Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ABSTRACT
This article aims to demonstrate how the use of the storytelling strategy can be a great interventional
psychopedagogical resource in the care of children with learning difficulties. Within the
psychopedagogical practice, we believe that storytelling is a valuable resource for pedagogical mediation,
since from an educational and interactionist point of view, we consider that the psychopedagogue is a
mediator between knowledge and the student. Oral tradition, in this study called storytelling, is a very
important habit for the culture of a people, through which it is possible to identify the values and customs
of this people, we can also establish an affectionate relationship where there is delivery and
resignification. This study shows how much the use of this strategy contributes to the construction of an
affective relationship between the psycho-pedagogue and the child, ratifying concepts of thinkers in both
the educational area and psychology. For many centuries the storyteller was responsible for transmitting
values, beliefs and even history itself, with the use of writing, this important role was restricted to
folklorists, historians and professionals who use the educational space. This study brings a new possibility
of intervention to the psychopedagogue, since this professional is not always a pedagogue as well, so we
justify the importance of this article so that professionals involved in student learning can use the story
telling feature to create Not only a welcoming environment, as well, a moment of building knowledge
through affection.
Key words: Storytelling, affectivity, psychopedagogical intervention
INTRODUÇÃO
A educação é um tema em constante pujança, sempre sujeito ao olhar crítico de
pesquisadores, dos gestores públicos e da sociedade em geral. Muitas vezes a escola não
dá conta de suprir as dificuldades de aprendizagem de um aluno e encaminha-o a um
psicopedagogo, este por sua vez, possui estratégias acertadas para que possa sanar tais
dificuldades.
Percebemos que a tradição oral é muito importante para a cultura de um povo, através
dela podemos identificar os valores e costumes de um povo. Dentro do consultório
psicopedagógico acreditamos que a contação de história é um recurso valioso para a
mediação pedagógica, pois do ponto de vista educacional e interacionista consideramos
que o psicopedagogo é um mediador entre o conhecimento e o aluno. Neste caso
utilizando-se do recurso da contação de histórias essa mediação poderá ocorrer de
maneira tranquila e carregada de valores dos quais esse recurso proporciona.
Desenvolveremos uma conceituação acerca da contação de histórias, esta como sendo o
objeto para que todo o nosso estudo aconteça, logo justificando a importância deste
artigo para que profissionais envolvidos no aprendizado de alunos possam utilizar-se do
recurso de contar histórias para criar não só um ambiente acolhedor, bem como, um
momento de construção de conhecimento através do afeto. A seguir discorremos sobre
nossa opção metodológica.
3
MÉTODO
Tais expressões são identificadas no que Carneiro (1965, p.22) complementa dizendo
sobre o folclore, como sendo a expressão das aspirações e expectativas populares que
represente o pensar, o sentir e o agir das comunidades. E, ao mesmo tempo entendendo-
o como processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, ideias e
atitudes da massa, pois, dependendo da história a ser contada podemos identificar o que
pensa aquela cultura escolar e mais, que valores humanos eles têm, individualmente
esse recurso é muito apropriado para o psicopedagogo.
Não há como negar que as histórias podem trazer sentimentos, emoções, inseguranças,
tranquilidade e muito mais, pois aquele momento é tão único que faz com que ouvinte o
viva profundamente.
É fundamental que a criança possa vivenciar a palavra e a escuta em todas as suas
possibilidades, explorando diferentes linguagens, capturando-as e apropriando-se do
mundo que a cerca, para que este se desvele diante dela e se torne fonte de interesse
vivo e permanente, fonte de curiosidades, de espantos, desejos e descobertas, numa
dinâmica outra em que ela se socialize e se manifeste de forma ativa, cri(ativa),
particip(ativa) e em qualquer situação, não apenas “recebendo” passivamente, mas
produzindo e (re)produzindo cultura. (Dias 2003 p. 97) .
Há socialização na contação de histórias, logo, podemos considerar que essa é uma
ótima estratégia no espaço terapêutico psicopedagógico. Ao viajar pela imaginação, ao
interagir, ela pode ouvir e ser ouvida, fazendo com que haja um significado para si e
para o mundo em que ela vive. Também podemos considerar que o momento da
narrativa proporciona uma esfera criativa entre narrador e ouvinte, que segundo o autor
há a descoberta da:
[...] escuta sensível e interessada, proporcionando ao ouvinte
um estado de encantamento inebriante, fazendo-o esquecer-se
“de si mesmo”. Ele grava com facilidade a história que é
ouvida, assimila a experiência do outro e “adquire
espontaneamente”, como diz Benjamin o “dom” de narrá-la e
recontá-la um dia. (idem,p.100)
A essa espontaneidade podemos agregar o laço afetivo, pois a relação entre o ouvinte e
o narrador, torna-se tão próxima que Dias (2007, p.210) explica que elas ficam
entusiasmadas e que as intenções pedagógicas devem proporcionar mudança de vida aos
envolvidos, bem como mudança nos valores dos mesmos, isto explica o que o autor
7
chama de “[...] a ‘cultura elaborada’ que propicia que um grande número de vontades,
cujos objetivos são heterogêneos, unam-se para atingir a mesma finalidade.” Neste
momento identificamos a importância da contação de histórias no espaço clínico
psicopedagógico.
