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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
QUÍMICA ANALÍTICA EXPERIMENTAL 2023(2)

Experimento 2: “Volumetria de Complexação:


Determinação de Cálcio e Magnésio com EDTA
(dureza da água)”

1. INTRODUÇÃO

Originalmente, a dureza da água foi interpretada como a medida da


capacidade da água para precipitar sabões. Os sabões são precipitados
principalmente pelos íons cálcio e magnésio, comumente presentes na água, mas
também podem ser precipitados por outros íons metálicos polivalentes, tais como o
ferro, alumínio, manganês, estrôncio, zinco, etc. Devido à presença significante
dos dois primeiros (Ca2+ e Mg2+ ) nas águas naturais, a dureza é determinada
através dos sais solúveis de cálcio e magnésio, por exemplo, os carbonatos, os
bicarbonatos, os sulfatos e os cloretos.
Há dois tipos de dureza: a temporária e a permanente. A dureza
temporária é aquela devida às presenças dos bicarbonatos de cálcio ( Ca(HCO 3)2 )
e de magnésio ( Mg(HCO3)2 ). Quando a água que contém esses sais é fervida,
ocorre a precipitação de sais neutros (os carbonatos) e a dureza é parcialmente
removida, de acordo com as seguintes rerações:

Ca(HCO3)2 → CaCO3 (s) + H2O + CO2 (g)

Mg(HCO3)2 → MgCO3 (s) + H2O + CO2 (g)

A dureza permanente da água é aquela devida à presença de outros


sais de cálcio e magnésio, usualmente os sulfatos. A dureza permanente não pode
ser removida por fervura. A soma das durezas temporária e permanente é
conhecida como dureza total da água e geralmente é expressa em mg/L de CaCO3.
Para efeito de potabilidade, são admitidos valores relativamente altos
de dureza. No Brasil, a portaria Min. da Saúde N.º 2.914 de 14 de dezembro de
2011, estabelece o limite máximo de 500mgCaCO3/L para que a água seja admitida
como potável. A objeção fica por conta do gosto desagradável.
A água pode ser classificada quanto à dureza de acordo com a tabela
seguinte:
Classificação Concentração CaCO3 (ppm) Graus de dureza

Muito mole 0 a 70 ppm 0 – 4 dGH

Mole (branda) 70 – 135 ppm 4 – 8 dGH

Média dureza 135 – 200 ppm 8 – 12 dGH

Dura 200 – 350 ppm 12 – 20 dGH

Muito dura Mais de 350 ppm Mais de 20 dGH

Desvantagens da água dura: a água dura pode ser prejudicial em


processos industriais como, por exemplo, na fabricação de cerveja, indústrias de
alimentos, farmacêutica e textil, podendo causar a formação de depósitos
de carbonato de cálcio em caldeiras e canos. Outro inconveniente de uma água
demasiado dura é a incrustação dos íons carbonato e bicarbonato nos aparelhos
domésticos como máquinas de lavar, aquecedores e chuveiros. Para contornar este
problema, especialmente co caso das indústrias têxteis, onde o consumo de água é
elevado, é necessário estabelecerem-se em regiões onde a água é considerada
macia (mole). Os valores máximos admissíveis para a dureza da água para a
indústria têxtil são de 70 mg/L.

É necessário, às vezes, proceder a algumas correções da dureza:


poderá ser feita através da adição de cal, CaO (método mais barato) ou através do
uso de resinas trocadoras de íons, que os seqüestram impedindo, desta forma, a sua
deposição nas canalizações e nas máquinas. Em casa, é comum o uso de Calgon
(descalcificante), constituido essencialmente por EDTA, que é o ligante
sequestrante mais utilizado e mais eficiente hoje em dia.
Titulações complexométricas com EDTA. O ácido
etilenodiaminotetracético (EDTA) pertence a uma categoria de substâncias,
chamadas comumente de complexantes ou quelantes que, em condições adequadas
de pH, formam complexos solúveis, extremamente estáveis, com a maioria dos
íons metálicos, inclusive os alcalino-terrosos. Os complexantes encontram grande
aplicação como reagentes titulométricos.

