Você está na página 1de 10

Anuário do Instituto de Geociências , Vo!. 13, pp.

43 - 52, 1990
Impresso na Gráfica do IGEO-UFRJ

, "
O PAPEL DA MATERIA ORGANICA E DOS
AGREGADOS NA ERODIBILlDADE DOS
SOLOS

ANTONIO JOSÉ TEIXEIRA GUERRA

Departamento de Geografia - UFRJ

AbatrllCt - The presenl sludy regards lhe signilicance 01 organic matter content and aggregat•• on
soi! erosion. OIher soi! properties, vegetation cever and erosivity are also laken into consideration .
The study is carried out ln Rogale, Soulheast England.

R.aumo - O presenle trabalho Irala da Importlncla do leor de mat6ria orgAnlca e agregados na


eroslo dos solos. Oulras proprlededes do solo, bem como caracterlsticas relativas • cobertura
vegetal e eroslvidade slo tamb6m levadas em consideraçlo. O estudo' desenvolvido em Rogale,
um povoada no sudeste da ingiaierra.

INTRODUÇAO dos solos.

A erosão dos solos é um problema A IMPORTÂNCIA DA MATÉRIA


mundial e, apesar de ser considerada mais ORGÂNICA E DOS AGREGADOS
séria nos pafses em desenvolvimento. vem se
tomando nos últimos anos uma preocupação O teor de matéria orgânica do solo é
também para os pafses europeus. De acordo dependente de muitos fatores que exercem
com Bentley (1985). apesar de todo o sua Influência Individualmente e em conjunto,
Investimento que tem sido feito em pesquisas tais como: clima. textura do solo. topografia,
para conter a erosão dos solos, medidas tem drenagem, cobertura vegetal e uso da terra.
que se tomadas para diminuir as perdas de O processo de formação de matéria
solo, através da aplicação de práticas orgânica no solo é Inicialmente um processo
conservaclonlstas que melhor managem o solo biológico e quase toda a flora e fauna
e os recursos hldrlcos. existentes no solo tem um efeito dlreto ou
Apesar de uma série de fatores Indlreto.
Inflenclarem na erodlbilldade dos solos. no As ativldades humanas. especialmente
presente trabalho, ênfase especial é dada ao agricultura, tendem a acelerar as mudanças do
teor de matéria orgânica e de agregados, teor de matéria orgânica. 'e os sistemas
porque tais propriedades parecem ser os agricolas deveriam tentar manter o teor de
principais fatores controladores da matéria orgânica elevado nos solos, a medida
erodlbilldade (Wlschmeler e Mannerlng, 1969: que fosse viável em termos econOmlc08 e
De Ploey, 1981: Morgan, 1984; Evans. 1990). práticos' (Reynolds, 1990). Essas atlvldades
Dessa forma, uma extensa revisão sem reposição de fertilizantes naturais,
bibliográfica, referente a importância da normalmente levam a uma rápida diminuição
matéria orgânica e dos agregados é aqui de matéria orgânica nos solos e
apresentada. juntamente com um estudo de consequentemente. mudanças em outras
caso. desenvolvido no sudeste da Inglaterra. propriedades tisicas e qulmicas.
onde os resultados obtidos confirmam o papel Uma parte considerável de matéria
dessas duas propriedades na erodlbilldade orgânica no solo é formada por raizes e mlcro-
organismos. Como uma regra geral, os salpicamento e pelo escoamento superficial.
constituintes minerais do solo são essenciais Uma explicação para esse relacionamento é a
na formação de humus, porque os efeitos capacidade de infiltração mais alta e a maior
qufmicos do humus podem reagir com as resistência dos agregados em solos estáveis.
substâncias minerais para formar o chamado Todos os exemplos descritos
complexo argila-humus. anteriormente sugerem a grande importância
Vários pesquisadores têm demonstrado, e complexidade da matéria orgânica na erosão
de diferentes maneiras, o significado do teor dos solos. A medida que o teor de agregados
de matéria orgânica na erodibi/idade do solo: diminui, a erosão por salpicamento aumenta, e
