Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INSTITUTO DE ARTES
CAMPINAS
2018
JULIANA MELLEIRO RHEINBOLDT
Este exemplar corresponde à versão final da tese defendida pela aluna Juliana Melleiro
Rheinboldt, e orientada pelo Prof. Dr. Angelo José Fernandes
CAMPINAS
2018
BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE DOUTORADO
MEMBROS:
1. PROF. DR. ANGELO JOSÉ FERNANDES
2. PROFA. DRA. ADRIANA GIAROLA KAYAMA
3. PROFA. DRA. ADRIANA DO NASCIMENTO ARAÚJO MENDES
4. PROFA. DRA. MARIA JOSÉ CHEVITARESE DE SOUZA LIMA
5. PROFA. DRA. JOSANI KEUNECKE PIMENTA
Palavras-chave: Preparo vocal; Coro infantil; Canto coral; Voz infantil; Técnica vocal.
ABSTRACT
This work aims to contextualize the children’s choir and to share proposals of vocal
techniques for this type of choir. In the first chapter we present some considerations
about children's choirs, their vocal preparation, the profile of their conductor and the
characteristics of the child's voice. In the second chapter, we contextualize the elements
worked on the vocal preparation of children's choirs (posture, breathing, resonance,
diction, vocal range and choral tone) and present some pedagogical proposals, through
revised exercises of vocal and choral pedagogy materials and exercises of our own. Our
exercises were created based on the vocal needs of our children's choirs and our
experience as conductor, vocal coach and singer. The work is relevant due to the lack of
publications in Portuguese on the theme and aims to contribute to the production of new
materials and researches, as well as the improvement of the vocal quality of Brazilian
children's choirs. We base this research on bibliography in the areas of Choir, Singing,
Conducting and Music Education, having used as main references Carnassale (1995),
Fernandes (2009), Sesc (1997), Leck (2009) and Phillips (1992).
Keywords: Vocal techniques; Children's Choir; Choral singing; Children's voice; Warm-
ups.
LISTA DE FIGURAS
Introdução ..................................................................................................................................................... 20
INTRODUÇÃO
Refletindo sobre a natureza da prática coral, podemos afirmar que ela consiste na
somatória de quatro aspectos: a atividade do canto coletivo, a performance artística, a
educação musical e a integração social. O canto coletivo acontece através da prática e de
seu aperfeiçoamento no cantar em grupo, considerando-se aspectos da pedagogia,
fisiologia, higiene e saúde vocal. A performance artística está relacionada com a
interpretação dos inúmeros repertórios musicais, desde sua minuciosa preparação até a
apresentação pública. A educação musical está presente o tempo todo no processo de
musicalização dos indivíduos e no desenvolvimento de habilidades de percepção e leitura
musical. Já a integração social se apresenta de forma extramusical, unindo pessoas de
diferentes realidades socioeconômicas e culturais, em prol de um objetivo comum, seja
ele musical ou não, como, por exemplo, o lazer e o puro prazer de cantar. A integração
social também ocorre na construção de valores (respeito, tolerância, cidadania,
afetividade, responsabilidade, etc.) e na formação de plateias, com a ampliação das
vivências culturais e do senso crítico, tanto dos cantores, quanto do público que prestigia
o coro (CHEVITARESE, 2017, p. 02, 03 e 05; LAKSCHEVITZ in FIGUEIREDO et. al., 2006, p.
90; FUCCI AMATO, 2007, p. 83 e 84; SCHIMITI, 2003, p.15).
Presente em diversos países e culturas, a prática coral, geralmente, é multietária,
inclusiva e destinada a crianças, jovens, adultos e idosos, amadores ou profissionais. Com
distintos objetivos e configurações de agrupamento, no Brasil, existem vários tipos de
coros: infantis, masculinos, femininos, adultos mistos, comunitários, sacros, de empresas,
profissionais, universitários, [jovens], infantojuvenis, líricos, sinfônicos, cênicos, de
câmara ou madrigais, de terceira idade e grupos vocais (JUNKER, 2002, p. 39 e 40). Tendo
a voz como principal instrumento, o canto coral depende de infraestrutura e
investimentos financeiros bem menos onerosos que outras práticas musicais coletivas, o
que torna sua implantação econômica e viável. Desta maneira, o canto coral pode ser
encontrado em contextos variados, como em escolas regulares, escolas de música, teatros,
ONGs, instituições religiosas, empresas etc.
Dentre tantas possibilidades de pesquisa na área da música coral, escolhemos
abordar, nesta tese, o coro infantil amador e suas especificidades no tocante ao preparo
técnico-vocal. Esta escolha foi pautada em nossa experiência profissional, em nossas
21
1 Children are not just “pleasant”, “cute” or “precocious”. They can be truly artistic – even more than the London
musical. Isto nos parece ser muito mais uma escolha de trabalho do regente do que um
aspecto, obrigatoriamente, inerente ao coro infantil.
O autor também vê o potencial formativo de coros infantis como menos valioso do
que o potencial artístico. De fato, em nosso país, se faz necessário que muitos coros
infantis priorizem o viés social e educativo, em vez da performance artística, mas
acreditamos que seja possível conciliar ambos os potenciais. A respeito disto, Grau (2005)
afirma que nenhuma criança deve ser excluída da prática coral e que o envolvimento se
faz necessário, em um primeiro momento, para que, gradativamente, a interpretação
musical possa ser aprimorada (GRAU, 2005, p. 06 e 07). Chevitarese ainda complementa
dizendo que “é preciso pensar o coro como um espaço onde a formação e a performance
acontecem de forma indissolúvel, onde toda ação é educativa, onde a qualidade artística
é buscada a cada instante” (CHEVITARESE, 2017, p. 2 e 3).
Vemos no preparo vocal uma grande oportunidade de aprimoramento artístico,
por dialogar com elementos de repertório e musicalização, presentes na rotina de ensaios
de um coro infantil. Leck elenca os seguintes elementos que o regente deve pautar seu
ensino coral para crianças: concentração, postura, respiração, extensão vocal,
ressonância, afinação, colocação vocal, leitura e compreensão musical, comunicação do
texto e repertório de qualidade2 (LECK, 2009, p. 2). Podemos notar que a maior parte
deles está relacionada ao preparo vocal, reforçando sua relevância.
Muitos regentes reconhecem a importância da instrução vocal e, embora busquem
se capacitar em canto, se deparam com outro obstáculo: a escassez de materiais sobre
pedagogia para vozes infantis brasileiras, com todas as suas peculiaridades de fonética,
emissão e preparo vocal. Gaborim-Moreira e Ramos (2014) retratam bem esta situação:
Gois (2015) ainda vai além e aponta que a escassez de materiais não é apenas de
pedagogia vocal, mas de repertório, atividades didáticas e acesso a tudo isto:
2 Mental focus, posture/breathing, vocal range, resonance, intonation, buoyancy, reading, musical
understanding, text communication and quality literature. (LECK, 2009, p. 2)
24
Podemos definir “coro infantil” como a prática de canto coletivo com crianças e
pré-adolescentes que ainda não passaram pela muda vocal3. O termo “infantil” está mais
relacionado ao amadurecimento vocal do que à exclusividade de abranger crianças. Como
veremos, o coro que, hoje, é denominado infantil também tem sido formado por pré-
adolescentes e até adolescentes, em alguns casos.
Dentre os autores revisados, notamos que não há consenso sobre a faixa etária de
um coro infantil. Phillips (1992) e Bartle (1993), em seus livros, delimitam o coro infantil
de acordo com as séries escolares - do 1º ao 6º ano do Ensino Fundamental, ou ainda, dos
06 aos 12 anos de idade. Bartle também subdivide seus coros em School primary choir
(dos 06 aos 08 anos de idade) e School Junior choir (dos 09 aos 12 anos de idade)
(PHILLIPS, 1992, p. 59; BARTLE, 1993, p. 8 e 9). Já Sesc (1997) não recomenda a prática
coral com crianças com idade inferior a 06 anos e considera dos 07 aos 15 anos a faixa
etária ideal para um coro infantil (SESC, 1997, p.12 e 13).
Chevitarese (2017) considera a faixa etária ideal dos 08 aos 15 anos, ressaltando
que ela “traz em si uma ampla heterogeneidade em termos de amadurecimento
3 A muda vocal é o processo de amadurecimento vocal, que acontece na puberdade. Nesta fase, a fisiologia,
a extensão e o timbre da voz são alterados. As mudanças são mais aparentes nos meninos, mas as meninas
também passam por este processo. Nesta pesquisa não abordaremos as vozes em muda e suas
especificidades de trabalho, mas recomendamos a leitura de Leck (2009), Costa (2017), Carnassale (1995)
e Phillips (1992) para compreender melhor esta temática.
26
4 Nossa classificação de coro infantojuvenil diferencia-se de Costa, ao iniciar aos 12 anos, no 7º ano, porque
acreditamos que o 6º ano é uma série de transição do Ensino Fundamenta I ao II e que os pré-adolescentes
27
Tabela 1. Possibilidades de agrupamento coral infantil e infantojuvenil, segundo Sesc (1997, p. 12)
Na época em que o livro do Sesc foi editado, o Ensino Fundamental I iniciava aos 7
anos de idade. Hoje, ele inicia aos 6 anos e é preciso incluir esta faixa etária na prática
coral. Com base nos autores que já citamos e em nossa experiência docente, adaptamos e
sugerimos as seguintes possibilidades de agrupamento coral infantil e infantojuvenil:
desta série já lidam com diversas adaptações escolares, assim, mantê-los no coro infantil pode poupá-los de
mais uma mudança. Além disso, em geral, a maior parte dos meninos de 10 e 11 anos ainda não iniciou a
muda vocal e pode continuar cantando com tranquilidade no registro agudo infantil.
28
Tabela 3. Sugestão de agrupamentos corais de acordo com faixa etária, série escolar, nível de
desenvolvimento musical e repertório
5 Caso o coro seja infantojuvenil e os meninos tenham começado o processo de muda vocal, se torna
necessário criar um naipe de vozes masculinas em amadurecimento, que pode ser denominado de
“barítono”, mas que não possui a mesma extensão e características vocais de barítonos adultos e de muda
completa. Neste naipe de barítonos juvenis o regente deve adaptar os arranjos à tessitura vocal de seus
cantores, lembrando que tal tessitura pode ser bem restrita, instável e desafiadora nesta fase de mutação.
29
um coro infantil deve ter pelo menos 20 cantores e que o número ideal é de 30 a 50
cantores, considerando, dentre outros aspectos, o espaço físico do local de ensaio, o
número de profissionais que atuam e a divisão de vozes, pois é mais difícil afinar e soar
com grupos pequenos (SESC, 1997, p. 11). Desta forma, o número de cantores deve ser
levado em consideração ao se executar as subdivisões corais supracitadas. É mais
produtivo um grupo mais numeroso e com faixa etária mais ampla do que um grupo
menos numeroso e com mais subdivisões por idade.
Com relação à frequência e duração dos ensaios, Lakschevitz (2006) aponta como
ideal ensaiar duas vezes por semana, durante uma hora e meia (LAKSCHEVITZ, 2006, p.
74). Sesc também recomenda ensaios duas vezes por semana, tendo a duração de uma
hora e quinze minutos para a faixa etária dos 07 aos 10 anos e uma hora e trinta minutos
para a faixa etária dos 11 aos 15 anos de idade. No período de apresentações, a
periodicidade e duração dos ensaios pode ser maior, conforme a necessidade de cada coro
(SESC, 1997, p. 123).
De acordo com nossa experiência com coros infantis de performance, concordamos
que o número mínimo deva ser o de 20 cantores e que a frequência dos ensaios deva ser
de duas vezes por semana, em dias alternados. Abaixo, sintetizamos aspectos que
consideramos ideais para pré-corais e coros infantis6:
Tabela 4. Número de cantores, duração e frequência de ensaios considerados ideias para Pré-coral e Coro
infantil iniciante, intermediário e avançado
6 Nossa maior experiência profissional é com coros infantis, então, ousamos opinar a respeito deles. Os
dados apresentados podem ser aplicados em outros tipos de coros (infantojuvenil, juvenil, jovem, adulto,
terceira idade etc), caso o regente ache coerente e pertinente.
