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Aula 03
Alexandre Vastella
Recado inicial
Caros alunos, depois da aula inaugural sobre História da Geografia, e da segunda aula sobre
Geografia da População, iniciaremos hoje o terceiro item do edital, que consiste em temas voltados à
Geografia Econômica. Por se tratar de um item com muitas questões, e que portanto, costuma cair mais
no CACD, este será subdivido em três aulas consecutivas, a serem ministradas de acordo com a seguinte
sequência:
Embora este conceito possa divergir entre os autores, de forma, geral, globalização diz respeito à
integração econômica, cultural, técnica, e comercial entre os diferentes povos do globo. Para ser
globalização, esta integração precisa necessariamente ocorrer em diferentes partes do mundo (escala
global),e não somente em escala regional.
Apesar dos movimentos anteriores, só a partir dos anos 1990 que houve,
de fato, a globalização. Quando a Cespe mencionar o termo
“Globalização única”
“Globalização” sem se referir a nenhuma época específica, considere o
período pós-1990.
De forma geral, tendo em vista esta discussão, pode-se extrair a seguinte premissa: o mundo está
se integrando, no âmbito científico, político, econômico, cultural, e militar, pelo menos desde o século XV;
no entanto, somente a partir dos anos 1990 do século XX que esta integração atingiu seu ápice,
consolidando o que Manuel Castells chama de capitalismo informacional, ou o que Milton Santos chama de
meio-técnico-científico-informacional; isto é, um sistema de integração global baseado no alto fluxo de
técnicas, finanças e informações; acarretando assim, em profundas alterações na Divisão Internacional do
Trabalho – ou seja, em como as pessoas produzem e trocam mercadorias.
Polêmicas de lado, para sermos mais abrangentes, vamos considerar para este item a história da
globalização em quatro fases, desde o século XV até os dias atuais.
Primeira Divisão Internacional do Trabalho baseada na relação entre metrópole e articulavam de forma regional em locais como
colônia. Na imagem, viagens portuguesas ao mar e produtos extraídos em cada Golfo Pérsico, Norte da África e Egito, Índia,
região.
domínios do Império Mongol, China, Oceania, América Central, entre outros. Não é possível, portanto,
estabelecer uma data de início para a famosa “integração global” que ocorre nos dias de hoje, mas é fato
que as Grandes Navegações foram um grande marco para seu início.
Outro grande salto de integração ocorreu com a Primeira Revolução Industrial, iniciada na
Inglaterra e na França nos séculos XVII e XVIII. A partir deste período a acumulação primitiva de capital
possibilitou que as grandes metrópoles se industrializassem, complexificando a especialização produtiva
global, iniciando assim, a Segunda Divisão Internacional do Trabalho. Se anteriormente predominam as
relações metrópole-colônia, nesta época passou a vigorar um sistema econômico baseado nas relações
comerciais entre países industrializados (antigas metrópoles) e países fornecedores de matéria prima
(colônias ou ex-colônias).
Tecelagem inglesa do séc. XVIII: nesta época, Europa precisava de mercados de consumo além-mar. Esta nova divisão do trabalho configurou a
Segunda Fase da Globalização.
Embora a relação de poder tenha sido inalterada – países europeus exercendo dominância
geopolítica e colônias americanas, asiáticas e africanas fornecendo commodities – a estrutura desta relação
se ampliou: além de extraírem matéria prima, os países europeus agora tinham a preocupação de
estabelecer um mercado consumidor para seus produtos industrializados a fim de alimentar o recém
implantado sistema. Trocava-se assim, de forma gradual, a mão de obra escrava pela assalariada nas
colônias. Não por acaso, por exemplo, a Inglaterra foi o primeiro país a se industrializar, e também um dos
primeiros a proibir o tráfico negreiro. Assim, após a industrialização partir do século XIX, iniciava-se a
Segunda Fase da Globalização, etapa esta, que prosseguiu até o século XX. Desta época, popularizaram-se
grandes avanços técnicos no âmbito dos transportes e da comunicação que intensificaram a articulação
territorial, tais como ferrovias, telégrafos, telefones, automóveis, aviões, sistemas de rádio, entre outros;
havendo assim, expressivo aumento da integração econômica iniciada nas Grandes Navegações do século
XV.
A partir dos anos 1990, com a falência da economia socialista, o capitalismo consolidou-se como
sistema econômico global, sendo hegemônico em (quase) todos os locais do globo, período este, que
chamamos de ordem multipolar, ou, a Quarta Fase da Globalização.ao contrário do
que ocorria nas décadas anteriores – onde o mundo estava dividido entre
ideologias políticas – atualmente, a regionalização global é feita por meio de
blocos econômicos (assunto que veremos na próxima aula) que ocorrem
principalmente ao redor dos grandes centros do capitalismo global que
são: Estados Unidos, Europa Ocidental, Japão, e mais recentemente, a
China. Não por acaso, foi justamente em 1989 – ano oficial da queda do
Muro de Berlim – que ocorreu o Consenso de Washington, um encontro
entre políticos e economistas na capital dos Estados Unidos. O principal
objetivo do evento era fornecer um receituário para implantar o
(neo)liberalismo econômico nos países da América Latina, pautado
principalmente no livre mercado, na redução do papel do estado, na
abertura de fronteiras comerciais, e no equilíbrio fiscal – medidas fortemente recomendadas às nações
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). No Brasil, tais políticas refletiram, por exemplo, na privatização
de empresas de transporte, mineração, e telecomunicações; além de maior abertura à compra de produtos
importados.
Além da questão política, o fator técnico foi crucial para o desenvolvimento da globalização, em
destaque a Terceira Revolução Industrial, ou Revolução Técnico-Científica-Informacional, iniciada de
forma descentralizada no final do século XX. Trata-se de uma onda de inovação científica e descobertas
tecnológicas que alteraram profundamente os modos de vida e produção; como por exemplo, a
informática, a internet, a robótica, a genética, a eletrônica, a bioquímica e a química fina, e avanços nos
sistemas de transporte e telecomunicações.
Assim, com a “vitória” do capitalismo sob o socialismo oficializada no Consenso de Washington, e
com a revolução técnico-científica-informacional nos últimos anos, intensificaram-se os fluxos comerciais,
financeiros, tecnológicos, informacionais, culturais, entre outros, aumentando a integração e a
aproximação entre os povos e os locais do planeta. De forma geral, estes processos são chamados de
globalização, afetando direta e imensamente nosso dia a dia.
Fase da:
Contexto Divisão Internacional do Trabalho
Globalização DIT
Geografia p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Pós-Edital Ford e o modelo Ford-T, ícone da produção fordista
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Geografia Econômica – Parte I de III 6
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Professor Alexandre Vastella
Alexandre Vastella
Geografia para o CACD 2019
Aula 03
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No início do século XX, o industrial Henry Ford (1863-1947) adotou o que posteriormente ficou
conhecido como Fordismo, um modelo industrial baseado na produção e no consumo em massa. Até
então, automóveis eram extremamente caros, sendo restritos às classes mais ricas; Ford queria então, que
seus produtos fossem consumidos pelas classes populares. Para isto, era necessário criar um sistema que
otimizasse a produção e reduzisse os custos.
No modelo fordista, havia uma especialização do trabalho, na qual o funcionário realizava apenas
uma pequena etapa do produto final, montado por vários empregados. No caso da Ford, o funcionário
passava o dia todo na mesma posição enquanto uma esteira rolante conduzia as peças a serem montadas.
Não era necessário, portanto, mão de obra qualificada. Embora maximizasse os lucros, este processo
causava o que Marx chama de alienação do trabalho, que é a falta de visão geral sobre a produção. Apesar
de ter elevado a produção e popularizado o automóvel pelo mundo, o fordismo encontrava falhas, entre
elas a sua rigidez: para ser barato, a produção precisava ser de larga escala, sem margens para
personalização.
Na produção just-in-time, típica da globalização, evita-se a formação de estoques, privilegiando a entrega imediata mediante rede de fornecedores
e terceiros.
Fordismo Toyotismo
A empresa fabricava muitas das peças que A maioria das peças é feita por outras companhias, os
compunham o seu produto fornecedores
Para não faltar peças, estas eram produzidas em O estoque é mínimo. Os fornecedores entregam as
excesso, gerando estoques peças quando a companha solicita.
O operário-modelo era aquele que melhor obedecia O operário-modelo é aquele que identifica problemas
às diretrizes de seus superiores e propõe soluções
O funcionário devia se preocupar apenas com as O funcionário deve se preocupar com a aplicação que
tarefas imediatas o produto terá depois de vendido
A empresa devia executar os projetos feitos pelos A empresa deve planejar a produção de modo a
seus engenheiros atender aos desejos de seus clientes
Em outras palavras, enquanto o fordismo era o sistema de produção característico da Terceira Fase
de Globalização, o toyotismo, dada a sua natureza dinâmica, é típico da Nova Divisão Internacional do
Trabalho, ou da Quarta Fase da Globalização, marcadas pela agilidade e pela flexibilização das relações
trabalhistas.
1
Não confundir: a empresa multinacional possui SEDE em seu país de origem mas unidades em vários países (comando
centralizado); já a transnacional possui FILIAIS em vários países (comando descentralizado).
se o poder dos estados nacionais sob seus territórios, que passaram a ser em grande parte controlados
pelo capital internacional; ampliando por outro lado, o poder técnico-econômico.
Neste contexto, as empresas contemporâneas – sobretudo às do ramo tecnológico e
automobilístico – além de possuírem filiais em diversos países, dependem de peças, equipamentos, e
tecnologias provenientes de várias partes do mundo. Os modernos jatos da Boing, por exemplo, são
construídos com peças japonesas, italianas, estadunidenses, australianas, canadenses, etc. Face a um
mundo globalizado, não vale a pena produzir todas as peças localmente; desta forma, as empresas
extraem o melhor de cada território, tornando as cadeias produtivas cada vez mais complexas. Este
fenômeno é chamado de Nova Divisão Internacional do Trabalho.
Neste ínterim, o aumento dos fluxos comerciais e a evolução das redes técnico-informacionais
possibilitaram também, o aumento da fluidez nas transações financeiras, alavancando as bolsas de valores
ao redor do mundo e dando maior liberdade ao capital. Para Karl Marx, a sociedade estaria dividida entre
burguesia (detentora dos meios de produção) e proletariado (não-detentora dos meios de produção); ou
seja, entre ricos e pobres. Apesar de fazerem sentido nesta época, tais conceitos são insuficientes para
descrever o capitalismo contemporâneo. Hoje, com as companhias sendo loteadas nas bolsas de valores,
teoricamente qualquer pessoa – mesmo de baixa renda, e ainda que não tenha poder de decisão sob a
mesma – pode comprar uma ação, tornando-se proprietária de uma fração de uma determinada
empresa. Existindo há muitas décadas, as bolsas de valores ganham novo significado na globalização, no
qual os fluxos de capital financeiro superam os fluxos comerciais com mercadorias reais.
