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Curso de Vapor - SINATUB

Data: 28 e 29 de Agosto de 2003


Local : Hotel Nacional Inn Village - Auditório Cenacon
Ribeirão Preto - S.P.

Geração, Distribuição, Utilização e Consumo

Turbinas a Vapor
e
Turbinas a Gás

Palestrante:
Engº Helemilton Rios Moreira

1
Índice

Pagina
1 TURBINAS A VAPOR .................................................................................3
1.1 Histórico....................................................................................................4
1.2 Classificação ............................................................................................5
1.3 Turbinas de Ação ...................................................................................15
1.4 Turbinas de Reação ...............................................................................17
1.5 Eficiências de Turbinas a Vapor ...........................................................19
1.6 Cálculo da Potência e do Consumo Específico...................................20
2 TURBINAS A GÁS ....................................................................................21
2.1 Histórico..................................................................................................22
2.2 Turbinas Aeroderivadas ........................................................................23
2.3 Turbinas “Heavy Duty” ..........................................................................23
2.4 Turbinas com Um e com Dois Contornos ............................................25
2.5 Principais Componentes da Turbina a Gás .........................................26
2.6 Sistema de Refrigeração........................................................................30
2.7 Eficiências e Consumos Específicos de Calor de Turbinas a Gás ....34
2.8 Combustíveis Queimados em Turbinas a Gás ....................................35

2
1
TURBINAS A VAPOR
A turbina a vapor é uma máquina que converte a energia térmica contida no vapor
em trabalho útil. Consiste basicamente de um rotor alojado dentro de uma carcaça,
cujo eixo horizontal é apoiado em mancais. Jatos de vapor oriundos de bocais,
dispostos na parte interna desta carcaça, são dirigidos a palhetas fixadas no rotor,
provocando o seu movimento giratório.

O processo de transformação de energia, a partir de um combustível qualquer, se


passa basicamente da seguinte forma: primeiramente, libera-se a energia contida
no dito combustível, através da queima do mesmo. Essa energia térmica é
conduzida à turbina - cuja função é promover a sua transformação em energia
mecânica de movimento (rotação), por meio dos princípios conhecidos da
termodinâmica e aerodinâmica. Essa energia mecânica é posteriormente
convertida em energia elétrica pelo gerador síncrono, utilizando-se das leis físicas
do eletromagnetismo.
Em todas essas etapas de transformação, a energia não é integralmente
aproveitada, ou seja: parte dela é irremediavelmente perdida, desde a queima
incompleta do combustível, na dissipação de calor, atrito, etc. - até outros tipos de

3
perdas mais complexas inerentes aos processos termodinâmicos, gasdinâmicos e
elétricos.
Por conseguinte, a tecnologia avança no sentido de se minimizar essas perdas e
de se obter, cada vez mais, o máximo de aproveitamento energético dos sistemas
de geração.

1.1
Histórico
A primeira turbina a vapor de que se tem conhecimento na história, operava pelo
princípio da reação pura.
Consistia basicamente de uma esfera oca que girava em torno de um eixo
horizontal, impelida por jatos de vapor que provinham de dois tubos fixados na
própria esfera. A invenção dessa máquina, ocorrida provavelmente por volta do ano
50 da nossa era, é atribuída a Heron, da cidade de Alexandria.

Um outro tipo de turbina, que opera pelo princípio de ação, também chamado de
impulso, foi descrito pela primeira vez em 1629 por Giovanni Branca. Essa máquina
utilizava um jato de vapor dirigido para as palhetas de uma roda, promovendo a
sua rotação.
Durante os anos de 1884 a 1889, o engenheiro sueco Gustav de Laval projetou e
fabricou pequenas turbinas a vapor, de 1 CV (com 100.000 rpm de velocidade) a
140 CV (com 6.000 rpm). Porém a concepção moderna da turbina a vapor é
atribuída a Sir Charles Parsons, da Inglaterra, que em 1884, utilizando o princípio
da reação, construiu uma turbina de múltiplo estágio de 10 CV de potência, que
operava com velocidade de 17.000 rpm.
Outros pioneiros que contribuíram para o desenvolvimento da turbina a vapor foram
o francês C .E. Rateau e o norte americano C. G. Curtis.

4
No início do século XX os motores a vapor, que dominavam os equipamentos de
acionamento mecânico da época, começaram a ser substituídos pelas turbinas a
vapor, principalmente na geração de energia elétrica, as quais passaram a ter um
rápido desenvolvimento, sob o comando de grandes empresas que então se
estabeleciam.
No ano de 1930, tanto a GE como a Westinghouse, fabricaram turbinas a vapor
com potências de 50 MW - um avanço considerado expressivo para a época.
Hoje essas companhias, mais a ABB, Toshiba, Siemens, KWU e outras, constroem
máquinas que chegam a produzir 1.200 MW num só eixo.

