Você está na página 1de 12

Relação entre a Vazão e a Pressão

Diferencial em uma malha com


elemento deprimogênio
Luciano Marcelo Lucena da Silva

Luciano Marcelo Lucena da Silva

Profissional Petrobras Nível Médio Sênior, Especialista em Automação Industrial e Controle de


Processos, Licenciado em Eletromecânica, Técnico de Instrumentação e de Eletrônica
Publicado em 4 de nov. de 2018
+ Siga

A medição de vazão na indústria é muito importante. Como a vazão é a


quantidade, que pode ser volume, massa ou peso, de um fluido no tempo, é
possível medirmos o volume para encher um tanque, um vaso, uma esfera.
Também podemos quantificar quanto de volume foi consumido ou
transportado. Um exemplo doméstico é o medidor de água da nossa casa.
Nele é possível quantificar o volume consumido na residência em um
determinado tempo (dias).

No entanto, a medição volumétrica de vazão nem sempre é tão simples.


Depende do tipo de tecnologia empregada e, por conseguinte, do tipo de
instrumento instalado. Podemos medir a vazão de maneira direta ou de
maneira indireta, a depender do tipo de fluido e do estudo de viabilidade
técnica e econômica. Uma maneira mais comum na indústria é a medição por
elementos deprimogênios, aqueles que geram uma diferença de pressão.
Neste caso, o elemento sensor mais usual e de baixo custo, em relação a
outros medidores de vazão, é a placa de orifício. Ao utilizarmos este elemento
sensor, precisamos medir a pressão diferencial gerada e relacionarmos esta
com a vazão. Vamos estudar a relação entre a pressão diferencial e vazão,
observando a malha de medição da Fig. 1.
Figura 1: Malha Típica de Medição de Vazão

De acordo com a norma ISA 5.1, a simbologia empregada foi:

1. FE - Elemento sensor de Vazão (no caso, Placa de Orifício);

2. FIT - Transmissor Indicador de Vazão;

3. FY - Extrator de Raiz Quadrada (símbolo superior à direita diz a


função deste instrumento); e

4. FI - Indicador de Vazão.
Ainda tomando a norma como referência, a placa de orifício, o transmissor de
vazão e o extrator de raiz quadrada estão no campo, na área industrial. Já o
indicador de vazão está na sala de controle e é acessível ao operador. O sinal
dos instrumentos é elétrico (linhas pontilhadas) e seu valor varia de 4 a 20 mA
(sinal padrão de corrente elétrica na instrumentação). E o transmissor é
interligado ao processo por meio de tomadas de impulso à montante (entrada
da placa de orifício) e à jusante (após a placa de orifício). Além disso, com o
avanço tecnológico dos instrumentos eletrônicos, para facilitar o
entendimento, o extrator de raiz quadrada está inserido no transmissor
indicador de vazão e por isso, ambos estão com a cor vermelha.

Agora, não relacionadas à norma, inseri umas nomenclaturas para ajudar na


explanação, como segue:

1. EFIT: Entrada do transmissor indicador de vazão;

2. SFIT: Saída do transmissor indicador de vazão;

3. EFY: Entrada do extrator de raiz quadrada;

4. SFY: Saída do extrator de raiz quadrada;

5. EFI: Entrada do indicador de vazão; e

6. SFI: Saída do indicador de vazão.

É possível perceber que há cores repetidas porque, por exemplo, o valor da


corrente na saída do transmissor (SFIT) é igual ao valor da corrente na entrada
do extrator de raiz quadrada (EFY). Analogamente para as outras cores.

A relação matemática entre a vazão e a diferença de pressão não é linear e é


resumida na equação a seguir.

Onde Q é a vazão do processo, Δp é a pressão diferencial e K é um fator que


relaciona a vazão máxima e a pressão diferencial máxima do processo e pode
ser calculado como mostra a resolução a seguir, para a malha de medição em
questão.

Uma vez que conhecemos as variáveis da equação que relaciona a vazão e a


pressão diferencial, podemos calcular qualquer valor de vazão ou de pressão
diferencial dentro das suas respectivas faixas nominal da malha de medição
em questão. Como exemplo, se a vazão do processo for 5 m³/h, qual o valor
da pressão diferencial medida pelo transmissor?

Podemos verificar que a vazão varia na razão exponencial em relação à


pressão diferencial. Assim, a tabela a seguir, mostra os valores da vazão e da
pressão diferencial, em percentual.

É possível perceber que, para uma pequena variação de pressão diferencial, há


uma grande variação na vazão. Ao plotarmos um gráfico, a seguir, verificamos
a relação exponencial das grandezas em estudo, em unidade de engenharia.
Assim, quando a pressão diferencial varia conforme a tabela a seguir, temos
um gráfico de resposta da vazão, sendo utilizada unidade de engenharia em
ambos.
Percebemos, nas últimas figuras que uma variação de 50% (5 m³/h) na vazão
do processo, provoca uma pressão diferencial de 25% (100 kPa) no
transmissor. Mas o transmissor é calibrado e/ou ajustado pela vazão ou pela
pressão diferencial? Apesar da simbologia indicar que o transmissor é de
vazão, este não faz a medição direta desta grandeza. Como é possível verificar
na malha, o transmissor mede a pressão diferencial do processo provocada
pela passagem do fluxo (vazão) do fluido. Assim sendo, o transmissor deve ser
calibrado e/ou ajustado em função da faixa nominal da pressão diferencial,
como podemos verificar a seguir.

