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Aula 03

Geografia p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Pós-Edital

Alexandre Vastella

25870774004 - Luiz Martins


Prof. Alexandre Vastella
Alexandre Vastella
Geografia para o CACD 2019
Aula 03

Aula 02 – Geografia Econômica


Sumário

Recado inicial ........................................................................................................................ 2


Globalização e Divisão Internacional do Trabalho ................................................................ 2
Histórico da globalização e divisão internacional do trabalho ................................................................... 3
Do fordismo à acumulação flexível ............................................................................................................ 6
Globalização contemporânea e integração comercial ............................................................................... 8
1339173
Panorama geral da economia global ....................................................................................................... 10
Panorama geral da economia latino-americana...................................................................................... 13
Os limites da globalização ................................................................................................... 20
Padronização cultural e choque de civilizações ........................................................................................ 20
Crises financeiras, protecionismo e Guerra Comercial ............................................................................. 22
OMC, Doha e a polêmica agrícola ........................................................................................................... 31
As desigualdades sociais e a “globalização perversa” .............................................................................. 34
Disparidades regionais no Brasil ......................................................................................... 38
Disparidades econômicas e regionais no Brasil ........................................................................................ 38
Brasil e os estereótipos regionais ............................................................................................................ 42
Planejamento territorial no Brasil ....................................................................................... 44
Brasil Arquipélago e o planejamento regional ......................................................................................... 44
Vargas à Jânio: início do planejamento centralizado ............................................................................... 46
Governo Militar: o estado como agente de desenvolvimento .................................................................. 47
Redemocratização no Brasil e as novas faces do planejamento ............................................................... 50
Lista de questões ................................................................................................................. 52
Gabarito ................................................................................................................................................. 58
Treinamento em discursivas ............................................................................................... 58
Economias da China e da Índia (CACD 2008) ........................................................................................... 58
Globalização e categorias de análise da Geografia (CACD 2005) ............................................................. 61
Globalização (hipotética) ........................................................................................................................ 62
Bibliografia sugerida............................................................................................................ 64

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Recado inicial
Caros alunos, depois da aula inaugural sobre História da Geografia, e da segunda aula sobre
Geografia da População, iniciaremos hoje o terceiro item do edital, que consiste em temas voltados à
Geografia Econômica. Por se tratar de um item com muitas questões, e que portanto, costuma cair mais
no CACD, este será subdivido em três aulas consecutivas, a serem ministradas de acordo com a seguinte
sequência:

AULA 03 - Geografia Econômica 3.1 Globalização e divisão internacional do trabalho.


Parte I 3.4 Disparidades regionais e planejamento no Brasil.

AULA 04 - Geografia Econômica


3.2 Formação e estrutura dos blocos econômicos internacionais.
Parte II

AULA 05 - Geografia Econômica


3.3 Energia, logística e reordenamento territorial pós-fordista.
Parte III

Globalização e Divisão Internacional do Trabalho


Antes de entendermos o que é globalização, divisão internacional do trabalho, e suas
consequências no espaço geográfico – assuntos demasiado complexos e abstratos – precisamos
compreender os contextos que as antecederam, e isto não é tarefa fácil. O principal motivo desta
dificuldade é a que não há consenso sobre a origem da globalização: enquanto alguns pesquisadores
sugerem que esta constituiria um fenômeno exclusivo das últimas três décadas, portanto, uma realidade
contemporânea que se teria se consolidado a partir dos anos 1990; já para outros, os primeiros processos
de globalização teriam se iniciado no século XV, ou até mesmo antes, tendo sido paulatinamente
amadurecidos até chegar no contexto atual.

Definição geral de Globalização

Embora este conceito possa divergir entre os autores, de forma, geral, globalização diz respeito à
integração econômica, cultural, técnica, e comercial entre os diferentes povos do globo. Para ser
globalização, esta integração precisa necessariamente ocorrer em diferentes partes do mundo (escala
global),e não somente em escala regional.

A globalização começou no século XV, e depois de várias fases, atingiu o


Fases da globalização
ápice no século XXI.

Apesar dos movimentos anteriores, só a partir dos anos 1990 que houve,
de fato, a globalização. Quando a Cespe mencionar o termo
“Globalização única”
“Globalização” sem se referir a nenhuma época específica, considere o
período pós-1990.

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De forma geral, tendo em vista esta discussão, pode-se extrair a seguinte premissa: o mundo está
se integrando, no âmbito científico, político, econômico, cultural, e militar, pelo menos desde o século XV;
no entanto, somente a partir dos anos 1990 do século XX que esta integração atingiu seu ápice,
consolidando o que Manuel Castells chama de capitalismo informacional, ou o que Milton Santos chama de
meio-técnico-científico-informacional; isto é, um sistema de integração global baseado no alto fluxo de
técnicas, finanças e informações; acarretando assim, em profundas alterações na Divisão Internacional do
Trabalho – ou seja, em como as pessoas produzem e trocam mercadorias.

Histórico da globalização e divisão internacional do trabalho

Polêmicas de lado, para sermos mais abrangentes, vamos considerar para este item a história da
globalização em quatro fases, desde o século XV até os dias atuais.

1 - Primeira Fase da Globalização: O início da integração global

Séculos XV a XIX: as Grandes Navegações e a expansão europeia

Antes do século XV o mundo vivia em relativo isolamento, na qual o continente europeu,


apresentando resquícios do feudalismo, possuía economias parcialmente autônomas e carecia de
integração política. No entanto, a partir deste período os países do continente se lançaram ao mar,
principalmente Espanha e Portugal, processo que ficou conhecido como Grandes Navegações. Logo, foram
estabelecidas colônias ultramarinas, e com elas, a primeira divisão internacional do trabalho, pautada na
relação entre metrópoles europeias e colônias situadas na África, na América, e na Ásia.
Neste sistema que vigorou até o século XIX, as colônias forneciam, para os países centrais, matérias
primas como metais preciosos, especiarias e produtos agrícolas e florestais, além de mão de obra escrava.
Enquanto isso, as metrópoles, sendo centros econômicos mais desenvolvidos, produziam bens
manufaturados para serem consumidos em suas possessões.
De certo modo, as Grandes Navegações
abriram, de forma irreversível, um período de
integração comercial, econômica, técnica e
cultural, o que alguns estudiosos chamam de
Primeira Fase da Globalização; possibilitando
assim, um significativo intercâmbio de técnicas
comerciais, científicas, e arquitetônicas. Por
exemplo, equipamentos de navegação utilizados
pelos europeus como a bússola e o astrolábio
foram respectivamente invenções chinesa e
árabe.
Além da Europa Ocidental, povos se

Primeira Divisão Internacional do Trabalho baseada na relação entre metrópole e articulavam de forma regional em locais como
colônia. Na imagem, viagens portuguesas ao mar e produtos extraídos em cada Golfo Pérsico, Norte da África e Egito, Índia,
região.

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domínios do Império Mongol, China, Oceania, América Central, entre outros. Não é possível, portanto,
estabelecer uma data de início para a famosa “integração global” que ocorre nos dias de hoje, mas é fato
que as Grandes Navegações foram um grande marco para seu início.

2 - Segunda Fase da Globalização: A integração por meio da indústria

Séculos XVII a XX: a industrialização europeia e o início do capitalismo

Outro grande salto de integração ocorreu com a Primeira Revolução Industrial, iniciada na
Inglaterra e na França nos séculos XVII e XVIII. A partir deste período a acumulação primitiva de capital
possibilitou que as grandes metrópoles se industrializassem, complexificando a especialização produtiva
global, iniciando assim, a Segunda Divisão Internacional do Trabalho. Se anteriormente predominam as
relações metrópole-colônia, nesta época passou a vigorar um sistema econômico baseado nas relações
comerciais entre países industrializados (antigas metrópoles) e países fornecedores de matéria prima
(colônias ou ex-colônias).

Tecelagem inglesa do séc. XVIII: nesta época, Europa precisava de mercados de consumo além-mar. Esta nova divisão do trabalho configurou a
Segunda Fase da Globalização.

Embora a relação de poder tenha sido inalterada – países europeus exercendo dominância
geopolítica e colônias americanas, asiáticas e africanas fornecendo commodities – a estrutura desta relação
se ampliou: além de extraírem matéria prima, os países europeus agora tinham a preocupação de
estabelecer um mercado consumidor para seus produtos industrializados a fim de alimentar o recém
implantado sistema. Trocava-se assim, de forma gradual, a mão de obra escrava pela assalariada nas
colônias. Não por acaso, por exemplo, a Inglaterra foi o primeiro país a se industrializar, e também um dos
primeiros a proibir o tráfico negreiro. Assim, após a industrialização partir do século XIX, iniciava-se a
Segunda Fase da Globalização, etapa esta, que prosseguiu até o século XX. Desta época, popularizaram-se
grandes avanços técnicos no âmbito dos transportes e da comunicação que intensificaram a articulação
territorial, tais como ferrovias, telégrafos, telefones, automóveis, aviões, sistemas de rádio, entre outros;
havendo assim, expressivo aumento da integração econômica iniciada nas Grandes Navegações do século
XV.

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3 - Terceira Fase da Globalização: Integração pela concorrência ideológica

1945 até 1989: a expansão do socialismo e do capitalismo pelo mundo

Entre o final da Segunda Guerra Mundial e queda do muro de Berlim –


mais especificamente entre 1945 e 1989 – o mundo esteve regionalizado de
forma dual entre dois projetos de poder antagônicos: o socialismo soviético e o
capitalismo estadunidense, configurando uma ordem bipolar, ou ordem da
Guerra Fria. Os pesquisadores chamam este período de Terceira Fase da
Globalização, quando a rivalidade entre dois projetos expansionistas
protagonizou o avanço da integração global. Nesta época, consolidou-se o
modelo fordista de produção, responsável pela elevação expressiva da
produtividade industrial, melhor descrito em item posterior.
Alavancadas pela corrida armamentista entre Estados Unidos e União
Soviética, inovações técnicas deste período incluem as imagens de satélite e o
sistema de posicionamento global (GPS), bem como o forno de micro-ondas e a
penicilina. Além disso, embora sejam mais populares hoje em dia, os
computadores e a internet surgiram nesta fase da globalização.

4 - Quarta fase da Globalização: A globalização propriamente dita

Anos 1990 até hoje: avanço da tecnologia e o encurtamento das distâncias

A partir dos anos 1990, com a falência da economia socialista, o capitalismo consolidou-se como
sistema econômico global, sendo hegemônico em (quase) todos os locais do globo, período este, que
chamamos de ordem multipolar, ou, a Quarta Fase da Globalização.ao contrário do
que ocorria nas décadas anteriores – onde o mundo estava dividido entre
ideologias políticas – atualmente, a regionalização global é feita por meio de
blocos econômicos (assunto que veremos na próxima aula) que ocorrem
principalmente ao redor dos grandes centros do capitalismo global que
são: Estados Unidos, Europa Ocidental, Japão, e mais recentemente, a
China. Não por acaso, foi justamente em 1989 – ano oficial da queda do
Muro de Berlim – que ocorreu o Consenso de Washington, um encontro
entre políticos e economistas na capital dos Estados Unidos. O principal
objetivo do evento era fornecer um receituário para implantar o
(neo)liberalismo econômico nos países da América Latina, pautado
principalmente no livre mercado, na redução do papel do estado, na
abertura de fronteiras comerciais, e no equilíbrio fiscal – medidas fortemente recomendadas às nações
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). No Brasil, tais políticas refletiram, por exemplo, na privatização
de empresas de transporte, mineração, e telecomunicações; além de maior abertura à compra de produtos
importados.
Além da questão política, o fator técnico foi crucial para o desenvolvimento da globalização, em
destaque a Terceira Revolução Industrial, ou Revolução Técnico-Científica-Informacional, iniciada de
forma descentralizada no final do século XX. Trata-se de uma onda de inovação científica e descobertas

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tecnológicas que alteraram profundamente os modos de vida e produção; como por exemplo, a
informática, a internet, a robótica, a genética, a eletrônica, a bioquímica e a química fina, e avanços nos
sistemas de transporte e telecomunicações.
Assim, com a “vitória” do capitalismo sob o socialismo oficializada no Consenso de Washington, e
com a revolução técnico-científica-informacional nos últimos anos, intensificaram-se os fluxos comerciais,
financeiros, tecnológicos, informacionais, culturais, entre outros, aumentando a integração e a
aproximação entre os povos e os locais do planeta. De forma geral, estes processos são chamados de
globalização, afetando direta e imensamente nosso dia a dia.

Resumo das Fases da Globalização e da Divisão Internacional do Trabalho

Fase da:
Contexto Divisão Internacional do Trabalho
Globalização DIT

Século XV ao XIX: Grandes A Europa extraía matéria prima das colônias na


Primeira Primeira Navegações e expansão América, na Ásia e na África, e vendia seus
colonial europeia produtos manufaturados para estes locais.

Século XIX a primeira


metade do século XX: A Europa extraía matéria prima das colônias na
Segunda Segunda Revolução Industrial e América, na Ásia e na África, e vendia seus
expansão industrial produtos industrializados para estes locais.
europeia

1945-1989: Guerra Fria e Estados Unidos e União Soviética expandiam


Terceira
Ordem Bipolar seus domínios militares e comerciais

Terceira (a EUA, Europa e Japão (mais recentemente a


partir dos China) consolidam-se como centros globais do
1989-presente: Nova
anos capitalismo. Países periféricos fornecem matéria
Ordem Mundial e
Quarta 1970/1980) prima e produtos industrializados de baixo valor
fortalecimento do
agregado. Países centrais fornecem produtos
capitalismo
industrializados de alto valor agregado e
tecnologia.

Do fordismo à acumulação flexível


Além de impactar diretamente na economia, na cultura e
nos hábitos de consumo, a globalização também alterou
drasticamente os modos de produção. No século XX, assistiu-se a
transição do Fordismo para o Toyotismo, ou do método
tradicional para o método de acumulação flexível. Estes sistemas
estenderam-se por toda a cadeia industrial, sofrendo profundas
alterações após a globalização.

Geografia p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Pós-Edital Ford e o modelo Ford-T, ícone da produção fordista

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No início do século XX, o industrial Henry Ford (1863-1947) adotou o que posteriormente ficou
conhecido como Fordismo, um modelo industrial baseado na produção e no consumo em massa. Até
então, automóveis eram extremamente caros, sendo restritos às classes mais ricas; Ford queria então, que
seus produtos fossem consumidos pelas classes populares. Para isto, era necessário criar um sistema que
otimizasse a produção e reduzisse os custos.
No modelo fordista, havia uma especialização do trabalho, na qual o funcionário realizava apenas
uma pequena etapa do produto final, montado por vários empregados. No caso da Ford, o funcionário
passava o dia todo na mesma posição enquanto uma esteira rolante conduzia as peças a serem montadas.
Não era necessário, portanto, mão de obra qualificada. Embora maximizasse os lucros, este processo
causava o que Marx chama de alienação do trabalho, que é a falta de visão geral sobre a produção. Apesar
de ter elevado a produção e popularizado o automóvel pelo mundo, o fordismo encontrava falhas, entre
elas a sua rigidez: para ser barato, a produção precisava ser de larga escala, sem margens para
personalização.

Na produção just-in-time, típica da globalização, evita-se a formação de estoques, privilegiando a entrega imediata mediante rede de fornecedores
e terceiros.

A partir do final da década de 1970, novas mudanças no mercado fizeram a substituição do


Fordismo pelo Toyotismo ou modelo de acumulação flexível. Neste sistema: a) não é mais necessário
produzir todas as peças dentro da unidade industrial, nem possuir todo o controle da matéria prima, pois
com a aceleração da técnica e dos fluxos, passou a ser mais vantajoso ter uma rede de fornecedores que
enviem somente os insumos necessários; b) ao invés da padronização, a personalização do produto passou
a ser fator decisivo na hora da venda; c) o funcionário, antes fazendo trabalho braçal e alienante, passa a
ser qualificado para lidar com as novas demandas científicas, comerciais e tecnológicas condizentes à sua
função, tendo assim, conhecimento de várias etapas do processo de produção; d) por outro lado, aumenta-
se a terceirização e diminui-se o quadro de funcionários fixos; e) no lugar dos antigos super-estoques, só se
produz de acordo com a demanda, em cima da hora, ou, just-in-time. Justamente por esta flexibilidade,
David Harvey chama este período de acumulação flexível – um conjunto de práticas para quebrar a rigidez
fordista. Este novo modelo, é, portanto, condizente com a práxis da globalização.

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Fordismo Toyotismo

Defeitos no produto só eram identificados no final Os operários interrompem a produção a qualquer


da linha de produção momento para consertar falhas

A empresa fabricava muitas das peças que A maioria das peças é feita por outras companhias, os
compunham o seu produto fornecedores

Para não faltar peças, estas eram produzidas em O estoque é mínimo. Os fornecedores entregam as
excesso, gerando estoques peças quando a companha solicita.

O operário-modelo era aquele que melhor obedecia O operário-modelo é aquele que identifica problemas
às diretrizes de seus superiores e propõe soluções

O funcionário devia se preocupar apenas com as O funcionário deve se preocupar com a aplicação que
tarefas imediatas o produto terá depois de vendido

A empresa devia executar os projetos feitos pelos A empresa deve planejar a produção de modo a
seus engenheiros atender aos desejos de seus clientes

Em outras palavras, enquanto o fordismo era o sistema de produção característico da Terceira Fase
de Globalização, o toyotismo, dada a sua natureza dinâmica, é típico da Nova Divisão Internacional do
Trabalho, ou da Quarta Fase da Globalização, marcadas pela agilidade e pela flexibilização das relações
trabalhistas.

Globalização contemporânea e integração comercial


Com o avanço tecnológico e o
consequente barateamento dos sistemas de
transporte, o território se fluidificou, e a localização
deixou de ser fator primordial nas relações
produtivas. A partir dos anos 1990, empresas
europeias e norte-americanas têm transferido ou
terceirizado seus sistemas produtivos para a China e
para países subdesenvolvidos, de relações
trabalhistas flexíveis, onde a mão de obra é menos
onerosa. No mesmo período, aqui no Brasil, iniciou-
se a guerra fiscal, onde estados e municípios
competiam entre si oferecendo incentivos para que
as empresas se instalassem em suas localidades.
Assim, com o aumento da capilaridade das Cadeia de produção de avião da Boing: um exemplo da Nova Divisão
Internacional do Trabalho
empresas transacionais e multinacionais1, reduziu-

1
Não confundir: a empresa multinacional possui SEDE em seu país de origem mas unidades em vários países (comando
centralizado); já a transnacional possui FILIAIS em vários países (comando descentralizado).

