Você está na página 1de 28

TABELA DE RECURSOS E USOS REGIONAL: Metodologia e análise do caso do Pará

de 2017

Resumo:
Este artigo está incluso no campo da Contabilidade Social e visa apresentar aspectos da economia paraense
baseada na Tabela de Recursos e Usos do Pará de 2017, assim como o procedimento utilizado para sua
construção, evidenciando o seu alinhamento com o que é protagonizado pelo Sistema de Contas Nacionais e
pelas Contas Regionais do Brasil. Para tanto, foi necessário lidar com bases de dados elaboradas por órgãos
federais, assim como registros administrativos fiscais paraenses. O resultado foi uma TRU agregada em 42
atividades e 104 produtos. Entre alguns aspectos da economia paraense destacáveis está o fato de que o Pará é
responsável por menos de 30% do que é ofertado em termos de produtos da indústria de transformação. Isto se
reflete na dificuldade estrutural que um dos setores de maior relevância do estado, a saber, a Indústria Extrativa,
enfrenta. De tudo que é consumido produtivamente, 20% é “Manutenção, reparação e instalação de máquinas e
equipamentos”, cuja oferta doméstica representa menos de 8% da oferta total deste produto. Outro aspecto
notável é o excesso de contração de renda da indústria de extração de minerário de ferro do Pará, mesmo quando
comparado com a média brasileira e australiana. Enquanto que, em 2017, no Brasil, em média, o trabalho se
apropria de 8,2% e na Austrália de 11,2% do valor adicionado produzido, no Pará a participação é de 3,7%, o
que reflete o alto teor do minério de ferro paraense, o uso de tecnologias poupadoras de trabalho e a baixa
tributação relativa.
Palavras-chave: Tabela de Recursos e Usos; Economia Paraense; Análise Estrutural.

REGIONAL INPUT-OUTPUT TABLE: Methodology and analysis of the case of Pará


of 2017

Abstract:
This article is included in the field of Social Accounting and aims to present aspects of the economy in Pará
based on the 2017 Pará Resources and Uses Table, as well as the procedure used for its construction,
highlighting its alignment with what is promoted by the National Accounts System and the Regional Accounts of
Brazil. To do so, it was necessary to work with data provided by federal agencies, as well as fiscal administrative
records from Pará. The result was an aggregated RUT with 42 activities and 104 products. One notable aspect of
the Pará economy is that it accounts for less than 30% of the products offered in terms of manufacturing
industry. This is reflected in the structural difficulty faced by one of the most important sectors in the state,
namely the Extractive Industry. Of all the productive consumption, 20% is "Maintenance, repair, and installation
of machinery and equipment," of which domestic supply represents less than 8% of the total supply of this
product. Another noteworthy aspect is the excessive income contraction in the iron ore extraction industry in
Pará, even when compared to the Brazilian and Australian averages. While in Brazil, on average, labor accounts
for 8.2%, and in Australia, it accounts for 11.2%, in Pará, the participation is 3.7%, which reflects the high iron
ore content in Pará, the use of labor-saving technologies, and low relative taxation.
Keywords: Resources and Uses Table; Pará Economy; Structural Analysis.

TABLA DE RECURSOS Y USOS REGIONAL: Metodología y análisis del caso de Pará de 2017

Resumen:
Este artículo se encuentra en el campo de la Contabilidad Social y tiene como objetivo presentar aspectos de la
economía de Pará basados en la Tabla de Recursos y Usos de Pará de 2017, así como el procedimiento utilizado
para su construcción, destacando su alineación con lo que es protagonizado por el Sistema de Cuentas
Nacionales y las Cuentas Regionales de Brasil. Para lograrlo, fue necesario lidiar con bases de datos elaboradas
por organismos federales, así como registros administrativos fiscales de Pará. El resultado fue una Tabla de
Recursos y Usos agregada en 42 actividades y 104 productos. Entre algunos aspectos destacables de la economía
de Pará se encuentra el hecho de que Pará es responsable de menos del 30% de lo que se ofrece en términos de
productos de la industria manufacturera. Esto se refleja en la dificultad estructural que enfrenta uno de los
sectores más importantes del estado, es decir, la Industria Extractiva. De todo lo que se consume
productivamente, el 20% corresponde a "Mantenimiento, reparación e instalación de maquinaria y equipo", cuya
oferta nacional representa menos del 8% de la oferta total de este producto. Otro aspecto notable es el exceso de
contracción de los ingresos de la industria de extracción de mineral de hierro de Pará, incluso en comparación
con el promedio brasileño y australiano. Mientras que en Brasil, en promedio, el trabajo se apropia del 8,2% y en
Australia del 11,2% del valor agregado producido en 2017, en Pará la participación es del 3,7%, lo que refleja el
alto contenido de mineral de hierro de Pará, el uso de tecnologías ahorradoras de trabajo y la baja tributación
relativa.
Palabras clave: Tabla de Recursos y Usos; Economía de Pará; Análisis Estructural.

1. INTRODUÇÃO

A análise da estrutura de uma economia a partir da Tabela de Recursos e Usos (TRU)


é um exercício feito com recorrência na literatura técnica e científica da Contabilidade Social,
sobretudo porque é a partir dela que se estima, de modo mais desagregado, o Produto Interno
Bruto (PIB) nas três óticas: produção, demanda e renda. A maioria dos estudos que utilizam a
TRU fazem análise do impacto estrutural mediante modelos de Insumo-Produto (ver Oliveira
e Canquerino, 2022).
A TRU é um instrumento da Contabilidade Social que tem como objetivo a estrutura
produtiva do país analisado e suas conexões com o resto do mundo. A sua estimação é feita
sistematizando um conjunto de informações econômicas, administrativas e fiscais (IBGE,
2016a). No caso brasileiro, esse trabalho é realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A metodologia para realizar tal empreitada deve estar em conformidade
com a proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), cuja versão mais atualizada
encontra-se em System of national accounts 2008 (ONU, 2009).
A elaboração deste instrumento a nível estadual não tem o mesmo nível de
desenvolvimento e consolidação, quando comparado ao nível nacional. A ONU, quando
apresenta a regionalização da TRU enquanto possibilidade, a faz em 1993 (ONU, 1993)
aponta como aplicação possível, sem entrar nas propostas metodológicas. O próprio IBGE,
por mais que possua um manual específico para contas regionais (IBGE, 2016b), os exercícios
de estimação são ainda embrionários e classificados enquanto estatística experimental (IBGE,
2022).
Por isto que sucursais do IBGE nos estados ou parceiros buscaram produzir, alinhado
com o que há de mais consolidado metodologicamente, TRUs a nível regional. Este é um
esforço identificável em 13 estados brasileiros, cujo ano de referência da estimação abrange
um período que fica entre 1996 e 2019, como é verificável na tabela 1 abaixo.

Tabela 1: Tabelas de Recursos e Usos Regionais segundo nível de agregação (atividades


e produtos).
Estado Ano Base Número de Atividades Número de Produtos
Rio de Janeiro 1996 61 91
Rio Grande do Sul 1998 28 43
Pernambuco 1999 36 63
Rio Grande do Sul 2003 45 80
Pernambuco 2005 17 28
Minas Gerais 2005 35 53
Amazonas 2006 32 32
Mato Grosso 2007 78 110
Paraná 2008 51 76
Goiás 2008 17 27
Mato Grosso do Sul 2008 10 29
Minas Gerais 2008 40 86
Rio Grande do Sul 2008 37 65
Bahia 2009 16 27
Pará 2009 40 73
Bahia 2012 15 15
Ceará 2013 65 118
Minas Gerais 2013 57 102
Paraná 2015 42 99
Espírito Santo 2015 35 81
Minas Gerais 2016 57 102
Minas Gerais 2019 57 102
Fonte: Elaboração própria.

