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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 4
1.ANÁLISE FUNDAMENTALISTA ................................................................................................... 6
1.0 O que é a análise fundamentalista? ........................................................................................ 6
1.3 Por que usar a análise fundamentalista .................................................................................. 7
1.4 Warren Buffet: Dicas ............................................................................................................... 7
1.5 Como fazer a análise fundamentalista .................................................................................... 7
2. Balanço patrimonial ..................................................................................................................... 8
2.1. Ativo ....................................................................................................................................... 8
2.2 Passivos.................................................................................................................................. 9
2.3 Patrimônio Líquido (PL) ........................................................................................................ 10
2.4 Balanço patrimonial de maneira gráfica ................................................................................ 11
2.5 O Câmbio no Balanço Patrimonial ........................................................................................ 13
2.6 Análise Horizontal VS Vertical .............................................................................................. 14
3. Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) ...................................................................... 15
3.1 Formato de uma DRE simplificada ....................................................................................... 15
3.2 Os efeitos não-recorrentes (que não acontecem sempre) .................................................... 17
4. Os 3 pilares da tomada de decisão nos investimentos .............................................................. 20
4.1 Margens ................................................................................................................................ 22
4.2 ROE (Return on equity ou Retorno sobre o patrimônio) ....................................................... 25
4.3 ROA (Retorno sobre o ativo) ................................................................................................. 28
5. Perfil de endividamento.............................................................................................................. 32
5.1 Alavancagem/endividamento frente ao P.L. (Patrimônio líquido): ......................................... 32
5.2 Análise cambial da dívida ..................................................................................................... 34
5.3 Análise de vencimentos das dívidas ..................................................................................... 36
5.4 Análise do endividamento de curto prazo (Índice de liquidez corrente) ................................ 37
5.5 Análise da capacidade de pagamento de dívidas ................................................................. 38
6 Demonstrativo de Fluxo de Caixa - DFC..................................................................................... 42
6.1 Composição do DFC ............................................................................................................. 42
6.2 Como analisar um DFC......................................................................................................... 44
6.3 Uma visão ‘’humanizada’’ de alguns componentes do DFC ................................................. 45
6.4 Exemplo para entendimento de um DFC .............................................................................. 46
7. Indicadores de Mercado............................................................................................................. 48
7.1 Preço / Lucro......................................................................................................................... 49

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7.2 Preço / Valor patrimonial (por ação)...................................................................................... 50
7.3 EV/EBITDA (ou VF/LAJIDA) ................................................................................................. 51
7.4 Dividend Yield ....................................................................................................................... 53
7.5 Payout ................................................................................................................................... 55
8. VALUATION - Premissas ........................................................................................................... 59
8.1 Análise relativa e intrínseca .................................................................................................. 61
8.2 Valor presente e Valor futuro ................................................................................................ 62
8.3 O fator risco .......................................................................................................................... 63
9. VALUATION - Método da média dos indicadores setoriais........................................................ 65
Exemplo 2: Setor bancário .......................................................................................................... 71
10. VALUATION - Método de indicadores históricos ..................................................................... 73
11. VALUATION - Método de Bazin ............................................................................................... 76
12. VALUATION - Método de Graham ........................................................................................... 78
13. Método de Greenblatt .............................................................................................................. 80
14. Valuation - Modelo de Gordon ................................................................................................. 85
15. Valuation - Fluxo de Caixa Descontado ................................................................................... 87
16.Considerações importantes: ................................................................................................... 114
16. CHECKLIST DE ANÁLISE ..................................................................................................... 117
17.CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 120

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INTRODUÇÃO

Bem, antes de mais nada. Este NÃO é um livro de mindset. Digo isso para você por que
durante os últimos anos ajudei várias pessoas a gerenciarem suas finanças, efetuarem aquisições
imobiliárias e a investirem melhor o seu dinheiro. E uma coisa que percebi foi que, ultimamente as
pessoas começaram a achar que ler livros de desenvolvimento pessoal e escutar audio-books é a
única coisa que é necessário para ter sucesso e alcançar a liberdade financeira. E a verdade é que
não funciona assim. Os livros de mindset nada mais são que manuais que te ensinam a criar
ferramentas para te auxiliarem em seus objetivos, mas só a leitura dos mesmos não fará de você
alguém de sucesso. A maior diferença entre um bom carpinteiro e um carpinteiro ruim é o que ele
sabe fazer com as suas ferramentas.

E por que estou dizendo isso? Porque este livro aqui não será ‘’gostoso’’ de ler como a
maioria dos livros de mindset. Aqui não vou te falar sobre produtividade ou foco. Aqui eu vou te
ensinar a analisar empresas na bolsa de valores para você investir muito melhor o seu dinheiro de
maneira que chegue o mais rápido possível em sua liberdade financeira.

Neste livro você tem uma caixa de ferramentas. Ferramentas que ao longo dos exemplos de
aplicações você aprenderá a utilizar em suas análises para que jamais precise ficar dependendo
de dicas de investimento. Com essas ferramentas você será capaz de analisar por si mesmo as
empresas (ações) que você irá investir na bolsa de valores. Entender seus fundamentos
qualitativos, quantitativos e, ao final também aprenderá a calcular o valor relativo e intrínseco
dessas empresas. De maneira que possa, de uma vez por todas, responder para si mesmo se a
ação está ‘’cara’’ ou ‘’barata’’ na bolsa de valores.

Porém, já adianto que nem todas as ferramentas que este livro contém serão de fácil
manuseio. Existirão ferramentas que você terá que prestar muita atenção, pois você verá coisas
aqui que provavelmente nunca ninguém te ensinou antes, que buscando no Google você não
encontrará. Como te falei, este não é um livro de mindset, este é um livro de estudos, um verdadeiro
manual para você aprender a analisar empresas para investir (ou deixar de investir) na bolsa de
valores. Este livro também não é de conteúdo fácil, é um conteúdo que muitos profissionais da
área de investimentos muitas vezes, se debruçam em suas mesas para tentar entender, então
desde já, se prepare, pois você precisará tratar este livro como um manual de investimentos, e
provavelmente, após começar a colocar em prática o que aprendeu aqui, terá que voltar e reler
alguns trechos. Então desde já, deixe este livro sempre perto quando for analisar suas ações.

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Eu estudo há anos o mercado financeiro e compilei tudo o que sei até este exato momento aqui,
dentro deste livro. E antes de iniciarmos, gostaria de te dar dois conselhos:

1) Leia este livro até o final e, após isso, coloque-o em prática;

2) Pelo menos uma vez por ano, eu abro um evento on-line e 100% Gratuito com aulas de
investimentos, este evento não é aberto para todos, apenas para quem está na lista de
espera, então se você quiser fazer parte da lista de espera é só se cadastrar neste link :

https://smarttreinamentos.com/ebookinvalor

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1.ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

1.0 O QUE É A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA?

Ela é uma análise que busca entender a empresa, olhando para os fundamentos do seu
negócio. Analisando a macro e microeconomia. Na macro olhamos a economia como um todo, o
impacto da situação de juros atual e como isso impacta o setor da empresa analisada. Na
microeconomia analisamos o produto, a gestão e a sustentabilidade da empresa analisada.
Ferramentas para analisar :Análise SWOT e 5 Forças de Porter:

1.1 Análise SWOT

2.2 5 Forças de Porter

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1.3 POR QUE USAR A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

A análise fundamentalista é o principal pilar do investidor de valor, o investidor que tem


conhecimento para fazer uma análise de maneira a não apenas olhar os números, mas entender o
que eles querem dizer tem muito a ganhar na bolsa.

Usar a análise fundamentalista é, historicamente uma das ferramentas dos maiores


investidores de todos os tempos, como por exemplo o Warren Buffet.

1.4 WARREN BUFFET: DICAS

- Busque empresas que você entende;

- Faça análise como um analista de negócios e não como um analista de ações;

- Seja sócio de quem você não gostaria de ter como concorrente;

- Sempre desconfie das projeções;

- Seja pessimista enquanto a maioria é otimista e seja otimista enquanto a maioria está pessimista.

1.5 COMO FAZER A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

Para fazer a análise nós precisamos analisar 3 Fundamentos das empresas:

- Balanço patrimonial (Raio - X da empresa);

- Demonstrações de resultados (ver como é posto em prática o negócio, empresas divulgam


trimestralmente os resultados);

- Indicadores (surgem após a análise de balanço e de resultados).

A partir desses 3 fundamentos, podemos embasar nossa tomada de decisão em 3 pontos:

1) Situação econômico-financeira;

2) Endividamento;

3) Múltiplos.

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2. BALANÇO PATRIMONIAL

Ele é um documento que pode ser encontrado no site de R.I. (relação com investidores) da
empresa analisada, disponível dentro do documento de ‘’release’’, este que por sua vez é
padronizado conforme as normas da CVM (comissão de valores mobiliários), normalmente um
caderno com dezenas de páginas de leitura densa devido aos detalhes. Recomenda-se o
conhecimento básico em contabilidade para que possa ser feita uma boa interpretação do mesmo
(mas acredite, não é um ‘’bicho’’ de 7 cabeças)

É importante saber que o balanço é uma fotografia da empresa na data do balanço, ou seja,
o balanço de um dia é diferente do balanço de outro dia. No balanço vemos:

- Caixa

- Estoque

- Estrutura de capital

- Perfil de dívida (Se é de curto ou longo prazo)

2.1. ATIVO

A grosso modo, são investimentos e disponibilidades da empresa, ou seja, tudo aquilo que
pode ser convertido em caixa para a empresa. Ativo (Explicação mais completa): composto pela
somatória de seus bens, direitos e demais aplicações de recursos controlados pela companhia.
Estes recursos são resultados de eventos passados, dos quais se espera que resultem em futuros
benefícios econômicos para a empresa.

Entre os bens que uma empresa pode possuir estão as máquinas de uma fábrica, os
terrenos e edificações que compõem sua sede e suas eventuais filiais, os estoques de seus
produtos ou da matéria prima utilizada para a manufatura deles, o dinheiro em moeda viva, as
ferramentas de produção, os computadores e os programas de informática instalados, os veículos
automotores, entre outros itens.

Entre os direitos de uma empresa podemos citar as contas a receber por parte de seus
clientes, e as dívidas a receber por parte de credores.

Demais aplicações: A empresa também pode realizar aplicações de recursos em títulos e


valores mobiliários disponíveis no mercado de capitais (comprar ações de outras empresas).

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Além disso, os ativos se dividem em duas categorias:

A) Ativos Circulantes: Tudo que a empresa consegue converter em dinheiro em menos de 12


meses, por exemplo o caixa ou equivalentes de caixa, aplicações financeira com vencimento em
até 12 meses, contas a receber de curto prazo (Até 12 meses) e o estoque (embora possa estar
parado, pode ser convertido em dinheiro)

B) Ativos Não-Circulantes: tudo que a empresa consegue converter em dinheiro em mais de 12


meses, por exemplo: Recebíveis a longo prazo (> 12 meses) ou contas a receber de longo prazo;
ativo imobilizado (como por exemplo máquinas, equipamentos, terrenos, etc..); Investimentos com
prazo maior que 12 meses, aqui entram também ativos mobiliários do mercado de capitais, por
exemplo ações e ativo intangível, como softwares, marcas, patentes, licenças, entre outros.

*Importante: Uma marca (ativo intangível) desenvolvida pela própria empresa, não pode constar
com seu valor no balanço patrimonial. Apenas se a empresa comprar uma marca, daí o valor vai
em ‘’ativo intangível’’. Veja que curioso, no caso por exemplo da Coca-Cola, ela tem uma marca
que vale bilhões e esse valor não está lá no balanço, pois foi ela que desenvolveu a própria marca.

2.2 PASSIVOS

O passivo é uma obrigação que a empresa tem, ou seja, algo que tira o dinheiro dela, como
por exemplo contas a pagar, financiamentos, capital de terceiros e outras obrigações. Da mesma
maneira que o ativo, o passivo se divide em circulante e não-circulante:

A) Passivo circulante: Obrigações de curto prazo (até 12 meses), como empréstimos e


financiamentos de curto prazo, pagamentos para fornecedores (insumos, energia, água, etc...),
impostos e taxas (os de recolhimento: IRF, COFINS, ICMS e PIS; além daqueles que devem ser
pagos: ISS, CSLL, IRPJ, etc..), salários, encargos e também dividendos a pagar para os acionistas.

B) Passivo não-circulante: São as obrigações de longo prazo (mais de 12 meses) , são


empréstimos, financiamentos, pagamentos, impostos, taxas, o que muda para o circulante é o
prazo, pois estes são para após 12 meses.

Observações importantes até aqui:

*Perceba aqui a importância de entendermos a empresa como um organismo vivo, veja que,
embora para o investidor o pagamento de dividendos seja um ativo (entrada de dinheiro para o
investidor), para a empresa é um passivo (saída de dinheiro da empresa para pagar o investidor)

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**Veja que uma empresa saudável deve ter no ativo circulante uma disponibilidade de recursos
para cobrir as obrigações de curto prazo (passivo circulante), para evitar ter que pegar empréstimos
para sanar tais dívidas, pagando juros em cima de juros, contraindo dívidas que chamamos ‘’não
saudáveis’’ pois normalmente nesses casos ‘’urgentes’’ a empresa tende a pegar empréstimos com
taxas de juros mais altas do que quando faz por exemplo, financiamentos de equipamentos para
melhoria do negócio.

2.3 PATRIMÔNIO LÍQUIDO (PL)

É o patrimônio dos sócios, o patrimônio líquido é obtido através do cálculo onde pegamos a
soma dos ativos e descontamos a soma dos passivos:

(SOMA DOS ATIVOS) - (SOMA DOS PASSIVOS) = PATRIMÔNIO LÍQUIDO

O Patrimônio Líquido a ser expresso no Balanço Patrimonial deve ser “dividido em capital
social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em
tesouraria e prejuízos acumulados”.

Observações importantes até aqui:

*Veja que pelas nomenclaturas usadas no balanço, muitas coisas são ‘’avaliações’’, ou seja,
existem itens que não simbolizam uma adição nem subtração no fluxo de caixa, porém, para a
análise fundamentalista das empresas da bolsa de valores, não precisamos ‘’esquentar a cabeça’’
para saber como que os responsáveis chegaram até determinadas avaliações, depreciações, etc...
Pois estes números já vêm prontos nos relatórios, então cabe a nós entendermos os números com
a finalidade de saber qual a capacidade da empresa gerar lucros para o acionista no presente e
futuro e não entender os detalhes de avaliações de patrimônio por exemplo, visto que estes já estão
prontos.

** No Brasil, existe a fiscalização da CVM (Comissão de valores mobiliários) que é responsável por
manter a ordem e não deixar informações falsas serem repassadas pela empresa.

***Patrimônio Líquido = Valor contábil da empresa

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2.4 BALANÇO PATRIMONIAL DE MANEIRA GRÁFICA

Partindo dessa simples visualização do balanço patrimonial, podemos separar as empresas pelo
seu balanço em 3 tipos:

A = Ativo; P = Passivo; PL = Patrimônio Líquido

**Os parênteses “()’’ são usados para demonstrar que o número é ‘’negativo’’ nos resultados e
balanços;

***Veremos mais à frente sobre endividamento, mas nem sempre uma empresa endividada é algo
ruim.

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Exercício prático: através de um balanço, montar graficamente o desenho do balanço patrimonial
de uma empresa e avaliar ela entre os 3 tipos anteriores:

Exemplo:

Empresa XYZ S.A. (ano 1/3T)

Total do Ativo: R$ 102.475,3 milhões

Total do Passivo: R$ 35.453,9 milhões

Total do PL: R$ 67.021,5 milhões

Total BP = Ativo + Passivo + PL = R$ 204.950,70 milhões

100 x (Ativo/Total BP) = % Ativo = 100 x (102.475,3/204.950,70) = 50%

100 x (Passivo/Total BP) = %Passivo = 100 x (35.453,9/204.950,70) = 17,3%

%Ativo - %Passivo = %PL = 50% - 17,3% = 32,7%

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2.5 O CÂMBIO NO BALANÇO PATRIMONIAL

Para empresas que trabalham com exportações/importações ou recebem/pagam contas em


moeda estrangeira (dólar, por exemplo), é importante entender se a empresa recebe em dólar e
paga as contas em real ou recebe em real e paga as contas em dólares.

As empresas da bolsa já mandam no relatório um item chamado ‘’efeitos da variação


cambial’’, dessa maneira já é demonstrado se o efeito é negativo (prejuízo, está entre ‘’parênteses’’
‘’()’’ no balanço), ou positivo (variação resultou em lucro para a empresa)

A parte do câmbio (diferença entre cotação da moeda nacional frente à moeda estrangeira)
não pode ser exatamente quantificada nas projeções, pois como o dólar por exemplo, que varia
diariamente, é praticamente impossível fazer um cálculo exato.

Porém, como o real é uma moeda de um país inferior economicamente ao dólar (dos EUA)
o mercado segue a seguinte tendência quando o dólar sobe frente ao real:

A) Empresa que recebe em dólar e paga dívidas em real (exemplo: exportadoras) = tende a se
valorizar mais;

B) Empresa que recebe em reais e paga dívidas em dólar (exemplo: importadoras) = tende a se
desvalorizar;

Porém, a empresa, se caso sofrer com esse impacto de maneira significativa, ela avisará em
seu relatório detalhadamente este fato. O que cabe aqui para você como investidor é ter o senso
de que investir em empresas que não tem a maior parte das receitas e despesas na mesma moeda,
vão ter influência da variação cambial, então você deve estar ciente de que uma empresa que
recebe em reais e paga dívidas em dólares, caso o dólar suba frente ao real, poderá ter uma queda
no lucro e, consequentemente nas cotações dentro da bolsa de valores (e vice-versa).

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2.6 ANÁLISE HORIZONTAL VS VERTICAL

Temos duas maneiras de analisar o balanço de uma empresa, a análise horizontal e a


vertical.

Na análise horizontal, comparamos o balanço atual com balanço(s) anterior(es) da


empresa.

Já na análise vertical fazemos a análise apenas do balanço atual (conforme fizemos no


exercício prático).

Isso nos mostra como a empresa está se saindo com o tempo (análise horizontal) e ela em
sua situação atual (análise vertical).

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3. DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE)

Após a análise do balanço patrimonial, que é como um ‘’Raio-x’’ da empresa, é importante


verificarmos os resultados que esse ‘’Raio-x’’ estão fazendo na prática, se está gerando (ou não)
resultados bons.

E para isso, trimestralmente (a cada 3 meses) as empresas da bolsa de valores, além de


divulgarem seu balanço atualizado, divulgam também seus resultados, e nesses resultados o que
mais chama a atenção dos investidores é a ‘’DRE -Demonstração de Resultado do Exercício’’ , pois
nela vemos como estão indo os resultados da empresa.

3.1 FORMATO DE UMA DRE SIMPLIFICADA

Pode ficar tranquilo, sei que agora pode parecer muita coisa, mas logo explicarei cada linha
dessa DRE.

As empresas tendem a usar nomenclaturas diferentes para os itens, por exemplo, em alguns
relatórios a linha ‘’receita líquida’’ pode constar como ‘’Receita de vendas’’, então por isso, na DRE
acima coloquei entre (parênteses) outros tipos de nomes que podem constar nas DRE´S.

