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Aula 07
Alexandre Vastella
Cidades globais............................................................................................................................................. 30
Gabarito ....................................................................................................................................................... 41
Os dados apontam que há uma redução da população rural desde o início do século XX, enquanto
isso, observa-se um aumento expressivo da população urbana. Desde 2008, o mundo é majoritariamente
urbano, tendência que deve se consolidar nas próximas décadas. Se na metade do século XX este valor não
ultrapassava 30%; em 2050, 66% da população global deverá ser urbana [fonte]. A Terra, portanto, está
passando por intenso processo de urbanização, o que demandará desafios ambientais e sociais para as
novas gerações.
No entanto, as primeiras cidades, de fato, foram surgir somente entre 4.000 a.C e 3.000 a.C., de
forma relativamente simultânea em diversas partes do mundo, como na Mesopotâmia (atuais territórios da
Arábia Saudita e Iraque e Síria), no Egito, na Índia, e na China. No mesmo período, também surgiam
civilizações americanas como os Incas, Maias, e Astecas. No último milênio antes de Cristo, Roma e Grécia
consolidavam-se como grandes centros globais (obviamente, não na definição globalizada que conhecemos
hoje), criando assim, as bases das civilizações humanas.
As primeiras cidades surgiram após a sedentarização do homem, que possibilitou o excedente agrícola e a fixação no território
Embora o nível de urbanização seja diferente nas diversas regiões do globo – assunto que veremos
mais adiante –, de forma geral, foi a partir da Revolução Industrial que a urbanização mundial se
intensificou (conforme gráfico acima [fonte]). Isto ocorreu a partir do século XVIII, com o surgimento do
capitalismo moderno e das novas formas de produção de trabalho, como o sistema fordista. Ao contrário da
atividade rural, que é naturalmente dispersa, a atividade industrial foi concentrada em poucas partes do
território, o que provocou migrações (êxodo rural) e a consequente aglomeração de operários e suas
famílias, formando vilas e cidades. Amparados pela estrutura urbana, os trabalhadores passaram a contar,
cada vez mais, com o auxílio de sistemas técnicos – em especial à saúde – acarretando na diminuição das
taxas de mortalidade e natalidade, e no consequente aumento da urbanização.
Podemos perceber, de acordo com o gráfico, que industrialização, urbanização, e demografia são
três fatores inseparáveis: historicamente, revoluções industriais vêm acompanhadas de urbanização e de
consequente explosão demográfica. Isto ocorreu, em um primeiro momento, entre os séculos XVIII e XIX, em
cidades europeias, (especialmente inglesas, alemãs e francesas) e posteriormente, nos séculos XIX e XX, em
cidades dos Estados Unidos e do Japão. No Brasil, este fenômeno foi ocorrer nas grandes cidades a partir do
século XX, mais especificamente entre os anos 1930 e 1970. Atualmente, embora haja uma tendência de
desmetropolização e desindustrialização das grandes aglomerações urbanas, conforme veremos adiante, as
pequenas e médias cidades estão se industrializando e urbanizando, repetindo tal ciclo histórico. O mapa
abaixo ilustra a urbanização mundial contemporânea:
Atualmente, a América é o continente mais urbanizado do mundo: 82% dos norte-americanos e 80%
dos latino-americanos vivem em cidades. Na Europa, 73% da população está nesta condição. Por outro lado,
na Ásia e na África, justamente nas regiões mais pobres do globo, a maioria da população é rural, com
respectivamente, apenas 48% e 40% de total urbana. Contraditoriamente, apesar de ter maioria rural, a
Ásia abriga a maior parte das megacidades, como Pequim (CHI), Mumbai (Índia), Dhaka (Bangladesh),
Karachi (Paquistão), Seul (Coréia do Sul), Tóquio e Osaka (Japão), Manila (Filipinas) e Jacarta (Indonésia),
todas com mais de dez milhões de habitantes. Conforme mapa abaixo:
Do ponto de vista espacial, além da clara concentração na Ásia – especialmente na China e na Índia,
as megacidades também estão presentes na América do Norte (Los Angeles, Nova York, e Cidade do México),
na Europa (Londres, Paris, Istambul e Moscou); e em menor quantidade na América do Sul (São Paulo, Rio
de Janeiro e Buenos Aires), e na África (Lagos, Cairo, e Kinshasa).
De acordo com dados da ONU, a Região Metropolitana de São Paulo a quarta maior aglomeração
urbana do mundo, somente atrás de Shangai (China), Déli (Índia) e Tóquio – esta última, constituindo a maior
aglomeração urbana do planeta. Na América Latina, as áreas urbanas de Cidade do México (México), Buenos
Aires (Argentina), e Rio de Janeiro (Brasil), também estão entre as maiores do planeta, respectivamente
ocupando a 6ª, a 13ª, e a 19ª posição.
Com o desenrolar do século XXI, de acordo com as dinâmicas migratórias e demográficas, esta
configuração deverá mudar, com Índia e China liderando o crescimento urbano e populacional, bem como
Nigéria, na África. De acordo com estudo da ONU [fonte], 37% do crescimento da população urbana mundial
deverá se concentrar nestes países. Até 2050, a Índia ganhará mais de 400 milhões de moradores urbanos,
o equivalente a duas vezes a população brasileira, ou vinte vezes a população da Região Metropolitana de
São Paulo. A China, por sua vez, receberá quase 300 milhões de novos citadinos, o que, para efeitos de
comparação, equivale à população inteira dos Estados Unidos. Até 2030, o mundo deverá abrigar 41
megacidades com mais de 10 milhões de habitantes – atualmente são apenas 28.
De acordo com a ONU, no século XXI, o crescimento urbano mais intenso deverá se concentrar em
países subdesenvolvidos, justamente onde as políticas públicas são mais frágeis e os índices de
desenvolvimento humano são mais baixos; o que demandará grandes desafios sociais e ambientais. O gráfico
abaixo demonstra que as regiões menos desenvolvidas terão dois bilhões de habitantes a mais em 2050, o
equivalente a dez vezes a população brasileira, o que deverá puxar o contingente global para cima. Já as
regiões mais desenvolvidas ganharão menos de 500 milhões de habitantes.
As discrepâncias de crescimento urbano entre as regiões mais e menos desenvolvidas do globo deve-
se principalmente aos distintos estágios de transição demográfica que as regiões do globo estão passando.
Devemos lembrar que no geral, enquanto os países europeus e norte-americanos já estão entre a quarta e
a quinta fase de transição, caracterizadas pela estabilização e pela diminuição da população; as regiões mais
pobres ainda estão passando pela segunda ou terceira fase, caracterizadas pelo alto crescimento
demográfico. Estas dinâmicas populacionais refletem diretamente na velocidade e na intensidade da
urbanização destes países. O quadro e o gráfico abaixo ajudam a relembrar a teoria da transição demográfica.
Considerando os dados da ONU (gráfico abaixo) no século XXI, a urbanização deverá ser mais intensa
em países emergentes como China e Índia. A indiana Déli terá mais de 35 milhões de habitantes em 2030 –
em 1990 eram apenas 10 milhões. Já Mumbai (também na Índia), que em 1990 tinha menos de 15 milhões
de habitantes, deverá ter entre 25 e 30 milhões em 2030. Do mesmo modo, as aglomerações urbanas
Shangai e Pequim (China) deverão ter por volta de 25 a 30 milhões de habitantes cada. Tóquio, no Japão,
deverá permanecer a maior cidade do mundo com 37 milhões de habitantes. No entanto, como o país passa
por encolhimento demográfico (quinta fase de transição), as metrópoles japonesas de Tóquio e Osaka
deverão ter suas populações diminuídas.
Assim como os demais países da América, o Brasil é altamente urbanizado. De acordo com o Censo
Demográfico de 2010, 84% da população brasileira é urbana: dos 191 milhões de habitantes, 161 vivem
nesta condição. Segundo o Censo, a região Sudeste é a mais urbanizada do Brasil, apresentando um grau
de urbanização de 92,9%, seguida pelas regiões Centro-Oeste (88,8%) e Sul (84,9%). Por outro lado, as
regiões Norte (73,5%) e Nordeste (73,1%) têm mais de 1/4 dos seus habitantes vivendo em áreas rurais:
estados como Maranhão (63,1%), Piauí (65,8%) e Pará (68,5%) apresentam índices de urbanização abaixo de
70% [fonte].
Deste modo, a distribuição da urbanização brasileira possui grandes desigualdades. São Paulo, o
maior município do país, com 12 milhões de habitantes, possui aproximadamente o dobro do segundo
colocado, Rio de Janeiro, que possui seis milhões de habitantes. Brasília (DF), capital nacional, cuja
urbanização se deu após sua inauguração em 1960, possui quase três milhões de habitantes.