1.2
Classificação
Dependendo das particularidades construtivas, do caráter do processo térmico, dos
parâmetros do vapor vivo e do vapor de escape e dependendo ainda da utilização
industrial, as turbinas a vapor poderão ser classificadas da seguinte maneira:

1.2.1
Quanto ao Número de Estágios de Pressão
a) Turbinas de um estágio de pressão, com uma ou mais rodas de
velocidadeHabitualmente essas turbinas são máquinas de pequena potência
(até 2.500 HP), sendo utilizadas basicamente para o acionamento de bombas
centrífugas e pequenas unidades de geração de energia elétrica. No setor
sucro-alcooleiro acionam exaustores e ventiladores de caldeiras a vapor,
picadores e desfibradores de cana, moendas etc.

palhetas fixas
(diafragma)

palhetas

expansor
(anel injetor) fluxo de
vapor

disco disco
pressão de vapor
pressão de vapor

Turbina com uma roda de velocidade Turbina com duas rodas de velocidade

Turbina de simples estágio com uma roda de velocidade.

5
Roda Curtis

A queda de pressão (transformação da energia potencial em energia cinética) dá-


se nos bicos injetores, permanecendo constante a pressão nos estágios
subseqüentes.

fluxo
vapor

Turbina de simples estágio do tipo Stal


É uma turbina “sui generis”, onde não existe palhetagem fixa para a reversão do
fluxo de vapor. Após a transformação da energia potencial em energia cinética,
através dos bicos injetores, o vapor passa simultaneamente por duas rodas de
velocidade, conforme mostrado abaixo. A vantagem desta concepção de turbina é
um valor de eficiência no eixo superior aos das rodas de simples estágio, tendo

6
porém como grande desvantagem a existência de dois eixos de saída para os
equipamentos a serem acionados, com sentidos de rotação opostos.

b) Turbinas de múltiplo estágio


Essas turbinas são normalmente de média potência (2 MW a 60 MW) e de
grande potência (> 60 MW); sendo raramente encontradas na faixa de pequenas
potências.

fluxo de
vapor
pressão do vapor

7
1.2.2
Quanto à Direção do Fluxo de Vapor
a) Turbinas axiais: quando o fluxo de vapor desloca-se paralelamente ao eixo da
turbina.

Fluxo de vapor

b) Turbinas radiais: quando o fluxo de vapor desloca-se perpendicularmente ao


eixo de rotação da turbina.

fluxo

anel
injetor

rotor

8
1.2.3
Quanto ao Número de Cilindros (corpos)
a) Turbinas com um cilindro

Regulador

Carcaça

Vapor Vivo
Rotor

Vapor de Escape

b) Turbinas com dois cilindros


Regulador

Cilindro de Baixa Pressão


Cilindro de Alta Pressão

Po, to

Pk, tk

P1, t1

Água

P1, t1 Condensador

9
c) Turbinas com três cilindros

P0, t0

Superaquecedor P3, t3
P2, t2

Caldeira

Pk, tk

Linha de Alimentação P1, t1

Circuito Externo de Água


Condensador

Água de Reposição

1.2.4
Quanto ao Princípio de Regulagem
a) Por estrangulamento: quando todo o vapor que vai para a turbina é submetido a
redução de pressão através de uma ou mais válvulas. A variação de potência,
de zero até a capacidade máxima, dá-se mediante a variação da perda de carga
através da válvula de regulagem, mantendo-se constante a rotação. Em outras
palavras: em função da potência exigida, teremos uma variação de energia
entálpica provocada pela válvula de regulagem, conforme demonstrado no
diagrama abaixo.

i Po Po p
Po I II 1
válvula de regulagem

A A
A 2
1
i
III

i
II

B
i

2
I

vapor
vivo B
1

anel injetor
s

10
onde,
P0 pressão do vapor vivo
P1 pressão do vapor de escape
Linha AB ciclo correspondente à potência máxima da turbina. Queda
de entalpia equivalente ∆Ii .
Linha AA1 B1 ciclo correspondente a 2/3 da potência máxima (queda de
entalpia ∆IIi ).
Linha AA2 B2 ciclo correspondente a 1/3 da potência máxima (queda de
entalpia ∆IIIi ).

b) Regulagem por câmaras de vapor através de duas ou mais válvulas.

