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RIO DE JANEIRO
2011
ESCOLA DE MÚSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
RIO DE JANEIRO
2011
DEDICATÓRIA
Emile Faguet.
8
RESUMO
ABSTRACT
The chief aim of this work is to enhance the value of the art of co-repetition
and of pianists performing it. This research examines the techniques of
accompaniment on the piano, first-sight reading and transposition. This case study
was accomplished using a specialized questionnaire prepared by the author, and it
presents the experience and observations of some of the greatest names in co-
repetition to be found in Brazil. This dissertation has been further enhanced with
significant bibliographical references proving decisive in supporting this work. It also
uses scientific research on eye movements for a better understanding of the
cognitive processes taking place during the act of reading. The appendices contain
proposed guidelines to help develop and perform music reading, as an orientation for
both students and for working professionals. It was concluded that for degree level
piano students the addition of subjects such as sight reading and transposition
techniques, languages, improvisation as well as the principles of conducting, singing
and vocal physiology should be obligatory, in order to cover any gaps in their
schooling, and to meet the future needs of the growing demand for this particular
specialized professional. The mastery of sight reading and accompaniment on the
piano may indeed define the major difference thanks to which this art, by expanding
horizons, contributes to a completely new vision in learning music and making music.
Traditional and archaic forms of studying present students with a real obstacle to
learning.
SUMÁRIO
11
INTRODUÇÃO
tipos de ensaios que terá de conduzir e situações inesperadas com as quais terá de
lidar; noções de regência coral e orquestral, para aquisição dos conhecimentos
necessários dos vários instrumentos e técnicas de ensaio, e, sobretudo, como
conduzi-los durante o preparo dos vários formatos musicais; estudo de línguas,
fisiologia vocal e canto – de preferência aprender a cantar e dominar o
conhecimento dos vários registros vocais; bem como ópera, musicais e
orquestração.
15
CAPÍTULO 1
BREVE HISTÓRICO DO ACOMPANHAMENTO
Figura 1.
17
Bem mais tarde, aparece a figura do “falso bordão”, que consiste em forma de
acompanhamento por terças e sextas, e foi um aperfeiçoamento da “Diafonia”. O
“falso bordão” constava de uma melodia principal – cantus firmus ou tenor – de
terças e quintas, mais o baixo – bordão – e era cantado à oitava superior, daí o
nome “falso bordão”, donde resultavam terças e sextas (MAUL, 1977).
“Organum” e “falso bordão” são, antes, formas de acompanhamento do que
contraponto, porque contraponto consiste não na união de várias vozes que cantam
a mesma melodia a intervalos diferentes, mas sim, na simultaneidade de diversas
melodias e diversos movimentos (apud MAUL, 1977).
E por falar-se em contraponto e a evolução da escrita musical, para o pianista
co-repetidor, seu estudo e domínio podem fazer a diferença entre uma boa leitura da
partitura ou incompetência no acompanhamento.
Os primeiros registros de verdadeiro contraponto encontram-se no discanto
(discantus), o que significa dizer que as vozes caminham por movimento contrário,
ganhando, com isso, certa independência e sentido melódico próprios, como no
exemplo da figura 2, abaixo:
Figura 2.
dramática, visto que inúmeras páginas desse repertório se acham transcritas para
canto e piano, onde o piano executa a parte correspondente a da orquestra.
O acompanhamento ao piano aparece, especificamente, com o aparecimento
do Lied artístico. E o nome que assinala esse momento histórico do
acompanhamento é Franz Schubert (1797-1828).
Schubert estiliza as canções oriundas do povo e cria o Lied alemão. O piano,
então, não se limita mais a acompanhar o canto; passa a ser agora a voz onisciente
que comenta e ambientaliza a obra, e, até mesmo, descrevendo o texto musical.
Entretanto, foi Schumann (1810-1856) que, apossando-se do Lied, iguala e
funde a expressividade da voz e do piano com perfeição estética. Representa ele, o
momento supremo da Canção. Nos seus Lieder, o piano, ultrapassando o papel
habitual de acompanhador, realiza toda uma partição justaposta ao canto; completa-
o ou o contrasta, envolve, prolonga o poema e sugere a idéia da orquestra.
Schumann realiza um impressionismo de alma, valendo-se de uma rítmica viva e
variada, de magistrais combinações de timbre e de ordenação e solidez tais, que
nos deixam ver no fundo o classicismo de Bach (MAUL, 1977).
Já na música de Brahms (1833-1897), o equilíbrio espiritual se reflete na
expressão do sentimento, e o acompanhamento serve estritamente à expansão das
emoções, nunca pretendendo produzir impressões externas.
Para completar e enriquecer a evolução do papel fundamental da parte
relativa ao acompanhamento, vale observar que é com Gabriel Fauré (1845-1924)
na França onde torna-se notório o alto estilo pianístico da parte do
acompanhamento. Suas melodias exprimem as sutilezas do espírito francês com a
mesma propriedade que Schumann e Brahms exprimem o sentimento alemão.
Atualmente, as partes do acompanhante dão extremo valor ao sentido étnico,
ressaltando o ponto de vista da ambientação da obra.
Étnico remete imediatamente a etnomusicologia e à questão da etnografia e
das práticas de campo. Discutir esses temas é adentrar um território bem conhecido
da antropologia, cheio de dilemas e questionamentos que surgem a partir do
contexto contemporâneo. Pode-se dizer que o princípio primário da etnomusiclogia
surge com o interesse pelo “Outro” tal como desponta a partir do Iluminismo francês
e do pensamento romântico alemão (FREIRE, 2010).
20
Parece estar cada vez mais claro o significado da co-repetição, que reúne, a
bem da verdade, um grande conjunto de submatérias, (todas já mencionadas ao
longo do texto, como harmonia, técnicas de leitura à primeira vista, transposição ou
1
(Tradução do autor): Contudo, à medida que o papel do instrumento se apaga, na condição de
acompanhador, ao contrario ele se afirma durante os silêncios do cantor principal tornados mais longos pelas
tradições em vigor na época. Na realidade, na execução destes madrigais acompanhados, o cantor só aparecia
na frente do auditório no momento de começar o seu solo e retornava logo a seguir ao seu lugar atrás do
palco , se e que podemos nos exprimir desta forma.
