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Geoprocessamento

Prof. Eliseu Weber

Aula 1:
Apresentação da disciplina
Introdução e histórico
Noções de cartografia
Turmas, horário e local das aulas

 A disciplina de Geoprocessamento é oferecida em


quatro turmas, no período noturno, de segunda a
quinta-feira
 As turmas são compostas por alunos dos cursos de
Agronomia, Arquitetura, Biologia, Engenharia Ambiental e
Engenharia Civil
 Todas as turmas têm a mesma sequência de
conteúdos, porém com diferenças no calendário devido a
feriados  acompanhe pelo cronograma da sua turma
 Todas as aulas são realizadas no Labin, na mesma sala
para todas as turmas
 Quem perder alguma aula pode assisti-la em outras
turmas, sem aviso prévio  consulte os cronogramas
das outras turmas
Organização da disciplina
 O conteúdo programático da disciplina é dividido em
três partes principais:
• Parte 1 - Conceitos básicos e fundamentos: primeiras 3
aulas + 1 atividade semipresencial
• Parte 2 - Fontes de dados geoespaciais: 7 aulas
Nessa parte serão abordados os principais materiais que servem
como fontes de dados geoespaciais, e procedimentos
necessários para estruturá-los adequadamente
• Parte 3 - Análise espacial: todas as aulas restantes
Nessa parte serão abordados os principais grupos de operações
analíticas e o desenvolvimento de análises espaciais aplicadas a
problemas práticos
 A distribuição da carga horária é de aproximadamente 40%
para teoria e 60% para prática
Condução da disciplina
 As duas primeiras aulas serão teóricas; no final da
segunda aula haverá realização de cálculos e será
distribuída uma atividade semipresencial  trazer régua e
calculadora
 Da terceira aula em diante haverá uma exposição
teórica inicial, seguida de exercícios práticos em
computador, acompanhados pelo professor
• Para cada exercício prático em computador haverá um tutorial
com instruções passo-a-passo, via autoatendimento
• Os exercícios práticos podem ser executados individualmente ou
em dupla, e os alunos controlarão seu próprio horário (intervalo,
lanche, etc.) de acordo com seu ritmo
• As respostas dos exercícios práticos deverão ser entregues
para compor parte da nota da avaliação G2
Avaliações
As avaliações terão a seguinte composição e pesos:
 Avaliação G1:
Prova teórica, valendo 10 pontos, individual, com questões
dissertativas, objetivas e cálculos.
 Avaliação G2  será composta de duas partes:
1. Prova prática no Labin, valendo 8 pontos, individual ou em
dupla, com um problema a ser resolvido mediante raciocínio e
aplicação prática dos conteúdos.
2. Exercícios práticos no Labin, valendo 2 pontos, executados
individualmente ou em dupla.
 Nas duas avaliações, será permitida consulta a material
previamente organizado pelo aluno, em papel ou pendrive.
 As atividades semipresenciais não valem nota, mas contam
presença, sendo coletada assinatura para cada uma.
O que é geoprocessamento?

Geoprocessamento  combinação de dois termos:


Geo (Terra) + processamento (cálculos e outras operações)

Princípio básico: georreferenciamento  vinculação das


informações de interesse à sua posição na superfície
terrestre, por meio de coordenadas
Qualquer informação, de qualquer área do conhecimento,
pode ser localizada geograficamente de algum modo
Projetos de engenharia, plantações, acidentes, casos de
doenças, obras civis, impactos ambientais, áreas de proteção
ambiental, veículos, rotas de tráfego, pessoas, computadores,
smartphones, etc.  qualquer objeto ou evento pode ser
georreferenciado (às vezes involuntariamente!)
Vantagem do georreferenciamento:
O georreferenciamento permite combinar
informações de diferentes tipos e origens,
considerando a sua posição no espaço
Cursos d’água
Quando vinculadas à
superfície terrestre por
meio de coordenadas,
várias informações
Estradas podem ser sobrepostas
umas às outras como
camadas
Assim, qualquer
Tipos de solo informação pode ser
relacionada a outra do
mesmo local, mesmo
de natureza distinta,
possibilitando resolver
Topografia problemas difíceis de
tratar por outros
Resultado métodos
Um breve histórico
 A necessidade de considerar a localização
geográfica dos dados é bastante antiga
 Desde cedo, o homem tentou elaborar mapas da sua
área de vida e de recursos de sobrevivência (rios,
locais de caça, etc.)
 De forma científica, o primeiro caso provavelmente
ocorreu na Inglaterra, no final do século XIX
 Londres, verão de 1854: um surto de cólera matou
mais de 50.000 pessoas  a cidade tinha 2 milhões
de habitantes, sem água encanada nem esgoto, mas
não se sabia a causa da doença
 O médico John Snow teve a ideia de marcar a
ocorrência dos casos em um mapa
Surto de cólera em Londres, 1854 Dr. John Snow
Bairro do SOHO, origem do surto

