Você está na página 1de 128

BIBLIOTECA DE FILOSOFIA CONTEMPORÁNEA 12

Martin
A arte é um acontecimento fundador na história do homem em si
Heidegger
mesmo (e nao de um indivíduo qualquer), que tern, por isso mesmo,
a dimensáo de urn questionarnento próprio, urn questionarnento
que transforma a esséncia do hornern na sua referencia ao ser. Est
A Origem
caráter essencial é que distingue este denso ensaio de Heidegger,
que ternatiza a arte. Do leitor, que se díspóe a le-lo e a dialogar com
ele, exige todo urn despojamento de conceitos e teorías prévias, para
que deixe a própria arte acontecer. E o prirneiro desafio é a üngua-
da Obra de Arte
gem em que ele se tece e entretcce. EDI<;ÁO BILINGUE

ISBN 978-85-62938-03-0

1 1 11
g 11788562 938030
~o BIBLIOTECA DE flLOSOCIA CONTEMl'OHÁ-,A
Untversidade Federal do 1-ara
BTBLTOTECA CENTllAL

_j 3
ÜM:,:
rr~~º: .R~-·-· ;4,¿l.•
;.:·-;.: 20.10
::.:: ·.: ·. .·:·.: ·.: _

A 1 xirta a todas as correntes do pensamento, integra autores modernos


A presente traducáo do ensaio de
<' textos fundamentais que váo da filosofía da linguagem a hermenéu-
Heidegger, feíta por dois professores
l kn e a epistemología.
da Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro, um de Poética e outro de Ale-
máo, é publicada em edícáo bilingue,
para oferecer ao leitor um diálogo rico
de possibilidades. Isso pode facilitar e
muito o diálogo com o pensamento do
autor. A sua linguagem é portadora de
urna densidade incomum, tendo em
vista o seu reconhecido poder criativo
de pensador-poeta. O leitor é convida-
do a estabelecer com o ensaio um diá-
logo inaugural, próprio, desde que
escute as quest6es em que se move a
arte. E para tanto deve previamente
despojar-se de seus conceitos e teorías
da arte. O ensaio visa coríduzi-lo até a
fonte originária, um enigma em que
ela sempre se conserva. Tentando ver
melhor esse enigma, a presente
traducáo é precedida de urna apresen-
tacáo que procura esclarecer o leitor.
E com o intuito de levá-lo a apreender
a profunda liga9ao com outras pala-
vras-diretrizes, numa sintaxe poética,
e considerando a opcáo por determi-
nadas escolhas para a traducáo das
palavras alemás, no sentido inaugural
que Heidegger ]hes dá, algumas notas
explicativas foram acrescidas no final
da traducáo.
Título original:
Der Ursprung des Kunstwerks

Vittorio K.lostermann - Frankfurt-Am-Main, 1977

Traducáo; Ida tina Azevedo da Silva e Manuel António de Castro

© desta traducáo: Edicóes 70, ldalina Azevedo da Silva e Manuel António de Castro
Martin Heidegger
© da intrcducáo e das notas de traducáo: Edicóes 70 e Manuel António de Castro
A origem da obra de arte
Capa de FBA

Dad e,; lnternacionais de Catalogacáo na Publicacño (CIP)


(Cámara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Heidegger, Martín, 1889-1976.


A origem da obra de arte/ Martin Heidegger ;
[traducáo deldalina Azevedo e Manuel António de Castro]. - Sao Paulo:
Edicóes 70, 20 I O.

Título original: Der Ursprungdes Kunstwerks.


Bibliografia.
ISBN 978-85-62938-03-0
tJ't-{tV-EttfiltJfoJJ!t F~:r)?lft/!~1. uo tf\F:.J
l. Arte - Filosofia L Título.
Bi~J.LIGTl.C./i <.~r:JrrT~ :\ l
09-12012 CDD-70!

Paginacáo
PENTAEDRO

lrnpressáo e acabamcnto:
GRÁFICA EDELBRA
para
EDl<;ÓES 70, LOA
Janeiro 201 O

ISBN: 978-85-62938-03-0

Direitos reservados para todos os países de lingua portuguesa


por Edicñes 70, Lda.

Edicóes 70 é urna editora pertencente ao Grupo Almedina


EDl<;ÓES70 LDAfALMEDINA BRASIL
Alameda Lorena, 670, Jardim Paulista - Sao Paulo - SP - Brasil
Tel./Fax.: + 55 11 3885-6624
e-mail: l>-asil@almedina.com.br

www.almedina.com.br

Toda; os direitos reservados. Nenhuma partedeste livro, protegido por copyright, pode ser reproduzida,
armazenada ou transmitida de alguma forma ou pcr algum meio, seja eletrónico ou mecánico, inclusive
fotocópia, gra vacáo ou quakuer sistema de armazenagem de informacóes, sem a permissáo expressa e
por escrito da editora.
iJ~H\Fi!~~mAm: n:DrttAL ü0 PAB./d.
füaUmtc,, C[NiRAL

APRESENTACAO
A arte, o originário e a verdade

O leitor que se dispuser a ler de urna maneira


atenta e proveitosa o ensaio que tem em máos <leve
ter em mente algumas dificuldades e desafios, que
devem ser transformados paciente e decididamente em
experienciacóes de vida ( e nao em simples vivencias
estéticas ou racionais). Isto exige do leitor urna abertura e
escuta essenciais, pois o diálogo com este ensaio pressupóe
também e desde o princípio um auto-diálogo.
E o primeiro a se dar conta das dificuldades foi o
próprio autor. É o que assinala no Aditamento, escrito para
esclarecer algumas contradicóes aparentes, apontadas
pelos críticos em seu ensaio, porque justamente nao se
abriram para a atitude de questionamento que o ensaio
propóe. Diz:

§208 - Permanece uma inevitável carencia: que o leitor


que adentra, naturalmente de Jora, este ensaio, de início e
continuamente, nao conceba nem interprete as questoes a partir
da silenciosa Jonte originária, de onde brota o que é para ser
pensado. Porém, para o próprio autor, permanece a carencia de,
VIII MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE IX

em cada uma das diferentes estadies do caminho, a cada vez, É nessa dinámica que ele estruturou o presente ensaio.
Jalar justamente a linguagem propícia. O título já nos dá as tres questóes fundamentais, em torno
das quais será vista a questáo da arte. Esta será encarada
Que advertencias essenciais aqui aparecem? A primeira como urna questáo e nao se trata para ele de expor urna
diz respeito a atitude do leitor. Se este, "de fara", quiser nova teoria conceitual que explique o que é a arte. E por
compreender o que diz o ensaio, nao conseguirá. que a arte é urna questáo? Como questáo ela nao pode
A expressáo "de fara" diz aí tanto urna atitude objetiva ser resolvida em conceitos, mas antes de tuda deve ser
quanto urna subjetiva. E há outra fara dessas duas? Há. experienciada. Por isso toda a tessitura do ensaio se moveu
O leitor deve se deixar tomar pelas questóes. Nao somos no intuito de ver melhor o enigma ou questáo que é a
nós que ternos ou nao as questóes. As questóes é que nos arte: "§187 -As reflexoes precedentes dizem respeito ao enigma
tém. Cabe a cada leitor responder e corresponder ao seu da drte, ao enigma que é a própria arte. Está longe a pretensiio
apelo, um apelo que vem da "silenciosa fonte originária ". Já de resolver o enigma. Resta a tarefa de ver o enigma".
o autor, em relacáo as questóes, está consciente também É por um tal intuito que centraliza sua reflexáo em
de sua dificuldade, de sua carencia, manifestada na difícil torno das tres questóes enunciadas no título: o originário,
tarefa de para cada urna encontrar a "linguagem propícia". a obra, a arte. Para tratar delas desenvolve o ensaio em
Como Heidegger elaborou o ensaio? Em primeiro quatro grandes partes: urna introducáo: §§ 1 a 11, A coisa
lugar o autor tece um discurso contido em torno das e a obra, §§12 a 65, A obra e a uerdade, §§ 66 a 119, A verdade
questóes que estáo em causa. Nenhuma palavra é inútil ou e a arte, §§ 120 a 186. Posteriormente foi acrescido um
redundante, evitando o linguajar retórico de sinónimos Posfácio, §§ 187 a 194, e um Aditamento,§§ 195 a 208.
que nada acrescentam ou frases bonitas com imagens A questáo primeira e permanente diz respeito ao
aleatórias. Sua linguagem é extremamente despojada originário. Nele se concentra todo o esforco de reflexáo.
e densa. Exige urna atencáo permanente a cada passo A questáo do ser da obra de arte e do ser da arte encontram
dado. Na coriducáo do pensamento, seu estilo tem na questáo do originário o seu lugar apropriado. É ela que
urna conducáo irónica, podendo levar a entendimentos se torna a questáo diretriz do título. É ela que inaugura
equivocados se a leitura é feita superficialmente. Ele as reflexóes que percorrem todo o ensaio. Por isso
propóe um diálogo permanente com a visáo e conceitos será a primeira palavra do ensaio e encerrando-o com
metafísicos. E procede a exposicáo <lestes dentro de um urna citacáo de Hólderlin, onde ela também aparece.
encadeamento muito lógico, até se defrontar com alguma O horizonte que ela descortina só vai aparecer no final do
inconsistencia ou paradoxo. Refaz, entáo, o caminho ensaio, mais precisamente dos§§ 180 a 186, quando entáo
numa nova direcáo , onde expóe seu pensamento e ela é exposta em toda a sua amplitude, ten do em vista todas
entendimento das questóes, Por isso, no fundo, há sempre as reflexóes em torno das duas outras questóes enunciadas
um diálogo com a metafísica, tendo por isso mesmo urna no título: o ser da obra de arte e o ser da arte. E é também
abrangéricia muito grande. O leitor deve estar atento a a questáo do originário que é retomada no parágrafo final
esta abrangéncia, do Aditamento, quando diz: "§208-Permanece uma inevitável

umYf.:ltSlDADf n::DERll. DO F'/\fü~


l1ífi·Ll(JTEC.J:, CEtfrR;~J.
X MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE XI

carencia ... que o leitor ... nao conceba nem interprete as questoes suporte, base, conteúdo, fundo, fundamento, matéria.
a partir da silenciosafonte originária ... ". Portan to, a questáo Como isso precede o simbólico e o alegórico, é isso que
do originário corneca e termina circularmente o ensaio. ele vai questionar em prirneiro lugar. Indiretamente,
Sem dúvida alguma, tal questáo é diretriz e em torno dela ao questionar o suporte coisal, também o simbólico e o
se articulam as demais, especialmente as que comparecem alegórico estaráo sendo questionados, porque dependem
no título: obra e arte. É importante destacar que o autor da esséncia desse suporte coisal, sem o qual nao subsistem.
adverte o leitor de que é necessário, nao urna leitura E entáo vamos ter a primeira parte do ensaio que ele
meramente externa do que o autor diz, mas um hetera- coerentemente intitulou: A coisa e a obra.
-diálogo com o ensaio e um auto-diálogo que tenha o Todo o questionamento da coisa já se faz, porque
originário como fonte silenciosa. Entáo o originário se é decorrente disso, a partir da questáo: O que é isto
torna o logos de todo diálogo. O próprio autor tem de o ofiginário? Pois a questáo do originário se dirige a
estar atento e aberto ao logos para ".. .falar justamente a realidade quando se pergunta, entre os pensadores gregos,
ling;uagem propícia ". pela "arché" da physis, de "ta onta", do "on". (Para melhor
Atentos a esse fato, torna-se decisiva a cornpreensáo compreender esta questáo, o leitor <leve ler atentamente
do que é o originário, pois o seu emprego é ambíguo no o ensaio O que é isto - a filosofia, indicado na bibliografia,
ensaio, porque ora se refere ao pensamento originário, no final desta apresentacáo). O que Heidegger vai fazer
e entáo traduzimos Ursprung por originário, ora se é retomar esse questionamento em torno da realidade
refere ao pensamento metafísico, e a traduzimos por pensada esteticamente como suporte coisal, mas tendo
origem. Urna nota no final da traducáo explica esta em mente perguntar pela arché da arte.
dupla traducáo. Dentro de um pensamento poético-circular, é
As questóes da obra e da arte teráo enfoques diferentes, necessário fazer todo o caminho. E a coisa como questáo
dependendo do sentido em que se toma a palavra Ursprung. a
só chegará arte como questáo, sendo a mesma questáo,
Entendemos que as tres partes em que dividiu o ensaio depois de examinar cuidadosamente os passos dessa
estáo orientadas por esse duplo sentido e as questóes aí caminhada. Por isso vai expor, na primeira parte, - A
levantadas dizem respeito ao duplo encaminhamento. coisa e a obra-, as tres respostas metafísicas conceituais
O modo de pensar de Heidegger se pauta, em geral, a pergunta pelo "isto" da coisa, ou seja, pelo que
por um procedimento metodológico bem consciente. constitui a sua arché, a sua esséncia, o seu originário, a
No presente ensaio, ele o discute brevemente nos sua verdade. Segundo Heidegger, as tres respostas térn
parágrafos introdutórios ( confira a nota Círculo, §5). Em algo em comum: elas agridem a coisalidade da coisa. Nao
seguida expóe a concepcáo metafísica corrente e geral deixam o ser coisa da coisa repousar em-si. É que as tres
da obra de arte nos §§ 6 a ll. Segundo a visáo estético- respostas foram transformadas, na caminhada ocidental,
-metafísica, a obra de arte é constituída de um suporte em conceitos e esséncias causais. A arché, interpretada
coisal a que é acrescentado algo simbólico ou alegórico. como fundamento causal, tem seu telas transformado
Esse suporte pode receber diferentes dcnominacóes: em finalidade. Porém, a palavra grega telas nao diz, em
XII MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE XIII

primeiro lugar, finalidade, mas plenitude de sentido, ou pelo suporte coisal. O questionamento do que é a obra é _
seja, a "arché" no vigor máximo do seu repouso. o questionamento do que é a verdade. Mas nao podemos
Heidegger recusa tais interpretacóes, que deram origem esquecer que a pergunta que a tudo precede é a pergunta
a todas as Teorias Estéticas. Entáo o caminho de procura pelo originário. Por isso, perguntar pela verdade da
da coisalidade da coisa tem que ser abandonado, porque obra é perguntar pelo originário, ou seja, o pensador
esse caminho nao surge de um questionamento poético nao pensa a verdade enquanto um juízo lógico ou de
da obra de arte, mas das Teorias Estéticas. Compreender, adequacáo entre a estrutura coisal e a estrutura lógica ou
portanto, o originário dentro das Teorias Estéticas é juízo lógico, enunciado na proposicáo, isto é, umjuízo de
cornpreendé-lo como origem, numa visáo essencialista representacáo como verdadeiro.
causal e é nao compreendé-lo no que ele é como "arché" Perguntar pela verdade da obra é perguntar pela
originário. Terminada essa primeira parte do ensaio, a realidade da obra. Á verdade corresponde a realidade
pergunta a ser colocada deve retornar ao enunciado no e a realidade deve corresponder ao originário. Em vista
título: O originário da obra de arte. disso, a esséncia da verdade ele a vai pensar no originário
Ao afastar-se da pergunta metafísica e estética, que como esséncia essencial, pois a esséncia da verdade é a
separa na obra de arte o seu aspecto artístico ( o simbólico verdade da esséncia, ou seja, na arché em seu telas. Ele a
e o alegórico) e o seu aspecto coisal ( o suporte coisal encontra na palavra grega aletheia, isto é, desvelamento.
ou teórico), preparo u o leitor, com quem dialoga, para Mas pensar o desvelamento, enquanto a arché em seu
a pergunta pelo originário da obra de arte. Com essa telas, é pensar a realidade em seu Ereignis, ou seja, no
pergunta Heidegger se afasta do caminho metafísico e seu acontecer poético-apropriante. A obra de arte é o
1
pode dar início ao questionar originário da obra de arte. acontecer poético-apropriante da verdade, é o por-se
Esse questionar deverá ser, por necessidade essencial, em obra da verdade. Um tal acontecer acontece sempre
dialogal-circular. E, por isso, será dividido em duas partes. na disputa de Terra e Mundo. Na obra de arte nunca
A primeira receben o título: A obra e a verdade. A segunda: ternos um suporte coisal que suporte o artístico, ternos a
A verdade e a arte. verdade como dis-puta de Terra e Mundo. Na verdade da
Se a primeira parte tinha como tema a coisa e a obra, obra de arte, enquanto disputa, a Terra chega a ser Terra
ao afastar a "coisa" vista metafísica e causalmente, o que e o Mundo chega a ser Mundo. No horizonte da obra de
fica inicialmente em questáo é a obra. Se justapusermos arte como verdade, a idéia de suporte ou materialidade
os dois títulos ficam: fica completamente afastado. E com isso, a morphé ou
figura (forma) se inscreve na questáo do limite (peras),
A coisa e a obra / A obra e a verdade mas em tensáo como Nada, o Vazio, o Nao-limite, e nao
e jamais com a materialidade ou suporte coisal. A idéia
Notamos imediatamente que a obra se torna o elo de materialidade, até um certo sentido, faz-se presente
comum ao questionamento, mas agora ela será vista a no utensílio, mas nunca na obra de arte. É neste sentido
partir da verdade e nao mais a partir da pergunta estética que a obra de arte, por nao ter originariamente urna

UN!YtRSWADE fEDEP.A.L DO PAfü:.


amUOTECA CENTRAL
XIV MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE XV

finalidade, nao pode ser útil ou inútil. A questáo atributiva A obra e a verdade / A verdade e a arte
ou adjetiva decorre do primeiro conceito de "on" ou
"coisa", um conceito nao originário, mas essencialista e Tanto a obra como a arte sao referenciadas pela
causal. Por isso, toda classificacáo adjetiva será sempre verdade. Mas como pode a verdade ser ao mesmo tempo
metafísica e essencialista. A obra de arte manifesta a a verdade da obra e a verdade da arte, sem que se caía
realidade enquanto verdade e náo-verdade, enquanto num conceito de verdade essencializante e universal
Mundo e Terra. abstrato? Heidegger está bem consciente dessa questáo
Porém, ainda resta urna questáo: toda obra de arte é e nao pode cair nas solucóes fáceis da metafísica e das
"esta" ou "aquela" obra de arte". E até onde a sua verdade é Teorías Estéticas. Nao pode reduzir tudo a urna solucáo
também e se limita a ser "esta" ou "aquela" verdade? Perdería epistemológica conceitual e causal. Deve retomar o
en tao a verdade o seu sentido originário, porque delimitado originário no seu vigor de repouso. Em vista do domínio
a "esta" ou "aquela" obra de arte, a "esta" ou "aquela" conceitual metafísico, o que é o repouso, é algo que
verdade? O originário nunca pode ser o originário que se exige do leitor urna abertura de pensamento e de ascese
esgote num ente. Por isso ele é originário e nao origem, depurativa. Trata-se, na verdade, de compreender o que
nem fundamento identitário. É um pulo originário, ou ele nos diz na palavra repouso. Este nao é a falta de acáo,
seja, Ur-Sprung. Ele tem que ser o ser dos entes, a verdade mas a acáo em sua plenitude. Porém, esta só acontece
originária dos entes. Ele tem que ser o originário enquanto na vigencia do originário e seu telos. Voltamos a questáo
ser dos entes que permanece e perdura na mudanca e inicial do título do ensaio, a questáo do princípio da
manifestacáo dos entes em seu telos. Mas aqui telos como obra de arte. (Leia-se a propósito do repouso, o ensaio
o advir a plenitude do repouso. O que está aquí em «Serenidade», indicado na bibliografia, no final desta
questáo é algo enigmático e ambíguo: a referencia entre apresentacáo). O repouso como máximo de acáo é urna
senda e ser, limite e nao-limite, mudanca e permanencia. questáo fundamental para a compreensáo do originário,
O que é o limite? No carpo do ensaio, trata-o como trace da verdade, da realidade, da arte. Em vista disso inicia
e figura. Mas como é algo extremamente complexo, ele assim o § 130: "A verdade é niio-verdade na medida em que
retoma essa questáo nos§§ 197 a 201. Tudo isso nos leva lhe pertence o ámbito da proveniencia do ainda-niio- (do niio-)
a questionar: o que é a verdade como manifestacáo que revelado, no sentido do velamento. Ao mesmo tempo, no des-
perdura e permanece? velamento como verdade vige o outro "nao" de um duplo vedar.
Para responder a esta questáo, Heidegger desen- A verdade vige como tal na oposicdo de clareira e duplo velamento.
volve a terceira parte: A verdade e a arte. Se justapusermos A verdade é a disputa originário-inaugural na qual sempre de um
o título da segunda e da terceira parte do ensaio, vamos certo modo se conquista o aberto, no qual, tudo, que como senda
ver logo como o círculo se realiza em torno da obra e se mostra e subtrai, se situa, e a partir do qual tuda se retrai ".
da arte, tendo como referencia num e noutro caso a Nao é o duplo a possibilidade maior de toda afirmacáo,
verdade: urna afirrnacáo que radica no originário como vigor do
Nada, que sempre se retrai? Por isso diz no § 175: "O
XVI MARTIN HEIDEGGER A ORICEM DA OBRA DE ARTE XVII

projeto poietizante provém do Nada, do ponto de vista de que ele O Nada é longamente tratado no ensaio: O que é
nunca toma sua doaoio do corriqueiro e do existente até entdo. metafísica?, e no livro: Introduaio a metafísica. (Confira as
Porém, ele nunca provém do nada na medida em que o projetado indicacóes bibliográficas no final desta apresentacáo).
através dele é apenas o destino retido do próprio Entre-ser [Da- Depois desta caminhada toda é que Heidegger
sein] histórico". propriamente vai expor o que compreende e qual o
Este "Nada" nada tema ver como nada do niilismo, alcance da questáo central do seu ensaio ou seja, o
ele é o Nada originário da náo-verdade, Acostumados originário enquanto verdade. Ele explicita de um modo
a ver a verdade como o verdadeiro e este como a radical do § 180 a 186.
representacáo de algo ou a adequacáo entre o enunciado É no horizonte da verdade como desvelamento, em seu
e a errunciacáo, remeter agora a questáo da verdade duplo negar, que Heidegger vai pensar O originário da obra de
para o nada originário da náo-verdade, nos lanca arte. 'b originario da verdade é a verdade do originário. Por isso
num abismo sem fundo, exigindo de nós um "salto" a questáo da verdade nao é o núcleo fundamental apenas <leste
(Sprung). Infelizmente, formatados e domesticados pelo ensaio sobre a arte. Ela é a questáo maior que atravessa e se faz
pensamento conceitual metafísico, pelo racionalismo presente como questáo diretriz de toda a obra de Heidegger,
moderno e idealista, onde só aparentemente se questiona, porque a questáo da verdade é a questáo da realidade. Esta
causa-nos estranheza ligar a verdade a um "salto mortal" questáo, além de ser tratada ao longo de todo o ensaio sobre
no "abismo" (Abgrund). Nem por isso ele desaparece a arte, é tematizada em outros livros e ensaios. Cabe ao leitor
pela simples exercício da vontade racionalista. Ele se faz experienciar a questáo, mergulhando nos textos de Heidegger.
tao presente como o próprio destino, o destino de que A retomada incessante da questáo pelo próprio Heidegger
Édipo é a grande e permanente figura-questáo, porque já mostra a importancia que essa questáo tem em sua obra.
Édipo nao é algo ficcional, é a concreta imagem-questáo E ela é, sem dúvida, também a questáo para a arte, porque é
do destino em que originariamente o ser humano já está a questáo em que todo ser humano se debate. O conceito de
lancado. Com ele, todo ser humano tem que se defrontar, arte como representacáo nao tema menor sustentacáo, nem
consciente ou inconscientemente. Na realidade, a artística, nem de pensamento.
imagem-questáo "salto mortal", ou "salto originário" Nao há como indicar urna ordem de leitura dos textos
como verdade originária, faz parte da tradicáo ocidental, de Heidegger sobre verdade. Veja os seguintes títulos:
por mais que o homem moderno a queira negar.
E quem nos mostra e demonstra isso é o poeta-pensador Aletheia. Ensaios e conferencias. Petrópolis, Vozes, 2002;
Octávio Paz, num ensaio fundamental a propósito da Van Wesen der Wahrheit. In: Wegmarken. Em portugués:
Reoelacáo poética, que ele intitulou: "La outra orilla" Sobre a esséncia da verdade. Heidegger- Os pensadores.
(A outra margem). ( Confira a bibliografia no final da Sao Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 127-145;
apresentacáo). Diríamos com joáo Cuimaráes Rosa que A Teoria Platónica da Verdade, in HEIDEGGER, Martin,
é a Terceira margem do ria, título de um conto de Primeira Marcas do Caminho, trad. Enio Paulo Giachini e Ernildo
estórias. (Ver bibliografia). Stein, Petrópolis, Vozes 2008.
XVIII [ MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE XIX

De l' essence de la vérité - approche de l' "allegorie de la compreensáo causal finalista. Olhando agora o título
cauerne" et du Théététe de Platon. Paris, Gallimard, do ensaio: O originario da obra de arte, notamos que há
2001. um segundo encaminhamento, onde é a arte, a partir
Vom Wesen der Wahrheit, Band 36/37 - Gesamtausgabe. do originário, que nos abre o caminho para o que
Frankfurt, Vittorio Klostermann, 2001 propriamente é "coisa". O originário, a coisa e a arte
Parménides. Trad. Sérgio Mário Wrublevski". Petró- remetem para o mesmo, mas nao sao a mesma coisa.
polis, Vozes, 2008. Por isso ele pode afirmar no § 204: "... o que é a arte é
Ser e verdade. Trad. Emmanuel Carneiro Le áo . uma daquelas perguntas a que no ensaio nao é dada nenhuma
Petrópolis, Vozes, 2007.
resposta. O que parece ser resposta nao pass a de orientadio para
o questionamento ".
a
Pelo número de obras dedicadas questáo da verdade,
Ésta afirmacáo do autor <leve deixar bem claras tres
o leitor pode ter urna pequena idéia do lugar fundamental
questóes:
dessa questáo tanto para o pensamento como para a arte.
Na realidade, para a vida, pois julgamos que é real o que é
1 ª. "§ 204. A arte nao é tomada nem como um campo de
verdadeiro e que é verdadeiro o que é real. Notará também
realizacdo cultural nem como uma manifestaoio do Espirito.
o leitor que ele estabelece um diálogo permanente com
Ela pertence ao acontecer-poético-apropriante [Ereignis}, a partir
Platáo. É importante que o leitor saiba que o Platáo que
emerge desse diálogo ainda é o Platáo pensador e nao do qual se determina o "sentido do ser" ( compare Ser e Tempo)".
aquele que o platonismo reduziu a um ismo doutrinal, Neste sentido, o ensaio se inscreve, como nao poderia
cheio de conceitos, e do qual se ausentaram as questóes, deixar de ser, na questáo central da obra heideggeriana,
Quando agora olhamos os diferentes títulos das partes que tem como mote a pergunta pelo esquecimento do
do ensaio e vemos que há urna profunda interligacáo, nao sentido do ser, pela verdade do ser. É neste horizonte que
podemos deixar de chamar atencáo para urna correlacáo se pensa o originário da obra de arte. Isto pressupóe que
final. O título da primeira parte diz: A coisa e a obra. o leitor do ensaio, para que o compreenda, se lance nesse
O título da terceira parte diz: A verdade e a arte. questionamento essencial que <leve ser acompanhado
Justapostos ficam: pela leitura de outras obras e ensaios de Heidegger.
Fazendo isso nao estará apenas dialogando com as obras
A coisa e a obra / A verdade e a arte do autor, mas estará se abrindo para um diálogo com o
pensamento metafísico ocidental. E esta, sem dúvida, é
Entáo perguntamos: qual a relacáo entre "coisa" e urna das maiores dificuldades para o leitor: ter um mínimo
"arte"?, urna vez que urna dá início ao questionamento e a de conhecimento de todo este longo e complexo percurso
outra o encerra. Se pensarmos, como foi feito no percurso filosófico, mas que por si nao resolve, se for algo externo e
de todo o ensaio, circularmente, veremos que a questáo conceitual. É decisivo que se abra para o que permanente
da "coisa" recebe no ensaio dois encaminhamentos: o e originariamente está sempre em questáo, que se abra,
primeiro diz respeito aos conceitos metafísicos e suaa enfim, para a história e estória do ser, da verdade do
XX MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE XXI

ser. Feito isso, poderá dialogar também comas obras de mas muito mais o que nao vemos e nem pensamos. Querer
pensamento e como pensamento poético de diferentes reduzir o que se dá a ver a qualquer perspectivismo ou
culturas e épocas. jogo perspectivista é jogar o jogo da avestruz. A vida num
2ª. Quando o autor caracteriza a obra de arte como milímetro de terra é incomensuravelmente maior do
"pór-em-obra da verdade" fica implícita urna ambigüidade que podemos detectar e ver. Para além do consciente há
essencial. Quem é o sujeito de por? A verdade tanto irrefutavelmente o inconsciente. Por outro lado, cada
pode ser o sujeito como o objeto, mas esta dualidade é sen do também nao se póe a si mesmo. Ele é urna doacáo do
imprópria. Na realidade e em verdade a arte é pensada ser, no sentido da verdade do ser. (Confira na bibliografia
a partir do acontecer-poético-apropriante originário. des ta "Apresentacáo", de Heidegger: Tempo e ser).
Este acontecer está para além da relacáo sujeito/ objeto, É nesse dar-se que o sendo chega a sua verdade e o ser
porque o ser é apelo destinal aos homens, mas nao sem horríem chega ao que lhe é próprio: o humano, como a
estes. A essencia do humano é o ser humano como lugar verdade do que é, como o que lhe é próprio. Mas o que
do acontecer poético-apropriante deste apelo destinal. No antes de tudo é é o ser. Nessa referencia acontecem duas
ser o lugar do acontecer deste apelo, é que o ser homem questóes essenciais: 1 ª. O ser como originário de todo
chega propriamente ao seu ser, isto é, ao humano. Neste sendo, mas nao como origem nem como esséncia universal
sentido, toda obra de arte como lugar da verdade diz abstrata. Isso fica muito evidente quanto constatamos que
respeito ao lugar do humano como obra-de-arte, isto é, nao é através de um conceito geral de arte que podemos
como o desvelar do humano. saber o que é cada obra de arte no que ela é "esta" ou
3ª. Neste horizonte do desvelar do humano como obra- "aquela" obra de arte.
-de-arte, coloca-se a questáo permanente para todas as Há urna referencia necessária entre obra de arte e arte,
épocas e seres humanos: " ... a rejeréncia do ser e da esséncia assim como há urna referencia necessária entre essencia
humana" § 206. Devemos entender aí como referencia do humano e ser. Este "e" (o "entre") nao indica urna
algo radical e enigmático. Eis o motivo pelo qual o autor simples adicáo, mas o originário onde acontece a vigencia
lago a seguir diz aí mesmo que ela é "uma dificuldade da arte como o vigente da obra de arte. Por isso, esse "e/
ajlitiva ". Por que? Todo o esforco do pensador em pensar a entre" originário foge a classificacáo alternativa de sujeito
referencia do ser da obra de arte e do ser da arte, encontra ou objeto, justamente por ser o originário concreto do
na referencia da esséncia humana e do ser o seu horizonte universal e do singular; 2ª. É no ámbito do originario que
de tentativa de compreensáo. Heidegger vai pensar a questáo do criador/autor e do
De imediato, o que sempre se dá é o sendo, é a obra de leitor / desvelador. O criador nao é criador a partir de sua
arte. lsto é tranqüilo e incontestável. Porém, nao é meu vontade ou imaginacáo, mas a partir do acontecer, nele, do
pensar ou ver que póe o senda. Ele, originariamente, originário como verdade. É o que Heidegger encaminha
já se dá. Sem o dar-se eu nao poderia nem ve-lo nem como Ereignis, o acontecer poético-apropriante.
pensá-lo. De tuda que se dá a ver, vemos muito pouco e o Deixando acontecer nele a verdade, a obra é obra de
pensamos ainda menos. De tudo que se dá a ver, é muito, arte, pois a arte é o pór-se-ern-obra da verdade. Esta é a

UftiJVtri~ari;\I}[ fEDf nIJ . [!{) Pi\1\;:\


BlilL.t01J:C/1 CE~rrrt--\L
XXII MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE [ XXIII

grande tese do ensaio, mas numa nota posterior, de 1960, wara. Em Carta sobre o humanismo, p. 24, diz: "A linguagem
o autor sugere a substituicáo de "por em obra" por, porque é a casa do Ser. Em sua habitacdo mora o homem. Os pensadores
diz melhor: "trazer-á-obra, pro-duzir, trazer enquanto deixar e poetas lhe servem de vigías. Sua vigilia [desvelo} é con-sumar
agir; poiesis" ( § 196) . a manifestacáo do Ser, porquanto, por seu dizer, a tornam
Se o autor nao é autor a partir de sua vontade e linguagem e a conservam [ aufbewahren] na linguagem" ( conf.
decisáo, também o leitor nao é o sujeito do ler. O leitor bibliografia). Também os leitores sao solicitados mesma a
é leitor quando deixa o logos ser logos, no e como diá-logo. vigilia dos poetas e pensadores, porque os tres precisam
O acontecer do logos na leitura do leitor só acontece ser tomados pelo cuidado do que é digno de ser pensado:
quando o leitor faz da leitura um desvelo ( como o desvelo a verdade do sentido do ser. Toda vigilia ou desvelo só é
da máe para como filho). O desvelo traz em si a obediencia se for Ereignis, o acontecer poético-apropriante ou verdade.
a fala da verdade da obra de arte no acontecer poético- A cónstáncia do originário [ wesen] como verdade é o
-apropriante, no acontecer do logos. Desvelo é sempre um amor originan te. O desvelo é um deixar acontecer do saber
diálogo amoroso coma verdade da arte. O desvelo amoroso como sabor do saber amoroso. É o que o pensador Platáo
é um desvelamento no sentido grego de aletheia. E esta denominou filos-sofia: o amor do saber.
é o desvelamento da realidade como verdade. Ternos,
portanto, aí a referencia de leitor e obra de arte como Além disso, a palavra filosofia diz mais do que isso, de
desvelo, porque acontece o desvelamento, a verdade. forma mais primigenia outra coisa. Filosofia é a [uncdo de duas
. A leitura como referencia de leitor e obra de arte, palavras, mas que significam um pouco mais do que amar o
Heidegger denominou: Bewahrung, guarda, conseruacáo. saber. Philos é originariamente, na língua grega, um pronome
É, em princípio, estranho que o autor, formado numa possessivo que dá conta do que pertence a alguém de maneira
tradicáo hermenéutica, nao tenha preferido esta palavra irreversível, tal como o nosso joelho nos pertence. Nao diz entiio
áquela. Naquela palavra ressoa o cuidar que conserva. philos de qualquer espécie de posse transitória. Nao se deve talvez
O verbo bewahren significa conservar, nao esquecer. nem Jalar, nesse caso, de posse, mas de pertenca, daquilo que
O cuidar que conserva é o conservar do persistir e nos foi dado pela natureza e que ela mesma, só por si, nao nos
perdurar do que propriamente é a verdade, daí a ligacáo pode tirar. Philos é, de modo radical - um próprio. Um próprio
de Bewahrung com Wahrheit (verdade), que o pensador tal como uma pronúncia nao é separada do que pronuncia,
pensa como aletheia/ desvelamento e Ereignis. O desvelo seruio na linguagem tornada mero meio, mero instrumento de
é um deixar perdurar o que acontece e permanece na comunicacáo. Assim, philos é o que é próprio e nao pode deixar
constancia do originário: " 'Wesen: 'oiger', é a mesma palavra dese-lo. (Jardim, 2004: 102).
que 'uuihren. ', 'durar: 'permanecer: 'ficar'. Pensamos a vigencia
como a duracdo daquilo que, tendo chegado a desencobrir-se, A partir do pensamento de Antóniojardim, podemos
assim perdura e permanece". (Conferir na bibliografia, no fazer a Iigacáo entre: verdade, aletheia, desvelamento,
fim da apresentacáo, Ensaios e conferencias, p. 43). Wahrheit desvelo/ cuidado amoroso do originário, acontecer
e Bewahrung térn o mesmo étimo do antigo alto-alernáo: poético-apropriante, próprio como o. que é vigente e
XXIV j MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE XXV

permanece, Bewahrung. Em sua vigencia e persistencia, Heidegger ajuda na caminhada dialogante. Para isso, o
o originário é amor manifestante do que ele é em sua leitor deve estar atento a dinámica criativa do pensamento
plenitude de sentido. Em termos gregos, o originário é do pensador e tornar suas as questóes do pensamento
a "arché" em seu "telos". O desvelo do leitor nao é um poético-pensante.
ato de sua vontade, é o acontecer poético-apropriante Heidegger reitera que nao propóe nenhuma solucáo
da arte como e em sua verdade. É nesse sentido que a para o enigma ou questáo que é a arte. O que isso quer
obra de arte é o "pór-se-em-obra da verdade" e o leitor dizer? Diante da questáo do originário em que se move
desvelando se desvela como a mais fundamental obra de o humano do hornero como próprio da arte, a dinámica
arte. Como desvelo, toda leitura é um narrar inaugural, de pensamento da presente obra-ensaio move-se no
onde a realidade se desvelando faz-se mundo, no dar-se e questionar e dialogar, e nunca numa concatenacáo de
retrair-se do ser como época. Nas épocas ternos a história conceitos fechados, comprovando urna ou mais teses
da verdade do ser enguanto desvelamento e velamento, prévias.
enguanto Mundo e Terra. E nao e jamais como amorfa Pelo questionar e dialogar, o autor estabelece urna
cronología causal historiográfica. Esta, para poder falar rede de referencias entre algumas palavras essenciais
do significado causal da historiografia, só o pode, embora em que urna solicita a outra e esta a outras. Sem o leitor
num reducionismo causalista empobrecedor, a partir do apreender esta dinámica de referencias, dificilmente irá
sentido originário da verdade do ser como acontecer compreender o operar da obra-ensaio na solicitacáo de um
poético-apropriante, Ereignis. Por isso, Heidegger, nas pensar que acompanhe, enguanto diálogo, o que é posto
sucessivas edicóes do presente ensaio, acrescentou em nota em questáo e em correlacáo. Quando o leitor conseguir, a
a diversos parágrafos, a palavra Ereignis. Este acréscimo é partir do que lhe é próprio, fazer circular em diálogo o seu
fundamental, pois a compreensáo da arte como verdade pensamento com o que é proposto como questáo, entáo
do ser significa, por seu lado, a cornpreensáo desta como O originário da obra de arte comecou a acontecer.
acontecer poético-apropriante. Arte, originariamente, é Para facilitar este percurso, oferecemos ao leitor tres
sempre acontecer poético-apropriante como verdade do recursos:
sentido do ser. 1 º. No final do ensaio algumas notas explicativas quanto
A permanencia do humano para além das vicissitudes a opcóes de traducáo de alguns vocábulos essenciais, na
culturais e epocais é a permanencia da referencia do ser constituicáo do todo da obra-ensaio. Certamente haveria
e da essencia do humano. A permanencia como vigor outras possibilidades de traducáo e até podemos ter
da mudanca e na sua mútua referencia é que Heidegger cometido algumas falhas, naturalmente inevitáveis em
convida a pensar como a verdade ou O originário da obra toda traducáo. Porém, o sentido vivo do todo da obra-
de arte. ensaio foi decisivo. A traducáo nao se constitui numa
Nunca se sabe que tipo de leitor dialogará com as amorfa transliteracáo. Moveu-nos o desvelo como o
questóes que no ensaio estáo propostas e levantadas. Por próprio pensador o propóe na referencia de cada leitor
isso a indicacáo de leitura de outros ensaios e obras de comas grandes obras de arte e de pensamento.Julgamos
XXVI I MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 XXVII

que estamos <liante de urna grande obra-e nsaio de Departamento de Letras Anglo-Germánicas da Faculdade
pensamento. de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e nem
2º. Incluímos um índice remissivo. O importante é o a leitura cuidadosa do texto em Portugués pela Prof.ª Dra.
próprio leitor fazer do remeter de um vocábulo para outro, Mónica Nobre, do Departamento de Letras Vernáculas
dentro das passagens indicadas, urna dinámica de reflexáo da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio
e pensamento. Isto é essencial porque, moldados pelo e no deJaneiro.
pensamento metafísico, o deixar acontecer do pensamento
originário exige do leitor urna paciente e difícil disciplina, MANUEL ANTONIO DE CAsTRO
pois o mais simples é também o mais doloroso: deixar
eclodir no ordinário e habitual o extraordinário sempre
inaugural. Difícil é, impossível nao, sobretudo se houver
a disposicáo de escuta do que já desde sempre como auto-
-diálogo nos move: o originário como o extraordinário de (A presente traducdo de autoria de Manuel Antonio de
todo inaugurável a que a cada dia somos convocados pela Castro e Idalina Azevedo da Silva tomou por base a ediaio do
voz íntima do que nos é próprio.
ensaio no volume Holzwege de 2003: unveránderte Auflage
3º. No ensaio, a opcáo de vocabulário é cuidadosamente
e que corresponde a sétima edicáo de 1994, Jazendo parte desde
escolhida. Porém, certas palavras encontram em outros
entdo do quinto volume das Gesamtausgabe de Martín Hei-
ensaios ou obras, por parte do autor, urna reflexáo bem
mais ampla e aprofundada. O leitor que quiser, portan to, degger, pela editora Vittorio Klostermann GmbH Frankfurt
mover-se com maior profundidade e cuidado em relacáo am Main. A apresentacdo e notas sao de Manuel Antonio
as questóes, pode e até deve procurar ler, dentro do de Castro, prof Titular de Poética da Faculdade de Letras
possível, esses outros ensaios ou obras. Para isso, damos a - Universidade Federal do Rio dejaneiro - Brasil).
seguir algumas indicacóes. Todas, seria impossível e deixar
de reconhecer nossos limites. Vale, eremos o intuito de
abrir vias de percursos inaugurais para cada leitor.
O próprio autor no decorrer do texto já faz numerosas Há urna palavra no ensaio de Heidegger que é corren te
indicacóes. Nem todas elas já se encontram traduzidas no alemáo, mas que traz problemas para a sua traducáo
para o portugués ou nao sao de nosso conhecimento. Nao para o portugués. É a palavra "Das Seiende". Traduzimos
pretendemos indicar tudo, mas o que achamos essencial por "sendo" e nao por "ente", como seria o esperado.
dentro de nosso horizonte de conhecimento. "Sendo" é a questáo que atravessa desde o início todo
pensar ocidental até hoje. Em grego é "on".JáAristóteles
No final desta apresentaciio nao poderíamos deixar disse que o "on" se diz de muitas maneiras ( To on legetai
de agradecer a ajuda preciosa, em passagens de difícil pollchós). E Heidegger também diz que com um pouco
traducáo, da Prof.ª Dr.ª Maria José P. Monteiro, do de exagero pode-se afirmar que o destino do Ocidente
XXVIII I MARTIN HEIDEGGER

depende da traducáo dessa palavra grega: "on". Esta é a


forma verbal do verbo "einai" no particípio presente. E até
poderia ser traduzida a forma "on" por "presente". É que
o particípio é ambíguo. Ele traz no seu vigor originário
verbo-temporal o princípio do limite e nao-limite, que dá
origem ao sentido substantivo e verbal. Nessa ambigüidade
é que está a questáo. Na realidade, é a dupla questáo da
posicáo ou limite e do nao-limite dentro do horizonte, que
todo "senda" implica. Por isso, o "on" é originariamente
urna "dobra".
Esse vigor da dobra, que é o "on", perdeu-se ao ser
BIBLIOGRAFIA
traduzido para o latim por "ens, entis", formando a palavra
Textos citados pelo autor no carpo do ensaio A Origem
portuguesa "ente". A entificacáo da dobra, do "on" (e
da Obra de Arte.
por conseqüéncia do ser do ente), levou a perda do vigor
a
originário. Senda sensível forma alerná "Das Seiende",
Hegel e os Gregos. Cf. a traducáo portuguesa in: Os
onde ressoa ainda o vigor verbal, optamos por traduzi-lo
Pensadores. Heidegger. Trad. Ernildo Stein. S. Paulo, Abril
por "senda". O leitor veja nessa traducáo a tentativa de
Cultural, 1979.
provocá-lo para o exercício do pensamento originário do
Zur Sache des Denkens.
autor, em que se move todo o ensaio A origem da obra de
O Fim da Filosofia e a Tarefa do Pensamento. Cf. a traducáo
arte. No senda da dobra ("on') está todo o enigma que é
portuguesa in: Os Pensadores. Heidegger. Trad. Ernildo Stein.
a obra de arte.
S.Paulo, Abril Cultural, 1979.
Sprache und Heimat.
Aus der Erfahrung des Denkens.
ldentidade e Dijerenca. Cf. a traducáo portuguesa in: Os
Pensadores. Heidegger. Trad. Ernildo Stein. S. Paulo, Abril
Cultural, 1979.
A Coisa. Cf. a traducáo portuguesa in: Ensaios e
conferencias. Trad. Emmanuel Carneiro Leáo. Petrópolis,
Vozes, 2002.
Ser e Tempo. 2.3 ed. Cf. a traducáo portuguesa. Trad.
Márcia de Sá Cavalvanti. Petrópolis, Vozes, 2006.
Zur Seinsfrage.
O autor cita ainda o fragmento 53 de Heráclito.
XXX MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE I XXXI

Algumas questóes que aparecem no texto do ensaio Sobre o Humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leáo.
sao desenvolvidas mais amplamente em outros ensaios Rio deJaneiro, Tempo Brasileiro, 1967.
ou obras. Nesse sentido sugerimos a leitura, para apro- Aportes a la filosofia - acerca del evento. Trad. Dina V.
fundamento. Picotti C. Buenos Aires, Editorial Almagesto e Editorial
Biblos, 2003.
Que é isto - a filosofia? Conferir a traducáo portuguesa Ser e Verdade. Trad. Emmanuel Carneiro Le áo.
in: Os Pensadores. Heidegger. Trad. Ernildo Stein. S. Paulo, Petrópolis, Vozes, 2007.
Abril Cultural, 1979. Queéuma Coisa?Trad. Carlos Morujáo. Lisboa, Edicóes
Que é Metafísica? Conferir a traducáo portuguesa in: Os 70, 1992.
Pensadores. Heidegger. Trad. Ernildo Stein. S. Paulo, Abril A Esséncia do Fundamento. Edicáo bilíngüe. Trad. Artur
Cultural, 1979. Moráo. Lisboa, Edicóes 70, 1988.
Tempo e Ser. Conferir a traducáo portuguesa in: Os
Pensadores. Heidegger. Trad. Ernildo Stein. S. Paulo, Abril Outra bibliografia
Cultural, 1979.
Construir, Habitar, Pensar. In: Ensaios e conferencias. JARDIM, Antonio. Quando a paixáo é filosofía. In:
Petrópolis, Vozes, 2002. CAsTRO, Manuel Antonio de (org.), A Construaio Poética
" ... poeticamente o homem habita ... ". In: Ensaios e do Real. Rio de Janeiro, 7letras, 2004.
Conferencias. Petrópolis, Vozes, 2002. PAZ, Octavio. El arco y la lira. México, Fondo de Cultura
Lagos (Heráclito,Jragmento 50). In: Ensaios e Conferencias. Económica, 1973.
Petrópolis, Vozes, 2002. Rosx.joáo Cuimaráes. Primeiras Estórias. Rio deJaneiro,
Aletheia (Heráclito,Jragmento 16). In: Ensaios e conferencias. José Olympio, 1967.
Petrópolis, Vozes, 2002.
A Questao da Técnica. In: Ensaios e Conferencias. Petrópolis,
Vozes, 2002.
Ciencia e Pensamento do Sentido. In: Ensaios e Conferencias.
Petrópolis, Vozes, 2002.
Holderliti e a Esséncia daPoesia. Há traducáo francesa, in:
Approche de Hiilderlin. París, Gallimard, 1962. Há também
traducáo espanhola: Trad. Juan David García Bacca.
Barcelona, Anthropos Editorial, 1989.
A Caminho da Linguagem. Trad. Márcia de Sá Cavalcante
Schuback. Petrópolis, Vozes, 2003.
Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga
Santos. Lisboa, Instituto Piaget, s.d.
A Origem da Obra de Arte
Martin Heidegger

Traducáo:
ldalina Azevedo da Silva
Manuel Antonio de Castro

tJ}~-fVT~l\S~r;;p~rJr: FETJ1:f~¡\L oo F-i-\!t1~-


E~l r,LtOl't.C.3\ CEiiTl1i\l.
DER URSPRUNG DES KUNSTWERKESª A ORIGEM DA OBRA DE ARTEª

7 Ursprung" bedeutet hier jenes, van waher und §1,- Originário1 (b) significa aqui aquilo a partir de
wadurch eine Sache ist, was sie ist und wie sie ist. Das, onde e através do que algo é o que ele é e como ele é.
was etwas ist, wie es ist, nennen wir sein Wesen. Der A isto o que algo é, como ele é, chamamos sua esséncia.
Ursprung van etwas ist die Herkunft seines Wesens. O originário de algo é a proveniencia de sua esséncia.
Die Frage nach dem Ursprung des Kunstwerkes fragt
A pergunta pelo originário da obra de arte pergunta
pela proveniencia de sua esséncia. A obra surge através
nach seiner Wesensherkunft. Das Werk entspringt nach
e a partir da atividade do artista, segundo a opiniáo
der gewóhnlichen Varstellung aus der und durch die
corrente. Porém, de onde e através do que (c) o artista
Tatigkeit des Künstlers. Wadurch aber und woher ist
é o que é? Através da obra, pois dizer-se que urna obra
der Künstler das", was er ist? Durch das Werk; denn,
daf ein Werk den Meister lobe, heifst: das Werk erst laF.it <•l Edicáo Reclam de 1960: A tentativa (1935/37) é insuficiente em
den Künstler als einen Meister der Kunst hervorgehen. conseqüéncia do uso inadequado do vocábulo 'verdade' para a clareira
e para o clareado ainda de maneira reservada. Compare Wegrnarken
(Marcas do caminho) p. 268 e ss. "Hegel und die Griechen" ("Hegel e os
gregos") '\ "Zur Sache des Denkens" ("Sobre a questáo do pensar"), p.
ª Reclam-Ausgabe 1960: Der Versuch (1935/37) unzureichend zu- 77 nota de pé de página; "Das Ende der Philosophie und die Aufgabe
folge des ungernáfsen Gebrauchs des Namens »Wahrheit-c für die noch des Denkens" ("O fim da filosofia e a tarefa do pensar"). - Arte: O
zuruckgehaltene Lichtung und das Gelichtete. Vgl. »Wegmarken« S. 268 produzir que necessita, no acontecer poético-apropriante, da clareira
ff. »Hegel und die Gnechen«; »Zur Sache des Denkens«, S. 77 Fuísnote do velar-se - guardar-se no con-figurado.
»Das Ende der Philosophie und die Aufgabe des Denkens«. - Kunst: Das
Pro-duzir e figurar: compare "Sprache und Heimat" (Linguagem
e pátria), "Aus der Erfahrung des Denkens" (Da experienciacáo do
im Ereignis gebrauchte Her-vor-bringen der Lichtung des Sichverbergens
pensar).
- Bergens ins Ge-Bild. 'k Veja no final da Apreseniacáo desta traducáo, as iridicacóes
Her-vor-bringen uncl Bilden: vgl. »Sprache und Heirnat«, »Aus der bibliográficas em portugués, quando as houver, das obras citadas neste
Erfahrung des Denkens«. ensaio de Heidegger. (N.T.)
b Reclam-Ausgabe 1960: Migverstandlich die Rede vom »Urs- §1 (b) Edicáo Reclam de 1960: O que se diz de "originario" é
prung<. passível de enganos.
e Reclam-Ausgabe 1960: der, der er ist. §1 (c) Edicáo Reclam de 1960: Aquele que ele é.
36 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 37

Der Künstler ist der Ursprung des Werkes. Das Werk faz o mestre significa que somente a obra deixa o artista
ist der Ursprung des Künstlers. Keines ist ohne das aparecer como um mestre da arte. O artista é a origem
andere. Gleichwohl tragt auch keines der beiden allein da obra. A obra é a origem do artista. Nenhum é sem
das andere. Künstler und Werk sind je in sich und in o outro. Do mesmo modo também nenhum dos dois
ihrem Wechselbezug durch ein Drittes, welches das porta sozinho o outro. Artista e obra sao em-si e em
erste ist, durch jenes namlich, von woher Künstler und sua mútua referencia através de um terceiro, que é o
Kunstwerke ihren Namen haben, durch die Kunst. primeiro, ou seja, através daquilo a partir de onde artista
So notwendig der Künstler in einer anderen Weise der e obra de arte térn seu nome, através da arte.
Ursprung des Werkes ist als das Werk der Ursprung des §2-Assim como o artista é a origem da obra de um
Kunstlers, so gewiG, ist die Kunst in einer noch anderen Weise modo necessariamente diferente daquele que a obra é
der Ursprung fur den Künstler und das Werk zumal. Aber a origem do artista, é também certo que a arte, ainda
kann denn die Kunst uberhaupt ein Ursprung sein? Wo und de um outro modo, é, ao mesmo tempo, o originário
wie gibt es die Kunst? Die Kunst, das ist nur noch ein Wort, para o artista e para a obra. Mas pode a arte ser de al-
dem nichts Wirkliches mehr entspricht. Es mag als eine gum modo um originário? Onde e como se dá a arte?
Sammelvorstellung gelten, in der wir das unterbringen, was A arte se tornou urna palavra a qual nada mais de real
allein von der Kunst wirklich ist: die Werke und die Künstler. corresponde. Pode ser considerada como urna idéia ge-
Selbst wenn das Wort Kunst mehr bezeichnen sollte als ral na qual colocamos o que verdadeiramente concerne
eine Sammelvorstellung, so kónnte das mit dem Wort Kunst a arte: as obras e os artistas. Mesmo se a palavra arte
Gemeinte nur sein auf Grund der Wirklichkeit von Werken devesse designar algo mais do que urna idéia geral, o
und Künstlern. Oder liegt die Sache umgekehrt? Gibt es que se pensa com a palavra arte só o pode ser com base
na realidade vigente das obras e artistas. Ou é o caso
Werk und Künstler nur, sofernª die Kunst ist, und zwar als
inverso? Só há obra e artista, na medida em que a arte
ihr Ursprung?
existe (a) e, na verdade, como seu originário?
Wie auch die Entscheidung Iallt, die Frage nach
§3- Seja qual for a decisáo, a pergunta pelo originá-
dem Ursprung des Kunstwerkes wird zur Frage nach
rio da obra de arte torna-se a pergunta pela esséncia da
dem Wesen der Kunst. Da es jedoch offen bleiben
arte. Urna vez que é preciso ficar em aberto se e como
rnu S, ob und wie die Kunst überhaupt ist, werden
a arte é em geral, deveremos procurar achar a esséncia
wir das Wesen der Kunst dort zu finden versuchen,
da arte lá onde indubitável e realmente vigora. A arte
wo Kunst ungezweifelt wirklich waltet. Die Kunst

