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~;Vio C0111J junto dO /ivro pdrJ. nio atraír ínsetosj


~)vfantenha as mios sempre fimpas ao manuseá-fOj
~Jamais dobre opapel Adobra causa
rompimento elas ~brasj
~Nunca use asaliva para passar apágina;
,
pois ela provoca manchas eacidez no papeij
.f Não use grampos ou clipes de metal. Eles
enferrujam provocando oxidação erasgos no p~pelj
II
" Não retire ot,vro da estante puxando pela
borda superior; esim pela parte medianaj
I II
~Jamais apóie os braços sobre olivro; Alejandra lIIan8S Valdes Cristina Manuela Araüjo Dias Mal'ía Galli Fiant
Alexis MOlldaca Miranda Débora Gozzo Otavio Luiz Rodrigues JuniOl'
evitando orompimento de suas folhas ecapaj Alicia Garcia Eduardo C. Silveira Marchi Beatriz Tavares da Silva

~ Em hipótese alguma retire pá~nas do livro; I~ndre Fernandes Eduardo de Oliveira Leite Ric3l'do Rossetti
Vidal Gandra Martins Graciela Medina Rosa Mal'ia Borriello de Andrade
rasgando ou cortando com estilete. Antonio Jorge Pereira Junior Il'ma Pereira Maceira Rossan3 Costa Sel'1'3 Cruz
Aialá Correia Ives Gandp8 Da Silva Martins Tlleodureto de Almeida 1~8tO

A Biblioteca cont~ com Beatriz Ramos Gaballellas Jorge dei Picó Rubio Ursula Cristina Basset
a sua co[aboraçao Bernardo MOI' ses José Cruz e Tucci Venceslau Tavares Costa Filho
na conservação aesta obra. Carlos Alberto Dabus Malur Julio Luis Gómez Vel'ônic3 A. da Motta Cezar-Ferl'8il'8
e81'Ios AllJerio Garbi Mabel Rivero de Arhancet Vitor Frederico
Columba Del Mareela Acun8 San Martin
Copyright © 2018 YK Editora ISBN: 978-85-68215-32-6

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Eliana Martins Pereira - CRB 8a /8354

F198 Silva, Regina Beatriz Tavares (Coord.)


Família e Pessoa: uma questão de princípios / coordenadoras
Regina Beatriz Tavares da Silva; Ursula Cristina Basset et alo São Paulo: YK, 2018.
768p.
ISBN: 978-85-68215-32-6

Artigos utilizados para discussões do V Congresso Iberoamericano de Direito de


Família e das Pessoas.

1. Família 2. Direito de Família 3. Evento I. Congresso 11. ADFAS


IIl. Academia Iberoamericana de Derecho de Familia y de las Personas
IV Título.
CDU 347.6

Índice para catálogo sistemático:


I - Direito da Família 347.6

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o o GU UNIOR i it
Doutor, livre-docente eprofessor associado de Direito Civil da Faculdade de Direito da Univer-
ti i it
sidade de São Paulo,
Coordenador da Área de Direito - Capes,
Fundador da ADFAS - Associação de Direito de Família edas Sucessões,

otavio,luiz®uol,com,br
544 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 545

1------------------------------------------ ----------------------------- ----

artigo trata das relações entre amor Article addresses the relationships
e Direito, avaliando os efeitos do que se between Love Introdução; 1" E o amor desapareceu do Código Civil; 2. Haveria um locus normativo
pode chamar de juridicização do amor, the effects of whar one might call para o amor no Direito brasileiro?; 3. O amor no Direito estrangeiro; 4. Amor e
em suas diversas facetas. Analisa-se a juridicization of Lave, in its multiple I juridicidade; 5. A questão do afeto e do amor no Direito: 5.1 Meto e afetividade:
forma como o amor aparece na legislação aspects. It analyzes how Lave is dealt by I desacordos semânticos; 5.2 Juridicidade do afeto; 5.3 Amor e juridicidade;
nacional e estrangeira, bem como sua national and foreign legislation, as well I Conclusões; Referências bibliográficas.
projeção jurisprudencial. Além disso, as its projection in case law. Moreover,
discute-se a apropriação do amor pelo it discusses the appropriation of Lave by
Direito, diferenciando-se amor de afeto Law, differentiating Lave from affection
e discutindo-se a posição deste último and approaching the condition of the
como fundamento do Direito de Família
atual.
later as foundation of current Family
Law.
Introdução
Este ensaio nasceu de uma inquietação: a tendência contemporânea, ao menos na
doutrina brasileira, da juridicização do amor. A juridicização significa introduzir o amor
no Direito, o que implica três efeitos: (a) converter o amor em um conceito ou um valor
Palavras-chave Keywords jurídico, ao lado de outros como o afeto, a solidariedade ou a emoção, os quais, cada qual a
seu modo, já se integraram ao plano legislativo e constitucional; (b) criar deveres jurídicos
Direito Civil; amor; afeto; Private Law; Lave; affection; legislation; baseados no amor, o que tornaria o ato de amar susceptível de controle judicial; (c) extrair
legislação; jurisprudência. case law. consequências jurídicas da ausência do amor em uma relação. Essas consequências poderiam
ser apreendidas negocialmente (v.g., pactos antenupciais ou contratos de Direito de Família)
ou delitualmente (v.g., condenação em danos morais por ausência de amor em uma dada
relação intersubjetiva).

O ensaio pretende examinar a presença do amor na legislação nacional e estrangeira,


além de sua utilização jurisprudencial (seções 1, 2 e 3). A juridicização do amor e sua
apreensão pelo discurso jurídico será objeto da seção 4. As relações entre amor e afeto, o
novo "fundamento" do Direito de Família, serão objeto da seção 5, na qual se comparará
o amor com o pathos, o eros e a carztas. As conclusões apresentarão as respostas a três
problemas: Questão (1) o amor é susceptível de se juridicizar?; Questão (2) o amor pode
ser corretamente utilizado como fundamento no discurso jurídico, qualquer que seja ele,
dogmático, legislativo ou jurisprudencial?; Questão (3) há alguma diferença sensível entre
amor e afeto para fins jurídicos?

Embora o amor seja considerado amplamente no Direito, o ensaIO voltará suas


atenções preponderantemente ao Direito Civil.
546 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 547

Convêm esclarecer algumas questões de metodologia: (a) as reproduções de textos Uma vez mais, o amor tratou de fugir desse escrito. Afinal, onde ele se "domiciliavà'
históricos conservarão a grafia da época; (b) as fontes legislativas são todas extraídas de no Código Civil de 1916? Sim, é o caso de voltar a ele. Bem, o amor estava na gestão de
repositórios eletrônicos e traduzidas. À falta de indicação diversa, a tradução é deste autor. 1 negócios! Como são verdadeiramente insondáveis os desígnios do codificador. A gestão de
negócios, na boa linguagem clássica, é a administração oficiosa de interesses alheios. Alguém
atua no in teresse outra pessoa, sem mandato, sem representação, sem ordem expressa,
apenas com o intuito de protegê-lo ou de conservar os direitos do dominus (como é chamada
a pessoa em favor de quem o gestor interfere).
1. EO do
Imagine-se em uma excursão para um país estrangeiro, juntamente com outras
o amor desapareceu do Código Civil de 2002. Ele esteve presente no extenso pessoas que contrataram os serviços de uma operadora de turismo. Um dos turistas tem
período de 1917-2001, quando da vigência do Código Civil de 1916. O amor, é verdade, uma síncope em frente à estátua de Rolando, na Cidade Livre e Hanseática de Bremen, na
havia entrado de maneira discreta, quase imperceptível, no título relativo às várias espécies tarde livre da excursão. É muito provável que alguma pessoa na praça de Bremen ampare
de contratos. Ele não se radicou no Direito de Família, muito menos, como seria de se esse turista, procure ajuda médica, acompanhe-o ao hospital, assuma diversos gastos e espere
esperar, como objeto de um dos deveres conjugais, quais sejam: a fidelidade recíproca; a até que alguém da operadora ou da família do desconhecido tome à frente dos problemas e
conservação da vida em comum, no domicílio conjugal; a mútua assistência e o sustento, libere-o dessa situação. O dominus, ou dono, na linguagem do Código Civil de 2002, deverá
guarda e educação dos filhos (art.231, CCB/1916). Seu correspondente no Código em vigor, ressarci-lo dessas despesas.
o art.1.566, mantém os deveres nominados, com acréscimo do "respeito e consideração
, ". A doutrina não considerava a gestão de negócios um contrato, posto que estivesse
mutuos
colocada no título dedicado às várias espécies contratuais no Código de 1916. Atualmente,
O codificador de 1916 não determinou que os cônjuges se amassem ou que amar com melhor técnica, a negotiorum gestio insere-se no título dos "atos unilaterais",
fosse um dever reciprocamente implicado e exigível entre eles. No direito vigente, devem os especificamente nos arts. 861-875, o que é mais consentâneo com sua natureza, pois
cônjuges respeitar-se e considerar-se. Respeitar, segundo os dicionários, é ter por outrem um não há o prévio acordo de vontades. Caio Mário da Silva Pereira oferece uma síntese dos
sentimento tal que o leva a tratá-lo com "grande atenção, profunda deferência; consideração, pressupostos necessários à gestão de negócios: "1) tratar-se de negócio alheio, pois que, se
reverêncià', como se lê na versão eletrônica do dicionário Houaiss. É estimar, considerar, for próprio, é pura administração; 2) proceder o gestor no interesse do dominus, ou segundo
mas também obedecer, acatar, recear. O respeito, em seus extremos, vai da deferência até o a sua vontade real ou presumida; 3) trazer a intenção de agir proveitosamente para o dono;
medo. A consideração confunde-se com o respeito. O uso das duas palavras é uma simples 4) agir oficiosamente, pois que, se tiver havido uma delegação, é mandato; 5) limitar-se a
maneira de pôr ênfase ao comando legal, que já se bastaria em si pela mera invocação ao ação gestor a atos de natureza patrimonial (negócios), uma vez que os de natureza diferente
respeito. exigem sempre a outorga de poderes".3

