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Lia Neiva

Lia Neiva

Entre deuses
e monstros ENTRE SES E
DEUTROS
MANUAL DO PROFESSOR
M O N S ções
ilustra rosa
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Renata Nakano
1ª edição, 2018

Editora Globo S. A.
Rua Marquês de Pombal, 25 – 20230-240 – Rio de Janeiro – RJ
www.globolivros.com.br
PARTE
1

AUTOR, OBRA, JUSTIFICATIVA E


CONTEXTO HISTÓRICO E LITERÁRIO

Mitologias e histórias clássicas estão entre os temas que a premiada Lia Neiva
aborda em seus enredos. Carioca e formada em Filosofia pela PUC-Rio, a autora
já publicou mais de vinte livros e tem obras premiadas pela Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil, além de ter recebido, em 1994, o consagrado prêmio
de melhor livro infantil da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Conjugando sua formação em filosofia e em língua inglesa, Lia vem se


dedicando a recontar clássicos e histórias de origem formal, de modo bem
construído e acessível às crianças e jovens, sem nunca perder a qualidade
e sofisticação da linguagem e da informação. Talvez por esse motivo, Entre
deuses e monstros e outras obras suas perdurem por tantos anos entre as
edições brasileiras (a primeira publicação desta obra é 1982), tornando-se
populares na e para a formação do público juvenil.

Ao recontar temas e personagens clássicos, Lia Neiva criou um estilo próprio


dentro do universo que aborda, em narrativa construída com enredo atraente
e concatenado, de leitura leve e estilo atual. Em Entre deuses e monstros, o
protagonista escolhido por Neiva é o pastor Hípias, um homem comum que vai
conduzindo o leitor, através de sua jornada, pelo universo de pensamento e
cultura helênicas de modo agradável e gradativo, enredando-o no emaranhado
de episódios de seu destino ao se deparar com a tríade grega de deuses,
heróis e monstros.

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COMO MOTIVAR O ESTUDANTE PARA A LEITURA?
Dentro da cultura jovem, instigar a curiosidade pela trajetória dos super-heróis
que invadem as telas de cinema e séries torna-se irresistível. Apresentar o
cenário da mitologia grega, em que esta obra se desenvolve, como inspiração
dos roteiristas de filmes e séries é um caminho bastante profícuo.

O livro reconta algumas das mitologias de vários séculos antes de Cristo


passadas na Península Balcânica, onde se estendia um território conhecido
como Hélade (hoje, desdobrado em vários países, entre os quais a Bósnia, a
Croácia, a Sérvia e a Grécia). Assim, pode-se ainda, a partir da sensibilização
por meio dos filmes e séries, abordar como os diferentes olhares sobre a
realidade transformam o dia a dia: como o cotidiano da população na época era
extraordinário justamente por terem tais crenças e olhares sobre a realidade.

Naqueles tempos, os habitantes da Hélade, os helenos, viviam em desassosego


para obter aprovação de deuses temperamentais, manter-se longe de heróis
vaidosos e a salvo da bestialidade dos monstros. Os helenos acreditavam que
deuses, heróis e monstros perambulavam por seus campos, colinas e vales,
intrometendo-se em seu dia a dia, ora para auxiliá-los, ora para atormentá-los.
E, para bem conviver com os poderes ilimitados dessas criaturas que dominavam
seus pensamentos e, por consequência, suas vidas, os helenos se protegiam com
toda sorte de cuidados, já que se acreditavam joguetes à mercê dos caprichos e
desejos dessa impressionante tríade de deuses, heróis e monstros.

As histórias e façanhas eram recontadas para que a geração seguinte pudesse


se acautelar contra os perigos que delas advinham. Eram os feitos dos deuses,
dos heróis e, inclusive, dos monstros que aclaravam as incertezas e dúvidas
dos homens, dando coerência à sua existência. Como a mitologia grega
orientava os helenos, as histórias mitológicas podem provocar os jovens a
confrontarem-na com traços de sua realidade, como a descoberta do amor,
as tensões familiares, o conflito de relações e de gerações, a trajetória até a
maturidade e seus desafios.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES
O professor pode sugerir um debate sobre a presença de mitos gregos e a
inspiração de temas clássicos em roteiros dos filmes e séries atuais como:
Thor, Game of Thrones, Guerra nas estrelas, Super-Homem e X-Men. Na
internet, encontram-se vastas referências dessa influência alegórica à
produção audiovisual contemporânea que permite aos professores abordarem
o tema de maneira interdisciplinar, citando aos estudantes algumas produções
do entretenimento dos grandes estúdios de cinema. Quase a totalidade dos
filmes de aventura e super-heróis são inspirados nas doze etapas da saga do
herói. Essa é uma herança dos mitos gregos. Nos links e no livro a seguir, como
o da jornada do herói, a saga é esclarecida.

