O título desse livro provém da Septuaginta. A palavra “Levítico”
significa “concernente aos levitas”. Em hebraico é “wayyiqra” que significa “e Ele chamou”. Enquanto Êxodo fala em ser liberto da escravidão, levítico fala em ser livre para servir.
Os levitas são todos os pertencentes da tribo de Levi, uma das doze
tribos de Israel. Uma família ou clã dos levitas, a família de Arão, foi separada para o sacerdócio. O restante dos levitas daria assistência aos sacerdotes. Entre os deveres estavam o cuidado do Tabernáculo e posteriormente o cuidado com o Templo, bem como as funções de mestres, escribas, músicos, oficiais e juízes. O livro de Levítico contém a maior parte do sistema de leis segundo as quais vivia a nação dos hebreus, leis essas administradas pelo sacerdócio levítico. A maioria dessas leis foi promulgada no monte Sinai, com acréscimos, repetições e explicações ao longo de toda a peregrinação no deserto.
O propósito do livro
A razão porque os sacerdotes israelitas recém-consagrados
receberam instruções tão detalhadas acerca do cuidado do santuário de Deus era para garantir Sua continuada presença no meio do seu povo. Era também para que essa maneira de viver dos israelitas demonstrasse às outras nações a verdadeira natureza da santidade, pois elas possuíam um entendimento de que santidade tinha conotações com práticas sexuais e orgias e não que a santidade de Deus era um atributo de caráter moral e ético.
A teologia de Levítico
Sua teologia esta intimamente relacionada com a aliança do Sinai.
Levítico apresenta Deus como uma divindade viva e onipotente, que já interveio na historia de Israel para liberta-los da escravidão e fazer deles um povo seu; garantindo assim sua capacidade de protegê-los. Fala também da presença de Deus com seu povo Israel, simbolizada pelo tabernáculo, lugar da sua gloria. O conceito de um santuário móvel era familiar às civilizações daquela época; a presença da divindade, a exclusividade da adoração exigida por Deus no levítico estipula as únicas condições na aceitação do adorador. O alvo subjacente do ensino é, portanto, garantir que a santidade de Deus possa regular e dirigir cada área da atividade humana. Na sua morte, Jesus cumpriu o conceito levítico da oferta pelo pecado. Assim como o tabernáculo simbolizava a presença de Deus no meio de Israel, assim também a encarnação de Jesus Cristo é uma garantia de que Deus está presente continuamente na sociedade humana. Olhando levítico e o NT podemos observar que os conceitos de separação e santidade eram temas presentes em ambos. Como exemplo disso podemos citar Pedro insistindo que a comunhão do cristão fosse nada menos do que um sacerdócio real (l Pedro 2:9), como também podemos ver as observações de Jesus em (Mt 22:39) falando da “regra áurea” (Lv 19:18), o apostolo Paulo também faz referencia a ela em (Romanos 13:9 e Gálatas 5:14). Assim, como crentes verdadeiros devemos aspirar em viver como sacerdotes consagrados ao senhor trazendo honra contínua ao nome de Deus, como também sendo retos e santos no nosso viver diário imitando a santidade divina em todas as nossas atividades da vida (l Pe 1:15).
Os sacrifícios neste livro foram especificados da seguinte forma:
Sacrifício Referência Elementos Finalidade
Ato voluntário de Touro, carneiro ou ave (pombas ou adoração; expiação Lv. 1; pombinhos no caso dos pobres); pelos pecados não Holocausto 6:8-13; totalmente consumidos; sem defeito. intencionais em geral; ( õlâ) 8:18-21; expressão de devoção, 16:24 (Tudo queimado). dedicação e entrega completa a Deus. Oferta de cereal ou Lv. 2; Grãos, farinha fina, azeite, incenso, Ato voluntário de manjares 6:14-23 pães assados (redondos ou adoração; Ações de (minhâ) achatados), sal; nenhum fermento graça e a obtenção da nem mel; acompanhava o boa vontade divina. holocausto e a oferta de comunhão (Parte queimada para (junto com a oferta derramada). Deus e o resto dada ao sacerdote) Qualquer animal sem defeito das Ato voluntário de Oferta de manadas ou dos rebanhos; adoração; ações de comunhão ou Lv. 3; variedade de pães. graças e comunhão sacrifício pacífico 7:11-34 (Parte queimada para Deus, o resto (incluía uma refeição (zebah s lamim) na comunhão comunitária) comunitária). 1. Novilho: pelo sumo Expiação obrigatória por sacerdote e pela congregação; pecado específico não 2. Bode: por um líder; Lv. 4:1 – 5:13; intencional; confissão de 3. Cabra ou cordeiro: por Oferta pelo pecado 6:24-30; pecado; purificação da uma pessoa comum; (hatta’t) 8:14-17; impureza. 4. Rolinha ou pombinho: 16:3-22 (A gordura queimada pelos pobres; para Deus e o resto 5. Um jarro da melhor comido pelo sacerdote). farinha: pelos muitos pobres. Culpa por tirar das coisas Carneiro ou cordeiro Oferta pela culpa Lv. 5:14 – 6:7; sagradas, ou por alguma (Gordura queimada e o restante (asam) 7:1-6 perda no santuário. comido pelo sacerdote). Multa de 20%.