O Código Beviláqua e o Código Reale insistem em algo que os tempos modernos O gestor de negócios deve agir com diligência no trato das coisas do dono. E
(rectius, seriam tempos pós-modernos?) consideram anacrônico: os cônjuge,s devem manter responderá por eventual prejuízo que lhe causar, desde que comprovada sua culpa (artigo
vida em comum, porém, "no domicílio conjugal". Os casais de nosso tempo, e muitos há 1.336, CCB/1916; artigo 866, CCB/2002). E se o dano causado ocorrer por um caso
que assim vivem, violariam o dever do art.1.566 do Código Civil se não tiverem o mesmo fortuito? A resposta encontrava-se no revogado art.1.338, a sede material do "amor" no
domicílio conjugal. A doutrina tem rejeitado essa interpretação restritiva e contemplado Código de 1916: "O gestor responde pelo caso fortuito, quando fizer operações arriscadas,
as situações excepcionais de pessoas que, por razões ligadas à profissão, como militares ou ainda que o dono costumasse fazê-las, ou quando preterir interesses deste por amor dos
representantes comerciais, necessitam viver em domicílios diversos. 2 seus". Na linguagem atual, correspondente ao art.868, diz-se não mais "por amor dos seus"
e sim "ou quando preterir interesse deste em proveito de interesses seus".

Parte do conteúdo deste ensaio foi publicado sob a forma de colunas na seção "Direito Comparado" Chega a ser anticlimática essa aparição do amor no art. 1.338 do Código Civil
da revista eletrônica Consultor Jurídico. revogado. Olhando-se mais de perto, não talvez não fosse o caso de se falar em anticlímax.
A. RrZZARDO, Direito de Família, 7a ed., Rio de Janeiro, Forense, 2009, p. 172; G. C. NOGUEIRA
DA GAMA - A. L. R. de OLIVEIRA, Domicílio no Código Civil de 2002, in Revista Forense 102 CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA, Instituições de Direito Civil, vaI. 3, 14 a ed., Rio de Janeiro, Forense,
(2006), p. 90. 2010, p. 380.
548 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 549

o gestor obrigar-se-ia ao ressarcimento, mesmo em hipótese típica de irresponsabilidade em clima de felicidade, de amor e de compreensão;( ... ), acordam nas seguintes disposições".
por caso fortuito, quando preterisse os interesses do dono ao agir "por amor dos seus". A O exemplo, reconheça-se, não é dos melhores: o amor não figura como norma e o diploma,
proteção, o amor, o cuidado, a prevenção e o desvelo de quem ama (um cônjuge, um: filho posto que internado por um decreto, é uma convenção internacional.
ou um pai) arruinariam o gestor. Explicava essa hipótese João Manuel de CARVALHO SANTOS:
O amor aparece em um lugar insuspeito (ou jamais suspeitável, como queiram): o
"Não que isso dizer que o gestor não possa abandonar a gestão, para tratar intercSSêS
Estatuto dos Militares, a L'=Í 6.880, de 9 de dezembro de 1980, em cujo art.27, diz-se que
quando estes estiverem sendo prejudicados, nos termos por nós já expostos, mas isso só será
"são manifestações essenciais do valor militar", além de outras, "o amor à profissão das armas
possível se tomar a cautela de avisar o dono do negócio, para que este assum;l a direção do
e o entusiasmo com que é exercidà'. A referência ao amor não é ao sentimento de alteridade,
mesmo, ou nomeie procurador que o administre e o concluà'.4
de "querer estar preso por vontade" ou de "um não querer mais que bem querer", como
Mais do que uma explicação técnico-jurídica para a preterição dos interesses de definiu Luís Vaz de Camões, em seus sonetos. O amor à profissão das armas, por mais nobre
alguém em nome do "amor dos seus", é de se perceber algumas interessantes nuances dessa e respeitável que seja, não é o amor ao próximo. Embora, o casamento com a profissão certa
opção legislativa, a qual faz recordar outra muito curiosa: a criação de uma pena privada seja um dos matrimônios mais estáveis e felizes de que se tem notícia.
para o ausente que retorna, após a sucessão provisória, e fica comprovado que "a ausência
As fontes legislativas esgotaram-se. É o caso de recorrer ao universo das instruções
foi voluntária e injustificadà'. Nessa circunstância, o Código Civil de 2002, inovador em
normativas, portarias e atos de igual dignidade.
relação ao Código de 1916, estabeleceu a perda, em favor do sucessor, de "sua parte nos
frutos e rendimentos" (parágrafo único do art.33). Essa norma do Código atual parece ter Na Portaria 413, de 7 de março de 2012, do Ministério da Justiça, instituiu-se "o
revogado a parábola evangélica do filho pródigo. 5 emblema do Departamento de Polícia Rodoviária Federal". O amor não aparece em qualquer
de seus seis artigos, mas no anexo lI, que apresenta a "descrição heráldicà' do emblema. Ali
se explica que um dos elementos do emblema é o "símbolo de vida, de atividade, da ciência,
do amor patriótico, como também de manutenção de uma tradição vivà'. O amor patriótico
é muito relevante, mas não é a espécie que se busca nesta portaria. Além da portaria do
Haveria um loeus normativo para oamor no Direito brasileiro? Ministério da Justiça, nada mais foi encontrado.

o legislador brasileiro, ao menos em normas constitucionais e legais, não é muito É necessário registrar que se deseja alterar o dístico da bandeira do Brasil para lhe
sensível a juridicizar o amor. Além do Código de 1916, que só conta em termos históricos, acrescer a palavra "amor", além de "ordem e progresso". De fato, o lema positivista original,
no ordenamento vigente, só se encontra o amor no Decreto 3.087, de 21.6.1999, publicado de Augusto Comte, dizia: ''Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". No
no DOU de 22.6.1999, que "promulga a Convenção Relativa à Proteção das Crianças e projeto de lei submetido ao Congresso Nacional, fez-se alusão a essa circunstância histórica
à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio para se defender a mudança do pavilhão naciona1. 6
de 1993". O amor não está propriamente nos artigos da convenção, mas em um de seus Por agora, é importante apresentar uma questão: por que o Direito (ou melhor, o
consideranda: "Os Estados signatários da presente Convenção, Reconhecendo que, para o ordenamento jurídico) é tão pouco receptivo à presença do amor em suas normas? Note-se
desenvolvimento harmonioso de sua personalidade, a criança deve crescer em meio familiar, que o "ódio", por exemplo, aparece em nada menos que 16 documentos, o que se justifica
pela circunstância de pretender reprová-lo como conduta humana.
Cf. Código Civil brasileiro interpretado (principalmente do ponto-de-vista prático): Arts. 1.265-
1.362, voI. XVIII, Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1992, comentários ao art. 1.338.
PL 2.179/2003, de autoria do deputado federal Chico Alencar (atualmente do PSOL-RJ). A
Essa parábola encontra-se no Evangelho segundo S. Lucas (XV:11-32): o filho mais novo pede exposição de motivos da proposta legislativa apresenta o seguinte excerto: "Nesse momento
a seu pai que lhe antecipe a legítima. Após o consentimento do pai, o filho sai pelo mundo e histórico da Nação, o lema positivista - o amor por princípio, a ordem por base e o progresso
dissipa seus bens, caindo em uma vida de misérias. Ele retoma arrependido ao lar paterno, que por fim - foi resumido na expressão "Ordem e Progresso", conforme escreveu TeL'Ceira Mendes
se regozija e festeja, pois seu filho "era morto e reviveu, estava perdido e se achou". O filho mais em sua apreciação filosófica sobre a Bandeira. Tal redução fez perder a essência do lema original,
velho, que permanecera ao lado do pai em uma vida de restrições e de trabalho, rebela-se contra que procura resumir o positivismo como a religião do amor, a religião da ordem ou a religião do
o tratamento dado a seu irmão pródigo. A aparente contradição da atitude do pai em relação aos progresso. Em outras palavras: o amor procura a ordem e leva ao progresso; a ordem consolida
filhos é explicada teologicamente: o filho pródigo é o pecador, que recebe o perdão de Deus em o amor e dirige o progresso; o progresso desenvolve a ordem e conduz ao amor. A presente
abundância. Não pode o filho mais velho irritar-se com o pai, dado que o filho pródigo é cada um proposição pretende resgatar a essência do lema original do Positivismo nos dizeres da Bandeira
de nós .. Nacional, pelo que peço o apoio dos nobres Pares".
550 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 551

