econômicas das pessoas
na sociedade como fatos da produção, que certamente devem ser reduzidos
ao mínimo necessário, no interesse do desenvolvimento de forças
produtivas. (A proximidade dessas visões às considerações acima de Ricardo
é óbvia.)
443
desenvolvimento de forças produtivas materiais no sentido em que Smith e
Ricardo investiram nela. Ele rejeita todas as lamentações românticas sobre
um desenvolvimento como sentimentalismo patético, que pode direcionar
seu olhar apenas para o singular, mas não para ver o todo, lançando-os de
maneira tão decisiva quanto Smith e Ricardo. No entanto, ele vê ao mesmo
tempo - e aqui ele está perto do círculo de interesses, às perguntas colocadas
por Balzac e Fourier, que o tipo de pessoa que foi formada como resultado
do desenvolvimento de forças produtivas no capitalismo e graças ao próprio
capitalismo é uma negação prática de tudo o que é grande, sublime e
significativo que foi trabalhado pelo desenvolvimento da humanidade até
agora. A contradição desses dois opostos necessários, a conexão
inextricavelmente contraditória do progresso com a humilhação da
dignidade humana, a conquista do progresso à custa da humilhação - é aqui
que se deve buscar o verdadeiro núcleo da "tragédia na ética", o que foi
trabalhado pelo desenvolvimento da humanidade até agora. A contradição
desses dois opostos necessários, a conexão inextricavelmente contraditória
do progresso com a humilhação da dignidade humana, a conquista do
progresso à custa da humilhação - é aqui que o verdadeiro núcleo da
"tragédia na ética" deve ser buscado, o que foi trabalhado pelo
desenvolvimento da humanidade até agora. A contradição desses dois
opostos necessários, a conexão inextricavelmente contraditória do progresso
com a humilhação da dignidade humana, a conquista do progresso à custa
da humilhação - é aqui que o verdadeiro núcleo da "tragédia na ética" deve
ser buscado.
Hegel, como pensador abstrato, está em uma posição mais difícil e menos
favorável que Goethe, assim como Balzac. Para Hegel, seria completamente
insuficiente experimentar e retratar a essência da cultura capitalista, que está
445
rompendo com a progressividade econômica e a falta de cultura burguesa e
sua anti-cultura em imagens humanas concretas. Pelo contrário, Hegel foi
forçado a elevar essas contradições ao nível de generalização mental e
formulá-las e expressá-las filosoficamente como contradições do ser. Por
causa das relações sociais das quais falamos repetidamente, Hegel só
conseguiu chegar à descrição da natureza contraditória em si mesma. Além
disso, impulsionado por seu próprio método, ele é forçado a procurar e
encontrar um caminho de superação ilusória e confusa de inconsistência
insolúvel. E ainda, portanto, não esgotamos o conteúdo da "tragédia na
ética".
446
capazes de distinguir rigorosamente, além disso, de maneira concreta e clara,
a profundidade falsa da profundidade real, pois em Hegel elas são
frequentemente interligadas.
Hegel, como qualquer outro cientista de sua época, não fazia ideia de uma
sociedade de clãs. No entanto, ele acreditava, e não sem razão, que o estado
deveria ser precedido por certo estado pré-estado do homem. Em Hegel, a
família em sua essência natural "subterrânea" atua como a imagem do
espírito neste estado pré-estatal da sociedade. Hegel apresenta uma
descrição abrangente e bonita do conflito dessas duas épocas do
desenvolvimento social em A Fenomenologia do Espírito, quando analisa a
trágica colisão em Antígona de Sófocles.
É claro que Bachofen, que viveu muito mais tarde, a seu modo, dentro da
estrutura de sua compreensão da história, enfrentou o problema do direito
materno. Engels, com a ajuda das descobertas de Morgan, compreendeu
materialmente as fraudes de Bachofen. Repetimos: Hegel não tinha a menor
ideia de sociedade de clãs e do direito materno. Portanto, seu conceito de
447
estado pré-estatal nesse aspecto não é histórico, pois ele considera a família
que apareceu historicamente muito mais tarde como a base e a forma inicial
dessa sociedade pré-estatal - uma característica ilusória dos contemporâneos
de Hegel.
449
outro. De fato, para ele, por um lado, a essência do progresso social é a
vitória da civilização sobre a natureza, embora essa não seja, de modo
algum, a vitória final, um "progresso sem fim" uniforme e direto, mas uma
vitória decorrente da renovação constante, tornando-se cada vez mais feroz
luta. Por outro lado, a civilização não pode obter uma vitória completamente
de cem por cento sobre a natureza: esse é o conceito de Hegel. O
humanismo de Hegel requer uma abordagem holística, homem inquebrável.
O mais alto desenvolvimento da "alienação" (Entäußerung) é para Hegel um
ponto de transição, uma transformação na qual ele retorna ao sujeito e,
assim, é removido. Consequentemente, sem essa luta continuamente
renovada com as forças do homem "subterrâneo", segundo Hegel, perderia
toda a conexão com a natureza, com as forças elementares da existência
humana e, assim, se tornaria um circuito abstrato, uma máquina.
450
vimos que a “tragédia da moralidade” “no andar de cima” retratada como
se estivesse “embaixo” deveria ser repetida em um processo holístico da
história mundial.
451
Aqui temos um resumo colorido e abstrato da conclusão anterior - a guerra
como um crime cometido em nome do universal. Hegel considera necessário
enfatizar fortemente o general ao qual a guerra está subordinada. E essa
necessidade moral e filosófica anda de mãos dadas com uma concepção
realista da história. Na mesma seção, ele examina a natureza moderna da
guerra, isto é, mostra como a socialização e a alienação (Entäußerung)
permeiam a guerra também. E isso mais uma vez mostra claramente que o
estado militar de Hegel não tem nada a ver com o culto da nobreza, com a
glorificação romântica da cavalaria. De acordo com isso, Hegel continua as
declarações citadas: "Essa alienação deve ter uma forma tão abstrata, deve
ser desprovida de personalidade, eles matam e encontram a morte a sangue
frio, não em batalha aberta(17).
Além disso, sua filosofia surge como uma continuação das ideias daqueles
pensadores que, desde o surgimento da sociedade burguesa, indicaram
incansavelmente que o progresso da sociedade humana está
inextricavelmente ligado às mais más inclinações da natureza humana, à
"ganância e amor ao poder". Nesse aspecto, a filosofia social de Hegel é uma
continuação direta de Hobbes e Mandeville, é claro, levando em conta o fato
de que Hegel deu um passo significativo no sentido de que os rudimentos da
dialética encontrados em suas obras, a exposição descritiva da natureza
contraditória do progresso humano, se tornaram em Hegel uma filosofia de
inconsistência, uma dialética consciente. Marx sempre considerou a filosofia
hegeliana nessa conexão histórica. Ao ler uma das obras de Darwin, ele
escreve para Engels o seguinte: que Darwin, no mundo dos animais e das
plantas, reconhece sua sociedade inglesa com sua divisão de trabalho,
competição, abertura de novos mercados, "invenções" e a "luta pela
existência" malthusiana. Este é o "bellum omnium contra omnes" hobbesiano
["guerra de todos contra todos"] e se assemelha a Hegel em
"Fenomenologia", onde a sociedade civil aparece como um "reino animal
espiritual", enquanto em Darwin o reino animal aparece como uma
sociedade civil"(20).
453
como já vimos, não é senão a tragédia da natureza contraditória do
progresso humano na história das sociedades de classes - uma tragédia real
e grande, pois os dois extremos de momentos opostos são verdadeiros e
mentirosos ao mesmo tempo.
454
E, no entanto, seria superficial afirmar que Hegel seria maior como pensador
se não levasse em conta o conceito de reconciliação, pois uma
representação dialética real do progresso humano só é possível do ponto de
vista da fé mais profunda nesse progresso em si, vitória final, apesar de todas
as contradições. Somente a perspectiva de uma sociedade sem classes pode
fornecer imagens da inconsistência trágica desse caminho, sem medo de cair
em um romance pessimista. É por isso que a crítica social de Fourier é maior
que a hegeliana.
455
Este é o momento da transição, no qual a própria ideia se transforma em
nada e é o verdadeiro local de permanência da arte"(22).
(1) Marx, K., Engels, F. Obras, 2ª ed. Tomo 26, parte I, p. 123-124. (retornar
ao texto)
(5) Hegel, um Niethammer, 29 VIII 1807 – Briefe von und an Hegel. Leipzig,
1887, p. 130. (retornar ao texto)
456
(7) Marx, K., Engels, F. Obras, 2ª ed. Tomo 16, parte I, p. 416. (retornar ao
texto)
(12) Marx, K., Engels, F. Obras, 2ª ed. Tomo 23, p. 419-420. (retornar ao
texto)
(20) Marx, K., Engels, F. Obras, 2ª ed. Tomo 21, p. 296. Aqui, tocamos
diretamente no segundo lado dos julgamentos de Engels. Portanto,
lembramos ao leitor que a análise hegeliana de Antígona e o surgimento do
estado, seu discurso sobre a revolução e “tirania”, etc. também se aplicam a
esse – claramente mostrado por Engels – do mal na História. (retornar ao
texto)
(22) Solger K., Erwin , B., 1815, Tomo I, p 277. Hegel frequentemente
apontava a importância da filosofia de Solger. Cf: Estética Tomo I, p. 105
(Glocknersche Ausgabe) Cf Também seu longo artigo sobre a publicação do
legado de Solger: Glockners Hegelausgabe Tomo XX, p. 132 f.
457
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
458
filósofos foi o trabalho de Schelling, "O Sistema do Idealismo
Transcendental" (1800). Seu próximo trabalho – "A exposição do meu
sistema de filosofia" (1801) – é observado pela grande proximidade de
Schelling ao pensamento hegeliano e por uma tentativa de dominar os
princípios da dialética hegeliana. Logo, no entanto, as visões de Schelling
revelaram tendências diretamente opostas, em parte na constante exaltação
do método puramente construtivo na filosofia natural, em parte na crescente
exaltação do ponto de vista estético devido à substanciação da
contemplação intelectual pelos fatos da estética.
460
Schelling. Vamos nos limitar apenas a que damos algumas das afirmações
mais características de Schelling para mostrar que a oposição entre Hegel e
Schelling não se limitou à questão central da metodologia filosófica, à qual
Hegel reduz todo o argumento entre eles, mas tocou todos na questão da
filosofia da história e da filosofia social. Isso deve ser enfatizado, porque a
característica da literatura burguesa moderna sobre o desejo de Hegel de
obscurecer a diferença fundamental entre a metodologia dialética de
Schelling e Hegel é facilitada pelo fato de que sua diferença fundamental nas
visões sócio filosóficas é completamente ignorada (o que é notável
principalmente nas obras de G. Heller, mas é característica para toda a
literatura moderna de Hegel). a oposição entre Hegel e Schelling não se
limitou à questão central da metodologia filosófica, à qual Hegel reduz todo
o debate entre eles, mas tocou a todos na questão da filosofia da história e
da filosofia social. Isso deve ser enfatizado, porque a característica da
literatura burguesa moderna sobre o desejo de Hegel de obscurecer a
diferença fundamental entre a metodologia dialética de Schelling e Hegel é
facilitada pelo fato de que sua diferença fundamental nas visões sócio
filosóficas é completamente ignorada (o que é notável principalmente nas
obras de G. Heller, mas é característica para toda a literatura moderna de
Hegel). a oposição entre Hegel e Schelling não se limitou à questão central
da metodologia filosófica, à qual Hegel reduz todo o debate entre eles, mas
tocou tudo na questão da filosofia da história e da filosofia social. Isso deve
ser enfatizado, porque a característica da literatura burguesa moderna sobre
o desejo de Hegel de obscurecer a diferença fundamental entre a
metodologia dialética de Schelling e Hegel é facilitada pelo fato de que sua
diferença fundamental nas visões sócio filosóficas é completamente ignorada
(o que é notável principalmente nas obras de G. Heller, mas é característica
para toda a literatura moderna de Hegel).
462
No entanto, Hegel, especialmente em suas palestras, faz uma distinção clara
entre os adeptos de Schelling e o próprio Schelling. Sabemos que Hegel
sempre reconheceu o mérito histórico de Schelling ao dar o primeiro passo
em direção ao idealismo objetivo. Durante esse período, ele ainda está
convencido de que Schelling pode encontrar o caminho certo, que pode ser
persuadido e direcionado para a maneira correta de filosofar. Mesmo em
uma carta a Schelling, que lhe foi enviada juntamente com a
"Fenomenologia do Espírito", ele critica seus seguidores, mas não o próprio
Schelling, embora, como um leitor se lembre, Schelling já estivesse
realizando seus experimentos "mágicos" com uma varinha mágica, para a
qual Hegel e nesta carta muito educada e contida, escusado será dizer que
ele é mais do que cético.
463
em sua obra, mais diretamente ele apresentou essa maneira de conhecer o
absoluto. No trabalho "Filosofia e Religião", falando desse método de
conhecimento, ele observa que:(8) “O imediatismo da "intuição intelectual"
tem duas importantes consequências metodológicas”.
464
Nestas declarações, uma polêmica com o conceito geral de Schelling é
bastante óbvia. Há várias declarações de Hegel relacionadas ao período de
preparação da "Fenomenologia do Espírito", em que ele polemiza com a
interpretação de Schelling da maneira de conhecer o absoluto e, embora
alegoricamente, formula seus pensamentos de tal maneira que a crítica às
premissas da filosofia de Schelling é claramente expressa nelas. Isso é
revelado principalmente quando Hegel – mais tarde ele o faz de maneira
mais decisiva e energética – submete a arte e a religião à filosofia como
formas de conhecer o absoluto, nas quais cada vez mais vê maneiras
inadequadas de entender o absoluto. Como para Schelling, como você sabe,
era a arte que era o ponto em que a identidade completa do sujeito e do
objeto recebia a expressão mais direta e adequada,
465
filosofia, apenas a mais importante, que não pode ser aprendida. "Mas é
precisamente esse princípio da antinomia das formas finitas e absolutas e
simples, além de que(13) a conexão entre a teoria do conhecimento de
Schelling e seus pontos de vista sobre a sociedade, sobre o Iluminismo e a
revolução, da qual falamos anteriormente, é óbvia.
466
longo da qual ele possa pelo menos chegar a esse ponto de vista, de modo
que a ciência lhe mostre esse ponto de vista em si mesmo, pode ter em tudo
na forma (Gestalt) do conhecimento de alguém, porque, em qualquer forma
– se a ciência o reconhece ou não, e com qualquer conteúdo – o indivíduo
tem uma forma absoluta, ou seja, a autenticidade direta de si mesmo e, se a
preferência foi desenterrada”(16).