Entendendo o ritual do dia da expiação
Os dois bodes (o bode emissário):
A oferta pelo pecado do povo devia começar pelos sacerdotes oferendo um novilho pelos seus pecados, só depois de feito expiação pela sua casa é que poderia fazê-lo pela congregação. Em seguida lançava a sorte sobre os dois bodes. Sobre o que seria solto no deserto, o sacerdote impunha as mãos e fazia confissão do pecado do povo e em seguida o enviava ao deserto. O propósito do ritual do dia da expiação era colocar diante dos olhos dos israelitas um sinal de que seus pecados tinham sido removidos do seu meio e, que tanto o povo quanto a terra, foram purificados de sua culpa. O outro bode era sacrificado ao senhor. É o conceito de o pecado ser removido por um agente que não fosse o próprio pecador. Esse princípio da expiação vicária se cumpriu plenamente em Cristo. Essa cerimônia foi uma das prefigurações históricas, oferecidas por Deus, da futura expiação do pecado humano por meio da morte de Cristo. O dia anual da expiação (ainda hoje celebrado no judaísmo com modificações e conhecido por seu nome hebraico “yôm kippûr” era celebrado no décimo dia do sétimo mês. Era o dia mais solene do ano. Em cada uma dessas ocasiões, a eliminação do pecado era válida para um só ano (Hb. 10:3), mas prenunciava o futuro cancelamento eterno dos pecados (Zc. 3:4,8,9; 13:1; Hb. 10:14).
Regulamentos Diversos (cap. 13 - 15)
Esses regulamentos tinham o propósito de controlar a propagação
de doenças cutâneas infecciosas, das quais a mais repulsiva e temida era a lepra. A palavra tradicionalmente traduzida por “lepra” abrange ampla gama de sentidos, incluindo a própria lepra, doenças cutâneas em geral e até mesmo o mofo. Por mais primitiva que essa abordagem talvez nos pareça, não há dúvida de que essas medidas singelas salvaram muitas vidas. O elaborado sistema de especificações sobre alguém cerimonialmente impuro e sobre a solução para o caso parece ter tido o propósito de promover o asseio físico (ajudando assim a prevenir enfermidades), bem como o reconhecimento contínuo da participação de Deus em todas as áreas da vida. Obs.: O capítulo 19 é um dos pontos mais sublimes da lei de Moisés. É o segundo grande mandamento citado por Jesus (Mt. 22:39; o primeiro grande mandamento – “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças” – acha-se em Dt. 6:5). A lei exigia que as pessoas demonstrassem grande consideração pelos pobres. Os pagamentos por serviços prestados deviam ser entregues no mesmo dia. Não deviam ser cobrados juros (“usura” nas traduções mais antigas refere-se a qualquer tipo de juros). Os necessitados deviam receber empréstimos e presentes. Parte da colheita devia ser deixada nos campos para os pobres. Em todo o AT, dá-se uma ênfase constante à bondade para com as viúvas, os órfãos e os estrangeiros. Os fracos e os pobres são da responsabilidade de todos. Olho por olho (24:19-21) - essa legislação não tinha a intenção de permitir a vingança. Muito pelo contrário: limitava drasticamente a vingança ou a retaliação, para que não se ultrapassasse a reparação exigida pela justiça. “Assim diz o Senhor!”. Essas leis não foram inventadas por Moisés, nem por um grupo de legisladores; tampouco foram produzidas por um consenso democrático – foi outorgada a Israel pelo próprio Deus. O Modo de Sacrificar (cap. 17)
A lei exigia a apresentação dos animais sacrificiais à porta do
Tabernáculo. Comer sangue era rigorosamente proibido (3:17; 7:26,27; Gn. 9:4; Dt. 12:16,23,25), e essa proibição ainda continua (At. 15:29). Uma das razões disso é que o sangue é um símbolo da vida e, como tal, deve ser tratado com respeito.
