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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 52.954 - MG (2017/0014006-7)


RELATOR :MINISTRO HERMAN BENJAMIN
RECORRENTE :EDNA LUSIA NEVES
ADVOGADOS :RENATO SILVA TERRA - MG135244
MARCIO DA SILVA MACHADO - MG154090
RECORRIDO :ESTADO DE MINAS GERAIS
PROCURADORES :MAURÍCIO LEOPOLDINO FONSECA E OUTRO(S) -
MG055454
MATHEUS FERNANDES FIGUEIREDO COUTO - MG143410

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Trata-se


de Recurso Ordinário interposto contra acórdão assim ementado:

Mandado de segurança – administrativo – servidor – secretário


escolar – cômputo do tempo – aposentadoria especial magistério – impossibilidade
– funções meramente administrativas – direito líquido e certo – ausência –
segurança denegada.
1 – O cômputo do período de exercício em função diversa de
magistério para fins de aposentadoria especial está condicionado ao
preenchimento dos requisitos previstos em lei.
2 – Dado que o cargo de secretário escolar abarca funções
meramente administrativas, sem qualquer conteúdo pedagógico, não pode ser
considerado para os fins da Lei 11.301, de 2006, que permite a aposentadoria
especial apenas para os profissionais que exercem a função de magistério,
direção de unidade escolar e coordenação e assessoramento pedagógico.

Em suas razões, a parte recorrente alega ter sido aprovada no concurso público
para o cargo de professora “P1A” em 30/9/1992. Relata que em 27/5/1993 foi transferida
para a função de chefe de secretaria de escola, permanecendo neste cargo até 11/8/1996.
Aduz que o cargo de chefe de secretaria era exercido pelos professores, pois
inexistia carreira administrativa para ocupar essa função.
Houve contrarrazões.
O Ministério Público opinou pelo desprovimento do apelo:

Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. Administrativo.


Professor. Aposentadoria especial. Cômputo do tempo de serviço prestado como
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chefe de secretaria. Impossibilidade. Ausência de prova pré-constituída de
exercício de funções de assessoramento ou coordenação. Parecer pelo
conhecimento e desprovimento do recurso.

É o relatório.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 52.954 - MG (2017/0014006-7)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os autos


foram recebidos neste Gabinete em 14.2.2017.
Não merece prosperar a irresignação.
No caso dos autos, o Tribunal local consignou:

Em análise do direito líquido e certo ameaçado de lesão, tenho que


não merece acolhimento a pretensão da impetrante.
É que a aposentadoria especial é concedida aqueles profissionais
que exercem a função de magistério, bem como aqueles da direção de unidade
escolar e coordenação e assessoramento pedagógico, tão somente.
Trata-se de um incentivo e uma compensação para aqueles que
desempenham atividades que exigem maior vigor físico, a justificar a
aposentadoria precoce, prevista no art. 40 § 5º da Constituição da República.
Conquanto a impetrante demonstre ter exercido atividades
administrativas na secretária escolar, elas não se amoldam ao fim que a Lei
11.301, de 2006 quis preservar quanto às funções de magistério. Trata-se de
funções de cunho meramente administrativo, sem qualquer conteúdo pedagógico.

A Constituição Federal de 1988 estabelece os requisitos para aposentadoria


dos servidores públicos e professores:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e
fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário,
mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos
e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial e o disposto neste artigo.
(...)
§ 5º – Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão
reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o professor
que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.

Em 26/11/2003 o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 726, assim


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dispondo: "Para efeito de aposentadoria especial de professores, não se computa o tempo de
serviço prestado fora da sala de aula."
Posteriormente, adveio a Lei 11.301/2006, que modificou a redação do artigo
67 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996), estabelecendo o seguinte
(grifei):

Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos


profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e
dos planos de carreira do magistério público:
(...)
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art.
201 da Constituição Federal, são consideradas funções de magistério as
exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de
atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação
básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício
da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e
assessoramento pedagógico.

A constitucionalidade do artigo 1º da Lei 11.301/2006, que acrescentou o § 2º,


ao artigo 67, da Lei Federal 9.394/1996 foi questionada no STF na ADI 3.772/DF. Na
ocasião, o Suprema Corte julgou parcialmente procedente o pedido para excluir do direito à
aposentadoria especial, os especialistas em educação, mantendo o benefício para os
professores de carreira, ainda que em exercício de atividades de direção, assessoramento ou
coordenação.
Confira-se a ementa do julgado:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