30
produtivo com o espaço físico disponível (pátios, quadras, salas de aula, etc.), a acústica
ruidosa e a grande quantidade de cantores que se pode ter por turma. Com estas
condições de trabalho é muito importante o regente usar microfones e amplificação
adequada para não cometer abusos vocais. Sintetizamos os aspectos que consideramos
ideais para coros infantis escolares e não performáticos:
Tabela 5. Estrutura considerada ideal para coros infantis escolares e não performáticos de Ensino
Fundamental I.
Cada regente pode adaptar a configuração de seu coro infantil de acordo com suas
realidades e possibilidades, sempre refletindo sobre a produtividade de seus ensaios e a
qualidade artística do trabalho desenvolvido. Sabemos que nossas propostas, por razões
diversas, podem não ser aplicáveis, mas desejamos que elas possam ser norteadoras e
contributivas.
O coro infantil é uma das práticas atuais da Educação Musical, com saberes e
especificidades que dialogam com outras áreas como o canto, a regência, a percepção
auditiva, a expressão corporal e a teoria geral da música. Rao (1993) afirma que “a
habilidade de cantar em um coro é uma forma de conhecimento”7 (RAO, 1993, p. 48). A
autora contextualiza esta prática da seguinte maneira:
1.1.2.2. Repertório
parte das vezes, não estará nas mídias. (COSTA, 2017, p. 24 e 25). Em nossa experiência
com coros infantis iniciantes e intermediários notamos o mesmo. Por exemplo, no início
do trabalho, realizamos a maior parte do repertório em português, com temáticas do
universo infantil (cotidiano, filmes, desenhos etc.). No decorrer do trabalho, músicas em
outros idiomas e consideradas folclóricas e eruditas também são inseridas e passam a ser
apreciadas pelos cantores.
A respeito da escolha de músicas midiáticas, além de não ampliarem, efetivamente,
o repertório dos cantores, elas podem possuir vocabulário e temáticas inapropriadas a
crianças, extensões vocais muito amplas e difíceis de serem adaptadas em arranjos corais,
e conterem modelos vocais que usam portamentos, ataques vocais bruscos e outros
recursos prejudiciais à voz infantil. A respeito destes modelos vocais, Assef alerta que:
O zelo à saúde vocal9 dos cantores é uma responsabilidade do regente e deve ser
um aspecto considerado. Assef nos encoraja a buscar novos repertórios para evitar tais
modelos equivocados, mesmo que eles causem certo estranhamento, no início. Ele define
que “novo” não precisa ser repertório estrangeiro, pois “nosso rico manancial musical
[também] deve ser revisitado com foco na sonoridade infantil” (ASSEF in SOBREIRA,
2013, p.57). Ao executarmos repertórios folclóricos e populares brasileiros, resgatamos
nossa cultura, o que torna a prática coral mais educativa e significativa.
Incentivamos a atualização e aquisição de novos materiais, porém, sabemos que o
acesso a partituras e arranjos destinados a coros infantis pode ser uma problemática
enfrentada por regentes brasileiros. Em países da América do Norte e Europa, por
exemplo, há um mercado específico de editoração e venda de partituras, no qual as cópias
e os direitos autorais são tratados com maior rigor, do que no Brasil, onde tudo é
fotocopiado. Para amenizar esta situação, sugerimos o contato e a troca de materiais com
9 Dentre outros aspectos, consideramos como zelo à saúde vocal a priorização do preparo vocal e da emissão
sem tensões e esforços vocais desnecessários, como cantar “gritando”, com posturas corporais incorretas e
respiração torácica, por exemplo. Além da conscientização do processo fonatório, a viabilização de dicas de
cuidado com a voz etc.
35
1.1.2.3. Musicalização
um caminho mais lógico que uma criança tenha a oportunidade do fazer musical e, a partir
daí, comece a demandar o conhecimento e o apuro técnico, e não o inverso”
(LAKSCHEVITZ, 2006, p. 68).
A priorização da prática ante a teoria musical é um dos princípios das pedagogias
ativas de Educação Musical que surgiram no século XX e perduram até hoje, tendo como
importantes representantes Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950), Zoltán Kodály (1882-
1967), Edgar Willems (1890-1978), Carl Orff (1895-1982), Shinichi Suzuki (1898-1998),
Murray Schafer (1933), Keith Swanwick (1937), dentre outros. Recomendamos que os
regentes conheçam melhor as pedagogias musicais ativas e as tenham como aliadas para
o desenvolvimento da percepção, leitura e escrita musical.
Em nossa experiência profissional, adotamos algumas propostas pedagógicas de
Dalcroze e Kodály para trabalhar leitura rítmica e melódica e costumamos usar partituras
para aprender o repertório e contextualizar os elementos musicais encontrados nas peças
executadas. Notamos que nossos cantores se sentem estimulados e desafiados a aprender
música com estas propostas pedagógicas.
Sabemos que, muitas vezes, a estrutura das salas de ensaio, a falta de materiais, o
tempo restrito e a agenda de concertos são impedimentos para a realização de atividades
de musicalização. Mesmo assim, incentivamos que o regente planeje e inclua na rotina de
ensaios algumas destas atividades, as quais podem ser trabalhadas em paralelo com o
repertório, para otimizar o tempo de ensaio. Elas podem conter níveis diferentes de
dificuldade e o desenvolvimento musical do coro deve ser respeitado.
Por lidarmos com crianças, a ludicidade deve estar presente em todas as bases
pedagógicas. Atividades de musicalização podem ser aplicadas em forma de brincadeiras;
brincadeiras cantadas podem ser empregadas como vocalises; e o ensaio pode ser
planejado como um grande jogo, com regras e “competições” desafiadoras e saudáveis,
por exemplo.
Através do brincar a criança se desenvolve e aprende de forma mais prazerosa e
adequada às suas necessidades cognitivas, tal como afirma Sesc:
seguido. Quando isto acontece, o regente deve ser flexível e tentar aproveitar ao menos
alguns dos elementos já programados. A organização dos ensaios com metas a serem
cumpridas e com reflexões constantes sobre o que foi, de fato, efetivo, propicia
crescimento ao regente e ao coro.
Com base em Sesc (1997, p. 125), Mathias (1986, p. 28 e 29) e em nossa própria
experiência, elaboramos uma sugestão de roteiro de ensaio, contendo as bases
pedagógicas detalhadas e ordenadas, e o tempo aproximado de trabalho de cada uma
delas, para o pré-coral e os coros infantis iniciante e intermediário, com os quais estamos
mais habituados a trabalhar. O avançado pode seguir os mesmos parâmetros do
intermediário. Nossas sugestões não são fixas e imutáveis, o regente pode adaptá-las à sua
realidade e necessidade, afinal, cada coro é singular e cada ensaio, também.
Tabela 6. Sugestão de roteiro de ensaio para pré-coral, coro infantil iniciante e intermediário
Tabela 7. Sugestão de roteiro de ensaio para coros infantis escolares e não performáticos de Ensino
Fundamental I
Para reger um coro infantil não basta apenas gostar de crianças e de cantar. Como
visto, as bases pedagógicas deste coro dialogam com áreas e saberes diversos e seu
regente deve investir em uma formação profissional igualmente ampla e contínua. Dentre
as funções que o regente pode exercer, podemos elencar, como principais, a de intérprete
e educador musical e vocal.
Como intérprete, o regente tem a missão de transmitir ao ouvinte a mensagem
musical contida na partitura e idealizada por seu compositor (GRAU, 2005, p. 77).
Segundo Fernandes (2009):
cantores (com todas as particularidades da faixa etária do coro), tenha noções básicas de
fisiologia vocal e corporal, e, ao realizar o preparo vocal, utilize uma terminologia
apropriada e uma pedagogia eficaz (FERNANDES, 2009, p. 200).
A falta de familiaridade com o canto limita o regente como intérprete e coloca em
risco a saúde vocal e a qualidade artística de seu coro, impedindo, por exemplo, a execução
de variações de dinâmicas e de sonoridades corais, que podem ser um diferencial
interpretativo do grupo (FERNANDES, 2009, p. 198). O domínio do canto possibilita ao
regente perceber, diferenciar e corrigir as dificuldades vocais (técnicas e fisiológicas) que
o coro venha a ter (DRAHAN, 2008, p. 02), o que nos leva a incentivá-lo, novamente, a
estudar canto e/ou integrar outros coros, para que possa praticar, ampliar sua percepção
vocal e praticar e desenvolver suas capacidades vocais.
Outra justificativa plausível para o estudo de canto e o acompanhamento
profilático com especialistas em saúde vocal (otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos,
etc.) é que o regente de coro amador (independente da faixa etária de abrangência) é o
principal modelo vocal de seus cantores. Leck recomenda que a voz do regente de coros
infantis seja afinada, ressonante, musical e livre de tensões (LECK, 2009, p. 32). Sugerimos
ainda que, em seus exemplos vocais, o regente evite cantar com portamentos
desnecessários, respirações e pronúncias incorretas e esteja ciente de que o coro imitará
com exatidão as referências vocais e musicais que receber. Os exemplos vocais e a
condução do preparo vocal devem ser fiéis aos ideais sonoros almejados e a proficiência
em canto possibilita ao regente esta coerência.
Quando abordamos o modelo vocal do regente em coros infantis, duas polêmicas
podem surgir: o canto com vibrato e o uso do falsete pelo regente homem.
O vibrato natural da voz é fruto de um processo técnico-vocal que inclui a boa
administração da respiração, o equilíbrio do ataque vocal e a sensação de liberdade na
região da laringe, proporcionando mais harmônicos e uma emissão vocal livre de tensões,
aspectos positivos para um modelo vocal. Desta forma, acreditamos que o uso do vibrato
não deve ser evitado, desde que seja utilizado de forma natural, sem afetar a boa
inteligibilidade do texto e a precisão da afinação. Vale lembrar que uma criança não
conseguirá soar como um adulto, pois seu trato vocal, pulmões e pregas vocais são
menores, o que a impede de cantar com o vibrato de uma voz madura.
Quanto ao uso do falsete, no caso de regentes homens, recomendamos que eles o
desenvolvam e o utilizem para que as crianças não precisem se preocupar com
42
transposições e escutem uma voz mais semelhante às suas. Caso o falsete não possua boa
qualidade sonora e boa afinação, é preferível que o regente homem cante em sua tessitura
confortável. Em síntese, defendemos que o regente, como modelo vocal de seus coros,
deve cantar com sua melhor voz, seja ela com vibrato, em falsete ou plena.
Além de intérprete, educador musical e vocal, outras habilidades extramusicais são
recomendadas a um regente de coro, como liderança, responsabilidade, disciplina,
organização, ética, senso de humor, afabilidade, humildade, gestão de pessoas, trabalho
em equipe, preparo físico, equilíbrio psicológico, boa comunicação, etc. (GOIS, 2015, p. 33
a 37; SESC 1997, p. 19; GRAU, 2005, p. 78-81; MATHIAS, 1986, p.18 e 19). Propor-se a
reger um coro infantil deve ser uma decisão tomada após uma reflexão sobre o perfil
profissional relatado e na certeza de que um trabalho com crianças não deve ser medíocre.
Elas merecem a melhor prática musical e têm plenas condições de serem artísticas,
cabendo ao regente objetivar e trabalhar em prol disto.
Grau afirma que a qualidade artística de um coro está diretamente relacionada à
qualidade do profissional que o conduz (GRAU, 2005, p. 103). Em teoria, já sabemos quão
ampla deve ser a formação de um regente, porém, como, de fato, ela tem acontecido, no
Brasil? Em que contextos ela é realizada? Existem materiais de apoio relevantes e em
português? Onde encontrá-los?
No princípio de nossa pesquisa chegamos a fazer um levantamento sem maiores
aprofundamentos sobre alguns cursos livres, grades curriculares de universidades de
Música, publicações acadêmicas e materiais em português, sobre regência e pedagogia de
coro infantil. Encontramos pouca divulgação e oferta de cursos livres, os quais estão
centralizados em apenas alguns estados brasileiros. Analisamos grades curriculares dos
cursos de Regência, Licenciatura e Canto de universidades públicas do estado de São
Paulo, os quais podem originar potenciais regentes de crianças, e constatamos que
disciplinas sobre coro infantil, quando existem, são, em geral, eletivas e não oferecidas
anualmente. Também são poucas as universidades brasileiras que possuem projetos de
extensão com coro infantil, que viabilizam esta formação profissional. As publicações
acadêmicas (artigos, dissertações, teses) e materiais que encontramos sobre a temática
também não são muito numerosos. A maioria dos materiais ainda é de origem estrangeira
e, quando disponíveis para compra, não são tão acessíveis.
