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Funções reais de variável real

Departamento de Matemática e Aplicações


Universidade do Minho

(DMA, UM) Funções reais de variável real Setembro 2012 1 / 31


Funções reais de variável real (noções elementares)

Definição (Função)
Sejam A e B dois conjuntos (diferentes do vazio). Uma FUNÇÃO f de A com
valores em B é uma regra ou correspondência que associa a cada elemento x
(objecto) de A um e um só elemento y=f(x) (imagem) de B. Simbolicamente:

f : A −→ B
x ,→ y=f(x)

x chama-se variável independente (e toma valores em A);


y chama-se variável dependente (dado que os seus valores dependem dos
valores que a variável x toma), e toma valores em B.
f(x) chama-se expressão analı́tica da função f, e traduz o modo como a
variável y depende da variável x.
O conjunto A (Df ) é chamado o DOMÍNIO da função f. O conjunto B é
chamado o CONJUNTO de CHEGADA de f .
A função f diz-se real de variável real quando A ⊆ R e B ⊆ R.

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Funções reais de variável real (noções elementares)

Definição (Domı́nio e contradomı́nio)


Seja f uma função real de variável real.
Chama-se DOMÍNIO de f (Df ) ao conjunto dos valores reais que têm
imagem pela função f, isto é, ao conjunto dos números reais para os quais a
expressão analı́tica de f está bem definida.
Chama-se CONTRADOMÍNIO de f (Df0 ) ao conjunto dos valores reais que
são imagem pela função f dos elementos do domı́nio.

Definição (Gráfico de uma função)


Seja f : Df ⊂ R −→ R. Chama-se GRÁFICO da FUNÇÃO f ao conjunto dos
pares ordenados
Gf = {(x, f (x)) : x ∈ Df }

Teste da recta vertical - Uma curva representada num referencial é o gráfico de uma
função se e só se qualquer recta vertical intersecta o gráfico, no máximo, num ponto.

Nota: Numa função, a cada objecto corresponde uma e uma só imagem.
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Funções reais de variável real (noções elementares)
Exemplos de funções
a funcao constante: f (x) = c, onde c ∈ R;
a função identidade: f (x) = x;
a função afim: f (x) = mx + b, onde m, b ∈ R e m 6= 0;
a função polinomial de grau n: Pn
f (x) = a0 x n + a1 x n−1 + a2 x n−2 + ... + an−1 x + an = k=0 ak x n−k ; onde
a0 , a1 , ..., an ∈ R e a0 6= 0 e n ∈ N. Em particular:
se n = 2, f (x) = a0 x 2 + a1 x + a2 é uma função quadrática;
se n = 3, f (x) = a0 x 3 + a1 x 2 + a2 x + a3 é uma função cúbica;
função potência: f (x) = x a ; onde a ∈√R. Em particular:
se a = n1 , onde n ∈ N, então f (x) = n x e tem-se
se n é par, Df = [0, +∞[;
se n é ı́mpar, Df = R;
p(x)
a função racional: f (x) = q(x) , onde p e q são funções polinomiais. Note que
Df = {x ∈ R : q(x) 6= 0};
função definida por ramos: definida por expressões  diferentes em partes
x2 se 0 ≤ x ≤ 1
diferentes do seu domı́nio; por exemplo f (x) =
3 − x se 1 < x ≤ 2
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Funções reais de variável real (noções elementares)

Definição (Zeros de uma função)


Seja f : Df ⊂ R −→ R. Chamam-se ZEROS da FUNÇÃO f aos valores de x ∈ Df
tais que f (x) = 0.

Definição (Monotonia de uma função)


Uma f : Df ⊂ R −→ R diz-se:
crescente em D ⊂ Df se, ∀a, b ∈ D, a < b ⇒ f (a) ≤ f (b);
decrescente em D ⊂ Df se, ∀a, b ∈ D, a < b ⇒ f (a) ≥ f (b);
estritamente crescente em D ⊂ Df se, ∀a, b ∈ D, a < b ⇒ f (a) < f (b);
estritamente decrescente em D ⊂ Df se, ∀a, b ∈ D, a < b ⇒ f (a) > f (b);
monótona num intervalo D quando é crescente ou decrescente nesse intervalo;
estritamente monótona num intervalo D quando é estritamente crescente ou
estritamente decrescente nesse intervalo.
Uma função constante é crescente e decrescente em qualquer intervalo do seu
domı́nio.