467
Do alto desta discussão entre Fichte e Schelling, que ocorreu há vários anos,
não deixa de interessar. Então Fichte censurou Schelling por introduzir
diferenças no absoluto, a saber, diferenças quantitativas. Ele escreveu a
Schelling: "Posso expressar brevemente a diferença entre nossos pontos de
vista da seguinte maneira: o absoluto existe apenas na forma de diferenças
quantitativas, digo, como você diz, em minha apresentação. Isso, no
entanto, você diz, e é por isso que considero seu sistema falso. (...) Da
mesma forma, acho o sistema de Spinoza falso e qualquer dogmatismo em
geral (...) O Absoluto não seria absoluto se existir de alguma forma"(19). Essa
observação revela claramente a ligação entre Kant e Fichte. Embora o ponto
de partida da filosofia de Fichte – o Eu – deva ser a superação da coisa
kantiana em si mesma, no entanto, aqui e ali, a ausência de propriedades é
revelada. Fichte acredita que, graças à "intuição intelectual", o Eu alcança o
autoconhecimento, no entanto, uma vez que todas as propriedades, todas as
definições, todas as mudanças, a natureza cognitiva desse autoconhecimento
são fundamentalmente excluídas do absoluto. Formalmente, é claro, fala de
cognição em oposição ao desconhecimento fundamental das coisas de Kant
em si, mas o conteúdo desse conhecimento é o mesmo vazio vago que é
inerente à renúncia de Kant ao conhecimento do absoluto.
468
argumento de Fichte que citamos sobre definições quantitativas do absoluto,
no entanto, em um aspecto completamente oposto: o que Fichte era um
exagero do poder do conhecimento, Hegel parece ser abstrato, concreto
insuficiente no conhecimento do absoluto(21). Rosencrantz lidera as palestras
de Hegel sobre a história da filosofia em 1805/06, o seguinte trecho: Fichte
critica abertamente Schelling, reconhecendo seus grandes méritos, no
entanto, "censurando-o apenas quantificando as contradições internas do
absoluto como uma indiferença vazia, na qual tudo é apenas a
predominância de um ou outro fator, mas não a verdadeira diferença"(22).
469
Em uma das notas do período Iena, ele fornece um breve resumo da rápida
mudança de vários sistemas filosóficos e seu colapso: a atitude em relação à
cognição da realidade empírica acaba sendo sua característica decisiva. Esta
nota diz: "Ciência. Se um indivíduo a domina, ele ganha autoconfiança e
confiança na existência de outro indivíduo. É realmente assim que decide o
ambiente imediato – moderno e subsequente, mesmo que o indivíduo já
tenha expressado sua aprovação. No entanto, a consciência através da
educação desenvolve-se de tal maneira que a teimosia bárbara da
compreensão é substituída por uma compreensão dinâmica e intensa, de
modo que os descendentes o procuram alguns anos depois. A filosofia de
Kant é aceita há muito tempo com hostilidade, enquanto a filosofia de Vol.
Se durou cinquenta anos ou mais. Fichte formulou a definição do ponto de
partida de sua filosofia muito mais rapidamente. O que a filosofia de
Schelling está prestes a vir à tona muito em breve. Seu julgamento parece
estar ocorrendo em breve, como já é entendido por muitos. No entanto,
esses sistemas filosóficos não recorrem à prova ou à experiência empírica,
não importa quão amplamente interpretada. Os apoiadores desses sistemas
aprendem cegamente. Esses sistemas formam partidários impensados. No
entanto, à medida que a teia de filosofar se torna cada vez mais sutil, esses
sistemas atingem a sutileza da teia. Seus apoiadores não entendem como
isso acontece, semelhante a como eles não entendem por que o gelo em
minhas mãos derrete tão rapidamente e o mercúrio é móvel. Eles não
podem oferecer nada, e quem vê uma mão com sabedoria estendida, não
vê nada além de uma palma vazia e passa com um sorriso.”(24)
471
Ao examinar as visões de Hegel sobre o período Iena, já falamos em
detalhes sobre a atitude positiva de Hegel em relação à reflexão filosófica,
como ele a chama, e apontamos que a rejeição desse princípio de filosofia
por Schelling ainda expressava uma compreensão completamente diferente
do conhecimento filosófico. Portanto, Hegel, voltando a esse período, diz
que a superação de Schelling ao idealismo subjetivo foi realizada sem a
consciência filosófica desse passo, de sua essência e importância. Schelling,
diz Hegel em conclusão, "propõe uma ideia especulativa sem qualquer
desenvolvimento para si mesmo e passa imediatamente para a imagem que
possui na filosofia natural"(27).
Esse oposto deve ser enfatizado hoje. De fato, na ciência burguesa, a noção
de que o historicismo era supostamente o resultado de uma filosofia de
restauração e romance está se tornando cada vez mais estabelecida. E se
Hegel também graciosamente admite o historicismo e, portanto, o
julgamento categórico de L. Ranke é enfraquecido, isso só pode ser
explicado pelo fato de o historicismo de Hegel estar cada vez mais
aproximado do chamado historicismo dos românticos.
472
humana; a unidade desse processo é a unidade de descontinuidade e
continuidade, ou seja, as revoluções de Hegel formam um componente
constituinte da continuidade desigual do desenvolvimento progressivo da
sociedade humana. Em sua concepção histórica e na prática da descrição
histórica, Hegel elevou a um nível superior – o estágio de compreender
conscientemente as contradições do desenvolvimento histórico – as tradições
que ele aprendeu dos iluminadores (Gibbon, Montesquieu, Voltaire, Russo,
Forster, etc.). Assim, marca o início do último grande período no
desenvolvimento da ideologia burguesa, período que, continuando nos
escritos dos grandes historiadores franceses,
Uma análise de como Hegel realiza esse desejo está, obviamente, além do
escopo deste estudo. Ele começa a preparar a lógica em Nuremberg vários
anos após a conclusão da Fenomenologia. Contudo, mesmo nesse período –
o período da elaboração da Fenomenologia – a criação da lógica dialética
foi apresentada apenas como uma tarefa metodológica, como uma questão
decisiva, e entendida como uma conclusão conceitual de todo o sistema.
473
Schelling, profundamente permeado tendências dialéticas. No entanto, nas
mentes de Kant, Fichte e Schelling, a "filosofia transcendental" coexistia junto
com a lógica, os problemas dialéticos nela foram abolidos, e a lógica formal
anterior continuou a existir junto com a nova ciência emergente de forma
inalterada e continuou a causar respeito ou desprezo mais profundo.
474
pré-requisitos universais para sua "posição". Assim, a filosofia transcendental
é algo completamente amorfo e extensível. Fichte vai além de Kant, e
Schelling vai além de Fichte, cada um deles oferece uma compreensão mais
ampla da essência e do método da filosofia transcendental e, de alguma
forma, é passado como o único significado correto dessa ciência. Kant,
comparado a Fichte e Fichte, comparado a Schelling, esforça-se por
preservar o significado original do conceito de filosofia transcendental, e
cada um deles polemiza com seus predecessores e seguidores do ponto de
vista da ciência, cujos princípios e limites reais não foram estabelecidos
desde o início, desde a definição desses princípios. Em geral, isso pode ser
alcançado esclarecendo a relação entre lógica e dialética.
475
ser a decomposição dialética de todos os conceitos finitos, como resultado
do qual o conhecimento racional se destrói e justifica a necessidade de pular
para o conhecimento direto, para "intelectual". intuição”. O lembrete da
dialética transcendental de Kant nessa conexão não é de todo acidental. De
fato, a dialética transcendental de Kant em suas antinomias destrói qualquer
forma de conhecimento absoluto dos princípios do mundo dos fenômenos,
justificando filosoficamente o desconhecimento das coisas em si mesmas, a
fim de abrir caminho para que o absoluto seja compreendido pela "razão
prática" pela "fé". Schelling rejeita a solução proposta por Kant como
indiferente e imperfeita.
No entanto, vale ressaltar que o esquema dessa solução está à sua frente.
Afinal, ele vê a tarefa da lógica dialética em substanciar o ceticismo científico
e, portanto, em reproduzir as antinomias kantianas em um nível
filosoficamente superior. Uma nova compreensão do conteúdo da filosofia
como “ceticismo científico” não deve preparar uma fé subjetiva, mas uma
contemplação objetiva do absoluto. Mas a destruição cética do mundo
cognoscível, e com ele o método da cognição, preserva o esquema do
dualismo kantiano, no entanto, de uma forma modificada: em Kant essa
dualidade foi expressa no conhecimento do mundo dos fenômenos e na
crença subjetiva no absoluto, em Schelling – na auto decomposição do
conhecimento racional e na identidade do sujeito – objeto dada na
contemplação suprarracional. A esfera da contemplação, segundo Schelling,
está acima de qualquer categoria de razão; como a lógica é possível para ele,
o que torna seu assunto os últimos fundamentos do conhecimento humano?
Consequentemente, a remoção das contradições, a nova doutrina das
contradições, não é para Schelling o núcleo da nova filosofia, mas serve
apenas como uma introdução "propedêutica" a ela. (As consequências de
longo alcance da atitude negativa de Schelling em relação à categoria de
reflexão são óbvias aqui.) Intrinsecamente segue da intuição de Schelling
que, juntamente com a dialética cética que existe para gênios filosóficos,
existe apenas a lógica formal anterior. A lógica formal é uma ciência
puramente empírica, e a dialética cética é apenas parte da "filosofia
transcendental" geral, que também é inerente aos pontos de vista de Fichte.
mas serve apenas como uma introdução "propedêutica" a ele. (As
consequências de longo alcance da atitude negativa de Schelling em relação
à categoria de reflexão são óbvias aqui.) Intrinsecamente segue da intuição
de Schelling que, juntamente com a dialética cética que existe para gênios
filosóficos, existe apenas a lógica formal anterior. A lógica formal é uma
ciência puramente empírica, e a dialética cética é apenas parte da "filosofia
transcendental" geral, que também é inerente aos pontos de vista de Fichte.
mas serve apenas como uma introdução "propedêutica" a ele. (As
consequências de longo alcance da atitude negativa de Schelling em relação
à categoria de reflexão são óbvias aqui.) Intrinsecamente segue da intuição
476
de Schelling que, juntamente com a dialética cética que existe para gênios
filosóficos, existe apenas a lógica formal anterior. A lógica formal é uma
ciência puramente empírica, e a dialética cética é apenas parte da "filosofia
transcendental" geral, que também é inerente aos pontos de vista de Fichte.
477
atravessa, e todo esse movimento como um todo é ... sua verdade ... Pode
parecer necessário dar instruções mais detalhadas com antecedência sobre o
método desse movimento ou ciência. conceito de o método já está no que é
dito, e sua apresentação no sentido apropriado refere-se à lógica, ou melhor,
é a própria lógica. Pois o método não é senão toda a estrutura como um
todo, erigida em sua essência pura”(32).
478
em seu auto movimento dialético. Portanto, uma introdução à filosofia deve
incluir exatamente o mesmo conteúdo que a própria filosofia. A ascensão à
filosofia ao longo da escada, que, segundo Hegel, é fornecida ao homem na
Fenomenologia, significa que a consciência humana cada vez mais alta
domina o conteúdo da realidade em diferentes níveis de seu pensamento.
Mas o conteúdo, embora apareça em diferentes níveis de consciência e seja
modificado de acordo com as formas objetivas de sua manifestação, é o que
constitui o sujeito da filosofia, a lógica dialética. Além disso, os vários
estágios da consciência que levam ao ponto de vista da filosofia estão
incorporados em “As fenomenologias do espírito "como" formas de
consciência "e nem em sua essência, nem em sua sequência são aleatórias,
mantendo-se em uma relação aleatória com as conexões objetivas da lógica
dialética, sendo generalizações do mesmo conteúdo que a filosofia, têm suas
próprias sequência, seu relacionamento um com o outro etc., exceto na
lógica dialética, mas, como a realidade é uma fonte comum da
fenomenologia e da lógica, elas devem corresponder de maneira complexa,
não linear e não esquemática manifestado em diferentes conteúdos,
portanto, o caminho para a filosofia é traçado por Hegel dentro da estrutura
da própria filosofia. numa relação aleatória com as conexões objetivas da
lógica dialética. Sendo generalizações do mesmo conteúdo que a filosofia,
têm sua própria sequência, sua conexão entre si, etc., além da lógica
dialética. Mas, como a realidade é uma fonte comum da fenomenologia e da
lógica, elas são uma e a mesma coisa, devem corresponder de maneira
complexa, indireta e não esquemática com conteúdo diferentemente
manifestado. Consequentemente, o caminho para a filosofia é traçado por
Hegel no próprio contexto da filosofia. numa relação aleatória com as
conexões objetivas da lógica dialética. Sendo generalizações do mesmo
conteúdo que a filosofia, têm sua própria sequência, sua conexão entre si,
etc., além da lógica dialética. Mas, como a realidade é uma fonte comum da
fenomenologia e da lógica, elas são uma e a mesma coisa, devem
corresponder de maneira complexa, indireta e não esquemática com
conteúdo diferentemente manifestado. Consequentemente, o caminho para
a filosofia é traçado por Hegel no próprio contexto da filosofia. de maneira
não linear, não esquemática, em conteúdos manifestamente diferentes.
Consequentemente, o caminho para a filosofia é traçado por Hegel no
próprio contexto da filosofia. de maneira direta e não esquemática, de
maneiras diferentes, manifesta o conteúdo. Consequentemente, o caminho
para a filosofia é traçado por Hegel no próprio contexto da filosofia.
479
conceito, combina em unidade direta a forma objetiva da verdade e o eu
conhecedor. O momento não aparece como um movimento de transição –
da consciência ou representação para a autoconsciência e vice-versa, mas
sua forma pura, liberada o fenômeno da consciência, o conceito puro e
quanto mais movimento deste último depende unicamente de sua pura
certeza. Pelo contrário, a cada momento abstrato da ciência corresponde a
uma formação que é o espírito de todos. (Em outras palavras,
fenomenologia.- GL) Assim como o espírito atual não é mais rico que a
ciência, não é mais pobre que em seu conteúdo. A cognição dos conceitos
puros da ciência nessa forma de formações da consciência constitui esse
aspecto deles, a realidade, em que sua essência, o conceito nele estabelecido
em sua simples mediação como pensamento, revela os momentos dessa
mediação e aparece, seguindo o oposto interior”(34).
480
Mas uma coisa é que os pensadores estão interessados nos mesmos
problemas, e outra é se o pensador é influenciado por outros na própria
formulação de problemas e em sua solução. A ideia de uma conexão
dialética entre categorias está no ar desde Kant, mas já vimos que Hegel
colocou o problema da lógica dialética em uma base científica e concreta.
Uma das últimas tentativas, indo exatamente nessa direção, foi feita por I.
Hoffmeister, que procura construir pontes entre as "eras da mente" no
"Sistema de Idealismo Transcendental" e a "Fenomenologia do Espírito". Seu
argumento é extremamente pouco convincente. E do lado formal, já que
Schelling constantemente mistura os lados subjetivo (fenomenológico) e
objetivo (lógico) do problema, enquanto a essência da fenomenologia reside
precisamente no desenvolvimento consistente e metodológico desse lado
subjetivo, e porque Schelling conduz esses pensamentos de maneira
completamente inconsistente porque é exatamente onde o problema para
Hegel começa, na filosofia da prática, para Schelling com suas "épocas da
razão" que ele termina.
