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Raul Pedro
Um Panorama Metodológico
1ª Edição
Editora FCM
Centro de Mediadores
Raul Pedro
Um Panorama Metodológico
1ª Edição
Editora FCM
2022
Nenhum grande empreendimento se torna sólido sem raízes fortes que o mantenham
de pé. Essa é a razão pela qual o Centro de Mediadores assume um papel essencial na
sociedade. E é com a ajuda de seus colaboradores que ela influencia a atual geração a
desenvolver uma nova perspectiva de vida, com um olhar voltado para o alcance, apreensão
e compartilhamento do conhecimento.
Por esse motivo, quero agradecer a Deus e a todos aqueles que, junto ao Centro de
Mediadores, caminham nessa linda jornada de aprimoramento da qualidade de ensino. São
professores, secretários, gestores, produtores, fotógrafos, redatores, comunicadores,
analistas, auxiliares de limpeza, entre outros, que fazem com que o trabalho aqui realizado
alcance os mais longínquos lugares, proporcionando mudança de vida e tornando o mundo
mais pacífico e harmônico.
Raul Pedro
Presidente e CEO do Centro de Mediadores
À Deus, que detém toda a sabedoria e que
em sua infinita misericórdia nos permite experimentá-la.
Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO
O conhecimento sobre psicanálise veio aos 35 anos, quando Hellinger se mudou para
Viena, na Áustria. Ali conheceu a psicoterapeuta Herta, com quem se casou. Em pouco
tempo ele se tornou um dos principais terapeutas de grupo na Europa e aos 48 anos, começou
nos Estados Unidos os estudos sobre a Teoria Primal, com Arthur Janov, surgindo a partir
daí o interesse pela área de Análise Transacional.
Bert Hellinger teve um insight decisivo quando praticava a Análise de Script segundo
Eric Berne. De acordo com sua constatação, cada indivíduo vive segundo um determinado
padrão, o qual pode ser encontrado em histórias como conto de fadas, romances, filmes etc.,
que impressionaram essa pessoa. Hellinger completou várias formações, dentre as quais, em
Terapia Primal, em Hipnose Ericksoniana e em Programação Neurolinguística.
O primeiro contato com a estrutura familiar veio por meio de Thea Louise
Schonfelder, no ano de 1990, durante um seminário em que Hellinger estava presente.
Segundo constatou nesse encontro, havia algo que poderia se chamar de “ordem de origem”,
ou seja, uma precedência do que é anterior num sistema sobre o que é posterior.
mais de 300 pessoas demonstraram interesse nesse tipo de abordagem, o que o levou a
trabalhar com grupos cada vez maiores.
➢ Ordens do Amor
Neste livro, Bert Hellinger trata de três leis universais que regem as dinâmicas
familiares: a lei da hierarquia, a lei do equilíbrio e a lei do pertencimento. Elas são
conhecidas como as Ordens do Amor, que formam a base da Constelação Familiar, e
merecem um estudo aprofundado para que se possa compreender que muitas vezes dentro
de um grupo familiar não basta o amor recíproco, é necessário que esse amor obedeça ordens
para que possa ser desenvolvido e superar obstáculos.
➢ O Essencial é Simples
Este livro retrata a documentação de 63 terapias breves de cursos que Bert Hellinger
ministrou como terapeuta. O que é mais interessante nele é que as soluções surgem
diretamente do acontecimento e, por conta disso, todas elas são diferentes e únicas. Nesta
obra podemos encontrar ainda formas de lidar com diversos problemas, como o luto, a morte,
doenças graves, medos, vícios, suicídios, entre outros.
➢ A Cura
A ideia de cura trazida por Bert Hellinger nesta obra é a de olhar ao passado e ao
futuro para construir uma vida mais plena, reforçando a importância de uma alimentação
adequada para o corpo e que repercutirá no pleno desenvolvimento da mente e do emocional
de cada ser humano. Ele trabalha as possibilidades que temos de sermos e permanecermos
saudáveis, já que tudo em nós está interligado e, cuidando de uma área da nossa vida,
consequentemente estaremos tendo resultados positivos em outras.
A preocupação com os cuidados com o corpo nos protege contra qualquer desvio que
leve a enfermidades e isso retoma o que já foi dito anteriormente sobre a importância de se
respeitar as leis do amor. Afinal, é por meio delas que temos a direção certa para viver de
forma feliz e completa.
➢ Ordens da Ajuda
Bert Hellinger escreve neste livro a sua percepção sobre como um profissional da
ajuda deve se portar. É diferente de uma ajuda interpessoal, uma vez que na profissional há
uma habilidade de saber como proceder de maneira a não se deixar ser envolvido nas
relações.
Ele destaca ainda que ajudar é enxergar no outro a capacidade de lidar com a sua
própria realidade e história de vida. Quando alguém oferece ajuda, essa pessoa está apenas
11
levando luz para momentos onde a visão do outro sobre si está ofuscada, e, ao fazer isso,
deixa o caminho livre para que os outros se movimentem da forma que melhor cabe a cada
um. A ajuda mútua é o que sustenta as relações humanas.
Nesta obra, Bert Hellinger leva o leitor a uma reflexão sobre o papel da consciência
pessoal nas relações interpessoais. Ele percebeu que ao seguir a própria consciência, algumas
pessoas humilham e prejudicam outros, sendo assim, a consciência poderia conduzir ao bem
como também ao mal.
2. HISTÓRIA DA CONSTELAÇÃO
Muito embora nos pareça que Bert Hellinger tenha criado a técnica das Constelações
Familiares, a verdade é que ele foi um dos que a desenvolveu. O seu surgimento se deu
dentro do contexto do psicodrama de Jacob Levy Moreno, da “teoria das esculturas
familiares” de Virginia Satir, da evolução da “teoria dos campos morfogenéticos”, do
biólogo britânico Rupert Sheldrake, bem como dos estudos e pesquisas do psicoterapeuta
Gunthard Weber e do casal Mathias Varga von Kibéd e Insa Sparrer.
atuais, o que resultou no modelo das esculturas familiares abordado no seu primeiro livro,
Conjoint Family Therapy, publicado em 1964.
No ano de 1981, Rupert Sheldrake sugeriu em seu livro “Uma nova ciência da vida
– a hipótese da causação formativa e os problemas não resolvidos da biologia”, a existência
de campos morfogenéticos que funcionam como estruturas
invisíveis capazes de influenciar na organização de toda a
natureza, determinando o seu comportamento, mas em constante
transformação e evolução. Ele considera que cada membro da
espécie contribui para uma memória coletiva e a ela recorre
sempre que precisa. Foi esse estudo de Sheldrake que trouxe
fundamento sólido para o campo das constelações familiares.
Destaca-se a
contribuição do casal alemão Matthias Varga von Kibéd e
Insa Sparrer na construção dos estudos sobre constelações.
Eles desenvolveram uma metodologia que ficou conhecida
como Constelações Estruturais.
Bert Hellinger percebeu que havia uma ordem que poderia ser seguida para trazer à
tona velhos padrões de comportamento e códigos de crenças que orientavam
inconscientemente a vida das pessoas. Para isso, ele uniu o conhecimento de comunidades e
métodos de vários autores da filosofia, psicologia, psicanálise, pedagogia, etc. Partindo
desses estudos e de suas experiências clínicas, Hellinger conseguiu extrair os princípios
basilares que orientam sua filosofia, apresentada posteriormente como uma ciência.
A principal influência que Hellinger considera para o início de seu trabalho com
Constelações veio de seus pais ainda na infância, com a imunidade garantida pelos ideais de
religiosidade e fé praticados pela família contra o discurso nacional socialista. A sua longa
experiência como missionário na África pôde lhe permitir compreender a diversidade de
valores culturais e aprimorar ainda mais sua habilidade de identificar sistemas de
relacionamentos humanos.
A Constelação Familiar veio para mostrar que na prática muitos dos nossos
problemas, doenças e sentimentos negativos podem decorrer de familiares que enfrentaram
essas mesmas dificuldades no passado. Essa repetição de comportamentos se dá de maneira
inconsciente e em razão de uma “consciência de grupo” que cada pessoa possui e que decorre
do que Hellinger intitulou de “ordens do amor”, que se resumiriam na necessidade de
pertencimento, no equilíbrio entre dar e receber nos relacionamentos e na hierarquia dentro
de um determinado grupo, seguindo a ordem do tempo.
A definição do que viria a ser a Constelação Familiar foi obtida por intermédio de
diversos estudiosos da área, dentre os quais: Gregory Bateson, que fez uma abordagem sobre
o pensamento sistêmico; Eric Berne, com sua metodologia de “análise do script”; a “hipnose
ericksoniana” de Milton Erickson e a programação neurolinguística. Além desses, citamos
os já mencionados no tópico anterior: Arthur Janov, com sua terapia do grito primal; Jacob
moreno e o psicodrama; Rupert Sheldrake, com a tese da Ressonância Mórfica; e, Virginia
Satir com o estudo sobre a reconstrução familiar.
para que as ordens do amor se façam presentes no grupo. No tópico a seguir iremos traçar o
significado dos termos que compõem uma constelação.
4. NOMENCLATURAS
Existem barreiras que se formam no círculo familiar e que decorrem de ações dos
seus antepassados. Muitas das condutas que hoje um determinado grupo familiar pratica
podem ter total ligação com o que a sua geração anterior fez e isso envolve também aspectos
negativos atuais que influenciam na vida emocional, social e profissional de todos os
envolvidos.
4.2. Constelador
4.3. Constelado
É a pessoa, casal ou pequeno grupo que será atendido pelo Constelador. É comum
que num ambiente de trabalho também haja conflitos internos, razão pela qual empresas ou
equipes de trabalho também podem ser consteladas.
É o constelado quem vai dizer durante a sessão de constelação o que sente, quais os
conflitos que o envolvem, quais membros do seu grupo estão causando ou passando por
problemas, etc. É de sua responsabilidade também apresentar os familiares que serão
representados.
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4.4. Emaranhamento
Termo utilizado para representar os nós que não deixam fluir o amor na relação
sistêmica familiar. Por exemplo, é comum vermos pessoas que foram excluídas do âmbito
familiar e, para obter um reequilíbrio no sistema, a geração posterior busca uma
compensação. Isto é apenas reflexo de um sintoma que precisa ser tratado para que o amor
volte a alcançar a sua plenitude na relação.
4.5. Plateia
4.6. Representantes
São voluntários que irão atuar no sistema familiar do constelado, podendo assumir o
papel de pai, mãe, irmão, sobrinho, tio, entre outros. Caso a sessão de constelação não tenha
uma plateia, como ocorre na constelação individual, o papel de representantes poderá ser
feito por bonecos, cadeiras, desenhos sobre um papel, etc.
4.7. Cenário
Ao contrário das demais terapias, que se concentram na busca pela solução dos
problemas, a Constelação Sistêmica Familiar faz uma análise do histórico familiar do
indivíduo, alcançando até mesmo gerações anteriores ao seu nascimento. A partir desse
estudo, ela permite que o indivíduo entenda claramente as condutas que lhe afetam e quais
fatos interferem atualmente na sua maneira de se portar.
➢ Resultados rápidos
➢ Mudança interna
➢ Melhora os relacionamentos
➢ Quebra de padrões
Como se vê, a Constelação pode alcançar pessoas com os mais variados interesses,
haja vista ser conhecida como uma técnica de “mudança de consciência”. O indivíduo muda
sua percepção, deixando de se enxergar como vítima ou julgador em uma situação e começa
a entender que existe uma responsabilidade pessoal pelos seus atos no processo capazes de
gerar danos.
Por ser uma abordagem que parte do pressuposto de que todo ser humano está
intimamente ligado a um sistema, a Constelação costuma ser muito utilizada em ambientes
familiares levando em conta os padrões repetitivos ao longo das gerações e da postura dos
indivíduos que podem estar atuando mais em função da consciência do grupo do que da sua
própria.
Muito embora tenha uma aplicação corriqueira no âmbito familiar, a verdade é que a
Constelação tem uma abordagem ampla, pois visa trabalhar as relações interpessoais nos
seus mais variados contextos. Sendo assim, podemos ver a Constelação sendo utilizada nas
relações interpessoais dentro de uma empresa, na política, na gestão e administração
executiva, nas universidades e escolas, em comunidades, em hospitais, no Judiciário, etc. O
objetivo é levar cada indivíduo/cliente a uma reflexão mais ampla sobre sua forma de pensar
e agir dentro do sistema que está incluído.
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7. CARACTERÍSTICAS DA CONSTELAÇÃO
Em seu livro “Ordens do Amor” 1, Hellinger fala sobre uma comunidade que
interliga todos, fazendo referência ao sistema familiar. Citamos um trecho:
Nessa comunidade de destino, todos se ligam a todos. Os mais fortes vínculos são
os que ligam os filhos aos pais, os irmãos entre si e os parceiros entre si. Um
vínculo especial de destino liga também os membros subsequentes aos que lhes
cederam lugar, principalmente se estes tiveram um destino funesto: por exemplo,
os filhos de um segundo casamento à primeira mulher de seu pai, que morreu no
parto.
1
Hellinger, Bert. Ordens do Amor: um guia para o trabalho com constelações familiares. São Paulo: Cultrix,
2007, p. 287-288.
20
A primeira lei sistêmica prevê que todos fazem parte de um sistema, estando vivo ou
morto tem o direito de pertencer, porque não há dentro de um mesmo sistema aqueles que
sejam superiores aos demais. Não há uma distinção entre bons e maus e nem é permitido
qualquer tipo de julgamento quanto à decisão de quem deverá continuar ou ser excluído.
A lei do pertencimento busca integrar o sistema que foi corrompido em sua totalidade
e é esse potencial integrativo que constitui a primeira ordem do amor. Quando acontece o
retorno de um membro que foi excluído e ele encontra lugar no coração do seu grupo, os
efeitos passam a ser imediatos e todos sentem alegria, paz e harmonia. O amor volta à sua
plenitude e todos ficam bem para seguir a vida.
A lei do equilíbrio, de uma forma geral, requer tratamento igualitário entre a oferta e
o recebimento para permitir a sensação de bem-estar decorrente da experiência natural de
justiça. Seja no trabalho, na família, numa amizade ou em grupos de convivência, aqueles
que doam mais do que recebem acabam se sentindo desvalorizados e quem recebe mais do
que entrega se sente pressionado a retribuir e muitas vezes não consegue, gerando frustração
e desmotivação.
Ao contrário do que ocorre entre pais e filhos, em que existe uma ordem natural entre
o dar e o receber, na qual os pais dão a vida, o amor, e os filhos aceitam, o desequilíbrio nas
demais relações provoca tensão e afastamento, por isso, Hellinger ressalta a importância de
um grupo encontrar a forma correta entre o dar e o receber.
A terceira lei sistêmica atua na consciência coletiva inconsciente. Ela exige que
aqueles que vieram antes no sistema tenham precedência em relação aos que vierem depois.
É uma forma de respeito por aqueles que se sacrificaram anteriormente. Se a precedência
dos anteriores é respeitada, as gerações posteriores ficam livres.
A hierarquia está diretamente ligada às leis anteriores e busca reconhecer que cada
membro possui um lugar único no sistema, que deve ser respeitado. Quando há uma inversão
nas posições do sistema, a desordem se instala e os problemas começam a surgir, pois cada
um possui sua hierarquia própria.
Segundo essa lei, nenhum membro posterior pode se colocar numa posição mais
elevada, se sobrepondo a um inferior e assumindo algo por ele. Respeitar essa ordem é uma
regra básica para a obtenção de sucesso. Por exemplo, um filho não pode querer ser superior
aos seus pais, avós ou outros ascendentes pelo fato deles não assumirem um papel que ele
gostaria que assumissem. Pelo contrário, deve honrá-los e ter grande admiração e respeito
pela história de cada um. A humildade em reconhecer a importância do seu antecessor, sem
querer mudá-lo, é fundamental para a manutenção da ordem no sistema.
22
Para Hellinger, as três leis sistêmicas encontram respaldo muito mais na consciência
coletiva do sistema, normalmente encontrada no plano do inconsciente, do que na
consciência pessoal, tendo em vista essa última ser formada em sua essência por critérios
culturais e circunstanciais.
No livro “Bert Hellinger: Meu Trabalho. Minha Vida”, Hellinger traz sua
autobiografia e conta quais influências teve para desenvolver seu trabalho sobre a terapia
sistêmica das constelações familiares. Dentre as grandes personalidades ele cita Gregory
Bateson, Ivan Boszormenyi-Nagy, Milton Erickson, Eric Bern, que deram o pontapé inicial
para que Hellinger abrisse sua mente quanto aos padrões familiares que agem no
inconsciente dos seus membros.
Como mencionado no início desse material, Bert Hellinger faleceu no ano de 2019,
porém, os estudos em torno da Constelação Familiar vêm se desenvolvendo por meio das
pesquisas de outros estudiosos do assunto, provando que essa
técnica é cada vez mais atual e necessária.
No seu estudo ela buscava revelar os vínculos que ligavam os membros de uma
família e que os conduziam a repetir dinâmicas comportamentais de enfermidades e outras
dificuldades geracionais.
23
Segundo Ancelin, se alguém cura um indivíduo sem tocar toda a família, se o sentido
das repetições transgeracionais não for compreendido, a terapia não leva a lugar nenhum.
Como pudemos ver, antes de Bert Hellinger, grandes homens e mulheres deram
passos imprescindíveis para a compreensão do que hoje conhecemos como constelações
25
familiares. Ele deixa isso bem claro em sua autobiografia, fazendo menção a cada
influenciador dos seus estudos. Hoje, o número de profissionais que se dedicam nessa técnica
tem aumentado exponencialmente e isso tem sido de grande importância para os diversos
setores da nossa sociedade.