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Funções reais de variável real (noções elementares)

Definição (Função injectiva, sobrejectiva e bijectiva)


Uma f : Df ⊂ R −→ B ⊆ R diz-se:
injectiva se, ∀x1 , x2 ∈ Df , x1 6= x2 ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 );
sobrejectiva se, ∀y ∈ B ∃x ∈ Df : y = f (x);
bijectiva se é injectiva e sobrejectiva. Ou seja, ∀y ∈ B ∃1 x ∈ Df : y = f (x);

De forma equivalente, f é injectiva se, f (x1 ) = f (x2 ) ⇒ x1 = x2


Graficamente verifica-se que uma função f é injectiva se, qualquer recta paralela ao
eixo das abcissas intersecta o gráfico de f em apenas um ponto.

Definição (Função par e função ı́mpar)


Uma f : Df ⊂ R −→ R diz-se:
par se, ∀x ∈ Df , f (−x) = f (x);
ı́mpar se, ∀x ∈ Df , f (−x) = −f (x).
Nota. O gráfico de uma função par é simétrico em relação ao eixo das ordenadas. O
gráfico de uma função ı́mpar é simétrico em relação à origem do referencial.
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Funções reais de variável real (noções elementares)
Definição (Extremos absolutos de uma função)
Seja f uma função de domı́nio Df :
f tem um máximo absoluto em a se, ∀x ∈ Df , f (a) ≥ f (x);
A a chama-se maximizante e a f(a) máximo absoluto.
f tem um mı́nimo absoluto em b se, ∀x ∈ Df , f (b) ≤ f (x);
A b chama-se minimizante e a f(b) mı́nimo absoluto.

Definição (Extremos relativos de uma função)


Seja f uma função de domı́nio Df :
f tem um máximo relativo em a se existir uma vizinhança V (intervalo aberto
centrado em a), tal que ∀x ∈ V ∩ Df , f (a) ≥ f (x);
A a chama-se maximizante e a f(a) máximo relativo.
f tem um mı́nimo relativo em b se existir uma vizinhança V (intervalo aberto
centrado em b), tal que ∀x ∈ V ∩ Df , f (b) ≤ f (x);
A b chama-se minimizante e a f(b) mı́nimo relativo.
Nota. Chama-se vizinhança de centro a e raio  ao intervalo aberto ]a − , a + [. Tal
representa-se por V (a).
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Funções reais de variável real (noções elementares)
Das definições apresentadas resulta que:
1.o Qualquer extremo absoluto é também extremo relativo.
2.o Se uma função tem máximo absoluto este coincide com o maior dos máximos
relativos e com o maior valor do contradomı́nio.
3.o Se uma função tem mı́nimo absoluto este coincide com o menor dos mı́nimos
relativos e com o menor valor do contradomı́nio.
4.o Uma função pode ter extremos relativos e não ter extremos absolutos.

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Exercı́cio 1.
1. A partir de um deterninado instante, considerado como origem, registaram-se os
valores de velocidade, v em km/h, em função do tempo, t, em segundos, durante
uma parte do circuito que um automóvel percorria num rali.

1.1 O gráfico representa uma função? Justifique a sua resposta.


1.2 Qual a variável dependente?
1.3 Considere a função f representada graficamente. Determine:
a) o domı́nio; b) o contradomı́nio;
c) os intervalos de monotonia; d) os extremos relativos;
e) os extremos absolutos; f) os minimizantes;
g) os maximizantes.
x √
2. Calcular o domı́nio das funções: a) f (x) = b) g (t) = 1 − t2
x2 − 2
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Funções reais de variável real (noções elementares)

Definição (Função limitada)


Uma função f : Df ⊂ R −→ R diz-se limitada se

∃c ∈ R+ : |f (x)| < c, ∀x ∈ Df

Definição (Operações com funções)


Sejam f : Df ⊂ R −→ R e g : Dg ⊂ R −→ R duas funções. Podemos definir
algumas operações com funçoes:
função soma: (f + g )(x) = f (x) + g (x) e Df +g = Df ∩ Dg ;
função diferença: (f − g )(x) = f (x) − g (x) e Df −g = Df ∩ Dg ;
função produto: (f × g )(x) = f (x) × g (x) e Df ×g = Df ∩ Dg ;
f f (x)
função quociente: ( )(x) = e D f = Df ∩ Dg ∩ {x ∈ R : g (x) 6= 0};
g g (x) g

√ √
Exercı́cio 2. Considere as funções f (x) = 1 − x e g (x) = 5 + x. Calcule cada uma
das funções f + g , f − g , f × g , gf e seus domı́nios.