Contraditoriamente, quase o mesmo número de Salvador (BA), município com mais de quatrocentos anos
de história e primeira capital do Brasil. O gráfico abaixo mostra as maiores cidades do Brasil, de acordo com
o IBGE [fonte]:
Nota-se que das 17 cidades com mais de um milhão de habitantes, com exceção das nortistas Manaus
(AM) e Belém (PA), todas estão localizadas ou na região concentrada ou no litoral do nordeste, áreas de
maior densidade demográfica no país.
Entretanto, não é possível entender estes números sem considerar os aspectos históricos que o Brasil
passou. Primeiramente, somente entre as décadas de 1960 e 1970 que o Brasil tornou-se maioria urbana –
conforme gráfico ao lado, elaborado com dados dos Censos Demográficos do IBGE. Em trinta anos, entre
Posteriormente, com a descoberta do ouro em Minas Gerais (século XVII), e com o início do cultivo
de café nos planaltos Atlântico e Meridional (Rio de Janeiro e São Paulo), o eixo geoeconômico se deslocou
para o centro-sul. A exploração aurífera foi responsável pela urbanização de cidades como Ouro Preto (MG)
(que passou a ser a principal cidade do Brasil) Mariana (MG), Tiradentes (MG) e Congonhas (MG). O
escoamento da produção aurífera para os litorais paulista e fluminense demandava longas viagens realizadas
pela Estrada Real, o que favoreceu a urbanização das áreas circunvizinhas ao percurso. No século XVIII, com
o crescimento da região sudeste, Rio de Janeiro tornou-se a capital do Brasil.
Durante grande parte dos séculos XVIII, XIX e XX, o café paulista foi o principal produto de exportação
brasileiro (ainda hoje, somos o maior produtor mundial). A acumulação de capital proveniente deste cultivo
possibilitou a construção de objetos técnicos como armazéns, ferrovias, redes de telégrafos, comércios e
redes bancárias. Com a crise do café (1929) o governo brasileiro estimulou a industrialização e a substituição
de importações. Deste modo, a região sudeste, que no século XIX já havia se urbanizado por conta do café;
no século XX, se urbanizou graças à industrialização.
Embora seja conhecida pela sua rica fauna e flora, a região norte do Brasil possui importantes cidades
como Manaus (AM), Belém (PA), Macapá (AP) e Santarém (PA). Desenvolvidas ao longo dos rios da região –
notoriamente o Rio Amazonas – estas cidades contam principalmente com o transporte fluvial para
locomoção. Apesar da Amazônia ter sido descrita como “inferno verde” até poucas décadas atrás, as
incursões exploratórias na região são feitas desde pelo menos o século XVII, quando os portugueses iniciaram
a colonização destes estados.
Trazendo a urbanização para o contexto atual, de acordo com o IBGE, 19% da população de São Paulo
vive em aglomerados subnormais, sendo a área urbana com maior grau de favelização; seguida de Rio de
Janeiro (15%), Belém (10%), Salvador e Recife (8%) [fonte]. A urbanização desenfreada – possibilitada pelo
modelo de autoconstrução ou pelos loteamentos irregulares – engrossou as periferias metropolitanas,
acirrando as desigualdades espaciais intraurbanas e assim sobrecarregando os sistemas de transporte,
saúde, saneamento, habitação, e educação. A falta de planejamento público ocasionou uma escalada de
violência e tráfico de drogas nas periferias urbanas, nitidamente em São Paulo e Rio de Janeiro – mas
também, em várias metrópoles brasileiras. A migração pendular – isto é, a migração diária – entre as
residências e os locais de trabalho – muitas vezes realizadas em trajetos de mais de duas horas de duração –
também diminui a qualidade de vida do cidadão metropolitano.
A urbanização desenfreada provoca graves problemas ambientais e sociais. Na foto, favela na Represa Guarapiranga (São Paulo).
Tais problemas levam à formação de “movimentos sociais” urbanos como o Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST), que reivindicam uma ampla reforma urbana; isto é, o acesso mais
igualitário à habitação de qualidade, principalmente para os que residem em áreas de risco ou em condição
de rua. Pautada principalmente na invasão de imóveis, a atuação do MTST costuma ser bastante polêmica,
o que faz com que acirrem-se as discussões sobre os conflitantes direitos à propriedade privada e ao usufruto
da cidade.
Enquanto os três primeiros detêm o poder de capital; o estado é responsável pelo poder de
regulação e planejamento. Os atores que estão à margem destas relações de poder constituem os grupos
sociais excluídos, que embora estejam em desvantagem perante os demais, são responsáveis por grande
parte da produção do espaço urbano.
CAI NA PROVA
CACD/2006 - Questão 60
Tendo o gráfico acima como referência e considerando o processo de urbanização do mundo contemporâneo, assinale a
opção correta.
1. No Brasil, o crescimento urbano e a urbanização foram alimentados por um forte êxodo rural e fluxos migratórios
entre regiões, o que possibilitou melhor distribuição da população no território
COMENTÁRIO
De fato, “o crescimento urbano e a urbanização foram alimentados por um forte êxodo rural e fluxos
migratórios entre regiões”, mas isso NÃO possibilitou a melhor distribuição da população. Muito pelo
contrário, a população brasileira é altamente concentrada nas regiões sudeste e litoral do nordeste. Enquanto
isso, há vazios demográficos nas regiões norte e centro-oeste. Gabarito: Errado
2. O caráter urbano e metropolitano do Brasil, com o estabelecimento de bem distribuída rede de cidades, está
restrito ao sul e sudeste do país, uma vez que estas foram as regiões que experimentaram o maior
desenvolvimento industrial ao longo da história do país.
COMENTÁRIO
As redes de cidades existem no Brasil todo, mas de forma “bem distribuída”, somente nas regiões sul e sudeste,
que de fato, experimentaram maior desenvolvimento industrial. No entanto, a rede de cidades destas regiões
ainda apresenta desigualdades. Gabarito: Errado
3. O aumento contínuo da participação da África e da América Latina no conjunto das cem maiores cidades do
mundo ao longo do período representado no gráfico reflete o processo de globalização da economia, que enseja
a inserção de países periféricos e a superação de seu passado colonial.
COMENTÁRIO
Embora a questão afirme que as cidades da África e da América Latina superaram seu passado colonial (o que
pode ser facilmente questionado), a globalização realmente inseriu, com mais intensidade, estas áreas do
globo no circuito da economia internacional. Gabarito: Correto
4. O aumento da participação da América Latina no conjunto das cem maiores cidades do mundo indica o rápido
processo de urbanização calcado na industrialização, que não se faz acompanhar de adequada e suficiente oferta
de empregos urbanos no setor secundário da economia.
COMENTÁRIO
Conforme vimos nas aulas anteriores, a participação da indústria no PIB vem caindo desde a década de 1980,
e este cenário reflete-se para toda a América Latina. Nas últimas décadas, o setor de serviços cresceu
exponencialmente. O setor terciário, portanto, é o mais expressivo da maioria das cidades, e também, o que
gera a maior quantidade de empregos. Gabarito: Errado
COMENTÁRIO
Não, a transição demográfica tem cinco fases, e todos estão passando por ela! De forma geral (ignorando a
particularidade de cada país), a África e a Ásia estão entre a segunda e a terceira fase (períodos de grande
crescimento). Já a Europa e a América do Norte estão entre a quarta e a quinta fase (períodos de baixo
crescimento ou diminuição da população). Gabarito: Errado
O entendimento do contexto urbano vai muito além dos aspectos locais. Para compreendê-lo, é
preciso estudar não somente o cenário intraurbano, mas o relacionamento entre as cidades; cada qual
possuindo um determinado papel nos sistemas urbanos regional, nacional e mundial. Sobretudo em um
mundo globalizado, pautado pela divisão internacional do trabalho, e pela especialização dos territórios, o
entendimento destas redes é fundamental para a correta compreensão do espaço urbano. Levando em
consideração esta porosidade, fatores externos ao ambiente urbano local de ordem populacional,
econômica, tecnológica, politica, cultural, ambiental, entre outros, podem alterar significativamente o
espaço urbano.
território são assim definidos quando há uma grande diversidade de órgãos do Estado e sedes de empresas,
a partir das quais são tomadas decisões que afetam direta ou indiretamente um dado espaço. Há, portanto,
uma hierarquia entre as cidades de acordo com seu grau de polarização.
