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UNIFEI-IEM EME705: MÁQUINAS DE FLUXO I Capítulo 2: Classificação das Máquinas de Fluxo 1

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Capítulo 2
CLASSIFICAÇÃO DAS MÁQUINAS DE FLUXO

2.1 QUANTO À MODALIDADE (OU QUANTO AO b) MF Radiais:


SENTIDO DAS TRANSFORMAÇÕES DE ENERGIA) O escoamento principal através do rotor é radial ou a-
proximadamente radial ao eixo do rotor.
a) MF Motoras (ou MF Motrizes ou MF Acionadoras): Exemplos: Turbinas Francis lentas Figs. 1.32 e 1.33,
Ep → Ec → T turbobombas radiais, Figs. 1.59 até 1.61, ventiladores radi-
ais, Fig. 1.76, e outras MF térmicas radiais.
Exemplos: Turbinas hidráulicas, turbinas eólicas, turbi-
nas a gás e turbinas a vapor. c) MF Diagonais (ou MF Mistas):
b) MF Geradoras (ou MF Acionadas): O escoamento principal através do rotor apresenta um
T → Ec → Ep componente radial e um componente axial ao eixo do rotor.
Exemplos: Turbinas Francis normais, Figs. 1.32 até
Exemplos: Turbobombas, ventiladores, sopradores e 1.36, turbinas Francis rápidas, Figs. 1.32 até 1.40, turbinas
turbocompressores. Deriaz, Fig. 1.51, turbobombas diagonais, Fig. 1.73, venti-
c) MF Compostas (ou MF Geradoras e Motoras): ladores diagonais, e outras MF térmicas diagonais.
T → Ec → Ep → Ec → T
d) MF Axiais:
Exemplos: Acoplamentos hidráulicos (ou acoplamentos O escoamento principal é axial ou aproximadamente
hidrodinâmicos), Figs. 1.86 e 1.87, conversores hidrodinâ- axial ao eixo do rotor.
micos de torque, Figs. 1.88 e 1.89, sobrealimentadores, Exemplos: Turbinas hélice, turbinas Kaplan, Figs. 1.43
turbohélices e turbojatos. até 1.50, turbinas bulbo* (Fig. 6 da Norma NBR 6445),
d) MF Reversíveis: turbinas tubulares* (Fig. 7 da Norma NBR 6445), turbinas
T → Ec → Ep ou Ep → Ec → T tubulares com gerador elétrico periférico* (Fig. 8 da Norma
NBR 6445), turbobombas axiais, Figs. 1.68 até 1.72, venti-
Exemplo: Bombas-Turbinas
ladores axiais, Figs. 1.82 e 1.83, e outras MF térmicas axi-
ais.
2.2 QUANTO AO TIPO DE ESCOAMENTO Observação: as turbinas indicadas com asterisco (*) têm
rotor axial do tipo hélice ou do tipo Kaplan. Se for do tipo
hélice, a regulagem de vazão da turbina só pode ser realiza-
a) MF Hidráulicas: da no distribuidor sendo a turbina denominada de simples
O escoamento no interior dessas máquinas é incompres- regulagem. Se for do tipo Kaplan, a regulagem de vazão da
sível ou aproximadamente incompressível. No caso de MF turbina pode ser realizada no distribuidor e no rotor sendo a
que operam gás, o escoamento é considerado incompressí- turbina denominada de dupla regulagem.
vel se o número de Mach, M = c/csom, é menor que 0,3.
Nesse caso, a variação da massa específica, ρ, é menor que e) MF Transversais:
aproximadamente 5 %. O escoamento principal através do rotor é “transversal”
Exemplos: Turbinas hidráulicas, turbinas eólicas, turbo- ao eixo do rotor. O escoamento atravessa os canais das pás
bombas, ventiladores, acoplamentos hidráulicos e converso- passando radialmente de fora para dentro do rotor e, em
res hidrodinâmicos de torque. seguida, de dentro do rotor novamente para fora.
Exemplos: Turbinas Michell-Banki, Fig. 1.52, e ventila-
b) MF Térmicas: dores de fluxo cruzado (Ref. 3 da Bibliografia Auxiliar).
O escoamento no interior dessas máquinas é compressí-
vel , ou seja, M ≥ 0,3. f) MF Periféricas:
Exemplos: Turbinas a gás, turbinas a vapor, sopradores, O escoamento principal através do rotor é “periférico”
turbocompressores, sobrealimentadores, turbohélices e tur- ao eixo do rotor, ou seja, o escoamento principal se realiza
bojatos. na periferia (parte mais externa) do rotor. Uma linha de
corrente do escoamento no rotor se assemelha a uma heli-
coidal circular.
2.3 QUANTO À CONFIGURAÇÃO DO ESCOAMENTO Exemplos: Turbinas regenerativas, bombas regenerati-
NO ROTOR (OU QUANTO À DIREÇÃO DO vas, Fig. 1.92, e outras MF térmicas regenerativas.
ESCOAMENTO NO ROTOR)
OBSERVAÇÃO: Uma grandeza que caracteriza a configu-
a) MF Tangenciais: ração (direção) do escoamento no rotor e, em consequência,
O escoamento principal através do rotor é “tangente” ao a sua geometria (formato do rotor) é a chamada “rotação
eixo do rotor. específica”. Existem várias definições para diversas rota-
Exemplos: Turbinas Pelton, Figs. 1.26 até 1.31, turbinas ções específicas (Capítulo 4). Por enquanto, se tomará a
Turgo (turbinas de jato inclinado, veja a Fig. 10 da Norma “rotação específica referente à vazão”, nqA , como grandeza
NBR 6445) e outras MF térmicas tangenciais de injeção adimensional caracterizando a geometria do rotor no que se
parcial. refere à sua seção meridional (Capítulo 3), ou seja,