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Funções reais de variável real (noções elementares)
Definição (Função composta)
Dadas duas funções f e g reais de variável real, chama-se função composta de f
com g à função fog (lê-se f após o g ou composta de f com g ) tal que:
D(fog ) = {x ∈ R : x ∈ Dg ∧ g (x) ∈ Df }
(fog )(x) = f [g (x)], ∀x ∈ Dfog

A composição de duas funções não tem a propriedade comutativa mas tem a


propriedade associativa, (fog )oh = fo(goh), ∀f , g , h.
Quando fog = gof , f e g dizem-se funções permutáveis.
Exercı́cio 3.
1. Considere f (x) = x + 5 e g (x) = x 2 − 3. Calcule:
a) fog (0) b) g (f (0)) c) f (g (x))
d) gof (x) e) fof (−5) f ) g (g (2))
g ) f (f (x)) h) gog (x)
1
2. Defina gof e fog , sendo f definida em R\{−1, 1} por f (x) = 2 e g definida
√ x −1
+
em R0 por g (x) = x.
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3. Verifique se são ou não permutáveis as funções f e g definidas em R por f (x) = 3x
e g (x) = 2x 2 + 1

√ √
4. Considere as f (x) = x e g (x) = 2 − x. Calcule as funções compostas fog , gof ,
fof , gog e seus domı́nios.

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Funções reais de variável real (noções elementares)
Uma função f admite função inversa se e só se f é injectiva.

Definição (Função inversa)


Seja f uma real de variável real injectiva de domı́nio Df .

f : Df −→ R
x ,→ y = f (x)

Se Df0 é o contradomı́nio de f , isto é, Df0 = f (Df ), chama-se função inversa de f


e representa-se por f −1 à função definida por:

f −1 : Df0 −→ Df
y ,→ x = f −1 (y )

em que f −1 (f (x)) = x, ∀x ∈ Df

Nota:
Df −1 = Df0 ; Df0 −1 = Df
Como Gf −1 = {(y , x) : (x, y ) ∈ Gf }, os gráficos de f e f −1 são simétricos
relativamente à recta y = x.
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Funções reais de variável real (noções elementares)
Para determinar a expressão da inversa, basta resolver em ordem a x a equação
y = f (x). No fim, para expressar f −1 como uma função de x, troca-se x por y .
Exercı́cio 4.
3
1. Considere-se a função f definida por f (x) = x−2
. Caracterize a função inversa de f .
2. Considere as funções f e g definidas por f (x) = 2x + 1 e g (x) = x 2 .
a) Justifique se é possı́vel ou não inverter estas funções em todo o seu domı́nio.
Em caso negativo, indique o maior subdomı́nio onde é possı́vel inverter cada
uma.
b) Caracterize as funções inversas de f de g .

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Limites de funções reais de variável real

Diz-se que a é ponto isolado do conjunto D se a ∈ D e se existe pelo menos uma


vizinhança de a em que a é o único elemento de D.
Diz-se que a é ponto de acumulação do conjunto D se em qualquer vizinhança de a
existe pelo menos um elemento de D diferente de a.

Definição (Limite de uma função num ponto)


Sejam f : Df ⊂ R −→ R uma função e a um ponto de acumulação de Df . Diz-se
que f (x) tende para L quando x tende para a e escreve-se

lim f (x) = L
x→a

se, para todo o número real ε > 0 existe um número real δ > 0, dependente de ε,
tal que
∀x ∈ Df ∧ |x − a| < δ ⇒ |f (x) − L| < 

Significado geométrico: para qualquer x ∈ Vδ (a)\{a} ∩ Df , no caso de haver limite, vai


existir sempre uma vizinhança de L, V (L), que contém a imagem f(x).
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Exemplo Provar que limx→3 (4x − 5) = 7.

Resolução.
Seja dado  > 0 arbitrário. Pretende-se encontrar um δ > 0, dependente de , tal que

∀x ∈ Df ∧ |x − 3| < δ ⇒ |f (x) − 7| < .

Como
|f (x) − 7| = |(4x − 5) − 7| = |4x − 12| = |4(x − 3)| = 4|x − 3|
ter-se-á
|f (x) − 7| < 4δ sempre que |x − 3| < δ.