Na educação infantil, por exemplo, a contação de histórias é uma atividade que faz parte
do dia-a-dia das crianças e que elas levarão para suas vidas. Salientamos a profundidade
que uma história pode alcançar na vida da criança, contribuindo para que ela fale de
seus próprios sentimentos sem medo. Sunderland (2005, p.19) menciona que a história
fala às crianças num nível muito mais profundo e imediato do que a linguagem literal
cotidiana. Segundo a autora enquanto se fala por meio de uma história, ou se faz uma
encenação, consegue-se trazer à criança algo que para ela tem significado.
As palavras do cotidiano e os rótulos comuns para os sentimentos são sensorialmente
muito áridos. Para ela, são palavrinhas mortas. São rasas demais, reducionistas demais,
cognitivas demais para prender sua atenção. Em geral, não são suficientemente fortes
para a intensidade do modo de ser da criança. Elas não são compatíveis com a força
absoluta dos sentimentos que ela experimenta. (Idem, p.19).
Interessante o que Tahan (1957, p.32) nos traz complementando essa ideia dizendo que
a contação de histórias ajuda na formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através
da imitação de bons exemplos e situações decorrentes das histórias, estimulando bons
sentimentos na criança e incitando-a na vida moral. O autor decorre o capítulo dizendo
também que esse entusiasmo cultural que Dias (2007) também diz, é uma ferramenta
valiosa ao psicopedagogo.
A criança com dificuldade de aprendizagem possui, muitas vezes, um bloqueio
inconsciente, que muitas vezes não tem nenhuma relação com o conteúdo do qual ela
não consegue reter. O que ocorre é que a medida que ela possui um desconforto
emocional, qualquer conteúdo que não tenha verdadeiro significado para ela passa a não
ser importante, logo, não aprende.
Considerando que o inconsciente de uma criança com problemas de aprendizagem
esteja reprimido pelas dificuldades automaticamente ela nega-se a entrada de seu
conteúdo na consciência. Mas, quando a criança está entregue através da contação de
histórias, os danos potenciais por ela vividos, ficam reduzidos (BETTLHEIN, p.7,
2002)
8
Daí a importância da criança sentir-se acolhida, esse sentimento permite que a criança,
fale de seus medos, demonstre suas dificuldades, se entregue. Na relação
interpessoal dos sujeitos por meio de expressões faciais, dos gestos e da palavra criam
vínculo mútuo e se envolvem numa situação – não totalmente programada – de
participação conjunta numa tarefa formativa, tarefa que pressuponha pelo menos uma
operação que conjugue conhecimento e afeto (ARAÚJO, 2007,p.87).
Os contos de fadas, por exemplo, transmitem importantes mensagens à mente
consciente, à pré-consciente e à inconsciente, em qualquer nível que esteja funcionando
no momento. Se, lidando com problemas humanos, particularmente os que preocupam a
crianças, pois, as histórias falam ao ego em germinação, encorajam seu
desenvolvimento e também aliviam suas tensões. (BETTELHEIM,2002).
Os contos de fadas colocam as crianças frente aos seus medos, a partir de uma história
ela se identifica, logo, sente-se segura em partilhar questões que afetam diretamente o
seu aprendizado.
O momento da contação de histórias é único e somente daqueles participantes. O elo de
ligação que se forma com a rotina de estarem juntos todos os dias faz , ou de contarem
histórias quando se encontram, faz com que a criança fique pronta para receber e ou
aprender os valores morais, conceitos necessários para que siga adiante em seus estudos
e também em sala de aula, bastando apenas a intenção do nessa relação autêntica, pois,
não se discute a importância da diversidade cultural, da afetividade que as narrativas
orais trazem, a expansão dos conceitos éticos e estéticos também.