A formação e capacitação contínua de um regente de coros infantis também pode
ser realizada através do contato e troca de materiais com outros regentes e da apreciação
43
Ao lidarmos com vozes infantis que estão em plena formação, é recomendável que
conheçamos algumas de suas características fisiológicas e sonoras, para que o potencial
artístico destas vozes seja explorado com cuidado e eficácia.
Embora existam exceções, a voz infantil, geralmente, é aguda, leve, clara e, por
questões fisiológicas, não deve soar como a voz de um adulto. A laringe da criança difere-
se da adulta, dentre outros aspectos, por sua posição e tamanho. Ao nascermos, a maior
parte das estruturas cartilaginosas da laringe não está ossificada e um longo processo de
desenvolvimento se inicia, sendo que somente por volta dos 65 anos de idade é que ela
fica completamente ossificada, em posição fixa. A laringe de um recém-nascido está
posicionada na parte superior do pescoço, atrás da mandíbula, entre as vértebras
cervicais C2 e C4. Aos 5 anos, ela posiciona-se na vértebra C6 e entre os 15 e 20 anos, na
C7. Com o passar das idades, a laringe cresce, se desenvolve e abaixa. Assim, as extensões
vocais graves passam a existir, interferindo no timbre e na extensão da voz. (SATALOFF,
2005, p. 50 e 51; PRAKASH E JOHNNY, 2015,
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4439709/)
As pregas vocais são bem pequenas e, no processo de fonação, junto com o ar
advindo dos pulmões e os ressonadores e articuladores (cavidades nasais e orais), são
responsáveis pela produção da voz falada e cantada. Sataloff (2005) mensura o
comprimento total das pregas vocais infantis de 6 a 8 mm, da mulher adulta de 12 a 17
mm e do homem adulto de 17 a 23 mm (SATALOFF, 2005, p. 51). Prakash e Johnny (2015)
complementam, afirmando que no recém-nascido o comprimento total das pregas vocais
44
Tabela 8. Extensão e tessitura vocal infantil, segundo Phillips (CARNASSALE, 1995, p. 86)
Tabela 9. Extensão dos registros da voz infantil, segundo Jacques (1963) e Phillips (1992) (CARNASSALE,
1995, p. 90)
Tabela 10. Extensão dos registros vocais infantis segundo Williams (2010).
(GABORIM-MOREIRA, 2015, p. 255)
É importante ressaltar que estes dados não são absolutos. Uma criança mais velha
e sem instrução vocal pode ter a extensão e tessitura menores do que uma criança mais
nova e que tenha instrução vocal, por exemplo. Outro aspecto a ser ressaltado é que os
coros infantis, geralmente, são multietários, então, a mesma tessitura do repertório será
cantada por indivíduos de idades diferentes. O regente não deve limitar suas
possibilidades de trabalho baseado nesta tabela, afinal, nosso intuito é ilustrar o alcance
vocal infantil e ampliar conhecimentos, em vez de interferir negativamente na prática
coral de nossos leitores.
Ao conhecer as características, qualidades, extensões, tessituras e registros das
vozes infantis, o regente pode desenvolvê-las com mais consciência e direcionar o preparo
vocal para atingir suas melhores potencialidades, embora o trabalho técnico-vocal seja
gradativo e muitos resultados sejam notados em longo prazo.
No âmbito deste trabalho técnica vocal e preparo vocal são sinônimos. Adotamos
a terminologia “preparo vocal”, por acreditarmos que a palavra “técnica” pode sugerir
aprimoramento por repetição e rígida disciplina, enquanto que “preparo” nos remete a
desenvolvimento gradual e permite processos de aprendizagem mais pedagógicos, os
quais priorizamos em nossa prática docente.
Contudo, preparo vocal e aquecimento vocal são diferentes. O aquecimento,
geralmente, é realizado no início dos ensaios e tem como objetivos preparar o corpo e os
mecanismos respiratórios e fonatórios para o canto. No aquecimento estão envolvidos
itens que detalharemos em tópicos seguintes como, por exemplo, alongamentos
corporais, conscientização da postura e respiração, vocalises com ressonâncias nasais e
orais (boca chiusa11 e vogais) e articulação. O preparo vocal, além de englobar os
exercícios de aquecimento, aborda também os vocalises para desenvolvimento técnico-
vocal específico (dicção, registração, extensão vocal, afinação, musicalidade, etc.) e pode
ser realizado no início e durante os ensaios, sanando dificuldades encontradas no
repertório (ritmo, melodia, harmonia, etc.), buscando, ainda, a sonoridade mais adequada
11
Termo em italiano que significa “boca fechada”. Refere-se ao canto de consoantes nasais como “Nh”
[ɲ], ”N” [n], ”M” [m] e ”Ng” [ŋ].
48
a ele. Tanto o aquecimento quanto o preparo visam a saúde vocal dos cantores e a
performance musical, tornando-a mais artística e expressiva. Smith e Sataloff (2006)
relatam o cotidiano de preparo vocal infantil da seguinte forma:
Na citação, podemos notar que, assim como no coro adulto, no coro infantil são
trabalhados os mesmos roteiros e princípios técnico-vocais, porém, com abordagens e
expectativas diferentes. Também são descritos recursos auditivos, visuais, corporais e
lúdicos, que viabilizam o ensino de canto a crianças. Leck chama estes recursos de âncoras
de aprendizagem, as quais podem ser auditivas, visuais e sinestésicas (físicas e com
movimento corporal). Ele baseia toda a sua metodologia de preparo vocal nas âncoras,
dada sua eficácia no trabalho com crianças. (LECK, 2009, p.20).
Tal como afirmam outros estudiosos da psicologia do desenvolvimento, Carnassale
(1996) explica que existem três tipos de pessoas quanto a forma de aprender e perceber
o mundo. Segundo a autora, algumas pessoas são visuais, outras auditivas e outras
sinestésicas. Todos os indivíduos possuem as três sensibilidades, porém, têm mais
12 Every children’s choir rehearsal opens with a warm-up period, adjusting the use of the voice from speaking
to singing and teaching the basics of singing. The order of the warm-up period activities is the same as with an
adult choir: relaxation, posture, breathing, and resonance. The exercises and their duration are modified to
meet the attention span and physical strength of the children in the choir. Exercises from children should be
based in sounds already available through life experience such as laughing, giggling, sighing, and snoring.
Story-telling that includes the imitation of barnyard animals or well-known imaginary characters will give the
children a sense of confidence while exploring a variety of vocal sounds and colors. Selecting appropriate
models is the secret to success in this approach. Using visual tools like puppets, ribbons, pictures, and banners
enlivens the exercise period. (…) The spirit of play will make the learning fun and will extend the length of time
the conductor can expend concentration from the choir. (SMITH e SATALOFF, 2006, P. 142)
49
tendências a uma delas. O regente pode abordar elementos que facilitem a aprendizagem
destas pessoas, em sua prática coral (CARNASSALE, 1995, p. 80 e 81).
Em nossa pesquisa, adaptaremos o termo “âncoras” de Leck para “recursos” de
aprendizagem. Podemos considerar recursos auditivos: sons, imitação vocal, histórias,
poesias, etc. Recursos visuais podem ser objetos, imagens, cartazes, cores, partitura e a
própria regência. Podem ser recursos corporais a manipulação e sensibilização de partes
do corpo, gestos, movimentações, encenações do cotidiano infantil, etc. Além de utilizar
no preparo vocal a imaginação, os jogos, as brincadeiras, a integração social e as
metáforas, que interferem na apreensão de conceitos abstratos, na percepção sonora e
corporal e na memorização (CARNASSALE, 1995, p. 80 e 81; GABORIM-MOREIRA, 2015,
p. 54). Nas figuras que seguem, exemplificamos um pouco destes recursos e algumas
estratégias de aplicação que usamos. Estes recursos foram comprados em lojas de
brinquedos e utensílios em geral e podem ser facilmente encontrados, adaptados e, até
mesmo, criados.
Para trabalhar a postura utilizamos a girafa de madeira (figura 1) e a flauta de
êmbolo (figura 2). A girafa possui um botão em sua base que, ao ser pressionado, faz com
que ela se fragmente em várias partes, como se estivesse “desmontando a postura”. De
forma silenciosa e visual, as crianças podem brincar de executar a postura correta e
incorreta conforme a manipulação da girafa. O uso da flauta de êmbolo é bastante
semelhante, porém, mais do que visual, a utilizamos como um recurso auditivo. Quando
as crianças escutam o som ascendente, executam a postura correta. Quando escutam o
som descendente, executam a postura errada. Esta brincadeira com a flauta também pode
auxiliar na percepção de sons agudos e graves, auxiliando na afinação.
50
13 Aprendemos este recurso com a preparadora vocal e regente Claudia Cruz (São Paulo-SP).
51
Para tornar o trabalho com as vogais mais atrativo e significativo, podemos utilizar
os dedoches (figura 4), solicitando as vogais a serem cantadas nos vocalises e em
determinados trechos do repertório, para aprimorar a colocação vocal. O ideal é que o
regente não fale a vogal, apenas a mostre, mantendo, assim, os cantores mais atentos às
mudanças de vogais. Com crianças em processo de alfabetização, este recurso auxilia no
letramento.
14
Em nossa pesquisa, utilizamos símbolos fonéticos para descrever vogais e consoantes. Detalhamos tais
símbolos nos anexos. De qualquer maneira, as vogais descritas no parágrafo em questão são “O”, “Ó” e “A”.
15 Este recurso visual foi aprendido com a regente Silmara Drezza e construído pela pesquisadora.
52
Para o coro cantar com suavidade e em menor volume sonoro utilizamos o dedoche
de borboleta (figura 8). A leveza do vôo da borboleta pode ser um recurso visual para
ajudar as crianças a cantarem sem força e com grande volume. Também é possível
trabalhar a concentração se o regente caminhar em diferentes direções e pedir para as
crianças cantarem olhando para a borboleta.
53
16
O símbolo fonético [Br] não é usual na normatização de pronúncia do português brasileiro cantado,
porém, o adotamos nesta tese para representar a vibração de lábios com a consoante “b” sucedida de “r”
vibrante.
17
Em idiomas como o Espanhol existe a ressonância nasal [ɳ], que aparece na palavra “señor” e, embora não
seja idêntico, se assemelha ao “Nh” [ɳ] do português brasileiro. Embora não o abordemos neste trabalho,
fonema também pode ser trabalhado no preparo vocal coral.
18
Aqui nos referimos ao nosso contato com o trabalho do maestro Henry Leck, em cursos livres no Brasil e
nos Estados Unidos e em nossa própria pesquisa de mestrado.
19
Como já citado na introdução, os coros que trabalhamos, durante o curso de doutorado, e que
possibilitaram a criação dos exercícios apresentados foram: “Coral da Gente” do Instituto Baccarelli, Grupo
Allegretto e coros escolares do “Canarinhos da Terra”, “Coral Cênico Infantil Dons e Tons” e “Coral Jovem
Pio X”. Nos dois primeiros, trabalhamos como regente e nos últimos como preparadora vocal.
56
canto e solfejo. A falta de materiais acessíveis nos motivou à criação. Não somos
compositores, somos reflexivos, curiosos e criativos, isto nos levou a criá-los. Esperamos
que possam contribuir com muitos coros infantis e motivem outros profissionais a
realizar novas composições e adaptações. Nosso desejo maior é contribuir com a melhora
da qualidade vocal, artística e educativo-musical de coros infantis brasileiros, mesmo que
a longo prazo.