Para o Pará, houve uma estimação deste instrumento cujo ano de referência é 2009,
porém alinhado com a referência do sistema de contas nacionais de 1993 (ONU, 1993). Neste
sentido, fez necessário uma nova estimação baseada na referência mais atualizada (ONU,
2008), em consonância com o que foi feito por outros estados.
Neste sentido, este artigo visa apresentar alguns aspectos da economia paraense
baseada na Tabela de Recursos e Usos do Pará de 2017 (TRU Pará 2017), assim como o
procedimento utilizado para sua construção, evidenciando o seu alinhamento com o que é
protagonizado pelo Sistema de Contas Nacionais (IBGE, 2016a) e por Contas Regionais do
Brasil (IBGE, 2016b). Para tanto, foi necessário lidar com bases de dados fornecidos por
diversas pesquisas do IBGE, de Ministérios e Agências Reguladoras que integram os
governos federal e estadual, assim como os dados fornecidos pela Secretaria de Estado da
Fazenda do Pará (SEFA-PA). O resultado foi uma TRU agregada em 42 atividades e 104
produtos.
Este artigo se organiza em duas seções, além desta introdução e considerações finais.
A primeira seção preza por apresentar os procedimentos metodológicos para estimação de
uma TRU regionalizada a partir das peculiaridades da economia paraense. A segunda seção
apresenta algumas análises a partir dos resultados encontrados.

2. APRESENTANDO A METODOLOGIA

A Tabela de Recursos e Usos (TRU) é um dos mais importantes instrumentos da


Contabilidade Social. Esta, por sua vez, expressa um conjunto de instrumentais que buscam
mensurar fluxos e estoques econômicos, cuja metodologia tende a ser desenvolvida a partir de
uma uniformização promovida pelas Nações Unidas1, busca dimensionar alguns elementos,
1
Cabe salientar que tanto o procedimento de mensuração dos fluxos e estoques econômicos quanto a
compreensão de seu significado foi (e ainda é) alvo de debates entre economistas. Como abrir esta discussão
fugiria ao escopo deste artigo, recomenda-se a leitura de Hallak Neto (2014), que elaborou uma importante
assim como: identificar os principais setores de produção; decompor, ao máximo, em sub-
setores; e buscar os elementos formadores dos sub-setores. para identificar os aparelhos
produtivos da economia nacional, o modo como a literatura especializada chama o produto da
inter-relação entre os setores, é necessário: observar os seus agentes ativos; identificar a
natureza das ações dos agentes; e agregar por produção, geração de renda, dispêndio e
acumulação de capitais (ANDRADE, 2009).
A TRU consiste em uma forma de representação da oferta e da demanda do lugar em
questão, que guarde correspondência com aqueles indicadores captados pelas pesquisas
nacionais, basicamente pela construção de tradutores. Ela é basicamente uma representação
matemática de todas as operações econômicas a partir dos bens e serviços, desagregados pela
ótica da produção, da renda e da riqueza. Ela registra como cada uma das atividades utilizam
insumos e adicionam valor através do processo produtivo. De uma forma didática a TRU é
apresentada como o somatório de três tabelas:

Figura 1: Apresentação esquemática das Tabelas de Recursos e Usos.


A – Tabela de recursos de bens e serviços
Oferta Produção interna Importação
A = A1 + A2

B – Tabela de usos de bens e serviços


Oferta Consumo intermediário Demanda final
A = B1 + B2

Valor adicionado
C
Fonte: Elaboração própria.

A tabela A apresenta como está organizada a oferta e é disposta como o somatório da


matriz de produção doméstica ou produção interna mais importações:
Oferta = Produção Interna + Importações
Ela apresenta a oferta total dos bens e serviços detalhados por atividade econômica,
incluindo o Valor Bruto da Produção (produção interna, exposta pela matriz de produção
doméstica); o conjunto das informações de Importação, tanto dos dados importação do resto
do mundo (internacional) como da Importação das demais Unidades da Federação – UF
(interestadual). Apresenta também os Vetores Transversais que são basicamente as Margens
(Comércio e Transporte) e os Impostos sobre os produtos (menos subsídios).

síntese do histórico referente ao debate teórico e as consolidações metodológicas.


A Tabela B apresenta como se estrutura a matriz de consumo intermediário e registra,
também, as informações referentes à demanda de consumo final. E estas são: o consumo das
famílias, a formação bruta de capital fixo (FBCF) e a variação de estoque (juntos formam os
investimentos), o consumo do governo e o consumo das instituições financeiras sem fins
lucrativos. De forma resumida:
Demanda = Consumo Intermediário + Demanda Final
A Tabela C apresenta como cada setor ou atividade econômica adiciona valor no
processo produtivo. Apresenta, também, sua distribuição primária entre os fatores, trabalho e
capital, e impostos que incidem sobre a produção. Traz ainda, as informações de pessoal
ocupado.

2.1. TABELA DE RECURSOS DE BENS E SERVIÇOS (TABELA A)

A Tabela de Recursos consiste na incorporação das informações em bens e serviços


disponíveis para o uso doméstico ou exportações. Dentro da tabela de recursos teremos
integradas as informações da oferta total dos bens e serviços, o detalhamento das importações
desenvolvidas para o resto do mundo e a importação para as demais unidades federativas,
assim como são apresentados os vetores transversais contidos pelas informações das Margens
para o Comércio e Transporte.

2.1.1. Valor Bruto da Produção ou Matriz de Produção Doméstica

O valor bruto da produção (VBP) consiste pela soma de todos os bens e serviços
produzidos na economia local, a preço básico, sem considerar as margens de comércio e
transportes, bem como os impostos sobre o produto. Engloba a produção de bens
intermediários, utilizados no processo produtivo, e bens finais destinados aos agentes
econômicos.
Seu procedimento teve como ponto de partida as informações de VBP identificados
pelo Sistema de Contas Regionais (SCR), como valores de chegada das atividades. Sua
distribuição teve como fundamento selecionar os produtos primários e secundários (caso haja)
de cada atividade. A base de dados para parametrizar a distribuição baseou-se nas pesquisas
econômicas estruturantes, censo agropecuário, dentre outros.
Para o caso do setor agropecuário, foi necessária uma adaptação. Tendo em vista que a
distribuição dos produtos é predefinida pelo censo de 2006, extrapolado para 2017, a estrutura
de produção de alguns produtos estava subestimada, enquanto para outros produtos havia
superestimação (os dados de exportações internacionais evidenciam isto). Para resolver os
problemas de estimação, utilizou-se as informações contidas no censo agropecuário de 2017
como critério de estimação dos parâmetros, em conjunto com as pesquisas de Produção
Agrícola Municipal (PAM), Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) e
Produção Pecuária Municipal (PPM). Os produtos secundários são identificados nos dados do
censo de 2006, extrapolados para 2017.
A decomposição do VBP da indústria partiu de dados da Pesquisa Industrial Anual
(PIA), Pesquisa Anual da Indústria de Construção (PAIC), Pesquisa Anual de Serviços (PAS)
e dados de balanços das empresas que produzem e distribuem água e energia. Para o caso de
produtos com um excesso de especificação, foi necessário fazer uso de bases de dados de
agências reguladoras e outras fontes públicas. O caso dos produtos da mineração foi
exemplar. Fez-se necessário utilizar os dados da Agência Nacional de Mineração (ANM)
como critério de parametrização. Para estimar os produtos secundários da indústria, utilizou-
se de dados do balanço das empresas que atuam no Pará, além de fontes de agências
reguladoras, como a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A decomposição do VBP do comércio e serviços utilizou-se de um conjunto de dados
partindo do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) e da PNAD. Para o caso da atividade
de administração pública a base de dados utilizada partiu das informações localizadas no
Portal da Transparência da União, Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e Sistema de
Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS).