**Sempre que você ver nos relatórios essas siglas, saiba o que elas significam:

LAIR = Lucro antes do imposto de renda

LAJIR = Lucro antes de juros e de imposto de renda (Em inglês = EBIT)

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LAJIDA = Lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Em inglês = EBITDA)

Até aqui, se você ficou preocupado com os nomes acima, pode ficar tranquilo, os múltiplos
que vamos usar já vem calculados nos resultados da empresa, ou seja, você como investidor não
precisa ficar calculando a amortização, depreciação dos equipamentos, isso já vem pronto nos
relatórios, mas entender o que é uma DRE e como surgem as linhas é fundamental, então
aconselho você ler e reler a DRE Simplificada acima, até entender a sequência. Após isso, vamos
entender o que significa cada item da DRE, vou tentar ser o mais simples possível para melhor
entendimento:

RECEITA BRUTA: É a receita que chega para a empresa de seu negócio, conhecemos por
faturamento

(-) Abaixo da receita bruta são colocados os descontos como impostos sobre vendas, devoluções,
etc...

RECEITA LÍQUIDA: Essa é a receita descontando os itens citados na linha acima, muitas DRE´S
começam aqui

(-) Aqui coloca-se o custo dos produtos que a empresa vendeu

= LUCRO BRUTO: É o que resta, após descontar o custo dos produtos da receita líquida

(-)Aqui desconta-se as despesas administrativas, operacionais, com vendas, etc...

= LUCRO OPERACIONAL (ou EBIT): Aqui é o resultado da operação, mas ainda com efeitos
‘’não-caixa’’

(+) Aqui ADICIONAMOS os efeitos não-caixa, para ver da maneira mais ‘’crua’’ possível a operação

= EBITDA: Esse é o lucro da operação em si, ou seja, se realmente dá ou não dinheiro o negócio

(-) Aqui descontamos os Juros, Impostos, depreciações e amortizações da atividade

= LUCRO LÍQUIDO: É o lucro final, que pode ser distribuído para os sócios.

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Veja que a operação do negócio pode ser magnífica, mas se a parte financeira da empresa
não der certo, o lucro líquido pode ser comprometido. E isso pode ocorrer por diversos fatores,
vejamos alguns:

- Juros altos: Muitas vezes o país está passando por um período de taxas altas, o que faz os juros
de financiamentos e empréstimos que a empresa usa ficarem caros.

- Má gestão financeira: Não é comum empresas da bolsa emprestarem a taxas de juros muito
mais altas que o mercado o dinheiro para alavancarem seu negócio, mas pode ocorrer, nesse caso,
é uma falta de eficiência da gestão financeira da empresa (aqui, embora a CVM fiscalize, podemos
citar quando há conflitos de interesse entre financeiras e a empresa)

- Efeitos não recorrentes: existem situações que chamamos ‘’não-recorrentes’’ por exemplo, onde
a empresa perde processos judiciais ou tem algum problema urgente, e deve recorrer a
empréstimos de ‘’última-hora’’, esses possuem tendência à terem taxas mais caras, ainda mais se
a gestão for ineficiente.

- Impostos altos: Muitas vezes a empresa está inserida em um país onde tem impostos mais altos
do que o restante dos países próximos (onde seus concorrentes estão situados), então isso também
impacta no lucro líquido. Inclusive, ainda se tratando de impostos, mudanças de lei podem
prejudicar a empresa, principalmente empresas de setores que são atrelados ao estado, como o
setor de energia elétrica, setor onde o governo tem forte influência.

3.2 OS EFEITOS NÃO-RECORRENTES (QUE NÃO ACONTECEM SEMPRE)

Neste ponto é essencial que você saiba que nas DRE´S, podem existir efeitos não
recorrentes, esses efeitos podem ser negativos ou positivos para a empresa. Infelizmente, a mídia
tende a divulgar os lucros ou prejuízos das empresas na divulgação de seus resultados, sem falar
do que é ‘’não-recorrente’’. Fazendo assim a ação tomar um caminho contrário ao que deveria
ocorrer. Como por exemplo, imagine que temos uma empresa com a DRE abaixo:

Lucro Líquido (ano anterior): R$ 112.125,48

Lucro Líquido (ano atual): R$ 489.652,47

Crescimento = 336,70%

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O que você acharia dessa empresa olhando os dados acima? que a empresa foi fantástica, não é?
Mas e se eu te contasse que parte desse lucro veio de um efeito não-recorrente, que a empresa
ganhou um processo judicial que injetou R$ 389.650,41 no caixa dela? Veja que temos o seguinte:

Lucro Líquido (ano anterior): R$ 112.125,48

Lucro Líquido (ano atual): R$ 489.652,47

Lucro Líquido (ano atual) ajustado: R$100.002,06 (sem contar o efeito não-recorrente)

Crescimento: -10,8% ou (10,8%) = Crescimento negativo = queda no resultado

Então, o que acha da empresa agora? logicamente podemos ver que retirando o efeito não-
recorrente a empresa PIOROU seus resultados. Então desde já anote aí para jamais esquecer,
sempre que o resultado da empresa vier ‘’fora da média’’ você sempre deve abrir o resultado dela
e buscar a palavra ‘’não-recorrente’’, para saber se a empresa teve um efeito que ocorreu apenas
no período e o quanto ele impactou a empresa (positivamente ou negativamente) e não ir no ‘’efeito
manada’’ que muitas vezes a mídia provoca alarmando efeitos não-recorrentes como se fossem
ocorrer todo trimestre.

Observações Importantes até aqui:

*Veja que empresas que GANHAM dinheiro com juros, como os bancos e outras instituições
financeiras, tendem a ter uma DRE diferente dos demais setores. Se nos demais gostamos de ver
o EBITDA para avaliar a operação do negócio livre de impostos e juros, no setor financeiro esse
tipo de análise é inviável, pois a maior parte do lucro deles vem destes ítens. Então anote e nunca
esqueça que para empresas que atuam no setor financeiro, você NÃO deve usar nas suas análises
o indicador EBITDA. Veremos mais ao final como fazer a análise dessas empresas, mas lembre-
se de não usar análises que envolvam o EBITDA (que veremos a seguir) para instituições
financeiras.

**Em termos simples, podemos dizer que o EBITDA = capacidade que a empresa tem de gerar
caixa.

*** O EBITDA pode ser usado para comparar empresas do mesmo setor com sedes em

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países diferentes, isso porque comparar o lucro líquido não vai nos dizer sobre a eficiência da
empresa ser melhor ou pior que a outra, pois pode ser que uma tenha que pagar mais impostos
que a outra, além das taxas de empréstimos que também terão taxas maiores, então se você for
comparar, por exemplo uma empresa de varejo do Brasil com uma empresa de varejo de outro
país, prefira usar o EBITDA ao invés do lucro líquido em suas análises.

Exercício: Imagine um comércio de alimentos. Nesse comércio existem alguns funcionários, tem
o pessoal que cuida dos empréstimos e serviços financeiros e o pessoal que faz a operação em si,
de vender e entregar os produtos. Esse é um comércio que chama sua atenção pela qualidade do
atendimento vindo dos funcionários que estão todo dia lá, colocando produtos, fazendo as vendas,
então você quer se tornar sócio dele, comprando uma participação no negócio visando lucros. Para
tal, você pede uma DRE para o contador do comércio. E nessa DRE, dois itens chamam sua
atenção, veja:

EBITDA = R$ 278.147,81

LUCRO LÍQUIDO = 36.842,57

Agora, você saberia me dizer o que esses dois números significam?

O EBITDA, é o lucro antes de Impostos, juros, depreciações e amortizações, ou seja, o


EBITDA mostra para o investidor a operação em si do negócio se vai bem ou não. Já o lucro líquido,
envolve os juros, impostos, depreciações e amortizações. Então só com esses dois números nós
podemos ver que essa empresa gera um bom lucro operacional (EBITDA) porém, é visível que o
problema da empresa está relacionado muito provavelmente com seu endividamento (as taxas ou
impostos que recaem sobre ela). Ou com taxas de impostos muito altas. Ou ainda sofrendo com
depreciações de equipamentos.

Nesse caso o primeiro passo que você deveria tomar seria analisar se esse efeito é
recorrente ou não. Supondo que a empresa pagasse juros muito acima do normal, então
poderíamos dizer que ela tem uma ineficiência no pessoal que trata das finanças, logo, esse seria
um ‘’fundamento’’ que poderia dizer para você não investir na empresa, ainda mais se o histórico
dela for de sempre pagar juros acima da média e ter prazos de dívidas com vencimentos próximos
(que podem inclusive comprometerem todo o caixa da empresa e ainda ter que refinanciar, fazendo
assim uma bola de neve contra a empresa).

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4. OS 3 PILARES DA TOMADA DE DECISÃO NOS INVESTIMENTOS

No início do livro falei sobre estes 3 pilares, porém agora estamos caminhando e está na
hora de voltar e rever eles, de maneira mais detalhada, pois estes 3 pilares serão nosso ‘’mapa’’
na análise dos investimentos:

No último assunto tratado, terminamos de entender o EBITDA da empresa, então este por
sua vez, já pode constar como ‘’estudado’’ em nosso mapa. Além disso, no início tratamos sobre o
balanço patrimonial, então também entendemos como achar o ‘’caixa’’ da empresa.

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Porém lembre-se de que ao final deste livro vamos novamente unir todos esses pilares para
fazer uma análise completa.

*Se você apenas leu o livro e não abriu nenhum balanço patrimonial para analisar, sugiro
que pesquise agora no Google o termo ‘’RI Empresa’’. Por exemplo se eu quiser encontrar o site
de R.I. da empresa XYZ, eu busco ‘’RI Empresa XYZ’’. Após entrar no site, você deve fazer o
download dos resultados (em algum lugar no site está escrito ‘’investidores’’ ou ‘’resultados’’ ou
‘’central de resultados’’)

Após o download, encontre o balanço da empresa e ache o item ‘’caixa’’.

Feito isso, encontre também a DRE da empresa e ache o item ‘’EBITDA’’

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4.1 MARGENS

Agora que já temos conhecimento de conceitos fundamentais sobre um balanço patrimonial


e sobre DRE. Podemos começar a parte mais importante da análise fundamentalista, que são os
cálculos, ou se você preferir, os ‘’fundamentos numéricos’’ das empresas, pois estes números
mostrarão para você se a empresa é o que você espera dela ou não.

O primeiro passo para fazer uma análise, após a leitura e interpretação do balanço e da DRE
é calcular as margens da empresa, a partir daqui vou me despregar um pouco da parte teórica,
então não vou fazer você partir das formulações iniciais para chegar até os cálculos para encontrar
nossos fundamentos, visto que o foco é a aplicação de análise na prática.

*Os dados que usamos para colocar nas fórmulas estão no balanço e na DRE, então
qualquer dúvida que tiver, retorne a leitura do livro para encontrá-los.

A) Margem Bruta = Lucro Bruto / Receita Líquida

B) Margem EBITDA = EBITDA / Receita Líquida

C) Margem Líquida = Lucro Líquido/Receita Líquida

*Todos os cálculos dividem as unidades iguais, ou seja, o resultado das divisões será um número
adimensional (sem unidade), logo, para ter ele em porcentagem (%) devemos multiplicar por ‘’100'’;

**Sempre fique atento ao PRAZO dos indicadores, todos os cálculos devem ser feitos a partir de
indicadores de mesmo período, por exemplo, se você for calcular a margem EBITDA do último ano,
você deve pegar o EBITDA do último ano e dividir pela Receita Líquida também do último ano. Por
mais simples e lógico que pareça, muita gente acaba errando isso.

22
Exemplos de cálculo de margens:

Vamos supor que você quer se tornar sócio da empresa ABCD S.A. e resolveu analisar ela
no 3T do último ano. Para isso você pegou o Balanço dela e também a última DRE. E coletou os
seguintes dados (em milhões):

No balanço (R$ em milhões):

- Dívida bruta: R$ 4.090,20

- Patrimônio Líquido: R$ 67.021,5

Na DRE (R$ em milhões):

- Receita Líquida = R$ 11.957,7

- Lucro Bruto = R$ 6.727,9

- EBITDA = R$ 2.826,4

- Lucro Líquido = R$ 2.604,4

A) Margem Bruta = Lucro Bruto / Receita Líquida


= 6.727,9 / 11.957,7 = 0,562 (x100 = 56,2%)

B) Margem EBITDA = EBITDA / Receita Líquida


= 2.826,4 / 11.957,7 = 0,236 (x100 = 23,6%)

C) Margem Líquida = Lucro Líquido/Receita Líquida


= 2.604,4 / 11.957,7 = 0,217 (x100 = 21,7%)

Em resumo então temos:

A) MARGEM BRUTA = 56,2%

B) MARGEM EBITDA = 23,6%

C) MARGEM LÍQUIDA = 21,7%

23
Agora vem a questão, o que esses números significam?

Vou tentar explicar um a um para você, vamos lá...

A) MARGEM BRUTA: É a margem que a empresa possui nas vendas, ou seja, quanto em % sobra
para ela nas vendas de produtos, descontando apenas os impostos sobre vendas e eventos como
devoluções.

B) MARGEM EBITDA: É a margem da operação em si, ou seja, qual a % de lucro operacional que
a empresa consegue em seu negócio. No caso dela, no trimestre citado, ela conseguiu a cada R$
100 de vendas, R$ 23,60 de lucro operacional

C) MARGEM LÍQUIDA: É a margem conquistada pela empresa após retirar os juros que ela paga
de financiamentos, empréstimos, amortizações e imposto de renda. Veja que a empresa, dos R$
23,60 que tinha de lucro operacional, continua com R$ 21,70 de lucro líquido, ou seja, é em torno
de 8% apenas os descontos do EBITDA até o Lucro Líquido, então podemos ver que a empresa
está longe de ser uma empresa endividada.

E como saber se essas margens são boas ou ruins?

Para saber se as margens são boas ou ruins, você deve fazer dois tipos de análises:

- Análise entre concorrentes (pares): Você pega as principais concorrentes (pares, ou seja,
empresas do mesmo setor) da empresa que você analisou e faz os mesmos cálculos que fez para
sua empresa. Após isso você faz uma média de margens do setor que ela está inserida. Se a
empresa tiver margens MAIORES ela é melhor;

*A média entre as empresas pode ser simples ou ponderada, no caso da média ponderada, você
pode, por exemplo ponderar pelo valor de mercado da empresa analisada, para ter uma maior
exatidão das médias de margens do setor. (Aprenderemos como fazer isso no método de valuation
por média de indicadores do setor).

- Análise do período: Você pegará os resultados anteriores da empresa e comparará para ver se
ela está indo melhor do que foi no mesmo período do ano passado. O ideal é sempre comparar o
trimestre do ano vs (versus) o mesmo trimestre do ano passado, pois na maioria dos setores
existem demandas diferentes em épocas diferentes do ano. Como por exemplo uma empresa de
varejo você não pode comparar o 3T com o 4T, pois no 4T tem o final do ano onde temos o Natal,
que tende a aquecer o setor. Então o correto é comparar o 4T vs 4T anterior.

24
Na internet você consegue achar algumas margens já prontas para as empresas do setor, dessa
maneira você não precisa fazer o cálculo extenso de empresa por empresa. Um site onde você
encontra dados prontos já calculados é o site www.fundamentus.com.br

Inclusive nele é possível você puxar dados e montar uma planilha de comparação, para facilitar
fazer as médias do setor que a empresa que você está analisando está inserida. Mas é importante
lembrar que nesse tipo de site, os cálculos são automáticos (podem contar efeitos não recorrentes)
então o ideal é você mesmo fazer os cálculos, desconsiderando os efeitos não recorrentes.

A ideia é bem simples, geralmente:

Margens Bruta, EBITDA e Líquida = Quanto maior = Melhor

Observações Importantes:

*Cuide com efeitos não-recorrentes, pois se você usar indicadores que incluem esses efeitos nos
seus cálculos suas margens ficarão incorretas.

**Se as margens da sua empresa forem acima de 100% existem erros nos cálculos ou na coleta
de dados (se você considerar efeitos não-recorrentes como recorrentes esse problema pode surgir
também).

4.2 ROE (RETURN ON E QUITY OU RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO)

O ROE também é uma margem fundamentalista para analisar empresas, de maneira similar
as margens anteriores, podemos verificar o ROE histórico da empresa para saber se ela está
melhorando ou também comparar o ROE dela com o de suas concorrentes do mesmo setor, para
saber se é um ROE atrativo ou não.

O motivo de eu não ter colocado ele na página anterior foi porque temos diversos jeitos de
chegar no ROE, e o mais comum é medindo o lucro sobre o patrimônio líquido e não sobre a receita
como nas margens anteriormente calculadas.

Vamos aos cálculos:

ROE = Lucro Líquido/Patrimônio Líquido (x100 = %)

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Pela fórmula verifica-se que o ROE é inversamente proporcional ao Patrimônio Líquido, então aqui
vem uma grande observação. Perceba que quanto MENOR o patrimônio líquido, MAIOR será o
ROE. Então veja o quão importante é você analisar os itens anteriores que vimos até agora nesse
livro, pois uma empresa muito endividada, tem o patrimônio líquido menor, então
consequentemente ela terá o ROE maior do que uma outra empresa que possa apresentar o
mesmo Lucro Líquido mas por ser MENOS endividada, acaba com um ROE MENOR (interessante
não acha?). E é isso mesmo, pois o ROE mede o lucro sobre o patrimônio dos sócios, e sim, muitas
vezes é preferível alavancar a empresa do que colocar capital próprio, principalmente quando as
taxas de juros estão baixas (aqui entra também o que chamamos custo de oportunidade, que
significa que para o sócio é mais lucrativo pegar dinheiro de terceiros para a empresa do que seu
próprio capital)

Exemplos de cálculo de ROE:

Empresa A)

Lucro Líquido: R$ 2.885,4 milhões

Patrimônio Líquido: R$ 57.454,8 milhões

ROE = Lucro Líquido/Patrimônio Líquido = 2.885,4 / 57.454,8 = 0,0502 (x100 = 5,02%)

Então o lucro que a empresa gera sobre o patrimônio líquido inserido nela é de 5,02%. Veja
que nesse caso, a empresa traz um retorno baixo sobre o patrimônio disponível. E isso, para muitos

investidores pode ser um ponto positivo (empresa não é endividada) mas para outros pode ser um

ponto negativo (empresa deveria buscar mais capital de terceiros).

Empresa B)

Lucro Líquido: R$ 2.700,5 milhões

Patrimônio Líquido: R$ 7.450,5 milhões

ROE = Lucro Líquido/Patrimônio Líquido = 2.700,5 / 7.450,5 = 0,3624 (x100 = 36,24%)

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Então o lucro que a empresa gera sobre o patrimônio líquido inserido nela é de 36,24%,
então veja que nesse caso, a empresa traz um retorno alto sobre o patrimônio próprio dos sócios.
Comparando com a empresa anterior podemos dizer que ela é um MELHOR investimento, PORÉM,
antes de sair investindo nesta ao invés da empresa ‘’A’’ você deve verificar o endividamento dela
(conforme foi mostrado anteriormente, na parte do balanço patrimonial).

Posteriormente aqui também faremos cálculos para melhorar o entendimento do endividamento.

Observações importantes até aqui:

*Veja então que nem sempre uma empresa endividada é ruim. A questão do endividamento de uma
empresa tem mais a ver com o perfil de cada investidor do que com dizer se é ‘’melhor’’ ou ‘’pior’’.
Pois se a empresa for endividada, mas mesmo assim, pagando juros e tudo, ela ainda consegue
entregar um lucro líquido positivo para o investidor, significa que a dívida foi muito bem-feita e o
negócio da empresa tem uma estrutura boa de geração de caixa e alta eficiência. Por outro lado, a
empresa entregar o ROE menor, por ter menos dívidas, garante à empresa uma segurança maior,
principalmente em eventuais recessões que façam as taxas de juros subirem.