Os vocalises de outros autores possuem os devidos créditos. Nossos vocalises
foram compostos pela presente pesquisadora com supervisão de seu orientador. Também
contamos com a valiosa colaboração do pianista Otávio Piola20 que compôs os
acompanhamentos e cifrou os vocalises com base nos objetivos pedagógicos e vocais que
foram idealizados por nós. As composições dos acompanhamentos foram realizadas em
nossa presença, em cinco encontros que tivemos, no segundo semestre de 2017. Otávio
Piola possui bastante experiência como pianista colaborador de coros infantis e seus
acompanhamentos não só auxiliam a execução vocal e musical, como também criam
texturas específicas para as temáticas dos vocalises, tornando-os mais atrativos,
divertidos e artísticos. Recomendamos que os instrumentistas utilizem os
acompanhamentos e cifras que apresentamos, para que nossa proposta seja colocada em
prática de forma mais completa.
Todos os exercícios foram editados no programa Sibelius 8 e os textos contém a
transcrição fonética com base no Alfabeto Fonético Internacional, ou International
Phonetic Alphabet (IPA). Em cada vocalise descrevemos a extensão vocal abordada e
sugestões de tonalidade inicial, andamento e nível de dificuldade. As tonalidades
priorizam o uso dos registros médio e agudo, ideais para a voz infantil e os andamentos
são os que costumamos realizar com nossos cantores. Quanto ao nível de dificuldade,
consideramos as exigências vocais e musicais de cada exercício e sua aplicabilidade para
o tipo de coro e seu o repertório, conforme descrito na tabela 12.
Vocalises destinados ao aquecimento vocal (ressonância e alguns de dicção)
costumam ser executados no início do preparo e devem ser realizados com todos os tipos
20Otávio Piola é bacharel em Música (modalidade Piano erudito), pela Universidade Estadual de Campinas,
sob orientação do Mauricy M. Martin. Atua como pianista colaborador do “Coral da Gente” do Instituto
Baccarelli (São Paulo-SP), Coral Infanto-juvenil do Centro Cultural Krupp (Campo Limpo Paulista-SP) e
Coral Cênico Infantil ‘Dons e Tons’ (Jundiaí-SP). Como regente, dentre outros, atuou frente ao Coral Jovem
Pio X e Grupo Vocal Gomes Cardim (ambos de Jundiaí-SP) e participou de diversos workshops de canto
coral, destacando-se o curso Creating Artistry em Indianapolis, Estados Unidos, sob a orientação de Henry
Leck. (http://institutobaccarelli.org.br/o-instituto/professores/)
57
2.1. POSTURA
sejam, constantemente, corrigidos e estimulados, até que tal postura se torne um hábito.
Smith e Sataloff (2006) afirmam que:
21 Maintenance of disciplined posture is important for the vocal growth of the child and the choir. Furthermore,
good posture training enhances the ability of children to concentrate and remain alert during rehearsals and
performances. (SMITH e SATALOFF, 2006, p. 144)
59
2.2. RESPIRAÇÃO
2.2.1. Contextualização
23(...) poor quality, lack of vocal freedom and accuracy, and often injury to the vocal folds. (PHILLIPS, 1992, p.
31)
61
Esta citação realça que, de maneira geral, a pedagogia vocal não consiste, apenas,
em adotar um vocabulário coerente, mas também em saber aplicá-lo na prática,
modificando, de fato, a qualidade sonora do coro e evitando confusões e tensões
indesejadas. Carnassale aponta que “o fato da criança tomar consciência da respiração
correta, não significa que daí em diante ela respire corretamente. (...) É necessário que se
repita muitas vezes os exercícios para que o novo padrão de comportamento torne-se um
hábito” (CARNASSALE, 1995, p. 111). Explicar o mecanismo respiratório e condicionar os
cantores a ele não é uma tarefa fácil. É preciso praticá-lo em todos os ensaios e, em nossa
opinião, mais do que teorizar a respiração, é importante sensibilizá-la, aguçando a
percepção corporal das crianças, através de exercícios diversos. Também vimos que
recursos de aprendizagem podem complementar as explicações verbais, tornando-as
mais claras e eficazes.
2.2.2. Exercícios
Com uma bexiga, realizar a seguinte sequência, nas durações rítmicas propostas
no exercício:
1) Inspirar;
2) Expirar enchendo a bexiga;
3) Inspirar e manter bexiga cheia;
4) Expirar e murchar bexiga, ao mesmo tempo.
O regente pode escolher e alternar as consoantes “s” [s], “f” [f] e “x” [ʃ], na
expiração. A bexiga é um recurso visual que auxilia o cantor a perceber a expansão das
costelas e a administrar a expiração, esvaziando os pulmões e a bexiga, coordenada e
simultaneamente. Ao conduzir esta atividade, é preciso manter a concentração e
disciplina, para que o exercício não seja em vão e o ensaio fique tumultuado. Sugerimos
que se explique a proposta do exercício, antes das bexigas serem entregues. O nível de
dificuldade do exercício é 224.
24
A descrição dos níveis de dificuldade estão na tabela 12.
63
De forma contínua, expirar em [s] e [f] e depois, em [ʃ] e [x]´ , dez vezes cada
fonema, assoprando os dedos das mãos como “velas” (recurso visual e corporal). Uma
variação deste exercício é não o executar com as durações propostas, mas assoprar os
dedos, conforme a rítmica de canções conhecidas, como “Parabéns a você”, “Cai, cai, balão”
e trechos do repertório do coro. Se o instrumentista colaborador puder tocá-las, enquanto
o coro expira, também é possível trabalhar a escuta ativa, resolvendo possíveis
dificuldades musicais encontradas no repertório (afinação, correção da melodia, ritmo,
etc.). O nível de dificuldade do exercício é 1.
25
O “H”, foneticamente transcrito como [x], deve ser executado como um “r” vibrante, na abertura da boca
da vogal “A”. Podemos ensinar este fonema como se fossemos bafejar. Outro recurso que também
costumamos utilizar é a imitação do comercial da bala Halls, no qual o sabor refrescante da bala “congelava”
a garganta do ator. O “H” almejado é o mesmo deste antigo comercial.
64
2.3.1. Contextualização
26 Repetição convencionada.
66
mole, laringe, faringe, traqueia e pulmões (DAVIDS e LATOUR, 2012, p. 66). A terminologia
“máscara”, bastante usada por professores de canto e preparadores vocais, refere-se a
manter a colocação vocal ideal, direcionando, imageticamente, o som para regiões de
ressonância da face, como os seios frontais e as cavidades nasais (GABORIM-MOREIRA,
2015, p. 233).
Carnassale complementa as informações, explicando que:
Formantes são harmônicos produzidos na vibração das pregas vocais que são
amplificados. A frequência dos formantes varia conforme os ajustes realizados nas
cavidades de ressonância e nos articuladores. Os formantes impactam na percepção
auditiva do volume e na qualidade da emissão vocal (DAVIDS e LATOUR, 2012, p. 67).
Aprimorar e controlar a ressonância possibilita ao cantor de coro e ao solista não apenas
uma maior projeção vocal, mas também, uma sonoridade mais afinada, com variação de
dinâmicas e nuances de expressividade e uma voz mais homogênea do registro grave ao
agudo (DAVIDS e LATOUR, 2012, p. 63).
A respeito do volume de voz das crianças, é importante ressaltar que suas
fisiologias vocal e corporal são diferentes do adulto e que cantar muito forte sobrecarrega
algumas estruturas vocais que ainda estão em formação. É necessário desenvolver a
ressonância para a saúde e expressividade artística, porém, não se pode esperar de uma
criança o mesmo volume e resultado sonoro de um adulto.
Diferentemente de outros instrumentos musicais que são manipuláveis, a voz é
intangível, e regentes, preparadores vocais e professores de canto se munem de diversas
metáforas para ensinarem a cantar de forma apropriada e saudável. No preparo de coros,
além de exploração vocais de sons do cotidiano (mosquito, carro, sirene, buzina,
mastigação), alguns exercícios são utilizados para aquecer a voz, desenvolver e tornar
perceptível a ressonância. Dentre eles, vibração de lábios e língua, com os fonemas [r],
[tr] e [r]; sons fricativos com as consoantes fricativas sonoras [v], [z] e [Ȣ]; sons nasais
67
com as consoantes [ɲ], [n], [m] e [ŋ]; e as vogais que são ressonâncias orais. No português
brasileiro, além de ditongos e vogais nasais, possuímos sete vogais orais a serem
utilizadas neste tipo de trabalho, seguindo a ordem de ressonância da mais frontal à mais
posterior.: “I” [i], “E” [e], “É” [ε], “A” [a] (cantado como [ɑ], para manter uma colocação
vocal mais apropriada ao canto), “Ó” [ɔ], “O” [o] e “U” [u].
A vibração de lábios e língua tem como objetivos “mobilizar a mucosa das pregas
vocais, equilibrar a coordenação pneumofonoarticulatória [respiração, fonação e
articulação], reduzir o esforço fonatório e proporcionar aquecimento vocal”
(VASCONCELOS, GOMES e ARAÚJO, 2016, p. 582), o que relaxa e prepara o corpo e a voz
para a prática do canto.
Dentre outras funções, os sons fricativos podem reduzir tensões fonatórias, evitar
ataques vocais bruscos, auxiliar na coordenação pneumofônica, no apoio respiratório e
no controle do fluxo de ar (D’AVILA, CIELO e SIQUEIRA, 2010, p. 916). Além de serem
utilizado no aquecimento, aumentam a resistência vocal, o que permite os cantores
participarem dos ensaios sem cansaço e esforços desnecessários.
Quanto à boca chiusa, Fernandes diferencia os sons nasais citando Miller e
afirmando que o [ɲ], que aparece na palavra “manhã”, “permite ao cantor a sensação
frontal da ressonância no seu ponto mais alto, localizada exatamente no centro da
“máscara”, atrás do nariz ou dos olhos” (FERNANDES, 2009, p. 251). O [n] costuma ser
sentido na região do maxilar superior e da “máscara”, o que auxilia a colocação vocal
frontal. O [m] elimina tensões da língua e do palato mole, sendo possível sentir sua
ressonância nos lábios e na área dos seios nasais. Já o [ŋ], presente na palavra “manga”,
ao mesmo tempo que reforça a sensação da “máscara” mantém a abertura da região
nasofaríngea, trabalhando o espaço do fundo da boca e um som mais “arredondado”.
Todos estes sons nasais podem ser utilizados para desenvolver a ressonância e a
sonoridade que o regente deseja em cada peça do repertório. Estes sons também podem
anteceder as vogais, auxiliando a colocação vocal das mesmas (FERNANDES, 2009, p. 250
e 251).
O trabalho com as vogais propicia ao coro uma sonoridade consistente e
homogênea, além de uma maior inteligibilidade do texto. Cada vogal possui uma
configuração diferente da língua, mandíbula e lábios (DAVIDS e LATOUR, 2012, p. 87).
Costumamos cantar as vogais com os lábios mais arredondados e a boca mais aberta
68
verticalmente, o que difere da maneira como as falamos27. Isto acontece para que o coro
possa timbrar com mais facilidade e mantenha o som mais “focado”.
Em nossos coros, tomamos como referência a proposta do maestro Henry Leck,
para abordar as vogais. Nela, o [u] é cantado com os lábios bastante arredondados e o
recurso de aprendizagem utilizado para que esta vogal seja melhor executada pode ser o
gesto de segurar uma cesta de basquete imaginária, na frente do corpo. O [i], [e] e [ε]
também são arredondados, com abertura vertical gradativa, na respectiva ordem.
Colocamos os indicadores nos cantos dos lábios para auxiliar na redondeza e verticalidade
destas vogais. [o], [ɔ] e [ɑ] são as vogais com a maior abertura de boca, gradativa e
respectivamente, mantendo os lábios arredondados também. O gesto do [o] e do [ɔ] pode
ser o de segurar uma bola de praia grande, acima da cabeça, e no [ɑ] o gesto de desenhar
uma linha com o indicador, partindo da testa até o queixo, passando pelo nariz e boca
(LECK, 2009, p. 24 a 28; RHEINBOLDT, 2014, p. 45 a 48). Outros gestos28 podem ser
utilizados para que a colocação e sonoridade das vogais sejam melhor compreendidas e
realizadas pelo coro e o regente tem total liberdade para adaptar as sugestões acima.