Escusado será dizer que Kant tem lugares que indicam que ele está se
movendo nessa direção. No final de A crítica da razão pura, há um pequeno
capítulo chamado A história da razão pura(35). Mas este capítulo faz apenas
alguns comentários sobre um determinado esquema da história da filosofia,
e Kant, sobretudo, desenvolve uma abordagem histórica, concentrando-se
481
mais no desenvolvimento de certas possibilidades típicas para lidar com
questões cruciais da filosofia.
(1) Rosenkranz, K. Op. cit. p. 178. O fragmento publicado aqui está datado
incorretamente. Como as partes individuais do manuscrito coincidem quase
completamente com as palestras publicadas por Hoffmeister em 1803/04 e
1805/06, pode-se presumir que todo esse complexo de fragmentos data
exatamente desses anos. Uma cronologia mais precisa de fragmentos
individuais, é claro, é importante para entender o processo de “libertação”
de Schelling por Hegel, mas, para nossa apresentação, é de interesse
secundário. (retornar ao texto)
482
(7) Ibid, p. 184. (retornar ao texto)
(21) Aqui não temos oportunidade de expor todas essas construções sem
sentido que a história burguesa da filosofia cria sobre esse processo. Vamos
apontar apenas um que se tornou muito popular nos últimos anos, segundo
o qual a superação hegeliana da forma do idealismo objetivo representa um
retorno às posições de Fichte e até de Kant. Onde Hegel retorna aos
argumentos mais importantes de disputas anteriores entre Fichte e Schelling,
deve ficar claro para qualquer leitor que Hegel realmente considera o
mesmo problema que Fichte, mas critica Schelling pelo exato oposto.
(retornar ao texto)
483
(27) Rosenkranz, K., op. cit, p. 188. (retornar ao texto)
(28) Ibid., p. 214. E este manuscrito, Hegel, usado por Rosenkranz, está
perdido. (retornar ao texto)
(36) Kroner, R. von, Kant por Hegel, Tubinga, Tomo I, p. 147, 372. (retornar
ao texto)
484
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
Por outro lado, deve-se dizer que seria errado supor que existe uma
lacuna entre a Fenomenologia de Hegel e seu subsequente
desenvolvimento. O fato de o carro-chefe da Enciclopédia de Filosofia,
também chamado Fenomenologia, ter um significado muito mais restrito
para o sistema de filosofia concebido em Iena do que o trabalho discutido
aqui, não significa nada. Além disso, como se sabe, nos últimos anos de sua
vida, Hegel estava preparando uma nova edição de A Fenomenologia do
Espírito. Certamente, poderíamos ter um entendimento preciso e completo
de sua atitude em relação a este trabalho se essa nova publicação realmente
acontecesse, e pudemos ver as mudanças que Hegel fez na primeira edição.
Infelizmente, isso não ocorreu. Nosso entendimento do desenvolvimento de
Hegel chegou a um ponto em que podemos ver que, para o
desenvolvimento das visões de Hegel, a unidade dialética como "a
identidade da identidade e da não identidade" é muito essencial. A maneira
485
como esse desenvolvimento é realizado, como seus estádios individuais
estão conectados com as grandes realizações de seu tempo, deve mostrar a
pesquisa marxista ao processar todo o material existente relacionado a esse
processo.
486
subordinando completamente a ideia de "liberdade" à ideia de "unidade", ou
seja, capitulando a "monarquia bonapartista" (Engels) do Hohenzollern
liderado por Bismarck.
487
Uma carta a Nithammer, na qual ele descreve suas impressões imediatas
após a batalha de Iena, é conhecida por todos. Vamos citar um trecho dele
apenas porque outras cartas deste período foram escritas após a conclusão
da Fenomenologia, e para mostrar que o desenvolvimento das visões
políticas de Hegel é uma linha reta - desde o reconhecimento do golpe de
estado de 18 de Brumário no artigo sobre direito natural até a derrubada de
Napoleão. Consequentemente, as visões políticas de Hegel e sua
interpretação da modernidade na Fenomenologia formam um todo
orgânico. Ele escreveu em 13 de outubro de 1806: "O próprio imperador -
esta alma do mundo - vi quando ele montou um cavalo em um
reconhecimento. Realmente se experimenta uma sensação incrível ao
contemplar uma pessoa que, estando aqui, neste lugar, montando um
cavalo”(4).
Já é óbvio, pelos lugares citados, que Hegel nesses anos não era apenas
um defensor da política da União do Reno, mas também esperava que
Napoleão - por sua pressão energética sobre os príncipes alemães -
resolvesse qualquer problema em particular. Somente na questão da
488
completa centralização da administração ele, como vemos, não foi unânime
com Napoleão. Mas, por suas cartas, é muito claro que ele também viu nesse
assunto o que poderia ser melhorado durante o desenvolvimento do sistema
napoleônico. Portanto, ao criticar alguns dos detalhes desta questão, é
impossível construir qualquer oposição de Hegel ao regime napoleônico.
489
a nova ainda não foi revelada na realidade, na vida histórica, ainda não se
dividiu em muitos pontos diferentes. Essa conexão entre filosofia e tempo
histórico é à base de toda a compreensão hegeliana do desenvolvimento do
pensamento humano. Mas é por isso que é necessário mostrar que, já na
época em que escrevia a Fenomenologia, ele entende sua filosofia como a
forma espiritual de uma nova etapa na história do mundo. Enquanto isso,
sua interpretação posterior da relação entre filosofia e o desenvolvimento da
história do mundo, como veremos, tornou-se completamente diferente -
mantendo alguns princípios gerais da relação entre história e filosofia do
mundo. Como essa pergunta é essencial para a compreensão do
desenvolvimento filosófico de Hegel, é necessário citar suas declarações com
mais detalhes:
490
se transformaram em momentos, novamente, mas em seu novo elemento, se
desenvolvem em um sentido e forma recém-adquiridos.
491
de uma diferença fundamental nas visões filosóficas e históricas sobre o
desenvolvimento dos tempos modernos, sobre o lugar histórico da
modernidade.
O fato de que esta imagem, como sempre com Hegel, não é apenas
uma imagem, mas uma expressão sensivelmente vívida de pensamentos
essenciais, mostra sua descrição detalhada da mudança histórica que ocorre
na Reforma, ou seja, na sua forma Luterana: "Para os luteranos, a verdade
não está pronta um objeto, mas o próprio sujeito deve tornar-se verdadeiro
492
renunciando seu conteúdo privado por uma verdade substancial e
assimilando essa verdade a si mesmo (...). Graças a isso, a última bandeira
se desdobra em torno da qual os povos se reúnem, a bandeira do espírito
livre, que é em si mesmo, ou seja, na verdade, e somente nele, é em si
mesmo. Esta é a bandeira sob a qual servimos e que carregamos. A era que
começou desde então e continua agora, não teve e não tem outra tarefa
senão a implementação deste princípio no mundo”(12).
493
avaliação da Revolução Francesa permaneceu inalterada e é fundamental
para a periodização da filosofia a história do final de Hegel, segundo a qual
a era moderna começa com a Reforma, e todo desenvolvimento
subsequente implica apenas sua concretização e implantação, mas não pode
criar nada fundamentalmente novo. Hegel fala da Revolução Francesa:
“Como o sol está no céu e os planetas giram em torno dele, não se vê que
uma pessoa fique de cabeça para baixo, ou seja, confiou em seus
pensamentos e construiu a realidade de acordo com eles. Anaxágoras disse
primeiro que (a mente) governa o mundo, mas só agora o homem
reconheceu que o pensamento deveria governar a realidade espiritual. Então
foi um nascer do sol magnífico. Todos os seres pensantes celebraram esta
época. Naquela época, um sentimento elevado e tocante reinou supremo, o
mundo foi tomado de entusiasmo, como se só agora a verdadeira
reconciliação do divino com o mundo"(14).
494
A ideia principal das palestras sobre a filosofia da história é que um
golpe de estado social como a Revolução Francesa foi possível e necessário
apenas em países onde a Reforma não venceu. Hegel expressa
repetidamente essa ideia com total clareza. Ele toma como ponto de partida
o fato de que o movimento que começou com a Revolução Francesa nos
países romanos dominados pelo catolicismo não leva à estagnação, que
reação e revolução são inseparáveis entre si com o ritmo acelerado
correspondente do desenvolvimento histórico. Hegel vê a razão desse
movimento conturbado no fato de esses países permanecerem católicos.
"Assim, a abstração do liberalismo da França percorreu todo o mundo
românico, mas devido à escravidão religiosa, este mundo permaneceu uma
opressão política restrita. O fato é o princípio”(15).
495
Na filosofia da história do Hegel maduro, não se trata mais do
cristianismo em geral, mas das diferenças específicas entre o catolicismo e as
várias formas de protestantismo.
496
do que na época em que esperava uma transformação radical da Alemanha
com a ajuda da política da União do Reno de Napoleão. É necessário
analisar todo o material disponível para mostrar onde e no que é o realismo
de Hegel um passo à frente no conhecimento da realidade objetiva e onde
ele se transforma na afirmação de "positivismo acrítico". Essas tendências
coexistem nos trabalhos do Hegel maduro. Também é necessário descrever
especificamente o confronto dessas tendências e revelar o preço da forma
madura de sistematização de seus pontos de vista que Hegel realiza em
trabalhos posteriores.
498
publicadas por Rosencrantz, encontramos, por exemplo, o seguinte ditado:
“É claro que o verdadeiro deve ser apresentado a nós na religião, mas para
nossa educação a fé é algo transitório; a mente é fortalecida e com ela
enrijecida e fortalecida, o requisito de que não devemos acreditar na
verdade, mas devemos saber que não apenas a contemplamos, mas também
a compreendemos. O indivíduo conhece bem a verdade de sua
personalidade, que descreve o caminho de sua existência, mas espera
realizar a vida universal, filosofia"(23).
(2) Haym, R. Hegel und Sein Zeit, 1887, 2, Aufl. Leipzig, 1927, p. 258.
(retornar ao texto)
501
retorno romântico ao catolicismo, que encontrou expressão muito cedo, por
exemplo, em Novalis. (retornar ao texto)
(23) Rosenkranz, K., op cit., p. 182. Este é consoante com a ideia no artigo
“A diferença entre os sistema de Filosofia de Fichte e Schelling”, onde Hegel
diz que em religião moderna existe o lado da educação. Cf.: Esrte
Druckschriften. O mesmo entendimento ocorre na Fenomenologia. (retornar
ao texto)
502
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
504
outro segmento, se sente algum tipo de estado excruciante. Em poucas
palavras: fenomenologia nada mais é do que psicologia, na qual a
intervenção da história provocou desordem e confusão; ao mesmo tempo,
esta é uma história chocada em seu curso interno pela intervenção da
psicologia"(3). Esse reconhecimento abertamente expresso de seu desamparo,
em nossa opinião, é muito mais bonito devido à sua honestidade subjetiva
do que as explicações "pensativas" e "abstrusas" dos intérpretes modernos.
Não é por acaso que Engels formulou de maneira tão clara e expressiva
a principal ideia metodológica da “Fenomenologia”, enfatizando a conexão,
desconhecida pelo próprio Hegel e seu método inconsciente, com os
resultados posteriores da aplicação da doutrina evolutiva à natureza e à
história. O mal-entendido dos intérpretes burgueses de Hegel se deve ao fato
de que, sendo hostis à doutrina geral do desenvolvimento na natureza e na
sociedade, lutando contra ele e tentando difama-lo, eles não querem e não
podem entender as grandes ideias que estão se movendo nessa direção.
505
Se Aristóteles formulou uma grande verdade, definindo uma pessoa
como um "animal público", Hegel especificou essa grande verdade, vendo
no homem um "animal histórico". O próprio Hegel formula essa relação de
experiência genérica individual no prefácio da Fenomenologia e,
percebendo o profundo significado desse pensamento para entender todo o
trabalho, é necessário dar a afirmação correspondente de Hegel o mais
plenamente possível:
507
Assim, a consciência individual entra na segunda rodada de dominar a
experiência genérica. Agora, ela conhece a história como história real, e a
sociedade e seu desenvolvimento não são mais uma coisa morta ou um
destino terrível, mas um produto da atividade, prática das próprias pessoas.
Saber disso, porém, sendo apenas um resultado simples da primeira rodada,
ainda estava vazio e abstrato. A consciência individual, que dessa maneira
alcançou um conhecimento real da essência da sociedade e da história,
deve, portanto, mais uma vez passar por todo o processo de
desenvolvimento tribal. No segundo estágio, que também abrange toda a
história, do início ao presente, temos diante de nós uma história real em sua
integridade social concreta.
508
Pelo contrário, deve-se enfatizar que a estrutura da Fenomenologia que
apresentamos em suas características mais essenciais corresponde à estrutura
de Marx nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, na forma de um índice.
É verdade que ele não fundamentou essa reconstrução da estrutura, uma
vez que isso não se relacionava com o conteúdo e o objetivo de sua análise
crítica(6).
A. "Espírito subjetivo"
509
movimento reside no fato de que a consciência individual em todos os
lugares, isto é, no nível mais baixo e no mais alto, se encontra diante de si
um mundo externo alienígena, já preparado (natureza e sociedade).
510
integridade concreta do sistema. Aqui, pelo contrário, a consciência
confronta toda a realidade, a princípio incompreensível e abstrata, cujos
momentos – seu conteúdo e riqueza estrutural – aparecem apenas
gradualmente no curso de um longo desenvolvimento. Assim, a consciência
individual, sendo inicialmente abstrata, torna-se concreta. Hegel caracteriza a
linha principal deste processo da seguinte forma: "Portanto, no início apenas
os momentos abstratos pertencem à autoconsciência da substância, mas,
uma vez que estes últimos, como movimentos puros, se atraem ainda mais,
essa autoconsciência é enriquecida até que se afaste da consciência de toda
a substância, até envolver toda a estrutura de seus elementos essenciais e
(uma vez que essa atitude negativa em relação à objetividade é igual e
positiva, isto é, é uma proposição) até que deu à luz a si mesma e, ao
mesmo tempo, não a restaurou para a consciência. Num conceito que se
conhece como conceito, os momentos aparecem, portanto, mais cedo do
que o todo realizado, cuja formação é o movimento desses momentos. Na
consciência, pelo contrário, o todo, mas não compreendido no conceito,
antes dos momentos”. (É uma crença) até que ela lhe deu origem e, ao
mesmo tempo, não a restaurou para a consciência. Num conceito que se
conhece como conceito, os momentos aparecem, portanto, mais cedo do
que o todo realizado, cuja formação é o movimento desses momentos. Na
consciência, pelo contrário, o todo, mas não compreendido no conceito,
antes dos momentos”. (É uma crença) até que ela lhe deu origem e, ao
mesmo tempo, não a restaurou para a consciência. Num conceito que se
conhece como conceito, os momentos aparecem, portanto, mais cedo do
que o todo realizado, cuja formação é o movimento desses momentos. Na
consciência, pelo contrário, o todo, mas não compreendido no conceito,
antes dos momentos“(7).