O Dr. Snow distribuiu


mapas da cidade nos
hospitais e pediu para
marcarem com um
ponto o endereço de
cada doente, como se
faz hoje com o Google
Earth ou Google
Maps, por exemplo
Mortes por cólera
Surto de cólera em Londres, 1854 Dr. John Snow
Bairro do SOHO, origem do surto

Ele analisou a
distribuição espacial
dos casos e procurou
relacioná-los com
outros fatores do meio
Verificou que havia
maior concentração de
casos em torno de
alguns poços que
Mortes por cólera forneciam água à
Poços
população
Surto de cólera em Londres, 1854 Dr. John Snow

O Dr. Snow demonstrou matematicamente


a relação entre a localização dos casos de
cólera e a localização de alguns poços de
abastecimento de água
Ele concluiu que a doença tinha veiculação
hídrica, e convenceu as autoridades a
desativar poços situados em locais de alta
incidência de casos da doença
Poucas semanas depois houve uma A alavanca para
drástica redução na incidência de novos bombear foi
casos de cólera, comprovando que ele retirada dos
poços suspeitos,
estava certo impedindo a
O trabalho do Dr. Snow forneceu as população de
primeiras pistas para descobrir as consumir a água
causas do cólera, e ele é considerado o
pai da Epidemiologia moderna

Observação: a história é contada em detalhes no livro “O mapa fantasma”


Um breve histórico
Depois do trabalho do Dr. Snow, houve muitos casos de
uso da informação geográfica para tomada de decisão:
• EUA, censo de 1890: divisão do território, cartões
perfurados, máquina tabuladora  processamento concluído
em três anos, em comparação com oito anos do censo de
1880
• Inglaterra, II Guerra Mundial: possibilidade das bombas “V”
alemãs serem teleguiadas  análise dos locais de queda
(geoestatística) concluiu que não eram (certo!)
• Alemanha, 1954: “Teoria do Lugar Central” para localização
de negócios (Cristaller, sucesso do negócio depende de
estar no local certo)
• Há vários outros exemplos...
• Tudo era feito manualmente...
Um breve histórico
A partir da década de 1950 iniciou o desenvolvimento
de sistemas computacionais:
• Primeiro computador eletrônico, cálculos agilizados
• Dificuldade de converter informações geográficas para o
digital (como introduzir mapas no computador?)
• Armazenamento e análise ainda muito limitados