2.3.2 Exercícios
Com vibração de lábios ([r]) e de língua ([tr] e [r]), consoantes fricativas sonoras
([v], [z] e [Ȣ]) e boca chiusa ([ɲ], [n], [m] e [ŋ]), podemos iniciar a parte cantada do
preparo vocal de nossos coros, variando-as conforme modulações e necessidades técnico-
vocais. Propomos alguns padrões melódicos básicos, recorrentes na tradição da
pedagogia vocal, para o desenvolvimento da ressonância. O regente pode escolher alguns
destes padrões melódicos para aplicar a vibração de lábios e língua e os sons fricativos
e/ou nasais no aquecimento de seus coros.
27 A configuração dos lábios arredondados e a boca aberta verticalmente altera a qualidade acústica
(formantes e harmônicos) do som emitido. Neste trabalho não entraremos em detalhes sobre estas questões
acústicas.
28 Em nossa prática, recriamos alguns gestos propostos pelo maestro Henry Leck, os quais relatamos em
nossa pesquisa de mestrado. Recomendamos que ela seja consultada nas páginas 50 a 54.
69
Figura 16. Padrões melódicos maiores, menores e cromáticos para aquecimento vocal
Os padrões de número 1 a 9 são em modo maior, com extensão vocal entre uma 2ª
Maior e uma 6ª Maior. Os padrões de número 10 a 13 são em modo menor, com extensão
vocal entre a 3ª menor e a 5ª Justa. O padrão 14 é cromático, com extensão de 3ª Maior.
Em todos os padrões a tonalidade inicial sugerida é Ré Maior ou Ré menor e o andamento
é de . Os níveis de dificuldade são 1 para os exercícios 1 a 7 e 10 a 13, e 2 para os
exercícios 8, 9 e 14, por serem mais desafiadores quanto a afinação. Vale ressaltar que
nestes primeiros exercícios de aquecimento, não se faz necessário alcançar amplas
extensões vocais nas modulações e no material melódico dos vocalises. Estes exercícios
devem se concentrar no “aquecimento da ressonância” nos registros médio e agudo,
priorizando o uso da voz de cabeça.
Para otimizar o tempo de preparo vocal, também podemos misturar vibração de
lábios e língua com sons fricativos e nasais, como no exemplo:
70
Ainda é possível se intercalar expirações em [s], [f] , [ʃ] e [h] com vibração de
lábios e língua e sons fricativos e nasais, como exemplificado ou com outros padrões
melódicos já descritos:
Este modelo pode ser aplicado com os seguintes pares de expiração e canto:
Estas variações podem acontecer entre uma modulação e outra ou a cada aula,
tornando o preparo vocal mais dinâmico e as repetições menos enfadonhas. Recursos de
aprendizagem como a imaginação de sons e situações do cotidiano, gestos e objetos
podem ser utilizados na execução destes padrões melódicos básicos e em todos os
exercícios que seguem.
2.3.2.1. Vocalise 1
2.3.2.2. Vocalise 2
2.3.2.3. Vocalise 3
2.3.2.4. Vocalise 4
2.3.2.5. Vocalise 5
2.3.2.6. Vocalise 6
Nas consoantes fricativas sonoras ocorre a vibração das pregas vocais e a produção
sonora. Nas consoantes fricativas surdas não há vibração das pregas vocais e,
consequentemente, não há som. Neste exercício, utilizamos os pares de consoantes
fricativas sonoras e surdas – [z] e [s], [v] e [f], [Ȣ] e [ʃ] – os quais lábios e dentes possuem
a mesma configuração e se diferem apenas pela vibração das pregas vocais. Sugerimos
alternar os pares a cada modulação, para dinamizar o exercício, mas é possível realizá-lo
somente com um dos pares. Como envolve expirações com sons fricativos também pode
otimizar o preparo vocal, unindo respiração e canto.
75
2.3.2.7. Vocalise 7
2.3.2.8. Vocalise 8
2.3.2.9. Vocalise 9
2.3.2.10. Vocalise 10
Neste exercício, exploramos palavras com [v] e [z], juntando articulação com
ressonância. Com nossos coros, usamos gestos para auxiliar a memorização do texto,
como o de convidar outras pessoas para ver a tal viseira, colocar as mãos na testa para
representá-la, apontar o colega do lado para mostrar a vizinha e unir as mãos na forma do
telhado da casa azul. Outros gestos podem ser criados em conjunto com os cantores,
deixando a criatividade fluir. Este exercício também propicia a exploração de expressões
faciais de surpresa e/ou espanto e a intenção de transmitir o texto a outras pessoas, isto
pode ser utilizado na interpretação do repertório.
78
2.3.2.11. Vocalise 11
Figura 29.Vocalise 11
79
2.3.2.12. Vocalise 12
cantores a tradução: “minha mãe” ou “minha nossa” (mamma mia) e “avó” (nonna).
Imaginar o nhoque saboroso ajuda na interpretação do texto e na ressonância frontal.
2.3.2.13. Vocalise 13
Acima, outro exercício que associa comidas saborosas à boca chiusa com [m]. A
cada modulação o alimento pode mudar. O regente pode propor temáticas específicas
como frutas, verduras, comidas de festas, doces, salgados etc., e os cantores também
podem dar sugestões, tornando o exercício mais criativo e estimulante.
2.3.2.14. Vocalise 14
Este é um exercício do maestro Henry Leck (LECK, 2009, p. 43) que trabalha a
ressonância do [ŋ] e a articulação das palavras “ping pong”. Os cantores podem executá-
lo em duplas, imitando um jogo de ping pong, com bolinha e raquetes imaginárias.
81
2.3.2.15. Vocalise 15
2.3.2.16. Vocalise 16
Em mais este exercício do livro do maestro Henry Leck (LECK, 2000, p. 49) é
possível trabalhar a ressonância através do [z] e [ŋ] com as vogais [i], [ɑ] e [u]. O maestro
propõem a percussão corporal com pés e estalos, alternando-os nos tempos fortes e
fracos, respectivamente. Para uma melhor coordenação, a percussão pode ser ensinada
aos poucos: só os tempos fortes, primeiro, depois só os fracos e juntá-los, em seguida. Este
também é um excelente exercício para moldar abordar a colocação de cada vogal.
83
2.3.2.17. Vocalise 17
2.3.2.18. Vocalise 18
2.3.2.19. Vocalise 19
com o corpo virado para frente, para a direita, para trás e, por fim, para a esquerda. Tal
movimentação auxilia o coro a se acostumar com a acústica de salas de ensaio e de
concertos e a escutar melhor os que estão à sua volta.
2.3.2.20. Vocalise 20
2.3.2.21. Vocalise 21
Semelhante ao vocalise 20, este vocalise também trabalha a ressonância nasal com
[n] e com as vogais [i] e [e]. Nas tonalidades mais graves utilizamos “ni-e-i” e nas
tonalidades agudas alteramos para “nu-a-u” e / “na-o-a”, explorando vogais com
aberturas de boca mais verticais. Também pedimos para o coro cantar com a sensação de
espirrar, mantendo a sensação da colocação frontal.
2.3.2.22. Vocalise 22
2.3.2.23. Vocalise 23
errada e depois a “jogamos fora” adotando a colocação ideal como nossa sonoridade
padrão. No acompanhamento do piano, as dissonâncias e consonâncias também reforçam
este jogo de erro e acerto.
2.3.2.24. Vocalise 24
Este é o primeiro vocalise que o maestro Henry Leck (LECK, 2009, p. 27) realiza no
preparo vocal de seus coros, associando gestos já relatados para trabalhar as “fôrmas” de
cada vogal. O maestro trabalha, individualmente, o [u], [i], [e], [o] e [ɑ], sem modulações,
e depois une-as na sequência da partitura. O exercício também estimula o legato, exigindo
dos cantores uma boa administração da respiração. Com coros iniciantes, pode-se aplicar
tal exercício com a respiração intercalada entre os cantores (respiração coral) ou em um
andamento mais rápido. Antes de cantar as vogais, o regente pode propor explorações
vocais no registro agudo e com glissandos, brincando com a colocação correta e incorreta
e estimulando o uso da voz de cabeça. Nos vocalises 25 e 26, propomos duas adaptações
deste exercício.
88
2.3.2.25. Vocalise 25
2.3.2.26. Vocalise 26
2.3.2.27. Vocalise 27
Partindo da colocação frontal do [i], cantamos as vogais [e] e [ɑ]. Estas duas
últimas vogais têm se mostrado um desafio de colocação vocal em nossa prática de
preparo vocal com crianças, por serem emitidas facilmente sem a ressonância focada.
Costumamos manter os dedos indicadores nos cantos dos lábios, para mantê-los
arredondados e evitar a abertura de boca horizontal. Para melhorar a afinação, também
pensamos em uma escada com três degraus. O primeiro degrau é apontado sempre que
se canta a tônica, o segundo degrau, a terça, e o terceiro degrau, a quinta. As mãos podem
se intercalar para “tocar” cada degrau da escada imaginária.
2.3.2.28. Vocalise 28
No vocalise 28, cantamos as vogais [i], [e], [ɑ] e [ɔ] e fazemos um glissando em
[u], para explorar a voz de cabeça. Nas pausas dos três primeiros compassos, fazemos três
poses para fotos, sozinhos ou interagindo com os colegas. No glissando associamos um
gesto com o indicador, que pode ser descendente como a melodia ou ascendente para uma
melhor afinação. No quinto e sexto compassos, dançamos livremente. Na modulação,
paramos e nos preparamos para novas poses. As poses podem explorar a livre-expressão
dos cantores, com temáticas específicas e elementos do repertório. Consoantes podem
anteceder as vogais para aprimorar a colocação vocal.
2.3.2.29. Vocalise 29
Da vogal mais frontal à mais posterior, trabalhamos as sete vogais orais na seguinte
sequência: [i], [e], [ε], [ɑ], [ɔ], [o] e [u], modelando as “fôrmas” de cada uma delas. A fim
de auxiliar a colocação vocal e o fraseado musical, movemos os braços, suavemente, como
se estivéssemos movendo bexigas no ar.
2.3.2.30. Vocalise 30
bochechas), quando cantamos [i], [e] e [ε] do início. Com as mãos nas bochechas,
mantemos a verticalidade da boca, movendo as mãos dos lábios ao fundo da boca, nas
vogais [ɑ], [ɔ] e [o]. Na sequência completa das vogais, contornamos os olhos, partindo
do meio da testa, passando pelos zigomáticos, desenhando um círculo acima da cabeça,
descendo pela frente do rosto e apontando os lábios arredondados do [u], no final. A
amplitude do círculo acima da cabeça pode variar conforme a extensão vocal da melodia,
sendo o primeiro círculo menor e o segundo maior. Os gestos ajudam a manter a colocação
vocal correta das vogais e interfere na melhora da qualidade sonora.
2.3.2.31. Vocalise 31
com gestos curtos. No [i] final, colocamos os indicadores nos cantos dos lábios,
modelando, assim, as vogais trabalhadas. Como este é um vocalise destinado a coros mais
avançados, após vivenciar os gestos descritos, sugerimos que se cante sem nenhum gesto,
para perceber as diferenças sonoras e, aos poucos, incorporar a sonoridade ideal. Pode-
se intercalar o uso e o não uso dos gestos a cada modulação, até que o coro alcance a
sonoridade almejada sem os gestuais.
2.3.2.32. Vocalise 32
2.3.2.33. Vocalise 33
2.4.1. Contextualização
Phillips define dicção como a maneira que uma língua é falada e aponta que seu
estudo é subdividido em três áreas: pronúncia, enunciação e articulação. A pronúncia
abrange como são faladas as palavras. A enunciação aborda como são faladas as vogais e
sílabas, as quais conduzem a ressonância vocal. E a articulação diz respeito a como são
faladas as consoantes, que dão sentido ao idioma (PHILLIPS, 1992, p. 305).
A pronúncia envolve tanto a língua vernácula, quanto idiomas estrangeiros, o que
requer do regente pesquisas, estudos e noções básicas de fonética, para que ele possa
ensinar seu coro a cantar e transmitir o significado correto das palavras. A enunciação e
o trabalho com vogais foram detalhados no item “Ressonância”. Fernandes reforça a
relevância deste trabalho afirmando que, para se atingir uma dicção coral eficiente, é
preciso que os cantores estejam cientes e produzam de forma correta e unificada as vogais
e a articulação das consoantes (FERNANDES, 2009, p. 236).