Wischmeier e Mannering (1969) , Hamblin e a ruptura dos agregados irá aumentar a
Oavies (1977) , De Ploey (1981), Voroney et aI. formação de crostas no solo, que poderá fazer
(1981) , Boardman (1983), Morgan (1984), aumentar as taxas de "runoff". Isto produzirá
Oavies (1985), Chaney e Swift (1986) , Evans mais erosão, onde as partfculas são removidas
(1990) , Francis (1990) , Roberts e Lambert das áreas situadas entre as ravinas (inter -rill
(1990) . O que parece comum entre esses areal sendo transportadas para dentro das
trabalhos é que o teor de matéria orgânica ravinas. O decréscimo do teor de matéria
afeta a erosão dos solos em diferentes nfveis, orgânica pode também levar a um aumento da
dependendo de outras propriedades, como densidade aparente do solo, que dificultará a
por exempl o a textura. Wischmeier e infiltração de água no solo. O escoamento
Mannering (1969) encontraram elevadas superficial poderá então aumentar, resultando
correlações negativas entre erodibilidade e em maiores taxas de erosão.
teor de matéria orgânica, especialmente em Tem sido reconhecido por vários
solos de alto teor de si/te e areia. Entretanto, pesquisadores (Wischmeier e Mannering,
as correlações baixaram bastante nos solos 1969; Boardman, 1983; Morgan, 1984; Tisdall e
onde o teor de argila era elevado. Oades, 1982; Francis, 1990; Arden-Clarke e
A interação existente entre o teor de Hodges, 1987; Chaney e Swift, 1986) que a
matéria orgânica e as outras propriedades do matéria orgânica tem um papel muito
solo, é talvez uma das razões da dificuldade importante na agregação de partfculas.
em se estabelecer um teor mfnimo de matéria Entretanto, de acordo com Hodges e Arden-
orgânica, que afete a estabilidade dos Clarke (1987), ainda não é compreendido
agregados. Com relação a isso, Greenland et inteiramente, como a matéria orgânica
aI. (1975) afirmaram que solos com menos de contribui na estabilidade estrutural.
3.5% de matéria orgânica possuem agregados Emerson (1977) mostra (Figura 1) como a
instáveis, enquanto De Ploey e Poesen (1985) matéria orgânica liga as superflcies exteriores
propõem um teor de 2% como lim~e para dos domlnios de argila. Ele explica que
baixa estabilidade de agregados. quando as argilas dilatam, os esfor;os são
O decréscimo de matéria orgânica devido transmitidos através das ligações fe~as pela
ãs práticas agrfcolas tem várias implicações matéria orgânica, evitando a ruptura dos
nos processos mecânicQs de erosão dos agregados. Embora isso seja reconhecido, o
solos. Boardman (1983) c~a um exemplo de significado da matéria orgânica na agregação
solos de West Sussex, no sudeste da de partfculas, ainda não foi analisado o
Inglaterra, que contém mu~o menos de 3.5% suficiente.
de matéria orgânica, e onde houve uma perda Já foi enfatizado por vários autores
mu~o grande de matéria orgânica do horizonte (Epstein e Grant, 1867; Hartmann e De Boodt,
A num único ano. Esse fato, associado com a 1974; Farres, 1978; Verhaegen, 1984; De Ploey
retirada das cercas ém algumas fazendas, e Poesen, 1985; Imeson e Kwaad, 1990) que
aumentou o comprimento das encostas, os materiais orgânicos são altamente
provocando altas taxas de erosão (181 t ha- 1, importantes na estabilidade dos agregados no
num período de 9 meses) . solo.
Verhaegen (1984) encontrou uma alta A quantidade de matéria orgânica e o seu
correlação negativa entre a estabilidade dos relacionamento com outras propriedades do
agregados e a erosão causada pelo solo, caracterfsticas das encostas, cobertura

44
DOMINIO
KAOLINITA

INTERAÇÃO
MATÉRIA
ORGÂNICA-ARG

2))

- - - -- LIGAÇÁO- H

Figura i - MODELO DE UM AGREGADO ESTABILIZADO POR MATÉRIA ORGÂNICA E


ARGILA. ( FONTE : EMERSON (977) .

