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Revista Diálogos Interdisciplinares

2017 VOL. 6 N° 2 - ISSN 2317-3793

O USO DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO ATENDIMENTO


PSICOPEDAGÓGICO1
Edilene Sanchez Baptista2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo demonstrar como a utilização da estratégia de contação de histórias pode
ser um ótimo recurso psicopedagógico interventivo no atendimento de crianças com dificuldade de
aprendizagem. Dentro do consultório psicopedagógico, acreditamos que a contação de história é um
recurso valioso para a mediação pedagógica, pois do ponto de vista educacional e interacionista
consideramos que o psicopedagogo é um mediador entre o conhecimento e o aluno. A tradição oral, neste
estudo chamada de contação de histórias, é um hábito muito importante para a cultura de um povo,
através dela é possível identificarmos os valores e os costumes deste povo, também podemos estabelecer
uma relação afetuosa onde haja entrega e ressignificação. Este estudo vem demonstrar o quanto o uso
desta estratégia contribui para a construção de uma relação afetiva entre o psicopedagogo e a criança,
ratificando conceitos de pensadores tanto da área educativa quanto da psicologia. Por muitos séculos o
contador de histórias foi o responsável em transmitir os valores, crenças e até a história propriamente dita,
com a utilização da escrita, esse importante papel ficou restrito a folcloristas, historiadores e a
profissionais que se utilizam do espaço educativo. Esse estudo vem trazer uma nova possibilidade de
trabalho interventivo ao psicopedagogo, uma vez que nem sempre este profissional é pedagogo também,
logo, justificamos a importância deste artigo para que profissionais envolvidos no aprendizado de alunos
possam utilizar-se do recurso de contar histórias para criar não só um ambiente acolhedor, bem como, um
momento de construção de conhecimento através do afeto.
Palavras-chave: Contação de histórias, afetividade, intervenção psicopedagógica

ABSTRACT
This article aims to demonstrate how the use of the storytelling strategy can be a great interventional
psychopedagogical resource in the care of children with learning difficulties. Within the
psychopedagogical practice, we believe that storytelling is a valuable resource for pedagogical mediation,
since from an educational and interactionist point of view, we consider that the psychopedagogue is a
mediator between knowledge and the student. Oral tradition, in this study called storytelling, is a very
important habit for the culture of a people, through which it is possible to identify the values and customs
of this people, we can also establish an affectionate relationship where there is delivery and
resignification. This study shows how much the use of this strategy contributes to the construction of an
affective relationship between the psycho-pedagogue and the child, ratifying concepts of thinkers in both
the educational area and psychology. For many centuries the storyteller was responsible for transmitting
values, beliefs and even history itself, with the use of writing, this important role was restricted to
folklorists, historians and professionals who use the educational space. This study brings a new possibility
of intervention to the psychopedagogue, since this professional is not always a pedagogue as well, so we
justify the importance of this article so that professionals involved in student learning can use the story
telling feature to create Not only a welcoming environment, as well, a moment of building knowledge
through affection.
Key words: Storytelling, affectivity, psychopedagogical intervention