A articulação das consonantes se faz importante por elas serem mais numerosas
que as vogais e por propiciarem a precisão rítmica, a expressividade e, principalmente, a
inteligibilidade do texto (LECK, 2009, p. 33; FERNANDES, 2009, p. 249). Sem o texto,
precisão rítmica e expressividade perdem o sentido. Em nossa prática docente, notamos
que muitas crianças demonstram “preguiça” para abrir a boca para cantar, o que
compromete a projeção vocal, a qualidade sonora e o entendimento do texto. Tal preguiça
pode ser justificada pela desmotivação e falta de identificação com o trabalho coral, as
quais podem ser melhoradas através de mudanças de repertório, de atividades didáticas
e do vocabulário empregado pelo regente, por exemplo. Outra justificativa também pode
ser a falta de domínio dos articuladores – lábios, dentes, língua, maxilar, palato duro e
mole, gengiva e glote (PHILLIPS, 1992, p. 307) –, pois, eles dificultam “a passagem
96
29
As consoantes podem ser classificadas como bilabiais, labiodentais, linguodentais, alveolares, palato-
alveolares, palatais, velares, uvulares, faríngeas e glotais ou glóticas, de acordo com seu ponto de
articulação, ou seja, o lugar do trato vocal onde o ar é obstruído. O modo de articulação da consoante varia
conforme o obstáculo que ocorre no trato vocal, na passagem de ar, e as possíveis classificações
consonantais são: plosivas, fricativas, nasais, africadas, glides ou semivogais e laterais. O comportamento
das pregas vocais durante a produção das consoantes classifica-as em sonora ou surda, caso haja a vibração
das pregas vocais (FERNANDES, 2009, p. 247 e 248). Em nossa pesquisa, não detalharemos estas
classificações, mas, para mais informações, recomendamos a consulta das teses de MATTOS, 2014 e
FERNANDES, 2009, e do site http://www.fonologia.org/fonetica_consoantes.php , que, de forma interativa,
possibilita ouvir o som de consoantes e vogais transcritas em símbolos fonéticos.
30A tabela completa do Alfabeto Fonético Internacional (IPA) está nos anexos e foi retirada de MATTOS,
204, p. 197. Também sugerimos consultar https://www.internationalphoneticassociation.org
97
W [v], [w]; X [ʃ], [s], [z]; Y [i], [j]; Z [s], [z] (KAYAMA et al, 2007, p. 33 a 37)31. Conhecer
suas configurações de articulação e usos ajudam o regente a direcionar e otimizar seu
trabalho de preparo vocal.
A seguir, abordaremos vocalises para a articulação e inteligibilidade de textos em
português e para o aprimoramento da pronúncia em outros idiomas. Agrupamos os
vocalises em português que têm nível de dificuldade 1 (vocalises 34 a 38) e nível 2
(vocalises de 49 a 58), e os vocalises de níveis variados que são em latim, italiano,
espanhol, inglês, francês e alemão (vocalises de 59 a 72). Seguimos os mesmos critérios
de classificação e análise dos vocalises de ressonância e lembramos que as modulações
devem ser realizadas conforme a extensão, tessitura e qualidade vocais de cada coro
infantil, sendo aprimoradas e ampliadas, gradativamente. Em vocalises com grande
extensão vocal, o regente pode escolher se serão realizadas modulações. Consideramos
mais importante a qualidade da colocação vocal do que quantidade de notas alcançadas,
e isto deve ser levado em consideração pelo regente.
2.4.2.1. Vocalise 34
Este vocalise é uma junção do exercício de Diana Goulart e Malu Cooper (GOULART
e COOPER, 2002, p. 25) – com algumas alterações na métrica e nas notas – e de um vocalise
de nossa autoria. Os três alimentos não costumam ser consumidos diariamente por
crianças, o que pode remeter a bons momentos e estimular o canto. Além da articulação,
na primeira parte, a ressonância nasal com [m] é viablizada. Ao final da segunda parte,
podemos realizar estalos de língua ou outras explorações vocais, para sonorizar as
pipocas e brincar com os articuladores. Os gestos utilizados podem ser: mastigação,
polegar positivo, “tomar” coca e “comer” pipoca.
31Nos anexos, consta a tabela com os símbolos fonéticos das vogais e consoantes do português brasileiro
utilizados no canto erudito. Esta tabela foi nossa referência para as transcrições fonéticas em português e
integra o artigo de KAYAMA et al, 2007, p. 33 a 37.
98
2.4.2.2. Vocalise 35
2.4.2.3. Vocalise 36
32 As cifras descritas não são as propostas por Goulart e Cooper, mas sim as que costumamos utilizar em
33
Para que a partitura do vocalise não ficasse muito extensa, optamos pela transcrição fonética apenas no
primeiro texto. As variações com “Scooby Doo e “lua lu”, encontram-se escritas em nossa dissertação de
mestrado.
100
modulações, como segurar o bico do [u], fazer um “w” com os dedos, uma pose, pular,
imitar um cachorro ou pegar a lua no céu.
2.4.2.4. Vocalise 37
2.4.2.5. Vocalise 38
2.4.2.6. Vocalise 39
2.4.2.7. Vocalise 40
2.4.2.8. Vocalise 41
2.4.2.9. Vocalise 42
2.4.2.10. Vocalise 43
2.4.2.11. Vocalise 44
de outras vogais. O exercício também pode ser uma possibilidade de vivenciar e teorizar
os conceitos dos citados modos, ampliando, assim, a musicalidade do coro.
2.4.2.12. Vocalise 45
2.4.2.13. Vocalise 46
2.4.2.14. Vocalise 47
Este vocalise de Diana Goulart e Malu Cooper (GOULART e COOPER, 2002, p. 31)
possui rico material melódico e rítmico, sobretudo para coros iniciantes e pode ser
executado em ritmo de salsa. Aos nossos cantores, propomos a movimentação de girar os
braços na frente do corpo e inclinar o tronco para frente e para trás, dançando e cantando,
ao mesmo tempo. Costumamos trabalhar este exercício após o vocalise 34, para também
incentivar hábitos alimentares saudáveis.
2.4.2.15. Vocalise 48
2.4.2.16. Vocalise 49
2.4.2.17. Vocalise 50
O vocalise 50 foi criado com base em um exercício de Leck (LECK, 2009, p.52). A
segunda parte (compassos 4 a 8) é idêntica ao exercício do citado maestro, e a palavra
original era “vivo”. Acrescentamos a melodia inicial – um arpejo da Dominante – e
alteramos o texto para trabalhar a articulação da consoante [p], a ampliação da extensão
vocal e a ressonância frontal. Inicialmente, para diferenciar as melodias ascendente e
descendente, levantamos os braços, na primeira parte, e os abaixamos, na segunda parte.
Em alguns casos, o movimento oposto ao direcionamento da melodia pode auxiliar na
precisão da afinação. Podemos experimentar ambos os movimentos e também estalar os
dedos nos tempos fracos, tal como é proposto no vocalise de Leck.
110
2.4.2.18. Vocalise 51
2.4.2.19. Vocalise 52
começo, e palmas, no final. Alguns cantores podem confundir a tercina com a síncopa e,
propositalmente, o acompanhamento do piano e a percussão corporal sugerida podem
auxiliar na execução da rítmica correta.
2.4.2.20. Vocalise 53
No vocalise acima exploramos frutas e palavras que possuem a letra [m], para
trabalhar articulação e ressonância nasal. Também propomos a marcação com percussão
corporal em todo vocalise, no início de cada compasso, alternando os lados direito e
esquerdo e seguindo a sequência: pé, pé, coxa, coxa, barriga, barriga, ombro, ombro. Na
tonalidade seguinte, inverter a sequência: ombro, ombro, barriga, barriga, coxa, coxa, pé,
pé. Esta movimentação trabalha coordenação motora, lateralidade e esquema corporal.
Para facilitar a imitação e compreensão das crianças, o regente deve fazer todos os
movimentos de forma espelhada, ou seja, seu lado esquerdo equivale ao direito dos
cantores, e seu direito, ao esquerdo deles. Este espelhamento deve perdurar por todas as
atividades do coro infantil.
113
2.4.2.21. Vocalise 54
2.4.2.22. Vocalise 55
2.4.2.23. Vocalise 56
2.4.2.24. Vocalise 57
2.4.2.25. Vocalise 58
Neste outro exercício encontrado no livro de Ana Tatit e Maristela Loureiro (TATIT
e LOUREIRO, 2014, p. 66 e 67), enfocamos a articulação das consoantes [t], [ɾ] e [k], a
variação de andamentos e a ampliação de vocabulário. Primeiramente, explicamos o
significado de palavras que podem ser desconhecidas, como “treme traco”, “tramoia”,
117
2.4.3.1. Vocalise 59
34 Significados: “treme traco”: tremedeira; “tramoia”: plano maldoso; “traquina”: pessoa arteira, levada;
“balaio”: cesto; “zoia”: olha; “de soslaio”: olhar desviado, desconfiado.
35 O latim utilizado no canto coral é o litúrgico e, no Brasil, em geral, adotamos a pronúncia eclesiástica
romana. Na pronúncia eclesiástica todas as vogais são abertas, ou seja, não existe [e], nem [o]. As vogais
118
2.4.3.2. Vocalise 60
Outro erro de pronúncia bastante comum pode ser encontrado na palavra excelsis.
Muitos a pronunciam o “xc” com som de “tch” [tʃ], porém, no latim utilizado para o canto,
o “x” tem som de [k] e o prefixo “ex” seguido por “ce”, “ci”, “cae” “coe” ou “cy” deve ser
latinas devem ser trabalhadas da maneira que já descrevemos, com ressonância frontal e abertura vertical
da boca, priorizando, assim, a homogeneidade coral. A abertura vertical pode nos passar a impressão de que
as citadas vogais são fechadas, mas não são.
119
2.4.3.3. Vocalise 61
36 Informações retiradas do material desenvolvido pela Prof. Dra. Adriana Kayama para a disciplina “Dicção”
2.4.3.4. Vocalise 62
Na frase Ave Maria, ora pro nobis – que significa “Ave Maria, rogai por nós” –
trabalhamos a ampliação da extensão vocal, a equalização dos registros, a colocação das
vogais e a pronúncia. Outro aspecto a ser priorizado é o legato, lembrando que os cantores
devem articular as consoantes sem perder a ressonância das vogais, manter a prosódia
correta e não respirar durante o vocalise. O corte do [s] da palavra “nobis” deve ser
realizado por todo coro, no início do quarto compasso, de forma curta e precisa.
2.4.3.5. Vocalise 63
2.4.3.6. Vocalise 64
têm as consoantes duplas [l*l] e [t*t]. Com nossos coros, trabalhamos a articulação destas
consoantes cantando rapidamente as vogais que as antecedem e antecipando sua
articulação. Cantar sem as consoantes duplas descaracteriza o italiano e o significado de
suas palavras. O significando de bella notte é linda noite.
2.4.3.7. Vocalise 65
2.4.3.8. Vocalise 66
2.4.3.9. Vocalise 67
2.4.3.10. Vocalise 68
Este é um vocalise que auxilia a prática de palavras em inglês que podem ser
encontradas no repertório tradicional de natal. Sua tradução é “feliz natal, Papai Noel está
125
chegando em breve”. Em nossa prática, notamos que crianças brasileiras têm dificuldade
em cantar o [r] retroflexo da língua inglesa. A pronúncia das palavras “merry” e
“Christmas” podem auxiliar nesta dificuldade e usar a metáfora de imitar o “r de caipira”
pode ser efetivo à compreensão infantil. Outro aspecto a ser notado é a pronúncia de
vogais abertas curtas e átonas, que não existem no português como, [ə], [æ] e [ʌ], presente
nas palavras “Christmas”, “Santa” e “coming”. Recomendamos que cada palavra seja
repetida com calma, sílaba a sílaba, para que as crianças percebam e consigam executar
tais vogais. A modulação acontece na palavra “soon”, o canto do semitom reforça a
“ansiedade” da chegada do Papai Noel e deixa o exercício mais fluído. Ao passo que a
pronúncia e a melodia forem apreendidas, pode-se aumentar o andamento, para a
articulação ser mais desafiadora.