Os conceitos metajurídicos estão de volta à moda nos últimos tempos. Falar-se em da Noruega (versão em inglês)I0, do Family Law Act de 2011 11, da Colúmbia Britânica, no
"sentimento", "sensibilidade", "paixão", "compaixão", "afeto", "carinho" e "hunlanidade" em Canadá, e do Family Law Reflrm Act de 1969 12 , do Reino Unido.
acórdãos, sentenças ou livros de doutrina tornou-se algo bem visto.! Não se pode esquecer
No entanto, o Código Civil da Louisiana, um enclave de civillaw no território de
que, ao tempo de ]ustiniano, quando as tradições romanas desapareciam no Ocidente,
common em seu art. 1 ao tratar do melhor interesse da criança, afirma
tomado pelos bárbaros, a benevolentía, a caritas (que não é senão o a
que o tribunal deverá considerar todos os relevantes fatores necessários a sua determinação,
expressões que apelavam à metafísica ganharam enorme importância, a ponto de entrar para
de entre esses "o amor, o afeto e outros vínculos emocionais entre cada parte e a criança'
alguns textos jurídicos. 8 Não foram, porém, as críticas a essa moralização do Direito, que dava
(The love, affictíon, and other emotional ties between each party and the child). O art.134, 2,
margem a todo tipo de abuso de poder (da autoridade administrativa) e de interpretação (da
também alude à capacidade e à disposição de cada um dos envolvidos em dar à criança amor,
autoridade judicial).
afeto e orientação espiritual. Os tribunais da Louisiana utilizam à larga o art. 134, itens 1 e 2,
O símbolo literário dessa crítica está na obra de William Shakespeare, Medida por do Código Civil, especialmente em disputas judiciais sobre a guarda de crianças. Há decisão,
medida, uma peça teatral de 1604. O duque de Viena deixa a cidade em missão diplomática por exemplo, que negou a guarda compartilhada de uma criança a um "pai não-biológico",
e transfere seus poderes a Ângelo, seu lugar-tenente, que passa a agir despoticamente. Ângelo utilizando-se como fundamento esse dispositivo. 13 Em outro julgado, negou-se a um pai
condena à morte os que praticam fornicação. Um dos sentenciados é Cláudio, irmão da biológico divorciado o direito à guarda domiciliar de seus três filhos, com base no art.134,
noviça Isabela, que procura Ângelo para interceder por seu irmão. O diálogo entre eles é o itens 1 e 2, do Código Civil. 14]
núcleo para a crítica da moralização do Direito: Ângelo, o incorrupto e austero governante,
Se forem pesquisados alguns textos constitucionais, como os da Alemanha, da Itália,
nega-se a indultar Cláudio. Ângelo diz a Isabela que a punição de Cláudio é um efeito da lei;
de Espanha ou da África do Sul, o resultado também será infrutífero. Note-se que a Lei
não lhe cabe flexibilizá-la, ainda que Cláudio fosse um parente de Ângelo. As tentativas de
Fundamental alemã menciona a palavra "liberdade", associada ou não a outros conceitos
Isabela são até ali frustradas, mas Ângelo pede que ela retorne no dia seguinte para ouvir sua
(de expressão, de reunião, de escolha profissional), mais de trinta vezes. 15 A Constituição da
decisão final. Ângelo propõe a Isabela: seu amor (físico) em troca da libertação de Cláudio.
África do Sul, em seu preâmbulo, pede que Deus proteja o povo daquele país. 16 enquanto sua
A lei poderia ser ductilizada, pois Ângelo era seu intérprete.
homóloga italiana silencia sobre o Todo-Poderoso, ainda que reconheça a independência e a
soberania da Igreja Católica (artigo 7°) e a liberdade de culto (artigo 8°).17

Ao contrário do que se poderia imaginar, dada a força do credo cristão nos Estados
Unidos da América, Deus não é mencionado na Constituição norte-americana, posto que
3. Oamor Direito estrangei a Primeira Emenda garanta a liberdade de culto e de religião. 18 Nem Deus, muito menos
a felicidade ou o amor, são mencionados na Constituição da República Portuguesa, que,
O amor está ausente da maior parte das legislações estrangeiras, ao menos aquelas
com vínculos históricos ou com maior influência no Direito brasileiro. Desse modo, é
10 Disponível em https://www.regjeringen.no/en/dokumenter/the-marriage-act/id44840l / [2-7-20 18J.
perceptível a elo quente ausência do amor nos códigos civis de Portugal, Espanha, Alemanha,
Disponível em http://www.bclaws.ca/civixldocumentlid/complete/statreglll 025_00 [2-7-20 18J.
Itália, França, Bélgica e Argentina. Os modernos códigos de Quebec, da Hol~nda (versão em
11

inglês) e do Equador também nada dizem sobre essa palavra tão especial. Muito menos as 12 Disponível em https://www.legíslation.gov.uk/ukpgaI1969/46 [2-7-20 18J.
codificações da Venezuela, do Paraguai e do México. A Califórnia, que possui um Código de 13 La. Ct. App. 1st 2010, citado em: J. A. LovETT, Love, loyalty and the Louísiana Civil Code: Rules,
Família9, não refere o amor em seus artigos. É idêntica a situação da Lei sobre Matrimônio standards and hybrid discretion in a mixedjurisdiction, in Louisíana Law Review 72 (2012), p. 965,
nt.174.
TRF-1, Quarta Turma, BC n. 2006.01.00.038542-1, reI. Mário César Ribeiro, j. 18-12-2006, 14 La. Ct. App. 3rd 2003, citado em: J. A. LovETT, Love cito (nota 13 supra), p. 968, nt. 191.
DJ 23-2-2007; TJRJ, Terceira Câm. Cível, AP n. 2009.001.40741, reI. Fernando Foch, j. 15-
9-2009, DJe 23-10-2009; TJRJ, Quarta Câm. Cível, AP n. 97.001.04145, reI. Luiz Eduardo 15 Disponível em https:!/www.bundestag.de/gg [2-7-2018].
Guimarães Rabello, j. 10-11-1998, DJ 13-11-1998; TJBA, Quarta Câm. Cível, AP n. 0016553- 16 Disponível em http://www.justice.gov.za/legíslatíonlconstitution/SAConstitution-web-eng.pdf [19-7-
23.2007.8.05.0274, reI. Gardenia Pereira Duarte, j. 15-12-2015, DJe 16-12-2015. 2018].
D. 28, 5, 62; D. 49,15,19,7; D. 30,1,50,3; D. 1, 1, 1, pr; D. 50,17,90. 17 Disponível em https://www.senato.it/documenti/repository/istituzionelcostituzione.pdf [19-7-20 18J.
Disponível em https://law.justia.comlcodeslcalifornía/2017/code-faml [2-7-2018]. 18 Disponível em https:!/www.senate.gov/civícslconstitution_item/constitutíon.htm [2-7-20 18J .
552 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 553

todavia, define ser uma tarefa fundamental do Estado promover a "qualidade de vida do A referência conjunta a Deus, a felicidade e ao amor tem razão de ser. No Senado
povo" (art.9°, alínea "d")19. A Constituição espanhola de 1978 não alude ao amor. 20 Deus Federal, tramitou uma proposta de emenda à Constituição (mais conhecida como PEC da
não está em seus dispositivos, da mesma maneira que nela não se encontram palavras como felicidade) que daria a seguinte redação ao artigo 6°: "São direitos sociais, essenciais à busca
felicidade ou afeto. Os russos não trazem o amor em sua Constituição de 1993. 21 da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,
a previdência social, a à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
Os húngaros, no governo do primeiro-ministro Viktor Orban, líder estudantil na
na forma desta Constituição". 26
contra o comunismo, aprovaram uma polêmica constituição em 2011. Em seu preâmbulo,
na tradução inglesa, o amor é expressamente citado: "Nós sustentamos que a família e a Há os acreditam que Deus é amor, por inspiração na palavra do evangelista ("Aquele
nação constituem a base estrutural de nossa coexistência e que os valores fundamentais de que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor" - Primeira Epístola de S. João,
coesão consistem na fidelidade, na fé e no amor".22 A Constituição húngara é repleta de IV:8). Com o avanço do laicismo nas sociedades ocidentais, o que se percebe claramente pela
inusitadas invocações de valores espirituais, como o reconhecimento de que a nação assenta- retirada de Deus dos textos jurídicos, a procura por algum tipo de conexão do Direito com
se na herança da coroa do rei Santo Estevão, que edificou o Estado em "sólidas bases e fez os elementos metajurídicos é, embora disfarçada, bastante comum em discursos doutrinários
de nosso país parte da Europa cristã há mil anos", sendo que é reconhecido o papel do e jurisprudenciais. Dito de outro modo, a felicidade ou o amor são excelentes companheiros
Cristianismo na preservação da nacionalidade húngara. A União Europeia já determinou de qualquer argumento retórico, ainda que revestido de caráter jurídico. 27 Como no passado
fosse revista a constituição húngara, por entender que alguns de seus artigos afrontam a argumentar contra Deus seria algo perigoso ou indefensável, cercar-se do amor (ou de
Carta de Direitos Humanos da Europa23 • sentimento equivalente) pode muito bem representar um salvo-conduto contra refutações
puramente técnicas 28 • Não teria a dignidade humana, a eminente e conspícua dignidade
A felicidade, ou melhor, a "busca da felicidade" (pursuit ofhappiness), é outra famosa
humana, entrado também por esse caminho tão obscuro?29
expressão, que deita suas origens na Declaração de Independência dos Estados Unidos
de 1776. O texto de Filadélfia é muito conhecido: "Consideramos essas verdades como
axiomáticas, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos
direitos inalienáveis, que estão de entre esses a vida, a liberdade e a busca da felicidade" .24
Há quem defenda que a "pursuit ofhappiness" substituiu o "direito à propriedade".25 Só se 4. Amor ejuridicidade
poderia ser feliz com a posse de bens materiais. Embora por caminhos diversos, a teoria do
patrimônio mínimo chega a resultados muito aproximados. Nas seções 1, 2 e 3 demostrou-se que o amor desapareceu do Código Civil, além de
estar ausente da quase totalidade dos textos normativos brasileiros e estrangeiros.
É necessário reconhecer que a pesquisa no Direito estrangeiro não produziu resultados
muito diferentes da investigação no Direito nacional. Nesta seção, procurar-se-á concluir o exame e responder duas questões centrais para
este ensaio: Questão (1) o amor é susceptível de se juridicizar?; Questão (2) o amor pode