10. FILOSOFIA
2
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Editora Ática, 2006, p. 36.
26
Mas o que seria a filosofia? O seu conceito é tão amplo que uma definição de
dicionário não traria tanta clareza ao ponto de evitar dúvidas ao seu respeito. O seu conceito
parte de um conjunto de ideias que se complementam em busca de um sentido. Podemos
analisar o significado da filosofia por meio de sua etimologia.
Segundo Marilena Chauí, a palavra grega filosofia é composta de duas outras: philo
e sophia. A primeira seria “aquele ou aquela que tem um sentimento amigável”, uma vez
que deriva de philia, que tem por significado “amizade e amor fraterno”. Sophia vem de
“sabedora” e dela vem a palavra sophós, que significa sábio. A filosofia seria, portanto, a
amizade pela sabedoria ou o amor e respeito pelo saber.
Ainda segundo a autora, a filosofia traz a ideia de despertamento para o saber. Tem
a ver com o estado de espírito da pessoa que deseja obter conhecimento, que o procura e o
respeita. Mas a palavra em si não pode ser interpretada exclusivamente nesses dois aspectos
acima descritos, senão estaríamos fadados a uma visão meramente contemplativa, algo que
se exerceria apenas no âmbito ideológico. A verdade é que a definição etimológica, por si
só, não permite que se estabeleça um sentido concreto do termo, considerando toda a sua
complexidade.
3
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução Bento Prado Jr. E Alberto Alonso
Muñoz. São Paulo: Editora 34, 1992.
27
simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois estes não são
necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina
que consiste em criar conceitos. Ela é tomada como um ato, o ato de pensar. Conclui-se,
portanto, que a questão da filosofia é o ponto singular onde o conceito e a criação se remete
um ao outro.
Estudar filosofia é essencial porque não se pode pensar em alguém a quem não lhe
seja solicitado refletir e agir. Ou seja, a capacidade que todo ser humano tem de pensar a
respeito do universo, de se posicionar enquanto componente racional nesse mundo, com sua
consciência moral e política, deveria direcionar a sua maneira de agir no tempo e no espaço.
10.1. Pitágoras
Pitágoras foi perseguido por suas ideias revolucionárias e teve que se mudar algumas
vezes. No sul da Itália ele fundou a Escola Pitagórica, de caráter místico-filosófico. No Egito,
ele passou a observar as pirâmides e criou o conhecido “Teorema de Pitágoras”. Sua morte
aconteceu em Metaponto, na Itália, por volta de 490 a.C.
28
10.2. Sócrates
Sócrates partia da concepção de que nada sabia e, deste conflito, iniciava suas
interrogações. Sua crítica ao saber dogmático não fazia dele o dono da verdade, mas permitia
o despertar de consciências adormecidas. Ele era subversivo, desnorteando e perturbando a
ordem do conhecimento e das práticas. Foi condenado à morte sob alegação de ter
corrompido a mocidade da época e, ainda, dentre outros motivos, por desconsiderar a
existência dos deuses mitológicos.
10.3. Platão
Platão retorna à Atenas e funda uma escola de filosofia chamada “Academia”, onde
era possível conhecer sobre Filosofia, Ciências, Matemática e Geometria. Mesmo com a
ordem do imperador Justiniano determinando o fechamento da Academia no ano de 529
a.C., as ideias de Platão já estavam massificadas e amplamente divulgadas. Era o chamado
“Platonismo”.
29
10.4. Aristóteles
Ao retornar a Atenas, ele fundou sua própria escola chamada Liceu, onde era possível
aprender sobre química, física, botânica, geometria, matemática, etc. Ali oferecia cursos
técnicos e ministrava aulas para a população em geral.
De acordo com a visão do filósofo Karl Popper, o tema central da filosofia da ciência
é a demarcação do problema. Ou seja, é como o indivíduo pode distinguir entre o que é
ciência e o que não é. Para ele, toda afirmação científica deve poder ser comprovada como
falsa. Se, após muitos esforços, nenhuma prova puder ser encontrada, então isso significa
que a afirmação é provavelmente verdadeira.
Filosofia e ciência possuem características distintas, mas não podem ser consideradas
áreas opostas do saber. Como já foi dito, é por meio da filosofia que a ciência encontra a
direção para o alcance do conhecimento racional. Porém, o método científico vai além, pois
não se limita à racionalidade, mas busca provar de forma empírica, através de testes rigorosos
que as suas suspeitas são verdadeiras. Enquanto a filosofia se apega a conceitos e
argumentos, a prática vem por meio da ciência.
4
KLEINMAN, Paul. Tudo que você precisa saber sobre filosofia: de Platão e Sócrates até a ética e metafísica,
o livros essencial sobre o pensamento humano. Trad. Cristina Sant’Anna. 7ª ed. São Paulo: Editora Gente,
2014, p. 212.
31
René Descartes tinha um pensamento filosófico que defendia a busca pela verdade.
Ou seja, a filosofia não poderia estar alinhada ao falso, pois sua maior preocupação era com
a clareza. Segundo ele, existem quatro regras para a obtenção de conhecimento: nada é
verdadeiro até ser reconhecido como tal; os problemas precisam ser analisados e resolvidos
sistematicamente; as considerações devem partir do mais simples para o mais complexo; e,
o processo deve ser revisto do começo ao fim par que nada importante seja omitido.
Descartes se tornou famoso pela sua célebre afirmação: Penso, logo existo. Para ele,
o ato de pensar faz prova da existência individual. Todos possuem a capacidade da razão –
sem ela, o indivíduo simplesmente não seria humano.
Entre outras contribuições suas estão a análise do movimento circular e das forças
que se conectam a esse movimento, levando à compreensão do movimento da lua e dos
planetas em relação ao sol. As famosas Leis de Newton são estudadas até os dias de hoje, a
32
saber: Primeira Lei de Newton (princípio da inércia), Segunda Lei de Newton (princípio da
dinâmica) e Terceira Lei de Newton (princípio da ação e reação).
Nietzsche faleceu no ano de 1900, após passar longos onze anos em estado vegetativo
devido uma crise de sanidade mental. Ficou durante esse tempo aos cuidados de sua irmã,
que foi responsável por publicar uma gama considerável de textos escritos por ele.
Por sua vez, o método dedutivo trabalha com uma estrutura de raciocínio lógico que
busca averiguar a veracidade de informações já existentes. É muito utilizado na física e
na matemática para resolver problemas que exigem a aplicação de premissas gerais em
situações específicas. Costuma ser chamado de raciocínio dedutivo, método hipotético-
dedutivo ou apenas de dedução.
O que é importante mencionar nesse método é que todas as proposições precisam ser
válidas para que o resultado seja válido. A conclusão corre o risco de ser falsa se entre as
proposições existe uma que não corresponde à verdade. É o que acontece na seguinte
situação:
13. EMPIRISMO
O empirismo é uma corrente filosófica que tem sua origem em Aristóteles e traz a
ideia de que todo conhecimento decorre da experiência sensorial. Ou seja, nossos sentidos
são responsáveis por obter as informações brutas do mundo que nos cerca e a nossa
percepção sobre essas informações dá início a um processo de formulação de ideias e
crenças.
O termo empirismo surge da palavra grega “empeiria”, que tem por definição
experiência. Rejeita-se, pois, a ideia de que todo ser humano nasce com um conhecimento
inato. As pessoas só adquirem conhecimento a posteriori, ou seja, com base na experiência
de vida. Paul Kleinman5 vai citar três tipos de empirismo:
5
KLEINMAN, Paul. Tudo que você precisa saber sobre filosofia: de Platão e Sócrates até a ética e metafísica,
o livros essencial sobre o pensamento humano. Trad. Cristina Sant’Anna. 7ª ed. São Paulo: Editora Gente,
2014, p. 83-84.
35
John Locke defende a ideia de um empirismo crítico, no qual se veicula que o corpo
e a alma compõe o ser humano de forma simultânea. Sendo assim, não podem ser analisadas
separadamente. Para ele, não existe qualquer tipo de conhecimento racional inato, pois é a
alma é que impulsiona o corpo a obter o conhecimento.
Para David Hume, as sensações e percepções do ser humano ao longo de sua vida é
que permitem a geração de ideias. Ele realça a importância dos sentidos na busca pelo
conhecimento. Seria, pois, o grau de intensidade de suas experiências que levaria o indivíduo
a um nível mais profundo do saber.
➢ Empirismo x Racionalismo
Alguns racionalistas acreditam que existem proposições que são conhecidas apenas
como resultado da intuição, enquanto outras o são por meio da dedução de uma proposição
intuída. Seria a intuição um tipo de percepção racional e, pela dedução, todos são capazes
de chegar a conclusões a partir de premissas intuídas, utilizando argumentos válidos. Assim,
no momento em que uma parte do conhecimento é conhecida, o indivíduo poderá deduzir as
demais com base nesse primeiro conhecimento.
Trazendo um exemplo, digamos que uma pessoa pode, com base na sua intuição,
falar que o número 3 é primo e menor do que 4, deduzindo, por conseguinte, que existe um
número primo que é menor que 4. Todo o conhecimento que for obtido por meio desse
processo de intuição e dedução é, num primeiro momento, alcançado independentemente
dos sentidos. Foi dessa forma que os racionalistas criaram teses que trouxeram explicações
para a matemática, a ética, a metafísica, etc.
14. MECANICISMO
O mecanicismo, de forma geral, é definido como uma teoria determinista pela qual
os fenômenos do mundo decorrem de uma causalidade mecânica. Para o deísmo, o universo
é sustentado por um mecanismo que considera a existência de um ser superior, no caso,
Deus. Para a biologia, os fenômenos que envolvem todos os seres vivos são mecanicamente
determinados.
6
BATTISTI, César Augusto. A Natureza do Mecanicismo Cartesiano. Disponível em: https://nexos.ufsc.br/-
index.php/peri/article/view/833. Acesso em: 29-06-2021.
37
René Descartes foi um dos grandes defensores da teoria mecanicista. Para ele, não
haveria distinção alguma entre as máquinas que os artesãos faziam e os inúmeros organismos
que a natureza sozinha era capaz de produzir, senão o fato de que os instrumentos que ligam
os corpos naturais são muito pequenos que não poderiam ser percebidos pelos sentidos.
Assim, um relógio que marca as horas é tão natural quanto uma árvore que produz frutos.
Não há que se falar em mecanicismo sem que se possa falar sobre reducionismo. Este
trabalha com a ideia de que é possível reduzir o domínio de fenômenos primitivos existentes
na natureza. Ou seja, uma partícula pode ser reduzida em moléculas, nas quais se encontram
átomos. A ideia central do reducionismo é encontrar o último componente da realidade.
Fazendo isso é possível encontrar explicações de variados fenômenos.
15. EPISTEMOLOGIA
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Quanto ao requisito “verdade”, diz que nem tudo que é crença é conhecimento. Ela
não exclui a crença, mas deixa claro que não é o único requisito, pois é necessário que haja
algo que permita que o pensamento de uma pessoa corresponda ao mundo real. Em outras
palavras, não podem ser considerados conhecimento os pensamentos que não dizem respeito
à realidade. Por exemplo, ninguém pode ter certeza que um elevador funcione corretamente
se não usá-lo pela primeira vez. Caso ele pare de funcionar no primeiro uso, não pode dizer
que sabia antes que ele funcionava perfeitamente. Assim, para que uma crença seja
considerada conhecimento, ela tem de ser uma verdade. Se esta não existir, o conhecimento
não existe.
Aliada a esses requisitos surge a falibilidade, que seria uma ideia filosófica no sentido
de que nenhuma crença pode ser sempre apoiada e justificada. Significa que, ainda que a
pessoa tenha uma falsa crença, é possível obter o conhecimento.
16. FENOMENOLOGIA
Mas o que seria um fenômeno? Para as pessoas em geral seria algo fora do comum,
mas para a filosofia ele significa a representação de uma coisa ou a forma como ela se
manifesta. O termo em si tem origem no grego e tem por definição: “aquilo que aparece”. A
dicotomia entre o ser e o parecer é que faz necessária a discussão acerca da fenomenologia.
40
Inicialmente, Husserl tinha essa visão realista das coisas, de modo que, se alguém
notasse a existência de um objeto, significava que duas coisas existiam: a consciência e o
objeto em si mesmo. Pouco tempo depois, ele mudou seu foco de estudo para analisar a
intencionalidade e o ego. Sua evolução se encaminhou para as ideias transcendentais.
A distinção entre o ponto de vista natural e o fenomenológico veio por meio de seu
livro “Ideias para uma fenomenologia pura”. No escopo natural, o indivíduo tem sua
consciência voltada para os objetos presentes de fato, enquanto que no olhar
fenomenológico, o indivíduo ultrapassa todas as barreiras externas para compreender a
consciência do objeto. Para isso, é necessário se desprender de diversas características de
sua experiência para se submeter a uma série de reduções fenomenológicas.
Husserl passou boa parte da sua vida se dedicando a esclarecer as ideias que giravam
em torno da redução transcendental, mas cada vez mais controvérsias surgiam. Assim, a
fenomenologia se dividiu entre aqueles que acreditavam na redução transcendental e aqueles
que se recusavam a acreditar nela.
Por fim, por meio da fenomenologia de Husserl pode-se concluir que os fenômenos
representam a manifestação da própria consciência do indivíduo, motivo pelo qual todo
conhecimento adquirido é também conhecimento sobre si próprio. O sujeito e o objeto se
tornam uma coisa só.
41
Criada no ramo da biologia, a teoria dos sistemas foi desenvolvida por Ludwig von
Bertalanffy nos anos de 1960. Segundo ele, apesar de os sistemas serem formados de
diversas particularidades, eles detêm características únicas que não podem ser encontradas
isoladamente em suas unidades. Para ele, os sistemas têm por finalidade alcançar um
objetivo que só é possível por meio de sua totalidade e, qualquer alteração que venha a
ocorrer em sua composição, surtirá efeitos no sistema como um todo.
A teoria dos sistemas visa alcançar resultados a partir da análise das intermediações
dos diferentes campos de conhecimento, buscando descobrir aspectos comuns que os
conectam. Isso permite evoluir na descoberta de problemas e princípios, trazendo mais
clareza no desenvolvimento de estudos. Cada área específica do conhecimento humano pôde
encontrar um objeto básico de estudo menor e fracionado. Seria o átomo para a Física, a
célula para a Biologia, etc. A concentração estava, pois, na análise de uma variável de cada
vez com vistas a conhecer cada particularidade.
Para Chiavenato7, os pressupostos que norteiam essa teoria geral dos sistemas seriam:
7
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 3ª Edição. S. Paulo: McGraw-Hill
do Brasil.1983.
42
18. CIBERNÉTICA
Wiener acreditava que a ciência ganharia novos ares a partir da segunda metade do
século XX em razão do alcance da informação. Algumas situações foram mudando com o
passar dos anos e a informática passou a ganhar lugar onde a manufatura dominava, trazendo
alterações no plano da economia.
43
Wiener foi responsável por visualizar que a informação, como quantidade, é tão
importante quanto a matéria e a energia. Por exemplo, a capacidade de transmissão de
energia pelo fio de cobre pode ser objeto de estudo tanto quanto as informações que ele
consegue comunicar. Chaves apud Asaro8 vem dizer que o propósito da Física era a
dominação da humanidade sobre a matéria e a energia, mas acabou cedendo lugar à
Cibernética, que prometeu a dominação da humanidade sobre a informação e a organização
de sistemas.
Tratada como uma ciência universal, a Cibernética não obteve grandes sucessos, mas
se tornou um marco na história por dar início a uma transformação na forma como vemos o
mundo, impactando fortemente na cultura moderna. Ela soube estabelecer um elo de
comunicação entre matemáticos, neurologistas, sociólogos, etc. Se tornou, pois, um
princípio de universal de unidade.
8
CHAVES, Viviane Hengler Corrêa. A revolução Cibernética: a nova cultura. Disponível em:
https://www.ufjf.br/ebrapem2015/files/2015/10/gd5_viviane_chaves1.pdf. Acesso em 03 de julho de 2021.
44
9
DIANA, Daniela. Teorias da Comunicação. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/teorias-da-
comunicacao/. Acesso em 05 de julho de 2021.
45
essa mensagem chegará ao destinatário, podendo ser por jornal, livro, televisão, telefone,
internet, etc.; o contexto, que remete ao complexo comunicativo da mensagem.
De igual modo acontece numa empresa, por exemplo. Se um setor está tendo um
rendimento abaixo do esperado, logo se vê o impacto nas demais áreas da empresa,
provocando, por vezes, a sua quebra ou falência. Daí a importância de se garantir o pleno
funcionamento de todos os departamentos, haja vista, ser o pensamento sistêmico um fator
decisivo na manutenção e desenvolvimento de qualquer grupo.
na qual o produto final passa por sucessivos processos de criação mais ou menos
independentes.
Além disso, numa empresa é importante que cada parte compreenda seu papel, haja
vista que se todos desempenhassem a mesma função da mesma forma não se chegaria ao
objetivo. Importante que todos compreendam que a multidisciplinaridade é essencial para a
sobrevivência de uma empresa, pois os conhecimentos se complementam.
Segundo essa teoria dos campos mórficos, de Rupert Sheldrake, tudo ao nosso redor
possui uma auto-organização que é pré-determinada pelos seus próprios modelos estruturais.
Ela propõe a ideia de que os campos é que orientam o modo de ser e de evoluir de todas as
coisas do universo, levando em conta que tudo está em constante movimento de evolução,
desde os corpos de todos os seres vivos até as mudanças em hábitos comportamentais.