Na década de 1960 já surgiu o primeiro programa para


processar dados georreferenciados:
• Canadá, 1964: criação do Canadian Geographic
Information System (CGIS), para orientar a recuperação de
terras degradadas do país
• O CGIS reuniu a ciência da informação geográfica e a
tecnologia da computação  surgiu uma nova área que
depois deu origem ao termo geoprocessamento
Um breve histórico
Na década de 1970 ocorreu a disseminação e o
aprimoramento dos programas:
• Adoção por governos dos EUA e países da Europa
• Aprimoramento de fundamentos matemáticos para
cartografia e análise espacial em computador
• Avanços nas capacidades de memória e de processamento,
redução de custos dos equipamentos
• Melhores interfaces para facilitar a operação dos programas
• Bancos de dados ainda permaneciam limitados
Um breve histórico
Na década de 1980 o uso dos programas se intensifica,
eles se tornam comerciais e chegam ao público:
• EUA e Europa investem em mapeamento por computador e
análise de dados geográficos em seus países
• Há uma evolução tecnológica acentuada no hardware,
surge o PC (Personal Computer – microcomputador)
• Surgem os primeiros softwares comerciais de SIG: em 1989
já existiam mais de 60 programas nos EUA.
• Nos EUA, o USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos)
começa a distribuir as primeiras bases cartográficas
digitais para os usuários
Um breve histórico
Na década de 1980 as capacidades dos programas
também evoluíram muito:
• Incorporação de funções de análise espacial
• Conexão entre representação gráfica e atributos
alfanuméricos
• Inclusão de imagens de sensoriamento remoto orbital
(imagens de satélite)
• Grandes avanços no processamento de imagens digitais
• No Brasil, surgem dois softwares nacionais
− SAGA (Sistema de Análise Geoambiental), da UFRJ
− SITIM/SGI (Sistema de Tratamento de Imagens/Sistema
Geográfico de Informação), do INPE  hoje se chama SPRING
(Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas)
Um breve histórico
A partir da década de 1990, mais funções especializadas,
padrões de dados e inclusão nos currículos universitários:
• Funções de modelagem e simulação, e de suporte à
tomada de decisão
• Aumento da capacidade de processamento dos
computadores e redução do custo
• Surgem normas para padronizar estruturação e
documentação de informação geoespacial
• Finalmente, a tecnologia se dissemina no Brasil
− Aumenta muito o número de projetos usando programas
para processar informações georreferenciadas
− Os currículos universitários passam a incluir tópicos
de geoprocessamento (alguns com grande atraso)
Um breve histórico
A partir da década de 2000, a popularização da Internet e
de dispositivos móveis promoveu uma revolução:
• Informação geográfica passou a fazer parte das atividades
diárias de pessoas e empresas
• 2006, surgiu o Google Earth/Maps, provendo mapas via
Internet, de forma fácil e intuitiva. Há outros, como o Virtual
Earth (Microsoft), e o OpenStreet Maps (colaborativo)
• Hoje receptores GPS ajudam no deslocamento pela cidade
• Acesso à internet (computador, tablet ou smartphone) permite:
− Encontrar endereços e definir o melhor caminho (no futuro próximo
haverá veículos autônomos)
− Buscar estabelecimentos próximos (lojas, farmácias, etc.)
− Analisar mapas e imagens e obter vistas tridimensionais como se
estivéssemos no local
Porque estudar geoprocessamento?
• A facilidade de acesso obviamente ajudou, mas o que
popularizou o uso dessas tecnologias é que elas resolvem
problemas práticos, elas dão resultado e facilitam nossa vida
• Porque? “A maior parte do que acontece no mundo, acontece
em algum lugar... Saber o local em que algo ocorre pode ser
criticamente importante caso se queira ir até lá ou informar
algo à população que mora nas proximidades.... As decisões
também têm consequências geográficas... Por isso a
localização geográfica é importante para atividades
econômicas, políticas públicas, estratégias e planos.” (Longley
et al., 2011):
Porque estudar geoprocessamento?
• Praticamente todas as atividades humanas ocorrem em algum
local ou tem uma área de influência
• Por isso, várias leis e normas exigem que profissionais
considerem a localização geográfica em seus estudos:
− Lei 10.257 de 2001 - Estatuto das cidades: plano diretor, cadastro
urbano georreferenciado (IPTU, redes, etc.), regularização fundiária
− Lei 10.267 de 2001 - Georreferenciamento de imóveis rurais:
perímetro do imóvel, objetivo documental/escritura (existe norma
ABNT para execução)
− Cadastro Ambiental Rural – regularização ambiental: perímetro,
APP, ARL, remanescentes de vegetação nativa, cursos d’água, etc.
− Lei 12.651 de 2012 - Código Florestal: limites de uso da terra,
considerando vegetação e outras áreas importantes
− Licenciamento ambiental: APP, regras da silvicultura no RS,
transgênicos a menos de 10km de unidades de conservação, etc.
Porque estudar geoprocessamento?
• As exigências técnicas de normas e leis vigentes não podem
ser cumpridas com tecnologias de uso geral como Google
Earth ou Google Maps, por exemplo
• Essas tecnologias são muito úteis no dia-a-dia, mas são
basicamente ferramentas de visualização e consulta
• Além disso, a qualidade ou acurácia das imagens e mapas
disponibilizados é desconhecida
• Normas e leis demandam operações analíticas,
quantitativas, muitas vezes com diversos dados
• Elas também exigem rigor na execução das análises e na
qualidade ou na acurácia dos resultados
• Por isso, profissionais da área técnica devem dominar uma
série de conhecimentos para usar recursos de
geoprocessamento corretamente
Então, o que é geoprocessamento?

