Você está na página 1de 14

✐ ✐

Aula 1
F UNÇ ÕES C OMPOSTAS E I NVERSAS

Objetivos
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1 entender e trabalhar com o conceito de função


crescente e de função composta;
2 entender os conceitos de função sobrejetiva, in-
jetiva, bijetiva e de função inversa;
3 decidir se uma função possui ou não inversa;
4 resolver problemas envolvendo funções inversas
e representar graficamente as soluções.

✐ ✐
✐ ✐

Métodos Determinı́sticos II | Funções Compostas e Inversas

Nesta aula, vamos identificar propriedades importantes das


funções. Continuamos nosso trabalho considerando funções re-
ais de variável real. Ou seja, os domı́nios Dom( f ) das funções f
são sempre subconjuntos de números reais, isto é, Dom( f ) ⊂ R,
enquanto que o contradomı́nio é constituı́do de todos os números
reais R. Para iniciar, eis o conceito de função composta.

F UNÇÕES C OMPOSTAS
Considere uma função f cujo domı́nio é Dom( f ) e outra
função g cujo domı́nio é Dom(g). Suponha ainda que a imagem
de f , Im( f ), esteja contida no domı́nio de g, isto é, Im( f ) ⊂
Dom(g). Veja a representação da situação no esquema a seguir:

f : Dom( f ) −→ R , Im( f ) ⊂ Dom(g) e g : Dom(g) −→ R.

Note que, como Im( f ) ⊂ Dom(g), então para todo número x ∈


Dom( f ), f (x) ∈ Dom(g). Logo é permitido aplicar a função g
ao número f (x), isto é, calcular o resultado g( f (x)). Assim pro-
cedendo, estaremos associando a cada número real x ∈ Dom( f )
um número real g( f (x)). Portanto, este esquema permite definir
uma nova função h, a partir das funções f e g,

h : Dom( f ) −→ R,

pela fórmula
h(x) = g ( f (x)) .

A nova função h é denominada a composta de f com g. Para


facilitar, a notação e o cálculo da função composta, vamos con-
siderar x a variável para a função f e y a variável para a função
g. Como Im( f ) ⊂ Dom(g), a imagem da função f está contida
no domı́nio da função g e, então, podemos escrever y = f (x).
Também representando por w os elementos que estão na Im(g),
podemos escrever que

y = f (x) , w = g(y) ⇒ w = h(x) = g( f (x)).

Usamos a notação h = g◦ f para representar a função obtida pela


composição das funções f e g. Veja, também, a Figura 1.1 que
simboliza a composição de funções.

8 CEDERJ

✐ ✐
✐ ✐

f g

1 1 MÓDULO 1
replacements
Im f
R
( x
) (( ))
y = f (x) g(y) = g ( f (x))

Dom( f )
Dom(g)

AULA
Figura 1.1: A função composta h = g ◦ f .

✞ ☎
Exemplo 1.1 ✆

Considere as funções f : R → R e g : R → R dadas por

f (x) = x − 2,
g(y) = y3 .

a. Encontre a função composta h = g ◦ f .

b. Mostre que x = 2 é uma das raı́zes da equação h(x) = 0.

Solução: a. A função composta h = g ◦ f tem como fórmula a


expressão

h(x) = g( f (x)) = g(x − 2) = (x − 2)3 = x3 − 6x2 + 12x − 8 .

b. Usando a fórmula da função encontramos que

h(2) = 23 − 6(2)2 + 12(2) − 8 = 8 − 24 + 24 − 8 = 0 .

Portanto, x = 2 é raiz da equação h(x) = 0.


✞ ☎
Exemplo 1.2 ✆

Sejam as funções g : R → R e f : R → R definidas por
 2
x se x ≥ 0,
g(x) = e f (x) = x − 3 .
x se x < 0,

Encontre a expressão que define h = g ◦ f .


Solução: Temos que

h(x) = g( f (x)) = g(x − 3) .

CEDERJ 9

✐ ✐
✐ ✐

Métodos Determinı́sticos II | Funções Compostas e Inversas

Em virtude da definição de g, precisamos saber quando x − 3 ≥ 0 e


quando x − 3 < 0.

Ora
x−3 ≥ 0 ⇔ x ≥ 3 e x − 3 < 0 ⇔ x < 3.
Logo,
(x − 3)2 se x ≥ 3,

h(x) =
x−3 se x < 3.