ª Reclam-Ausgabe 1960: Es die Kunst gibt. §2 (a) Edicáo Reclam de 1960: Dá-Se a arte.
38 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 39

8 west im Kunst-Werk. Aber was und wie ist ein Werk vige na obra de arte. Mas o que é e como é urna obra
der Kunst? de arte?
Was die Kunst sei, solí sich aus dem Werk entnehmen §4 - O que é a arte deve-se deixar depreender da
lassen. Was das Werk sei, konnen wir nur aus dem obra. Somente podemos experienciar o que a obra é
Wesen der Kunst erfahren. Jedermann bemerkt leicht, a partir da esséncia da arte. Qualquer um nota facil-
daf wir uns im Kreise bewegen. Der gewóhnliche mente que nos movemos em círculo. A opiniáo cor-
Verstand fordert, daf dieser Zirkel, weil er ein Verstoís rente exige que este círculo seja evitado, pois é urna
gegen die Logik ist, vermieden werde. Man meint, was violacáo da lógica. Pensa-se poder deduzir o que é a
Kunst sei, lasse sich durch eine vergleichende Betrachtung arte através de urna observacáo comparativa das obras
der vorhandenen Kunstwerke an diesen abnehmen. Aber de arte existentes. Mas como podemos estar certos de
wie sollen wir dessen gewi~ sein, daf wir für eine solche que para urna tal observacáo nós tenhamos como base
Betrachtung in der Tat Kunstwerke zugrunde legen, efetivamente obras de arte, se nós ainda nao sabemos
wenn wir nicht zuvor wisseri, was Kunst ist? Aber so o que é a arte? Porém, assim como nao se deixa depre-
wenig wie durch eine Aufsammlung von Merkmalen an ender a esséncia da arte através de um levantamento
vorhandenen Kunstwerken la~t sich das Wesen der Kunst de características das obras existentes, também nao
durch eine Ableitung aus hóheren Begriffen gewinnen; se deixa depreender a esséncia da arte através da
denn auch diese Ableitung hat im voraus schon jene deducáo de conceitos superiores, pois também esta
Bestimmungen im Blick, die zureichen müssen, um uns deducáo já tem em vista oferecer como tal aquilo que
das, was wir im voraus fur ein Kunstwerke halten, als ein nós de anternáo consideramos como urna obra de arte.
solches darzubieten. Das Aufsammeln von Merkmalen Contudo, o levantar características a partir de obras
aber aus Vorhandenem und das Ableiten aus Grundsátzen existentes e o deduzir a partir de princípios sao, neste
sind hier in gleicher Weise unmoglích und, wo sie geübt caso, do mesmo modo impossíveis e onde isto é feito
é um auto-engano.
werden, eine Selbsttauschung.
§5 - Assim precisamos percorrer efetiva e plenamen-
So müssen wir den Kreisgang vollziehen. Das ist kein
te o círculo. Isto nao é nem urna solucáo passageira
Notbehelf und kein Mangel. Diesen Weg zu betreten, ist
nem é urna deficiencia. A posicáo vigorosa é trilhar este
die Stárke, und auf diesem Weg zu bleiben, ist das Fest des
caminho e permanecer nele a festa do pensar, posto que
Denkens, gesetzt, daís das Denken ein Handwerk ist. Nicht
o pensaré um oficio. Nao sornen te o passo principal da
nur der Hauptschritt vom Werk zur Kunst ist als der Schritt
obra para a arte assim como o passo da arte para a obra
von der Kunst zum Werk ein Zirkel, sondern jeder einzelne
é um círculo, mas cada passo isolado que tentamos dar
der Schritte, die wir versuchen, kreist in diesem Kreise.
circula neste círculo.
40 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 41

Um das Wesen der Kunst zu finden, die wirklich im §6 - Para achar a esséncia da arte, que vigora real-
Werk waltet, suchen wir das wirkliche Werk auf und mente na obra, procuremos a obra real e perguntemos
fragen das Werk, was und wie es sei. i obra o que ela é e como é.
Kunstwerke sind jedermann bekannt. Bau- und §7 -Obras de arte sao conhecidas de todo mundo.
Bildwerke findet man auf offentlichen Platzen, in den Obras arquitetóriicas e pictóricas encontram-se em
Kirchen und in den Wohnhausern angebracht. In den lugares públicos e estáo apresentadas nas igrejas e nas
Sammlungen und Ausstellungen sind Kunstwerke der moradias. As obras de arte das mais diferentes épocas
verschiedensten Zeitalter und Volker untergebracht. e povos estáo guardadas nas colecóes e nas exposicóes.
Wenn wir die Werke auf ihre unangetastete Wirklichkeit Se olharmos as obras considerando a sua realidade
hin ansehen und uns selber dabei nichts vormachen, vigente intocável e nisso nao tenhamos nenhuma
dann zeigt sich: Die Werke sind so natürlich vorhanden idéia preconcebida, entáo mostra-se: as obras sao tao
9 wie Dinge sonst auch. Das Bild hángt an der Wand wie naturalmente existentes como aliás também as coi-
ein Jagdgewehr oder ein Hut. Ein Gemalde , z. B. jenes sas. O quadro está pendurado na parede do mesmo
modo que urna espingarda de caca ou um chapéu.
van van Gogh, das ein Paar Bauernschuhe darstellt,
Urna pintura, por exemplo, aquela de van Gogh que
wandert van einer Ausstellung in die andere. Die Werke
apresenta um par de sapatos de camporiés, vai de
werden verschickt wie die Kohlen aus dem Ruhrgebiet
exposicáo em exposicáo, As obras sao expedidas como
und die Baumstamme aus dem Schwarzwald. Hólderlins
o carváo do Ruhr e os troncos de árvore da Floresta
Hymnen waren wáhrerid des Feldzugs im Tornister
Negra. Durante as campanhas de guerra, os hinos de
mitverpackt wie das Putzzeug. Beethovens Quartette
Hólderlin foram guardados na mochila juntos com
liegen in den Lagerraumen des Verlagshauses wie die
os utensílios de limpeza. Os quartetos de Beethoven
Kartoffeln im Keller.
estáo nos depósitos da editora como as batatas estáo
Alle Werke haben dieses Dinghafte. Was waren
no porao.
sie ohne dieses? Aber vielleicht stoísen wir uns an
§8 - Todas as obras térn este caráter de coisa. O que
dieser reichlich graben und au~erlichen Ansicht seriam elas sem isso? Talvez nos choquemos com esta
vom Werk. In solchen vorstellungen vom Kunstwerk visáo da obra bastante grosseira e externa. Em tais repre-
mag sich die Guterbestátterei oder die Putzfrau im sentacóes da obra de arte podem-se incluir o carregador
Museum bewegen. Wir müssen doch die Werke so de mercadorias ou a faxineira do museu. Contudo, nós
nehmen, wie sie denjenigen begegnen, die sie erleben precisamos considerar as obras como elas se apresentam
und genieísen. Aber auch das vielberufene asthetische iqueles que as vivenciam e fruem. Porém, a tao evocada
Erlebnis kommt am Dinghaften des Kunstwerkes nicht vivencia estética também nao passa sem o caráter de
42 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 43

vorbei. Das Steinerne ist im Bauwerk. Das Holzerne ist im coisa da obra de arte. Há pedra na obra arquitetónica. Há
Schnitzwerk. Das Farbige ist im Gernálde. Das Lautende madeira na escultura. Há cor na pintura. Há som na obra
ist im Sprachwerk. Das Klingende ist im Tonwerk. Das de linguagem. Há sonoridade na obra musical. O caráter
Dinghafte ist so unverrückbar im Kunstwerk, daf wir de coisa é tao irremovível na obra de arte que, ao contrário,
sogar eher umgekehrt sagen müssen: Das Bauwerk ist im seria melhor dizer: o monumento está na pedra, a escultura
Stein. Das Schnitzwerk ist im Holz. Das Gemalde ist in está na madeira. A pintura está na cor. A obra de linguagem
der Farbe. Das Sprachwerk ist im Laut. Das Musikwerk está na fala. A obra musical está na sonoridade. Responder-
ist im Ton. Selbstverstándliches - wird man entgegnen. -se-ia que isso é evidente. Certo. Mas o que é este evidente
Gewiís. Aber was ist dieses selbstverstandliche Dinghafte caráter de coisa na obra de arte?
im Kunstwerk? §9 - Supostamente, torna-se supérfluo e até pas-
Vermutlich wird es uberflussig und verwirrend, dem sível de confusáo indagar sobre isso, porque a obra
nachzufragen, weil das Kunstwerk über das Dinghafte de arte, além do caráter de coisa, é ainda um outro
hinaus noch etwas anderes ist. Dieses Andere, was daran algo. Este outro algo que está nela constituí o artís-
ist, macht das Künstlerische aus. Das Kunstwerk ist zwar tico. A obra de arte é, de certo, urna coisa produzida,
ein angefertigtes Ding, aber es sagt noch etwas anderes, als mas ela diz ainda um outro algo diferente do que a
das bloíse Ding selbst ist, a').)._o ayopEúet. Das Werk macht mera coisa propriamente é, allo agoreuei [allo=outro,
mit Anderem offentlich bekannt, es offenbart Anderes; es ist agoreuei=diz]. A obra dá a conhecer abertamente um
Allegorie. Mit dem angefertigten Ding wird im Kunstwerk outro, manifesta outro: ela é alegoría.Junto coma coi-
noch etwas Anderes zusammengebracht. Zusammenbringen sa produzida é com-posto ainda outro algo na obra de
heiíst griechisch c:ruµ~áAAclV. Das Werk ist Symbol. arte. Porjunto com diz-se em grego symbaUein [sym=com,
1O Allegorie und Symbol geben die Rahmenvorstellung her, ballein=pór, jogar]. A obra é símbolo.
§ 10-Alegoria e símbolo fornecem o enquadramento
in deren Blickbahn sich seit langem die Kennzeichnung
representacional em cuja perspectiva, desde há muito
des Kunstwerkes bewegt. Allein, dieses Eine am
tempo, se move a caracterizacáo da obra de arte. Mas
Werk, was ein Anderes offenbart, dieses Eine , was mit
esta unidade na obra, que revela um outro, esta unidade
einem Anderen zusammenbringt, ist das Dinghafte im
que reúne a um outro, é o caráter de coisa na obra de
Kunstwerk. Fast scheint es, das Dinghafte im Kunstwerk
arte. Quase parece que o caráter de coisa na obra de
sei wie der Unterbau, darein und daruber das Andere und
arte seria como a base na qual e sobre a qual esse outro
Eigentliche gebaut ist. Und ist es nicht dieses Dinghafte
e próprio da obra é edificado. E nao é este caráter de
am Werk, was der Künstler bei seinem Handwerk
coisa na obra o que o artista trabalha propriamente
eigentlich macht?
em seu oficio?
44 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 45

Wir mochten die unmittelbare und volle Wirklichkeit des §11 - Nós queremos alcancar a imediata e plena
Kunstwerkes treffen; denn nur so finden wir in ihm auch die realidade vigente da obra de arte, pois somente assim
wirkliche Kunst. Also müssen wir zunachst das Dinghafte encontramos nela também a verdadeira arte. Portanto,
des Werkes in den Blick bringen. Dazu ist nótig, daf wir ternos que examinar em primeiro lugar o caráter de coisa
hinreichend klarwissen, was ein Ding ist. Nur dann laíst sich da obra. Para tal é necessário que saibamos claramente
sagen, ob das Kunstwerk ein Ding ist, aber ein Ding, an dem o que é urna coisa. Apenas en tao se pode dizer se a obra
noch anderes haftet; erst dann laíst sich entscheiden, ob das de arte é urna coisa, mas urna coisa a qual ainda outra
Werk im Grunde etwas Anderes und nie ein Ding ist. está presa. Somente en tao pode-se decidir se, no fundo,
a obra nunca é urna coisa, e, sim, algo diferente.
Das Ding und das Werh
A coisa e a obra
Was ist in Wahrheit das Ding, sofem es ein Ding ist? Wenn
wir so fragen, wollen wir das Dingsein (die Dingheit) des §12 - Em verdade, o que é a coisa enguanto é
Dinges kennenlemen. Es gilt, das Dinghafte des Dinges zu urna coisa? Quando assim perguntamos, queremos
erfahren. Dazu müssen wir den Umkreis kennen, in den all conhecer o ser-coisa (a coisidade) da coisa. Trata-
jenes Seiende gehórt, das wir seit langem mit dem Namen -se de experienciar a coisidade da coisa. Para isso ternos
Ding ansprechen. que conhecer o ámbito ao qual pertence todo aquele sen-
Der Stein am Weg ist ein Ding und die Erdscholle do que nós há muito designamos com o nome coisa.
auf dem Acker. Der Krug ist ein Ding und der Brunnen § 13 - A pedra no caminho é urna coisa e também
am Weg. Wie steht es aber mit der Milch im Krug und o torráo de terra. Ajarra é urna coisa bem como a
mit dem Wasser des Brunnens? Auch dies sind Dinge, fon te no caminho. Mas o que dizer do leite na jarra
wenn die Wolke am Himmel und die Distel auf dem e da água da fon te? Também estes sao coisas, se as
Feld, wenn das Blatt im Herbstwind und der Habicht nuvens no céu e o cardo no campo, se a folha no
über dem Wald namensgerecht Dinge heiísen. All dieses vento do outono e o acor sobre a floresta se denomi-
muis in der Tat ein Ding genannt werden, wenn man nam de fato coisas. Tudo isto tem que ser efetivamen-
sogar auch jenes mit dem Namen Ding belegt, was sich te denominado urna coisa, se até se designa também
nicht wie das soeben Aufgezahlte selbst zeigt, d. h. com o nome coisa o que propriamente nao se mostra
was nicht erscheint. Ein solches Ding, das nicht selbst como o enumerado até agora, quer dizer, o que nao
erscheint, ein »Ding an sich« namlich, ist nach Kant z. B. aparece. Urna tal coisa, que como tal nao aparece, urna
das Ganze der Welt, ein solches Ding ist sogar Gott "coisa-em-si", é, segundo Kant, por exemplo, a totali-
selbst. Di.nge an sich und Dinge, die erscheinen, alles dade do mundo, urna tal coisa é até mesmo o próprio
46 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 47

Seiende, das überhaupt ist, heiíst in der Sprache der Deus. Coisas-em-si e coisas que aparecem, todo sendo
11 Philosophie ein Ding. que é, chama-se na linguagem filosófica urna coisa.
Flugzeug und Rundfunkgerat gehoren zwar heute zu §14 - De certo, hoje, o aviáo e o aparelho de rádio
den nachsten Dingen, aber wenn wir die letzten Dinge fazem parte das coisas mais próximas. Porém, quando
meinen, dann denken wir an ganz Anderes. Die letzten nos referimos as coisas derradeiras, entáo pensamos
Dinge, das sind: Tod und Gericht. lm Ganzen nennt hier em algo totalmente diferente. As coisas derradeiras sao:
das Wort Ding jegliches, was nicht schlechthin nichts morte e juízo final. Em suma, a palavra coisa nomeia
ist. Nach dieser Bedeutung ist auch das Kunstwerk ein aqui o que simplesmente nao é nada. Segundo este sig-
nificado, a obra de arte é também urna coisa, na medida
Ding, sofern es überhaupt etwas Seiendes ist. Doch dieser
em que ela é um sendo. Contudo, este conceito de coisa,
Dingbegriff hilft uns, unmittelbar wenigstens, nichts
pelo menos de imediato, nao nos ajuda em nada em
bei unserem Vorhaben, das Seiende von der Seinsart
nosso propósito de delimitar o sendo do modo de ser
des Dinges gegen Seiendes von der Seinsart des Werkes
da coisa em relacáo ao sendo do modo de ser da obra.
abzugrenzen. Überdies scheuen wir uns auch wieder, Gott
Além disso, hesitamos novamente em chamar a Deus
• ein Ding zu heiísen. Wir scheuen uns ebenso, den Bauer
de urna coisa. Do mesmo modo hesitamos em conside-
auf dem Feld, den Heizer vor dem Kessel, den Lehrer in
rar como urna coisa o camponés no campo, o foguista
der Schule für ein Ding zu nehmen. Der Mensch ist kein
<liante da caldeira, o professor na escola. O homem nao
Ding. Wir heiísen zwar ein junges Madchen, das an eine
é nenhuma coisa. Em verdade, chamamos, em alemáo,
uberrnaísige Aufgabe gerat, ein noch zu junges Ding, aber
a umajovem que se envolve numa tarefa além das suas
nur deshalb, weil wir hier das Menschsein in gewisser forcas, de urna "coisa" ainda muito jovem, mas somente
Weise vermissen und eher das zu finden meinen, was das porque nós, neste caso, de um certo modo, sentimos
Dinghafte der Dinge ausmacht. Wir zógern sogar, das Reh falta do ser humano e pensamos encontrar antes o que
in der Waldlichtung, den Kafer im Gras, den Grashalm ein constitui o caráter de coisa das coisas. Hesitamos até em
Ding zu nennen. Eher ist uns der Hammer ein Ding und denominar como sendo urna coisa o cervo na clareira
der Schuh, das Beil und die Uhr. Aber ein bloíses Ding da floresta, o besouro na relva, o rebento da planta.
sind auch sie nicht. Als solches gilt uns nur der Stein, Para nós sao muito mais coisas: o martelo e o sapato, o
die Erdscholle, ein Stück Holz. Das Leblose der Natur machado e o relógio. Mas urna mera coisa também eles
und des Gebrauches. Die Natur- und Gebrauchsdinge nao sao. Como tal, para nós, vale somente a pedra, o
sind die gewóhnlich so genannten Dinge. torráo de terra, um pedaco de madeira. O inanimado
So sehen wir uns aus dem weitesten Bereich, in dem da natureza e do uso. As coisas da natureza e as de uso
alles ein Ding ist (Ding =res= ens = ein Seiendes), auch sao as que habitualmente chamamos de coisas.
48 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 49

die hochsten und letzten Dinge, auf den engen Bezirk §15-Deste modo, vemo-nos trazidos de volta do mais
der bloísen Dinge zurückgebracht. Das »bloís« meint hier amplo ámbito, em que tudo é urna coisa ( coisa=res=ens=um
einmal: das reine Ding, das einfach Ding ist und nichts seudo), mesmo as coisas mais altas e últimas, para o restrito
weiter; das »bloís« meint dann zugleich: nur noch Ding in domínio das meras coisas. O "mero" significa aquí: a pura
einem fast schon abschatzigen Sinne. Die bloísen Dinge, coisa que simplesmente é coisa e nada mais; o "mero"
mit Ausschluf sogar der Gebrauchsdinge, gelten als die significa entáo ao mesmo tempo: somente coisa em um
eigentlichen Dinge. Worin besteht nun das Dinghafte sentido quase depreciativo. As meras coisas, excluindo até
dieser Dinge? Aus ihnen muf sich die Dingheit der Dinge as coisas de uso, valem como as próprias coisas. Em que
bestimmen lassen. Die Bestimmung setzt uns instand, das consiste, pois, o caráter de coisa destas coisas? A coisidade
Dinghafte als solches zu kennzeichnen. So ausgerüstet, das éoisas tem que se deixar determinar a partir delas.
konnen wir jene fast handgreifliche Wirklichkeit der Werke A determinacáo nos possibilita assinalar o caráter de coisa
kennzeichnen, worin dann noch etwas Anderes steckt. como tal. Assim preparados, podemos assinalar aquela
12 Nun gilt als bekannte Tatsache, daís schon von realidade vigente quase palpável das obras, onde ainda
altersher, sobald die Frage gestellt war, was das Seiende outra coisa está alojada.
uberhaupt sei, die Dinge in ihrer Dingheit sich als §16 - É um fato conhecido que,já desde há muito,
tao logo a questáo foi colocada "O que é o sendo em
das maísgebende Seiende immer wieder vordrangten.
geral?", as coisas em sua coisidade sempre de novo se
Demzufolge müssen wir in den überlieferten Auslegungen
impuseram como o que se torna padráo para o sendo.
des Seienden bereits die Umgrenzung der Dingheit der
Por conseguinte,já ternos que encontrar, nas interpre-
Dinge antreffen. Wir brauchen uns daher nur dieses
tacóes tradicionais do sendo, a delimitacáo da coisidade
überkommenen Wissens vom Ding ausdrücklich zu
das coisas. Nós precisamos, devido a isso, somente nos
versichern, um der trockenen Mühe des eigenen Suchens
certificar expressamente desse saber tradicional da
nach dem Dinghaften des Dinges enthoben zu sein. Die
coisa, para nos livrarmos do esforco árido da própria
Antworten auf die Frage, was das Ding sei, sind in einer
procura do caráter de coisa. As respostas a pergunta
Weise gelaufig, daís man dahinter nichts Fragwürdiges
'O que é a coisa?' sao de um certo modo corriqueiras,
mehr vermutet.
de tal modo que se presume que nao há mais nada
Die Auslegungen der Dingheit des Dinges, die, im digno de questionamento.
Verlauf des abend lándischen Denkens herrschend, §17 - As interpretacóes da coisidade da coisa, que
lárigst selbstverstán dl ich geworden und heute im no decorrer do pensamento ocidental dominante se
allt ágl iche n Gebrauch sind, lassen sich auf drei tornaram há muito evidentes e estáo em uso hoje, dei-
zusammenbringen. xam-se resumir a tres.
50 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 51

Ein bloíses Ding ist z. B. dieser Granitblock. Er ist §18 - Urna mera coisa é, por exemplo, este bloco de
hart, schwer, ausgedehnt, massig, unfórmig, rauh, granito. É duro, pesado, extenso, macice, disforme, áspe-
farbig, teils matt, teils glanzend. All dieses Aufgezahlte ro, colorido, em parte opaco, em parte brilhante. Toda
kónnen wir dem Stein abmerken. Wir nehmen so seine esta enumeracáo pode ser percebida na pedra. Tomamos,
Merkmale zur Kenntnis. Aber die Merkmale meinen assim, conhecimento de suas características. Contudo,
doch solches, was dem Stein selbst eignet. Sie sind as características referem-se áquilo que pertence a pró-
seine Eigenschaften. Das Ding hat sie. Das Ding? Woran pria pedra. Elas sao as suas propriedades. A coisa as tem.
denken wir, wenn wir jetzt das Ding meinen? Offenbar A coisa? Em que pensamos quando agora nos referimos a coi-
ist das Ding nicht nur die Ansammlung der Merkmale, sa? Claramente a coisa nao é sornen te a reuniáo de caracterís-
auch nicht die Anhaufung der Eigenschaften, wodurch ticas e também nao é a acumulacáo das propriedades através
das quais en tao surge o conjunto. A coisa é, como qualquer
erst das Zusammen entsteht. Das Ding ist, wie jedermann
um acredita.saber; aquilo em tomo do qual as propriedades se
zu wissen glaubt, jenes, um das herum sich die
reuniram. Fala-se en tao do cerne das coisas. Os gregos devem
Eigenschaften versammelt haben. Man redet dann vom
ter nomeado isto to hypokeimenon. Este caráter de cerne da
Kern der Dinge. Die Griechen sallen dies ró úzoxeíuauov
coisa era para eles, de certo, o que servia de fundamento e o
genannt haben. Dieses Kernhafte des Dinges war ihnen
já sempre existente. Porém, as características se denominam
freilich das zum Grunde und immer schon Vorliegende. ta symbebekota, aquilo que também sempre já foi posto com
Die Merkmale aber heifsen -rá crnµ~E~11xórn, jenes, was cada existente e em virtude disso com ele aparece.
sich mit dem jeweils Vorliegenden immer auch schon §19 - Estas denominacóes nao sao quaisquer nomes.
eingestellt hat und mit dabei vorkommt. Nelas fala, o que aqui nao é mais para mostrar, a funda-
Diese Benennungen sind keine beliebigen Namen. mental experiencia grega do ser do sendo, no sentido de
In ihnen spricht, was hier nicht mehr zu zeigen presenc;a. Porém, através destas determinacóes fundamen-
ist, die griechische Grunderfahrung des Seins des ta-se, desde en tao, a interpretacáo normativa da coisidade
Seienden im Sinne der Anwesenheit. Durch diese da coisa e se fixou a interpretacáo ocidental do ser do
Bestimmungen aber wird die fortan ma Sgebend e sendo. Ela comeca com a recepcáo das palavras gregas
Auslegung der Dingheit des Dinges gegründet no pensamento romano-latino. Hypokeimenon torna-se
und die abendlándische Auslegung des Seins des subjectum', hypostasis torna-se substantid"; symbebekós torna-
Seienden festgelegt. Sie beginnt mit der Übernahme
der griechischen Wórter in das rómisch-lateinische • Subjectum: particípio do verbo latino subiicere: atirar, pór, deitar
debaixo de, pór ao pé de, daí: o que está pasto sob, o fundamento e depois,
13 Denken. úaoxeíuevov wird zu subie ctum; únóo rucu; modernamente, sujeito. (N. T)
wird zu substantia; 0uµ~E~11xóc; wird zu accidens. Diese "Substaniia: do verbo sub-stare, estar sob, ou seja, a substancia, a es-
séncia, os meios de subsistáncia. (N. T)
52 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 53

Übersetzung der griechischen Namen in die lateinische se accidens'", Esta traducáo dos nomes gregos para a
Sprache ist keineswegs der folgenlose Vorgang, Iúr den língua latina nao é de modo algum um fato sem conse-
er noch heutigentags gehalten wird. Vielmehr verbirgt qüéncias em relacáo a eles, como hoje ainda é julgado.
sich hinter der anscheinend wórtlichen und somit Por detrás da traducáo, aparentemente literal e com
bewahrenden Übersetzung ein úbersetzen griechischer isso preservadora, esconde-se muito mais um transpor
Erfahrung in eine andere Denkungsart. Das romische da experiencia grega para um outro modo de pensar.
Denken übernimmt die griechischen Worter ohne die O pensar romano assume as palavras gregas, traduzidas sem
entsprechende gleichursprüngliche Erfahrung dessen, was a experienciaaio igualmente originária que corresponda ao
sie sagen, ohne das griechische Wort. Die Bodenlosigkeit que elas dizem, sem a experiencial palavra grega. Com este
des abendlandischen Denkens beginnt mit diesem traduzir comeca a carencia de chao firme do pensa-
Übersetzen. men to ocidental.
Die Bestimmung der Dingheit des Dinges als der §20 - A deterrninacáo da coisidade da coisa como
Substanz mit ihren Akzidenzien scheint nach der a substancia com seus acidentes parece corresponder,
13 gelaufigen Meinung unserem natürlichen Blick auf die de acordo com a opiniáo corrente, a nossa maneira
Dinge zu entsprechen. Kein Wunder, daf sich dieser natural de olhar as coisas. Nao é de se admirar que
gewohnlichen Ansicht des Dinges auch das gelaufige esta visáo habitual da coisa se adequou também ao
Verhalten zu den Dingen angemessen hat, namlich comportamento corrente em relacáo is coisas, ou
das Ansprechen der Dinge und das Sprechen über sie. seja, o dirigir-se a nós das coisas e o falar sobre elas.
A enunciacáo simples se compóe de sujeito, que é a
Der einfache Aussagesatz besteht aus dem Subjekt,
was die lateinische Übersetzung, und das heiíst schon traducáo latina para hypokeimenon - e isso já significa
urna interpretacáo diferente-, e de predicado, onde se
Umdeutung, von úrcoKE͵cvov ist, und aus dem Pradikat,
enunciam as características da coisa. Quem se atreveria
worin von dem Ding die Merkmale ausgesagt werden.
a mexer nessas relacóes fundamentais simples entre
Wer móchte sich unterfangen, an diesen einfachen
coisa e proposicáo, entre estrutura da proposicáo e
Grundverháltnissen zwischen Ding und Satz, zwischen
estrutura da coisa? Contudo, ternos que perguntar: É a
Satzbau und Dingbau zu rütteln? Dennoch müssen wir
estrutura da enunciacáo simples (a ligacáo de sujeito e
fragen: ist der Bau des einfachen Aussagesatzes (die
Verknüpfung von Subjekt und Pradikat) das Spiegelbild
zum Bau des Dinges (zur Vereinigung der Substanz mit
***Accidens, particípio presente do verbo accidere, cair para ou em
den Akzidenzien)? Oder ist gar der so vorgestellte Bau direcáo a, daí, accidens: o adjetivo, a qualidade acidental, o acidente, oposto
des Dinges entworfen nach dem Gerüst des Satzes? a substancia, o nao essencial, o acessório, o aparente. (N T)
54 MARTIN HEIDEGGER A ORJGEM DA OBRA DE ARTE 1 55

Was liegt naher, als daf der Mensch die Weise seiner predicado) a imagem reflexa da estrutura da coisa ( da
Dingerfassung im Aussagen auf den Bau des Dinges uniáo da substancia comos acidentes)? Ou a estrutura
selbst hinubertrágt? Diese scheinbar kritische, aber da coisa é assim apresentada e projetada de acordo com
dennoch sehr voreilige Meinung muíste allerdings zuvor a montagem da proposicáo?
§21 - O que é mais normal do que o homem transferir o
verstandlich machen, wie dieses Hinübertragen des
modo de sua compreensáo da coisa no enunciado para a estru-
Satzbaues auf das Ding moglich sein soll, ohne daf nicht
turacáo da própria coisa? Porém, esta opiniáo aparentemente
schon das Ding sichtbar geworden ist. Die Frage, was
crítica, nao obstante muito apressada, teria, na verdade, que
das Erste sei und das Maísgebende, der Satzbau oder der
tomar antes compreensível como este transferir da estruturada
Dingbau, ist bis zur Stunde nicht entschieden. Es bleibt proposicáo para a coisa pode ser possível, sem que a coisa nao
14 sogar zweifelhaft, ob die Frage in dieser Gestalt überhaupt se tivessejá tomado visível. A questáo, o que seria o primeiro e o
entscheidbar ist. deterrninante:seéaestruturadaproposic;aoouseéaestrutura
lm Grunde gibt weder der Satzbau das MaS fur den da coisa nao foi decidida até o momento. É até duvidoso se esta
Entwurf des Dingbaues, noch wird dieser in jenem einfach questáo, colocada desta forma geral, seja passível de decisáo.
abgespiegelt. Beide, Satz- und Dingbau, entstammen in §22- No fundo, nema estrutura proposicional dá a medi-
ihrer Artung und in ihrem móglichen Wechselbezug da para a concepcáo da estrutura da coisa nem esta se espelha
einer gemeinsamen ursprünglicheren Quelle. In jedem simplesmente naquela. Ambas, estrutura da proposicáo e
Falle ist die zuerst angeführte Auslegung der Dingheit da coisa, provém em sua modalidade e em sua referencia
des Dinges, das Ding als der Trager seiner Merkmale, recíproca de urna fon te comum mais originária. Em todo
trotz ihrer Gelaufigkeit nicht so natürlich, wie sie sich caso, a primeira interpretacáo mencionada da coisidade da
coisa, a coisa como portadora de suas características, nao
gibt. Was uns als natürlich vorkommt, ist vermutlich
é, apesar de seu caráter corrente, tao natural como ela se
nur das Gewóhnliche einer langen Gewohnheit, die das
apresen ta. O que nos aparece como natural é provavelmen-
Ungewohnte, dem sie entsprungen, vergessen hat. Jenes
te apenas o habitual de um longo hábito que esqueceu o
Ungewohnte hat jedoch einst als ein Befremdendes den
in-habitual do qual aquel e se origino u. U m dia, contudo,
Menschen angefallen und hat das Denken zum Erstaunen aquele in-habitual tomou de assalto, como um estranho, o
gebracht. homem e levou o pensar para a eclosáo do admirar.
Die Zuversicht zu der geláuíigen Dingauslegung ist §23-Aconfianc;a na interpretacáo corrente da coisa
nur scheinbar begründet. Auíserdem aber gilt dieser só aparentemente é fundamentada. Mas, além disso,
Dingbegriff (das Ding als der Trager seiner Merkmale) este conceito de coisa (a coisa como a portadora de suas
nicht nur vom bloísen und eigentlichen Ding, sondern características) vale nao somente em relacáo a simples
56 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 57

von jeglichem Seienden. Mit seiner Hilfe kann daher e própria coisa, mas também em relacáo a todo sendo.
auch niemals das dingliche gegen das nicht dingliche Por isso, com sua ajuda também nunca se pode distinguir
Seiende abgesetzt werden. Doch vor allen Bedenken sagt o sendo-coisa do sendo-náo-coisa. Contudo, antes de todas
uns schon der wache Aufenthalt im Umkreis von Dingen, as consideracóes, a vigilante estadía em meio ao ámbito das
daís dieser Dingbegriff das Dinghafte der Dinge, jenes coisas já nos diz que este conceito de coisa nao alcanca a
Eigenwüchsige und Insichruhende nicht trifft. Bisweilen coisidade das coisas, aquela origem própria e o que repousa-
haben wir noch das Gefühl, daf seit langem schon em-si. De vez em quando ternos ainda o sentimento de que
dem Dinghaften der Dinge Gewalt angetan worden und há muito já se usou de violencia em relacáo a coisidade
daís bei dieser Gewaltsamkeit das Denken im Spiel sei, das coisas e que, nesta violentacáo, o pensar está emjogo,
razáo pela qual se renega o pensamento, em lugar de se
weshalb man dem Denken abschwórt , statt sich darum
esforcar para que o pensamento se torne mais pensan-
zu muhen, daf das Denken denkender werde. Aber
te. Mas entáo que valor deve ter, numa determinacáo
was soll dann bei einer Wesensbestimmung des Dinges
da esséncia da coisa, um sentimento ainda tao seguro,
ein noch so sicheres Gefühl, wenn allein das Denken
quando apenas o pensar pode ter a palavra? Todavia,
das Wort haben darf? Vielleicht ist jedoch das, was wir talvez, o que aquí e em semelhantes casos denominamos
hier und in ahnlichen Fallen Gefühl oder Stimmung sentimento ou disposicáo de animo, seja mais racional
nennen, vernunftiger, námlich vernehmender, weil dem ou seja mais perceptível, porque é mais aberto ao ser do
Sein offener als alle Vernunft, die, inzwischen zur ratio que toda a razáo, a qual, neste ínterim, tornada ratid, foi
geworden, rational mifsdeutet wurde. Dabei leistete como racional mal compreendida. Nisso, o olhar vesgo
das Schielen nach dem Irrationalen, als der MiBgeburt em direcáo ao irracional, aborto do racional impensa-
des ungedachten Rationalen, seltsame Dienste. Zwar do, prestou servicos estranhos. Certamente, o conceito
paíst der gelaufige Dingbegriff jederzeit auf jedes Ding. corriqueiro de coisa serve a cada momento para cada
Dennoch faBt er in seinem Greifen nicht das wesende coisa. Contudo, nao concebe, em seu apreender, a coisa
Ding, sondern er uberfallt es. essencial, mas a agride.
§24- Pode-se talvez evitar urna tal agressáo? E como?
15 Laíst sich vielleicht ein solcher Überfall vermeiden und
Claro, desde que concedamos a coisa como que um cam-
wie? Wohl nur so, daf wir dem Ding gleichsam ein freies
po livre para que ela mostre imediatamente seu caráter
Feld gewahren, damit es sein Dinghaftes unmittelbar
zeige. Alles, was sich an Auffassung und Aussage uber 'Ratio (razáo): traducáo para o latim da palavra grega Iogos, que
das Ding zwischen das Ding und uns stellen mochte, tem muitos e complexos sentidos. Porém, perdeu essa complexidade
de sentidos além de ser também entendida num sentido muito restrito.
rriuf zuvor beseitigt werden. Erst dann überlassen wir Refere-se aoque é apenas racional e inteligível (N.T.)
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 59
58

uns dem unverstellten Anwesen des Dinges. Aber dieses de coisa. Tudo o que se queira colocar entre a coisa e nós
unvermittelte Begegnenlassen der Dinge brauchen como concepcáo e enunciacáo sobre a coisa, precisa ser
wir weder erst zu fordern noch gar einzurichten. Es antes afastado. Só entáo nos abandonamos a irremovível
geschieht langst. In dem, was der Gesicht-, Gehor- und presern;:a da coisa. Mas este imediato deixar-se encontrar
Tastsinn beibringen, in den Empfindungen des Farbigen, com as coisas nao precisamos nem, em princípio, exigir
Tonenden, Rauhen, Harten rücken uns die Dinge, ganz nem de modo algum dispor. Acontece desde sempre.
wórtlich genommen, auf den Leib. Das Ding ist das
Naquilo que o sentido da vista, da audicáo e do tato nos
trazem enquanto sensacóes da cor, do som, do áspero,
aícrSrrróv, das in den Sinnen der Sinnlichkeit durch die
do duro, as coisas literalmente afetam já nosso corpo.
Empfindungen Vernehmbare. Demzufolge wird dann
Acoisaé o aistheton [o sensível], o perceptível nos sentidos
spater jener Begriff vom Ding üblich, wonach es nichts
da sensibilidade através das sensacóes. Em conseqüéncia
anderes ist als die Einheit einer Mannigfaltigkeit des in
disso, torna-se mais tarde corriqueiro aquele conceito de
den Sinnen Gegebenen. Ob diese Einheit als Summe
coisa que nao é senáo a unidade de urna multiplicidade
oder als Ganzheit oder als Gestalt gefaíSt wird, anden am
dada nos sentidos. Se esta unidade é concebida como
maíSgebenden Zug dieses Dingbegriffes nichts.
soma ou totalidade ou figura, nada muda no impulso
Nun ist diese Auslegung der Dingheit des Dinges jederzeit
paradigmático deste conceito de coisa.
ebenso richtig und belegbar wie die vorige. Das genügt
§25- Pois bem, esta interpretacáo da coisidade da coisa
schon, um an ihrer Wahrheit zu zweifeln. Bedenken wir
é, em qualquer tempo, tao correta e comprovável como a
vollends jenes, was wir suchen, das Dinghafte des Dinges, anterior. lsto já é suficiente para se duvidar de sua verdad e.
dann laíSt uns dieser Dingbegriff wiederum ratlos. Niemals Reflitamos plenamente sobre o que procuramos: o caráter
vernehmen wir, wie er vorgibt, im Erscheinen der Dinge de coisa da coisa. Entáo este conceito de coisa nos deixa
zunachst und eigentlich einen Andrang von Empfindungen, novamente na incerteza. Nunca percebemos, como pre-
z. B. Tone und Gerausche, sondern wir horen den Sturm im sume este conceito, no aparecer das coisas, em primeiro
Schornstein pfeifen, wir hóren das dreimotorige Flugzeug, lugar e propriamente, urna afluencia de sensacóes, por
wir horen den Mercedes im unmittelbaren Unterschied exemplo, de sons e ruídos, mas ouvimos a tempestade
zum Adler-Wagen. Viel náher als alle Empfindungen sind assobiar na chaminé, ouvimos o aviáo trimotor, ouvimos
uns die Dinge selbst. Wir horen im Haus die Tür schlagen o Mercedes e o diferenciamos imediatamente de um
und horen niemals akustische Empfindungen oder auch Adler. As próprias coisas estáo muito mais próximas
nur bloíse Gerausche. Um ein reines Gerausch zu horen, de nós do que as sensacóes. Escutamos em casa a porta
müssen wir von den Dingen weghóren, unser 0hr davon bater e nunca ouvimos sensacóes acústicas ou meros
abziehen, d. h. abstrakt hóren. ruídos. Para se ouvir um puro ruído ternos que afastar

:.ft\.-:I~;::<rJ-¡\iJr r~~r;r:rt.h.L ir) r i1A\.i


t-3f::\t.tf)TfCJ\ CEffT}-tAt.
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 61
60

In dem jetzt genannten Dingbegriff liegt nicht so sehr das coisas o escutar, distanciar delas o nosso ouvido, ou
ein Überfall auf das Ding als vielmehr der übersteigerte seja, escutar abstratamente.
Versuch, das Ding in eine groístmogliche Unmittelbarkeit §26 - No conceito de coisa agora mencionado nao
zu uns zu bringen. Aber dahin gelangt ein Ding nie, há tanto urna agressáo a coisa mas muito mais a ten-
solange wir ihm das empfmdungsmaísig Vernommene als tativa excessiva de trazer para nós a coisa numa maior
imediatez possível. Porém, aí urna coisa nunca chega,
sein Dinghaftes zuweisen. Wahrend die erste Auslegung
enguanto lhe atribuirmos o apreendido pelas sensacóes
des Dinges uns dieses gleichsam vom Leibe halt und
como sendo seu caráter de coisa. Enguanto a primeira
zu weit wegstellt, rückt die zweite es uns zu sehr auf
interpretacáo da coisa como que a mantém e a coloca
den Leib. In beiden Auslegungen verschwindet das
demasiadamente afastada do corpo, a segunda a projeta
16 Ding. Darum gilt es wohl, die Übertreibungen beider
demais sobre o corpo. Nas duas interpretacóes, a coisa
Auslegungen zu vermeiden. Das Ding selbst muís bei
desaparece. Por isso, devem-se evitar os exageras das
seinem Insichruhen belassen bleiben. Es ist in der ihm
duas interpretacóes, A coisa mesma precisa ficar deixa-
eigenen Standhaftigkeit hinzunehmen. Das scheint die
da em seu repousar-em-si. Ela é para ser apreendida em
dritte Auslegung zu leisten, die ebenso alt ist wie die
seu caráter de constancia que lhe é próprio. Isto parece
beiden, zuerst genannten. realizar a terceira interpretacáo, que é tao antiga como
Jenes, was den Dingen ihr Standiges und Kerniges gíbt,
as duas citadas anteriormente.
aber zugleich auch die Art ihres sinnlichen Andranges §2-7 - Aquilo que dá as coisas o que é constante e
verursacht, das Farbige, Tonende, Harte, das Massige, ist é seu 2'erne, mas que ao mesmo tempo também causa
das Stoffliche der Dinge. In dieser Bestimmung des Dinges o mod6 de seu afluxo sensível, o colorido, o sonoro,
als Stoff (ú11,r¡) ist schon die Form (uopon) mitgesetzt. Das a dureza, o macice, é a materialidade das coisas. Nes-
Standige eines Dinges, die Konsistenz, besteht darin, daf ta deterrninacáo da coisa como matéria ( hylé) já está
ein Stoff mit einer Form zusammensteht. Das Ding ist ein com-posta a forma ( morphé). O constante de urna coisa,
geformter Stoff. Diese Auslegung des Dinges beruft sich a consistencia, consiste no fato de que urna matéria
auf den unmittelbaren Anblick, mit dem uns das Ding está reunida com urna forma. A coisa é urna matéria
durch sein Aussehen (EÍ8oc;) angeht. Mit der Synthesis formada. Esta interpretacáo da coisa refere-se a vista
von Stoff und Form ist endlich der Dingbegriff gefunden, imediata com a qual a coisa através de seu aspecto
der auf die Naturdinge und die Gebrauchsdinge gleich ( eidos) nos aborda. Com a síntese de matéria e forma
gut paíst. achou-se finalmente o conceito de coisa, o qual, do
Dieser Dingbegriff setzt uns instand, die Frage nach mesmo modo, serve bem para as coisas da natureza e
dem Dinghaften im Kunstwerk zu beantworten. Das para as de uso.
62 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 63

Dinghafte am Werk ist offenkundig der Stoff, aus dern §28 - Este conceito de coisa nos póe em condicáo
es besteht. Der Stoff ist die Unterlage und das Feld für de responder a pergunta pelo caráter de coisa na obra
die künstlerische Formung. Aber diese einleuchtende de arte. O caráter de coisa na obra é evidentemente a
und bekannte Feststellung hatten wir doch sogleich matéria, da qual ela é constituída. A matéria é a base e
vorbringen konnen. Wozu gehen wir den Umweg über o campo para a modelagem artística. Mas poderíamos
die sonst noch geltenden Dingbegriffe 7 Weil wir auch ter apresentado logo esta constatacáo, evidente e co-
diesem Begriff vom Ding, der das Ding als den geformten nhecida. Para que fazermos o desvío sobre os conceitos
Stoff vorstellt, mi Strauen. de coisa que sao ainda vigentes? Porque desconfiamos
Aber ist nicht gerade dieses Begriffspaar Stoff/Form in também des te conceito de coisa que representa a coisa
demjenigen Bereich gebrauchlich, innerhalb dessen wir uns como matéria formada.
bewegen sollen? Allerdings. Die Unterscheidung von Stoff §29 - Mas este par conceitual matéria-forrna nao
und Form ist, und zwar in den verschiedensten Spielarten, é exatamente usual naquele ámbito dentro do qual
das Begriffsschema schlechthin für alle Kunsttheorie und nos <levemos movimentar? Decerto. A distincáo entre
Asthetik. Diese unbestreitbare Tatsache beweist aber weder, matéria e forma é, e na verdade nas mais diferentes
daís die Unterscheidung von Stoff und Form hinreichend variedades, pura e simplesmente o esquema conceitual usado
begründet ist, noch daís sie ursprünglich in den Bereich em todas as teorías da arte e da Estética. Este fato incontes-
der Kunst und des Kunstwerkes gehórt Zudem greift der tável nao comprova nem que a distincáo entre matéria
Geltungsbereich auch dieses Begriffspaares seit langem e forma esteja súfü::~ntemente fundamentada nem que
ela pertenca original ente ao ámbito da arte e da obra
schon weit über das Gebiet der Asthetik hinaus. Form und 1
de arte. Além disso, o ámbito de validade <leste par de
Inhalt sind die Allerweltsbegriffe, unter die sich alles und
conceitos ultrapassa há muito e largamente o ámbito
17 jedes bringen laE,t. Wird gar noch die Form dem Rationalen
da Estética. Forma e conteúdo sao os conceitos de tudo,
zugeordnet und dem Ir-rationalen der Stoff, nimmt man
nos quais tudo e cada coisa cabe. Quando se liga a for-
das Rationale als das Logische und das Irrationale als das
ma ao racional e a matéria ao irracional, considera-se o
Alogische, wird mit dem Begriffspaar Form/Stoff noch
racional como o lógico e o irracional como o ilógico, e
die Subjekt-Objekt-Beziehung gekoppelt, dann verfügt
quando se acopla ao par conceitual forma-matéria ainda
das Vorstellen über eine Begriffsmechanik, der nichts
a relacáo sujeito-objeto, entáo o representar dispóe de
widerstehen kann.
urna mecánica conceitual a qual nada se pode opor.
Steht es aber so mit der Unterscheidung Stoff
§30 - Mas se é assim em relacáo a distincáo matéria
und Form, wie sollen wir dann noch mit ihrer
e forma, como <levemos entáo ainda conceber, com
Hilfe den besonderen Bereich der blofsen Dinge im sua ajuda, o ámbito especial das meras coisas enquanto
64 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 65

Unterschied vom übrigen Seienden fassen? Doch vielleicht se diferenciam dos demais sendos? Talvez retome esta
gewinnt diese Kennzeichnung nach Stoff und Form ihre caracterizacáo de matéria e forma sua forca de determi-
Bestimmungskraft zurück, wenn wir nur die Ausweitung nacáo se apenas revertermos a amplitude e esvaziamento
und Entleerung dieser Begriffe ruckgángig machen. <lestes conceitos. Certo, mas isto pressupóe que saibamos
Gewíís, aber dies setzt voraus, daís wir wissen, in welchem em qual domínio do sendo preenchem sua verdadeira
Bezirk des Seienden sie ihre echte Bestimmungskraft forca de determinacáo, Que isto seja o ámbito das meras
coisas, é até agora apenas urna suposicáo. A indicacáo, em
erfüllen. DaE, dieses der Bereich der bloíse n Dinge
relacáo a ampla utilizacáo desta estrutura conceitual na
sei, ist bisher nur eine Annahme. Der Hinweis auf die
Estética, poderia levar a pensar que maté ria e forma seriam
ausgiebige Verwendung dieses Begriffsgefüges in der
determinacóes provenientes antes da esséncia da obra de
Asthetik kcnnte eher auf den Gedanken bringen, daf
arte e somente a partir daí transferidas para a coisa. Onde
Stoff und Form angestammte Bestimmungen des Wesens a estrutura matéria-forma teve a sua origem? No caráter de
des Kunstwerkes sind und erst von da auf das Ding · coisa da coisa ou no caráter de obra da obra de arte?
zurückübertragen wurden. Wo hat das Stoff-Form-Gefüge §31 - O bloco de granito que repousa-em-si é um
seinen Ursprung, im Dinghaften des Dinges oder im material numa determinada forma, ainda que nao-
Werkhaften des Kunstwerkes? -ordenada. Forma quer dizer neste caso a distribuicáo
Der in sich ruhende Granitblock ist ein Stoffliches in e a ordenacáo espacialmente localizadas das partes da
einer bestimmten, wenngleich ungefugen Form. Form meint matéria de onde resulta um contorno especial, ou seja,
hier die raumlích ortliche Verteilung und Anordnung der o de um bloco. Mas urna matéfi\ disposta numa forma
Stoffteile, die einen besonderen Umnís, namlich den eines é também a jarra, é o machado:!ªº os sapatos. Neste
Blockes, zur Folge hat. Aber ein in einer Form stehender Stoff caso, a forma como contorno nao é somente o resul-
ist auch der Krug, ist die Axt, sind die Schuhe. Hier ist sogar tado de urna distribuicáo da matéria. Pelo contrário, a
forma determina a ordenacáo e distribuicáo da matéria.
die Form als Umriís nicht erst die Folge einer Stoffverteilung.
Nao somente isto, ela prescreve até o tipo e escolha da
Die Form bestimmt umgekehrt die Anordnung des
matéria: impermeável para a jarra, dura o suficiente
Stoffes. Nicht nur dies, sie zeichnet sogar die jeweilige
para o machado, sólida e ao mesmo tempo flexível
Artung und Auswahl des Stoffes vor: Undurchlassiges
para os sapatos. Além disso, a cornbinacáo de forma e
für den Krug, hinreichend Hartes für die Axt, Festes und matéria, que aqui vigora, regula-se, de anternáo, a par-
zugleich Biegsames für die Schuhe. Die hier waltende tir daquilo para que servemjarra, machado e sapatos.
Verflechtung von Form und Stoff ist überdies im voraus Tal serven tia nunca é atribuída e posta posteriormente
18 von dem her geregelt, wozu Krug, Axt, Schuhe dienen. no sen do do tipo da jarra, do machado, dos sapatos.
66 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 67

