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BELO HORIZONTE
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
BELO HORIZONTE
2021
RESUMO
A busca incessante pela beleza e rejuvenescimento cresce a cada dia. Por meio desse
crescente anseio e valorização do âmbito estético e cosmético, surgiu o profissional
biomédico esteta, que devidamente habilitado, pode realizar a aplicação de
substâncias injetáveis como por exemplo a toxina botulínica tipo A. O objetivo deste
trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre a utilização estética da Toxina
Botulínica tipo A no terço superior da face. A metodologia utilizada foi a revisão
bibliográfica de caráter qualitativa com a pesquisa realizada nas bases de dados como
Google Acadêmico, PubMed e SciELO, Conselho Federal de Biomedicina, Sociedade
Brasileira de Biomedicina Estética, entre o período de 2007 e 2021. A Toxina
Botulínica foi descoberta no ano de 1895 e é produzida através da esporulação de
uma bactéria gram-positiva e anaeróbica conhecida como Clostridium botulinum. Com
a capacidade de produzir oito tipos sorológicos de toxina, a do tipo A é a mais potente,
mais específica e com maior durabilidade, e sendo assim, o sorotipo mais utilizado
clinicamente. Usada inicialmente no tratamento de estrabismo, se notou a sua
eficiência para o tratamento de rugas glabelares e desde então a toxina botulínica,
após a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para indicações
cosméticas e terapêutica, vem sendo usada para diversos tratamentos. O efeito da
TBA é temporário, isto acontece devido a síntese de novos receptores de acetilcolina,
quanto maior os contatos sinápticos, maior será o restabelecimento da transmissão
neuromuscular, assim, originando a volta gradativa da contração muscular com
ínfimos efeitos colaterais. Assim, a TBA, origina um efeito temporário, dose-
dependente e reversível. No âmbito estético a toxina é muito empregada no
tratamento de rugas no terço superior da face, como linhas glabelares, elevação da
cauda das sobrancelhas, linhas frontais e linhas periorbitárias. A toxina é uma aliada
do chamado rejuvenescimento facial, apresentando suporte da indústria cosmética,
propondo inúmeros tratamentos com o propósito de fornecer uma aparência mais
jovem. A utilização da toxina botulínica é um procedimento eficaz e seguro, desde que
sejam observados aspectos importantes como as contraindicações, métodos de
aplicação, doses adequadas e intervalo entre sessões. É de extrema importância o
profissional biomédico esteta estar treinado e capacitado para o procedimento, pois a
aplicação errada da toxina botulínica pode apresentar intercorrências como ptose
palpebral, ptose do supercílio e diplopia.
ABSTRACT
The incessant search for beauty and rejuvenation grows every day. Through this
growing desire and appreciation of the aesthetic and cosmetic scope, the esthetic
biomedical professional emerged, who, duly qualified, can carry out the application of
injectable substances such as botulinum toxin type A. The objective of this work was
to carry out a literature review on the aesthetic use of Botulinum Toxin type A in the
upper third of the face. The methodology used was a bibliographic review of a
qualitative nature with research carried out in databases such as Google Academic,
PubMed and SciELO, Federal Council of Biomedicine, Brazilian Society of Aesthetic
Biomedicine, between 2007 and 2021. Botulinum Toxin was discovered in 1895 and is
produced through the sporulation of a gram-positive and anaerobic bacteria known as
Clostridium botulinum. With the capacity to produce eight serological types of toxin,
type A is the most potent, most specific and with the greatest durability, and therefore,
the most clinically used serotype. Initially used in the treatment of strabismus, its
efficiency was noted for the treatment of glabellar wrinkles and since then the
botulinum toxin, after approval by the US Food and Drug Administration (FDA) for
cosmetic and therapeutic indications, has been used for various treatments. The effect
of TBA is temporary, this is due to the synthesis of new acetylcholine receptors, the
greater the synaptic contacts, the greater the reestablishment of neuromuscular
transmission, thus causing a gradual return of muscle contraction with minimal side
effects. Thus, TBA gives rise to a temporary, dose-dependent and reversible effect. In
the aesthetic field, the toxin is widely used in the treatment of wrinkles in the upper
third of the face, such as glabellar lines, elevation of the eyebrow tail, frontal lines and
periorbital lines. The toxin is an ally of the so-called facial rejuvenation, supporting the
cosmetic industry, proposing numerous treatments with the purpose of providing a
more youthful appearance. The use of botulinum toxin is an effective and safe
procedure, as long as important aspects such as contraindications, application
methods, adequate doses and interval between sessions are observed. It is extremely
important that the esthetic biomedical professional be trained and qualified for the
procedure, as the wrong application of botulinum toxin can present complications such
as eyelid ptosis, eyebrow ptosis and diplopia.