45
o o

L ___~_ , ".~[RROVIAS
CURVAS CE NíVEL ( .. , , 1I000YIAS

46
vegetal. erosividade da chuva e uso da terra. diminuindo o escoamento superficial. Os
afetam diretamente a erodibilidade do solo agregados estáveis maiores também resistem
(Guerra. 1991). As taxas de erodibilidade ao impacto das gotas de chuva. diminuindo a
dependem dd teor de matéria orgânica. do erosão por salpicamento.
teor de agregados. da formação de crostas. da O maior teor de matéria orgânica nos
força de cizalhamento e da coesão do solo. solos leva geralmente à formação de um maior
Estudos conduzidos pelos autores teor de agregados. que reduz a possibilidade
mencionados acima tem indicado que a de formação de crostas. De acordo com
matéria orgânica é a principal responsável pela Farres (1978), a formação de crostas é um dos
estabilidade dos agregados no solo. Embora mais Importantes mecanismos que ocorre
esses autores tenham chegado à diferentes antes do escoamento superficial. A grande
conclusões nas suas pesquisas. uma parece importância no processo erosivo, é que uma
ser comum. isto é. que a matéria orgânica do vez formadas as crostas, a superflcle do solo
ponto de vista quantitativo. é melhor se torna selada (sealed), diminuindo a
agregadora que o teor de argila. infiltração de água e aumentando o
De Ploey e Poesen (1985) afirmam que a escoamento superficial.
estabilidade dos agregados é um dos
principais fatores controladores da hidrologia UM ESTUDO DE CASO
na superflcle do solo. da formação de crostas
e da erodibilidade. De acordo com os dois A importância do teor de matéria orgânica
autores citados acima, solos com menos de e dos agregados é demonstrada por Guerra
2% de matéria orgânica são geralmente (1991) em um estudo, onde essas duas
marcados por baixa estabilidade de propriedades juntamente com textura. pH,
agregados. Eles também enfatizam que a densidade aparente, porosidade, taxas de
agregação está mais relacionada ao teor de infiltração e umidade do solo são analisadas
matéria orgânica, que ao teor de argila. em Rogate. West Sussex, no Sudeste da
Farres (1978) explica que a evolução da Inglaterra.
ruptura dos agregados e a consequente Nessse estudo, as variáveis descritas
formação de crostas está associada acima foram consideradas em três escalas
inicialmente, a uma redução da resistência espaciais diferentes. Primeiramente, o
interna dos agregados, em relação à força problema é analisado numa área de 3 km x 6
aplicada pelas gotas de chuva, e em seguida km, onde a Vila de Rogate (Figura 2) está
os agregados são quebrados em várias situada no centro desse retângulo; em
partlculas. Essas partlculas são então seguida. numa escala espacial de maior
distrlbuldas de maneira que a superflcie do detalhamento (10 m x lO m) , uma estação
solo fique repleta de partlculas individuais experimental contendo cinco parcelas (I m x
resultantes da ruptura dos agregados. 10 m cada um) com tratamentos diferentes foi
Embora a maior influência seja na montada em Rogate, com o objetivo de medir
agregação, Hamblin e Davles (1977) assinalam ' runolf e perda de sedimentos. Finalmente,
que a matéria orgânica isoladamente é numa escala mais detalhada, um simulador de
insuficiente para explicar diferenças na chuvas portátil foi construido, e amostras de
estabilidade dos agregados à água. solos de diferentes fazendas em Rogate, com
Wlschmeier e Mannering (1969) mostraram diferentes propriedades, foram expostas a
que a matéria orgânica tem maior Influência na Intensidades de chuva de 50 mn h-I e 70 mm
agregação dos solos. onde há um predomlnlo
de siltes e areias. Isso demonstra a h- I . dentro de um flume medindo 20 cm x 100
importância das argilas também como fator cm, onde ' runolf e a perda de sedimentos
agregador. foram medidas.
A estabilidade dos agregados reduz A necessidade de tal metodologia, onde a
diretamente a erodibilidade dos solos. na erosão dos solos é investigada sob diferentes
medida que a presença de poros entre os escalas, é justificada porque existe uma
agregados aumenta as taxas de infiltração dificuldade em se relacionar dados oriundos
de pequenas parcelas e de simuladores de