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HOOC - CH2 \ ⁄ CH2 - COOH
N - CH2 - CH2 - N
HOOC - CH2 ⁄ \ CH2 - COOH

Complexos formados com ligantes polidentados ( isto é, ligantes capazes de


ocupar várias posições de coordenação), como é o caso do EDTA, são chamados
quelatos. Quelato é um composto químico formado por um íon metálico ligado
por várias ligações covalentes a uma estrutura heterocíclica de compostos
orgânicos como aminoácidos, peptídeos ou polissacarídeos. A hemoglobina,
substância fundamental para a vida, responsável pelo transporte de oxigênio (O2)
e gás carbônico(CO2) em nosso corpo, é um quelato de Ferro.

O nome quelato provém da palavra grega chele, que significa garra ou pinça,
referindo-se à forma pela qual os íons metálicos são “aprisionados” no composto.
Os quelatos são complexos muito estáveis devido à presença de várias ligações
covalentes e coordenadas entre um íon metálico e os grupos doadores de elétrons
do composto. A molécula de EDTA consegue fazer 6 ligações covalentes ou
coordenadas com um único íon metálico sendo, portanto, um ligante
hexacoordenado ou hexadentado.

Complexo metal-EDTA
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Na complexometria com EDTA comumente se faz uso de uma solução
padrão de seu sal dissódico, Na2H2Y que fornece, em solução aquosa, o íon H2Y2.
As reações com os íons metálicos podem ser representadas como:
Mn + H2Y2 = MY(4n) + 2 H
Os complexos formados são do tipo 1:1 , independentemente da carga
do íon. Em qualquer dos casos, um mol de íons H 2Y2 reage com um mol
do íon metálico formando um mol de MY(4n) e dois mols de íons H+ .
A solução de um íon metálico a ser titulado com EDTA deve ser
tamponada, de tal maneira que o pH permaneça constante a um nível apropriado,
não obstante a liberação de íons H+ à medida que se forma o complexo no curso da
titulação.
Na reação entre um íon metálico e o EDTA, é preciso considerar a
competição do íon hidrogênio. Os íons metálicos que formam complexos metálicos
menos estáveis podem ser satisfatoriamente titulados em solução alcalina, por
outro lado, os íons metálicos cujos complexos são muito estáveis, podem ser
titulados mesmo em solução ácida. O pH mínimo admissível para a titulação de um
íon metálico depende da constante de formação (ou de estabilidade) do seu
complexo.
Indicadores metalocrômicos. Os indicadores metalocrômicos são
compostos orgânicos coloridos que reagem com íons metálicos formando quelatos
com coloração diferente daquela do corante livre. O ponto final na titulação de um
íon metálico com EDTA em presença de um indicador metalocrômico envolve uma
reação do tipo:
M - Ind + EDTA  M - EDTA + Ind
(cor A) (cor B)
A titulação com EDTA acarreta a progressiva complexação dos íons
metálicos livres e, por fim, o íon metálico é deslocado do complexo M - Ind e
convertido em M - EDTA com a liberação do indicador Ind. O ponto final é
acusado pela mudança da coloração do complexo M - Ind para a do corante livre.
O complexo M - Ind deve ser suficientemente estável pois, do
contrário, em virtude de sua dissociação, não haveria uma mudança de coloração
nítida. Porém, o complexo M - Ind deve ser menos estável que o complexo
M - EDTA para que a reação acima possa ocorrer convenientemente.
Finalmente, o indicador deve ser muito sensível com relação ao íon metálico
para que a mudança de coloração possa ocorrer tão perto quanto possível do ponto
de equivalência. A coloração assumida por um indicador metalocrômico em uma
solução depende do pH e da concentração do íon metálico presente.

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Como exemplos de indicadores metalocrômicos podemos citar o negro de
Ericromo T e a murexida. O negro de Ericromo T é usado nas titulações de
magnésio, cálcio, estrôncio, bário, cádmio, chumbo, manganês e zinco. A solução é
comumente tamponada a pH 10 com hidróxido de amônio-cloreto de amônio. A
coloração do corante, que é vermelho-vinho em presença do íon metálico, muda
para azul no ponto final da titulação. A murexida forma complexos
suficientemente estáveis em solução alcalina com os íons cálcio, cobalto, níquel e
cobre(II). A solução de murexida é vermelho-violeta abaixo de pH 9, violeta de pH
9 a 11 e azul acima de pH 11. O cálcio forma com murexida um complexo de cor
vermelha em pH 11 – 12.