A fim de delimitar e analisar estas regiões de influência, especificamente os pontos do território onde
são emitidas as decisões políticas e econômicas, o IBGE publicou o estudo Regiões de Influência das Cidades
(REGIC) (2007), analisando a conexão entre os centros urbanos de acordo com os seguintes aspectos: gestão
federal e gestão empresarial, equipamentos e serviços; comércio e serviços; instituições financeiras; ensino
superior; saúde; internet; redes de televisão aberta; e conexões aéreas. De acordo com estes critérios, as
cidades brasileiras podem ser classificadas em ordem decrescente de importância, sendo: Metrópoles
(grande metrópole nacional, metrópole nacional, e demais metrópoles); Capitais Regionais (capital regional
A, capital regional B, e capital regional C); Centros Sub-regionais (centro sub-regional A, e centro sub-regional
B); Centro de Zona (centro de zona A, e centro de zona B), e Centro Local.
1 - Metrópoles
São os 12 principais centros urbanos do País, que caracterizam-se por seu grande porte, por fortes
relacionamentos entre si, e por extensa área de influência direta.
Grande
São Paulo, o maior conjunto urbano do País, com 21 milhões de habitantes (dados de 2016)
metrópole
e alocado no primeiro nível da gestão territorial
nacional
Rio de Janeiro e Brasília, com população de 12 milhões e 4 milhões (dados de 2016)
Metrópole
respectivamente, também estão no primeiro nível da gestão territorial. Juntamente com
nacional
São Paulo, constituem foco para centros localizados em todo o país
Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto
Alegre, com população variando de 2,5 (Manaus) a 6 milhões (Belo Horizonte) (dados de
Metrópole 2016), constituem o segundo nível da gestão territorial. Note-se que Manaus e Goiânia,
embora estejam no terceiro nível da gestão territorial, têm porte e projeção nacional que
lhes garantem a inclusão neste conjunto
apenas projeção regional, não sendo suficientemente expressivas para exercerem influência em todo o
território nacional.
Região Metropolitana de São Paulo, a maior do país: integração entre municípios dependentes é fundamental para o planejamento urbano.
2 - Capitais Regionais
Integram este nível 70 centros que, como as metrópoles, também se relacionam com o estrato superior
da rede urbana. Com capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, têm área
de influência de âmbito regional, sendo referidas como destino, para um conjunto de atividades, por
grande número de municípios.
Capital regional A1 11 cidades, com medianas de 955 mil habitantes e 487 relacionamentos
Capital regional B 20 cidades, com medianas de 435 mil habitantes e 406 relacionamentos
Capital regional C 39 cidades, com medianas de 250 mil habitantes e 162 relacionamentos
As capitais regionais, conforme o nome sugere, são cidades que exercem polarização regional em
nível abaixo das metrópoles; como por exemplo, as demais regiões metropolitanas e as grandes cidades do
interior. Entre alguns exemplos estão Campinas (SP), Campo Grande (MS), Juiz de Fora (MG), Santos (SP),
São José dos Campos (SP), Ribeirão Preto (SP), Porto Velho (RO), Uberlândia (MG)
3 - Centros Sub-Regionais
Integram este nível 169 centros com atividades de gestão menos complexas, têm área de atuação mais
reduzida, e seus relacionamentos com centros externos à sua própria rede dão-se, em geral, apenas com
as três metrópoles nacionais.
Centro sub-regional A 85 cidades, com medianas de 95 mil habitantes e 112 relacionamentos
Centro sub-regional B 79 cidades, com medianas de 71 mil habitantes e 71 relacionamentos.
1 Não é necessário saber detalhadamente dos níveis “A, B, e C”. Importante é entender o contexto geral e o grau de polaridade de cada categoria.
No nível abaixo das capitais regionais, encontram-se os centros sub-regionais, com área de influência
mais reduzida. De acordo com o IBGE, sua presença é adensada nas áreas de maior ocupação do Nordeste e
do Centro-Sul, e mais esparsa nos espaços menos densamente povoados das Regiões Norte e Centro-Oeste.
4 - Centros de Zona
Nível formado por 556 cidades de menor porte e com atuação restrita à sua área imediata; exercem
funções de gestão elementares.
Centro de zona A 192 cidades, com medianas de 45 mil habitantes e 49 relacionamentos.
Centro de zona B 364 cidades, com medianas de 23 mil habitantes e 16 relacionamentos.
5 – Centros Locais
As demais 4.473 cidades cuja centralidade e atuação não extrapolam os limites do seu município,
servindo apenas aos seus habitantes, têm população dominantemente inferior a 10 mil habitantes
(mediana de 8 133 habitantes).
Já os centros de zona exercem apenas influência nos municípios próximos, sem muita expressividade.
Por fim, os centros locais – categoria de menor grau de polarização – compreende apenas o município local,
geralmente sendo centros urbanos cuja população não excede 10 mil habitantes. Esta última categoria,
representa a maioria das cidades brasileiras, estando 4.473 nesta condição.
Do ponto de vista espacial, percebe-se uma concentração expressiva em São Paulo, única grande
metrópole nacional, seguido de Brasília e Rio de Janeiro – estas duas, metrópoles nacionais. Com exceção de
Goiânia e Manaus, todas as demais metrópoles situam-se próximas ao litoral, especialmente no nordeste,
região de ocupação histórica. Salvo a região sul – que é bastante ocupada no interior – e em centralidades
pontuais como Brasília, Goiânia, Manaus, Teresina, e Campo Grande, as redes de cidades são menos
expressivas no interior do país, onde os sistemas técnicos de transporte e comunicação são mais escassos.
Os dados evidenciam que apesar da população de São Paulo estar se elevando em ritmo mais lento
que a média nacional, outras regiões metropolitanas paulistas como Campinas, Vale do Paraíba e Baixada
Santista cresceram acima da média brasileira, o que sugere que a população paulistana está se deslocando
para as demais cidades do interior do estado; e que também, dada a ampla desconcentração industrial
metropolitana, regiões como Vale do Paraíba e Campinas estão se industrializando cada vez mais.
A partir dos anos 1970, já no modelo de acumulação flexível e com a melhoria dos
sistemas de transporte e comunicação, a localização deixou de ser primordial. Assim,
a indústria saiu dos centros urbanos (como São Paulo e Rio de Janeiro) e foi para o
Desconcentração
interior, onde havia melhores vantagens econômicas como preços dos terrenos,
isenções de impostos, etc. Em aspecto mundial, a indústria saiu de grandes centros
como Europa e Estados Unidos e migrou para a China e para os tigres asiáticos.
A" desconcentração industrial", no entanto, está "concentrada" em alguns pontos do
Desconcentração território, principalmente nos interiores de São Paulo e dos demais estados da região
Concentrada centro-sul, especialmente sudeste, sul, e centro-oeste, este último, com destaque à
agroindústria.
Lembrando que a indústria ainda é um indutor de urbanização! Principalmente nas pequenas e
médias cidades, onde a agroindústria está se instalando no Brasil.
Para além das metrópoles paulistas, a “desconcentração concentrada” abrange outras áreas do país.
Estados do centro oeste como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, receberam um grande volume de
capital proveniente da agroindústria que ali se instalou após os anos 1970. Estimulada por projetos como a
Zona Franca de Manaus (1967) – que promove grandes benefícios fiscais –; e pela extração de minerais em
Eldorado dos Carajás (PA) (maior mina de ferro do mundo) e Serra Pelada (PA) (esta última, bastante intensa
nos anos 1980 e 1990), a região norte também apresentou crescimento demográfico expressivo nas últimas
décadas. Já na região nordeste, além dos recentes programas sociais, podemos destacar a infraestrutura da
Zona da Mata, tais como as áreas industriais e portuárias de Pecém (CE) e Suape (PE), que ajudam a dinamizar
a economia regional. Além disso, deve-se salientar que nos últimos anos, a indústria automobilística –
outrora concentrada nas metrópoles paulista e fluminense – está se dirigindo ao interior. Exemplos desta
dinâmica são a instalação da Ford em Camaçari (BA), da Peugeot em Porto Real (RJ), da Fiat em Betim (MG),
e da Toyota em Indaiatuba (SP).