Então como disse, você investidor, após entender o que cada indicador significa, deve decidir
ao final o que é melhor de acordo com o seu perfil.

**O ROE atual da empresa não diz muito sobre ela, você sempre deve verificar o histórico de ROE
da empresa (vem nas divulgações de resultados), pois uma empresa boa deve ter um ROE
consistente ao longo dos anos. Sempre claro, lembrando que a economia varia, e seu ROE
também, então por exemplo se a empresa tem um ROE acima dos concorrentes de maneira
consistente ao longo dos anos, isso é um ótimo indicador de vantagem competitiva.

***Quando a empresa recompra as suas ações e deixa elas em tesouraria (pensando em vendê-
las posteriormente) isso vai NEGATIVO no patrimônio líquido (PL), logo, diminui o total do PL e
aumenta o ROE, então se a empresa tiver ações em tesouraria, o ideal é ADICIONAR o valor delas
ao PL para daí sim usar esse PL atualizado para calcular o ROE.

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Sei que serei redundante nessa parte, mas vou novamente falar sobre o ROE e a
alavancagem das empresas, pois você precisa entender isso de maneira clara.

As empresas não são formadas apenas de capital próprio, existe capital de terceiros, e o
ROE, que vimos anteriormente leva em consideração apenas o capital dos acionistas (Patrimônio
líquido) da empresa.

Logo, faz-se necessário uma análise que leve em conta a lucratividade da empresa, levando
em consideração também o capital de terceiros (dívidas) e os custos que ela possui. Este indicador
é importante porque no caso de empresas muito alavancadas, é comum o ROE ser altíssimo.

Novamente recordando que, a empresa dar lucro mesmo sendo altamente alavancada
(endividada) não é necessariamente um indicador ruim e nem bom, vai do perfil de cada investidor.
Se por um lado ela fazendo isso é extremamente eficiente, por outro lado se em algum momento
ela tiver algum problema não previsto que afete a margem, ela pode não conseguir pagar suas
dívidas dentro dos prazos.

‘’Empresa que dá lucro, tem ROE alto, mas é endividada é ótima. Mas é perigosa’’

Então é fundamental entendermos perfil de endividamento da empresa analisada, logo, para


um melhor entendimento sobre como a empresa usa os ativos (tanto patrimônio líquido quanto
capital de terceiros) e o resultado que ela possui frente à tudo isso podemos usar o ROA (Retorno
sobre o ativo)

4.3 ROA (RETORNO SOBRE O ATIVO)

ROA = Lucro Líquido/Ativo total (x100 = %)

Exemplos de cálculo de ROA:

Empresa A) (mesmo exemplo da empresa ‘’A’’ usada para calcular o ROE anteriormente)

Lucro Líquido: R$ 2.885,4 milhões

Patrimônio Líquido: R$ 57.454,8 milhões

Ativo Total: R$ 95.714,4 milhões

ROA = Lucro Líquido/Ativo total (x100 = %)

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ROA = 2.885,4/95.714,4 = 0,0301 (x100 = 3,01%)

(o ROE que encontramos para essa empresa no cálculo de ROE foi de 5,02%)

Veja que o ROA< ROE, isso porque a empresa tem uma parte do ativo vinda de capital de
terceiros e, quando calculamos o retorno sobre o total do ativo temos um valor menor do que
apenas sobre o PL.

Vamos, no mesmo exemplo, supor que essa empresa pegue mais R$ 100.000 milhões de
capital de terceiros para sua atividade, veja como ficaria então o ROE e ROA dela após contrair
essa dívida milionária se caso o lucro dela não fosse superior:

ROE = 2.885,4 / 57.454,8 (x100)= 5,02%

ROA = 2.885,4 / 195.714,4 (x100) = 1,47%

Veja que o ROE não muda, pois o lucro manteve-se igual e os sócios não tiraram mais
dinheiro do próprio bolso para investir, já o ROA caiu, visto que agora a empresa tem mais dinheiro
emprestado para fazer os investimentos em ativos, mas não conseguiu subir o lucro.

Agora, imagine que a empresa contraiu a mesma dívida, só que o lucro aumentou para R$
5.886,21 milhões:

ROE = 5.886,21 / 57.454,8 (x100) = 10,2%

ROA = 5.886,21 / 195.714,4 (x100) = 3,01%

Então verifique que, comparando a situação onde a empresa estava sem dívidas (ROE = 5,02% e
ROA=3,01%) com a última situação (com dívida de R$ 100.000 milhões e com lucro de R$ 5.886,21
milhões) o ROE dobrou, porém o ROA ficou igual.

Em termos de rentabilidade sobre investimento a empresa melhorou, porém o retorno sobre o total
(Capital próprio + de terceiros) manteve-se igual.

Prós = empresa conseguiu fazer mais dinheiro através do endividamento

Contras = se caso ocorrer algo que prejudique o negócio da empresa, podendo ser fator micro ou
macro na economia, a empresa terá uma dívida que terá que honrar e se não conseguir, terá que
se endividar mais.

29
Visto o ROA podemos seguir o mapa dos 3 pilares da tomada de decisão de investimentos,
pois agora já podemos dar um ‘’visto’’ na parte das margens e do ROE/ROA, que acabamos de
estudar.

Sobre o pilar ‘’perfil de endividamento’’ até então vimos apenas o caixa (que pode ser
encontrado no balanço), porém, agora começaremos a explorar melhor, para entender o
endividamento da empresa, como citado várias vezes, a empresa ser endividada não é algo ruim
e nem bom. Tudo depende do investidor e de seu perfil, se ele gosta de empresas mais agressivas,
que se alavancam para gerar mais lucro, ótimo. E se o investidor prefere empresas mais seguras
que preferem usar o mínimo de dívidas possível, ótimo também. Essa decisão é pessoal sua,
apenas lembre-se de que empresas alavancadas tendem a representar maiores riscos.

30
Antes de prosseguirmos, se faz necessária a compreensão de algumas novas descrições
que usaremos

- Caixa: Disponibilidades da empresa

- Dívida Bruta: Soma das dívidas (debêntures, financiamentos, empréstimos...)

- Dívida Líquida: Dívida bruta - caixa

- CAPEX: Investimento em capital fixo, simboliza os investimentos que a empresa faz no negócio,
nos ativos não-circulantes como por exemplo compra de novos equipamentos, reformas,
manutenções, etc... Além disso, parte do CAPEX também pode ser usada para comprar ativos
intangíveis como marcas, licenças, etc...

31
5. PERFIL DE ENDIVIDAMENTO

Analisar os indicadores de endividamento da empresa é algo que necessita um pouco mais


de interpretação além de apenas ‘’números’’ por parte do investidor. Isso porque a visão ‘’geral’’ da
dívida, o investidor já pode obter uma primeira visão criando graficamente o balanço patrimonial (o
que vimos no início).

A seguir, serão demonstrados mais indicadores que contribuirão na análise do perfil de


endividamento da empresa.

5.1 ALAVANCAGEM/ENDIVIDAMENTO FRENTE AO P.L. (PATRIMÔNIO LÍQUIDO):

Mede a % do Patrimônio Líquido que seria comprometido para pagar a dívida bruta.

Alavancagem = Quanto menor = empresa com menos dívidas

Alavancagem frente ao PL: Passivo total/Patrimônio Líquido (ou dív. bruta/PL)

Exemplo de cálculo:

Vamos supor que você quer se tornar sócio da empresa XYZ S.A. e resolveu analisar ela no 3Tdo
último ano. Para isso você pegou o Balanço dela. E coletou os seguintes dados (em milhões):

No balanço (R$ em milhões):

- Passivo total: R$ 4.090,20

- Patrimônio Líquido: R$ 67.021,5

32
A) Grau de Alavancagem frente ao PL:

= Passivo total/Patrimônio Líquido

= 4.090,20 / 67.021,5 = 0,061 (x100 = 6,1%)

No caso dessa empresa, ela precisaria de apenas 6,1% do seu PL para pagar toda a dívida
dela, o que mostra que é uma empresa sustentável e com poucas dívidas.

Observações importantes até aqui:

*Se o patrimônio líquido de sua empresa for negativo, o cálculo de alavancagem também resultará
negativo, o que mostra que a empresa está em uma situação de extremo endividamento

**Empresas que estão em processo de crescimento/expansão, podem se endividar para aumentar


seu potencial de lucratividade, então é comum em empresas não maduras, que ainda tem muito
market-share para ganhar no seu mercado, terem um grau de alavancagem dívida bruta/PL maior
do que empresas que já são detentoras da maior parcela do market-share do seu setor.

***Passivo total/PL > 100% simboliza um alto risco, visto que o PL é insuficiente para cumprir com
as obrigações da empresa

****Instituições financeiras não devem ser analisadas por esse indicador, visto que elas convertem
dívidas em ganhos; então o coeficiente de endividamento delas frente ao PL sempre será elevado.
(À frente veremos indicadores para este tipo de empresa, na parte de valuation).

33
5.2 ANÁLISE CAMBIAL DA DÍVIDA

No balanço da empresa, é necessário buscar dois itens:

- Dívida em moeda estrangeira (total, circulante + não circulante)

- Dívida em moeda local (total, circulante + não circulante)

Como já foi dito no início, o aspecto cambial não pode ser analisado com exatidão, porém,
de uma maneira bem simplificada, pelo Brasil ser um país emergente que, frente a recessões tende
a ter menos capital estrangeiro investido. Podemos dizer que quanto MENOR for a porcentagem
da dívida estrangeira frente a dívida em moeda local, é melhor.

Vale lembrar que nos balanços o circulante pode ser descrito como ‘’realizável a curto prazo’’
e o não circulante como ‘’não realizável a curto prazo ou realizável a longo prazo’’ também.

Como saber qual a % da dívida em cada moeda? Por três simples equações:

D 2.1) Dívida moeda estrangeira + Dívida moeda local = Dívida total

D 2.2) Dívida moeda estrangeira / Dívida total (x100) = % Dívida moeda estrangeira

D 2.3) Dívida moeda local / Dívida total (x100) = % Dívida moeda local

Exemplo:

A empresa ‘’TTY’’ tem as seguintes dívidas (valores já trazidos para moeda local conforme dólar
atual):

- Dívida de curto prazo em moeda estrangeira = R$ 5.250

- Dívida de longo prazo em moeda estrangeira = R$ 54.200

- Dívida de curto prazo em moeda local = R$ 25.500

- Dívida de longo prazo em moeda local = R$ 102.800

Total dívida em moeda estrangeira = R$ 5.250 + R$ 54.200 = R$ 59.450

Total dívida em moeda local = R$ 25.500 + R$ 102.800 = R$ 128.300

34
D 2.1) Dívida moeda estrangeira + Dívida moeda local = Dívida total

R$ 59.450+R$ 128.300= R$ 187.750

D 2.2) Dívida moeda estrangeira / Dívida total (x100) = % Dívida moeda estrangeira

R$ 59.450/R$ 187.750 (x100) = 31,66%

D 2.3) Dívida moeda local / Dívida total (x100) = % Dívida moeda local

R$ 128.300/R$ 187.750 (x100) = 68,33%

No caso dessa empresa então, a maior parte da dívida dela está em moeda local, o que é
um ponto positivo, para saber se isso é melhor ou pior que suas concorrentes, basta fazer o mesmo
cálculo para as concorrentes e verificar qual delas tem a maior % em cada tipo de dívida.

35
5.3 ANÁLISE DE VENCIMENTOS DAS DÍVIDAS

No balanço da empresa, também é possível encontrar os prazos e vencimentos das dívidas,


vamos supor por exemplo que uma empresa está apresentando um bom ‘’EBITDA’’ porém, como
tem dívidas de juros consideráveis, sobra pouco ‘’Lucro Líquido’’ para os sócios. Em primeira vista
você pode não querer investir nela, porém imagine que essa empresa está nessa situação porque
ela se endividou há 5 anos atrás para a compra de um equipamento. E esse ano ela terminará de
pagar essa dívida. Logo, você poderá ver que, se a empresa tiver caixa para suprir esse
pagamento, provavelmente nos próximos resultados o lucro dela aumente consideravelmente.

Ver os prazos das dívidas serve, principalmente para empresas que estão em processo de
crescimento, pois é tendência de que ao final de uma dívida, a empresa busque mais crescimento
(partindo para uma nova alavancagem) ou se já chegou em um certo grau de maturação, começar
a aumentar a distribuição de lucros para o sócio.

Deve-se atentar a dívidas com vencimento em um mesmo ano (concentração de


vencimento) pois, isso impacta o lucro líquido da empresa e pode fazer despencar suas ações na
bolsa. Porém veja que aqui temos duas vertentes, quando isso ocorre, se a empresa tem potencial
para pagar a dívida sem refinanciar, a queda no mercado simboliza uma oportunidade de compra.
Já se a empresa não tem potencial para pagar a dívida concentrada, precisa se refinanciar e daí
sua condição tende a piorar.

Relembrando...

Dívidas de curto prazo (até 12 meses) estão no ‘’passivo circulante’’

Dívidas de longo prazo (após 12 meses) estão no ‘’passivo não circulante’’

36
5.4 ANÁLISE DO ENDIVIDAMENTO DE CURTO PRAZO (ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE)

É a análise da capacidade que a empresa tem de cumprir com essas obrigações de curto
prazo através da liquidação de seus ativos para cobrir suas obrigações. Chamado também de
‘’liquidez corrente’’.

Para isso pegamos no balanço:

- Ativo circulante

- Passivo circulante

D.4) Ativo circulante/Passivo circulante = Capacidade de pagamento no curto prazo


(Liquidez corrente ou coeficiente de liquidez)

Resultado >1: Empresa conseguirá pagar as dívidas de curto prazo e terá sobras

Resultado = 1: Empresa conseguirá pagar as dívidas de curto prazo

Resultado < 1: Empresa pode ter dificuldades para honrar dívidas de curto prazo

Vale aqui, ressaltar que esse é um indicador que não deve ser analisado isoladamente, pois
a liquidez corrente, expressa pela fórmula anterior, verifica se a empresa poderia pagar sua dívida
de curto prazo através da liquidação de seus bens de curto prazo. Na prática, a empresa não
precisa necessariamente fazer isso, pois ela terá lucros, então devemos analisar esse indicador em
conjunto com o próximo.

37
5.5 ANÁLISE DA CAPACIDADE DE PAGAMENTO DE DÍVIDAS

Aqui, pegamos o quanto a empresa consegue criar de lucro operacional, para daí sim
comparar com sua dívida.

No balanço, pegamos:

- Dívida Líquida (Dívida bruta - caixa)

- EBITDA (anual)

D.5) Dívida Líq./EBITDA = Capacidade de pagamento da dívida

Exemplo:

Uma empresa tem :

- EBITDA = R$ 851.220 no ANO

- Dívida Bruta = R$ 8.120.000

- Caixa = R$ 52.000

Logo: Dívida Líquida = 8.120.000 - 52.000 = R$8.068.000

D.4) Dívida Líquida/EBITDA = 8.068.000 / 851.220 = 9,48

Ou seja, a empresa necessitaria de 9,48 EBITDA´S para pagar suas dívidas. Como nosso
EBITDA pego foi o EBITDA anual, ela precisaria de 9,48 anos gerando o EBITDA constante para
pagar suas dívidas.

*Cuidado aqui, pois as empresas divulgam EBITDA trimestral, se você utilizar o EBITDA trimestral
na fórmula, o resultado será a quantidade de trimestres para a empresa suprir as dívidas

**Veja que ao longo do tempo, a cada divulgação de resultados, se a empresa melhorar seu
EBITDA, o prazo diminuirá, da mesma forma, se a empresa se endividar mais com o mesmo
EBITDA, o prazo será aumentado

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***Para saber se este indicador é bom você pode:

- Comparar com o de concorrentes

- Comparar com a própria empresa, no passado

- Como regra genérica, boa parte dos analistas considera saudável a empresa que possui

Dívida Líquida/EBITDA < 3 anos

****Agora, conseguimos completar mais partes do nosso pilar de tomada de decisão.

39
Antes de passarmos para o demonstrativo de fluxo de caixa, gostaria de expor aqui, algumas
particularidades que você deve analisar na empresa antes de investir que acredito que serão de
grande valia em sua jornada como investidor:

a) Fique atento para saber se os executivos da empresa possuem ações da companhia, prefira
empresas que seus executivos tenham participações relevantes, e fique atento as notícias de que
os executivos estão comprando mais ações, pois eles são pessoas que estão lá dentro. Então se
eles compram mais ações, provavelmente sabem que a empresa está indo bem.

b) Neste livro, por várias vezes quando me refiro a empresas do mesmo setor eu cito a definição
de ‘’concorrente’’, porém é importante falar que o termo correto é empresas ‘’pares’’, pois, embora
muitos ‘’pares’’ sejam concorrentes no mesmo setor, nem todos os ‘’pares’’ são concorrentes, como
por exemplo empresas de energia elétrica, se temos uma no norte e outra na região sul, elas não
são concorrentes, mas analisamos ambas como ‘’pares’’ para decisão de investimento. Então me
perdoe pelas vezes que denomino o termo ‘’concorrente’’, o correto é ‘’par’’. E talvez você esteja
se perguntando o porquê não editei isso antes de publicar o livro... e a resposta é porque a maioria
dos primeiros leitores, quando citei essa correção, me falaram que o termo ‘’concorrente’’ por ser
mais utilizado, facilita o entendimento, principalmente para quem está começando a leitura.

c) Na análise fundamentalista o que mais vale é a parte qualitativa de sua análise, então não se
preocupe em ‘’pensar fora da caixa’’. Por exemplo, um negócio que seja sustentável para mim pode
não ser na sua visão. Décadas atrás empresas de cigarro eram lucrativas, e, por incrível que pareça
a maioria dos analistas projetavam crescimentos exagerados para elas. Mas muitos investidores
ficaram de fora dessas empresas em nosso país, por não julgarem sustentáveis. E adivinha quem
acertou? (Não foram os analistas).

d) Outros fatores a serem analisados (que você pode gostar ou não):

- Ver participação do governo;

- Competência (histórico) da governança (se é familiar ou não);

- Free Float (% de ações da empresa da bolsa)

- Tag along (mecanismo de proteção a acionistas minoritários de uma companhia que garante a
eles o direito de deixarem uma sociedade, caso o controle da companhia seja adquirido por um
investidor que até então não fazia parte da mesma )

- Reputação no ReclameAqui

40
e) Sobre recompra de ações: De maneira geral, a empresa quando vê suas ações a um preço bom
na bolsa pode recomprar elas e cancelar (deixam de existir, logo, há novos cálculos pois as ações
restantes valem mais) ou empresa deixa no balanço as ações ‘’em tesouraria’’ daí ela pode,
futuramente vender essas ações. Nesse último caso, elas ficam em ‘’negativo’’ no patrimônio
líquido. Essas ações não tem direito a voto nem a dividendos.

Feitas essas observações, podemos prosseguir para analisar o Demonstrativo de Fluxo de Caixa.

41
6 DEMONSTRATIVO DE FLUXO DE CAIXA - DFC

É o documento contábil que reflete o desempenho financeiro da empresa, ele fornece


informações sobre as origens e o destino dos recursos: como a empresa gera o seu caixa e como
ela faz a alocação dele.

Se a Demonstração do Resultado do Exercício de uma empresa informa se houve lucro nas


operações da mesma num trimestre, é a Demonstração do Fluxo de Caixa – DFC – que diz se este
lucro foi convertido, ou não, em recursos para serem reinvestidos ou honrar compromissos, por
exemplo.