Por outro lado, essa dialética é apenas uma parte, apenas um momento
de um movimento dialético holístico, que ocorre por trás das "formas de
consciência" existentes. Hegel não é um kantiano que identifica as formas de
consciência subjetiva com as formas e leis da realidade objetiva (para Kant,
o único mundo conhecível é o mundo dos fenômenos).
512
constante movimento, nunca compreendido por "formas de consciência".
Eles existem e agem em si mesmos e somente em si mesmos, e não pela
consciência dos sujeitos imediatos desse estágio de desenvolvimento do
espírito. O espírito ainda não se dirigiu ao homem como espírito.
Esse dualismo, que para Hegel, é claro, não significa uma compreensão
dualista do mundo como um todo, é uma consequência metodológica da
abstração da qual a Fenomenologia procede. O dualismo existe apenas para
"formas de consciência", mas não para filósofos e, portanto, não para o
leitor. Se Hegel, no lugar citado anteriormente, diz que as conexões decisivas
entre objetividade e subjetividade são opacas às "formas de consciência",
mas são compreensíveis para nós, então ele se refere ao leitor filosófico que
considera o caminho do desenvolvimento da raça humana de um ponto de
vista superior.
513
característica do antigo materialismo. , inclusive para Feuerbach. Lembre-se
das críticas que Marx deu na sexta tese sobre Feuerbach para entender a
importância desse pensamento hegeliano. Criticando Feuerbach, Marx disse:
"Para ele, a essência humana só pode ser considerada uma 'raça', uma
universalidade interna e burra, conectando muitos indivíduos apenas por
laços naturais"(9). A verdade da exposição hegeliana está justamente no fato
de ele entender essa conexão não apenas como natural, mas como uma
etapa do processo geral de “alienação” (Entäußerung).
514
toda a realidade, é principalmente um resultado; ainda não mostrou seu
movimento e realidade e é identificado aqui diretamente como um simples
em si mesmo". sendo... Essa limitação do ser não pode, no entanto, limitar
as ações da consciência, pois a última ortografia aqui é uma correlação
completa de si mesmo; a correlação com o "outro" foi removida, e essa
correlação seria sua restrição... Essa natureza inicial específica da consciência
que permanece livre e completamente nela aparece como o conteúdo real
imediato e único daquilo que constitui a meta do indivíduo; embora seja um
determinado conteúdo, mas geralmente é apenas na medida em que
consideramos isoladamente o isolamento; de fato, é realidade, imbuída de
individualidade – realidade na forma em que está contida na própria
consciência como uma consciência única... “embora seja um determinado
conteúdo, mas geralmente é apenas na medida em que consideramos
isoladamente o isolamento; de fato, é realidade, imbuída de individualidade
– realidade na forma em que está contida na própria consciência como uma
consciência única...” embora seja um determinado conteúdo, mas
geralmente é apenas na medida em que consideramos isoladamente o
isolamento; de fato, é realidade, imbuída de individualidade – realidade na
forma em que está contida na própria consciência como uma consciência
única... “(10).
515
sinos ou sopros quentes de nevoeiro, pensamento musical que não atinge o
conceito que seria o único modo de objeto imanente, estes sentimentos
internos de seu assunto, mas apenas sobre (assim eintretend), ele entra
(Eintritt) não gostam de compreender a noção de sujeito, mas porque –
como algo estranho... Portanto, a consciência pode encontrar na presença
de uma sepultura de sua vida... Como não possui essa confiabilidade para
si, seu “interno”, pelo contrário, continua sendo minado pela confiabilidade
em si; a confirmação que poderia receber em trabalho e consumo é,
portanto, precisamente uma confirmação tão desgastada; ou melhor, ele
próprio deve destruir essa confirmação em relação a si próprio, de modo
que, é claro, encontra nele confirmação, mas apenas confirmação de que é
para si mesmo, ou seja, confirmação de sua divisão.
516
A segunda crise da consciência individual é característica da era da
formação da sociedade burguesa moderna e está sendo realizada nela. Não
temos a oportunidade de considerar todo o caminho do desenvolvimento da
consciência entre essas duas crises descritas por Hegel e, além disso, prestar
atenção ao desenvolvimento do desenvolvimento da natureza externa, que
corresponde ao desenvolvimento da consciência. Na segunda grande crise,
todos os problemas sócio morais surgem, cuja interpretação por Hegel já é
conhecida por seu próprio relato, por sua polêmica com um entendimento
subjetivo-idealista da sociedade e da moralidade. Sem expandir nossa
exposição, lembramos ao leitor o conteúdo da exposição anterior e
consideramos apenas o aspecto especificamente fenomenológico dessa
questão. Aqui estamos falando de dialética no confronto entre a realidade
individual e social, enquanto é conhecida que este último aparece como
incognoscível, misterioso para o indivíduo, como algo alheio às atividades
do indivíduo e, em casos extremos, trágicos, quando o indivíduo atinge o
limite, ele e a sociedade se opõem. “Portanto, a consciência, através de sua
experiência na qual sua verdade lhe deveria ser revelada, tornou-se um
mistério para si mesmo: as consequências de suas ações para ela não são
suas próprias ações; o que acontece com ela não é para ele a experiência
que ela é em si mesma; uma transição não é simplesmente uma mudança na
forma de um e o mesmo conteúdo e uma e a mesma essência, apresentada
em um caso como o conteúdo e a essência da consciência, no outro – como
um objeto ou essência contemplada de si mesmo, a única felicidade não
compreender a noção do poder da universalidade”(12).
517
ele tem como ser natural, ou seja, como uma individualidade real. O fato de
que mesmo essas funções muito comuns não são destruídas, mas têm
realidade, é universal. meio ambiente, graças ao poder de todo o povo”(13).
Não há lugar para uma descrição detalhada desse processo, que deve
fornecer um comentário detalhado. Primeiro de tudo, o princípio do
desenvolvimento é importante, segundo o qual o indivíduo, a consciência
individual, embora extremamente lenta e muito desigual, em crises trágicas
graves, revela a conexão dialética da própria subjetividade com o
desconhecido "ser em si" da realidade social objetiva. O princípio desta
história de educar a consciência individual é óbvio a partir da citação acima
– este é o princípio da conexão real do indivíduo com a sociedade, realizada
através das necessidades, da sua satisfação, criando condições para
satisfazer as necessidades no próprio trabalho.
518
é, na mesma medida, satisfazer as necessidades dos outros e as suas
próprias, e ele só pode satisfazer suas necessidades graças ao trabalho de
outras pessoas." Como indivíduo, em seu trabalho individual, ele
inconscientemente realiza algum trabalho comum, desse modo, ele também
faz o trabalho geral como seu objeto consciente; o todo se torna como um
todo seu trabalho, pelo qual ela se sacrifica, e é por isso que ela se afasta
dele”(14).
519
mas, na realidade, pelo contrário, sua própria atividade de interesse próprio
deve e inevitavelmente se tornar social, socialmente útil, associada às
atividades de outras pessoas, se transformar em uma atividade tribal da
humanidade. "Quando ela (individualidade. – D. L.) age com interesse
próprio, então ela simplesmente não sabe o que está fazendo; e quando ela
garante que todas as pessoas agem em benefício próprio, ela apenas afirma
que nem uma única pessoa está ciente de que ação é essa superação
objetiva do autoengano da consciência egoísta, no entanto, não significa que
seu interesse próprio, o papel e o significado da prática individual na
sociedade sejam superados ou pelo menos enfraquecidos”(16).
520
clareza, mas também seu reflexo no subjetivo, embora Hegel, nesse estágio,
apenas fixe os pré-requisitos e condições para a transição para a
objetividade consciente da prática social. Ele descreve a relação da
consciência individual com o todo social da seguinte forma: “O todo é a
interpenetração em movimento do indivíduo e do universal; mas, como esse
todo está disponível para essa consciência apenas como uma entidade
simples e, portanto, como uma abstração da essência da matéria, os
momentos desse todo eles se desintegram como desconectados por fora e
por fora, e como um todo se esgota e se manifesta apenas por uma
alternância separada de trazer à tona e proteger-se”(19).
521
burguesa moderna. (No último capítulo, dedicado à crítica de Marx da teoria
hegeliana da alienação, examinaremos em detalhes como Hegel se engana
em sua apresentação da forma capitalista de "alienação do trabalho" e quais
são as consequências específicas de seus erros.).
522
individual para a objetividade social, ainda assim argumenta com a filosofia
característica do estágio já superado. Por um lado, sabemos desde os
primeiros trabalhos de Hegel que ele considera Kant e Fichte como a mais
alta expressão filosófica da crise geral no desenvolvimento da humanidade,
que encontrou sua expressão sócio histórica na Revolução Francesa. Por
outro lado, conhecemos o lado idealista da "alienação" (EntauBerung) no
sistema hegeliano, como resultado do qual ele vê nas formas "superiores"
"espirituais" dessa "alienação" que estão longe da relação direta de
mercadorias.
B. "Espírito objetivo"
523
Portanto, o mais alto nível de subjetividade significa ao mesmo tempo uma
nova forma da objetividade original do trabalho:
524
C. "Espírito que possui autoconfiança, moralidade". (A utopia de Hegel
sobre a Alemanha sob o reinado de Napoleão. Poesia e filosofia dos
clássicos alemães como a mais alta forma ideológica do período
napoleônico, resolução da crise global).
525
necessidade deste mundo se decompor para dar lugar a outro mundo, mais
elevado e alienado da sociedade burguesa moderna. "O espírito, uma vez
que é a verdade imediata, é a vida moral do povo; é um indivíduo que é
algum tipo de mundo. Ele deve ir à consciência do que é diretamente, tirar
uma bela vida moral e, depois de passar por uma série de formações,
alcançar o conhecimento de si mesmo.”(23).
526
Hegel descreve o estado social emergente e o sujeito alienado que
surgiu nele de uma maneira necessária: viram que as forças e formas do
mundo moral se afogavam na simples necessidade de um destino vazio. Esta
força do mundo moral é uma substância que se reflete em sua simplicidade;
mas a essência absoluta que se reflete, a saber, a necessidade indicada de
um destino vazio, não é por outro, como consciência "I". “Esse novo estado
é a sociedade romana, o estado do direito abstrato: ““... esse
reconhecimento é sua substância; mas essa substância" é uma universalidade
abstrata, porque seu conteúdo é "esse" eu frágil,
527
com essa universalidade vazia, a substância tem a forma de preenchimento e
conteúdo, e agora esse conteúdo recebe total liberdade e é desordenado,
porque não há mais espírito que a subordine e a mantenha em unidade.
Essa "pessoa" vazia (a Pessoa) em sua realidade é, portanto, uma existência
aleatória e desprovida de movimento e ação da essência, que não atinge
nenhuma constância. Assim como o ceticismo, o formalismo da lei, portanto,
em virtude de seu conceito é desprovido de um conteúdo específico,
encontra uma existência sustentável diversificada, posse e, como o ceticismo,
imprime nele a mesma universalidade abstrata, em virtude da qual a
propriedade é chamada propriedade. Mas se a realidade assim definida no
ceticismo é geralmente chamada de visibilidade e tem apenas valor negativo,
então, na lei, tem valor positivo... Nos dois [casos], existe um único e
abstrato universal; o conteúdo ou a certeza real da 'mina' – seja propriedade
externa ou riqueza interna ou pobreza de espírito e caráter – não está
contida nessa forma vazia e não tem nada a ver com isso. O conteúdo real,
portanto, pertence a algum poder próprio, que é algo diferente desse
formalmente universal, que é um acidente e arbitrariedade. A consciência da
lei, portanto, em seu significado real, experimenta a perda de sua realidade e
sua completa imaterialidade, e designar um indivíduo por uma pessoa é uma
expressão de desprezo então, na lei, tem um valor positivo... Nos dois
[casos] existe um único e abstrato universal; o conteúdo ou a certeza real da
'mina' – seja propriedade externa ou riqueza interna ou pobreza de espírito e
caráter – não está contida nessa forma vazia e não tem nada a ver com isso.
O conteúdo real, portanto, pertence a algum poder próprio, que é algo
diferente desse formalmente universal, que é um acidente e arbitrariedade. A
consciência da lei, portanto, em seu significado real, experimenta a perda de
sua realidade e sua completa imaterialidade, e designar um indivíduo por
uma pessoa é uma expressão de desprezo então, na lei, tem um valor
positivo... Nos dois [casos] existe um único e abstrato universal; o conteúdo
ou a certeza real da 'mina' – seja propriedade externa ou riqueza interna ou
pobreza de espírito e caráter – não está contida nessa forma vazia e não tem
nada a ver com isso. O conteúdo real, portanto, pertence a algum poder
próprio, que é algo diferente desse formalmente universal, que é um
acidente e arbitrariedade. A consciência da lei, portanto, em seu significado
real, experimenta a perda de sua realidade e sua completa imaterialidade, e
designar um indivíduo por uma pessoa é uma expressão de desprezo – se a
posse externa ou a riqueza interna ou a pobreza de espírito e caráter não
estão contidas nessa forma vazia e não têm nada a ver com isso. O conteúdo
real, portanto, pertence a algum poder próprio, que é algo diferente desse
formalmente universal, que é um acidente e arbitrariedade. A consciência da
lei, portanto, em seu significado real, experimenta a perda de sua realidade e
sua completa imaterialidade, e designar um indivíduo por uma pessoa é uma
expressão de desprezo – se a posse externa ou a riqueza interna ou a
pobreza de espírito e caráter não estão contidas nessa forma vazia e não têm
528
nada a ver com isso. O conteúdo real, portanto, pertence a algum poder
próprio, que é algo diferente desse formalmente universal, que é um
acidente e arbitrariedade. A consciência da lei, portanto, em seu significado
real, experimenta a perda de sua realidade e sua completa imaterialidade, e
designar um indivíduo por uma pessoa é uma expressão de desprezo“(26).
529
(Entäußerung) como a identidade do sujeito-objeto que a prática social. O
sujeito deve encarnar-se cada vez mais do lado de fora e se alienar, entrando
em laços sociais cada vez mais ricos, agradecendo-se ao seu trabalho, graças
às suas "ações e aspirações" individuais e interessadas, o sujeito-objeto
idêntico dessas relações sociais e gradualmente durante esse
desenvolvimento. , no curso do desenvolvimento objetivo da riqueza de
definições sociais, da integridade e das leis do sistema econômico moderno,
conhecendo-se no topo de sua "alienação" (Entäußerung) como a
identidade do sujeito-objeto que a prática social. O sujeito deve encarnar-se
cada vez mais do lado de fora e se alienar, entrando em laços sociais cada
vez mais ricos, agradecendo-se ao seu trabalho, graças às suas "ações e
aspirações" individuais e interessadas, o sujeito-objeto idêntico dessas
relações sociais e gradualmente durante esse desenvolvimento. , no curso do
desenvolvimento objetivo da riqueza de definições sociais, da integridade e
das leis do sistema econômico moderno, conhecendo-se no topo de sua
"alienação" (Entäußerung) como a identidade do sujeito-objeto que a prática
social.