Apesar do conceito de beleza ser algo pessoal e mutável, desde o início dos
tempos é possível observar a busca incessante pelos “corpos perfeitos”. Francis
Bacon (1625) já dizia que: “Não há beleza perfeita que não contenha algo de estranho
nas suas proporções.” O que significava que a perfeição é algo inatingível, fazendo
com que essa busca fosse apenas uma aproximação do que é de fato ideal. Logo a
medicina foi de grande importância nesse processo, já que a medicina da beleza, que
antes era marginalizada, se tornava o foco de estudos (NETO; CAPONI, 2007).
Através desse crescente anseio e valorização do âmbito estético e cosmético,
surgiu a biomedicina estética (CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA, 2014), que
visa cuidar da saúde, bem-estar e beleza do paciente, relacionando os melhores
recursos da saúde e o seu conhecimento para o bem do paciente, por meio de
tratamentos que promovem a recuperação dos tecidos e do organismo como um todo
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE BIOMEDICINA ESTÉTICA, 2010).
Segundo a Resolução nº 241 do Conselho Geral de Biomedicina, os
biomédicos devidamente habilitados na área de Biomedicina Estética, podem realizar
a aplicação de substâncias injetáveis como por exemplo a toxina botulínica tipo A, que
é um tipo de substância biológica obtida através da bactéria Clostridium botulinum
(CONSELHO FEDEREAL DE BIOMEDICINA, 2014).
Porém para realizar tal procedimento são necessários conhecimentos
anatômicos, nervosos, musculares e subcutâneos da pele, bem como o domínio do
processo, o mecanismo de ação da substância e a harmonização facial como um todo.
Logo é de estrema importância a capacitação do biomédico, evitando assim
complicações e alterações estéticas e garantindo a total satisfação do cliente
(NASCIMENTO, 2016). Portanto o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de
literatura sobre a utilização estética da Toxina Botulínica tipo A no terço superior da
face, para um melhor entendimento do tema e esclarecimento de possíveis falácias
acerca do tema.
3 METODOLOGIA
A parte ativa da molécula desta neurotoxina é formada por uma cadeia única
de polipéptidos composta por 1295 aminoácidos. O proteolítico formado em sequência
é composto por uma porção leve (L- cadeia leve) composta por seus primeiros 447
aminoácidos e por uma porção pesada (H- cadeia pesada) composta pelos
aminoácidos restantes. A cadeia leve possui o domínio enzimático e a cadeia pesada
possui os domínios de translocação (Hn) e os domínios de ligação acessório (Hc-N) e
ligação a gangliosídeos e a proteínas sinápticas (Hc-C). Estas duas partes da cadeia
ligam-se entre si por uma ponte di-sulfídica entre os aminoácidos. A integridade desta
ponte é extremamente necessária para a integridade da atividade biológica da
molécula da toxina (SPOSITO, 2009).
A ligação da toxina aos nervos, centrais e periféricos, acontece de forma
seletiva e é saturável. A especificidade colinérgica da mesma vai ser determinada pela
metade C-terminal da cadeia pesada, enquanto a toxicidade intracelular é
determinada pela cadeia leve (NETO, 2016).
A toxina não faz ligação com as fibras nervosas dos troncos nervosos ou em
região pós-sináptica. Sua ligação acontece no terminal da placa motora. Existem
evidências que comprovam que a cadeia pesada seja a responsável por esta ligação.
A ligação se dá no nível de receptores específicos existentes na membrana da
terminação nervosa. A cadeia pesada é neurotrópica, apresenta seletividade para as
terminações nervosas colinérgicas. sua internalização acontece por endocitose para
o endossoma e assim para o citossoma por meio de um processo onde há o
envolvimento de um sensor de pH (5,5 ou menos) que ajuda na mudança da
configuração da molécula. A toxina age de forma seletiva no terminal nervoso
periférico colinérgico, inibindo a liberação de acetilcolina. Contudo, ela não ultrapassa
a barreira cerebral e não inibe a liberação de acetilcolina ou de qualquer outro
neurotransmissor no cérebro. Sua sequência de ação inclui: difusão, neurotropismo,
ligação, internalização e toxicidade intracelular que vai ser exercida por sua alta
afinidade com os receptores específicos da parede intracelular do terminal pré-
sináptico (GOUVEIA et al., 2020).