Festas, Dias Santos, Leis a Respeito do Tabernáculo (cap. 23 e 24)
Nome Data no AT Descrição Propósito
Matar e comer um 14 do primeiro mês cordeiro com ervas Lembrar como Israel Páscoa/ Pães Asmos (abibe) amargas e pães sem foi libertado do Egito Lv. 23:5 Março-Abril fermento, em cada apressadamente. casa. Festa de alegrias; Demonstrar alegria e ofertas obrigatórias e Pentecoste/Primícias e 6 do terceiro mês gratidão pela bondade voluntárias, ex: um Colheita (sivã) do Senhor em feixe de cevada, como Lv. 23:9-21 Junho abençoar a terra e a oferta movida e colheita. holocausto de grãos. Apresentar Israel Uma assembléia no diante do Senhor dia de descanso; jejum Trombetas/Dia da Sétimo mês pedindo Seu favor; e sacrifício; uma Expiação/Tabernáculo (tisri) purificar os sacerdotes semana de celebração Lv. 23; 26; Nm. 29; Dt. 16. Setembro-Outubro e o lugar santo; pela colheita (morar comemorar a viagem em cabanas). do Egito até Canaã. Sábado Dia de repouso; Repouso para pessoas Sétimo dia Dt. 5:12-15 nenhum trabalho. e animais. Ano Sabático Ano de repouso, Sétimo ano Repouso para a terra. Êx. 23:10,11 campos de pousio. Ano do Jubileu 50º ano Dívidas canceladas; Ajudar os pobres; Lv. 25:8-55 liberdade para estabilizar a escravos e servos sociedade. contratados; terras devolvidas à família que antes as possuía. Dia de convocação, de Comemorar o Reunião Sagrada 22 do sétimo mês descanso e de encerramento do ciclo Lv. 23:36b (tisri) oferecer sacrifícios. das festas. Relembrar aos Dia de alegria, de Purim 14 – 15 do 12º mês israelitas o livramento festas e de dar Et. 9:18-32 (adar) nacional dos tempos presentes. de Ester. Hanukah 165 a.C Dedicação ou Festas Jo. 10:22 Meados de Purificação do Templo. das Luzes Nm. 10:10 / Ne 10:33. Dezembro
O Ano Sabático e o Ano do Jubileu (cap. 25)
Todo sétimo ano era Ano Sabático. As terras deviam ficar em
repouso. Nada de semeadura, nem de colheita, nem de podas das vinhas. Os frutos espontâneos deviam ser deixados para os pobres e para os residentes temporários. Deus prometeu que no sexto ano concederia produtos suficientes para cobrir as necessidades do sétimo ano. As dívidas dos compatriotas judeus deviam ser canceladas. Todo qüinquagésimo ano era o Ano do Jubileu. A legislação do jubileu tem como seu tema básico a libertação do que estava preso. Vinha logo após o sétimo ano sabático, de modo que dois anos de repouso se seguiam. Eram canceladas todas as dívidas, libertados os escravos de origem israelita e restituídas as terras que houvessem sido vendidas. O propósito dessa disposição legal era garantir que as terras de determinada família permanecessem com ela perpetuamente. Parece que Jesus considerava o Ano do jubileu um tipo de prefiguração do repouso que ele veio proclamar ao povo de Deus (25:10; Lc. 4:19).
Votos e Dízimos (cap. 26)
Os votos eram promessas voluntárias a Deus de realizar para ele
algum serviço ou fazer algo de seu agrado, em reconhecimento por algum benefício esperado. Para se transformar em obrigação, o voto devia ser feito oralmente (Dt. 23:23). O livro de levítico termina com uma declaração de bênçãos que sobrevirão a Israel se as leis forem guardadas, como também uma declaração dos castigos que virão em resultado da quebra da aliança e rejeição dos estatutos.