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MOVIMENTO GUERREIROS DO VALE

CÍRCULO DE HOMENS - SAGRADO MASCULINO

IMERSÃO “VIRTUDES TRANSCENDENTAIS”

A VERDADE

NOME DO GUERREIRO:

Março de 2023.

1
“A todos que buscam no autoconhecimento a evolução desta passagem, aqui estamos
todos juntos neste estudo com o propósito único em nos desenvolvermos para que
espíritos melhores possamos ser, sejam todos muito bem-vindos”.

Comissão MGV, março de 2023.

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SUMÁRIO

- Apresentação ............................................................... Página 05

- Virtudes transcendentais.............................................. Página 07

- Por que buscar a verdade?............................................ Página 12

- As concepções da Verdade............................................ Página 17

- Buscando a Verdade...................................................... Página 22

- Vivendo a experiência da Verdade................................ Página 25

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Queremos agradecer por você estar aqui conosco.
Que seu firmamento seja sua maior conquista.
Ahoo!

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APRESENTAÇÃO

“Ó homem, conhece-te a ti próprio, e tenhas a coragem e firmeza de mirares na


própria face”.

Superes o medo dos abismos, que diante de ti surgirão. Encontres a confiança, na


entrelaçante sabedoria que te criou e que aguarda a tua colaboração.

“Pleno de força, e em Amor, siga teu caminho, como se olhos espirituais o revelassem a
ti, passo a passo.”

(Rudolf Steiner)

Autoconhecimento – A habilidade de ouvir e compreender a si


mesmo, conhecendo seus medos, as suas angústias e as suas
potencialidades. É preciso mais do que simplesmente curiosidade para
despertar o processo de conhecer a si mesmo. Na realidade, na maioria
das vezes o que “starta” esse processo é algum tipo de desconforto, em
menor ou maior grau: o surgimento de uma doença, falta de propósito
pessoal, problemas de relacionamento etc. Na busca por sanar esses
conflitos a pessoa inexoravelmente confronta consigo mesma, mira a
própria face!

À medida que o estado de presença e autoconsciência expandem,


observamos que todos os conflitos e circunstâncias que nos afetam,
agradáveis ou não, tem por objetivo nos conduzir a uma melhor
compreensão de nós mesmos.

O autoconhecimento, portanto, sugere a Autorrealização. A


autorrealização é um impulso inato de todo ser humano. O
desenvolvimento das forças vivas únicas de seu Eu real, a clareza e a
profundidade de seus próprios sentimentos, pensamentos, desejos e
interesses; além da capacidade de usar seus próprios recursos, a força de
sua Vontade. Tudo isso, com o tempo, permitirá que encontremos nossos
conjuntos de valores e objetivos na Vida!

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“Observar-me para me conhecer, me conhecer para crescer, crescer para me
transformar, e me transformar para incrementar minha sensibilidade, e poder
compreender a missão que tenho na Terra”.

(Alberto Kuselman)

O autoconhecimento conduz à autorrealização, a autorrealização


conduz à perfeição! Pode soar exagero num primeiro momento, mas
analisando a etimologia da palavra “perfeição”, concluiremos que é uma
meta atingível. A palavra grega para perfeição é TÉLEIOS, que também
pode ser traduzida como completo, maduro ou plenamente desenvolvido.
Tornamo-nos perfeitos quando praticamos a EXCELÊNCIA, no que quer
que façamos, damos nosso melhor, em nosso nível de consciência.
“Amadurecer e crescer significa tornar-se capaz de lidar com o ritmo entre felicidade e
infelicidade. Amadurecer significa suportar o movimento que sempre volta, entre leve e
pesado, entre alto e baixo, entre avanço e recuo. Eu não quero desistir quando estiver
indo mal, e não quero decolar para o inalcançável quando estiver feliz. Amadurecer
significa atribuir a mim próprio o que consigo fazer, empenhar toda a minha energia
em alcançá-lo. Nem mais, nem menos.”

(Ulrich Schaffer)

Tal perfeição não visa a vaidade pessoal e não incita competição ou


comparação com outros irmãos. Mas sim visa superação de si próprio, das
limitações e condicionamentos que nos impedem de ser quem somos, e
entregar ao mundo nossa melhor versão. Buscar a perfeição é um ato de
comprometimento com a Vida. Movimentar-se através de um propósito
maior do que nós mesmos, pautada na harmonia com as leis da Natureza.

Visando aprofundar nosso autoconhecimento, o grupo MGV


apresenta neste estudo o tema “virtudes transcendentais” – Verdade,
Bondade e Beleza. Teremos durante o ano de 2023 uma série de três
encontros, cada qual abordando uma virtude.

Iniciaremos nossa jornada pela virtude da Verdade. Mas antes disso,


o que seriam as virtudes Transcendentais do Ser?

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1 - Virtudes Transcendentais

Verdade, Bondade e Beleza

“Admirar a beleza, defender a verdade

Venerar a nobreza, escolher a bondade

Assim é que o Homem será conduzido às metas da Vida,

Aos retos caminhos, na hora em que age:

À paz, quando sente

À luz, quando pensa

E aprende a confiar na regência divina

Em tudo que há, na vastidão do Cosmo,

No fundo de sua Alma.

(R. Steiner)

O conceito de Verdade, Bondade e Beleza remonta a antiguidade,


encontrando suas primeiras expressões no Bhagavad Gita e nos
ensinamentos de Platão, e mais tarde concebido por Aristóteles, como
três das propriedades transcendentais primárias do Ser – propriedades
que representam as três categorias primárias de conhecimento; a saber –
A Ciência (verdade, campo teórico), as Artes (beleza, campo estético) e a
Religião (bondade, campo prático).

Os filósofos católicos da Idade Média, em especial Tomás de Aquino


e Santo Agostinho, defendiam que os transcendentais Verdade, Bondade
e Beleza eram as propriedades mais superiores, essenciais e absolutas do
Ser, e abrangiam toda a revelação da realidade divina.

