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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

TRATAMENTO DE ÁGUAS INDUSTRIAIS – TROCA IÔNICA

ALUNO: Maurício Fábio da Silva

DISCIPLINA: Tecnologia das Águas

PROFESSOR(A): Silvana Carvalho de Souza Calado

Recife/2022
1. INTRODUÇÃO

A produção de bens de consumo que envolve transformação e processamento de


matérias-primas, como recursos naturais, requer grandes quantidades de água. Os usos
da água são diversos nas indústrias como, para lavagem de equipamentos, consumo
humano, para água de resfriamento ou aquecimento, além de incorporação na matéria-
prima como é o caso de indústrias de bebidas, alimentos, farmacêutica, dentre outras
(IVANILDO; MIERZWA, 2005).

A água utilizada nas atividades industriais deve possuir características


específicas e requisitos de qualidade necessários, dependendo do seu uso. Como
matéria-prima, a água deve possuir um grau de qualidade que pode variar entre
equivalente à da água para consumo humano ou superior, visando à garantia de
qualidade do produto final (CNI, 2017).

Os processos de tratamento convencionais como a filtração conseguem remover


grande parte dos sólidos em suspensão. Entretanto, a água que sai do tratamento ainda
não é um composto quimicamente puro, podendo apresentar sais, ácidos e outras
substâncias dissolvidas. Os sais dissolvidos são em sua maioria prejudiciais aos
equipamentos industriais, mesmo que seja fonte nutricional para a saúde humana.
Compostos de cálcio e magnésio, por exemplo, causam precipitação e incrustação nas
superfícies metálicas, algo extremamente prejudicial aos equipamentos de uso
industrial, como sistemas de refrigeração e geradores de vapor. Com isso, dependendo
da origem da água e de sua finalidade é que o tratamento adequado é selecionado. Dessa
forma, é necessário que existam tratamentos adequados para cada sistema,
possibilitando chegar a características desejadas na água (CHEMGARD, 2022;
PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA, 2022).

As águas oriundas do consumo humano ou até de poços, contendo sais e


substâncias orgânicas dissolvidas, podem conter componentes que precisam ser
retirados por tratamento adicional para atender os parâmetros de qualidade e demandas
específicas do processo (GONÇALVES, 2014). Muitas indústrias precisam de águas
com alto teor de pureza, sendo necessária a combinação de mais de uma técnica de
tratamento para atender ao nível de qualidade exigido.

Alguns dos processos mais utilizados para tratamento de águas para usos
industriais são: filtro abrandador, ultrafiltração, nanofiltração, microfiltração, osmose
reversa, troca iônica e adsorção por carvão ativado (NEOWATER, 2022).

O presente trabalho tem como principal objetivo apresentar o princípio de


funcionamento de uma técnica para tratamento de águas industriais, a troca iônica, e
mostrar algumas indústrias e ou empresas que apliquem essa técnica para tratamento da
água utilizada nas mesmas.
2. PROCESSO DE TROCA IÔNICA

A troca iônica é uma técnica bastante utilizada nas indústrias alimentícia,


farmacêutica, metalúrgica, agricultura e para tratamento de água. O emprego de resinas
de troca iônica tem sido bastante explorado em virtude das diversas vantagens que
apresenta, como baixo custo, possibilidade de regeneração e reutilização, seletividade e
possibilidade de descarte no meio ambiente sem impactos negativos significativos
(MELO; SILVA, 2015).

O processo de troca iônica consiste na adsorção de íons indesejados de determinada


carga (cátions ou ânions), presentes na solução, em um material sólido (resinas),
permitindo a substituição por outros íons de mesma carga pelo material sólido, que
possuem menor potencial de perigo. O tratamento visa remover os sólidos dissolvidos
da água a ser utilizada na indústria (MARQUES; PEDRO, 2021). Uma reação de troca
iônica é definida como uma troca reversível de íons entre a fase líquida e a fase sólida
(resina). Uma resina M-A+ (o trocador iônico), troca seus cátions A+ por cátions B+
presentes na água a ser tratada. Esse processo pode ser representado pela Equação (1).

(Equação 1)

A Equação (1) também é chamada de troca catiônica, onde M- é o grupo funcional


da resina utilizada, A+ e B+ são os contra-íons, e os íons de mesma carga da matriz são
chamados de co-íons.

De forma análoga, tem-se a reação de troca aniônica, onde os íons A- do trocador


iônico são substituídos pelos íons B- da solução, que são indesejáveis (TENÓRIO;
ESPINOSA, 2001). A Equação (2) representa a reação de troca aniônica.

(Equação 2)

As resinas de troca iônica são formadas por copolímeros sintéticos sulfonado de


divinilbenzeno/estireno. São partículas esféricas com diâmetro de 300 a 1180
micrometros, cujo interior está presente uma estrutura de radicais ácidos (H+) nas
catiônicas e radicais básicos (OH-) nas aniônicas. Por possuir grupos funcionais
específicos, as resinas são seletivas para determinados íons, promovendo a separação
dos mesmos da solução (SOUZA, 2012).

As resinas catiônicas, como o nome sugere, promovem a remoção de íons positivos


como cálcio, ferro, manganês e magnésio e substituindo-os por íons de hidrogênio H+.
As resinas podem ser trocadores de íons fortes e fracos. Trocadores catiônicos
fracamente ácidos têm afinidade apenas por cátions fortemente ionizáveis como Ca2+ e
Mg2+ mas baixa afinidade pelo cátion Na+. Dessa forma, essas resinas não são utilizadas
no processo de deionização no tratamento de águas. São formadas por grupamento ativo
ácido carboxílico, como é mostrado na Figura 1, e possibilitam a troca dos íons apenas
em meio com ânions de ácidos fracos em pH acima de 4. Os trocadores catiônicos
fortemente ácidos são compostos pelo grupo ativo ácido sulfônico e têm afinidade por
todos os cátions presentes nas águas, tais como Ca2+, Mg2+, K+, Na+, sendo as mais
utilizadas para processos de desmineralização das águas duras. A Figura 2 mostra a
estrutura de uma resina catiônica fortemente ácida (WACHINSKI, 2016; VOGEL,
1981).