6.1 COMPOSIÇÃO DO DFC

1) Fluxo de Caixa das Operações – demonstra o lucro líquido (ou prejuízo), a depreciação e
amortização dos bens patrimoniais; e a variação nos ativos e passivos operacionais, que englobam
as contas a receber, os estoques, os custos com fornecedores e os salários a pagar, entre outros.

2) Fluxo de Caixa de Investimentos – aqui será indicado o eventual recebimento por venda de
ativos imobilizados ou intangíveis, ou o pagamento por ativos imobilizados ou intangíveis; as
participações societárias que tiram ou colocam dinheiro no caixa; e as aplicações financeiras que
tiram ou colocam dinheiro no caixa.

3) Fluxo de Caixa de Financiamentos – esta coluna mostra o aporte ou a redução de capital, o


pagamento de dividendos, e o recebimento ou pagamento de empréstimos financeiros.

4) Saldo Final de Caixa e Equivalentes – expõe os dados comparativos com o trimestre passado
ao apontar o saldo inicial de caixa e o aumento ou a redução de caixa na consolidação dos fluxos.

Vale um adendo importante, como o fluxo de caixa demonstra entradas e saídas, pode
confundir muitas pessoas, pois por exemplo, a empresa pode tomar uma dívida de empréstimo do
banco (aumentando seu passivo), mas esse valor vai POSITIVO no DFC, pois é uma entrada de
dinheiro no caixa da empresa.

Então a empresa pode ser lucrativa (ter lucro líquido) mas no fluxo pode ser que tenha um
saldo negativo, veja um exemplo:

Se a empresa ‘’A’’ vendeu R$ 100.000,00 para seu cliente, na data da venda ela já faz uma nota
fiscal de venda, e isso vai na DRE como um lucro. Porém, se esse cliente combinou por exemplo
de pagar o valor após 180 dias, e o DFC for levantado antes desse período, no fluxo o saldo da
empresa ficará negativo, pois ela gastou para confeccionar e entregar a mercadoria (inclusive

42
impostos, etc...) mas o dinheiro ainda não entrou. Só que veja bem que esse é um DIREITO da
empresa, então ele vai entrar após o prazo de 180 dias para ela (conforme consta na DRE em
ativos);

A mesma ideia serve para os gastos. Tanto os ganhos quanto os gastos da empresa podem ser:

- A vista

- A prazo

- Parcelado

Na DRE o que consta é o regime de competência, ou seja, quando a nota fiscal foi emitida, já o
DFC representa quando o dinheiro realmente saiu ou entrou.

Exemplo de dois modos de apresentação de um fluxo de caixa: o Método Direto e o Método indireto,
a diferença primordial entre eles acontece no caixa líquido. O método indireto é mais barato e fácil
de ser feito, pois a gestão da empresa faz com base no DRE. Já o método direto é mais caro pois
precisa de mais trabalho para ser feito, ele coleta informações de entradas e saídas do caixa ou
equivalentes.

43
6.2 COMO ANALISAR UM DFC

A análise do fluxo de caixa deve ser feita em conjunto com a DRE. Porém, conforme citado,
o fluxo de caixa representa entradas e saídas de caixa efetivos, então vamos supor que uma
empresa tenha fechado uma venda bilionária com um alto lucro para um cliente. E este cliente vai
pagar após 60 dias o valor integral. A empresa entrega a mercadoria e nesse momento ela divulga
seus resultados. Logo, na DRE mostraria um alto lucro. Porém a DFC mostraria todo o investimento
da empresa feito para atender a demanda como um prejuízo. Porém devemos olhar o ‘’macro’’ e
ver que dali 60 dias a empresa iria realmente gerar o lucro. Então o DFC pode ser analisado com
uma premissa bem simples:

‘’Os resultados estão na DRE. O DFC deve apenas manter-se positivo e, de preferência crescente
para mostrar a saúde da empresa no curto prazo’’

Em outras palavras, em nosso exemplo anterior, o caixa que a empresa deveria ter no DFC
precisaria ser no mínimo o suficiente para ela ‘’aguentar a barra’’ até entrar efetivamente o lucro da
venda bilionária.

Então, após a empresa mostrar lucros da DRE. Devemos verificar a DFC da empresa, e
preferir empresas que tenham um DFC constante ao longo do tempo. No item ‘’6.4'’ falarei um
pouco melhor sobre entender o DFC. Mas você deve olhar o histórico do DFC e EVITAR empresas
que tenham o cada vez mais resultados negativos no final do DFC (empresas que estão se
refinanciando cada vez mais).

Como o DFC é mais focado no curto prazo e nós investimos no longo prazo, a análise não
vai muito além disso. Pois o fluxo de caixa é uma ‘’faca de dois gumes’’, que o mesmo fluxo de
caixa pode ser aos olhos de um investidor algo bom e aos olhos de outro algo ruim.

44
6.3 UMA VISÃO ‘’HUMANIZADA’’ DE ALGUNS COMPONENTES DO DFC

Devemos com muito carinho tentar interpretar o DFC, mais especificamente, devemos olhar
com essa visão para cada uma das composições do DFC:

- Fluxo de Caixa de Investimentos: a empresa deve sim tirar caixa para fazer investimento, pois
nós como investidores esperamos que a empresa vá em busca de melhorias e novas aquisições
de máquinas, equipamentos, etc... Então esse Fluxo deve ser olhado, pois deve haver saída de
caixa (número negativo, entre parênteses) para esses investimentos no negócio. (Essa visão é
pensando em sustentabilidade, afinal a empresa deve manter-se lucrativa no longo prazo).

Por exemplo, imagine uma empresa que não investe em equipamentos, manutenções, novas
máquinas, ela terá um fluxo de caixa altíssimo, mas isso não é sustentável. Nesse mesmo exemplo
podemos ver a importância de olhar a DRE, pois se a empresa fizesse isso, na DRE teria a
depreciação dessas máquinas, o que reduziria seu lucro líquido (então veja que o lucro líquido é
um indicador de sustentabilidade também)

Importante:

*Veja que empresas que são mais focadas em serviços, não precisam de um fluxo de caixa de
investimentos tão alto quanto empresas que precisam de máquinas, etc... Então entra aqui também
a sua interpretação humana. Uma empresa que produz alimentos, precisa de mais investimentos
em equipamentos do que uma empresa, por exemplo que trabalha apenas com serviços.

**Nessa parte do DFC está também o famoso CAPEX - (Capital Expenditure), ele é o reinvestimento
da empresa, que pode ser feito como máquinas, edifícios, equipamentos, veículos, entre outros.
Não necessariamente estará escrito ‘’CAPEX’’ no DFC, mas é comum as empresas usarem esse
termo na apresentação dos resultados delas, então é importante você saber o que é.

- Fluxo de Caixa de Financiamentos: É importante olhar para esse DFC pois ele nos mostra como
a empresa se financia. Lembrando que é fluxo de caixa, então se a empresa toma dinheiro
emprestado, isso entra no caixa (positivo) e se ela paga dívidas, isso sai do caixa (é negativo).

Indicadores que normalmente são bons nessa parte do DFC:

- Recompra de ações (ações em tesouraria, na compra o DFC é ‘’-’’, na venda o DFC é ‘’+’’)

- Compra de novas empresas

- Pagamento de dividendos

45
6.4 EXEMPLO PARA ENTENDIMENTO DE UM DFC

Vamos supor que você tenha uma empresa de sorvetes, até então seu Lucro e seu Fluxo de
caixa são positivos, logo os acionistas dessa empresa veem ela com bons olhos (colocam um preço
alto na bolsa) pois é uma empresa que tem caixa positivo e dá lucros.

Porém, um dia, você quer expandir sua empresa, para lá no futuro ela dobrar os lucros (o
que é algo bom) mas para isso você precisará fazer um financiamento para comprar uma nova
máquina.

Veja que nesse caso, a empresa continuará dando lucro. Porém o seu fluxo de caixa vai
DIMINUIR, pois você está gastando bastante com essa nova aquisição. E no mercado existem
pessoas que não olharão isso com bons olhos, veja:

- O investidor que olha apenas a DRE, vai ver que você continua dando lucro, embora pague os
juros do financiamento, seus lucros melhoraram, então ele vai comprar mais ações;

- O investidor que olha apenas o DFC, vai ver que o seu caixa diminuiu muito, então ele vai querer
vender suas ações;

- O investidor que faz a análise completa, entende através da DRE, DFC e do balanço o que você
fez e porque você fez. Então se ele concordar com sua estratégia, vai comprar mais ações, e se
não concordar, poderá vender.

E as cotações da sua sorveteria na bolsa, no curto prazo, serão comandadas pela maior
quantidade de cada tipo de investidor. Por isso, no curto prazo é impossível tentar prever o
mercado. Uma empresa boa pode cair no curto prazo se por exemplo, um investidor colocar milhões
de ações a venda. Então cotações de curto prazo, ocorrem pelo princípio da oferta e demanda, não
pelos fundamentos.

Você, como investidor de longo prazo, deve entender que o DFC mostra movimentos de
curto prazo, então muitas coisas que no DFC se mostram negativas, serão lucros no futuro para
você. Então como investidor de longo prazo, você deve focar na análise da DRE e do balanço. O
DFC é importante você verificar o Histórico de fluxo, para EVITAR empresas que estão tomando
dívidas e mais dívidas, cada vez com um fluxo de caixa pior.

Então, evitando uma empresa assim (como o exemplo mencionado), o restante não tem muito
segredo. Pois como no exemplo da sorveteria, uma empresa que apresenta um bom balanço e

46
uma DRE com lucro, pode sim ter saídas no DFC por períodos de tempo para investimentos no
negócio (o que é algo super saudável).

Importante:

*Quando a empresa tem um DFC com saída para investimentos no período, na ‘’apresentação de
resultados trimestrais’’ ela sempre irá comentar sobre o investimento. Então novamente
reafirmando, o DFC é um demonstrativo que pode confundir. Uma empresa que tem uma boa DRE
e um balanço sólido já é 99% aprovada na análise fundamentalista de longo prazo. Nós vamos ao
DFC para ‘’tira-teima’’ consultar seus históricos para complementar a análise, mas não podemos
deixar ele comandar isoladamente, nossas análises (visto que somos investidores de longo prazo)

Nesse momento, concluímos o segundo pilar de nossa tomada de decisão, resta ainda o
terceiro e último pilar, este por sua vez estudaremos no próximo capítulo:

47
7. INDICADORES DE MERCADO

Enfim, nosso último pilar da tomada de decisão.

É importante frisar que a partir de agora, estamos entrando na parte quantitativa da análise
de investimentos. Até agora, a maior parte do que vimos foi, predominantemente qualitativa, ou
seja, o retorno da empresa, suas margens, se ela é endividada ou não, se tem muito ou pouco
caixa embora sejam números, possuem vários modos de interpretar, talvez você por exemplo,
prefira uma empresa com um ROE maior, com mais dívidas. E eu prefira uma empresa com um
ROE menor, mas sem dívidas. Da mesma maneira talvez você prefira uma empresa que atue com
margens grandes, estando em um negócio inovador enquanto eu prefira uma empresa que está
em um negócio tradicional, que possua margens igual a média do seu setor.

Porém a partir de agora, entraremos em uma parte onde ‘’é o que é’’, ou seja, se uma
empresa está sendo vendida a duas vezes o valor de seu patrimônio, você pode acreditar que a
empresa vá conseguir gerar muito caixa e que compense você pagar mais que seu patrimônio nela,
porém a verdade intrínseca é que ela está sendo vendida mais cara que seu patrimônio, ponto.

Importante lembrar aqui, que esse livro não é um livro onde você vai conseguir ler uma vez
e logo em seguida aplicar tudo de maneira fácil. Esse livro precisa ser lido e relido, pois como o
conteúdo dele é um resumo de várias teorias e práticas do value investing, é normal que você
precise ler e reler para entender 100% do que é passado. Então desde já, não se preocupe, a
excelência vem com a repetição e a prática.

Os indicadores deste capítulo são de ‘‘mercado’’, ou seja, a maioria deles depende


diretamente do preço da ação na bolsa de valores. Então não são uma análise do negócio da
empresa em si, usando-os, podemos ter uma análise do negócio em conjunto com a viabilidade de
se tornar sócio da empresa.

Esses indicadores são importantes pelo seguinte motivo: Imagine que você tem uma
empresa que gera um lucro líquido de 100 mil reais ao mês, então você avalia que o preço de venda
da sua empresa seja em torno de 10 milhões de reais. Posteriormente você a vende para um
investidor por esse valor e ele passa a receber todo mês os 100 mil reais. Até aqui tudo bem, agora
imagine que esse investidor receba uma proposta de compra, mas ele queira vender essa empresa
por 50 milhões de reais apenas.

E aí, será que valeria a pena o investimento? Acredito que não. Então é exatamente por isso
que devemos nos atentar além do negócio em si (visto na análise fundamentalista anteriormente),

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também nos atentar no comportamento da empresa no mercado (na bolsa de valores), para evitar
de comprarmos empresas que tenham ótimos lucros mas por preços exagerados.

*Sempre que eu falar de ‘’preço’’ aqui estarei me referindo a preço da ação na bolsa de valores
(Cotação)

7.1 PREÇO / LUCRO

O primeiro indicador que vamos analisar é o Preço/Lucro (por ação), ou ‘’P/L’’ou ‘’P/LPA’’,
que nada mais é que o indicador que mostra quantos anos de lucro seriam necessários para que o
preço que pagamos na ação na bolsa de valores fosse ‘’devolvido’’.

P/L = Preço da ação na bolsa/Lucro por ação(anual)

Por exemplo, uma empresa com Preço de R$ 15,00 na bolsa de valores, que gera um lucro líquido
anual de R$ 5,00, quanto seria o P/L?

Simples: P/L = (15)/(5) = 3

Logo, seriam necessários 3 anos da empresa gerando lucros anuais iguais ao último ano para que
o preço da nossa compra fosse ‘’devolvido’’ em forma de lucro.

*Aqui cabe um disclaimer importante: o lucro descrito no P/L não são os dividendos, é o lucro da
empresa, se ela distribuirá esses lucros para o acionista ou não vai depender do seu ‘’payout’’ que
veremos depois.

**Empresas com P/L muito alto (Acima de 15) podem estar muito caras ou serem empresas que
estão em processo de crescimento, que o mercado (investidores) acredita que os lucros futuros
serão maiores que os atuais (mais sobre isso veremos no capítulo sobre valuation)

***Para achar o lucro por ação (LPA) podemos pegar o Lucro líquido ANUAL da empresa e dividir
pela quantidade de ações totais negociadas na bolsa. Porém em sites agregadores de indicadores
(como o www.fundamentus.com.br) tendem a trazer esse indicador já calculado. (Inclusive o P/L)

****O P/L também pode ser chamado de ‘’payback do investimento’’ que simboliza quantos anos a
empresa demoraria para devolver o capital ao acionista em lucros, se a mesma distribuísse 100%
dos lucros.

*****É importante sempre se atentar às DRE´S das empresas para ver de onde veio o lucro dela,
pois como já foi citado no início do livro, devemos cuidar com lucros ‘’não recorrentes’’

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7.2 PREÇO / VALOR PATRIMONIAL (POR AÇÃO)

Também chamado de P/VPA , ou P/VP, é o indicador que pega o preço da cotação da ação
e divide pelo valor patrimonial de cada ação (VPA)

Para encontrar o VPA é necessário dividir o Valor patrimonial da empresa pela quantidade
total de ações.

P/VP = Preço da ação / VPA (valor patrimonial por ação)

Exemplo:

Uma empresa de R$ 10,00 na bolsa possui um VPA de R$ 5,00. Qual seu P/VPA?

P/VPA = 10/5 = 2

Isso significa que quando você paga R$ 10,00 na ação você está pagando duas vezes o valor
patrimonial da ação.

*P/VPA muito alto (acima de 3) indica que o mercado está confiante nos lucros que a empresa
gerará.

**P/VPA abaixo de 1 simbolizam que o mercado está pessimista com a empresa (pode ser uma
oportunidade)

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7.3 EV/EBITDA (OU VF/LAJIDA)

Este indicador merece um pouco mais te atenção, pois ele é derivado de cálculos que
envolvem outros indicadores. Basicamente, o Enterprise Value (EV) sobre o EBITDA (já visto
anteriormente) que também pode ser descrito como o Valor da firma (VF) sobre o LAJIDA (já visto
anteriormente) nos mostra quantos lucros operacionais (EBITDA´S) seriam necessários para
comprar a empresa (inclusive com suas dívidas)

Aqui desde já vale lembrar que tanto o EV quanto o EBITDA variam a cada resultado da
empresa, então o ideal é não pegar um EBITDA que envolva resultados não recorrentes e pegar
dados com maior período de tempo, não apenas de períodos curtos (como menos de 1 ano).

Como a empresa (na visão otimista) tende a melhorar seu EBITDA ao longo do tempo, é
recomendado fazer esse cálculo a cada reavaliação da empresa que você vier a fazer.

Formulações:

EV = (Preço ação x Nº Ações) + (Dívida Líquida)

sendo que:

(Preço ação x Nº Ações) = Valor de mercado

(Dívida Líquida) = Dívida bruta - Caixa ou equivalentes

EV/EBITDA = Enterprise value / EBITDA (anual)

Exemplo:

Uma empresa possui 100 ações, cada uma negociada a R$ 20,00 na bolsa. Sabendo que o EBITDA
anual da empresa é de R$ 350 e a sua dívida líquida é de R$ 500,00. Qual o EV/EBITDA dessa
empresa?

EV = (Preço ação x Nº Ações) + (Dívida Líquida)

EV = (20 x 100) + (500)

EV = R$ 2.500

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EV/EBITDA = Enterprise value/EBITDA (anual)

EV/EBITDA = 2.500/350

EV/EBITDA = 7,17

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7.4 DIVIDEND YIELD

Eis um dos indicadores mais famosos da bolsa de valores e, provavelmente o indicador que
é mais visto pelos investidores, o dividend yield.

Para sabermos o dividend yield de uma ação basta pegarmos os dividendos e juros sobre
capital próprio (JCP) pagos pela ação nos últimos 12 meses e dividir esse valor pelo preço (cotação)
da ação na bolsa.

Dividend Yield = (Div + JCP)/ (Preço)

*Lembre-se de pegar os pagamentos dos últimos 12 meses para calcular

*O Dividend Yield é expresso em %, logo, após concluir a fórmula acima, multiplique o valor por
100 para ter o resultado em ‘’%’’

Por exemplo:

Se uma empresa pagou os seguintes aos acionistas:

Janeiro/2019 = Dividendos de R$ 1,00

Julho/2019 = JCP de R$ 2,00

Novembro/2019 = Dividendos de R$ 1,00

E seu preço na bolsa de valores é de R$ 40,00

A) qual seria seu dividend yield no mês de Dezembro/2019?

Div. Yield = (1,00 + 2,00 + 1,00) / 40,00 = 0,1 (*100) = 10%

B) Qual seria seu dividend yield no mês de Fevereiro/2020?

Div. Yield = (2,00 + 1,00) / 40,00 = 0,075 (*100) = 7,5%

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Perceba que no mês de fevereiro/2020 os dividendos de janeiro não entram na conta, visto que faz
mais de 12 meses que foram pagos. Então aqui vale a pena você sempre se atentar que o dividend
yield calculado automaticamente nos sites agregadores de informações, podem alterar
drasticamente de um mês para outro.

