Você está na página 1de 8

Apresentação do curso

O império da escravidão - da América Portuguesa ao


Brasil independente

Rafael Marquese
DH/FFLCH/USP
2o semestre 2022
Historiografia da escravidão como filha do abolicionismo (virada do XVIII para o XIX).
Como a matéria se expressou no Brasil do século XIX?

1) Memorialistas e panfletistas da primeira metade do século XIX:


José Bonifácio de Andrada e Silva, Representação à Assembléia Geral e Constituinte do império do Brasil sobre a escravatura
(1823/1840)

Frederico Leopoldo César Burlamaqui, Memória analítica acerca do comércio de escravos e da escravidão doméstica (1837)

João Manoel Pereira da Silva, Brasil e Inglaterra: tráfego de escravos (1845)

2) Francisco Adolfo de Varnhagen, História Geral do Brazil (1854-1857)

3) Agostinho Rodrigues Perdigão Malheiro, A escravidão no Brasil: ensaio histórico-jurídico-social (1866)

4) Joaquim Nabuco, O Abolicionismo (1883)


Primeira metade do século XX

O silêncio de Capistrano de Abreu (Capítulos de História Colonial, 1907)

Os herdeiros do abolicionismo (Evarismo de Moraes, Escravidão africana no Brasil. Das origens à extinção, 1933)

A obra matricial de Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala, 1933; Sobrados e Mocambos, 1936).

O lugar da escravidão em Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Jr (1942) (cap."Org.Social")

As obras de fora da academia: Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares (1946/1947), Maurício Goulart, A
escravidão africana no Brasil. Das origens à extinção do tráfico (1949).
A escravidão na academia: a produção uspiana, 1955-1973

A resposta ao Projeto Unesco (cf. Marcos Chor Maio, A história do Projeto Unesco: estudos raciais e ciências sociais no Brasil. Doutorado-
Iuperj, 1997)

F. Fernandes & R. Bastide, Relações Raciais entre Brancos e Negros em São Paulo (1955)
Fernando Henrique Cardoso, Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional (1961/1962)
Octávio Ianni, As Metamorfoses do Escravo (1961/1962)
F. Fernandes, A integração do negro na sociedade de classes (1965)

A especificidade de Maria Sylvia de Carvalho Franco (Homens Livres na Ordem Escravocrata, 1964/1968)

Os historiadores:
Emília Viotti da Costa, Da Senzala à Colônia (1964/1966)
Fernando Novais, Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1973/1979)
A produção dos brasilianistas nas décadas de 1950-1960:
Stanley Stein, Vassouras. Um município brasileiro do café, 1850-1900 (1957)
Charles Boxer, Relações raciais no Império português, 1415-1825 (1963)

O trabalho ímpar de Pierre Verger, Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do
Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX (1968)

O campo do marxismo brasileiro na década de 1970:


A obra de Ciro Flamarion Santana Cardoso: “O modo de produção escravista colonial
na América” (1975); “As concepções acerca do ‘Sistema Econômico Mundial’ e do
‘Antigo Sistema Colonial’: a preocupação obsessiva com a ‘Extração do Excedente’”
(1978/1980); Agricultura, escravidão e capitalismo (1979)

Jacob Gorender, O escravismo colonial (1978).


A produção dos brasilianistas na década de 1970

Robert Toplin, The Abolition of Slavery in Brazil (1972)

Robert Conrad, Os últimos anos da escravatura no Brasil, 1850-1888 (1973)

Warren Dean, Rio Claro. Um sistema brasileiro de grande lavoura, 1820-1920 (1976)

John Russell-Wood, Escravos e Libertos no Brasil Colonial (1982)

Stuart B. Schwartz: pesquisa sobre escravidão e alforrias na Bahia com Kátia Mattoso
Artigo de 1974 na HAHR; resultados particulares em 1982 (Ser escravo no Brasil, Mattoso) e 1985 (Segredos
Internos, de Schwartz)

Robert Slenes, The demography and economics of Brazilian slavery, 1850-1888 (1976)
A reorganização da academia brasileira na virada para a década de 1980

Doutorados no exterior:

Roberto Borges Martins, Crescendo em Silêncio (Vanderbilt, 1980)


João José Reis, Rebelião escrava no Brasil (Minneapolis, 1982)
Luiz Felipe de Alencastro, O Trato dos Viventes (Paris, 1986)

FEA / USP (sob Alice Canabrava): Iraci del Nero da Costa & Francisco Vidal Luna [textos reunidos em livro publicado
com Herbert S. Klein, Escravismo em SP e MG, 2009]

UFF (sob Ciro Cardoso e Yedda Linhares): mestrados e doutorados de João Fragoso (1986/1990), Hebe Mattos
(1986/1993) e doutorado de Manolo Florentino (1991)

Unicamp (sob Peter Eisenberg e R. Slenes): Célia Maria Marinho Azevedo (mestrado - 1983), Sidney Chalhoub
(doutorado - 1989) [Silvia Lara: doutorado com F. Novais (DH/USP), 1986; P.T. Machado/Cristina Wissenbach: mestrado
e doutorado com Maria Odila L. da Silva Dias, 1985-1994]

1988 como ano-chave (congressos & publicações)

O episódio da Escravidão Reabilitada, de Jacob Gorender (1990).

Dois livros paradigmáticos: Visões da Liberdade (1990) e Arcaísmo como Projeto (1993).
Consolidação do campo após a década de 1990, com as novidades vindo da culturalização da história social:
Estudos sobre
1) identidades africanas;
2) história social do direito (escravos como sujeitos na justiça);
3) alforrias;
4) demografia;
5) resistência escrava;
6) escravidão urbana;
7) tráfico (transatlântico e interno);
7) escravidão indígena / africana.

Explosão de monografias locais para cada um desses temas.


Ponto comum: crítica ao discurso estrutural, ênfase nos sujeitos / agentes.
Retração relativa da história econômica da escravidão.

Você também pode gostar