1 Artigo apresentado ao Curso de Especialização em Psicopedagogia da Universidade Braz Cubas - UBC,


como requisito parcial à obtenção do título de especialista em Psicopedagogia em janeiro de 2017, sob
orientação da Profa. Mestre Luciana Rossato
2 Especialização em Neuroeducação pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil(2017). Professor de
Educação Básica do Ensino Fund. da Prefeitura Municipal de Poá , Brasil. Email: edilene.sanchez@hotmail.com
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INTRODUÇÃO
A educação é um tema em constante pujança, sempre sujeito ao olhar crítico de
pesquisadores, dos gestores públicos e da sociedade em geral. Muitas vezes a escola não
dá conta de suprir as dificuldades de aprendizagem de um aluno e encaminha-o a um
psicopedagogo, este por sua vez, possui estratégias acertadas para que possa sanar tais
dificuldades.
Percebemos que a tradição oral é muito importante para a cultura de um povo, através
dela podemos identificar os valores e costumes de um povo. Dentro do consultório
psicopedagógico acreditamos que a contação de história é um recurso valioso para a
mediação pedagógica, pois do ponto de vista educacional e interacionista consideramos
que o psicopedagogo é um mediador entre o conhecimento e o aluno. Neste caso
utilizando-se do recurso da contação de histórias essa mediação poderá ocorrer de
maneira tranquila e carregada de valores dos quais esse recurso proporciona.
Desenvolveremos uma conceituação acerca da contação de histórias, esta como sendo o
objeto para que todo o nosso estudo aconteça, logo justificando a importância deste
artigo para que profissionais envolvidos no aprendizado de alunos possam utilizar-se do
recurso de contar histórias para criar não só um ambiente acolhedor, bem como, um
momento de construção de conhecimento através do afeto. A seguir discorremos sobre
nossa opção metodológica.
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MÉTODO

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica


exploratória. Segundo Dalfovo, Lana e Silveira (2008) a pesquisa qualitativa utiliza
majoritariamente dados qualitativos, ou seja, as informações coletadas pelo pesquisador
não são retratadas em números, ou a representação numérica assume um papel menor na
análise. Para Gerhardt e Silveira (2009):

As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno;


hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das
relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das
diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter
interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações
teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos
possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa
para todas as ciências (GERHARDT e SILVEIRA, 2009, p. 32).

Sobre a tipologia da pesquisa bibliográfica, Fonseca afirma que ela é “feita a


partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios
escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites”.
(FONSECA, 2002, p. 32).

BREVE CONCEITUAÇÃO ACERCA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

“Creio no contador, como memória viva do amor e creio em seu filho, e no


filho de seu filho, porque eles são a estirpe da voz, os criadores da terra e do
céu das vozes: Voz das vozes. Creio que contar é compartilhar a confiança,
compartilhar a simplicidade como transparência da profundidade,
compartilhar a linguagem comum da beleza. Creio que contar é amor”
(Garzón Céspedes)
Os contos de literatura oral se perpetuaram na história da humanidade através da voz
dos contadores de histórias e há registros de que a Literatura Medieval surgiu na Europa
através desta fonte: popular (prosa que vinha o Oriente) e culta (prosas cheias de
aventuras das novelas de cavalaria). Na fonte Popular podemos destacar o idealismo e
um mundo mágico e maravilhoso; já na Culta, o destaque é para os valores éticos
sociais, os problemas do cotidiano e as lições consequentes da sabedoria prática.
Os contos de fadas tomaram conta da Europa a partir do século XII e foram registrados
pelo francês Charles Perrault (1628-1703). São caracterizados pelo simbolismo, além de
retratar violência contra mulheres e crianças, práticas canibalistas, incestos e abandono
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de crianças na floresta devido à fome e a miséria. Algumas narrativas da época podem