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REFERÊNCIAS E MATERIAIS DE APOIO
BENATTI, Julia. O que é a Jornada do Herói e como ela funciona.
Disponível em:
http://www.blog.365filmes.com.br/2016/09/o-que-e-jornada-do-heroi-e-
como-ela-funciona.html
Acesso em: 4 jun. 2018.

CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 2014.

SANTOS, Daniela Cacuso Bellarde dos. Guerra nas estrelas: o mito das
sociedades modernas.
Disponível em:
http://www.ufscar.br/~cinemais/artestrelas.html
Acesso em: 4 jun. 2018.

WINKLER, Matthew. What Makes a Hero.


Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Hhk4N9A0oCA
Acesso em: 4 jun. 2018.

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PARTE
2
MATERIAL DE APOIO E
ORIENTAÇÕES PARA AS AULAS
DE LÍNGUA PORTUGUESA

Para melhor aproveitamento dos leitores de Entre deuses e monstros, é


interessante aproximá-los (1) do léxico das mitologias helênicas; e (2) da
estrutura da construção do mito ou de narrativas mitológicas.

Léxico das mitologias helênicas

Ao final do livro, a obra oferece um esclarecedor glossário. Ele pode ser


usado em sala de aula como ponto de partida para os estudantes ampliarem
o conhecimento tanto do conteúdo da obra em si quanto do vocabulário
próprio das narrativas gregas e de seus personagens, sendo utilizado como
apoio na compreensão da leitura. Durante a leitura, os estudantes podem
ser orientados a destacar palavras pouco conhecidas e formular um glossário
próprio ao final do processo, como forma de compreenderem a ampliação de
informação que a obra e a leitura ganham com o apoio de um glossário. Os
estudantes podem partir do glossário original para ampliar o conteúdo dos
verbetes com o apoio de outras fontes (verificar em Referências) e, com a
ajuda do professor, entender e organizar esquematicamente um documento
maior e em conjunto, trabalhando com a avaliação da qualidade da
informação e das fontes, e checando os dados necessários. Na produção desse
documento, o professor pode guiar o aluno com informações sobre o que é de
um glossário e quais os conceitos de verbete, léxico, dicionário etc.

Na internet, estão disponíveis as normas da ABNT sobre glossário. Já o site


Brasil Escola apresenta a diferença entre léxico e vocabulário, que também
pode ser citada.

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Mito
Entre deuses e monstros é um romance construído a partir de personagens e
enredos da narrativa mitológica. Dentro da pesquisa de gênero, os estudantes
podem pesquisar a estrutura narrativa do mito, e trabalhá-la levando em
conta a questão da: (1) importância da transmissão oral para a perpetuação
das culturas e costumes e manutenção dos sentidos de vida das comunidades
orais; (2) construção da narrativa mitológica geral; o que é um mito?, como é
construído?; (3) especificidade das narrativas mitológicas helênicas.

O mito em Entre deuses e monstros pode ajudar os estudantes a inferir


a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões
de mundo em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de
estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e
considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.

Originalmente, no período helênico que contextualiza o livro, o mito descrevia e


traduzia o entendimento das coisas e do mundo, narrava a origem dos deuses,
seus feitos e frutos, que davam origem a tudo que existia e se materializava em
fenômenos da natureza, bem como de seus humores e sua influência nos eventos
fatídicos da existência humana, sobretudo seus dramas, fortunas e desencantos.
Depois de forte oposição filosófica de pensadores como Demócrito, o pensamento
atomista e o epicurismo, que buscava livrar os homens do temor aos deuses, a
mitologia se tornou sinônimo de algo “fabuloso”, sendo quase absolutamente
negada na construção de pensamento e formulação dos discursos e da literatura
no século V a.C. Contudo, já no século IV, por meio da adoção de uma perspectiva
alegórica, o mito passou a ser uma forma de sugestão não literal, prevaleceu e
persistiu na literatura e no imaginário do nascente mundo cristão como meio de
busca das suposições e significações ocultas, os subtendidos. Assim, o mito se
tornou uma forma de linguagem alegórica que se viu incorporada em diversas
matizes estético-literárias no percurso da história, que de modo recorrente
abraçam os arquétipos fartamente oferecidos e amplamente utilizados como
fonte inspiradora na construção de novos heróis, monstros e vilões, além da óbvia
referência para debates éticos e morais.

