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1 NITROGÊNIO AMONIACAL RESIDUAL NO TRATAMENTO ANAERÓBIO DE

2 EFLUENTES DE CURTUME
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5 RESIDUAL AMMONIAL NITROGEN IN THE ANAEROBIC TREATMENT OF
6 TANNER EFFLUENTS
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9 RESUMO
10
11 Os efluentes de curtume caracterizam-se por uma carga orgânica extremamente elevada, alta salinidade, sulfatos,
12 e cromo, considerados potencialmente tóxicos e com tecnologias de tratamentos complexos e desafiadores para
13 a comunidade científica. Diante do exposto, essa pesquisa teve como objetivo analisar o residual do nitrogênio
14 amoniacal gerado após o pré-tratamento do efluente de curtume realizado em reator anaeróbio de fluxo
15 ascendente e manta de lodo, Upflow Anaerobic Sludge Blanket (UASB). A determinação de nitrogênio
16 amoniacal afluente e efluente ao reator foi determinada conforme método descrito em (Standard Methods for
17 the Examination of Water and Wastewater, 2017). Os resultados obtidos mostraram que as concentrações
18 efluentes ao reator apresentaram um aumento de 10 a 26% de nitrogênio amoniacal, devido a decomposição
19 dos compostos orgânicos durante a digestão anaeróbica das bactérias sulfato redutoras. A tecnologia estudada
20 apresentou-se eficiente para a remoção de DQO, Sulfato e Cromo, porém o aumento do nitrogênio amoniacal
21 deve ser levado em consideração para as próximas etapas do tratamento de efluentes com a finalidade de
22 enquadrar o efluente na Legislação Estadual, a Resolução nº 02, de 21 de fevereiro de 2017, do Conselho
23 Estadual de Meio Ambiente (Coema) que estabelece os valores máximos para lançamento no em corpo
24 receptor.
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26 Palavras-chave: Efluente de Curtume, Tratamento anaeróbio, Legislação, Nitrogênio Amoniacal.
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29 ABSTRACT
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31 Tannery effluents are characterized by an extremely high organic load, high salinity, sulfates, and chromium,
32 considered potentially toxic and with complex and challenging treatment technologies for the scientific
33 community. Given the above, this research aimed to analyze the residual ammoniacal nitrogen generated after
34 the pre-treatment of tannery effluent carried out in an upflow anaerobic reactor and sludge blanket, Upflow
35 Anaerobic Sludge Blanket (UASB). The determination of influent and effluent ammoniacal nitrogen to the
36 reactor was determined according to the method described in (Standard Methods for the Examination of Water
37 and Wastewater, 2017). The obtained results showed that the effluent concentrations to the reactor presented
38 an increase of 10 to 26% of ammoniacal nitrogen, due to the decomposition of the organic compounds during
39 the anaerobic digestion of the sulfate reducing bacteria. The technology studied was efficient for the removal
40 of COD, Sulfate and Chromium, but the increase in ammoniacal nitrogen must be taken into account for the
41 next stages of effluent treatment in order to frame the effluent in State Legislation, Resolution nº 02, of
42 February 21, 2017, of the State Council for the Environment (Coema), which establishes the maximum values
43 for release in the receiving body.
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45 Keywords: Tannery effluent, Anaerobic treatment, Legislation, Ammonia Nitrogen.
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48 INTRODUÇÃO
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50 As indústrias de beneficiamento de couro contribuem de forma significativa para economia brasileira.
51 Entretanto apesar dos bons indicadores financeiros, o setor coureiro apresenta um grande impacto ambiental
52 devido ao potencial poluidor gerado pelos seus efluentes e resíduos industriais.
53 A região Nordeste do Brasil enfrenta, graves problemas ligados à falta de água ocasionados pelos
54 frequentes períodos de estiagem, que caracterizam o clima semiárido desta região. Nesses períodos de chuvas
55 escassas ou inexistentes, os pequenos mananciais superficiais geralmente secam e os grandes chegam a atingir
56 níveis críticos, provocando muitas vezes colapso no abastecimento de água.
57 Maracanaú é um município do estado do Ceará, seu território é composto 100% pelo bioma Caatinga,
58 60,39% da população urbana tem acesso aos serviços de abastecimento de água da Companhia de
59 Abastecimento de Água e Esgoto (CAGECE), enquanto 0% da população rural não tem (INFOSANBAS,
60 2022).

