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Deus, segundo a bíblia, precisa receber sangue como “preço pago" para perdoar?

Os sacrifícios na cultura Asteca

Em 1325 o povo “mexica” (Asteca), deu um passo importante a caminho de


seu estabelecimento como império, eles fundaram a cidade de Tenochtlán. A primeira
construção dessa cidade foi o templo e ao redor dele construíram casas. Logicamente
isso indica que o culto era central, e de fato, os Astecas eram politeístas e possuíam uma
vasta cartilha de deuses e seus ritos. O sacrifício humano era o ponto mais alto de seu
culto. Os escolhidos para os sacrifícios eram guerreiros capturados em guerra. Quanto
maior fosse a posição do guerreiro, mais valor era atribuído ao seu sacrifício. Esses
sacrifícios eram feitos para apaziguar a divindade. Eles faziam pelo menos um
sacrifício humano por dia. O sacrifício mais importante era feito apenas uma única vez
no ano, no quinto dia do mês de Toxcat.

O sacrifício perfeito, feito apenas uma vez por ano, era em homenagem ao deus
Tezcatlipoca. Um ano antes o sacerdote designava um jovem prisioneiro para ser o
“representante da divindade". Ele passava aquele ano sendo instruído em várias áreas da
cultura Asteca. Aprendia a tocar flautas e muitos cultos eram feitos em sua homenagem.
Quanto mais próxima a hora de seu sacrifício, mais os cultos ganhavam importância. O
representante de deus usava vestes que simbolizavam a imagem da divindade nele. No
dia do sacrifício, o jovem guerreiro entrava em um barco com quatro mulheres, eles
navegavam em direção ao templo, chegando lá elas o deixavam e ele se dirigia sozinho
para o alto da pirâmide. Ao subir os degraus ele quebrava as flautas que usou durante
todo o ano de preparação. No topo, quatro sacerdotes o deitavam na pedra de sacrifício,
eles seguravam suas mãos e pernas e um quinto sacerdote abria seu peito, ele enfiava a
mão dentro da vítima, arrancava seu coração e o estendia ao céu em sinal de oferenda. O
coração era depositado em um grande vaso e depois queimado em oferta. Os penitentes
sacerdotes vestiam-se com a pele do sacrifício por vinte dias.

Nesse culto temos vários elementos. Temos a ideia de substituição, uma vez
que o jovem guerreiro morria em oferta a divindade para garantir a vida dos demais.
Temos a ideia de representação divina, o jovem guerreiro era entendido como uma
imagem da divindade em semelhança humana. É de se notar que existe a ideia de
coparticipação, uma vez que os penitentes se vestiam com a pele do sacrificado.

Todo esse culto tem como ideia central o conceito de “pagar o preço”. Os
Astecas davam a divindade aquilo que de melhor a semente humana produziu. Eles
estão oferecendo um sacrifício altíssimo, uma vez que a oferta deles é um ser humano
que representa a divindade, ele é uma espécie de “deus em carne”. Assim eram os
sacrifícios na cultura Asteca, e na cultura bíblica cristã, a morte de Jesus também é vista
como um “preço pago” a divindade?

Os Sacrifícios na bíblia
Vamos discorrer um pouco sobre a questão da oferta pela culpa, a partir de
Levítico 6 e 7.

Esta é a lei da oferta pela culpa; coisa santíssima é.


Levítico 7:1 ARA

Perceba que pela culpa é dado uma oferta, e não um pagamento. Outra questão
é que existe uma diferença entre a dívida com o próximo e a culpa pelo pecado.
Percebam que em relação ao próximo a obrigação era a restituição total:

Quando alguma pessoa pecar, e cometer ofensa contra o Senhor, e negar ao


seu próximo o que este lhe deu em depósito, ou penhor, ou roubar, ou tiver
usado de extorsão para com o seu próximo; ou que, tendo achado o perdido, o
negar com falso juramento, ou fizer alguma outra coisa de todas em que o
homem costuma pecar, será, pois, que, tendo pecado e ficado culpada,
restituirá aquilo que roubou, ou que extorquiu, ou o depósito que lhe foi
dado, ou o perdido que achou, ou tudo aquilo sobre que jurou falsamente; e o
restituirá por inteiro e ainda a isso acrescentará a quinta parte; àquele a quem
pertence, lho dará no dia da sua oferta pela culpa.

Levítico 6:2-5 ARA

Vejam que existe uma culpa maior, que é contra o SENHOR, e uma culpa
"menor", essa deve ser restituída totalmente pelo ofensor. "Totalmente", envolvia ainda
um acréscimo de um quinto, uma compensação que eliminava qualquer possibilidade de
a vítima não se sentir totalmente restabelecida de seu direito. Note que nessa primeira
fase da restituição, o devedor paga um preço por sua culpa. No entanto, mesmo que já
não houvesse culpa diante do ofendido, ainda assim restava uma culpa maior, que era a
culpa diante do SENHOR:

E, por sua oferta pela culpa, trará, do rebanho, ao Senhor um carneiro sem
defeito, conforme a tua avaliação, para a oferta pela culpa; trá-lo-á ao
sacerdote. E o sacerdote fará expiação por ela diante do Senhor , e será
perdoada de qualquer de todas as coisas que fez, tornando-se, por isso,
culpada.

Levítico 6:6-7 ARA


Para expiar a culpa de fato, para receber perdão, nenhum preço é pago, para
expiar a culpa diante do SENHOR é feita uma oferta, ou seja, nada é cobrado, mas sim
doado. Para os Israelitas as bênçãos naturais que eles tinham eram dádivas do
SENHOR.

Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo e


todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes
chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o
nome deles.
Gênesis 2:19 ARA

Percebam que os animais são do SENHOR, e foram dados ao homem. Assim, a


oferta não era doação humana, mas Divina, Deus não está recebendo nada, está
oferecendo. A oferta é por causa da culpa, do pecado, e não por causa de Deus, Deus
oferece, Deus não recebe. Reparem que essa oferta é focada na morte, ela é negativa,
Deus oferece uma oferta por causa da culpa, o motivo é a culpa. Na continuação do
texto, nós temos algo que parece mais agradável ao SENHOR, o holocausto.

Dá ordem a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei do holocausto: o


holocausto ficará na lareira do altar toda a noite até pela manhã, e nela se
manterá aceso o fogo do altar. O sacerdote vestirá a sua túnica de linho e os
calções de linho sobre a pele nua, e levantará a cinza, quando o fogo houver
consumido o holocausto sobre o altar, e a porá junto a este. Depois, despirá
as suas vestes e porá outras; e levará a cinza para fora do arraial a um lugar
limpo. O fogo, pois, sempre arderá sobre o altar; não se apagará; mas o
sacerdote acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele porá em ordem o
holocausto, e sobre ele queimará a gordura das ofertas pacíficas. O fogo
arderá continuamente sobre o altar; não se apagará.

Levítico 6:9-13 ARA

As ofertas seriam colocadas em Holocausto, ali elas queimariam


continuamente. O sacerdote ao manusear essas coisas deveria estar despido de suas
roupas, e vestido de linho. Ao sair ele deveria deixar a roupa de linho. Assim fica
demonstrado que aquelas ofertas, aquele fogo, não participa das "vestes humanas", não
possui a semelhança humana maculada pela culpa. Os inúmeros textos que invocam a
imagem do linho têm como foco mostrar santidade em relação ao pecado, uma pureza.
Outra coisa comum a esses textos é relaciona-los ao Messias, tanto no Antigo, como no
Novo Testamentos. Vamos traçar mais um paralelo encima desse texto sobre
holocausto, que também está relacionado a imagem do Messias, tanto no Velho como
no Novo Testamento.

Velho Testamento

Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. Repousará


sobre ele o Espírito do Senhor , o Espírito de sabedoria e de entendimento, o
Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do
Senhor . Deleitar-se-á no temor do Senhor ; não julgará segundo a vista dos
seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará
com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra;
ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o
perverso. A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos
seus rins.

Isaías 11:1-5 ARA

"Com o sopro de seus lábios" deve ser entendido dentro do contexto. Sobre o
Messias estaria o Espírito de conhecimento, conselho e entendimento, e tudo isso possuí
implicações sobre sua missão, ele julga com justiça, decide com equidade, e isso não é
segundo a vista dos olhos, as "vestes" humanas não o enganam, pois ele não as "usa",
com a espada de sua boca ele "mata" a perversidade, ele não usa as ferramentas naturais
a quem luta, suas ferramentas são coisas que saem de sua boca, nesse sentido seu
"sopro" é consumidor.

Novo Testamento

Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
Mateus 10:34 ARA

Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder.
Lucas 12:49 ARA

Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro
e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes
talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. A sua cabeça e
cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de
fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa
fornalha; a voz, como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas,
e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava
como o sol na sua força.

Apocalipse 1:12-16 ARA

Preste atenção no que Jesus falava de sua missão e a maneira que João o
descreveu em sua glória. Há um uníssono em toda essa linguagem que apela para o fogo
e a espada em relação ao Messias. O Messias consome o pecado continuamente a partir
de ferramentas que saem de sua boca. A espada que sai da boca do Messias é de dois
gumes porque ela tem poder para cortar para a vida e para a morte. Se o ser humano
houve a voz do Messias e crê, esse tem a vida eterna (João 5:24), o que não crê, já está
julgado (João 3:18). Assim, nós percebemos que o aspecto da oferta que agrada ao
SENHOR, que é positivo, é porque ela consome o pecado, e não porque um preço é
pago a Ele. Deus não recebe nada, Ele oferece, e sua oferta "queima o pecado"
permanentemente.

Outras imagens poderiam ser invocadas desse trecho do texto de Leviticos 6,


como a ideia de que o fogo “arderia a noite toda”, ou seja, a luz (não havia luz elétrica)
resplandeceria nas trevas. No Novo Testamento Cristo é a Luz (João 1) que veio ao
mundo e seus discípulos também (Mateus 5), desde que eles “permanecessem” em suas
Palavras (João 8, 15 e 17), isso acontece a partir de eles compartilharem do mesmo
Espírito (João 16), o Espírito que batiza com fogo (Mateus 3:11), e divide por meio da
espada (Efésios 6:17), o mesmo fogo e a mesma espada que saem da boca do Messias.

É muito significativa a ideia que surge do fato de que o fogo deveria arder
continuamente, uma clara alusão a eternidade. No Apocalipse alguém como filho do
homem é apresentado como fogo consumidor. Em Daniel 7 o resultado da presença do
Filho do Homem é um Reino Eterno, continuo, que vem a partir da aniquilação total da
maldade.
Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam,
e miríades de miríades estavam diante dele; assentou-se o tribunal, e se
abriram os livros.

(...)

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens
do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o
fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os
povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é
domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.

Daniel 7:10, 13-14 ARA

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