Se por um lado, as companhias encontram cada vez menos barreiras geopolíticas para a sua
expansão, estando presentes em vários países do globo, os estados nacionais – pressionados pelo FMI e
pela OMC – precisam cada vez mais encarar estas novas configurações territoriais. Com a intensificação dos
fluxos típica da globalização e o consequente aumento de capilaridade das finanças, há um aumento de
poder das grandes empresas, e uma redução de poder dos estados nacionais. Afinal, se anteriormente o
poder estava condicionado à um determinado território, com a globalização, passou a ser difuso: hoje, nas
grandes empresas, não sabemos quem é o dono. Até porque, uma vez que possuem capital aberto, são
controladas por talvez, milhares de acionistas.
Dados do FMI (2018) indicam que o Brasil é a nona maior economia. Estados Unidos, China, Japão e União Europeia encabeçam os maiores PIBs globais.
Além disso, a mão de obra chinesa – historicamente desvalorizada por um mercado fechado – serve
até hoje de atrativo para empresas estrangeiras e subsidiárias. No entanto, ao contrário do que muitos
pensam, a economia chinesa não é totalmente aberta ao mercado, mas sim, estimulada pelo estado por
meio de pacotes artificiais de investimentos. Para alguns analistas [fonte], este modelo de crescimento
seria insustentável, afinal, os próprios dados garantem a desaceleração do PIB desde 2011.
Arranha-céus na cidade de Shanghai, China: apesar do governo comunista, país abraçou o capitalismo e está crescendo de forma vertiginosa.
Entre os emergentes estão países como Brasil, Índia, África do Sul, e China; esta última, locomotiva
do crescimento global no cenário pós-crise. De forma geral, estes países não foram tão afetados pela crise
quanto os desenvolvidos como Estados Unidos, Japão, Alemanha e demais pertencentes ao bloco europeu.
Já o Brasil, após alguns anos acompanhando o ritmo do cenário global, entra em recessão somente após
2011, atingindo o pior estado entre 2015 e 2016, que não por acaso, foi um período conturbado para a
política nacional. Apesar da recessão pós-2008, a tendência para os próximos anos é que o crescimento
global seja retomado, inclusive para o Brasil, que se atualmente encontra na pior crise desde os anos 1990,
época da hiperinflação.
As principais exportações do México são carros (US$ 45,1 bilhões), peças para ceículos (US$ 28 bilhões),
caminhões de entrega (US$ 26,7 bilhões), computadores (US$ 22,5 bilhões) e petróleo cru (US$ 19,5
bilhões). Os principais destinos de exportação do México são os Estados Unidos (US$ 307 bilhões), o
Canadá (US$ 22 bilhões), a China (US$ 8,98 bilhões), a Alemanha (US$ 8,83 bilhões) e o Japão (US$ 5,57
bilhões).
Por conta da área de livre comércio estabelecida pelo NAFTA, o México possui uma economia bastante
diversificada, com produtos sendo exportados e importados tanto para os Estados Unidos quanto para o
Canadá. Já que existem as facilidades da área de livre comércio, é comum empresas estadunidenses de alta
tecnologia, por exemplo, se estabelecerem no México por conta de menores custos operacionais.
Argentina – produtos agrícolas são o carro-chefe, especialmente soja; em menor grau, industrializados.
As principais exportações da Argentina são farelo de soja (US$ 9,2 bilhões), milho (US$ 4,05 bilhões), óleo
de soja (US$ 3,88 bilhões), caminhões de entrega (US$ 3,29 bilhão) e soja (US$ 2,82 bilhões).
Os principais destinos de exportação da Argentina são o Brasil (US$ 9,3 bilhões), os Estados Unidos (US$
4,6 bilhões), a China (US$ 4,38 bilhões), o Chile (US$ 2,77 bilhões) e o Vietnã (US$ 2,27 bilhões).
Assim como o Brasil, a Argentina é um país agroexportador, concentrando sua pauta em produtos
agrícolas como soja e milho, porém, também exporta industrializados. No entanto, o Brasil é o principal
parceiro dos argentinos, e nesse caso, há maior fluxo de produtos industrializados como automóveis e
peças de automóveis. Uma relação simétrica, portanto.
90% das exportações da Venezuela são compostas por petróleo bruto (US$ 22,2 bilhões) e petróleo
refinado (US$ 2,86 bilhões), cujo destino é basicamente Estados Unidos (US$ 11,6 bilhões), China (US$ 6,42
bilhões) e Índia (US$ 5,25 bilhões).
Note que dos países selecionados, a Venezuela é a que possui economia mais frágil, não somente por conta
da crise econômica, mas também pela falta de diversidade, pois o petróleo ocupa quase a totalidade das
exportações venezuelanas. Sendo assim, as oscilações no preço do produto podem prejudicar ou favorecer
muito o país.
Colômbia – combustíveis fósseis dominam exportações, mas também há agrícolas, especialmente café.
As principais exportações da Colômbia são petróleo bruto (US$ 11,1 bilhões), briquetes de carvão (US$
7,63 bilhões), café (US$ 2,7 bilhões), petróleo refinado (US$ 2,06 bilhões) e ouro (US$ 1,45 bilhão),
Os principais destinos de exportação da Colômbia são os Estados Unidos (US$ 11,1 bilhões), o Panamá (US$
2,58 bilhões), a China (US$ 2,02 bilhões), os Países Baixos (US$ 1,86 bilhão) e o México (US$ 1,56 bilhão).
Seguindo o padrão latino-americano, a Colômbia exporta principalmente commodities – combustíveis,
minerais e produtos agropecuários, dos quais se destaca o café. Apesar disso, a economia é mais
diversificada que a venezuelana.
Chile – metade das exportações é de minério de cobre, mas peixes e frutas também se destacam.
As principais exportações do Chile são o minério de cobre (US$ 16,6 bilhões), cobre refinado (US$ 14,9
bilhões), filés de peixe (US$ 2,86 bilhões), pasta de sulfato química (US$ 2,67 bilhões) e cobre bruto (US$
2,41 bilhões).
Os principais destinos de exportação do Chile são a China (US$ 19,2 bilhões), os Estados Unidos (US$ 10,3
bilhões), o Japão (US$ 6,38 bilhões), a Coréia do Sul (US$ 4,06 bilhões) e o Brasil (US$ 3,44 bilhões).
Perceba que a economia chilena – embora seja atrelada às commodities – está projetada geograficamente
para o Oceano Pacífico e para a Ásia, o que difere do padrão de alguns países latino-americanos. O Chile,
além de possuir uma economia mais aberta, voltada ao mercado internacional, faz parte de importantes
blocos e grupos de integração como a Aliança do Pacífico e a APEC.
Peru – minérios, especialmente cobre e ouro, compõem a maior parte das exportações.
As principais exportações do Peru são minério de cobre (US$ 12 bilhões), ouro (US$ 7,13 bilhões), petróleo
refinado (US$ 2,49 bilhões), minério de zinco (US$ 2,1 bilhões) e cobre refinado (US$ 1,77 bilhão).
Os principais destinos de exportação do Peru são a China (US$ 11,7 bilhões), os Estados Unidos (US$ 6,77
bilhões), a Suíça (US$ 2,47 bilhões), a Coréia do Sul (US$ 2,19 bilhões) e a Espanha (US$ 2 bilhões).
Um país tipicamente latino-americano exportador de commodities. Ainda que a agropecuária não seja
muito forte, os minerais ocupam grande parcela da balança comercial.
Uruguai – percentualmente, o maior exportador de carne bovina. Também exporta celulose e agrícolas.
As exportações principais do Uruguai são sulfato de celulose química (US$ 1,43 Bilhões), carne bovina
congelada (US$ 1,14 Bilhões), soja (US$ 671 Milhões), arroz (US$ 464 Milhões) e carne bovina (US$ 391
Milhões).
Os principais destinos de exportação do Uruguai são a China (US$ 2,02 bilhões), o Brasil (US$ 1,32 bilhão), a
Holanda (US$ 492 milhões), os Estados Unidos (US$ 474 milhões) e a Argentina (US$ 452 milhões).
Entre os países selecionados, ainda que os grãos e a celulose sejam importantes, o Uruguai é o que
percentualmente mais exporta carne bovina.
Bolívia – 1/3 das exportações são de hidrocarbonetos, mas minerais também são importantes.
As exportações principais da Bolívia são petróleo (US$ 2,59 Bilhões), minério de zinco (US$ 1,34 Bilhões),
ouro (US$ 1,04 Bilhões), metal precioso do minério (US$ 521 Milhões) e farelo de soja (US$ 444 Milhões).
Os principais destinos de exportação da Bolívia são o Brasil (US$ 1,41 Bilhões), a Argentina (US$ 1,24
Bilhões), a Coreia do Sul (US$ 574 Milhões), a Índia (US$ 552 Milhões) e os Estados Unidos (US$ 542
Milhões).
A economia boliviana é altamente dependente dos hidrocarbonetos – petróleo e gás. Há, inclusive, a venda
expressiva de gás via gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL).
As principais exportações do Paraguai são soja (US$ 2,19 bilhões), farelo de soja (US$ 741 milhões), carne
bovina congelada (US$ 592 milhões), carne bovina (US$ 577 milhões) e óleo de soja (US$ 482 milhões).
Os principais destinos de exportação do Paraguai são o Brasil (US$ 1,12 bilhão), a Argentina (US$ 749
milhões), o Chile (US$ 648 milhões), a Rússia (US$ 601 milhões) e a Itália (US$ 293 milhões).
Em resumo, o Paraguai exporta, basicamente, soja e carne bovina, uma matriz tipicamente latino-
americana, portanto.
CAI NA PROVA
COMENTÁRIO
Além da agricultura, a “produtividade baixa” também corresponde aos setores de comércio e serviços:
ambos costumam ser mais expressivos em áreas urbanas. Logo, apesar da agricultura tipicamente
exercida em áreas rurais, é natural que a urbanização provoque o aumento dos trabalhadores ocupados
em “produtividade baixa”. Conforme veremos na aula de Geografia Urbana, a urbanização tende a
provocar o aumento destes dois setores. Isso é um padrão observado não somente no Brasil, mas em
nível continental.
Gabarito: Certo
2. O incremento considerável de trabalhadores nos setores de mineração e construção civil no México entre
2008 e 2012 está relacionado ao crescimento da mineração no país, com destaque para a exploração de
petróleo e gás e as atividades imobiliárias nas principais áreas urbanas do país, entre as quais se destacam
Cidade do México, Guadalajara e Monterrey.
COMENTÁRIO
Embora a economia mexicana seja diversificada e voltada às exportações de produtos industrializados via
NAFTA, cerca de 5% das exportações do país são de petróleo bruto. Além disso, há um aumento no setor
de serviços nas áreas urbanas, uma tendência verificada nas principais cidades da América Latina e que
veremos com mais detalhes na Aula 07 sobre Geografia Urbana. Gabarito: Certo
3. A relativa diminuição do número de ocupados no setor de baixa produtividade e o aumento no setor de alta
produtividade da economia brasileira, entre 1999 e 2013, é um fenômeno explicado pela perda de
importância das commodities agrícolas para o país, que decorre da crise de exportação no período.