47
chuvas à estratégias de manejo de longo os solos que sofreram erosã o, -', . tlsentaram
prazo. Wolman (1985) destaca que, apesar de uma densidade aparente que varia entre 1.3 g
considerável evidência relacionando a erosão cm- 3 e 1.9 g cm-3, baixo a médio teor de
do solo à perdas na produtividade, os matéria orgânica, entre 2.1% e 3.8% e baixo
resultados são ainda bastante fragmentos, e teor de agregados entre 3.2% e 10.9%. Por
consequentemente não adequados a decisões outro lado, os solos que não sofreram erosão
que se relacionem ao manejo da terra. Além possuem de médio a alto teor de matéria
disso, a maioria dos dados são oriundos de orgãnica (2.7% - 6.6%), elevado teor de
parcelas (plots) experimentais. agregados (25.2% - 36.4%) e densidade
O objetivo de uma abordagem integrada,
onde três escalas de observação são aparente que varia entre 1.0 g cm -3 e 1.5 g
ulilizadas, é o de melhor explicar e predizer a cm-a.
erosão dos solos de uma forma mais Se considerarmos os resultados obtidos
globalizante e integrada. Resultados relativos na estação experimental, onde diferentes
ao teor de matéria orgânica e outras tratamentos foram aplicados em cada uma das
propriedades do solo que afetam a cinco parcelas, alguns resultados podem ser
erodibilidade são detectados e discutidos em destacados. Por exemplo, a parcela que
cada escala. A análise separada de cada sofreu "runoff" primeiro foi a parcela 1, onde o
conjunto de dados e informações para cada capim foi cortado e mantido sem cobertura
escala, juntamente com a integração dos vegetal durante os 18 meses de
resultados mais significativos, pode ser a monitoramento. Nenhum tratamento foi
resposta para uma compreensão mais global e aplicado a esta parcela e em 6 meses a
integrada da erosão dos solos. superflcie do solo estava coberta por uma
A presente análise considera vários casos crosta. A parcela 2, que foi mantida sem
de erosão de solos, detectados em cada uma cobertura vegetal, durante o monltoramento
das escalas na região de Rogale, na Inglaterra. mas teve seu pH aumentado de 5.6 para 7.1,
Os exemplos mencionados levam em através da aplicação de calcário em pó, levou
consideração diferentes propriedades do solo, 7 meses para estar coberta por crosta e a
com ênfase na matéria orgânica e agregados, parcela 3, também sem cobertura vegetal, mas
diferentes usos da terra, caracterlsticas das com alto teor de matéria orgânica (6.7%) , só
encostas e erosividade das chuvas; com o foi coberta por crosta após 8 meses de ter
obletivo de avaliar o papel de cada um no iniciado o monltoramento. Isso destaca a
processo erosivo. importância do teor de matéria orgânica e dos
Se iniciarmos esta análise por considerar agregados em aumentar a coesão do solo.
alguns resultados, aspectos comuns podem As quantidades de "runoft" e perda de solo
ser destacados. Por exemplo, todos os em cada uma das parcelas reforçam essas
campos que sofreram erosão durante um noções. A parcela 1 sofreu maiores perdas de
perlodo de 18 meses, entre 1987 e 1989 se solo e de "runoft" durante todo o
situam em áreas de cultivo. A maioria dos monitoramento (TABELA 1). Se
solos erodidos localizam-se em encostas considerarmos as 16 tempestades que
convexo-côncavas, entre 30 e 70 , o que provocaram erosão, houve quase sempre um
concorda com os resultados de Evans e Cook decréscimo de perda de solo e de "runoff" da
(1986). Esses resultados s.ugerem que parcela 1 para a 5 (TABELA 1). Isso reforça o
diferentes propriedades do solo e diferentes papel do teor de matéria orgânica, teor de
usos da terra tem um papel Importante em agregados e cobertura vegetal, na
causar diferentes taxa~ de erosão. A maioria erodibilidade dos solos (Bryan, 1974);Elwell e
dos solos é arenoso ou arena-siltoso, que são Stocking, 1976; De Ploey e Gabriels, 1980;
considerados solos de elevada erodibilidade Noble e Morgan, 1983; Brandt, 1986; Cousen e
(Evans, 1980). Oulras propriedades do solo Farres, 1984; Francis, 1990; Guerra, 1991). As
como matéria orgânica, densidade aparente e parcelas 4 e 5 (com trigo e capim,
teor de agregados tiveram um papel respectivamente) sofreram as menores
preponderante no controle de erosão. Todos quantidades de"runoft" e perda de solo.