Solche Dienlichkeit wird dem Seienden von der Art des Também nao é nada que, como finalidade, paire em
Kruges, der Axt, der Schuhe nie nachtraglich zugewiesen algum lugar sobre eles.
und aufgesetzt. Sie ist aber auch nichts, was als Zweck §32 - Serventia é aquele traco fundamental a partir
irgendwo darüber schwebt. do qual este sendo nos olha, quer dizer, reluz e, com isso,
Dienlichkeit ist jener Grundzug, aus dem her dieses se faz presente, e assim é este sendo. Em tal serventia se
Seiende uns anblickt, d. h. anblitzt und damit anwest fundamentam tanto a doacáo da forma como também
und so dieses Seiende ist. In solcher Dienlichkeit gründen a escolha da matéria pretendida com ela, e com isso a
sowohl die Formgebung als auch die mit ihr vorgegebene dominacáo de estrutura de matéria e forma. O sendo
que lhe está subordinado é sempre produto de urna
Stoffwahl und somit die Herrschaft des Gefüges von Stoff
fabricacáo. O produto é fabricado como um utensilio
und Form. Seiendes, das ihr untersteht, ist immer Erzeugnis
para algo. Por conseguinte, matéria e forma, enguanto
einer Anfertigung. Das Erzeugnis wird verfertigt als ein Zeug
determinacóes do sendo sao naturais a esséncia do uten-
zu etwas. Damach sind Stoff und Form als Bestimmungen
silio. Propriamente, este nome nomeia o elaborado em
des Seienden im Wesen des Zeuges beheimatet. Dieser vista de sua utilidade e uso. Matéria e forma nao sao, de
Name nennt das eigens zu seinem Gebrauch und Brauch modo algum, determinacóes originárias da coisidade da
Hergestellte. Stoff und Form sind keinesfalls ursprüngliche própria coisa.
Bestimmungen der Dingheit des blofen Dinges. §33 - O utensilio, por exemplo, o utensilio sapatos,
Das Zeug, z. B. das Schuhzeug, ruht als fertiges auch repousa, quando acabado, também em si cornoa mera
in sich wie das bloíse Ding, aber es hat nicht wie der coisa, mas ele nao tem, como o bloco de gra~ito, urna
Granitblock jenes Eigenwüchsige. Andrerseits zeigt das origem própria. Por outro lado, o utensilio mostra um
Zeug eine Verwandtschaft mit dem Kunstwerk, sofem es parentesco com a obra de arte no que ele é um pro-duto2
ein von Menschenhand Hervorgebrachtes ist. Indes gleicht do trabalho humano. Todavia, a obra de arte, através de
das Kunstwerk durch sein selbstgenügsames Anwesen eher sua presenc;:a auto-suficiente, assemelha-se antes a mera
wieder dem eigenwüchsigen und zu nichts gedrangten coisa, em sua origem própria e nao forcada a nada. Ainda
bloísen Ding. Dennoch rechnen wir die Werke nicht unter assim nao computamos as obras entre as meras coisas.
die bloísen Dinge. Durchgangig sind die Gebrauchsdinge um No geral, as coisas de uso, a nossa volta, sao as mais
uns herum die nachsten und eigentlichen Dinge. So ist das próximas e propriamente coisas. Deste modo, o utensilio
é, em parte, coisa, porque determinado pela sua natureza
Zeug halb Ding, weil durch die Dinglichkeit bestimmt, und
da coisa, e, contudo, mais ainda; ao mesmo tempo é,
doch mehr; zugleich halb Kunstwerk und doch weniger, weil
em parte, obra de arte e, contudo, menos, porque sem
ohne die Selbstgenügsamkeit des Kunstwerkes. Das Zeug hat
a auto-suficiencia da obra de arte. O utensilio tem urna
eine eigentümliche Zwischenstellung zwischen dem Ding
posicáo intermediária peculiar entre a coisa e a obra,
68 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 69

und dem Werk, gesetzt, daf eine solche verrechnende supondo-se que urna tal ordenacáo enumerativa seja
Aufreihung erlaubt ist. permitida.
Das Stoff-Form-Gefüge aber, wodurch zunachst das §34- Mas a juncáo estrutural matéria-forma, através
Sein des Zeuges bestimmt wird, gibt sich leicht als die da qual, em princípio, é determinado o ser do utensílio,
unmittelbar verstandliche Verfassung jedes Seienden, considera-se facilmente como a constituicáo imediata-
weil hier der anfertigende Mensch selbst daran beteiligt mente compreensível de cada sendo, porque aqui o
ist, nárnlich bei der Weise, wie ein Zeug ins Seinª kommt. próprio homem que fabrica participa disso, ou seja,
Insofern das Zeug eine Zwischenstellung zwischen dem pela maneira como um utensílio chega ao ser (a). Na
medida em que o utensílio ocupa urna posicáo interme-
bloísen Ding und dem Werk einnimmt, liegt es nahe,
diária entre a própria coisa e a obra, está próximo de
19 mit Hilfe des Zeugseins (des Stoff-Form-Gefüges) auch
se conceber, coma ajuda do ser-utensílio (da estrutura
das nicht zeughafte Seiende, Dinge und Werke und
matéria-forma), também o sendo que nao temo caráter
schliefslich alles Seiende zu begreifen.
de utensílio: coisas e obras, e, finalmente, todo seudo.
Die Neigung, das Stoff-Form-Gefüge fur die Verfassung
§35 - Contudo, a tendencia de se considerar a estrutura
eines jeden Seienden zu halten, empfangt jedoch dadurch materia-forma como a constituicáo de cada sendo recebe
noch einen besonderen Antrieb, daf im voraus auf ainda um impulso especial, pelo fato de que, com base em
Grund eines Glaubens, namlich des biblischen, das urna crenca, ou seja, a crenca bíblica, a totalidade do s7.rído
Ganze des Seienden als Geschaffenes, und d. h. hier é representada, de antemáo, como criada, e isto que~er
Angefertigtes, vorgestellt wird. Die Philosophie dieses aqui, como o elaborado. A filosofia desta crenca pode, na
Glaubens kann zwar versichern, daf alles schopferische verdade, assegurar que todo atuar criativo de Deus é para
Wirken Gottes anders vorzustellen sei als das Tun ser representado de urna maneira diferente daquele fazer
eines Handwerkers. Wenn jedoch zugleich oder gar de um artesáo. Quando, contudo, ao mesmo tempo, ou até
im vorhinein zufolge einer geglaubten Vorbestimmung previamente, devido a urna acreditada predeterminacáo da
der thomistischen Philosophie zur Auslegung der Bibel filosofia tomista para a interpretacáo da Bíblia, o ens creatuni
das ens creatum aus der Einheit von materia und forma é pensado a partir da unidade matéria e forma, entáo a
gedacht wird, dann ist der Glaube aus einer Philosophie crenca é interpretada a partir de urna filosofi.a, cuja verdade
her gedeutet, deren Wahrheit in einer Unverborgenheit repousa num desvelamento do sendo, que é diferente do
mundo (a) acreditado pela crenca,

§34 (a) Edicáo Reclam de 1960: (para sua), para sua presenc;:a.
"Ens creatum: sendo criado. A criacáo de que a bíbliajudaica fala
nao coincide necessariamente com essa interpretacáo tomista, pode
• Reclam-Ausgabe 1960: (zu seiner) in seine Anwesenheit. haver outras interpretacóes. (N.T.)
70 MARTJN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 71

des Seienden beruht, die anderer Art ist als die im §36 - O pensamen to da criacáo, fundado na crenca,
Glauben geglaubte Weltª. pode entáo, de certo, perder a sua forca condutora
Der im Glauben gegründete Schópfungsgedanke para o saber do sendo na sua totalidade. Nao obstante,
kann nun zwar seine leitende Kraft für das Wissen a interpretacáo teológica de todo sendo, tomada em-
vom Seienden im Ganzen verlieren. Allein, die einmal prestada de urna filosofia de espécie alheia, ou seja,
angesetzte, einer fremdartigen Philosophie entlehnte a visáo de mundo segundo matéria e forma, pode,
theologische Auslegung alles Seienden, die Anschauung nao obstante, permanecer. Isto acontece na passa-
der Welt nach Stoff und Form, kann gleichwohl bleiben. gem da Idade Média para a Idade Moderna, cuja
Das geschieht im Übergang vom Mittelalter zur Neuzeit. metafísica, baseada na construcáo matéria-forma
Deren Metaphysik beruht mit auf dem mittelalterlich que se cunhou na Idade Média, a mesma lembra
gepragten Form-Stoff-Gefüge, das selbst nur noch in sornen te ainda nas palavras a esséncia expressa por
eidos e hylé. Assim, a interpretacáo da coisa segundo
den Wórtern andas verschüttete Wesen von d8o~ und
matéria e forma - medieval ou transcendental kan-
ÜAr¡ erinnert. So ist die Auslegung des Dinges nach
tiana - tornou-se corrente e evidente. Nem por isso
Stoff und Form, sie bleibe mittelalterlich oder sie werde
ela se torna urna menor agressáo ao ser coisa da coisa
kantisch-transzendental, gelaufig und selbstverstandlich
do que as outras interpretacóes antes mencionadas
geworden. Aber deshalb ist sie nicht weniger als die da coisidade da coisa.
anderen genannten Auslegungen der Dingheit des Dinges §37 - O nomear as coisas propriamente ditas (
ein Überfall auf das Dingsein des Dinges. como meras coisas já denuncia esta situacáo. O \
Schon indem wir die eigentlichen Dinge bloíse Dinge "mero" significa, pois, o despojamento do caráter
nennen, verrat sich die Sachlage. Das »blof,« meint da serventia e da fabricacáo. A mera coisa é urna
doch die Entbloísung vom Charakter der Dienlichkeit espécie de utensílio, se bem que o utensílio despido
und der Anfertigung. Das bloíse Ding ist eine Art von do seu ser-utensílio. O ser-coisa consiste naquilo
Zeug, obzwar das seines Zeugseins entkleidete Zeug. Das que ainda resta. Mas este resto nao é determinado
Dingsein besteht in dem, was dann noch übrigbleibt. propriamente no seu caráter de ser. Permanece
Aber dieser Rest ist in seinem Seinscharakter nicht eigens questionável se, através da retirada de todo caráter
bestimmt. Es bleibt fraglich, ob auf dem Wege des Abzugs de utensílio, o caráter de coisa da coisa alguma vez
alles Zeughaften das Dinghafte des Dinges jemals zum venha a aparecer. Des ta maneira, também a terceira
interpretacáo da coisa, aquela que tema estrutura
' l. Auflage 1950: l. der bíblísche Schópfungsglaube; 2. die kausal-
ontische Thornistische Erklarung; 3. die ursprüngliche Aristotelische Ausle- §35 (a) Edícáo de 1950: l. A crenca bíblica da criacáo; 2. O esclarecimento
gung des xn. tomista óntico-causal; 3. A interpretacáo origi.nária do "on" por Aristóteles.
72 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 73

20 Vorschein kommt. So stellt sich auch die dritte Weise der matéria-forma como linha coridutora, evidencia-se
Dingauslegung, diejenige am Leitfaden des Stoff-Form- como urna agressáo a coisa.
-Gefüges, als ein Überfall auf das Ding heraus. §38 -As tres maneiras encaminhadas de determina-
Die drei aufgeführten Weisen der Bestimmung cáo da coisidade concebem a coisa como portadora de
der Dingheit begreif en das Ding als den Trager van características, como a unidade de urna multiplicidade
Merkmalen, als die Einheit einer Empfindungs- de sensacóes, como matéria formada. No decorrer da
mannigfaltigkeit, als den geformten Stoff. Im Verlauf der história da verdade sobre o sendo, essas interpretacóes
Geschichte der Wahrheit úber das Seiende ha ben sich die mencionadas ainda se entrelacaram urnas comas outras.
genannten Auslegungen untereinander noch verkoppelt, Disso nao trataremos agora. Neste entrelacamento, elas
was jetzt übergangen sei. In dieser Verkoppelung ha ben reforcaram a amplitude que lhe foi atribuída, de modo
sie die in ihnen angelegte Ausweitung noch verstarkt, que elas valem igualmente para coisa, para utensílio e
so daís sie in gleicher Weise vom Ding, vom Zeug und para obra. Em vista disso, resulta delas o modo de pen-
vom Werk gelten. So erwachst aus ihnen die Denkweise, sar de acordo como qual refletimos especialmente nao
nach der wir nicht nur über Ding, Zeug und Werk im apenas sobre coisa, utensílio e obra, mas ainda sobre
besonderen, sondern uber alles Seiende im allgemeinen todo sendo em geral. Este modo de pensar habitual,
denken. Diese langst gelaufig gewordene Denkweise há muito tempo antecipou-se a toda experienciacáo 1
\.
greift allem unmittelbaren Erfahren des Seienden vor. imediata do sendo. A antecipacáo impede a reflexáo \!
Der Vorgriff unterbindet die Besinnung auf das Sein des sobre o ser de cada sendo singular. Deste modo sucede
jeweilig Seienden. So kommt es, daf die herrschenden que os conceitos de coisa dominantes nos obstruem o
Dingbegriffe uns den Weg zum Dinghaften des Dinges caminho nao sornen te para o caráter de coisa da coisa,
mas também para o caráter de utensílio do utensílio e,
sowohl, als auch zum Zeughaften des Zeuges und erst
mais ainda, para o caráter de obra da obra.
recht zum Werkhaften des Werkes versperren.
§39 - Este fato é o motivo pelo qual faz-se necessário
Diese Tatsache ist der Grund, weshalb es not tut ,
conhecer estes conceitos de coisa, para, neste conhe-
van diesen Dingbegriffen zu wissen , um in diesem
cer, refletir sobre a sua origem e a sua presuncáo sem
Wissen ihre Herkunft und schrankenlose Anmaísung,
limites, bem como sobre a aparencia de sua óbvia na-
aber auch den Schein ihrer Se lbstverstán dlichkeit
turalidade. Este conhecimento é tanto mais necessário
zu bedenken. Dieses Wissen ist dann um so nótiger,
quando ousamos tentar trazer para o olhar e para a
wenn wir den Versuch wagen, das Dinghafte des
palavra o caráter de coisa da coisa, o caráter de uten-
Dinges, das Zeughafte des Zeuges und das Werkhafte
sílio do utensílio e o caráter de obra da obra. Para isso
des Werkes in den Blick und zum Wort zu bringen.
apenas urna coisa é necessária: manter distancia das
74 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 75

Dazu ist aber nur eines nótig: unter Fernhaltung der antecipacóes e dos abusos daqueles modos de pensar a
Vor- und Übergriffe jener Denkweisen das Ding z. B. in coisa, por exemplo, deixando a coisa repousar em seu
seinem Dingsein auf sich beruhen lassen. Was scheint ser-coisa. O que parece mais fácil do que deixar o sendo
leichter, als das Seiende nur das Seiende sein zu lassen, ser apenas o sendo que ele é? Ou, com esta tarefa, nos
das es ist? Oder kommen wir mit dieser Aufgabe vor defrontamos com o mais difícil, sobretudo quando um
das Schwerste, zumal wenn ein solches Vorhaben - das tal projeto - deixar o sendo ser como ele é - apresen ta o
. Seiende sein zu lassen, wie es ist - das Gegenteil darstellt contrário daquela indiferenca, a qual volta as costas ao
von jener Gleichgültigkeit, die dem Seienden zugunsten ente em favor de um conceito de ser nao comprovado?
eines ungeprüften Seinsbegriffes den Rücken kehrt? Wir Devemo-nos voltar para o sendo, pensá-lo nele mesmo
sallen uns dem Seienden zukehren, an ihm selbst auf a partir de seu ser, mas ao mesmo tempo, através disso,
dessen Sein denken, aber es dadurch zugleich in seinem deixá-lo repousar em-si em sua esséncia,
Wesen auf sich beruhen lassen. §40 - Este esforco do pensamento parece encon-
21 Diese Anstrengung des Denkens scheint bei der trar a maior resistencia na deterrninacáo da coisidade
Bestimmung der Dingheit des Dinges den gro ísten da coisa. Pois aonde mais se poderia fundamentar o
fracasso das tentativas anteriormente mencionadas?
Widerstand zu finden; denn wo anders mochte sonst
É que a discreta coisa subtrai-se da maneira mais
das Miíslingen der genannten Versuche seinen Grund
obstinada ao pensamento. Ou será que este conter-se
haben? Das unscheinbare Ding entzieht sich dem Denken
da mera coisa, este ser nao forcado a nada, que re-
am hartnackigsten. Oder sollte dieses Sichzurückhalten
pousa em-si, pertence exatamente a esséncia da coisa?
des bloísen Dinges, sollte dieses in sich beruhende
Entáo aquilo que é estranho e que há de fechado na
Zunichtsgedrangtsein gerade zum Wesen des Dinges
esséncia da coisa nao <leve tornar-se o familiar para um
gehóren 7 Mu:E, dann jenes Befremdende und Verschlossene
pensar que procura pensar a coisa? Caso seja assim,
im Wesen des Dinges nicht fur ein Denken, das versucht,
nao <levemos forcar o caminho para o caráter de coisa
das Ding zu denken, das Vertraute werden? Steht es so,
da coisa.
dann dürfen wir den Weg zum Dinghaften des Dinges
§41- Que a coisidade da coisa se deixa falar de urna
nicht erzwingen. maneira especialmente difícil e rara, a história aludida
Daís sich die Dingheit des Dinges besonders schwer de sua interpretacáo é prova inequívoca disso. Esta
und selten sagen la:E,t, d afur ist die angedeutete história corresponde ao destino segundo o qual o pen-
Geschichte ihrer Auslegung ein untrüglicher Beleg. samento ocidental até agora pensou o ser do sendo. Só
Diese Geschichte deckt sich mit dem Schicksal, dem que agora nao estabelecemos3 apenas isto. Percebemos
gemaís das abendlandische Denken bisher das Sein des nesta história, ao mesmo tempo, um aceno. É por acaso
76 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 77

Seienden gedacht hat. Allein, wir stellen dies jetzt nicht nur que nas interpretacóes da coisa, a que tem como traco
fest. Wir vernehmen in dieser Geschichte zugleich einen fundamental a matéria e a forma conseguiujustamente
Wink. 1st es Zufall, daf in der Dingauslegung diejenige um predomínio especial? Esta determinacáo da coisa
eine besondere Vorherrschaft erlangte, die am Leitfaden provém de urna interpretacáo do ser-utensílio do uten-
von Stoff und Form geschíeht? Diese Dingbestimmung sílio. Este sendo, o utensílio, de urna maneira especial,
entstammt einer Auslegung des Zeugseins des Zeuges. está próximo do representar do homem, porque chega
Dieses Seiende, das Zeug, ist dem Vorstellen des Menschen ao ser através de nosso próprio produzir. O utensílio, o
in einer besonderen Weise nahe, weil es durch unser eigenes sendo tao familiar em seu ser, ocupa simultaneamente
Erzeugen ins Sein gelangt. Das so in seinem Sein vertrautere urna posicáo singular intermediária entre a coisa e a
Seiende, das Zeug, hat zugleich eine eigentümliche obra. Seguimos este aceno e procuramos, em primeiro
Zwischenstellung zwischen dem Ding und dem Werk. Wir lugar, o caráter de utensílio do utensílio. Talvez daí
folgen diesem Wink und suchen zunachst das Zeughafte nos nasca algo sobre a coisidade da coisa e o caráter
des Zeuges. Vielleicht geht uns von da etwas uber das de obra da obra. Precisamos apenas evitar tornar coisa
Dinghafte des Dinges und des Werkhafte des Werkes auf. e obra, apressadamente, como variantes do utensílio.
Contudo, deixaremos de lado a possibilidade de exis-
Wir müssen nur vermeiden, Ding und Werk vorschnell zu
tirem diferencas histórico-essenciais no modo como é
Abanen des Zeuges zu machen. Wir sehen jedoch von der
o utensílio.
Móglichkeit ab, daf auch noch in der Weise, wie das Zeug
§42 - Porém, qual caminho conduz para o caráter
ist, wesensgeschichtliche Unterschiede walten.
de utensílio do utensílio? Como <levemos experienciar
Doch welcher Weg führt zum Zeughaften des Zeuges?
o que o utensílio é em verdade? O procedimento agora
Wie sallen wir erfahren, was das Zeug in Wahrheit ist?
necessário <leve manter claramente distante aquelas
Das jetzt notige Vorgehen muf sich offenbar von jenen
tentativas que imediatamente trazem consigo os abusos
Versuchen fernhalten, die sogleich wieder die Übergriffe
das interpretacóes habituais. Estamos mais seguros, em
der gewohnten Auslegungen mit sich führen. Davor sind
relacáo a isso, quando descrevemos simplesmente um
22 wir am ehesten gesichert, wenn wir ein Zeug ohne eine
utensílio sem urna teoría filosófica.
philosophische Theorie einfach beschreiben. §43 - Escolhemos como exemplo um utensílio habi-
Wir wahlen als Beispiel ein gewóhnliches Zeug: ein tual: um par de sapatos de camponés. Para sua descricáo
Paar Bauernschuhe. Zu deren Beschreibung bedarf es nao é necessária a apresentacáo de um exemplar real
nicht einmal der Vorlage wirklicher Stücke dieser Art desse tipo de utensílio. Todo mundo o conhece. Mas
von Gebrauchszeug. Jedermann kennt sie. Aber da es urna vez que se trata de urna descricáo imediata, pode
doch auf cine unmittelbare Beschreibung ankommt, ser bom facilitar a sua visualizacáo, Para esta ajuda bas-
78 MARTIN HEfDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 79

mag es gut sein, die Veranschaulichung zu erleichtern. ta urna apresentacáo pictórica. Escolhemos para isso
Für diese Nachhilfe genügt eine bildliche Darstellung. Wir urna pintura conhecida de van Gogh, que várias vezes
wáhlen dazu ein bekanntes Gemalde von van Gogh, der pintou um tal sapato. Mas o que se ve aí demais? Todo
solches Schuhzeug mehrmals gemalt hat. Aber was ist da mundo sabe de que consiste o sapato. Quando nao é
viel zu sehen? Jedermann weíís, was zum Schuh gehort. de madeira ou de ráfia lá se encontram a sola de couro
Wenn es nicht gerade Holz- oder Bastschuhe sind, finden e o couro de cobertura, unidos através de costuras e
sich da die Sohle aus Leder und das Oberleder, beide pregos. Tal utensilio serve para calcar os pés. De acordo
zusammengefügt durch Náhte und Nágel. Solches Zeug dient coma serven tia, se sao para trabalho no campo ou para
zur Fuísbekleidung. Entsprechend der Dienlichkeit, ob zur dancar, a matéria e a forma sao diferentes.
Feldarbeit oder zum Tanz, sind Stoff und Form anders. §44 - Tais indicacóes carretas esclarecem apenas o
Solche richtigen Angaben erlautern nur, was wir schon que já sabemos. O ser-utensilio do utensílio consiste
wissen. Das Zeugsein des Zeuges besteht in seiner Dienlichkeit. · em sua serventia. Mas o que se passa com ela mesma?
Aber wie steht es mit dieser selbst? Fassen wir mit ihr schon Já concebemos com ela o caráter de utensílio do uten-
das Zeughafte des Zeuges? Müssen wir nicht, damit das sílio? Nao precisamos, para conseguir isso, procurar
gelingt, das dienliche Zeug in seinem Dienst aufsuchen? Die o utensílio sendo usado e servindo em seu servico?
Báuerin auf dem Acker trágt die Schuhe. Hier erst sind sie, A camponesa no campo está calcada. Sornen te aqui sao
o que sao. Sao tanto melhores quanto menos a campo-
was sie sind. Sie sind dies um so echter, je weniger die Báuerin
nesa, ao usá-los no trabalho, pensa neles ou os olha ou
bei der Arbeit an die Schuhe denkt oder sie gar anschaut oder
também apenas os sente. Ela permanece de pé e anda
auch nur spürt. Sie steht und geht in ihnen. So dienen die
com eles. Assim os sapatos servem realmente. Neste
Schuhe wirklich. An diesem Vorgang des Zeuggebrauches
processo de uso do utensílio precisa realmente vir ao
muf uns das Zeughafte wirklich begegnen.
nosso encontro o caráter de utensílio.
Solange wir uns dagegen nur im allgemeinen ein
§45 -Pelo contrário, enquanto nós sornen te tivermos
Paar Schuhe vergegenwartigen oder gar im Bilde die
presentes um par de sapatos em geral ou olharmos, no
b lols dastehenden leeren, ungebrauchten Schuhe
quadro, simplesmente os sapatos vazios e nao usados
ansehen, werden wir nie erfahren, was das Zeugsein
que lá permanecem, nunca experienciaremos o que
des Zeuges in Wahrheit ist. Nach dem Gernálde von
o ser-utensilio do utensílio é na verdade. Pela pintura
van Gogh konnen wir nicht einmal feststellen, wo diese de van Gogh nunca poderemos nem estabelecer onde
Schuhe stehenª. Um dieses Paar Bauernschuhe herum estes sapatos ficam (a). Em volta des te par de sapatos

ª Reclarn-Ausgabe 1960: und wem sie gehoren. §45 (a) Edicáo Reclam de 1960: E a quem eles pert.encem.
80 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 81

ist nichts, wozu und wohin sie gehoren kónnten, nur ein de camponés nao há nada que indicie para que servem
unbestímrnter Raum. Nicht einmal Erdklumpen von der e a qual lugar podem pertencer. Somente há um espac;:o
Akkerscholle oder vom Feldweg kleben daran, was doch indefinido. Nem um único torráo do terreno ou do cami-
wenigstens auf ihre Verwendung hinweisen konnte. Ein Paar nho do campo está neles grudado, que possa, pelo menos,
Bauernschuhe und nichts weiter. Und dennoch. indicar o seu uso. Um par de sapatos de camponés e nada
mais. E contudo ...
Aus der dunklen óffnung des ausgetretenen Inwendigen
§46- Da escura abertura do interior gasto dos sapa tos
23 des Schuhzeuges starrt die Mühsal der Arbeitsschritte.
a fadiga dos passos do trabalho olha firmemente. No
In der derbgediegenen Schwere des Schuhzeuges ist
peso denso e firme dos sapatos se acumula a tenacida-
aufgestaut die Zahigkeit des langsamen Ganges durch
de do lento caminhar através dos alongados e sempre
die weithin gestreckten und immer gleichen Furchen des mesmos sulcos do campo, sobre o qual sopra contínuo
Ackers, über dem ein rauher Wind steht. Auf dem Leder um vento áspero. No couro está a umidade e a fartura
liegt das Feuchte und Satte des Bodens. Unter den Sohlen do solo. Sob as solas insinua-se a solidáo do caminho
schiebt sich hin die Einsamkeit des Feldweges durch do campo em meio a noite que vem caindo. Nos sapa-
den sinkenden Abend. In dem Schuhzeug schwingt der tos vibra o apelo silencioso da Terra, sua calma doacáo
verschwiegene Zuruf der Erde, ihr stilles Verschenken des do grao amadurecente e o nao esclarecido recusar-se
reifenden Korns und ihr unerklartes Sichversagen in der do ermo terreno nao-cultivado do campo invernal.
oden Brache des winterlichen Feldes. Durch dieses Zeug Através deste utensílio perpassa a aflicáo sem queixa
zieht das klaglose Bangen um die Sicherheit des Brotes, pela certeza do páo, a alegria sem palavras da renovada
die wortlose Freude des Wiederüberstehens der Not, superacáo da necessidade, o tremor <liante do anúncio
das Beben in der Ankunft der Geburt und das Zittern in do nascimento e o calafrio <liante da ameaca da morte.
Á Terra pertence este utensilio e no Mundo da campone-
der Umdrohung des Todes. Zur Erde gehórt dieses Zeug
sa está ele abrigado. A partir des te pertencer que abriga,
und in der Welt der Bauerín ist es behütet. Aus diesem
o próprio utensilio surge para seu repousar-ern-si.
behuteten Zugehoren ersteht das Zeug selbst zu seinem
§4 7 - Mas talvez observemos tudo isto apenas no
Insichruhen.
utensílio-sapato do quadro. Pelo contrário, a carnponesa
Aber all dieses sehen wir vielleicht nur dem somente calca os sapatos. Como se este simples calcar
Schuhzeug im Bilde an. Die Bauerin dagegen trágt fosse tao simples. Todas as vezes que a camponesa,
einfach die Schuhe. Wenn dieses einfache Tragen so a noite, num cansaco forte mas saudável, encosta os
einfach ware. Sooft die Bauerin am spaten Abend in sapatos e no ainda escuro amanhecer novamente os
einer harten, aber gesunden Müdigkeit die Schuhe pega, ou nos feriados passa por eles, en tao ela sabe tudo
82 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 83

wegstellt und im noch dunklen Morgendammern schon isto sem os observar e contemplar. O ser-utensílio do
wieder nach ihnen greift, oder am Feiertag an ihnen utensílio consiste certamente na sua serventia. Porém,
vorbeikommt, dann weif sie ohne Beobachten und esta mesma repousa na plenitude de um ser essencial do
Betrachten all jenes. Das Zeugsein des Zeuges besteht utensílio. Nomeamos isso a confiabilidade. Em virtude
zwar in seiner Dienlichkeit. Aber diese selbst ruht in der desta e através <leste utensílio a camponesa é admitida no
Fülle eines wesentlichen Seins des Zeuges. Wir nennen apelo silencioso da Terra. Em virtude da confiabilidade
es die Verláíslichkeit. Kraft ihrer ist die Báuerin durch do utensílio está certa do seu mundo. Para ela e para os
dieses Zeug eingelassen in den schweigenden Zuruf der que estáo com ela e sao a sua maneira, Mundo e Terra
Erde, kraft der Verláíslichkeit des Zeuges ist sie ihrer Welt somente estáo aí (a) dessa maneira: no utensílio. Dize-
gewiís. Welt und Erde sind ihr und denen, die mit ihr in mos "somente" e nisso erramos, pois a confiabilidade do
ihrer Weise sind, nur so daª: im Zeug. Wir sagen »nur« utensílio doa ao mundo simples o seu abrigo e assegura
und irren dabei; denn die Verláíslichkeit des Zeuges gibt a Terra a liberdade da sua constante afluencia.
erst der einfachen Welt ihre Geborgenheit und sichert §48 - O ser-utensilio do utensílio, a confiabilida-
der Erde die Freiheit ihrer standigen Andranges. de, mantém todas as coisas reunidas em si, segundo
Das Zeugsein des Zeuges, die Verláf.lichkeit, hált seu modo e abrangéncia, Contudo, a serventia do
utensílio é a conseqüéncia essencial da confiabili-
alle Dinge je nach ihrer Weise und Weite in sich
dade. Aquela vibra nesta e sem ela nao seria nada.
24 gesammelt. Die Dienlichkeit des Zeuges ist jedoch nur
O utensílio singular se torna usado e gasto. Mas ao
die Wesensfolge der Verláíshchkeit. Jene schwingt in
mesmo tempo também o próprio utilizar cai com isso
dieser und wáre ohne sie nichts. Das einzelne Zeug wird
no gastar-se. Desgasta-se e torna-se habitual. Deste
abgenutzt und verbraucht; aber zugleich gerat damit auch
modo, o ser utensílio cai na desolacáo, decai para
das Gebrauchen selbst in die Vernutzung, schleift sich
o mero utensílio. Tal desolacáo do ser-utensilio é o
ab und wird gewóhnlich. So kommt das Zeugsein in die
desvanecer-se da confiabilidade. Contudo, esta perda,
Veródung, sinkt zum bloísen Zeug herab. Solche Veródung
a qual as coisas de uso devem aquela habitualidade
des Zeugseins ist das Hinschwinden der Verláíslichkeit.
macante, é apenas mais um testemunho da esséncia
Dieser Schwund, dem die Gebrauchsdinge dann jene
originária do ser-utensílio. A habitualidade desgasta-
langweilig aufdringliche Gewóhnlichkeit verdanken, da do utensílio impóe-se en tao como o único modo de
ist aber nur ein Zeugnis mehr fur das ursprüngliche ser próprio e aparentemente exclusivo. Somente ainda
a pura serventia é agora visível. Ela dá a impressáo de

'Reclam-Ausgabe 1960: »sínd .. da<= anwesend. §47 (a) Edicáo Reclam de 1960: Estáo ... aí= presentes.
84 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 85

Wesen des Zeugseins. Die vernutzte Gewohnlichkeit des que o originário do utensilio es teja na mera fabricacáo
Zeuges drangt sicb dann als die einzige und ihm scheinbar que urna forma imprime a urna matéria. Nao obstante,
ausschlieíslich eigene Seinsart vor. Nur noch die blanke o utensílio em seu autentico ser-utensílio provém de
Dienlichkeit ist jetzt sichtbar. Sie erweckt den Anschein, mais longe. Matéria e forma, e a diferenca de ambas,
der Ursprung des Zeuges liege in der bloísen Anfertigung, sao de urna origem mais profunda.
die einem Stoff eine Form aufpragt. Gleichwohl kommt das §49 - O repouso do utensilio, que repousa em si,
Zeug in seinem echten Zeugsein weiter her. Stoff und Form consiste na confiabilidade. Somente nela reconhecemos
und die Unterscheidung beider sind tieferen Ursprungs. o que o utensilio é em verdade. Mas ainda nao sabemos
Die Ruhe des in sich ruhenden Zeuges besteht in der nada do que em primeiro lugar procurávamos: a coi-
Verláíslichkeit. An ihr ersehen wir erst, was das Zeug in sidade da coisa. Sobretudo nao sabemos nada daquilo
Wahrheit ist. Aber noch wissen wir nichts von dern, was que própria e somente procuramos: o caráter de obra
wir zunachst suchten, vom Dinghaften des Dinges. Vollends da obra no sentido da obra de arte.
§50 - Ou agora, de repente, e, como que, de pas-
wissen wir jenes nicht, was wir eigentlich und allein suchen:
sagem, já deveríamos ter experienciado algo sobre o
das Werkhafte des Werkes im Sinne des Kunstwerkes.
ser-obra da obra?
Oder sollten wir jetzt unversehens, gleichsam beiher,
§51 - O ser-utensilio do utensílio foi encontrado.
schon etwas über das Werksein des Werkes erfahren
Mas como? Nao através de urna descricáo e comentá-
haben?
rio de um utensílio-sapato realmente existente; nao
Das Zeugsein des Zeuges wurde gefunden. Aber wie?
através de um relato sobre o processo da fabricacáo
Nicht durch eine Beschreibung und Erklarung eines
de sapatos; também nao através da observacáo de urna
wirklich vorliegenden Schuhzeuges; nicht durch einen
real utilizacáo do utensílio-sapatos que aconteceu
Bericht über den vorgang der Anfertigung von Schuhen;
aqui e lá, mas, sim, somente através do fato de que nos
auch nicht durch das Beobachten einer hier und don
colocamos <liante do quadro de van Gogh. Este falou.
vorkommenden wirklichen Verwendung von Schuhzeug, Na proximidade da obra estivemos repentinamente
sondern nur dadurch, daf wir uns vor das Gernalde van em outro lugar diferente do que habitualmente costu-
Goghs brachten. Dieses hat gesprochen. In der Nahe mamos estar.
des Werkes sind wir jáh anderswo gewesen, als wir §52 - A obra de arte deu a conhecer o que o uten-
gewóhnlich zu sein pflegen. sílio-sapatos é em verdade. Seria o pior auto-engano
Das Kunstwerk gab zu wissen, was das Schuhzeug in se pensássemos que a nossa descricáo tenha ilustrado
Wahrheit ist. Es ware die schlimmste Selbsttauschung, tudo <leste modo como resultado de urna elaboracáo
wollten wir meinen, unser Beschreiben habe als subjetiva, para depois inserí-la no quadro. Se aqui há
86 MARTIN HEIDEGGER A ORICEM DA OBRA DE ARTE 87

ein subjektives Tun alles so ausgemalt und dann algo questionável, entáo seria somente isto: que na
hineingelegt. Wenn hier etwas fragwürdig ist, dann proximidade da obra, nós a experienciamos muito
25 nur dieses, daf wir in der Nahe des Werkes zu wenig pouco e expressamos o experienciar de um modo
erfahren und das Erfahren zu grob und zu unmittelbar muito grosseiro e imediato. Sobretudo a obra nao
gesagt haben. Aber vor allem diente das Werk nicht, serviu, como poderia parecer, pura, simples e ime-
wie es z un áchst scheinen mochte, lediglich zur diatamente, para urna rnelhor ilustracáo do que é um
besseren Veranschaulichung dessen, was ein Zeug utensílio. Propriarnente o ser-utensílio do utensílio
ist. Vielmehr kommt erst durch das Werk und nur vern muito rnais para o seu aparecer sornente através
im Werk das Zeugsein des Zeuges eigens zu seinem da obra e na obra.
Vorschein. §53 - O que acontece aqui? O que está na obra ern
Was geschieht hier? Was ist im Werk am Werk? Van obra? O quadro de van Cogh é a abertura daquilo
Goghs Gemálde ist die Eroffnung dessen, was das Zeug, que o utensílio, o par de sapatos do camponés, é em
das Paar Bauernschuhe, in Wahrheit ist. Dieses Seiende verdade. Este sendo emerge para o desvelamento do
tritt in die Unverborgenheit seines Seins heraus. Die seu ser. Os gregos norneararn aletheia o desvelamento
do sendo. Nós dizernos verdade e pensarnos rnuito
Unverborgenheit des Seienden nannten die Griechen
pouco ern relacáo a esta palavra. Na obra está em
áA-iiuw:x. Wir sagen Wahrheit und denken wenig genug
obra urn acontecer da verdade, se aqui acontece urna
bei diesem Wort. Im Werk ist, wenn hier eine Eroffnung
abertura inaugurante do sendo naquilo que ele é e
des Seienden geschieht in das, was und wie es ist, ein
no corno ele é.
Geschehen der Wahrheit am Werk.
§54 - Na obra de arte, a verdade do sendo pos-se
Im Werk der Kunst hat sich die Wahrheit des Seienden
ern obra. "Por" diz aqui: trazer para o permanecer. Urn
ins Werk gesetzt. »Setzen« sagt hier: zum Stehen bringen.
sendo, um par de sapatos de camponés, vem, para o
Ein Seiendes, ein Paar Bauernschuhe, kommt im Werk in
permanecer na luz do seu ser, na obra. O ser do sendo
das Lichte seines Seins zu stehen. Das Sein des Seienden
vern para o constante do seu brilhar.
kommt in das Standige seines Scheinens. §55 - Entáo a esséncia da arte seria esta: O por-se
So wáre denn das Wesen der Kunst dieses: das ern obra da verdade do sendo. Mas até agora a arte só
Sich-ins-Werk-Setzen der Wahrheit des Seienden. tinha a ver com o belo e a beleza e nao corn a verdade.
Aber bislang hatte es die Kunst doch mit dem Aquelas artes que pro-duzem tais obras norneiarn-se
Schónern und der Schónheit zu tun und nicht mit Belas-artes ern oposicáo as artes rnanuais, que fabricam
der Wahrheit. Diejenigen Kunste , die solche Werke utensilios. Nas Belas-artes nao é a arte que é bela, mas
hervorbringen, nennt man im Unterschied zu den se chamarn assirn porque elas pro-duzern o belo. Ao
88 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 89

handwerklichen Kunsten , die Zeug verfertigen, die contrário, a verdade pertence a lógica. Porém, a beleza
schorien Künste. In der schcnen Kunst ist nicht die está reservada a Estética.
Kunst schon, sondern sie heííst so, weil sie das Schone §56 - Ou com a proposicáo: a arte é o por-se em
hervorbringt. Wahrheit dagegen gehort in die Logik. Die obra da verdade dever-se-ia reviver aquela opiniáo,
Schonheit aber ist der Asthetik aufbehalten. felizmente superada, de que a arte é urna imitacáo
Oder soll gar mit dem Satz, die Kunst sei das Sich-ins- e cópia do real vigente? A reproducáo do existente
Werk-Setzen der Wahrheit, jene glücklich überwundene exige, por sinal, a conformidade com o sendo, a ade-
Meinung wieder aufleben, die Kunst sei eine Nachahmung quacáo a este. Adaequatio diz a Idade Média; homoiosis
und Abschilderung des Wirklichen? Die Wiedergabe des já diz Aristóteles. Conformidade com o sendo vale há
Vorhandenen verlangt allerdings die Übereinstimmung muito como a esséncia da verdade. Mas entáo acha-
mit dem Seienden, die Anmessung an dieses; adaequatio mos que aquele quadro de van Gogh copia um par
existente de sapatos de carnponés e, desse modo, é
sagt das Mittelalter; óuoíoiou; sagt bereits Aristoteles.
urna obra porque consegue éxito nisso? Achamos que
Übereinstimmung mit dem Seienden gilt seit langem
o quadro retira do real vigente urna cópia e a trans-
26 als das Wesen der Wahrheit. Aber meinen wir denn,
forma em um produto da producáo ... artística? De
jenes Gemalde van Goghs male ein vorhandenes Paar
modo algum.
Bauernschuhe ab und es sei deshalb ein Werk, weil ihm
§57 - Pois bem, na obra nao se trata de urna repro-
dies gelinge? Meinen wir, das Gemalde entnehme dem
ducáo de cada sendo singular existente. Muito pelo
Wirklichen ein Abbild und versetze dies in ein Produkt
contrário, trata-se da reproducáo da esséncia geral das
der künstlerischen ... Produktion? Keineswegs.
coisas. Mas onde está e como é entáo esta esséncia geral,
Also handelt es sich im Werk nicht um die Wiedergabe
para que as obras de arte se conformem com ela? Com
des jeweils vorhandenen einzelnen Seienden, wohl
que esséncia de que coisa <leve entáo um templo grego
dagegen um die Wiedergabe des allgemeinen Wesens der conformar-se? Quem poderia afirmar o impossível: que
Dinge. Aber wo und wie ist denn dieses allgemeine Wesen, a idéia de templo estaría apresentada na obra arquite-
so daís die Kunstwerke mit ihm übereinstimmen? Mit tónica? E, contudo, em tal obra, caso seja urna obra, a
welchem Wesen welchen Dinges soll denn ein griechischer verdade está posta em obra. Ou pensemos no hino de
Tempel ubereinstimmen? Wer konnte das Unmoglíche Hólderlin "O Reno". O que aqui foi dado de anternáo
behaupten, in dem Bauwerk werde die Idee des Tempels ao poeta e como lhe foi dado para que entáo com
dargestellt? Und doch ist in solchem Werk, wenn es ein isso pudesse reproduzi-lo no poema? Mesmo que, no
Werk ist, die Wahrheit ins Werk gesetzt Oder denken caso <leste hino e de poemas semelhantes, recusemos
wir an Hólderlins Hymne »Der Rhein«. Was ist hier dem manifestamente a idéia de urna relacáo de cópia entre
90 MARTIN HEIDEGGER A ORlGEM DA OBRA DE ARTE 1 91

Dichter und wie ist es ihm vorgegeben, damit es dann im algo realjá vigente e a obra de arte, todavia, através
Gedicht wiedergegeben werden konnte? Mag nun auch im de urna obra como o poema abaixo, de C.F. Meyers,
Fall dieser Hymne und ahnlicher Gedichte der Gedanke an "A fonte romana", confirma-se aparentemente, de
ein Abbildverhaltnis zwischen einem schon Wirklichen und urna maneira melhor, aquela opiniáo de que a obra
dem Kunstwerk offenkundig versagen, durch ein Werk von copia algo.
der Art, die C. F Meyers Gedicht »Der rórnische Brunnen«
zeigt, bestatigt sich anscheinend jene Meinung, daf das A fonte romana
Werk abbilde, auf das beste.
Ergue-se o jato luminoso e caindo
Der rómísche Brunnen Enche a redonda concha de mármore
Que encobrindo-se transborda
Aufsteigt der Strahl und fallend gieflt No fundo de uma segunda taca
Er voll der Marmorschale Rund, A segunda doa a terceira,
Die, sich verschleiernd, überflieflt
Ondulante, seu fluxo
In einer zweiten Schale Grund;
E cada uma ao mesmo tempo
Die zweite gibt, sie wird zu reich,
Acolhe e repassa, e corre e aquieta-se.
Der dritten wallend ihre Flut,
Und jede nimmt und gibt zugleich
§58 - Aqui nao está retratada poeticamente
Und strómt und ruht.
urna fonte de fato existente nem está reapresentada
a esséncia geral de urna fonte romana. Porém, a ver-
Hier ist jedoch weder ein wirklich vorhandener Brunnen
dade está posta em obra. Que verdade acontece na
poetisch abgemalt, noch ist das allgemeine Wesen eines
27 romischen Brunnens wiedergegeben. Aber die Wahrheit obra? Pode a verdade acontecer e assim ser histórica?
ist ins Werk gesetzt. Welche Wahrheit geschieht im Werk? Verdade, assim se diz, é algo atemporal e supra-tem-
Kann Wahrheit überhaupt geschehen und so geschichtlich poral.
sein? Wahrheit, so sagt man, sei doch etwas Zeitloses und §59 - Procuramos a realidade vigente da obra de
ü berzeitliches arte para lá encontrar realmente a arte que nela vigo-
Wir suchen die Wirklichkeit des Kunstwerkes, um ra. O suporte coisal mostrou-se como o real vigente
dort wirklich die Kunst zu finden, die in ihm waltet. Als mais próximo na obra. Para conceber este coisal nao
das nachste Wirkliche am Werk erwies sich der dingliche bastam os tradicionais conceitos de coisa; pois estes
Unterbau. Um dieses Dingliche zu fassen, reichen aber falham propriamente no que diz respeito a esséncia
die überlieferten Dingbegriffe nicht aus; denn diese selbst do caráter de coisa. O conceito predominante de
92 MARTIN HEIDEGGER A OlUGEM DA OBRA DE ARTE 1 93

verfehlen das Wesen des Dinghaften. Der vorherrschende coisa, coisa como matéria enformada, nao é colhido
Dingbegriff, Ding als geformter Stoff, ist nicht einmal aus a partir da esséncia da coisa, mas a partir da esséncia
dem Wesen des Dinges, sondem aus dem Wesen des Zeuges do utensilio. Também se mostrou que, na interpretacáo
abgelesen. Auch zeigte sich, daf seit langem schon das do sendo,já há rnuito o ser-utensílio impós uma primazia
Zeugsein einen eigentümlichen Vorrang in der Auslegung des particular. Contudo, esta primazia do ser-utensilio, nao
Seienden behauptet. Dieser indessen nicht eigens bedachte propriamente pensada, deu o aceno para se colocar de
Vorrang des Zeugseins gab den Wink, die Frage nach dem maneira renovada a questáo em relacáo ao caráter de
utensilio, mas evitando-se as interpretacóes corriqueiras.
Zeughaften emeut zu stellen, aber unter Vermeidung der
§60 - O que é o utensilio deixamos que nos fosse <lito
gelaufigen Auslegungen.
através de uma obra. Por meio disso - como que particu-
Was das Zeug sei, lieísen wir uns durch ein Werk sagen.
larmente - veio a luz o que na obra está em obra: a aber-
Dadurch kam, gleichsam unter der Hand, an den Tag, was
tura do sendo em seu ser: o acontecimento da verdade.
im Werk am Werk ist: die Eróffnung des Seienden in seinem
Contudo, se a realidade vigente da obra nao pode ser
Sein: das Geschehnis der Wahrheit. Wenn nun aber die
determinada de outra maneira senáo através disso, o que
Wirklichkeit des Werkes durch nichts anderes bestimmt
na obra está em obra, onde fica o nosso pressuposto de
werden kann als durch das, was im Werk am Werk ist,
procurarmos a obra de arte real em sua realidade vigente?
wie steht es dann mit unserem Vorhaben, das wirkliche
Erramos o caminho enquanto suposemos que a realidade
Kunstwerk in seiner Wirklichkeit aufzusuchen? Wir gingen
vigente da obra, em princípio, estaria nessa base coisal.
fehl, solange wir die Wirklichkeit des Werkes zunachst in Deparamo-nos agora com um resultado surpreendente
jenem dinglichen Unterbau vermuteten. Wir stehen jetzt de nossas reflexóes, se é que ainda pode ser chamado de
vor einem merkwürdigen Ergebnis unserer Überlegungen, um resultado. Dois aspectos se tornam claros:
wenn das noch ein Ergebnis genannt werden kann. Ein §61- Primeiro. Os meios para se apreender o coisal
Zwiefaches wird klar: na obra, os conceitos dominantes de coisa, nao sao
Einmal: Die Mittel, das Dingliche am Werk zu fassen, die suficientes.
herrschenden Dingbegriffe, reichen nicht zu. §62 - Em segundo lugar: O que com isso quisemos
Zum andem: Das, was wir damit als náchste Wirklichkeit apreender como sendo a mais próxima realidade vigente
des Werkes fassen wollten, der dingliche Unterbau, gehórt da obra, a base coisal, nesse modo nao pertence a obra.
in solcher Weise nicht zum Werk. §63 - Tao logo consideramos isso na obra como tal,
Sobald wir es am Werk auf solches absehen, haben a tomamos, sem perceber, como um utensílio ao qual,
wir unversehens das Werk als ein Zeug genommen, dem além disso, conferimos urna sobre-estrutura que <leve
28 wir auíserdem noch einen Oberbau zubilligen, der das conter o artístico. Mas a obra nao é nenhum utensílio
94 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 95

Künstlerische enthalten soll. Aber das Werk ist kein que, além disso, ainda é dotado de um valor estético,
Zeug, das auíserdem noch mil einem asthetischen Wert nele preso. A obra nao é isso como também a mera coisa
ausgestattet ist, der ciaran haftet. Dergleichen ist das nao é um utensílio, a qual falta apenas o caráter próprio
Werk so wenig, wie das bloíse Ding ein Zeug ist, das nur de utensílio, ou seja, a serventia e a elaboracáo.
des eigentlichen Zeugcharakters, der Dienlichkeit und §64 - Nosso questionamento em relacáo a obra está
Anfertigung, entbehrt. abalado, porque nao perguntamos pela obra, mas, sim,
Unsere Fragestellung nach dem Werk ist erschüttert, em parte por urna coisa, em parte por um utensílio. Só
weil wir nicht nach dem Werk, sondern halb nach que isto nao foi um questionamento que nós primei-
einem Ding und halb nach einem Zeug frugen. Allein, ro desenvolvemos. É o questionamento da Estética.
dies war keine Fragestellung, die erst wir entwickelten. O modo como ela de antemáo considera a obra de arte
Es ist die Fragestellung der Asthetik. Die Art, wie sie permanece sobo domínio da interpretacáo tradicional
das Kunstwerk im voraus betrachtet, steht unter der de todo sendo. Contudo, o abalo des te questionamento
Herrschaft der überlieferten Auslegung alles Seienden. habitual nao é o essencial. Do que se trata é de urna pri-
meira visáo em relacáo ao fato de que o caráter de obra
Doch die Erschütterung dieser gewohnten Fragestellung
da obra, o caráter de utensílio do utensílio, o caráter de
ist nicht das Wesentliche. Worauf es ankommt, ist eine
coisa da coisa só se aproxima de nós quando pensamos
erste óffnung des Blickes dafür, daís das Werkhafte
o ser do sendo. Para isso é necessário que antes caiam
des Werkes, das Zeughafte des Zeuges, das Dinghafte
as barreiras do óbvio e os aparentes e corriqueiros con-
des Dinges uns erst naher kommen, wenn wir das
ceitos sejam colocados de lado. Por isso, tivemos que
Sein des Seienden denken. Dazu ist nótig, daf zuvor
fazer um desvio. Mas ele, ao mesmo tempo, nos leva a
die Schranken des Selbstverstandlichen fallen und die
via que pode conduzir a urna deterrninacáo do caráter
gelaufigen Scheinbegriffe auf die Seite gestellt werden.
de coisa na obra. O caráter de coisa na obra nao <leve
Deshalb muísten wir einen Umweg gehen. Aber er bringt
ser negado nem deixado de lado, mas ele tem que ser
uns zugleich auf den Weg, der zu einer Bestimmung
pensado a partir do caráter de obra, caso ele já pertenca
des Dinghaften am Werk führen kann. Das Dinghafte ao ser-obra da obra. Se assim é, en tao aviada determi-
am Werk soll nicht weggeleugnet werden; aber dieses nacáo da realidade coisal vigente da obra nao conduz
Dinghafte muís, wenn es schon zum Werksein des Werkes da coisa para a obra, mas da obra para a coisa.
gehort, aus dem Werkhaften gedacht sein. Steht es so, §65 -A obra de arte, a sua maneira, abre inaugural-
dann führt der Weg zur Bestimmung der dinghaften mente o ser do sendo. Na obra acontece esta abertura
Wirklichkeit des Werkes nicht uber das Ding zum Werk, inaugural, ou seja, o revelar, ou seja, a verdade do sendo.
sondern uber das Werk zum Ding. Na obra de arte a verdade do sendo se pos em obra.
96 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 97

Das Kunstwerk eroffnet auf seine Weise das Sein des A arte é o pór-se-ern-obra da verdade. O que é a verdade
Seienden. lm Werk geschieht diese Eroffnung, d. h. das ela mesma para que de tempos em tempos se aproprie
Entbergen, d. h. die Wahrheit des Seienden. Im Kunstwerk inauguralmente como arte (a)? O que é este pór-se-
hat sich die Wahrheit des Seienden ins Werk gesetzt. Die -em-obra?
Kunst ist das Sich-ins-Werk-Setzen der Wahrheit. Was ist die
Wahrheit selbst, daís sie sich zu Zeiten als Kunst ereignetª? A obra e a verdade
Was ist dieses Sich-ins-Werk-Setzen?
§66 - O originário da obra de arte é a arte. Mas o que
Das Werk und die Wahrheit é a arte? Realmente a arte está na obra de arte. Por isso
procuramos primeiramente a realidade vigente da obra.
29 Der Ursprung des Kunstwerkes íst die Kunst. Aber was Em que ela consiste? As obras de arte mostram corrente-
mente o caráter de coisa, ainda que de maneira comple-
ist die Kunst? Wirklich ist die Kunst im Kunstwerk. Deshalb .
tamente diferente. A tentativa de conceber este caráter
suchen wir zuvor die Wirklichkeit des Werkes. Worin
de coisa da obra coma ajuda dos conceitos habituais de
besteht sie? Die Kunstwerke zeigen durchgangig, wenn auch
coisa fracassou. Nao somente porque estes conceitos de
in ganz verschiedener Weise, das Dinghafte. Der Versuch,
coisa nao apreendem o caráter de coisa, mas porque, com
diesen Dingcharakter des Werkes mit Hilfe der gewohnten
o questionamento de sua base coisal, forcamos a obra a
Dingbegriffe zu fassen, miíslang. Nicht nur weil diese
urna concepcáo prévia, através da qual obstruímos a nós
Dingbegriffe das Dinghafte nicht greifen, sondern weil wir o acesso ao ser-obra da obra. Nunca se poderá decidir
das Werk mit der Frage nach seinem dinglichen Unterbau sobre o caráter de coisa na obra enquanto o puro per-
in einen Vorgriff zwingen, durch den wir uns den Zugang manecer-ero-si da obra nao se mostrou claramente.
zum Werksein des Werkes verbauen. Über das Dinghafte §67 -Alguma vez a obra será acessível em si? Para que
am Werk kann nie befunden werden, solange sich das reine isto pudesse ser bem sucedido seria necessário retirar
Insichstehen des Werkes nicht deutlich gezeigt hat. a obra de todas as referencias" ao que ela própria nao
Doch ist das Werk jemals an sich zuganglich? Damit é, para a deixar repousar só para si e só em-si mesma.
dies glücken konnte , ware notig, das Werk aus allen Mas para isso já se encaminha a intencáo primordial do
Bezügen zu solchem, was ein anderes ist als es selbst, artista. A obra <leve, através dele, ser libertada para o
herauszurücken, um es allein für sich auf sich beruhen zu seu puro auto-permanecer-em-si. Justamente na grande
lassen. Aber dahin geht doch schon das eigenste Absehen arte, e aqui só se fala dela, o artista posta-se <liante da