1 2 3

1 2 3

vapor vivo

Nesse tipo de configuração, a variação da potência dá-se mediante a perda de


carga provocada por cada válvula em sua câmara de vapor (conforme descrito
anteriormente) e mais pela variação da vazão de vapor na passagem de uma
câmara para outra. Até 1/3 da potência máxima trabalharia apenas a válvula de
regulagem nº 1, permanecendo as válvulas 2 e 3 fechadas. Com 1/3 da carga
começaria a abrir-se a válvula nº 2, e assim sucessivamente até que a carga total
fosse atingida, com as três válvulas inteiramente abertas e com as 3 câmaras de
vapor funcionando.
Esse sistema de regulagem nos permite obter bom rendimento em regimes parciais
de trabalho (em que a potência da máquina é inferior à sua potência nominal).

11
c) Regulagem por derivação de vapor: em que este é distribuído em duas ou mais
válvulas de regulagem, com pressões diferentes.

vapor vivo

1.2.5
Quanto ao Caráter do Processo Térmico
a) Turbinas de contra-pressão: quando o vapor de escape da turbina é utilizado
em processos industriais.

Para o processo

12
b) Turbinas de condensação pura.
Máquinas que operam com pressões de escape abaixo da pressão
atmosférica, através do uso de condensador de vapor, permitindo com isso
uma maior utilização da energia térmica contida no vapor. No desenho abaixo,
vê-se uma turbina desse tipo, em que, internamente, a mesma é subdividida
nos segmentos de alta (1) e de baixa pressão (2).

2
1

c) Turbinas de condensação com uma ou mais extrações de vapor.


Essa extração dá-se com pressão intermediária e tem por finalidade a
utilização industrial do vapor extraído e a diminuição da sua quantidade no
condensador.
cilindro

cilindro
AP

BP

caldeira

condensador
extração para
uilização
industrial

13
d) Turbinas de condensação com regeneração: em que parte do vapor utilizado é
extraído de estágios intermediários, para o pré-aquecimento da água de
alimentação da caldeira, através de vários trocadores de calor.

cilindro

cilindro
MP

BP
superaquecedores

gerador
caldeira

1 a b c

cilindro
d

AP
I
condensador

II

desaerador

III

IV

I, II, III, IV - trocadores de calor


água-vapor
- bomba de água

1, a, b, c, d - pontos de extração de vapor

1.2.6
Quanto aos Parâmetros do Vapor Vivo
a) Turbinas de baixa pressão: quando operam em pressões de 1,2 a 2,0 ata.
Normalmente é um vapor já utilizado em um outro processo ou numa outra
turbina;
b) Turbinas de média pressão: quando operam com pressões de vapor vivo até
40 ata;
c) Turbinas de alta pressão: operam com pressões de vapor vivo acima de 40 ata;
d) Turbinas de parâmetros superelevados: quando operam com pressões acima
de 170 ata e temperaturas acima de 225 ata;
e) Turbinas de parâmetros supercríticos: operam com pressões de vapor acima
de 225 ata.

14
1.2.7
Quanto à Utilização
a) Estacionárias
− de rotação constante: utilizadas para a geração de energia elétrica.
− de rotação variável: utilizadas para o acionamento de ventiladores,
exaustores, bombas, desfibradores, picadores, etc.

b) Não Estacionárias: utilizadas em navios (para o acionamento da hélice) e no


transporte ferroviário (turbo-locomotivas).

1.2.8
Quanto ao Princípio de Funcionamento
a) Turbinas de ação (ou ativas);
b) Turbinas de reação (ou reativas)

1.3
Turbinas de Ação
O princípio de funcionamento chamado ativo é aquele em que a energia potencial
do vapor transforma-se em energia cinética nos bicos injetores ou nos canais entre
a palhetagem fixa (diafragmas). Nas palhetas móveis esta energia é transformada
em trabalho mecânico.

W 1 W 2

W 2 = W 1

O que caracteriza esse tipo de turbina, conforme mostrado no desenho acima, é


que a velocidade relativa do fluxo de vapor na saída da roda é igual à velocidade
na entrada da mesma (ω2 = ω1).

15
V
força de sustentação (P)
u camada lim
ite
linha de fluxo

Z
W1

palheta

W2 extensão da camada limite

A transformação da energia cinética em trabalho mecânico dá-se através do


surgimento de uma força aerodinâmica (ou força de sustentação), oriunda das
diferenças de pressão em torno da chamada camada limite formada ao redor do
perfil da palheta móvel. O conceito de extensão (largura) da camada limite é dado
pela variação do gradiente de velocidade, de zero até igualar-se à velocidade do
fluxo, tomado a partir de um ponto qualquer do perfil.
Abaixo é representado um caso típico de turbina de ação com três rodas de
velocidade (três estágios), onde se verifica quedas de pressão na placa injetora de
vapor e diafragmas, e pressões constantes na palhetagem móvel.

u z

u1z

fluxo
vapor

Po

P
1

16
1.4
Turbinas de Reação
O princípio de funcionamento reativo é aquele em que, além das quedas de
pressão nos bicos injetores/diafragmas e nos canais entre as palhetas fixas, a
transformação da energia potencial em energia cinética também ocorre na
palhetagem móvel. A força atuante nestas últimas, provocando o conseqüente giro
do rotor, é oriunda não apenas da força aerodinâmica, mas da sua composição
com a força de reação provocada pela aceleração das partículas do fluxo.