✞ ☎
Exemplo 1.3 ✆

Sejam as funções reais f (x) = 3x+2 e (g◦ f )(x) = x2 −x+1.
Determine a expressão de g.
Solução: Temos que

(g ◦ f )(x) = g( f (x)) = g(3x + 2) = x2 − x + 1 .

Façamos agora
y−2
3x + 2 = y ⇒ x = .
3
Logo,
 2
y−2 y−2
g(y) = − +1
3 3
y2 − 4y + 4 y − 2
g(y) = − +1
9 3
1 2 
g(y) = y − 4y + 4 − 3(y − 2) + 9
9
1 2 
g(y) = y − 7y + 19 .
9

F UNÇÕES S OBREJETORA , I NJETORA E


B IJETORA
Até agora, ao tratar das funções, estamos sempre supondo
que o contradomı́nio é todo o conjunto R. Neste momento, é
útil para explicar os conceitos desta parte do nosso estudo, consi-
derar que o contradomı́nio das funções é um subconjunto B ⊂ R.
Uma função f : A → B é sobrejetora se Im( f ) = B. Ou seja,
para todo elemento y ∈ B existe x ∈ A, tal que f (x) = y.

10 C E D E R J

✐ ✐
✐ ✐

Uma função f : A → B é injetora (ou injetiva) se todo par


de elementos diferentes x1 e x2 no domı́nio A dão como ima-

1 1 MÓDULO 1
gens elementos g(x1 ) e g(x2 ) também diferentes. Ou seja, vale
a propriedade:

x1 , x2 ∈ A, x1 6= x2 ⇒ g(x1 ), g(x2) ∈ Im(g) e g(x1 ) 6= g(x2 ) .

Uma função f : A → B, que tem ambas as propriedades injetora

AULA
e sobrejetora, é dita uma função bijetora.
✞ ☎
Exemplo 1.4 ✆

Sejam A = {0, 1, 2}, B = {1, 2, 3} e f , g : A → B como nos
diagramas abaixo.
A função f não é injetora, nem sobrejetora. A função g é
bijetora.

f g
A B A B
0 1 0 1
1 2 1 2
2 3 2 3
Dom( f ) = A Dom( f ) = A
Im( f ) 6= B Im(g) = B

Figura 1.2: As funções f e g.

F UNÇÃO I NVERSA
Sobre qualquer conjunto não vazio de números reais A ⊂ R,
podemos definir uma função chamada identidade IdA : A → A
pela equação IdA (x) = x. A partir da função identidade e do
conceito de composição de funções, podemos perguntar sobre a
existência de funções inversas. Veja como o problema é colo-
cado.
Considere uma função f : A → B onde A e B são subconjun-
tos de números reais. Estamos interessados em encontrar con-
dições para que exista uma função g : B → A que seja a função
inversa de f . Essa nova função deve ter as duas propriedades

g ◦ f (x) = IdA
C E D E R J 11
e
f ◦ g(x) = IdB .

✐ ✐
✐ ✐

Métodos Determinı́sticos II | Funções Compostas e Inversas

Veja a primeira propriedade expressa no seguinte diagrama de


funções.

f g
A −→ B −→ A
x 7−→ f (x) 7−→ g ( f (x)) = x

Examine o diagrama e verifique que x é o ponto de partida e


de chegada. Mas, quais são as propriedades que devem verificar
uma função f : A → B para garantir a existência de uma função
inversa?
Vamos dedicar nossa energia para encontrar uma resposta,
em dois tempos.
Primeiramente, afirmamos que a função deve ser injetiva. De
fato, se uma função f não é injetiva, então não existe inversa.
Veja um exemplo, representado no diagrama a seguir, onde

A = {5, 6, 7} e B = {1, 2} .

A função inversa não pode ser definida para o elemento 1, pois


f (5) = f (6) = 1.

f
A B
5 1

7 2

Figura 1.3: Temos que f (5) = f (6) = 1.

Em segundo lugar, se a função não é sobrejetora, então não


existe inversa. Veja um exemplo de uma função f não sobreje-
tora, representado no diagrama a seguir, onde

A = {5, 6, 7} e B = {1, 2, 3, 4} .

A função inversa não pode ser definida em 4 ∈ B.

12 C E D E R J

✐ ✐
✐ ✐

f
A B

1 1 MÓDULO 1
5 1

6 2
3
7
4

AULA
Figura 1.4: Não existe x ∈ A tal que f (x) = 4.