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61 Dentro desse panorama aumenta a importância da água subterrânea de qualidade, que representa, muitas
62 vezes, o único recurso disponível para o suprimento da população. Segundo o Serviço Geológico do Brasil
63 (CPRM) no município de Maracanaú foi registrado a presença de 120 poços, todos do tipo tubular profundo,
64 sendo 27 públicos e 93 privados.
65 Maracanaú possui 88,56% de seu esgoto manejado de forma adequada, por meio de sistemas
66 centralizados de coleta e tratamento ou de soluções individuais do restante, 11,44% não é tratado nem coletado
67 (ANA, 2013). De 1996 a 2020, foram registradas 226 mortes por doenças relacionadas ao saneamento
68 inadequado (DRSAI) (INFOSANBAS, 2022).
69 As exigências da legislação ambiental para esta atividade industrial têm movimentado o setor coureiro
70 em busca de tecnologias limpas, programas de racionalização do uso da água e medidas que visem à redução
71 da carga orgânica nos efluentes, como por exemplo, redução da quantidade de produtos químicos ou
72 substituição por produtos alternativos de baixa carga orgânica, reciclagem direta dos banhos, melhorias nos
73 procedimentos operacionais e recuperação de subprodutos, são de fundamental importância para o tratamento
74 de efluentes.
75 Os efluentes de curtume, particularmente, caracterizam-se por possuírem uma carga de compostos
76 orgânicos nitrogenados elevada, alta salinidade e cromo potencialmente tóxico. As estações de tratamento de
77 efluentes líquidos das empresas do setor coureiro são compostas basicamente por unidades de reciclo do cromo,
78 tanque de equalização ou homogeneização, nos quais ocorrem ajuste do potencial hidrogeniônico (pH) e
79 oxidação de sulfetos, seguida de uma unidade de tratamento físico-químico do tipo coagulação, floculação e
80 decantação, utilizando-se normalmente como coagulantes, hidróxido de cálcio, policloreto de alumínio e
81 polieletrólitos.
82 Após a etapa físico-química, utilizam-se tratamentos biológicos para a remoção adicional dos
83 constituintes, tais como, lagoas de estabilização, lodos ativados com ou sem remoção de nutrientes. Nesses
84 tratamentos podem ocorrer os processos de oxidação e redução da amônia (nitrogênio amoniacal total
85 (NH3+NH4+). Os efluentes de curtume possuem na sua composição o nitrogênio amoniacal total e no processo
86 de decomposição, a amônia (NH3) gerada é oxidada por intermédio de bactérias, para nitrito (NO2-), e em
87 seguida para nitrato (NO3-) e sob condições anaeróbicas, o nitrato é reduzido para nitrito.
88 Em efluentes de estações de tratamento biológico nitrificantes, a ocorrência de nitratos pode alcançar
89 até (30,0mgNNO3-L-1). Os nitratos e nitritos presentes nesse efluente são fontes de contaminação para águas
90 superficiais e subterrâneas. Os nitratos são muito solúveis e não adsorvidos pelo solo e, em função disso,
91 migram para o lençol freático, contaminando a água subterrânea. Os nitratos em águas superficiais, por ser
92 nutriente, estimula o crescimento de algas, causando a eutrofização. A eutrofização causa a degradação da
93 qualidade de águas superficiais e a principal consequência desse processo é a redução da concentração de
94 oxigênio dissolvido (O2), causando mortalidade da biota aeróbia e podem também trazer problemas para à
95 saúde humana. A ingestão de nitratos e nitritos através da água por longo tempo causa, acima dos valores
96 máximos permissíveis, diurese, danificação e hemorragia do baço (Polhing, 2009).
97 O tratamento anaeróbio de efluentes vem sendo utilizado há muito tempo na forma de lagoa de
98 estabilização. Além disso, registra-se o emprego de digestores anaeróbios de lodo, principalmente tratando
99 excesso de lodos ativados, mas todos os reatores citados eram desprovidos de mecanismo de retenção de
100 biomassa, o que significa que eram necessários grandes volumes para se obter boa eficiência (Santos, 2007).
101 Para solucionar o problema, surgiu o chamado reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo,
102 Upflow Anaerobic Sludge Blanket (UASB), que previa além de um dispositivo de retenção de biomassa,
103 realizada na zona de sedimentação do reator, a coleta e a queima do biogás produzido. O reator UASB vem
104 sendo bastante utilizado, como pré-tratamento e digestor de lodo de outros processos biológicos e até físico-
105 químicos. Umas das principais desvantagens dos sistemas anaeróbios é a remoção de nitrogênio insatisfatória,
106 por isso, esse sistema sempre requer um tratamento complementar (pós-tratamento, para atender aos padrões
107 estabelecidos pela legislação ambiental (Santos, 2007).
108 Diversas configurações de sistemas de tratamento têm sido estudadas para melhorar a remoção biológica
109 de nitrogênio mediante o processo de nitrificacao-desnitrificacao (Zoppas, 2016 apud Antileo et al., 2006). Na
110 fase da nitrificação, em condições aeróbicas, o amônio é oxidado em duas fases: na primeira, é levado ate nitrito
111 pelas bactérias oxidadoras de amônio (AOB), e numa etapa subsequente o nitrito e consumido pelas bactérias
112 oxidadoras de nitrito (NOB), produzindo nitrato. Sob condições anóxicas, o amônio oxidado é então
113 convertido por bactérias heterótroficas em nitrogênio gasoso (Zoppas, 2016 apud Chang et al., 2011; Munoz et
114 al., 2009).
115 O pós-tratamento de efluentes anaeróbios em lagoas de estabilização vem sendo amplamente utilizado,
116 principalmente, no nordeste do Brasil. Ele tem como principal vantagem a excelente remoção de patógenos e
117 o baixo custo de implantação e operação. Para o pós-tratamento de efluentes provenientes de reatores UASB,
118 acredita-se que o uso de lagoa de estabilização é altamente indicado para a região nordeste. (Santos, 2007).
119 O estudo foi realizado em uma indústria de curtume localizada no município de Maracanaú – Ceará, no
120 efluente bruto logo após a saída da caixa de gordura. A Resolução nº 02 de, 02 de fevereiro de 2017 do Conselho
121 Estadual de Meio Ambiente (Coema) estabelece que os efluentes não sanitários tratados, somente poderão ser