F Fu

Pu P

F Pz
z

S
1

W1
S
2

u
W2

ω2 > ω1
Força de Reação

F = m.α

onde;
m - massa do fluxo do vapor (Kg)
α - aceleração das partículas do fluxo na secção de saída (m/s)2

A força útil resultante, que vai originar o trabalho mecânico, é dada pela seguinte
expressão:

Ru = Fu + Pu

onde,
Fu - projeção da força de reação F sobre o eixo u;
Pu - projeção da força aerodinâmica P (ou força de sustentação) sobre o eixo u

17
F2 e P2 - projeções das forças F e P sobre o eixo z (eixo da turbina). O
esforço resultante da somatória desses componentes, estágio a
estágio, terá de ser absorvido pelo mancal de escora da turbina;
S1 e S2 - secções de entrada e saída, perpendiculares à direção do fluxo.

Abaixo, a título de ilustração, é mostrado o desenho esquemático de uma turbina


de reação, com o respectivo diagrama das variações, estágio a estágio, das
pressões e velocidades do fluxo de vapor.

u z

u1z

f lu x o
vapor

Po

P
1
C

Exemplo de perfil aerodinâmico

18
Índice de Reação
O grau de reatividade de um segmento de palhetas móveis é dado pelo chamado
índice de reação ρ, que é a relação entre a queda de entalpia teórica nessas
palhetas e o salto entálpico teórico total do estágio (segmentos de palhetas fixas e
móveis).

hop
ρ=
ho
onde,
hoc - queda de entalpia teórica nos bicos injetores (ou palhetagem fixa)
hop - queda de entalpia teórica na palhetagem móvel
ho - queda de entalpia teórica do estágio

i
Po
P
1 P
2
0 T0
hoc
ho

1
hop

P0 - pressão de admissão (ou pressão no início do estágio a ser


considerado);
T0 - temperatura de admissão (ou no início do estágio a ser
considerado);
P1 - pressão na saída dos bicos injetores (ou na saída da palhetagem
fixa);
P2 - pressão na saída da palheta móvel.

1.5
Eficiências de Turbinas a Vapor
A eficiência no eixo da turbina é calculada pela seguinte expressão:

ηe = _∆i_ . ηm
∆it

19
onde:
∆i = i0 – i1;
∆it = i0 – i1t
sendo:
i0 – entalpia do vapor na admissão da turbina;
i1 - entalpia real do vapor no escape da turbina, considerando-se as perdas
de energia;
i1t - entalpia teórica do vapor no escape da turbina (sem perdas de energia);
ηm - eficiência mecânica.
(*)
Exemplo de Eficiências dos principais tipos de turbinas a vapor (%)

Turbina com uma Turbina multiestágio


Roda Curtis
roda de velocidade Ação Reação

32 53 73 85

(*) – Considerando-se o ponto ideal de projeto, ou seja: operação à plena


carga e na rotação nominal.

1.6
Cálculo da Potência e do Consumo Específico

1.6.1
Potência no Eixo da Turbina
A Potência no Eixo da turbina a vapor é calculada a partir das seguintes fórmulas:

Ne = D . ∆it. ηe (kW) - Equação


0,86 1

Ne = D . ∆it. ηe (HP) - Equação


0,63235 2

Onde,
D – vazão de vapor, em t/h.

20
1.6.2
Potência do Gerador
O cálculo da potência nos bornes de saída do gerador elétrico, é feita através das
seguintes expressões:

Ng = Ne . ηr . ηg (kW) - Equação
3
onde,
ηr – eficiência do redutor de velocidade (se houver);
ηg – eficiência do gerador elétrico.