§ 65 (a) Edicáo Reclam de 1960: Verdade a partir do acontecimento


ª Reclam-Ausgabe 1960: Wahrheit aus Ereignis! poético-aproprian te.
98 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 99

des Künstlers. Das Werk soll durch ihn zu seinem reinen obra como algo indiferente, quase como urna passagem
Insichselbststehen entlassen sein. Gerade in der groísen que se auto-aniquila para a pro-ducáo da obra, no ato
Kunst, und von ihr allein ist hier die Rede, bleibt der de criar.
Künstler gegenüber dem Werk etwas Gleichgültiges, fast §68 -Assim ficam e estáo penduradas propriamente
wie ein im Schaffen sich selbst vernichtender Durchgang as obras nas colecóes e exposicóes. Mas estáo elas aí
für den Hervorgang des Werkes. em si como obras que elas próprias sao ou antes como
So stehen und hangen denn die Werke selbst in den objetos do comércio da arte? As obras tornam-se acessí-
Sammlungen und Ausstellungen. Aber sind sie hieran sich veis ao prazer artístico individual e público. Instituicóes
als die Werke, die sie selbst sind, oder sind sie hier nicht públicas assumem o cuidado e conservacáo das obras.
eher als die Gegenstande des Kunstbetriebes? Die Werke Conhecedores e críticos de arte ocupam-se delas.
werden dem offentlichen und vereinzelten Kunstgenuís O comércio da arte cuida do mercado. A pesquisa da
zuganglich gemacht. Amtliche Stellen übernehmen die Pflege . história da arte torna as obras objeto de urna ciencia.
Mas as próprias obras vérn ainda ao nosso encontro
und Erhaltung der Werke. Kunstkenner und Kunstrichter
nestes múltiplos manejos?
machen sich mit ihnen zu schaffen. Der Kunsthandel sorgt
§ 69 -As esculturas "Éginas" na colecáo de Munique
für den Markt. Die Kunstgeschichtsforschung macht die
e a Antígona de Sófocles na melhor edicáo crítica estáo,
Werke zum Gegenstand einer Wissenschaft. Doch begegnen
como as obras que elas sao, arrancadas do seu próprio
uns in diesem mannigfachen Umtrieb die Werke selbst?
espac;o essencial. Ainda que sua posicáo e sua forca
Die »Agineten« in der Münchener Sammlung, die
expressiva sejam tao grandes, sua conservacáo ainda
»Antigone« des Sophokles in der besten kritischen Ausgabe,
tao boa e sua interpretacáo ainda tao segura, a trans-
30 sind als die Werke, die sie sind, aus ihrem eigenen Wesensraum
ferencia para a colecáo as retirou do seu mundo. Mas
herausgerissen. Ihr Rang und ihre Eindruckskraft mogen noch
mesmo quando nos esforcamos em evitar ou suprimir
so groís, ihre Erhaltung mag noch so gut, ihre Deutung noch tais transferencias da obras, quando nós, por exemplo,
so sicher sein, die Versetzung in die Sammlung hat sie ihrer procuremos o templo em seu lugar em Paestum e a ca-
Welt entzogen. Aber auch wenn wir uns bernuhen, solche tedral de Bamberger em sua prac;a, o mundo das obras
Versetzungen der Werke aufzuheben oder zu vermeiden, existentes está destruído.
indem wir z. B. den Tempel in Paestum an seinem Ort und §70 - A perda e a destruicáo de mundo nao se
den Bamberger Dom an seinem Platz aufsuchen, die Welt der podem mais reconstituir. As obras nao sao mais aque-
vorhandenen Werke ist zerfallen. las que foram. De certo, elas próprias sao as que aí
Weltentzug und Weltzerfall sind nie mehr ruckgángig vérn ao nosso encontro, mas elas próprias sao as que
zu machen. Die Werke sind nicht mehr die, die sie foram. Como as que foram permanecem <liante de
100 1
MARTIN HEIDEGGER A OIUGEM DA OBRA DE ARTE 1 101

waren. Sie selbst sind es zwar, die uns da begegnen, aber nós no ámbito da tradicáo e da conservacáo. A partir
sie selbst sind die Gewesenen. Als die Gewesenen stehen daí elas perrnanecem, como tais, somente objetos. O
sie uns im Bereich der úberlieferung und Aufbewahrung permanecerem <liante de nós é, de certo, ainda urna
entgegen. Fortan bleiben sie nur solche Gegenstande. 1hr coriseqüéncia daquele anterior perrnanecer-em-si,
Entgegenstehen ist zwar noch eine Folge jenes vormaligen mas nao é mais ele mesmo. Ele evadiu-se delas. Toda
lnsichstehens, aber es ist nicht mehr dieses selbst. Dieses ist atividade ern torno da arte, mesmo que seja elevada ao
aus ihnen geflohen. Aller Kunstbetrieb, er mag aufs auíserste máximo e faca tudo de acordo com as próprias obras,
gesteigert werden und alles um der Werke selbst willen só alcanca o ser-objeto das obras. Contudo, isto nao
betreiben, reicht immer nur bis an das Gegenstandsein der constituí o seu ser-obra.
Werke. Doch das bildet nicht ihr Werksein. §71 - Mas permanece a obra ainda obra quando
Aber bleibt das Werk dann noch Werk, wenn es auíserhalb fica fora de qualquer referencia? Nao pertence a obra
eines jeden Bezuges steht? Gehort nicht zum Werk, daís es in o situar-se dentro de referencias? Certamente. Só resta
Bezügen steht? Allerdings, nur bleibt zu fragen, in welchen · perguntar ern quais ela se situa.
es steht. §72 - A que lugar pertence urna obra? A obra per-
Wohin gehort ein Werk? Das Werk gehort als Werk einzig tence, como obra, unicamente ao ámbito que se abre
in den Bereich, der durch es selbst eróffnet wird. Denn através dela própria. Pois o ser-obra da obra vigora e
das Werksein des Werkes west und west nur in solcher vigora sornen te em tal abertura. Dissemos que na obra o
Eroffnung. Wir sagten, im Werk sei das Geschehnis der acontecimento da verdade está em obra. A referencia ao
Wahrheit am Werke. Der Hinweis auf das Bild van Goghs quadro de van Gogh tentou nomear este acontecimen-
versuchte dieses Geschehnis zu nennen. lm Hinblick darauf to. Em vista disso resultou a questáo: Que é a verdade
ergab sich die Frage, was Wahrheit sei und wie Wahrheit e como a verdade pode acontecer?
geschehen konne. §73-Nós perguntamos agora pela questáo da verda-
Wir fragen jetzt die Wahrheitsfrage im Blick auf das de tendo em vista a obra. Contudo, para que nos fami-
Werk. Damit wir jedoch mit dem, was in der Frage steht, liarizemos mais como que está colocado na questáo, é
vertrauter werden, ist es notig, das Geschehnis der Wahrheit necessário, de um modo novo, tornar visível na obra o
im Werk erneut sichtbar zu machen. Für diesen Versuch sei acontecimento da verdade. Para esta tentativa foi esco-
mit Absicht ein Werk gewahlt, das nicht zur darstellenden lhida, de propósito, urna obra que nao é considerada
Kunst gerechnet wird. como arte figurativa.
Ein Bauwerk, ein griechischer Tempel, bildet nichts ab. §74- Uma obra arquitetónica, um templo grego, nao
Er steht einfach da inmitten des zerklufteten Felsentales. copia nada. Ele se ergue simplesmente aí em meio as
3l Das Bauwerk umschlieíst die Gestaltn des Gottes und rochas escarpadas do vale. A obra arquitetónica envolve
102 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 103

la~t sie in dieser Verbergung durch die offene Saulenhalle a figura do deus e neste velamento a deixa projetar-se
hinausstehen in den heiligen Bezirk. Durch den Tempel no ámbito do recinto sagrado através do pórtico aber-
west der Gott im Tempel an. Dieses Anwesen des Gottes ist to. Gracas ao templo o deus se faz presente no templo.
in sich die Ausbreitung und Ausgrenzung des Bezirkes als Esta presenc;:a do deus é em-si o alargamento e a trans-de-
eines heiligen. Der Tempel und sein Bezirk verschweben aber limitacáo do recinto como um recinto sagrado. Todavia,
nicht in das Unbestimmte. Das Tempelwerk fügt erst und o templo e seu recinto nao pairam no indeterminado.
sammelt zugleich die Einheit jener Bahnen und Bezüge um O templo-obra junta primeiramente e ao mesmo tempo
recolhe, em tomo de si, a unidade daquelas veredas e refe-
sich, in denen Geburt und Tod, Unheil und Segen, Sieg und
rencias, nas quais nascimento e morte, maldicáo e béncáo,
Schmach, Ausharren und Verfall - dem Menschenwesen
vitória e ignomínia, perseverarn;:a e queda, ganham para o
die Gestalt seines Geschickes gewinnen. Die waltende Weite
ser humano a configuracáo do seu destino. A amplitude
dieser offenen Bezüge ist die Welt dieses geschichtlichen
reinante destas referencias abertas é o mundo <leste povo
Volkes. Aus ihr und in ihr kommt es erst auf sich selbst zum histórico. Somente a partir dele e nele é que ele retoma
Vollbringen seiner Bestimmung zurück. a si mesmo para consumar sua vocacáo.
Dastehend ruht das Bauwerk auf dem Felsgrund. §75 - Aí permanecendo, repousa a obra arquite-
Dies Aufruhen des Werkes holt aus dem Fels das Dunkle tónica sobre o fundamento rochoso. Este repousar
seines ungefügen und doch zu nichts gedrangten Tragens da obra extrai do rochedo a obscuridade de seu
heraus. Dastehend hált das Bauwerk dem uber es suporte informe e, contudo, nao forcado a nada. Aí
wegrasenden Sturm stand und zeigt so erst den Sturm permanecendo, a obra arquitetónica resiste a tern-
selbst in seiner Gewalt. Der Glanz und das Leuchten pestade que se abate furiosamente sobre ela e mos-
des Gesteins, anscheinend selbst nur von Gnaden der tra <leste modo a própria tempestade em sua forca.
Sonne, bringt doch erst das Lichte des Tages, die Weite O brilho e a luminosidade do rochedo, os mesmos só
des Himmels, die Finsternis der Nacht zum Vor-schein. aparecendo grac;:as ao Sol, é que fazem aparecer a luz do
dia, a extensáo do Céu e as trevas da Noite. O erguer-se
Das sichere Ragen macht den unsichtbaren Raum der
seguro torna visível o invisível espac;:o do ar. O inabalável
Luft sichtbar. Das Unerschütterte des Werkes steht ab
da obra contrasta com a vaga da maré e deixa, a partir
gegen das Wogen der Meerflut und la~t aus seiner Ruhe
de seu repouso, aparecer a fúria do mar. A árvore e a
deren Toben erscheinen. Der Baum und das Gras, der
\ grama, a águia e o touro, a serpente e o grilo aparecem
Adler und der Stier, die Schlange und die Grille gehen no realce de sua figura e se apresentam assim no que eles
erst in ihre abgehobene Gestalt ein und kommen so als sao. Este surgir e desabrochar ern-si e no todo, os gregos
das zum Vorschein, was sie sind. Dieses Herauskommen denominaram, há muito tempo, a physis. Ela clareia ao
MARTIN HEIDEGGER A ORJGEM DA OBRA DE ARTE 1 105
104 1

und Aufgehen selbst und im Ganzen nannten die mesmo tempo aquilo sobre o que e em que o homem
Griechen frühzeitig die <l>úcm;. Sie lichtet zugleich jenes, funda seu morar. Isso nós denominamos a Terra. Do
worauf und worin der Mensch sein Wohnen gründet. Wir que a palavra Terra aquí significa <leve-se afastar tanto
nennen es die Erde. Von dem, was das Wort hier sagt, ist a representacáo de urna massa de matéria aglomerada
sowohl die Vorstellung einer abgelagerten Stoffmasse als como também, segundo a astronomía, a idéia de planeta.
auch die nur astronomische eines Planeten fernzuhalten. A Terra é aquilo em que se reabriga o desabrochar de
tudo que, na verdade, como tal, desabrocha. Nisso que
Die Erde ist das, wohin das Aufgehen alles Aufgehende
desabrocha, a Terra vige como a que abriga.
und zwar als ein solches zurückbirgt. Im Aufgehenden
§ 76 -Aí permanecendo, a obra-templo inaugura um
west die Erde als das Bergende.
mundo e, ao mesmo tempo, o resitua sobre a Terra, a
32 Das Tempelwerk eroffnet dastehend eine Welt und stellt
qual, <leste modo, só entáo surge como o solo pátrio. Mas
diese zugleich zurück auf die Erde, die dergestalt selbst
jamais os homens, os animais, as plantas e as coisas exis-
erst als der heimatliche Grund herauskommt. Niemals
tem e sao conhecidos como objetos imutáveis, para que
aber sind die Menschen und die Tiere, die Pflanzen und
mais tarde, acidentalmente, constituam o ambiente ade-
die Dinge als unveranderliche Gegenstande vorhanden
quado para o templo, que um dia também juntar-se-á a
und bekannt, um dann beilaufig fur den Tempel, der eines
tudo que está presente. Estaremos mais próximos daqui-
Tages auch noch zu dem Anwesenden hinzukommt, die
lo que ése pensarmos tudo inversamente (a), contanto
passende Umgebung darzustellen. Wir kommen dem, que estejamos de anternáo preparados para ver como
was ist, eher nahe, wenn wir alles umgekehrt" denken, tudo se volta para nós de um outro modo. Realizada por
gesetzt freilich, daf wir im voraus den Blick dafür ha ben, si mesma, a simples inversáo nao dá em nada.
wie alles sich anders uns zukehrt. Das blofse Umkehren, §77 - Somente o templo, no seu permanecer aí, dá as
fur sich vollzogen, ergibt nichts. coisas sua vista e aos homens a visáo de si mesmos. Esta
Der Tempel gibt in seinem Dastehen den Dingen visáo permanece tanto tempo aberta quanto a obra é
erst ihr Gesicht und den Menschen erst die Aussicht urna obra, tanto tempo quanto o deus nao a abandonou.
auf sich selbst. Diese Sicht bleibt so lange offen, als O mesmo acontece coma imagem do deus que o ven-
das Werk ein Werk ist, so lange als der Gott nicht aus cedor lhe consagra na batalha. Nao é nenhuma cópia
ihm geflohen. So steht es auch mit dem Bildwerk des para que nela se tome conhecimento mais facilmente
Gottes, das ihm der Sieger im Kampfspiel weiht. Es ist de como o deus parece, mas é urna obra que deixa o
kein Abbild, damit man an ihm leichter zur Kenntnis próprio deus se presentificar e, assim, o deus propria-

ª Reclam-Ausgabe 1960: umkehren - wohin? §76 (a) Edicáo Reclarn de 1960: lnverter ... para onde?
106 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE
1
1 107

nehme, wie der Gott aussíeht, aber es ist ein Werk, das mente é. O mesmo vale para a obra-da-linguagem. Na
den Gott selbst anwesen laBt und so der Gott selbst ist. tragédia nada se encena e representa, mas se trava a
Dasselbe gilt vom Sprachwerk. In der Tragodie wird lutados novos deuses contra os antigos. No que a.obra-
nichts auf- und vorgeführt, sondern der Kampf der da-linguagem eclode no narrar inaugural do povo, nao
neuen Gótter gegen die alten wird gekampft. Indem das fala sobre esta luta, mas transforma o narrar inaugural
Sprachwerk im Sagen des Volkes aufsteht, redet es nicht do povo de tal modo que agora cada palavra essencial
über diesen Karnpf, sondern verwandelt das Sagen des conduz esta luta e coloca em decisáo o que é sagrado e
Volkes dahin, daf jetzt jedes wesentliche Wort diesen o que é nao-sagrado, o que é grande e o que é peque-
Kampf führt und zur Entscheidung stellt, was heilig ist no, o que é ousado e o que é covarde, o que é nobre
und was unheilig, was groís und was klein, was wacker e o que é transitório, o que é senhor e o que é escravo
und was feig, was edel und was fluchtig, was Herr und ( compare o fragmento 53 de Heráclito).
was Knecht (vgl. Heraklit, Fragm. 53). §78 - Em que consiste, portan to, o ser-obra da obra?
Worin besteht also das Werksein des Werkes? Im Mantendo sempre em vista o que de um modo bastante
standigen Ausblick auf das soeben roh genug Angezeigte breve foi até aqui mostrado, dois aspectos essenciais da
seien zunáchst zwei Wesenszüge des Werkes deutlicher obra sejam destacados, claramente, de imediato. Em
gemacht. Dabei gehen wir von dem langst bekannten relacáo a isso partiremos do aspecto visível do ser da
Vordergründigen des Werkseins aus, dem Dinghaften, das obra, há muito conhecido: o caráter de coisa, que dá
unserem gewohnten Verhalten zum Werk einen Halt gibt. um ponto de apoio a nosso comportamento habitual
Wenn ein Werk in einer Sammlung untergebracht para com a obra.
oder in einer Ausstellung angebracht wird , sagt man
§79- Quando urna obra é colocada numa colecáo ou
apresentada numa exposicáo, diz-se que foi instalada.
auch, es werde aufgestellt. Aber dieses Aufstellen
33 Mas este instalaré essencialmente diferente da instala-
ist wesentlich verschieden von der Aufstellung im
cáo no sentido da edificacáo de urna obra arquitetónica,
Sinne der Erstellung eines Bauwerkes, der Errichtung
do erigir urna estátua, da apresentacáo da tragédia na
eines Standbildes, des Darstellens der Tragodie in
celebracáo da festa. Esta instalacáo é o erigir no sentido
der Festfeier. Solche Aufstellung ist das Errichten
de consagrar e glorificar. Instalacáo nao mais significa
im Sinne von Weihen und Rühmen. Aufstellung
aqui o mero colocar. Consagrar significa tornar sagrado,
meint hier nicht mehr das blolse Anbringen. Weihen
no sentido de que no edificar como obra, o sagrado se
heiíst heiligen in dem Sinne, daf in der werkhaften
abre como sagrado e o deus é chamado para o aberto
Erstellung das Heilige als Heiliges eroffnet und der
de sua presen<;:a. Ao consagrar pertence o glorificar
Gott in das Offene seiner Anwesenheit hereingerufen como dignificacáo da dignidade e do esplendor do deus.
108 1 MARTIN HEID.EGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 109

wird. Zum Weihen gehórt das Rühmen als die Würdigung Dignidade e esplendor nao sao propriedades ao lado ou
der Würde und des Glanzes des Gottes. Würde und Glanz atrás das quais além disso ainda permanece o deus. Porém,
sind nicht Eigenschaften, ne ben und hinter denen auíserdem o deus vigora na dignidade e no esplendor. No brilho des te
noch der Gott steht, sondern in der Würde, im Glanz west esplendor fulgura, ou seja, se aclara aquilo que denomina-
der Gott an. Im Abglanz dieses Glanzes glanzt, d. h. lichtet mos o mundo. Eligir diz: abrir o que é correto, no sentido
sich jenes, was wir die Welt nannten. Er-richten sagt: óffnen da medida que dá as indicacóes da direcáo no trajeto, tal
das Rechte im Sinne des entlang weisenden Maíses, als qual o essencial dá as diretivas. Mas por que é a instalacáo da
welches das Wesenhafte die Weisungen gibt. Warum aber obra um erigir que consagra e glorifica? Porque a obra no
ist die Aufstellung des Werkes eine weihend-rühmende seu ser-obra o exige. Como a obra pode chegar a exigencia
Errichtung? Weil das Werk in seinem Werksein dieses de urna tal instalacáo? Porque ela própria é instalante em
seu ser-obra. O que a obra enquanto obra instala? No que
fordert. Wie kommt das Werk zur Forderung einer solchen
se ergue em-si mesma, a obra abre um mundo e o mantém
Aufstellung? Weil es selbst in seinem Werksein aufstellend
numa permanencia vigorante.
ist. Was stellt das Werk als Werk auf? In-sich-aufragend
§80 - Ser-obra significa: instalar um mundo. Mas o
eroffnet das Werk eine Welt und hált diese im waltenden
que é isto um mundo? Na referencia ao templo isso
Verbleib.
foi indicado. A esséncia do mundo somente se deixa
Werksein hei:G.t: eine Welt aufstellen. Aber was ist das,
anunciar no caminho que aquí precisamos percorrer.
eine Welt? Im Hinweis auf den Tempel wurde es angedeutet. E mesmo este anunciar limita-se ao afastamento do que
Das Wesen von Welt la:G.t sich auf dem Wege, den wir poderia em principio confundir o olhar essencial.
hier gehen müssen, nur anzeigen. Sogar dieses Anzeigen §81-Mundo nao é a mera reuniáo das coisas existentes,
beschrankt sich auf die Abwehr von solchem, was zunachst contáveis ou incontáveis, conhecidas ou desconhecidas.
den Wesensblick beirren mochte. Mundo também nao é urna moldura apenas imaginada
/
Welt ist nicht die bloíse Ansammlung der vorhandenen e representada em relacáo a soma do existente. O mundo
abz áhlbaren oder unabz ah lbaren , bekannten und mundifica, senda mais do que o que se pega e percebe,
unbekannten Dinge. Welt ist aber auch nicht ein mu como que nos acreditamos familiarizados. Mundo nunca é
eingebildeter, zur Summe des Vorhandenen hinzu um objeto que fica <liante de nós e pode ser visto. Mundo
vorgestellter Rahmen. Welt weltet und ist seiender als das é o sempre inobjetivável, ao qual fi.camos subordinados
Greifbare und Vernehmbare, worin wir uns heimisch enquanto as vias de nascimento e morte, béncáo e mal-
glauben. Welt ist nie ein Gegenstand, der vor uns steht dicáo nos mantiverem arrebatados pelo ser (a). Onde
und angeschaut werden kann. Welt ist das immer
§81 (a) Edicáo Reclam de 1960: Entre-ser. 3.ª Edicáo de 1957:
Ungegenstandlíche, dem wir unterstehen, solange die Acontecer poético-apropriante.
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 111
110 1

Bahnen von Geburt und Tod, Segen und Fluch uns in das acontecem as decisóes mais essenciais de nossa história,
Seinª entrückt halten. Wo die wesenhaften Entscheidungen que por nós sao aceitas e rejeitadas, nao compreendidas
unserer Geschichte fallen, von uns übernommen und e de novo questionadas, aí o mundo mundifica. A pedra
verlassen, verkannt und wieder erfragt werden, da weltet die é sem mundo. Do mesmo modo, plantas e animais nao
tém nenhum mundo; mas eles pertencem a afluencia
Welt. Der Stein ist weltlos. Pflanze und Tier haben gleichfalls
velada de urna ambiéncia na qual encontram o seu lu-
keine Welt; aber sie gehóren dem verhullten Andrang
gar. Ao contrário, a camponesa tem um mundo porque
34 einer Umgebung, in die sie híneínhangen. Dagegen hat die
ela permanece no aberto do senda. O utensílio em
Bauerin eine Welt, weil sie sich im Offenen des Seienden
sua confiabilidade dá a este mundo urna necessidade
aufhált. Das Zeug gibt in seiner Verláíslichkeit dieser Welt
e proximidade próprias. No que um mundo se abre,
eine eigene Notwendigkeit und Náhe. Indem eine Welt
todas as coisas recebem sua morosidade e pressa, sua
sich offnet, bekommen alle Dinge ihre Weile und Eile, ihre
distancia e proximidade, sua largueza e estreitamento.
Feme und Nahe, ihre Weite und Enge. Im Welten ist jene
No mundificar está reunida aquela amplidáo a partir
Geraumígkeu versammelt, aus der sich die bewahrende Huld
da qual a benevolencia protetora dos deuses se doa ou
der Gotter verschenkt oder versagt. Auch das verhangnís des
se recusa. Também a fatalidade da ausencia do deus é
Ausbleibens des Gottes ist eine Weise, wie Welt weltet.
urna maneira como o mundo mundifica.
Irrdem ein Werk Werk ist, ráumt es jene Geraurnigkeit
§82 - No que urna obra é obra, dá lugar a essa
ein. Einraumen bedeutet hier zumal: freigeben das Freie
amplidáo. Dar lugar significa aqui ao mesmo tempo:
des Offenen und einrichten dieses Freie in seinem Gezüge. libertar o livre do aberto e dispor este espa<;;o livre em
Dieses Ein-richten west aus dem genannten Er-richten. suas feicóes. Este dis-por se torna presente a partir do
Das Werk stellt als Werk eine Welt auf. Das Werk hált das que nomeamos erigir. A obra como obra instala um
Offene der Welt offen. Aber die Aufstellung einer Welt ist mundo. A obra mantém aberto o aberto do mundo.
nur der eine hier zu nennende Wesenszug im Werksein des Mas a instalacáo de um mundo é somente urna das
Werkes. Den anderen und dazugehórigen versuchen wir in características essenciais do ser-obra da obra para aqui
der gleichen Weise aus dem Vordergründigen des Werkes ser nomeada. A outra que também lhe pertence nós
her sichtbar zu machen. tentamos do mesmo modo tornar visível a partir do que
Wenn ein Werk aus diesem oder jenem Werkstoff - Stein, aparece mais evidente na obra.
Holz, Erz, Farbe, Sprache, Ton - hervorgebracht wird, sagt §83 - Quando urna obra é pro-duzida a partir des te ou
daquele material - pedra, madeira, bronze, cor, língua,
som - também se diz que ela foi elaborada com esse
ª Reclam-Ausgabe 1960: Da-sein. 3. Auflage 1957: Ereignis. material. Mas assim como a obra exige urna instalacáo,
112 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 113

man auch, es seí daraus hergestellt. Aber so wie das no sentido do erigir consagrante e glorificante, porque
Werk eine Aufstellung verlangt irn Sinne der weihend- o ser-obra da obra consiste em urna instalacáo de mundo,
rühmenden Errichtung, weil das Werksein des Werkes do mesmo modo torna-se necessária a elaboracáo, porque
in einer Aufstellung von Welt besteht, ebenso wird die o ser-obra da obra tem ele mesmo o caráter da elaboracáo.
Herstellung nótig, weil das Werksein des Werkes selbst A obra como obra é elaboradora em sua esséncia, Mas o
den Charakter der Herstellung hat. Das Werk als Werk que a obra elabora? Só experenciamos isto se acompa-
ist in seinem Wesen herstellend. Aber was stellt das Werk nharmos o que se apresenta como o mais evidente e é
her? Wir erfahren dies erst, wenn wir der vordergründigen denominado, habitualmente, a elaboracáo de obras.
und gewóhnlich so genannten Herstellung von Werken §84-Ao ser-obra pertence a instalacáo de um mundo.
nachgehen. De que esséncia é, pensado no horizonte desta deter-
Zum Werksein gehórt die Aufstellung einer Welt. minacáo, aquilo que na obra se denomina o material?
Welchen Wesens ist, im Gesichtskreis dieser Bestimmung O utensilio toma a seu servico a matéria de que é feíto,
urna vez que é determinado pela serventia e utilizibilida-
gedacht, dasjenige am Werk, was man sonst den Werkstoff
de. Quando da fabricacáo do utensilio, por exemplo, o
nennt? Das Zeug nimmt, weil durch die Dienlichkeit und
machado, a pedra é utilizada e gasta. Ela desaparece na
Brauchbarkeit bestimmt, das, woraus es besteht, den
serventia. O material é tanto melhor e mais apropriado
Stoff, in seinen Dienst. Der Stein wird in der Anfertigung
quanto mais desaparece, sem resistencia, no ser-utensilio
des Zeuges, z. B. der Axt, gebraucht und verbraucht. Er
do utensilio. A obra-templo, ao contrário, no que ela
35 verschwindet in der Dienlichkeit. Der Stoff ist um so besser
instala um mundo, nao deixa a matéria desaparecer, mas,
und geeigneter, je widerstandsloser er im Zeugsein des
sim, aparecer em primeiro plano e, na verdade, no aberto
Zeuges untergeht. Das Tempel-Werk dagegen latt, indem es
do mundo da obra: o rochedo chega ao suportar e ao
eine Welt aufstellt, den Stoff nicht verschwinden, sondern
repousar. E somente assim se torna rochedo; os metais
allererst hervorkommen und zwar im Offenen der Welt des
chegam ao faiscar e ao brilhar; as cores ao reluzir, o som
Werkes: der Fels kommt zum Tragen und Ruhen und wird so ao soar, a palavra ao dizer (a). Tudo isso surge no que a
erst Fels; die Metalle kommen zum Blitzen und Schimmern, obra se retira no macice e peso da pedra, na firmeza e
die Farben zum Leuchten, der Ton zum Klingen, das Wort flexibilidade da madeira, na dureza e brilho do bronze,
zum Sagenª. All dieses kommt hervor, indem das Werk no luzir e escurecer da cor, no soar do som e na forca
sich zurückstellt in das Massige und Schwere des Steins, nomeadora da palavra.
in das Peste und Biegsame des Holzes, in die Harte und

ª Reclam-Ausgabe 1960: Verlauten, Sprechen. §84 (a) Edicáo Reclam de 1960: Proferir, falar.
114 1 MARTIN HEIDEGGER
A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 115

den Glanz des Erzes, in das Leuchten und Dunkeln der §85 - Para onde a obra se retira e o que ela deixa
Farbe, in den Klang des Tones und in die Nennkraft des surgir neste retirar-se, nós denominamos Terra. Ela é a
Wortes. que faz surgir e que abriga. A Terra é a que nao sendo
Wohin das Werk sich zurückstellt und was es in diesem forcada a nada é sem esforco e infatigável. Sobre a
Sich-Zurückstellen hervorkommen laíst, nannten wir die Terra e nela o homem histórico fundamenta seu morar
Erde. Sie ist das Hervorkommend-Bergende. Die Erde ist no mundo. No que a obra instala um mundo, elabora a
das zu nichts gedrangte Mühelose-Unermüdliche. Auf die Terra. O elaboraré para ser pensado (b) aqui no sentido
Erde und in sie gründet der geschichtliche Mensch sein rigoroso da palavra. A obra move e mantém a própria
Wohnen in der Welt. Indem das Werk eine Welt aufstellt, Terra no aberto de um mundo. A obra deixa (c) a Terra
stellt es die Erde her. Das Herstellen ist hier im strengen ser (d) uma Terra.
Sinne des Wortes zu denken". Das Werk rückt und halt §86 - Mas por que este elaborar da Terra precisa
die Erde selbst in das Offene einer Welt. Das Werh la/Jtc acontecer no modo pelo qual a obra se retira para a
die Erde eíne Erde seind_ Terra? O que é a Terra para que chegue ao desvelamen-
Doch warum m u f dieses Herstellen der Erde to de tal maneira? A pedra pesa e manifesta seu peso.
in der Weise geschehen, daf das Werk sich in sie Mas ao nos confrontarmos com seu peso ele se recusa
ao mesmo tempo a qualquer penetrar nele. Tentemos
zurückstellt? Was ist die Erde, daf sie gerade in solcher
isso quebrando o rochedo, en tao ele nunca mostra nos
Weise ins Unverborgene gelangt? Der Stein lastet
seus pedacos um interior e um aberto. Imediatamente
und bekundet seine Schwere. Aber wahrend diese
a pedra se retira, de novo, para o mesmo abafamento
uns entgegenlastet, versagt sie sich zugleich jedem
do peso e do macice de seus pedacos. Tentemos con-
Eindringen in sie. Versuchen wir solches, indem wir
ceber isso de outro modo, colocando a pedra sobre
den Fels zerschlagen; dann zeigt er in seinen Stücken a balanca, entáo só trazemos o peso ao cálculo de
doch nie ein lnneres und Geoffnetes. Sogleich hat sich quanto pesa. Talvez esta deterrninacáo bem exata da
der Stein Wieder in das selbe Dumpfe des Lastens und pedra permanec;:a um número, mas o peso como tal
des Massigen seiner Stücke zurückgezogen. Versuchen nos escapou. A cor brilha e só quer brilhar. Quando
wir, dieses auf anderem Wege zu fassen, indem wir nós a decompomos em freqüéncias vibratórias através
den Stein auf die Waage legen, dann bringen wir die de medidas racionais, ela se vai. Ela apenas se mostra
Schwere nur in die Berechnung eines Gewichtes. Diese

b Reclam-Ausgabe 1960: unzureíchend. §85 (b) Edicáo Reclam de 1960: Insuficiente.


e Reclam-Ausgabe 1960: heifst? vgl. »Das Ding«: das Ge-Viert.
§85 (c) Edicáo Reclam de 1960: Significa? Compare A coisa: a
quaternidade.
d Reclam-Ausgabe 1960: Ereignis.
§85 (d) Edicáo Reclam de 1960: Acontecer poético-apropriante.
116 1 MARTJN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 117

vielleicht sehr genaue Bestimmung des Steins bleibt quando permanece desvelada e sem esclarecimento.
eine Zahl, aber das Lasten hat sich uns entzogen. Die Farbe Assim, a Terra faz despedacar-se contra ela mesma toda
leuchtet auf und will nur leuchten. Wenn wir sie verstandig intromissáo nela. Ela deixa toda impertinencia apenas
messend in Schwingungszahlen zerlegen, ist sie fort. Sie zeigt calculante transformar-se numa destruicáo. Mesmo
sich nur, wenn sie unentborgen und unerklart bleibt. Die Erde que essa traga a aparencia de domínio e progresso na
la.St so jedes Eindringen in sie an ihr selbst zerschellen. Sie forma da objetivacáo técnico-científica da natureza,
la.St jede nur rechnerische Zudringlichkeit in eine Zerstórung este domínio permanece, contudo, urna impotencia da
umschlagen. Mag diese den Schein einer Herrschaft und vontade. Aberta em sua claridade, a Terra somente se
des Fortschritts vor sich hertragen in der Gestalt der mostra como ela mesma ali onde a preservam e guar-
technischwissenschaftlichen Vergegenstándlichung der dam como a que é essencialmente indecifrável e que
recua <liante de qualquer tentativa de apreensáo, isto é,
36 Natur, diese Herrschaft bleibt doch eine Ohnmacht des
mantém-se constantemente fechada. Todas as coisas da
Wollens. Offen gelichtet als sie selbst erscheint die Erde
Terra, ela própria no todo, desaguam numa harmonía
nur, wo sie als die wesenhaft Unerschlieísbare gewahrt und
de tracas mútuas. Mas este desaguar nao é nenhum
bewahrt wird, die vor jeder Erschlíeísung zurückweicht und
confundir. Aqui desagua a correnteza do delimitar que
d. h. standig sich verschlossen halt. Alle Dinge der Erde, sie
repousa em si mesma, que delimita a cada um que se
selbst im Ganzen, verstrómen sich in einen wechselweisen
faz presente em sua presen<;a. Assim, o mesmo nao-se-
Einklang. Aber dieses Verstrómen ist kein Verwischen. Hier
-conhecer está em cada urna das coisas que se fecham.
stromt der in sich beruhte Strom des Ausgrenzens, das
A Terra é essencialmente a que se fecha-ero-si. Elabo-
jedes Anwesende in sein Anwesen begrenzt. So ist in jedem
rar a Terra significa: trazé-la ao aberto como a que se
der sich verschlíefsenden Dinge das gleiche Sich-nicht-
fecha a si mesma.
-Kennen. Die Erde ist das wesenhaft Sichverschlíefsende. §87 - A obra realiza esta elaboracáo da Terra no
Die Erde her-stellen heiíst: sie ins Offene bringen als das que ela própria se retira na Terra. Porém, o fechar-se
Sichverschlieíslende. da Terra nao é nenhum permanecer encoberto rígido
Diese Herstellung der Erde leistet das Werk, e uniforme. Mas ele se desdobra numa inesgotável
indem es sich selbst in die Erde zurückstellt. Das abundáncia de modos simples e figuras. Com certeza,
Sichverschliefsen der Erde aber ist kein einformiges, o escultor lavra a pedra como o pedreiro, a seu modo,
starres Verhangenbleiben, sondern es entfaltet sich também a maneja. Porém, o escultor nao a desgasta.
in eine unerschcpfliche Fülle einfacher Weisen und Isso vale de certo modo somente onde a obra fracassa.
Gestalten. Zwar gebraucht der Bildhauer den Stein Com certeza, também o pintor usa a tinta de tal modo
so, wie nach seiner Art auch der Maurer mit ihm que a cor nao se desgaste, mas, sim, que venha a brilhar.
MARTIN HEIDEGGER A OJUGEM DA OBRA DE ARTE 1 119
118 1

umgeht. Aber er verbraucht den Stein nicht. Das gilt in Com certeza, também o poeta usa a palavra, mas nao
gewisser Weise nur don, wo das Werk miíslingt. Zwar assim como os que habitualmente falam e escrevem,
gebraucht auch der Maler den Farbstoff, jedoch so, que precisam desgastar as palavras. Ele, pelo contrário,
daf die Farbe nicht verbraucht wird, sondern erst zum de tal maneira que somente assim a palavra se torne e
Leuchten kommt. Zwar gebraucht auch der Dichter das permanec;a verdadeiramente urna palavra.
Wort, aber nicht so, wie die gewohnlich Redenden und §88 - Em nenhum lugar da obra se faz presente algo
Schreibenden die Worte verbrauchen müssen, sondern como um material. Permanece até duvidoso se, na de-
so, daís das Wort erst wahrhaft ein Wort wird und terminacáo essencial do utensilio, catacterizando como
matéria aquilo de que ele se compóe, ela é encontrada
bleibt.
nele enquanto seu caráter essencial de utensilio.
Überall west im Werk nichts von einem Werkstoff. Es
§89 - O instalar um mundo e o elaborar a Terra sao
bleibt sogar zweifelhaft, ob bei der Wesensbestimmung des
dois traeos essenciais do ser-obra da obra. Porém, eles se
Zeuges das, woraus es besteht, durch die Kennzeichnung
co-pertencem (a) na unidade do ser-obra. Procuramos
als Stoff in seinem zeughaften Wesen getroffen ist.
esta unidade quando pensamos o permanecer-em-si da
Das Aufstellen einer Welt und das Herstellen der
obra e quando tentamos dizer aquele repouso uno e
Erde sind zwei Wesenszüge im Werksein des Werkes. Sie
fechado do repousar-em-si.
37 gehoren aber in der Einheit des Werkseins zusammenª.
§90 - Com os traeos essenciais nomeados, tornamos
Diese Einheit suchen wir, wenn wir das Insichstehen des
conhecido na obra, se há nisso alguma precisáo, antes
Werkes bedenken undjene geschlossene einige Ruhe des um acontecer e de modo algum um repouso. Pois o que
Aufsichberuhens zu sagen versuchen. é o repouso senáo o contrário do movimento? Aquele,
Mit den genannten Wesenszügen haben wir, por sinal, nao é nenhum contrário que exclua de si o
wenn schon etwas Triftiges, im Werk doch eher ein movimento, mas que o inclua. Somente o movimenta-
Geschehen kenntlich gemacht und keineswegs eine do pode repousar. O modo do repouso está de acordo
Ruhe; denn was ist Ruhe, wenn nicht der Gegensatz com o tipo de movimento. No movimento como mera
zur Bewegung? Sie ist allerdings kein Gegensatz, der modificacáo de lugar de um corpo, o repouso é, de
die Bewegung von sich aus-, sondern einschliefst. Nur fato, somente o caso limite do movimento. Se o repouso
das Bewegte kann ruhen. Je nach der Art der Bewegung inclui o movimento, en tao pode haver um repouso que
ist die Weise der Ruhe. In der Bewegung als bloíser é urna reuniáo interior do movimento, ou seja, a mais
Ortsverariderung eines Korpers ist die Ruhe freilich
§89 (a) 3ª. Edicáo de 1957: Somente aí? Ou aqui sornen te no modo
ª 3. Auílage 1957: Nur da? Ocler hier nur in cler gebauren Weise. construído.
120 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 121

nur der Grenzfall der Bewegung. Wenn Ruhe die alta mobilidade, suposto que o tipo de movimento exija
Bewegung einschlieíst , so kann es eine Ruhe geben, um tal repouso. Porém, o repouso da obra que repou-
die eine innige Sammlung der Bewegung, also hochste sa-em-si é <leste tipo. Portanto, aproximamo-nos <leste
Bewegtheit ist, gesetzt, daís die Art der Bewegung eine repouso quando conseguimos apreender, de modo uno,
solche Ruhe fordert. Von dieser Art jedoch ist die Ruhe a mobilidade do acontecer no ser-obra. Perguntamos:
des in sich beruhenden Werkes. Wir kommen daher Que referencias mostram o instalar um mundo e o
dieser Ruhe nahe, wenn es gelingt, die Bewegtheit des elaborar a Terra na própria obra?
Geschehens im Werksein einheitlich zu fassen. Wir §91 - O mundo é a abertura manifestante das am-
fragen: Welchen Bezug zeigen das Aufstellen einer Welt plas vías das decisóes simples e essenciais no destino
und das Herstellen der Erde im Werk selbst? de um povo histórico. A Terra é o livre aparecer, a
Die Welt ist die sich offnende Offenheit der weiten nada forcada, do que permanentemente se fecha e,
Bahnen der einfachen und wesentlichen Entscheidungen dessa forma, do que abriga. Mundo e Terra sao essen-
im Geschick eines geschichtlichen Volkes. Die Erde ist cialmente diferentes um do outro e, contudo, nunca
das zu nichts gedrangte Hervorkornmen des standig separados. O mundo fundamenta-se sobre a Terra e a
Sichverschlieísenden und dergestalt Bergenden. Welt und Terra irrompe enguanto mundo. Ocorre que a relacáo
Erde sind wesenhaft voneinander verschieden und doch entre Mundo e Terra de modo algum se esgota na
niemals getrennt. Die Welt gründet sich auf die Erde, und unidade vazia dos opostos que nada tém a ver entre
Erde durchragt Welt. Allein, die Beziehung zwischen Welt si. O mundo aspira, no seu repousar sobre a Terra, a
und Erde verkümmert keineswegs in der leeren Einheit des fazé-la sobressair. Ele nao tolera, como o que se abre,
nenhum fechamento. Porém, a Terra tende, como a
sich nichts angehenden Entgegengesetzten. Die Welt trachtet
que abriga, cada vez a abranger e a conservar em si
in ihrem Aufruhen auf der Erde, diese zu uberhóhen. Sie
o mundo.
duldet als das Sichoffnende kein Verschlossenes. Die Erde
§92- O confronto de Mundo e Terra é urna disputa.
aber neigt dahin, als die Bergende jeweils die Welt in sich
Todavía, desvirtuamos, muito facilmente, a esséncia da
einzubeziehen und einzubehalten.
disputa, ao confundirmos sua esséncia coma discórdia e
Das Gegeneinander von Welt und Erde ist ein Streit.
abriga. E, por isso, só a conhecemos como perturbacáo
Allzuleicht verfalschen wir freilich das Wesen des Streites,
e destruicáo. Contudo, na disputa essencial, os que dis-
indem wir sein Wesen mit der Zwietracht und dem Hader
putam elevam-se, um e outro, a auto-afirmacáo de sua
38 zusammenwerfen und ihn deshalb nur als Stbrung und
esséncia. Porém, a auto-afirmacáo da esséncia nunca é
Zerstbrung kennen. lm wesenhaften Streit j edoch he ben die
o manter-se intransigente num estado de acaso, mas,
Streitenden, das eine je das andere, in die Selbstbehauptung sim, o entregar-se a originariedade velada do advento
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 123
122 1

ihres Wesens. Die Selbstbehauptung des Wesens ist do próprio ser. Na disputa, cada um transporta o outro
jedoch niemals das Sichversteifen auf einen zufalligen para além de si. A disputa torna-se assim sempre mais
Zustand, sondern das Sichaufgeben in die verborgene disputada e mais propriamente o que ela é. Quanto mais
Ursprünglichkeit der Herkunft des eigenen Seins. Im Streit duramente ela se supera a si mesma livremente, tanto
trágt jedes das andere über sich hinaus. Der Streit wird so mais, inflexivelmente, os disputantes se soltam para a
immer strittiger und eigentlicher, was er ist. Je hárter der intimidade do simples pertencer-se. A Terra nao pode
Streit sich selbstandig übertreibt, um so unnachgiebiger passar sem o aberto do Mundo, para ela própria, como
lassen sich die Streitenden in die Innigkeit des einfachen Terra, aparecer na livre afluencia do seu fechar-se em-si.
Sichgehórens los. Die Erde kann das Offene der Welt nicht O Mundo, por seu lado, nao pode desfazer-se da Terra,
missen, soll sie selbst als Erde im befreiten Andrang ihres para ele, como amplitude vigente e via de todo destino
Sichverschlieísens erscheinen. Die Welt wiederum kann essencial, fundamentar-se em algo decisivo.
der Erde nicht entschweben, soll sie als waltende Weite §93 - No que a obra instala um Mundo e elabora
und Bahn alles wesentlichen Geschickes sich auf ein a Terra, é ela urna instigacáo desta disputa. Contudo,
Entschiedenes gründen. isto nao acontece para que a obra, ao mesmo tempo,
Indem das Werk eine Welt aufstellt und die Erde destrua e apazigúe a disputa num insípido por-se de
herstellt, ist es eine Anstíftung dieses Streites. Aber dieses acordo, mas, sim, para que a disputa permane<;a urna
geschieht nicht, damit das Werk den Streit in einem faden disputa. A obra, instalando um Mundo e elaborando a
Übereinkommen zugleich niederschlage und schlichte, Terra, consuma essa disputa. O ser-obra da obra consiste
sondern damit der Streit ein Streit bleibe. Aufstellend eine no disputar da disputa entre Mundo e Terra. Porque
Welt und herstellend die Erde vollbringt das Werk diesen a disputa alcanca a sua magnitude na simplicidade da
Streit. Das Werksein des Werkes besteht in der Bestreitung intimidade, por isso, a unidade da obra acontece no
des Streites zwischen Welt und Erde. Weil der Streit im disputar da disputa. O disputar da disputa consiste no
Einfachen der Innigkeit zu seinem Hochsten kommt, agrupamento da mobilidade da obra, que permanen-
deshalb geschieht in der Bestreitung des Streites die Einheit temente se supera a si mesma. Por isso, o repouso da
des Werkes. Die Bestreitung des Streites ist die standig sich obra que repousa em-si-mesma tem sua esséncia na
übertreibende Sammlung der Bewegtheit des Werkes. In interioridade da disputa.
der lnnigkeit des Streites hat daher die Ruhe des in sich §94-Somente a partir deste repouso da obra pode-
ruhenden Werkes ihr Wesen. mos reconhecer o que na obra está em obra. Que na
Erst aus dieser Ruhe des Werkes vermogen wir zu ersehen, obra de arte a verdade esteja posta em obra, isto até
was im Werk am Werk ist. Bisher blieb es immer noch eine agora era apenas urna afirmacáo a priori. Até que ponto
vorgreifende Behauptung, im Kunstwerk sei die Wahrheit ins acontece no ser-obra da obra, quer dizer agora, até que
MARTJN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 125
124 1

Werk gesetzt. Inwiefern geschieht im Werksein des Werkes, ponto a verdade acontece no disputar da disputa entre
d. h. jetzt, inwiefern geschieht in der Bestreitung des Streites Mundo e Terra? O que é a verdade?
van Welt und Erde die Wahrheit? Was ist Wahrheit? §95 - A negligencia com a qual nos entregamos ao
Wie gering und stumpf unser Wissen vom Wesen uso desta palavra fundamental demonstra quáo pe-
der Wahrheit ist, zeigt die Nachlassigkeit, mit der wir queno e obtuso é nosso conhecimento da esséncia da
uns dem Gebrauch dieses Grundwartes überlassen. Mit verdade. Na maioria das vezes, pensa-se como verdade
Wahrheit meint man zumeist die eine und die andere esta e aquela verdade. Isto significa algo verdadeiro.
Verdadeiro pode ser, do mesmo modo, um conhecimen-
39 Wahrheit. Das bedeutet: etwas Wahres. Dergleichen kann
to que se expressa numa frase. Porém, nao nomeamos
eine Erkenntnis sein, die sich in einem Satz ausspricht.
verdadeira apenas urna frase, mas também urna coisa,
Wahr nennen wir aber nicht nur einen Satz, sandern auch
por exemplo, ouro verdadeiro em oposicáo a ouro
eine Sache, wahres Gald im Unterschied zum Scheingald.
aparente. Verdadeiro significa aqui tanto ouro auten-
Wahr heiíst hier soviel wie echtes, wirkliches Gald. Was
tico como real. O que quer dizer aquí essa fala sobre
meint hier die Rede vom Wirklichen? Als solches gilt uns
o real? Como tal, para nós, em verdade, vale o sendo.
das in Wahrheit Seiende. Wahr ist, was dem Wirklichen
Verdadeiro é o que corresponde ao real. E é real o que
entspricht, und wirklich ist, was in Wahrheit ist. Der
é de verdade. O círculo se fechou novamente.
Kreis hat sich wieder geschlassen.
§96 - O que significa "de verdade"? Verdade é a
Was heiíst »in Wahrheit«? Wahrheit ist das Wesen
essencia do verdadeiro. Em que pensamos quando dize-
des Wahren. Waran denken wir, wenn wir Wesen sagen? mos esséncia? Habitualmente como esséncia vale aquilo
Als salches gilt gewóhnlich jenes Gemeinsame, worin que há de comum e em que concorda todo verdadeiro.
alles Wahre übereinkammt. Das Wesen gibt sich im A esséncia se dá no conceito genérico e universal, que
Gattungs- und Allgemeinbegriff, der das Eine vorstellt, representa o uno que vale igualmente para muitos.
das für Vieles gleich gilt. Dieses gleich-giltige Wesen Porém, esta esséncia sem diferencas (a essencialidade
(die Wesenheit im Sinne der essentia) ist aber nur das no sentido da essentia) é apenas a esséncia náo-essen-
unwesentliche Wesen. Warin besteht das wesentliche cial. Em que consiste a esséncia essencial de algo?
Wesen van etwas? Vermutlich beruht es in dern, was das Provavelmente baseia-se no que o sendo é de verdade.
Seiende in Wahrheit ist. Das wahre Wesen einer Sache A esséncia verdadeira de urna coisa se determina a partir
bestimmt sich aus ihrem wahren Sein, aus der Wahrheit do seu ser verdadeiro, a partir da verdade do respectivo
des jeweiligen Seienden. Allein, wir suchen jetzt nicht die sendo. Contudo, nós procuramos agora nao a verdade
Wahrheit des Wesens, sondern das Wesen der Wahrheit. da esséncia, mas a esséncia da verdade. Mostra-se aqui
Eine merkwürdige Verstrickung zeigt sich. 1st sie nur eine um curioso entrelacamento. É ele apenas urna curiosi-
126 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 127

Merkwürdigkeit oder gar nur die leere Spitzfindigkeit dade ou simplesmente urna sutileza vazia de um jogo
eines Begriffsspieles oder - ein Abgrund 7 conceitual ou - um abismo?
Wahrheit meint Wesen des Wahren. Wir denken es §97 - Verdade significa esséncia do verdadeiro. Nós a
aus der Erinnerung an das Wart der Griechen. AA~Scta pensamos a partir da lembranca da palavra dos gregos.
heiíst die Unverbargenheit des Seienden. Aber ist das Aletheia significa o desvelamento do sendo. Contudo,
schon eine Bestimmung des Wesens der Wahrheit? Geben isto já é urna determinacáo da esséncia da verdade?
wir nicht die bloíse Anderung des Wartgebrauches - Nao efetuamos nós urna mera rnudanca de uso da
Unverbargenheit statt Wahrheit - für eine Kennzeichnung palavra - desvelamento em lugar de verdade - como
der Sache aus? Allerdings bleibt es bei einem Austausch sendo urna caracterizacáo do que está em causa? De
van Namen, salange wir nicht erfahren, was denn fato, isso nao passa de urna troca de nomes enquanto
geschehen sein muís, um genótigt zu werden, das Wesen nao experienciarmos o que precisa entáo acontecer
der Wahrheit im Wart Unverbargenheit zu sagen. para que se torne necessário dizer a esséncia da verdade
1st dazu eine Erneuerung der griechischen Philosophie coma palavra desvelamento.
nótig? Keineswegs. Eine Erneuerung, selbst wenn dies §98 - É necessário para isso urna renovacáo da filoso-
Unmogliche moglich ware, hülfe uns nichts; denn die fia grega? De modo algum. Urna renovacáo, mesmo se
verbargene Geschichte der griechischen Philoscphie esta impossibilidade fosse possível, nao nos ajudaria em
nada. Pois a história velada da filosofia grega consiste,
besteht seit ihrem Anfang darin, daf sie dem im Wart
desde o seu comeco, no fato de que ela nao permanece
<XA~Scta aufleuchtenden Wesen der Wahrheit nicht gemaís
conforme a esséncia da verdade que brilha na palavra
40 bleibt und ihr Wissen und Sagen vom Wesen der Wahrheit
aletheia e no fato de que o seu saber e o seu falar da
mehr und mehr in die Erórterung eines abgeleiteten Wesens
esséncia da verdade mais e mais precisem mudar para
der Wahrheit verlegen muís, Das Wesen der Wahrheit als
a discussáo de urna essencia da verdade derivada. A es-
<XA~Si:ota bleibt im Denken der Griechen und erst recht
séncia da verdade como aletheia permanece impensada
in der nachkammenden Philosophie ungedacht. Die
no pensamento dos gregos e com maior razáo na filo-
Unverbargenheit ist fur das Denken das Verbargenste im
sofia posterior. O desvelamento é para o pensamento o
griechischen Dasein, aber zugleich das van früh an alles
mais velado na existencia grega, mas, ao mesmo tempo,
Anwesen des Anwesenden Bestimmende.
desde cedo, o determinante do que se presentifica em
Dach warum lassen wir es nicht bei dem Wesen
toda presenc;:a.
der Wahrheit bewenden, das uns inzwischen se it §99 - Porém, por que nao nos damos por satisfeitos
Jahrhunderten vertraut ist? Wahrheit bedeutet heute coma esséncia da verdade que, entretanto, há séculos
und seit langem die Übereinstimmung der Erkenntnis nos é familiar? Verdade significa hojee há muito tempo
128 MARTIN HEIDEGGER A OIUGEM DA OBRA DE ARTE 1 129

mit der Sache. Damit jedoch das Erkennen und der a adequacáo do conhecimento a coisa. Contudo, para
die Erkenntnis ausformende und aussagende Satz que o conhecer e a proposicáo que forma e enuncia o
sich der Sache anmessen kann, damit demzuvor die conhecimento possa adequar-se a coisa, e para que, de
Sache selbst für den Satz verbindlich werden kann , acordo com isso, a própria coisa possa tornar-se ade-
m uf doch die Sache selbst sich als solche zeigen. quada a proposicáo, a própria coisa precisa mostrar-se
Wie soll sie sich zeigen, wenn sie selbst nicht aus der como tal. Como é que ela se <leve mostrar se ela própria
Verborgenheit herausstehen kann, wenn sie selbst nicht nao pode emergir a partir do velamen to, se ela própria
im Unverborgenen steht? Der Satz ist wahr, indem er nao permanece no desvelamento? A proposicáo é verda-
sich nach dem Unverborgenen, d. h. nach dem Wahren, deira no que ela se orienta pelo desvelamento, isto é,
richtet. Die Wahrheit des Satzes ist immer und immer nur pelo verdadeiro. A verdade da proposicáo é sempre e
diese Richtigkeit. Die kritischen Wahrheitsbegriffe, die sempre somente esta correcáo. Os conceitos críticos de
seit Descartes von der Wahrheit als Gewiísheit ausgehen, verdade que, desde Descartes, partem da verdade como
sind nur Abwandlungen der Bestimmung der Wahrheit certeza sao sornen te variacóes da determinacáo da ver-
als Richtigkeit. Dieses uns gelaufige Wesen der Wahrheit, dade como correcáo. Para nós, esta esséncia da verdade
die Richtigkeit des vorstellens, steht und fallt mit der corriqueira, a correcáo do representar, surge e desapa-
Wahrheit als Unverborgenheit des Seienden. rece frente a verdade como desvelamento do sendo.
Wenn wir hier und sonst die Wahrheit als Unverborgenheit §100-Quando aqui e em outros lugares compreen-
fassen, flüchten wir nicht nur zu einer wórtlicheren demos a verdade como desvelamento, nao nos refugia-
Übersetzung eines griechischen Wortes. Wir besinnen uns auf mos apenas numa traducáo mais literal de urna palavra
das, was dem uns gelaufigen und darum vernutzten Wesen grega. Refletimos sobre que elemento nao experien-
ciado e nao pensado pode subjazer a essa esséncia da
der Wahrheit im Sinne von Richtigkeit als Unerfahrenes und
verdade entendida enquanto correcáo, que nos é tao
Ungedachtes zugrunde liegt. Man bequemt sich bisweilen
familiar e, por isso, tao desgastada. Condescende-se,
zu dem Eingestandnis, daf wir natürlich, um die Richtigkeit
as vezes, com a constatacáo de que nós, naturalmente,
(Wahrheit) einer Aussage zu belegen und zu begreifen, auf
a fim de provar e conceber a correcáo (verdade) de
etwas zurückgehen muísten, was schon offenbar ist. Diese
urna afirrnacáo, ternos que recorrer a algo que já está
Voraussetzung sei in der Tat nicht zu umgehen. Solange wir
evidente. Este pressuposto, de fato, nao pode ser evi-
so reden und meinen, verstehen wir die Wahrheit immer nur
tado. Enguanto falamos e opinamos assim, sempre só
als Richtigkeit, die zwar noch einer Voraussetzung bedarf,
entenderemos a verdade como o que é correto e que,
die wir selbst - der Himmel mag wissen, wie und weshalb
de certo, ainda necessita de um pressuposto que nós
41 - nun einmal machen.
mesmos fazemos - sabe Deus como e por que razáo.
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 131
130 1