Por fim, outro fator a ser considerado nesta desconcentração é a expansão da indústria petroleira,
que ajudou a dinamizar as cidades litorâneas médias. Alavancada pelo pré-sal e pelos investimentos no
setor, cidades como Campos dos Goytacazes (RJ), Macaé (RJ), e Duque de Caxias (RJ) já figuram entre os
maiores PIBs nacionais (tabela abaixo). Cidades como Ilha Comprida (SP), Ilhabela (SP), e Presidente Kennedy
(ES) – esta última, apresentando maior IDH do Brasil – também beneficiaram-se da expansão petrolífera no
país, principalmente com a política de distribuição de royalties. A tabela abaixo compara o PIB dos municípios
com o total nacional aproximado (2013) [fonte]:
Conurbação e metropolização
Ao menos que hajam placas de sinalização, em uma área conurbada, não é possível saber, de forma
visual, onde são os limites municipais. Em uma conurbação de várias cidades – como nas Regiões
Metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro ou Curitiba, há um município central, de economia mais
dinâmica, que concentra as atividades de atração, favorecendo a expansão da malha urbana. Isto faz com
que a área urbana nuclear (situada no município central) extrapole seus limites político-administrativos,
estimulando o crescimento do entorno.
Conurbação na região do ABCD paulista: apesar de vários municípios, há uma mancha urbana contínua, o que caracteriza a conurbação.
Alguns exemplos de conurbação no Brasil são a região do ABCD no estado de São Paulo (Santo André,
São Bernardo do Campo, São Caetano no Sul e Diadema); as cidades de Volta Redonda (RJ) e Barra Mansa
(RJ); as cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE); ou a Grande Rio (Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São João
de Meriti, etc.).
correspondem à principal causa de congestionamentos das grandes cidades: pesquisas apontam que nas
periferias urbanas, o tempo gasto até o trabalho é até 163% maior [fonte].
Neste contexto, as diferenças de renda nas áreas urbanas provocam o que os geógrafos chamam de
segregação residencial. Trata-se da separação intencional das áreas residenciais por faixa de renda;
fenômeno este, que acentua as desigualdades no espaço urbano. Normalmente, as regiões de alta renda
concentram as melhores ofertas de serviços e infraestrutura urbana, porém, as de baixa renda, sofrem de
mazelas já conhecidas como falta de equipamentos públicos. Enquanto as classes alta e média-alta se isolam
em condomínios fechados e edifícios de alto padrão (autossegregação); as classes sociais menos favorecidas,
sem capital de investimento, são obrigadas a ocuparem as periferias (segregação por imposição). Quando
os próprios atores urbanos favorecem esta dinâmica, sendo pela construção de conjuntos habitacionais
induzidas pelo estado, ou pela venda de loteamentos de baixo custo proporcionadas pela iniciativa privada,
ocorre a segregação induzida.
Segregação residencial é um dos principais problemas nas grandes metrópoles. Na foto, conjuntos habitacionais na Cidade Tiradentes (bairro de
São Paulo), distantes de emprego, lazer, e infraestrutura adequada.
Segregação residencial
Tipo de
Renda Características
segregação
Composta pela população de baixa renda que possui poucas escolhas de
Segregação por
habitação, e acaba indo para regiões mais pobres da cidade. A
imposição
"imposição" é feita pela falta de renda.
Baixa Composta pela indução de ocupação em regiões periféricas, como a
Segregação construção de conjuntos habitacionais ou a venda de loteamentos baratos.
induzida A segregação é "Induzida" porque o vetor de crescimento urbano é
induzido por agentes externos ao morador em si.
Composta pela classe média-alta e alta que se “autossegrega” em
Autossegregação Alta
condomínios fechados ou em edifícios de alto padrão.
Contudo, nem toda conurbação é metrópole, e nem toda metrópole é conurbada, por isso, são
conceitos que embora sejam complementares, são distintos entre si. Na Região Metropolitana de Manaus
(AM) e na recém-criada Região Metropolitana de Ribeirão Preto (SP), por exemplo, não há conurbação entre
os municípios. Nestes casos, a caracterização da metrópole ocorre não por causa da extensão da mancha
urbana física, mas sim pela interdependência de fluxos e serviços. O inverso também é verdadeiro: há
conurbações que não constituem metrópoles, como por exemplo, entre Alto Araguaia (MT) e Santa Rita do
Araguaia (GO), entre Barra Mansa (RJ) e Rio de Janeiro (RJ); ou, entre fronteiras como entre Chuí (RS)/ Chuy
(Uruguai), Letícia (AM)/ Tabatinga (Colômbia), ou Brasiléia (AC)/ Cobija (Bolívia).
Cidades globais
Conforme vimos nos itens anteriores, a rede urbana brasileira é altamente desigual: São Paulo, a
“Grande Metrópole Nacional” sendo dotada de alto grau técnico e elevada concentração de capital, exerce
influência sob todo o território. Isto também ocorre, embora em menor grau, com as “Metrópoles Nacionais”
Brasília e Rio de Janeiro. No entanto, como vivemos em um mundo globalizado, as redes de cidades são
mundiais, extrapolando assim, os territórios dos países. Se São Paulo polariza as cidades grandes e médias
do território nacional, é também polarizada por aglomerações mais relevantes situadas em países
desenvolvidos, como Nova York, Paris, Tóquio, ou Shangai. Estas cidades que exercem influência mundial
são chamadas cidades-globais, constituindo assim, os nós centrais do planeta.
De acordo com o estudo, Londres e Nova York são as cidades mais importantes do globo, e estão,
portanto, no topo da hierarquia urbana. Logo em seguida, já em outra categoria, encontram-se as cidades-
estado de Singapura e Hong Kong (conhecidas pelo alto grau de liberdade econômica), bem como
tradicionais metrópoles como Paris, Pequim ou Tóquio. São Paulo é a única cidade brasileira nas categorias
tipo “Alpha”. Entretanto, o estudo cita outras cidades brasileiras em categorias abaixo como: Rio de Janeiro
(Beta-); Porto Alegre e Curitiba (High Sufficiency), e Belo Horizonte, Brasília, Recife, Campinas, Salvador, e
Goiânia (Sufficiency). Estas duas últimas categorias, não constituem cidades globais, mas sim, polos regionais
ou nacionais. A publicação também mapeou estas aglomerações urbanas, conforme o mapa abaixo:
Nota-se que a maior parte das cidades globais está localizada em três áreas: América do Norte,
Europa, e Leste da Ásia, por onde saem as principais decisões financeiras, culturais, e políticas que
influenciam o planeta. A América Latina possui apenas quatro cidades nas subcategorias “Alpha”, sendo: São
Paulo (Brasil), Buenos Aires (Argentina), Cidade do México (México) e Santigo (Chile). Apesar de sua
imensidão territorial, o continente africano apenas está representado por Johannesburgo (África do Sul).
Desconcentração
Saída da indústria das áreas urbanas centrais para o interior
Industrial
Segregação
Separação das áreas habitáveis de acordo com faixa de renda.
==146f25==
residencial
CAI NA PROVA
CACD/2017 – Questão 25
1. No Brasil, as periferias metropolitanas podem ser caracterizadas por trazerem elementos de reprodução da vida
rural pregressa do país, como são, por exemplo, os casos de Goiânia, São Paulo e Belo Horizonte.
COMENTÁRIO
2. As periferias enquanto espaço social são lugares de construção cultural cotidiana influenciadas pela cultura de
massas, que é parte da indústria cultural, e retroalimentam esse setor da economia quando suas manifestações
culturais são apropriadas e transformadas em produtos consumidos em escala local, regional e global.
COMENTÁRIO
Sim, as periferias constituem lugares (lembrar que o conceito de lugar está atrelado à identidade). No geral, a
questão associa a cultura periférica com a indústria cultural, uma relação óbvia e bastante conhecida. Gabarito:
Certo
3. No cerne de uma nova regionalização brasileira, catalisada pelo poder estratégico-econômico do Sudeste e do
Sul, populações indígenas e quilombolas do Centro-Oeste e do Norte têm migrado para cidades do campo
daquelas regiões, tornando-se a mão de obra qualificada nesses novos centros.
COMENTÁRIO
Ao contrário da questão anterior, essa não é nem um pouco óbvia, exigindo conhecimentos dos fluxos
migratórios no Brasil. A questão está errada porque as populações quilombolas do Centro-Oeste e do Norte
NÃO têm migrado para as cidades do campo das regiões Sudeste e Sul, e tampouco tornando-se mão de obra
qualificada. Gabarito: Errado
4. Nas cidades, as denominadas áreas de risco constituem-se à revelia das políticas espaciais adotadas tanto pelos
municípios quanto pelos empreendedores imobiliários, em um processo no qual a população ocupante torna-se
a responsável pela constituição do risco e da vulnerabilidade.
COMENTÁRIO
Não podemos culpar o pobre pela sua condição de pobreza. Ninguém mora em área de risco porque quer. Há
processos socioespaciais de exclusão que acabam gerando esse déficit habitacional. Gabarito: Errado
CACD/2014 – Questão 29
A aparição das chamadas cidades mundiais e das cidades globais se explica pela necessidade de organização e controle
da economia global. O termo cidade global, em sua versão mais topológica, é definido por Saskia Sassen como um
território onde se exerce uma série de funções de organização e controle na economia global e nos fluxos de investimentos
em escala planetária.