Para o caso de acoplamento direto entre a turbina a vapor e o gerador, temos:

Ng = Ne . ηg (kW) - Equação
4

1.6.3
Consumo Específico de Vapor
O consumo específico de vapor de uma turbina, é expresso pela expressão abaixo.

de = 1.000 x D . (kg/kWh) ou (kg/HPh) - Equação


Ne 5

1.6.4
Eficiência em Função do Consumo Específico
Substituindo o valor da potência Ne obtido da Equação 1 e na Equação 5 acima,
temos:
de = 1000 . D 0,86 .
D . ∆it . ηe

donde:

ηe(%) = _ 860 _ . 100


∆it . de

2
TURBINAS A GÁS
O Ciclo de Brayton, integrando num único conjunto girante, turbina, compressor de
ar e gerador elétrico síncrono, é muito simples. O ar, passando pelo compressor, é
levado para a câmara de combustão, onde cerca de 1/3 do mesmo é mesclado ao
combustível e usado no processo de queima. O restante deste ar é utilizado para o
sistema de refrigeração da própria câmara de combustão, para a homogeneização

21
da frente de chama e para o resfriamento interno das palhetas da turbina. A
energia térmica oriunda do processo de queima é transformada em energia
mecânica de movimento através da turbina a gás.

Os gases na saída da turbina ainda contêm alta temperatura, evidenciando que


apenas uma fração da energia térmica original proveniente da queima foi
efetivamente aproveitada em energia mecânica pela turbina.

2.1
Histórico
Os primeiros estudos sobre turbinas a gás surgiram ainda no século XIX, quando
se antevia a possibilidade de se operar diretamente com os gases de combustão,
eliminando com isto a caldeira a vapor. Em 1906 foi feita uma primeira experiência
com uma máquina desse tipo. Os franceses Armengaud e Lemale a utilizaram para
uma potência útil de 75 HP, através de um compressor centrífugo de 25 estágios,
construído pela Brown Boveri. Apesar da surpreendente eficiência desse
compressor, de aproximadamente 70%, o desempenho da turbina foi desanimador,
obtendo-se uma eficiência algo em torno de 2%. Desde então e durante muitos
anos, não mais se ouviu falar em turbinas a gás.
A evolução da turbina a gás só foi possível graças aos avanços tecnológicos
alcançados na área da metalurgia, ao aumento do conhecimento na área da
aerodinâmica, o que permitiu o desenvolvimento de perfis de alta eficiência, ao
aperfeiçoamento das câmaras de combustão e dos sistemas de refrigeração das
palhetas, que possibilita hoje, por exemplo, seja obtida uma temperatura dos gases
na entrada da turbina na ordem de 1.200° C, contra, por exemplo, os 620° C da
década de 60.

22
2.2
Turbinas Aeroderivadas
Como o próprio nome indica, são máquinas concebidas originariamente para o uso
aeronáutico, cujo projeto foi adaptado para o acionamento de equipamentos
estacionários, notadamente geradores elétricos.

Turbina LM 2500 da GE.

2.3
Turbinas “Heavy Duty”
São aquelas cujo projeto já foi concebido para o uso estacionário. Abaixo é
mostrado um exemplo típico deste tipo de máquina, em que a câmara de
combustão é praticamente um elemento à parte, acoplada à turbina.

Abaixo são mostrados foto e esquema da turbina a gás de 260 MW.

23
24
2.4
Turbinas com Um e com Dois Contornos

a) Turbinas de um contorno
Turbinas de um contorno são aquelas compostas de um único compressor de
ar, em que este e a turbina estão montadas num mesmo eixo. A figura abaixo
mostra uma turbina representativa desta categoria.

b) Turbinas de dois contornos


Turbinas de dois contornos, normalmente aeroderivadas, são aquelas
compostas por dois compressores de ar, sendo um de média e outro de alta
pressão, cada um deles acoplados a eixos motores acionados por diferentes
turbinas, que inclusive operam com rotações distintas. A figura abaixo mostra
uma máquina deste tipo, com esquema para dois arranjos construtivos de
acionamento motriz.

25
2.5
Principais Componentes da Turbina a Gás

Na vista explodida da microturbina e no corte da máquina mostrados abaixo, fica


fácil observar os principais componentes da turbina a gás, a saber: compressor de
ar, câmaras de combustão (dos tipos inteiriça e individual) e respectivos dutos
condutores dos gases, e turbina propriamente dita.

2.5.1
Compressor de Ar
Para que se tenha uma boa eficiência de queima, o ar a ser mesclado com o
combustível, requer seja injetado na câmara de combustão com uma certa taxa de
compressão, daí a necessidade do uso do compressor.

O compressor de ar de uma turbina a gás pode ser do tipo axial, em que a


compressão se dá, estágio a estágio, ao longo do eixo da máquina, ou radial, em
que a compressão do ar é feita no sentido radial do eixo da turbina.
Inicialmente, os compressores de ar radiais foram muito utilizados, principalmente
nos primeiros aviões militares. A sua grande desvantagem é que, para grandes
capacidades, requerem um diâmetro muito grande, inviabilizando a concepção
26
construtiva da máquina a ser projetada. Portanto, o seu uso está hoje limitado às
pequenas turbinas a gás.