Finalmente, para uma função f bijetora está claro, depois da


discussão que fizemos, que existe uma função inversa. Vamos
denotar de agora em diante por f −1 : B → A a função inversa
de f .
Portanto, uma função f : A → B possui a função inversa f −1
se, e somente se, f é bijetora.
Além disso, a função inversa f −1 : B → A tem as seguintes
propriedades:

(i) f −1 é uma função bijetora de B em A.

(ii) Dom f −1 = Im( f ) = B.




(iii) Im f −1 = Dom( f ) = A.


O S G R ÁFICOS DE UMA F UNÇÃO E SUA


I NVERSA
A relação entre os pares ordenados que compõem os gráficos
de f e f −1 , os quais são denotados por G( f ) e G f −1 , pode ser
expressa simbolicamente por

(x, y) ∈ G( f ) ⇔ (y, x) ∈ G f −1


ou

y = f (x) ⇔ x = f −1 (y) .

C E D E R J 13

✐ ✐
✐ ✐

Métodos Determinı́sticos II | Funções Compostas e Inversas

✞ ☎
Exemplo 1.5 ✆

1
As funções f : R − {0} → R − {0} e f (x) = é tal que
x
f = f −1 . Veja as contas para comprovar:
 
1 1
f −1 ◦ f (x) = f −1 f (x) = f −1 = x ⇒ f −1 (x) = .
 
x x
✞ ☎
Exemplo 1.6 ✆

Qual a função inversa da função bijetora f : R → R definida
por f (x) = 3x + 2?
Solução: Se y = f (x) então f −1 (y) = x.
Partindo de y = f (x), y = 3x + 2, procuramos isolar x.

y−2
y = 3x + 2 ⇒ x = .
3
Logo,
y−2
f −1 (y) = x = .
3

 Como a variável independente pode indiferentemente ser


trocada também, podemos escrever, para a função inversa
f −1 do exemplo anterior, que
x−2
f −1 (x) = .
3

✞ ☎
Exemplo 1.7 ✆

Qual é a função inversa da função bijetora em f : R → R
definida por f (x) = x3 ?
Solução: Temos que
y = f (x) = x3 ,
logo,

x= 3
y.
Portanto

f −1 (y) = x = 3
y.
Ou seja, √
f −1 (x) = 3
x.

14 C E D E R J

✐ ✐
✐ ✐

1 1 MÓDULO 1
✞ ☎
Exemplo 1.8 ✆

Um exemplo interessante é o da função identidade.
I : R → R, I(x) = x. Isto é, se escrevermos y = I(x), temos que
y = x. A representação gráfica desta função resulta na bissetriz
do primeiro e terceiro quadrante. Veja a figura a seguir.

AULA
y

y=x

2 x

Figura 1.5: A função I(x) = x.

É claro que I −1 = I, isto é, a função identidade e sua inversa


coincidem.
Um exame do gráfico a seguir nos leva à conclusão que os
pontos (x, y) e (y, x) do plano, abaixo representados, são simétricos
com relação à reta y = x.

(x, y)
y y=x

x (y, x)

x y

Figura 1.6: Simetria dos pontos (x, y) e (y, x).

C E D E R J 15

✐ ✐
✐ ✐

Métodos Determinı́sticos II | Funções Compostas e Inversas

Lembrando a relação

(x, y) ∈ f ⇔ (y, x) ∈ f −1 ,

podemos concluir que, no plano, os pontos que representam uma


função e sua inversa são simétricos em relação à reta y = x. Isto
é, os gráficos que representam f e f −1 são simétricos em relação
à reta bissetriz do 1o e 3o quadrante. Veja um exemplo deste fato
a seguir.
✞ ☎
Exemplo 1.9 ✆

Considere a função f e sua inversa f −1 definidas por
f : (0, +∞) −→ (0, +∞) f −1 : (0, +∞) −→ (0, +∞)
e √
x 7−→ f (x) = x2 x 7−→ f −1 (x) = x .

Observe a propriedade de simetria dos gráficos a seguir.

y = x2
y=x

y= x
1

1 x

Figura 1.7: Gráficos de funções inversas.