2.4.3.11. Vocalise 69
2.4.3.12. Vocalise 70
chiusa podem ser úteis. É importante ressaltar que, no francês cantado, o [r] pode ser
vibrante em muitos casos, como no final das palavras. Na fala, além de ser fricativo, pode
não ser sonoro na finalização de alguns verbos, substantivos e adjetivos. Em nossos coros,
explicamos a diferença entre a fala e o canto e adotamos o [r] no final das palavras
“bonjour” e “bonsoir”. Além da pronúncia correta, o exercício também visa a precisão da
afinação, sobretudo nos saltos melódicos, e ela não deve ser desconsiderada.
2.4.3.13. Vocalise 71
No alemão, existem dois sons fricativos com “ch”, que se diferenciam conforme as
vogais que os antecedem. Após “i” e “e” o som é mais frontal e o símbolo fonético é o [`zI=
após “a”, “o” e “u” o som é mais fricativo e o símbolo fonético é o [x]. O principal propósito
deste vocalise é entender as diferenças dos sons fricativos com “ch”. Para pronunciar a
palavra ich pedimos que as crianças imitem o som de um “gato bravo”, que falem “i”,
mantenham os articuladores usados na produção desta vogal e soltem o ar, sentindo-o
passar pelo palato duro, atrás dos dentes superiores frontais. O mesmo princípio, de
128
manter a articulação das vogais e soltar o ar, se aplica às palavras ach e auch, porém, as
sentiremos no palato mole, no fundo da boca. O nome das gatas “Lili” e “Lala”, bem como
o latido do cachorro (au au), ajudam a formar a articulação das vogais e a realizar seus
respectivos sons fricativos. É importante notar que tais sons não são como “ch” em
português, [ʃ], o que é um erro de pronúncia recorrente em cantores brasileiros sem a
devida instrução de dicção. As palavras “ich”, “ach” e “auch” significam “eu”, “ó” (como
uma lamentação / exclamação) e “também”.
2.4.3.14. Vocalise 72
Este é um vocalise de Jens Rohwer que consta no método alemão de preparo vocal
para crianças e jovens, de Paul Nitsche (ROHWER em NITSCHE, 1969, p. 53). No alemão,
de maneira geral, todas as consoantes devem ser bem articuladas e elisões de palavras,
evitadas. Neste exercício, podemos trabalhar, principalmente, a articulação das
consoantes “z” e “s”, as quais possuem o som de [ts] e [z], respectivamente. Musicalmente,
o exercício apresenta desafios rítmicos e melódicos, por meio de variações de fórmulas de
129
compasso e de saltos melódicos com maior grau de dificuldade de afinação assim trazendo
crescimento musical a coros intermediários e avançados.
2.5.1. Contextualização
XIX, quando o professor de canto Manuel Garcia, em uma laringoscopia, observou que as
pregas vocais vibravam de forma diferente em notas graves e agudas (DAVIDS e LATOUR,
2012, p. 145 e 146). A partir desta observação, Garcia passou a defender a existência de
três tipos de registros, denominados de: grave, médio e agudo, ou, voz de peito, voz mista
e voz de cabeça. Estudiosos da voz divergem no que diz respeito à terminologia e às
opiniões sobre os registros vocais, sendo que alguns até mesmo desconsideram o registro
médio, mas, nesta tese, consideramos os três registros com suas citadas termologias.
Fernandes e Carnassale apontam que os registros são caracterizados não apenas
pelo padrão de vibração das pregas vocais, mas também, pela ação e predominância de
certas musculaturas vocais, pela extensão vocal envolvida e pelo timbre produzido, que
podem variar conforme com o sexo, a idade e a fisiologia de cada indivíduo (FERNANDES,
2009, p. 254 e 256; CARNASSALE, 1995, p. 89).
Entre os registros, existem zonas de adaptação da musculatura laríngea,
denominadas de “passagem”. Segundo Fernandes, “a transição da voz de peito para a
mista é chamada de primeira passagem e a transição da voz mista para a de cabeça é
chamada de segunda passagem” (FERNANDES, 2009, p. 256). Quando o cantor não
domina estas passagens de registro, podem ocorrer as “quebras” vocais, que são
mudanças abruptas na qualidade sonora e na afinação, e podem gerar tensões e
desconfortos vocais. O trabalho de preparo vocal de cantores solistas e de coro deve
ensiná-los a realizar hábeis ajustes laríngeos para que, durante o canto, estas quebras não
aconteçam, as passagens não sejam evidenciadas e a extensão vocal soe de forma
equilibrada e consistente (DAVIDS e LATOUR, 2012, p. 145 e 146; FERNANDES, 2009, p.
265).
No tocante às vozes infantis, Carnassale elenca alguns aspectos importantes do
trabalho com registros. A autora afirma que crianças, geralmente, falam no registro grave
e que, quando não possuem instrução vocal, tendem a cantar neste registro não apenas as
notas graves, mas as notas médias também, o que limita a expressividade musical, faz
oscilar a afinação e pode ser prejudicial e permanentemente danoso à saúde vocal. É
possível detectar o uso da voz de peito no registro médio quando as crianças cantam uma
escala ascendente e, nas notas agudas, ocorrem quebras, tensões desnecessárias e perda
da qualidade sonora (CARNASSALE, 1995, p. 89 e 90). Nesta situação, podemos notar que
as crianças tensionam partes do corpo à toa (veias do pescoço ressaltadas, queixo para
frente, testa franzida, etc.) e parecem “gritar” enquanto cantam.
131
Por outro lado, existem algumas abordagens de preparo vocal para crianças que
supervalorizam os agudos e desprezam a voz de peito, o que resulta em notas graves (do
Mi3 para baixo) sem peso, volume e riqueza de timbre (CARNASSALE, 1995, p. 90).
Carnassale, com base em Phillips, recomenda que:
2.5.2. Exercícios
2.5.2.1. Vocalise 73
Este é um vocalise que integra o livro de Leck (LECK, 2009, p. 41), porém, com uma
adaptação na segunda nota. Na proposta de Leck, a nota em questão é um intervalo de 2ª
Maior. Esta adaptação encontra-se na tese de Fernandes (FERNANDES, 2009, p.381) e
também está justificada em nossa dissertação de mestrado (RHEINBOLDT, 2014, p. 72).
Optamos por cantar a 3ª Maior, pois ela proporciona a construção gradativa da tríade
Maior. No primeiro compasso, se canta até o terceiro grau; no segundo compasso, até o
quinto grau; e, no terceiro compasso, a tríade completa com o acréscimo da 8ª. A
articulação da consoante fricativa [v] auxilia a manter ressonância frontal e no registro
agudo, geralmente, substituímos “viveva” por “vivuva”, para aumentar o espaço de
ressonância, no fundo da boca. Os recursos de aprendizagem que costumamos empregar
neste vocalise são a manipulação da mola de brinquedo e a metáfora de “atirar” o som na
plateia. Em ambos os casos, os movimentos se tornam mais amplos, conforme a extensão
da melodia, ou seja, esticamos a mola pouco a pouco, e imaginamos o som “atingindo” a
primeira fileira (no primeiro compasso), o meio do teatro (no compasso seguinte) e o
fundo do teatro (no último compasso). Ao usar a ideia de “atirar” o som é preciso ser
cauteloso com ataques vocais bruscos e prejudiciais. Em vez de cantarem com tensão, as
crianças devem ser orientadas a administrarem melhor a respiração (apoio), a abrirem a
boca verticalmente e a direcionarem a ressonância, medida que o vocalise for ficando
agudo.
133
2.5.2.2. Vocalise 74
2.5.2.3. Vocalise 75
38Conhecemos o material da Maíra Martins, por indicação do preparador vocal Danilo Frederico (Rio de
Janeiro-RJ), durante o Festival de Corais de Catanduva (FESCC), em 2017. Alguns dos recursos de
aprendizagem que relatamos foram ensinados por ele, em seu curso sobre preparo vocal para crianças,
jovens e adultos. Gostaríamos de lhe dar credibilidade por isto.
134
e uma sonoridade de pouca qualidade vocal. Cada regente pode escolher qual nota é
melhor para seu coro cantar. Para auxiliar na sustentação das notas em semibreve,
pedimos que nossos cantores realizem um gesto manual contínuo, partindo do lado
direito para o esquerdo, como se desenhassem no ar o arco-íris. A afinação refinada é
fundamental para a execução deste vocalise e deve ser priorizada.
2.5.2.4. Vocalise 76
2.5.2.5. Vocalise 77
2.5.2.6. Vocalise 78
2.5.2.7. Vocalise 79
2.5.2.8. Vocalise 80
repertório musical brasileiro. Para tornar esta ampliação de repertório ainda mais válida,
propomos cantar este exercício com percussões corporais e acompanhamentos
instrumentais característicos de ritmos brasileiros, como o baião e o samba, por exemplo.
2.5.2.9. Vocalise 81
2.5.2.10. Vocalise 82
Este exercício de Paul Nitsche (NITSCHE, 1969, p.21) foi originalmente escrito para
se cantar em com a palavra “dua” (sem significado específico) e o autor também sugere
que outras vogais sejam trabalhadas. Tomamos a liberdade de adaptar os fonemas,
refletindo sobre as características da voz infantil e os registros abordados em cada excerto
melódico. Nos quatro primeiros compassos, há a predominância dos registros médio e
agudo. A consoante fricativa [v] e a vogal [i] ajudam a manter a ressonância frontal,
suavizando possíveis tensões de emissão das notas graves, as quais não são tão sonoras
em vozes infantis e podem ser forçadas com o uso indevido do registro de peito. Nos
compassos de número 4 a 8, os registros médio e agudo são priorizados e adotamos a
consoante [n] e a vogal [u] para equilibrar as ressonâncias anterior e posterior,
possibilitando a colocação focada na “máscara” e o espaço orofaríngeo, ideal para notas
agudas. Nos compassos restantes, as colcheias são mais recorrentes e, por exigir
articulação mais precisa e a exploração do registro médio, adotamos a consoante [p] e a
vogal [ɑ]. Não recomendamos que este exercício seja modulado até que todos os registros
e fonemas estejam bem homogeneizados e a afinação esteja precisa. Outras sílabas podem
ser cantadas e diversos recursos expressivos (dinâmicas, andamentos, etc.) e de
141
2.6.1. Contextualização
que mal alcançavam uma afinação precisa em uníssono e já ousavam executar repertórios
a 2 ou 3 vozes, resultando em uma performance inadequada e pouco musical, o que
expunha tanto os cantores quanto os regentes. Acreditamos que qualquer trabalho
musical de qualidade deve partir de uma boa afinação. É preferível que o coro cante por
um bom tempo repertórios em uníssono e dentro de suas possibilidades vocais e musicais,
do que repertórios em 2 ou 3 vozes de forma desafinada e pobre de musicalidade, para
meramente “impressionar” a plateia pela dificuldade da polifonia. Pela necessidade de
ampliação de conhecimentos e pela relevância da temática afinação no canto coral infantil,
discutiremos este assunto com mais detalhes.
Um coro soa homogêneo quando não se escuta vozes isoladas se sobressaindo. É
sabido que padronizar a configuração dos articuladores (“fôrmas”) na produção das
vogais pode contribuir com tal homogeneidade, mas, além de adotar uma abordagem
técnico-vocal comum, também é primordial que os cantores cantem com a mesma
afinação, para não destoarem no todo.
A afinação é, antes de tudo, um fator cultural. Em geral, no ocidente, adotamos um
sistema de afinação temperado, de origem europeia e organizado em doze sons
(semitons). No oriente também podemos encontrar outros sistemas de afinação, que
incluem mais sons (quarto de tons, microtons, etc.). Assim, o que soa “desafinado” ao
ocidental, pode soar perfeitamente “afinado” ao oriental (SOBREIRA, 2003, p. 171;
ANDRADE, 2010, p. 77). Como estamos no Brasil, adotamos tal sistema temperado e
fazemos a distinção do que soa afinado – na mesma frequência acústica – e desafinado.