Após a internalização da toxina acontece a liberação da cadeia leve da
molécula no citoplasma da terminação nervosa. Uma vez presente no citoplasma da
célula, essa cadeia faz quebra das proteínas de fusão, inibindo assim a liberação da
acetilcolina para a fenda sináptica. Esse processo gera uma denervação química
funcional, diminuindo a contração muscular de forma seletiva. A difusão do potencial
de ação, a despolarização do nervo terminal e os canais de Na, K, e Ca não sofrem
alterações pela ação da toxina (SPOSITO, 2009).
O efeito da TBA é temporário, isto acontece devido a síntese de novos
receptores de acetilcolina, quanto maior os contatos sinápticos, maior será o
restabelecimento da transmissão neuromuscular, assim, originando a volta gradativa
da contração muscular com ínfimos efeitos colaterais. Assim, a TBA, origina um efeito
temporário, dose-dependente e reversível (de acordo com o tempo) (GOUVEIA, et al.,
2020).
4.3 INDICAÇÕES DA TOXINA BOTULÍNICA
Músculos de
Zona da Face possível Origem Função
intervenção
Formado por dois ventres
frontais e dois occipitais; os
Elevação das
ventres occipitais têm
sobrancelhas
origem na linha superior da
Frontal durante a
nuca, ao nível do processo
expressão de
mastóide temporal. Os
espanto
ventres frontais originam-se
da gálea.
Auxilia na
depressão da
porção medial
Tem dois ventres que se das
Prócero
originam na raiz do nariz. sobrancelhas.
Colabora para a
expressão de
preocupação.
Auxilia na
Terço Tem origem na parte
depressão das
Superior da Depressor do superior do dorso nasal,
sobrancelhas, tal
Face Supercílio tendo inserção na parte
como o M.
interna da gálea.
Prócero.
Aproxima as
sobrancelhas da
linha média na
Origina-se na porção lateral
Corrugador do expressão de
da raiz do nariz,
Supercílio preocupação e
bilateralmente
auxilia no fecho
forçado dos
olhos.
É um esfíncter fino que
circula a órbita e tem três
porções: a orbital, palpebral
Orbicular do Olho e lacrimal. A porção Fecho dos olhos
palpebral origina-se no
ligamento palpebral
mediano. A porção lacrimal
encontra-se atrás do saco
lacrimal, originando-se na
crista do osso tarsal
Origina-se na asa menor do
osso esfenóide, acima do
Levantador da Elevação da
canal óptico. Dirige-se para
pálpebra superior pálpebra superior
a frente, acima do músculo
recto superior.
Injetada por via intramuscular, a toxina vai se ligar aos receptores terminais
encontrados nos nervos motores, fazendo com que aja um bloqueio da liberação de
acetilcolina no terminal pré-sináptico através da desativação das proteínas de fusão,
o que impede que a acetilcolina seja lançada na fenda sináptica. Por consequência
não há a despolarização do terminal pós-sináptico, bloqueando a contração da
musculatura por degeneração química temporária e inibição competitiva de forma
dose-dependente, como pode ser visto nas Figuras 2 e 3 (RIBEIRO et al., 2014).
Figura 2: Liberação normal do neurotransmissor
D. Padrão “ômega” (os músculos envolvidos são corrugadores, a parte medial dos
músculos orbiculares e o frontal, com pouca ou nenhuma ação do prócero).
Com a contração muscular ocorrem a aproximação e elevação medial da
glabela, lembrando o formato da letra grega ômega e assim como no padrão “V” não
há formação de linhas de expressão, só sendo visível com a contração. Tendo em
vista que há maior ação dos músculos corrugadores, o melhor tratamento envolveria
doses maiores da toxina nos corrugadores e menores nos pontos do frontal e dos
orbiculares, representados pelos pontos em vermelho (ALMEIDA; MARQUES;
KADNUC, 2010).