ser encontradas em diversas obras cristãs, tais como: Disciplinas Clericalis, de Pedro
Alfonso, que contém conselhos morais de um pai ao filho; O livro de exemplos, de
Clemente Sanchez, que compila mais de trezentos contos de caráter moralizante,
sentencioso e doutrinário, usado por pregadores cristãos; O livro de Esopo, vindo da
Grécia, também é um exemplo. O que podemos perceber é que, desde a sua origem, a
Literatura Infantil é moldada de acordo com a época e a sociedade vigorante.
Para os povos orientais o conto oral era mais do que um estilo literário a serviço do
divertimento, eles sabiam que neles estão contidos o conhecimento e ideias de um povo,
e que através deles era possível indicar condutas, resgatar valores. (BUSATTO, 2012).
Os contadores estavam por toda parte, eram simples camponeses, lavadeiras, amas,
pescadores. Conta Ítalo Calvino que uma velha e analfabeta, costureira de edredões e
empregada, era uma campeã de memória. Foi através de suas narrativas que Pitré
publicou a sua antologia de contos populares: Fiabe, novelle, racconti populari
siciliani, em 1875.
Foi também no oriente que se localiza o mais conhecido dos contos populares indianos
o Calila e Dimma, livro que reúne fábulas, onde os personagens denunciavam as
injustiças sociais, desigualdades e os valores pouco dignos cultivados pelo homem,
como a inveja, imprudência, arrogância (BUSATTO, 2012).
No Brasil vamos encontrar os registros de contos populares realizados por viajantes,
antropólogos e os folcloristas. Entre eles destacamos a figura de Silvio Romero e o
grande ouvinte de histórias Câmara Cascudo, que registrou as falas de sua ama e ficou
conhecido como o representante da manutenção da tradição oral brasileira.
Sendo a narrativa oral ou escrita é inegável que ela tem um papel de destaque na
construção da história local de seus participantes, bem como na elaboração e
reinvindicação de sua identidade e rememoração. Durante muito tempo a memória era o
único recurso de armazenamento e transmissão de conhecimento Era através das
narrativas orais que as pessoas se apoderavam de conhecimento. Eram os narradores os
responsáveis por discutir fatos, encadear acontecimentos, perpetuar crenças e manter as
tradições.
Isto significa dizer que no momento da narração de histórias há um intenso momento de
troca de valores, ideias, conceitos, tradições, e por que não dizer de afetividade?
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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E SEU USO TERAPÊUTICO INTERVENTIVO