O. Nel.Lo e F. Muñoz. El proceso de urbanización. In.: Geografía humana, J. Romero et al (Coord.). Barcelona: Ariel, 2008,
p. 321 (com adaptações).
Considerando a perspectiva conceitual de Saskia Sassen, julgue (C ou E) os itens seguintes, relativos a cidades globais.
1. A dinâmica fundamental do novo processo de urbanização pressupõe que, quanto mais a economia for
globalizada, maior será a convergência de funções centrais nas cidades globais, cuja densidade demográfica
elevada expressa espacialmente essa dinâmica.
COMENTÁRIO
Exatamente, esta é uma das formas pela qual a globalização gera desigualdades no espaço geográfico e no
tecido urbano. No mundo atual, as cidades globais tornam-se, cada vez mais, centros de gestão e serviços.
Gabarito: Correto
2. A dispersão territorial das atividades econômicas contribui, por meio, por exemplo, de tecnologias da informação,
para o crescimento das funções e das operações centralizadas nas cidades globais.
COMENTÁRIO
3. A globalização econômica contribui para uma nova geografia da centralidade e da marginalidade, tornando as
cidades globais lugares de concentração de poder econômico, ao passo que cidades que foram centros
manufatureiros experimentam nítido declínio.
COMENTÁRIO
Sim, centros manufatureiros e industriais apresentam uma tendência de desconcentração, saindo das grandes
cidades e metrópoles e indo para o interior. As cidades globais, se outrora tinham a indústria e a manufatura
como peso importante do PIB, acabam tornando-se predominantemente de serviços.
Gabarito: Correto
COMENTÁRIO
Pegadinha! A questão está correta, mas estes processos de concentração do gerenciamento e gestão nas
cidades-globais foram ocorrer com maior intensidade a partir dos anos 1990, e não nos anos 1980. Além disso,
após a desconcentração industrial, as pequenas e médias indústrias encontram-se principalmente nas médias
cidades.
Gabarito: Errado
CACD/2015 – Questão 31
A segregação residencial é um dos mais expressivos processos espaciais que geram a fragmentação do espaço urbano. As
áreas sociais são a sua manifestação espacial, a forma resultante do processo. Forma e processo levam a ver a cidade
como um “mosaico social”. A partir da segregação das áreas sociais, originam-se inúmeras atividades econômicas
espacialmente diferenciadas, como centros comerciais e áreas industriais. O inverso também é verdadeiro: a partir da
concentração de indústrias na cidade, podem se formar bairros operários. A segregação residencial e as áreas sociais, por
outro lado, estão na base de muitos movimentos sociais com foco no espaço.
R. L. Corrêa. Segregação residencial: classes sociais e espaço urbano. In: A cidade contemporânea. São Paulo: Contexto,
2013, p. 40-60 (com adaptações).
Com relação ao tema tratado no fragmento de texto acima, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
1. A segregação residencial tanto nas grandes quanto nas médias e pequenas cidades pode ser considerada como
autossegregação, segregação imposta e segregação induzida. =Sim, são estes os tipos de segregação residencial.
COMENTÁRIO
A autossegregação ocorre quando a classe alta “se isola” em condomínios fechados e edifícios de alto padrão.
A segregação imposta ocorre quando a classe baixa, com poucos recursos financeiros disponíveis, acaba
morando em regiões periféricas por imposição.
A segregação induzida ocorre quando o estado ou entidades privadas “induzem” a segregação por meio de
loteamentos populares ou conjuntos habitacionais. Gabarito: Correto
2. A segregação residencial é um processo espacial que se manifesta por meio de áreas sociais relativamente
homogêneas internamente e heterogêneas em relação umas às outras.
COMENTÁRIO
3. A segregação residencial resulta na minimização dos movimentos sociais, por afastar a população pobre das
áreas centrais urbanas, e na maximização das representações das diferentes áreas sociais.
COMENTÁRIO
De fato, a segregação residencial “afasta a população pobre das áreas centrais urbanas” e “maximiza as
representações das diferentes áreas sociais”, mas isso resulta na MAXIMIZAÇÃO da atuação dos movimentos
sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Gabarito: Errado
4. Na cidade conurbada, as áreas de consumo de bens e serviços não são as mesmas para todos, e o tempo de
deslocamento até elas é razão de diferenciação, o que facilita a elaboração de uma representação de centralidade
urbana que seja a base de construção de identidades e de memória urbana.
COMENTÁRIO
De fato, numa conurbação, “as áreas de consumo de bens e serviços não são as mesmas para todos, e o tempo
de deslocamento até elas é razão de diferenciação”, mas ao contrário do afirmado, isso nada tem a ver com
identidade e memória urbana. Gabarito: Errado
CACD/2012 – Questão 27
O Brasil, que sempre se caracterizou pela existência, em uma região ou em outra, de fronteira de povoamento, viu, com o
processo de industrialização do campo, o aparecimento de fronteiras de modernização nas quais se verificaram profundas
transformações socioespaciais. Ambos os tipos de fronteira suscitam novos centros de comercialização e beneficiamento
de produção agrícola, de distribuição varejista e prestação de serviços ou, em muitos casos, de centros que já nascem
como reservatórios de uma força de trabalho temporária. R. L. Corrêa. Estudos sobre a rede urbana. Rio de Janeiro:
Bertrand do Brasil, 2006, p. 323 (com adaptações).
1. A implantação, na região amazônica, de atividades industriais e agrárias exploradas por empresas públicas e
privadas exemplifica o processo de desenvolvimento descrito no texto.
COMENTÁRIO
Sim, nas últimas décadas, a região Amazônia tem recebido diversos parques industriais, como a Zona Franca
de Manaus, o Polo Sidero-Metalúrgico de Carajás (Pará), e indústrias em Santarém (PA) e Belém (PA). As
regiões metropolitanas de Manaus e Belém concentram os setores de serviços na região. Gabarito: Correto
2. Dado o processo de industrialização do campo, resultante da modernização das técnicas e das relações sociais
de produção, a maior parte da força de trabalho da produção agrícola concentra-se nas grandes propriedades, o
que reduz o índice de subemprego e atenua a baixa produtividade rural.
COMENTÁRIO
Vimos isso na última aula: a “maior parte da força de trabalho da produção agrícola” concentra-se nas
PEQUENAS propriedades, onde é produzida a maior parte dos alimentos que consumimos. O agronegócio
gerido pelo grande capital gera mais mão de obra na indústria de alimentos do que no campo propriamente
dito. Gabarito: Errado
3. Sob o impacto da globalização, as transformações mencionadas no texto provocam uma menor diferenciação
entre os centros urbanos, que passam a desempenhar as mesmas funções na rede urbana, ou seja, a de
reservatórios de força de trabalho temporária.
COMENTÁRIO
COMENTÁRIO
Apesar da população brasileira ainda ser altamente concentrada (principalmente nas regiões sudeste e sul e
litoral do nordeste), a dinamização de áreas como centro-oeste (especialmente devido à agricultura) e norte
(principalmente devido à indução estatal) provocou a urbanização de alguns pontos destas áreas. Assim, estes
novos centros urbanos NÃO ACENTURAM a concentração espacial da população, mas ajudaram a diminuí-la.
Gabarito: Errada.
CACD/2008 - Questão 30
O padrão locacional da indústria ao longo da industrialização brasileira foi centrípeto, concêntrico e hierárquico, seguindo
a tendência de industrialização das economias capitalistas avançadas em explorar vantagens de escala da concentração
espacial. Lemos et al. A organização territorial da indústria no Brasil. IPEA, 2005. Com relação às indústrias no Brasil,
julgue (C ou E) os itens seguintes.
1. Depois de décadas de concentração econômica na cidade de São Paulo, observa-se um processo inverso,
determinado, entre outras causas, pelas chamadas deseconomias de aglomeração.
COMENTÁRIO
Isso mesmo, a desconcentração industrial está em todo vapor no Brasil desde os anos 1970. Gabarito: Correto
2. A industrialização brasileira conheceu um processo de dispersão que, por ter ocorrido de forma ordenada, evitou
a metropolização dos novos centros industriais.