Os campos mórficos, portanto, seriam responsáveis por levar informações por meio
do espaço e do tempo, entre seres de uma mesma espécie, desde o seu nascimento, e sem
nenhuma perda de intensidade. A sua influência se dá em sistemas cuja organização já está
bastante evoluída a ponto de lhes ser inerente. É a conhecida história hipotética da população
47
de macacos habitando em ilhas diversas, sem qualquer tipo de contato perceptível entre si.
Num determinado momento, um dos macacos tomou a iniciativa de lavar frutas antes de
comê-las e a partir disso outros macacos passaram a reproduzir tal comportamento, de modo
que os macacos da outra ilha também estavam fazendo o mesmo.
O exemplo dos macacos mostrou que não houve qualquer tipo de comunicação
convencional entre as duas populações e o conhecimento sobre lavar frutas antes de ingeri-
las apenas se incorporou aos hábitos da espécie. Essa é a ideia dos campos mórficos de
Sheldrake, cuja atuação se assemelha em muito aos campos magnéticos da física, como
quando se coloca um imã sobre uma folha de papel e se espalha pó de ferro sobre ela, logo
os grânulos de ferro se direcionam em linhas geometricamente precisas. Isto se dá porque o
campo magnético do ímã modifica tudo ao seu redor. Assim também ocorre com os campos
mórficos, que se distribuem no espaço e no tempo, trazendo conexão a todos os sistemas
individuais que a eles estão associados.
Nesse exemplo citado acima, Sheldrake classifica o fato do grupo de jaguatiricas não
ter capturado as lebres como um caso de ressonância mórfica. Segundo ele, a ressonância
mórfica estaria ligada a uma espécie de ação à distância no espaço e no tempo, como
influência do semelhante sobre o semelhante.
Rupert Sheldrake vai dizer que as condutas dos organismos não são apenas produto
de interações mecânicas no âmago do organismo, ou entre este e o seu ambiente imediato,
mas depende também das áreas com as quais o organismo se conecta em sintonia. Essas
48
áreas seriam estruturas de probabilidade, nas quais as influências do passado se unem para
aumentar a probabilidade de repetição. Assim, pela experiência dos alunos em sala de aula,
o grupo não havia sido induzido a planejar sua própria sobrevivência, mas essa ideia surgiu
diante da situação gerada, o que poderia ser entendido como uma reação adotada pelos seus
antepassados e que sugere uma possível existência de memória coletiva do inconsciente de
sobrevivência entre diferentes indivíduos de uma mesma espécie. Em razão disso, formas e
hábitos foram transmitidos entre gerações.
Nesse sentido, foi ganhando cada vez mais aceitação a compreensão de que os
processos naturais da vida são direcionados, em determinadas situações, por
comportamentos herdados por meio da ressonância mórfica, e não somente pelas eternas
leis. Logo, os organismos vivos herdam não apenas genes, mas também campos mórficos.
Sheldrake10 complementa:
Um fato a ser levado em conta no caso dos alunos é que nenhum deles pôde ter
contato um com o outro a ponto de tomarem qualquer decisão juntos, mas o ato de
interromper a predação surgiu quase que de forma simultânea entre todos. Não se trata, pois,
apenas de memória coletiva, mas de uma ideia de pertencimento a um mesmo campo
mórfico, que proporcionou o conhecimento empírico dos alunos voltado à consciência do
problema que estava por vir, caso devorassem todo o seu alimento.
Segundo Rupert Sheldrake, a nossa mente é capaz de irradiar uma energia oculta que
chega a se conectar de modo poderoso com tudo aquilo que está ao nosso redor. Por meio
do campo mórfico é possível reorganizar o nossa mente, atuando de forma invisível como
extensão das nossas células. Para ele, é como se houvesse um alongamento da nossa mente
para além da nossa cabeça, de forma a se estabelecer uma conexão com o mundo, outras
pessoas e com o nosso ambiente.
Em seu livro “Uma Nova Ciência da Vida”, Rupert Sheldrake retrata que os campos
mórficos funcionam mudando a probabilidade de eventos puramente aleatórios. Ao invés de
uma grande aleatoriedade, ele entende que certas coisas apenas acontecem em vez de outras,
10
SHELDRAKE, R. A ressonância mórfica e a presença do passado: os hábitos da natureza. São Paulo: Crença
e Razão, 1998, p. 116.
49
e é assim que ele acredita que tudo se faz, como se as informações propagadas de geração
em geração ajudassem a entender como a vida atual se formou. Não se trata de mera
especulação, mas de compreensão de padrões comportamentais que ajudam a prever ações,
resultados e hábitos.
Rupert Sheldrake traz um exemplo de como uma conduta do passado pode afetar
comportamentos futuros dentro do núcleo familiar. É o caso do integrante da família que é
expulso e afastado do vínculo, como quando pratica um crime e a família o rejeita por
desrespeitar a honra do grupo. Esse tipo de exclusão afeta o campo mórfico familiar de tal
maneira que posteriormente esse comportamento irá se repetir com outro integrante do
grupo.
As pessoas muitas vezes procuram respostas para os seus problemas e acreditam que
tudo está atrelado às suas experiências atuais, quando, na verdade, muitos deles dizem
respeito àquilo que não foi resolvido no passado pelo grupo que integra. Existem pendências
familiares que precisam ser identificadas para que a solução seja encontrada. Somente
quando isso ocorre é que as gerações presentes e futuras ficam livres do comportamento.
No nível da consciência, Freud considera ser ele a menor parte da mente humana,
pois é onde está tudo aquilo que podemos perceber e acessar intencionalmente. É através da
consciência que podemos nos conectar com o mundo externo e controlar o nosso conteúdo
mental.
Por último, o inconsciente está relacionado a tudo aquilo que não está disponível para
a pessoa em um dado momento. Freud considera o mais importante nível da mente, porque
tudo aquilo que não conseguimos mais lembrar está guardado nele. As memórias de infância,
os amigos, viagens, estudos, as primeiras compreensões, tudo isso está reservado como numa
biblioteca da mente, só sendo possível o acesso através de sonhos, de atos falhos e da terapia
psicanalítica.
Muito embora Freud retrate a mente em três níveis, ele deixa claro que esses
compartimentos não são fechados e imutáveis. Ele defende uma certa fluidez entre os níveis
e deixa claro que os conteúdos presentes no consciente podem ser reprimidos a ponto de
fazerem parte do inconsciente. Da mesma forma acontece quando do inconsciente surge uma
memória obscura em sonho ou por meio de uma sessão de psicanálise.
51
Além disso, Jung foi um estudioso que mergulhou em várias áreas da ciência para
agregar conhecimento, desde a neurologia até aspectos da mitologia grega, bem como da
parapsicologia. A partir de sua dedicação à arqueologia, ele desenvolveu a teoria dos
arquétipos, que aborda símbolos universais contidos no inconsciente humano.
com suas capacidades mentais. Ele ainda afirma que todos nascem com uma herança
psicológica e biológica, e são elas que determinam a forma como cada um se comporta.
Ao falar sobre o inconsciente coletivo, Jung ressalta ser ele o centro de todo material
psíquico que não se adquire pela experiência pessoal, mas que decorre de tudo aquilo que é
compartilhado por pessoas de diversas épocas e culturas, enquanto que o inconsciente
individual está ligado às memórias do passado de cada indivíduo. O que ele quer dizer é que
nossa mente nasce com uma estrutura que é capaz de determinar o seu desenvolvimento no
futuro e a forma como interage no presente.
Segundo Janov, toda a dor provocada pela falta de amor quando criança nunca vai
embora. Ela é capaz de ficar gravada no cérebro, nos músculos, nos ossos. Só por meio da
“cura primal” é que o indivíduo consegue usufruir de toda liberdade nunca antes sentida. É
necessário buscar na memória as dores, traumas e rejeições sentidas ainda na infância e, ao
chegar no ápice de sua dor, o indivíduo é conduzido a soltar o “grito primal”, fazendo com
que suas emoções sejam totalmente liberadas, alcançando, por conseguinte, a tão esperada
cura.
A terapia primal tem por objetivo erradicar essa “dor primeira”. É um método
revolucionário porque implica na desconstrução do sistema neurótico em virtude de um
impacto brutal. Para Janov, as neuroses só podem ser extirpadas por um processo desse tipo.
ponto de se espernear, gritando em alta voz como que de forma involuntária. Aos poucos os
movimentos foram se tornando mais brandos a ponto de o jovem soltar um grito de agonia
mortal, abalando tudo ao redor.
Ao encerrar a sessão, o jovem parecia ter superado todas as suas crises. Aquele fato
deixou Janov perplexo por meses, e a compreensão só foi possível após outra
experimentação tempos depois, o que provou que não se tratava de mero acidente, mas de
um novo método que precisava ser estudado e desenvolvido. E foi isso que Janov fez por
anos em seus atendimentos. Ele entendeu que o grito é consequência da dor central e
universal que habita em todos os neuróticos. Seria esse grito a dor primal sobre a qual
crescem e evoluem todas as neuroses.
Para Janov, essa dor primal permanece latente em todos os neuróticos, de modo que
é difundida por todo o organismo do indivíduo, afetando órgãos, músculos, sistema nervoso
e provocando distorções no comportamento.
O que mais causa morte no mundo hoje não é o câncer, nem as doenças do coração,
mas a repressão. Daí advém a importância da terapia primal com fim de combater tantos
sofrimentos nos seres humanos. Descobrir uma forma de tratar a dor é uma demonstração de
que existe forma de salvar o indivíduo da miséria que se encontra atolado todos os dias.
A terapia primal baseia-se no fato de que todos nós nascemos sendo nós mesmos,
desligados de qualquer tipo de neurose ou psicose. O que essa terapia faz é desmontar todas
as causas de tensão do sistema de defesa e das neuroses. Ser saudável, portanto, é não possuir
sistemas de defesa, porque tudo aquilo que contribui para o fortalecimento de um mecanismo
de defesa torna mais profunda a neurose. A pessoa passa a externar um melhor
comportamento, enquanto internamente a tensão se torna cada vez maior.
A análise transacional é uma teoria sobre o desenvolvimento humano e foi criada nos
EUA na década de 1950 pelo psiquiatra canadense Eric Berne. Ela nada mais é do que uma
abordagem psicológica de linha humanista que retrata os aspectos mais relevantes da
personalidade, do desenvolvimento humano, da comunicação e das relações intersubjetivas.
54
Eric Berne é o principal nome quando se fala em análise transacional. Ele viveu entre
os anos de 1910 a 1970, estudou psicanálise e psiquiatria, mas em razão de suas predileções
nunca se tornou um analista profissional. Berne ingressou no exército como psiquiatra em
1943, durante a 2ª Guerra Mundial, colocando em prática a terapia de grupo e fazendo o
recrutamento de soldados, oportunidade em que desenvolveu seus estudos sobre a intuição.
Eric Berne sempre acreditou que cada pessoa possui um potencial enorme para
crescer e ser feliz, o que muitas vezes impede isso são as ações baseadas nas expectativas de
terceiros, como os pais que, de forma até mesmo inconsciente, acabam criando limites e
embaraços na vida dos seus filhos. Berne sustenta que conhecer a si mesmo é a chave do
sucesso. Quanto mais a pessoa sabe sobre si, mais habilidades ela terá.
A AT acredita existir uma crença de que cada pessoa deseja se sentir bem consigo
mesma e manter bons relacionamentos por onde quer que for, e ainda, que se cada um
comunicar com clareza seus objetivos, necessidades e desejos não haverá porquê existirem
relações improdutivas ou insustentáveis.
➢ Ela traz a ideia de que todos são capazes de vencer na vida, a não ser que sofram
alguma afecção orgânica grave;
➢ Possui uma linguagem de fácil compreensão;
➢ Ela é objetiva, pois foi desenvolvida de acordo com as experiências que Eric Berne
vivenciava;
➢ É preditiva, pois leva em conta a história contada pelo indivíduo, seus sinais de
comportamentos, sem deixar de lado o poder da intuição;
➢ É eficaz, pois permite que o paciente compreenda seu comportamento e dos demais
logo no início do tratamento;
➢ Preza pela igualdade, pois considera todos iguais e com potencial positivo para
vencer, afirmando que não existe ninguém melhor que ninguém.
É comum que no decorrer das nossas vidas venhamos a perder capacidades que são
inatas a todos nós, seja por conta de estresse ou mesmo por traumas que adquirimos ainda
na infância. A teoria da análise transacional trabalha precipuamente nessa recuperação,
55
Tenhamos como exemplo de trauma transgeracional o seguinte caso: Maria relata ter
sofrido abuso sexual na infância, mas nunca chegou a comentar isso com ninguém, nem
mesmo com seus pais. Ao chegar na fase adulta ela simplesmente decide ignorar os fatos
ocorridos, deixando de buscar apoio psicológico para tratar esse trauma.
São muito comuns os casos como o de Maria. A pessoa acredita que deixar de lado é
a melhor forma de resolver o passado, quando na verdade, esse problema vem apenas
crescendo e se manifesta na vida de quem sofreu o trauma de diversas maneiras, como numa
crise de ansiedade, numa depressão ou insônia, ou ainda, por meio de distúrbios alimentares,
baixa autoestima, com um sistema imunológico deficiente, o que faz com que essa pessoa
esteja mais vulnerável a doenças infectocontagiosas.
56
Digamos que Maria tenha tido um filho e a ele dedica todo o seu amor e afeto. Mas
ela percebe que cuidar do filho faz com que ela tenha noites mal dormidas, muita falta de
atenção, sonolência constante e, consequentemente, bastante estresse. Ao ser chamada na
escola para conversar sobre o comportamento do seu filho, logo ela acredita que seu papel
de mãe não tem sido eficiente e começa a questionar suas atitudes, como se estivesse fazendo
algo de errado.
Na verdade, não há razão para Maria questionar sua postura como mãe. O fato de
Maria ter sido abusada sexualmente quando criança provocou impacto no seu filho. É o que
diz o psico-historiador Peter Loewenberg, um dos principais especialistas em trauma
transgeracional.
Somos ensinados desde criança que recebemos uma herança genética dos nossos pais
e que isso define nossos traços físicos e também o nosso temperamento. Mas quando falamos
sobre herança de traumas parece que isso é algo inimaginável. É sobre isso que a epigenética
trata.
Segundo a epigenética, tudo o que fazemos no presente pode afetar a vida dos nossos
filhos, seja nossos hábitos alimentares, o ambiente em que vivemos ou até mesmo as escolhas
que traçamos para as nossas vidas. Isto se dá pelo chamado “epigenoma”, que é capaz de
modificar a essência de certos genes de acordo com as variáveis citadas.
Importante deixar claro que quando falamos em trauma transgeracional, não quer
dizer que nossa vida será definida a partir dos traumas que nossos antepassados vivenciaram,
mas que haverá uma probabilidade muito maior de sofrer de certos problemas emocionais.
Como no exemplo de Maria, o que deveria ser feito por ela seria buscar mecanismos e
estratégias corretas para lidar com seu passado, rompendo de vez com os traumas. O
resultado advindo dessa superação permitirá uma vida plena para si e para sua descendência.
solidariedade aos pais, decidem ser obesos como forma de honrar seus genitores, evitando
deixá-los para trás. É a repetição de histórias dolorosas dos antepassados e a herança que
será deixada para os descendentes.
É comum recebermos mais influência dos nossos pais, que são as pessoas que, em
regra, temos maior proximidade e a quem queremos retribuir todo amor. Para isso, adotamos
características negativas deles como forma de absolvê-los de toda culpa e também para
superar a dor que nos causou. E mais: há o desejo de se identificar com eles para estar mais
próximo, sendo aceito e amado.
Foi estudado que durante anos que boa parte dos transtornos e doenças que acometem
as pessoas no decorrer da vida resultam de algum desequilíbrio no sistema familiar. É o
equilíbrio de troca que faz com que o sistema tenha continuidade, ou seja, é o quanto cada
um contribui e recebe de volta. Se há uma troca injusta, uma pendência pode surgir
desencadeando graves problemas.
Cada dívida não quitada no seu tempo gera uma pendência para as gerações
seguintes, que terão que arcar com as consequências dessa falta de resolução. É uma carga
que a posteridade não deveria assumir, mas que pela falta de comprometimento dos seus
antecessores terão que por ela responder.
Bert Hellinger fala em seu livro “Um lugar para os excluídos11” sobre a liberdade de
agir dentro do sistema:
11
HELLINGER, Bert. Um lugar para os excluídos: conversas sobre os caminhos de uma vida. Patos de Minas:
Atman, 2006, p. 54.
58
Sobre essas regras internas, Bert Hellinger vai dizer que é a lealdade a elas que faz
com que a pessoa repita destinos difíceis. É a ideia de pertencimento ao sistema e, ao fazer
isso, busca-se espelhar em condutas já praticadas por outros membros.
A escultura é uma técnica baseada numa abordagem sistêmica, criada por Virgínia
Satir, e que tem por fundamento a Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida em 1930, e a
Teoria da Comunicação, objeto de estudo entre os anos de 1960. Ela foca nas relações
interpessoais, no contexto e circunstâncias que envolvem um grupo, permitindo uma análise
não verbal e para verbal incluindo o corpo e suas linguagens.
Criada na década de 1950, a escultura surge na busca pelo significado do espaço nas
relações humanas. É uma técnica terapêutica que envolve um determinado número de
pessoas alocadas num certo espaço como forma de identificar possíveis entraves entre elas
e que podem trazer uma resposta aos conflitos individuais ou do grupo como um todo. Ela
pode ser definida como uma “expressão plástica simbólica da estrutura vincular de um
sistema, obtida por meio da instrumentalização dos corpos de tal sistema” 12.