Portanto, escolhendo δ > 0 tal que 4δ = , ou seja, δ = , tem-se:
4

|f (x) − 7| < 4δ = 4 =  sempre que |x − 3| < δ.
4
Portanto, isto prova que limx→3 (4x − 5) = 7 c.q.p.

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Exemplo Provar que limx→2 x 2 = 4.

Resolução.
Seja dado  > 0 arbitrário. Pretende-se encontrar um δ > 0, dependente de , tal que

∀x ∈ Df ∧ |x − 2| < δ ⇒ |f (x) − 4| < .

Como

|f (x) − 4| = |(x − 2)(x + 2)| = |x − 2||x + 2| = |x − 2||x − 2 + 4| ≤ |x − 2| (|x − 2| + 4)

ter-se-á
|f (x) − 4| < δ(δ + 4) = δ 2 + 4δ sempre que |x − 2| < δ.

Portanto, escolhendo δ > 0 tal que δ 2 + 4δ = , ou seja, δ = −2 + 4 + , tem-se:
√ √
|f (x) − 4| < δ(δ + 4) = (−2 + 4 + )(2 + 4 + ) =  sempre que |x − 2| < δ.

Portanto, isto prova que limx→2 x 2 = 4 c.q.p.

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Limites de funções reais de variável real

Adaptando a definição anterior tem-se:


limx→+∞ f (x) = L se, ∀ > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df ∧ x > M ⇒ |f (x) − L| < 
limx→−∞ f (x) = L se, ∀ > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df ∧ x < −M ⇒ |f (x) − L| < 

limx→a f (x) = +∞ se, ∀N > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df ∧ |x − a| < δ ⇒ f (x) > N


limx→a f (x) = −∞ se, ∀N > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df ∧ |x − a| < δ ⇒ f (x) < −N

limx→+∞ f (x) = +∞, se, ∀N > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df ∧ x > M ⇒ f (x) > N


limx→−∞ f (x) = +∞ se, ∀N > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df ∧ x < −M ⇒ f (x) > N

limx→+∞ f (x) = −∞ se, ∀N > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df ∧ x > M ⇒ f (x) < −N


limx→−∞ f (x) = −∞ se, ∀N > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df ∧ x < −M ⇒ f (x) < −N

Exercı́cio 5.
1
1. Provar que limx→0 = +∞.
x2
1
2. Provar que limx→+∞ = 0.
x
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Limites de funções reais de variável real
Definição (Limites laterais)
Sejam f : Df ⊂ R −→ R uma função e a um ponto de acumulação de Df .
Limite à direita em a:
Diz-se que f (x) tende para L quando x tende para a por valores à direita de a e
escreve-se limx→a+ f (x) = L se

∀ > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df ∧ a < x < a + δ ⇒ |f (x) − L| < 

Limite à esquerda em a:
Diz-se que f (x) tende para L quando x tende para a por valores à esquerda de a e
escreve-se limx→a− f (x) = L se

∀ > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df ∧ a > x > a − δ ⇒ |f (x) − L| < 

Se f está definida à esquerda e à direita de a, para que exista limite da função nesse
ponto é necessário que existam e sejam iguais os limites laterais:

lim f (x) = L ⇔ lim f (x) = L ∧ lim f (x) = L


x→a x→a− x→a+


Exercı́cio 6. Provar que limx→0+ x = 0.
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Propriedades dos limites de funções
Propriedade 1
O limite de uma função num ponto, quando existe, é único.

Propriedade 2
Se limx→a f (x) = b1 e limx→a f (x) = b2 em que b1 , b2 ∈ R e a é finito ou infinito, então:
1. limx→a [f (x) + g (x)] = b1 + b2
2. limx→a [f (x) − g (x)] = b1 − b2
3. limx→a [f (x)g (x)] = b1 b2
f (x) b1
4. se b2 6= 0, limx→a =
g (x) b2
5. limx→a [f (x)]n = [limx→a f (x)]n = b1n , n ∈ N
p p √
6. limx→a n f (x) = n limx→a f (x) = n b1 , n ∈ N; f (x) ≥ 0 se n par
7. Se f (x) ≤ g (x) num intervalo contendo a no seu interior, então b1 ≤ b2