COMENTÁRIO
Embora o setor de serviços seja mais preponderante no cenário metropolitano, várias metrópoles foram
dinamizadas justamente pela atividade industrial; como por exemplo, a Região Metropolitana de Manaus
(devido à Zona Franca de Manaus), a Região Metropolitana de Salvador (devido ao polo industrial de
Camaçari), ou a recém criada Região Metropolitana do Vale do Paraíba (devido à intensa atividade industrial
e científica da região). Gabarito: Errado
COMENTÁRIO
Conforme vimos na aula anterior, a agroindústria está presente em grande parte do território brasileiro. Não
somente na região sudeste, mas também, nas regiões sul, centro-oeste, nordeste (litoral) e norte (nas bordas
da Floresta Amazônica). Na Amazônia destaca-se principalmente a criação de gado (Pará produz
aproximadamente 10% do total nacional). Pará também é o maior exportador de minério de ferro do Brasil.
Gabarito: Correto
4. As indústrias de alta tecnologia localizam-se, preferencialmente, onde existem sistema acadêmico e de pesquisa
bem organizado, serviços urbanos modernos e base industrial.
COMENTÁRIO
Correto. No Brasil, isto ocorre com maior intensidade no centro-sul (sudeste, sul e parte do centro-oeste).
Gabarito: Correto
Simulado de questões
CACD/2006 - Questão 60
1) No Brasil, o crescimento urbano e a urbanização foram alimentados por um forte êxodo rural e fluxos
migratórios entre regiões, o que possibilitou melhor distribuição da população no território
2) O caráter urbano e metropolitano do Brasil, com o estabelecimento de bem distribuída rede de cidades,
está restrito ao sul e sudeste do país, uma vez que estas foram as regiões que experimentaram o maior
desenvolvimento industrial ao longo da história do país.
3) O aumento contínuo da participação da África e da América Latina no conjunto das cem maiores cidades
do mundo ao longo do período representado no gráfico reflete o processo de globalização da economia, que
enseja a inserção de países periféricos e a superação de seu passado colonial.
4) O aumento da participação da América Latina no conjunto das cem maiores cidades do mundo indica o
rápido processo de urbanização calcado na industrialização, que não se faz acompanhar de adequada e
suficiente oferta de empregos urbanos no setor secundário da economia.
CACD/2008 - Questão 30
6) Depois de décadas de concentração econômica na cidade de São Paulo, observa-se um processo inverso,
determinado, entre outras causas, pelas chamadas deseconomias de aglomeração.
7) A industrialização brasileira conheceu um processo de dispersão que, por ter ocorrido de forma ordenada,
evitou a metropolização dos novos centros industriais.
CACD/2012 – Questão 27
O Brasil, que sempre se caracterizou pela existência, em uma região ou em outra, de fronteira de
povoamento, viu, com o processo de industrialização do campo, o aparecimento de fronteiras de
modernização nas quais se verificaram profundas transformações socioespaciais. Ambos os tipos de fronteira
suscitam novos centros de comercialização e beneficiamento de produção agrícola, de distribuição varejista
e prestação de serviços ou, em muitos casos, de centros que já nascem como reservatórios de uma força de
trabalho temporária. R. L. Corrêa. Estudos sobre a rede urbana. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2006, p.
323 (com adaptações).
10) implantação, na região amazônica, de atividades industriais e agrárias exploradas por empresas públicas
e privadas exemplifica o processo de desenvolvimento descrito no texto.
11) Dado o processo de industrialização do campo, resultante da modernização das técnicas e das relações
sociais de produção, a maior parte da força de trabalho da produção agrícola concentra-se nas grandes
propriedades, o que reduz o índice de subemprego e atenua a baixa produtividade rural.
12) Sob o impacto da globalização, as transformações mencionadas no texto provocam uma menor
diferenciação entre os centros urbanos, que passam a desempenhar as mesmas funções na rede urbana, ou
seja, a de reservatórios de força de trabalho temporária.
13) Contraditoriamente, a criação de novos centros urbanos acentuou a concentração espacial da população
brasileira, o que se evidencia na distribuição populacional ainda marcada por vazios populacionais e pela
existência de um processo de fragmentação da rede urbana.
14) No Brasil, as periferias metropolitanas podem ser caracterizadas por trazerem elementos de reprodução
da vida rural pregressa do país, como são, por exemplo, os casos de Goiânia, São Paulo e Belo Horizonte.
15) As periferias enquanto espaço social são lugares de construção cultural cotidiana influenciadas pela
cultura de massas, que é parte da indústria cultural, e retroalimentam esse setor da economia quando suas
manifestações culturais são apropriadas e transformadas em produtos consumidos em escala local, regional
e global.
16) No cerne de uma nova regionalização brasileira, catalisada pelo poder estratégico-econômico do Sudeste
e do Sul, populações indígenas e quilombolas do Centro-Oeste e do Norte têm migrado para cidades do
campo daquelas regiões, tornando-se a mão de obra qualificada nesses novos centros.
17) Nas cidades, as denominadas áreas de risco constituem-se à revelia das políticas espaciais adotadas tanto
pelos municípios quanto pelos empreendedores imobiliários, em um processo no qual a população ocupante
torna-se a responsável pela constituição do risco e da vulnerabilidade.
CACD/2014 – Questão 29
A aparição das chamadas cidades mundiais e das cidades globais se explica pela necessidade de organização
e controle da economia global. O termo cidade global, em sua versão mais topológica, é definido por Saskia
Sassen como um território onde se exerce uma série de funções de organização e controle na economia
global e nos fluxos de investimentos em escala planetária. O. Nel.Lo e F. Muñoz. El proceso de urbanización.
In.: Geografía humana, J. Romero et al (Coord.). Barcelona: Ariel, 2008, p. 321 (com adaptações).
Considerando a perspectiva conceitual de Saskia Sassen, julgue (C ou E) os itens seguintes, relativos a cidades
globais.
18) A dinâmica fundamental do novo processo de urbanização pressupõe que, quanto mais a economia for
globalizada, maior será a convergência de funções centrais nas cidades globais, cuja densidade demográfica
elevada expressa espacialmente essa dinâmica.
19) A dispersão territorial das atividades econômicas contribui, por meio, por exemplo, de tecnologias da
informação, para o crescimento das funções e das operações centralizadas nas cidades globais.
20) A globalização econômica contribui para uma nova geografia da centralidade e da marginalidade,
tornando as cidades globais lugares de concentração de poder econômico, ao passo que cidades que foram
centros manufatureiros experimentam nítido declínio.
21) O nível máximo de controle e de gerenciamento da indústria permanece concentrado em poucos centros
financeiros diretores, como observado especialmente em cidades globais como Paris, São Paulo e Los
Angeles, na década de 80 do século XX.
CACD/2015 – Questão 31
A segregação residencial é um dos mais expressivos processos espaciais que geram a fragmentação do
espaço urbano. As áreas sociais são a sua manifestação espacial, a forma resultante do processo. Forma e
processo levam a ver a cidade como um “mosaico social”. A partir da segregação das áreas sociais, originam-
se inúmeras atividades econômicas espacialmente diferenciadas, como centros comerciais e áreas
industriais. O inverso também é verdadeiro: a partir da concentração de indústrias na cidade, podem se
formar bairros operários. A segregação residencial e as áreas sociais, por outro lado, estão na base de muitos
movimentos sociais com foco no espaço.
R. L. Corrêa. Segregação residencial: classes sociais e espaço urbano. In: A cidade contemporânea. São Paulo:
Contexto, 2013, p. 40-60 (com adaptações). Com relação ao tema tratado no fragmento de texto acima,
julgue (C ou E) os itens que se seguem.
22) A segregação residencial tanto nas grandes quanto nas médias e pequenas cidades pode ser considerada
como autossegregação, segregação imposta e segregação induzida.
23) A segregação residencial é um processo espacial que se manifesta por meio de áreas sociais
relativamente homogêneas internamente e heterogêneas em relação umas às outras.
24) A segregação residencial resulta na minimização dos movimentos sociais, por afastar a população pobre
das áreas centrais urbanas, e na maximização das representações das diferentes áreas sociais.
25) Na cidade conurbada, as áreas de consumo de bens e serviços não são as mesmas para todos, e o tempo
de deslocamento até elas é razão de diferenciação, o que facilita a elaboração de uma representação de
centralidade urbana que seja a base de construção de identidades e de memória urbana.
26) Sabe-se que, atualmente, mais da metade da população mundial vive nas cidades, o que é fator decisivo
para a ampliação dos desafios sociais e ambientais, como a pobreza, a fome e as mudanças climáticas. No
Brasil, o processo de urbanização da sociedade, impulsionado pela Segunda Guerra e pela industrialização
que avança celeremente desde a Era Vargas, fez-se de forma rápida e não planejada. A despeito dos enormes
problemas daí decorrentes, o certo é que o país chegou ao século XXI profundamente alterado, sobretudo
quando confrontado com a realidade histórica que o caracterizou desde o período colonial. A respeito dessa
situação, julgue os itens que se seguem.