23
regência, apenas para citar algumas delas), e que deveriam compor a “disciplina”
co-repetição, devendo fazer parte da grade curricular de formação do pianista
bacharel.
Não só o estudo da leitura à primeira vista e arte e técnicas do
acompanhamento ao piano, entretanto, fazem parte das propostas deste trabalho.
O próprio aprendizado musical e capacidade de estudo e apreensão das
informações contidas no código dos símbolos musicais se beneficiaria com o estudo
de tais matérias. Essa nova abordagem de aprendizado implica uma mudança
completa de paradigma no que se refere à forma com que o estudante aprende a ler
e preparar as obras a que se propõe. Pode mesmo contribuir como implemento ao
aprendizado e aprimoramento da interpretação de tais obras.
24
CAÍTULO 2
O PIANISTA ESPECIALISTA
Figura 3.
25
Ou ainda:
Figura 4.
Como se pode perceber, o que seria da melodia, pura e simples, sem todo o
magistral encadeamento harmônico criado por Liszt, na condução das vozes, e da
forma tão peculiar de escrita musical, ora através de acordes majestosos (na figura
1), ora através de arpejos da mão esquerda (na figura 2), que complementam e
mesmo se fundem à linha melódica, criando o ambiente perfeito à apreensão de
suas intenções?
São ainda poucos os pianistas no Brasil habilitados a cumprir todas as
exigências técnicas para a preparação, ensaio e realização das mais variadas obras
musicais. Mas esta elite existente precisa de apoio, inclusive para auxiliar a
formação de outros profissionais para o segmento.
26
Nascido em Paris, em 1880, estudou com alguns dos maiores mestres de sua
época e que perduram até os tempos atuais, símbolos da atemporaneidade da
música, como Camile Saint-Saens, Cezar Franck, Jules Massenet, para citar alguns
dos mais célebres.
Sua carreira realmente teve início quando acompanhou o grande violinista
francês, Jacques Thibaud, no seu primeiro recital no Carnegie Hall, e em sua
subseqüente tournée entre 1903 e 1904.
Sua tournée com Luisa Tetrazzini, das mais renomadas sopranos coloratura
de sua época, e Mary Garden, a famosa sopra escocesa, conhecida pela grande
capacidade de realizar nuances e timbres vocais nunca antes experimentados, em
1910-11, concluíram o que seria a primeira fase de sua carreira. Isso porque, em
1912, Benoist deu início a uma fase de grande colaboração com o violinista
americano Albert Spalding.
Com raras exceções, devotou sua vida ao violinista. Houve aqui uma rara
amizade pessoal e musical entre os dois, praticamente sem paralelos na história de
relacionamentos entre solista e acompanhador. Juntos, deram início a uma enorme
tournée pelos Estados Unidos, Europa, Rússia e Egito, obtendo grande sucesso.
Isto traz à tona uma característica vital ao acompanhador, e que se constrói
com o decorrer do tempo, qual seja, a afinidade entre ele e seu parceiro
colaborador, seja um instrumentista, um cantor ou mesmo um grupo de câmara – a
empatia e mútua percepção que se forma entre eles.
Até mesmo hoje em dia, diante de tantos avanços tecnológicos, não seria
possível uma parceria, dentro ou mesmo fora da música, sem as qualidade descritas
acima.
Spaldin, entretanto, decidiu apoiar as forças armadas norte americanas com o
início da primeira grande guerra, em 1917, o que interrompeu a carreira dos dois. Foi
exatamente nesse momento em que Benoist conheceu o mestre violinista russo
Jascha Heifetz; juntos, obtiveram tremendo sucesso.
Revistas ficaram extasiadas.
Em 1905 e 1906, Benoist foi convidado a acompanhar o legendário violinista
Fritz Kreisler e o virtuoso pianista e compositor Josef Hofmann, bem como o
violoncelista Pablo Casals. Com isso, projetou-se como o maior nome da co-
repetição no mundo musical a partir de então.
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Bem como, para citar um outro maravilhoso, (para dizer o mínimo), exemplo
de afinidade entre pianista, violinista e violoncelista, pode-se citar o trio composto
por Rubinstein, Heifetz e Piatgorisky, que não apenas executava com extrema
perfeição as obras às quais se dedicavam, mas, sobretudo, conseguiam
estabelecer verdadeira comunicação com o público, arrebatado por suas
performances. Afinal, o que é a música senão uma forma tão intensa de
comunicação, capapz de alcançar emoções e reflexões em esferas que vão tão
além das palavras, complementando as relações entre os seres humanos?
Com sua morte, em 1953, sua família publicou, no “The New York Times”, as
seguintes palavras - capazes de resumir a função vital que o pianista co-repetidor
desempenha “por trás dos holofotes”, e que serve de lição de vida e perfeita
conclusão dos objetivos desse capítulo:
CAPITULO 3
LEITURA À PRIMEIRA VISTA
COEFICIENTE INDIVIDUAL
Potencialidade e desenvolvimento das
aptidões;
Regulador da Eficiência e do
Progresso;
Expressão da Conduta, já que, se o
coeficiente é alto significa que a conduta é
correta.
42
Figura 5.
43
Figura 5.1
44
2
(tradução do autor): Mais que os outros instrumentistas, os pianistas devem voltar toda sua atenção para o
estudo da leitura musical, em razão do grande número de notas que têm de ler rápida e simultaneamente.
45
3
(tradução do autor): Pelo terceiro ano, o mais tardar, deve-se dedicar a cada dia algum tempo à leitura
musical de passagens fáceis, de modo a não hesitar, “tropeçar” ou cometer faltas, para conseguir colocar as
nuances e matizes indicadas na partitura perfeitamente; apenas nessas condições esse estudo é benéfico.