Figura 1: Resina catiônica fracamente ácida

Fonte: Adaptado de Fonseca (2008).

Figura 1: Resina catiônica fortemente ácida

Fonte: Adaptado de Collins et al (2006).

Os trocadores aniônicos, como o nome já sugere, são capazes de remover íons


negativos como, fluoretos, cloretos e sulfato, substituindo-os por hidroxilas OH- por
desmineralização. Elas podem ser fracamente ou fortemente básicas. As resinas
aniônicas fracamente básicas são formados por grupos amina primária (NH4),
secundária (NHR) e terciária (NR2). Essas resinas removem apenas ânions fortes como
sulfato, cloreto e nitrato, mas não retiram ânions de natureza mais fraca como os
bicarbonatos ou silicatos. O esquema da Figura 3 mostra o funcionamento dessas
resinas na presença de ácidos minerais fortes. As resinas aniônicas fortemente básicas
são sais de amônio quaternário que retém o íon OH-. São dois tipos diferentes de resinas
aniônicas fortemente básicas, que diferem pela capacidade de troca (SANTOS FILHO,
1981; WACHINSKI, 2016).
Figura 3: Esquema de funcionamento de uma resina aniônica fracamente básica

Fonte: Adaptado de Melo (2014).

Quando a concentração de íons positivos e negativos começa a sofrer aumento


significativo nas resinas, faz-se necessário realizar o processo de regeneração. Para a
resina catiônica é passado uma solução de ácido clorídrico a 7% pelo leito de resinas.
Com isso, os íons de minerais são retirados e substituídos por H+. No caso das resinas
aniônicas, passa-se uma solução de hidróxido de sódio a 4% de concentração pelo leito
das resinas. Assim, os íons negativos de minerais são retirados e substituídos por íons
OH-. A troca das resinas deve ser feita quando a capacidade de remoção dos íons não
atende a demanda do processo, finalizando sua vida útil. Uma coluna de troca iônica
tem cerca de dois anos de vida útil, após múltiplos processos de regeneração devido à
queda na capacidade de troca iônica. (WACHINSKI, 2016).

A Figura 4 mostra o processo de desmineralização de uma água por meio de resinas


de troca iônica, retirando íons metálicos prejudicais ao processo.

Figura 4: Esquema de desmineralização de água através de resinas de troca iônica

Fonte: Adaptado de Souza (2012).


EXEMPLOS PRÁTICOS DE SISTEMAS DE TROCA IÔNICA PARA
TRATAMENTO DE ÁGUAS INDUSTRIAIS

1. A QUATTOR tem uma unidade de tratamento e desmineralização de água por


meio de sistemas de Osmose Reversa, seguida de polimento por técnica de troca
iônica com leitos mistos. O objetivo inicial da implantação do Leito Misto foi
utilizar a água desmineralizada em processo de cogeração de energia. O sistema
atende uma vazão de 240 m³/h de produção de água desmineralizada.

Figura 5: Unidade de desmineralização da QUATTOR, petroquímica de Mauá

Fonte: Adaptado de EP ENGENHARIA (2022).

2. A Petrobrás utiliza um sistema de resina de troca iônica para produzir água


desmineralizada com intuito de cogerar energia em caldeiras de alta pressão e
turbinas a vapor e água de polimento. Atende uma vazão de 10 m³/h.

A Unidade de tratamento fica em Quixadá - CE, sendo composta por:

• Filtro de areia;
• Filtro de carvão;
• Sistema de troca iônica.

O sistema de troca iônica da unidade, por sua vez é composto por:

• Vasos de leito misto;


• Bombas de carga para o sistema;
• Bombas dosadores para regenerantes;
• Manômetros;
• Conjunto de válvulas de manobra;
• Regeneração manual.

Figura 6: Sistema com resinas de troca iônica da Petrobrás

Fonte: Adaptado de Veolia (2022).

Figura 7: Unidade de tratamento com resinas de troca iônica da Petrobrás em


Quixadá - CE

Fonte: Adaptado de Techfilter (2022).

3. A SI Group, uma empresa que produz ingredientes farmacêuticos, utiliza um


sistema de desmineralização duplo e automático com vazão de 6m³/h para
obtenção de água purificada. Possui tratamento bacteriológico e um tanque para
armazenagem da água tratada.
Figura 8: Unidade de tratamento com resinas de troca iônica da SI Group,
sistema de tanques duplos

Fonte: Adaptado de Purify


(2022).
4. A Perfyl Tech possui um sistema de desmineralização de leito separado, ou seja,
os ânions e cátions são removidos em tanques separados para a produção de
água deionizada, com vazão de 500l/h. O monitoramento da qualidade da água é
feito por meio de um condutivímetro instalado na saída da água tratada.

Figura 8: Unidade de tratamento com resinas de troca iônica da SI Group,


sistema de tanques duplos
Fonte: Adaptado de Purify (2022).

REFERÊNCIAS

CHEMGARD. Tratamento de Água Industrial: Qualidade x Problemas. Disponível


em: http://www.chemgard.com.br/tratamento-de-agua-industrial/. Acesso em:
18/08/2022.

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industrial. 2. ed. Brasília: CNI, 2017. 236 p.

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https://www.cosmeticsonline.com.br/ct/painel/class/artigos/uploads/bb410-gua-para-
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