530
Somente do ponto de vista desse conceito filosófico se torna claro o real
significado da periodização hegeliana da história do mundo; somente dessa
posição é possível ver sua relativa justiça e concentrar o curso histórico dos
eventos para descrever a história do surgimento da sociedade burguesa
moderna. Já dissemos que Hegel presta pouca atenção à Idade Média. Em
alguns comentários, ele se refere à atitude dos senhores feudais em relação
ao monarca medieval. Ele está muito mais interessado na eliminação do
sistema feudal, e aqui para ele, assim como no artigo sobre a constituição, a
forma francesa de decomposição do feudalismo e o surgimento de uma
monarquia absoluta atua como uma forma clássica desse desenvolvimento.
531
O conteúdo ideológico decisivo dessa transformação é a luta do
Iluminismo com a religião. Para compreender completamente o conceito
histórico de Hegel, é preciso primeiro dizer que seu Iluminismo surge no
quadro de uma monarquia absoluta burguesa, que a imagem da luta que o
Iluminismo travou ideologicamente contra a religião, Hegel se conecta
economicamente com a sociedade capitalista em desenvolvimento e sua
ideologia e politicamente com os franceses. revolução.
532
visões morais anteriores em desenvolvimento nesta época. formas de
moralidade pública; a relatividade dessas formas, sua transformação em seu
oposto, se torna aparente.
533
considerava essa descontinuidade como uma crise e, no entanto, como uma
transição necessária para a verdadeira filosofia. Hegel também enfatiza mais
uma vez com grande força que o ceticismo real que surge da própria
essência da matéria tem um momento de verdade no conhecimento da
relatividade de vários objetos e conceitos entre si, um momento que pode
levar à conquista da penetração dialética na unidade dinâmica dos opostos.
534
de apresentação das principais ideias filosóficas e históricas, em particular a
que a dialética, sendo uma consciência subjetiva, também é um produto da
vida social, e não apenas o resultado de um pensamento filosófico abstrato.
535
mesmo e, por sua vez, o que é para si, não é verdade, mas há algo mais que
isso o que quer ser: por si mesmo Eu-ser é, pelo contrário, a perda de si
mesmo e a alienação de si mesmo é, pelo contrário, a autopreservação.
Portanto, existe o fato de que todos os momentos exercem justiça universal
em relação um ao outro, cada um em si mesmo se aliena na mesma medida
em que se apresenta no oposto de si mesmo e assim o perverte. O
verdadeiro espírito, no entanto, é precisamente essa unidade dos
[momentos] absolutamente separados um do outro e, ao mesmo tempo,
atinge a existência como um termo médio desses termos extremos
autoprovocados, precisamente graças à sua realidade livre... Esses
julgamentos e conversas são, portanto, verdadeiros e irresistíveis, até agora
eles superam tudo; eles são os únicos verdadeiramente importantes neste
mundo real. Toda parte deste mundo alcança aqui que seu espírito (sein
Geist) fala, ou que é espirituoso (mit Geist) fala (e fala, G. L.) considera cada
momento como uma materialidade constante, e é uma falta de educação
sem instrução quando não sabe que é assim que se trata de perversão. Mas
uma consciência dilacerada é uma consciência de perversão e, além disso,
perversão absoluta; o conceito é aquele que domina essa consciência e liga
pensamentos que estão distantes um do outro em relação à honestidade e,
portanto, sua linguagem é espirituosa (Geistreich)“(31).
536
central para esta análise, em comparação com onde Hegel leva essas
contradições a uma síntese mais elevada, à "reconciliação".
Mas tal dialética, que não contém foco no progresso, não é capaz de
apresentar a história do desenvolvimento da humanidade em sua conexão,
na linha principal de seu desenvolvimento progressivo, como já vimos em
conexão com a análise da “tragédia da moralidade”. Isso leva a uma
contradição no pensamento hegeliano, à qual retornaremos mais uma vez.
É verdade que Hegel faz algumas reservas aqui, mas elas se relacionam
a estágios posteriores de desenvolvimento – à esfera do "espírito absoluto",
onde, como veremos, a religião desempenha um papel completamente
diferente. As reservas que Hegel faz aqui em relação ao irresistível triunfo do
Iluminismo, portanto, provam ser uma preparação para a transição para a
próxima etapa. Aqui, na fase da crise do novo espírito emergente, no campo
da transição real do espírito em si devido à completa “alienação”
(EntauBerung), a insuperabilidade do Iluminismo é um fato
progressivamente necessário para Hegel.
537
desenvolvida. Já o encontramos na primeira seção de Fenomenologia. Ali
apareceu, visto do ponto de vista da consciência individual, como o "reino
espiritual dos animais", como um mundo de interesse próprio. É verdade
que, ao mesmo tempo, o movimento social em si – não reconhecido pelo
sujeito individual – alcançou o significado de universalidade e socialidade
das "ações e aspirações" individuais do sujeito interessado. Em um nível
mais alto da experiência patrimonial, uma conexão social já está expressa, é
claro, com relação ao desenvolvimento da consciência das pessoas, em
constante correlação com o desenvolvimento da consciência(33). O conceito
hegeliano de "alienação" (Entfremdung) obtém aqui uma expressão clara. A
afirmação disso é de grande importância para o correto entendimento da
terceira seção. Aqui veremos que a autoconsciência completa do espírito
absoluto no "conhecimento absoluto" não acrescenta nada significativo em
comparação com esse estágio.
538
desprovido de distinção: (nicht unterschieden); é uma simples
autoconsciência pura, que está em alguma unidade imediata tanto para si
quanto para si mesma“(34).
540
capítulo considerado aqui, Hegel aborda essa questão do lado da dialética
do ser. Ele afirma que nas etapas anteriores da "Fenomenologia" havia uma
falta de realidade mundial para a consciência humana. É precisamente nisso
que a sociedade capitalista realizada e desenvolvida traz consigo algo novo
na história. "Essa deficiência foi alcançada em utilidade, na medida em que
a pura sanidade ganhou nela objetividade positiva; em virtude disso, a pura
sanidade é uma consciência válida e satisfeita em si mesma. Essa
objetividade agora constitui seu mundo; tornou-se a verdade de todo o
mundo precedente, ideal e real... Útil é um objeto, porque a autoconsciência
penetra nele e, uma vez que a autenticidade única de si mesma encontra
nele prazer (seu próprio ser); dessa maneira, examina sensatamente o
sujeito, e esse olhar sensível também incorpora a verdadeira essência do
sujeito (consistindo no fato de que é algo permeável aos olhos ou para
alguns "outros"); portanto, essa própria sanidade é o verdadeiro
conhecimento e a autoconsciência, assim como possui diretamente a
autenticidade universal de si mesma, sua pura consciência a esse respeito,
na qual, portanto, estão unidos como verdade, assim é o ser real e a
realidade. Ambos os mundos são reconciliados, e o céu é transplantado para
a terra.”(37).
541
O estado mundial que surgiu aqui surgiu sobre os escombros do antigo
e é uma verdadeira remoção no sentido hegeliano da palavra. Até a
“liberdade absoluta”, o “terror jacobino”, de acordo com o entendimento de
“Fenomenologia do espírito”, também é historicamente inevitável: eles
constituem o ponto mais alto absoluto da “alienação” (Entäußerung), o
ponto de virada no qual o retorno da “alienação” (Entäußerung) ao sujeito
pode ocorrer. . “Assim, a liberdade absoluta suavizou em si o próprio oposto
da vontade universal e individual; o espírito alienado, levado ao extremo de
seu oposto, no qual a pura manifestação da vontade e a que manifesta a
pura vontade reduz essa oposição a uma forma transparente e encontra-se
nele”
542
Iena não poderia causar a Hegel uma mudança acentuada em suas visões
anteriormente defendidas, mas apenas sua aprovação adicional. E essa
posição geral refletiu-se apropriadamente na parte final do "espírito
objetivo", e especialmente na imagem da Alemanha.
As opiniões políticas de Hegel deste período são conhecidas por nós das
outras cartas a Nithammer. Em um deles, após a queda de Napoleão, Hegel
aponta para os aspectos decisivos da transição dialética da Revolução
Francesa para a descrição do estado da Alemanha como o ponto em que ele
antecipou mentalmente o desenvolvimento futuro. Este lugar é diretamente
adjacente ao que citamos acima, onde Hegel descreve os resultados
positivos e irreversíveis da "liberdade absoluta" para o desenvolvimento do
espírito. Hegel expande sua explicação da seguinte maneira: "Assim como o
reino do mundo real passa para o reino da fé e da sanidade, a liberdade
absoluta passa da realidade autodestrutiva de alguém para outro país com
um espírito autoconsciente, onde é considerado verdadeiro nessa invalidez,
no pensamento sobre o qual o espírito encontra prazer, porque é um
pensamento e permanece um pensamento, e sabe que isso está encerrado
na autoconsciência como uma entidade perfeita e completa. Uma nova
forma surgiu – moral"(41).
543
econômica, a relação que ele é antes disso, o caráter da obrigação que não
havia sido encontrado anteriormente por Hegel é mais claramente revelado
na seção final do capítulo, onde o "espírito absoluto" incorporado na religião
aparece como o verdadeiro conteúdo desse estado da sociedade.
544
O fato de que o "espírito absoluto" já vem à tona no desenvolvimento
substancial da doutrina da sociedade necessariamente decorre do fato de
que, sob as condições históricas dadas, que Hegel sempre se esforçou para
considerar realisticamente, não havia outra maneira de determinar o lugar
histórico da Alemanha. Na própria “Fenomenologia”, isso é revelado, como
já vimos, na utopia vazia do “espírito moral”. Somente após a queda de
Napoleão essa tendência se estabeleceu temporariamente com tanta força
que o povo alemão apareceu na história! como portador de "espírito
absoluto", como arauto da filosofia. Hegel fala sobre isso em seu discurso de
abertura em Heidelberg (1817): "Nós (ou seja, os alemães. – G. L.)
recebemos da natureza uma alta vocação para ser os guardiões deste fogo
sagrado, assim como... mesmo antes que o espírito do mundo tivesse
preservado para o povo judeu uma consciência mais elevada de que ele,
esse espírito, viria deste povo como um novo espírito”(43). É claro que em
Hegel esse desvio extremo da realidade histórica, do significado real da
filosofia não poderia demorar. No período de Berlim, a já conhecida forma
final de "reconciliação" substitui essa orientação extrema por "espírito
absoluto". No entanto, dentro da estrutura desse entendimento, existe certa
tendência esotérica. Para Hegel, neste período de transição, o conhecimento
absoluto não é apenas uma declaração vazia, em termos do que foi
alcançado na realidade histórica e quais são as leis desse movimento. O
entendimento hegeliano da filosofia neste período contém uma tendência
"esotérica" - a esperança de transformar a própria realidade pelo tema de
revolucionar o mundo do pensamento, ou pelo menos acelerar essa
transformação. Então, mesmo durante o reinado de Napoleão(44), nas cartas
imediatamente após a queda de Napoleão, essa tendência é revelada de
uma forma ainda mais explícita.
545
tendência, uma vez que em trabalhos posteriores de Hegel há lugares
semelhantes a esse Heine coloca a boca de Hegel nessa conversa, o vazio
que mostramos no capítulo final, no qual Hegel considera o
desenvolvimento social, indica claramente que para ele era objetivamente
impossível superar mentalmente e contradições da sociedade capitalista, a
interpretação de que temos considerado na análise de uma "tragédia da
moralidade." Ao dar uma descrição profunda e significativa do movimento
de contradições que são constantemente reproduzida como a controvérsia
Iluminismo
C. O Espírito Absoluto.
546
sempre experimentando sua modernidade histórica, agora chegamos ao
estágio
547
Ao considerar a religião, que é um dos processos decisivos desse
desenvolvimento, fala-se da metodologia específica desta seção. Sobre a
relação da religião com as “formas de consciência” anteriormente
consideradas e as “imagens do mundo”, ele diz o seguinte: “Se, portanto, o
espírito autoconhecimento geralmente inclui consciência, autoconsciência,
mente e espírito, então certas formas pertencem a certas formações do
espírito autoconhecimento. consciência interior, autoconsciência, razão e
espírito desenvolvidos em cada um deles individualmente. Para seu espírito
real, certa forma de religião extrai das formas de cada um de seus momentos
as que lhe correspondem”(47).
548
aqui. Em segundo lugar, esta terceira seção contém um movimento
fenomenológico subjetivo, que iremos abordar mais detalhadamente mais
adiante – o desenvolvimento da consciência para o estágio do conhecimento
absoluto, cujos estágios são arte e religião.
549
filosofia dos séculos XVII-XVIII frequentemente se opunha à historicidade e à
objetividade e coloca a objetividade do conhecimento em um oposto nítido
e não dialético à gênese histórica de todas as formas da sociedade e do
pensamento humano. A virada mais importante que Hegel deu foi a virada
para o historicismo genuíno.
Deste ponto de vista, fica claro por que, na citação citada anteriormente,
Hegel diz que, no "espírito absoluto", não surgem novos momentos
significativos, mas apenas aqueles criados pelo processo histórico e que são
colocados apenas em uma nova conexão. De fato, a efetividade histórica
real, por exemplo, de uma teoria, não é idêntica ao seu verdadeiro
conteúdo. Hegel está claramente ciente de que esses dois lados devem ser
considerados metodologicamente distintos. O primeiro lado pertence ao
campo do "espírito objetivo", o segundo ao "espírito absoluto".
550
antecessores. Antes de Hegel, eles não apenas se contrastavam fortemente
com a história universal e a verdade objetiva, mas também viam um
progresso gradual e direto na história. A unidade dialética do espírito
objetivo e absoluto, que ao mesmo tempo inclui distinção e oposição
dialéticas, possibilita a Hegel descrever dialeticamente a desigualdade do
desenvolvimento histórico, ver, por exemplo, em andamento o momento do
movimento para trás e da regressão – preparação em certos aspectos para
um novo salto.
Ao mesmo tempo, Hegel faz uma distinção entre os três grandes estágios
do desenvolvimento da consciência – arte, religião e filosofia. Falaremos
mais detalhadamente sobre a distorção idealista do conceito hegeliano como
resultado dessa definição do lugar e do papel da religião. Aqui é necessário
pensar brevemente na essência das ideias profundas e engenhosas de Hegel.
551
Hegel não apenas previu que o racional e o correto frequentemente
aparecem de uma forma irracional e incorreta, ele vê a tarefa do historiador
filosofista em abrir e revelar em qualquer fenômeno, em qualquer tendência
de desenvolvimento, a "razão da história" inerente a eles. Além disso, Hegel
está longe da noção limitada predominante de que era necessário
reconhecer e estudar para derramar sobre essas novas conquistas teóricas
importantes e descobertas de novas conexões dialéticas que aparecem no
vestuário acadêmico oficial e na terminologia filosófica relevante.
552
“Entäußerung” pelo sujeito deveria ser realizado, mas esse local na
apresentação filosófica permanece vazio.