COMENTÁRIO
Ao contrário do afirmado na questão, não há “perda de importância das commodities agrícolas” para o
Brasil. Muito pelo contrário, o setor agropecuário cresceu muito no período por conta de inúmeros
fatores: efeito-china, boom das commodities, investimentos privados e públicos, modernização do setor,
etc. Gabarito: Errado
COMENTÁRIO
As carnes são o carro-chefe da economia uruguaia, em especial a carne bovina congelada, produto que
corresponde a mais de 10% de todas as exportações do país. Já no Paraguai, a soja corresponde a cerca
de 1/3 de todas as exportações. Já que a agricultura é a principal atividade paraguaia e a pecuária, a
principal atividade uruguaia, a questão está correta. Gabarito: Certo
Os limites da globalização
Padronização cultural e choque de civilizações
A aceleração de fluxos promovida pela globalização faz com que a circulação de produtos,
mercadorias e bens culturais seja muito mais rápida. Hoje em dia, pelo menos as áreas urbanas centrais,
estão integradas tanto economicamente quanto culturalmente: de forma geral, as mesmas redes de
alimentação e varejo, os mesmos artistas e as mesmas roupas podem ser encontradas tanto em Nova York
quanto em São Paulo, Paris, ou Tóquio. Isto também ocorre no contexto brasileiro: pelo menos nas grandes
e médias cidades, os hábitos e costumes acabam se tornando parecidos: independentemente da
distância, observam-se os mesmos cantores, filmes, restaurantes, marcas de grife, etc. Embora novos
meios de comunicação como a internet façam ressurgir, por exemplos, artistas e estilos musicais de outras
Por mais contraditório que possa parecer, a questão cultural é uma grande barreira para a
globalização: se por um lado, a cultura – seja ela artística, literária, musical, enfim – seja cada vez mais
homogeneizada por conta da integração global; por outro, em outras porções do mundo, essa
padronização encontra resistências, como por exemplo, na civilização islâmica avessa aos valores
ocidentais. Avaliando este cenário, o economista Samuel P. Huntington propôs a teoria do Choque de
Civilizações, oposta à fábula da globalização.
De acordo com esta teoria, após o fim da Guerra Fria e a aparente superação da ideologia, os
conflitos ocorreriam em torno da identidade cultural e religiosa entre as diferentes civilizações (mapa
abaixo). Dentro deste cenário, os centros da globalização estariam localizados na civilização ocidental – em
especial Europa Ocidental e Estados Unidos – e na civilização japonesa; sendo as civilizações latino-
americana e africana, regiões periféricas do capital.
Civilizações no mundo contemporâneo de acordo com Samuel Huntington
A grande questão a ser compreendida é que enquanto algumas civilizações são mais receptivas ao
avanço da globalização, outras são mais refratárias. As civilizações islâmica e hindu, por exemplo,
mantêm-se fiéis às suas tradições religiosas e resistem, de certa forma, ao consumismo ocidental. Não raro,
países islâmicos instalam ditaduras religiosas como os sultanados da Península Arábica ou adotam a Lei
Islâmica (sharia), onde não há separação entre estado e religião. Estas diferenças, ao serem incorporadas
em migrações regionais e globais, intensificam os movimentos de xenofobia e engrossam o caldo do
choque de civilizações.
Assim, a imigração de pessoas esbarra novamente na questão cultural. Evidentemente, migrantes
de matrizes culturais semelhantes, como por exemplo, entre a Rússia ou a Ucrânia, ou entre os países da
América Latina, acabam, na maioria das vezes, tendo uma aceitação maior nos países de destino. No
entanto, quando o fluxo é direcionado às diferentes civilizações, como entre islâmicos e cristãos, choques
culturais acabam não por integrá-los, mas sim por desuni-los ainda mais, provocando intensas segregações
socioespaciais.
Deste modo, embora a movimentação econômica seja cada vez mais veloz, a circulação de pessoas
– um dos princípios da globalização – ainda é bastante limitada; que conforme vimos na aula anterior, está
restrita à disponibilidade de mão de obra e à boa vontade dos países receptores. De forma geral,
trabalhadores qualificados encontram maior facilidade de movimentação, sendo úteis às empresas em
países desenvolvidos.
Dada a grande recorrência das crises financeiras, alguns grupos Bolsa de Nasdaq, Nova York: um dos centros do
militantes e partidos políticos questionam cada vez mais a viabilidade capitalismo global.
do capitalismo como sistema econômico, e também, da própria globalização enquanto conjunto
doutrinário. Por outro lado, para os liberais – em destaque à escola austríaca de economia – as crises
seriam causadas pelo excesso de intervenção estatal nas transações financeiras, e não pela estrutura
econômica global. A crise de 2008, por exemplo, divide opiniões: se para alguns, foi a “prova da falência do
capitalismo” [fonte]; para outros, foi a “prova da ineficiência do governo” [fonte].
Estas crises normalmente impulsionam recrudescimentos do nacionalismo e do protecionismo
comercial; tendências estas, já observadas por geógrafos como Bertha Becker e Milton Santos. Durante os
períodos difíceis, a fim de protegerem seus mercados, países tentam frear a globalização, taxando
produtos importados e subsidiando artificialmente os nacionais. Se por um lado, estas medidas protegem o
Conclusão: a
Globalização maximizam-se os Com aumento das
O protecionismo é globalização cria
lucros, porém a crise, há países que
acelera os fluxos o contrário da efeitos colateriais
frequência das adotam políticas
financeiros Globalização. inversos à sua
crises aumenta protecionistas
proposição inicial
Por isso, a globalização – embora tenda a homogeneizar os locais – encontra sérios limites à sua
expansão, sendo frequentes as contradições entre os discursos e as políticas das principais nações do
globo. Os subsídios agrícolas, por exemplo, no conjunto dos países desenvolvidos da OCDE, passaram de
350 bilhões de dólares em 1996, para 406 bilhões em 2011 [fonte]; adotados especialmente por União
Europeia e Estados Unidos. Além disso, a China, segunda maior economia do mundo, enquanto defende
oficialmente o livre mercado em seu discurso [fonte], também adota, paradoxalmente, imensos subsídios
agrícolas, ultrapassando Estados Unidos e a Europa [fonte]. Aqui em território nacional, o governo
brasileiro também adota medidas protecionistas, taxando significativamente produtos importados, e
protegendo setores como a gasolina – que é a segunda mais cara da América Latina [fonte]. Para engrossar
o caldo, fatos como o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), juntamente à provável saída da
França [fonte], e a mudança de rumos na política norte-americana, evidenciam uma tendência de aumento
do protecionismo em escala global para o século XXI, podendo portanto, frear os processos de
globalização.
Muito recentemente, especificamente a partir de 2018, como fruto desse recrudescimento do
protecionismo global, tem ocorrido uma intensa Guerra Comercial entre as duas maiores potências do
mundo: Estados Unidos e China. Ao invés de promoverem o “livre mercado” – uma tendência da
globalização dos anos 1990 – Donald Trump e Xi Jinping vêm acirrando suas medidas protecionistas. A
China, membra da OMC desde 2001, vem sendo questionada por não ser uma “economia totalmente
aberta”, com alto intervencionismo estatal. Os Estados Unidos, por outro lado, tendo cada vez mais seu
território inundado por produtos chineses, vêm tentando diminuir o déficit com a China por meio da
taxação de produtos chineses. O quadro abaixo evidencia a cronologia destas disputas [fonte].
05/abr Ameaça lançar mais US$ bilhões em taxas sobre produtos chineses
15/jun Começa a valer parte da taxação sobre US$ 50 bilhões em produtos chineses.
16/jun Ameaça impor tarifas sobre petróleo, gás e produtos de energia dos EUA.
19/jun Ameaça impor tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses
10/jul Anunciam mais tarifas contra a China: 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.
20/jul Ameaçam impor tarifas sobre mais de US$ 500 bilhões em produtos chineses.
Anunciam que podem subir de 10% para 25% a taxação sobre US$ 200 bilhões em produtos
01/ago
chineses.
03/ago Decide impor mais tarifas sobre US$ 16 bilhões em produtos dos EUA.
17/set Anunciam sobretaxa de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.
Segundo levantamento da BBC, os EUA já aplicaram tarifas sobre US$ 250 bilhões em produtos
chineses e ameaçaram taxar outros US$ 267 bilhões. A China, por sua vez, fixou tarifas sobre bens
americanos no valor total de US$ 110 bilhões [fonte]. Se, por um lado, o protecionismo dos Estados Unidos
protege a indústria local, gera empregos e consegue fortalecer a economia industrial do país; por outro,
gera efeitos negativos na perda de competitividade, na geração de incertezas e também, no impacto
sofrido, no setor agrícola dos Estados Unidos, às taxações impostas na China. A política econômica de
Trump, portanto, é um tema bastante polêmico.
Neste ínterim, embora a globalização tenha se intensificado bastante nas duas três últimas décadas
– sobretudo nos anos 1990 – potencializando o raio de ação das grandes empresas e minimizando assim, o
poder dos estados nacionais, o governo nunca deixou de intervir na economia; muito pelo contrário,
conforme vimos, há um aumento dessa intervenção estatal nos últimos anos. O quadro abaixo mostra
algumas formas que o Estado pode alterar os rumos econômicos do país:
Acordo entre empresas que fabricam os mesmos produtos para controlar os preços e
Cartel
eliminar a concorrência
Venda de produtos com preços inferiores para eliminar a concorrência, mesmo que
Dumping
cause prejuízo
Uma empresa central possui várias empresas menores, inclusive concorrentes entre
Holding
si.
Livre mercado Quando não há privilégios de empresas, todas competem igualmente entre si.
Além disso, uma vez que a aceleração dos fluxos comerciais e culturais eleva o consumo e a
produção, acaba aumentando também, a pressão sob os recursos naturais renováveis e não renováveis,
acentuando os impactos ambientais decorrentes das atividades humanas. Porém, não se preocupem:
trataremos mais especificamente sobre este assunto nas últimas duas aulas do curso.
CAI NA PROVA
CACD/2016 – Questão 29
A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas
provocam. Inclui também a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser
imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos.
François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
1. A agricultura moderna brasileira elabora usos e apropriações da terra com reduzida demanda de recursos
hídricos e maximização da fragmentação do território nacional.
COMENTÁRIO
Muito pelo contrário, 70% do consumo de água no Brasil é destinado a agropecuária. É muita água. Só por
isso a alternativa já está errada. Gabarito: Errado
COMENTÁRIO
Com a globalização, há um enfraquecimento dos estados nacionais e um fortalecimento natural do poder das
multinacionais e transnacionais. Hoje, são elas que ditam, em grande parte, o enfoque e as condutas globais.
