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EXTENSÃO VERTICAL E HORIZONTAL DA BRISA MARÍTIMA NA COSTA NORTE E

LESTE DO NORDESTE BRASILEIRO


Dayana Castilho de Souza1, Marcos Daisuke Oyama2

Abstract. With an observational study was analyzed some characteristics of sea breeze, as the acting
area and the horizontal and vertical extension in the north and east coast of Northeast Brazil.
According to the analysis of proportion of the variance of zonal and meridional wind for the month of
September, 2008 and 2010 was found a similar pattern of wind in both years for all levels. The pattern
of the sea breeze was well definite in the first three levels analyzed (1000, 850 and 700 hPa), reaching
a vertical extension of about 3km. The acting area of the breeze was mostly in the northern coast of the
northeastern Brazil, the pattern of wind reached the horizontal extension of 2 degree of magnitude
within the continent. Except as noted in the field of proportion of the variance of zonal wind at 1000
hPa level, where the pattern of wind spread the north coast to the east of Northeast Brazil,
continuously.

Resumo. Realiza-se um estudo observacional para analisar características da brisa marítima, como
área de atuação, extensão horizontal e vertical na costa norte e leste do nordeste do Brasil. De acordo
com a análise de proporção de variância da componente zonal e meridional do vento para o mês de
setembro de 2008 e 2010 foi verificado um padrão de brisa semelhante nesses dois anos para todos os
níveis. O padrão da brisa esteve bem configurado nos três primeiros níveis analisados (1000, 850 e
700 hPa), atingindo uma extensão vertical em torno de 3km. A área de atuação da brisa foi
principalmente a costa norte do nordeste (NE), chegando a atingir a extensão horizontal do padrão de
brisa de até 2° de magnitude continente à dentro. Com exceção do que foi observado com o campo de
proporção da variância da componente zonal do vento no nível de 1000 hPa, onde o padrão de brisa se
estendeu da costa norte até o leste do NE de maneira contínua.

Palavras-Chave: Brisa marítima, Brasil, Norte, Nordeste, Análise Harmônica.

1 - INTRODUÇÃO

As brisas marítima e terrestre são circulações térmicas locais que ocorrem em resposta ao gradiente
horizontal de pressão provocado pelo contraste de temperatura entre superfícies continentais e
oceânicas. A diferença da temperatura na camada limite, mais quente durante o dia (a noite) sobre a
terra (o mar) gera um centro de baixa pressão sobre a superfície mais quente que resulta em
movimento ascendente, escoamento da superfície mais fria para a mais quente e um ramo descendente
sobre a superfície mais fria, definindo uma célula de circulação local (SIMPSON, 1987,1994;
MILLER et al., 2003). As brisas são mais frequentes e predominantemente observadas em regiões
tropicais do que altas latitudes devido o forte aquecimento radiativo, convecção e fraca força de
Coriolis. Wexler (1946), Defant (1951) e Atkinson (1981) mostraram que as brisas tropicais podem ter
extensão vertical de 1 a 2 km, a extensão horizontal pode variar de 30 a 300 km e velocidades
horizontais máximas de 7 m/s. Apesar do grande número de trabalhos feitos para latitudes médias
sobre as características das brisas, no Brasil entre os trabalhos feitos analisando as características da

1
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. E-
mail: dayanacastilhos@gmail.com.br
2
Instituto de Aeronáutica e Espaço, Divisão de Ciências Atmosféricas. E-mail: oyama@iae.cta.br.
brisa (FRANCHITO, 1980; CAVALCANTI, 1982; ALCÂNTARA E SOUZA, 2008) pouco foi
enfocado sobre as características da área de atuação, extensão horizontal e vertical deste sistema.
Embora se admita que parte substancial das chuvas da costa norte e leste do nordeste do Brasil deva
estar associada a fatores de grande escala (MOLION E BERNARDO, 2002), nota-se que a nesta
região há uma forte atuação da brisa marítima (FRANCHITO, 1980; CAVALCANTI, 1982;
ALCÂNTARA E SOUZA, 2008), amenizando altas temperaturas diárias, levando umidade para o
interior do continente e influenciando o regime de precipitação da região. Com o desenvolvimento
deste trabalho pretende-se contribuir para o melhor entendimento da área de atuação, extensão
horizontal e vertical da brisa marítima na costa norte e leste do nordeste brasileiro.