F UNÇÕES M ON ÓTONAS
Dentre as funções que são injetivas destacam-se as funções
crescentes, decrescentes e similares. Acompanhe a formulação
destes conceitos.
Considere uma função f : A → B onde A e B são subconjun-
tos de números reais. Então, a função é dita:

• crescente se

para todo x1 , x2 ∈ A , x1 < x2 ⇒ f (x1 ) < f (x2 ) ;

16 C E D E R J

✐ ✐
✐ ✐

• decrescente se

1 1 MÓDULO 1
para todo x1 , x2 ∈ A , x1 < x2 ⇒ f (x1 ) > f (x2 ) ;

• não-crescente se

para todo x1 , x2 ∈ A , x1 < x2 ⇒ f (x1 ) ≥ f (x2 ) ;

AULA
• não-decrescente se

para todo x1 , x2 ∈ A , x1 < x2 ⇒ f (x1 ) ≤ f (x2 ) ;

Veja, nas Figuras 1.8 e 1.9, representações gráficas de funções


com as propriedades acima.

y = f (x) y = f (x)

x x

Figura 1.8: Função f crescente e decrescente.

y = f (x) y = f (x)

x x

Figura 1.9: Função f não-crescente e não-decrescente.

✞ ☎
Exemplo 1.10 ✆

A função f : (0, ∞) → (0, ∞), f (x) = x2 é crescente. Veja a
justificativa.

C E D E R J 17

✐ ✐
✐ ✐

Métodos Determinı́sticos II | Funções Compostas e Inversas

Suponha dois números reais a e b positivos, devemos mos-


trar que se

a < b ⇒ f (a) < f (b) ⇔ a2 < b2 .

Para comprovar, acompanhe as contas:

a2 < b2 ⇔ a2 − b2 < 0 ⇔ (a − b) · (a + b) < 0. (1.1)

Como os números são positivos, então (a + b) > 0. Também,


como a < b, então a − b < 0. Logo, (a − b) · (a + b) < 0. Isto
mostra que (1.1) é verdadeiro e que, portanto, a2 < b2 é verda-
deiro. Portanto, a função é crescente. Veja o gráfico da função
representado na Figura 1.10.

y = x2

2 3 x

Figura 1.10: Gráfico de uma função crescente.

✞ ☎
Exemplo 1.11 ✆

Considere a função h : R → R, onde

 2 se x ≤ −2,
h(x) = −x se −2 < x ≤ 0,
 2
x se x > 0.

Então f é constante no intervalo (−∞, −2], decrescente no in-


tervalo (−2, 0] e crescente no intervalo (0, +∞). Examine estas
propriedades no gráfico da função apresentado na Figura 1.11.

18 C E D E R J

✐ ✐
✐ ✐

h(x)

1 1 MÓDULO 1
2

AULA
−2 x

Figura 1.11: Gráfico da função h(x).

Exercı́cio 1.1

1. Examine, nos intervalos (−∞, 2], (−2, 2] e (2, +∞), o com-


portamento da função g : R → R, onde

 −x2 se x ≤ −2,
g(x) = −4 se −2 < x ≤ 2,
−x − 2 se x > 2.

2. Dados f (x) = x2 − 1, g(x) = 2x, determine:


a) f ◦ g(x); b) f ◦ f (x); c) g ◦ f (x); d) g ◦ g(x).

3. Sendo f a função real definida por f (x) = x2 −6x+8, para


todos os valores x > 3. Construa o gráfico de f , conclua
que existe a inversa f −1 e determine o valor de f −1 (3).

4. A função inversa da função bijetora f : R − {−4} →


2x − 3
R − {2} definida por f (x) = é:
x+4
x+4 4x + 3
a) f −1 (x) = ; d) f −1 (x) = ;
2x + 3 x−2
x−4 4x + 3
b) f −1 (x) = ; e) f −1 (x) = .
2x − 3 x+2
4x + 3
c) f −1 (x) = ;
2−x

5. Dada a função real de variável real f , definida por


x+1
f (x) = , x 6= 1:
x−1
a) determine ( f ◦ f )(x);
b) escreva uma expressão para f −1 (x).
C E D E R J 19

✐ ✐
✐ ✐

Métodos Determinı́sticos II | Funções Compostas e Inversas

6. Suponha que f : R → R é da forma f (x) = ax+b e verifica


f [ f (x)] = x + 1. Calcule a e b.

7. Seja a função f tal que f : (R − {−2}) → R, onde


x−2
f (x) = . Encontre o número real x que satisfaz
x+2
f ( f (x)) = −1.

8. Sendo f (x − 1) = 2x + 3 uma função de R em R, a função


inversa f −1 (x) é igual a:
x−3
a) (3x + 1) · 2−1 ; d) ;
2
b) (x − 5) · 2−1 ; e) (x + 3) · 2−1.
c) 2x + 2;
1
9. Seja f : (0, +∞) → (0, +∞) a função dada por f (x) =
x2
e f −1 a função inversa de f . Calcule o valor de f −1 (4).

20 C E D E R J

✐ ✐

Você também pode gostar