2.1.2. Importação e Exportação do Resto do Mundo (Internacional)

Os conceitos de importação e exportação correspondem à compra e venda de bens e


serviços entre residentes e não residentes. Os dados relativos a estes agregados foram obtidos
no portal Comex Stat da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Os produtos exportados e importados, classificados de acordo com a Nomenclatura
Comum do Mercosul (NCM) foram convertidos para a codificação do Sistema de Contas
Nacionais (SCN) e compatibilizados com a pauta de produtos da TRU Pará. Ademais, os
valores das exportações (expressos em dólar FOB) e das importações (expressos em dólar
CIF) mensais em dólares foram convertidos em reais utilizando a taxa de câmbio média de
compra e venda mensal, obtida junto ao IPEADATA. O valor anual foi obtido da soma dos
valores mensais.
2.1.3. Importação e Exportação do Resto do Brasil (Interestadual)

O comércio interestadual foi estimado considerando os registros administrativos das


Notas Fiscais Eletrônicas (NFe) da Secretaria de Estado da Fazenda do Pará (SEFA-PA), cuja
classificação está dada por Norma Comum do Mercosul (NCM), Classificação de Atividades
e Produtos (CNAE) e Código Fiscal de Operações e Prestações das entradas e saídas de
mercadorias intermunicipal e interestadual (CFOP). A partir do tradutor elaborado pelo IBGE
e expandido pelo por elaboração própria, foi possível fazer as correspondências das transações
para o código dos produtos da TRU Pará 2017.
A partir daí, as transações foram classificadas de três diferentes formas: (1) CFOP’s
consideradas: Transferências, Vendas, Industrialização, Outras; (2) CFOP’s removidas:
Lançamentos e Remessas; (3) CFOP’s negativadas: Anulações, Devoluções e Retornos. Essa
classificação se encontra na tabela 2 abaixo.

Tabela 2: Seleção de CFOP’s.


Tipo de Saída Mantida Excluída Negativada
Anulação X
Devolução X
Exportação X
Industrialização X
Lançamento X
Prestação de Serviço X
Remessa X
Ressarcimento de ICMS X
Retorno X
Transferência X
Transferência de crédito ou
X
saldo credor de ICMS
Utilização de saldo credor
X
de ICMS
Venda X
Outra Saída X
Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023.

Três produtos explicados abaixo merecem nota quanto a forma como tiveram seu
cálculo estimado na parte de exportações:
O Açaí teve sua estimação baseada na proporção informada pela Análise Mensal Açaí
Fruto da CONAB – março de 2019 (5% da produção estadual para o exterior e 35% para o
resto do País). Uso das NFe para identificação das NCMs nas quais os exportadores registram
o Açaí (análise dos principais produtores de açaí no estado). A “Extração de madeira em tora,
exceto para celulose” foi estimado conforme identificação a partir das NFe, com base nos
municípios que vendem madeira para Imperatriz – MA. O “Minério de ouro”, por sua vez,
teve sua correspondência baseada nas NCMs relacionadas da CNAE “Extração de minério de
metais preciosos”.

2.1.4. Margens de Comércio e Transporte

Para a construção das margens de comércio foi necessário buscar dados que constam
em informações correspondentes na PAC. Isto para identificar a participação da margem de
comércio do Pará na margem de comércio do Brasil. Da mesma maneira, foi necessário para a
construção da margem de transportes buscar os dados que constam em informações
correspondentes na PAS.
Para a estimação das margens, seguiu-se o seguinte procedimento:
M i=PM i∗PE j (1)
Onde:
M i: margem de comércio ou transporte do produto i qualquer;
PM i : Parâmetro da margem estadual do produto i;
PE i: Pesquisa econômica j, de modo que, para encontrar o correspondente para Margem de Comércio,
usa-se a PAC e Atividade de Transporte, a PAS.
Cabe salientar que o valor de chegada da margem é estimado conforme a participação
do Pará na margem do Brasil (identificado nas pesquisas) e multiplicado pelo total da
margem, conforme a TRU Brasil 2017.
O Parâmetro da margem estadual do produto i é estimado por:
i
PM i =CM i / ∑ CM i (2)
1
Onde:
CM i : Coeficiente da margem estadual do produto i;
O Coeficiente da margem estadual do produto i é estimado por (3), sendo igual a
Margem nacional do produto i dividido pela Oferta a preço básico 2 nacional do produto i este
valor multiplicado pela Oferta a preço básico estadual do produto i.
CM i =(MB ¿ ¿ i/OPbB i)∗OPbEi ¿ (3)
Onde,
MBi : Margem nacional do produto i;
OPbBi : Oferta a preço básico nacional do produto i;
OPbE i: Oferta a preço básico estadual do produto i.

2.1.5. Impostos

2
Oferta a preço básico significa que o produto ainda não está com o consumidor (consumidor intermediário ou
consumidor final). Oferta total a preço básico é a soma da matriz de produção mais o vetor de importação.
Os vetores de impostos utilizados nesta metodologia compreendem o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), Imposto de Importação, Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI) e Demais Impostos e Subsídios que incidem sobre o
produto. Dado que a informações que nas Contas Regionais apresenta apenas os Impostos
sobre o produto líquido de subsídios, o primeiro passo foi reconstruir o valor de cada tributo
que incide sobre o produto com base nos procedimentos descritos pelo IBGE (2016b).
Inicialmente é necessário definir os parâmetros de recolhimento de imposto nacional
com fator gerador aceito regionalmente do produto i dividido pelo somatório total dos
impostos. O parâmetro é o elemento de ponderação, ao ser multiplicado pelo total de imposto
que é encontrado nas contas regionais.
Dito isto, para encontrar o imposto multiplicamos o parâmetro pelo valor de chegada,
que é o valor encontrado nas Contas Regionais. Sendo assim o valor do imposto ( IE j ,i ) será
igual ao parâmetro do imposto multiplicado pelo valor total do imposto localizado nas contas
regionais, de modo que (4):
IE j ,i =PI j , i ∙ ¿ j (4)
Onde,
IE j ,i : Valor do imposto j no produto i;
PI j ,i : Parâmetro do imposto j do produto i;
O parâmetro do imposto j do produto i, por sua vez, é estimado seguindo o
procedimento em (5) abaixo:
i
PI j ,i=¿f ,i / ∑ ¿f ,i (5)
1
Onde,
¿ f ,i : Imposto nacional com fator gerador do produto i aceito a nível estadual.
Para o caso do ICMS, o valor foi obtido por CNAE sete dígitos junto a Secretaria de
Estado da Fazenda do Pará (SEFA-PA) e ajustado a partir de uma crítica produto a produto
para, posteriormente, ser agregado segundo os produtos constantes na TRU Pará 2017.

2.2. TABELA DE USOS DE BENS E SERVIÇOS (TABELA B)

A Tabela de Usos, por sua vez, deriva da agregação de todos os elementos


demandados pelo que é ofertado no Estado do Pará. É constituída pela estrutura desenvolvida
na matriz de consumo intermediário e pelos vetores da demanda final. E eles se constituem de
consumo das famílias, formação bruta de capital fixo (FBCF) e variação de estoque (juntos
formam os investimentos), consumo do governo e consumo das instituições financeiras sem
fins lucrativos, além das exportações internacionais e interestaduais, já apresentadas na
descrição da Tabela A.
2.2.1. Consumo Intermediário ou Matriz de Consumo Intermediário