Antes de procurar decifrar qualquer parte, seja ela curta ou bem desenvolvida, deve-se percorrer o texto
musical e examinar quais as passagens mais difíceis; mas, uma vez iniciada a leitura, não se deve interrompê-la
sob qualquer pretexto. Seria melhor inventar notas do que parar e recomeçar... deve-se ler com antecedência
as passagens para chegar-se ao ponto de poder adivinhar o que se está por vir. Saber ler bem é uma das
qualidades mais preciosas que pode ter um músico, e é uma “receita” que contem inteligência, habilidade e
presença de espírito.
46
Essa crítica, que, aliás, se dirige de modo particular aos tradicionais métodos
de formação intelectual, pode estender-se, sem restrições, por sobre o ensino
artístico, pois que, em princípio, dirige-se ela, não àquela ou esta classe de estudos,
ou a um determinado ramo do ensino, mas sim, ao espírito pedagógico que, tendo
dominado toda uma época, dele se ressente ainda, a aprendizagem de hoje
(PEREIRA, 1937).
Esse acúmulo de fatos na memória, apenas repetindo o que se leu, sem que
se faça uma relação ou associação mnemônica utilizando-se um auxiliar de
memória, torna o aprendizado e memorização da partitura um trabalho árduo de
passiva repetição das notas e ritmos, que normalmente não permanece por muito
tempo gravado na memória.
Instintivamente, alguns musicistas possuem essa capacidade de associação,
e a fazem de forma inconsciente; isto talvez os leve a discordar do fato de que o
estudo fundamentado num cabedal mnemônico seja dispensável.
Essa forma de aprendizado, no entanto, não se detém apenas ao estudo da
música, mas à apreensão dos conhecimentos e informações como um todo.
Se o ensino em geral patrocinava as práticas empíricas e, fora das escolas,
sobrelevava as convenções, como não ser afetado pelos costumes dominantes de
um setor da aprendizagem da música em que o leitor se orientava por opiniões e
47
conselhos de origens as mais suspeitas e para o qual – como ainda hoje acontece
em parte – só raramente se dignavam os mestres voltar a atenção?
O que acontece com o praticante, ávido em obter, por parte de seu mestre –
que, a bem da verdade, tanto ou mais do que ele, anseia por conhecimentos à
respeito do assunto e, assim como ele, teve de aprender intuitivamente tal arte -
novas informações e técnicas que o auxiliem no ato de ler, acolhe a primeira opinião
que lhe é oferecida, além de certas normas de conduta sancionadas pelo uso
corriqueiro, e procura conformar a esses moldes restritos a sua atividade, nessa
particularidade técnica.
Posto que, como reza o preconceito, o importante é assimilar elementos
formais, volta-se ele, fatalmente, para aquele repertório caracterizado pela
uniformidade de contextura, isto é, pelo sistemático emprego de fórmulas rítmicas,
harmônicas e até mesmo instrumentais. Nesta categoria estão os estilos puramente
convencionais, destituídos de toda originalidade, e construídos segundo quadros
preestabelecidos para a harmonização e conformes com a estrita concepção de uma
rítmica simétrica e acanhada (PEREIRA, 1937)
Onde estão as origens do preconceito?
Pode-se encontrá-las:
1) Na noção restrita do ritmo que resultou do estabelecimento da barra de
compasso (século XVII) quando então, sob pretexto de se reconstruir a antiga
métrica, nada mais se fez senão submeter a rítmica à regularidade e simetria do
compasso, cujo desmedido entusiasmo pela inovação “concorreu para que, pouco a
pouco, e por fim, em absoluto se dissipasse toda e qualquer noção do ritmo puro e
de suas regras” (TACCHINARDI, 1926).
Observa-se, aqui, um grande empobrecimento do ritmo, o que se respalda
nas palavras do professor D’INDY (1897 – 98):
4
(Tradução do autor): A bem da verdade, o século XVII nos legou uma série de inovações negativas, período
fértil em falsas teorias. Assim, o ritmo, sujeito às exigências rigorosas do mesmo, esgotou-se rapidamente, até
o mais desolado nivelamento.
48
Figura 6.
De tudo isto se pode inferir que, o mesmo espírito formalista que gerava
concepções de tal modo restritivas, foi que deu origem ao preconceito que ora se
examina.
Efetivamente, se toda a rítmica ficava comprimida entre as barras de
compasso e até mesmo anulada pelos acentos periódicos e regulares determinados
pelos tempos, e se toda a arte de harmonizar se resumia num pequeno quadro
49
modelo, porque não se haveria de reger a técnica da leitura por normas idênticas às
que regiam a própria construção das obras?
De fato, ao formalismo da técnica da construção só poderia responder o
convencionalismo da técnica da leitura.
Se a construção das obras obedecia a moldes fixos, por sua vez a leitura
muito se beneficiaria com o conhecimento prévio desses moldes.
E assim, a crescente familiaridade com desenhos rítmicos habituais e com a
uniformidade de harmonização, assim como também o gradativo domínio sobre um
determinado número de fórmulas pianísticas de uso frequente e de inclusão
obrigatória em todos os métodos de mecanismo, proporcionavam, com certeza, ao
final de algum tempo, ao leitor, um certo domínio nesse terreno. E assim, a
crescente desenvoltura que experimentava aquele ao decifrar à primeira vista peças
classificáveis nesse mesmo gênero, confirmava sobremaneira o prestígio da idéia
convencional (RICCI, et al, 1916).
Daí a difusão desse preconceito que, transpondo tempos e escolas, logrou
chegar até nossos dias, contando ainda com alguns adeptos
O nível de progresso que geralmente atinge o leitor por este processo, pode
ser representado graficamente pelas chamadas curvas de aprendizagem, extraídas
do excelente: Ritmica Musical con 220 ilustraciones, do professor TACCHINARDI
(1954):
Figura 7.
Figura 8.
Talvez um dos aspectos mais importantes no que diz respeito à leitura refere-
se ao preceito segundo o qual o bom leitor deve ter sempre a atenção voltada para a
mão esquerda, e agir como se tivesse de realizar a harmonização do texto.
