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Departamento de Ciências Econômicas/Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural/
/UFRGS. Av. João Pessoa, 31 – 90040.000 – Campus Central. Porto Alegre-RS, Brasil. Agrônomo,
mestre e doutor em Agronomia. lovois@ufrgs.br
A partir dos anos 60, a ciência agronômica, confrontada a uma crescente necessidade de
aprofundar a compreensão dos complexos processos que cercavam a agricultura e a formatação e
dinâmica dos espaços agrários procedeu a uma progressiva reelaboração e ajuste do conceito de
sistema agrário, originalmente elaborado pelos geógrafos. Na verdade, a descoberta e a
apropriação deste conceito pela ciência agronômica esta fortemente relacionada à necessidade de
abordar dois fenômenos distintos que afetavam fortemente a agricultura na segunda metade do
século XX.
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Disciplina da Geografia que busca entender os fenômenos humanos que encerram as atividades
econômicas e ecofisiográficas das áreas cultivadas pelos grupamentos humanos.
O segundo fenômeno pode ser atribuído à avaliação crítica dos resultados obtidos pelos
grandes projetos e ações de desenvolvimento rural, implementados tanto em países do norte
como nos países do sul, que reforçavam a necessidade de novas abordagens para a promoção do
desenvolvimento agrícola. Parte considerável destes projetos e ações, apesar da mobilização de
grandes equipes técnicas e de meios financeiros e materiais extremamente importantes,
contribuíram minimamente, ou mesmo de maneira negativa, para a promoção do
desenvolvimento agrícola das regiões para as quais eles foram concebidos e implementados.
Inúmeras são as avaliações e depoimentos de pesquisadores e técnicos sobre os efeitos nefastos
que estas intervenções ocasionaram sobre as sociedades rurais e sobre o meio ambiente em
especial. Nesse sentido, a bibliografia internacional é pródiga em exemplos de estudos e
pesquisas demonstraram os limites e insuficiências das abordagens setoriais e de cunho analítico
preconizadas tanto pela pesquisa científica como pelos órgãos e instituições encarregados de
conceber e executar estes projetos de desenvolvimento rural (Dumont, 1980; Raynaut, 1997;
Martine & Garcia, 1987; Graziano da Silva, 1982)
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Entende-se por revolução verde o processo de modernização técnica e produtiva ocorrida na agricultura
e que teve início no final do século XIX (em alguns regiões do norte) mas sobretudo a partir do final da
segunda grande guerra mundial. Também chamada de 2ª Revolução Agrícola dos Tempos Modernos, a
revolução verde esta baseada na utilização de insumos externos de origem industrial (adubos químicos,
combustíveis fosseis, agrotóxicos, etc.), de motomecanização e de plantas e animais selecionados
(Mazoyer e Roudart, 1997).
Segundo Vissac & Hentgen (1979) “o sistema agrário é definido pela associação das
produções e das técnicas colocadas em prática por uma sociedade com vistas a satisfazer suas
necessidades. Ele exprime a interação entre um sistema bioecológico representado pelo meio
natural e um sistema sociocultural, por intermédio das práticas adquiridas principalmente da
experiência e saber técnico”.
Para Maigrot & Poux (1991), “o conceito de sistema agrário é o mais apto à restituir a
região no seu conjunto e a sua dinâmica. É um conceito onde se encontram as ciências
necessárias para a concepção de projetos de desenvolvimento: econômico, socioeconômico,
geografia, história e agronomia. A pertinência do conceito como ferramenta de desenvolvimento
esta na sua visão globalizante. Um dos primeiros objetivos do diagnóstico de um sistema agrário
é propor uma hierarquia das dificuldades do desenvolvimento”.
A agricultura brasileira passou, ao longo de sua história, por diversas fases e períodos
com características particulares e específicas. Pode-se afirmar que o processo de evolução da
agricultura foi largamente relacionado com o processo de expansão do capitalismo no Brasil.
Cada fase ou período constitui um processo de mudança da agricultura complexo e por vezes
contraditório, onde formas arcaicas de produção convivem e se relacionam (por vezes de forma
vigorosa e conflituosa) com novas formas de produção. Apoiando-se largamente em Chonchol
(1995), Szmrecsányi (1990) e Linhares et al. (1981), pode-se delimitar cinco períodos
fundamentais no processo de formação histórica da agricultura brasileira.
CHONCHOL, J. Systèmes agraires em Amérique Latine. Paris: Ed. IHEAL, 1995. 366p.
DEFFONTAINES, J.P. & BROSSIER, J. Système agraire et qualité de l’eau. Natures Sciences
Sociétés 8 (1)14-25. 2000
DUFUMIER, M. Les projets de développement agricole. Paris: KARTHALA - CTA, 1996, 354p.
DUFUMIER, M (org.). Un agronome dans son siècle – Actualité de René Dumont. Paris:
KARTHALA - INAPG, 2002, 319p.
DUMONT, R. L’Afrique noire est mal partie. Paris: Seuil, 1980, 287p.
LANDAIS, É. & DEFFONTAINES, J.P. (1989) – Les pratiques des agriculteurs - point de vue
sur un courant nouveau de la recherche agronomique In: Brossier, J.; Vissac, B. & Le
Moigne, J.L. (Editores) - Modelisation systèmique et système agraire, INRA, Paris. Pp. 31-
64.
MARTINE, G. & GARCIA, R.C. (org.). Os impactos sociais da modernização agrícola. São Paulo:
Editora Caetés, 1987.