Silvia Sobreira, referência nacional na pesquisa sobre desafinação vocal,
contextualiza que “cantar afinadamente envolve mecanismos ligados à percepção
auditiva, ao controle motor (produção vocal), à compreensão dos esquemas da música
tonal e à memória” (SOBREIRA, 2017, p. 72). Além destes aspectos, em nossa revisão
bibliográfica, também encontramos outras justificativas para a desafinação infantil, como:
desatenção, temperamento/comportamento da criança, ambiente, metodologia de ensino
e distúrbios orgânicos (SOBREIRA, 2017, p. 73 e 74; SOBREIRA, 2016, p. 131; GIGA, 2004,
p. 71 a 76; ANDRADE, 2010, p. 77 a 80; SESC, 1997, p. 41).
A percepção auditiva deficiente pode estar relacionada à dificuldade da criança de
se ouvir e se perceber no todo (SOBREIRA, 2017, p. 73), e à inexperiência em lidar com
estímulos sonoros diversos e simultâneos, como naipes com linhas vocais distintas,
acompanhamento instrumental harmônico, modelo vocal adulto com impostação
143
inapropriada à voz infantil ou modelo adulto masculino que não canta em falsete e requer
a transposição de oitavas etc.
Com relação ao desenvolvimento técnico-vocal, as crianças podem não afinar por
terem uma extensão vocal limitada, por não saberem usar os mecanismos de respiração,
colocação vocal e registração vocal, por cantarem repertórios em tessitura inapropriada
e por apresentaram “voz rouca, com excesso de ar, estridente, anasalada, não compatível
com a idade cronológica (...), resultantes de maus hábitos vocais e alergias” (ANDRADE,
2010, p. 77). Nestes casos em que indícios de que a saúde vocal do cantor possa estar
comprometida, o regente deve encaminhá-lo a especialistas, como otorrinolaringologistas
e fonoaudiólogos para que, em conjunto, possam cuidar e reabilitar a voz dele.
A falta de compreensão dos esquemas tonais e de memorização podem ser
justificadas por pouca vivência musical e pela desatenção. Uma criança inerte e com pouca
capacidade de concentração, pode comprometer sua percepção e memória auditiva
(ANDRADE, 2010, p. 77). Giga relata que existem os “monótonos” – crianças que não
conseguem discriminar e reproduzir as alturas corretas – e os “falsos monótonos”, que
apresentam tais características por pura distração. Através de atividades motivadoras e
de foco mental, propostas pelo regente, elas podem superar estas dificuldades e afinar
(GIGA, 2004, p. 75 e 76). A percepção auditiva, o domínio técnico-vocal, a compreensão
de esquemas tonais e a memória musical são habilidades treináveis e aprimoráveis.
(SOBREIRA, 2017, p. 74).
Alguns fatores extramusicais também interferem na desafinação infantil, dentre
eles, o ambiente, o temperamento da criança e distúrbios orgânicos. Ambientes que
estimulam a musicalidade podem interferir na afinação. Andrade aponta que, segundo
Bartle (2003, p. 8):
(...) crianças podem nunca ter escutado alguém cantando com voz de
cabeça ou não foram ainda encorajadas a cantarem sozinhas (...). Elas
podem vir de lares cujos pais não têm tempo de cantar com elas e para
elas. Ou, simplesmente, não estão interessadas porque o professor não
possui um estilo envolvente, não oferecendo estímulos por meio de
atividades interessantes. (ANDRADE, 2010, p. 78)
2.6.2.1. Vocalise 83
2.6.2.2. Vocalise 84
Este vocalise contrasta as tríades maior e menor, podendo ser uma introdução à
contextualização de modos maior e menor. Embora óbvio e considerado inapropriado por
algumas propostas de Educação Musical, abordamos a tríade maior com expressões
faciais de surpresa e felicidade e a tríade menor com expressões de preocupação e
tristeza. Outros gestos e movimentos antagônicos também podem ser empregados. O
regente deve se atentar, em especial, à afinação do terceiro compasso, no qual aparece a
terça maior seguida da terça menor. Sugerimos que se façam fermatas nestas notas, para
conferir a afinação.
2.6.2.4. Vocalise 86
Figura 105.Vocalise 86
40 Escrevemos em partitura o vocalise 85b com base na escala menor natural, mas as escalas menores
2.6.2.5. Vocalises 87
41 As alturas reais permanecem sempre as mesmas, porém, as escalas maiores são nomeadas conforme a escala de Dó
Maior e seguirão a estrutura típica de uma escala maior (tom, tom, semitom, tom, tom, semitom). As escalas menores
serão nomeadas conforme a escala de Lá menor e sua estrutura correspondente e os modos também serão chamados
com base em suas respectivas escalas e estruturas (Dórico, escala de Ré; Frígio, Mi; Lídio, fá; Mixolídio, Sol; Lócrio, Si).
Por exemplo, em Fá Maior, a tônica “Fá” soará em sua altura real, mas será chamada e gesticulada como “Dó”; o segundo
grau, “Sol”, será o “Ré”; o terceiro grau, “Lá”, será o “Mi”, e assim por diante.
150
2.6.2.6. Vocalise 88
2.6.2.7. Vocalise 89
O exercício que segue é um exercício de Leck (LECK, 2009, p. 63) que trabalha a
afinação de cada intervalo melódico das escalas ascendente e descendente de Dó Maior. O
regente pode ensiná-lo em partes, para garantir uma melhor afinação e compreensão.
Nossa sugestão é trabalhar a escala ascendente, primeiro, de Dó a Sol, e depois de Dó a Dó.
151
Quando o coro cantar com segurança a escala ascendente, trabalhar a descendente até o
Sol e, na sequência, até o Dó grave. Para tornar o exercício mais desafiador, pode-se variar
os andamentos, bater palmas cada vez que se canta a nota Dó e/ou fazer um cânone,
começando, por exemplo, onde tem um asterisco, na partitura (terceiro tempo do
primeiro compasso). É possível, ainda, cantá-lo em modo menor.42
2.6.3.1. Vocalise 90
2.6.3.2. Vocalise 91
2.6.3.3. Vocalise 92
2.6.3.4. Vocalise 93
Criamos este cânone associando a melodia e o texto ao movimento das ondas. Seus
principais objetivos musicais são aprimorar a afinação e explorar o modo mixolídio. Para
tornar o exercício mais expressivo, é possível variar dinâmicas que delineiem a entrada
das vozes e o movimento ondular. Trabalhar este cânone com a criação de paisagens
sonoras e a escuta do som das conchas do mar e do oceandrum (instrumento de
percussão), por exemplo, pode oportunizar uma interpretação musical mais expressiva e
uma experiência artística mais rica.
Nos compassos 3 e 4, o coro canta o nome do cantor que deverá improvisar nos
compassos 9 a 12. O improviso pode ser com explorações vocais, melódicas percussivas
etc. O importante é que as crianças se expressem criativamente. Nos compassos 13 a 16,
o coro realiza um ostinato de percussão corporal coletiva e o exercício recomeça com a
chamada de um novo cantor. Para que a brincadeira não fique cansativa, principalmente
em coros grandes, é possível dividi-la em vários ensaios. Assim, temáticas e desafios
podem ser propostos. Por exemplo, só explorar improvisos vocais com determinadas
sílabas ou solicitar que só improvisem crianças com idades específicas ou que façam
aniversário em um mês convencionado. Esta atividade também ajuda na memorização
158
dos nomes e na integração do grupo, afinal, além de estar musicalmente afinado, o coro
também deve estar afinado quanto à importância da coletividade, da empatia, da
solidariedade e de tantos outros valores que o canto coral pode proporcionar.
Etapa Descrição
Postura e respiração • Concentração
• Alongamentos corporais
• Posturas em pé e sentado
• Respiração (1-2 exercícios)
Aquecimento vocal • Vocalises com vibração de lábios e língua, sons
fricativos e nasais (1-2 exercícios)
• Vocalises com vogais (2-3 exercícios)
159
CONSIDERAÇÕES FINAIS
43
A revolution from within music education must begin by ensuring that all children have the opportunity
to produce music with the singing voice, practice musicianship, and perform with skill and understanding.”
(RAO, 1993, p. 48)
163
REFERÊNCIAS
BARTLE, Jean Ashworth. Lifeline for children’s choir directors. Canada, Toronto: Alfred
Music Publishing, 1993.
CHEVITARESE, Maria José. Por um coro onde todas as crianças possam ser
trabalhadas e integradas. Rio de Janeiro: Observatório Coral Carioca, 2017. Disponível
em: https://observatoriocoral.art.br/artigos/por-coro-infantil-onde-todas-criancas-
possam-ser-trabalhadas (Acesso em 2017)
COSTA, Patricia. Afinal, coro infanto-juvenil, coro juvenil ou coro jovem?. Rio de
Janeiro: Observatório Coral Carioca, 2017. Disponível em:
https://observatoriocoral.art.br/artigos/afinal-coro-infanto-juvenil-coro-juvenil-ou-
coro-jovem (Acesso em 2017)
DAVIDS, Julia; LATOUR, Stephen. Vocal Technique: a guide for conductors, teachers and
singers. USA: Waveland Press, Inc., 2012
D’AVILA, Helena; CIELO, Carla Aparecida; SIQUEIRA, Márcia do Amaral; Som fricativo
sonoro [Ȣ]: modificações vocais. São Paulo: Revista CEFAC, vol. 12, n.6, p. 915-924, nov-
dez, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v12n6/51-09.pdf (Acesso
em 2017)
FRANK, Isolde Mohr. Vêm, amigos, vêm cantar: coletânea de canções para a escola e para
grupos em geral. 2ª ed. Porto Alegre: Editora Age Ltda, 2009.
GABORIM-MOREIRA, Ana Lúcia Iara; RAMOS, Marco Antonio da Silva Ramos. Preparação
vocal no coro infanto-juvenil: desafios e possibilidades. Anais do XXIV Congresso da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. São Paulo, 2014. Disponível
em:
http://www.anppom.com.br/congressos/index.php/24anppom/SaoPaulo2014/paper/
view/3082 (Acesso em 2016)
GOULART, Diana; COOPER, Malu. Por todo canto: método de técnica vocal - Música
popular – Volume 1. São Paulo: G4 Edições Ltda, 2002.
GRAU, Alberto. Dirección coral: la forja del director. Venezuela, Caracas: GGM Editores,
S.C., 2005.
HERR, Martha. Considerações para a classificação da voz do coralista. In: FERREIRA, Léslie
Piccolotto et al. Voz profissional: o profissional da voz. 2ª ed. São Paulo, Carapicuíba: Pró-
fono, 1998.
LAKSCHEVITZ, Elza. Entrevista. In: FIGUEIREDO, Carlos Alberto et al. Ensaios: olhares
sobre a música coral brasileira. Rio de Janeiro: Centro de Estudos de Música Coral, 2006.
LECK, Henry. Creating artistry through choral excellence. USA: Hal Leonard, 2009.
166
NITSCHE, Paul. Die Pflege der Kinder – und Jugendstimme. Alemanha: B.Schott’s
Söhne, Mainz, 1969.
PHILLIPS, Kenneth H. Teaching kids to sing. USA, New York: Schirmer Books, 1992.
RAO, Doreen. Children’s choir: a revolution from within. USA: Music Educators Journal,
vol. 80, n. 3, p. 44-48, nov. 1993. Disponível em
http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.2307/3398675 (Acesso em 2012)
RHEINBOLDT, Juliana Melleiro. Preparo vocal para coro infantil: análise, descrição e
relato da proposta do maestro Henry Leck aplicada ao “Coral da Gente” do Instituto
Baccarelli. Dissertação de mestrado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas –
Instituto de Artes, 2014.
SATALOFF, Robert Thayer. Voice Science. USA: Plural Publishing, Inc., 2005
SESC, São Paulo. Canto, canção cantoria: como montar um coral infantil. São Paulo: SESC,
1997.
SMITH, Brenda; SATALOFF, Robert T. Choral Pedagogy. 2nd ed. USA: Plural Publishing,
2006.
SITES:
http://institutobaccarelli.org.br/o-instituto/professores/
http://pedagogiasmusicais.blogspot.com.br/2013/11/kodaly.html
http://puericantores.com.br/institucional/
http://www.fonologia.org/fonetica_consoantes.php
168
ANEXOS
Tabela com normas para a pronúncia do português brasileiro no canto erudito
(KAYAMA et. al, 2007, p. 29 a 37)
169
170
171
172
173
174
175
176
177
Manossolfa de Kodály
Fonte: http://pedagogiasmusicais.blogspot.com.br/2013/11/kodaly.html