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Aluno: Vítor Hugo dos Santos Reis RA: 728108

Disciplina: Geografia Agrária Prof.ª Neusa de Fátima Mariano

Fichamento do texto:

VALVERDE, Orlando. Metodologia da Geografia Agrária. (p. 1-16). In: CAMPO-


TERRITÓRIO: Revista de Geografia Agrária, Uberlândia, v. 1, n. 1, fev. 2006.

Orlando Valverde começa este texto falando dos diferentes


conhecimentos necessária para estudar a exploração agrícola com um maior
aprofundamento, ele cita áreas como o estudo do solo, da geologia, do relevo, do
clima, entre outros. A importância dada aqui está para com o estudo da natureza,
Valverde indica que a Geografia Agrária está ligada ao estudo dos sistemas de
produção de espécies animais e vegetais e que aliados ao solo e a outros elementos
se tornam um indicador das possibilidades econômicas agrícolas. O autor
estabelece também uma pequena observação crítica ao Brasil, indicando a ausência
de material cartográfico necessário ao planejamento agrícola. O autor cita que a
influência do ser humano neste meio, por motivos de ordem econômica, social e
histórica, é algo de estudo recente dentro da Agrária.

O autor cita os três aspectos da Geografia Agrária segundo Waibel,


que define três diferentes tratamentos, a Geografia agrária estatística, a ecológica e
a fisionômica. A primeira é a mais antiga e trata da representação cartográfica das
produções agropecuárias de pontinhos que simbolizam valores absolutos ou por
curvas isométricas simbolizando valores de produção per capita ou por unidade de
área. Orlando mostra a evolução e aperfeiçoamento da área, cita o geógrafo alemão
Egelbretch que aperfeiçoou os valores relativos e deu origem as “zonas agrícolas” e
a crítica de Waibel dizendo que isto nada passa de um esforço para introduzir
medidas exatas à Geografia.

Valverde segue seu texto mostrando visões de diferentes autores sobre


a geografia agrária e suas produções, como a visão radical de Hettner que acredite
que este ramo pertence mais à mercelogia ou às ciências econômicas do que à
Geografia. Já Faucher defende a criação de um ramo da geografia econômica
apenas destinada a parte agrícola. Esta posição de Faucher é vista por Valverde
como uma tentativa de distinguir a geografia agraria qualitativa, que este considera
um ramo da geografia humana, da quantitativa, para ele parte da geografia
econômica. Orlando conclui que tal divisão (qualitativa/quantitativa) é fictícia e não
tem razão de existir.

Ele volta a falar das áreas a geografia agrária, partindo para a


ecológica, esta estuda as relações entre paisagem agrícola e meio fisiográfico
(clima, solo, vegetação, relevo e animais) Valverde também faz uma observação à
riqueza bibliográfica desta área. Diferente da escola determinista, o meio físico não é
determinante da paisagem cultural, ele poderá impor limitações de acordo com o
nível técnico que determinado grupo humano atingiu e com as condições
econômicas e sociais deste grupo. O autor dá alguns exemplos relacionados ao
declive das Serras brasileiras, onde muda-se a condição de terreno mas pouco
muda a condição dos trabalhadores. Continua falando dos tipos de terrenos
brasileiros, dando um contexto histórico do surgimento das plantações autônomas e
falando também sobre a relação com o clima. Orlando pontua assim que a geografia
agrária ecológica deve ser encarada não simplesmente em relação ao meio natural
mas vendo também a contribuição cultural do homem.

As atividades em geografia agraria englobam o chamado sistema


agrícola, o autor cita a definição de Lauer onde este sistema é definido pela
distribuição espacial e cronológica das espécies e culturas, ou seja, de todas as
áreas de utilização, sobre a área cultivada segundo determinados princípios. Assim
Valverde resume as diferentes “áreas” e a definição desse sistema agrícola. Para ele
a área estatística se resume a responder as perguntas: “Onde são produzidos os
produtos agrícolas?” e “Quanto é produzido?”. A ecológica em: “Como são
produzidos os produtos agrícolas?”. A geografia agrária não se resume apenas aos
sistemas mas também ao que Waibel denominou formações econômicas, os tipos
de paisagem agrícola.

