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UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DE FEIRA DE SANTANA

LUAN DA SILVA CONCEIÇÃO


LUNA FERNANDES DE OLIVEIRA

TRATAMENTO DE EFLUENTES CIANETADOS

Feira de Santana
31 de março de 2020
LUAN DA SILVA CONCEIÇÃO
LUNA FERNANDES DE OLIVEIRA

TRATAMENTO DE EFLUENTES CIANETADOS

Revisão bibliográfica apresentada ao


curso de Engenharia Química, da
Unidade de Ensino Superior de Feira
de Santana, como requisito avaliativo
para a disciplina Tratamento de águas
de abastecimento e residuárias,
orientada pelo professor Ricardo Mota.

Feira de Santana
31 de março de 2020
1. CIANETOS (NITRILAS)
Os cianetos (ou nitrilas) são compostos orgânicos, derivados de ácidos
carboxílicos a partir da hidrólise. (CAREY, 2011).
Possuem fórmula R–N (R≡N), onde o nitrogênio e o carbono possuem hibridização
sp. Para suas nomenclaturas adiciona-se o sufixo nitrila ao hidrocarboneto, se
acíclicas, e adiciona-se o sufixo carbonitrila ao nome do sistema de anel, se cíclicas
(SOLOMONS, 2012).

Imagem 1: Nomenclaturas das Nitrilas

Fonte: Solomons, 2012.

Imagem 2: Tabela adaptada de compostos orgânicos

Fonte: Solomons, 2012.

Como mostrado por CAREY (2011), as nitrilas podem ser obtidas através da
substituição nucleofílica de haletos de alquila por cianeto ou por desidratação de
amidas:
Imagem 3: Desidratação de amidas para obtenção da nitrila

Fonte: Carey, 2011.

Imagem 4:Substituição nucleofílica de haletos de alquila por cianeto.

Fonte: Carey, 2011.


A espectroscopia identifica os derivados de ácidos carboxílicos, sendo a
vibração de estiramento da carbonila muito forte, e sua posição sensível à natureza
do grupo carbonila, e as nitrilas são identificadas pela absorção devido ao estiramento
do –C≡N na região 2210–2260 cm–1. (CAREY, 2011).

Imagem 5: Infravermelho

Fonte: Carey, 2011.

2. TOXICIDADE
O cianeto é altamente tóxico para qualquer vida, seja meio terrestre, aéreo ou
aquático, sendo que possui previsões devastadoras ao longo do tempo ao expor a
vida aquática ao composto.
Pode ser absorvido pelo corpo por meio de inalação, absorção na pele ou ingestão
e bloqueia o transporte de oxigênio no metabolismo e o HCN molecular inibi enzimas
responsáveis pela respiração celular e é mais tóxico que o íon CN-. As doses médias
letais de cianeto para um adulto variam entre de 1 a 4 mg/kg em caso de ingestão,
100 a 300 mg/L em caso de inalação e 100 mh/kg em caso de absorção, podendo
causar morte em até 1 hora. (GONÇALVES, 2004).
A exposição de humanos e animais a longo prazo, causa desordens psicológicas,
mentais, neurológicas e a má-nutrição devido a inibição do apetite causada pelo
cianeto. O nível de toxicidade dos compostos cianetados é diretamente associada à
habilidade de dissociação do cianeto em solução, possibilitando que, o cianeto livre,
hidrolise para HCN. (GONÇALVES, 2004).
Ainda segundo GONÇALVES (2004), essa toxicidade em meio aquático é afetada
pela temperatura, presença de oxigênio dissolvido e concentrações minerais, sendo
mais tóxico à medida que a temperatura aumenta, e com a dureza da solução.