Se, por um lado, há um sentido interessante nestas palavras, uma vez que,
para se proceder realizando a harmonização do texto, o praticante ou estudante de
leitura necessita bons conhecimentos de harmonia e contra-ponto, por outro ângulo,
esse preceito, que conta ainda hoje com vários adeptos, vem caindo no ostracismo,
por impedir justamente um desenvolvimento muito mais amplo com relação a tantas
novas formas e estilos musicais contemporâneos, que vão muito além dos
parâmetros preestabelecidos no passado.
Segundo o professor do Instituto de Música de Lozana - Suíça, ESCMANN-
DUMUR (1888), autor da obra: Guia do Jovem Pianista, bem como dos estudos
técnicos Ritmo e Agilidade, Editora Alemã, sob o titulo: Schule der Klaviertechnik, a
leitura voltada para a mão esquerda está correta, como se pode perceber quando
assim se expressa (texto italiano, segundo RICCI (1916), em seu opúsculo Il
Pianista):
5
(tradução do autor) A fim de decifrar claramente a partitura, devemos conhecer em profundidade a teoria da
música; não se deve tentar ler qualquer coisa sem antes ter dado uma olhada do início ao final do trecho, e não
começar a tocar sem primeiro haver observado o tom no qual a peça é escrita. O que importa, em fim, é
concentrar a atenção sobre a mão esquerda.
54
Figura 9.
Figura 10.
Figura 11.
Figura 12.
Figura 13.
Figura 14.
APTIDÕES ADQUIRIDAS:
1. Conhecimento dos sinais empregados na música e rapidez e segurança na
leitura;
2. Conhecimento do teclado e facilidade em acertar teclas afastadas, sem
auxílio de vista;
3. Técnica, no sentido de perfeita coordenação de movimentos;
4. Controle auditivo.
APTIDÕES INATAS:
1. Rapidez de movimento;
2. Precisão de movimentos;
3. Rapidez de reação;
4. Facilidade de dissociação e de automatização dos movimentos;
5. Mão adaptada ao piano.
6. Ouvido (percepção da altura absoluta, ou, ao menos, da altura relativa do
som);
7. Senso rítmico;
8. Atenção distributiva
9. Audição mental (imagens auditivas nítidas);
10.E, por fim, Memória.
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Todas essas aptidões têm a mesma importância no conjunto, como ficou bem
evidenciado e esclarecido anteriormente, quando se referiu à carência ou deficiência
de uma só dentre elas, representaria interferência no ato de ler.
Algumas dessas aptidões devem ser destacadas, pela freqüência com que
ocorrem na maior parte dos casos, mesmo entre leitores possuidores de boa
técnica.
São elas:
1) Conhecimentos teóricos – logicamente, o pianista que detiver em seu
arcabouço cultural a maior abrangência possível com relação aos vários estilos
musicais e formas de composição, encadeamento harmônico, capacidade de
contextualizar a obra no tempo e período em que foi concebida, além de fluência
técnica e domínio do instrumento, levará extrema vantagem dentro da maioria das
peças musicais. Isto significa deter conhecimentos desde os primórdios da notação
musical, que se deu por volta do século IX, até os mais modernos e contemporâneos
símbolos de notação musical.
Apenas por curiosidade, foi a necessidade de manter as melodias criadas
sobre as letras nos cultos religiosos do referido século IX, para que as músicas não
fossem literalmente esquecidas, que deu origem aos primeiros símbolos que
sugerem uma notação musical, como pode ser observado nas figuras a seguir:
Figura 15.
64
Figura 16.
Na primeira pauta, correspondente à figura 16, as alturas e durações dos
sons de uma melodia foram escritas da forma tradicional; na segunda, de uma forma
diferente, criada pelo compositor. Suíte mirim para piano, de Ernst Widmer (1927-
1990).
O pianista co-repetidor precisa ser detentor do conhecimento de todos esses
símbolos, desde a mais antiga até o que há de mais moderno no que diz respeito à
notação musical, isso o ajudará a introjetar em seu processo de leitura a
necessidade de adaptação ao novo, ao inesperado, e lidar com isso sem inibição.
2) Senso de localização – não apenas uma leitura do ponto exato onde
se encontra a execução, mas, principalmente, da posição que este ponto ocupa
diante do todo, bem como em relação ao que virá em seguida. Dessa forma,
possíveis problemas de dedilhado, harmonia, colocação das mãos sobre o teclado,
dinâmica, compasso e modulações poderão ser sanados antes mesmo de
acontecerem;
65
nesse caso, ainda que o indivíduo possua o senso rítmico, não será capaz de
traduzir ao vivo as figuras musicais, sem que tenha sido prévia e suficientemente
“musicalizado”. E assim, pode-se distinguir musicalidade – dom natural, que, como
qualidade inata, pertence ao domínio do subconsciente – e musicalização – que é o
cultivo daquela qualidade pelo conhecimento da música, que, como atributo
adquirido, pertence ao domínio da mente consciente. Onde não há senso rítmico, a
educação musical torna-se problemática, senão impossível (SÁ PEREIR, 1937).
A respeito das condições individuais, é de caráter prioritariamente racional a
prática pedagógica do exame prévio das aptidões do leitor. Essa prática tem como
objetivo a economia de energias e de tempo, e solidez no progresso da
aprendizagem.
O conhecimento das deficiências em suas aptidões dá ao leitor a
oportunidade de inteirar-se das causas de seus impedimentos e, assim, procurar os
meios para habilitar-se.
É importante frisar a necessidade da realização de testes de leitura,
começando com partituras que apresentem texto relativamente equilibrado em suas
características técnicas e também aquém das capacidades do indivíduo para, aos
poucos, proceder com o aumento das dificuldades na leitura. Só assim terá êxito o
exercício, pois apontará instantaneamente, quando aparecerem, as deficiências do
leitor.
Há testes específicos, mas simples, que visam averiguar as diversas
dificuldades que enfrentará o pianista no ato da leitura. Se, por exemplo, num teste
destinado a analisar a coordenação motora, sem o acréscimo de dificuldades de
outra ordem, ocorrerem interrupções freqüentes, a ponto de impedirem o processo
de leitura, isto significa que as causas do problema podem ser de ordem fisiológica,
orgânica portanto. O que às vezes acontece é que as causas da interrupção na
leitura estão intimamente relacionadas ao processo de musicalização pelo qual
passou o praticante; esta lacuna no aprendizado pode, (somente no que concerne à
leitura), até certo ponto, ser remediada pela leitura metódica de exercícios de solfejo.