Aber nicht wir setzen die Unverborgenheit des Seienden §101-Contudo, nao somos nós que pressupomos o
voraus, sondern die Unverborgenheit des Seienden (das desvelamento do senda, masé o desvelamento do senda
Seinª) versetzt uns in ein solches Wesen, daf wir bei ( o ser (a)) que nos desloca para urna esséncia tal que,
unserem Vorstellen immer in die Unverborgenheit ein- em nosso representar, sempre permanecemos inseridos
und ihr nachgesetzt bleiben. Nicht nur das, wonach no interior do desvelamento e pospostos a ele. Nao
eine Erkenntnis sich richtet, muf schon irgendwie somente aqui o pelo queum conhecimento se regula tem
unverborgen sein, sondern auch der ganze Bereich, in que já estar de algum modo desvelado, mas também
todo o ámbito no qual se move este "regular-se por algo",
dem dieses »Sichrichten nach etwas« sich bewegt, und
e, do mesmo modo,já precisa ter lugar, como um todo
ebenso dasjenige, für das eine Anmessung des Satzes an
no desvelamento, aquilo para o que urna adequacáo da
die Sache offenbar wird, muf sich als Ganzes schon im
proposicáo a coisa se torna manifesta. Nao seríamos
Unverborgenen abspielen. Wir waren mit all unseren
nada com todas as nossas carretas representacóes,
richtigen Vorstellungen nichts, wir konnten auch nicht
também nao poderíamos nem mesmo pressupor que
einmal voraussetzen, es sei schon etwas, wonach wir uns
algo já es teja manifesto, pelo qual nós nos guiamos, se
richten, offenbar, wenn nicht die Unverborgenheit des
o desvelamento do senda já nao se tivesse (b) exposto a
Seienden uns schon in jenes Gelichtete ausgesetzt hátte",
nós naquela clareira, na qual todo senda se expóe para
in das alles Seiende für uns hereinsteht und aus dem es
nós e da qual todo senda se retrai.
sich zurückzieht. §102 - Mas como isso se passa? Como acontece a
Aber wie geht das zu? Wie geschieht die Wahrheit als
verdade segundo este desvelamento? Contudo, antes,
diese Unverborgenheit? Doch zuvor ist noch deutlicher deve-se dizer ainda mais claramente o que propriamen-
zu sagen, was diese Unverborgenheit selbst ist. te é este desvelamento.
Die Dinge sind und die Menschen, Geschenke und § 103 -As coisas e os homens sao, dádivas e oferendas
Opfer sind, Tier und Pflanze sind, Zeug und Werk sind. sao, animal e planta sao, utensílio e obra sao. O senda
Das Seiende steht im Sein. Durch das Sein geht ein permanece no ser. Um velado destino perpassa através
verhülltes Verhangnis, das zwischen das Gotthafte und do ser, que se destina entre o divino e o contrário ao
das Widergóttliche verhangt ist. Vieles am Seienden divino. Muito há no senda que o homem nao pode
vermag der Mensch nicht zu bewaltigen. Weniges nur
wird erkannt. Das Bekannte bleibt ein Ungefahres, das
§101 (a) Edicáo Reclam de 1960: Quer dizer o acontecimento
Reclam-Ausgabe 1960: d. h. das Ereignis.
ª poético-apropriante.
b Reclam-Ausgabe 1960: wenn rucht Lichtung geschahe, d. h.
§101 (b) Edicáo Reclam de 1960: Se nao acontecesse clareira, quer
dizer, acontecer poético-apropriante.
Er-eignen.
132 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 133

Gemeisterte ein Unsicheres. Niemals ist das Seiende, wie dominar. Somente pouco se torna conhecido. O co-
es allzuleicht scheinen móchte , unser Gernachte oder nhecido permanece algo de aproximado e o dominado
gar nur unsere Vorstellung. Bedenken wir dies Ganze um incerto. Como muito facilmente poderia parecer,
in Einem, dann fassen wir, so scheint es, alles, was o sendo nunca se encontra em nosso poder ou sequer
überhaupt ist, wenn wir es auch roh genug fassen. em nossa representacáo. Pensemos toda esta totalidade
Und dennoch: uber das Seiende hinaus, aber nicht numa unidade, entáo parece que assim apreendemos
von ihm weg, sondern vor ihm her, geschieht noch ein tudo que é em geral, quando nós também o apreen-
demos de modo bastante grosseiro.
Anderes". lnmitten des Seienden im Ganzen west eine
§104 - E, contudo: para além do sendo, mas nao
offene Stelle. Eine Lichtung ist. Sie ist, vom Seienden
distante dele, porém <liante dele, acontece ainda urna
her gedacht, seiender als das Seiende. Diese offene Mitte
outra coisa (c). No meio do sendo na sua totalidade
ist daher nicht vom Seienden umschlossen, sondern die
vige um lugar aberto. É urna clareira. Pensada a partir
lichtende Mitte selbst umkreist wie das Nichts, das wir do sendo, ela é mais sendo do que o sendo. Por isso
kaum kennen, alles Seiende. mesmo, este meio aberto nao está envolto pelo sendo,
Das Seiende kann als Seiendes nur sein, wenn es in mas é o próprio meio clareante que circunda todo
42 das Gelichtete dieser Lichtung herein- und hinaussteht. sendo como o Nada que mal conhecemos.
Nur diese Lichtung schenkt und verbürgt uns Menschen § 105 - O sendo só pode ser como sendo se ele no
einen Durchgang zum Seienden, das wir selbst nicht sind, claro desta clareira fica dentro e fica fora. Somente esta
und den Zugang zu dem Seienden, das wir selbst sind. clareira presenteia e garante a nós homens urna passagem
Dank dieser Lichtung ist das Seiende in gewissen und para o sendo que nós próprios nao somos bem como o
wechselnden Maísen unverborgen. Doch selbst verborgen acesso para o sendo que nós próprios somos. Cracas a
kann das Seiende nur im Spielraum des Gelichteten sein. esta clareira está o sendo desvelado em certa e mutável
Jegliches Seiende, das begegnet und mitgegnet, hált diese medida. Todavía, mesmo velado, o sendo apenas pode ser
seltsame Gegnerschaft des Anwesens inne , indem es no espac;o dejogo do clareado. Todo sendo, que vem ao
encontro e nos acompanha, submete-se a este estranho
sich zugleich immer in eine Verborgenheit zurückhalt.
antagonismo da presenc;a, na medida em que, ao mesmo
Die Lichtung, in die das Seiende hereinsteht, ist in sich
tempo, sempre se mantém retraído num velamento.
zugleich Verbergung. Verbergung aber waltet inmitten
A clareira na qual o sendo se desvela é, em- si e ao mesmo
des Seienden auf eine zwiefache Art.
tempo, velamento. Porém, o velamento vigora em meio
ao sendo de um modo duplo.

'3. Auflage 1957: Ereignis, §104 (e) 3ª. Edicáo de 1957: Acontecimento poético-apropriante.
134 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 135

Seiendes versagt sich uns bis auf jenes Eine und dem §106 - O sendo se nos recusa, exceto naquela uni-
Anschein nach Geringste, das wir am ehesten treffen, dade, em aparencia a mínima, que nós antes de tudo
wenn wir vom Seienden nur noch sagen kónnen, daís es encontramos quando do sendo somente ainda podemos
sei. Die Verbergung als Versagen ist nicht erst und nur die dizer: é. O velamento como recusar nao é sornen te e ape-
jedesmalige Grenze der Erkenntnis, sondern der Anfang nas o constante limite do conhecimento, porém, o come-
der Lichtung des Gelichteten. Aber Verbergung ist zugleich <,;o da clareira do clareado. Todavia, o velamen to também
auch, freilich von anderer Art , innerhalb des Gelichteten. é, ao mesmo tempo e de certo, de um outro tipo, no inte-
Seiendes schiebt sich vor Seiendes, das eine verschleiert rior do clareado. O sendo se esgueira <liante do sendo, um
das ande re, j enes verdunkelt dieses, weniges verbau t vieles, encobre o outro, aquele obscurece a este, pouco obstrui
vereinzeltes verleugnet alles. Hier ist das Verbergen nicht muito, o isolado desmente o todo. Aqui o velar nao é
jenes einfache Versagen, sondern: das Seiende erscheint aquele simples recusar, porém, o sendo aparece realmen-
zwar, aber es gibt sich anders, als es ist. te, mas ele se dá como algo diferente do que ele é.
Dieses Verbergen ist das Verstellen. Würde Seiendes §107 - Este velaré o dissimular. Caso o sendo nao
nicht Seiendes verstellen, dann konnten wir uns am dissimulasse o sendo, entáo nós nao poderíamos, em
Seienden nicht versehen und vertun, wir kónnten uns nicht relacáo ao sendo, nos engarrar e nos equivocar, nao nos
verlaufen und vergehen und vollends uns nie vermessen. poderíamos desorientar e nos perder, e, de todo, nunca
Da!S das Seiende als Schein trügen kann, ist die Bedingung nos enganarmos na medida. Que o sendo possa iludir
dafur, daf wir uns tauschen konnen, nicht umgekehrt. como aparencia é a condicáo para que possamos nos
Die Verbergung kann ein Versagen sein oder nur engarrar, nao o inverso.
§108- O velamento pode ser um recusar ou apenas
ein Verstellen. Wir haben nie geradezu die Gewi!Sheit,
um dissimular. Nunca ternos exatamente a certeza se ele
ob sie das eine oder das andere ist. Das Verbergen verbirgt
é um ou outro. O velar vela e se dissimula a si mesmo.
und verstellt sich selbst. Das sagt: Die offene Stelle
Isto quer dizer: o lugar aberto no meio do sendo, a cla-
inmitten des Seienden, die Lichtung, ist niemals eine
reira,jamais é palco fixo com cortina aberta sobre o qual
starre Buhne mit standig aufgezogenem Vorhang, auf
se encene o jogo do sendo. A clareira acontece muito
der sich das Spiel des Seienden abspielt. Vielmehr
mais apenas como este duplo velar. O desvelamento do
geschieht die Lichtung nur als dieses zwiefache
sendo nunca é, apenas, um estado existente, porém, um
Verbergen. Unverborgenheit des Seienden, das ist nie
acontecimento (a). O desvelamento (verdade) nao é
ein nur vorhandener Zustand, sondern ein Geschehnisª.

§108 (a) Primeira Edicáo de 1950: Acontecimento poético-apro-


'l. Auflage 1950: Ereígnís,
priante.
136 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 137

Unverborgenheit (Wahrheit) ist weder eine Eigenschaft nem urna propriedade das coisas, no sentido do sendo,
der Sachen im Sinne des Seienden, noch eine solche der nem urna propriedade das proposicóes.
Satze. §109 - Na ambiéncia mais próxima do sendo acredita-
43 Im nachsten Umkreis des Seienden glauben wir uns mos estar em casa. O sendo é familiar, confiável, seguro.
heimisch. Das Seiende ist vertraut, verlaíslích, geheuer. Nao obstante, um constante velar no duplo aspecto do
Gleichwohl zieht durch die Lichtung ein standiges recusar e do dissimular perpassa a clareira. O seguro é no
Verbergen in der Doppelgestalt des Versagens und des fundo nao seguro; é nao-seguro. A esséncia da verdade,
Verstellens. Das Geheure ist im Grunde nicht geheuer; isto é, do desvelamento, é regida internamente por urna
es ist un-geheuer. Das Wesen der Wahrheit, d. h. denegacáo. Contudo, este denegar-se nao é nenhuma
der Unverborgenheit, wird van einer Verweigerung falha ou defeito como se a verdade fosse puro desvela-
men to que se livrou de todo velado. Pudesse ela ser isso,
durchwaltet. Dieses Verweigern ist jedoch kein Mangel
entáo nao seria mais ela própria. Á. esséncia da oerdade
und Fehler, als sei die Wahrheit eitel Unverborgenheit,
como desvelamento pertence este denegar no modo do duplo velar.
die sich alles Verborgenen entledigt hat. Kcnnte sie
A verdad e é em sua esséncia nao-verdad e. Diz-se isso
dieses, dann ware sie nicht mehr sie selbst. Zum Wesen der
assim para demonstrar numa agudeza talvez estranhável
Wahrheit als der Unverborgenheit gehórt dieses Verweigern
que ao desvelarnento como clareira pertence o denegar
in der Weise des zwiefachen Verbergens. Die Wahrheit ist
no modo do velar. A proposicáo: a essencia da verdade é
in ihrem Wesen Un-wahrheit. So sei es gesagt, urn in
a náo-verdade nao deve, em relacáo aoque afirma, dizer
einer vielleicht befremdlichen Scharfe anzuzeigen, daE,
que a verdade no fundo seja falsidade. Tampouco a pro-
zur Unverborgenheit als Lichtung das Verweigern in der
posicáo significa que a verdade nunca seja ela mesma,
Weise des Verbergens gehórt. Der Satz: Das Wesen der
mas, sim, diz, representada dialeticamente, que sempre
Wahrheit ist die Un-wahrheit, soll dagegen nicht sagen, die
seja também o seu contrário.
Wahrheit sei im Grunde Falschheit. Ebensowenig meint § 11 O - A verdad e vigora como ela própria, na
der Satz, die Wahrheit sei niemals sie selbst, sondern sei, medida em que o denegar velante, como recusar, atribui
dialektisch vorgestellt, immer auch ihr Gegenteil. antes de tudo a toda clareira a constante provenien-
Die Wahrheit west als sie selbst, sofern das cia. Todavía, como dissimular, atribui a toda clareira a
verbergende Verweigern als Versagen erst aller Lichtung nao negligenciável agudeza do equívoco. Junto com
die staridige Herkunft, als Verstellen jedoch aller o denegar velante deve, na esséncia da verdade, ser
Lichtung die unnachlaísliche Sch árfe der Beirrung nomeada aquela mútua oposicáo que há entre a clareira
Zumijít. Mi.t dem verbergenden Verweigern soll im e o velamento na esséncia da verdade. É o enfrenta-
Wesen der Wahrheit jenes Gegenwendige genannt mento da disputa originária. A esséncia da verdade é,
138 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 139

sein, das im Wesen der Wahrheit zwischen Lichtung em si mesma, a disputa originária (a), na qual é con-
und Verbergung besteht. Es ist das Gegeneinander des quistado aquele meio aberto, dentro do qual o sen-
ursprünglichen Streites. Das Wesen der Wahrheit ist in do vem se situar e do qual o sendo se retira para si
sich selbst der Urstreitª, in dem jene offene Mitte erstritten mesmo.
wird, in die das Seiende hereinsteht und aus der es sich §111 - Este aberto acontece no meio do sendo.
in sich selbst zurückstellt. Mostra um traco essencial que já nomeamos. Ao aber-
Dieses Offene geschieht inmitten des Seienden. Es zeigt to pertence um Mundo e a Terra. Mas o Mundo nao é
einen Wesenszug, den wir schon nannten. Zum Offenen simplesmente o aberto que corresponde a clareira e a
gehort eine Welt und die Erde. Aber die Welt ist nicht Terra nao é o fechado que corresponde ao velamento.
einfach das Offene, was der Lichtung, die Erde ist nicht das O Mundo é muito mais a clareira das vías das indicacóes
Verschlossene, was der Verbergung entspricht. Vielmehr essenciais, as quais se conforma todo decidir. No entan-
ist die Welt die Lichtung der Bahnen der wesentlichen to, cada decisáo se fundamenta num nao-dominado,
44 Weisungen, in die sich alles Entscheiden fügt. Jede encoberto, equivocado, senáo nao seria nunca decisáo.
Entscheidung aber gründet sich auf ein Nichtbewáltígtes, A Terra nao é simplesmente o fechado, mas, sim, o que
Verborgenes, Beirrendes, sonst ware sie nie Entscheidung. se abre como o que se fecha em si. Mundo e Terra sao
Die Erde ist nicht einfach das Verschlossene, sondern em si, de acordo com sua esséncia, disputantes e capazes
das, was als Sichverschliefsendes aufgeht. Welt und Erde de disputa. Somente como tais eles entram na disputa
sind je in sich ihrem Wesen nach streitig und streitbar. da clareira e do velamento.
Nur als diese treten sie in den Streit der Lichtung und §112 - Só através do Mundo é que a Terra irrompe.
Verbergung. O Mundo só se fundamenta sobre a Terra na medida
Erde durchragt nur die Welt, Welt gründet sich nur auf em que a verdade acontece como disputa originária
die Erde, sofern die Wahrheit als der Urstreit von Lichtung entre clareira e velamento. Porém, como acontece a
und Verbergung geschieht. Aber wie geschieht Wahrheit? verdade? Nós respondemos (b): Ela acontece em pou-
Wir antworten": sie geschieht in wenigen wesentlichen cos modos essenciais. U m desses modos como a verdade
acontece é o ser-obra da obra. Instalando um Mundo e
Weisen. Eine dieser Weisen, wie Wahrheit geschieht, ist das
elaborando a Terra, a obra é o embate daquela disputa,
Werksein des Werkes. Aufstellend eine Welt und herstellend
die Erde ist das Werk die Bestreitungjenes Streites, im dem
§110 (a) Edicáo Reclam de 1960: Acontecimento poético-apropriante,
'Reclam-Ausgabe 1960: Ereignis. §112 (b) Edicáo Reclam de 1960: Nao há nen huma resposta, pois
b Reclam-Ausgabe 1960: Keine Antwort, clenn die frage bleibt: Was ist a pergunta permanece: o que é isto o que acontece nos diferentes
dies, was in Weisen geschieht? modos?
140 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 i-n

die Unverborgenheit des Seienden i m Ganzen, die na qual se conquista o desvelamento do sen do no todo,
Wahrheit, erstritten wird. isto é, a verdade.
Im Dastehen des Tempels geschieht die Wahrheit. §113 - No permanecer aí do templo acontece a ver-
Dies meint nicht, hier werde etwas richtig dargestellt und dade. Isto nao significa que aqui algo seja corretament
wiedergegeben, sondern das Seiende im Ganzen wird apresentado e reproduzido, mas que o sendo no todo
in die unverborgenheit gebracht und in ihr gehalten. seja trazido ao desvelamento e nele mantido. Manter
Halten heifst ursprünglich hüten Im Gernáld« van significa guardar originariamente. No quadro de van
Goghs geschieht die Wahrheit. Das meint nicht, hier Gogh acontece a verdade. Isso nao significa que aqui
werde etwas Vorhandenes richtig abgemalt, sondern algo existente tenha sido reproduzido corretamente,
im Offenbarwerden des Zeugseins des Schuhzeuges mas, sim, no processo de manifestacáo do ser-utensilio
gelangt das Seiende im Ganzen, Welt und Erde in ihrem do utensílio-sapatos, o sendo no todo, Mundo e Terra
Widerspiel, in die Unverborgenheit. no seu jogo de oposicóes, chega ao desvelarnento.
Im Werk ist die Wahrheit am Werk, also nicht nur §114 - Na obra está a verdade em obra, portanto,
ein Wahres. Das Bild, das die Bauernschuhe zeigt, das nao apenas algo verdadeiro. O quadro que mostraos
Gedicht, das den rómischen Brunnen sagt, bekunden sapatos do camponés, o poema que diz inauguralmente
nicht nur, was dieses vereinzelte Seiende als dieses sei, a fonte romana manifestam nao somente o que este
sendo isolado é como este sendo, caso eles manifestem,
falls sie je bekunden, sondern sie lassen Unverborgenheit
mas deixam acontecer (a) o desvelamento como tal em
als solche im Bezug auf das Seiende im Ganzen geschehenª.
referencia ao sendo no todo. Quanto mais simples e
Je einfacher und wesentlicher nur das Schuhzeug, je
mais essencialmen te apare~a o par de sapa tos apenas
ungeschmückter und reiner nur der Brunnen in ihrem
em sua esséncia, quanto mais sem adornos e mais pura
Wesen aufgehen, um so unmittelbarer und einnehmender
apare<;:a a fonte apenas em sua essencia, tanto mais ime-
wird mit ihnen alles Seiende seiender. Dergestalt ist das
diata e mais abrangentemente se torna, com eles, todo
sichverbergende Sein gelichtet. Das so geartete Licht fügt
sendo mais sendo. Dessa forma, o ser que se vela é ilu-
sein Scheinen ins Werk Das ins Werk gefügte Scheinen
minado. A luz, assim configurada, dispóe seu aparecer
ist das Schórie. Schónheit ist eine Weise, wie Wahrheit als
brilhando na obra. O aparecer brilhante, disposto na
Unverborgenheit west.
obra, é obelo. A beleza é um modo como a verdade vigora
enquanto desoelamento.

§114 (a) Edicáo Reclam de 1960: acontecirnento poético-apro-


d Reclam-Ausgabe 1960: Ereignis.
priante.
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 143
142 1 1

Zwar ist jetzt das Wesen der Wahrheit nach einigen §115 - De certo, em alguns aspectos, a esséncia da
Hinsichten deutlicher gefaík Demzufolge mag klarer verdade está agora mais claramente apreendida. Em
geworden sein, was im Werk am Werke ist. Allein, das conseqüéncia disso, o que na obra está em obra pode
45 jetzt sichtbare Werksein des Werkes sagt uns immer noch ter ficado mais claro. Acontece que o ser-obra da obra,
nichts uber die nachste und aufdringhche Wirklichkeit agora visível, ainda nao nos diz nada sobre a realidade
des Werkes, über das Dinghafte am Werk. Fast scheint es vigente mais próxima da obra e o que mais se impóe
sogar, als hatten wir in der ausschliefslichen Absicht, das na obra, o caráter de coisa da obra. Com o propósito
Insichstehen des Werkes selbst moglíchst rein zu fassen, exclusivo de apreender do modo mais puro o perma-
darüber das Eine vollig übersehen, daís ein Werk immer necer-em-si da obra, até quase parece que nisso nao nos
tenhamos dado conta de que urna obra é sempre urna
ein Werk, das will doch sagen, ein Gewirktes ist. Wenn
obra, isto quer dizer, algo realizado. Se algo distingue
etwas das Werk als Werk auszeichnet, dann gilt dies vom
a obra como obra entáo isso diz respeito ao ser-criado
Geschaffensein des Werkes. Insofern das Werk geschaffen
da obra. Na medida em que a obra é criada e a criacáo
wird und das Schaffen eines Mediums bedarf, aus dem
necessita de um meio a partir do qual e no qual se cría,
und in dem es schafft, kommt auch jenes Dinghafte ins
vem também a fazer parte da obra aquele caráter de
Werk. Das ist unbestreitbar. Allein, die Frage bleibt doch:
coisa. Isto é indiscutível. Porém, resta a questáo: Como
wie gehort das Geschaffensein zum Werk? Dies la~t sich
pertence o ser-criado a obra? Isto só se deixa esclarecer
nur aufhellen, wenn ein Doppeltes geklart ist:
se duas coisas ficarem claras:
1. Was heifst hier Geschaffensein und Schaffen im
l. O que quer dizer aqui ser-criado e criar em distin-
Unterschied zum verfertigen und Angefertigtsein? cáo ao fabricar e ao ser algo fabricado?
2. Welches ist das innerste Wesen des Werkes selbst,
2. Qual é a esséncia mais íntima da própria obra, a
daraus allein erst sich ermessen Iaíst , inwiefern das partir da qual somente se deixa medir até que ponto o
Geschaffensein ihm zugehórt und inwieweit dieses das ser-criado lhe pertence e até que medida este determina
Werksein des Werkes bestimmt? o ser-obra da obra?
Schaffen ist hier immer in Beziehung auf das Werk §116 - Criaré aqui pensado sempre em relacáo a
gedacht. Zum Wesen des Werkes gehórt das Geschehen obra. O acontecer da verdade pertence a esséncia da
der Wahrheit. Das Wesen des Schaffens bestimmen obra. De antemáo, determinamos a esséncia do criar
wir im vorhinein aus seinem Bezug zum Wesen der a partir da sua referencia a esséncia da verdade, como
Wahrheit als der Unverborgenheit des Seienden. Die desvelamento do sendo. O pertencimento do ser-criado
Zugehórigkeit des Geschaffenseins zum Werk kann a obra pode sornen te ser elucidado a partir de urna cla-
nur aus einer noch ursprünglicheren Aufhellung des rificacáo ainda mais originária da esséncia da verdade.
144 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 145

Wesens der Wahrheit ins Licht gestellt werden. Die Frage A pergunta pela verdade e por sua esséncia retorna.
nach der Wahrheit und ihrem Wesen kehrt wieder. §117 - Precisamos fazer a pergunta mais urna vez,
Wir müssen sie noch einmal fragen, wenn der Satz, para que a proposicáo, na obra a verdade está em obra,
im Werk sei die Wahrheit am Werke, keine blofse nao permanec,:a urna mera afirrnacáo.
Behauptung bleiben soll. §118 - Entáo, precisamos agora perguntar mais
Wir müssen jetzt erst wesentlicher fragen: inwiefern essencialmente: Até que ponto há, na esséncia da ver-
liegt im Wesen der Wahrheit ein Zug zu dergleichen wie dade, um impulso para algo assim como urna obra? De
einem Werk? Welchen Wesens ist die Wahrheit, daf sie que esséncia é a verdade para que possa ser posta na
ins Werk gesetzt werden kann oder unter bestimmten obra ou, em determinadas condicóes, até tenha que ser
Bedingungen sogar ins Werk gesetzt werden muís. um posta na obra, para que seja como verdade? O pór-em-
als Wahrheit zu sein? Das Ins-Werk-Setzen der Wahrheit -obra da verdade nós determinamos, contudo, como a
46 bestimmten wir jedoch als das Wesen der Kunst. Die essencia da arte. Por isso, a pergunta posta por último
zuletzt gestellte Frage lautet daher: diz o seguinte:
Was ist die Wahrheit, daf sie als Kunst geschehen kann § 119 - O que é a verdad e para que ela possa e até
oder sogar geschehen muís? Inwiefern gibt es die Kunst? tenha que acontecer como arte? Até que ponto dá-se
a arte?
A verdade e a arte
Die Wahrheit und die Kunst

§120-0 originário da obra de arte e do artistaé a arte.


Der Ursprung des Kunstwerkes und des Künstlers
O originário é a proveniencia da esséncia em que vige o
ist die Kunst. Der Ursprung ist die Herkunft des
ser de um senda. O que é a arte? Nós procuramos sua
Wesens, worin das Sein eines Seienden west. Was ist die
esséncia na obra real. A realidade vigente da obra deter-
Kunst? Wir suchen ihr Wesen im wirklichen Werk. Die
mina-se a partir do que na obra está em obra, a partir
Wirklichkeit des Werkes bestimmte sich aus dem, was
do acontecer da verdade. Pensamos este acontecimento
im Werk am Werk ist, aus dem Geschehen der Wahrheit.
como o disputar da disputa entre Mundo e Terra. No
Dieses Geschehnis denken wir als die Bestreitung des
movimento concentrador des te disputar vige o repouso.
Streites zwischen Welt und Erde. In der gesammelten
Aquí se fundamenta o repousar-em-si da obra.
Bewegnis dieses Bestreitens west die Ruhe. Hier gründet §121-Na obra o acontecimento da verdade está em
das Insichruhen des Werkes. obra. Mas o que assim opera está, contudo, na obra.
Im Werk ist das Geschehnis der Wahrheit am Por conseqüéncia já se pressupóe aquí a obra real vi-
Werk. Aber was so am Werk ist, ist es doch im Werk. gente como a portadora daquele acontecer. Do mesmo
146 MARTIN HEIDEGGER A ORTCEM DA OBRA DE ARTE
1 1 147

Demnach wird hier schon das wirkliche Werk als der Tráger modo se póe, de novo, <liante de nós a pergunta por
jenes Geschehens vorausgesetzt. Sogleich steht wieder die aquele caráter de coisa da obra existente. Finalmen-
Frage nach jenern Dinghaften des vorhandenen Werkes te, há algo que se torna claro: Por mais que insista-
vor uns. So wird denn endlich dies eine klar: Wir mogen mos em perguntar pelo permanecer-em-si da obra,
dem lnsichstehen des Werkes noch so eifrig nachfragen, fracassaremos, do mesmo modo em relacáo a sua
wir verfehlen gleichwohl seine Wirklichkeit, solange wir realidade vigente, enguanto nao formas capazes de,
uns nicht dazu verstehen, das Werk als ein Gewirktes para compreender isso, conceber a obra como algo
zu nehmen. Es so zu nehmen, liegt am nachsten; denn realizado. Concebé-la assim é o mais natural, pois na
im Wort Werk hóren wir das Gewirkte. Das Werkhafte palavra obra [ Werk] ressoa o realizado [ das Gewirkte] *.
des Werkes besteht in seinem Geschaffensein durch den O caráter de obra da obra consiste em seu ser-criado
Künstler. Es mag verwunderlich scheinen, daf diese através do artista. Pode parecer estranho que esta
nachstliegende und alles klareride Bestimmung des deterrninacáo da obra, que é a que mais importa e que
Werkes erst jetzt genannt wird. é de tudo esclarecedora, só agora seja nomeada.
Das Geschaffensein des Werkes laF..t sich aber offenbar §122-Porém, manifestamente, o ser-criado da obra
nur aus dem Vorgang des Schaffens begreifen. So müssen só se deixa apreender a partir do processo do criar.
wir uns unter dem Zwang der Sache doch dazu verstehen, Assim, por forca disto que está em causa e para compre-
auf die Tatigkeit des Künstlers einzugehen, um den ende-lo, ternos que nos introduzir na atividade do artista
Ursprung des Kunstwerkes zu treffen. Der Versuch, para encontrar o originário da obra de arte. A tentativa 1
,1
de determinar o ser-obra (a) da obra, puramente a
das Werkseinª des Werkes rein aus diesem selbst zu
partir dela própria, demonstra-se inexeqüível.
bestimmen, erweist sich als undurchführbar.
§123- Se agora nos desviamos da obra e nos ocupa-
Wenn wir uns jetzt vom Werk abkehren und dem Wesen
mos da esséncia do criar, ainda assim queremos ter em
des Schaffens nachgehen, so mochten wir doch jenes im
mente aquilo que anteriormente foi dito em relacáo ao
47 Wissen behalten, was zuerst vom Bild der Bauernschuhe
quadro dos sapatos do camponés e depois em relacáo
und dann vom griechischen Tempel gesagt wurde.
ao templo grego.
Das Schaffen denken wir als ein Hervorbringen.
§ 124 - Pensamos o criar como um pro-duzir. Mas um
Aber ein Hervorbringen ist auch die Anfertigung von
pro-duzir é também a fabricacáo do utensilio. A obra
Zeug. Das Handwerk, merkwürdiges Spiel der Sprache,
*Em alernáo, as palavras obra ( Werk) e o realizado ( Gewirkte) térn
o mesmo radical: unrken: o viger da realidade. (N. 7:)
'Reclam-Ausgabe 1960: Was heiE.t »Werksein-c? Mehrdeutig. §122 (a) Edicáo Reclam de 1960: O que quer dizer 'ser-obra'?
Ambíguo.
148 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 149

schafft freilich keine Werke, auch dann nicht, wenn wir manual, curioso jogo da linguagem, certamente nao
das handwerkliche Erzeugnis, wie es nótíg ist, gegen die cria nenhuma obra nem mesmo quando distinguimos,
Fabrikware abheben. Wodurch unterscheidet sich aber como é necessário fazé-lo, o produto manual dos artigas
das Hervorbringen als Schaffen vom Hervorbringen in fabricados. Porém, no que se diferencia o pro-duzir
der Wehe der Anfertigung? So leicht wir dem Wortlaut como criar do pro-duzir ao modo da fabricacáo? Ver-
nach das Schaffen von Werken und das Anfertigen von balmente, quanto mais facilmente distinguimos o criar
Zeug auseinanderhalten, so schwer ist es, beide Weisen das obras e a fabricacáo do utensilio, tanto mais é difícil
des Hervorbringens je in ihren eigenen Wesenszügen zu de seguir a ambos os modos de pro-duzir em suas res-
verfolgen. Dem nachsten Anschein folgend, finden wir in der pectivas características essenciais. Seguindo a aparencia
Tatigkeit des Topfers und des Bildhauers, des Schreiners und mais imediata, encontramos o mesmo procedimento
des Malers dasselbe Verhalten. Das Werkschaffen verlangt aus na atividade do oleiro e do escultor, do marceneiro e
sich das handwerkliche Tun. Die groísen Künstler schatzen do pintor. Por si mesmo, o criar a obra exige o fazer
das handwerkliche Konnen am hochsten. Sie zuerst fordern manual. Os grandes artistas valorizam ao máximo a
capacidade manual. Com base no domínio pleno, sao
seine sorgfaltige Pflege aus der vollen Beherrschung. Sie vor
os primeiros a exigirem o seu cultivo cuidadoso. Eles,
allen anderen múhen sich um die stets neue Durchbildung
mais do que ninguém, se esforcam sempre pela forma-
im Handwerk, 0ft genug hat man schon darauf hingewiesen,
cáo continuada no fazer artesanal.Já repetidas vezes se
daf die Griechen, die von Werken der Kunst einiges
salientou que os gregos, que entendiam algo das obras
verstanden, dasselbe Wort -céxv11 fur Handwerk und Kunst
de arte, usam a mesma palavra techné para fazer artesanal
gebrauchen und den Handwerker und den Künstler mit
e para arte, e denominam o artesáo e o artista com a
dem selben Namen 'tf.XVÍ'tll~ benennen.
mesmo nome: technités.
Deshalb scheint es geraten, das Wesen des Schaffens
§ 125 - Por isso, parece aconselhável, para determi-
von seiner handwerklichen Seite her zu bestimmen.
nar a esséncia do criar, partir do seu lado artesanal.
Allein, der Hinweis auf den Sprachgebrauch der
Acontece que a referencia ao uso da linguagem dos
Griechen, der ihre Erfahrung der Sache nennt, muf uns gregos, que nomeia a sua experienciacáo do que está
nachdenklich machen. So üblich und so einleuchtend em causa, deve nos fazer pensar. Por mais habitual
der Hinweis auf die von den Griechen gepflogene e esclarecedora que possa ser a alusáo a nomeacáo,
Benennung von Handwerk und Kunst mit demselben cultivada pelos gregos, da obra artesanal e da arte com
Wort -céxv11 auch sein mag, er bleibt doch schief und a mesma palavra techné, ela continua, contudo, equí-
oberflachlich; denn -céxv11 bedeutet weder Handwerk voca e superficial; pois techné nao significa, nem obra
noch Kunst und vollends nicht das Technische im manual, nem arte, e de maneira alguma a técnica no

f}f.~1·-i:.. [~CS~::).tU)E
f[f)EitA.t [YJ fi-J.~..~.
E§B.Lt()TECJ\ CE~ rrrt~L
1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 151
150 1

heutigen Sinne , meint uberhaupt niemals eine Art von sentido moderno, nem significa, em geral, um modo
praktischer Leistung. de desempenho prático.
Das Wort 'tÉXVTJ nennt vielmehr eine Weise des Wissens. §126 - A palavra techné nomeia, muito mais, um
Wissen heiE.t: gesehen ha ben, in dem weiten · Sinne von modo de saber. Chama-se saber: o ter visto, no senti-
48 sehen, der besagt: vernehmen des Anwesenden als eines do amplo de ver, o qual significa: perceber o que se
solchen. Das Wesen des Wissens beruht fur das griechische presentifica como um tal. A esséncia do saber repousa,
Denken in der a,11,1í9em, d. h. in der Entbergung des para o pensar grego, na aletheia, isto é, na revelacáo do
sendo. Ela porta e guia toda relacáo para como sendo.
Seienden. Sie tragt und leitet jedes Verhalten zum Seienden.
Como saber experienciado pelo gregos, a techné é um
Die 'tÉXVTJ ist als griechisch erfahrenes Wissen insofern
pro-duzir do sendo, na medida em que ela o traz para
ein Hervorbringen des Seienden, als es das Anwesende
diante, isto é, ao desvelamento do aspecto que lhe é
als ein solches aus der Verborgenheit her eigens in die
próprio, como o que se presentifica enquanto tal, a
Unverborgenheit seines Aussehens vor bringt; 'tÉXVTJ
partir do velamen to. Techné nunca significa a atividade
bedeutet nie die Tatigkeit eines Machens.
de um fazer.
Der Künstler ist nicht deshalb ein 'teXVÍ 'tTJ~, weil er
§ 127 - Por isso, o artista nao é um technités pelo fato
auch ein Handwerker ist , sondern deshalb, weil sowohl
de ser também um artesáo, mas, sim, pelo fato de que
das Her-stellen von Werken als auch das Her-stellen
tanto o elaborar obras como também o elaborar utensí-
von Zeug in jenem Her-vor-bringen geschieht, das im
lios acontece naquele pro-duzir que, de anternáo, deixa
vorhinein das Seiende von seinem Aussehen her in sein vir para diante o sendo, para sua presen<;:a a partir do
Anwesen vor-kommen la~t. Dies alles geschieht jedoch seu aspecto. Contudo, tudo isso acontece em meio do
inmitten des eigenwüchsig aufgehenden Seienden, próprio auto-nascer do sendo da physis. A denominacáo
der cpúcn~. Die Benennung der Kunst als 'tÉXVll spricht da arte como techné de maneira alguma diz que o fazer
keineswegs dafür, daís das Tun des Künstlers vom do artista seja experienciado a partir do fazer manual.
Handwerklichen her erfahren wird. Was am Werkschaffen O que no criar a obra tem o aspecto de urna fabricacáo
wie handwerkliche Anfertigung aussieht, ist anderer Art. manual é de outro tipo. Este fazer está determinado pela
Dieses Tun wird vom Wesen des Schaffens bestimmt und e em consonancia com a esséncia do criar, e também
durchstimmt und bleibt in dieses auch einbehalten. permanece conservado nela.
An welchem Leitfaden, wenn nicht an dem des §128 - Em que diretriz senáo na da producáo ma-
Handwerkes, sallen wir dann das Wesen des Schaffens nual <levemos entáo pensar a esséncia do criar? Que
deriken? Wie anders als aus dem Hinblick auf das outro modo senáo tendo em vista aquilo que há para
Zuschaffende, auf das Werk? Obwohl das Werk erst im criar, a obra? Embora a obra somente se torne real no
152 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE
1 1 153

Vollzug des Schaffens wirklich wird und so in seiner con-sumar do criar e, assim, na sua realidade vigente
Wirklichkeit von diesem abhangt, wird das Wesen des dependa dele, a esséncia do criaré determinada pela
Schaffens vom Wesen des Werkes bestimmt. Wenngleich esséncia da obra. Se bem que o ser-criado da obra tenha
das Geschaffensein des Werkes zum Schaffen einen Bezug urna referencia ao criar, contudo, também o ser-criado
hat, so muf dennoch auch das Geschaffensein so wie das bem como o criar precisam ser determinados a partir
Schaffen aus dem Werksein des Werkes bestimmt werden. do ser-obra da obra. Agora nao nos podemos mais
Jetzt kann es uns auch nicht mehr verwundern, warum wir admirar porque nós, em primeiro lugar e por muito
zunachst und langehin nur vom Werk handelten, um erst tempo, só tratamos da obra, para somente por último
zuletzt das Geschaffensein in den Blick zu bringen. Wenn considerarmos o ser-criado. Se o ser-criado pertence tao
das Geschaffensein so wesentlich zum Werk gehórt, wie es essencialmente a obra, como também ressoa a partir da
palavra obra, entáo ternos que procurar compreender
auch aus dem Wort Werk herausklingt, dann mussen wir
ainda mais essencialmente o que até agora se deixou
das, was sich bisher als Werksein des Werkes bestimmen
determinar como ser-obra da obra.
lieri, noch wesentlicher zu verstehen suchen.
§ 129-A partir da consideracáo da delimitacáo essen-
Aus dem Hinblick auf die erreichte Wesensumgren-
cial da obra a que se chegou, de acordo com a qual, na
49 zung des Werkes, wonach im Werk das Geschehnis
obra, o acontecimento da verdade está em obra, pode-
der Wahrheit am Werke ist, konnen wir das Schaffen mos caracterizar o criar como o deixar emergir em algo
als das Hervorgehenlassen in ein Hervorgebrachtes de pro-duzido. O tornar-se obra da obra é um modo de
kennzeichnen. Das Werkwerden des Werkes ist eine acontecer e tornar-se da verdade, em cuja esséncia está
Weise des Werdens und Geschehens der Wahrheit. In tudo. Mas o que é a verdade para que precise acontecer
deren Wesen liegt alles. Aber was ist die Wahrheit, daís de modo semelhante a um algo criado? Até que ponto
sie in dergleichen wie einem Geschaffenen geschehen a verdade, do fundo da sua esséncia, tem um impulso
muís? Inwiefern hat die Wahrheit aus dem Grunde ihres para a obra? Isso se deixa compreender a partir da
Wesens einen Zug zum Werk? LaGit sich dies aus dem esséncia da verdade esclarecida até aqui?
bisher aufgehellten Wesen der Wahrheit begreifen7 §130 -A verdade é náo-verdade na medida em que
Die Wahrheit ist Un-Wahrheit, insofern zu ihr der lhe pertence o ámbito da proveniencia do ainda-náo-
Herkunftsbereich des Noch-nicht(des Un-) Entborgenen im ( do ruio-¡ revelado, no sentido do velamen to. Ao mesmo
Sinne der Verbergung gehort. In der Un-verborgenheit als tempo, no des-velamento como verdade vige o outro
Wahrheit west zugleich das andere »Un-« eines zwiefachen "nao" de um duplo vedar*. A verdade vige como tal na
Verwehrens. Die Wahrheit west als solche im Gegeneinander
'" ... duplo vedar". Entenda-se. O "velar" embora seja afirmacáo já
von Lichtung und zwiefacher Verbergung. Die Wahrheit traz em seu radical um "nao" (náo-verdade) , portanto, é um "vedar".
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 155
154 1

ist der Urstreit, in dem je in einer Weise das Offene oposicáo de clareira e duplo velamento. A verdade é
erstritten wird , in das alles hereinsteht und aus dem a disputa originário-inaugural na qual sempre de um
alles sich zuruckhalt, was als Seiendes sich zeigt und certo modo se conquista o aberto, no qual, tudo, que
como sendo se mostra e subtrai, se situa, e a partir do
entzieht. Wann und wie immer dieser Streit ausbricht
qual tudo se retrai. Quando e como esta disputa eclo-
und geschieht, durch ihn treten die Streitenden, Lichtung
da e aconteca, através dela os disputantes, clareira e
und Verbergung, auseinander. So wird das Offene des
velamento, caminham separados. Assim se conquista o
Streitraumes erstritten. Die Offenheit dieses Offenen, d. h.
aberto do espa<;:o da disputa. A abertura <leste aberto,
die Wahrheit, kann nur sein, was sie ist, namlich diese isto é, a verdade, só pode ser o que ela é, ou seja, esta
Offenheit, wenn sie sich und solange sie sich selbst in abertura, se ela e enquanto ela mesma, se dis-póe em
ihr Off enes einrichtet. Darum mu E, in diesem Offenen je seu aberto. Por isso, tem que haver sempre neste aberto
ein Seiendes sein, worin die Offenheit ihren Stand und um sendo, em que a abertura toma a sua posicáo e a
ihre Standigkeit nimmt. Indem die Offenheit das Offene sua constancia. No que a abertura ocupa o aberto, ela o
besetzt, halt sie dieses offen und aus. Setzen und Besetzen mantém e o sustenta. Por e ocupar sao aquí pensados,
sind hier uberall aus dem griechischen Sinn der 0Écrn; em geral, a partir do sentido grego de thesis, que diz um
gedacht, die ein Aufstellen im Unverborgenen meint. instalar no desvelado.
Mit dem Hinweis auf das Sicheinrichten der Offenheit §131 - Coma indicacáo em relacáo ao <lis-por-se da
in das Offene3 rúhrt das Denken an einen Bezirk, der hier abertura no aberto (a), o pensamento toca num domí-
noch nicht auseinandergelegt werden kann. Nur dieses sei nio que aquí ainda nao pode ser exposto. Seja apenas
angemerkt, daís, wenn das Wesen der Unverborgenheit observado isto: que se a esséncia do desvelamento do
des Seienden in irgendeiner Weise zum Sein selbst gehórt sen do de algum modo pertence ao próprio ser ( confira
( vgl. Sein und Zeit § 44), dieses aus seinem Wesen her Ser e Tempo, § 44), este é que deixa acontecer, a partir de
sua esséncia, o espa<;:o de jogo da abertura (a clareira
den Spielraum der Offenheit (die Lichtung des Da)
do "entre") e o introduz como tal, onde cada sendo
geschehen laE,t und ihn als solches einbringt, worin
eclode em seu modo.
jegliches Seiende in seiner Weise aufgeht.
Wahrheit geschieht nur so, daf sie in dem durch
Mas quando se torna verdade, aparece o outro "nao", <lito através
sie selbst sich offnenden Streit und Spielraum sich do prefixo "des-" (des-velamento/verdade). Como vemos ojogo da
verdade e náo-verdade se dá num " ... duplo vedar". Urna tensáo mis-
einrichtet. Weil die Wahrheit das Gegenwendige von teriosa onde o afirmar (des-velamento/verdade) se dá como negacáo
do velamento e onde o negar (velamento/náo-verdade) se dá como
afírmacáo e fonte originaria do des-velamento/verdade. (N. T)
=Reclam-Ausgabe 1960: Dazu die> ontologische Dillerenz-c, vgl. »Iden- §131 (a) Edicáo Reclam de 1960: Em relacáo a isso, a 'difererica
ff.
titát und Differenz«, S. 37 ontológica', compare "Identidade e diferenca", p. 37 e seguintes.
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 157
156 1

Lichtung und Verbergung ist, deshalb gehórt zu ihr § 132 -A verdad e acontece só no modo em que ela se
das, was hier die Einrichtung genannt sei.. Abe~ die dis-póe na disputa e no espa<;o de jogo que se abrem gra-
Wahrheit ist nicht zuvor irgendwo in den Sternen an cas a ela mesma. Porque a verdade é a mútua oposicáo
sich vorhanden, um sich dann nachtraglich sonstwo de clareira e velamento, por isso, lhe pertence aquilo
50 im Seienden unterzubringen. Dies ist schon deshalb que aqui é denominado a dis-posicáo. Porém, antes, a
unmoglich, weil doch erst die Offenheit des Seienden die verdade nao existe em si em algum lugar nas estrelas,
Móglichkeit eines Irgendwo und einer van Anwesendem para entáo posteriormente acomodar-se em outro lugar,
no sendo. Isso é já impossível, pelo fato de que somente
erfüllten Statte ergibt. Lichtung der Offenheit und
a abertura do ente dá a possibilidade de algum lugar
Einrichtung in das Offene gehóren zusammen. Sie sind
e de um lugar cheio de presen<;a. Clareira da abertura
dasselbe eine Wesen des Wahrheitsgeschehens. Dieses
e dis-posicáo no aberto se co-pertencern. Elas sao a
ist in mannigfaltigen Weisen geschichtlich.
mesma e única esséncia do acontecer da verdade. Este
Eine wesentliche Weise, wie die Wahrheit sich in dem
acontecer é histórico de múltiplas maneiras.
durch sie eroffneten Seienden einrichtet, ist das Sich-
§ 133 - U m modo essencial como a verdad e se dis-póe
ins-Werksetzen der Wahrheit. Eine andere Weise, wie
nesse sendo aberto gra<;as a ela mesma é o pór-se-em-obra
Wahrheit west, ist die staatgründende Tat. Wieder eine
da verdade. Um outro modo como a verdade vigora é a
andere Weise, wie Wahrheit zum Leuchten kornmt, ist
acáo que funda um Estado. Ainda um outro modo como
die Nahe dessen, was schlechthin nicht ein Seiendes ist , a verdade vem para o brilhar é a proximidade do que sim-
sondern das Seiendste des Seienden. Wieder eine andere plesmente nao é um sendo, mas o mais sendo do sendo.
Weise, wie Wahrheit sich gründet, ist das wesentliche Ainda um outro modo como a verdade se fundamenta
Opfer. Wieder eine andere Weise, wie Wahrheit wird , é o sacrificio essencial. Ainda um outro modo como a
ist das Fragen des Denkers, das als Denken des Seins verdade se torna verdade é o questionar do pensador
dieses in seiner Frag-würdigkeit nennt. Dagegen ist que, como o pensar do Ser, o nomeia no seu ser digno
die Wissenschaft kein ursprüngliches Geschehen der de questionamento. Em oposicáo a isso, a ciencia nao é
Wahrheit, sondern jeweils der Ausbau eines schon nenhum acontecer originário da verdade, mas sempre a
offenen Wahrheitsbereiches und zwar durch das Auffassen ampliacáo de um ámbito de verdade já aberto e, de certo,
und Begründen dessen, was in seinem Umkreis sich an através do compreender e fundamentar do que se mostra
moglíchem und notwendigem Richtigen zeigt. Wenn und na sua esfera como o correto possível e necessário. Quan-
sofern eine Wissenschaft uber das Richtige hinaus zu do e na medida em que urna ciencia vai mais além do
einer Wahrheit und d. h. zur wesentlichen Enthüllung corre to, para urna verdade, isto é, para o descobrimento
des Seienden als solchen kommt, ist sie Philosophie. essencial do sendo como tal, en tao ela é filosofia.
158 1 MARTIN HEIDEGGER A ORJGEM DA OBRA DE ARTE 1 159

Weil es zum Wesen der Wahrheit gehórt, sich in das §134 - Porque pertence a esséncia da verdade dis-
Seiende einzurichten, um so erst Wahrheit zu werden, -por-se no sendo para assim tornar-se verdade, por isso
deshalb liegt im Wesen der Wahrheit der Zug zum Werh está na esséncia da verdade o impulso para a obra como
als einer ausgezeichneten Móglichkeit der Wahrheit, urna notável possibilidade de a verdade ser, sendo ela
inmitten des Seienden selbst seiend zu sein. mesma no meio do sendo.
Die Einrichtung der Wahrheit ins Werk ist das §135-Adis-posi<;:ao da verdade na obra é o pro-duzir
Hervorbringen eines solchen Seienden, das vordem noch de um tal sendo, que antes disso ainda nao era e que
nicht war und nachmals nie mehr werden wird. Die depois nunca mais virá a ser. A pro-ducáo situa este
Hervorbringung stellt dieses Seiende dergestalt ins Offene, sendo no aberto de forma que o adveniente ilumine
daís das zu Bringende erst die Offenheit des Offenen lichtet, a abertura do aberto no qual ele se manifesta. Onde a
in das es hervorkommt. Wo die Hervorbringung eigens pro-ducáo propriamente traza abertura do sendo, isto
die Offenheit des Seienden, die Wahrheit, bringt, ist das é, a verdade, tal pro-duzido é urna obra. Tal pro-duzir é o
51 Hervorgebrachte ein Werk. Solches Hervorbringen ist das criar. O criar como esse trazer é antes um receber e um
Schaffen. Als dieses Bringen ist es eher ein Empfangen und tirar de, no ámbito da referencia ao desvelamento. Em
conseqüéncia disto, em que consiste o ser criado? Seja
Entnehmen innerhalb des Bezuges zur Unverborgenheit.
esclarecido através de duas determinacóes essenciais.
Worin besteht demzufolge dann das Geschaffensein? Es sei
§ 136 -A verdade encaminha-se para a obra. A verdade
durch zwei wesentliche Bestimmungen verdeutlicht.
vige somente como a disputa entre clareira e velamento
Die Wahrheit richtet sich ins Werk. Wahrheit west nur
na mútua oposicáo de Mundo e Terra. A verdade quer ser
als der Streit zwischen Lichtung und Verbergung in der
encaminhada para a obra como esta disputa de Mundo e
Gegenwendigkeit von Welt und Erde. Die Wahrheit will als
Terra. A disputa nao <leve ser suprimida em um sen do que
dieser Streit von Welt und Erde ins Werk gerichtet werden.
é propriamente pro-duzido para efetivá-la, também nao
Der Streit soll in einem eigens hervorzubringenden
<leve ser simplesmente acomodada nele, mas ser inaugu-
Seienden nicht behoben, auch nicht bloís untergebracht,
rada a partir <leste. Por isso, este sendo tem que ter em si
sondern aus diesem eroffnet werden. Dieses Seiende muf
os traeos essenciais da disputa. Na disputa é conquistada
daher in sich die Wesenszüge des Streites haben. In dem
a unidade de Mundo e Terra. No que um Mundo se abre,
Streit wird die Einheit von Welt und Erde erstritten. Indem ele situa para decisáo e para urna experiencia humano-
eine Welt sich offnet, stellt sie einem geschichtlichen -histórica: vitória e derrota, béncáo e maldicáo, domínio e
Menschentum Sieg und Niederlage, Segen und Fluch, escravidáo. O mundo que eclode traz para a manifestacáo
Herrschaft und Knechtschaft zur Entscheidung. Die o ainda nao-decidido e o sem medida, e, <leste modo, abre
aufgehende Welt bringt das noch Unentschiedene und a oculta necessidade de medida e decisáo.
160 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 161