Reagentes e Soluções:
SOLUÇÃO TAMPÃO. Pesa-se 1,179 g Na2EDTA e 0,780 g MgSO4 . 7H2O ou
0,812 g MgNO3 ou 0,644 g MgCl2 . 6H2O, e mistura-se com 16,9 g NH4Cl e 143
ml NH4OH. Dilui-se a 250 ml em balão volumétrico com água destilada.
SOLUÇÃO DE EDTA 0,00505 M: Seca-se + 4,00 g de Na2EDTA por uma hora
a 105ºC e depois pesa-se 1,8612 g, dilui-se a 1litro em balão volumétrico com água
destilada. Padroniza-se com CaCO3.
SOLUÇÃO DE NaOH 1,0 M. Dissolve-se 40,0 g de NaOH, transfere-se para um
balão de 1 litro, completa-se o volume e homogeiniza-se. Guardar em frasco de
polietileno, pois a soda interage com o vidro.
INDICADOR: Mistura-se 99,0 g de NaCl P.A., 1,00 g do indicador murexida e,
com auxílio de almofariz e pestilo triturar bem até uma granulometria fina.Guardar
em frasco limpo e seco.

Procedimento Experimental

1. Determinação de Ca2+ e Mg2+ (dureza total)


Pipetar uma alíquota de 50,00 mL da amostra (água natural) para um
erlenmeyer de 125 mL, adicionar 1,00 mL do tampão pH 10 e um ponta de
espátula do indicador negro de Eriocromo T. Homogeneizar a solução. Titular
com a solução padronizada de EDTA até mudança de coloração vermelho-vinho
para azul.
Repetir esse procedimento mais 2 vezes. Calcular o Volume médio das
3 titulações.

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2. Determinação de Ca2+
Pipetar uma alíquota de 50,00 mL da amostra (água natural) para um
erlenmeyer de 125 mL, adicionar 1,00 mL de NaOH 1,0 M (pH=12), uma
ponta de espátula do indicador Murexida e homogeneizar a solução. Titular
com a solução padronizada de EDTA até mudança de cor de vermelho para
roxo.
Repetir esse procedimento mais 2 vezes. Calcular o Volume médio das
3 titulações.

3. Cálculos
Calcule o número de mols de íons Ca2+ e Mg2+ (1ª. determinação) e o
número de mols de íons Ca2+ (2ª. determinação) de acordo com o volume
médio de solução de EDTA gasto em cada caso.
Calcule a dureza da total da água em mg/L (ppm) e classifique a água
analisada quanto à sua dureza, utilizando os dados da 1ª. determinação.

3. REFERÊNCIAS
/1/ GOLTERMAN, H.L.;CLYMO, R.S.;OHNSTAD, M.A.M. - “Methods for
Physical and Chemical Analysis of Fresh Waters.”, 2a ed., Oxford, Blackwell
Scientific Publications, 1978. 213 pags. IBP HANDBOOK No 8.
/2/ Christian, G.D., “Analytical Chemistry”; John Wiley & Sons, 4th edition, New
York, 1986.
/3/ Flaschka, H.A., “EDTA Titrations”; Pergamon Press, 2nd. edition, Oxford,
1964.
/4/ Ohlweiler, O.A., “Química Analítica Quantitativa”, Livros Técnicos e
Científicos Ed., 2a ed., vol. 2, Rio de Janeiro, 1976.

QUESTIONÁRIO

1. O que é água dura? Quais são suas desvantagens para o consumo e para fins
industriais?
2. O que é uma titulação complexométrica? O que é um ligante polidentado?
Como ele age durante uma titulação complexométrica?
3. Dê algumas propriedades importantes e aplicações do EDTA em titulações
complexométricas.
4. Por que o pH do meio deve ser mantido constante durante uma titulação com
EDTA?

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5. O que são indicadores metalocrômicos? Como eles funcionam durante uma
titulação complexométrica? Dê exemplos dos indicadores mais utilizados e seu
funcionamento.
6. Explique sobre a aplicabilidade das titulações complexométricas a análises
rotineiras em processos industriais.

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