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122 lançados diretamente no corpo hídrico desde que obedeçam as seguintes condições e padrões específicos,
123 segundo o art. 11 em relação ao parâmetro nitrogênio amoniacal total, da seguinte forma:
124 a) até 20,0 mgL-1, quando o pH for menor ou igual a 8,0; ou,
125 b) até 5,0 mgL-1, quando o pH for maior que 8,0.
126 Diante do exposto, realizou-se na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) um experimento piloto
127 tratando o afluente (efluente bruto) em reator UASB com o emprego de bactérias sulfato redutoras, para a
128 remoção de carga orgânica, sulfato e cromo com o objetivo de avaliar a concentração residual de nitrogênio
129 amoniacal para adequar a concentração aos limites de lançamento impostos pela Resolução nº 02/2017
130 (Coema).
131
132 MATERIAL E MÉTODOS
133
134
135 Determinação do nitrogênio amoniacal (amônia): As análises foram realizadas no afluente
136 (efluente bruto) e efluente tratado pós UASB conforme o método 4500-NH3 B., descrito no Standard
137 Methods for the Examination of Water and Wasterwater (2017).
138
139
140 Reatores: O experimento consistiu na operação de dois reatores anaeróbios de manta de lodo e fluxo
141 ascendente (UASB) instalados no laboratório da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do curtume. Os
142 reatores denominados (R1) e (R2), foram confeccionados em acrílico no formato de Y, ambos com as mesmas
143 dimensões: Diâmetro Interno (Ф=80mm), Altura Total (HT=55cm) e Volume Útil (V=2,9 L), apresentavam
144 uma entrada na extremidade inferior, uma saída superior no defletor e dois pontos de amostragem laterais, para
145 coleta de lodo na zona de digestão, conforme figura 1.
146