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se o poder dos estados nacionais sob seus territórios, que passaram a ser em grande parte controlados
pelo capital internacional; ampliando por outro lado, o poder técnico-econômico.
Neste contexto, as empresas contemporâneas – sobretudo às do ramo tecnológico e
automobilístico – além de possuírem filiais em diversos países, dependem de peças, equipamentos, e
tecnologias provenientes de várias partes do mundo. Os modernos jatos da Boing, por exemplo, são
construídos com peças japonesas, italianas, estadunidenses, australianas, canadenses, etc. Face a um
mundo globalizado, não vale a pena produzir todas as peças localmente; desta forma, as empresas
extraem o melhor de cada território, tornando as cadeias produtivas cada vez mais complexas. Este
fenômeno é chamado de Nova Divisão Internacional do Trabalho.
Neste ínterim, o aumento dos fluxos comerciais e a evolução das redes técnico-informacionais
possibilitaram também, o aumento da fluidez nas transações financeiras, alavancando as bolsas de valores
ao redor do mundo e dando maior liberdade ao capital. Para Karl Marx, a sociedade estaria dividida entre
burguesia (detentora dos meios de produção) e proletariado (não-detentora dos meios de produção); ou
seja, entre ricos e pobres. Apesar de fazerem sentido nesta época, tais conceitos são insuficientes para
descrever o capitalismo contemporâneo. Hoje, com as companhias sendo loteadas nas bolsas de valores,
teoricamente qualquer pessoa – mesmo de baixa renda, e ainda que não tenha poder de decisão sob a
mesma – pode comprar uma ação, tornando-se proprietária de uma fração de uma determinada
empresa. Existindo há muitas décadas, as bolsas de valores ganham novo significado na globalização, no
qual os fluxos de capital financeiro superam os fluxos comerciais com mercadorias reais.

Mapa dos principais fluxos aéreos do século XXI: aldeia global?

Se por um lado, as companhias encontram cada vez menos barreiras geopolíticas para a sua
expansão, estando presentes em vários países do globo, os estados nacionais – pressionados pelo FMI e
pela OMC – precisam cada vez mais encarar estas novas configurações territoriais. Com a intensificação dos
fluxos típica da globalização e o consequente aumento de capilaridade das finanças, há um aumento de
poder das grandes empresas, e uma redução de poder dos estados nacionais. Afinal, se anteriormente o
poder estava condicionado à um determinado território, com a globalização, passou a ser difuso: hoje, nas
grandes empresas, não sabemos quem é o dono. Até porque, uma vez que possuem capital aberto, são
controladas por talvez, milhares de acionistas.

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Relações entre estado e grande empresa antes e depois da globalização

Antes da globalização Depois da globalização

• Condicionava suas atividades aos


territórios de origem. Por exemplo, ficava
só no Brasil. • Está presente em vários países.
Grande • Instalava-se perto do mercado • Instala-se onde tem mão de obra barata,
empresa consumidor, geralmente próximo às áreas independentemente da distância.
urbanas. • Terceiriza o que for necessário.
• Produzia o que fosse necessário em suas
dependências.

• Tinha um controle maior sob as


• Tem um controle frágil sob as empresas, pois
empresas, afinal, a maioria estava sediada
a maioria não está sediada em seu território.
em seu território.
Estado • Com empresas de capital aberto, fica ainda
• Guerra Fiscal era rara, pois empresas
mais difícil a regulação.
dependiam da proximidade do mercado
• Estados e países competem na Guerra Fiscal.
consumidor.

Panorama geral da economia global


A nova divisão internacional do trabalho fica bem clara quando analisamos os valores do Produto
Interno Bruto (PIB) das principais economias mundiais. Assim, nas linhas abaixo, vamos analisar
brevemente os principais atores da globalização: Estados Unidos, China, Japão, e União Europeia.

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Dados do FMI (2018) indicam que o Brasil é a nona maior economia. Estados Unidos, China, Japão e União Europeia encabeçam os maiores PIBs globais.

Os Estados Unidos da América lideram o ranking


com PIB de 18 trilhões de dólares, consolidando sua
posição como a maior potência econômica e militar desde
pelo menos a Segunda Guerra Mundial, sendo também, o
principal centro do meio técnico-científico-informacional.
No entanto, após quedas constantes desde 2004, entre
2008 e 2009, o crescimento do PIB foi negativo; fato
explicado principalmente pela crise de 2008 que resultou
no estouro da bolha imobiliária, na falência do crédito
subprime, na quebra do banco Lehman Brothers e em
outras consequências negativas. Apesar da crise – que foi a
maior desde 1929 – os Estados Unidos conseguiram
retomar o crescimento da economia; cujo PIB deverá se
elevar, mesmo que em ritmo decrescente, até pelo menos o início da década seguinte.
Historicamente, a China não figurou entre as principais
economias globais. No entanto, nas últimas décadas, seu
crescimento tem sido extremamente acelerado: Em 1960, o
PIB chinês era de U$$ 60 bilhões; em 1990, de quase U$$ 200
bilhões; e em 2016, de impressionantes U$$ 11 trilhões [fonte].
Apesar de oficialmente ser uma ditadura comandada
unicamente pelo Partido Comunista, sendo recorrentes
violações de liberdades individuais e direitos humanos, a China,
por meio de seu “capitalismo de estado”, protagonizou um
crescimento de mais de 14% (!) do PIB somente em 2007, ápice
de um longo período de evolução. Atualmente, o país
consolida-se como segunda maior potência econômica mundial,
devendo ultrapassar os Estados Unidos até a virada da próxima década.
Não existe uma única explicação para este sucesso; no entanto, podemos traçar um quadro geral.
Primeiramente, após inúmeras dificuldades decorrentes do fracassado sistema econômico socialista
implantado por Mao-Tse-Tung; nos anos 1970, através do ministro Deng Xiaoping, a China se abriu ao
mercado capitalista, por meio de um amplo programa de privatizações e concessões que incluía zonas
especiais de investimento e atração de capital estrangeiro.

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Além disso, a mão de obra chinesa – historicamente desvalorizada por um mercado fechado – serve
até hoje de atrativo para empresas estrangeiras e subsidiárias. No entanto, ao contrário do que muitos
pensam, a economia chinesa não é totalmente aberta ao mercado, mas sim, estimulada pelo estado por
meio de pacotes artificiais de investimentos. Para alguns analistas [fonte], este modelo de crescimento
seria insustentável, afinal, os próprios dados garantem a desaceleração do PIB desde 2011.

Arranha-céus na cidade de Shanghai, China: apesar do governo comunista, país abraçou o capitalismo e está crescendo de forma vertiginosa.

Voltando ao lado ocidental do planeta, em 2016, o


PIB da União Europeia foi de 19,9 trilhões, devendo chegar
a 24,3 trilhões em 2021, montante superior à China e
Estados Unidos. Entre as principais economias estão
Alemanha (3,5 trilhões), Reino Unido (2,6 trilhões), França
(2,5 trilhões), e Itália (1,8 trilhões). De forma geral, o
crescimento do PIB da União Europeia manteve-se estável
no século XXI, ritmo este, que deverá ser mantido nos
próximos anos; no entanto, há dois momentos de crise que
devem ser ressaltados: a crise financeira de 2008, e a crise
na Zona do Euro de 2011, que impactaram de forma
bastante significativa o crescimento do PIB deste bloco
econômico; principalmente em países altamente endividados como Grécia, Espanha, Chipre, e Portugal.
Terceira maior economia do mundo, o Japão
destaca-se principalmente nos ramos de tecnologia e
precisão, robótica, produção de automóveis, inovação e
criação de patentes, e demais ramos de pesquisa científica
de alto nível, atividades que somadas aos outros setores,
garantem um PIB de 4,7 trilhões de dólares para o país.
Apesar da grande contração em 2009 por decorrência da
crise global do ano anterior, a partir de 2014 o PIB vem
crescendo entre 1,6 e 2,3% ao ano, tendência que deverá
ser mantida para os próximos anos. Analisando os dados
de crescimento do PIB do Banco Mundial (gráfico abaixo),
é possível notar que, apesar da globalização ser “comandada” por Estados Unidos, China, Japão e União
Europeia, na última década os países emergentes cresceram mais do que os países desenvolvidos,
estando portanto, acima da média mundial.

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Geografia Econômica – Parte I de III 12
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Aula 03
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Crescimento do PIB nos últimos 10 anos e projeções - Brasil em


comparação com o contexto mundial
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
-2,0
-4,0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Brasil Mundo Países desenvolvidos Países emergentes

Entre os emergentes estão países como Brasil, Índia, África do Sul, e China; esta última, locomotiva
do crescimento global no cenário pós-crise. De forma geral, estes países não foram tão afetados pela crise
quanto os desenvolvidos como Estados Unidos, Japão, Alemanha e demais pertencentes ao bloco europeu.
Já o Brasil, após alguns anos acompanhando o ritmo do cenário global, entra em recessão somente após
2011, atingindo o pior estado entre 2015 e 2016, que não por acaso, foi um período conturbado para a
política nacional. Apesar da recessão pós-2008, a tendência para os próximos anos é que o crescimento
global seja retomado, inclusive para o Brasil, que se atualmente encontra na pior crise desde os anos 1990,
época da hiperinflação.

Panorama geral da economia latino-americana

Conforme estudamos na Nova Divisão do Trabalho, os países periféricos costumam produzir


commodities e produtos industrializados de baixo valor agregado. É justamente esse cenário que
podemos perceber na América Latina, em maior ou menor grau. No quadro abaixo, foram selecionadas as
maiores economias da região e os vizinhos mais importantes do Brasil – países que possuem maior
probabilidade de caírem no CACD. Para cada país, evidenciam-se os principais produtos exportados de
acordo com o Observatório de Complexidade Econômica (OEC) [fonte]. Conforme este:

Brasil – exportações diversificadas de commodities e industrializados – destaque ao ferro e à soja.

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Aula 03
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O Brasil é basicamente um país agroexportador, mas também exporta industrializados. As principais


exportações são soja (US$ 25,9 bilhões), minério de ferro (US$ 20,1 bilhões), petróleo bruto (US$ 17,4
bilhões), açúcar bruto (US$ 11,4 bilhões) e carros (US$ 6,78 bilhões). Neste último caso, principalmente
para os vizinhos do Mercosul.
Suas principais importações são petróleo refinado (US$ 11,4 bilhões), peças para veículos (US$ 5,1 bilhões),
medicamentos embalados (US$ 3,1 bilhões), circuitos integrados (US$ 3,03 bilhões) e carros (US$ 3,1
bilhões). Perceba que o Brasil exporta commodities, mas importa produtos industrializados; e também,
exporta petróleo bruto e importa petróleo refinado.
Os principais destinos de exportação do Brasil são a China (US$ 48 bilhões), os Estados Unidos (US$ 25,1
bilhões), a Argentina (US$ 17,8 bilhões), os Países Baixos (US$ 7,57 bilhões) e a Alemanha (US$ 6,18
bilhões).
As principais origens de importação são a China (US$ 27 bilhões), os Estados Unidos (US$ 20,4 bilhões), a
Argentina (US$ 9,3 bilhões), a Alemanha (US$ 9,3 bilhões) e a Coréia do Sul (US$ 5,39 bilhões).
No caso da China e da Alemanha, a balança comercial é desigual: o Brasil exporta commodities e compra
produtos industrializados. No caso dos Estados Unidos, há maior diversidade. E, no caso da Argentina, há
uma relação de simetria, com o Brasil importando e exportando produtos industrializados e agrícolas.
Países Baixos só está na lista por conta do Porto de Roterdã, a porta de entrada dos produtos
agropecuários brasileiros na União Europeia.

México – exportação de produtos industrializados e de alta tecnologia via NAFTA

As principais exportações do México são carros (US$ 45,1 bilhões), peças para ceículos (US$ 28 bilhões),
caminhões de entrega (US$ 26,7 bilhões), computadores (US$ 22,5 bilhões) e petróleo cru (US$ 19,5
bilhões). Os principais destinos de exportação do México são os Estados Unidos (US$ 307 bilhões), o
Canadá (US$ 22 bilhões), a China (US$ 8,98 bilhões), a Alemanha (US$ 8,83 bilhões) e o Japão (US$ 5,57
bilhões).
Por conta da área de livre comércio estabelecida pelo NAFTA, o México possui uma economia bastante
diversificada, com produtos sendo exportados e importados tanto para os Estados Unidos quanto para o
Canadá. Já que existem as facilidades da área de livre comércio, é comum empresas estadunidenses de alta
tecnologia, por exemplo, se estabelecerem no México por conta de menores custos operacionais.

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Argentina – produtos agrícolas são o carro-chefe, especialmente soja; em menor grau, industrializados.

As principais exportações da Argentina são farelo de soja (US$ 9,2 bilhões), milho (US$ 4,05 bilhões), óleo
de soja (US$ 3,88 bilhões), caminhões de entrega (US$ 3,29 bilhão) e soja (US$ 2,82 bilhões).
Os principais destinos de exportação da Argentina são o Brasil (US$ 9,3 bilhões), os Estados Unidos (US$
4,6 bilhões), a China (US$ 4,38 bilhões), o Chile (US$ 2,77 bilhões) e o Vietnã (US$ 2,27 bilhões).
Assim como o Brasil, a Argentina é um país agroexportador, concentrando sua pauta em produtos
agrícolas como soja e milho, porém, também exporta industrializados. No entanto, o Brasil é o principal
parceiro dos argentinos, e nesse caso, há maior fluxo de produtos industrializados como automóveis e
peças de automóveis. Uma relação simétrica, portanto.

Venezuela – dependência crônica das exportações de petróleo.

90% das exportações da Venezuela são compostas por petróleo bruto (US$ 22,2 bilhões) e petróleo
refinado (US$ 2,86 bilhões), cujo destino é basicamente Estados Unidos (US$ 11,6 bilhões), China (US$ 6,42
bilhões) e Índia (US$ 5,25 bilhões).
Note que dos países selecionados, a Venezuela é a que possui economia mais frágil, não somente por conta
da crise econômica, mas também pela falta de diversidade, pois o petróleo ocupa quase a totalidade das
exportações venezuelanas. Sendo assim, as oscilações no preço do produto podem prejudicar ou favorecer
muito o país.

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Geografia Econômica – Parte I de III 15
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Aula 03
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Colômbia – combustíveis fósseis dominam exportações, mas também há agrícolas, especialmente café.

As principais exportações da Colômbia são petróleo bruto (US$ 11,1 bilhões), briquetes de carvão (US$
7,63 bilhões), café (US$ 2,7 bilhões), petróleo refinado (US$ 2,06 bilhões) e ouro (US$ 1,45 bilhão),
Os principais destinos de exportação da Colômbia são os Estados Unidos (US$ 11,1 bilhões), o Panamá (US$
2,58 bilhões), a China (US$ 2,02 bilhões), os Países Baixos (US$ 1,86 bilhão) e o México (US$ 1,56 bilhão).
Seguindo o padrão latino-americano, a Colômbia exporta principalmente commodities – combustíveis,
minerais e produtos agropecuários, dos quais se destaca o café. Apesar disso, a economia é mais
diversificada que a venezuelana.

Chile – metade das exportações é de minério de cobre, mas peixes e frutas também se destacam.

As principais exportações do Chile são o minério de cobre (US$ 16,6 bilhões), cobre refinado (US$ 14,9
bilhões), filés de peixe (US$ 2,86 bilhões), pasta de sulfato química (US$ 2,67 bilhões) e cobre bruto (US$
2,41 bilhões).
Os principais destinos de exportação do Chile são a China (US$ 19,2 bilhões), os Estados Unidos (US$ 10,3
bilhões), o Japão (US$ 6,38 bilhões), a Coréia do Sul (US$ 4,06 bilhões) e o Brasil (US$ 3,44 bilhões).
Perceba que a economia chilena – embora seja atrelada às commodities – está projetada geograficamente
para o Oceano Pacífico e para a Ásia, o que difere do padrão de alguns países latino-americanos. O Chile,
além de possuir uma economia mais aberta, voltada ao mercado internacional, faz parte de importantes
blocos e grupos de integração como a Aliança do Pacífico e a APEC.

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Geografia Econômica – Parte I de III 16
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Aula 03
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Peru – minérios, especialmente cobre e ouro, compõem a maior parte das exportações.

As principais exportações do Peru são minério de cobre (US$ 12 bilhões), ouro (US$ 7,13 bilhões), petróleo
refinado (US$ 2,49 bilhões), minério de zinco (US$ 2,1 bilhões) e cobre refinado (US$ 1,77 bilhão).
Os principais destinos de exportação do Peru são a China (US$ 11,7 bilhões), os Estados Unidos (US$ 6,77
bilhões), a Suíça (US$ 2,47 bilhões), a Coréia do Sul (US$ 2,19 bilhões) e a Espanha (US$ 2 bilhões).
Um país tipicamente latino-americano exportador de commodities. Ainda que a agropecuária não seja
muito forte, os minerais ocupam grande parcela da balança comercial.

Uruguai – percentualmente, o maior exportador de carne bovina. Também exporta celulose e agrícolas.

As exportações principais do Uruguai são sulfato de celulose química (US$ 1,43 Bilhões), carne bovina
congelada (US$ 1,14 Bilhões), soja (US$ 671 Milhões), arroz (US$ 464 Milhões) e carne bovina (US$ 391
Milhões).
Os principais destinos de exportação do Uruguai são a China (US$ 2,02 bilhões), o Brasil (US$ 1,32 bilhão), a
Holanda (US$ 492 milhões), os Estados Unidos (US$ 474 milhões) e a Argentina (US$ 452 milhões).
Entre os países selecionados, ainda que os grãos e a celulose sejam importantes, o Uruguai é o que
percentualmente mais exporta carne bovina.

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Geografia Econômica – Parte I de III 17
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Aula 03
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Bolívia – 1/3 das exportações são de hidrocarbonetos, mas minerais também são importantes.

As exportações principais da Bolívia são petróleo (US$ 2,59 Bilhões), minério de zinco (US$ 1,34 Bilhões),
ouro (US$ 1,04 Bilhões), metal precioso do minério (US$ 521 Milhões) e farelo de soja (US$ 444 Milhões).
Os principais destinos de exportação da Bolívia são o Brasil (US$ 1,41 Bilhões), a Argentina (US$ 1,24
Bilhões), a Coreia do Sul (US$ 574 Milhões), a Índia (US$ 552 Milhões) e os Estados Unidos (US$ 542
Milhões).
A economia boliviana é altamente dependente dos hidrocarbonetos – petróleo e gás. Há, inclusive, a venda
expressiva de gás via gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL).

Paraguai – soja é o carro-chefe, compondo metade das exportações.

As principais exportações do Paraguai são soja (US$ 2,19 bilhões), farelo de soja (US$ 741 milhões), carne
bovina congelada (US$ 592 milhões), carne bovina (US$ 577 milhões) e óleo de soja (US$ 482 milhões).
Os principais destinos de exportação do Paraguai são o Brasil (US$ 1,12 bilhão), a Argentina (US$ 749
milhões), o Chile (US$ 648 milhões), a Rússia (US$ 601 milhões) e a Itália (US$ 293 milhões).
Em resumo, o Paraguai exporta, basicamente, soja e carne bovina, uma matriz tipicamente latino-
americana, portanto.