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Propriedades dos limites de funções
Propriedade 3
Se limx→a f (x) = 0 e g é uma função limitada numa vizinhança de a, então

lim [f (x)g (x)] = 0


x→a

Propriedade 4
Sejam f e g duas funções reais de variável real tais que D 0 g ⊂ Df , e a um ponto de
acumulação de Dg e b um ponto de acumulação de Df . Se limx→a g (x) = b e
limx→b f (x) = c = f (b), então limx→a (fog )(x) = c

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Propriedades dos limites de funções

Propriedade 5 (Princı́pio do enquadramento)


Seja a = −∞, a− , a, a+ ou +∞, com a ∈ R e I um intervalo contendo a ou com
extremo em a. E sejam f , g , h funções reais de variável real tais que, se

∀x ∈ R f (x) ≤ g (x) ≤ h(x)

e
lim f (x) = lim h(x) = L
x→a x→a

então
lim g (x) = L
x→a

onde L ∈ R ∪ {−∞, +∞}

Exercı́cio 7.
1. Dado que 3 − x 2 ≤ u(x) ≤ 3 + x 2 para todo x 6= 0, calcular limx→0 u(x).
2. Mostrar que se limx→a |f (x)| = 0, então limx→a f (x) = 0.
sinx
3. Mostrar que limx→+∞ = 0.
x

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Exercı́cio 8. Usando as propriedades dos limites, calcule:
(revisão das indeterminações do tipo: 00 ,+∞ − ∞, ∞ ∞
, 0 × ∞)
3 2
1. limx→1 (−5x + 2x + 1)
x 3 + 2x 2 − 1
2. limx→3
5 − 3x

3. limx→3 3 x 4 + x 3 + 3
4. limx→+∞ (x 5 − x 4 ) (regra: limx→±∞ (a0 x n + a1 x n−1 + ... + an−1 x + an ) = limx→±∞ a0 x n )
3
5. limx→+∞ 2
x +x
√ √
6. limx→+∞ x + 1 − x (indet. ∞ − ∞; levantar indet.: multiplicar e dividir a expressão pela sua conjugada)

7. limx→+∞ x 2 + x − x (indet. ∞ − ∞)
4x 3 − 2x 2 + 1 a0 x n + a1 x n−1 + ... + an−1 x + an a0 x n
8. limx→+∞ (regra: limx→±∞ = limx→±∞ )
2x 3 + x b0 x m + b1 x m−1 + ... + bm−1 x + bm b0 x m
5
3x − 2x
9. limx→−∞
2x 2 + 1
x 2 + 2x
10. limx→+∞
−2x 4 + x 2
2
x −4
11. limx→2 (indet. 0 ; levantar indet.:decompor em factor os polinómios e simplificar. Caso o denominador continue a anular-se,
0
(x − 2)2
há que calcular os limites laterais.)

x 2 − 2x
12. limx→2 (indet. 0 )
0
x2 − 4
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x
13. limx→0 (indet. 0 )
0
x 4 + 2x 3
1
14. limx→+∞ (x 2 − 3) (indet. 0 × ∞ aplicando o produto de limites; levantar indet.: simplificar a expressão)
x
5
15. limx→2+ (x 2 − 4) (indet. 0 × ∞)
2−x

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Funções contı́nuas

Definição (Continuidade)
Sejam f uma função real de variável real, com domı́nio Df , e a um ponto de
acumulação de Df . Diz-se que a função f é contı́nua no ponto x=a se e só se

∀ > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df ∧ |x − a| < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < 

Nota:
f é contı́nua no ponto x=a do seu domı́nio se e só se limx→a f (x) existe e tem o
mesmo valor que f (a), isto é, limx→a f (x) = f (a);
Os pontos onde f não é contı́nua dizem-se pontos de descontinuidade.

Definição (Continuidade lateral)


Sejam f uma função real de variável real, com domı́nio Df , e a um ponto de
acumulação de Df .
Diz-se que f é contı́nua à esquerda de a se limx→a− f (x) = f (a)
Diz-se que f é contı́nua à direita de a se limx→a+ f (x) = f (a)

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Funções contı́nuas
Propriedades
1. Toda a função constante é contı́nua.
2. Se f e g são contı́nuas num ponto a, com a ∈ Df ∩ Dg , então f + g , f − g , fg , gf
(neste caso, para funções g com g (a) 6= 0), também são funções contı́nuas no
ponto a.