Gabarito: Certo
COMENTÁRIO
A alternativa está quase correta. De fato, com a globalização, ocorreu o que David Harvey chama de
compressão-espaço-tempo, que é a sensação do “mundo estar menor” devido ao aumento da técnica e a
consequente aceleração dos fluxos de capital, informações, mercadorias e pessoas. Assim, a localização
geográfica hoje, é bem menos importante do que há 30 anos atrás. No entanto, ao contrário do afirmado, ela
ainda não foi superada. Há realidades locais (políticas, logísticas, econômicas, etc.) que diferenciam os
modos de produção. Gabarito: Errado
4. No mundo globalizado, observa-se uma tendência de compartimentação generalizada dos territórios, onde se
associam e se chocam o movimento geral da sociedade do trabalho e o movimento particular de cada fração
espacial: do nacional ao regional e ao local.
COMENTÁRIO
Com a globalização, os atores hegemônicos não se restringem às suas localidades de origem, mas exploram
as melhores áreas da superfície. Com a financeirização e a mecanização do mundo, as antigas noções de
local, regional, e global vão mudando de significado. Num mesmo espaço geográfico, podemos ter as três
escalas coexistindo, ora de forma harmônica, ora de forma conflituosa.
Gabarito: Certo
CACD/2003 - Questão 19
No bojo dos investimentos, não se pode esquecer que Mercedes-Benz e Volkswagen construíram no Brasil as fábricas
mais modernas do mundo. Justamente por causa dessa massa de investimentos, se Frankfurt não vai ao Brasil, o Brasil
tem que ir a Frankfurt. Para compensar a grande ociosidade das fábricas brasileiras, exportar é mais do que uma ordem
— transformou-se em “religião”. A meca dos investimentos das montadoras, e não só das alemãs, agora é a China.
Renato Acciarto. Brasil perde para China preferência das montadoras. In: Gazeta Mercantil. 11/9/2003, p. A1 (com
adaptações). O texto acima expressa importantes processos em curso no mundo.
Considerando esse texto, julgue os itens a seguir.
1. Mundializam-se os mercados, porém não os processos de produção, já que o desenvolvimento tecnológico é do
domínio dos países mais industrializados.
COMENTÁRIO
Muito pelo contrário, os processos de produção se mundializam sim. Isso ocorre principalmente com
produtos tecnológicos de maior complexidade como aviões, automóveis e computadores, cujas peças são
2. Com a crescente internacionalização da economia capitalista, observa-se uma interdependência das economias
nacionais.
COMENTÁRIO
Exatamente. Quanto mais interligada a economia, maior a interdependência das partes que a compõem.
Veja por exemplo, esta última crise de 2008, que com exceção de China, afetou quase todo o globo. Gabarito:
Certo
3. A busca da maior lucratividade é um dos fatores determinantes para o crescente processo de especialização
regional da produção.
COMENTÁRIO
Com certeza. Como dizia Adam Smith, não é benevolência do padeiro nem a benevolência do açougueiro que
garante meu jantar, mas sim, a busca por lucros. Lucratividade é a chave do capitalismo. Gabarito: Certo
4. No processo de globalização econômica, que suplanta fronteiras e culturas, é irrelevante o papel do Estado,
prescindindo-se também de ações conciliatórias entre os governos.
COMENTÁRIO
Os estados nacionais ENFRAQUECERAM com a globalização, mas NÃO FORAM ELIMINADOS. Então eles ainda
são relevantes em muitos aspectos, em especial às migrações. Esse tipo de questão é muito comum no CACD,
típica pegadinha! Gabarito: Errado
COMENTÁRIO
Sim, quanto mais exploração dos recursos naturais, maior o desflorestamento, pois estas atividades exigem
espaço. Tais atividades são responsáveis por graves impactos ambientais em biomas como Cerrado e
Amazônia. Veremos melhor esta questão na aula sobre Geografia e Gestão Ambiental, uma das últimas do
curso. Gabarito: Certo
CACD/2003 - Questão 20
Em geral, países da América Latina continuam a se dedicar pesadamente à exploração direta da riqueza de seus recursos
naturais visando à exportação. R. Gwynne e C. Kay. Latin America transformed, globalization and modernity. New York:
Arnold Publishers, 1999 (com adaptações). Considerando o assunto abordado no texto acima e as questões a ele
relacionadas, julgue os itens seguintes.
1. Com a globalização econômica atual, em geral há uma tendência para o incremento das exportações da
América Latina de produtos primários e de baixo conteúdo tecnológico.
COMENTÁRIO
Na nova divisão do trabalho, os países do norte produzem bens industrializados de ALTO valor agregado, e
os países do sul, produzem matérias primas e bens industrializados de BAIXO valor agregado. Grosso modo,
importamos iPhone mas exportamos soja. Gabarito: Certo
2. Embora com alguns impactos negativos, a economia baseada na exportação de produtos primários livrou a
América Latina, ao longo do século passado, dos efeitos das recessões mundiais e da conseqüente
flutuabilidade dos preços, visto que tais produtos possuíam mercado assegurado.
COMENTÁRIO
Não, a Crise da Bolsa de Nova York (1929), por exemplo, impactou diretamente na produção de café
brasileiro, cuja queda de preços, fez o governo queimar sacas para elevá-lo. O final da Segunda Guerra
Mundial (1945) fez despencar a produção de borracha na Amazônia. As crises do Petróleo (1973 e 1979)
diminuíram as exportações do Brasil e da América Latina em geral, etc... Gabarito: Errado
3. O Brasil pode ser excluído do grupo de países considerados como periferia global de recursos, uma vez que sua
pauta de exportações o coloca como país industrializado, apesar de esse fenômeno ter-se dado tardiamente.
COMENTÁRIO
É verdade que o Brasil se industrializou tardiamente em relação aos países desenvolvidos; porém, é falsa a
afirmação de que podemos ser excluídos da periferia global. Ainda somos emergentes e exportamos
produtos de baixo valor agregado, como minério de ferro e produtos agropecuários. Gabarito: Errado
4. No Brasil, o crescimento do setor primário, levado a efeito por meio de intensa modernização por todo o seu
território, tem contribuído para diminuir as desigualdades geográficas e eliminar enclaves regionais.
COMENTÁRIO
Veremos esta questão na aula de Geografia Agrária, mas já adiantando: está errado. Na verdade, a
modernização agrícola – apesar de elevar a produtividade e impulsionar a economia nacional – diminui os
empregos em área rural, causa desigualdades sociais e conflitos no campo. Ela portanto, acirra as
desigualdades geográficas. Gabarito: Errado
COMENTÁRIO
Sim, quanto mais exploração dos recursos naturais, maior o desflorestamento, pois estas atividades exigem
espaço. Tais atividades são responsáveis por graves impactos ambientais em biomas como Cerrado e
Amazônia. Veremos melhor esta questão na aula sobre Geografia e Gestão Ambiental, uma das últimas do
curso. Gabarito: Certo
CACD/2005 – Questão 25
Segundo Bertha Becker, “o rompimento da divisão do espaço e do poder mundiais em dois blocos e a distensão daí
decorrente trouxeram à luz as diferenciações espaciais, significando a recuperação do político e da cultura expressos em
conflitos pela definição de territórios”. Considerando essa análise e demais aspectos significativos do atual processo de
globalização, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
1. A globalização econômica ajuda a manter a unidade dos territórios nacionais rompida durante a Guerra Fria e
marcada pelo esgotamento do padrão de acumulação e de relações de poder calcado tanto na centralização
quanto na produção em larga escala.
COMENTÁRIO
A unidade é mantida somente nas cidades-globais ou nos pontos de maior interesse do capital. Na verdade,
a globalização NÃO elimina as unidades territoriais, inclusive pode reforça-la através do Choque de
Civilizações. Gabarito: Errado
2. Entre as causas de instabilidades no mundo atual, estão a revolução científico-tecnológica e a crise ambiental.
COMENTÁRIO
A revolução científico-tecnológica iniciada nos anos 1970 e 1980 protagonizou a aceleração dos fluxos
característica da globalização. No entanto, a globalização acarreta em diversos impactos ambientais, os
quais veremos nas últimas aulas do curso. Gabarito: Certo
3. O Estado deixou de ser a principal representação política, e o território nacional tampouco é a única escala de
referência de poder, lacunas que foram preenchidas pelo poder técnico-econômico.
COMENTÁRIO
4. Nas novas relações geopolíticas entre Estado, território e movimentos sociais, estes, cujo expoente é o
movimento ambientalista, apresentam-se como perenes.
COMENTÁRIO
Vimos na primeira aula que o espaço geográfico é dinâmico e passível de transformações. Assim, estas
relações entre Estado, território e movimentos sociais sofrem variações ao longo do tempo e do espaço.
Gabarito: Errado
Os impasses de Doha
Agricultura Indústria
É importante perceber o papel ambíguo dos países na OMC. Se por um lado, o Brasil exige o livre
comércio de commodities – setor que é visivelmente forte – contraditoriamente, aplica medidas
protecionistas em relação ao seu relativamente pouco competitivo parque industrial. Do mesmo modo,
enquanto a União Europeia exige o fim dos subsídios industriais – setor de destaque no bloco europeu –
também aplica medidas protecionistas no seu espaço agrário. No final, há uma tendência dos países
“protegerem” o que é “fraco” e “expandirem” o que é “forte”.
Comentário
O Brasil, apesar de ter se industrializado, ainda possui as commodities como principal pauta de
exportações. Há, por exemplo, um grande fluxo de exportações de minério de ferro e alimentos
para a China. Inclusive, o Brasil, por meio da OMC, vem lutando para reduzir o protecionismo
agrícola dos países europeus. Certo.
CAI NA PROVA
CACD/2007 – Questão 62
Considerando os interesses brasileiros na Rodada de Doha da OMC, julgue (C ou E) os itens seguintes.
1. Dada a participação majoritária do setor terciário na composição de seu Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil
almeja o aumento de sua participação nas exportações mundiais de serviços, defendendo, por conseguinte,
ampla liberalização dessa modalidade de comércio.
COMENTÁRIO
Na verdade, entre as principais reivindicações do Brasil está o aumento da exportação de produtos primários
e não de serviços (terciário). Inclusive, o Brasil é um dos países que luta contra o protecionismo agrícola
europeu na OMC. Gabarito: Errado
2. Nas negociações acerca de acesso a mercados, o Brasil objetiva a eliminação ou a redução de restrições
tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre suas exportações de bens, de forma geral, priorizando o
tratamento dos fatores que restringem e distorcem o comércio agrícola.
COMENTÁRIO
Juntamente com os países emergentes como a Índia, o Brasil tenta eliminar na OMC as barreiras que os
países desenvolvidos impõem a produtos nacionais, em destaque os agrícolas. Este assunto foi um dos
principais impasses da Rodada de Doha. Gabarito: Certo
3. Por dispor de um parque industrial amplo e diversificado, embora com diferenças setoriais quanto aos níveis de
competitividade, o Brasil posiciona-se contrariamente ao aprofundamento de compromissos relativos a
reduções tarifárias para produtos manufaturados.