12
LÓPEZ, B. E.; POBLACIÓN, K. P. E. A Escultura na psicoterapia: Psicodrama e outras técnicas de ação.
São Paulo: Ágora, 1999, p. 144.
59
pode ser dinâmica. Ao concluir a montagem da escultura, é importante que cada componente
compreenda seu papel e manifeste suas sensações a partir da forma como foi colocado ali.
A escultura já vem sendo utilizada há décadas no âmbito clínico com pessoas, casais,
famílias ou grupos variados e visa auxiliar o terapeuta na análise do padrão de funcionamento
dos clientes, compreendendo os pontos que precisam ser levantados e trabalhados.
21.9. Psicodrama
Jacob Levy Moreno, já citado neste livro, foi o responsável por desenvolver a técnica
do psicodrama. Ele viveu entre os anos de 1889 a 1974 e manifestava uma paixão pelo teatro
desde criança. Durante a adolescência reuniu um grupo de amigos e criou uma espécie de
religião que era voltada à criatividade e ao anonimato. Por meio dela, auxiliava os
necessitados e discutia diversos assuntos da teologia e filosofia.
O psicodrama, segundo Moreno, visa trazer a mente para fora do corpo. Com isso é
possível se obter uma percepção mais assertiva e uma forma de tratamento. Uma
60
característica dessa técnica é a representação de papeis, que pode ser usada em crianças ou
adultos, de forma individual ou em grupo.
Moreno traz a ideia de que o homem por si só é um ser que necessita do outro para
sobreviver. Fazer parte de um grupo, estar alicerçado a alguém, é uma característica básica
do ser humano. Assim como o ato de nascer requer a intervenção de outra pessoa, a
adaptação ao mundo exige a colaboração de alguém e as técnicas do psicodrama são
importantes nesse momento para que a pessoa obtenha um desempenho melhor no meio que
vive.
A capacidade de criação faz parte de todos e é adquirida dentre outras coisas pelos
relacionamentos, na medida em que a pessoa vai crescendo e se desenvolvendo física e
emocionalmente. Mas existe a possibilidade disso se perder a depender do ambiente e da
pressão que o meio faz, levando o indivíduo a internalizar tudo.
A teoria do papel, por sua vez, retrata o conjunto de identidades que o ser humano
pode assumir. Os papeis desempenhados representariam evoluções do ego humano e, ao
crescer, esse leque pode aumentar, mas também restringir a ponto de ser inibido,
necessitando, pois, de um resgate, que é a função do psicodrama.
Durante uma sessão de psicodrama, o instrutor primeiro trabalha pontos com o grupo
que podem ser discutidos na encenação. É importante criar um ambiente confortável entre
os envolvidos, a fim de quebrar todas as barreiras que impedem o entrosamento. Após,
seleciona-se os protagonistas da dramaturgia. Os personagens são definidos, bem como as
cenas que acontecerão, sendo possível a utilização de objetos para compor o ambiente. É
importante que todos se mantenham concentrados e permitam sentir o clima da cena.
A partir do momento que alguém observa outra pessoa expressando uma reação, o
observador é atingido pelas mesmas emoções, como se dela vivenciasse diretamente. Os
neurônios-espelho conduzem a uma vida mais empática, colocando em evidência a
capacidade que todos têm de estabelecer ressonâncias com as outras pessoas e de criar
relações interpessoais mais sólidas.
O criador do termo foi o psicólogo alemão Karl Buhler, que era famoso pela sua
atuação na Gestalt Terapia. O termo insight começou a ser utilizado na psiquiatria geral,
desde o início do século XX, para designar o conhecimento pelo paciente de que os sintomas
de sua enfermidade são anormalidades ou fenômenos mórbidos. Sua ausência estaria
relacionada às causas que levariam à psicose.
O insight pode ser definido para a Gestalt Terapia como um evento cognitivo no qual
a relação entre fatores psicológicos dão forma a uma figura compreensível para o sujeito. A
falta dele seria um fator determinante para o surgimento de transtornos como a esquizofrenia
e a doença bipolar. É o insight que leva ao reconhecimento da doença e a sua recuperação,
daí a sua importância.
Buscar soluções repentinas é uma das características principais do insight, que faz
com que o indivíduo enxergue a solução que pretende alcançar em um estalar de dedos. É a
partir do inconsciente que o insight se manifesta, ao contrário do processo natural de
resolução de conflitos.
A ideia genial surge de forma inesperada. É como a lei da gravidade de Isaac Newton,
que ganhou seus primeiros contornos após uma maçã cair em sua cabeça, ou quando
matemático grego Arquimedes falou “eureca!” ao conseguir medir o volume de um objeto
em uma banheira. Na ocasião, ele precisava descobrir se a coroa do rei de Siracusa era de
ouro maciço ou não. Nem Isaac Newton e nem Arquimedes estavam estudando ou sequer
pensando no assunto quando a ideia surgiu. Ela simplesmente aconteceu, por isso alguns
estudiosos sugerem que existe algo a mais por trás dos insights, como o uso mais intenso do
hemisfério direito do cérebro durante sua ocorrência.
Por meio do insight, as soluções surgem de forma nunca antes pensada e as maiores
ideias, responsáveis por mudar o mundo, são criadas, tudo repentinamente. É a iluminação
da consciência proporcionando o despertar da mente para resultados inimagináveis. A
criatividade ganha destaque e as pessoas passam a dominar uma técnica de resolução de
conflitos mais eficaz.
63
É comum que desde criança sejamos estimulados a pensar de forma pensar de forma
linear ou de forma mais complexa. O insight vem justamente para ratificar a importância do
termo “pensar fora da caixa”, que é a busca pelo caminho mais dificultoso e,
consequentemente, com ideias cada vez mais inovadoras. É levar o cérebro a explorar
possibilidades até então escondidas e isso só se torna viável quando a mente se abre para
aceitar o novo.
Há quem diga que o insight conduz a benefícios terapêuticos aptos a nos levar a
concretizar outros insights. Ou seja, a partir de um primeiro insight nós compreendemos com
mais clareza os fatores que interferem na nossa forma de pensar e agir e, assim, é possível
que outros insights aconteçam. Seria ele, pois, parte de uma ideia e não uma ideia
propriamente dita. É na verdade um processo circular na mente humana, que coloca o
indivíduo em constante evolução.
Para termos uma mente mais aguçada às transformações é importante que ela esteja
aberta ao novo e desvencilhada de molduras sociais que foram impostas ao longo do nosso
crescimento. Se nos mantivermos focados apenas naquilo que já conquistamos, a nossa
percepção ficará prejudicada e condicionada a reproduzir a mesma lógica continuamente.
Criados na década de 1950, pelo filósofo e mestre em teoria dos sistemas, Gregory
Bateson, e conduzidos para a Programação Neuro Linguística – PNL por Robert Dilts, os
níveis neurológicos nada mais são do que a capacidade que temos de receber, armazenar,
processar e aprender informações do mundo e suas inter-relações com aquilo que captamos.
São processos mentais que se relacionam de forma escalonada, compreendendo a forma
como tudo se conecta através de canais sensoriais, como audição, visão, tato, olfato e
paladar.
Para Bateson, cada nível possui a função de sintetizar e organizar as funções dos
níveis inferiores. Sendo assim, toda e qualquer alteração em um dos níveis superiores
inevitavelmente irá influenciar os que se encontram mais abaixo. O inverso, todavia, nem
sempre poderá acontecer.
Tudo o que for perceptível no ambiente poderá ser uma possibilidade a mais de
efetivamente efetuar tarefas. É a partir das informações coletadas no meio que os
comportamentos surgem, formando mais um nível nessa escada neurológica. A noção do
que seja apropriado ou não de acordo com os recursos constatados é que fomenta o
comportamento no ambiente.
As habilidades, por sua vez, estão num nível acima do comportamento, já que exigem
do indivíduo a capacidade de dominar tarefas. De nada adianta estar numa fazenda que
possua um trator disponível para uso se a pessoa não consegue dirigi-lo. O não saber dirigir
trator limita a pessoa ao nível inferior. Eis a importância de sempre estar em busca de novas
habilidades.
Aquilo que cremos tem um papel fundamental na hora de definir nossas habilidades
e comportamentos, por isso a crença se encontra num nível acima destes. É ela quem define
o que é permissivo ou não para cada um. Por exemplo, no caso do trator, ele pode estar
disponível e o indivíduo ter habilidades para conduzi-lo, contudo, o medo de pegar algo
emprestado pode impedi-lo de dirigir, já que acredita que tudo o que é dos outros, quando
usado, pode dar problema.
Entretanto, a crença também pode ser projetada para o bem, como quando alguém
acredita piamente que é inatingível na corrida. Inconscientemente, o indivíduo age na
expectativa de superar outras pessoas e a si mesmo para garantir um desempenho inigualável.
Seria isso uma “autossabotagem do bem”.
Logo após o nível da crença vem o nível das prioridades, que se referem às coisas
que realmente consideramos importantes. Se alguém estuda para concursos e acredita que
vai passar, essa crença pode não ser verdadeira quando confrontada com o fato de que a
pessoa não se dedica com afinco aos estudos, já que passa boa parte do seu tempo viajando
e em festas. Tudo aquilo que é importante de verdade se manifesta através das atitudes.
O nível da identidade vem logo depois da prioridade e traz a reflexão de como nós
conseguimos enxergar a nós mesmos. Esse nível está acima de todos os demais citados
anteriormente e é formado por elementos: a autoimagem, que diz respeito a forma como cada
pessoa se vê em seu imaginário; os metaprogramas, que se referem a padrões genéticos em
grande parte destinados a processar informações; e, a auto estima, que é o valor que cada um
dá a si mesmo. Quando alguém aceitar ser tratado de forma abusiva está demonstrando uma
autoestima deficiente.
É o que acontece quando ocorre rixa entre gangues de bairros nas cidades grandes: a simples
ideia de pertencer ao bairro motiva pessoas normais a agirem fora da razão.
Quando temos a noção de que precisamos lutar por algo maior ou que compreender
a nossa missão de vida é fundamental, estamos no nível sistêmico ou espiritual. Nele
buscamos a razão da nossa existência, como se cada um possuísse uma missão sem a qual
não conseguiríamos alcançar a plenitude e sermos felizes.
Há uma citação que diz que a mente humana é como uma faca que cada vez que é
usada vai ficando mais cega. Chega um momento que é necessário parar para afiá-la, mas
ninguém faz isso de verdade, porque está sempre correndo contra o tempo. Logo os
problemas surgem e ficam difíceis de serem resolvidos, já que a mente está exausta a ponto
de todo o restante do corpo sentir os seus efeitos.
Mark Williams vai dizer que “ser consciente significa abandonar os julgamentos
durante um tempo, deixar de lado os nossos objetivos imediatos para o futuro, e deixar o
momento presente como ele é, e não como nós gostaríamos que ele fosse”. Viver a vida é
viver o momento presente como ele tem que ser, sem as cobranças da rotina que afetam
drasticamente a saúde física e mental.
21.14 Autoconhecimento
esses fatores que deve ser alcançado para que não reste espaço suficiente para manipulações
e fragilidades. Ainda pode haver reflexão sobre os comportamentos até então realizados e as
atitudes tomadas para verificar os atos negativos e a partir de então evitá-los.
É respondendo a cada pergunta sobre si que a pessoa descobre do que gosta ou não,
bem como quais desafios precisa enfrentar, quais pessoas estão prejudicando seu
crescimento, quais suas metas de vida, etc. É um processo contínuo, pois a cada dia surgem
novas situações que levam o sujeito a ser testado. Por isso, é importante estar sempre atento
aos seus atos e emoções.
O amor é como um sentimento que todos os seres humanos já devem ter sentido em
algum momento da vida, assim como a felicidade, a tristeza, a raiva ou a admiração. Isso
acontece porque todos nós somos seres que possuem uma dualidade de luz e sombra.
O estudo acerca da dualidade “luz e sombra” vem para nos mostrar que todos nós
somos seres com capacidade de sermos pessoas incríveis e ao mesmo tempo pessoas
deploráveis. Somos seres iluminados e também sombrios. Essa dicotomia faz parte de nós e
é um desafio para cada um compreendê-la e aceitá-la, e a partir de então, honrá-la e respeitá-
la.
Quando pensamos em melhorar algo na nossa vida, temos que trazer à nossa
consciência a importância de honrar e respeitar a luz e a sombra que existem no nosso
interior, pois são elas que dão forma à nossa personalidade e não apenas um ou outro. A
bondade só é perceptível quando entendemos o que é a maldade. Igualmente, entender um
comportamento negativo requer conhecer o oposto dele e reconhecê-lo dentro de si próprio.
Ir ao mais profundo do nosso ser para identificar as obscuridades não é uma tarefa
fácil e exige um olhar alheio de todo e qualquer julgamento, pois a tentativa de combater a
sombra é e sempre será um duelo falho. Todos nós só conseguimos ser luz porque a sombra
existe, logo, é ela que vai direcionar o caminho a ser seguido para o melhor que existe dentro
de cada um.
Engana-se quem pensa que a sua sombra se encontra no oculto, onde ninguém de
fora pode vê-la ou julgá-la. Pelo contrário, ela está exposta e o mundo a enxerga com muita
clareza. Existem pessoas que só conseguem observar a sombra na vida de outras, mas na sua
própria vida veem apenas a luz. Também há aqueles que só olham para a sua sombra e não
conseguem ver luz em sua vida, apenas na dos outros. Em ambos os casos existe um
problema a ser enfrentado.
Como dito antes, nossas sombras fazem parte de nós, sendo assim, não faz sentido
querer extirpá-las do nosso ser, como muitos pensam ser possível. Nós somos formados de
ambiguidades e contradições, razão pela qual o nosso inconsciente é cercado de mistérios.
Para que se possa compreendê-lo é fundamental se desprender de todo e qualquer julgamento
e enxergar o “mal” sob uma nova ótica. Por isso, é preferível denominá-lo de “sombra”,
afinal, existe alguém que não possua sombra?
Toda e qualquer experiência que passamos na vida é importante para nos moldar,
implementando mudanças que nos levarão a níveis mais altos de conhecimento para sermos
68
pessoas melhores. Os erros e fracassos ensinam a nos reerguer e a lidar com as adversidades
da vida, nos tornando cada vez mais fortes e, quando entendemos isso, passamos a admirar
mais quem nós somos, quem nos tornamos e quem desejamos ser.
Existe uma leveza maior quando se entende sua própria história e a aceita com mais
amor e compreensão. Compreender a si mesmo é importante para que não haja punições
pessoais por erros ou culpas, pois cada um passa a saber o que precisa ser feito para não
ultrapassar seus limites. Isso reflete o respeito por sua própria história.
Ser grato por tudo o que já aconteceu, honrar a história da família e das pessoas ao
redor, lembrar sempre de quem é e do que já conquistou, praticar o amor, evitar culpas e
julgamentos excessivos são exemplos de condutas que auxiliam no crescimento pessoal,
respeitando e honrando a luz e a sombra que existe dentro de cada pessoa.
Essa lei faz alusão à consciência divina que cada um possui e como ela é capaz de
viabilizar inúmeras possibilidades a partir de sua criatividade e inspiração divina. É
desprendida de qualquer forma de julgamento e não possui dependência externa, o que
permite alcançar uma verdadeira realização, pois não existem conflitos entre seus desejos e
a sua real essência.
Uma técnica eficaz para ativar a potencialidade pura é realizar meditações, levando
a mente a um estágio de calmaria em seus pensamentos até chegar numa totalidade de paz e
serenidade. Poucos minutos por dia são suficientes para se chegar a resultados satisfatórios.
A troca de energia faz parte de toda e qualquer experiência humana, pois cada ser
que existe em nosso planeta possui sua própria carga energética. A alma possibilita vibrar e
emitir várias energias positivas ou não e é o ato de se dispor a entregar energias positivas
que fará com que as receba de volta.
É importante ter sinceridade nas ações e ser bem intencionado em tudo, praticando a
compaixão e, sempre que possível, oferecendo ajuda ao próximo. O ato de olhar para o outro
e se colocar no lugar dele enriquece a alma. Uma simples oração é um grande passo para
uma grande transformação de vida.
As escolhas que fazemos durante a nossa caminhada, bem como as decisões que
todos nós tomamos no percurso traçam os efeitos correspondentes a cada uma dessas ações
de forma proporcional. Ou seja, a prosperidade só será alcançada, por exemplo, por aquele
que tomar a decisão de ser próspero, assim como só terá paz aquele que a busca e só se
sentirá ofendido aquele que assim quiser ser.
Possuir uma atenção especial para cada decisão tomada é fundamental para
compreender os efeitos que elas terão. O hábito de sempre pensar bem antes de decidir deve
fazer parte da rotina de todos nós. É preciso trazer o controle das decisões para o consciente,
pois assim é possível evitar resultados negativos.
Essa lei reflete a capacidade de cada um de se aceitar de um modo geral. É saber que
certas coisas acontecem pelo simples fato de existirmos. Os fatos, as alegrias e as tristezas,
as festas e os funerais, tudo serve a algum propósito e sempre nos ensinam algo. Esse tipo
de raciocínio nos conduz a uma vida mais confortável, em que não se busca achar um
culpado para cada situação. Essa compreensão faz abrir a mente para enxergar com mais
evidência os caminhos certos a serem percorridos.
Cada vez que uma situação negativa surgir, é importante refletir como aquilo se deu
e saber que existe um propósito por trás dela. Evitar culpar alguém ou a si mesmo pelos
infortúnios da vida é um hábito que deve ser repetido diariamente.
Tudo o que existe no universo possui energia e contem informações que partiram de
energia condensada. A saber, o universo é composto de um campo quântico de inúmeras
possibilidades, e assim são os desejos e intenções que pulsam no sentido de influenciar esse
campo energético a produzir sua própria energia. Todos os seres são formados a partir de
suas próprias vontades de energia e caracteres diferenciados.