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[Q(m 3 / s)]1 / 2 3 ser uma prática comum) dizer “bomba radial centrífuga”
n qA = n (rps) 10 . (2.1) para uma bomba radial, ao invés de “bomba centrífuga”,
[Y(J / kg )] 3 / 4
que é uma prática comum, visto que a denominação “radi-
Em (2.1), os valores numéricos da rotação do rotor, n, al” não implica necessariamente se a MF geradora radial
 ), e do trabalho específico, tem escoamento centrífugo ao passar pelo rotor.
da vazão volumétrica, Q (ou V Uma vantagem da bomba (radial) centrípeta em relação
Y, devem ser aqueles correspondentes ao ponto de rendi- à bomba (radial) centrífuga é que a bomba centrípeta ocupa
mento total (global) máximo da MF. menos espaço, por não ter voluta, apesar de ela precisar de
um difusor aletado após o rotor e também ser vantajoso ter
NOTA 1: Se a MF é de duas entradas, também denominada um sistema diretor aletado antes do rotor.
de dupla entrada (MFG), Fig. 1.64, ou se é de duas saídas,
também denominada de dupla saída (MFM), Fig. 1.38, com b) MF Centrípetas:
vazão total da máquina igual a Q, tem-se: O escoamento ocorre de fora para dentro do rotor.
Exemplos: Normalmente, esse sentido de escoamento
(Q / 2)1 / 2 3 ocorre nas MF motoras, isto é, turbinas Francis lentas, nor-
n qA = n 10 . (2.2) mais e rápidas e turbinas Deriaz.
Y3/ 4
OBSERVAÇÃO: Algumas exceções, tecnicamente viá-
Essa MF também é denominada de “MF dupla”.
veis, também existem, como a turbina radial centrífuga a
vapor denominada “turbina Ljungström”, Whitfield e Bai-
NOTA 2: Se a MF é uma turbina Pelton, Figs. 1.26 até
nes (1990).
1.31, com vazão total da turbina igual a Q, tem-se:

( Q / I) 1 / 2 3
n qA = n 10 , (2.3) 2.5 QUANTO À DIFERENÇA DE PRESSÕES E VAZÕES
Y3/ 4 OPERADAS
onde I é o número de injetores (ou bocais).
No campo específico das MF (não se deve confundir
NOTA 3: Se a MF é de vários estágios, também denomina- com as pressões e vazões operadas pelas MDP), são classi-
da de múltiplos estágios, Fig. 1.65, com trabalho específico ficadas como:
total da máquina igual a Y, tem-se: a) MF de Altas Pressões (ou MF de Altas Quedas) e
Q1 / 2 Baixas Vazões:
n qA = n 10 3 , (2.4) Exemplos: Turbinas Pelton, turbinas Francis lentas, tur-
(Y / N) 3 / 4 binas regenerativas, bombas e ventiladores radiais, bombas
regenerativas e MF de múltiplos estágios.
onde N é o número de estágios (ou números de rotores).
b) MF de Médias Pressões (ou MF de Médias Quedas) e
NOTA 4: Se a MF apresenta uma combinação de duas en- Médias Vazões:
tradas (MFG) ou de duas saídas (MFM) com vários está- Exemplos: Bombas e ventiladores diagonais, turbinas
gios, N, Figs. 1.53 e 1.66, com vazão total da máquina igual Francis normais e rápidas, e turbinas Deriaz.
a Q e trabalho específico total da máquina igual a Y, tem-
se: c) MF de Baixas Pressões (ou MF de Baixas Quedas) e
Altas Vazões:
( Q / 2) 1 / 2 Exemplos: Bombas e ventiladores axiais, turbinas hélice
n qA = n 10 3 . (2.5) e turbinas Kaplan.
(Y / N) 3 / 4

2.6 QUANTO AO TIPO DE TRANSFORMAÇÃO DE


2.4 QUANTO AO SENTIDO DO ESCOAMENTO NO
ENERGIA OPERADA
ROTOR
a) MF de Ação:
a) MF Centrífugas: A pressão estática do fluido é constante ao passar pelo
O escoamento ocorre de dentro para fora do rotor. rotor.
Exemplos: Normalmente, esse sentido de escoamento Exemplos: Turbinas Pelton, turbinas Michell-Banki
ocorre nas MF geradoras, isto é, bombas e ventiladores ra- (Ossberger) e turbinas Turgo (turbinas de jato inclinado).
diais e diagonais.
b) MF de Reação:
OBSERVAÇÃO: Algumas exceções, tecnicamente viá- A pressão estática do fluido não é constante ao passar
veis, podem existir, por exemplo, bomba centrípeta (veja a pelo rotor.
Fig. 131, página 238 da Ref. 7 da Bibliografia Auxiliar). Exemplos: Turbinas Francis, turbinas hélice, turbinas
Nesse caso, a MF é geradora (bomba) e o seu rotor é radial, Kaplan, turbinas Deriaz, bombas e ventiladores.
mas o sentido do escoamento principal no rotor é centrípe-
to, ao contrário da grande maioria das MF geradoras radiais
que são centrífugas. Portanto, não é exagero (apesar de não 2.7 APLICAÇÕES