48
Finalmente, se observarmos os resultados o papel das propriedades do solo e da
obtidos com o simulador de chuvas, as erosividade da chuva ao afetar tanto o "runoff'
quarenta amostras que foram expostas a como a perda de solo.
chuvas de 50 mm h- 1 e 70 mm h- 1, mostraram

TABELA 1

TEMPESTADES, "RUNOFF" E PERDA DE SOLO

TEMPESTADES Runoff ~ m- 2) Perda de Solo (g m-2)


Parcelas Parcelas
DATA 2 3 4 5 2 3 4 5
1 06/07/88 0.015 O.D1O 0.008 0.006 0.003 0.020 0.010 0.010 0.006 0.002
2 22/07/88 0.005 0.004 0.003 0.002 0.001 0.010 0.010 0.008 0.004 0.002
3 01/09/88 0.150 0.025 0.008 0.003 0.001 0.110 0.008 0.006 0.004 0.002
4 23/09/88 0.003 0.002 0.002 0.001 0.001 0.008 0.006 0.004 0.002 0.002
5 28/09/88 0.003 0.002 0.002 0.001 0.001 0.036 0.018 0.014 0.D10 0.004
6 09/10/88 0.140 0.013 0.021 0.038 0.006 6.500 0.600 0.120 1.140 0.030
7 18/10/88 0.003 0.002 0.002 0.001 0.001 0.016 0.008 0.006 0.004 0.002
8 25/02/89 0.078 0.019 0.011 0.011 0.006 0.028 0.018 Ô.Ô12 ü.ü12 Ü.OO8
9 14/03/89 0.160 0.056 0.033 0.035 0.016 0.032 0.024 0.014 0.016 0.008
10 20/03/89 0.027 0.014 0.009 0.008 0.003 0.020 0.016 0.012 0.008 0.004
11 11/04/89 0.033 0.019 0.012 0.009 0.004 0.024 0.018 0.014 0.008 0.004
12 07/07/89 0.170 0.120 0.100 0.040 0.020 12.50 4.600 3.200 0.840 O.OSO
13 09/07/89 0.170 0.130 0.100 0.070 0.040 10.30 4.000 2.400 0.600 0.060
14 10/09/89 0.060 0.030 0.030 0.020 0.010 9.000 3.800 2.200 0.220 0.040
15 13/09/89 0.350 0.230 0.140 0.040 0.020 12.70 4.800 3.700 0.910 0.090
16 15/09/89 0.120 0.060 O.OSO 0.030 0.020 9.700 3.900 2.300 0.400 0.050

Fonte : Guerra (1991)


Nessa escala, embora diferentes CONCLusOes
resultados tenham sido obtidos em cada uma Embora as escalas relacionadas ao
das duas Intensidades, algumas propriedades campo, parcelas e flume, onde a erosão dos
do solo, especialmente o teor de matéria solos foi investigada sejam diferentes, e
orgânica e de agregados, apresentaram algumas das técnicas e métodos U1i11zados em
relacionamentos significantes com os cada escala também sejam diferentes. é
parâmetros erosivos, nas duas Intensidades. posslvel sobrepor e ligar alguns dos resultados
O papel do teor de sUte pode também ser e descobertas.
bem avaliado nessa escala de observação, Isto Os resultados obtidos em cada uma das
é, mostrou correlações positivas significantes três escalas destacam o papel de algumas
tanto com o "runoff', como com o total de propriedades do solo, especialmente o teor de
perda do solo. Esses resultados confirmam os matéria orgânica e de agregados, além da
resultados de De Ploey (1985) .Os resultados erosividade da chuva. no processo erosivo.
obtidos com o simulador de chuvas permitiram Além disso. o papel da cobertura vegetal, as
uma avaliação do papel de algumas características das encostas e o uso da terra
propriedades do solo na erodibilidade dos puderam ser avaliados. especialmente na
solos, além de suplementar dados para o resto escala relacionada à Rogate e à estação
dessa Investigação. experimental. Apesar do fato de nem todos os
fatores que afetam a erosão dos solos