3. USO INDUSTRIAL
Os cianetos, tal como produtos oriundos de produção que usa os cianetos como
reagente são controlados e de mercado extremamente específico. Devido a alta
toxicidade de seus componentes, que podem ser hemotóxicos, a quantidade de
produção é altamente controlada pelos órgãos públicos. Alguns dos produtos do grupo
das nitrilas são:

Ácido Cianídrico:
É o reagente primário que será utilizado para os diversos produtos cianetados
disponíveis comercialmente, não é comercializado publicamente e todo seu volume é
destinado para a produção dos demais componentes cianetados. Principalmente os
cianetos.
O Ácido cianídrico possui maior rigor de controle que os demais materiais
devidos o contexto histórico de ter sido utilizado como veneno, mantendo essas
características, todos os produtos provenientes de ácido cianídrico possuem alta
toxicidade.
Com o Ácido Cianídrico é possível produzir, cianeto de sódio, potássio, cobre
e outros, que são produtos utilizados para mineração, agrotóxicos e automóveis.
Cianeto de sódio:
O mais popular dos cianetos comerciais, ele é utilizado na indústria de
mineração, formado a partir da reação química do Ácido Cianídrico com hidróxido de
sódio, o produto serve para extrair ouro e prata dos seus minérios. É utilizado em larga
escala por ser considerado ambientalmente mais seguro que a extração por mercúrio.
Acrilonitrila:
A Acrilonitrila é um composto químico que consiste em um grupo vinil ligado a
uma nitrila. É comercializado como intermediário químico para a síntese de diversos
produtos, cerca de 52% da produção é destinada para a produção de fibras sintéticas,
já que possui alta resistência a solventes e a tração, 15% é destinado a produção de
resina ABS, para a produção de componentes de veículos e 15% para a produção de
adiponitrila e acrilamida, para a produção de Nylon e demais fibras de tecido.
(KARMAKAR, 1999; BRASKEM, 2013; GUEDES, 1993).
Acetonitrila:
É um subproduto da produção de acrilonitrila, é utilizado com solvente orgânico
com alta constante dielétrica, tanto para reação que exigem ionização quanto em
titulações não aquosas. Muito comercializado para laboratórios analíticos para
cromatografia líquida de alta eficiência. (EMBRAPA, 2009)

4. TRATAMENTO DE EFLUENTES
Tratamento de efluente ou tratamento de águas residuárias é uma sequência de
etapas de tratamento por via biológica, física ou química, para corrigir os parâmetros
e reduzir os danos causados pelas irregularidades das propriedades da água
resultante de um processo químico. Os principais parâmetros para se definir a
qualidade do efluente tratado é a cor, turbidez, DBO, DQO, pH e concentração de
óleos e graxas. (MARCONDES, 2012)
Segundo Marcondes, as rotas de tratamento não necessariamente se anulam e
precisam ser utilizadas em conjunto na maioria das vezes para obter um resultado
positivo. E um estudo preliminar da qualidade da água de processo irá definir se
utilizaremos de agentes biológicos, ou químicos, ou se será necessário submeter a
água de processo a diversas operações unitárias como decantação, gradeamento,
flotação ou peneiramento.
5. TRATAMENTO DE EFLUENTES CIANETADOS
Em diversos setores industriais, tais como, extração de ouro e prata, flotação de
cianetos e galvanoplastias, utiliza-se cianeto ou produtos oriundos do cianeto. Os
efluentes desses processos possuem alta carga de cianeto livre e ou complexado com
metais pesados, que são potencialmente tóxicos tanto para os humanos quanto para
a vida marinha. Devido a isso, exige um tratamento do efluente líquido, para a
remoção desses componentes antes de ser liberados para o ambiente. (CETEM,
1995).
MÉTODOS FÍSICOS
Diluição
O processo consiste apenas em reduzir a concentração do cianeto a níveis
aceitáveis para descarte, entretanto, por não reduzir a quantidade de cianeto a ser
descartada, o método não é mais aceito já que pode haver reações com os compostos
e minerais existentes no meio em que será descartado, possibilitando reações que
aumentem a concentração do mesmo. (TRINDADE, 2012)
Separação com membranas
A utilização de membranas em eletrodiálise ou osmose reversa, possibilita a
separação do cianeto na solução aquosa em que se encontra. Na membrana em
eletrodiálise, dois eletrodos são separados por uma membrana onde o cianeto é
penetrável e um potencial é aplicada a eles. O cianeto, carregado negativamente, é
posto na semi-célula com o catodo e irá se difundir pela membrana para se concentrar
na semi-célula contendo o anodo. Na osmose reversa, a membrana deve ser
impermeável ao cianeto e uma pressão aplicada à solução fará a água atravessá-la
de forma forçada. (TRINDADE, 2012).
Eletro-recuperação
Método de oxidação direta, em meio básico (pH 12), do cianeto a cianato no anodo.
O cianeto livre pode ser recuperado ou destruído em seguida por outro processo de
tratamento. (GONÇALVES, 2004).