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1) Determine a rotação específica referente à vazão da tur- Solução:
bina Pelton de eixo vertical, com 6 injetores, representada Observando a Fig. 1.66, verifica-se que a bomba é de
na Fig. 1.31, que tem, no ponto de rendimento total máxi- dupla entrada (ou de dupla aspiração) e de 2 estágios.
mo, uma altura de energia (altura de queda líquida) de 398 No ponto de rendimento total máximo, tem-se n = 333
m, vazão total de 45,27 m3/s e rotação do rotor de 180 rpm. rpm, Q = 14,5 m3/s e H = 180 m. Portanto, de (2.5), obtém-
A aceleração da gravidade local é 9,8 m/s2. Compare o re- se
sultado com os valores fornecidos na Fig. 1.3.
(Q / 2)1/ 2 3
Solução: n qA = n 10 =
(Y / N) 3/ 4
No ponto de rendimento total máximo, tem-se n = 180
1/ 2
rpm, Q = 45,27 m3/s e H = 398 m. Portanto, de (2.3), ob- ⎡14,5 3 ⎤
tém-se ⎢⎣ 2 (m / s) ⎥⎦
333
(rps) 103
1/ 2 60 ⎡ 180 (m) 9,8 (m / s 2 ) ⎤ 3/ 4
(Q / I)
n qA = n 103 = ⎢ ⎥
Y 3/ 4 ⎣ 2 ⎦
1/ 2 resultando
⎡ 45, 27 3 ⎤
180 ⎢⎣ 6 (m / s) ⎥⎦ n qA ≅ 92 .
(rps) 3/ 4
103 ,
60 ⎡⎣398 (m) 9,8 (m / s ) ⎤⎦
2
Conforme a Fig. 1.4, o resultado obtido (nqA ≅ 92) se
encontra na faixa de bombas radiais. Portanto, quanto à
resultando configuração do escoamento no rotor, se diz “bomba ra-
n qA ≅ 17 . dial”, e, quanto ao sentido do escoamento no rotor , se diz
“bomba centrífuga”.
Conforme a Fig. 1.3, o resultado obtido (nqA ≅ 17) se
encontra na faixa de turbinas Pelton. 4) Considere a Figura 1.53, página 30, da “Coletânea de
Desenhos sobre Máquinas de Fluxo”. Escreva uma expres-
são para a rotação específica referente à vazão para o arran-
2) Determine a rotação específica referente à vazão da tur- jo de rotores de bombas centrífugas representado na Figura
bina Francis de eixo vertical da Usina Hidrelétrica de Ma- b) 3 estágios com rotor gêmeo (duplo).
rimbondo - MG, representada na Fig. 1.40, que tem, no
ponto de rendimento total máximo, uma altura de energia Solução:
(altura de queda líquida) de 61,9 m, vazão total de 323 m3/s Conforme a Figura 1.53, trata-se de uma bomba centrí-
e rotação do rotor de 100 rpm. A aceleração da gravidade fuga de 3 estágios com rotor(es) duplo(s), portanto, a rota-
local é 9,8 m/s2. Compare o resultado com os valores forne- ção específica referente à vazão é representada por
cidos na Fig. 1.3.
( Q / 2) 1 / 2
Solução: n qA = n 10 3 .
No ponto de rendimento total máximo, tem-se n = 100 (Y/ 3) 3 / 4
rpm, Q = 323 m3/s e H = 61,9 m. Portanto, de (2.1), obtém-
se
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(Q / I)1/ 2 3
n qA =n 10 =
Y 3/ 4 Fernandes, E. C. (1978), “Máquinas de Fluxo”, Aposti-
1/ 2 la, ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
100 ⎡⎣323 (m 3 / s) ⎤⎦ NBR 6445 - “Turbinas Hidráulicas, Turbinas-Bombas e
(rps) 3/ 4
103 ,
60 ⎡⎣61,9 (m) 9,8 (m / s ) ⎤⎦
2 Bombas de Acumulação”, ANBR - Associação Brasileira
de Normas Técnicas (Outubro de 1987).
resultando Oliveira, W. (1987), “Coletânea de Desenhos sobre
Máquinas de Fluxo”, EFEI-IEM-DME.
n qA ≅ 245 . Whitfield, A. and Baines, N. C., 1990, “Design of ra-
dial turbomachines”, Longman Scientific & Technical.
Conforme a Fig. 1.3, o resultado obtido (nqA ≅ 245) se
encontra na faixa de turbinas Francis normais.

3) Determine a rotação específica referente à vazão da


bomba de eixo horizontal, representada na Fig. 1.66, que
tem, no ponto de rendimento total máximo, uma altura de
energia (altura efetiva de elevação) de 180 m, vazão total de
14,5 m3/s e rotação do rotor de 333 rpm. A aceleração da
gravidade local é 9,8 m/s2. Compare o resultado com os
valores fornecidos na Fig. 1.3 e classifique a bomba quanto
à configuração e quanto ao sentido do escoamento no rotor.

Waldir de Oliveira

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