2 - DADOS

Para análise da extensão horizontal e vertical da brisa foi utilizada dados horários da componente
zonal e meridional do vento da Reanálise do NCEP/CFSR (SAHA et al., 2010) com resolução
horizontal (0.5° x 0.5°) e os 5 níveis disponíveis (1000, 850, 700, 500 e 200hPa) para o mês de
setembro de 2008 e 2010. Este mês foi escolhido, pois se trata de um mês da estação seca e quando os
ventos ficam mais intensos devido à intensificação do fenômeno de brisa marítima na região (FISCH,
1999).

3 - ANÁLISE HARMÔNICA

A análise harmônica representa as flutuações ou variações de uma série temporal com base de funções
periódicas de senos e cosenos (WILKS, 2006). Como o interesse deste trabalho é verificar o
comportamento da brisa na costa norte e leste do nordeste brasileiro, o foco são os sistemas com
período de 24 horas e assim são determinadas áreas com potencial de atuação da brisa. A partir da
equação τ k = n / k , temos que k=30 é o que se refere ao ciclo diário. A partir de um determinado k é

determinada a proporção de variância ( RK2 ) da série original. Através da seguinte equação:


n / 2Ck2
Rk2 =
(n − 1) s y2
2
Onde s y é a variância dos dados originais, C K é a amplitude obtida utilizando o algoritmo descrito em

Wilks (2006). A partir da função harmônica temos:

Onde t=1,2...720; n=720; k=1....n/2 é o n° do harmônico;


yt é a série reconstruída; y =média da série.

Assim, com os campos de proporção de variância temos a área de atuação do determinado sistema de
interesse, permitindo que possa ser caracterizada a extensão horizontal e vertical da brisa na região.
4 - EXTENSÃO HORIZONTAL E VERTICAL DA BRISA

De acordo com a análise de proporção da variância da componente zonal do vento (E-W) para o mês
de setembro de 2008 e 2010 foi verificado um padrão de atuação da brisa semelhante nesses dois anos
em todos os níveis (Figura 1). A extensão vertical da brisa ficou em torno de 3 km, ocorrendo os
maiores valores de proporção da variância principalmente nos níveis de 1000 e 850 hPa.
No nível de 1000 hPa, em setembro de 2008 e 2010 foi verificada que a área de atuação da brisa
ocorreu da costa norte até o leste do NE de maneira contínua. Na costa norte do NE a extensão
horizontal foi da ordem de 2° de magnitude, atingindo grande parte do estado do Maranhão e leste do
Pará. Na costa leste do NE se tornou mais estreita com 1° de magnitude e com maiores valores de
proporção da variância (Figura 1a,d). No nível de 850 hPa, no mês de setembro de 2008 e 2010 a área
de atuação da brisa ficou restrita a costa norte do NE. Com extensão horizontal em torno de 2° de
magnitude, atingindo parte do estado do Maranhão e grande parte dos estados do Piauí e Ceará (Figura
1b,e). No nível de 700 hPa, no mês de setembro de 2008 e 2010 área de atuação da brisa continuou
restrita na costa norte do NE, porém ficou bem enfraquecida ocorrendo baixos valores de proporção da
variância (Figura c,f). Nos níveis de 500 e 200 hPa nos dois anos não foi observado padrão de brisa
configurado (não mostrado).