Os dados sobre consumo intermediário reúnem o conjunto de informações econômicas


sobre o quantitativo de bens e serviços que foram consumidos durante a execução das
atividades econômicas domésticas para a oferta de outros produtos disponíveis ao consumo.
Sua valoração se dá a preços do consumidor e inclui tanto produtos domésticos quanto
importados. A literatura econômica chama este tipo de demanda de consumo produtivo, na
medida em que é utilizado para atender as necessidades técnicas de produção, como consumo
de matérias-primas, material de embalagem, material de reposição, despesas com energia
elétrica e administrativas, dentre outras. Porém, exclui os bens de capital e os serviços ligados
à transferência ou instalação de ativos, visto que estes são componentes da Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF).
A metodologia de estimação do consumo intermediário seguiu o seguinte
procedimento, consagrado na literatura técnica especializada. Inicialmente, parte-se das
informações de chegada (valor do consumo intermediário das atividades econômicas)
disponibilizadas no Sistema de Contas Regionais. Neste sistema é possível encontrar o Valor
Bruto da Produção (VBP), o valor do Consumo Intermediário (CI) de cada atividade e o Valor
Adicionado (VA), que é dado basicamente pelo diferencial entre VBP e CI.
O segundo passo foi definir por quais critérios este valor de chegada seria distribuído.
O ponto de referência foi o Censo Agropecuário (2006 e 2017) e as pesquisas econômicas
estruturantes do IBGE (PIA PAC, PAIC e PAS). O uso do Censo de 2017 tem o mesmo
pressuposto já apresentado na seção sobre o Valor Bruto da Produção. Ademais, foi
necessário produzir uma tabela de correspondência entre os produtos de CI que constam nos
Censos e nas pesquisas estruturantes, assim como destacar os produtos de CI que continham
uma definição genérica, como “matéria-prima”, “despesas com a sede”, dentre outras.
Identificando estes produtos com definição genérica, deu-se o terceiro passo. E este se
referencia na TRU Brasil 2017, na medida em que é possível identificar os produtos que são
consumidos enquanto matéria-prima, por exemplo, de uma atividade j qualquer. No caso dos
produtos da TRU Pará 2017 que estão em maiores níveis de desagregação em relação a TRU
Brasil 2017, utilizou-se das informações contidas nas Notas Fiscais Eletrônicas (NFe).
O quarto passo foi transformar a distribuição dos valores dos produtos de Consumo
Intermediário dos Censos e das pesquisas econômicas estruturantes, ajustados pela TRU
Brasil 2017 e NFe, em parâmetros para a distribuição do valor de chegada disponibilizado
pelo Sistema de Contas Regionais. Na etapa de equilíbrio entre a oferta e a demanda, a matriz
de consumo intermediário foi alterada para refletir mais adequadamente as características da
estrutura produtiva do Pará.

2.2.2. Consumo do Governo e das Instituições Sem Fins Lucrativos (ISFLSF)

O Consumo do Governo são todos os bens e serviços gastos e executados pelos entes
de natureza pública que realizam despesas com serviços individuais e coletivos prestados
gratuitamente, total ou parcialmente, pelas três esferas de governo (federal, estadual e
municipal), mas não abarca empresas públicas de natureza produtiva, como a Petrobras, ou
bancária, como banco central. Por definição, o Governo consome tudo que produz.
As Instituições Sem Fins Lucrativos ao Serviço das Famílias (ISFLSF) são entidades
jurídicas ou sociais que forneçam os bens ou serviços para as famílias, cujo estatuto não lhes
permite ser uma fonte de rendimento, lucro ou outro ganho financeiro. Seu parâmetro de
consumo foi estimado a partir das informações da TRU Brasil 2017, dividindo o vetor
Consumo das ISFLSF pelo valor da oferta a preço básico do Brasil e ponderado pela oferta a
preço básico da TRU Pará 2017.

2.2.3. Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)

A formação bruta de capital fixo (FBCF) representa a quase totalidade da variável


econômica “investimento” ou “estoque de capital”. Considera todos os gastos em bens
duráveis novos realizados em um determinado período e expressa a expansão da capacidade
da economia de produzir riqueza e renda.
Para os produtos identificados como FBCF foram considerados seus valores de
produção, importação, margens, impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos menos os
valores exportados destes bens. O valor de produção foi estimado através dos dados do
Sistema de Contas Regional, utilizando a classificação por categoria de uso.
A estimação da FBCF do Pará levou em conta a identificação dos produtos que estão
categorizados enquanto tal, mediante classificação NCM-BEC/CEEC, que relaciona os
códigos da Classification by Broad Economic Categories (BEC) por categoria de usos do
produto à Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Foi identificado os
produtos que tem FBCF na TRU Brasil 2017 e alocado na tabela (o produto zerado na TRU
Brasil 2017 será zero TRU Pará 2017).
Para os produtos agropecuária:
i. Produtos agrícolas – utilizou-se a participação da área plantada do estado do Pará em relação ao
do Brasil da PAM/IBGE 2017 como proxy para a FBCF, utilizando tal participação sobre a
FBCF da TRU Brasil.
ii. Produtos da pecuária – participação do rebanho/cabeça do estado do Pará em relação ao do
Brasil da PPM/IBGE 2017 como proxy para a FBCF, utilizando tal participação sobre a FBCF
da TRU Brasil. Apenas para o produto suíno, tem-se a informação de matriz, consequentemente,
foi utilizado ao invés do rebanho total.
iii. Produtos da extrativa vegetal e silvicultura – utilizou-se a participação da área total existente
efetiva do estado do Pará em relação à do Brasil da PEVS/IBGE 2017 como proxy para a FBCF,
utilizando tal participação sobre a FBCF da TRU Brasil.
Para os produtos industriais e de serviços:
i. Indústria extrativa (petróleo, gás natural): Na falta dessa informação, usou-se como proxy a
participação do estado em relação ao Brasil na reserva total de petróleo e gás natural da ANP,
presentes no anuário estatístico.
ii. Construção civil: A produção principal da atividade de Construção civil, sendo por definição
produto do ativo fixo dos agentes, foi diretamente alocada no produto da Construção da FBCF.
iii. Serviços (Desenvolvimento de sistemas e outros serviços de informação; pesquisa e
desenvolvimento e serviços de arquitetura e engenharia): Estimou-se o valor de FBCF com base
na participação da FBCF do Brasil na demanda Total (TRU Brasil 2017).
iv. Manutenção e reparação: Na ausência de informações para o produto utilizou o dado de FBCF
obtido pela estrutura TRU Brasil 2017.
Ademais, na etapa de equilíbrio entre a oferta e a demanda, o vetor de FBCF foi
alterado para refletir mais adequadamente as características da estrutura produtiva do Pará.

2.2.4. Variação de Estoques

A variação de estoques, para a contabilidade nacional, corresponde à diferença


existente entre a entrada e saída de mercadorias no estoque durante o período considerado,
estabelecidos pelo preço médio anual. Do ponto de vista econômico, a variação de estoques
reflete o nível de utilização da capacidade instalada, de modo que, ela expressa uma parcela
do Investimento enquanto variável econômica. Dentre esses estoques, devem ser considerados
toda matéria-prima, produtos semi-elaborados ou acabados, inclusive de produtos da
agricultura e pecuária.
O vetor variação de estoques foi estimado considerando os registros administrativos
das Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e) da Secretaria de Estado da Fazenda do Pará (SEFA-PA),
cuja classificação está dada por NCM, de modo a expressar entradas e saídas no estoque.