Por isso, o ideal é você puxar o dividend yield da empresa, de pelo menos últimos 3 anos
para uma análise mais completa e correta.

54
7.5 PAYOUT

Payout é um indicador infelizmente ignorado por muitos. Como vimos anteriormente, o


dividend yield mostra o quanto o acionista recebe de dinheiro por ter comprado as ações da
empresa. Mas a questão que fica é que, as empresas que ainda estão em crescimento, tendem a
não pagar muitos dividendos para o acionista, preferem reter lucros para reinvestir no negócio e
crescer cada vez mais, para lá no futuro, quando maduras e predominantes no Market share do
seu segmento, daí sim poderem distribuir mais dividendos.

Veja então que se você esperar a empresa distribuir muitos dividendos, ficará fácil de
perceber que é uma boa empresa, porém, a bolsa de valores tratará de fazer com que o preço dela
suba (e muitas vezes nem compense mais comprá-la), então a grande sacada dos grandes
investidores é comprar empresas ainda pequenas frente à suas concorrentes, que pagam poucos
dividendos, mas que crescerão muito no futuro.

Mas como saber se a empresa está reinvestindo seus lucros para crescer? Para isso usamos
o payout.

O payout é basicamente o quanto do lucro líquido a empresa distribui para o acionista. De


maneira que quanto maior o payout da empresa, menos ela está reinvestindo para crescer. E
quanto menor o payout, mais dinheiro ela está usando para fazer crescer seu negócio.

*Aqui cabe um comentário importante que empresas do ‘’novo mercado’’ na bolsa de valores,
precisam obrigatoriamente distribuir pelo menos 25% dos lucros em forma de dividendos aos
acionistas, então empresas que estão sendo lucrativas e também estão em crescimento, vão
distribuir dividendos também.

Não existe uma regra padrão para classificar empresa como de crescimento ou de
dividendos, mas podemos usar:

Payout até 35% = empresa de crescimento

Payout de 35% à 85% = empresa de crescimento lento + dividendos

Payout de 85% a 100% = empresa de dividendos

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Para calcular o payout usamos a fórmula:

Payout = (dividendos + JCP) / Lucro líquido

* Para o cálculo, se for calcular o payout do trimestre, use todas as variáveis do trimestre, se for
fazer o payout do ano, use todas as variáveis do ano e assim sucessivamente.

**Assim como o dividend yield, para termos o payout em ‘’%’’ precisamos multiplicar o resultado da
operação por ‘’100'’

***Todas as variáveis devem ser ou totalizadas (total de dividendos, JCP e lucro líquido da
empresa) ou referentes a uma ação (dividendos, JCP e Lucro líquido por ação) para calcular
corretamente. Não misture nessa fórmula o dividendo de uma ação sobre o lucro total da empresa.
Se for usar os dividendos por ação, o lucro também deve ser ‘’por ação’’.

Exemplo:

Qual o payout de uma empresa que pagou no último ano R$ 12,00 de dividendos por ação, R$ 4,00
de JCP por ação e teve um lucro líquido no período de R$ 32,00 por ação?

Payout = (12,00 + 4,00) / 32,00 = 0,5 (*100) = 50%

*Aqui vale um disclaimer sobre esse capítulo de indicadores, lembre-se que TODAS as variáveis
da fórmula que você for calcular, devem se referir ao mesmo período e proporção. Ou seja, você
NÃO pode na mesma fórmula usar uma variável que foi resultado trimestral e outra que foi do
resultado anual. Da mesma maneira você não pode dividir os dividendos de uma ação que foram
pagos pelo lucro líquido total da empresa. Matematicamente não dará certo. Embora seja
redundante da minha parte falar disso, no início, quando você começar a fazer seus cálculos, será
normal ocorrer erros do tipo. Mas fique tranquilo, com o tempo você irá desenvolvendo essa
habilidade com a prática e após alguns exercícios você mesmo de maneira lógica saberá quando
algo está incorreto.

**Referente ao payout, existem payout´s acima de 100%, isso ocorre quando a empresa, por
exemplo vende uma fábrica e resolve distribuir o valor da venda aos acionistas. Dessa maneira ela
vendeu um patrimônio e transformou em dividendos, mas isso não foi lucro. Então, embora não
seja comum, podem sim existir. Um outro exemplo é quando a empresa ganha algum processo
judicial e distribui em forma de dividendos, enfim, existem vários motivos para tal. Mas quando isso
ocorre é algo ‘’não recorrente’’, então deve-se ter bastante cuidado com isso.

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Meus parabéns se você chegou até aqui, acredite, a maioria não chega nessa parte, muitos
começaram a leitura, mas não chegaram até aqui e outros simplesmente pularam essa parte e
foram para o próximo capítulo (de Valuation), mas quero dizer para você que está lendo isso, que
continue assim.

Eu sei que esse livro em muitas ocasiões pode ter ficado confuso, mas o grande fato é que
você é como um carpinteiro, e agora está construindo sua caixa de ferramentas, após você ter sua
caixa de ferramentas (com todas essas fórmulas e teorias), você começará a trabalhar, seus
primeiros cálculos não sairão perfeitos (tanto que por isso temos exemplos ao longo do livro para
ajudar na sua jornada), mas com o tempo e com a sua prática (e releitura deste livro), tenho certeza
que você se tornará um ótimo investidor.

Bem, terminando a parte dos indicadores, temos os 3 pilares para tomada de decisão
estudados:

57
Com o que você aprendeu até aqui, você já pode selecionar e classificar empresas, pois
você já tem ferramentas para analisar seu balanço, suas margens, retorno, seu endividamento,
caixa...

E também pode analisar como ela está na bolsa de valores, através dos indicadores de
mercado, com isso você já é capaz de ter uma ideia de se vale a pena ou não investir na empresa.

Porém, ainda deve restar a grande dúvida em sua cabeça: Ok, mas agora é hora de comprar
essa ação? Ela não subiu demais? ou caiu de mais? Está barata ou cara?

E é para responder essas perguntas que no próximo capítulo tratamos de alguns métodos
de avaliação de preços de empresas, onde vamos descobrir o valor da empresa e comparar esse
valor com seu preço na bolsa de valores, para enfim, descobrir se vale ou não a pena comprar a
ação.

Antes de prosseguir gostaria de sugerir a você que só passe daqui para frente se caso você
captou e entendeu tudo o que passei para você até aqui. Pois no próximo capítulo focarei em falar
de ‘’preço vs valor’’ e não retornarei a conceitos de indicadores ou sobre fundamentos que já foram
vistos. Então, gostaria de dizer à você de que se ainda restou alguma dúvida, peço que volte e
releia a parte onde pode ter ficado confuso.

Além disso, se possível, gostaria de convidar você a entrar no site de ‘’R.I.’’ de uma empresa,
digitando no Google: ‘’RI EMPRESA X’’, como por exemplo:

‘’RI AMBEV SA’’ e baixar os últimos relatórios de resultados dela.

Após fazer isso, quero propor um exercício, você abrir os resultados dela e tentar encontrar
os itens estudados que estão nos 3 pilares da nossa tomada de decisão.

Após isso, gostaria que você entrasse em um site agregador como o


www.fundamentus.com.br e digitasse o código de sua ação, para encontrar os indicadores de
mercado dela. Após, gostaria que tirasse um tempo e voltasse no livro para rever itens que você
não entendeu, e agora, com esses dados em mãos, entender, se sua empresa paga dividendos, é
endividada, é de crescimento ou não e por aí vai.

Tenho certeza de que esse simples exercício será de grande valia para você. Após isso,
vamos ao Valuation!

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8. VALUATION - PREMISSAS

Basicamente, o valuation é o processo utilizado para encontrarmos o valor justo de uma


empresa da bolsa de valores, dessa maneira, com o valor justo, podemos verificar se no mercado
ela está sendo cotada mais barata ou mais cara do que esse valor para então tomar uma decisão
de compra (ou não);

Preço justo = Valor intrínseco da ação

Preço teto = Preço justo - % de segurança

Veja que o preço teto então, é um preço limite onde podemos comprar uma ação na bolsa,
por exemplo:

Imagine que você fez o valuation de uma empresa, e seu valor justo deu R$ 3,00 por ação. Porém,
é interessante você comprar abaixo desse valor, para ter uma segurança maior frente ao valor justo
da empresa, então, supondo que a % de segurança que você gostaria de ter nessa ação fosse
10%, você compraria essa ação por R$ 3,00 - R$ 0,30 (10%), logo seu preço teto seria R$ 2,70;

Então esse valor de preço teto você compararia com a cotação no mercado, se a cotação
fosse inferior ao preço teto, representa uma oportunidade de compra.

PREÇO TETO = (PREÇO JUSTO) - (% DE SEGURANÇA)

PREÇO TETO > COTAÇÃO = COMPRAR

PREÇO TETO < COTAÇÃO = NÃO COMPRAR

Entendidas as premissas iniciais, vamos então ao processo de valuation, que, sem dúvidas
é uma ‘’arte’’ que quem faz bem tem ótimos resultados, e que não o faz bem tende a criticá-lo ou
ignorá-lo.

Não entrarei na discussão de preço importa ou não importa nesse livro, porém, durante
décadas temos, do lado ‘’preço importa’’ pessoas que foram de ‘’0'’ a ‘’milhões’’ ou ‘’bilhões’’ e hoje
vivem a vida que é o sonho de muitos. E do outro lado (do ‘’preço não importa’’) temos pessoas
que geram planilhas e mais planilhas mostrando o que ‘’seria’’, mas que na prática estão
desesperados para vender seus produtos fomentados nessa teoria pois mal conseguem performar

59
melhor que o próprio índice da bolsa, então, sou uma pessoa que gosta de ‘’prática’’ e na ‘’prática’’
todos os que fizeram sucesso com suas rentabilidades na bolsa de valores (independente do país)
seguiram o value investing (o preço importa).

60
8.1 ANÁLISE RELATIVA E INTRÍNSECA

A análise relativa do valor de uma empresa é com base em seus pares, já a intrínseca é com
base em seus resultados futuros e o quanto de valor tenderá a gerar ao acionista.

Não existe certo ou errado aqui, mas o ideal é utilizarmos a análise de ambas para podermos
ter uma visão mais ampla.

*Conselho de Aswath Damodaran: ao avaliar um ativo, foque no simples, muita complexidade te


induzirá à erros, o valuation, por si só já exige um nível mínimo de complexidade, aumentar isso
com mais e mais variáveis além de não resultar em resultados melhores, trará apenas confusão. A
ciência de avaliar empresa vem com a prática, você irá errar, mas seu sucesso não virá de não
errar, mas ser o que terá menos erros.

61
8.2 VALOR PRESENTE E VALOR FUTURO

A principal premissa do valuation calculado pelo valor que a empresa gerará no tempo é o
valor presente do ativo. Por três motivos, o dinheiro ou caixa no futuro vale menos que o dinheiro
igual no presente:

a) As pessoas preferem consumir hoje a consumir no futuro.

b) A inflação diminui o poder de compra do dinheiro ao longo do tempo. Um real no futuro


comprará

menos que um real hoje.

c) O dinheiro ou caixa no futuro talvez não esteja disponível. A espera envolve riscos.

Logo, para trazermos o valor futuro do dinheiro para valor presente usamos uma taxa de
desconto que será explicada teoricamente em breve e, nos modelos de valuation estará incluída
nas formulações.

62
8.3 O FATOR RISCO

Além do desconto que usamos para trazer o valor futuro do dinheiro para o valor presente,
é necessário ainda, adicionarmos mais uma taxa de desconto para calcular o valor do ativo. Essa
taxa é a taxa para ‘’cobrir’’ nosso risco ao investir no ativo, visto que é renda variável, então ele não
possui garantias, logo, nós devemos acrescentar uma taxa para esse risco.

Obviamente que, para compensar o investimento, a taxa de desconto devido ao risco deve
ser superior a uma taxa de rendimento que conseguiríamos investindo o dinheiro em um título
público, por exemplo.

Portanto, a taxa de desconto deve ser:

Taxa de desconto = taxa livre de risco + ‘’prêmio de risco’’

Mas, o que seria esse ‘’prêmio de risco’’? - Esse prêmio de risco é o risco que o ativo em si
tem em comparação com seus pares no mercado de ações. Para saber essa variável, nós usamos
o ‘’beta’’, que nada mais é que um indicador da ação que mede a sua variação na bolsa em relação
ao próprio índice (conjunto de ações), mais para a frente estudaremos isso em fórmulas práticas,
mas basicamente, se quando a maioria das ações caem 10% o ativo tende a cair 5%, seu ‘’beta’’
tende a ser menor, logo ‘’menos arriscado’’ que a média. E se quando a média das ações cai 10%,
o ativo cai 15%, é um ativo com beta maior, logo, ‘’mais arriscado’’.

Veja então que, quanto mais arriscado o ativo for, menos vamos pagar por ele, visto que não
faz sentido pagar mais por um ativo mais arriscado.

Então temos até agora que:

Valor presente = Valor futuro - taxa desconto

Taxa desconto = taxa livre de risco + prêmio de risco (com base no beta)

Pode-se utilizar a taxa de desconto = taxa livre de risco e adicionar o ‘’prêmio de risco’’, ao
final, como uma margem de segurança para a compra (ou não) do ativo.

É importante salientar que até então estou introduzindo essa parte mais teórica antes de
irmos aos cálculos, para que facilite o entendimento posteriormente, porém, mais à frente teremos
uma metodologia de cálculo para cada tipo de valuation que estudaremos e que englobará tudo

63
isso de maneira resumida para fazer o valuation do ativo. Porém, embora isso esteja ‘’embutido’’
nas fórmulas que vamos estudar, é importante você entender essas premissas sobre o ‘’porque’’
seguimos as formulações que veremos a seguir.

Além disso, é importante frisar que existem inúmeras adaptações de cálculos e de modelos
matemáticos de avaliação de empresas, isso porque o ‘’valuation’’ não é uma ciência exata que
pode, através de experimentos empíricos ser construída. Logo, o roteiro que cada investidor segue
para calcular o valuation de uma empresa tende a ser diferente. Como o valuation por fluxo de
caixa descontado, que veremos posteriormente, é um modelo que traz à valores presentes os fluxos
futuros de caixa da empresa, porém, as taxas e premissas tendem a variar de autor para autor e
de investidor para investidor.

Porque estou dizendo isso? - Porque em sua jornada como investidor provavelmente você
já se deparou ou irá se deparar com adaptações de modelos, ou seja, mudança de uma ou mais
variáveis nas formulações, e quem irá decidir o que mais se adequa ao seu entendimento é você
mesmo, desde já é importante você nunca esquecer que no valuation, não existe certo ou errado,
são premissas, o ‘’certo’’ ou ‘’errado’’ só poderá ser visto no longo prazo, com a empresa crescendo
(e seu dinheiro também).

64
9. VALUATION - MÉTODO DA MÉDIA DOS INDICADORES SETORIAIS

O primeiro método de valuation que gostaria de te passar neste livro consiste em um


valuation relativo, onde observamos os indicadores de mercado de pares de ativos semelhantes ao
analisado.

Entende-se por ‘’pares’’ os ativos do mesmo setor (ou de maneira mais exata, do mesmo
subsetor ou subsetor) do que o que você está analisando.

A ideia é pegar indicadores como P/L , P/VP , EV/EBITDA das empresas do mesmo subsetor
e calcular uma média ponderada do setor com base em seu valor de mercado. Dessa maneira
podemos ver se a empresa analisada está barata ou cara em comparação com a média do setor.

*Aqui cabe lembrar que para bancos não podemos usar o indicador ‘’EV/EBITDA’’.

**Eventualmente, no cálculo de médias de indicadores do setor, o investidor tende a desprezar


pontos fora da curva, ou seja, empresas com indicadores negativos ou ‘’exagerados’’, podem ser
desprezados nos cálculos para que não gerem discrepância nos resultados.

Por exemplo, imagine que o setor de energia, tem 5 empresas, com os seguintes ‘’P/L’’
listados:

Empresa A: P/L = 15

Empresa B: P/L = 19

Empresa C: P/L = 14

Empresa D: P/L = 16

Empresa E: P/L = 79

Veja que a empresa ‘’E’’, possui um ‘’P/L’’ superior a 100% do segundo maior (empresa ‘’B’’) então
o ideal é desprezar a empresa ‘’E’’ para os cálculos serem mais coerentes.

A mesma analogia de ‘’desprezar’’ usamos quando o indicador tem valor negativo (inferior à zero),
por exemplo:

Empresa A : P/L = 15

Empresa B : P/L = 19

65
Empresa C : P/L = 14

Empresa D : P/L = 16

Empresa E : P/L = (2)

No caso acima, temos o (2), ou ‘’-2'’ ou ‘’2 negativo’’, que também deveria ser desprezado nos
cálculos para uma maior coerência.

Fórmula para cálculo de média ponderada (abreviações: Valor de mercado = VM):

Ou

66
Exemplo de valuation por média de indicadores setoriais:

Vamos supor que eu esteja querendo investir em uma empresa do subsetor de alimentos, a
empresa que estou analisando é a Empresa ‘’B’’. Para fazermos o valuation através de indicadores
do setor, vamos pegar seus concorrentes e listar conforme a tabela abaixo (veja que temos
indicadores por ação, ou seja, exceto o valor de mercado, todos os indicadores são por cada ação.
Se caso você não tiver esses dados por ação, basta pegar o total (disponível no relatório da
empresa ou fundamentus.com.br e DIVIDIR pelo Nº de ações (também disponível no mesmo site)
daí você terá cada indicador ‘’por ação’’:

Primeiro, vamos tirar a média ponderada do indicador ‘’P/L’’. Vamos ignorar as empresas
‘’E’’ e ‘’F’’ para o cálculo, pois no caso da empresa ‘’E’’ o P/L dela é mais do que o dobro da empresa
com segundo maior ‘’P/L’’ (empresa D). E a empresa ‘’F’’ possui P/L negativo.

Média P/L = 27,56

Então veja que a média do P/L do subsetor da empresa deu 27,56.

Agora então basta calcularmos o valor justo da empresa com base nessa média, para isso
basta multiplicarmos o P/L médio encontrado (27,56) pelo LPA (lucro por ação)

LPA x P/Lmédio = Valor

0,861 x 27,56 = R$ 23,73

Veja então que o valor justo da empresa com base no P/L médio do subsetor seria R$ 23,73.
Na cotação atual está R$ 24,79, isso significa que está acima do seu valor justo segundo o P/L
médio.

67
Porém, antes de terminar nosso valuation por esse método, devemos achar o valor da
empresa segundo os indicadores ‘’P/VP’’e também ‘’EV/EBITDA’’ (vale recordar novamente que
este último não deve ser utilizado para empresas do setor financeiro)

Média (P/VPA) - desprezando as empresas:

‘’E’’ - pois possui um indicador muito além dos demais (mais de 100% maior que o segundo maior
P/VP)

‘’F’’ - pois possui um indicador muito inferior dos demais (mais de 100% menor que o segundo
menor P/VP)

Média P/VPA = 2,19

Valor justo da ação com base na média P/VPA:

VPA x P/VPAmédio = Valor

VPA x VPAmédio= 9,68 x 2,19 = R$ 21,20

Então, segundo esse indicador médio, o valor justo da ação seria R$ 21,20

Para concluir fazemos o mesmo com o indicador EV/EBITDA, dessa vez a única empresa que será
deixada de fora da análise será a empresa ‘’F’’ que possui um EV/EBITDA negativo.