Como os 3 lados de um prisma, o bom, o belo e o verdadeiro;


refletem a Luz Branca na consciência em todo o espectro da experiência
humana. De forma praticamente automática, sempre desejamos aquilo
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que é bom, buscamos apreciar o belo, e queremos acreditar no que é
verdadeiro. A busca por essa tríade é, portanto, nada mais nada menos do
que a bússola para que o homem se encontre com Criador.

O Salmista Davi por exemplo, conhecido por sua sabedoria e


devoção, registrou seu profundo anseio em estar na presença de Deus. Ele
elencou 3 razões:

1. Para contemplar a Beleza de Deus,


2. Para aprender no seu Templo,
3. Para espalhar a Bondade de Deus sobre a Terra.

A grandeza dessas virtudes, presentes em nós, conduzem por


analogia ao Criador. Nós seres humanos, precisamos da Bondade em
nossas vidas tanto quanto precisamos da Verdade e da Beleza. Há
profundas conexões entre estas 3 virtudes, uma relação de permutação. A
presença de qualquer uma delas, implica invariavelmente à presença das
demais. Quando algo É, mas é realmente dizemos que é de verdade, ou
que é bom, ou que é belo; empregados no sentido de plenitude. Vejamos
como a linguagem comum autoriza a permutação dos Transcendentais:

- Você precisa descansar de Verdade! (um bom descanso, ou um belo


descanso)
- Uma boa dose de vinho, por favor! (uma dose de verdade, uma bela
dose)
- Que cálculo mal feito! (cálculo feio, falso ou errado. A negação dos
transcendentais também converge entre si).

Mas por que Transcendentais? Transcendental remete a elevação,


aquilo que ultrapassa os limites da razão material, ou que poderiam ser
percebidos (cognoscível) pela experiência humana através dos sentidos
físicos, algo que excede a natureza física das coisas. Sem querer explorar
as ricas consequências filosóficas e teológicas desse enunciado, podemos
compreender que Verdade, Bondade e Beleza, ou seja, tudo que É, traz a
marca do ato criador de Deus.

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Tomás de Aquino distingue 5 vias para caracterizar o conhecimento
e “provar” a existência de Deus. Na realidade tais provas são
considerações lógicas a partir de postulações. Um postulado é uma
preposição, que apesar de não ser evidente, é considerada verdadeira
sem discussão.

Não abordaremos nesse estudo tais vias, com exceção da quinta - O


postulado do Governo Supremo. Essa via da fala questão da ordem e
finalidade que a suprema inteligência governa todas as coisas, dispondo-
as de forma organizada racionalmente, o que evidencia a intenção da
existência de cada Ser.

Não se chega à ordem pelo acaso. Logo postula-se que haja um ser
inteligente, que supre as demandas de causa-efeito encontradas nos
mistérios universais (origem da Vida, arquitetura dos planetas, a
consciência etc).

Admitindo esse postulado como verdadeiro, compreendemos que


Deus, o Absoluto, é a manifestação absoluta de toda e qualquer virtude
que possamos manifestar (princípio da analogia) enquanto humanos. Deus
é Amor, Deus é a Verdade, Deus é a Bondade e assim por diante. Tais
virtudes são transcendentais portanto, porque tem a sua finalidade e
completude em Deus, sendo assim anteriores a qualquer experiência.

“Eu te invoco, Deus Verdade, em quem, por quem e mediante quem é verdadeiro tudo
que é verdadeiro. Deus Sabedoria, em quem, por quem e mediante quem têm
sabedoria todos os que sabem. Deus, verdadeira e suprema Vida, em quem, por quem
e mediante quem tem vida tudo o que goza de vida verdadeira e plena. Deus felicidade,
em quem, por quem e mediante quem são felizes todos os seres que gozam de
felicidade. Deus Bondade e Beleza, em quem, por quem e mediante quem é bom e belo
tudo o que tem bondade e beleza. Deus, de quem separar-se significa cair, a quem
retomar significa ser firme. De quem afastar-se é morrer, ao qual voltar é viver... Deus,
achega-te a mim com benevolência”.

(Agostinho de Hipona)

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Através de nossa consciência espiritual, admitimos a existência de
uma realidade transcendental, vislumbramos a isto, ainda que nossa
realidade material (imanente) não permita que tal conceito chegue a ser
cognoscível por nossos sentidos físicos.

Os olhos da Carne não contemplam a realidade do Espírito!

Interessante repararmos que todo ser humano possui profundo


anseio de transcendência. Pode-se alcançar tal estado por meio da
meditação, das plantas de poder, da religiosidade/espiritualidade ou num
polo oposto, através das drogas ilícitas, do alcoolismo etc. É um potencial
inato e haverá de ser suprido.

A expressão positiva do potencial de transcendência está na pessoa


que consegue transcender as questões do cotidiano e as limitações do
pequeno Eu (ego) sem que isso traga prejuízo físico, mental ou emocional
para si ou aos demais à sua volta. É a pessoa que percebe a realidade
material das coisas, mas compreende a realidade transcendental das
coisas, e, portanto, vive de acordo com valores nobres e elevados.

Na expressão negativa do potencial de transcendência temos


alguém que anseia viver tal estado, mas ainda não encontrou ferramentas
ou meios saudáveis para o fazê-lo. Sendo assim, pode cair nas armadilhas
do alcoolismo por exemplo, o que aos poucos desestrutura o self e a
capacidade cognoscitiva de se aproximar da realidade espiritual
infinitamente boa, bela e justa.

Nesse ponto de vista, o caminho para a reintegração com o Divino, a


verdadeira Felicidade, é a busca e a adequação saudável da realidade
transcendental (espiritual, não palpável) à realidade material (imanente,
física).

Isto é o homem, a encarnação da consciência em um corpo animal.