Com mais de 80% de sua população vivendo em cidades, o Brasil contemporâneo demanda políticas públicas
para enfrentar problemas que cada vez mais se identificam com a realidade urbana, a exemplo da deficiência
em habitação, saneamento, saúde e educação.
Gabarito
GABARITO
1 E 8 C 15 C 22 C
2 E 9 C 16 E 23 C
3 C 10 C 17 E 24 E
4 E 11 E 18 C 25 E
5 E 12 E 19 C 26 C
6 C 13 E 20 C - -
7 E 14 C 21 E - -
Segundo dados de 2004 divulgados pelo IBGE, 25% do produto interno bruto (PIB) dos municípios
brasileiros concentram-se em dez cidades, relacionadas, a seguir, em ordem decrescente do PIB: São Paulo
(SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Manaus (AM), Belo Horizonte (MG), Campos de Goytacazes (RJ),
Curitiba (PR), Macaé (RJ), Guarulhos (SP) e Duque de Caxias (RJ). Considerando essas informações,
explique a lógica espacial da distribuição da riqueza brasileira por setores de atividades.
Resolução da questão:
Em relação às outras regiões metropolitanas, é preciso analisar caso a caso. Em Brasília, o elevado
PIB é explicado principalmente pela presença do setor público, cujos elevados salários dos servidores são
responsáveis por alavancar o setor de serviços. Trata-se de uma cidade planejada, de urbanização induzida
pelo poder público desenvolvimentista durante o final dos anos 1950. Em Curitiba, o PIB elevado pode ser
explicado pela proximidade ao polo industrial de São José dos Pinhais, ao Porto de Paranaguá (considerado
o segundo maior do país, somente atrás do Porto de Santos); e pela posição estratégica entre os polos
industrias catarinenses e paulistas. Destaca-se também, a elevada produção de soja do interior, bem como
produtos como feijão e trigo, que acabam dinamizando indiretamente a região metropolitana.
A grande surpresa fica por conta do crescimento das cidades médias na participação do Produto
Interno Bruto. Neste quesito se enquadram as cidades petroleiras de Campos dos Goycatazes, Macaé e
Duque de Caxias, que graças ao “ouro negro”, constituem o ranking das dez principais cidades do Brasil em
relação ao PIB. Nas últimas décadas – sobretudo entre 2002 e 2010, o crescimento da Petrobrás e a
descoberta do pré-sal provocou um boom de crescimento e especulação em torno destes municípios.
Tratam-se de cidades que propiciam o acesso à maior bacia petroleira do Brasil, a Bacia de Campos. Inclusive,
Duque de Caxias abriga uma refinaria da Petrobrás.
Por fim, Guarulhos – uma das maiores cidades do Brasil – está diretamente vinculada à capital
paulistana, por onde são processados os maiores fluxos comerciais. Curiosamente, embora o movimento
de desconcentração industrial tenha afetado a Região Metropolitana de São Paulo de forma incisiva,
Guarulhos ainda possui elevado potencial industrial. Trata-se de um município muito bem servido por
equipamentos de infraestrutura como a Rodovia Presidente Dutra (BR-116) e o Aeroporto Internacional de
Cumbica, o maior do país. Além disso, Guarulhos compõe a megalópole Rio-São Paulo, a única do Brasil, e
também, a área mais dinamizada do país.
- Situar os principais municípios com base no REGIC (IBGE, 2007) Grande Metrópole Nacional (São
Paulo) e Metrópoles Nacionais (Brasília e Rio de Janeiro).
- Entender os processos históricos das principais cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São
Paulo, Brasília, Manaus, Curitiba)
- No Rio de Janeiro, entender o crescimento da cidade baseado na produção aurífera de Minas Gerais,
na Família Real Portuguesa, e na produção industrial.
- Em Curitiba, entender o crescimento da cidade baseado na industrialização (destaque para São José
dos Pinhais) e na sua posição estratégica para o escoamento de produtos agrícolas.
- Em Belo Horizonte, entender o crescimento da cidade baseado na indução do Estado (assim como
Brasília, foi uma cidade planejada), e também na produção do Quadrilátero Ferrífero.
- Em Manaus, entender o crescimento urbano baseado na Zona Franca de Manaus e nos ciclos da
borracha.
- Relacionar o crescimento urbano de Campos dos Goycatazes, Macaé e Duque de Caxias com a
atividade petrolífera, especialmente em relação ao pré-sal.
- Em Guarulhos, relacionar o crescimento urbano e industrial com a proximidade à São Paulo e aos
importantes equipamentos urbanos (Rodovia Dutra e Aeroporto de Cumbica).
Em 2007, o IBGE elaborou estudo acerca das regiões de influência das cidades, em que se
configurou uma hierarquia formada por uma grande metrópole nacional e centros metropolitanos
secundários. Descreva o processo econômico-social que tem condicionado a evolução da rede urbana
brasileira
Resolução da questão:
A urbanização brasileira ocorreu de diversas formas, de acordo com o momento histórico e com as
especificidades de cada território. No sul e no sudeste, resultou na formação da Região Concentrada, onde
o meio técnico-científico-informacional está mais presente. Segundo o IBGE, São Paulo consiste na “Grande
Metrópole Nacional”, sendo o centro de gestão mais importante do país. Em seguida, destaca-se as
“Metrópoles Nacionais” Brasília e Rio de Janeiro. A Região Concentrada concentra também, grande parte
das capitais regionais e das demais metrópoles apontadas no estudo o IBGE.
O crescimento da região concentrada teve origens históricas. Alavancada pelas produções aurífera
(Minas Gerais), cafeeira e industrial (São Paulo e Rio de Janeiro) e pela chegada de grandes contingentes
migratórios provenientes da Europa (especialmente no século XIX), e da região nordeste do país (século XX),
a região sudeste consiste hoje, na maior área urbanizada do país. A região sul, por sua vez, embora hoje
abrigue importantes polos industriais como os de Joinville (SC) e São José dos Pinhais (PR), bem como
próspera agricultura, teve processos de urbanização diferenciados. Iniciadas pelo campesinato europeu
ainda no século XIX, as malhas urbanas sulinas são, no geral, mais equilibradas, com menores desigualdades
intraurbanas e melhor distribuição espacial em contraste aos profundos contrastes do sudeste. Por sua vez,
o centro-oeste destacou-se pela construção de Brasília (1960) e pelos recentes movimentos de
modernização agropecuária protagonizados pela Revolução Verde. Deste modo, constituindo o centro de
gestão do poder público federal, a hinterlândia da “metrópole nacional” Brasília abrange todo o território
brasileiro.
De forma geral, durante as quatro últimas décadas, o crescimento do Centro-Sul esteve atrelado aos
processos de “desconcentração concentrada”, isto é, o espalhamento da indústria – outrora concentrada
nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro – para os demais estados e cidades médias da Região Concentrada.
Destaca-se, por exemplo, a instalação da Fiat em Betim (MG), da Renault em Curitiba (PR), da Toyota em
Indaiatuba (SP), ou da Ford em Camaçari (BA) – esta última, já na região nordeste, que também se
beneficiou, embora em menor grau, dos processos de desconcentração.
A região nordeste, por sua vez, abriga os núcleos urbanos mais antigos do Brasil, especialmente
Salvador (BA), e Recife (PE), datadas do início do período colonial, quando o governo português implantou o
sistema de plantation canavieiro da região. No século XX, no entanto, o crescimento urbano das regiões
norte e nordeste deu-se, em grande parte, pelo estímulo estatal. Destaca-se, neste sentido, a Zona Franca
de Manaus, os polos industriais de Santarém (PA) e Belém (PA), e de Carajás (PA); além dos polos
industriais de Camaçari (BA), e dos portos de Pecém (CE) e Suape (PE).
- Saber que a Grande Metrópole Nacional é São Paulo, e que as Metrópoles Nacionais são Rio de
Janeiro e Brasília (não é necessário decorar toda a malha urbana brasileira, mas saber destas
informações é essencial!)
- Situar o crescimento da região sul aos fatores históricos como a imigração europeia (séc. XIX) e à
industrialização e urbanização daí decorrentes.
- Especificar que a rede urbana da região sul é a mais equilibrada do Brasil; enquanto isso, a da região
Norte é a menos equilibrada.
- Saber citar exemplos desta desconcentração utilizando o caso da indústria automobilística (justamente
porque é o setor industrial mais expressivo do Brasil face ao Mercosul).
- Situar o crescimento da região nordeste à luz da ocupação histórica (desde o século XVI), à indução do
Estado no século XX, e aos programas sociais do século XXI.