COMENTÁRIO
4) O Brasil propugna maior transparência na aplicação de medidas contra práticas desleais de comércio, em
particular, medidas antidumping e anti-subsídios, que afetam suas exportações para os países desenvolvidos.
COMENTÁRIO
O Brasil tem participação bastante ativa na OMC, e juntamente a países como China e Índia, tem lutado para
o fim destas práticas desleais muitas vezes adotadas por países desenvolvidos. Gabarito: Certo
Santos, os benefícios da globalização seriam restritos às classes dominantes, e não à população em geral.
E, portanto, seria uma fábula.
Deste modo, os atores hegemônicos, visando lucros e vantagens, difundiriam a falsa noção de
integração global. Na verdade, de acordo com o autor, o mundo não estaria tão próximo assim. Apesar dos
fluxos internacionais estarem mais acelerados, poucos seriam os que se beneficiariam deste sistema: vide
alto preço das passagens aéreas. E também, apesar do mundo altamente informatizado, as notícias mais
alienariam do que teriam caráter produtivo. Neste contexto, a globalização seria uma ferramenta para
destruir as culturas locais, para garantir os antigos privilégios das classes dominantes e para impedir que
as nações pobres se desenvolvessem. Como marxista, Santos era contrário ao liberalismo econômico e
criticava a intensificação dos fluxos comerciais.
Globalização Perversa
Para Santos, a globalização real, a que de fato
acontece, aprofundaria as desigualdades sociais, causando
desemprego, fome, miséria, doenças, e conflitos culturais.
Se, por exemplo, as cidades de Nova York e Tóquio se
desenvolvem com a globalização, algumas tribos da África
ou da América mantêm os mesmos modos de vida de
milhares de anos atrás. Assim, ao priorizar certas áreas em
detrimento de outras – por exemplo, cidades globais e
pontos de maior circulação de capital – a globalização
acirraria as diferenças entre os diferentes espaços
geográficos, pois enquanto uns espaços cresceriam
economicamente, outros estagnariam ou se deteriorariam. Charge ironiza globalização, que seria perversa, para Santos, aos
A globalização assim, somente atenderia aos interesses dos menos favorecidos.
atores hegemônicos, e não da sociedade em geral; e com o
acirramento da competitividade global na qual o dinheiro constitui o centro das atenções, o homem
perderia noções de humanidade, perdendo atributos como compaixão e solidariedade.
portanto, deve mudar sua estrutura para atender aos mais pobres.
Globalização como A vendida pelos agentes dominantes, instrumento de propaganda, que seria
Fábula excludente.
Globalização como A globalização (que ainda não existe) que deveria ser mais humana e menos
Possibilidade voltada à tirania do dinheiro.
Ainda para Milton Santos, a globalização acarretaria em pelo menos três formas de pobreza nos
países subdesenvolvidos: a pobreza incluída, a pobreza marginal, e a pobreza estrutural.
Num período no qual o consumo não era tão exacerbado, a pobreza ocorria de forma
individualizada, normalmente resultante da falta de adaptação as determinadas
Pobreza "incluída" realidades. Para resolvê-la, bastava medidas assistencialistas de cunho local. A
pobreza era "incluída" pois os pobres não estavam "excluídos" da sociedade de
consumo.
Não temos aqui a pretensão de encerrar um assunto tão complexo quanto a relação entre
globalização e pobreza – e tampouco fazer juízo ideológico sobre este tema; entretanto, é importante
saber que para todo assunto polêmico existem contrapontos a serem considerados. Contrariando Milton
Santos, dados Banco Mundial alegam que a pobreza extrema mundial está reduzindo: em 1992,
aproximadamente 35% da população estava nesta situação, caindo para 25% em 2002, e para cerca de 10%
em 2012; sendo a pobreza extrema erradicada até 2030. [fonte]. Na mesma linha de raciocínio, outros
dados evidenciam que a integração econômica promovida pela globalização trouxe melhor qualidade de
vida às populações: ao analisarmos os dados do Índice de Desenvolvimento Hum (IDH) – que medem
qualidade de vida e bem estar – [mapa] percebemos um alto grau de correlação com o Índice de Liberdade
Econômica [mapa] elaborado pela Heritage Foundation. Portanto, apesar dos paradigmas científicos
indicarem que a globalização gera pobreza, esta não é uma afirmação absoluta, e tampouco uma verdade
monolítica.
CAI NA PROVA
CACD/2005 – Questão 44
Milton Santos, em uma de suas obras, afirma que os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três formas de
pobreza e, paralelamente, três formas de dívida social, na segunda metade do século passado. Segundo o autor, essas
formas de pobreza, de dívida social, são a pobreza-marginalidade, a pobreza incluída e a pobreza estrutural globalizada.
Essa classificação está atrelada ao processo de globalização perversa. Tendo em mente as características desse tipo de
globalização, julgue (C ou E) os itens a seguir.
1. Associada ao processo econômico da divisão social do trabalho internacional ou interna, a pobreza-
marginalidade é considerada a doença da civilização e o consumo apresenta-se como o centro da explicação
das diferenças e das percepções das situações.
COMENTÁRIO
2. A pobreza incluída iniciou-se como um processo associado a problemas privados, assistencialistas e locais,
porém a globalização tem mudado o perfil dessa forma de pobreza.
COMENTÁRIO
A primeira parte da frase está certa (a pobreza incluída era associada a problemas privados e locais); no
entanto, a globalização a dissolveu. Hoje, com a globalização, temos a pobreza estrutural, e não mais a
pobreza incluída como antigamente. Gabarito: Errado
3. A pobreza estrutural globalizada impôs-se como natural e inevitável nos tempos atuais, pois há uma produção
globalizada da pobreza, mais presente, sem dúvida, nos países pobres.
COMENTÁRIO
Milton Santos diz exatamente isso: a pobreza estrutural seria o estágio máximo da globalização, fruto da
sociedade de consumo desigual. Gabarito: Certo
4) Com relação à dívida social, os pobres já foram incluídos; posteriormente, foram marginalizados; e,
atualmente, estão sendo excluído
COMENTÁRIO
A pobreza incluída predominava em sociedades nas quais a sociedade de consumo ainda não tinha se
desenvolvido. Como quase todos consumiam de forma semelhante, a pobreza era individual, e não
sintomática. Num segundo momento, com a introdução do consumo em massa, parte da sociedade ficou
marginalizada (sem consumo), inaugurando a fase da pobreza marginalizada. Com o avanço destes processos
(globalização, financeirização e consumo), hoje a pobreza estaria em seu estágio máximo de exclusão, ou
seja, a pobreza-estrutural, sendo parte inerente do sistema. Gabarito: Certo
Apesar de produzir a maior parte da riqueza nacional, a Região Sudeste é profundamente desigual: na foto, área nobre contrasta com favela no
Rio de Janeiro.
Com uma economia razoavelmente equilibrada, em destaque aos setores de agricultura, pecuária,
indústria, serviços, e extrativismo, a Região Sul é a segunda mais rica do país. Os três estados da região,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, contribuem juntos com aproximadamente 16% do PIB total.
Não por acaso, Milton Santos e Maria Laura Silveira chamam os sete estados das regiões Sul e Sudeste de
Região Concentrada, onde se verifica a expressão mais intensa do meio técnico-científico-informacional,
sendo, apesar das profundas desigualdades, loco das inovações científicas e do aporte tecnológico no
Brasil.
Terceira região mais rica do Brasil (e também a terceira mais
pobre), o Centro-Oeste encontra-se numa posição intermediária
entre a riqueza produzida no eixo sul-sudeste e a pobreza
encontrada na porção norte-nordeste do país. Em destaque ao setor
do agronegócio, os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Goiás correspondem à grande parte da soja produzida no Brasil,
consolidando-se como líderes nacionais. O Distrito Federal, destaque
no setor de serviços e sede do governo brasileiro, possui mais de
20% dos domicílios com renda superior a cinco salários mínimos,
maior média nacional.
Compondo a maior parte da população rural brasileira (conforme vimos na aula passada), a Região
Nordeste também é a segunda mais pobre do Brasil: estados como Sergipe, Piauí, Alagoas, e Paraíba
geram, cada um, menos de 1% do total das riquezas que compõem o PIB nacional. O sertão nordestino,
alvo de disputas políticas, ainda hoje enfrenta problemas como clima semiárido, seca constante, solo de
baixa produtividade, falta de empregos, e corrupção; cuja
população, durante o século XX compôs grandes movimentos
migratórios para as demais áreas do país. Apesar das
dificuldades climáticas e econômicas, a Região Nordeste
também tem centros de prosperidade: estados como Bahia
e Pernambuco fazem parte do grupo dos dez estados mais
ricos do Brasil, abarcando respectivamente, 3,9 e 2,7% do PIB
nacional. O município de Salvador, por exemplo, capital do
Brasil durante o período colonial, é a quarta maior cidade do
país. O Nordeste, apesar da agricultura de subsistência
praticada no interior, possui polos de agricultura
mecanizada, além de importantes regiões industriais. Nordeste do país.
não é só sertão: Porto de Suape (PE), um dos maiores
Brasil. Nestes locais, a maior parte da população mora em domicílios sustentados por até ½ salário mínimo.
A surpresa fica por conta de estados como Pernambuco, Pará e Bahia que apesar de possuírem PIB elevado
– conforme constatado acima – apresentam grande percentual de pobreza, falhando portanto, na
distribuição de renda. Por outro lado, a maior proporção de domicílios sustentados com mais de cinco
salários mínimos está no Distrito Federal, que apesar de não possuir PIB tão elevado quanto Rio de Janeiro,
São Paulo e Rio Grande do Sul (segundo, terceiro, e quarto estado nesta categoria), é capital política e
administrativa do Brasil.
Nos mapas abaixo da página é possível comparar o PIB per capita e o Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal (IDHM) dos municípios brasileiros. Recapitulando os conceitos da aula anterior, o IDH
mede a qualidade de vida da população levando em consideração os fatores saúde, renda, e educação. Já
o PIB per capita consiste no PIB dividido pela população. Novamente, é possível evidenciar as disparidades
regionais no Brasil: enquanto o Sudeste, o Sul, e o Centro-Oeste estão em tons escuros, evidenciando
maior renda e qualidade de vida; as regiões norte e nordeste aparecem em tons claros, revelando maior
vulnerabilidade social. Convém ressaltar que apesar do Centro Oeste configurar grande volume de PIB –
logo, alta produtividade – esta riqueza não necessariamente acompanha a qualidade de vida da população
(conforme mapa da direita), denotando um possível cenário de concentração de renda; ou seja, um
descompasso entre qualidade de vida e a produção de riqueza.
do trabalhador urbano. Conforme anteriormente dito, esta visão é equivocada: não é possível afirmar, por
exemplo, que “todo o nordeste é pobre”, e tampouco que “todo o sudeste é urbano e desenvolvido”.