Se o animal domina a consciência; transcendência negativa (Minotauro),
se a consciência domina o animal; transcendência positiva (Centauro).

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Explorando mais precisamente sobre as virtudes verdade, bondade e
beleza, voltemos aos ensinos de Aquino: sendo a alma uma substância
espiritual, a Verdade (verum) e a Bondade (bonum), a saber – o
conhecimento e a vontade, fundam-se nas relações entre elas e as coisas.
O conhecimento implica à assimilação da coisa pelo intelecto, ao passo
que a vontade indica a inclinação a coisa.

Aqui temos a expressão de duas potências: cognoscitiva, expressa


pela verdade, e apetitiva, expressa pela bondade. Bonum indica a
perfeição da coisa. Algo move nosso apetite por quê é perfeito em si. Ser
perfeito em si significa ter atualizado todas as suas potências. Por sua vez,
isso significa propiciar a perfeita assimilação de sua forma (conhecimento).
O homem conhece (verdade) e depois deseja (bondade).

Um exemplo simples para descomplicar é o seguinte: imagine uma


folha em branco e uma caneta à sua frente. Você conhece a propriedade
desses materiais, sabe como utilizá-los. É minha potência cognoscitiva que
me permite isto. O desejo, vontade ou apetite (bonum), impulsiona ou
possibilita que você utilize esses materiais para transcrever uma receita,
deixar um recado ou qualquer coisa do tipo.

Enquanto racionais, o conhecimento precede à vontade. E a beleza,


onde se encaixa nesse enredo? Maritain defendia que a Beleza é o
esplendor de todos os transcendentais reunidos. A beleza é a Harmonia
entre as potências, e a harmonia é um pressuposto para a Vida. O belo
não inspira sentimento de posse, mas sim de nostalgia, uma saudade de
Casa, de um lugar que sentimos já ter pertencido ainda que nunca
tenhamos visitado. Chamamos a isso de saudade do futuro.

A Beleza evoca a recordação da Unidade. É a união da verdade


conhecida pela inteligência e do bem desejado pela vontade. Buscar a
Verdade, praticar a Bondade e contemplar a Beleza. Eis o mapa da
autorrealização, as virtudes que nos guiarão no caminho com integridade,
propósito e harmonia.

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2 - Por que buscar a verdade?
“E conhecereis a verdade e a Verdade vos Libertará”

(Joao, 8:32)

Antes de nos atermos ao conceito de Verdade propriamente dito,


consideremos sobre a Liberdade, a consequência de se conhecer a
Verdade, nas palavras de Cristo.

O que é Liberdade? Leiamos parte deste poema de Rudyar Kipling


intitulado “SE”:
Se és capaz de manter tua alma calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,


ou enganado não mentir ao mentiroso,
Ou sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso...

Se és capaz de dar, segundo por segundo,


ao mínimo fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo.
e - O que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

Liberdade nesse sentido é a autodeterminação da vontade, a autonomia


de colocar para si mesmo as próprias leis morais. A pessoa livre, no
sentido pleno da palavra, determina sua vontade de acordo com um
código moral interno. Não há necessidade de um sistema religioso ou
político para lhe coibir ou induzir a prática do certo ou errado. Isso não
significa, entretanto, fazer tudo o que se deseja (libertinagem) ou colocar
se acima das leis, sobrepujando a vontade alheia. Significa apenas que
independente de um código moral externo, a pessoa livre tem uma
determinação da Vontade pautada em valores muito superiores a
satisfação de desejos e interesses transitórios. A liberdade citada por
Cristo é uma virtude espiritual! É livre o indivíduo que conhece a potência
de sua Vontade e se inclina ou determina que esta seja usada para
conduzir a si mesmo e a todos seres, na direção do Bem que lhes é devido!

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A ausência de liberdade se equipara ao medo: medo da realidade,
medo dos outros. A ausência de liberdade significa agarrar-se as ilusões e
aos preconceitos, e as vezes até mesmo mentiras. Ausência de liberdade é
ser governado por compulsões desenfreadas e pensar que apenas nós
detemos a verdade, e julgar que os demais são ignorantes ou estão
errados. A ausência de liberdade é pautada num fundamentalismo vedado.
Quem não é livre, está preso!

No sentido intelectual, preso as próprias circunstâncias, incapaz de


enxergar novas possibilidades, refém da opinião alheia, inseguro em si. A
potência de Transcendência o convida ao crescimento, mas as amarras
são inúmeras. Há um condicionamento limitante que transmite uma falsa
sensação de segurança e que impede o indivíduo de expandir os próprios
horizontes a luz do bem que lhe é devido.

“livre é o homem que se despe de tudo aquilo que o distancia de sua


natureza Divina”

E é neste ponto que a Verdade nos liberta. A busca da verdade guia


o Ser no cumprimento leal do propósito de sua Alma. Como vimos
anteriormente, a Verdade corresponde ao campo teórico, ao
Conhecimento. É preciso conhecer a Verdade para determinar o bom uso
da Vontade. Ainda não entramos no conceito da palavra verdade em si,
mas por hora ela corresponde a retidão ou exatidão.

Vivemos em tempos em que o descrédito e as fantasias são


socialmente normalizadas e até mesmo valorizadas. A era digital traz a
possibilidade quase infinita para construirmos personagens que atuam
através de nós e nossas referências de bons homens, em sua maioria são
ídolos da música, esporte ou algo do tipo, pessoas comuns também
envoltas em um Personagem que raramente inspiram a consecução de
bons valores. Podemos dizer que nunca antes vivemos tanto na caverna
de Platão, como nos dias de hoje. A imagem da Verdade é repetida de tal
maneira a ponto de substituir a própria Verdade. O mundo audiovisual
com seu excesso de estímulos (distrações) e a facilidade com que as
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pessoas têm acesso ao consumo de informações favorece esse
“aprisionamento”.