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Aula 03
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CAI NA PROVA

CACD/2018 – A tabela ao lado mostra as


porcentagens, sobre o total da população
ocupada por setor produtivo na América Latina
(AL), no Brasil (BR), no México (MX), no Paraguai
(PG) e no Uruguai (UG), nos anos indicados:

B = baixa produtividade (agricultura, comércio e


serviços);

M = média produtividade (manufatura,


construção, transporte e comunicação); e:

A = alta produtividade (mineração, eletricidade,


gás, água, atividades financeiras e imobiliárias)

Com referência à população trabalhadora


ocupada, na América Latina, e considerando os
dados dos setores produtivos da economia
apresentados na tabela, julgue (C ou E):

1. A maior concentração da população trabalhadora latino-americana ocupada em setores de produtividade


baixa pode ser atribuída à importância do comércio e dos serviços na economia dos países, considerando a
urbanização do território no continente.

COMENTÁRIO

Além da agricultura, a “produtividade baixa” também corresponde aos setores de comércio e serviços:
ambos costumam ser mais expressivos em áreas urbanas. Logo, apesar da agricultura tipicamente
exercida em áreas rurais, é natural que a urbanização provoque o aumento dos trabalhadores ocupados
em “produtividade baixa”. Conforme veremos na aula de Geografia Urbana, a urbanização tende a
provocar o aumento destes dois setores. Isso é um padrão observado não somente no Brasil, mas em
nível continental.

Gabarito: Certo

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2. O incremento considerável de trabalhadores nos setores de mineração e construção civil no México entre
2008 e 2012 está relacionado ao crescimento da mineração no país, com destaque para a exploração de
petróleo e gás e as atividades imobiliárias nas principais áreas urbanas do país, entre as quais se destacam
Cidade do México, Guadalajara e Monterrey.

COMENTÁRIO

Embora a economia mexicana seja diversificada e voltada às exportações de produtos industrializados via
NAFTA, cerca de 5% das exportações do país são de petróleo bruto. Além disso, há um aumento no setor
de serviços nas áreas urbanas, uma tendência verificada nas principais cidades da América Latina e que
veremos com mais detalhes na Aula 07 sobre Geografia Urbana. Gabarito: Certo

3. A relativa diminuição do número de ocupados no setor de baixa produtividade e o aumento no setor de alta
produtividade da economia brasileira, entre 1999 e 2013, é um fenômeno explicado pela perda de
importância das commodities agrícolas para o país, que decorre da crise de exportação no período.

COMENTÁRIO

Ao contrário do afirmado na questão, não há “perda de importância das commodities agrícolas” para o
Brasil. Muito pelo contrário, o setor agropecuário cresceu muito no período por conta de inúmeros
fatores: efeito-china, boom das commodities, investimentos privados e públicos, modernização do setor,
etc. Gabarito: Errado

4. A relativa estabilidade quantitativa da população ocupada no setor de baixa produtividade, no Paraguai e


no Uruguai, entre 2008 e 2013, pode ser atribuída ao fato de a agricultura — para o Paraguai — e a
pecuária — para o Uruguai — serem as principais atividades econômicas desses países.

COMENTÁRIO

As carnes são o carro-chefe da economia uruguaia, em especial a carne bovina congelada, produto que
corresponde a mais de 10% de todas as exportações do país. Já no Paraguai, a soja corresponde a cerca
de 1/3 de todas as exportações. Já que a agricultura é a principal atividade paraguaia e a pecuária, a
principal atividade uruguaia, a questão está correta. Gabarito: Certo

Os limites da globalização
Padronização cultural e choque de civilizações
A aceleração de fluxos promovida pela globalização faz com que a circulação de produtos,
mercadorias e bens culturais seja muito mais rápida. Hoje em dia, pelo menos as áreas urbanas centrais,
estão integradas tanto economicamente quanto culturalmente: de forma geral, as mesmas redes de
alimentação e varejo, os mesmos artistas e as mesmas roupas podem ser encontradas tanto em Nova York
quanto em São Paulo, Paris, ou Tóquio. Isto também ocorre no contexto brasileiro: pelo menos nas grandes
e médias cidades, os hábitos e costumes acabam se tornando parecidos: independentemente da
distância, observam-se os mesmos cantores, filmes, restaurantes, marcas de grife, etc. Embora novos
meios de comunicação como a internet façam ressurgir, por exemplos, artistas e estilos musicais de outras

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Geografia Econômica – Parte I de III 20
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Aula 03
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épocas, de forma geral, a globalização provoca homogeneização cultural e a consequente unificação da


cultura de massa.

Globalização e homogeneização cultural: países com McDonald’s instalados.

Por mais contraditório que possa parecer, a questão cultural é uma grande barreira para a
globalização: se por um lado, a cultura – seja ela artística, literária, musical, enfim – seja cada vez mais
homogeneizada por conta da integração global; por outro, em outras porções do mundo, essa
padronização encontra resistências, como por exemplo, na civilização islâmica avessa aos valores
ocidentais. Avaliando este cenário, o economista Samuel P. Huntington propôs a teoria do Choque de
Civilizações, oposta à fábula da globalização.
De acordo com esta teoria, após o fim da Guerra Fria e a aparente superação da ideologia, os
conflitos ocorreriam em torno da identidade cultural e religiosa entre as diferentes civilizações (mapa
abaixo). Dentro deste cenário, os centros da globalização estariam localizados na civilização ocidental – em
especial Europa Ocidental e Estados Unidos – e na civilização japonesa; sendo as civilizações latino-
americana e africana, regiões periféricas do capital.
Civilizações no mundo contemporâneo de acordo com Samuel Huntington

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Geografia Econômica – Parte I de III 21
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Aula 03
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A grande questão a ser compreendida é que enquanto algumas civilizações são mais receptivas ao
avanço da globalização, outras são mais refratárias. As civilizações islâmica e hindu, por exemplo,
mantêm-se fiéis às suas tradições religiosas e resistem, de certa forma, ao consumismo ocidental. Não raro,
países islâmicos instalam ditaduras religiosas como os sultanados da Península Arábica ou adotam a Lei
Islâmica (sharia), onde não há separação entre estado e religião. Estas diferenças, ao serem incorporadas
em migrações regionais e globais, intensificam os movimentos de xenofobia e engrossam o caldo do
choque de civilizações.
Assim, a imigração de pessoas esbarra novamente na questão cultural. Evidentemente, migrantes
de matrizes culturais semelhantes, como por exemplo, entre a Rússia ou a Ucrânia, ou entre os países da
América Latina, acabam, na maioria das vezes, tendo uma aceitação maior nos países de destino. No
entanto, quando o fluxo é direcionado às diferentes civilizações, como entre islâmicos e cristãos, choques
culturais acabam não por integrá-los, mas sim por desuni-los ainda mais, provocando intensas segregações
socioespaciais.
Deste modo, embora a movimentação econômica seja cada vez mais veloz, a circulação de pessoas
– um dos princípios da globalização – ainda é bastante limitada; que conforme vimos na aula anterior, está
restrita à disponibilidade de mão de obra e à boa vontade dos países receptores. De forma geral,
trabalhadores qualificados encontram maior facilidade de movimentação, sendo úteis às empresas em
países desenvolvidos.

Crises financeiras, protecionismo e Guerra Comercial


Apesar dos impactos positivos da aceleração do capital
financeiro – c atuais, torna-o muito mais instável do que há algumas
décadas, ocasionando vários abalos no sistema econômico como as
crises do México (1994), da Ásia (1997), da Rússia (1998), do Brasil
(1999), da Argentina (2001), e dos Estados Unidos (2008) – sendo esta
última, a maior e mais grave desde a Grande Depressão de 1929
[fonte]. Pelo menos desde o Império Romano, há milhares de anos,
crises econômicas sempre existiram; no entanto, quando a
globalização promoveu a aceleração dos fluxos financeiros, estas se
tornaram cada vez mais frequentes. E felizmente, suas recuperações
mais rápidas.

Dada a grande recorrência das crises financeiras, alguns grupos Bolsa de Nasdaq, Nova York: um dos centros do
militantes e partidos políticos questionam cada vez mais a viabilidade capitalismo global.
do capitalismo como sistema econômico, e também, da própria globalização enquanto conjunto
doutrinário. Por outro lado, para os liberais – em destaque à escola austríaca de economia – as crises
seriam causadas pelo excesso de intervenção estatal nas transações financeiras, e não pela estrutura
econômica global. A crise de 2008, por exemplo, divide opiniões: se para alguns, foi a “prova da falência do
capitalismo” [fonte]; para outros, foi a “prova da ineficiência do governo” [fonte].
Estas crises normalmente impulsionam recrudescimentos do nacionalismo e do protecionismo
comercial; tendências estas, já observadas por geógrafos como Bertha Becker e Milton Santos. Durante os
períodos difíceis, a fim de protegerem seus mercados, países tentam frear a globalização, taxando
produtos importados e subsidiando artificialmente os nacionais. Se por um lado, estas medidas protegem o

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mercado externo da “selvageria” do capitalismo estrangeiro, resguardando os empregos e fomentando a


indústria nacional; por outro, tendem a retroalimentar o atraso tecnológico e estimular a acomodação do
sistema produtivo. A curto prazo, portanto, o protecionismo pode, mesmo que de forma artificial,
estimular a economia; porém, a longo prazo, pode provocar o efeito contrário, acarretando perda de
competitividade e falência do sistema produtivo nacional.

Conclusão: a
Globalização maximizam-se os Com aumento das
O protecionismo é globalização cria
lucros, porém a crise, há países que
acelera os fluxos o contrário da efeitos colateriais
frequência das adotam políticas
financeiros Globalização. inversos à sua
crises aumenta protecionistas
proposição inicial

Por isso, a globalização – embora tenda a homogeneizar os locais – encontra sérios limites à sua
expansão, sendo frequentes as contradições entre os discursos e as políticas das principais nações do
globo. Os subsídios agrícolas, por exemplo, no conjunto dos países desenvolvidos da OCDE, passaram de
350 bilhões de dólares em 1996, para 406 bilhões em 2011 [fonte]; adotados especialmente por União
Europeia e Estados Unidos. Além disso, a China, segunda maior economia do mundo, enquanto defende
oficialmente o livre mercado em seu discurso [fonte], também adota, paradoxalmente, imensos subsídios
agrícolas, ultrapassando Estados Unidos e a Europa [fonte]. Aqui em território nacional, o governo
brasileiro também adota medidas protecionistas, taxando significativamente produtos importados, e
protegendo setores como a gasolina – que é a segunda mais cara da América Latina [fonte]. Para engrossar
o caldo, fatos como o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), juntamente à provável saída da
França [fonte], e a mudança de rumos na política norte-americana, evidenciam uma tendência de aumento
do protecionismo em escala global para o século XXI, podendo portanto, frear os processos de
globalização.
Muito recentemente, especificamente a partir de 2018, como fruto desse recrudescimento do
protecionismo global, tem ocorrido uma intensa Guerra Comercial entre as duas maiores potências do
mundo: Estados Unidos e China. Ao invés de promoverem o “livre mercado” – uma tendência da
globalização dos anos 1990 – Donald Trump e Xi Jinping vêm acirrando suas medidas protecionistas. A
China, membra da OMC desde 2001, vem sendo questionada por não ser uma “economia totalmente
aberta”, com alto intervencionismo estatal. Os Estados Unidos, por outro lado, tendo cada vez mais seu
território inundado por produtos chineses, vêm tentando diminuir o déficit com a China por meio da
taxação de produtos chineses. O quadro abaixo evidencia a cronologia destas disputas [fonte].

Cronologia da Guerra Comercial em 2018 – China versus Estados Unidos

08/mar Impõem taxas sobre aço e alumínio de vários países

22/mar Lançam tarifas de US$ 50 bilhões sobre produtos chineses

02/abr Impõem tarifas de 25% sobre produtos dos EUA

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05/abr Ameaça lançar mais US$ bilhões em taxas sobre produtos chineses

05/abr China recorre à OMC contra EUA.

15/jun Começa a valer parte da taxação sobre US$ 50 bilhões em produtos chineses.

16/jun Ameaça impor tarifas sobre petróleo, gás e produtos de energia dos EUA.

19/jun Ameaça impor tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses

19/jun Governo da China ameaça retaliar

10/jul Anunciam mais tarifas contra a China: 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.

11/jul Apela novamente à OMC e ameaça EUA com retaliações.

16/jul Também entram na OMC contra a China e outros países

16/jul Apresenta outra queixa contra os EUA na OMC.

20/jul Ameaçam impor tarifas sobre mais de US$ 500 bilhões em produtos chineses.
Anunciam que podem subir de 10% para 25% a taxação sobre US$ 200 bilhões em produtos
01/ago
chineses.
03/ago Decide impor mais tarifas sobre US$ 16 bilhões em produtos dos EUA.

10/ago Dobra tarifas sobre aço e alumínio da Turquia.

21/ago Impuseram tarifas sobre produtos de diversos países, inclusive China.

17/set Anunciam sobretaxa de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.

17/set Ameaça lançar novas retaliações contra os EUA.


Concorda em suspender durante 90 dias o plano de subir de 10% para 25% as tarifas sobre US$
02/dez
200 bilhões em produtos chineses

Segundo levantamento da BBC, os EUA já aplicaram tarifas sobre US$ 250 bilhões em produtos
chineses e ameaçaram taxar outros US$ 267 bilhões. A China, por sua vez, fixou tarifas sobre bens
americanos no valor total de US$ 110 bilhões [fonte]. Se, por um lado, o protecionismo dos Estados Unidos
protege a indústria local, gera empregos e consegue fortalecer a economia industrial do país; por outro,
gera efeitos negativos na perda de competitividade, na geração de incertezas e também, no impacto
sofrido, no setor agrícola dos Estados Unidos, às taxações impostas na China. A política econômica de
Trump, portanto, é um tema bastante polêmico.
Neste ínterim, embora a globalização tenha se intensificado bastante nas duas três últimas décadas
– sobretudo nos anos 1990 – potencializando o raio de ação das grandes empresas e minimizando assim, o
poder dos estados nacionais, o governo nunca deixou de intervir na economia; muito pelo contrário,
conforme vimos, há um aumento dessa intervenção estatal nos últimos anos. O quadro abaixo mostra
algumas formas que o Estado pode alterar os rumos econômicos do país:

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Geografia Econômica – Parte I de III 24
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Aula 03
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Entendendo a economia globalizada: O controle do estado

1 - Como governos controlam a economia monetária

Política monetária Consequência imediata Efeitos na economia

População compra menos títulos públicos (como


Aumenta a emissão As taxas de juros diminuem os juros está baixo, não é atraente) e gasta mais,
de dinheiro (maior oferta de dinheiro) estimula-se o consumo porém aumenta a
inflação.

População compra mais títulos públicos (com os


Diminui a emissão As taxas de juros aumentam
juros altos o lucro é maior) e gasta menos, diminui
de dinheiro (maior escassez de dinheiro)
o consumo porém freia a inflação

2 - Como governos controlam a Balança Comercial

Política cambial Exportações Importações

Aumentam porque o poder de


compra dos estrangeiros Diminuem, porque se a moeda estrangeira é mais
Depreciação
também aumenta (moeda cara, então produtos estrangeiros também ficam
cambial
nacional vale menos, então dá mais caros.
para comprar mais).

Diminuem porque o poder de Aumentam porque neste caso, ou a moeda


compra dos estrangeiros diminui nacional vale mais, ou a diferença entre a moeda
Apreciação cambial
(moeda nacional vale mais, nacional e estrangeira é pequena. Então vale a
então dá para comprar menos). pena importar.

3 - Como empresas controlam o estado

Embora a globalização e o Consenso de Washington preguem o livre mercado e a livre iniciativa


com ampla concorrência, na prática, na maior parte do mundo, estes pressupostos ficam só na teoria.
Assim como o estado interfere diretamente na economia, cobrando impostos e controlando câmbio,
inflação, juros, emissão de moeda, e outros aspectos vitais, as empresas também possuem suas
artimanhas para minar a concorrência por meio de práticas como carteis, dumping, trustes ou holdings.

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Geografia Econômica – Parte I de III 25
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Aula 03
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Estratégias das empresas na concorrência globalizada

Acordo entre empresas que fabricam os mesmos produtos para controlar os preços e
Cartel
eliminar a concorrência

Venda de produtos com preços inferiores para eliminar a concorrência, mesmo que
Dumping
cause prejuízo

Truste União entre duas ou mais empresas do mesmo ramo

Uma empresa central possui várias empresas menores, inclusive concorrentes entre
Holding
si.

Do cenário ideal de concorrência ao pior cenário

Livre mercado Quando não há privilégios de empresas, todas competem igualmente entre si.

Oligopólio Quando poucas empresas detém a maior parte do mercado

Monopólio Quando uma empresa detém tudo ou a imensa maioria do mercado

Além disso, uma vez que a aceleração dos fluxos comerciais e culturais eleva o consumo e a
produção, acaba aumentando também, a pressão sob os recursos naturais renováveis e não renováveis,
acentuando os impactos ambientais decorrentes das atividades humanas. Porém, não se preocupem:
trataremos mais especificamente sobre este assunto nas últimas duas aulas do curso.

CAI NA PROVA

CACD/2016 – Questão 29
A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas
provocam. Inclui também a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser
imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos.
François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
1. A agricultura moderna brasileira elabora usos e apropriações da terra com reduzida demanda de recursos
hídricos e maximização da fragmentação do território nacional.

COMENTÁRIO

Muito pelo contrário, 70% do consumo de água no Brasil é destinado a agropecuária. É muita água. Só por
isso a alternativa já está errada. Gabarito: Errado

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Geografia Econômica – Parte I de III 26
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Aula 03
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2. Mundialização do capital ou globalização refletem a capacidade estratégica de grandes grupos oligopolistas,


voltados para a produção industrial ou para as principais atividades de serviços, em adotar, por conta própria,
enfoque e conduta globais.

COMENTÁRIO

Com a globalização, há um enfraquecimento dos estados nacionais e um fortalecimento natural do poder das
multinacionais e transnacionais. Hoje, são elas que ditam, em grande parte, o enfoque e as condutas globais.
Gabarito: Certo

3. O princípio geográfico da localização, no mundo globalizado economicamente competitivo, é superado pelos


sistemas técnicos e de informação.