49
puderam ser considerados em todas as observação, através da sua influência na
escalas, o uso das três escalas de observação estabilidade dos agregados, na formação de
tornou possível a fixação de alguns fatores, tal crostas, na densidade aparente, na
como a declividade da encosta, na estação porosidade, nas taxas de infiltração, resultando
experimental e no simulador de chuvas, com o na geração de "runoff" e na perda de solo.
objetivo de controlar mais efetivamente os Os resultados obtidos com essa
experimento ~;. investigação confirmam os trabalhos de De
Embora a formação de crostas não tenha Ploey (1981 e 1985), Bryan e De Ploey (1983),
sido quantificada neste trabalho, foi observada Morgan (1984), Boardman e Robinson (1985),
a sua formação tanto nos campos erodidos em De Ploey e Poesen (1985), Evans e Cook
Rogate, na estação experimental, bem como (1986) , Arden-Clarke e Hodges (1987) ,
nas amostras expostas a simulação. Além Robinson e Boardman (1988), Boardman
disso, o tempo para formação de crostas foi (1990), Dickinson et aI. (1990), Evans (1990) e
determinado para os experimentos do Francis (1990), das seguintes maneiras : l)a
simulador de chuvas e apresenta correlações importância dos simuladores de chuvas em
negativas significantes, tanto com "runoff' estudos de erosão de solos; 2) o papel que o
como com a quantidade de material erodido. teor de matéria orgânica e de agregados tem
Mais uma vez, o papel do teor de matéria em dificultar a formação de crostas, a geração
orgânica pode ser inferido, na estruturação do de "runoft" e a perda de solo; 3) o papel da
solo e na consequente redução da ruptura dos erosividade da chuva na erosão do solo; 4) a
agregados. grande vulnerabilidade das encostas com
Apesar das dificuldades em se quantificar gradiente entre 30 e 70 , 5) a importância das
e analisar os mesmos parâmetros em cada parcelas (plots) nos estudos de erosão; 6) o
uma das escalas, algumas propriedades do papel que outras propriedades, além do teor
solo foram avaliadas nas três escalas. Por de matéria orgânica, tem na erodibilidade dos
exemplo, não foi fácil determinar a influência solos; 7) a importância da cobertura vegetal
da textura na erodibilidade dos solos, na em prevenir, ou dificultar a erosão dos solos.
estação experimental, entretanto, sua
influência foi evidente nas amostras expostas à Agradecimentos - Ao CNPq pela concessão
chuva simulada. Além disso, o fato da maioria de Bolsa de Doutorado na Universidade de
dos campos erodidos em Rogate terem Londres, entre 1986 e 1990, onde o referido
apresentad o maiores teores de areia e silte, do trabalho foi desenvolvido.
que os campos não erodidos, confirma o papel
da textura como um fator controlador da BIBLIOGRAFIA
erodibilidade dos solos.Algumas
caracterfsticas dos solos, tal como a acidez é ARDEN-CLARKE, C. & HODGES, D. (1987) .
muito diffcil de ser avaliada em terras agrfcolas, Soil erosion: The answer lies in organic
devido à aplicação de calcário. Entretanto, na farming. New Scientist, 42-43.
estação experimental foi possível o controle BENTLEY, O.G. (1985). Soil erosion and crop
desse processo, e a avaliação do papel do pH productivity: A cal! for action. Soil erosion
na erodibilidade do solo, porque em apenas anel crop productivity. Eds.: R. F. Follet e
uma das parcelas o pH foi aumentado, com a BA Stewart, 1-7.
aplicação de calcário. Esse aumento causou BOARDMAN, J. (1983). Soil erosion at
maior estabilidade dos agregados nessa Albourne, West Sussex, England. Applied
parcela, com maiores taxas de infiltração e Geography, 3, 317-329.
menor "runoff" do qúe na parcela 1, onde o BOARDMAN, J. (1990) . Soil erosion on the
calcário não foi aplicado. Esses resultados South Downs: A review. Soil erosion on
concordam com Mitchell (1976) . agriculturalland. Eds. : J. Boardman, I.D.L.
A comparação entre as propriedades do Foster e JA Dearing, 87-105.
solo enfatiza a importância do papel do teor de BOARDMAN, J. & ROBINSON, DA (1985).
matéria orgãnica na erodibilidade dos solos. SoU erosion, climatic vagary and
Isso foi demonstrado em todas as escalas de agricultural change on the Downs around