Caracterize a situação atual do Distrito Federal (DF) no território brasileiro, refira-se às motivações
para a construção de Brasília, obra mais emblemática da política nacional-desenvolvimentista no Brasil, e
para a criação do DF e avalie se os objetivos apresentados à época foram atingidos até o momento atual.
Resolução da questão:
Historicamente, o território brasileiro foi intensamente ocupado no litoral e pouco povoado nas
porções interioranas, causando profundas discrepâncias regionais. No entanto, durante o decorrer do século
XX, foram realizadas várias tentativas de interiorizar o desenvolvimento econômico e demográfico.
Inicialmente proposta por Getúlio Vargas, a “marcha para oeste” foi efetivamente iniciada nos anos 1950
por meio do Plano de Metas de Juscelino Kubitscheck. Por meio da aquisição de empréstimos e capital
estrangeiro, o desenvolvimentismo de JK estimulava principalmente a construção de estradas (estímulo ao
modal rodoviário), a industrialização e da substituição de importações, e a modernização da infraestrutura;
logrando considerável êxito nesta empreitada.
Finalizada em 1960, a construção de Brasília constituiu um dos principais pontos do Plano de Metas
de JK, contribuindo de forma expressiva para o crescimento da região centro-oeste. Vale ressaltar que com
o advento da revolução verde (agricultura mecanizada e insumos agrícolas modernos) e da consequente
chegada do meio técnico-científico-informacional no campo, o centro-oeste passou por novo boom de
crescimento a partir dos anos 1970; sobretudo nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Conforme inicialmente esperado, apesar das profundas desigualdades que ainda persistem no espaço
brasileiro, a transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília proporcionou o avanço da
descentralização econômica e populacional do país, ajudando a romper o modelo “arquipélago
econômico”, historicamente caracterizado por “ilhas” de prosperidade regional e falta de integração
nacional.
A inserção da nova capital no centro-oeste provocou a alteração significativa da paisagem local. Para
a construção de Brasília, houve um grande fluxo de imigrantes provenientes da região nordeste. Após as
obras, uma vez desempregados, estes imigrantes – apelidados de “candangos” – se instalaram além do Plano
Piloto, mais especificamente nas cidades-satélite de Brasília; contribuindo para o crescimento das periferias
urbanas e para o acirramento das desigualdades sociais até hoje vigentes na capital nacional. Destaca-se,
neste contexto, a ineficácia do planejamento econômico e ambiental, que desconsiderou o impacto que a
mão de obra ociosa e marginalizada causaria no espaço urbano. Tal experiência já havia ocorrido, dadas as
devidas proporções, em Belo Horizonte – capital mineira planejada no início do século XX para 100.000
habitantes, cuja região metropolitana, no entanto, chegou a seis milhões em 2015. Atualmente, a área
urbana da metrópole brasiliense possui mais de quatro milhões de moradores, sendo inserida pelo IBGE na
categoria “Metrópole Nacional”, que juntamente com Rio de Janeiro, é caracterizada principalmente pelo
alto grau de influência urbana. De acordo com o IBGE, São Paulo, sendo a única “Grande Metrópole Global”
do país, é a única cidade de categoria superior à Brasília.
Situada relativamente próxima ao centro geográfico do Brasil, em pleno Planalto Central, região de
cerrado, a nova capital também aproxima-se, estrategicamente, das nascentes dos rios São Francisco e
Araguaia, dois dos principais cursos d’água do país. Do ponto de vista econômico, embora seja fraca nos
setores agrícola e industrial, a aglomeração urbana de Brasília possui o terceiro maior PIB do país, somente
atrás de São Paulo e Rio de Janeiro. Também constitui a quarta região metropolitana mais populosa, atrás
de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Este dinamismo, pode ser em grande parte explicado pelo alto
número de funcionários públicos bem remunerados, cujo alto poder aquisitivo alimenta um expressivo
setor de serviços na região. No entanto, assim como ocorre com as demais regiões metropolitanas
brasileiras, o espaço urbano de Brasília é dotado de nítidas desigualdades, especialmente no que tange à
segregação urbana e às diferenças de acesso aos equipamentos públicos – fartos no Plano Piloto e
deficitários nas periferias urbanas. Isto faz com que Brasília também constitua uma das cidades mais
desiguais do país, marcada principalmente pela grande disparidade entre o setor público de alta renda e os
trabalhadores informais pertencentes ao circuito inferior da economia.
Além disso, a concepção de Brasília teve motivações políticas. Preocupado com o clima de
instabilidade, Kubitscheck vislumbrava uma capital que proporcionasse estabilidade de poder. Dotada de
grande distância dos principais centros urbanos do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e cidades da Zona da
Mata nordestina) Brasília representava assim, a solidificação do poder federal face à imensidão do território
nacional. Embora a localização “privilegiada” não impedisse que o golpe (ou contrarrevolução) depusesse
João Goulart em 1964, a distância dos centros urbanos dificultou mobilizações históricas como as Diretas
Já (1985), os Caras Pintadas (1992), ou os protestos mais recentes em 2013 e em 2014/2015 – todos
concentrados em São Paulo, blindando fisicamente o federal.
Em suma, pode-se dizer que Brasília atingiu parcialmente seu objetivo inicial de integração do
território. Por um lado, possibilitou o desenvolvimento da regiões centro-oeste e das áreas adjacentes,
contribuindo para minimizar as disparidades regionais no Brasil. No entanto, ainda hoje este objetivo não foi
plenamente concretizado: de fato, embora Brasília tenha minimizado este cenário, tanto a economia
quanto o contingente demográfico estão majoritariamente concentrados no sudeste e no litoral
nordestino. Deve-se ressaltar que somente São Paulo, estado mais populoso da nação, possui população
superior à soma das regiões centro-oeste e norte, que ocupam a maior parte da área do território brasileiro;
concentrando também, cerca de 1/3 do PIB nacional.
- Entender o estímulo ao modal rodoviário do Plano de Metas (cujas consequências espaciais persistem
até hoje).
- Situar o crescimento de Brasília à Revolução Verde ocorrida no Centro-Oeste a partir dos anos 1970, o
que ajudou a desenvolver a região como um todo.
- Entender que Brasília faz parte de um projeto de desconcentração populacional e econômica, o que
ajudou a romper o "arquipélago econômico".
- Entender que as obras de construção de Brasília provocaram uma grande onda de migração interna
proveniente do nordeste (candangos).
- Compreender que estes candangos, “esquecidos” após as obras, engrossaram as periferias urbanas de
Brasília.
- Situar Brasília na Rede Urbana brasileira (Metrópole Nacional), sendo o terceiro maior PIB do país.
- Entender as razões para a riqueza de Brasília (funcionários públicos bem remunerados e setor de
serviços).
- Entender também, que Brasília é uma das cidades mais desiguais do Brasil (alto contraste econômico
entre Plano Piloto e cidades-satélite).
- Entender que apesar de Brasília ter contribuído para o desenvolvimento do interior do país, a riqueza
ainda continua concentrada em São Paulo e Rio de Janeiro; e que portanto, os objetivos de JK foram
apenas parcialmente atingidos.
Bibliografia sugerida
Para aprofundar os conhecimentos em Geografia Urbana, recomendo dois estudos práticos sobre o
assunto. Para o contexto nacional, o REGIC do IBGE, cuja última versão é de 2007. Trata-se de um compilado
de mapas e dados sobre a rede urbana brasileira. Para o cenário internacional, o World Urbanization
Prospects, que sendo elaborado pela ONU, faz diagnósticos e prognósticos da urbanização mundial. Em
ambos os casos, recomendo não se preocupar com os tabelões gigantes nem com as longas introduções
metodológicas, mas sim, com os resultados práticos.
IBGE. Região de influência das cidades, 2007 (REGIC). Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/estruturas/PZEE/_arquivos/regic_28.pdf>
Do ponto de vista teórico, não poderia deixar de recomendar o Natureza do Espaço, um clássico do
geógrafo Milton Santos, no qual ele versa sobre o Espaço Geográfico – não só urbano, mas de forma geral.
Se a leitura for muito pesada, poderá pegar resenhas na internet (existem várias).
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 2004. Disponível em: < http://files.leadt-
ufal.webnode.com.br/200000026-4d5134e4ca/Milton_Santos_A_Natureza_do_Espaco.pdf >
Na próxima aula, falaremos sobre teorias em Geopolítica (sim, vai dar uma “quebrada” de tema), mas
é um assunto necessário! Aliás, se preparem psicologicamente, pois as duas próximas aulas serão sobre
Geopolítica!