COMENTÁRIO

A alternativa está quase correta. De fato, com a globalização, ocorreu o que David Harvey chama de
compressão-espaço-tempo, que é a sensação do “mundo estar menor” devido ao aumento da técnica e a
consequente aceleração dos fluxos de capital, informações, mercadorias e pessoas. Assim, a localização
geográfica hoje, é bem menos importante do que há 30 anos atrás. No entanto, ao contrário do afirmado, ela
ainda não foi superada. Há realidades locais (políticas, logísticas, econômicas, etc.) que diferenciam os
modos de produção. Gabarito: Errado

4. No mundo globalizado, observa-se uma tendência de compartimentação generalizada dos territórios, onde se
associam e se chocam o movimento geral da sociedade do trabalho e o movimento particular de cada fração
espacial: do nacional ao regional e ao local.

COMENTÁRIO

Com a globalização, os atores hegemônicos não se restringem às suas localidades de origem, mas exploram
as melhores áreas da superfície. Com a financeirização e a mecanização do mundo, as antigas noções de
local, regional, e global vão mudando de significado. Num mesmo espaço geográfico, podemos ter as três
escalas coexistindo, ora de forma harmônica, ora de forma conflituosa.
Gabarito: Certo

CACD/2003 - Questão 19
No bojo dos investimentos, não se pode esquecer que Mercedes-Benz e Volkswagen construíram no Brasil as fábricas
mais modernas do mundo. Justamente por causa dessa massa de investimentos, se Frankfurt não vai ao Brasil, o Brasil
tem que ir a Frankfurt. Para compensar a grande ociosidade das fábricas brasileiras, exportar é mais do que uma ordem
— transformou-se em “religião”. A meca dos investimentos das montadoras, e não só das alemãs, agora é a China.
Renato Acciarto. Brasil perde para China preferência das montadoras. In: Gazeta Mercantil. 11/9/2003, p. A1 (com
adaptações). O texto acima expressa importantes processos em curso no mundo.
Considerando esse texto, julgue os itens a seguir.
1. Mundializam-se os mercados, porém não os processos de produção, já que o desenvolvimento tecnológico é do
domínio dos países mais industrializados.

COMENTÁRIO

Muito pelo contrário, os processos de produção se mundializam sim. Isso ocorre principalmente com
produtos tecnológicos de maior complexidade como aviões, automóveis e computadores, cujas peças são

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Aula 03
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produzidas em vários países diferentes. Gabarito: Errado

2. Com a crescente internacionalização da economia capitalista, observa-se uma interdependência das economias
nacionais.

COMENTÁRIO

Exatamente. Quanto mais interligada a economia, maior a interdependência das partes que a compõem.
Veja por exemplo, esta última crise de 2008, que com exceção de China, afetou quase todo o globo. Gabarito:
Certo

3. A busca da maior lucratividade é um dos fatores determinantes para o crescente processo de especialização
regional da produção.

COMENTÁRIO

Com certeza. Como dizia Adam Smith, não é benevolência do padeiro nem a benevolência do açougueiro que
garante meu jantar, mas sim, a busca por lucros. Lucratividade é a chave do capitalismo. Gabarito: Certo

4. No processo de globalização econômica, que suplanta fronteiras e culturas, é irrelevante o papel do Estado,
prescindindo-se também de ações conciliatórias entre os governos.

COMENTÁRIO

Os estados nacionais ENFRAQUECERAM com a globalização, mas NÃO FORAM ELIMINADOS. Então eles ainda
são relevantes em muitos aspectos, em especial às migrações. Esse tipo de questão é muito comum no CACD,
típica pegadinha! Gabarito: Errado

5. O comprometimento da sustentabilidade ecológica e econômica é uma consequência do modelo de exploração


intensa de recursos naturais, entre as quais pode-se destacar o desflorestamento no Brasil.

COMENTÁRIO

Sim, quanto mais exploração dos recursos naturais, maior o desflorestamento, pois estas atividades exigem
espaço. Tais atividades são responsáveis por graves impactos ambientais em biomas como Cerrado e
Amazônia. Veremos melhor esta questão na aula sobre Geografia e Gestão Ambiental, uma das últimas do
curso. Gabarito: Certo

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Geografia Econômica – Parte I de III 28
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Aula 03
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CACD/2003 - Questão 20
Em geral, países da América Latina continuam a se dedicar pesadamente à exploração direta da riqueza de seus recursos
naturais visando à exportação. R. Gwynne e C. Kay. Latin America transformed, globalization and modernity. New York:
Arnold Publishers, 1999 (com adaptações). Considerando o assunto abordado no texto acima e as questões a ele
relacionadas, julgue os itens seguintes.
1. Com a globalização econômica atual, em geral há uma tendência para o incremento das exportações da
América Latina de produtos primários e de baixo conteúdo tecnológico.

COMENTÁRIO

Na nova divisão do trabalho, os países do norte produzem bens industrializados de ALTO valor agregado, e
os países do sul, produzem matérias primas e bens industrializados de BAIXO valor agregado. Grosso modo,
importamos iPhone mas exportamos soja. Gabarito: Certo

2. Embora com alguns impactos negativos, a economia baseada na exportação de produtos primários livrou a
América Latina, ao longo do século passado, dos efeitos das recessões mundiais e da conseqüente
flutuabilidade dos preços, visto que tais produtos possuíam mercado assegurado.

COMENTÁRIO

Não, a Crise da Bolsa de Nova York (1929), por exemplo, impactou diretamente na produção de café
brasileiro, cuja queda de preços, fez o governo queimar sacas para elevá-lo. O final da Segunda Guerra
Mundial (1945) fez despencar a produção de borracha na Amazônia. As crises do Petróleo (1973 e 1979)
diminuíram as exportações do Brasil e da América Latina em geral, etc... Gabarito: Errado

3. O Brasil pode ser excluído do grupo de países considerados como periferia global de recursos, uma vez que sua
pauta de exportações o coloca como país industrializado, apesar de esse fenômeno ter-se dado tardiamente.

COMENTÁRIO

É verdade que o Brasil se industrializou tardiamente em relação aos países desenvolvidos; porém, é falsa a
afirmação de que podemos ser excluídos da periferia global. Ainda somos emergentes e exportamos
produtos de baixo valor agregado, como minério de ferro e produtos agropecuários. Gabarito: Errado

4. No Brasil, o crescimento do setor primário, levado a efeito por meio de intensa modernização por todo o seu
território, tem contribuído para diminuir as desigualdades geográficas e eliminar enclaves regionais.

COMENTÁRIO

Veremos esta questão na aula de Geografia Agrária, mas já adiantando: está errado. Na verdade, a
modernização agrícola – apesar de elevar a produtividade e impulsionar a economia nacional – diminui os
empregos em área rural, causa desigualdades sociais e conflitos no campo. Ela portanto, acirra as
desigualdades geográficas. Gabarito: Errado

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5. O comprometimento da sustentabilidade ecológica e econômica é uma consequência do modelo de exploração


intensa de recursos naturais, entre as quais pode-se destacar o desflorestamento no Brasil.

COMENTÁRIO

Sim, quanto mais exploração dos recursos naturais, maior o desflorestamento, pois estas atividades exigem
espaço. Tais atividades são responsáveis por graves impactos ambientais em biomas como Cerrado e
Amazônia. Veremos melhor esta questão na aula sobre Geografia e Gestão Ambiental, uma das últimas do
curso. Gabarito: Certo

CACD/2005 – Questão 25
Segundo Bertha Becker, “o rompimento da divisão do espaço e do poder mundiais em dois blocos e a distensão daí
decorrente trouxeram à luz as diferenciações espaciais, significando a recuperação do político e da cultura expressos em
conflitos pela definição de territórios”. Considerando essa análise e demais aspectos significativos do atual processo de
globalização, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
1. A globalização econômica ajuda a manter a unidade dos territórios nacionais rompida durante a Guerra Fria e
marcada pelo esgotamento do padrão de acumulação e de relações de poder calcado tanto na centralização
quanto na produção em larga escala.

COMENTÁRIO

A unidade é mantida somente nas cidades-globais ou nos pontos de maior interesse do capital. Na verdade,
a globalização NÃO elimina as unidades territoriais, inclusive pode reforça-la através do Choque de
Civilizações. Gabarito: Errado

2. Entre as causas de instabilidades no mundo atual, estão a revolução científico-tecnológica e a crise ambiental.

COMENTÁRIO

A revolução científico-tecnológica iniciada nos anos 1970 e 1980 protagonizou a aceleração dos fluxos
característica da globalização. No entanto, a globalização acarreta em diversos impactos ambientais, os
quais veremos nas últimas aulas do curso. Gabarito: Certo

3. O Estado deixou de ser a principal representação política, e o território nacional tampouco é a única escala de
referência de poder, lacunas que foram preenchidas pelo poder técnico-econômico.

COMENTÁRIO

Com o aumento de poder das empresas multinacionais e transnacionais, há um esfacelamento do controle


do estado sobre seus territórios. Aumenta-se o poder técnico-econômico e diminui-se (porém não elimina!) o
poder estatal. Gabarito: Certo

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4. Nas novas relações geopolíticas entre Estado, território e movimentos sociais, estes, cujo expoente é o
movimento ambientalista, apresentam-se como perenes.

COMENTÁRIO

Vimos na primeira aula que o espaço geográfico é dinâmico e passível de transformações. Assim, estas
relações entre Estado, território e movimentos sociais sofrem variações ao longo do tempo e do espaço.
Gabarito: Errado

OMC, Doha e a polêmica agrícola


Para assegurar que as negociações decorram sem problemas e que as
regras do comércio internacional sejam corretamente aplicadas; no ano de
1995, foi criada a Organização Mundial do Comércio (OMC) (World Trade
Organization), contando com 164 países membros, e sendo atualmente a
principal instância global de administração comercial [fonte]. Apesar de
ter sido oficialmente criada nos anos 1990, a OMC foi derivada do
Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), assinado em 1947,
instrumento que foi responsável, entre os anos de 1948 a 1994, pela
criação e gerenciamento das regras do sistema multilateral de comércio
[fonte]. Atualmente, os acordos da OMC abrangem, principalmente, os setores de
serviços, bens, e propriedades intelectuais.
Há um compromisso, por parte do órgão, de convencer os países a abaixarem suas tarifas
aduaneiras e minimizarem o protecionismo, contribuindo para um mercado mais livre. Assim, de tempos
em tempos, são feitos acordos entre a OMC e os países membros, estabelecendo mecanismos de resolução
de disputas comerciais. No entanto, nem sempre é fácil solucioná-las: uma das principais disputas no
mundo atual – conforme afirmado nos parágrafos anteriores – é a questão dos subsídios agrícolas aplicada
nos países desenvolvidos para a proteção de seus mercados. O Brasil, sendo um grande exportador de
grãos, vem pedindo soluções à OMC [fonte]. Assim, se por um lado, a OMC tem como diretriz geral a
liberalização do comércio, por outro, paradoxalmente, vários países membros – inclusive os desenvolvidos
– aplicam, em suas economias internas medidas protecionistas contrárias aos princípios do órgão. Até o
presente momento, a fim de sanar estas disparidades, já foram realizadas nove Conferências Ministeriais
da OMC, sendo elas: Singapura (1996); Genebra (1998); Seattle (1999); Doha (2001); Cancun (2003); Hong
Kong (2005); Genebra (2009); Genebra (2011); Bali (2013) e Nairóbi (2015) [fonte].
A Conferência de Doha (2001) foi especialmente importante, pois inaugurou a Rodada de Doha, ou
a Agenda Doha de Desenvolvimento, no qual 142 países se prontificaram a incentivar o livre comércio
reduzindo tarifas e subsídios, discussões que se estendem até os dias de hoje, incluindo: agricultura;
acesso a mercados para bens não-agrícolas (NAMA); comércio de serviços; regras (sobre aplicação de
direitos antidumping, subsídios e medidas compensatórias, subsídios à pesca e acordos regionais);
comércio e meio ambiente (incluído o comércio de bens ambientais); facilitação do comércio e alguns
aspectos de propriedade intelectual; além de regras diferenciadas para países em desenvolvimento. [fonte]

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A maior dificuldade encontrada diz respeito ao protecionismo


agrícola. Os países em desenvolvimento como Brasil e Índia reclamam
dos subsídios agrícolas praticados nos países europeus. Para o
Itamaraty, a Rodada de Doha deveria ter por objetivo promover a
eliminação dos subsídios à exportação agrícola, bem como a redução
substancial e disciplinamento dos subsídios à produção (apoio interno),
corrigindo assim, as distorções que prevalecem neste setor. A situação
se inverte no que diz respeito ao protecionismo industrial: neste caso,
enquanto países emergentes tendem a proteger seus mercados, os
países desenvolvidos – detentores de maior tecnologia – querem maior
liberalização das importações nestes países. O Brasil, neste âmbito,
apesar de ser a favor do combate de táticas desleais de comércio como
Charge satiriza morosidade nas discussões da
o dumping e os subsídios, protege o seu mercado contra os produtos Rodada de Doha
manofaturados dos países desenvolvidos.
Na última conferência da OMC em Nairóbi (2015), finalmente, os países desenvolvidos – com
exceção de Suiça, Canadá, Nuruega – se prontificaram a eliminar os subsídios agrícolas nos próximos anos;
acordo este, sendo imediatamente elogiado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO) em prol da segurança alimentar global [fonte] [fonte]. No entanto, em entrevista
recente, devido a outros pontos polêmicos não resolvidos – como a industrialização – e a recente entrada
da China que complexifica as discussões, o diplomata brasileiro Roberto Azevedo, presidente da OMC, não
vê perspectivas para a conclusão da Rodada Doha [fonte]. A última reunião da OMC ocorreu em Buenos
Aires (2017). Nesta ocasião, foram adotadas uma série de decisões ministeriais, inclusive sobre os subsídios
à pesca e as obrigações de comércio eletrônico, e um compromisso de continuar as negociações em todas
as áreas. [fonte].
No mesmo ano de 2017, o Brasil sofreu uma das maiores derrotas na OMC. A disputa foi
encabeçada pelo Japão e pela União Europeia, que moveram uma ação contra o país. O que motivou a
ação foi o fato do Brasil estar protegendo a indústria nacional; mais especificamente: a discriminação
tributária entre produto doméstico e importado, subsídios vinculados à exigência de conteúdo local,
subsídios à exportação, e exigências relacionadas à realização de investimento direto estrangeiro. As
medidas afetam empresas estrangeiras de forma injusta ao dar incentivos fiscais apenas para empresas
nacionais ou com condicionalidades de uso de peças locais. [fonte; fonte].

Os impasses de Doha

Agricultura Indústria

Países Em prol da competitividade de seus Desejam continuar protegendo seu


subdesenvolvidos e produtos agrícolas, querem o fim dos parque industrial, que é menos
emergentes subsídios. competitivo.

Desejam que países subdesenvolvidos


Desejam continuar protegendo sua
Países desenvolvidos abram seus mercados, pois sua
agricultura, que é menos competitiva.
indústria é mais competitiva.

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Finalmente, os países desenvolvidos -


mesmo com inúmeras ressalvas -
O que ficou resolvido concordaram em eliminar os subsídios
Não houve acordo significativo.
em Nairobi (2015) agrícolas nos próximos anos. Mas há
ainda existem muitos pontos a serem
discutidos na Rodada Doha.

É importante perceber o papel ambíguo dos países na OMC. Se por um lado, o Brasil exige o livre
comércio de commodities – setor que é visivelmente forte – contraditoriamente, aplica medidas
protecionistas em relação ao seu relativamente pouco competitivo parque industrial. Do mesmo modo,
enquanto a União Europeia exige o fim dos subsídios industriais – setor de destaque no bloco europeu –
também aplica medidas protecionistas no seu espaço agrário. No final, há uma tendência dos países
“protegerem” o que é “fraco” e “expandirem” o que é “forte”.

CACD/2017 – prova de política internacional - No Brasil, apesar de décadas de tentativas de


aumento da participação industrial nas exportações, commodities ainda têm importância para a
pauta de exportações, com o aumento, em anos recentes, da relevância de países asiáticos
como destinatários de produtos.

Comentário

O Brasil, apesar de ter se industrializado, ainda possui as commodities como principal pauta de
exportações. Há, por exemplo, um grande fluxo de exportações de minério de ferro e alimentos
para a China. Inclusive, o Brasil, por meio da OMC, vem lutando para reduzir o protecionismo
agrícola dos países europeus. Certo.

CAI NA PROVA

CACD/2007 – Questão 62
Considerando os interesses brasileiros na Rodada de Doha da OMC, julgue (C ou E) os itens seguintes.
1. Dada a participação majoritária do setor terciário na composição de seu Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil
almeja o aumento de sua participação nas exportações mundiais de serviços, defendendo, por conseguinte,
ampla liberalização dessa modalidade de comércio.

COMENTÁRIO

Na verdade, entre as principais reivindicações do Brasil está o aumento da exportação de produtos primários
e não de serviços (terciário). Inclusive, o Brasil é um dos países que luta contra o protecionismo agrícola
europeu na OMC. Gabarito: Errado

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2. Nas negociações acerca de acesso a mercados, o Brasil objetiva a eliminação ou a redução de restrições
tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre suas exportações de bens, de forma geral, priorizando o
tratamento dos fatores que restringem e distorcem o comércio agrícola.

COMENTÁRIO

Juntamente com os países emergentes como a Índia, o Brasil tenta eliminar na OMC as barreiras que os
países desenvolvidos impõem a produtos nacionais, em destaque os agrícolas. Este assunto foi um dos
principais impasses da Rodada de Doha. Gabarito: Certo

3. Por dispor de um parque industrial amplo e diversificado, embora com diferenças setoriais quanto aos níveis de
competitividade, o Brasil posiciona-se contrariamente ao aprofundamento de compromissos relativos a
reduções tarifárias para produtos manufaturados.

COMENTÁRIO

O Brasil não se posiciona contrariamente ao aprofundamento de compromissos nas reduções tarifárias de


produtos manufaturados. Pelo contrário, luta pela diminuição das tarifas. Já para produtos de alto valor
agregado, o Brasil ainda é um país protecionista, cobrando altos impostos de importação. Gabarito: Errado

4) O Brasil propugna maior transparência na aplicação de medidas contra práticas desleais de comércio, em
particular, medidas antidumping e anti-subsídios, que afetam suas exportações para os países desenvolvidos.

COMENTÁRIO

O Brasil tem participação bastante ativa na OMC, e juntamente a países como China e Índia, tem lutado para
o fim destas práticas desleais muitas vezes adotadas por países desenvolvidos. Gabarito: Certo

As desigualdades sociais e a “globalização perversa”


Para o geógrafo Milton Santos, a integração econômica não
seria necessariamente benéfica. Por isto, o autor a divide em três
tipos: globalização como fábula (o mundo como nos fazem vê-lo);
como perversidade (o mundo real) e como possibilidade (como ele
pode ser, por uma outra globalização). Vamos detalhar este
pensamento nas linhas a seguir.