• Atualmente é uma área que reúne um conjunto de tecnologias


para a tarefa de coletar e tratar informações geoespaciais
• Informação geoespacial é qualquer informação cuja
localização geográfica seja uma característica inerente
• A principal tecnologia no geoprocessamento é uma classe
especial de programas que servem de ferramenta para a
análise digital de dados localizados geograficamente,
chamados de Sistemas de Informação Geográfica (SIG)
• Porém, não se deve confundi-los com o geoprocessamento,
que é um conceito mais abrangente, pois compreende
qualquer processamento de dados georreferenciados,
inclusive manual!!
Geoprocessamento é multidisciplinar
O geoprocessamento tem caráter multidisciplinar, pois
usa conhecimentos e recursos de várias áreas, tais como:
• Geografia: técnicas de levantamento e organização de
dados geoespaciais, métodos de análise, elaboração de
mapas e interpretação de resultados
• Matemática e estatística: quantificação de variáveis e suas
relações, modelos, verificação de qualidade
• Cartografia: métodos e técnicas para localização geográfica
e representação dos dados
• Informática: computadores, redes/comunicação, programas
de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), gerenciadores
de bancos de dados, CAD, etc.
• Sensoriamento remoto: métodos de aquisição e
processamento de imagens orbitais ou aéreas
Noções básicas de cartografia

Definição (uma dentre várias):


É um conjunto de estudos e operações científicas,
artísticas e técnicas, baseado nos resultados de
observações diretas ou de análise de documentação,
visando à elaboração e preparação de cartas e outras
formas de expressão, bem como à sua utilização
(Oliveira, 1983).
A cartografia é a ciência básica para o
geoprocessamento, porque reúne os métodos e
técnicas para localizar geograficamente os dados e
para representá-los de uma forma coerente, útil para
uso prático.
Objetivo da cartografia
O objetivo da cartografia é produzir representações gráficas da
superfície terrestre, mantendo relação conhecida com forma e
dimensões das feições reais.

Para conseguir isso, há dois grandes desafios:


• Calcular com precisão as coordenadas de um determinado objeto da
superfície terrestre (que não é plana)
• Representar esse objeto em uma
superfície plana (uma folha de papel,
por exemplo), mantendo relação
coerente com a forma e dimensões
do objeto real.
Determinação de coordenadas

• Para poder determinar as coordenadas de um local é


necessário antes definir um sistema de coordenadas
de uso comum
• Tendo-se um sistema de coordenadas estabelecido,
torna-se possível descrever geometricamente a
superfície terrestre
– Para o Globo (esfera) foi estabelecido por convenção um
sistema de coordenadas curvilíneo, que define a posição
através de ângulos de latitude e de longitude (paralelos e
meridianos)
– Para representações planas da superfície terrestre
utiliza-se um sistema de coordenadas com dois eixos
cartesianos (X, Y)
Sistema de coordenadas para o Globo: latitude e
longitude (meridianos e paralelos)

• Meridianos: círculos máximos que cortam


a Terra de polo a polo. Todos os
meridianos se encontram, em ambos os
polos. Por convenção internacional, o
meridiano de origem é o meridiano de
Greenwich (0º).

• Paralelos: círculos que cruzam os


meridianos perpendicularmente. O
paralelo de origem é o Equador (0º), o
único círculo máximo. Os outros paralelos
vão diminuindo à medida que se afastam
do Equador, até se transformarem em um
ponto nos polos (90º).
Sistema de coordenadas para o Globo: latitude e
longitude (meridianos e paralelos)

Meridianos
Paralelos

A intersecção dos meridianos e dos


paralelos forma uma “gradícula”, forma
mais comum de representar e visualizar o
conceito de latitude e longitude
Porém, determinar coordenadas na superfície
terrestre é mais complexo que isso...
Gradícula
Exemplo:
Prédio 14, ULBRA
Canoas
A latitude e a
longitude são fáceis
de obter com um
GPS, ou no Google
Earth, por exemplo
Mas afinal, como são medidas a latitude e a longitude
(“graus”)? Que medida é essa?
São medidas angulares, em relação a um meridiano e a um
paralelo considerados como referência

Latitude ():
Norte (N) e Sul (S)
Varia de 0° a 90°
“+” e “-”

Longitude ():
Leste (L ou E) e Oeste (O ou W)
Varia de 0° a 180°
“+” e “-”
Origem do
sistema
• Detalhe: os programas trabalham com números decimais,
então muitas vezes é necessário converter coordenadas
hexadecimais para decimais, e acrescentar o sinal
correspondente ao hemisfério:
• 1 grau = 60 minutos
• 1 grau = 3600 segundos
• Exemplo prédio 14 ULBRA: 29º53’18,78”S e 51º9’27,18”O
• Latitude: 29 + 53/60 + 18,78/3600 = 29,88855°S
• Longitude: 51 + 9/60 + 27,18/3600 = 51,15755°O
• Por último, o sinal “-” para os hemisférios Sul e Oeste:
• Latitude: -29,88855°
• Longitude: - 51,15755°
Determinação de coordenadas e a forma da Terra:
hoje existem três superfícies concomitantes