Vejamos o que BETLHEIM (2002) nos ensina acerca da importância da contação de
histórias para o processo terapêutico:
O conto de fadas é terapêutico porque o paciente encontra sua própria
solução através da contemplação do que a estória parece implicar acerca de
seus conflitos internos neste momento da vida. O conteúdo do conto
escolhido usualmente não tem nada que ver com a vida exterior do
paciente, mas muito a ver com seus problemas interiores, que parecem
incompreensíveis e daí insolúveis. O conto de fadas claramente não se
refere ao mundo exterior, embora possa começar de forma bastante realista e
ter entrelaçados os traços do cotidiano. A natureza irrealista destes contos (a
qual os racionalistas de mente limitada objetam) é um expediente importante,
porque torna óbvio que a preocupação do conto de fadas não é uma
informação útil sobre o mundo exterior, mas sobre os processos interiores
que ocorrem num indivíduo... (p.25) grifos nossos
Este ponto que o autor ensina sobre a importância dos contos no processo terapêutico
vem de encontro ao nosso objetivo de estudo, que é introduzir o uso da contação de
9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referencias Bibliográficas
DIAS, Marina Celia Morais e Nicolau, Marieta Lucia Machado (orgs). Oficinas de sonho e
realidade na formação do educador da infância – Campinas – SP: Papirus, 2003 (coleção
Papirus Educação).
FARIA, Ana Lúcia Goulart de. Educação Pré-escolar e Cultura: uma pedagogia da educação
infantil, São Paulo, Cortez, 1999.
FONSECA JÚNIOR, Wilson Corrêa. Análise do conteúdo. In: DUARTE, Jorge;
BARROS, Antonio (orgs.). Metódos e técnicas de Pesquisa em Comunicação. São
Paulo: Atlas. 2ª edição. 2014.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança, São Paulo, Paz e Terra, 1985
GERHARDT, Tatiana Engel (Org.); SILVEIRA, Denise Tolfo (Org.). Métodos de
Pesquisa. 1. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. v. 1. 120p.
HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da
Silva, Guacira Lopes Louro. 11ª. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva e Craidy, Carmem Maria Educação Infantil: pra que te
quero?, Porto Alegre, Artmed Editora, 2001.
KIEL,Fred. Inteligência moral: descubra a poderosa relação entre os valores morais e o
sucesso nos negócios; tradução Marcello Lino. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
KRAMER, Sonia; Leite, Maria Isabel; Nunes, Maria Fernanda e Guimarães, Daniela. Infância
e Educação Infantil – Campinas –SP: Papirus, 1999.
KRAMER, Sônia; BAZILIO, Luiz Cavallieri. Infância, educação e direitos humanos. São
Paulo: Cortez, 2008.
KUHMANN JR. Moysés. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. Porto
Alegre: Mediação, 1998
LA TAILLE, Yves. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas, Porto Alegre, Artmed,
2006.
MACHADO, Ana Maria e Rocha, Ruth. Contando histórias, formando leitores, Campinas,
SP: Papirus 7 mares, 2011 – (coleção Papirus Debates)
NEVES, Margarida de Souza; Lobo, Iolanda Lima, Mignot, Ana Cristina V., Meirelles, Cecília.
A poética da Educação, Editora Loyola, 2001.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos, 5. Ed.,
São Paulo, Cortez 2010 (Coleção Docência em Formação)
PAULINO, Graça. Tipos de textos, modos de leitura, Belo Horizonte, Formato Editorial,
2001 (Educador em formação)
PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.
12
PIAGET, Jean. O juízo moral na criança, tradução de Elzon Lenardon. – São Paulo: Summus,
1994.
PUIG, Josep Maria – A construção da personalidade moral, São Paulo, Editora Ática, 1998.
PUEBLA, Eugenia – Educar com o coração: uma educação que desenvolve a intuição – São
Paulo, 1997.
ROSEMBERG, Fúlvia. A educação pré-escolar obrigatória: versão preliminar. Texto
apresentado na 32ª reunião anual da Anped, encomendado pelo Grupo de Trabalho Educação de
Crianças de 0 a 6 anos. Caxambu, 2009. Acervo da autora.
SILVA, Maciel Henrique; SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos
históricos. 2ª edição, 2ª reimpressão. São Paulo: Editora Contexto, 2009.
SUNDERLAND, Margot. O valor terapêutico de contar histórias: para crianças e pelas
crianças, São Paulo, Cultrix, 2009.
TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. Rio de Janeiro, Editora Conquista, 1957.
TURNER, Jonathan H. Sociologia Conceitos e Aplicações. São Paulo: Editora
Markon, 2000.
ZILBERMAN,R. Formação do leitor na historia da leitura. In: PEREIRA, V. W.
(Org.).Aprendizado da leitura: ciências e literatura no fio da historia. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2002, p. 15-29.