 Globalização como Fábula


O mundo globalizado, visto como fábula, seria o vendido para
nós pelo sistema, encabeçado pelos governos e pelas empresas. Esta
seria a globalização da integração global, do acesso à tecnologia, da
facilidade de obtenção de bens culturais, das viagens, e da “aldeia Para Santos, a integração global seria um "mito"
global”; ou seja, a globalização das vantagens. No entanto, para para garantir privilégios das classes dominantes

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Santos, os benefícios da globalização seriam restritos às classes dominantes, e não à população em geral.
E, portanto, seria uma fábula.
Deste modo, os atores hegemônicos, visando lucros e vantagens, difundiriam a falsa noção de
integração global. Na verdade, de acordo com o autor, o mundo não estaria tão próximo assim. Apesar dos
fluxos internacionais estarem mais acelerados, poucos seriam os que se beneficiariam deste sistema: vide
alto preço das passagens aéreas. E também, apesar do mundo altamente informatizado, as notícias mais
alienariam do que teriam caráter produtivo. Neste contexto, a globalização seria uma ferramenta para
destruir as culturas locais, para garantir os antigos privilégios das classes dominantes e para impedir que
as nações pobres se desenvolvessem. Como marxista, Santos era contrário ao liberalismo econômico e
criticava a intensificação dos fluxos comerciais.

 Globalização Perversa
Para Santos, a globalização real, a que de fato
acontece, aprofundaria as desigualdades sociais, causando
desemprego, fome, miséria, doenças, e conflitos culturais.
Se, por exemplo, as cidades de Nova York e Tóquio se
desenvolvem com a globalização, algumas tribos da África
ou da América mantêm os mesmos modos de vida de
milhares de anos atrás. Assim, ao priorizar certas áreas em
detrimento de outras – por exemplo, cidades globais e
pontos de maior circulação de capital – a globalização
acirraria as diferenças entre os diferentes espaços
geográficos, pois enquanto uns espaços cresceriam
economicamente, outros estagnariam ou se deteriorariam. Charge ironiza globalização, que seria perversa, para Santos, aos
A globalização assim, somente atenderia aos interesses dos menos favorecidos.
atores hegemônicos, e não da sociedade em geral; e com o
acirramento da competitividade global na qual o dinheiro constitui o centro das atenções, o homem
perderia noções de humanidade, perdendo atributos como compaixão e solidariedade.

 Globalização como Possibilidade


A globalização como possibilidade é a que Santos julgava
ser correta. Embora não especifique o caminho para tal fim, o
autor vai afirmar que as bases técnicas que estruturam o grande
capital poderiam servir a "outros objetivos" se fossem colocadas
para servir aos propósitos sociais. Assim, os aparatos tecnológicos,
informativos, e financeiros deveriam servir ao homem, e não ao
capitalismo.
No mesmo sentido, a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) elaborou um documento contrário ao atual
processo de mundialização do capital. Denominado “Uma
globalização justa: Criando oportunidades para todos”, a Para Santos, a globalização deveria ser mais
humanitária e menos “capitalista”.
publicação conclui que a globalização causa desemprego e que,

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portanto, deve mudar sua estrutura para atender aos mais pobres.

Globalização para Milton Santos - Resumo

Globalização como A vendida pelos agentes dominantes, instrumento de propaganda, que seria
Fábula excludente.

Globalização Perversa A globalização real, que seria visível no espaço geográfico.

Globalização como A globalização (que ainda não existe) que deveria ser mais humana e menos
Possibilidade voltada à tirania do dinheiro.

Ainda para Milton Santos, a globalização acarretaria em pelo menos três formas de pobreza nos
países subdesenvolvidos: a pobreza incluída, a pobreza marginal, e a pobreza estrutural.

Tipos de pobreza - Milton Santos

Num período no qual o consumo não era tão exacerbado, a pobreza ocorria de forma
individualizada, normalmente resultante da falta de adaptação as determinadas
Pobreza "incluída" realidades. Para resolvê-la, bastava medidas assistencialistas de cunho local. A
pobreza era "incluída" pois os pobres não estavam "excluídos" da sociedade de
consumo.

Num segundo momento, com o avanço da sociedade de consumo, a pobreza passa a


Pobreza marginal ser sintomática, e não simplesmente acidental. Os pobres então, estariam
“marginalizados” da sociedade capitalista.

Este é o período atual, retratado pelo avanço da globalização e pelo ápice do


Pobreza estrutural consumo. Neste, a pobreza atingiria seu nível máximo, de forma irremediável pelo
sistema vigente, sendo, portanto, de caráter "estrutural".

Não temos aqui a pretensão de encerrar um assunto tão complexo quanto a relação entre
globalização e pobreza – e tampouco fazer juízo ideológico sobre este tema; entretanto, é importante
saber que para todo assunto polêmico existem contrapontos a serem considerados. Contrariando Milton
Santos, dados Banco Mundial alegam que a pobreza extrema mundial está reduzindo: em 1992,
aproximadamente 35% da população estava nesta situação, caindo para 25% em 2002, e para cerca de 10%
em 2012; sendo a pobreza extrema erradicada até 2030. [fonte]. Na mesma linha de raciocínio, outros
dados evidenciam que a integração econômica promovida pela globalização trouxe melhor qualidade de
vida às populações: ao analisarmos os dados do Índice de Desenvolvimento Hum (IDH) – que medem
qualidade de vida e bem estar – [mapa] percebemos um alto grau de correlação com o Índice de Liberdade
Econômica [mapa] elaborado pela Heritage Foundation. Portanto, apesar dos paradigmas científicos
indicarem que a globalização gera pobreza, esta não é uma afirmação absoluta, e tampouco uma verdade
monolítica.

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CAI NA PROVA

CACD/2005 – Questão 44
Milton Santos, em uma de suas obras, afirma que os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três formas de
pobreza e, paralelamente, três formas de dívida social, na segunda metade do século passado. Segundo o autor, essas
formas de pobreza, de dívida social, são a pobreza-marginalidade, a pobreza incluída e a pobreza estrutural globalizada.
Essa classificação está atrelada ao processo de globalização perversa. Tendo em mente as características desse tipo de
globalização, julgue (C ou E) os itens a seguir.
1. Associada ao processo econômico da divisão social do trabalho internacional ou interna, a pobreza-
marginalidade é considerada a doença da civilização e o consumo apresenta-se como o centro da explicação
das diferenças e das percepções das situações.

COMENTÁRIO

Isso mesmo: para Santos, a pobreza-marginalidade caracteriza-se como um problema sintomático da


globalização, tendo causas diretas com o processo de financeiração do mundo. Gabarito: Certo

2. A pobreza incluída iniciou-se como um processo associado a problemas privados, assistencialistas e locais,
porém a globalização tem mudado o perfil dessa forma de pobreza.

COMENTÁRIO

A primeira parte da frase está certa (a pobreza incluída era associada a problemas privados e locais); no
entanto, a globalização a dissolveu. Hoje, com a globalização, temos a pobreza estrutural, e não mais a
pobreza incluída como antigamente. Gabarito: Errado

3. A pobreza estrutural globalizada impôs-se como natural e inevitável nos tempos atuais, pois há uma produção
globalizada da pobreza, mais presente, sem dúvida, nos países pobres.

COMENTÁRIO

Milton Santos diz exatamente isso: a pobreza estrutural seria o estágio máximo da globalização, fruto da
sociedade de consumo desigual. Gabarito: Certo

4) Com relação à dívida social, os pobres já foram incluídos; posteriormente, foram marginalizados; e,
atualmente, estão sendo excluído

COMENTÁRIO

A pobreza incluída predominava em sociedades nas quais a sociedade de consumo ainda não tinha se
desenvolvido. Como quase todos consumiam de forma semelhante, a pobreza era individual, e não
sintomática. Num segundo momento, com a introdução do consumo em massa, parte da sociedade ficou
marginalizada (sem consumo), inaugurando a fase da pobreza marginalizada. Com o avanço destes processos
(globalização, financeirização e consumo), hoje a pobreza estaria em seu estágio máximo de exclusão, ou
seja, a pobreza-estrutural, sendo parte inerente do sistema. Gabarito: Certo

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Disparidades regionais no Brasil


Disparidades econômicas e regionais no Brasil
Conforme vimos anteriormente, Brasil é a nona maior economia do mundo, no entanto, a
distribuição das riquezas produzidas em território nacional é extremamente desigual: somente os seis
estados mais ricos da federação – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e
Santa Catarina – representam incríveis 70% de todo o PIB brasileiro. Neste caso, os quatro estados do
Sudeste concentram a quase 55% do total; sendo São Paulo correspondendo a 32,2% o PIB nacional, mais
do que os 21 estados restantes somados (!).

De forma geral, enquanto as regiões Sudeste e Sul


concentram significante parcela da economia nacional, as regiões
Norte e Nordeste representam as menores parcelas do Produto
Interno Bruto.
Proeminente desde o século XIX em virtude da economia
cafeeira, a Região Sudeste – conforme vimos na aula passada –
atraiu, historicamente, a maior quantidade de imigrantes; fluxos
estes, que se intensificaram durante o século XX com as
transformações socioespaciais ocorridas em detrimento da
industrialização e da urbanização da região. Conforme observamos
no gráfico acima, atualmente, os estados de São Paulo e Rio de
Janeiro concentram quase a metade de toda a geração de riqueza
do Brasil, sendo considerados os maiores polos tecnológicos,
científicos, financeiros, culturais, e econômicos do país. Não por
acaso, de acordo com estudo do IBGE (2007), os municípios de São São Paulo: um dos maiores centros financeiros do
Paulo e Rio de Janeiro, capitais dos estados homônimos, são as duas mundo. Estado é responsável por 1/3 do PIB do país.

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únicas cidades globais do país, tendo assim, expressividade internacional.


Apesar da riqueza, as regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, possuem juntas, quase
4 milhões de pessoas vivendo em “aglomerados subnormais” – nome alternativo para “favela” –
correspondendo, respectivamente, a 11% e a 14% da população total destas metrópoles [fonte]. Assim,
não obstante a sua importância econômica, a Região Sudeste encontra profundas desigualdades espaciais
em seu território. Portanto, seria leviano afirmar que toda a região é rica e desenvolvida; ocorrendo, na
verdade, um grande contraste entre a riqueza produzida nos centros financeiros, industriais e agrícolas, e
parte da população residente nas favelas, áreas rurais, e demais “espaços marginais” (conforme definição
de Rogério Haesbert). Além disso, há de se ressaltar, que por exemplo, o Vale do Jequitinhonha, ao norte
de Minas Gerais, que oficialmente faz parte da Região Sudeste, é na verdade, uma das áreas mais pobres
do Brasil.

Apesar de produzir a maior parte da riqueza nacional, a Região Sudeste é profundamente desigual: na foto, área nobre contrasta com favela no
Rio de Janeiro.

Com uma economia razoavelmente equilibrada, em destaque aos setores de agricultura, pecuária,
indústria, serviços, e extrativismo, a Região Sul é a segunda mais rica do país. Os três estados da região,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, contribuem juntos com aproximadamente 16% do PIB total.
Não por acaso, Milton Santos e Maria Laura Silveira chamam os sete estados das regiões Sul e Sudeste de
Região Concentrada, onde se verifica a expressão mais intensa do meio técnico-científico-informacional,
sendo, apesar das profundas desigualdades, loco das inovações científicas e do aporte tecnológico no
Brasil.
Terceira região mais rica do Brasil (e também a terceira mais
pobre), o Centro-Oeste encontra-se numa posição intermediária
entre a riqueza produzida no eixo sul-sudeste e a pobreza
encontrada na porção norte-nordeste do país. Em destaque ao setor
do agronegócio, os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Goiás correspondem à grande parte da soja produzida no Brasil,
consolidando-se como líderes nacionais. O Distrito Federal, destaque
no setor de serviços e sede do governo brasileiro, possui mais de
20% dos domicílios com renda superior a cinco salários mínimos,
maior média nacional.

Economia da soja no Centro-Oeste: produto levanta o


PIB nacional.

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Compondo a maior parte da população rural brasileira (conforme vimos na aula passada), a Região
Nordeste também é a segunda mais pobre do Brasil: estados como Sergipe, Piauí, Alagoas, e Paraíba
geram, cada um, menos de 1% do total das riquezas que compõem o PIB nacional. O sertão nordestino,
alvo de disputas políticas, ainda hoje enfrenta problemas como clima semiárido, seca constante, solo de
baixa produtividade, falta de empregos, e corrupção; cuja
população, durante o século XX compôs grandes movimentos
migratórios para as demais áreas do país. Apesar das
dificuldades climáticas e econômicas, a Região Nordeste
também tem centros de prosperidade: estados como Bahia
e Pernambuco fazem parte do grupo dos dez estados mais
ricos do Brasil, abarcando respectivamente, 3,9 e 2,7% do PIB
nacional. O município de Salvador, por exemplo, capital do
Brasil durante o período colonial, é a quarta maior cidade do
país. O Nordeste, apesar da agricultura de subsistência
praticada no interior, possui polos de agricultura
mecanizada, além de importantes regiões industriais. Nordeste do país.
não é só sertão: Porto de Suape (PE), um dos maiores

Veremos os detalhes da economia nordestina nas próximas


aulas.
Os estados de Roraima, Amapá, Acre, Tocantins, Rondônia
somam juntos, menos de 2% do PIB nacional, sendo os menos
expressivos da federação; curiosamente, todos pertencentes a
Região Norte, área menos desenvolvida do país; cujos estados
mais prósperos são Pará e Amazonas. Apesar de ser a menos rica
do Brasil, a Região Norte é destaque na produção de minério de
ferro – sendo relevante no setor extrativista de forma geral –
abrigando também, significante parte do rebanho bovinho e da
produção de soja no Brasil, além da Zona Franca de Manaus e;
atividades estas, que contrastam com a preservação da Floresta
Amazônica, considerada a maior do mundo. Belém, capital do
Pará e maior cidade da região com mais de um milhão de
Norte não é só floresta: Operações da Vale no Pará: a habitantes, possui 53,9% de sua população vivendo em
maior mina de ferro do mundo aglomerados subnormais, maior percentual da federação [fonte].
Como o Produto Interno Bruto mede o total da riqueza produzida no país, não necessariamente
correspondendo ao ganho real da população, para completarmos nossa análise, seguem abaixo gráficos
mostrando o percentual da soma do rendimento nominal mensal dos domicílios particulares permanentes
das diferentes regiões do Brasil e também por estado, de acordo com dados do Censo Demográfico de
2010:

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Por esta perspectiva, confirma-se que as


regiões Nordeste e Norte são as mais pobres do
Brasil: aproximadamente ¼ de seus domicílios são
sustentados com menos que ½ salário mínimo,
apresentando assim, alto grau de vulnerabilidade
social. Além disso, quase a metade da população
destas regiões ganha até meio salário mínimo, e
aproximadamente 2/3 possuem rendimento
inferior a um salário mínimo. Lembrando que este
valor é o somatório da renda de todos os
ocupantes de uma residência; ou seja, neste caso,
a situação é mais dramática do que parece ser.
Por outro lado, as regiões Centro-Oeste, Sul e
Sudeste concentram o maior percentual de
domicílios sustentados com mais de três salários
mínimos, sendo assim, as regiões mais ricas do
país. Curiosamente, apesar de ter PIB bastante
inferior ao Sudeste, o Centro-Oeste possui o
mesmo percentual de habitantes de alta renda
desta região.
Analisando o rendimento nominal mensal
por estado, é possível perceber que,
independentemente da região, a maior parte das
residências brasileiras possui renda entre ½ e 1
salário mínimo (faixa laranja). Constata-se que os
mais pobres – isto é, os que possuem maior
população vivendo com menos de ¼ de salário
mínimo – concentram-se no Maranhão, Piauí,
Pará, Alagoas, Ceará, Paraíba, Bahia, Pernambuco
e Acre; estados da região nordeste e norte do

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Brasil. Nestes locais, a maior parte da população mora em domicílios sustentados por até ½ salário mínimo.
A surpresa fica por conta de estados como Pernambuco, Pará e Bahia que apesar de possuírem PIB elevado
– conforme constatado acima – apresentam grande percentual de pobreza, falhando portanto, na
distribuição de renda. Por outro lado, a maior proporção de domicílios sustentados com mais de cinco
salários mínimos está no Distrito Federal, que apesar de não possuir PIB tão elevado quanto Rio de Janeiro,
São Paulo e Rio Grande do Sul (segundo, terceiro, e quarto estado nesta categoria), é capital política e
administrativa do Brasil.
Nos mapas abaixo da página é possível comparar o PIB per capita e o Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal (IDHM) dos municípios brasileiros. Recapitulando os conceitos da aula anterior, o IDH
mede a qualidade de vida da população levando em consideração os fatores saúde, renda, e educação. Já
o PIB per capita consiste no PIB dividido pela população. Novamente, é possível evidenciar as disparidades
regionais no Brasil: enquanto o Sudeste, o Sul, e o Centro-Oeste estão em tons escuros, evidenciando
maior renda e qualidade de vida; as regiões norte e nordeste aparecem em tons claros, revelando maior
vulnerabilidade social. Convém ressaltar que apesar do Centro Oeste configurar grande volume de PIB –
logo, alta produtividade – esta riqueza não necessariamente acompanha a qualidade de vida da população
(conforme mapa da direita), denotando um possível cenário de concentração de renda; ou seja, um
descompasso entre qualidade de vida e a produção de riqueza.

Brasil: PIB per capita (2014) e IDHM (2010) – IBGE

Brasil e os estereótipos regionais


Apesar das profundas diferenças entre os diferentes territórios no Brasil, é importante não cairmos
em preconceitos ou adotarmos estereótipos regionais que não condizem com a realidade. No imaginário
popular, a visão do nordestino ainda é aquela do sertanejo que sofre com a seca e que recebe ajuda do
governo; já a visão do sulista é daquele sujeito que se veste de vermelho e bebe chimarrão; do nortista, do
morador da selva, ou “no meio do nada”; do centro-oeste, do agricultor ou pecuarista rico; e do sudeste,

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do trabalhador urbano. Conforme anteriormente dito, esta visão é equivocada: não é possível afirmar, por
exemplo, que “todo o nordeste é pobre”, e tampouco que “todo o sudeste é urbano e desenvolvido”.

Brasil e seus estereótipos regionais: mesmo com o mundo cada vez mais informatizado, visão ainda persiste no país.

Acompanhando a montagem abaixo, vejamos alguns exemplos: dentro do vazio


demográfico da Região Norte, existem grandes cidades, como Manaus (AM) e Belém (PA); próximo às
grandes cidades do sudeste existem as maiores reservas de mata atlântica do Brasil; em meio à “seca” do
nordeste, Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) situam-se um dos maiores polos de produção de frutas tropicais do
Brasil; na região sul, apesar do pampa gaúcho e das araucárias, há imensas plantações de soja,
principalmente no Paraná; por fim, no centro-oeste, região mais interiorana do Brasil, há praias simuladas
por resorts de turismo, como em Caldas Novas (GO). Portanto, devemos admitir que apesar das regiões
apresentarem características gerais que as definem, a realidade do espaço geográfico é complexa e
diversificada, sendo exclusiva em cada contexto diferente, e deste modo, impossível de ser
homogeneizada por rótulos.