Essa lei vem promover a aceitação de que o universo e seu campo quântico permitem
a concretização de infinitas possibilidades. Significa que tudo está disponível para ser
conquistado e ninguém deve se sentir preso a um determinado caminho. Há várias
oportunidades todos os dias e é preciso nos desprendermos de todos os obstáculos que nos
aprisionam para nos lançarmos em direção a cada novo caminho.
Há uma sabedoria popular que diz que se alguém é capaz de sentir de forma profunda
o outro, este o perceberá mesmo que esteja a milhares de quilômetros de distância. Isso quer
dizer que, ao permitir mudanças no interior, surgirá uma luz que irá irradiar para todos os
que estiverem por perto.
Há uma estória criada pelo teólogo e filósofo Leonardo Boff chamada “O boneco de
sal”, que narra o sentido da perda que produz ganho. Vejamos:
Era uma vez um boneco de sal. Após peregrinar por terras áridas chegou a
descobrir o mar que nunca vira antes e, por isso, não conseguia compreendê-lo.
Perguntou o boneco de sal: ‘Quem és tu?’. E o mar respondeu: ‘eu sou o mar’.
Tornou o boneco de sal: ‘Mas que é o mar?’. E o mar respondeu: ‘Sou eu’. ‘Não
entendo’, disse o boneco de sal. ‘Mas gostaria muito de compreender-te; como
faço’? O mar simplesmente respondeu: ‘toca-me’.
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Então o boneco de sal, timidamente, tocou o mar com a ponta dos dedos do pé.
Percebeu que aquilo começou a ser compreensível. Mas logo se deu conta de que
haviam desaparecido as pontas dos pés. ‘Ó mar, veja o que fizeste comigo!’ E o
mar respondeu: ’Tu deste alguma coisa de ti e eu te dei compreensão; tens que te
dares todo para me compreender todo’. E o boneco de sal começou a entrar
lentamente mar adentro, devagar e solene, como quem vai fazer a coisa mais
importante de sua vida. E, na medida em que ia entrando, ia também se diluindo
e compreendendo cada vez mais o mar. E o boneco continuava perguntando: ‘que
é o mar?’. Até que uma onda o cobriu totalmente. Pode ainda dizer, no último
momento, antes de diluir-se no mar: ‘Sou eu’.
Assim sendo, se eu faço parte de uma família que é corrupta e se dedica a práticas
contrárias a lei, eu só conseguiria me sentir integrante desse grupo familiar quando
começasse a realizar as mesmas condutas. Ser corrupto e violador da lei é um conceito de
inocência dentro da família. Os padrões familiares escondem sentimentos, emoções e
situações antigas das quais não temos a menor consciência.
Quando eu aprendo a lidar com meus sentimentos, a colocar limites na minha vida e
a cuidar daquilo que diz respeito a minha vida, eu passo a viver de forma mais leve, pois o
controle da vida do outro não está em minhas mãos. É importante que a cada vez que
pensarmos em julgar ou condenar alguém, nos lembremos que essas atitudes não pertencem
a nós, mas aos nossos antecessores e devem ser deixados com eles.
Cientistas e filósofos ainda não conseguiram desvendar o que são as emoções e como
elas se originam, muito embora saibam que elas são inerentes a todos os homens. Estão
presentes em todas as culturas pelo mundo e se manifestam de diferenciadas maneiras. Os
atos de rir, chorar, gritar, brigar são exemplos de alguns sentimentos que não possuem o
mesmo significado – o coração de alguém pode acelerar de medo ou de alegria, por exemplo.
A maneira como a pessoa se sente é que determinará como ela irá agir. Por isso, é
importante termos autoconhecimento, pois ele traz a possibilidade de entendermos melhor a
nós mesmos e aqueles que convivem conosco. Ao invés de brigarmos com alguém que fez
algo que nos atingiu negativamente, devemos tentar entender as emoções e sentimentos que
estão envolvidos e obter uma visão mais positiva.
13
OLIVETO, Paloma. O mistério das emoções começa a ser desvendado pela ciência. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2013/07/19/interna_tecnologia,425012/o-misterio-das-
emocoes-comeca-a-ser-desvendado-pela-ciencia.shtml. Acesso em 14 de agosto de 2021.
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reações orgânicas do corpo, como suor ou lágrimas. As emoções são direcionadas para o
exterior, por isso sempre vão expressar algo.
Os sentimentos decorrem das emoções. Eles são influenciados, em grande parte, pelo
histórico de vida de cada pessoa e isso inclui crenças e experiências vividas. Por isso as
reações são diferentes em cada pessoa. Enquanto alguns se aborrecem mais facilmente,
outros conseguem se manter calmos com mais frequência, ainda que diante de situações
graves.
Denomina-se a primeira fase da vida a que vai do útero até os sete anos de idade.
Nesse momento a pessoa terá o registro das emoções vividas e interpretá-las-á de forma
subjetiva, conforme suas experiências e então criará padrões de sentimentos e
comportamentos. Quando os pais encorajam seus filhos desde cedo sobre suas qualidades,
eles tendem a crescer mais seguros de si e conscientes de seus talentos.
Por outro lado, existem aqueles que foram criados num contexto de repressão e
rejeição. Pessoas assim se tornam inseguras e podem ter problemas sérios de autoestima.
Sendo assim, necessitam tratar os seus sentimentos e encontrar nas experiências negativas
da vida elementos que a conduzam ao seu crescimento, o que se dá através do
autoconhecimento.
No ano de 1895, seus pais se mudaram para Viena, na Áustria, e em 1909 ele
ingressou no curso de medicina da Universidade de Viena, cuja formação veio em 1917.
Ele se interessou desde cedo pelo teatro. Aos cinco anos de idade, ele brincava com
amigos sobre assumir o papel de Deus e dos anjos. Enquanto Jacob ficava sentado no “trono
de Deus”, montado por caixotes empilhados numa mesa, um dos “anjos” pediu a ele que
voasse. Ele atendeu ao pedido e acabou fraturando o braço direito. Ao crescer, tornou-se
adepto do teatro de improviso, que estava começando a florescer em Viena.
Jacob sempre teve uma percepção peculiar para o teatro. Ele conseguia enxergar
elementos do cotidiano que poderiam ser usados na dramaturgia, como a espontaneidade e
a criatividade das brincadeiras infantis no parque público de Augarten, em Viena. Sua
experiência médica com grupos marginalizados em um campo de refugiados em Mitterndorf
na der Fischa, na baixa Áustria, também contribuiu para sua concepção sobre sociometria e,
consequentemente, para o psicodrama.
No ano de 1921, Moreno criou o “teatro da espontaneidade”, que tinha por escopo a
apresentação sem memorização de textos. Tudo era feito com base no improviso. Ele
também foi responsável pela criação do “Jornal Vivo”, em que ele e um grupo de atores
dramatizavam notícias transmitidas nos jornais diários. Logo depois deu vida ao teatro
terapêutico, após anos trabalhando como médico em hospitais.
Em 1925, Moreno se muda para Nova York, nos Estados Unidos, onde ele pôde
fundamentar melhor a teoria dos papeis no exercício da espontaneidade. Segundo ele, apenas
em Nova York, a grande metrópole, foi possível dar prosseguimento à investigação em grupo
sociométrico da maneira como sempre imaginou.
Anos mais tarde, Moreno introduziu pela primeira vez a psicoterapia de grupo e
desenvolveu a teoria das relações interpessoais, que deu ensejo ao que ele chamou de
sociodrama, psicodrama, sociometria ou sociatria. Em 1936 foi inaugurado o sanatório de
Beacon Hill, lugar em que foi fomentada a prática psicodramática durante muitos anos.
Moreno chegou a casar três vezes. O primeiro casamento foi com Beatrice Beecher
em 1926, tendo se divorciado tempos depois e assumido um novo matrimônio em 1938 com
Florence Bridge, com quem ele teve uma filha. Após o segundo divórcio, casou-se em 1949
com Zerka Toeman e teve um filho chamado Jonathan D. Moreno.
No dia 14 de maio de 1974, aos 85 anos de idade, Moreno veio a falecer. Em sua
sepultura ele havia pedido que fosse gravada a seguinte frase: “aqui jaz aquele que abriu as
portas da Psiquiatria à alegria”. Sua esposa, Zerka Toeman, ficou responsável pela
sistematização da obra de Moreno nos Estados Unidos e a divulgação do psicodrama pelo
mundo.
Com aplicação das mais eficazes nos campos da saúde, da educação e das
organizações sociais, o psicodrama se consolida como uma técnica psicoterápica que se
originou no teatro, na psicologia e na sociologia. Ele possui uma ação profunda e
transformadora que está voltada às relações interpessoais, bem como às ideologias
particulares e coletivas que as sustentam.
O psicodrama busca promover estados espontâneos, razão pela qual faz uso das
emoções e incentiva a co-criação. E ainda, visa discriminar e integrar por meio de uma
linguagem verbal e não verbal com certa harmonia o individual e o coletivo, o mundo interno
com a realidade compartilhada.
Pedro organiza uma sala conforme enxerga o ambiente escolar, dispondo mesas e
cadeiras no local. As crianças de sua turma são colocadas nas cadeiras e Pedro escolhe um
dos egos-auxiliares para representar a professora. Todos acabaram de chegar à sala de aula
e pede-se a Pedro que narre como que é a chegada, desde o lugar onde guardam o material
até onde cada um costuma sentar. A representante da professora começa a dar vida ao papel
para fazer com que as crianças se sintam no ambiente escolar. Há interação entre todos e o
clima emocional é o adequado, inclusive, Pedro está desenvolto com seus colegas de classe,
até que num determinado momento ele se dirige à professora e afirma que está faltando o
Mário.
Segundo Pedro, Mário é um garoto deficiente físico que o assusta muito. Antes,
Mário se sentava distante de Pedro, mas passou a se posicionar logo à sua frente. Dito isto,
são criadas duas dramatizações: uma com Mário sentando distante de Pedro e outra mais
próxima dele. Diante disso, verificou-se que no relato inicial de Pedro não havia nenhuma
referência a Mário, que é o ponto-chave da situação traumática. Havia uma repulsa de Pedro
em ter que ir à Escola, mas que não estava evidente. Ele não tinha consciência do porquê de
não querer ir à aula e acabava criando uma justificativa mais coerente. Foi a dramatização
que permitiu identificar o medo de Pedro a partir da criação de cena com as movimentações
pertinentes.
No caso acima, a reconstrução dramática fez com que o problema fosse diagnosticado
antes de qualquer outro procedimento psicoterapêutico. Muitas vezes a inadequação do
indivíduo a sua própria realidade é vista através de seu comportamento, de suas emoções e
das dificuldades que enfrenta, as quais levam a conflitos e provocam adoecimentos. Por meio
das técnicas baseadas em ações dramáticas, o psicodrama traz alegria e leveza ao processo
terapêutico.
Ainda que nossos valores e crenças mudem constantemente no decorrer dos anos,
durante a realização da psicodramatização é possível alterar atitudes com vistas ao
desenvolvimento de pontos de melhoria, fazendo uma adaptação das próprias percepções.
É comum que num ambiente formal estejamos mais preocupados com o que falamos
e com o que vão pensar para que não cometamos erros, pois o importante é agir da forma
como o ambiente espera de nós. Sendo assim, acabamos por estar “representando um papel”.
Já nas situações espontâneas nos mostramos mais à vontade para sermos quem realmente
somos, agindo com a essência e é isso que é ter espontaneidade na alma.
Ao ser escolhido o candidato que será o protagonista, parte-se para a segunda etapa,
que é quando existe maturidade para a ação e está ligada à construção da cena pelo diretor
juntamente com o candidato. O cenário vai se formando e são definidos os papeis a partir
daquilo que o protagonista criou e os componentes da plateia são convidados a participarem
da dramatização. O que mais interessa nessa fase é mostrar os fatos e não a sua descrição
nem as suas condições.
Há ainda quem mencione uma quarta etapa, que seria a do processamento. Essa etapa
é feita ao final de cada sessão ou na sessão seguinte com o diretor e os alunos de psicodrama.
O que se objetiva com ela é estudar e registrar os conteúdos e dados técnicos utilizados
durante a realização da dramatização, bem como rever a dinâmica dos protagonistas,
observando o tema principal e seus referenciais teóricos.
No ano de 1944, enquanto casado com Florence Brigde, Moreno publicou a “Teoria
da espontaneidade do desenvolvimento infantil”, de autoria do casal. Essa teoria trás a
definição de matriz de identidade que, segundo eles, significa o círculo de relações primárias
no qual está inserida a criança, que vai desde o namoro dos pais a um conjunto de fatores
biológicos, psicológicos e socioculturais.
A primeira fase é chamada de fase do duplo pelo fato do bebê estar se identificando
com o meio e necessitando de um “ego-auxiliar” para sobreviver. É conhecida também como
fase caótica-indiferenciada e nela pessoas e objetos, incluindo a própria criança, são
81
experimentados como um todo só, indivisível. Essa fase também está alinhada à técnica do
duplo, em que a criança é encarada como um ser em desenvolvimento e impossibilitada de
agir ou de se comunicar por conta própria, necessitando de alguém que a auxilie.
A quarta e quinta etapas da matriz de identidade estão voltadas para a percepção dos
seres a sua volta. A criança já consegue em sua imaginação projetar a vida do outro, ou seja,
ela passa a ser a heroína, a profissional, o gatinho, o leão, etc. Por isso, essa fase é
considerada a etapa de inversão de papeis. É quando a criança passa a desempenhar o papel
do outro e consente que outra pessoa exerça o seu próprio papel. Para compreender melhor
essa última fase, é necessário entender como funciona a teoria dos papeis de Moreno,
retratada logo abaixo.
Moreno vai dizer que o papel em seu estudo psicodramático representa a ligação entre
o indivíduo e a cultura. Ele retrata a personalidade do indivíduo como um processo cultural,
ou seja, é uma unidade cultural de conduta, Os papeis seriam pré-existentes ao indivíduo e é
sobre eles que a personalidade traça a sua adaptação.
Moreno (2008) afirma que o “Eu” surge a partir do desempenho de papeis. O modo
de ser de cada um será delineado a partir dos papeis complementares que uma pessoa
desempenha ao longo da vida. É o papel que se configura como a primeira unidade
ordenadora e estruturante do “Eu”. Seriam, pois, os tipos de papeis supramencionados como
“eus” parciais. É o que acontece com o recém-nascido, que de início não sabe diferenciar a
si próprio do ambiente que convive, mas através da complementação de papeis é que sua
identidade vai ganhando contornos e descobrindo a si e ao mundo.
O desenvolvimento dos papeis, de acordo com Moreno, envolve três fases diversas:
As três fases acima delineiam um percurso que vai desde a fiel imitação de um papel,
passando pelas técnicas de representação até que se conclua com o desempenho do papel de
forma espontânea e criativa. Foi por meio dessas constatações acerca da matriz de identidade
e da teoria dos papeis, que Moreno conseguiu traçar técnicas psicoterápicas para auxiliar
pessoas no processo de “libertação do casulo”, fazendo com que elas exerçam um papel
aberto, com movimento e criatividade.
21.21.6.2. Espelhamento
21.21.6.3. Modelagem
Por meio dessa técnica é possível visualizar diversos comportamentos que envolvem
uma mesma situação. Os membros de um grupo assumem o papel de outra pessoa, que ficará
observando como cada um reage diante do quadro de interação que lhe é proposto. Desse
modo, o indivíduo que observa poderá perceber diferentes atitudes realizadas, o que pode
proporcionar melhores resultados na forma como lida com as coisas.
21.21.6.4. Duplicação
O psicodrama está alicerçado em pontos importantes da vida das pessoas, que são
orientadas a encenar e explorar as inúmeras situações que envolvem sua vida, podendo
manifestar questões relacionadas ao passado, ao presente e ao futuro. Por meio de uma
representação dramática, o psicodrama cria um ambiente seguro para que as pessoas se
sintam confortáveis em exercer papeis e condutas novas e mais eficazes. Todos podem se
tornar pessoas criativas no desenvolvimento de novas respostas para problemas do passado.
Muitas pessoas traumatizadas foram curadas por meio do psicodrama, pois essa
técnica alcança o coração das pessoas, que estão sempre lidando com as batalhas do dia-a-
dia, seja na vida sentimental, familiar ou até mesmo profissional, social e de identificação
84
pessoal. É a partir daí que encontramos a sua importância para o desenvolvimento das
constelações familiares.
A constelação familiar pode ser definida como uma terapia alternativa/holística que
busca compreensão por meio da análise do seu campo estrutural familiar. Hellinger vem
dizer que toda pessoa carrega sentimentos e comportamentos de seus ancestrais e os
reproduzem de forma inconsciente.
Por sua vez, o psicodrama é uma psicoterapia que se utiliza de representação teatral
por parte dos envolvidos com vistas a melhorar suas relações intersubjetivas, deixando-as
mais harmônicas. Aqui, existe a teoria dos papeis, por meio da qual é possível perceber que
muitas pessoas assumem um papel que não é o seu porque foram condicionadas a isso. Esses
papeis estão presentes também na constelação familiar.
rompem com a ilusão criada pelo paciente quanto ao mundo externo, melhorando a sua
forma de ver a vida e entender os propósitos ligados a ela.
A consciência é descrita por Bert Hellinger como um órgão da psique que vela pelo
equilíbrio das nossas relações. Para ele, existem três tipos de consciência tratados no âmbito
da Constelação Familiar, cada um delineando um campo no qual nos movemos, e é por meio
deles que é possível identificar onde cada sintoma que aflige a pessoa se encontra.