19 Disponível em http://www.parlamento.ptlLegislacao/Paginas/ConstituicaoRepubticaPortuguesa.aspx
[2-7-2018]. 26 Trata-se da PEC 19/2010, de autoria do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que teve sua
20 Disponível em http://www.lamoncloa.gob.es/documents/constitucion_es1.pdf[2-7-2018]. tramitação finda em 2014 e foi remetida ao arquivo (Diário do Senado Federal de 23/12/2014, p.
98).
21 Disponível em http://www. wipo.intledocs/lexdocs/laws/en/ru/ru003en.pdf[2-7-2018].
27 F. LEAL, Seis objeções ao Direito Civil constitucional, in Direito Fundamentais e Justiça 9 (2015), p.
22 Disponível em http://www.kormany.hu/download/e/02/00000/lhe%20New%20Fundamental%20
143.
Law%20o/l/Ó20Hungary.pdf[5-7-2018].
28 A. Ross, On law and justice, trad. esp. de Genaro Carrió, Sobre el derecho y la justicia, 2 a ed.,
23 Resolução do Parlamento Europeu, de 5 de Julho de 2011, sobre a revisão da Constituição húngara. Buenos Aires, EUDEBA, 1997, p. 340: "Es imposible tener una discusión racional con quien
Disponível em http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//NONSGML + TA +P7- apela a la «justicia», porque nada disse que pueda ser argüido en pro o en contra. Sus palabras
TA-2011-0315+0+DOC+PDF+ VO//PT [5-7-2018]. constituyen persuasión, no argumento [... ].".
24 Disponível em http://www.ushistory.org/declaration/document/ [2-7-2018]. 29 J. B. VILLELA, "Variações Impopulares sobre a Dignidade da Pessoa Humana': in AA. vv. Superior
25 R. de F. N OVAES, Fundamentos do Estado, in Carta Mensal 724 (2015), pp. 53-54. Tribunal de Justiça: Doutrina - Edição Comemorativa 20 anos, Distrito Federal, 2009. p. 562.
Otavio Luiz Rodrigues Junior 555
554 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor

ser corretamente utilizado como fundamento no discurso jurídico, qualquer que seja ele, o "amor", e é que se volte a ele, definitivamente, não é jurídico. Sua juridicização
dogmático, legislativo ou jurisprudencial? pode até ocorrer, o que realmente se deu em casos excepcionais na legislação nacional e
estrangeira. Assim, em resposta à questão (1), tem-se que as fronteiras do amor e do Direito
Há uma fotografia da Primeira Guerra Mundial, que retrata uma missa celebrada
devem ser mantidas, ainda que exceções sirvam apenas para confirmar a diferença de planos.
por um capelão do Exército Real e Imperial da Austria-Hungria, pouco antes de uma das
O não Ser o novo laico. Ele é sublime demais para se conspurcar com o
mais sangrentas batalhas daquele horrendo conflito, que neste ano completa um século de
Direito, que só é nobre quando seus realizadores conseguem sê-lo. No entanto, os homens
seu término. O capelão está coberto por suas vestes sacerdotais, mas se percebe que ele está
guardam em si mesmos o gérmen da destruição, da imperfeição e da incompletude.
de uniforme. Todos estão ajoelhados, com ar de profunda compunção, enquanto o padre
eleva a hóstia na consagração. A maior parte daqueles homens morreria horas depois, posto Aqui cabe voltar a fundamentos menos metafísicos: de acordo com a teoria egológica
que sinceramente acreditassem na proteção de Deus. Eram leões (os soldados) liderados por de Carlos CassIo, o ato humano é necessariamente um ato jurídico, por se colocar nos
cordeiros (os oficiais), para se roubar uma metáfora alemã a respeito dos soldados britânicos campos da licitude ou da ilicitude.3l Hans KELSEN, que com ele debateu em sua viagem
nessa guerra. Do outro lado, estavam os russos. Provavelmente, abençoados por um capelão à América Latina32 , tal como referido pelo ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior, teria
ortodoxo, que também rogara ao mesmo Deus que trucidasse os inimigos do czar Nicolau assim se pronunciado: "Kelsen, reptado por Cossio, o criador da teoria egológica, perante a
n. congregação da Universidade de Buenos Aires, a citar um exemplo de relação interssubjetiva
que estivesse fora do âmbito do Direito, não demorou para responder: 'Qui, monsieur,
Ambos os lados acreditavam que Deus estava de seu lado. Era uma crença. E há poucas
lamour'. E assim é, na verdade, pois o Direito não regula os sentimentos" .33
coisas tão insusceptíveis de controle racional quanto a fé. Os textos sagrados e a sabedoria
popular assim o confirmam, pois a "fé remove montanhas" e "tudo é possível àquele que Mesmo se procuradas respostas na Religião, essas diferenças essenciais entre uma
crê". Se, no plano religioso, essas são afirmações que não se discutem, é possível transpor relação jurídica e uma relação amorosa tornar-se-ão igualmente nítidas. Na parábola do Bom
esse modelo para um campo tão aberto a conflitos quanto o Direito? Em cada processo, há Samaritano, descrita no Evangelho de S. Lucas (X:30-37), Jesus fala do "amor ao próximo" e
um combatente. Se Deus for substituído pelo Amor, qual a diferença de sua invocação em eis que um doutor da lei lhe indaga: "E quem é meu próximo?" A resposta é assim fornecida:
um documento jurídico àquela feita por aqueles pobres oficiais e soldados austro-húngaros?
"30. Prosseguindo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó,
A deusa pagã Thémis ocupa posição privilegiada em nossos tribunais. Ela foi, contudo,
e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem,
o símbolo de uma religião que nada mais diz ao homem ocidental, ao menos desde Juliano, o se retiraram, deixando-o meio morto. 31. Por uma coincidência descia
apóstata. A estátua da deusa vendada é a representação da Justiça. Alf Ross, em uma célebre por aquele caminho um sacerdote; quando o viu, passou de largo. 32. Do
frase, afirmou que invocar a justiça é como resolver uma questão jurídica com um soco na mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou
mesa. 30 Ele, a despeito das restrições que se tenha ao positivismo, desejou alertar para os de largo. 33. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se
riscos do vazio argumentativo de quem imagina poder encerrar conflitos e "dar a cada um o do homem e, vendo-o, teve compaixão dele. 34. Chegando-se, atou-lhe
que é seu" com a invocação de conceitos que, ao mesmo tempo, tudo e nada significam para as feridas, deitando nelas azeite e vinho e, pondo-o sobre o seu animal,
os seres humanos. Se, em relação à Justiça, como defende o Jusnaturalismo, há o exemplo de levou-o para uma hospedaria e tratou-o. 35. No dia seguinte tirou dois
Antígona, clamando pela prevalência de algo superior e antecedente ao Direito positivo, no
que se refere ao "amor", a situação é diferente. 31 A. VASCONCELOS, Arnaldo, Teoria da Norma Jurídica, 5a ed., São Paulo, Malheiros, 2002, pp. 37-
38.
Fazer justiça é cometer injustiça. O perdedor em um processo dificilmente dirá que
32 Para maiores detalhes dessa visita à América Latina, que também se estendeu ao Uruguai e ao
Thémis lhe sorriu. Nessa hipótese, contudo, está-se no plano das baixezas humanas. A Brasil: J. A. DIAS TOFFoLI - O. L. RODRIGUES JUNIOR, Hans Kelsen: o jurista e suas circunstâncias
invocação de Deus, ao menos em Estados laicos, é irrelevante, o que não significa que Ele (Estudo introdutório à edição brasileira da "Autobiografia" de Hans Kelsen), in KELSEN, Hans,
não possa agir em outros planos. Mas, crentes e não crentes, ao menos para o Direito, são Autobiografia de Hans Kelsen, trad. port de Gabriel Nogueira Dias e José Ignácio Coelho Mendes
iguais perante a norma e é assim que o diz a Constituição. Neto, 4a ed., Rio de Janeiro, Forense, 2012, p. LIlI e ss., e C. COSSIO, Teoría egológica y teoría
pura: balance provisional de una visíta de Kelsen a la Argentina, in Revista de Estudíos Políticos 48
(1949).
30 "Invocar la justicia, es como dar un golpe sobre la mesa: una expresión emocional que hace de la 33 Citação extraída do corpo do voto no REsp n. 148.897/MG, reI. Ruy Rosado de Aguiar, Quarta
propia exigência un postulado absoluto" - A. Ross, On law cito (nota 28 supra), p. 340. Turma, j. 10-2-1998, DJ 6-4-1998, p. 132.
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556 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior

denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o e quanto gastares de do art. 1.566 do Código Civil)34 são tidos como questão de foro íntimo, alheia ao Direito.
mais, na volta eu to pagarei. 36. Qual destes três te parece ter sido o Tenta-se construir uma interessante (e rica) diferenciação entre afeto e amor. Se o amor pode
próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? 37. Respondeu o não mais existir (ou pode nunca ter existido), o afeto seria susceptível de exigibilidade e de
doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe conversão em reparação pecuniária, na hipótese de abandono afetivo.
Jesus: Vai-te, e faze tu o mesmo".
Os legisladores ocidentais, em sua maioria, têm fugido da associação do amor a
Até o momento em que o samaritano cuidou das feridas e levou o doente à hospedaria, um dever (ou obrigação, conforme o caso) jurídico. As contradições humanas, mesmo em
ele nada mais fez do que cumprir uma obrigação jurídica. Podem··se mencionar a gestão de pleno laicismo, fazem com que a busca pelo sublime se haja transferido de Deus para outros
negócios ou o dever de prestar socorro como causas da juridicidade desse aIO. Ao dizer elementos metafísicos. Corre-se sério risco se essa "busca pelo amor" terminar por vulgarizá-
ao estalajadeiro "trata-o", o samaritano também não agiu por "amor", mas obrigado pelas lo, como hoje parece ser o caminho de outros conceitos tão displicentemente recitados nos
relações jurídicas estabelecidas pelo contato social. Mas, quando ele completou a frase, ao discursos jurídicos.
dizer "e quanto gastares de mais, na volta eu to pagarei", ali entrou a luz do amor ao próximo.
Fez-se o marco divisor entre os dois planos. O Direito, como sempre, é envergonhado pela
magnanimidade do amor. Assim tem de ser, porquanto se o amor se converte em obrigação,
ele deixa de sê-lo. A separação entre o amor e o Direito é tão importante quanto foi uma
conquista histórica a distinção entre Religião e Direito, a qual já se encontrava prevista na
O. AQuestão do afeto edo amor no Direito
própria Bíblia ("Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" - Evangelho
segundo S. Mateus XXII:21).
. Afeto eafetividade: desacordos semânticos
A utilização do amor no discurso jurídico (Questão 2), considerada a distinção entre Desde o fim da década de 1960 até aos dias atuais, o casamento tem-se submetido
relações, nos termos já apresentados, é de ser também objeto de fortes restrições. A invocação a um gradual processo de alienação (no sentido de se alhear) do campo da moralidade, no
do "amor" para se restringir prerrogativas jurídicas é absolutamente contrária ao Direito, sentido próprio daquilo que seja conforme à moral e aos bons costumes. Os elementos
dado que se, nas palavras de Carlos Cassio, o Direito é liberdade e as normas são violáveis. religiosos, que durante tantos séculos serviram de conteúdo para as formalidades e os deveres
Ora, o que se dizer de um sentimento como o amor? Se convertido em obrigação ou dever, matrimoniais, foram lentamente alienados do casamento. O divórcio, a tese do fim do dever
pode-se chegar ao extremo de "fabricar" o amor para se evadir dos deveres jurídicos a ele de fidelidade e a descriminalização do adultério são símbolos dessa perda de fundamentos
imputados. religiosos ou metajurídicos do casamento. As recentes discussões sobre a poliafetividade,
que é antípoda ao regime monogâmico, são mais um exemplo desse movimento em direção
Alguns "elementos parcelares" do altruísmo foram historicamente juridicizados e
a um casamento indiferente ao índice de moralidade que vigorou no país até poucos anos.
convertidos em obrigações (ou deveres). O seguro social (que é universal) constitui-se em
Paradoxalmente, substitui-se a moralidade de origem religiosa por uma crescente cobrança
um exemplo dessa conversão da caridade e da filantropia para com os inválidos por exercício
por afeto entre cônjuges, ex-cônjuges ou pais e filhos, cuja infração geralmente implica
de atividades profissionais em um dever jurídico. Os alimentos são outro notório (e bem-
algum tipo de contrapartida financeira.
sucedido) modelo de juridicização de uma conduta que outrora se radicava no campo da
Moral. O direito real de habitação é um resquício dos tempos de Justiniano, quando se Em paralelo a isso, é cada vez mais débil o discurso a respeito de uma publicização do
procurou resguardar as viúvas, casadas pelo regime dotal, que ficavam sem teto, abandonadas Direito de Família. A chamada publicização cede ante uma curiosa restrição da incidência
pela cupidez e pela avareza de seus filhos. A gestão de negócios e a omissão de socorro são do Direito Público (e seus institutos) no casamento. Até aos anos 1990, divorciar-se ou
exemplos já citados. O Código Civil é repleto de fósseis da "civilização dos costumes", que separar-se era algo profundamente solene, com prazos, audiências de conciliação e de
se operou pelos séculos dos séculos, graças à experiência humana. reflexão -para que os cônjuges avaliassem se realmente desejavam pôr termo a sua união
_, presença obrigatória do Ministério Público, recurso de ofício, além de outras pequenas
O século XXI assiste à tentativa de juridicização do amor nas relações parentais, como
se nota, v.g., com a teoria do abandono afetivo. E isso se dá, paradoxalmente, em paralelo com
a irrelevância crescente do casamento como instituição jurídica, cada vez mais equiparado 34 "Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum,
a um mero negócio jurídico, no qual os "deveres" amorosos (que não estão presentes no rol no domicílio conjugal; IH - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V -
respeito e consideração mútuos".
558 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 559

formalidades. 35 Hoje, tudo isso mudou. O casamento e sua proteção deixaram de interessar Não interessava a existência prévia de uma relação de ascendência-descendência natural ou
ao Estado, ao menos nos níveis tão intensos do passado. Cada vez mais, a união entre pessoas genética, bastava a vontade do adotante para que ela se constituÍsse. 40 Em Roma, distinguia-
é algo que interessa ao mundo privado. Essa união pode ser constituída ou extinta por meio se entre a adoção e a ad-rogação. Pela adoção em sentido estrito (adoptio) , um indivíduo
de atos negociais, inclusive com a dispensa do Poder Judiciário - quando ausente o litígio alieni iuris deixava de submeter-se a um pateifamilias para sujeitar-se a outro, de forma que
ou o interesse de incapazes - , por meio das serventias cartoriais. 36 A não o era entre dois patresfamilias e o adotado mudava juridicamente
interessa ao Direito Penal e já se começa a defender que a bigamia deixe de ser crime 37 , de família. Já a adrogatio era o ato jurídico pelo qual um indivíduo sui iuris abdicava de sua
seguindo-se o mesmo caminho do adultério, que não mais integra o rol de condutas típicas situação de independência para sujeitar-se ao pátrio poder de outrem, assim como todos
e antijurídicas 38 • O campo da autodeterminação matrimonial é cada vez mais dilatado. aqueles que fossem seus dependentes. Tornando-se alieni iuris, o ad-rogado sofria capitis
Assim como houve esse avanço da autodeterminação no casamento, observa-se hoje deminutio 41 •
uma maior intervenção no modo como as pessoas gerenciam os efeitos patrimoniais da Os elementos morais não integravam o suporte fático da adoção e da ad-rogação. Eles
extinção do casamento - ou da sociedade conjugal, conforme o caso. São exemplos disso só passaram a moralizar esses institutos com o advento do Cristianismo e a integração do que
a questão dos alimentos compensatórios e da intervenção judicial no regime de separação se viria a chamar depois de Direito de Família ao Direito eclesiástico, posteriormente Direito
convencional de bens. Os elementos tipicamente familiares da relação entre os cônjuges Canônico. Por séculos, o atual Direito de Família não foi estatal, mas um território inserido
deixaram de interessar ao Estado e agora ganham cada vez mais importância os de caráter no poder normativo da Igreja Católica e, após a Reforma, das Igrejas protestantes 42 • Essa
patrimonial ou de eficácia patrimonial indireta. Esse câmbio no eixo do Direito de Família
está a merecer estudos mais aprofundados, até por se revelar paradoxal em face de um Hammerle, Direito Privado Romano, 2 a ed., Lisboa, Calouste Gulbenkian, 2001, pp. 344-347 e
discurso de despatrimonialização do Direito Civil. 379-380.