No próximo exemplo, representado pela figura 17, o estudante pode não ser
capaz de reproduzir ao piano o ritmo do texto. Entretanto, o problema pode ser
facilmente solucionado quando é solicitado ao aluno solfejar metricamente o trecho
(TACCHINARDI, 1926):
68
Figura 17.
Figura 18.
Testes como os apresentados a seguir, figura 19, são muito eficazes para a
apreciação da atenção distributiva, (dedilhado, ritmo e coordenação motora):
Figura 19.
Ou:
Figura 20.
70
CAPITULO 4
TRANSPOSIÇÃO AO PIANO
Figura 21.
Figura 22.
Figura 23.
75
Figura 24.
Figura 25.
Figura 27.
De acordo com a figura 27, quatro notas são abaixadas na ordem dos bemóis,
ou seja, na transposição, quatro acidentes acessórios abaixados na ordem dos
bemóis.
Figura 28.
Aqui, na figura 28, são seis acidentes acessórios abaixados na ordem dos
bemóis.
77
Figura 29.
Aqui, na figura 29, são cinco notas elevadas na ordem dos sustenidos, isto é,
cinco acidentes acessórios elevados na ordem dos sustenidos.
Figura 30.
Figura 31.
Superiores:
78
Inferiores:
1. 2ª m – cinco acidentes elevados na ordem dos sustenidos;
2. 2ª M – dois acidentes abaixados na ordem dos bemóis;
3. 3ª m – três acidentes elevados na ordem dos sustenidos;
4. 3ª M – quatro acidentes abaixados na ordem dos bemóis.
Figura 32.
80
Figura 33.
CAPITULO 5
OS MOVIMENTOS OCULARES NA LEITURA MUSICAL
O fenômeno tem sido estudado por pesquisadores das mais diversas áreas,
incluindo psicologia cognitiva e educação musical. Tais estudos têm tipicamente
refletido a curiosidade acerca do processo central da arte de um músico executor, e
uma esperança de que a investigação do movimento ocular possa ajudar no
desenvolvimento de métodos mais efetivos de treinamento da habilidade de leitura à
primeira vista.
Sabe-se que uma pessoa não pode capturar tudo o que acontece ao seu
redor por meio da visão. Existe um campo visual que pode ser comparado ao que
uma câmera filmadora consegue captar. Embora todos os elementos de um
ambiente sejam percebidos e estejam presentes nas imagens capturadas, apenas
uma parcela dele é focada de cada vez. A área focada é chamada de fóvea
enquanto o restante da imagem ao redor dela é conhecida como parafovea
(LEHMANN; MCPHERSON, 2002). A fóvea, durante o processo de leitura, tem
cerca de uma polegada de diâmetro (HODGES, 1992; SLOBODA, 1985), extensão
equivalente ao círculo apresentado na figura 34, abaixo:
Figura 34.
Figura 35.
Figura 36.
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LEGENDA:
1. A córnea é a região mais anterior do olho, representada na figura 35 pela
“meia lua” amarelada, mais à direita;
2. A íris é a região esbranquiçada do olho; na figura 35 é apresentada como
a região entre a córnea e o cristalino;
3. A retina é a membrana mais interna do olho; possui células
fotossensíveis, pigmentadas e nervosas, representada na figura 35 na
região correspondente à parte posterior do olho, em azul;
4. A pupila é o pequeno orifício situado na íris; zona do olho por onde entra
a luz (dilata-se ou contrai-se de acordo com a intensidade da luz);
5. Dentro da retina há os cones e os bastonetes, representados na figura 35
pela ampliação à direita da figura; os primeiros são responsáveis pela
nitidez e riqueza de detalhes; os bastonetes, por sua vez, são
especializados na visão com baixa luminosidade;
6. A fóvea, uma zona pequeníssima da retina, é responsável pela visão da
cor, movimentos e detalhes.
SENSAÇÃO VISUAL
Figura 37.
86
Figura 38.
Figura 39.
87
Concluíram, então, que nem todas as palavras do texto são fixadas, apesar
de serem processadas. Isto indica que se extrai informação de outras palavras para
além da palavra fixada, ou seja, a apreensão do conhecimento das palavras ou
figuras já processadas é perpetuada; o cérebro é capaz de armazenar a informação
para utilizá-la sempre que presente novamente.
Ao se realizar qualquer leitura existe uma distância entre o que se está
reproduzindo e o que se está olhando. Essa diferença de tempo entre a entrada
(estímulo) e a saída (resposta) é chamada “distância perceptiva” (LEHMANN;
MCPHERSON, 2002; WRISTEN, 2005).
Em música instrumental o termo mais utilizado para essa distância é eye-
hand span e em canto eye-voice span. FURNEAUX e LAND, (1999), apresentam
duas possibilidade para medir o eye-hand span. Este atraso da performance, o
“eye-hand span” (EHS), pode ser medido de duas maneiras: como o tempo de
atraso da fixação à performance ou como o número de notas entre a posição do olho
e a performance (FURNEAUX; LAND, 1999).
Estudar o eye-hand span (EHS) tem demonstrado diferenças significativas
entre leitores com mais e menos habilidade. Leitores mais habilidosos demonstram
maior EHS (SLOBODA, 2005, 1985; LEHMANN; MCPHERSON, 2002).
Um maior EHS dará mais tempo ao músico para decidir e organizar a sua
performance. Alguns resultados indicam que leitores mais habilidosos realizam mais
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Ele, por sua vez, lança estímulos e sensações táteis ao pianista, que é capaz
de adiantar-se no texto musical, pois já mantém armazenadas em seu arcabouço
consciente as imagens com as quais se deparou.