Maíslose zum Vorschein und eróffnet so die verborgene §137 - Porém, a Terra comeca a erguer-se no que
Notwendigkeit von Maf und Entschiedenheit. · um Mundo se abre. Ela se mostra como a que tudo
lndem aber eine Welt sich offnet, kommt die Erde zum porta, como a que se abriga em sua lei e como a que
Ragen. Sie zeigt sich als das alles Tragende, als das in sein permanentemente se fecha-em-si. O Mundo exige a sua
Gesetz Geborgene und standig Síchverschlíeísende. Welt decisáo e medida, e deixa o sendo chegar ao aberto de
verlangt ihre Entschiedenheit und ihr Maf und laist das seus percursos. A Terra, elevando-se e portando, aspira
Seiende in das Offene ihrer Bahnen gelangen. Erde trachtet, a man ter-se fechada em si mesma e a confiar tudo a sua
tragend-aufragend sich verschlossen zu halten und alles lei. A disputa nao é nenhuma cisáo como um cindir de
ihrem Gesetz anzuvertrauen. Der Streit ist kein Riís als das urna mera fenda, mas, sim, a disputa é a intimidade do
co-pertencer-se dos combatentes. Este tracar-cisáo reú-
Aufreiísen einer bloísen Kluft, sondern der Streit ist die
ne rapidamente os oponentes mútuos na proveniencia
Innigkeit des Sichzugehórens der Streitenden. Dieser Rif
de sua unidade, a partir do fundamento único. Ele é
reiíst die Gegenwendigen in die Herkunft ihrer Einheit aus
traco-cisáo" fundamental. Ele é o cindir que traca os
dem einigen Grunde zusammen. Er ist Grundriís. Er ist
traeos fundamentais do eclodir da clareira do sendo.
Auf-riís, der die Grundzuge des Aufgehens der Lichtung
Tal tracar nao deixa que os oponentes mútuos se rom-
des Seienden zeichnet. Dieser Riis laíst die Gegenwendigen
pam, ele leva a mútua oposicáo de medida e limite a
nicht auseinanderbersten, er bringt das Gegenwendige von
unidade do contorno.
Maf und Grenze in den einigen Umriís.
§138 - A verdade só se dis-póe enquanto disputa
Die Wahrheit richtet sich als Streit in ein hervorzu-
em um sendo a ser pro-duzido, de tal maneira que a
bringendes Seiendes nur so ein, dais der Streit in diesem
disputa se abra neste sendo, ou seja, que o próprio
Seienden eroffnet, d. h. dieses selbst in den Rif gebracht sendo seja trazido para o tracar, Este configura numa
wird. Der Riis ist das einheitliche Gezüge von Aufrif und unidade o perfil e o plano fundamental, o recorte e
Grundnís, Durch-und Umnís. Die Wahrheit richtet sich o contorno. A verdade se dis-póe no sendo tao ver-
im Seienden ein, so zwar, dais dieses selbst das Offene dadeiramente que é o próprio sendo que ocupa o
52 der Wahrheit besetzt. Dieses Besetzen aber kann nur so aberto da verdade. Todavía, este ocupar pode sornen te
geschehen, dais sich das Hervorzubringende, der Riis, dem acontecer de modo que o que é para se pro-duzir, o
Sichverschlieísenden, das im Offenen ragt, anvertraut. Der tracar, se confie ao que se fecha e que se ergue no
Rif muis sich in die ziehende Schwere des Steins, in die aberto. O tracar precisa retirar-se no peso atrativo da
stumme Harte des Holzes, in die dunkle Glut der Farben pedra, na dureza muda da madeira, no fulgor sombrio
zurückstellen. Indem die Erde den Rif in sich zurücknimmt, das cores. No que a Terra retoma em si o tracar, este
wird der Rif erst in das Offene hergestellt und so in das é entáo elaborado no aberto e assim situado neste, ou
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 163
162 1 1

gestellt, d. h. gesetzt, was als SichverschlieBendes und seja, pos to naquilo que se ergue no aberto como aquilo
Behütendes ins Offene ragt. que se fecha e que abriga.
Der in den RiB gebrachte und so in die Erde zurückgestellte §139 - A disputa trazida ao tracar e <leste modo re-
und damit festgestellte Streit ist die Gestalt. Geschaffensein des situada na Terra e, com isso, estabelecida, é a figura.
Werkes heiíst: Festgestelltsein der Wahrheit in die Gestalt. Sie O ser-criado da obra significa: o ser-estabelecido da
ist das Gefüge, als welches der RiG sich fügt. Der gefügte RiB ist verdade na figura. Ela é a estrutura em que como tal
die Fuge des Scheinens der Wahrheit. Was hier Gestalt heif«, o tracar se dispóe. O tracar disposto é a dis-posicáo do
ist stets aus jenem Stellen und Ge-stell zu denken, als welches aparecer da verdade. O que aqui se chama figura é para
das Werk west, insofern es sich auf- und herstellt. pensar-se sempre a partir daquele situar e corn-posicáo
lm Werkschaffen muf der Streit als RiG in die em que, como tal, a obra vige, na medida em que se
instala e se elabora.
Erde zurückgestellt, die Erde selbst rrruf als das
§140 - Na criacáo da obra, a disputa tem que ser,
Sichverschlieísende hervorgestellt und gebraucht werden.
como tracar, retirada na Terra. A própria Terra tem que
Dieses Brauchen aber verbraucht und miísbraucht die Erde
ser apresentada e usada como a que se fecha. Contudo,
nicht als einen Stoff, sondern es befreit sie erst zu ihr selbst.
este usar nao desgasta nem faz mau uso da Terra como
Dieses Brauchen der Erde ist ein Werken mit ihr, das zwar
um material, mas um tal usar apenas a liberta para
so aussieht wie das handwerkliche Verwenden von Stoff.
si mesma. Este usar da Terra é um operar com ela.
Daher stammt der Anschein, das Werkschaffen sei auch
E, assim, de certo, se parece com a utilizacáo artesanal
handwerkliche Tatigkeit. Dies ist es niemals. Aber es bleibt
do material. Daí surge a aparencia de que a criacáo da
immer ein Brauchen der Erde im Feststellen der Wahrheit
obra seja também urna atividade artesanal. Esta ela nao
in die Gestalt. Dagegen ist die Anfertigung des Zeuges nie
é jamais. Porém, permanece sempre um usar a Terra no
unmittelbar die Erwirkung des Geschehens der Wahrheit. estabelecer da verdade na figura. Ao contrário, a fabri-
Fertigsein des Zeuges ist Geformtsein eines Stoffes und cacáo do utensílio nunca é imediatamente a realizacáo
zwar als Bereitstellung für den Gebrauch. Fertigsein des efetiva do acontecer da verdade. O ser-pronto de um
Zeuges heiíst, daf dieses uber sich selbst hinweg dahin utensílio significa o ser formado de um material e, como
entlassen ist, in der Dienlichkeit aufzugehen. algo, certamente preparado para o uso. O ser-pronto
Nicht so das Geschaffensein des Werkes. Das wird do utensílio significa que ele é enviado para além de si
deutlich aus dem zweiten Kennzeichen, das hier mesmo, para aí eclodir na serventia.
angeführt sein mag. §141 - Nao é assim o ser-criado da obra. Isto fica
Das Fertigsein des Zeuges und das Geschaffensein claro a partir da segunda caracterizacáo que aqui pode
des Werkes kommen miteinander darin überein, daís ser encaminhada.
164 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 165

sie ein Hervorgebrachtsein ausmachen. Aber das §142 - O ser-pronto do utensílio e o ser-criado da
Geschaffensein des Werkes hat gegenüber jeder anderen obra coincidem quanto ao fato de que eles constituem
Hervorbringung darin sein Besonderes, daf es in das um ser-pro-duzido. Mas o ser-criado da obra, em face
53 Geschaffene mit hineingeschaffen ist. Aber gilt solches de qualquer outra pro-ducáo, tem sua peculiaridade,
nicht von jedem Hervorgebrachten und irgendwie que ele no criado está dentro, junto com o criado.
Entstandenen? Jedem Hervorgebrachten ist , wenn Porém, isto nao vale para todo pro-duzido e para tudo
je etwas , doch das Hervorgebrachtsein mitgegeben. que de algum modo surgiu? Sim, a todo pro-duzido,
Gewiís, aber im Werk ist das Geschaffensein eigens in se é algo, está simultaneamente dado o ser-pro-duzido.
das Geschaffene hineingeschaffen, so daf es aus ihm, Certo. Porém, na obra, o ser-criado é propriamente
dem so Hervorgebrachten, eigens hervorragt. Wenn es so introduzido como criado no criado, de tal maneira
steht, dann müssen wir auch das Geschaffensein eigens que, a partir dele, ele sobressai de modo próprio no
am Werk erfahren konnen. assim pro-duzido. Quando posto desta maneira, tam-
Das Hervorkommen des Geschaffenseins aus dem Werk bém precisamos poder experienciar de modo próprio
meint nicht, am Werk soll merklich werden, daf es von o ser-criado na obra.
einem groísen Künstler gemacht sei. Das Geschaffene soll §143 - O aparecer do ser-criado, a partir da obra,
nicht als Leistung eines Konners bezeugt und dadurch der nao significa que, na obra, deva notar-se que ela foi
feita por um grande artista. O criado nao deve servir
Leistende in das offentlíche Ansehen gehoben werden. Nicht
para testemunhar a realizacáo de um conhecedor e
das N. N. fecit soll bekanntgegeben, sondern das einfache
assim lhe dar um prestígio público. Nao é o N.N. fecit
»Iactum est« soll im Werk ins Offene gehalten werden:
que deve tornar-se conhecido, mas o simples factum
dieses, daís unverborgenheit des Seienden hier geschehen
est' é que deve na obra ser conservado no aberto; isto,
ist und als dieses Geschehene erst geschieht; dieses, daf
que o desvelamento do sendo está acontecendo aqui e
solches Werk ist und nicht vielmehr nicht ist. Der Anstoís,
somente acontece como este acontecido; isto, tal obra é
daf das Werk als dieses Werk ist und das Nichtaussetzen
e que, muito ao contrário, nao é. O embate que a obra
dieses unscheinbaren Stoíses macht die Bestandigkeit des
é como esta obra e o náo-expor-se deste imperceptível
lnsichruhens am Werk aus. Dort, wo der Künstler und der
impulso constitui a constancia do repousar-em-si da
Vorgang und die Umstande der Entstehung des Werkes
unbekannt bleiben, tritt dieser Stofs, dieses »DaS« des
"t Factum est' diz aqui o "isto" que se fez e opera na obra. "Isto" quer
Geschaffenseins am reinsten aus dem Werk hervor. dizer que urna tal obra é única como obra no operar da verdade. Esta
Zwar gehórt auch zu jedem verfügbaren und im singularidade fica mais clara quando se pensa o utensílio que é anónimo
em si e padronizado. Tudo isto se torna rnais claro a partir do originário
Gebrauch befindlichen Zeug, »dals« es angefertigt como esséncia da verdade, do agir, da poiesis. (N. T)
166 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 167

ist. Aber dieses »DaS« tritt am Zeug nicht heraus, es obra. Lá onde o artista e o processo e as circunstancias
verschwindet in der Dienlichkeit. Je handlicher ein Zeug de surgimento da obra permanecem desconhecidos,
zur Hand ist, um so unauffalliger bleibt es, daf z. B. ein é que este embate, este "isto" do ser-criado se póe em
solcher Hammer íst, um so ausschlíelslicher halt sich das evidencia do modo mais puro, a partir da obra.
Zeug in seinem Zeugsein. Überhaupt konnen wir an jedem §144 - De certo, pertence também a todo utensilio
Vorhandenen bemerken, daf es ist; aber dies wird auch que se acha disponível e em uso "que" ele seja fabricado.
nur vermerkt, um alsbald nach der Art des Gewohnlichen Porém, este "isto" nao se sobressai no utensilio. Ele desa-
vergessen zu bleiben. Was aber ist gewóhnlicher als parece na serventia. Quanto mais um utensilio é manu-
seável tanto menos ele se faz notar, por exemplo, que é
dieses, daís Seiendes ist? Im Werk dagegen ist dieses,
"um tal" martelo, para que assim mais exclusivamente o
daís es als solches ist, das Ungewohnlíche. Das Ereignis
utensilio perdure no seu ser-utensilio. Em geral, em cada
seines Geschaffenseins zittert im Werk nicht einfach
coisa existente, podemos notar que ela é. Mas isto também
nach, sondern das Ereignishafte, daís das Werk als dieses
é apenas notado para logo ficar esquecido por forca do
Werk ist, wirft das Werk vor sich her und hat es standig
hábito. Porém, o que é mais habitual do que isto, que o
um sich geworfen. Je wesentlicher das Werk sich offnet, sendo é? Ao contrário, na obra, é "isto", o que como talé,
54 um so leuchtender wird die Einzigkeit dessen, daf es ist o nao-habitual. O acontecimento poético-apropriante de
und nicht vielmehr nicht ist. Je wesentlicher dieser Stoís seu ser-criado nao ressoa simplesmente na obra, porém,
ins Offene kommt, um so befremdlicher und einsamer o caráter do acontecimento poético-apropriante, ou seja,
wird das Werk. Im Hervorbringen des Werkes liegt dieses que a obra como "esta obra" é, projeta a obra ante si mes-
Darbringen des »daís es sei«. ma e a projetou constantemente em tomo de si. Quanto
Die Frage nach dem Geschaffensein des Werkes sollte mais essencialmente a obra se abre tanto mais se torna
uns dem Werkhaften des Werkes und damit seiner iluminante a singularidade "disso", que ela "é" muito
Wirklichkeit naher bringen. Das Geschaffensein enthüllte mais do que ela "nao é". Quanto mais essencialmente
sich als das Festgestellt-seín des Streites durch den RiEi este impelir para o embate vem para o aberto tanto mais
in die Gestalt. Dabei ist das Geschaffensein selbst eigens estranha e solitária se toma a obra. No pro-duzir da obra
in das Werk eingeschaffen und steht als der stille StoEi reside este ofertar do "isto" "que ela é".
jenes »Daís« ins Offene. Aber auch im Geschaffensein § 145 -A pergunta pelo ser-criado da obra deveria nos
tornar mais próximos do caráter de obra da obra e, com
erschopft sich die Wirklichkeit des Werkes nicht. Wohl
isso, de sua realidade vigente. O ser-criado revelou-se
dagegen setzt uns der Hinblick auf das Wesen des
como o ser-estabelecido da disputa na figura através do
Geschaffensein des Werkes in den Stand, jetzt den Schritt zu
tracar, Nisso, é o mesmo ser-criado introduzido como
vollziehen, auf den alles bisher Gesagte zustrebt.
criado propriamente na obra e permanece no aberto
168 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 169

Je einsamer das Werk, festgestellt in die Gestalt, in como o silencioso impelir para o embate daquele "isto".
sich steht, je reiner es alle Bezüge zu den Menschen Mas também no ser-criada nao se esgota a realidade
zu losen scheint, um so einfacher tritt der Stoís, daf vigente da obra. Bem ao contrário, o olhar sobre a
solches Werk íst, ins Offene, um so wesentlicher ist esséncia do ser-criado da obra nos póe na posicáo de
das Ungeheure auígestoísen und das bislang geheuer executar agora o passo a que almeja tudo o que foi dito
Scheinende umgestoísen. Aber dieses vielfaltige Stoísen até agora.
§146 - Quanto mais solitária a obra, estabelecida na
hat nichts Gewaltsames; denn je reiner das Werk selbst
figura, permanece em si, quanto mais puramente parece
in die durch es selbst eroffnete Offenheit des Seienden
romper todas as referencias comos homens, tanto mais
entrückt ist, um so einfacher rückt es uns in diese facilmente o impulso do embate, que tal obra é, entra no
Offenheit ein und so zugleich aus dem Gewchnlichen aberto, tanto mais essencialmente o extra-ordinário irrom-
heraus. Dieser Verrückung folgen, heiíst: die gewohnten pe e o que aparece até aquí como ordinário-habitual se
Bezuge zur Welt und zur Erde verwandeln und fortan mit anula. Mas este impelir para o embate múltiplo nada tem
allem gelaufigen Tun und Schatzen, Kennen und Blicken de violento; pois quanto mais puramente a própria obra
ansichhalten, um in der im Werk geschehenden Wahrheit está arrebatada para a abertura do sendo aberta por ela
própria, tanto mais facilmente nos lanca nessa abertura e ,,
zu verweilen. Die Verhaltenheit dieses Verweilens lal?,t 1

das Geschaffene erst das Werk sein, das es ist. Dieses: das nos retira, ao mesmo tempo, do habitual. Seguir este des-
locamento quer dizer: transformar as referencias habituais
Werk ein Werk sein lassen, nennen wir die Bewahrung
com o mundo e com a Terra e, desde entáo, suspender-se
des Werkes. Für die Bewahrung erst gibt sich das Werk
todo o fazer e avaliar, conhecer e olhar corriqueiros, para
in seinem Geschaffensein als das wirkliche, d. h. jetzt: pennanecer na verdade que acontece na obra. Somente a
werkhaft anwesende. retencáo des te perdurar deixa que o criado seja a obra que
Sowenig ein Werk sein kann, ohne geschaffen zu sein, ela é. Isto: deixar a obra ser urna obra, nós denominamos
so wesentlich es die Schaffenden braucht, sowenig kann o desvelo7 da obra. Somente para que haja desvelo é que a
das Geschaffene selbst ohne die Bewahrenden seiend obra se dá em seu ser-criado como o real efetivo. Isto quer
werden. dizer agora: ela se faz presente em caráter operante.
Wenn aber ein Werk die Bewahrenden nicht § 14 7 - Do mesmo modo que urna obra nao pode ser
findet, nicht unmittelbar so findet, daís sie der im sem ser criada, tao essencialmente ela precisa dos que
a criam, do mesmo modo o próprio criado nao pode
55 Werk geschehenden Wahrheit entsprechen, dann
continuar sendo sem os que a desvelam.
heífst dies keineswegs, das Werk sei auch Werk ohne
§ 148- Porém, quando urna obra nao en contra os que
die Bewahrenden. Es bleibt immer, wenn anders a desvelam, nao os encontra imediatamente, de modo
170 1 MARTIN HEIDEGGER A ORICEM DA OBRA DE ARTE 1 171

es ein Werk ist, auf die Bewahrenden bezo gen, auch dann que eles correspondam a verdade que acontece na obra,
und gerade dann, wenn es auf die Bewahrenden erst nur entáo isso nao significa, de modo algum, que a obra seja
wartet und deren Einkehr in seine Wahrheit erwirbt und também obra sem os que a desvelam. Se realmente é
erharrt. Sogar die Vergessenheit, in die das Werk fallen urna obra, ela permanece sempre relacionada aos que
kann, ist nicht nichts; sie ist noch ein Bewahren. Sie zehrt a desvelam, mesmo quando e precisamente quando ela
vom Werk. Bewahrung des Werkes heiíst: lnnestehen in apenas espera por eles, e cuja entrada na sua verdade
der im Werk geschehenden Offenheit des Seienden. Die ela solicita e aguarda. Até o esquecimento no qual a
Instandigkeit der Bewahrung aber ist ein Wissen. Wissen obra pode cair nao é nada; ele é ainda um desvelar. Ele
besteht jedoch nicht im bloísen Kennen und Vorstellen alimenta-se da obra. Desvelo da obra significa: estar no
von etwas. Wer wahrhaft das Seiende weif5, weiís, was interior da abertura do sendo que acontece na obra.
er inmitten des Seienden will. Porém, a persistencia do desvelo é um saber. Saber nao
Das hier genannte Wollen, das weder ein Wissen consiste, contudo, num simples conhecer e representar
algo. Quem verdadeiramente sabe o sendo, esse sabe o
erst anwendet, noch zuvor beschliefst , ist aus der
que quer no meio do sendo.
Grunderfahrung des Denkens in »Sein und Zeit«
§149 - O querer aqui nomeado, que nem somente
gedacht. Das Wissen, das ein Wollen, und das Wollen,
se aplica a um saber nem de antemáo o circunscreve, é
das ein Wissen bleibt, ist das ekstatische Sicheinlassen
pensado em Ser e Tempo a partir da experienciacáo fun-
des existierenden Menschen in die Unverborgenheit des
damental do pensar. O saber que permanece um querer
Seins. Die in »Sein und Zeit« gedachte Ent-schlossenheir
e o querer que permanece um saber é o extático lancar-
ist nicht die decidierte Aktion eines Subjekts, sondern die
se do ser humano existente no desvelamento do ser. A
Eroffnung des Daseins aus der Befangenheit im Seienden deterrninacáo, pensada em Ser e Tempo, nao é a acáo
zur Offenheit des Seins. In der Existenz geht jedoch der decidida por um sujeito, mas a abertura libertadora do
Mensch nicht erst aus einem lnnern zu einem Drauísen Entre-ser, que o impulsiona do aprisionamento no sendo
hinaus, sondern das Wesen der Existenz ist das ausstehende para a abertura do ser. Contudo, na existencia, o ser hu-
lnnstehen im wesenhaften Auseinander der Lichtung des mano nao sai somente de um interior para um exterior,
Seienden. Weder in dem zuvor genannten Schaffen, noch in mas a essencia da existencia é o entre-permanecer que
dem jetzt genannten Wollen ist an das Leisten und an se expóe na ambígua separacáo essencial da clareira do
die Aktion eines sich selbst als Zweck setzenden und sendo. Nem no criar nomeado anteriormente, nem no
anstrebenden Subjektes gedacht. querer agora nomeado, se pensa no fazer e na acáo de
Wollen ist die nüchterne Ent-schlossenheit des um sujeito que se póe a si mesmo como meta e que a
existierenden Übersichhinausgehens, das sich der ela aspira.
172 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 173

Offenheit des Seienden als der ins Werk gesetzten aussetzt. §150 - Querer é a sóbria determinacáo do existente
So bringt sich die lnstándigkeit in das Gesetz. Bewahrung ir para além de si mesmo, pela qual se expóe a aber-
des Werkes ist als Wissen die nüchterne lnstándigkeit im tura do sendo, como aquela posta na obra. Assim, a
Ungeheuren der im Werk geschehenden Wahrheit. persistencia se encaminha para a Lei. Desvelo da obra
Dieses Wissen, das als Wollen in der Wahrheit des é, como saber, a sóbria persistencia no extra-ordinario
Werkes einheimisch wird und nur so ein Wissen bleibt, da verdade que acontece na obra.
nimmt das Werk nicht aus seinem lnsichstehen heraus, § 151 -Este saber, que como querer radica na verdade
zerrt es nicht in den Umkreis des bloísen Erlebens und setzt da obra e só assim permanece um saber, nao retira a
das Werk nicht herab in die Rolle eines Erlebniserregers. Die obra do seu permanecer-cm-si, nao a arrasta para o
56 Bewahrung des Werkes vereinzelt die Menschen nicht auf círculo da simples vivencia nem a rebaixa ao papel de
ihre Erlebnisse, sondern rückt sie ein in die Zugehórigkeit urna provocadora de vivencias. O desvelo da obra nao
zu der im Werk geschehenden Wahrheit und gründet so das isola os homens em suas vivencias, mas os introduz na
Fur- und Miteinandersein als das geschichtliche Ausstehen pertern;a da verdade que acontece na obra e assim fun-
damenta o ser para os outros e comos outros como o
des Da-seins aus dem Bezug zur Unverborgenheit. Vollends
expor-se histórico do Entre-ser, a partir de sua referen-
ist das Wissen in der Weise des Bewahrens fem von jener
cia ao desvelamento. O saber, no modo do ser desvelo,
nur geschmácklerischen Kennerschaft des Formalen am
está completamente distante daquele gosto apenas
Werk, seiner Qualítáten und Reize an sich. Wissen als
esteticizante, conhecedor do formal na obra, de suas
Gesehen-haben ist ein Entschiedensein; ist lnnestehen in
qualidades e encantos em si. Saber, enquanto ter visto,
dem Streit, den das Werk in den RiB gefügt hat.
é um estar decidido; é entre-permanecer na disputa que
Die Weise der rechten Bewahrung des Werkes wird
a obra dis-pós no traco do entre-delimitar.
erst und allein durch das Werk selbst mitgeschaffen und
§ 152 - O modo do desvelo correto da obra é somente
vorgezeichnet. Die Bewahrung geschieht in verschiedenen
e antes de tudo ca-criado e pré-indicado pela própria
Stufen des Wissens mit je verschiedener Reichweite,
obra. O desvelo acontece em diferentes graus de saber,
Bestandigkeít und Helligkeit. Wenn Werke dem blofsen sempre com diferente alcance, consistencia e clareza.
Kunstgenuf dargeboten werden, ist noch nicht erwiesen, Quando as obras sao oferecidas para um mero deleite
daís sie als Werke in der Bewahrung stehen. artístico ainda nao está demonstrado que elas, como
Sobald jener StoB ins Un-geheure im Gelaufigen obras, permanec;:am no desvelo.
und Kennerischen abgefangen wird, hat um die Werke §153 - Tao logo aquele impulso do embate para
schon der Kunstbetrieb begonnen. Selbst die sorgfaltige o extra-ordinario é atenuado pelo conhecido e cor-
Überlieferung der Werke, die wissenschaftlichen riqueiro, já comecou o comércio artístico em torno
174 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 175

Versuche zu ihrer Rückgewinnung erreichen dann nie das obras. A própria transmissáo cuidadosa das obras,
mehr das Werksein selbst, sondern nur eine Erinnerung as tentativas científicas para sua recuperacáo, nunca
daran. Aber auch diese kann dem Werk noch eine mais alcancam o ser-próprio da obra, porém, nisso,
Statte bieten , von der aus es Geschichte mitgestaltet. tao-sornen te urna lernbranca. No en tanto, também esta
Die eigenste Wirklichkeit des Werkes kommt dagegen pode ainda oferecer a obra um lugar a partir do qual
nur da zum Tragen, wo das Werk in der durch es selbst configure história. Pelo contrário, a realidade vigente
geschehenden Wahrheit bewahrt wird. da obra, no que lhe é mais próprio, somente origina
Die Wirklichkeit des Werkes ist aus dem Wesen des acontecimento aí onde ela é desvelada na verdade que
Werkseins in den Grundzügen bestimmt. Jetzt konnen acontece através dela mesma.
wir die einleitende Frage wieder aufnehmen: Wie steht es §154-A realidade efetiva da obra determina-se, em
seus traeos essenciais, a partir da esséncia do ser-obra.
mit jenem Dinghaften am Werk, das seine unmittelbare
Agora podemos retomar a pergunta diretriz da questáo:
Wirklichkeit verbürgen soll? Es steht so, daís wir jetzt die
O que ocorre com aquele caráter de coisa na obra que
Frage nach dem Dinghaften am Werk nicht mehr fragen;
deve garantir sua imediata realidade efetiva? Sucede que
denn solange wir darnach fragen, nehmen wir das Werk
agora nao colocamos mais a questáo perguntando pelo
sogleich und im vorhinein endgültig als einen vorhandenen
caráter de coisa na obra, pois, enquanto perguntamos
Gegenstand. Auf diese Weise fragen wir nie vom Werk her,
por isso, de anternáo e imediatamente, tomamos a obra
sondern von uns aus. Von uns, die wir dabei das Werk nicht
definitivamente como um objeto já dado. Des ta maneira
ein Werk sein-lassen, es vielmehr als Gegenstand vorstellen,
nunca perguntamos a partir da obra, mas a partir de
der in uns irgendwelche Zustánde bewirken soll.
nós mesmos. A partir de nós que, nisso, nao deixamos
57 Was jedoch an dem als Gegenstand genommenen
a obra ser urna obra, que muito mais a representamos
Werk so aussieht wie das Dinghafte im Sinne der como um objeto, o qual deve efetivar em nós determi-
gelaufigen Dingbegriffe, das ist, vom Werk her erfahren,
nados estados.
das Erdhafte des Werkes. Die Erde ragt ins Werk, weil §155- Porém, o que na obra, tomada como objeto,
das Werk als solches west, worin die Wahrheit am Werke aparece como o caráter de coisa, no sentido dos con-
ist, und weil Wahrheit nur west, indem sie sich in ein ceitos correntes de coisa, é o caráter terreal da obra,
Seiendes einrichtet. An der Erde als der wesenhaft sich experimentado a partir da obra. A Terra emerge na
verschliefsenden findet aber die Offenheit des Offenen obra porque a obra vige como tal onde a verdade está
seinen hochsten Widerstand und dadurch die Státte em obra e porque a verdade somente vige no que ela
seines standigen Standes, darein die Gestalt festgestellt se dis-póe num sendo. Porém, na Terra, como a que essen-
werden muf; cialmente se fecha, encontra a abertura do aberto sua
176 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 177

Dann war es doch uberflussig, auf die Frage nach mais alta oposicáo e, através desta, o lugar de sua posicao
dem Dinghaften des Dinges einzugehen? Keineswegs. constante, em que a figura precisa ser estabelecida,
Zwar laBt sich aus dem Dinghaften nicht das Werkhafte §156 - Entáo foi supérfluo colocar a pergunta qu
bestimmen, dagegen kann aus dem Wissen vom pergunta pelo caráter de coisa da coisa? De mod
Werkhaften des Werkes die Frage nach dem Dinghaften algum. Certamente o caráter de obra nao se deixa deter-
des Dinges auf den rechten Weg gebracht werden. Das minar a partir do caráter de coisa. Ao contrário, a per-
ist nichts Geringes, wenn wir uns erinnern, daf jene von gunta pelo caráter de coisa da coisa, pode ser trazida a
altersher gelaufigen Denkweisen das Dinghafte des Din ges seu correto encaminhar, a partir do saber do caráter de
überfallen und eine Auslegung des Seienden im Ganzen obra da obra. Isto nao é pouco, se nos lembramos que
zur Herrschaft bringen, die ebenso zur Wesenserfassung aqueles modos de pensar, correntes desde a antigüida-
des Zeuges und des Werkes untüchtig bleibt, wie sie de, agridem o caráter de coisa da coisa e fazem predo-
gegen das ursprüngliche Wesen der Wahrheit blind minar urna interpretacáo do sendo na sua totalidade,
macht. a qual também permanece ineficiente para a compre-
Fur die Bestimmung der Dingheit des Dinges reicht ensáo essencial do utensílio e da obra, bem como nos
cega em relacáo a esséncia originária da verdade.
weder der Hinblick auf den Trager von Eigenschaften I'
§157 - Para a deterrninacáo da coisidade da coisa, i
zu , noch jener auf die Mannigfaltigkeit des sinnlich
nao basta considerar o portador das qualidades nem
Gegebenen in seiner Einheit, noch gar der auf das fur
a multiplicidade dos dados sensíveis, em sua unidade,
sich vorgestellte Stoff-Form-Gefüge, das dem Zeughaften
nem ainda a estrutura representada como matéria e
entnommen ist. Der maís- und gewichtgebende Vorblick
forma, deduzida do caráter de utensílio. O olhar prévio,
fur die Auslegung des Dinghaften der Dinge muf auf
que dá medida e peso a interpretacáo do caráter de coi-
die Zugehórigkeit des Dinges zur Erde gehen. Das
sa das coisas, precisa se voltar para o pertencimento da
Wesen der Erde als des zu nichts gedrangten Tragenden-
coisa a Terra. A esséncia da Terra, como a esséncia que
-Sichverschl ieEenden enthüllt sich jedoch nur im
porta e que se fecha forcada a nada, se revela, porém,
Hineinragen in eine Welt, in der Gegenwendigkeit beider.
somente quando se eleva num Mundo, dentro da mútua
Dieser Streit ist festgestellt in die Gestalt des Werkes
oposicáo de ambos. Esta disputa está estabelecida na
und wird durch dieses offenbar. Was vom Zeug gilt, figura da obra e torna-se patente através desta. O que
daís wir das Zeughafte des Zeuges erst eigens durch das vale para o utensílio, ou seja, que só experienciamos
Werk erfahren, gilt auch vom Dinghaften des Dinges. propriamente o caráter de utensílio através da obra,
DaB wir vom Dinghaften nie geradezu und wenn, dann vale também para o caráter de coisa da coisa. Que nao
nur unbestimmt wissen, also des Werkes bedürfen, ternos um saber direto do caráter de coisa e, se sabemos,
178 MAKfIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE
1 1 179

das zeigt mittelbar, daf im Werksein des Werkes das é entáo apenas saber indeterminado, daí precisarmos
58 Geschehnis der Wahrheit, die Eroffnung des Seienden da obra, isso nos demonstra indiretamente que, no ser-
am Werk ist. obra da obra, está em obra o acontecimento da verdade,
Aber, so mochten wir schlief.lich entgegnen, muís a abertura do sendo.
denn das Werk nicht seinerseits und zwar vor seinem §158-Porém, -finalmente desejaríamos objetar- a
Geschaffenwerden und für dieses in einen Bezug zu den obra nao precisa, de sua parte, e antes de ser criada e
Dingen der Erde, zur Natur gebracht sein, wenn anders es tendo em vista esta criacáo, ser levada, de certo, para
das Dinghafte triftig ins Offene rücken soll? Einer, der es urna relacáo comas coisas da Terra, com a Natureza, se
wissen muíste, Albrecht Durer, sagte doch jenes bekannte é que <leve mover o caráter de coisa justamente para o
Wort: »Denn wahrhaftig steckt die Kunst in der Natur, aberto? Alguém que devia saber disso, Albrecht Dürer,
wer sie heraus kann reiísen, der hat sie. « Reiísen heiíst disse aquela conhecida frase: "Pois a arte encontra-se
hier Herausholen des Risses und den Ri~ reiísen mit der verdadeiramente dentro da natureza, quema pode tirar,
Reíísfeder auf dem Reiísbrett. Aber sogleich bringen wir esse a tem". Tirar, quer dizer aqui, fazer aparecer o
die Gegenfrage: Wie soll der Rif herausgerissen werden, tracar e gravá-lo como esquadro na prancheta de dese-
wenn er nicht als Rig und d. h., wenn er nicht zuvor nho. Mas logo surge a pergunta contrária: Como <leve
als Streit van Maf und Unmaís durch den schaffenden o tracar ser arrancado se ele nao é trazido como tracar,
Entwurf ins Offene gebracht wird? Gewif steckt in der isto é, se ele antes nao é trazido ao aberto como disputa
de medida e nao-medida, através do projeto criador?
Natur ein Ri~, Maf und Grenze und ein datan gebundenes
Certo. Na natureza se esconde um tracar, urna medida
Hervorbringenkonnen, die Kunst. Aber ebenso gewi~ ist,
e limites, e um poder pro-duzir ligado a eles: a arte.
daf diese Kunst in der N atur erst durch das Werk offenbar
Mas do mesmo modo também é certo que esta arte na
wird, weil sie ursprünglich im Werk steckt.
natureza somente se torna manifesta através da obra,
Die Bemühung um die Wirklichkeit des Werkes soll
pois ela originariamente se encontra dentro da obra.
den Boden bereiten, damit wir am wirklichen Werk
§159 - O esforco de reflexáo, que diz respeito a
die Kunst und ihr Wesen finden. Die Frage nach dem
realidade vigente da obra, <leve preparar o solo para
Wesen der Kunst, der Weg des Wissens van ihr, soll erst
que encontremos a arte e sua esséncia na obra real.
wieder auf einen Grund gebracht werden. Die Antwort
A pergunta pela esséncia da arte e o caminho de seu
auf die Frage ist wie jede echte Antwort nur der auíserste
saber devem ser, de novo e em primeiro lugar, trazidos
Auslauf des letzten Schrittes einer langen Folge van a um fundamento. A resposta a pergunta é, como cada
Frageschritten. Jede Antwort bleibt nur als Antwort in autentica resposta, a última saída do último passo de
Kraft, solange sie im Fragen verwurzelt ist. urna longa sequéncia de passos questionantes. Cada
MARTIN HEIDEGGER A ORlGEM DA OBRA DE ARTE 181
180 1 1

Die Wirklichkeit des Werkes ist uns aus seinem Werksein resposta somente conserva sua forca como resposta,
nicht nur deutlicher, sondern zugleich wesentlich reicher enquanto ela permanecer enraizada no questionar,
geworden. Zum Geschaffensein des Werkes gehóren ebenso § 160-A partir do seu ser-obra, a realidade vigente da
wesentlich wie die Schaffenden auch die Bewahrenden. obra tornou-se para nós nao apenas mais clara, mas, ao
Aber das Werk ist es, was die Schaffenden in ihrem Wesen mesmo tempo, essencialmente mais rica. Ao ser-criad
ermoglicht und aus seinem Wesen die Bewahrenden da obra pertencem, essencialmente do mesmo modo,
braucht. Wenn die Kunst der Ursprung des Werkes ist, tanto os que criam como os que desvelam. Porém, é a
dann heiGt das, sie hi.Gt das wesenhaft Zusammengehórige obra que faz possível, em sua esséncia, os que criam
am Werk, Schaffende und Bewahrende, in seinem Wesen necessita, a partir da sua esséncia, dos que desvelam.
entspringen. Was aber ist die Kunst selbst, daG wir sie mit Quando a arte é o originário da obra, entáo, isto quer
dizer que ela, em sua esséncia, deixa nascer na obra a
Recht einen Ursprung nennen?
co-pertenca essencial dos que criam e dos que desvelam.
59 Im Werk ist das Geschehnis der Wahrheit und zwar
Mas o que é a própria arte para que nós, com razáo, a
nach der Weise eines Werkes am Werk. Demnach wurde
nomeemos um originário?
im voraus das Wesen der Kunst als das Ins-Werk-Setzen
§161 - O acontecimento da verdade está na obra
der Wahrheit bestimmt. Doch diese Bestimmung ist
em obra e, em verdade, ao modo de urna obra. Tendo
bewuíst zweideutig. Sie sagt einmal: Kunst ist das
em vista isso, foi antes determinada a esséncia da arte
Feststellen der sich einrichtenden Wahrheit in die
como o pór-ern-obra da verdade. Porém, esta deter-
Gestalt. Das geschieht im Schaffen als dem Hervorbringen
minacáo é conscientemente ambígua. De um lado
der Unverborgenheit des Seienden. Ins-Werk-Setzen
diz: Arte é o estabelecer da verdade que se dispóe na
heiíst aber zugleich: in Gang- und ins Geschehen-Bringen
figura. Isto acontece no criar como o pro-duzir do
des Werkseins. Das geschieht als Bewahrung. Also ist
desvelamento do sendo. Contudo, pór-ern-obra quer
die Kunst: die schaff ende Bewahrung der Wahrheit im dizer ao mesmo tempo: por a caminhar e trazer para
Werk. Dann ist die Kunst ein Werden und Geschehen der o acontecer o ser-obra. Isto acontece como desvelo.
Wahrheit. Dann entsteht die Wahrheit aus dem Nichts? Portanto, a arte é: o criativo desvelo da verdade na
In der Tat , wenn rnit dem Nichts das bloíse Nicht des obra. Entéio a arte é o tornar-se e o acontecer da verdade.
Seienden gemeint und wenn dabei das Seiende als jenes E a verdade surge do nada? De fato, se pensado com
gewóhnlich Vorhandene vorgestellt ist, was hernach o nada do mero nao do sendo e se nisso o sendo é
durch das Dastehen des Werkes als das nur vermeintlich representado como aquele existente habitual, que,
wahre Seiende an den Tag kommt und erschüttert wird. depois, através do entre-permanecer da obra, vem a
Aus dem Vorhandenen und Gewchnlichen wird die luz como o que apenas pretensamente é o verdadeiro
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 183
182 1 1

Wahrheit niemals abgelesen. Vielmehr geschieht die sen do e assim fica abalado. A verdade nunca é colhida
Eróffnung des Offenen und die Lichtung des Seienden do existente e do habitual. A abertura do aberto e a
nur, indem die in der Geworfenheit ankommende clareira do sendo acontecem, muito mais, sornen te no
Offenheit entworfen wird. que a abertura adveniente se delineia na projecáo.
Wahrheit als die Lichtung und Verbergung des §162 - A verdade, como clareira e velarnento do
Seienden geschieht, indemª sie gedichtet wird. Alle Kunst sendo, acontece no que ela é poietizada (al). Toda arte
ist als Geschehenlassen der Ankunft der Wahrheit des é, como o deixar-acontecer a adveniéncia da verdade
Seienden als eines solchen im Wesen Dichtung. Das Wesen do sen do como tal, em esséncia poiesiS'. A esséncia da
der Kunst, worin das Kunstwerk und der Künstler zumal arte, em que se baseiarn sobretudo a obra de arte e
beruhen, ist das Sich-ins-Werk-setzen der Wahrheit. Aus o artista, é o pór-se-ern-obra da verdade. A partir da
dem dichtenden Wesen der Kunst geschieht es, daís sie esséncia poietizante da arte acontece que ela torna
patente um lugar aberto, no meio do sendo, em cuja
inmitten des Seienden eine offene Stelle aufschlagt, in
abertura tudo é diferente do habitual. Em virtude do
deren Offenheit alles anders ist als sonst. Kraft des ins
projeto do desvelamento do sendo, posto na obra, que
Werk gesetzten Entwurfes der sich uns zu-werfenden
recaí sobre nós, todo habitual e o até agora existente
Unverborgenheit des Seienden wird durch das Werk alles
se torna nao-ente através da obra. Este perdeu o poder
Gewohnliche und Bisherige zum Unseienden. Dieses
de dar e conservar o ser corno medida. Nisso está o
hat das Vermcgen, das Sein als MaE, zu geben und zu
estranho, que a obra nao atua, de maneira algurna,
wahren , eingebúíst. Dabei ist das Seltsame, daf das Werk
sobre o sendo existente até agora, por meio de rela-
in keiner Weise auf das bisherige Seiende durch kausale
cóes de causa e efeito. O efeito da obra nao consiste
Wirkungszusammenhange einwirkt. Die Wirkung des
num efetuar causal. Ele se baseia numa mudanca do
Werkes besteht nicht in einem Wirken. Sie beruht in einem
desvelamento do sendo, que acontece a partir da obra,
aus dem Werk geschehenden Wandel der Unverborgenheit e isto quer dizer: do ser (a2).
des Seienden, und das sagt: des Seins".
60 Dichtung aber ist kein schweifendes Ersinnen
des Beliebigen und kein Verschweben des b loísen

ª Reclam-Ausgabe 1960: Das Fragwürdige der »Dichtungc-c-als Brauch


§162 (al) Edicáo Reclam de 1960: O digno-de-questáo da poiesis=
der Sage. Das Verhalrnis von Lichtung und Dichtung unzureíchend darg- como necessidade do narrar inaugural. A relacáo de clareira e poiesis
é apresentada insuficientemente.
estellt.
§162 (a2) Edicáo Reclam de 1960: Insuficiente a relacáo de desve-
b Reclam-Ausgabe 1960: Unzureichend- Verhaltnis von Unverborgen-
lamento e "ser"; Ser= Presentificacáo, compare Tempo e ser.
heit und »Sein-c; Sein = Anwesenheit, vgl. »Zeit une! Sein«.
A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 185
184 1 MARTIN HEIDEGGER

Vorstellen und Einbildens in das Unwirkliche. Was die §163-Porém, poiesisráo é nenhum inventar vago do
nao se sabe o que nem nenhum pairar indefinido do
Dichtung als lichtender Entwurf an Unverborgenheit
mero representar e imaginar no irreal. O que a poiesis,
auseinanderfaltet und in den RiEi der Gestalt vorauswirft,
como projeto iluminante, desdobra no desvelamento
ist das Off ene, das sie geschehen laEit und zwar dergestalt,
e pré-lanca no tracar da figura é o aberto que a deixa
daf jetzt das Offene erst inmitten des Seienden dieses
acontecer e, certamente, de jeito que o aberto, somente
zum Leuchten und Klingen bringt. lm Wesensblick auf
no meio do sendo, traga agora este para o iluminar e
das Wesen des Werkes und seinen Bezug zum Geschehnis
o ressoar. Numa perspectiva essencial da esséncia da
der Wahrheit des Seienden wird fraglich, ob das Wesen
obra e na sua referencia ao acontecimento da verdade
der Dichtung, und das sagt zugleich des Entwurfes, von
do sendo, torna-se questionável se a esséncia da poiesis,
der lmagination und Einbildungskraft her hinreichend
e isto, ao mesmo tempo, diz do projeto, pode ser pen-
gedacht werden kann. sada de maneira suficiente a partir da imaginacáo e da
Das jetzt in seiner Weite, aber deshalb nicht unbestimmt capacidade de invencáo.
erfahrene Wesen der Dichtung sei hier als ein Frag- § 164 - A esséncia da poiesis, experienciada agora em
-würdiges festgehalten, das es erst zu bedenken gilt". toda a sua amplitude e nem, por isso, de modo inde-
Wenn alle Kunst im Wesen Dichtung ist, dann terminado, seja aqui conservada como algo digno de
mussen Baukunst, Bildkunst, Tonkunst auf die Poesie questáo que antes de tudo é para ser pensada (b).
zurückgeführt werden. Das ist reine Willkür. Gewif , §165 - Se toda arte é, em esséncia, poiesis, entáo,
solange wir meinen, die genannten Künste seien Abarten a arquitetura, a escultura e a música precisam ser re-
der Sprachkunst, falls wir die Poesie durch diesen leicht conduzidas a poesía. Isto é pura arbitrariedade. E o é,
miísdeutbaren Titel kennzeichnen dürfen. Aber die enquanto pensarmos que as artes citadas sejam varie-
Poesie ist nur eine Weise des lichtenden Entwerfens dades da arte da linguagem, caso nos fosse permitido
der Wahrheit, d. h. des Dichtens in diesem weiteren caracterizar a poesía com este título facilmente passível
Sinne. Gleichwohl hat das Sprachwerk, die Dichtung im de interpretacóes equivocadas. Porém, a poesia é ape-
engeren Sinne, eine ausgezeichnete Stellung im Ganzen nas um modo do projetar iluminante da verdade, isto
der Kunste. é, do poietizar, neste sentido mais amplo. Nao obstante,
Um das zu sehen, bedarf es nur des rechten Begriffes a obra-de-linguagem, a poiesis no sentido mais estrito,
von der Sprache. In der landlaufige n Vorstellung ocupa um lugar distinto no todo das artes.