Essa imagem da verdade é apresentada de modo atraente, e por


vezes acabamos - nos vinculados a ela como peixes num anzol. O senso de
pertencimento também colabora para que essa imagem perdure e por fim
se normalize: parece ser desse jeito que o mundo opera, dessa maneira
que a banda toca. É assim que o nevoeiro das ilusões e distrações age no
mundo, de modo a confundir ou distrair aqueles que buscam caminhar em
Verdade. Aos poucos aquilo que é transitório e fugaz pode tomar um
espaço imenso em nossas vidas, sugando nossa energia numa falsa
promessa de que seremos felizes ou completos se assim o fizermos ou isso
realizarmos.

Eis a importância de buscar conhecer a Verdade! Afastar-se das


ilusões e através da liberdade atingir a plena Felicidade. A consciência à
nossa realidade transcendental (espiritual) bem aplicada a nossa realidade
material (imanente, física).

A Verdade é um ato de revolução portanto. Uma força moderadora


que traz o equilíbrio através da Justiça. A verdade não busca ser agradável
para nos confortar, nem faz concessões por interesse.

Voltamos ao mito de Platão, a conhecida Alegoria da Caverna:

Um grupo de pessoas vivia em uma caverna desde que nasceram.


Eles tinham todo o seu corpo amarrado por correntes e que, por isso, não
podiam se mexer e muito menos olhar ao redor. Eles eram obrigados a
olharem única e fixamente para uma parede escura e vazia. Atrás deles
havia uma grande fogueira e como não podiam vê-la, outras pessoas
passarem por ela e o fogo projetava as sombras diretamente na parede
para a qual os acorrentados olhavam fixamente.

Como não podiam se mexer, eles acreditavam que aquelas sombras


eram as únicas verdades sobre o mundo em que viviam. Um dia, um deles
se libertou e conseguiu sair de dentro da caverna. De início a luz solar, a
claridade e o acesso a um universo composto pelas mais variadas cores e
formas o fizeram recuar, visto que aquilo lhe ardia os olhos, bem como o
assustava. Aos poucos ele resolve se aventurar e sair novamente. Devagar
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ele foi abrindo os olhos e quando conseguiu abrir por completo foi de
encontro aos lugares e fez descobertas incríveis sobre o mundo que o
cercava, deixando cada vez mais a caverna de lado.

Com o intuito de partilhar esse conhecimento, ele decide voltar e


contar aos outros prisioneiros tudo que havia descoberto. Porém, eles não
acreditaram nos relatos que trouxera. Chamavam-no de louco. Foram
muitas tentativas em contar a verdade sobre a superfície e o mundo da
maneira que era, mas essas tentativas acabaram por enfurecer seus
colegas ainda mais. Julgaram que devia estar louco de fato, e que seu
comportamento expunha os demais ao perigo. Seus companheiros
terminam por tirar a vida daquele que lhes falava sobre a liberdade e a
verdade.

A caverna é nosso mundo. As correntes representam as nossas


ignorâncias: Limitações culturais, senso comum crenças etc. Seguindo esse
raciocínio, em vez de buscarmos respostas concretas e verdadeiras nos
atemos as nossas ideias e procuramos eliminar aqueles que discordam
delas, simbolicamente falando.

Está livre da corrente a pessoa que vai além do senso comum e das
próprias opiniões. Há um espaço para a desconstrução em si, para mirar
novas ideias, fatos e experiências. O mito também é uma forma de dizer
que são poucas as pessoas que tentam ver o exterior. Entender a cultura,
a fé e os pensamentos do outro. A maioria simplesmente não aceita aquilo
que não conhece, vendo-o de forma negativa. É preciso humildade para
reconhecermos que a busca pela verdade é um caminho de desconstrução
e que dado nossas limitações, precisamos admitir e aceitar a possibilidade
de que estamos errados!

Buscar amar a verdade são a base para propagarmos a bondade e a


beleza em nossa Vida. Buscar a Verdade para retirar o véu das ilusões que
cobrem o real entendimento acerca das coisas. Buscar a Verdade para sair
da dúvida, do relativismo e da indiferença e tomarmos uma posição de
ação em convergência com nobre valores.

“A verdade do homem está em seu coração silencioso, nunca em sua mente faladora”
15
(Khalil Gibran)

A verdade é incomunicável como é incomunicável o sublime êxtase


que sentimos quando contemplamos um pôr do Sol.

A verdade é questão de experiência mística, e só através do êxtase


podemos experimentá-la.

A verdade nada tem a ver com as opiniões.

A verdade é imutável, está além do tempo e da eternidade.

Quando o desfile de pensamento cessa, a mente fica em profundo


silêncio, aí então a essência da mente escapa e advém a experiência
daquilo que é Verdade.

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3 - As concepções da Verdade

(grego, latim e hebraico)

Nossa ideia da verdade foi construída ao longo dos séculos, a partir


de três concepções diferentes, vindas da língua grega, da latina e da
hebraica. Em grego, verdade se diz aletheia, significando: não-oculto, não-
escondido, não-dissimulado. O verdadeiro é o que se manifesta aos olhos
do corpo e do espírito; a verdade é a manifestação daquilo que é ou existe
tal como é. O verdadeiro é o evidente ou o plenamente visível para a
razão.

Assim, a verdade é uma qualidade das próprias coisas e o


verdadeiro está nas próprias coisas. Conhecer é ver e dizer a verdade que
está na própria realidade e, portanto, a verdade depende de que a
realidade se manifeste,
enquanto a falsidade depende de que ela se esconda ou se dissimule em
aparências.

Em latim, verdade se diz veritas e se refere à precisão, ao rigor e à


exatidão de um relato, no qual se diz com detalhes, pormenores e
fidelidade o que aconteceu. Verdadeiro se refere à linguagem enquanto a
narrativa de fatos acontecidos, refere-se a enunciados que dizem
fielmente as coisas tal como foram ou aconteceram. Um relato é veraz ou
dotado de veracidade quando a linguagem enuncia os fatos reais.