Vale citar um outro aspecto de extrema importância durante o ato de ler, que
consiste na distância entre a partitura e o leitor, para obtenção de êxito na execução
e captação da informação. Esta distância “ideal”, por assim dizer, permitirá a visão
do objeto como um todo, ao mesmo tempo em que se está fixando um determinado
acorde ou passagem musical. Com isso, obtém o leitor a imagem periférica
necessária à continuação da própria execução e inter-relação das partes, sem a
necessidade de paradas inoportunas durante o processo.
Uma vez que os fatores linguísticos influenciam a amplitude das sacadas, a
localização e a duração das fixações e o registro do movimento dos olhos pode ser
utilizado para o estudo do processamento da leitura.
Os comportamentos oculares durante a leitura, ou durante qualquer outra
atividade, portanto, refletem as dificuldades no processamento da informação, bem
como as características favoráveis e, por isso mesmo, aprimoráveis durante o ato de
ler música. Isto significa que, com o registro do movimento dos olhos, pode-se inferir
os processos cognitivos que ocorrem, momento a momento, durante a leitura.
91
CONCLUSÃO
Por outro lado, vários trabalhos têm sugerido que os processos mentais envolvidos
durante essa tarefa contribuem tanto para tarefas comuns de qualquer músico
quanto para o desenvolvimento cognitivo-musical (SLOBODA, 2005; FURNEAUX;
LAND, 1999; WATERS; UNDERWOOD, 1998; WATERS; TOWNSEND;
UNDERWOOD, 1998; KOPIEZ et al., 2006; WRISTEN, 2005).
Em muitos testes ou concursos é possível encontrar a exigência da realização
de leitura musical à primeira vista para ingresso em escolas ou outras instituições.
Contudo, muitas das escolas que fazem essas exigências, em sua maioria,
negligenciam o ensino dessa habilidade. Acredita-se, por um lado, que ela virá com
o passar do tempo e que poucos serão agraciados pelo “dom” ou, por outro, às
vezes, recomenda-se aos estudantes que leiam o máximo que puderem para que
desenvolvam a perícia pelo simples envolvimento com a atividade.
Essa carência de instrução, entretanto, pode vir a ser estimulante, no sentido
de tentar realizar um levantamento de alguns fatores, resultados e sugestões
apresentadas pela literatura de pesquisa, influentes quando se está lendo e/ou
quando se deseja ensinar-aprender leitura musical à primeira vista.
É de fundamental importância, entretanto, presença de espírito e profundo
conhecimento técnico para criar a base necessária às várias formas de preparações
ou formatos instrumentais e vocais, acurando cada vez mais sua percepção musical
de forma a entender os tempos, adaptando-se à maneira com que os solistas aos
quais se dedica concebem a música, que muitas vezes não corresponde à sua
própria.
A leitura à primeira vista na arte do acompanhamento representa novidade
absoluta, na forma proposta pelo autor; um novo approach sobre a maneira de
estudar seu instrumento e de aprender as obras musicais. Isso se dá pelo simples
fato de que não é possível trabalhar os detalhes de dedilhado, repetição de
passagens mais difíceis, movimentos de pulso e braços, como se está condicionado
pelos arcaicos e conservadores parâmetros de estudo.
A descoberta das possibilidades de aprimoramento técnico que trás ao
pianista a prática da co-repetição trata-se de um verdadeiro “despertar” para o ato
de criação durante o aprendizado e realização musical. Diferentemente dos solos e
concertos para piano, talvez sejam e delimitem aqui o grande diferencial e
envolvimento que esta arte de ampliação dos horizontes tanto contribui para uma
visão totalmente nova do ato de fazer música.
95
REFERÊNCIAS
FURNEAUX, S.; LAND, M. F. The efects of skill on the eye-hand span during
musical sight-reading, 1999.
HOFMANN, Josef. Piano Playing - With Piano Questions Answered. New York,
Editora Dover Publications, 1976.
LIAN, Henrique. A Ópera e o Piano. São Paulo, Imagem Data / Casa da Ópera,
2011. http://www2.uol.com.br/spimagem/ensaio/hlian.html
SEARLE, Humphrey. The Musico F Liszt. 2ª Edição. New York, Editora Dover
Publications, 1966.
SLOBODA, J. The Musical Mind: The Cognitive Psychology of Music. New York:
Oxford University Press, 1985.
SPILLMAN, Robert. The Art of Accompanying. New York, Editora Schirmer Books,
1985.
WESTRUP, Sir Jack and HARRISON, F.L.I. Collins Encyclopedia of Music. Great
Britain:Collins Cleartype Press, 1976.
APÊNDICE 1
SUGESTÕES DE LITERATURA PARA A LEITURA MUSICAL
APÊNDICE 2
QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO PROPOSTO PELO AUTOR
11. Há alguns autores que vêm procurando estabelecer uma nomenclatura que
honre a profissão. Você teria alguma sugestão?
13. Sabe-se que na Europa e nos Estados Unidos há alguns cursos específicos
para formar o pianista co-repetidor ou coach. Isso acontece em função da
grande necessidade e demanda deste profissional no mercado de trabalho.
Sabe-se também que o piano é o único instrumento capaz de sintetizar uma
orquestra, ou vários instrumentos. Baseado nessas informações, em sua
opinião, quais as áreas passíveis de atuação para um pianista co-repetidor?
17.Por muitas vezes, ao deparar-se com uma partitura pela primeira vez, diante
da situação de acompanhar instrumentistas ou cantores solistas, óperas,
musicais ou música de câmara, torna-se necessário, em tempo real, ter a
capacidade de absorver a idéia central da música, que constituirá a base
necessária à interpretação do solista. Ou seja, deve-se procurar resumir a
partitura, e mesmo enriquecê-la, acrescentando notas e acordes e eliminando
os empecilhos para a perfeita leitura. Como deve, nesse caso, agir o pianista
e quais são as técnicas que irão ajudá-lo a obter maior rendimento?