REFERÊNCIAS E MATERIAIS DE APOIO


BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário mítico-etimológico. São Paulo: Vozes, 2014.

HÁ DIFERENÇA entre vocabulário e léxico? Brasil Escola.


Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/ha-diferenca-entre-vocabulario-
lexico.htm
Acesso em: 07 jun. 2018.

NORMA ABNT – Glossário.


Disponível em:
http://www.formatacaobr.com.br/norma-abnt-glossario/
Acesso em: 07 jun. 2018.

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PARTE
3
ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR

Encenação teatral em grupo


Os ricos personagens da mitologia grega elencados oferecem suporte, no
campo artístico-literário, para a encenação de trabalho teatral em grupo, a
partir da adaptação do romance e dos mitos encontrados nele para o gênero
teatro. Nesse processo de adaptação, os alunos passarão a compreender
melhor as estruturas das narrativas de enigma e de aventura (tão comuns
em filmes e séries); compreenderão também as características do cenário,
do espaço e do tempo, ao trabalharem a ambientação da história; precisarão
mergulhar na caracterização física e psicológica dos personagens e dos seus
modos de ação; reconfigurarão a inserção do discurso direto e dos tipos
de narrador; poderão trabalhar as marcas de variação linguística (dialetos,
registros e jargões) e retextualizar o tratamento da temática.

As histórias e façanhas mitológicas eram recontadas para que a geração


seguinte pudesse se acautelar contra os perigos que delas advinham. Os
relatos orientavam comunidades inteiras em narrativas que explicavam a vida
e a morte; a boa e a má sorte; a abundância e a miséria; a recompensa e o
castigo. Os mitos justificavam os fenômenos naturais, tanto os bons quanto
os maus. Eram os feitos dos deuses, dos heróis e, inclusive, dos monstros
que aclaravam as incertezas e dúvidas dos homens, dando coerência à
sua existência. Desse modo, a obra Entre deuses e monstros pode apoiar
na abordagem da imanência e transcendência, ajudando os estudantes a
analisarem, no texto, princípios e orientações para o cuidado da vida na
tradição grega, assim como a filosofia de vida helênica. O texto pode ainda
ajudar a identificar sentidos do viver e do morrer em diferentes tradições
religiosas, através do estudo de mitos fundantes, e a reconhecer princípios
éticos (familiares, religiosos e culturais) que possam alicerçar a construção de
projetos de vida.

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Como proposta, os estudantes podem preparar uma peça de teatro baseada
no livro. A ciência religiosa pode ser abordada na obra através da exploração
dos mitos, que tinham a função de orientar, dar unidade, identidade e sentido
às culturas. Como, no caso da mitologia grega, também auxiliavam no mistério
da criação do mundo: a princípio, existira apenas o nada, uma ausência de
tudo, fervilhando em bolhas de coisa nenhuma. Era a inexistência. Um vazio
chamado Caos. Entretanto, por esse vazio primordial, sem começo nem
fim, correu uma energia rudimentar, uma força geradora, que, de repente,
fez surgir Gaia — a Mãe Terra —, o Mundo Subterrâneo, Érebo — as trevas
infernais —, e Nix — a escuridão noturna que cobre a Terra.

O livro Entre deuses e monstros pode ainda servir de base para que a peça
apresente elementos de como filosofias de vida, tradições e instituições
religiosas podem influenciar diferentes campos da esfera pública (política,
saúde, educação, economia), assim como se vê a vida de Hípias guiada em
vários aspectos por deuses, monstros e heróis.