147
148 Figura 1- Esquema simplificado do Reator Anaeróbio de Manta de Lodo e Fluxo Ascendente (UASB)
149 Figure 1- Simplified diagram of the Upflow Anaerobic Sludge Blanket Reactor (UASB)
150
151
152 Efluente: O efluente foi coletado na ETE de um curtume localizado em Maracanaú - Ceará, que trabalhava
153 com o processo de beneficiamento do couro “wet-blue” até acabamento final. O efluente foi coletado na saída
154 da caixa de gordura de forma composta, nos períodos da manhã e da tarde. Inicialmente, os reatores operaram
155 com efluente bruto diluído em 50%, para evitar possíveis efeitos de toxicidade aos microrganismos anaeróbios.
156 O potencial hidrogeniônico (pH) do efluente bruto, geralmente ácido (~4,0), foi ajustado para 7,0 com pastilhas
157 de hidróxido de sódio (NaOH), sendo em seguida adicionadas as soluções de macro e micro nutrientes, além
158 do tampão de bicarbonato de sódio (NaHCO3). Os reatores também foram alimentados com efluente bruto
159 em diferentes condições, ou seja, sem diluição, correção de pH e adição de tampão, sendo adicionado somente
160 as soluções de macro e micro nutrientes, com objetivo de avaliar as eficiências do processo nas condições reais
161 do efluente de curtume.
162
163
164 Inóculo: Utilizou-se dois tipos de inóculos. Um chamado de inoculo não selecionado (não adaptado de um
165 reator mesofílico), que foi obtido de uma estação de tratamento de efluentes oriundo de uma indústria de
166 cerveja localizada no Distrito Industrial da Região Metropolitana de Fortaleza. O outro inóculo, selecionado
167 (adaptado de um reator desnitrificação) de uma indústria de couros localizada no município de Guanacés, Ceará.
168 Ambos com 71,9 g/L e 6,6 g/L de SVT respectivamente.
169
170