Por sua vez, a consciência de grupo está mais voltada para as pessoas que estão em
redor. É como se existisse uma onda de poder inconsciente, que é manifestado pelo grupo,
cujo alcance é maior, fazendo com que supere, inclusive, a consciência pessoal. Ela está
mais focada naquilo que recebemos e entregamos dentro do grupo. Essa consciência
encontra seus limites quando comparada a outros grupos, pois privilegia uns em detrimento
de outros, provocando conflitos dos mais diversos.
Ao sentirmos uma conexão mais forte com o amor, permitindo um agir harmônico
com o universo, percebemos a consciência universal, que requer de nós uma sensação de
leveza na vida, alheio de quaisquer transtornos que possam nos corromper a ponto de
perdermos o equilíbrio. É nela que se encontra a maior parte das soluções para os conflitos,
pois ela é capaz de abarcar a todos de forma igualitária, com benevolência e amor. É esse
amor que é capaz de ultrapassar os limites da consciência pessoal e os da consciência de
grupo, entregando a cada um uma dose de compreensão e responsabilidade quanto aos seus
comportamentos. Essa consciência universal considera todos uma grande família, com suas
diferenças e equivalências.
A Constelação Familiar pode ser definida como uma nova perspectiva terapêutica,
desenvolvida por Bert Hellinger, que tem ganhado cada vez mais destaque com o passar dos
anos, sendo utilizada em diversos ambientes, como na família, no trabalho, na escola, na
psicologia, etc. Essa evolução como técnica terapêutica se dá pela associação de três leis
sistêmicas, que Hellinger sintetizou como as três ordens do amor, as quais são capazes de
trazer harmonia a um determinado sistema.
21.24.1. Pertencimento
Pertencer a uma família é uma necessidade básica e um desejo que é inerente a todo
ser humano, afinal, nascemos dependendo de outros para nos alimentar e ajudar em nosso
crescimento. A consciência de pertencimento é tão forte dentro de cada um que é impossível
imaginar viver fora de um sistema.
Segundo Hellinger, nós possuímos uma alma que é coletiva, cuja mentalidade está
focada no todo, na sua completude. Ele diz também que cada grupo possui sua própria
identidade, sendo assim, quando alguém se mostra diferente, logo ocorre sua exclusão. As
exigências morais do grupo norteiam quem deve permanecer e quem deve ser retirado.
Contudo, a exclusão não é a medida correta e, para consertar isso, outro membro da família
vai fazer a substituição. Essa é a regra para todos aqueles que foram excluídos.
21.24.2. Hierarquia
Existe uma estrutura e uma ordem que devem ser obedecidas em todo e qualquer
sistema. Quando há uma violação na hierarquia, muitos contratempos surgem e
comportamentos que deveriam pertencer a uma pessoa passam a ser praticados por outra. O
caráter e personalidade das pessoas são moldados conforme a posição que assumem dentro
do grupo. A regra sempre é a de que quem veio primeiro deve providenciar o caminho para
os que virão depois, e estes devem entender e respeitar aqueles que vieram antes.
21.24.3. Equilíbrio
Essas três leis estarão sempre presentes nos variados grupos de pessoas, muito
embora a maioria não tenha consciência disso. Alguns só percebem quando há violação de
algumas dessas leis, ocasionando o descompasso do sistema. É nesse momento que os
emaranhamentos surgem e a troca de papeis acontece, fazendo com que alguém reviva o
destino de outra pessoa que sequer conheceu.
A razão de ser da constelação familiar está em trazer luz para as pessoas que se
submetem a ela, mostrando quais os conflitos que irradiaram no seu sistema, lhe
proporcionando assim a oportunidade de enxergá-los e resolvê-los por meio do reequilíbrio,
pois só assim poderá viver seu próprio destino e liberar os demais para viver o destino deles.
A verdade é que existe algo muito importante que vai além do ato de amar para que
a vida seja bem sucedida. Bert Hellinger vai falar sobre as ordens do amor, que se encontram
ocultas aos nossos olhos dificultando enxergá-las diretamente. São as nossas crenças,
críticas, ansiedades e retrocessos que nos impedem de observá-las e, para que possamos
conhecê-las, é necessário ir ao mais profundo da nossa alma.
A função dos pais é a de entregar aos filhos o máximo que possuem. Eles são capazes
de dar sua vida pela de seus filhos, o que demonstra todo o potencial de amor que um filho
pode receber. Assim, os filhos tomam a vida como ela lhes é dada e essa configuração
representa a primeira ordem do amor.
O cuidado dos pais com os filhos começa desde a gestação. Além de todo carinho e
afeto, os pais cumprem seu papel no cuidado com alimentação, vestuário e educação. Os
filhos tendem a aceitar tudo aquilo que os pais lhes proporcionam, muito embora existam
aqueles que se contrapõem acreditando merecerem sempre algo a mais, contudo, é a exceção.
Na segunda ordem do amor, conhecida como “Dar e Tomar”, o papel dos filhos é de
reconhecer nos pais seus supridores suficientes. É conscientizar-se de que os pais deram e
fizeram tudo quanto podiam para proporcionar a melhor criação. Logo, não podem os filhos
desejar ter tudo o que quiserem e ver todos os seus sonhos serem realizados pelo esforço dos
pais.
A concepção de que os pais são devedores dos filhos é um contrassenso que não deve
prevalecer, pois se assim for, os filhos ficarão eternamente vinculados aos pais e dependentes
deles. Tais filhos se tornariam fracos, vazios e necessitados, quando deveriam tomar o que
seus pais lhes dão para além da vida como ela é.
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A terceira ordem do amor entre pais e filhos está voltada ao respeito por aquilo que
os pais fazem e a compreensão e aceitação de que somente cabe a eles fazer. Isto quer dizer
que se os pais desempenham determinada função, não quer dizer que aos filhos cabe realizar
a mesma tarefa. A excelente arte de atuar da mãe é característica dela e só a ela pertence. Se
algum filho se sente decepcionado por não ser um bom ator ou atriz como a mãe, estarão
sendo violadas as ordens do amor.
Olhando por outro ângulo, também é possível perceber que somente aos pais cabe
carregar as suas culpas pessoais, embora seja comum vermos filhos assumindo uma posição
de justificadores dos seus pais. Quando agem assim, assumindo os erros dos seus
antecessores, há violação às ordens do amor, isso porque estão se colocando numa posição
acima deles e invertendo a ordem natural da vida, tratando-os como crianças que precisam
de cuidado.
A quarta ordem do amor vem para ratificar a importância da posição de cada membro
no núcleo familiar, retratando o ato de entregar e de receber. Os pais são os maiores e os
filhos os menores, sendo assim, o mais correto é que os filhos estejam aptos a receber aquilo
que os pais têm para entregar. Porém, é comum vermos filhos que se sentem incapazes de
receber e acreditam que precisam achar um equilíbrio nessa balança, e, por conta disso,
partem para a retribuição.
Os filhos costumam fugir da possibilidade de serem devedores dos seus pais e, por
isso, acabam negando receber qualquer coisa como forma de se ver livre dessa “obrigação”
de retribuir. Em razão disso, se tornam pessoas fechadas e abrem espaço para o vazio nas
suas vidas, quando o correto seria aceitar com amor tudo aquilo que lhes está sendo entregue.
Ao olhar para o que os pais estão lhe dando com amor, os filhos alegram também o
coração dos seus pais, que se sentem preenchidos por fazê-los felizes. A aceitação é um
passo importante para o equilíbrio na relação entre pais e filhos. Já quando os filhos passam
a cobrar dos pais além do que eles podem dar, o coração dos pais se fecha e ficam
impossibilitados de agir com amor. Toda e qualquer exigência nessa relação dificulta o fluxo
natural do amor.
Quando se recebe algo dos pais, o ideal é que isso seja transmitido para as gerações
posteriores. Logo, tudo aquilo que o filho recebe, ele irá entregar para o seu filho e assim
por diante. Essa configuração prova a reciprocidade em dar e receber. Ou seja, os filhos não
estão preocupados em olhar para trás para devolver o que receberam, mas olham para frente,
com foco naquilo que eles poderão entregar para a sua descendência.
90
Existem nas nossas vidas diversos seguimentos que não progrediram por medo de
como direcioná-los ou mesmo pela falta de maturidade para conduzi-los até o fim. Quando
se fala nos cinco círculos do amor, Bert Hellinger quis, por meio de suas leis de conexão,
projetar um caminho de autoconhecimento e de cura interior com vistas a alcançar uma
profunda e extraordinária conexão sistêmica, de modo que possibilitasse o reencontro com
os percursos interrompidos das nossas vidas e facilitasse a compreensão de como superar
possíveis traumas conscientes e inconscientes do nosso ser.
O ato de nascer e crescer sob os cuidados dos pais demonstra o quão importante é
reconhecê-los em nossas vidas. Embora seja comum vermos casos de filhos que não foram
criados diretamente pelos seus pais biológicos ou mesmo sequer chegaram a conhecê-los, é
fundamental que neles exista um sentimento de gratidão, pois foi por intermédio de seus pais
biológicos que puderam vir ao mundo assumindo todos os caracteres herdados.
Quando entendemos que os pais que nos geraram e criaram foram as pessoas certas
para isso, passamos a conduzir a vida com mais leveza, compreendendo que eles também já
foram filhos e que tudo o que eles fizeram foi na medida daquilo que podiam oferecer. Assim
como nós cometemos erros, nossos pais também erram e é esse reconhecimento da
humanidade dos pais que representa o principal aspecto do primeiro círculo do amor.
Chega a ser libertador o ato de reconhecer esse primeiro amor dentro do círculo dos
pais, pois quando se faz isso, as tristezas que são geradas ao longo da vida na mente por
estarmos sempre esperando pais que nunca tivemos logo se esvaem, dando lugar a uma
completa aceitação e entendimento que nos leva a honrar e amar cada vez mais os pais que
possuímos. Sem mergulhar nesse primeiro amor, o indivíduo ficará sempre à espera de algo
que nunca chegará, impossibilitando a sua cura e a retomada de sua vida de uma vez por
todas.
A grande questão que envolve esse primeiro círculo não está na forma como cada
pessoa foi gerada, se foi desejada ou não, se foi abandonada por seus pais biológicos ou se
chegou num momento inesperado. O mais importante está em como desenvolvemos em nós
todas as atitudes que consideramos erradas pelos nossos genitores. A gratidão é e sempre
será a palavra-chave para destravar todos os bloqueios que envolvem o passado no que diz
91
respeito a este círculo de amor. Por isso, vale a pena ser grato pelos pais, pelos avós, pelos
bisavós e assim por diante.
Quando tomamos consciência do papel dos nossos pais e de sua humanidade, há uma
tensão, ainda que inconsciente, que é deixada de lado para dar lugar à leveza da alma. Não
costumamos encarar nossos pais e suas questões por medo do que virá, mas quando
compreendemos e aceitamos o amor que eles nos deram, logo a libertação de todos os
entraves acontece. É nesse ponto que encontramos o segundo círculo do amor, que envolve
a infância e a adolescência.
Pode acontecer de a criança demonstrar desinteresse em receber aquilo que vem dos
pais, pois considera ser algo grandioso e ela não é merecedora disso, já que não pode retribuir
na mesma proporção. É comum nas constelações encontrarmos filhos que não se sentem
bem com o desnível que sentem em relação aos seus pais. Isto se dá porque não
compreendem que a retribuição não deve ser direcionada a seus pais, mas aos seus filhos. A
falta dessa compreensão imobiliza os filhos, que não conseguem se desprender dos pais.
O terceiro círculo está focado no “dar e tomar”. A expressão “tomar” aqui é usada no
sentido de tomar para si o que lhe pertence, pois muitas vezes aquilo que recebemos
costumamos não tomar posse. É nesse círculo que nos encontramos na fase adulta, resultado
direto daquilo que passamos durante a gestação e a infância. Aqui há uma troca com as
pessoas e as relações vão se ampliando.
Quando adultos passamos a entender que o ato de entrega de amor não requer nada
em contrapartida, pelo contrário, uma vida de plenitude só é possível quando cada um
oferece o melhor de si em todas as situações da vida e diante de quem quer que esteja, pois
tudo o que entregamos como o nosso melhor possui um enorme valor. Assim, só é possível
tomar para si algo do outro que realmente tenha valor para nós. Quando recebemos estamos
correspondendo ao ato de dar e devemos tomar para nós tudo aquilo de bom que nos é
ofertado.
O ponto mais elevado desse círculo é o amor desencadeado entre duas pessoas. Ao
vivermos de forma plena o amor que nossos pais nos deram na nossa infância e adolescência,
estaremos em busca de alguém para nos relacionarmos amorosamente não porque existe um
vazio em nossas vidas, mas porque desejamos amar por inteiro.
92
Em todo começo de relacionamento há sempre uma busca por tentar agradar o outro
e de ver no outro o que tem de melhor também para si. É onde vemos o ato de dar e receber
de forma mais evidente. Quando se tem essa visão de dar e receber, as relações amorosas se
tornam mais firmes e saudáveis. Qualquer situação mal resolvida com os círculos anteriores
virá em forma de crise dentro do relacionamento, daí a importância de ultrapassar os círculos
de forma plena, sem que haja repetições de padrões familiares, que são os principais motivos
de toda dor e sofrimento.
Para Bert Hellinger, concordar com todas as pessoas da família como elas realmente
são é algo que ultrapassa nossa consciência. É necessário reconhecer que todos que
compõem um grupo possuem o direito de a ele pertencer. A aceitação absoluta do nosso
sistema é primordial para entendermos esse quarto círculo, que deixa claro que a exclusão
de qualquer pessoa não é capaz de produzir o amor que almejamos.
O quinto e último círculo do amor nos ensina a amar toda a humanidade como ela é.
Isso quer dizer que não há cor, raça, credo, etnia, cultura, etc., que possa ser um obstáculo
nos relacionamentos humanos. Todos nós precisamos respeitar cada um pelo que é, com suas
vestimentas, suas danças, sua língua, ainda que nos pareça estranho demais. Se vivêssemos
as perspectivas desse círculo do amor não haveria motivos para guerras pelo mundo.
É comum o ser humano criticar aquilo que é estranho a ele e a sua cultura, seja o que
o outro come ou veste, a forma como exerce sua religião e todos os demais aspectos inerentes
a cada povo. Quando se entende o mundo como ele é e os seres humanos como são, sem
julgamentos, é possível alcançar um alto nível de maturidade, onde o caminho do amor se
estende sem preconceitos com a integração de todos.
93
Em síntese, por meio da plenitude do amor aos nossos pais podemos construir uma
infância e adolescência plenas, com a aceitação de quem eles são e do que poderiam fazer
com os recursos que tinham. É essa aceitação que permite estabelecer vínculos afetivos
sólidos e saudáveis que possibilitam o encontro com a felicidade, e, consequentemente,
construímos relacionamentos em que tomamos algo de valor do outro para nossas vidas e
damos também para nos construirmos e podermos identificar quem somos e quem os outros
são.
Bert Hellinger considera a ajuda em seu livro como uma arte e, como tal, faz parte
dela uma escolha de aprender e praticar. Também dela advém uma sensibilidade para
entender mais sobre quem procura ajuda. Hellinger transmite experiências e define
condições para que se possa auxiliar alguém sem prejudicá-lo, haja vista ser normal que
muitos tentem pensar em alternativas melhores para os outros, mas acabam falhando na
forma de executar tais medidas. Por vezes, a ajuda que deveria ser prestada acaba se tornando
um problema ainda maior para quem recebe o auxílio.
Quando se fala em ajudar alguém, é preciso que o ambiente em que essa pessoa se
encontra seja seguro o suficiente para que ela sinta confiança em contar tudo aquilo que lhe
aflige, distante de qualquer tipo de julgamento que já enfrentou. O ajudador precisa, antes
de tudo, entender que até mesmo o ato de ajudar possui seus limites, os quais devem ser
observados para não ter que lidar com prejuízos ainda maiores. Daí a razão pela qual
compreender as ordens da ajuda é fundamental quando se busca estender a mão para quem
precisa.
94
Todos nós seres humanos somos dependentes de outras pessoas. O nosso nascimento
já diz muito sobre isso. Desde pequenos precisamos da ajuda dos nossos pais para realizar
qualquer atividade. Essa dependência não nos faz seres desprezíveis, pelo contrário, é uma
qualidade reconhecer que precisa do outro para sobreviver. A falsa ideia de que o ser humano
pode viver sozinho conduz, em verdade, a uma vida de miséria e solidão.
Quando falamos em “tomar e dar”, precisamos entender que esses atos se passam em
dois níveis diversos. Em um deles as pessoas se encontram no mesmo patamar, logo, estão
equiparadas, o que requer reciprocidade. De outro lado, existem as relações entre pais e
filhos ou entre superiores e subordinados, que evidencia um desnivelamento e, nesse caso,
os atos de tomar e dar se assemelham a um rio que conduz adiante tudo o que recebe. Aqui
se pressupõe que só conseguimos passar adiante aquilo que recebemos.
Nesse sentido é que mergulhamos na primeira ordem da ajuda, que diz respeito ao
ato de entregar apenas aquilo que se tem e somente tomar para si o que de fato necessita.
Quando alguém deseja dar aquilo que não possui, ela recai na desordem. Da mesma forma
acontece com quem decide tomar algo de que não precisa ou então quando decide não
entregar algo porque isso retiraria da pessoa a possibilidade de buscar por sua própria conta
o que necessita. Logo, existem limites no exercício de ajudar alguém e o risco de incorrer
em erro é bastante provável.
essência das circunstâncias ao redor, e ainda, sua insistência na ajuda pode trazer prejuízos
exorbitantes tanto para aquele que necessita de auxílio como para si próprio.