Brasil e seus estereótipos regionais: mesmo com o mundo cada vez mais informatizado, visão ainda persiste no país.
Quebrando estereótipos regionais: Área urbana no Norte (AM); Reserva florestal no Sudeste (SP); produção de uva no Nordeste ( BA), praia simulada no
Centro-Oeste (GO), e agricultura mecanizada no sul (PR).
Expressão designada pelos geógrafos para descrever o Brasil entre os séculos XVI a XIX.
Assim como um conjunto de ilhas isoladas (arquipélago), o território brasileiro era
Arquipélago
composto por núcleos econômicos autônomos e desarticulados; não havendo,
econômico
portanto, identidade nacional, mas sim áreas relativamente isoladas e
comercialmente voltadas à metrópole.
Este arquipélago econômico começou a se desfazer, de forma lenta e gradual, a partir século XVIII,
com a transferência do eixo econômico do nordeste para o sudeste, mais especificamente para o interior
de Minas Gerais, onde iniciava-se, no período, a exploração de ouro de aluvião. Criou-se assim, um
mercado interno de alimentos, produtos de higiene, remédios, e outros itens básicos. A partir desta época,
produtos como carne de sol, mate, tabaco, e drogas do sertão começaram a ser produzidos e
comercializados nas diferentes porções do território nacional.
No século seguinte – época marcada pela
independência do Brasil (1822), pelo Governo Imperial
(1822-1889), e pela abolição da escravidão (1888) – houve
um aumento ainda maior dos fluxos Brasil: neste período,
enquanto o café produzido no sudeste era responsável pela
maior parte das exportações, também destacavam-se as
plantações de fumo e cacau na Bahia, de erva mate no
Região sul, e de algodão no Maranhão. Ainda no século XIX,
o geógrafo e diplomata Barão de Rio Branco eliminou os
conflitos de fronteira no país – em destaque aos casos do
Acre (negociações com Bolívia), e Paraná e Santa Catarina
(negociações com Argentina);
Com o golpe de 1989 e a instalação da
Primeira República, os interesses regionais foram mantidos
através da Política de Café com Leite – Brasil: a economia e o território no século XIX – revezamento
desmembramento do arquipélago econômico
de poder entre São Paulo e Minas Gerais – que se
configurou até o final da década de 1920, com a Crise do Café (1929) e o golpe de Getúlio Vargas (1930).
De fato, apesar do aparente fim do arquipélago econômico ocorrido anteriormente; no início do século XX,
o estado-nação brasileiro ainda não existia em sua plenitude; ao invés deste, conviviam neste cenário,
territórios relativamente autônomos com oligarquias regionais.
Comentário
Sim, o café foi o principal produto brasileiro durante grande parte do século XIX e nas primeiras
décadas do século XX, durante a República Velha. A situação mudou a partir dos anos 1930: a
crise de 1929 derrubou o preço do café; e sendo assim, o governo estimulou outras formas de
economia, como a industrialização.
Gabarito: Certo
Cartilha de Vargas destinada às crianças estimulava o nacionalismo e o “culto a pátria”. Além de industrializar o Brasil, Getúlio criou uma
identidade nacional única.
contemplava investimentos nas áreas de energia, indústria de base, comunicação, transporte, e educação;
sendo até hoje um dos principais projetos de integração nacional já executados; destacando-se também, a
construção de Brasília (1961) e a “rodoviarização” do país pautada na construção de estradas e no apoio à
indústria automobilística. Apesar de ter cumprido parte de seu objetivo de integrar o território brasileiro, o
Plano de Metas causou desequilíbrios econômicos como, por exemplo, o endividamento público e a
dependência de capital externo, sendo imediatamente abandonado por Jânio Quadros (1961-1961),
sucessor de Juscelino.
No final da década de 50, ainda neste período, foram
idealizados órgãos de desenvolvimento regional, em destaque
ao atendimento das regiões Norte e Nordeste, que mais
careciam de recursos. Em 1958, foi criada a Superintendência
do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA)
(1958); além do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do
Nordeste (GTDN) (1958), transformado no ano seguinte em
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
(1959).
Após o Plano de Metas, seguiu-se um conturbado
período marcado pela a renúncia de Jânio a posse de João
Goulart (1961-1964). Em plena Guerra Fria, além de seu Plano
Trienal de Desenvolvimento, o novo presidente propôs
JK e o desenvolvimentismo: “50 anos em 5” reformas progressistas nas áreas social e econômica: as famosas
Reformas de Base que alteravam importantes setores da sociedade como a educação, a agricultura, a área
fiscal, e as relações trabalhistas. De forte aproximação com a esquerda, a dupla Jânio-Jango foi derrubada
pelo Governo Militar (1964-1985), que inaugurou uma nova fase de planejamento territorial no Brasil.
Além das obras “faraônicas” – como chamam seus críticos – o governo militar implantou várias
medidas de integração territorial, como os programas de ocupação da Amazônia e do Cerrado. Vale
salientar que para além de questões meramente econômicas, havia, com o avanço da Guerra Fria, uma
preocupação em ocupar o território para fins de defesa e contenção de guerrilhas. Neste período,
conforme vimos na aula anterior, houve uma grande migração para a Região Norte estimulada pelo
governo, principalmente de populações das regiões nordeste e sul. Não por acaso, em 1966, durante o
mandato de Castelo Branco, foi criada a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM),
autarquia designada a desenvolver a Região Norte; também sendo criada a Zona Franca de Manaus (1967),
uma área industrial em plena Amazônia; além do Projeto Radam (Projeto Radar da Amazônia ou Radam
Brasil) (1970-1985) que objetivava mapear a Amazônia por meio de radares acoplados em aviões.
Rodovia Transamazônica (BR-230): para integrar à Região Norte ao resto do país, era necessária infraestrutura de transporte. Apesar de bem
intencionada, rodovia é criticada pelos seus impactos ambientais, como o desmatamento.
Por fim, a última cartada do regime militar para retomar o crescimento da economia e preservar o
status-quo foi o Terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico (1980-1985), já no governo
Figueiredo. Todavia, este falhou em conter a grave crise econômica que havia se instalado nos anos 1970.
Na década seguinte, devido aos péssimos indicadores econômicos – como a volta da inflação, o aumento
do desemprego, o arrocho salarial, o aumento da dívida externa, e o crescimento negativo do PIB –
somados à insatisfação popular em relação às torturas e violações dos direitos humanos praticados no
regime militar, abre-se um novo período de planejamento com a redemocratização do Brasil.
Nos anos 1980, o Brasil passava pela pior crise inflacionária de sua história, acarretando
na pausa do planejamento territorial.
2
Não se trata aqui, de fazer juízo de valor e/ou ideológico a partidos políticos ou presidentes da república em exercício recente.
Os fatos foram expostos da forma mais neutra possível, de forma estritamente necessária ao edital do CACD.
Período da
Quadro geral História Principais características
Brasileira
Lista de questões
CACD/2018 – Questão 23
A tabela a seguir mostra as porcentagens, sobre o total da população ocupada, da população ocupada por
setor produtivo: B = baixa produtividade (agricultura, comércio e serviços); M = média produtividade
(manufatura, construção, transporte e comunicação); e A = alta produtividade (mineração, eletricidade,
gás, água, atividades financeiras e imobiliárias), na América Latina (AL), no Brasil (BR), no México (MX), no
Paraguai (PG) e no Uruguai (UG), nos anos indicados.
Com referência à população trabalhadora ocupada, na América Latina, e considerando os dados dos
setores produtivos da economia apresentados na tabela anterior, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
CACD/2016 – Questão 29
A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que
elas provocam. Inclui também a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às
quais deve ser imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos.
François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
5) A agricultura moderna brasileira elabora usos e apropriações da terra com reduzida demanda de
recursos hídricos e maximização da fragmentação do território nacional.
6) Mundialização do capital ou globalização refletem a capacidade estratégica de grandes grupos
oligopolistas, voltados para a produção industrial ou para as principais atividades de serviços, em adotar,
por conta própria, enfoque e conduta globais.
7) O princípio geográfico da localização, no mundo globalizado economicamente competitivo, é superado
pelos sistemas técnicos e de informação.
8) No mundo globalizado, observa-se uma tendência de compartimentação generalizada dos territórios,
onde se associam e se chocam o movimento geral da sociedade do trabalho e o movimento particular de
cada fração espacial: do nacional ao regional e ao local.
CACD/2003 - Questão 19
No bojo dos investimentos, não se pode esquecer que Mercedes-Benz e Volkswagen construíram no Brasil
as fábricas mais modernas do mundo. Justamente por causa dessa massa de investimentos, se Frankfurt
não vai ao Brasil, o Brasil tem que ir a Frankfurt. Para compensar a grande ociosidade das fábricas
brasileiras, exportar é mais do que uma ordem — transformou-se em “religião”. A meca dos investimentos
das montadoras, e não só das alemãs, agora é a China. Renato Acciarto.
Brasil perde para China preferência das montadoras. In: Gazeta Mercantil. 11/9/2003, p. A1 (com
adaptações). O texto acima expressa importantes processos em curso no mundo.
Considerando esse texto, julgue os itens a seguir.
9) Mundializam-se os mercados, porém não os processos de produção, já que o desenvolvimento
tecnológico é do domínio dos países mais industrializados.
10) Com a crescente internacionalização da economia capitalista, observa-se uma interdependência das
economias nacionais.
11) A busca da maior lucratividade é um dos fatores determinantes para o crescente processo de
especialização regional da produção.
12) No processo de globalização econômica, que suplanta fronteiras e culturas, é irrelevante o papel do
Estado, prescindindo-se também de ações conciliatórias entre os governos.
13) No desenvolvimento econômico contemporâneo, identificam-se formas de protecionismo e a formação
de blocos econômicos regionais, como o MERCOSUL, o qual é relevante para a ampliação de mercados e
melhora da competitividade do Brasil
CACD/2003 - Questão 20
Em geral, países da América Latina continuam a se dedicar pesadamente à exploração direta da riqueza de
seus recursos naturais visando à exportação. R. Gwynne e C. Kay. Latin America transformer, globalization
and modernity. New York: Arnold Publishers, 1999 (com adaptações). Considerando o assunto abordado no
texto acima e as questões a ele relacionadas, julgue os itens seguintes.
14) Com a globalização econômica atual, em geral há uma tendência para o incremento das exportações da
América Latina de produtos primários e de baixo conteúdo tecnológico.
15) Embora com alguns impactos negativos, a economia baseada na exportação de produtos primários
livrou a América Latina, ao longo do século passado, dos efeitos das recessões mundiais e da conseqüente
flutuabilidade dos preços, visto que tais produtos possuíam mercado assegurado.
16) O Brasil pode ser excluído do grupo de países considerados como periferia global de recursos, uma vez
que sua pauta de exportações o coloca como país industrializado, apesar de esse fenômeno ter-se dado
tardiamente.
17) No Brasil, o crescimento do setor primário, levado a efeito por meio de intensa modernização por todo
o seu território, tem contribuído para diminuir as desigualdades geográficas e eliminar enclaves regionais.