2.2.5. Consumo das famílias

Para o sistema de contas nacionais, uma família é um conjunto de pessoas que residem
em um mesmo domicílio e compartilham despesas com alimentação e habitação,
independentemente da quantidade, podendo ser constituída por uma ou mais. As famílias
podem constituir suas fontes de rendas por meio do salário advindo de empresas ou pelo
governo, porém podem possuir renda de produção própria, como é classificado os autônomos
e agricultores.
Nesta estimativa foram utilizadas informações da Pesquisa Nacional de Domicílios
Contínua – PNADc e da Pesquisa de Orçamentos Familiares-POF. Basicamente foram
colhidas informações de despesas, conforme a POF, e se procedeu com a construção de um
índice de atualização da renda (quantas vezes a renda cresceu em relação à renda de 2009).
Quanto ao procedimento, o cálculo dos vetores foi dividido em duas partes. Uma Parte
A, onde se calculou os dados da POF e uma Parte B onde se calculou os Dados da PNADc.
Parte A
Na Parte A, o procedimento buscou estimar as faixas de renda mensal domiciliar per
capita e massa de rendimento por código da Unidade de Consumo. Os Dados utilizados foram
os seguintes: POF – Pessoas (ou moradores), Rendimentos e Outros rendimentos.
Foi ajustado os dados da POF para compatibilizar com informações sobre renda da
PNAD contínua. No caso, informações sobre renda monetária, excluindo a renda não-
monetária que inclui: (Rendimento do trabalho) + (Transferência) + (Rendimento de aluguel)
+ (Outras Rendas).
Para a estimativa da massa de rendimento, a variável utilizada foi o valor do último
rendimento anualizado. E para o cálculo do rendimento mensal domiciliar foi utilizado o valor
do último rendimento deflacionado do banco rendimento e o valor do rendimento
deflacionado do banco outros rendimentos.
As faixas de renda na metodologia da TRU nacional foram definidas de acordo com os
mesmos pontos de corte usados nas tabulações da POF 2008-2009. O salário mínimo de
janeiro de 2009 foi de R$415,00.
Os produtos da POF foram agregados em produtos da classificação adotada no
Sistema de Contas Nacionais e traduzidos para TRU Pará 2017. Esses dados agregados foram
organizados e foram criadas estruturas com o consumo, por produto, unidade familiar e faixa
de renda como percentual da renda do grupo. Com isto, levantou as informações referentes à
renda, classificadas conforme os produtos da TRU Pará 2017, em relação ao ano de 2009.
No que se refere ao procedimento executado para identificar as despesas por produto,
em 2009, levantou os dados de despesas dos produtos consumidos pelas pessoas. Dados da
POF utilizados foram: despesa 90 dias, despesa 12 meses, outras despesas, despesas com
serviços domésticos, aluguel estimado, caderneta de despesa, despesa individual, despesa com
veículo. A variável utilizada para despesa foi computada com valores da despesa
deflacionados, anualizados e expandidos. Com isto, levantou as informações referentes às
despesas, classificadas conforme os produtos da TRU Pará 2017, em relação ao ano de 2009.
Parte B
Na Parte B, o procedimento se constituiu em estimar a massa de rendimentos em
relação a 2017. A estimativa buscou levantar os dados de renda por unidade familiar e faixa
de renda disponíveis na pesquisa da PNAD Contínua, utilizando as seguintes variáveis:
V2005: Número de pessoas no domicílio de forma discriminada (Condição do domiciliado);
V2009: Idade do morador na data de referência; V1028: Peso do domicílio e das pessoas (sem
pós estratificação); VD4019: Rendimento mensal habitual de todos os trabalhos (no mesmo
domicílio) para pessoas de 14 anos ou mais; V2001:Número de pessoas no domicílio. Com
isto, foi possível estimar a renda mensal domiciliar per capita e a massa total de rendimentos
por unidade familiar e faixa de renda.
A variável utilizada para o cálculo da massa de rendimento foi o Rendimento mensal
domiciliar para todas as unidades domiciliares (exclusive o rendimento das pessoas cuja
condição na unidade domiciliar era empregada doméstica ou parente de empregada
doméstica). O salário mínimo vigente em setembro de 2017 foi de R$937,00. Também foi
necessário gerar faixas de renda mensal domiciliar per capita e massa de rendimento por
código da Unidade de Consumo.
Com este procedimento, foi possível levantar as informações referentes à renda,
conforme faixas de renda mensal domiciliar per capita e massa de rendimento, em relação ao
ano de 2017. A partir daí foi possível estimar o consumo final das famílias por produto da
TRU Pará 2017. Assim, partiu-se da estrutura de consumo da POF, anualizada conforme
índice que avalia quanto a renda por grupo de renda, conforme o salário mínimo, cresceu em
2017 em relação a 2009.
A Estrutura do Consumo das Famílias da TRU Pará 2017 ficou definida pela
multiplicação da despesa por produto e um índice de atualização da renda, de modo que:
faixa 8
renda PNADc
CF inicial por produtoTRU Pará2017 = ∑ despesa POF ∙ (6)
faixa 1 renda POF

2.3. EQUILÍBRIO ENTRE RECURSOS E USOS

Devido ao fato de que, para estimar a Tabela de Recursos e a Tabela de Usos, são
utilizados um conjunto de base de dados distintas entre si, tanto para distribuir os valores de
produção e consumo intermediário disponibilizados pelo Sistema de Contas Regionais (SCR),
quanto para estimar os demais vetores, é necessária uma etapa para balancear as informações
existentes. O primeiro foi distribuir os valores contidos na matriz de consumo intermediário,
de modo mais alinhado com os procedimentos de regionalização. Para isto foi utilizado um
algoritmo de balanceamento baseado no método de ajuste biproporcional RAS3.
Ainda assim, foi necessário lidar com as divergências geradas por causa do uso de
fontes distintas. O equilíbrio foi realizado por meio de planilha de ajuste de oferta e demanda
produto a produto e considerou as particularidades da economia paraense.

2.4. TABELA DE VALOR ADICIONADO (TABELA C)

A tabela de valor adicionado apresenta como cada setor ou atividade econômica


contribui com o valor total criado no processo produtivo. Para a construção da tabela c (Valor
Adicionado) foram utilizadas as seguintes bases de dados:
a) Tabela de Valor Adicionado das Contas Regionais do Estado do Pará, aberta em 16 atividades
econômicas.
b) Tabela de Valor Adicionado do Brasil, aberta para 67 e 12 atividades Econômicas.
c) Dados do CEMPRE para ocupações complementados por dados da RAIS.
Procedimentos para estimação da Tabela c do estado do Pará para 46 atividades
econômicas:
i. Agregação da tabela de VA das Contas Regionais do Estado do Pará para 12 atividades.
ii. Cálculo das proporções das tabelas de VA Brasil 67 e 12 atividades e VA Pará 16 e 12 atividades, como
apresentado na tabela 3 a seguir:

Tabela 3: Cálculo das Proporções dos componentes do VA.

Variáveis Estimações
Valor da Produção (VBP) -
Consumo Intermediário (CI) -
Valor Adicionado (VA) VBP−CI
R
Remunerações (R)
VA
S
Salários (S)
R
CS
Contribuições sociais efetivas (CS)
R
Prev O
Previdência oficial /FGTS (Prev O)
CS
Prev P
Previdência privada (Prev P)
CS
CSI / R
Contribuições sociais imputadas (CSI)
VA
Excedente operacional bruto e rendimento C
misto bruto (C) VA
RM
Rendimento misto bruto (RM)
C

3
Para detalhes deste método, ver Miller e Blair (2009, cap. 7).
EOB
Excedente operacional bruto (EOB)
C
Outros impostos sobre a produção líquidos de Imp L
subsídios (Imp L) VA
Imp
Outros impostos sobre a produção (Imp)
Imp L
¿
Outros subsídios à produção (Sub)
Imp L
Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023.

iii. Cálculo do fator de ajuste (7) para a abertura da tabela VA 16 atividades em 46 atividades, como
exemplo a seguir para as remunerações para a atividade i:
RiPA
VA iPA
Fator Ajuste R= (7)
R iBr
VA iBr
O fator de ajuste foi calculado utilizando os valores da tabela c 12x12 do Pará e do
Brasil, esse fator foi utilizado para a abertura dos valores das atividades da agropecuária,
indústria extrativa e indústria de transformação. Para as atividades de “Eletricidade e gás,
água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação” e “Construção” a descrição
dos procedimentos para distribuição segue abaixo, para as atividades de comércio e serviços
não foi necessário estimação, uma vez que as mesmas atividades da tabela de VA das contas
regionais são as utilizadas na TRU Pará 2017.
iv. Estimação dos valores para a “Tabela VA sem ajuste”, como segue o exemplo das remunerações para a
atividade i1:

Ri 1 PA sem ajuste=VA i1 PA∗


( )
RiBr
VA iBr
∗Fator de Ajustei (8)

v. Estimação dos valores para a “Tabela VA com ajuste”, para as atividades de agropecuária, indústria
extrativa e indústria de transformação, utilizando como exemplo as remunerações da atividade i1:

Ri 1 PA Ajustado=RiPASCR∗ ( Ri 1 PA semajuste
∑ R iPA semajuste ) (9)

Sendo RiPASCR o valor de chegada das remunerações conforme a tabela de VA do Sistema de


Contas Regionais do Pará, fornecido pela FAPESPA.
vi. Estimação dos valores para a “Tabela VA com ajuste” para as atividades de “Eletricidade e gás, água,
esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação” e “Construção”. Nessas atividades a TRU
BR 67 está mais agregada que a TRU PA 46, por esse motivo não foi utilizado o fator de ponderação e
nem a proporção da atividade no total nacional. Sua estimação foi feita unicamente com os valores da
Tabela de VA 16 atividades do SCR do Pará. Utilizando o exemplo das Remunerações para a atividade
c1, a estimação seguiu o seguinte passo:
R cPA
Rc 1 PA =VA c1 PA∗( )
VA cPA
vii. A estimação das ocupações utilizou dados do CEMPRE, complementados pela RAIS, calculando-se a
proporção de cada atividade no total. Com esses coeficientes foram distribuídos os valores repassados
pela FAPESPA na tabela de VA do SCR para cada atividade em separado. Por exemplo:
Total de ocupações no setor “Abate e produtos de carne, inclusive os produtos do laticínio e da pesca” =
Total de ocupações na indústria de transformação * participação das ocupações da atividade no total da
indústria de transformação.

3. ASPECTOS DA ECONOMIA PARAENSE: ANÁLISE DOS RESULTADOS DA


TRU PARÁ 2017

Esta seção tem como finalidade apresentar a composição do Produto Interno Bruto
(PIB) pelas óticas da produção, demanda e renda, além disso, análises detalhadas dos
componentes da oferta agregada (recursos), demanda agregada (usos) e valor adicionado.
A TRU apresenta os fluxos de oferta e demanda dos bens e serviços transacionados na
economia. Em um lado ficam os recursos utilizados no processo de produção e, do outro, os
usos que tiveram tais recursos. Esses recursos e usos se equivalem em valor. Sendo assim,
todos os bens e serviços produzidos na economia correspondem ao que é disponibilizado para
serem demandados e consumidos.
A tabela 4, abaixo, revela a conta de bens e serviços, do ponto de vista de recursos e
usos, de toda economia paraense em 2017. A tabela 5 evidencia que o estado do Pará, no ano
de 2017, registrou através da tabela de recursos e usos, o valor estimado de R$155,2 bilhões
para o Produto Interno Bruto pelas três óticas analisadas (produção, demanda e renda).
Tabela 4: Resumo de bens e serviços. Pará 2017 (R$ Bilhões).
Recursos Operações e saldos Usos
232 Produção doméstica (valor bruto da produção – VBP)
92 Importação de bens e serviços
89 Importação de bens e serviços das demais unidades da federação
2 Importação de bens e serviços do resto do mundo
14 Impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos
Consumo Intermediário 90
Despesa de consumo final 157
Investimentos 30
Exportação de bens e serviços 90
Exportação de bens e serviços das demais unidades da federação 45
Exportação de bens e serviços do resto do mundo 45
338 Total 338
Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023.

O PIB, pela ótica da produção é igual ao valor adicionado, que resulta do valor bruto
da produção, a preços básicos, menos o consumo intermediário, a preços de mercado,
acrescido de os impostos líquidos de subsídios sobre produtos, sendo, portanto, equivalente à
soma dos valores adicionados pelas diversas atividades econômicas somados aos impostos,
líquidos de subsídios sobre produtos.
O cálculo do PIB pela ótica da demanda corresponde à soma dos componentes da
demanda final, sendo eles: consumo das famílias, consumo das Instituições Sem Fins
Lucrativos a serviço das famílias (ISFLSF), consumo da administração pública, investimento
(formação bruta de capital fixo + variação de estoques), exportação internacional de bens e
serviços, exportação interestadual de bens e serviços, importação internacional de bens e
serviços e importação interestadual de bens e serviços.
O PIB pela ótica da renda é calculado pela soma dos componentes: remunerações dos
fatores de produção utilizados no processo produtivo, tais como remuneração dos
empregados, rendimento operacional bruto e rendimento misto bruto (remuneração do fator
capital das empresas), bem como outros impostos sobre a produção líquidos de subsídios e
impostos sobre produto líquidos de subsídios.

Tabela 5: Composição do PIB pela ótica da produção, demanda e renda do Pará de


2017.
Óticas do Produto Interno Bruto Valor (bilhões de R$)
Ótica da Produção (A+B) 155,2
Valor adicionado (A) 141,6
(+) Valor bruto da produção (VBP) 232,1
(-) Consumo intermediário 90,5
Impostos sobre produto líquidos de subsídios (B) 13,6
Ótica da Demanda (C+D) 155,2
Despesas de consumo final (C) 157,4
Consumo das famílias 87,0
Consumo das Instit. Sem Fins Lucrativos ... (ISFLSF) 1,6
Consumo da adm. Pública 38,8
Investimentos (i+ii) 30,0
Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) (i) 30,1
Variação de estoque (ii) -0,1
Exportação líquida (D) -2,2
(+) Exportação internacional de bens e serviços 45,2
(+) Exportação interestadual de bens e serviços 44,9
(-) Importação internacional de bens e serviços 2,7
(-) Importação interestadual de bens e serviços 89,5
Ótica da Renda (B+E+F+G) 155,2
Remunerações (E) 60,3
Excedente operacional bruto e rendimento misto bruto (F) 80,3
Outros impostos sobre a produção líquidos de subsídios (G) 1,0
Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023.

3.1. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DA OFERTA

Na TRU os recursos representam a origem da oferta total disponível de bens e serviços


na economia e têm dois componentes: produção a preços de mercado e importações. As
importações de bens/produtos adquiridos do exterior complementam a oferta total de bens,
assim como as compras de outros estados também são considerados importação.
Gráfico 1: Composição da oferta total por produtos e origem do Pará de 2017.
2% 6%
18% 1%
23%
1%
69%
97% 100% 100% 94%
81% 77%
2%
29%

Produção Importação Internacional Importação Interestadual


Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023.

A composição da oferta total por produtos e origem (produção interna ou importação)


do Pará de 2017 é apresentada no gráfico 1. É possível notar que em quase todas as
agregações de produtos a participação da produção é a mais relevante, sendo 100% no setor
de Água e energia elétrica e também no setor de Comércio. Os produtos da Indústria da
transformação, aqueles que, conforme a literatura econômica expressa maior complexidade na
produção (a exemplo de equipamentos de informática e produtos químicos), não possuem a
produção doméstica como componente mais relevante da sua oferta. Neste caso, a importação
interestadual possui mais peso no setor com 69% de sua composição. Sobre a importação
internacional, ela aparece apenas nos setores da Agropecuária, Indústria extrativa e Indústria
de transformação, com baixos percentuais de 1%, 2% e 2%, respectivamente.

3.2. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DA DEMANDA

Os usos, ou demanda, é tudo que é ofertado, representam o destino dos bens e serviços
ofertados. Fazem parte dos usos: a demanda final e o consumo intermediário. O consumo
intermediário refere-se à parte da produção de bens e serviços utilizados por outras atividades
como insumo em sua própria produção.
Decompondo o Consumo Intermediário (CI), entre os três grandes setores econômicos,
se observa o CI da Indústria como o mais expressivo, registrando 14,3% de participação no
total, seguido do CI do Comércio e Serviços, 10,4%. Ao observar o CI da agropecuária,
destaca-se 2 produtos, Defensivos agrícolas e desinfestantes domissanitários (14,6% do total
do CI da agropecuária) e Transporte terrestre (10,6% do total do CI da agropecuária).
O CI da indústria, em particular a indústria extrativa, tem como destaque Manutenção,
reparação e instalação de máquinas e equipamentos, responsável por 20% do total do CI da
indústria extrativa. Cabe salientar que a oferta deste produto é concentrada em importação
interestadual. Enquanto que a oferta doméstica é responsável por 7,6% da oferta total deste
produto, a importação interestadual é responsável por 92% do total. O gráfico 2 abaixo
apresenta as informações sobre as origens dos recursos e a forma de uso deste produto.
Destaca-se que somente o consumo intermediário da indústria extrativa de minério de ferro é
responsável por 20,4% de todo o uso do produto em questão, o que reflete um gargalo na
economia do estado.

