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Manifesto Popular contra as Mudanças na Lei Aldir Blanc 2


Por que é preciso mexer NA LEI e por que isso tramita COM URGÊNCIA?

Carta do Fligsp, aberta à adesão e assinatura de movimentos, coletivos, entidades, redes

Após a postagem que fizemos sobre o Projeto de Lei (PL) 4172/2023, que modifica a
LAB 2 e tramita em regime de urgência no Congresso Nacional, o Ministério da Cultura
nos procurou e nos convidou para uma reunião a respeito do tema. No mesmo dia,
soltou uma postagem que informava o início de um processo de “regulamentação
participativa” da Lei, com uma reunião com movimentos a acontecer no dia seguinte
(31/08).

Ocorre que nosso questionamento é sobre a mudança da Lei em si, não visa colocar em
debate a regulamentação da Lei via decreto, que nada pode fazer pra “desmudar” uma
vez que a Lei foi mudada.

E o que esse PL propõe?

Esse PL trata de um “Pacto Nacional pela Retomada de Obras e de Serviços de
Engenharia Destinados à Educação Básica e Profissionalizante e à Saúde.”. Você não leu
errado: não se trata de um projeto que tem a cultura como objeto - o que em si já é uma
questão. Esse projeto está entrando no bojo do PAC - Programa de Aceleração do
Crescimento, que trata basicamente do que o título do PL fala: obras e serviços de
engenharia. Isso quer dizer que estão colocando os recursos da LAB 2 à disposição do
PAC.

E sabe quando isso aparece no PL? No seu último artigo (art. 17), que justamente
modifica a Lei no 14.399/2022, a LAB 2.

Em seu texto, a LAB 2 já fala na possibilidade de os recursos serem investidos em
construção ou obras em equipamentos culturais, dentro de um horizonte bastante
extenso de possibilidades de investimento que os estados e municípios poderiam fazer.
No entanto, o que o PL faz é mudar a Lei e colocar como PRIMEIRA diretriz “para a
aplicação dos recursos oriundos desta Lei” a “construção, a ampliação, a reforma e a
modernização de espaços culturais, inclusive daqueles criados pela administração
pública de qualquer esfera ou vinculados a ela” (texto do PL).

Na reunião, os integrantes do MinC defenderam que a mudança seria benéfica por
estabelecer um limite de aplicação em obras de 30% dos recursos - o que não condiz
com a verdade quando olhamos para a letra do texto proposto.

Esse percentual aparece DEPOIS dessa diretriz no PL, da seguinte forma:






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“Na definição das diretrizes de que trata o caput, o Ministério da Cultura poderá
condicionar o repasse, até o limite máximo de trinta por cento do valor total dos
recursos de que trata esta Lei, à aplicação em políticas e programas nacionais de cultura
específicos”

Ou seja, os 30% são, na verdade, uma reserva de recursos a serem direcionados pelo
próprio Ministério - algo que também se trata de uma mudança significativa, pois
estados e municípios poderiam investir naquilo que entendessem ser mais importante
em seus territórios. Com essa mudança, estados e municípios perderiam a autonomia de
uso de 30% dos recursos da LAB2.

Os 30% em nada afetam ou mesmo se relacionam com a diretriz relacionada às obras.

São, portanto, duas mudanças significativas que o PL propõe:

1. estipula “obras” como PRIMEIRA diretriz para a utilização dos recursos da Lei.
2. passa para a gerência direta do Ministério da Cultura até 30% dos recursos da LAB2.

Caso o PL seja aprovado, essas mudanças não poderão ser mexidas na regulamentação,
porque modificam a LEI em si, ou seja, à regulamentação cabe lidar com a Lei da
maneira como ela estiver.

Tão séria quanto essas mudanças propostas é a falta de transparência do Ministério da
Cultura, que protocolou esse PL sem qualquer diálogo ou anúncio, e só se mexeu após
termos levado a público a existência deste PL.

A manifestação do Ministério da Cultura no processo que pede a alteração da LAB2 é
assinada não pela Ministra Margareth Menezes, mas pelo Secretário Executivo da pasta,
sr. Márcio Tavares dos Santos. Gostaríamos de saber o posicionamento público da
Ministra, que até agora não se pronunciou sobre o tema.

Além disso, a reunião convocada pelo Ministério para uma “regulamentação
participativa” na última quinta-feira (31/08) teve pouco mais de 100 participantes, um
número bastante menor do que as pessoas que participaram da construção da Lei, do
movimento pela sua aprovação e pela derrubada dos vetos, entre 2020 e 2022. Essa Lei
não foi escrita ou conquistada pelo atual Ministério da Cultura, mas por um grande
número de agentes culturais de todo o Brasil. Alterar a Lei sem diálogo e mesmo sem
qualquer comunicação com quem foi responsável por ela existir, antes mesmo de sua
implementação, é algo bastante preocupante e sério.

Na reunião com o MinC, levantamos as seguintes questões:

1. Qual a razão de fazer uma alteração na LAB2 num PL que trata do PAC?
2. Por que é preciso mexer NA LEI e por que isso tramita COM URGÊNCIA?
3. Pra que mexer NA LEI agora e não resolver tudo na regulamentação?
4. Se haverá regulamentação participativa porque não levar esse debate pra lá? 






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O Ministério da Cultura não conseguiu responder de forma razoável a nenhuma dessas
questões.

Considerando tudo isso, nós, do FLIGSP, não encontramos outra alternativa que não nos
posicionarmos frontalmente CONTRA o Art. 17 do PL 4172/2023, ou seja, CONTRA as
mudanças propostas para a LAB2.

Não é possível consentir que uma política cultural construída com AMPLA participação
da sociedade civil seja descaracterizada em uma canetada - invocando o Sistema
Nacional de Cultura, mas indo contra um de seus princípios constitucionais: a
democratização dos processos decisórios.

Convocamos outros movimentos, entidades, coletivos e redes a assinarem este
manifesto popular.

Incentivamos agentes culturais de todas os segmentos a procurar as deputadas e
deputados, senadoras e senadores com quem tenham contato para denunciar essa
proposição e pedir que votem CONTRA O ART. 17 DO PL 4172/2023.

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