É desejável que o elipsóide se


aproxime do geóide

Superfície topográfica  onde são feitas as medições e levantamentos, mas


muito irregular, difícil de tratar matematicamente
Elipsóide  superfície teórica que se aproxima da forma levemente achatada
da Terra; referência para determinar coordenadas (latitude e longitude)
Geóide  bem menos irregular que a superfície topográfica, mas de
tratamento matemático ainda difícil; referência para determinar altitudes
Determinação de coordenadas e a forma da Terra:
adaptações na superfície de referência (elipsóide)
• Buscando melhor ajuste ao geóide, muitos países passaram a
usar elipsóides de referência diferentes
• Cada elipsóide foi definido por modificações em seu semi-eixo
maior e seu semi-eixo menor, ou seu achatamento

Geóide
a = semi-eixo maior
b = semi-eixo menor
f = (a-b)/a = achatamento

• Em muitos casos também a


posição do elipsóide de Elipsóide 1
referência foi modificada
Elipsóide 2
• Conjunto de modificações:
sistemas geodésicos de
referência, ou datum
Atualmente o cálculo de coordenadas é feito com
sistemas geodésicos de referência (ou datum)
• Os sistemas geodésicos de referência são utilizados para
descrever as posições de objetos (coordenadas) na superfície
terrestre.
• Eles estabelecem uma origem (coincidente ou não com o centro
de massa da Terra) e estão associados a uma superfície teórica
(elipsóide) que se aproxima da forma da Terra, sobre a qual são
desenvolvidos os cálculos das coordenadas.
• Existem muitos sistemas
geodésicos de referência,
desenvolvidos para melhorar a
precisão local das coordenadas
e aprimorar os levantamentos
em diversos países.
• Cada sistema resulta em um
valor de coordenadas diferente
para o mesmo local!
Problema:
• Um mesmo local pode ter diferentes valores de
coordenadas, de acordo com o sistema geodésico de
referência que for utilizado
• Isso tem causado muitos problemas em projetos e obras,
principalmente quando são divididos e executados em
partes, tais como rodovias, ferrovias, dutos, etc.
• Para reunir dados coletados em diferentes sistemas é
necessário adotar um deles e transformar as coordenadas
dos demais  é necessário conhecimento!
No Brasil, ao longo do tempo foram criados pelo
menos três sistemas geodésicos de referência:
• Córrego Alegre  levantamentos sistemáticos do território
brasileiro até meados da década de 1980
• SAD 69 (South American Datum, de 1969)  a partir de 1986,
recebeu atualizações introduzidas pelo IBGE em 1996, foi válido
até 2014
• SIRGAS 2000 (Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas)  tornou-se obrigatório desde 2014, vai facilitar
levantamentos e o uso de GPS porque é geocêntrico (seu centro
coincide com o centro de massa da Terra)
Quando se coleta coordenadas com GPS ou em programas como
o Google Earth, há outro sistema, o WGS 84 (World Geodetic
System 1984)  equivalente ao SIRGAS 2000
Atenção: para combinar corretamente dados coletados em
diferentes sistemas geodésicos de referência é necessário
converter todas as coordenadas para um único sistema!
Representação da Terra no plano

• Representação no plano: como transformar coordenadas


esféricas de latitude e longitude em coordenadas planas?
• É necessário estabelecer correspondência matemática
entre a superfície curva da Terra (elipsóide) e o plano
• Isso é feito por meio de um conjunto de técnicas
denominadas projeções cartográficas
• Porém, representações de superfícies curvas como a da
Terra em um plano sempre envolvem “extensões”, “rasgos”
ou “contrações” que resultam em distorções.
• Não há uma solução perfeita, mas pode-se optar por
manter as propriedades importantes para certo propósito.
Classificação das projeções cartográficas
As projeções cartográficas podem ser classificadas de
acordo com vários aspectos, o que é importante para
escolher a mais apropriada para determinado propósito.

