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Fagundes Varela
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VARELA, Fagundes. Ester. Jornal do Recife, Recife, v. 3, n. 151, p. 363-364, 16 nov. 1861.
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Os números entre colchetes referem-se aos números das páginas da referência.
prodigalizava sequer uma carícia a essa pobre criança doente, cujo
nascimento tinha ocasionado a morte de sua mãe. Máximo vivia sempre aos
joelhos paternos; era aplaudido em todos os seus atos, mesmo naqueles em
que merecia severa repreensão; Antônio porém era desterrado para o
interior da habitação e só tinha por quinhão neste mundo a moléstia que
minava-lhe a existência e os duros tratamentos de seu pai. Assim cresciam
esses dois meninos.
Uma vez, um irmão do barão, vendo-se completamente arruinado,
resolveu ir à África tentar fortuna; deixou pois aos cuidados deste uma
filhinha de oito anos chamada Ester, bela como os anjos. A criança ligou-se
logo de uma profunda amizade a Antônio e, mais tarde, quando fogem os
louros sonhos da meninice para dar lugar aos castelos brilhantes da
adolescência, essa amizade transformou-se em uma paixão ardente e sem
termos.
Contudo, não falaram eles de seu amor; não o fazem os passarinhos, as
flores e as borboletas, nem as estrelas que cintilam no firmamento, nem os
vagalumes que lampejam na floresta, mas eles sabiam que se amavam.
Havia uma voz íntima que vinha murmurar poemas de felicidade ao
ouvido de Ester, quando ela acariciava esse moço pálido e formoso que,
engolfado em cismas de ventura, repousava a cabeça em seu regaço como o
Romeu de Shakespeare.
Os prados, as brenhas, as savanas eram de contínuo o teatro dessas
cenas sublimes de amores primeiros, que banhadas de tão santa poesia as
descrevera outrora, à sombra das bananeiras, o singelo autor de Virgínia.
Máximo era indiferente a tudo isso, seus dias ele os esperdiçava
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Nublada e triste apontou a aurora no horizonte, uma brisa úmida e fria
sacudia as folhagens lá fora e vinha bater nos rostos dos convivas
empalidecidos pela insônia.
— É já dia — gritaram todos —, acorde-se a noiva, acorde-se a noiva.
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