MANEJADA CONTRA O ART. 1º DA LEI FEDERAL 11.301/2006, QUE
ACRESCENTOU O § 2º AO ART 67 DA LEI 9.394/1996. CARREIRA DE
MAGISTÉRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL PARA OS EXERCENTES
DE FUNÇÕES DE DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ASSESSORAMENTO
PEDAGÓGICO. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 40, § 5º, E 201, § 8º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. AÇÃO JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE, COM INTERPRETAÇÃO CONFORME.
I – A função de magistério não se circunscreve apenas ao
trabalho em sala de aula, abrangendo também a preparação de aulas, a correção
de provas, o atendimento aos pais e alunos, a coordenação e o assessoramento
pedagógico e, ainda, a direção de unidade escolar.
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II – As funções de direção, coordenação e assessoramento
pedagógico integram a carreira do magistério, desde que exercidos, em
estabelecimentos de ensino básico, por professores de carreira, excluídos os
especialistas em educação, fazendo jus aqueles que as desempenham ao regime
especial de aposentadoria estabelecido nos arts. 40, § 5º, e 201, § 8º, da
Constituição Federal.
III – Ação direta julgada parcialmente procedente, com
interpretação conforme, nos termos supra.
(ADI n. 3.772/DF, rel. p/ acórdão Min. Ricardo Lewandowski,
Tribunal Pleno, j. 29-10-2008).

O Superior de Tribunal de Justiça tem se alinhado à jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal e decidido que a função de magistério abrange não só o trabalho em sala de
aula, como também a preparação de aulas, a correção de provas, o atendimento a pais e
alunos, a coordenação e o assessoramento pedagógico e a direção de unidade escolar, desde
que exercidos, em estabelecimentos de ensino básico, por professores de carreira, excluídos
os especialistas em educação.
A propósito:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.


CONSTITUCIONAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. APOSENTADORIA ESPECIAL DE PROFESSOR.
CÔMPUTO DO TEMPO DE SERVIÇO EXCLUSIVAMENTE PRESTADO
EM EFETIVO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES DE MAGISTÉRIO, MESMO QUE
FORA DA SALA DE AULA. POSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO
FIRMADO NO JULGAMENTO DA ADI N. 3.772/DF PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. NÃO INCLUÍDA, ENTRETANTO, A ATIVIDADE
DE "RESPONSÁVEL POR BIBLIOTECA". DECISÃO MONOCRÁTICA
FUNDAMENTADA EM JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A Constituição de 1988, cujo art. 40, III, b, em sua redação
original, dispunha que o servidor seria aposentado voluntariamente aos trinta anos
de efetivo exercício em funções de magistério, se professor, e vinte e cinco, se
professora, com proventos integrais.
A partir da Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de
1998, a aposentadoria especial passou a ser devida ao professor que comprove
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
educação infantil e no ensino fundamental e médio.
2. É certo que, em sessão plenária realizada no dia 26 de
novembro de 2003, no STF, foi aprovada a Súmula n. 726, do seguinte teor: "Para
efeito de aposentadoria especial de professores, não se computa o tempo de
serviço prestado fora da sala de aula." No entanto, em 29 de outubro de 2008, no
julgamento da ADI n. 3772/DF (Rel. p/ acórdão Min. Ricardo Lewandowski, DJe
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27.3.2009), o Supremo Tribunal Federal, por maioria, decidiu que as funções de
direção, coordenação e assessoramento pedagógico integram a carreira do
magistério, desde que exercidos, em estabelecimentos de ensino básico, por
professores de carreira, excluídos os especialistas em educação, fazendo jus
aqueles que as desempenham ao regime especial de aposentadoria estabelecido
nos arts. 40, § 4º, e 201, § 1º, da atual Constituição.
3. Na petição inicial, a professora entende que deveriam ser
computados os períodos prestados como "responsável por biblioteca".
Entretanto, a ADI n. 3.772 não abarca a atividade em questão de
"responsável por biblioteca".
4. A decisão monocrática ora agravada baseou-se em
jurisprudência do STJ, razão pela qual não merece reforma.
5. Agravo regimental não provido.
(STJ, AgRg no RMS 41.701/SC, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 19/12/2014).

No caso, a recorrente exerceu a função de chefe de secretaria, não


comprovando, contudo, ter exercido as funções de direção de unidade escolar ou as de
coordenação e assessoramento pedagógico.
É certo, conforme exposto pelo parecer do Ministério Público Federal, que
apenas a nomenclatura do cargo não deve ser considerada para aferir se a recorrente exercia
ou não apenas função burocrática. Ocorre que, ainda que se afaste a observância da
nomenclatura do cargo, a impetrante não comprovou por meio de prova pré-constituída que
laborou em coordenação ou assessoramento pedagógica, tampouco na direção de unidade
escolar.
Neste contexto, ausente a ofensa a direito líquido e certo, não se pode
conceder a segurança.
Diante do exposto, nego provimento ao Recurso Ordinário, ficando
facultado à impetrante pleitear o seu direito nas vias ordinárias.
É como voto.

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