Na raiz dessa transformação está a aparente passagem do princípio da legitimidade, 40 "E recordem-se, sobretudo, os institutos da adoção e da legitimação adotiva, cuja evolução
mais recente, tomados em seu conjunto, está fortemente marcada pelos propósitos de crescente
que sustentou por séculos o Direito de Família, ao chamado princípio da afetividade. A
assimilação com a paternidade de origem biológica: progressiva redução da idade mínima para
parentalidade era um conceito fundado naquilo que a lei assim o definia. Ser pai, mãe ou ser adotado, a que se liga, em natural desdobramento, a sugestão de se admitir o assentimento
filho não decorria de um vínculo genético ou biológico, mas de um vínculo de legitimidade, pré-natal à adoção; completa extinção do parentesco anterior do adotado e sua integral inserção
o qual, em muitos casos, apenas juridicizava os efeitos biológicos do nascimento ou da jurídica na nova família, cujos vínculos parentais passa a assumir (... ). Tudo isso talvez se pudesse
morte. A juridicização também se poderia manifestar pela via negocial. A escritura de adoção resumir na tendência historicamente verificável, em se levar às últimas consequências a velha
e o testamento eram formas de criação de vínculos legítimos de parentalidade desde Roma.39 máxima adoptio naturam imitatur" - J. B. VILLELA, Desbiologização da paternidade, in Revista da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais 27 (1979), pp. 406-407.
41 A. CORREIA - G. SCIASCIA, Manual de Direito Romano e textos em correspondência com os artigos do
35 Arts. 1.120 a 1.124-A, CPC/1973.
Código Civil brasileiro, vol. 1, 2 a ed., São Paulo, Saraiva, 1953, pp. 118-119: "A adoptio distingue-
36 "Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável, se em adrogatio e em adoptio em sentido estrito (2). A adrogatio é o ato pelo qual se agrega a uma
não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, pod~rão ser realizados família quem é pateifamilias de outra, com todos os seus dependentes. [... ] A adoptio em sentido
por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731" (CPC/2015). estrito possibilitava que viesse a fazer parte da família o indivíduo sujeito a outra (alieni iuris)";
J. C. MOREIRA ALVES, Direito Romano, 17a ed., Rio de Janeiro, Forense, 2016, pp. 613-618:
37 O anteprojeto de Código Penal (PLS 23612012, de autoria do ex-Senador José Sarney (PMDB-
"A adoptio [... ] é o ato jurídico pelo qual um alieni iuris ingressa na família do adotante como
AP), ainda em tramitação, não possui equivalente ao Título VII - Dos Crimes contra a Família,
seu filho ou neto" e "pela adrogatio (ad-rogação) um pater familias ingressa, na posição de jilius
do Código Penal de 1940, e não tipifica a bigamia. Sobre a polêmica em torno da necessidade
familias [... ], na família de outro pater familias". No mesmo sentido: T. MARKY, Curso Elementar
de criminalização da bigamia: G. FAUSTINO ROSA - G. M. de CARVALHO, Delito de bigamia e
de Direito Romano, 8 a ed., São Paulo, Saraiva, 1995, pp. 157-158.
intervenção mínima: O casamento é, ainda, um bem jurídico-penal?, in Revista de Direito Penal
Processo Penal e Constituição 2 (2016), pp. 556-57l. 42 J. GILISSEN, Introduction historique au droit, trad. porto de A. M. Espanha e L. M. Macaísta
38 O crime de adultério foi revogado pela Lei 11.106, de 28 de março de 2005. Malheiros, Introdução Histórica ao Direito, 3 a ed., Lisboa, Calouste Gulbenkian, 2001, p. 569:
"Do séc. X ao séc. XVI, casamento e divórcio são exclusivamente regulados pelo direito canónico.
39 A adoção, seja em sentido estrito ou por ad-rogação, e o testamento, por meio do testamentum A igreja tem o monopólio da legislação e da jurisdição nesta matéria. Qualquer questão relativa
calatis comitiis ou do testamentum in procinctu, pelos quais se atribuíam a alguém as condições de a estas instituições é da competência dos tribunais eclesiásticos"; WALD, Arnoldo, O novo direito
filho e de herdeiro no momento da morte de outrem, como uma espécie de "adrogação para o de família, 14 a ed., revista, atualizada e ampliada pelo autor, de acordo com a jurisprudência e
caso de morte" - M. KASER, Das romische Privatrecht, trad. port. de Samuel Rodrigues e Ferdinand com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002, com a colaboração do Des. Luiz Murillo
560 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 561

moralização da adoção e da ad-rogação deu-se por meio de uma série de exigências prévias atribuída a quem bem pode não ser o pai biológico ou a quem manifestamente não o é".
ao ato: (a) diferença de idade entre adotantes e adotados 43 ; (b) vedação do ato de adotar ou Ele menciona a presunção de legitimidade da prole nascida de mulher casada e ainda o
ad-rogar às pessoas que não podiam ter filhos naturalmenté4; (c) proibição de adoção de "instituto universal da tutela, que, embora não constituindo propriamente uma espécie de
filhos ilegítimos ou naturais por seus ascendentes biológicos, como forma de legitimar uma paternidade, participa estruturalmente de seu caráter".48
relação contrária à moral religiosa da época45 . Parte dessas exigências no A desconexão elemento moral-religioso do suporte fático de alguns dos
Civil brasileiro. 46 Embora a maior delas - o impedimento da adoção a casais formados por mais importantes institutos do Direito de Família é inegável na contemporaneidade.
pessoas do mesmo sexo - tenha sido eliminada pela jurisprudênciaY Paradoxalmente, como salientado na seção 4, os elementos metajurídicos são expulsos por
João Baptista Villela colocou ênfase no fato de que "a independência entre a linha uma porta, mas retornam por outra. Parece ser esse o caso do princípio da afetividade,
jurídica e a biológica em matéria de paternidade deixa-se também surpreender pela reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal como novo "fundamento" do Direito de
abordagem inversa. São inúmeras as situações previstas em lei, nas quais a paternidade é Família. 49
Não é objeto deste ensaio o princípio da afetividade. Atalá CORREIA procedeu a um
dos mais completos estudos sobre esse princípio na doutrina e na jurisprudência nacionais,
Fábregas e da profa Priscila M. P. Corrêa da Fonseca, São Paulo, Saraiva, 2002, p. 13: "Durante a
Idade Média, as relações de família se regem exclusivamente pelo direito canônico, sendo que, do demonstrando a falta de uniformidade e de acordos semânticos em torno da afetividade. 50
século X ao século xv, o casamento religioso é o único conhecido". As principais teses que Atalá CORREIA extraiu de variegada doutrina foram estas: (a) o afeto,
43 O Código Civil de 2002 estabelecia pelo menos 16 anos de diferença entre o adotante e o adotado para parte da doutrina, não seria juridicamente exigível, mas sim as condutas que o tomam
no art. 1.619, o qual foi alterado pela Lei nO 12.010, de 3 de agosto de 2009, passando agora a por referência; (b) o amor e afetividade complementam-se; (c) a afetividade prevalece sobre
tratar de outra matéria. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nO 8.069, de 13 de julho de elementos puramente formais. 51
1990), em seu art. 42, § 3°, dispõe que: "O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
velho do que o adotando". A despeito de respeitáveis tentativas de conceituar o afet0 52 , permanecem senos
problemas conceituais quanto a ele, particularmente sua derivação principiológica, que é a
44 O Código Civil de 1916 dispunha, em seu art. 368, que: "Só os maiores de cinqüenta anos, sem
afetividade. Essa grande dificuldade não impediu que a jurisprudência dele se apropriasse
prole legítima, ou legitimada, podem adotar". Esse artigo foi alterado pela Lei nO 3.133, de 8
de maio de 1957, passando a ter a seguinte redação: "Só os maiores de 30 (trinta) anos podem em diversos (e importantes) acórdãos no Direito de Família. A crítica não é anulada por essa
adotar". F. C. PONTES DE MIRANDA, Tratado de Direito Privado: Parte Especial Direito de Família: causa. A indefinição jurídica da afetividade é ainda mais preocupante quando ela se assenhora
Direito ParentaL t. IX, atual. por Rosa Maria de Andrade Nery, São Paulo, Revista dos Tribunais, de elementos típicos do amor, indiretamente juridicizando-o. Não é, contudo, objeto deste
2012, p. 255: "Quanto ao adotante, são pressupostos necessários: I) Ser maior de cinqüenta ensaio o princípio da afetividade. Importa, nesta sub-seção, registrar que a imprecisão do
anos, porque, se o legislador admitisse a adoção antes dessa idade, desviaria do casamento pessoas
princípio é determinante para o crescente processo de juridicização do amor, ainda que
que desejam, por instinto paterno ou materno, dedicar-se a outras e fazê-las seus sucessores".
sejam pressurosos os autores em afirmar que ambos se distinguem essencialmente. 53
Em seguida, continua: "II) Não ter descendentes legítimos ou legitimados, porque a ilusão da
paternidade ou maternidade fictícia não teria razão de ser se o adotante tivesse os encargos e a
afeição da paternidade ou maternidade real. A lei refere-se à prole legítima ou legitimada, de modo
que o fato de ter reconhecido filho ilegítimo não impede que o pai ou a mãe adote estranho"
45 F. C. PONTES DE MIRANDA, Tratado IX cito (nota 44 supra), p. 254: "Não se pode adotar o próprio
filho, se reconhecido, ainda que ilegítimo [... ]. O problema tem de ser pôsto em têrmos mais 48 ]. B. VILLELA, Desbiologização cit. (nota 40 supra), p. 406.
científicos, para que sejam científicas as respostas: antes do reconhecimento não hà,juridicamente, 49 STF, Tribunal Pleno, RE n. 898.060/SC, reI. Luiz Fux, j. 21-9-2016, D]e 23-8-2017.
filiação, de modo que é possível a adoção (não se infringe qualquer regra jurídica); depois do 50 A. CORREIA, Insuficiência da afttividade como critério de determinação da paternidade, in Revista de
reconhecimento, a adoção não tem sentido, pois o que se propõe a adotar já é pai, juridicamente
Direito Civil Contempordneo 14 (2018), pp. 335-366.
ou já é mãe, juridicamente; se o reconhecimento ocorreu após a adoção, a adoção caduca (= perde
eficácia)" 51 A. CORREIA, Insuficiência cito (nota 50 supra), pp. 336-338.