A verdade depende, de um lado, da veracidade, da memória e da


acuidade mental de quem fala e, de outro, de que o enunciado
corresponda aos fatos acontecidos. A verdade não se refere às próprias
coisas e aos próprios fatos (como acontece em aletheia), mas ao relato e
ao enunciado, à linguagem. As coisas e os fatos não são reais ou
imaginários; os relatos sobre eles é que são verdadeiros ou falsos.

Em hebraico verdade se diz emunah e significa confiança. Agora são


as pessoas e é Deus quem são verdadeiros. Um Deus verdadeiro ou um
amigo verdadeiro são aqueles que cumprem o que prometem, são fiéis à
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palavra dada ou a um pacto feito; enfim, não traem a confiança. A
verdade se relaciona com a presença, com a espera de que aquilo que
foi prometido irá cumprir-se ou acontecer.

Emunah é uma palavra da mesma origem que Amém, que significa:


assim seja. A verdade é uma crença fundada na esperança e na confiança,
referidas ao futuro, ao que será ou virá. Sua forma mais elevada é a
revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia.

Aletheia se refere ao que as coisas são;


Veritas se refere aos fatos que foram;
Emunah se refere às ações e as coisas que serão.

A nossa concepção de da verdade é uma síntese dessas 3 fontes, e


por isso se refere às coisas presentes (como na aletheia), aos fatos
passados (como na veritas) e às coisas futuras (como na emunah).

Também se refere a própria realidade (aletheia), à linguagem


(veritas) e à confiança-esperança (emunah). Palavras como “averiguar e
“verificar” indicam buscar a Verdade; “veredicto” é pronunciar um
julgamento verdadeiro, dizer um juízo veraz; “verossímil” e
“verossimilhante” significam ser parecido com a verdade, ter traços
semelhantes aos de algo verdadeiro.

Existem diferentes concepções filosóficas sobre a natureza do


conhecimento verdadeiro, dependendo de qual das três ideias originais da
verdade predomine no pensamento de um ou de alguns filósofos. Assim,
quando predomina a aletheia, considera-se que está nas próprias coisas
ou na própria realidade e o conhecimento verdadeiro é a percepção
intelectual e racional dessa verdade. A marca do conhecimento verdadeiro
é a evidência, isto é, a visão intelectual e racional da realidade tal como é
em si mesma e alcançada pelas operações de nossa razão ou de nosso
intelecto. Uma ideia é verdadeira quando corresponde à coisa que é seu
conteúdo e que existe fora de nosso espírito ou de nosso pensamento.

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A teoria da evidência e da correspondência afirma que o critério da
verdade é a adequação do nosso intelecto à coisa, ou da coisa ao nosso
intelecto.

Quando predomina a veritas, considera-se que a verdade depende


do rigor e da precisão na criação e no uso de regras de linguagem, que
devem exprimir, ao mesmo tempo, nosso pensamento ou nossas ideias e
os acontecimentos ou fatos exteriores a nós e que relatam ou narram em
nossa mente. Agora não se diz que é uma coisa é verdadeira porque
corresponde a uma realidade externa, mas se diz que ela corresponde à
realidade externa porque é verdadeira. O critério da verdade é dado pela
coerência interna ou pela coerência lógica das ideias e das cadeias de
ideias que formam um raciocínio, coerência que depende da obediência às
regras e leis dos enunciados corretos. A marca do verdadeiro é a validade
lógica de seus argumentos.

Finalmente, quando predomina a emunah, considera-se que a


verdade depende de um acordo ou de um pacto de confiança entre os
pesquisadores, que definem um conjunto de convenções universais sobre
o conhecimento verdadeiro e que devem sempre ser respeitadas por
todos. A verdade se funda, portanto, no consenso e na confiança
recíproca entre os membros de uma comunidade de pesquisadores e
estudiosos.

Em resumo, em Aletheia encontramos a teoria da correspondência,


em Veritas a teoria da coerência interna, e em Emunah a teoria do
consenso.

Na primeira teoria, as coisas e as ideias são consideradas


verdadeiras ou falsas; na segunda e na terceira, os enunciados, os
argumentos e as ideias é que são julgados verdadeiros ou falsos.

Equilibrando estes conceitos, podemos sintetizar que a verdade é a


conformidade entre nosso pensamento e nosso juízo as coisas pensadas
ou formuladas. Qual a condição para o conhecimento verdadeiro? A
evidência, isto é, a visão intelectual da essência de um ser. Para formular
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um juízo verdadeiro precisamos, portanto, primeiro conhecer a essência, e
a conhecemos ou por intuição, ou por dedução, ou por indução.

A verdade exige que nos libertemos das aparências das coisas; exige
que nos libertemos das opiniões estabelecidas e das ilusões dos sentidos.

Em outras palavras, a verdade sendo o conhecimento da essência


real e profunda dos seres é sempre universal e necessária, enquanto as
opiniões variam de lugar para lugar, de época para época, de sociedade
para sociedade. Essa variabilidade e inconstância das opiniões provam que
a essência dos seres não está conhecida e, por isso, se nos mantivermos
no plano das opiniões, nunca alcançaremos a verdade.

Se a verdade está no discurso ou na linguagem, não depende


apenas do pensamento e das próprias coisas, mas também de nossa
vontade para dizê-la, silenciá-la ou deformá-la. O verdadeiro continua
sendo tomado como conformidade entre a ideia e as coisas – no caso,
entre o discurso ou relato e os fatos acontecidos que estão sendo
relatados; mas dependem também de nosso querer.