Acima o conjunto estator e rotor de uma turbina a gás, notando-se, num


primeiro plano, o compressor axial da mesma e, abaixo, estator do
Compressor de Ar, com detalhe para o sistema mecânico-hidráulico de
mudança de ângulo de ataque das palhetas direcionais.

27
Rotor completo de uma microturbina, com detalhe para os compressores
radiais da mesma.

Estator do compressor de ar
de turbina da GE, com
detalhe para o sistema
mecânico de mudança de
ângulo de ataque da
palhetagem fixa.

28
2.5.2
Turbina

Turbina de quatro estágios.

2.5.3
Câmara de Combustão
Podem ser do tipo inteiriças ou individuais. As câmaras de combustão inteiriças,
normalmente utilizadas para turbinas de pequeno porte, possuem a vantagem de
uma melhor uniformização da frente de chama, porém a grande desvantagem de,
ter de ser substituída toda a câmara de combustão, na eventualidade de dano, por
excesso de temperatura, de um único segmento da mesma. A reposição desta
câmara de combustão implica também na desmontagem de praticamente toda a
turbina.
As câmaras de combustão individuais, têm a grande vantagem de poderem ser
substituídas individualmente, não havendo necessidade de desmontagem da
turbina, mesmo que parcialmente, para essa finalidade. Em contrapartida, a
uniformização da frente de chama é mais complexa, havendo ainda o imperativo de
conexão entre as mesmas, através de dutos de interligação, para o caso de
apagamento da chama em uma delas.

29
2.6
Sistema de Refrigeração
Apenas 1/3 do ar proveniente do compressor é utilizado para a queima
propriamente dita. A maior parte dele, cerca de 2/3, é utilizado para a refrigeração
e estabilização da frente de chama na própria câmara de combustão, bem como
para a refrigeração das palhetas fixas e móveis do 1º estágio da turbina.

Esquema geral de circulação do ar

30
Dinâmica da câmara de combustão

Abaixo são mostrados exemplos dos sistemas de refrigeração, externa e interna,


das câmaras de combustão e peças de transição da turbina, com ênfase para a
injeção de ar no núcleo da frente de chama, visando uniformizar, em função da
altura, o gradiente de temperatura dos gases incidentes sobre as palhetas.

31
Câmara de Combustão do tipo individual e respectiva Peça de Transição

No detalhe abaixo, concernente à queima do combustível dentro da câmara de


combustão, o ar passa através de aletas, direcionadas de maneira a provocar o
“turbilhonamento“ do fluxo de ar, permitindo uma mistura com o combustível, a
mais homogênea possível, o qual é injetado através de bicos injetores localizados
no centro da câmara.

32
Refrigeração das palhetas do 1º estágio
Mesmo com a homogeneização da temperatura da frente de chama, as palhetas
direcionais e móveis da turbina, principalmente as do primeiro estágio, possuem
complexo sistema de refrigeração interna, com o ar que é extraído do compressor.
Esse ar, após a refrigeração, é devolvido ao fluxo de gases, axialmente ou
radialmente, através de orifícios incorporados nessas palhetas.

33
2.7
Eficiências e Consumos Específicos de Calor de Turbinas a Gás
a) Eficiência
Abaixo são representadas algumas eficiências típicas, em função das
capacidades, para alguns modelos de turbinas a gás.

Turbinas Aeroderivadas
KWe Fluxo de Exaustão Temperatura de
Tipo Eficiência (Kg/s) Exaustão
(°C)
(%)
1 13.750 35,5 47 488

2 22.800 36,8 69 523

3 28.500 38,4 83 510

4 34.450 37,2 121 434

5 44.090 41,9 127 450

b) Consumo específico de calor (“heat rate”)


O consumo específico de calor ou “heat rate” é uma medida do desempenho
térmico, representando a quantidade da energia térmica utilizada pela turbina
para cada unidade de potência útil gerada. É dado pela expressão:

PCIc . G
Heat Rate = (kcal/kWh) ou (kJ/kWh)
Ne

onde,
PCIc – poder calorífico inferior do combustível utilizado pela turbina
(kcal/kg), (kcal/m³) ou (kJ/kg), (kJ/m³);
G – consumo de combustível da turbina (kg/h) ou (kg/m³);
Ne – potência no eixo de saída para o equipamento acionado.

Na realidade, o consumo específico de calor ou “heat rate” é a expressão


da eficiência da máquina, cujas correlações são:

Heat Rate = 860 . (kcal/kWh)


ηe
ou:

34
Heat Rate = 3 600 . (kJ/kWh)
ηe

onde,

ηe – eficiência no eixo da turbina.