46 ST], Terceira Turma, REsp n. 76.712/GO, reI. Waldemar Zveiter, j. 16-12-1996, D] 17-3-1997; 52 R. L. CALDERON, O percurso construtivo do princípio da afttividade no direito de fomília brasileiro
T]DF, Apl n. 0013167-65.2007.807.0003, reI. Mario-Zam Belmiro, j. 13-12-2007, D]e 17-4- contempordneo: contexto e efeitos, Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Paraná,
2009 [referentes à exigência (c)]. Curitiba, 2011, p. 266.
47 ST], Terceira Turma, REsp n. 1.281.093/SP, reI. Nancy Andrighi, j. 18-12-2012, D]e 4-2-2013. 53 A. CORREIA, Insuficiência cito (nota 50 supra), pp. 342, 344 e 358, nt. 44.
562 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 563

resultam danos "a sua integridade física, moral, intelectual e psicológica".56 Quando o tema
se desloca para a infidelidade e seus efeitos patrimoniais por violação do dever do art. 1. 566,
A juridicização do afeto deu-se no plano legislativo e jurisprudencial. O termo "afeto" inciso I, CC/2002, não há idêntico reconhecimento da pretensão indenizatória, seja em
e suas variantes podem ser encontrados, a título de exemplo, no Estatuto da Criança e do relação a terceiros,57 seja entre os cônjuges. 58
Adolescente (arts. 8°, § 7° - vínculos afetivos entre a mãe e o filho; 25, parágrafo único -
vínculos de afinidade e afetividade; 28, § 3° - relação de afinidade ou de afetividade; 42, § 4°
- vínculos de afinidade e afetividade; 50, § 13, incisos II e III -laços ou vínculos de afinidade
e afetividade; e 92, § 7° - necessidades de afeto); no Código Civil (arts. 952, parágrafo único
no sentido francês do preço d'affiction), e 1.584, § 5° - relações de afetividade); no Código
de Processo Civil de 2015 (arts. 742, § 2° - no sentido francês do valeur d'affiction, e 751 - Em relação ao afeto, começam a surgir críticas a respeito de sua natureza principiológica
laços e valores afetivos). e sua capacidade de produzir deveres jurídicos. 59 Quanto ao amor e sua apropriação pelo

O afeto, na maior parte dos enunciados normativos (à exceção dos relacionados


ao conceito francês do valeur d'affiction), procura exteriorizar um sentimento que daria a fluir a partir da maioridade do autor (STJ. REsp 1298576/R], DJe 06/09/2012)" - Quarta
Turma, AgInt no AREsp n. 1270784/SP, reI. Luis Felipe Salomão, j. 12-6-2018, DJe 15-6-2018.
conteúdo a uma relação jurídica entre pessoas unidas por laços familiares, como pais e filhos,
ou juridicamente distintos, como adotante e adotando. A presença ou a ausência desse 56 "O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de prestar
assistência material ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e
sentimento pode servir de causa jurídica para o exercício de um direito de preferência ou
causando danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos
de escolha, bem assim para determinar a qualidade do atendimento oferecido por entidades termos do art. 186 do Código Civil de 2002. Estabelecida a correlação entre a omissão voluntária
de caráter assistencial ou ainda do exercício do poder familiar. São situações de alguma e injustificada do pai quanto ao amparo material e os danos morais ao filho dali decorrentes,
indeterminação, mas que não se confundem com a criação de um dever geral de amor ou de é possível a condenação ao pagamento de reparação por danos morais, com fulcro também
relações jurídicas à margem dos critérios legais de formação de vínculos de parentesco, cujas no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana' STJ, Quarta Turma, REsp n.
consequências se ampliam para outros campos do Direito. Essas externalidades dão-se no 10875611RS, reI. Raul Araújo, j. 13-6-2017, DJe 18-8-2017.
âmbito do direito a alimentos, nos direitos sucessões, na formação da legítima, na partilha 57 "O dever de fidelidade recíproca dos cônjuges é atributo básico do casamento e não se estende
de bens entre cônjuges, companheiros e pessoas sob relações juridicamente sui generis. É ao cúmplice de traição a quem não pode ser imputado o fracasso da sociedade conjugal por falta
precisamente nesse ponto que o conceito de afeto dissocia-se dos textos legislativos e ganha, de previsão legal" - STJ, Terceira Turma, REsp n. 922.462/SP, reI. Ricardo Villas Bôas Cueva, j.
4-4-20l3, DJe 13-5-2013.
na jurisprudência, uma série de conteúdos não pensados (ou queridos pelo legislador).
58 "Indenização por danos morais. Infidelidade conjugal que, não obstante constitua descumprimento
de dever basal do casamento, não configura, por si só, ato ilícito apto a gerar abalo moral indenizável.
Dano moral que depende da sujeição à indignidade do cônjuge traído. A chave funcional do dano
No plano jurisprudencial, como demonstrou Atalá CORREIA no que se refere
moral está no princípio constitucional e fundamental da dignidade da pessoa humana (art. l°,
à determinação da paternidade, o afeto termina por se transformar em um conceito inciso lII, da Carta da República). Ausência de evidência do intuito de ridicularizar o outro
performático substitutivo de "mera constatação fática que permite presumir a vontade de cônjuge. Exposição em rede social não demonstrada. Diálogos realizados com visualização restrita
formar vínculo paterno-filial".54 Paradoxalmente, o afeto é objeto de enorme contestação aos interlocutores. Improcedência mantida. Recurso desprovido" - TJSP, 7a Câm. de Direito
quando se vincula ao chamado "abandono afetivo" ou à traição entre cônjuges (esta última, Privado, Ap. n. 0000477-68.2013.8.26.0357, reI. Rômolo Russo, j. 31-10-2016.
uma espécie de perda de afeto que implica violação do dever de fidelidade?). As decisões sobre 59 A. CORREIA, Insuficiência cito (nota 50 supra), passim; O. L. RODRIGUES JUNIOR, Estatuto
o tema são marcadas por essa incoerência sistemática. Os precedentes admitem pretensões de epistemológico do Direito Civil contemporâneo na tradição de civillaw em face do neoconstitucionalismo
ressarcimento fundadas no abandono afetivo quando há: (a) omissão no reconhecimento de e dos princípios, in O Direito (Lisboa) 143 (2011), pp. 43-66; L. L. STRECK, As várias faces da
paternidade, quando o genitor sabia da condição parental;55 (b) abandono material, do qual discricionariedade no Direito Civil brasileiro: o "reaparecimento" do Movimento do Direito Livre em
terrae brasilis, in Revista de Direito Civil Contemporâneo 8 (2016), pp. 37-48; C. M. CABELEIRA, A
ditadura do afoto: uma crítica à introdução do sentimento como valor jurídico, in Revista de Direito
54 A. CORREIA, Insuficiência cito (nota 50 supra), pp. 363. de Família e das Sucessões - RDFAS 1 (2014), pp. 43-60; "O afeto, na sua acepção romântica,
55 ''A ego Quarta Turma desta Corte já decidiu que, sendo a paternidade biológica do conhecimento na seara jurídica, institucionalizou-se capturado como estratégia de controle do que é ou não
do autor desde sempre, o prazo prescricional da pretensão reparatória de abandono afetivo começa entidade familiar, de tal forma que promove a cristalização de territórios existenciais, espécie
564 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 565