Gráfico 2: Recursos e Usos, em %, do produto “Manutenção, reparação e instalação de


máquinas e equipamentos” do Pará de 2017.

Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023. Elaboração própria.

Como expressa o gráfico 3, na maioria dos setores, os produtos da indústria de


transformação possuem a maior participação na composição do consumo intermediário,
exceto nos setores de Água e energia elétrica que apresentam maior consumo intermediário
(CI) dos produtos do próprio setor (57%), no setor de Comércio que utiliza maior parte dos
produtos do setor de serviços (57%) no consumo intermediário, e no setor Serviços que utiliza
a maioria dos seus próprios produtos (48%) no CI. Isto reflete o tamanho do gargalo estrutural
que o Pará tem que lidar, tendo em vista que menos de 30% da oferta total dos produtos da
indústria de transformação são frutos da oferta doméstica.
Gráfico 3: Composição do consumo intermediário por produtos e setor do Pará de 2017.
100%
12% 17%
90% 21%
34% 7% 1% 30%
80% 4% 4%
5% 48%
70% 57%
4%
60% 11% 17%
1% 57%
50% 52% 5% 43% 1% 7%
40% 4% 6%
3%
9%
30% 1%
47% 7% 47%
20% 19% 35%
23% 22% 23%
10%
10%
0% 2% 2% 1% 1%

Agropecuária Indústria extrativa Indústria de Transformação Água e Energia Elétrica Construção Comércio
Serviços

Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023. Elaboração própria.

O gráfico 4, abaixo, apresenta as informações sobre a composição da oferta de alguns


produtos que são relevantes no consumo das famílias. O Pará apresenta insuficiência na
produção de produtos que são significativamente consumidos, como é o caso do Feijão em
grão. A produção interna deste produto é apenas 4% de toda oferta. Caso similar ocorre com
Laticínios, sendo que o estado possui um rebanho bovino significativo. Há, também, o caso
das Bebidas que, mesmo tendo uma produção doméstica de 53% em relação ao total da oferta,
ainda assim há um espaço para ampliação de produção no local.

Gráfico 4: Composição da oferta de produtos relevantes no consumo das famílias do


Pará de 2017.
100%
80% 47%
63% 57%
60% 81% 72%
96%
40%
20% 43% 53%
4% 37% 28%
19%
0%
ão s es ais ias s
gr io tar tíc da
icín
en n im n ebi
em La
t
ea
e B
o lim ali
m
ijã sa tai
s
s
Fe to ge sa
du ve as
ro as m
sp ur s e
ro or
d ha
ut g lac
O o
se ,b
leo ito
s
Ó o
isc
,s b
P ãe

Produção Doméstica Importação


Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023. Elaboração própria.
Outro caso emblemático refere-se às informações sobre a composição da oferta de
alguns produtos que são relevantes para os investimentos (formação bruta de capital fixo +
variação de estoques). O gráfico 5 apresenta tais informações. O que se nota é que os produtos
que são substancialmente importantes, como é o caso de Máquinas e equipamentos,
Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, e Produtos de metal, a
oferta é composta quase que exclusivamente por importação. Destaca-se, também, o caso de
Obras de infraestrutura, cuja participação da produção local é de 61%, porém há espaço para
ampliar a capacidade interna do estado na produção deste produto.

Gráfico 5: Composição da oferta de produtos relevantes no investimento do Pará de


2017.
100%
80% 39%
60% 78%
98% 100% 92%
40%
61%
20%
22% 8%
0% 2%

Produção Doméstica Importação

Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023. Elaboração própria.

3.3. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DO VALOR ADICIONADO

A TRU também possibilita a disponibilidade dos valores dos demais custos envolvidos
na produção para cada atividade, por meio do Valor Adicionado (VA) das atividades
agregadas, que na literatura econômica, é definida como identidade da renda agregada.
Gráfico 6: Composição do PIB entre os rendimentos do Trabalho, Capital e Estado:
Pará e Brasil 2017.

Trabalho Capital Estado


Brasil
44.3% 40.7% 14.9%

Trabalho Capital Estado


Pará
38.8% 51.7% 9.4%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023. Elaboração própria.

Ao analisar a composição do PIB sob esta ótica, fica evidente que o rendimento do
capital tem uma participação maior em comparação com a média brasileira. Como se observa
no gráfico 6, enquanto que, no Brasil, esta participação é de 40,7%, no Pará esta participação
é de 51,7%. Em comparação com o Brasil, fica patente que isto se deve à redução na
participação do estado, que no Brasil é 14,9% e no Pará 9,4%; e do trabalho, que no Brasil é
44,3% e no Pará 38,8%.
Ao segmentar a análise no VA entre as indústrias extrativas de minério de ferro,
minérios metálicos não-ferrosos (cobre, alumínio, manganês, dentre outros) e minérios não
metálicos (caulim, pedras britadas, argila, dentre outros) e compara o Pará com a média
brasileira, as diferenças na distribuição da renda entre rendimentos do trabalho, capital e
estado sobre produção ficam evidentes. O gráfico 7 evidencia que a participação do capital no
valor adicionado bruto, no Pará, é superior à média do Brasil em 7 pontos percentuais. Esta
diferença advém da redução da participação do trabalho no valor adicionado bruto paraense
em relação à média brasileira.
Gráfico 7: Composição do Valor Adicionado Bruto das indústrias extrativas de minério
de ferro e demais minerais não ferrosos (exceto energéticos): Pará e Brasil 2017.

Trabalho Capital Estado


Brasil
13.1% 85.4% 1.4%

Trabalho Capital Estado


Pará
6.7% 92.0% 1.3%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Fonte: Lacam/Unifesspa e Fapespa, 2023. Elaboração própria.

Essa grande participação da remuneração do capital na atividade de extração mineral é


observada também em outras economias, a exemplo tem-se a Austrália (destaque na produção
mundial de minério de ferro) e Minas Gerais por sua relevância nessa atividade em nível
nacional. Especificamente na extração de ferro, observa-se no gráfico 18, que demonstra
dados em anos distintos, porém próximos, apenas com o intuito de se ter uma noção da
participação da renda dos trabalhadores no valor adicionado, que no caso da Austrália
observa-se que é mais de 3 vezes maior em comparação com o Pará. Na média brasileira e em
Minas Gerais a participação da renda dos trabalhadores no valor adicionado também é
superior.
Gráfico 8: Composição do Valor Adicionado Bruto da indústria extrativa de minério de
ferro entre os rendimentos do Trabalho, Capital e Estado.
100.0%
0.7% 1.2% 1.3% 1.1%
90.0%
80.0%
70.0%
60.0%
88.1% 90.6%
50.0% 93.7% 95.2%

40.0%
30.0%
20.0%
10.0%
11.2% 8.2%
0.0% 5.0% 3.7%
Austrália (2017) Brasil (2017) Minas Gerais (2019) Pará (2017)

Trabalho Capital Estado


Fonte: Australian National Accounts: Supply Use Tables (Australian Bureau of Statistics); Sistema de Contas
Nacionais: Tabela de Recursos e Usos (IBGE); Tabela de recursos e usos e matriz de insumo-produto de Minas
Gerais (FJP); Tabela de recursos e usos do Pará (Lacam). Elaboração própria.