É preciso começar liberando nossa consciência dos preconceitos,


dos dogmatismos da opinião e da experiência cotidiana. Essa consciência
purificada, que é o sujeito do conhecimento, poderá, então, alcançar as
evidências (por intuição, dedução ou indução) e formular juízos
verdadeiros aos quais a vontade deverá submeter-se.

“Toda nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. É a


partir dele que devemos nos elevar e não do espaço e do
tempo, que não saberíamos ocupar. Esforcemo-nos por
pensar bem. Eis o princípio da Moral.”
(Blaise Pascal)

As verdades (os conteúdos conhecidos) mudam, a ideia da verdade


(forma de conhecer) muda, mas não muda a busca do verdadeiro. Isto é,

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permanece a exigência de vencer o senso-comum, o dogmatismo e os
preconceitos.

É a procura da Verdade e o desejo de estar no verdadeiro que


permanecem. A verdade se conserva, portanto, como o valor mais alto a
que aspira o pensamento.

21
4 - Buscando a Verdade

“... quando a negação da Verdade única chegar a limites


insuportáveis, surgirá de todas as partes um clamor intenso
por ela; será então que nos homens a fé na hierarquia
espiritual deve estar mais firme, pois ela é capaz de
dissipar as brumas espargidas por atos ignorantes
perpetrados pela humanidade.”

Há uma chave para isso: o sincero e ardente amor à Verdade.


Quando se busca a verdade acima de tudo, sem se prender as múltiplas
formas pelas quais ela pode exprimir-se, caminha-se com segurança. Por
isso, mais do que nunca é necessário equilíbrio: ao mesmo tempo que
toda orientação segura vem do interior e se deve prestar total obediência
à fonte interna de Sabedoria, o indivíduo precisa estar suficientemente
desapegado de si e de suas percepções para distinguir o falso do
verdadeiro, pois mesmo um impulso interno genuíno pode ser
desvirtuado por tendências subconscientes.

À obediência devem estar aliados, portanto, a entrega à realidade


transcendente, o desapego e o discernimento.

Nesse processo, a entrega propicia a percepção da Verdade; porém,


há de ser uma entrega dinâmica. Por isso, muitas vezes uma indagação
serena, que não estimule demais o raciocínio, mas atue como o pulsar de
um coração chamando pela vida, pode ser de ajuda. São oportunas
perguntas assim ao próprio mundo interior; são como um apelo da
consciência externa aos núcleos internos do Ser.

Podemos elencar 3 aspectos práticos de alguém que decidiu


comprometer-se com a busca da Verdade:

1. Observo o ponto de vista de outras pessoas mediante os meus pontos


de vista e opiniões, até mesmo os mais enraizados. A prática de
flexibilizar minha percepção da verdade expande a verdade em minha
vida;

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2. Procuro oportunidades de expressar minha verdade de forma a trazer
maior liberdade e alegria a mim e às pessoas do meu convívio. Ao usar
timing e sutileza, procuro maximizar a felicidade e minimizar o
sofrimento, consequência de meus pensamentos, palavras e ações;

3. Faço escolhas que me levam rumo à Verdade absoluta, a expansão de


minha consciência e ao encontro da Paz.

Verdade Absoluta ou Verdade Relativa?

(um diálogo entre Sócrates e Protágoras)

Protágoras: - A verdade é relativa. É somente uma questão de opinião.


Sócrates: - Você quer dizer que a verdade é mera opinião subjetiva?
Protágoras: - Exatamente. O que é verdade para você, é verdade para
você; e o que é verdade para mim, é verdade para mim. A verdade é
subjetiva.
Sócrates: - Você quer dizer realmente isso? Que minha opinião é
verdadeira em virtude de ser minha opinião?
Protágoras: - Sem dúvida!
Sócrates: - Minha opinião é: A verdade é absoluta, não opinião, e que
você, Sr. Protágoras, está absolutamente em erro. Visto que é minha
opinião, então você deve conceder que ela é verdadeira, segundo a sua
filosofia.
Protágoras: - Você está absolutamente correto, Sócrates.

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A verdade, segundo alguns, pode ser relativa ou absoluta. A


definição de verdade relativa é que a verdade é verdade uma única vez e
em um único
Lugar. É verdade para algumas pessoas e não para outras. É verdade hoje,
mas não o era ontem... a verdade estaria sujeita, portanto, a perspectiva
das pessoas.

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A verdade absoluta seria: tudo quanto é verdade uma vez e em um
lugar é verdade todo o tempo e em todos os lugares. O que é verdade
para uma pessoa é verdade para todas as pessoas. Verdade é verdade
acreditemos nela ou não. Ela pode ser revelada ou descoberta, mas nunca
inventada, porque é imutável e atemporal.

O conceito da verdade relativa soa mais interessante e tolerável,


num primeiro momento. Entretanto analisando mais de perto, soa
incongruente: Dizer que Deus existe para você mas não existe para mim, é
dizer que o conceito que o outro tem de Deus está errado, ou, ainda que
eu lide bem com essa “verdade” do outro, nunca chegaríamos a um
consenso sobre nada, porque a existência de Deus seria um eterno
dependente das mais variadas crenças, de milhares e milhares de pessoas.

Certamente existem declarações relativas. Por exemplo, “o Opala é


o carro da GM mais legal já produzido”, é uma declaração relativa. Um
entusiasta de carros pode pensar que isso é verdade, mas não há um
padrão absoluto para medir o quão “legal”. É simplesmente a opinião ou
crença ou gosto pessoal de alguém. No entanto, a afirmação -tem um
Mustang vermelho estacionado na frente de casa, e pertence a mim – não
é relativa. Ou é verdadeira ou é falsa! Se o mustang é azul e pertence a
outra pessoa é falso, ou seja, não corresponde à realidade.

Há de ser feita uma distinção entre estas coisas portanto: a Verdade


– as opiniões – as crenças.