1/1
171 Bombas: A alimentação dos reatores foi realizada por meio de bombas dosadoras (Prominent, modelo
172 Concept Plus CNPA 1000 NPB2 00A01) com vazão nominal igual a 0,7 L/h. Os experimentos foram
173 conduzidos à temperatura ambiente de 29 + 2°C. A aclimatação dos reatores R1 e R2, foi realizada com efluente
174 sintético, inóculo adaptado e não adaptado, com variação do tempo de detenção hidráulica de 12 horas para 24
175 horas. Após a estabilização das Fases de aclimatação os reatores iniciaram os experimentos com o efluente real.
176 As tabelas 1 e 2 apresentam os parâmetros operacionais utilizados nos reatores R1 e R2 operando com
177 afluente real. Iniciou-se a operação do reator R1 com inoculo adaptado, efluente real sem diluição, pH ácido,
178 sem adição de tampão e adicionados de macro e micronutrientes, (Fase V). Após a estabilidade da (Fase V), o
179 reator foi submetido à mudança do tempo de detenção hidráulica (TDH) de 24 horas para 12 horas (Fase VI),
180 este parâmetro está relacionado à viabilidade de adotar reatores menores para a remoção de sulfato,
181 representando menor custo de implantação de um reator UASB em uma estação de tratamento.
182
183
184 Tabela 1 – Parâmetros Operacionais do Reator R1 com afluente real
185 Table 1 - Operating Parameters of Reactor R1 with real influent
Parâmetros Operacionais do Reator (R1) com Afluente Real
Fases V VI
Período (dias) 44 31
TDH (h) 24 12
CVADQO (kgDQO/m3dia) 2,08 2,18
CVASO4-2 (kgSO4-2/m3dia) 1,20 0,82
Relação teórica (DQO/SO4-2) 2,14 2,79
186 Fonte: (Autores, 2023).
187
188
189 Tabela 2 – Parâmetros Operacionais do Reator R2 com afluente real
190 Table 2 - Operating Parameters of Reactor R2 with real influent
Parâmetros Operacionais do Reator (R2) com Afluente Real
Fases IV V VI VII
Período (dias) 15 28 43 31
TDH (h) 24 24 24 24
CVADQO (kgDQO/m3dia) 1,12 1,61 2,14 3,41
CVASO4-2 (kgSO4-2/m3dia) 0,53 1,13 1,15 1,05
Relação teórica (DQO/SO4-2) 2,00 1,66 2,14 3,93
191 Fonte: (Autores, 2023).
192
193
194 RESULTADOS E DISCUSSÃO
195
196 Os resultados médios de nitrogênio amoniacal (amônia), em (mgN-NH3L-1), e os desvios padrões estão
197 apresentados nas tabelas 3 e 4. Os altos valores de desvio padrão estão relacionados com a variação da
198 composição do efluente bruto em estudo, que operou com efluente bruto, inóculo selecionado, sem correção
199 de pH (pH ácido) e tempo de detenção hidráulica (TDH)=24 horas e TDH=12 horas.
200
201
202 Tabela 3 - Resultados do reator (R1), fases V e VI
203 Table 3 - Reactor results (R1), phases V and VI
Tempo de detenção hidráulica (TDH)
24 horas 12 horas
Parâmetros
Fase V Fase VI
Efluente bruto (Eb) Efluente tratado (Et) Efluente bruto (Eb) Efluente tratado (Et)
Ph 4,10 0,5 7,9 0,3 4,2 0,4 7,8 0,3
Nitrogênio amoniacal
130,118,1 161,924,1 141,120,7 161,126,0
(mgN-NH3L-1)
204 (Fonte: Autores, 2023).
205
206 De acordo com a tabela 3, observou-se que as concentrações médias de nitrogênio amoniacal (amônia)
207 (mgN-NH3L-1) obtidas no efluente tratado aumentaram de 23 a 25% do valor de nitrogênio amoniacal do
208 efluente bruto. Apesar da mudança no TDH de 24 horas para 12 horas, na fase VI, houve pouca diferença
209 entre os valores das concentrações de amônia.
210 Uma vez verificada a estabilidade operacional do reator R2 nas fases apresentadas com efluente sintético,
211 iniciou-se a Fase IV que consistia na alimentação do reator R2 com efluente real 50% (v/v) diluído, com
212 correção de pH e sem adição de bicarbonato de sódio uma vez que o afluente proveniente da digestão anaeróbia
213 apresentou boa capacidade de tamponamento devido as concentrações residuais de bicarbonatos e carbonatos,