A indústria de extração de minério de ferro é uma atividade econômica com alta


concentração de renda, pois ela é intensiva em capital fixo e poupadora de trabalho. Setores
com essa característica tendem a ter uma participação baixa do trabalho na renda. Porém, o
necessário, aqui, é salientar não apenas que esta é uma atividade altamente concentradora de
renda, mas que o patamar desta concentração é muito maior no Pará do que nas médias
brasileiras e australianas, ou mesmo quando a comparação é com Minas Gerais. Isto pode ser
explicado a partir de três elementos que rebaixam os custos, a saber, alto teor de ferro no
minério paraense, uso de tecnologias que poupam mais trabalho do que a média (vide a
sistema truckless – substituição de caminhões guiado por motoristas por correias
transportadoras móveis) e baixa tributação em relação à média de outras atividades produtora
de commodities.
Considerando que, em 2020, 80% do valor da produção mineral brasileira (VPMB)
são exportados, portanto, isentos de ICMS (Lei Kandir) e de PIS/COFINS (MP 2.158-35); e
46% do VPMB são provenientes do Pará, que conta com 75% de isenção de IRPJ por estar na
área da Amazônia. 63,2% do VPMB são isentos de ICMS, PIS-COFINS e parte de IRPJ.
Logo, a base tributável é 36,8% do VPMB. Além disso, a alíquota do royalty do minério de
ferro (CFEM) é de 3,5% sobre a receita bruta, podendo ir para 2% em caso de revés. Em
comparação com o royalty cobrado sobre o petróleo, nota-se diferenças substantivas. A
alíquota é de 10% sobre a receita bruta, podendo ir para 5% em caso de revés (SOUZA
SILVA, et al, 2022).
Ou seja, a maior concentração de renda da indústria de extração de minério de ferro no
Pará, comparativamente, pode ser explicada pela combinação de um bônus natural (alto teor
de ferro), resultado de condições geológicas, uso de tecnologia avançada, produto da
incorporação de P&D&I, e subtributação, cuja decisão está no campo da política.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização da Tabela de Recursos e Usos (TRU) no contexto deste artigo
desempenhou um papel crucial ao permitir uma análise detalhada e precisa da economia
paraense. Ao fornecer uma estrutura metodológica sólida, a TRU se mostrou uma ferramenta
importante para investigar as complexas interações econômicas dentro da região e
compreender como os diferentes setores produtivos estão interligados. Uma das principais
vantagens da TRU é a sua capacidade de fornecer uma visão abrangente da economia regional
em um formato coerente e integrado. Ela possibilita a análise não apenas dos fluxos de
produção e consumo, mas também dos fluxos de recursos, renda e emprego entre os diversos
setores econômicos. Essa abordagem multissetorial permite identificar setores-chave, cadeias
de valor e a dependência entre as atividades econômicas, revelando a dinâmica subjacente da
economia analisada.
A construção da TRU envolveu um intenso trabalho de coleta, tratamento e
organização de dados provenientes de diferentes fontes. A integração dessas informações foi
essencial para garantir a precisão e a confiabilidade dos resultados obtidos. A dedicação em
reunir dados de órgãos federais, estaduais e registros fiscais locais foi um esforço meritório,
pois permitiu capturar nuances específicas da economia paraense que poderiam ser
negligenciadas por outras análises mais amplas. Com a TRU agregada em 42 atividades e 104
produtos, foi possível capturar a diversidade econômica do estado do Pará e, ao mesmo
tempo, criar uma representação abrangente das principais áreas produtivas. Essa segmentação
minuciosa permitiu identificar setores estratégicos e analisar seu desempenho, além de
entender suas relações com a economia nacional e global.
O destaque na análise recaiu sobre o setor de Indústria Extrativa do Pará, que enfrenta
desafios significativos devido à sua dependência e vulnerabilidade. Essa conclusão só foi
possível graças à utilização da TRU, que possibilitou mapear os fluxos de produtos e recursos
nesse setor e analisar suas implicações para a economia como um todo. Além disso, os dados
da TRU revelaram informações valiosas sobre a participação dos trabalhadores na indústria de
extração de minério de ferro do Pará, demonstrando uma contração de renda excessiva em
comparação com médias nacionais e internacionais. Esse tipo de análise detalhada e
específica ressalta a importância da TRU na obtenção de insights profundos que podem
informar políticas públicas voltadas para a equidade e o desenvolvimento social.
Vale mencionar que, embora a TRU seja uma ferramenta poderosa, sua utilização
também apresenta desafios. A construção dessa tabela exige recursos técnicos e financeiros
significativos, além da disponibilidade de dados confiáveis. No entanto, os benefícios obtidos
ao utilizar a TRU para a compreensão da economia paraense superam amplamente esses
desafios, pois os resultados fornecem uma base sólida para a tomada de decisões informadas e
estratégicas.
Em suma, a utilização da Tabela de Recursos e Usos do Pará de 2017 neste artigo
demonstrou a importância e a eficácia dessa ferramenta como instrumento de análise
econômica regional. A TRU permitiu revelar aspectos fundamentais da economia paraense,
como suas interdependências setoriais, suas vulnerabilidades e oportunidades. A partir dessas
informações detalhadas, é possível formular políticas públicas e estratégias de
desenvolvimento mais embasadas, buscando o crescimento econômico sustentável e a
promoção do bem-estar social no estado do Pará. Ademais, com a construção deste
instrumento a nível regional, é possível estimar a Matriz de Insumo Produto (MIP) do Pará,
sem precisar recorrer à TRU do Brasil para realizar esta ação, assim como estimar, com maior
rigor, a MIP intra-regional ou mesmo de municípios do Pará.

REFERÊNCIA:

HALLAK NETO, João. O sistema de contas nacionais: Evolução, principais conceitos e sua implantação no
Brasil. Textos para Discussão, Diretoria de Pesquisas, n. 51, 2014.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Sistema de contas nacionais Brasil:
ano de referência 2010. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016a. (Relatórios Metodológicos, v. 24). 236p. Disponível
em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98142.pdf. Acesso em: maio 2023.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas regionais do Brasil: ano
referência 2010. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016b. (Série Relatórios Metodológicos, v. 37). Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98459.pdf. Acesso em: maio 2023.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Sistema de Contas Nacionais:
estatísticas experimentais: 2018 Tabelas de Recursos e Usos por Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE,
2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/comercio/9052-sistema-de-contas-
nacionais-brasil.html?edicao=34537&t=resultados. Acesso em: maio 2023.
LACAM – LABORATÓRIO DE CONTAS REGIONAIS DA AMAZÔNIA. UNIVERSIDADE FEDERAL DO
SUL E SUDESTE DO PARÁ – UNIFESSPA; FAPESPA – FUNDAÇÃO AMAZÔNIA DE AMPARO A
ESTUDOS E PESQUISAS DO PARÁ. Tabelas de Recursos e Usos do Pará de 2017. Marabá/PA: Unifesspa;
Fapespa, 2023. In: SOUZA SILVA, Giliad de. Tabelas de Recursos e Usos do Pará de 2017. figshare. Dataset.
https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23291702, 2023.
MILLER, R. E.; BLAIR, P. D. Input-output analysis: foundations and extensions. 2. ed. Washington, DC:
Cambridge University Press, 2009.
OLIVEIRA, Lorena Regina; CANQUERINO, Yogo Kubiak; STAMM, Cristiano. Insumo-produto e
desenvolvimento regional: uma análise bibliométrica. Revista Cesumar–Ciências Humanas e Sociais Aplicadas,
v. 27, n. 2, p. 1-21, 2022.
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. System of national accounts 2008. ONU, 2009.
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. System of national accounts 1993. ONU, 1993.
SOUZA SILVA, G.; DUARTE, M.; SOUSA, J. Aspectos tributários e fiscais na mineração da bauxita na
Amazônia brasileira Análise da empresa Mineração Rio do Norte. Porto Alegre/RS: Instituto Justiça Fiscal – IJF,
dez. 2022.

Você também pode gostar