Desde os primórdios, o ato de contar histórias é uma atividade privilegiada na


transmissão de conhecimentos e valores humanos. As próprias definições acerca da
história infantil trazem na sua essência essa possibilidade de introdução. Tahan (1957)
cita a professora Otília de Oliveira Chaves (A arte de contar histórias, Rio de Janeiro,
1952) onde “a história grava-se, indelevelmente, em nossas mentes e seus ensinamentos
passam ao patrimônio moral de nossa vida”.
Ao depararmos com situações idênticas, somos levados a agir de acordo com a
experiência que, inconscientemente, já vivemos na história. Por isso, em nossos dias,
pais e professores bem orientados e inteligentes, empregam a história como meio eficaz
de corrigir faltas, ensinar bons costumes, inspirar atitudes nobres e justas, e até mesmo
para descobrir motivos que levam a criança a ter dificuldade de aprendizagem, enfim,
“[...] e o mais eficaz processo de formar caráteres. E a experiência tem provado, de
sobejo, o acerto do caminho seguido.” (idem,p.27, grifos nossos) .
O tema do nosso estudo baseia-se também no destaque que Henri Wallon dá a
afetividade como sendo algo central na construção do conhecimento e da pessoa.
Wallon afirma que a expressão emocional é fundamentalmente social, pois precede e
supera recursos cognitivos (Dantas, 1992, apud Wallon, 2007)
A história terapêutica é uma expressão indireta que, em geral, as crianças ficam
aliviadas depois de ouvi-la por causa da empatia que carrega e da resolução no final. O
significado da história trabalha na mente da criança no nível inconsciente. BUSATTO
(2012)
Como exemplo de recurso temos as caixas de areia, material comumente utilizado em
atendimentos psicopedagógicos que pode ser utilizada como um meio eficaz para a
criação de histórias.
A contação de histórias é um ato folclórico pois é ouvindo histórias que desenvolvemos
as relações interpessoais, nela podemos sentir (também) emoções importantes, como a
tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a
tranquilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas
provocam em quem as ouve.
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Tais expressões são identificadas no que Carneiro (1965, p.22) complementa dizendo
sobre o folclore, como sendo a expressão das aspirações e expectativas populares que
represente o pensar, o sentir e o agir das comunidades. E, ao mesmo tempo entendendo-
o como processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, ideias e
atitudes da massa, pois, dependendo da história a ser contada podemos identificar o que
pensa aquela cultura escolar e mais, que valores humanos eles têm, individualmente
esse recurso é muito apropriado para o psicopedagogo.
Não há como negar que as histórias podem trazer sentimentos, emoções, inseguranças,
tranquilidade e muito mais, pois aquele momento é tão único que faz com que ouvinte o
viva profundamente.
É fundamental que a criança possa vivenciar a palavra e a escuta em todas as suas
possibilidades, explorando diferentes linguagens, capturando-as e apropriando-se do
mundo que a cerca, para que este se desvele diante dela e se torne fonte de interesse
vivo e permanente, fonte de curiosidades, de espantos, desejos e descobertas, numa
dinâmica outra em que ela se socialize e se manifeste de forma ativa, cri(ativa),
particip(ativa) e em qualquer situação, não apenas “recebendo” passivamente, mas
produzindo e (re)produzindo cultura. (Dias 2003 p. 97) .
Há socialização na contação de histórias, logo, podemos considerar que essa é uma
ótima estratégia no espaço terapêutico psicopedagógico. Ao viajar pela imaginação, ao
interagir, ela pode ouvir e ser ouvida, fazendo com que haja um significado para si e
para o mundo em que ela vive. Também podemos considerar que o momento da
narrativa proporciona uma esfera criativa entre narrador e ouvinte, que segundo o autor
há a descoberta da:
[...] escuta sensível e interessada, proporcionando ao ouvinte
um estado de encantamento inebriante, fazendo-o esquecer-se
“de si mesmo”. Ele grava com facilidade a história que é
ouvida, assimila a experiência do outro e “adquire
espontaneamente”, como diz Benjamin o “dom” de narrá-la e
recontá-la um dia. (idem,p.100)
A essa espontaneidade podemos agregar o laço afetivo, pois a relação entre o ouvinte e
o narrador, torna-se tão próxima que Dias (2007, p.210) explica que elas ficam
entusiasmadas e que as intenções pedagógicas devem proporcionar mudança de vida aos
envolvidos, bem como mudança nos valores dos mesmos, isto explica o que o autor
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chama de “[...] a ‘cultura elaborada’ que propicia que um grande número de vontades,
cujos objetivos são heterogêneos, unam-se para atingir a mesma finalidade.” Neste
momento identificamos a importância da contação de histórias no espaço clínico
psicopedagógico.
Na educação infantil, por exemplo, a contação de histórias é uma atividade que faz parte
do dia-a-dia das crianças e que elas levarão para suas vidas. Salientamos a profundidade
que uma história pode alcançar na vida da criança, contribuindo para que ela fale de
seus próprios sentimentos sem medo. Sunderland (2005, p.19) menciona que a história
fala às crianças num nível muito mais profundo e imediato do que a linguagem literal
cotidiana. Segundo a autora enquanto se fala por meio de uma história, ou se faz uma
encenação, consegue-se trazer à criança algo que para ela tem significado.
As palavras do cotidiano e os rótulos comuns para os sentimentos são sensorialmente