Desta maneira chegamos ao terceiro aspecto, o fisionômico, baseado


na observação, no trabalho de campo. Valverde reforça que o instrumento mais
importante levado ao campo é o cérebro, não estamos ali apenas como viajantes,
como turistas, o olhar está diretamente associado à reflexão, é necessária uma
interpretação da paisagem e uma compreensão de seus elementos, noções que os
franceses denominaram “morfologia agrária” e “estrutura agrária”.
O autor cita que deve-se fazer também o estudo, a interpretação
histórica da paisagem para compreende-la melhor, é o que os geógrafos ingleses
chamam de “historical approach”. A análise da sucessão das culturas e a influência
da cultura que desaparece sobre a que a sucede. O autor cita alguns exemplos
relacionados ao trabalho nos canaviais paulistas e conclui dizendo que apenas a
compreensão da evolução histórica é que nos leva a entender a resistência que os
agricultores oferecem a introdução de novos sistemas, a sobrevivência das velhas
estruturas, reforça a resistência ao progresso técnico. Isto pode ser observado em
nosso país que possui estruturas sociais e econômicas arcaicas em diversas
regiões.

Orlando cita também as influências econômicas como um fator na


interpretação das paisagens, no estudo das diversas culturas, o objetivo da
produção deve ser levado em conta. Ele dá o exemplo do cultivo de laranja-pera na
baixada fluminense, que está totalmente voltada para o mercado internacional e é
localizada no Rio apenas para a diminuição dos custos de transporte. Ligado as
influencias econômicas estão as influências sociais, mais vinculadas à organização
econômica e que também deve ser objeto de pesquisa do geógrafo.

Há um outro conceito ao qual o sistema agrícola é subordinado chamo


forma de economia ou instituição econômica, dentro de uma instituição podem existir
dois ou mais sistemas agrícolas. Forma de economia e forma de atividade se
diferem, o primeiro é estabelecido pelo processo de valorização da economia
enquanto o segundo refere-se ao processo de trabalho. Orlando define que as
formas de economia estão englobadas em um processo ainda mais amplo que é o
de modo de produção.

O modo de produção é constituído por dois elementos, as forças


produtivas e as relações de produção, e caracteriza as fases da história econômica
da humanidade, um exemplo comum é a sucessão do modo de produção feudal
para o modo de produção capitalista. Valverde faz assim uma comparação
relacionando Geografia Econômica com Economia Política assim como
Geomorfologia e Geologia estão relacionadas.

Gênero de vida é um outro conceito que o autor traz e que está


relacionado às influências sociais, Sorre traz uma definição de gênero de vida como
o conjunto de técnicas desenvolvidas por um grupo humanos para se adaptar ao
meio geográfico, porém tal definição peca ao exprimir somente relações entre grupo
social e natureza e também por considerar o ser humano individualmente.

Valverde volta a discussão sobre onde a geografia agrária se encontra,


ele traz o fato de que muitos conceitos da geografia humana podem ser tratados
pela agrárias mas que o inverso não ocorre frequentemente, cita também a relação
da agrária com a geografia do comércio e das industrias, no que se refere a
exploração do solo e a comercialização e industrialização dos produtos agrícolas.
Para o autor a geografia agrária não deve se resumir apenas a classificação do
sistema agrícola, ela deve tratar de todos os elementos modificadores da paisagem
agrícola. Em última análise é a intepretação de toda uma história, de todo um rastro
deixado pelo ser humano camponês na paisagem, sua luta pela vida.

O autor então conclui dizendo que a geografia agrária deve ser


entendida em ambo os aspectos quantitativos e qualitativos, só assim podendo
exercer de fato uma contribuição para a ciência tendo um cunho científico e uma
utilidade prática.

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