Quebrando estereótipos regionais: Área urbana no Norte (AM); Reserva florestal no Sudeste (SP); produção de uva no Nordeste ( BA), praia simulada no
Centro-Oeste (GO), e agricultura mecanizada no sul (PR).

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Planejamento territorial no Brasil


Brasil Arquipélago e o planejamento regional
Dada a vastidão do território nacional e a dificuldade de integração – seja esta por razões militares,
econômicas, políticas, ou sociais – as políticas de planejamento territorial sempre fizeram parte da história
do Brasil; no entanto, conforme aponta o economista Celso Furtado, as políticas de planejamento
territorial do país ocorreram de forma regionalizada, de acordo com ciclos
econômicos que demandavam mais ou menos atenção do estado. Por
exemplo, com o pau-brasil e cana-de-açúcar, houve maior destaque à Região
Nordeste; posteriormente, com o ouro e o café, foi a vez do sudeste se
desenvolver; do mesmo modo, produtos regionais como o a borracha
(Região Norte) e o charque (Região Sul) fizeram avançar estas áreas do
país.
Somente no século XX – especificamente com o governo Getúlio Vargas
(1930-1945) – houve maior preocupação em promover a integração nacional de
forma mais efetiva, preocupação existente até hoje nos governos nacionais. Assim,
apesar do Brasil ser administrado pela coroa portuguesa desde o século XVI e ser
politicamente independente desde o século XIX, sua atual unidade identitária é
relativamente recente na história do país: termos como “cultura brasileira”, “história
brasileira”, ou “povo brasileiro” eram pouco relevantes antes da década de 1930, período este,
marcado pelos interesses das oligarquias regionais.
A primeira tentativa de planejar e ocupar o país ocorreu no século XVI por meio da implantação de
capitanias hereditárias ao longo da costa brasileira. Tratava-se de um sistema no qual o donatário (nobre
da coroa que recebesse a terra) podia ocupa-la e desenvolvê-la, cabendo-lhe também, o direito de
escravizar indígenas e aplicar a justiça em sua jurisdição. Curiosamente, muitos dos nomes dos estados
brasileiros têm origem neste período.
No entanto, devido principalmente à ausência de
recursos e falta de interesse de alguns donatários em
ocupa-las, o sistema de capitanias fracassou como
política de planejamento territorial: de toda a costa
brasileira, somente Pernambuco e São Vicente (atual
estado de São Paulo) atingiram o propósito inicial. Após a
falência deste modelo, a fim de retomar o controle do
território, a coroa portuguesa implantou um governo
geral na Baía-de-Todos-os-Santos, mais especificamente
em Salvador, que viria a ser a primeira capital do Brasil.
A implantação do sistema de capitanias e o
modelo de colônia de exploração fizeram do Brasil um
arquipélago econômico; na qual as relações de comércio
e poder eram estabelecidas entre colônia e metrópole, e
não entre as regiões do país. Pelo menos até o século XVIII, não fazia sentido falar em “políticas territoriais
no Brasil”, mas sim, em políticas territoriais regionais.

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Expressão designada pelos geógrafos para descrever o Brasil entre os séculos XVI a XIX.
Assim como um conjunto de ilhas isoladas (arquipélago), o território brasileiro era
Arquipélago
composto por núcleos econômicos autônomos e desarticulados; não havendo,
econômico
portanto, identidade nacional, mas sim áreas relativamente isoladas e
comercialmente voltadas à metrópole.

Este arquipélago econômico começou a se desfazer, de forma lenta e gradual, a partir século XVIII,
com a transferência do eixo econômico do nordeste para o sudeste, mais especificamente para o interior
de Minas Gerais, onde iniciava-se, no período, a exploração de ouro de aluvião. Criou-se assim, um
mercado interno de alimentos, produtos de higiene, remédios, e outros itens básicos. A partir desta época,
produtos como carne de sol, mate, tabaco, e drogas do sertão começaram a ser produzidos e
comercializados nas diferentes porções do território nacional.
No século seguinte – época marcada pela
independência do Brasil (1822), pelo Governo Imperial
(1822-1889), e pela abolição da escravidão (1888) – houve
um aumento ainda maior dos fluxos Brasil: neste período,
enquanto o café produzido no sudeste era responsável pela
maior parte das exportações, também destacavam-se as
plantações de fumo e cacau na Bahia, de erva mate no
Região sul, e de algodão no Maranhão. Ainda no século XIX,
o geógrafo e diplomata Barão de Rio Branco eliminou os
conflitos de fronteira no país – em destaque aos casos do
Acre (negociações com Bolívia), e Paraná e Santa Catarina
(negociações com Argentina);
Com o golpe de 1989 e a instalação da
Primeira República, os interesses regionais foram mantidos

através da Política de Café com Leite – Brasil: a economia e o território no século XIX – revezamento
desmembramento do arquipélago econômico
de poder entre São Paulo e Minas Gerais – que se
configurou até o final da década de 1920, com a Crise do Café (1929) e o golpe de Getúlio Vargas (1930).
De fato, apesar do aparente fim do arquipélago econômico ocorrido anteriormente; no início do século XX,
o estado-nação brasileiro ainda não existia em sua plenitude; ao invés deste, conviviam neste cenário,
territórios relativamente autônomos com oligarquias regionais.

CACD/2017 – Prova de economia – Até 1930, a economia brasileira era essencialmente


agroexportadora, tendo o café como seu principal produto.

Comentário

Sim, o café foi o principal produto brasileiro durante grande parte do século XIX e nas primeiras
décadas do século XX, durante a República Velha. A situação mudou a partir dos anos 1930: a
crise de 1929 derrubou o preço do café; e sendo assim, o governo estimulou outras formas de
economia, como a industrialização.

Gabarito: Certo

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Vargas à Jânio: início do planejamento centralizado


Com o governo de Getúlio Vargas (1930), iniciou-se uma nova fase na política territorial: ao
contrário dos períodos anteriores – caracterizados pelo planejamento regional – Vargas promoveu a
integração nacional, marcada principalmente pelo nacionalismo e pela industrialização da economia. Nesta
época, elementos culturais como o samba, o futebol, a feijoada, ou até mesmo a “malandragem” brasileira
começaram a ser artificialmente definidas como matrizes culturais genuinamente nacionais. Através da
difusão da rádio, tais elementos poderiam ser incorporados facilmente à cultura do país, recrudescendo o
incipiente nacionalismo brasileiro.
Além disso, Getúlio promoveu a industrialização do sudeste, em espacial São Paulo e Rio de
Janeiro, regiões até então produtoras de café, provocando assim, grandes movimentos de migração interna
e concentração de capital. Assim, na primeira metade do século, foram inauguradas importantes indústrias
de base como Companhia Siderúrgia Nacional (CSN), a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), a
Petrobrás, e Vale do Rio Doce. Estes novos dinamismos econômicos fizeram com que, gradativamente, o
mercado interno passasse a comandar a economia brasileira ao invés do mercado externo praticado pelas
antigas metrópoles coloniais e imperiais. Deste período, destaca-se a criação do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE) (atual BNDES), uma autarquia federal, que pelo menos
teoricamente, seria responsável pelo financiamento de projetos de interesse nacional.
Além de ser famoso pela Rodovia Presidente Dutra (que liga São Paulo à Rio de Janeiro) inaugurada
em seu mandato, o presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), sucessor de Getúlio, também foi o
responsável pela idealização do Plano Salte (1947). Por meio de empréstimos externos, o plano visava
potencializar investimentos nas áreas de saúde, educação, energia e transporte. Contudo, devido à forte
oposição e às dificuldades de implantação, acabou não saindo do papel.

Cartilha de Vargas destinada às crianças estimulava o nacionalismo e o “culto a pátria”. Além de industrializar o Brasil, Getúlio criou uma
identidade nacional única.

Visando dar continuidade ao ambicioso projeto de substituição de importações iniciado nas


décadas anteriores, o então presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961) pôs em prática o seu Plano de
Metas com ênfase na industrialização e na modernização do país. Sob o lema “50 anos em 5”, o plano

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contemplava investimentos nas áreas de energia, indústria de base, comunicação, transporte, e educação;
sendo até hoje um dos principais projetos de integração nacional já executados; destacando-se também, a
construção de Brasília (1961) e a “rodoviarização” do país pautada na construção de estradas e no apoio à
indústria automobilística. Apesar de ter cumprido parte de seu objetivo de integrar o território brasileiro, o
Plano de Metas causou desequilíbrios econômicos como, por exemplo, o endividamento público e a
dependência de capital externo, sendo imediatamente abandonado por Jânio Quadros (1961-1961),
sucessor de Juscelino.
No final da década de 50, ainda neste período, foram
idealizados órgãos de desenvolvimento regional, em destaque
ao atendimento das regiões Norte e Nordeste, que mais
careciam de recursos. Em 1958, foi criada a Superintendência
do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA)
(1958); além do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do
Nordeste (GTDN) (1958), transformado no ano seguinte em
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
(1959).
Após o Plano de Metas, seguiu-se um conturbado
período marcado pela a renúncia de Jânio a posse de João
Goulart (1961-1964). Em plena Guerra Fria, além de seu Plano
Trienal de Desenvolvimento, o novo presidente propôs
JK e o desenvolvimentismo: “50 anos em 5” reformas progressistas nas áreas social e econômica: as famosas
Reformas de Base que alteravam importantes setores da sociedade como a educação, a agricultura, a área
fiscal, e as relações trabalhistas. De forte aproximação com a esquerda, a dupla Jânio-Jango foi derrubada
pelo Governo Militar (1964-1985), que inaugurou uma nova fase de planejamento territorial no Brasil.

Governo Militar: o estado como agente de desenvolvimento


Quando os militares deram um “golpe” – ou promoveram a “contrarrevolução” – em 1964,
trouxeram ao poder uma nova fase no planejamento territorial brasileiro, promovendo várias ações nos
âmbitos econômico, territorial, político, militar, e estratégico. Sob o lema ufanista “Brasil: ame, ou deixe-
o”, os militares realizaram diversas obras de importância estratégica, como as usinas hidrelétricas de
Itaipu Binacional (Paraná) e Tucuruí (Pará) – que até hoje são as maiores do país; as usinas nucleares de
Angra 1 e Angra 2 (Rio de Janeiro); a imensa Rodovia Transamazônia de mais de quatro mil quilômetros de
extensão; e a Ponte Rio-Niterói, a mais longa do hemisfério sul. Obras estas, que representam a ideia de
centralização da economia no estado, ou o aprimoramento do desenvolvimentismo inaugurado por
Juscelino Kubitscheck. Apesar de desenvolverem largamente a economia nacional, estas obras deixaram
um legado de endividamento externo, comprometendo os governos posteriores que vieram no período da
redemocratização.

Usina de Itaipu (PR), a maior do Brasil, construída na época dos militares


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Além das obras “faraônicas” – como chamam seus críticos – o governo militar implantou várias
medidas de integração territorial, como os programas de ocupação da Amazônia e do Cerrado. Vale
salientar que para além de questões meramente econômicas, havia, com o avanço da Guerra Fria, uma
preocupação em ocupar o território para fins de defesa e contenção de guerrilhas. Neste período,
conforme vimos na aula anterior, houve uma grande migração para a Região Norte estimulada pelo
governo, principalmente de populações das regiões nordeste e sul. Não por acaso, em 1966, durante o
mandato de Castelo Branco, foi criada a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM),
autarquia designada a desenvolver a Região Norte; também sendo criada a Zona Franca de Manaus (1967),
uma área industrial em plena Amazônia; além do Projeto Radam (Projeto Radar da Amazônia ou Radam
Brasil) (1970-1985) que objetivava mapear a Amazônia por meio de radares acoplados em aviões.

Rodovia Transamazônica (BR-230): para integrar à Região Norte ao resto do país, era necessária infraestrutura de transporte. Apesar de bem
intencionada, rodovia é criticada pelos seus impactos ambientais, como o desmatamento.

No âmbito econômico, o regime militar também idealizou subsequentes programas de


planejamento e ação. O primeiro a ser adotado, ainda por Castelo Branco, foi o Programa de Ação
Econômica do Governo (PAEG), que vigorou entre 1964 a 1966. Ao contrário dos programas anteriores de
João Goulart e Jânio Quadros, o PAEG preocupava-se em desenvolver o país sob a égide da economia de
mercado, que embora fosse fortemente regulada pelo estado e de cunho nacionalista, foi responsável
pelo êxito no controle da inflação, na correção do déficit público, no aumento do crescimento econômico,
e na geração de empregos; sendo um dos principais programas do governo militar.
Entre a grande quantidade de planos econômicos (a relação dos principais pode ser vista no quadro
abaixo) destacam-se as Metas e Bases Para Ação do Governo (1970 a 1972) e o Primeiro Plano Nacional
do Desenvolvimento Econômico (1972 a 1974), implantados no governo Médici, que alavancaram
exponencialmente a economia nacional por meio de políticas como a substituição de importações e o
desenvolvimento regional.
Exatamente pelo estrondoso “sucesso” dos planos, o início dos anos 1970 é conhecido como
milagre brasileiro, caracterizando um período de forte crescimento econômico: se em 1968, o
crescimento do PIB era de 9,8%, em 1973, esse valor passou para admiráveis 14%. [fonte]. No entanto,
apesar do aparente êxito, o “milagre brasileiro” não foi capaz de promover o bem estar social da
população: nas palavras do ministro Delfim Neto, era “preciso crescer o bolo para depois reparti-lo”, ato

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que nunca foi feito. Muito pelo contrário, após os efeitos do


“milagre” houve recrudescimento da desigualdade social e da
concentração de renda, além de aumento da inflação e arrocho
salarial; fatos estes, que iniciaram uma grave crise econômica
entre os anos 1970 e 1980.
Para piorar, a década de 1970 foi marcada por duas crises
do petróleo – uma em 1973 e outra em 1979 – que impactando
em quase toda a economia global, impactou diretamente o já
fragilizado Brasil. Neste contexto, o Segundo Plano Nacional de
Desenvolvimento (1975-1979) começou a priorizar o estimulo a
pesquisas em petróleo e o desenvolvimento de alternativas
energéticas como o álcool (que devidamente foi melhor estudado
no Programa Pró-Álcool). Deste período, ainda no campo
energético, destaca-se a construção da já mencionada
Charge ironiza milagre econômico: a economia cresceu, Hidrelétrica de Itaipu, a maior do Brasil.
mas o "bolo não foi dividido".

Planejamento no Governo Militar - Principais planos

Programa Objetivo e contexto Principais Metas

Instituído por Castelo Branco, o PAEG visava


Programa de Ação o planejamento dentro de uma economia de
Econômica do mercado, contendo a inflação do período e
Governo (PAEG) assim, aumentando o crescimento
(1964 a 1966) econômico. Foi um dos mais bem sucedidos
programas do governo militar. • Aceleração do crescimento
econômico
Já no governo Costa e Silva, o Plano Decenal • Contenção de inflação
Plano Decenal (1967 para ser uma continuação do bem sucedido • Redução do déficit público
a 1976) PAEG, com as mesmas metas, mas não saiu • Manutenção de empregos
do papel. • Desenvolvimento regional

Mesmos objetivos dos planos anteriores


Programa Estratégico
(aceleração da economia, contenção da
do Desenvolvimento
inflação, assegurar empregos, etc). O plano
(1968 a 1970)
foi bem sucedido.

• Inserir o Brasil no mundo


Metas e Bases Para desenvolvido até o final do século
Ação do Governo Crescimento extraordinário do PIB, no auge • Crescimento da infraestrutura
(1970 a 1972) do famoso "milagre brasileiro". No entanto, • Continuação dos objetivos
apesar do crescimento econômico, os anteriores
aspectos sociais pouco mudaram.
Primeiro Plano • Inserir o Brasil no mundo
Nacional do desenvolvido até o final do século XX

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Desenvolvimento • Duplicar a renda per capita até


Econômico (1972 a 1980
1974) • Crescimento anual do PIB de 8% a
10%

Devido ao sucesso do plano anterior, o


Segundo Plano
segundo plano visava manter o crescimento
Nacional do • Manter o crescimento econômico
econômico. No entanto, foi o período da
Desenvolvimento • Preservar a estabilidade social e
Crise do Petróleo, que abalando a economia
Econômico (1975- política
mundial, também afetou o Brasil, marcando
1979)
o final do milagre brasileiro.

Terceiro Plano Último plano do governo militar, elaborado


• Acelerar a criação de empregos
Nacional de em plena crise mundial. Ao contrário dos
• Elevar a renda e o PIB
Desenvolvimento outros, fracassou. No final, a inflação havia
• Conter a inflação
Economico (1980- voltado, a dívida do país havia aumentado, e
• Reduzir a pobreza
1985) a economia piorado como um todo.

Por fim, a última cartada do regime militar para retomar o crescimento da economia e preservar o
status-quo foi o Terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico (1980-1985), já no governo
Figueiredo. Todavia, este falhou em conter a grave crise econômica que havia se instalado nos anos 1970.
Na década seguinte, devido aos péssimos indicadores econômicos – como a volta da inflação, o aumento
do desemprego, o arrocho salarial, o aumento da dívida externa, e o crescimento negativo do PIB –
somados à insatisfação popular em relação às torturas e violações dos direitos humanos praticados no
regime militar, abre-se um novo período de planejamento com a redemocratização do Brasil.

Redemocratização no Brasil e as novas faces do planejamento


Conforme dito nos parágrafos anteriores, a transição entre o governo militar (1964-1985) e a nova
república (1985-presente2) foi marcado por uma intensa crise econômica, levando os analistas a chamarem
os anos oitenta de “década perdida”. Neste contexto, para além do planejamento regional, o principal
problema a ser enfrentado era a inflação a níveis galopantes, que somente nos anos de 1989 e 1990,
fechou com mais de mil por cento anual (!) [fonte]. Como este cenário econômico crítico inviabilizava a
maioria dos investimentos governamentais, com o propósito de conter a inflação, houve uma pausa no
planejamento territorial nos anos 1980 e 1990.

Nos anos 1980, o Brasil passava pela pior crise inflacionária de sua história, acarretando
na pausa do planejamento territorial.
2
Não se trata aqui, de fazer juízo de valor e/ou ideológico a partidos políticos ou presidentes da república em exercício recente.
Os fatos foram expostos da forma mais neutra possível, de forma estritamente necessária ao edital do CACD.