§164 (b) Edicáo Reclam de 1960: Portanto, também o que é o


" Reclam-Ausgabe 1960: Also auch frag-würdig das Eigeruümlíche der
próprio da arte é digno de ser pensado.
Kunst.
MARTIN HEIDEGGER A ORJGEM DA OBRA DE ARTE 1 187
186 1

gilt die Sprache als eine Art von Mitteilung. Sie dient §166 - Para ver isto, precisa-se somente da carreta
zur Unterredung und Verabredung, allgemein zur nocáo da linguagem. Na representacáo corrente, a
Verstan digung. Aber die Sprache ist nicht nur und linguagem vale como urna espécie de meio de comu-
nicht erstlich ein lautlicher und schriftlicher Ausdruck nicacáo. Serve para a conversacáo e encontros, para a
dessen , was mitgeteilt werden soll. Sie befordert das comunicacáo em sentido geral. Porém, a linguagem nao
é sornen te e nem em primeiro lugar urna expressáo oral
Offenbare und Verdeckte als so Gemeintes nicht nur
e escrita do que deve ser comunicado. Ela nao se limi-
erst in Wórtern und Satzen weiter, sondern die Sprache
ta, semente, a por em circulacáo através de palavras e
bringt das Seiende als ein Seiendes allererst ins Offene.
oracóes o manifesto e o encoberto já pensado como tal,
Wo keine Sprache west, wie im Sein von Stein, Pflanze
mas também, e em primeiro lugar, traz o sendo como
und Tier, da ist auch keine Offenheit des Seienden und
um sendo para o aberto. Onde nenhuma linguagem
demzufolge auch keine solche des Nichtseienden und
se faz presente como no ser da pedra, da planta e do
des Leeren. animal, também aí nao existe nenhuma abertura do
lndem die Sprache erstmals das Seiende nennt, sendo e, por conseqüéncia, também nenhuma abertura
bringt solches Nennen das Seiende erst zum Wort und do náo-sendo e do vazio.
61 zum Erscheinen. Dieses Nennen ernennt das Seiende zu §167 - No que a linguagem nomeia9 o sendo pela
seinem Sein aus diesem. Solches Sagen ist ein Entwerfen primeira vez, tal nomear traz entáo o sendo para a
des Lichten, darin angesagt wird, als was das Seiende palavra e para a manifestacáo. Este nomear nomeia o
ins Offene kommt. Entwerfenª ist das Auslosen eines sendo para seu ser a partir des te. Tal narrar inaugural é
Wurfes, als welcher die Unverborgenheit sich in das um projetar do iluminar em que é anunciado como o
Seiende als solches schickt. Das entwerfende Ansagen sendo, no que ele é, advém ao aberto. Projetar (a) é o
wird sogleich zur Absage an alle dumpfe Wirrnis, in der livre delinear de um projeto, em que o desvelamento se
sich das Seiende verhüllt und entzieht". configura como tal no sendo. O enunciar projetante se
Das entwerfende Sagen ist Dichtung: die Sage torna imediatamente a recusa de toda surda confusáo,
der Welt und der Erde, die Sage vom Spielraum na qual o sendo se oculta e retrai (b).
ihres Streites und damit von der Státte aller Náhe § 168 - O narrar inaugural do que se projeta é poiesis:
und Ferne der Gótter. Die Dichtung ist die Sage a narracáo inaugurante do Mundo e da Terra, a nar-

§167 (a) Edicáo Reclam de 1960: Projetar=-náo aclareiracomo tal,


Reclam-Ausgabe 1960: Entwerfen - nicht die Lichtung als solche,
ª pois nela o projeto somente está localizado, mas o projetar do traco.
denn in ihr ist erst Entwurf geortet, sondern: Entwerfen der Risse. §167 (b) Edicáo Reclam de 1960: Somente assim? Ou como destino?
Compare a corn-posicáo.
b Reclam-Ausgabe 1960: Nur so? Oder als Geschick. Vgl. das Ge-Stell.
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 189
188 1

der Unverborgenheit des Seienden. Die jeweilige Sprache racáo inauguran te do espa<;:o de jogo de sua disputa e,
ist das Geschehnis jenes Sagen, in dem geschichtlich com isso, do lugar de toda proximidade e distancia dos
einern Volk seine Welt aufgeht und die Erde als das deuses. A poiesis é a fala inauguran te do desvelamento
Verschlossene aufbewahrt wird. Das entwerfende Sagen do sendo. A respectiva linguagem é o acontecimento
daquele narrar inaugural no qual historicamente surge
ist [enes, das in der Bereitung des Sagbaren zugleich das
para um povo seu Mundo e a Terra se guarda como a fe-
Unsagbare als ein solches zur Welt bringt. In solchem
chada. O narrar inauguran te que projeta é aquele que,
Sagen werden einem geschichtlichen Volk die Begriffe
na preparacáo do narrável inauguran te, traz ao mesmo
seines Wesens, d. h. seiner Zugehórigkeit zur Welt-
tempo ao Mundo o náo-narrável inauguran te enquanto
Geschichte vorgepragt.
tal. Em tal narrar inaugural se cunham, previamente,
Die Dichtung ist hier in einem so weiten Sinne und
para um povo histórico as nocóes de sua esséncia, isto
zugleich in so inniger Wesenseinheit mit der Sprache
é, de seu pertencimento a história do mundo.
und dem Wort gedacht, daf es offen bleiben muf ,
§169 - A poiesis é aqui pensada em um sentido tao
ob die Kunst und zwar in allen ihren Weisen, von
amplo e, ao mesmo tempo, numa unidade essencial
der Baukunst bis zur Poesie, das Wesen der Dichtung
tao íntima com a linguagem e a palavra, que precisa ser
erschcpft. deixada em aberto a questáo se a arte, em verdade, em
Die Sprache selbst ist Dichtung im wesentlichen todos os seus modos, - da arquitetura até a poesia -,
Sinne. Weil nun aber die Sprache jenes Geschehnis esgota a esséncia da poiesis.
ist, in dem für den Menschen jeweils erst Seiendes §170 - A própria linguagem é poiesis em sentido
als Seiendes sich erschlief.t , deshalb ist die Poesie, essencial. Mas porque a linguagem é aquele acontecí-
die Dichtung im engeren Sinne, die ursprünglichste mento no qual, a cada vez, o sendo como sendo se abre
Dichtung im wesentlichen Sinne. Die Sprache ist pela primeira vez para o ser humano, por isso é a poe-
nicht deshalb Dichtung, weil sie die Urpoesie ist , sia, a poiesis em sentido mais restrito, a mais originária
sondern die Poesie ereignet sich in der Sprache, poiesis em sentido essencial. A linguagem nao é por isso
weil diese das ursprüngliche Wesen der Dichtung poiesis, ou seja, porque é a poesia primordial, mas a poe-
verwahrt. Bauen und Bilden dagegen geschehen sia apropria-se na linguagem, porque esta conserva a
immer schon und immer nur im Offenen der Sage esséncia originária da poiesis. Pelo contrário, a arquitetu-
und des Nennens. Von diesem werden sie durchwaltet ra e a escultura acontecem sempre já e sempre somente
und geleitet. Deshalb bleiben sie eigene Wege und no aberto do narrar inauguran te e do nomear. Elas sao
Weisen, wie die Wahrheit sich ins Werk richtet. Sie regidas e conduzidas pelo aberto. Por isso, ficam sen-
sind ein je eigenes Dichten innerhalb der Lichtung do caminhos e modos próprios de como a verdade se
190 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 191

des Seienden, die schon und unbeachtet in der Sprache encaminha para a obra. Elas sao sempre uro dos modos
geschehen istª. próprios do poietizardentro da clareira do sendo, que já
62 Die Kunst ist als das Ins-Werk-Setzen der Wahrheit desapercebidamente aconteceu (a) na linguagem.
Dichtung. Nicht nur das Schaffen des Werkes ist §171 - A arte é, como o pór-ern-obra da verdade,
dichterisch, sondern ebenso dichterisch, nur in seiner poiesis. Nao somente o criar da obra é poietizante, mas
eigenen Weise, ist auch das Bewahren des Werkes; denn também, do mesmo modo, o desvelar da obra é poietizan-
ein Werk ist nur als ein Werk wirklich, wenn wir uns te, apenas a seu próprio modo; pois urna obra sornen te
selbst unserer Gewóhnlichkeit entrukken und in das vom é como urna obra real se nós próprios nos livramos de
Werk Eroffnete einrücken, um so unser Wesen selbst in nossos hábitos e nos abrimos ao que se inaugura pela
der Wahrheit des Seienden zum Stehen" zu bringen. obra, para assim trazer nossa própria esséncia para o
Das Wesen der Kunst ist die Dichtung. Das Wesen der permanecer (b) na verdade do sendo.
Dichtung aber ist die Stiftung der Wahrheit. Das Stiften § 1 72 -A esséncia da arte é a poiesis. Porém, a esséncia
verstehen wir hier in einem dreifachen Sinne: Stiften als da poiesis é a fundacáo da verdade. O fundar compreen-
demo-lo aqui em um triplo sentido: fundar como <loar,
Schenken, Stiften als Gründen und Stiften als Anfangen.
fundar como fundamentar, fundar como principiar.
Stiftung ist aber nur in der Bewahrung wirklich. So
Contudo, a fundacáo é realmente vigente apenas no
entspricht jeder Weise des Stiftens eine solche des
desvelo. Assim, a cada modo do fundar, corresponde um
Bewahrens. Diesen Wesensbau der Kunst kónnen wir jetzt
do desvelar. Agora podemos tornarvisível esta estrutura
nur in wenigen Strichen sichtbar machen und auch dieses
da esséncia da arte apenas em poucos traeos e a essa
nur so weit, als die Irúhere Kennzeichnung des Wesens
somente até onde a caracterizacáo anterior da esséncia
des Werkes dafür einen ersten Hinweis bietet.
da obra oferece para isso urna primeira indicacáo.
Das Ins-Werk-Setzen der Wahrheit stoíst das Un-
§173 - O pór-ern-obra da verdade faz irromper o
-geheure auf und stóSt zugleich das Geheure und das,
extra-ordinário e revoga ao mesmo tempo o habitual e
was man dafür halt, um. Die im Werk sich eroffnende
o que assim se considera. A verdade que se inaugura na
Wahrheit ist aus dem Bisherigen nie zu belegen und obra jamais é para ser comprovada e deduzida a partir
abzuleiten. Das Bisherige wird in seiner ausschlieíslíchen do até en tao existente. O até entáo existente é refutado

§170 (a) Edicáo Reclam de 1960: Que diz isto? A clareira acontece
' Reclam-Ausgabe 1960: Was sagt dies? Geschieht Lichrung durch die através da linguagem ou a clareira, em seu acontecer poético-apropriante,
Sprache oder gewahrt die ereignende Lichtung erst Sage und Entsagen und concede narracáo inaugurante e renunciar, e assim linguagem? Linguagem
so Sprache? Sprache und Leib (Laut und Schrift). e corpo (oralidade e escrita).
b Reclam-Ausgabe 1960: im Sinne der lnstandigkeit im Brauch. § 171 (b) Edicáo Reclam de 1960: No sentido da persistencia em uso.
192 MARTIN HEIDEGGER A ORTGEM DA OBRA DE ARTE
1 1 193

Wirklichkeit durch das Werk widerlegt. Was die em sua realidade vigente exclusiva através da obra. Por
Kunst stiftet, kann deshalb durch das Vorhandene und isso, o que a arte funda nao pode nunca ser centraba-
Verfügbare nie aufgewogen und wettgemacht werden. lancado nem compensado através do já existente e do
Die Stiftung ist ein Überfluís, eine Schenkung. disponível. A fundacáo é um exceder, urna doacáo.
Der dichtende Entwurf der Wahrheit, der sich ins Werk §174-0 projeto poietizanteda verdade, que se póe na
stellt als Gestalt, wird auch nie ins Leere und Unbestimmte obra como figura, também nunca se consuma no vazio e
hinein vollzogen. Die Wahrheit wird im Werk vielmehr den no indeterminado. A verdade na obra é projetada muito
kommenden Bewahrenden, d. h. einem geschichtlichen mais para os desvelantes vindouros, isto é, para urna
Menschentum zugeworfen. Das Zugeworfene ist jedoch humanidade histórica. Contudo, o projetado nunca é
niemals ein willkürlich Zugemutetes. Der wahrhaft algo exigido arbitrariamente. O projeto poietizanteé ver-
dichtende Entwurf ist die Eroffnung von Jenem, worein dadeiramente a inauguracáo daquilo em que o Entre-
das Dasein als geschichtliches schon geworfen ist. Dies -ser já está projetado como histórico. Isso é a Terra e,
ist die Erde und für ein geschichtliches Volk seine Erde, para um povo histórico, sua Terra, o fundamento que
der sich verschlie ísende Grund, dem es aufruht mit se fecha, no qual repousa tudo que já é, embora ainda
all dern, was es, sich selbst noch verborgen, schon ist. oculto a si mesmo. Contudo, é seu mundo que vigora
Es ist aber seine Welt, die aus dem Bezug des Daseins a partir da referencia do Entre-ser ao desvelamento do
zur Unverborgenheit des Seins waltet. Deshalb muf ser. Por isso, todo o entre-doado ao ser humano no pro-
63 alles dem Menschen Mitgegebene im Entwurf aus dem jeto precisa ser tirado para forado fundamento fechado
e expressamente posto sobre este. Sornen te assim ele é
verschlossenen Grund heraufgeholt und eigens auf diesen
fundamentado como o fundamentado que mantém.
gesetzt werden. So wird er als der tragende Grund erst
§175 - Tendo em vista um tal procurar, todo criar
gegründet.
é um haurir (como procurar a água da fonte). Na
Weil ein solches Halen, ist alles Schaffen ein Schopfen
verdade, o subjetivismo moderno interpreta mal, de
(das Wasser halen aus der Que lle). Der moderne
imediato, o criativo, ao fazé-lo no sentido da realizacáo
Subjektivismus miísdeutet freilich das Schópferische
genial do sujeito auto-soberano. Afundacáo da verdade
sogleich im Sinne der genialen Leistung des selbstherrlichen
é fundacáo nao sornen te no sentido da livre doacáo, mas
Subjektes. Die Stiftung der Wahrheit ist Stiftung nicht nur
também, e ao mesmo tempo, fundacáo no sentido desse
im Sinne der freien Schenkung, sondern Stiftung zugleich
fundar que póe o fundamento. O projeto poietizante
im Sinne dieses grund-legenden Gründens. Der dichtende
provém do Nada, do ponto de vista de que ele nunca
Entwurf kommt aus dem Nichts in der Hinsicht, daf er toma sua doacáo do corriqueiro e do existente até en tao.
sein Geschenk nie aus dem Gelaufigen und Bisherigen Porém, ele nunca provém do nada na medida em que
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 195
194 1 1

nimmt. Er kommt jedoch nie aus dem Nichts, insofern o projetado através dele é apenas a deterrninacáo retida
das durch ihn Zugeworfene nur die vorenthaltene do próprio Entre-ser histórico.
Bestimmung des geschichtlichen Daseins selbst istª. §176 - Doacáo e fundamento tém ern si o nao-
Schenkung und Gründung haben in sich das -mediatizado do que nós nomeamos um princípio'".
Unvermittelte dessen, was wir einen Anfang nennen. Porém, este nao-mediatizado do princípio, o que é o
Doch dieses Unvermittelte des Anfangs, das Eigentümliche próprio do salto (a) a partir do náo-rnediatizável, nao
des Sprungesª aus dem Unvermittelbaren her, schlief.t exclui, mas antes inclui que o princípio se prepara
nicht aus sondern ein, daf der Anfang am langsten und durante muito tempo e imperceptivelmente. O auten-
unauffallig sich vorbereitet. Der echte Anfang ist als tico princípio é sempre como salto um salto-prévio,
Sprung immer ein Vorsprung, in dem alles Kommende no qual tudo que está por vir, ainda que velado, já se
schon übersprungen ist, wenngleich als ein Verhülltes. acha traspassado. O princípio (b) já contém velado o
fim. Na verdade, o autentico princípio nunca tem o
Der Anfang" enthalt schon verborgen das Ende. Der
caráter de comeco do primitivo. O primitivo é sempre
echte Anfang hat freilich nie das Anfangerhafte des
sem futuro, porque é sem o salto e o salto-prévio que
Primitiven. Das Primitive ist, weil ohne den schenkenden,
doam e fundamentam. Ele nao pode enviar a nada fora
gründenden Sprung und Vorsprung immer zukunftlos. Es
de si, porque nada contém senáo aquilo em que está
vermag nichts weiter aus sich zu entlassen, weil es nichts
aprisionado.
anderes enthalt als das, worin es gefangen ist.
§177 - O princípio, pelo contrário, contém sempre
Der Anfang dagegen enthalt immer die unerschlossene
a plenitude inacessível do extra-ordinário e isto quer
Fülle des Ungeheuren und d. h. des Streites mit dem
dizer, da disputa com o ordinário-habitual. Arte como
Geheuren. Kunst als Dichtung ist Stiftung in dem dritten
poiesis é fundacáo no terceiro sentido da provocacáo
Sinne der Anstiftung des Streites der Wahrheit, ist Stiftung als da disputa da verdade, é fundacáo como princípio.
Anfang. lmmer wenn das Seiende im Ganzen als das Seiende Sempre que o senda no todo como o sendo ele-mesmo
selbst die Gründung in die Offenheit verlangt, gelangt exige a fundamentacáo na abertura, a arte chega a sua
die Kunst in ihr geschichtliches Wesen als die Stiftung. esséncia histórica como fundacáo, Ela aconteceu no
Sie geschah im Abendland erstmals im Griechentum. Ocidente, pela primeira vez, no mundo grego. O que
Was künftig Sein heif.t, wurde maísgebend ins Werk

ª Reclam-Ausgabe 1960: »der Sprung< vgl. dazu »Identitat und Diífer- §176 (a) Edicáo Reclam de 1960: 'O salto', compare em relacáo a
enz«, Vortrag über ldentitát. isso "Identidade e diferenca", conferencia sobre identidade.
b Reclam-Ausgabe 1960: der Anfang ereignishaft zu denken als An- §176 (b) Edicáo Reclam de 1960: O principio de caráter poético-
Fang. acontecente para pensar como retencáo originante.
196 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 197

gesetzt. Das so eroffnete Seiende im Ganzen wurde futuramente se chamou ser foi pos to ern obra de forma
dann verwandelt zum Seienden im Sinne des von paradigmática. O seudo assim inaugurado no lodo foi
64 Gott Geschaffenen. Das geschah im Mittelalter. Dieses en tao transformado no sendo no sentido do criado
Seiende wurde wiederum verwandelt im Beginn und por Deus. Isto aconteceu na Idade Média. Este scndo
Verlauf der Neuzeit. Das Seiende wurde zum rechnerisch foi de novo transformado no comeco e no decorrcr da
beherrschbaren und durchschaubaren Gegenstand. Modernidade. O sendo tornou-se um objeto dorninável
Jedesmal brach eine neue und wesentliche Welt auf. e analisável por meio do cálculo. A cada vez eclodiu
J edesmal muiste die Offenheit des Seienden durch um mundo novo e essencial. A cada vez precisou ser
die Fest-stellung der Wahrheit in die Gestalt, in das disposta no próprio sendo a abertura do sendo através
Seiende selbst eingerichtet werden. Jedesmal geschah do estabelecimento da verdade na figura. A cada vez
Unverborgenheit des Seienden. Sie setzt sich ins Werk, aconteceu desvelamento do sendo. Tal desvelamento
welches Setzen die Kunst vollbringt. póe-se na obra e a arte consuma um tal pór,
lmmer wenn Kunst geschieht, d. h. wenn ein Anfang ist, § 178- Sempre que a arte acontece, quer dizer, quando
kommt in die Geschichte ein Stoís, fangt Geschichte erst há um principiar, a história experimenta um impulso
de embate. Entáo ela principia ou torna a principiar.
oder wieder an. Geschichte meint hier nicht die Abfolge
História nao significa aqui a sucessáo de nao importa
irgendwelcher und sei es noch so wichtiger Begebenheiten
o que no tempo, mesmo que sejam importantes fatos.
in der Zeit. Geschichte ist die Entrückung eines Volkes in
História é o desabrochar de um povo em sua tarefa histó-
sein Aufgegebenes als Einrückung in sein Mitgegebenes.
rica, enquanto um adentrar no que lhe foi entre-doado
Die Kunst ist das lns-Werk-Setzen der Wahrheit. In
para realizar.
diesem Satz verbirgt sich eine wesenhafte Zweideutigkeit,
§179-Aarte é o pór-em-obra da verdade. Nestafrase
der gernaf die Wahrheit zugleich das Subjekt und das
se vela urna ambigüidade essencial, na medida em que a
Objekt des Setzens ist. Aber Subjekt und Objekt sind hier
verdade é, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto do pór,
ungemáfse Namen. Sie verhindern, dieses zweideutige
Porém, sujeito e objeto sao aqui nomes inadequados.
Wesen zu denken, eine Aufgabe, die nicht mehr in diese
Eles impedem de pensar esta esséncia ambígua, urna
Betrachtung gehórt. Die Kunst ist geschichtlich und ist als tarefa que nao faz mais parte des ta reflexáo, A arte é his-
geschichtliche die schaffende Bewahrung der Wahrheit im tórica e é, enquanto histórica, o desvelo criativo da ver-
Werk. Die Kunst geschieht als Dichtung. Diese ist Stiftung dade na obra. A arte acontece como poiesis. Esta é funda-
in dem dreifachen Sinne der Schenkung, Gründung cáo nos tres sentidos de doacáo, de fundamentacáo e
und des Anfanges. Die Kunst ist als Stiftung wesenhaft de princípio. A arte é, como fundacáo, essencialmente
geschichtlich. Das heifst nicht nur: die Kunst hat histórica. Isto nao quer dizer apenas: a arte tem urna
198 MAKfIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 199

eine Geschichte in dem áuíserlíchen Sinne, daf sie im história no sentido mais externo, ou seja, que ela no
Wandel der Zeiten ne ben vielem anderen auch vorkommt transcurso do tempo também aparece ao lado de muitos
und sich dabei verándert und vergeht und der Historie outros fenómenos e nisso se transforma e passa e ofere-
wechselnde Anblicke darbietet. Die Kunst ist Geschichte ce aspectos cambiantes a historiografia. A arte é história
in dem wesentlichen Sinne, daf sie Geschichte gründet. no sentido essencial de que fundamenta história.
Die Kunst la~t die Wahrheit entspringen. Die Kunst § 180 - A arte deixa a verdade eclodir. A arte faz
erspringt als stiftende Bewahrung die Wahrheit des eclodir na obra a verdade do senda como desvelo que
Seienden im Werk. Etwas erspringen, im stiftenden Sprung funda. A palavra originário significa fazer eclodir algo,
aus der Wesensherkunft ins Sein bringen, das meint das trazer algo ao ser num salto fundador, a partir da pro-
Wort Ursprung. veniencia da esséncia.
Der Ursprung des Kunstwerkes, d. h. zugleich der §181- O originário da obra de arte, isto significa, ao
65 Schaffenden und Bewahrenden, das sagt des geschichtlichen mesmo tempo, dos que criam e dos que desvelam, isto
Daseins eines Volkes, ist die Kunst. Das ist so, weil die Kunst diz do Entre-ser histórico de um povo, é a arte. Isto é
assim porque a arte em sua esséncia é um originário:
in ihrem Wesen ein Ursprung ist: eine ausgezeichnete
um modo insigne de como a verdade é senda, quer
Weise, wie Wahrheit seiend, d. h. geschichtlich wird.
dizer, acontece historicamente.
Wir fragen nach dem Wesen der Kunst. Weshalb
§182 - Perguntamos pela esséncia da arte. Por que
fragen wir so? Wir fragen so, um eigentlicher fragen
perguntamos assim? Perguntamos assim para poder
zu konnen, ob die Kunst in unserem geschichtlichen
mais apropriadamente questionar se a arte, em nosso
Dasein ein Ursprung ist oder nicht, ob und unter welchen
Entre-ser histórico, é ou nao um originário, se e em que
Bedingungen sie es sein kann und sein muís.
condicóes ela pode ser e precisa ser.
Solches Besinnen vermag die Kunst und ihr Werden
§183- Uma tal reflexáo nao pode forcar a arte e seu
nicht zu erzwingen. Aber dieses besinnliche Wissen ist
devir. Porém, este saber reflexivo é a preparacáo prévia
die vorlaufige und deshalb unumgangliche Vorbereitung
e, por isso, imprescindível para o devir da arte. Sornen-
für das Werden der Kunst. Nur solches Wissen bereitet
te tal saber prepara o lugar (a) a obra, o caminho aos
dem Werk den. Raum", den Schaffenden den Weg, den criadores, a dis-posicáo aos que desvelam.
Bewahrenden den Standort. §184 - Em tal saber, que apenas lentamente pode
In solchem Wissen, das nur langsam wachsen kann, crescer, decide-se se a arte pode ser um originário e,
entscheidet sich, ob die Kunst ein Ursprung sein kann

"Reclam-Ausgabe 1960: Ortschaft des Aufenthaltes. §183 (a) Edicáo Reclam de 1960: Lugar da estancia.
200 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 201

und dann ein Vorsprung sein muís, oder ob sie nur ein entáo, precisa ser um salto-prévio, ou se ela deve per-
Nachtrag bleiben soll und dann nur mitgeführt werden manecer apenas um acréscimo e, en tao, somente pode
kann als eine ublich gewordene Erscheinung der Kultur. ser acompanhada como urna manifestacáo da cultura,
Sind wir in unserem Dasein geschichtlich am Ursprung? tornada corrente.
Wissen wir, d. h. achten wir das Wesen des Ursprunges? §185-Em nosso Entre-ser estamos nós historicamen-
Oder berufen wir uns in unserem Verhalten zur Kunst te no originário? Sabemos nós, quer dizer, consideramos
nur noch auf gebildete Kenntnisse des Vergangenen? nós a esséncia do originário? Ou em nossa relacáo com
Für dieses Entweder-Oder und seine Entscheidung a arte somente nos referimos ainda aos nossos conhe-
gibt es ein untrügliches Zeichen. Hólderlin, der Dichter, cimentos eruditos do passado?
dessen Werk zu bestehen den Deutschen noch bevorsteht, §186 - Para este ou-ou e sua decisáo existe um sinal
hat es genannt, indem er sagt: que nao engana. Hólderlin, o poeta, cuja obra ainda
constituí um desafio para os alernáes a experienciarem,
»Schwer verlaíst o nomeou quando diz:
Was nahe dem Ursprung wohnet, den Ort. «
"Dificilmente abandona
Die Wanderung, Bd. IV (Hellingrath), S. 167.
O que mora na proximidade do originário, o lugar".
A Peregrinadio, tomo IV (Hellingrath), p. 167.
Nachwort
Posfácio

66 Die vorstehenden Überlegungen gehen das Ratsel


§187 -As reflexóes precedentes dizem respeito ao
der Kunst an, das Ratsel, das die Kunst selbst ist. Der
enigma da arte, ao enigma que é a própria arte. Está
Anspruch liegt fern, das Ratsel zu losen. Zur Aufgabe
longe a pretensáo de resolver o enigma. Permanece a
steht, das Rátsel zu sehen.
tarefa de ver o enigma.
Man nennt, fast seit derselben Zeit, da eine eigene §188-Quase desde o mesmo tempo em que comeca
Betrachtung úber die Kunst und die Künstler anfangt, urna consideracáo específica sobre a arte e o artista,
dieses Betrachten das ásthetische. Die Asthetik nimmt nomeia-se este considerar o estético. A Estética toma a
das Kunstwerk als einen Gegenstand und zwar als den obra de arte como um objeto e, de certo, como o objeto
Gegenstand der afo0r¡crn;, des sinnlichen Vernehmens da aisthesis [sensacáo], do perceber sensível em sentido
im weiten Sinne. Heute nennt man dieses Vernehmen amplo. Hoje, este perceber denomina-se o vivenciar.
das Erleben. Die Art, wie der Mensch die Kunst erlebt, O modo como o ser humano vivencia a arte é que
202 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 203

soll uber ihr Wesen Aufschluf geben. Das Erlebnis ist <leve dar-lhe explicacáo da sua esséncia. A vivencia é a
nicht nur fur den Kunstgenuls, sondern ebenso für das fon te (a) paradigmática nao só do prazer artístico, mas
Kunstschaffen die maísgebende Quelleª. Alles ist Erlebnis. também da criacáo artística. Tudo é vivencia. Porém, a
Doch vielleicht ist das Erlebnis das Element, in dem die vivencia é o elemento no qual, talvez, a arte morre (b).
Kunst stirbt". Das Sterben geht so langsam vor sich, daf O morrer avanca tao lentamente que ele ainda precisa
es einige Jahrhunderte braucht. de alguns séculas.
Zwar spricht man von den unsterblichen Werken der Kunst §189-De fato, fala-se das obras imortais da arte e da
und von der Kunst als einem Ewigkeitswert. Man spricht so arte como um valor eterno. Fala-se assim naquele lingua-
in jener Sprache, die es bei allen wesentlichen Dingen nicht jar que, no que diz respeito a todas as coisas essenciais,
genau nimmt, weil sie befürchtet, genau nehmen heiíse am nao as considera exatamente em sua esséncia, porque
Ende: denken. Welche Angst ist heute groíser als diejenige vor as teme, pois, afinal, tomar quer dizer exatamente:
dem Denken? Hat die Rede von den unsterblichen Werken pensar. Que angústia é hoje maior do que aquela <liante
und vom Ewigkeitswert der Kunst einen Gehalt und einen do pensar? Tem o falatório sobre as obras imortais e o
valor eterno da arte algum conteúdo e consisténcia?
Bestand? Oder sind dies nur noch halbgedachte Redensarten
Ou isso sao somente ainda modos meio-pensados de
zu einer Zeit, in der die groSe Kunst samt ihrem Wesen von
falar num tempo no qual a grande arte,junto com sua
dem Menschen gewichen ist?
esséncia, afastou-se do ser humano?
In der umfassendsten, weil aus der Metaphysik
§190-Na mais abrangente reflexáo que o Ocidente
gedachten Besinnung auf das Wesen der Kunst, die das
possui sobre a esséncia da arte - porque pensada a partir
Abendland besitzt, in Hegels »Vorlesungen über die
da metafísica-, en con tram-se nas Licoes sobre Estética, de
Asthetik«, stehen die Sátze:
Hegel, as frases:

ª Reclam-Ausgabe 1960: Rückt die moderne Kunst aus dem Erlebnis-


haften heraus? Oder wechselt nur das, was erlebt wird, so freilich, §188 (a) Edicáo Reclam de 1960: Provém a arte moderna do caráter
daf jetzt das Erleben noch subjektiver wird als bisher? Das Erlebte vivencia!? Ou troca-se somente o que se vivencia, de modo que agora o
wird jetzt - »das Technologische des Schaffenstriebes< selber - das vivenciar se torna, certamente, ainda mais subjetivo do que antes? O
Wie des Machens und Erfindens. »Informelc und die entsprechende vivenciado torna-se agora - o tecnológico do próprio impulso criativo
Unbestimmtheit und Leere des »Symbolischenc, das selber noch - o como do fazer e do inventar. 'O informal' e a corresponden te inde-
Metaphysik bleibt. Das Erlebnis des Ich als »Cesellschaftc. terrninacáo e vazio do simbólico, o qua!, ele mesmo, ainda permanece
" Reclam-Ausgabe 1960: Dieser Satz besagt aber doch nicht, daf es metafísica. A vivencia do eu como "sociedade".
mitderKunstschlechthin zu Ende sei. Das wáre nur der Fall, wenn das §188 (b) Edicáo Reclam de 1960: Mas esta proposícáo nao quer
Erlebnis das Element schlechthin für die Kunst bliebe. Aber es liegt dizer que a arte está chegando ao fim. Somente seria esse o caso se a
gerade alles daran, aus dem Erleben ins Da-sein zu gelangen, und das vivencia permanecesse o elemento para a arte. Porém, tudo está justa-
sagt doch: ein ganz anderes >Element< für das >Werden< der Kunst mente nisso, chegar ao Entre-ser a partir do vivenciar, e isso diz: con-
zu erlangen. seguir um outro "elemento" bem diferente para o "devir" da arte.
204 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 205

» Uns gilt die Kunst nicht mehr als die hochste Weise, "Para nós a arte nao vale mais como o mais alto modo
in welcher die Wahrheit sich Existenz verschafft".« no qua! a verdade se proporciona existencia" (WW-X, 1,
(WW. X, 1, S. 134) »Man kann wohl hoffen, daf die S. 134) (a). "Pode-se bem ter a esperarn;:a de que a arte
Kunst immer mehr steigeri und sich vollenden werde, cada vez mais se eleve e se torne plena, mas sua forma
aber ihre Form hat aufgehórt, das hochste Bedürfnis parou de ser a suprema necessidade do espirito" ( idem,
des Geistes zu sein.« (ebd. S. 135) »In allen diesen p. 135). "Em todas estas relacóes é e permanece a arte
Beziehungen ist und bleibt die Kunst nach der Seite para nós, segundo o ponto de vista de sua mais alta de-
ihrer hóchsten Bestimmung für uns ein Vergangenes. « terminacáo, algo do passado" (X, 1, S. 16).
(X, 1, S. 16) §191 - Nao é possível esquivar-se quanto a senten-
Man kann dem Spruch, den Hegel in diesen ca que Hegel profere nessas frases, constatando-se:
Sátz e n fallt , nicht dadurch ausweichen, d af man desde que a Estética de Hegel foi exposta pela última
67 feststellt: Seitdem Hegels Asthetik zum letztenmal im vez, no semestre do inverno de 1828/29, na Universi-
Winter 1828/29 an der Universitat Berlín vorgetragen dade de Berlim, vimos nascer muitas e novas obras de
wurde, haben wir vie le und neue Kunstwerke und arte e movimentos artísticos. Hegel nunca quis negar
esta possibilidade. Porém, a questáo continua: a arte
Kunstrichtungen entstehen sehen. Diese Móglichkeit hat
é ainda um modo essencial e necessário, no qual a
Hegel nie leugnen wollen. Allein, die Frage bleibt: 1st
verdade decisiva acontece para nosso Entre-ser histó-
die Kunst noch eine wesentliche und eine notwendige
rico ou a arte nao é mais isso? Se, contudo, ela nao é
Weise, in der die fur unser geschichtliches Dasein
isso, entáo permanece a questáo: Por que isso é assim?
entscheidende Wahrheit geschieht, oder ist die Kunst
A decisáo sobre a sentenca de Hegel ainda nao foi
dies nicht mehr? Wenn sie es aber nicht mehr ist, dann
proferida, pois por detrás desta sentenca permanece
bleibt die Frage, warum das so ist. Die Entscheidung
o pensamento ocidental desde os gregos, cujo pensar
uber Hegels Spruch ist noch nicht gefallen; denn hinter
corresponde a urna verdade do sendo já acontecida.
diesem Spruch steht das abendlandische Denken seit
A decisáo sobre a sentenca será proferida, caso seja
den Griechen, welches Denken einer schon geschehenen
proferida, a partir desta verdade do sendo e sobre ela.
Wahrheit des Seienden entspricht. Die Entscheidung Até lá permanece válida a sentenca. Sornen te por isso é
uber den Spruch fallt, wenn sie fallt, aus dieser Wahrheit necessária a pergunta se a verdade que a sentenca pro-
des Seienden und über sie. Bis dahin bleibt der Spruch fere é decisiva e o que acontece entáo se isso é assim.

"Reclam-Ausgabe 1960: Die Kunst als Weise der Wahrheit (híer der §190 (a) Edicáo Reclam de 1960: A arce como modo ele verdade
Gewifsheit des Absoluten) (aqui da certeza do absoluto).
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 207
206 1 1

in Geltung. Allein deshalb ist die Frage nótig, ob die §192 - Tais perguntas, que ora nos sao claras, ora
Wahrheit, die der Spruch sagt, endgültig sei und was nem tanto, só se deixam fazer se pensamos antes a es-
dann sei, wenn es so ist. séncia da arte. Nós tentamos dar alguns passos no que
Solche Fragen, die uns bald deutlicher, bald nur aus nos colocamos a pergunta pelo originário da obra de
dem Ungefahren angehen, lassen sich nur fragen, wenn wir arte. Trata-se de trazer para a visáo o caráter de obra da
zuvor das Wesen der Kunst bedenken. Wir versuchen einige obra. O que aqui a palavra originário significa é pensado
Schritte zu gehen, indem wir die Frage nach dem Ursprung a partir da esséricia da verdade.
des Kunstwerkes stellen. Es gilt, den Werkcharakter des §193-A verdade, da qual aqui se fala, nao coincide
Werkes in den Blick zu bringen. Was das Wort Ursprung com a que se conhece sob este nome. E ela se atri-
hier meint, ist aus dem Wesen der Wahrheit gedacht. bui ao conhecimento e a ciencia como urna qualidade
Die Wahrheit, von der gesagt wird, fallt nicht mit dem para diferenciar dela o belo e o bom, que valem como
zusammen, was man unter diesem Namen kennt und dem os nomes para os valores dos procedimentos nao teó-
ricos.
Erkennen und der Wissenschaft als eine Qualitat zuteilt,
§194-A verdade é o desvelamento do sendo enquan-
um gegen sie das Schóne und das Gute zu unterscheiden,
to sendo (a). A verdade é a verdade do ser. A beleza
die als die Namen für die Werte des nichttheoretischen
nao aparece junto desta verdade. Quando a verdade se
Verhaltens gelten.
póe na obra, ela aparece. O apareceré- como este ser
Die Wahrheit ist die Unverborgenheit des Seienden
da verdade na obra e como obra - a beleza. Assim, o
als des Seiendenª. Die Wahrheit ist die Wahrheit
belo pertence ao acontecer-se apropriante da verdade.
des Seins. Die Schónheit kommt nicht neben dieser
Nao é sornen te relativo ao gosto e pura e simplesmente
Wahrheit vor. Wenn die Wahrheit sich in das Werk
como objeto dele. Obelo reside na forma, mas apenas
setzt, erscheint sie. Das Erscheinen ist - als dieses Sein
pelo fato de que a forma um dia se iluminou a partir do
der Wahrheit im Werk und als Werk - die Schonheit.
ser como a entidade do sendo. Entáo, o ser aconteceu
So gehort das Schone in das Sichereignen der Wahrheit.
como eidos. A idea se conforma a morphé. O synolon, o
Es ist nicht nur relativ auf das Gefallen und lediglich
todo unido de morphé e hylé, ou seja, o ergon, é no modo
68 als dessen Gegenstand. Das Schone beruht indessen
da enérgeia. Este modo de presern;a se converte em
in der Form, aber nur deshalb, weil die forma einst aus

ª 3. Auílage 1957: Die Wahrheit ist das síchlichtende Sein des Seienden. §194 (a) Terceira edicáo de 1957: A verdade é o ser do sendo que
Die Wahrheit ist die Lichtung des Unter-Schieds (Austrag), wobei Lichtung se auto-clareia, A verdade é a clareira da di-ferenca ( decisáo), em que
schon aus dem Unterschied sich bestirnrnt. a clareira já se determina a partir da diferenca.
208 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 209

dem Sein als der Seiendheit des Seienden sich lichtete. actualitas' do ens actu", A actualitas torna-se a realidade
Darnals ereignete sich das Sein als d8rn;. Die l8É<:x, fügt sich vigente. A realidade vigente torna-se a objetividade.
in die µopq>fl. Das cúvoxov das einige Ganze von µopq>1Í A objetividade torna-se vivencia. No modo como o
und ÜA.11, nárnlich das Epyov, ist in der Weise der tvÉpyE:ta. sendo é o real vigente para o mundo determinado
Diese Weise der Anwesenheit wird zur actualitas des ens ocidentalmente, vela-se um singular ir junto da beleza
actu. Die actualitas wird zur Wirklichkeit. Die Wirklichkeit com a verdade. Á transformacáo essencial da verdad e
wird zur Gegenstándhchkeit. Die Gegenstándlichkeir wird corresponde a história essencial da arte ocidental. Esta
zum Erlebnis. In der Weise, wie für die abendlandisch nao é para ser compreendida nem a partir da beleza
bestimmte Welt das Seiende als das Wirkliche ist, verbirgt tomada para si, nem a partir da vivencia, a nao ser que
sich ein eigentümliches Zusammengehen der Schonheit o conceito metafísico da arte alcance sua esséncia,
mit der Wahrheit. Dem Wesenswandel der Wahrheit
entspricht die Wesensgeschichte der abendlandischen Aditamento
Kunst. Diese ist aus der für sich genommenen Schonheit so
wenig zu begreifen wie aus dem Erlebnis, gesetzt, daf der §195 -Á página 163 [§139] e 183 [§162] impóe-se
metaphysische Begriff von der Kunst in ihr Wesen reicht. para o leitor atento urna dificuldade essencial pela im-
pressáo aparente de que as expressóes "estabelecer da
verdade" e "o deixar-acontecer a adveniéncia de verda-
Zusatz
de" nunca poderiam chegar a urna harmonía. Pois em
"estabelecer" há um querer que bloqueia a adveniéncia
Auf Seite 51 und 59 drangt sich einem aufmerksamen
e, portanto, a impede. Pelo contrário, expressa-se no
Leser eine wesentliche Schwierigkeit auf durch den
"deixar-acontecer" um conformar-se e, assim, um nao
Anschein, als konnten die Worte vom » Feststellen der
querer que deixa em liberdade.
Wahrheit« und vom »Geschehenlassen der Ankunft von
§ 196 -A dificuldade se resolve se pensamos o "esta-
Wahrheit« niemals zur Einstimmigkeit gebracht werden.
belecer" no sentido que é pensado ao longo de todo o
Denn im »Peststellen« liegt ein Wollen, das Ankunft
abriegelt und also verwehrt. Dagegen bekundet sich im
*Actualitas, palavra latina que significa atualidade. (N.T.)
Geschehenlassen ein Sichfügen und so gleichsam ein ** Ens actu; expressáo latina que significa senda em ato. En tao o sin-
Nichtwollen, das freigibt. tagma fica assim: "Este modo da presern;:a se converte em atualidade
enquanto senda em ato. A atualulade torna-se ... ". O problema da traducáo
Die Schwierigkeit l st sich auf, wenn wir das
ó

do grego para o latim é que se introduziu na palavra latina a idéia de


Feststellen in dem Sinne denken, der durch den causa, que nao há na palavra grega. E isso muda completamente o que
está em questáo no pensamento do pensador grego. Conf-ira o leitor
ganzen Text der Abhandlung hindurch, d. h. vor Ensaios e conferencias. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 43. (N. T)
210 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 211

allem in der Leitbestimmung » Ins-Werk-Setzenª« gemeint ensaio, ou seja, acima de tudo na determinacáo diretriz
ist. Mit »stellen« und »setzen« gehórt auch »legen« de "por-na-obra" (a). Ao lado de "situar" e "por", coper-
zusammen, die alle drei noch einheitlich im lateinischen tence "colocar", pois os tres verbos sao ainda pensados
ponere gemeint sind. conjuntamente no verbo latino ponere.
»Stellen« müssen wir im Sinne von 0Écrn; denken. So §197 - "Situar" precisamos pensá-lo no sentido de
wird auf S. 48 gesagt: »Setzen und Besetzen sind hier thesis. Assim é <lito a página 155 [§130]: "Por e ocupar
überall(I) aus dem griechischen Sinn der 0fot<; gedacht, sao aqui pensados, em geral ( ! ) , a partir do sentido
die ein Aufstellen im Unverborgenen meint. « Das grego de thesis, que diz um instalar no desvelado". O
griechische »Setzen« besagt: Stellen als Erstehenlassen grego "por" se refere a situar como deixar surgir, por
z. B. ein Standbild, besagt: Legen, Niederlegen eines exemplo, urna estátua; refere-se a colocar, depositar
Weihegeschenkes. Stellen und Legen ha ben den Sinn von: urna oferenda sagrada. Situar e colocar temo sentido de
Herb ins Unverborgene, vor- in das Anwesende bringen, trazer (b) para aqui- no desvelado, para diante- na pre-
d. h. vorliegenlassen. Setzen und Stellen bedeuten hier senca, isto quer dizer, deixar-ficar-presente. Por e situar
nirgends das neuzeitlich begriffene herausfordernde nao tém aqui nunca o significado moderno provocador
Sich (dem Ich-Subjekt)entgegenstellen. Das Stehen do confrontar-se (como eu/ sujeito). O permanecer da
estátua (isto é, a presenc;:a do aparecer contemplável) é
des Standbildes (d. h. das Anwesen des anblickenden
diferente do permanecer em que se defronta com algo,
Scheinens) ist anderes als das Stehen des Gegenstandes
sendo este algo um objeto. "Permanecer" é ( compare a
im Sinne des Objektes. »Stehen« ist (vgl. S. 21) die
página 103 [§75]) a constancia do aparecer. Pelo con-
Stánd igkeit des Scheinens. Dagegen meint Thesis,
trário, thesis, anti-thesis, synthesis significam, no ámbito
Anti-thesis, Synthesis innerhalb der Dialektik Kants
da dialética de Kant e do idealismo alemáo, um situar
und des deutschen Idealismus ein Stellen innerhalb
no ámbito da esfera da subjetividade da consciencia.
der Sphare der Subjektivitat des Bewuístseins. Hegel
Conforme a isso, Hegel interpretou - com razáo, a
hat derngemaf - von seiner Position aus mit Recht
partir de sua posicáo teórica - a thesis grega no sentido
- die griechische 0fot<; im Sinne des unmittelbaren
do por imediato do objeto. Este por é para ele ainda
Setzens des Gegenstandes ausgelegt. Dieses Setzen
nao verdadeiro, porque ainda nao mediado através
ist daher fur ihn noch unwahr, weil noch nicht durch

ªReclam-Ausgabe 1960: besser: Ins-Werk-Bringen; Hervor-Bringen, §196 (a) Edicáo Reclam de 1960: Melhor: trazer-á-obra: pro-duzir,
Bringen als Lassen; noí.ricrn;. trazer enquanto deixar/agir; poiesis.
"Reclam-Ausgabe 1960: »Herx: aus der Lichtung. §197 (b) Edicáo Reclam de 1960: 'Para aqui': a partir da clareira.
212 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 213

Antithesis und Synthesis vermittelt. (Vgl. jetzt: Hegel und da antíthesis e da synthesis ( compare agora: "Hegel e os
die Gríechen, in: »Wegmarken«, 1967.) gregos'", em: Wegmarhen, 1967).
Behalten wir jedoch für den Kunstwerk-Aufsatz den §198 - Porém, para o estudo da obra de arte man-
griechischen Sinn von 0fotc;; im Blick: Vorliegenlassen in tenhamos em vista o sentido grego de thesis: deixar
seinem Scheinen und Anwesen, dann kann das »Fest-« presencializar-se em seu aparecer e presen<,;a. En tao nao
im Feststellen niemals den Sinn von starr, unbeweglich pode o prefixo "fest" [fixo] no verbo "fest-stellen", esta-
und sicher haben. belecer, nunca ter o sentido de fixo, imóvel e correto.
»Fest« besagt: umrissen, in die Grenze eingelassen §199 - "Fest" [fixo] quer dizer: contornar, ingressar no
(nÉpac;), in den Umrif gebracht (S. 5lf.). Die Grenze im limite (peras), trazido ao contorno (página 161 [§138]).
griechischen Sinne riegelt nicht ab , sondern bringt als No sentido grego, o limite nao tranca, mas traz como pro-
hervorgebrachte selber das Anwesende erst zum Scheinen. -duzido a própria presen<,;a para o aparecer. O limite liberta
para o desvelado. Através de seu contorno, a luz da visáo
Grenze gibt frei ins Unverborgene; durch seinen Umrif
grega, a montanha póe-se em seu erguer-se e repousar.
irn griechischen Licht steht der Berg in seinem Ragen
O limite que fixa é o que repousa- a saber, na plenitude da
und Ruhen. Die festigende Grenze ist das Ruhende -
mobilidade - e tudo isto vale para a obra no sentido grego do
namlich in der Fülle der Bewegtheit - dies alles gilt vom
ergon [obra], cujo "ser" é a energeia, que reúne infinitamente
Werk im griechischen Sinne des épyov; dessen »Sein«
em si mais movimento do que as modernas "energías".
ist die évépvsi«, die unendlich mehr Bewegung in sich
§200 -Assim, pois, corretamente pensado, o estabe-
versammelt als die modernen » Energien «.
lecer da verdade de maneira alguma pode contrariar
So kann denn das recht gedachte »Feststellen «
o "deixar acontecer". Pois, de um lado, nao tem este
der Wahrheit keineswegs dem »Geschehenlassen«
"deixar" nenhuma passividade, masé o mais pleno agir,
zuwiderlaufen. Denn einmal ist dieses »Lassen« keine
no sentido da thesis", um "realizar" e um "querer" que é
Passivi tát , sondern h ochstes Tun (vgl. »Vortra ge
caracterizado, no presente ensaio a página 171 [§149],
und Aufsatze« , 1954, S. 49) im Sinne der 0tmc; ein como o "extático lancar-se do ser humano existente no
»Wirken« und »Wollen«, das in der vorliegenden desvelamento do ser". De outro lado, o "acontecer", no
Abhandlung S. 55 als das »ckstatische Sicheinlassen deixar acontecer da verdade, é o movimento vigente
des existierenden Menschen in die Unverborgenheit na clareira e no velamen to, mas precisamente em sua
des Seins« gekennzeichnet wird. Zum anderen ist das
» Geschehen « im Geschehenlassen der Wahrheit die in "'Hegel e os Gregos". Trad. Ernildo Stein. In: Os Pensadores. Heide-
der Lichtung und Verbergung, genauer in ihrer Einigung gge-1: Sao Paulo, Abril Cultural, 1979.
"Compare Ensaios e conferéncias. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 45/ 46.
waltende Bewegung, namlich die der Lichtung des (N.T)
214 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 215

Sichverbergens als solchen, aus dem wiederum alles harmonía, a saber, é o movimento da clareira do velar-se
Sichlichten herkommt. Diese »Bewegung« verlangt como tal, novamente do qual provém todo clarear-se.
sogar ein Feststellen im Sinne des Her-vor-bringens, Este "movimento" exige até um estabelecer no sentido
wobei das Bringen in der Bedeutung zu verstehen de trazer para fora [pro-duzir], em que o trazer deve ser
ist, die S. 50 genannt wird, insofern das schaffende entendido no sentido expresso na página 159 [§135],
(schópfende) Her-vor-bringen »eher ein Empfangen na medida em que o trazer-para-fora [pro-duzir] criativo
und Entnehmen (ist) innerhalb des Bezuges zur (que haure) "é antes um receber e um retirar de, no
ámbito da referencia ao desvelamento".
Unverborgenheit«.
§201 - Na medida do esclarecido até agora, deter-
Gemaís dem bisher Erlauterten bestimmt sich die
mina-se, a página 161 [§137 /138], o sentido do uso da
Bedeutung des auf S. 51 gebrauchten Wortes »Ge-stell«:
palavra "Ge-stell" ( com-posicáo): a reuniáo do trazer-
die Versammlung des Her-vor-bringens, des Her-vor-
para-fora (pro-duzir), do deixar-advir-ao-manifesto
-ankornmen-lassens in den Rif als Umrif (nÉpm;). Durch
no tracar como contorno (peras/limite). Através da
das so gedachte »Gestell« klart sich der griechische Sinn "com-posicáo", assim pensada, esclarece-se o sentido
von µopq>i¡ als Gestalt. Nun ist in der Tat das spáter als grego de morphé como figura. De fato, a palavra "com
ausdrückliches Leitwort fur das Wesen der modernen -posicáo", mais tarde usada como palavra-diretriz para
Technik gebrauchte Wort »Ge-stell« von jenem Ge- a esséncia da técnica moderna, está pensada a partir da
stell her gedacht (nicht vom Büchergestell und der corn-posicáo como é entendida aquí ( e nao no sentido
Montage her). Jener Zusammenhang ist ein wesentlicher, de estante de livros ou de montagem). Aquela relacáo
weil seinsgeschi-cklicher. Das Ge-stell als Wesen der é algo essencial, porque é do destino do ser. A com-
modernen Technik kommt vom griechisch erfahrenen -posicáo como essencia da técnica moderna provém
Vorliegenlassen, Ahyoc,, her, von der griechischen rroí do deixar-presencializar-se, do logos, experienciado
11cnc, und 0fotc,. Im Stellen des Ge-stells, d. h. jetzt: im de modo grego, da poiesis e da thesis gregas. No pór da
Herausfordern in die Sicherstellung von allem, spricht der com-posicáo, isto quer dizer agora: no desafio do lugar
Anspruch der ratio reddenda, d. h. des 'Aóyov füoóvm, certo e exato de tudo, fala a pretensáo da ratio reddenda,
so freilich, daís jetzt dieser Anspruch im Ge-stell die isto é, do lógon didonai', com tanta certeza, que agora
Herrschaft des Unbedingten übernimmt und das Vor-
-stellen aus dem griechischen Vernehmen zum Sicher- und "No livro Der Saiz vom Grund (A proposioio do fundamento), assim explica
a expressáo grega wgon didánai; traduzida para o latim como ratio reddenda:
Fest-stellen sich versammelt. "Pode-se, sem inexatidáo, traduzir !,ógon didónai por prestar con tas, indicar
Wir müssen uns einerseits beim Horen der Worte a razáo, mas neste caso nao se pensa como um grego. Para um grego, !,ógon
didónai quería dizer: a percepcáo que reúne oferecer urna coisa presente
Fest-stellen und Ge-stell im »Ursprung des Kunstwerkes« em tal ou tal presenc;a, perto de nós e <liante de nós". (N.n
216 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 217

die neuzeitliche Bedeutung von Stellen und Gestell aus esta pretensáo assume na corn-posicáo o domínio do in-
dern Sinn schlagen und dürfen doch zugleich andrerseits condicionado, e o re-presentar reúne-se a partir do per-
nicht ubersehen, daf und inwiefern das die Neuzeit ceber grego em direccáo ao pór correto e ao estabelecer.
§202 - De um lado, nós precisamos, ao escutar as
bestirnrnende Sein als Ge-stell aus dem abendlandischen
palavras estabelecer e com-posicáo, em A origem da obra
Geschick des Seins herkommt und nicht von Philosophen
de arte, nos afastar do sentido moderno de pór e estante
ausgedacht, sondern den Denkenden zugedacht ist (vgl.
e, contudo, <levemos, ao mesmo tempo, de outro lado,
»Vortrage und Aufsatze«, 1954, S. 28 u. S. 49). nao ignorar que, e até que ponto, a modernidade,
Schwer bleibt, die Bestimmungen zu erórtern, enquanto ser que se determina como com-posicáo, pro-
die in kurzer Fassung S. 48 uber das »Einrichten« vém do destino ocidental do ser e nao imaginada pelos
und »Sicheinrichten der Wahrheit im Seienclen« filósofos, mas, sim, para ser pensada pelos pensadores
gegeben werden. Wiederum müssen wir vermeiden, (compare Ensaios e Conferencias, 1954, p. 28 e p. 49)*.
»einrichten« im modernen Sinne und nach der Weise des §203 - É dificil de debater as determinacóes que foram
Technikvortrages als »organisieren« und fertigmachen zu dadas de modo breve na página 155 [§130,131,132] sobre
verstehen. Vielmehr denkt das »Einrichten« an den S. o "dis-por" e "o dis-por-se da verdade no sendo". De novo,
precisamos evitar entender "dis-por" no sentido moder-
50 genannten »Zug der Wahrheit zum Werk«, dafs die
no e de acordo com o modo em que foi entendido na
Wahrheit inmitten des Seienden, selber werkhaft seiend,
conferencia sobre a técnica, ou seja, como "organizar" e
seiend werde (S. 50). aprontar. O "dis-por" pensa muito mais o que foi nomea-
Bedenken wir, inwiefern Wahrheit als Unverborgenheit do na página 159 [§134] como "impulso da verdade para
des Seienden nichts anderes besagt als Anwesen des a obra", ou seja, que a verdade, no meio do sendo, sen-
Seienden als solchen, d. h. Sein (siehe S. 60), dann do ela própria operante, torna-se sendo (página 159
rührt die Rede vom Sicheinrichten der Wahrheit, d. h. [§135]).
des Seins, im Seienden an das Fragwürdige der §204 - Reflitamos até que ponto verdade como
ontologischen Differenz (vgl. »Identitát und Differenz«, desvelamento do sendo nada mais diz do que pre-
1957, S. 37 ff.). Darum heifs: es (»Der Ursprung des senca do sendo como tal, quer dizer, ser (ver página 183
[§162]), entáo o discurso sobre o dis-por-se da verdade, isto
Kunstwerkes«, S. 48 f.) vorsichtig: »Mit dem Hinweis auf
é, do ser, no sendo toca o que é digno de questáo
das Sicheinrichten der Offenheit in das Offene rúhrt das
na diferenca ontológica ( compare "Identidade e dife-
Denken an einen Bezirk, der hier noch nicht auseinander-
gelegt werden kann. « Die ganze Abhandlung »Der • Compare Ensaios e Conferencias. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 27 e
Ursprung des Kunstwerkes« bewegt sich wissentlicb und 28. (N.T.)
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 219
218 1

doch unausgesprochen auf dem Weg der Frage nach dem renca'", 1957, p. 37 seguintes). Por isso, se diz (A origem da
Wesen des Seins. Die Besinnung darauf, was die Kunst obra de arte, página 155 [§131]), cuidadosamente: "Coma
sei, ist ganz und entschieden nur aus der Frage nach dem indicacáo em relacáo ao dis-por-se da abertura no aberto, o
pensarnento toca nurn domínio que aqui ainda nao pode
Sein bestimmt. Die Kunst gilt weder als Leistungsbezirk
ser exposto". Todo o ensaio A origem da obra de arte move-se
der Kultur, noch als eine Erscheinung des Geistes, sie
conscientemente, ainda que sem o dizer, no carninho da
gehórt in das Ereignis, aus dem sich erst der »Sinn vom
pergunta pela esséncia do ser. A reflexáo sobre isso, o que
Sein« (vgl. »Sein und Zeit«) bestimmt. Was die Kunst sei,
seja a arte, é determinada inteira e decididamente apenas
ist eine jener Fragen, auf die in der Abhandlung keine
a partir da pergunta sobre o ser. A arte nao é tomada nem
Antworten ge ge ben sind. Was den Anschein von solchen como urna área de realizacáo cultural nem como urna
bietet, sind Weisungen für das Fragen. (V gl. die ersten manifestacáo do Espírito. Ela pertence ao acontecer-poético-
Sátze des Nachwortes.) aproprianie; a partir do qual se determina o "sentido do ser"
Zu diesen Weisungen gehóren zwei wichtige (compare Ser e Tempo). O que seja a arte é urna daquelas
Fingerzeige S. 59 und S. 65. An beiden Stellen ist von perguntas as quais o ensaio nao dá nenhuma resposta.
einer »Zweideutigkeit« die Rede. Auf S. 65 ist eine O que parece ser resposta nao passa de indicacóes para o
»wesenhafte Zweideutigkeit« genannt hinsichtlich perguntar" ( Compare as primeiras frases do Posfácio).
der Bestimmung der Kunst als »lns-Werk-Setzen der §205 - Em relacáo a estas indicacóes há duas importan-
Wahrheit«. Darnach ist Wahrheit einmal »Subjekt« und tes obseroar;i5esnas páginas 181 [§161] e 197 [§179]. Em
ein andermal »Objekt«. Beide Kennzeichnungen bleiben ambas se fala de urna ambigüidade. Á página 179 [§179]
»ungernaís«. 1st die Wahrheit das »Subjekt«, dann sagt se nomeia "urna ambigüidade de caráter essencial", que
die Bestimmung » lns-Werk-Setzen der Wahrheit«: concerne a determinacáo da arte como "pór-em-obra da
»Sich-ins-Werk-Setzen der Wahrheit« (vgl. S. 59 und verdade". Segundo isso, a verdade é urna vez "sujeito" e
outra vez "objeto" da frase. Ambas as caracterizacóes per-
S. 21). Kunst ist so aus dem Ereignis gedacht. Sein
manecem "inadequadas". Se a verdade é "sujeito", entáo
aber ist Zuspruch an den Menschen und nicht ohne
a determinacáo "pór-em-obra da verdade" diz: "Por-SE-
diesen. Demnach ist die Kunst zugleich bestimmt als
-em-obra da verdade" (vejapáginasl81-183 [§161,162] e pá-
lns-Werk-Setzen der Wahrheit, wobei jetzt Wahrheit
ginas 147-149 [§124]). Arte é assim pensada a partir do
»Objekt« und die Kunst das menschliche Schaffen und
Bewahren ist. "Consulte "Identidade e diferenca". Trad. Ernildo Stein. In: Os
lnnerhalb des menschlichen Bezuges zur Kunst Pensadores. Heidegger. Sao Paulo, Abril Cultural, 1979. (N.T.)
•• Consulte§ 187. Enigma é o que se coloca como questiio originária.
ergibt sich die andere Zweideutigkeit des lns-Werk- Estajamais se resolve em qualquer conceito ou teoría. A questáo, que
-Setzen der Wahrheit, die S. 59 oben als Schaffen und é prévia a qualquer ver, solicita sempre um ver originário. (N. T)
MARTIN l-IEIDEGGER
A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 221
220 1

acontecer-poético-apropriante. Porém, ser é apelo ao


Bewahren genannt wird. Nach S. 58 f. und S. 44 beruhen
homem e nao sem este. Por conseguinte, a arte é, ao
Kunstwerk und Künstler »zumal« i.m Wesenden der
mesmo tempo, determinada como pór-ern-obra da
Kunst. In dem Titel: »Ins-Werk-Setzen der Wahrheit«,
verdade, em que, agora, a verdade é "objeto" e a arte é
worin unbestimmt aber bestimmbar bleibt, wer oder
o criar e o desvelar humanos.
was in welcher Weise »setzt« , verbirgt sich der Bezug van §206 - No ámbito da referencia humana a arte, dá-se a
Sein und Menschenwesen, welcher Bezug schon in dieser outra ambigüidade do pór-em-obra da verdade, que a pá-
Fassung ungemaf gedacht wird, - eine bedrangende gina 181 [§161] é denominada como criar e desvelar. De
Schwierigkeit, die mir seit »Sein und Zeit« klar ist und acordo comas páginas 179 e seguintes [§158 e seguintes]
dann in vielerlei Fassungen zur Sprache kommt (vgl. e 47 [§124], a obra-de-arte e o artistarepousam "simultanea-
zuletzt »Zur Seinsfrage« und die vorliegende Abhandlung mente "no essencializar-se da arte. Nafrase: "Pór-ern-obra da
S. 49: »Nur dieses sei angemerkt, daf ... «). verdade", em que fica indeterminado, porém, determinável
Die hier waltende Fragwürdigkeit sammelt sich de que modo, quem ou o que "póe", vela-se a rejeréncia do
dann an den eigentlichen Ort der Erórterung, dorthin, ser e da esséncia humana, e tal referencia, nesta formulacáo,
wo das Wesen der Sprache und der Dichtung gestreift já é pensada inadequadamente, - urna dificuldade aflitiva
werden, alles dies wiederum nur im Hinblick auf die que está clara para mim desde Ser e tempo e, depois, vem a
Zusammengehórigkeit von Sein und Sage. linguagem em muitas formulacóes ( compare por último
Es bleibt ein unvermeidlicher Notstand, daís der Leser, Zur Seinsfrage [ Sobre a questáo do ser]) e no presente ensaio
der natürlicherweise von auísen an die Abhandlung gerát, a página 155 [§131]: "Seja apenas observado isto que ... ".
§207 - O que aquí vigora como digno de ser posto em
zunachst und langehin nicht aus dem verschwiegenen
questáo reúne-se entáo no lugar próprio da discussáo,
Quellbereich des Zudenkenden die Sachverhalte vorstellt
lá onde a esséncia da linguagem e da poiesis se tocam,
und deutet. Für den Autor selber aber bleibt der Notstand,
tudo isto, urna vez mais, somente na perspectiva de co-
auf den verschiedenen Stationen des Weges jeweils in der
perten<;a de ser e saga [narracáo inaugural].
gerade günstigen Sprache zu sprechen. §208 - Permanece urna inevitável carencia: que o
leitor que adentra, naturalmente de fora, este ensaio,
de início e continuamente, nao conceba nem interprete
as questóes a partir da silenciosa fonte originária, de
onde brota o que é para ser pensado. Porém, para o
próprio autor, permanece a carencia de, em cada urna
das diferentes estacóes do caminho, a cada vez, falar
justamente a linguagem propícia.
NOTAS DE TRADUc;AO