Percebam que a entrada do transmissor é o valor da faixa nominal da pressão


diferencial do processo.
O ideal seria trabalharmos com valores lineares porque são mais fáceis de
entender e de calcular. É possível linearizar o valor da vazão nesta malha de
medição? A resposta é sim. Entra em cena o extrator de raiz quadrada. Antes,
porém, é preciso mostrar como este bloco matemático, inserido no circuito
eletrônico do transmissor, faz o cálculo do valor de saída quando recebe
valores de entrada originados do FIT. A seguir, a equação válida para o sinal de
saída do bloco de extração de raiz quadrada utilizando o sinal padrão de 4 a
20 mA.

Assim, apenas para exemplificar, se o transmissor envia um sinal de 8 mA para


a entrada do FY, qual é o valor do sinal de saída deste instrumento?
É possível, então, relacionarmos os valores de corrente elétrica enviados pelo
FIT (SFIT) para a entrada do FY (EFY) com os valores da saída do FY (SFY),
conforme tabela a seguir e plotarmos um gráfico desta relação.

Parece que a curva deste gráfico já apareceu neste artigo! Perceberam???


Vejam direito.

Sim, esta curva já apareceu aqui. Mesma inclinação entre dois gráficos
apresentados. Coincidência? Nada disso. A entrada do FY, que recebe o sinal
da saída do transmissor, varia em função dos valores da pressão diferencial,
mas esta pressão não é linear com a vazão, lembram? Assim, precisamos,
matematicamente, gerar uma curva com a mesma inclinação na entrada do
indicador de vazão de modo que a vazão que passa pelo processo, medida
pelo sistema, tenha uma curva linear no indicador de vazão instalado na sala
de controle. Vejamos a tabela e o gráfico a seguir.

Bingo! O indicador de vazão (FI) tem uma faixa nominal linear na sua saída
(SFI) em relação à vazão (Q) do processo. Isto só foi possível porque no
transmissor indicador de vazão a função matemática de extração de raiz
quadrada foi habilitada e o indicador de vazão, na sala de controle, foi
configurado para faixa nominal linear.

Também podemos configurar os instrumentos desabilitando a extração de raiz


quadrada do FIT, porém precisamos mudar a faixa nominal do FI para escala
quadrática. Vamos analisar o gráfico a seguir.
No eixo X, está a variação de corrente elétrica de 4 a 20 mA e no eixo Y, a
variação percentual de 0 a 100%. A curva azul é a escala linear e a cor laranja é
a escala quadrática. Vejam que para uma corrente de 8 mA, o instrumento
indicador ou registrador com escala linear mostrará 25% da sua faixa nominal,
enquanto que um instrumento configurado com a escala quadrática exibirá
50% da sua faixa nominal. Mais um exemplo: ao receber 16 mA, o instrumento
configurado para escala linear exibirá 75% da sua faixa nominal, enquanto o
instrumento configurado com escala quadrática exibirá 86,6%.

Tomem cuidado na configuração dos instrumentos da malha de vazão com


elemento deprimogênio. Instrumento que transmite está habilitado o
extrator de raiz quadrada, o instrumento receptor deve ser configurado com
a escala linear. Instrumento que transmite NÃO está habilitado o extrator de
raiz quadrada, o instrumento receptor deve ser configurado com a escala
quadrática. É preciso verificar as configurações dos instrumentos para não
termos erros na medição da vazão do processo.
@augustolima9257
há 3 anos

Tenho uma duvida. Se tenho uma tubulação de vapor com uma pressão máxima desse vapor sendo 10 kgf/cm². A
pressão diferencial a usar no calculo da vazão seria de 0 a 10 kgf/cm² ?

Responder

7 respostas

@lumarcelo

há 3 anos

Prezado Augusto, tudo bem? Veja, de acordo com sua colocação, a pressão mencionada trata-se da pressão da tubulação, aquela que fará o vapor escoar.
Para ser uma pressão diferencial é necessário ter instalado, na tubulação, um elemento deprimogênio, o elemento que gere o diferencial de pressão, como
uma placa de orifício ou um tubo de venturi, por exemplo. Espero ter ajudado. Tudo de bom.

Responder

@augustolima9257
há 3 anos

@lumarcelo Sim com a placa de orifício como seria o procedimento para encontrar a diferença de pressão máxima? Obrigado pela resposta

Responder

@lumarcelo

há 3 anos (editado)

@augustolima9257 Neste caso, a pressão máxima diferencial é obtida quando a vazão for máxima também. Caso não encontre estas informações nos
cálculos do projeto, uma maneira de saber é consultar a folha de dados do transmissor FT porque nela terá a informação da faixa nominal do transmissor.
Daí, saberemos o valor da pressão máxima do vapor. Na sua pergunta, se a faixa nominal do transmissor de vazão de vapor for de 0 a 10 kgf/cm2, significa
afirmar que a pressão diferencial máxima é de 10 kgf/cm2. Espero ter ajudado. Tudo de bom.

Mostrar menos

Responder

@augustolima9257
há 3 anos

@lumarcelo Muitíssimo obrigado ! Ajudou demais

Responder

@augustolima9257
há 3 anos
@lumarcelo Na verdade é uma instalação nova, então tenho que dimensionar o transmissor para uma tubulação onde a pressão maxima de trabalho é de
10kgf/cm²

Responder

@lumarcelo

há 3 anos

@augustolima9257 Mas a pressão máxima de trabalho não necessariamente seria igual à pressão diferencial máxima, uma vez que devemos trabalhar
com pressões abaixo da máxima de trabalho. Como é uma instalação nova, sugiro analisar a folha de dados FD dos instrumentos. Boa sorte e tudo de bom.

Você também pode gostar