Média EV/EBITDA = 16,54

Para encontrar o valor justo segundo esse indicador, é um tanto quanto mais complexo do
que os dois anteriores, pois como nesse indicador não temos a variável ‘’preço’’ temos que chegar
à ele através de formulações matemáticas:

Primeiro pega-se o EV/EBITDA médio e multiplica-se pelo EBITDA da empresa:

EBITDA x EV/EBITDAmédio = (a)

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4,89 x 16,54= 80,88 (a)

Agora, devemos pegar a dívida Líquida por ação da empresa (se você não tiver esse
indicador basta fazer:

Dívida Líquida / Nº Ações = (Dív. Líq/ação) = (b)

No caso da nossa empresa é 13,52 a dív. líq/ação (b)

Então, subtraímos (a - b)

80,88 - 13,52 = R$ 67,36

Veja que calculando através do EV/EBITDA médio, chegamos que o preço justo da empresa
na bolsa por ação seria R$ 67,36.

Então ao final, pegamos os 3 resultados de ‘’preço justo’’:

Através do P/L = 23,73

Através do P/VP = 21,20

Através do EV/EBITDA = 67,36

Análise final

Para a análise final devemos tirar a média desses 3 resultados, excluindo resultados que
sejam superiores a 100% do que o segundo maior. No caso veja que o ‘’R$ 67,36'’ é superior em
mais de 100% o segundo maior valor de R$ 23,73. Logo, deixamos ele de lado.

*Você nesse ponto deve estar se perguntando o porquê isso ocorreu. Bem, isso ocorreu porque o
indicador EV/EBITDA da nossa empresa ‘’B’’ estava bem inferior aos demais, logo é comum um
resultado assim. Porém, usando a técnica de desprezar valores além do limite de 100%, somos
mais conservadores na análise, fazendo assim um valuation mais assertivo.

O mesmo teria acontecido se, por exemplo a empresa negociada tivesse um P/L muito
inferior aos demais, o valuation para ela seria mais elevado. Porém aqui entra a grande importância
de você fazer a análise fundamentalista que estudamos anteriormente, pois dessa maneira você
poderia verificar se os resultados são ou não recorrentes. No caso da tabela anterior é uma tabela

69
que foi gerada automaticamente apenas para exemplo. Mas você, ao analisar a sua empresa, deve
sempre ficar atento e não considerar resultados não recorrentes em seus cálculos.

**Os sites agregadores sempre vão considerar apenas os números, ou seja, é recomendado você
tirar os indicadores conforme aprendemos anteriormente direto dos relatórios da empresa,
desprezando não recorrentes, dessa maneira você terá um índice de assertividade muito superior
a maioria do mercado (Que apenas pega os dados prontos, no curto prazo confundindo recorrente
com não recorrente)

Então, ignorando o terceiro valor temos a média entre 23,73 e 21,20:

Média = (R$ 23,73 + R$ 21,20) /2 = R$ 22,46

Então em nosso exemplo da análise da empresa ‘’B’’, o valor Justo para pagar nela, segundo
o valuation relativo com base nos indicadores médios do setor seria de R$ 22,46.

Após achar o valor justo, o ideal é adicionar também uma margem de segurança (pessoal
de cada investidor) para formar o ‘’preço-teto’’ de compra do ativo. Eu particularmente, para
empresas boas gosto de usar pelo menos 10% de margem, então:

R$ 22,46 - (10% de 22,46) = 22,46 - 0,10x22,46 = R$ 20,21

Então, no caso de nosso exemplo o preço máximo que eu compraria a empresa ‘’B’’ na bolsa
seria R$ 20,21.

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EXEMPLO 2: SETOR BANCÁRIO

Agora farei um valuation mais simples para o setor bancário, é importante ressaltar
(novamente) que para o setor financeiro não podemos usar o indicador EV/EBITDA na análise.
Neste exemplo quero analisar o banco ‘’C’’. Então vamos fazer um exemplo de valuation usando o
P/VP e P/L médio do setor bancário do exemplo da tabela abaixo:

Primeiro, vamos tirar a média ponderada do indicador ‘’P/L’’, vamos ignorar o banco ‘’B’’ para o
cálculo, pois no caso desse banco, o P/L dela é mais do que o dobro do banco com segundo maior
‘’P/L’’ (banco A).

Média P/L = 11,84

Então veja que a média do P/L do subsetor banco do exemplo resultou em 11,84.

Agora então basta calcularmos o valor justo da empresa com base nessa média, para isso basta
multiplicarmos o P/L médio encontrado (11,84) pelo LPA (lucro por ação)

LPA (banco C) x P/Lmédio = Valor (Banco C)

1,846 x 11,84 = R$ 21,85

Veja então que o valor justo da empresa com base no P/L médio do subsetor seria R$ 21,85. Na
cotação atual está R$ 21,84. isso significa que está abaixo do seu valor justo segundo o P/L médio.

Após, vamos analisar agora a média do indicador ‘’P/VPA’’. Para este, nenhum indicador sai
de 100% de variação perante o seu segundo maior. Então, vamos usar todos os bancos na análise:

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Média P/VPA = 2,31

Valor da ação com base na média P/VPA = 2,31

P/VPAmédio x VPA (ação) = Valor Justo

2,31 x 9,84 = R$ 22,73

Então, segundo esse indicador médio, o valor justo da ação seria R$ 22,73

Para finalizar

Fazemos a média entre os preços justos encontrados (R$ 21,85 + R$ 22,73) / 2 = R$ 22,29
(Valor Justo);

Após achar o valor justo, o ideal é adicionar também uma margem de segurança (pessoal de cada
investidor) para formar o ‘’preço-teto’’ de compra do ativo.

Eu particularmente, para empresas boas gosto de usar pelo menos 10% de margem, então:

R$ 22,29- (10% de 22,29) = 22,29 - 0,10x22,29 = R$ 20,06

Então, no caso de nosso exemplo o preço máximo que eu compraria o banco ‘’C’’ na bolsa
seria R$ 20,06

Agora, após esses dois exemplos você deve ter entendido a ideia de como funciona esse
tipo de valuation.

É importante ressaltar que como falei anteriormente, o valuation é pessoal de cada um, ou
seja, você pode sim, fazer um cálculo de média ponderada de outros indicadores que achar
interessante. Afinal de contas é o seu dinheiro que está sendo investido, então vale e muito a pena
você adaptar os modelos com suas particularidades.

O próximo modelo de valuation que vamos estudar, é com base em indicadores históricos
da empresa.

72
10. VALUATION - MÉTODO DE INDICADORES HISTÓRICOS

O segundo método de valuation que gostaria de te passar neste livro consiste em um


valuation relativo, onde observamos os indicadores de mercado de um determinado ativo no tempo.

Esse modelo é de suma importância. Isso porque provavelmente você viu alguma vez
empresas da bolsa de valores sempre subindo sua cotação e, ao fazer um valuation por médias do
setor você possa sempre achar a empresa ‘’cara’’, e espere ela ficar ‘’barata’’ para comprar. Porém,
existem empresas que talvez nunca fiquem ‘’baratas’’ na bolsa de valores, se comparadas com seu
setor.

Isso ocorre principalmente em empresas que tem vantagem competitiva e já detém a maior
parte do Market share do seu mercado.

*É importante lembrar aqui da análise fundamentalista, pois mesmo comprando uma empresa
‘’barata’’ por esse método que vou lhe passar agora, pode ser que ela não te gere valor suficiente
devido ao seu custo de oportunidade. Um exemplo forte disso é uma empresa que poderá ficar
‘’barata’’ por esse valuation, mas, mesmo distribuindo 100% de payout, o dividend yield fica abaixo
da taxa CDI. Então, se caso você pulou a parte de análise fundamentalista ou esqueceu algo,
aconselho retornar lá e dar uma lida novamente, pois o valuation sem a análise fundamentalista é
ineficaz.

Para este método pegamos os indicadores ‘’P/L’’ e ‘’P/VPA’’ históricos da empresa (anuais
ou trimestrais) e fazemos uma média simples, chegando a um indicador médio da empresa (anual
ou trimestral).Dessa maneira, comparamos com o indicador atual, quando o indicador atual for
INFERIOR ao indicador médio a empresa está ‘’barata’’, e quando for SUPERIOR, está ‘’cara’’.
Lembrando que essa classificação é do ponto de vista desse valuation, mas isso não substitui a
análise fundamentalista.

**Ao final do cálculo também faremos o ‘’preço justo’’ e ‘’preço teto’’, como feito no modelo de
valuation anterior, porém é importante lembrar que empresas são organismos vivos que vivem em
constante alteração. Então valuation´s relativos requerem uma análise pelo menos uma vez por
ano ( ideal seria a cada trimestre e/ou fato relevante). Pois imagine que você calcule um preço
justo com base na média do setor (modelo visto anteriormente) ou com base no indicador histórico,
mas tanto um quanto o outro, variam diariamente. Porque são indicadores que a cada variação da
cotação variam junto. Obviamente que não devemos ficar fazendo valuation todo dia ou toda
semana, mas todo valuation (principalmente os relativos) precisam ser reavaliados, pelo menos a
cada ano (assim como os fundamentos da empresa).

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O cálculo :

1) Pega-se o P/L dos últimos anos da empresa (pelo menos 3) e tiramos a média anual dele;

2) Multiplicamos o resultado pelo LPA anual atual da empresa;

3) Pega-se o P/VPA dos últimos anos da empresa (pelo menos 3) e tiramos a média anual dele;

4) Multiplicamos o resultado pelo VPA atual da empresa;

5) Calculamos a média dos resultados para obter o preço justo;

6) Adiciona-se uma % de segurança e temos o preço teto;

*Para ter o P/L e P/VPA histórico você pode fazer manualmente, pegando os relatórios da empresa
ou usar um site agregador de informações. Para esses indicadores históricos eu gosto de usar o
site: ‘’plataforma.penserico.com’’

Exemplo 1:

Empresa A: Dados históricos de 5 anos (nunca use dados de menos de 3 anos, o recomendável é
10 anos):

LPA atual (anual) = 0,70

VPA atual = 4,18

Média P/L = (26,67 + 24,04 + 50,23 + 20,50 + 22,59) / 5

Média P/L = 28,80

Média P/L x LPA atual anual = Preço justo ----- (segundo P/L histórico)

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28,80 x 0,70 = R$ 20,16 (Preço justo segundo P/L histórico)

Média P/VPA = (4,38 + 4,60 + 7,74 + 5,52 + 5,58) / 5

Média P/VPA = 5,56

Média P/VPA x VPA atual anual = Preço justo ----- (segundo P/VPA histórico)

5,56 x 4,18 = R$ 23,24

Finalização (média entre resultados)

20,16 + 23,24 / 2 = R$ 21,70

Então, segundo este método o valor justo da empresa seria R$ 21,70

Para formar preço teto, podemos adicionar uma margem de 10%

21,70 - 10% = R$ 19,53 (Preço teto)

Este, por sua vez comparamos com a cotação, para ver se o preço da ação está barato ou não.

*Novamente aqui, embora já redundante, gostaria de lembrar que você pode adaptar os modelos
de valuation de acordo com suas métricas, apenas estou te passando aqui o que é mais
amplamente utilizado por analistas e os modelos que trouxeram e trazem mais resultados aos
investidores.

**Tanto o valuation quanto a análise fundamentalista, o mais simples tende a funcionar melhor. Ou
seja, eu poderia trazer integrais aqui para calcularmos uma média gráfica, mas o resultado final
seria muito pouco comparado ao tempo que gastaríamos para fazer tal cálculo. Existe um ponto
onde perdemos a eficiência da análise quando passamos a ‘’complicar’’ demais e entrar em muitos
detalhes. Acredite, de primeira vista o que foi te passado até aqui no livro pode parecer até
complicado. Mas são todos cálculos que aprendemos no ensino fundamental e com a prática
(relendo o livro umas duas ou três vezes e fazendo os exemplos dele) você criará uma habilidade
que fará isso virar ‘’simples’’.

75
11. VALUATION - MÉTODO DE BAZIN

O terceiro método de valuation que vamos ver agora é o que eu menos gosto e utilizo, é o
método de Bazin, de Décio Bazin (do seu livro: Faça fortuna com ações, antes que seja tarde).

Não gosto desse método porque ele exclui a hipótese de ‘’crescimento’’ da empresa. Então,
esse é um método que considero válido apenas para empresas que possuam Payout SUPERIOR
a 85%. (Pagadoras de dividendos).

Segundo Bazin:

*Taxa livre de risco utiliza-se o ‘’CDI’’ em %

Exemplo: Empresa que pagou no último ano R$ 1,12 de dividendos, considerando que o CDI atual
é de 6%. Qual o preço justo?

Preço Justo = R$ 18,66

Adotando 10% de margem de segurança: 18,66 - 10% = R$ 16,80 (Preço teto)

*Uma observação importante é que no Brasil a taxa de juros tende a sofrer variações bruscas no
longo prazo. Então se você tiver interesse, ao invés de usar o CDI, pode usar a taxa de juros de
longo prazo. (uma média dos últimos 10 anos por exemplo) para ter acesso a ela pode ir neste link:

http://receita.economia.gov.br/orientacao/tributaria/pagamentos-e-parcelamentos/taxa-de-juros-
de-longo-prazo-tjlp

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**Não vou me aprofundar muito na teoria do método porque como te disse, o foco desse são os
dividendos. Eu particularmente prefiro investir em empresas de crescimento ou crescimento e
dividendos (Ambas quase sempre estariam ‘’caras’’ segundo este método)

***Importante ressaltar que as formulações aqui expressas são simplificações e não substituem a
leitura do livro do autor, este que por sua vez explica mais sobre a fórmula e pode vir a usar
adaptações e dados diferentes dos que eu utilizo.

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12. VALUATION - MÉTODO DE GRAHAM

O quarto método de valuation que quero te passar é o de Benjamim Graham, autor do livro
‘’O investidor Inteligente’’ e professor de Warren Buffet.

Não vou entrar nos detalhes do método, porque é amplamente explicado em seu livro, mas
vou trazer a fórmula simplificada e pronta aqui, para irmos direto para a prática.

Cálculo de Graham:

LPA = Lucro por ação no ano (R$)

VPA = Valor patrimonial por ação (R$)

Exemplo: Calcular o preço justo de uma ação com:

LPA = R$ 1,51 anual

VPA = R$ 10,12

Valor Justo = R$ 18,54

Adotando 10% de margem de segurança (18,54 - 10%)

Preço teto = R$ 16,68

*Diferente do método de Bazin, eu gosto muito de seguir o método de Graham, pois mesmo depois
de anos de formação da teoria dele, os cálculos podem ser tranquilamente usados até hoje.

**Existem atualmente casas de research que utilizam esse método junto ao Valuation de fluxo de
caixa (que veremos ao final deste livro) para recomendações aos clientes. E por incrível que pareça,
há décadas os melhores resultados vieram das ações selecionadas pelo método de Graham. Então
veja o quanto é válido o que Buffet sempre diz ‘’O mais simples dá mais resultado’’. Então, embora

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acredite que você deve saber todos os métodos aqui mostrados, defendo muito você sempre usar
o método de Graham. Não para tomar uma decisão com base unicamente nele, mas com certeza
vale a pena você fazer o cálculo de Graham para usar de horizonte nas demais analises.

***Importante ressaltar que as formulações aqui expressas são simplificações e não substituem a
leitura do livro do autor, este que por sua vez explica mais sobre a fórmula e pode vir a usar
adaptações e dados diferentes dos que eu utilizo.

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13. MÉTODO DE GREENBLATT

Joel Greenblatt, autor do livro ‘’The Little Book That Still Beats the Market’’, desenvolveu a
‘’fórmula mágica’’ com base nos indicadores ROE e P/L para seleção de ativos.

Este capítulo não chamei de ‘’valuation’’ porque através desse método não chegamos a um
preço, mas sim em um ranking de ativos de investimentos...

Premissas do método: Em seu livro ele utiliza mais indicadores, porém aqui há uma adaptação,
utilizando o mesmo método, porém, com indicadores que podem também ser utilizados para
análises do setor financeiro. Além disso, segundo o autor, esse método funciona apenas para o
investidor que fica com as ações a longo prazo, pois no curto e médio prazo as oscilações podem
ser inferiores ao índice.

Vale lembrar que como falo desde o início do livro, você pode adaptar o método segundo
seus conceitos. Como por exemplo, você, ao invés de usar os indicadores ROE e P/L, pode usar
EV/EBITDA e ROIC.

Como fazer:

1) Coloque as empresas a serem analisadas em uma planilha, na primeira coluna você colocará o
código dela, na segunda coluna o seu ROE e na terceira coluna o seu P/L.(Não use empresas de
baixa liquidez, como por exemplo menos de 100.000 negociações nos últimos 2 meses)

2) Em um editor de planilhas (como o Microsoft Excel), faça mais duas colunas, uma delas com o
ranking do ROE e outra com o ranking do P/L.

3) Exclua empresas com ROE e/ou P/L zerados ou negativos

4) Agora, você ordena a planilha do menor ROE para o maior. E enumera na coluna (Ranking
ROE) as empresas (empresa com menor ROE = 1, empresa com segundo menor ROE =2, e assim,
sucessivamente)

5) Depois, você ordenará a planilha conforme seu maior P/L, e enumerará a coluna de ranking P/L.
Porém aqui, diferente do passo ‘’4'’, você colocará o número ‘’1'’ para a empresa com maior P/L, o
número ‘’2'’ para a empresa com segundo maior P/L e assim, sucessivamente.

6) Feito isso, você fará uma nova coluna, nesta, fará a SOMA da coluna de ‘’ranking ROE’’ +
‘’ranking P/L’’

7) Ordene essa nova coluna, do maior valor para o menor

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8) Pronto, as empresas com maior ‘’nota’’ nessa última coluna são as melhores opções de compra
segundo o método.

Exemplo:

1) Vamos analisar 10 empresas com os indicadores ROE e P/L. Para isso, pegamos uma planilha
que contenha as empresas com seus respectivos indicadores. Lembre-se de excluir empresas com
indicadores negativos ou iguais a zero. Além também de não incluir empresas com volume de
negociação inferior a 100.000 negociações nos últimos 2 meses:

2) Criamos duas colunas novas (ranking P/L e ranking ROE)

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3) Ordenamos a coluna P/L do MAIOR para o Menor e enumeramos a coluna ranking P/L de 1 até
10, de maneira que a empresa com MAIOR P/L fique com 1 e a empresa com MENOR P/L fique
com 10. (Vale lembrar que vai até o número 10 porque estamos analisando 10 ativos. Se você
estiver analisando 40, vai até o número 40)

4) Ordenamos a coluna ROE do MENOR para o maior e enumeramos a coluna ranking ROE de 1
até 10, de maneira que a empresa com MENOR ROE fique com 1 e a empresa com MAIOR ROE
fique com 10.

5) Criamos uma nova coluna, com a SOMA das duas colunas de ranking e fazemos a soma dos
rankings.

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6) Ordenamos a coluna ‘’SOMA’’ da maior para a menor.

7) Pronto, se estivermos, por exemplo buscando 3 empresas, as 3 primeiras colocadas segundo


esse método seriam:

1º Lugar = Empresa A

2º Lugar = Empresa B

3º Lugar = Empresa C

*Não é recomendável incluir na análise empresas com baixíssima liquidez.

**Importante ressaltar que as formulações aqui expressas são simplificações e não substituem a
leitura do livro do autor, este que por sua vez explica mais sobre a fórmula e pode vir a usar
adaptações e dados diferentes dos que eu utilizo.