18) O comprometimento da sustentabilidade ecológica e econômica é uma consequência do modelo de
exploração intensa de recursos naturais, entre as quais pode-se destacar o desflorestamento no Brasil.
CACD/2005 – Questão 25
Segundo Bertha Becker, “o rompimento da divisão do espaço e do poder mundiais em dois blocos e a
distensão daí decorrente trouxeram à luz as diferenciações espaciais, significando a recuperação do político
e da cultura expressos em conflitos pela definição de territórios”. Considerando essa análise e demais
aspectos significativos do atual processo de globalização, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
19) A globalização econômica ajuda a manter a unidade dos territórios nacionais rompida durante a Guerra
Fria e marcada pelo esgotamento do padrão de acumulação e de relações de poder calcado tanto na
centralização quanto na produção em larga escala.
20) Entre as causas de instabilidades no mundo atual, estão a revolução científico-tecnológica e a crise
ambiental.
21) O Estado deixou de ser a principal representação política, e o território nacional tampouco é a única
escala de referência de poder, lacunas que foram preenchidas pelo poder técnico-econômico.
22) Nas novas relações geopolíticas entre Estado, território e movimentos sociais, estes, cujo expoente é o
movimento ambientalista, apresentam-se como perenes.
CACD/2007 – Questão 62
Considerando os interesses brasileiros na Rodada de Doha da OMC, julgue (C ou E) os itens seguintes.
23) Dada a participação majoritária do setor terciário na composição de seu Produto Interno Bruto (PIB), o
Brasil almeja o aumento de sua participação nas exportações mundiais de serviços, defendendo, por
conseguinte, ampla liberalização dessa modalidade de comércio.
24) Nas negociações acerca de acesso a mercados, o Brasil objetiva a eliminação ou a redução de
restrições tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre suas exportações de bens, de forma geral,
priorizando o tratamento dos fatores que restringem e distorcem o comércio agrícola.
25) Por dispor de um parque industrial amplo e diversificado, embora com diferenças setoriais quanto aos
níveis de competitividade, o Brasil posiciona-se contrariamente ao aprofundamento de compromissos
relativos a reduções tarifárias para produtos manufaturados.
26) O Brasil propugna maior transparência na aplicação de medidas contra práticas desleais de comércio,
em particular, medidas antidumping e anti-subsídios, que afetam suas exportações para os países
desenvolvidos.
CACD/2005 – Questão 44
Milton Santos, em uma de suas obras, afirma que os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três
formas de pobreza e, paralelamente, três formas de dívida social, na segunda metade do século passado.
Segundo o autor, essas formas de pobreza, de dívida social, são a pobreza-marginalidade, a pobreza
incluída e a pobreza estrutural globalizada. Essa classificação está atrelada ao processo de globalização
perversa. Tendo em mente as características desse tipo de globalização, julgue (C ou E) os itens a seguir.
27) Associada ao processo econômico da divisão social do trabalho internacional ou interna, a pobreza-
marginalidade é considerada a doença da civilização e o consumo apresenta-se como o centro da
explicação das diferenças e das percepções das situações.
28) A pobreza incluída iniciou-se como um processo associado a problemas privados, assistencialistas e
locais, porém a globalização tem mudado o perfil dessa forma de pobreza.
29) A pobreza estrutural globalizada impôs-se como natural e inevitável nos tempos atuais, pois há uma
produção globalizada da pobreza, mais presente, sem dúvida, nos países pobres.
30) Com relação à dívida social, os pobres já foram incluídos; posteriormente, foram marginalizados; e,
atualmente, estão sendo excluídos.
José Flávio Sombra Saraiva. Entre egoísmos e frustrações. In: Correio Braziliense, “Opinião”, 2/8/2008, p.
29 (com adaptações).
Tendo o texto acima apenas como referência inicial, julgue os itens que se seguem, acerca das relações
internacionais do fim do século passado e início do século XXI.
36) Os processos de integração econômica e política, em grande parte das experiências desenvolvidas nas
últimas décadas, passam por momentos de restrições.
37) O fracasso das negociações comerciais da Rodada Doha foi fato isolado no mundo contemporâneo, que
se caracteriza pela existência de regimes internacionais e regras de previsibilidade.
-
Apesar da ampliação dos mercados, a globalização da economia e o crescimento dos fluxos de mercadorias
reafirmam a desuniformidade do espaço terrestre e dão visibilidade à sua heterogeneidade e à sua
diversificação pela ação das sociedades que o modelam.
Iná E. Castro. Geografia política, território, escalas de ação e instituições. Bertrand Brasil, 2006, p. 234.
Tendo o texto acima como referência inicial e considerando os assuntos por ele suscitados, julgue os
seguintes itens.
38) Em função da busca da competitividade e da heterogeneidade do espaço, as empresas se dirigem para
locais onde haja mão-de-obra qualificada e barata e infraestrutura adequada.
39) A globalização, como fenômeno em curso no mundo, é caracterizada pela integração de mercados,
levando o crescimento econômico a todas as regiões, articuladas segundo um processo equitativo de
distribuição de riqueza.
40) Para a inserção de países como o Brasil, o México e a Argentina na nova realidade econômica mundial,
as organizações financeiras internacionais exigiram a reforma do Estado, para a ampliação da autonomia
deste e para a garantia do crescimento econômico por meio da centralização da tomada de decisão.
-
O mercado é a instituição central do processo de globalização. Um dado fundamental é a evidência de que
o mercado se tornou mundial. Isso não quer dizer que tombaram os muros das fronteiras nacionais ou dos
protecionismos, mas que nunca tantos produtos cruzaram oceanos e continentes. As barreiras
estabelecidas pelos blocos nacionais ou pelos acordos comerciais visam mais normatizar a competição em
favor dos interesses comerciais particulares de cada país do que bloquear essa circulação. É, pois, no
mercado e nas expectativas de consumo que ele propicia que se materialize a globalização. Iná E. Castro.
Bertrand do Brasil, 2006, p. 233 (com adaptações).
Tendo em vista o tema da globalização, tratado no texto acima, julgue os itens a seguir.
41) A globalização é um fenômeno puramente econômico-financeiro, fundamentado no alcance mundial
do mercado, que aumentou os fluxos comerciais entre países e blocos de países.
42) Um dos fatores que impulsionam o fluxo de capitais é o desenvolvimento tecnológico, o qual também
promove o crescimento da produção industrial.
43) O dinamismo da economia, instaurado a partir do processo de globalização e evidenciado pelo
aumento da produção industrial, teve como vantagem o aumento jamais visto da demanda por mão-de-
obra e, portanto, o pleno emprego nos países ricos.
Gabarito
GABARITO
1 C 11 C 21 C 31 E 41 E
2 C 12 E 22 E 32 E 42 C
3 E 13 C 23 E 33 C 43 E
4 C 14 C 24 C 34 C 42 C
5 E 15 E 25 E 35 E 43 E
6 C 16 E 26 C 36 C 44 C
7 E 17 E 27 C 37 E 45 E
8 C 18 C 28 E 38 C 46 C
9 E 19 E 29 C 39 E 47 E
10 C 20 C 30 C 40 E
Treinamento em discursivas
Resolução da questão:
Apesar de China e Índia serem distintas entre si nos âmbitos cultural, religioso, e político, ambos
guardam semelhanças no que tange à condução econômica: não obstante as diferenças históricas, são dois
países economicamente regidos sob a égide do forte intervencionismo estatal, em especial às áreas de
energia e infraestrutura. Na condição de países em desenvolvimento, integram – juntamente à Brasil,
Rússia e África do Sul – o grupo dos BRICS, união formada por países emergentes. No que se refere à
questão populacional, tanto Índia quanto China estão passando pelo que os demógrafos chamam de
terceira fase de transição, caracterizada principalmente pela diminuição das taxas de mortalidade e
natalidade; e ocasionada sobretudo, pela combinação entre industrialização e êxodo rural.
No aspecto econômico, ambas iniciaram sua trajetória como nações nitidamente agrárias,
transformando-se posteriormente em economias emergentes em acelerado processo de urbanização, no
entanto, algumas diferenças podem ser traçadas. A China, de governo comunista desde 1949,
historicamente foi avessa à modernização capitalista e à economia de mercado. Na década de 1950, o líder
Mao Tsé Tung, idealizador do “Grande Salto em Frente” promoveu a coletivização forçada de terras e
planificação econômica, resultando em grandes fracassos econômicos. A aproximação industrial com a
União Soviética, devido ao caráter camponês da doutrina maoísta, também não logrou grandes frutos. Foi
somente na década de setenta, com a ascensão de Deng Xiaoping que a China se abriu ao mercado,
iniciando assim, o longo período de crescimento econômico que se estende até o presente momento.
No entanto, esta abertura foi realizada com inúmeras restrições, ficando exclusivamente restrita às
Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) criadas pelo Partido Comunista Chinês – áreas abertas aos
investimentos estrangeiros próximas ao litoral e a estruturas como portos e áreas urbanas. Embora fosse
fortemente regulada pelo estado, a abertura econômica chinesa atraiu um grande aporte de
investimentos, principalmente dos Estados Unidos e do Japão; que atraídos pela mão de obra
artificialmente barata (fruto de décadas de regime autoritário e isolamento econômico), poderiam assim,
ampliar a mais valia e maximizar os lucros oriundos do trabalho.
Ultimamente, a China tem influenciado a economia de diversos países subdesenvolvidos ou
emergentes, como o Brasil. O alto consumo chinês de commodities – alavancado pelas ondas de
investimentos privados e estatais neste país – têm elevado o preço das matérias primas em mercado
internacional: trata-se do chamado “efeito China”, que durante a crise global de 2008 beneficiou
diretamente a economia brasileira, sobretudo nos setores de exportação de minério de ferro e grãos.
Além disso, para além de ser receptora de investimentos, a China também investe ativamente em
economias subdesenvolvidas na África e na América, principalmente liderando projetos de infraestrutura e
construção civil, sendo responsável, hoje, por significativa parcela dos fluxos financeiros globais.
Assim como a China, a Índia também passou por grandes dificuldades até iniciar seus processos de
urbanização e industrialização. O subcontinente indiano, até então unificado sob o domínio inglês, diante
da independência, se dividiu em Índia, Paquistão e Bangladesh, cada qual possuindo unidade cultural
distinta. Até hoje, Índia (de predominância hindu) e Paquistão (de predominância islâmica) disputam a
região da Caxemira, vital para o suprimento de recursos hídricos, conflito este, sem solução desde 1947,
ano da independência indiana. Atualmente, estes dois países rivais possuem armas atômicas e fazem
testes militares nas fronteiras, gerando instabilidades geopolíticas e a preocupação de órgãos
internacionais com a iminência de uma guerra nuclear.