50
Lewes and Brighton, autumn, 1982. ELWELL, HA & STOCKING, MA (1976) .
Applied Geography, 5, 243-258. Vegetal cover to estimate soil erosion
BRANDT, C.J. (1986). Translormation 01 the hazard in Rodhesia. Geoderma, 15,61-70.
kinetic energy on rainlall with variable tree EMERSON, W.w. (1977) . Physical properties
canopies. Tese de Doutorado, and structure. Capitulo 5. Soil lactors ln
Universidade de Londres, 444 p. crop productivlty ln a seml-arld
BRYAN, R.B. (1974) . Water erosion by splash envlronment. Eds.: J.S. Russel e E.L.
and the erodibillty 01 Albertan soils. Geog. Greacen, 78-104.
Annaler, 56A, 159-181 . EPSTEIN, E. & GRANT, W.J. (1967). Soll
BRYAN, R.B. & DE PLOEY, J. (1983). lasses and crust ..forrnatlon as related to
Comparability 01 soil erosion some physlcal propertles. Proceedlngs 01
measurements with different laboratory Soil Science Society 01 America, 31 , 547-
rainlall simulators. Rainlall slmulation, 550
runoff and soil erosion. Editor: J. De EVANS, R. (1980). Mechanlcs 01 water eroslon
Ploey, Catena Supplement, 4, 33-56. and their spatlal and temporal contrais: an
CHANEY, K. & SWIFT, R.S. (1986). Studies on emplrical viewpoint. Soil erosion. Eds.:
aggregate stability II. The effect 01 humic M.J. Kirkby e R.P.C. Morgan, 109-128.
substances on the stabillty 01 re-Iormed EVANS, R. (1990). Water erosion ln British
5011 aggregates. Journal 01 Soll Sclence, larmer's lields-some causes, Impacts,
37,2, 337-343. predictlons. Progress ln Physlcal
COUSEN, S.M. & FARRES, P.J. (1984). The Geography, 14, 2, 199-219.
role 01 moisture content ln the stabllity 01 EVANS, R. & COOK, S. (1986). Soil eroslon ln
soil aggregates lrom a temperate siltV soil Britain. Seesoil, The Journal 01 the South
to raindrop Impact. Catena, 11,313-320. East England Soll Discuss Group, 3, 28-58.
DAVIES, P. (1985). Inflence 01 organlc matter FARRES, P.J. (1978). The role 01 time and
content, moisture status and time alter aggregate size in the crustlng processo
reworking on soil shear strength. Journal Earth Surf. Proc., 3, 243-254.
01 Soil Science, 36, 2, 299-306. FRANCIS, C. (1990). Soll eroslon and organlc
DE PLOEY, J. (1981) . Crustlng and time matter lasses on lallow land: a case study
dependent rainwash mechanlsms on lrom South-East Spaln. Soll eroslon on
loamy soil. Soll conservation: Problems agriculturalland. Eds.: J. Boardman, I.D.L.
and prospects. Editor: R.P.C. Morgan, Foster e J.A. Dearing, 331 -338.
139-152. GREENLAND, D.L., RIMMER, D. & PAYNE, D.
DE PLOEY, J. (1985). Experimental data on (1975). Determination 01 the structural
runoff, generation. Soll erosion and stability class 01 English and Welsh Soils
conservation. Eds.: S.A Swaify, W.C. using a water coherence test. J. Soll. Sei.,
Moldenhauer e A. Lo, 528-539. 26, 294-303.
DE PLOEY, J. & GABRIELS, D. (1980). GUERRA, A.J.T. (1991). Soil characterlstlcs
Measuring soil loss and experimentai and eroslon, with particular relerence to
studles. Soil erosion. Eds.: M.J. Kirkby e organic matter content. Tese de
R.P.C. Morgan, 63-108. Doutorado, Universidade de Londres, 441
DE PLOEY, J. & POESEN, J. (1985). p.
Aggregate stabillty, runoff generatlon and HAMBLlN, A.P. & DAVIES, D.B. (1977).
Interrill erosion. Geomorphology and soils. Influence 01 organic matter on the physlcal
Eds. : K.S. Richards, R.R. Arnett e S. Ellis, properties 01 some East Anglian sons 01
99-120. high silt content. J. Soil Sei., 28, 11-22.
DICKINSON, W.T., WALL, G.J. & RUDRA, R.P. HARTMANN, R. & DE BOODT, M. (1974) . The
(1990). Model bullding lar predlcting and inflence 01 the moisture content, texture
managing soil eroslon and transporto Soil and organic matter on the aggregatlon on
erosion on agrlcultural land. Eds.: J. sandy and loamy solls. Geoderma, 11, 53-
Boardman, I.D.L. Foster e J.A. Dearing, 62.
415428. IMESON, A.C. & KWAAD, F.J.D.M. (1990). The