A Verdade é a verdade - não depende de minha aprovação, gosto


pessoal, ou mesmo crença nela. A terra gira em torno do Sol, desde antes
de Copérnico descobrir este fato. O conhecimento (intelecto) é mutável, a
verdade permanece. As minhas crenças, opiniões e gostos pessoais podem
expressar fragmentos da verdade, mas se atendem apenas as minhas
expectativas ou estão sujeitas apenas ao meu intelecto (percepção), são
apenas fragmentos, sujeitos a mudança à medida que meu intelecto
avança também.

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5 - Vivendo a experiência da Verdade

“A verdade não é uma crença, é uma inteligência absoluta. É uma chama acima das
fontes ocultas de sua vida, é uma experiência iluminante da consciência”.
(Osho)

Não existe para o homem nenhuma verdade que possa ser


conhecida como tal, com significado para a sua existência, que não seja a
experienciada por ele. É verdade que os homens foram à Lua, mas essa
verdade objetiva não mudou nada na existência de ninguém, exceto na
existência dos astronautas que experimentaram aquela realidade como
verdade existencial; eles sim nunca mais foram os mesmos...

A verdade de Deus só pode ser conhecida como experiência de Deus na


existência, e esta só acontece nos ambientes da subjetividade, no Coração.
(Caio Fábio)

Retomando a noção de permutação dos Transcendentais, chegamos


a um ponto chave no estudo destas Virtudes. Sendo elas transcendentais,
não é por meio da capacidade cognoscitiva material/mental que
chegamos a conhecê-las. No sentido pleno da palavra elas ultrapassam a
fronteira da fisicalidade, portanto a mente racional e os sentidos físicos só
nos permitem a apreciação ou alcance limitado destas.

O verdadeiro contato com tais Virtudes se dá por meio da


experiência transcendente. Sendo Deus a manifestação Absoluta dessas
Virtudes, tal experiência só pode ser vivida experimentando a Deus na
existência.

Experimentar a Deus na existência implica em termos Fé – porque


aquilo que se pode saber sobre Deus entre nós, é porque ele manifestou;
pois as suas qualidades invisíveis são claramente vistas, desde a criação do
mundo em diante, porque são percebidas por meio das coisas feitas,
mesmo seu sempiterno Poder e Divindade, de modo que estas são
inescusáveis.

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Por meio da intuição e/ou instrução abrimos os olhos e podemos
contemplar o Caminho se iluminando, e através da entrega, partimos para
viver a experiência da obediência através da fé. Obediência às leis da
natureza divina manifestadas em nossa realidade, em nossas vidas.
Obedecer através da Fé é se harmonizar de bom grado a regência de Deus,
e encontrar a verdadeira felicidade ao realizar a experiência por assim o
fazer.

A busca da verdade não finda num ponto específico, num aforismo


ou conhecimento imutável, tampouco numa crença; não se trata de algo
conclusivo, justamente por estar atrelado a experiência, ao movimento
evolutivo contínuo da Vida. A verdade com significado para a existência
precisa ser vivida.

Essa é a verdade transcendental – viver a experiência de Deus na


existência. Sentir a realidade profunda desta verdade é incomunicável, e
apesar de parecer um tanto abstrata, uma vez sentida, torna-se concreta
como rocha. À medida que adentramos à experiência da Verdade
podemos reconhecer o sentimento de Unidade que esta me traz; a
integração resultante da autorrealização.

A multiplicidade de conhecimentos adquiridos de nada adiantarão


se não nos conduzirem a uma melhor compreensão de nós mesmos, a
uma expressão amorosa de nossa autenticidade. A história da
humanidade está repleta de pensadores e intelectuais que nos deixaram
um legado imenso de conhecimento e reflexões sobre Deus, sobre a Vida
e etc. Curiosamente grande parte destes viveram encurralados à sombra
desses conhecimentos, perdidos em solidão, angústia existencial,
dominados por vícios e relacionamentos fragilizados.

A finalidade do conhecimento adquirido deve atender a um critério


prático de tornar-nos mais felizes, mais íntegros, mais bondosos, mais
humanos; no sentido altruísta de cada palavra.

A experiência da verdade nasce com a entrega, uma entrega ativa


norteada por virtudes que direcionem e clarifiquem a jornada enquanto
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buscadores da Verdade. Elencamos 5 virtudes que chamaremos de “tetris
da Verdade”, a saber – a humildade, a sabedoria, a temperança, a
coragem e a justiça; onde cada uma destas representa uma maneira de
viver a experiência da Verdade por uma perspectiva e alcance distintos.
A humildade é caminhar na verdade (Santa Tereza D’Ávila). Assumir tudo
o que somos, nos reconhecendo diante dos outros, ativando nossos
recursos e capacidades e acolhendo nossas limitações, nossas fragilidades
e medos, com a disposição de viver o caminho do crescimento. Diferente
de atrofiar ou esconder as próprias potências ou de desvalorizar-se, a
pessoa humilde se expressa com simplicidade e segurança, mas não
arrogância, com firmeza, mas não inflexibilidade.

Trata-se também de estar disposto a reavaliar o próprio


comportamento e convicções sempre que uma perspectiva mais elevada
se apresentar. Por perspectiva elevada entende-se - pontos de vista,
histórias ou fatos que remetam a uma adequação à realidade mais
coerente do que a sustentada por mim até o presente momento.

O maior impedimento à busca da Verdade é a crença de que já a


encontramos. Utilizamos repetidamente o termo “busca da verdade” pelo
sentido de movimento incompleto que ela carrega em si, para lembrar-
nos de vincular o conceito de verdade à experiência de promover a ordem
e bondade em nossas vidas e para além desta.

Nessa busca, a humildade é pré-requisito fundamental,


indispensável. Por isso dizemos, “calçar as sandálias da humildade”. É esta
virtude que me permite manter uma perspectiva real sobre as minhas
habilidades e capacidades, entender meus limites, identificar meus erros
ou fraquezas e a estar disposto a contribuir com as outras pessoas sem
ganhar em cima disso e sem a necessidade de glorificação pessoal.