Este método possui pouca eficiência para recuperação de metais e em efluentes


com baixa concentração de cianeto.
Hidrólise e destilação
O HCN é produzido pela hidrolise do ânion CN-, podendo o ácido se volatilizar
(HCNg). O gás HCN possui pressão de vapor de 100 kPa e ponto de ebulição 79 ºC,
possibilitando a separação do cianeto a temperaturas pouco elevadas e pressão
reduzida e o gás capturado em torres de absorção. (TRINDADE, 2012)
MÉTODOS COM COMPLEXAÇÃO
Acidificação, Volatilização e Reneutralização (AVR)
Processo de detoxificação de cianeto onde primeiro reduz o pH do efluente
contendo cianeto a um valor < 2,0, onde quase 100% do cianeto existente é HCN. Os
compostos ciano-metálicos então se dissociam liberando cianeto livre. Essa solução
passa em seguida por um sistema de aeração com grande área superficial que
promove a volatilização, ajustando o pH entre 9-10 para a precipitação dos compostos
metálicos que foram dissociados do cianeto, podendo os mesmos serem removidos
por filtração. (GONÇALVES, 2004).
Através de colunas, o HCN em fase gasosa é absorvido por uma solução cáustica
com pH variando de 10,5 – 11,0, gerando dessa forma íons cianeto reutilizados no
processo. Esse processo tem uma eficiência de recuperação de 50 a 85% do cianeto
e pode ser aplicado a processos com concentrações menores que 150 mg/L do
cianeto total, sendo possível a obtenção de soluções com 1,7 mg/L de cianeto.
(GONÇALVES, 2004).
Adição de metais
Devido a formação de ciano-complexos ou precipitação, o cianeto pode se
tornar não reativo na adição de metais. A troca de um complexo por outro menos
estável, o torna mais disponível para tratamentos. Como no processo Merril-Crowe,
onde adiciona-se zinco para tratamento do ouro-cianeto. (TRINDADE, 2012)

Flotação
Na flotação um surfactante heteropolar reage com um complexo aniônico forte
para precipitar como um sal orgânico duplo. O sal precipitado vai nuclear formando
colóides ou partículas de tamanho maior. É possível recuperar ânions complexos de
soluções por flotação iônica. Similarmente, precipitados coloidais, tais como CuCN e
sais duplos de cianeto de Fe(II), podem ser recuperados por flotação. (GONÇALVES,
2004).
MÉTODOS POR ADSORÇÃO
O processo de adsorção consiste em captação de gás ou líquido dentro dos
sítios de um componente sólido poroso, onde a substância que espera-se separar da
solução se fixa diretamente a superfície de contato com o material adsorvente, para
remoção do cianeto existente em efluente cianetados, pode ser realizado por meio de
adsorventes minerais, carvão ativado e resinas.
Os minerais que podem ser utilizados para adsorver o cianeto da água são
principalmente: Ilmenita, bauxita, feldspato, Zeólitos e argilas. Que são minerais
naturais, com alta porosidade, portanto maior superfície de contato, permitindo maior
adsorção de impurezas, entretanto ela não é seletiva, podendo sequestrar íons que
não afetam negativamente o efluente, tal como o carvão ativado. (TRINDADE, 2012)
Já as resinas são aglomeradas poliméricos, desenvolvidos para serem muito mais
seletivos quanto aos componentes adsorvato. Pode ser utilizado juntamente com
ambos os métodos anteriores para aumentar o seu rendimento e velocidade de
adsorção. (TRINDADE, 2012).