Direito, é necessário que haja uma imediata tomada de posição da dogmática, sob pena de como se pode encontrar em O banquete, de Platão. A philia, que também significa amor,
se avançar sobre um território sobre o qual o Direito nunca poderia ser admitido a invadir. assume o caráter do amor entre amigos ou tàmiliares, sem conotação sexual ou física. Embora
não originalmente ligada à noção de amor, não se pode ignorar a palavra grega páthos, da
A reflexão sobre o "amor" no Direito pode-se converter em um exercício de
qual resultaram patologia, paixão e patético. Páthos relaciona-se a sofrimento, sensações e
argumentação religiosa ou ainda assumir a forma de debates totalmente sem fundamentação
emoções. Patético (do grego pathêtikós) , em seu sentido original, era a qualidade de quem
teórica, duas circunstâncias extremamente comuns na dogmática e na jurisprudência
conseguia despertar comoção ou piedade em outrem. Modernamente, a pessoa patética,
contemporâneas.
o pateta é figurativamente um tolo, o que muitos aproximam do estado de alguém sob os
oDireito ocupa-se de direitos e deveres (ou obrigações) que são, em geral, correlatos. efeitos da paixão, palavra de origem controvertida, que tanto pode servir para exteriorizar
As relações amorosas não são exigíveis ou executáveis, daí os códigos civis de 1916 e 2002 não o sofrimento do Cristo crucificado, um grande padecimento (um martírio), a inclinação
terem inserido o amor como objeto prestacional de deveres conjugais. Ama-se por "querer emocional violenta e o amor intenso e irracional por alguém. A palavra car'ítas, do latim,
estar preso por vontade". Afinal, o amor é "servir a quem vence o vencedor; é ter com quem equiparar-se-ia à palavra grega ágape, com o sentido de amor a Deus e ao próximo, um amor
nos mata lealdade", recitando o soneto camoniano. 60 sem expectativa de contraprestação, identificável quando se ajuda aos pobres, desvalidos e
A utilização do amor em urna norma é algo ruinoso para o próprio amor, que se incapazes de retribuir aos benfeitores. 61
contaminaria com a imperfeição humana, a qual, por sua vez, contagiou o Direito desde seu Tantas acepções de amor tornam ainda mais complexa a tentativa de sua recondução
nascimento, pois não há nada mais próximo das baixezas (e das grandezas), dos vícios (e das ao papel de fonte de direitos e deveres (ou obrigações) jurídicos. Amar ou não amar é um
virtudes), da sordidez (e da magnanimidade) humanos do que o Direito. ato humano insusceptível de se enquadrar no campo da ilicitude. Ainda que faça uso de
Outra dificuldade para a juridicização do amor está em sua distinção em face de artifícios retóricos ou onomásticos para qualificar o amor como afeto, cuidado, proteção e
outras palavras, gregas e latinas, representativas de variáveis sentidos do amor. Tem-se o figuras afins.
ágape, de difícil caracterização semântica, até por seu uso bíblico com o sentido de amar
ao próximo como se ama a Deus (5. Mateus, XXII: 37-41; I Coríntios XIII:4-8), sem a
conotação da reciprocidade ou da voluntariedade. Existe o eros, o amor acompanhado do
desejo ou da admiração pela beleza, embora não necessariamente sem o elemento físico,
Conclusões
de coágulo do tecido familiar. O uso repetido do afeto (sem qualquer discursividade cnuca Em resposta às três questões formuladas na introdução, tem-se que:
quanto ao seu conteúdo) passou a referendar determinado modo desejado de vida; formas de
relação paterno-filial, laços de conjugalidade, e até própria constituição do enlace paterno-filial Questão (1) - O amor não é juridicizável. O Direito não consegue acolher em suas
(a denominada relação socioafetiva)" - L. C. POLI, Críticas à apropriação do afoto no discurso do estruturas um elemento que não permite criar direitos e deveres (ou obrigações) na ordem
Direito de Família, in Revista de Direito Civil Contemporâneo 12 (2017), pp. 297-314; "Quanto jurídica.
a esse 'abandono afetivo', poder-se-ia, também, apontar sérias e fundadas dificuldades no exame
do nexo de causalidade entre o ilícito e o dano. Todas ou quais as vicissitudes da' vida decorreriam Questão (2) - O amor não pode ser utilizado como fundamento ao discurso jurídico,
do déficit afetivo? A angústia das escolhas e os desafios proporcionados pelas perdas não seriam qualquer que seja ele, dogmático, legislativo ou jurisprudencial. Se a lei juridicizar o amor,
uma realidade humana? Ou todas as perdas podem ser objetivadas e compensadas? O excesso do haverá uma superafetação de um conceito que independe do Direito para existir.
afeto, também, não configuraria um comportamento ilícito? E, se os filhos descumprirem o dever
insculpido no art. 229 da CF, de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade, Questão (3) - O conceito de afeto é em si mesmo problemático. Não é objeto central
poder-se-ia falar, também, em 'abandono afetivo'?" - M. de O. MILAGRES, Família e liberdade: deste texto o examine das aparentes contradições do afeto e seu processo de juridicização,
direito pessoal e direito patrimonial de fomília, in Revista de Direito Privado 14 (2013), pp. 297-317. que já se encontra avançado, seja no campo legislativo, seja no campo doutrinário-
60 ''Amor é um fogo que arde sem se ver,! é ferida que dói, e não se sente;! é um contentamento
descontente,! é dor que desatina sem doer.! É um não querer mais que bem querer;/ é um andar
solitário entre a gente;/ é nunca contentar se de contente;/ é um cuidar que ganha em se perder.! 61
Sobre as noções de afeição, amizade, eros e caridade, além dos diferentes sentido da palavra afeto,
É querer estar preso por vontade;/ é servir a quem vence, o vencedor;/ é ter com quem nos mata, recomenda-se a consulta a: C. C. MORAu, Casamento e afetividade no Direito brasileiro: uma
lealdade.! Mas como causar pode seu favor! nos corações humanos amizade,! se tão contrário a si análise histórico-comparativa, Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Direito da Universidade de
é o mesmo Amor?" São Paulo, São Paulo, 2017, especialmente pp. 11-35.
566 Amor e Direito Civil: Normatividade, Direito e Amor Otavio Luiz Rodrigues Junior 567

jurisprudencial. O amor corresponde a um conceito autônomo e não pode ser reconduzido COSSIO, Carlos, Teoria ego lógica y teoría pura: balance provisional de una visita de Kelsen a la
ao regime jurídico que hoje é dispensado ao afeto. Argentina, in Revista de Estudios Politicos 48 (1949), pp. 185-249.

É possível formular uma hipótese justiflcadora do avanço do afeto sobre o Direito GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; OLIVEIRA, Andréa Leite Ribeiro de, Domicílio no
e, nos últimos anos, sobre o surgimento de debates sobre a juridicização do amor. A Código Civil de 2002: in Revi.lta Forense 102 (2006), pp. 79-9l.
generalizada dos referenciais religiosos, ao menos na civilização herdeira da tradição judaico-
GILISSEN, John, Introduction historique au droit, trad. port. de A. M. Espanha e L. M.
cristã no Ocidente, pode ter criado um sucedâneo moralizante das relações humanas, cada
Macaísta Malheiros, Introdução Histórica ao Direito, 3 a ed., Lisboa, Calouste Gulbenkian,
vez mais laicas. A perda dos fatores de coesão social determinado pelos chamados "consensos
2001.
sobrepostos" (overlapping consensus) , como os denominou John RAWLS,62 e o vazio das
respostas religiosas às inquietações espirituais humanas podem ter conduzido a esse refúgio MSER, Max, Das romische Privatrecht, trad. port. de Samuel Rodrigues e Ferdinand
no amor como fonte criadora de direitos e deveres (ou obrigações) jurídicos. Se os temores Himmerle, Direito Privado Romano, 2 a ed., Lisboa, Calouste Gulbenkian, 200l.
de uma sanção post-mortem a comportamentos moralmente censuráveis não mais inibem KELSEN, Hans, Autobiografia de Hans Kelsen, trad. port de Gabriel Nogueira Dias e José
condutas, muito menos a reação dos membros de um corpo místico, busca-se no Direito uma Ignácio Coelho Mendes Neto, 4 a ed., Rio de Janeiro, Forense, 2012.
forma de coagir as pessoas agirem conforme o bem. Mas essa é matéria para outro artigo.
LEAL, Fernando, Seis objeções ao Direito Civil constitucional, in Direito Fundamentais e Justiça
Embora no célebre debate entre MENGER e o "renegado" MUTSKY, esse problema já houvesse
sido proposto: o juiz no lugar do padre; o código no lugar da Bíblia e o Direito substituindo 9 (2015), pp. 123-165.
a Religião. Nada de novo sob o Sol. O amor pede para ser esquecido pelo Direito. LOVETT, John A., Love, loyalty and the Louisiana Civil Code: Rules, standards and hybrid
discretion in a mixedjurisdiction, in Louisiana Law Review 72 (2012), pp. 923-998.

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62 Esse conceito está bem detalhado nas seguintes obras: J. RAWLS, Political Liberalism, New York, RIZZARDO, Arnaldo, Direito de Família, 7 a ed., Rio de Janeiro, Forense, 2009.
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