Quando alguém se coloca diante da pessoa que necessita de ajuda, ela tem que se
posicionar como um adulto que está lidando com outro adulto. Assim nós adentramos na
terceira ordem da ajuda, que diz respeito à maturidade para saber lidar e encarar o outro e as
suas necessidades. Para isso, é fundamental que a pessoa que está sendo ajudada esteja
consciente de suas vontades, de quem ela é e da sua história de vida, assumindo tantos os
seus erros como seus acertos. Não cabe, pois, ao ajudante assumir um papel que não é seu,
ainda que seu desejo seja de resolver tudo.
Se ao tentar ajudar alguém o ajudante decide se posicionar como pai dessa pessoa, o
risco dela ficar presa a ele como uma criança que depende de seu pai é muito grande. De
igual modo, o ajudante nunca conseguirá se esquivar dessa figura paterna se a todo tempo
passar a desempenhar esse papel. Por isso essa terceira ordem é tão importante, pois ela deixa
evidente que todos precisam se posicionar como adultos que são, assumindo suas cargas
como elas devem ser.
A violação à quarta ordem da ajuda pode ensejar no desprezo por membros do corpo
familiar que possuem relevante função na vida do indivíduo, assim como quando se deixa
de vislumbrar um parente que foi afastado e que detém a solução que o caso precisa. Ou
ainda, quando não se observa as atitudes infantis do paciente, impedindo o seu
amadurecimento e, consequentemente, o alcance da resposta que precisa. Todas essas
variáveis acontecem quando há a inobservância do olhar sistêmico sobre a situação.
Portanto, é de suma importância trazer todos os familiares que estão relacionados
diretamente ao paciente para que se possa identificar o cerne da questão e criar mais
possibilidades de ajudá-lo.
A quinta ordem da ajuda, portanto, está alicerçada no amor que cada um deve
manifestar a todos, independentemente das diferenças que lhes cerca. O ajudante permite
que seu coração se abra a ponto de lhe preencher por completo, e tudo aquilo que do seu
interior fluir irá alcançar o sistema do indivíduo que necessita de ajuda. Porém, quando essa
ordem é quebrada, os julgamentos, críticas e reprovações passam a ser constantes,
dificultando que se chegue ao objetivo de prestar o auxílio necessário.
21.28.1. Triangulação
Nesse emaranhado, há uma troca de posição do filho que é trazido pelo seu genitor a
uma relação que não lhe pertence. É comum vermos pais que não conseguem lidar com suas
indecisões no matrimônio e jogam no filho uma responsabilidade que não é dele como forma
de se sobressair naquela situação, fazendo com que o filho se encontre posicionado numa
geração que não é a dele.
A responsabilidade que é dos pais passa a ser da criança e isso pode acompanhá-la
por longos anos sem que perceba. Os efeitos decorrentes desse emaranhado podem ser
cruciais, pois afetam a formação da personalidade e do caráter daquela criança, que acaba
deixando de lado sua infância para assumir responsabilidades que estão além do seu âmbito
de vida.
21.28.2. Parentificação
Existe nesse emaranhado um reposicionamento dos filhos, que passam a ser os pais
de seus pais. Isto se dá porque a criança é instigada insistentemente a obter um grau de
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responsabilidade cada vez maior, de modo que num determinado momento seus pais passam
a ser subordinados a eles no que diz respeito às decisões importantes da vida.
21.28.3. Identificação
Já ouvimos muito falar sobre a lei do pertencimento, que retrata a importância que
cada pessoa possui dentro de um determinado sistema, bem como os efeitos que a exclusão
pode causar ao grupo como um todo. O fato de alguém ser excluído leva o grupo a tentar
compensar essa ausência, preenchendo de alguma forma o lugar de quem se foi. Quando
alguém age de forma inconsciente assumindo a postura dessa pessoa que se ausentou do
grupo, há o que Bert Hellinger chama de identificação, ou seja, alguém passa a manifestar
características e qualidades da pessoa que se foi como uma forma de buscar o reequilíbrio
no sistema.
21.28.4. Repetição
Aqui há uma imitação de destinos entre pessoas que fazem parte de um mesmo grupo.
Isto se dá pela forte ligação que há entre alguns membros, possibilitando a busca por destinos
semelhantes de forma inconsciente. Acontece quando vemos pessoas de uma mesma família
seguindo uma mesma carreira profissional ou vivendo um romance parecido, por exemplo.
O grande problema está na repetição de destinos cruéis e repletos de dificuldades.
21.28.5. Substituição
A maior gravidade que pode ser cometida dentro de um grupo é excluir alguém,
ferindo a lei do pertencimento. Esse é o motivo de tantos emaranhamentos que causam
divisões e problemas emocionais dos mais variados tipos. O grupo todo sente a exclusão de
alguém e por isso buscam a todo custo compensar esse vazio assumindo posições e
carregando atributos que não lhes pertencem.
Quando se fala em exclusão, devemos ter em mente que desde a nossa existência
aprendemos conceitos diversificados sobre aquilo que devemos agregar e segregar. É a partir
das instruções que recebemos na infância que nos conscientizamos acerca de fatores
excludentes da nossa vida, muitos dos quais são carregados de preconceito e egoísmo.
Bert Hellinger nos ensina por meio do estudo sobre as constelações familiares que a
busca pelo equilíbrio nas relações pessoais e interpessoais é fundamental para que o sistema
funcione de forma plena e eficaz. Para isso, é importante considerar que tudo que compõe o
sistema precisa fazer parte e pertencer a ele. Essa é a ordem da inclusão.
O nosso sistema solar e toda a vida em volta do planeta está interligada, de modo que
qualquer dano que ocorra em um determinado ponto irá causar prejuízos inimagináveis em
outra localidade. É o que costumamos ver com os recorrentes danos à natureza, que trazem
prejuízos para a fauna e flora em pontos diversos do planeta.
O primeiro sistema que nos encontramos é o que envolve pai, mãe e filho. Nele
aprendemos sobre regras de conduta e quais os parâmetros usados para determinar o certo e
o errado. Acontece que com o tempo vamos aprendendo que tudo o que nos foi ensinado
tem certo peso de julgamento que não é correto, como é o caso de excluir pessoas por suas
diferenças. A verdade é que a exclusão deixa de ser apenas um detalhe no cotidiano das
pessoas para ser o estopim de muitos problemas que envolvem todo o grupo.
É o que costuma acontecer com a chamada “ovelha negra da família”, que é aquele
indivíduo que decidiu seguir rumos diversos dos demais do seu grupo e, muitas vezes, a sua
opinião acerca de algo pode causar um alvoroço no seu seio familiar a ponto dele se sentir
um estranho. A forma como as pessoas reagem às suas decisões ou ao seu estilo de vida
podem desencadear uma sensação de bloqueio, que só irá crescer e se manifestar cada vez
mais forte, razão pela qual estar distante parece ser a melhor saída.
Ser contrariado dentro do seu grupo é algo comum, mas quando as ofensas passam a
ser frequentes, seja pela forma de agir ou pelo modo de falar, isso faz com que os embaraços
provoquem iras e revoltas, podendo levar, inclusive, ao descobrimento de doenças graves,
como a depressão. Ou seja, o fato de alguém manifestar distinção dos pensamentos do grupo
faz com que exista uma rejeição e repúdio, que é criado até mesmo por quem está nessa
posição diferente dos demais. Isso leva a pessoa a se isolar em um ambiente só seu, porém,
é aí que mora o problema.
Como já foi estudado nos círculos do amor, deve existir uma concordância com as
pessoas e com o mundo, e quando isso ocorre, há uma aceitação de todos como eles
realmente são. Isso é fundamental para que não ocorra qualquer tipo de exclusão. O ser
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humano se sente livre para viver a sua vida respeitando as individualidades dos membros do
seu grupo e entendendo que as decisões que cada pessoa toma para si só dizem respeito a ela
e, por isso, merece respeito e consideração em suas diferenças existenciais.
21.30. Divórcio
É importante que cada pessoa que se divorciou tenha a consciência de que recebeu
tudo o que de bom o outro pôde lhe dar e que guardará isso, assumindo também parcela da
responsabilidade pelo que não deu certo no relacionamento e deixando a parcela do outro
com ele, afinal, existem culpas e responsabilidades individuais. Só assim é possível
encontrar paz para prosseguir em uma nova relação amorosa.
100
Algumas formas de aborto são permitidas por lei, como o chamado “aborto
terapêutico”, que visa resguardar a vida da gestante, e só é possível quando não há outro
meio de salvá-la. Há também o aborto decorrente de estupro, chamado de “aborto
humanitário”, pelo qual a gestante pode optar por não dar prosseguimento à gestação, uma
vez que isso lhe causaria ainda mais dor.
O que vale ressaltar dentro da seara das constelações familiares é que, qualquer que
seja a modalidade de aborto praticada, os efeitos podem ser imensuráveis. Isto se dá porque
todos possuem o direito de pertencer e, ao extirpar alguém do sistema, ainda que por meio
de um aborto voluntário, o lugar daquele ser que se formou pertencerá somente a ele e ficará
sempre presente na consciência familiar. Contudo, é comum vermos casais que buscam
preencher o lugar do filho abortado com outra pessoa. Isso traz consequências graves tanto
para os pais quanto para aquele que está assumindo o papel do outro.
Os filhos representam o vínculo material que une os pais. Costuma-se dizer que são
a sua herança, resultado máximo do amor deles. Logo, o aborto realizado como uma decisão
de ambos demonstra que não há um desejo de um companheiro ter com o outro um vínculo
de amor eterno. Esse sentimento permanece na alma a ponto de influenciar suas vidas
posteriormente, resultando na inconstância de seus relacionamentos.
101
É comum vermos casais que, após o aborto, não permanecem mais juntos. Isto se dá
porque se torna insubsistente permanecer em um relacionamento no qual houve uma quebra
do vínculo amoroso com a interrupção daquela que seria a maior virtude do casal. E quando
a dor do aborto não é sentida, ela passa a atuar no inconsciente provocando distanciamento
na relação.
Todo esse sentimento ruim que fica guardado no íntimo de cada cônjuge precisa ser
superado e isso só é possível por meio do reconhecimento daquele ser que foi abortado. O
casal precisa compreender que aquela criança existiu e que fez parte das suas vidas, ainda
que por um breve período de tempo.
Em um de seus livros, chamado “A fonte não precisa perguntar pelo caminho”, Bert
Hellinger retrata que a solução para tais casos de aborto seria que os pais dessem lugar em
seus corações para essas crianças. Eles precisam enxergar quem elas representam. É a dor e
o amor que são capazes de unir pais e filhos com o seu destino.
A sensação de culpa começa a fluir para algo positivo quando se compreende o lugar
de cada pessoa no sistema. Quando se passa a se preocupar mais com os outros e a agir de
maneira generosa é como se a vida reconciliasse aquela criança aos seus pais. Assim, a
criança não se foi de verdade, ela estará presente na vida dos pais, preenchendo o lugar que
é só dela.
21.32. Adoção
O ato de adotar uma criança sempre foi visto de forma muito positiva, uma conduta
admirável, haja vista que existem muitas crianças deixadas em orfanatos e, cada vez que
alguém decide acolhê-las em sua família, é como se uma nova esperança surgisse para aquela
criança, afinal, crescer sem o apoio familiar é prejudicial para qualquer pessoa. Contudo,
Bert Hellinger chama atenção para a motivação que está por trás da adoção, muitas vezes
presente no inconsciente dos adotantes.
Hellinger afirma que as pessoas que costumam adotar estão em busca de preencher
algo que lhes falta, seja em razão da impossibilidade genética de gerar filhos ou mesmo
porque se compadecem daquelas crianças que se encontram desamparadas. Quando a
motivação está no primeiro fato, uma questão que surge é: quem realmente está necessitando
ser acolhido?
É normal vermos a adoção com um olhar de benevolência, mas o que está por trás
dela pode revelar um vazio na alma que precisa de tratamento. A primeira coisa a se fazer
para verificar se uma adoção está no caminho certo é saber se ela está respeitando as três leis
do amor.
aberto e cheio de gratidão para receber aquela criança no seu novo ciclo familiar. Respeitar
o lugar de cada um no sistema é o primeiro passo para uma adoção saudável.
Quando alguém diz que família é quem cria, há uma exclusão e julgamento dos pais
biológicos que afetarão o desenvolvimento da criança. Por isso, deve-se ter em mente que
os pais biológicos sempre terão o seu lugar, o qual deve ser respeitado e honrado. O
sentimento de gratidão deve estar sempre presente, pois aquela vida chegou e irá permanecer
até o dia que necessitar. Para isso, é importante que a criança conheça a sua história e seja
respeitada por isso.
O ambiente familiar deve ser um local fraterno de abrigo e proteção contra qualquer
tipo de violência e exploração, contudo, ainda vemos dentro do grupamento familiar diversos
casos de abusos praticados pelos seus membros contra eles próprios. É o que ocorre com a
violência sexual na infância, que normalmente é praticada pelos pais. Esse tipo de abuso
afeta drasticamente o desenvolvimento físico e emocional da criança, que passará a lidar
com diversas rejeições durante sua vida, levando muitas delas, inclusive, ao suicídio, haja
vista a angústia da dor emocional e da dor psíquica serem implacáveis.
Quando vemos uma situação assim no âmbito familiar, percebemos uma quebra nas
leis sistêmicas da hierarquia e do equilíbrio. De acordo com Bert Hellinger, existe uma
espécie de compensação que está por trás de cada abuso sexual infantil, como se o agressor
desejasse preencher uma lacuna que existe em seu interior e que não foi suprida durante sua
vida.
Muitas vezes a vítima da violência infantil, já na fase adulta, consegue levar uma
vida como de uma pessoa normal no trabalho, nos estudos, nos seus relacionamentos, etc.,
contudo, lá no seu íntimo ainda existem marcas do passado que lhe perturbam. É como se
existisse um vínculo negativo que lhe prende ao seu abusador e que é responsável por recriar
a dor que sentia.
A criança quando sofre abuso sexual cresce com um sentimento de culpa que ela
carrega como se fosse a única responsável por aquela situação ter existido. O primeiro passo
a ser dado no processo de cura desse sentimento é fazer com que a vítima entenda que essa
culpa não lhe pertence e que é necessário liberá-la por completo. Assim, sua dignidade
poderá ser recuperada, dando sentido a sua vida e ao seu destino.
103
Quando a dor é liberada ela alcança inclusive aquele que cometeu os abusos,
permitindo que a compaixão assuma um lugar de destaque na vida da vítima, o que não
exclui a possibilidade de reparação dos danos na via judicial. Esse ato de liberação da dor é
fundamental na resolução dos emaranhados que a envolvem com o seu agressor e com todos
aqueles que estiveram ligados a tais abusos. A verdadeira liberdade deve ser o alvo a ser
buscado quando se trata de qualquer tipo de abuso. O sentimento de vingança cede seu lugar
para a compaixão nos corações.
21.34. Ancestralidade
Todos nós carregamos aspectos daqueles que nos antecederam aqui na terra. Logo,
cada estrutura presente em nosso corpo está repleta de memórias ancestrais que influenciam
na nossa rotina de vida. A ancestralidade tem a capacidade de conectar a genética e a
sociedade de maneiras essenciais. Alguns a consideram parte da cultura, outros a incluem
como uma religião e tem aqueles que a compreendem em um aspecto político. A verdade é
que sua existência é relevante na formação do caráter de todas as pessoas.
Muitas culturas asiáticas e de povos indígenas dão enorme importância aos seus
ancestrais. Para eles, é sua conexão com os ancestrais que fundamentam seu modo de viver,
pois tais pessoas detêm uma fonte de sabedoria e de poder inimaginável. O olhar para o
passado faz com que obtenham o direcionamento que precisam para sobreviver no presente
e prolongar suas vidas aqui na terra.
É normal que conflitos familiares aconteçam, mas eles não podem permanecer sem
solução. Uma das formas de se encontrar plenitude na vida é por meio da reconciliação, que
deve ser priorizada sempre que possível. Se os problemas estão relacionados com os
ancestrais, deve-se buscar a resolução diretamente com estes, principalmente se ainda se
encontram vivos. O perdão deve ser praticado tanto pelo ofensor quanto pelo ofendido como
forma de liberação da dor.
A compreensão acerca do papel dos ancestrais e de como eles podem influenciar nas
gerações seguintes é fundamental para entender a si próprio e o seu grupo familiar. Ainda
que desconhecido o seu antepassado, a busca por conhecê-lo facilita no aprendizado de lições
104
úteis para o crescimento pessoal de cada um, que passará a dar mais valor a si mesmo e a
ressignificar a sua existência.
21.35. Prosperidade
As pessoas costumam acreditar que ter uma vida financeira estável é fundamental
para uma vida plena e feliz. Todos querem ser prósperos para atender seus anseios e daqueles
que o cercam. No pensamento de muitos o dinheiro é que permite viver de forma tranquila
e sem preocupações. Existe, no entanto, uma frustração em razão de tudo isso, pois a pessoa
percebe que trabalha em excesso e não consegue obter reconhecimento por aquilo que faz.
É como se estivesse nadando sem poder chegar onde se quer.
Primeiramente, o olhar do trabalho deve estar voltado para a mãe, que é a pessoa
mais apropriada para isso, uma vez que foi ela quem se colocou inicialmente a serviço de
dar à luz. Ao assumir uma postura de alguém que apenas critica a mãe, possivelmente muitas
dificuldades virão relacionadas ao desempenho do trabalho. O sentimento de estar a serviço
de algo deve estar também alinhado às ordens sistêmicas. Por isso, o reconhecimento da mãe
como precursora do trabalho e de como ela foi capaz de entregar o melhor de si para seus
filhos, dentro de suas possibilidades, é de suma importância no processo de compreensão e
aceitação de qualquer ofício. Carregar mágoas e ressentimentos pode impedir que a vida se
encaminhe para a prosperidade.