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214 provenientes dos banhos do processo de acabamento do couro, serem suficiente para manter os reatores em
215 condições operacionais ideais. Na fase V iniciou-se a alimentação com 100% do efluente real e pH corrigidos
216 à neutralidade. As fases VI e VII o efluente foi alimentado ao Reator (R2) com 100% do efluente real e sem
217 correção do pH.
218
219
220 Tabela 4 – Resultados do reator (R2), fases IV, V, VI e VII
221 Table 4 - Reactor results (R2), phases IV, V, VI and VII
Resultados do reator (R2), fases IV, V, VI e VII
Fase IV Fase V Fase VI Fase VII
Parâmetros
Eb Et Eb Et Eb Et Eb Et
pH 7,7  0,3 8,0 0,3 7,2 0,7 8,6 0,2 4,1 0,5 7,9 0,30 4,1 0,5 7,6 0,40
Nitrogênio
amoniacal 109,033,0 102,917,3 163,941,9 181,127,3 136,325,8 172,528,4 143,222,4 175,035,2
(mgN-NH3L-1)
222 Fonte: (Autores, 2023).
223 Legendas: Efluente bruto (Eb) / Efluente tratado (Et)
224
225 O aumento da concentração de amônia (mgN-NH3L-1) no efluente tratado ao reator (R2) foi de 10 a
226 27% em relação à concentração no efluente bruto.
227 Segundo Chernicharo (2007), o aumento do pH do efluente tratado nos reatores pode estar relacionado
228 com a capacidade da alcalinidade do sistema em neutralizar os ácidos formados no processo. Tanto a
229 alcalinidade como os ácidos voláteis derivam primariamente da decomposição dos compostos orgânicos
230 durante a digestão, como:
231
232 • conversão de ácidos orgânicos voláteis intermediários. A digestão do acetato de sódio pode levar à
233 formação de bicarbonato de sódio (NaHCO3) (Equação 1).
234
235 CH3COO−Na+ + H2O ↔ CH4+HCO3− + Na+ (Equação 1)
236
237 • conversão de proteínas e aminoácidos, em amônia (NH4+) e ácido carbônico, em solução, leva à
238 formação do bicarbonato de amônia (Equação 2).
239
240 NH3 + H2O + CO2 ↔ NH4+ + HCO3- (Equação 2)
241
242 Comparando-se as concentrações nitrogênio amoniacal (amônia) (mgN-NH3L-1) obtidas nos reatores
243 R1 e R2 em todas as fases com as concentrações estabelecidas pela Resolução nº 02/2017 (COEMA), todos os
244 valores foram detectados acima dos valores máximos permitidos (VMP).
245 A figura 2 mostra os valores de amônia (mgN-NH3L-1) obtidos nos efluentes brutos (afluente) e
246 efluentes tratados (efluente) em todas as fases do reator (R1).
247
248
249

Fase V Fase VI
210 Amônia Afluente

200 Amônia
(mg N-NH 3 /L )

Efluente

190

180

170

160

150
Concentração de Amônia

140

130

120

110

100

90
0 10 20 30 40 50 60 70

Tempo (dias)

250
1/1
251 Figura 2 – Resultados médios obtidos no reator R1, fases V e VI
252 Figure 2 - Average results obtained in reactor R1, phases V and VI
253
254
255 A figura 3 mostra os valores de amônia nos efluentes brutos (afluente) e efluentes tratados (efluente)
256 nas fases IV, V, VI e VII do reator (R2)
257

Fase IV Fase V Fase VI Fase VII


300
Afluente
280
Efluente
/L )

260
3

240
(mg N-NH

220

200

180

160
Concentração de Amônia

140

120

100

80

60

40

20

80 100 120 140 160 180 200 220 240 260

Tempo (dias)

258
259 Figura 3 – Concentrações médias obtidas no reator R2, fases IV, V, VI e VII
260 Figure 3 - Average concentrations obtained in the R2 reactor, phases IV, V, VI and VII
261
262
263 A amônia pode ser tóxica ao sistema quando presente em concentrações elevadas. O efeito da amônia
264 livre sobre os processos anaeróbios em concentrações de (50 à 200mgN-NH3L-1) é benéfico
265 (CHERNICHARO, 2007). Observou-se que a amônia apresentou valores de (110 à 190mgN-NH3L-1), não
266 sendo tóxica ao sistema em estudo. O aumento da amônia efluente aos reatores de 10 à 27 %, foi devido a
267 decomposição anaeróbia da matéria orgânica tanto pela amonificação quanto pela redução
268 dissimilatória do nitrato/nitrito.
269 No entanto, mostrou-se eficiente em relação as remoções médias de DQOfiltrada (mgDQOL-1), sulfato
270 (mgSO4-2L-1) e cromo (mgCrL-1) foram de (37,6%, 56,4% e 62,7% para a fase V), de (20,4%, 58,8% e 39,7%
271 para a fase VI), de (49,0%, 50,3% e 74,0% para a fase IV), de (58,5%, 41,6% e 70,8% para a fase V), de (49,4%,
272 39,3% e 77,6% para a fase VI) e de (24,4%, 73,9% e 58,5% para a fase VII).
273 O processo anaeróbio como uma etapa de tratamento para efluentes de curtume apresentou viabilidade
274 de redução de carga orgânica, porém o aumento analisado de nitrogênio amoniacal deve ser levado em
275 consideração nos processos de oxidação a ser inserido após o reator para garantir o enquadramento do
276 nitrogênio amoniacal total de até (20mgL-1).
277 O processo recomendado para a remoção de nitrogênio amoniacal é a instalação de reatores de
278 nitrificação, após o reator UASB, o processo consiste respectivamente a oxidação do nitrogênio amoniacal a
279 redução dos nitratos e nitritos, o estudo deve ser realizado para verificar os parâmetros de acondicionamento
280 das bactérias responsáveis por esse tratamento e as condições de tolerâncias de toxidez e carga, dentro de
281 determinados parâmetros de dimensionamento e projeto, com a finalidade de se produzirem efluentes com boa
282 qualidade ambiental em atendimento a legislação vigente.
283 O processo Single Reactor System for High Ammonium Removal Over Nitrite (SHARON) é a técnica
284 empregada para tratamento biológico de efluentes com elevadas cargas de nitrogênio. O amônio é parcialmente
285 convertido a nitrito sob condições aeróbias por bactérias amônio-oxidantes (Nitrosomonas sp.), conforme as
286 seguintes reações (Equações 3, 4 e 5).
287
288 2NH4+N + 3O2 ➜ 2NO2-N + 4H+ + 2H2O + Energia (Equação 3)
289
290 A oxidação dos nitritos a nitratos é efetivada através de bactérias do gênero Nitrobacter, conforme a
291 seguinte reação:
292