51
response 01 tilled soil::. lO wetting by rainlall Cultivation practice, ;eason and
and the dynamic character 01 soil soil erosion on the SOl... , lOS , England :
erodibility. Soil erosion on agricultural A preliminary study. J. Agric. SCi. ,
land. Ed s.: J. Boardman, ID.L. Foster e Cambridge, 110, 169-177.
JA Dearing, 3-14. TlSDALL, J.M. & OADES, J.M. (1982) . Organic
MITCHELL, K.K. (1976) . Fundamentais 01 soil matter and water-stable aggregates in
behaviour. John Wiley and Sons, New soils. Journal 01 Soil Science, 33, 2, 141 -
York, 422 p. 163.
MORGAN, R.P. C. (1984) . Soil degradation and VERHAEGEN, T. (1984). The influence 01 soil
erosion as a result 01 agricultural practice. properties on the erodibility 01 Belgian
Geomorphology and soils. Eds.: K.S. Loamy soils: a study based on rainlall
Richards, R.R. Arnett e S. Ellis, 379-395. simulations / experiments. Earth Surface
NOBLE, CA & MORGAN, R.P.C. (1983) . Processes and Landlorms, 9, 499-507.
Rainlall interception and splash VORONEY, R.P., VEEN, J.A. & PAUL, E.A.
detachment with a Brussels Sprout plant a (1981) . Organic carbon dynamics in
laboratory simulation. Earth Surlace grassland soils. II model validation and
Processes and Landlorms, 8, 569-577. simulation 01 the long-term effects 01
REYNOLDS, S.G. (1990) . The influence 01 cultivation and rainlall erosion. Canadian
lorest-clearence methods, tillage and slope J. Soil Sci., 61 , 211 -224.
runoff on soil chemical properties and WISCHMEIER, W.H. & MANNERING, J.V.
banana plant yields in the Soulh Pacilic. (1969) . Relation 01 soil properties to its
Soil erosion on agricultural land. Eds.: erodibility. Proceedings 01 Soil Science 01
I.D.L. Foster e JA Dearing, 339-350. America, 33, 131-137.
ROBERTS, N. & LAMBERT, R. (1990) . WOLMAN, M.G. (1985) . Soil erosion and crop
Degradation 01 Dambo soils and peasant productivity: a wor1dwide perspective. Soil
agriculture in Zimbabwe. Soil erosion on erosion and crop productivity. Eds.: R.F.
agriculturalland. Eds.: J. Boardman, I.D.L. Follet e BA Stewart. American Society 01
Foster e JA Dearing, 537-558. Agronomy, S.S.S.A., 9-21 .
ROBINSON, DA & BOARDMAN, J. (1988).

52

Você também pode gostar