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Além da inflação, questões ideológicas ajudaram a frear o planejamento territorial centralizado:


com o final da Guerra Fria e a vitória do capitalismo ocidental juntamente ao avanço da globalização, o
Consenso de Washington (1989) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) pregavam a redução da
participação do estado na economia e a retomada do liberalismo econômico no cenário financeiro, ou
para alguns, neoliberalismo. Neste contexto, quebrando uma tendência história que vinha pelo menos,
desde a Era Vargas nos anos 1930, os governos brasileiros dos anos 1990 preocupavam-se em aumentar o
poder da iniciativa privada, desonerando o estado, e aplicando amplos programas de privatizações, que
incluíam, por exemplo, empresas de mineração, telecomunicações, e transportes.
Após o Plano Real (1994) que finalmente conseguiu estabilizar a inflação, os governos posteriores
voltaram a se preocupar com a integração nacional, sobretudo após o fim do período de privatizações e o
aumento do intervencionismo estatal no Brasil do século XXI. Destaca-se desta época mais recente, o Plano
Nacional de Aceleração do Crescimento (PAC) (2007-2010) e o Segundo Plano Nacional de Aceleração do
Crescimento (PAC II) (2011-2015). Estes programas englobavam originalmente, investimentos em
infraestrutura, economia, saneamento básico, habitação, transporte, entre outros. Neste período, também
foram recriadas as Superintendências de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Nordeste
(Sudene). No entanto, visto que estes últimos programas são bastante recentes na historiografia nacional,
não é possível analisa-los sem cair em partidarismos e convicções ideológicas. Ficamos, portanto, com um
quadro final resumindo o planejamento territorial na história do Brasil.

Resumão de Planejamento Territorial no Brasil

Período da
Quadro geral História Principais características
Brasileira

Compartimentação do território em Capitanias Hereditárias,


Período destinadas a donatários que se dispusessem a criar vilas,
colonial (1500- dinamizar a economia e enriquecer Portugal. Com exceção de
1822) Pernambuco e São Vicente, o modelo falhou. O território era
Economia pouco integrado, sem identidade nacional.
desarticulada em
Pouca integração territorial em formato de Arquipélago
forma de Arquipélago
Período Eonômico (café no sudeste, algodão no Maranhão, borracha na
Econômico
Imperial (1822- Amazônia, cana no Nordeste,etc). O governo era centralizado,
(planejamento
1889) mas o planejamento era regional; apesar do comércio interno,
regional)
não existia nação brasileira.

Primeira A estrutura social manteve-se igual à do final do Império. O


República planejamento territorial era exercido pelas oligarquias paulista
(1889-1930) e mineira, que defendiam seus interesses regionais.

Economia integrada Getúlio Vargas A partir deste momento, houve a industrialização e a


com forte atuação do (1930-1945 e urbanização do Brasil. Pela primeira vez, tentava-se integrar o
estado (planejamento 1951-1954) país e concebê-lo país como unidade cultural e geográfica. A
central, e Gaspar Dutra economia era centralizada no estado. Houve uma verdadeira
desenvolvimentista) (1951-1956) revolução no planejamento nacional.

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O desenvolvimentismo de JK e seu Plano de Metas foram


Juscelino responsáveis pelo aumento da industrialização e da
Kubitcheck rodoviarização do Brasil. A construção de Brasília e a ampliação
(1956-1961) de estradas aumentaram a integração nacional. Apesar do país
ter crescido, a dívida externa também aumentou.

Jânio Quadros De caráter progressista, as Reformas de Base e o Plano Trienal


e João Goulart de Jango encontraram forte oposição e obtiveram pouco êxito. O
(1961-1964) governo de Jango foi deposto pelos militares.

Construção de obras faraônicas de infraestrutura e grande


crescimento econômico seguido de crise (início e fim do milagre
brasileiro). Grande preocupação no desenvolvimento das
Governo Militar
regiões norte e nordeste. Um dos períodos de maior atuação do
(1964-1985)
estado no planejamento territorial e econômico. Os militares
desenvolveram o Brasil, mas deixaram um legado de inflação,
arrocho salarial, e dívida externa.

Inicialmente, devido a inflação galopante e a grave crise


Nova República
Pausa e retomada no econômica, o planejamento territorial foi estancado. No
(1985-
planejamento. entanto, tem sido retomado - mesmo que de forma tímida - nos
presente)
últimos anos. Ainda é cedo para traçar conclusões definitivas.

Lista de questões

CACD/2018 – Questão 23

A tabela a seguir mostra as porcentagens, sobre o total da população ocupada, da população ocupada por
setor produtivo: B = baixa produtividade (agricultura, comércio e serviços); M = média produtividade
(manufatura, construção, transporte e comunicação); e A = alta produtividade (mineração, eletricidade,
gás, água, atividades financeiras e imobiliárias), na América Latina (AL), no Brasil (BR), no México (MX), no
Paraguai (PG) e no Uruguai (UG), nos anos indicados.

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Com referência à população trabalhadora ocupada, na América Latina, e considerando os dados dos
setores produtivos da economia apresentados na tabela anterior, julgue (C ou E) os itens subsequentes.

1) A maior concentração da população trabalhadora latino-americana ocupada em setores de


produtividade baixa pode ser atribuída à importância do comércio e dos serviços na economia dos países,
considerando a urbanização do território no continente.

2) O incremento considerável de trabalhadores nos setores de mineração e construção civil no México


entre 2008 e 2012 está relacionado ao crescimento da mineração no país, com destaque para a exploração
de petróleo e gás e as atividades imobiliárias nas principais áreas urbanas do país, entre as quais se
destacam Cidade do México, Guadalajara e Monterrey.

3) A relativa diminuição do número de ocupados no setor de baixa produtividade e o aumento no setor de


alta produtividade da economia brasileira, entre 1999 e 2013, é um fenômeno explicado pela perda de
importância das commodities agrícolas para o país, que decorre da crise de exportação no período.

4) A relativa estabilidade quantitativa da população ocupada no setor de baixa produtividade, no Paraguai


e no Uruguai, entre 2008 e 2013, pode ser atribuída ao fato de a agricultura — para o Paraguai — e a
pecuária — para o Uruguai — serem as principais atividades econômicas desses países

CACD/2016 – Questão 29
A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que
elas provocam. Inclui também a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às
quais deve ser imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos.

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François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
5) A agricultura moderna brasileira elabora usos e apropriações da terra com reduzida demanda de
recursos hídricos e maximização da fragmentação do território nacional.
6) Mundialização do capital ou globalização refletem a capacidade estratégica de grandes grupos
oligopolistas, voltados para a produção industrial ou para as principais atividades de serviços, em adotar,
por conta própria, enfoque e conduta globais.
7) O princípio geográfico da localização, no mundo globalizado economicamente competitivo, é superado
pelos sistemas técnicos e de informação.
8) No mundo globalizado, observa-se uma tendência de compartimentação generalizada dos territórios,
onde se associam e se chocam o movimento geral da sociedade do trabalho e o movimento particular de
cada fração espacial: do nacional ao regional e ao local.

CACD/2003 - Questão 19
No bojo dos investimentos, não se pode esquecer que Mercedes-Benz e Volkswagen construíram no Brasil
as fábricas mais modernas do mundo. Justamente por causa dessa massa de investimentos, se Frankfurt
não vai ao Brasil, o Brasil tem que ir a Frankfurt. Para compensar a grande ociosidade das fábricas
brasileiras, exportar é mais do que uma ordem — transformou-se em “religião”. A meca dos investimentos
das montadoras, e não só das alemãs, agora é a China. Renato Acciarto.
Brasil perde para China preferência das montadoras. In: Gazeta Mercantil. 11/9/2003, p. A1 (com
adaptações). O texto acima expressa importantes processos em curso no mundo.
Considerando esse texto, julgue os itens a seguir.
9) Mundializam-se os mercados, porém não os processos de produção, já que o desenvolvimento
tecnológico é do domínio dos países mais industrializados.
10) Com a crescente internacionalização da economia capitalista, observa-se uma interdependência das
economias nacionais.
11) A busca da maior lucratividade é um dos fatores determinantes para o crescente processo de
especialização regional da produção.
12) No processo de globalização econômica, que suplanta fronteiras e culturas, é irrelevante o papel do
Estado, prescindindo-se também de ações conciliatórias entre os governos.
13) No desenvolvimento econômico contemporâneo, identificam-se formas de protecionismo e a formação
de blocos econômicos regionais, como o MERCOSUL, o qual é relevante para a ampliação de mercados e
melhora da competitividade do Brasil

CACD/2003 - Questão 20
Em geral, países da América Latina continuam a se dedicar pesadamente à exploração direta da riqueza de
seus recursos naturais visando à exportação. R. Gwynne e C. Kay. Latin America transformer, globalization
and modernity. New York: Arnold Publishers, 1999 (com adaptações). Considerando o assunto abordado no
texto acima e as questões a ele relacionadas, julgue os itens seguintes.

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14) Com a globalização econômica atual, em geral há uma tendência para o incremento das exportações da
América Latina de produtos primários e de baixo conteúdo tecnológico.
15) Embora com alguns impactos negativos, a economia baseada na exportação de produtos primários
livrou a América Latina, ao longo do século passado, dos efeitos das recessões mundiais e da conseqüente
flutuabilidade dos preços, visto que tais produtos possuíam mercado assegurado.
16) O Brasil pode ser excluído do grupo de países considerados como periferia global de recursos, uma vez
que sua pauta de exportações o coloca como país industrializado, apesar de esse fenômeno ter-se dado
tardiamente.
17) No Brasil, o crescimento do setor primário, levado a efeito por meio de intensa modernização por todo
o seu território, tem contribuído para diminuir as desigualdades geográficas e eliminar enclaves regionais.
18) O comprometimento da sustentabilidade ecológica e econômica é uma consequência do modelo de
exploração intensa de recursos naturais, entre as quais pode-se destacar o desflorestamento no Brasil.

CACD/2005 – Questão 25
Segundo Bertha Becker, “o rompimento da divisão do espaço e do poder mundiais em dois blocos e a
distensão daí decorrente trouxeram à luz as diferenciações espaciais, significando a recuperação do político
e da cultura expressos em conflitos pela definição de territórios”. Considerando essa análise e demais
aspectos significativos do atual processo de globalização, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
19) A globalização econômica ajuda a manter a unidade dos territórios nacionais rompida durante a Guerra
Fria e marcada pelo esgotamento do padrão de acumulação e de relações de poder calcado tanto na
centralização quanto na produção em larga escala.
20) Entre as causas de instabilidades no mundo atual, estão a revolução científico-tecnológica e a crise
ambiental.
21) O Estado deixou de ser a principal representação política, e o território nacional tampouco é a única
escala de referência de poder, lacunas que foram preenchidas pelo poder técnico-econômico.
22) Nas novas relações geopolíticas entre Estado, território e movimentos sociais, estes, cujo expoente é o
movimento ambientalista, apresentam-se como perenes.

CACD/2007 – Questão 62
Considerando os interesses brasileiros na Rodada de Doha da OMC, julgue (C ou E) os itens seguintes.
23) Dada a participação majoritária do setor terciário na composição de seu Produto Interno Bruto (PIB), o
Brasil almeja o aumento de sua participação nas exportações mundiais de serviços, defendendo, por
conseguinte, ampla liberalização dessa modalidade de comércio.
24) Nas negociações acerca de acesso a mercados, o Brasil objetiva a eliminação ou a redução de
restrições tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre suas exportações de bens, de forma geral,
priorizando o tratamento dos fatores que restringem e distorcem o comércio agrícola.
25) Por dispor de um parque industrial amplo e diversificado, embora com diferenças setoriais quanto aos
níveis de competitividade, o Brasil posiciona-se contrariamente ao aprofundamento de compromissos
relativos a reduções tarifárias para produtos manufaturados.

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26) O Brasil propugna maior transparência na aplicação de medidas contra práticas desleais de comércio,
em particular, medidas antidumping e anti-subsídios, que afetam suas exportações para os países
desenvolvidos.

CACD/2005 – Questão 44
Milton Santos, em uma de suas obras, afirma que os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três
formas de pobreza e, paralelamente, três formas de dívida social, na segunda metade do século passado.
Segundo o autor, essas formas de pobreza, de dívida social, são a pobreza-marginalidade, a pobreza
incluída e a pobreza estrutural globalizada. Essa classificação está atrelada ao processo de globalização
perversa. Tendo em mente as características desse tipo de globalização, julgue (C ou E) os itens a seguir.
27) Associada ao processo econômico da divisão social do trabalho internacional ou interna, a pobreza-
marginalidade é considerada a doença da civilização e o consumo apresenta-se como o centro da
explicação das diferenças e das percepções das situações.
28) A pobreza incluída iniciou-se como um processo associado a problemas privados, assistencialistas e
locais, porém a globalização tem mudado o perfil dessa forma de pobreza.
29) A pobreza estrutural globalizada impôs-se como natural e inevitável nos tempos atuais, pois há uma
produção globalizada da pobreza, mais presente, sem dúvida, nos países pobres.
30) Com relação à dívida social, os pobres já foram incluídos; posteriormente, foram marginalizados; e,
atualmente, estão sendo excluídos.

ABIN 2004 e 2008 (Cespe/UNB)


31) A economia globalizada da atualidade pressupõe mercados abertos à livre circulação de produtos e de
capitais, o que inviabiliza, em tese e na prática, a existência de monopólios e de protecionismo.
32) Entre os efeitos positivos trazidos pela globalização está a sensível redução das desigualdades entre os
países. Isso se explica pela simetria existente no mercado mundial, no qual todos podem comprar e vender
em condições bastante semelhantes.
33) A força do capital encontra-se no monopólio do conhecimento e da informação; assim, ciência e
tecnologia tornaram-se fatores produtivos importantes no processo de globalização.
34) Uma das estratégias de dinamização do crescimento econômico dos chamados Tigres Asiáticos,
impulsionada pelo influxo de capitais japoneses, foi a ampliação das exportações e a conquista de
mercados externos.
35) Os principais produtos de exportação (commodities) do Brasil são insumo básico para vários ramos
industriais, como é o aço, razão por que as barreiras protecionistas não constituem problema para o
comércio exterior brasileiro.
-
Vale se debruçar sobre a relação entre as dificuldades na reforma da ONU, e seus métodos antiquados de
tomada de decisões, especialmente nos temas energéticos, climáticos e no nevrálgico capítulo das
migrações internacionais. São todos exemplos que expõem, em carne e osso, novas estruturas duradouras
das relações internacionais do século XXI.

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José Flávio Sombra Saraiva. Entre egoísmos e frustrações. In: Correio Braziliense, “Opinião”, 2/8/2008, p.
29 (com adaptações).
Tendo o texto acima apenas como referência inicial, julgue os itens que se seguem, acerca das relações
internacionais do fim do século passado e início do século XXI.
36) Os processos de integração econômica e política, em grande parte das experiências desenvolvidas nas
últimas décadas, passam por momentos de restrições.
37) O fracasso das negociações comerciais da Rodada Doha foi fato isolado no mundo contemporâneo, que
se caracteriza pela existência de regimes internacionais e regras de previsibilidade.
-
Apesar da ampliação dos mercados, a globalização da economia e o crescimento dos fluxos de mercadorias
reafirmam a desuniformidade do espaço terrestre e dão visibilidade à sua heterogeneidade e à sua
diversificação pela ação das sociedades que o modelam.
Iná E. Castro. Geografia política, território, escalas de ação e instituições. Bertrand Brasil, 2006, p. 234.
Tendo o texto acima como referência inicial e considerando os assuntos por ele suscitados, julgue os
seguintes itens.
38) Em função da busca da competitividade e da heterogeneidade do espaço, as empresas se dirigem para
locais onde haja mão-de-obra qualificada e barata e infraestrutura adequada.
39) A globalização, como fenômeno em curso no mundo, é caracterizada pela integração de mercados,
levando o crescimento econômico a todas as regiões, articuladas segundo um processo equitativo de
distribuição de riqueza.
40) Para a inserção de países como o Brasil, o México e a Argentina na nova realidade econômica mundial,
as organizações financeiras internacionais exigiram a reforma do Estado, para a ampliação da autonomia
deste e para a garantia do crescimento econômico por meio da centralização da tomada de decisão.
-
O mercado é a instituição central do processo de globalização. Um dado fundamental é a evidência de que
o mercado se tornou mundial. Isso não quer dizer que tombaram os muros das fronteiras nacionais ou dos
protecionismos, mas que nunca tantos produtos cruzaram oceanos e continentes. As barreiras
estabelecidas pelos blocos nacionais ou pelos acordos comerciais visam mais normatizar a competição em
favor dos interesses comerciais particulares de cada país do que bloquear essa circulação. É, pois, no
mercado e nas expectativas de consumo que ele propicia que se materialize a globalização. Iná E. Castro.
Bertrand do Brasil, 2006, p. 233 (com adaptações).
Tendo em vista o tema da globalização, tratado no texto acima, julgue os itens a seguir.
41) A globalização é um fenômeno puramente econômico-financeiro, fundamentado no alcance mundial
do mercado, que aumentou os fluxos comerciais entre países e blocos de países.
42) Um dos fatores que impulsionam o fluxo de capitais é o desenvolvimento tecnológico, o qual também
promove o crescimento da produção industrial.
43) O dinamismo da economia, instaurado a partir do processo de globalização e evidenciado pelo
aumento da produção industrial, teve como vantagem o aumento jamais visto da demanda por mão-de-
obra e, portanto, o pleno emprego nos países ricos.

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44) Com o desenvolvimento da tecnologia da informação, um dos vetores da globalização, aumentam


também as possibilidades de expansão das atividades do crime organizado, como o terrorismo, as máfias e
o tráfico de drogas ilícitas.
45) Em relação ao Brasil, o processo de globalização diminuiu a concorrência entre produtos agrícolas no
mercado internacional, o que impulsionou a modernização da agricultura no país.
46) A globalização econômica trouxe consigo a possibilidade de aumento da interação entre os processos
produtivos e o consumo, mas também a presença estratégica de grandes empresas globais vinculadas,
direta ou indiretamente, ao aparelho político e estratégico de Estados nacionais que utilizam a
internacionalização para a realização de seus interesses nacionais e para reforçar suas capacidades
decisórias.
47) A globalização de fluxos comerciais e do movimento de capitais tem na constituição dos blocos
econômicos supranacionais um entrave para o seu desenvolvimento.
==146f25==

Gabarito

GABARITO
1 C 11 C 21 C 31 E 41 E
2 C 12 E 22 E 32 E 42 C
3 E 13 C 23 E 33 C 43 E
4 C 14 C 24 C 34 C 42 C
5 E 15 E 25 E 35 E 43 E
6 C 16 E 26 C 36 C 44 C
7 E 17 E 27 C 37 E 45 E
8 C 18 C 28 E 38 C 46 C
9 E 19 E 29 C 39 E 47 E
10 C 20 C 30 C 40 E

Treinamento em discursivas

Economias da China e da Índia (CACD 2008)


Muitos economistas reconhecem a Índia e a China como as novas “locomotivas” (como se diz
comumente no discurso jornalístico) da economia mundial. Estabeleça as semelhanças e as diferenças
entre os modelos de desenvolvimento desses países, avaliando as vantagens comparativas e
competitivas de cada um deles.
Extensão máxima: 90 linhas (valor: 30 pontos)

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Comentário sobre a questão

Uma questão bastante complexa e interdisciplinar: além de vários conhecimentos de Geografia,


também é preciso uma grande bagagem dos cursos de História e Política Internacional. Apesar de não ser
diretamente pedido na questão, o ideal é contextualizar as economias da China e da Índia com os seus
aspectos históricos, políticos, e sociais. Para isso, é necessário recorrer às aulas de Geografia da População,
Geografia Econômica, Geografia Agrária, Geografia Urbana, e Geografia e Gestão Ambiental. Pois é, trata-
se de uma questão bastante abrangente, que exige muito do aluno. Por isso mais importante do que
“saber muito” é saber relacionar os conteúdos de forma eficiente.