553
processo dialético, e Hegel, é claro, propõe a suposição idealista de que sem
o assunto é impossível sem objetividade na execução do processo. A
cognição das conexões essenciais nesse estágio de “alienação”
(Entäußerung) consiste no fato de que é usada exclusivamente para a
cognição do processo social e a interação entre o sujeito e o objeto, e mostra
que a superação da natureza fetichizada das formações sociais nas relações
dinâmicas e contraditórias das pessoas é um momento essencial no processo
social.
No entanto, sabemos que Hegel não estava satisfeito com essa descrição
da alienação (Entäußerung), dessa maneira de superá-la. Ele acreditava que
era necessário ir além, e essa saída tira dele uma forma confusa de
superação da objetividade. Hegel começa com a forma mais elevada do
espírito objetivo, com o estágio da moralidade, e diz: "Uma pessoa
autoconsciente que tem educação, que passou pelo mundo do espírito
alienado de si mesma, criou uma coisa como ele mesmo por seu desapego,
portanto, mantém-se nela e conhece a não-independência. ela, ou que uma
coisa é essencialmente apenas ser para outra, ou, para expressar
completamente a relação, isto é, aquilo que por si só compõe a natureza do
objeto, pois ela tem o valor de algo que é auto-existente; proclamação
certeza sensível com verdade absoluta(52).
554
natureza da representação inerente à religião, como vimos, requer certa
preservação da objetividade e, portanto, inadequação de formas superiores
de realização da identidade do sujeito e do objeto. Hegel caracteriza assim a
relação desses dois passos: "Assim, qual religião era o conteúdo ou a forma
do processo de representar algum" outro”, aqui está o ato real do eu... O
que adicionamos aqui é, por um lado, apenas uma coleção de momentos
individuais, dos quais cada um em seu princípio manifesta a vida do espírito
como um todo e, por outro lado, a consolidação de um conceito na forma
de um conceito”(53).
555
Primeiro, é muito característico de Hegel que sua atitude "esotérica" em
relação à religião seja expressa onde ele apresenta o plano – retratar a
história real em seu curso real – portanto, na segunda seção. Em segundo
lugar, devido à natureza contraditória do conceito hegeliano de “alienação”
(Entäußerung), a questão da natureza não é discutida em absoluto e na
segunda seção em particular. Esta seção é quase inteiramente dedicada a
questões sócio-históricas. Os problemas da filosofia natural, especialmente os
problemas do relacionamento da consciência individual com as formas
substantivas e objetivas da natureza, desempenham um papel importante na
primeira seção. Quando reaparecem na terceira seção, sua subjetividade e
seu conteúdo social devem ser entendidos novamente pelo sujeito. Isso
revela claramente o lado duplo do conceito de alienação (EntauBerung):
tirado de seu lado real e frutífero, relaciona-se às atividades sociais reais das
pessoas; tomado do lado da especulação idealista, pelo contrário,
transforma-se no princípio da suposição de objetividade em geral.
556
dotados de uma forma de individualidade, mas é apenas imaginário neles e
não é inerente a eles e a si mesmos: o eu real não tem sua substância e
conteúdo de um momento tão abstrato, de modo que o eu, sujeito, se eleva
acima desse momento como sobre uma única propriedade e, colocando essa
máscara, expressa a ironia dessa propriedade, que quer ser algo para si
mesma”(55).
557
verdade do materialismo. Mas, ao mesmo tempo, a verdade da essência da
teologia é assumida. Portanto, voltamos novamente à negação do ateísmo, à
negação da negação da teologia; assim, através da filosofia, a teologia é
restaurada a seus direitos. Deus é apenas porque Deus é que ele vence, nega
a matéria, nega isso de Deus. A afirmação verdadeira, de acordo com Hegel,
há uma negação da negação. Então, no final, nos encontramos novamente
de onde viemos originalmente – no seio da teologia cristã”(56).
558
revela que a vida histórica, que é o conteúdo do conhecimento absoluto, em
virtude de sua forma religiosa, se move na direção de dominar
“Entäußerung” pelo sujeito, ou na religião. formas manifestas (como vimos,
imperfeitas).
560
Já descrevemos em detalhes as razões sociais pelas quais Hegel
gravitava ao idealismo. Agora vemos como esse idealismo se encontra nos
mitos religiosos e pode, pela primeira vez, tornar-se real graças à sua retirada
(preservação). A verdade da religião, segundo Hegel, é a dialética da
"alienação" (EntauBerung) e sua superação, "aprofundando-se". Somente
nele o que estava ausente, segundo o conceito hegeliano de dialética, na
"educação", no Iluminismo, a saber, o momento da unidade sintética, a
"reconciliação", a remoção da objetividade, podem ser expressas. Os mitos
da religião, especialmente os mitos do cristianismo, são, portanto,
mistificados por Hegel no sentido de que revelam as formas originais da
dialética hegeliana – a tríade dialética, a "alienação" (EntauBerung) e sua
remoção, etc. – como o conteúdo real da religião. A mesma religião
representa para a realidade histórica de Hegel, um movimento histórico no
qual as formas do movimento da realidade e do pensamento aparecem
como decorrentes da própria essência da questão.
561
cristã e as críticas associadas ao cristianismo (no cristianismo, enfim, a forma
mitológica inadequada de expressão da expressão dialética de Hegel é
criticada.
Aqui está como Hegel fala da morte de Cristo: “Aquilo que pertence ao
elemento de representação, [isto é] que o espírito absoluto como um espírito
único, ou melhor, como um espírito especial, em seu ser atual representa a
natureza do espírito, portanto, portanto, é movido. na autoconsciência, no
conhecimento que é preservado em seu próprio ser; é por isso que esse
conhecimento realmente não morre – como uma pessoa especial está
realmente morta – e sua singularidade morre em sua universalidade, ou seja,
em seu conhecimento, que é essência reconciliando consigo mesma...
Compreendido pelo eu, veja A morte de um mediador é a remoção de sua
objetividade ou de seu ser especial para si mesmo; esse especial para si
próprio se tornou uma autoconsciência universal”(60).
562
Nos estádios iniciais de sua exposição, quando a atitude do conceito em
relação à religião ainda não havia sido destacada por ele, ele falou sobre
essas questões substanciais com mais franqueza: "... quanto mais limpo o
próprio conceito, mais ridículo o conceito ao qual ele é reduzido se seu
conteúdo não é como um conceito, mas como uma representação... a
ignorância por essa consciência do que lhes está sendo expresso é a mesma
combinação do sublime e da base que a natureza ingenuamente expressa na
vida, combinando o órgão de sua maior realização. – o órgão fértil – com o
órgão de aceleração da urina”(62).
563
moderno, dedicou livros a refutar o entendimento hegeliano da religião.
Para nós, suas opiniões são interessantes como um sintoma do fato de que
mesmo os oponentes ideológicos de Hegel percebem o quão ambígua é a
atitude de Hegel em relação à religião.
564
ele está enganando, se passando por um crente... Mas para uma pessoa
envolvida em pensamentos especulativos, não pode haver sequer uma
pergunta sobre sua salvação pessoal e eterna, pois sua tarefa é deixar a si
mesmo e tornar-se objetivo e tal. fugindo de si mesmo e se tornando uma
habilidade especulativa"(64).
566
A relação metodológica entre Hegel e Kant reside no fato de que, tanto
na filosofia idealista, não é capaz de dominar mentalmente a dialética da
realidade objetiva. Essa incapacidade, que surge das relações sociais na
Alemanha, e obtém sua expressão filosófica no idealismo, é apenas
suavizada e oculta pela construção do sistema. Em Kant, na medida em que
a negação agnóstica da capacidade de conhecer as coisas em si é
complementada pelo caráter absoluto dos preceitos morais da "razão
prática", e a religião da razão forma apenas um campo fictício pseudo-
objetivo e fictício desses postulados: Kant cria uma esfera de religião para
apoiar seus postulados morais. realidade. Hegel superou esse dualismo tanto
no campo epistemológico (conhecimento das coisas em si), e na relação de
teoria e prática (trabalho e teleologia). Mas, junto com isso, o problema da
mais alta forma de objetividade de suas categorias dialéticas ainda não foi
resolvido. Desnecessário dizer que ele não conseguiu encontrar o princípio
de sua "reconciliação", a verdadeira transformação da substância em sujeito,
o desenvolvimento da "alienação" (die EntauBerung), a remoção de toda
objetividade na identidade de sujeito e objeto. O desenvolvimento da
religião é novamente mistificado por Hegel e aparece como pseudo-
realidade e pseudo-objetividade, como a pseudo-objetividade de Kant, é
uma área de desenvolvimento histórico, o desenvolvimento da consciência
humana, em que as categorias da dialética hegeliana parecem existir como
momentos de movimento da própria realidade. Mas, junto com isso, o
problema da mais alta forma de objetividade de suas categorias dialéticas
ainda não foi resolvido. Desnecessário dizer que ele não conseguiu encontrar
o princípio de sua "reconciliação", a verdadeira transformação da substância
em sujeito, o desenvolvimento da "alienação" (die EntauBerung), a remoção
de toda objetividade na identidade de sujeito e objeto. O desenvolvimento
da religião é novamente mistificado por Hegel e aparece como pseudo-
realidade e pseudo-objetividade, como a pseudo-objetividade de Kant, é
uma área de desenvolvimento histórico, o desenvolvimento da consciência
humana, em que as categorias da dialética hegeliana parecem existir como
momentos de movimento da própria realidade. Mas, junto com isso, o
problema da mais alta forma de objetividade de suas categorias dialéticas
ainda não foi resolvido. Desnecessário dizer que ele não conseguiu encontrar
o princípio de sua "reconciliação", a verdadeira transformação da substância
em sujeito, o desenvolvimento da "alienação" (die EntauBerung), a remoção
de toda objetividade na identidade de sujeito e objeto. O desenvolvimento
da religião é novamente mistificado por Hegel e aparece como pseudo-
realidade e pseudo-objetividade, como a pseudo-objetividade de Kant, é
uma área de desenvolvimento histórico, o desenvolvimento da consciência
humana, em que as categorias da dialética hegeliana parecem existir como
momentos de movimento da própria realidade.
567
No Iluminismo alemão, a luta contra a religião nunca assumiu a forma
decisiva e radical característica do Iluminismo inglês e francês. Devido ao
atraso da Alemanha, o Iluminismo alemão sempre se concentrou em
reconciliar a religião com os princípios da razão, esforçando-se
constantemente para privar as propriedades naturais da religiosidade
cotidiana e cotidiana, interpretando-a de maneira educacional-alemã, para
que se tornasse consoante com os princípios da razão, mudando
constantemente. É nesse aspecto metodológico que a filosofia da religião de
Hegel é, portanto, a continuadora da filosofia da religião de Kant e, de fato,
das tendências inerentes ao Iluminismo alemão.
Foi a partir desse período que a filosofia hegeliana da religião não teve
nenhum papel ideológico significativo. Ela foi completamente descartada
pela história. É verdade que não apenas no sentido de que o
desenvolvimento de uma ideologia alemã progressista a ultrapassou, mas
também no fato de que os movimentos reacionários religiosos não podem
mais encontrar nenhum ponto de contato com a atual filosofia da religião de
Hegel. Naturalmente, o neo-hegelianismo está tentando se unir exatamente
à sua filosofia da religião. Mas pode lançar uma ponte para o presente,
apenas falsificando as visões de Hegel. Essas distorções são muito diferentes,
mas são realizadas em um nível tão filosófico que todo tipo de disputa com
elas não tem sentido. Já demos um exemplo muito vívido da interpretação
de Hegel no espírito do irracionalismo de Kierkegaard e Heidegger. A
interpretação de Kroner de Hegel como "o maior irracionalista" é apenas
uma versão eclética de uma interpretação tão extrema, a extrema falsificação
modernizadora de Hegel, sua adaptação à fascinação geral da filosofia
alemã. E não faz sentido discutir a "teoria" de Lasson da religiosidade
protestante de Hegel, que parece ser a suposta principal linha contínua de
desenvolvimento do pensamento hegeliano, desde seus fragmentos de
Berna até obras recentes. Essa "teoria" está em clara contradição com todos
os fatos da repercussão do pensamento hegeliano em qualquer período de
sua vida. servindo como supostamente a principal linha contínua de
568
desenvolvimento do pensamento hegeliano, desde seus fragmentos de
Berna até obras recentes. Essa "teoria" está em clara contradição com todos
os fatos da repercussão do pensamento hegeliano em qualquer período de
sua vida. servindo como supostamente a principal linha contínua de
desenvolvimento do pensamento hegeliano, desde seus fragmentos de
Berna até obras recentes. Essa "teoria" está em clara contradição com todos
os fatos da repercussão do pensamento hegeliano em qualquer período de
sua vida.
569
Tudo isso não é a identidade individual da filosofia hegeliana. Mas,
como Hegel elevou a dialética ao nível mais alto durante esse período, as
contradições decorrentes dessa ambiguidade aparecem em sua forma
grosseira e irreconciliável. Seria errado ver nessa simples adaptação de
Hegel às relações políticas atrasadas da então Alemanha. É característico
que Marx, no início de sua atividade, já na dissertação de 1840, rejeitou
uma avaliação semelhante de Hegel e revelou a fonte da natureza
contraditória interna de seu pensamento. Já se pode ver aqui em que
medida as limitações do pensamento hegeliano estão relacionadas às
limitações gerais do idealismo alemão.
570
completamente claro por que Hegel acredita que essa dialética surge em
uma "consciência dilacerada", por que ele vê uma crise de espírito no
Iluminismo.
Essa dialética, é claro, não pode assumir uma forma romântica, como a
de Solger. Ela é a dialética defendida por Mefistófeles no Fausto de Goethe:
571
Assim, o decreto de um sistema completo e positivamente verdadeiro
decorre do estado social em que e a partir do qual a dialética hegeliana
cresce. No entanto, o ser social se reflete na filosofia de uma maneira muito
complexa. Ele não apenas se reflete diretamente na filosofia social de Hegel
e na filosofia da história, mas também está associado a uma forma abstrata
de resolver questões filosóficas fundamentais como critério da verdade. O
materialismo pré-marxista viu com razão o critério da verdade no acordo do
conhecimento humano com a realidade objetiva, no verdadeiro reflexo do
mundo externo, independente da consciência. Sua limitação reside no fato
de que, como V. I. Lenin enfatizou, ele foi incapaz de descobrir a dialética
realmente existente da reflexão da realidade e compreendê-la
filosoficamente.
572
Nesse sentido, a lógica dialética de Hegel vai muito além de toda a
filosofia anterior. Contudo, esse avanço, considerado do ponto de vista do
todo, apenas afasta o problema e, assim, empurra também a percepção da
possibilidade de resolver problemas particulares da teoria do conhecimento
por meio da aplicação aberta do princípio de reflexão da realidade objetiva;
portanto, na fase final, todas as dificuldades devem se manifestar com maior
força. A lógica hegeliana mostra que, por um lado, coisas que nos parecem
inalteradas se tornam processos e, por outro lado, trata a objetividade dos
objetos como resultado da "alienação" do sujeito (EntauBerung). Graças a
isso, o problema da coisa em si de Kant foi entendido como a relação entre
coisa e propriedade, como um problema, que Fichte se recusou a resolver e
cuja solução Schelling novamente tentou encontrar no caminho oposto. A
compreensão de objetos como o "Entäußerung" do espírito permite a Hegel,
no exame epistemológico da realidade empírica, sem perceber, aplicar a
teoria da reflexão. Ele pode comparar qualquer pensamento com a realidade
objetiva – e a validade desse critério, que está de acordo com a realidade
objetiva, não é negada em casos individuais, mas ele entende essa realidade
não como realmente existente, independente da consciência, mas como um
produto da "alienação" (Entäußerung) um assunto que é superior à
consciência individual. E como o processo de "alienação" (Enlauberung) é
dialético, essa dificuldade foi primeiramente entendida por ele como uma
característica de um processo da totalidade do conhecimento.