18.O que você acha da idéia da criação de um curso propriamente dito de co-
repetição dentro das Universidades brasileiras, já que o mercado de trabalho
para este profissional é tão vasto? Ou, se não um curso, a inclusão da
106
APÊNDICE 3
Começo pelo nome, pois para mim – que tenho supremo apreço pela
semiótica, assim como pela lingüística – nomear é fundar o conhecimento do
mundo. Assim, co-repetir, palavra que vem do francês e que, em primeira instância,
quer dizer, ensaiar (ou seja, repetir em conjunto), transformou-se, nos centros de
ópera, especialmente, europeus (onde tive grandes experiências, como estudante e
profissional) numa designação profissional abrangente, que só pode ser atribuída a
um músico com um completo domínio de muitos campos associados à arte vocal,
bem como instrumental. Eu diria que um co-repetidor é, antes de tudo, um regente
que conhece profundamente seu instrumento (o piano – preferencialmente deveria
tocar mais um), assim como a técnica e, naturalmente, o repertório vocal
(preferencialmente, denovo, deveria ter estudado canto), assim como basicamente
as técnicas e principal repertório de instrumentos fundamentais da música de
câmera e solística. Deve dominar a leitura de partitura orquestral e cameristica, bem
como conhecer línguas (quanto mais em profundidade, melhor), ter um especial
senso de leitura literária clássica, saber usar com ciência seu ouvido musical para
apurar línguas que não são conhecidas eventualmente por cantores com quem
esteja trabalhando, bem como um repertório e conhecimento mais que o normal de
história da música, teoria (harmonia, contraponto e, muito importante, transposição)
e análise musical. E ter um recurso fundamental para o desenvolvimento da
profissão: uma perfeita e segura leitura à primeira vista. Em resumo, o co-repetidor é
um preparador perfeito de repertório vocal de câmera, coral ou operístico, bem como
de câmera instrumental e solistico, funcionando como um regente auxiliar e um
professor.
108
Não acredito que seja assim. Há, naturalmente, os pianistas que repassam,
como se diz comumente entre os músicos, o repertório, tanto vocal como
instrumental. Mas daí a ser um co-repetidor, por tudo que já expus acima, vai uma
grande distância!
109
10. Quantos termos você conhece que sejam utilizados como sinônimos ou
que, de alguma forma, traduzam idéia de co-repetição?
Infelizmente, não.
17.Por muitas vezes, ao deparar-se com uma partitura pela primeira vez,
diante da situação de acompanhar instrumentistas ou cantores solistas,
óperas, musicais ou música de câmara, torna-se necessário, em tempo
real, ter a capacidade de absorver a idéia central da música, que
constituirá a base necessária à interpretação do solista. Ou seja, deve-
se procurar resumir a partitura, e mesmo enriquecê-la, acrescentando
notas e acordes e eliminando os empecilhos para a perfeita leitura e
estabelecimento da comunicação. Como deve, nesse caso, agir o
pianista e quais são as técnicas que irão ajudá-lo a obter maior
rendimento?
problemas para enfrentar qualquer leitura à vista e entendimento direto do que lê,
como alguém que lê um livro e imediatamente entende as palavras, as frases, o
significado do texto, do subtexto e, especialmente, das implicações do texto, fazendo
um grande geral e imediato da obra.
APÊNDICE 4
Condições intrínsecas até pode ser. Acontece que na prática não é o que
acontece. Ele esquece que está a serviço do solista; esquece que está no lugar da
orquestra. Aí o resultado, na sua freqüência é que o pianista passa por cima do
cantor, até por esquecer que o instrumento é um instrumento solistico.
Não tem muito a ver, uma vez que os pianistas em final de Bacharelado, na
sua maioria não tem nem noções exatas dos problemas técnicos que ocorrem com
os mesmos, não tem domínio do próprio instrumento e nem noção de
acompanhamento de qualquer instrumento. É necessário que o mesmo tenha uma
boa formação camerista, o que não existe em nenhum curriculum estudantil de
universidade, de forma consciente.
O termo que uso poderia ser uma boa nomenclatura porque o preparador de
repertório, deve entender um pouco de técnica vocal (se possível deve também
cantar) bem como deve saber muito de possibilidades de repertório. O que o
diferencia do professor de técnica é justamente as possibilidades de repertório. Eu
não só recomendo como faço – trabalhar sempre com um professor de técnica
vocal.
Se ele for um bom camerista, poderá atuar como pianista acompanhador para
todos os instrumentos pois o piano também é o único que (como repertório) tem um
extenso material para ser desenvolvido com outros instrumentos, quer seja cordas,
sopro ou percussão. Neste caso, canto pode ser incluído como corda. Agora, onde o
pianista atua com propriedade é em teatros de ópera. E neste caso ele é sempre
mal remunerado.
Esta pergunta faz com que possamos falar mais claramente a definição do
final da pergunta anterior. Realmente, nos teatros onde existem pianistas com esta
função, os pagamentos salariais não são satisfatórios, tendo em vista a
responsabilidade que recai nos seus ombros. O mais fácil é encontrar “bodes
expiatórios”, pois sobre eles recairão todas as falhas de preparação dos cantores,
geralmente excluindo a não leitura da maioria dos mesmos.
17. Por muitas vezes, ao deparar-se com uma partitura pela primeira
vez, diante da situação de acompanhar instrumentistas ou cantores solistas,
óperas, musicais ou música de câmara, torna-se necessário, em tempo real,
ter a capacidade de absorver a idéia central da música, que constituirá a base
necessária à interpretação do solista. Ou seja, deve-se procurar resumir a
partitura, e mesmo enriquecê-la, acrescentando notas e acordes e eliminando
os empecilhos para a perfeita leitura. Como deve, nesse caso, agir o pianista e
quais são as técnicas que irão ajudá-lo a obter maior rendimento?