MÉTODOS POR OXIDAÇÃO


Biodegradação
Também conhecido como bio-oxidação, é uma estratégia que usa de bactérias,
fungos, algas e ou plantas que possui a capacidade natural de metabolizar/oxidar o
cianeto, forçando uma transformação do cianeto a cianato, que é um componente
muito menos tóxico. (TRINDADE, 2012)
A destruição do cianeto realizado por microrganismos aeróbicos pode ser
exemplificada com a reação abaixo, com a conversão de cianeto a íon amônio,
facilmente recuperável por diversas operações unitárias.

Eletrólise
Eletro-recuperação pode ser aplicado na remediação de soluções ricas em cianos,
com objetivo de oxidar o complexo metal-cianeto em vez de apenas reduzir o
complexo. Forçando a formação de cianato pela eletro-oxidação ou eletrocloração.
(TRINDADE, 2012)
Para reação de eletro-oxidação pode-se adotar a equação química abaixo:
Para a reação de eletro-cloração, pode-se adotar as etapas abaixo:

A reação de eletrocloração produz, gás lacrimogênio, que é facilmente separado


do efluente liquido.
Adição de agentes oxidantes
Essa é em si a forma mais adotada para a destruição de Cianeto utilizada nas
indústrias químicas, consiste em adicionar agentes químicos que oxidarão o cianeto,
convertendo eles ao mesmo gás produzido nos processos de eletrólise, os agentes
oxidantes mais utilizados são: Ozônio, Oxigênio, Peróxido de Hidrogênio, cloro,
hipoclorito de sódio. Comumente utiliza-se mais de um componente oxidante,
predominando o uso de peróxido de hidrogênio. (TRINDADE, 2012)
O Processo de oxidação é dada considerando princípios termodinâmicos, e como
o cianeto não é termodinamicamente estável, a reação de oxidação ocorre
espontaneamente de forma lenta. Pode-se aumentar o rendimento da reação, ao
colocar o efluente em um reator agitado. (TRINDADE, 2012)
A reação de destruição de cianeto por meio de ozônio ocorre de forma natural de
acordo com a equação as etapas da reação balanceada abaixo.

A reação de destruição de cianeto por meio de peróxido de hidrogênio(H2O2)


ocorre de forma natural de acordo com as etapas abaixo.
6. REFERÊNCIAS
BRASKEM, 2013. Braskem e Styrolution planejam joint-venture para
produção de ABS e SAN no Brasil. Disponível em: Acesso em: 31 de março de 2020
CAREY, Francys A.. Química Orgânica. 7. ed. São Paulo: Amgh, 2011. 2 v.
EMBRAPA. Metodologia de tratamento de Acetonitrila comercial para uso em
laboratórios de cromatografia liquida. Rio de Janeiro, 2009.
GONÇALVES, Adriana Cinopoli. Tratamento de Efluentes Contendo Cianeto
Livre Através do Sistema H2O2/UV. 2004. 1 v. Tese (Doutorado) - Curso de
Engenharia Química, Departamento de CiÊncia dos Materiais e Metalurgia, Puc-rio,
Rio de Janeiro, 2004. Cap. 3.
GUEDES, C. D.; SILVA, B. M. Simulação do mecanismo de eletro-
hidrodimerização da acrilonitrila em condições macroeletrólise-galvanostática.
Química Nova, v.16, p. 419-425, 1993.
KARMAKAR, S. R. Chemical Technology in the Pre-Treatment Processes of
Textiles, p. 1-25, 1999.
MARCONDES, Josiane Gasparini. Tratamento de Efluente. Trabalho de
conclusão de curso. Instituto municipal de ensino superior de Assis, Assis, 2012.
SOLOMONS, T. W. G. , FRUHLE, C. B. , Química Orgânica, 10ª edição, LTC –
Livros Técnicos e Científicos Editora S. A ., Rio de Janeiro, 2012.

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