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***Essa análise assim como as outras dos últimos capítulos não substituem a análise
fundamentalista. Vale lembrar por exemplo, que empresas com grandes dívidas podem ter ROE´S
maiores que as demais. Então jamais compre uma ação sem antes fazer a análise fundamentalista
da mesma.

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14. VALUATION - MODELO DE GORDON

Um modelo muito famoso de valuation é o modelo de avaliação de Gordon (autores: Myron


J. Gordon e Eli Shapiro):

Usualmente utiliza-se:

Div: Dividendos pagos nos últimos 12 meses

K: taxa livre de risco (em decimal)

G: taxa de crescimento (em decimal)

Só que veja que esse modelo acaba sub-precificando empresas de crescimento e, além
disso, impõe um crescimento perpétuo dos dividendos à uma taxa fixa. Logo, eu particularmente
prefiro adaptar esse modelo e usar:

Div: LPA anual (média dos últimos 5 anos, de preferência)

K: Taxa de juros de longo prazo (média dos últimos 5 anos, de preferência)

G: PIB médio últimos 5 anos - usualmente uso 1% à 2%.

Exemplo (usando modelo original):

Uma empresa pagou R$ 4,12 de dividendos (por ação) nos últimos 12 meses, considerando o CDI
= 6%a.a. (taxa livre de risco), e uma taxa de crescimento da empresa na perpetuidade de 1% a.a.
Qual o valor justo da ação ?

Valor justo = Div/(K-G)

Valor justo = 4,12/(0,06-0,01)

Valor justo = R$ 82,40

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Exemplo (usando minha adaptação):

Uma empresa teve LPA médio anual nos últimos 5 anos de R$ 2,12. Considerando a taxa de juros
de longo prazo média do mesmo período = 6,5% a.a., e um crescimento de 1%. Qual o valor justo?

Valor justo = LPA/(K-G)

Valor justo = 2,12/(0,065-0,01)

Valor justo = R$ 38,54

Preço teto = 38,54 - 10% = R$ 34,68

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15. VALUATION - FLUXO DE CAIXA DESCONTADO

Enfim, chegamos ao modelo de valuation mais utilizado pelos analistas e casas de research,
o valuation pelo método do fluxo de caixa descontado.

Antes de prosseguir, sugiro à você retornar ao primeiro capítulo onde começamos a falar de
valuation, e reler as premissas e conceitos sobre o que é um valor presente, taxa de desconto,
etc... Pois esses conhecimentos serão utilizados aqui.

Basicamente esse modelo de valuation estima os fluxos de caixa futuros da empresa (lucros)
e traz esses valores futuros para valores presentes, de maneira a tentar descobrir o quanto uma
empresa vale atualmente com base no lucro que ela poderá dar ao seu investidor no longo prazo.

Desde já quero te alertar que este é um modelo mais avançado de valuation, então vou
primeiro expor as fórmulas para você e depois vamos encontrar cada item das fórmulas. Ao final,
faremos também um exemplo para melhor entendimento.

Vale lembrar que a empresa não crescerá para sempre, então nosso valuation por fluxo de
caixa considera os fluxos da empresa em crescimento + fluxo perpetuo (com crescimento limitado
ao crescimento da economia) trazidos à valores presentes.

Fórmulas que vamos utilizar:

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Passadas as fórmulas, talvez o indicador que seja mais difícil de ser calculado, pelo menos para
quem está começando é o ‘’beta’’, que indica para nós a variação do ativo em relação a maior parte
das ações do índice, medindo o risco sistemático. Então, antes de passarmos adiante para a etapa
de encontrar os fluxos de caixa livres do futuro e perpetuidade e antes do exemplo (Que acredito
que é a melhor forma de explicar algo é colocando através de exemplo). Vou explicar como calcula-
se o beta:

1) Pegar a VARIAÇÃO (%) histórica das cotações da empresa a ser analisada (diária)

2) Pegar a VARIAÇÃO (%) histórica das cotações do índice Ibovespa (diária)

*Para 1 e 2 é indicado um período mínimo de 1 ano

3) Colocar no Excel essas duas colunas (1 e 2), na primeira coluna (x) as VARIAÇÕES (%) do ativo
e na segunda coluna (y) as VARIAÇÕES (%) do Ibovespa

4) Aplicar a fórmula do Beta:

Beta = Covariância (x,y)/ Variância (x)

Significados:

Beta > 1 : Empresa varia menos que o Ibovespa

Beta < 1 : Empresa varia mais que o Ibovespa

*Para pegar as variações históricas (%) no Excel você pode usar o site: https://br.advfn.com, para
criar a conta é gratuito (pelo menos até então). Daí na busca de ativos, você digita o código da sua
empresa, depois, clica na aba ‘’histórico’’.

Aqui você pode descer a tela e ir em ‘’resumo histórico’’ e pegar esses dados para por na coluna
(menos precisão). Ou pode ir em ‘’veja mais preços históricos’, escolher um período de 1 ano (ou
mais) e puxar manualmente (copiando e colando) os históricos para o Excel. (Embora pareça ser
bem trabalhoso, cada ‘’copiar e colar’’ é de 3 meses, então você fará um total de 4 ‘’copiar e colar’’,
vamos combinar que não vai demorar mais do que 1 minuto). Após fazer o do seu ativo, faça o
mesmo buscando o código ‘’IBOV’’.

Lembre de no Excel, deixar apenas na coluna as VARIAÇÕES do dia.

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Exemplo:

Aqui não caberá eu colocar as tabelas de 1 ano de variações (%), então colocarei apenas de alguns
dias para você entender como funciona. Mas após o exemplo deixarei uma tabela de ‘’betas’’
prontos para você (sim, eu fiz isso), mas lembre que, este livro eu estou escrevendo em 2020.
Logo, ao passar dos anos os betas se alterarão, e se você é daqueles que como eu, não gosta de
pegar dados ‘’prontos’’ quando o assunto é o seu dinheiro. É importante aprender a calcular.

Então vamos lá, primeiro, fazemos os passos 1 e 2:

Depois, aplicamos a fórmula do Beta, que na linguagem do Excel fica:

= COVAR(Coluna B, Coluna C) / VAR (Coluna C)

Coluna B = variações do ativo

Coluna C = variações do IBOV

*Como estamos usando a variação em ‘’%’’, devemos, ao final dividir o valor por 100 para termos
o beta em decimais. Veja como ficou em nosso exemplo:

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Após feito o cálculo, obtemos o resultado

Para passar de ‘’%’’ para decimais, dividimos por 100: 80,22/100 = 0,802

Logo, Beta do nosso exemplo = 0,802

Como é menor que 1,00 = o ativo do exemplo varia MENOS que o Ibovespa (menor risco
sistêmico)

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Ok, então agora você sabe fazer o cálculo do Beta. Mas como te falei, fiz esses cálculos em 2020,
então podem ter alterações nos Betas (embora para as empresas que mantém seus fundamentos
isso seja raro acontecer significativamente). Sei também que provavelmente algumas empresas
ficaram de fora dessa tabela, mesmo assim acredito que será de grande ajuda para você:

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Aprendido então como calcula-se o Beta, podemos calcular o Ke e o WACC:

Exemplo:

Calcular o ‘’Ke’’ de uma empresa cujo beta seja 1,1:

Beta = 1,1

Rf = taxa CDI = 6,5% (0,065 em decimal)

Rm = 6,5% + (50% dos 6,5%) = 6,5% + 3,25% = 9,75% (0,0975 em decimal)

Ke = Rf + Beta x ( Rm - Rf)

Ke = 0,065 + 1,1 x (0,0975 - 0,065)

Ke = 0,065 + 1,1 x 0,0325

Ke = 0,065 + 0,03575

Ke = 0,10075 ou (x100) = 10,075%

Esse então seria o indicador do custo de capital próprio, após encontrar o ‘’Ke’’, vamos ao ‘’WACC
finito’’:

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Acredito que apenas olhando a coluna direita você já seja capaz de encontrar aonde estão
os dados da sua empresa e também encontrá-los. Mas talvez um item que você não encontre seja
o ‘’Kd’’, e talvez você não queira enviar e-mail para o R.I. perguntando, então vou te ensinar como
encontrá-lo, através de um cálculo que nos leva à um valor aproximado (mas lembre que, para uma
maior exatidão aconselho pegar esse dado direto da empresa, dos relatórios ou perguntando pelo
e-mail do R.i.):

Kd = Despesas com juros/Dívida total

(necessário pegar o item ‘’despesas com juros’’ anual ou dos últimos 12 meses, direto no balanço
da empresa, ou através do site fundamentus.com.br, indo em balanços em Excel. E dividir pela
dívida total)

*Se caso a informação de despesas com juros for referente à um semestre ou trimestre, você pode,
através de uma simples regra de três, encontrar a despesa com juros anual. (Outro nome para
despesas com juros pode ser ‘’despesas financeiras’’, varia de balanço para balanço)

Para o imposto de renda (T), você pode procurar a palavra (usando Ctrl+F) ‘’alíquota’’, no balanço,
dessa maneira você conseguirá encontrar a alíquota de impostos e contribuições mais facilmente.

Exemplo: Adotando o indicador do último exemplo, Ke = 0,10075 ou (x100) = 10,075%, vamos


calcular o WACC finito da empresa:

Primeiramente vamos ao balanço da empresa e buscamos o Patrimônio líquido total, Dívida bruta
(também chamada de dívida total), alíquota de imposto de renda e despesas com juros.

Após a pesquisa no balanço (usando Ctrl + F e digitando os termos), encontramos:

Dívida total = R$ 4.090.160.000,00

Patrimônio Líquido = R$ 67.021.000.000,00

Alíquota de impostos = 30% (0,3)

Despesas financeiras com juros (trimestral) = R$ 393.800.000,00

Lembrando que nosso Ke = 0,10075 ou (x100) = 10,075%

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Primeiro, a despesa com juros é trimestral, para termos ela em ‘’anual’’, devemos multiplicar por
quatro, visto que em um ano existem 4 trimestres (regra de três) = R$ 393.800.000,00 x 4 = R$
1.575.200.000,00

Despesas financeiras com juros (anual) = R$1.575.200.000,00

Vamos aos cálculos:

1) Encontramos o Kd:

Kd = Despesas com juros/Dívida total

Kd = 1.575.200.000/ 4.090.160.000 = 0,385

2) Encontramos o WACC:

WACC = 0,10075 x 0,9424 + 0,385 x 0,0575 x 0,7

WACC finito= 0,1104 (ou 11,04%)

Lembrando que esse é o WACC para o período de crescimento da empresa (finito), depois
calcularemos um WACC para o período da perpetuidade também. (Usando a mesma fórmula)

Aprendido então como calcula-se o WACC, a próxima etapa é calcular os fluxos de caixa
futuros e trazer à valores presentes, mas para isso, é preciso entender como estimamos o Fluxo
de Caixa Livre da empresa (seus lucros futuros).

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Estimando Fluxo de caixa da empresa durante seu crescimento

Bem, basicamente, pegamos o quanto a empresa retém de lucro (100% - % payout) e


multiplicamos pelo retorno que esse dinheiro tem investido nela (ROE), dessa maneira:

% Crescimento dos lucros = [(%Retenção Lucros) x (%ROE)] /100

Sendo:

(%Retenção Lucros) = 100% - (%Payout)

*Lembre que assim como outros indicadores, o ideal é analisar o Payout histórico, pois uma
empresa com efeitos não recorrentes pode ter Payout acima de 100%. Então novamente lembre
de NÃO considerar efeitos não recorrentes (conforme análise fundamentalista)

**Importante dizer aqui também, para quem ficou intrigado em saber o porquê divido por ‘’100'’ a
primeira fórmula: Deve-se ao fato de que eu estou usando um produto de porcentagens na retenção
e no ROE, a unidade então resultante seria ‘’%²’’, porém, como queremos o valor do crescimento
dos lucros em ‘’%’’, faço a divisão para obter em ‘’%’’. Com o mesmo raciocínio, poderíamos
formular de diversas maneiras a mesma fórmula (como por exemplo colocar a retenção e o ROE
em decimais e depois multiplicar por 100), mas resolvi simplificar conforme a fórmula acima (os
resultados dão os mesmos, são apenas manipulações matemáticas).

Exemplo:

Calcule a % de crescimento dos lucros para uma empresa que distribui 25% de Payout e ROE =
18%:

(%Retenção Lucros) =100% - (%Payout)

(%Retenção Lucros) =100% - (25%)

(%Retenção Lucros) = 75%

% Crescimento dos lucros = [(%Retenção Lucros) x (%ROE)] /100

% Crescimento dos lucros = (%Retenção Lucros) x (ROE) /100

%Crescimento dos lucros = (75% x 18%) /100

% Crescimento dos lucros = 13,5% (0,135)

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Isso significa que a empresa em questão, anualmente teria um crescimento de lucros de
13,5%, se mantivesse seu ROE e Retenção de lucros durante a fase de crescimento (Antes de
iniciar a perpetuidade). Para dar uma demonstração visual disso, vou fazer uma linha do tempo
abaixo, que representa os lucros de uma empresa que no ano atual (ano 0) lucrou R$ 100,00.

Peço que você olhe o gráfico e logo após uma primeira visualização dele, leia o que está
abaixo dele, pois explicarei como construí o mesmo:

No gráfico, basicamente vemos que a empresa no ano atual (ano 0) teve um lucro de R$
100,00, e cresceu o seu lucro até o ano 3 (crescendo todo ano 13,5%, conforme foi calculado pelo
seu ROE e retenção). A partir do ano 3, ela não cresce mais da mesma maneira, porque ela já se
tornou uma empresa grande e começou a ter um payout alto (>85%). Logo, ela cresceu somente
junto com o crescimento da economia (considerei PIB médio = 2% a.a.).

Então veja como fazemos os cálculos para saber os lucros futuros da empresa e, abaixo, os
cálculos do exemplo que fiz:

*Aqui adotamos Fluxo de Caixa Livre = Lucro Líquido por convenção, mas não confunda o fluxo de
caixa livre com aquele Fluxo de caixa que pegamos no DFC, o que chamamos aqui de Fluxo de
caixa livre é o nosso Lucro Líquido.

Ano 0 = FCL0 (Fluxo de caixa livre 0 = Lucro Líquido 0)

Ano 1 = FCL1 = FCL0 + (FCL0 x Crescimento dos lucros)

Ano 2 = FCL2 = FCL1 + (FCL1 x Crescimento dos lucros)

Ano 3 = FCL3 = FCL2 + (FCL2 x Crescimento dos lucros)

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E a conta continua, até o ano em que a empresa para de reter lucros e passa a distribuir
mais de 85% dos seus lucros em dividendos. Daí quando isso ocorre, essa parte do cálculo acaba
e iniciamos o cálculo da perpetuidade (crescimento dela próximo ao da economia do país)

Considerações MUITO importantes para esse cálculo:

a) Se o ROE anual médio da empresa for o maior do seu setor, é importante considerar se essa,
tem uma vantagem competitiva sólida (análise fundamentalista vista), pois, caso contrário seu ROE
tenderá a cair;

b) O ROE, quanto mais tempo a empresa tem de mercado tende a diminuir, isso porque a empresa
tende a sofrer com entrada de novos concorrentes (principalmente se seu ROE for acima da média),
logo, é importante além de pegar o ROE médio dos últimos anos (3 pelo menos) para os cálculos,
também deve-se (como já dito) retirar efeitos não recorrentes (ou desprezando ROE´s que saem
muito da média).

c)Lembre que empresas endividadas possuem um ROE maior do que as não tão endividadas,
então a comparação entre uma endividada vs não endividada deve ser sempre detalhada e o
investidor deve estar ciente dessa diferença e seus riscos.

d) O índice de payout da empresa também tende a aumentar com o tempo, então se o investidor
quiser, pode sim calcular, para cada ano um novo índice de retenção de lucros. Porém vale lembrar
que quando o payout aumenta, isso entra para o bolso do investidor como dividendos, e o investidor
por sua vez pode reinvestir na empresa ou até mesmo reinvestir à taxas de crescimento melhores
(em uma empresa com mais potencial, visto que a empresa que pagou dividendos já cresceu um
‘’bom tanto’’) então, embora fazer, para cada ano um índice de payout maior e uma retenção de
lucros menor seja mais ‘’profissional’’ e exata, como esse dinheiro entrará para o investir com
conhecimento que irá reinvestir o mesmo, na sua carteira de investimentos o retorno será bom de
ambos os jeitos (empresa pagando dividendos e você reinvestindo ou ela retendo lucro e
crescendo).

e) Talvez a principal dúvida dessa parte : Como estimar até que ano a empresa vai crescer?, ou
seja até que ano fazemos o cálculo acima antes de iniciar a perpetuidade? A resposta exata para
essa pergunta não existe, mas a maioria dos materiais que eu li durante meus anos de estudo (que
ainda continuam), não é muito clara em relação à isso. Porém, vou te passar dois insights aqui que
podem nortear muito bem essa estimativa.

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e.1) Em breve, onde falarei sobre ‘’perpetuidade’’, explicarei para você o porquê tentar estimar
valores muito longes do ano atual tende a ser cada vez mais ineficaz. Isso porque, imagine o quanto
valerá R$ 10,00 no ano que vem? Provavelmente algo como R$ 10,50 ou R$ 11,00... Agora imagine
estimar o quanto R$ 10,00 valerá daqui 5 anos? e daqui 10 anos? veja que quanto mais longe o
período que tentamos trazer à valor presente, menos eficiência temos na hora de calcular, isso
porque num horizonte de 10, 15, 20 anos, podem ocorrer ‘’N’’ eventos que podem alterar
absurdamente o valor dos nossos R$ 10,00 (Ainda mais em um país como o nosso, com um
histórico desse tipo de acontecimento).

Então, embora estimar 10 anos, ou até 15 anos seja algo que pareça mais ‘’exato’’, vejo que
a grande maioria dos analistas que tem acertado em seus valuation´s tende a não passar de 5 anos
de crescimento projetado para a empresa. Ou seja, projetam a empresa crescendo, no máximo
durante 5 anos. Mas veja que isso não é algo muito próximo da realidade, principalmente de
empresas pequenas (Small Caps) que tendem a ficar em crescimento por mais de 5 anos. Porém,
veja que em nossos cálculos, sempre estimamos métricas positivas para a empresa, mas isso
também é algo fora da realidade, pois uma empresa nunca crescerá anualmente à uma mesma
taxa e poderá passar sim por anos negativos (onde não crescerá ou até mesmo terá prejuízos).
Então acredito que quando estimamos 5 anos de crescimento médio (nada surreal, mas usando
médias como estou te passando aqui), estamos na verdade estimando 10 a 15 anos da empresa,
só que desconsiderando os altos e baixos dela.

Para concluir, veja novamente a importância da análise fundamentalista, pois você fará o
valuation estimando 5 anos de crescimento antes da empresa entrar em regime de perpetuidade.
Mas pode ser (provavelmente terão) anos que a empresa não vai crescer como esperado por você.
Provavelmente ela passará por trimestres de prejuízos também. E o que fazer daí? Como falei, isso
é normal, nesses casos você utiliza da análise fundamentalista para entender se o problema da
empresa foi devido à um fator não controlável por ela (alta nos juros, por exemplo) ou perda de
fundamentos. Na maioria das vezes você verá que as concorrentes dela também estão passando
por isso, então não precisará alterar seu valuation, pois como falei, embora você calcule 5 anos de
crescimento constante da empresa, ela provavelmente terá altos e baixos, o que faz você (sem
querer), acabar calculando o crescimento dela de 10 a 15 anos.