3. Se f é contı́nua num ponto a, com a ∈ Df , então f n (n ∈ N), e n f sendo n ∈ N e
f (a) ≥ 0 quando n é par, são ainda funções contı́nuas em ponto a;
4. Se as funções f e g são tais que f é contı́nua em a e g é contı́nua em b = f (a) e
D 0 f ⊂ Dg , então gof é contı́nua em a, ou seja,
limx→a g (f (x)) = g (limx→a f (x)) = g (f (a))

Definição (Continuidade num intervalo)


Seja f uma função real de variável real. Diz-se que
f é contı́nua em todos os pontos de um intervalo ]a, b[ contido no seu domı́nio se
for contı́nua em todos os pontos desse intervalo;
f é contı́nua em todos os pontos de um intervalo [a, b] contido no seu domı́nio se
for contı́nua em ]a, b[, contı́nua à direita no ponto a e contı́nua à esquerda no
ponto b;
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Funções contı́nuas

Uma função f é contı́nua se for contı́nua em todos os pontos do seu domı́nio.

Propriedades
1. Toda a função polinomial é contı́nua em R;
2. Toda a função racional é contı́nua no seu domı́nio;
3. Toda a função exponencial f (x) = b x (b ∈ R + \{1}) é contı́nua em R;
4. Toda a função logarı́tmica é contı́nua no seu domı́nio;

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Funções contı́nuas
Exercı́cio 9.
1. Verifique
se é 2ou não contı́nua a função f , definida por:
 2x − 3x − 2 se x < 2

f (x) = x2 − 4
 5

se x ≥ 2
2x
2. Seja f afunção, de domı́nio R, definida por:
 e x−1 + 1 se x ≤ 1
f (x) = 3x − 3 + ln x
se x > 1
x −1

2.1 Estude a continuidade de f no ponto x = 1.


2.2 Calcule limx→+∞ f (x).
3. Para umdeterminado de valor de a, é contı́nua em R a função f , definida por
√ 2 (a − x)
 log se x ≤ 0
f (x) = x +1−1
 se x > 0
x
Determine o valor de a.

(DMA, UM) Funções reais de variável real Setembro 2012 28 / 31


Funções contı́nuas

Teorema do valor intermédio ou de Bolzano


Se f é uma função contı́nua num intervalo [a, b] e se k é um valor estritamente
compreendido entre f (a) e f (b), então existe pelo um ponto c ∈]a, b[ tal que
f (c) = k.

Corolário do Teorema de Bolzano


Se f é uma função contı́nua num intervalo [a, b] e se f (a)f (b) < 0, então f tem,
pelo menos, um zero no intervalo ]a, b[.

Gráfico ilustrativo do Teorema de Bolzano e seu Corolário:

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Teorema de Weierstrass
Se f é uma função contı́nua num intervalo [a, b], então f tem um máximo e um
mı́nimo em [a, b] (ou seja, existem pontos c1 , c2 ∈ [a, b] tais que
f (c1 ) ≤ f (x) ≤ f (c2 ) para todo x ∈ [a, b]).

Exercı́cio 10.
1. Mostre que a equação sin3 x + cos3 x = 0 tem pelo menos uma raı́z no intervalo
]0, π[.
2. Mostre que a equação (1 − x) cos x = sin x tem pelo menos uma solução no
intervalo ]0, 1[.
3. Mostre que a função f (x) = 2x 3 − x 2 − 8x + 4 tem pelo menos um zero no
intervalo [0, 1].
4. Considere a função g , de domı́nio R+ , definida por g (x) = x − ln(x + x2 ).
Recorrendo ao Teorema de Bolzano mostre que:
4.1 g admite pelo menos um zero no intervalo ]1, 2[;
4.2 a equação g (x) = 1 é possı́vel no intervalo ]2, 3[.
5. Seja f uma função contı́nua de domı́nio [0, 1] e contradomı́nio ]0, 1[. Mostre,
usando o Teorema de Bolzano, que o gráfico de f intersecta a recta de equação
y = x.

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Funções contı́nuas

Teorema
Se f é uma função contı́nua num intervalo I, então f é injectiva em I se e só se é
crescente ou decrescente em I.

Teorema
Se f é uma função contı́nua e injectiva num intervalo I, então
(i) f é crescente em I =⇒ f −1 é crescente em I.
(ii) f é decrescente em I =⇒ f −1 é decrescente em I.

Teorema
Se f é uma função contı́nua e injectiva num intervalo I, então f −1 é contı́nua no
seu domı́nio.

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