As notas que se seguem tentam dar ao leitor urna


pequena idéia das numerosas dificuldades para traduzir
o ensaio. Nelas explicamos a escolha de determinadas
palavras e seus significados especiais de acordo com
a dinámica em que se move o pensamento que dá
consistencia ao presente ensaio de Martín Heidegger.
Nao haverá glossário, urna vez que a edicáo é bilín-
güe e o leitor poderá facilmente aferir a traducáo de
cada palavra. As notas também se limitaráo a algumas
palavras-chave no pensamento de Heidegger e que
causam problemas para achar em portugués a palavra
propícia. Em vista disso, embora poucas, as notas seráo
mais extensas. O sentido do ensaio como um todo, o
leitor já poderá apreender na Apresentacáo. Também
lá estáo já indicadas as leituras suplementares para
aprofundamento do que é tratado no ensaio. No caso
presente, é melhor achar em outros ensaios e obras do
próprio autor as explicacóes. Sabemos que isso nao é
fácil, pois, para muitos leitores, isso exige urna inicia-

i ••.• , ~:r~.E~D;/\j)[ FíJ)ET~tJ\l, [¾J PiJl~


r-i!ltl:J(1'rECA CENTRAL
224 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 225

cáo, que nunca termina, como o autor o diz no § 208. do autor. Talvez os leitores que se aproximam da
O leitor também poderá encontrar discordancias daqui- obra de Heidegger nao atentem para um fato muito
lo que aqui se diz e como se traduzem certas palavras simples: ele nao é apenas um grande pensador, um
ao tomar conhecimento de outros intérpretes de Hei- dos maiores na linha dos grandes pensadores. Nessa
degger.Justamente por isso remetemos o mais possível linhagem há urna dime nsáo que os distingue e que
para os próprios textos do autor. Sem dúvida nenhuma, raramente é acentuada e levada em conta. Eles nao
nessas discordancias, o ponto fulcral reside na questáo reinventam a realidade só como pensamento. Eles
do originário e de sua referencia ao ser humano. Onde só fazem isso porque o reinventam como linguagem
se localiza o agir: na physis ou no ser humano, isto é, na e poiesis (ver mais abaixo). Para apreender o sentido
vontade do ser humano? De imediato pensamos o agir de Ursprung nao se pode simplesmente lancar máo
como o que causa efeito. Portanto, o ser humano é do dicionário. O que fazer? Apreender o sentido
a causa do agir. Ledo engano. Causa e conseqüéncia dentro do próprio ensaio e no todo das suas obras.
já sao urna interpretacáo metafísica do princípio, da Nesta perspectiva, é mais que evidente que a tradu-
"arché", do "Ursprung". Abandonada a interpretacáo cáo que aponta para o apelo do pensaré originário.
metafísica causal, entra em questáo a referencia de Ser E Porém, como todas as traducóes que conhecemos
esséncia do humano. A questáo das questóes, conforme traduziram o título do ensaio por A Origem da Obra
o diz o próprio autor no § 206. Essa referencia é o que de Arte, mudar agora para O Originário da Obra de
compreendemos por "entre", um "entre" abismal, mas Arte causaría mais confusáo do que convite ao pen-
que como fon te originária é o próprio philei de que nos samento, como é o propósito do autor. Mas no corpo
fala o fragmento 123 de Heraclito, ou seja, o "apropriar- do texto a maioria das vezes a palavra Ursprung será
se" como o "amar". traduzida por originário.
Em que fundar nossa opcáo? Em alernáo, a palavra
Ursprung: originário1, § 1 Ursprung é formada do verbo springen, pular, precedida
do prefixo Ur, o primordial. Que o autor usa a palavra
Urna das primeiras dificuldades que encontramos pensando na sua composicáo fica evidente no parágrafo
está no título. Ele diz em alemáo: Der Ursprung des Kuns- 180, mas nao numjogo retórico e formal. Pelo contrá-
twerkes. Como traduzir Ursprung? Tanto pode significar rio. No "pulo" ele localiza o poético-ontológico. Isso fica
origem como originário, daí ser passível de ser mal evidente pela rernissáo em dois momentos ao ensaio
compreendido. Todas as traducóes que consultamos "Identidade e diferenca", onde ele mostra a esséncia
optaram por traduzir por origem. Nao eremos que da identidade como sendo um "pulo". É para essa esséncia
corresponda tal traducáo ao pensamento renovador que ele quer remeter ao pensar a esséncia da arte como
MARTIN HEIDEGGER A ORJGEM DA OBRA DE ARTE 1 227
226 1

Ursprung. Urn tal "pulo primordial" é pensado tarnbérn de ern que será ernpregada a palavra, urna palavra de
como Ereignis, o acontecimento poético-apropriante. pensamento. Porém, o seu sentido profundo só será
Ern portugués ternos corno possibilidade de traducáo exposto no final do ensaio, porque antes ainda nao
as palavras origem e originário. Ambas vém do verbo latino seria passível de entendimento. E tudo é muito bern
oriri, que significa levantar. Embora tenharn o mesmo encadeado. Na caminhada em procura da Esséncia da
radical, seu significado é bern diferente. Origem diz arte, ele a entende como poiesis (parágrafos 166 a 179)
urna proveniencia marcada por urn comeco e urna causa e dá como urna de suas características o principiar ( an-
identificável, inscrevendo-se, portan.to, no tempo inter- fangen), que nao quer dizer comecar (parágrafos 176
pretado linear e historiograficarnente. Metafisicamente a 179). Depois de dizer o que é principiaré que entáo
o comeco e a causa forarn identificados corn a esséncia explicita em que sentido está ernpregando a palavra
metafísica. Já originário diz algo bern diferente, pois foge Ursprung (parágrafos 180 a 186). E aí termina o ensaio.
a urna interpretacáo metafísica. Nao se identifica nern O fim retoma o princípio.
com comeco nem corn causa enquanto esséncia: Por isso, O início e o término do ensaio se movem em tor-
outra é a compreensáo do tempo. É urn tempo poético- no da mesma palavra: Ursprung. É um círculo. O que
-ontológico que consiste ern estar sernpre principiando e era atemático se tornou temático. O que ocorreu, o
constituindo realidade. Ele nao provérn de nen.huma es- que se manifestou nesse círculo poético? A passagem da
séncia essencialista, mas de urna Esséncia poético-ontológica, compreensáo da arte como origem enquanto esséncia
que consiste ern estar sernpre principiando ( anfangen) metafísica para o originário como acontecer abissal.
enquanto acontecirnento apropriante (Ereignis). Ele é Tentemos apreender o que é originário por urna
sem fundamento, é Ab-grund, é abissal, é misterioso. É nesse imagern, que chamo imagern-questáo, porque nos lanca
sentido que o alemáo diz Ur-sprung: o salto-originário, no cerne da questáo e fora dos limites dos conceitos.
primordial. Ele nao diz, portan.to, nenhuma esséncia Ela quer ser urn convite e urna provocacáo ao pensar,
essencialista (metafísica). É puro agir; acontecer. enquanto aprendizagem do enigma que é toda obra
Ao princípio (Arifang), o autor contrapóe, no pará- de arte.
grafo 176, o primitivo, entendido corno o que aponta O que é urna fonte? É algo que nao se esgotando nao
para um comeco zorígem. Porém, a origem (primitivo) pára de dar origern a correnteza. A fonte é o princípio da
" ... é sernpre sern futuro ... Ele nao pode enviar a nada correnteza. A correnteza tern urn comeco e um término,
fora de si, porque nada con térn senáo aquilo ern que um percurso com decurso e fim, a fonte é princípio sem
está aprisionado" (§176). comeco nem término. Como princípio seu fim é consumar
Urn leitor atento do ensaio notará que Ursprung a correnteza consumando-se corno princípio. A corren-
inicia o texto indicando já o horizonte e profundida- teza corre e percorre pelo vigor do princípio, a fonte,
228 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 229

que nao cessa de ser fonte. A correnteza nao temo vigor O emprego do hífen, quer acentuar este sentido ori-
em si. O princípio é este vigor que nao se esgota, pelo ginal da palavra, para evitar ser entendida como um
contrário, se consuma no estar vigorando. O princípio sinónimo de fabricar, algo meramente técnico.
é o vigor vigorando. Como vigor nao está situada no
tempo, constitui o tempo, por isso, a fonte é o tempo Feststellen: estabelecer3, §33
poético-ontológico. A este dá-se também o nome de
tempo mítico, que nenhum rito esgota. A correnteza é o Do latim stabiliscere, incoativo de stabilire: tornar firme,
rito da fon te. A fonte, como a arte, é o originário. É sempre estável; fig. Estabelecer. A raiz do verbo está ligada ao
um acontecer apropriante. verbo sto: estar de pé, estar levantado; persistir, perdu-
Ao vigor do originário realizando-se, <loando-se, rar. Figurativo: estacionar, morar. Na traducáo optamos,
plenificando-se, denominaram os Gregos telas. O que em lugar de fixar, pelo estabelecerque tanto dá a idéia de
é telos? "Costuma-se traduzir telas por meta, fim, finali- firmeza como também de que algo está aí num situar-se,
dade. Todavia telas nao diz nema meta a que se dirige a ocupando o aberto, ou seja, que se estabelece, lembrando
acáo, nem o fim em que a acáo finda, nem a finalidade também o sentido da palavra grega thesis. Heidegger diz
a que serve a acáo. Telas é o sentido, enquanto sentido isso: "Porém, para o estudo da obra de arte mantenhamos
implica princípio de desenvolvimento, vigor de vida, em vista o sentido grego de thesis: deixar estar situado
plenitude de estruturacáo. Assim o telas, o sentido, de <liante em seu aparecer e fazer-se presente", §198. Nao
toda acáo é consumar a atitude, é o sumo desenvolví- traduzimos por fixar, evitamos, por isso, a idéia de fixo,
mento do vigor em sua plenitude" (Leáo, 1992: 156). de fixidez, incompatível tanto com a verdade em sua
Portan to, só podemos entender o que é telas se pensa- dinámica quanto como limite da figura em sua tensáo
mos o sentido e se o pensamos como princípio. como nao-limite do vazio e do silencio, que é próprio
do operar da obra de arte, enquanto poiesis.
Hervorbringen: pro-duzir", § 33
Bezug: Referencia", § 67
"A palavra é entendida aqui em sentido etimoló-
gico e nao económico. Composta do verbo ducere, "Bezug" nao diz simplesmente relacáo (Beziehung),
que significa levar, e da preposicáo pro, diante de, em isto é, um nexo entre duas coisas coordenadas. É o
frente a, pro-duzir é a instauracáo de vigor que leva o suporte da verdade do Ser na existencia, que faz com
modo de ser de algum ente para a frente da presenc;:a que o homem existindo possa reportar-se ao Ser" (Leáo,
histórica" (Nota de Emmanuel Carneiro Leáo a página 78 1969: 79). É sobretudo importante pensar a diferenca
de Introducdo a metafísica. Rio, Tempo Brasileiro, 1966). entre relacáo e referencia quando se dá o encontro do
230 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 231

leitor com a obra. O que há aí , relacáo ou referencia? Dasein: Entre-ser", § 81 (a)


Urna relacáo pressupóe sempre duas partes indepen-
dentes na coordenacáo ou de duas partes dependen tes O sentido dicionarizado de Dasein é existencia. Mas
na subordinacáo, Quando se trata de leitura e citacáo nao é esse o sentido que aparece no todo da obra de
de autores, está em causa o aprender. Por isso diz Em- Heidegger. Desde entáo colocou-se a questáo de sua
manuel Carneiro Leáo: " ... todo heideggeriano nao traducáo, nao literal, como apelo de pensamento que
consegue totalmente ser heideggeriano. Isso nao vale nele se presenteia. Há urna certa opiniáo apressada de
só em relacáo a Heidegger, isso vale para qualquer que nao se deve traduzir. Mas concordamos integral-
tipo de aprendizado, qualquer empenho e esforc;:o de mente comos argumentos, quanto a isso, de Márcia Sá
aprender alguma coisa para se transformar, nao para se Cavalcante Schuback (Schuback, 2006). Para o leitor
repetir. Assim urna leitura heideggeriana é urna tenta- que nao conhece a língua alemá, conservar o vocábulo
tiva de se recolher ao extraordinário das diferenc;:as ... " alemáo é inútil e até irritante. Se tiver que lancar máo
(Leáo, 1995: 19). Na relacáo nao há um recolhimento do dicionário nada esclarecerá e só vai confundí-lo. Se
ao extraordinário, apenas urna adequacáo coordenada o leitor já sabe alemáo nao precisa da traducáo. Toda
ou subordinada ao ordinário, ao nao-pensar, ao nao língua se traduz continuamente a si mesma, entáo por
ser original porque nao re-ferido ao originário. Todo que nao propor "traducóes"?
apelo de recolhimento ao extra-ordinário é um apelo de O prefixo alernáo da, no dicionário, significa aí. Um
afirmacáo das diferenc;:as. Ora, esta tensáo de afirmacáo aí que tanto indica algo espacial como também tempo-
de identidade nas diferenc;:as nos é dada na referencia ral. Atendendo mais ao dicionarizado do que ao pensar,
e nao na relacáo. Toda referencia só é referencia na a traducáo predominante de Da-sein generalizou-se
medida e na proporcáo em que se afirmam as diferenc;:as como ser-aí. Porém, mais do que um significado literal
a partir sempre do mesmo, do originário. A referencia ressoa nessa palavra básica, no pensamento renovador
nao coordena nem subordina, ou melhor, só coordena de Heidegger, um profundo apelo de pensar o ser
e só subordina na medida em que ultrapassa essa rela- humano em sua esséncia verbal e nao substantiva (me-
cáo, Esse ultrapassar consiste na manifestacáo do que tafísica). A traducáo por existencia já nos lanca numa
cada um é a partir da abertura e escuta do Ser. O Seré dinámica tanto temporal como espacial. Porém, essa
o extra-ordinário do ordinário, o que se dá enquanto se palavra centraliza o agir no sujeito que existe. E nao é
retrai, o mistério de toda Poética. No abrir-se para este esse o apelo de pensamento do vocábulo heideggeriano.
apelo é que consiste propriamente o aprender. Vemos Este apelo só pode ser, se pode, apreendido no ámbito
como aquí se unem: Entre-ser, Originário, Desvelo, de toda a sua obra. Por isso no próprio decorrer do
Princípio. percurso de seu pensamento passa a fazer um maior
232 1
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 233

uso da palavra, igualmente difícil de traduzir, Ereignis. está projetado, enquanto desvelo do que ele é, do que
Em A origem da obra de arte, essa mudanca foi incorpo- nele se dá, pois o ser se dá. Se dá: presenteia em cada
rada ao texto através de notas em diversas passagens. agora temporal. É o que Heidegger denomina Ereignis.
É necessário pensar o Da-sein na dinámica do Er-eignis. Ser, entáo, para o ser-humano é estar entre, permanen-
Mas um vocábulo nao excluí o outro. Ambos acentuam temente, o que é E o que náo-é. Ele é, queira ou nao
a facticidade do ser humano, o fato de que ele está per- queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre, realiza-
manentemente em liminaridade. Como melhor trazer se sempre na e a partir da liminaridade. E a própria
para nossa língua essa liminaridade? tradutora de Ser e Tempo, no texto citado acima diz
A traducáo por Ser-aí é muito pobre. A inversáo por expressamente isso: "A experiencia filosófica com que
Aí-ser nada muda essencialmente. Numa ousadia digna Ser e Tempo nos presenteia está na descoberta de que a
de louvor e de convite ao pensar Márcia Sá Cavalcante vida fática (grifo nosso) do homem, a existencia, é um
Schuback na traducáo de Ser e Tempo para o portugués entre-aberto-vivo (grifo nosso) ... " (Schuback, 2006:
propós Presenca. No texto citado acima, justifica bri- 31). Faltou-lhe dar o passo decisivo da referencia de
lhantemente essa opcáo. Achamos, contudo, que há Da-sein e Ereignis, isto é, do Entre-ser como Acontecer-
urna outra possibilidade de traducáo que atenda tanto -poético-apropriante.
a liminaridade quanto ao acontecer. E desde 2004, Mas como ler e compreender esse "entre"? Há um
em nosso ensaio "Poiesis, sujeito e metafísica" (Castro, fato muito simples. Nao podemos ler Heidegger a partir
2004), propusemos a traducáo de Da-sein por Entre-ser, das categorías gramaticais vigentes desde a metafísica.
o Ser-do-entre. É necessário fazer em primeiro lugar a "desconstrucáo"
No Da- de Da-sein está emjogo o profundo mistério da gramática. Urna coisa é a sintaxe gramatical. Outra,
da tensáo entre ser-humano e ser. Nesta tensáo, dá-se o bem outra, é a sintaxe poética e de pensamento. "En-
sentido e verdade dos ser. Todo o estabelecimento de tre" nao é aí urna mera preposicáo. Tem um sentido
sentido é sempre tensáo. É dentro dessa tensáo que o profundo poético-ontológico. Entre vem do latim in,
ser-humano aparece, queira ou nao queira, como um que significa o que está dentro, o intus, que vigora
sendo-da-liminaridade. Liminaridade significa aí o estar como o acontecer apropriante, como, por exemplo,
jogado num projeto de realizacáo do que é, a partir no intus-legere, a inteligibilidade, como, por exemplo,
do ser. Na liminaridade o agir do ser-humano, e só é em dia-noia. A inteligibilidade é o diálogos enquanto
agindo, encontra o seu vigor e seu horizonte no ser e diá-noia. O entre conjuga e configura ao mesmo tempo
nao numa decisáo sua. Seu agir é, pois, algo entre o a linguagem e a poiesis. Como seres da liminaridade
agir do ser que nele opera ( obra/verdade/ poiesis) e o movemo-nos e agimos sempre nos inter-stícios (entre-
seu agir, enquanto correspondencia ao que nele é e estar) do sendo e do ser. Estamos sempre e necessaria-
234 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 235

mente no "Entre/E" devidaEmorte, finito Enao-finito, momento forte do ensaio na apreensáo do que seja
saber E nao-saber, ser E nao-ser. Esse da/ entre diz o como verdade em que atua a arte, pois como conciliar
lugar de abertura do ser-humano ao ser. Somos como este atuar coma obra enquanto ente delimitado? Otra-
existencia Entre-ser, o dar-se como clareira e abertura. co-cisáo ou o tracar vai estar ligado ao verbo latino finge-
Na questáo do fundamento esse "entre" é o Abgrund: o re, figurar. Este figurar vai estar em tensáo com o vazio,
abismal, que exige um Ur-sprung, um salto originário. em que a figura aparece como urna doacáo do vazio. As-
Esse "entre" é o que propriamente Heidegger denomi- sim como qualquer teia ou rede é urna doacáo do vazio,
na Ur-sprung, porque nele vige a Arché. O "entre" faz-se onde este indica nao falta mas um nada excessivo. Nesse
presente em numerosas palavras gregas e, talvez, onde sentido o Riss estará sempre ligado a um projeto do va-
ele se faz mais enigmático é, justamente, na palavra zio, doado pelo vazio ao ser humano. O Rissé o "entre"
Meta-física. Esse "metá" grego tem o sentido de estar vazio e limite (peras) ou morphé. Confira o leitor o §201.
no "entre" do caminho da physis, daí comparecer em O que no Riss se de-cide é, radicalmente, o afastamen-
"Meta-hodós": o "caminho do entre", para realizacáo to da interpretacáo da obra como a tensáo de matéria
do "telos", a plenitude de sentido. O "entre" toma e forma ou suporte e símbolo. No Riss como "entre"
radicalmente o sentido "verbal" (Hermes, o deus dos acontece a disputa de Terra E Mundo. Todos os "su-
caminhos e encruzilhadas). O importante é que esse portes" disciplinares que querem domesticar a arte en-
"entre" recebe seu vigor do ser e guia o agir do homem contram neste horizonte a fatuidade de seus pretensos
para que ascendendo ao ser que como ser nele se con- fundamentos, até porque nao há fundamento, mas só
figura, se torne humano, na medida em que o próprio Ursprung, salto originário ( cf. Identidade e diferenca na
ser se destina no Entre-ser como Ser. No Entre-ser da bibliografia indicada na apresentacáo):
travessia o homem se torna humano. O leitor que quiser A traducáo de auslosen no § 167 como "livre deline-
aprofundar a questáo do "entre" está convidado a ver ar" e sich schicken in como "configurar-se" segue o que
nosso ensaio "Interdisciplinaridade poética: o "entre"". explica na nota (a) de 1960, § 167, onde dizque En-
In CASTRO, Manuel Antonio de. Revista Tempo Brasileiro, twerfen (projetar) é der Risse, o traco-cisáo delimitante.
164,jan.-mar., 2006. Rio dejaneiro, p.7 a 36. Configurar e livre delinear surgem da tensáo entre o
ser um sendo, e o como do desvelamento desse sendo
Riss: traco-cisáo / o tracar", § 13 7 e nao um desvelamento indiferenciado. A tensáo entre
o desvelamento e o livre delinear do Wurf (projeto)
Do verbo reifJen, rasgar, nao pode simplesmente ser surge pelo vigor do Sagen (narrar inaugural/ desve-
traduzido por "rasgáo", pois <leve se inserir na dinámica lan te). Quanto ao Wurf, o leitor considere o criar do
de pensamento do autor. A questáo do Riss marca um arquiteto, por exemplo: na clareira do vazio surge a
236 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 237

casa, o templo, a ponte. Como? Na tensáo vaziov'traco- vigiláncia, dedicaciio sem impor, deixando ser, aguardar o que
cisáo delimitante, fazendo surgir o projeto, a figura. é próprio e persiste, resguardar o deixar acontecer: N ela ressoa
Mas o mesmo acontece com um poema, urna pintura, o cuidado e doacáo amorosa como ocorre, por exemplo,
urna pec,;a musical, urna cancáo, um filme, urna danca. no desvelo da máe para com o filho, o que pressupóe
Tudo é obra-projeto que surge como figura na medida também no leitor o desvelo para com o que na obra Se
em que se delimita pela medida do vazio. Mas nao é o dá, presenteia. Há aí urna doacáo amorosa de gratuidade
artista que póe a clareira. Ela já lhe é dada e nela já está e presenc,;a silenciosa. Heidegger no ensaio "O caminho
jogado, pro-jetado. do campo" refere-se a este desvelo da máe que olha o
filho brincando, sem se fazer ausente e a ele sempre
Bewahrung: desvelo", § 146 amorosamente ligada e atenta. Nesse desvelo a crianca
é assim como a obra é, operar do ser, como o filho é o
Num primeiro momento é estranho que Heidegger, operar da máe z''Ierra. Felizmente, em portugués ainda
que vem de urna forte tradicáo hermenéutica, nao te- ressoa em desvelo nao só a intensidade do velar o que é
nha escolhido alguma palavra ligada diretamente a ela. digno de ser velado e cuidado, mas, ao mesmo tempo,
Urna tal atitude provém tanto do entendimento novo a intensidade no deixar ser, isto é, o deixar eclodir no
da esséncia da arte como Ursprung quanto do lugar do que é, no desvelamento. O prefixo portugués des- tem
leitor interpretante em relacáo a obra de arte (Dichtung/ tanto o sentido negativo-afirmativo como intensificati-
poiesis). Escolheu, por isso, Bewahrung. Palavra de tradu- vo. Em relacáo ao diá-logo com a obra de arte, os dois
cáo dificílima. Sem o vigor do pensamento que ele no sentidos se completam. Isto porque o desvelosó é desvelo
contexto do ensaio imprime a essa palavra, a traducáo li- se for vigente no e como diá-logo ( o entre do logos, como o
teral perde todo o vigor em que ela está empregada aqui entre-do-ser). Desvelamento é a realidade se dando como
na referencia figura/ obra. Bewahrung diz o dicionário verdade no ser-humano, pelo qual ele respondendo e
é: guarda, conseruacdo, protedio. O vigor permanente da correspondendo a esse apelo de poiesis/linguagem/ logos
obra (verdade) como figura (a disputa de delimitacáo e chega a ser o que é historicamente, isto é, no acontecer
vazio/nada) está aí para ser manifestado, operado. Mas poético-apropriante (Ereignis). O que exercita o desvelo
tem que ser urna operacáo que deixe a obra ser obra. traduzimos por o desvelante. O leitor é o desvelante.
A esta operacáo que nao impóe urna perspectiva nem O radical de velar nos remete para um cuidado, como
urna vontade subjetiva nem objetiva, é que Heidegger no substantivo velório. Mas o que no velório se vela nao
denomina Bewahrung. Nós escolhemos urna palavra é o morto, mas o mistério da morte que se faz presente
portuguesa aproximada, pois toda traducáo é sempre no morto. Essa ambigüidade está em Betoahrung, em
um aproximar: desvelo. Desvelo: grande cuidado, carinho, Desvelo.
238 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 239

Dichtung: Poiesis', § 162 aos homens é o que diz em latim originário o verbo
dare/ dictare. Esta doacáo do sagrado apresenta duas
Traduzimos dichten como poietizare Dichtungcomo poiesis. facetas interligadas essencialmente: o <loar como acáo
Sendo esta urna palavra que remete diretamente para o de sentido. O sentido é a linguagem. Mas nao podemos
grego grafamo-la em itálico no corpo da traducáo. simplesmente reduzir o dare/ dictare a linguagem, pois
A palavra Dichtung alemá tem urna origem comple- esta está profunda e misteriosamente ligada ao dar en-
xa. No livro Hinos de Holderlin, o autor a liga ao "verbo quanto acáo, entre elas há urna profunda referencia,
do antigo alto-alernáo tihuin, e este está ligado com mas nao sao a mesma coisa. De urna e de outra dá-se o
o latino dictare, que constitui urna forma reforcada ethos, o ético. A acáo, a poiesis, é o vigor do sagrado na
de dicere-dizet" (Heidegger, 2004: 36). Em nota a sua voz dos deuses. E o que aí diz voz? A palavra latina vox
traducáo de Introduciio a Metafísica, de Martin Heideg- liga-se a raiz indo-européia *wek. w, que indica a emissáo
ger, diz Emmanuel Carneiro Leáo: "A conjuncáo dos de voz com todas as forcas religiosas e jurídicas (Ernout
dois verbos denken e dichten possui em Heidegger um e Meillet, 1979: 754). Daí vem o sentido poético e ori-
significado profundo e essencial. Num como no outro ginário do que é denso, consistente, do que perdura,
comportamento do homem a essencializacáo originária porque provém do sagrado. Sem esta voz nao há fala
é a mesma. As palavras portuguesas "poesía", "poetar" e humana, nao há sentido, nao há linguagem, nao há
"poeta" traduzem mal o que Heidegger quer dizer com mundo, nao há ético, nao há humano. A voz do poeta
Dichtung (poesia), "dichten" (poetar), Dichter (poeta). é a voz do sagrado, é Dichtung. Claro que se entende aí
Em todas elas ele se reporta a dirnensáo originária ex- por "forcas" o que é portador de sentido, de verdade,
pressa, de alguma maneira, na palavra alemá dichten. de acontecer, de ético, de mundo. Sao a dynamis, e a
Etimologicamente dichten tem o sentido de "colher", energeia aristotélicas.
"ajuntar", "concentrar", "reunir". Assim o adjetivo dicht A acáo que dá sentido ( e nao qualquer outra) se diz
significa "concentrado", "denso", "compacto"" (Leáo, em grego poiesis ( do verbo poiein). Por isso poiesis diz
1969: 218). O que é aí o "denso"? De onde ele provém? aquele agir que doa sentido, ou seja, doa a voz que é
É a densidade do vigor do sagrado, do dar-se no dizer a linguagem, porque nela o sagrado <loando-se se diz.
do sagrado, do originário. Isso se torna mais claro se Eis a dupla face do sagrado enquanto vigor originário:
vamos a proveniencia do verbo dictare. poiesis e linguagem inaugurais. En tao o dictare é um
Dichtungprovém do verbo latino dictare, que por sua doar enquanto acáo de sentido como linguagem aos
vez se forma do verbo dare. Essencialmente no dareestá seres humanos, que constitui a voz, a fala e o cantar
a doacáo, o presente, a oferenda dos deuses aos homens dos aedos e profetas. Por isso, todo poético é ético.
e dos homens aos deuses. Urna tal doacáo do sagrado O sagrado Se dá. A poiesis enquanto agir que doa sentido
240 1 MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 241

(linguagem) está indissoluvelmente ligado a linguagem, seja, um deixar manifestar, um deixar trazer para fora.
mas nao sao a mesma coisa. Heidegger trata disso nos Quem deixa? O deixar vai nos enviar para a dimensáo
parágrafos 170 e 207. Nao se pode, portanto, simples- do agir como urna doacáo que compete a nós receber
mente identificar poiesis e linguagem, embora também por acáo do sagrado (physis). Urna tal doacáo do sagrado
nao se possam separar. Muito se fala sobre linguagem, que compete a nós receber enquanto sentido do que se
mas a esséncia do agir enquanto poiesis tem ficado im- manifesta e desvela, enquanto linguagem, é, simples-
pensada. É isso que estamos tentando resgatar, partindo mente, como diz Heidegger: poiesis, ou seja, o manifestar
dos acenos do pensador, ao chamar a atencáo para a que é a esséncia do agir, porque nela o sentido do ser
Dichtung, traduzindo esta palavra por poiesis. O doar Se dá ( cf. o ensaio "Tempo e Ser", indicado no final da
como acáo de sentido originou na língua portuguesa Apresentacáo). Poiesis é o sentido do agir enquanto
poesia e na alemá Poesie. Porém, poesia e Poesie nao sentido do ser, o pleno agir enquanto o repousar-ern-si,
dizem mais o ámbito amplo do que a palavra dictare/ inerente ao operar da obra, e nao e jamais o agir causal,
Dichtung, enquanto poiesis, quer dizer, como o próprio metafísico. O operar da obra, enquanto Dichtung/ poie-
Heidegger diz no § 170. A palavra poiesis, como acáo sis, é o deixar-trazer-para-fora, é a fonte do doar/ditar
de sentido e linguagem, implica nao apenas um narrar sagrado, ou seja, Dichtung. Por isso, no ensaio: O que é
inaugural ( doacáo dos deuses aos áugures), ou seja, sa- metafísica?, diz: "O pensador diz o ser, o poeta nomeia
gen. Ela concentra essencialmente o próprio manifestar- o sagrado". Mas, aquí, evidentemente, nem o pensador
se (acáo) da verdade (sentido) do ser no sendo. Por nem o poeta sao sujeitos, e, sim o sagrado. É o que nos
isso, em urna Nota (a) ao texto do Apéndice de 1960, diz o Lassen da nota. Propomos a traducáo de Dichtung
§ 196, Heidegger, ao chamar a atencáo para o sintagma por poiesis, porque esta congrega em torno de si as trés
central em todo o ensaio sobre a arte, ou seja: "Por- outras palavras que se fazem presentes no § 170 ( talvez
-ern-obra", diz: "Melhor: trazer-á-obra; pro-duzir, trazer o núcleo do ensaio e um dos momentos mais complexos
enquanto deixar agir; poiesis". Ao trocar o sintagma na reflexáo sobre a esséncia originária da arte). Em
central do ensaio "Pór-ern-obra'' por "Trazer-á-obra; alernáo existem as duas palavras: Poesie e Dichtung. Isso
Pro-duzir; Trazer enquanto deixar agir", o que quer torna a distincáo mais fácil. Já em portugués só ternos
dizer sao duas coisas: 1 ª. O por é, no fundo, o trazer, poesía, daí usarmos a palavra grega poiesis, para man ter
mas nao qualquer trazer, e, sim, o trazer que é um trazer a diferenca. Poiesis, enquanto esséncia do agir com sen-
para fora, um manifestar, um fazer aparecer. 2ª. Porém, tido (linguagem), diz respeito a toda e qualquer criar.
há aí ainda urna dimensáo essencial: a acáo de trazer A esséncia do ser humano provém da esséncia do agir
(bringen) para fora (hervor) nao temo agir em si, mas na medida em que este é Dichtung/ Poiesis. Eis, portan to,
lhe é dado, <loado, daí, dizer: trazer enquanto deixar, ou o sentido poético-ontológico da arte e nao meramen-
242 1
MARTIN HEIDEGGER A OlUGEM DA OBRA DE ARTE 1 243

te estético, retórico ou ideológico. É Ereignis, acontecer Ao leitor que quiser ler em profundidade o ensaio
poético-apropriante. A Poesie/ poesia é a Dichtung/ poiesis em A origem da obra de arte convém ler também um outro
sentido estrito, mas que conserva o impulso originário ensaio com o qual este dialoga: "Holderlin e a esséncia
da poiesis/ Dichtung. A Dichtung é a Sprache enquanto da poesia ". Muitas das questóes afloradas no presente
acáo de sentido, eis porque ela guarda a acáo da poiesis ensaio térn naquele um aprofundamento essencial.
enquanto sentido, ou seja, é o sentido do agir ético-poé- É o caso, evidente, de Dichtung. Infelizmente ainda nao
tico. Por isso, a voz nunca é o som das cordas vocais, mas ternos urna traducáo para o portugués que seja do meu
as cordas só sao vocais porque nelas se presen teia a voz do conhecimento.
sagrado enquanto linguagem (que nada tema ver com Henry Corbin, ao traduzir para o francés o ensaio
a língua enquanto órgáo do corpo), a poiesis. Porém, o "Hólderlin und das Wesen der Dichtung" (Hólderlin
vigor e o aberto da poiesis como Sprache se dá também e e a esséncia da poiesis), escreve a seguinte nota: "Nao
essencialmente como sagen, que traduzimos como narrar existe verbo francés que possa traduzir exatamente o
inaugural, enquanto a fala dos deuses que doa sentido e infinitivo alemáo Dichten, que nao significa somente
é recebida pelos áugures/poetas/cantores. O sagen, ou "compor pec;:as em versos", mas designa urna atividade
seja, o narrar inaugural, funda o nennen, o nomear. Nen- que cría e forma, e que se manifesta aqui como revela-
nen, sagen e dichten se fundam na poiesis, enquanto acáo cáo ontológica. É para designar esta poiesis que origina
de manifestacáo (poiesis) e sentido (Sprache) no narrar e engendra um poiema que nós propusemos o termo
inaugural (sagen). Tudo isto é comportado pelo dichten poiematizar" (Corbin, 1962: 41). Esse depoimento vem
(poietizar) do sagrado. A Poesie bem como as outras reforcar e referendar nossa opcáo de traducáo de Di-
modalidades da arte sao fundadas sempre na Dichtung chtung por poiesis.
enquanto poiesis. Por isso, a arte, enquanto Dichtung, é É ainda necessário pensar tudo isto a partir do que
o operar da verdade enquanto "trazer para fora, deixar Heidegger desenvolve no ensaio Tempo e ser, quando tra-
trazer, poiesis". O círculo se abriu e fechou. O que é se ta do Es gibt. Aí vamos ter urna reflexáo profunda sobre
deu no como é: obra de arte, operar da poiesis, linguagem o Ereignis e o Es gibt. Neles a Dichtungatinge o horizonte
enquanto sentido. Entáo vemos que a poiesisconstitui no onde se move o pensamento de Heidegger.
pensamento de Heidegger a própria Dichtung. E assim
como a poiesis abrange e ao mesmo tempo está além Nennen: nomear", § 167
do alcancado pela arte, deduz-se que a Dichtung bem
como a poiesis se colocam no mesmo nível da physis e do Quando Heidegger afirma no parágrafo 167 que o
logos, ou seja, do ser. Já o verbo dichten traduzimos por nomear traz pela primeira vez o sendo para a palavra
poietizar. e a rnanifestacáo, entáo o nomear é fundador e nao
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 245
244 1
1

o simples falar da língua cotidiana. O nomear aí vem mesmo, pode se tornar princípio. Anfang é princípio e
da voz como vigor do sagrado. Em relacáo a arte isso nunca e jamais primeiro. En tao nao será um princípio
é fundamental, mas devem-se considerar todas as ar- causal abstrato ou moral, mas o que prende como
tes. Por isso, no § 170 esse nomear fundador vai estar medida do sem medida, porque nao-mediatizado. O
ligado i poiesis, i Sprache/linguagem e ao sagen/narrar tradutor francés faz a seguinte nota: "Para a compre-
inaugural. E, evidente, como Ereignis/acontecerpoético- ensáo desta palavra essencial, nada melhor que citar as
-apropriante. Cf. a Nota "Dichtung', próprias palavras de Heidegger, em Aix-en-Provence, no
dia 21 de marco de 1958, por ocasiáo de um seminário
Anfang: principio", § 176 que teve lugar no dia seguinte a conferencia Hegel e
os gregos. Explicando a significacáo da palavra Anfang,
Na nota (b) do § 176, ao destacar Heidegger os convidou os ouvintes para que nela "compreendessem
elementos que compóern a palavra essencial Anjang, bem literalmente o que ... nos toma e nao cessa de nos
certamente quer realcar o que aí cada elemento diz retomar, o que, assim, nos prende em urna trama ... "
originariamente. Sobre An- diz Heidegger no ensaio Continuando acrescentou: "Esta palavra significa menos
" ... poeticamente o homem habita ... ": "Holderlin sagt anunciar de antemáo qualquer coisa de futuro e muito
in einer von ihm gern gebrauchten Wendimg: "am Herzen ", mais provocar o responder e o corresponder". In: Che-
nicht: im Herzen; "am Herzen ", das heiBt ankommen beim mins qui ménent nulle part. Paris, Gallimard, 1962, p. 60.
wohnenden Wesen des Menschen, angekommen als Anspruch Fica evidente aquí a ligacáo de Anfangcom Ursprung.
des MaBes andas Herz so, daB dieses sich an das MaB kehrt ".
C'Holderlin diz, numa expressdo por ele muito apreciada,
"junto ªºcoraciio" e nao "no coraoio ". 'Junto ªº coracdo"
significa o que advém nessa esséncia do homem de ser aquele
que habita, o que advém como apelo da medida junto ao
coracdo de tal maneira que o coraciio se volte para essa medi-
da". (Heidegger, 2002: 180). Fangen significa agarrar,
tomar, prender. Fazendo urna glosa da passagem acima,
podemos dizer que an significa junto a, mas no lugar
do coracáo ternos agora Fang, do verbo fangen, prender.
Entáo junto-ao-que-prende pode-se entender como
retencáo originante, isto é, o que advém como apelo de
medida do que como tal "prende", "agarra" e, por isso

1
!·iIVERSlDP~D·t FEDII\/\}.~ tJ(J P'/t.i¡\Jt
B}BLI.O'l"'ICí;,,, C?:.M~CHi\L
BIBLIOGRAFIA

Sc.HUBACK, Márcia Sá Cavalcante. A perplexidade da


presen(,'.a. In: HEIDEGGER, Martín. Ser e Tempo. Trad.
Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis, Vozes,
2006.
HEIDEGGER, Martín. Ensaios e Conferencias. Petrópolis,
Vozes, 2002.
___. Hinos de Holderlin. Lisboa, Instituto Piaget,
2004.
ER.NOUT, A. e MEILLET, A. Dictionnaire étymologique de
la tangue latine. 4. e. Paris, Klincksieck, 1979.
LEÁO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II.
Petrópolis, Vozes, 1992.
___ . Nota. In: HEIDEGGER, Martin. Introdudio
a Metafísica. Rio deJaneiro, Tempo Brasileiro, 1969.
___ . Hermenéutico e mito. In: Cadernos de Letras.
Faculdade de Letras da UFRJ. Departamento de Letras
Anglo-Germánicas, 11, 1995.
CoRBIN, Henry. Nota. In: HEIDEGGER, Martin.
Approche de Holderlin. Paris, Gallimard, 1962.
ÍNDICE REMISSIVO

Aberto, X, XV, 37, 57, 103, 107, 145,147,149,151,179,181,


111,113,115,123,153,135, 183,185,189,191,193,194,
139,155,157,159,161,163, 195,197,199,201,203,205,
165,167,169,175,179,183, 207,209,213,217,219,221,
185,187,219,229,233,242 225,227,228,229,232,235,
Abertura, 7, 5, 81, 87, 93, 95, 236, 237, 240-244
101,121,155,159,169,171,
173,175,179,183,187,195, Base, XI, XXVII, 37, 39, 43, 63,
197,219,230,234 69,93,97, 149
Acontecer, 13, 19-26, 35, 87, 91,
101,109,115,119,121,127, Cindir, 161
131,141,143,145,153,155, Círculo, 14, 16,39, 125, 173,
157,161,163,181,183,185, 227,242
191,207,209,213,219,221, Clareira, 15, 35, 47, 131, 133,
226,227,228,232,233,237, 135,137,139,155,157,159,
239,242,244,248 161,171,183,187,191,207,
Acontecimento, 93, 97, 101, 211,213,215,234,236
131,133,135,139,141,145, Coisa, IX, XI, XII, XIV, XVIII,
153,167,175,179,181,185, XIX, XXXI, 41, 43, 45, 47,
189,226 49, 51, 53, 55, 57, 59, 61,
Admirar, 53, 54, 55, 153 63, 65, 69, 71, 73, 75, 77,
Alegoría, 43 85, 93, 95, 97, 125, 129,
Arte, 7-33, 35, 37, 39, 41, 43, 45, 131,133,143,147,167,175,
47,63,65,67,85,87,89,91, 177,179,215,230,233,239,
93, 95, 97, 99,101, 101, 123, 240,245
MARTIN HEIDEGGER A ORIGEM DA OBRA DE ARTE 1 251
250 1

Confiabilidade, 83, 85, 111 Esséncia, XI, XIII, XVII, XX, Matéria, XI, 61, 63, 65, 67, 68, 207,211,213,217,219,225,
Contorno 65, 161, 213, 215 XXI, XXIV, XXX, XXXI, 69, 71, 73, 77, 79, 85, 105, 227,229,230,231,232,235,
Criar, 99, 143, 147, 149, 151, 35, 37, 39, 41, 51, 57, 65, 113, 177, 235 236,237,238,241,243
153,159,171,181,191,193, 67, 71, 75,83,87,89,91,93, Medida, XV, XVI, XX, 37, 47, Observacáo, 39, 85
221,235,241 109,113,121,123,125,127, 55, 69, 133, 135, 137, 139, Origem, X, XII,XIV,XXI,
129,131,137,139,143,145, 143, 151, 153, 157, 159, XXVIII, 33, 35, 57, 65, 67,
Destino, XVI, 27,75, 103, 121, 147,149,151,153,155,157, 161,163,177,179,183,193, 73, 85, 217, 219, 224, 225,
123,131,187,215,217 159,165,169,171,175,177, 197,215,230,234,236,241, 226,227,232,238,243
Desvelo, XXII, XXIII, XXIV, 179,181,183,185,189,191, 244,245 Originário, VII, IX, X, XI,
XXVI, 169, 171, 173, 181, 195,197,199,201,203,207, Mundo, XIII, XIV, XXIV, 41, XII, XIII, XV, XIV, XVII,
191, 197, 199, 230, 233, 209,215,219,221,224,225, 45, 69, 71, 77, 79, 81, 83, XIX,XX,XXI, XXIl,XXIII,
236,237 226,227,231,236,240,241, 99, 103, 105, 109, lll, 113, XXIV, XXV, XXVI, XXVIII,
Diálogo, VII, XVIII, XIX, XXII, 243,244 115,119,121,123,125,139, 35,37,85,97, 145,147,155,
XXV,XXIV Estética, XII, 41, 63, 65, 89, 95, 141,145,159,161,169,177, 157,165,181,199,201,207,
Dispor ,59, 111 201,203,205 187,189,193,195,197,209, 219,224,225,226,227,228,
Disposicáo, 235,239 230,234,235,238,239,242
Disputa, XII, XV, 121,123,125, Forma, Xlll, X){III, XXVIII, 55,
137,139,145, 155, 157, 159, 61,63,65,67,69, 71, 77, 79, Nada, VIII, XIII, XV, XVI, XVII, Peras, XIII, 213, 215, 235
161,163,167,173,177,179, 85, ll 7, 121, 129, 141, 159, 37,47,49,59,63,67, 75,81, Physis, XI, 103, 151, 224, 234,
189,195,235,236 177, 197, 205, 207, 235, 83, 85, 101, 103, 105, 107, 241,242
Disputa originária, 15, 137, 238,243 115,121,127,131,133,143, Poesía, XXX, 185, 189, 238, 240,
139,155 Fundamentar, 75, 123, 157, 169,171,177,181,193,195, 241,242
Doar, 191, 239, 240, 241 191 217,226,231,232,235,236, Poético-apropriante, XIII, XIX,
Dobra, XXVIII Fundar, 191, 193, 225 242,245 XX, X){I, XXIII, XXIV, 35,
Narrar inaugural, XXIV, 107, 97, 115, 131, 133, 135, 139,
Elabora~ao,85,95, 113 Indecifrável, 117 183,187,189,235 141,167,191,221,226,233,
Elaborado, 69, 67, 161 Instalar, 107, 109, 119, 121, 237,242
Elaborar, ll5, 117, ll9, 121, 151 155, 211 Obra, IX, X,XI,XII,XIII,XI,XVI, Poiesis, XXII, 165, 183, 185,
Enigma, IX, XIV, XX, XXV, Intimidade, 123, 161 XXVII, XVIII, XIX, XX,XX 187,189,191,195,211,215,
XXVIII, 201, 219, 227, 234 I,XXII,XXIV,XXV,XXVIII,X 221,225,227,229,232,233,
Ente, XIV, XXVII, XXVIII, 75, Jarra, 45, 65 XIX, 33, 35, 37, 39, 41, 43, 236,237,238,239,240,241,
157,228,235 45,47,63,65,67,69, 73, 77, 242,243,244
Entre,XI,XVl,XVIIl,XXl,)OCTII, Limites, 26, 73, 179, 227 78,85,87,89,91,93,95,97, Principiar, 191,197,227
XXVI, 53, 59, 63, 67, 69, Linguagem, VIII, X, XXIII, 99, 101, 103, 105, 107, 109, Produto,67,89, 149
77,89,121,123,125,131,137, XXX, XXXV, 43, 47, 107, 111,113,115,117,119,121, Pro-duzir, XXII, 35, 147, 149,
139,145,155,159,229,232, 149,185,187,189,191,221, 123,131,139,141,143,145, 151,159,161,167,179,181,
233,234,235,237,239 225,233,237,239,240,241, 147,149,151,153,157,159, 211,215,228,240
Entre-ser, XVI, 171, 173, 193, 242,244 163,165,167,169,171,173,
195,199,201,203,205,230, 175,177,179,181,182,183, Querer, XXI, 171, 173, 209,
231,232,233,234,237 185,191,193,197,199,201, 213

\t~\'E!.t5:If)AJJf. f-EiYEit¡\L D<J PAH~~


h;~·"·LtO: l:.t .. ;\ lLt-~ f R}.J ..
252 1
MARTIN HEIDEGGER

Questáo, IX, X, XI, XII, XIII, Serventia, 65, 67, 71, 79, 83, 95,
XIV, XV, XVI, XVII, XVIII, 113, 163, 167
XIX, XX, XXI, XXV, XXVII, Símbolo, 43, 235
XXX, 35, 49, 55, 93, 101, Suporte, X, XI, XII, XIII, 91,
143, 175, 183, 185, 189, 103,229,235
205,209,217,219,221,224,
231,234 Techné, 149, 151
Questionar /perguntar, XI, XII, Telos, XI, XIII, XIV, XV, XXIV,
XIII, XIV, XXV, 53, 101, 145, 228,234
147,157,181,199,219 Terra, Xlll, XIV, XXI, XXIV,
45,47,81,83, 105,115,117,
Realidade vigente, 37, 41, 45, 119,121,123,125,139,141,
49,91,93,97,143,145,147, 145,149 ÍNDICE GERAL
153,157,167,169,175,179,
181,193,209 Unidade, 43, 59, 69, 73, 103,
Repouso, XII, XIV, XV, 85, 103, 119,121,123,133,135,159, Apresentacáo .. 7
119, 121, 123, 145 161,177,189 A arte, o originário e a verdade .. 7
Resgatar, 240 A coisa e a obra / A obra e a verdad e . . . . . . . . . . . . . . 12
Velamento, XV, XXIV, 103, 129, A coisa e a obra/ A verdade e a arte 18
Saber, XXI, XXIII, 49, 51, 71, 133,135,137,139,151,153,
127,151,171,173,177,179, 151,153 Bibliografia . . . . . .. . .. . . . . . . . .. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
199,213,215,234 Verdade, VII, IX, XI, XII, XIII,
Salto, XVI, 55, 195, 199, 234, XIV, XV, XVI, XVII, XVIII, A Origem da Obra de Arte 33
235 XIX, XX, XXIV, XXXI, 35, A coisa e a obra 45
Sendo, XI, XII, XIV, XV, XX, 37,45,47,55,59,63,69, 73,
A obra e a verdad e .. 97
XXI, XXVII, XVIII, 45, 47, 77, 79,85,87,89,91,93,95,
49,51,57,61,65,67,69,71, 97, 101, 105, 113, 123, 125, A verdad e e a arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
73,75, 77,79,87,89,93,95, 127,129,131,135,137,139, Posfácio 201
lll,115,125,127,129, 131, 141,143,145,153,155,157, Aditamento 209
133,135,137,139,141,143, 159,161,165,169,171,173,
145,151,155,157,159,161, 175,177,179,181,183,185,
165,167,169,171,173,175, 189,191,193,195,197,199, Notas de Traducáo .. .. 223
177,179,181,183,185,187, 205,207,209,213,217,219, Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . 24 7
189,191,195,197,199,205, 221,229,232,235,237,239, Índice Remissivo .. .. .. 249
209,211,217,225,232,233, 240,242
235, 238, 240, 243, Vige, XV, 39,105,133,145,153,
Ser-obra, 85, 95, 97, 101, 107, 159,163,175,234
109, 111, 113, 119, 121,
123,139,143,147,153,175,
181
LJj{l,t"EJt"SfDJ\J.JTE. "f:El)E.Yt.~•Jl. fJ'O P1\.P't:
!1n~1ttJTEC/,. CEtf1'~l.l'.l.
Martín Heidegger (1889-1976) é um
dos pensadores fundamentais do sécu-
lo XX. Foi assistente de Husserl, a
quem sucedeu na cátedra de Filosofía
em Friburgo. O problema do ser atra-
vessa a sua obra filosófica - incluindo
nas suas formas de enunciacáo e ex-
pressáo -, tema que aprofunda, em
especial, no seu texto Ser e Tempo.

Você também pode gostar