Assim como foi observado nos campos de proporção da variância da componente zonal do vento para
o mês de setembro de 2008 e 2010, o campo de proporção da variância da componente meridional (N-
S) do vento foi verificado um padrão semelhante nesses dois anos em todos os níveis (Figura 2).
A extensão vertical da brisa ficou em torno de 3 km, porém o maior valor de proporção da variância
ocorreu principalmente no nível de 1000 hPa, ficando melhor configurado o padrão de brisa. No nível
de 1000 hPa, em setembro de 2008 e 2010 foi verificado o padrão da brisa somente na costa norte do
NE do Brasil. Com extensão horizontal em torno de 1° de magnitude, atingindo grande parte dos
estados do Amapá, Pará, Maranhão, Piauí e Ceará . Analisando os campos de proporção da variância
da componente meridional foi verificado o padrão de brisa se estendendo entorno de 0,5° para o
oceano (Figura 2a, d). No nível de 850 hPa, em setembro de 2008 e 2010 não foi verificado um padrão
de brisa bem definido (Figura 2b, e). No nível de 700 hPa, em setembro de 2008 e 2010 apesar de ser
verificado baixos valores de proporção de variância da componente meridional observou-se que a área
com padrão de brisa permaneceu na costa norte do NE, principalmente no norte do Maranhão (Figura
2c, f). Da mesma forma, que foi observado nos campos de proporção da variância da componente
zonal, nos campos com a componente meridional de vento nos níveis de 500 e 200 hPa não foi
observado um padrão de brisa configurado (não mostrado).
(a) (b) (c)

(d) (e) (f)


Figura 1 – Proporção da variância do harmônico referente ao ciclo diário (período de 24h) em relação
ao total da componente zonal do vento para o mês de setembro de 2008 (a, b, c) e 2010 (d, e, f) para
os níveis de 1000 hPa, 850 hPa e 700 hPa , respectivamente.

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 2 – Proporção da variância do harmônico referente ao ciclo diário (período de 24h) em relação
ao total da componente meridional para o mês de setembro de 2008 (a, b, c) e 2010 (d, e, f) para os
níveis de 1000 hPa, 850 hPa e 700 hPa , respectivamente.
5 - COMENTÁRIOS FINAIS

De acordo com a análise de proporção de variância da componente zonal e meridional do vento para o
mês de setembro de 2008 e 2010 foi verificado um padrão de brisa semelhante nesses dois anos para
todos os níveis. O padrão da brisa esteve bem configurado nos três primeiros níveis analisados (1000,
850 e 700 hPa), atingindo uma extensão vertical em torno de 3km. A área de atuação da brisa foi
principalmente a costa norte do NE, chegando a atingir a extensão horizontal do padrão de brisa de até
2° de magnitude continente à dentro. Com exceção do que foi observado com o campo de proporção
da variância da componente zonal do vento no nível de 1000 hPa, onde o padrão de brisa se estendeu
da costa norte até o leste do NE de maneira contínua.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCANTARA, C.R.; SOUZA, E.P., 2008. Uma teoria termodinâmica para brisas: teste utilizando
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CARBONE, R. E.; WILSON, J. W.; KEENAN, T. D.; HACKER, J. M., 2000. Tropical island
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CAVALCANTI, I, J. A., 1982. Um estudo sobre interações de sistemas de circulação de escala
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DEFANT, F., 1951. Local Winds. In: Malone, T.F., ed. Compendium of meteorology. Boston, Ma.,
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FRANCHITO, S. H., 1980. Um estudo das circulações térmicas produzidas próxima as costas.
Disssertação de Mestrado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
FISCH, G., 1999. Características do Perfil Vertical do Vento no Centro de Lançamento de
Foguetes de Alcântara (CLA). Revista Brasileira de Meteorologia, v. 14, n.1, p. 11-22.
KEENAN, T.D.; CARBONE, R.E., 1992. A preliminary morphology of precipitation systems in
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MOLION L. C. B.; BERNARDO, S. O., 2002. Uma revisão da dinâmica das chuvas no
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WILKS, D.S., 2006. Statistical Methods in the Atmospheric Sciences, 649 pp., Academic Press,
Elsevier, Second Edition.

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