Observação: 1 kW ≈ 860 kcal/h ≈ 3.600 kJ/h

2.8
Combustíveis Queimados em Turbinas a Gás

2.8.1
Combustíveis Gasosos
Praticamente todos os combustíveis gasosos podem ser utilizados nas turbinas a
gás, entretanto o gás natural tem sido o principal por uma série de motivos:
disponibilidade, boas condições de queima, manuseio relativamente fácil, custo
competitivo e limpeza.
A turbina a gás típica normalmente é projetada para o gás natural, com uma
especificação padrão. Um combustível diferente pode exigir mudanças nos
sistemas de controle e de manuseio do combustível, nas especificações de
potência e na taxa de calor consumido heat rate na turbina.
Os outros combustíveis gasosos incluem os gases liquefeitos de petróleo, que são
considerados “gases úmidos” (uma vez que podem formar condensados nas
condições normais de operação) e uma ampla gama de rejeitos de refinaria e de
gases derivados de carvão ou de resíduos vegetais.

Classificação dos combustíveis gasosos usados em turbinas a gás


Os combustíveis gasosos, em função do seu poder calorífico, são normalmente
classificados conforme mostrado a seguir.
a) Gases de Alto Poder Calorífico
Esses gases são constituídos de hidrocarbonetos voláteis com pequena fração
de gases inertes. Por propiciar uma queima relativamente limpa, são os mais
adequados para o uso em turbinas a gás. São eles:
• Gás Natural – constituído principalmente de metano e pequena quantidade
de inertes.
• Gás Natural Sulfurado – é o gás natural com elevado teor de sulfeto de
hidrogênio.
• Gás Liquefeito de Petróleo – constituído por hidrocarbonetos de baixo ponto
de ebulição: propano, butano ou uma mistura de ambos. Para a queima nas
turbinas a gás, esses combustíveis terão de ser totalmente vaporizados.

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• Gás Natural Sintético – obtido através da gaseificação de combustíveis
sólidos, é essencialmente idêntico ao gás natural quanto ao manuseio e à
combustão.

b) Gases de Médio Poder Calorífico


São gases constituídos principalmente de monóxido de carbono, hidrogênio e
metano. São eles:
• Gás de Carvão – resultado da gaseificação do carvão com o oxigênio, é
composto principalmente de monóxido de carbono e hidrogênio. Este gás
deve ser tratado para reduzir o nível de contaminantes que causam
corrosão e depósitos de cinzas.
• Gás de Processo – inclui uma ampla gama de subprodutos gasosos de
processos com grande variação de composição, tal como gás de refinaria
contendo hidrogênio, monóxido de carbono e metano.

c) Gases de Baixo Poder Calorífico


São constituídos de monóxido de carbono, hidrogênio e relativamente grandes
frações de gases inertes como nitrogênio e dióxido de carbono. Um exemplo
desses gases é aquele obtido da gaseificação do carvão com o ar.

O poder calorífico do gás não deve superar 10% de variação, conquanto


variações de até 20% têm sido encontradas na prática. Nestes casos, pode
ocorrer a necessidade de serem feitas adaptações nos queimadores.
Queimadores especialmente projetados têm tornado possível até mesmo o uso
de gases com poder calorífico tão baixo quanto 990 kcal/Nm³.

A tabela a seguir apresenta o resumo das principais especificações para os


combustíveis gasosos de médio e alto poder calorífico utilizados em turbinas a
gás.

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Especificação Básica dos Combustíveis Gasosos para Turbinas a Gás
Propriedades Especificações
Contaminantes
sólidos 30 ppm máximo, 10 mícrons, máximo
umidade 0,25% acima da saturação, máximo
gases secos 13,41/1000m³, máximo
hidrocarbonetos Condensação nula com queda de 6,7 ºC
Poder Calorífico
limites 2.670 – 44.500 kcal/Nm³
tolerância + 10% do nominal
Ponto de Fulgor, limites Razão entre a maior e menor temperatura:
2,7 mín.
Enxofre Problema somente para caldeira de
recuperação
Metais alcalinos e sulfatos 5 ppm em metais alcalinos equivalentes,
sulfatos, máximos