Independentemente das tensões políticas, a Índia configura-se, atualmente como uma economia
em ascensão, cujos investimentos em tecnologia e pesquisa produzem um grande contingente de mão de
obra qualificada, sendo frequente a “fuga de cérebros” para países desenvolvidos como Estados Unidos,
sobretudo nos setores de informática e desenvolvimento de softwares. Contudo, não obstante o avanço
tecnológico, a Índia possui grande parte de sua economia ainda voltada para o setor agrícola, em especial
para produtos como arroz, trigo e algodão, empregando neste, grande parte da população, o que tem
provocado tensões na OMC (apesar do maciço investimento em fertilizantes e defensivos agrícolas, ainda
predomina, no país, a agricultura familiar).
No entanto, apesar das galopantes taxas de crescimento, as economias indiana e chinesa ainda
demandam grandes desafios, sobretudo no tocante aos problemas ambientais e à minimização das
profundas desigualdades sociais existentes nestes países. Na China, enquanto a pobreza ainda é uma
realidade constante nas áreas rurais; nas urbanas, operários fazem longas e desumanas jornadas de
trabalho, sendo recorrente o número de suicídios em detrimento da exploração exaustiva da força de
trabalho. Já na Índia, a pobreza configura-se como um problema predominantemente das grandes cidades,
onde estão localizadas as algumas das maiores favelas do mundo; cuja urbanização acelerada deverá
provocar novas demandas por habitação, saneamento, e justiça social. Além disso, ambos os países
possuem enclaves ambientais, como por exemplo, a utilização de combustíveis fósseis (de baixo custo
porém poluentes), a inexistência de legislações ambientais de controle, e a consequente deterioração da
qualidade do ar e de recursos hídricos. Por fim, é necessário ressaltar que apesar do elevado crescimento
econômico chinês e indiano, dada a configuração da Nova Divisão do Trabalho e da Quarta Fase da
Globalização, os centros de decisão econômica ainda estão nos tradicionais países desenvolvidos – em
destaque Estados Unidos e nações da Europa Ocidental.
- Entender as semelhanças econômicas entre China e Índia (ambos países emergentes e de forte
intervenção estatal).
- Entender as semelhanças demográficas entre China e Índia (os dois países mais populosos do mundo)
- Saber que tanto China quanto Índia participam dos BRICS junto ao Brasil.
- Entender que tanto China quanto Índia eram nações agrárias e estão se urbanizando rapidamente.
- Entender o impacto do comunismo na economia chinesa pré-abertura econômica, especialmente Mao
Tsé-Tung e Grande Salto para Frente.
- Entender, mesmo que por cima, a fracassada aproximação industrial China-URSS.
- Entender profundamente a abertura econômica chinesa promovida por Deng Xiaoping nos anos 1970.
Nesta questão, é exigido que o aluno saiba os três tipos de globalização descritos por Milton Santos:
a “globalização como perversidade” (a real, que causa desigualdades), a “globalização como fábula” (a
irreal, vendida pelo grande capital), e a “globalização como possibilidade” (a alternativa que Santos propõe
em seu livro). A boa notícia é que para quem sabe o conteúdo, é uma questão fácil, pois cobra apenas os
conceitos miltonianos e nada mais. Porém, questões pontuais estão cada vez mais raras no CACD. A
tendência é que as discursivas sejam cada vez mais complexas e abrangentes (em 2005 eram apenas 15
linhas, hoje a menor questão tem 60).
Resolução da questão:
Milton Santos classifica a globalização em três tipos: a) primeiramente, a “globalização como
fábula” difundida pelos veículos de comunicação, pelas grandes empresas, e pelos atores hegemônicos,
produziria um falso ideal de integração, que sendo vendido para a população, colocaria o consumismo
como um valor moral central; b) a “globalização perversa” seria a globalização real, efetivamente
observada na maioria dos territórios, que para Santos, provocaria desemprego, pobreza e a marginalização
das baixas classes sociais; c) já a “globalização como possibilidade” consistiria na globalização “mais
humana”, pautada na substituição do consumismo e do dinheiro como valores centrais e no enfoque às
necessidades do próximo, vertente esta, considerada ideal.
Nesse contexto, “globalização perversa”, predominante no mundo contemporâneo, seria
caracterizada por acirrar as desigualdades e por dissolver o conteúdo do lugar, massificando o consumo
cultural e corroendo assim, as noções de identidade local. Por outro lado, assim como o lugar, o conceito
de território seria enfraquecido, pois a “globalização perversa” provocaria aumento do poder das empresas
e o gradual esfacelamento dos estados nacionais.
Globalização (hipotética)
Desde a derrocada do modelo socialista soviético e a expansão do capitalismo mundial, o mundo
tem passado por grandes transformações, que implicaram em avanços técnicos, científicos, e
informacionais. Desde a Terceira Revolução Industrial – cujo auge se deu nos anos 1990 – houve uma
revolução nos modos de produção, nos sistemas de comunicação e transporte, e na relação comercial
entre os países do globo. Tendo em vista estes processos, caracterize o cenário da globalização atual –
levando em consideração os diferentes papéis dos países desenvolvidos e desenvolvidos – e discorra
sobre os impactos e limitações decorrentes deste sistema global.
Extensão máxima: 60 linhas [valor: 20 pontos]
A ideia desta questão hipotética é fazer um breve resumo sobre globalização. Acho difícil que caia
uma questão semelhante, mas é muito provável que você vá utilizar conceitos da globalização em
discursivas de outros temas.
Resolução da questão:
Desde o final da Guerra Fria, a queda do Muro de Berlim e a falência econômica do modelo
soviético, o capitalismo consolidou-se como sistema hegemônico global, cujos centros de decisão
passaram a ser Estados Unidos, União Europeia, Japão, e mais recentemente, no século XXI, a China. Sob a
égide do Consenso de Washington e da retomada do liberalismo econômico, houve um estímulo
ideológico à integração das nações e à propagação do livre comércio entre os países, formando o que os
estudiosos chamam de “aldeia global”, configurando um mundo tecnicamente interconectado. Sob as
luzes da Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-Científica, surgiram, neste período,
importantes progressos tecnológicos que impulsionaram avanços nos setores como a robótica, a
informática, as telecomunicações, os transportes, a química fina, a biotecnologia, e as ciências de forma
geral, revolucionando assim, os métodos produtivos. Estaria formada assim, a estrutura geral da
globalização. Na Nova Divisão do Trabalho da globalização – largamente conceituada por David Harvey –
os países desenvolvidos produzem bens industriais e tecnológicos de alto valor agregado; já os
subdesenvolvidos e emergentes, bens industriais ou manufaturados de baixo valor agregado, bem como
commodities e matérias primas. Há assim, uma reformulação da regionalização mundial, cuja polarização
ocorre entre detentores e não-detentores de tecnologia e informação; o que Milton Santos chama de
meio-técnico-científico-informacional, privilégio de espaços geográficos desenvolvidos.
No entanto, esta globalização – a do progresso, a dos avanços técnicos, a vendida pelos veículos de
comunicação – uma vez que acirraria as desigualdades socioespaciais, para Milton Santos, seria a
“globalização como fábula”, um modelo irreal de desenvolvimento econômico. Para o autor, ao invadir
mercados de consumo de forma selvagem e ultra competitiva, a globalização acentuaria as diferenças
entre os territórios, causando desemprego e pobreza nas classes menos favorecidas. O consumismo
exacerbado e a massificação cultural, frutos de políticas expansivas do capital, criariam assim, uma
sociedade cujo dinheiro constitui o valor central, enfim, a monetarização da vida humana.
Além disso, o próprio funcionamento da nova ordem mundial impõe sérias restrições à sua
expansão e solidificação em âmbito mundial. Uma vez que acelera os fluxos da circulação de capital, a
globalização faz com que países se protejam da “agressividade” do sistema, fomentando reservas de
mercado e políticas protecionistas, como contraditoriamente vem ocorrendo em nações desenvolvidas
como Estados Unidos e Reino Unido, considerados bastiões do capitalismo global. Há inclusive, sérias
discussões na Organização Mundial do Comércio referente à existência de subsídios agrícolas praticados
pelos países europeus a nações emergentes, como Brasil, Índia e China. Por outro lado, na tentativa de
protegerem seus parques industriais, países subdesenvolvidos se fecham à tecnologias e inovações
estrangeiras, gerando um impasse de mão dupla. Além disso, a existência de blocos econômicos como
NAFTA, Mercosul, ou União Europeia, ao invés de promoverem o livre comércio global, fortalecem
modelos comerciais locais e regionais, criando sistemas semi-fechados de circulação de capitais;
contrariando assim, a lógica de integração global (muito embora o processo de formação de blocos
econômicos seja reflexo da globalização).
Além disso, uma vez que o poder dos estados nacionais é reduzido, limitam-se os raios de alcance
do planejamento territorial, ampliando a atuação das empresas multinacionais e transnacionais; que não
obstante à oposição de órgãos internacionais como a OMC, por muitas vezes, adotam práticas desleais
como cartéis, trustes, ou dumping, gerando oligopólios ou monopólios. O estado, por sua vez, exercendo o
poder que lhe ainda restou, tenta, cada vez mais, controlar a economia através de polícias cambiais e
monetárias, bem como implantar políticas protecionistas, realizar acordos bilaterais e promover a Guerra
Fiscal em seus territórios.
- Entender a transição do mundo bipolar (Guerra Fria entre EUA e URSS) para o mundo multipolar
(predomínio do capitalismo dos EUA).
- Entender a relação entre (Neo)liberalismo e Consenso de Washinton (consenso para a abertura
econômica).
- Entender a Terceira Revolução Industrial (Revolução Técnico-Científica) e sua relação com o
modelo de acumulação flexível.
- Entender a relação entre Globalização e Nova Divisão do Trabalho.
- Compreender o meio-técnico-científico-informacional (Milton Santos) e as desigualdades no
espaço decorrentes da globalização.
- Entender a contradição entre globalização e protecionismo.
- Entender a relação entre globalização e formação de blocos econômicos.
- Entender a contradição entre globalização e choque de civilizações.
- Entender que a financeirização promovida pela globalização reduz a soberania dos estados
nacionais.
- Entender as contradições entre livre mercado e tentativas de eliminação de concorrência como
cartéis, trustres e dumpings.
Bibliografia sugerida
Para entender melhor as causas, os efeitos, e a real abrangência da globalização, sugiro dois livros
fundamentais no tema, um do Milton Santos e outro do David Harvey. Apesar de ambos analisarem a
globalização pela ótica marxista (o que poderia lhes conferir certa parcialidade), são duas das principais
referências na área, amplamente estudadas nas faculdades de Geografia. Ambas as referências são
bastante teóricas, mas esse entendimento é fundamental para responder corretamente as questões da
banca.
SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização. Rio de Janeiro: Record, 2004.
HARVEY, D. Condição Pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1989.
É nesse livro que Santos propôs os três tipos de globalização (como fábula, como perversidade, e
como possibilidade) e a analisou de forma bastante profunda, com todas as suas contradições inerentes
(se estiverem sem tempo, sugiro ler pelo menos a introdução do livro).