O espetáculo pode ainda ressaltar eventos da natureza e os conhecimentos


científicos contemporâneos da era mitológica abordada. Nessa oportunidade,
o grupo pode fazer o reconhecimento de episódios como a formação do sol
(Apolo), da lua (Artemísia) e a própria concepção da Terra (Gaia), favorecendo
a percepção e a situação histórica e cultural do entendimento e dos
paradigmas dos fenômenos da natureza para a mitologia e a ciência. Com isso,
poderão relacionar diferentes leituras do céu e explicações sobre a origem
da Terra, do Sol ou do sistema solar às necessidades de distintas culturas
(agricultura, caça, mito, orientação espacial e temporal etc.) e ainda exercitar a
construção de modelos e da observação da Lua no céu, a ocorrência das fases
da Lua e dos eclipses, assim como representar os movimentos de rotação e
translação da Terra e analisar o papel da inclinação do eixo de rotação da Terra
em relação à sua órbita na ocorrência das estações do ano, com a utilização de
modelos tridimensionais.

Para a construção dos personagens, os alunos podem relacionar os deuses,


heróis e monstros retratados no livro com os heróis e vilões conhecidos por
eles nas revistas em quadrinhos e em filmes e séries de ação da TV e da
cinema. Nesse relacionamento, o professor pode explorar poderes e forças,
dilemas e aventuras, promovendo uma percepção atemporal das questões
morais, éticas e estéticas que permeiam a história ocidental fundamentada
nas narrativas apresentadas. Isso permitirá que os alunos analisem e valorizem
os patrimônios artísticos internacional, material e imaterial, com suas
histórias e diferentes visões de mundo. Assim, poderão analisar os elementos
constitutivos das artes visuais (ponto, linha, forma, direção, cor, tom, escala,
dimensão, espaço, movimento etc.) na apreciação de diferentes produções
artísticas e, ainda, experimentar e analisar diferentes formas de expressão
artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura,
modelagem, instalação, vídeo, fotografia). Destacamos ainda a oportunidade
de analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas
diversas, favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às
diferentes linguagens artísticas.

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Outra referência sugerida para a confecção cenográfica é que os alunos
façam pesquisas sobre pinturas e pintores que retrataram os deuses e as
imagens mitológicas gregas retratadas no livro, por exemplo, a Afrodite de
Michelangelo, Cronos de Francisco Goya, entre outros. Essas pesquisas podem
ainda pedir que os alunos compreendam o tempo histórico, as referências
estéticas e as técnicas aplicadas a cada obra de arte, podendo ser tanto por
livre pesquisa ou por pesquisa induzida por obras escolhidas e sugeridas
pelo professor. Nessa pesquisa, os alunos poderão apreciar e analisar formas
distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas de artistas brasileiros
e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e
culturais. Assim, ampliarão a experiência com diferentes contextos e práticas
artístico-visuais e cultivarão a percepção, o imaginário, a capacidade de
simbolizar e o repertório imagético. Ainda, pesquisarão e analisarão diferentes
estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço, contribuindo para
a compreensão e apreensão dos aspectos históricos, sociais e políticos da
produção artística, problematizando as narrativas eurocêntricas e as diversas
categorizações da arte (arte, artesanato, folclore, design etc.).

Ademais, a linha de produção cenográfica pode oferecer ao professor a


oportunidade de trabalhar a geografia para alinhar a percepção da relação
cultural entre os povos gregos na geografia daquele país. Outra oportunidade
é abordar as passagens de travessias até cidades, entre mares, as cidades-
estados e os templos referenciados no livro. Nesse sentido, o professor
pode sugerir trabalho em equipe a ser realizado em casa ou em sala de aula,
com desenho dos mapas ou pesquisa de imagens atuais das referências
geográficas oferecidas, como monte Olimpo, monte Parnaso, Creta, Atena,
Trácia, ou identificando elementos da fauna e da flora, como a murta, o
pântano de Argólia ou os animais oferecidos em sacrifício aos deuses,
base da agropecuária ao tempo da história narrada. Nessa atividade, o
professor poderá estimular o relacionamento das diferentes paisagens aos
modos de viver de diferentes povos na Europa, valorizando identidades e
interculturalidades regionais, percebendo o sujeito e seu lugar no mundo.
Também deverá aplicar os conceitos de Estado, nação, território, governo
e país para o entendimento de conflitos e tensões na contemporaneidade,
analisar transformações territoriais considerando o movimento de fronteiras,
tensões, conflitos e múltiplas regionalidades na Europa, e explicar as
características físico-naturais e a forma de ocupação e usos da terra na região
da Europa apresentada.

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