APÊNDICE 5
Vejo o trabalho da co-repetição como sendo algo realmente muito mais amplo
do que aquela idéia que nos é transmitida em escolas de música – a de que o co-
repetidor é aquele pianista responsável por preparar e ensinar cantores a “aprender
ritmos e notas” (incluindo até mesmo as “letras”, em alguns casos), com ensaios
onde as obras musicais são repetidas, muitas vezes de maneira “mecânica e fria”,
até a sua exaustão. Na verdade, sempre enxerguei o trabalho do pianista co-
repetidor como sendo o responsável pela “preparação completa” de uma obra e/ou
de um espetáculo musical. De nada adianta saber ritmos e notas certas, se cantores
e instrumentistas encontram-se distantes do verdadeiro significado das obras que
executam. Assim, a boa co-repetição é aquela que é feita por um pianista-músico
“completo” – alguém que, além de possuir uma excelente técnica pianística e leitura
à primeira vista, tenha também uma vasta cultura geral, uma enorme bagagem
musical; alguém que entenda profundamente de Canto, Fisiologia da Voz, Dicção; e,
principalmente, alguém que tenha disposição e humildade para “ouvir o outro”.
Alguém que tenha sensibilidade o bastante para transmitir e comungar de tantos
“códigos” que vão muito além de uma simples partitura musical.
técnico e que saiba ler muito bem. Porém, penso eu, nenhuma dessas aptidões
resultará num trabalho de excelência se o pianista não tiver amor e conhecimento
profundo por esse trabalho que engloba muitas outras coisas além do que,
simplesmente, tocar bem o seu instrumento. Ser um pianista maravilhoso não
significa, absolutamente, ser um bom co-repetidor. Porém, no Brasil, infelizmente,
pianista co-repetidor ainda é sinônimo de “pianista de segunda categoria” – afinal,
este é um trabalho realizado, freqüentemente, por pianistas amadores e sem
qualquer preparo.
Pra falar a verdade, não. Quando fiz o meu Bacharelado em Piano, algumas
vezes apareciam alguns professores para falar (muito superficialmente) sobre alguns
dos assuntos que englobam a co-repetição. Mas, na verdade, nenhum deles possuía
um “método”; nenhum deles tinha um “histórico profissional” que tivesse qualquer
relação com tais matérias. “Acompanhamento ao Piano” significava, na maioria das
vezes, acompanhar uma peça de canto bem simples (tecnicamente falando) – e, os
professores não diziam outra coisa senão: “para acompanhar tem que tocar tudo
bem baixinho porque importante mesmo é a linha do canto – não se pode duelar
com os solistas”. Sabemos que tais absurdos continuam sendo dito ainda hoje em
escolas de música de todo o país. E este trabalho tão difícil e tão importante acaba
sendo sinônimo de “trabalho para pianistas amadores” ou para “pianistas que não
conseguiram se despontar como solistas”.
algo que pode se tornar “rentável”; essa é uma “porta” que se abre para eles que,
com um diploma nas mãos, não encontram espaço para fazer outra coisa. Enfim,
acabam, muitas vezes, assumindo um trabalho sem ter qualquer preparo para isso.
E, assim, acabam fazendo desta profissão um sinônimo de “quebra-galho”. Não
sabem ler à primeira vista, não sabem quase nada sobre transposição, conhecem
pouquíssimas obras do repertório vocal e de câmara e, conseqüentemente, acabam
odiando esse trabalho que, na verdade, não lhes dá qualquer prazer. Uma pena
mesmo que isso aconteça!
Nunca gostei muito de “rótulos”. Por isso, prefiro acreditar que sou mesmo um
“Músico” – um pianista a serviço da “Música”.
meia, lançam gravações de obras para “piano solo”. Isso é muito comum. E isso só
vem provar o quanto todos eles se tornaram “completos”.
16. Por muitas vezes, ao deparar-se com uma partitura pela primeira
vez, diante da situação de acompanhar instrumentistas ou cantores solistas,
óperas, musicais ou música de câmara, torna-se necessário, em tempo real, ter
a capacidade de absorver a idéia central da música, que constituirá a base
necessária à interpretação do solista. Ou seja, deve-se procurar resumir a
partitura, e mesmo enriquecê-la, acrescentando notas e acordes e eliminando
os empecilhos para a perfeita leitura e estabelecimento da comunicação.
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Como deve, nesse caso, agir o pianista e quais são as técnicas que irão ajudá-
lo a obter maior rendimento?
Universidades pelo menos uma disciplina voltada para a co-repetição, com toda
certeza, teríamos um número bem maior de profissionais realmente qualificados.
Sinto que quase todas as instituições musicais do país já se dão por satisfeitas ao
ministrarem suas aulas de Música de Câmara, Acompanhamento e Transposição.
Mas essas aulas, na maioria das vezes, são ministradas por instrumentistas que
muito pouco, ou quase nada, entendem “a fundo” sobre as especificidades de um
bom trabalho de co-repetição. Por isso, na maioria das vezes, não são disciplinas
que dão suporte “real” aos alunos de piano e que o auxiliam efetivamente para o
mercado de trabalho. Os bons alunos de piano, aqueles que gostam realmente
deste trabalho, acabam fazendo tudo de forma intuitiva e buscando (por conta
própria) alguns “entendidos no assunto” que possam sanar suas dúvidas e
dificuldades.
Acredito piamente que o trabalho do co-repetidor não deve (e nem pode) ser
uma “ocupação secundária”. Preparar artistas para audições e performances é algo
muito sério e de extrema responsabilidade. Na verdade, um trabalho muito
semelhante à de um “técnico” de qualquer esporte – alguém que sabe exatamente o
que deve ser feito e o melhor caminho a ser trilhado para se chegar ao melhor
resultado num curto espaço de tempo e sem grandes desgastes físicos e
emocionais. O bom co-repetidor deve saber profundamente tudo o que está
intrinsecamente relacionado à Música – regência, leitura à primeira vista, canto,
fisiologia da voz, dicção, improvisação, etc. – “ferramentas” fundamentais para
proporcionar o apoio e a orientação necessária neste tipo de trabalho. O verdadeiro
técnico não é aquele que simplesmente “acompanha” o seu grupo. Seu trabalho
abrange algo muito maior, muito mais específico e, é claro, de grandes
responsabilidades – afinal, quando um “time” não vai bem, normalmente, é o
“técnico” o primeiro a ser responsabilizado; e o primeiro a ser demitido, não é? Da
mesma forma, o co-repetidor acaba se tornando o grande responsável pelos bons e
maus resultados de um espetáculo. E, justamente por isso, não é algo que deve ser
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