573
cognoscível deve ser consistente para se tornar reconhecido como
verdadeiro, Hegel pode resolver da mesma maneira que seus predecessores,
apenas de maneira mística e mistificada. Temos enfatizado repetidamente
que Hegel foi incapaz de superar Schelling em certos pontos. Isso é
confirmado nos níveis mais altos de sua filosofia. É precisamente essa
limitação teórica e cognitiva – cuja base social, esperamos, já está clara –
que agrava e fortalece as tendências religiosas e teológicas da filosofia
hegeliana, apesar da ambiguidade de sua atitude em relação à religião.
Afinal, as forças sociais devem finalmente prevalecer. "A reflexão religiosa do
mundo real", disse Marx, "pode até desaparecer completamente, quando as
relações da vida cotidiana prática das pessoas serão expressas em relações
transparentes e razoáveis entre elas e com a natureza. A estrutura do
processo da vida social, isto é, o processo material de produção, jogará fora
o cobertor místico e nebuloso apenas quando se tornar o produto de uma
união social livre de pessoas e estará sob seu controle consciente e
planejado"(68).
(2) Marx, K, Engels F., Op. 2ª ed. Tomo 3, p. 25. (retornar ao texto)
(4) Marx, K, Engels F., Op. 2ª ed. Tomo 21, p. 278. (retornar ao texto)
(5) Hegel. Op. Tomo IV, p. 14-16. De todo o contexto, é óbvio que estamos
falando sobre o relacionamento da experiência nacional individual e
histórica. Hegel chama um indivíduo de “um espírito imperfeito, de certa
maneira concreta, em todo ser que a certeza domina, e de outra existem
apenas características vagas” (Ibid., p. 14). Analisando a relação, entre o
indivíduo e o gênero, nos primeiros trabalhos, Hegel chama o gênero de “o
ser mais elevado” (Lógica de Iena, p. 158). Assim, é claro que o leitor
moderno pode ler em todos os lugares, em vez de espírito-gênero. (retornar
ao texto)
(6) Marx, K, Engels F., Op. 2ª ed. Tomo 42, p. 155. (retornar ao texto)
574
(9) Marx, K, Engels F., Op. cit. 2ª ed. Tomo 3, p. 3. (retornar ao texto)
(18) Marx, K, Engels F., Op. cit. 2ª ed. Tomo 23, p. 96. (retornar ao texto)
(27) Loc. cit., p 276. Lembramos ao leitor a definição de dinheiro como Eu.
Cf.: Hegel, Jenenser Realphilosophie, Tomo II, p. 257. (retornar ao texto)
575
(34) Loc. cit., p 311-312. (retornar ao texto)
(39) Loc. cit., p 320. Esse estado “pacificado do mundo social após a
Revolução Francesa não significa a restauração para Hegel e o retorno ao
regime anterior. Isso é importante para o entendimento de Hegel do estado
alemão. Ele sempre protestou que seu conceito era considerado um reflexo
da posição da Alemanha na época. Por exemplo, em uma nota marginal às
aulas de 1805/1806 escreveu: “Uma garantia contra a arbitrariedade. A
constituição geral das propriedades não é das propriedades rurais”, isto é,
não é a forma da estrutura fundiária que existia na Alemanha na época .
(retornar ao texto)
(50) Marx, K, Engels F., Op. cit. 2ª ed. Tomo 12, p.737. (retornar ao texto)
576
(54) Loc. cit., p. 395. (retornar ao texto)
(58) Marx, K, Engels F., Op. cit. 2ª ed. Tomo 46, parte I, p.105-106.
(retornar ao texto)
(67) Marx, K, Engels F., Op. cit. 2ª ed. Tomo 4, p.142. (retornar ao texto)
(68) Marx, K, Engels F., Op. cit. 2ª ed. Tomo 23, p.90. (retornar ao texto)
577
O Jovem Hegel e os Problemas da Sociedade Capitalista
Georg Lukács
578
aprofundamento da filosofia hegeliana, apenas o termo "positividade" é
superado, mas não o problema que lhe foi associado durante o período de
Frankfurt, a saber, a atitude dialética da prática social humana em relação
aos objetos criados por ela mesma.
Sozinhos, esses termos não são novos. Eles são uma tradução alemã da
palavra alienação em inglês, usada tanto na economia política inglesa para
579
denotar a liberação de mercadorias no mercado (Verausserung), quanto em
quase muitas teorias legais-naturais do contrato social para denotar a perda
da liberdade inicial, para caracterizar a transferência, a transferência da
liberdade inicial, uma empresa resultante de um contrato. Em um sentido
filosófico, o termo “alienação” (Entäußerung), até onde eu sei, já foi usado
por Fichte, isto é, no sentido de que a posição de um objeto não é senão a
formação de um sujeito externo, e também no sentido de que o objeto deve
ser entendido como se tornando a mente externa(1).
580
o problema da objetividade da sociedade, seu desenvolvimento, as leis desse
desenvolvimento e o significado da ideia de que as pessoas fazem sua
própria história não diminui nem um pouco. Assim, a história é entendida
como o desenvolvimento dialético dos seres humanos, rica em interações e
contradições, realizada por indivíduos socializados através da prática. Assim,
Hegel deu um passo extremamente importante no entendimento dialético da
ligação entre subjetividade e objetividade. Por um lado, em comparação
com a teoria social do antigo materialismo, que não é capaz de conectar o
papel subjetivo da prática humana com a objetividade do direito social,
interpretada principalmente de maneira naturalista (clima, etc.), e não
conseguir sair das antinomias associadas ao exagero de uma delas, tendo
momentos imóveis. Por outro lado, Hegel deu um grande passo adiante em
comparação com Kant e Fichte, em que necessidade e objetividade formam,
em relação à liberdade e à prática, um mundo estranhado completamente
diferente, de origem diferente. Schelling, como é sabido, mesmo no estádio
objetivo-idealista de seu desenvolvimento, superou esse dilema apenas na
forma de um presságio sombrio, mais declarativo do que filosófico. Em
segundo lugar, estamos falando de uma forma especificamente capitalista de
"alienação" (Entäußerung), sobre o que Marx mais tarde chamará de
fetichismo. Hegel, é claro, não tem ideias claras sobre esse ponto, não é
porque ele só pode descobrir os fundamentos econômicos das contradições
de classe como fatos sociais (pobreza e riqueza), não ser capaz de passar do
conhecimento dos fatos para conclusões teóricas fundamentais. No entanto,
ele já tem algumas especulações sobre a fetichização de objetos sociais no
capitalismo, e pode-se argumentar que Hegel é o único pensador do
idealismo clássico alemão que pelo menos sente esses problemas. É verdade
que a imprecisão das ideias de Hegel no campo da doutrina econômica do
valor leva ao fato de que esse grupo de subjetividade social "alienada" se
funde constantemente com a primeira, e às vezes ele considera o que é uma
propriedade fetichizada e específica que expressa apenas à essência da
sociedade capitalista, como consequência inevitável da prática humana em
geral, pelo contrário. Apesar dessa falha, a crítica é um dos pontos centrais
da avaliação marxista.
O idealismo aqui leva Hegel a tais exageros que muitas vezes ele não
percebe o papel mediador das coisas no processo de dissolução de objetos
sociais nas relações humanas - frequentemente, mas nem sempre. Essa
forma particular de idealismo, inerente às primeiras tentativas de desfigurar a
subjetividade das formações sociais sob o capitalismo, surge primeiro "até
onde eu saiba”, com Hegel. Ela desempenha um papel muito grande na
decomposição da escola de Ricardo. Por exemplo, Marx diz sobre Hodskin:"
Todo o mundo objetivo: o mundo dos bens materiais retrocede para o
segundo plano aqui como apenas um momento, apenas uma manifestação
de desaparecimento, mais uma vez criada pela atividade de pessoas que
581
produzem socialmente. Compare esse "idealismo" com o fetichismo material
bruto no qual tudo é convertido na teoria de Ricardo por "esse incrível
escrevinhador" McCulloch, onde não apenas a diferença entre homem e
animal desaparece, mas também a diferença entre os vivos e as coisas. E
depois disso, vamos apenas tentar dizer que, diante do sublime
espiritualismo da economia política burguesa, sua antítese proletária pregava
o materialismo bruto, referindo-se exclusivamente às necessidades dos
animais"(3).
582
precisamente devido à natureza processual da “alienação” (Entäußerung),
devido ao fato de que o sujeito-objeto absoluto e idêntico é entendido
apenas como resultado do movimento. “No sistema hegeliano, o assunto
finalmente chegou ao ponto de que, em termos de método e conteúdo, era
apenas o materialismo idealista invertido em sua cabeça”(5).
583
que a realização do espírito consiste em conhecer perfeitamente o que é, sua
substância, esse conhecimento é a sua partida em si mesma, na qual deixa
seu ser atual e transfere sua morfogênese para a memória"(7).
584
tempo (...). A Terra, portanto, a qualidade dessa integridade é apenas uma
imagem de um processo sem o próprio processo. O processo de vida da
Terra está presente como tal apenas em seus elementos, que não
representam sua própria integridade. O processo em si, portanto, tem um
passado para esse conteúdo (Vergangenheit); preservar sua vida no tempo e
descrevê-lo como uma sequência de momentos não está relacionado ao
conteúdo desse processo como tal"(8).
585
desenvolvimento social, a saber, que as próprias pessoas fazem sua própria
história. Marx, levando em conta a objetividade e a unidade da história da
natureza e da história da sociedade no processo de conhecimento, enfatizou
sua diferença. Por exemplo, no local em que, em conexão com a ideia de
Darwin, ele fala sobre técnica natural e a necessidade de criar uma história
crítica da técnica. "E não seria mais fácil escrever, porque, de acordo com
Vico, a história humana é tão diferente da história da natureza que a
primeira é feita por nós, a segunda não é feita por nós?"(11).
586
Mas esse fim é o espírito absoluto, ou seja, o espírito, apresentado no
estádio mais alto de seu desenvolvimento como conhecimento absoluto,
como filosofia. Assim, a história se transforma em um movimento que,
embora se desenvolva na realidade como um processo, alcança sua
instauração real (e essa percepção, de acordo com o ponto de vista de
Hegel, desde o início é o objetivo imanente da história, sendo seu "em si")
apenas em filosofia, na compreensão do post-festum do caminho percorrido.
Essa ideia é extremamente importante para o conceito filosófico e histórico
de "Fenomenologia do espírito", pois expressa a essência e a chave do
projeto de todo o trabalho. "Mas a memória (die Er-Innerung) salvou essa
experiência e é uma forma interna (das Innere) e, na verdade, uma
substância mais elevada. Se, portanto, esse espírito recomeça sua formação,
como se procedesse apenas de si, então ele começa em um nível superior. O
reino dos espíritos, formado desta maneira no presente ser, é uma série
sequencial em que um espírito foi substituído por outro e cada um adotou o
reino do mundo em relação ao anterior. O objetivo da série é a revelação da
profundidade, e o último é um conceito absoluto; essa revelação é, portanto,
a remoção da profundidade de um conceito ou de sua extensão, a
negatividade desse Eu existente dentro de si mesmo, que é sua renúncia ou
substância - e seu tempo, em que essa renúncia em si mesma é um
desapego de si mesma e é para si mesma e por si mesma, extensão e em
suas profundezas. Uma meta, conhecimento absoluto ou espírito que se
conhece como espírito, deve seguir o caminho de lembrar os espíritos, como
eles existem nele e como organizam seu reino. Salvando-os [na memória], se
considerarmos do lado de sua livre existência, que está na forma do acaso,
há história, do lado de sua organização, compreendida no conceito, é a
ciência do conhecimento; os dois lados juntos - a história compreendida no
conceito - e constituem a memória do espírito absoluto e de seu Gólgota, a
realidade, a verdade e a confiabilidade de seu trono, sem as quais ele ficaria
sem vida e solitário; somente –
587
espírito, que, de acordo com o conceito hegeliano, cria a própria história e
cuja essência reside precisamente no fato de ser o mecanismo do movimento
da história, sua verdadeira força motriz, esse espírito transforma a história,
como mostra Marx na Sagrada Família, em aparência simples. "Hegel é
culpado de duas metades (...) o espírito absoluto, como espírito absoluto, ele
aparentemente apenas cria o criador da história. Uma vez que o espírito
absoluto apenas post-festum, no filósofo, chega à consciência de si mesmo
como um espírito criativo do mundo, sua fabricação da história existe
apenas na consciência, na opinião, na visão do filósofo, apenas na
imaginação especulativa”(14).
588
A segunda e importante característica dessa crítica é que Marx, pela
primeira vez após Hegel na Alemanha, procede novamente da unidade de
abordagens econômicas e filosóficas ao considerar vários problemas sociais e
filosóficos. Certamente, essa unidade é realizada por Marx em um nível
incomparavelmente mais alto que Hegel, tanto em termos econômicos
quanto filosóficos. Em um sentido filosófico, a questão reside, como
sabemos, em superar do ponto de vista do materialismo a dialética idealista.
Mas a crítica de Marx ao idealismo é baseada em um nível de conhecimento
substancialmente mais alto do que o hegeliano, inerente à economia política.
As reflexões econômicas de Marx já contêm críticas socialistas das visões dos
clássicos da economia política. (Um artigo brilhante do jovem Engels em
"Anuários Franco-Alemães" análise antecipada de Marx). Somente uma
crítica socialista da economia capitalista e sua compreensão científica nas
obras dos clássicos nos permite revelar o verdadeiro movimento dialético na
própria vida econômica, na prática econômica do homem. Somente esse
conhecimento concreto dos jovens Marx e Engels, que melhoram
rapidamente o desenvolvimento real dialético da vida econômica, cria uma
base real para criticar as tentativas anteriores de refletir o ser social em uma
forma conceitual: os clássicos da economia política, por um lado, Hegel, por
outro.
589
A estreita conexão entre economia política e filosofia nos manuscritos
mencionados de Marx é, portanto, uma profunda necessidade metodológica,
um pré-requisito para realmente superar a dialética idealista de Hegel.
Portanto, seria extremamente superficial acreditar que a polêmica entre Marx
e Hegel começa apenas na última parte dos “Manuscritos Econômicos e
Filosóficos”, que contém críticas à “Fenomenologia”. As seções puramente
econômicas anteriores, nas quais Hegel não é mencionado, contêm a base
fundamental dessa controvérsia e crítica - uma explicação econômica do fato
real da alienação (Entfremung).