(Importante falar aqui que a bolsa até hoje passou quase 80% do tempo subindo e 20% do tempo
caindo, então, é importante você saber que embora esse tema assuste muita gente, no longo prazo
as empresas com bons fundamentos, compradas a preços abaixo de um valuation realista, como
o que fazemos aqui, tenderá a trazer resultados muito melhores do que a média para o investidor).

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Resumo do insight: Recomendo estimar no máximo 5 anos de crescimento para a empresa
antes da perpetuidade, e lembrar que empresa terá altos e baixos, então estimando 5 anos nos
cálculos, estamos na verdade estimando o resultado dela nos próximos 10 anos. Mas empresas
com bons fundamentos, compradas a preços abaixo de valuation´s conservadores, tendem (e
muito) a superar as médias. Lembre que para essa estimativa de crescimento, usamos crescimento
anual = taxa de retenção x ROE (que estudamos anteriormente como fazer)

e.2) Outro insight, que não considero tão relevante quanto o primeiro, é estimar que a empresa se
tornará uma das maiores do setor (visão otimista), para isso, pegamos o lucro líquido médio das 3
maiores empresas do setor dela. Subtraímos desse valor, o lucro líquido da empresa analisada e
projetamos o crescimento dela usando a taxa de retenção x ROE (como já vimos), até que o lucro
líquido dela se aproxime à essa média (das maiores empresas do setor), chegando nesse valor,
daí iniciamos a perpetuidade.

**Obviamente que a retenção tende a não ser constante durante o crescimento da empresa, isso
porque podem ter anos que ela terá um Payout maior, ou um ROE menor. Porém, quando pegamos
a média histórica, nós estamos pisando em ‘’terreno mais firme’’ em nossas análises, pois ela
poderá variar para cima e para baixo anualmente, mas no longo prazo, se a empresa manter bons
fundamentos e continuar lucrativa (o que é resultado dos bons fundamentos), ela tenderá a ter
resultados melhores do que os das médias que você pegou no passado dela, então, você está com
uma margem de segurança maior ainda. Sem falar que tentar estimar exatamente o que ocorrerá
com a empresa nos próximos anos é impossível, então trabalhamos com estimativas médias. Como
falei, quando estimamos 5 anos de crescimento para ela em nossos cálculos, devemos saber que
ela tem um horizonte maior para ter esse crescimento, pois podem ocorrer eventos que prejudiquem
ela nesses 5 anos.

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Cálculo do fluxo de caixa descontado (período de crescimento ou finito)

Após então estimar os fluxos de caixa da empresa durante seu período de crescimento,
usamos a seguinte fórmula:

o ‘’t’’ da fórmula é o ano em questão da empresa.

No caso de uma empresa onde calculamos o crescimento de 5 anos, temos:

Exemplo:

Uma empresa possui WACC = 0,1104, quanto é o Fluxo de caixa finito dela, em um período de
crescimento de 3 anos, sabendo que seu Lucro líquido do último ano foi de R$ 2.604.400.000,00 e
seu crescimento dos lucros é de 15% (0,15)?

1) Estimamos os fluxos futuros:

Ano 0 = FCL0 (Fluxo de caixa livre 0 = Lucro Líquido 0)

FCL0 = R$ 2.604.400.000,00

Ano 1 = FCL1 = FCL0 + (FCL0 x Crescimento dos lucros)

FCL1 = 2.604.400.000,00 + (2.604.400.000,00 x 0,15)

FCL1 = R$ 2.995.060.000,00

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Ano 2 = FCL2 = FCL1 + (FCL1 x Crescimento dos lucros)

FCL2 = 2.995.060.000,00 + (2.995.060.000,00 x 0,15)

FCL2 = R$ 3.444.319.000,00

Ano 3 = FCL3 = FCL2 + (FCL2 x Crescimento dos lucros)

FCL3 = 3.444.319.000,00 +( 3.444.319.000,00 x 0,15)

FCL3 = R$ 3.960.966.850,00

2) Trazemos à valor presente:

FCF = R$ 10.988.249.174,20 (Fluxo de caixa finito, referente ao período de crescimento)

Agora salvamos esse valor e vamos para a perpetuidade...

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Sobre a perpetuidade:

Perpetuidade de lucros da empresa é o período onde a empresa já está grande em seu setor
e o seu crescimento fica estagnado ou desacelera. Por isso, quando a empresa para de crescer na
taxa normal que ela vinha crescendo e passa a distribuir >85% dos lucros em forma de dividendos,
temos que considerar que essa empresa não vá crescer como uma outra, que está retendo dinheiro
e reinvestindo no negócio. Logo, quando isso ocorre, chamamos de início da perpetuidade, e a
partir desse ano (Que inicia a perpetuidade), projetamos o crescimento da empresa limitado à
economia do país (PIB). No Brasil atualmente, embora o PIB suba e desça (como na maioria dos
países subdesenvolvidos) gosto de considerar uma média das últimas décadas entre 1% à 2% por
ano.

As primeiras vezes que ensinei sobre o termo perpetuidade para estudantes, muitos
entenderam o seguinte:

‘’se estou contando com a perpetuidade, trazendo valores da perpetuidade para o presente,
significa que preciso manter a empresa para sempre para ter meu dinheiro de volta?’’

E essa pergunta é comum, mas não funciona assim, você não precisaria fazer isso, se a sua
empresa crescer, ou seja, manter seus bons fundamentos, você terá o valor investido nela em
forma de lucros muito mais rápido do que você imagina. Para te explicar o porquê quando tentamos
estimar muitos anos à frente nos cálculos e explicar também o porquê o valor de anos muito
distantes do atual não importam muito, vou colocar aqui uma tabela, nela vou colocar R$ 1.000,00
a um fator de desconto de 12% a.a. de desconto. Veja:

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Perceba na coluna ‘’perpetuidade descontada’’ que nossos R$ 1.000,00 daqui 7 anos , trazidos
para o presente valem aproximadamente a metade do seu valor. Daqui 24 anos, R$ 1.000,00
trazidos à valor presente valem em torno de R$ 100,00. No ano 50 vale apenas 1% do capital atual.
E por volta do ano 131 ele tende a zerar (embora o zero seja uma assíntota nesse cálculo, daqui a
séculos o valor de R$ 1.000,00 trazidos a valores atuais valerão R$ 0,00000000001) - então aqui
está a principal explicação de o porquê não devemos ‘’esquentar a cabeça’’ em projetar futuros
muito distantes e o porquê você não precisa ficar com a empresa por 150 anos para lucrar com ela.

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Cálculo da perpetuidade:

Como aprendido, a empresa crescerá até um determinado ponto, daí ela entrará na
perpetuidade, que é quando ela distribui > 85% do lucro em dividendos e passa a crescer menos
ou ficar estagnada, neste ponto, admitimos que ela cresce próximo à economia do país.

Para calcular o quanto essa ‘’perpetuidade’’ vale em nosso valuation, trazemos o valor da
perpetuidade, (que como vimos no parágrafo anterior não é uma perpetuidade verdadeira, visto
que à uma taxa de 12%a.a. em 24 anos temos 10% do valor de hoje), para o presente. E para isso
usamos a seguinte fórmula:

Perceba que nessa fórmula usamos o WACC novamente. Anteriormente calculamos o


WACC finito, considerando as estimativas do período de crescimento da empresa. O resultado
encontrado anteriormente do WACC finito será usado aqui. Porém, temos agora o WACC perpétuo.
O WACC perpétuo é calculado usando a mesma fórmula (WACC), porém, com estimativas
pensando no período após o crescimento.

Exemplo:

Prosseguindo com a nossa empresa do exemplo de fluxo de caixa finito, vamos usar como g = 2%
o crescimento médio da economia para o cálculo. Lembre que nossa empresa parou de crescer a
partir do ano 3, e o lucro dela no ano 3 foi de R$ 3.960.966.850,00

FCLu = FCL3 = R$ 3.960.966.850

WACCfinito = 0,1104 (calculado anteriormente)

g = 2% (0,02)

y = último ano antes de entrar na perpetuidade. Em nosso exemplo foi o ano 3.

Primeiro, precisamos calcular o WACC perpétuo, usando a fórmula do WACC. E como você viu
anteriormente, antes de calcularmos o WACC, precisamos ter o ‘’Ke’’ e o ‘’Kd’’. E aqui nessa parte
o nosso cenário fica ainda mais ‘’nebuloso’’, pois tentar estipular dados para o regime de

110
perpetuidade (além dos anos de crescimento) é extremamente difícil e inexato. Então, você, nesse
momento tem duas opções de cálculo, a primeira é utilizar o cálculo que já vimos anteriormente,
através das fórmulas de Ke, Kd e WACC, alterando as estimativas, estimando os dados pensando
na perpetuidade da empresa, seguindo esse roteiro:

Ou você pode ser mais simples (e acredito que muito mais eficaz, visto que prever décadas de
estimativas é impossível) adotar a seguinte formulação:

Nessa formulação, atuamos com os dados mais ‘’exatos’’ que utilizemos para calcular o WACC
finito e damos um prêmio adicional de 10% (0,1) sobre a taxa. Dessa maneira atuamos com dados
mais reais e que provavelmente nos darão um valuation mais próximo da realidade do que tentar
estimar décadas de dados.

Então, calculando o WACC perpetuo temos:

Prosseguindo, basta substituirmos os dados encontrados na fórmula da perpetuidade:

Fluxo caixa Perpétuo =R$ 29.102.149.351,21 (fluxo caixa da perpetuidade trazido à


valor presente)

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Valor Justo

Para finalizar, calculamos o valor justo da empresa pela fórmula:

Em nosso exemplo feito de fluxo caixa finito, obtivemos = R$ 10.988.249.174,20

e Fluxo caixa perpétuo obtivemos = R$ 29.102.149.351,21

Logo:

Valor Justo = 10.988.249.174,20 + 29.102.149.351,21

Valor Justo = R$ 40.090.398.525,41 (Valor justo da empresa)

E para saber o valor justo de cada ação dela, buscamos no site fundamentus.com ou no R.I. da
empresa pelo seu número de ações, e depois dividimos o valor dela pelo número total de ações.
Dessa maneira temos o valor justo de cada ação da empresa.

Em nosso exemplo, supondo que a empresa tivesse 15.733.600.000 de ações (Ordinárias +


preferenciais) temos:

Valor Justo por ação = 40.090.398.525,41 / 15.733.600.000

Valor Justo por ação = R$ 2,55

Então, em nosso exemplo, o valor justo da ação seria R$ 2,55

Podemos criar um preço teto com ele, usando 10% de margem de segurança:

Preço justo (R$ 2,55) - Margem de segurança (10%) = R$ 2,29

Preço teto = R$ 2,29

Daí com esse valor, comparamos com a cotação do mercado, para saber se a empresa está ‘’cara’’
ou ‘’barata’’

*É comum, o investidor sempre ficar ligado nos ‘’preços alvo’’ de analistas e até mesmo através do
valuation por fluxo de caixa descontado chegar em valores bem distantes tanto dos cálculos dos
analistas como das cotações na bolsa. Porém aqui vale uma grande observação, em ambos os

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casos, se, por exemplo um analista indicou uma empresa com preço alvo de R$ 12,00. Mas seu
valuation por fluxo de caixa descontado tenha dado R$ 3,00 para ela, considere as seguintes
hipóteses:

a) O analista usou outro método de valuation : Daí neste caso você pode utilizar outro que foi
ensinado aqui, para ver de onde ele pode ter partido sua análise.

b) Os indicadores e estimativas usados para o fluxo de caixa dele e crescimento da empresa foram
bem diferentes dos seus: Nesse caso, você pode tentar adaptar o valuation por desconto de fluxo
de caixa (por exemplo aumentando o crescimento, ou o PIB, ou diminuindo o prêmio) para tentar
entender o porquê o analista chegou no valor. Mas esse tipo de cálculo, buscando alterar as
variáveis para chegar no mesmo preço do analista, deve ser feito com cautela, não para tentar
explicar o valor que o analista recomendou comprar a ação. Mas para tentar entender se o valor é
compatível ou não. Como assim? - Veja, imagine que no mesmo caso, o preço alvo do analista foi
R$ 12,00 e o seu valuation fechou em R$ 3,00. Você tenta adaptar o seu valuation, e verifica que
para chegar nos R$ 12,00 o analista usou um crescimento da empresa por 20 anos à uma taxa
bem acima da taxa média dela. Então veja que não faria sentido você seguir a recomendação, por
‘’N’’ motivos que lhe mostrei ao longo deste livro.

O importante é que agora você tem sua caixa de ferramentas completa para fazer suas
análises, então provavelmente se aplicar o que foi te passado aqui, poderá ter resultados muito
acima de muitos analistas por aí. (Não estou exagerando), não vou entrar em detalhes, mas essa
afirmação de que o investidor individual com um bom conhecimento e mindset, tende a superar (e
muito) os analistas profissionais na bolsa de valores, isso porque os analistas precisam analisar
muitas vezes mais de 5 empresas em um mesmo dia, o que torna inviável eles se saírem bem. E
além disso, gestores de fundo por exemplo, quando há oportunidades de compra de ativos a bons
preços, muitas vezes não pode comprá-los por restrições (como participações majoritárias,
questões de liquidez, etc...) Se você quiser entender melhor o porque um investidor como você,
individual. Se tiver o mindset e conhecimento sobre como analisar empresas tende a superar os
analistas e gestores de fundo, recomendo muito que leia o livro ‘’O jeito Peter Lynch de investir’’,
pois lá é explicado muito bem isso.

113
16.CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:

1) Sobre indicadores e taxas

Assim como as taxas de PIB, CDI, entre outras que usamos nos cálculos, existem
estimativas futuras dessas taxas, para encontrá-las você pode buscar sites de projeções. Um
exemplo que sempre gosto de olhar as projeções é o banco Itaú, que faz projeções de diversos
indicadores para o futuro. (Site: www. itau.com.br), ou busco no Google ‘’Itaú projeções’’ que, entre
os primeiros links já aparece o pdf com as projeções dos indicadores.

Indicadores interessantes para analisar :

- Juros (COPOM)

- Inflação (IPCA, IGP-M)

- PIB (IBGE)

- Desemprego ( PNAD)

- Índice de confiança do consumidor

- Índice de confiança do empresário

- Ciclo de crédito (inadimplência)

- Taxa de câmbio (Dólar)

Lembre que empresas diferentes reagem de maneiras diferentes à variações de indicadores.


Por exemplo, uma queda na Selic:

- A bolsa sobe (investidores saem da renda fixa)

- Varejo melhora (há maior consumo)

- Setor imobiliário melhora (juros de financiamento caem)

- Empresas endividadas melhoram (pois as taxas de suas dívidas são menores)

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2) Sobre projeções

A bolsa de valores é regida por projeções, ou seja, as cotações sempre serão guiadas por
projeções que a maioria dos analistas fazem sobre a empresa, e essas projeções, como você viu
ao longo desse livro, partem de indicadores e estimativas futuras, que podem ou não serem
confirmadas. É por isso, que quando o CDI sobe, a bolsa tende a cair, pois o preço justo das ações
também diminui.

Eu, particularmente não sou muito fã de ficar de olho nas projeções do mercado, porque
acredito que no longo prazo, empresas com bons fundamentos e compradas a bons preços sempre
trarão resultados ótimos.

Mas se caso você tiver interesse em ver sobre essas projeções e até mesmo comparar com
as suas estimativas, pode procurar em sites como:

- Sites de bancos;

- Sites de corretoras;

- Sites como a Infomoney, Uol, Bloomberg, etc...

E uma coisa, que caso você tenha, não deve mais ter é a vergonha de pedir informação.
Assim que você compra sua primeira ação na bolsa, é importante entender que agora você é um
investidor, ou seja, você já gerou pagamentos para a corretora ou para a bolsa de valores, e gera
a cada ordem enviada. Além disso agora você é sócio de uma empresa. Então sempre que não
conseguir achar uma informação em um site, como nos sites de bancos, corretoras, de relação com
investidores da empresa, e por aí vai... Sempre entre em contato, não hesite, você é um investidor
agora e investidores vão atrás da informação.

3) Sobre diversificação

Você investidor deve diversificar seus investimentos para evitar o que chamamos de risco
não sistêmico ao investir, diversificar tanto em empresas como em setores. Mas deve cuidar, pois
quando você passa de 25 a 30 ativos em sua carteira, a redução de risco não sistêmico passa a
ser mínima, e acaba por ser inviável de você acompanhar essa quantidade grande de ativos. Logo,
você terá uma queda em sua rentabilidade.

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Risco não sistêmico = é o risco que pode ser reduzido com diversificação, como por
exemplo risco setoriais e da empresa em si.

Risco sistêmico = é o risco não diversificável, que é da economia como um todo. Este por
sua vez é o que chamamos de ‘’recessões’’ ou ‘’crises’’, que sempre existem, de maneira cíclica, e
não podem ser evitados.

116
16. CHECKLIST DE ANÁLISE

Para concluir, vou te passar aqui embaixo um checklist para você fazer suas análises. De
maneira que tenha sempre a mão um ‘’resumo’’ do que você viu no livro. Vale lembrar que se, em
algum ponto você não lembrar como prossegue no checklist, basta você voltar e rever no livro do
que se trata.

Este checklist é simplificado, ao longo do livro você pode perceber que é possível analisar
mais itens da empresa. Porém, acredito que com esse checklist você já pode ter ótimos resultados
e sem dúvidas economizará um grande tempo (sou seguidor do princípio 80/20 de Pareto).

Sempre lembrando que a avaliação de empresas é qualitativa e quantitativa, sendo que na


parte qualitativa o que é bom para mim pode não ser bom para você (por exemplo empresas
endividadas), e na parte quantitativa, embora sejam números, inclui muitas estimativas, que são de
acordo com o seu pensamento e as suas projeções como investidor, tanto para a empresa como
para a economia como um todo.

1) Identificar itens qualitativos da empresa

- Análise SWOT

- 5 Forças de Porter

2) Analisar seu balanço e enquadrar ele em um dos 3 tipos

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3) Análise fundamentalista, com base nos 3 pilares de decisão:

4) Analise do valor vs preço da empresa - pelos processos de valuation

Processos de valuation:

- Médias setoriais

- Indicadores históricos

- Graham

- Valuation pelo método do Fluxo de caixa descontado

- Média dos valuations, eliminando algum que seja fora da ‘’curva’’ *

* Eliminar valores fora da curva, ou seja, por exemplo, se os resultados foram:

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- R$ 12,00

- R$ 14,00

- R$ 13,40

- R$ 18,65

- R$ 39,00

Temos que o R$ 39,00 é superior à 100% o segundo maior (R$ 18,65), logo, podemos desprezá-
lo. Então a média seria entre os outros valores apenas.

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17.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Meus parabéns se você chegou até aqui!

Agora sim, sua caixa de ferramentas está pronta e à frente de mais de 99% das pessoas
que investem na bolsa.

Agora você tem plena capacidade de analisar empresas na bolsa de valores e fazer os
melhores investimentos.

Então para concluir, quero primeiramente te desejar muita saúde, sucesso e quero que
você saiba que eu estou verdadeiramente torcendo por você para que você alcance a sua
liberdade financeira o mais rápido possível.

Por fim, pelo menos uma vez por ano, eu abro um evento on-line e 100% Gratuito com aulas
de investimentos, este evento não é aberto para todos, apenas para quem está na lista de espera,
então se você quiser fazer parte da lista de espera é só se cadastrar neste link :
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E se caso você ainda não me segue nas redes sociais, ficam aqui embaixo meus convites para o
Youtube e Telegram:

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Abraços!

Por: Alessandro B. de Lima

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