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IJEP - Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa
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Muito pouco se fala de Lilith. Menos ainda se sabe sobre o seu mito. E isso
nos traz certo espanto, por ela ser uma das peças centrais do Mito da
Criação; aquele mito bíblico que Adão e Eva são eternizados como pais da
humanidade e protótipos da origem do homem.
“Disse o Eterno a Adão, ‘Se ela concordar em retornar, tudo bem. Senão,
ela deverá permitir que cem de seus filhos morram todos os dias’. Os
anjos deixaram Deus e partiram em perseguição atrás de Lilith, a quem
eles tomaram no meio do mar, nas águas poderosas aonde os egípcios
estavam destinados a se afogar. Eles lhe disseram as palavras de Deus,
mas ela não quis retornar. Os anjos disseram, ‘Iremos afogar-te no mar’.
“‘Deixai-me!’ ela disse, ‘eu fui criada apenas para causar doença em
crianças. Se a criança for menino, terei domínio sobre ele por oito dias
depois do seu nascimento, e, se menina, por vinte dias’.
O amor do casal foi logo perturbado, pois a posição sexual que era a mais
natural a Ordem – a mulher por baixo e homem por cima – passou a ser
uma questão para Lilith, ela se sentia incomodada e subjugada, e
questionou Adão:
‘- Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir me sob teu
corpo? Por que ser dominada por ti? Eu também fui feita de pó e por isso
sou tua igual’.
Adão se sentiu ofendido e recusa de imediato pois existia uma ordem que
em absoluto poderia ser transgredida. Lilith sabe que existe tal Ordem e
entende a inclinação divina para o masculino (Onde estaria a parte
feminina de Deus já que só o Logos se mostrava?). Lilith invoca paridade
mesmo sabendo que Deus em sua Plenitude não “trabalhava” assim. Ela
se rebela. Acaba o “equilíbrio”.
Lilith vai se exilar junto ao Mar Vermelho junto aos demônios que lá
habitam. Seu ódio e rancor não são suficientes para afastar Adão neste
momento, pois ele vai e pede a Deus seu “feminino” de volta. E Deus
manda três anjos (Sanvi, Sansavi e Samangelaf) ao encontro de Lilith
proferindo seu desejo: “O desejo da mulher é para o marido. Volta para
ele”.
Ela se nega e Jeová Deus manda mais uma vez: “Volta ao desejo, volta a
desejar teu marido.” Lilith não só nega, mas tomada de ódio, pronuncia o
impronunciável: ela chama Deus pelo nome. Os anjos a ameaçam de
afogamento, ela devia obediência a Deus, mas ela já não tinha nada a
perder, pois sendo criação sabia que seu destino estava selado pelo
Criador, ele já lhe lançara uma maldição pela desobediência.
Para a eternidade seu castigo era que todos seus filhos, os Lilins, fossem
mortos pela ira divina. Ela gerava cem demônios por dia e eles eram
aniquilados por Deus; tomada de dor, sofrimento e desejo de vingança se
lança a sua maldição atentando sobre os homens que descendem de Adão,
isto é, toda humanidade...”1
Esse mito é tão rico e são tantas questões que podem ser levantadas no
aspecto psicológico, que talvez, dentro da Obra de Jung, sejam infinitas as
nossas possibilidades de pensar Lilith. De pronto, penso: Sombra, a
Coniunctio Oppositorum (união dos Opostos), a Enatiodromia, Anima e
Animus, Constelação de Complexos dentre outros tantos.
1. Resenha feita por mim com inclusões das falas do livro: The Hebrew
Myths by Robert Graves and Raphael Patai (New York: Doubleday,
1964), pp 65-69
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