590
considerarmos o próprio processo de trabalho. Nesse sentido, Marx enfatiza,
antes de tudo, "que o trabalho é algo externo ao trabalhador, não
pertencente à sua essência; que em seu trabalho ele não se afirma, mas
nega, não se sente feliz, mas infeliz, não. desenvolve livremente sua energia
física e espiritual, esgota sua natureza física e destrói suas forças espirituais.
Portanto, o trabalhador só se sente fora do trabalho e, no processo de
trabalho, se sente divorciado de si mesmo"(17). Como resultado, uma
distorção de todos os valores humanos inerentes à sociedade capitalista. "O
que é inerente ao animal se torna o destino do homem, e o humano se torna
o destino do animal. É verdade que comida, bebida, relações sexuais etc.
também são funções verdadeiramente humanas. Mas em uma abstração que
os separa do resto da atividade humana e transformá-los nos últimos e
únicos objetivos finais, eles são de caráter animal"(18). Assim, a alienação
(Entfremdung) permeia subjetiva e objetivamente todas as manifestações da
vida humana. Objetivamente, o produto do trabalho atua como um objeto
alheio ao homem e domina sobre ele; subjetivamente, o processo de
trabalho é a auto-alienação, correspondendo à alienação acima descrita
(Entfrem-dung) das coisas.
A partir dessas premissas, que todas, sem exceção, foram tiradas por
Marx de uma observação e análise aprofundadas da vida econômica, ele tira
as seguintes conclusões gerais sobre a relação do indivíduo com o ser
humano característico do capitalismo. "O trabalho alienado de uma pessoa,
alienando dele 1) natureza, 2) ele mesmo, sua própria função ativa, sua
atividade vital, alienando assim o homem do homem (...). Primeiro, ele
aliena a vida tribal e a vida individual, e em segundo lugar , torna uma vida
individual, tomada em sua forma abstrata, a meta da vida tribal, também em
sua forma abstrata e alienada"(19).
591
centro da crítica filosófica da "Fenomenologia". Hegel fala de "alienação"
(Entäußerung) e sua remoção na filosofia, mas não sabe que a própria
filosofia projetada em seu sistema para remover a "alienação" (Entäußerung)
é ela própria uma forma característica de manifestação de "alienação"
(Entäußerung): "(...) e o espírito filosófico não é senão o espírito alienado do
mundo, mentalmente, que é, abstratamente, se compreendendo dentro de
sua alienação. Lógica é o dinheiro do espírito, o valor especulativo e mental
do homem e da natureza”(20).
Hegel não vê isso, e como ele entende esse pensamento alienado não
como alienado, pois vê nesse pensamento o mecanismo para remover a
“alienação” (Entäußerung), cai no “idealismo acrítico”, colocando conexões
reais e certezas da vida em sua filosofia.
592
critica o fundamento metodológico da “Fenomenologia” desta maneira: “O
suposto e sujeito à remoção da essência da alienação aqui não é que a
essência humana seja objetivada desumanamente, em contraste com ela
mesma, mas que seja objetivada em contraste com o pensamento abstrato e
em contraste com a ele”(22). O falso culminar da filosofia hegeliana, que
consiste na remoção da objetividade, também decorre da falsa afirmação
hegeliana da questão, que já nos é familiar da Fenomenologia e de toda a
sua história. "Portanto, estamos falando de superar o objeto da consciência.
A objetividade é considerada uma atitude alienada de uma pessoa que não
corresponde à natureza humana (autoconsciência). Portanto, a apropriação
reversa da essência objetiva de uma pessoa gerada por algo estranho, na
categoria alienação, é importante não apenas para remover a alienação, mas
também a remoção da objetividade, isto é, o homem é considerado um ser
espiritual e discreto"(23).
Com base nessa avaliação de Hegel, Marx sai com as críticas mais
severas, onde esse entendimento correto aparece de uma forma confusa e,
portanto, distorcida. Acima, citamos brevemente as declarações de Marx de
que a história de Hegel se transforma apenas em história aparente. Marx
falou sobre afirmar que a superação da objetividade no conhecimento
absoluto resulta no fato de que o portador da história hegeliana, o espírito
absoluto, não a cria real, como Hegel imagina, mas apenas de maneira
imaginária. Partindo das críticas à teoria da objetividade hegeliana, Marx
critica a mistificação de toda essa teoria sobre o "portador" da história, critica
a base da mistificação idealista da história de Hegel: "(...) esse processo deve
ter um portador, um sujeito; mas o sujeito surge apenas como resultado;
portanto, esse resultado - o sujeito que se conhece como absoluta
autoconsciência - é Deus, um espírito absoluto, uma ideia que se conhece e
se realiza. A pessoa real e a natureza real tornam-se simplesmente
predicados, símbolos dessa pessoa inválida oculta e dessa natureza inválida.
Portanto, a relação entre sujeito e predicado é absolutamente pervertida: é
um sujeito-objeto místico, ou subjetividade, que bloqueia o objeto, o sujeito
absoluto como um processo, alienando-se e retornando a si mesmo dessa
alienação e, ao mesmo tempo, absorvendo-o de volta para si, sujeito, como
é esse processo; é um turbilhão puro e ininterrupto em si. A pessoa real e a
594
natureza real tornam-se simplesmente predicados, símbolos dessa pessoa
inválida oculta e dessa natureza inválida. Portanto, a relação entre o sujeito
e o predicado é absolutamente pervertida: é um sujeito-objeto místico, ou
subjetividade que bloqueia o objeto, o sujeito absoluto como um processo,
alienando-se e retornando a si mesmo dessa alienação e, ao mesmo tempo,
absorvendo-o de volta para si, sujeito e como é esse processo; é pura, sem
parar, girando em si mesma”(26).
595
variante de Schelling da superação é mencionada, a saber, a destruição das
definições superadas, sua extinção por superação na forma absoluta ou
kantiana da doutrina agnóstica das antinomias. Marx vê na dialética
hegeliana uma superação completa e final de suas formas anteriores.
Portanto, ele critica exclusivamente o hegelianismo, a forma mais alta de
superação dialética, na qual as definições superadas não são apenas
destruídas, mas também salvas e conservadas em um nível superior; a
superação, como existindo em absoluto ser-outro, não se transforma em
nada, mas é considerada existente, com seu relativo direito de existir. O
"afastamento" de Hegel, em contraste com Schelling, tem um significado
positivo, graças à objetividade; daí Marx proceder em suas críticas quando,
considerando as disputas de Hegel com seus antecessores, ele se põe
decisivamente ao lado hegeliano, mas conta com o existente, com seu
direito relativo de existir. O "distanciamento" de Hegel, em contraste com
Schelling, tem um significado positivo, graças à objetividade.
596
não há dúvida de que Hegel simplesmente se adaptou à religião, ao estado
etc., pois essa mentira é uma mentira de seu princípio“(28).
597
A crítica socialista da "alienação" descobriu na forma capitalista do
trabalho um método real e sujeito a superação real de ser a alienação. Uma
generalização filosófica dessa crítica mostra que o conceito hegeliano de
"alienação", segundo o qual a consciência em seu ser como tal, está "em si",
contém um momento reacionário significativo, a proteção do existente,
apesar de sua superação histórica. O fato de Hegel constantemente ter uma
tendência oposta em relação à história passada apenas confirma a correção
de suas críticas de Marx e Engels - a presença na filosofia hegeliana de uma
contradição insolúvel entre método e sistema. Essa contradição e suas
tendências desempenham um papel enorme nos grandes debates
ideológicos dos anos 40, que realizaram os preparativos ideológicos para
uma revolução democrática. Aqui estamos lidando com duas visões de
mundo diferentes, que, no entanto, levam igualmente à passividade política,
a um mal-entendido dos problemas específicos da revolução democrática e,
além disso, no sentido teórico, a um mal-entendido da revolução em geral.
O significado geral desses problemas vai muito além das controvérsias da
década de 40, uma vez que a falsidade das proposições teóricas avançadas
está enraizada na característica da vida social do capitalismo, e os debates
da década de 1840 sobre a forma hegeliana de superação dialética
determinaram apenas a forma na qual esses problemas foram postos. Uma
das formas dessas falsas visões é o desenvolvimento direto do idealismo
hegeliano, sua subjetivação adicional, a hipertrofia de seus erros idealistas
pelos jovens hegelianos.
598
Se considerarmos a crítica aguda de Marx na Sagrada Família dessa
teoria de Bauer, veremos que ela surge diretamente da crítica filosófica
acima da "superação" de Hegel e deve-se notar também que a arrogância
intelectual de Bauer, "soberano" desprezo pela atividade das massas na
história também representa uma direção especial que surgiu da filosofia
hegeliana e da compreensão hegeliana da história, mas perdeu importantes
tendências progressistas e realistas e um subjetivista contido neste último,
esquiar exagerando seu idealismo inerente. Marx fala desses pontos de vista
de Bauer da seguinte maneira:
Mas, para subir, não basta fazer isso em pensamento, deixando um jugo
real e sensível pairando sobre a cabeça real e sensual, da qual não pode se
livrar de ideias. Enquanto isso, a crítica absoluta (Bruno Bauer.- G. L.)
aprendeu com a Fenomenologia de Hegel pelo menos uma arte -
transformar correntes reais, objetivas e existentes fora de mim em correntes
exclusivamente ideais, exclusivamente subjetivas, existentes exclusivamente
em mim e portanto, transforme todas as batalhas externas e sensíveis em
batalhas de ideias puras"(32).
599
década de 1840, mas também - de uma forma particularmente aguda e
grotesca - pela história do neo-hegelianismo da era do imperialismo.
Marx aceita esse lado materialista das críticas de Feuerbach, mas critica
sua unilateralidade. O último consiste, em primeiro lugar, no fato de
Feuerbach considerar a "alienação" como um problema exclusivamente
filosófico e, portanto, imerso na abstração (cf. críticas posteriores de Marx e
Engels à abstração do "homem" de Feuerbach); segundo, no fato de que a
atitude materialista de Feuerbach em relação à realidade não é dialética,
como resultado, ele não percebe tudo o que Hegel, embora de forma
transformada, tenha uma dialética e rejeite a dialética hegeliana como um
todo, tanto a falsa quanto a verdadeira. Portanto, Feuerbach vê na negação
da negação, como Marx enfatiza na passagem citada, apenas a posição
filosoficamente instável do idealista Hegel, que essa limitação por uma pura
teoria do conhecimento resulta na abstração da afirmação de Feuerbach da
questão”(35).
600
realização de todo ser, ele encontrou apenas o abstrato, uma expressão
lógica e especulativa para o movimento dessa história, que ainda não é a
história real de uma pessoa como um suposto sujeito, mas é apenas um ato
de geração”(36).
Engels conclui essa ideia com uma avaliação sociopolítica aguda das
consequências políticas necessárias dessa posição filosófica - consequências
que, subjetivamente sinceras e convencidas de seu democratismo
revolucionário, é claro que Feuerbach não o fez, mas que, no entanto,
resultaram de sua rejeição da dialética hegeliana da rejeição por ele de todas
as ligações e definições mediadoras, de seu retorno ao imediatismo; essas
consequências refletem a cegueira de Feuerbach em relação à vida social e
econômica do capitalismo. Essa cegueira, no entanto, pode objetivamente
levar, como mostra Engels, a uma posição reacionária apologética. Engels
diz: "Um excelente pedido de desculpas pelo existente. Exceto em casos não
naturais, em alguns casos anormais, você voluntariamente se torna guardião
de uma mina de carvão no sétimo ano de sua vida”(40).
602
conseguiram encontrar nele um guia de ação, como aquelas camadas de
intelligentsia que o procuravam em Hegel a dialética. Uma análise rigorosa
da posição de Feuerbach mostra que tais formas de defesa consciente ou
inconsciente do existente, baseadas no postulado da unidade direta do ser e
da essência - mutatis mutandis, existiram por muito tempo após Feuerbach e
independentemente dele, e ainda existem como defesa de ordens
reacionárias.
E em outro lugar: "Se Marx não deixou "A Lógica"(com uma letra
maiúscula), ele deixou a lógica de "O Capital ", e isso deve ser estritamente
usado nessa questão. Na lógica de" O Capital", dialética e teoria são
aplicadas a uma ciência do conhecimento [não tem três palavras: esse é o
mesmo] do materialismo, que pegou tudo valioso de Hegel e levou esse
valioso adiante"(42).
604
Hegel. Mas essa conexão teve que ser demonstrada em toda a sua
complexidade social e filosófica; ao mesmo tempo, foi feita uma tentativa de
identificar como o surgimento e o desenvolvimento da dialética hegeliana foi
influenciado pelo reflexo teórico dessas contradições na economia política
clássica inglesa e pela explosão de contradições reais na revolução francesa,
e quão diferentes - positivas e negativas - as consequências foram do fato de
que esses processos ideológicos e reais .
605
por Hegel surgiu dessas tentativas de resolver os problemas da sociedade
capitalista, os problemas políticos e econômicos.
Cada pensador, como Hegel disse, é filho de seu tempo; como tal, está
naturalmente associado aos seus antecessores. No entanto, ao determinar a
posição e o significado do pensador, deve-se perguntar quanto ele depende
da bagagem substancial e metodológica emprestada inevitavelmente de seus
predecessores e quão capaz ele é comparar imparcialmente o conteúdo e a
forma de sua filosofia que ele emprestou com a própria realidade e, assim,
superá-los e desenvolvê-los criticamente mais; quanto ele procede da própria
realidade e quanto restringido pela tradição filosófica estabelecida pelos
antecessores.
606
sistema Hegel formou uma ligação ideológica genuína com seus
antecessores. Mas essa conexão é crítica desde o início, indo além dos limites
teóricos do pensamento kantiano. Somente quando a vida social da
Alemanha na época empurrou a dialética hegeliana para estruturas estreitas,
às vezes filisteias, como vimos, a relação de Hegel com seus antecessores se
torna perceptível.
607
materialismo, mas, por outro lado, não entendeu as descobertas dialéticas
mais importantes Hegel.
(3) Marx, K., Engels, F. Composições, Tomo 26, parte III, p. 276. (retornar
ao texto)
(5) Marx, K., Engels, F. op. cit., 2ª ed. Tomo 21, p. 285. (retornar ao texto)
(11) Marx, K., Engels, F. op. cit., 2ª ed. Tomo 23, p. 383. (retornar ao texto)
(14) Marx, K., Engels, F. op. cit., 2ª ed. Tomo 2, p. 94. (retornar ao texto)
(16) Marx, K., Engels, F. op. cit., 2ª ed. Tomo 42, p. 94. (retornar ao texto)
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(29) Marx distinguiu a distinção entre os lados esotéricos e exotéricos da
doutrina hegeliano, característica dos jovens hegelianos, que Marx
considerou superficial. (retornar ao texto)
(30) Cf.: Marx, K., Engels, Correspondência, 2ª ed. Tomo 21, p 277.
(retornar ao texto)
(32) Marx, K., Engels, F. op. cit., 2ª ed. Tomo 2, p. 90. (retornar ao texto)
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