1/1
293 2NO2-N + O2 ➜ 2NO3-N + Energia (Equação 4)
294
295 A reação global da nitrificação é a soma das equações 1 e 2:
296
297 NH4+N + 2O2 ➜ NO3-N + 2H+ + 2H2O + Energia (Equação 5)
298
299
300 Conforme Santos (2007) o cálculo para o consumo de oxigênio (demanda nitrogenada) necessário para
301 a oxidação da amônia (nitrificação) de acordo com a reação global da nitrificação, estequiometricamente é
302 (Equações 6, 7 e 8).
303
304 RO (kg/d) = 4,57 x (Q.NTK/103) (Equação 6)
305
306 Em termos práticos (devido à incorporação de amônia pela biomassa)
307
308 RO (kg/d) = 3,8 a 4,3 x (Q.NTK/103) (Equação 7)
309
310 Cálculo dos valores para a vazão média (UASB-LA)
311
312 Oxidação amônia (kgO2/kgNTK) aplicado = 3,8 – 4,3 (Equação 8)
313
314 Para a vazão máxima multiplicar por 1,2 a 1,8
315
316 O pH ótimo para a nitrificação é em torno de 7 a 8, enquanto que para as (Nitrosomonas) o valor é de
317 7,9 a 8,2 e para as (Nitrobacter) é de 7,2 a 7,6. Uma faixa de pH entre 8 e 8,5 e uma temperatura de 30 oC
318 favorecem uma alta velocidade específica de crescimento bacteriano, assim a taxa de produção de biomassa
319 pode lidar com a perda de biomassa no efluente e não é necessário retenção de lodo, reduzindo
320 custos com investimento e demanda de espaço (SRI SHALINI; JOSEPH, 2012).
321 Embora pareça bastante simples este processo precisa ocorrer sob condições controladas, caso contrário
322 os próprios produtos do metabolismo destas bactérias causarão aumento de toxidez no meio o que é muito
323 nocivo para as mesmas.
324
325
326 CONCLUSÕES
327
328 Com base nos resultados médios de nitrogênio amoniacal (NNH3L-1) obtidos na pesquisa, pode-se
329 concluir que, o emprego da tecnologia anaeróbia de redução de sulfato (UASB) em efluente de curtume não se
330 mostrou eficiente para remoção de nitrogênio amoniacal (amônia) no efluente tratado, tornando-se necessário
331 a implantação de um sistema biológico combinado, anaeróbio-aeróbio, como uma alternativa promissora no
332 tratamento de águas residuárias de curtume, visando adequar os efluentes tratados aos padrões de emissão em
333 conformidade com os limites de lançamento impostos pela Legislação Estadual, a Resolução nº 02/2017
334 (COEMA).
335
336
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