A. Padrão total
As rugas horizontais presentes no centro da fronte avançam lateralmente além
da linha mediopupilar, indo até o final da cauda das sobrancelhas. Logo recomenda –
se pontos de aplicação da toxina ao longo de toda a musculatura, com doses maiores
na região central e menores nas regiões laterais, como demonstrado na figura 3
(BRAZ; SAKUMA, 2010).
No que se refere às doses por músculo, os corrugadores são tratados por meio
de injeções intramusculares, em 1 a 2 pontos, de 4 a 10 U por músculo, localizados
medialmente a uma linha vertical a partir do canto interno do olho. A aplicação deve
ser feita 1 cm acima da borda óssea supraorbital, para evitar difusão para o músculo
levantador da pálpebra superior e ptose da pálpebra superior. Além disto, devem ser
utilizados baixos volumes, em uma diluição aproximada de 1 unidade em 0,01 mℓ
(Figura 6) (AYRES; SANDOVAL, 2016).
Já o prócero é recebe doses de 2 a 10 U em um a dois pontos localizados no
centro ou 0,5 a 1 cm abaixo de linha imaginária que une as duas sobrancelhas. As
rugas radiais na face interna das pálpebras são resultado da contração do músculo
orbicular dos olhos (Figura 6) (AYRES; SANDOVAL, 2016).
4.5 CONTRAINDICAÇÕES
A Toxina Botulínica é contraindicada em mulheres gestantes e lactantes pois
não há estudos que comprovem a segurança da aplicação sem efeitos teratogênicos
e se a droga é excretada no leite materno (KEDE, SABATOVICH, 2015). A utilização
da droga deve ser evitada em pessoas que possuem sensibilidade ou alergia aos
componentes da toxina botulínica, albumina humana, lactose ou succinato de sódio
(SMALL, HOANG, 2013).
No caso de pacientes em utilização de medicamentos que interfiram na
transmissão neuromuscular, é preferível evitar a utilização da toxina botulínica devido
ao risco de potencializar seu efeito. Também é contraindicado a administração do
produto em indivíduos que apresentem qualquer sintoma ou sinal de doença que
ainda não esteja controlada (KEDE, SABATOVICH, 2015).
Se o paciente apresentar infecção ativa ou dermatoses na região que será
aplicado o produto, como herpes, acne psoríase e eczema, é contraindicado o
tratamento (SMALL, HOANG, 2013).
4. 7 INTERCORRÊNCIAS
A ptose palpebral é uma complicação extremamente importante e é
caracterizada pela queda de 1 a 2 mm da pálpebra, tornando obscuro o arco superior
da íris. Ela é a consequência de aplicação na região de glabela e fronte, pela difusão
da TBA ou pela aplicação no septo orbital, paralisando o músculo levantador da
pálpebra superior. Diluições elevadas, aplicações muito próximas da borda orbital,
massagens ou intensa manipulação da área depois da aplicação, tais como palpação
da régio e maior difusão das preparações de TBA são fatores que elevam a
possibilidade desta intercorrência. Os sintomas surgem do 3º ao 10° dia após a
aplicação, quando o processo de clivagem já se iniciou. Os sintomas tendem a ser
leves. Além da queda da pálpebra, os pacientes apresentam dificuldade para
movimentá-las e sensação de peso quando os olhos estão abertos. Essa complicação
é resolvida espontaneamente de acordo com o processo de regeneração
neuromuscular, onde surgem novos brotamentos neurais e assim novos sítios de
ligação para a acetilcolina. Conjuntos de aminoácidos como o DMAE
(dimetilaminoetanol), ajudam neste processo (SANTOS, et al., 2015).
A ptose do supercílio é decorrente do tratamento excessivo do músculo frontal,
possui efeito transitório, o que leva a peso e sensação de fronte congelada. Como
acontece com a ptose palpebral, o efeito é temporário e revertido ao longo do processo
de regeneração neuromuscular (AYRES; SANDOVAL, 2016).
Diplopia é a visão dupla que ocorre como causa da difusão da Toxina Botulínica
para o interior da órbita, afetando o músculo reto lateral, provocando sintoma visual,
onde ocorre a duplicação de objetos (visão duplicada), nesta região é recomendado o
uso em pequenas quantidades para evitar está intercorrência (SILVA, 2011).
5 CONCLUSÃO