Resolução da questão:
Apesar de China e Índia serem distintas entre si nos âmbitos cultural, religioso, e político, ambos
guardam semelhanças no que tange à condução econômica: não obstante as diferenças históricas, são dois
países economicamente regidos sob a égide do forte intervencionismo estatal, em especial às áreas de
energia e infraestrutura. Na condição de países em desenvolvimento, integram – juntamente à Brasil,
Rússia e África do Sul – o grupo dos BRICS, união formada por países emergentes. No que se refere à
questão populacional, tanto Índia quanto China estão passando pelo que os demógrafos chamam de
terceira fase de transição, caracterizada principalmente pela diminuição das taxas de mortalidade e
natalidade; e ocasionada sobretudo, pela combinação entre industrialização e êxodo rural.
No aspecto econômico, ambas iniciaram sua trajetória como nações nitidamente agrárias,
transformando-se posteriormente em economias emergentes em acelerado processo de urbanização, no
entanto, algumas diferenças podem ser traçadas. A China, de governo comunista desde 1949,
historicamente foi avessa à modernização capitalista e à economia de mercado. Na década de 1950, o líder
Mao Tsé Tung, idealizador do “Grande Salto em Frente” promoveu a coletivização forçada de terras e
planificação econômica, resultando em grandes fracassos econômicos. A aproximação industrial com a
União Soviética, devido ao caráter camponês da doutrina maoísta, também não logrou grandes frutos. Foi
somente na década de setenta, com a ascensão de Deng Xiaoping que a China se abriu ao mercado,
iniciando assim, o longo período de crescimento econômico que se estende até o presente momento.
No entanto, esta abertura foi realizada com inúmeras restrições, ficando exclusivamente restrita às
Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) criadas pelo Partido Comunista Chinês – áreas abertas aos
investimentos estrangeiros próximas ao litoral e a estruturas como portos e áreas urbanas. Embora fosse
fortemente regulada pelo estado, a abertura econômica chinesa atraiu um grande aporte de
investimentos, principalmente dos Estados Unidos e do Japão; que atraídos pela mão de obra
artificialmente barata (fruto de décadas de regime autoritário e isolamento econômico), poderiam assim,
ampliar a mais valia e maximizar os lucros oriundos do trabalho.
Ultimamente, a China tem influenciado a economia de diversos países subdesenvolvidos ou
emergentes, como o Brasil. O alto consumo chinês de commodities – alavancado pelas ondas de
investimentos privados e estatais neste país – têm elevado o preço das matérias primas em mercado
internacional: trata-se do chamado “efeito China”, que durante a crise global de 2008 beneficiou
diretamente a economia brasileira, sobretudo nos setores de exportação de minério de ferro e grãos.
Além disso, para além de ser receptora de investimentos, a China também investe ativamente em
economias subdesenvolvidas na África e na América, principalmente liderando projetos de infraestrutura e
construção civil, sendo responsável, hoje, por significativa parcela dos fluxos financeiros globais.

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Assim como a China, a Índia também passou por grandes dificuldades até iniciar seus processos de
urbanização e industrialização. O subcontinente indiano, até então unificado sob o domínio inglês, diante
da independência, se dividiu em Índia, Paquistão e Bangladesh, cada qual possuindo unidade cultural
distinta. Até hoje, Índia (de predominância hindu) e Paquistão (de predominância islâmica) disputam a
região da Caxemira, vital para o suprimento de recursos hídricos, conflito este, sem solução desde 1947,
ano da independência indiana. Atualmente, estes dois países rivais possuem armas atômicas e fazem
testes militares nas fronteiras, gerando instabilidades geopolíticas e a preocupação de órgãos
internacionais com a iminência de uma guerra nuclear.
Independentemente das tensões políticas, a Índia configura-se, atualmente como uma economia
em ascensão, cujos investimentos em tecnologia e pesquisa produzem um grande contingente de mão de
obra qualificada, sendo frequente a “fuga de cérebros” para países desenvolvidos como Estados Unidos,
sobretudo nos setores de informática e desenvolvimento de softwares. Contudo, não obstante o avanço
tecnológico, a Índia possui grande parte de sua economia ainda voltada para o setor agrícola, em especial
para produtos como arroz, trigo e algodão, empregando neste, grande parte da população, o que tem
provocado tensões na OMC (apesar do maciço investimento em fertilizantes e defensivos agrícolas, ainda
predomina, no país, a agricultura familiar).
No entanto, apesar das galopantes taxas de crescimento, as economias indiana e chinesa ainda
demandam grandes desafios, sobretudo no tocante aos problemas ambientais e à minimização das
profundas desigualdades sociais existentes nestes países. Na China, enquanto a pobreza ainda é uma
realidade constante nas áreas rurais; nas urbanas, operários fazem longas e desumanas jornadas de
trabalho, sendo recorrente o número de suicídios em detrimento da exploração exaustiva da força de
trabalho. Já na Índia, a pobreza configura-se como um problema predominantemente das grandes cidades,
onde estão localizadas as algumas das maiores favelas do mundo; cuja urbanização acelerada deverá
provocar novas demandas por habitação, saneamento, e justiça social. Além disso, ambos os países
possuem enclaves ambientais, como por exemplo, a utilização de combustíveis fósseis (de baixo custo
porém poluentes), a inexistência de legislações ambientais de controle, e a consequente deterioração da
qualidade do ar e de recursos hídricos. Por fim, é necessário ressaltar que apesar do elevado crescimento
econômico chinês e indiano, dada a configuração da Nova Divisão do Trabalho e da Quarta Fase da
Globalização, os centros de decisão econômica ainda estão nos tradicionais países desenvolvidos – em
destaque Estados Unidos e nações da Europa Ocidental.

Proposta de régua de correção

- Entender as semelhanças econômicas entre China e Índia (ambos países emergentes e de forte
intervenção estatal).
- Entender as semelhanças demográficas entre China e Índia (os dois países mais populosos do mundo)
- Saber que tanto China quanto Índia participam dos BRICS junto ao Brasil.
- Entender que tanto China quanto Índia eram nações agrárias e estão se urbanizando rapidamente.
- Entender o impacto do comunismo na economia chinesa pré-abertura econômica, especialmente Mao
Tsé-Tung e Grande Salto para Frente.
- Entender, mesmo que por cima, a fracassada aproximação industrial China-URSS.
- Entender profundamente a abertura econômica chinesa promovida por Deng Xiaoping nos anos 1970.

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- Saber a origem dos investimentos da China (principalmente EUA e Japão)


- Saber o que são as Zonas Econômicas Especiais (ZEE) da China. Não confundir com Zona Econômica
Exclusiva (ZEE) (zona marítima de influência de cada país).
- Compreender o Efeito-China e a alta das commodities expressa nas relações Brasil-China (a questão não
cobra nada relacionado à Brasil, mas é bom citar).
- Entender a independência indiana e os conflitos religiosos que deram origem à Paquistão (maioria
muçulmana), Índia (maioria hindu) e Bangladesh (maioria muçulmana).
- Entender os atuais conflitos na Caxemira (de natureza religosa entre Paquistão e Índia) e também saber
que estes dois países estão entre os nove do mundo que possuem armas atômicas.
- Entender a "fuga de cérebros" da Índia para os EUA
- Entender as tensões na OMC referente aos subsídios agrícolas que envolvem tanto Índia quanto China –
além do Brasil.
- Ter a dimensão dos problemas sociais e ambientais decorrentes das urbanizações chinesa e indiana.
- Situar a China e a Índia no contexto do consumo de combustíveis fósseis e emissões de gases do efeito
estufa.
- Situar a China e a Índia na Nova Divisão do Trabalho.
- Como a questão é complexa, outros temas poderiam facilmente ser inseridos aqui! Vai depender do
avaliador, ok?

Globalização e categorias de análise da Geografia (CACD 2005)


Os territórios, tanto quanto o lugar, são esquizofrênicos, porque, de um lado, acolhem os vetores
da globalização, que neles se instalam para impor sua nova ordem, e, de outro lado, neles se produz uma
contra-ordem, porque há uma produção acelerada de pobres, excluídos, marginalizados.
Crescentemente reunidas em cidades cada vez mais numerosas e maiores, e experimentando a situação
de vizinhança (que, segundo Sartre, é reveladora), essas pessoas não se subordinam de forma
permanente à racionalidade hegemônica e, por isso, com freqüência podem se entregar a manifestações
que são a contraface do pragmatismo. Assim, junto à busca da sobrevivência, vemos produzir-se, na base
da sociedade, um pragmatismo mesclado com a emoção, a partir dos lugares e das pessoas juntos. Esse
é, também, um modo de insurreição em relação à globalização, com a descoberta de que, a despeito de
sermos o que somos, podemos também desejar outra coisa.
Milton Santos. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 4.ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 114.
Tendo como referência o parágrafo acima, apresente, sucintamente, as formas como a
globalização se mostra, considerando lugar e território.
Extensão máxima: 15 linhas. (valor da questão: 2,5 pontos)

Comentário sobre a questão

Nesta questão, é exigido que o aluno saiba os três tipos de globalização descritos por Milton Santos:

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a “globalização como perversidade” (a real, que causa desigualdades), a “globalização como fábula” (a
irreal, vendida pelo grande capital), e a “globalização como possibilidade” (a alternativa que Santos propõe
em seu livro). A boa notícia é que para quem sabe o conteúdo, é uma questão fácil, pois cobra apenas os
conceitos miltonianos e nada mais. Porém, questões pontuais estão cada vez mais raras no CACD. A
tendência é que as discursivas sejam cada vez mais complexas e abrangentes (em 2005 eram apenas 15
linhas, hoje a menor questão tem 60).

Resolução da questão:
Milton Santos classifica a globalização em três tipos: a) primeiramente, a “globalização como
fábula” difundida pelos veículos de comunicação, pelas grandes empresas, e pelos atores hegemônicos,
produziria um falso ideal de integração, que sendo vendido para a população, colocaria o consumismo
como um valor moral central; b) a “globalização perversa” seria a globalização real, efetivamente
observada na maioria dos territórios, que para Santos, provocaria desemprego, pobreza e a marginalização
das baixas classes sociais; c) já a “globalização como possibilidade” consistiria na globalização “mais
humana”, pautada na substituição do consumismo e do dinheiro como valores centrais e no enfoque às
necessidades do próximo, vertente esta, considerada ideal.
Nesse contexto, “globalização perversa”, predominante no mundo contemporâneo, seria
caracterizada por acirrar as desigualdades e por dissolver o conteúdo do lugar, massificando o consumo
cultural e corroendo assim, as noções de identidade local. Por outro lado, assim como o lugar, o conceito
de território seria enfraquecido, pois a “globalização perversa” provocaria aumento do poder das empresas
e o gradual esfacelamento dos estados nacionais.

Proposta de régua de correção

- Globalização para Milton Santos:


- Globalização como fábula (ideal irreal de integração vendido pela mídia).
- Globalização como perversidade (a globalização real).
- Globalização como possibilidade (a proposta “humanitária” de Santos).

Globalização (hipotética)
Desde a derrocada do modelo socialista soviético e a expansão do capitalismo mundial, o mundo
tem passado por grandes transformações, que implicaram em avanços técnicos, científicos, e
informacionais. Desde a Terceira Revolução Industrial – cujo auge se deu nos anos 1990 – houve uma
revolução nos modos de produção, nos sistemas de comunicação e transporte, e na relação comercial
entre os países do globo. Tendo em vista estes processos, caracterize o cenário da globalização atual –
levando em consideração os diferentes papéis dos países desenvolvidos e desenvolvidos – e discorra
sobre os impactos e limitações decorrentes deste sistema global.
Extensão máxima: 60 linhas [valor: 20 pontos]

Comentário sobre a questão

A ideia desta questão hipotética é fazer um breve resumo sobre globalização. Acho difícil que caia

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uma questão semelhante, mas é muito provável que você vá utilizar conceitos da globalização em
discursivas de outros temas.

Resolução da questão:
Desde o final da Guerra Fria, a queda do Muro de Berlim e a falência econômica do modelo
soviético, o capitalismo consolidou-se como sistema hegemônico global, cujos centros de decisão
passaram a ser Estados Unidos, União Europeia, Japão, e mais recentemente, no século XXI, a China. Sob a
égide do Consenso de Washington e da retomada do liberalismo econômico, houve um estímulo
ideológico à integração das nações e à propagação do livre comércio entre os países, formando o que os
estudiosos chamam de “aldeia global”, configurando um mundo tecnicamente interconectado. Sob as
luzes da Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-Científica, surgiram, neste período,
importantes progressos tecnológicos que impulsionaram avanços nos setores como a robótica, a
informática, as telecomunicações, os transportes, a química fina, a biotecnologia, e as ciências de forma
geral, revolucionando assim, os métodos produtivos. Estaria formada assim, a estrutura geral da
globalização. Na Nova Divisão do Trabalho da globalização – largamente conceituada por David Harvey –
os países desenvolvidos produzem bens industriais e tecnológicos de alto valor agregado; já os
subdesenvolvidos e emergentes, bens industriais ou manufaturados de baixo valor agregado, bem como
commodities e matérias primas. Há assim, uma reformulação da regionalização mundial, cuja polarização
ocorre entre detentores e não-detentores de tecnologia e informação; o que Milton Santos chama de
meio-técnico-científico-informacional, privilégio de espaços geográficos desenvolvidos.
No entanto, esta globalização – a do progresso, a dos avanços técnicos, a vendida pelos veículos de
comunicação – uma vez que acirraria as desigualdades socioespaciais, para Milton Santos, seria a
“globalização como fábula”, um modelo irreal de desenvolvimento econômico. Para o autor, ao invadir
mercados de consumo de forma selvagem e ultra competitiva, a globalização acentuaria as diferenças
entre os territórios, causando desemprego e pobreza nas classes menos favorecidas. O consumismo
exacerbado e a massificação cultural, frutos de políticas expansivas do capital, criariam assim, uma
sociedade cujo dinheiro constitui o valor central, enfim, a monetarização da vida humana.
Além disso, o próprio funcionamento da nova ordem mundial impõe sérias restrições à sua
expansão e solidificação em âmbito mundial. Uma vez que acelera os fluxos da circulação de capital, a
globalização faz com que países se protejam da “agressividade” do sistema, fomentando reservas de
mercado e políticas protecionistas, como contraditoriamente vem ocorrendo em nações desenvolvidas
como Estados Unidos e Reino Unido, considerados bastiões do capitalismo global. Há inclusive, sérias
discussões na Organização Mundial do Comércio referente à existência de subsídios agrícolas praticados
pelos países europeus a nações emergentes, como Brasil, Índia e China. Por outro lado, na tentativa de
protegerem seus parques industriais, países subdesenvolvidos se fecham à tecnologias e inovações
estrangeiras, gerando um impasse de mão dupla. Além disso, a existência de blocos econômicos como
NAFTA, Mercosul, ou União Europeia, ao invés de promoverem o livre comércio global, fortalecem
modelos comerciais locais e regionais, criando sistemas semi-fechados de circulação de capitais;
contrariando assim, a lógica de integração global (muito embora o processo de formação de blocos
econômicos seja reflexo da globalização).
Além disso, uma vez que o poder dos estados nacionais é reduzido, limitam-se os raios de alcance
do planejamento territorial, ampliando a atuação das empresas multinacionais e transnacionais; que não
obstante à oposição de órgãos internacionais como a OMC, por muitas vezes, adotam práticas desleais
como cartéis, trustes, ou dumping, gerando oligopólios ou monopólios. O estado, por sua vez, exercendo o
poder que lhe ainda restou, tenta, cada vez mais, controlar a economia através de polícias cambiais e

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monetárias, bem como implantar políticas protecionistas, realizar acordos bilaterais e promover a Guerra
Fiscal em seus territórios.

Conteúdos exigidos na questão

- Entender a transição do mundo bipolar (Guerra Fria entre EUA e URSS) para o mundo multipolar
(predomínio do capitalismo dos EUA).
- Entender a relação entre (Neo)liberalismo e Consenso de Washinton (consenso para a abertura
econômica).
- Entender a Terceira Revolução Industrial (Revolução Técnico-Científica) e sua relação com o
modelo de acumulação flexível.
- Entender a relação entre Globalização e Nova Divisão do Trabalho.
- Compreender o meio-técnico-científico-informacional (Milton Santos) e as desigualdades no
espaço decorrentes da globalização.
- Entender a contradição entre globalização e protecionismo.
- Entender a relação entre globalização e formação de blocos econômicos.
- Entender a contradição entre globalização e choque de civilizações.
- Entender que a financeirização promovida pela globalização reduz a soberania dos estados
nacionais.
- Entender as contradições entre livre mercado e tentativas de eliminação de concorrência como
cartéis, trustres e dumpings.

Bibliografia sugerida

Para entender melhor as causas, os efeitos, e a real abrangência da globalização, sugiro dois livros
fundamentais no tema, um do Milton Santos e outro do David Harvey. Apesar de ambos analisarem a
globalização pela ótica marxista (o que poderia lhes conferir certa parcialidade), são duas das principais
referências na área, amplamente estudadas nas faculdades de Geografia. Ambas as referências são
bastante teóricas, mas esse entendimento é fundamental para responder corretamente as questões da
banca.

SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização. Rio de Janeiro: Record, 2004.
HARVEY, D. Condição Pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1989.

É nesse livro que Santos propôs os três tipos de globalização (como fábula, como perversidade, e
como possibilidade) e a analisou de forma bastante profunda, com todas as suas contradições inerentes
(se estiverem sem tempo, sugiro ler pelo menos a introdução do livro).

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Já o Condição Pós-Moderna do Harvey, é um clássico para entender as transformações do mundo


fordista para a economia de acumulação flexível. No entanto, é um livro bastante denso, o que pode
tornar a leitura difícil para quem não está familiarizado com este tipo de linguagem.
Nos vemos na próxima aula, onde continuaremos estudando Geografia Econômica, mas desta vez,
estudaremos sobre os blocos econômicos.

Um abraço e bons estudos!


Prof. Alexandre Vastella

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