Quanto ao método:
• Geométricas: baseiam-se em princípios geométricos projetivos.
Podem ser obtidos pela interseção, sobre a superfície de
projeção, do feixe de retas que passa por pontos da superfície
de referência partindo de um centro perspectivo (ponto de vista).
• Analíticas: baseiam-se em formulação matemática obtidas com
o objetivo de se atender condições previamente estabelecidas
(é o caso da maior parte das projeções existentes).
Classificação das projeções cartográficas

Quanto à superfície de projeção:

Planas

Cônicas Cilíndricas

Polisuperficiais (poliédricas,
Fonte: imagens da Internet
policônicas, policilíndricas)
Classificação das projeções cartográficas
Quanto à situação da superfície de projeção:
Classificação das projeções cartográficas
Quanto ao tipo de contato entre a superfície de
projeção e a superfície de referência:

• Tangente: a superfície de
projeção é tangente à de
referência (elipsóide)

• Secante: a superfície de
projeção secciona a
superfície de referência
(elipsóide)

Os únicos locais representados


sem deformação são o ponto ou
a(s) linha(s) de tangência
Classificação das projeções cartográficas
Quanto às propriedades (fundamental para uso prático):
• Conformes ou isogonais: representam sem deformação os
ângulos em torno de quaisquer pontos (a forma); não deformam
pequenas áreas
• Equivalentes ou isométricas: não alteram as áreas;
conservam relação constante com as suas correspondentes na
superfície da Terra em qualquer porção representada
• Eqüidistantes: não apresentam deformações lineares para
algumas linhas em especial, isto é, os comprimentos são
representados em escala uniforme em certas direções
• Afiláticas: não conservam comprimentos, ângulos e áreas, mas
podem possuir uma propriedade de interesse particular (ex.:
representação de círculos máximos como retas – ortodromias)
Como não há solução perfeita, a alternativa é escolher uma
projeção cartográfica que atenda ao objetivo em questão.
Porque conhecer as projeções cartográficas?
Perspectiva geral de
Mercator (ex.: Google Maps) Peters (ex.: Google Earth)
Ptolomeu

Conhecer suas
implicações é
fundamental para o
uso prático correto
de mapas ou dados
geoespaciais.

Em geral, trabalhamos com Goode


porções relativamente Mollweide
pequenas da Terra.
As características distintas
de cada projeção são mais
notáveis em grandes
áreas.
Holzel Azimutal
À medida que a área polar
representada diminui, as
diferenças ficam menos
perceptíveis, mas
permanecem.
Porque conhecer as projeções cartográficas?
Além de introduzirem distorções (conhecidas), as projeções
cartográficas não resolvem problemas de posicionamento.

Exemplo: limites de Porto Alegre na


Dependendo da escala de
mesma projeção cartográfica, porém visualização, os problemas
em três sistemas geodésicos de de posicionamento não são
referência: perceptíveis

SIRGAS2000
Escalas
• A escala cartográfica é a relação entre as dimensões lineares das
feições representadas em um mapa e as correspondentes
dimensões na superfície terrestre
• Pode ser expressa de três formas:
a) Escala numérica: fração representativa, onde o numerador
designa a distância unitária medida no mapa e o denominador
representa a distância correspondente no terreno
1 Numerador e denominador usam a
1:20.000 1/20.000 mesma unidade de medida, por isso a
20.000 fração não possui unidades
 O denominador serve para multiplicar uma medida feita sobre o mapa
para transformá-lo em um valor correspondente na mesma unidade de
medida sobre a superfície terrestre, e vice-versa
D D = distância no terreno
D=Nxd ou d = N = denominador da escala
N d = distância medida no mapa
Escalas
b) Escala gráfica: régua ou barra graduada com subdivisões (talões),
cada qual correspondendo a uma distância especificada sobre a
superfície da Terra
Talões

Porção Porção
fracionária principal

c) Escala nominal ou equivalente: uma igualdade entre as dimensões


no mapa e na realidade, com as respectivas unidades de medida
associadas
1 cm = 500 m 1 cm = 2 km 1 cm = 10 km
Escalas
• A escala define a utilidade de um mapa, pois limita o grau de
detalhe do que pode ser representado e os erros associados
• Quanto maior a escala, maior pode ser o detalhamento da área
mapeada, mas menor a área coberta
• Quanto menor a escala, maior pode ser a área mapeada, mas
menor tem que ser o detalhamento
 Escala pequena: mais reduzida, cobre áreas grandes com
menos detalhamento (1:1.000.000, 1:250.000)
 Escala grande: menos reduzida, cobre áreas pequenas com
maior detalhamento (1:25.000,1:10.000, 1:5.000).
• Se a área não couber em um único mapa na escala desejada ,
usa-se uma articulação de folhas
Escalas + de 2.000 fls
34 fls.
130 fls.

• Articulação de folhas para


cobrir áreas maiores

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