Composição e Propriedade do Gás Natural da Bolívia, Argentina e Brasil

Componentes Bolívia Argentina Brasil


% molar % molar
% % % % molar
não processado
molar molar peso associado associado
Metano 86,80 91,98 82,91 68,07 91,98 87,59
Etano 7,52 3,24 5,48 16,29 3,24 9,13
Propano 3,39 1,15 2,85 9,36 1,15 0,36
Butano 1,11 0,27 1,76 3,68 0,54 -
Pentano 0,28 0,09 0,73 0,89 0,18 -
Hexano 0,08 0,06 0,29 0,22 0,06 -
Heptano 0,04 0,04 0,23 0,08 0,04 -
Nitrogênio 0,53 1,34 2,11 0,69 1,34 1,18
Dióxido de 0,25 1,47 3,64 0,72 1,47 1,74
Carbono
Peso Molecular 18,895 17,79
Cp / Cv 1,272 1,291
PCS (kcal / Nm³) 8500 a
9970 9300
12500
PCI ( kcal / Nm³) 8970 8389 11180 8389 8500
Metais alcalinos
0,65 0,6152 0,8127 0,6152 0,6242
e sulfatos

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2.8.2
Combustíveis Líquidos

a) Combustíveis Líquidos de Petróleo


Os combustíveis líquidos de uso mais freqüente em turbinas a gás são os
derivados de petróleo. Os combustíveis derivados de petróleo para uso em
turbinas a gás podem ser divididos basicamente em dois tipos:
• Destilados Puros – normalmente queimados sem problemas, desde que não
contaminados durante o transporte e estocagem. Incluem os destilados
leves (nafta, gasolina, querosene, diesel, óleo combustível leve) e os
pesados (óleo combustível pesado e os destilados para fins navais). Neste
grupo, particularmente, a nafta e os destilados pesados podem ser
considerados de disponibilidade difícil ou localizadas. De forma geral, esses
combustíveis são livres de componentes formadores de cinzas e não
requerem aquecimento para atomização durante a injeção na câmara de
combustão.
• Destilados Formadores de Cinzas – requerem aquecimento e tratamento
prévios e incluem os crus de petróleo, óleos residuais abrandados e óleos
residuais pesados. A própria classificação deste grupo demonstra sua
principal característica: a presença de contaminantes diversos, dependendo
da origem, que exigem tratamentos rigorosos. Além disso, sua alta
viscosidade implica em um preaquecimento para o seu manuseio e
atomização.
As principais características dos combustíveis líquidos de petróleo utilizados
em turbinas a gás são: poder calorífico; viscosidade; peso específico; ponto de
fulgor; teor de cinzas e teor de metais.

Propriedades dos Combustíveis Líquidos para Turbinas a Gás

Propriedades Querosene Óleo Residual


Peso Específico (g/cm³, 38 ºC) 0,78 a 0,83 0,92 a 1,05
Viscosidade (cSt, 38 ºC) 1,4 a 2,2 100 a 1.800
Ponto de Fulgor (ºC) 55 a 80 80 a 130
Ponto de Orvalho (ºC) -45 -10 a 35
Poder Calorífico (kcal/kg) 615 a 10.835 10.065 a 10.395
Impurezas Filtráveis (%máximo) 0,002 0,2
Enxofre (%) 0,01 a 0,1 0,5 a 4
Nitrogênio (%) 0,002 0,2
Cinza (%) 1a5 100 a 1.000
Sódio + Potássio (ppm) 0,5 1 a 350
Vanádio (ppm) 0,1 5 a 400
Chumbo (ppm) 0,5 25
Cálcio (ppm) 1 50

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Análise Típica (Base Seca) de Óleo Diesel

% em
Composição
Peso
Carbono 12,5
Hidrogênio 75,3
Oxigênio (+ halogêneos) 11,5
Enxofre (máximo) 0,7
Nitrogênio ---
Cinza ---
Água de Destilação traços

b) Álcoois

Os álcoois considerados para uso nas turbinas a gás são o metanol (CH3OH) e
o etanol (CH2H5OH). Esses combustíveis líquidos possuem características
técnicas muito favoráveis para serem queimados em turbinas a gás, asseguram
excelente desempenho e baixo nível de emissões.
Para o uso dos álcoois são necessárias também modificações nas máquinas. A
exemplo da nafta e do querosene, também o seu uso requer bombas
especialmente projetadas, capazes de trabalhar com líquidos de baixa
lubricidade e viscosidade.

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Razão Social: Qualitech Engenharia S/C Ltda
Endereço: Rua Pelotas, 608 - Vila Mariana
04012-002 - São Paulo – SP
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Ampliação da Usina Termelétrica da REPLAN que consiste basicamente da implantação de dois grupos
turbo-geradores a gás de 19 MW cada, duas caldeiras de recuperação de calor e equipamentos
eletromecânicos auxiliares. A consolidação do projeto básico e a elaboração do projeto executivo foram
realizadas pela QUALITECH.

1
QUALITECH ENGENHARIA
2
S/C Ltda

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