Existem muitas crenças que envolvem o dinheiro, como se ele não fosse apenas
simples matéria, mas uma fonte de energia que se propaga entre pessoas. Bert Hellinger vai
dizer que o dinheiro é algo espiritual. Se presto um serviço a alguém, a lógica é que haja
uma contraprestação por isso, que normalmente é feita em moeda. Esse ato de receber pelo
serviço prestado proporciona dignidade a quem serve e a quem adquire o serviço.
É a lei do equilíbrio que exerce maior influência no que diz respeito a essa troca. É
necessário que exista justeza na relação entre o dar e o receber, ou seja, entre aquele que
fornece o serviço e aquele que usufrui dele. Quando o desequilíbrio se instala, há uma
desarmonia na gestão do valor. Logo os rendimentos cessam e os negócios caem. Daí a
importância de estar sempre atento ao equilíbrio nas relações, pois quem recebe o dinheiro
deve também oferecer algo compatível com o que está exigindo. Aquele que cobra aquém
do que merece uma hora deixará de fornecer o serviço e não prosperará.
Em seu livro “Leis Sistêmicas da Assessoria Empresarial 14”, Bert Hellinger propõe
que o dinheiro detém uma dimensão espiritual. Ele reage como se possuísse uma alma e um
14
HELLINGER, Bert. Leis Sistêmicas na Assessoria Empresarial. Ed 2. Belo Horizonte: Atman. 2018, p. 105.
105
faro fino para a justiça e a injustiça. Para Hellinger, o dinheiro ajuda na orientação da vida
das pessoas:
O dinheiro, portanto, deseja estar com aqueles que o receberam de forma honesta e
com aqueles que trabalharam muito para obtê-lo. Em suma, o dinheiro se sentirá bem com
aqueles que o receberam com vistas a administrá-lo de forma prudente, a serviço da vida.
Uma vez que o dinheiro se sente pertencente à vida, ele pretende ser aplicado e transmitido
a serviço dela. Há alegria quando se gasta e o dinheiro retorna ainda mais abundante quando
é tratado dessa maneira.
Hellinger vai dizer que o dinheiro se coloca à disposição naquilo que contribui para
o avanço da vida. Possuir dinheiro é assumir a responsabilidade de conduzir a vida com
destreza. A falta do dinheiro pode ocasionar a terceirização do serviço. É comum ouvirmos
que uma pessoa gostaria muito de fazer algo, mas não possui dinheiro pra isso e,
consequentemente, outro irá assumir o papel.
Algumas pessoas, no entanto, se negam a receber algo pelo serviço que prestam. Isso
porque não sabem estipular o valor do que fazem ou acreditam que o reconhecimento pessoal
é mais importante. Isso é uma crença limitante, pois viver esperando apenas reconhecimento
faz com que a pessoa perca seu valor e poder pessoal. O dinheiro, nesse caso, não circula e,
consequentemente, o trabalho também não permanece.
Não são as outras pessoas que devem dizer o valor que cada um tem, pois isso é
produzido dentro de si, de acordo com suas raízes e é isso que faz de cada pessoa um ser
único. Esse valor é extraído da fonte familiar, daquilo que foi ensinado dentro do sistema e
da conexão com os pais. Cada pessoa tem o seu valor e reconhecer isso com gratidão,
independente das falhas e acertos, é o primeiro passo para uma vida próspera.
21.36. Casais
o outro, como forma de evidenciar nos filhos as melhores perspectivas a respeito da vida
conjugal.
O primeiro passo para a construção de uma família está na relação amorosa que se
forma. É quando o casal deixa sua família de origem para formar um novo vínculo e dali se
perpetuarem. Dessa decisão é que surgem os filhos, os quais representarão a consumação do
amor dos pais e o estabelecimento de um novo padrão familiar.
A chegada de filhos para o casal representa o símbolo de amor visível daquele casal
e, considerando as leis do amor, os filhos vêm depois do casal, logo, a melhor forma de
externar uma boa criação aos filhos é manifestando respeito e amor pelo seu cônjuge. Ao
verem essa relação equilibrada, os filhos encontram nos pais o exemplo que precisam para a
construção do futuro relacionamento deles. É necessário sempre honrar esse amor, pois foi
dele que os filhos vieram.
A decisão de formar uma família faz com que o casal se una de forma mais profunda,
se alicerçando em prol desse ideal maior. A intensidade na relação amorosa é que motiva o
casal a deixar seu lar para dividir novas experiências com o seu cônjuge, formando um novo
sistema, embasado no amor e respeito mútuos.
Muitas pessoas não conseguem enxergar o que está por trás dos seus relacionamentos
mal sucedidos e a resposta pode estar no fato de não terem se desprendido de verdade do seu
primeiro relacionamento. É uma relação do passado que ainda interfere no presente e impede
a pessoa de viver um romance saudável. É necessário, pois, trazer à consciência a existência
dessa relação perturbadora e deixar com que essa pessoa com quem se relacionou siga seu
próprio caminho. Não significa considerar o relacionamento como inexistente, mas entender
que ele existiu e teve seu fim. Assim, o vínculo do passado deixa de ser um entrave para as
relações que se sucederem.
Para Hellinger, cada envolvimento amoroso deixa marcas de uma pessoa em outra.
Logo, cada vez que alguém entra num relacionamento diferente, algo dela já ficou pra trás
em suas relações anteriores e isso não tem a ver com bens materiais, mas com a
disponibilidade interna para se relacionar. A vinculação vai regredindo a cada novo
envolvimento de modo que se torna mais fácil a separação.
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Quando o casal não vive de forma equilibrada, aquele que recebeu muito começa a
se sentir insuficiente para permanecer na relação, pois há um sentimento de compensação
não atendido por aquilo que recebeu de forma excessiva. Hellinger acredita existir um peso
muito grande sobre o destino de quem não pode se relacionar por sempre desejar compensar
o que recebeu mais do que julgava merecer.
Ao sair do núcleo familiar de origem para dar início a um novo sistema, o casal deve
se conscientizar de que os emaranhamentos existentes na sua família de origem o seguirão e
poderão influenciar o desenvolvimento dessa nova relação que surge. Há uma junção de
comportamentos distintos, onde cada cônjuge traz consigo as nuances de sua família
original, daí a importância de sempre ter cuidado ao manifestar algum posicionamento.
21.37. Suicídio
Lidar com a morte é sempre algo muito doloroso e quase que inaceitável por quem
perde uma pessoa próxima. Quando algum familiar morre a sensação é de que jamais aquele
lugar poderá ser preenchido novamente e o vazio toma conta de tudo. A angústia e aflição
se tornam parte da convivência e só o tempo conseguirá contornar a situação de dor
enfrentada.
a morte em razão de acidente, de infarto ou de suicídio traz um peso maior sobre todos, pois
o imprevisível aconteceu e não permitiu sequer uma despedida.
Ao falarmos em suicídio então a situação parece que se torna ainda pior. Isto se dá
porque quando acontece um suicídio, além do vazio e da dor que irradiam, os
questionamentos que envolvem o fato crescem a ponto de levar a todos à seguinte reflexão:
o que eu poderia ter feito para impedir isso? As pessoas começam a se culpar pelo ocorrido,
porque sempre havia algo que pudesse ser feito e que não foi.
Aqui relembramos os estudos dos campos mórficos, de Rupert Sheldrake, cuja ideia
se resume ao fato de que todo animal, vegetal ou mineral possui uma espécie de memória
coletiva que influencia na forma como os demais seres vivos irão viver. Logo, todas as
pessoas carregam memórias dos seus antepassados, ainda que não os tenham sequer
conhecido. É esse movimento que pode explicar o fato de um avô ter cometido suicídio e,
tempos depois, o filho e o neto estarem se direcionando para o mesmo destino.
A solução que se pretende alcançar para inibir sucessivas repetições dessa conduta
deve ser encontrada por meio da identificação daquilo que está evidenciado nos padrões
comportamentais da família. Todos nós pertencemos a um sistema familiar e, ainda que
mortos, a ele estamos vinculados, devendo, pois, ser respeitado o lugar de cada um para que
não haja desequilíbrio. Com a terapia da Constelação Familiar, é possível descobrir o que
está por trás de cada tentativa de suicídio e trabalhar em movimentos capazes de ressignificar
condutas para interromper tantas tragédias nas futuras gerações.
21.38. Merecimento
Nesse contexto, fica evidente que problemas dos mais diversos surgirão, pois muitos
assumem uma função que não lhes pertence simplesmente por desejarem se encaixar nesse
eixo social de caráter “obrigatório”. Fica então o questionamento: até que ponto somos
merecedores daquilo que estamos vivendo?
O merecimento é uma reflexão necessária para cada pessoa, pois, ao constatar suas
condições pessoais e o seu nível de envolvimento na posição que decidiu viver, é possível
verificar se o que está acontecendo consigo é reflexo do que a sociedade lhe impôs ou se é
fruto daquilo que sempre almejou ser.
uma vida em liberdade é o ideal a ser buscado, ainda que para isso tenha que romper com os
perfis impostos e esperados no meio em que se vive.
O merecimento faz com que escondamos diversas crenças sobre o nosso valor e as
condutas que devemos portar diante da vida. Ao ter acesso a essas crenças, abre-se espaço
para a conscientização, sendo possível reprogramá-las para que se alinhem à realidade atual
de cada um.
21.39. Estupro
Bert Hellinger diz que no estupro nasce um vínculo. Isso não tem a ver com
considerar positiva a conduta do abusador, mas de encarar a situação com outro olhar, para
que seja possível reverter os efeitos que daquele ato se sucederam. É esquecer os julgamentos
e condenações impostas e que costumam acompanhar esse tipo de experiência.
É comum que as vítimas não queiram falar sobre o fato ou talvez demorem muito
tempo conversar sobre o que aconteceu. Isso se deve muitas vezes pela vergonha,
principalmente quando as vítimas são homens. É como se a masculinidade fosse ser
corrompida e perdesse sua moral no meio em que vive. Também a consciência social
influencia muito nesse aspecto, pois é comum se atribuir ao abusado a culpa por toda a
situação, quando na verdade ele nunca deixou de ser aquele que precisa de ajuda.
Por trás de cada estupro existe um conflito silenciado que precisa ser falado. Algumas
pessoas apenas acobertam, fazendo esquecer e seguindo a vida como se tudo estivesse bem,
pois os abusos já não acontecem mais. Porém, a realidade é que, pela dinâmica familiar,
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aquilo ainda não foi resolvido, logo, o sistema irá buscar uma forma de compensar essa
situação. É por isso que vemos sucessivos abusos sexuais acontecendo em gerações distintas,
pois o que é excluído no passado retorna na descendência para que a dor seja vista e deixada.
Só assim todo o sistema encontra alívio.
O papel da constelação é encontrar caminhos que possam trazer paz para todas essas
questões traumáticas e evitar que padrões de repetição danosos continuem a prejudicar tantas
vidas. Quando se encontra o eixo central do problema, as compreensões acerca da gravidade
da situação são assimiladas e o coração da pessoa vítima da violência sexual se abre para
vivenciar sentimentos sublimes. Deixa-se, portanto, os pesos do passado e se projeta a vida
para o futuro.
Contudo, muitas pessoas preferem partir para a guerra, pois não estão aptos a viver
o amor. Alguns, por sua vez, optam pelo esquecimento. Esse tipo de comportamento faz com
que o mecanismo se prolongue no tempo, proporcionando mais violência para as gerações
seguintes, até que num dado momento alguém irá decidir olhar para todos os lados e enxergar
o abusador, a vítima e o sistema que se responsabilizou por conduzir a todos para uma
situação de ajuste, cuja finalização será o acordo com a paz.
A constelação familiar, como já abordado nesse material, pode ser definida como um
método terapêutico voltado à resolução de conflitos entre membros da família. Sua
necessidade advém dos diversos problemas que pessoas enfrentam no seio familiar e que
podem estar ligados a eventos passados dos seus ancestrais, que envolvem todo o sistema
familiar. Sua aplicação é essencial na descoberta de possíveis emaranhamentos que têm
causado depressão, guerras, doenças, abusos, suicídios, entre outros.
Por meio das frases de resolução, o paciente consegue raciocinar acerca dos
emaranhamentos que está envolvido e busca conversar com os demais membros para
encontrar soluções para isso. Algumas frases como “por favor”, “eu sigo você” e “sinto
muito” podem revelar o que está escondido por trás de um grande problema e, ao colocar em
prática essas frases, o peso que existia se esvai, trazendo paz aos conflitos até então
existentes.
Quando a expressão “por favor” é colocada em prática, a pessoa que fala assume uma
posição de humildade, pois entende que não se encontra acima dos demais do seu grupo
familiar. Assim, poderá de fato se desvencilhar de elos traumáticos que fazem parte da sua
vida e adquirirá uma postura de conciliador perante os demais membros de sua família.
A frase “por favor” nos ensina sobre equilíbrio. É uma excelente forma de se
posicionar num nível paritário com os demais do seu grupo. Isso facilita em muito a
convivência, pois cada pessoa consegue compreender o que o outro diz sem ferir sua
liberdade. Por intermédio dela cada um assume a responsabilidade pelos seus atos e
compreende que muitos dos aspectos que lhes cercam estão além do seu controle direto.
Outra frase que tem relevância durante a sessão de constelação familiar é: “eu amo o
seu pai ou a sua mãe em você”. Essa frase é direcionada aos filhos por pais que se
divorciaram. Mesmo com o fim do matrimônio, os laços afetivos de paternidade e
maternidade continuam presentes. Ao ser dita a frase, os pais permitem que seus filhos sejam
livres de toda e qualquer responsabilidade pelo término do casamento. Ou seja, não existe
razão para o filho desejar assumir o papel de pai e nem da filha querer ser a mãe da família
como forma de substituir aquele que foi excluído. O filho passa a ser quem ele realmente
deseja ser, vivendo sua própria história.
Quando alguém diz: “eu sigo você”, há uma superação quanto a padrões de
comportamentos repetidos entre gerações. É olhar para o passado e compreender que aquele
comportamento veio de alguém e tem influenciado vidas até hoje. Ao falar essa frase, os
laços de lealdade são reforçados e permite identificar o momento exato em que os padrões
comportamentais trouxeram sofrimento ao paciente.
A frase “você é o pai/a mãe certo (a) para mim” guarda uma perspectiva de honra por
aqueles que foram capazes de nos dar a vida. É saber que só é possível ser quem sou a partir
da decisão dos meus pais de me gerar. Se os pais fossem outros, eu não seria quem sou hoje,
logo, ainda que o amor entre pai e mãe tenha se acabado, o elo que une pais aos filhos deve
permanecer para sempre.
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Quando alguém diz que sente falta de algo em sua vida, como se para ser feliz
precisasse ser preenchido com alguma coisa, em verdade, pode ser que este algo esteja
relacionado a uma perda familiar, como de um filho que foi abortado. Assim, ao utilizar a
frase “você também faz parte” é possível trazer de volta aquilo que se foi e colocá-lo no
lugar que só pertence a ele. Isso decorre da lei do pertencimento, cuja finalidade é fazer
entender que cada ente familiar possui o seu lugar dentro do sistema, ainda que tenha sido
excluído de forma breve. Essa frase permite fazer renascer no indivíduo que foi excluído o
sentimento de pertencimento que lhe foi negado anteriormente.
Todas as frases de resolução podem ser utilizadas durante a constelação familiar, seja
ela com pessoas ou com bonecos, de acordo com o que cada paciente e representante
demonstrar em sessão. O objetivo é sempre a busca por soluções que tragam a paz para os
diversos emaranhados que envolvem as pessoas de um determinado sistema.
Quando se fala em pedir perdão, a postura que se vê é de alguém que está colocando
em outro a responsabilidade por sua culpa. É como se houvesse um desnível de cima para
baixo, impossibilitando que se estabeleça uma relação de igualdade, pois um inevitavelmente
irá se sentir em dívida com aquele que foi grande o suficiente para perdoar. Quem pede
perdão transfere para o outro a possibilidade de aliviar sua própria culpa, ficando a cargo do
ofendido aceitar o perdão.
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução Bento Prado Jr. E
Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Editora 34, 1992.
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor: por que o amor faz os relacionamentos
darem certo. 6ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
HELLINGER, Bert. No centro sentimos leveza. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
KLEINMAN, Paul. Tudo que você precisa saber sobre filosofia: de Platão e Sócrates até
a ética e metafísica, o livros essencial sobre o pensamento humano. Trad. Cristina
Sant’Anna. 7ª ed. São Paulo: Editora Gente, 2014.
LAVIGNE, Eulina Menezes. O suicídio sob a ótica da visão sistêmica. Disponível em:
https://eulinaterapeuta.com/2017/10/11/o-suicidio-sob-a-otica-da-visao-sistemica/. Acesso
em: 27 out 2021.
MARQUES, José Roberto. O Papel dos Papeis no Psicodrama Segundo Jacob Levy
Moreno. Disponível em: https://www.jrmcoaching.com.br/blog/os-papeis-no-psicodrama-
segundo-jacob-levy-moreno/. Acesso em 31 de agosto de 2021.
OLIVETO, Paloma. O mistério das emoções começa a ser desvendado pela ciência.
Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2013/07/19/interna
tecnologia,425012/o-misterio-das-emocoes-comeca-a-ser-desvendado-pela-ciencia.shtml.
Acesso em 14 ago 2021.
Um Panorama Metodológico
Centro de Mediadores