Já a Sabedoria consiste em falar e agir da Verdade (Heráclito de


Éfeso). Sabedoria do latim vem de Sapere (que tem sabor) e do grego,
Sophia (inteligência plena). Sabedoria não inclui apenas o conhecimento,
mas a habilidade e o julgamento para aplicar tal conhecimento às
circunstâncias e situações da vida. A filosofia enquanto sabedoria é arte
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de viver, e tem por objetivo a felicidade. Sábio, portanto, é quem
aprimora dia após dia a arte de viver, e utiliza os conhecimentos que
adquire para alimentar o amor que sente pela vida.

A sabedoria elucida o caminho de viver esta vida em harmonia com


a realidade!

Temperança vem do latim temperantia, que significa guardar o


equilíbrio. A temperança é simplesmente a moderação das nossas ações,
pensamentos e afetos. Ser temperante é examinar-se para saber qual o
seu limite, quando se deve parar e o quanto se pode continuar. Ela é
quem “tempera” a expressão das verdades objetivas em nosso cotidiano,
para não cairmos na armadilha do sincericídio.

O moderado possui autocontrole para medir seus afetos, deste


modo ele sabe o que é e o que não é desejável, sabe qual o ponto em que
passa a ser arrastado pelas paixões, conhece a dinâmica do mundo e pode
dizer quando um antídoto se torna veneno e vice-versa.

A temperança sempre se pergunta: ainda estou no controle? Faz


sentido continuar?

A Coragem é a capacidade de enfrentar os desafios do mundo, por


mais difíceis que pareçam. A palavra vem do latim coraticum, que significa
a bravura que vem de um coração forte. Ela é quem disciplina o desejo a
querer apenas aquilo que o mundo nos dá, é a fortaleza, a virilidade de
saber o que devemos ou não devemos fazer. Envolve a aceitação das
situações à maneira que se apresentam, e, por meio da sobriedade
advinda da temperança e da segurança advinda da sabedoria
encontramos esta força que nos estabiliza e nos centra ante aos
confrontos da vida.

A coragem permite o acesso a Verdade. Sem ela corremos o risco de


ficar na superficialidade de questões que exigem um mergulho mais
profundo dentro de nós mesmos, ou corremos o risco de desistir ao
menor sacolejar do “barco”. Dificuldades fazem parte da vida, mas nossa
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postura corajosa de assumir um compromisso com quem somos e com o
que queremos atingir é que realmente fazem a diferença.

A Justiça é a verdade que disciplina a ação, e faz parte da Ética. A


justiça moral ensina a dar a cada um o que lhe é devido, para que todos
façam parte segundo boas proporções. É a arte de dividir corretamente o
mundo à nossa volta, encontrar a melhor relação com o outro onde todos
possam crescer e prosperar. Marco Aurélio dizia que a justiça é a fonte de
todas as outras virtudes. Por meio da justiça vemos o mundo como é, mas
também como poderia ser!

“Pensa e aja no que resultar no bem comum. Isso é o que você nasceu para fazer”
(Marco Aurélio)

Todas estas virtudes contribuem para o movimento contínuo de


busca da Verdade.

A humildade para não nos perdermos em egoísmo descabido e


facilitar os processos de desconstrução sempre que necessários; a
sabedoria para exercermos a inteligência mental de conhecer a verdade
no sentido mais pleno; a temperança para agirmos com equilíbrio e
razoabilidade sobre quando, como e porquê expressar a verdade; a
coragem para acessar a verdade e sustentar a autenticidade de ser aquilo
que se é e por fim a justiça; que norteia a verdade e não faz concessões
por interesse, impelindo o ser humano a sempre promover a ação que
traga mais bondade e equanimidade para o meio em que vivemos.

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Que a busca pela Verdade nos conduza à liberdade.

“A verdade é sempre uma dádiva, nunca uma aquisição. Lembre-se: é preciso estar no
terminal receptor. O buscador real não é um conquistador, não é agressivo. Quando
você é um buscador real você adentra no feminino. Como um útero, você recebe,
esvazia-se totalmente para que seja criado espaço para receber. Esvaziar-se! É nesse
exato momento que a Verdade desce sobre você, inundando-o. Toda pessoa inundada
pela verdade buscará viver arduamente de acordo com ela”.
(Osho)

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Finalizamos aqui com um compromisso. Sugerimos que faça sempre


que sentir a necessidade de reafirmar o propósito de buscar e viver a
experiência da Verdade em sua vida:

Eu ____________________, me comprometo em tornar-me um


observador, cada dia mais atento. Um observador não punitivo,
mas que pondera sobre os pensamentos, sentimentos e ações; e
que verifica dia após dia, a verdade presente ou ausente em
cada um destes. A verdade presente é o pensamento reto, o
sentimento puro e a ação justa. A verdade ausente é o
pensamento turvo, o sentimento maculado e a ação irrefletida.
Quando ninguém pode me ver, a verdade ainda me vê; quando
ninguém pode me ouvir, a verdade ainda me ouve; quando
ninguém sabe a natureza do que penso e sinto, a verdade me
sorri e sussurra: sabes que ainda estou aqui, dentro de ti! Eu me
comprometo com a verdade que precede a minha existência e
sucederá a ela, a buscar a autenticidade de meu Ser, e assim,
refletir em minha jornada na Terra, toda Bondade e Beleza que
provém de Deus.

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REFERENCIAS

Estas palavras foram escritas por Wellington Melo, baseadas em


atures como: Rudolf Steiner, Alberto Kuselman, Ulrich Schaffer, R. Steiner,
Agostinho de Hipona, Joao, 8:32, Rudyar Kipling, Khalil Gibran, Blaise
Pascal, Osho, Caio Fábio, Marco Aurélio entre outros.

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Fiquem todos com Deus.

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