muito áridos. Para ela, são palavrinhas mortas. São rasas demais, reducionistas demais,
cognitivas demais para prender sua atenção. Em geral, não são suficientemente fortes
para a intensidade do modo de ser da criança. Elas não são compatíveis com a força
absoluta dos sentimentos que ela experimenta. (Idem, p.19).
Interessante o que Tahan (1957, p.32) nos traz complementando essa ideia dizendo que
a contação de histórias ajuda na formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através
da imitação de bons exemplos e situações decorrentes das histórias, estimulando bons
sentimentos na criança e incitando-a na vida moral. O autor decorre o capítulo dizendo
também que esse entusiasmo cultural que Dias (2007) também diz, é uma ferramenta
valiosa ao psicopedagogo.
A criança com dificuldade de aprendizagem possui, muitas vezes, um bloqueio
inconsciente, que muitas vezes não tem nenhuma relação com o conteúdo do qual ela
não consegue reter. O que ocorre é que a medida que ela possui um desconforto
emocional, qualquer conteúdo que não tenha verdadeiro significado para ela passa a não
ser importante, logo, não aprende.
Considerando que o inconsciente de uma criança com problemas de aprendizagem
esteja reprimido pelas dificuldades automaticamente ela nega-se a entrada de seu
conteúdo na consciência. Mas, quando a criança está entregue através da contação de
histórias, os danos potenciais por ela vividos, ficam reduzidos (BETTLHEIN, p.7,
2002)
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Daí a importância da criança sentir-se acolhida, esse sentimento permite que a criança,
fale de seus medos, demonstre suas dificuldades, se entregue. Na relação
interpessoal dos sujeitos por meio de expressões faciais, dos gestos e da palavra criam
vínculo mútuo e se envolvem numa situação – não totalmente programada – de
participação conjunta numa tarefa formativa, tarefa que pressuponha pelo menos uma
operação que conjugue conhecimento e afeto (ARAÚJO, 2007,p.87).
Os contos de fadas, por exemplo, transmitem importantes mensagens à mente
consciente, à pré-consciente e à inconsciente, em qualquer nível que esteja funcionando
no momento. Se, lidando com problemas humanos, particularmente os que preocupam a
crianças, pois, as histórias falam ao ego em germinação, encorajam seu
desenvolvimento e também aliviam suas tensões. (BETTELHEIM,2002).
Os contos de fadas colocam as crianças frente aos seus medos, a partir de uma história
ela se identifica, logo, sente-se segura em partilhar questões que afetam diretamente o
seu aprendizado.
O momento da contação de histórias é único e somente daqueles participantes. O elo de
ligação que se forma com a rotina de estarem juntos todos os dias faz , ou de contarem
histórias quando se encontram, faz com que a criança fique pronta para receber e ou
aprender os valores morais, conceitos necessários para que siga adiante em seus estudos
e também em sala de aula, bastando apenas a intenção do nessa relação autêntica, pois,
não se discute a importância da diversidade cultural, da afetividade que as narrativas
orais trazem, a expansão dos conceitos éticos e estéticos também.
Vejamos o que BETLHEIM (2002) nos ensina acerca da importância da contação de
histórias para o processo terapêutico:
O conto de fadas é terapêutico porque o paciente encontra sua própria
solução através da contemplação do que a estória parece implicar acerca de
seus conflitos internos neste momento da vida. O conteúdo do conto
escolhido usualmente não tem nada que ver com a vida exterior do
paciente, mas muito a ver com seus problemas interiores, que parecem
incompreensíveis e daí insolúveis. O conto de fadas claramente não se
refere ao mundo exterior, embora possa começar de forma bastante realista e
ter entrelaçados os traços do cotidiano. A natureza irrealista destes contos (a
qual os racionalistas de mente limitada objetam) é um expediente importante,
porque torna óbvio que a preocupação do conto de fadas não é uma
informação útil sobre o mundo exterior, mas sobre os processos interiores
que ocorrem num indivíduo... (p.25) grifos nossos
Este ponto que o autor ensina sobre a importância dos contos no processo terapêutico
vem de encontro ao nosso objetivo de estudo, que é introduzir o uso da contação de
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histórias no processo terapêutico psicopedagógico. Isso vem demonstrar o quanto esse


recurso pode ser útil para o psicopedagogo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que através do uso da contação de histórias podemos proporcionar um


ambiente acolhedor, um espaço de confiança e segurança que possibilite a criança o
surgimento da liberdade para que possa falar de seus problemas, sentimentos e
dificuldades. Não há como negar que através da afetividade que se conquista com a
contação de histórias podemos atingir o aluno de maneira tal que ele, sem perceber,
poderá abrir-se para um novo momento e logo, uma nova construção de conhecimento.
Dentro do consultório psicopedagógico acreditamos que a contação de história é
um recurso valioso para a mediação pedagógica, pois do ponto de vista educacional e
interacionista consideramos que o psicopedagogo é um mediador entre o conhecimento
e o aluno. Neste caso utilizando-se do recurso da contação de histórias essa mediação
poderá ocorrer de maneira tranquila e carregada de leveza dos quais esse recurso
proporciona, não finalizamos pois acreditamos que maiores pesquisas acerca deste
assunto deverão surgir, inclusive uma pesquisa de campo.
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